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AULA 4

HELENA, DE MACHADO DE ASSIS


Sejam bem vindos à última aula de Helena. O tempo urge, passa rápido e nem
percebemos que passou. A obra é linda, deixa saudades, esse é o final. Um final
emocionante, um final impressionante. Um final Machadiano.

Saímos de Machado e iremos para George Orwell, uma obra completamente


diferente, com outro estilo, com outra crítica, mas que também é um clássico.

Atenhamos à Machado. Atenhamos à Helena.

Preste atenção: Capítulo 23, destaco esse trecho que é sensacional da primeira frase
até o penúltimo parágrafo da página 218 (para quem tem a mesma edição que a
minha):

"— És forte? perguntou o padre.

— Sou. Respondeu Estácio

— Crês em Deus?

Estácio estremeceu e olhou para o ancião, sem responder. Melchior insistiu:

— Crês?

— Essa pergunta...
— É menos ociosa do que parece. Não basta supor que se crê; nem basta crer à ligeira, como na
existência de uma região obscura da Ásia, onde nunca se pretende pôr os pés. O Deus de que te
falo, não é só essa sublime necessidade do espírito, que apenas contenta alguns filósofos; falo-te
do Deus criador e remunerador, do Deus que lê no fundo de nossas consciências, que nos deu a
vida, que nos há de dar a morte, e, além da morte, o prêmio ou o castigo. Crês?

— Creio."

A abordagem do padre Melchior aqui é brilhante. Ele faz uma distinção entre crenças
em Deus. Há pessoas que creem em Deus como alguém crê na existência de uma
região obscura da Ásia, de um país na Ásia, um pequeno país, ou no Oriente Médio ou
na África ou na América Central que você pensa e diz assim "é, existe. Mas eu nunca
pretendo ir. Eu nunca pretendo ali pôr os pés. Nunca pretendo conhecer", ou você crê em um
Deus como uma sublime necessidade do espírito, que apenas contenta alguns que
dizem "é, eu creio; deve existir uma força sobrenatural mesmo no mundo, certamente existe
uma energia, existe algo que explica tudo isso ou alguma coisa disso".

O padre está dizendo o seguinte: você é ou não é Cristão? Quero saber se, nessa régua
que eu passo, entre aqueles que acreditam que existe Deus, mas não querem contato
com ele ou não querem conhecê-lo plenamente; aqueles que acreditam que existe
Deus, mas que, na verdade, isso é algo do nosso espírito, esse contato com o mundo
interior ou com o mundo espiritual; Ou você crê em Deus, um Deus criador e
remunerador. Um Deus que te deu a vida e que, também, te dará a morte. E, depois
dela, o prêmio ou o castigo. Você crê em um Deus que criou os céus e a Terra e tudo o
que neles há? Você crê em Deus, que mandou Seu Filho, para morrer em uma cruz e
salvar o mundo? Você crê neste Evangelho? Esta é a pergunta do padre Melchior. E
você pode crer ou não, mas ele passa a régua. Porque é preciso que o sujeito entenda
de que lado da régua ele está na vida.

Na mensagem apocalíptica, diz o texto "Não foste frio, nem quente. És morno. Por isso
estou a ponto de vomitar-te". O padre Melchior faz a pergunta que, na verdade, é feita
para todo ser humano em algum momento na vida: de que lado você está nessa
história? Não dá para viver em cima do muro. Ou você crê ou você não crê. Ou você
segue ou você não segue. Ou você observa ou você não observa as normas.

É preciso escolher um lado. Não sei qual é o seu lado, não sei qual é a sua religião, não
sei qual é a sua crença, qual é a sua convicção. Mas você tem que ter lado. Tem que
ter posição. Tem que ter convicção.

E essa atitude do padre Melchior mostra que estávamos, aqui no livro, diante de um
homem com propósito, com vocação. Ele era o que era. Ele cria no que professava.
Vivia o que pregava. Belíssimo. Esse trecho é espetacular.

Na página 220, destaco o seguinte trecho, uma frase:


"São Paulo disse: para os corações limpos, todas as cousas são limpas."

