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Entretanto, até os dias de hoje, o fator de dissipação ou o condutor, evidenciando a ocorrência de corrente de fuga
fator de potência só foram medidos na frequência da linha. superficial. Além disso, as perdas aumentam com o aumento
Este trabalho realiza as medições de isolamento em uma larga da frequência.
faixa de frequência, produzindo uma assinatura da bucha
testada em função da frequência.
As medidas podem ser feitas em frequências diferentes da
frequência da linha e seus harmônicos. Com este princípio, os
testes podem ser realizados também na presença de alta
interferência eletromagnética em subestações de alta tensão.
A faixa de frequência utilizada nesse trabalho varia de 15 a
600 Hz. Os testes podem ser realizados sem problemas, pois,
nesta faixa de frequências, as capacitâncias e indutâncias do
sistema elétrico testado são praticamente constantes, sendo
Fig. 1 – Comportamento da resistência de condutores cilíndricos tubulares.
permitida uma variação máxima de 1% nos valores de
capacitância ou indutância medidos. B. Perdas por Efeito da Polarização
O teste do isolamento consiste na medida da superposição O comportamento de um material isolante quanto à
de vários efeitos, tais como as propriedades do papel sozinho e polarização tem uma característica semelhante à utilizada na
do óleo isolante. A análise das propriedades dielétricas é dada compreensão da análise de um capacitor.
com a combinação da polarização interfacial no isolamento A capacitância está relacionada às características
óleo e papel, combinando suas características. geométricas do capacitor e se o espaço entre as placas for
Assim, para avaliarmos o isolamento, devemos considerar preenchido com um material isolante, o fenômeno da
que o dielétrico perde sua capacidade de isolar devido a: polarização vai influenciar na capacitância, aumentando-a.
Movimento de íons e elétrons (corrente de fuga) Entretanto, a criação de dipolos no isolante absorve energia
Perdas por causa do efeito da polarização dos terminais do capacitor, devolvendo-a quando este é
A. Perdas por Corrente de Fuga descarregado, configurando as perdas por polarização.
As perdas por polarização são geradas devido aos efeitos de
A perda por movimento de elétrons, ou seja, por corrente
suspensão e rotação. No entanto, a polarização elétrica dos
de fuga no isolamento é dependente da frequência da tensão
materiais não tem origem em uma única fonte e a polarização
aplicada no isolamento. Este fenômeno ocorre devido ao efeito
total de um material dielétrico será a soma de todos os tipos
pelicular.
presentes neste material.
O efeito pelicular (Skin effect em inglês) é um efeito
A suspensão de elétrons é completamente reversível. O
caracterizado pela repulsão entre linhas de corrente
mecanismo é demonstrado na figura 2. Este tipo de
eletromagnética, criando a tendência de esta corrente fluir na
polarização também é chamado de “Polarização do Átomo”. A
superfície do condutor elétrico. Quando uma corrente elétrica
polarização de dipolos é mostrada na figura 3.
constante flui em um condutor homogêneo, ela se distribui
uniformemente pela sua seção transversal. Quando se trata de
uma corrente alternada, esta não se distribui de maneira
uniforme pela seção do condutor. Este efeito é proporcional à
intensidade de corrente, à frequência, ao campo elétrico, às
dimensões e forma do condutor e a condutividade elétrica [4]. Fig. 2 – Polarização de elétrons em um campo elétrico
Para um condutor de seção transversal circular, a
distribuição da corrente elétrica varia ao longo do raio da
seção, sendo maior na superfície. Freqüentemente encontrado
em sistemas de corrente alternada, o efeito pelicular é
responsável pelo aumento da resistência aparente de um
condutor elétrico, devido à diminuição da área efetiva do
condutor.
