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JOAQUIM DE

SOUSÂNDRADE

LIRAS PERDIDAS

2a Edição Revista e Acrescida de Notas


12 Edição in Sousândrade: inéditos, p. 81-187.

452
LIRAS PERDIDAS, LIRAS ACHADAS

Ao contrário de Harpa de ouro, que traz duas do manuscrito, em seguida à folha XXVII.
está
assinaturasdo autor, este Liras Perdidas não está as- Na parte superior direita de cada folha
"Có-
sinado.Mas a presença
de Sousândrade, sua parti- escrito por Sousândrade, cm tinta vermelha:
apa-
cipaçãodireta na preparação do manuscrito faz-se pia de Anna Ess. Rio." Essa forma, entretanto,
variantes
evidente pelas correções, substituições, acréscimos rece apenas 19 vezes, já que existem as
'Anna
e supressõesde próprio
punho,2 pelo estilo e, prin- seguintes: "Anna SSS" (2 vezes, p. II e XVI);
Esss" (2
cipalmente,pelo conteúdo dos poemas, datados de SS" (3 vezes, p. 111,XIV e XXIV); "Anna
vez, p. XXVIII).
Paris,Nova York (incluindo o Sacred Heart vezes,p. VII e IX) e "Anna Esse" (1 acrescenta, a
College,onde sua filha Maria Bárbara estudou), Além de escrever Rio, Sousândrade
Alcântarae a Quinta Vitória. Além disso, o título respeito de Anna: "da Helvecia"
(p. XXII), "da
Lirasperdidasaparece em cinco dos poemas aqui XXIII) e "D'Helvetia" (p. XXV).
res-
reunidos,os quais foram publicados sob o nome do A folha XX está cortada verticalmente,
poeta, no jornal O Globo (São Luís), sendo que tando, na metade presa ao manuscrito,
a conclu-
iniciado na
doisdeles deixaram de ser recolhidos ao manuscri- são de Loucuras entre Jasmins, poema
poema
to: Flirtationse Hero e Leandro. páginaanterior, e os primeiros 20 versos do
Mede o manuscrito 22 1/2 r 34 1/2 centíme- Leila,notando-se claramente, ao longo do que pas-
tros. Está escrito em papel almaço de dois tama- sou a ser a extremidadedo papel, o começo de le-
nhos (as quatro primeiras folhas medem 22 2 por tras que deveriam ser a continuação de "Lei" e tal-
1/
3112centímetros), mas sempre com 33 linhas, com vez os versos iniciais de outra composição.
exceçãodas quatro iniciais, que não são pautadas. O manuscritoconsta de 46 poemas (a esses
O papel menor, usado para a parte inicial do ma- acrescentamosos dois recolhidos em O Globo) de
nuscrito, tem as linhas quase desaparecidas.A capa extensão,metro e conteúdo diversos, com datas que
da brochura, mandada fazer pela direção da Bibli- vão de 1855,quando o poeta contava 23 anos de
oteca Pública, é de papel imitação de couro, de cor idade, até 1890,época em que tinha 59 anos. A
azul,trazendoem cima e à direita pequeno retân- seqüênciadada ao livro não obedece à ordem cro-
gulode papel branco preso por fita durex, com o nológica de composição das poesias nele enfeixadas,
título da obra e outros elementos, inclusive o nú- e que, na maioria, são canções de amor, bem à moda
mero 41, correspondente ao antigo fichário de ma- da época, e geralmente ao nível das de Harpas sel-
nuscritos da Biblioteca. vagense Eólias.As peças deste livro são de épocas
Os poemas estão escritos com tinta escura,
em que Sousândrade trabalhava em poemas de
hoje semelhando marrom, e foram, do começo ao maior extensão, como O Guesa, Novo Eden e Har-
fim, manuscritos por uma só pessoa. A letra não é Pa de ouro.
de Sousândradenem de quem manuscreveuHar- Além da beleza romântica, Liras Perdidas tem
Pa de ouro. O título Liras perdidas encontra-se no como roteiro para o estabelecimento da bio-
valor
alto de todas as folhas, com exceção das de núme-
grafia do poeta, em razão da diversidade de datas e
ros V, XXII, XXIII e XXIV.A numeração está em
lugaresreferidos,o que ajuda consideravelmente
algarismosromanos, na parte superior esquerda. Na
na busca de elementos para traçar a trajetória des-
encadernação, as folhas VII, VIII e V foram se verdadeiro Guesa.
deslocadasda ordem, figurando exatamente no fim

perdidas,livro publicadono volume Sousândrade:inéditos.São Luís: Departamento de


Introduçãoescrita para a 1a. ed. de Liras
1

Cultura do Estado, 1970.


comum, lápisazul, tinta vermelha e tinta escura, hoje marrom, da mesma cor das
2 Asemendas feitas por Sousândrade estão em lápis
do manuscrito.
seccionamento da folha, existe outro com o mesmo título na página XXVIII do
Além do Poema Leila, incompleto em virtude do do primeiro, pois que o metro usado é
seja uma reconstituição diferente. Além disso, neste
manuscrito•Não nos parece, entretanto, Minnie. Assim também procedeu em Harpas selvage7LS,
título de onde há 4 poesias
mesmo livro reuniu duas composições sob o Eólias,p. 14, em Obras poéticas.Nova York, 1874).
poema Leila (Ver
intituladas Sombras. Em Eóliasaparece um

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LIRAS

BORBOLETAE RAIO DO SOL sorte njingttada!


QtlC ttis(C cxisrir
I Da selva frondosa I Vida irradiada
Na sombra acordou [ glória c (Ic rir!
Gentil pousalousa
Centelha, voou. II Mas -r que nos importa
Ser onda ou ser 'I'héos,
E as aves trinaram Sc o tuar não aporta
E a brisa correu Pra fora dos céus!
E as ondas rolaram
De azul como céu: (Paris, 1855)

3 Que doce harmonia!


Que amena soidão FLORES LUXEMBURGUESAS
Raiando do dia
I Não é, não é alegria,
A luz! E a visão
Nem é tristeza sombria
Que sinto mc atravessar,
4 Do sol, que aparece Grato, grato sentimento
Dentre oiro e rubi, De um passado encantamento —
Dos montes, e desce Por toda parte a lembrar!
Dosvales. Eu vi
2 Eram as roxas florestas,
5 Gentil pousalousa As sagradas sombras mestas
Qual olhos de amor, Nossos berços da soidáo:
Turbada —encantada Se deles tendes as flores, —
No prado e na flor. A saudade dos amorcs
Em vós reconheço estão.
6 E os raios em molhos
(Paris, 1855)
O sol s'ergue aos céus,
E a louca é qual olhos
Aos vãos escarcéus: SOPA, ASSADO E SOBREMESA5
7 Nos bosques, agora, Sopa, uma gota cl'orvalho
Na várzea de luz, sobre uma folha de acácia;
No lago de aurora assado, uma asa de borboleta
Que a chama e seduz, doirada pelo raio do sol;
sobremesa, uma l)étalu dc rosa
8 Dos bosques, perdida meio-roídapor tona abelha.
No aroma, no amor,
Aos raios erguida Catulle Mendes
Balança-se a flor... (Banquete das fadas)

9 0 aéreo amaranto Bebo, bebo a sopa-orvalhos


Quem viu? —Se perdeu, Em prato de açucenal;
Dizeidela o encanto: Colheradas beijos-hinos!
Amou e... morreu.

