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Jenilson Manuel Chivinga 1

Título original em português:


As Odisseias de Animândia: A Espada Dourada
Direitos de publicação em língua portuguesa reservado à Jenilson Manuel Chivinga

Coordenação Editorial: Jenilson Manuel Chivinga


Revisão: Jenilson Manuel Chivinga
Capa: Jenilson Manuel Chivinga

Publicado em Angola
1ª Edição
2022

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial,


por quaisquer meios, sejam impressos, electrónicos, fotográficos ou
sonoros, entre outros, sem prévia autorização do escritor.

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As
Odisseias
de
Animândia:
A Espada
Dourada
Jenilson Manuel Chivinga
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“Não podemos mudar, não podemos nos afastar do que somos, enquanto não
aceitarmos profundamente o que somos”.

Carl Rogers

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Dedico este livro a minha irmã gemia Catarina Tchissingue por sempre acreditar em seus
sonhos me servindo de inspiração para acreditar nos meus sonhos também!

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Sinopse
Carlos descobre acidentalmente a existência de um reino chamado Animândia ao ser
transportado magicamente pelo colar que sua mãe o deixou, encantando pelas suas
historias e lendas ele decide embarcar em uma odisseia em busca de uma das maiores
lendas de Animândia, a Espada Dourada uma espada tão poderosa que poderia derrubar
exércitos inteiros, embarcando em uma grande odisseia percorrendo a fantástica terra de
Animândia.

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ÍNDICE

PARTE 1: A origem de Animândia _________________________________________9


Prólogo ____________________________________________________________10
PARTE 2: Uma nova história ____________________________________________18
Uma perseguição pelas cavernas ________________________________________19
O Mago ____________________________________________________________28
A Senhora Barbara ___________________________________________________37
Uma caça inesperada _________________________________________________44
Viajando a cavalo ____________________________________________________53
PARTE 3: A Capital de Animândia ________________________________________59
Bem-vindos a Nândia, a Capital de Animândia. _____________________________60
A Casa dos Hóspedes _________________________________________________67
Fantasmas do Passado: A Origem de Carlos Njinga, Parte 1. __________________72
Fantasmas do Passado: A Origem de Carlos Njinga, Parte 2. __________________81
A Volta do Mago _____________________________________________________86
A Cerimónia de Iniciação ______________________________________________89
O Filho do Rei _______________________________________________________93
A Morte ___________________________________________________________100
O Reino dos Mortos __________________________________________________107
Treinando com Yara _________________________________________________112
PARTE 4: A Odisseia __________________________________________________115
A Espada Dourada __________________________________________________116
O ataque das plantas carnívoras ________________________________________121
A Guarda Especial __________________________________________________124
A Final da Liga de Waterball __________________________________________128
A batalha em alto mar ________________________________________________138
O fauno trovador ____________________________________________________142
A Liga das Sombras __________________________________________________158
O Pântano de Khaliya ________________________________________________164
O egoísta __________________________________________________________169
O reencontro com os gémeos. __________________________________________175
O Desfiladeiro de Akandur ____________________________________________181
O Tirano __________________________________________________________187
A Toca do Coelho ___________________________________________________194
A batalha de Arlandor ________________________________________________202
Uma nova era em Arlandor ____________________________________________215
Escalando a Montanha mais Alta _______________________________________219
O Reino dos Yetis ___________________________________________________224
O Torneio Kombatei _________________________________________________236
O Dia de Animândia _________________________________________________243
O Deserto de Fogo __________________________________________________248
Um Jantar Familiar__________________________________________________252
O Templo Amaldiçoado _______________________________________________259
O Escolhido ________________________________________________________267
PARTE 5: O fim da odisseia ____________________________________________271
O Início de uma grande história ________________________________________272
Agradecimentos ________________________________________________________275
7
CONHECENDO O AUTOR ______________________________________________276
PRÓXIMO LIVRO: _____________________________________________________277

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PARTE 1:
A origem de Animândia

9
Prólogo

E
m todo o mundo, milhares de civilizações, tribos e povos dão a origem da vida
cá na terra a seres vindos dentre as estrelas, seres enérgicos com incríveis
capacidades e aptidões sobrenaturais, eles contam contos de como a vida
começou, mas, todas elas têm algo em comum: todas afirmam que o seu ou os
seus criadores visitaram a terra regularmente ao longo da história humana,
moldando o nosso futuro e ensinando-nos formas de viver e coisas que até
então o homem desconhecia, como a escrita, a arquitectura, o trabalho e outros
mais. Por isso nesse livro resolvi contar a história animana...

Há muito mais muito tempo, antes do tempo ser o tempo e antes do universo chamar-se
Universo existia o Nada, o Nada era um grande vazio cósmico um ser sem vida e sem
alma, sem luz ou alegria, sem alegria, simplesmente solidão, Nada era o primeiro ser a
existir destinado a viver naquela solidão ele suicidou-se, a sua morte deu origem a dois
seres, Os Filhos do Nada, Chiwa e Chini, os dois eram o oposto um do outro, Chiwa era
a representação do bem do amor da bondade e da vida enquanto que Chini era a
representação da maldade, ódio, raiva. Chiwa tinha a forma de uma mulher enquanto
que Chini era de um homem, eram os primeiros seres vivos a existir.

Chini sentia inveja e ódio da sua irmã por não ser como ele, ele queria um lugar que
fosse como ele ou que seguisse as suas leis, um universo governado pela maldade, ódio
Chiwa discordou da ideia, ela não deveria permitir algo desse género.

Vendo que não chegariam a lado nenhum, Chini declarou guerra a Chiwa −− a Guerra
Primordial −− ela achava que uma guerra era desnecessária, não havia necessidade em
lutar ela queria fazer um trato, que beneficiaria as duas partes, mas Chini recusou a
oferta só queria livrar-se da irmã, queria só ele como governante.

Chiwa queria criar um universo em que a vida prosperasse, um que a vida triunfasse que
vivesse em harmonia uma com a outra. A primeira coisa que Chiwa fez foi criar os
Ômicron seres gigantes com asas, eles seriam os seus mensageiros, o seu exército, os
seus servos tinham essas e outras mais funções. Os Omicron com as espadas flamejantes,
comandados por Chiwa entraram em batalhas contra Chini e o seu exército de demónios
e feras. Foram longas e extremas batalhas.

Por fim, vendo que essas lutas todas foram desnecessárias ela propôs a paz de uma vez
por todas, Chini não teve outra opção a não ser aceitar. Cada um deles ficaria com 50%
daquela imensidão negra e poderia fazer o que quisesse com a sua parte sem prejudicar
a outra, claro, e ninguém deveria ir à parte do outro, apesar de relutar um pouco Chini
concordou, Chiwa ficou feliz por finalmente chegarem a um acordo.

Chiwa começou o seu grande plano: a criação de um universo reinado pelo amor. Ela
estalou as mãos e uma grande explosão, que vocês conhecem por Big Bang aconteceu
transformando assim aquele lugar sombrio é um universo, desenhou as várias galáxias
que nós hoje vemos no céu, desenhou com tanta delicadeza e paixão.
Ela caminhou pelo recém-formado universo, parou a frente de uma grande bola de fogo
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amarela, olhou ao redor e um plano foi se elaborando dentro da sua cabeça, juntou as
mãos, e delas formou-se uma gigante bola de fogo, ela soprou na bola e arrefeceu
mostrando uma grande bola rochosa.

Ela sorriu, e começou a desenhar na bola, ela não precisava de tinta, a medida que
desenha o desenho ganhava cor por si só desenhou uma vasta extensão de terra, cobriu a
terra com campos verdes cheios de árvores, desenhou nascentes de água, oceanos, rios,
lagos, lagoa, cascatas, desenhou o céu azul, as nuvens brancas, desenhou a atmosfera.

Ela sorriu ao terminar o desenho e soprou à bola gigante e no mesmo instante o desenho
ganhou vida, tudo o que ela desenhou passou a existir.

Ela tinha acabado de criar um planeta, o nosso planeta, o Planeta Terra todo azul e
reluzente.

Ela desceu ao planeta olhou a paisagem linda que acabara de criar, era realmente um
espanto, a grama verde, as plantas virgens, as nascentes frescas os oceanos limpos, o
céu azul, e o sol brilhando em seu esplendor, caminhou até as areias do mar e caminhou
sobre as águas, estendeu as mãos e uma luz começou a brilhar em sua mão, estendeu as
mãos sobre o céu azul e abaixou atirando a luz no fundo do mar, a luz transformou-se
numa planta, a Planta da Vida, a planta responsável pela vida cá na terra, sem ela a vida
morreria, e também ela criaria novas formas de vida quando a vida cá na terra se sentir
ameaçada ou em vias de extinção.

Depois de plantar a Planta da Vida ela olhou ao redor baixou o olhar esticou a sua mão
na terra, fechou os olhos, ao seu redor vário figuras feitas de roxas se ergueram, figuras
de diferentes animais dos maiores aos menores, cortou na palma da sua mão e deixou
que uma gota do seu sangue caísse na terra dando vida às figuras se ergueram.

Os animais festejavam e cantavam de alegria, e sim eles falavam e cantavam,


tinham acabado de ser criados, Chiwa emocionou-se vendo isso, saber que a sua
criação era uma maravilha e chorou de emoção e felicidade.

Os animais ajoelharam-se em sinal de respeito e agradecimento por tê-los lhes dado a


vida, Chiwa também retribuiu o sinal de agradecimentos.

Após criar os animais ela voltou para o seu Castelo de Ouro, mas você deve estar se
perguntando e os seres humanos? Bem já irei chegar lá.

Anos se passaram e a Planta da Vida, o planeta estava passando por uma fase difícil, os
dinossauros tinham sido extintos a terra estava numa fase de renovação, praticamente
não existia vida cá na terra, a Planta da Vida libertou pequenos seres vivos que
preencheram os mares, esses seres se desenvolveram alongando os seus tamanhos e
inteligência, após milhares de anos de desenvolvimento no fundo do mar, alguns saíram
da água e passaram por aquilo que nós chamamos Evolução.
Assim o ser humano passou a habitar a face da terra, esse período da origem dos
humanos passou a ser conhecido como a O Primeiro Período. Os primeiros humanos
eram burros e menos desenvolvidos que nós, eles viviam em confrontos uns com os
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outros, não falavam, não sabiam como é falar e o que era falar, viviam em grutas e
cavernas, e caçavam para poder alimentar-se.

Chiwa que viu todos esses acontecimentos que eu citei sentiu compaixão pelos
humanos, desceu mais uma vez a terra e ajudou no desenvolvimento dos humanos,
ensinando várias coisas a eles, desde aprender a falar e várias línguas, arquitectura para
construir vários monumentos, medicina, astronomia, comida, e os ensinou a viver em
reinos e outras mais, ela os ensinou também a capacidade de controlar a magia, a magia
não é qualquer coisa, é um elemento secreto da natureza presente em tudo, é como o
átomo e para conseguir manipular ou usar a magia era preciso muito treino e Chiwa
ensinou os humanos a como fazê-lo, os humanos construíram grandes coisas usando
magia, como as Pirâmides de Gizé e a Esfinge e entre outros.

Ela passou vários dias com eles, quando chegou o momento da sua partida ela reuniu
toda a gente e disse as seguintes palavras:

Cada ser vivo que habita a terra foi criado de maneira diferente, com pensamentos
diferentes, mas todos vocês estão ligados por uma coisa: o amor. Enquanto existir o
amor esse mundo irá existir, porque o amor sempre existiu e sempre irá de existir e é
também uma das minhas leis mais sagradas.

Nenhum de vocês é superior ao outro não importa, a sua espécie, etnia ou raça todos
são iguais.

Todos vocês têm o livre arbítrio, o poder de decidir o que querem fazer usem-no com
sabedoria.

Amem-se uns aos outros assim como eu os amo e serão para sempre felizes.

Ela subiu aos céus em uma carruagem do fogo, e após ela desaparecer entre os céus,
surgiu o arco-íris no céu.

Assim a vida estava criada na terra...

Anos se passaram desde a última vez que Chiwa esteve na terra. Chiwa estava no seu
Castelo de Ouro, apesar de Chini concordar em não vir para o seu universo, no fundo
ela temia que ele fosse quebrar isso mais cedo ou mais tarde, era só uma questão de
tempo, mas se ele quebrasse o ―que aconteceria com a terra‖? ―Sem ninguém para
defendê-la, seria um caos total‖ a terra precisa de guardiões. Apesar de ela ser
extremamente poderosa ela não poderia intrometer-se muito com os assuntos da
terra, se intrometer-se muito ela estaria violando as Regras de Conduta Universais,
que eram um conjunto de regras que ela própria criou para que o Universo possa ser
bem regido e que não entrasse em colapso.
Ela desceu novamente a terra e surpreendeu-se com o que viu, a humanidade estava
organizada em vários reinos, tribos, povos e em diferentes tipos de civilizações
espalhados pelo mundo todo. Caminhou até a praia, chamou cinco diferentes animais:
uma águia, um leão, um tubarão, um urso polar e uma raposa. Os animais a rodearam
em um pequeno círculo, ela disse: Sejam Humanos! Automaticamente todos eles
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transformaram-se em humanos normais.

Após do acontecido os cinco trocaram olhares curiosos e pasmos pelo que tinha
acontecido, há 1 minuto eram só simples animais agora eles eram humanos sem pelos
ou escamas, eram humanos normais e poderiam falar uns com os outros como humanos.
Ninguém dos cinco, conseguiu explicar porque tinham transformando-se em humanos
Chiwa simplesmente olhava para eles com ar de satisfação, os cinco olharam para ela,
era a única que não era um animal.

−− Quem é você? −− Perguntou um deles a Chiwa.

−− Eu sou a pessoa que vos crio −− Ela respondeu.

−− Como? −− Interrompeu outro.

−− Magia −− Ela estendeu a mão e fogo apareceu flutuando nela, eles a olharam
admirados e apreensivos com o truque −− Eu vos criei usando magia.

−− Isso é fantástico −− Respondeu o que antes era um tubarão. −− E porque nos criou?

−− Isso pergunto a vocês, porque acham que eu vos criei? −− Ela fechou a mão apagando
o fogo. E os olhou esperando a resposta.

−− Bem... Para nós viver? −− Respondeu o que era uma raposa. Chiwa sorriu. Alguém
bateu no ombro dele para parar de falar.

−− Bem, é isso mesmo, mas falta algo mais... −− Disse fazendo gestos com os dedos.
Ninguém falou todos estavam pensando no que responder −− Alguém sabe? −− Todos
continuaram calados. −− Bem sendo assim... Eu vos criei com vários propósitos, como
de viver aqui nesse planeta em livre arbítrio, vos criei para que vocês prosperassem e
ocupassem o vosso lugar como a terceira espécie a habitar a terra −− Eles olharam-se
confusos uns aos outros se questionando isso de terceira espécie.

−− Desculpe terceira espécie? −− Questionou a que antes era uma águia.

−− Sim, terceira espécie existe os humanos e os animais e vocês serem os Animanos,


seres com a habilidade de serem homens e animais.

−− Ainda não consegui entender −− Disse o que antes era um urso polar. Chiwa a olhou
apreensivo e respondeu:

−− Vocês agora são humanos, mas não significa que deixaram de serem animais. −− Ele
ainda não tinha entendido.
−− Significa que nós temos a habilidade de transformar-se em animais −− Respondeu o
que antes era tubarão.

−− Ouu, agora sim eu entendi, quer dizer que eu posso voltar a ser um grande urso? −−
O que era tubarão mexeu a cabeça, ele ficou alegre e satisfeito com essa novidade.

−− Eu vos criei com o propósito de serem os guardiões da terra, os seus protectores,


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vocês cinco serão os Anciões, cada um irá representar uma tribo de Animândia, a Tribo
do Ar, Tribo da Água, Tribo do Deserto, Tribo da Floresta, Tribo do Gelo. Vocês irão
instruir o povo animano, por isso serão bastante importantes para o futuro não só dos
animanos como do próprio planeta.

−− Show!

−− Eu irei criar uma terra mágica −− Continuou como se não tivesse ouvido o que ele
tinha dito. −− Eu irei criar a Animândia, um lugar em que os animanos e diferentes
criaturas mágicas possam viver em paz.

−− E quem irá... Digamos que governar essa terra? −− Perguntou o que antes era
tubarão.

−− Será governado por um rei e por vocês claro −− Respondeu −− Vocês cinco
auxiliaram o rei que estiver no poder nas suas decisões, serão o Conselho Supremo dos
Animanos.

−− Quando disseste o motivo de nos teres criados disseste que nós seríamos ―guardiões‖
iremos proteger contra quem? −− O que era tubarão questionou curioso.

−− Contra Chini −− Chiwa respondeu num tom sombrio −− O meu irmão, ele fará de
tudo para conquistar esse universo incluindo a terra, ele me odeia por eu ser diferente
dele, ele quer governar tudo e algo me diz que planeja destruir a terra, ele não suporta a
minha criação. −− Ninguém comentou nada, simplesmente assentiram a informação. −−
Bem uma última coisa antes de terminar, vocês os cinco são imortais −− Eles
estranharam ao ouvir isso viver para sempre, era a coisa mais louca e inacreditável que
poderiam ouvir −− Agora chega de falar −− Ela levantou-se caminhou até a água,
abaixou esticou a palma da sua mão na água, o mar começou a brilhar e milhares de
peixes emergiram para a superfície enquanto que da terra um monte de animais vinha
em suas direcções.

Levantou e estendeu as mãos e delas saíram feixes de luz que voaram até os céus
iluminando todo ele, os feixes de luzes os rodearam formando um domo, quando o
domo desapareceu, eles também tinham sumido.

Chiwa os teletransportou para Animândia, uma terra única, cheia de encantos naturais,
uma terra em que as aves cantavam no céu, em que os peixes nadavam alegremente,
uma terra não como as outras, uma terra de céu azul em que o sol brilhava em seu
esplendor e glória.
Chiwa nomeou Zazeu, o ancião que era tubarão para Líder dos Anciões Zazeu reagiu
com muita honra e orgulho ao título recebido e prometeu ser um bom líder.

Chiwa ensinou-os a viver em união, apesar de estarem separados em Cinco Tribos,


ajudou a formarem as Cinco Tribos, ela nomeou o primeiro rei e rainha de Animândia:
O rei Francisco e a Rainha Vitória. Ela fez com que todos animanos falassem
animandês, a língua que ela criou para eles.

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Após viver por alguns anos com eles e ajudar a construir Animândia, ela achou que
chegara o momento de retornar, os animanos organizaram uma grande festa de
despedida, onde festejaram, dançaram, riram, beberam feito loucos e adoraram a Chiwa
agradecendo por tê-los criados e por passar aquele tempo com eles.

Após a festa Chiwa se despediu falando em Animandês:

“Hoje é um grande dia, hoje é o dia em que eu retornarei para as estrelas, muitos anos
se passaram e com ele eu vivi bons momentos com vocês, nós rimos, choramos,
festejamos, mas tudo o que é bom, dura pouco. Hoje eu só quero agradecer pelos
momentos que passamos foram os melhores momentos da minha vida, e eu já vivi
muito, eu quero que vocês vivam em paz e em união que sejam um povo feliz e alegre.
Eu hoje irei partir, mas eu sempre estarei com vocês” −− após terminar de falar,
lágrimas de emoção caíram dos seus olhos, estava bastante comovida.

Após o discurso caminhou até um monte próximo todos os que estavam na festa se
reuniram para vê-la subindo ao céu e desaparecendo entre as estrelas do céu, aquele
lugar ficou conhecido como o Monte das Estrelas, em homenagem daquele dia.

E tal como Chiwa previu Chini enviou os seus monstros e demónios a terra, mas os
animanos estavam preparados e quando eles chegaram foi uma batalha mortal naquele
dia choveram tantos monstros que o céu ficou negro, por isso essa batalha recebeu o
nome de A Batalha do Céu Negro,

Chini quando soube que Chiwa tinha preparado antecipado a sua jogada de invasão
ficou tão furioso que matou cerca de 1000 monstros com a sua fúria.

Após a batalha os monstros que sobreviveram tiveram que esconder-se para não serem
mortos. O número de monstros mortos era tanto que não se conseguia contar, já do lado
dos animanos tinham morrido cerca de 300 ou 500, mas isso não é muito importante, o
importante é que morreram menos animanos do que monstro. Quando a batalha
terminou ninguém festejou, pois sabiam que Chini não iria parar até que eles estivessem
mortos e que eles passariam todos os dias tentando sobreviver e de proteger a terra...

A paz permaneceu em Animândia por muito tempo até que, Zazeu o líder dos anciões
estava andando pela terra quando deu de caras com Chini disfarçado e uma criança
refugiada, ele sacou a sua espada flamejante, Chini o olhou a espada começou a pesar
muito que ele teve que largar ela.
−− Você sabe quem eu sou? −− Chini perguntou.

−− Sei você é Chini o maléfico.

−− Você sabe do que eu sou capaz?

−− Sim

−− E mesmo assim querias mim enfrentar. Mortais estúpidos. −− Falou em tom de


desprezo −− Assim querias mim enfrentar para que? Para ser chamado de corajoso?
Para ser homenageado com uma estátua? Ou para morrer em vão, como um autentico
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idiota?

−− Não, para livrar esse mundo do mal, quer dizer de você. −− Disse com firmeza na
voz.

−− Mal? Você acha que eu sou o mal? −− Chini riu. −− Não, eu não sou o mal.

−− E és o que? O bom?

−− Eu não sou bom e nem mau, quês achar alguém é só olhar para quem você adora.

−− O que tem Chiwa a ver com isso?

−− Tudo, você acha que ela é boa? Você acha que um deus que permite o mal é bom?
Você acha que um deus que deixa seu próprio povo sofrer é bom? Você acha que um
deus que permite a fome, a pobreza é bom? Você acha que alguém que ver a sua própria
criação se matando como cão raivoso é bom? Você acha que alguém que permite as
guerras, a morte é bom? Alguém que só espera que o seu povo que sofre a cada dia a
adore, que não consegue ajudar nem ao seu próprio povo é bom? Alguém que obriga o
seu próprio povo a lhe temer é bom? Alguém que só fica lá no alto vendo o sofrimento
do seu povo com as suas pipocas celestiais é bom? Não, não é, sabes o que ela é?
Hipócrita, é isso que ela é. E ainda querem me chamar de mal, eu sou tão inocente como
o passarinho que cai do ninho por não saber voar.

Zazeu não disse nada, apesar de não gostar de Chini ele sabia que lá no fundo tinha
razão.

−− É melhor eu ir, só pense no que eu disse, eu sei que você é inteligente para ver o
óbvio −− Apos ter falado, Chini desapareceu numa nuvem de fumaça.

Zazeu pensou profundamente no que Chini tivera dito, até que não aguentando mais foi
decidiu convocar Chiwa para questioná-la sobre o que Chini dissera, os dois tiveram
uma grande conversa.

−− Você acha que ele tem razão? −− Chiwa gritou.

−− Não, eu acho que ele sempre teve −− Exclamou Zazeu, ele sacou a sua espada
flamejante correu até Chiwa que estava de costas virada pronto para dar o golpe, quando
uma força invisível o jogou ao longe. Chiwa se virou, ela olhou directamente em sues
olhos, os olhos dela lacrimejavam.

−− Se você acha isso, então só me resta te desejar boa sorte em seu caminho.

−− Eu não preciso de sorte, muito menos vindo de ti −− Deu de costas e saiu voando do
Palácio de Zaka em seu Pégaso.

Os restantes anciões entraram na sala, encontraram Chiwa deitada no chão chorando.


Eles se perguntavam o que tivera acontecido.

−− O coração de Zazeu foi corrompido pela maldade −− Chiwa disse em tom

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melancólico −− Quando eu o olhei nos olhos não o reconheci mais Zazeu, é como se
tivesse desaparecido.

−− Mas por quê? Ele parecia tão forte −− Perguntou Kazin.

−− Os corações de quem achamos mais fortes são os mais fáceis de seres enganados.

A partir daquele momento, Zazeu passou a ser chamado de Hakan, o Príncipe das
Trevas, após ser expulso do castelo, Hakan iniciou por aliciar uma vasta horda de
discípulos, dentre eles, os animanos, bruxos feiticeiros e outros mais. Para o seu plano
ele conseguiu convencer um grandioso exército, os seguidores dele se denominaram de
Os filhos das Trevas. Ele iniciou fazendo pequenos ataques dali e outros além ataques
que pareciam não ter qualquer ligação.

Em segredo ele montou um grande exército, um exército tão tenebroso e poderoso


nunca antes presenciado, ele iniciou a guerra invadindo Animândia, foram batalhas atrás
de batalhas, o mundo animano estava tão perigoso que era impossível andar pelas ruas
de Animândia sem ser capturado ou morto. Após anos em guerra o exército animano
estava muito enfraquecido. A ruína era inevitável, a esperança tivera morrido.

Até que os anciões tentaram um ultimo plano, eles atraíram Hakan para uma armadilha
usando magia antiga, uma magia tão poderosa que matava todo o mundo que a usasse
independentemente de seres imortal, só criaturas com poderes cósmicos poderiam a usar
sem morrer, os quatro aceitaram sacrificar as suas imortalidades para poder acorrentar e
trancar Hakan em uma prisão mágica nas profundezas da terra. E assim o fizeram, não
houve festejo, em memória de todos os que morreram.

Após a derrota de Hakan a paz voltou a reinar sobre Animândia.

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PARTE 2:
Uma nova história

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Uma perseguição pelas cavernas
“Quem luta com monstros deve velar para que, ao fazê-lo, não se transforme também
em monstro. E se tu olhares, durante muito tempo, para um abismo, o abismo também
olha para dentro de ti” − Friedrich Nietzsche.

Carlos corria desesperado pela caverna escura e sombria, corria pela sua vida, a sua
atrás duas bestas com dentes afiados e todas cheias de fome o perseguiam
incansavelmente como leoas perseguem a sua presa cheias de vontade e desejo de
comer, olhou para trás viu os seus dentes manchados de sangue e também viu as suas
faces sedentas de carne e seus olhos vermelhos brilhantes, sentiu medo tudo o que ele
queria era sair de lá.

Olhou para trás e as bestas ainda o seguiam por onde quer que curve, estava cansado e
sem forças para correr, a sua respiração estava pesada, as suas pernas doíam o seu
coração batia rapidamente, curvou para a esquerda olhou para trás e as bestas fizeram o
mesmo, virou-se para olhar para frente deu de caras com uma pedra pela frente que o
fez tropeçar e cair.

Caiu de barriga para baixo no chão frio, e bateu em uma pedra com a cabeça, a sua
cabeça começou a sangrar, virou-se certo de que a morte chegara para ele, é horrível
morrer sendo comido por um lobo, sendo comido por qualquer animal, pior mesmo é
que quando você está vivo e acordado, você sente os seus dentes afiados e mortais
rasgando a sua carne como um simples alimento, o sentes tirando toda a tua força,
acredite, é horrível.

Olhou para trás rapidamente e viu as bestas lutando contra dois lobos, recuou
rapidamente olhou de um lado para o outro levantou e saiu correndo em pânico, uma
besta conseguiu fugir do lobo que lutara com ele e partiu em direcção a Carlos, ele
olhou para trás a besta ainda o seguia estava ficando sem fôlego, sabia que a morte era
certa quando deu de caras com um beco sem saída excerto pelo precipício a sua frente,
mexeu a cabeça em pânico procurando por uma saída, chegou à beira do precipício, era
tão fundo que não se conseguia ver o seu fundo.

Sem saída, virou-se para olhar a besta que vinha a sua trás, ele pensou em procurar algo
que o permitisse usar contra os lobos e não achou nada de útil −− Que ótimo terei de
lutar com as minhas próprias mãos −− a besta se aproximava lentamente, com aqueles
dentes afiados e mortais pronto para devorar a sua carne, a besta parou concentrou
Carlos nos olhos e investiu contra ele, Carlos cambaleou para a esquerda pegou uma
roxa no chão, a besta jogou-se em cima dele, Carlos parou o ataque com a pedra a
colocando entre os dentes afiados da besta impossibilitando que o mordesse ele sorriu
satisfeito, a besta se debatia com a pedra, Carlos atirou a besta ao alto a afastando de
perto dele, a besta cuspiu a pedra atirando para longe.

Olhou com mais raiva para Carlos, agora estava decidido a mata-lo custe o que custar, a
expressão de satisfação no rosto de Carlos se transformou em de terror, a besta correu
até ele, jogou-se nele deixando que ele caísse de costas, Carlos tentava tirar a besta com

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as mãos evitando que tocasse a sua cara, a besta com as suas grandes garras arranhava
sem parar, arranhou as mãos dele e a mão, que logo começaram a sangrar, estava
ficando fraco, não conseguia mais resistir, a besta colocou toda a força no seu ataque,
Carlos que já estava cansado nada poderia fazer para evitar que a besta mordesse o seu
pescoço. Carlos sentiu que todas as suas forças estavam sendo sugadas, igual como um
vampiro suga o sangue da vitima, estava cansado, o suor escorria por todo o seu corpo,
o seu coração batia rapidamente, a sua respiração estava pesada ele gritava angustiado e
clamando por socorro enquanto que a besta só aumentava a intensidade da sua mordida,
ele parou de resistir, não sentia mais nada, nem dor nem angustia e nem medo, aceitou o
fim, ele aceitou morrer naquele chão frio e escuro daquela caverna sinistra, as suas mãos
tocaram o chão lentamente era realmente o fim para ele, o fim que ele nunca desejou.

A besta que estava em cima de Carlos foi puxada pela cauda e atirada para a parede,
com o lobo com quem estava lutando, o lobo correu na sua direcção e atacou-o o
mordendo ao pescoço, ele uivou de dor, o lobo continuou mordendo com mais força, ele
mais uivava de dor até que parou de dar luta.

Com as poucas forças que ainda restavam, Carlos arrastou-se até a parede deixando um
rasto de sangue, virou-se devagar ficando sentado, tocou no seu pescoço que sangrava
muito jogando sangue de um lado para lá, era um milagre ele estar vivo. O lobo parou
de morder e largou a besta, o que foi um erro, a besta aproveitou esses segundos e
atacou jogando-se por cima do lobo ficando por cima dele, a besta arranhava a cara do
lobo e tentava usar os longos dentes afiados, eles estavam à beira do precipício, o vento
soprava os seus pelos, o lobo olhou para o precipício e usando todas as suas forças
atirou a besta para lá.

O lobo virou-se ficando na posição de quatro patas e caminhou a direcção a Carlos, a


sua respiração estava pesada, o cansaço era visível em todo corpo, nunca tinha
transpirado assim na vida e era a primeira vez que lobos ou sei lá o que eram o
atacavam ele pegou em uma pedra tentando para tentar defender-se (o que eu considero
desnecessário, pois ele não tinha forças suficientes para atirar, mas como dizem o
importante é tentar ou é com tentativas que se consegue) ele não sabia as intenções do
lobo, por isso era melhor não arriscar o lobo parou de andar e algo estranho aconteceu,
o lobo transformou-se em um humano.

−− Q... Quem... Quem é você?! −− Carlos perguntou gaguejando de medo e pasmo em


meio a suspiros. −− Vo... Você fala a minha língua?! −− O homem o analisava da
cabeça aos pés, tentando perceber quem era ele.

−− Meu nome é Jared −− respondeu o homem. Carlos estranhou-se por ele saber falar a
sua língua tão perfeitamente. −− E qual é o seu?

−− Carlos. Você é um bruxo?! −− Carlos perguntou incrédulo.

−− Não, eu não sou um bruxo −− Respondeu Jared.


−− É exactamente isso que um bruxo diria −− Respondeu e analisando Jared da cabeça
aos pés.
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−− Se eu fosse um bruxo porque que você ainda está vivo? −− Jared ergueu as
sobrancelhas, Carlos ficou sem argumento, tentava numa forma de responder.

−− Sei lá... Talvez tu precises de mim vivo para um ritual macabro e sinistro. −−
Respondeu contraindo o ombro.

−− Talvez... Talvez poderia arranjar outra criança qualquer e não me daria o trabalho de
salvar você −− Rebateu. Carlos realmente ficou sem argumento, tentou abrir a boca para
rebater, mas não saia nada.

−− Se não és um bruxo então és o quê? −− Perguntou a única coisa que o veio à mente.

−− Eu sou um animano, −− Carlos não entendeu muito bem o que aquela palavra
―Animano‖ queria dizer, mas pelo jeito que Jared disse deveria ser importante ou um
povo muito importante e secreto para não ter menções em nenhum livro de história, ou
que nenhum teórico da conspiração mencionar essa sociedade. −− Mas porque tu me
perguntaste se eu sou um bruxo?

−− Pelo facto de que há um minuto eu vi um lobo e agora vejo um homem −− Jared


mexeu a cabeça em sinal de entendimento.

−− Ah isso... Nós fazemos isso muitas vezes. −− Carlos tentava assimilar isso, de
alguém que se transforma em animal o ter salvado a vida e da sua dor em seu pescoço.

−− Vocês com quem? −− Foi então que ele se lembrou do outro lobo que ficou para trás
lutando com a besta. −− Não me digas que...

−− Sim, ela também é animana. −− Respondeu.

−− Vocês devem ser muitos. −− Carlos teorizou.

−− Somos milhares.

−− E como vocês fazem isso?... Como mudam de forma?

−− Nós chamamos Chin todos animanos têm um Chin.

−− E o que é isso de Chin?

−− E a energia que nos permite mudar de forma, que nos permite passar da nossa forma
humana para animal, é basicamente a nossa forma animal.

−− Entendi...

−− Agora posso ajudar-te?!


−− Fica onde está! −− Carlos tentou ameaçar com a pedra, mas como já vos tivera dito
era inútil, não tinha forças para isso −− Eu não confio em você −− Berrou.

−− Não precisa confiar −− Disse com a voz mansa e suave −− Basta apenas acreditar −−
Ele se aproximou devagar muito lentamente. E tocou na ferida de Carlos, analisou ela
de um lado para outro, esticou a mão até o bolo onde tirou um pequeno tubo cheio de
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uma substância azul de nome Águazul e aplicou no ferimento de Carlos.

−− Ah! Isso dói! −− Berrou, na verdade Águazul fazia a ferida arder, como se estivesse
pegando fogo ou qualquer coisa do tipo, a ferida de Carlos começou a curar-se a uma
velocidade espantosa.

−− Isso irá curar num instante −− Carlos não ficou muito espantado por ouvir isso,
vindo de uma pessoa que se transforma em lobo achou isso coisa de nenhum espanto.

Carlos olhou para onde tinha saído e só via a completa escuridão, quis saber onde estava
que lugar era esse, se só existia caverna e mais caverna, estava perdido e com fome.

−− Onde eu estou? −− Perguntou a Jared, Carlos tinha o rosto sem expressão.

Era essa pergunta que o inquietava muito, ―Onde estou‖? Há dez horas, ele nem pensaria
em estar num lugar assim, tudo começou naquela manhã chuvosa de Maio...

Carlos acordou cansado e fatigado, estava todo quebrado, tinha acabado de ter de novo
aqueles sonhos estranhos sobre alguém chamada Chiwa algo assim do género e de uma
guerra no céu com seres que pareciam anjos contra Chini, parecia uma recordação como
se ele estivesse lá e testemunhado tudo, seus olhos estavam pesados e muito cansado
tinha dormido um pouco tarde ontem, resultado do longo castigo que suportara na noite
anterior em que na qual teve de limpar as paredes do orfanato depois de ser acusado
deliberadamente de grafita-la, coisa que ele não fez e nem sabia quem fizera, por isso
teve que arcar com as culpas sozinho.

Lentamente da cama, tomou banho retirando todo o cansaço que na qual sentia, vestiu
roupas limpas e caminhou ate o refeitório, sentia uma tremenda fome.

O refeitório estava vazio excerto pela presença da irmã Ana, a Irmã Ana era uma
excelente cozinheira, ela amava cozinhar tinha um prato pelo qual ela é mais famoso
Bolo de Chocolate com coberta de creme de coco e amendoim, Carlos amava esse bolo
era muito bom, sobretudo por ser bolo de chocolate, ele amava chocolate, poderia
passar o dia todo comendo chocolate. E hoje de manhã ela tinha feito o bolo.

−− Bom dia −− saudou a Irmã Ana assim que o viu, ela estava sorrindo radiante.

−− Bom dia −− Carlos respondeu animado assim que a viu.

−− O que vai querer querido?

−− Um passarinho me contou que tu fizeste ―o bolo‖! −− Disse dando uma piscadela


nos olhos, ela riu.

−− Bem, esse passarinho está certo.


−− Yes! −− Disse erguendo os braços festejando. −− Vou querer um, por favor! −− Ela
caminhou até a geladeira e tirou um grande bolo de chocolate com a forma de coração,
cortou em uma grande metade, e a colocou num prato.
−− Aqui está −− Disse a entregando a Carlos, ele a recebeu entusiasmado −− Como
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está? −− Perguntou esperando uma opinião, Carlos pegou num garfo dividiu o bolo em
pequenos quadrados tirou um quadrado e comeu.

−− Hum! Humm! Hummmm! −− Disse saboreando o bolo e fazendo gestos com a mão
−− Está perfeito Irmã, como sempre −− Ela sorriu de satisfação.

−− Obrigado querido −− Ele acabou devorando todos os bolos, a Irmã tirou um copo o
encheu com água e entregou a Carlos que bebeu toda.

−− Sabe Irmã, eu fico aqui imaginando, quando tu ou eu não estiver mais aqui, quem irá
me fazer esses bolos deliciosos −− Falou sonhador tentando imaginar essa situação.

−− Tenho a certeza que irás encontrar alguém que irá fazer.

−− Igual ao teu? Nunca. −− Afirmou com certeza.

−− Talvez melhor que o meu −− Sugeriu.

−− Nunca. −− Disse decidido. −− O seu bolo é perfeito, talvez outros bolos até
cheguem perto, mais nunca irão o superar. −− Ela riu.

−− Fazemos assim, eu te ensino a fazer bolos.

−− Sério? −− Ele não acreditava no que estava ouvindo, ela confirmou com a cabeça.

A Irmã Ana o colocou um avental de pasteleiro e um chapéu na cabeça. Eles estavam na


cozinha do orfanato, com a Irmã Ana ensinando Carlos a fazer um bolo.

−− Lição nº 1: A primeira que precisamos é de saber o que iremos fazer, um bom


pasteleiro pensa antes de fazer −− Ele apontou no seu pequeno caderno de anotação. −−
O que vamos fazer?

−− Bolo de... Chocolate? −− Sugeriu de primeira, ela sorriu sabendo que ele falaria isso.

−− Tá bom, bolo de chocolate −− Disse −− Lição nº 2 Tenha sempre uma lista dos
ingredientes na mente ou apontada em um caderno. Agora preste atenção eu irei falar
daquilo que iremos precisar. −− Carlos preparou-se para ouvir todos os ingredientes do
bolo, ela começou a ditar −− Agora vai buscar tudo isso a dispensa.

Ele foi e 20 minutos depois voltou com todos os ingredientes em um cesto.

−− Agora irei te mostrar tudo o que nós precisamos −− Disse apontando para os
electrodomésticos no balcão. −− Iremos precisar de uma batedeira para bater bem a
massa, ou podes usar um liquidificar, iremos também usar uma colher −− Mostrou a
colher a Carlos −− uma forma de bolo, para o nosso bolo ganhar a sua forma −− Ela tirou
uma forma rectangular.

Preparou todos os ingredientes enquanto explicava a Carlos passo-a-passo o processo


todo, juntou todos os ingredientes no liquidificador, bateu por uns minutos até que a
massa ficasse bem consistente, colocou na forma e de seguida foi para o forno. Eles
estavam bem sujos, aprender a fazer bolo é mais difícil do que Carlos imaginava.
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−− O que fazemos agora? −− Carlos perguntou a Irmã Ana.

−− Agora esperamos por 30 minutos e tiramos o bolo.

−− E o bolo irá ficar bom? Digo como os teus fica?

−− Só a um jeito de descobrir −− Disse olhando para o relógio. −− E teremos de esperar


25 minutos para saber.

25 Minutos depois...

Eles estavam deitados no chão a espera que o tempo passasse, Carlos estava muito
ansioso para provar o seu bolo, era a primeira vez que ele fez um bolo, por isso tinha de
sair bom, não queria ficar desanimado. O forno apitou indicando que o bolo já estava
pronto, levantaram-se às pressas a Irmã Ana tirou aquelas luvas de pasteleiros caminhou
até o forno abriu, o valor espalhou-se pelo ar e ela retirou os dois bolos.

O primeiro bolo que queriam provar era o de Carlos. Como já disse ele estava deveras
ansioso com aquilo.

−− Tomara que esteja bom −− Disse baixinho a si mesmo. Ele cortou o bolo em dois
pedaços, uma deu a Irmã Ana e a outra para ele. Ele foi o primeiro a provar de seguida a
Irmã Ana.

Nos segundos que se seguiram ninguém disse nada, a tensão estava no ar, ele só estava
à espera da opinião dela. Ela colocou o prato no balcão colocou a expressão de
desânimo e disse sem rodeios:

−− Uau! Isso está terrivelmente... −− Falou desanimada. Carlos baixou a cabeça


cabisbaixa. −−... Terrivelmente bom! −− Disse feliz e com um sorriso estampado em
seu semblante, um sorriso formou-se no rosto de Carlos.

−− Achei eu não tinhas gostado. −− Falou aliviado

−− Estava brincando −− Disse. −− Vamos fazer mais bolos? −− Sugeriu. Carlos


concordou sem hesitar.

Eles passaram a manhã toda fazendo bolos e mais bolos. Já chegava o meio-dia, como
era Sábado, o dia de folga, o orfanato ficava vazio, as maiorias das outras crianças
saíam para dar um passeio, ir ao cinema, brincar no parque, Carlos não gostava muito
disso, resolvia ficar no orfanato tendo todo o dia livre sem fazer nada, resolveu voltar
ao dormitório e passar o dia a dormir.

Ele estava voltando ao dormitório quando algo estranho aconteceu, estava caminhando
calmamente quando deu de caras com uma criatura estranha, parecia um homem
segurando um machado, usando roupas rasgadas, descalço, a pele pálida, cabelos
negros feito carvão, olhos negros tinha a cara sem expressão como se fosse um zumbi,
estava todo molhado da cabeça aos pés, ele ergueu a cabeça lentamente para Carlos,
seus olhos concentraram o dele Carlos paralisou totalmente, não conseguia se mover, a
criatura flutuou até ele e sussurrou em seu ouvido com a voz rouca o seguinte:
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−− “O fim da jornada... A morte te aguarda... O seu destino está próximo... nada
poderás fazer para evitar o teu fim... quando chegar a hora a morte te levará”. −− E
desapareceu em uma nuvem de fumaça negra.

Carlos acordou assustado com o coração batendo rapidamente, tremia de medo do que
sonhou, era um sonho terrível, nunca pensou em sonhar com alguém que o dissesse que
iria morrer, o sonho foi muito convincente, mas mesmo assim ainda era difícil de
acreditar nisso, achava só que era má sorte, ele jurou a si mesmo que não contaria isso a
ninguém, seria melhor se ninguém soubesse, ou que ninguém o chamasse de louco por
isso.

Pegou no colar que levava ao pescoço o tempo todo, era o colar da sua querida mãe,
Isabel que o deixou para ele, tinha jurado nunca tirar até que encontrasse alguém digno
de usar, ou como a sua mãe disse, até que ele encontraria alguém que ele amasse para
poder dá-lo. Ele levou o colar junto ao peito e desejou lá no fundo estar em outro lugar,
um lugar melhor, qualquer que fosse.

No mesmo instante o seu colar brilhou e começou a aparecer no cristal, desenhos de


diferentes animais: Uma águia com os braços abertos, um leão com as patas dianteiras
levantadas, um tubarão com a cabeça para baixo, um urso polar com a boca aberta, e
uma raposa olhando para frente.

Cada desenho brilhava numa cor diferente (o da águia: azul celeste, leão: laranja,
tubarão: verde, urso polar: branco, raposa: castanho) e formavam uma espécie de
bandeira (a águia estava no canto superior direito, o leão no canto superior esquerdo, a
raposa no centro, o tubarão no canto inferior esquerdo e o urso polar no canto inferior
direito).

E sem mais nem menos Carlos desapareceu...

Carlos estava deitado num lugar escuro, ele não sabia onde estava à única coisa que ele
lembrava foi de ver o seu colar brilhar e no instante seguinte desaparecer, uma coisa ele
tinha certeza ele não estava mais no orfanato provavelmente não estava mais no país ele
levantou-se e pensou no que acabou de acontecer.
−− ―Como eu vim parar aqui?” −− pensou −− “Será que?” −− Ele olhou para o colar
que ainda estava em suas mãos, o colar estava completamente a jóia agora era um cristal
na forma de um coração e tinha a cor de vinho, estava cheio de desenhos −− “O que
significa isso”?

−− ―Bem isso não importa, tenho que encontrar um jeito de sair daqui” −− colocou o
colar no bolso. A caverna estava quase que estava completamente escura excerto por
uma luz branca que a invadia, luz que ele supôs ser o brilho da lua, andou ao redor com
o pouco de iluminação que tinha e que o conseguia ver, rapidamente percebeu que
estava numa caverna.

−− “Estou numa caverna e todas as cavernas têm uma entrada e saída só preciso
escolher qual caminho seguir” −− A caverna tinha dois caminhos, um que ia para

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frente e outro que ia para trás.

−− ―Hmm... vou ir neste” −− escolheu o caminho que ia para trás e começou a


caminhar, caminhou por muito tempo, ele pensou que estava perdido quando de repente
ouviu um barulho, curioso, queria saber o que era aquilo por isso resolveu caminhou em
direcção ao barulho, foi chegando mais perto e não pode acreditar no que estava vendo
grandes quantidades de água caindo por cima de pedras, foi então que soube onde
estava, estava por trás de uma catarata. Sorriu ele sempre quis ir ver uma catarata ele
ficou lá observando a água caindo por um tempo apreciando o barulho e a vista.

Algo brilhou a sua trás, era uma luz dourada, virou o olhar tentando ver a luz, mas era
tanta que cegava a visão, a luz começou a diminuir a sua intensidade, curioso, ele correu
em direcção da luz, afinal, luz em uma caverna pode significar saída ou mesmo ajuda.
Virou à esquerda, a direita correu por um bom tempo até chegar à origem da luz, a
origem da luz era uma pedra dourada enorme que estava na parede à pedra tinha uns
desenhos que ele reconheceu de primeira.

Pegou no seu colar e comparou os desenhos da parede com o agora presente no colar e
para a sua surpresa os desenhos eram iguais, caminhou até a pedra dourada, analisou
inclinou-se na grande pedra circular que iluminava todo o lugar com a sua luz dourada e
tocou nela com as suas mãos. E então Carlos caiu, ou seja, ele atravessou a pedra.
Carlos olhou para trás e viu a sala em que estava. Levantou-se e tentou voltar, mas
infelizmente não conseguiu atravessar. Carlos suspirou profundamente, tinha apenas uma
coisa a fazer, caminhar para frente.

Carlos deu um passo em frente quando ouviu um rugido, o rugido vinha depressa em
sua direcção, ele ficou ali imóvel quando duas bestas, um vindo da esquerda e outro da
direita o cercaram.

Bem foi isso que aconteceu nessas últimas dez horas até chegar aí.

−− Você está na fronteira entre Animândia e o Mundo dos humanos. −− Jared


respondeu.
−− E que lugar é este? Animândia? −− Carlos perguntou.

−− É o lugar mais lindo que existe −− Jared respondeu todo sonhador, como se estivesse
vendo a própria Animândia à frente.

−− E onde fica Animândia?

−− Depois dessas grutas −− Jared respondeu −− Eu posso te levar para lá se quiseres −−


Sugeriu.

−− Nessa tal de Animândia existem mais pessoas como você?

−− Nós somos milhares.

−− Deve ser lindo viver num lugar desses −− Carlos disse olhando para baixo e
sonhando em poder viver num ligar como esse.
26
−− É realmente −− Jared concordou −− Posso perguntar-te algo?

−− Por causa disso −− Disse tirando o seu colar do bolso. Jared olhou e não poderia
acreditar no que via era o Colar de Yasmin um dos maiores tesouros de Animândia,
feito por um dos melhores magos que já pisou essa terra. −− Eu estava deitado na minha
cama ai disse ―quem me dera poder sair daqui‖ aí desenhos começaram por aparecer
nessa coisa e brilhavam e desapareci e quando acordei estava nessa gruta

−− Precisamos ir. −− Jared levantou-se agitado,

−− Por quê? −− Carlos perguntou sem entender nada.

−− Você está na posse do Colar de Yasmin −− o lembrou −− existe uma regra em


Animândia que quando se acha um tesouro como esse tem que chamar-se o mago
imediatamente, ele lida melhor com esses assuntos, além do mais precisamos encontrar
Abia e continuamos...

−− Abia? Quem é Abia?

−− Minha companheira, o outro lobo −− Jared respondeu.

Sobre a descrição de Jared não existe muita coisa a falar... Ele era um homem alto,
corpo atlético, braços compridos, caucasiano, cabelo negro.

27
O Mago
“Em uma cultura que busca resultados fáceis e rápidos, devemos aprender a beleza do
esforço, da paciência e perseverança. O realmente valioso da vida não cai do céu. Tudo
o que importa requer suor, vigor e sacrifício”.

Carlos estava andando na caverna, a sua frente estavam Jared e Abia os dois o estavam
levando para ver o Mago, Carlos não estava muito entusiasmado para conhecer o Mago
alias ele queria sair dali o mais rápido possível já estava cansado de cavernas, mas a sua
curiosidade era maior, ele iria conhecer um feiticeiro, igual Gandalf não a nada que o
entusiasmasse mais que isso – depois de comer é claro – mitologias e coisas
sobrenaturais era os seus grandes hobbies.

Carlos tinha acabado de conhecer Abia, ela era uma mulher alta tal como Jared olhos
azuis, pele macia, usava um corte de cabelo, no lado esquerdo tinha feito dois riscos
longos, ela tinha pintado de vermelho o seu cabelo. Os dois a encontraram, sentada, a
besta que a atacou estava morta no chão, em cima da criatura estava uma grande rocha,
ela sorriu ao vê-los bem.

−− Demoraste muito −− Carlos disse a Jared.

−− Tive um pequeno problema, mas já resolvi. −− Respondeu Jared −− Abia eu quero


que conheças Carlos, Carlos esta é Abia.

−− Prazer! −− Disse Carlos esticando a mão, Abia o olhou como se o estivesse tirando
as suas medidas deixando Carlos um pouco desconfortável.

−− Aprazer! −− Disse finalmente Abia esticando a mão. −− Chamo-me Abia.

−− O que aconteceu com vocês? −− Abia Perguntou.

Jared suspirou e começou a contar tudo exactamente que acontecera, é impressionante a


capacidade de memorização que esse homem tinha, ele contou até o último detalhe.

−− E foi isso que aconteceu... −− Disse Jared dando um ultimato a sua explicação. −− E
o que aconteceu com você?

−− Você não vai querer saber. −− Disse olhando para a besta morta no chão. −− Depois
que vocês foram lutei contra ele furiosamente, eu vi que aquela rocha estava se
mexendo então eu o empurrei até aquele canto, e... −− Ela fez uma pausa como se
estivesse procurando o termo certo para usar −− eu o atingi com a cabeça fazendo com
que ele batesse na parede e a rocha que já não estava segura caiu em cima dele, e foi
isso que aconteceu.

−− Parece que estivesse muito ocupada −− Disse Jared admirado −− Bem feitas às
apresentações acho que já podemos ir

−− Ir para onde? −− Carlos perguntou.


−− Para nossa tenda −− Respondeu Jared simplesmente. −− Precisamos tapar esse
ferimento antes que infecte −− Ele olhou de soslaio para Abia.
28
−− E é distante? Porque tenho preguiça em andar. −− Disse com ar preguiçoso. Jared
riu.

E foi isso que aconteceu no encontro com Abia

Eles estavam andando por muito tempo Carlos começou a pensar que estavam perdidos
ou que o estivessem levado para uma armadilha quando pensamentos negativos
invadiram a sua mente:

−− Será que estamos perdidos?... Será que estão a me levar para uma armadilha?... O
que vou fazer se for uma armadilha? −− Ele estava ficando desesperado quando ouviu
Jared dizer:

−− Chegamos! −− Uma sensação de alívio o invadiu como também de preocupação.

−− Onde nós estamos? −− Carlos perguntou preocupado ele só via caverna e mais
caverna

−− Estamos na nossa tenda −− Jared respondeu calmamente

−− Mas aqui... Não a... nada −− Replicou Carlos, Abia e Jared sorriram.

−− Tens razão, me esqueci −− Jared puxou das suas vestes um colar igual ao que
Carlos tinha com os mesmos desenhos, e murmurou algumas palavras em uma língua
que Carlos não conhecia, alias a língua que Jared falou era Animandês.

Após ele falar essas palavras uma grande tenda começou a aparecer, a tenda estava
invisível, Carlos ficou boquiaberto com o que tinha acabado de acontecer nunca tinha
visto nada igual na sua vida inteira, Abia que estivera ao seu lado perguntou
preocupada:

−− Você está bem?

−− Que Língua é essa? −− Ele perguntou.

−− É animandês

−− Você sabe falar?

−− Claro que sim −− Disse Abia em Animandês, Carlos não entendeu nada do que ele
disse e colocou aquela expressão que dizia ―o que você disse‖? −− Eu disse ―Claro que
sim‖ aliás todos os animanos sabem falar Animandês Carlos, assim que nosso Chin se
revela nós sabemos.

−− Entendi. −− Carlos respondeu, ele olhou para a tenda que tinha acabado de aparecer
do nada, curioso para saber como ele perguntou para Abia −− Como ele fez isso?
−− Magia. −− Carlos estranhou com o que viu. −− É normal ficamos assim quando
vemos magia pela primeira vez.

−− Isso é muito fixe! −− Disse entusiasmado.

29
−− É melhor entrarmos na tenda. −− Abia sugeriu.

A tenda, era uma tenda linda, dentro era mais espaçosa do que fora parecia uma
pequena casa, com banheiros, quartos, uma sala o telhado era mágico porque dele podia
se ver as estrelas do céu, o chão era revestido de madeira, tinha uma mesa de jantar (na
mesa tinha um jarro com diferentes tipos de flores), a luz que iluminava a tenda vinha
de um grande candelabro erguido no ar por mais que tentem os insectos não conseguem
entrar na tenda, a tenda era protegida por magia animana.

Carlos sentou-se numa cadeira, era muito confortável, a tenda era simplesmente linda e
perfeita, era como uma nova casa. Abia aproximou-se dele, com uma mala de
equipamentos médicos e um frasco de Águazul, os colocou sobre a mesa.

−− O que vai fazer? −− Carlos a perguntou.

−− Preciso me certificar que o teu ferimento não foi contaminado pelos germes ou pela
mordida da besta. −− Abriu a mala e tinha uma grande variedade de equipamentos
médicos, como seringas, bisturi, ligaduras, gesso, e outras coisas.

Começou a tratar a ferida de Carlos, abrindo-a primeiro e despejando lá Águazul que


voltou a arder de novo. Enquanto Abia tratava de Carlos, Jared saiu buscando o Mago.

−− Abia. −− Carlos a chamou depois de um longo silêncio.

−− Sim?

−− O que vocês estavam fazendo nessas grutas? E como me encontraram?

−− Bem, aos sábados eu e Jared praticamos espeleologia, a exploração das grutas. −−


Disse Abia −− Sobre como te encontramos acredito que foi sorte ou coincidência. Nós
estávamos andando quando ouvimos rugidos e passos apressados, nós deduzimos que
alguém corria perigo e viemos ver o que era e se deparamos com você.

−− Quer dizer que se vocês não estariam por aqui estaria morto?

−− Bem provavelmente sim. −− Carlos engoliu um seco. Era terrível saber que poderia
morrer quando ainda não realizaste todos os teus grandes sonhos, como surfar com
tubarões, ou mesmo escalar uma montanha gelada ou mesmo respirar debaixo da água.

Carlos e Abia passaram a maior parte do tempo conversando dali e para cá.
Abia falava na maior parte das suas aventuras nessas grutas, o tempo foi passando
pouco a pouco, Carlos começou a ficar preocupado com o facto de Jared ainda não
voltar. Eram perto das 17 quando Jared finalmente chegou, eles ficaram aliviados por
Jared finalmente voltar, Carlos perguntou a Jared porque o atraso Jared respondeu que
não era o momento certo para contar, e que o Mago quer falar a sós com Carlos, os dois
saíram deixando Carlos sozinho na tenda.

O mago entrou ele era um homem alto, albino, tinha uma pequena barba que combinava
com o seu cabelo, olhos cinzentos e profundos, usava uma túnica branca. O Mago fez
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sinal para que Carlos se sentasse ele obedeceu, O Mago se sentou noutra cadeira bem a
frente dele.

−− Você deve ser Carlos Njinga estou certo? −− Foi a primeira coisa que o Mago falou
a Carlos, e ele estranhou por ele saber o seu nome.

−− Sim senhor. −− Disse nervoso.

−− Então como estais?

−− Eu estou muito bem, tirando a parte de ser perseguido e quase morrer sendo comigo
por criaturas estranhas, estou bem Senhor.

−− Vejo que tens senso de humor, isso é bom. −− Ele fez uma pausa olhando para o
chão e continuou a falar −− Por favor, não me chame de Senhor, Senhor me faz me
sentir velho, tu podes me chamar pelo nome que meus pais me deram, Enos ou pelo
titulo que eu carrego, Mago.

−− Sim Senhor... Quer dizer Mago −− apressou-se a dizer.

−− Bem mudando de assunto, por que tu estás aqui Carlos? −− Enos o perguntou sério

−− Não sei dizer S... Mago... Quer dizer, acho que sei... Mas não tenho a certeza −− O
Mago o encarou profundamente pensando no que pensar dessas palavras ditas, Carlos
não conseguia olhar directamente a cara de Enos, sentia que Enos o intimidava com
aqueles olhares profundos.

−− Podes me contar o que sabes, por favor! −− Pediu Enos.

Ele começou a contar tudo o que lhe aconteceu começando quando o cristal brilhou
após acordar subitamente, (não contou do seu sonho) depois de simplesmente pensar em
sair dali e ir noutro lugar −− Enos era um bom ouvinte ele escutava com bastante
atenção a cada palavra −− de como apareceu nessas cavernas e não saber como foi aqui
parar do seu encontro com Jared e Abia e em como eles o tinham salvado a vida, até
chegarem aqui.

−− É isso que aconteceu. −− Disse por fim.

−− Curioso a tua história −− começou Enos a dizer −− Podes me emprestar o teu colar?
−− Carlos tirou do pescoço e o entregou ao Mago, ele o olhou bem de perto e estranhou
com o que viu. −− Não pode ser... −− Disse admirado, ele virou o colar e olhou mais de
perto. −− Como você conseguiu esse colar?
−− Eu... A minha mãe o deixou comigo. −− Carlos respondeu. −− Porque ele é
especial?

−− É mais que especial filho, é inestimável, é o Colar de Yasmin, feito de Yasmin, a


jóia mais rara e valiosa de Animândia.

−− Não sabia que era assim tão valioso. −− Carlos comentou.

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−− A sua história e o seu significado são mais ainda. −− Enos disse −− Conta-se que em
Animândia existiu um rei chamado Alfrid que deu a tarefa ao seu Mago, Boran para que
ele fizesse um colar inestimável feito com a jóia mais valiosa de toda Animândia,
Yasmin, uma pedra tão rara e tão valiosa e tão linda.

Boran fez a jóia usando magia, isso explica porque você está aqui, a jóia voltou a onde
pertence, em Animândia. O coração representa o coração do rei Alfrid, ao dar esse
coração a sua amada Helena, significa que está dando o seu coração a ela, o colar é o
símbolo da aliança eterna no amor, no final o rei morreu e Helena nunca tirou o colar, o
rei a deu isso porque queria que ela soubesse que o seu amor era eterno onde quer que
ele esteja. −− Carlos ficou fascinado com a história.

−− Eu estou admirado, não sabia isso até agora.

−− Fico feliz por teres aprendido algo −− Disse Enos −− Agora tome −− Ele o devolveu
o colar −− O colar agora teu Carlos.

−− Meu? −− Perguntou sem entender.

−− Claro, afinal estão contigo.

−− Mas... Eu pensei que seria devolvido ao... Seu dono ou... Ao castelo.

−− Carlos rapaz, você é o novo dono do colar −− Enos respondeu sem rodeios −− E eu
confio mais em você do que os guardas do castelo, além do mais muitos ainda
acreditam que o colar era um mito por isso está seguro desde que acreditem nisso. Você
promete cuidar bem dele?

−− Sim Sem... Mago.

−− Óptimo, o que precisas mais de saber que o Colar de Yasmin também é um colar das
cinco tribos, é um colar que te identifica como um animano que identifica de que tribo
és, onde nasceste, qual é o teu nome completo, quem são os seus pais e tudo o mais tudo
escrito em Animandês claro.

−− E aí está escrito os meus dados?

−− Só depois de o teu Chin aparecer que irá surgir. −− Respondeu −− Agora mudando
de assunto. Você sabe quem nós somos?

32
−− Animanos? Jared me contou. −− Arriscou.

−− Sim, mas sabes de onde nós viemos? Ou melhor, quem nos criou?

Carlos estava pensando no que responder, não sabia como mais sentia que já sabia essa
resposta de um sitio só não conseguia pensar de onde, começou a pensar em tudo o que
aconteceu há dias foi então que se lembrou dos sonhos que viam se repetindo nos dias
passados.

−− Chiwa! −− Disse erguendo a voz todo entusiasmado por conseguir lembrar-se −−


Sim consigo lembrar, foi Chiwa! −− Ele agora sorriu e passou a mão na cabeça.

−− Como você sabe disso?

−− Eu sonhei com isso. −− Respondeu tranquilo.

−− Sonhaste? Como isso é possível?

−− Não sei... Simplesmente sonhei.

−− Conte-me tudo, quero saber tudo.

