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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

INSTITUTO DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS


DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Disciplina: Brasil Republica
Professor: Nelson Tomelin
Discente: Gabriely Mylena Parente de Oliveira

DOS SANTOS, Carlos José Ferreira. Nem tudo era italiano. São Paulo
e pobreza (1890-1915). São Paulo: Fapesp/AnnaBlume, 1998

O livro “Nem Tudo era Italiano”, escrito pelo professor e historiador Carlos José Ferreira dos
Santos, realiza uma breve analise da população marginalizada da cidade de São Paulo na
virada do século XIX para o século XX, durante o período “dourado” da Bellle Époque
brasileira. Carlos José Ferreira dos Santos, graduou-se em história pela Unesp-Franca, realizou
o mestrado pelo Programa em Estudos Pós-Graduados em História pela PUC-SP e é doutor
pela FAU-USP. Historiador e professor universitário da Universidade Estadual de Santa Cruz
(UESC), em Ilhéus-BA.

Nem tudo era italiano é uma pesquisa sobre as populações pobres nacionais que viviam na
cidade de São Paulo na virada do século XIX para o XX. Após questionar-se sobre qual motivo
surgir tantas fontes oficiais da época quanto da historiografia produzida no período posterior,
Carlos José começa da pergunta-chave “Era tudo italiano em São Paulo na virada dos séculos
XIX e XX? ” Para tentar encontrar onde viviam e o que faziam os brasileiros que estavam em
São Paulo na virada do século. Então, um dos objetivos do trabalho é mostrar que, ao contrário
do que era difundido pela elite paulista do período, nem tudo era italiano nesta cidade entre
os anos de 1890-1915.

No decorrer da pesquisa, Carlos José demonstra a presença de outras experiências étnicas e


culturais, além das fontes oficiais, ele também faz bom uso de cronistas, periódicos e
fotografias da época como fontes importantes com o princípio de identificar onde estavam as
camadas populares nacionais na cidade de São Paulo, propositalmente suprimida e excluída
do progresso da desejada metrópole. O esforço do autor é localizar, nos silêncios destes
documentos ou escondidos nos cantos das fotos, como se fossem figurantes, quem eram
esses sujeitos esquecidos da história, onde eles trabalhavam, como subsistiam e, de sua
maneira, como resistiam às transformações impostas por uma São Paulo que crescia cada vez
mais e que, através deste crescimento, buscava a substituição de toda esta camada social
composta por negros, mestiços, caboclos, mulatos, índios e caipiras, dentre outros, pelos
celebrados imigrantes europeus (italianos, na maioria).

No primeiro capítulo, “Os elementos indiscutíveis de nosso progresso”, o autor busca fazer
uma recuperação crítica do projeto modernizante e de branqueamento para a cidade. Nesta
parte inicial do trabalho suas fontes principais são as estatísticas, nas quais analisa
minuciosamente os censos e anuários, buscando os silêncios, omissões e inversões, para dar
visibilidade as transformações étnicas e demográficas da população paulistana num período
mais alargado do que o da pesquisa (1872-1920).

O capítulo II, intitulado “Em busca da presença dos nacionais pobres”, é o mais marcante da
obra, pois nele o autor busca estabelecer os espaços e modos de viver e pensar das
populações nacionais pobres, relacionando suas vivências aos processos de luta que
constituíam a cidade. No Capítulo III, “Serviços de Negros: na cadência de Modas indígenas e
africanas”, Carlos José faz a crítica ao discurso da desqualificação dos “serviços de negros” e
aponta muito bem a natureza “subversiva e inventiva das formas de sobrevivência e práticas
culturais dos nacionais pobres”. Aqui seu objetivo é apontar ofícios, biscates e ocupações
casuais e temporárias que pouco foram examinadas pela historiografia do trabalho e
considerado como serviços de negros.

Para concluir, o livro tem como tema a São Paulo da virada do século XIX para o XX, ele é
bastante atual, pois mostra como se deu os processos de exclusão dos brasileiros pobres, em
sua maioria negros, que viviam no centro da cidade no período pesquisado. Hoje, uma vez
mais, estamos em pleno processo de higienização do centro onde as camadas mais pobres da
população estão sendo retiradas com extrema violência para liberarem o espaço para os
burgueses. Além disso, ainda tem a questão da posição do negro em uma sociedade pós-
abolição, apontando claramente a condição em que viviam e os ofícios aos quais foram
relegados, determinando sua condição de extrema pobreza e a imensa dificuldade de
romperem com esse quadro por não terem acesso à educação.

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