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A DEMOCRACIA
NA AMÉRICA
Livro II
Sentimentos e Opiniões
Martins Fontes
A DEMOCRACIA
NA AMÉRICA
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A DEMOCRACIA
NA AMÉRICA
Sentimentos e Opiniões
De uma profusão de sentimentos e opiniões
que o estado social democrático fe z nascer
entre os americanos
Alexis de Tocqueville
Tradução
EDUARDO BRANDÃO
Martins Fontes
São Paulo 2004
Esta obra fo i publicada originalmente em francês com o título
DE LA DÉMOCRATIE EN AMÉRIQUE - VOL. II.
Copyright © GF-Flammarion, Paris, 1981 p ela Introdução
(em “Leis e Costumes”)e notas.
Copyright © 1999, Livraria Martins Fontes Editora Ltda.,
Sâo Paulo, para a presente edição.
I1 edição
fevereiro de 2000
2* tiragem
agosto d e 2004
Tradução
EDUARDO BRANDÃO
Preparação do original
Luzia Aparecida dos Santos
Revisão gráfica
Eliane Rodrigues de Abreu
Ana M aria de Oliveira Mendes Barbosa
Produção gráfica
Geraldo Alves
Paginação/Fotolitos
Studio 3 Desenvolvimento Editorial
99-4370_________________________________ CDD-321.80420973
índices para catálogo sistemático:
1. Estados Unidos : Democracia : Ciência política 321.80420973
Advertência........................................................................ XI
PRIMEIRA PARTE
A INFLUÊNCIA DA DEMOCRACIA NO
MOVIMENTO INTELECTUAL DOS ESTADOS UNIDOS
SEGUNDA PARTE
A INFLUÊNCIA DA DEMOCRACIA
SOBRE OS SENTIMENTOS DOS AMERICANOS
TERCEIRA PARTE
A INFLUÊNCIA DA DEMOCRACIA
SOBRE OS COSTUMES PROPRIAMENTE DITOS
QUARTA PARTE
DA INFLUÊNCIA QUE AS IDÉIAS E OS SENTIMENTOS
DEMOCRÁTICOS EXERCEM SOBRE A
SOCIEDADE POLÍTICA
nem faculdade para assim agir, por causa dos limites de seu
espírito, é reduzido a dar por certa uma porção de fatos e de
opiniões que não teve nem o vagar nem a possibilidade de
examinar e verificar por si mesmo, mas que outros encontra
ram ou que a multidão adota. É sobre esse primeiro funda
mento que ele próprio ergue o edifício de seus pensamentos
pessoais. Não é sua vontade que o leva a proceder dessa ma
neira, a lei inflexível da sua condiçã.o é que o obriga a tanto.
Não há no mundo um filósofo que não creia um milhão
de coisas com fé em outrem e que não suponha muito mais
verdades do que ele próprio estabelece.
Isso não só é necessário como desejável. Um homem
que empreendesse examinar tudo por si mesmo só poderia
conceder pouco tempo e atenção a cada coisa; esse trabalho
manteria seu espírito numa agitação perpétua, que o impedi
ria de penetrar profundamente uma verdade e fixar-se com
solidez numa certeza. Sua inteligência seria a uma vez indepen
dente e frágil. É necessário, portanto, que entre os diversos
objetos das opiniões humanas ele faça uma opção e adote
muitas crenças sem discuti-las, a fim de aprofundar melhor
um pequeno número delas, cujo exame reservou para si.
É verdade que todo homem que acolhe uma opinião com
base na palavra alheia põe seu espírito na escravidão; mas é
uma servidão salutar, que permite fazer bom uso da liberdade.
Portanto, é sempre necessário, não obstante o que suce
da, que a autoridade se encontre em algum ponto, no mun
do intelectual e moral. Seu lugar é variável, mas ela tem de ter
um. A independência individual pode ser maior ou menor,
mas não poderia ser ilimitada. Assim, a questão não é saber
se existe uma autoridade intelectual nas eras democráticas,
mas apenas onde está depositada e qual será sua medida.
Mostrei no capítulo anterior como a igualdade das con
dições fazia os homens conceberem uma espécie de incre
dulidade instintiva pelo sobrenatural e uma idéia elevadíssi
ma e, muitas vezes, exageradíssima da razão humana.
