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AS EMOÇÕES SENTIDAS PELAS MÃES COM RELAÇÃO A

AMAMENTAÇÃO: UM ESTUDO DE CAMPO


Emotions felt by mothers in relation to breastfeeding: a field
study

Camilla Gonçalves Diniz¹

Ana Claudia Guimarães Antunes²

1
Estudante do curso de Bacharelado em Nutrição do Centro Universitário Senac
diniz.camilla@hotmail.com
2
Professora do Centro Universitário Senac
ana.cantunes@sp.senac.br

Resumo
A amamentação é importante no processo reprodutivo da mulher, além de
promover a alimentação do bebê, ela traz benefícios tanto para a mãe quanto para
o filho. Embora a amamentação seja considerada um ato natural e instintivo,
alguns fatores podem aparecer como desafios a serem enfrentados para o sucesso
dessa prática. É importante que uma rede de apoio multidisciplinar de
profissionais da saúde oriente e incentive o aleitamento materno. O presente
trabalho visa entender os sentimentos das mães com relação a amamentação,
sejam elas mães primigestas ou não, tendo como objetivo geral identificar
emoções e conhecimento das mães sobre o aleitamento materno, e como
objetivos específicos verificar as dificuldades enfrentadas pelas mães durante o
aleitamento materno e apresentar, na opinião das mães, a importância da
orientação e incentivo ao aleitamento materno por parte dos profissionais da
saúde, desde o pré-natal até o puerpério. Trata-se de pesquisa de campo
exploratória descritiva de caráter qualitativo. Para a coleta de dados foi adotado o
método de pesquisa entrevistas em profundidade. A amostra é composta por 10
mães de crianças na faixa etária entre zero e três anos, residentes da cidade de

São Paulo. A análise das entrevistas foi feita de forma manual por meio da leitura
das transcrições das entrevistas, retornando as referências bibliográficas, à
estrutura conceitual e aos objetivos da pesquisa. De acordo com os resultados
obtidos, foi notado que na percepção das mães, a orientação dada pelos
profissionais da saúde quanto a amamentação durante o pré e pós-parto, poderia
ser mais objetiva. Observou-se também que as orientações passadas são apenas
voltadas apenas para a saúde do bebê. Verificou-se que as mães após o pós-parto
precisam de uma atenção maior por estarem mais fragilizadas.

Palavras-chave: Aleitamento materno; Amamentação; Comportamento materno;


Relação mãe-filho.

Abstract
Breastfeeding is important in a woman's reproductive process, in addition to
promoting the baby's nutrition, it brings benefits for both mother and child.
Although breastfeeding is considered a natural and instinctive act, some factors
may appear as challenges to be faced for the success of this practice. It is
important that a multidisciplinary support network of health professionals guide and
encourage breastfeeding. This study aims to understand the feelings of mothers
regarding breastfeeding, whether they are first-time mothers or not, with the
general objective of identifying mothers' emotions and knowledge about
breastfeeding, and as specific objectives to verify the difficulties faced by mothers
during breastfeeding and to present, in the mothers' opinion, the importance of
guidance and encouragement to breastfeeding by health professionals, from
prenatal care to the puerperium. This is a descriptive exploratory field research of a
qualitative nature. For data collection, the in-depth interview research method was
adopted. The sample is composed of 10 mothers of children aged between zero and
three years old, residing in the city of São Paulo. The analysis of the interviews was
done manually by reading the transcripts of the interviews, returning the
bibliographical references, the conceptual structure and the research objectives.
According to the results obtained, it was noted that, in the mothers' perception, the
guidance given by health professionals regarding breastfeeding during the pre- and
postpartum period could be more objective. It was also observed that the
guidelines given are only focused on the baby's health. It was found that
postpartum mothers need more attention because they are more fragile.
Keywords: Breastfeeding; Maternal behavior; Mother-child relationship.

