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Quando a Júnia decidiu sair da Ordem, ela ainda tinha que comandar o
feitio, no começo do ano. Pra mim era claro que ela iria sair, mas a
mesma ainda quis comandar o feitio, embora ficasse claro através de sua
expressão facial e sua motivação que ela não queria estar ali, e aquilo
me deixava indignado. “Pra que isso?”, perguntava eu. Pensava que tudo
se ajustaria, bastava ela desistir, que a Ordem daria um jeito de fazer o
feitio. E hoje, me vejo na mesma posição. Quando decidi entrar na
diretoria, foi no mais sincero espírito de auxiliar a Ordem em um
momento deveras delicado, onde nosso segundo em comando recebe
uma advertência e decide abrir mão da diretoria. Naquele momento, até
o dia da eleição, estava firme no meu propósito de auxiliar a Ordem, e
nada parecia grande demais pra enfrentar porém, a vida sempre mostra
que nada é garantido, e que as coisas mudam.
Perceber como o Alexandre tem usado a Ordem pra fazer bonito pros
que estão de fora me deprime. Não há nenhum estudo espiritual... mas
tocar hinário pro Caciano na Imersão tem que fazer, pra mostrar a beleza
do ritual. Não responde as mensagens de seus próprios iniciados... mas
levar em consideração as falas da Adriana Porfírio, por ter 19 anos de
UDV, e criar um documento que nunca mais foi usado, isso acontece.
Não auxilia as pessoas que tem cargos na Ordem... mas colocar o José
Renato pra subir para Adjunto de Terceiro Grau quando o padrinho da
Casa de Jesus Fonte de Luz viesse, pra fazer bonito, ele faz. Fica claro
quanto uso vaidoso de um rito tão sagrado como o da Ordem está
acontecendo. Nem vou entrar no José Renato, pois aí ficaria o dia inteiro
falando dessa pessoa que maltrata a todos quando quer, e arranja briga
porque não leu seu canto quando quis, da forma que quis.
Isso tudo poderia ser remediado? Claro, com dedicação e disposição pra
enfrentar os adjuntos e fazer eles perceberem que não, eles não são
donos da Ordem, eles estão, ênfase no estão, na posição de liderança.
Mas que a humanidade muito bem já cortou cabeça de vários reis na sua
história.
Mas esse é o ponto principal: eu não tenho energia pra isso. Eu sou uma
pessoa quebrada por dentro, que a uma década sente dores todo santo
dia, 24 horas do dia. Eu tenho problemas psicológicos profundos e
debilitantes, e um corpo que só me limita e gera cada vez mais dor, de
várias e várias formas. Eu tenho uma depressão desde quando era
criança, que nunca foi tratada ou cuidada, pois eu nem mesmo sabia
dela. Por cima dessa depressão, vários outros problemas psicológicos
criados por ela, que foram sendo soterrados por décadas de
pensamentos como “Você não tem direito de reclamar”, o que encontrou
muita ressonância com a fala que vem da Ordem que diz “Você tem é
que servir”, e “Não importa o que você pensa ou sente, importa o que
você faz”. A Ordem foi um grande motor da minha angústia existencial,
ao me encher de tarefas e responsabilidades, e me negar o direito a
sentir. Pois sentir, na espiritualidade da Ordem, é um campo muito
complexo... concentra em limpar o vômito do coleguinha e respira fundo,
tudo bem?
Saio hoje da Ordem em paz, porque optei por mim. Ainda acredito no
futuro da Ordem, e sei que um dia retorno, nem que seja como visitante,
pois pelas regras da Ordem, tenho apenas 1 ano e meio de afastamento,
e sei que será bem provável que precise de mais que isso pra estar apto
a ao menos conseguir estar dentro dela.
Mas no fim, sou eu o problema, pois tudo isso me é claro como água
cristalina, e eu não consigo simplesmente não ligar pra isso tudo. Eu não
sou uma pessoa que faz cara boa e engole sofrimento por achar que isso
é “ser equilibrado”. A visão de iniciado da Ordem é bem parecida com
aqueles soldados ingleses que ficam o tempo todo com a mesma cara.
Tudo pode estar acontecendo, e você tem que ficar ali, calado, não falar
nada, e engolindo tudo que sente. Se eu ficar, eu vou me tornar uma
pessoa muito destrutiva, porque eu não consigo aceitar que estão
usando tudo que construímos de forma tão vaidosa e descuidada,
mexendo com vidas. Então é hora de sair, e deixar vocês cuidarem como
achar melhor.
Eu sigo em paz. Fiz o meu melhor, tentei ajudar da melhor forma que
minha fragilidade emocional conseguia. Sei o quanto falhei em inúmeros
aspectos, mas eu sempre me esforcei ao máximo pra que isso não
acontecesse. Mas hoje, preciso soltar o leme, e admitir: sou uma pessoa
quebrada, que precisa de cuidados. Então, é isso que vou fazer.
Fiquem em paz.
Sh.’.T.’.L