Para comprovar a influência do raio do condutor na Fig. 3 – Polarização de dipolos em um campo elétrico
resistência frente ao aumento de frequência, utilizaram-se as
funções de Bessel para calcular a impedância interna de O dipolo típico é uma molécula de água. Quando o campo
condutores cilíndricos contínuos e tubulares, levando-se em elétrico altera a polaridade, a orientação da molécula de água é
consideração o efeito pelicular [5]. A figura 1 mostra a alterada para 180º. Esta rotação, relacionada com a frequência
resistência aumentando com a frequência, sendo quanto maior aplicada, causa as perdas descritas. A superfície, os limites de
a espessura do tubo, mais inclinada é a curva se apresenta. elementos internos e intermediários (incluindo a superfície da
Assim, o efeito pelicular causa, com o aumento da frequência, precipitação) podem ser carregados, isto é, elas contêm
o aumento da densidade de corrente nas porções externas do dipolos que são orientados para alguns graus devido a um
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campo externo e deste modo contribuir para a polarização do armazenamento mostrou uma séria degradação em seu
material, gerando perdas adicionais que são conhecidas por isolamento devido a forte presença de umidade.
polarização interfacial. Este efeito ocorre, por exemplo, na
interface entre o óleo do transformador e o isolamento sólido
tais como papel ou placa de transformador.
(a) (b)
Fig. 5. Bucha Reserva sob teste – (a) bucha armazenada no caneco, (b) bucha
sendo retirada para inspeção e novo teste.
Observam-se também os valores de capacitância que buchas, conforme mostra a figura 14. Os valores na frequência
praticamente não se alteram, apresentando uma variação de de 60 Hz apresentam valores conformes e esperados.
cerca de 0,7% em toda a escala de frequências. A comparação Entretanto, com a variação de frequência, fica clara a
entre as fases mostra uma diferença máxima de menos de 1% evidência de falha pelo desvio entre as buchas após 150 Hz.
entre os valores de capacitância. Como o uso de uma ponte tipo Schering, com capacitor de
referência e capacidade de variação de frequência, a equipe
V. ANÁLISE DE FALHA EM TRANSFORMADOR ELEVADOR técnica tem a sua disposição todos os dados para efetuar uma
Em uma atividade de manutenção foram realizados testes análise eficaz, como os resultados das medidas das Perdas
para análise das buchas do transformador elevador de 134,4 Watt com a variação da frequência, utilizando a técnica de
MVA - 13,8/138 kV, instalado na UHE Jupiá, CESP, Brasil. A Colar Quente, como mostrada na figura 15. A figura 16 mostra
figura 12 mostra o transformador sob teste. os resultados para a variação da Perda Watt com a frequência.
Fig. 12. Transformador 134,4 MVA - 13,8/138 kV, UHE Jupiá, CESP.
Comparando-se as características de fator de potência e perda [3] Reference Manual CPTD1- CPC100TD1.PR.1 - OMICRON electronics
GmbH, 2005
Watt notamos uma grande semelhança. Portanto pode-se [4] Robert R., “Efeito Pelicular”, Revista Brasileira de Ensino de Física,
concluir que: vol. 22, no. 2, Junho, 2000.
A perda Watt aumenta com a frequência devido ao efeito [5] MINGLI, W. and YU, F., “Numerical Calculations of Internal
Impedance of Solid and Tubular Cylindrical under Large Parameters”,
pelicular, então existe um caminho para estabelecimento
IEEE Proc.-Gener. Transm. Distrib., Vol. 151, No. 1, January 2004.
da corrente de fuga evidenciando falha no isolamento; [6] Paulino, M. E. C., "Avaliação do Isolamento em Transformadores de
A diferença entre as buchas das 3 fases implica em Potência com Testes Elétricos Avançados" in Proc. 2010 9th IEEE/IAS
International Conference on Industry Applications, São Paulo, SP,
diferentes condições de falha entre elas;
Brazil, 2010.
Como a medida foi realizada sem a influência da corrente [7] Paulino, M. E. C. and Beltrão, V. C. V. M. “Efeito Pelicular e
de fuga superficial (teste colar quente), a corrente de fuga Polarização na Avaliação do Isolamento de Transformadores e Buchas
evidenciada não flui pela superfície da bucha, mas por com Variação de Frequência”. in Anais do SBSE 2010 - Simpósio
Brasileiro de Sistemas Elétricos, Belém, PA, Brazil, 2010.
uma conexão interna. [8] Paulino, M. E. C. Fattori, I. M. Mariano C. A., Alcântara, C. Oda, P. R.,
Após a abertura da caixa de buchas (figura 17a) foi "Utilização de Técnicas com Variação de Frequência para Busca de
verificado o afrouxamento dos parafusos das barras de Defeitos em Transformador de Potência" in Proc. 2010 IEEE Power
Engineering Society Transmission and Distribution Conf., São Paulo,
conexão entre as buchas de BT e a barra do enrolamento SP, Brazil, 2010.
conforme a figura 17b, além de trincas na base de fixação. [9] IEEE Guide for Diagnostic Field Testing of Electric Power Apparatus
– Part 1: Oil Filled Power Transformers, Regulators, and Reactors.
