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Artigo de capa

Carlos Torres-Marchal

Dom Pedro II no Inferno de Wall Street - I.

Resumo:
Vinte e sete por cento das estrofes do Inferno de Wall Street (Nova Iorque, 1877) tratam direta ou
indiretamente de D. Pedro II, tornando-o o principal personagem deste trecho de Guesa Errante de
Sousândrade. O presente artigo analisa as primeiras oito estrofes sobre o assunto. Especial atenção é
dada à viagem imperial aos Estados Unidos (1876) por ser tema de várias estrofes. Reportagens da
imprensa norte-americana, fonte de inspiração explicitada pelo autor, são extensamente usadas na
exegese do material analisado. O texto original da versão definitiva do Inferno de Wall Street (Londres, c.
1886) é apresentado como anexo.

Abstract:
Twenty-seven percent of the stanzas in the first edition (New York, 1877) of Sousandrade‘s Wall Street
Inferno deal, directly or by inference, with Brazilian Emperor Dom Pedro II, making him the main
character in the Inferno. The first eight such stanzas are analyzed in the present work. Dom Pedro‘s
trip to the United States in 1876, which constitutes the backdrop of many of the stanzas, is given
particular attention. Newspaper articles, an avowed source of inspiration by the author, are used
extensively for interpretation of the texts. A complete version of the London edition (abt. 1886) of the
Wall Street Inferno is presented as an attachment.

Introdução
O Inferno de Wall Street é a ―obra‖ mais conhecida de Sousândrade; ocupou o segundo
lugar numa pesquisa sobre os mais importantes poemas brasileiros. Trata-se, em realidade, de
um fragmento de 176 estrofes do Canto X dO Guesa,1 longo poema épico americano inspirado
por um ritual dos índios chibcha da Colômbia. A publicação, em 1964, de uma separata 2 da
edição londrina dO Guesa, intitulada O Inferno de Wall Street ajudou a popularizar o nome pelo
2

qual é conhecido este trecho do poema, que teve duas versões publicadas pelo autor (Nova
Iorque, 1877; Londres, c. 1886).

Os dez mais! Brasileiros (2000)3

O nome — Inferno de Wall Street — induz o leitor a pensar que o principal assunto é
uma crítica da Bolsa de Valores de Nova Iorque e do sistema capitalista dos Estados Unidos.
As referências diretas ao sistema financeiro, porém, aparecem só nas primeiras cinco estrofes
do Inferno. A tônica de todo o segmento é uma crítica ácida ou irônica das mazelas das
sociedades norte-americana e brasileira.
Dom Pedro II é o personagem mais citado no Inferno, particularmente com referência à
sua visita aos Estados Unidos em 1876; outras estrofes trazem críticas veladas à monarquia
brasileira, alvo frequente de Sousândrade, republicano convicto. Das 106 estrofes que
integram a primeira edição do episódio (Nova Iorque, 1877), vinte e nove (27 %) fazem
referência ao imperador brasileiro. A edição definitiva (Londres, c. 1886) contém 176 estrofes,
entre as quais cinco sobre D. Pedro II não incluídas na edição nova-iorquina.
O presente trabalho analisa as oito primeiras estrofes com referências a D. Pedro no
Inferno de Wall Street, utilizando fontes primárias, particularmente referências da imprensa diária
dos Estados Unidos.

Sousândrade e Dom Pedro II


As convicções republicanas de Sousândrade são amplamente conhecidas; o poeta foi
considerado um dos republicanos ―pré-históricos‖ do Maranhão da década de 1870.4
Aparentemente, porém, maior que seu amor pela República, era sua animadversão por D.
Pedro II.
Esta ojeriza aparentemente teve início após o Imperador ter negado ao poeta uma
bolsa de estudos (ou empréstimo para a sua educação, nas palavras de Sousândrade), episódio
descrito no Canto VI dO Guesa:
Sousândrade é aconselhado por um ‗irmão‘ a solicitar ajuda ao imperador:

Quando voz de consôlo ouvi de meu irmão :


3

" Porque desesperar ? filhos do imperio,


Temos nós um monarcha verdadeiro,
Das lettras protector, um grande coração.'5

Apresenta-se à primeira audiência com o Imperador:

" De um palacio as escadas eu subindo,


........................
Veiu então paternal, o ar elegante,
Deu-me a beijar a mão . . — será Fomagatá . . . ?
........................
E o emprestimo pedi da minha educação.
Me apraza o principe á seguinte audiencia :6

Fomagatá, personagem da mitologia muisca (ou chibcha) aparece, em francês, na


introdução dO Guesa, tirada da obra Vue des Cordillères de Humboldt, :

―Fomagata é um monstro, símbolo do mal, representado com um olho só, quatro


orelhas e um rabo comprido. Este Fomagata, cujo nome na língua chibcha quer
dizer fogo ou massa fundida e fervente, era considerado um mau espírito. Viajava
pelo ar, entre Tunja e Sogamozo, e transformava os homens em serpentes, lagartos e
tigres. Segundo outras tradições, Fomagata foi originariamente um príncipe cruel‖
[tradução nossa] 7

Sousândrade, nO Guesa, aproveita a descrição de Humboldt para descrever D. Pedro:

" Ora eu vi os da lenda quatro ouvidos


E um ôlho só e os rabos retorcidos,
Massa candente, fogo, aos homens attracção,
Que em lagartos, em tigres, em serpentes
Transforma-os ; vi, nos ares transparentes
De Tunja a Sogamozo, a perfida visão ? 8

Notamos ainda que Sousândrade utiliza a acentuação oxítona — Fomagatá — (ver


também o Canto II, p. 37), talvez inconscientemente influenciado pelo original de Humboldt
em francês. Em espanhol é utilizada a acentuação paroxítona, que Sousândrade emprega uma
única vez, para rimar com cascata, na estrofe abaixo:

( Ecchos das nuvens : )

— Ha trovões no Parnaso,
São dos cumes a luz ;
Quando vem Fomagáta,
Em cascata
Terra-inundam tatús ! 9

Humboldt, autor da citação utilizada por Sousândrade, erra ao escrever Fomagata, em


lugar de Tomagata, ou mesmo Thomagata, grafias utilizadas por autores colombianos dos séculos
XVII a XIX, incluindo Duquesne, fonte usada pelo sábio alemão.10
4

Thomagata (Piedrahita, 1688) 11 Fomagata (Humboldt, 1810)12

Thomagata (Uricoechea, 1854) 13

Thomagata / Fomagata

As audiências de Sousândrade com o Imperador sucedem-se, sem resultados:

‗ Á outra audiencia ;
Já tomei o seu nome ; ‘ com prudencia
Responde-me e se vai, n'um dia de calor.
..............
Na outra audiencia,
Que dirá hoje o rei ? Com impaciencia
Turvando Jove o olhar para um mortal tremer —
. . . A mesma coisa : ‗ Já tomei seu nome,
Para indagar.‘. . . O diabo assim consome
O tempo que, de Deus, temos para viver ?
..............
" Disse eu, (quão puro, Deus ! ) eu alli estava ;
Indagasse. Nem mais uma palavra ;14

Ao não obter o empréstimo pleiteado, Sousândrade vende os escravos da fazenda


Victória para financiar seus estudos:

O emprestimo sem ter,


Voltou o desespêro dos perdidos :
Foram por meu amor todos vendidos
Os servos da Victoria. Eu vi-me endoidecer !
" Mas, renasci do pranto que verteram
Em minha alma e da bençam que me deram
Ao verem-me partir, dizendo : até aos céus ! . .
— Quem são maus, os escravos ? Os senhôres !
— Quem, os povos ? Os ruins imperadores ! 15

Há no último verso (os ruins imperadores) ainda uma referência indireta a Tomagata, o
príncipe cruel.
5

Sousândrade alude à venda dos seus escravos devido à recusa do Imperador também
no Canto I dO Guesa:

. . .Um dia,
Lembro-me agora, náufrago e perdido,
Porém só, na mudez minha e sombria
Fui a audiencia dos rêis ; fui recebido.
...
" Eram os paes dos povos, fui. Somente
N'essa divida d'honra, a salvação
Do suicida e dos Afros mui dolentes,
Quizera eu bem sagrada discrição.
" Minha mãe virtuosa, ó liberdade,
Do coração amor ! voltei mais nobre !
Tal reservado offende á magestade,
Os rêis não correspondem-se co'o pobre.
" O que é de Cesar, pela grande porta :
Na pequena e suspeita, o que é de Christo
Rev‘lucionario eterno. — Um véu sobre isto,
Cuja antiga lembrança punge e corta.16

O autor, com algum exagero, culpa o Imperador de ―forçá-lo‖ a vender os escravos da


fazenda Victória e começa a fustigar a monarquia, e, em particular D. Pedro II.
Estranhamente, esta animadversão não se estende à família imperial, e em particular à Princesa
Isabel. Numa carta de 1896, Sousândrade manifesta seu desejo de reconduzi-la ao Brasil:

... a princeza Izabel me deve amor, e hei de reconduzil-a á nossa patria não
imperatrix do Brazil, mas como a melhor mãe de familia brazileira (vereis no
Novo-Eden que ella é a predestinada rosa de oiro, a irmã de Washington e
fundadora da Republica da Sul-America, a suicida dynasta para ser a revivente
Libertas). 17

Além das críticas diretas a D. Pedro II, Sousândrade lança-lhe farpas veladas no Inferno
de Wall Street, em episódios geralmente relacionados com a visita do Imperador aos Estados
Unidos em 1876.
Para facilitar a referência do leitor, incluímos em anexo o texto completo do Inferno de
Wall Street, na versão londrina. A grafia original é mantida, e aproximamos a diagramação e
tipografia do original. Foram conservados todos os aparentes erros ortográficos do original
(em geral referentes a nomes próprios). As únicas mudanças introduzidas, além da numeração
das estrofes, foram as que constam das duas folhas de Errata que acompanham a edição
original. O formato adotado foi Adobe PDF localizável, sendo possível procurar palavras ou
sequências no texto.
Uma característica do Inferno de Wall Street, frequentemente usada nas referências à
visita de Dom Pedro aos Estados Unidos, é ressaltada por Sousândrade na Memorabilia da
edição novaiorquina de Guesa Errante (1877): ―o Auctor conservou nomes proprios tirados á maior parte
de jornaes de New York e sob a impressão que produziam.‖ O presente trabalho é, portanto,
embasado em jornais norte-americanos publicados durante a visita de D. Pedro aos Estados
Unidos; uma pesquisa iconográfica em publicações brasileiras revelará, sem dúvida, outras
fontes de inspiração de Sousândrade.18
6

