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“Senhora Devoradora” (de ‘bas’, que significa ‘devorar’ com um final feminino).
Um dos mais antigos nomes documentados com aparição na Segunda
Dinastia, Bast é primeiramente uma grande força protetora, especificamente da
Casa Real e das Duas Terras. Durante a Quarta Dinastia, ela era uma patrona
do Baixo Egito, da mesma forma que Herhert era patrona do Alto Egito, da
mesma forma que Wadjet e Nekhbet foram descritas em tempos antigos. Com
o passar do tempo, a imagem de Bast se metamorfoseou, se transformando
mais igual a outras deusas, até deusas gregas, se tornando a protetora das
crianças e mães grávidas, dos músicos, e uma deusa de todos os tipos de
excessos, especialmente excessos sexuais. Porém sua imagem original não
incluia a idéia de uma “gata sex symbol”. Originalmente, Bast era uma dos
“Olhos de Ra”, deusas femininas que eram contrapartes do deus solar Ra, um
dos principais senão o principal deus egípcio da Quinta Dinastia.
Isso talvez possa ser mais entendido ao compreender a visão que os próprios
egípcios tinham das mulheres. Existia até um ditado entre eles que dizia “A
esposa de um homem é uma gata se feita feliz, e uma leoa se feita infeliz”.
Para eles, a energia feminina era materna, mas de uma forma feroz e
selvagem, como uma leoa, que pode ser extremamente violenta para proteger
os seus. O feminino, então, era forte, protetor, materno, e exalando
sensualidade. Existiam festividades egípcias onde as mulheres livremente
levantavam suas saias enquanto giravam um instrumento chamado Sistrum,
supostamente para apaziguar o calor das deusas tão ferozes (os egípcios eram
renomados por suas festividades regadas a excessos). Alguns dizem que estas
festividades eram cultos a estas energias femininas, enquanto outros dizem
apenas que os egípcios sabiam fazer uma festa. De qualquer forma, é
importante perceber que a energia feminina era vista desta forma: exuberante,
poderosa e sexual.
Podemos ver como apesar das faces serem diferentes, a idéia de uma força
protetora feminina que circulava o deus solar Ra era proeminente no Egito, e
muito culto foi destinado a estas forças, especialmente a Bast, que tinha um
dos maiores cultos egípcios já registrados, com festividades que chegavam a
reunir mais de 700 mil pessoas. Quando os Gregos começaram a se encontrar
com os Egípcios, ficaram fascinados com os gatos, animais que eram criados
no Egito de forma muito respeitosa e carinhosa. Como Bast foi a primeira das
deusas com face felina que encontraram, logo associaram os felinos a deusa, e
começou então o apogeu de sua fama. Várias crianças eram nomeadas com o
nome da deusa Bast, e o comércio entre gregos e egípcios levava gatos e a
deusa para a Grécia (que seria pareada com Ártemis, apesar de Ártemis ser
uma deusa lunar e casta, enquanto Bast era solar e sexual).
Neste período, Bast, que era inicialmente uma força divina evocada para
proteger o Faraó, que era considerado o representante vivo do deus Ra,
começa a se popularizar, e de repente Bast se torna uma força maternal e
protetora de todas as casas, pois assim como ela guardava o Faraó, ela
guardava também seus servos e plebe. Assim, Bast começa a ganhar
contornos mais familiares e maternais, e por isso ela também é evocada para
proteção familar.
Com mais de 5 mil anos de culto, Bast, como podemos ver, é uma deusa
complexa. Inicialmente, como extensão de Ra, é uma força feroz, violenta e
protetora, que vence o crocodilo Apep, que era a representação cósmica de
todo caos e maldade na existência, e era inimigo primordial de Ra. Neste
sentido, podemos ver Bast como uma energia que cerca aqueles que a cultuam
contra todos os males que poderiam aflingir essa pessoa. Como deusa solar
(por ser um Olho de Ra, que é o próprio sol), Bast é uma força pura e
transformadora, e por isso é associada a trabalhos de cura, pois assim como
ela elimina Apep, ela pode eliminar doenças (que seriam o próprio Apep dentro
da pessoa). Compreendendo que o deus Ra, além de simbolizar o Faraó,
simboliza o verdadeiro iniciado espiritual, que assim como o deus, morre e
atravessa o submundo dos mortos, e renasce trazendo a vida solar para si,
podemos compreender que Bast é a própria força maternal que rege o iniciado
para sua nova vida, lhe guardando e protegendo, pois quando Ra visita o
mundo dos mortos, é Bast que lhe protege de todas as forças contrárias.
Como força feminina, ela é maternal, mas tão materna como uma leoa
protegendo suas crias. Sua maternidade é feroz, e ela vai longe para defender
aqueles que ela chamar de crias. E além disso, é sensual, pois a vida precisa
seguir seu curso, e é procriando que deixamos a vida fluir. Como felinos
realizando uma corte, Bast excita seus filhos com o pulso da energia
procriadora, abençoando as crias com saúde e força para vencer a vida.
E devido a isso, ela também é uma protetora da família. Bast era invocada nos
lares egípcios para proteção do lar, e por também ser uma deusa curadora, a
Bast se pedia saúde e proteção do lar. Por sua energia forte e vívida, ela
impulsiona a saúde e bem-estar de seus filhos, pois um leão doente é presa
fácil.
Suas ofertas costumam ser água, pão, vinho, uvas, bolos, leite, principalmente
cebola, existe um festival de comer cebola dedicado a Bast, e todas as ervas
que curam. As velas são verdes, amarelas, douradas e principalmente
brancas.