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Definindo arma de fogo,

acessório, munição, calibre,


uso permitido, uso restrito,
etc
O Estatuto do Desarmamento (Lei 10.826/2003)
precisa ser complementado por alguns decretos.
NORMA PENAL EM BRANCOCRIMESESTATUTO DO DESARMAMENTOARMASLEI PENAL EM BRANCO

Definindo arma de fogo, acessório, munição, calibre, uso permitido,


uso restrito, etc
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Publicado por Guilherme Schaun

há 4 anos

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 O Estatuto do Desarmamento é uma norma penal em branco
heterogênea (em sentido estrito), isto é, precisa ser
complementada por lei de diferente órgão do que a criou. É o que
chamamos de leis cegas (almas errantes a procura de um corpo) ou
normas incompletas. Na leitura das regras, não sabemos o que é
uma arma de fogo, o que é uso permitido, o que é uso restrito ou
até o que é um calibre, uma munição ou um acessório, razão pela
qual precisamos alicerçar nosso estudo ao Decreto 3.665/2000, ao
Decreto 5.123/2004 e ao Decreto 9.493/2018, que tratam da
fiscalização de produtos controlados, dentre outros, e definem
diversos conceitos referentes a armas de fogo.
 No presente artigo, iremos tratar, com relativa profundidade,
vários conceitos trazidos nas leis supracitadas, que são necessários
à compreensão dos crimes do Estatuto do Desarmamento.
I) O que é arma de fogo?
 Embora possa parecer enfadonha a definição de uma arma de
fogo, esta é fundamental para que entendamos do que trata,
tecnicamente, o Estatuto do Desarmamento. É imperioso, inclusive
para sustentação de teses defensivas para crimes desta lei, que
tenhamos noção do que é uma arma de fogo e o que a diferencia de
uma arma de fogo obsoleta ou de uma arma branca, que são
conceitos também trazidos pelo Decreto 3.665/2000. Além disso, é
flagrante nossa carência em entender os tipos e características
desses objetos, razão pela qual o texto também introduzirá tal
nomenclatura.
 Pelo conceito mais geral possível, o decreto mencionado
tenciona.

Art. 3º.

XIII - arma de fogo: arma que arremessa projéteis


empregando a força expansiva dos gases gerados
pela combustão de um propelente confinado em uma
câmara que, normalmente, está solidária a um cano
que tem a função de propiciar continuidade à
combustão do propelente, além de direção e
estabilidade ao projétil;
 Por outro lado, este decreto também distingue uma arma de fogo
de uma arma de fogo obsoleta, que, nas palavras do próprio Art. 3º,
XXI, "presta-se mais a ser considerada relíquia ou a constituir peça
de coleção", ou seja, se distancia do objetivo da arma, trazido no
inciso IX do mesmo Art. 3º, que é "causar dano, permanente ou
não, a seres vivos e coisas" e assume um caráter meramente
demonstrativo. Além   do avocado, a arma de fogo obsoleta se
diferencia da arma de fogo pois "não se presta mais ao uso normal,
devido a sua munição e elementos de munição não serem mais
fabricados, ou por ser ela própria de fabricação muito antiga ou de
modelo muito antigo e fora de uso", nos termos no mesmo
inciso XXI do Art. 3º do Decreto 3.665/2000.
 O conceito de arma branca, por outro lado, está associado a
"artefato cortante ou perfurante, normalmente constituído por
peça em lâmina ou oblonga", conforme o inciso XI do Art. 3º, então
não depende da força expansiva de um gás para lançamento de
projétil por meio de um cano. São facilmente reconhecidas como
facas, ou espadas.

 Por fim, é necessário destacar que a arma de pressão não se


confunde com a arma de fogo, conforme definição do
Decreto 9.493/2018:
Arma de pressão: arma cujo princípio de
funcionamento é o emprego de gases comprimidos
para impulsão de projétil, os quais podem estar
previamente armazenados em uma câmara ou ser
produzidos por ação de um mecanismo, tal como um
êmbolo solidário a uma mola.
 Geralmente identificáveis pelo cano laranja na ponta, essas
armas não representam a mesma periculosidade de uma arma de
fogo (talvez por isso não tenham sido ainda proibidas pelo
legislador) e seus projéteis são impulsionados por outros meios que
não os mesmos de uma arma de fogo, como uma mola ou gases
comprimidos. Quando se fala de airsoft, paintball, "nerfs", dentre
outros, está se falando de armas de pressão, que pouco se
relacionam com arma de fogo, embora a apresentação estética de
algumas, tal como o manuseio, sejam semelhantes a de uma arma
real.
I.A) Armas de fogo de alma lisa e armas de fogo de alma
raiada

