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TV Digital I: Modulação OFDM

Seção: Rádio e TV
 

Como visto anteriormente, os canais de transmissão nacionais, estão


constantemente sujeitos as interferências, portanto já vimos o conjunto de códigos
corretores de erros para combater os possíveis erros inseridos nos sinais
transmitidos através desses canais.

Entretanto as transmissões de TV digital requerem altas taxas de transmissão


aumentando assim a possibilidade de ocorrência de interferências. Nesse capítulo
será introduzida uma técnica de modulação que permite o uso da faixa de
frequência junto com outras técnicas para melhorar a robustez contra as
intempéries dos canais de transmissão.

Desvanecimento Seletivo em Frequência

Como explicado anteriormente um canal que sofre de multipercurso, faz com que o
receptor receba variações do sinal transmitido com atrasos, e quanto maior esses
valores de atraso menor será o espaço entre os nulos espectrais do sinal, causando
uma dispersão temporal dos símbolos e assim introduzindo a interferência
intersimbólica (ISI).

Agora veremos um parâmetro, chamado de banda de coerência (BW c) para poder


analisar se ocorre ou não o desvanecimento seletivo em frequência, a seguinte
equação determina a banda de coerência do canal.

 
Em que temos o fator de correção (k), que pode assumir os seguintes valores, 5 (para
coerência de 50%) ou 50 (para coerência de 90%) e σ t é o valor rms (root mean
square) do atraso de propagação do canal. Para que ocorra um desvanecimento
seletivo em frequência, introduzindo ISI no sinal, basta que a largura de faixa do
sinal seja maior que a banda de coerência do canal, caso contrário o
desvanecimento será plano.

Modulação M-QAM

A modulação M-QAM é combinada pela modulação em fase e amplitude do sinal,


que usa com maior eficiência a largura de faixa, esse tipo de constelação é
constituído de M símbolos, cada qual representado por (k = log 2(M)) bits. A seguir a
figura 9 que mostra um modulador M-QAM genérico (a) e em baixo a constelação
para M igual a 16 (b).

(a) (b)

Figura 9: Modulador M-QAM genérico (a) Constelação 16-QAM (b)


 

Tipos de Sistemas

Os sistemas podem ser classificados por serem de portadoras únicas ou de múltiplas


portadoras, o primeiro sistema, de uma única portadora, é utilizado para transmitir
sequencialmente os dados pelo canal de comunicação. O parâmetro, largura de faixa
(BWs), pode ser escrito da seguinte forma.

onde

Devemos notar que quanto maior a taxa da transmissão de dados (R s), maior será a
largura de faixa ocupada pelo sinal, o que implica em uma maior probabilidade de
ocorrência de desvanecimento seletivo em frequência, pois uma vez que  BWs >
BWc ocorrerá o desvanecimento seletivo.

Para evitar esse fato, olhando a equação 3.2, se deve reduzir o R s porém para isso ou
diminuímos a taxa de transmissão, algo que não podemos almejar devido a
necessidade de altas taxas para transmissão de TV digital, ou aumentar a ordem da
constelação, porém ao se fazer isso se deve ter o cuidado com o problema do ruído
AWGN.

Uma forma de se contornar esse problema é a introdução do conceito de sistemas


que utilizam não só uma portadora, mas sim múltiplas, em que a largura de faixa é
dividida de acordo com o número de divisões feitas, chamadas de subportadoras
(feixes), que possuem diferentes frequências, essas são transmitidas paralelamente
com uma taxa de transmissão expressa por:

E a largura de faixa ocupada por cada subportadora é igual à expressão seguinte:

 
 

O nosso objetivo é reduzir a largura de banda do sinal, então temos que encontrar a
distância mínima entre as subportadoras, Δ fmin, que são moduladas por frequências
de modo que se garanta o mínimo espaçamento sem a ocorrência da sobreposição
espectral. Isso pode ser feito limitando se a largura de cada subportadora entre seus
pontos de nulos, respeitando a equação.

Agora que a banda foi reduzida proporcionalmente ao número de portadoras, para


que isso se torne útil todas essas subportadoras precisam ser transmitidas em um
único canal, isso é possível sem causar interferências entre subportadoras caso elas
sejam ortogonais entre si, permitindo assim a separação dos vários subcanais. Esse
método de modulação costuma ser chamada de OFDM (do inglês, Orthogonal
Frequency Division Multiplexing) e é empregado em sistemas de radiodifusão, em
transmissão digital sobre linhas telefônicas e em redes locais sem fio e também em
alguns dos padrões de TV digital, como o europeu e japonês [7].

Uma boa forma de visualizar a vantagem em relação à eficiência de banda espectral


é olhando a figura 10 que mostra os espectros de frequência para os sistemas de
portadora única, FDM e OFDM.