A viagem de Dom Pedro II aos Estados Unidos


A visita de D. Pedro II aos Estados Unidos atraiu a atenção da imprensa do país, que
retratou o Imperador de uma maneira favorável. A curiosidade popular também era atiçada
por tratar-se da primeira visita de um imperador reinante aos Estados Unidos. O rei David
Kalakaua das ilhas Sandwich (hoje Havaí) esteve no país em 1874, mas Kalakaua não era
considerado da mesma categoria de um descendente de Habsburgos e Bourbons.
Sousândrade menciona a visita do rei havaiano na estrofe 46 do Inferno de Wall Street: ‗A esta
súcia, / Não Pedros, só veem Kalakaus‘! 19 Outra visita da realeza europeia aos Estados Unidos,
mencionada por Sousândrade, foi a do Grão Duque Alexis, filho do tzar Alexandre II, em
1871-72, também mencionado no Inferno.20 Em 1876 também esteve na costa leste dos Estados
Unidos o Príncipe Óscar, filho do rei da Suécia.21 A lista de membros da realeza europeia que
visitaram os Estados Unidos antes de D. Pedro é bastante extensa, e inclui o futuro Napoleon
III da França (exilado em 1836) e o Príncipe de Gales (1860).22
A cobertura mais completa da visita de Dom Pedro na imprensa diária americana foi a
do jornal New York Herald, que enviou James O‘Kelly ao Brasil para acompanhar o imperador
brasileiro desde antes da sua saída do Rio de Janeiro e durante todo seu périplo pelos Estados
Unidos. As reportagens de O‘Kelly e o diário pessoal do Imperador constituem a base do
livro D. Pedro II nos Estados Unidos de Argeu Guimarães,23 a principal fonte utilizada na ReVisão
de Sousândrade24 para comentar as referências a D. Pedro nO Inferno de Wall Street. O álbum de
recortes jornalísticos (geralmente sem identificação das publicações originais) intitulado Dom
Pedro in the U.S., depositado na Biblioteca Oliveira Lima da Universidade Católica
(Washington), constitui outra valiosa fonte para reconstruir a viagem do imperador e avaliar o
impacto da sua visita na população dos Estados Unidos.
A atividade febril de D. Pedro e seu desejo de conhecer os Estados Unidos e aprender
o máximo possível sobre o país agradaram ao público norte-americano. O imperador
acordava de madrugada para fazer visitas a obras públicas, escolas e fábricas antes do
desjejum, para depois atender visitantes, participar de cerimônias religiosas, visitar museus,
conferenciar com autoridades, receber homenagens, assistir a peças teatrais etc.
Frequentemente suas atividades estendiam-se até depois da meia-noite. Nas suas viagens
pelos Estados Unidos percorreu o país de costa a costa e de norte a sul.
O roteiro dos deslocamentos, nos dois meses que passou nos Estados Unidos, dá uma
ideia da atividade incessante do imperador:

15–17 de abril: Nova Iorque.


17–25 de abril: Viagem de Nova Iorque até San Francisco, na
Califórnia, com escalas em Chicago, Omaha,
Cheyenne, Salt Lake City, Wadsworth e
Sacramento.
25–29 de abril: San Francisco.
29 de abril – 5 de maio: Viagem de San Francisco até Chicago, passando
por Sacramento e Omaha.
5–7 de maio: Viagem de Chicago até Washington, com escala
em Pittsburgh.
7–9 de maio: Washington.
10–12 de maio: Filadélfia. Participação na inauguração da
Exposição do Centênio.
12–14 de maio: Baltimore e Anápolis.
15 de maio: Cincinnati (Ohio)
7

16 de maio: Louisville (Kentucky): visita à Gruta do


Mamute.
17–18 de maio: St. Louis (Missouri)
18–24 de maio: Travessia pelo rio Mississípi de Saint Louis até
Nova Orleans.
24–29 de maio: Nova Orleans.
29–31 de maio: Viagem de Nova Orleans a Washington.
31 de maio–3 de junho: Washington. Mount Vernon.
3 – 4 de junho: Viagem de Washington às cataratas do Niágara.
5 – 7 de junho: Canadá (Toronto, Montreal)
8 – 14 de junho: Boston e arredores.
15 – 16 de junho: Albany e Saratoga..
17 – 19 de junho: New Haven (Connecticut)
19 – 22 de junho: Filadélfia.
22 de junho: Bethlehem (Pensilvânia). Universidade Lehigh.
25 de junho – 5 de julho Filadélfia. Exposição do Centênio.
5 – 12 de julho: Nova Iorque. Partida no vapor Russia com
destino à Inglaterra.

A figura abaixo mostra esquematicamente as viagens de D. Pedro pelos Estados


Unidos.

As viagens de Dom Pedro II nos Estados Unidos e Canadá (1876)

Um dos principais motivos da visita de D. Pedro era visitar a Exposição do Centênio


(oficialmente a Exibição internacional de artes, manufaturas e produtos do solo e das minas),
na Filadélfia. A exposição era a sexta grande feira mundial, e a primeira a ser realizada em solo
americano. Marcava também o progresso e a pujança dos Estados Unidos aos cem anos de
vida independente.25 Como veremos adiante, D. Pedro deixou claro, desde o primeiro dia nos
Estados Unidos, o caráter particular da sua visita, ao recusar as boas vindas oficiais no porto
de Nova Iorque. Apesar disto, ele concordou em inaugurar a exposição com o Presidente
Grant, dando partida à gigante máquina de vapor Corliss, de 1.500 cavalos de potência.
8

Encomendou ainda ao compositor Carlos Gomes a feitura de um hino, que foi interpretado
na inauguração do evento.
Além da curiosidade pelo exotismo de uma visita imperial, a imprensa estadunidense
foi unânime em louvar o interesse do imperador pelos Estados Unidos e suas instituições,
assim como sua dedicação a atividades potencialmente úteis ao Brasil durante toda sua visita.
Algumas reportagens facetas ressaltaram o caráter democrático do imperador e até sugeriram a
sua candidatura para a presidência do país.

Dom Pedro no Inferno de Wall Street


D. Pedro II é mencionado, diretamente ou por inferência, em 27 % das 106 estrofes
na primeira edição de Nova Iorque, 1877, e em 35 (20 %) das 176 estrofes da edição londrina
do Inferno de Wall Street: em 29 destas (quadros em cor cheia no desenho abaixo), a referência é
direta; nas outras 8 (quadros sombreados), há elementos suficientes para concluir que o
imperador é assunto da estrofe.

Estrofes sobre D. Pedro II no Inferno de Wall Street

As primeiras 109 estrofes na edição londrina (com exceção das de números 74, 84 e
108) fazem também parte da edição nova-iorquina de 1877, com pequenas variações. Na
edição londrina (c. 1886) Sousândrade acrescenta quatro estrofes sobre a visita do imperador
aos Estados Unidos em 1876 (estrofes 141, 141, 144 e 147). Uma última referência a D.
Pedro é feita na estrofe 170, ambientada na França, e mistura a visita de D. Pedro a Victor
Hugo (1876) e a visita do rei Alfonso XII a Paris (1883).
As primeiras estrofes que tratam sobre D. Pedro não o fazem de forma direta,
requerendo, portanto, de maiores explicações para a sua apreciação.
9

Estrofe 10:

( JOANNES -THEODORUS-GOLHEMUS pregando em BROOKLYN :)

— Rochedo de New Marlborough !


Grutta de Mammoth ! a Mormão
Palrar antes fôras !
Desdouras
Púlpito ond‗ prégou Maranhão !

Lembramos que as estrofes dO Inferno de Wall Street são geralmente precedidas por
epígrafes (textos entre parênteses que Sousândrade chama legendas) que atuam como didascália,
apresentando as personagens e as circunstâncias dos versos que seguem.

( JOANNES -THEODORUS-GOLHEMUS pregando em BROOKLYN :)


Johannes Theodorus (João Teodoro) Polhemus (1598-1676) foi um pastor da Igreja
Holandesa Reformada em Olinda e Itamaracá (1637-1654), durante a ocupação holandesa de
Pernambuco, onde provavelmente nasceram todos seus oito filhos. Após a derrota dos
holandeses no Brasil, o domine Polhemus radicou-se na região de Nova Iorque, então colônia
holandesa de Nova Holanda, e lá exerceu o ministério até sua morte em Brooklyn (de onde
pregando em Brooklyn, na versão de Sousândrade), em 8 de junho de 1676.26 É considerado o
patriarca dos Polhemus norte-americanos. John Polhemus, descendente direto de Johannes
Theodorus, era um editor de renome em Nova Iorque na década de 1870: editava, entre outras
obras, o Guia de Brooklyn, uma espécie de Almanak Laemmert da época. Seu escritório, no
número 102 da rua Nassau, ficava a menos de dois quarteirões do escritório dO Novo Mundo,
jornal do qual Sousândrade foi vice-presidente e colaborador. Foi possivelmente através de
John Polhemus (ou de um parente seu) que Sousândrade soube da existência do Polhemus
―brasileiro‖, já que Johannes Theodorus Polhemus não teve participação histórica relevante:
Barléu, por exemplo só menciona ―I. Polhemius‖ de passagem.27
Outro João Teodoro conhecido por Sousândrade era um personagem do romance Les
Pléiades (1874), do conde Joseph Arthur de Gobineau, diplomata francês e confidente de D.
Pedro II, durante a sua missão no Brasil (1869-1870). Jean-Théodore (Johannes Theodorus, em
latim), principículo de Woerbech Burbach no romance, é claramente inspirado em D. Pedro
II.28 Pedro Calmon detalha o elenco: ―Teresa Cristina, a princesa; o genro marechal, a filha
herdeira (condes d‘Eu), Condessa Tonska, a Barral.‖29
Nas edições nova-iorquina (1877) e londrina (c. 1886) do Inferno de Wall Street,
Sousândrade grafa o sobrenome Golhemus e não Polhemus, tornando menos provável um erro
tipográfico. É possível que Sousândrade tenha mudado o P de Polhemus para G, para
lembrar o Jean-Théodore de Gobineau, de memória ainda recente para os leitores brasileiros
de Les Pleiades. Lembramos ainda que Gobineau não pinta um retrato favorável de Jean-
Théodore/Dom-Pedro, um príncipe desditoso, preso pelas obrigações do cargo e por um
matrimônio sem amor.

— Rochedo de New Marlborough !


New Marlborough é um vilarejo nas colinas Berkshire, no extremo occidental do
estado de Massachusetts. Nas proximidades existe um ―rochedo basculante‖ (Tipping Rock),
de 40 toneladas, tão perfeitamente equilibrado que pode ser facilmente balançado por uma
10

pessoa.30 D. Pedro passou na vizinhança da Tipping Rock na madrugada de 15 de junho de


1876, em viagem de Boston e Albany,31 mas certamente não visitou o povoado. Um jornal
local comentou com humor que o imperador não poderia contar com muitos admiradores
locais ao escolher horários tão inconvenientes para sua visita.32 O rochedo de New
Marlborough era atração turística no século XIX,33 mas acabou caindo no esquecimento.34
Sousândrade reflete sobre a precariedade da monarquia brasileira, instituição aparentemente
monolítica, mas facilmente desestabilizada.

O púlpito
Rochedo basculante de New Marlborough35,36
Grota do Mamute

Grutta de Mammoth
A Gruta do Mamute é uma enorme caverna situada no estado de Kentucky, na região
centro-leste dos Estados Unidos. O Mammoth (mamute) do nome em inglês, refere-se ao
tamanho da caverna (mammoth significa também enorme), não ao elefante fóssil. Um dos
salões da caverna é conhecido como a Catedral Gótica, onde pode ser vista uma projeção na
rocha chamada o Púlpito à qual Sousândrade parece estar referindo-se no último verso da
estrofe. Uma xilogravura (ver acima) do Púlpito foi estampada nO Novo Mundo, em 1872.37
Num jornal nova-iorquino lemos que D. Pedro II explorou a Gruta do Mamute durante três
horas em 16 de maio de 1876.38

a Mormão / Palrar antes fôras !