Portanto, os homens que vivem nesses tempos de igual
dade dificilmente são levados a colocar a autoridade intelectual
a que se submetem fora e acima da humanidade. É neles mes
mos ou em seus semelhantes que, comumente, procuram as
PRIMEIRA PARTE 11
mente à busca das idéias gerais, por meio das quais se ga
bam de pintar vastíssimos temas a pouco custo e atrair sem
dificuldade os olhares do público.
Não sei se estão errados ao pensarem assim, porque seus
leitores temem aprofundar-se tanto quanto eles mesmos e,
comumente, buscam nos trabalhos do espírito tão-só praze-
res fáceis e instrução sem trabalho.
Se as nações aristocráticas não fazem bastante uso das
idéias gerais e muitas vezes dedicam-lhes um desprezo in
considerado, sucede, ao contrário, que os povos democráti
cos estão sempre prontos a abusar dessa espécie de idéia e a
inflamar-se indiscretamente por elas.
CAPÍTULO IV
Do progresso do catolicismo
nos Estados Unidos
por ter uma, mas ela terá um caráter diferente do que se ma
nifesta nos escritos americanos de nossos dias e que lhe será
próprio. Não é impossível esboçar esse caráter antecipada
mente.
Suponhamos um povo aristocrático em que sejam culti
vadas as letras. Nele, os trabalhos da inteligência, assim como
os negócios do governo, são regidos por uma classe sobera
na. A literatura, como a existência política, está quase intei
ramente concentrada nesâa classe ou nas que dela são mais
próximas. Isso me basta para ter a chave de todo o resto.
Quándò um pequeno número de homens, sempre os
mesmos, se ocupa ao mesmo tempo dos mesmos objetos, eles
se entendem facilmente e estabelecem em cOmum certas re
gras principais que devem dirigir cadâ um deles. Se o objeto
que atrai á atenção desses homens for a literatura, os trabaJhos
do espírito logo serão submétídos por eles a algumas leis pre
cisas, das quais não será mais permitido afastar-se.
Se esses homens ocupam no país uma posição hereditá
ria, serão naturalmente inclinados não apenas a adotar para
si certo número de regras fixas, mas também a seguir as que
seus avôs tinham se imposto; sua legislação será a uma só
vez rigorosa e tradicional.
Como não estão necessariamente preocupados com as
coisas materiais, e nunca estiveram, nem tampouco seus pais,
eles puderam se interessar, durante várias gerações, pelos tra
balhos do espírito. Compreenderam a arte literária e acabam
por apreciá-la por ela mesma e por experimentar um douto
prazer ao ver que o povo a ela se conforma.
Não é tudo ainda: os homens de que falo começaram sua
vida e a terminam no bem-estar ou na riqueza; conceberam
portanto, naturalmente, o gosto pelos deleites requintados e
o amor .pelos prazeres finos e delicados.
Muito mais, certa languidez de espírito e de coração, que
muitas vezes contraem no meio desse longo e aprazível uso
de tantos bens, leva-os a afastar de seus prazeres mesmos o
que poderia haver neles de demasiado inesperado e dema
siado vivo. Eles preferem ser distraídos a ser vivamente como
vidos; querem que os interessem, mas não que os arrebatem.
66 A DEMOCRACIA NA AMÉRICA
Da indústria literária
rias, qualquer que seja o nome que lhes seja dado, se obscu-
recem, por outro lado, os homens se dispõem a conceber uma
idéia muito mais vasta da própria Divindade, e sua interven
ção nos negócios humanos se lhes apresenta sob uma nova
e mais forte luz.
Percebendo o gênero humano como um só todo, con
cebem facilmente que um mesmo desígnio preside a seus
destinos e, nas ações de cada indivíduo, são levados a reco
nhecer as marcas desse plano geral e constante, segundo o
qual Deus conduz a espécie.
Isso ainda pode ser considerado como uma fonte abun
dante de poesia, que se abre nesses tempos.
Os poetas democráticos sempre parecerão pequenos e
frios, se tentarem dar a deuses, a demônios ou a anjos, for
mas corporais, e procurarem fazê-los descer do céu para dispu
tar a terra.
Mas, se quiserem vincular aos desígnios gerais de Deus
sobre o universo os grandes acontecimentos que expõem e,
sem mostrar a mão do soberano mestre, revelar o pensamen
to dele, serão admirados e compreendidos, porque a imagina
ção de seus contemporâneos segue espontaneamente esse
caminho.