 Outra informação que será útil à última análise do artigo,


referente ao uso permitido ou restrito, diz respeito ao raiamento da
arma de fogo. A foto do agente James Bond, vista de dentro de um
cano de uma arma, em um primeiro momento pode até parecer
meio clichê para o assunto, mas apresenta uma informação muito
importante para diferenciar os tipos de canos de uma arma de fogo.
 Antigamente, as armas tinham cano liso (é o que se chama de
alma lisa), ou seja, não tinham "sulcos helicoidais", que são essas
fissuras que parecem, em termos mais leigos, marcas de parafuso,
as quais servem para fazer o projétil girar ao sair do cano, dando
maior alcance e precisão.

 Pela definição do Decreto 9.493/2018, Anexo II:


Arma de fogo de alma lisa: é aquela isenta de
raiamentos, com superfície absolutamente polida,
como, por exemplo, nas espingardas. As armas de
alma lisa têm um sistema redutor, acoplado ao
extremo do cano, que tem como finalidade controlar
a dispersão dos bagos de chumbo.
Arma de fogo de alma raiada: quando o interior
do cano tem sulcos helicoidais dispostos no eixo
longitudinal, destinados a forçar o projétil a um
movimento de rotação.
 A "alma raiada", vem do processo de raiamento, que se perfaz da

introdução de raias na parte interna do cano. Por surpresa, o


Decreto 3.665/2000 define o que são raias:

Art. 3º.
LXXI - raias: sulcos feitos na parte interna (alma)
dos canos ou tubos das armas de fogo, geralmente de
forma helicoidal, que têm a finalidade de propiciar o
movimento de rotação dos projéteis, ou granadas,
que lhes garante estabilidade na trajetória;

 As armas com cano de alma lisa hoje não necessariamente caíram
em completo desuso, embora em muito casos tenham sido
ultrapassadas pela necessidade das modernas guerras. As
espingadas (famosas pelo espalhamento do tiro), ainda utilizam
cano liso, acompanhado de um estrangulador na sua ponta, para
diminuir a dispersão exagerada das balas.

I.B) Armas automáticas, semi-automáticas e de repetição

 Acima observamos um soldado americano atirando com uma


arma automática, denominada M249, que, por sua natureza,
automaticamente dispara vários projéteis quando o agente segura o
gatilho. As semi-automáticas, de forma diversa, dependem que, a
cada tiro, o atirador puxe o gatilho uma vez. Por fim, as armas de
repetição, que antigamente eram as portáteis mais comuns,
dependem da operação de um mecanismo, além do gatilho, para
dar o tiro subsequente, consoante a conceituação do
Decreto 3.665/2000.

Art. 3º 
X - arma automática: arma em que o carregamento,
o disparo e todas as operações de funcionamento
ocorrem continuamente enquanto o gatilho estiver
sendo acionado (é aquela que dá rajadas);

XVI - arma de repetição: arma em que o atirador,


após a realização de cada disparo, decorrente da sua
ação sobre o gatilho, necessita empregar sua força
física sobre um componente do mecanismo desta
para concretizar as operações prévias e necessárias
ao disparo seguinte, tornando-a pronta para realizá-
lo;

XXIII - arma semi-automática: arma que realiza,


automaticamente, todas as operações de
funcionamento com exceção do disparo, o qual, para
ocorrer, requer, a cada disparo, um novo
acionamento do gatilho;
I.C) Tipos de arma de fogo
 No caso, não serão abordados todos os tipos de arma de fogo,

mas aqueles constantes nas leis em estudo, que podem ser guiados
pela imagem abaixo. Pugna-se para que o leitor não se atenha à
especificidade das armas, mas aos seus aspectos gerais. O guia
abaixo, neste momento do texto, é bem mais ilustrativo do que
técnico, apenas para que o leitor leigo no assunto consiga entender
as diferenciações.
 Na ordem da imagem, de cima para baixo, para que fique o mais
didático possível:

a) Um fuzil (primeira arma da foto) é uma "arma de fogo portátil,


de cano longo e cuja alma do cano é raiada" (Art. 3º, LII, do
Decreto 3665/2003), e, no caso, a arma também é uma
metralhadora, que é uma "arma de fogo portátil, que realiza tiro
automático" (Art. 3º, LXI, do Decreto 3665/2003);
b) Uma espingarga (segunda arma da foto) é uma "arma de fogo
portátil, de cano longo com alma lisa, isto é, não-raiada", mas pode
ter o cano cortado também (Art. 3º, XLIX, do Decreto 3665/2003);
c) Uma carabina (representada pela terceira arma da foto) é uma
"arma de fogo portátil semelhante a um fuzil, de dimensões
reduzidas, de cano longo - embora relativamente menor que o do
fuzil - com alma raiada" (Art. 3º, XXXVII, do Decreto 3665/2003)
ou, dependendo, pode ser um mosquetão, que é um "fuzil pequeno,
de emprego militar, maior que uma carabina, de repetição por ação
de ferrolho montado no mecanismo da culatra, acionado pelo
atirador por meio da sua alavanca de manejo" (Art. 3º, LXIII, do
Decreto 3665/2003). Para quem gosta de filmes, basta se lembrar
das clássicas M1 Garand, da Segunda Guerra Mundial;
d) Um revólver (baixo-esquerda) é uma "arma de fogo de porte, de
repetição, dotada de um cilindro giratório posicionado atrás do
cano, que serve de carregador, o qual contém perfurações paralelas
e eqüidistantes do seu eixo e que recebem a munição, servindo de
câmara" (Art. 3º, LXXIV, do Decreto 3665/2003);
e) Uma pistola (baixo-direita) é uma "arma de fogo de porte,
geralmente semi-automática, cuja única câmara faz parte do corpo
do cano e cujo carregador, quando em posição fixa, mantém os
cartuchos em fila e os apresenta seqüencialmente para o
carregamento inicial e após cada disparo; há pistolas de repetição
que não dispõem de carregador e cujo carregamento é feito
manualmente, tiroatiro, pelo atirador" , podendo também ser uma
pistola-metralhadora (que é um pouco diferente da imagem
acima), que é "metralhadora de mão, de dimensões reduzidas, que
pode ser utilizada com apenas uma das mãos, tal como uma
pistola" (Art. 3º, LXVII e LXVIII, do Decreto 3665/2003);
 Por fim, não com intuito de levar o assunto à exaustão, pois isso
também não seria possível, cabe a diferenciação de uma arma
portátil e uma arma não-portátil. Das armas trazidas acima, todas
são portáteis, já na imagem abaixo vemos uma arma não-portátil e
também classificada como arma pesada, que é "uma arma
empregada em operações militares em proveito da ação de um
grupo de homens, devido ao seu poderoso efeito destrutivo sobre o
alvo e geralmente ao uso de poderosos meios de lançamento ou de
cargas de projeção" (Art. 3º, XIX, do Decreto 3665/2003), mas
cuidado: nem toda arma não-portátil se encaixa no conceito de
arma pesada.
Art. 3º.

XX - arma não-portátil: arma que, devido às suas


dimensões ou ao seu peso, não pode ser transportada
por um único homem;

XXII - arma portátil: arma cujo peso e cujas


dimensões permitem que seja transportada por um
único homem, mas não conduzida em um coldre,
exigindo, em situações normais, ambas as mãos para
a realização eficiente do disparo;
II) O que é munição?
 Munição, ou ammunition (em inglês), é, ao contrário do que se
pode imaginar, mais que somente o projétil da arma de fogo. O
projétil é somente a parte que é arremessada no tiro, enquanto a
munição abarca o cartucho inteiro, que inclui o projétil, o estojo
(que é a cápsula que envolve tudo), o propelente (que é a fonte de
energia química capaz de impulsionar o projétil para frente, com
velocidade) e a espoleta (que é um recipiente que contém a mistura
detonante e uma bigorna). Talvez fique mais claro pela imagem
acima.
 A definição legal de munição encontra-se no Art. 3º, LXIV, do
Decreto 3.665/2000.

Art. 3º.