Mormão é Brigham Young, presidente da Igreja dos Santos dos Últimos Dias. Ao
passar por Salt Lake City, sede da Igreja Mórmon, D. Pedro II evitou entrevistar-se com
Young, fato que foi relevado pela imprensa norte-americana.39 A opinião pública norte-
americana considerava que a poligamia então praticada pelos mórmons era incompatível com
a cultura do país.40 A poligamia mórmon é também abordada na estrofe 20 do Inferno de Wall
Street. Sousândrade afirma que D. Pedro deveria ter visitado Brigham Young, numa alusão
velada ao affaire do imperador com a condessa de Barral.
11

Dom Pedro não visitou Brigham Young41

Uma reportagem do New York Herald faz de Dom Pedro um defensor dos mormons
e apologista da poligamia: o sub-título é Ele aprova o Mormonismo. No texto lemos:

O imperador pensa que o Mormonismo não está de forma alguma oposto ao conceito
de civilização. Aqueles que não acreditam nas revelações de Joe Smith [Joseph
Smith Jr., fundador do mormonismo] e Brigham Young tampouco podem entender
por que uma sociedade poligâmica é permitida nos Estados Unidos.

Dom Pedro Aprova o Mormonismo42

Assim, a sugestão de Johannes-Theodorus Polhemus para Dom Pedro falar com


Mormon [Brigham Young] não parece tão descabida.

Desdouras / Púlpito ond„ prégou Maranhão !


Johannes-Theodorus Polhemus critica a presença do imperador brasileiro na república
norte-americana, maculada (desdourada) pela visita do monarca. O púlpito ao que se refere é o
da Gruta do Mamute, referido acima e muito provavelmente visitado também por Sousândrade,
aqui chamado de Maranhão.
12

Estrofe 28:

(OSCAR-BARÃO em domingo atravessando a TRINDADE,


assestando o binoclo, resmirando, resmungando de
tableaux vivants, cortejando : o povo leva-o a tram-
bolhões para fóra da egreja :)

—Cobra ! cobra ! (What so big a noise ? ! . . )


Era o meu relogio . . . perdão ! . .
São ‗pulgas‘ em Bod . . .
Me acode ! ! . . .
== God ? Cod ! Sir, we mob ; you go dam ! 43

A estrofe trata de uma disputa entre as autoridades religiosas e a irmandade de N.S. de


Nazaré em Belém do Pará com ocasião da procissão do Círio de Nazareth (outubro de 1877).
Cronologicamente seria um dos últimos acontecimentos na primeira versão do Inferno de Wall
Street (dezembro de 1877). O pano de fundo da disputa nos remete à Questão Religiosa
(1872-1875) de cujo desfecho trata a estrofe 30.
A imprensa paraense noticiou versões diversas dos acontecimentos que teriam
inspirado a estrofe 28:

―... na noite de domingo 21 do corrente [outubro de 1877] no pavilhão de Flora do


arraial de Nazareth... foram exhibidos quadros muito ao paladar de uma canalha
devassa e atrevida: – primeiramente um grupo de tres mulheres nuas, que se
abraçavam; e em seguida, de pé – em frente de mulheres de pessoas de todas as
idades e condições – uma mulher também no estado de nudez, o mais completo e o
mais indecoroso... Nós não vimos essas representações, mas informamo-nos junto
de pessoas fidedignas...‖44

―Nas exhibições das vistas do polyorama45, assentado no largo da ermida, nada há


de offensivo à moral, e menos ainda à religião. Não passam de reproducções dos
afamados pincéis de Miguel Ângelo, Raphael, e outros príncipes da arte.‖46

[descrevendo a festa de Nazaré] ... ―fui despertado dos meus tristes scismares por
um motim de todos os seiscentos. Haviam agarrado dous industriosos carcamanos,
que tratavão de aliviar as algibeiras dos próximos, que lhes ficavão mais próximos.
Todo o mundo corria, indagava, explicava... — O que foi? Mas o que é?‖47

OSCAR-BARÃO em domingo atravessando a TRINDADE,


Oscar Barão é D. Pedro II. Na primeira edição dO Inferno de Wall Street (1877) aparece
como Conde Oscar. Na sua viagem a Europa em 1871-72, D. Pedro solicitou uma audiência
privada com o Papa Pio IX, para tentar intermediar o conflito entre o Vaticano e o rei da
Itália. ―Pediu a audiência a burocracia do Vaticano, com máxima prudência, em caráter incógnito e sob o
nome de conde X.‖48 A mudança de conde para barão pode ter sido motivada pelo uso da
palavra barão na estrofe 29, visando maior coerência nas três estrofes consecutivas (28, 29 e
30). O nome Oscar é possivelmente inspirado na popular comédia de Eugène Scribe Oscar, ou
le mari qui trompe sa femme (1842)49 [Oscar, ou o marido infiel] que ainda era representada pelo
13

Théâtre Français em 1875.50 Seria mais uma alusão no corpus sousandradino à suposta
infidelidade de D. Pedro II com a Condessa de Barral.
A Trindade é a paróquia da Trindade em Belém, atravessada pela procissão do Círio de
Belém.

assestando o binoclo, resmirando,


Binoclo: Sousândrade grafa binoclo por binóculo (talvez por influência do francês binocle).
No poema Ao Sol,51 usa centóclo, por centóculo (em referência a Argos Panoptes, gigante da
mitologia grega que tinha cem olhos)
Resmirar é verbo não dicionarizado, provavelmente tendo o sentido de observar. De
res- [partícula reduplicativa] + mirar. Comparar com o italiano renascentista resmirare, com o
mesmo sentido.52

resmungando de tableaux vivants,


A polêmica sobre as mulheres nuas no polyorama [tableaux vivants,53 no poema] descrita
acima, levou a suspensão dos atos religiosos na igreja de N.S. de Nazareth. ―O povo entrou [na
igreja], acendeu as velas e lustres... repicou o campanário e subiram ao ar muitas girândolas de foguetes,
reinando sempre todo o acatamento e respeito.‖ 54 A procissão do Círio foi realizada esse ano sem a
presença de padres, no que foi chamado ―culto civil‖ pelas autoridades eclesiásticas e
considerado um desacato a religião do Estado.

—Cobra ! cobra ! (What so big a noise ? ! . . )


A cobra é a corda carregada na procissão do Círio de Nazaré. Usada originalmente
pelos romeiros para desatolar a berlinda que levava a imagem, a corda foi incorporada
oficialmente à procissão em 1868.55 No presente caso, pode estar sendo usada como
exclamação para desviar a atenção de alguém.

What so big a noise


(inglês incorreto): que barulho é esse? Comparar com a reportagem reproduzida
acima: ―Todo o mundo corria, indagava, explicava... — O que foi? Mas o que é?‖

São „pulgas‟ em Bod . . . / Me acode ! ! . . .


Bod em inglês, é apócope de body, corpo, pessoa. Contudo, não é comum em
Sousândrade grafar nomes comuns em língua estrangeira com maiúscula, preferindo usar
caracteres cursivos. A expressão ―pulgas no corpo‖ descreve graficamente uma situação de
desassossego. O uso de aspas simples em ‗pulgas‘ realça o sentido figurado.

== God ? Cod ! Sir, we mob ; you go dam !


God é Deus, em inglês. Cod, na gíria portuária norte-americana (c. 1870) é ir de
farra.56 We mob: Nós nos amotinamos. Go dam (ou mais propriamente god dam — ) é
uma imprecação inglesa significando vá para o inferno. A frase poderia ser traduzida como:
Deus? Vamos farrear!; nós nos amotinamos; você, vá para o inferno.

O uso de expressões em inglês pode fazer pensar que Oscar Barão é um personagem
de fala inglesa (cf. na estrofe 23: Yankee protestante em paraense igreja católica). O inglês
macarrônico das citações, porém, não dá sustento a esta suposição. A última frase: you go dam,
14

lembra o diálogo das Bodas de Figaro,57 em que Figaro tenta convencer o Conde Almaviva dos
seus conhecimentos de inglês, usando a expressão God-dam. Diz Figaro: ―É verdade que os
ingleses, às vezes, acrescentam uma palavra ou outra à conversa; mas não há dúvida de que God-dam é a
essência da língua.‖58
Lembramos ainda que D. Pedro não tinha domínio da língua inglesa, fato explicitado,
pouco diplomaticamente, na imprensa estadunidense: ―O Imperador fala o inglês muito mal e foi
necessário prestar muita atenção às suas falas para acompanhar o seu raciocínio.‖ 59
Na análise da estrofe 30 apresentamos os motivos que nos levam a concluir que Oscar
Barão é mesmo o imperador brasileiro.

Estrofe 29:

(PATHFINDER meditando á queda do NIAGARA :)

— Oh ! quando este oceano de barbaros,


Qual esta cat'racta em roldão,
Assim desabar
A roubar . . .
Perdereis, Barão, até o ão ! 60

A estrofe não parece referir-se diretamente a D. Pedro II, apesar de fazer possível
alusão à compra de títulos nobiliários no Império. Foi aqui incluída por figurar no poema
entre duas estrofes que fazem referência a Oscar Barão.

(PATHFINDER meditando á queda do NIAGARA :)


Pathfinder (inglês) significa guia, explorador, desbravador. É provável referência ao
romance homônimo (The Pathfinder or the Inland Sea, 1840) de James Fenimore Cooper, e a seu
personagem epônimo. A ação transcorre nas proximidades das cataratas do Niágara, o que
confirmaria a identificação. No final do romance, Pathfinder, tendo perdido o afeto de sua
amada, imagina jogar-se nas cataratas com ela nos braços, antes que ser abandonado.61 O
episódio lembra um caso real relatado vividamente nO Guesa, sobre um casal de noivos que
perdeu a vida nas cataratas do Niágara:

E quem não brinca ao meio da voragem


Quando lhe esta contente o coração ?
— Tende, Lottie ! . .
‗ Aqui. . . prende-te á lagem !
Forte ! .. sae da corrente ! . . o braço. . . a mão !
Oh ! lá vão-se co‘as aguas arrastados ! . .
Afundam-se no abysmo ! Deus ! soccorro!
— Contra os vortices luctam . . . esforçados
Tomam-n'a os hombros d'Ethelberto. . . Salvos ! . .
Alcançaram o rochedo . . . — Ao sorvedouro !
Desgraça ! horror ! lá foram-se e sumiram !
Lottie ! . . Lottie ! . — Uns braços finos, alvos,
Crispos os dedos, hirtos . . . gyram, gyram,
Gyram. . . Oh ! Christo ! — Desappareceram . . .62
15

No dia 9 de agosto de 1875, Ethelbert Parsons e sua noiva Lottie C. Philipott


morreram ao cair na catarata do Niágara.63 Uma semana depois o rio devolveu o corpo da
moça.64
Lembramos ainda que D. Pedro visitou as cataratas do Niágara um ano depois, em 4
de junho de 1876. Comparou as quedas d‘água do Niágara e de Paulo Afonso, manifestando
que aquelas eram mais belas, mas não ultrapassavam as brasileiras em grandiosidade selvagem
e vazão.65
Outra identificação cabível é que o Pathfinder (o desbravador) seja o próprio
Sousândrade, meditando sobre o acidente nas cataratas do Niágara, tão vividamente descrita
nO Guesa, e tecendo uma predição sobre o futuro do império brasileiro.

Perdereis, Barão, até o ão !