Pode-se igualmente prever que os poetas que vivem nas
eras democráticas pintarão antes paixões e idéias do que
pessoas e atos.
A linguagem, os costumes e as ações cotidianas dos
homens nas democracias se recusam à imaginação do ideal.
Essas coisas não são poéticas por si mesmas e, por sinal,
deixariam de sê-lo, pelo fato de serem demasiado bem co
nhecidas de todos aqueles a quem alguém empreendesse
delas falar. Isso força os poetas a penetrar sem cessar sob a
superfície exterior que os sentidos lhes descobrem, a fim de
entrever a própria alma. Ora, não há nada que se preste mais
à pintura do ideal do que o homem assim considerado nas
profundezas de sua natureza imaterial.
Não preciso percorrer o céu e a terra para descobrir um
objeto maravilhoso cheio de contrastes, de grandezas e de
pequenezas infinitas, de obscuridades profundas e de singu
lares clarezas, capaz ao mesmo tempo de suscitar a piedade,
PRIMEIRA PARTE 89
Da eloqüência parlamentar
nos Estados Unidos
A influência da democracia
sobre os sentimentos dos americanos
CAPÍTULO I
Do individualismo nos
países democráticos
Não creio, tudo bem pesado, que haja mais egoísmo en
tre nós do que na América; a única diferença é que lá ele é
esclarecido e aqui não. Cada americano sabe sacrificar uma
parte de seus interesses particulares para salvar o resto. Que
remos nos apoderar de tudo e, com freqüência, tudo nos
escapa.
Não vejo em tomo de mim senão pessoas que parecem
querer ensinar cada dia a seus contemporâneos, por sua pa
lavra e por seu exemplo, que o útil nunca é desonesto. Não
descobrirei então, enfim, quem procure lhes fazer compreen
der como o honesto pode ser útil?
Não há poder na terra capaz de impedir que a igualdade
crescente das condições leve o espírito humano à busca do
útil e disponha cada cidadão a se fechar em si mesmo.
Deve-se contar, portanto, com que o interesse individual
se tome, mais que nunca, o principal, se não único, móvel das
ações dos homens; mas resta saber como cada homem en
tenderá seu interesse individual.
Se os cidadãos, tomando-se iguais, permanecessem igno
rantes e grosseiros, é difícil prever até que estúpido excesso
seu egoísmo poderá levar e não se poderia dizer de antemão
em que vergonhosas misérias eles mesmos mergulhariam, com
medo de sacrificar algo de seu bem-estar à prosperidade de
seus semelhantes.
Não creio que a doutrina do interesse, tal como é pregada
na América, seja evidente em todas as suas partes; mas ela
encerra um grande número de verdades tão evidentes que
basta esclarecer os homens para que eles as enxerguem.
Cumpre pois esclarecê-los a qualquer preço, porque a época
das devoções cegas e das virtudes instintivas já vai longe de
nós, e vejo chegar o tempo em que a liberdade, a paz pública
e a ordem social mesma não poderão prescindir das luzes.
CAPÍTULO IX
A influência da democracia
sobre os costumes propriamente ditos
CAPÍTULO I
que, não apenas eles são ocupados, mas que suas ocupações
os apaixonam. Estão perpetuamente em ação e cada uma
das suas ações absorve sua alma; o ardor que introduzem
nos negócios os impede de se inflamar pelas idéias.
Creio ser muito difícil suscitar o entusiasmo de um povo
democrático por uma teoria qualquer que não tenha uma re
lação visível, direta e imediata com a prática cotidiana da
sua vida. Tal povo, portanto, não abandona facilmente suas
antigas crenças. Porque é o entusiasmo que precipita o espí
rito humano fora dos caminhos traçados e que faz as gran
des revoluções intelectuais, assim como as grandes revoluções
políticas.
Assim, os povos democráticos não têm nem tempo nem
gosto para ir em busca de novas opiniões. Mesmo quando
chegam a duvidar das que possuem, conservam-nas ainda as
sim, porque precisariam de muito tempo e muito exame para
mudar de opinião; eles as conservam, não como certas, mas
como estabelecidas.
Há outras razões ainda, e mais poderosas, que se opõem
ao fato de que uma grande mudança se realize facilmente
nas doutrinas de um povo democrático. Já indiquei isso no
começo deste livro.