A passagem está na Epístola de Paulo à Tito, na carta à Tito, capítulo 1, versículo 15.
"Para os puros, todas as coisas são puras. Para os corações limpos, todas as coisas são limpas."

Talvez alguém critique a sua ingenuidade. Talvez alguém diga que você não percebe
maldade nenhuma. Talvez a grande crítica seja absolutamente essa: você é incapaz
de perceber a maldade no outro. Mas quando isso acontecer, adquira sabedoria.
Claro: entenda, perceba, passe a observar, mas fique feliz por um momento. É que
acontece com você o que foi explicado por Paulo: "para os corações limpos, todas as coisas
são limpas."

Você não enxerga maldade porque você não é maldoso. A experiência fará de você
alguém mais prudente, mas o seu coração limpo faz com que você presuma que
todas as outras pessoas têm igual pureza de caráter.

Na página 223, destaco o seguinte trecho:

" — Paz aos mortos! observou Melchior. Os atos de seu pai já não pertencem à jurisdição deste
mundo."

Quero tirar do contexto. Quero que você, que vive relembrando os erros de alguém
que já partiu, aprenda, neste momento, com o padre Melchior: "Paz aos mortos! Os atos
de seu pai já não pertencem à jurisdição deste mundo." Os atos dessa pessoa já não
pertencem a jurisdição deste mundo. Não cabe mais a você julgá-lo. Não cabe mais a
um tribunal humano julgá-lo. Não cabe a uma justiça estatal julgá-lo. O ponto é: se a
pessoa não está mais aqui, paz aos mortos. Assunto encerrado. A jurisdição dessa
pessoa, os atos dessa pessoa, não pertencem mais à jurisdição deste mundo, não
pertencem mais à sua jurisdição.

Avancemos para o capítulo 24. Página 233, destaco o trecho do último parágrafo,
primeira frase:

“Era impossível dissuadir Estácio: Melchior tratou somente de o moderar."

Às vezes, a gravidade da situação impede com que consigamos obstar alguém de


tomar uma atitude. Tentemos apenas orientá-lo. Moderá-lo. Mais uma vez o padre
Melchior é o bom conselheiro. É o homem sábio que instrui o homem, muitas vezes,
tolo, colérico ou emocionado. Era impossível dissuadir Estácio, o padre percebeu.
Não dá para dissuadi-lo, não dá para fazê-lo parar, não dá para fazer com que ele
mude de opinião. Tratou somente de moderá-lo. Agora cabia, apenas, moderá-lo.

Muitas vezes na vida você ocupará a posição do padre Melchior. E você será o
conselheiro de alguém. A pessoa que será ouvida antes que aquela que procura a
palavra tome uma atitude. E você vai aconselhá-la e não vai adiantar. Porque ela já
está convicta da decisão. Ela procurava um apoio, você não lhe deu. Mas ela vai agir,
ainda que sem o seu apoio. Quando você perceber que será impossível dissuadi-la,
trate de moderá-la.

Se você não pode tirar da cabeça de seu filho tomar uma atitude, trate de instruí-lo
para que ele seja bem sucedido, para que ele tome um bom caminho. Se o caminho
que ele está tomando é bom, mas é diverso do caminho que você pretendia que ele
tomasse, se o caminho que ele está tomando é muito mais arriscado do que o
caminho que você pretendia que ele tomasse, mas não há forma de dissuadí-lo,
aprenda com o padre Melchior: é preciso moderá-lo. É preciso prepará-lo. É preciso
orientá-lo, já que não é possível impedi-lo.

Capítulo 25, página 236, primeiro parágrafo parte final:

"Tinha vinte anos quando deixei a casa paterna; possuía alguns estudos, poucos, meia dúzia de
patacões, muito amor e muita esperança. Era de sobra para a minha idade, mas insuficiente
para o meu futuro"

Esse é um relato do pai de Helena. Esse é o comum erro dos jovens. "Era de sobra
para minha idade, mas insuficiente para meu futuro." Será que não percebemos isso
no jovem? Ele toma atitudes, guia-se por caminhos, adota comportamentos que
parecem adequados à sua idade, idôneos ao presente, bem sucedidos para quem é
míope, mas infrutíferos, inférteis, predadores, mortais para o futuro.