1. Introdução

A amamentação é um dos processos mais importantes na fase de


reprodução da mulher. Além de promover a alimentação do bebê ele traz benefícios
tanto para a mãe quanto para o filho. Ao optar por essa escolha a mãe cria um
maior laço afetivo. Esse vínculo é iniciado na gestação e pode se tornar mais forte
através da amamentação (MARTINS, 2013).
A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que o aleitamento
materno seja exclusivo até o sexto mês, e a partir daí seja complementado com
outros alimentos até os dois anos ou mais (BRASIL,2019).
Embora a amamentação seja considerada um ato natural e instintivo por
algumas mães, alguns fatores podem aparecer como desafios a serem enfrentados
para o sucesso dessa prática. A decisão de amamentar é um processo bastante
complexo, pois ele pode ser influenciado pelo próprio desejo e motivação de
experiências anteriores que podem ser positivas ou negativas, ou até mesmo por
amigas que passaram pela mesma situação, familiares, crenças e profissionais da
saúde. A existência de medos, ansiedade, dores e depressão pode prejudicar a
amamentação (CAPUCHO et al, 2017).
A amamentação quando feita sem pressa, com amor e carinho, faz o bebê
sentir-se mais seguro e acolhido, satisfazendo duas fomes, a de se sentir
alimentado e de sucção que envolve os sentidos psíquicos e emocionais. O
desequilíbrio das fomes pode se tornar um fator que dificulta a amamentação, pois
a criança irá buscar substitutos como o dedo, chupeta e outros objetos (ANTUNES
et al, 2008).
É de suma importância que a rede de apoio da mãe incentive o aleitamento
materno, pois muitas vezes por falta de estímulo de familiares e pessoas próximas,
as mães deixem de amamentar por se sentirem incapazes de realizarem esse
processo. Acreditar na própria capacidade faz com que não haja sentimento de
insegurança. Saber como foi o processo gestacional, ou se há algum medo ou
insegurança são importantes para o incentivo da prática. Quando existe um preparo
durante a gestação certamente essa fase vai ser vivenciada de uma forma muito
mais prazerosa e tranquila para a mãe (CAPUCHO et al, 2017).
Além de fortalecer os laços afetivos entre mãe e filho, assim que o bebê
nasce é ideal que a mãe dê início a amamentação na primeira hora, pois nesse
momento a mãe irá produzir dois tipos de hormônios: a prolactina e a ocitocina. A
prolactina será responsável pela produção do leite e a ocitocina irá atuar na
liberação do leite e na involução uterina, diminuindo o sangramento (isso irá
prevenir o aparecimento da anemia materna e diminuir as chances de hemorragias)
(BRASIL, 2007).
Algumas mães relatam ter uma redução no estresse e mau humor após as
mamadas, isso ocorre pois há uma grande liberação do hormônio ocitocina na
corrente sanguínea. Também foi relatado uma sensação de bem-estar no final de
cada mamada, que se deve a liberação endógena de beta-endorfina no organismo
materno (ANTUNES et. al, 2008).
Amamentar pode contribuir para o não aparecimento do câncer de mama,
quanto maior o período de amamentação mais proteção terá. A gravidez também
está relacionada a fatores de proteção do câncer de ovário, pois com a interrupção
da ovulação e proliferações celulares torna-se preventiva (MARTINS, 2013).
No Brasil, as Unidades de Saúde Básica (UBS) são onde há o atendimento
básico e gratuito para mães e gestantes em diversas áreas, como ginecologista,
obstetrícia e clínico geral. Os serviços oferecidos para gestante são fundamentais,
sendo eles: palestras, oficinas, no mínimo seis consultas de pré-natal, exames,
grupos de apoio, entre outros. O Núcleo Ampliado de Saúde a Família (NASF)
ampliam ações e alcance de atenção básica, ele é composto por vários profissionais
da saúde, dentre eles o nutricionista que atua na área de apoio à alimentação e
