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Dom Pedro II no Inferno de Wall Street - II.

por Carlos Torres-Marchal

Resumo
Continuação dos comentários sobre a presença de Dom Pedro II no
Inferno de Wall Street de Sousândrade (ver primeira parte em
Eutomia Ano IV, N° 1). As quatorze estrofes interpretadas foram
inicialmente publicadas em 1877 e tratam da visita do imperador aos
Estados Unidos entre abril e julho de 1876 e da sua presença na
Exposição do Centenário, realizada em Filadélfia. Sousândrade
contrasta os regimes republicano, dos Estados Unidos, e imperial, do
Brasil, sem por isso moderar as críticas à corrupção no governo do
presidente Ulysses Grant envolvendo colaboradores próximos ao
presidente.

Abstract
Continuing commentary on the presence of Brazilian Emperor Dom
Pedro II in Sousândrade’s Wall Street Inferno (see first part in Eutomia
Year IV, N° 1). The fourteen stanzas discussed were originally
published in 1877 and deal with the visit of Dom Pedro to the United
States between April and July of 1876, including his participation at
the Philadelphia Centennial Exhibition. The American presidential
form of government and the Brazilian imperial regime are
contrasted. The Grant administration is criticized for the widespread
corruption involving close aides to the President.

Introdução

No primeiro1 artigo desta série sobre Dom Pedro II no Inferno de Wall Street, foi
apresentada a origem das convicções republicanas de Sousândrade e de sua desafeição pelo
imperador. Foram analisadas as primeiras estrofes do Inferno sobre Dom Pedro, as quais, pelo
seu caráter críptico, precisam de esclarecimentos detalhados. Aborda-se em seguida a
viagem de Dom Pedro aos Estados Unidos, e estrofes relatando incidentes referentes à
viagem entre o Rio de Janeiro e Nova Iorque. Como no artigo anterior, foi realizada uma
2

pesquisa em fontes primárias, incluindo os jornais nova-iorquinos que Sousândrade teria


usado como inspiração.

O presente trabalho inicia com a chegada de Dom Pedro ao porto de Nova Iorque.

Estrofe 49
(Um rei yankee desembarca entre os immigrantes nas
BATERIAS, bebe águas republicanas na fonte de
BOWLINGGREEN e desapparece ; o povo saúda os
carros de CÆSARINO e ANTONIO pelo de JULIUS-
CÆSAR :)

— Off ! Off ! para São Francisco off,


Sem primeiro a Grant saudar !
Só um spokesman
Disse amen . . .
2
Que a Deus deve a não a Cæsár.

A estrofe descreve ironicamente a chegada de D. Pedro aos Estados Unidos, a


recepção oficial recusada pelo imperador e a polêmica sobre uma visita protocolar ao
presidente Grant.

Um rei yankee desembarca entre os immigrantes nas BATERIAS

O rei yankee é D. Pedro. Numa entrevista ao New York Herald,3 o imperador


afirmou: “eu sou, sem dúvida, um yankee”. Alguns dias mais tarde o mesmo jornal
publicou uma nota intitulada Our Yankee Emperor (“O nosso Imperador ianque”)4.

Dom Pedro – Yankee go-ahead 5.

Baterias: Em 1693, os ingleses, receando o ataque de uma frota francesa, construíram


um aterro no extremo sul da ilha de Manhattan onde instalaram uma bateria de
canhões pequenos. Os franceses nunca aportaram em Manhattan e o aterro, o
primeiro da cidade, passou a ser chamado Battery Park (o parque das baterias)6.
3

Sousândrade imagina D. Pedro desembarcando como um imigrante comum


no Centro de Recepção de Castle Garden nas Baterias, no extremo sul da ilha de
Manhattan. A partir de 1855 os imigrantes que chegavam a Nova Iorque passavam
pela quarentena em Staten Island, logo pela alfândega num cais no rio Hudson e
finalmente chegavam a Castle Garden, onde eram cadastrados e funcionava um
centro de recrutamento7.

Evidentemente, D. Pedro só passou por este procedimento na imaginação de


Sousândrade. O Hevelius, vapor que transportava D. Pedro e seu séquito, ancorou no
seu molhe habitual perto da rua Fulton, no Brooklyn8.

bebe águas republicanas na fonte de BOWLINGGREEN e desapparece

Bowling Green é um pequeno parque perto do centro de imigração nas Baterias com
uma fonte no lugar onde antigamente erguia-se uma estátua de chumbo do rei inglês
Jorge III. Esta estátua foi derretida para fabricar balas durante a Revolução
Americana9. Nas primeiras linhas do Canto X de O Guesa, Sousândrade erradamente
supõe que a estátua era de bronze e foi transformada na fonte de Bowling Green.
Logo a seguir, porém, afirma que foi refundida em balas:

Aquella fonte d'onda crystallina,


Estatua foi de bronze. Onde murchava
Toda esperança, agora s'illumina
Um iris de oiro e bebe o que abrazava.
......
E mas fundem-se em balas taes thesoiros,
Que propagam sombria solidão,
Contra elles voam rubidos pelloiros
10
Sagrando causas de revolução .

o povo saúda os carros de CÆSARINO e ANTONIO pelo de JULIUS-CÆSAR :

Na continuação do texto introdutório é feita alusão à recusa de D. Pedro de


aceitar uma recepção oficial na sua chegada a Nova Iorque11.
4

O vapor Hevelius no qual viajava D. Pedro foi recebido na baía de Nova Iorque
por uma comissão de autoridades que incluía os ministros norte-americanos Fish
(Relações Exteriores), Robeson (Marinha) e Taft (Guerra). O imperador recusou as
homenagens programadas, alegando o caráter privado da sua viagem. O Hevelius
continuou então a sua viagem até seu atracadouro habitual no Brooklyn. A comitiva
imperial desembarcou, atravessou o East River no ferryboat da rua Fulton, alugou uma
carruagem e chegou praticamente incógnita ao Hotel da Quinta Avenida.

Enquanto isso, os membros da comitiva do governo norte-americano voltaram


ao cais das Baterias na corveta Alert, ovacionada pelo público que imaginava estar
dando as boas-vindas ao imperador. A comitiva dirigiu-se então para o hotel onde se
hospedaria D. Pedro sendo novamente saudada nas ruas pelo povo, que supunha
estar o Imperador numa das carruagens12.

Cæsarino, o Cesarion (pequeno César) foi filho de Cleópatra e do político e


general romano Júlio César. Antonio é Marco Antônio, primo e amigo de Júlio César.
Ao igual que este, foi amante de Cleópatra, com quem teve três filhos. Sousândrade
compara Dom Pedro a Júlio César (que recusou a coroa de rei oferecida por Marco
Antônio). Além da comitiva oficial estadunidense, estiveram presentes na corveta
Alert diplomatas brasileiros, como o Ministro Plenipotenciário Carvalho Borges e
Salvador de Mendonça, cônsul brasileiro em Nova Iorque. A menção a Júlio César
serve também para estabelecer um paralelo entre Dom Pedro e o presidente norte-
americano Ulysses S. Grant que, à época, era acusado de tentar perpetuar-se no
poder. Durante a campanha para sua reeleição em 1872, Grant foi comparado a Júlio
César pelo senador Charles Sumner13. A campanha contra o suposto cesarismo de
Grant foi adotada no ano seguinte pelo New York Herald. Nas eleições de 1876 a
acusação voltou à tona, motivando uma carta de Grant em que afirmava renunciar a
qualquer intenção de concorrer a um terceiro mandato14. O assunto do terceiro
mandato de Grant é retomado na estrofe 62 do Inferno.

Off ! Off ! para São Francisco off,


5

O jornal New York Herald de 18 de abril noticia a partida do imperador para San
Francisco com a mesma frase usada por Sousândrade (Off for San Francisco – de
partida para San Francisco.

Off for San Francisco – De partida para San Francisco


New York Herald, 18 de abril de 1876 p. 4

Sem primeiro a Grant saudar !

D. Pedro chegou a Nova Iorque em 15 de abril de 1876. Dois dias depois


embarcou rumo a San Francisco. Apesar de ter declarado o caráter privado da sua
visita aos Estados Unidos (chegou a declarar: “O Imperador est| no Brasil; eu sou só
um cidad~o brasileiro”15), D. Pedro foi criticado por não ter apresentado
imediatamente seus respeitos ao presidente Grant em Washington. Dois dias após a
chegada do imperador, um editorial do New York World considerou o fato uma
“descortesia proposital”, que o imperador n~o teria sequer cogitado cometer com o
magistrado da menor monarquia europeia16.

Só um spokesman / Disse amen . . .

O editorial do New York World criticando D. Pedro recebeu resposta numa


carta publicada no Herald e assinada por J. C. R.17 A carta leva o título O Imperador e o
Presidente, e apareceu sem destaque na seção de notícias internacionais e miscelânea
local. O remetente defende as ações de D. Pedro, mesmo declarando não ser porta-
voz do imperador nem do seu séquito (I am not a spokesman for dom Pedro, nor even
his officers). O assinante por trás das iniciais J.C.R. é José Carlos Rodrigues, diretor do
6

semanário O Novo Mundo, publicado em Nova Iorque, do qual Sousândrade era


colaborador e vice-presidente, desde 1875, da empresa controladora (a Novo Mundo
Association)18. A identidade do assinante é confirmada numa cópia da carta
depositada no Instituto Histórico e Geográfico do Brasil no Rio de Janeiro19. O
imperador retribuiu a solidariedade de Rodrigues visitando a redação do Novo Mundo
na véspera de sua partida dos Estados Unidos20.

Apontamos ainda a utilização do termo inglês spokesman. Porta-voz começou


a ser utilizado em português, no sentido de representante, só na década de 1860,
provavelmente influenciado pelo francês porte-voix, ou ainda, porte-parole 21.

Que a Deus deve e não a Cæsár

Na última linha da estrofe, Sousândrade faz novamente uma citação de dupla


leitura:

A primeira, e mais evidente, é a resposta de Jesus aos que lhe perguntaram se


era lícito pagar tributos: “Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de
Deus”22. César, no segundo contexto é o presidente Grant, assim chamado por seus
inimigos políticos devido a seu estilo considerado imperial e por, supostamente,
pretender perpetuar-se na presidência. “O grito de Cesarismo! surgiu pouco depois da
segunda eleiç~o [de Grant] e continuou até que ‘não a um terceiro mandato’ tornou-se
um chav~o”23. A referência no texto introdutório a Cæsarino (presumivelmente
referindo-se também aos ministros de Grant que recepcionaram D. Pedro) reforça a
associação.