Carlos começou a contar tudo o que vinha sonhando constantemente, sobre o


surgimento de Chiwa e Chini, a guerra que aconteceu entre os dois, as grandes batalhas,
o fim da guerra e o acordo de paz que Chiwa propôs a Chini, que ele aceitou, ele
contava com tanto detalhe, era como ele estivesse lá presente e testemunhado tudo,
contou sobre como Chiwa criou o universo e em especial a terra, como a vida surgiu na
terra e evoluiu e como veio um grande asteróide enviado por Chini destruiu a vida cá na
terra, sobre como a Planta da Vida criou novas formas de vida que foram se adaptando e
dando inicio ao processo que hoje chamamos ―Evolução‖ e dando origem aos seres
humanos normais e como Chiwa sentiu pena deles e veio a terra os ensinar várias
coisas, depois de passarem tantos anos Chiwa decidir criar os animanos uma nova
espécie para servirem como ponte entre os humanos e os animais, e como separou os
animanos em Cinco Tribos, Água, Ar, Deserto, Floresta, Gelo, e escolhido cinco
pessoas para serem os Anciões de Animândia, e contou até a traição de Zazeu.
Terminando, Enos ficou deveras admirado com o que ouviu, nunca tinha ninguém
soubesse tudo isso de cor, aliás, que sonhasse com isso.

−− Estou deveras admirado com o que disseste Carlos! −− Falou surpreendido −−


Nunca ninguém tinha contado essa historia como tua contaste cheia de detalhe, nem
mesmo eu ou qualquer outro mago.

−− Eu acho que tenho um dom. −− Disse sorrindo descontraído.

−− E você acredita no que sonhou?

−− Depois de ver um lobo transformando-se em um homem, já não existe mais nada em


que eu não acredite. −− Respondeu, Enos assentiu satisfeito consigo mesmo. −− Mas,
uma pergunta, como é que não existe nada sobre vocês no mundo dos humanos?

33
−− Tens a certeza? Nós estamos mais presentes na história do mundo dos humanos do
que você imagina, estamos na maioria das culturas sobre indivíduos que conseguem
mudar de forma, quem você acha que eram os deuses egípcios?

−− Não me diga que...

−− Sim, éramos nós, nós ajudamos ajudar a história humana dando a eles algo para
crerem porque A crença constrói a civilização e a civilização constrói a crença.

−− E eu pensando que os deuses egípcios eram somente mitologias. −− Ele riu pelo que
acabou de falar −− Isso é de loucos!

−− Em todas as grandes culturas a vestígios de nós, nós éramos adorados, exaltados,


éramos chamados de deuses foram momentos grandiosos para nós, até o homem
esquecer as suas origens e achar que acreditar em algo como isso era baboseira e com
isso, os humanos quando deixaram de acreditar nisso, eles deixaram de usar magia
porque deixaram de acreditar.

−− E porque que os ―animanos‖ não ajudam mais os humanos como antes?

−− Porque os humanos perseguiram o nosso povo na Idade Média nos acusando de


feitiçaria e de querer mal a eles, por isso que o Conselho de Animândia optou pelo
secretismo, nós nos fechamos para o mundo porque os humanos queriam isso, eles
sentiam medo e ameaçados por nós e nós só queríamos ajudar vocês.

−− Os humanos já fizeram muitas coisas terríveis. −− Carlos admitiu −− Mas agora os


tempos mudaram...

−− Carlos, o secretismo foi o que nos manteve vivos nesse tempo todo, os
humanos odeiam tudo o que seja diferente a eles, eles até odeiam a eles próprios.

−− Tens razão −− Disse desistindo de argumentar, por mais que tentasse discutir sobre
isso, Enos não deixaria de ter a razão.

−− Mas, porque que me contas isso? −− Carlos questionou olhando para Enos
esperando respostas.

−− Porque você é um animano filho. −− Enos respondeu sem rodeios −− Isso explica
porque você veio parar exactamente aqui, porque você conseguiu atravessar a Pedra
Dourada e porque você tem esse colar pendurado em seu pescoço e como não morreu
facilmente após ser atacado por aquelas criaturas. −− Carlos não sabia como digerir essa
súbita informação era como tivesse sido atingido por um raio estava paralisado, ele
nunca desconfiou que fosse diferente, achava que era normal que tudo de estranho que
aconteceu na sua vida, era um golpe de sorte, agora os sonhos estranhos faziam sentidos
para ele. Mas ele queria ter a certeza de que era mesmo um ―animano‖ de verdade ou
não fazendo a clássica pergunta intelectual:
−− Se eu sou um ―animano‖ como é que os meus poderes ou habilidades nunca se
manifestaram em mim?

34
−− Chama-se Chin Carlos, o teu Chin nunca se manifestou porque nunca teve motivo
para isso, você cresceu acreditando que era só um miúdo normal, por isso o teu Chin
nunca se revelou, tu nunca entraste com o mundo animano, não sabias da sua existência
isso contribuiu também para ele ficar adormecido todo esse tempo, até que o teu colar
fez o favor de despertar o teu Chin te mandando para o único lugar que isso era
possível, para aqui, quando tu atravessaste a Pedra Dourada foi como uma bomba
explodiu dentro de você fazendo que o teu Chin acordasse.

−− Então quer dizer que já posso me transformar?

−− Não, ainda não, o Chin normalmente se revela a um animano desde a nascença,


outros que nunca tiveram contanto com o mundo animano o Chin se revela através de
uma Cerimonia de Iniciação que visa acordar o Chin de uma vez por todas.

−− E quando é essa Cerimonia?

−− Daqui a alguns dias. −− Respondeu olhando para o relógio.

−− Agora que eu sou um animano, o que irá acontecer comigo?

−− Bem já está muito tarde a essas horas não posso te levar para Animândia. −− Disse
ainda olhando para o relógio.

−− Porque não? −− Ele perguntou curioso.

−− Você é um ladrão?

−− Não, claro que não.

−− Somente ladrões visitam a noite e sem avisar. −− Disse o mago dando um sorriso de
leve.

−− Se não iremos para Animândia para onde nós iremos?

−− Para casa de alguém, em breve descobriras. −− Enos respondeu misterioso. −− É


melhor a gente sair daqui.

Os dois saíram da tenda e encontraram Jared e Abia planejando algo com um grande
mapa que parecia ser dessas grutas o mapa estava sobe uma pedra que tinha a forma
circular perfeita para uma mesa, eles estavam conversando sobre aonde iriam a seguir
quando Enos tossiu chamando a atenção deles que depressa viraram-se para atende-
los.

−− Vejo que estavam planejando várias coisas −− Enos começou por dizer, ele olhou
para o mapa estendido na mesa.
−− Sim, estávamos marcando zonas inexploradas, muito trabalho dali e para cá. −−
Jared respondeu.

−− Fico feliz por vocês Jared −− Enos respondeu contente −− Eu admiro pessoas que
praticam a Espeleologia.
35
−− Sério? −− Jared perguntou surpreso.

−− Sim, quando eu era jovem era um dos meus grandes sonhos −− Respondeu olhando
para a caverna em redor −− Mas depois veio isso da escola dos magos que frustrou os
meus planos.

−− É bom saber disso Mago −− Disse Jared.

−− Mas não contem isso a ninguém, entenderam? −− Perguntou erguendo as


sobrancelhas.

−− Claro que não −− Negaram com a cabeça.

−− Óptimo −− Disse satisfeito. −− Só queria vos dizer que Carlos irá ficar comigo,
tenho de levá-lo para Nândia, por isso gostaria que se despedisse de vocês afinal foram
vocês que o salvaram.

Enos se afastou dando espaço para eles poderem despedir-se

−− Vocês irão para onde? −− Carlos os perguntou.

−− Bem... Nós ainda temos muita caverna para explorar e estamos perdendo muito tempo
−− Abia respondeu a Carlos sendo mais franca possível.

−− Voltaremos a nos ver −− Perguntou de volta.

−− Provavelmente sim, podemos nos ver amanhã, ou depois de amanhã ou qualquer dia
−− Abia respondeu. −− Quando voltarmos a nos ver será em Animândia o que será
fantástico. −− Falou entusiasmada.

−− Então só resta dizer adeus −− Carlos concluiu.

−− Não diria que é adeus, mas um até breve −− Abia respondeu e o abraçou sussurrou
em seu ouvido: até breve. E o soltou.

−− Até breve rapaz! −− Disse Jared, ele também o deu um abraço, Jared e Abia
voltaram a colocar a tenda como invisível arrumaram tudo o que precisavam em uma
pasta e foram embora, Carlos observou os dois partindo.

−− É melhor a gente ir −− Enos sugeriu Carlos concordou. O mago estendeu a mão e


um grande cetro apareceu nela, comprido, feito de ouro puro e brilhante, na ponta do
cetro tinha uma bola de cristal, Carlos ficou muito admirado com a beleza do cetro. −−
Pegue no cetro −− Carlos obedeceu, e juntos eles desapareceram.

36
A Senhora Barbara
"Se Fecharmos a Porta a todos os erros, a verdade ficará de fora." − Tagore

Os dois aparecem na porta de uma casa, uma casa antiga bonita e conservada, existia
uma chaminé que saia bastante fumo, a porta era de madeira e estava decorada por
mãos de tinta. Grandes árvores de eucalipto e de outras espécies rodeavam a casa
dando a ela o visual de uma casa de um filme de terror ou de uma bruxa, a um
quilómetro e meio dali corria um pequeno riacho.

Durante as estações do ano as folhas das árvores mudavam a sua cor de acordo a sua
época, no verão: verde; Inverno: branco: primavera: rosa; Outono: laranja. Quando
acontecia o Dia de Chiwa (época em que a Constelação de Chiwa encontra-se em
perfeita aliança com a terra) algo mágico acontecia não só nessa floresta como também
em Animândia, as flores ganhavam várias cores desde rosas, violetas, pretas, castanho,
vermelho laranja ou qualquer outra cor. Era algo bastante bonito, a partir dessa data
iniciasse o Festival das Flores que duravam 10 dias tempo que a Constelação de Chiwa
volta ao seu estado normal.

Durante o festival, flores eram jogadas no chão, os campos verdes ficavam logo
coloridos. A Tribo da Floresta era que digamos que melhor festejava, todas as casas
eram obrigadas a ter decorações alegres e festivas, quem não tivesse era enviado alguém
para a decorar, na rua todos cantavam canções do Dia das Flores, no final do dia cada
família se reunia para uma grande ceia, existia também a ceia comunitária em que se
reuniam os sem tetos, para lembrá-los a importância desse dia. A quem diga que foi
nesse dia que Chiwa concluiu a criação da terra por isso que ela criou a Constelação de
Chiwa para servir de marca para nós habitantes da terra, outros afirmam que foi nesse
dia que Chiwa conseguiu ―derrotar‖ Chini e alcançar a paz no universo. Mas eu prefiro
acreditar na primeira opção, apesar de eu achar que a segunda não esteja errada.

O Festival sempre acontece uma vez por ano, sempre no dia 06 de Agosto. Para eles isso
era como o Natal. O Mago bateu a porta, a porta se abriu e dela saiu uma senhora de meia
idade, baixinha, cabelos brancos enrolados em pequenos espirais, usava um vestido
comprido espalhado, com um avental branco sujo de trigo, as suas mãos também estavam
sujas de trigo, usava um relógio, ela estava descalça, assim que o viu ela sorriu.

−− Enos! −− Exclamou ela, com entusiasmo na voz −− Que bom te ver.

−− Olá Bárbara! Também é bom te ver

−− O que fazes aqui? −− Perguntou a Sr.ª Barbara.

−− Bem, nós estávamos a...

−− Espere, falou nós? −− O Mago fez que sim com a cabeça −− Com quem você veio? −−
O Mago se virou mostrando Carlos.

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−− Este é o Carlos, Barbara.

−− Olá, meu nome Carlos Njinga −− Cumprimentou Carlos timidamente.

−− Olá querido, eu sou a irmã dele.

−− Bem retornando ao assunto inicial, −− Recomeçou o Mago −− Nós precisamos de


um teto para essa noite Barbara.

−− Porque você não disse logo, entrem −− disse os convidando para entrar −− O jantar
está quase pronto. Os dois entraram, a casa estava toda iluminada com diferentes luzes,
amarelas, verdes, vermelhas, brancas, e outras. Na parede existiam várias pinturas e
quadros da família, numa foto em preto e branco estava a Sr.ª Barbara jovem, com um
vestido de noiva, ao lado estava o seu marido, com um facto preto as expressões de
felicidades no seu rosto eram evidentes, noutro quadro estava ela, os seus três filhos.

−− A casa está uma confusão estive o dia todo fazendo bolos, depois as crianças não
ajudam.

−− Onde elas estão? −− Perguntou o Mago.

−− Estão dormindo, tiveram um dia cheio.

−− Então é por isso que a casa está muito quieta...

−− Sim −− Ela riu, o Mago também −− Eu os mandei dormir assim que o sol se pôs,
fizeram muita confusão durante o dia, principalmente os gémeos.

−− Não consigo imagina pelo que você passou.

−− É melhor que não tente −− Disse −− Melhor se sentarem −− Os dois se sentaram à


mesa que ficava na sala (separando-os da cozinha apenas por um balcão de mármore) a
Sra. Barbara foi para a cozinha mexer nos seus cozinhados.

Ela retornou com um tabuleiro onde tinha duas chávenas de sumos de laranja e dois
pedaços de bolos, ela era muito hospitaleira sempre tratando os seus hóspedes com
bastante carinho e atenção por isso que Enos trouxe Carlos até lá.

Carlos logo devorou os bolos, ele se encontrava faminto e cansado resultado do longo e
difícil dia que teve, em que quase pensou que iria morrer e agora tinha o prazer de comer
um bolo tão delicioso como aquele, era motivo suficiente para estar mais que feliz.

Logo após saciar a fome, ele se encontrava extremamente com sono, seus olhos
estavam incrivelmente pesados com o cansaço, tudo o que queria era deitar-se em uma
cama e dormir, a Senhora Barbara percebeu isso.

−− É melhor ires dormir. −− Disse ela para Carlos. −− Suba as escadas e entra na segunda
porta de cima a esquerda. −− Ele assentiu cambaleando lentamente até o quarto
deixando Enos e Barbara sozinhos a conversar.

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A Sra. Barbara sentou na cadeira ao lado, estendeu as mãos sobre a mesa dando sinais de
cansaço e fadiga.
−− Como você está? −− Perguntou Enos.
−− Não tem sido fácil Enos −− Ela começou a chorar. −− Nunca pensei que seria tão
difícil, cuidar de três crianças sem o pai, eu não estou aguentando.
−− Ei… Olha para mim −− Ele virou o seu rosto em direcção ao seu olhou em seus
olhos, os seus olhos demonstravam pena, o sacrifício de alguém que quer o melhor para
os seus filhos, a angústia de não ser boa o suficiente para os filhos.
−− Você consegue, eu sei que consegues, lembra quando éramos crianças, nosso pai
costumava chamar de você como a mais forte de casa, chegou a hora de provares que ele
não estava enganado, eu sei que ele não estava porque eu confio em você. −− Ele a
abraçou.

−− Eu sinto tanto a sua falta todos os dias −− Lamentou −− E as crianças também sentem,
claro.
−− Eu também sinto a falta dele Barbara, mas temos de seguir em frente, pelo longo
caminho infinito Agora limpe as lágrimas e me dá mais uma metade de bolo −− Ela
sorriu e foi buscar.
Carlos subiu as escadas e se deparou por um longo corredor, com várias portas, todas
elas com uma cor diferente, começou a contar indicando com o dedo: primeira a
esquerda, primeira a direita, segunda a porta a esquerda, era essa mesma. Caminhou até
a porta e entrou, fechou à porta, o quarto estava completamente escuro, deu um passo
quando alguém ligou uma lanterna apontando para o seu rosto.
−− Quem é você? −− Disse uma voz. Outra lanterna foi ligada, Carlos colocou a mão
sobre o rosto tentando evitar a luz.
−− O que faz aqui? −− Perguntou a segunda voz.
−− Quais são os teus planos? −− A segunda voz voltou a perguntar.
−− Você é um espião? −− Perguntou a segunda voz, rapidamente e com entusiasmo.
−− Podem desligar as lanternas Por favor?! −− Pediu Carlos.
−− Porque faríamos isso?
−− Porque se não fizerem, ficarei cego −− Os dois ficaram um tempo em silêncio,
pensando no que fazer, por fim disseram OK, e desligaram as lanternas.
−− Assim está melhor −− Carlos disse −− Agora respondendo as vossas perguntas, eu
sou Carlos, e não, não sou um espião.
−− Como vamos saber que você não está mentindo para ganhar tempo de planear algo
contra nós?
−− E como vão souber que eu sou um espião se eu sou perito em disfarce? −− Carlos
contra argumentou.
As vozes ficaram cochichando entre si sobre o que Carlos dissera, até que disseram:
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−− Até que faz sentido...

−− É claro que faz, agora podem ligar as luzes?


Não houve resposta durante cinco minutos, até que houve um bate palmas e as luzes se
acenderam. As luzes também eram de diferentes cores e tons, Carlos olhou para o lugar
de onde as vozes vieram, e não pode acreditar no que via: dois garotos de
aproximadamente 12 anos enfiados na poltrona de cor marrom.
Ele logo reconheceu os dois, eles estavam na foto da família, eram os dois gémeos da
Senhora Barbara, Tom e Ed. Ele sorriu, Tom e Ed se questionavam porque ele estava
rindo como se fosse maluco.

−− Porque está rindo? −− Tom perguntou.


−− Você é retardado? −− Acrescentou Ed. Carlos se recompôs e resolveu falar:
−− Quantos anos têm?
−− Somos nós que fazemos as perguntas aqui. −− Disse Tom colocando firmeza na voz.
−− Ok −− Disse Carlos fazendo sinal de rendição, cruzou os braços e sentou na cadeira
−− Estou esperando as perguntas.
−− Assim está melhor −− Disse Ed −− Quem é você?
−− Eu sou Carlos

−− De onde você é? −− Perguntou Tom.


−− Luanda
−− E onde fica isso? −− Perguntou Ed coçando a cabeça.
−− Angola.
−− E onde fica Angola? −− Perguntaram os dois em uníssimo.
−− África
−− África? Onde isso fica? No mundo dos humanos? −− Carlos fez que sim com a
cabeça, os gémeos olharam-se um para o outro admirado, Ed continuou a falar:
−− Nunca tínhamos conhecido alguém que viera do mundo dos humanos.
−− Sério? −− Carlos perguntou tocando no seu queixo.
−− Sim.
−− Como chegaste aqui? −− Dessa vez foi Tom a perguntar.
−− É uma história longa, resumindo: eu estava deitado na minha cama quando esse colar
−− disse apontando para o Colar de Yasmin em seu pescoço −− Começou a brilhar e me
trouxe aqui.
−− Podemos o ver −− Tom perguntou curioso para ver o colar. Carlos o tirou do
pescoço e atirou para os gémeos, Tom o agarrou. −− É lindo −− Disse admirado com o
que via. Ele passou para Ed que também se maravilhou com o que via. Ed revirou bem
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o colar e devolveu a Carlos. −− Porque o tio Enos te trouxe para aqui?

−− Não sei −− Carlos respondeu simplesmente. −− Já acabou o interrogatório?


−− De momento já −− Disse Tom num tom misterioso. −− Iremos souber mais de você
em breve −− Carlos riu.
−− Quantos anos têm?
−− Doze e meio.
−− É por isso −− Carlos olhou para o relógio na parede
−− Faremos 13, no próximo mês −− Acrescentou Ed.
−− Então... Felizes Aniversários adiantados −− Desejou Carlos.
−− Bem já está tarde é melhor vocês irem dormir.
−− Só mais uma coisa −− Pediram os gémeos
−− O que?
−− Quantos anos você tem?
−− 14 Anos −− Os gémeos se entreolharam surpresos
−− Amanhã será um grande dia. Vamos Tom. −− Eles saíram, Carlos mexeu a cabeça e
sorriu.
O quarto tinha o seu próprio banheiro, por isso não havia necessidade de sair do mesmo.
Tomou banho, trocou de roupas, colocou as roupas sujas no cesto das roupas sujas,
colocou um pijama que por mais estranho que parecesse era da sua medida, se deitou na
cama ficou analisando o seu colar de coração e pensando na história que tinha acabado
de ouvir sobre ele quando por fim pegou no sono dormindo um sono profundo.
No dia seguinte, Carlos acordou disposto e com energia acabara de ter uma boa noite de
sono, tomou banho, lavou os dentes, penteou o cabelo, vestiu roupas novas, saiu do
quarto e desceu as escadas. Encontrou todos tomando o pequeno-almoço, sentados a
mesa: O Mago Enos, A Senhora Barbara, Os gémeos e para a surpresa de Carlos, estava
Mónica, a filha mais velha da casa tinha 16 anos usava uns óculos que combinavam
perfeitamente com a sua face, ela estava com as atenções no seu prato que estava
praticamente vazio, só tinha uma panqueca o seu copo de leite estava meio cheio mas
não tinha sinal de que ela bebera, parecia que não estava comendo. A Senhora Barbara o
viu e lançou um sorriso doce e disse:

−− Carlos querido, que bom te ver. −− Todos os rostos se viraram na sua direcção.

−− Bom dia a todos — Carlos saudou se aproximando.

−− Carlos rapaz, como vai? −− Enos o saudou carinhosamente.


−− Vou bem e o senhor?
−− Estou óptimo −− Disse com um ar otimista −− Só um pouco velho, aliás, todos os
dias fico mais velho −− Disse com um sorriso descontraído.

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−− Carlos, querido quero que você conheça a minha filha Mónica, Mónica quero que
você conheça o Carlos, ele vai ficar connosco por alguns dias.
−− Oi. −− Disse Mónica em tom baixo sem nenhuma emoção na sua voz, e
voltou a comer as panquecas. Carlos se perguntava o do porque ela estava
daquele jeito, toda cabisbaixa.
−− Estávamos ti esperando −− Enos disse a Carlos −− Porque não se junta a nós? −−
Carlos assim o fez, sentou-se entre os gémeos.
−− Olá Carlos tudo bem? −− Perguntaram os gémeos sussurrando.
−− Tudo e com vocês os dois? −− Sussurrou de volta. −− Porque estamos sussurrando?
−− Ninguém pode ouvir o que estamos a falar −− Disse Ed em tom misterioso e secreto
−− É secreto, muito secreto.
−− E o que é assim tão secreto?
−− Podem parar com esses sussurros? −− Pediu Senhora Barbara −− Nós estamos na
mesa tomando o pequeno-almoço rapazes.
−− Está bem mãe −− Disse Tom em tom melancólico −− Encontra-nos lá fora ao pé da
grande árvore em 20 minutos... Não se atrase. −− Os dois se levantaram para sair da
casa.
−− Espere aí meninos... Não vão comer? −− Disse a Senhora Barbara indicando em
direcção aos pratos deles.
−− Não se preocupe mãe, homem não deve comer muito −− Exclamou Ed piscando o
olho.
−− Onde vocês estão indo? −− Perguntou a Sra. Barbara desconfiada.
−− Estamos resolvendo uns assuntos... Nada de importante mãe −− Continuou Ed −−
Não é Tom?
−− É... É... É −− Tom apressou-se a dizer. A Senhora Barbara cruzou os braços, fixou o
olhar nos dois os estudando tentando descobrir o que estava acontecendo por fim disse:
−− OK. −− Ed pegou Tom no braço e saíram correndo da sala para fora. A Sra.
Barbara virou-se e levantou os braços e disse: −− Crianças! Um dia nos matam com
tanta preocupação.
−− São apenas crianças. Barbara é normal que isso aconteça −− Disse Enos −− É
próprio da idade...
−− Eu sei só que... Não me lembro de ser assim tão difícil −− Disse sentando-se −− Por
exemplo, com a Mónica não foi tão difícil −− Disse apontando para ela. Ela ergueu o
olhar olhando directamente para mãe −− Ela sempre foi calma e tranquila, já esses
dois...
−− Enos sorriu. −− Enfim −− Pegou na jarra de leite −− Quês leite querido? −−
Perguntou para Carlos.
−− Sim, obrigado −− Carlos a entregou o seu copo, decorado com pétalas de rosas
vermelhas. Ela o encheu e o entregou de volta. Carlos se serviu de panquecas com
geleia.
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−− Bom apetite −− A Senhora Barbara desejou a Carlos. Ele disse ―Obrigado‖ e
começou a comer. −− Mónica como vai à escola?
−− Vai bem mãe.
−− Soube que tens um novo professor de arte −− Confirmou Mónica −− O que
aconteceu ao antigo?... Como se chamava ele Senhor...? −− Disse coçando a cabeça
tentando lembrar.
−− Senhor Amadeu. −− Concluiu Mónica.
−− Certo esse mesmo −− Disse −− O que aconteceu com ele filha?
−− Bem, ele... Teve um acidente.
−− Que tipo de acidente?
−− Ele caiu das escadas
−− Oh meu Deus! −− Ela colocou a mão a boca −− Isso é terrível! −− E como ele está?
−− Ele está bem mãe. −− A Sra. Barbara suspirou de alívio −− O médico disse que ele
volta só no próximo ano, ele realmente caiu muito mal. −− Disse fazendo uma pequena
pausa e olhando para janela lá fora um passarinho azul voava e cantava entre as árvores
ela focou o olhar nele como se o conhecesse de um lugar, o pássaro virou a cabeça
olhando para ela, ele a encarou virou a cabeça e saiu voando pelo céu azul. −− Adiante,
a nossa turma irá o visitar semana que vem mãe.
−− Diga a ele que mandei cumprimentos e que desejo boa sorte na sua recuperação. −−
Mónica disse ―Tá bem‖ e voltou a sua atenção no seu prato. Carlos estivera todo esse
tempo comendo e olhando o relógio na parede para quando chegar a hora sair, faltava
poucos segundo quando a Senhora Barbara começou a conversar com Enos em uma
língua que Carlos não conseguiu entender, ele supôs ser animandês. Ele levantou-se
dando licença a Sra. Barbara assim que o viu perguntou:
−− Aonde vás querido? −− Carlos pensou no que responder, não queria denunciar os
gémeos.
−− Lá fora quero conhecer mais esse lugar −− Disse por fim após pensar um pouco. Ela
estudou as suas palavras tentando saber se era verdade por fim disse:
−− Ok mais não demore muito. −− Mónica o observava atentamente com aquele
seu olhar fixo e penetrante sabia que algo estava acontecendo, mas não fez caso e
voltou a comer.
−− Obrigado −− E saiu da sala todo satisfeito. Chegou a porta principal e abriu o
brilho era tão forte que ele colocou as mãos na face para proteger os olhos. Ele deu
um passo à frente e saiu da casa trancou a porta atrás, ainda era difícil enxergar
com aquela luz toda, era a primeira vez que saia de casa desde que chegara e como
estava ansioso para explorar o local.

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Uma caça inesperada
"Quem julga caçar é caçado." − Jean de La Fontaine

O clima fora estava agradável, os pássaros cantavam alegremente, a grama estava fresca
o sol penetrava por pouco na floresta penetrava através de pequenas aberturas nos
ramos. Carlos correu até as árvores a fim de se proteger do sol. Olhou ao redor e não
demorou muito a achar a grande árvore, era a maior e a mais alta de todas as árvores, o
seu caule era mais castanho, os ramos mais resistentes e as folhas mais densas.
Ele principiou a caminhar até lá em silêncio total, dica: nunca anda a fazer barulho
numa floresta, nunca se sabe quem o está espionando. Continuou andando em silêncio,
ele caminhou por alguns minutos até chegar a Grande Árvore chegando lá procurou
Tom e Ed, gritando pelos seus nomes, mas ninguém respondeu, gritou uma segunda vez
e ouviu um barulho vindo de cima como se alguém estivesse se movendo na árvore, o
barulho aumentou e aumentou e Tom e Ed desceram da árvore pousando no chão com
grande estilo, os dois alegres, os sorrisos nos seus rostos era evidente.

−− Carlos! −− Começou Ed.


−− Estávamos te esperando −− Tom continuou. −− Demoraste muito, não é Ed? −− Ed
concordou.
−− É que, o caminho é longo.
−− Sei... Mais adiante o importante é que estás aqui. −− Disse Ed ignorando
completamente o facto de Carlos se atrasar.
−− É. Isso é o mais importante −− Concordou Tom.
−− E o que estamos fazendo aqui? −− Carlos perguntou examinando o local ao redor.
Os gémeos entreolharam-se com aquele olhar que dizia quem vai contar? Eu ou tu?
−− Você verá −− Disse Tom −− Agora vamos −− Disse o puxando pelo braço.
−− Espera! −− Carlos exclamou −− Vamos para onde?
−− Você não quer saber por que estamos aqui? −− Questionou Ed.
−− Quer dizer quero, mas é que...
−− Não confias em nós? −− Perguntou Tom cabisbaixo, Carlos ficou a pensar no que
falar, era difícil confiar em uma pessoa que conhecemos na noite anterior, mas ele
decidiu falar algo na qual depois ele iria a ir s se arrepender:

−− Está bem então eu vou. −− Isso levantou a moral dos gémeos e juntos foram
andando pela floresta, quando Ed disse que chegaram, eles estavam no meio de tantas
árvores que era difícil dizer onde estavam.
Os gémeos abaixaram-se e retiraram do chão uma manta verde estilo militar que servia de
camuflagem para esconder uma velha arca de madeira enterrada no chão. Tom tirou as
chaves do bolso e abriu a arca e para a surpresa de Carlos na arca estavam instrumentos
de caça como: arcos, flechas (as pontas de todas as flechas eram diferentes umas das
outras), venenos de todos os tipos desde os mais letais até os que põem somente para
dormir, ferramentas para a construção de armadilhas, roupas de caça, tintas verdes e
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pretas e o ultimo mais não menos importante água.
−− Vocês guardam isso na floresta −− Carlos perguntou incrédulo com o que via no
baú.
−− Não Carlos, a floresta é que guarda para nós. −− Ed respondeu Carlos franziu a
testa e revirou os olhos.
−− Para que precisam disso? −− Carlos perguntou tentando saber qual era o plano secreto
deles, era evidente que era caçar, mas ele queria ouvir isso da boca deles.
−− Para caçar −− Respondeu Tom.
−− Caçar? Caçar o que? Espera aí vocês caçam? Vocês não são crianças para isso? −−
Carlos continuou a perguntar sem entender, já os gémeos se entreolharam, Ed esticou a
mão Tom uma nota de 10 anilares do bolso e deu para ele, Ed sorriu e disse sussurrou
para Tom “Quando quiser perder de novo, é só me avisar” Carlos olhou a cena, franziu
a testa confuso com o que via −− Para quê foi isso?
−− Nós apostamos −− Ed respondeu cheirando o dinheiro −− E ele perdeu e perdeu
muito feio.
−− Apostar sobre? −− Carlos perguntou desviando o olhar para Tom.
−− Nós apostamos qual seria a sua reacção ao te contar isso, eu apostei que... −−
Hesitou, baixou à cabeça em sinal de vergonha, Carlos cruzou os braços querendo saber
o que vinha a seguir −− sairias daqui a correr feito um louco −− Carlos deu aquele
sorriso seco.

−− E eu apostei que reagirias dessa forma. −− Ed disse em tom de orgulho.


−− Bom saber −− Exclamou Carlos. −− Mudando de assunto, vocês não responderam as
minhas perguntas.
−− Bem Carlos respondendo as suas perguntas −− Ed começou por dizer −− Nós
caçamos, já fazemos isso já há alguns anos, caçamos vários animais que acharmos, e
sim nós somos crianças, mais isso torna tudo mais divertido e intrigante. −− Ele disse
intrigante com tanto prazer que Carlos riu, Tom fez o mesmo.

−− Que engraçado, e porque precisam de mim aqui?


−− Isso é outro caso, −− Respondeu Tom −− Vamos te explicar no caminho, estamos
perdendo tempo precioso. −− Alertou olhando ao redor como se estivesse procurando
algo.

−− Tens razão precisamos ir −− Concordou Ed. Os gémeos começaram a tirar os


instrumentos que estavam no baú. Dois arcos, duas aljavas carregadas de flechas, dois
arcos vestiram as roupas que estavam lá, pintaram os seus rostos com as tintas que lá
continha para servir de camuflagem

−− Você vem? −− Perguntou para Carlos que estava parado os observando, ele fez que
sim com a cabeça −− Então não fique parado aí e tire uma arma porque vais precisar. −−
Carlos assim o fez, tirou uma espada de prata −− Boa escolha!
−− Obrigado.

−− Sendo assim podemos ir −− Disse Tom.


45
E então os três foram andando, (Tom indo a frente, Carlos no meio e Ed atrás) pela
densa floresta seguindo sempre o rio, o clima estava cálido os pássaros se divertiam
voando entre os ninhos e cantando entre si, esquilos corriam entre as árvores tentando
apanhar as várias bolotas, as folhas velhas caiam das árvores dando lugar a novas folhas
o chão estava cheio de folhas castanhas que tornavam o caminho mais colorido. Era um
óptimo dia para caçar, naquele silêncio Ed resolveu falar:

−− Carlos conhece Os Rastejantes?


−− São de Animândia? −− Perguntou, Ed fez que sim com a cabeça −− Então não os
conheço, eu só cheguei ontem Ed.
−− Ah me esqueci −− Exclamou −− Bem os Rastejantes meu amigo, são um grupo
secreto de caçadores de adolescentes.
−− Grupo secreto é? −− Questionou Carlos.
−− É. Adiante os rastejantes eles caçam as mais diversas criaturas quer seja de pequeno
médio ou grande porte em toda a Animândia, nós sempre sonhamos em ser rastejantes
só que o problema é que é um grupo tão secreto que não entra qualquer pessoa.
−− Estou entendendo. −− Carlos disse fazendo as ligações com o que já tinha
acontecido e com o que o estão a contar.
−− Até que na semana passada nós soubemos que dois deles estão se aposentando e que
estão precisando de novos membros, então nós meio que...
−− Se inscreveram para entrar para os Rastejantes. −− Carlos concluiu.
−− É, É isso mesmo −− Carlos bufou. −− Que interessante, e o que é preciso para entrar?
−− Para entrar nos deram 3 desafios, actualmente estamos no segundo

−− E qual foi o primeiro?


−− Não podemos, falar é secreto. −− Carlos riu.
−− Se é secreto o que eu estou fazendo aqui?
−− Precisamos de ti para o segundo desafio.
−− E qual é esse? −− Carlos perguntou. Tom parou de repente e disse num tom
sombrio:
−− Caçar... Teremos de caçar um lobo pardo.
−− Um lobo pardo? Que tipo de animal é esse?
−− Algo que nunca viste −− Respondeu Tom no mesmo tom −− Um animal tão terrível
que a maioria das pessoas que tentou caçá-lo acabou morto, um animal tão terrível que
não existe nenhuma descrição. −− Carlos ficou paralisado com o que acabara de ouvir e
com a expressão de profunda surpresa e medo.
−− Adiante, a boa notícia é que o lobo pardo ainda não se enfrentou connosco −− Ed riu
descontraído. Tom olhou para Ed e não disse nada.
−− Uau! Isso é muito esclarecedor −− Carlos disse −− Mas, porque vocês precisam de
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mim afinal eu nunca cacei.
−− O desafio exige que nós devêssemos levar uma pessoa como testemunha de que
caçamos mesmo. −− Disse Ed.
−− Entendi −− Disse Carlos. −− Mais uma pergunta.
−− Diz −− Disse Ed −− Eu hoje sou professor.
−− Não é, digamos que ilegal ou proibido caçar animais?
−− Sabes quantos animais existem em Animândia? −− Carlos fez que não com a cabeça.
−− Quantos humanos vivem no seu mundo?
−− Cerca de sete bilhões e mais alguma coisa.
−− Agora imagina esse número vezes três, o resultado é o número de animais que vivem
aqui. −− Carlos fez um cara de espanto −− Existem mais animais aqui do que humanos no
seu mundo, E aqui se encontra a maior biodiversidade animal do planeta, temos animais
que já forma extintos no seu mundo, agora respondendo a sua pergunta, Não, Não é
proibido caçar aqui.

−− Interessante.
−− Mais alguma pergunta? −− Ed perguntou.
−− Não, Doutor Ed.
−− Fico feliz em ajudar −− Os dois riram. −− Óptimo. Agora podemos ir à caça do lobo.
Os três continuaram andando em silêncio pela margem do rio, até que chegaram a uma
cascata, olharam ao redor e viram um pequeno barco encostado na margem do rio,
subiram nele e atravessaram o rio, chegando ao outro lado empurraram o barco à
margem para usar para depois e. E foram caminhando na direcção oposta da margem,
caminharam por alguns minutos quando eles viram alguns macacos pulando entre as
árvores, enquanto outros comiam bananas e os atiravam para eles todos fazendo caretas
e rindo, eles simplesmente correram.
−− Esses macacos são terríveis. −− Ed disse entre sorrisos.
E continuaram andando, chegaram numa área em que só se via árvores de eucalipto, era
uma floresta densa, a luz do sol penetrava pouco por causa da altura das árvores,
poderia se ouvir o barulho dos pássaros, mas não se conseguia vê-los no centro da
floresta estava à caverna do lobo, um lugar quente o suficiente para um lobo viver.

−− Chegamos −− Anunciou Tom. −− Ed se prepare, temos pouco tempo. −− Ed saiu de


perto deles e subiu por cima da caverna.
−− O que ele está fazendo −− Carlos perguntou observando Ed a subir.

−− Por cima da caverna existe um buraco, não muito grande para alguém entrar, mas,
grande o suficiente para uma flecha então ele...

−− Vai provocar o lobo para sair? −− Carlos interrompeu.

−− É −− Concordou Tom.
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−− Isso é loucura. −− Carlos exclamou.

−− Só o facto de estares aqui já é loucura. −− Disse −− É melhor a gente se afastar, não


é bom ficar frente a frente com o lobo. Você vai por trás daquela árvore. −− Ele apontou
para um grande eucalipto afastado da toca.

−− E você? −− Carlos perguntou.

−− Eu estarei logo ali, esperando o lobo −− Disse forçando um sorriso. Carlos o estudou
com atenção e simplesmente disse Ok, e foi até o local indicado. Tom suspirou de alívio
e virou as suas atenções para Ed −− Ed −− Chamou baixinho, não ouve resposta −− Ed
−− Silêncio.

−− O que está acontecendo? −− Carlos perguntou ao longe. Ele estava entrando em


pânico.

−− Nada de mais −− Mentiu tentando colocar firmeza na voz. Isso não tranquilizou
Carlos.

−− Ed! −− Voltou a chamar e dessa vez Ed apareceu com um sorriso idiota estampando
em seu semblante belo e brincalhão. Uma sensação de alívio percorreu o seu corpo.

−− O que foi irmãozinho? Sentiu saudades do teu irmão bonitão?

−− Estava ficando preocupado, tenha cuidado! −− Ed o olhou da cabeça aos pés fixando
o olhar em seus olhos, semicerrou os olhos e disse:

−− Você sabe que não vou ter −− E virou de costas, agachou-se até o pequeno buraco, o
lobo pardo estava dormindo “uma flecha de bastar” pensou “Com certeza deve bastar,
só preciso mirar bem ao lado, o suficiente para o provocar” Pegou no seu arco, tirou
uma flecha da sua aljava, colocou-a no arco, apontou em direcção ao lobo

−− Quando eu disser três eu irei atirar se preparem −− Exclamou olhando para eles,
Tom se afastou para ao lado da caverna, para surpreender o lobo, Carlos colocou a
escada sobre o seu peito pronto para o que sair da caverna. Ed voltou a sua atenção para
o lobo, a sua respiração estava tensa fechou os olhos “um... dois...”, inspirou e aspirou,
abriu os olhos “...três” e disparou.

A flecha voou tão rápido que Ed só a viu nas costas do lobo. O lobo abriu os olhos
fervendo de raiva e rosnou, o seu rugido foi tão forte que fez as aves levantarem voo, os
macacos se esconderam nas suas tocas, Ed congelou a sua pele estava toda arrepiada.
Carlos engoliu um seco sentia o seu sangue fervendo, Tom simplesmente olhou para
baixo.

O lobo olhou ao redor procurando de onde vinha a flecha foi então que viu Ed, foi então
que a sua raiva estourou, ele rosnou em direcção a Ed, com os seus longos e afiados
dentes que penetravam até pele de elefante, dentes que a sua mordida era tão dolorosa
como ser jogado numa fogueira ardente, era tão letal que muitos acabavam por morrer.
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O lobo saiu da caverna numa fúria incontrolável, era um lobo grande duas vezes o
tamanho de um lobo normal, com garras afiadas que podiam perfurar a pele de um urso,
patas alongadas, as de frentes eram umas mais alongadas que as traseiras, a plumagem
era castanha, alguns pontos brancos e outros pretos, tinha os olhos cinzentos profundos
que davam a impressão de que olhavam directamente para tua alma.

Ed assim que viu que o lobo estava saindo meteu-se a correr e saltou para uma árvore
próxima. O lobo virou ao redor procurando um sinal de Ed, algo passou a frente dele em
grande velocidade, era uma flecha de Tom. Ele virou de onde a flecha tinha saído.

−− Ei, idiota! −− Tom provocou foi uma má ideia o lobo começou a correr em sua
direcção. Ele começou a correr o mais rápido que conseguia e a gritar para Carlos: −−
Corra! Corra! −− Carlos fez a expressão de confuso Tom gritou com toda a intensidade
−− COOOORRRRRRAAAAAAAA. −− Carlos viu o lobo atrás vindo com toda a
velocidade colocou aquela expressão. “O que? Sujou” e começou a correr a toda a
velocidade.

Ed ia pulando entre as árvores disparando flechas algumas o acertavam outras não, Tom
corria atirando flechas ao lado, já Carlos corria do lobo em ziguezague, os três passaram
por onde os macacos os tinham atirado as bananas. Tom atirou uma flecha que atingiu o
lobo na sua coxa, o lobo cambaleou no chão, Carlos saltou por cima das árvores até o
chão, com seu arco em mãos (encarando o lobo) ficando em posição de ataque. Tom se
aproximou com o seu arco erguido apontando directamente para cabeça do lobo, Carlos
mantinha a distância afinal o seu trabalho não era caçar.

O lobo levantou-se do chão, com um olhar furioso, os gémeos começaram a o girar


provocando o lobo, que respondia rugindo, ele concentrou-se em Ed e revolveu atacar,
Ed que esperava um ataque correu em sua direcção, deu uma cambalhota, virou
rapidamente a acertou uma flecha nas costas do lobo, levantou e atacou com seu arco
desferindo um golpe no seu rosto, o lobo em retaliação tentou arranhar Ed na cara, mas
Ed foi mais rápido e colocou o braço como proteção, o que fez com que ele recuasse,
analisou o seu braço, propriamente na zona em que fora arranhado, o seu braço sangrava
e doía muito, o que deixou Ed com mais raiva daquele lobo.

−− Ei −− Gritou Tom para o lobo lhe atirando uma pedra, esse virou-se na direcção de
Tom −− Ainda falta me enfrentar, ou estás com medo?

Não sei se o lobo entendeu o que Tom disse, mais ele correu em sua direcção, Tom fez o
mesmo, e saltou, Tom deslizou para o lado esquivando do ataque feroz, virou-se e
acertou com a flecha no lobo, esse por sua vez abanou a cabeça, e olhou para os dois
irmãos Ed e Tom lado a lado, Ed com um sorriso pateta estampando no rosto, Tom com
uma expressão séria.

Os dois colocaram uma posição de ataque, era agora ou nunca, tinham de matar aquele
lobo e poder ter a chance de entrar para Os Rastejantes. Ed e Tom se entreolharam
fizeram um pequeno gesto com a cabeça como se tivesse combinado algo. De seguida
olharam para o lobo Ed com a expressão completamente mudada, agora estava sério

49
semicerrou os dentes, significando que o que estava por vir era algo em grande.

O lobo começou a correr em suas direcções, Ed fez o mesmo de seguida Tom, Ed quase
chegando perto deu uma cambalhota rodopiando no ar, o lobo olhou para o alto confuso
com o que via, Ed pousou sacou uma flecha da aljava colocou na flecha e atirou nas
costas do lobo numa velocidade espantosa, a flecha perfurou ainda mais no lobo, este
por sua vez urrou de dor. Tom saltou ficando ao lado de Ed mais uma vez.

Mónica estava sentada na cadeira de baloiço na varanda de casa desenhando, ela estava
se formando em arte na Academia de Artes de Animândia, ela é uma aluna muito
talentosa, ela é tímida e fechada com os outros, ela gosta de se isolar ficar no seu canto
não falar quando não falam com ela, no seu mundo só existe ela e o seu caderno excerto
talvez o seu pai, o único que a chegava a compreender, o único em que ela confiava o
único que ela falava sem receios, mais ele se fora e isso abalou muito ela, ela se tornou
mais reservada e anti-social, passou a viver mais em seu mundo restrito em que só ela
compreendia um mundo só para ela.

A sua mãe tentava de tudo para fazer com que Mónica dissesse apenas umas palavras
mais era difícil, ainda mais sem a única pessoa em que ela confiava, elas falavam pouco,
numa manhã a Senhora Barbara acordou com uma ideia de que Mónica poderia usar
suas habilidades em artes na casa toda em todos os cantos, o objectivo era tornar a casa
um lugar mais alegre e vivo como costumava ser no tempo em que o pai dela estava
vivo, contou a Mónica todo o seu plano, não sei descrever qual era a relação dela se foi
surpresa ou felicidade ou se foi os dois, adiante ela concordou. E a partir desse
momento a casa se transformou numa zona de arte.

Ela estava desenhando uma menina segurando uma flor por cima de um penhasco com a
lua iluminando o lugar, quando viu algo a saltar por cima de algo que parecia um gato,
aquilo chamou a sua atenção levantou tirou o óculo limpou os olhos para ver se viu bem
se aproximou semicerrou os olhos e olhou −− Não pode ser o que estou vendo −− Disse
a si mesma: Ed e Tom lutando contra um lobo. Ela correu e foi chamar a Senhora
Barbara.

Enquanto o lobo se debatia com a dor, Ed correu quase chegando perto dele ajoelhou-se
Tom pisou nas suas costas saltou deu uma pirueta e acertou no pescoço do lobo
enquanto ele ainda estava no ar, o lobo gritou virou em direcção de Ed com o rosto
cheio de dor e sofrimento, Ed aproveitando o momento sacou uma flecha da aljava e a
perfurou no pescoço do lobo matando-o de vez.

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O lobo caiu no chão como uma pedra gigante, imóvel e sem vida, Ed levantou-se
afastou-se do lobo e foi sentar na sombra de uma árvore, Tom pegou um pequeno pau,
se aproximou do lobo morto checando se ainda estava vivo. Carlos saiu de onde estava
atordoado com a cena de acabara de testemunhar, dirigiu-se onde Ed estava, sentou ao
seu lado e falou:

−− Você está bem?

−− Estou −− Respondeu melancólico. Carlos ergueu as sobrancelhas −− É só que...


quando o lobo se virou para mim eu olhei nos seus olhos e por um segundo eu vi toda a
dor que ele carregou ao longo da sua vida, as suas lutas eu vi... −− Ed Hesitou −−Eu vi
meu pai... Foi como se eu tivesse... −− Sua voz falhou e seus olhos se encheram de
lágrimas. Carlos entendeu perfeitamente o que Ed queria dizer e o abraçou e disse: Eu
sei como é perder pessoas que amamos, acredite, eu sei. −− Lágrimas caíam dos olhos
de Carlos

Tom vendo a cena se emocionou e chorou, olhou para o céu com uma sensação de
orgulho e disse baixinho para si mesmo: Nós te amamos pai.

Antes que alguém pudesse dizer alguma coisa, uma voz familiar gritou:

−− O QUE VOCÊS FIZERAAAAMMMM? −− Berrou a Senhora Barbara vindo nas


suas direções toda aborrecida e nervosa, Monica logo atrás. Isso assustou os rapazes.
Tom começou a tremer.

−− M-Mãe! −− Ed respondeu gaguejando. −− O-O que a-a Sem-Senhora f-faz aqui?

−− O QUE EU FAÇO AQUI? BOA PERGUNTA EU TENHO UMA MELHOR −−


cruzou os braços −− O QUE VOCÊS FAZEM AQUI −− disse apontando para Tom e Ed.

−− N-Nós vi…emos... N-Nós viemos... −− Ed gaguejou cheio de medo.

−− Vocês vieram o que?! −− Exclamou.

−− Nós viemos caçar mãe, essa é a verdade −− Respondeu Tom enchendo-se de


coragem e confiança. A Sra. Barbara ficou pasmada, Mónica simplesmente baixou o
olhar.

−− Nós gostamos de caçar mãe, fazemos isso já um bom tempo −− continuou −− Eu sei
o que a senhora vai dizer que somos muito novos para isso e que isso é de mais para
nós mais a verdade é que nós nascemos para caçar. −− Ed olhou para o irmão com o
rosto em assombro.

−− VOCÊS ESTÃO DE CASTIGO PELO RESTO DAS VOSSAS VIDAS!


OUVIRAM BEM? RESTO DAS VOSSAS VIDAS! −− Gritou a Senhora Barbara se
controlando para não ter um ataque. −− AGORA LIVREM-SE DESSAS COISAS E
ENTREM ANTES QUE EU MORRA DO CORAÇÃO. −− Falou virando-se e
voltando para casa com a mão sobre a testa verificando a sua temperatura.

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Assim que a Senhora Barbara se afastou o suficiente deles, os gémeos celebraram a sua
caça fazendo uma pequena dança.

−− Vocês são loucos. −− Foi o que Carlos conseguiu dizer antes de voltaram para casa.

Chegando em casa, almoçaram depois de almoçarem Enos disse a Carlos que já era a
hora de partir, ele começou a preparar-se para partir.

Por volta do meio-dia, chegará finalmente o momento de partir, o momento de dizer


bye, bye, não foi fácil.

−− Sentiremos falta de você mano −− Disse Ed o abraçando.

−− Você é um amigo e tanto −− Disse Tom também o abraçando. Ele deu um simples
adeus a Mónica. Chegou a vez de se despedir da Senhora Barbara, assim que soube que
eles já estavam de partida se pôs em choro.

−− Carlos! −− Disse em tom melancólico −− sentirei tantas saudades querido... Lembre-


se, aqui também é a sua casa por isso podes vir nos visitar quantas vezes quiseres

−− Obrigado! −− Respondeu Carlos de igual modo.

−− Para onde nós vamos? −− Disse chegando perto do Mago, este acenava.

−− Você irá ver −− Respondeu, ele esticou a mão e cetro de ouro começou a
materializar-se −− Agora pegue no cetro que a viagem vai ser longa... −− Carlos assim o
fez e juntos desapareceram na escuridão.

52
Viajando a cavalo
“A ciência moderna ainda não produziu um medicamento tranquilizador tão eficaz
como o são umas poucas palavras boas”

Carlos e o Mago apareceram em uma rua grande, o chão era asfaltado com pedras dando
ar de uma estrada romana, eram usados diferentes tipos de rochas para chão ser mais
lindo ainda, as pessoas passavam por eles, alguns transformados outros não, mas
ninguém se importou com duas pessoas aparecendo magicamente no meio da estrada,
estavam ocupados demais com as suas vidas para se importarem com isso.

O bairro todo estava sobre uma inclinação a estrada passava pelo meio da rua dividindo
o bairro em dois lados, do lado esquerdo existiam grandes edifícios que albergavam
apartamentos, lojas, hospitais e outros do lado direito existia um lago que as pessoas o
usavam para pescar e também tinha lá o parque e outras coisas de lazer. Carlos olhava
para o local admirado com as construções, tinham um ar tão antigo e arquitectónico que
chegava a serem incríveis, vários postes de iluminação estavam espalhados pelas ruas
servindo de iluminação durante a noite.

No centro da rua, existia uma grande fonte que tinha a escultura de um leão com as
patas levantadas, Carlos tirou o seu colar e comparou com a escultura do leão, eram
idênticas. A vila era fantástica, eles estavam na Vila Anari, uma pequena rota comercial
em Animândia, e albergava um dos maiores mercados de toda Animândia, o Bazar.

−− Vamos, Carlos −− Disse Enos se dirigindo a Carlos, eles foram descendo a rua,
caminhando até uma casa que ficava na encosta da rua, de fora parecia a casa de um
agricultor, Enos tirou uma chave das suas vestes e abriu a porta, dentro estava tão
escuro que não se conseguia ver nada, deu um passo para dentro, uma luz surgiu na
ponta do cetro iluminando o local ao redor, cheirava mal e estava tão desorganizado que
era impossível dar um passo sem pisar em algo indesejável e estava também igualmente
sujo como se ninguém entrasse para ali a meses ou mesmo anos.

Enos analisou ao redor tudo, ergueu o cetro e bateu com ele uma vez ao chão, ao
mesmo tempo as janelas abriram-se, o chão ficou limpo, tudo o que estava
desorganizado organizou-se e limpou-se por si só, a casa ganhou um novo ar. Enos
pediu para que Carlos entrasse na casa e se sentasse ele obedeceu se perguntando o que
estava acontecendo realmente.

−− Quer alguma coisa?

−− Não obrigado!

−− Carlos, não posso te levar para Nândia, tenho um assunto urgente para tratar −−
Enos disse sincero −− Mas conheço alguém que irá te levar, espere aqui um pouco. −−
Ele saiu da casa deixando Carlos sozinho.
Ele estava olhando ao redor da casa quando viu o quadro de uma mulher sorrindo, foi
em direcção ao quadro e o tirou da parede, a mulher era lindíssima, usava um penteado
estilo anos 60 e um longo vestido, apesar de estar jovem, Carlos a reconheceu
53
fortemente, era a Sra. Barbara mais nova. Enos bateu a porta de repente, Carlos largou o
quadro assustado, não sabia que retornaria tão cedo, o quadro quebrou, desesperado ele
tentou um jeito de concertar isso, mas algo estranho aconteceu, o quadro flutuou no ar e
todas as suas peças quebradas levantaram e juntaram-se no quadro concertando ele,
depois de concertado, o quadro voltou a sua posição inicial.

Aliviado, ele foi abrir a porta e para a sua surpresa claro, Enos estava acompanhado por
uma rapariga da mesma idade que ele, seu nome? Yara Analarai. De olhos e cabelos
crespos castanhos, usava uma calça jeans, uma camisa axadrezada e uma jaqueta preta,
ela era um pouco mais baixa comparado a Carlos.

−− Carlos eu quero que você conheça Yara Analarai e Yara esse é o Carlos −− Carlos
estendeu a mão.

−− Prazer! Eu sou Carlos −− Disse estendendo a mão, Yara o saldou pegando na mão
dele, sua mão era macia e quente ao mesmo tempo.

−− Yara irá te levar a Nândia. −− Enos continuou a falar olhando para Yara para ver a
sua reacção. −− Quando vocês chegarem lá, já estará tudo acertado para receber Carlos.

−− Para onde é o caminho? −− Carlos perguntou a Yara, depois de Enos desaparecer em


uma névoa branca.

−− Temos de ir −− Disse Yara após o Mago desaparecer, eles estavam fora da casa aos
seus lados estavam dois cavalos, um que ela vinha com ele e outro que o Enos comprou
para Carlos usar. −− Sabe montar em um cavalo? −− Carlos fez não com a cabeça.

−− É muito simples, é só não demonstrares medo, cavalos conseguem sentir quando os


seus domadores estão com medo, se tu estiveres com medo, eles não confiam em você.
−− Carlos olhou para o seu cavalo, para os seus grandes olhos negros, sentiu medo o
cavalou o encarou e levantou as patas dianteiras relinchando Carlos caiu de pavor. Yara
riu.

−− Para de ser medricas e monte no cavalo −− Ela montou em seu cavalo e começou a
cavalgar se afastando dele.

Yara estava cavalgando lentamente olhando para trás ela viu alguém se aproximando
montado em um cavalo, era Carlos, ele estava sujo depois de tanto cair ao tentar montar
em seu cavalo, transpirava muito resultado de cavalgar tanto.

−− Vejo que conseguiu −− Yara disse assim que o viu.

−− Mas não foi graças a você −− Rebateu.


−− Como não? Eu te ensinei como montar em um cavalo.

−− Mas eu precisava da prática −− Rebateu na defensiva. −− A prática faz o mestre. −−


Ela parou, o olhou e disse:

−− Carlos, a coisas que temos de aprender sozinhos, montar em um cavalo, por exemplo,
eu aprendi sozinha. −− Falou encerrando a discussão, porque Carlos ficou sem argumento
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para contra argumentar.
−− Para onde vamos? −− Perguntou tentando mudar de assunto.

−− Para Nândia, a Capital de Animândia.

−− É distante daqui?

−− Não, só são uns 15 km. −− Respondeu −− Só temos que seguir essa estrada que
chegaremos lá num instante.

−− Posso fazer uma pergunta?

−− Não.

−− Como você é? −− Ele perguntou na mesma ignorando a sua resposta.

−− Você não ouviu não? −− Perguntou o olhando.

−− É que às vezes sou um pouco surdo. −− Disse tocando na sua orelha.

−− Carlos, o Mago me pediu para levar você ate a Nândia e nada mais. −− Falou pondo
firmeza em sua voz. −− Por isso nada de perguntas.

−− Isso não significa que não possa te conhecer, afinal iremos morar na mesma cidade,
ou estou enganado? −− Ela soltou um grunhido, detestava que um estranho que acabou
de conhecer tivesse razão.

Subitamente ela parou de falar, olhou ao redor com atenção, tinha um pressentimento
de que alguma coisa os tivesse observando.

−− Shii! −− Ela mandou Carlos.

−− Por que o Shii?

−− Algo está nos observando −− ela desmontou do cavalo e começou a andar em


direcção a origem do som. Carlos permaneceu no seu cavalo não tivera ouvido nada, na
verdade Yara tinha um dom, o seu ouvido era tão apurado que ela poderia ouvir som
que ninguém mais ouvia ou mesmo sons de longas distâncias. Ela estava chegando mais
perto agora ela só estava a um metro de distância, sacou a espada.

Yara ouviu o barulho novamente e estava se aproximando mais rápido, até que chegou
mais perto, um enorme vulto negro saiu dos arbustos e deu de choque com ela, Yara foi
jogada atrás em um estrondo. O vulto que saiu dos arbustos era um enorme cão negro,
Cão Negro, são enormes cães de pelagem preta assassinos muito comuns em
Animândia, eram muito comum na Era de Hakan, Hakan os usou no seu grande exército
depois de Hakan ser derrotado a espécie diminuiu bastante colocando ela em risco de
extinção, por isso era raro ver um cão negro.

Yara tinha caído muito mal o cão a tinha acertado bem no peito que agora doía muito, as
suas pernas também estavam doendo ela levantou-se usando a sua perna direita como
55
apoio, mas a perna também doía ela gritou de dor, mas conseguiu manter-se em pé ela
olhou para o enorme cão negro assassino a sua frente a sua frente pronto para a devorar
em pedaços e de seguida olhou para Carlos, um olhar que dizia: preciso de ajuda.

Um olhar que Carlos conhecia muito bem ele olhou ao redor procurando algo que fosse
útil, ele olhou para os cavalos (que por incrível que pareça não demonstravam sinal de
medo) e viu um objecto brilhante no seu cavalo. −− Posso usar isso como distracção −−
pensou, desceu do cavalo e tirou o suposto objecto e para a sua surpresa era uma espada
uma espada animano, uma espada feita de prata, leve para quem a usa e igualmente
mortal, agora sim ele estava pronto para lutar com a fera.

Por outro lado o cão se aproximava lentamente ele não tinha pressa, e Yara recuava
pouco a pouco. Carlos pegou uma pedra e atirou a fera, isso a irritou que se virou e deu
de caras com Carlos empunhando uma espada. O monstro investiu em uma grande
velocidade, Carlos correu em sua direcção, os dois estavam chegando mais perto um
do outro. Carlos desviou-se para a direita desferindo um golpe nas pernas da criatura.

A fera rosnou de dor e irritação Carlos tinha dado um belo golpe, ele estava eufórico,
ele estava à frente de Yara.

−− Você está bem? −− Carlos perguntou, ele tinha visto a forma que Yara caiu e sabia
que ela não estava bem.

−− O que você acha?! −− Respondeu irritada.

−− Que tens de melhorar o teu senso de humor. −− Ela olhou para ele incrédula, um
olhar que dizia, ―Sério isso?‖.

−− Eu tenho um...

−− Qual? −− Yara interrompeu antes que Carlos pudesse dizer plano. O cão estava se
preparando para o segundo assalto, Carlos ergueu a espada segurando-a com firmeza ele
correu ao encontro da criatura, o plano dele era simples: ferir o cão nos olhos para que
ele e Yara pudessem fugir, o problema era que a criatura tinha outros planos.

A criatura correu até Carlos e saltou, Carlos jogou-se para a esquerda esquivando por
um triz ao ataque, a criatura virou-se, Carlos com as espadas em mãos ele desferiu um
golpe na cara do monstro, ele cambaleou para trás rugindo de dor e tocando na zona
ferida que naquele momento já sangrava, olhou para Carlos irritado e nervoso, correu
rapidamente até Carlos apanhando-o de surpresa e o acertou com a cabeça, ele
cambaleou para trás.

Levantou-se se apoiando na espada, a sua perna doía, o seu braço estava dormente e a
sua língua seca, a sua visão estava embaçada, as suas mãos tremiam e a sua testa
sangrava, ele naquele instante sentiu medo, medo de morrer, sentia fome, desde que
saiu da casa da Sra. Barbara que nunca mais comeu algo, olhou irritado para o monstro
que o tinha acertado com a imensa fome e cansaço que sentia andar de cavalo também
pode ser cansativo.

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Carlos separou as pernas, colocando o seu pé esquerdo para trás e o direito em frente
olhou para o monstro e o chamou, o monstro percebendo a invulnerabilidade dele,
decidiu atacar, correu até Carlos pronto para o ataque final.

−− Um último golpe −− pensou, olhou para os céus e de seguida concentrou o seu olhar
para baixo, as suas mãos tremiam descontroladamente, o rosto pálido, a fera correu em
sua direcção, Carlos olhou para a fera e correu na direcção dela, a fera saltou alto, Carlos
deslizou por baixo da fera, com a espada erguida cortando o enorme cão por baixo,
desferindo o golpe mortal. A enorme criatura ficou se debatendo ao chão, enquanto
sangue saia do seu corpo, o cão se arrastou até aos arbustos onde desapareceu.