apoio ao aleitamento materno, além de médicos, fisioterapeutas, psicólogos, etc.,
que formam uma equipe multidisciplinar (BRASIL, 2010).
Durante a gestação a mulher se encontra numa situação muito diferente, é
uma nova fase cheia de incertezas, medos e insegurança. Isso pode acarretar na
perda de confiança e autoestima, fazendo com que ela desista de tentar
amamentar. Para a amamentação ter um bom resultado, faz-se necessário um
acompanhamento multidisciplinar reforçando sobre sua importância, onde dúvidas
sejam sempre bem esclarecidas (LIMA, SENA, 2013).
É importante entender a diferença no aconselhar/ dar conselho e no
aconselhamento. Quando se dá um conselho é dizer a pessoa como deve fazer, o
aconselhamento é uma forma da atuação do profissional com a mãe, onde ela
escuta e procura entender com seu conhecimento, oferece ajuda para que a mãe
consiga tomar sua decisão e consiga lidar com pressão, aumentando sua
autoconfiança e autoestima (LIMA, SENA, 2013).
O pré-natal é o momento de maior contato entre os profissionais da saúde e
a gestante, sendo a ocasião ideal para uma abordagem adequada do incentivo ao
aleitamento materno. É durante esse período que a equipe multidisciplinar deverá
apresentar sua importância, exercícios e orientações devem ser realizados para
facilitar o processo e para que a pega do bebê seja correta, trazendo mais
segurança e tranquilidade para a mulher, evitando assim o desmame precoce
(LIMA, SENA, 2013).
Desmame precoce é quando ocorre interrupção da amamentação materna
antes do lactente completar seis meses de idade, independente da decisão ser
materna ou não (BUENO, 2013). Existem vários fatores que podem influenciar ao
desmame precoce, entre eles se encaixam: problemas com a saúde do bebê e da
mãe, baixa escolaridade, fissuras e rachaduras nas mamas, etc., porém não existe
uma causa isolada. É importante que durante o pré-natal a equipe de saúde reforce
as vantagens do leite materno para evitar futuras complicações na vida/ saúde da
criança (BUENO, 2013).
No pós-parto deve ser incentivado a amamentação na primeira hora de vida,
com orientação sobre a pega do bebê, evitando complicações que podem vir a
acontecer e dificultando a lactação. As orientações devem incluir as formas de
segurar o bebê, pois a postura pode trazer dores e desconfortos na hora de
amamentar. É importante que haja um acompanhamento da equipe de saúde nas
primeiras mamadas do recém-nascido, para a prevenção de processos dolorosos e
trauma nos mamilos da mãe (LIMA, SENA, 2013).
As emoções são automáticas, ou seja, são inconscientes, se encontram
abaixo da linha de percepção. São fenômenos expressivos e prepositivos, que
possuem curta duração. Envolvem estados de sentimento e ativação, auxiliando o
indivíduo na adaptação as oportunidades e desafios que precisa enfrentar durante
eventos importantes da vida. Alegria, medo, raiva, tristeza, aversão e surpresa são
alguns exemplos de emoção (CEZAR, 2016; AGUIAR, 2019).
Já para que se ocorra um sentimento é necessário que a existência de três
componentes processuais eliciados pela emoção: a representação do estímulo
emocional, a recuperação do significado associados a esse estimulo e a percepção
do estado do corpo. São experiências subjetivas, acessíveis a própria pessoa.
Alguns exemplos de sentimentos são amor, inveja, ódio (CEZAR,2016).
Ainda que sejam evidentes os benefícios do aleitamento materno
apontados na literatura, os sentimentos exercem um fator importante na decisão
de amamentar. Em função disso, torna-se importante realizar uma pesquisa que
visa entender os sentimentos das mães com relação a amamentação e
compreender a importância do apoio de uma equipe multidisciplinar da área da
saúde durante esse processo, sejam elas mães primigestas ou não.