Que a Deus deve é novamente uma referência à suposta origem divina do poder
temporal de reis e imperadores e à sua sujeição ao poder religioso, o âmago da
Questão Religiosa no Brasil.

Um editorial do New York Herald de 22 de abril de 1876, reproduzido abaixo,


resume vários dos assuntos abordados por Sousândrade, a começar pelo título Our
7

Yankee Emperor (O nosso imperador ianque). Em tom irônico-laudatório, Dom Pedro


é apresentado como “um verdadeiro imperador ianque [neste] solo imperial onde
todos somos imperadores”. Continua afirmando novamente a tendência progressista
(go-ahead) norte-americana de Dom Pedro24. Menciona a presença do imperador no
culto evangélico de Ira Sankey, presença também registrada por Sousândrade no
Inferno de Wall Street. Finalmente afirma que o soberano brasileiro se comporta
muito melhor que alguns primos seus: “Ele n~o passa as noites valsando”. A farpa é
dirigida ao príncipe Aleixo da Rússia, que visitou os Estados Unidos em 1871. Escreve
25
Sous}ndrade no Inferno de Wall Street: “aos saraus, / O Aleixo da Russia.” A
imprensa norte-americana registrou pelo menos nove bailes em que o príncipe
participou, além de banquetes, recepções e outras atividades públicas26.

Nosso Imperador Ianque


Editorial do New York Herald (22/04/1876) 27

Estrofe 50:
8

(Commissarios em PHILADELPHIA expondo a CARIOCA


de PEDRO-AMERICO ; QUAKERS admirados :)

— Antedilúvio ' plesiosaurus,'


Industria nossa na Exposição . . .
==Oh Ponza ! que coxas !
Que trouxas !
28
De azul vidro é o sol patagão !

Sousândrade deixa de lado os acontecimentos da chegada de D. Pedro aos


Estados Unidos para falar da Exposição do Centênio, na Filadélfia, que celebrou os
cem anos da independência norte-americana. No texto introdutório fala-se,
ironicamente, do quadro A Carioca, de Pedro Américo de Figueiredo e Mello (1843-
1905), supostamente exposto na Exposição de Filadélfia, para admiração dos Quakers
(quacres, seita puritana. A cidade de Filadélfia é conhecida como a cidade dos quacres –
Quaker City29).

A Carioca
por Pedro Américo

Realizada na Europa em 1861, A Carioca foi oferecida, junto com outras obras,
a D. Pedro II, protetor do artista. A obra, porém, não foi aceita por escrúpulos do
mordomo da Casa Imperial que achou-a “por demais licenciosa” para ficar nas galerias
de sua Majestade. Passou mais tarde a pertencer ao rei Guilherme da Prússia, que
recompensou Pedro Américo com uma alta condecoração, da qual ele nunca fez uso30.
O quadro mostrado acima, pertencente ao Museu Nacional de Belas Artes no Rio de
9

Janeiro, é uma cópia feita pelo próprio artista em 1882 31. Ignoramos a localização
atual do original ao que Sousândrade se refere.

A Carioca não representou o Brasil na Exposição de Filadélfia: Pedro Américo


participou com dois óleos de assuntos históricos ligados à Guerra do Paraguai:
Exército brasileiro atravessando Passo da Pátria, comandado pelo Marechal Osório, e
Defesa da Ilha de Cabrita32. Outro elemento de ironia nesta estrofe é o escândalo
causado pela profusão de nus nas amostras de pinturas francesas e italianas, entre os
“norte-americanos puritanos, n~o familiarizados com nus artísticos”33. Uma
publicação criticou os organizadores pelo “excesso de figuras nuas, que ofendem os
visitantes refinados. ... A França ilustra a sua natureza e hábitos licenciosos com a sua
copiosa contribuiç~o de monstruosidades nuas”34. O pintor Daniel Huntington
declarou que alguns quadros franceses na Exposição do Centênio tinham como
“intenç~o evidente satisfazer os gostos de homens lascivos” 35. É claro que, para
Sousândrade, A Carioca teria sido enquadrada na mesma categoria.

Os versos seguintes: “—Antedilúvio 'plesiosaurus,' / Industria nossa na


Exposição...” pode ser entendida como crítica ao atraso dos artigos industriais
brasileiros expostos em Filadélfia. Todavia, a palavra ‘plesiosaurus’ (grafada com
aspas e significando “quase lagarto” – na primeira ediç~o do “Inferno de Wall Street”
aparecia ‘paleosaurus’ – “lagarto velho”) pode ser uma referência a D. Pedro II (que é
comparado n’O Guesa com Fomagatá, demônio da mitologia chibcha que tinha um
rabo de lagarto).36 Nesta interpretaç~o, ‘indústria’ pode ser entendida na acepç~o
corrente inglesa de ‘operosidade’, que descreve bem as atividades febris de D. Pedro
durante sua visita aos Estados Unidos. Apesar de o pavilhão brasileiro na feira exibir
quase exclusivamente produtos naturais de origem vegetal, animal, e mineral, um
artigo de jornal informa que as indústrias manufatureiras do Brasil causam espanto
entre os visitantes, mas não fornece um único exemplo de bens industriais produzidos
pelo país e exibidos na Exposição da Filadélfia.
10

Indústria nossa na Exposição 37

As últimas linhas da estrofe misturam referências à Carioca, Ponza, e ao ‘azul


vidro’. A referência {s coxas n~o precisa de explicações após ver a reprodução de A
Carioca. Trouxa pode ser entendido como mulher mal-amanhada ou malprocedida38,
acepção que coincidiria com a visão puritana da sociedade norte-americana da época.

Ponza é o médico italiano Giuseppe Lodovico Ponza (1822-1879)39 pioneiro na


utilização da cromoterapia no tratamento de doentes mentais, tratamento proposto
em trabalho apresentado à Sociedade de Medicina Psicológica de Paris em outubro de
187540. O New York Times, num editorial de tom irônico, comentou, em 1876, o
trabalho do Dr. Ponza 41. Extrapolando as descobertas do médico italiano, o Times diz
que o excesso de vermelho produz mania aguda (o que explicaria, segundo o jornal, a
exaltação dos socialistas), que o azul acalma os pacientes excitados e que o violeta
possui extraordinários poderes nutritivos e tônicos (que o Times recomenda aos
leitores debilitados pela leitura do Tribune, jornal rival). Na memória apresentada por
Ponza, ele afirma que a fonte de inspiração para a experimentação com vidros
coloridos no tratamento de doenças mentais teria sido um “capit~o da marinha
inglesa”, cujo nome é convenientemente esquecido.

O inspirador das experiências de Ponza foi o general Augustus James


Pleasonton, da cavalaria norte-americana, que publicou, em 1871, um curioso livrete
11

sobre o efeito da luz filtrada por vidros azuis no crescimento de plantas e animais42.
Nele fala sobre as medições feitas por Humboldt da intensidade do azul do céu perto
do equador; menciona também que exploradores citam a incrível intensidade do azul
do céu nas regiões árticas e antárticas. Continua afirmando a exuberância da
vegetação equatorial e a riqueza da fauna e a velocidade do crescimento vegetal perto
dos polos. No mesmo ano Pleasonton obteve uma patente de um Melhoramento para
acelerar o crescimento de plantas e animais 43, baseado no uso de vidros azuis, roxos ou
violetas. Aproveitando o aval científico conferido a seu trabalho pela publicação do
trabalho de Ponza, Pleasonton publicou, em 1877, uma segunda edição de seu livro
onde afirma que a luz filtrada por vidros azuis é também benéfica à saúde humana.
Surgiu nos Estados Unidos, entre 1877-78, uma “mania do vidro azul” (Blue-Glass, —
vidro azul, ou azul vidro, na tradução literal usada por Sousândrade), que aumentou a
procura por vidros azuis para instalá-los nos quartos de pessoas doentes. Esta mania
mereceu destaque nos jornais da época44.

De azul vidro é o sol patagão!: Pode ser referência { “incrível intensidade do


azul do céu [na região antártica]” mencionada no livro de Pleasonton45 ou, talvez, à
nesga de céu azul visível no extremo superior direito n’A Carioca.

Estrofe 51:
(Detectives furfurando em MAIN-BUILDING ; telegrama
submarino :)

—Oh ! cá está ' um Pedro d'Alcantara !


O Imperador stá no Brazil.'
— Não está ! christova
E’ a nova,
46
De lá vinda em Septe de Abril !
12

Main Building – Exposição de Filadélfia 47

(Detectives furfurando em MAIN-BUILDING ; telegrama submarino :)

Continuando com D. Pedro na Exposição de Filadélfia, Sousândrade faz uma


colagem de notícias. O Main-Building é o pavilhão principal na Exposição, mostrado
na figura acima. Numa descrição do esquema de segurança montado para a
Exposição lemos que um corpo de detetives, munido de uma lista de delinquentes
conhecidos, acompanhava seus passos, prontos para prendê-los caso cometessem
algum crime48. O conceito de detetive, policial à paisana que detectava atos
criminais, era relativamente novo nos Estados Unidos. Em 1873 a polícia de Nova
Iorque só contava com 25 detetives, que faziam parte de uma equipe formada em
1857 49.

Furfurar.
A estrofe contém um possível arcaísmo sousandradino: furfurar, na frase
detetives furfurando em Main-Building. A frase aparece nas edições nova-iorquina
(1877) e londrina (c. 1886) d’O Guesa, o que reduz a probabilidade de tratar-se de erro
tipográfico.

Furfurer é usado em textos franceses de dermatologia do século XIX no sentido


de descamar (a pele), do latim furfur, farelo, escama. Em inglês furfurate tem o
mesmo sentido; furfur é sinônimo de caspa. A palavra no presente contexto poderia
13

significar esquadrinhar, referindo-se a uma operação pente-fino em busca de


meliantes na Exposição da Filadélfia. É, contudo, necessário acrescentar que esta
acepção não encontra subsídios históricos.

