Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
EXPLICA
A ADOLESCENCIA
CONTARDO CALLIGARIS
PUBLIFOLHA
2000 Publifolha Divisão de Publicações da Empresa Folha do Manhá SA.
2000 Contardo Calligaris
Todos os direitos reservados. Nenhuma porte desta publicação pode ser
reproduzido, orquivado ou transmitida de nenhuma forma ou por nenhum meio
sem a permissão expressa e por escrito da Publitolha - Divisáo de Publicaçóes do
Editor
Arthur Nestrovski
Copo
Publifolho
Imagem de capa
Mauritius/LatinStock
Revisão
Mário Vilela e Paulo Nascimento Verano
Editoração eletrônica
Picture
Calligaris, Contardo
A adolescéncia/Contardo Calligoris. São Pauld
Publifolha, 2011. - (Folha Explica)
10-09649 CDD-IS5.5
Indices paro cotálogo sistemátlco:
1.Adolescència: Psicologio 155.5S
2. Psicologia do adolescente 155.5
PUBLIFOLHA
Divisão de Publicações do Grupo Folha
Al. Barão de Limeira, 401, 6" andar
CEP 01202-900, São Paulo, SP
Tel.: (11) 3224-2186/2187/2197
www.publifolha.com.br
m adolescente um pouco sem rumo, es-
U
tranhando seu próprio comportamento,
paradoxalmente desafiador e arrependido,
para voce na rua e fala: "Estou só passando
uma fase agora. lTodo o mundo passa por fases, não
por
é?". Alguém talvez reconheça sua voz. E Holden, o
herói do romance O apanhador no campo de centeio, de
J.D. Salinger.
lado dele
Aproveitando-se da situação, atrás e ao
'Cr. Bibliogratia,I.
A ADOLESCÉNCIA COMO MORATÓRIA
integram em nossa
anos, as crianças, por assim dizer, se
Cultura e, entre outras coisas, elas aprendem que ha
Em todoo
texto, quando falamos do "adolescente"sem maus especificar, entendennos
a
palavra como substantivo neutro. Salvo indicação explícita do contrário, nossas
afirmações valem, portanto, para annbos os sexos,
16 A adolcnéncia
A ADOLESCËNCIA COMO
REAÇÃO E REBELDIA
A imposição dessa moratória já seria razão suficiente
para que a adolescencia assim criada e mantida tosse
uma época da vida no minimo inquieta.
Afinal, não seria estranho que moças e
nos reservassem
rapazes
alguma surpresa desagradavel. uma vez
impedidos de se realizar como seus
corpos permit-
riam, não reconhecidos como pares e adultos pela
comunidade, logo quando passam a se
julgar entim
competitivos.
Pensenm de novo em como voces reay1riam na
hipotética tribo: mesmo supondo que evitassem deci-
soes drasticas (cair tora, entrar em
guerra aberta com os
moratória.
de sua dependencia, imposta pela
18 A adolescincia
A ADOLESCÉNCIA IDEALIZADA
Tal contradição torna-se ainda mais enigmática
para o adolescente na medida em que essa cultura
parece idealizar a adolescencia como se fosse um
tempo particularmente feliz. Como é possível? Se
o adolescente é privado de autonomia, se é afastado
da realização plena dos valores cruciais de nossa
cultura, como pode essa mesma cultura imaginar
que ele seja feliz?
O adolescente poderia facilmente concluir
que essa idealização da época da vida que ele está
atravessando é uma zombaria que agrava sua insatis-
fação. Ele certamente tem direito de se irritar com
isso: é dificil entender por que os adultos (que em
princípio deveriam conhecer a adolescència, por
terem passado por aí em algum momento) achariam
graça nessa época da vida ou a lembrariam com
nostalgia. Tentaremos explicar essa idealização,
sobretudo no Capítulo 4. Mas, seja como for, o
adolescente vive um paradoxo: ele é frustrado pela
moratória imposta, e, ao mesmo tempo, a idealiza-
ção social da adolescência lhe ordena que seja feliz.
Se a adolescencia é um ideal para todos, ele só pode
ter a delicadeza de ser feliz ou, no mínimo, fazer
barulhentamente de conta.
Em nossa cultura, a passagem para a vida adulta
é um verdadeiro enigma. A adolescencia não e so
uma moratória mal justificada, contradizendo va-
lores cruciais como o ideal de autonomia. Para o
adolescente, ela não é só uma sofrida privação de
reconhecimento e independencia, misteriosamente
idealizada pelos adultos. E também um tempo de
transição, cuja duração é misteriosa.
lementosdedefmiçao 19
DURAÇÃO DA ADOLESCÉNCIA
O começo da adolescéncia é facilmente observável,
por se tratar da mudança fisiológica produzida pela
puberdade. Trata-se, em outras palavras, de uma
transtormação substancial do corpo do jovem,
que adquire as funçöes e os atributos do corpo
adulto. Querendo circunscrever a adolescéncia no
tempo, como idade da vida, chega-se facilmente
a um consens0 no que concerne ao seu come-
no enfrentamento.
sedução quanto
mudanças só acabam constituindo um
Mas essas
medida em que
problema chamado adolescencia na