2. Objetivo da pesquisa

O objetivo geral dessa pesquisa é identificar as emoções e o conhecimento


das mães sobre o aleitamento materno. Tendo como objetivos específicos:
 Verificar as dificuldades enfrentadas pelas mães durante o
aleitamento materno;
 Apresentar, conforme opinião das mães, a importância da orientação
e incentivo ao aleitamento materno por parte de uma rede de apoio
de profissionais da saúde, desde o pré-natal até o puerpério.

3. Metodologia
De acordo com os objetivos estabelecidos, optou-se por realizar uma
pesquisa de campo exploratória descritiva de caráter qualitativo.
Na primeira etapa da pesquisa elaborou-se um referencial teórico
fundamentado em uma pesquisa bibliográfica, realizada por meio de buscas em
sites governamentais e nas bases eletrônicas científicas LILACS e SciELO. Os
descritores utilizados foram: amamentação, aleitamento materno, aleitamento,
alimentação ao peito. Foram considerados estudos publicados no período de 2003
a 2020.
A segunda etapa foi à coleta de dados. Nesta investigação foi adotado o
método de pesquisa entrevistas em profundidade. Este tipo de pesquisa é
caracterizado por sua extensão e estrutura, e como o nome sugere, a entrevista
em profundidade procura investigar mais profundamente do que é possível em
uma entrevista baseada em questionário, ela tem como característica principal a
utilização de um roteiro previamente organizado, onde o entrevistador não pode
seguir uma conversa, para que não tenha desvios do assunto (ZANELLA,2011).
Usualmente as entrevistas são conduzidas com um número pequeno de sujeitos,
são gravadas e transcritas posteriormente (ZANELLA,2011).
Foram realizadas 10 entrevistas com mães de crianças na faixa etária entre
zero e três anos, residentes da cidade de São Paulo. As mães foram selecionadas
através de um grupo do whatsapp, elas compõem uma amostragem não
probabilística e intencional que, no entendimento de Gil (2010), é a seleção de um
grupo considerado conhecedor do fenômeno pesquisado e que tem capacidade
para trazer informações importantes para o estudo.
O quadro 1 apresenta o roteiro de entrevista com os tópicos que foram
abordados.

Quadro 1: Roteiro de entrevista.


ROTEIRO DE ENTREVISTA
Nome
Idade
Identificação da
Cidade que reside
entrevistada
Escolaridade
Nº de filhos
Informações Você amamentou seus filhos?
quanto a
Se sim, por quanto tempo?
amamentação
Orientação Você teve orientação e incentivo dos profissionais da saúde
multidisciplinar sobre amamentação durante o pré-natal?
Você teve orientação e incentivo dos profissionais da saúde
sobre amamentação na maternidade?
Você teve orientação e incentivo dos profissionais da saúde
sobre amamentação durante o puerpério?
Na sua opinião foi importante ter essa orientação/incentivo?
Se não teve orientação/incentivo, você acredita que a
orientação/incentivo teria feito diferença?
Você sabia que o aleitamento materno pode evitar doenças
para o bebê?
Conhecimento
Você tem conhecimento que a mãe pode se beneficiar com a
amamentação?
Por que você escolheu Qual o motivo de não ter
amamentar? amamentado?
Qual sentimentos/emoções Qual sentimentos/emoções
teve ao amamentar? teve ao não poder
Sentimentos e
amamentar?
emoções
Houve alguma intercorrência
durante a amamentação?
Qual sentimentos/emoções
durante o desmame?
Fonte: Elaborado pela autora (2021).

Para garantir os aspectos éticos demandados com investigação que envolve,


as entrevistadas responderam à pesquisa de forma voluntária, sendo contatadas
via whatsapp® e e-mail para agendamento de data e assinatura do termo de
consentimento livre e esclarecido, além disso a pesquisa foi cadastrada na
Plataforma Brasil. As entrevistas foram realizadas nos meses de julho e agosto de
2021, de forma online via vídeo conferência pela própria pesquisadora, gravadas e
transcritas, mantendo a integridade das falas das entrevistadas.
A análise das entrevistas foi feita de forma manual por meio da leitura das
transcrições das entrevistas, retornando as referências bibliográficas, à estrutura
conceitual e aos objetivos da pesquisa conforme proposto por Veal (2011).

4. Resultados e Discussão
O quadro 2 apresenta a descrição da amostra e informações quanto a
amamentação. A fim de preservar a identidade das respondentes foram utilizadas
somente suas iniciais. As mães entrevistadas são frequentadoras da rede privada e
pública de saúde.

Quadro 2: Descrição da amostra e informações quanto a amamentação


Respondente Idade Escolaridade Nº de Amamentou Tempo de
filhos amamentação
M.M. 28 Superior 1 Sim 3 meses
completo
D.L. 35 Superior 2 Sim 1 ano
completo
M.B.A. 41 Superior 2 Sim 2 anos
completo
C.R. 32 Superior 1 Sim 5 meses
completo
E.F.B.L. 36 Superior 1 Não -
completo
D.K.B. 26 Superior 1 Sim 6 meses
cursando
E.S.R. 21 Superior 1 Não -
cursando
P.H. 22 Ensino médio 1 Não -
completo
M.C. 22 Ensino médio 1 Não -
completo
C.A.S.G. 30 Ensino médio 3 Sim 1 ano
completo
Fonte: Dados da pesquisa (2021).