Outra possibilidade apoia-se em abonações do francês medieval furfurer no


Dictionnaire du Moyen Français (1330-1500),50 usada na tradução francesa de Nau dos
Insensatos por Pierre Rivière, inspirada na versão livre em latim de Jacob Locher do
51
Narrenschif de Sebastian Brant . A primeira citação, em tradução livre, é: Ela
52
murmurará sem cessar, e sua boca furfurará palavras contra seu marido . Outra
citação (da mesma obra): ... que murmurará contra, abaixará a voz e furfurará 53;

Considerando a natureza do diálogo dos detetives, inseguros da identidade de


um Pedro d’Alcântara, acreditamos que furfurar é usado por Sousândrade como
sinônimo de murmurar, sussurrar ou resmungar, talvez influenciado por sinônimos
deste último termo, tais como refunfar, refunhar, refunfunhar.

Telegrama submarino:
O quiproquó sobre a identidade do tal Pedro de Alcântara é aumentado por um
fictício telegrama submarino afirmando que o Imperador não estava no Brasil. A
comunicação por cabo submarino entre os Estados Unidos e o Brasil era então feita
via Londres; só em setembro de 1883 foi estabelecida uma ligação telegráfica direta
entre os Estados Unidos e o Brasil, via América Central.

—Oh ! cá está ' um Pedro d'Alcantara ! / O Imperador stá no Brazil.' / — Não está !

Na cena imaginada por Sousândrade, os detetives identificam um Pedro de


Alcântara na Exposição, nome usado pelo Imperador na sua viagem aos Estados
Unidos e Europa. Ao enfatizar o caráter particular da sua visita, D. Pedro tinha
declarado na sua chegada a Nova Iorque: O Imperador está no Brasil,54 frase
reproduzida por Sousândrade.
14

O Imperador está no Brasil 55

Sousândrade ironiza a insistência de D. Pedro em ser chamado Pedro de


Alcântara, cidadão brasileiro, ao mesmo tempo que gozava das atenções prestadas a
um chefe de estado. A Exposição de Filadélfia, por exemplo, foi inaugurada
formalmente pelo presidente Grant e D. Pedro. A crítica torna-se mais mordaz ao
lembrar que os detetives da Exposição tinham a função de identificar criminosos
suspeitos entre os visitantes.

Christova / E’ a nova, / De lá vinda em Septe de Abril !

Christova j| foi interpretada como sendo um “prov|vel russismo com o sentido


de cristã”.56 Sousândrade, porém, não usa outros russismos na sua obra, nem coloca a
palavra em itálico como o faz para as numerosas palavras estrangeiras usadas no
Inferno de Wall Street. Acreditamos que seja uma referência ao Palácio de São
Cristóvão, onde foi assinado o decreto de abdicação de D. Pedro I, em 7 de abril de
1831. Os jornais norte-americanos experimentavam dificuldade em registrar a grafia
correta, escrevendo Christorao57 ou ainda Christavo58. Sousândrade juntar-se-ia ao
coro com Christova.

A referência ao sete de abril (de 1831) marca a data do decreto de abdicação de


D. Pedro I em favor de seu filho59, assinado na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão.
Um almanaque de 1879 designa a data como o “dia em que se devolveu a Coroa ao
Senhor D. Pedro II 60.” Abaixo, o texto do decreto de abdicação:
15

Usando do direito que a Constituição me concede, declaro que hei mui


voluntariamente abdicado na pessoa de meu muito amado e presado filho, o Sr.
61
D. Pedro de Alcantara - Boa Vista, 7 de Abril de 1831 .

O documento da abdicação reúne, assim, termos usados na estrofe: [Quinta


da] Boa Vista (“S~o Cristóv~o”), “Sete de Abril”, e “Pedro de Alc}ntara”, além de
formalizar o título de imperador do Brasil para o futuro D. Pedro II.

Estrofe 52:
(MONROE tolerando a EUROPA :)

—De tucano o papo amarello,


Do manto do Imperio do Sul
Nos descobre as glorias :
Historias
62
Do Hugo . . . diz que a morte é azul !

O texto introdutório refere-se à Doutrina Monroe (1823) do presidente norte-


americano James Monroe, definindo o Hemisfério Ocidental como esfera de
influência dos Estados Unidos. Os principais pontos da Doutrina Monroe
estabeleciam que: (1) Os Estados Unidos não interfeririam nos assuntos internos ou
nas guerras entre as potências europeias; (2) Os Estados Unidos reconheciam as
colônias e dependências europeias existentes e não interfeririam nelas; (3) Não seriam
admitidas novas colônias no Hemisfério Ocidental; e (4) Qualquer tentativa de uma
potência europeia de oprimir ou controlar qualquer nação no Hemisfério Ocidental
seria vista como um ato hostil contra os Estados Unidos63. O motivo da inclusão do
presidente Monroe no texto introdutório da estrofe não é clara, já que o texto dos
versos não faz referência direta a ele, como é comumente o caso. Talvez seja
referência à data de falecimento de Monroe, o dia 4 de julho de 1831, provavelmente
lembrado na imprensa estadunidense. Exatos 45 anos após essa data, no centenário
da declaração da independência norte-americana, Dom Pedro estava na Exposição do
Centênio em Filadélfia, participando das cerimônias com o presidente Grant. A
Exposição é assunto das duas estrofes anteriores.

(MONROE tolerando a EUROPA :)


16

Pode referir-se à Questão Christie (1860) entre o Brasil e a Inglaterra, na qual os


Estados Unidos não se envolveram. A questão foi finalmente resolvida pela
arbitração de Leopoldo I da Bélgica. As relações diplomáticas foram finalmente
reatadas em 1865, graças aos bons ofícios de Portugal. A Questão Christie é
novamente abordada na estrofe 60 d’O inferno de Wall Street .

— De tucano o papo amarello / do manto do Imperio do Sul / Nos descobre as glorias:

É referência à famosa murça de papos de tucano usada por D. Pedro II em vez do


arminho dos reis europeus para mostrar a brasilidade do Império do Sul.

Detalhe da Fala do Trono, Moeda de ouro de 20.000 réis


Óleo de Pedro Américo (1872) 64 chamada Papo de tucano 65
mostrando a murça de papos de tucano

Murça de papos de tucano

Historias / Do Hugo . . . diz que a morte é azul!


17

A morte é azul
(Victor Hugo)
Cadaver (datado: no cemitério, agosto 1855)
Les contemplations (1856)66

A morte é azul! é verso do poema Cadaver des Les Contemplations 67 (1856) de Victor
Hugo. Frase considerada um prenúncio de Rimbaud no último quartel do século XX 68,
é hoje imagem poética que não causa espanto. À época da sua publicação, porém, foi
qualificada de ininteligível 69. A inclusão da citação no Inferno de Wall Street mostra a
inegável sensibilidade poética de Sousândrade.

O poema Cadaver (Hugo usa a palavra em latim) é uma exaltação da morte,


como pode ser deduzido do primeiro verso: “Ô morte! hora esplêndida!” Não fica claro,
contudo, o motivo da sua inclusão nesta estrofe. Pode ser um antecipo da reunião
entre Dom Pedro e Victor Hugo em Paris, tratada na estrofe 170. O papo amarelo do
tucano pode ser contrastado com a morte azul, numa comparaç~o “crom|tica” que
nos remete novamente ao azul vidro e à cromoterapia de Ponza na estrofe 50,
seguindo uma característica sousandradina de retomar assuntos em estrofes
alternadas do Inferno 70. A próxima estrofe (de número 53), por exemplo, não trata de
Dom Pedro, que é assunto da estrofe 54, que analisamos a seguir.

Estrofe 54:
(PRESIDENTE GRANT com impassibilidade e seus minis-
tros BABCOCK, BELKNAP, etc. lendo o SUN e com-
primentando a DOM PEDRO :)

—De greenback as almas saudam


Ao ventre de oiro Imperador !
==‘Bully Emperor’ incrente
Em sua gente,
71
É tal rei tal reino, Senhor ?
18

No texto introdutório Sousândrade faz referência aos ministros da


administração do Presidente Grant acusados de escândalos. Pelo menos cinco dos
ministros de Grant foram culpados de malversação. William W. Belknap, ministro da
Guerra, sofreu um processo de impeachment na Câmara dos Deputados pelo seu
envolvimento no Indian Ring, concessão de postos de comércio em reservas indígenas
a pessoas que depois fizeram fortunas vendendo produtos de má qualidade. Escapou
da punição ao renunciar antes da votação final72. O Senado norte-americano também
instaurou um processo de impeachment contra Belknap no qual não foi condenado
devido a ter renunciado com ocasião do processo na Câmara73. Dom Pedro, em visita
a Washington, assistiu a uma audiência do segundo julgamento de Belknap74. O
ministro do Tesouro, William A. Richardson, viu-se obrigado a demitir-se, por
extorquir acusados de evasão fiscal. O Promotor Geral George H. Williams demitiu-se
sob suspeita de corrupção e prevaricação. O ministro do Interior, Columbus Delano,
renunciou após ser acusado de corrupção na administração dos assuntos indígenas.
O Ministro da Marinha, George M. Robeson foi acusado de negligência em contratos
de fornecimentos navais.

No mais rumoroso de todos os casos, o secretário particular de Grant, o


general Orville E. Babcock, foi levado a julgamento com outros membros do St. Louis
Whiskey Ring (Quadrilha do uísque de St. Louis). A quadrilha fraudou a Receita
Federal norte-americana em 10 milhões de dólares75 (aproximadamente 200 milhões
de dólares a preços de 2010). Os seus membros recebiam propinas para aprovar
relatórios subfaturados da quantidade de uísque produzida. Ao saber das atividades
da quadrilha Grant teria prometido “n~o deixar nenhum culpado escapar”. Apesar
desta declaração, testemunhou a favor de Babcock, garantindo a sua integridade no
julgamento. Babcock foi considerado não culpado pelo júri em fevereiro de 1876.
Todos os outros integrantes da quadrilha foram condenados76.

Presidente Grant . . . lendo o Sun.

É uma referência irônica ao relacionamento do presidente norte-americano com a


imprensa. O New York Sun, dirigido por Charles Anderson Dana, era um jornal nova-
19

iorquino de grande circulação, opositor impiedoso da administração do presidente


Grant. Num editorial o jornal afirmou que o ódio de Grant pelo Sun (sol, em inglês)
era tão grande que o fazia odiar todo o sistema solar77. Os escândalos dos ministros
Babcock e Belknap foram revelados e cobertos em detalhe pelo Sun78. O presidente
Grant certamente não era leitor do Sun, jornal pelo qual nutria um ódio
continuamente alimentado pelos ataques contra seu governo.