 
Figura 10: Comparação entre os espectros de sinais de portadora única, FDM e
OFDM
 

Com a definição do conceito de OFDM, temos uma sensação de ser um sistema


muito vantajoso em relação aos demais, de fato é um sistema que utiliza o espectro
de frequência com técnicas avançadas, em que possibilita as transmissões com altas
taxas de dados sem ter problemas com a ISI, pelo uso da ortogonalidade entre as
portadoras, ao contrário do sistema de portadora única, quando ocorre o
desvanecimento seletivo em frequência apenas os símbolos transmitidos nas
portadoras afetadas pelo desvanecimento são perdidos.

Uma importante característica que essa modulação possui é a robustez contra erros
em rajada na recepção, analisando os símbolos no domínio do tempo percebemos
que os símbolos têm maior duração de acordo com o número de subportadoras,
tornando se robusto ao desvanecimento plano, que ocasiona atenuação na potência
do sinal recebido por certo período de tempo.

Por tratarmos de transmissões com altas taxas, temos um curto tempo de símbolo
em sistemas de portadora única, ocasionando a perda de vários símbolos durante o
período de desvanecimento, ao contrário do sistema multiportadora, todos os N
símbolos são afetados por serem transmitidos paralelamente, porém com um
número elevado de subportadoras o tempo de símbolo é maior que a duração do
desvanecimento, fazendo com que a interferência não acarrete na perda de
símbolos.

Figura 11: Comparação entre os efeitos de desvanecimento plano


entre sistemas de portadora única e multiportadora.
 

Como pode ser visto na figura 11 acima os símbolos S 3,S4 e S5 são afetados nos
sistema de portadora única, havendo erros em rajada, o que não acontece nos
símbolos de multiportadora por apresentar um tempo de símbolo muito maior que
a duração do desvanecimento.

Como será dito no capítulo sobre os padrões de TV digital, antes da modulação


OFDM existem blocos de entrelaçadores, para evitar erros em rajadas, possibilitando
com que os blocos corretores de erros já estudados no capítulo anterior possam
efetivamente realizar uma recepção livre de erros. E logo após o bloco da modulação
OFDM se tem a inserção do intervalo de guarda, tornando o tempo de símbolo
muito maior do que a dispersão temporal do canal, aumentando mais ainda a
robustez contra ISI.

 
Após apresentadas todas essas vantagens, temos que se lembrar de dois
majoritários problemas inerentes a implementação desse método, a complexidade
na geração e detecção dos símbolos que se tornam maior de acordo com o número
de subportadoras, devido a necessidade de sincronismo de fase e frequência.

E por questão de viabilidade financeira os amplificadores são projetados para


trabalharem na região de maior eficiência, em que o ponto de operação é próximo
ao ponto de saturação, fazendo com que os picos do sinal sejam ceifados antes da
transmissão, um trabalho realizado para combater esse problema mostrou que
mudanças na disposição da constelação pode-se contornar esse fato [9].

Geração e Detecção dos Sinais OFDM

Existem dois métodos para se gerar e detectar os símbolos OFDM, o primeiro que é
chamado de método da força bruta, se torna limitado à medida que o número de
subportadoras aumenta a complexidade de implementação devido a necessidade de
sincronização dos osciladores complexos, o segundo, usa o processamento digital de
sinais, para discretizar o sinal no domínio do tempo e utilizar a DFT, porém o grau de
complexidade computacional aumenta de forma exponencial de acordo com o
número de subportadoras, com isso se usa a FFT, um método que torna o cálculo da DFT mais eficiente
diminuindo a carga computacional exigida.

No método da força bruta temos o sinal a ser transmitido, uma sequência binária
m(t), mapeado em fase, in pela função cosseno, e em quadratura, qn pela função
seno, ambos de frequência angular de w n, compondo o sinal complexo c n. Este sinal
por sua vez passa por um conversor serial/paralelo tornando-se agora em N feixes
de símbolos complexos paralelos que modulam as subportadoras complexas para
serem somados, formando o sinal OFDM expresso por:

 
Uma observação importante é que todas as subportadoras possuem ciclos
completos durante o tempo de T segundos, o que possibilita a detecção do i `N, como
mostra a equação a seguir.

Para obtermos o sincronismo entre os osciladores do transmissor e do receptor são


inseridos portadoras pilotos que geram um sinal de referência para o receptor, além
de sua função de sincronismo, esse sinal passa a ser útil na estimativa do canal, no
qual se medem as atenuações causadas nas amplitudes das portadoras pilotos, em
que através da interpolação podemos estimar a resposta em frequência do canal,
uma vez que essas portadoras pilotos não são moduladas, este procedimento é
ilustrado na figura 12 abaixo.

