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GGH 249

GRUPO DE ESTUDO DE GERAÇÃO HIDRÁULICA - GGH

PADRÕES IEC/IEEE NOVOS E APRIMORADOS PARA TESTES DE ISOLAMENTOS DE ENROLAMENTOS


DE ROTOR E ESTATOR

MILENE TEIXEIRA; GREG STONE; MLADEN SASIC; HOWARD SEEDING

RESUMO

O isolamento elétrico nos enrolamentos do rotor e do estator de grandes motores e geradores é crítico para a
operação dessas máquinas. Pesquisas têm mostrado consistentemente que os problemas de isolamento são uma
das razões mais comuns pelas quais novas máquinas falham em testes de fábrica/comissionamento ou máquinas já
em operação falham em serviço. Assim muitos testes IEC e IEEE foram desenvolvidos para avaliar a condição do
isolamento. Isso inclui testes de resistência (CA, CC e impulso), bem como testes de diagnóstico usados para testes
de fábrica e avaliação da condição de isolamento do enrolamento. Embora alguns desses testes sejam bastante
antigos, muitas melhorias estão sendo refletidas em atualizações destes padrões e normas. Além disso, a nova
tecnologia exigiu o desenvolvimento de novos padrões de teste. Este documento discute as mudanças significativas
nos padrões existentes durante os últimos 10 anos, bem como os novos padrões que foram desenvolvidos ou ainda
estão em desenvolvimento.

PALAVRAS-CHAVE

Máquinas elétricas rotativas, descargas parciais, rotor, estaror, normas, padrões, teste elétrico.

1.0 INTRODUÇÃO

O teste de diagnóstico dos sistemas de isolamento do enrolamento do estator e do rotor de máquinas rotativas de
alta tensão (3,3 kV e acima) 50/60 Hz é usado por usuários finais, fabricantes e oficinas de serviço. Os objetivos
desses testes são garantir a adequação ao serviço, auxiliar no planejamento da manutenção e verificar a eficácia
dos reparos. Existem várias ferramentas disponíveis para atender a esses objetivos, incluindo testes de sobretensão
e inspeções visuais. No entanto, os testes de sobretensão, sejam baseados em aplicação de tensão CA, CC ou de
impulso, são considerados testes “passa/não passa”, com exceção dos métodos de sobretensão controlada, como
testes de rampa e degrau CC, conforme descrito no IEEE 95 [1]. A inspeção visual, embora seja um meio valioso de
avaliar a condição do enrolamento e verificar as condições detectadas por um teste de diagnóstico, é limitada pela
necessidade de desmontagem do motor ou gerador e, devido à natureza subjetiva, não é padronizada.
Esse estudo cobrirá desenvolvimentos recentes nos padrões IEC e IEEE em métodos de teste de diagnóstico off-
line e on-line comumente usados para enrolamentos do estator, ou seja, resistência de isolamento e índice de
polarização, descarga parcial, fator de dissipação (ou tanδ). Além disso, as ferramentas disponíveis para avaliar a
condição de isolamento do enrolamento do rotor em máquinas síncronas, por exemplo, teste de queda de tensão no
polo, oscilografia de surto recorrente (RSO), teste de surto e fluxo magnético também serão discutidas.
Existem duas principais organizações internacionais de normas para equipamentos elétricos. Os padrões IEEE
tendem a ser mais amplamente usados nas Américas e no Oriente Médio. As normas IEC são mais amplamente
utilizadas na Europa e na Ásia. Houve um grande esforço nos últimos 25 anos para harmonizar os padrões de teste
IEC e IEEE. No campo de máquinas rotativas, os padrões IEEE são documentos de consenso em que fabricantes
de máquinas e usuários finais têm votos iguais. Os padrões IEC são aprovados (ou reprovados) onde cada país
membro recebe um voto. Para padrões de máquinas rotativas, a maioria dos países é representada por fabricantes
de máquinas. Embora os fabricantes de cada país devam equilibrar suas opiniões com as dos usuários finais naquele
país, na realidade, os padrões de isolamento de máquinas rotativas tendem a favorecer os fabricantes.
Devido a limitações de espaço, não estão incluídos os testes destinados a motores alimentados por inversores de
fonte de tensão em acionamentos de velocidade variável. Somente a IEC produziu normas para esta aplicação, que
são revisadas em [2].