A referência ao ―oceano de bárbaros‖ que ―desaba a roubar‖, ―qual esta cat'racta em roldão‖,
lembra a compra de títulos nobiliários e patentes militares no Império.66 ―Dai as sátiras, quer na
imprensa, quer nos teatros, onde se representavam comédias com o titulo De ladrão a barão, quer na boca do
povo, por meio de provérbios, como o famoso - quem furta pouco é ladrão, quem furta muito é
barão‖.67 Sobre a peça citada, escreve Machado de Assis:

De Ladrão a Barão, repousando sobre uma tese, usada já, qual a de origem
criminosa de muita fidalguia empavesada, revela primeiro que tudo a indignação
expansiva de uma consciência diante da corrupção social. Antes do poeta mostra-se o
homem, antes do talento o caráter.

A tese não é nova, disse eu. Assim é. Não é novo no teatro remontar à origem das
fortunas e dos pergaminhos para encontrar os meios reprovados das dilapidações
forçadas e escandalosas. Mas a insistência dos poetas em tratarem do assunto é tanto
mais necessária quanto à sociedade precisa mais e mais dessas correções vivas e
constantes.68

O tema é abordado por Sousândrade em outros cantos dO Guesa: 69

( Titulares protestando : )
— Compra-tit'lo azeiteiro
Conde-accende tatú : 70

A estrofe em análise lembra também a expressão inglesa robber baron (barão ladrão),
aplicada historicamente a senhores feudais que roubavam ou cobravam impostos extorsivos
daqueles que entravam nos seus territórios.71 No último quartel do século XIX a expressão
passou a ser usada para designar magnatas da indústria ou das finanças que obtiveram suas
fortunas por meios escusos.72 Pesa em contra desta hipótese o fato de robber baron só ter
adquirido popularidade na década de 1880, após a publicação da primeira versão desta estrofe
em Guesa Errante (Nova Iorque, 1877).
16

Estrofe 30:

(OSCAR - BARÃO perdendo seus foros em PHILLIPES,


beija o dedo grande do pé do SANCTO-PADRE e morre
ROMANO :)

—Foi culpa dos Evangelistas


‘Screverem de deante pr‘a trás :
Tal Yankee ao hebreu
Entendeu
Que heis Biblia a formar Satanaz ! 73

A estrofe trata do desfecho da Questão Religiosa, disputa sobre a interdição dos


maçons entabulada entre a Igreja Católica e o poder imperial. A Constituição brasileira de
1824 previa a união entre o governo e a igreja, cabendo ao Estado nomear os sacerdotes e
pagar suas despesas. Por outro lado, as bulas papais teriam efeito somente se o Imperador
assim o permitisse (o placet imperial). A crise foi deflagrada pela negativa imperial de aprovar a
bula Quamquam Dolores, de 29 de maio de 1873, em que o papa Pio IX animava os Bispos do
Brasil a combater as sociedades secretas, e em particular a maçonaria.74 O diferendo levou à
prisão os bispos de Belém e Olinda, D. Macedo Costa e D. Vital, respectivamente. Em 1875
D. Pedro II, para encerrar o conflito, anistiou os bispos e substituiu o gabinete do Visconde
do Rio Branco, pelo de Duque de Caxias.
A Questão Religiosa é também abordada por Sousândrade em tom de advertência a
Vital de Oliveira, bispo de Olinda, no episódio conhecido como Tatuturema (Canto II dO
Guesa):

(ABREU-LIMA murmurando o væ victis romano : )

— São sagradas as fontes,


Lede as leis, dom Vital : 75

Oscar-barão perdendo seus foros em PHILLIPES,


Phillipes é referência a George Phillips (1804-1872), historiador e canonista alemão, um
dos chefes do ultramontanismo, autor do Direito Canônico e das Folhas histórico-políticas
(Historisch-politische Blätter für das katholische Deutschland), nas que sustentava a subordinação do
poder civil ao religioso.76 As teses de Phillips foram usadas por Cândido Mendes de Almeida
no Senado para defender os bispos D. Vital e D. Macedo Costa.77
A perda de foros [de Dom Pedro] em Phillips deve ser entendida como a perda do direito
imperial a opinar em assuntos religiosos. Na Questão Religiosa, D. Pedro II teve que abrir
mão das suas prerrogativas; seu poder sobre as autoridades eclesiásticas foi seriamente afetado.

beija o dedo grande do pé do Santo Padre e morre Romano.


O Santo Padre é o Papa Pio IX. Romano é forma aferética de ―católico, apostólico e
Romano‖, ou católico ortodoxo. Há ainda uma dose de ironia na expressão, já que, desde
1870, a cidade de Roma não fazia mais parte dos Estados Pontifícios, apesar de o Papa
continuar sendo o Bispo de Roma.
17

A frase beija o dedo grande do pé do Santo Padre reforça a submissão do poder imperial e
lembra a citação do jornal O Liberal do Pará (1875) sobre o levantamento dos interditos contra
os maçons:

―Caindo de joelhos aos pés de Pio IX para beijar-lhe as sandálias com ar de


contrição, o monarca brasileiro rasgou as páginas da Constituição e arrastou no pó
dos salões do Vaticano a dignidade nacional‖.
―O poder Moderador anistiou os Bispos; e os maçons foram anistiados pelo Papa...‖
78

A atitude do imperador foi motivo de charges, como a de Bordallo Pinheiro nO


Mosquito mostrada na figura abaixo:

D. Pedro II. ocupa o centro da [página], tendo atrás de si, em tamanho liliputiano,
seus ministros (o Duque de Caxias, Diogo Velho, José Bento). Ao fundo o cônego
José Gonçalves Ferreira, redator do jornal católico O Apostolo, famoso por sua
pança proeminente, reza com olha beato voltado para o alto. D. Pedro dá a mão à
palmatória que lhe aplica o ultramontano Pio IX. O papa, na mesma proporção
da imagem do Imperador, tem uma das pernas atolada num caixote podre, com
ratos, onde se lê a palavra ―Infalibilidade‖. A seus pés, os bispos de Olinda, Vital
de Oliveira, e do Pará, Macedo Costa, sobrevoam o assustado ex-chefe de Gabinete,
visconde do Rio Branco e o ex-ministro João Alfredo, caídos ao chão, atordoados.
A página tem, no alto, o título ―A Questão Religiosa‖ e embaixo a legenda:
―Afinal... deu a mão à palmatória!‖ 79

A Questão Religiosa
Afinal... deu a mão à palmatória 80

—Foi culpa dos Evangelistas / ‟Screverem de deante pr‟a trás:/


Os dois primeiros versos ressaltam que o hebreu, como outras línguas semíticas,
escreve-se de direita a esquerda.
18

Tal Yankee ao hebreu / Entendeu


Yankee: Lembramos a epígrafe da estrofe 23: (Yankee protestante em paraense igreja
católica), em que o yankee protestante seria D. Pedro. A atitude benévola do imperador com
relação à imigração protestante foi motivo de atritos com a Igreja.81 Gilberto Freyre escreveu
que Dom Pedro foi ―um pastor protestante a oficiar em catedral católica‖.82 Na estrofe 49
Sousândrade refere-se a D. Pedro como rei yankee, título de uma reportagem jornalística
durante a visita do imperador aos Estados Unidos.83 A palavra yankee também justificaria as
frases proferidas por Oscar Barão em inglês, posto que macarrônico.

ao hebreu entendeu
aplica-se perfeitamente a D. Pedro II, estudioso de línguas orientais como o hebreu e o
sânscrito, desde 1860. O relacionamento de D. Pedro com os judeus e sua familiaridade com
a língua hebraica foram assunto de um livro.84 Em 1877, quando foi publicada a versão nova-
iorquina do Inferno de Wall Street o conhecimento linguístico do imperador tinha sido registrado
pela imprensa internacional em pelo menos duas ocasiões, durante visitas a sinagogas em
Londres e nos Estados Unidos. ―Na sinagoga [de Londres em 1871, D. Pedro] ―espantou a
congregação ao apanhar uma cópia do Talmude do púlpito do rabi, pondo-se a lê-la em voz
alta e com acentuação apropriada.‖85 Em 1876 ―na Sinagoga Emmanuel [de San Francisco,
Dom Pedro] foi recepcionado por dois rabis, com quem conversou em hebreu.‖86 ―Na visita
ocorreu um incidente que demonstrou a erudição do Imperador. Os pergaminhos da Torá
foram apresentados e, para a surpresa de todos os presentes, ele leu fluentemente do primeiro
livro de Moisés, capítulo 29 versículos 21 a 27 e do capítulo 49, versículos 1 a 4; traduziu o
texto com desembaraço e elegância, mostrando que, além de seus muitos conhecimentos, é
um excelente estudioso do hebraico.‖87 Estes conhecimentos foram utilizados por D. Pedro
para verter para o latim certas partes do Velho Testamento que o interessavam especialmente:
Cântico dos Cânticos, Isaías, Lamentações, Job e outros.88

Que heis Biblia a formar Satanaz !


A frase lembra a Sinagoga de Satanás, usada na estrofe 89 do Inferno de Wall Street:

— Incuba mulher do Cordeiro !


Sinagoga de Satanaz !

e remete a Pio IX, quem assim qualificou a maçonaria e seitas aliadas na encíclica Etsi multa
luctuosa de 21 de Novembro de 1873,89

Todo aquele que conhece a índole, as aspirações e os propósitos das seitas, sejam
chamadas maçônicas, ou venham designadas com qualquer outro nome, (...) não
poderá duvidar que a calamidade atual tenha de ser atribuída às fraudes e às
maquinações destas seitas. De fato, é com elas que se forma a sinagoga de
Satanás, que contra a Igreja de Cristo ordena o seu exército, iça a sua bandeira e
lança as suas batalhas. (grifos nossos) 90

A expressão aparece, noutro contexto, no Apocalipse:

Conheço as tuas obras, e tribulação, e pobreza (mas tu és rico), e a blasfêmia dos


que se dizem judeus, e não o são, mas são a sinagoga de Satanás. 91
19

Sousândrade parece estar combinando, com esta frase, os assuntos tratados nesta
estrofe: judeus e maçonaria.

Dom Pedro nos Estados Unidos


As estrofes 44 a 70, com poucas exceções, fazem referência direta a D. Pedro e
referem-se a episódios da viagem do imperador aos Estados Unidos.

Estrofe 44:

(Salvados passageiros desembarcando do ATLANTICO ;


HERALD deslealmente desafinando a imperial ‗ouver-
ture : ‘)

—Agora o Brazil é república ;


O Throno no Hevilius caiu . . .
But we picked it up !
—Em farrapo
‗Bandeira Estrellada‘ se viu.

Salvados passageiros desembarcando do ATLANTICO


Na epígrafe Sousândrade faz referência ao naufrágio do paquete Atlantic, perto de
Halifax no Canadá, no dia 1° de abril de 1873. Morreram mais de 560 pessoas de um total de
quase 1000 passageiros, num dos maiores desastres navais do século XIX. De todas as
mulheres e crianças a bordo, só um menino conseguiu salvar-se92 (uma alegoria do guesa?)