Carlos correu em direcção a Yara.

−− Você está bem? −− Carlos a perguntou preocupado.

−− Estou, e como você está? −− Respondeu ofegante.

−− Não, mas irei ficar. −− Respondeu virando-se olhando para onde o monstro foi. −−
O que era aquela coisa? −− Perguntou agoniado.

−− Um cão negro. −− Respondeu olhando também para onde a criatura foi. −− Carlos!
Obrigado por salvares a minha vida! −− Disse Yara pegando no seu braço.

−− Não foi nada... −− Respondeu.

−− E também peço desculpas pela forma como agi com você!

−− Tudo bem, Yara. −− Respondeu. −− Consegues ficar de pé?

−− Não sei se consigo. −− Disse reparando-se. −− Talvez eu tenha a solução. −− Disse


pensando. −− Podes pegar a minha bolsa?

Carlos foi até ao cavalo dela, retirou a bolsa dele e voltou até ela e entregou, ela
começou a revirar procurando algo.

−− O que está procurando? −− Carlos perguntou com a testa franzida.

−− Deve estar aqui... −− Continuou procurando como se não tivesse ouvido ele. Até que
finalmente achou. −− Aha! Achei −− Disse retirando da bolsa um frasco contendo um
líquido azul-turquesa, parecia perfume, ela deu um grande gole da bebida misteriosa.
No mesmo instante todas as suas dores desapareceram miraculosamente, ela pôs-se em
pé, Carlos olhou para ela admirado, há um minuto estava sentada e sentido dores e
agora estava de pé novinha em folha.

−− Como isso é...?

−− Possível? −− Completou a frase. −− Graças a essa bebida mágica, águas. −− Carlos


olhou admirado com a bebida. −− Quer um pouco? −− Ela o ofereceu, ele nem refutou
em receber e em beber. Tinha o sabor doce e fresco.

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−− É bom! −− Disse acabando todo o resto, ele se sentia novo, como uma folha que
acabou de brotar. −− O que faremos agora?

−− Onde você aprendeu a lutar assim? −− Yara perguntou inquieta por saber isso.

−− Ah isso... Foi sorte −− Falou disfarçando com um sorriso. −− Agora, vamos para
Nândia? −− Yara concordou acenando com a cabeça em resposta.

E juntos, montados em seus cavalos foram cavalgando até Nândia.

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PARTE 3:
A Capital de Animândia

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Bem-vindos a Nândia, a Capital de Animândia.
"Pessoas são como plantas ao vento: curvam-se para se erguer novamente”
− Provérbio Malgaxe

“Bem-vindos a Nândia, a Capital de Animândia”, era o que dizia na placa a frente de


Carlos e Yara, após andarem por uns tempos conversando sobre coisas dali e para cá,
eles finalmente chegaram a Nândia, a grandiosa Capital de Animândia. A sua frente só
se viam dois pilares de pedras com desenhos coloridos gravados neles e árvores e mais
árvores, Carlos olhou para o céu e estava nublado.

−− E agora? O que acontece? −− Carlos perguntou preocupado por só verem dois


pilares de pedra a sua frente e nenhuma cidade.

−− Me siga. −− Yara disse, e ela começou a caminhar para os meios dos pilares.

Carlos a seguiu, e juntos eles passaram pelo meio dos pilares, tudo mudou, onde antes
só havia árvores agora uma cidade se erguia, uma grande metrópole, semelhante à
àquelas cidades da idade média, como Roma, alias a semelhança de Nândia com Roma
eram estupendas, as casas eram na sua maioria de um ou dois andares, as estradas eram
de rocha, como em Nândia não existe carros, por causa da poluição que causavam a
natureza então os animanos optaram por utilizavam cavalos, coches ou carruagens.

As casas tinham o ar de serem antigas, mas dentro as casas eram lindas e modernas, a
cidade em geral tinha o ar de velha, ela era tão antiga e velha que as suas paredes
contavam a sua história por ela, a cidade era linda do seu jeito e rodeada pela natureza,
ao longe se podia ver uma grande catarata.

As ruas contavam a história de Animândia, das batalhas sangrentas, aos festivais


carregados com muita alegria e emoção, Nândia é um grande centro cultural, diversas
culturas, tribos, povos e espécies de criaturas (como bruxos, feiticeiros, magos, fadas,
duendes, e outras mais) de Animândia vêem em Nândia exibir as suas tradições, naquilo
que é conhecido como Ocituwa, que se realiza sempre no inicio de cada ano, celebrando
o inicio do ano e da união que reina em Animândia.

Quem nasce em Animândia tem a honra de aprender a sua história, as suas tradições e
costumes desde criança, alguns dizem que a maior honra que um animano pode ter é
aprender quem ele é de que tribo pertence.

No centro da cidade, ficava o incrível Coliseu de Nândia, toda linda e reluzente, a arena
era do tamanho de um campo de futebol, todos os sábados havia lutas no coliseu, os
melhores lutadores de Nândia treinavam uma vida para poderem lutar na arena, era luta
dos duros onde só os melhores conseguem vencer, e o público gostava disso, de ver
aquela toda violência, de torcer que nem loucos para mais e mais acção.

No centro da cidade também ficava a Fonte das Cinco Tribos, o nome fazia jus a fonte,
tinha esse nome por causa das estátuas dos animais que representam as Cinco Tribos de
Animândia: em cima uma águia estava com os seus longos braços abertos, em baixo da
águia um leão com as patas dianteiras levantadas, ao lado do leão estava uma raposa
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olhando para frente, ao lado da raposa estava um urso polar rugindo, em baixo deles um
grande tubarão branco em posição de mergulho.

Na colina que fica no lado sudeste de cidade, estava localizado o Castelo Real, o castelo
era muito grande, com duas entradas, uma a frente e outra a secundaria que ficava atrás
do castelo, existiam muitas passagens secretas, algumas tão secretas que ninguém sabe
onde está, excepto o arquitecto responsável pela construção do castelo, o falecido
engenheiro Sir Galven Vettoriano, que deixou um mapa de onde estão localizadas todas
as passagens secretas.

Sir Galven Vettoriano era alguém ambicioso e visionário, por isso usou ouro e magia na
construção do castelo, fazendo com que ele tenha a capacidade de se regenerar, uma
bomba pode explodir no castelo destruindo tudo que ele próprio irá se regenerar, muitos
dizem que o castelo era uma das 7 maravilhas da engenharia de Animândia, e que não
existia outro como ele.

A frente do castelo, um rio corria suavemente, o rio corria por toda Animândia
dividindo ela em duas metades, o rio nascia na Montanha mais Alta, a montanha mais
alta das três grandes montanhas de Animândia.

Carlos olhou para trás curioso e admirado com o local e somente viu os dois pilares de
pedra e o caminho por onde eles vieram.

−− Como isso é possível?! −− Carlos perguntou olhando para cima, completamente


espantado com o que via.

−− Existe uma cúpula mágica que torna invisível e impenetrável à cidade.

−− Como no filme Pantera Negra, gostei −− Disse falando para si próprio. −− E porque
essa barreira mágica? −− Carlos perguntou dirigindo-se a ela.

−− Para nos proteger dos monstros que vivem aí fora. −− Yara respondeu.

−− Que tipo de monstros? Igual ou pior ao cão negro que nos atacou? −− Yara não
respondeu em vês disso desceu com o cavalo pela colina. −− Espere... Isso é um sim?
−− Carlos gritou enquanto ela se distanciava, ele também fez o mesmo descendo
rapidamente ficando ao lado dela. −− Para aonde vamos?

−− Eu irei primeiro em minha casa. −− Começou Yara por dizer. −− Depois irei te levar
para a Casa dos Hóspedes.

−− Casa dos Hóspedes? O que é isso?

−− É uma espécie de um hotel construída para aqueles que chegam pela primeira vez
em Animândia. −− Ela respondeu o olhando de seguida olhou para frente. −− Irás
gostar, é bem confortável.

−− E onde é a sua casa?

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−− Você verá. −− Respondeu simplesmente.

Eles continuaram cavalgando pelas ruas verdes de Animândia, Carlos admirando a


beleza do lugar, era realmente lindo, algumas pessoas passavam pelas ruas conversando
ao lado deles vários animais de diferentes alturas e tamanhos passavam pelas ruas,
Carlos apercebeu-se que cada vez mais estavam se afastando da cidade por isso resolveu
perguntar a Yara.

−− Para onde estamos indo?

−− Para minha casa...

−− É tão assim fora da cidade? −− Ela não respondeu em vês disso continuou
cavalgando em silêncio.

Eles entraram em um longo campo de golfe, a sua frente uma grande e linda mansão
daquelas que qualquer pessoa sonha em ter, pois era linda e incrível, Carlos nunca tivera
pensado que Yara era rica, pela sua forma de falar, andar ou ate mesmo vestir esse fato de ela
ser rica teria passado despercebido dele.

Yara era uma daquelas pessoas que odiava aquilo que era, uma pessoa rica desde criança ela
fora sempre a mais rebelde da família, sempre se rebelando das inúmeras regras que tinha
que cumprir e simplesmente desejando do fundo do coração ter uma vida mais normal que
alguém desejaria, ela não tinha amigos já que todos os garotos e garotas a olhavam com
cobiça e muitos deles fingiam ser seus amigos apenas por que ele era rica, por isso ela
decidiu não ter mais amigos e passar a viver nas sombras como uma estranha.

−− Chegamos. −− Anunciou ela.

−− Espera aí... Você vive aqui?! −− Carlos perguntou admirado olhando em volta.

−− Sim. Porque a pergunta?

−− Essa casa é linda! −− Disse admirado com a beleza do lugar

−− Vamos. −− Disse o puxando, ela abriu a porta e eles entraram, dentro era ainda mais
linda, a casa estava decorada com vários móveis, existia uma grande escadaria que
conectava o andar de cima com o de baixo, existiam várias esculturas de animais e não
só ao redor, como se eles fossem coleccionadores, na parede estava preenchida de
quadros de diferentes tipos e tamanhos, o que chamou a atenção de Carlos foi uma foto
que estava bem no meio de dois quadros.

Ele caminhou até lá olhando mais de perto a foto, era um homem com cabelos castanhos
como fogo, com um corpo escultural usando o fato de casamento ao lado de uma
mulher com um longo e espalhado vestido de casamento, com cabelos negros
compridos, pele morena e os olhos castanhos, a mulher usava um véu na cabeça, o que
realçava ainda mais a sua beleza os dois estavam sorrindo felizes por terem se casado.

−− São meus pais. −− Disse Yara de súbito. −− Essa foto foi tirada no dia do seu
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casamento.

−− Eles estão lindos. −− Disse Carlos tocando na moldura do quadro.

No mesmo instante o irmão mais velho de Yara, Hugo desceu as escadas. Hugo era três
anos mais velho que Yara, ele era diferente dela, não só pelo tom de pele que na qual Yara
saiu mais a mãe, também pela aparência, Hugo tinha aquele ar penetrante e elegante que
combinavam com seu estilo de vida, uma das suas grandes paixões era ser físico, a coisa que
ele mais desejaria nesse mundo e segundo ele faria de tudo para conseguir.

−− Yara! −− Disse ele se dirigindo a ela. −− Já voltou? Como foi a viagem? Como está
a Tia Anari?
−− Você sabe como é sempre rabugenta não mudou nada mesmo estando doente. −−
Respondeu ela cruzando os braços, aborrecida por ter ido, espera ido não, forçado a ir,
já que era uma das sobrinhas directas então era sua obrigação ir. Ele sorriu, era um
sorriso encantador, um sorriso que ao lado do seu charme conquista qualquer pessoa.

−− Bem, isso é típico dela. −− Disse. −− Porque não me apresenta o seu amigo?

−− Tom, esse é Carlos e Carlos esse é o meu irmão Hugo. −− Tom acenou a cabeça para
Carlos, ele acenou de volta. −− Enos me pediu para trazê-lo comigo para Nândia.

−− Por que ele pediu-te isso?

−− Ele me disse que o Conselho Supremo dos Magos o estava chamando para uma
reunião ou algo assim.

−− Ah... entendi... −− Falou olhando de soslaio para Carlos.

−− Óptimo, por que eu preciso tomar um bom banho, depois da viagem longa que
tivemos. Eu já volto. −− Disse se retirando da sala e subindo a escadaria e sumindo de
vista.

−− Então Carlos... De onde você é? −− Hugo perguntou iniciando a conversa.

−− Eu sou de Luanda. −− Carlos respondeu.

−− E onde fica esse lugar?

−− No Mundo dos Humanos. −− Carlos respondeu sem rodeios.

−− Interessante, então és um…−− Hugo não terminou de falar quando Carlos confirmou
com a cabeça.

−− Parece que sim...

−− Ouve Carlos. −− Sussurrou para que Yara não pudesse ouvi-los. −− Eu quero que
você me prometa uma coisa, apenas uma coisa.

−− Sim.

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−− Sinto que posso confiar em você isso. −− Disse Hugo olhando em volta um pouco
receoso para falar. −− Eu que cuides da minha irmã… −− Carlos assentiu não entendendo
a onde ele queria chegar. −− Depois da morte do nosso pai… −− Ele suspirou odiando ter
de falado aquilo.

−− Ela tem se isolado bastante evitando conversar sobre o assunto ou ate mesmo ter
amigos, e de alguma coisa eu sinto que posso confiar em você para pelo menos mudar
um pouco a situação. −− Carlos olhava para Hugo que realmente pelo seu olhar e a forma
como ele falava percebeu a sua aflição.

−− Esta bem pode contar comigo para isso. −− Hugo suspirou já um pouco aliviado por
ouvir essa resposta.

Yara desceu as escadas, vestindo roupas novas e com os longos cabelos crespos
molhados.

−− Yara. Esqueci-me de dizer. −− Hugo começou a dizer. −− Conversei com o avô


hoje e ele ainda espera que você mude de opinião.
−− De novo? Porque é tão difícil para ele apoiar as minhas decisões? −− Yara exclamou
irritada com o que Tom acabara de dizer.

−− Talvez ele...

−− Talvez o que? −− Grunhiu irritada esperando o que Hugo falaria.

−− Talvez ele esteja certo, Yara. −− Disse dando de ombros e tomando coragem para
falar. −− Você já pensou muito bem nisso?

−− Ele esteja certo?! −− Disse incrédula com o que tinha acabado de ouvir. −− Você
sabe que não, aconteceu o mesmo com o papai quando ele... −− Hesitou, respirou um
pouco e mudou o seu tom de voz. −− Sabe que mais... Eu não irei discutir mais a cerca
disso, ele é quem sabe se me apoia ou não, eu me pergunto por que é tão difícil assim
apoiar minhas decisões. −− Grunhiu frustrada com isso.

−− Yara, eu...

−− Vamos Carlos. −− Disse ela a Carlos que assistiu essa discussão sem querer.

−− Yara espere! −− Disse Hugo à medida que Yara se dirigia para fora saindo de casa,
ele não conseguiu evitar que ela saísse e fecha-se a porta bem na sua cara.

−− Yara... −− Carlos disse para ela à medida que eles andavam pelas ruas de
Animândia, ela o olhou ainda com a expressão triste, nervosa e de um mau humor que
ele nunca desejaria ver outra vez.

−− O que foi? −− Carlos queria tanto perguntar, mas vendo do jeito em que ela
respondeu e como respondeu achou melhor não perguntar nada, problemas davam para
ser evitados.

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−− Já almoçou? −− Perguntou com um sorriso contagiante no rosto, ela não conseguiu
ficar nervosa após Carlos ter perguntado, adoraria ter ficado, mais era impossível com
aquela pergunta, por isso acabou sorrindo de volta.

−− Não, ainda não almocei...

−− Óptimo, porque eu estou faminto, até sinto minha barriga roncar... −− Disse passando
a mão na sua barriga com um sorriso indescritível no rosto.

−− De certeza que na Casa dos Hóspedes tem imensa comida.

Eles continuaram subindo em direcção ao centro da cidade, em direcção a Casa dos


Hóspedes, passaram por dois quarteirões e com o Coliseu antes de curvarem para a
esquerda e deram de cara com aquele edifício que mais parecia um hotel cinco estrelas
com as palavras ―Casa dos Hóspedes” escrito em um grande painel em cima.

No Coliseu, dois soldados lutavam ferozmente, os dois estavam usando uma armadura
completa impossibilitando assim ver os seus rostos, uma vermelha e outra azul, Carlos
parou de andar imediatamente, desde pequeno sonhava em lutar dessa forma, achava
que passando o dia todo assistindo a filmes de acção o fariam um bom lutador, que
inocente ele era, mais quem nunca pensou que isso seria possível?

Do outro lado a luta decorria com a mesma intensidade, o soldado de vermelho golpeou
por cima, o de azul abaixou-se e atacou por baixo fazendo com que a sua espada ferisse a
perna do oponente, o de vermelho tacteou a perna em busca de seu novo ferimento que de
certeza deixaria mais uma cicatriz. Ele recomeçou o ataque de forma feroz, o de azul só
travava as investidas dele, a luta ficava mais intensa a medida que mais espectadores
paravam para ver.

O de azul que só estava esquivando e parando os golpes decidiu investir de surpresa, ele
recuou para trás empunhou a espada a sua frente, olhou para o seu oponente e correu
até ele, esse por sua vez atacou com a espada estendida para a direita, o lutador azul
deu um mortal passando por cima dela, de seguida virou-se e o deu um pontapé bem
forte na cara do seu oponente que caiu deixando a espada cair junto,

O lutador azul se aproximou do lutador vermelho e apontou a espada para o seu


pescoço antes que ele pegasse a espada dando por terminado a luta e vencendo.

A pequena multidão la fora gritava eufórica, tinham gostado daquilo que viram, o
lutador que venceu a luta lentamente sacou o capacete e revelou-se ser Abia. Carlos
sorriu, não sabia que Abia lutava tão bem assim, por isso resolveu entrar na arena.

−− Abia! −− Carlos gritou se aproximando por trás. Ela estranhou ao ouvir o seu nome
sendo chamado e estranhou mais ainda ao descobrir que era Carlos.

−− Carlos. Como você está? −− Disse Abia assim que o viu.

−− Eu estou óptimo e tu?

−− Perfeitamente bem. −− Respondeu ela. Carlos olhava de um lado para o outro


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procurando por Jared, mas ele não estava lá.

−− Onde está Jared? −− Resolveu perguntar.

−− Jared... Ele foi convocado de novo pelo exército. −− Respondeu ela com certo grau
de desânimo na voz.

−− E quando ele voltará? −− Perguntou esperançoso.

−− Não sei Carlos... Mas provavelmente não tão cedo.

−− Sei... Enfim foi bom rever-te Abia −− Disse Carlos se despedindo.

−− Digo o mesmo Carlos −− Respondeu Abia com um sorriso no rosto.

Carlos saiu da arena e foi ao encontro de Yara que o esperava a entrada, de seguida os
dois continuaram a caminhar indo até a Casa dos Hóspedes.

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A Casa dos Hóspedes
“Aquele que não sabe e sabe que não sabe é humilde. Ajuda-o.
Aquele que não sabe e pensa que sabe é ignorante. Evita-o.
Aquele que sabe e pensa que não sabe está dormindo. Desperta-o.
Aquele que sabe e sabe que sabe é sábio. Segue-o.” − Provérbio Chinês

Há 1643 anos, durante a Guerra das Cinco Tribos, milhares de animanos fugiram de
Animândia e foram para o mundo dos humanos fugindo da guerra e a procura de um
novo lugar para poderem viver em paz, vários foram o que se envolveram com os
humanos dando lugar aos primeiros híbridos entre humanos e animanos.

Naquela altura os Anciões achavam que eles não teriam nenhum poder já que eles eram
meio animanos, achavam que seriam pessoas normais sem nenhuma capacidade especial
dos animanos normais, mas eles se enganaram completamente porque os filhos dos
humanos nasceram com capacidades animanas que ninguém previu que poderiam ter.

Surgiu um problema, apesar das crianças serem meio humanos eles ainda era animanos
e Animândia não poderia ignorar a existência deles e a guerra acabara fazia algum
tempo e as famílias que tinham saído de Animândia queriam retornar para a casa
juntamente com seus filhos, o problema é que não tinham um lugar para ficar e ninguém
em Animândia queria cuidar de uma criança híbrida então o Conselho Supremo dos
Animanos reuniu e após horas a discutir sobre a situação eles acordaram a construir um
lugar onde todos os híbridos seriam bem-vindos, foi então que nasceu a Casa dos
Hóspedes.

As pessoas que vinham do mundo humano já tinham um lugar para ficar, e tinha uma
frase que dizia que a Casa dos Hospedes era a Casa de todos nós os Animanos e Meio
Animanos, la não existia essa diferença.

Carlos e Yara chegaram a Casa dos Hóspedes e entraram nela, o interior era lindo,
parecia um grande hotel cinco estrelas, eles foram o que era a recepção.

−− Bom dia! −− Saudou Carlos.

−− Bom dia! Você deve ser Carlos Njinga, estávamos te esperando −− Respondeu o
homem com um sorriso estampado no rosto.

−− Espera, como é que sabes o meu nome? −− Carlos perguntou.

−− O mago disse que você viria. −− Respondeu o homem retirando um documento de


uma das gavetas. −− Ele me disse que irias precisar de um lugar para ficar aqui. −−
Disse o entregando o documento.

−− O que é isso? −− Carlos perguntou.

−− É um documento que confirme que você está hospedado aqui. −− Explicou o


recepcionista. −− Aí também tem os termos e as regras daqui da casa. Sugiro que leia e
assine, por favor.
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−− Está bem. −− Carlos leu todo o documento, não demorou mais que cinco minutos,
concordando com os termos ele assinou e devolveu ao recepcionista.

−− Perfeito. −− Disse olhando para o documento assinado. De seguida retirou uma


chave da gaveta. −− Agora tome a chave para confirmar realmente que estás hospedado
aqui. −− Disse o entregando a chave do quarto número 812. −− E assim terminamos.
Pode ir para o seu quarto se quiser.

−− Está bem, obrigado. −− Respondeu Carlos se virando em direcção às escadas.

−− Bem, parece que o meu trabalho aqui terminou. −− Disse Yara. −− Trouxe-te em
Nândia como o Mago disse.

−− É parece que acabou mesmo. Voltaremos a nos ver de novo? −− Carlos perguntou
um pouco esperançoso.

−− Provavelmente... Nândia é um lugar pequeno… eu acho que sim. −− Disse acenando a


cabeça.

−− Então... Até mais?

−− Eu diria que é até mais vista. −− Respondeu ela acenando a cabeça mais uma vez e
saindo da Casa dos Hóspedes. Depois de ela ir, Carlos subiu as escadas até o seu quarto
812.

O quarto de Carlos era grandiosamente grande, tinha o visual de uma suite de hotel,
uma linda cama de casal bem arrumada e decorada com lindos lençóis, um grande
guarda-roupa cheio de roupas que surpreendentemente tinha roupas da sua medida, um
grande tapete estava estendido em todo o quarto, na parede tinha o quadro de uma linda
paisagem, olhou ao lado e viu uma linda varanda com vista para toda a cidade, as
paredes todas era decoradas com um grande papel de parede que tinha o desenho de
madeira dando a grande ilusão que as paredes eram de madeiras, ao lado da cama tinha
uma mesa e na mesa com uma cadeira e com um grande espelho estampado a parede.

A primeira coisa que Carlos fez foi jogar-se a cama e se deliciar nos lindos cobertores
que tinha, era extremamente confortável estar lá deitado, depois de uns minutos deitados
ele levantou e foi ao lindo banheiro do seu quarto, tomou um banho relaxante e lavou a
boca saiu do banheiro encontrou a cama arrumada e os lençóis limpos outra vez, vestiu
roupas novas do seu armário e deitou-se na cama, onde dormiu pelo resto do dia.

Por volta das 20h um alarme tocou alto anunciando o jantar, Carlos levantou-se da cama
sonolento e com estrema preguiça, foi até o banheiro onde lavou a cara, os dentes e saiu
do quarto ainda meio sonolento.

Desceu até o refeitório e sentou-se em uma mesa de seis lugares vazia, ele olhou ao
redor, outros meninos e meninas conversando alegremente, ele não se incomodou com
isso, em vês disso fico sentado no seu lugar em silêncio.
−− Posso sentar-se aqui? −− Perguntou uma voz a sua trás, Carlos levou um susto não

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achava que alguém falaria com ele alguma coisa. Ele virou-se lentamente e viu um
garoto que aparentava ter 12 anos usando óculos de visão e carregando um livro de
História de Animândia vol. 1.

−− Sim −− Carlos respondeu acenando com a cabeça. O rapaz sentou-se ao lado de


Carlos.

−− Prazer −− Disse o garoto se apresentando esticando a sua mão −− Meu nome é


Jackie −− Carlos pegou a mão de Jackie o cumprimentando de volta.

−− Jackie? Como Jackie Chan? −− Perguntou sorrindo.

−− Não −− Jackie sorriu −− Jackie. Como Jackie Lin.

−− Prazer, Jackie Lin, meu nome é Carlos Njinga. −− Respondeu Carlos.

−− Njinga... Esse sobrenome é? Você é angolano? −− Carlos acenou com a cabeça.

−− Como soube?

−− Eu já tinha ouvido sobre esse nome em história. −− Respondeu Jackie. −− Ela era
uma rainha, estou certo?

−− Sim.

−− Eu sempre quis ir a Angola, meu pai viaja muito para, ele é médico internacional, de
vez em quando pedem os seus serviços em alguns países.

−− É tipo, um médico sem fronteiras… −− Jackie confirmou com a cabeça.

−− Mais me conte um pouco de Angola! −− Jackie pediu ansioso para ouvi-lo.

−− Bem… Angola é um país grande e belo. −− Carlos começou a falar e não pode evitar
que um sorriso surgisse em seu rosto. −− Temos lugares lindos…

−− Como quais?

−− Bem temos à A Fenda da Tundavala, Grutas do Nzenzo, a Floresta do Maiombe,


Lagoa Carumba, Morro do Môco, as Pedras Negras de Pundo Andongo e o meu
preferido, as Quedas de Kalandula.

−− E o que mais?

−− Temos também a Palanca Negra Gigante, que só existe lá…

−− Já ouvi falar dela… −− Jackie disse colocando a mão no queixo reflectindo. −− É mesmo
gigante!

−− Temos também a Welwitschia mirabilis.

−− Será que… é Aquela planta estranha que parece um… polvo? −− Carlos confirmou com
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a cabeça. −− Uau! Angola é realmente um país lindo! Quem me dera poder ir para lá −−
Falou triste.

−− Porque não? −− Então Jackie contou um pouco da sua história:

Jackie nasceu em uma família de homens e mulheres brilhantes, o seu pai tal como ele já
tivera dito era medico, um dos melhores neurocirurgiões do mundo inteiro, por isso
passava a maior tempo viajando e sem ficar muito tempo em casa, a sua mãe era uma das
artistas com obras que vieram revolucionar o mundo com seu estilo único e apaixonante,
Jackie era filho único por isso era adorado pelos seus pais que eram muito protectores,
por esse motivo Jackie passou a maior parte da sua infância em casa, ele nunca tinha ido
a escola, nem sabia o que era isso, ele nem nunca teve a chance de fazer amigos, os
contatos com o mundo exterior eram poucos.

Como ele veio parar em Nândia? Foi tudo graças ao Mago que falou com seus pais e os
prometendo que o protegeria acontece o que acontecesse e que seria bom para ele
aprender mais um pouco da sua cultura, e foi assim que veio para Animândia.

−− E estás gostando de estar aqui? −− Carlos perguntou depois de Jackie terminar de


contar a sua história.

−− Adoro! Digo o lugar é maravilhoso!

−− Você gosta de história? −− Carlos perguntou mudando de assunto e olhando para o


livro de historia que ele trouxera consigo.

−− Eu amo! −− Respondeu Jackie um pouco entusiasmado.

−− Posso ver!? −− Disse Carlos pegando no livro e abrindo a primeira página de


seguida o índice, onde o sub tema ―As Cinco Famílias” chamou a sua atenção e
curiosidade. Ele abriu até a página do sub tema e começou a ler:

“Em Animândia existem cinco famílias extremamente importante cada família é dona
de um vasto império são elas: Os Analarai, os Vettorianos, os Khalianos, os King, e os
Gelions. Os Analarai são a família mais importante de Animândia e grandes
comerciantes, sobretudo na área agrícola em que têm fazendas em todo o canto até no
mundo dos humanos onde os seus negócios prosperam dia após dia, por isso eram tão
ricos, para alguns só o fato de ser esse sobrenome já era uma posição de extremo
respeito, muitos sonhavam em ser um Analarai ou conhecer um.

Os Vettorianos eram exímios construtores e arquitectos, responsáveis por algumas das


construções mais célebres de toda Animândia. Os Khalianos eram uma família de
artistas, os Kings estavam na indústria indumentária, à marca King dominava o
mercado, todo mundo usava as roupas King e, os Gelions eram uma família de grandes
cientistas incríveis mentes, alguns dos maiores génios de Animândia tinham o
sobrenome Gelions.”

Acabando de ler, Carlos devolveu o livro a Jackie e continuaram conversando


amigavelmente como já se conhecessem a muito tempo, conversando dali e para cá sobre
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coisas que ambos adoravam falar: personagens de quadrinhos ou super-heróis. Carlos
ficou conhecendo mais Jackie a medida que ele falava, era bastante agradável conversar
com ele e tudo o mais.

Após conversaram por um bom tempo, o jantar apareceu subitamente em seus pratos,
eles devoraram completamente o jantar e continuaram a conversar até a hora do recolher
em que voltaram para os seus quartos que surpreendentemente eram vizinhos de
corredor, já que o quarto de Jackie era 813, bem ao lado de sua porta.

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Fantasmas do Passado: A Origem de Carlos Njinga, Parte 1.
“O sofrimento precisa ser superado, e o único meio de superá-lo é suportando-o”
− Carl Jung.

Isabel era uma jovem de 24 anos, muito linda, inteligente, educada, respeitosa,
simpática, honesta, resumindo ela era muito boa pessoa. Onde quer que ela fosse as
pessoas falava bem dela, vivia com seus pais e irmãos em uma família conservadora de
classe média, viviam numa casa nobre, ela cursou o médio em enfermagem e trabalhava
em um pequeno Hospital na sua cidade no cargo de enfermeira. Os seus pais a amavam
bastante era a filha preferida deles, a filha que tinham bastante orgulho.

Num certo dia, ela chegou a casa com notícias que podem se considerar boas ou ruins
ou as duas ao mesmo tempo, ela estava grávida de um menino. Os pais dela insistiram
em saber quem era o pai da criança, ela não poderia revelar a identidade do pai
simplesmente não conseguia os pais temendo o que fosse acontecer caso criassem uma
criança sem pais a expulsaram de casa.

Expulsa de casa, ela continuou trabalhando no Hospital como enfermeira, arrendou uma
pequena casa e nove meses depois teve o seu filho a quem decidiu dar o nome do seu
pai a criança: Carlos Manuel Njinga.

−− Oi! Meu nome é Isabel... −− Disse sorrindo e lacrimando de emoção segurando o


bebê em seu colo. O pequeno bebe se encontrava com os olhos fechado ainda não
conseguindo abrir os seus pequenos e lindos olhos, mas conseguia ouvir o que a sua
mãe dizia para ele. −− E eu sou sua mãe, eu vou chamar-te de Carlos, igual ao seu avô
apesar dele não estar aqui... −− Disse pensativa.

−− Carlos, tu será alguém muito especial e farás coisas e coisas incríveis e


maravilhosas. Eu consigo sentir isso −− Ela sorriu afortunada e abraçou o seu bebé com
todo o carinho e alegria.

Os anos foram se passando e Carlos estava agora com seus cincos anos de vida, o
pequeno rapaz gostava de brincar o dia todo, gostava de jogar a bola no parque com
outros garotos, brincar no baloiço e no escorrega e também às escondidas e Isabel
sempre que podia ou tinha tempo brincava com o filho se divertindo ao máximo em
belos sorrisos estampados em seus semblantes.

Era o seu primeiro dia de aula e ele não descia do quarto para ir para a escola.

−− Carlos desce rápido, você irá se atrasar −− Isabel gritou preocupada consultando as
horas no relógio. Ela usava um vestido azul-escuro comprido e o cabelo negro todo
solto, ela dizia sempre para nunca andar mal preparado na rua se não as pessoas julgarão
você de acordo a sua aparência e não pelo seu carácter.

−− Já vou mãe, só um instante. −− Respondeu Carlos terminando de arrumar as suas


coisas em sua pasta. O quarto todo em que se encontrava estava arrumadinho, na parede
estava colado um plano com montes de fotografias de lugares que ele gostaria de visitar,
ele tinha o sonho de ser piloto de poder visitar e conhecer milhares de lugares em todo o
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mundo.

−− O que você está fazendo então? −− Perguntou Isabel olhando novamente para o
relógio. −− Já estamos atrasados, quê chegar atrasado para o seu primeiro dia?

−− Não mãe. −− Gritou ele em resposta e acabando de arrumar a sua pasta e tentando
desesperadamente endireitar o seu uniforme. −− Já terminei! −− Disse ele entusiasmado
saindo do quarto e descendo as escadas. −− Pronto, já podemos ir.

Na primeira instância Isabel o concentrou o examinando de cabeça para baixo ela tinha
aquele olhar penetrante que consegui penetrar a alma e te deixar todo nervoso.

−− O que você fez? Porque a demora? −− Carlos pensou em mentir, mas só de olhar
para ela não conseguia fazer isso, era extremamente difícil.

−− Eu estava vendo alguns vídeos sobre pilotagem. −− Disse ele abaixando o olhar,
Isabel ouvindo isso sorriu. −− Espera aí não estás nervosa? −− Perguntou ele não
acreditando na sua reacção.

−− Claro que não, contar a verdade é bem melhor do que dizer mentira. Lembre-se disso
−− Disse ela para ele enquanto segurava o seu ombro. −− ―A língua mal usada fere mais
que espadas‖. Agora é melhor voarmos até a escola meu pequeno piloto. −− Disse
Isabel o levantando ao ar e o girando, os dois com o rosto alegre.

−− Voar até o infinito! −− Disse Carlos entusiasmado.

Os dois saíram de casa, subiram no carro e foram para a escola, chegando à porta,
enquanto os outros alunos já entraram Isabel parou o carro, olhou para Carlos e falou:

−− Carlos. −− Falou ela séria e directa. −− O primeiro dia de aulas pode não ser coisa
fácil, me acredite eu já passei por isso, o que quer que você passe lá dentro, quem quer
que você conheça, quero que saibas que eu sempre estarei ao teu lado, sempre te
protegerei, porque tu és meu filho e eu te amo! −− Disse ela se comovendo com suas
palavras.

−− Eu também te amo mãe! −− Ele a abraçou e a beijou na testa, saiu do carro e correu
até a escola.

−− Boa sorte filho! −− Disse ela a si mesma. Ligou o carro e partiu.

Os meses foram se passando, Carlos continuava estudando sem nenhum problema e


Isabel tinha sido promovida a supervisora de todos os enfermeiros do hospital, numa
certa noite, ela estava trabalhando arduamente andando dum lado para o outro,
extremamente ocupada quando sem quiser esbarrou com Pedro por quem se apaixonou
quase instantaneamente.

A primeira vista Pedro era um cara simpático, amável e doce, eles iniciaram por sair
juntos iniciaram assim a namorar era um casal feliz, pois Pedro realmente se preocupava
com Isabel, ligava quase que a maioria das noites passavam horas falando ao telefone e
rindo. Após meses namorando Isabel achou por bem apresentar Pedro ao seu filho
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Carlos que gostou de Pedro, ele foi muito simpático com Carlos o trazendo um presente
que Carlos tanto gostava.

Eles passaram a viverem juntos, os três, como uma família, um ano depois Isabel deu a
luz ao seu segundo filho a quem chamou Ismael, infelizmente ele nasceu com um
problema auditivo que o impedia de ouvir e o fez perder a audição aos poucos.

Carlos com todo o esforço aprendeu linguagem dos sinais para poder comunicar com
ele e o ensinou a sua mãe, Pedro com muito orgulho assumiu a paternidade dando a
criança tudo o que precisasse.

Mas, esse mar de rosas estava se transformando num pesadelo sem igual na qual ficaria
marcado na pobre vida de Carlos.

Um ano depois do nascimento de Ismael, Pedro voltou aos velhos hábitos condenáveis,
beber, apostas e fumar, só que com mais vontade do que antes, passou a chegar tarde em
casa, discutia com Isabel em frente aos filhos não ligando a mínima se eles estivessem a
ver ou não.

Quando estava bêbado batia na mulher e em Carlos também, mesmo ele sendo uma
criança e ter somente seis anos, ele batia neles por qualquer motivo como a comida estar
muito salgada ou a roupa não estar bem passada, às vezes só mesmo porque tinha
vontade.

Em uma noite o pequeno Ismael acordou subitamente e pôr-se a chorar alto ouvindo-se
pela casa toda.

−− CALA A BOCA MULHER! −− Clamou Isabel que chorava suplicando para que
Pedro que estava completamente bêbado não jogasse o bebe a rua. Ismael chorava
aflito, tudo o que queria era estar de novo os braços da mãe.

−− Por favor!... Pare −− A sua voz quebrou e ela desabou ao chão sem forças para
suplicar. −− Por... fa...vor! −− Disse chorando de dor, Carlos que acordou assustado
com o barulho desceu as escadas assim que viu a sua mãe deitada no chão imóvel.

Carlos veio a gatinhar até ela, tocou em sua face vermelha inflamada limpando as suas
lágrimas, pegou em sua mão podendo sentir quanto estava quente Isabel estendeu
também a sua mão frágil e fraca apertando a mão dele com mesma força e carinho que
só uma mãe sabe dar.

Ismael, de repente parou de chorar e esticou os bracinhos para onde Carlos e Isabel
estava Pedro lentamente o colocou no chão e ele engatinhou até eles e também pegou na
mão dela, Pedro se sentindo um pouco culpado saiu de casa abruptamente e foi fazer
aquilo que fazia melhor: beber.

À medida que os anos foram se passando a violência só piorava a cada momento, Isabel
estava tão ferida que andava coxeando, os seus lábios já nem eram os mesmos, a face
estava marcada de hematomas, escondia usando maquilhagem, o corpo de Carlos não
era excepção estava todo manchado de cicatrizes. Certo dia Carlos decidiu fazer a
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pergunta que tanto o incomodava:

−− Mãe por que... −− Hesitou olhando ao redor se certificando que Pedro não estava em
casa, não notando a sua presença ele resolveu perguntar. −− Porque é que não deixa ele?
Ele é horrível!

−− Não posso filho! −− Respondeu ela com a voz fraca.

−− Por quê? −− Carlos perguntou incrédulo não gostando da resposta.

−− Ele ameaçou-me que se um dia nós fugíssemos, ele nos procuraria e quando nos
encontrasse nos queimaria vivos. −− Um minuto de silêncio tenso se instalou entre os
dois, Carlos odiava a Pedro e quando soube dessa ameaça passou a odiá-lo ainda mais.

−− Eu o odeio! −− Disse Carlos furioso saindo da sala.

Carlos não esqueceu o assunto tão facilmente, ele saiu de casa e foi até a um cyber café
próximo pesquisar sobre o assunto, como o computador de casa somente Pedro o usava
e o guardava em seu armário em que só ele tinha a chave.

Ao ler a respeito sobre violência domestica ele deu de caras com um paragrafo que o
impactou muito:

“... Se for vitima de violência doméstica denuncie directamente as autoridades mais


próximas, não tenha medo de fazer a denuncia, muitas vitimas que sofrem desse
problema sentem medo de denunciar temendo uma represália do seu parceiro, se
estiveres nessa situação, não tenha medo, o seu bem físico e psicológico é a coisa mais
importante do mundo”.

Denunciar as autoridades não era fácil para ele já que sua mãe temia de uma represália
vinda da parte de Pedro se ele fosse preso, e a sua mãe o mandou esquecer esse assunto
para o bem dele, sabe é irónico pensar dessa forma, não denunciar o homem que abusa
de você durante anos para a sua segurança.

Mesmo se Carlos denunciasse provavelmente Pedro se safaria, visto que Carlos era
muito pequeno para depor em tribunal e Isabel faria questão de negar as acusações por
causa do medo que sentia e temendo a terrível represália que Pedro pudesse fazer para
ela e para seus filhos, que eram a coisa mais importante para ela.

A ideia de não fazer nada e continuar suportando a violência incomodava Carlos, ele
não queria ficar sem nada enquanto Pedro batia em sua mãe bem a sua frente sem
nenhuma misericórdia, ele sentia-se obrigado a fazer alguma coisa para parar com isso
de uma vez por todas.

Ele estava sentado no baloiço do parque pensando no que era a melhor coisa a fazer
enquanto olhava para as pessoas ao redor todas alegres e felizes com a vida, sentia falta
desse sentimento de felicidade que a muito esquecera, ele sentia saudades de ver de
novo sua mãe dando aquele sorriso único e lindo que só ela tinha.

Ficou lá sentado observando as pessoas por um tempo quando viu duas crianças a
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correrem felizes com um sorriso bobo de criança estampado no rosto enquanto que um
homem segurando uma câmara e sorrindo contente, ele os seguia filmando sempre todos
os passos que eles davam.

O homem abriu um largo sorriso à medida que ele tirava as fotos e mostrava para eles
que corriam mostrando para o que Carlos ser a mãe que se encontrava grávida e sentada
em um pano de piquenique estendido ao longo da relva, riu gostoso quando ela viu as
fotos, o marido aproximou-se dela e a beijou e sentou-se ao lado dela tocando em sua
barriga e sentindo o batimento do bebe.

Vendo aquela cena, Carlos chorou de dor, lamentando-se o porquê de sua vida ser tão
cruel e miserável. Ele voltou para casa triste, como sempre vivia dentro dela, e uma
ideia surgiu dentro da sua mente ao olhar para a câmara que o homem trazia consigo.

Chegando a casa, Pedro não se encontrava presente, subiu as escadas indo até ao seu
quarto, enfiou-se debaixo da cama e tirou de lá o seu cofre secreto −− não era tão
secreto como ele pensava ser, sua mãe sabia da existência dele, mas nunca contou que
descobrira −− e retirou de lá todo o dinheiro que sua mãe o dera ao longo dos anos
como mesada, ele não gastava o dinheiro que o davam, ele poupava para um
acontecimento de extrema necessidade e seu plano era uma extremíssima necessidade.

Correu até a loja perto de casa e comprou uma pequena câmara fotográfica, o plano era
bastante simples, só tinha que gravar Pedro batendo em sua mãe e levar a polícia que o
seu trabalho estava feito.

O plano se realizou em uma noite, Pedro estava gritando com Isabel no quarto, segurou
nela em suas pernas pronta para batê-la, Isabel conseguiu o empurrar com os seus pés
para o chão e correu para fora do quarto, desceu as escadas rapidamente indo para a sala
com Pedro bem a sua trás estando fora de si, Isabel levou a mão a maçaneta da porta
tentando abri-la quando Pedro estendeu a sua mão fechando a porta em um estrondo.

Isabel virou-se de costas dando de caras com a expressão maldosa no rosto, ela chorava
estava completamente apavorada, sentia tanto medo do que poderia acontecer a seguir e
Pedro a deu uma bofetada em cheio na cara.

Carlos acordou abruptamente por causa dos gritos e choros que se ouvia lá em baixo,
pegou a câmara na gaveta e correu até a origem dos barulhos onde viu a cena que o
deixava cheio de raiva dentro de si, Pedro batendo em Isabel sem dó ou piedade, ele
abaixou-se evitando que fosse visto ou algo do género e começou a gravar a cena,
enquanto uma raiva crescia dentro de si, uma raiva incontrolável ele suspirou
profundamente mantendo-se concentrado no seu principal objectivo e continuou a
gravar, capturando bem a cara de Pedro e Isabel para o vídeo.
Pedro parou de bater nela e a cuspiu e disse rindo orgulhoso pelo que fez:

−− Isso é para saberes quem manda aqui! −− E saiu de casa.

Carlos parou de gravar guardou a câmara e correu em auxilio a sua mãe que se
encontrava deitada sem forças no chão frio da casa, ela estava tão fraca que nunca
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conseguia balbuciar uma única palavra simplesmente gemia de dor.

No dia seguinte, Carlos foi a policia levando consigo a câmera fotográfica, ele estava
completamente decidido sobre o que haveria de fizer, chegando a policia ele apresentou
a queixa e o vídeo e naquele mesmo dia, Pedro foi preso e acusado por crimes de
violência domestica, o seu caso foi levado ao tribunal e o jure não teve nenhuma duvida
de que ele era culpado por todos aqueles crimes visto a quantidade de provas
apresentadas em tribunal, o júri o condenou a prisão perpetua, levando em conta todos
os factores do caso e do nível de violência apresentado.

Pedro ao seu levado para a cadeia disse cheio de ódio as seguintes palavras para Isabel,
Carlos e até para o pequeno Ismael:

−− Vocês acham que venceram? Vocês acham que conseguiram livrar-se de mim? Não.
Eu serei o vosso pesadelo, a vossa angústia. Eu estarei presente em vossos pensamentos,
em todos os momentos da vossa vida, estarei nos dias em que estiverem a rir estarei lá
como uma sombra, pronto para acabar com o vosso sorrisinho e transformá-lo em vosso
maior temor!

Dito essas palavras, ele deixou o tribunal completamente agitado. Isabel simplesmente o
encarava com certa pena em seu olhar e desviou olhando para outro lado o ignorando.

Dois anos se passaram e suas vidas voltaram ao normal, não como era antes de Pedro
tiver existido, agora contavam com Ismael ao seu lado, já era uma grande mudança, em
uma casa nova dada pelo governo eles a ser aquela família feliz que Carlos tanto
ansiava.

Eles faziam as comparas juntos, Carlos brincava no parque com Ismael na maioria dos
dias, jogando a bola, sobretudo, todas as noites inventavam novas brincadeiras para se
divertirem enquanto Isabel fazia o jantar, durante o verão quente que a cidade oferecia
eles costumavam ir à praia tomar um grande mergulho e o mais importante se divertir.

Na noite de natal faziam longas maratonas de desenhos animados, a maioria educativos,


e logo de seguida tinham um gostoso jantar preparado com grande carinho por parte de
Isabel.

Era o dia 17 de Agosto, o aniversário de Carlos, Isabel planejara em segredo com


Ismael uma festa surpresa para ele só entre os três mesmo. Carlos estava saindo da
escola após ter um dia maravilhoso, ele estava à porta de casa, todas as luzes tinham
sido apagadas, curioso para saber o que se estava passando ele abriu entrando em casa
ligou as lâmpadas.

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−− Surpresa! −− Ele estranhou ao ser surpreendido e sorriu adorando a incrível
surpresa, a casa toda estava toda decorada com balões de aniversário.

−− Não acredito que vocês fizeram isso! −− Disse ele se emocionando e chorando ainda
sorrindo.

−− Podes acreditar. Isso é para você filho você merece e muito

−− Não sei o que dizer −− Disse todo emocionado com a cena com lágrimas em sua
cara.

−− Que tal dizer obrigado? −− Sinalizou Ismael com os dedos.

−− Obrigado −− Carlos respondeu sinalizando de volta.

−− De nada.

−− Bem, chega de falar, vamos comemorar! −− Disse Isabel toda comemorativa −−


Arrumar isso tudo me deu uma fome e tanto.

Eles festejaram e dançando em grande, até que resolveram fazer um pequeno concurso
de imitação, foi engraçado ver Ismael tentar imitar Michael Jackson, é claro que acabou
não dando muito certo, Isabel tentou imitar Beyoncé, cantando uma das suas músicas
predilectas e tentando dançar ao mesmo tempo, e ela que não sabia dançar o estilo da
música o que acabou dando errado e ser mais engraçado do que outra coisa.

Carlos sendo a plateia não parava de rir ao ver eles dois que para fechar o concurso de
talentos fizeram um dueto o que acabou piorando as coisas se tornando ainda mais
engraçado ainda, Carlos só não se urinou todo de tanto rir, porque tinha ido à casa de
banho antes.

Alguns dias depois da festa, era madrugada todos se encontravam dormindo


tranquilamente e sem nenhuma preocupação, Isabel dormia em seu quarto quando ouviu
o barulho vindo lá debaixo da casa, intrigada pelo súbito barulho de algo que quebrou
ela levantou da cama e desceu até a sala para investigar melhor o que acontecera.

Ligou a lâmpada da sala, olhou ao redor examinando com atenção tentando perceber o
que aconteceu e qual era a origem do súbito barulho, reparando que se encontrava tudo
em ordem, caminhou até a casa a cozinha, ligou também a lâmpada e também estava
tudo em ordem, saiu da casa cozinha desligando a lâmpada e olhou uma ultima vez para
a sala desconfiada quando viu uma estatua que não estava em seu devido lugar, ela
caminhou até a mesa pegou na estatua se perguntando como isso foi ali parar e antes
que ela fizesse alguma coisa, algo bateu em sua cabeça e ela caiu ao chão inconsciente.

Ismael, que ouvira o barulho de algo caindo ao chão acordou em sobressalto, saiu do
quarto e desceu as escadas indo até a sala dando de caras com Isabel deitada no chão
inconsciente e um homem armado de pé ao redor dela, ele tentou gritar quando algo
também o atingiu o deixando inconsciente no chão.

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Carlos foi o último a acordar quando ouviu alguém gritando alto e em bom som,
depressa se levantou da cama tinha o pressentimento, a sensação de que algo de errado
estava acontecendo, saiu do quarto descalço e em passos curtos e silenciosos para não
fazer qualquer barulho enquanto caminhava lentamente ao longo do correr, parou no
cimo das escadas deitando-se ao chão se camuflando com a escuridão da casa como se
fosse um ninja, e viu dois homens armados com duas pistolas usando mascaras pretas
impossibilitando ver os seus rostos e Isabel e Ismael amarrados encostados a parede.

−− Onde está? −− Perguntou um dos homens, impaciente.

−− Onde está o que? −− Perguntou Isabel com a voz trêmula sem entender do que ele
estava falando.

−− Você sabe do que estamos falando. −− Respondeu o homem abruptamente tendo a


máxima certeza de que ela realmente sabia. −− Onde está o dinheiro?

−− Que dinheiro? Eu não sei de nada... −− Respondeu ela sincera chorando não fazendo
nenhuma ideia. −− Por favor! Eu imploro não nos façam mal! −− Implorou ela.

−− Sendo assim. −− Ele apontou a arma para eles, pronto para disparar quando Carlos
intrometeu-se gritando alto e em bom som do cimo das escadas.

−− Esperem! −− Os dois assaltantes olharam para cima, surpresos pela presença de


Carlos, um deles apontou a arma para Carlos que descia lentamente pelas escadas. −−
Eu sei onde está o dinheiro. −− Disse Carlos com toda a certeza.

−− E quem é você? −− Perguntou o homem que o apontava com a arma.

−− Carlos Njinga. −− Respondeu Carlos tremendo de medo.

−− E como você sabe onde está o dinheiro? −− Perguntou o homem de novo.

−− Porque eu sei onde está escondido. −− Respondeu Carlos respirando.

−− E onde ele está?

−− Lá em cima. Eu posso ir busca-lo −− Disse virando-se para subir as escadas.

−− Pare! −− Gritou o homem que apontava a arma para Isabel e Ismael. −− ―J‖ vai com
ele. −− Disse se dirigindo para o outro assaltante.

O outro ladrão acenou para que Carlos fosse à frente para que não tentasse algo
estúpido, Carlos foi até ao seu quarto e retirou debaixo de cama o seu cofre e o entregou
aos assaltantes estando completamente inocente e pensando que era esse o dinheiro que
eles queriam.

Assim que eles abriram a caixa e deitaram todas as moedinhas e algumas notas de
dinheiro que tinha na pasta ficaram tão zangados que a jogaram ao chão pisando nela.

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−− Você pensa que somos idiotas? −− Gritou o que apontava a sua arma para Isabel e
Ismael. −− Onde está o dinheiro? −− Perguntou pela última vez.

−− Mas... esse é o único que existe! −− Respondeu Carlos tremendo de medo e não
entendendo o motivo de sua repentina fúria.

−− Esse é o único que existe? −− Repetiu o homem incrédulo com as palavras de


Carlos. −− Isso é para aprenderes a não brincar com a minha cara. −− Disse ele
disparando contra Isabel e Ismael.

−− NÃAAAAAAAOOOOOOOOOO −− Carlos gritou chorando e correndo até eles. Os


ladrões saíram da casa em mãos atadas correndo o máximo antes que a policia chegasse
ao local. Ele correu até Ismael que já se encontrava sem vida, correu até sua mãe que
ainda gemia estendida no chão. −− M... Mãe! Mãe! −− Chamou ele desesperado por ela.

−− C... Car... los −− Disse ela com a voz fraca levando as mãos até ao seu pescoço e
tirando de lá o Colar de Yasmin enquanto suas mãos tremiam descontroladamente. −−
Pé... Pegue no... Colar! −− Carlos recebeu o colar. −− Pertenceu ao seu pai.

−− Ao meu pai? −− Perguntou ele não entendendo porque ela subitamente falaria dele,
sendo que nunca fez em anos e ele não se interessou muito em perguntar muito a
respeito.

−− Sim... −− Disse Isabel. −− Eu quero que... que tu fi... ques com ele, é muito
especial...

−− Mão!... Quem é o meu pai?

−− Esse colar irá te levar até ele −− Disse Isabel evitando responder a pergunta de
Carlos. −− Cui... da bem de...dele.

−− Mas...

−− Filho... −− Disse ela levando a sua mão até a face de Carlos marcada de lágrimas. −−
Na vida encontrarás muitas dificuldades e a única maneira de superá-las é sendo você
mesmo e não o que as pessoas querem que tu sejas não tenha vergonha em mostrar
quem tu és ao mundo e nunca espera que o mundo te compreenda pelo que tu não és,
seja quem tu és! E tu serás feliz.

−− Quando chegar a hora, eu quero que entregues o colar para a pessoa que tu amas
você me entendeu? −− Ele acenou que sim com a cabeça. Dito isso ela o olhou pela
última vez viva antes de sua mão cair ao chão, ela estava morta.

−− Não, Não, Não MÃEEEEEEEE, NÃOOOOOOOOOOO −− Ele a abraçou pela


última vez com todas as forças que lhe restavam, não querendo acreditar nem por
um segundo acreditar que aquela pessoa que fora o seu sol durante toda a sua vida
tinha partido, é doloroso perdemos alguém que amamos e é ainda mais doloroso
perdemos alguém que nos ama, já ele perdeu os dois.

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Fantasmas do Passado: A Origem de Carlos Njinga, Parte 2.
“Não precisas de muralhas! As muralhas não te protegem, te isolam.”− Richard Bach.

Carlos ainda continuava abraçando o corpo de sua mãe quando a policia chegara ao
local do crime, não queria larga-la queria continuar a abraçando até não poder mais, a
policia concluiu a remoção dos cadáveres e queria interrogar Carlos sobre o que
acontecera na casa, ele foi colocado em uma sala e dado um copo com água ele
permanecia imóvel com o olhar fixo na parede e as suas mãos tremendo
descontroladamente.

Carlos não conseguia abrir a boca para responder as perguntas dos polícias, permanecia
imóvel chorando e tremendo em choque, a culpa pela morte deles o consumia por
dentro. Depois de algumas horas ele iniciou narrando o que acontecera, falava enquanto
chorava só de lembrar-se desses acontecimentos trágicos, após contar ele prometeu a si
mesmo de que nunca mais falaria sobre isso a mais ninguém.

Durante os dias em que se seguiram Carlos foi posto em um orfanato no princípio não
acreditava que sua mãe e seu irmão tinham morrido, andava todo contente como se isso
nunca tivesse acontecido recusando-se em aceitar a terrível verdade.

Até que certo dia, ele estava vendo as suas coisas antigas, quando subitamente uma foto
caiu de um dos seus casacos, era uma foto dele com Isabel e Ismael se divertindo no
parque, ver aquela foto o trazia grandes lembranças e recordações felizes que ele viveu
e vendo a foto a verdade surgiu por entre ele como um raio, ele começou a chorar
lamentando-se daquilo que aconteceu.

Logo de seguida à medida que os dois foram se passando a sua saúde física e
psicológica se deterioraram, ficando extremamente doente o deixando extremamente
magro, ele não sentia vontade de comer, sempre que davam um prato de comida
abandonava ficando dias inteiros sem comer.

Carlos que outrora era um rapaz alegre, brincalhão e motivado parecia que todas essas
características tinham sido eliminadas de sua mente, já não ria ou brincava a jogar a
bolas como antes em vês disso passava o dia todo encolhido e enrolado em seus
cobertores chorando somente com um único pensamento na sua cabeça: a morte de sua
mãe e irmão se repetindo vezes sem conta como um tormento, os únicos sonhos que ele
tinha a noite era dele correndo em um longo corredor negro enquanto as vozes da sua
mãe gritava sem parar: A culpa é tua!

Ele mantinha-se isolado em seu quarto não sentindo vontade em fazer uma coisa nem
outra, sua mente estava dominada só por pensamentos negativos, não conseguia pensar
em um único momento em que fora feliz na vida, a imagem de Pedro batendo sua mãe e
de sua mãe chorando estendida no chão giravam a sua mente arrancando lágrimas
profundas de intensas tristezas e dor, nutrindo mais a dor que sentia.

A única coisa que ele desejava era que essa dor que sentia que o consumia por dentro
desaparecesse de vez, sumir e nunca mais voltar, certo dia ele quando já não
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aguentava mais viver com isso tentou por fim de uma vez por todas, amarrou uma
corda no teto de seu quarto e escreveu um pequeno bilhete de despedida que dizia o
seguinte:
““ Meu nome é Carlos se você estiver a ler esta carta provavelmente eu já parti desse
mundo.
Vocês querem saber por que eu decidi dar fim a minha vida
Desde pequeno eu aprendi a nunca desistir mesmo se a vida for dura com você
Mas quando você perde as duas pessoas mais importantes da sua vida miserável
As únicas pessoas que faziam o teu mundo ter um pouco de cor
As únicas pessoas que faziam você rir quando estás triste
As únicas pessoas que te amavam pelo que tu és
A dor que nos consome todos os dias, que nos atormenta naquela terrível lembrança
em que por mais que eu tento negar, sei que a culpa é minha e que o mundo seria melhor
se eu não tivesse nascido por que assim dois inocentes não morreriam por minha causa,
A dor que leva as pessoas a loucura é tanta que não vemos mais razões para continuar
a viver nesse mundo cruel.
Hoje eu parto com a certeza de que a morte é melhor do que a vida
Assinado: Carlos Manuel Njinga. ””

Subiu na cadeira, envolveu o seu pescoço em volta da corda e chutou a cadeira com os
pés enquanto morria lentamente sem oferecer qualquer resistência. A Irmã Ana que
estava passando por acaso por ali, curiosa com o estado de saúde de Carlos, ela decidiu
entrar no quarto de Carlos quando se deparou com a cena.

Ela correu depressa até Carlos enquanto este por sua vez estava inconsciente, agarrou as
suas pernas o puxando para cima enquanto clamava por ajuda…

Carlos acordou no Hospital, ao seu lado estava a Irmã Ana o olhando com os olhos
marcados com lágrimas.

−− Oi querido! −− Disse ela carinhosamente. −− Como você está? −− Carlos respondeu


fazendo um pequeno som tentando responder com palavras.

−− Carlos, eu quero que você prometa algo para mim −− Disse a Irmã Ana soluçando
não conseguindo evitar que as lágrimas escorressem pelo seu corpo. −− Eu quero que
me prometas que nunca mais irás tentar o suicídio. Você me promete?

−− E... está b... be... bem −− Respondeu ele gaguejando com a voz fraca.

Carlos permaneceu no hospital por mais alguns dias, segundo os médicos ele estava
muito desidratado e precisava se recuperar urgentemente do seu estado. A Irmã Ana foi
encarregada de cuidar de Carlos até a sua total recuperação, foi durante esse todo
processo que se conheceram realmente. Após o médico ter dado a conta de que ele já
tinha se recuperado o suficiente o deu alta médica para poder voltar ao orfanato.

Como estava muito mal fisicamente não conseguindo marcar passos largos por esse
motivo o hospital disponibilizou uma cadeira-de-rodas para ele poder se locomover.
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Carlos não falava nada desde o dia em que acordou e disse aquelas poucas palavras, a
Irmã Ana de tudo fazia para que ele falasse alguma coisa, mas sem sucesso, ele ainda
continuava preso em seus pensamentos melancólicos.

Irmã Ana estava decidida em ajudar Carlos a ultrapassar isto, por isso se esforçou e
muito para isso, ela todos os dias levava Carlos ao parque apesar de não pensar em se
divertir como as outras crianças, ela passava todo o dia com ele tentando o dar de comer
mesmo ele não querendo nada, ela tentava de tudo para ajudá-lo o problema era que
Carlos não queria ser ajudado, sempre que ela tentava algo ele fechava-se todo achando
que não precisava de ajuda de ninguém.

Os dias foram se passando, Carlos estava deitado na cama do seu quarto dormindo
tranquilamente quando teve um pesadelo.

Ele estava caminhando tranquilamente em um parado, o ar fresco da colina refrescava a


sua pele, dava até para dormir na relva verde e fresca, continuava andando quando
avistou duas pessoas ao longe, uma mulher e uma criança brincando alegremente, ele
foi se aproximando lentamente, a medida que se aproximava ele reconheceu a mulher e
a criança, era Isabel e Ismael, sua mãe e seu irmão, ele riu e iniciou a correr em suas
direcção.

À medida que corria parecia que eles estavam cada vez mais se distanciando fugindo
dele, até que caiu de quatro sem mais forças para correr, a sua respiração estava pesada
e o sentimento de culpa dominava o seu coração o atormentando, ergueu a cabeça e viu
sua mãe o seu irmão a sua frente com os rostos vazios sem expressão, ele estendeu a sua
mão tentando os tocar e foi então que Isabel disse a ele:

−− Esse não é o seu lugar filho, você não pertence aqui.

−− E aonde eu pertenço? −− Perguntou ele em resposta.