2.0 TESTE DE ENROLAMENTO DO ESTATOR

2.1 RESISTÊNCIA DE ISOLAÇÃO E ÍNDICE DE POLARIZAÇÃO

mteixeira@qualitrolcorp.com
2

Uma medição de resistência de isolamento é um dos testes off-line mais básicos e comumente
empregados em testes de manutenção do isolamento do enrolamento do estator. O teste envolve a
aplicação de uma tensão CC prescrita através do isolamento da parede de aterramento e, com base
principalmente na corrente de fuga, o valor da resistência após um minuto de aplicação da tensão é
derivado. O índice de polarização é obtido fazendo uma nova medição da resistência de isolamento
aos 10 minutos e dividindo esse valor pelo medido após 60 segundos. Embora esse tipo de teste tenha
sido padronizado pelo IEEE 43 [3] desde meados da década de 1970, a seção de interpretação mudou
significativamente na versão 2000, onde o isolamento mínimo de 1 minuto agora deve ser de 100 Mohm,
substancialmente maior do que nas edições anteriores. Até recentemente, não havia uma norma IEC
equivalente para esse tipo de teste, porém, essa situação mudou em 2017 com a publicação da IEC
60034-27-4 [4] que especifica, entre muitos fatores, a tensão aplicada apropriada (dependendo da a
tensão nominal da máquina), bem como critérios de aceitação para resistência de isolamento e índice
de polarização. Normalmente, esses testes são usados para determinar se o enrolamento do estator
está apto a passar por mais testes de diagnóstico envolvendo altas tensões ou para verificar uma falha
de aterramento no caso de um alarme ou desarme. Embora o conteúdo de diagnóstico de um teste de
resistência de isolamento tenha sido considerado limitado devido à sensibilidade às correntes de fuga
de superfície, a versão mais recente do IEEE 43 inclui orientações sobre métodos de interpretação mais
sofisticados que podem fornecer informações sobre a condição geral do isolamento. Se a máquina for
desligada para manutenção, este teste é altamente recomendado. Tanto para o documento IEEE
quanto para o IEC, a utilidade dos fatores de correção de temperatura está sendo questionada e,
portanto, esse fator de correção pode eventualmente desaparecer. O IEEE também está
desenvolvendo um novo padrão, a ser chamado de IEEE 97, que apresenta testes de isolação CC mais
avançados.

FIGURA 1: Enrolamento do estator de um turbogerador.

2.2 FATOR DE DISSIPAÇÃO

As medições off-line do fator de dissipação (FD) têm sido usadas rotineiramente pelos fabricantes há
décadas para avaliar a qualidade e a uniformidade da parede do isolamento em barras e bobinas
individuais do estator. O teste do fator de dissipação pertence à ampla gama de métodos de medição
para perda dielétrica e também é comumente referido como tangente delta ou teste de fator de potência.
O fator de potência é a cotangente do ângulo de perda (delta), enquanto o fator de dissipação
representa a tangente. Em valores baixos de ângulo de perda, a tangente e a cotangente são
praticamente as mesmas. Quanto maior a perda dielétrica em um material isolante, maior será o fator
de dissipação. O FD em baixa tensão depende dos materiais isolantes usados em uma bobina ou
enrolamento e deve ser consistente entre bobinas feitas com os mesmos materiais.
Defeitos em um sistema de isolamento, como vazios e delaminação, resultam em DP, que também é
um mecanismo de perda dielétrica. Assim, as medições “tip-up” do fator de dissipação são usadas para
determinar a quantidade total de vazios de um sistema de isolamento. O tip-up do fator de dissipação
é obtido em duas tensões diferentes, por exemplo, em 25% e 100% da tensão nominal de operação
fase-terra (ou de cerca de 0,2 UN a 0,6 UN, onde UN é a tensão nominal de fase-fase ). Na tensão mais
3