—De greenback as almas saúdam / Ao ventre de oiro Imperador !

Greenback (literalmente dorso verde) designa as cédulas de dólares. Entre


1862 e 1865 o governo norte-americano emitiu mais de 450 milhões de dólares em
papel moeda, sem lastro em ouro, para financiar as despesas da Guerra Civil (1861-
65). Após o final da guerra os conservadores em matérias fiscais exigiram que o
governo tirasse os greenbacks de circulação. Agricultores e outros que desejavam
manter preços altos se opuseram à medida. A primeira lei sancionada por Grant como
presidente (18/03/1869) foi o resgate dos greenbacks pelo seu equivalente em ouro. O
pânico financeiro de 1873 e a aprovação da Resumption Act (lei da retomada, de 1875,
que previa o resgate de greenbacks por ouro) polarizaram o debate sobre o assunto.
Foi formado entre 1874 e 1876 o Partido Greenback, que propunha a ampliação da
base monetária e apresentou candidatos para a Presidência em 1876 e 188079. A
contraposição que Sousândrade faz entre o papel-moeda e o ouro - almas de
greenback (os norte-americanos) e o Imperador do ventre de ouro (Dom Pedro II) -
reflete a polêmica.

Bully Emperor pode ser traduzida como “excelente Imperador”. O New York Sun
publicou um poema atribuído a Walt Whitman e dedicado a Dom Pedro, em que o
imperador é chamado bully emperor duas vezes80:

Thus Walt to Pedro


There is something I must yawp
20

about: bully emperor, it is you!


------

------
For me lived the long line of bully
good fellows from Adam and Cain
down to the days of Andrew Jackson.
------- ------
I, Walt of Camden, New Jersey, am
a rather big thing!
Say you the song is of Walt and
not of Pedro!
Bully emperor, you’ve hit it precise-
ly! You are toothless, inert, bilious
yellow as saffron, Camerado.

Bully Emperor

O poema é evidentemente apócrifo, mas constitui uma curiosa referência indireta a


Whitman na obra de Sousândrade.

Estrofe 55:
(DOM PEDRO com impaciencia ao GENERAL GRANT :)

—Por que, Grant, á penitenciaria


Amigos vos vão um por um ?
Forgeries, rings, wrongs ;
Ira's songs
81
Cantar vim no circo Barnúm !

A resposta de D. Pedro ao presidente Grant e seus ministros é uma acusação


da corrupção no gabinete de Grant, continuando o assunto da estrofe anterior.

Forgeries, rings, wrongs: fraudes, quadrilhas, crimes.

forgery (fraude, falsificação) é também usada na terceira estrofe do Inferno de Wall


Street — “Codezo’s forgery” — com referência a Tomás Codezo, (1839-1887), pintor e
inventor cubano radicado em Nova Iorque e mencionado várias vezes no Inferno82. Na
presente estrofe, contudo, a referência deve ser a alguma contrafação não
especificada dos ministros de Grant.
21

ring é círculo ou anel, em inglês. É também usada para designar quadrilhas ou


camarilhas enquistadas na administração pública. Sousândrade faz referência no
Inferno de Wall Street ao Tammany Ring (e ao seu chefão William Tweed), o maior
caso de corrupção na administração nova-iorquina, desmascarado no início da década
de 187083. É denunciado por Sousândrade, na estrofe 9 do Inferno de Wall Street, que
insinua também a realeza, ou as pretensões dinásticas, do presidente Grant:

— Mistress Tilton, Sir Grant, Sir Tweed,


Adulterio, realeza, ladrão,

A palavra ring é também usada nas estrofes 139 (ring-negro horizonte), 172
(Diógenes ... achando a verdade-quadratura do ‘ring') e na última estrofe do Inferno
(ring d’ursos sentenciando { pena-última o arquiteto da Farsália).

Na estrofe em análise a referência é provavelmente ao Whisky Ring, ou ainda


aos Indian Rings, que envolviam a administração Grant. O Whisky Ring, mencionado
na estrofe anterior, envolvia sonegação fiscal. O esquema era chefiado pelo General
John McDonald, nomeado por Grant para dirigir o departamento da receita federal
em Saint Louis; contou com a participação do General Babcock, secretário pessoal do
presidente84. Os Indian Rings eram quadrilhas formadas pelos funcionários
responsáveis pela distribuição de comida e outros artigos de primeira necessidade nas
reservas indígenas. Os artigos entregues eram de qualidade inferior; a comida,
frequentemente estragada85. Em defesa do Presidente Grant pode-se afirmar que
estes desvios antecediam a sua presidência86, mas ele pouco fez para solucionar o
problema.

Ira's songs / Cantar vim no circo Barnúm !

Ira’s songs: os cantos de Ira. Ira Sankey e Dwight L. Moody formavam uma dupla de
pregadores evangélicos de enorme popularidade nos Estados Unidos na década de
1870. Moody era o pregador; Sankey compunha e cantava hinos durante eventos de
renovação evangélica que atraíam multidões. Em 1876 a dupla fez uma série de
apresentações em Nova Iorque87 no Gilmore’s Garden, arena que tinha abrigado até o
22

ano anterior o Hipódromo, circo do empresário P. T. Barnum88, aqui chamado Circo


Barnúm por Sousândrade. Dom Pedro esteve presente na última apresentação da
dupla evangélica em Nova Iorque no dia 16 de abril de 1876, um dia após ter
desembarcado nos Estados Unidos89.

Estrofe 56:
(GENERAL GRANT e DOM PEDRO :)

—Fazeis-nos os cabellos brancos . . .


Um filho das leis do amanhan !
==Com Romanos . . . Papa ;
Satrápa,
90
Com Gregos ; Napóleon, com Grant !

O presidente Grant reclama das críticas de D. Pedro sobre os escândalos da sua


administração; o imperador responde estabelecendo sua posição perante o General
Grant.

—Fazeis-nos os cabellos brancos . . . / Um filho das leis do amanhan !

Grant culpa Dom Pedro de tornar seus cabelos brancos com as suas críticas e, por sua
vez, critica o idealismo do imperador (filho das leis do amanhã) perante os atos de
corrupção no governo.

== Com Romanos . . . Papa ; / Satrápa, / Com Gregos ; / Napóleon, com Grant !

Dom Pedro responde ao presidente Grant. Perante os romanos, considera-se


Papa. A aparente visão de autoridade moral incontestável é temperada pelo fato de,
à época do diálogo imaginado por Sousândrade, a cidade de Roma já não pertencer ao
Vaticano. Após a invasão pelas tropas italianas e o plebiscito de 1870, a cidade de
Roma foi reincorporada ao reino da Itália. O Papa Pio Nono tornou-se um virtual
cativo no Vaticano91.
23

Sátrapa (Sousândrade mantém a acentuação original do grego — satrápa) era


um governador provincial do império persa. O sistema de satrapias foi mantido por
Alexandre o Grande e seus sucessores no império seléucida92.

Napóleon é grafado mantendo a acentuação inglesa. O General Grant


escreveu nas suas memórias: “Nunca admirei o car|ter do primeiro Napoleon; mas
reconheço sua genialidade”93. A impressão que Dom Pedro levou do presidente Grant
não foi exatamente lisonjeira. Ele escreveu no seu diário íntimo: “aspecto grosseiro.
Pouco fala” 94. Estas opiniões do imperador brasileiro muito provavelmente não eram
de conhecimento público quando a edição nova-iorquina do Inferno de Wall Street foi
publicada. A resposta de Dom Pedro ao General Grant indica, contudo, uma
suposição de superioridade moral.

Após três estrofes que tratam sobre a Inglaterra e a França, Sousândrade


retoma o diálogo entre D. Pedro e o General Grant:

Estrofe 60:
(DOM PEDRO rindo-se e o GENERAL GRANT sorrindo :)

—Desde Christie, a Grande Bretanha


Se mede co'o Imperio que herdei . . .
Rainha-Imperatriz . . . !
== Os Brazis
95
Vos farão Imperador-Rei . . .

—Desde Christie, a Grande Bretanha / Se mede co'o Imperio que herdei . . .

Christie é referência à Questão Christie, levantada por William Douglas Christie (1816-
1874), ministro britânico no Brasil. Em 1862, Christie denunciou perante o governo
imperial o saqueio da barca inglesa Prince of Wales, naufragada na costa brasileira, e a
prisão dos oficiais da fragata Forte por desacato a uma sentinela policial na Tijuca. Ao
não serem atendidas suas reclamações pelo governo brasileiro, Christie ordenou o
bloqueio da baía de Guanabara (31 de dezembro de 1862). Foram rompidas as
relações diplomáticas, só reatadas em 1865. A questão da fragata foi submetida a
24

arbitramento, do qual resultou um memorável triunfo moral da diplomacia do


Império, com o reconhecimento do direito e da correção do Brasil.96

O Imperio que herdei. Sousândrade aproveita a oportunidade para, uma vez mais,
questionar a legitimidade do poder de Dom Pedro, herdado do pai.

Rainha-Imperatriz remete ao título de Imperatriz da Índia outorgado à rainha Victoria


da Inglaterra em 1876 às instâncias do Primeiro Ministro Disraeli. A lei foi aprovada
97
pelo Parlamento Imperial da Grã Bretanha e Irlanda em 27 de abril de 1876 . Na
oportunidade, Disraeli afirmou que a rainha Vitória não usaria, sob nenhuma
circunstância, o título de imperatriz na Inglaterra 98. O uso de reticências e o ponto de
exclamação, acentuam a ironia pelo novo título da rainha inglesa. O título, além de
dar destaque ao papel assumido pela Inglaterra perante os príncipes e o povo da Índia,
também equiparava o título da rainha Vitória ao dos outros imperadores europeus:
99
Rússia (1721), Alemanha (1871), Áustria-Hungria (1867) e França (1852–1870) .
Assim, com exceção da Rússia, o Império do Brasil (1822) precedeu todos os outros
impérios europeus da segunda metade do século XIX.

== Os Brazis / Vos farão Imperador-Rei . . .

O Presidente Grant vaticina o título de Imperador-Rei para D. Pedro, em tom de


crítica aos áulicos, que são vergastados na próxima estrofe. A expressão imperador-rei
remete à origem do título de imperador adotado por D. Pedro I. Segundo Câmara
Cascudo:

... o título de Imperador do Brasil foi escolhido, em 1822, pelo Ministro José
Bonifácio de Andrada e Silva, porque o povo estava mais habituado com o
100
nome do Imperador (do Divino) do que com o nome de Rei .