Figura 12: Equalização no domínio da frequência


 

O segundo método em que possibilita a simplificação da construção do transmissor


e receptor utiliza de DSPs, (processamento digital de sinais), em que podemos
analisar o sinal OFDM discretizado no domínio do tempo.

Com as seguintes definições, a frequência de amostragem sendo o inverso do


período T, a frequência angular digital (Ω = 2Πf n), as frequências das subportadoras
são (fs = n / T) e o intervalo das amostras do sinal OFDM, (t m = mts) em que
ts representa o tempo de símbolo OFDM, sendo assim (T = Nt s), com isso podemos
escrever a seguinte equação.

,                                  (3.8)

Esta equação nos sugere a possibilidade do sinal OFDM poder ser obtido através da
transformada discreta de Fourier inversa (IDFT) do vetor de N símbolos complexos,
cn. Iremos analisar a situação em que na modulação/demodulação em que tanto a
parte real como a imaginária do sinal é transmitida. A seguir a figura 13 em que
mostra o diagrama em blocos do sistema OFDM.

 
Figura 13: Sistema OFDM utilizando IDFT/DFT
 

O problema neste método consiste na complexidade dos cálculos computacionais


derivados da IDFT e DFT, pois enquanto o tempo de símbolo OFDM aumenta
linearmente com o número de subportadoras, o tempo requerido para processar a
IDFT e a DFT aumenta exponencialmente com N.

Para esse problema, se utiliza um algoritmo que diminui o tempo de processamento


da IDFT e DFT, atendido pelo nome de transformada rápida de Fourier (FFT), mas
para que o tempo seja reduzido efetivamente, precisamos que a seguinte condição
seja satisfeita.

Sendo assim o sistema OFDM implementado pelo método IFFT/FFT pode ser visto na
figura 14 a seguir.

 
Figura 14: Sistema OFDM utilizando IFFT/FFT
 

Definições Importantes
 
Ortogonalidade
 

Para que a condição de que todas subportadoras tenham um número inteiro de


ciclos dentro do símbolo OFDM, figura 15 (a), e para que não haja a ocorrência de
interferência entre as subportadoras adjacentes ICI, elas são arranjadas de tal forma
que no centro de suas frequências se tenha um nulo como mostra a figura 15 (b).

Figura 15: Sinal OFDM de 4 subportadoras. No domínio do tempo (a) e


frequência (b)
 
Intervalo de Guarda
 

No combate da ISI, vimos que é necessário que o tempo do símbolo seja


suficientemente maior que a dispersão temporal do canal, para isso se insere um
intervalo de guarda com valor superior ao esperado do espalhamento temporal.
Esse valor acrescido ao invés de ser um espaço vazio, é constituído pela extensão
cíclica do símbolo OFDM, garantindo dessa forma que se tenham um número inteiro
de ciclos completos na parte útil do símbolo OFDM, garantindo a condição de
ortogonalidade. O símbolo OFDM com o intervalo de guarda pode ser visto na figura
16 a seguir.

Figura 16: Intervalo de guarda, formado por uma cópia cíclica da parte final do
símbolo OFDM
 
Janelamento
 

A modulação QAM, causa variações bruscas de fase, como o sistema OFDM é gerado
a partir de várias subportadoras QAM sem filtro, o espectro decai lentamente de
acordo com a função sinc. Para que o espectro decaia rapidamente, um janelamento
do tipo cosseno levantado com o roll-off β é aplicado a cada símbolo OFDM.
Devemos lembrar que para valores maiores de roll-off melhoram o espectro porém
reduzem a tolerância do espalhamento temporal do símbolo OFDM. A seguir a figura
17 representando para vários valores de roll-off o decaimento do espectro de
frequência.

 
Figura 17: Espectro do sistema DVB-T 8k 64-QAM, 3/4, 1/16 com janelamento de
cosseno
levantado para valores de roll-off de 0 (janela retangular), 0.025, 0.05 e 0.1.
 
Sincronismo
 

Nesta seção iremos reforçar que o receptor precisa passar por dois estágios de
sincronismo, o temporal e o de frequência, o primeiro consiste em achar os limites
do símbolo OFDM, evitando a ISI e a ICI, e a segunda  é estimar as variações de
frequência entre subportadoras evitando a ICI.

A variação de frequência pode ser gerada devido ao ruído de fase dos osciladores do
transmissor e receptor, esse fato ilustra uma desvantagem para o sistema OFDM
que se torna muito sensível aos erros de sincronização, o que não acontece com
sistemas de portadora única em que apenas a relação sinal-ruído no receptor é
degradada pela perca de foco nas constelações.

Existem vários métodos para essas sincronizações, na tese de mestrado do Cristiano


Akamine apresentado para a UNICAMP [4], se encontra referências para tais, esses
métodos se baseiam na sincronização ou dos sinais pilotos ou do intervalo de
guarda.

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