baixa, assume-se que o sistema de isolamento não está sujeito a PD. Assim, o tip-up é usado para
diferenciar entre os defeitos devidos às propriedades da parede de isolação e defeitos por vazios na
mesma isolação. Este teste é regido pelo IEEE 286 [5] e pelo recém-publicado IEC 60034-27-3 [6].
Ambos os documentos fornecem orientação sobre a realização do teste e agora incluem o uso de
métodos digitais para determinar FD. Embora o IEEE 286 continue a excluir os níveis máximos
recomendados para FD e tip-up, o IEC 60034-27-3 inclui critérios de aceitação para barras e bobinas
do estator individuais. Não há critérios para interpretar os resultados dos testes em enrolamentos
completos em nenhuma das normas.
Em 2012, o CIGRE estabeleceu um grupo de trabalho (GT) para pesquisar a experiência e coletar
dados sobre FD e resultados de tip-up em bobinas e barras de todo o mundo. Mais de 20.000 registros
de medição de barras/bobinas foram analisados. Uma análise extensiva dos dados coletados [7]
mostrou que, em geral, os níveis medidos de FD e tip-up dos registros de dados são claramente
inferiores aos limites indicados no padrão IEC 60034-27-3. Portanto, os critérios de interpretação no
padrão IEC são fáceis de passar.
Em testes em bobinas e barras, os padrões indicam vários métodos para reduzir a influência do
revestimento de controle de tensão de carboneto de silício em bobinas/barras com classificação de 6
kV e superior. No entanto, é impossível usar esses métodos em enrolamentos completos. É por isso
que não há critérios de aprovação/reprovação para enrolamentos completos. Pode-se apenas observar
a tendência dos resultados de tip-up ao longo do tempo e, se estiver aumentando, pode indicar que os
vazios e delaminações do isolamento estão se desenvolvendo devido ao envelhecimento do
isolamento. Observe que os testes FD e tip-up indicam a condição média da isolação, e não a condição
das piores partes do enrolamento. Como resultado, o teste tip-up foi amplamente substituído pelo teste
DP pela maioria dos usuários finais.

FIGURA 2: Cálculo do teste tip-up.

2.3 TESTE OFFLINE DE DESCARGAS PARCIAIS

Medições off-line de descarga parcial em bobinas/barras ou enrolamentos completos do estator são


empregadas pelos fabricantes para fornecer informações sobre os vazio do sistema de isolamento e,
portanto, a qualidade da fabricação do isolamento. Ao contrário de uma medição do fator de dissipação
que indica a atividade DP total, um teste DP é sensível aos vazios com as maiores dimensões (que são
os mais preocupantes, pois são as partes mais deterioradas do enrolamento e que têm maior
probabilidade de falhar). Testes de DP off-line também são usados por usuários finais em enrolamentos
completos para determinar se o sistema de isolamento do estator está se deteriorando devido ao
envelhecimento térmico, bobinas/barras se soltando na ranhura, o sistema de supressão de DP parou
de funcionar ou os enrolamentos foram contaminados . Orientações abrangentes sobre métodos de
teste de DP off-line são fornecidas no IEEE 1434 [8] e no mais recente IEC 60034-27-1 [9]. Ambos os
documentos foram amplamente revisados nos últimos anos e é recomendado que as medições em
enrolamentos sejam feitas com um sistema de medição DP compatível com IEC 60270. Ou seja, as
medições são feitas na faixa de frequência de “banda larga” abaixo de 1 MHz. O DP é medido em
termos de picoCoulombs de carga aparente (pC) em barras/bobinas, bem como enrolamentos
completos do estator, no entanto, devido às ressonâncias do enrolamento, as amplitudes das DP em
enrolamentos completos são de natureza comparativa (não absoluta). Assim, para comparações
válidas, o mesmo modelo de detecção de DP deve ser usado no mesmo projeto de enrolamento ou
para comparações ao longo do tempo.
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FIGURA 3: Resultado de teste offline de DP em um motor de 6.9 kV.