HERALD deslealmente desafinando a imperial „ouverture‟:


Herald: O New York Herald, como vimos, ofereceu ao público norte-americano a mais
completa cobertura da viagem de D. Pedro aos Estados Unidos. O jornal e seu dono, James
Gordon Bennett Jr., são presença constante no Inferno sousandradino.
A imperial ‗ouverture‘ (abertura musical) é referência ao hino que D. Pedro encarregou ao
compositor Carlos Gomes para ser interpretado na inauguração da exposição da Filadélfia. O
hino é aludido na estrofe 61 (―música de C. Gomes‖); levava por título Hymno para o primeiro
centennario da Independencia Americana.93

—Em farrapo „Bandeira Estrellada‟ se viu


Bandeira Estrelada é o título da tradução para o português da canção patriótica norte-
americana The Star Spangled Banner, feita por D. Pedro durante a travessia no Hevelius do Rio até
Nova Iorque. A tradução imperial foi publicada na íntegra no New York Herald um dia após a
chegada de D. Pedro a Nova Iorque;94 acompanha a métrica do original, mas não prima pela
qualidade, como pode ver-se na tradução do refrão:

E rojões a brilhar
Bombas a estourar
Prova, à noite, dar
20

Da Bandeira ahi estar.

Sousândrade não desperdiça a oportunidade de lançar uma farpa, dizendo que a


Bandeira Estrelada viu-se em farrapos. Em defesa do imperador registramos que a tradução era
um simples exercício para aprimorar seu conhecimento da língua inglesa, nunca imaginando
que seria publicado pelo jornal nova-iorquino,95 que assim desafinou deslealmente, na expressão de
Sousândrade, a chegada de D. Pedro aos Estados Unidos. Há ainda uma ironia no fato de o
jornal ―desafinar‖: o imperador exigiu que o hino encomendado a Carlos Gomes não tivesse
coros, o que deixou o compositor contrariadissimo, já que ele considerava a voz humana
―como sendo o melhor dos instrumentos‖.96
O poema The Star-Spangled Banner (originalmente intitulado A Defesa do Forte McHenry)
descreve um episódio da Guerra Anglo-Americana (1812-1815). Foi escrita em 1814 para ser
cantada ao som de Anacreonte no Céu, uma canção de taverna inglesa. Sua popularidade como
canção patriótica cresceu só após o término da Guerra Civil nos Estados Unidos (1861-
1865).97 Em 1876, numa referência à tradução de Dom Pedro, The Star-Spangled Banner é
chamada ―poema patriótico‖.98 Tornar-se-ia o hino nacional norte-americano somente em
1931.99 Outro hino patriótico popular na década de 1870, ―Hail Columbia‖, é também
mencionado por Sousândrade no Décimo Canto dO Guesa: 'Hail, Columbia, patria venturosa!'100

Agora o Brazil é república; / O Throno no Hevilius caiu... / But we picked it up!


Os versos referem-se a um incidente acontecido em 28 de março de 1876, dois dias
após a saída do Hevelius do Rio de Janeiro rumo a Nova Iorque. Sousândrade grafa Hevilius,
imitando a pronúncia em inglês. Estando D. Pedro conversando com umas passageiras norte-
americanas no tombadilho, a cadeira em que estava sentado cedeu, caindo o imperador no
chão. O imperador reergueu-se sem ajuda, apesar da ironia sousandradina ―but we picked it up‖
(literalmente ―porém nós o reerguemos‖, referindo-se ao trono). O episódio recebeu a
epígrafe ―The Fall of the Throne‖ (―a queda do trono‖) no New York Herald.101
Notamos ainda que, no Inferno de Wall Street, a didascália indica as personagens que
proferem os diálogos da estrofe, os que aparecem separados por travessões (simples ou
duplos). Portanto, esta frase é pronunciada por sobreviventes (talvez pelo único menino) do
naufrágio do Atlantic. Sousândrade externa sua esperança de uma real queda do trono, que
tornaria o Brasil uma república.

“A queda do trono”
New York Herald, 17 de abril de 1876
21

As estrofes seguintes referem-se também a D. Pedro:

Estrofe 45:

(THE SUN :)

— Agora a União é imperio ;


Dom Pedro é nosso Imperador :
‗Nominate him President‘ ;
Resident . . .
Que povo ame muito a Senhor.102

(THE SUN :)
The New York Sun, dirigido por Charles Anderson Dana, era um jornal nova-iorquino
de grande circulação, opositor impiedoso da administração do presidente Grant. Num
editorial o jornal afirmou que o ódio de Grant pelo Sun (sol, em inglês) era tão grande que o
fazia odiar todo o sistema solar.103 Quando Sousândrade retrata o presidente Grant lendo o
Sun na estrofe 54, o faz com ironia, despercebida por quem não conhece a rivalidade entre
ambos.

— Agora a União é imperio; / Dom Pedro é nosso Imperador:


D. Pedro Imperador da União (os Estados Unidos) mistura referências à pretensão do
presidente Grant perpetuar-se na presidência (um presidente vitalício muito se assemelharia a um
imperador, editorializou o New York Tribune)104 e aos atributos ianques atribuídos a D. Pedro.
Uma reportagem intitulada Nosso Imperador Ianque105 descobre características da mentalidade
norte-americana no monarca brasileiro. A matéria faz uma crítica a membros da realeza
europeia que visitaram os Estados Unidos, dedicando-se a caçadas e festas, em clara referência
ao príncipe russo Alexis, mencionado na próxima estrofe (e em outras no Inferno de Wall Street).

„Nominate him President‟ (lançai a sua candidatura à presidência).


Em pelo menos duas ocasiões a imprensa norte-americana, ―lançou‖ de forma jocosa a
candidatura de D. Pedro à presidência dos Estados Unidos.106

Dom Pedro, candidato à Presidência dos Estados Unidos

Resident
(residente) pode referir-se à notícia aparecida originalmente em jornais europeus em 1875
sobre uma possível abdicação de D. Pedro, quem iria residir nos Estados Unidos. NO Novo
Mundo lemos:
22

―O Bien Public teve a idea de annunciar n‘um dos dias deste mez, que o Imperador
do Brazil, fatigado de dissolver a Camara dos Deputados, de oppor-se a reforma
eleitoral pelo systema directo e de todos esses encargos do Governo, resolvera abdicar
da coroa em favor de sua filha, D. Isabel, e vir depois residir nos Estados
Unidos.‖107

Estrofe 46:

(Um plenipotenciario contradizendo e contradizendo-se :)

— 'Palavras ocas ! Lopes, logico


Foi no Paraguay ' ; aos saraus,
O Aleixo da Russia ;
' A esta súcia,
Não Pedros, só veem Kalakaus ' !

Nesta estrofe e nas duas seguintes, entabula-se um diálogo entre um plenipotenciário e


o Guesa sobre Carlos López, o presidente paraguaio, a visita de D. Pedro II aos Estados
Unidos e o papel mecênico do imperador.

(Um plenipotenciario contradizendo e contradizendo-se :)


O plenipotenciário é Antônio Pedro de Carvalho Borges, barão de Carvalho Borges,
(1824–1888), enviado extraordinário e ministro plenipotenciário do Brasil nos Estados
Unidos, entre 1871 e 1881. Ocupou a presidência da legação brasileira na Exposição
Internacional de Filadélfia, a Exposição do Centênio (1876).108,109 Na década de 1860 ocupou
diversos cargos nas representações brasileiras no Paraguai, Chile, Bolívia, Uruguai e Argentina
(durante a Guerra do Paraguai). O Novo Mundo o considerou um dos dois maiores
especialistas na diplomacia brasileira no Rio da Prata.110 Em 1861-1862 foi encarregado de
negócios do Brasil no Paraguai, onde foi habilitado pelo Conselheiro Benevenuto, Ministro de
Estrangeiros brasileiro, para negociar a questão de limites com o presidente Carlos López.111,112

— 'Palavras ocas ! Lopes, lógico / Foi no Paraguay '


Lopes é provavelmente Carlos Antonio López (1792-1862), primeiro presidente
constitucional do Paraguai (1844-1862), com quem Borges Carvalho negociou em 1862, em
Assunção, como já foi dito. É menos provável tratar-se de Francisco Solano López, filho do
anterior e também presidente paraguaio (de 1862 até sua morte em 1870).113 Seria no mínimo
surpreendente ouvir dos lábios de um diplomático brasileiro uma defesa do ditador paraguaio
responsável por precipitar a Guerra da Tríplice Aliança, que devastou o seu país.

aos saraus, O Aleixo da Russia ;


Aleixo da Rússia é o Grão Duque Aleksei Romanoff Alexandrovitch (1850-1908),
quarto filho de Alexandre II, czar da Rússia. Visitou os Estados Unidos entre novembro de
1871 e fevereiro de 1872, com uma flotilha de vasos de guerra russos. Dedicou-se
principalmente a participar de eventos sociais. Relatos jornalísticos da sua visita aos Estados
Unidos apontam pelo menos oito bailes, fora banquetes, recepções, etc. nos que Alexis esteve
presente.114 Foi muito comentada a caçada de búfalos em que participou no Kansas na
companhia de Buffalo Bill e os Generais Sheridan e Custer. Chegou a ser chefe da armada
russa mas, culpado pelas derrotas russas na Guerra Russo-Japonesa (1905), foi forçado a
demitir-se do comando. Faleceu em Paris.115
23

' A esta súcia, / Não Pedros, só veem Kalakaus ' !


Súcia é provavelmente usado no sentido etimológico de sociedade, grupo ou
assembleia, comum em textos do s. XIX. Lemos em Camilo Castelo Branco: ―Seria súcia de
vinte romeiros, que deviam, cumprido o voto, separarem-se para suas terras e destinos‖.116 A acepção
despectiva da palavra referindo-se aos Estados Unidos tampouco caberia nos lábios do
ministro plenipotenciário do Brasil, e destoaria da admiração declarada de Sousândrade pelo
sistema de governo norte-americano.

Kalakau é David Kalakaua (1836-1891), rei do Havaí, primeiro monarca reinante a


visitar os Estados Unidos (1874). Durante sua visita a Nova Iorque foi convidado pelo
empresário Phineas T. Barnum para dar uma volta triunfal numa carruagem na arena do
Hipódromo, nome de um misto de circo e espetáculo com animais exóticos.117 É sem dúvida
a este episódio a que Sousândrade refere-se quando escreve, no Inferno de Wall Street (―Papel
fazem triste na terra / Reis . . . / No Hipódromo‖ D. Pedro II também assistiu a um
espetáculo religioso no mesmo local, mencionado na estrofe 55). Em 1887 Kalakaua cedeu o
uso exclusivo de Pearl Harbor (único porto de águas profundas no Pacífico Norte) aos
Estados Unidos, selando assim o destino estadunidense do Havaí.118

O plenipotenciário parece negar a notícia da visita de D. Pedro aos Estados Unidos,


('A esta súcia, / Não Pedros, só veem Kalakaus'!) que acabou acontecendo, como sabemos,
em abril de 1876. Isto permitiria datar a estrofe da época da visita de Kalakaua (novembro de
1874), ou pouco depois.

Grande Duque Alexis rei David Kalakaua O rei Kalakaua com P. T. Barnum
da Rússia das Ilhas Sandwich no Hipódromo
(Nova Iorque, 1874)119

A realeza visita os Estados Unidos

Estrofe 47

(O mesmo propondo a outro o 'seu logar de commis-


sario á EXPOSIÇÃO de PHILADELPHIA por causa do
cheque-mate em sua fortuna ' :)
24

—' Dos Príncipes são protegidos


Os Poetas,' Senhor Guesa a errar ;
Nem dão, qual banqueiros,
Dinheiros . . .
'Christo é Rei, e aos Reis nos curvar ' ! 120

Na continuação da conversa entre o plenipotenciário e seu interlocutor, a estrofe


apresenta uma possível referência à recusa de D. Pedro de financiar os estudos de
Sousândrade, assunto tratado no início do presente trabalho. O plenipotenciário reafirma a
vocação mecênica de D. Pedro para com os poetas e faz referência à suposta origem divina da
autoridade dos reis.