por ser dos geral.


e
dc leitura dos originais,aparcados a (1986),dv
4 Na 1a. ed. por equívoco bons dicionários (2001). potétn, o de Morais,
publicação de Inéditos (1970), (2001) c do I porém, a do (
POSteriormente faltou,
(1998),do da Ciências de Lisboade borboleta. Nao
sinônitno devetnosOte tcparo.
Ia. ed. ( 181'3), figura observação posteriortnentc.
a cuja riscada
Conhecedorda obra de Sousandrade,e Voyaes",palavra
5 Primeiramenteessa poesia foi intitulada

455
Hinos! hinos! —Quão doce tua inocências
Cotni maWassada,cm sal, mesmo sem ter vista, a olhar!

2 Asa bela ao sol doirada, (Nova York, 1873)


E o doce virgíneo mel
Sobremesa-paraíso
Riso! riso, GREEN-STAR
No dedo lhe pondo o anel.
1 —Como os céus formosos brilham!
Ai o prado d'alva acácia! venha ver a Ursa maior!
Brando —sonoro Bemol! a Ursa menor —
---Ai grelha a chiar do assado "Vinte trilham
Tão doirado! 5 Ursas nos céus! que terror!
a-- Ai sobremesa do sol! Sei de um urso"...
—Que inimigo!...
4 -- Sala de jantar, natura, Mamã! mamã, quantasUrsas
Roseirais; relvas, abril, há nos céus?
Cantos, encantos, paraíso, IO Duas.
Riso, riso, "Vos digo,
Onda pura e céus de anil. menina, três.
—Oh Senhor! —
5 -- Que as fadas dançando adiantes
Com vestes de oiro e de tul: 15 Allright, e calo.
Em punho as taças-diamantes mas, aquela estrela é verde
Levantem, brindes, ovantes6 "Verde? girl?! eu, rose-opalo
(Dou o champanha) a Catulle. vejo-lhe o lume tremer.
—Já começa... é verde! é verde! —
20 "E amarela, mulher!
AUGUSTA verde há uma..."
-—Há vinte! há trinta!
1 —Ter vista custa aos dez anos... toda a terra a enverdecer! —
sorte dos olhos humanos! "Que a vencedora não minta!
de chorar muito em pequena' 25 verde esp'rança! oh meu tesoiro
—Guesly! Guesly!
destes amplos firmamentos
fulgurosos, soberanos, —
Cheios qual dos pensamentos
quão verdes-mares! E pena.
desta bela terra em flor!
2 E assim trajada de rosa, Quando frouxas meadas de oiro
desditosa 30 se desatam, luminosos
E nem s'explica linguagem? teus cabelos gloriosos
Linda aragem são qual do astro o resplendor!
então; sobre os joelhos meus: Na tua voz há luz, centelhas
"earth" explique: e os dois dedinhos destas rosas do Sarão:
torcendo-me a língua, Deus! 35 verde estrela! verde estrela
Th?... qual beijo entre carinho? tu, que me roubas a calma,
-- Guesly! Guesly! que nos olhos tens tua alma,
não têm vista os olhos teus. há, entre os céus e o horizonte
amor... tens amor?" I dont't! —
3 Mas, se tens medo cle Hortênsia
bear a Augusta vem papar. (Nova York)

6 Na Ia. ed., por equívoco,avantes.

456
LIRAS PERDIDAS 9

MINNIE7
MINNIE9
Que utnbrosos olhos!
Que utnbrosa trança! (Seu pai, um capitão do mar,
desaparecera com o navio em viagem
N'alma a esperança
para a Austrália pelo Cabo Horn;
Tetno.stão jovem, a filha, desde Pequena, ainda o espera.
Que ouvidos ouvem Esperará eternamente, diziam).
Dela o gritar...
Não ouves tu? Quão linda coses
Na verde alfombra,
Deste daylily Da casa à sombra,
O encanto eu tenho: Da sesta ao ardor!
E eu, por ti, venho Já toda grande,
Da infância ao jogo: Dezesseis anos,
No olhar tens fogo, Oh! toda arcanos,
Sons e fulgor!
Gênios no olhar...
E não vês tu? 2 Porém, mais linda
Do que ser grande,
3 Estavas lendo; Ao Newfoundland
Lês como um sábio: 8 Trazes o pão:
Que rubro lábio! Jamais inferno
Que fino riso! Foi tão gemido
Já perco o siso, De anjo querido
De tanto amar... Qual o teu cão.
Não amas tu?
3 Deixaste os prados
Da infância: agora
Tu és aurora,
4 Daqui a um ano Do lar a luz
Eu volto ainda, E o firmamento
Ver-te tão linda Na divindade
E amar-te mais Que faz saudade
Da sombra ao arcano, Que a amar induz.
Do amor aos ais...
E tu? e tu?
4 Riso, ou silêncio
5 —Que firmamentos Que à virgem pesa,
Tens a tristeza
Puros! quão leves
Que alma nos tem:
Brisas! E breves
Do mar notícia
Foram momentos Não veio a porto,
Over aos céus! Se é vivo ou morto
E lá sempre inda, Teu pai, se vem.
Minnie, a infinda
Glória de um Deus! 5 Nem de ano a ano
Mais voltaremos,
Uarrytown, Nova York)

no manuscrito. Verificamosque saiu nesse


escreveu Sousandrade,em Unta vermelha,
7 é o que 1 e o título Minnie.
"Impresso no Globo por Paula Duarte",trazendo, sob perdidas,o número
jornal, edição de 13.8.1889, nu 6, p. 2, entre parênteses, que não consta no
publicação foi acrescida a nota explicativa
19, p. 3. Nessa
9 PUblicadano jornal O Globo, 28.9.1889,
manuscrito.

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E mais nem temos ALABASTRO
De te ver. —Ai!
Que a alrna se parte, I Eis um vaso de puro alabastro
Minnie! nem sejas Que é a imagem de quem longe está,
'Iriste, se o vejas Que ao noivado meu dera-me um astro
Qual a teu pai. E que encerra um mistério. Sinhá,

(Tarrytown) 2 Tenho-o sempre florido na mesa


Do trabalho, ou de amor a canção,
Ou rapsódiascantando do Guesa —
Enche-o hoje tua flor-da-Paixão;
SOMBRAS DAS ÁRVORES
3 Ontem era a do luar, tão amada,
I —Que divindade! sinto
Que fenece do dia ante o albor;
Uma aura tão gentil Amanhã —diz tua carta encantada,
Me acariciando a fronte, Porque vens, que não ponha outra flor.
Céus, mares, terra abril!
(1861)
2 Ao seio azul profundo
As palmas reluzindo
Auro verdor; urúbis RECORDAÇÕES
A imensidão subindo:
I Astros gentis da bela mocidade,
3 Meus bosques luminosos Vésper meiga, crescente feiticeiro,
As calmasde meio-dia, Que lembranças trazeis e que saudade
Um Deus por toda parte Dos tempos da concórdiae o verde oiteiro!
E n'alma esta harmonia
2 Vos adorei dos campos e à cheirosa
4 Do amor! o amor dc tudo Brisa que das estrelas recenclia,
Vos adorei à luz de santa-rosa
Quanto respirae sente,
Quando aos nove anos Beatriz sorria:
Das minhas selvas puras
E do meu sol candente! 3 Mas, para que volver às doces eras,
Do coração aos cândidos martírios,
5 Que divindade! uma aura Se onde eternal renascem primaveras
Tão leve, tão gentil Não finda amor porque não findam lírios?
Me acariciando a fronte,
Céus, mares, terra abril! 4 Depois, que importa essa ilusão fagueira
Dos mentirosos céus, quando o tormento,
6 E as borboletas oiros, Quando a dor d'alma, a sempre-verdadeira
E em flor o roseiral, Aí fica? —astros gentis do firmamento,
Longe o mugir dos toiros;
E este rubi-cristal. 5 Que importa, se das flores que se amaram,
Que redolentes foram, novas flores
7 Sempre no coração! Cada dia o bom Deus manda aos amores,
Esta saudade-serva! Porque s'esqueçam tristes que murcharam!
Esta humildade-relva
De amor e exaltação!
ESPERANDO
8 Lazarus do sepulcro
A alevantei! a cruz -- 1 Junto ao fogo d'áureas brasas
Quebrei-lha! Um riso pulcro Esperar -- que solidão!
A temperatura em zero
Resta... pagou-se a luz
Abaixou, co'o desespero
De um traído coração.
( 1890)