Quando seu presente custar o seu futuro, saiba: é uma péssima decisão. É preciso
que você entenda isso. O pai de Helena, quando toma a decisão: "ah eu tomei por
amor, era muito amor. Eu tinha alguma condição que era mais do que suficiente para
o presente, era insuficiente para o futuro", então a decisão foi péssima. Foi horrorosa.
Foi inconsequente.

Quando é que permitiram ao jovem ser inconsequente? Quando permitiram ao jovem


abrir mão da sabedoria? Jovem, não abra mão da sabedoria! O que disse Salomão:
"faça tudo o que desejar seu coração, mas, saiba, que de todas as coisas prestarás contas."
“Mente velha e o corpo jovem: eis o segredo da sabedoria", Shakespeare.

Siga ao capítulo 26, página 247, parte final:

"O passado é um pecúlio para os que já não esperam nada do presente ou do futuro; há ali
sensações vivas que preenchem as lacunas de todo o tempo."

Talvez você tenha convivência, tenha convivido ou conviva com alguém que está
aposentado e decidiu não fazer mais nada. Ele não estuda, ele não lê, não tem uma
atividade diferente, ele não ajuda uma ONG. Ele só fica em casa. Ele não lê, ele só fica
em casa. Não há uma novidade de vida. Esta pessoa se alimenta do passado. Se você
for conversar com ela, ela vai tocar naquele assunto. Dois meses depois, você se
encontra com ela, o mesmo assunto. A mesma lembrança. Os mesmos temas. O
mesmo título. O mesmo subtítulo. O mesmo texto. Tudo é igual. Por quê? Porque ela
não espera mais nada do presente ou do futuro.

E, portanto, passado é o pecúlio que ela possui. Há ali sensações vivas que
preenchem as lacunas de todo o tempo. E aqui fica o recado a você, que terminou o
relacionamento e que perdeu a esperança no presente e no futuro. Se você não criar
essa esperança, alimentar essa esperança, respirar essa esperança, a sua vida estará
no passado e você viverá de contar o passado e do passado. Isso é um erro. Porque
você pode para uma atividade e começar outra, você muda de fase, para de trabalhar
e começa a ler diferentes obras. Começa a estudar diferentes autores, quem sabe
aprender um idioma.

É preciso alimentar uma novidade de vida e aqui me recordo de Abílio Diniz: "para ser
velho, é preciso ter idade. Mas para ser jovem, qualquer idade serve." Enquanto você não
tiver esperança em seu presente e no seu futuro, você viverá do passado. E isso não
pode ser o desejo de seu coração.

Capítulo 27, página 252 (início do diálogo que avança para a página 253):

"— Estácio! disse o padre, depois de olhar para ele um instante. Compreendo, quisera despojar
Helena do título que seu pai lhe deixou, para lhe dar outro, e ligá-la à sua família por diferente
vínculo.

Estácio fez um gesto como protestando.

— Esquece duas cousas graves: o escândalo e o casamento de um e outro; já não se pertence,


nem ela pertence a si. Vamos lá; seja homem. Sepultemos quanto se passou no mais profundo
silêncio, e a situação de ontem será a mesma de amanhã."

Quero tirar do contexto, você conhece o contexto, você sabe do que se trata. Agora
quero perceber mais uma sabedoria do padre Melchior. Há uma sabedoria em
sepultar certos acontecimentos a fim de que o presente ou o passado não estraguem
o futuro. O padre diz: "sepultemos quanto se passou no mais profundo silêncio", esse
assunto é um não assunto, este tema é um não tema. Isto não será conversado aqui. E
a situação de ontem será a mesma de amanhã.

Pare de ficar revolvendo problemas do passado que aconteceram naquela vida, com
aquela pessoa, com aquela situação, naquela família, porque, senão, não existirá paz
na família. "Eu me recordo quando você disse aquilo para mim, naquele Natal em 1995..",
sepultemos o passado. E então o futuro será melhor. Não estou falando de todos os
acontecimentos, não estou falando na necessidade de você superar traumas, não
estou falando na necessidade de você ressignificar o que aconteceu na sua vida, estou
falando que, para certos acontecimentos, há uma sabedoria em sepultá-los.