−− Eu sei que é difícil passar pelo que tu estás a viver. −− Disse Isabel sentando ao seu
lado. −− Deve ser difícil viver com essa culpa, mas eu te garanto que a culpa não é tua.

−− Eu também tentei não me culpar. −− Disse Carlos lembrando-se dos primeiros dias
após a morte dela. −− Eu tentei fugir dessa responsabilidade, mas... Eu não consegui,
eu vivo com esse sentimento de que se não fosse por mim, você ainda... −− Sua voz
frágil quebrou.

−− Carlos, viver com a culpa só está te destruindo dia após dia. −− Respondeu ela. −−
Tudo o que acontece na vida tem um determinado objectivo, eu sei que é difícil perder
alguém que amamos, mas ainda existem pessoas nesse mundo que te amam e se
importam com você, eu sei que é difícil fugir da dor, mas tens de aprender a superá-la e
seguir em frente.

−− E como eu faço isso?


−− Você já sabe a resposta. −− Disse ela se levantando e segurando a mão de Ismael.
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−− E nunca se esqueça de que nós te amamos! −− Ismael acenou concordando com a
cabeça ao que ela disse.

−− Eu também vos amo! −− Disse Carlos a medida que eles desapareciam para sempre.
Subitamente, o clima iniciou a mudar, o vento aumentou a sua intensidade, o chão
partiu em pedaços como se fosse um espelho e lá no fundo uma grande escuridão
consumiu tudo ao redor fazendo com que Carlos caísse na profunda escuridão.

Carlos acordou em um tremendo susto não conseguindo respirar em condições, sentia


que algo o estava enforcando, ele colocou as mãos rapidamente em sua garganta
tentando desesperadamente respirar, sem sucesso ele estava completamente agitado
caindo ao chão se revirando todo e sua cara ficando extremamente vermelha e a sua
visão embaçada, parecia que alguém ou algo o estava sufocando.

Foi então que, subitamente a porta se abriu e a Irmã Ana entrou correndo no quarto
estendeu a sua mão ao alto e da sua mão uma grande espada flamejante surgiu ela
golpeou duas vezes para o que quer que fosse que estivesse atacando a Carlos e,
subitamente Carlos parou de se debater o que quer que fosse que o estava enforcando
parou, mas, ele não se encontrava mais consciente.

Carlos abriu os olhos e estava de novo deitado em uma cama vendo tudo
completamente embaçado, olhou ao redor não conseguindo ver absolutamente nada, se
encontrava deitado em uma cama que ele supôs ser a de seu quarto, estando sozinho
voltou a dormir.

Ele voltou a acordar mais tarde nesse dia e a Irmã Ana estava sentada ao seu lado lendo
Mulherzinhas, ele guinchou chamando a sua atenção que parou de ler fechando o livro
e virando as suas atenções para Carlos.

−− O que aconteceu? −− Perguntou Carlos com a voz fraca.

−− Tiveste um ataque de pânico. −− Respondeu ela diretamente. Ele ficou em silencio


por um tempo assimilando o que ela disse, não parecia um ataque de pânico apesar de
não conseguir lembrar-se de muita coisa, estava tudo misturado e embaçado que não
conseguia distinguir o que era real ou o que era uma ilusão.

Carlos passou o restante do dia pensando na conversa que ele teve com sua mãe, apesar
de não ser realmente Isabel, Carlos sabia que ela tinha razão, tinha que superar essa dor
que o destruía.

−− Tome. −− Disse a Irmã Ana o entregando uma caixa.

−− O que tem lá dentro? −− Perguntou ele querendo saber o que tinha lá dentro.

−− Abra e descubra. −− Disse ela. −− Ou podes abrir e nunca saber o que tem lá dentro.

Ele abriu a caixa e encontrou um monte de livros dos mais diversos gêneros e um
pequeno caderno de anotações e uma caneta.

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−− Para que isso? −− Perguntou.
−− Eu quero que você escolha um livro da caixa. E o leias e depois faça um resumo do
que o livro aborda. −− Respondeu a Irmã Ana.
−− Porque eu faria isso?
−− Não sei, talvez devas se responder a si próprio a essa pergunta. −− Disse ela saindo
dali para fora.
Carlos ficou ali sentado segurando a caixa no colo relutante em escolher um livro para
ler, achava aquilo completamente absurdo para ele e saiu do quarto andando em sua
cadeira de rodas pelo orfanato. Ele foi para fora do orfanato até o pequeno parque que lá
existia e reparou nas crianças que lá brincavam se divertindo alegremente, ele desejou
do fundo de seu coração poder fazer isso, poder voltar a ser feliz.

−− Tu podes ir se quiseres. −− Disse Irmã Ana a sua atrás.

−− Eu? −− Perguntou Carlos surpreso.

−− Sim. Você mesmo. −− Disse ela. Ele suspirou fundo, tentou levantar-se lentamente
enquanto todo o seu corpo doía, ficou de pé, deu o primeiro passo e logo o segundo, ele
não sabia mais o que era ficar de pé sem ajuda. A Irmã Ana sorriu ao vê-lo de novo em
pé.

Carlos andava pesadamente enquanto se dirigia lentamente até ao baloiço onde sentou
exausto, a Irmã Ana caminhou até a sua trás e o iniciou empurrando e enquanto ele, pela
primeira vez em meses sorria feliz.

Após o baloiço, Carlos voltou para o seu quarto onde encontrou a caixa de livros ainda
no chão e escolheu o primeiro que viu, era o livro O Mágico de Oz, que se apaixonou
inteiramente pela obra fazendo um excelente resumo daquilo que mais gostou do livro
ele gostou tanto do livro que agarrou outro livro imediatamente.

Ele lia em todo o lugar, gostava mais de ler sentado no baloiço, a Irmã Ana o convidou
a provar os seus deliciosos bolos de chocolates que rapidamente se tornaram no
preferido dele, enquanto lia ele comia o delicioso bolo de chocolate se deliciando com a
leitura e o sabor.

Aos poucos ele voltou a brincar com os outros meninos do orfanato voltando
igualmente a sorrir e ser feliz outra vez em anos de sofrimento, todos os dias fazia
pequenas caminhadas matinal em volta do orfanato inalando aquela brisa fresca da
manhã e fazendo igualmente exercícios físicos todos os dias sem falta.

Todas as semanas ele lia um livro diferente, gostava tanto de ler que agora não
conseguia mais parar, amava aquele cheiro magnífico de livros que sentia logo ao pegar
em um novo livro. A tristeza e a dor da perda de Isabel e Ismael foram abandonando a
sua vida fazendo com que ele renascesse e se tornasse em um novo Carlos, deixando de
ser aquele rapaz triste e melancólico com um triste passando para alguém feliz, feliz
porque apesar da vida o oferecer tanto sofrimento ele ainda poderia sorrir e sonhar com
uma vida melhor.
85
A Volta do Mago
"Os ignorantes, que acham que sabem tudo, privam-se de um dos maiores Prazeres da
vida: aprender." − Provérbio popular.

No dia seguinte, o Mago retornara do seu compromisso, chegando de manhã bem


cedinho do dia.

Todos os dias de manhã bem cedinho, Yara levanta da cama, lava os dentes, tomava um
banho e vestia roupas de corrida e saía de casa, ela corria saindo da cidade e indo até ao
Monte Hek que ficava na encosta da cidade, lugar de onde se podia ver toda Nândia
completa, para chegar lá tinha de correr por algumas horas e fazer uma escalada, que
demorava pelo menos alguns minutos até o topo, chegando ao topo enquanto
transpirava descontroladamente.

Dali de cima, tudo parecia tão pequeno, as pessoas era como se fossem grãos de areias
em uma grande praia, a vista era extremamente linda sentir aqueles ventos fortes, a brisa
fresca roçando a sua pele é uma sensação sem igual. Yara esticou os braços inspirou e
expirou vezes sem conta não pensando em mais nada se deixando levar pelos encantos
que a natureza apresentava.

−− É realmente um belo lugar para relaxar −− Disse uma voz, ela levou um tremendo
susto, não esperava que encontrasse mais alguém ali, virou-se e era Enos, que
finalmente retornara. −− Desculpa por tê-la assustado. −− Disse Enos um pouco
cansado, tinha a voz de alguém que não dormia há dias.

−− Não sabia que o senhor já voltou −− Disse Yara

−− Acabei de chegar. −− Falou o Mago olhando para baixo. −− Você é a primeira a me


ver.

−− Com todo o respeito senhor, mas porque o senhor faz…? −− Perguntou Yara com
toda a educação possível.

−− Lembro-me bem durante a minha adolescência, eu e minha irmã Barbara −− Disse


Enos percebendo o que ela queria dizer e não se limitando a responder directamente a
pergunta de Yara.

−− Costumávamos vir para aqui, fazíamos corridas de lá debaixo até aqui para ver quem
era mais rápido aqui era o nosso refúgio sagrado, conseguimos viver grandes momentos
aqui rindo e brincando em grande, foram bons tempos. Desde então eu venho sempre
aqui para simplesmente observar essa majestosa paisagem

−− Não sabia disso −− Disse Yara não fazendo a mínima ideia.

−− Como eu disse. Você é a primeira pessoa que sabe.

−− O senhor ainda não respondeu a minha pergunta. −− Inquietou Yara

−− Tens razão nessa parte... vim aqui para conversar contigo.


86
−− Comigo? −− Espantou-se ela.

−− Com e você e com Carlos, preciso ter a certeza de algo. −− Respondeu o Mago. −−
Como correu a viagem?

−− Foi… um atribulada. −− Yara respondeu procurando as palavras certas para descrever o


que tinham passado. −− Fomos atacados por um cão negro. −− O Mago não demonstrou
algum sinal de surpresa, como se já soubesse dessa notícia.

−− Como ele era? −− O Mago quis saber.

Era evidente que algo estava se passando em Animândia para um cão negro ser avistado
tão próximo da capital e o que quer que fosse deixava o Mago bastante apreensivo, não
só eles como também outros Magos que tinham reunido de emergência já que o ataque
que Carlos e Yara sofreram não era o único caso, outros tinham acontecido em zonas
mais distante, alguns não houve registro de sobreviventes, os cães tinham simplesmente
devorado tudo e deixado a cabeça como sinal de que eram eles os responsáveis.

−− Era enorme e… não sei Carlos foi quem viu melhor. −− Respondeu ela.

−− Esta bem. −− Enos ergueu a mão e o seu cetro apareceu −− Segure no cetro. −− Ela
assim o fez, e juntos desapareceram.

O encontro foi programado em um lugar onde poderiam conversar sossegados sobre


aquilo que se estava realmente a se passar sobre os bastidores, aquilo que muitos nem
sabiam que se passava, a primeira coisa que Yara fez foi acordar Carlos que dormia
sossegado e inocente das coisas.

−− Porque você fez isso? −− Perguntou após Yara o ter despejado com um jarro de água
daqueles bem frescos.

−− O mago está nos esperando lá fora, tens 20 minutos. −− Disse ela olhando para o
relógio em seu pulso indicando as horas.

−− O mago? 20 Minutos? −− Perguntou ele desorientado.


−− Você entendeu −− Yara abriu a janela do quarto, a luz do sol entrava intensamente
entrava intensamente saiu do quarto deixando Carlos resmungando na cama. Por fim saiu
do quarto ainda resmungando.
−− Carlos! Que bom te ver −− Disse o Mago assim que o viu com um sorriso cansado no
rosto.
−− Eu também estou muito feliz por vê-lo. −− Respondeu ele com um igual sorriso.
Depois se dirigiam para um bar onde podiam conversar, o seu nome era Três Tribos
estava praticamente vazio o que era perfeito para o que o Mago tinha a dizer, eles
sentaram em uma mesa, a espera que o Mago tinha a dizer para eles.

−− O que vão querer? −− O Mago os perguntou após terem se sentado.

−− Só agua. −− Carlos respondeu ainda um pouco com sono. Yara pediu o mesmo, o
Mago pediu uma bebida diferente e alguns segundos depois eles tinham as suas
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bebidas na mesa.

−− Vocês devem estar pensando o que fazem aqui. −− Começou o Mago a dizer
quebrando o mistério. −− Mas primeiro quero que vocês me contam do ataque que vocês
sofreram. −− Carlos ficou um pouco surpreendido que o Mago tivera sabido daquilo já
que nunca tinham dito a ninguém.

−− Como o senhor sabe?

−− Carlos. Eu sou o Mago, eu sei das coisas. −− Carlos assentiu começando a contar
tudo o que conseguia se lembrar.

Começou do principio, quando ele e Yara estavam cavalgando lentamente em seus


cavalos e o enorme cão negro saltou dos arbustos e da incrível luta que eles tiveram,
não queria se vangloriar por isso tratou de incluir Yara em sua historia heroica, ele
contou de cada detalhe da incrível luta com extrema veracidade incluindo aqueles que
inventara.

De vez em quando ele olhava para Yara que agradecia por ele não ter contado tudo
exactamente como acontecera.

−− Interessante. −− Disse o Mago pensativo após Carlos ter terminado. −− Estou


espantado por ver vocês os dois vivos, foram realmente muito corajosos ao enfrentar
um cão negro, mas, isso foi extremamente perigoso eu quero que vocês os dois me
prometam que nunca irão fazer isso −− Alertou-os com a expressão séria e de
preocupação. −− Vocês me prometem? −− Disse entreolhando entre Carlos e Yara.

−− Óptimo −− Disse satisfeito. −− Agora escutem o que irei vos falar. −− Disse o Mago
tão baixo que mais parecia um sussurro.

−− O ataque que vocês sofreram não foi o caso, existem outros que aconteceram algo
esta acontecendo em Animândia, algo grande e o que quer que seja, é perigoso não se
vêem cães negros desde a era… −− Hesitou dizer aquele nome que muitos
consideravam como maldito. −− Por isso tenham cuidado, nós os Magos e outras
autoridades de Animândia como os bruxos as fadas e outras, estamos alertas para o que
der e vier por isso por isso que foi criada uma comissão para investigar os casos por
isso que precisamos de toda e qualquer informação para determinar se é um acaso ou
ataques coordenados.

−− E já têm alguma suspeita? −− Yara quis saber.

−− Temos algumas, mais a maioria são fúteis. −− Respondeu o Mago.

−− E como podemos ajudar? −− Carlos perguntou.

−− Fiquem em casa e protejam-se. −− Disse o Mago. Não foi bem a resposta que Carlos
esperava ouvir, mais teve que se contentar já que o Mago os pediu antes de tê-los levado de
volta, para não falar do assunto a ninguém e não fazerem nada a respeito, ele teve de se
contentar com aquilo que ouviu e não fazer nada e simplesmente deixar que a vida seguisse.
88
A Cerimónia de Iniciação
"A vida não repete nem copia os mapas. Ela dá a cada viajante um caminho único, o
destino exacto que sua alma precisa trilhar. Que o seu seja de força, perseverança,
felicidade e luz." − Rita Maidana.

Chegara finalmente o dia da Cerimonia de Iniciação, todos estavam bastante ansiosos


para o dia de hoje, tudo já estava preparado só aguardavam ansiosos para o anoitecer
que na qual a Grande Cerimonia de Iniciação iria ter o seu aguardado inicio, excepto
Carlos que praticamente não estava entusiasmado como os demais.

Ele estava nas Cataratas reflectindo um pouco sobre tudo e sobre nada simplesmente
esquecendo por um minuto que estava em Animândia, ele se viu tendo um pouco de
saudades do orfanato, de provar um bolo delicioso de chocolate da Irmã Ana, e se
deliciar com os seus muitos sabores, ele estava perdido nesses pensamentos quando não
percebeu que Yara tivera se aproximado dele lentamente.

−− Estás nervoso? −− Yara o perguntou, ele tombou um susto quando ouviu a sua voz
que se não tivesse controlado iria cair directamente nas águas.
−− Yara! Você me assustou! −− Falou ele se acalmando.
−− Desculpe, achei que tivesses me visto. −− Ele suspirou profundamente, e respondeu
olhando para baixo.

−− Só um pouco... Só não percebo porque essa toda agitação, não era só uma simples
cerimónia?

−− Em Animândia nada é simples.

−− Não vás me dizer que em todos os anos é assim?

−− Comparando com outros, esse ainda está um pouco… reduzido. −− Disse Yara
imaginando os anos que se passaram.

−− O que significa ―reduzido‖ para os animanos? Certeza que é diferente daquilo que eu
sei.

−− Eu fico pensando em qual será o teu Chin. −− Comentou Yara.

−− Acho que pode ser… um papagaio. −− Disse rindo, não levando a sério o que falava.

−− Não sei não, acho que teremos uma grande surpresa.

−− Porque dizes isso? −− Questionou ele a olhando nos olhos.

−− Um Chin é a representação da nossa personalidade daquilo que nos somos, se você é


destemido és um cão, preguiçoso uma preguiça, e outros.

−− Talvez eu seja um cão. −− Carlos argumentou.

−− Ou uma preguiça. −− Yara disse sorrindo.


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−− Ei! Eu não sou preguiçoso. −− Rebateu ele. Ela ergueu as sobrancelhas como se tivesse
perguntado: tens a certeza? −− Talvez eu seja um pouco… −− Ele também riu, não
achando que um dia concordaria com ela.

Eles ficaram em silêncio por um tempo, quando Yara subitamente disse:

−− Ou podes ser um Yedi.

−− Um Yedi?

−− Yedi são alguém que não tem um Chin certo ou definitivo e podem transformar-se
em outros. −− Respondeu ela. Carlos ficou em silêncio assimilando toda aquela
informação.

Seria legal poder se transformar em qualquer animal, poderia ser um pássaro e voar
pelos céus ou um peixe e navegar pelos infindáveis mares ou mesmo um leão e andar
pelas savanas, ser capaz de fazer tudo seria espectacular.

A Cerimonia de Iniciação teve inicio após o pôr-do-sol o Coliseu estava todo lotado,
representantes das Cinco Tribos incluindo os próprios lideres que Carlos teve a chance
de vê-los pela primeira vez estavam presentes para fazer o registo de novos membros,
dançarinos com roupas feitas de palha e folhas das árvores, as máscaras todas decoradas
e pintadas com uma imagem que lembrava Chiwa, o público vibrava fortemente
enquanto os dançarinos faziam os seus espectáculos no palco.

Terminado a pequena apresentação, o Rei Marcus, que Carlos estranhou profundamente


por ser rei porque era só… uma criança, tinha apenas 9 anos e já era o Rei da nação
mais importante do mundo, Carlos pensou no grande trabalho que aquele pequenino Rei
passava e desejou nem um por um momento estar em seu lugar, alias odiava essas
coisas de Rei, ter de mandar ou governar uma nação não eram coisas que ele um dia
pudesse desejar.

O Rei Marius levantou da sua cadeira deu boas vindas a todos os presentes, apesar de
ser uma criança, nenhuma palavra saída da sua boca o dizia, ele falava sem receios
como se fosse um rei já adulto e bastante experiente a falar, falou da importância da
cerimonia a todos e que era uma grande honra ser Nândia a realizar essa Cerimonia por
fim disse para aproveitarem o espectáculo.

A cerimónia continuou, músicos entraram enquanto tocavam e desfilavam alegremente,


com roupas cheias de cor que lembravam o Carnaval, de seguida teve um minuto de
silêncio em honra de Chiwa, O Mago pediu a presença dela para o momento em que
estavam prestes a entrar.

Ele chamou todos os iniciantes um por um, o primeiro garoto entrou, seu nome era
Ravi de 11 anos, era a sua primeira vez em Animândia, caminhou timidamente até o
centro do palco onde Enos o tivera indicado.

De seguida dançarinos cuspidores de fogo entraram dançando e cercaram o pequenino,


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em suas mãos segurando tochas, os dançarinos sopraram nas tochas, as chamas voaram
das tochas e indo na cabeça do menino que por incrível que pareça não o feria, as
chamas se alinharam dando forma a uma bola de fogo brilhante que girava sem parar,
de seguida a bola de fogo parou de girar e ganhou a forma de um esquilo e assim o seu
Chin tinha se manifestado.

Todos na plateia aplaudiram, a maioria foi os membros da Tribo da Floresta, que


festejavam alegremente pois tinham ganho um novo membro, A cerimonia continuou,
o Mago continuava chamando monte de iniciantes, que ganhavam a forma dos mais
derivados animais, tinha uma menina que o seu Chin foi o de um peixe, outros de leão e
outro até de um elefante.

Tinha chegado à vez de Jackie, a sua forma se revelou de um camaleão. Tinha chegado a
vez de Carlos, ele tinha sido deixado por ultimo, ele foi chamado, meio tímido, meio
nervoso foi caminhando pelo palco, podia sentir os milhares de olhos o encarando apesar
de ser um desconhecido para muitos, o seu coração batia descontroladamente a primeira
coisa que ele queria era sair dali e desaparecer.
−− Tudo bem? −− Ele assentiu com a cabeça se virando para olhar a enorme multidão a
sua frente, ele procurou pela face de Yara que o olhava atentamente a espera do resultado
final.
O Mago fez sinal e logo os dançarinos entraram, dançaram com menos motivação do
que antes, pois era o ultimo da noite e estavam bastantes cansados para actuar,
colocaram as tochas em frente e cuspiram, o fogo voou até a cabeça de Carlos girando e
formando a bola de fogo, a bola depressa se transformou em um cão pastor alemão.
Todos começaram a aplaudir, Carlos estava aliviado por ser um cão, tal como ele havia
dito, mais o inesperado aconteceu, a figura mudou de forma e se transformou em um
gato, depois em um lagarto, e pôr-se a mudar de forma rapidamente em diferentes tipos
de animais e tamanhos.
De repente a bola apagou-se dando um susto tremendo da plateia que nunca viu algo do
género acontecer, os murmúrios percorreram o publico em geral, todos se perguntando
o que se passava e do porque disso acontecer, aquela cena chamou a atenção do Rei
que passou a olhar para a cena com cuidado.
Carlos que não sabia o que fazer, olhava de um lado para o outro confuso e
envergonhado achando que seria a causa do problema, ele encontrou o olhar de Yara
preocupada e apreensiva.

Quando o Mago se preparava para falar alguma coisa, eis que surge uma luz no céu
que descia lentamente até o palco em que Carlos estava, a luz tomou a forma de uma
bela mulher, usando um reluzente vestido branco que emitia um branco reluzente.
As pessoas ao redor vendo a mulher ficaram espantadas e confusos uns com os outros,
e imediatamente prostraram-se de joelhos, Carlos a reconheceu de imediato a partir dos
seus sonhos, era a mulher mais belas que ele já tinha visto, era Chiwa em pessoa, ele
vendo que todos estavam ajoelhados, ele fez o mesmo, ela continuou caminhando
sossegadamente até chegar ao palco e parou bem a sua frente e disse alto e em bom som
para que todos pudessem ouvir e testemunhar:
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−− Levante-se! Toda a terra dai júbilo a Carlos Njinga, Filho de Marcus, Rei das terras
Animanas, Salve o décimo Yedi. −− Carlos levantou lentamente, ainda tentando
assimilar o que ouviu, o seu rosto confuso ele olhava para Chiwa maravilhado com o
que via, seu rosto todo perfeitamente desenhado.

−− Salve Carlos Njinga! −− Todos do público responderam em júbilo.

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O Filho do Rei
"Quando o lençol é curto, aprenda a se encolher”. − Provérbio Filipino

Como você reagiria se descobrisses que tu és filho de um rei? Ou que tu és príncipe do


reino mais rico e poderoso da terra? Ou que tinhas poderes que outros não tinham? Ou
que uma deusa desceria do céu só para te dizer quem era o teu pai? Bem você
provavelmente reagiria diferente de Carlos que ainda continuava imóvel no palco, todo
mundo boquiaberto com a cena que se passou ninguém ainda acreditava no que tinha
acontecido.

−− Te vejo depois. −− Foi o que Chiwa disse a Carlos antes de desaparecer em uma
névoa branca.

O problema claro era que ninguém contava com a presença de Chiwa, afinal ninguém a
via a séculos e o facto de ela descer naquele momento significava muita coisa, ninguém
contava que Carlos era filho de Marcus, pai de Marius que agora era rei depois da morte
do pai, o que fazia dele o meio-irmão de Carlos.

Marius olhava para ele com aquele olhar de profundo espanto, sempre tivera pensado
que era filho único, não imaginou ter de compartilhar a vida com outro irmão, outro
irmão que pudesse assumir a coroa e se tornar no novo rei.

O Mago caminhou até Carlos e disse em seus ouvidos:


−− Pegue no cetro −− Ele obedeceu, e juntos desapareceram do palco deixando as pessoas
mais eufóricas na plateia em estado de choque.
Na mesma noite o Conselho Supremo dos Animanos foi convocado de emergência para
discutir a situação de Carlos, era evidente que toda aquela situação os havia apanhado
completamente desprevenidos, agora tinham que saber lidar com outra realidade,
Animândia tinha um outro provável herdeiro do trono e que talvez pudesse subir o trono,
mais a grande questão que permanecia em aberto era quem era ele? Quem era Carlos
Njinga? Era um completo estranho.
Eles apareceram no Castelo Real de Nândia, Carlos ainda permanecia pálido ainda
tentava de todas as formas assimilar tudo aquilo, para ele era tão estranho e novo que
desejou com todas as suas formas que aquilo tudo que se passava fosse apenas um sonho
e que acordaria brevemente em sua confortável cama da Casa dos Hospedes, mas quanto
mais andava pelo Castelo Real mais aquilo tudo era real para ele.
O Mago tinha deixado ele em um dos quartos do Castelo e ido à reunião, afinal ele era o
Mago, o principal conselheiro do Rei de Animândia, Carlos deitou-se na cama, tentou
fechar os olhos, mas não conseguia, o sono desaparecera.
Cansado de ter de esperar no quarto, ele saiu andando por acaso pelo imenso Castelo que
realmente era muito lindo, caminhando por entre os corredores por um tempo em
completo silêncio excepto pelo barulho de seus passos, até que ouviu algumas vozes a
debater, andou em direcção à origem da voz dando de caras com uma enorme porta.
Na porta tinha um enorme quadro estampado nela: um grupo de sete pessoas sentadas
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sobre uma mesa redonda, em uma grande sala que pelo aspecto só poderia ser do Castelo
Real, o rei estava sentado na posição central usando uma coroa em sua cabeça e suas
vestimentas, os outros cinco eram os lideres das Cinco Tribos Animanas, todos com o
símbolo das suas tribos gravados em suas roupas, e o outro era o mago e juntos
formavam o Conselho Supremo dos Animanos.
Por baixo do quadro estava a legenda e escrito em Animandês, Carlos focou-se na
escrita, as letras começaram a fazer sentido para ele já entendia o que dizia e como ler e
o que estava escrito: O Poder de Animândia.

Carlos pôs o ouvido sobre a porta escutando o que estavam a falar, já que provavelmente
envolvia a seu respeito, achou por bem que não faria mal fazer isso.
−− Mas… Quem é ele? −− Questionou Marius, pelo seu tom de voz que realmente
demonstrava preocupação, não pela hipótese de ser retirado do trono, mas por ter
descoberto que afinal tinha um irmão, coisa que ele mais desejava quando… espera ele
ainda é uma criança, então coisa que ele mais deseja de todos.
−− O seu nome é Carlos Njinga, filho de seu pai com uma mulher humana Isabel. −− Enos
respondeu como se soubesse disso durante toda a sua vida. Carlos retirou a orelha da porta
quando o nome de sua mãe fora pronunciado.
−− E porquê o Conselho não sabe disso? −− Perguntou uma era outra voz, dessa vez era
Arya, a líder da Tribo do Deserto.
−− Eu não sei, eu próprio só soube hoje. −− Enos respondeu. −− Parece que Chiwa quis
esconder esse fato em todo o mundo.
−− E o senhor não poderia usar, visualização remota? −− Perguntou uma outra voz
feminina, era Serena, a Líder da Tribo da Agua.
−− Eu tentei, mas não consegui ver ou ouvir nada. Era como se alguém tivesse me
impedido. −− Disse Enos esfregando os seus olhos.
−− Eu tenho uma solução. −− Propôs uma nova voz, era Britus, líder da Tribo do Gelo,
todos o olharam esperando que ele continuasse a falar. −− Que tal ouvirmos a opinião do
garoto? Afinal ele é o motivo dessa conversa.
−− E onde esta o menino? −− Serena perguntou

−− Bem atrás da porta −− Respondeu o Mago −− Carlos. Podes entrar. −− A porta se


abriu e Carlos caiu ao chão dentro do salão. Ele depressa se levantou com todos os
membros do conselho olhando todos os seus movimentos.

−− Olá! −− Saudou Carlos timidamente com receio do iria de falar

O Rei Marius ergueu de seu assento e caminhou lentamente até o encontro de Carlos, e
para a surpresa de todos, a primeira coisa que fez, foi abraça-lo enquanto chorava de
alegria e surpresa, Carlos não sabia o que fazer por isso somente se limitou a fazer o
mesmo.

Arya emocionou-se ao ver aquela cena e não pode evitar que uma lágrima escorresse de
seu rosto.
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−− É tão bom ter um irmão. −− Disse Marius assim que o soltou, Carlos sorriu e disse o
mesmo, lembrando por um breve momento de Ismael a quem tanto amava. Arya
levantou-se da cadeira e foi até ao encontro dos dois.

−− Você deve ser Carlos, eu sou Arya, líder da Tribo do Deserto. −− Ela esticou a sua
mão o cumprimentando. −− Prazer em conhecê-lo!

−− O Prazer é todo meu. −− Respondeu ele atrapalhadamente. Carlos sentiu que a


conhecia de um lugar, mais não conseguiu lembrar de onde, ela era tão familiar.

−− Deixa me apresentar a todos os membros do Conselho −− Disse ela virando-se de


frente ao Conselho.

−− Britus, Líder da Tribo do Gelo −− Disse Arya apontando para um cara era alto,
musculoso, cabelos brancos e compridos que chegavam até as costas, cara redonda,
tinha um ar de simpatia, mas acredite você não vai o querer ver irritado, usava umas
vestes esfarrapadas, um grande casaco de pelo, apesar do calor tropical de Nândia, os
músculos dele eram tão grandes que violavam a sua camisa fazendo força para saírem
para fora, parecia que a camisa era pequena demais para ele, usava umas botas pretas
estilo militar. Britus acenou para Carlos, ele acenou de volta em resposta.

−− Baku, o Líder da Tribo da Floresta. −− Ele inclinou a cabeça saudando. Baku tinha
os cabelos negros, corpo médio, não muito atlético e também não muito magro, usava
um bigode, e uma boina preta, parecia mais um jogador de golfe profissional.

−− Serena Líder da Tribo da Água. −− Serena tinha os cabelos azuis parecendo os


mares, os olhos de cor azul, a pele extremamente pálida, resultado do longo tempo que
ficava por baixo da água, usava um vestido azul comprido e umas sandálias simples.

−− Arenek, Líder da Tribo do Ar. −− Arenek tinha os cabelos brancos, era um homem
de meia-idade, um ar sério e uma expressão trancada que era difícil de identificar
enquanto encarava Carlos profundamente sem desviar o olhar, parecia que olhava
directamente para sua alma pela forma que era a sua expressão dura como pedra.

−− De resto você já conhece. −− Disse Arya, olhando para Carlos.


Ela voltou para o seu lugar na mesa silenciosamente, Carlos e Marius trocaram olhares
pela ultima vez antes de Marius voltar a mesa, pois o objectivo principal era o Conselho
conhecer Carlos, e eles tinham muito tempo para isso, Marius voltou para o seu lugar e
Serena tomou a palavra.
−− Então, agora queremos ouvir você Carlos a falar. Quem é você? −− Quem é você? Era
uma das poucas perguntas que ele não tinha uma resposta, toda a sua vida havia se
perguntando quem ele era, ele sabia o seu nome, mas saber o seu nome não é saber quem
você é. Carlos permaneceu em silêncio por um segundo antes de começar a falar:
−− Meu nome é Carlos Manuel Njinga. −− Carlos respondeu. −− Eu tenho 14 anos,
nasci em Luanda ao 17 de Agosto, eu vivi a minha vida toda em orfanatos minha mãe...
−− Hesitou ele não queria contar a sua real historia, não queria que as pessoas
sentissem pena dele por ter passado pelo que passou, por isso se limitou apenas a
95
contar metade da verdade −− Ela morreu logo depois de eu nascer, por isso vivi a
minha vida toda em orfanatos ate que um dia fui transportado magicamente para
Animândia pelo colar que ela me deixou minutos antes de morrer.

−− E como te sentes em saber que o Rei Marcus é teu pai? −− Arya perguntou.

−− Não sei… −− Foi a única coisa que Carlos conseguiu responder.


−− E concernente a realeza, sabes que és o herdeiro direito certo? −− Serena perguntou o
encarando directamente em seus olhos.

−− Eu não vim aqui para ser rei, eu vim aqui porque assim o destino quis que fosse. −−
Disse Carlos. −− Não estou interessado em retirar o actual rei de seu poder, eu não sou
digno nem sábio para assentar a esse trono. E acho que o actual esta fazendo o seu
trabalho.

O Conselho ficou em silêncio, os membros olharam-se uns aos outros trocando diversas
opiniões só com o olhar.

−− Tens a certeza daquilo a que estás falando? −− Perguntou Serena a Carlos erguendo
os olhos.

−− Sim, Senhora. −− Carlos respondeu sem rodeios.

−− Carlos, dê-nos um minuto para decidirmos acerca da questão. −− Falou Serena. Carlos
saiu da sala enquanto o Conselho ficou debatendo acerca da questão, alguns minutos
depois eles o chamaram da sala para anunciar a decisão.

−− O Conselho Supremo dos Animanos. −− Serena começou a falar. −− Tendo em conta a


decisão do Príncipe e das leis vigentes de Animândia o Conselho decidiu por
unanimidade que:

“A lei Animana estabelece que o herdeiro do trono não deva governar por obrigação
que deva ser por livre e espontânea vontade de sua parte, mas também diz que o
herdeiro não deve renunciar o trono enquanto estiver vivo para governar, sendo assim
esse conselho achou por bem, por unanimidade que o Príncipe herdeiro tenha um prazo
de aproximadamente 4 anos quando completar a maioridade, onde devera decidir pela
segunda e ultima vez se ira assumir ou não o trono como parte dos seus deveres reais,
assim como para toda a sociedade animana”.

Carlos assentiu o veredicto, tinha aproximadamente quatro anos para decidir se queria ser
ou não ser o Rei de Animândia, era uma notícia ate então satisfatória para alguém que
não queria ser rei.

−− Sendo assim, dou por terminada a reunião. Podes ir Carlos. −− Enos falou, enquanto
os membros do Conselho permaneciam sentados em seus tronos. ttt

Carlos saiu indo directamente em seu novo quarto no Castelo Real de onde se tinha vista
para a cidade linda e majestosa lá fora de onde poderia pensar com mais calma no que
fazer, a partir daquele dia a vida de Carlos mudara completamente.
96
Nos dias seguintes, a vida de Carlos mudou drasticamente, deixou de ser um completo
estranho para a pessoa mais famosa de Animândia, a multidão o seguia fervorosamente,
todo mundo querendo estar onde ele estava. As fofocas na rua só se tratavam de uma
coisa: Carlos Njinga.

Quem é ele?

De onde veio?

Dizem que é o filho bastardo do rei Marcus?

Filho ilegítimo e agora rei de Animândia?

Não isso não pode acontecer.

Era isso que as pessoas diziam uma as outras nas ruas de Animândia, Carlos era tão
falado em Animândia que achou por bem não andar mais na rua, sendo sempre que
tentava era seguido por uma multidão que o seguia onde quer que fosse.

O tempo que passara com Marius era bem legal, passavam a maior parte do tempo
conversando com o propósito de conhecerem-se melhor como irmãos, Marius era um
garoto fantástico, cheio de energia e com um espírito alegre contagiante, ele realmente
admirava Carlos, para ele era bom ter um irmão mais velho com quem conversar, e o
mais inacreditável que era, era que Carlos provavelmente iria assumir o trono e tirar o seu
lugar mais ele não se importava com isso, alias não se importava que isso impedisse a
amizade que construíam.

−− Como você esta? −− Yara perguntou, em um dia em que Carlos tivera finalmente a
chance de poder falar com ela.

−− Exausto! −− Confessou.

−− Eu sei que é difícil passar por isso, mas acredite as pessoas irão se acostumar e
esquecer isso num instante. −− E antes que ele pudesse falar algo ela o abraçou o
confortando.

Realmente ela estava certa pois as pessoas iriam deixar de prestar tanta atenção em
Carlos como começaram.

Carlos voltou para o Castelo Real exausto, após o jantar, Marius queria falar com
Carlos por isso pediu para caminharem os dois na varanda do Castelo.

−− Tudo bem? −− Foi a primeira coisa que Marius perguntou. Carlos assentiu em
resposta, não queria falar muito, estava muito cansado. −− A vida como realeza pode
ser dura… As vezes desejo não ser rei mas…

−− Porquê? −− Carlos questionou.

−− Ser rei não é algo fácil, todo mundo pensa que é, o facto de ter um monte de
pessoas cuidando de você, chega a ser… entediante e cansativo, as vezes eu desejo

97
poder sair por ai explorando essa vasta terra. −− Desabafou. Carlos ficou quieto e
calado reflectindo em cada palavra do seu irmão.

−− Como ele era? −− Carlos perguntou mudando de assunto, Marius imediatamente


entendeu o que ele perguntou.

−− Ele era… um pai maravilhoso e rei excepcional. −− Marius respondeu após um


bom silêncio. Carlos não argumentou ao contrário, desde o momento que soube que
seu pai fora o antigo rei ele se viu obrigado a aprender tudo sobre ele e a coisa que o
mais inquietara era saber como ele era.

−− Ele sempre se preocupava com os outros, sempre querendo dando o melhor de si


em tudo o que fazia. Uma das maiores qualidades que ele tinha era de ver o lado bom
das pessoas por mais que elas sejam cometam actos terríveis ainda conseguia ver a
bondade dentro delas, sempre lutando pelo que acreditava, era um líder nato que não
se importava em batalhar ao lado de seu povo.

Carlos reflectiu nas palavras tentando imaginar como seria viver com ele, as
qualidades que Marius disse faziam lembrar sua mãe que apesar de tanto sofrer nunca
perdeu a esperança e sempre acreditava na bondade, de que as coisas poderiam voltar a
ser boas.

−− Como ele morreu? −− Carlos voltou a perguntar após a longa pausa.

−− Ele morreu na guerra contra Hakan, defendendo Nândia contra o invasor exército
de Hakan, ele morreu se sacrificando para que o exército não destruísse a cidade assim
como os seus habitantes por completo. −− O silêncio dominou entre os dois, com
Carlos ainda pensativo observando a bela vista que se tinha de Nândia, era algo
incrível de se ver.

−− Carlos… −− Disse Marius, Carlos se virou e o olhou a espera do que tinha a dizer.
−− Você já ouviu falar das Jornadas Reais.

−− Não. −− Respondeu Carlos mexendo a cabeça. −− O que é?

−− É uma jornada, em que membros da Realeza têm de fazer pelas Cinco Tribos com
o propósito de ser conhecido e manter o seu lugar, e tu terás de a fazer, afinal és da
Realeza.

−− Percorrer Animândia? −− Marius assentiu em resposta. −− Percorrer Animândia


sozinho?

−− Podes sempre escolher alguém para te orientar por Animândia.

−− E quando começa?

−− Daqui a alguns dias.

−− Então, daqui a alguns dias terei de percorrer esta vasta região? −− Marius fez que
sim com a cabeça. A ideia fazia a mente de Carlos borbulhar de excitação, a ideia de se
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aventurar pelas terras animanas o deixou entusiasmadíssimo, para começar logo a sua
jornada.

Ele deitou-se em sua cama adormecendo quase que instantaneamente, sonhou que
estava de pé em seu quarto e uma porta brilhava a sua frente iluminando todo o quarto, a
porta se abriu e emitia uma luz branca, Carlos, guiado pela sua curiosidade atravessou
a porta.

99
A Morte
“A morte não é a maior perda da vida. A maior perda é o que morre dentro de nós
enquanto vivemos. Não se engane, pois mesmo a morte não quita todas as naturezas de
dívidas. A morte não é para sempre, não é o fim.”

Carlos atravessou a porta que emitia a luz branca, sentiu uma sensação de satisfação,
sentiu que todo o seu cansaço e tristeza, raiva, angustia e dor desapareceu de si,
simplesmente podia sentir aquela tão sonhada paz de espírito que tanto desejava.

Ao sair do outro lado, Carlos deu de caras com algo impressionante que o deixou de
queixo caído: estava num grande e belo palácio de ouro, era uma daquelas coisas que se
sonha para ver e se veres, desejas que o sonho nunca acabe, rosto babou com tanta
beleza enquanto seus olhos iluminados giravam o local se perguntando ao mesmo
tempo que lugar era aquele, ele deu uns paços a frente, quando uma voz conhecida
disse:

−− É lindo não é? −− Ele se virou, era Chiwa, num grande vestido dourado que
combinava demais com o ouro do palácio.

−− É sim… muito lindo. −− Disse meio atrapalhado pois não sabia como responder a
Chiwa, afinal era uma deusa.

−− Venha, eu te mostro o lugar e poderás aproveitar fazer as perguntas que tanto te


inquieta. −− Era como se Chiwa tivesse lido a mente de Carlos para saber das inúmeras
perguntas que ele queria fazer.

Os dois começaram a caminhada, passaram por inúmeras salas de ouro, o Palácio de


Chiwa era um lugar magnifico com inúmeras maravilhas, saíram daquela sala e foram
para fora, lá fora as estrelas brilhavam ao redor, o seu brilho era mais intenso do que
Carlos alguma vez podia ver da terra, se não tivesse cuidado poderia ficar cego, do alto
uma enorme catarata de aguas cristalina descia ate o chão, Carlos podia ver o seu
reflexo na agua.

−− Porque estou aqui? Isso tudo é real? Não é um sonho? −− Perguntou tentando entender
as coisas.

−− Porque eu chamei a ti. Sim é real e não é um sonho −− Chiwa respondeu, a voz dela era
linda, suave e calmante Carlos conseguia sentir a doçura da sua voz, o jeito carinhoso em
que pronunciava as palavras e naquele instante, bem naquele instante ele se lembrou da
sua mãe.

Então uma série de perguntas envolvendo sua mãe e naturalmente o seu pai −− sobre
como ele era, se sabia que Carlos existia e tudo mais −− surgiram em sua mente prontas
para explodirem da boca para fora, quando Chiwa disse algo que o surpreendeu ainda
mais:

−− Podes perguntar a ele pessoalmente.


−− Como assim? −− Perguntou sentindo um arrepio em sua pele.

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−− Iremos para o Reino dos Mortos. −− Anunciou Chiwa como se fosse a coisa mais normal
do mundo, para ela era, mas não para Carlos que toda a sua vida pensara que quando as
pessoas morriam desapareciam para todo o sempre.

−− Como? −− Foi a ultima coisa que ele conseguiu perguntar antes de desaparecerem do
Palácio de Chiwa.

Carlos estava com os olhos fechados, tomou a abri-los e poderia sentir eles pesados era
como não tivesse dormido a semanas pelo cansaço que seus olhos anunciavam ter. Carlos
achou-se num grande vazio negro, não conseguia ver absolutamente nada, era como se
toda a luz do universo foi apagada pela escuridão que se fazia sentir naquele vazio.

Era como se a vida não mais existisse pois estava silencioso demais, tão silencioso que
Carlos podia ouvir o seu batimento cardíaco, de repente uma luz brilhou ao seu lado era
Chiwa anunciando que estava la com ele.

−− Onde estamos? −− Perguntou conseguindo por as ideias em ordens.


−− Em lugar nenhum.

−− Lugar nenhum… −− Repetiu tentando encontrar o sentido daquelas palavras.


−− Nós não estamos em lugar algum fixo, esse é um lugar interdimensional é a fronteira
entre o Mundo dos Vivos, onde tu vives e o Mundo dos Mortos. É como um bolo de três
camadas, a camada de cima representa o Mundo dos Vivos a de baixo o Mundo dos
Mortos e a do meio nenhum dos dois simplesmente o vazio que há entre os dois.

−− Entendi. −− Carlos disse engolindo um seco e olhando ao redor, agora que conseguia ver
um pouco com a luz que Chiwa emanava, estava sobre uma superfície infinitamente plana,
não pode acreditar quando olhou para baixo e viu seus pés pisando em absolutamente…
nada.

Carlos aproveitou a oportunidade já que estavam parados para perguntar:


−− Então... −− Disse meio tímido pois não sabia como chamar Chiwa, se usaria o seu
nome ou se acrescentaria ―senhora‖ ou ―deusa‖ não sabia qual delas escolher. −− Porque
a…
−− Podes usar meu nome. −− Chiwa falou o acalmando quanto a isso, Carlos suspirou não
de alivio não queria ser desrespeito.
−− Porque Chiwa desceu a minha Cerimónia de Iniciação?
−− Eu desci para a tua cerimónia porque tinha de ser assim, o destino ditou que as coisas
acontecessem assim.
−− Destino?

−− Sim, cada pessoa tem o seu próprio destino quer seja bom ou mal, basta simplesmente
escolhermos aquilo que queremos, cada um é livre de escrever o seu próprio destino,
ninguém tem o poder de escrever as historias de outros, nem muito menos eu é por isso
que existe o livre arbítrio, os princípios pela qual o universo é regido, sem ele o universo
seria um lugar desprezível para se viver, é a liberdade é quem torna as pessoas naquilo
que serão. E também eu desci porque fiz uma promessa ao teu pai que olharia por ti.

101
−− Meu pai? −− Carlos assentiu engolindo um seco, era difícil de acreditar que seu pai
que ele pensara que nunca soube de sua existência teria pedido isso a Chiwa. −− Mas
como?
−− Antes de morrer ele soube de você, e a ultima coisa que ele me pediu foi que eu
cuidasse de você, e eu prometi a ele que assim o faria.
Carlos sentia lágrimas em seus olhos misturados com um enorme sentimento de raiva e
ódio pela figura de seu pai, raiva pelos anos que sofreu e teve que suportar os abusos
físicos e psicólogos vindas de seu padrasto, ele sendo apenas uma criança e ter passado
por tanto sofrimento.
Limpou rapidamente achando que Chiwa não notaria, mas ele notou e fez questão de não
falar sobre. Eles continuaram a sua viagem em direcção ao Reino dos Mortos tombando a
desaparecer outra vez.
Eles apareceram em grande lugar escuro e sombrio, e dessa vez um grande portão de
prata estava em suas frentes, todo reluzente e cravejado com crânios de diferentes
criaturas, das mais grandes as mais pequenas, era algo horrível de se ver.
−− Chegamos ao Reino dos Mortos Carlos −− Chiwa anunciou indicando com a mão. −−
Antes de entrarmos gostaria de te falar que a Morte não gosta e nunca ira gostar de mim
por isso é muito importante que não fales absolutamente nada.
−− Por quê?
−− Bem, por que eu e a Morte somos diferentes, eu represento a vida e ela a morte, por
isso que ela não gosta tanto de mim, e alem do mais…−− Chiwa o olhou de cima para
baixo antes de continuar a falar −− você está vivo, e estamos no Reino dos Mortos,
percebes a ironia disso? −− Carlos simplesmente sorriu e mexeu a cabeça em sinal de
concordância.
−− Agora se prepare. Estarás entrando em um lugar que nenhum humano alguma vez
entrou. O Reino dos Mortos pode ser um lugar lindo e perigoso para aqueles que a sua
mente não se encontra preparada por isso concentre-se e tente evitar todo e qualquer
pensamento negativo ou triste, pois será um tormento, trate de esvaziar completamente a
mente. −− Disse Chiwa para Carlos.
Ele engoliu tudo o que ela dissera e tentou fazer tudo exatamente igual, fechou os olhos e
se concentrou, parecia algo simples para qualquer pessoa no mundo esvaziar a mente e
não pensar em nada mas não era o caso de Carlos que quanto mais tentava não pensar em
nada mais a sua mente se enchia de pensamentos sendo os maiores aquilo que ele
procurava a qualquer custo evitar: O seu passado turbulento.
Os enormes portões prateados se abriram e Carlos sentiu a brisa que saia do Reino dos
Mortos, não era como a do Mundo dos Vivos cheio de vida, ali era como se o vento
tivesse também morrido, pois ao invés de o carregar com nova energia sentiu a sua vida e
esperança desaparecerem a medida que o vento passava.
Uma camada negra cobria a entrada impossibilitando ver o interior do Reino dos Mortos,
os dois entraram.
Carlos que em vão tentou se concentrar não conseguiu evitar as terríveis lembranças que
vieram em seus olhos, a sua cabeça começou a doer, era obrigado a lembrar de tudo

102
aquilo que ele tentava esquecer, todos os anos em que sofreu maltrato em que foi
espancado, ver a sua mãe sendo batida bem na sua frente aquela toda violência em que
viveu tudo passou diante dos seus olhos, repetindo-se outra e mais outra vez, ele viu
também a sua mãe e o seu irmão sendo mortos a sua frente os seus olhos encheram-se
de lágrimas de dor, o seu corpo doía parecia que tinha sido pisado por um gigante, era
como se toda a dor que ele já sentiu retornassem bem naquele momento

O seu corpo se tornou pesado a sua visão ficou embaçada, foi então que Carlos sentiu
sua testa sendo beijada e no exato momento toda aquela sensação desapareceu, era o
beijo de Chiwa que o livrou da aflição, tudo o que Carlos sentiu era paz e segurança.

Eles estavam do outro lado, tinham deixado tudo para trás e estavam no Reino dos
Mortos.

Eles estavam numa sala que parecia uma sala da realeza com um enorme assento real
bem no centro, onde um vulto negro se sentava, o assento era banhado em ouro o que
dava um esplendor dourado e cravejado com crânios, ao seu lado outros enormes três
assentos erguiam-se do chão, eram os lugares dos Três Juízes da Morte, no chão usados
como mármores estavam jogados milhares de esqueletos, bem no alto uma grande
cabeça esquelética de touro estava fixada na parede, a Morte era uma caçadora e
gostava de exibir os seus prémios.

−− Quem ousa entrar em meus domínios!? −− Disse uma voz fria e sombria, (Carlos
sentiu um arrepio no estômago) do fundo do assento, era a Morte, a sua voz era como se
mil vozes falassem ao mesmo tempo. A Morte era uma enorme grande figura esquelética
envolvida em enormes panos negros, um grande capuz escondia a sua enorme cabeça
esquelética, em suas mãos tinha um grande cajado de prata, a Morte o usava onde quer
que fosse.

−− Chiwa? O que você quer? −− A Morte perguntou odiando cada palavra que
pronunciou.

−− Morte! Como você está? −− A Morte a olhou aborrecida.

−− O que você quer? −− Grunhiu.

−− Eu preciso de um favor seu.

−− Um favor? Queres um favor? Desde quando a grande Chiwa é de pedir favores?


Sobretudo em mim.

−− Esse é muito importante.

−− A resposta é não, podes sair dos meus domínios. −− Disse a expulsando, de súbito a
Morte olhou para Carlos e naquele instante ela percebeu que ele estava vivo, Carlos
sentiu um tremendo arrepio quando aqueles olhos penetrantes o encararam, ele sentiu
que estavam olhando directamente em sua alma.

A expressão no semblante da Morte mudou rapidamente, enchendo-se de tremenda fúria


103
ela virou-se encarando Chiwa directamente nos olhos:

−− O que é isso? Você ousa me trazer um vivo aos meus domínios? −− Ela esticou a
mão para tentar segurar a face de Carlos mas Chiwa o impediu estendendo a sua mão.

−− Pare com isso Morte. −− Apesar de toda aquela situação a voz de Chiwa continuava
calma e doce, era como se aquela toda situação não importasse nada para ela.
−− Mortos não são bem-vindos no Reino dos Mortos, por isso se chama Reino dos
Mortos e não Reino dos Vivos. −− Disse irritada.
−− Eu sei, eu não viria aqui se não fosse importante.
−− A resposta continua a ser não. −− Falou decidida.
−− Tens a certeza? −− Chiwa perguntou erguendo as sobrancelhas. A Morte permaneceu
firme em sua decisão, Chiwa se virou dando de costas e falou alto para que a Morte
ouvisse:
−− Sendo assim é melhor voltarmos −− Falou para Carlos. −− Que pena tu não poder
receber a Sakmat −− Chiwa falou para a Morte. E naquele instante a postura da Morte
que se mantivera firme e implacável desde que chegaram mudou drasticamente.

−− Receber o…? Espera aí do que está falando? −− Chiwa parou, virou-se e falou:

−− Sabes a Sakmat, sim eu a encontrei, eu até queria te dar, mas você nos expulsou, por
isso estamos indo. −− Ela deu as costas e recomeçou a andar.

−− Pare. −− Morte estendeu a mão fechando os enormes portões. −− O que você quer?
−− Agora estamos falando. −− Chiwa falou voltando a se aproximar. −− Queremos ver um
morto.
−− Isso é impossível… Mortos não podem ver os vivos. −− Declarou.

−− Eu sei disso… Mas tu és a Morte e eu sou a Vida. −− Chiwa rebateu, Carlos não
entendeu o porque Chiwa falou isso mas a Morte pareceu entender visto que assentiu a
cabeça.

−− Primeiro quero o Sakmat. −− Chiwa assentiu, estendeu a mão e um grande diamante


negro surgiu em suas mãos, o diamante voou das suas mãos e foi até Morte que o apalpou
profundamente admirada com sua beleza. −− Finalmente! Depois de tanto tempo!

Ela estendeu a mão e uma porta negra apareceu a sua frente.

−− Vamos −− Chiwa disse a Carlos, e juntos atravessaram a porta. Deram de cara com
um longo corredor as paredes de cor cinza, eles iniciaram a andar.

−− Nunca pensei que existisse um lugar assim.

−− E não existe.

−− Como assim? −− Olhou confuso para Chiwa.


−− O Reino dos Mortos é um lugar que fica fora do espaço físico, é um lugar que
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transcende a existência, ou seja, ele só existe e pode ser entrado para aqueles que
morrem, para pessoas vivas esse lugar não existe.

−− E onde está localizado?

−− O Reino dos Mortos não fica em nenhum lugar, ele existe em todo o lado. −− Ela
abriu a mão e surgiu um holograma do planeta terra −− Esse é o planeta terra tal como o
conhecemos −− Uma linha vermelha começou a girar no holograma, rodeando ele por
completo

−− Agora imagine que essa linha seja o Reino dos Mortos, mas para ir até o espaço
terás de ser um astronauta certo? −− Carlos concordou com a cabeça −− É assim que
funciona o Reino dos Mostos, somente os mortos podem ir lá, fica fora de qualquer
zona que tenha vida.

−− Mas… Eu estou vivo. −− Disse olhando-se a si mesmo, para ter a certeza do que dizia.

−− Você está aqui porque eu quero, eu estou te protegendo dos tormentos que esse lugar
traz aos vivos.

−− Tormentos? Quais tormentos?

−− A morte, se uma criatura viva entrar no Reino dos Mortos sem a devida proteção ele
morrerá. Essa é uma das regras mais importantes da Morte, não deixar nenhum vivo
entrar para o seu Reino.

−− Entendi, mas porque ela me deixou a mim?

−− Se algo que a Morte gosta igual a cumprir as suas regras Carlos, é de tesouros, e o
que dei para ela é um dos tesouros mais valioso de todo o mundo, a muito que ela
procurava.

−− Mas afinal o que é a Morte? Ela é uma deusa como você? −− Carlos perguntou
confuso, Chiwa parou de repente, e se abaixou esticou a mão ao chão, e uma flor
começou a brotar do chão.

−− Quando não existia o universo, só existia o Vazio do Esquecimento, de repente a


vida surgiu nesse caso eu e Chini, após eu criar o primeiro ser vivo eu sabia que não
poderia existir simplesmente a vida sem existir o oposto, e foi então que quando a
primeira criatura viva morreu −− A flor murchou e morreu caindo no chão

−− A Morte nasceu −− Uma imagem da Morte surgiu da flor morta, a Morte beijou a
flor e ela desapareceu −− ela não é um deus, ela é um Espectro, uma representação de
algo, assim como eu represento a vida, ela representa a morte, enquanto existir a vida a
Morte existirá.

−− Sei... Mas não é possível... Eliminar a Morte?

−− É impossível eliminar a Morte Carlos, ela representa todos aqueles que morreram, e
para eliminar ela, teria que se eliminar todos os seres que já morreram e isso é algo
105
impossível, mas se um dia a Morte desaparecer então todos os que morreram
desapareceriam junto com ela para sempre.

−− A sala onde estávamos… Para que e que serve? −− Carlos se perguntou se referindo
aos três assentos que vira.

−− É a Sala do Julgamento. −− Chiwa começou a explicar.

Quando alguém morre, a sua alma desce directo a Sala dos Julgamentos, lá é julgada de
acordo as suas obras enquanto vivo, os três assentos é o lugar dos Três Juízes da Morte, o
primeiro juiz representa as boas obras que o morto fez enquanto vivo, o segundo as más
obras, terceiro representa se o morto não teve tempo de realizar qualquer obra ou seja se
morreu ao nascimento.

Quando a pessoa chega perante a Sala do Julgamento é apresentada perante a Morte e


os Três Juízes enquanto que o Revelador começa a ler todas as obras que a pessoa fez,
após terminar de ler as obras, se a pessoa fez mais coisas boas do que más, o Primeiro
Juiz irá se levantar, a Morte irá abrir um portal, igual ao que nos abriu e ele irá para os
Campos Paradisíacos.

Quando a pessoa pratica mais más obras, o Segundo Juiz levanta-se a Morte abre um
portal para o Purgatório, que é um lugar terrível cheio de temores, uma terra maldita onde
a Morte o atormenta com seus maiores temores é o pior lugar que se pode imaginar.
Vulcões em cortantes erupções, a terra lá é acida e tóxica onde plantas morrem antes de
nascer, um lugar de sofrimento eterno onde criaturas malditas prontas para aterrorizar a
sua morte.

Quando a pessoa não praticou nenhuma obra, o terceiro juiz se levanta e a pessoa irá pela
Reencarnação, sem se lembrando de nada sobre este lugar, ou de que morreu ao
nascimento na vida anterior. Eles se depararam com três portas, cada pintada de cor
diferente, a primeira de verde, a segunda de vermelho e a ultima de branco.

−− O que são essas portas e para aonde levam? −− Carlos questionou olhando para cada
uma delas.

−− Essas três portas levam aos Campos Paradisíacos −− Indicou a primeira porta
pintada de cor verde

−− Ao Purgatório −− Indicou a segunda pintada de vermelha

−− E a Reencarnação −− Indicou a terceira. −− A nossa porta é a primeira −− Ela


caminhou até a primeira porta, colocou a mão na fechadura parou virou-se para Carlos e
disse:

−− Antes de fazeres o que estais pensando ouvi-o primeiro e depois podes gritar a
vontade, certo? −− Ele assentiu abanando a cabeça em concordância −− Perfeito −− Ela
abriu a porta uma luz branca saia de lá −− Entre −− Carlos entrou. Ela entrou de seguida
−− Seja Bem-vindo aos Campos Paradisíacos.
106
O Reino dos Mortos
“Amor não é uma coisa que se possa pedir a alguém. O genuíno amor é despertado, ele
não pode simplesmente ser forçado ou controlado. Ele é puramente uma verdadeira
essência.” − Anne Frank.

A luz forte do sol daquele novo mundo cegou os seus olhos, Carlos depressa colocou a mão
sobre os olhos impedindo que a luz penetrasse os seus olhos, ele tombou a abrir os olhos e
admirou-se profundamente com o que via: Era lindo, era um lugar verde com lagos de águas
cristalinas, montanhas brancas com o seu topo coberto de neve, florestas tropicais e ao
longe um vasto oceano azul, era mesmo um paraíso, o nome justificava o local.

Carlos conseguia sentir o cheiro da relva fresca, o céu estava limpo sem algum sinal de
nuvem, o clima estava fresco e agradável, Carlos suspirou profundamente, era agradável
sentir aquele aroma doce e fresco daquele lugar, se fosse por ele teria preferido ficar lá
para todo o sempre.

−− É lindo. −− Falou suspirando contente, não sabia o do porque estava tão feliz, era
como se aquele lugar transmitia felicidade.

−− Vamos. −− Chiwa falou a Carlos e eles tombaram a desaparecer.


Eles tombaram a aparecer sobre a beira de um precipício onde um homem estava sentado
olhando para o enorme vale que se estendia sobre os seus pés, Chiwa se aproximou
lentamente enquanto Carlos aguardava, e sussurrou algo para o homem que prontamente
se levantou um pouco assustado e surpreso com a surpresa de Chiwa.
O homem se virou e Carlos prontamente o reconheceu de cara, através dos quadros que
vira no Castelo Real era o Rei Marcus ou ―Pai‖ para Carlos e por mais que Carlos odiasse
admitir eles eram parecidos.

−− Oi… −− Disse Marcus nervoso e meio atrapalhado com o que ia dizer. −− Você deve
ser Carlos… Eu… Sou Marcus. −− Marcus sempre fora um grande líder mas não
conseguia entender como estava tão nervoso por falar com Carlos, afinal era seu filho.

−− Podemos conversar? −− Aquilo era um sinal para Chiwa para os deixar a sós, ela
desapareceu e pela primeira vez Carlos ficou frente a frente com seu pai, há anos que ele
aguardava essa oportunidade. Carlos se aproximou e juntos sentaram bem na beirinha do
precipício.

−− Imagino que tenhas muitas perguntas. −− Disse Marcus olhando para o horizonte e
depois baixou o olhar com vergonha de si mesmo.

−− Porque você abandonou a minha mãe? −− Foi a primeira coisa que Carlos perguntou e
por mais que Marcus quisesse dizer o contrario a verdade era mesmo que ele a tinha
abandonado.

−− Porque eu fui um tolo. −− Respondeu com aquela sensação de culpa em sua voz. −−
Quando eu era jovem, eu era um príncipe imaturo, mulherengo e idiota, vivia de festas e
de mulheres, meu pai odiava a vida que eu levava, por isso num dia ele me chamou para
falar comigo, como eu era o irmão mais velho o meu destino era de ser rei ficaria mal um
107
rei ser mulherengo, lembro-me das suas palavras duras “Se você não deixar dessa tua
vida desprezível tu nunca serás rei, e sim isso é uma ameaça” aquilo me atingiu
profundamente, então eu resolvi fazer uma vez na vida a vontade do meu pai, encontrar
uma boa moça para casar.