458
I.IRAS PERDIDAS

2 Nos ares fulgem as lâminas 3 E em letras escritas


Da neve e a brisa a cortar; Ao redor —jasmirn,
Cantanl os pobres da rua,
Caméliac nas fitas
Que pedindo a vida sua
Mabnequer e sim:
Mãos estendem a chorar.
Dos lindos amores, das flores bonitas,
Mas onde os cultores estão do jardim?
3 Certo, que ninguém lhes ouve
Canto importuno de dor;
4 Façamos negaça
Ou porque nos drawingrooms
Soam, da lareira aos lumes, Deixando a carteira:
Canções melhores de amor. Virá, feiticeira
Vestida de cassa
4 Frias cinzas na lareira! De amores perfeitos
Vivas brasas de rubi — Rever os seus feitos,
Oh Saudade! e eu friorento, A bela visão...
Contigo meu pensamento —Oh, veio! tão alva
E sem ouvires? ... ouvi! Tão alva! beijava,
Beijava, apagava
5 E os pobres sempre cantando — O seu coração,
Miseráveis eles? não! E lá se ausentava
Lutam contra o céu selvagem; A bela visão.
E ela por mi sem coragem
Talvez,dando o coração... (1864)

6 Quase a bramir o ciúme,


Batem —oh! a doce voz' FORGET ME NOT
Crês? há mais profundo inferno
Que o dos pobres! no governo, 1 Tu, ouve-me, inofensa,
De Deus, de Deus, que é por nós. —a flor
Forget-me-not
Que deste-me, recorda-me...
7 De Prometeus tive o fígado, Que magnetismo-amor!
De Aquiles o calcanhar:
Pela humanidade... o abutre! 2 Que desnorteadas vagas,
Pela guerra... o eterno amar. Por mãos que eu reconheço,
Formosas men-y-wives
E um mau Jack e revesso!
CORAÇÃO
3 E as doces Josefinas,
Há meiga traidora —
E as rubras dálias belas,
Quem quer que ela for,
E as noites das insônias —
Tem dedos de aurora
Oh! um beija-flor! Ai quem dormir com elas!
Uma borboleta!
Nas luzesdo altar, 4 Burglars! E envenenado
Na rosa violeta, Eis-me revolto, triste,
luar!
Nos líriosdo campo, no alvor do O oásis,o paraíso
Perdidos meus, bem viste.
2 Com lápis mui fino
E a mente afagada, 5
Talvez a chorar Que firma infernal, may!
Pintando destinos, Então, viu-se a Josephus
Traçou uma fada Cumprir do Egito a lei.
O coração puro, em chamas no altar.

459
SOUSA.XDR-ADE

BEIJOS DE ANITA, SONHOS Em que, mais digna de ti mesma, amei-te,


DE ANINHAS E açoito-te ainda, pois —que linda agora!

1 Há, qual mistério, risonho 2 Porém... aonde vai-se ela às noites, quando
Sempre-idflio: alma eu suponho Ao serão todos brincam reunidos?
Da luz de cada manhã — Sua mãe enferma, a olhar, petrificando,
Sempre uma Aninhas! ao dia Olhos na escuridão e os lábios lívidos,
De ao redor de ti, bem via
Em a atração d'outro imã. 3 Olhava, olhava: sombras esgueiraram
Na treva que aos abismos assemelha.
2 Irradias —ai, os sonhos
Silenciou-se; estristeceu-se. Uivaram
Dos outros tempos risonhos
Os bosques ao trovoar por noite velha.
Da infância, do íris do albor
Nos formosos róseos mundos...
4 Só, deserta na sala e sem vir nunca
.. ouvem teus risos jucundos;12
Quem ajudava a triste a recolher,
Nos espreitam... foge, amor!
Amanheceu qual fosse uma defunta
3 Co lo meu lusitano homónimo Que não pôde na campa adormecer.
Ligou-se Hortense —ai de mim
Pelo qüiproquó desse home...
Ela, Anita, tão bonita, PARTINDO I
Florpungia o lábio assim.
The first Willbe the last
4 Mas, se esta à Utie fez figa, Evangelho
Leila não ta faz, que és pura
Tu, da caridade amiga. 1 —Já, Saudade?... de amores enfermos,
Oh, Anita, que boquita! Ai a terra que vamos deixar!
Quão botão de rosa! fura! De tão ledos, quão tristes os ermos
Da esplanada de alheio solar!
5 Dás-me uns ares d'Estrelinha: E das mágoas tão tuas, que eu sinto,
Só por isso é já te amar: Eu não vejo, não vemos os termos —
Meu coração, tão sozinha, Do áureo sonho nas sombras extinto,
Curou ela, que era estrela — Deus! quão pálido de hoje o acordar!
Mandou-te a enfermeira minha
Nobre?... curar com beijar? 2 Sobre a relva doirada da tarde
Estenderam-se os raios do sol;
6 Da amante Leila pardita Há, da calma o fulgor, a
saudade
Acostumei-me a estes tratos De um mortuário formoso
lençol:
Carinhosos: Wellow fita, Vês?
. e a esp'rançanão deixa-nosainda
Polígamos, 'scand'los-vand'los Do viver todos juntos, de
De Salomão. Beijos castos que há-de
A nossa alma haver pátria
Neste de rosa botão d'infinda
Sempre-flor, sempre róseo
Qual o carbúnculo,Anita, arrebol.
Com arras de Leila e pão. (1875)

ZELOS DE LALÁ
LEONOR GARCIA12
Abençoada a hora em que odiei-te
—Vedesaquela menina
Tão vulgar! abençoadaseja a hora Tão isenta, tão divina

IO I. ed., ror engano, conforme se lé manuscrito.E, no verso


é. a bem dizer,mera das estrofes5 e 6 do perna IRi1a seguinte espeitam,por erro de revisão.
(p. 464), apresentando
de maior ou menor monta
Garcia, estudante fo, condiscípulade Maria Bárbara
- filha de Sousàndrade- no
Sacred Heart de York.

460
MRAs 9

Que até parece infeliz?