A versão IEC é deficiente em como interpretar os resultados do teste tanto para testes de fábrica quanto
para monitoramento de condições. O IEEE 1434 fornece um pouco mais de informação para
interpretação, mas, além da tendência de uma máquina ao longo do tempo para ver se o DP está
aumentando ou para comparar resultados entre máquinas idênticas, nenhum conselho é dado sobre
quando novos enrolamentos devem ser rejeitados ou quando a manutenção é necessária. Como
alternativa, as tensões de início e extinção de DP são medidas. PDIV/PDEVs mais baixos indicam
enrolamentos mal feitos ou deteriorados. Em vez disso, ambos os guias se concentram em como
identificar as causas da DP usando gráficos resolvidos por fase. Mais informações práticas sobre a
interpretação de testes de DP off-line podem ser encontradas em [10].
Ao contrário do IEC 60034-27-1, o IEEE 1434 fornece informações sobre o uso de sondas de
radiofrequência (chamadas sonda TVA ou detector corona) para localizar onde está ocorrendo DP em
uma bobina/barra ou enrolamento completa. A sonda TVA consiste em uma antena e um rádio
modificado sintonizado em cerca de 5 MHz. O IEEE 1434 sugere que, se a leitura de quasi-peak da
sonda TVA for superior a 20 mA, serão necessárias mais investigações. Pelo menos um usuário, planta
geradora de energia, usa rotineiramente este teste como um teste passa/não passa para novas
bobinas/barras [11]. Outro teste off-line para DP de superfície usa câmeras de imagem ultravioleta e
câmeras de imagem acústica para detectar e localizar a atividade de DP. A segunda edição do IEEE
1799 foi lançada recentemente, indicando como câmeras UV e câmeras acústicas (uma nova tecnologia
muito recente) podem ser usadas para detectar DP de superfície tanto em bobinas/barras quanto em
enrolamentos completos [12]. Critérios claros de aprovação/reprovação foram incluídos no IEEE 1799.
O IEC não possui documento equivalente.
IEEE P2465 [13] é um documento ainda em desenvolvimento que fornece informações muito mais
precisas sobre a realização de testes de DP em bobinas/barras individuais antes da inserção no estator.
Esperamos que isso torne os resultados de tais testes mais comparáveis. Deve ser emitido em 2024.
Infelizmente, os fabricantes de máquinas não permitiram que critérios de aprovação/reprovação fossem
incluídos no documento.
2.4 TESTE ONLINE DE DESCARGAS PARCIAIS

O teste de DP off-line exige que o motor ou gerador seja desligado por pelo menos várias horas, com
os enrolamentos energizados com uma fonte de teste CA especial. Além disso, o enrolamento do
estator não está operando em temperaturas operacionais normais, nem forças magnéticas ou
distribuição de tensão em testes off-line. Todos esses fatores podem ter grande influência na atividade
da DP. Assim, para fins de avaliação de condições, os usuários finais preferem testes de DP on-line.
IEEE 1434 foi a primeira norma para testes de DP on-line [8]. Muitos anos depois, a IEC 60034-27-2 foi
emitida [14]. Ambas as normas foram revisadas pelo menos uma vez. Felizmente, ambos os
documentos contêm essencialmente as mesmas informações. A medição on-line de DP nos
enrolamentos do estator normalmente requer a instalação permanente de sensores dedicados durante
uma parada de manutenção. Uma vez instalados os sensores, é possível realizar testes periódicos ou
monitoramento contínuo durante a operação normal do motor ou gerador. Há uma ampla gama de
sensores possíveis, cada um com suas próprias vantagens e desvantagens. Para aplicações de
motores e geradores, os sensores incluem capacitores de alta tensão classificados de 80 pF a 9 nF,
transformadores de corrente de alta frequência (HFCTs) instalados no condutor de aterramento de
capacitores de surto ou nos condutores de aterramento neutro do cabo de alimentação (quando
presente). Os capacitores de 80 pF são de longe o tipo mais comum de sensores de DP para máquinas,
5

sendo instalados em pelo menos 20.000 motores e geradores. Para capacitores instalados nos
terminais de alta tensão de uma máquina, as normas exigem que eles passem por testes de
confiabilidade para garantir que os próprios sensores de DP não levem à falha da máquina [8, 14].