Sousândrade retoma a festa do Divino Espírito Santo na estrofe 106: “—No


Espírito-Sancto d’escravos / Ha somente um Imperador;”
25

Estrofe 61:
(Côro dos contentes, TYMBIRAS, TAMOYOS, COLOMBOS,
etc., etc. ; música de C. GOMES a compasso da san-
dalia D'EMPEDOCLES :)

—‘A mui poderosa e mui alta


Magestad do Grande Senhor ’
Real !== ‘Semideus’ !
—São Matheus !
101
== Postrou-se o Himavata, o Thabor !

Os artistas protegidos por D. Pedro são criticados por sua posição


subserviente.

Côro dos contentes, TYMBIRAS, TAMOYOS, COLOMBOS, etc., etc.;

O coro dos contentes102 é alusão aos poetas Antônio Gonçalves Dias (autor d’Os
Timbiras), Domingos José Gonçalves de Magalhães (autor d’A confederação dos
Tamoios) e Manoel de Araujo Porto-alegre (autor de Colombo), protegidos do
103
imperador e autores de obras publicadas em edições luxuosas por D. Pedro II . É
interessante notar que as obras mencionadas, todas de tema brasileiro ou americano,
além de evidenciar o desejo de D. Pedro de promover uma literatura nacional, situam-
se na mesma linha temática d’O Guesa. A crítica de Sousândrade mira a exploração
do artista pelo poder, mas não pretende diminuir o mérito literário dos autores, já que
era admirador de Gonçalves Dias. Escreveu Sous}ndrade: “Gonçalves Dias morreu de
cansaço e de miséria. Quando precisava de independência, davam-lhe empregos e
comissões: ele deixava Os Timbiras, que aí ficaram mal esboçados, para poder dar
conta de si” 104.

música de C. GOMES a compasso da sandalia D'EMPEDOCLES :)

O compositor Carlos Gomes era também protegido de D. Pedro II. A “música”


a que Sousândrade se refere pode ser o hino em louvor aos Estados Unidos, composto
por comenda do Imperador, para ser interpretado na Exposição da Filadélfia. A
expressão coro dos contentes esconde também uma ironia, já que D. Pedro exigiu que
26

o hino não tivesse coros, o que contrariou sobremaneira Carlos Gomes 105. Talvez em
represália, o compositor exigiu que o hino fosse interpretado por 160 a 200 músicos, e
com um mínimo de seis harpas na orquestra106. O hino recebeu o título Greeting from
Brazil (Saudação do Brasil) e foi interpretado em Filadélfia, conforme programado, no
dia do centenário da independência dos Estados Unidos (4 de julho de 1876). O New
York Times informou que o hino mal pôde ser ouvido pelas autoridades presentes,
incluindo o imperador brasileiro, no que foi descrito como “momento penoso” 107.

Empédocles (Séc. V A.C.) foi um filósofo grego, cidadão de Agrigento, na Sicília.


Conta a lenda que decidiu desaparecer para que os seus seguidores acreditassem que
os deuses o tinham arrebatado ao Olimpo, tornando-o um deles. Jogou-se então na
cratera do vulcão Etna. O vulcão, porém, teria devolvido uma de suas sandálias de
bronze, desmascarando a farsa. A lenda é citada por Horácio na Ars Poetica, Milton
no Paraíso Reconquistado e é o tema do poema Empedocles on Etna (1852) do poeta
inglês Matthew Arnold108. Empédocles neste caso seria uma referência irônica a D.
Pedro, elevado a semideus por seus protegidos.

— ‘A mui poderosa e mui alta / Magestad do Grande Senhor ’ Real !

Os primeiros versos da estrofe são uma sátira da dedicatória d’Os Timbiras:109

Dedicatória d’Os Timbiras (1857)


a Dom Pedro II 110
27

O trecho abaixo, da introdução d’A Confederação dos Tamoios de Gonçalves de


Magalhães, exemplifica a postura quase servil criticada por Sousândrade:

É este nobre sentimento de profunda admiraçâo, e elevado reconhecimento pela


prosperidade do nosso paiz, devida à sabedoria, justiça e amor às instituições
livres que tâo altamente brilham no Throno na Augusta Pessoa de Vossa
Majestade Imperial que me inspira a idéa de offerecer e dedicar à Vossa
Majestade Imperial este meu trabalho litterario, como um tributo espontaneo de
um subdito fiel ao melhor dos Monarchas... dar de Vossa Majestade Imperial ao
mundo a idéa de um Principe perfeito, todo empenhado em promover o bem do
seu povo.... Beija as sagradas mâos de Vossa Majestade Imperial o De Vossa
Majestade Imperial subdito fiel e reverente,
111
Domingos José Gonsalves de Magalhaens .

== ‘Semideus’ ! / —São Matheus !

A leitura da citação acima do autor do Colombo e a comparação entre Dom


Pedro e Empédocles eximem comentários sobre ‘Semideus’. A inclusão de São
Mateus pode ser devida à frase do seu evangelho: “Dai pois a César o que é de César, e
a Deus o que é de Deus”112. No Canto I d’O Guesa a mesma citação bíblica é usada
para referir-se a Dom Pedro:

Os rêis não correspondem-se co'o pobre.


" O que é de Cesar, pela grande porta :
Na pequena e suspeita, o que é de Christo
Rev'lucionario eterno. — 113

== Postrou-se o Himavata, o Thabor !

Unem-se à louvação a D. Pedro os montes sagrados, que se prostram perante


o Imperador. O deus Himavat da mitologia hindu é a personificação do Himalaia, a
cordilheira sagrada114. O verso sousandradino lembra também um mito indiano,
relatado numa versão moderna do Ramayana.115 O Monte Vindhya criou ciúme do
Himalaia, em volta do qual giravam o sol e a lua, e decidiu crescer até alcançá-lo. Os
deuses, assustados, pediram a intervenção do sábio Agastya. Este pediu ao Vindhya
que se abaixasse para que ele pudesse passar. A montanha prostrou-se em reverência
a Agastya até atingir a sua altura atual.
28

O Monte Tabor, elevação histórica ao norte de Israel, domina a planície que o


rodeia (“como o Tabor entre os montes” – Jeremias 46:18). Na tradição cristã é
considerado o lugar onde aconteceu a Transfiguração de Jesus, descrita no evangelho
de Mateus: “E transfigurou-se [Jesus] diante [de Pedro, Tiago e João]; e o seu rosto
resplandeceu como o sol, e as suas vestes se tornaram brancas como a luz”.116

Estrofe 62:
(DOM PEDRO substituindo o beijamão e nauseado
117
d`incensos ; GENERAL GRANT aspirando-os :)

—Me desenthrono . . . por Mac Máhon !


D'Estado, enviez, golpe vou dar !
== O termo terceiro
Ao poncteiro. . .
118
Directo golpe, vou m' coroar !

Dom Pedro e o Presidente Grant comentam formas para garantir a sua


manutenção no comando dos respectivos países.

DOM PEDRO substituindo o beijamão e nauseado d`incensos ;

Sousândrade, após criticar o imperador por aceitar a bajulação dos áulicos, de


que trata a estrofe anterior, o descreve agora como “nauseado d’incensos”.

Em abril de 1872, regressando da sua primeira viagem a Europa, D. Pedro


extinguiu a cerimônia do beija-mão. O jornal A República escreveu: “Teremos um
prato novo, – ‘o aperto de m~o’; mas o sistema culin|rio n~o varia; comeremos ainda
por muito tempo { portuguesa.”119 Dom Pedro “nauseado d’incensos” pode também
referir-se à notícia publicada originalmente em jornais europeus em 1875 sobre uma
possível abdicaç~o de D. Pedro, “fatigado de dissolver a Camara dos Deputados, de
opor-se a reforma eleitoral pelo sistema direto e de todos esses encargos do
Governo”, abdicaria da coroa em favor da Princesa Isabel e iria residir nos Estados
29

Unidos. 120 Seria esta a notícia aludida na estrofe 45, onde Dom Pedro é descrito como
“Resident”.

GENERAL GRANT aspirando-os :

A atitude do presidente Grant (aspirando os incensos) indica sua fraqueza pela


adulação e a tentação de perenizar-se na presidência.

—Me desenthrono . . . por Mac Máhon ! / D'Estado, enviez, golpe vou dar !

Mac Máhon (a acentuação reforça a pronúncia à inglesa) é referência ao


Marechal Patrice de Mac-Mahon, presidente da França de 1873 a 1879. Forçado, em
dezembro de 1876, pela Câmara de Deputados, de tendência republicana, a nomear
Jules Simon como primeiro-ministro, Mac-Mahon enfrentou a oposição do Senado
conservador. Em 16 de maio de 1877 Mac-Mahon enviou uma carta a Simon que
causou a demissão deste121. A saída de Simon deflagrou a crise do seize mai
(dezesseis de maio, em francês), considerada um golpe de estado por O Novo
Mundo122. Em 1879, após a publicação da edição nova-iorquina d’O Inferno de Wall
Street, o Marechal Mac-Mahon renunciou à Presidência da República Francesa, sendo
substituído por Jules Grévy, que é citado na estrofe 170 da edição londrina (c. 1886).

O golpe de estado de Dom Pedro pode ser referência à repetição de manobra


semelhante à derrubada do Gabinete Zacarias (liberal) no Brasil em 1868, que foi
substituído pelo Gabinete Itaboraí (conservador). A Câmara, unanimemente liberal,
foi dissolvida com pretexto de ‘consulta { Naç~o’. A C}mara nova, eleita no mesmo
ano, veio unanimemente conservadora123.

enviez: viés, meio tortuoso de fazer algo.

== O termo terceiro / Ao poncteiro... / Directo golpe, vou m' coroar !


30

Termo terceiro: do inglês third term, terceiro mandato presidencial supostamente


pretendido por Grant.

A resposta de Grant reflete o debate sobre seu terceiro mandato como


Presidente dos Estados Unidos. Esta reeleição era considerada por muitos como o
prenúncio de uma presidência permanente, que pouco se diferenciaria de uma
monarquia. O jornal New York Herald aproveitou este receio, que não tinha
fundamento, para lançar uma campanha sensacionalista contra o Terceiro Mandato.