Quc tetn d'órfáos a Beleza, EM MEU PODER
5 Qual Inelodiosa tristeza
De um vago e doce lilatiz? Estás etn meu poder. Sou vigilante;
Vedes?gênio de harjnonia Qual o cão velador guardo a muralha
No silêncio ou na alegria, [DoIneu rico tesoiro:
Oh, tão boa, que seduz? Venturosoàs manhãs do alvo semblante,
10 Qual do mundo abandonada, Quem das nuvens não teme que aura espalha
Ante o seu astro de oiro?
E só do encanto rodeada,
Dos que têm dos céus a luz? — 2 Quero embeber-tne, eu só, no olhar de sombras,
E à filha mui formosa Na solidão da mágica brancura
De um cavalheiro, brioso Me atordoar de amor;
15 Alma valente e leal Recostada dos luares nas alfrombras
Que a deixanclo consagrada, Toda sonora, o seio teu fulgura
Pôs-se à guerra malsangracla Risonho, abrasador.
D'inclependência —fatal.
"Filha, a pátria!" e então partira, 3 Estás em tneu poder. Irradiante
20 Qual um bravo que delira Dessa vida de luzes e d'estrelas
Pela pátria, o grande amor! Quer-te o tirano teu,
E herói duas vezes grande, D'açucenas maviosas, exuberante
Se à glória a fronte resplande, De alvor e força —que nas formas belas
No peito geme-lhe a dor: Exista o gênio seu.
25 E de sangue a estrela adiante,
E n'alma a estrela de luz, (1858)
Viu-se ao cubano arrogante
Que à morte a glória conduz. QUI SUM
(Em Sacred Heart, Nova York, 1875) Par droit de conquête et
par droit de naissance
Voltaire
SEA SHORE BREAFAST
I Sou depredador das graças,
Lulu linda, tu mandas que espumem Rapinário das estrelas:
Nossos copos de vinho doirado? Onde florejemas belas,
Antes -- que dos sepulcros exumem Eu sou cidadão dali:
Quem, por nós, tem a eles baixado! Aos meus pés quero o oiro em ondas,
Príncipeeu sou do Levante,
Tenho direito ao diamante,
Tenho-o à esmeralda, ao rubi:
2 Eu e tu juntos dela -- felizes
D'espcrança raiavam-lhe os dias: 2 Tenho-o às pérolas algentes,
Sei, de ti quanto as doces meiguices A luz, ao togo, às centelhas;
Vivo do mel das abelhas,
Podem! sê-lhe dos céus alegrias!
Vivo da glória e do amor:
3 Porquesou eu que em menino
"Morning-glory" e as nuvens
Sofri todas as misérias,
obutnbram
E dos céus chovem etéreas
Oh! os burglarsque ao faro nos vêm!
Bênçãos ao órfão de dor.
Nossos dons aos vampiros deslumbram
Oh, são eles... mas donde? mas quem?... 3 E sabereis, meus senhores,
Que é do grande sofrimentot4
(1882)

I I N.1 Ia.
ed., por engano,
l'} N;' I. ed., por deuc de revi.sáo, do grande sofrimento.

461 e
SOUSÂNDRADE

Que sc forma o scntirnento Ressumando de memórias,


A que chatuaissedução: Saudoso encantado o lar,
Nada fez, scnño divino
cr, o Incigo da piedade, 8 O que ama profunclamente
Qual dos céus telii saudade. Sentia, feliz então,
E corno o culpar, então? Voz ignota, asa fremente
Revoando, vagamente
Eu sou o Arncricano sem títulos Qual dentro do coração...
Que derrilya innperadores;
Sou o Gucsa, c para amores 9 Oh, voltar eu quero ao ninho
lisnho o meu do sol. Que elevei co'o meu suor!
Das roseiras ao espinho
Aonde a rola no moinho
DESIDERIUM Geme às sombras do equador!

I Quero voltar ao meu ninho, IO Aonde eu acordo aos olores


Onclc não devo morrer Da laranjeira e a romã,
Das roseiras entre o espinho, Todos ramos tendo flores,
Nos destroços do moinho Borboletas, beija-flores,
Rolas ouvindo gemer; Toda doirada a manhã.
2 Ao meu ninho, alevantado (Nova York, 1875)
Por mim mesmo à beira-mar,
Do vento aos sopros vibrado,
Da vaga aos sons embalado — CAROLINAS
Oh, meu formoso solar!
I Ouve: quando contigo
3 Ao viver contemplativo Eu sonho,
Do meu norte do equador O céu é mais risonho
Que saudades! que saudades! E divinal o amor.
Dos meus anjos vindo às tardes; Aos raios do levante,
À Vitória tocla em flor! Olha, oh, olha!
Nem a romã s'esfolha,
4 Às sombras dos tamarindos E a terra é toda flor!
Eu quero a sesta dormir
Sentus in umbra, aos infindos 2 Oh, quando à tarde juntos
Mistérios da calma e aos lindos Eu beijo
Sonhos da amante a sorrir. Os lábios teus e vejo
Que ficas a me olhar,
5 E nas horas de paraíso Aos céus então minha alma,
Aura divina a enrugar
Voa, voa
Na praia da espuma o friso;
Qual canto que ressoa
E dentre o medo e entre o riso
E escutas dentro a amar.
Vagando o gênio insular.
3 Abelhas d'asas de oiro,
6 E a falua que alva abria
No rio a vela ao clarão O mel n'alma,
Ou dos céus, ou da ardentia Tu és a doce palma
Que é das águas alegria, Pendente a viração:
Do nauta a bela canção Tu és a flor puríssima,
Aurora
Os lábios teus enflora,
7 Quando seu manto de glórias
IDesdobravao mago luar, (Coral) o coração.
Que parecia a Vitória
(1870)

462
LIRAS PERDIDAS

ZELOS DE MIMA
II No outro dia, contando, e entre risadas
A casta diva e o dom Pantaleão...
1 Oh, levem-me ao país do gelo e o fogo,
Eh! suador não conheço nem gemadas
Sonhos selvagens meus e cópia dela, Melhores que estas, pra constipação.
As longes pátrias das azuis raposas,
Do sol de noite e da polar estrela!
LEMBRANÇAS DE CASTRO ALVES
Levem-me à Terra-verde esperançosa, E DE ÁLVARES D'AZEVEDO
Do Tugungato aos elevados cumes;
Com ela abrasem-meos vulcões acesos— I Brilham no espaço as estrelas
Aos ribombos fatais destes ciúmes! Grandes, belas
Qual olhos brilham a amor:
3 Com ela a sós nas gôndolas venetas, Noite; às sombrasjaz deitado
Nos camarins olentes da odalisca, o namorado
Da mangueira,
As pátrias, doces pátrias das Julietas, Trovador.
Ou onde aos beijos expirou Francisca!
2 De cada aragem da brisa
4 Das mulheres d'outrora, essas heróicas Que desliza
Que à vida e à morte presas aos maridos Ela escutao segredar,
(Não qual esta que eu amo) eternamente Passos ouve -- são as vozes
Amavam, e ainda ao inferno iam-se unidos! Meigas, doces,
Conhecidas. -- E a sonhar
5 Esta reluz, qual em Paris Saturno
3 Vê a luz dela e o encanto
Ao telescópiovi da Ponte-Nova; Do amaranto
Mas, com tal perfidez a este cume, Dos puros vestidos seus;
Que há-de, certo, comigo dar na cova! Passam músicas nos cumes;
Há ciúmes —
6 Noite, sem sono... pesadelo. Esgrenha, "Quem sabe, os astros dos céus..."
Punhal cingido e na cabeça a bela,
No capote s'embuça cor de muro 4 Sonha e não dorme, ou delira,
E trovejandoos céus: Abre a janela! Já suspira
E da brisa ao perpassar
7 Um coro genesíaco e profundo, Abraça um lírio, risonho
Ouve o retumbamento da soidão, Qual um sonho
Os sapos pareciam prolongando Havido ao raio estelar
Destes ciúmes o infernal pregão!
5 a—Eis que, das sombras, fantasma
8 0 mar ao em torno em fósforosrevolto, Surge, pasma,
Lampeja, vibra o punhal.
Os céus toda a negrura dentro o cérebro,
E a terra o fermentardo úmido e o quente Ouviu-se, as flores roçando,
S'elevando
Deste indómito amor-deus e vértebro!
O espírito celestial.
9 E sonha co'um rival. Columbus, mares
6 E veio a linda inconstante
De chuva afronta. Dom Quixote, sai E do amante 15
Engatilhao revólver. Dela à porta Prendeu-se ao brutal furor;16
Foge-lheo pé num cogumelo e cm! Depois, ao corpo já frio
Mal sorriu,
JO Ora, então acomoda; e de sí mesmo Passando, do Trovador.
Envergonhado,as armas ajuntando,
Olha, c não vê ninguém... À casa volta (1861)
Sem boné, grandes frios, e espirrando!