Bipolar C2

0 to 3.16 pps 3.16 to 10 pps 10 to 31.6 pps 31.6 to 100 pps

100 to 316 pps 316 to 1000 pps > 1000 pps Subset 8
750 750

500 500
Pulse Magnitude [mV]

250 250

0 0

-250 -250

-500 -500

-750 -750

0 45 90 135 180 225 270 315 360


Phase Angle [deg]

FIGURA 4: Resultado de teste online de DP.

No passado, havia controvérsia sobre a medição de DP na faixa de baixa frequência (LF) (geralmente
associada a capacitores de cerca de 1 nF ou métodos que usam HFCTs) versus a faixa de frequência
muito alta (VHF) (30-300 MHz) geralmente associado a acopladores de 80 pF. É claro que ambas as
faixas de frequência podem detectar DP [14, 15]. Em geral, embora se afirme que o método LF pode
“ver” defeitos mais profundos no enrolamento em comparação com os métodos VHF, isso não foi
validado em testes on-line, pois longe dos terminais da fase, as tensões na bobina são menores,
reduzindo bastante a atividade de DP. Além disso, os métodos LF são mais propensos a falsas
indicações positivas devido ao ruído e DP externo e, portanto, precisam de muito mais experiência para
interpretar os dados em comparação com os métodos VHF [8, 14-16].
Um requisito crítico para medições de descarga parcial on-line é que o método empregado seja capaz
de separar os sinais resultantes da descarga parcial no enrolamento do estator de ruídos ou distúrbios
externos à máquina. Tal interferência elétrica pode se originar de equipamentos conectados ao sistema
elétrico da planta tipo comutadores, transformadores, e/ou atividades industriais, por exemplo,
soldagem a arco elétrico, faíscas em conexões elétricas. Métodos robustos de rejeição de ruído são
necessários para reduzir a probabilidade de resultados falsos positivos ou negativos. Se ocorrerem
muitos "falsos positivos", perde-se a confiança no teste e testes futuros podem não ser realizados
rotineiramente, perdendo-se o benefício do teste de descarga parcial on-line. As fontes de ruído e
perturbações são amplamente discutidas na IEC 60034-27-2 [14]. Além disso, todos os meios para
eliminar, ou pelo menos minimizar os efeitos da interferência externa, são descritos em 60034-27-2.
Resumidamente, a supressão de ruído em sistemas de descarga parcial on-line pode ser realizada
usando domínio de frequência, domínio de tempo ou uma combinação de técnicas de domínio de tempo
e frequência.
As normas IEEE e IEC indicam que a tendência da atividade de DP on-line (independentemente de
quais unidades de medida são usadas) é a melhor maneira de determinar se um enrolamento está
envelhecendo. Porém a tendência só é válida se for utilizado o mesmo modelo de instrumentação, com
as mesmas configurações e quando a máquina estiver operando sob as mesmas condições nominais
(tensão, temperatura, umidade e potência) e com o ruído suprimido. A IEC diz que o nível de atividade
de DP só é significativo ao fazer comparações entre o mesmo projeto/tipo de máquinas. O IEEE vai
além, sugerindo que, se houver um grande banco de dados de resultados em muitas máquinas, um
guia estatístico para o que é atividade baixa ou alta pode ser determinado. Um fornecedor de sistema
DP publicou esses níveis de “alerta” com base em mais de 750.000 testes em mais de 8.500 máquinas,
com muitas centenas de resultados correlacionados com a inspeção visual dos enrolamentos [17]. Mais
informações práticas sobre a interpretação on-line de DP estão em [10].