LXIV - munição: artefato completo, pronto para


carregamento e disparo de uma arma, cujo efeito
desejado pode ser: destruição, iluminação ou
ocultamento do alvo; efeito moral sobre pessoal;
exercício; manejo; outros efeitos especiais;

 Como se pode observar, o dispositivo faz questão de indicar que


trata-se do artefato completo, não somente do projétil, bem como
que a finalidade da munição pode ser diversa. Existe munição
incendiária (como podemos ver na imagem abaixo), só de barulho,
de sal, explosiva, dentre outras, portanto a teleologia da palavra
não é critério para sua definição, já que nem sempre um projétil irá
se prestar a pre
III) O que é um calibre?
  


 O Calibre de uma munição é a medida do seu diâmetro, o que
corresponde também ao diâmetro interno do cano da arma.
Normalmente ele é medido em milímetros, mas pode ser em
polegadas ou até em centímetros. As espingardas, de maneira
diversa, tem seu calibre associado à massa, por isso calibre 12, para
espingardas, tem maior diâmetro que o calibre .22, de um revólver.
 Interessante lembrar que o calibre de uma arma pode indicar seu
poder de fogo, mas essas medidas não são necessariamente
proporcionais. Um revólver calibre .22 e uma carabina que possui o
mesmo calibre, embora tenham o canos com o mesmo diâmetro,
têm uma diferença significativa em termos de velocidade, por
exemplo, o que aumenta sua expectativa de dano. 

 A seguir, a definição legal para calibre, contida no


Decreto 3.665/2000.

Art. 3º.

XXXV - calibre: medida do diâmetro interno do cano


de uma arma, medido entre os fundos do raiamento;
medida do diâmetro externo de um projétil sem
cinta; dimensão usada para definir ou caracterizar
um tipo de munição ou de arma;
IV) O que é um acessório de arma de fogo?
 Infelizmente, o Decreto 3.665/2000, que está em vigor hoje, não
esclarece o que é um acessório de arma de fogo, mas esclarece o
que é um acessório e o que é um acessório de arma, resta a dúvida
se podemos aplicar o conceito mais amplo a uma situação mais
específica, muitas vezes para prejudicar o réu (fica a dica). Como o
objeto do presente artigo não é a sustentação de teses defensivas,
mas a simples colocação dos conceitos apreendidos do estudo do
Decreto 3.665/2000, do Decreto 5.123/2004, do
Decreto 9.493/2018 e do Estatuto do Desarmamento, passa-se à
buscar do que trata a expressão "acessório", contida em várias
partes da Lei 10.826/2003, como nos Arts. 12, 14, 16 e seguintes.
 Sendo assim, pelo Art. 3º, I e II, do Decreto 3.665/2000,
considera-se acessório, de modo geral, o "engenho primário ou
secundário que suplementa um artigo principal para possibilitar ou
melhorar o seu emprego". Já o acessório de arma é aquele "artefato
que, acoplado a uma arma, possibilita a melhoria do desempenho
do atirador, a modificação de um efeito secundário do tiro ou a
modificação do aspecto visual da arma".
 Saindo o Decreto 3.665/2000, pode-se utilizar o glossário do
recente Decreto 9.493/2018, que ainda não entrou em vigor (só
entra 300 dias depois de 5 de setembro de 2018), mas que dispõe,
em seu Anexo II, um rol de conceitos no qual o acessório de arma
de fogo é definido como "artefato que, acoplado a uma arma,
possibilita a melhoria do desempenho do atirador, a modificação
de um efeito secundário do tiro ou a modificação do aspecto visual
da arma". Depreende-se que o texto trazido é idêntico à ampla
definição de "acessório de arma", contida na lei mais antiga.
V) Uso permitido, uso proibido e uso restrito

 Assim como as definições de arma de fogo, munições ou calibre,
o conceito de uso restrito e uso permitido não sofreu grandes
alterações no andar das leis. Em que pese não haver mudança nas
concepções, os delimitadores fáticos para essas se alteram muito, a
todo tempo, por isso, nesta publicação, se procurará trazer o mais
recente possível.

 Conforme o Decreto 3.665/2000, o uso permitido, proibido e


restrito se definem como:

Art. 3º.