A caricatura abaixo intitulada O Pânico do Terceiro Mandato mostra um


jumento (O New York Herald) que zurra alertando sobre o perigo de um terceiro
mandato. Está coberto com a pele de um leão na que lemos Cesarismo e coloca em
polvorosa os animais da floresta, representados por jornais nova-iorquinos: Times
(unicórnio), Tribune (girafa), World (coruja). Os democratas são apresentados como
uma raposa na sua toca; os republicanos, como um elefante aproximando-se do
abismo onde está escrito Caos. Esta é a primeira vez que o Partido Republicano foi
identificado com um elefante. 124

O Pânico do Terceiro Mandato (1874)

Apesar de Grant ter manifestado em 1875 através de uma carta que não se
apresentaria a um terceiro mandato em 1876, o impasse surgido na eleição desse ano
levou à cogitação de um golpe de estado para reconduzi-lo à presidência125. No
Inferno de Wall Street Sousândrade trata da conturbada eleição de 1876 (— É de Tilden
31

a maioria; / É de Hayes a inauguração!)126, na qual Samuel Tilden, o candidato


democrata, que obteve a maioria do voto popular, acabou sendo preterido no Colégio
Eleitoral pelo republicano Rutherford Hayes, que tornou-se assim o décimo nono
presidente dos Estados Unidos.

Estrofe 63:
Mas . . . pondo por bars e cocheiras,
A urna, a sacra ! a eleitoral !
Muito esterco, o fructo
Vem bruto . . .
127
—Hu . . ! nós, isso é na Cathedral !

Prosseguindo o diálogo, Grant e D. Pedro comentam os locais das eleições: em


bars e cocheiras nos Estados Unidos; em igrejas no Brasil.

Mas . . . pondo por bars e cocheiras, / A urna, a sacra ! a eleitoral ! / Muito esterco, o
fructo / Vem bruto . . .

Na cidade de Nova Iorque em 1856, mais de um terço dos locais de votação


operava em tavernas (Rum Shops); em bairros de imigrantes este valor chegava a
89 % 128. Nas grandes cidades, além de bares, estações de bombeiros, depósitos e
cavalariças eram comumente usados129. As palavras muito esterco podem, portanto,
ser entendidas também literalmente.

Votação num bar – Nova Iorque (1858) 130


32

—Hu . . ! nós, isso é na Cathedral !

No Brasil, em meados do século XIX, o artigo 58 da lei regulamentar das


eleições131 mandava que se celebrasse missa e te-déum antes da eleição propriamente
dita132. As eleições aconteciam em igrejas, o que era motivo de espanto para os
estrangeiros133. Só em 1881, com a Lei Saraiva, foram dispensadas as cerimônias
religiosas dos trabalhos eleitorais. Os locais de votação passaram a depender da
designação do Poder Executivo. Os templos religiosos só seriam escolhidos caso
outros edifícios não estivessem disponíveis134.

Estrofe 64:
== Não ha democratas melhores
Que os Rêis na Republica o são . . .
—Ser povo bem quero
No Imperio :
135
Fazem-me id’lo, rojam-se ao chão !

Grant prossegue o diálogo, talvez comentando com ironia o editorial Nosso


imperador democrata de um jornal nova-iorquino , sobre D. Pedro136. Cabe notar que a
palavra democrata é também referência ao Partido Democrata, já que o artigo propõe
a candidatura de D. Pedro à presidência dos Estados Unidos por este partido. O
Presidente Grant pertencia ao opositor Partido Republicano.

D. Pedro responde à ironia expressando seu desejo de ser povo no Império.


Sousândrade ataca novamente a postura dupla de Dom Pedro, que insistia em ser
tratado como cidadão comum nos Estados, ao tempo que aceitava naturalmente o
tratamento diferenciado que recebia por causa de sua posição.

Estrofe 65:
Pois ‘republicanos que temos
São qual Salvator,’ querem pão :
Se o damos, bem falam ;
Estralam
137
Se o não damos . . . fome de cão !
33

Prosseguindo, D. Pedro refere-se a Salvador de Mendonça, diretor do jornal A


República, coautor do Manifesto Republicano de 1870 e um dos idealizadores do
Movimento Republicano no Brasil138. O Manifesto redigido por Mendonça proclamava
a monarquia "regime caduco e despótico" e "planta exótica em solo americano”139.
Premido por problemas pessoais (sua esposa tinha falecido recentemente), Mendonça
aceitou a nomeação como cônsul em Baltimore (1875) e Cônsul Geral do Império
(1876) nos Estados Unidos, na época em que Sousândrade morou em Nova Iorque.
Para ser incorporado ao serviço diplomático brasileiro, o Vice-Consulado Honorário de
Baltimore foi transformado em Consulado Privativo; na mesma data Salvador de
Mendonça foi nomeado para o cargo140. Como seria de esperar-se, Mendonça foi
criticado por ter trocado suas convicções republicanas por um cargo a serviço do
Império. Conta-se que, ao despedir-se de D. Pedro, antes de viajar para os Estados
Unidos, o Imperador lhe teria dito: “faço votos para que o senhor preste t~o bons
serviços ao Império, nessa Republica, quantos prestou à sua Republica no meu
Império.”141 Em novembro de 1889 Salvador de Mendonça encabeçava a delegação
do Império do Brasil na Primeira Conferência Pan-Americana na capital norte-
americana. Após a proclamação da República, ele foi ratificado no cargo por Quintino
Bocaiúva, primeiro Ministro do Exterior republicano,142 e continuou integrando o
corpo diplomático brasileiro.

Estrofe 66:
== Aqui, tudo vem, da balança
No oiro ter-se de equilibrar . . .
—Lá, a horizontal
Equival
143
Bom rumo a quem vai para o ar. . .

Grant e D. Pedro trocam comentários sobre o poder do dinheiro nos Estados


Unidos e no Império do Brasil.

== Aqui, tudo vem, da balança / No oiro ter-se de equilibrar . . .


34

Grant enfatiza a importância do dinheiro nos Estados Unidos, afirmando que o


valor de uma pessoa é igual ao peso em ouro no outro prato da balança.

—Lá, a horizontal / Equival / Bom rumo a quem vai para o ar. . .

D. Pedro, talvez referindo-se ainda a Salvador de Mendonça (Estrofe 65) e a


prosternação dos montes na presença imperial (Estrofe 61), indica que lá (no Brasil) o
valor é dado pela submissão (a horizontal). Ironicamente deseja boa sorte (bom
rumo) para quem se mantiver ereto.

Conclusão

As estrofes analisadas mantêm o tom de crítica irônica sobre a monarquia


brasileira, que é contrastada com o sistema presidencial norte-americano. Apesar da
sua conhecida oposição ao imperador e o regime que ele representava, Sousândrade
assume também uma posição de crítica perante a administração Grant. As principais
críticas sousandradinas ao imperador correm por conta da origem espúria de seu
poder, da adulação de que era objeto D. Pedro no Brasil e da imagem de cidadão
comum que procurou cultivar na sua viagem aos Estados Unidos. Os elogios da
imprensa à operosidade do imperador em solo norte-americano são tratados por
Sousândrade com ironia. É estabelecido um paralelo com o presidente Grant, a quem
Sousândrade atribui um desejo de perpetuar-se no poder. O sistema eleitoral e a
corrupção da administração Grant envolvendo colaboradores próximos ao presidente
são também motivo de crítica.

1
Torres-Marchal, Carlos. Dom Pedro II no Inferno de Wall Street – I. Eutomia, Ano IV, N° 1, p. 1-32.
Disponível em: http://www.revistaeutomia.com.br/volumes/Ano4-Volume1/artigo-capa/
DPEDROWALLSTREETI.pdf. Acesso em: 23-nov-2011.
2
Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886. Canto X, Inferno de Wall
Street, estrofe 49, p. 239.
3
The New York Herald (Nova Iorque), 16 de abril de 1876. p. 7.
4
Our Yankee Emperor, The New York Herald (Nova Iorque), 21 de abril de 1876.
5
Dom Pedro II. New York Herald (Nova Iorque), 16 de abril de 1876, p. 7
6
Marcuse, Maxwell F., This Was New York!, edição revisada e aumentada, Nova Iorque: LIM Press,
1969, p. 144-45.
35