De acordo com os dados coletados observou-se que seis mães entrevistadas


amamentaram.
Quanto a escolaridade, sete respondentes têm nível superior completo ou
em andamento e apenas três tem somente o ensino médio completo. Dessas três,
duas mães não amamentaram.
Quanto a orientação multidisciplinar todas as mães alegam que não tiveram
incentivo/orientação multidisciplinar por profissionais da saúde durante o pré-natal,
na maternidade ou no puerpério. Porém, todas disseram que houve apoio por parte
de familiares em relação a suas escolhas quanto a amamentação.

O apoio familiar nesse momento foi de extrema importância, pois eu


não estava mais conseguindo pensar de tanta dor que eu sentia
[...] e ver a minha família me apoiar, foi a melhor coisa (M.C.,
2021).

O meu maior incentivo na amamentação foi o apoio do meu marido


e da minha família, eu tinha um sonho de amamentar, e só
consegui realizar esse sonho porque eles me deram o maior apoio,
mesmo nas dificuldades com as dificuldades (M.M.,2021).

Por várias vezes eu pensei em desistir da amamentação, e em todo


o momento minha família estava comigo me apoiando em cada
decisão que eu tomava [...] só consegui seguir em frente porque
minha família me apoiou (C.R.,2021).

Todas as mães acreditam que se tivessem tido uma orientação/incentivo


quanto a amamentação por parte dos profissionais da saúde, teria feito diferença e
acham importante que isso comece a ser praticado. Segundo Frota, Mirna e
Albuquerque et al. (20008) o profissional tem papel fundamental nas orientações
de promoção da saúde por meio da educação com o desenvolvimento da
consciência crítica, viabilizando pontos positivos como também negativos e
dificuldades dentro de um contexto social para realização de determinada prática

Os profissionais da saúde deveriam orientar sobre os desafios que a


mãe enfrenta na amamentação [...] hoje em dia existe uma
romantização da amamentação, e muitas mães se frustram quando
se deparam com as dificuldades e desistem (M.B.A, 2021).
Hoje em dia toda informação gera dinheiro, então para se ter uma
orientação básica, que deveria ser disponibilizada pela equipe
multidisciplinar, é preciso ir em busca de uma consultora de
amamentação (M.M.,2021)

Se eu tivesse tido alguma informação durante minha gestação ou


no meu pós-parto, com certeza teria feito a maior diferença em
relação a amamentação (M.C.,2021).

No quesito conhecimento todas as mães sabiam sobre os benefícios que o


aleitamento materno traz para o bebê, porém quando perguntado sobre os
benefícios voltados para a mulher, somente duas mães tinham o conhecimento
sobre o assunto, pois estudam ou trabalham em alguma área voltada para a saúde.
Pode-se notar que os benefícios da amamentação para a saúde materna não são
informados durante as consultas de pré-natal, na maternidade ou puerpério, sendo
assim, todas as informações são voltadas apenas para o benefício do bebê e
nenhum para a mãe. Antunes et al. (2008) afirma que todos os cuidados são
sempre voltados ao bebê, esquecendo todos os benefícios que a amamentação trás
para a mãe, como o vínculo, satisfazendo e suprindo a separação ocorrida no parto.
Em relação a questão sobre o motivo da escolha de amamentar, as repostas
foram bem similares:

A escolha por amamentar foi pelos benefícios para o bebê, pelos


vínculos que se cria entre mãe e filho[...] (M.M., 2021).

Eu escolhi amamentar pelos benefícios trazidos para o bebe e


porque eu gosto. Descobri nas outras minhas outras gestações o
tamanho prazer que é amamentar (C.A.S.G.,2021)

Além de toda importância e vínculos, é algo que está atrelado a


praticidade (M.B.A.,2021)

4.1 Sentimentos e emoção

Durante a leitura da transcrição das entrevistas, observou-se, que as mães


que amamentaram relatam que o início da amamentação foi muito difícil, tendo
como sentimentos iniciais a incapacidade e o medo.

No início tive muitas dores e rachadura, foi bem complicado! Não


conseguia sentir nada de sentimentos[...] (M.M, 2021).