2.5 SURGE TESTE

Nenhum dos testes acima é capaz de detectar se o isolamento das espiras nas bobinas múltiplas voltas
do estator está em boas condições. O único teste para o isolamento da espira é um teste de surto de
6

tensão em que uma tensão de impulso (com um tempo de subida de 100-300 ns para simular os surtos
de comutação que ocorrem durante a partida do motor) é aplicada a bobinas individuais ou
enrolamentos completos. Estes são testes de tensão suportável onde uma tensão máxima especificada
é aplicada (com base na classificação de tensão da máquina) e a quebra do isolamento da espira é
determinada. A norma mais antiga de “teste de surto” é o IEEE 522 [18]. Posteriormente, a IEC emitiu
a IEC 60034-15 [19], amplamente baseada na IEEE 522. Infelizmente, as tensões de teste eram
diferentes entre IEEE e IEC. No entanto, espera-se que a versão mais recente do IEC 60034-15
harmonize a tensão de teste com o IEEE 522. O IEC 60034-15 destina-se apenas a bobinas individuais,
não a enrolamentos completos. O IEEE 522 permite o teste de enrolamentos completos, mas tem
muitos cuidados ao fazer tais testes, pois pode ser difícil detectar quando ocorreu uma falha no
isolamento da espira. Ambos os documentos estão sendo amplamente revisados.

FIGURA 5: Comparação entre os traçados do surge teste.

2.6 VIBRAÇÃO DE CABEÇAS DE BOBINAS

Nos últimos 20 anos, a vibração das cabeças de bobinas em motores e geradores de 2 e 4 polos tornou-
se uma das principais causas de falhas catastróficas no enrolamento do estator [2]. Isso levou a IEC a
criar um novo documento IEC 60034-32 para a detecção off-line e on-line da vibração das cabeças de
bobinas que pode levar a curtos-circuitos no enrolamento à medida que o isolamento abrada ou a trinca
por fadiga dos condutores de cobre [20]. O teste offline é um teste de impacto em que um dos lados
das cabeças de bobinas é atingido em vários locais com um martelo calibrado enquanto detecta as
vibrações resultantes usando acelerômetros convencionais instalados temporariamente. O
monitoramento on-line é feito com acelerômetros de fibra ótica, geralmente conectados a um monitor
contínuo. Esta nova norma dá conselhos gerais sobre a interpretação dos testes, mas nenhum critério
específico de aprovação e reprovação. Tais critérios podem ser encontrados em [2].

FIGURA 6: Evidências da vibração de cabeças de bobinas.

2.7 ISOLAMENTO INTERLAMINAR DO NÚCLEO DO ESTATOR COM FLUXO NOMINAL OU EM BAIXO


FLUXO

Quando o isolamento entre as lâminas de aço silício do núcleo do estator é mal feito ou envelhece com
o tempo, as lâminas de aço entram em curto; contato físico uma com a outra, levando a criação de
pontos quentes locais no núcleo. Se as chapas de aço estiverem em curto, o aço derreterá em serviço
e causará uma falha inesperada no estator. A IEC não possui procedimento de teste destinado ao
monitoramento de condições deste tipo de defeito. No entanto, o IEEE está preparando um documento
7

sobre como os núcleos falham e descreve os testes off-line mais comuns. O teste mais antigo é onde
o estator é excitado para ter um fluxo magnético quase total (aproximando-se de 1,3 T) no núcleo. Se
houver laminações em curto, elas criarão um ponto de aquecimento localizado que pode ser detectado
com uma câmera termográfica. O outro teste é conhecido como teste ELCID, que é feito em cerca de
4% do fluxo nominal do núcleo, e os curtos são detectados usando um sensor de campo magnético
(chamado de bobina Chattock). IEC 1719 deve ser emitido em 2024 ou mais. Até então, [2] descreve
os testes e os critérios de aprovação/reprovação.

FIGURA 6: ELCID teste em execução.