Não foi difícil encontrar uma, todas as mulheres do Reino prontamente se voluntariaram
para serem minhas esposas, mas eu queria alguém que me amasse, não pelo que eu era, um
príncipe mas pelo quem eu sou, por isso resolvi procurar uma esposa no Mundo dos
Humanos, onde ninguém me conhecia e foi ai que eu conheci a sua mãe.

Ela era a mulher mais linda e incrível que eu conheci, ela estava lendo um dos meus livros
preferidos Frankenstein e a gente começou a conversar no primeiro instante sobre o livro
eu a disse que era um dos meus livros preferidos e ela sorriu admirada e me disse para
contar a ela como terminava, ela achava que eu estava brincando quando contei a ela tudo
sobre o livro ela ficou profundamente admirada com aquilo e a gente continuou a conversar
enquanto o sol se punha foi um dos melhores momentos da minha vida e naquele momento
eu me apaixonei e soube que encontrei o amor da minha vida.

Nos começamos a namorar, era algo lindo de se ver, tínhamos se apaixonado


perdidamente um pelo outro, ela mudou a minha vida de uma maneira que eu nunca achei
que fosse possível, eu a contei a ela sobre quem eu era, um príncipe de um Reino magico,
no principio ela não acreditou mas eu a ofereci um colar magico que a fez acreditar‖.

Carlos pegou em seu colar, era o mesmo que sua mãe o tivera dado e o mesmo que o seu
pai tinha dado a sua mãe, Marcus notou o seu movimento e um sorriso abriu em seu
semblante, pois depois de muitos anos ele finalmente o pode ver de volta.

−− Eu estava tão decidido em casar com ela que resolvi a levar para conhecer os meus
pais, foi um dos piores momentos da minha vida, ela tentou ser simpática com eles mais
eles a desprezaram completamente, diziam eles que não podiam deixar uma rapariga
qualquer ser a Rainha de Animândia

“Não, ela nunca será rainha, até dá-me vergonha imaginar ela ser rainha” disse o meu
pai a nós, Isabel saiu do Castelo a chorar, eu tentei seguir até ela, mas o meu pai me
ameaçou disse que se eu a seguisse que nunca mais irei de voltar e para esquecer que eles
eram os meus pais, eu paralisei mas naquele momento eu amava demais a sua mãe para a
abandonar se fosse por mim eu teria abandonado a realeza para ficar com ela, mas eu não
consegui encontra-la, a procurei em todos os lugares e eu nunca tornei a vê-la, eu nem
sabia que ela tinha dado um filho, até Chiwa ter me dito.

Uma lágrima caiu da face de Marcus e ele nem se importou que Carlos o visse assim tão
frágil, era evidente que ele ainda sofria por causa de Isabel o grande amor da sua vida.

−− Durante toda a minha vida eu sonhei em conhecer o meu verdadeiro pai, sonhei dos
momentos que perdemos e que iríamos passar juntos, imaginei umas mil vezes como
seria ver a sua face. −− Carlos tomou a palavra. −− Mas agora eu percebo que sonhei
em vão, você se pergunta por que é que ela nunca te disse que tinha um filho seu? sabes
por quê? Porque você é um covarde! Um covarde! Como podes deixar o amor da tua
vida ir embora? Só porque os teus pais não aprovam? Não consegues lutar nem pela
mulher que amas, tu deixaste que ela fosse humilhada bem na tua frente e não fizeste
nada? Que tipo de pessoa permite isso? Você sabe o quanto ela sofreu? O que quanto
108
ela teve que batalhar para me dar um bom futuro? Enquanto ela se sacrificava enquanto
você ficava lá no seu Palácio sem dar a mínima para ela −− Ele começou a chorar de
dor, a cada palavra que falava mais dor trazia para ele −− Eu tenho vergonha em
chamar-te de pai, agora só sinto vergonha e ódio por saber disso, até sinto vergonha de
mim mesmo por estar ansioso para nada. −− Desabafou toda a raiva, ódio que sentia.

Em um primeiro instante Marcus não falou nada ficou refletindo em cada palavra que
Carlos dissera, ele deixou primeiro que toda a raiva que Carlos sentia por ele fluísse e
fosse levada pelo vento, depois de algum tempo Carlos tombou a falar desabafando
assim um dos seus desejos mais ocultos.

−− Tudo o que eu queria −− Disse enquanto suas lágrimas caíam ao chão. −− Era um pai
que me amava, em vês disso ganhei um monstro.

−− Eu realmente sinto muito! −− Disse Marcus tentando imaginar aquilo que Carlos
passara.
−− Isso não vai mudar o passado, o que está feito está feito. −− Disse secamente −− E ela
nunca mais irá voltar, o meu passado sempre será esse cheio de dor, já me acostumei com
isso.
−− Eu cometi muitos erros na vida, eu sei o que eu fiz é imperdoável. −− Marcus disse
finalmente após um longo silêncio. −− Tu tens razão em não me perdoar, eu não consigo
imaginar aquilo pelo qual você passou, eu não quero que você esqueça o passado, apenas
quero que possamos construir um novo futuro como pai e filho.
Carlos nada disse, ficou olhando para o horizonte com as lágrimas descendo cada vez
mais para o chão.
−− Por favor! Me deixe fazer parte da sua vida. −− Suplicou Marcus. −− Eu sei que ela
quereria isso.
−− Não, ela não iria querer isso, ela quereria que eu seguisse em frente igual o que ela
fez. −− Ele levantou-se dando de ombros e andando descendo o precipício.
Ao descer ele deu de cara com Chiwa olhando para o sol.
−− É lindo não é? −− Chiwa disse a ele, Carlos não respondeu. −− Você sabia que daqui a
alguns milhões de anos o sol irá morrer? E quando chegar a sua hora o sol irá explodir e
irá destruir tudo ao seu redor.
−− E apesar de ser mortal será algo lindo de ser ver. −− Nos olhos de Chiwa apareceram
imagens de uma estrela rebentando e destruindo tudo como se ela estivesse vendo o
futuro. −− Quando o sol morrer, muitas vidas morrerão, mas no lugar do antigo sol irá
formar-se um novo sol e novos mundos irão nascer assim como novas vidas, essa é lei do
universo, enquanto uns morrem outros nascem.
−− Não entendi. −− Ela se virou e colocou a sua mão no ombro de Carlos e disse:

−− O que eu estou tentando dizer é que, tu perdeste o teu sol, mas surgiu um novo para
cuidar de você, eu sei como é difícil perder alguém que amamos, acredite eu sei, mas
tens que aprender a seguir em frente, eu sei que estais chateado com Marcus, eu

109
também estaria, mas essa raiva que tu sentes não irá te levar a lado nenhum
simplesmente ira te consumir dia após dia, tens que saber perdoar.

−− Mas…

−− Não mas, o perdão é a prova de que podemos voltar a amar não importa o que
aconteça.

−− Acho que tens razão. −− Gemeu.

−− Que tal falares a ele pessoalmente? −− Carlos voltou Marcus estava e fizeram as
pazes.

−− Me desculpe! −− Foi o que Carlos conseguiu dizer enquanto os dois, Carlos e Marcus
se abraçavam, Carlos chorava deixando que toda a raiva que sentira por seu pai fosse
levada pelo vento.

−− Está tudo bem filho. Está tudo bem −− Exprimiu Marcus chorando também. Chiwa
sorriu comovida ao ver aquela cena.

Marcus levou Carlos, a seu pedido, para conhecer o Reino dos Mortos e pela primeira
vez ele podia passar um tempo com seu pai, eles exploraram aquele lugar a pente fino,
passando pelo campo das flores perfumadas, as grandes quedas de agua que ali existiam,
as grandes e lindas casas, mas o lugar mais especial que lhe mostrou foi o seu lugar
favorito. Um rochedo que do topo dava uma vista espetacular de todo o Reino dos
Mortos.

−− Carlos. −− Marcus dirigiu-se a Carlos, eles estavam sentados no rochedo apreciando


a bela vista que proporcionava. −− Eu sei que tivemos pouco tempo, mas esse foi o
melhor momento da minha morte. −− Carlos sorriu.

Chegara o momento de Carlos voltar para o Reino dos Vivos, eles se despediram,
Marcus não conseguiu evitar que uma lágrima escorresse de seu rosto e disse a Carlos:

−− Mal posso esperar que você morra. Para poder ver você novamente. −− Marcus
agradeceu a Chiwa por poder partilhar aquele momento e Carlos mais uma vez se
despediu dele acenando em despedida enquanto que desapareciam do Mundo dos
Mortos e tornaram a aparecer no Palácio de Chiwa.

Carlos riu, tinha a aventura suficiente para uma noite, Chiwa estendeu a mão e a Porta
voltou a aparecer.

−− Antes de ir Carlos, queria te avisar para não falares com ninguém acerca do Reino
dos Mortos.

−− Por quê? −− Perguntou confuso e sem saber o motivo.

−− Não vais querer que a Morte bata na sua porta mais cedo. −− Ele sorriu, mas Chiwa
estava séria −− Não é uma piada Carlos, ela realmente pode fazer isso e olha que eu não

110
poderei impedir.

−− Como se eu falar de alguém daquilo que eu vi?

−− Sim, isso mesmo. Ela não gosta que alguém vivo saiba do Reino dos Mortos, agora
ela te odeia e fará tudo para que você morra.

−− Agora fiquei com medo.

−− Não se preocupe você terá a minha proteção −− Respondeu, isso animou Carlos −−
Mas só quando ela tentar te matar, não posso interferir muito nas vidas alheias.

−− Perfeito −− Disse encerrando o assunto −− Agora pode ir. −− Carlos tocou na


maçaneta abriu a porta e virou-se para Chiwa.

−− Eu queria agradecer por tudo o que fez por mim. −− Chiwa assentiu −− Voltaremos a
encontrar-nos?

−− Só o destino dirá. −− E ela o empurrou pela Porta.

Carlos acordou abruptamente, a sua cabeça girava, o dia estava claro, o brilho do sol
entrava pela janela do seu quarto anunciando um novo dia, era uma manhã de Domingo,
tinha tido um sonho estranho, sonhou que estava com Chiwa e que visitou um local
chamado Reino dos Mortos, levantou da cama, estava de pijama, igual ao que tinha se
deitado com ele lá dentro e que usava no seu sonho, abriu as janelas do quarto, o clima
lá forma estava ótimo, sem nenhuma nuvem de chuva, ontem passou a maior parte do
dia chovendo, parecia que o céu resolveu fazer uma pausa, observou as pessoas na rua
andando, olhou um menino jogando bola, saiu de perto da janela e foi até ao banheiro,
tomou banho, lavou os dentes, e saiu do quarto.

Pensando que aquilo era um simples sonho, mas enquanto mais pensava sobre o que
tinha acontecido mais depressa acreditava que não era um simples sonho, ele bebeu um
copo de água e lembrou-se de tudo o que aconteceu, sabia que era real, sabia que ele
realmente tinha visitado o Reino dos Mortos.

111
Treinando com Yara
“Para grandes poderes, vêm grandes responsabilidades”.

−− Senta-te. −− Disse Yara a Carlos, eles estavam numa sala quadrada feita de madeira,
parecia mais uma casota, velas aromáticas estavam espalhadas ao redor rodeando eles
em um circulo, um grande armário de madeira estava encostado à parede, em cima um
grande candeeiro iluminava a sala ao redor, no canto existia o que parecia ser um altar,
com flores decorando ele, frutas e uma fotografia de um homem provavelmente o pai de
Yara.

−− Onde? −− Perguntou olhando ao redor a procura de algo em que sentar. −− Não tem
uma cadeira.

−− Senta no chão, agora. −− Ordenou séria, Carlos obedeceu. −− Sente do jeito em que
eu sentei. −− Ela estava sentada, cruzando as pernas, eles tinham trajes brancos, com o
símbolo da bandeira de Animândia no peito esquerdo. Carlos levantou e sentou do jeito
que Yara tinha sentado.

Ela mexeu a cabeça, levantou e foi até ao armário, abriu ele e Carlos estranhou com o
que viu: uma grande variedade de armas desde espadas, machados, catanas, facas, todos
os tipos de facas, de cano cerrado, curta, de cano alongado, facão, bastões, matracas e
outros mais. Ela tirou duas espadas e voltou onde estava, sentou e atirou a segunda
espada para Carlos. Yara abriu a sua espada, era feita de aço, comprida e pontiaguda,
com um gume tão bem afiado que era possível ver reflexos através dela o seu cabo era
preto e com diferentes tipos de letras gravadas.

−− Sabe, o meu pai construiu esse lugar com as suas próprias mãos −− Disse enquanto
deslumbrava a espada −− Ele queria um sítio tranquilo para poder treinar e melhorar as
suas habilidades de combate, ele me trouxe aqui pela primeira vez quando eu tinha
cinco anos, ele me ensinou tudo o que eu sei, ele me ensinou a ser... Letal −− Ela olhou
rapidamente de relance para Carlos e golpeou rapidamente uma mosca que voava a
dividindo ao meio, ele assustou-se.

−− Fico feliz em saber −− Respondeu acalmando-se e sentindo o coração batendo muito


rapidamente.

−− De todas as armas que ele usou, essa foi a mais especial de todas, sabe o que
significa essas palavras? −− Carlos mexeu a cabeça. −− Significa A Carniceira de
Monstros. Só com um golpe ela é capaz de matar a sua presa. −− Disse −− Agora
chegue de falar −− Ela levantou, Carlos fez o mesmo. −− Tire a sua espada e me ataque.

−− O que? Não posso fazer isso.

−− Porque que os homens têm sempre essa mania de subestimar as mulheres? −−


Reclamou. Carlos não disse nada −− Vamos lá, me ataque ou estás com medo? −− Ela
riu o zombando.

−− Tá bem. −− Disse por fim.


112
Yara deu uns passos para trás, separou as pernas, segurou a espada com a mão direita
apontando para ele. Carlos correu em sua direcção ergueu a espada pronto para desferir
um golpe, naquele instante Yara curvou, ele caiu no chão.

−− És lento e previsível. −− disse na sua cara. Ele levantou virou-se e desferiu um golpe
onde Yara estava ela abaixou esquivando da lamina mortal. −− Até uma criança
adivinharia os seus golpes.

−− Isso não ajuda −− Resmungou. Ele correu na sua direcção com a espada em suas
duas mãos, ergueu-a e atacou, Yara travou o ataque com a sua espada, virou-se e deixou
Carlos beijar o chão. Ela não disse nada simplesmente mexeu a cabeça, indo até ao
armário. Carlos levantou −− Como isso irá me ajudar a minha transformação? −−
Grunhiu de frustação. Yara parou Carlos só ouviu algo passar em seu ouvido e tocar na
parede, ele olhou para trás e era uma faca. −− Como você fez isso? −− Sua voz tremia
ele tentou colocar firmeza na voz.

−− Sabes como eu consegui fazer isso? Treinando, e sabes como eu consegui me


transformar no meu Chin? Treinando, tu és um Yedi, tens de ser um guerreiro, e para
poderes se transformar em animal, tens de saber lutar primeiro. −− Respondeu −− A
aula de hoje terminou.

Os treinos com Yara se tornaram mais intensos, já não bastava à escola para estressar a
vida de Carlos logo para manhã agora Yara também entrou no papel, ela era mais rígida
que qualquer um dos vários professores de Carlos e sempre queria levar Carlos ao limite
e ele não desistia facilmente, a cada dia se esforçava mais e mais para superar os
resultados do dia anterior, ele estava se tornando bom.

As lutas com Yara agora eram mais feroz, os dois manejavam a espada em perfeita
sintonia, as suas espadas faziam faíscas ao tocarem-se, Yara investia Carlos conseguia
esquivar e contra-atacava tentando apanhar Yara desprevenida.

−− Não esquece, luta com o cérebro, ele nunca engana. −− Yara sempre repetia isso
cada vez que eles treinavam, num dia após longos dias de treino, Yara disse para Carlos
se sentar. −− O que vou te ensinar agora, é algo fundamental para um guerreiro
animano. −− Ele mexeu a cabeça. −− Um animano e o seu espirito são duas coisas
diferentes, são os dois lados de uma moeda, um dos grandes desafios para muitos é
fazer com que elas trabalhem juntas. −− Ele sorriu de satisfação, Yara o lançou uma
careta, ele parou de sorrir. −− Lembra-se daquele dia que me viste a lutar com Abia no
Coliseu?

−− Sim lembro.

−− Pois é tu deverás fazer exatamente o que eu fiz lutar na forma normal e depois
transformar-se em animal e depois voltar à forma normal assim sucessivamente ou
como dizem, Luta Dupla.

−− Entendi, mas...
−− Você nunca se transformou em um? eu te explico como se faz. −− Disse −− Estique
113
as suas mãos. −− Ele obedeceu, Yara pegou nas mãos cheias de ferimentos dele. −−
Agora feche os olhos e respire, respire e respire. −− Fechou os olhos e respirou
descontraído. −− Ela soltou as mãos dele. −− Agora pense em um animal, qualquer um
e imagine você sendo ele. −− Carlos pensou num gato.

Yara abriu os olhos e um gato negro estava a sua frente, ela sorriu Carlos abriu os olhos
de seguida olhou ao redor e viu Yara sorrindo e olhando para ele, olhou para as suas
mãos e não eram mais mãos eram patas. Ele estranhou de felicidade.

−− Sou um gato, Yess sou um gato. −− Ele falava consigo mesmo na sua mente.

−− É bom não é? −− Carlos uma voz falar na sua cabeça, era uma voz feminina, era a
voz de Yara, que o encarava sem piscar.

−− Como você?

−− Animanos conseguem comunicar com outros animanos quando estão transformados,


usando a mente.

−− Não me digas que...

−− Consigo ler sua mente? Não, só conseguimos falar mesmo, não lemos mentes, isso é
trabalho para os feiticeiros e magos.

−− Bom saber, como volto ao normal?

−− É só fazeres o inverso, pensa que és pessoa novamente? −− Carlos fez isso e voltou
ao normal, olhou para as suas mãos que deixaram de ser patas, sorriu ainda não
acreditando olhou para Yara e o abraçou eufórico.

Naquele dia ele voltou para o castelo na forma de gato, entrou para o seu quarto,
escondeu por baixo dos cobertores e ficou imaginando as coisas que faria. Ele continuou
treinando com Yara dia-após-dia melhorando sempre a sua qualidade de lutador, ele
tinha algumas dificuldade na Luta Dupla, mas depressa conseguiu dominar.

−− Admita eu consigo te vencer. −− Carlos brincou num dia de treino, Yara sorriu de
surpresa.

−− Você nunca irá conseguir me vencer Carlos, põe isso na tua mente. −− E era
verdade, Carlos nunca conseguiu vencer Yara.

114
PARTE 4:
A Odisseia

115
A Espada Dourada
“Uma longa viagem começa por um passo.” − Provérbio Chinês.

−− Conta-se que há muito tempo atrás um rei e grande guerreiro estava perdendo uma
batalha contra um exército cheio de criaturas abomináveis, aflito ele orou a Chiwa
pedindo ajuda e Chiwa o ajudou o entregando a Espada Dourada, forjada no Palácio
Sagrado de Chiwa por ela mesma, uma espada cujo poder poderia destruir exércitos
inteiros uma espada que brilhava nas mãos de homens bravos e destemidos e pesados
em mãos de covardes e maldosos, era a Espada Dourada, feita com Yasmim dourado e
cravado com diamantes, pérolas, rubis.

−− O grande guerreiro usando o grande poder da espada conseguiu vencer a batalha e


mais outras que se seguiram se tornando assim num grande rei conquistador se
tornando imparável, já na sua velhice, sabendo que a espada seria demasiado perigosa
se caísse em mãos erradas, o grande guerreiro decidiu esconder a espada a protegendo
de homens gananciosos. E, alguns dizem que a Espada Dourada é simplesmente uma
lenda idiota e que nunca aconteceu, mas eu digo uma coisa… a história é real! −−
Contava o Velho Contador de História, sentados a volta da grande fogueira estava um
grande grupo prestando a atenção em suas fantásticas historias de grandes aventuras, no
meio desse grupo estava Carlos. O Velho Contador de História tirou o seu chapéu de
palha e disse com o semblante triste:

−− Até hoje eu aguardo que alguém encontre a Espada Dourada. Mas até gora nada,
depois de viver por anos, agora me dói acreditar que em quanto velho eu estava errado,
e era só realmente um mito.

−− Deve ser uma espada tão importante −− Carlos comentou ao ver o Velho triste por
causa de uma espada.

−− E é −− Respondeu o Velho −− O seu poder e valor é inestimável.

−− O que acontece se alguém a encontrar?

−− Essa pessoa terá em posse um poder inimaginável sem precedentes. −− Disse o


Velho. Enos levantou-se do seu lugar anunciando que já era tarde e que todos deveriam
voltar para as suas casas. Carlos foi o ultimo a sair ainda pensando sobre a Espada
Dourada, realmente estava fascinado com a historia.

No dia seguinte, Carlos estava na Biblioteca pesquisando tudo o que achasse útil que
poderia encontrar acerca da Espada Dourada, estava fascinado com o assunto, ele
pesquisava os livros loucamente procurando qualquer referencia sobre a Espada Dourada,
ele descartou os livros que só citavam a espada e os que falavam que ela era um mito ou
um conto de fadas para crianças, simplesmente se focando naqueles que contavam mais
um pouco da sua verdadeira história e essência, a cada livro que lia sobre a Espada
Dourada tomava nota num caderno.

Ele estava tão focado que ignorava as pessoas ao seu redor que olhavam para ele
116
incrédulas por ver um cara pesquisando sobre a Espada Dourada.

Ele tirou um grande livro vermelho no chão, na sua capa estava escrito em Animandês,
Livro dos Registros dos Caçadores de Tesouros no centro existia o símbolo dos
caçadores de tesouros: Um grande baú de ouro rodeado de duas espadas, uma a direita e
outra a esquerda, por baixo do baú uma figura de um homem todo pintado em negro
corria até o baú, atrás do baú um lindo nascer do sol se projectava iluminando todo o
símbolo.

O livro tinha cerca de 10.000 páginas, e continha o registro de todos os achados dos
Caçadores de Tesouros de Animândia, Carlos abriu o índice, procurando em ordem
alfabética um capítulo que falava sobre a Espada Dourada.

Ele começou a ler tudo sobre a Espada, ele descobriu que cerca de 157 pessoas já tinham
se aventurado a procura da Espada Dourada ao longo dos anos e que nenhuma delas a
tinha encontrado ou se quer a tinha visto, ao ler sobre o ultimo nome Theodore Muller ou
Doutor Muller, ele estava na lista dos exploradores o que chamou mais a atenção de
Carlos foi que quando partiu de Animândia, ele estava perfeitamente normal, não tinha
nenhum ferimento registado, mas, quando ele voltou, as suas mãos estavam queimadas
ele tinha perdido a memoria de tudo o que aconteceu com ele durante a sua ausência e só
se lembrava do dia em que tinha partido, como se alguém ou algo tivesse apagado a sua
memória, Carlos se perguntava o que acontecera com ele para voltar assim.

Ele pegou um outro livro que falava sobre a Espada Dourada, dessa vez uma citação de
Heraques, que fora um grande historiador animano, que dizia o seguinte:

―A Espada Dourada é feita de bondade, amor e alegria, ela é feita para os corações mais
nobres para os corações puros e corajosos ela abstém-se do mal, e de todos os
malfeitores, quem tocar nela com o coração manchado de maldade as suas mãos
queimarão com o fogo da justiça”

Ele finalmente entendeu o que acontecera com o Doutor Muller, segundo o que pensava,
o Doutor Muller tocou na espada, mas tal como Heraques disse, ela rejeita os homens
com corações impuros e segundo o que Carlos tivera lido acerca de Theodore Muller,
antes de vir para Animândia, ele era um professor e arqueólogo, era um homem horrível,
arrogante e ignorante, achava-se melhor que os outros ouvindo simplesmente o seu ego.

Segundo o seu palpite, as feridas em suas mãos eram tão profundas que só a Espada
poderia fazer, ele tentara tirar a Espada e acabou sendo afastado dela, provavelmente o
atirou ao longe, batera com a cabeça em algum lugar e perdeu a memória, para ele era a
explicação mais plausível e que fazia mais sentido.

Ele vasculhou mais um pouco acerca da expedição de Theodore Muller e encontrara a


anotação final de seu diário pessoal, uma espécie de código binário combinado com
símbolos animanos, Carlos supôs ser a localização exacta da Espada Dourada já que para
ele, o Doutor Muller fora quem chegara mais perto dela.

117
Carlos começou a decifrar, demorou mais um pouco do que deveria, pois não conhecia
Código Binário e teve de aprender naquele exacto momento com a ajuda de vários livros
sobre o tema, ate que finalmente conseguiu decifrar a mensagem:

Eram coordenadas geográficas, pois aqueles montes de zero e um depressa se tornaram


em outros números, números que tinham o aspecto de coordenadas, ele tirou um grande
mapa de Animândia, e segundo os números e o mapa Espada Dourada estava… no
Deserto de Fogo.

Naquele momento uma sensação de satisfação tomou conta de Carlos, tinha descoberto a
localização da Espada Dourada, algo que em muitos anos ninguém tinha conseguido
alcançar, a alegria de seu feito foi tanta que ele nem se deu conta de que o sol já havia se
posto.

Para ele só havia uma coisa a fazer: Ir atrás da Espada Dourada, e era de extrema
importância que ninguém soubesse disso, ele tinha o disfarce perfeito para isso, as
Jornadas Reais, por um lado ele poderia ir por Animândia e percorre-la como um
príncipe, por outro iria atrás da Espada Dourada.

A primeira coisa que fez após sair da Biblioteca foi contar a Yara sobre a sua magnifica
descoberta:

−− Como? Você esta me dizendo que encontraste a Espada Dourada? −− Yara questionou
cansada, assim que Carlos terminara de falar. Estivera dormindo antes de Carlos chegar e
acorda-la com espanto dizendo que ela teria de o ouvir.

−− Sim, eu a encontrei… quer dizer, sei onde esta. −− Disse entusiasmado.

−− E onde esta?

−− Se prepare... −− Falou ele querendo fazer suspense. −− Esta no Deserto de Fogo. −− Ele
riu se deliciando com as suas palavras.

−− Tens a certeza? −− Questionou ela revirando os olhos.

−− Absoluta. −− Respondeu Carlos com firmeza.

−− Você sabe que é um mito? Certo?

−− Sei… por isso eu escolhi você para as Jornadas Reais. −− Contou Carlos.

−− Porque você fez isso?

−− Para você ver que ela é real. −− Carlos respondeu a entregando uma carta. −− Te espero
amanhã ao meio-dia. −− Ela o recebeu e fechou a porta a sua frente com estrondo.

A noticia das Jornadas Reais, se espalhou muito rapidamente para todo o lado, uma
grande multidão havia se reunido na entrada de Nândia para ver o Príncipe Carlos iniciar

118
a sua jornada (incluindo o seu irmão Marius que vinha se despedir pessoalmente dele)
rumo as Cinco tribos, uma jornada que não seria fácil, visto os enormes perigos que se
podia encontrar no caminho.

−− Sentirei a sua falta mano. −− Disse Marius.

−− Eu também. −− Carlos respondeu trocando um último abraço com seu irmão, antes de
montar em seu cavalo.

−− Carlos. −− Disse Enos. −− Eu te desejo boa sorte na sua jornada!

−− Obrigado! −− Respondeu ele todo alegre.

−− Tenha muito cuidado, Animândia é cheia de surpresas, algumas boas, outras nem
tanto, por isso eu queria te dar esses três conselhos:
1º Não tome atalhos, caminhos curtos podem levar a armadilhas e a varias
consequências incluindo a morte.
2º Evite falar com estranhos sobre quem você é, nem todo mundo que sorri connosco é
nosso amigo e nunca se sabe o que podem fazer connosco, não mude de formas sem
nenhuma necessidade simplesmente em situações de extrema emergência, revelar que
você é um Yedi é muito perigoso.
3º Fique sempre atento com o caminho e nunca se desvie da rota sem uma grande
necessidade.

−− E por ultimo. −− O Mago entregou-lhe um pergaminho. −− Este pergaminho garante


que você realmente visitou as Cinco tribos, para isso tu precisas entregar aos líderes de
todas as Tribos para assinar.

−− Obrigado! −− Disse Carlos pela última vez. Carlos começou se aproximando


lentamente dos dois pilares. Ele parou o seu cavalo olhou para trás acenando uma ultima
vez pensando no quanto sentiria falta desse lugar, virou-se e continuou indo atravessando
os pilares e tudo a sua volta mais uma vez mudou.

Atrás, só se via dois pilares e mais nada, é como se a cidade toda tinha desaparecido,
ele olhou para frente e se surpreendeu com o que viu, Yara estava montado no seu
cavalo, com A Carniceira de Monstros nas costas.

−− Yara…! Tu vieste! −− Disse Carlos se surpreendendo ainda mais.

−− Como se eu tivesse escolha. −− Respondeu ela aborrecida Carlos baixou o olhar. −−


Eu fiquei pensando ontem sobre a tal Espada Dourada e se ela não existir? Eu não iria
perder aquele momento de olhar para tua cara e dizer simplesmente que eu tinha razão.

−− Tudo por causa disso? −− Perguntou incrédulo. −− Uau! Que motivação. −−


Grunhiu.

−− Pense desse jeito, eu iria ter um motivo para gozar da sua cara para toda a vida.
−− Respondeu ela sorrindo. −− Será a realização de um sonho.
119
Após andarem por um pouco em total silencio, foi a vez de Carlos falar:

−− Eu estava pensando aqui imagina se um de nós... Digamos que presos ou sequestrados,


e que por acaso consigamos escapar e queremos enviar uma mensagem? Precisaremos de
uma palavra de segurança para garantir que é mesmo nós que enviamos a mensagem.

−− E qual é a tua sugestão? ttttt

−− Que tal... “Bolo de Chocolate”?


−− Sério? Bolo de chocolate? Não a nada melhor?
−− Foi a primeira coisa que eu pensei, além do mais eu amo bolo de chocolate, quem não
ama? −− Ela não respondeu. −− Além do mais, quem irá desconfiar que bolo de chocolate
é uma palavra de segurança? Ninguém, claro. −− Apesar de Yara não gostar muito dessa
palavra como código, Carlos tinha razão.
−− Está bem, que seja bolo de chocolate.

−− Óptimo bolo de chocolate −− Disse sorridente −− Podes me fazer um?

Ela não respondeu, preferiu simplesmente ignora-lo enquanto cavalgavam se afastando


pouco de Nândia naquela que seria a viagem das suas vidas, subiam para noroeste em
direcção ao oceano, lugar da sua primeira paragem: A Tribo da Água.

120
O ataque das plantas carnívoras
“Numa situação difícil, quando nada mais fizer sentido para você, ouça o seu coração, ele
lhe mostrará o caminho.” − Johann Goethe.

―O ataque das plantas carnívoras‖ parece título de um filme de terror, em quem um bando de
adolescentes idiotas vai acampar numa floresta e se deparam com plantas carnívoras que começam
a os matar um por um até não restar ninguém. Só que para Carlos e Yara isso não era um filme de
terror, eles estavam cercados por plantas carnívoras sedentas de sangue, prontos para devorá-los
vivos só tendo as suas espadas para protegê-los, era um daqueles momentos em que a gente espera
para nunca acontecer.

Carlos e Yara estavam andando montados em seus cavalos na floresta densa já há algumas horas
quando Yara sugeriu fazer uma paragem para os cavalos repousarem, Carlos concordou, procurou
uma boa árvore e amarrou lá os cavalos. Os dois sentaram-se ao pé de uma figueira a brisa era boa
fresca.

−− Então o que tu vais fazer caso encontre a Espada Dourada? −− Yara o perguntou, há já algum
tempo ela queria o perguntar isso.

−− Eu... Realmente não sei −− Respondeu sincero.

−− Você procura algo que não sabes o que irás fazer com ele?

−− É −− Contraiu os ombros −− Bem eu não... −− Yara o mandou para calar. −− O que foi?

−− Acho que ouvi algo. −− Ela olhou ao redor procurando a origem do barulho.

O barulho se repetiu, era como o barulho de algo se mexendo rapidamente e dessa vez Carlos
ouviu.

−− Pegue a sua espada algo está nos espionando. −− Yara gritou, a medida que o barulho se
tornava mais próximo deles. Carlos correu até a sua espada que ele tinha deixado um pouco
afastada dele, a vegetação começou a mexer-se aos seus pês como se algo estivesse acordando, ele
parou abruptamente quando um monte de folhas parecia estar formando uma criatura, ele recuou
para trás levantou-se depressa com o olhar fixo naquilo que estava se formando.

A criatura parou de crescer e se revelou numa grande planta verde cheia de dentes afiados na boca,
ela rosnou para eles, Carlos ficou paralisado, Yara empunhou a sua espada pronta para enfrentar
aqui ser terrível, a vegetação em seus pés começou a mudar depressa e tentou acorrentar os dois,
mas Yara dando conta do que se passava por baixos de seus pés saltou a tempo conseguindo evitar
que fosse presa, já Carlos acabou ficando preso com folhas de arvores em volta do seu corpo e de
seguida levantando ao ar ficando de cabeça para baixo.

−− O solte! −− Gritou para a criatura, ela por sua vez olhou para Yara colocou um sorriso
diabólico em sua face, estendeu as mãos e na ponta das mesmas surgiu bicos afiados iguais a de
um urso, grande e fortes o suficiente para esmagar uma cabeça humana.

A criatura olhou mais uma vez para ela e correu em sua direcção, Yara fez o mesmo, a criatura
saltou investindo por cima derrubando Yara, ela atacou mas Yara conseguiu desviar-se fazendo
que o seu golpe atingisse o chão, Yara correu até a besta com a espada embrenhada investindo
contra ela, a besta esquivava e quando Yara pensava que a tinha atingido na pele ela curou-se o
que Yara supôs que acontecesse já que estava lutando com uma planta, ela riu só de pensar nisso.

Yara respirava pesadamente era impossível vencer aquela… planta foi então que se lembrou de um
dos grandes ensinamentos que aprendera: Algumas plantas não conseguem sobreviver sem a parte
121
de cima, nesse caso a cabaça.

E se fosse o mesmo com aquela criatura? Mas como iria fazer isso? Ele esquiva dos golpes dela, era
tão rápido que parecia capaz de antecipar os movimentos dela. Ela olhou para cima, foi então que
viu uma oportunidade.

Correu até a besta, estando ela parada, Yara investiu por baixo passando no meio das criaturas e
cortando a perna direita levantou-se rapidamente e com a espada em mãos cortou a cabeça da
besta, ela caiu no chão se desintegrando em folhas normais Correu até Carlos e cortou a corda que o
suspendia no ar, arrancou todas aquelas folhas que o envolviam.

−− Carlos! Você está bem? −− Perguntou preocupada o batendo em seu rosto. −− Carlos! Vá lá
acorde.

−− Podes parar de me bater −− Carlos grunhiu.

−− Eu achei que estavas morto.

−− Yara, não é um monte de folhas que irá me matar. −− Respondeu.

−− É melhor levantar-se por que esse monte de folhas irá retornar. −− Rebateu. Carlos levantou
depressa e pegou na espada e ficaram com as costas viradas um do outro esperando outro ataque.

−− Porque que essas plantas resolveram nos atacar? −− Carlos não entendia o motivo.

−− Elas são carnívoras, comem tudo que é carne.

−− De onde eu vim às plantas não se comportam assim. −− As plantas ou os monstros de plantas


começaram a se aproximar saindo da escuridão, estavam os cercando. Eles tinham a altura deles os
dentes afiados, os seus corpos eram só de vegetação, as suas mãos eram afiadas feitas de caule, em
baixo podia se ver as suas raízes ligadas a terra. Carlos e Yara recuaram deixando as suas costas se
tocando.

−− Boa sorte! −− Desejou Yara. E estavam eles completamente cercados naquele que parecia ser o
fim deles: E eles morreram lutando com plantas!

Yara segurou a espada com mais firmeza suspirou contando até três e atacou, Carlos fez o mesmo,
eles lutaram bravamente contra esses seres, mas a cada golpe que davam eles se curavam
adicionando novas camadas de folhas, exaustos, Yara e Carlos recuaram.

−− Não adianta… é impossível mata-los −− Disse Carlos respirando pesadamente.

−− A única maneira é cortando a cabeça ou a raiz. −− Yara respondeu.

−− E como fazer isso?... Eles são muito rápidos. −− Carlos a olhou confuso a espera de melhores
explicação.

−− Ataque por baixo ou por cima −− Respondeu simplesmente. E investiu contra os primeiros dois
monstros que viu a sua frente atacando-os um por baixo na raiz e o outro simplesmente se limitou
a cortar a sua cabeça, eles se dissolveram em folhas verdes. Carlos viu do jeito que Yara fez e
decidiu fazer a mesma coisa.

Correu até o monstro mais próximo, tentou investir mais ele travou a espada, pegando-o com força,
Carlos olhou directamente nos olhos deles, se é que eram olhos, eram só um pedaço de madeira
com o desenho de olho nele, olhou ao lado e viu Yara lutando e ganhando ferozmente contra essas
criaturas, semicerrou os dentes, apertou mais a espada e com toda a força tirou a espada dele o
cortando a mão, baixou-se e cortou na raiz, ele caiu e se dissolveu.
122
Correu até o outro saltou muito rapidamente e cortou a sua cabeça. Eles lutaram até não restar
nenhuma criatura em pé. Exaustos desabaram no chão.

−− Nunca pensei que seria atacado por plantas vivas. −− Disse Carlos cansado e sem fôlego.

−− Você é que queria isso, e acredite ainda não viste grande coisa −− murmurou ela em resposta
totalmente aborrecida.

−− Existe algo pior que isso? −− Falou alto mexendo os braços.

−− Acredite existem coisas piores −− Ela levantou-se e foi até o seu cavalo o desamarrou da árvore
−− Levante-se, precisamos ir.

−− Por quê? Eu estou tão cansado. −− Resmungou.

−− Esse lugar não é seguro −− Avisou, montou no seu cavalo −− E não ligo se estás cansado, eu
ligo para a minha vida.

−− Está bem −− Resmungou em resposta. Ele foi até o seu cavalo o desamarrou e o montou.

−− Para aonde nós vamos agora? −− Yara o perguntou.

−− Precisamos chegar até a paraia. −− Carlos mostrou a ela o pergaminho que o Mago o tivera
dado −− Serena, a Líder da Tribo da Água está nos aguardando.

−− Parece um plano viável. Agora vamos quanto mais cedo chegarmos melhor.

Eles começaram a cavalgar rapidamente saindo da terrível floresta e subindo para noroeste em
direcção a paraia.

123
A Guarda Especial
"Se Você Revelar os seus segredos ao vento, você não deve culpar o vento por revelá-
los às árvores." − Khalil Gibran.

Carlos e Yara chegaram até a paraia, o dia estava morrendo dando lugar à noite e ao
lindo por do sol, a frente só se viam mar e mais mar a cor da areia era azul marinho.

−− É melhor acamparmos aqui, amanhã de manhã saberemos o que fazer. −− Yara


sugeriu.

−− Tens razão. −− Eles montaram uma pequena cabana com paus e folhas que
encontraram ao longo da margem para se proteger do frio intenso que a noite oferecia e
fizeram uma fogueira.

Carlos estava sentado ao pé da fogueira refletindo sobre o que passara e o que estava por
vir, coisa que ele mal sabia e nem se dava o trabalho de tentar adivinhar. Ele olhava para
Yara dormindo tranquilamente após o longo dia que tivera e se perguntava com é que ela
conseguiria dormir em paz, sabendo que foram sido atacados por aquelas terríveis plantas?
Ele ainda estava em estado de choque quando sentiu seus olhos ficaram pesados e logo
adormeceu.

Sonhou que estava correndo em um enorme labirinto perdido e exausto, parecia que
estava fugindo de algo ou alguém, quem quer que seja só gritava com a voz enrugada
Eu irei te matar, a voz se espalhava por todo o labirinto deixando ele mais cm mais
pavor, tropeçou em uma poça de água suja levantou e viu, bem a sua trás uma enorme
criatura com enormes dentes afiados, olhos grandes estava encarando ele com uma
expressão demoníaca, o seu coração batia descontroladamente quase que como se
quisesse sair de seu peito, a criatura abriu a boca e o engoliu inteiro.

Carlos acordou assustado tremendo de seu terrível pesadelo, Yara estava a sua frente
olhando para o mar. Ele saiu da cabana e se aproximou em total silêncio.

−− Vejo que acordou −− Ela falou com os olhos fixo no mar. −− Teve um pesadelo?

−− Não é nada de mais −− Respondeu escondendo a verdade que o tanto o perturbara.

−− Se tu o dizes... −− Falou contraindo os ombros −− Melhor a gente ir. Quanto mais


cedo sairmos dessa paraia melhor. −− Ela levantou virou-se e caminhou até o sítio aonde
tinham deixado os cavalos.

−− Certo. −− Ele aproximou-se na fronteira onde o mar e a areia se encontravam,


estendeu os seus pés sobre a água, estava fria, era o resultado das altas temperaturas que
se registravam durante a madrugada, ele conseguia sentir o seu pé ficando duro e
rapidamente o tirou e colocou-o de novo, ele repetiu de novo esse processo usando os
dois pés até que Yara se aproximou dele.

−− Como é que vamos atravessar esse mar todo? – Perguntou ela olhando para o intenso
oceano azul a sua frente.

124
−− O mago me disse que quando chegássemos aqui deveríamos chamar a Tribo da Água
sobre a nossa presença. −− Respondeu ele não tirando os olhos do mar.
−− Mas… como? – Yara questionou se perguntando como iriam fazer aquilo que ele
estava dizendo.

−− Com uma concha. – Respondeu pegando em uma. – O Mago me disse que a Tribo da
Água as utiliza a anos como meio de comunicação.

−− Como isso funciona?! −− Yara perguntou realmente espantada com aquilo, nunca
tinha ouvido nada igual a respeito. −− Carlos suspirou profundamente antes de começar a
falar.

−− As conchas funcionam como se fossem rádios. −− Disse pegando uma outra concha
para melhor exemplificar. – Usando magia do mar elas conseguem se comunicar entre
elas basta simplesmente escolhermos a frequência em que está a concha receptora e
enviarmos uma mensagem.

−− Entendi. −− Respondeu ela querendo ver como ele iria fazer. −− E qual é a
frequência em que está a concha da…

−− Não tenho bem a certeza… −− Respondeu indeciso pegando as duas conchas não
sabendo qual delas usar. −− Acho que é a primeira.

−− Você tem certeza? −− Perguntou ela erguendo as sobrancelhas.

−− Ela é a Líder da Tribo… −− Respondeu se levantando e decidido qual delas usar. −−


Qual mais deveria ser? −− Ele pegou a concha e tentou se lembrar exatamente como o
dissera para fazer, demorou um pouco até que finalmente conseguir enviar a mensagem,
Yara já começara a ficar aborrecia quando Carlos gritou satisfeito consigo mesmo que
terminara.

A mensagem não dizia muita coisa excepto uma saudação cordial, e a localização de
onde estavam, demorou aproximadamente cinco minutos ate que ele tivesse uma resposta
e tudo o que a mensagem dizia era: Esta bem! Estaremos ai em dez minutos.
Dez minutos não pareceu muito para Carlos, ele andava de um lado para o outro se
perguntando como iriam levar eles para a Tribo da Água, se iriam usar um barco ou um
submarino o que quer que fosse deixava ele incomodado, já Yara estava deitada na areia
aproveitando o brilho do sol e simplesmente relaxando.
Carlos ainda continuava andando ao longo da paraia quando viu um movimento estranho
do mar, homens, não homens normais mas soldados da Guarda Especial da Tribo da
Água, membros de um dos maiores exércitos do mundo animano, estavam armados com
longas lanças afiadas, montados no que parecia… Não, pareciam não, eram tubarões
brancos, maiores do que Carlos alguma vez tinha visto na televisão, eram um total de
quatro, dois na esquerda e dois na direita puxando através de uma corda amarrada em
suas caudas o que parecia ser uma longa carruagem carregando um homem que pela sua
posição conduzia os homens montados nos tubarões.
Os homens pararam a alguns metros de onde Carlos, Yara se aproximou rapidamente
estava tomando o cuidado para não deixarem os tubarões e a própria carruagem que era
125
feita somente para a água e não para a terra, de longe parecia que era uma carruagem
normal parecendo a daquelas dos filmes de princesas, com o seu interior bem luxuoso
digno de um príncipe, mas ao se aproximar poderia se notar as pequenas diferenças que
tornavam a carruagem diferente das demais, não existiam rodas, ao invés de rodas tinham
pequenas bolsas de ar que os permitia flutuar sobre a água e longas asas em suas laterais,
usadas quando quisessem voar, a trás da carruagem existia algo que parecia a cauda de
um tubarão que era usado para andar mais depressa sobre a água.
O homem que estivera dirigindo a carruagem levantou-se aproximou-se o suficiente de
onde Carlos e Yara estavam ele parecia como um peixe, com escamas cobrindo o seu
corpo e guelras em seu pescoço assim como a presença de barbatanas, Carlos o olhava
admirado com aquilo e Yara permanecia indiferente, ele tombou a falou:
−− Meu nome é Karrk Ogawa, Capitão da Guarda Especial da Tribo da Água. Temos
uma mensagem da Chefe Serena. −− O Capitão Karrk desenrolou um pergaminho que
levava consigo e o leu em voz alta:
Saudações Príncipe Carlos! Espero que a sua viajem para ca tenha corrido bem, tomei
conhecimento através do Mago a sua visita as terras aquosas da Tribo da Água, algo
que me alegrou muito sendo você um príncipe e a anos que um príncipe não visita as
nossas terras em uma vista oficial, por isso eu gostaria de convidar você oficialmente
como o meu convidado especial, espero que aceites.
Saudações, Serena, Líder da Tribo da Água.
Carlos ficou um pouco surpreso ao ver o Capitão da Guarda Especial, os vir busca, não
sabia que era assim tão importante ao ponto de alguém que ele supôs ser importante o vir
buscar.
−− Uma pergunta… −− Disse ele pensativo. −− A Cidade fica debaixo da água. Certo?
−− O Capitão assentiu em resposta. −− Como… −− Ele sorriu nervoso. −− Como nós
iremos para lá? −− Perguntou se referindo a ele e a Yara.
O Capitão entendeu o que ele queria dizer porque no momento seguinte tirou de seu
coldre um pequeno cantil de um liquido estranho que na qual Carlos nunca tinha visto e
os entregou.
−− O que é isso? −− Perguntou ele após abrir o cantil.
−− São as ervas especiais da tribo da água! −− Respondeu Yara olhando para o cantil
com bastante apreensão. −− Estudei sobre elas na escola. Sonhava em poder ver uma. −−
Ela sorriu feliz consigo mesmo por poder realizar um dos seus muitos sonhos.
−− E o que ela faz? −− Carlos perguntou para ela.
−− Esta aqui… −− Disse pensando em qual erva seria antes de por fim responder. −−
Esta aqui altera a nossa biologia, se você tomar você ira conseguir respirar por baixo da
água por um determinado período de tempo.
−− Nós as usamos para podermos viver por baixo da água. −− Declarou o Capitão Karrk.
−− Basta vocês a tomarem que poderão fazer o mesmo. −− Carlos e Yara entreolharam-
se procurando sinais de aprovação, os dois concordaram mutuamente e tomaram a beber,
o liquido tinha um sabor estranho, parecia que era doce e ao mesmo tempo amargo,
Carlos queria cuspir tudo que tivera bebido e lavado a sua língua com todos os
detergentes que existem.
126
Apos ingerirem, eles poderiam sentir algo estranho acontecendo em seus corpos, escamas
surgiram ao longo de suas peles, guelras surgiram ao longo dos seus pescoços e surgirem
barbatanas, eles caíram ao chão não se conseguindo equilibrar com as suas novas formas
aquosas.
−− Subam. −− Falou o Capitão Karrk os oferecendo a mão. Os dois subiram na
carruagem e tombaram a viajar em direcção a magnifica Caracol Dourado.
A viagem a Caracol Dourado foi um tanto que magnifica, eles desceram pelas
profundezas do vasto oceano passando por lindos e incríveis corais, Yara para aquilo
com um brilho nos olhos e um sorriso estampado em seu rosto, como se fosse uma
menininha levada pela primeira vez ao parque de diversões, era absolutamente…
Lindo.

Passaram pelos corais, os tubarões nadavam rapidamente ignorando completamente os


variados cardumes que se cruzavam, desceram mais profundamente dando de cara com
um enorme vale, passaram por ele ate chegarem ao fim do vale que terminava em um
precipício e logo após o precipício ficava a linda e espantosa: Caracol Dourado.

−− Sejam bem-vindos a Caracol Dourado! −− Falou o Capitão Karrk para os dois.


Carlos e Yara olhavam para a cidade maravilhados, e tinham razão de estarem assim,
era magnífica, era uma cidade cheia de luzes, com enormes castelos se erguendo dando
um ar medieval pela sua fabulosa arquitetura e moderno pelas suas diversas atividades.

Parecia uma Las Vegas animana, com grandes casinos, hotéis e outros locais para
diversão, na frente da cidade bem na sua entrada ficavam duas enormes estátuas de
duas figuras segurando enormes tridentes dando as boas-vindas a todos os visitantes.

No centro da cidade ficava uma enorme praça, com jardins e enormes fontes de água, o
castelo onde viviam Serena a Líder da tribo, era o maior da cidade se erguendo no
centro da cidade de modo que quem quer entrasse o poderia contemplar, era magnifico,
igual a tudo naquela cidade.

Eles passaram rapidamente pelo posto de verificação, de seguida muito rapidamente o


Capitão Karrk os levou directamente ate o castelo onde Serena os águardava.

127
A Final da Liga de Waterball
"O desporto tem o poder de superar velhas divisões e criar laços de aspirações
comuns." − Nelson Mandela.

A notícia sobre a chegada de Carlos espalhou-se rapidamente por toda a Tribo da Água,
correndo de um lado para o outro como se fosse uma chita, todo mundo ficou surpreso e
entusiasmado por um príncipe visitar a tribo, não que nenhum nunca tenha feito isso
somente era que a ultima vista foi a anos e fora o pai de Carlos quem realizara.
O entusiasmo era tanto que nas ruas rolavam fofoca sobre Carlos sobre com ele era, se
era igualzinho ao pai um grande guerreiro e líder capaz de liderar um grande exército ou
completamente diferente. O outro grande motivo de tanta apreensão era o facto de Carlos
ser o filho de Marcus que ninguém conhecia a sua existência, era um completo estranho
para todos.
Todo mundo tinha um interesse na visita dele, desde os pequenos ate os mais grandes,
afinal ele era um Yedi e igualmente um príncipe, não qualquer príncipe era o herdeiro do
trono e aquela visita poderia ser uma boa oportunidade para a criação de boas relações
com o futuro rei dos animanos.
Apesar da tribo da Agua ser rica e independente −− assim como as demais tribos −−
todas dependiam de um rei que liderava a todas as cincos tribos para que vivessem em
paz, afinal foi a própria Chiwa quem constituiu a monarquia e dando poder ao rei para
que governasse sobre todas as terras, por isso que mesmo que todas as demais tribos se
juntem nunca conseguiram derrotar Nândia.
Por isso era muito importante o deixar feliz, era uma missão que na qual Serena
encarregou a todo mundo. Assim que se soube que Carlos e Yara estavam próximos, ela
mandou logo preparar um banquete de recepção digno de um rei.
Serena estava sentada em seu trono ditando uma ordem a um dos seus súbditos quando o
Capitão Karrk entrou anunciando a chegada de Carlos e Yara, Serena ordenou que os
deixassem entrar, o Capitão Karrk assentiu e saiu pela porta que entrara, segundos
depois, la estavam eles, Carlos e Yara na presença de Serena.
−− Majestade! −− Yara tomou a falar fazendo uma profunda reverência, Carlos notando o
ato dela, fez o mesmo. −− Obrigado por nos receber!
−− Levantem-se. −− Falou ela em sua voz serena. −− Sejam bem-vindos! A Tribo da
Agua
−− Obrigado! −− Respondeu Carlos com o rosto para cima.
−− Bem eu gostaria de convidar para os vossos aposentos. −− Ela disse-lhes, e chamou
alguém que Carlos não conseguiu saber exatamente o seu nome e um mordomo veio a
pressas. −− Leve-os para os seus aposentos. −− Ordenou para o mordomo que assentiu.
Ela se virou para Carlos e Yara e disse:
−− Descansem um pouco, imagino que estejam cansados com a viagem até cá. Falarei com
vocês ao jantar. −− E assim Carlos e Yara seguiram o mordomo em direcção aos seus
aposentos.

128
Carlos aproveitou bem o seu descanso, passou o resto do dia a dormir, apesar de ele estar
debaixo de agua e sem perguntando como conseguia fazer todas aquelas coisas, o sono
acabou por levar a melhor sobre ele a adormeceu profundamente, Yara vendo Carlos
deitado na cama como se fosse um peixe morto não restou com muitas opções a não ser
dormir também.
A noite chegou depressa, como era no fundo do mar não se sabia quando exatamente o
dia começava ou terminava era como um jogo de adivinhação saber exatamente a que
horas do dias se estava, se já era de noite ou de manhã.
O banquete que Serena preparou estava elegante e sobretudo delicioso, delicioso foi uma
das palavras que Carlos soltou após se deliciar com as delicias do mar que se dispunha na
mesa, o banquete tinha começado já a algum tempo e sentados a mesa estavam, Serena,
Carlos e Yara.
Eles saíram de seus quartos e se sentaram a mesa quando Serena iniciou a conversa como
uma boa convidada que era, ela primeiro os perguntou como conseguiram chegar aqui tão
rapidamente e em segurança? Sabendo dos enormes perigos que o caminho tinha, Carlos
achou por bem resumir a história, focando apenas em seus aspetos mais importantes,
depois de terminado Serena ficou um pouco impressionada e depois mudou de assunto.
−− Então Carlos, posso saber porque nos visitas? −− Serena perguntou encarando-o
directamente nos olhos. No primeiro instante Carlos pensou no que iria responder ele
sabia claro que não deveria mencionar a Espada Dourada como o seu principal objectivo.
−− Como príncipe, estou visitando todas as cinco tribos como forma de melhorar as
relações diplomáticas entre Nândia e as tribos. −− Ele falou do mesmo jeito que os
diplomatas que via na TV falavam, com bastante convicção e certeza que era impossível
Serena duvidar de alguma coisa.
−− Entendi. −− Serena falou não desconfiando de nada. −− Sendo assim, então seja mais
uma vez bem-vindo a Tribo da Agua. −− Carlos assentiu. −− Sendo assim brindemos a
isso. −− Serena levantou a sua taça e eles brindaram a isso.
A conversa seguiu ao longo do jantar, Yara se mantinha calada durante a maior parte
dela, não queria chamar atenção, odiava ser o centro das atenções, e Serena não ligava
muito para ela, a maioria das suas atenções a Carlos.
Carlos mantinha a mesa animada, fazendo aquele que ele sabia melhor: Fazer as pessoas
rirem, seja contando histórias engraçadas ou ate piadas, ele era indiscutível bom nisso,
Serena nunca riu tanto como riu naquele dia. Após o jantar Serena os convidou para
amanhã assistirem o jogo de amanhã que era a final do torneio. Carlos assentiu baixando
a cabeça enquanto iam para os seus aposentos.
As ruas estavam cheias, pessoas gritavam extasiadas, crianças dançavam nas ruas em
tons festivas, em roupas coloridas milhares de pessoas se dirigiam a um único lugar, O
Estádio Dourado, umas usando roupas vermelhas e pretas e outras azuis e brancos todas
só queriam algo especial ver o jogo de Waterball, mas não era um jogo qualquer, era a
final da Liga de Waterball, era o jogo onde somente os melhores chegavam o campo já
estava pronto para receber a partida e cerca de 100 mil adeptos se reuniram nas bancadas
do estádio a espera daquilo que eles consideram o jogo do século.
−− Por que tanto alvoroço? Não é só um jogo? −− Carlos perguntou a Serena. Carlos,
Yara e Serena e mais alguns guardas estavam no camarote de luxo esperando a tão
129
preciosa partida começar.

−− É a final da Liga de Waterball, o desporto mais amado aqui. Por isso o alvoroço −−
Serena explicou calmamente.

−− E como funciona?

−− É bastante simples. −− Ela então começou a explicar como funciona o jogo


primeiro começou pelo campo.

O campo tinha o tamanho de um campo de futebol só que com algumas diferenças, no


centro do campo tinha uma grande que dividia o campo em dois lados igual a linha do
campo de futebol, em cada lado do campo tinha duas grandes semicircunferência que
iniciavam nas extremidades dos cantos direitos e esquerdos e faziam contato com a
linha central, dentro das semicircunferências existia outra que circundavam as balizas
que tinham o tamanho das balizas de futebol.

No Waterball são permitidos 9 jogadores em campo incluindo o guarda-redes, o jogo é


dividido em duas partes cada uma com 30 minutos de jogo, não existem
prolongamentos, simplesmente pênalti, os pontos dependem da posição em que o
jogador está, era como no basquetebol.
Se o jogador estiver atrás da linha central o golo irá valer: 5 pontos;
Se estiver depois da linha central: 4 pontos;
Se estiver dentro da semicircunferência maior: 3 pontos;
Se estiver dentro da semicircunferência menor: 2 pontos;
E se for pênalti: 1 ponto.

Carlos estava ao lado de Serena a quem ele tinha dado o pergaminho que o Mago deu,
ela o devolveu assinado e o mandou apreciar a partida.

−− Entendi. −− Carlos falou finalmente.

As luzes do estádio se apagaram e acenderam logo de seguida, dando sinal de que o


jogo iria começar, todas as luzes estavam iluminando o centro do estádio onde um
senhor baixinho com um fato negro surgira, segurava um microfone dourado em suas
mãos e um sorriso estampado em seu rosto.

−− OOOOOOLLLLLLLLÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁ CIDADÃOS DAS PROFUNDEZAS −−

Gritou no microfone o seu nome era Bill Lobo, a voz de Bill era ouvida em todo o
estádio, o publico respondia fazendo mais barulho do que nunca.

−− ESTÃO TODOS PRONTOS PARA O JOOOOGGGOOOO DO SÉCULO? −− O


público gritava ―Sim‖ em resposta. −− ENTÃO QUE ENTREM AS EQUIPAS.

O jogo de hoje seria disputado por duas grandes equipas rivais, os Red Titan contra os
Oceanics. Os Red Titan eram considerados por muitos como a melhor equipe da liga da
atualidade por terem ganhado as duas ultimas ligas e se ganhassem esse jogo seriam

130
tricampeões, já os Oceanics tinham ganhado a liga antes dos Red serem bicampeões, por
isso seria um jogo equilibrado entre as duas maiores equipas da Liga.

−− SENHORA E SENHORES, DEEM AS BOAS VINDAS AOS


OOOCCCEEEEAAAANNNIIIICS!

Os jogadores do time azul Oceanics começaram a entrar no campo entre eles:


Kal (capitão da equipa) e Julgih – Avançados
Weslwy, Pio e Jaime – Médios
Keiji, Klaus e Yago – Defesas
Lama – Guarda-redes

A medida que eles entravam no campo a torcida azul marinha vibrava fortemente a
entrada dos jogadores.

−− AGORA CHEGOU A HORA DOS ÚNICOS, OS INCOMPARÁVEIS

REEEEEEEDDDDD TIIIITAANNNSSSSS. −− O estádio ficou eufórico a medida que o


time era anunciado, a torcida vermelha gritava fazendo o chão tremer com o seu
tremendo barulho, os jogadores entraram no campo sendo eles:

Tor (capitão da equipa) e Zokk − Avançados


Jon, Ton e Zon − médios
Os gémeos Jen e Son e Ilvo − defesas ttt
Kaihiji como guarda-redes.

Bill Lobo saiu do meio do campo indo até o lugar onde ficavam os narradores ele seria o
narrador do jogo de hoje.

−− Nesse momento os jogadores encontram-se alinhados em suas posições −− Narrou. O


árbitro era um polvo, os polvos são animais muito justos por isso em partidas de
Waterball são sempre são os árbitros, eles não escolhem um lado, sempre leiais a si
mesmos e as regras. −− O árbitro prepara-se para dar o início a partida, ao jogo que
muitos consideram como o jogo do século, cerca de 100 mil pessoas vieram testemunhar
esse momento glorioso da história do Waterball incluído o meu amigo, colega e
comentador Dan Kuhbo? Como está Dan? E quais são as expetativas para esse joga?

−− Eu estou bem obrigado −− Respondeu Dan −− Expetativas para esse jogo são muitas
Bill, visto que temos as duas maiores equipes de toda Tribo se enfrentando nesse duelo
que promete ser eletrizante a todos os níveis quer seja aos níveis técnicos e estratégicos.

−− Tens razão Dan, esse jogo irá prometer mesmo −− O árbitro deu o apito inicial da
partida com a bola estando dos lados dos Oceanics −− Parece que a bola já rola nessa
partida, o árbitro acabou de apitar o inicio, a bola ficando para os Oceanics. Os
jogadores do Oceanics trocando a bola entre si parecem que têm medo de atacar e fazer
um gol.

−− O estilo de jogo dos Oceanics é muito defensivo, por isso eles gostam de ter uma
maior posse de bola, tem vezes que isso ajuda a outras que atrapalha e acaba
131
prejudicando seriamente a equipe. Se eu fosse o treinador da equipa eu pensaria
seriamente em mudar essa tática e optar por ataques constantes a baliza do adversário.

−− E cá está o treinador passando na tela gigante, Peter Vanksbeng, excelente técnico


ele −− Dan comentou.