IEEE Std 62-1995, Inc., New York, NY, 1999.
[10] Paulino, M. E. C., "Avaliação em Campo de Buchas em
Transformadores de Potência – Fator de Dissipação a 60Hz é
Suficiente?" in Proc. CIDEL Argentina 2010 International Electricity
Distribution Congress, Buenos Aires, Argentina, 2010.
VIII. BIOGRAFIAS
Marcelo Eduardo de Carvalho Paulino graduou-
se como Engenheiro Eletricista na Escola Federal
de Engenharia de Itajubá (EFEI). Também é
Fig. 17a. Caixa de buchas de BT. Fig. 17b. Conexão buchas de BT.
Especialista em Manutenção de Sistemas Elétricos.
Possui larga experiência em Sistemas de Controle
VI. CONCLUSÕES Convencional, Manutenção de Sistemas de
Automação Digitais de Subestação, Proteção de
Este trabalho apresentou aplicações envolvendo técnicas Sistemas Elétricos, Qualidade de Energia e
com variação de frequência capazes de realizar testes com Aplicações em Smart Grids. Manutenção, testes e
maior rapidez e eficácia. Essas técnicas permitem a realização avaliação de transformadores de potência.
Atualmente é gerente do Departamento Técnico da Adimarco, no Rio de
do teste de Fator de Dissipação em várias frequências, gerando
Janeiro, Brasil. Instrutor certificado pela OMICRON eletronics É Também
assinaturas representando o estado atual do isolamento. Isto responsável pela preparação, projeto e execução de prestação de serviço na
permite a comparação das curvas resultantes de um área de teste de proteção e equipamentos de sistemas elétricos de Usinas e
determinado teste com uma assinatura de referência. Subestações de 500/345/138/13,8 KV. Autor e co-autor de mais de 80
trabalhos técnicos em eventos no Brasil e no exterior. Membro ativo de
Os procedimentos para identificação de problemas em sociedades profissionais nacionais e internacionais. Membro da
buchas de transformadores de potência utilizando medidas ABNT/COBEI e CIGRÉ, atuando em WG B5.39, WG A2.05, WG A2.44,
com variação de frequência identificam o tipo de falha e sua WG D1.35, e IEC TC57.
localização.
Antonio Tadeu Lyrio de Almeida graduou-se
Com isto é possível detectar a degradação no isolamento como Engenheiro Eletricista na Escola Federal de
em um estágio inicial, com uma análise mais detalhada, Engenharia de Itajubá (EFEI) em 1980. Cursou
subsidiando a tomada de decisão sobre a condição do especialização em Curso de Engenharia de Sistemas
Elétricos pela Universidade Federal de Itajubá em
transformador, evitando a escolha de procedimentos 1984, especialização no Curso de Engenharia de
inadequados, aumentando os custos e o tempo de Manutenção de Subestações pela Universidade
indisponibilidade. Federal de Itajubá em 1989. É mestre em
Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de
O trabalho mostrou que o teste realizado apenas a 60 Hz
Itajubá em 1986 no tema Especificação de Motores
pode levar a diagnósticos errados ou incompletos e não é de Indução e Doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de
capaz de avaliar satisfatoriamente o isolamento de buchas de Campinas em 1993 com trabalho de Contribuição à Conservação de Energia e
transformadores. à Manutenção de Motores de Indução Trifásicos. Atualmente é professor
titular da Universidade Federal de Itajubá e Coordenador do CEMSE - Curso
de Especialização em Manutenção de Sistemas Elétricos. Tem experiência na
VII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS área de Engenharia Elétrica, com ênfase em Sistemas Elétricos de Potência.
[1] IEEE Standard Performance Characteristics and Dimensions for Atuando principalmente nos seguintes temas: Motores de Indução,
Outdoor Apparatus Bushings, IEEE Standard C57.19.01-2000, May. Conservação de Energia, Manutenção, Manutenção Elétrica, Ensaios.
2000. Membro do IEEE.
[2] IEC Insulated bushings for alternating voltages above 1 000 V, IEC
Standard 60137 ed6.0, Jul. 2008.