7
Cashman, Sean Dennis, America in the Gilded Age, (2 ed.). Nova Iorque: New York University Press,
1988. p. 101 - 102.
8
Dom Pedro’s Arrival. New York Times (Nova Iorque), 16-abr-1876, p. 2.
9
McCabe, James Dabney, New York by Sunlight and Gaslight. Filadélfia: Hubbard Brothers, 1882, p.
424.
10
Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886. Canto X, p. 186.
11
Dom Pedro II. – Arrival of His Braziliam Majesty in New York, The New York Herald (Nova Iorque), 16
de abril de 1876, pp. 7-8.
12
Dom Pedro II. – Arrival of His Braziliam Majesty in New York, The New York Herald (Nova Iorque), 16
de abril de 1876, pp. 7-8.
13
Sumner, Charles. Republicanism vs. Grantism (Discurso no Senado dos Estados Unidos, 31 de maio
de 1872] in Complete Works [Statesman Edition, v. 20]. Boston: Lee and Shepard, 1900. p. 82-171.
14
Summers, Mark Wahlgren. The press gang: newspapers and politics, 1865-1878. Chapel Hill (NC):
University of North Carolina Press, 1994, p. 277.
15
Dom Pedro’s Arrival, The New York Times (Nova Iorque), 16 de abril de 1876, p. 1.
16
Our Democratic Emperor (editorial). New York World, 17-abr-1876. in Dom Pedro in the U.S. (álbum
de recortes jornalísticos), Oliveira Lima Library, Catholic University (Washington DC)
17
The Emperor and the President. New York Herald, 19-abr-1876. N° 14.485. p 7 c. 4.
18
Aviso Importante. O Novo Mundo (Nova Iorque), 5(58):238. 23 de julho de 1875.
19
Carta de José Carlos Rodrigues ao Herald rebatendo censuras a D. Pedro. Lata 584 Pasta 1 - IHGB – RJ.
Ver tb. Guimarães, Argeu, D. Pedro II nos Estados Unidos, Ed. Civilização Brasileira, 1961, p. 151-152.
20
Dom Pedro – His Last Day in the United States. New York Herald, 12-jul-1876 in Dom Pedro in the
U.S. (álbum de recortes jornalísticos), Oliveira Lima Library, Catholic University (Washington DC)
21
Ver, p. ex. Almeida, Tito Franco de. O Brazil e a Inglaterra ou O Trafico de Africanos. Rio de Janeiro:
Typographia Perseverança, 1868. “Temos creado uma eschola, de que foi porta-voz o Dr.
Livingstone...”p. 18 ; “Quem foi o digno porta-voz d'este novo attentado diplomatico?” p. 30. É
anterior o uso de porta-voz no sentido de buzina ou megafone.
22
Evangelhos de: Mateus 22:17; Marcos 12:17; Lucas 20:25
23
Sparks, Edwin Erle, National Development, 1877-1885 (The American Nation: A History. Vol. 23),
Nova Iorque, Harper & Brothers Publishers, 1907, p. 167.
24
O Oxford English Dictionary define o nome go-ahead como “aç~o o espírito de ir para frente;
progresso, ambiç~o, energia ou iniciativa”; como adjetivo: “direto e enérgico nas ações;
empreendedor”.
25
Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886. Canto X, Inferno de Wall
Street, estrofe 46, p. 238
26
His Imperial Highness the Grand Duke Alexis in the United States of America During the Winter of 1871-
72. Cambridge: Riverside Press, 1872. 221 p.
27
Our Yankee Emperor. New York Herald (Nova Iorque), 22 de abril de 1876.
28
Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886. Canto X, Inferno de Wall
Street, estrofe 50, p. 239.
29
Williams, Mary Wilhelmine, Dom Pedro the Magananimous, Chapel Hill (NC), The University of North
Carolina Press, 1937, p. 208.
30
Cardoso de Oliveira, Noticia Biographica sobre Pedro Americo, Rio de Janeiro, H. Garnier, 1899, p. xv.
31
Ministerio da Educacao Publica. Museu Nacional de Belas Artes. Pedro Americo no Museu Nacional
de Belas Artes. Catálogo. Rio de Janeiro, 1965. A Carioca, Oleo-tela, Dimensões: 2,05 x 1,34 m;
Assinado: Pedro Americo (1882); N° Inventario: 2454; Adquirido em 1885.
32
Catalogue of the Brazilian Section, Philadelphia, International Exhibition, 1876, Filadélfia, Press of
Hallowell & Co., 1876. p. 50-51.
33
Klein, Philip Shriver; Hoogenboom, Ari Arthur. A history of Pennsylvania (2 ed.). University Park
(PA): Pennsylvania State University Press, c1980, p. 336
34
The Centennial. The Literary World (Boston), nov-01-1876, p. 85.
35
An Artist on Art. Appletons’ Journal (Nova Iorque). dez-1877, p. 538.
36
Torres-Marchal, Carlos. Dom Pedro II no Inferno de Wall Street – I. Eutomia, Ano IV, N° 1, p. 3-4.
Disponível em: http://www.revistaeutomia.com.br/volumes/Ano4-Volume1/artigo-capa/
DPEDROWALLSTREETI.pdf. Acesso em: 23-nov-2011.
36

37
The Empire of Brazil – The Brazilian Representation in the Centennial Exposition. Artigo jornalístico
datado de 12-mai-1876 in Dom Pedro in the U.S. (álbum de recortes jornalísticos), Oliveira Lima
Library, Catholic University (Washington DC)
38
Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa (2 ed.). Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1986.
39
Villavecchia, Francesco, Cenni sulla vita del dottore Giuseppe Lodovico Ponza, Giornale della R.
Accademia di Medicina di Torino, Serie 3, Vol. 25, No. 3, Maio 1879. pp. 424-40.
40
Ponza, Giuseppe Lodovico, De l’influence de la lumière colorée dans le traitement de la folie. Annales
Médico-Psychologiques, Paris, 5e Serie, Vol. XV, 1876, pp. 20-25.
41
The Color Cure, The New York Times (Nova Iorque), 13 de março de l876, p.4, c.6
42
Pleasonton, Gen[eral] A[ugustus] J[ames], On the Influence of the Blue Color of the Sky in
ª
Developing Animal and Vegetable Life, Filadélfia: Inquirer Book and Job Print, 1871. (2 ed., 1877)
43
Pleasonton, Augustus James. Improvement in Accelerating the Growth of Plants and Animals.
Patente EUA n° 119.242, 26 de setembro de 1871.
44 º
The Pleasontonian Theory (Editorial), The New York Times, (Nova Iorque), 1 de maio de 1876, p. 4, c.
5-6; Blue Glass Folly. Boston Daily Globe (Boston), 13 de fevereiro de 1877, p.4, c.2-3.
45
Pleasonton, Gen[eral] A[ugustus] J[ames], On the Influence of the Blue Color of the Sky in
ª
Developing Animal and Vegetable Life, Filadélfia: Inquirer Book and Job Print, 1871. (2 ed., 1877)
46
Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886. Canto X, Inferno de Wall
Street, estrofe 51, p. 239
47
Ingram, J. S. The Centennial Exposition, described and illustrated. Filadélfia: Hubbard Bros., 1876. p.
107.
48
Sprogle, Howard O., The Philadelphia Police, Past and Present, Filadélfia, 1887, pp. 155-56.
49
Lening, Gustav, The Dark Side of New York Life and its Criminal Classes from Fifth Avenue Down to the
Five Points, Nova Iorque, Fred'k Gerhard, Ag't., l873, p. 39 ss
50
Disponível no endereço: http://www.atilf.fr/dmf/ Acesso em 08 de abril de 2011.
51
Brant, Sebastian; Zeydel, Edwin Hermann (trad. e ed.). The Ship of Fools. Nova Iorque: Columbia
University Press, 1944.
52
Ains sans fin el murmurera Et sa bouche furfurera Parolles contre son mari. Fonte : Dictionnaire du
Moyen Français (1330-1500). Disponível em : http://www.atilf.fr/dmf/ Acesso em 08-abr-2011.
53
qui feroit contre murmurer, Profonder voix et furfurer. Fonte : Dictionnaire du Moyen Français (1330-
1500). Disponível em : http://www.atilf.fr/dmf/ Acesso em 08-abr-2011.
54
Dom Pedro’s Arrival, The New York Times (Nova Iorque), 16 de abril de 1876, p. 1.
55
Dom Pedro’s Arrival. New York Times (Nova Iorque), 16 de abril de 1876, p. 1
56 ª
Campos, Augusto e Haroldo de, ReVisão de Sousândrade (2 Ed.), Rio de Janeiro, Editora Nova
Fronteira, 1982, p. 341.
57
A drive to the Palace of Sao Christorao, The New York Herald (Nova Iorque), 16 de abril de 1876 p. 7;
“SAO CHRISTORAO”[manchete] 21 de fevereiro de 1876.
58
“His principal residence is at the palace of Sao Christavo”, Washington Chronicle, s.d. in Dom Pedro in
the U.S. (álbum de recortes jornalísticos), Oliveira Lima Library, Catholic University (Washington DC).
59
Sousa, Alberto, Os Andradas, São Paulo, Typographia Piratininga, 1922. Vol. 2.,p. 820. 7 de Abril
de 1831. Decreto de Abdicação. “Usando do direito que a Constituição me concede, declaro que hei
mui voluntariamente abdicado na pessoa de meu muito amado e presado filho, o Sr. D. Pedro de
Alcantara - Boa Vista, 7 de Abril de 1831”.
60
Almanach do Diário de Belém. Redigido pelo Administrador do mesmo Diário. Anno II, 1879, Pará,
Typ. - Commercio do Pará. p. 46. Dias de Grande Gala
61
Sousa, Alberto, "Os Andradas", São Paulo, Typographia Piratininga, 1922. Vol. 2. p. 820
62
Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886. Canto X, Inferno de Wall
Street, estrofe 52, p. 240
63
Encyclopedia Britannica CD 2.02, versão eletrônica, 1985.
64
Original no Museu Imperial (Petrópolis, RJ)
65
Disponível em: http://www.itaucultural.org.br/numismatica/171.htm Acesso em: 15-abr-2011.
66
Hugo, Victor. Contemplations. Vol. II – Aujourd’hui — 1843-1856 (5 ed.) Paris : Librairie L. Hachette e
Cie, 1858. Cadaver, p. 267-269.
67
Hugo, Victor, Oeuvres complètes de Victor Hugo, Paris : J. Hetzel , A. Quantin, [1883?]. Poésie VI, Les
Contemplations - Aujourd'hui (1843-1855), Livro 6°, Au Bord de l'Infini, XIII. Cadaver p. 255-58.
37