LXXIX - uso permitido: a designação "de uso


permitido" é dada aos produtos controlados pelo
Exército, cuja utilização é permitida a pessoas físicas
em geral, bem como a pessoas jurídicas, de acordo
com a legislação normativa do Exército;

LXXX - uso proibido: a antiga designação "de uso


proibido" é dada aos produtos controlados pelo
Exército designados como "de uso restrito";

LXXXI - uso restrito: a designação "de uso restrito" é


dada aos produtos controlados pelo Exército que só
podem ser utilizados pelas Forças Armadas ou,
autorizadas pelo Exército, algumas Instituições de
Segurança, pessoas jurídicas habilitadas e pessoas
físicas habilitadas;
 Também com força no Decreto 5.123/2004, que surgiu entre o
mais antigo e o mais recente:
Art. 10. Arma de fogo de uso permitido é aquela cuja
utilização é autorizada a pessoas físicas, bem como a
pessoas jurídicas, de acordo com as normas do
Comando do Exército e nas condições previstas
na Lei no 10.826, de 2003.
Art. 11. Arma de fogo de uso restrito é aquela de uso
exclusivo das Forças Armadas, de instituições de
segurança pública e de pessoas físicas e jurídicas
habilitadas, devidamente autorizadas pelo Comando
do Exército, de acordo com legislação específica.

 De pronto se observa que o termo "uso proibido" é ultrapassado,


hoje se adotando a nomenclatura "uso restrito", tanto é que a lei
nova sequer menciona essa modalidade em seu glossário.

 No Decreto 9.493/2018, se fala muito em PCE, que é o Produto


Controlado pelo Comando do Exército, que se subdivide, conforme
o Anexo II da lei, em:
PCE de uso permitido: é o produto controlado
cujo acesso e utilização podem ser autorizados para
as pessoas em geral, na forma estabelecida pelo
Comando do Exército.
PCE de uso restrito: é o produto controlado que
devido as suas particularidades técnicas e/ou táticas
deve ter seu acesso e utilização restringidos na forma
estabelecida pelo Comando do Exército.
 Esclarecidas as diferenças, é necessário entender o que é, de fato,
permitido e o que não é, ainda que, em qualquer caso, o produto
será controlado pelo Comando do Exército.

 Em um primeiro momento, depreende-se que a delimitação não


especifica quais armas são de uso permitido, sendo esse critério
feito por exclusão. Com teor crítico, cumpre ressaltar que a lei
mais recente, inexplicavelmente, faz diferenciação de uso proibido
e restrito, incluindo armas de fogo, ainda que seja dito pela mais
antigo que essa diferença, a rigor, não existe. Assim sendo, abaixo
está o mais recente critério para classificação de "Produto
Controlado pelo Comando do Exército" de uso restrito e
proibido, em negrito os critérios atinentes a armas,
acessórios e munição, que são objetos do nosso estudo.