Enquanto, no seio de um povo semelhante, as influên
cias individuais são fracas e quase nulas, o poder exercido
pela massa sobre o espírito de cada indivíduo é enorme. Ex
pliquei os motivos disso em outro passo. O que quero dizer
neste momento é que seria um equívoco acreditar que isso
depende unicamente da forma do governo e que a maioria
desse povo deve perder seu império intelectual junto com
seu poder político.
Nas aristocracias, os homens muitas vezes têm uma gran
deza e uma força que lhes são próprias. Quando se acham
em contradição com a maioria de seus semelhantes, reco-
lhem-se em si mesmos, em si se amparam e se consolam. O
mesmo não se dá entre os povos democráticos. Neles, o fa
vor público parece tão necessário quanto o ar que se respira
e é, por assim dizer, não viver, estar em desacordo com a mas
sa. Esta não precisa empregar as leis para dobrar os que não
pensam como ela. Basta-lhe desaprová-las. O sentimento de
326 A DEMOCRACIA NA AMÉRICA
tempo, o próprio governo. Mas não nego que uma força so
cial centralizada seja capaz de levar facilmente a cabo, num
tempo dado e num ponto determinado, grandes realizações.
Isso é verdade sobretudo na guerra, em que o sucesso de
pende muito mais da facilidade que encontramos em con
centrar rapidamente todos os seus recursos em certo ponto,
do que da própria extensão desses recursos. Assim, é princi
palmente na guerra que os povos sentem o desejo e, muitas
vezes, a necessidade de aumentar as prerrogativas do poder
central. Todos os gênios guerreiros gostam da centralização,
que aumenta suas forças, e todos os gênios centralizadores
gostam da guerra, que obriga as nações a concentrar nas mãos
do Estado todos os poderes. Assim a tendência democrática
que leva os homens a multiplicar sem cessar os privilégios
do Estado e a restringir os direitos dos particulares é muito
mais rápida e mais contínua nos povos democráticos, sujei
tos por sua posição a grandes e freqüentes guerras e cuja
existência pode muitas vezes ser posta em perigo, do que em
todos os outros.
Mostrei como o medo da desordem e o amor ao bem-
estar levavam insensivelmente os povos democráticos a au
mentar as atribuições do governo central, único poder que
lhes parece de per si bastante forte, bastante inteligente, bas
tante estável para protegê-los contra a anarquia. Mal necessito
acrescentar que todas as circunstâncias particulares que ten
dem a tornar o estado de uma sociedade democrática per
turbado e precário aumentam esse instinto geral e levam os
particulares a sacrificar cada vez mais seus direitos à sua tran
qüilidade. •
Portanto um povo nunca está tão disposto a aumentar as
atribuições do poder central do que ao sair de uma revolução
longa e sangrenta, que, depois de ter arrancado os bens das
mãos de seus antigos possuidores, abalou todas as crenças,
encheu a nação de ódios furiosos, de interesses opostos e de
facções contrárias. O gosto pela tranqüilidade pública se toma
então uma paixão cega, e os cidadãos ficam expostos a serem
tomados por um amor desordenado à ordem.
Acabo de examinar vários acidentes que contribuem pa
ra a centralização do poder. Ainda não falei do principal.
372 A DEMOCRACIA NA AMÉRICA
(B ) p. 251
(C) p. 253
(D) p. 281
(E) p. 345
(F) p. 361
(G ) p. 366
(H) p. 389
(I) p. 393
Capítulo V
Capítulo XIII
SEGUNDA PARTE
Capítulo VI
Capítulo VII
Capítulo XIX
TERCEIRA PARTE
Capitulo I
Capítulo V
Capítulo VIII
Capítulo XI
Capítulo XVIII
Capitulo XXI
Capítulo XXIII
Capítulo XXVI
QUARTA PARTE
Capítulo III
Capítulo V
CAPA
Em ílio ou D a e d u c a ç ã o
Jean-Jaeques Rousseau
l) a g u e r r a
Carl von Clausewitz
D id á tica m ag n a
Comenius
A c id a d e a n tig a
Fustel de Coulanges
A d e m o c r a c ia n a A m érica
- L eis e costu m es
Alexis de Tocqueville
A d e m o c r a c ia n a A m érica
- Sentim en tos e opin iões
Alexis de Tocqueville
Os en sa io s - L iv ro l
Os en sa io s - L iv ro II
Os en sa io s - L iv ro I II
Michel de Montaigne
P en sam en tos
B laise Pascal
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