68
Phaure, Jean. Victor Hugo et Baudelaire devant Dieu: Gnose et mystique en poésie, Atlantis.
Archéologie scientifique et traditionnelle (Vincennes) n° 342, 1986, p. 163.
69
“Ne sont-ce pas des hardiesses inintelligibles?” Benjamen, J. de. Lettre Parisienne. Les
Contemplations, par Victor Hugo, La France Littéraire, Artistique, Scientifique (Lyon), Ano I, 1856, p.
30-32.
70
Torres-Marchal, Carlos. Crônicas do Inferno – II. Revista Eutomia Ano I – N° 2 (7-35), p. 16.
Disponível em http://www.revistaeutomia.com.br/volumes/Ano1-Volume2/especial-
destaques/Cronicas-do-Inferno-II_Carlos-Torres-Marchal.pdf Acesso em 13-abr-2011.
71
Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886. Canto X, Inferno de Wall
Street, estrofe 54, p. 240
72
O'Brien, Frank M., The Story of The Sun, Nova Iorque, George H. Doran Company, 1918, pp. 306-07.
73
Keller, Helen Rex, The Dictionary of Dates (2 vols). Volume II - The New World, Nova Iorque: The
MacMillan Co., 1934, p.187 – 188.
74
A visita aconteceu em 1° de junio de 1876. New York Herald, 02-jun-1876. in Dom Pedro in the U.S.
(álbum de recortes jornalísticos), Oliveira Lima Library, Catholic University (Washington DC)
75
Lynch, Denis Tilden, The Wild Seventies, Nova Iorque: D. Appleton-Century Company Inc., 1941.
p. 347
76
Cashman, Sean Dennis, America in the Gilded Age (2 ed.) , Nova Iorque, New York University Press,
1988, pp. 178-79.
77
Lee, James Melvin, History of American Journalism, (nova edição), Garden City & Nova Iorque, The
Garden City Publishing Co., Inc., 1923, p. 326.
78
O'Brien, Frank M., The Story of The Sun, Nova Iorque, George H. Doran Company, 1918, pp. 304-12.
Capítulo XIV, “The Sun” and the Grant Scandals.
79
The Columbia Encyclopedia, (6 ed.). Nova Iorque: Columbia University Press, 2001.
80
Republican Advocate (Batavia, NY), v. 65, n° 18, 27 de abril de 1876, p.1. Transcrito do jornal Sun de
Nova Iorque (17 de abril de 1876)
81
Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886. Canto X, Inferno de Wall
Street, estrofe 55, p. 240
82
Torres-Marchal, Carlos. Crônicas do Inferno – II: O Guesa em Wall Street. Revista Eutomia Ano I – n°
2. p. 18-20. Disponível em: http://www.revistaeutomia.com.br/volumes/Ano1-Volume2/especial-
destaques/Cronicas-do-Inferno-II_Carlos-Torres-Marchal.pdf Acesso em 16-abr-2011.
83
Seitz, Don Carlos, The Dreadful Decade, 1869-1879. Indianapolis, The Bobbs-Merrill Company, 1926.
Cáp. 5 – The Tweed Ring (p. 159-199)
84
Lynch, Denis Tilden, The Wild Seventies, Nova Iorque: D. Appleton-Century Company Inc., 1941.
p. 347
85
Johansen, Bruce Elliott. The Native Peoples of North America: A History, (v. 1) New Brunswick (NJ):
Rutgers University Press, 2006, p. 268.
86
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Illinois. (Janeiro 5, 1869), fala das quadrilhas (Rings) de índios, de patentes, do papel, e de estradas
de ferro. in Grant, Ulysses S.; Simon, John (ed.) Papers. Vol. 20 November 1, 1869 – October 31, 1870.
Carbondale (IL): Southern Illinois University Press, 1995, p. 231.
87
Moody D[wight] L., Glad Tidings, comprising sermons and prayer-meeting talks delivered at the New
York Hippodrome, Nova Iorque, E. B. Treat, 1876.
88
Harris, Neil, Humbug, The Art of P. T. Barnum. Boston,Toronto: Little, Brown and Company, 1973
89
The Revival Services. The Last Sunday in New-York ... Don Pedro Present at the Evening Services.
New York Times (Nova Iorque), 17-abr-1876, p. 8
90
Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886. Canto X, Inferno de Wall
Street, estrofe 56, p. 240.
91
Pollard, John Francis. Money and the rise of the modern papacy: financing the Vatican, 1850-1950.
Cambridge: Cambridge University Press, 2005. p. 41
92
Chaudhary, M. A.; Chaudhary, Gautam. Global Encylopaedia of Political Geography. Nova Déli:
Global Vision Publishing House, 2009. p. 208
93
Grant, U. S. Personal Memoirs. Nova Iorque: Charles L. Webster & Company, 1886. Vol. 2, p. 547.
94
Calmon, Pedro. História de D. Pedro II. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1975, v. 3, p. 1078.
95
Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886. Canto X, Inferno de Wall
Street, estrofe 60, p. 241.
38

96
Guimaraes, Argeu, Dicionário Bio-bibliográfico Brasileiro de Diplomacia, Política Externa e Direito
Internacional, Rio de Janeiro, 1938, Ediçâo do Autor, p. 124.
97
Appleton’s Annual Cyclopaedia and Register of Important Events of the Year 1876, New Series, Vol. 1,
Whole Series Vol. XVI, Nova Iorque, D. Appleton and Company, 1877, p. 403.
98
Baker, Sherston, Sir. Halleck’s International Law, or rules regulating the intercourse of states in peace
and war. (3 ed.) 2 vols. Londres: Kegan Paul, Trench, Trübner & Co. Ltd, 1893. Vol 1, p. 118
99
Goodlad, Graham David. British foreign and imperial policy, 1865-1919. Londres: Routledge, 2000.
p. 4
100
Cascudo, Luís da Câmara. Dicionário do folclore brasileiro (3 ed), vol 1, A–I [Coleção Dicionários
especializados, 3]. Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1972. p. 338 – verbete Divino.
101
Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886. Canto X, Inferno de Wall
Street, estrofe 61, p. 241.
102
O coro dos contentes foi resgatado por Torquato Neto na música Let’s Play That (“vai, bicho,
desafinar o coro dos contentes”) gravada por Jards Macalé em 1972.
103
Azeredo, Magalhaes de, Dom Pedro II - Tracos de sua Physonomia Moral in Contribuições para a
biographia de D.Pedro II - Parte 1a. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Tomo
Especial, Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1925. p. 977.
104
Sousândrade, Joaquim de. Práticas Familiares de Democracia. O Globo (São Luís), 19-out-1889, p. 2.
in Williams, Frederick G; Moraes, Jomar (eds.), Poesia e prosa reunidas de Sousândrade. São Luís:
Edições AML, 2003, p. 510-511
105
Vaz de Carvalho, Itala Gomes, Vida de Carlos Gomes, 3ª Ed., Editora A Noite, Rio de Janeiro, 1946.
pp. 109-115.
106
O Novo Mundo (Nova Iorque), 6(69), 24 de junho de 1876, p. 187.
107
City of the Declaration. New York Times (Nova Iorque). 05-jul-1876 p. 3
108
Britannica CD 2.02, E ncyclopædia Britannica, 1995.
109
Carneiro, Alessandra da Silva. Do tatu fúnebre ao Lar-titu: implicações do Indianismo no Canto
Segundo do poema O Guesa, de Sousândrade. Dissertação de mestrado. Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, Departamento de Letras Clássicas e
Vernáculas. São Paulo, 2011.
110
Gonçalves Dias, A[ntônio]. Os Tymbiras: poema americano. Lípsia: F. A. Brockhaus, 1857.
111
Magalhaes, Domingos José Gonçalves de , A Confederaçâo dos Tamoyos, 2ª ed., Rio de Janeiro,
Livraria de B. L. Garnier, 1864. Introdução.
112
Evangelho de Mateus 22:21
113
Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886. Canto I, p. 15
114
Hastings, James (Ed.), Encyclopaedia of Religion and Ethics, Vol. VIII, Life and Death–Mulla.
Edinburgo: T. & T. Clark, 1915, p. 863.
115
Ramayana. Kishore, R.B. (adapt.). Nova Déli: Diamond Pocket Books (P) Ltd., 2005, p. 57-58.
116
Evangelho de Mateus 17:2.
117
Na vers~o de 1877 aparece: “(Dom Pedro nauseado d’incensos, substituindo o beijam~o pelo . . . ;
Grant . . . ?)”
118
Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886. Canto X, Inferno de Wall
Street, estrofe 62, p. 241
119
Magalhaes Junior, R[aimundo], O Imperio em Chinelos, Rio de Janeiro, Editora Civilizacao Brasileira
S/A., 1957, pp. 27 - 28.
120
O Novo Mundo (Nova Iorque), 5(55):183. 23 de abril de 1875; The London Times (Londres), 2 de abril de
1875, p.5, c.4; 3 de abril de 1875, p.1, c.4
121
Encyclopedia Britannica CD 2.02, versão eletrônica, 1985.
122
O Novo Mundo (Nova Iorque), 7(99):147, julho de 1877.
123
Vianna, José de Oliveira, Contribuições para a biographia de D.Pedro II - Parte 1a. in Revista do
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Tomo Especial, Rio de Janeiro, Imprensa Nacional,
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124
Nast, Thomas. The Third Term Panic. Harper’s Weekly 18(932):912, 07-nov-1874. Disponível em:
http:// www.loc.gov/pictures/item/2004682001/ Acesso em: 23-nov-2011.
125
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Sons, 1961. Volume IV, Part 1, Fraunces-Grimke (Volume VII of the original edition). P. 500.
39

126
Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886. Canto X, Inferno de Wall
Street, estrofe 37.
127
Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886. Canto X, Inferno de Wall
Street, estrofe 63, p. 241
128
New York Tribune, 01-nov-1856, p.3 col. 5-6; Anbinder, Tyler. Nativism & Slavery: The Northern
Know Nothings & the Politics of the 1850s. Nova Iorque: Oxford University Press, Inc., 1994, p. 145.
129
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Iorque: Cambridge University Press, 2004, p. 9.
130
Posto de votação num bar na rua Pearl, 488, Nova Iorque. Harper’s Weekly, 13-nov-1858, in Grafton,
John. New York in the Nineteenth Century (2 ed). Nova Iorque: Dover Publications, Inc., 1980.
Disponível em http://historymatters.gmu.edu/d/6724
131
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Villeneuve & C., 1860. Sessão em 20 de julho de 1860. p. 235 – Participação do Sr. Franco de
Almeida.
132
Sarney, José. Crônicas do Brasil contemporâneo: VII: Sobre isso e aquilo. São Paulo: Ediouro, 2008, p.
107
133
Kidder, D. P.; Fletcher, J. C. Brazil and the Brazilians. Filadélfia: Childs & Peterson, 1857. Cap. X, p.
182-183.
134
Paiva, María Arair Pinto. Direito político do sufrágio no Brasil, 1822-1982. Brasília: Thesaurus Editora,
1985, p. 126
135
Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886. Canto X, Inferno de Wall
Street, estrofe 64, p. 242
136
New York World (Nova Iorque), 17 de abril de 1876, in Dom Pedro in the U.S. (álbum de recortes
jornalísticos), Oliveira Lima Library, Catholic University (Washington DC).
137
Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886. Canto X, Inferno de Wall
Street, estrofe 64, p. 242
138
Machado, Luiz Toledo. Formação do Brasil e unidade nacional (Biblioteca “Estudos Brasileiros, I).
São Paulo: IBRASA – Instituição Brasileira de Difusão Cultural S. A., 1980, p. 151
139
Magalhães Júnior, Raimundo. Vida e obra de Machado de Assis, (Coleção Vera Cruz, 320). Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1981, vol. 2, p. 176
140
Magalhães Júnior, Raimundo. Vida e obra de Machado de Assis, (Coleção Vera Cruz, 320). Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1981, vol. 2, p. 177
141
Campos, Humberto de, O Brasil Anedótico, Rio de Janeiro, Livro do Mês S.A., 1962, pp. 103 - 104.
142
Pinto, Luís Flodoardo Silva. As missões orientais: epopéia jesuítica no sul do Brasil. Porto Alegre:
Editora Age, 2002, p. 70.
143
Sousândrade, Joaquim de. O Guesa. Londres: Cooke & Halsted, c. 1886. Canto X, Inferno de Wall
Street, estrofe 66, p. 242

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