Art. 16. Os PCE são classificados, quanto ao grau de


restrição, da seguinte forma:
I - de uso proibido;
II - de uso restrito; ou
III - de uso permitido.
§ 1º São considerados produtos de uso proibido:
I - os produtos químicos listados na Convenção
Internacional sobre a Proibição do Desenvolvimento,
Produção, Estocagem e Uso de Armas Químicas e
sobre a Destruição das Armas Químicas Existentes
no Mundo, promulgada pelo Decreto nº 2.977, de 1º
de março de 1999, e na legislação correlata, quando
utilizados para fins de desenvolvimento, de
produção, estocagem e uso em armas químicas;
II - as réplicas e os simulacros de armas de fogo que
possam ser confundidos com armas de fogo, na
forma estabelecida na Lei nº 10.826, de 22 de
dezembro de 2003, e que não sejam classificados
como armas de pressão; e
III - as armas de fogo dissimuladas, com
aparência de objetos inofensivos.
§ 2º São considerados produtos de uso restrito:
I - as armas de fogo:
a) de dotação das Forças Armadas de emprego
finalístico, exceto aquelas de alma lisa de
porte ou portáteis;
b) que não sejam iguais ou similares ao
material bélico usado pelas Forças Armadas e
que possuam características particulares
direcionadas ao emprego militar ou policial;
c) de alma raiada que, com a utilização de
munição comum, atinjam, na saída do cano,
energia cinética superior a:
1. mil líbras-pé ou mil trezentos e cinquenta e
cinco joules para armas portáteis; ou
2. trezentas líbras-pé ou quatrocentos e sete
joules para armas de porte;
d) que sejam dos seguintes calibres:
1. .357 Magnum;
2. .40 Smith e Wesson;
3. .44 Magnum;
4. .45 Automatic Colt Pistol;
5. .243 Winchester;
6. .270 Winchester;
7. 7 mm Mauser;
8. .375 Winchester;
9. .30-06 e .30 Carbine (7,62 mm x 33 mm);
10. 5,7 mm x 28 mm e 7,62 mm x 39 mm;
11. 9 mm x 19 mm (9 mm Luger, Parabellum
ou OTAN);
12. .308 Winchester (7,62 mm x 51 mm ou
OTAN);
13 .223 Remington (5,56 mm x 45 mm ou
OTAN); e
14. .50 BMG (12,7 mm x 99 mm ou OTAN);
e) que têm funcionamento automático, de
qualquer calibre; ou
f) obuseiros, canhões e morteiros;
II - os lançadores de rojões, foguetes, mísseis
e bombas de qualquer natureza;
III - os acessórios de arma de fogo que tenham
por objetivo:
a) dificultar a localização da arma, como
silenciadores de tiro, quebra-chamas e
outros;
b) amortecer o estampido ou a chama do tiro;
ou
c) modificar as condições de emprego, tais
como bocais lança-granadas, conversores de
arma de porte em arma portátil e outros;
IV - as munições:
a) que sejam dos seguintes calibres:
1. 9 mm x 19 mm (9 mm Luger, Parabellum
ou OTAN);
2. .308 Winchester (7,62 mm x 51 mm ou
OTAN);
3. .223 Remington (5,56 mm x 45 mm ou
OTAN);
4. .50 BMG (12,7 mm x 99 mm ou OTAN);
5. .357 Magnum;
6. .40 Smith & Wesson;
7. .44 Magnum;
8. .45 Automatic Colt Pistol;
9. .243 Winchester;
10. .270 Winchester;
11. 7 mm Mauser;
12. .375 Winchester;
13. .30-06 e .30 Carbine;
14. 7,62x39mm; e
15. 5,7 mm x 28 mm;
b) para arma de alma raiada que, depois de
disparadas, atinjam, na saída do cano,
energia cinética superior a:
1. mil líbras-pé ou mil trezentos e cinquenta e
cinco joules para armas portáteis; ou
2. trezentas líbras-pé ou quatrocentos e sete
joules para armas de porte;
c) que sejam traçantes, perfurantes,
incendiárias, fumígenas ou de uso especial;
d) que sejam granadas de obuseiro, canhão,
morteiro, mão ou bocal; ou
e) que sejam rojões, foguetes, mísseis e
bombas de qualquer natureza;

V - os explosivos, os iniciadores e os acessórios;

VI - os veículos blindados de emprego militar ou


policial e de transporte de valores;

VII - as proteções balísticas e os veículos


automotores blindados, conforme estabelecido em
norma editada pelo Comando do Exército;
VIII - os agentes lacrimogêneos e os
seus dispositivos de lançamento;

IX - os produtos menos-letais;
X - os fogos de artifício de uso profissional, conforme
estabelecido em norma editada pelo Comando do
Exército;

XI - os equipamentos de visão noturna que


apresentem particularidades técnicas e táticas
direcionadas ao emprego militar ou policial;

XII - os PCE que apresentem particularidades


técnicas ou táticas direcionadas exclusivamente ao
emprego militar ou policial; e