−− A bola está com o capitão dos Oceanics Kal, que a passa pelo meio campo lateral
Keiji, que a recebe com uma recepção e ele avança para frente subindo o jogo pela
lateral do campo, os defesas Red o cercam deixando-o sem chance de fazer o
cruzamento, mas ele atira a bola para trás enganando os defesas, a bola é recuperada
por Klaus, o meio campo central dos Oceanics que dá um longo passe até a área central
onde Julgih a pega, o que vai fazer Julgih? O que vai fazer? Tem o caminho cercado
pelos gémeos Jen e Son, a muralha dos Red, ele tenta passar mais é bloqueado pelos
grandes músculos bem definidos ele dá um sorriso e atira a bola para o alto enganando
os gémeos, Kal que estava trás da barreira a recebe com um pontapé e a bola é...

GOOOOOOLLLLLLLOOOOOOOOO −− Toda a torcida azul festeja o golo, fazendo


barulhos e abraçando-se uns aos outros cheios de felicidades no rosto, Carlos e Yara
sorriram, era tão bonito de se ver. −− Que golo meus amigos, após um excelente ataque
surpresa os Oceanics chegam aos primeiros dois pontos 2-0 nos primeiros 2 minutos,
indicando-nos que teremos um grande jogaço pela frente.

−− Pois é Bill, o golo é inacreditável e surpreende, ninguém acreditava que os Oceanics


marcariam tão rápido.

−− Pois eu acreditava −− Disse Bill entre sorrisos, Dan também sorriu. −− Adiante,
devemos lembrar que esse golo foi apontado pelo seu capitão, o lendário Kal, um
grande jogador, com esse golo os Red podem se sentir desmoralizados.

−− O importante é que a os Red continuem de cabeça erguida para o que vier pela
frente.

−− E falando em continuar de cabeça erguida, os Red trocam a bola entre si, a bola está
no seu meio campo Jon que a passa pelo seu colega Ton, Ton tem pela frente Pio, meio
campo dos Oceanics, é um duelo entre meio campistas, quem irá vencer? Pio concentra
Ton olho por olho será que ele irá atacar? Simmm ataca, mas... Parece que Ton resolveu
passar a bola ao seu colega Zon que leva o jogo até a área central dos Oceanis o que
será que ele irá fazer? Ele faz um longo passe, a bola passa por cima das defesas, Zokk a
recebe no peito, e passa para Tor que a chuta pelo canto superior direito e a bola entra e
é GOOOOOOLLLLLLLLLLLLLLOOOOOOOOOO DOS RED TITAN. −− Dessa vez
a torcida vermelha festejava ao golo feitos loucos.

. −− Que golo meus amigos, e que contra-ataque é esse! −− Ele falava com toda a
emoção. −− Eles chegaram ao empate 2-2.

−− Um grande golo vindo de uma grande equipa −− Comentou Dan −− Acredito que
teremos um grande jogo.

132
−− Concordo −− Disse Bill. −− Os jogadores do Oceanics jogam a bola entre si parece
que não querem investir em um ataque…

−− Estão tornando o jogo mais defensivo −− Disse Dan −− Eles não querem arriscar
perder a bola, eles querem guardar a energia para os últimos minutos de jogo, o que eu
considero uma tolice visto que ainda estamos na primeira parte e só 7 minutos foi
jogado.

−− Tens razão Dan, mas vejo que é uma estratégia interessante e muitas vezes isso
trama o adversário, faz ele se esforçar tanto para receber a bola que o faz gastar muita
energia e faz ele ficar cansado. −− Bill disse com toda a convicção em suas palavras.

−− Tens razão Bill, mas lembre-se que só estamos na primeira parte, o que a equipa
deveria fazer era aproveitar essa primeira parte e fazer golos e na segunda defender
a baliza.

−− Bem visto, será que o treinador dos Oceanics está nos ouvindo? −− Disse Bill
brincando, os dois riram.

−− Se estiver... É melhor que ele faça anotação. −− Eles riram de novamente.

−− Adiante, os jogadores dos Red fazem pressão aos Oceanics, a bola está com o seu
defesa Yago ele tenta passar pelo guarda redes Lama, mas é interceptada por Zokk, que
avança até o guarda redes, ele tenta impedir, mas Zokk aplica uma finta nele e chuta pro
GOOOOOOOLLLLLLLLOOOOOO −− Bill gritou todo eufórico, a torcida entrou em
festejos −− OS REEEEED TITAN PASSAM A FRENTE DO PLACAR, GANHANDO
POR 4-2.

−− Um grande trabalho de Zokk, fintando o guarda-redes e fazendo aquilo que todos


esperavam, um grande golo −− Dan comentou.

O jogo continuou com os jogadores das duas equipas dando tudo de si para chegar ao
golo, perto do intervalo a partida encontrava-se nos 6-4 com os Red Titan ganhando.

−− Estamos perto do intervalo, os Red Titan ganhando por explícitos 6-4, os jogadores
deram tudo de si até chegarmos até esse resultado, falto pouco para o árbitro apitar e
mandar todo mundo pro banheiro −− Narrou Bill que olhava constantemente para o
relógio a espera que o tempo acabe.

−− Parece que o tempo ainda não acabou para os jogadores do Oceanics, o seu guarda
redes, Lama pega na bola e dá um longo passe a Kal que a recebe no peito ele tenta virar-
se, mas a sua frente está o capitão dos Red, Tor é o embate meus amigos, é aquilo que eu
estava esperando desde sempre, Kal tenta passar, mas Tor bloqueia o caminho, Kal
começa a ficar sem alternativa a medida que mais jogadores Red vêem em apoio ao seu
capitão, o que Kal irá fazer? −− Ouviu-se um grande apito pelo estádio

−− E o árbitro apita para o intervalo, adiando assim o grande confronto. −− A torcida Red
festejava com ânimo, tinham tido uma primeira parte incrível. Os jogadores saíram do
campo −− Dan o que achou da primeira parte?
133
−− Essa primeira parte foi muito bem jogada, os jogadores mostraram uma grande
qualidade técnica, souberam aproveitar as chances que o jogo oferecia criando situações
de cortar o fôlego, acho que como vocês já devem adivinhar, os Red estiveram melhor,
mas os Oceanics souberam responder a altura do grande ataque deles, e criar também
grandes jogadas. Em suma, um jogo muito equilibrado.

−− Certo. Esse é um dos jogos mais equilibrados que eu já vi e narrei.

−− De certo que eu digo o mesmo.

−− Bem agora é o momento dos destaques, nós voltamos depois do intervalo para mais
uma narração do grande jogo. 6-4 Com os Red vencendo. De lembrar que marcaram nos
Red: Tor e Zokk. E nos Oceanics: Kal, Julgih e Pio voltamos em breve. −− Disse
fazendo tchau para a câmara que o filmava.

−− O que acharam? −− Serena perguntou a Carlos e a Yara.

−− Eu acho… inacreditável. −− Carlos respondeu maravilhado com as coisas que via,


nunca poderia acreditar que um dia veria coisas tão incríveis como a que estaria vendo
na Tribo Da Água.

−− E tu Yara? −− Serena a perguntou.

−− Eu sempre sonhei em vir para aqui, e agora tudo o que posso dizer é que estou sem
palavras… −− Serena assentiu contente com aquelas palavras.

−− Olá criaturas grandes e pequenas! −− Bill narrou a segunda parte já estava prestes a
começar −− Sejam bem vindos a segunda parte daquilo que é considerado o jogo do
século, a final da Liga de Waterball, os Red Titan vs Oceanis.

−− Os jogadores já desfilam para o campo para a segunda parte do jogo, com os Red
vencendo por 6-4, será que os Oceanics conseguem desempatar? −− Disse olhando para
Dan a espera da sua opinião.

−− Bem eu acho que os Oceanics irão conseguir desempatar, a equipe mostrou que sabe
jogar, o que podemos dizer que o jogo ainda não está perdido e que á mais 30 minutos
pela frente para fazer 1, 2, 3 pontos.

−− Mais golos é o que todo mundo quer. −− Disse entre sorrisos. −− Os jogadores já se
encontram em suas posições, parece que nenhum dos treinadores resolveu fazer
substituição.

−− Decisão acertada dos dois treinadores, os jogadores se ainda se encontram bem


fresquinhos.

−− Nesse momento a bola está com os Red, que fazem a bola recuar até o guarda redes
Kaihiji, Kaihiji passa para Ilvo, Kal e Julgih fazem pressão para ganharem a bola Ilvo
passa para Son, Son para Jon e Jon a devolve a Kaihiji, ele pega a bola com as mãos e
olha para frente e chuta, a bola voou até Ton que a passa para o seu colega Zon, Zon é
134
atacado por Jaime que recupera a bola, ele vai até a área central no canto esquerdo, com
Zon a sua trás pronto para recuperar a bola, Jaime é rápido, parece uma seta voando
pelo campo, ele cruza para a área a bola no alto o que irá acontecer? Kal salta pronto
para cabecear Kaihiji se posiciona, Kal mexe a cabeça, mas... O que? A bola passa por
cima dele e ninguém... Espera Wesley se joga para frente e cabeceando na bola para o
GOOOOOOOLLLLLLL!!! −− Gritou admirado. −− 6-6 Meus amigos. Eles
conseguiram enganar o guarda-redes.
−− Conseguiram enganar todo o mundo, todos pensaram que Kal iria cabecear, mas
vimos o contrário. Eles conseguiram me enganar −− Disse soberbo e admirado com o
que acabara de dizer.

−− Verdade, o jogo se encontra 6-6, com Kal conseguindo mais dois preciosos pontos.

−− São jogadores como ele que toda equipa precisa, que conseguem chegar ao gol
independentemente do que aconteça. −− Dan comentou.

−− O jogo continua com os Red indo directo ao ataque, os capitães voltam a se


encontrar Kal vs Tor quem irá vencer? Segunda ronda desse encontro e não tem nada
para impedir, os dois se encaram directamente nos olhos, Tor com a bola tentar passar
por Kal, mas ele coloca um pé que o obriga a recuar. Tor recua com a bola Kal sempre a
sua frente, ele começa a fazer alguns truques com a bola Kal só mexe a cabeça tentando
acompanhar os seus movimentos, ele tenta parar a bola esticando a perna mas Tor a
coloca entre as pernas a levanta e a bola passa por cima de Kal, ele vai com a bola para
a baliza, passa por um, dois, três, nada o para só o resta ele e o guarda redes, o guarda
redes vai contra ele mas ele coloca a bola no pé a levantando, ele passa por cima do
guarda redes com a bola entre as pernas ele remata para o GOOOOOLLLLLL −− Toda
a torcida vermelha celebra com júbilo. −− Que grande trabalho de Tor, passou por cima
de todos, humilhou o capitão dos Oceanics e nos mostrou quem ele é. Um jogador que
merece total respeito. −− Disse ele rendido ao talento de Tor.

−− Esse é um dos momentos que irá ficar na história do Waterball para sempre. −−
Disse Dan sincero.

−− Sem dúvidas, 8-6 meus amigos, que jogo e que noite.

O jogo continuou, com os jogadores de ambas equipas dando o tudo de si, Pio, saiu
lesionado do jogo, e no seu lugar entrou Lan, faltavam dois minutos para o final do jogo
e os Red ganhavam por 15-12, o árbitro apitava e os Red seriam tricampeões, todos os
jogadores estavam cansados, jogar por baixo da água é muito cansativo, o ambiente na
torcida estava barulhento e festivo, os adeptos vermelhos festejavam a vitória certa,
nada os podia impedir de festejar a vitória da Liga. A bola estava com Wesley que
olhava para o público cansado e maravilhado com o que via.

Yago veio até ele e sussurrou ao seu ouvido algo que Kal o disse para fazer, ele estava
pronto para bater a falta cometida na área secundária, estava tenso e nervoso, o coração
batia rapidamente em seu peito, ele fechou os olhos, ele podia ouvir o silencio da
multidão presente no estádio, os adeptos azuis estavam calados e sem esperanças,
135
sabiam que o jogo estava perdido, Wesley pensou nos adeptos, daqueles que vieram de
longe só para podê-los vê-los a jogar, não poderia os desapontar, pensou no que Yago o
tivera dito, “Quando estiveres para chutar passe para Julgih para ele marcar” limpou
a mente de todos esses pensamentos e simplesmente se focou na bola e na baliza, deu
um passos para trás, o árbitro apitou para ele poder bater essa falta, suspirou, abriu os
olhos e nadou em direcção a bola como um míssil e a chutou. A bola voou como um
míssil girando em espiral e voou directamente a baliza, Kaihiji, o guarda redes dos Red
Titan, atirou-se em direcção à bola, mas não conseguiu chegar lá, a bola entrou na
baliza deixando todos no estádio com a boca aberta.

No primeiro instante ninguém reagiu, ouve silêncio no estádio todos estavam


boquiabertos para falar algo ou reagir, Carlos que estava tomando uma das bebidas que
dispunha no camarote especial largou o copo que afundou lentamente ao chão, olhou
apreensivo para o campo para o que tinha acabado de testemunhar, estava admirado
pelo que tinha visto e sorriu.

O árbitro foi o primeiro a reagir dando um longo apito para o fim do jogo.

−− GOOOOOOOOLLLLLLLLLLLOOOOOOOOOO −− Gritou Bill admirado e


eufórico com o que acabou de testemunhar.

O placar alterou no telão gigante, antes estava 15-12 agora ficou 15-16 e por cima
apareceu Fim do Jogo, visto isso toda a torcida azul e branco entrou em euforia e em
festejos abraçando-se uns aos outros em gloriosos propósitos e chorando de felicidade
era inacreditável de se ver

−− Golo inacreditável de Wesley que dá vitória aos Oceanics que golo inacreditável,
com esse golo os Oceanics conquistam a Liga de Waterball! Algo inacreditável minha
gente algo que só vemos no Waterball, por isso que eu amo esse desperto! Eles são
campeões! −− Falava com emoção e com lágrimas nos olhos.

Os jogadores do Oceanics começaram a festejar abraçando-se uns aos outros, com


expressões de felicidade em seus semblantes, tinham conseguido finalmente vencer a
Liga, correram em volta de Wesley e o ergueram Wesley ao alto, toda a torcida entoava
o seu nome: ”Wesley! Wesley! Wesley!” simplesmente sorria de felicidade não crendo
que a bola entrara.

−− Os jogadores azuis festejando a vitória, é tão lindo de se ver! −− Disse limpando as


lágrimas −− Eles conseguiram superar todas as lutas para no final serem os campões!
Que guerreiros minha gente.

Serena se levantou da poltrona e começou a bater as palmas, Carlos fez o mesmo e


todos da sala juntaram-se a fazer o mesmo, Serena saiu de seu camarote indo ate ao
campo levando consigo a tão sonhada taça e entregou ela ao Capitão dos Oceanics,
que festejaram junto com seus colegas e a ergueram no ar mostrando a todos que
apesar de tudo de todas as lutas eles ainda conseguiam vencer aquilo que para muitos
era a troféu dos troféus.

136
Tor quebrou um novo recordo de 112 pontos feitos em uma única temporada, Wesley
foi considerado o melhor jogador da final e seu golo foi eleito o melhor golo da
temporada. O capitão das duas equipas abraçaram-se, Tor felicitou Kal pela vitória e
disse que dá próxima vez que se encontrar ele não iria facilitar as coisas, já Kal
simplesmente sorriu.

O jogo terminou e todo mundo foi para sua casa, os adeptos vermelhos saíram tristes
do campo enquanto que os azuis saíram festejando, os festejos não terminaram no
mesmo dia, duraram semanas.

Após o jogo, Carlos e Yara passaram mais alguns dias em Caracol Dourado
explorando mais a cidade contemplando a sua incrível belezas. Eles estavam prontos
para partir e seguir viagem e Serena resolveu se despedir deles da melhor maneira que
conhecia, dando um grande banquete para que todos pudessem se despedir:

−− Carlos. Eu gostei imenso da tua visita, espero que nos visites mais vezes −− Serena
disse a Carlos em meio ao banquete.

−− Eu também gostei muito de estar cá, espero que possa retornar mais vezes. −− Ela
deu um leve sorriso.

−− Carlos, a respeito disso −− Ela o entregou o pergaminho que o Mago deu a Carlos −−
Envie as minhas saudações a Enos. −− Ele mexeu a cabeça dizendo sim.

Apos o banquete Serena se despediu mais uma vez deles e os ofereceu um navio para que
continuassem a seguir viagem pelo vasto oceano.

E assim Carlos e Yara partiram navegando pelas águas solitárias daquele vasto oceano se
afastando cada vez mais de Caracol Dourado.

137
A batalha em alto mar
“Uma mente fechada é como um livro fechado, somente um bloco de madeira” −
Provérbio chinês.

O navio navegava tranquilamente nas águas frias da noite, o céu estava coberto de
estrelas, era a noite de lua cheia, um grande nevoeiro se alastrava ao redor dificultando a
visibilidade, estava muito frio por isso Carlos e Yara usavam grandes casacos para a sua
proteção. Nos dias que se passaram, tiveram uma viagem tranquila pelo mar, sem
nenhuns problemas, mesmo a noite quando a temperatura baixava corria
maravilhosamente bem.

Carlos estava tripulando o navio com extrema cautela, pois a noite reservava muitos
perigos, ainda mais com o intenso nevoeiro que se fazia sentir, como nunca tinha
pilotado um navio, ele estava bastante emocionado por poder pilotar um, principalmente
um navio mágico, que não precisa de velas para poder andar, só precisava apenas de ser
guiado.

Yara estava no convés do navio treinando com a Carniceira de Monstros, Carlos de vês
em quando olhava para ela e sempre ficava impressionado do jeito que ela manejava a
espada, ele esperava um dia poder alcançar esse nível, quer dizer, não é que ele não
saiba lutar, ele sabe só que queria chegar até o nível onde Yara estava que era mil vezes
mais alto que dele.

O navio seguiu viagem por uns minutos quando de súbito começou a chover forte, a
chuva evoluiu para uma tempestade violenta, o mar ficou agitado dando origem a
grandes ondas, ondes do tamanho de um tsunami, o navio começou a balançar de um
lado para o outro, Carlos tentava manter equilíbrio no navio visto as forças das
correntezas, Yara correu do convés até a sala de comando.

−− O que se passa?! −− Yara perguntou agitada e em pânico, estava toda molhada


resultante da grande tempestade.

−− Eu não sei! −− Gritou em resposta, ele estava tentando dirigir o navio nessa violenta
tempestade o que não era coisa fácil.

Uma grande onda se formava a frente, onda tão grande capaz de afundar uma pequena
ilha inteira e o navio ia à direcção da mesma.

−− Ahhh nãooo! −− Carlos gritou apavorado tentando mudar de direcção o mais rápido
que conseguia do navio. −− Segure-se em algo! −− Gritou para Yara, ela segurou-se em
uma alavanca.

O navio ficou inclinado como se estivesse caindo, Carlos girava aquele volante
rapidamente contornando a grande onde que os águardava prontos para afogá-los no
oceano, Carlos girou o volante até não ter mais nada para girar e felizmente ou um
golpe de sorte, eles conseguiram esquivar a grande onda mortal.

138
Eles sorriram satisfeitos por escaparem a morte por um triz, mas no meio de tantos
sorrisos a verdadeira ameaça estava prestes a revelar-se e tinha a forma de um grande e
terrível, monstro marinho.

O grande monstro ergueu a sua cabeça das águas rugindo de fúria, os seus dentes
grandes e afiados capazes devorar uma grande baleia-azul, os seus olhos vermelhos
como sangue, a sua pele escamosa, os seus oito tentáculos como de polvos, na ponta dos
seus tentáculos existiam garras, como dos de ―Wolverine‖.

Eles saíram da sala do comando indo até o convés, a criatura abaixou a cabeça e rosnou
ao barco deixando bem visível a sua boca cheia de dentes.

−− O que é aquilo?! −− Carlos perguntou apavorado segurando a sua espada e tremendo


de medo.

−− É um Kraven! −− Yara respondeu temendo de medo da criatura. −− O terror dos


mares, devorador de navios e de tripulações inteiras, ele aparece somente nas luas
cheias.

−− Porque é que não é uma lenda?! −− Perguntou olhando de soslaio para Yara e de
seguida para o monstro.

−− Não sei... −− Respondeu, o monstro estendo dois dos seus grandes tentáculos ao
redor do barco o balançando e o enrolando como massa de pão. −− Precisamos saltar!

−− O que?! Não! −− Ele olhou para ela não acreditando nisso, mas era tarde demais, ela
saltou para o mar, ele olhava de um lado para o outro em pânico tentando pensar no que
fazer, o monstro ergueu a cabeça e lançou-a em direcção ao navio partindo ele de vez
em pedaços.

Yara que viu toda a cena do mar ficou apavorada, pois Carlos não conseguiu saltar a
tempo, o que parece era que Carlos tivesse sido comido pela besta.

−− Carlos! Carlos! Carlos! −− Gritou apavorada, ele não respondeu. −− Carlos! Carlos!
−− Voltou a gritar com mais força e Carlos apareceu subitamente ao seu lado. −−
Carlos! −− Ela o abraçou −− Achei que morreste! −− Disse tremendo de frio. −− Como
você...?

−− Saltei antes de ele engolir o barco! −− Gaguejou tremendo de frio. O monstro


levantou a cabeça, virou-se os olhando com aquele olhar assassino de arrepiar o corpo
todo.

Ergueu os seus longos braços tentáculos para esmagá-los ou afogá-los, Carlos


transformou-se em um tubarão e jogou-se até Yara e segurando em suas vestes a
arrastou até ao fundo mar, escapando por um triz ao enorme tentáculo.
Vendo que eles conseguiram escapar, Carlos a levou o mais rápido possível para a
superfície e com uma grande distancia do monstro, onde ele voltou a transformar-se de
volta em humano.

139
−− Porque você fez isso? −− Perguntou tossindo e cuspindo a água toda que ingeriu.

−− Foi à primeira coisa que me veio à cabeça. −− Rebateu na defensiva.

−− Poderias pelo menos me avisar? −− Gritou. Isso atraiu a atenção do monstro que os
estava procurando, a gritaria de Yara o possibilitou acha-los ele rosnou na direcção
deles e começou a mover-se indo atrás das suas presas. Carlos olhou irritado e com
raiva para o Kraven, e voltou a submergir transformando-se em tubarão e nadando
depressa em direcção a ele.

O Kraven avançava devagar, (visto a sua altura e tamanho, era difícil andar mais rápido)
certo de que hoje teria um grande banquete e nada o poderia impedir disso quando
Carlos saltou do mar saltando na forma de um grande macaco, com os punhos cerrados
ele desferiu um golpe bem na face do monstro, ele cambaleou para trás, resultante da
força do soco.

O monstro se recompôs, procurou quem foi que o acertou e encontrou Carlos (ainda na
forma de macaco) o encarando e respirando pesadamente e segurando a sua espada,
Carlos correu na direcção do monstro, pronto para um segundo assalto, Kraven ergueu
dois dos seus oitos tentáculos e atacou.

Carlos desviou-se do primeiro tentáculo e saltou o segundo, correndo ao longo do seu


tentáculo, quase se aproximando da cara juntou todas as suas forças nas pernas e saltou
ele desferiu um golpe na cara do Kraven que urrou de dor.

Kraven rosnou de raiva, Carlos se preparava para o terceiro assalto ele saltou em
direcção ao monstro, mas Kraven estava preparado com os seus longos tentáculos o
bateu em pleno ar como se ele fosse uma bola de tênis o jogando ao longe.

Yara olhando aquela toda cena, ficou apavorada ao ver o monstro jogar Carlos ao longe,
o monstro começou a fazer movimentos bruscos com os tentáculos, agitando mais o mar
em novas ondas, ela foi apanhada por uma dessas ondas, que a elevou ao alto, a onda a
jogou bem ao lado de um dos tentáculos do monstro, ela pegou neles com as suas mãos
e subiu nele ficando de pé naqueles tentáculos melados, ela sacou a Carniceira de
Monstros correu subindo pelo tentáculo em direcção à face assassina de Kraven.

Chegando ao principio tentáculo ela saltou ficando face-a-face com a cara assustadora
da criatura, com a espada em mãos ela lançou-a directamente no olho esquerdo do
monstro, Kraven urrou de dor e cambaleou para trás caindo no mar tentando se livrar
desesperadamente da espada em seu olho.
No mesmo instante Carlos ergueu-se do mar saltando a uma grande velocidade, Kraven
conseguiu livrar-se da espada em seu olho que sangrava bastante e deu de cara com
Carlos mais uma vez transformado em macaco escalando os seus tentáculos.

Kraven investiu contra ele, Carlos tentou esquivar mais foi ferido pela ponta das garras
afiadas que cortou no seu ombro esquerdo ficando numa ferida enorme e dolorida, ele
tocou no seu ombro, estava doendo muito, Carlos urrou de dor, estava tremendo, não
podia ficar mais na água se não a sua ferida poderia piorar.
140
Ele saltou em direcção à face de Kraven, mas este estava preparado, com um golpe de
sorte, o monstro agarrou Carlos pela cintura com seu enorme tentáculo e o apertou com
força, Carlos se debatia tentando desesperadamente se soltar, mas Kraven apertava cada
vez mais e mais, até que resolveu submergir para o fundo do mar.

A melhor forma de matar alguém ou algo no mar é o afogando e é isso que Kraven
queria, Carlos se debatia dando murros contra o tentáculo do monstro, a água tornava os
seus socos lentos, como se fossem em câmera lenta, ele tentou transformar-se em algum
animal, mas não conseguia se concentrar o suficiente para tal feito.

Ele estava desesperado, sem forças para continuar aquela luta angustiante, era mais fácil
morrer, aceitar aquele destino, saber que tentaste de tudo para poder sobreviver, saber
que todo o seu esforço não foi em vão que conseguiste salvar pelo menos a vida de
Yara, esse sentimento de que já fez o bastante dominou a sua mente enquanto a criatura
o levava para um lugar mais fundo e escuro do mar, um lugar frio e sem alma, um lugar
calmo.

Ele ainda tinha um pequeno sentimento de esperança de não morrer assim, por isso não
desistiu e continuou se debatendo com mais força, vendo que isso não fazia nenhum
esforço ele tentou a velha arte, morder, ele mordeu o tentáculo que o envolvia quase
todo o corpo, mordeu com mais força que começou a perfurar aquela camada de pele
melada e chegando a carne, onde começou a sangrar e sangrar muito, mesmo assim ele
não parou de morder e morder até que por fim Kraven soltou-o o deixando ali sozinho.

Carlos concentrou-se se transformou num tubarão e nadou até a superfície onde se


transformou de volta em humano, tocou no seu ombro ferido, estava doendo muito, ele
queria chorar por causa da dor, mas não seria a coisa certa a fazer, ele primeiro tinha de
encontrar Yara, o que não foi coisa difícil de fazer.

−− Carlos! Você está vivo! −− Falou ela admirada e aliviada assim que o viu.

−− Não por muito tempo! −− Falou fraco e exausto.

141
O fauno trovador
"Felizes são aquelas pessoas que mesmo depois das lutas, dos sofrimentos e das
decepções, não se entregam as amarguras da vida, pelo contrario, se refazem e
continuam espalhando o bem, continuam acreditando nos seus sonhos sendo pessoas
humildes e trazendo no peito a simples alegria de viver e de ser feliz!"

A noite estava denso, o vento frio alastrava-se ao redor, um grande nevoeiro estendia-se
por toda a costa dificultando a visibilidade, a lua estava cheia e brilhante lá no céu, ao
longe se podia ouvir os bramidos dos lobos, a água estava gelada.

Dois estranhos saíram cambaleando das águas, estavam molhados, desesperados,


exaustos, cansados e famintos, tinham tido uma viagem cheia de perigos e tubulações.
Já não tinham forças suficientes para caminhar mais muito, era uma sorte estarem
vivos depois do que tiveram que passar.

Um deles arrastou o outro que estava muito fraco, muito quente, com fome e sem forças
até a praia, ela correu até a floresta buscando umas folhas que acreditava poder aliviar
um pouco a dor que estava sentindo, voltando, ela o encontrou deitado na praia com os
olhos fechados, o braço doendo e todo quente, o rosto pálido, como se ele estivesse num
forno.

−− Carlos! Acorde! −− Yara disse dando palmadas em sua cara para ver que ele
acordasse, ele abriu os olhos e tornou a fechá-los, estava muito cansado para ficar
acordado, só queria dormir.

Ela pegou num punhado das folhas que trouxe, ela as amassou ficando meladas e
colocou no ombro ferido de Carlos, ela rasgou um pouco da sua camisa e amarrou-a no
ombro dele evitando assim que as folhas saíssem e de seguida o deitou ao chão.

−− Carlos! Tu precisas comer isso para ficar melhor! −− Yara falou suavemente, com a
folha em seus lábios frios. Ele gemeu, estava muito fraco para abrir a boca. −− Eu sei
que está doendo, mas precisas de fazer um esforço. −− Ele abriu a boca devagarinho e
bocado, foi o suficiente para ela colocar a folha ele mastigou lentamente e engoliu-a
toda, ela sorriu satisfeita e o deitou ao chão.

De seguida foi buscar paus para fazer uma fogueira ao retornar, Carlos já estava
dormindo, estava muito cansado e exausto, ela fez uma fogueira sentou ao chão ao lado
dele e levou a cabeça de Carlos ao colo, tocou na sua testa, ele ainda estava muito
quente, parecia que tinha saído de um forno.

Carlos estava em um lugar escuro, um grande nevoeiro alastrava-se pelo local, ele não
conseguia ver absolutamente nada, andou de um lado para o outro e só conseguia ver
nevoeiro e mais nevoeiro, foi então que ele ouviu alguém gritando por Socorro! Com a
voz aflita. Desesperado, ele correu em direcção da voz.

−− Socorro! −− A voz repetiu −− Socorro! −− A voz vinha de todas as direcções o


confundindo, olhava de um lado para o outro apavorado e tentando desesperadamente
saber por aonde ir, ele ajoelhou tapou as orelhas com as mãos tentando não ouvir os
142
estranhos pedidos de socorros que o atormentavam.

De repente, a voz parou de gritar ele retirou lentamente as mãos da orelha ele estava
apavorado e tremendo de medo da voz retornar a gritar levantou lentamente, virou-se
olhando para frente foi quando viu: A Irmã Ana inconsciente e amarrada em uma
cadeira.

−− Irmã Ana −− Ele tentou correr até ela, mas quanto mais se aproximava mais distante
ela ficava, era como ela se tivesse se afastando propositadamente. Ela acordou, sacudiu
a cabeça confusa e reparou onde estava, gritou em pânico e de seguida olhou para a
figura de Carlos correndo em sua direcção.

−− Carlos! −− Ela gritou aflita se debatendo contra as cordas.

−− Irmã Ana! −− Ele corria até não aguentar mais, a sua trás um grande buraco
parecendo uma grande minhoca engolia tudo ao caminho. Ele correu ficando sem
fôlego, o buraco ganhava mais espaço, ele olhou para trás com medo e de seguida olhou
uma ultima vez para a Irmã Ana com rosto temendo de medo, o buraco o engoliu ele
caiu na escuridão profunda no profundo esquecimento ficando somente o rosto da Irmã
Ana como a última coisa que ele viu, antes de acordar do seu sonho.

Ele ainda estava deitado no colo de Yara, era de noite e ela estava olhando para as
estrelas.

−− Elas são tão lindas! −− Ela olhava contemplando e admirando a grande beleza das
estrelas, Carlos nada disse, simplesmente olhou para o céu nocturno e lindo cheio de
estrelas que brilhavam com toda a sua beleza e esplendor. −− Vejo que acordou −−
Disse sem desviando o olhar para o céu. −− Já está melhor?

−− Não sei dizer... −− Respondeu com a voz fraca cansada, seus olhos estavam
vermelhos e cheios de lágrimas, todo o seu corpo estava dorido, ele só queria dormir e
não acordar mais. −− Tenho o corpo todo dorido que lágrimas se acumularam por entre
os meus olhos e eu não consigo limpá-las. −− Respondeu não conseguindo limpar as
lágrimas que caíam pela sua face.

−− Posso te perguntar algo? −− Yara perguntou olhando-o directamente nos olhos. −−


Quem é a Irmã Ana?

Não era exactamente a pergunta que ele esperava, ele não sabia como responder a isso,
com muito esforço ele conseguiu pôr-se sentado apreciando para o mar, era a pergunta
mais difícil que já o fizeram para alguém que queria esquecer fugindo do seu passado,
essa era uma pergunta que o trazia uma série de lembranças à maioria sobre o orfanato,
ele não sabia onde ela tinha ouvido isso por isso achou melhor jogar na defensiva.

−− Onde você ouviu isso? −− Perguntou mantendo-se calmo e sereno.


−− Você sabia que falas enquanto dormes? −− Respondeu ela como se essa fosse a
resposta mais óbvia possível.

−− Você ficou me ouvindo enquanto eu dormia?


143
−− É impossível não ouvir quando você grita feito um doido −− Respondeu −− Mas
chega de voltas, quem é ela?

Ele baixou o olhar pensando no que contar se iria contar a verdade ou continuar
mentindo, a dúvida instalava-se na sua mente assim como o receio de dizer alguma
coisa acerca do seu passado, dizendo a verdade ele estaria quebrando a promessa que
fez a si mesmo de nunca revelar a historia do seu passado, por outro lado Yara não era
uma pessoa qualquer ele a via como alguém que ele poderia confiar cegamente além do
mais ela acabara de salvá-lo a vida, ele sabia que mais cedo ou mais tarde deveria contar
o seu segredo a alguém e esse alguém deveria ser uma pessoa importante na sua vida e a
pessoa certa para ele poder desabafar era ela, por isso resolveu por fim confessar.

−− Eu menti Yara. Eu menti sobre a minha história. Eu menti sobre quem eu sou. −−
Confessou. Yara não conseguiu entender o que ele queria dizer com aquilo, ela
permaneceu indiferente e atenta a cada palavra que ele falasse.

−− Minha mãe... −− Hesitou era mais difícil falar disso do que ele imaginava. −− Não
morreu no parto como eu tivera dito. −− Yara ergueu as sobrancelhas demonstrando
surpresa ao ouvir isso.

−− Quando a minha mãe me nasceu ela deu-me esse nome ”Carlos Njinga” em
homenagem ao seu pai que a expulsou de casa só por saber que ela estava grávida de
mim. −− Lágrimas iniciaram por sair dos seus olhos ele nada poderia fazer para limpá-
las, ainda estava muito machucado para mover os braços.

−− Durante cinco anos nós vivemos felizes somente nós os dois, nós mantínhamos uma
rotina, ela trabalhava no hospital como enfermeira para me sustentar e eu estudava.

−− Ela se preocupava comigo como nenhuma outra pessoa, era a minha melhor amiga,
era a melhor mãe que alguém gostaria de ter, até que tudo mudou quando ela conheceu
Pedro −− Disse esse nome cheio de amargura e de raiva, ainda guardava rancor pelo
aquilo que viveu no passado.

−− No inicio ele era um cara legal, ligava sempre para saber como ela estava, mandava
flores e outros mais presentes, nos levava para sair, eu e a minha mãe, éramos quase
uma família perfeita, eles principiaram a namorar, nós os três éramos bastante felizes,
mas o que eu e minha mãe não sabíamos era que o pior estava por vir.

Ele fez uma pausa, olhou para baixo relutante em continuar contar essas lembranças
dolorosas do passado. Yara colocou a mão sobre o seu ombro o encorajando a continuar
a falar.
−− Após alguns meses, ela tornou de novo a engravidar, o bebê nascido ela o chamou
de Ismael, eu fiquei tão feliz por ter ganhado um irmãozinho que naquela época sai da
escola gritando “Eu vou ter um irmãozinho” correndo sem parar até o hospital onde
minha mãe estava −− Disse sorrindo pela primeira vez −− Infelizmente ele nasceu surdo
por isso eu aprendi linguagem dos sinais para poder comunicar com ele depois ensinei
para a minha mãe.
144
−− Toda a nossa felicidade acabou quando Pedro voltou aos velhos hábitos, beber, ele
passou a beber muito e sem nenhum controlo, a medida que bebia seu comportamento
tornava a mudar, ele se tornou agressivo tão agressivo ao ponto de batem em minha...
−− Sua voz quebrou, lágrimas encheram em seus olhos e começou a chorar de dor uma
expressão de profunda dor dominou o seu rosto.

Era a primeira ver que ela o via tão frágil tão vulnerável que a fez perceber que por
baixo daquele rosto alegre e sorridente existia um rapaz fraco com enormes cicatrizes na
mente um rapaz que já sofreu tanto nessa vida, não era preciso ele terminar a frase para
saber o que ele queria dizer, ela ficou triste por saber que ele tivesse testemunhado esses
abusos na infância,

−− Desculpe! É que nunca contei isso a ninguém. −− Disse tentando recompor-se para
continuar a contar.

−− Não tenha pressa, devagar e com calma, tu estás indo bem! −− Disse ela toda
comovida com a história e tentando demonstrar empatia em sua voz e limpando as
lágrimas entre seus olhos.

−− Ele batia na minha mãe e em mim todos os dias, batia por qualquer motivo porque
faltava sal em sua comida ou porque as suas roupas não estão bem passadas, ele
procurava sempre um motivo fútil para poder bater-nos, era como se ele sentisse Prazer
de fazer aquilo. −− Disse indignado.

−− Eu estava tão cansado de ser espancado que resolvi comparar uma câmara e filmar as
suas agressões contra minha mãe, de seguida mostrei-as a policia que o prendeu
Imediatamente. −− Disse ele não escondendo a alegria disso. −− Foi uma grande alegria
para nós quando Pedro foi preso e condenado, uma sensação de alivio tomou conta de
nós, ao invés de nós festejarmos nós estávamos desanimados apesar dele se encontrar
preso, a ferida que ele deixou em nossas mentes reinavam sobre nós nos deixando
extremamente perturbados.

−− O que aconteceu depois? −− Yara perguntou querendo saber mais da história.

−− Nós fomos colocados em uma nova casa, em um novo bairro e em outra cidade pelo
governo, que tudo fez para que vivêssemos bem e em paz, tudo estava voltando ao
normal em casa, vivíamos felizes saboreando aquele sentimento novo para nós.

−− Numa noite eles organizaram uma festa surpresa para mim só entre nós os três, eu
estava vindo da escola quando abri a porta de casa e fui surpreendido por gritos de
―surpresa‖ eu fiquei tão emocionado que não parava de sorrir e queria chorar −− Disse
com um sorriso de felicidade estampado no rosto.

−− Eu não me lembrava da ultima vez que eu tinha festejado um aniversario, o dinheiro


todo Pedro usava para beber, naquela noite nos divertimos para valer com a minha mãe
tentando imitar a Beyoncé o que acabou sendo muito engraçado −− Disse rindo. −− E
meu irmão tentou imitar Mickey Jackson o que ele fez muito bem, naquela noite nós
nos fartamos e divertimo-nos imenso −− Disse Carlos com um sorriso estampado no
145
rosto.

−− Imagino que foi muito engraçado. −− Deduziu ela com base naquilo que tinha
ouvido.

−− E foi muito. −− Disse ele de imediato. −− Às vezes, em que eu deito-me no chão e


fico lembrando esses poucos dias felizes que eu tive na minha infância, e fico me
matando de rir disso.

−− O pior estava por vir, numa noite dois ladrões invadiram a nossa casa, eu estava
dormindo quando ouvi os barulhos vindos da sala, por isso levantei-me e desci as
escadas e encontrei a minha mãe e o meu irmão amarrados com os braços esticados para
trás.

−− Eu me escondi no cimo das escadas, eu tinha um plano para salvá-los mas não sei o
que aconteceu, naquela noite tudo correu mal, eles percebendo que não iriam conseguir
o que queriam por minha culpa eles mo... −− Ele recomeçou a chorar amargamente,
todo aquele sentimento de culpa na qual ele lutou durante todos esses anos vieram pairar
sobre a sua mente ele nunca se perdoou pelo que fez naquela noite, Yara percebendo a
aflição do amigo o abraçou enquanto ele chorava em seus ombros desabafando tudo o
que sentia.

−− Eles morreram por minha culpa! −− Disse culpando-se.

−− Não foi sua culpa. −− Disse Yara o consolando.

−− Durante anos eu vivi tentando me convencer de que a culpa não foi minha, de que
foi um acidente, mas agora percebo que se eu não estivesse lá, eles ainda estariam vivos.
−− Disse enquanto chorava amargamente.

−− A dor de perder eles bem a minha frente, levou a minha loucura entrando eu em uma
depressão tornando os dias mais negros de toda a minha vida. −− Ele parou de chorar,
ainda não conseguia mover o braço sem sentir uma terrível dor.

−− Todos os dias, eu sonhava com eles, todos os dias eu tinha que viver com aquela
culpa e com aquele sofrimento que me consumia dia após dia, eu não aguentava mais
sofrer, eu só queria acabar com aquilo de uma vez por todas, tudo o que desejava era
desaparecer desse mundo, por isso tentei suicidar-me, mas fui impedido a tempo de
morrer pela Irmã Ana.

146
−− Quando minha mãe morreu, eu fui mandado para um orfanato, e a Irmã Ana trabalha
lá e graças a ela que eu ainda estou vivo, ela cuidou de mim como ninguém mais fez no
orfanato ela me mostrou que ainda a pessoas neste mundo que me amam e se importam
comigo, é como se fosse a minha segunda mãe.

−− Saber que neste mundo existem pessoas que me amam e se preocupam comigo foi o
sentimento e a emoção que me manteve vivo por todos esses anos difíceis, por mais que
seja somente uma, saber que a minha existência agrada essa uma pessoa é o melhor
sentimento que eu possa desejar e sentir. −− Yara limpou as lágrimas, achava aquilo tão
lindo e comovente vindo de alguém que sofreu abusos na infância, perdeu a mãe, irmão
e passou por uma depressão, ela mudou o jeito que olhava para Carlos, agora o olhava
com respeito e admiração, não era fácil sobreviver a essas situações.

−− Tens de conhecê-la um dia −− Disse Carlos. −− Ela faz uns deliciosos bolos de
chocolates que vás adorar −− Disse sorrindo em meio às lágrimas.

−− Agora já sei por que gostas tanto de bolo de chocolate.

−− Ainda continuo a espera. −− Carlos disse esperançoso.

−− Continua esperando −− Disse Yara acabando com os sonhos dele. −− Carlos! −−


Disse num tom diferente. −− Obrigado por confiares em mim para me contares isso −−
Ele assentiu se sentindo livre por finalmente partilhar esse grande segredo.

−− Obrigado por me deixares partilhar consigo. −− Respondeu Carlos. −− Agora, eu vou


dormir, estou muito cansado e o corpo ainda está me doendo muito. −− Disse ele
voltando a deitar-se no chão, ele fechou os olhos e dormiu.

Ela passou a noite toda sentada controlando Carlos enquanto ele dormia, ela ficou
pensando no que ele disse sobre o seu passado, não se imaginava passar por isso, só de
pensar nisso já ficava logo triste, mudando de pensamento ela encontrava-se preocupada
com o ferimento que Carlos sofreu foi muito perigoso visto que as garras de Kraven são
venenosas e um ataque daquele jeito de certeza o mataria, ela não entendia o que o
mantinha vivo, se era a sua abundante sorte ou se alguém o estava protegendo, o que
quer que fosse ele tinha que agradecer por estar vivo.

No dia seguinte Yara levantou-se, tinha pegado no sono, ela estava muito cansada para
não dormir um pouco, Carlos estava deitado, ela ajoelhou-se ao seu lado, tocou em sua
testa, a febre diminuiu, isso significava que a folha funcional, ela colocou a expressão
de satisfação, ele abriu os olhos lentamente, a sua visão estava embaçada, demorou uns
segundos para voltar a ver bem dando de caras com a cara de Yara a olhando.

−− Oi! −− Disse ela com a expressão de satisfação estampada em seu rosto meigo.

−− Oi! −− Respondeu todo ele fraco.

−− Como você está?

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−− Mais ou menos bem...

−− Isso é bom! −− Respondeu −− Consegue sentar-se? −− Ele confirmou com a cabeça.


Com muito esforço ele conseguiu pôr-se sentado.

−− O que aconteceu? −− Ele a perguntou confuso.

−− Depois que Kraven foi embora, você estava fraco e sem forças para nadar resultante
do ferimento no ombro que você tem, por isso eu tive que nadar e trazer você até a
praia.

−− Sozinha? −− Perguntou. Ela assentiu. −− Obrigado! Sem ti eu teria morrido! −−


Disse sincero.

−− Descansa um pouco. Temos uma longa viagem até Chândia.

O dia foi se passando e a cada hora que passa Carlos se sentia melhor já conseguia
caminhar, Yara pescou alguns peixes que serviram como alimentos para eles, o sol
estava se pondo, Yara que por algum milagre tinha conseguido recuperar a sua espada a
aquecia no fogo, Carlos lembrou-se do pergaminho que o mago o entregou, que por
sinal além da espada era a única coisa que sobrou do navio que viajavam, até agora só
tinha a assinatura de Serena, a Líder da Tribo da Água, ainda faltavam quatro
assinaturas antes de poder ir atrás da Espada Doura, só de pensar nisso sorriu sonhador,
e voltou a guardar o pergaminho no bolso.

O sol se pôs dando lugar a noite fria e gelada. Yara foi a primeira a dormir, depois do
que ela fez, ela merecia um grande descanso, Carlos ficou observando as estrelas até
que pregou no sono.

No dia seguinte, os dois estavam andando pela floresta indo até Chândia, após comer
varias folhas curativas, o sua ferida estava praticamente curada, só se via uma cicatriz,
Carlos já se sentia bem melhor para andar, até já fazia piadas e tudo o mais.

−− Você já foi a Tribo da Floresta? −− Carlos perguntou a Yara após andarem por uns
tempos na floresta, ele estava indo à frente mesmo não conhecendo o caminho para
Chândia, os dois continuaram a andar pela floresta.

−− Já fui.

−− E como é que é lá?

−− É... Legal.

−− Legal? Só isso que tens a dizer?

−− O que quês que eu diga?

−− Sei lá... Algo mais... Complexo. −− Respondeu procurando a palavra certa −− Algo
como...

148
−− Carlos. −− Sussurrou −− Cale a boca −− Disse colocando o dedo nos lábios, ele o
olhou confuso e sem entender nada.

Ela ouviu alguém tocando e cantando ao som de uma harpa, era uma música calma e
relaxante, era uma música que qualquer um mataria para ouvir, ela olhou ao redor
procurando pela origem enquanto dava passos lentos e sem fazer barulho, até que
conseguiu encontrar a origem da música, a música vinha bem no meio do bosque em
que eles se encontravam, ela aproximou-se devagar, ficando atrás dos arbustos e tendo a
chance de ver o tocador.

−− É um fauno! −− Carlos sussurrou admirado ao ouvido dela, ele estava mesmo a sua
trás com a expressão de profunda admiração, nunca tinha visto um fauno, era tão lindo
com seus pés de cabra e pelos abundantes e chifres, usava uma jaqueta castanha se
protegendo do frio e uma boina verde na cabeça.

−− Eu sei o que é agora me deixe ouvir a música. −− Yara grunhiu em resposta. O fauno
continuou sentado na sua rocha e cantando e tocando a sua linda harpa.

““... Nestes bosques virgens


Os pássaros entoam canções de alegria.
Os festejos começam
Multidões celebram a tua vinda
Oh rosa do além!... Oh rosa do além!... ””

Carlos pisou por acidente um pau que se encontrava no chão chamando a atenção do
fauno, Yara olhou para Carlos com aquele olhar que dizia: O que você fez?!

−− Quem está aí?! −− Perguntou o fauno todo assustado e pegando em seu bastão,
tentando se proteger no que ele pensava ser um lobo. Yara suspirou fundo e saiu dos
arbustos. −− Quem é você?! −− Perguntou ainda não baixando o bastão, Yara olhou
para Carlos que saiu logo de seguida de seguida olhou para o fauno.

−− Meu nome é Yara Analarai e ele é o meu amigo Carlos. Senhor! −− Disse Yara.

−− Meu nome é Sr. Billbans. −− Respondeu o fauno timidamente após olhá-los dos pés
a cabeça. −− O que vocês querem? São ladrões? Vieram roubar o meu rebanho? −−
Perguntou o fauno tremendo de medo.

−− Eu garanto que não somos ladrões Sr. Billbans, nós viemos de Nândia quando
ouvimos a sua linda canção, curiosos procuramos saber quem era o autor de uma música
tão linda e demos de cara com o senhor. −− Yara respondeu o mais calmamente possível
para não assustar o fauno, faunos são criaturas muito tímidas e medrosas, assustam-se
com qualquer coisa principalmente com a presença de animanos.

O fauno olhou para eles com os olhos semicerrados e com a testa franzida desconfiados
deles.

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−− Eu não confio em vocês −− Disse o fauno virando-se para ir embora.

−− Não precisa. −− Disse Carlos o impendido, ele parou, virou-se de Carlos, surpreso
por vê-lo falar, achava que ele era mudo por não falar nada. −− Eu sei que o senhor não
confia em estranhos, eu entendo isso, mas eu garanto que nós não queremos fazer-lhe
mal, garanto que somos pessoas honestas, tudo o que queremos é um teto para dormir e
comida. Por favor! −− Suplicou.

O fauno olhou para Carlos que tinha a expressão suplicante e de seguida para Yara que
tinha a mesma expressão, olhou para baixo suspirou profundamente e respondeu cheio
de pesar.

−− Tudo bem! Podem vir comigo. −− Disse virando-se e começando a andar pelos
bosques.

Após andaram em silêncio por um tempo pelos bosques, com o fauno os dirigindo o
caminho, Carlos indo logo atrás junto com Yara que olhava de um lado para o outro
suspeitando de que eles estivessem sendo vigiado, Carlos sentindo-se inquieto resolveu
conversar com o senhor Billbans, por isso apressou os passos ficando bem ao lado dele.

−− Sr. Billbans, onde o senhor está nos levando? −− Perguntou quebrando o gelo, e é
claro o fauno não respondeu de inicio, mas depois de pensar respondeu.

−− Estou vos levando para a minha casa, vocês disseram que precisam de abrigo então
estou vos levando para o único lugar dos bosques onde terão.

−− Entendo. −− Carlos disse. −− Posso perguntar onde o senhor aprendeu a tocar e a


cantar daquela forma? É simplesmente maravilhosa.

−− Nós os faunos temos o dom de cantar e tocar qualquer instrumento, é algo que
nascemos com ele, que amamos fazer e que faz parte de nós. −− Respondeu o senhor
Billbans.

−− O senhor pode cantar mais um pouco?! −− Carlos pediu educadamente.

−− Claro! −− Respondeu o fauno alegre. Ele tirou a harpa do bolso, sentou-se e


começou a tocar, a melodia era confortável, fazia o corpo todo arrepiar e o aquecer o
coração, ele começou a cantar.

““ Eu só penso em você, meu amor!


Eu só penso nos nossos momentos
Penso no seu doce sorriso
Vem cuidar de mim, meu amor.
Tire-me dessa solidão
Traz-me de volta a minha felicidade
Minha flor de jasmim
Minha rosa da felicidade “”

150
−− Uau! Essa música é linda! −− Disse Carlos aplaudindo.

−− Obrigado, rapaz −− Ele fez uma reverência.

−− Sabe Sr. Billbans, eu gostaria de ter o dom de cantar, mas infelizmente eu não fui
feito para isso. −− Carlos lamentou-se.

−− Tudo se aprende meu caro, apesar de isso ser o meu dom natural... Eu tive que
aprender a dominá-lo e acredite, não foi coisa fácil. −− Disse colocando a sua mão no
ombro dele. −− Adiante, é melhor irmos antes do pôr-do-sol, se não ela me mata. −−
Falou voltando a andar.

−− Ela? Ela quem? −− Carlos perguntou não entendendo o que ele queria dizer com
isso.

−− A minha mulher. −− Respondeu o fauno parando.

−− O senhor tem mulher? −− Carlos perguntou,

−− Mulher e filhos. −− Respondeu o fauno voltando a andar. Carlos sorriu, o seu dia
tinha acabado de melhorar, ele iria conhecer uma família inteira de faunos, não havia
nada que ele pensasse seria igual ou melhor que isso.

Depois de andarem por uns tempos em silencio, o sol estava quase se pondo, eles
finalmente chegaram à casa do fauno, era uma casa que ficava dentro de uma grande
árvore, a entrada era através de uma porta que ficava ao pé da árvore, a porta tinha sido
decorada com um ramo de flores, na porta estava escrito na língua dos faunos: Onaka
Billbans. Traduzindo significa ―Família Billbans”.

−− É aqui que o senhor vive. Sr. Billbans? −− Yara perguntou olhando ao redor um
pouco impressionada. −− Gostei do lugar, é calmo e lindo. Qual é o nome desse lugar?

−− Obrigado, minha jovem. O nome é Bosque Velho −− Agradeceu o fauno. −− Agora


antes de entrarmos, eu gostaria pedir que me deixassem falar, se não for um incomodo
para vocês −− Disse o fauno os olhando directamente nos olhos.

−− Claro, sem problemas. Sr. Billbans. −− Carlos respondeu, o fauno olhou para Yara
que acenou em resposta, de seguida virou-se para a porta suspirou fundo, engoliu um
seco e bateu na aldrava da porta.

Uma linda fauna abriu a porta, sorriu ao vê-lo e o abraçou.

−− Achei que algo te aconteceu... −− Disse a fauna morrendo de preocupação. −− Você


está bem?! −− Disse olhando-o dos pés a cabeça.

−− Sim querida...

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−− Tens a certeza?! −− Perguntou vasculhando a sua cabeça, abrindo a boca dele e os
seus olhos.

−− Absoluta.

−− Óptimo. Então onde estiveste?! −− Gritou. −− Eu quase morri de preocupação! Você


sabe que o bosque pode ser perigoso!

−− Querida lamento!

−− Lamentas?! Eu tive de cuidar dos nossos filhos, sozinha... Você sabe como é difícil?
Além de difícil é impossível...

−− Yasmin, querida, eu trouxe visitas... −− Sr. Billbans interrompeu apontando para


Carlos e Yara que estavam bem atrás deles.

−− Visitas? −− Ela olhou para eles surpresos por ver dois animanos em pé a sua casa.
−− Visitas! Porque você não disse isso logo?

Ela virou rapidamente as suas atenções para Carlos e Yara esquecendo que estava
nervosa com o marido por ter demorado tanto na sua ida pelo bosque.

−− Quais são os vossos nomes? Meus queridos? −− Perguntou ela.

−− Meu nome é Carlos. Senhora. −− Carlos respondeu.

−− Meu nome é Yara. Senhora. −− Yara respondeu de igual modo.

−− Imagino que estejam com fome, que tal entrarmos, daqui a pouco é a hora do jantar.
−− Ela sugeriu.

−− É uma óptima ideia querida! −− Disse o Sr. Billbans, ela o olhou fazendo uma careta
que dizia ―você ainda não está perdoado‖. E assim eles entraram na casa.

Os faunos são criaturas medrosas e desconfiadas, sempre se escondendo entre os


bosques evitando o máximo possível chamar a atenção, eles geralmente só são vistos
quando eles querem ou por descuido mesmo, ou quando ameaçava o seu rebanho.

De tanto vaguear pelos bosques eles conseguiram obter a camuflagem perfeita, só saindo
quando achasse mais seguro, eles não confiam em ninguém tão facilmente, esse motivo os
manteve vivo por milhares de anos.

Para um fauno confiar em alguém que não seja um animal, é necessário tempo e
paciência, ou ele tem de ser amigo de um fauno, como é o caso de Carlos e Yara com o
Senhor Billbans que são praticamente amigos, por isso a Senhora Billbans não se
alarmou por vê-los.

A casa era uma típica de um fauno, o chão era revestido de madeira, as luzes no teto
eram de umas pedras iluminarias que se pareciam com pérolas de nome dâlaras,
tinha poucas mobílias na sala, um sofá e uma poltrona, ao lado da poltrona existia

152
um candeeiro velho, atrás da poltrona estava uma estante cheia de livros, acontece
que o Senhor Billbans é fã de livros, principalmente romances, isso o inspira para
escrever as suas músicas.

Na parede existiam vários quadros, em destaque estava um em que aparecia o Sr. e a


Sra. Billbans no dia do seu casamento, ela usando um vestido casamenteiro dos faunos e
ele usando um jabik (um fato usado por noivos faunos durante a cerimonia de
casamento), noutro quadro eles estavam segurando os seus dois filhos, o pai segurando
o rapaz e a mãe a menina, eram gémeos faunos. Noutro estava uma pintura de todos eles
como uma família feliz que se amava.

Atrás do sofá tinha a mesa do jantar, que ficava entre a cozinha e a sala de estar, apesar
de ser uma casinha pequenina, nela tinham tudo o que eles precisavam.

−− O jantar está óptimo! Sra. Billbans −− Disse Carlos comendo tudo que estava no seu
prato. Eles estavam jantando, a Senhora Billbans preparou uma salada de frutas,
legumes salteados, arroz e sumo de laranja, acontece que os faunos são vegetarianos.

−− Obrigado querido. −− Respondeu a Sra. Billbans contente. −− Quer mais?

−− Não, obrigado, estou cheio. −− Respondeu passando a mão na sua barriga, já não
aguentava mais comer alguma coisa.

−− Depois de comeres tão pouco, me admira que não quisesses mais... −− Yara
comentou comendo uma laranja. Carlos virou o olhar na sua direcção e respondeu.

−− Você adora me provocar. −− Carlos respondeu sorrindo. −− Mas nessa noite eu irei
evitar. −− Ela contraiu os ombros sorrindo.

−− A comida está óptima querida! −− Disse o Senhor Billbans, a Sra. Billbans o olhou
com aquele olhar penetrante, ela pensou muito no que responder, ainda estava zangada
com ele por ter demorado tanto, mas ela não queria mais estar zangada com ele, por isso
sorriu e respondeu:

−− Obrigado querido! −− Ele sorriu ao ouvir essas palavras, o que significava que ela
não estava mais zangada com ele.

−− Bem! Falta pouco para a meia-noite, é melhor nos apressarmos. −− Disse o Senhor
Billbans.

−− Apressar-nos para onde? −− Carlos perguntou.

−− Você verá meu rapaz. −− Disse o Sr. Billbans otimista.

−− Porque estamos aqui fora Sr. Billbans? −− Yara o perguntou. Após o jantar o Sr.
Billbans pediu a todos que saíssem lá para fora ao pé do grande carvalho.

−− Espere para veres querida! −− Respondeu o homem ansioso.

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Eles sentaram-se ao pé do carvalho iluminado pelas dâlaras e decorado com flores, os
assentos eram almofadas que tinham sido espalhadas ao redor da árvore, o Sr. e a Sra.
Billbans sentaram-se lado a lado, o Sr. Billbans pegou na sua harpa e começou a tocar
uma música calma e relaxante, a medida que tocava os pássaros se agrupavam no
carvalho cantarolando acompanhando a música, os esquilos saíram dos seus
esconderijos a aconchegaram-se a eles, de seguida vários outros animais do bosque de
diferentes alturas e tamanhos também vieram, incluindo outros faunos que traziam
consigo outros instrumentos na mão, um deles trazia uma flauta, outro uma viola, outro
um violino e outro um acordeão, sentaram-se ao lado do Senhor Billbans e tocaram
junto com ele.

Após terminar de tocar, o Senhor Billbans tomou a palavra.

−− Sejam bem vindos meus amigos! −− Disse a todos os presentes −− Faltam poucos
minutos para à meia-noite, por isso que comece a festa! −− Dito isso eles voltaram a
tocar dessa vez uma música com um ritmo mais rápido enquanto que os animais
dançavam alegres:

““ Nestes bosques cálidos


Vivia no meio do bosque um jovem fauno
Ele era valente como um leão
Veloz como uma chita
Forte como um urso
Vivia se aventurando dali e para cá
Se aventurando sempre no perigo
Salvando donzelas em apuros

Cadê o fauno?! Cadê o fauno?! Cadê ele! Diziam os moradores


Onde se meteu o nosso herói?
Cadê o fauno?! Cadê o fauno?! O nosso herói
Cadê ele? O jovem herói

Lutando contra dragões


Ele venceu
Enfrentando a morte
Tornou-se imortal
Ele é o nosso herói fauno!
O seu nome é cantarolado por todo o lado
O fauno, o corajoso ””.

−− Parece que estamos num filme da Disney! −− Disse Carlos sorrindo enquanto
assistia todo mundo dançando.
Os festejos não pararam só continuaram seguiu-se música depois de música, a alegria
estava presentes nos rostos de todos, depois de festejaram tanto, Carlos e Yara estavam
sentados de novo na árvore, a banda mudou de estilo e começou a tocar jazz.

154
−− Yara, quês dançar? −− Carlos perguntou levantando-se e esticando a mão.

−− Do nada? −− Questionou.

−− Estou num ambiente comemorativo e está tocando um bom jazz, tenho que apreciar
o momento Yara. −− Respondeu com um sorriso presunçoso no rosto. Ela o olhou com
aquele sorriso desconfiado por fim concordou.

Ela pegou a mão dele, estava quente e levantou-se ele a levou até ao centro da árvore,
perto de onde a banda tocava e onde tinha maior espaço para poderem dançar, Carlos
pôs a sua mão esquerda na cintura de Yara e a outra pegando a sua mão e começaram a
dançar fluindo ao ritmo da música.

Eles dançavam lindamente de um lado para o outro a luz das dâlaras subitamente
focaram-se neles, transformando em um momento mágico, a banda tocava
harmoniosamente, o ambiente ao redor ficou silencioso, todo mundo olhando eles
dançando e com a expressão de felicidade estampadas em seus lindos semblantes.

−− Onde você aprendeu a dançar? −− Yara perguntou admirada.

−− Minha mãe, ela me ensinou a dançar −− Carlos respondeu lembrando--se dos velhos
tempos em que a sua mãe tentava desesperadamente ensiná-lo a dançar, foram dias
engraçados, em uma das aulas ele baralhou-se tanto tentando dançar ―Kizomba‖ ao
ritmo da música ―Rosa Baila‖ e acabou caindo de cara para baixo, Eduardo Paim
ficaria muito decepcionado se visse isso. −− Ela sempre me dizia, que quando eu
convidasse uma garota para dançar eu tinha que saber dançar para não envergonhar o
nome da família, se não soubesse... Ela me mataria. −− Ela riu.

−− Acho que tua mãe fez um óptimo trabalho. −− Yara respondeu.