(O mesmo propondo a outro o 'seu logar de commissario á EXPOSIÇÃO de


PHILADELPHIA por causa do cheque-mate em sua fortuna ' :)
A referência na epígrafe não é muito clara. Sabemos que Carvalho Borges, além de
ministro plenipotenciário do Brasil, era presidente da legação brasileira na Exposição da
Filadélfia. É possível que algumas despesas relativas à organização do pavilhão brasileiro na
Exposição tenham sido financiadas pelo presidente da comissão e não pelo governo brasileiro,
levando-o a experimentar dificuldades econômicas (―cheque-mate em sua fortuna‖). O ―outro‖, a
quem é oferecido o posto de comissário na Exposição de Filadélfia, poderia ser o próprio
Sousândrade, como se desprenderia dos versos:

O Guesa é vencedor qual os mais fortes


E os mais leaes n'esta moral campanha.

E posições o mundo lhe off'recera,


Lhe acenara co‘ as honras ; e do mundo
Fugindo e de taes honras, ai ! soffrera
Dos homens o desdem fallaz e immundo.121

Lembramos ainda que estes versos pertencem à edição londrina dO Guesa (c. 1886),
anteriores, portanto, à nomeação de Sousândrade como primeiro intendente republicano de
São Luís. A situação econômica de Sousândrade devia ser mais que remediada em 1875,
datação tentativa desta estrofe. Na criação da Novo Mundo Association que passaria a
administrar a revista O Novo Mundo, escreve José Carlos Rodrigues em julho de 1875: ―Elegendo
para Vice-Presidente o Sr. Souza Andrade a Directoria quiz reforçar o elemento brazileiro na Associação,
attrahindo tão distincto cavalheiro e litterato, que mostrou sua fe na empreza por bella subscripção de seu
capital social.‖122
No certificado de incorporação de The Novo Mundo Association, lemos que o capital
social foi de duzentos mil dólares, composto de duas mil ações de duzentos dólares cada
uma.123 Atualizado a dólares norte-americanos de 2010,124 o capital social representaria quatro
milhões de dólares. A bella subscripção feita por Sousândrade deve ter representado uma quantia
muito importante.

—' Dos Príncipes são protegidos / Os Poetas,' Senhor Guesa a errar ;


25

O plenipotenciário afirma a proteção que Dom Pedro deu aos poetas. NO Inferno de
Wall Street Sousândrade faz referência a vários protegidos do imperador: Gonçalves Dias,
Araújo Porto-alegre, Gonçalves de Magalhães, Fagundes Varela etc.
Senhor Guesa a errar pode ser referência às errâncias de Sousândrade, ou ainda ao
fato de sua avaliação errada (na visão do interlocutor) sobre o mecenato de D. Pedro.

Nem dão, qual banqueiros, / Dinheiros . . .


Adivinha-se uma crítica à atitude de Sousândrade na sua audiência com o Imperador,
detalhada na seção Sousândrade e Dom Pedro II do presente trabalho: ―E o emprestimo pedi da minha
educação‖. É largamente sabido que, além de apoio a escritores e artistas, financiando a
publicação de obras ou mesmo oferecendo-lhes emprego, Dom Pedro II ofereceu bolsas para
a educação de brasileiros no exterior com o dinheiro que o governo lhe alocava para suas
despesas pessoais.125 Aparentemente a concessão de empréstimos não era modalidade
praticada pelo imperador e pode ter sido percebida como arrogância do solicitante.

'Christo é Rei, e aos Reis nos curvar ' !


Lemos no Apocalipse: ―Jesus Cristo, que é ... o príncipe dos reis da terra.‖126 George Phillips
cita várias passagens bíblicas que apoiam este versículo do Apocalipse sobre a majestade de
Cristo:127

Rei dos reis e Senhor dos senhores (I Timóteo 6:15);


o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai (Lucas, 1:32);
Onde está aquele que é nascido rei dos judeus? [Mateus. 2:2];
Jesus respondeu: Tu dizes que eu sou rei [João 18:37];
{Cristo} que é a cabeça de todo o principado e potestade [Colossenses
2:10]

Como vimos na estrofe 30, Phillips foi um dos defensores da submissão do poder temporal ao
da Igreja Católica.

Estrofe 48:

(O GUESA :)

—Aos Genios teceram-se as c'roas,


Ou loiro ou o espinho a pungir
Sagram . . . só martyrios !
Aos lirios,
Só o ar puro dá-lhes sorrir.128

Na sua resposta ao plenipotenciário, o Guesa comenta a sina dos poetas: usar coroas
de louros ou de espinhos. Afirma que só os martírios sagram (não o fazendo as coroas dos
reis). A estrofe lembra os versos do poema sousandradino Vinte e Oito de Julho:

Os louros não murcham na patria dos lírios !


Os cravos não tombam dos braços da cruz !
— Se pungem com sangue, com fundos martyrios,
26

Sabeis que transformam-se em astros de luz ! 129

A estrofe finalmente lembra a admonição de Cristo sobre os lírios do campo: ―Olhai


para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham nem fiam; E eu vos digo que nem mesmo Salomão,
em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles.‖130

O tema da coroação dos poetas também é abordado na estrofe 171: ―— Banindo os


poetas, da ‗Republica‘ / Coroava-os com flores, Platão.‖131 A referência é ao terceiro livro da
República:

Se chegasse à nossa cidade um homem aparentemente capaz, devido à


sua arte, de tomar todas as formas e imitar todas as coisas, ansioso por se
exibir juntamente com os seus poemas, prosternavamo-nos diante dele,
como de um ser sagrado, maravilhoso, encantador, mas dir-lhe-iamos que na nossa
cidade nao há homens dessa espécie, nem sequer é licito que existam, e mandá-lo-
iamos embora para outra cidade, depois de lhe termos derramado mirra sobre
a cabeça e de o termos coroado de grinaldas.132 [grifos nossos]

O sarcasmo é evidente: após receberem honrarias divinas e serem coroados com


grinaldas, os atores e poetas são expulsos da cidade como prejudiciais à sociedade.
As coroas do imperador e do poeta são também comparadas no Canto X dO Guesa:

" Honremos nossas coroas : dos martyrios


Eu, e tu a do imperio ; não maldigo
Nem proclamo teu throno, e nem eu digo
Que devera ser meu ; do Sol nos gyros,

" Porém, lesses, talvez exemplo deras


De verdadeira eterna realeza,
D'elle descendo — que é, por natureza,
Do direito dos povos, teu, se houveras

" De eleito ser. Ahi passas glorioso


Das festas que o paiz da liberdade
Prodiga-te ; honra-te a hospitalidade —
Ave Cæsar ! tu és victorioso. 133

A coroa do poeta, claro, é a dos martírios; a de Dom Pedro, a do império.


Sousândrade manifesta que o trono é, por natureza, do direito dos povos, mas que o poder do
governante poderia ser legitimado por eleições populares. Conclui registrando a recepção
festiva que os Estados Unidos (o paiz da liberdade) brindaram ao imperador, a quem qualifica de
vitorioso.
A imagem da coroa do martírio do poeta é usada diversas vezes por Sousândrade nO
Guesa:

Tu és do rio a onda derradeira


A acenar-me, és a flor adormecida
Dos astros na coroa e murchecida
Na do martyrio meu . . . triste . . . fagueira —134
27

' Penetrai dentro ! é sua a humana sorte —


Saí da treva ! penetrai na luz !
Mas . . . se á coroa é necessaria a morte,
Eia ! aos horrores ! ao flagello ! á cruz ! ' 135

" Coroas do Guesa são os prantos; 136

Esta é a Harpa natural — a coroa


Cinge de soberana a Divindade ! 137

Esta coroa do poeta é contraposta às dos reis cuja legitimidade é contestada:

A coroa de rei não é da gloria, 138

Rei, que não usurpara a coroa aos povos,


Mas dera ! o heroe das grandes fôrças d'alma ! 139

— Napoleão sem mais estrela, . . .


......
Foi-lhe a coroa que obumbrou ! . . 140

Note-se ainda que a linguagem usada no corpo do poema (excluindo os Infernos dos
Cantos 2 e 10) é categórica (não maldigo / Nem proclamo teu throno); nO Inferno de Wall Street é
mais comum o uso de ironia e circunlóquios.

Comentários Finais
Esta primeira análise da presença de Dom Pedro II nO Inferno de Wall Street indica o
destaque (e as críticas) que Sousândrade dedica ao imperador, que pode ser considerado a
principal personagem do trecho estudado. Mais de um quarto das estrofes na primeira edição
(Nova Iorque, 1877) guardam alguma relação com o imperador brasileiro.
As críticas ao imperador, iniciadas como protesto pela negativa de conceder um
empréstimo educativo ao poeta, quando jovem, avolumam-se na obra. Sousândrade questiona
a origem do poder imperial, adotando uma postura netamente democrática, onde é o povo
quem exerce a soberania.
Sousândrade explora a viagem de Dom Pedro aos Estados Unidos e a incongruência
da popularidade do imperador num país democrático. A imprensa norte-americana brinca
com as características ―democráticas‖ e progressistas que enxerga no monarca brasileiro,
tendo como pano de fundo as aspirações do general Grant, então presidente dos Estados
Unidos, de perpetuar-se no poder. Sousândrade utiliza esta situação paradoxal para ironizar o
poder imperial.