XIII - os redutores de calibre de armas de fogo de


emprego finalístico militar ou policial.
§ 3º Os PCE não relacionados nos § 1º e § 2º
são considerados produtos de uso permitido.
 Como já foi dito, a lista acima ainda não está em vigor, razão pela
qual, por enquanto, aplicamos a que está elencada abaixo (do
Decreto 3.665/2000), também com as partes mais importantes à
publicação em negrito:
Art. 15. As armas, munições, acessórios e
equipamentos são classificados, quanto ao uso, em:
I - de uso restrito; e
II - de uso permitido.
Art. 16. São de uso restrito:
I - armas, munições, acessórios e
equipamentos iguais ou que possuam alguma
característica no que diz respeito aos
empregos tático, estratégico e técnico do
material bélico usado pelas Forças Armadas
nacionais;
II - armas, munições, acessórios e
equipamentos que, não sendo iguais ou
similares ao material bélico usado pelas
Forças Armadas nacionais, possuam
características que só as tornem aptas para
emprego militar ou policial;
III - armas de fogo curtas, cuja munição
comum tenha, na saída do cano, energia
superior a (trezentas líbras-pé ou
quatrocentos e sete Joules e suas munições,
como por exemplo, os calibres .357 Magnum,
9 Luger, .38 Super Auto, .40 S&W, .44
SPL, .44 Magnum, .45 Colt e .45 Auto;
IV - armas de fogo longas raiadas, cuja
munição comum tenha, na saída do cano,
energia superior a mil líbras-pé ou mil
trezentos e cinqüenta e cinco Joules e suas
munições, como por exemplo, .22-250, .223
Remington, .243 Winchester, .270
Winchester, 7 Mauser, .30-06, .308
Winchester, 7,62 x 39, .357 Magnum, .375
Winchester e .44 Magnum;
V - armas de fogo automáticas de qualquer
calibre;
VI - armas de fogo de alma lisa de calibre doze
ou maior com comprimento de cano menor
que vinte e quatro polegadas ou seiscentos e
dez milímetros;
VII - armas de fogo de alma lisa de calibre
superior ao doze e suas munições;
VIII - armas de pressão por ação de gás
comprimido ou por ação de mola, com calibre
superior a seis milímetros, que disparem
projéteis de qualquer natureza;
IX - armas de fogo dissimuladas,
conceituadas como tais os dispositivos com
aparência de objetos inofensivos, mas que
escondem uma arma, tais como bengalas-
pistola, canetas-revólver e semelhantes;

X - arma a ar comprimido, simulacro do Fz 7,62mm,


M964, FAL;

XI - armas e dispositivos que lancem agentes de


guerra química ou gás agressivo e suas munições;
XII - dispositivos que constituam acessórios
de armas e que tenham por objetivo dificultar
a localização da arma, como os silenciadores
de tiro, os quebra-chamas e outros, que
servem para amortecer o estampido ou a
chama do tiro e também os que modificam as
condições de emprego, tais como os bocais
lança-granadas e outros;
XIII - munições ou dispositivos com efeitos
pirotécnicos, ou dispositivos similares
capazes de provocar incêndios ou explosões;
XIV - munições com projéteis que contenham
elementos químicos agressivos, cujos efeitos
sobre a pessoa atingida sejam de aumentar
consideravelmente os danos, tais como
projéteis explosivos ou venenosos;

XV – espadas e espadins utilizados pelas Forças


Armadas e Forças Auxiliares;
XVI - equipamentos para visão noturna, tais
como óculos, periscópios, lunetas, etc;
XVII - dispositivos ópticos de pontaria com
aumento igual ou maior que seis vezes ou
diâmetro da objetiva igual ou maior que
trinta e seis milímetros;
XVIII - dispositivos de pontaria que
empregam luz ou outro meio de marcar o
alvo;

XIX - blindagens balísticas para munições de uso


restrito;

XX - equipamentos de proteção balística contra


armas de fogo portáteis de uso restrito, tais como
coletes, escudos, capacetes, etc; e

XXI - veículos blindados de emprego civil ou militar.


Art. 17. São de uso permitido:
I - armas de fogo curtas, de repetição ou semi-
automáticas, cuja munição comum tenha, na
saída do cano, energia de até trezentas líbras-
pé ou quatrocentos e sete Joules e suas
munições, como por exemplo, os calibres .22
LR, .25 Auto, .32 Auto, .32 S&W, .38 SPL
e .380 Auto;
II - armas de fogo longas raiadas, de repetição
ou semi-automáticas, cuja munição comum
tenha, na saída do cano, energia de até mil
líbras-pé ou mil trezentos e cinqüenta e cinco
Joules e suas munições, como por exemplo,
os calibres .22 LR, .32-20, .38-40 e .44-40;
III - armas de fogo de alma lisa, de repetição
ou semi-automáticas, calibre doze ou
inferior, com comprimento de cano igual ou
maior do que vinte e quatro polegadas ou
seiscentos e dez milímetros; as de menor
calibre, com qualquer comprimento de cano,
e suas munições de uso permitido;

IV - armas de pressão por ação de gás comprimido


ou por ação de mola, com calibre igual ou inferior a
seis milímetros e suas munições de uso permitido;
V - armas que tenham por finalidade dar
partida em competições desportivas, que
utilizem cartuchos contendo exclusivamente
pólvora;

VI - armas para uso industrial ou que utilizem


projéteis anestésicos para uso veterinário;

VII - dispositivos óticos de pontaria com aumento


menor que seis vezes e diâmetro da objetiva menor
que trinta e seis milímetros;
VIII - cartuchos vazios, semi-carregados ou
carregados a chumbo granulado, conhecidos
como "cartuchos de caça", destinados a
armas de fogo de alma lisa de calibre
permitido;

IX - blindagens balísticas para munições de uso


permitido;
X - equipamentos de proteção balística contra armas
de fogo de porte de uso permitido, tais como coletes,
escudos, capacetes, etc; e

XI - veículo de passeio blindado.