J; Ia. ed., por engano, Ji o amante,


lápis comum) com a variante vulgar, ambas num verso acrescentado, de próprio punho, pelo
fruta. por recolhida, coexiste (cm

463 tô
SOUSÂNDRADE

OUTRORA ANINHAS

1 Não vos fadigarei mais os ouvidos 1 Há de amor e de virtude


Co'os meus cantos américos. Os dias Lírio, o mais branco, o mais puro,
Gratos correr já sinto às harmonias o venturo
O lírio-esp'rança,
Dos climas tropicais. Os suspendidos
Lírio-luz, lírio-candor,
Rubros frutos desprendem-se do ramo
Nos quietos dias, ao gentil reclamo Por quem vida é o alaúde
Das formosas lembranças, nos ouvidos. De uma infância que não finda,
Renascendo sempre linda
2 De um peito tão mavioso, onde encravada Sempre d'alva o resplendor:
Luzindo paz a estrela d'esperança,
O tempo, que em ruinar cansa e mais cansa, 2 N'alma o guardo, o mais romântico
Desvanecem o amor: a tão amada E nem eu vi outro assim:
Puros cabelos no ombro desparzia, Fronte branca, o olhar de cântico,
Cheios de gozo os braços estendia —
E de Natal, ou de mim,
Qual não o pode fazer esta coitada.
A alegria —o preto-undoso
3 Oh, que atração que há 'i no abismonegro! Olhar! o cabelo escuro
Roda-se à borda hiante, qual se fora Da escuridão do futuro —
A algum destino oculto eterno —embora Era o bugari glorioso
Pressintas morte, a uns sons vagos de allegro Da Vitóriaà noite, em fim.
Desconhecido e sedutor, vais de hoje
Levado qual quem de ontem passa e foge
Em derrota: porém leal e íntegro.
3 Contemplo a natureza das saudades —
4 As carregadas sombras da espessura Dirias,que no azul do firmamento
Ledamente lá vão durante a sesta Vemos o nosso amor por estas tardes
Os grupos amorosos da floresta,
Ou descansam:que importa a formosura, Em que reflete a terra o pensamento,
Quando este sol que educa-a dês que nasce Quando a colina longe além verdeja
Não cessa de dar cor a cada face, Ao sol ocidental, que a doira e beija.
Tarde áurea agora, agora manhã pura?
4 Suave luz crespuscular de
agora
5 Quando as tintas de luz, forte-animadas A que repoisa o plácido
Em tórrido fulgor, ou brandos raios,
horizonte,
No estivo dia e a noite
Fixam-se em flor-abril, em frutos-maios? encantadora
Extremos de união, tarde
—Das setas luminosas cintiladas bifronte,
Quando realçam vozes da
A fuga mais veloz, a alma resplande espessura,
Etéreo amplo o ar aos seios
Do universo, e na glória de Deus grande de natura!
Saem da noite as róseas alvoradas.
5 Destas sombras no berço
vaporoso
Resplendecia o lírio d'inocência

OUVIND017 Foi quando a inveja contra
o riso nosso
Pálida murmurou; da
áurea existência
I Ouvindo a voz bela, A corrente quebrada —
Da estrela, os fulgores um lírio incerto,
Lá resta; e aqui, um
Diriam, tremiam coração deserto. —
Nos seios do céu:
5 Seduzem aos sábios
Os lábios que as flores CANÇONETA INTERROMPIDA
De um canto d'encanto
Lhes dão, qual o teu.
I "Auras serenas• fagueira
Claridade do luar•
(1861) Largo mundo• a Brasileira
S'interrompenclo a chorar.
17 Anteriormente intitulou-se Doce-Grave.
LIRAS PERDIDAS

E os belos olhos prendia SEMPRE BEATRIZ


[fenlcvos no azul dos céus,
Puras tranças na harmonia I Quando nos teus nove anos
Soltas da aura, "Adeus, adeus... Brincavas na existência,
Os anjos do teu rosto
3 Adeus aos dias doirados, Rindo-se de prazer;
À infância do coração• Que eram as manhãs puras
Cantava, tão magoados E os hinos d'inocência
Tons, aos sons do etino violão! Cantavam róseos mundos,
Terras a florescer —
Foste desta alma a palma,
4 E dentre os prados brilhando
Dianiantinos pirilampos, O onipotente ser!
E os seus cabelos cheirando
2 Quando, musa d'infância,
Das estreleiras dos campos:
Dos puros céus os astros
Teus olhos silenciosos
5 "Ellibora.., embora... vtvalnos t Olhavam-me a amar;
E as cordas a arrebatar. Que Ivaviasa fragrância
E as auras e os flóreos ramos Das cândidas boninas,
Tão a sós, dela ao chorar. Da alva todos rumores
E toda a luz do lar
(1865) Foste a bonança-esp'rança
E a glória a s'elevar!

xxxx
xxxx
Look upon me! the grave
more than I am changed 1 Salve, meus dias das doiradas tardes,
for thee. Thou lovedest Que de novo surgis em céus de azul!
tne too much.
Eu sentia de vós fundas saudades,
Qual às longínquas solidões do Sul.
hath not changed thee
1 Salve,salve os que voltam! mas, não sejam
Gordon Byron As vãs passadas loucas ilusões;
causa Ora, à crença formosa, em que se beijam
Como as clores renascem! Fui a A flor da boca os céus dos corações.
Causa, inócua da tua perdição:
E em teu delírio, feminil e cega, 3 Verdes montes enfloram, resplendecem
Esmagastea teus pés meu coração! De oiro amarelo ao sol ocidental,
Quando amores dos céus terra descem
o raio,
2 Que a vingança da amante é qual E sobe aos céus nossa altna divinal.
importa aonde!
Que há de cair -- oh! pouco
há morte,
Se abismos há, se infernos há, se 4 Serenidade da paixão ditosa!
esconde!
e de si tncstna o seu amor a Doce, meigo sentir d'íntimos céus!
Curvo-me eu diante desta doce rosa,
Mas, recolhendo, no seu vivo túmulo, A influência edenal dos risos seus!
ut'ñoodienta!, vaidosa!, foragida!
Vê na mudez profunda, que a desgraça
Foi da louca a visão, da fementida! LOUCURAS ENTRE JASMINS