3.0 TESTE EM ROTOR

3.1 TESTE DE ISOLAÇÃO EM ROTOR SÍNCRONO

A falha no isolamento do enrolamento do rotor (para terra ou entre espiras) tende a ter consequências
menos graves do que nos enrolamentos do estator, exceto no caso de uma segunda falta à terra. Para
a maioria das aplicações, a tensão operacional normal para o enrolamento do rotor está abaixo de
1.000 Vcc. A tensão entre espiras durante a operação normal é geralmente limitada a alguns volts,
embora a amplitude possa ser significativamente maior em condições transitórias. Normalmente, no
caso de um alarme de falha para terra, a máquina não dá trip, mas é removida de serviço para permitir
testes e inspeções para confirmar a presença da falha. Na maioria dos casos, uma investigação mais
aprofundada envolve a realização de testes de resistência de isolamento e índice de polarização. Esses
testes, aplicados aos enrolamentos do rotor, são abordados no IEEE 43 [2] e no IEC 60034-27-4 [3].
No entanto, o valor diagnóstico deste teste, semelhante aos enrolamentos do estator, limita-se a avaliar
a condição da superfície da isolação e/ou o nível de contaminação presente. Informações sobre curtos
entre espiras ou a localização do defeito não estão disponíveis.
Os métodos mais comuns para detectar curtos entre espiras nos enrolamentos do rotor são:
• Teste de queda de tensão;
• Oscilografia de surto recorrente (RSO);
• Monitoramento do fluxo magnético.
Os dois primeiros testes são offline, enquanto o último é on-line.
Atualmente, os testes de queda de tensão no pólo ou bobina e RSO não estão incluídos nas normas
IEC, sendo apenas brevemente mencionados nas normas IEEE 56 e IEEE 62.2 [21, 22]. No entanto, a
IEC começou a trabalhar em um documento abrangente para testes de rotores síncronos de alta
velocidade, que será chamado de IEC 60034-27-8 quando for publicado em mais alguns anos.
Entretanto, mais detalhes sobre esses testes podem ser encontrados em [2].
O teste de queda de tensão no polo é preferencialmente realizado pela aplicação de uma tensão CA
através dos anéis coletores positivo e negativo. Normalmente, o teste é realizado com uma tensão de
até 240 V. A tensão em cada bobina (ou pólo em rotores de pólo saliente) no enrolamento é medida e
deve ser a mesma em todas as bobinas. Se o valor for menor, considera-se que essa bobina está com
espiras em curto. Alternativamente, a impedância de uma bobina de rotor pode ser medida variando a
tensão de frequência de energia através da bobina, medindo a corrente e depois calculando a
impedância. Os curtos-circuitos entre espiras podem ser detectados comparando diferentes valores de
impedância da bobina.
O teste RSO é uma técnica de reflectometria no domínio do tempo em que um pulso de tempo de subida
rápido de baixa tensão (em torno de 10 – 15 V) é injetado geralmente em uma extremidade do
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enrolamento do rotor. O sinal refletido é registrado e comparado com o sinal injetado. Desvios entre os
sinais injetados e refletidos são uma indicação da presença de espiras em curto ou um curto para terra.
Este método de teste também pode ser usado para localizar a posição aproximada do defeito. A técnica
RSO pode ser realizada com o rotor parado ou girando. No último modo, o risco de resultados falsos
positivos ou negativos é significativamente reduzido, mas é necessária mais habilidade do operador de
teste.
O monitoramento on-line do fluxo magnético por um sensor no entreferro entre o rotor e o sensor é
agora amplamente usado para monitoramento de enrolamentos de rotor de 2 e 4 polos e foi também
adaptado para uso em enrolamentos de rotor síncrono [2, 23]. A principal vantagem do monitoramento
de fluxo é que o rotor está operando em sua velocidade e temperatura normais. Os testes off-line
tendem a ter indicações falsas, pois o rotor está frio e geralmente não está girando. Essa tecnologia
está agora em sua 3ª geração, o que permite que os usuários finais realizem o teste por conta própria
com o software, indicando quais bobinas apresentam curtos-circuitos e sua gravidade. Se mais curtos
estiverem ocorrendo ao longo do tempo, isso implica que o isolamento da espira está envelhecendo e
que há um risco maior de uma falha para terra.

FIGURA 8: Comparação entre bobinas do polo A e polo B, em um rotor de polo liso com 2 polos,
indicando curto entre espiras na bobina 6 do polo B.

