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Aula: 26

Temática: Leitura de textos dissertativos

Exercícios

1. O texto abaixo é a introdução do livro A Adolescência, do psicanalis-


ta Contardo Calligaris . Leia-o com atenção e, em seguida, identifique o
método utilizado (indutivo ou dedutivo?) em sua apresentação. Justifique
sua resposta.

Um adolescente um pouco sem rumo, estranhando seu próprio comporta-


mento, paradoxalmente desafiador e arrependido, pára você na rua e fala:
“Estou só passando por uma fase agora. Todo o mundo passa por fases,
não é?” Alguém talvez reconheça sua voz. É Holden, o herói do romance O
Apanhador em Campo de Centeio, de J.D.Salinger.
Aproveitando-se da situação, atrás e ao lado dele se aglomeram pais e
mães de adolescentes. Eles também perguntam: “Então é assim? Vai pas-
sar? É só uma fase?”
Resposta de bolso, caso Holden e os pais o parem na rua: “Não. Não é
apenas uma fase. Por isso, nada garante que passe”.
Nossos adolescentes amam, estudam, brigam, trabalham. Batalham com
seus corpos, que se esticam e se transformam. Lidam com as dificuldades
de crescer no quadro complicado da família moderna. Como se diz hoje,
eles se procuram e eventualmente se acham. Mas, além disso, eles preci-
sam lutar com a adolescência, que é uma criatura um pouco monstruosa,
sustentada pela imaginação de todos, adolescentes e pais. Um mito, in-
ventado no começo do século 20, que vingou sobretudo depois da Segun-
da Guerra Mundial.
A adolescência é o prisma pelo qual os adultos olham os adolescentes e
pelo qual os próprios adolescentes se contemplam. Ela é uma das forma-
ções culturais mais poderosas de nossa época.
Objeto de inveja e de medo, ela dá forma aos sonhos de liberdade ou de
evasão dos adultos e, ao mesmo tempo, a seus pesadelos de violência e
desordem.
Objeto de admiração e ojeriza, ela é um poderoso argumento de marketing
e, ao mesmo tempo, uma fonte de desconfiança e repressão preventiva.
A Holden e aos pais pode-se responder, assim, que os jovens de hoje

Calligaris, Contardo. A Adolescência. SP: Publifolha, 2000, p.8 e 9.
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chegaram à adolescência numa época que alimenta uma espécie de culto
desse tempo da vida. E caberia, então, tentar explicar como isso nos afeta
a todos.

2. O texto abaixo é um editorial do jornal Folha de S.Paulo. Leia-o com


atenção e, em seguida, identifique:

a) o assunto,
b) o tema,
c) o objetivo (ponto de vista),
d) o(s) argumento(s) que justifica(m) o ponto de vista do autor,
e) o(s) tipo(s) de recursos(s) argumentativo(s) utilizados,
f) o tipo de estrutura utilizado.

Pobreza e desigualdade
“O Estado da Desigualdade”, relatório divulgado pela ONU na última sema-
na, é um documento de grande relevância por ao menos duas razões: faz
um levantamento sem equivalente sobre as condições de desenvolvimento
ao redor do globo e chama a atenção para a distinção, nem sempre enca-
rada com o matiz necessário, entre desigualdade e pobreza.
O texto indica que o crescimento econômico experimentado nos últimos
anos não se traduziu na redução das assimetrias entre as regiões. De acor-
do com o relatório, 80% das riquezas do planeta se concentram nas nações
mais ricas, ao passo que os 20% restantes se dividem entre os 5 bilhões
que vivem nas regiões menos favorecidas. Dos 73 países analisados, a de-
sigualdade cresceu em 48 durante os últimos 25 anos, permaneceu igual
em 16 e diminuiu em apenas nove.
O documento da ONU enfoca os desequilíbrios entre crescimento econômi-
co e desenvolvimento social. Nesse sentido, contribui para jogar luz sobre
a necessidade de promoção de um desenvolvimento sustentado. Chama
atenção, por exemplo, o fato de que a desigualdade tenha crescido em
países como os EUA, o Canadá e o Reino Unido. E que a China, campeã
de crescimento nos anos 1990, já seja um dos países mais desiguais do
mundo, em que os 10% mais ricos ganham 18 vezes mais do que os 40%
mais pobres.
São números que reforçam a necessidade de que as políticas econômicas
sejam formuladas de par com estratégias de inclusão. O aquecimento da
economia não basta para a erradicação da pobreza. Da mesma maneira,
faz-se necessária uma concentração de esforços para incentivar o multila-
teralismo comercial. Enquanto os países desenvolvidos não reduzirem as
barreiras impostas aos produtos exportados pelos países em desenvolvi-
mento, o ônus continuará a recair sobre os mais pobres.
Folha de S.Paulo. 1º/09/2005, p.A2.
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3. O texto que você vai ler agora é muito conhecido e tem sido publicado,
freqüentemente, em livros didáticos de diversas disciplinas. Neste mate-
rial, ele será utilizado como um exercício de leitura: reconhecimento de
alguns recursos característicos do texto argumentativo.