 Observa-se que essa última norma trazida, embora mais antiga,


trata com regularidade a terminologia "uso restrito" e "uso
permitido", não gerindo grandes confusões acerca das
denominações, com a inclusão do "uso proibido". Analisa-se
também que, em momento algum ambas as leis definiram o que é
um "equipamento", tornando lacunar essa acepção, já que
acessório é algo tratado de forma distinta.

 Colocadas as listas e expostos os conceitos em momento anterior,


é possível ter uma noção do que trata o Estatuto do
Desarmamento. Espero ter contribuído à comunidade.

REFERÊNCIAS
ARMA AUTOMÁTICA. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre.
Flórida: Wikimedia Foundation, 2019. Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Arma_autom
%C3%A1tica&oldid=54347015>. Acesso em: 21 fev. 2019.
ARMA DE FOGO. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida:
Wikimedia Foundation, 2018. Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/w/index.php?
title=Arma_de_fogo&oldid=53806971>. Acesso em: 12 dez. 2018.
CALIBRES. In: Aventura Blog - Esportes Em Ação. Disponível em:
<http://blog.aventurashop.com.br/2015/06/23/calibres/#.XKDip
kd7k-U>. Acesso em: 31 mar. 2019.

Canos raiados e canos de alma lisa. In: Instituto Defesa, 2013.


Disponível em: <https://www.defesa.org/canos-raiadosecanos-de-
alma-lisa/>. Acesso em: 31 mar. 2019.

GEORG, Natacha Juli; KELNER, Lenice; SILVINO JUNIOR, João


Bosco. ARMAS DE FOGO: ASPECTOS TÉCNICOS PERICIAIS.
Revista Jurídica – CCJ ISSN 1982-4858 v. 15, nº. 30, p. 137 - 156,
ago./dez. 2011.

GIRÃO, Marcos. Estatuto do Desarmamento Esquematizado.


Estratégia Concursos. Disponível em:
<https://dhg1h5j42swfq.cloudfront.net/2018/10/22172330/X.-
Estatuto-Desarmamento-Esquematizado.pdf>. Acesso em: 31 mar.
2019.

MUNIÇÃO. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida:


Wikimedia Foundation, 2018. Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Muni
%C3%A7%C3%A3o&oldid=53914028>. Acesso em: 27 dez. 2018.
NETO, Carlos F Paula. Calibre - Noções Básicas. Disponível em:
<https://www.portaldotiro.com/artigos-tecnicos/municao/111-
conceitos-basicos-sobre-calibre>. Acesso em: 31 mar. 2019.
MUNIÇÕES EXÓTICAS PARA ESPINGARDAS. In: Instituto
Defesa, 2013. Disponível em: <https://www.defesa.org/municoes-
exoticas-para-espingardas/>. Acesso em: 31 mar. 2019.
O que é CARABINA - Diferença entre outras armas de cano longo.
In: Casa do Tiro, 2015. Disponível em:
<https://www.casadotiro.com.br/novidades-ver/o-queecarabina-
diferenca-entre-outras-armas-de-cano-lo...>. Acesso em: 31 mar.
2019.
SCHELESKI. Novidades no R-105! Mas... In: Airsoft Região Sul.
Disponível em: <https://www.airsoftrs.com/novidades-nor105-
mas/>. Acesso em: 31 mar. 2019.

Guilherme Schaun
Especialista em Direito Penal e Processual Penal

Advogado criminalista, atuante em diversas áreas do direito. Pós-graduado em Direito Penal e Processo
Penal na Verbo Jurídico. Pós-graduado em Direito Médico e Hospitalar pela UNIAmérica. Aprovado na
OAB em Direito Penal e no Trabalho de Conclusão de Curso acerca da imputação de responsabilidade
criminal ao advogado pelo recebimento de honorários maculados.
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