O silêncio faz muito bem. O não assunto faz muito bem. A cura vem com o tempo e
com o silêncio. Porque cada palavra é a abertura da ferida. E torna inócuo o tempo
que já passou. E é preciso saber distinguir: o que é superar o trauma, o que é revirar a
ferida. O que é abrir novamente a ferida cicatrizada. E a sabedoria está nesse
discernimento que você precisa ter. Às vezes, o silêncio poupa a guerra. Ou
poupa-nos de uma nova guerra.

Página 255, destaco o seguinte trecho sobre Helena:

"Prefere a miséria à vergonha; e a idéia de que interiormente não a absolvemos, é o verme que
lhe fica no coração."

Há pessoas que preferem a miséria à vergonha. Já pensou nisso? Tem gente que fala:
"eu prefiro passar por uma situação difícil a pedir para alguém me ajudar." Pense do ponto
de vista financeiro: "não, eu prefiro passar esse aperto aqui, vou dar um jeito de segurar, do
que ir lá pedir ajuda aos pais, aos irmãos, a um parente, a um amigo." Já pensou nisso?
Deixe-me dizer: precisamos saber o que é digno. E o que é orgulho. O que é dignidade
e o que é orgulho.

A linha é tênue e, mais uma vez, você precisa saber distingui-la. Entendo que, às
vezes, devemos nos privar de algumas coisas para não se expor. Então, é melhor
passarmos por uma situação justa, uma situação difícil que irá exigir algum
sacrifício, do que ir lá, expor a toda família, expor a situação, você vai superar aquilo;
é digno, é bonito.

Mas se você está abrindo mão da sua dignidade, ou da resolução de um problema, e


você está maximizando um problema simplesmente porque você está com vergonha
de conversar com seus pais, de pedir ajuda aos seus pais, a um amigo, aos seus
primos, neste momento, é o seu orgulho que está definindo o seu comportamento,
ditando o seu comportamento. Assim, não é inteligente. Talvez se Helena preferisse a
vergonha à miséria, ela tivesse um final diferente. Mas como ela não admitia a ideia
de que alguém não a absolvia do que aconteceu, porque ela mesma não se absolvia, o
caminho dela foi a morte.

Capítulo 28, página 258, segundo parágrafo:

"Talvez Helena, em sua razão, correspondesse aos conselhos de Melchior; mas a razão é o que
menos a dirigia naquelas circunstâncias aflitivas."

Há momentos em que fica clara a máxima de David Hume: "a razão é escrava das
paixões." Talvez Helena, racionalmente, correspondesse aos conselhos de Melchior,
ela dizia "realmente, ele tem razão", mas a razão é o que menos a dirigia naquelas
circunstâncias aflitivas. Quando o sujeito está aflito, ele perde o racional. O elemento
racional perde força.

Por isso que temos que procurar um equilíbrio emocional. Porque sem esse
equilíbrio emocional, não é possível tomar decisões que se mostrem racionalmente
adequadas. Então, quando você está numa situação de desequilíbrio, não feche
negócios, não firme acordos. Calma. "Primeiro deixe voltar ao meu equilíbrio emocional. E
o que é melhor para mim nessa situação? Voltei. Era realmente firmar o acordo."

Por isso que, muitas vezes, você não pode participar da construção de um acordo.
Muitas vezes não é ideal, não é adequado que se advogue em causa própria porque
você está carregado de emoções, então, a sua atuação fica prejudicada. Um cirurgião
não opera a si mesmo.

Quando você está aflito, a sua aflição faz com que a razão perca importância no seu
comportamento. Portanto, é preciso abrir mão da aflição. É preciso procurar voltar à
racionalidade, ao equilíbrio e, então, à racionalidade.

Na página 261, destaco o seguinte:

"— Amar-me-ão sempre? perguntou Helena.

— Oh! sempre! Respondeu Estácio

— Impossível! Há uma voz no fundo de seu coração, que lhe dirá, de quando em quando, esta
triste palavra: aventureira!

— Helena!