I Que amor é terrível,


4 Triste delito. Se do amor eterno
Bem vejo
Miserávelzotnbei,do mundo a presa Quão vermelha fica a menina
Eis.mc! - inda a mc reconheceres
de beleza! co' um beijo!
S'etguem e esplendem-te os olhos

465
2-7)

LEILA IH
criança
I Escuta ao arpejo, que a meiga
Constança inspirara num tempo feliz:
Tu não me esqueceste
olho Por isto, e celeste
diz:
5 De flor e de amor o arpejo assim
"Tu serás a cornpanheira
Da minha triste existência:
Te amostrarei das estrelas
/ e Kisa;'
A harmoniosa cadência;
e às dúzias IO Das Ivarpas misteriosas
(
A virginal confidência,
E ouvirás os sons noturnos
Da noite n'alta dormência.
Cumpriram-se todos destinos felizes;
bebe e mais bebe, Raízes prendidas em fundo amargor:
15
20 Chegaram dos frutos,
E que ébrio se tica, Dos prantos, dos lutos
Bem vejo, Os tempos; passados os tempos da flor.
puto e at»brosiavlo asas de fogo, quais tuas, dos ares
E 'CIS
20 Nos mares reflexasem coroas, bem vês
E ébrio cai, resvala

0 áspide flores xxxx


espinho,
1 Perdão para a celeste Madalena,
toda afagos, Perdão, minha alma, para os meus amores
Tais gentes Minha flor das manhãs, alva açucena,
Elas têm no colo brincando Que eduquei para mim, não mais, não chores!
(tontentes.
Alcide ora ao fuso 2 Matam-me esses teus olhos tão magoados,
Tao brancas as tuas faces de martírio
Rugetn! e estando, aí! nas gorjas Turbando-me a razão! Longes passados
I lobo, Stáo do tormento os dias, do Delírio!
Silo alvas da lua,
S'inílatnajn; Revive a amor! —Do andar perdido, errante
e centelhas O lindo gênio meu, a causa havia
raios do
Para esta asa de luz soltar, brilhante
Da prisão, em que a sós resplendecia.
E trovejam todas
Assitn; 4 Eu quis abandonar meu pobre inseto:
Mas, no teli nas iras lhes sentes E então foi a loucura ein que me acharam
Instnitn: No triste caminhar sombrio, inquieto
Ou quando nos seios Neste manto de orgulho dos que amaram:
( tuno
Lhes tocas, que ringetu, se alartnatn: 5 Aquela a quem nós mesmos educamos
E a quem o mundo, o mundo aviltaria
E sempre aviltará, se abandonamos,
Fazendo-nos sofrer dupla agonia:
(1857)

Ion;unetito este livro (Ver l.itas


I tR\S

A agonia de vêAa depois, caindo a flor celeste,


li ela inconsetente do (lespte:o seu, esptnhoscontra o coração:
Oh! quando a altna pot ela tao sensível \ tenina-intàncta, a tnoça que reveste
Ao vêAa que inteli:, leli: se creu! lô'at•teo ideal, a eterna adoração.

7 as, tevivatnos, —eu tvjuvenesço O vi tugindo etil busca de outras terras


frescuraedenal do d'alvot' Qual, na esperança da pritneira vez.
15asaçucenas puras do meu betço, as nuvens das tot'tnosaseras
Que tottuaste outra vez Sortindo a amor. Não tilais se vit'atn, netu verao.., t Ilvez.

(1865)
A NOIVA DO COMETA

TALITA 1 Sobre a colina de tnalva


IOortnindo branca donzela —
A tlor d'enlevos, (liais alva
I Sai das tuottuát'ias
Não brilha da alvura dela,
Levanta-te, Talita!
Carinhosa brisa bela
A luz é tão bonita Faz-lheadejos ao redor.
Do dia que raiou!
5 Bem hajatli, luz e as vozes 2 Ai da tortuosa dornlindo
Que tremulas cantavam Sobtc as catnas de verdores!
À doentinha e clavalil Por quetn abertas as flores
Ao que desesperou Estão velando luzindo,
Esp'rança.e os que cetvat•atn Gênios dela e enlevos lindos
IO berço de afeições! Que inspiramsonhos de amor!
Betil hajam! os que choraram,
Dentro dos corações! 3 ArfQun•lheos seios nevados,
E Deus seja bendito! Ardem-lhe as faces divinas
Bendito o escravo aflito! Qual os céus às Inatutinas
15 Bendita a melhor flor Cores, ópalos doirados
Da terra, o pranto e a dor, Os orientes. —Céus alados,
Dentre estrelas a visão
(1868)
4 Dum libertino, um maldito
Dos céus viu-a!! Já, qual seta,
Sobre ela desce o corneta!
MÚSICA Ai dela, que o etéreo atito
Sente, sente! e o sono aflito
"Meninae ele a adorou: a esp'rança Perturbou-a! oh, compaixão!
bonança
Quando a tormenta etn tneio da 5 Ei-lo, nos ares; da fronte
A onda de luz quebrara, o coração, Agita a coma assanhada!
terras Ei-lo, pisou no horizonte;
2 O vi fugindo etn busca de outras Toda treme a namorada —
tnanhñs.
Onde mais doces tossetn as E as flores velando, esponte
Volvidos anos, clas formosas cras Sendo guarda ao sono seu.
Viratli espiranças cândidas, louçãs.
dia 6 E de repente na terra
E qual encontram-se ao romper do Salta o fantasma formoso!
Em céus de opala nuvens Cotno a donzela de cera,
Paixão divina eterna os destruía Fez-seao clarão! Luminoso
E os gozos cram delirar dc atnot•.

Nil In. ed.. equivoco, l)'artd.

467
SOUSÃNDRADE

A torna; no peito a encerra; CANÇÃOAO ALMOÇO


Voa com ela pra o céu!
Entre Gentil Homem e Tavares Bastos
7 —Desde essa noite uma estrela
Vês dela ao lado a luzir, 1 "Minha mãe, ó Cidadãos, é a República,"
Todos afirmam ser ela, Hei-lhe o amor que em chamas arde ao coração!
Reconhecendo-a mais bela Vejo além surgindo o sol da Liberdade —
Pelo saudoso sorrir. Que o passado,só, recorde a escravidão!

8 Sorrir, de quem não esquece 2 Bela filha dos oceanos verdejantes,


Da colina as companheiras Aureo mundo, jovem Pátria, edênea América,
E manda quando amanhece Se tens vales todos flor, se todos hinos
Croas, das noivas etéreas, Os teus montes, clamam alto à voz profética:
Da terra às noivas florir.
3 Punjam crenças ao porvir da humanidade
(Alcântara, 1861) A este sol do mundo-novo,porque a Treva...
Cidadãos,à Inteligência erga-se o trono
Que o Homem-Deus ao nome moral indica e eleva!
ADEUS
4 —Que martírios que em Veneza não se passam!
I Escreveste-me ainda; mas, diferem Na Polônia dos heróis, Deus! que martírios!
Os tons de agora, desses do passado —Ser o opróbrio! ser a pátria escrava!... estalam
Hinos de um coração apaixonado Da alma os astros. Noite interna. E o rir-delírios.
Que ao meu vinham ecoar.
Os que viam-nos, hoje se nos verem, 5 Tenha Europa sempre armada, a monarquia;
Verão em mim do desespero o espectro, Herdem povos, hajam cetros, seus dinastas;
Do reino das ficções quebrando o cetro, —A nós moços, liberdade e o esforço ingente
Fixo no mundo o olhar. Destas fases que o mar vence grandes, vastas!