−− Eu também acho, acho que estou honrando o nome da família.

−− Eu também te mataria se não soubesses dançar. −− Yara sussurrou no ouvido dele.


Ele não respondeu, simplesmente sorriu.

A música continuava tocando suavemente, música linda que traz paz a alma. Yara pôs a
sua cabeça sobe o peito dele simplesmente deslizando pela pista só sentindo a música e
esquecendo o mundo ao redor, esquecendo que existe um mundo ao redor, flutuando
pelo espaço para além das estrelas, para além desse mundo cruel.

−− Sabe Yara... É bom dançar consigo −− Carlos disse baixinho. Ela corou.

−− Você acha? −− Ela o perguntou tirando a cabeça sobre o seu peito e olhando-o
directamente em seus olhos castanhos-escuros.
−− Tenho a certeza... −− Respondeu. A banda parou de tocar terminando com à música,
eles se separaram cada qual sentado no seu canto (terminando com a dança deles)
apreciando a vista do céu estrelado e de lua cheia, Carlos e Yara se separaram Yara que
estava com algumas duvidas sobre a respeito disso sentou-se ao lado do Senhor Billbans
e perguntar.
155
−− O que foi querida? −− Ele adiantou-se a perguntar.

−− Eu não entendi uma coisa... Qual é o motivo disso? −− Perguntou direita e sem
rodeios.

−− Isso é uma celebração para Oluya.

−− Oluya? Quem é ela?

−− Oluya é a deusa da floresta. −− Respondeu ele. −− Foi ela quem criou a nós, seres da
floresta por isso todos os dias a meia-noite, nós rendemos tributos a ela cantando e
dançando como forma de agradecimento pela vida que nos deu.

−− Sem ofensa, eu nunca ouvi falar de Oluya...

−− Oluya tem muitas formas e nomes, animanos a conhecem como Chiwa, ela varia de
povo para povo, de cultura para cultura.

−− Entendi. −− Disse mexendo a cabeça.

−− Óptimo, agora que tal cantares uma canção? −− Perguntou ele pegando na sua harpa.

−− O que eu? −− Perguntou indicando-se a si própria, ele confirmou com a cabeça. −−


Não eu não canto... Quer dizer... Eu não canto mais.

−− Porque não? Será divertido... −− Ele começou a tocar na sua harpa. −− Quando
quiseres. −− Ela suspirou profundamente e começou a cantar, a sua voz era linda e
suave, a música que cantava era sobre um cara que viu sua esposa morrer então ele
espreme o quanto sente saudades dela nos versos da música, cada palavra exprimia o
desejo profundo de vê-la uma ultima vez quem sabe, vê-la num último momento. A
medida que cantava, todos a olhavam concentrados e em silêncio para ouvir cada letra
da canção, era tão linda que ninguém queria perder nada.

Saudades de ter você, meu amor!


Enxergo a solidão que a tua ausência causa meu amor!
Morro de ansiedade por ti!
Eu andei por terras cálidas em busca de ti!
Mergulho nesse sofrimento que me assola, meu amor!
Afogo-me num mar de tristeza e melancolia!
Choro em lágrimas de dor!
Desde o dia em que te perdi!
Sinto saudades da nossa felicidade!
Sinto saudades dos nossos beijos!
Sinto saudades do seu amor, meu amor!

Sonho no dia em que te encontrar minha rosa!


Dos beijos que daremos!
O amor que eu sinto por você é infinito!
Nem o tempo o acaba!
156
Amarei-te entre as estrelas do céu, meu amor!
Quem me dera ter você de novo!
Quem me dera te dar um último beijo!

Terminando de cantar, ela reparou que todo mundo a olhava admirados com o que
acabaram de testemunhar, ela ficou embaraçada por ver isso, subitamente Carlos
começou a bater palmas, todos o acompanharam batendo também as palmas, foi uma
noite que vai ficar sempre guardada na memoria deles.

No dia seguinte, logo pela manha eles já se encontravam prontos para partir, depois do
dia cheio que tiveram ontem queriam meter-se na estrada e continuar com a viagem o
mais rapidamente possível, eles estavam na porta da casa do Senhor Billbans se
despedindo deles e agradecendo por tê-los abrigado ontem à noite.

−− Muito obrigado Senhor e Senhora Billbans, ontem foi um dia em grande! −− Disse
Carlos apertando-lhes as mãos se despedindo. −− E muito obrigado por nos abrigarem
ontem e também pela comida Senhora Billbans!

−− Muito obrigada! −− Disse Yara.

−− De nada! −− Respondeu o Senhor Billbans.

−− Muito obrigado a vocês por serem nossos hospedes! −− Respondeu a Senhora


Billbans. −− Voltem quando quiserem!

−− Nós voltaremos sim, preciso comer mais uma vez aquela salada de frutas! −− Disse
Carlos mexendo a língua em redor dos lábios. A Senhora Billbans riu.

−− Estará a tua espera querido. −− Respondeu ela.

−− Bem... estaremos a partir. −− Disse fazendo uma reverência.

Eles subiram a colina deixando para trás o casal fauno que acenava para eles,
atravessaram a colina deixando de ser visível o Senhor Billbans e a sua esposa e o
Bosque Velho, agora estavam mais ansiosos pela viagem do que nunca, mais dispostos
para o que vinha a seguir.

157
A Liga das Sombras
“Conhecer a sua própria escuridão é o melhor método para lidar com a escuridão dos
outros”

Depois de caminharem por umas horas eles compreenderam que estavam perdidos, não
conheciam o caminho por aonde decorreram e para aonde iriam de seguir com a
viagem, simplesmente caminhavam em seus caminhares sobrecarregadas e sem
direcção, o ambiente jazia ardente, as árvores alongadas impossibilitavam a entrada da
escassa luz solar que havia, por isso não se conseguia compreender se era noite ou dia,
durante aquele que supunham ser o dia às horas delongavam a passar ficavam extensos
e penosos e as noites mais curtas.

−− Estamos perdidos −− Carlos foi o primeiro a admitir, depois de andarem as voltas o


dia todo. Yara que ia logo a frente olhando de um lado para o outro procurando um
caminho por onde seguir, subitamente teve um estranho pressentimento, sacou a sua
espada das costas.

Andou no meio das árvores devagar dando pequenos passos, se aproximou o suficiente
da árvore ficando frente a frente dela, e prestando a máxima atenção naquilo que ouvia,
ela tinha um ouvido aguçado e um enorme pressentimento quando algo não estava bem.

A medida que se aproximou ela simplesmente ouviu o barulho de algo voando da árvore
passando rapidamente pelo seu ouvido direito, por pouco não a acertou, acertando na
árvore atrás dela, ela olhou para trás rapidamente, era uma faca. Yara recuou
rapidamente, erguendo mais a espada.

−− O que se passa? −− Carlos a perguntou amolado.

−− Ninjas −− Ela Respondeu olhando para os lados procurando algum sinal deles. Um
monte de guerreiros ninjas saiu dos arbustos em acrobacias e os cercou, com as suas
espadas em punho.

−− Ninjas? Que fixe! −− Ele sorriu de entusiasmo, ela o olhou incrédulo como se
dissesse: “Sério isso” apenas com o olhar.

−− É sério isso? Quer dizer… estamos cercados por guerreiros assassinos e você acha
isso ―Fixe‖? −− Ele contraiu os ombros como se dissesse que sim. −− Sinceramente. −−
Falou aborrecida.

Os ninjas começaram atacar, o que estava em frente de Yara foi o primeiro a faze-lo,
ela conseguiu desviar de sua investida, mas não conseguiu evitar o corte no braço e
atacou de volta, o ninja era tão ágil que desviou facilmente, Carlos tentou entrar na luta
mas foi cercado por outros ninjas.

Um dos ninjas que cercava Carlos investiu forte, Carlos que já tivera sacado a sua
espada, conseguiu travar o ataque as suas espadas tocaram-se no ar produzindo um som
electrizante o ninja era tão rápido em seus movimentos era quase impossível prever
como iria atacar, o ninja dominava toda a luta deixando Carlos simplesmente na
158
defensiva.

Carlos recuou correu na direcção do ninja, ele fez o mesmo, quase se chocando Carlos
cambaleou para a esquerda levantou para fazer um ataque surpresa, mas o ninja estava
preparado e travou o seu ataque, ele cerrou os dentes o ninja o deu um soco em sua face
ele caiu no chão atordoado, fora muito forte.

A luta entre Yara e o seu misterioso ninja continuava fortemente, com ela conseguindo
uma pequena vantagem e aproveitando para subir em uma árvore onde o ninja a seguiu
e a luta continuou lá, em cima das árvores. Yara recuava lentamente ficando por cima
de Carlos, ela olhou para ele e deu uma piscadela, Carlos percebeu o que ela queria
dizer, cambaleou para baixo ela saltou por cima da árvore em um belo mortal e
aterrando nas costas de um grande leão −− que era Carlos que se transformara em um o
−− o leão rosnou para os ninjas que os tentara cercar e correu pela selva velozmente
deixando os ninjas para trás.

Correu sem parar até darem uma enorme distância parou, Yara desmontou, ele se
transformou de volta, estava cansado por ter corrido tanto que se atirou ao chão
exausto. Yara pegou na pasta, tirou uma garrafa de água e atirou-a a Carlos, ele
pegou a abriu e deu um longo gole.

−− Quem eram aqueles? −− Ele perguntou de seguida.

−− Eu não sei −− Yara respondeu sentando-se.

−− E como você soube que eram ninjas?

−− Eu apenas sei Carlos. −− Respondeu olhando para baixo. Ele assentiu e parou de
falar. −− É melhor continuarmos andando, o sol já está quase se pondo temos que
encontrar um lugar seguro para passar a noite. −− Disse levantando-se, Carlos bebeu o
resto da água que tinha na garrafa e levantou-se também.

−− Para aonde vamos? −− Carlos a perguntou, ela olhou para o mapa, tinham que ir para
o norte, com sorte chegariam a Tribo da Floresta em um ou dois dias.

−− Temos de ir mais para norte, chegaremos lá em pouco tempo.


Eles continuaram andando, dessa vez Yara indo em frente, andaram por umas horas
quando Yara ouviu o barulho de algo pesado caindo a sua trás, ela virou-se e era Carlos
deitado no chão, ela correu em seu auxilio, algo a acertou no pescoço ela tirou o objecto e
era um dardo tranquilizante, a sua cabeça começou a girar ficando tonta via tudo
embaçado e caiu no chão, seus olhos pesados se fecharam e ela desmaiou...
Yara abriu os olhos, sua cabeça doía fortemente, tinha a visão embaçada, estava de
cabeça para baixo, e amarrada com fortes corrente em todo o seu corpo impossibilitando
qualquer movimento de sua parte e a boca totalmente amarrada, ela tentou fazer pequenos
movimentos com o objectivo de girar para olhar na sala ao redor onde estava.
A sala onde estava parecia ser uma sala real e de judo ao mesmo tempo, um grande assento
bem no centro, fitas vermelhas com figuras negras de ninjas estampadas nelas, enquanto
olhava de um lado para o outro tonta e sonolenta, ela deu de caras com Carlos bem a sua
159
frente.
Por um segundo uma mistura de sentimento passou por seu semblante: alegria e satisfação,
medo e angústia; alegria e satisfação por finalmente vê-lo, medo e angústia por estarem
presos e não saber como iriam sair daquela situação.
Lentamente, ela começou a se fazer ganhando uma pequena velocidade com o objectivo de
acordar Carlos, mas a medida que fazia esse movimento frenético algumas vozes se
aproximavam rapidamente indo ate a sala onde eles estavam, rapidamente ela parou os
movimentos e fingiu-se de adormecida.
As vozes entraram na sala, eram dois ninjas igualmente encapuzados, andaram pela sala se
certificando que os prisioneiros estavam bem presos e adormecidos, feito isso, saíram da
sala continuando a sua conversa, a medida que se afastavam o silencio tomou conta do
lugar, após o silêncio se instalar, Yara recomeçou o seu movimento frenético gerando
movimento suficiente para a corrente que a prendia sobe o teto se rompesse.
A medida que fazia o movimento, o barulho que as correntes faziam despertara Carlos que
lentamente abriu os olhos e deu de caras com Yara acorrentadas com enormes correntes
enquanto se movimentava de um lado em um movimentando de vai e vem.
Yara olhou e nada disse, não parando o seu movimento, Carlos olhou atentamente para
onde a corrente de Yara estava amarrada e viu ela se desfazer e Yara cair ao chão soltando
um gemido por ter caído tão violentamente ao chão, lentamente ela se levantou se soltando
das pesadas correntes, e tocou em suas costas, estava doendo, aquela tinha sido fatal para as
suas costas.
Yara desabou sentada no chão estava dorida demais para fazer qualquer coisa, tinha a
expressão paralisante, o rosto todo vermelho e desfigurado, o cabelo soltou e
completamente despenteado, olhou para as suas mãos vermelhas tremulas, os seus olhos se
encheram de lágrimas como se quisesse simplesmente chorar para esquecer nem por um
minuto que estava ali.
Carlos iniciou por fazer o mesmo que Yara fez e poucos minutos depois conseguiu se
soltar, Yara ainda permanecia com o olhar fixo na parede completamente paralisada,
Carlos soltou-se de suas correntes e sentou-se ao lado dela, ele virou o seu rosto com a sua
mão, ela estava chorando e vendo o sofrimento que ela sentia em seus olhos simplesmente
a abraçou.
Existe uma lenda em Animândia sobre a existência de um grupo secreto que se auto-
dominam Liga das Sombras dizem que esse grupo é responsável por um monte de coisas
terríveis, desde assassínios, sequestro, roubos de tesouros e outros a lenda da Liga das
Sombras é uma das lendas mais famosas de Animândia, por anos foi alvo de muitas
teorias da conspiração, pessoas alegavam que tinham sido visitadas por membros da Liga
dizendo que foram torturados chegando ate de mostrar os ditos sinais de tortura, mas
mesmo com isso a maioria permanecia na ignorância, por isso a Liga das Sombras
sempre permanecia nas sombras, fazendo jus ao próprio nome.
Eles eram mercenários, servindo a quem pagasse melhor e saqueadores de tesouros
fazendo fortuna com ambas as coisas. A Liga era um grupo terrível pela sua crueldade e
perspicácia nunca deixando qualquer vestígio da sua presença em um lugar,
O actual líder da Liga das Sombras, era um homem chamado Liu Tang, Liu Tang era um
homem cruel, não só pelas coisas que fazia como as mais pesadas formas de tortura,
160
como também pelo que dizia, era um homem de imensos ditados.

Carlos e Yara corriam pelos corredores, com Carlos na forma de leão transportando a ela,
com um bando de ninjas os perseguindo a sua fuga tinha sido descoberta, passaram um
longo corredor, com candeeiros presos na parede como a única fonte de iluminação
correndo o mais rapidamente possível, correndo pelas suas vidas a medida que os ninjas
lançavam facas que por alguma sorte passavam entre eles sem os atingir ao certo.

Carlos e Yara deram de caras com o fim do corredor e com dois caminhos diferentes,
um que ia a direita e outro a esquerda, escolhera a direita, e correndo ate avistarem uma
luz branca no fim, atravessaram a luz e descobriram-se fora daquele complexo.

La fora milhares de ninjas estavam espalhados pelo longo quintal, todos eles
encapuzados realizando as suas diversas tarefas, quando viram Carlos e Yara saírem por
aquele túnel depressa deixaram os seus afazeres e se juntaram a perseguição.

Carlos estava ficando sem muitas opções para onde ir pois estava sendo cercado
ferozmente pelos ninjas que vinham de toda a parte segurando as suas enormes armas
prontas para a batalha.

Carlos corria mais rápido que podia mas não adiantou pois a sua frente não tinha mais
caminho, estavam cercados pelos ninjas, ele parou de correr olhando de um lado para o
outro com os olhos arregalados e com medo, parecia o fim.

Os ninjas se aproximavam cada vez mais com as armas apontadas para a frente, Carlos e
Yara que já estavam em posições de combate, de costas um para o outro e as respirações
ofegantes e trémulas encarando a enorme multidão que se aproximava.

Carlos e Yara olharam-se de relance um para o outro pela ultima vez e a batalha
começara, com Carlos assumindo a forma de leão e atacando muito ferozmente os ninjas
a sua frente, Yara apesar de exausta, não queria morrer ali por isso dava tudo de si
esquecendo por um minuto a terrível dor que sentia.

Um dos ninjas tentou acertar a Carlos com uma lança, mas este conseguiu se desviar e
com sua enorme pata e garras acertou o ninja o jogando para bem longe, do lado de Yara
a luta decorria com a mesma intensidade, apesar da enorme multidão ela estava
procurando o ninja que lutara consigo logo pela manha, queria uma desforra.

A medida que a luta continuava a desvantagem surgia para Carlos e Yara que apesar de
lutarem de uma forma feroz e determinada, os ninjas estavam em superioridade numérica,
e Carlos notando isso teve a ideia de mudar de forma, revelando a sua identidade como
Yedi transformando-se em um enorme e feroz gorila, ele rosnou de fúria para os ninjas que
cambalearem para trás assustados ao ver aquele semblante feroz.
Carlos agarrou a Yara pela cintura e saiu correndo rapidamente passando por aquela feroz
multidão que atacava com sua espada tentando os impedir, ele correu subindo a colina se
aproximando do enorme muro que separava a Liga das Sombras do resto de Animândia,
Carlos se aproximou e saltou alto passando pelo muro e saindo lá do outro lado.
Carlos corria rapidamente dando uma longa distancia aos ninjas, Yara olhou para trás
161
procurando algum sinal dos ninjas e os encontrou parados, alinhados segurando seus
arcos e flechas e disparando ao céu em direção a eles, o medo tomou conta dela.

−− Flechas! −− Gritou alarmada. Carlos olhou para o alto e teve aquela visão aterradora
das flechas mortais voando a alta, ficando sem opções, ele colocou Yara no chão e
abraçou a protegendo das flechas que muito rapidamente caíram e atingiram as suas
costas.

À medida que as flechas o atingiam Carlos soltava algumas exclamações de dor, apesar
de ser um enorme gorila aquelas flechas e as flechas não conseguirem provocar os danos
suficientes, mas ainda assim conseguia sentir alguma dor.

A chuva logo cessou, Carlos se pôs de pé revelando Yara, que estava intacta, nenhuma
flecha a tivera atingido, Carlos estava tonto ainda procurando se orientar direito tocou em
sua testa recuperando os sentidos, pouco a pouco ele começou a arrancar as flechas de
suas costas, à medida que os ninjas se aproximavam mais rapidamente.

Os ninjas os cercaram fazendo um círculo, mas não a atacaram, e no meio deles eis que
surge Liu Tang ao lado do ninja que Yara lutara logo pela manhã, era uma mulher e se
chamava Nayara, Yara estranhou por ser uma mulher mas não demonstrara, Liu Tang se
aproximou deles e disse:

−− Meu nome é Liu Tang. Quem são vocês? −− Liu Tang, era um cara alto com um
bigode pequeno, vestido com um traje ninja só que de cor vermelho, careca, tinha o
semblante sério e igualmente mortal, e a cara com uma cicatriz que saía de sua testa
esquerda, passando pelas sobrancelhas e por cima dos olhos e descendo ate a bochecha.

−− Meu nome é Yara, e ele é o Carlos. −− Ela respondeu. Liu Tang olhou de soslaio
para Carlos que mantinha o olhar para baixo ainda atordoado pelas flechas.

−− O que vocês querem?

−− Só queremos ir embora. −− Yara respondeu com a voz que parecia um lamento.

−− Bem, eu não posso fazer isso, vocês humilharam os meus guerreiros e agora querem
ir embora sem mais nem menos? −− Falou com extrema fúria sacando a sua espada. −−
Vocês só sairão sair daqui mortos.

Nayara sacou a sua espada e atacou Yara ferozmente, Yara respondeu de igual modo
parando o seu ataque com a sua espada, elas olharam-se de relance nos olhos uma da
outra como se tivessem assimilado tudo o que se tinha, a saber, acerca do oponente.

Nayara recuou e iniciou a fazer rápidos ataques tentando ao máximo ferir Yara, que por
sua vez recuava tentando evitar que a espada afiadíssima de Nayara a atingisse, Nayara
era uma excelente lutadora.

Do outro lado Carlos foi arremessado ao longe por Liu Tang, ele estava perdendo a luta
e perdendo feio, Carlos não oferecia muito esforço, simplesmente não queria desistir
porque sabia que se isso acontecesse certamente seria o fim para ele.

162
Desabado no chão, Carlos fez um esforço para ficar de joelhos e uma ideia começou por
surgir em sua cabeça, ele olhou para Liu Tang que o encarava profundamente enquanto
caminhava de um lado para o outro com a espada em mão.

A sua espada estava a apenas alguns metros dele, Carlos sabia que por mais que
tentasse nunca o conseguiria vencer, Liu Tang era um guerreiro nato e Carlos um
simples garoto fraco, ele olhou para Yara.

A luta entre elas decorria feroz, Nayara atacou com a sua espada deslizando por cima
enquanto Yara esquivava deslizando para baixo em uma cambalhota, virou-se muito
rapidamente e aplicou uma queda em Nayara a segurando pelo braço.

Nayara caiu deixando cair a sua espada ao longe Yara aproveitou aqueles segundos em
que Nayara se erguia, deu um mortal para trás atingindo a ela com o pé em seu queixo,
Nayara desabou ao chão atordoada, sangue escorria de sua boca

Nayara levantou-se e antes que pudesse fazer alguma coisa Yara a atingiu com um forte
pontapé, ela caiu ao chão desmaiada e totalmente derrotado.

Carlos aproveitou aquele momento, pegou um pouco de areia do chão e jogou-a sobre
Liu Tang e correu em direcção a Yara transformando-se em águia muito rapidamente e
a agarrando e juntos, saíram voando dali fugindo de uma vez por todas da Liga das
Sombras.

163
O Pântano de Khaliya
“Somos o que pensamos. Tudo o que somos surge com nossos pensamentos. Com
nossos pensamentos, fazemos o nosso mundo” - Buda.

Há muito tempo atrás, três viajantes preambulavam cantarolando por esses bosques
tenebrosos a procura de comida e água para os seus gados que morriam lentamente um
por um, eles achavam-se cansados e sem forças para continuar, quando sem souberem
onde estavam entraram no Pântano da Loucura.

Eles prosseguiram cantarolando as suas músicas que os traziam paz e conforto a alma,
continuaram andando decididos com nada que os conseguisse parar, quando de repente
ouviram um som estranho, eles olharam ao redor tentando achar a origem do barulho,
parecia que estava vindo de todo o lugar, era o som de alguém angustiado
choramingando e clamando por socorro.

A voz aumentou o berro ouvindo-se por todo o Pântano forçando os três viajantes a
taparem os ouvidos, subitamente o som parou os três viajantes tiraram as mãos dos
ouvidos estremecendo de medo, e completamente assustados, eles entreolharam-se com
os rostos marcados pelo medo.

−− O que foi isso? −− Perguntou um deles completamente apavorado e não parando de


tremer. Nenhum deles conseguiu responder a essa altura, o medo criara raízes tão
profundas que os seus rostos estavam tão amedrontados que não conseguiam falar
alguma coisa.

Os três tinham algo em comum, cada um deles tinha perdido alguém especial na sua
vida recentemente.

O primeiro tinha perdido a sua mulher, o segundo os seus dois filhos e o último, a sua
mãe, então subitamente o primeiro viu a sua mulher correndo entre as árvores com um
sorriso estampando em seu semblante e chamando por ele com a voz ecoando entre as
árvores, o segundo viu os seus dois filhos brincando e gritando ―papai! Porque não vem
brincar connosco?‖ e o último viu a sua mãe caminhando tranquilamente e o com o olhar
fixo nele, cada um teve uma aparição diferente da do outro.

O choro recomeçou dessa vez com mais veemência, um nevoeiro cobriu todo o pântano,
a lua tornou-se vermelha como sangue, o clima tornou-se gelado e sinistro, vozes
sussurravam canções arrepiantes enlouquecendo eles ao ponto de não saberem mais
quem eram ou que estavam fazendo ali, a única coisa que interessava para eles é poder
era ter mais um minuto com aqueles que eles amavam ter mais um minuto para dizerem
o quanto eles os amavam.

Abruptamente os olhos dos fantasmas mudaram se tornando negros e vazios sem vida,
como os olhos de um zombie, olhos sem alma, a sua face contraiu-se em largos sorrisos
cruéis e arrepiantes. Então o pior aconteceu, os fantasmas desapareceram revelando um
ser com a aparência de mulher, usando roupas brancas com o olhar fixo para baixo,
164
levantou a cabeça lentamente revelando o seu rosto enfadonho, os seus olhos eram
negros sem vida, os seus lábios eram também negros e com cicatrizes de faca neles,
como se tivesse sido cortada com faca entre os lábios, ela não tinha dedos em vês disso
tinha enormes garras afiadas, era Khaliya, a demônio que habitava o Pântano.

O nome Khaliya significa: “Loucura”. Khaliya é a primogênita que inclui junto com ela
mais dois irmãos, Yaliya, (que significa Desespero) e Khaliu (que significa Insanidade)
juntos formam o Trio Perpetro, eles eram os três demónios mais terríveis de Chini,
responsáveis por levar os homens a total loucura.

Os três viajantes quando viram a figura misteriosa ficaram apavorados tentaram correr
desesperadamente, mas não conseguiram, ela saltou por cima deles e os matou os
esfaqueando descontroladamente com as suas garras sem nenhuma piedade ou remorso.

Os corpos dos três estavam espalhados ao chão abertos e os seus órgãos internos
retirados e espalhados ao redor, a figura misteriosa caminhou entre os corpos, retirou os
corações e comeu-os se deliciando com isso, e gritando feliz com o seu pequeno-
almoço.

Após fugirem da Liga das Sombras, Carlos procurava um lugar para eles finalmente
descansarem, estavam exaustos, os olhos de Carlos estavam pesados desejando o mais
desesperadamente possível descansar, e com Yara não era diferente, ela se sentia
como se um elefante a tivesse pisado em todo o seu corpo, pelo terrível exaustão que
sentia.

Ele depressa aterrou, procurando um lugar com densa vegetação para melhor se
esconderem caso os ninjas tomem a aparecer, era um lugar interessante, a sua frente
um longo pântano se erguia e um pequeno córrego passava dividindo o pântano com
o resto da colina.

O pântano era daqueles que parecem terem saído de algum filme de terror de tão
sinistro que era, era o Pântano da Loucura., fizeram uma fogueira e deitaram-se
olhando as chamas, não falaram nada estando demasiado atordoados para falarem
alguma coisa, e logo depressa tombaram a adormecer, entrando em um sono
profundo.

−− Carlos! Carlos! Caaarrrloooosss! −− Carlos espantou-se, a sua respiração ofegante,


uma voz estava sussurrando o seu nome, uma voz fria e penetrante o estava chamando
directamente de seu sonho, ele se pôs em pé, e olhou ao redor, o clima tinha mudado,
um grande nevoeiro saindo do pântano se alastrava por toda a colina deixando cair a
temperatura para um frio estranho.

Lentamente e movido pela sua curiosidade ele iniciou se aproximando da origem do


nevoeiro, estando bem a frente da entrada do pântano, a sua frente estava uma grande
placa que dizia: “Bem-vindo ao Pântano da Loucura, por favor, não entre!”. Sem se
dar conta do que estava fazendo ele entrou no Pântano, era como algo o estava
atraindo para lá.

165
O pântano era um lugar sombrio e triste, a aura congelante e assustadora penetrava em
Carlos em um ambiente perturbador, o medo o invadia à medida que ele avançava em
passos sonantes pelo Pântano, amedrontado ele procurou desesperadamente o caminho
de volta mas não conseguia encontrá-lo, tinha desaparecido, sem saber muito o que
fazer e achando que poderia sair do outro lado, ele decidiu seguir em frente pelo
pântano sinuoso.

Andando com bastante apreensão, uma série de pensamentos caóticos começaram a


invadir a sua mente e pela primeira vez desde que entrara no Pântano ele sentiu medo,
subitamente mais muito rapidamente ele teve o vislumbre de alguém se movendo entre
as árvores a sua frente.

Caminhou sossegadamente e a viu de novo, uma menina de cabelos negros e usando um


vestido branco como a neve andando e cantarolando uma canção sinistra e arrepiante, a
música era como se mil vozes sinistras cantassem ao mesmo tempo.

““ Havia nesses bosques três aventureiros!

Três aventureiros perdidos!

Que entraram no meu querido pântano!””

À medida que ela cantava a voz se tornava mais sinistra e ecoava por todo o lado como
se as árvores estivessem cantando junto com a menininha, Carlos não suportando o
que o som provocava em sua mente elevou às mãos as orelhas tentando livrar-se
desesperadamente de ouvir aquela musica horrível, mas a música só piorou tornando
ineficaz o seu ato.

““ Eu lhes mostrei como recebemos visitas!

Abrindo-os as entranhas e comendo os seus corações “”

A menina soltou um riso maligno se deliciando dos seus horríveis feitos, de seguida
virou o seu olhar olhando para Carlos com um sorriso louco e cruel estampando em seu
semblante, a cara toda manchada de sangue e seus olhos negros sem alma e as suas
longas garras ensanguentadas, ela disse com a voz rouca parecendo que mil vozes
estivessem a falar a mesma coisa e ao mesmo tempo ecoando por toda a floresta num
suspense aterrador:

−− Gostou da música? −− A criatura se aproximava lentamente arrastando as garras ao


chão.

−− Quem é você? −− Perguntou Carlos recuando e tremendo de pavor.

−− Eu sou a loucura! Eu sou o teu desespero! Eu sou a aflição! Eu soooouuuuu


Khaliiiiiyaaaaaaa! −− Gritou com o seu grito espalhando-se por toda a floresta, as
árvores entoavam um choro de lamento enquanto sangue escorria delas de maneira
horripilante.

““ Morre, morre pequeno aventureiro.


166
Há sua hora chegou ao fim

O caminho foi longo

Mas o destino foi traiçoeiro

Serás sempre lembrado como um grande aventureiro

Que teve um final terrível ””

Carlos desabou ao chão com as mãos coladas ao ouvido não aguentado ouvir mais
aquela musica que o deixava doido, deitado no chão aflito enquanto a voz sinistra de
Khaliya ecoava pela sua mente maneira terrível, aquela sensação trouxe a ele um rosto
que ele lutou durante anos para tentar esquecer de uma vez por todas, a expressão de
fúria de Pedro uma expressão que o atormentou durante anos, agora ele a via olhando
directamente para ele com aquele olhar malvado que só ele sabia fazer.

A visão mudou, ele agora viu Pedro completamente bêbado gritando e batendo em sua
mãe sem piedade, lágrimas caíram dos seus olhos sofridos, não aguentando mais ver
aquilo, doía demais se lembrar daqueles dias trágicos, aquelas recordações davam cabo
da sua mente o deixando louco, ele já não sabia mais o que estava fazendo no Pântano
ou como tinha la chegado ou mesmo deitado la, simplesmente só conseguia olhar para
aquela cena com os olhos cheios de lágrimas e com a expressão de aflição no rosto.

Olhava apreensivo para a cena, já não sabia mais quem era ou do porque estar chorando
ou quem eram as pessoas que via em sua visão, simplesmente esqueceu de tudo ao
redor, estava completamente louco.

O chão ensanguentado ao redor começou a mudar, as raízes das árvores principiaram se


movendo indo em direcção a Carlos o envolvendo completamente e tapando a sua
visibilidade o deixando completamente inconsciente.

A criatura chegou perto de onde Carlos estava amarrado, ergueu as suas longas garras
pronto para mata-lo quando naquele mesmo instante um ser alado apareceu subitamente
e travou com sua espada flamejante a investida de Khaliya, era um Omicron, um
guerreiro de Chiwa, ele a empurrou para trás, ergueu a espada e desferiu um golpe na
face de Khaliya, ela cambaleou para trás apavorada e com medo do Omicron.

−− Afasta-te monstro! −− Disse o Omicron com a voz cheia de autoridade, Khaliya


cambaleou entre as árvores e desapareceu, assim que ela desapareceu o Omicron virou-
se para onde Carlos estava envolvido, usando a sua espada ele cortou os enormes caules
que o giravam, ele estava inconsciente, o Omicron o levantou o levando nos braços e o
carregou para fora do Pântano.

Ele o colocou deitado no chão, ajoelhou-se passou a mão sobe a cabeça de Carlos e à
medida que fazia isso um liquido cinzento saiu voando até a palma da mão do Omicron
onde se formou numa pequena bolha de onde se podia ver tudo o que Carlos tinha visto
desde o momento que Carlos entrara no Pântano ate o momento que desmaiara, o
167
Omicron colocou o líquido em um pequeno frasco e o guardou nas suas roupas.

Feito isso o Omicron passou a mão sobre o restante do corpo de Carlos curando todos os
seus ferimentos, terminando de fazer isso ele levantou-se caminhou até a placa onde
assinalava entrada do Pântano de Khaliya, ergueu as mãos ao alto e das suas mãos
saíram raios de luzes brancas que subiram ao céu e desceram cercando o Pântano em
um circulo tornando o Pântano invisível e impenetrável para qualquer mortal.

O Omicron pegou em Carlos e o carregou até onde estivera dormindo e vendo Yara, ele
fez o mesmo procedimento que fizera com Carlos nela, curando de igual modo todos os
seus ferimentos. Feito isso, o Omicron olhou para o céu estrelado, suspirou e desapareceu
não deixando qualquer rasto de sua presença.

O sol estava nascendo, os pequenos raios de sol já cintilavam sobre os seus pequenos
rostos, Carlos abriu os olhos lentamente contemplando o brilho do sol matinal, estava se
sentindo muito bem, a anos que não se sentia assim tão bem disposto, sentou e olhou ao
redor, Yara ainda dormia um sono profundo, se levantou e foi se lavar no riacho próximo.

A medida que caminhava, notou algo estranho na atmosfera, estava diferente, agradável e
doce, era o dia perfeito para se fazer um piquenique, chegou ao riacho e lavou-se
retirando consigo toda a sujeira que acumulava, No retorno, trouxe consigo algumas
frutas silvestres que tinha apanhados em uma arvore que crescia próximo do riacho.

Voltando, Yara ainda estava dormindo, ele sentou ao seu lado a olhando atentamente e se
perguntando como seria a vida dele se ela não estivesse presente, de certeza seria
totalmente diferente, provavelmente ele estaria morto.

Ao pensar naquilo um arrepio percorreu o seu corpo e uma sensação de alívio e


satisfação o inundou por saber que podia contar com Yara para tudo. A viagem deles
continuou deixando o Pântano de Khaliya o qualquer recordação sobre a sua existência
permanecendo assim num mito como sempre será relembrando em tempos futuros.

168
O egoísta
“Tudo aquilo que não enfrentamos em vida acaba se tornando o nosso destino”. − Carl
Jung.

Carlos estava deitado dormindo e sonhando, no seu sonho, ele estava andando por um
deserto sem fim, transpirava tanto que parecia que água estava saindo do seu corpo,
estava com tanta cede e cansaço que não conseguia mais andar, estava sem fôlego e
qualquer hora desmaiaria, ele parou de andar ajoelhou-se exausto e sem forças para
marcar mais um passo, quando, inesperadamente um remoinho de área se formou bem
na sua frente, esse remoinho tinha uma face que falou para ele numa voz ríspida e seria:

−− Quem é você? −− A sua voz ecoava por todo o deserto.

−− Eu? Eu não sou ninguém −− Carlos respondeu. −− E quem és tu?

−− Eu sou a tua “consciência”. −− Respondeu a voz, alto e em bom som.

−− Não sabia que a minha consciência tem a cara e a voz tão feia. −− Respondeu
Carlos em um sorriso torto. −− O que você quês de mim?

−− Eu vim te dizer que tu és fraco, egoísta e inútil.

−− Não sou não.

−− És sim, então porque a obsessão pela Espada? −− Rebateu.

−− Você não entenderia... −− Disse olhando para baixo. −− Além do mais quem é você
afinal? Afinal isso é um sonho...

−− É um sonho. É? −− Disse o remoinho como se Carlos o tivesse ofendido. −− Então


um sonho pode fazer isso? −− Gritou. O remoinho pôs-se em movimento indo em
direcção a ele. Carlos, por sua vez tentou fugir mesmo estando quebrado, mas foi
apanhado por ele que o engoliu.

Carlos acordou abruptamente assustado com o sonho que acabara de ter, não é todos os
dias em que é chamado de egoísta pela nossa própria ―consciência‖ e somos engolidos
por ela, o sonho deixou Carlos a pensar sobre a Espada Dourada, se ele era mesmo um
egoísta por querê-la tanto.

Ele estava no Castelo Megalítico deitado na cama de seu quarto, há três dias tinham
chegado a Chândia, ele e Yara, tinham chegado a Chândia logo pela manhã onde foram
recebidos por Baku que ficou muito feliz por tê-los como hospedes em Chândia, durante
os dias em que se seguiram Yara agia de forma estranha, vivia sempre insistindo para que
eles fossem embora, às vezes ela ficava trancada em seu quarto o dia todo e só saia para
jantar, durante o jantar, vivia cabisbaixa e não falava com absolutamente ninguém,
sempre que alguém lhe passava a conversa ela limitava-se simplesmente a acenar a
cabeça em resposta, Carlos que não sabia por que motivos ela agia assim, resolveu
perguntar, mas conseguiu guardar a pergunta para outro momento.

169
Enquanto isso, Baku os mostrou tudo sobre a Tribo da Floresta, já que era o dever de
Carlos como parte das Jornadas Reais conhecer as Tribos.

Mostrou-lhes o Mercado de Chândia que é o maior e o mais lucrativo mercado de toda


Animândia, cerca de 90% de todos os produtos existentes em Animândia são
movimentados em Chândia, Chândia também era onde ficavam as grandes fábricas de
Animândia, todos os grandes empreendedores vêem aqui fazer os seus negócios.

A Tribo da Floresta era bastante rica em biodiversidade animal, tinham animais de


todos os tipos e tamanhos que viviam entre as florestas, bosques, pântanos e criaturas
mágicas de diferentes portes e tamanhos

A Tribo da Floresta é também o maior produtor de alimentos de toda Animândia, a


comida que produz alimentam todos os lugares e todas as espécies, cerca de 80% de
toda a comida, vem daqui dessas terras aráveis, por isso a Tribo da Floresta é a mais rica
de Animândia, a sua economia é tão rica que podem juntar-se todas as quatro tribos
restantes que nem chegavam perto.
Ele os mostrou também a Praça Fileus, Fileus fazia parte dos Cinco Anciões de
Animândia, todos os Cinco Anciões foram quem criaram as Cinco Tribos segundo a
orientação de Chiwa, e foi ele quem criou a Tribo da Floresta, por isso, em homenagem
a praça recebeu o seu nome, e a sua estátua que ficava bem no centro da praça.

E também Carlos ficou, a saber, mais sobre o passado de Yara e do porque dela não
gostar muito de vir para Chândia, ela o tinha levado ao cemitério e até uma sepultura ele
não precisou perguntar qualquer coisa para saber o que se passava quando viu o nome
visivelmente estampado na sepultura: Tiago Analarai. Yara agachou-se a frente à
sepultura e começou a falar com o rosto para baixo.

−− Quando meu pai ficou doente... −− Disse com a voz baixa que mais parecia um
sussurro, a voz era frágil. −− Angustiado com a ideia de partir, ele decidiu ir à procura
de todas as maneiras possíveis para ficar curado, procurou os melhores médicos, mas
todos o disseram que era impossível ficar curado e que morreria em breve... −− Ela fez
uma pausa esticou a sua mão tocando na sepultura onde estava escrito o nome ―Tiago”
e continuou a falar.

−− Mas de repente surgiu um médico em Chândia que disse que era possível ficar
curado, era como uma luz de esperança que surgia pronto para iluminar o seu rosto
frágil, o resultado disso tinha que pagar um preço terrível, desesperado, ele aceitou.

−− No principio corria tudo bem o tumor estava desaparecendo −− Ela continuou a falar
com a voz carrega de profunda tristeza, enquanto que lágrimas caíam dos seus olhos,
lágrimas de um passado frio e sombrio −− Mas, algumas semanas ele poderia voltar
para casa, mas, depois o tumor voltou com mais força do que antes, e um mês depois
ele faleceu aqui, na sua terra natal, antes de morrer ele deixou cartas para mim e para o
meu irmão.

−− E é por isso que eu não gosto de vir para aqui, faz-me lembrar do meu pai e em
quanto ele sofreu durante a sua vida com isso. −− Ela levantou e limpou as lágrimas
170
recompondo-se.

Ela ficou lá olhando para a sepultura pensando em todas as lembranças felizes que
aconteceram ao longo da sua vida ao lado de seu pai.

Carlos sem saber o que falar direito, finalmente compreendera que por baixo daquela
menina forte e alente, existia alguém que já sofrera muito na vida, alguém com um
passado frágil e delicado, alguém como ele, por isso simplesmente a abraçou a
consolando pois entendia que alguns actos são maiores que as palavras.

Naquele mesmo dia, após o jantar, Carlos se encontrava deitado em sua cama, estava
sem sono e não pensando em nada, simplesmente olhando para o teto do quarto, a luz
da lua entrava pela janela que ficava bem ao lado da sua cama iluminando bem a sua
cama marcando o seu rosto, olhou para a janela, a lua estava cheia, foi quando viu algo
estranho lá no céu, uma estrela brilhou intensamente lá no céu e subitamente caiu para
terra descendo lentamente.

Carlos, curioso com o que estava acontecendo, abriu a janela, transformou-se em uma
ave e saiu voando para fora do Castelo, chegando lá para fora, a estrela diminuía o seu
brilho a medida que ia descendo para terra até descer completamente e tocar o chão,
Carlos ainda não conseguia ver o que era, o brilho estava muito alto para os seus olhos,
subitamente a estrela parou de brilhar e revelou-se Chiwa, em um longo vestido
dourado em cabelos dourados, a cara angelical e os olhos penetrantes.

Ele ajoelhou-se rapidamente atrapalhado com a presença dela, mas Chiwa estendeu a
mão o pedindo para que não o fizesse.

−− Me desculpe! É que... eu ainda não sei reagir a sua presença. −− Desculpou-se


atrapalhadamente escolhendo bem as palavras que ia dizer. Ela assentiu e perguntou:

−− Como tu estás Carlos?

−− Eu não sei como estou. −− Respondeu sincero sentando no chão e olhando para
baixo, de seguida ergueu o olhar olhando para ela e tentando obter coragem para poder
continuar a falar.

−− Sinto-me como se tudo isso que eu estou a fazer é... −− Hesitou se sentindo
envergonhado e mais culpado ainda com o que ia dizer.

−− Uma atitude egoísta da tua parte? −− Chiwa concluiu, ele acenou com a cabeça
concordando e de seguida baixou a cabeça acanhado.

−− Quando eu saí de Nândia, eu estava convencido de que ir atrás da espada valesse a


pena, estava tão convencido que nem sequer ouvi o que ela me disse, e agora… e
agora... −− Enquanto falava uma sensação de arrependimento passava por toda a sua
mente obrigando-o a pensar em tudo aquilo que Yara por sua causa viveu e dor que teve
de passar, incluindo aquela cena na sala da Liga das Sombras, lembrar daquele olhar
frágil de Yara o quebrar por completo.

171
−− Eu não sei bem o que fazer...

Ele achava-se perdido, em aflição, não sabia mais o que fazer se iria de continuar a
busca pela espada ou não a dúvida cruel instalou-se na sua mente. Chiwa se aproximou
dele lentamente abaixou-se olhando directamente para a sua face e disse:

−− O que tu está fazendo é um ato egoísta, o fato de tu arriscares a sua e a vida de Yara
prova isso, tudo por causa de uma espada? −− Chiwa sabia ser dura com as palavras, as
suas palavras penetravam a mente.

−− O que tu farás com a espada afinal? E se não a achares? Então toda a sua jornada
em busca dela terá sido inútil, igual à daqueles antes de você que procuraram a espada
e não a encontraram. Porque você tem tanta à certeza de que ás de encontrar?

Ele não respondeu em vês disso manteve-se calado e olhou para baixo procurando as
palavras certas para responder a isso, ele não achou nada que pousasse usar como
argumento a essa pergunta, ele próprio tinha dúvidas se iria de encontrar a espada.

−− Muitas das vezes as pessoas cometem actos egoístas e não se dão conta do quanto
magoam as pessoas ao seu redor. −− Chiwa continuou a falar. −− O egoísmo é um dos
piores actos que alguém pode cometer, ele não só destrói a nós próprios como as pessoas
que nos rodeiam.

−− Então... É isso que eu sou? −− Proferiu Carlos em tom melancólico e baixo. −− Um


egoísta? −− Chiwa respondeu que sim com a cabeça, Carlos virou o olhar olhando para
o outro lado, não se sentia forte o suficiente para encarar aquele olhar penetrante de
Chiwa.

−− O que devo fazer? Devo desistir da espada? −− Chiwa estendeu a mão, e dela
apareceu uma maça dourada, uma cor estranha para uma maçã.

−− Não. −− Carlos estranhou ao ouvir essa resposta, ele não esperava que Chiwa
respondesse isso, ele olhou confuso para ela a espera de explicações pela súbita
resposta, e ela continuou a falar. −− Tu começaste essa jornada e deves continuar,
chegará um momento nessa jornada em que irás ter de tomar uma grande decisão que
irá salvar as vossas vidas ou vos levar directamente para a morte, e quando o momento
chegar lembre-se, ―seja quem tu és, e tu será feliz‖ −− Dito essas palavras ela deu a
maçã a Carlos e desapareceu.

Essas foi às últimas palavras de sua mãe, ele não entendia o porquê de Chiwa
pronunciar as mesmas palavras e naquela hora, não sabia o que significava o do porque
ela repetir essas palavras, ele não fez muito caso disso, achou que era uma simples
coincidência.

−− Carlos! −− Disse uma voz vinda de trás apanhando-o de surpresa, ele virou-se e deu
de caras com Yara, sonolenta e tonta resultado da quantidade de hidromel que bebeu ao
jantar que a fez ter uma dor de cabeça infernal, usava um pijama e pegava na cabeça
tentando aliviar a dor de cabeça que sentia. −− O que tu fazes aqui há essas horas?

172
−− O que tu fazes aqui? −− Carlos replicou surpreso por vê-la fora tão tarde da noite.

−− Eu vi uma luz caindo do céu, achei que fosse um meteorito que estava caindo −−
Explicou bocejando cheia de preguiça.

−− Eu também achei a mesma coisa... −− Respondeu ocultando o fato de Chiwa o visitar.


−− Mas afinal eram só uns pirilampos −− Vamos eu te levo para dentro. −− Falou se
aproximando dela, ela pegou na sua mão e a levou para o Castelo até ao seu quarto.
Ela estava muito tonta e sonolenta a sua visão estava entorpecida por isso não conseguia
ver por onde andava, simplesmente sabia que estava voltando para o seu quarto onde
poderia ter uma longa noite de sono, Carlos tinha receios que ela se magoasse ao andar
por isso andava com estrema cautela, chegando à porta do quarto, ele abriu a porta e a
levou até a cama onde a deitou e tapando-a com os longos cobertores.

Feito isso, Carlos se virou para sair do quarto, subitamente ela pegou o seu braço olhou
directamente nos olhos dele e disse às palavras que poriam Carlos a pensar durante a
noite toda:

−− Carlos! Eu quero que me prometa uma coisa... Aconteça o que acontecer estaremos
sempre nessa jornada juntos, você me promete? −− Ele engoliu um seco, não sabia o
que responder ele abriu a boca e disse a primeira coisa que surgiu na sua mente:

−− Eu prometo. Agora volte a dormir... −− Ela largou o braço dele, virou a sua cabeça
aconchegando-se na cama e voltou a dormir.

Carlos voltou ao seu quarto e ficou pensando a noite inteira sobre o que Chiwa disse e
sobre o que ele prometeu a Yara, seria ele capaz de manter essa promessa? Ou não seria
forte o suficiente para conseguir cumprir? Todos esses pensamentos importunavam a sua
mente.

Ele não conseguiu dormir nessa noite de tanto pensar, deitado na cama com os olhos
abertos até o sol nascer anunciando um novo dia o dia deles seguirem viagem saindo de
Chândia.

Carlos e Yara se encontravam prontos para seguir viagem em direcção a Tribo do Ar,
mas primeiro teriam de passar pelo Desfiladeiro de Akandur, e teriam de subir a
montanha menor até a Tribo do Ar.

Yara estava entusiasmada para sair de Chândia e esquecer aquelas lembranças terríveis
que tanto a importunava, ficar em Chândia trouxe consigo uma série de lembranças que
ela por anos fazia esforços para tentar esquecer.

−− Prometes que irás retornar? −− Baku perguntou a Yara, assim que ela o abraçou se
despedindo dele, Baku era como se fosse um pai para ela, sempre ajudou o seu pai
quando ele mais precisava.

−− Eu prometo. −− Respondeu o largando.

−− Carlos, gostei da tua visita −− Disse ele o entregando o pergaminho. −− Diz ao Mago
173
que mando recordações.

−− Assim farei. −− Disse.

−− Então só me resta desejar boas viagens! −− Disse se despedindo.

Eles estavam junto ao portão norte de Chândia, Carlos e Yara estavam montados em
cavalos que Baku disponibilizou para eles, para facilitar nas suas locomoções, os dois
saíram de Chândia certos das dificuldades que iriam enfrentar mais além, Yara levava
consigo o mapa, já que era melhor em orientar-se do que Carlos.

Carlos levava consigo as coisas que achava mais importante, o pergaminho e o seu
colar. Era a viagem mais longa da Tribo da Floresta para a Tribo do Ar, e ao longo do
caminho ela se tornaria mais penoso ainda, pois o perigo estava sempre às espreitas.

174
O reencontro com os gémeos.
“Dê conselhos. Se as pessoas não ouvem. Deixe a adversidade ensiná-los” − Provérbio
Africano.

Depois de andarem o dia todo e de o sol se por nas suas frentes, eles decidiram
descansar, poupar energias para o dia seguinte, escolheram um sitio escondido no meio
das árvores para poderem passar a noite, e dividiram as actividades, enquanto que
Carlos buscava paus para fazer uma fogueira, Yara ficou amarrando os cavalos.

Yara estava amarrando os cavalos quando ouviu alguém se movimentando a sua trás no
meio das árvores, sacou a sua espada virando-se olhando quem estava a espiando,
olhava de um lado para o outro se movimento lentamente sempre procurando ouvir até
aonde o barulho ia.

Carlos estava apanhando paus assobiando uma melodia, quando viu alguém o mirando
com uma flecha, semicerrou os olhos tentando adivinhar quem era, a figura misteriosa
saiu das sombras e Carlos não pode acreditar quem era, ele sorriu ao vê-lo de novo.

−− Carlos, o que fazes aqui? −− Perguntou Ed sorrindo.

−− Eu, é que pergunto Ed? Ou Tom?

−− Ed ou pode ser os dois ou pode ser só um.

−− Então que fazes aqui? −− Carlos voltou a perguntar.

−− Eu te explico, mas primeiro temos de encontrar o Tom.

−− Espera... Tom também está cá? −− Ed fez que sim com a cabeça −− O meu dia acaba
de ficar melhor −− Disse sorrindo entusiasmado.

Eles voltaram onde Yara estava e a encontraram eles dois: Tom a apontando com arco e
flecha e Yara apontando com a espada.

−− Tom! −− Carlos gritou, ele virou-se olhando para Carlos e sorriu.

−− Carlos! O que fazes aqui! −− Perguntou.

−− Foi o mesmo que eu perguntei. −− Ed grunhiu.

−− Espera aí, vocês se conhecem? −− Yara perguntou sem entender.

−− Claro que sim, eles são os sobrinhos do Mago −− Carlos respondeu. −− Agora
podem baixar as armas. −− Pediu e os dois baixaram. −− Deixa fazer a fogueira e
depois podemos colocar as conversas em dia.
Terminando de fazer as fogueiras, os gémeos sentaram-se lado a lado a frente da
fogueira e de Carlos e Yara.

−− Rapazes, ela é Yara e Yara esses são Ed e Tom, como já disse eles são os sobrinhos

175
do Mago −− Ed e Tom acenaram para Yara em resposta, Yara acenou de volta.

−− Como é que nunca ouvi falar de vocês? −− Yara inquietou-se.

−− É que a gente fica nos bastidores dirigindo toda a magia −− Ed respondeu fazendo
gestos com as mãos.

−− Sem nós o Tio Enos não conseguir realizar toda aquela mágica e tudo o mais. −−
Tom tomou a palavra.

−− Nós escolhemos o anonimato para proteger as pessoas que amamos. −− Disse Ed.
Carlos sorria, realmente sentiu saudades daqueles dois.

−− Vocês querem que eu acredite nisso? −− Yara perguntou com um sorriso estampado
no rosto.

−− Não, mas é uma boa história. −− Tom respondeu. −− Vai ficar registrado no
―LEMG‖. −− Disse olhando Ed.

−− Podes crer que sim. −− Ed concordou.

−− O que é isso de LEMG? −− Carlos perguntou.

−− Livro de Estórias e Mentiras dos Gémeos. −− Tom respondeu de imediato.

−− Espera, têm um livro de mentiras? −− Yara perguntou. Eles concordaram com a


cabeça.

−− Estou impressionado convosco, conseguiram surpreender-me. −− Disse Carlos


admirado.

−− Os gémeos sentem-se ligeiramente lisonjeados de tal honra e deixamos os nossos


humildes agradecimentos! −− Tom respondeu. Carlos sorriu.

−− Então o que vocês fazem aqui? −− Carlos voltou a perguntar. Ed apontou para um
emblema colado a sua jaqueta no canto superior esquerdo, era o emblema dos
Rastejantes.

−− Não posso acreditar isso é o que estou pensando? −− Perguntou incrédulo, os


gémeos concordaram com a cabeça, Carlos sorriu achando aquilo a coisa mais incrédula
já feita por alguém.

−− Sim, nós agora somos Rastejantes. Carlos. −− Ed respondeu piscando o olho.


−− Mas como isso aconteceu?
−− Lembra quando caçamos aquele grande lobo? Pois é, no dia seguinte nós recebemos
uma carta nos dizendo que fomos aprovados para entrar nos Rastejantes e que Lorde
Kay, o líder dos Rastejantes gostaria de nos conhecer... Nós aceitamos, o conhecemos e
agora somos Rastejantes −− Tom respondeu emocionado com o que dizia.

−− E a Sra. Barbara aprovou isso?


176
−− Não, nós fugimos de casa −− Ed respondeu cabisbaixo.

−− Nós deixamos um bilhete explicando tudo −− Tom continuou com a voz triste e
culpada e olhando para baixo.

−− Ah... −− Lamentou Carlos. −− E como está a vossa irmã?

−− Melhor −− Tom respondeu. −− Desde aquilo que aconteceu, ela tem melhorado, tem
interagido mais connosco.

−− Vocês têm uma irmã? −− Yara perguntou, eles confirmaram com a cabeça. −− E
como ela se chama?

−− Mónica, ela se chama Mónica −− Tom respondeu. Yara assentiu absorvendo a


informação.

−− Mas, nos conta o que vocês fizeram para estar aqui? −− Ed perguntou mudando de
assunto. −− Soubemos agora que és príncipe e tudo o mais, queremos saber o que se
passou contigo para você estar aqui.

Carlos começou a contar tudo o que lhe aconteceu desde o dia que saiu da casa deles, é
claro ocultando algumas coisas pessoais e só divulgando coisas públicas, contou como
enfrentaram a Liga das Sombras e conseguiram fugir.

−− Espera aí, vocês enfrentaram a Liga das Sombras −− Tom perguntou incrédulo.

−− Sim o que é que tem? −− Perguntou como se o que aconteceu fosse à coisa mais
normal do mundo.

−− Os Rastejantes e a Liga das Sombras são inimigos mortais. −− Tom respondeu. −−


Há anos os Rastejantes estão em guerra contra a Liga porque eles prejudicam a fauna e
a flora.

−− Isso só pode ser piada estou certa? −− Yara interrompeu sorrindo. −− E o que os
Rastejantes fazem?

−− Yara! −− Ed falou −− Você deve entender uma coisa, nós os Rastejantes a gente tem
um código, nunca caçamos nenhuma espécie que esteja em risco de extinção, já a Liga
faz exactamente o contrário, eles matam não importando se estão ou não em risco de
extinção por isso existe essa rivalidade que existe há décadas.

−− Que pena nós não estivermos lá para poder enfrentá-los convosco. −− Desejou Tom,
Ed concordou.

−− Podem vir connosco. −− Carlos sugeriu, Yara olhou surpresa para ele.

−− Não podemos −− Disse Ed.

−− Temos de caçar um Kralen por isso iremos para o mar. −− Tom continuou.

177
−− Ah... Entendi.

−− Ainda não nos contaste porque estão aqui. −− Tom lembrou.

−− As Jornadas Reais. −− Carlos simplesmente respondeu.

−− Ah me poupe Carlos, nós somos idiotas, mas não somos burros agora me conte, qual
é o teu verdadeiro motivo? −− Disse Ed, Tom concordou vilmente com o que ele disse.

−− A Espada Dourada −− Respondeu instantaneamente, Yara o lançou aquele olhar que


dizia ―Porque você fez isso?‖. −− Nós podemos confiar neles, são de confiança.

Por outro lado, Ed e Tom não demonstraram qualquer surpresa ou admiração,


simplesmente ficaram com os olhares neutros como se soubessem de alguma coisa.

−− Vocês sabem de alguma coisa −− Carlos deduziu. −− Vocês já viram a espada? −−


Os gémeos entreolharam-se se perguntando quem iria falar.

−− Nós nunca vimos a Espada Dourada, Carlos −− Começou Tom por dizer. −−
Quando nós entramos aos Rastejantes soubemos de varias coisas que desconhecíamos,
incluindo onde está a Espada Dourada. −− Ed tirou do dedo um pedaço de papel,
desembrulhou-o e era um mapa do Deserto de Fogo.

−− A Espada Dourada, está no Templo Amaldiçoado.

−− Mas O Templo Amaldiçoado é um mito, nunca ninguém o viu e nem entrou, não a
sequer um registro de onde está localizado, simplesmente suposições. −− Yara
interrompeu.

−− Não é não, nós próprios vimos se erguendo na área do deserto, o templo só aparece
durante o início e o fim do alinhamento de um eclipse solar, e segundo sabemos o
próximo eclipse solar será no dia 15 de Agosto. Estamos no fim de Junho, se vocês se
apressarem conseguirão chegar a tempo. −− Tom disse olhando para o relógio.

−− O templo é um lugar perigoso cheio de armadilhas um lugar temido até pelos


Rastejantes, as pessoas que entram lá nunca mais saem com vida. −− Ed continuou
falando.

−− Então a Espada existe mesmo?

−− Isso somente vocês irão descobrir −− Disse Tom. −− Para entrar no Templo
Amaldiçoado é preciso falar palavras mágicas que estão escritas no mapa, ―Em
extensão arco-íris esgueirando-se entre cordilheiras, revelando uma entrada e vocês
poderão marchar suavemente como pequenos escorpiões‖.

−− Como é que vocês sabem de tudo isso e têm esse mapa? O que vocês iriam fazer
com isso? −− Yara perguntou inquieta. Ela devolveu o mapa a Carlos que o embrulhou
e o colocou no bolso.

−− Nós dois queríamos procurar a Espada Dourada −− Tom respondeu.


178
−− Por quê? −− Carlos perguntou.

−− Queríamos tê-la na nossa colecção de armas. −− Ed concluiu. −− Aquela colecção


que nós te mostramos no bosque, Carlos.

−− Ah... Sei.

−− E porque é que vocês não querem mais? −− Yara perguntou.

−− Porque nós descobrimos que não precisamos dela e estamos muito bem assim. −−
Tom respondeu simplesmente.

−− Além do mais, se nós teríamos a espada em mãos, quem iria usar? −− Ed continuou.
−− O meu irmão é mais importante que a espada! −− Tom o olhou com aquele
semblante cheio de orgulho e o abraçou.

−− Uau! Estou muito impressionado e comovido com... −− Tom sacou o arco colocou a
flecha tão rápido que surpreendeu a todos com o seu movimento e acertou uma coruja
que estava ali perto olhando, a acertou bem em seu peito.

Tom levantou e foi ao encontro da coruja morta no chão, os três fizeram o mesmo.

−− O que você fez?! −− Carlos perguntou alarmado.

−− Espere... −− Disse ele fazendo gesto com a mão, a coruja transformou-se numa figura
humanóide branca e transparente, tão transparente que se podia ver o outro lado da selva
só olhando para a figura.

−− Vigias! −− Disse detestando o que acabou de falar.

−− O que é isso? −− Carlos perguntou não entendendo nada.

−− Vocês precisam ir agora! −− Disse Tom alarmado e em tom de urgência.

−− Mas o que é isso?! −− Yara perguntou.

−− São Vigias, seres sem forma criados com o único objectivo de vigiar, eles podem
assumir qualquer forma de uma espécie viva para poder vigiar. −− Ed respondeu
rapidamente.

−− É por isso que vocês precisam ir agora! −− Disse Tom alarmado. −− Alguém vos
está vigiando, e eu aposto que tem a ver com a Espada Dourada. Ed correu até os seus
cavalos, os desamarrou, arrumaram as suas coisas, apagaram a fogueira, Carlos e Yara
montaram as pressas levando a sério os avisos dos gémeos.

−− Ainda não entendo porque é que temos de ir já −− Carlos comentou.

−− Carlos, os Vigia só são criados por poderosos bruxos das trevas e usando uma magia
poderosa. −− Tom respondeu. −− Ou seja, quem vos está vigiando é poderoso e
perigoso o suficiente para enviar Vigias para vos espionar.

179
−− O que garante que não estejam a vos vigiar?

−− Carlos! Nós somos Rastejantes se um Vigia estivesse nos vigiando nós teríamos
dando conta há muito tempo. −− Ed respondeu.

−− É, nessa têm razão. −− Carlos admitiu. −− Por aonde nós vamos? −− Perguntou aos
gémeos.

−− Eu sugiro que vocês tomem caminhos mais longos e conhecidos. −− Avisou-os


Tom −− Atalhos levam ao desconhecido e o desconhecido o perigo.