No ano de 1854, Franklin Pierce, presidente dos Estados Unidos, fez a uma
tribo indígena a proposta de comprar grande parte de suas terras, ofere-
cendo em contrapartida a concessão de uma outra “reserva”. A carta-res-
posta do chefe Seatle, distribuída pela ONU, tem sido considerada, através
dos tempos, como um dos mais belos e profundos pronunciamentos já
feitos em defesa da natureza.

Carta do chefe Seatle


Como é que se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra? (1) Essa
idéia nos parece estranha. (2) Se não possuímos o frescor do ar e o brilho
da água, como é possível comprá-los? (3)
Cada pedaço desta terra é sagrado para meu povo. Cada ramo brilhante de
um pinheiro, cada punhado de areia da praia, a penumbra da floresta den-
sa, cada clareira e inseto a zumbir são sagrados na memória e experiência
do meu povo. A seiva que percorre o corpo das árvores carrega consigo
lembranças do homem vermelho. (3)
Os mortos do homem branco esquecem sua terra de origem quando vão
caminhar entre as estrelas. Nossos mortos jamais esquecem da bela terra,
pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela faz parte
de nós. (4) Portanto, quando o Grande Chefe em Washington manda dizer
que deseja comprar nossa terra, pede muito de nós. (5)
Essa água brilhante que corre nos riachos e nos rios não é apenas água,
mas o sangue de nossos antepassados. Se lhe vendermos a terra, vocês
devem lembrar-se de que ela é sagrada, devem ensinar às crianças que
ela é sagrada e que cada reflexo nas águas límpidas dos lagos fala de
acontecimentos e lembranças da vida do meu povo. O murmúrio das águas
é a voz dos meus ancestrais. (6)
Os rios são nossos irmãos, saciam nossa sede. Os rios carregam nossas
canoas e alimentam nossas crianças. Se lhes vendermos nossa terra, vo-
cês devem lembrar e ensinar a seus filhos que os rios são nossos irmãos,
e seus também. E, portanto, vocês devem dar aos rios a bondade que
dedicariam a qualquer irmão.(7)
Sabemos que o homem brando não entende nossos costumes. Uma porção
de terra, para ele, tem o mesmo significado que qualquer outra, pois é um
forasteiro que vem à noite e extrai da terra aquilo de que necessita. (8) A
terra não é sua irmã, mas sua inimiga, e quando ele a conquista, prossegue
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seu caminho. Deixa para trás os túmulos de seus antepassados e não se
incomoda. Rapta da terra aquilo que seria de seus filhos e não se importa.
A sepultura de seu pai e o direito de seus filhos são esquecidos. Trata sua
mãe, a terra, e seu irmão, o céu, como coisas que possam ser compradas,
saqueadas, vendidas como carneiros, como enfeites coloridos. Seu apetite
devorará a terra, deixando somente um deserto. (9)
Eu não sei, nossos costumes são diferentes dos seus. A visão de suas
cidades fere os olhos do homem vermelho. Talvez seja porque o homem
vermelho é um selvagem e não compreenda. (10)
Não há lugar quieto nas cidades do homem branco. Nenhum lugar onde se
possa ouvir o desabrochar das folhas na primavera ou o bater das asas de
um inseto. Mas talvez seja porque eu sou um selvagem e não compreendo.
O ruído parece somente insultar os ouvidos. E o que resta da vida se um
homem não pode ouvir o choro solitário de uma ave ou o debate dos sapos
ao redor de uma lagoa, à noite? (11) Eu sou um homem vermelho e não
compreendo. O índio prefere o suave murmúrio do vento encrespando a
face do lago, e o próprio vento, limpo por uma chuva diurna ou perfumado
pelos pinheiros. (12)
O ar é precioso para o homem vermelho, pois todas as coisas comparti-
lham o mesmo sopro – o animal, a árvore, o homem, todos compartilham
o mesmo sopro. Parece que o homem branco não sente o ar que respira.
Como um homem agonizante há vários dias, é insensível ao mau cheiro.
Mas se vendermos nossa terra ao homem branco, ele deve lembrar que
o ar é precioso para nós, que o ar compartilha seu espírito com toda vida
que mantém. (13)
Portanto, vamos meditar sobre sua oferta de comprar nossa terra. Se de-
cidirmos aceitar, imporei uma condição: o homem branco deve tratar os
animais dessa terra como seus irmãos. (14)
O que é um homem sem os animais? Se todos os animais se fossem, o
homem morreria de uma grande solidão de espírito. Pois o que ocorre com
os animais, breve acontece com o homem. Há uma ligação em tudo. (15)
Ensinem às crianças o que ensinamos às nossas: que a terra é nossa mãe.
Tudo que acontecer à terra, acontecerá aos filhos da terra. Se os homens
cospem no solo, estão cuspindo em si mesmos. (16)
Isto sabemos: a terra não pertence ao homem; o homem pertence à terra.
Isto sabemos: todas as coisas estão ligadas como o sangue que une uma
família. Há uma ligação em tudo.(17)
O que ocorrer com a terra recairá sobre os filhos da terra. O homem não
tramou o tecido da vida: ele é simplesmente um de seus fios. Tudo que fizer
ao tecido, fará a si mesmo. (18)
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É possível que sejamos irmãos, apesar de tudo. De uma coisa estamos
certos – e o homem branco poderá vir a descobrir um dia: nosso Deus
é o mesmo Deus. Ele é Deus do homem, e Sua compaixão é igual para o
homem vermelho e para o homem branco. A terra Lhe é preciosa, e feri-la
é desprezar seu criador. (19) Os brancos também passarão; talvez mais
cedo do que as outras tribos. Contaminem suas camas e uma noite serão
sufocados pelos próprios dejetos. (20)
Mas quando de sua desaparição, vocês brilharão intensamente, ilumina-
dos pela força do Deus que os trouxe a esta terra e, por alguma razão
especial, lhes deu o domínio sobre a terra e sobre o homem vermelho. Esse
destino é um mistério para nós, pois não compreendemos que todos os bú-
falos sejam exterminados, os cavalos bravios sejam domados, os recantos
secretos da floresta densa impregnados do cheiro de muitos homens, e a
visão dos morros obstruída por fios que falam. (21)
Onde está o arvoredo? Desapareceu. Onde está a águia? Desapareceu. É
o final da vida e o início da sobrevivência. (22)