No início eu sentia muita dor e várias vezes eu pensava que não iria
conseguir[...] A minha família foi muito importante nessa fase[...]
(D.L., 2021).

O início foi bem complicado, eu estava tão nervosa e desesperada


de não conseguir amamentar que o meu nervosismo vez com que
demorasse cada vez mais para o meu leite descer (C.R.,2021)
Para evitar esses sentimentos no começo da amamentação, durante o pré-
natal os profissionais da saúde deveriam iniciar as orientações sobre o aleitamento
materno, viabilizando os pontos positivos, negativos e as dificuldades dentro de um
contexto social para a determinada prática. Segundo Lima e Sena (2013) quando
existe uma equipe multidisciplinar o simples ato de aconselhar ajuda com que mãe
a tomar decisões, lidar com pressão e fortalece a autoconfiança da mãe.
Após o parto, as mães devem ser acolhidas e orientadas quanto a maneira
correta de amamentar, quais devem ser os cuidados com as mamas, com o bebê e
enfatizar a importância do aleitamento materno. Viana (2017) diz que para que
haja um bom proveito do leite materno para a nutriz e para o bebe é de extrema
importância que a equipe sempre de forma singular e humanizada esclareça todas
as dúvidas obtidas pela mãe para que não intervenham de forma negativa no
processo.

Tive que ter muita força de vontade e muita paciência, pois


machucava muito meu peito, meu leite não descia por conta do meu
nervosismo (C.R, 2021).

Observa-se que quando a amamentação é bem-sucedida há um sentimento


de pertencimento e amor em relação ao filho. Trazendo para mulher uma felicidade
(emoção). Observa-se através da narrativa que a amamentação não é vista pelas
mulheres como algo apenas biológico, mas também como uma aproximação
importante com o filho, proporcionando um momento íntimo entre eles. Antunes et
al. (2008), diz que as mães relatam que após amamentar sentem uma redução do
mau humor após as mamadas.

Amamentar é responsabilidade minha, algo que ninguém pode


fazer. Ninguém pode me substituir [...] (D.L., 2021).

Não dá para explicar, é a melhor experiência que já tive, me sinto


orgulhosa de conseguir amamentar! (C.A.S.G, 2021).

É um prazer diferente de tudo. Tem todo envolvimento, amor,


carinho, a troca de olhares[...] (M.M, 2021).

Notou-se que as mães que não conseguiram amamentar, sentiram muita


culpa no início, acharam que tinham falhado como mãe, pois tinham o sonho e a
vontade de amamentar. Porém, dentro de casa tiveram um bom suporte de
familiares, o que ajudou a superar esse sentimento de culpa.

No início me sentia muito incompetente, chorava bastante [...] com


o tempo fui me conformando e entendendo que nem sempre as
coisas são como planejávamos (P.H., 2021).

Quanto ao assunto sobre desmame, duas das mães que já iniciaram ou


passaram por essa fase alegaram que foi um momento difícil. Pode-se perceber que
esse processo é complexo para as mães pois elas encaram como uma separação,
afastamento e abandono do bebê.

Senti muito medo, muita tristeza, foi como se meu filho fosse
arrancado de mim[..] chorei muito nesse momento (M.B.A, 2021).

“Nesse dia eu não consegui ir trabalhar, eu chorava sem parar!


Senti que estava perdendo meu filho!” (D.L., 2021).

5. Conclusão
Através do presente estudo pode-se observar que de um modo geral as
mães apresentaram percepções positivas em relação a amamentação. Todas as
mães entrevistadas sabiam sobre a importância que o leite materno traz para o
bebê, mas em contrapartida poucas delas sabiam dos benefícios trazidos para as
mães.
Pode-se concluir que os profissionais da área da saúde focam apenas nos
benefícios da amamentação para a saúde da criança e que muitas vezes não dão
uma orientação completa de todas as dificuldades que podem ser enfrentadas
durante o período de amamentação.
Uma sugestão para as mães seria buscar outros meios de informação e
orientação, como consultoras de amamentação e profissionais voltados para saúde
da mulher, para terem um melhor conhecimento sobre a amamentação.
De um modo geral seria interessante que novas pesquisas fossem efetuadas
com um número maior de mães para uma comparação de dados.

6. Referências

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