4.0 CONCLUSÕES

Existem muitos métodos de teste de diagnóstico off-line e on-line disponíveis para auxiliar na avaliação da condição
dos enrolamentos do estator e do rotor de máquinas rotativas. Os métodos mais amplamente utilizados e eficazes,
por exemplo, descarga parcial, fator de dissipação dielétrica, resistência de isolamento, etc., foram descritos. Devido
à ampla aplicação desses métodos, normas internacionais foram desenvolvidas para auxiliar no uso e interpretação
adequados dessas técnicas diagnósticas. Lamentavelmente, além dos testes de resistência de isolamento/índice de
polarização, faltam critérios claros de aprovação/reprovação para a maioria dos testes padronizados.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] IEEE Standard 95 Recommended Practice for Insulation Testing of AC Electric Machinery (2300 V and Above)
With High Direct Voltage
[2] G.C. Stone, et al, “Electrical Insulation for Rotating Machines: Design, Evaluation, Aging, Testing and Repair”,
Wiley/IEEE Press, 2014.
[3] IEEE Standard 43 Recommended Practice for Testing Insulation Resistance of Rotating Machinery
[4] IEC 60034-27-4 Measurement of insulation resistance and polarization index of winding insulation of rotating
electrical machines
[5] IEEE 286 Recommended Practice for Measurement of Power Factor Tip-Up of Electric Machinery Stator Coil
Insulation
[6] IEC 60034-27-3 Dielectric dissipation factor measurement on stator winding insulation of rotating electrical
machines
[7] CIGRE “Dielectric dissipation factor measurements on new stator bars and coils”, Technical Brochure 769, 2019.
[8] IEEE 1434 Guide for the Measurement of Partial Discharges in AC Electric Machinery
[9] IEC 60034-27-1 Off-line partial discharge measurements on the winding insulation
[10] G.C. Stone et al, ‘Practical Partial Discharge Measurmetn in Electrical Equipment’, Wiley/IEEE Press, 2023.
[11] C. Hudon, et al, "Scanning Individual Stator Bars and Coils with an Antenna to Detect Localized Partial
Discharges," IEEE Electrical Insulation Conference (EIC), 2019, pp. 457-460.
[12] IEEE 1799 IEEE Recommended Practice for Quality Control Testing of External Discharges on Stator Coils,
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[13] IEEE P2465 Draft Recommended Practice for Pulse-type Partial Discharge Measurements on Individual Stator
Bars and Coils
[14] IEC 60034-27-2 On-line partial discharge measurements on the stator winding insulation of rotating electrical
machines
[15] IEC 62478 Measurement of partial discharges by electromagnetic and acoustic methods
[16] G.C. Stone et al, “Comparison of Low Frequency and High Frequency PD Measurements on Rotating Machine
Stator Windings”, IEEE Electrical Insulation Conference, June 2018
[17] S. Gaidhu et al, “Analysis of a Partial Discharge Database to Determine When Stator Winding Insulation
Maintenance is Needed”, IEEE Petrochemical Industry Conference, Sept 2023.
[18] IEEE 522 Guide for Testing Turn Insulation of Form-Wound Stator Coils for Alternating-Current Electric
Machines
[19] IEC 60034-15 Impulse voltage withstand levels of form-wound stator coils for rotating a.c. machines
[20] IEC 60034-32 Measurement of stator end-winding vibration at form-wound windings
[21] IEEE 56 Guide for Insulation Maintenance of Electric Machines
[22] IEEE 62.2 Guide for Diagnostic Field Testing of Electric Power Apparatus - Electrical Machinery

DADOS BIOGRÁFICOS

(1) MILENE DE ARAUJO SOARES TEIXEIRA


Milene Teixeira (Gerente de Vendas Iris Power Brasil). Formação: Técnica em Edificações
(CEFET-MG – Belo Horizonte), 1997. Engenheira Industrial Eletricista pelo Centro Federal de
Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG), 2003. Especializada e, Engeharia de
Produção pela FEG – UNIESP 2009. Especilizada em Marketing pelo FGV 2017.
Experiência profissional: Carreira desenvolvida ao longo de 20 anos em várias áreas (Projeto,
Produção, e Vendas Técnicas em diversos ramos industriais tais como siderurgias, papel e
celulose e aeroespacial). Responsável pelos negócios da Iris Power no Brasil por 12 anos.

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