1 Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886. [106 estrofes já tinham sido
publicadas em Guesa Errante, publicado em Nova Iorque em 1877.
2 Sousândrade [sic]. O inferno de Wall Street: texto atualizado e anotado por Augusto e Haroldo de Campos. São
Paulo:Edições Invenção, 1964. [Na folha de rosto aparece a frase: separata do livro revisão de Sousândrade, sem
qualquer menção à obra da qual foi originalmente tirada]
3 Os dez mais! Brasileiros. Folha de São Paulo (São Paulo), 02 de janeiro de 2000, Caderno Mais! N° 412, p. 17.
28

4 Castro, Augusto Olympio Viveiros de, Contribuições para a biographia de D. Pedro II - Parte 1a. in Revista do
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Tomo Especial, Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1925.
Capitulo VIII (1870-1878) p. 405 - 590. ―Outro republicano maranhense naquella época, [era] Souz‘Andrade, figura de
`quaker‘, espirito finamente cultivado e insigne `causeur‘, quando não era arrastado pelos seus... `devaneios‘ ‖ (p. 551).
5 Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886. Canto VI, p. 138.
6 Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886. Canto VI, p. 138.
7 Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886. Introdução, p. 2. ―... d'autres enfin
représentoient le monstre Fomagata, symbole du mal, figuré avec un œil, quatre oreilles et une longue queue.
Ce Fomagata dont le nom, en langue chibcha, signifie feu ou masse fondu [sic – fondue] qui bouillonne, étoit regardé
comme un mauvais esprit. Il voyageoit par l'air, entre Tunja et Sogamozo, et transformoit les hommes en
serpens, en lézards et en tigres. Selon d'autres traditions, Fomagata étoit originairement un prince cruel.‖ A
fonte original é: Humboldt, Al[exandre] de. Vues des Cordillères, et monumens des peuples indigènes de l‘Amérique.
Paris: F. Schoell, 1810, p. 261-262.
8 Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886. Canto VI, p. 139.
9 Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886. Canto II, p. 30.
10 Duquesne de la Madrid, José Domingo. Disertación sobre el Calendario de los Muyscas, Indios naturales de este Nuevo
Reino de Granada. 1795, p. 413 in Acosta, Joaquin. Compendio Histórico del Descubrimiento y Colonización de la
Nueva Granada en el Siglo Décimo Sexto. París:Imprenta de Beau, 1848 - Documento N° 3 p. 405-417.
11 Fernández Piedrahita, Lucas, Historia general de las conquistas del Nuevo Reyno de Granada : a la S.C.R.M. de D.
Carlos Segundo, Rey de las Españas, y de las Indias. Amberes [Amsterdam]: Juan Baptista Verdussen, [1688] ,
Livro 1, Cap VI, p. 50 ―... hasta llegar al Zaque Thomagata, de quien refieren mayores desatinos, y ficciones,
que de otro alguno‖. [Edição de 1881 disponível em: http://www.lablaa.org/
blaavirtual/historia/hisgral/hisgral13.htm Acesso em 02-jun-2011].
12 Humboldt, Al[exandre] de. Vues des Cordillères, et monumens des peuples indigènes de l‘Amérique. Paris: F. Schoell,
1810, p. 261-262.
13 Uricoechea, Ezequiel. Memoria sobre las Antigüedades Neo-Granadinas. Berlim:F. Schneider & Cia., 1854. p. 15
14 Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886. Canto VI, p. 139.
15 Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886. Canto VI, p. 139.
16 Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886. Canto I, p. 15.
17 Sousândrade, Joaquim de. Carta a Joaquim Nabuco, 26 de agosto de 1896. Fundação Joaquim Nabuco
(Recife). Cód. JN CP39 doc. a4g4 (906, 906.1, 906.2)
18 Ver, por exemplo, os cadernos iconográficos em Schwarcz, Lilia Moritz. As Barbas do Imperador: D. Pedro II,
um monarca nos trópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
19 Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886. Inferno de Wall Street, Estrofe 46,
Canto X, p. 239.
20 Sketch of the Life and Travels of Our Royal Guest, the Grand Duke Alexis, of Russia. Nova Iorque: H. S. Goodspeed
& Co., 1872.
21 His Royal Highness Prince Oscar (At the National Celebration of the Centennial Anniversary of American
Independence). Boston, Riverside Press, 1876.
22 Royalty. Kings That Have Visited Us. in Dom Pedro in the U.S. (álbum de recortes jornalísticos), Oliveira Lima
Library, Catholic University (Washington DC)
23 Guimarães, Argeu, D. Pedro II nos Estados Unidos (As reportagens de James O‘Kelly e o Diário do Imperador),
Rio de Janeiro, Ed. Civilização Brasileira, 1961. Sobre a viagem de D. Pedro, ver também: Williams, Mary
Wilhelmine, Dom Pedro the Magnanimous: Second Emperor of Brazil, Chapel Hill, The University of North Carolina
Press, 1937. Capítulo X, pp. 186-213 Touring the United States of America.
24 Campos, Augusto de; Campos, Haroldo de, Re Visão de Sousândrade, 3ª. ed., São Paulo, Perspectiva, 2002.
25 Weymouth, Lally. America in 1876: the way we were. Nova Iorque: Random House, 1976, p. 16.
26 de Boer, Louis de, Pre-American Notes on Old New Netherland Families - Polhemus, The Genealogical Magazine of
New Jersey, 3(3):102-108, janeiro de 1928.
27 ―Em Olinda e nas aldeias dos índios Joaquim Soller e I. Polhemio falam ao povo nas línguas francesa e portuguesa‖ Barléu,
Gaspar, História dos feitos recentemente praticados durante oito anos no Brasil [Cláudio Brandão, trad. e anot.], Livraria
Itatiaia Editora Ltda., São Paulo, 1974, p. 135. Na edição em atim é grafado ‖I. Polhemius‖. Barlaei, Casparis
[Baerle, Caspar van]. Rerum por octennium in Brasilia. Clivis (Cleves): Officina Tobiae Silberling, 1660, p. 218
28 Schwarcz, Lilia Moritz, As Barbas do Imperador, São Paulo, Companhia das Letras, 1998, p. 372-373.
29 Calmon, Pedro. História de D. Pedro II. Rio de Janeiro:J. Olympio, 1975, v. II, p. 451.
30 Callahan, Claudette M., An Informal History of the Town of New Marlborough, Massachusetts, 1739-1975, New
Marlborough Bicentennial Commission, New Marlborough[?], 1975, p. 57.
31 New York Herald (Nova Iorque), 15 de junho de 1876 in Dom Pedro in the US, Oliveira Lima Library.
29

32 Pittsfield Sun (Pittsfield, MA), 21-jun-1876. apud correspondência de Ruth T. Degenhardt, do Berkshire
Athenaeum – Pittsfield‘s Public Library, 19-set-1990.
33 Richards, Thomas Addison. Appletons' Illustrated Hand-book of American Travel: The Eastern and Middle States, and
the British Provinces, Nova Iorque: Appleton & Co., 1861 p. 61
34 Happel, Richard. Search for Tipping Rock Ends in Tilt with Nature. Berkshire Eagle (Pittsfield, MA), 18-jul-1959.
35 Foto fornecida pór Jim Moore, Pittsfield, MA (2002).
36 Happel, Richard. Search for Tipping Rock Ends in Tilt with Nature. Berkshire Eagle (Pittsfield, MA), 18-jul-1958.
37 A Maior Caverna do Mundo, O Novo Mundo (Nova Iorque), 2(21):148-149, 24 de junho de 1872.
38 New York Herald (Nova Iorque), 17 de maio de 1876 in Dom Pedro in the US, (álbum de recortes jornalísticos),
Oliveira Lima Library, Catholic University (Washington DC).
39 New York Herald (Nova Iorque), 24 de abril de 1876; in Dom Pedro in the U.S. (álbum de recortes jornalísticos),
Oliveira Lima Library, Catholic University (Washington DC).
40 New York Herald (Nova Iorque), 25 de abril de 1876; in Dom Pedro in the U.S. (álbum de recortes jornalísticos),
Oliveira Lima Library, Catholic University (Washington DC)
41 Dom Pedro – Where he went and what he saw in Zion. Salt Lake City Daily Tribune, 11(9): 4, 25-abr-1876.
42 Dom Pedro. New York Herald, 25 de junho de 1876. in Dom Pedro in the U.S. (álbum de recortes jornalísticos),
Oliveira Lima Library, Catholic University (Washington DC).
43 Estrofe 28, p. 235.
44 Publicações a pedidos, ―Diário de Belém‖ 25/10/1877 in d‘Almeida, Tito Franco, Phase Actual do Conflicto
Religioso no Pará..., Pará [Belém?], Typographia do Liberal, 1880.
45 Poliorama: variedade de panorama em que os quadros exibidos dão ideia de movimento e misturam-se uns aos
outros, em processo de interpenetração. Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa 1.0.
46 A Província do Pará (27/10/1877) in d‘Almeida, Tito Franco, ―Phase Actual do Conflicto Religioso no
Pará...‖, Pará [Belém?], Typographia do Liberal, 1880, p. 117
47 Zigs-Zags a través de Nazareth, A Província do Pará (Belém), 01/11/1877, p. 2.
48 Oliveira, Ramos de, O Conflito Maçônico-Religioso de 1872. Petrópolis, Editora Vozes Ltda., 1952, p. 20.
49 Scribe, Eugène; Duveyrier, Charles. Oscar, ou Le Mari qui trompe as femme (rerpésentée, pour la première
fois, à Paris, sur le théâtre Français, le 21 avril 1842) in La France Dramatique au Dix-Neuvième Siècle. Paris: C.
Tresse, 1844, p. 1-24.
50 The Academy: A Monthly Record of Literature, Learning, Science, and Art (Londres). 16-out-1875 p. 417
51 Souza-Andrade, J. de, Harpas Selvagens. Rio de Janeiro: Typographia Universal de Laemmert, p. 11. ―Abre um
lado da abobada celeste, / Amostra o rosto, só, centóclo e bello,‖.
52 Accademia della Crusca, Manuzzi, Giuseppe. Vocabolario della lingua Italiana: M-R (2 ed). Florença: Stamperia
del vocabolario e dei testi di lingua, 1863. v. 3, p. 761, 829
53 Tableaux vivants [quadros vivos, em francês] são representações de cenas ou quadros famosos feitas com
artistas vivos. Os polioramas são projeções feitas com iluminação especial, dando a impressão de perspectiva.
54 Almeida, Tito Franco d‘, Phase Actual do Conflicto Religioso no Pará..., Pará [Belém], Typographia do Liberal,
1880, p. 118.
55 Revista do Círio, ano VIII, n° 8, 1993, Belém (Pará)
56 Partridge, Eric. A Dictionary of Slang and Unconventional English, 8th Ed., New York, MacMillan Publishing Co,
1984. [Paul Beale, ed.], p. 236.
57 Beaumarchais, [Pierre Augustin Caron], M. de. La Folle Journée ou Le Mariage de Figaro. Lyon: s. ed., 1785.
Ato 3°, Cena 5, p. 108
58 Beaumarchais, Pierre Augustin Caron de. As Bodas de Figaro (Barbara Heliodora, trad.). São Paulo: Editora
de Universidade de São Paulo, 2001 (Em Cena; 5) p. 95
59 ―The Emperor talks very bad English, and it was necessary to give very close attention to his words in order to follow the subject
of his thoughts‖ Dom Pedro Interviewed (from the St. Louis Republican) in Dom Pedro in the U.S. (álbum de
recortes jornalísticos), Oliveira Lima Library, Catholic University (Washington DC).
60 Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886. Inferno de Wall Street, estrofe 29,
Canto X, p. 236.
61 Cooper, J[ames] Fenimore. The Pathfinder or the Inland Sea. Nova Iorque: Hurd and Houghton, 1877, p.
476 (cáp. xxviii). ―I bethought me in fancy of going over the Niagara, holding Mabel in my arms rather than part from her.‖
(Imaginei, caindo pelo Niágara, com Mabel nos meus braços, para não separar-me dela)
62 Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886. Inferno de Wall Street, Canto X, p.
236.
63 The Accident at the Falls. New York Times (Nova Iorque), 13-ago-1875, p. 3
64 Recovery of Miss Philpott‘s Body at Niagara Falls. New York Times (Nova Iorque), 15-ago-1875, p. 2.
30