— Não posso ser outra coisa a seus olhos, prosseguiu a moça, tristemente. Quem o convencerá
de que a declaração de seu pai não foi obtida por artifício de minha mãe?. Quem lhe dará a
prova de que, cedendo aos rogos de meu pai, não fiz mais do que executar um plano preparado
já? São dúvidas que lhe hão de envenenar o sentimento e tornar-me suspeita a seus olhos.
Resista quem puder; é-me impossível encarar semelhante futuro!"

A dúvida pode envenenar seus sentimentos. O que Helena pergunta? "Vocês irão me
amar para sempre?" E o Estácio diz o quê? "Para sempre. Claro que para sempre, nós te
amamos." E ele amava Helena de todas as formas possíveis.

"Para sempre?"

"Para sempre, Helena."

"Não vai. Sabe porquê você não vai, Estácio? Porque você tem uma dúvida ou terá uma dúvida
em seu coração. Você sempre vai se perguntar: será que meu pai realmente amava essa menina
como filha? Será que não foi a mãe dela que fez o meu pai escrever aquilo?" "Será que não foi
ela, combinada com o pai biológico dela, que armou isso aí para dizer que, na verdade, foi um
acaso; mas estava tudo organizado porque ela ajudaria o pai e ele próximo à fazenda ela
levaria coisas para ele. Será?"

E essa dúvida vai matar o sentimento que você tem por ela. Ou vai envenená-lo. Ela
diz: "resista quem puder, é-me impossível encarar semelhante futuro". E, com isso, quero
dizer para você que está em um relacionamento o seguinte: se você alimentar a sua
dúvida, você matará o seu amor. Quem alimenta a dúvida, faz o amor passar fome. A
dúvida envenena o coração. Gostaria de deixar esse trecho destacado para você: a sua
dúvida pode estar envenenando o seu coração.

Página 264, último parágrafo:

"Enquanto Melchior dava as ordens precisas para que Helena tivesse os socorros espirituais,
Estácio saiu dali, para ir, longe, desabafar o desespero; desceu à chácara, vagou por ela
delirante, a soluçar como uma criança, ora abraçado a uma árvore, ora ajoelhado e pedindo a
Deus a vida de Helena. O coração do moço não conhecia o fervor religioso; mas a imagem da
morte deu-lhe o que a vida lhe levara, e ele rezou, rezou sozinho, sem hipocrisia nem dúvida."

Acho esse trecho, que é o final e que encerramos a aula, maravilhoso. "O coração do
moço não conhecia o fervor religioso. Mas a imagem da morte deu-lhe o que a vida lhe levara. E
ele rezou, rezou sozinho, sem hipocrisia nem dúvida."

Naquele momento da dor, a pureza que havia no coração de Estácio se manifestou. E,


então, com toda sua força ele orou, rezou, para que a vida de Helena fosse poupada.
Mas quando é que ele ganha essa força? Quando ele percebe que Helena está
morrendo. Porque, antes disso, quando o padre lhe diz: "você ama Helena como
mulher, não como irmã", ele hesita, ele nega. Aquele sentimento já existia ali, mas ele
nega. Mas quando Helena está para morrer, então a força do sentimento vem à tona e
faz com que ele reze com absoluta sinceridade, devoção, sem dúvida.

Será que você vai esperar a pessoa que você ama chegar ao leito de morte para que,
então, o sentimento que você tem por ela possa se manifestar com toda força
possível? Será que você não aprendeu com Estácio que o melhor momento para amar
é quando os dois são capazes de exercer tamanho amor? Será que você vai deixar
esse amor que existe aí morrer por medo, por timidez ou por uma imagem que você
precisa passar para alguém? E, então, quando você perder o amor da sua vida,
porque o amor terá morrido ou terá encontrado outro amor ou outra história, você,
então, perceberá a força do sentimento, mas então será tarde. Inês é morta. Helena é
morta.

Com isso, chegamos ao fim da nossa primeira aula e da nossa primeira obra. Já
adianto que "1984" é uma obra em estilo completamente diferente e, à medida em
que você for avançando, vai gostando mais da obra, especialmente a partir da parte 2.
Você vai crescer demais com o "Clube dos Pensadores".

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