2 Desiludido estou, co'a sombra n'alma, 6 "Minha mãe, ó Cidadãos, é a República:"


Que um astro fora, a sombra desta morte Dou-lhe o amor que me devora o coração!
Que vem de ti pela mundana sorte Vede além surgindo o sol —De pé! bebamos!
Que apagou-teo esplendor; Hip! harrah! —Pela ideal Revolução!
Apagar-se bem vês da glória a palma
Que eu criei-te. Oh, amei-te muito! E havias (Alcântara, 1865)
DC vir tu desfazeras harmonias
Do nosso eterno amor!
MINHA IRMÃ
3 Ainda cu te amo -- e t'imagino morta
Da paixão nossa e então, amo-te muito! 1 Eu anoiteço; qual as flores morrem,
Evito da estrangeira o olhar e escuto Meus dias correm para o fim da vida;
Em mim somente a ti. Sinto no peito o coração tão frio,
Se eu esqueço a verdade: vem, transporta Em pleno estio, minha irmã querida!
Nossa alma às ilusões: o que passou-se
DC meiguices de amor cra tão doce, 2 Porém, que vale? de outro amor espero,
Qual eu nunca mais vi. Melhor, sincero as c'oroas de saudade,
De ardente pranto, quando os olhos chorem
4 Encadeando os fatos de memória, Dos que me forem visitar à tarde:
Vejo a razão dos dias da ventura;
Mas, ao porque se depravou natura, 3 Eu sei que irás; e pela mão levando,
Eu sinto-me infeliz; Deus! e brincando co'a filhinha-amor!
Ao porque desfizeste tanta glória Dize-lhe: seja a filial ternura,
Fazendo-te cadáver -- da beleza Alma e candura, em que descanse a dor!
Descendo, Oh, sobe e volta à natureza
Coroada de luz! (Vitória Nova, 1868)

468
l.tRAS9.
FILHA ENFERMA20
E haver terra (até faz tnedo)
Sern chansons e segn brinqued(
1 Eu quisera viver tnais dia,
Ainda e setupre contigo brincar, Das sinluís;
Filha, e ver-te crescendo à hartnonia
6 E se houver? --que mais seria
que os céus te quiseram cercar:
do que titn ninho das harpias
Porélli rnorres! e neste deserto E
l,hl São Luís:
Vaisdeixar-tne cotu Deus e sem ti! Mais que cancãs e que lamas;
Antes vá eu seguindo de perto Embora as tubas das famas,
Quem das trevas tirava-me aqui! Tal Paris?
3 E que os hinos à terra publiquem 7 Em fugir primeiro eu fora
Quanto a morte roubou-nos atroz: Das terras encantadoras
Tantos sonhos de glória, que fiquem Onde a amor
Aos que são mais felizes que nós! Prendes colos, quebras asas,
Lírio ou brasas,
(1868) Grandée-candi ou rubra flor!

(1859)
RISONHAS

I Quando eu chegava de França, VÉUS DE NOIVA 21


Dos bacharéis a esperança
De Paris, 1 Flores —que já nem são flores,
Onde o bom rei florescera Tanto são aroma —exemplo:
Que o nome à cidade dera Esta alva anágua de Vênus,
De São Luís; Aéreo momentâneo templo
Das aragens, dos canclores,
2 Quando, pois, cheguei de França, Dos luares. Dêem-nos, dêem-nos
De voltar, sem ter esp'rança,
Um Deus quis 2 Asas de cisne platôneo,
Que eu desse a costa na praia Leda nos alvóreos lagos,
Que ao luar alva desmaia Paganismoeterno jónio,
De São Luís! Perfumes stelares —svagos;
Porém, conduzindo Magos
3 Que céus! que terra de amores As eras cristãs. "Favônio:
Em que à roda do ano há flores
3 O crepúsculo ideando
De verão,
Dizer todo o amor que sente,
Há raios no sol, diamantes
O faz por símbolos glórios,
Na lua! mas, inconstantes...
Baforadas exalando
E se não:
Destes véus puros nitentes,
4 Que estes mundos equatórios
Sem Helenitas, Terêses
Que amam Paris, cantam fraises,
4 Embriagaram!"Se cliria
Há Paris? Celeste imagem que enflora
Não há, nem nunca haveria!
Da anunciação de Maria,
Qual não há luz de Luzia,
O angelusave que a esta hora
São Luís Nesta terra encantadora
5 Se apresenta em cada dia.
Sem os foguetes-modinhas,
As dos ares andorinhas,
(1868)
E os sabiás!

20 Minha
Filha era o título original desse poema. indicação no manuscrito, onde foi omitido o verso "Destes véus puros nitentes".
21 PUblicadan'O Globo, 22,IO.1889, ne 39, p. 2, conforme

469
MIMA ONDA VERDE

I Galopem. ondas, galopem, I Onda verde o que quer ela


SOIS corcel que eu mars amo: Que eu oiço falando! lá
Nos ottevros viridantes Levanta-sc toda bela
Tão ledo não salta o gamo. Dos mares. Zeni, vem cá!
2 Nova Ccvlus! quando outrora
Puros céus, o sol radioso, Vinhas... vem! tão sós! tão sós!
Claro mar t(klo e selvagem,
Sempre! sempre' qual agora
É bela a fúria dos ventos,
Belo o voar sobre a voragem. As ondas tuas, tua voz!

3 Aurea poeira do oceano


Percorre os ares sem tim, LEILA
Lampejam esmaltes d'íns
Qual asas de querubim, I De Mirra corre o pranto:
Quão doce o incenso arábio,
4 Como coroas de Lúcifer Beijo o coral do lábio
Por sobre o abismo do mar, A doce e rubra flor.
Fúrias as vagas acesas Do "Cântico dos Cânticos"
A luz dos céus cintilar A de saudade louca,
Romã partida à boca
5 Agora nasce o crescente, E o peito amor, amor.
Das águas na solidão
Bnsas saudosas suspiram, 2 Fora-me desviada
Mágoa, mágoa ao coração. Quase maldita, insana,
Do mundo a ser mundana
6 E o pensamento não dorme,
E pérfida mulher:
Sempre a ouvtr os prantos teus,
De novo a tomo a salvo
Amada amada criança
Que me formavas os céus! (Sempre náufraga!) e eis diante
A das manhãs galante
7 Oh, que saudades que hei tuas, Rosas a me trazer.
Que het dos dias meus queridos
Juntos da tua inocência! 3 Dos tempos misteriosos
E estão pa2sados,perdidos: Maga, mágica aos zelos
Grandes, dos dias belos
8 E sempre de morte os sonhos, A torreal prisão —
Sempre, sempre o coração! Desfeitos os encantos,
—Nunca venhas ter lembranças Da morte às luzes brilha
l.)as águas na solidão: Qual Sulatnita filha
Do eterno Salomão
9 Oh, nunca enxuguem-te os olhos
Os tristes beijos do vento,
Nunca veja-te o deserto 4
Qual estou neste momento, Já Saudade de atuores eníertnos,
Ai a terra que vatuos deixar!
IO Longe de ti, do meu anjo, l.)e tão ledos, quão tristes os ertnos
Do meu ternplo de oração esplanada do alheio solar!
Onde, do inundo fugido, E das liiíígoastão tuas, que eu sinto,
Se abrigou meu coração! Eu não vejo, não vernos os tertnos,
áureo sonho, nas ext into,
(1858) Deus! quão pálido de hoje o acc"'dar!