65 The Brazilian Emperor – Visit of the Imperial Party to Niagara... New York Herald (Nova Iorque), 05-jun-1876 in
Dom Pedro in the U.S. (álbum de recortes jornalísticos), Oliveira Lima Library, Catholic University (Washington
DC).
66 Ver, p. ex.: Schwarcz, Lilia Moritz. As Barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos. São Paulo:
Companhia das Letras, 1998. Capítulo 8: Como ser nobre no Brasil.
67 Magalhaes Junior, R[aimundo], O Imperio em Chinelos, Rio de Janeiro, Editora Civilizacao Brasileira S/A., 1957,
p. 7.
68 Machado de Assis, Obra Completa - Chronicas: (1859-1888), Rio de Janeiro: Edições W. M. Jackson, 1938, p.
138. Publicada no Diário do Rio de Janeiro (26-jan-1862). Disponível em: http://www.machadodeassis
.ufsc.br/obras/cronicas/CRONICA,%20Comentarios%20da%20Semana,%201861.htm Acesso em 03-jun-
2011.
69 Ver, p. ex.: Carneiro, Alessandra da Silva. Do tatu fúnebre ao lar-titú: implicações do indianismo no canto segundo do
poema O Guesa, de Sousândrade. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas,
São Paulo:Universidade de São Paulo, 2011. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/
disponiveis/8/8149/tde-27052011-160658/pt-br.php Acesso em 02-jun-2011.
70 Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886. Canto II, p. 29.
71 Robber Baron. Oxford English Dictionary - Third edition, June 2010; online version March 2011
72 Josephson, Matthew. The Robber Barons: the Great American Capitalists — 1861-1901. San Diego:
Harcourt Brace Jovanovich, 1962.
73 Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886. Inferno de Wall Street, estrofe 30,
Canto X, p. 269.
74 Lustosa, Dom Antônio de Almeida. Dom Macedo Costa: Bispo do Pará, (2. ed.), Belém, SECULT, 1992 [Lendo
o Pará, N° 13], p. 134
75 Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886, p. 26.
76 The Catholic Encyclopedia, vol. XII, Robert Appleton Company, 1908; Larousse, Pierre, Grand Dictionnaire
Universel, Paris, Administration du Grand Dictionnaire Universel, c. 1865, Vol. 12, p. 820; Der grosse Brockhaus,
Lípsia, F.A. Brockhaus, 1928-35, vol. 14, p. 500.
77 Almeida, Candido Mendes de, Questão Religiosa. Discurso do Exmo. Sr. Senador Candido Mendes de Almeida,
pronunciado no Senado brasileiro em sessão de 30 de junho de 1873. Bahia, Typographia - Americana, 1873.
78 Costa, Antonio de Macedo [Bispo do Pará], A questão Religiosa do Brazil perante a Santa Sé, ou a Missao Especial a
Roma em 1873 à luz de documentos publicados e inéditos. Nova Edição. Lisboa, Lallemant Freres, Imp., 1886, p. 278.
79 Costa, Carlos Roberto. A Revista no Brasil, o Século XIX. Tese de Doutoramento, Escola de Comunicações e
Artes, USP. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2007, p. 187
80 A Questão Religiosa – Afinal... deu a mão à palmatória. Charge de Rafael Bordallo Pinheiro. O Mosquito, n° 314,
18-set-1875. Disponível em: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/charge-do-mes/a-questao-religiosa
Acesso: 02-jun-2011.
81 Crow, John A[rmstrong]. The Epic of Latin America (4 ed.). Berkeley, Los Angeles: University of California
Press, 1992, p. 537
82 Freyre, Gilberto: Dom Pedro II: Imperador cinzento de uma terra de sol tropical. (conferência proferida a 2 de
dezembro de 1925), apud Freyre, Gilberto. Arte, ciência social e sociedade. Recife: Escola de Belas Artes de
Pernambuco, 1958. p. 17- 30. Disponível em: Biblioteca virtual Gilberto Freyre —
http://www.bvgf.fgf.org.br/portugues/obra/opusculos/dom_pedro2.htm Acesso em 23-abr-2011.
83 Our Yankee Emperor, The New York Herald (Nova Iorque), 21 de abril de 1876.
84 Wolff, Egon; Wolff, Frieda. D. Pedro II e os judeus. [São Paulo]: Editora B‘nai B‘rith S/C, Agosto 1983
85 Harding, Bertita, O Trono do Amazonas, Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1944, p. 268.
86 Daily Evening Bulletin [San Francisco], 25 e 26 de abril de 1876, in Williams, Mary Wilhelmine, Dom Pedro the
Magnanimous: Second Emperor of Brazil, Chapel Hill, The University of North Carolina Press, 1937, p. 194.
87 Wolff, Egon; Wolff, Frieda. D. Pedro II e os judeus. [São Paulo]: Editora B‘nai B‘rith S/C, Agosto 1983, p. 30
88 Wolff, Egon; Wolff, Frieda. D. Pedro II e os judeus. [São Paulo]: Editora B‘nai B‘rith S/C, Agosto 1983, p. 7
89 Pio IX, Encíclica Etsi Multa (sobre a Igreja na Itália, Alemanha e Suiça), 21-nov-1873.
90 Mola, Aldo A. Maçonaria e a perda dos Estados Pontifícios. p. 105-128 in Álvarez Lázaro, Pedro (coord.).
Maçonaria, Igreja e Liberalismo / Masonería, Iglesia y Liberalismo: Actas da Semana de Estudos da Faculdade de
Teologia – Porto. 1-4 de Fevereiro de 1994. Porto:Un iversidade Católica Portuguesa, p. 122
91 Apocalipse 2:9.
92 O Novo Mundo (Nova Iorque), 3(31):110, Abril 23,1873; Irving, Joseph, Supplement to the `Annals of our Times' of
diurnal of events, social and political, home and foreign, from February 24, 1871 to March 19, 1874. Londres, MacMillan
and Co., 1881, p. 1098.
93 O Novo Mundo (Nova Iorque), 6(69):187. 24 de junho de 1876.
94 The New York Herald (Nova Iorque), 16 de abril de 1876, p. 8.
31

95 Guimarães, Argeu, D. Pedro II nos Estados Unidos, Ed. Civilização Brasileira, 1961, p. 89.
96 Vaz de Carvalho, Itala Gomes, Vida de Carlos Gomes (3 ed.). Rio de Janeiro: A Noite, 1946. p. 109 ss
97 Sonneck, Oscar George Theodore. Report on ―The Star-Spangled Banner‖, ―Hail Columbia‖, ―America‖, ―Yankee
Doodle‖. Washington: Government Printing Office, 1909. p. 28
98 Our Democratic Emperor. New York World, 17 de abril de 1876. in Dom Pedro in the U.S. (álbum de recortes
jornalísticos), Oliveira Lima Library, Catholic University (Washington DC)
99 A Re-visão de Sousândrade (op. cit.) afirma, erradamente, que The Star Spangled Banner era o hino nacional dos
Estados Unidos desde 1831, reproduzindo erro de Argeu Guimarães.
100 O Guesa, Canto X p. 186.
101 The New York Herald (Nova Iorque), 17 de abril de 1876.
102 Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886. Inferno de Wall Street, estrofe 45,
Canto X, p. 238
103 Lee, James Melvin, History of American Journalism, (nova edição), Garden City & Nova Iorque, The Garden City
Publishing Co., Inc., 1923, p. 326.
104 New York Tribune (Nova Iorque), 26 de maio de 1876. in Dom Pedro in the U.S. (álbum de recortes jornalísticos),
Oliveira Lima Library, Catholic University (Washington DC)
105 New York Herald (Nova Iorque), 21 de abril de 1876. in Dom Pedro in the U.S. (álbum de recortes jornalísticos),
Oliveira Lima Library, Catholic University (Washington DC)
106 Our Democratic Emperor, New York World (Nova Iorque), 17 de abril de 1876 in Dom Pedro in the U.S. (álbum
de recortes jornalísticos), Oliveira Lima Library, Catholic University (Washington DC)
107 O Novo Mundo (Nova Iorque), 5(55):183. 23 de abril de 1875; The London Times (Londres), 2 de abril de 1875, p.5,
c.4; 3 de abril de 1875, p.1, c.4
108 Catalogue of the Brazilian Section, Philadelphia, International Exhibition, 1876, Press of Hallowell & Co., p.iv.
109 Guimaraes, Argeu, Dicionário Bio-bibliográfico Brasileiro de Diplomacia, Política Externa e Direito Internacional, Rio de
Janeiro, 1938, Ediçâo do Autor.
110 O Conselheiro Borges, O Novo Mundo (Nova Iorque), 4(39):40, 23 de dezembro de 1873.
111 Doratioto, Francisco Fernando Monteoliva. Maldita guerra: nova história da Guerra do Paraguai. São Paulo:
Companhia das Letras, 2002. p. 36-39
112 Mello, Raúl Silveira de. A epopeia de Antonio João (Coleção General Benício; 71). Rio de Janeiro: Biblioteca do
Exército Editora, 1969, p. 118
113 Henderson, James D. [ed.] et al. A reference guide to Latin American history. Part III – 300 notable figures of
Latin American History, p. 488
114 His Imperial Highness the Grand Duke Alexis in the United States of America During the Winter of 1871-72,
Cambridge, Riverside Press, 1872; Sketch of the Life and Travels of Our Royal Guest, the Grand Duke Alexis, of
Russia, H. S. Goodspeed & Co., New York, 1872.
115 Great Soviet Encyclopedia (tradução da 3ª edição), New York, MacMillan, Inc., 1973. Vol. 1., p. 230.
116 Castelo Branco, Camilo. No Bom Jesus do Monte. Porto:Viuva Moré, 1864. p. 18
117 Weymouth, Lally and Milton Glaser, America in 1876. The Way We Were, New York, Random House, 1976,
p.315. Reprodução de um póster no Museu Barnum, Bridgeport, Connecticut.
118 Armstrong, William N., Around the World With a King, Rutland, Vermont, Charles E. Tuttle Company, 1977.
pp. xxii-xxiii.
119 Weymouth, Lally. America in 1876: the way we were. p.315.
120 Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886. Inferno de Wall Street, estrofe 47,
Canto X, p. 239
121 Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886, Canto XI, p. 274.
122 Aviso Importante. O Novo Mundo (Nova Iorque), 5(58):238. 23 de julho de 1875.
123 The Novo Mundo Association. Certificate of Incorporation. Datado em Nova Iorque, 29 de abril de 1875.
Documento N° 232 (1875). Arquivos da cidade de Nova Iorque (New York City Archives). Data de registro:
03-mai-1875.
124 Disponível em: http://oregonstate.edu/cla/polisci/sites/default/files/faculty-research/sahr/inflation-
conversion/excel/infcf17742010.xls Acesso em 03-jun-2011
125 Auler, Guilherme, "Os Bolsistas do Imperador", Petropolis, Tribuna de Petropolis, 1956.
126 Apocalipse I:5.
127 Phillips, George. Du droit ecclésiastique dans ses principes géneraux (abbé Crouzet, trad.) Paris: Chez Jacques
Lecoffre et cie., 1850 Vol. 1 p. 33.
128 Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886. Inferno de Wall Street, estrofe 48,
Canto X, p. 239.
129 J.S.A. [Joaquim de Sousa Andrade], Impressos: Primeiro Volume. S. Luiz do Maranhão, s.e., 1868, p.185-186.
Vinte e Oito de Julho in Poesias Diversas.
32

130Mateus 6:28-29; Lucas 12:27


131 Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886. Inferno de Wall Street, estrofe 171,
Canto X, p. 260.
132 Platão, A Republica, (6 ed). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1990, p. 125
133 Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886. Canto X, p. 208.
134 Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886Canto III, p. 67-68.
135 Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886. Canto V, p. 114.
136 Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886. Canto X, p. 217.
137 Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886. Canto X, p. 206.
138 Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886. Canto IX, p. 178.
139 Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886. Canto X, p. 216.
140 Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886. Canto X, Inferno de Wall Street,

Estrofe 139, p. 254.

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