Você deve ter percebido que foram colocados, ao longo do texto, alguns
parênteses contendo números. Abaixo, identifico, pelo número, o recurso
utilizado em cada passagem numerada.

1- introdução por interrogação


2- explicitação do ponto de vista e pluralização do emissor
3- primeiros exemplos da profunda ligação entre o povo indígena e sua
terra
4- recurso da comparação implícita para mostrar a diferença de visões
sobre a relação entre o homem e a terra
5- conclusão parcial e referência direta ao receptor da carta
6- novos exemplos que demonstraram o parentesco entre o índio e a terra,
levantamento de uma hipótese, pluralização do receptor
7- uso do raciocínio lógico por meio dos conectores se e portanto
8- comparação entre brancos e índios com relação a terra, a partir da dife-
rença de costumes
9- exemplos que comprovam o descaso do branco com relação a terra e
as conseqüências desse descaso
10- ironia do emissor, cuja “ignorância” aparece como uma forma de “sa-
bedoria” superior à do branco
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11- comparação, por meio de pequenos exemplos, entre o espaço urbano,
onde vive o homem branco, e a natureza, onde vive o índio
12- repetição do ponto de vista do índio, utilizando palavras que revelam
sua total inserção na natureza por intermédio dos sentidos (no caso,
audição, tato, visão e olfato)
13- comparação que aponta as pressuposições do índio em relação ao
modo de vida do branco
14- conclusão parcial através de uma relação explicitada pelo conector se
15- recurso da interrogação reafirmando o ponto de vista, estendendo ago-
ra aos animais o que foi dito sobre a terra
16- recurso da invocação (típico de carta), mostrando ao branco que pode
aprender com o índio
17- conhecimento que o índio tem como argumento para a invocação
18- conseqüência que poderá advir da recusa do branco à invocação do
emissor
19- uso de um argumento que aproxima as duas raças: tanto o índio quan-
to o branco são filhos do mesmo Deus
20- uso de um argumento de valor universal: todos os homens são mortais
21- uso de exemplos para mostrar a consciência da dominação e a impos-
sibilidade de compreendê-la
22- conclusão: síntese da dicotomia entre o índio (natureza/vida) e o bran-
co (cidade/sobrevivência)

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