22 Sobre e a estrofe seguinte, ver nota I I


LIRAS PERDIDAS Y

Sobre a relva doirada cla tarde


Estenderatu-se os raios do sol; "Andes são serras: vulcões,
I Iá da caltna o fulgor a saudade Sir! os maiores do mundo!
IX' um tuortuát'io formoso lençol: —s
Oh! que estão no céu profundo
Vês,'e as crianças náo deixanvnos Chamas lançando em festões?
ainda
Nada, ou pouco, está feito) cle "Yes! Yes!"
que há-de
nossa ilnva haver pátria de infinda Que rugem? 'strugem
Clàrdetueiga e de róseo o arrebol. Com lavas bravas?!
"Yes! Yes!"
(1875) —São, my girl, dois corações...
"Oh! 0h! 0h!"

(Manhattanville)

I Ninguém ande à encruzilhada


Por noites de São João — HERO E LEANDR0 24
Vejam a mal-assombrada,
Meninas!"Oh, a visão!... I Quando nas chamas dos teus pardos olhos
Adolescente Apolo eu me enleava,
Cora, qual é tua sorte? Longe estava eu de crer —tantos abrolhos
"Na Quinta Avenida, à corte, Que a nós um Deus nos tempos preparava.
Casarei."
Sempre never cada Fanny? 2 Na dor dos anjos tristes e a candura,
"Morrerei." O ornamento feliz do desamparo,
—E tu, Augusta, rubores? Temente eu fui da altiva formosura
Vão ver, que sorte de amores... Tanto, quanto ora dela eu seu avaro.
"Eu sonhei."
3 Timidez do que amou na força eterna
3 Pior do que encruzilhadas Dessa de abismos atração e da onda,
De visões; portas e escadas Que a vida universal prende e prosterna
A humanidade...ou o mar, que ao largo estronda
Destes céus cle Manhattán
Com que aí stão-se aninhando
4 Helesponto interposto, dos amantes
Alvoradas? matinando
Em cada peito à esp'rança tendo o altar,
Toclaa noite até manhã?
Quer de Sestos às luzes delirantes,
"Fogo! fogo! é rato! é gato!"
Quer às sombras do nosso áureo palmar.
Matinada cle Babel!
Meninas, Intidem de quarto,
Há nulis quem durma no hotel!
5 Oh, meu amor, a glória nos devora
Quando excedeu, qual um demôniio, o orgulho,
São as três; doiracla tarde,
O fatal vencedor da guarda angélica
Vênl da escola e em risos ledos,
Sempre-cândida esp'rança!
O olhar longínquo de que arde,
Atiranl beijos co'os declos. Separam-nos. Então, todas as luzes
6
5
Que iluminavam na ventura nossa
Ota, estudando as lições:
Apagam-se. E nas trevas penetramos
"Diga, diga, as professoras
Dos que o Eden perderam.
Deram tese Os dois vulcões
N'taiores Belas senhoras,
7 E as voltas de saudade à natureza;
Islá crescenças.., sobre 0$ Ancles
E o mundo a rir-se dos delírios d'alma,
Que são cla terra as mais grandes
Do que chama delírios, —os saudosos,
Rindo Fanny, Cora alada
Os tempos dos amores.
E ar Augusta de graduada
poema não consta do manuscrito.
Lirasperdidas,li. O
Globo, 15.9.1889, 8. p, 2, sob 0 título título Liras Penii,las
n'O Globo, 4. IO.1889, 24, p.
publicado sol, 0
no

471
UPAS PERDIDAS

esp'rança
8 Caímos quando toda em flor a terra, 12 —A amizade e ao amor! a glória, a
Todos divinos corações nos amam, —Na alegria as canções de despedida!
A nós gue os raios somos do infinito,
Sabem, mais que a dos prantos, a lembrança
Nós aspirando aos céus! Dos risos duram mais, duram a vida:

9 Ora —à mesa de Horácio! e pelos copos 13 "Brada o nauta —calma, calma:


Que prezenteiros tocam-se os convivas, Sobre os mares o crescente
Nós pensamentos, namorados tropos Dá notícia e diz que há gente
Troquemos! aos prazeres! Almas-vivas: Sem conforto; que ao adeus

IO À amizade e ao amor! Todos s'erguendo: 14 "Ficou em terras da palma,


A virar! a virar!... Cedo flutuam Onde o sol é refulgente;
Nuvens de luz, o espaço percorrendo, Mas,que a quem 'stá descontente
Novos mundos colúmbicos... flutuam. Não fulguram raios seus.

II E vós, risonhas noivas d'harmonia, 15 "Dê-lhe o crescente mensagem


De lírios corai, corai, formosas, Dos saudosos tempos d'alma —
As frontes que embriagam-sena orgia Boa viagem! boa viagem!
Sim, mas dos puros seios na onda e as rosas. Belo nauta, adeus! adeus!"

[FIM DE LIRAS PERDIDAS]

UM POEMA AVULSO / ANIVERSÁRIO CHILENO

- 18DE SETEMBRO- Qual Homero, terei meu pão da praça,


Dos céus a coroa e dos jardins a flor.
(E. De La Barra)
7 Educo o mundo nas mais belas formas!
I Dentre liras de amor e risos graios, Do eterno sentimento e a grande ação:
Contra os tronos de tênebra mortal Quero o homem senhor; eu quero as normas
Faço a guerra de luz, dos belos raios, Do livre-arbítrio; ao lar, o coração:
De Brutus vibro o cívico punhal.
8 A ti, oh Flor da América, oh formosa,
2 Se de Pórcia a saudade me acompanha, Oh minha Pátria e dos purpúreos céus
A Roma eu devo, à Pátria, a gratidão; Do mar do Sul, da Cordilheira a rosa
Troco a paz dos jardins pela campanha E das glórias civis do homem, por Deus
E pela Liberdade —o coração.
9 Salvetu! que nos dás tanta saudade!
3 Oh, que inferno! que horríficos extremos Tu, que a magia tens do coração
Que a cesárea ambição não nos impôs!
Caminha-se à miséria, em que nos vemos Aureo trono da tua Liberdade,
Qual quem pra morte conduzisseo algoz! Salve! Salve! Na doce gratidão,

4 Se qual Byron, qual Hugo, fui Mascotte 10 Lembranças mando aos Andes; Del Solar,
Vendendo as Harpas dos cantares meus: De Lastarriae Donoso, à luz, à ciência;
Ora, empunho do Cristo o calabrote, A todos esses mundos de existência
César, e dou a Deus o que é de Deus. Que eu lá deixei, que eu vejo a me acenar!

5 Enquanto nos confiscas a fazenda, 11 Oh, eu sou qual o sol, que a luz de graça
Destelhas-nos a casa —a nos render Derrama sobre a terra em puro amor!
Pela fome, acenou-nos co'a prebenda — Qual o cego, terei meu pão da praça,
E é por armas que havemos de vencer. Dos céus a coroa e dos jardins a flor.

6 Oh, eu sou qual o sol, que a luz de graça Sousândrade


Derrama sobre a terra em puro amor! (Transcritode O Globo, 19.9.1889, n. I l,
p. 2)

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