−− E nunca parem por nenhum motivo desnecessário! −− Acrescentou Ed.

−− Antes de irem gostaria de vos falar para não contarem a ninguém que fomos nós
quem vos demos esse mapa. −− Disse Tom.

−− Não queremos que os Rastejantes saibam disso. −− Ed concluiu.

−− Pode deixar... Bem rapazes, foi bom vos ver. Espero que nos voltemos a ver em
melhores circunstâncias! −− Disse Carlos fazendo uma pequena reverência e
cavalgando a toda velocidade em seu cavalo, juntamente com Yara ao seu lado.

Eles cavalgaram e foram deixando os gémeos para trás, até só restarem sombras deles.

180
O Desfiladeiro de Akandur
“Quando a mente está pensando, está falando consigo mesma” − Platão.

Carlos e Yara tinham cavalgado sem parar, levando a sério o aviso dos gémeos, sabiam
logo do principio que começaram essa jornada que poderiam correr muitos perigos por
isso achavam-se que estavam prontos para qualquer perigo que poderia surgir, estavam
se aproximando das Três Montanhas, mas primeiro tinham de passar pelo Desfiladeiro
de Akandur, um lugar que justificava o nome que recebeu, o desfiladeiro era tão fundo
que era impossível ver o seu chão, apenas só se via uma profunda escuridão que dava
um ar sombrio ao local.

As trevas se erguiam por todo o local, dizem que todas as vítimas do Desfiladeiro
sussurram durante a noite canções horrendas, dizem que lá abaixo se encontram todos
os esqueletos horripilantes e cheios de horror e medo.,

Chegaram ao pé do desfiladeiro a sua frente, uma estreita e frágil ponte de pedra se


erguia, não podiam passar a cavalo e nem os cavalos poderiam passar, por isso era aí
que os cavalos iriam ficar para trás, era aí que o verdadeiro perigo começaria.

O Desfiladeiro era rodeado por uma névoa verde horripilante, parecia um filme de
terror, desmontaram do cavalo, Yara carregando a bolsa que ia tudo daquilo que iam
necessitar para a viagem.

Carlos estava ao pé da ponte fina, estava relutante em atravessar.

−− Você primeiro. −− Falou a Yara.

−− O que é? Está com medo em atravessar é? −− Ela o provocou

−− Não, é que eu posso me transformar em uma ave e sair voando até ao outro lado.

−− Ah... −− Disse desistindo da conversa. Ela caminhou até ao pé da ponte e


transformou-se no seu Chin uma bela raposa com manchas vermelhas nos seus pelos era
uma das poucas vezes que Carlos a tinha visto transformando-se no seu Chin, feito isso
ela atravessou a ponte.

Carlos transformou-se num pombo e atravessou para o outro lado voando.

−− Belo truque −− Disse a Yara assim que eles voltaram a forma humana.

Eles estavam vendo o mapa que dispunham para saberem em quem direcção seguir
caminho quando, surgindo do nada, uma figura encapuzada em trajes negros
aproximou-se deles.

Carlos tomou um susto assim que viu o recém-chegado que surgira do nada, ele tentou
ver o seu rosto, mas era impossível por causa do capuz que impossibilitava de o ver.

−− Quem é você? −− Carlos perguntou fazendo um esforço para não demonstrar medo em
sua voz. A figura misteriosa ergueu a mão direita apontando para Carlos, era uma mão
181
pálida com as unhas compridas que mais pareciam garras.

−− Me entregue o mapa. −− Disse a criatura, a sua voz era fria e conseguia ser
assustadora.
−− Qual mapa? −− Carlos perguntou, escondendo lentamente o mapa, ele sabia qual era e
se as suas suspeitas estiverem certas era ele quem mandara o Vigia, e se fosse ele quem
mandou, ele seria um bruxo.
A figura baixou as duas mãos a terra e das suas mãos saíram uma espécie de luz que se
espalharam pela terra, ao mesmo tempo, dois gigantes monstros de pedra se ergueram do
chão, monstros gigantes com sete metros de altura, os monstros de pedra rosnaram de
forma feroz em direcção a Carlos e Yara como leão rugi contra a sua presa.
Os dois recuaram, cheios de pavor, os monstros que no lugar dos olhos emitia uma luz
azul, os braços enormes e as pernas grossas os encararam com expressões de morte em
seus rostos e atacaram.
Carlos e Yara sacaram às espadas, os monstros correndo até eles determinados a os
atacar. Carlos e Yara cambalearam para um lado diferente do outro, Carlos foi para a
esquerda e Yara para a direita, o monstro de Carlos virou-se na sua direcção, correndo até
ele, Carlos fez o mesmo, eles estavam próximos, o monstro preparou-se para dar um soco
a Carlos, ele esquivou e ergueu a espada ao alto e ele atacou nos pés, Carlos que esperava
que aquele ataque provocasse algum dano no monstro ao invés disso, a espada partiu-se
em pedaços.
−− Sério isso? −− Ele olhou burro para a espada desfeita em pedaços. O monstro o
agarrou e o jogou ao longe, Yara também fora jogada até onde ele estava. Eles levantaram
prontos para o segundo round. −− Como se vence um monstro de pedra?! −− Perguntou a
Yara em meio a suspiros.

−− Só se fores outro monstro de pedra. −− Yara respondeu suspirando.

−− Monstro de pedra... −− Repetiu a frase pensando. −− Acabei de ter um plano −−


Disse a Yara entusiasmado demais com a sua ideia.

−− Qual?

−− Esse. −− Ele suspirou fundo e transformou-se num grande macaco, apesar de ser
menor que os gigantes, ainda assim ele conseguiria equilibrar um pouco a luta.

O jogo estava meio equilibrado para Carlos, um macaco contra dois monstros de pedra.
Ele correu até o primeiro monstro furioso por sua espada partir-se, saltou e o acertou em
cheio na cara com um super soco, o monstro caiu seguindo a direcção do soco, Carlos
virou-se soprando e sacudindo a mão, estava vermelha e doendo muito, dar soco em um
monstro de pedra não era uma coisa muito inteligente a se fazer quando você não é feito
de pedra.

O segundo monstro aproveitou os segundos gastos por Carlos, e o agarrou pelas costas,
Carlos se revirava mas o monstro apertou com mais força e contraiu os músculos, ele
continuou apertando com mais força, Carlos estava aflito, já não aguentava mais ser
apertado daquela maneira, ele organizou os seus pensamentos e as suas forças que
182
restavam em seus músculos, suspirou fundo e com um estrondo soltou das garras do
terrível monstro.

O monstro de pedra estando com os braços abertos, Carlos pegou em sua cabeça,
esticou a sua perna direita apoiando-se contraiu as costas e puxou o monstro de pedra
pelo pescoço passando por suas costas e o batendo ao chão. A criatura se desfez em
pedaços.

O primeiro monstro correu até Carlos o apanhando de surpresa em um soco, ele


cambaleou para trás, a criatura deu outro soco dessa vez usando a mão esquerda, e
estendeu a mão tentando o terceiro soco sucessivo, Carlos travou esse soco, olhou para o
monstro furioso o arrastou até a parede onde o bateu contra ela várias vezes furioso até só
restar um monte de pedras.

Olhou para o bruxo que criou os monstros, ainda estava imóvel em sua posição inicial,
correu até ele, pronto para ataca-lo, algo segurou a sua cauda e o jogou até Yara.
Eram os monstros de pedra, eles tinham se restaurado. Levantou, transformando-se de
volta na forma humana, estando todo dorido com a queda.

−− Como é possível? −− Perguntou sem entender, ele olhou para Yara que segurava a
sua espada e sangrava na testa.

−− Eu acho porque são feitos de magia… −− Respondeu não tirando o olhar das
criaturas de pedra. Carlos assentiu enquanto olhava ao redor formulando uma nova
ideia, olhou para o enorme abismo atrás deles.

−− Eu tenho um plano Yara. −− Sussurrou a ela.

−− Qual −− Sussurrou de volta.

−− Se prepare para cair. −− Disse, ele se transformando de novo no macaco, pegou na


Yara pela cintura de surpresa e a jogou-se em suas costas e juntos saltaram no abismo.

Caindo no abismo, ele transformou-se numa enorme águia com Yara montada em suas
costas, saíram voando e surgindo acima do abismo deixando o bruxo.

−− Porque você fez isso?! −− Gritou Yara após ter passado pelo enorme susto enquanto
batia nas costas de Carlos.

−− Era esse o único plano que eu tinha −− Respondeu Carlos, quando estão
transformados em seus Chin eles podem falar usando a telepatia com outros animanos
que não estejam transformados.

−− Não poderias pelo menos me avisar?!

−− Mas eu te avisei. −− Carlos respondeu.

−− Aquilo não foi um aviso. −− Yara resmungou.

−− Para mim foi um aviso −− Carlos respondeu. Ele olhou para trás e viu uma águia preta o
seguindo, apreensivo usou a sua visão de águia e viu na boca dessa águia saindo uma bola de
183
fogo. −− Se segura temos companhia. −− Ele virou de barriga para cima esquivando a bola de
fogo. Yara olhou para trás e viu a águia negra.

−− O que é aquela coisa?

−− Um bruxo?

−− Não, um bruxo não pode mudar de forma a não ser que seja um...

−− Animano?

−− Não é impossível, bruxos não são animanos. −− Yara respondeu com toda a certeza.

−− Bem o quer que seja o nosso amigo, é melhor você se segurar porque iremos ter
um voo turbulento cara passageira. −− Ele mergulhou em direcção ao Desfiladeiro,
com bolas de fogo sendo lançado pela águia que ia atrás dos dois a todo o gás.

Carlos se desviava com agilidade, enquanto que as bolas iam para o fundo do abismo,
estando ele à frente da águia negra, a águia lançou várias bolas rapidamente sem
descansar, Carlos se virou de lado esquivando as primeiras, de seguida voltou a posição
normal esquivando as outros, encolheu as asas esquivando os que iam directo para elas,
virou-se de novo de cabeça para baixo enquanto que as bolas passavam por cima da
barriga dele, e voltou de novo a sua posição inicial sem nenhum arranhão.

Na sua frente uma ponte se tornava visível aos seus olhos, a águia lançou de novo uma
bola de fogo muito maior daquelas que já lançara, desta vez em direcção a ponte, a bola
acertou a ponte com um estrondo e imediatamente a ponte começou a rachar em todo o
lado, Carlos aumentou a sua velocidade a medida que a ponte desabava, e por um
segundo eles conseguiram passar pela ponte antes dela desabar por completo.

Eles olharam para trás esperando que a águia tivesse sido atingido pelos destroços da
ponte, olhavam ansiosos para o local, quando subitamente a águia saiu dos destroços da
ponte não parecendo atingido.

−− Ele nunca desiste −− Disse Carlos aborrecido. −− Eu tenho um plano Yara. Quando
eu disser “agora” você irá saltar das minhas costas, entendeu?

−− E qual é o plano?
−− Você vera. −− Carlos começou a reduzir a sua velocidade devagar ficando ao
alcance da águia, estavam se aproximando sobre uma nova ponte, estavam a poucos
metros quando Carlos gritou −− Agora! −− Yara saltou aterrando na ponte, a águia não
entendera o do porque ela fazer isso, mas não deu importância e continuou seguindo a
ele, era ele quem tinha o mapa.

−− Muito bem, agora é só entre mim e você. −− Disse Carlos olhando de relance para
trás.

Ele mergulhou a águia prontamente o seguiu, ficando de perto para o chão respirando
aquele ar espesso e aquela névoa penetrante, a névoa cobria todo o local por isso era
184
impossível ver com alguma clareza aquilo que se passava e rapidamente a águia deixou
de ver Carlos e ficou olhando de um lado para o outro a procura de algum sinal dele.

Estava tão distraído procurando por Carlos que só assustou algo saindo do chão como um
canhão e o atingindo, era Carlos que surgira das sombras, subindo alto e logo tornando a
mergulhar pronto para o segundo assalto, a águia virou-se ficando de barriga para cima e
começou a lançar bolas de fogo contra Carlos, este por sua vez se desviava com estrema
audácia ora para a esquerda ora para a direita.

Carlos atingiu a águia como se fosse um meteoro, os dois estavam caindo com Carlos
desferindo golpes usando as suas longas garras, a águia tentava se defender das investidas
de Carlos, Carlos com as suas longas garras arranhou a águia nas sobrancelhas o deixando
uma profunda cicatriz, a guinchou de dor e soltou-se de Carlos.

Carlos não estando satisfeito, voou em direcção da águia que ainda guinchava de dor,
ganhou velocidade quase se chocando com a águia, estendeu as garras direita para frente
como se fosse um míssil, transformou-se em humano e atingiu a águia em um grande
soco bem no meio da barriga, a águia virou-se no ar berrando de dor atordoado.

De seguida Carlos voltou a ser a águia, a águia cheia de raiva voou até onde Carlos
estava, Carlos conseguindo que o seu plano resultasse, mergulhou para baixo ganhando
velocidade e subindo ao alto com a águia o seguindo pronta para a vingança, ele
continuava a subir cada vez mais alto, subiu e subiu, estava tendo dificuldade em
respirar, mas a águia ainda o seguia, ele subiu sem parar, a águia por fim desistiu e caiu
para baixo.

Carlos virou-se e mergulhou rapidamente em direcção a águia como um míssil,


transformou-se de novo em macaco e segurou o pescoço dela apertando com força a
águia se contorcia e lançava bolas de fogo (um deles acertou a mão direita de Carlos)
tentando se livrar daquelas mãos enormes e peludas, enquanto caiam a uma grande
altitude. A águia mudou de forma voltando a ser o bruxo criador dos monstros de pedra.

−− Quem é você? −− Carlos perguntou ao bruxo, o bruxo não respondeu simplesmente


ficou ali olhando para Carlos com a expressão indiferente, eles estavam cada vez
chegando ao chão.

−− Quem é você? −− Repetiu. Eles estavam cada vez mais próximos do chão −− Quem
é você? −− Voltou a perguntar.

−− Já que não quês responder, então tome essa. −− Carlos o jogou ao chão com força,
ele caiu em um baque tremendo, fazendo um tremendo barulho.

Ele se transformou em águia e voou até Yara.

Ele aterrou até onde Yara estava transformou-se de volta em humano e desabou no
chão, tinha o corpo todo dorido, tremia e estava bastante quente, a mão estava
queimada. Yara correu até ele o socorrendo, o deitou sob o seu colo, tirou da bolsa que
levava um frasco de Águazul que Baku os tinha dado antes de deixarem Chândia e o
185
deu a Carlos que o bebeu todinho.

−− Descansa! −− Yara disse suavemente, seus olhos se fecharam e adormeceu não


sonhando.

No dia seguinte Carlos acordou 100% bem e disposto, sentia que podia girar o planeta
umas dez vezes e não ficar cansado acordou Yara que estava sonolenta por causa da
noite de ontem, tinha dormido tarde olhando para as estrelas e rindo daquela piada.

−− Yara acorde! −− Carlos disse devagar e suavemente −− Temos de ir. −− Ela abriu os
olhos e deu de caras com o rosto de Carlos todo bem disposto.

−− O que foi? −− Perguntou sonolenta.

−− Temos de ir embora daqui, −− Yara levantou, espreguiçou-se, limpou a cara e


preparou-se para partiram.
Carlos transformou-se de novo na águia gigante e saltou voando ao redor, Yara saltou
aterrando em suas costas, eles sobrevoaram por onde Carlos tinha jogado o bruxo e não
havia nenhum sinal dele.

−− Que estranho, ele não está lá. −− Carlos comentou. −− Caindo daquela distancia
ninguém sobreviveria.

−− Ele é um bruxo Carlos. −− Falou como se isso fosse a coisa mais óbvia do mundo.
−− Provavelmente usou magia para curar-se ou algo assim.

−− Bem isso não interessa agora porque estamos quase chegando a Tribo do Ar! −−
Disse entusiasmado com isso. Era verdade só mais uns minutos voando que chegariam a
sua próxima paragem, A Tribo do Ar.

186
O Tirano
“Cães amam seus amigos e mordem seus inimigos, bem diferente das pessoas, que são
incapazes de sentir amor puro e têm sempre que misturar amor e ódio em suas
relações” − Sigmund Freud.

Victor caminhava sorrateiramente por entre os telhados dos edifícios de Arlandor tendo
o máximo cuidado para não ser visto ou descoberto, esgueirava-se pelos edifícios com
tanta eficácia que era impossível alguém o ver por isso usava uma máscara para esse
feito, era muito importante que ele andasse bem escondido já que era procurado por
toda Arlandor e a sua cabeça estava a prémio.

Arlandor vivia uma cruel ditadura e ele era uma daquelas poucas pessoas com coragem
suficiente para enfrentar o regime, ele era o líder da Resistência, se ele fosse apanhado
ele como líder sofreria muito mais do que os outros que foram apanhados primeiros.

A Cidade de Arlandor era uma grande cidade flutuante que ficava por cima da
montanha mais baixa das Três Montanhas, era ancorada ao chão com grandes correntes
para evitar que a mesma voe para longe, ao longe a cidade tinha um visual esplendor
com as suas construções megalíticas e coloridas dando um visual lindo ao por do sol a
cidade, era bastante lindo poder ver o por do sol da cidade, sentado no telhado do
edifício e ver o sol se pondo lá no horizonte majestoso era bastante agradável.

A Resistência era um grande grupo de pessoas que ainda acreditavam que podiam
derrotar Arenek e instalar a democracia em Arlandor, pessoas corajosas que
infelizmente pagaram caro com isso, sempre que um soldado da Resistência é apanhado,
Arenek os torturava durante dias com todos os tipos de meios possíveis e depois o
levavam para a praça pública, onde eles eram chicoteados sem parar durante horas, o
objectivo era envergonhar a Resistência, os mostrando que eles eram um bando de fraco
e sem forças para derruba-lo.

Victor assumiu o lugar do seu pai como líder da Resistência, este que por sua vez
assumiu o lugar do seu pai e assim sucessivamente, Arenek nasceu numa família de
ditadores, de lá onde herdou esse gosto terrível de ser, o primeiro Arenek, o pai da
ditadura, iniciou o seu regime após um golpe militar contra Jasaon, que na altura era o
líder da Tribo do Ar, desde então ele iniciou o seu regime, torturando e matando todos
aqueles que estavam contra ele.

Quando Arenek subiu ao poder, ele intensificou o processo para acabar de uma vez por
todas com a Resistência, realizava rusgas em possíveis esconderijos da Resistência em
Arlandor, se encontrava um vestígio de que um deles esteve lá, matava todos os
ocupantes, o objectivo era enviar uma mensagem para outras pessoas sobre o que
acontecia com quem guardasse ―espiões‖ como ele chamava.

Ele aperfeiçoou os métodos de tortura que Arenek I implementou, criando a câmara da


morte, onde milhares de pessoas eram postas numa câmara que parecia um submarino
com pequenos furos espalhados ao redor enquanto eram mergulhados em um grande
caldeirão de água fervente, enquanto os seus ocupantes gritavam desesperados por
187
socorro, Arenek se divertia rindo com certa malícia achando aquilo engraçado, eles sendo
cozinhados vivos era divertido aos olhos de Arenek, para ele era engraçado ver os seus
inimigos sofrerem.

Noutras vezes, os resistentes eram jogados em grandes jaulas de ferro todos eles
acorrentados no tornozelo e era jogada gasolina sobre eles os queimando vivos, outros
eram enterrados vivos e mais outros eram acorrentados nas mãos e jogados num grande
buraco cheio de escorpiões e cobras onde gritavam até não poderem mais.

A tortura favorita de Arenek era colocar os prisioneiros em uma sala escura a sua frente
sentada numa cadeira estava outro prisioneiro só que com a cabeça coberta, ali o
prisioneiro que se encontra descoberto é lhe dado três opções, a primeira: matar o
prisioneiro encapuzado e viveres; a segunda: matar a si próprio e o prisioneiro
encapuzado viver; Ou a terceira: não fazer nada e morrerem os dois.

Os que escolhiam a primeira opção tinham uma surpresa terrível, ao matarem o


encapuzado, um homem entrava na sala e retirava o capuz do prisioneiro e saindo logo
de seguida (deixando a faca) revelando ser um grande familiar ou amigo do primeiro
preso.

Os que escolhiam a primeira opção levavam um choque tremendo ao descobriram que


mataram o seu próprio pai ou mãe, a sua mulher ou o seu próprio filho, consumido pela
culpa alguns se matavam mesmo ali usando a mesma faca que na qual tiraram a vida
dos seus antes queridos, era tudo um jogo psicológico de Arenek, o objectivo dele era
levar os prisioneiros a loucura, os mostrando o quanto eram egoístas demais e que só
pensam em si mesmos para acharem que poderiam lutar pela chamada ―liberdade‖.

Desde então, os resistentes tomavam muito cuidado ao andar por Arlandor, já que
Arenek tinha posto guardas nas ruas para vigiar com atenção a tudo o que se passava.

Durante todos esses anos de ditadura, ninguém fora de Arlandor sabia o que se
passavam lá, eles tomavam muito cuidado para que ninguém soubesse, já que colocaria
o fim o regime, por isso ninguém da Tribo do Ar poderia sair de Arlandor sem a
autorização de Arenek, se todo o mundo fora de Arlandor soubesse o que a Tribo do Ar
vivia, o regime de Arenek teria acabado logo no dia em que começou por isso a coisa
que ele mais temia era essa.

Eram por volta do meio-dia, há três dias que Victor andava amuado, já que as tropas da
Resistência tinham sido apanhadas em uma emboscada na qual Arenek não poupou
ninguém e mandou matar todos ali mesmo.

De seguida mandou colocar os corpos na praça e com uma legenda colada em seus
peitos nus que dizia: ―É isso que acontece quando se enfrenta a ordem”.

Victor se encontrava desesperado, a Resistência estava perdendo a guerra, ele não sabia
mais o que fazer para dar volta a isso, se seu pai estivesse ali provavelmente o diria que
estava muito desesperado com ele, de tanto pensar no pior do que poderia acontecer caso
perdessem a guerra o seu corpo já tremia de medo com esses pensamentos negativos.
188
Ele estava andando pelo telhado próximo dos portões vermelho dourados de entrada
para Arlandor, quando viu uma bandeira do regime de Arenek, sentiu ódio só de vê-la li
pendurada, era uma bandeira com cor branca no fundo, no centro da figura existia o
desenho de um sinal de multiplicar um pouco inclinado e todo ele pintado de vermelho
com contornos pretos, no centro do sinal tinha duas estrelas, a primeira era tão redonda
e amarela que era quase um circulo, a outra estrela estava dentro da primeira e parecia o
desenho de um homem palito de tão fino que eram os contornos negros.

Ele estava tão irado que achava que nada poderia melhorar o seu humor, foi quando
subitamente a sorte sorriu aos seus pés, pois naquele exacto momento aquele que
poderia virar a guerra, aquele que poderia contar o que se passava em Arlandor acabara
de entrar pelos portões de Arlandor e Victor o reconheceu logo de imediato, o seu nome
era Carlos Njinga, Príncipe de Animândia.

Ele o reconheceu de uma foto que estava da sala de Arenek, há cinco dias, ele estava
numa missão de vigia, vigiando o gabinete de Arenek quando ouviu falar de Carlos
Njinga, o ―príncipe desconhecido‖.

−− Senhor! Temos novas notícias. −− Disse a primeira voz.

−− Sobre o que? −− Respondeu a voz fria de Arenek.

−− Sobre o “Código Nândia” −− Respondeu a voz instantaneamente.

−− Onde ele está? −− Perguntou Arenek mantendo-se indiferente na sua reacção.

−− Segundo o que sabemos ele saiu agora de Chândia, deve chegar daqui a três ou
quatro dias.

−− Óptimo, prepare tudo para a sua chegada, ele não pode e nunca saber o que se passa
aqui entendeu?

−− Sim senhor...

−− Agora saia. −− Disse o despachando, ele saiu da sala rapidamente deixando Arenek
sozinho apreciando a vista de Arlandor.

Desde aquele dia, Victor tentou descobrir quem era esse tal de Carlos Njinga que deixou
Arenek agitado e aflito, depois de vigia por horas o gabinete de Arenek ele conseguiu
descobrir quem era Carlos Njinga e da sua importância para Arenek e não só, para a
resistência também.

Para Arenek, Carlos Njinga era uma ameaça desde o dia em que ele o viu pela primeira
vez em Nândia ele o reconheceu como uma séria ameaça para o seu regime, ele era
diferente de outros príncipes que existiam e ainda mais ele era o herdeiro do trono de
Animândia, se ele quisesse ele seria o novo rei, e era importante para Arenek que o novo
rei de Animândia não soubesse de nada do que se passava em Arlandor.

Victor continuou espiando sorrateiro após a entrada de Carlos e Yara em Arlandor, de


seguida eles foram levados por um assistente pessoal de Arenek de nome Markel que foi
189
designado para tornar a estadia deles o mais confortável possível, partiram em um coche
e os levou até a Casa Real, Victor acompanhava cada momento sem piscar os olhos.

Ele viu Markel sair primeiro do coche, de seguida Carlos e por último Yara, eles foram
de encontro a Arenek que os saudou com um sorriso fingido no rosto, Victor que se
encontrava muito distante, não conseguia perceber o que eles estavam dizendo, mas via
algo que nunca pensou em ver: Arenek sendo simpático.

Ele sabia que isso era só um simples teatro era simplesmente a arte da enganação de
Arenek, usava isso para os que visitassem a Tribo do Ar pensassem que estava tudo
bem em Arlandor, Victor viu Arenek os cumprimentar com um sorriso falso no rosto,
foi a primeira vez que viu Arenek sorrindo, apesar de ser enganação, ele não poderia
negar que Arenek tinha um lindo sorriso.

Depois das saudações, Arenek os convidou a entrar, Victor não conseguia ver nada do
interior, ele esperou por uns minutos e viu Carlos entrando em um quarto que tinha uma
grande janela de vidro que ficava bem na frente do edifício em que Victor estava, era só
abrir a janela e saltar forte que se chegava ao outro lado, Carlos tomou um banho, vestiu
roupas novas que Victor supôs ser Markel o responsável por elas, e saiu do quarto,
deixando Victor sem visão o que restava simplesmente esperar pelo seu retorno.

O ambiente estava lindo estava tudo arrumado e limpinho, uma mesa grande tinha sido
posta ao lado da chaminé para facilitar o aquecimento, no centro da mesa tinha um
grande castiçal tornando a mesa mais bonita, os pratos eram de cerâmica e decorada
com símbolos da Tribo do Ar.

−− Carlos! Yara! Fico feliz em vos convidar para um jantar em minha humilde casa. −−
Disse Arenek com aquele sorriso forçado no rosto de novo −− Por favor! Sentem-se. −−
Os convidou para sentar e eles se sentaram.

Arenek os tinha convidado para um jantar em homenagem a chegada deles em


Arlandor, Arenek dizia que “tudo de bom que nos acontece, tem de ser festejado, pois
não sabemos as coisas más que virão surgir depois dos bons momentos”, ele sempre
dizia isso a todos que acabava de conhecer.

−− Ainda não cheguei de dizer isso. −− Disse Carlos após de se sentar. −− Mas isso
aqui está realmente lindo. −− Falava admirado com tudo enquanto olhava ao redor com
a expressão de que nunca tinha visto nada disso antes.

−− Fico deveras lisonjeado. −− Respondeu Arenek colocando a expressão de profunda


satisfação no rosto. Um empregado aproximou-se da mesa em que eles estavam
carregando uma garrafa de vinho e serviu-o a Arenek. Os copos de Carlos e Yara
estavam cheios de hidromel. −− Quer um pouco de vinho? −− Perguntou a Carlos
brincando.
−− Não senhor −− O respondeu de imediato.

−− Não me chame de senhor Carlos. Podes me tratar por Arenek −− Carlos mexeu a
cabeça em sinal de sim.
190
Yara olhava ao redor da sala quando achou estranha a reacção dos serviçais que se
encontravam de lado após Arenek dizer essas palavras, reagiram soberbos com
profundo espanto, estreitou os seus olhos totalmente desconfiados, o seu instinto a dizia
que algo não estava bem, mas não deu muita importância para isso.

−− Eu ainda não vos perguntei como foi que correu a viagem? Tiveram problemas até
chegarem para aqui ou foi tudo tranquilo? −− Arenek perguntou bebendo um pouco
do seu vinho.

−− Tivemos alguns problemas no início, mas nada que não consigamos superar, não é
Yara? −− Yara que estava tão distraída olhando ao redor assustou-se ao ouvir o seu
nome ser mencionado que derrubou o copo de hidromel ao chão quebrando-o.

−− Peço desculpa! Não estava prestando atenção. −− Disse tentando limpar a sujeira
que fez.

−− Deixa que eu te ajude. −− Disse Carlos ajudando a limpar a sujeira que ela fez na
mesa.

−− Peço desculpas −− Repetiu. Arenek olhou desconfiado para ela como se não
gostasse de ver o que acabou de acontecer, mas depressa voltou aquele olhar fingido.

−− Não tem problema −− Carlos respondeu a tranquilizando.

−− Do que estavam falando? −− Yara perguntou após acabar de limpar toda a sujeira.

−− Da nossa viagem até aqui e como foi difícil algumas vezes −− Carlos respondeu.

−− Ah... Isso... −− Disse como se tivesse acabado de lembrar-se de algo que esqueceu a
milhares de anos. −− Foi realmente uma viagem muito tribulada se posso dizer

−− A gente passou por tanta coisa para chegar aqui... −− Disse Carlos lembrando-se das
aventuras que teve, dos perigos que passou, foram realmente momentos loucos.

−− Interessante... Que tal contar tudo pelo que vocês passaram durante o jantar? −−
Arenek perguntou sugerindo.

Durante o jantar, Carlos contou às coisas que passou antes de vir para Arlandor,
ocultando a história do Kraven, do fauno e da Liga das Sombras, achava que essas
deveriam ser mantidas em segredos.

Victor continuou esperando a volta de Carlos, depois do jantar Carlos e Yara voltaram
para os seus respectivos quartos a fim de terem um merecido descanso, ele trocou de
roupa e deitou-se na cama. Ele continuava estando sem sono, ele olhou fixamente para
as janelas apreciando a vista de fora, foi quando viu algo ou alguém no telhado do
edifício ao lado o observando pela janela do seu quarto.

Ele fingiu que não viu nada, olhou para a mesa ao lado de sua cama em que tinha posto
lá a sua espada e uma faca, ele não seria estúpido ao ponto de não trazer consigo as suas
coisas e pensar que não iria precisar delas apesar de se sentir em segurança ali.
191
Levantou da cama, espreguiçou-se alongando as costelas e os músculos, bocejou, pegou
na faca rapidamente e atirou-a ferozmente contra o individuo que o estava espionando
do outro lado do prédio, ele foi tão rápido que o mesmo não teve tempo de esquivar a
faca, tudo graças a Yara que o ensinara como lançar uma faca rapidamente.

Correu em direcção à janela e saltou transformou-se em uma águia em pleno ar voou


até o prédio ao lado, transformou-se de volta em humano aterrou com uma cambalhota
ao chão, com a espada em mãos a levou até ao pescoço do vigiante mascarado. A faca
tinha falhado por pouco, simplesmente feriu de raspão o seu ombro direito.

−− Quem é você? −− Carlos perguntou ferozmente cerrando os dentes.

−− Se você tirar a espada em volta do meu pescoço eu terei todo o gosto em responder
as tuas perguntas. −− Respondeu o mascarado com a voz de um homem.

−− Eu não confio em pessoas que se escondem por trás de mascaras e ficam me


vigiando −− Carlos rebateu.

−− Eu não estava te espionando... −− Respondeu o homem −− Eu preciso da tua ajuda!


−− Falou com certo tom de emergência na voz.

−− Ajuda em que? −− Carlos perguntou não entendendo.

−− Arenek!... −− Falou desprezando o que tinha acabado de dizer.

−− O que tem ele?

−− Ele é um monstro!... Ele é um tirano! −− Respondeu o homem sem rodeios.

Nos primeiros segundos que se sucederam Carlos não reagiu ele não esperava que
Arenek fosse isso, de um cara que o recebeu bem em Arlandor, simpático tornava-se
difícil acreditar nisso. Saber que na verdade ele era um cruel tirano adorado como um
deus pelos seus seguidores fanáticos dispostos a morrer por ele, acreditando que isso era
a maior honra de todas era arrepiante, assim era Arenek, um homem cruel com um
bando de seguidores fanáticos que fazem de tudo para agradar o seu senhor.

−− Porque eu acreditaria em ti? −− Carlos perguntou incerto.

−− Não precisa acreditar... Olhe a sua volta. −− Carlos olhou ao redor. −− Você acha
que está tudo bem?

Carlos retirou a espada do pescoço dele e saiu de cima dele, o garoto levantou
revelando ser um rapaz de 18 anos, olhos azuis, cabelos grisalhos envolto em um rabo
de cavalo, no peito usava um colar como o que Carlos usava, no pulso usava uma
pulseira em que estava escrito o seu nome: Victor.

−− E quem é você afinal de contas? E porque precisa da minha ajuda? −− Carlos


perguntou olhando directamente nos olhos.

−− Eu sou Victor. −− Respondeu colocando a mão ao peito. −− Você é o Príncipe


192
Carlos? −− Carlos fez que sim com a cabeça. −− Tu podes nos ajudar na vitória contra
Arenek −− Victor disse entusiasmado com isso.

−− Espera aí que luta? −− Perguntou sem entender.

−− A luta contra Arenek. A Resistência! −− Victor respondeu. −− Eu faço parte da


Resistência, Príncipe Carlos.

−− Por favor, podes parar de me chamar de Príncipe?

−− Mas não é isso que és?

−− É que não gosto.

−− Como queiras.

−− Agora voltando no assunto sobre Arenek podes me contar tudo a respeito das coisas
que ele fez? −− Pediu Carlos por fim depois de pensar muito a respeito disso tudo.

−− Aqui. −− Respondeu Victor olhando ao redor com ar de preocupação. −− Pode ser


muito perigoso!

−− Então onde? −− Victor se aproximou de Carlos e sussurrou no seu ouvido.

−− Na nossa base, não a sitio mais seguro que esse.

−− Onde fica?

−− Me acompanhe −− Disse Victor virando-se e correndo pelo telhado, Carlos não teve
alternativa a não ser de segui-lo, correndo pelos telhados como ninjas sorrateiros se
esgueirando para não serem vistos ou ouvidos indo em direcção a famosa base da
Resistência mais conhecida como a Toca do Coelho.

193
A Toca do Coelho
“Disse Platão que os bons são os que se contentam com sonhar aquilo que os maus
fazem na realidade”.

Victor corria no telhado com Carlos a sua atrás, estavam se aproximando ao fim do
telhado e as suas frentes existiam um edifício com certa distancia, Victor aproximou-se
na beira e saltou para o outro edifício aterrando com uma cambalhota, Carlos que estava
com um pouco de receio não queria parecer fraco por isso aproximou-se e saltou
aterrando de pé, ele sorriu por estar vivo e inteiro.

Victor continuou a correr saltando por um obstáculo a sua frente, Carlos fez o mesmo,
saltaram de um edifício para o outro, estavam se aproximando no fim desse edifício e a
sua frente estava um grande edifício maior do que esses em que estavam e quem mesmo
se saltassem iriam chocar-se com janelas, Victor não parava de correr Carlos não sabia
o seu plano e nem perguntou, não achava que ele fosse estúpido o suficiente para fazer
essa maluquice mas fez, aproximou-se da beira e saltou indo em direcção as janelas as
quebrando e entrando para o edifício.

Carlos que ainda tinha os sus receios parou, olhou para baixo e a queda era longa, a
morte certa, não querendo arriscar-se ele saltou de cabeça para baixo, transformou-se
em uma águia e voou até onde Victor estava, e transformou-se de volta em humano.

Victor o olhava com aquele olhar que dizia: Sério isso?

−− O que foi? Achei melhor estratégia. −− Carlos respondeu estendendo as mãos.

−− Vamos. −− Victor respondeu.

Eles continuaram correndo e saltando de edifícios como se eles fossem vigilantes da


noite igual o Batman se aventurando na noite obscura como guerreiros destemidos em
busca da vingança.

Eles entraram a um edifício usando as escadas de incêndio, estava escuro e imundo


como se ninguém entrasse ali anos ou mesmo séculos, desceram para o andar mais
baixo usando as escadas do prédio e chegaram a uma sala também vazia, excepto por
uma tampa de esgoto no chão, Victor foi até a tampa e a abriu.

−− Vamos. −− Falou a Carlos percebendo a sua hesitação para entrar no esgoto.

−− Você quês que eu entre em um esgoto? −− Perguntou segurando a boca para não
vomitar por causa do cheiro mau cheiro que saia do esgoto.

−− Sim, qual é o problema?

−− O problema é o próprio esgoto −− Carlos respondeu fazendo gestos com a mão. −−


Eu nunca entrei em um, nem nas minhas imaginações.

−− Mas é necessário... É onde nós a Resistência estamos escondidos.

194
−− Porque no esgoto? Não tinha um lugar melhor na superfície?

−− A Tribo do Ar é uma tribo aérea, gostamos mais de estar no ar livre e nos céus
voando em liberdade, em caso de um dia Arenek resolver procurar o nosso esconderijo
secreto, aqui no subsolo será o ultimo lugar em que pensaria e que irá procurar isso nos
dá uma vantagem sobre ele. −− Explicou.

−− Bem até que tem razão. −− Ele aproximou-se a beira do esgoto aberto. −− Eu irei me
arrepender disso! −− Disse a si mesmo, e saltou no esgoto frio e gelado.

−− Podes me contar mais sobre Arenek? −− Carlos perguntou a Victor enquanto eles
andavam pelo esgoto. Carlos teve a sorte de não aterrar nas águas do esgoto.

−− O que quês saber propriamente?

−− Quando isso começou? −− Victor suspirou fundo e começou a falar.

−− Isso começou há muito tempo... Durante Guerra das Cinco Tribos, a Tribo do Ar
estava fraca muito fraca para continuar a lutar então o nosso líder na altura Jasaon,
decidiu desistir da guerra rendendo-se. Alguns apoiaram a decisão de Jasaon, outros,
como Arenek I, o maior general de Arlandor, ficou bastante irritado com isso, para ele
desistir é para os fracos e idiotas, ele não suportava tamanha humilhação.

−− Deveria ser difícil para um cara como Arenek I −− Carlos comentou −− Alguém
que não gosta de render-se e o seu líder render-se na mesma.

−− Foi bastante difícil que ele deixar de ver Jasaon como um líder, para ele, Jasaon
estava trabalhando com os inimigos e tinha de ser retirado imediatamente do poder o
mais rápido possível. −− Victor continuou a falar. −− E então...

−− Ele organizou um golpe de estado tirando Jasaon do poder −− Carlos concluí-o.

−− Vejo que percebes as coisas rapidamente. −− Victor disse admirado.

−− Tudo indicava para isso. −− Ele respondeu. −− E o que aconteceu depois de Arenek I
subir ao poder?

−− Ele fortaleceu o poderio militar de Arlandor, aumentou a produção alimentar


obrigando o povo a trabalhar como escravos em condições deploráveis privou a
liberdade para nós, ninguém poderia sair de Arlandor, aumentou a sua fortuna pessoal e
retirou a liberdade que existia privando e condenando todos àqueles que estariam contra
o seu regime.

−− Agora já começo a odiar o nome Arenek −− Disse Carlos desprezando o nome.

−− Os que nascem aqui, a primeira coisa que aprendemos é odiar esse nome. −− Victor
disse em tom sombrio. −− Essa ditadura já dura a gerações aqui e ninguém lá fora sabe
como nós vivemos aqui. −− Disse em de lamento.

195
−− Uma pergunta Victor, se Arenek é um ditador porque é que me tratou daquela forma?
Esse é algo que eu ainda não entendi. −− Carlos perguntou confuso com isso, não
conseguia entender o porquê disso.

−− Porque você é um príncipe Carlos. −− Victor respondeu de imediato. −− Imagina


que se eu não tivesse aparecido, qual seria a tua opinião sobre Arlandor?

−− Que é um sitio agradável e que Arenek é um tipo simpático e alegre.

−− Exacto, ele precisava dessa opinião para enganar as pessoas de fora sobre a respeito
de Arlandor, mais precisamente sobre a sua ditadura, ele não queria uma fuga de
informação má a respeito daqui vinda de você, por isso te tratou com aquelas
cordialidades, eu ouvi uma gravação dele a planear sobre isso.

−− Uau! Ele pensou em tudo, estou bastante impressionado. −− Disse parando por um
segundo.

−− Óptimo, porque chegamos −− Disse parando em uma parede, em um beco sem saída.

−− Chegamos a onde...? −− Carlos perguntou devagar.

−− Espere. −− Victor olhou ao redor certificando-se de que não tinha sido seguido, vendo
que não, colocou a mão sobre a parede e ela começou a mudar, os pequenos blocos de
tijolos começaram abrindo-se, revelando uma entrada secreta.

−− Uma entrada secreta! Fixe! −− Victor entrou primeiro e Carlos de seguida, quando
eles entraram os tijolos voltara a alinhar-se em suas posições originais fechando a
entrada como se ela nunca tivesse existido.

Eles estavam ao que parecia ser um elevador, Victor apertou em um botão e o elevador
começou a descer.

−− Porque tão baixo? −− Carlos perguntou.

−− É mais seguro assim −− Respondeu. O elevador continuou a descer. −− Os


animanos são um povo da superfície, e em caso de ataque o último lugar em que Arenek
nos procurará será no subterrâneo.

−− Uma pergunta, o que sustenta esses túneis e a superfície?

−− Arlandor é sustentado por enormes pilares de pedra que ficam no subterrâneo, eles
minimizam os estragos quando acontece um terramoto ou qualquer desastre natural
estão espalhados por toda Arlandor. −− Victor respondeu. Carlos mexeu a cabeça em
sinal de entendimento.

A porta abriu-se, Victor saiu do elevador e andou para frente, Carlos o seguiu, as suas
frentes poderiam ver o esconderijo secreto da Resistência. O esconderijo era dividido
em três secções, existia a CPE (Comando de Preparação e Estratégias) onde se
preparavam todas as missões dedicadas a derrubar o regime de Arenek, a Área Médica,
onde os feridos em combate e não só eram tratados e a Sala de Lazer e Dormitório.
196
Eles estavam vendo a CPE, parecia um escritório de advogados, cada um usando uma
máquina tentando descobrir mais pistas que poderiam ajudar no planeamento de
missões, outros tentando descobrir quais eram os planos secretos, todos estavam bem
organizados e focados no que estavam a fazer.

Victor e Carlos estavam numa plataforma superior que dava acesso ao elevador, existiam
duas escadas que desciam para baixo, uma da esquerda e outra da direita.

−− Uau! Esse lugar é incrível −− Disse olhando ao redor. −− Parece um escritório de


advogados.

−− Nós o chamamos de Toca do Coelho. −− Disse Victor estendendo as mãos. −−


Vamos, precisamos ir à sala de comando. Preciso te apresentar aos outros.

−− Claro −− Disse Carlos.

Eles desceram usando as escadas do lado direito, caminhando por entre a base,
curvaram para um corredor que seguiam para a esquerda em direcção à sala de
Comando ao longo do caminho para a Sala de Comando eles passaram pela porta que
dava acesso a ala hospitalar e umas séries de lembranças passaram pela mente de
Victor.

Desde que o seu pai foi raptado em uma missão, Victor passou a ser provisoriamente o
novo líder da Resistência, ele fazia de tudo para proteger os seus e acabar a guerra, com
a sua mãe doente com Alzheimer tornava-se difícil cuidar dela e assumir o comando,
ainda mais quando ela se esquecia dele, eram os piores momentos da sua vida, um
momento que nenhum filho que ama a sua mãe quer passar, ele tentava dia após dia que
ela se lembrasse dele ou de algo, mas não conseguia obter sucesso.

Com o desaparecimento do seu pai enquanto combatia contra o regime, o estado de


saúde piorou consideravelmente, chegava num ponto em que ela não sabia quem era ou
que estava fazendo, chegou até esquecer-se do próprio nome, foi o período que Victor,
mas sofreu pois tinha que assumir a posição de ―Líder da Resistência‖ antes que
Arenek planeasse um ataque mortal.

−− Mãe! −− Victor falou calmamente a mãe em lágrimas que o olhava como se estivesse
vendo um completo desconhecido.

−− Quem é você? −− Perguntou a sua mãe não o reconhecendo, ela virou o olhar
olhando para o lado.

−− Sou eu mãe! −− Disse chorando e tremendo nas mãos. −− Sou o seu filho!

−− Eu não tenho um filho −− Victor abaixou o olhar chorando, ele não aguentou ouvi
isso que saiu da ala hospitalar lamentando-se.

Alguns viam Victor como um simples garoto, outros como um herói pronto para libertar
Arlandor das terríveis mãos de Arenek e trazer de novo a liberdade que todos
acanhavam em seus nobres corações.
197
Agora passando pela Ala Hospitalar, ele lembrou-se do quanto ele sacrificou a sua vida
pela liberdade, esse sentimento, essa promessa de liberdade encheu o seu coração de
orgulho e honra por saber que lutava por algo importante, por algo que daria a sua pobre
vida para conseguir alcança-lo.

Eles chegaram a Sala de Comando, Victor abriu a porta entrando e logo que entraram
todos se colocaram em pé, ele fez gesto para que se sentassem e eles obedeceram, a sala
de comando, era uma grande sala com um grande monitor na parede que se usava para
espionar a superfície, já que poderia praticamente ver a maioria dos lugares, funcionava
através da magia e uma pequena tribuna onde geralmente as missões eram explicadas
aos demais e onde Victor dirigiu-se.

Em baixo um monte de pessoas trabalhavam ao que parecia ser ―computadores‖ ou


máquinas de descodificar mensagem, antes deles entrarem para sala eles estavam focados
tentando decifrar uma mensagem que eles creiam poder os levar para a tão aguardada
vitória.

−− Pessoal antes de começarmos, gostaria de vos apresentar: Príncipe Carlos Njinga de


Animândia. −− Todos trocaram olhares impressionados e espantados com a grande
notícia. −− Eu expliquei a nossa situação ao Príncipe Carlos e ele concordou em ajudar-
nos, a sua ajuda será muito importante para nós. −− Todos começaram a bater palmas,
Carlos olhou para Victor semicerrou os olhos e fez uma pequena referência. −− Alguém
tem perguntas? −− Alguém levantou. −− Sim Jones.

−− Como iremos saber que ele é realmente Príncipe de Animândia? −− Todos se


olharam de novo se perguntando a mesma coisa. Victor olhou para Carlos como se
dissesse e agora? Carlos não estava preocupado ele levou as mãos ao alto e subitamente
a sua espada real apareceu e mostrou-a a todos, todos se admiraram com o que viram,
era realmente uma espada de Nândia, não poderiam acreditar que ele era mesmo um
príncipe animano vindo de Nândia.

Porque mostrar a espada? Bem as espadas reais são únicas para cada pessoa, no seu
cabo vem gravado a ouro o nome do dono e a sua titularidade na família real, na espada
de Carlos isso estava bem presente.

−− Bem, isso prova quem eu sou. −− Disse a fazendo desaparecer outra vez.

−− Carlos, porque é que não nos conta porque estás aqui? −− Victor dirigiu-se a Carlos.

−− Bem… −− Disse se preparando para falar para a grande multidão de entusiasta que
tanto ansiavam para ouvir as suas palavras. −− Eu vim aqui cumprindo as Jornadas
Reais, quando eu cheguei aqui, eu não sabia de nada sobre o Regime de Arenek, mas
agora que sei… estou pronto para lutar! estou pronto para vos ajudar a derruba-lo e
restaurar a liberdade que tanto anseiam! −− Todos bateram palmas encantados com as
suas palavras.

−− Dito isso, agora voltem ao trabalho, precisamos descobrir o que Arenek está
planeando −− Gritou, eles começaram voltando as suas posições nas máquinas tentando
198
descobrir algo que fosse útil, entretanto Victor convidou a Carlos para o seu gabinete.
Carlos sentou-se na cadeira ficando de frente a Victor, enquanto esse por sua vez
vasculhava em uns documentos importantes.

−− Victor uma pergunta. −− Disse Carlos.

−− Sim? −− Disse não tirando os olhos fixos nos papéis.

−− Porque é que a minha ajuda é importante para a Resistência? −− Ele parou de ler o
documento, o fechou e olhou directamente nos olhos de Carlos.

−− Nos últimos dias, nós estamos sofrendo mais baixas do que bons resultados, se nós
continuarmos assim até no final do mês iremos perder a guerra, eu acho que se você
lutar do nosso lado poderá ajudar a levantar a moral dos soldados para lutar, eles
precisam de alguém importante como você lute ao lado deles para os mostrar que não
estão sozinhos nessa guerra.

−− Sei...

No mesmo instante que Carlos disse isso, um ―decifrador‖ entrou correndo e todo
agitado.

−− Senhor! Tu precisas ouvir isso! −− Disse em tom urgente e sem fôlego. Quando ele
disse ―senhor‖ Carlos ficou um pouco inquieto visto que o decifrador era muito mais
velho de Victor, mas mesmo assim ele o tratava com respeito apesar dele ser criança
comparada a ele.

Eles saíram da sala, sem saber o que se passava simplesmente seguindo o decifrador que
entrou na sala as pressas e transpirando com uma mensagem que parecia ser emergente,
Carlos e Victor o seguiram até o seu posto precisamente, o homem sentou-se na cadeira
todo atrapalhado verificou a sua máquina, virou-se para olhar Victor e disse:

−− Eu estava aqui vigiando a Casa Real, quando ouvi isso. −− Ele ligou a máquina e
uma voz misteriosa começou a falar:

−− “... Senhor o que vamos fazer agora que ele já sabe de tudo?‖.

−− “O que você propõe fazer?‖ −− Respondeu uma voz, que Carlos imediatamente
reconheceu como sendo Arenek.

−− “Sei lá, podemos simplesmente...”

−− “Matá-los‖? −− A voz não respondeu, parecia que estava ponderando realizar essa
opção. −− “O que Nândia irá dizer quando souberem que nós matamos o seu querido
príncipe? Você já pensou nisso”? −− Arenek

−− “Bem eu...”

−− “Sabe o que irá acontecer? Guerra e a última coisa que nós queremos é uma guerra
contra Nândia, porque acredite Nândia terá apoios de todas as outras Tribos, incluindo

199
dos nossos aliados”.

−− “Então o que o senhor sugere”?


−− “Vamos mata-los aos dois e dizemos que eles nunca chegaram aqui”. −− Respondeu
Arenek decidido. −− “Mande uma equipe capturar a garota”.
−− “E o rapaz?‖.

−− “Ele virá atrás até nós, isso garanto” −− Disse Arenek com um sorriso arrepiante,
terminando assim a gravação.

Nos primeiros momentos, ninguém presente falou todos estavam chocados demais para
falar algo, era evidente que Arenek tinha descoberto que Carlos sabia sobre a
Resistência, mas como? Victor tinha tomado todas as precauções para evitar que
alguém os visse ou que fossem seguidos, como evitar transformar-se em seu Chin e
sempre andando nas sombras evitando as luzes e os vários guardas.

A não ser que alguém o informou daqui de dentro, ele já desconfiava que existia um
informante la, mas nunca chegou de o encontrar, era como um fantasma, alguém tão
bom que nunca deixava rastro da sua presença ou actividade, mas quem na Resistência
comete esses actos sem escrúpulos como esse? Ele sabia que o espião seria uma pessoa
daquela sala, porque só eles sabiam da presença de Carlos em Arlandor ele olhou ao
redor tentando imaginar quem seria o espião, a verdade é que não era tarefa fácil, todos
pareciam tão inocentes dedicando-se ao máximo para que pudessem ganhar a guerra,
ninguém tinha o ar suspeito ou demonstrava nervosismo.

−− Yara! Preciso salvá-la... −− Carlos disse decidido após os tremendo minutos de


silêncio.

−− Não podes... −− Disse Victor, ele olhou para Victor não acreditando que ele
dissesse isso −− É muito arriscado fazer isso, tu podes... −− Hesitou temendo dizer a
próxima palavra que Carlos conhecia muito bem −− Morrer.

−− Não me importa se é arriscado ou se posso morrer, eu vou salvá-la e você não pode
me impedir −− Disse correndo em direcção à saída.

−− Está bom, eu não irei te impedir. −− Falou. −− Porque eu irei contigo.

Eles saíram do esconderijo às pressas, subiram por cima do telhado e transformaram-se


nos seus Chin, o Chin de Victor era de um Lama negro, e saíram voando rapidamente
em direcção a Casa Real para salvar Yara de ser capturada.

Carlos entrou pela janela do seu quarto que ainda estava aberta, transformou-se de volta
em humano, Victor fez o mesmo, o quarto dele estava todo revirado como se alguém o
tivesse revistado a procura de algo, saíram do quarto, no corredor as coisas também
estavam dispersas, Carlos notou que a porta de Yara não estava fechada como deveria
estar caminhou lentamente até a porta dela e não precisou de muito para abrir
simplesmente só empurrou com as mãos que ela abriu-se revelando o quarto todo
revirado igual ao seu e sem nenhum sinal de Yara;
200
−− Yara! −− Sussurrou baixinho, não ouve resposta −− Yara! −− E de novo nada.
−− Carlos −− Disse Victor a sua trás colocando a sua mão nos ombros dele. −− Eles a
levaram, nós chegamos tarde demais. −− Disse cabisbaixo.

−− Não! Não! Não pode ser... −− Disse andando de um lado para o outro negando a
verdade óbvia. −− E onde eles a levaram?

−− Não sei... −− A verdade era que Victor não queria dizer a Prisão de Arenek, uma
prisão que Arenek mandou construir para abrigar todos àqueles que estavam contra o
seu regime. Ele temia a reacção de Carlos se falasse algo assim.

−− Então vamos procura-la −− Disse Carlos decidido.

−− Espere Carlos! −− Ele parou e virou-se olhando para ele, esperando o que ele tinha
dizer. −− Tu não podes procurar por ela, é perigoso demais!

−− Eu dou conta. −− Respondeu, ele virou-se para a frente andando decidido. No mesmo
instante guardas de Arenek surgiram subindo a escada do fundo do corredor, todos eles
fortemente armados com espadas e lanças super afiadas capazes de rasgar a pele de um
urso.

−− Vamos embora daqui! −− Disse Victor, Carlos ficou entreolhando-se entre Victor e os
guardas, o que iria e fazer? Lutar contra soldados com armas suficientes para matá-lo ou
fugir e arranjar um plano melhor?

Ele preferiu a segunda opção, Carlos e Victor entraram no antigo quarto de Carlos
correndo as pressas aproximaram-se da janela e saltaram para fora, Carlos transformou-
se de volta em águia e Victor em seu Chin falcão e saíram voando pelo horizonte além.

201
A batalha de Arlandor
“Não existe justiça daquele que foi oprimido para o seu opressor” − Arenek

Carlos estava sentado ao pé da escada de entrada e saída da Pata do Coelho, segurando


um copo de café e pensando nos últimos acontecimentos e no sequestro repentino de
Yara, pensar em como as coisas se desenvolveram era muito mais difícil, ele não
dormiu essa noite, não conseguiu fechar os olhos na cama, invés disso ficou dando
discursos motivacionais aos soldados da Resistência para não desistirem e irem até ao
fim.

Ele sabia que Victor estava planejando um último ataque contra Arenek visto que
a Resistência estava enfraquecida e não poderia mais continuar essa guerra que
eles acabariam sendo derrotado, Carlos sabia que seria algo em grande, algo
suficiente grande para derrubar o Regime Arenek de uma vez por todas de
Arlandor.

−− Posso me sentar aqui? −− Perguntou Shasta com um copo de sumo de laranja em


mãos. Carlos acenou com a cabeça.

Shasta era um garoto que Carlos conheceu durante a noite, era magro, corpo pequeno,
cabelos negros e bagunçados como se ratos o tivessem brincado durante a noite, olhos
cinzentos, ele tinha 10 anos de idade, estava estudando para ser médico, além de ser
medico um dos seus grandes hobbies é ser magico ou ilusionista, ele gostava praticar
quando estava de folga, de vez em quando ele fazia vários espectáculos na Toca sempre
com o seu fiel assistente, o seu macaco ―Mickey‖, ele amava demais o seu macaco, ele
era um macaco inteligente, consegue perceber o que dizemos e fazer aquilo que o
pedimos, só não consegue falar mesmo, usava uma jaqueta vermelha ao estilo pirata.

Os dois sabiam um monte de truques e ontem a noite fizeram um monte de


espectáculos, foi ai onde Carlos os conheceu, em um dos seus números quando ele
pediu Carlos como voluntário para o número em que fizeram Carlos ficar invisível.

Hoje era o seu dia de folga então aproveitou para descansar um pouco e desanuviar a
cabeça, para poder pensar em outra coisa além do exame de medico que se avizinhava,
ele teria de se esforçar muito para passar nesse exame para poder um dia vir a ser
medico e curar pessoas, essa era a sua verdadeira paixão.

−− Então Carlos como está? −− Shasta continuou a falar.

−− Eu estou bem −− Mentiu.

−− Sabes Carlos, tens que se esforçar mais para conseguir me mentir −− Disse Shasta
bebendo um pouco do seu suco e o olhando de soslaio.

−− Tens razão, a verdade é que... Eu não sei...

−− Porque que não tentas pensar em outra coisa, pensar nela só fará com que você se
sinta pior.
202
−− Eu já tentei... Eu não consigo. −− Respondeu melancólico.

−− Então experimenta beber algo −− Respondeu, ele juntou as mãos e abriu-as e um


copo cheio de suco de laranja apareceu em mãos, e o entregou a Carlos. Ele assobiou
silenciosamente e Mickey apareceu ao seu lado, ele subiu no ombro de Shasta.

−− Como você fez isso? −− Perguntou admirado.

−− Se eu te contar deixará de ser um segredo. −− Respondeu dando uma piscadela e


pondo-se em pé. −− Antes que eu me esqueça, Victor pediu para chamá-lo para ir a
sua sala. −− Ele bateu com o pé no chão e uma névoa lilás surgiu saindo do chão
aumentando a sua intensidade cobrindo todo ele, quando a névoa dissipou-se e ele não
estava mais lá, Carlos sorriu e bebeu do seu suco.

Carlos levantou-se e caminhou até a sala de Victor. Ele entrou na sala e encontrou
Victor ao pé de uma mesa redonda com mais duas pessoas que rodeavam a mesa, pelo
silencio que se registrava na sala, provavelmente estavam a planear algo visto que na
mesa existiam vários objectos como mapas, bússolas canetas e outros. Assim que a porta
se abriu eles se viraram para receber o visitante.

−− Carlos! Ainda bem que viste! −− Disse Victor assim que o viu.

−− Mandaste me chamar? −− Perguntou confuso com a cena em questão.

−− Sim, eu preciso de você −− Respondeu, segurando no ombro de Carlos. −− Mas


primeiro quero que tu conheças, General Flay −− Disse apontando ao homem careca,
caucasiano, vestindo a armadura do Exército da Resistência e segurando um capacete
em suas mãos. −− E a Vice-líder da Resistência, Lourdes. −− Apontou a mulher
bronzeada de cabelos negros crespos e olhos negros e usava uma saia preta comprida e
justa e uma camisa, parecia uma secretaria do presidente.

−− Prazer! −− Disse Carlos respeitosamente.

−− Ouvimos muita coisa de você. −− Falou a Vice-líder demonstrando certo grau de


espanto, ela tinha a voz suave e fina.

−− Eu tive a liberdade de falar um pouco sobre você a eles. −− Disse Victor.

−− Muita coisa impressionante, rapaz −− Disse o general não alterando a sua expressão
seria e pouco faladora.

−− Porque me chamaste Victor? −− Carlos perguntou directamente a Victor, não entendia


qual era o objectivo dele.

−− Porque eu preciso de você! −− Victor respondeu o largando e dirigindo-se até a


mesa, Carlos fez o mesmo ficando do outro lado dali poderia olhar directamente para os
olhos de Victor. −− Eu vou directo ao assunto, nós estamos a planejar a Invasão a Casa
Real e queríamos ter o seu ponto de vista.

203
−− Porque eu?

−− Porque você é o Príncipe Carlos, e todos nós concordamos que tinhas o direito de
saber disso −− Victor respondeu, o General e a Vice-líder concordaram acenando a
cabeça. Carlos baixou o olhar, suspirou fundo e respondeu decidido:

−− Estou todo ouvido. −− Victor deu um leve sorriso e começou a falar.

−− Soubemos que Arenek está planejando um grande desfile militar por Arlandor daqui
a dois dias com a presença de todos os grandes nomes do seu regime, segundo as
informações que temos, isso tudo não passa de uma farsa, o verdadeiro plano dele será
invadir a Toca do Coelho. −− Começou Victor por dizer. −− Mas nós estaremos
preparados ao ataque porque iremos responder da mesma forma.

−− O que? −− Indagou Lourdes alto e em bom som, não gostando de absolutamente


nada do que ouviu.

−− Isso é uma loucura! −− Exclamou o General batendo o punho sobe a mesa.

−− Eu sei que é uma loucura... Mas é a melhor hipótese que temos −− Victor rebateu na
defensiva.

−− Um combate direito contra as forças de Arenek é basicamente um suicídio em


massa. −− Disse o General irritado com a ideia. −− E eu não irei sacrificar as minhas
tropas por causa de um plano estúpido e sem noção! −− Disse decidido saindo da mesa
para fora.

−− Eu sei que o plano é estúpido General. −− Gritou Victor para o general que se
encontrava na porta de saída, ele parou para ouvir o que ele tinha a dizer. −− Mas é a
melhor hipótese que nós temos, é a melhor hipótese que temos de encurralar Arenek, de
destruir seu regime, a não ser que o General tenha um plano melhor que esse... Sou todo
ouvido.

O General se retirou da porta e voltou a mesa olhou decidido para Victor e disse a frase
que ficaria marcada na cabeça de Victor durante toda a batalha.

−− Se o plano fracassar a culpa toda irá recair sobre você e eu farei de tudo para que
você sofra pelo erro que cometeu! −− Dito isso, ele saiu da sala.

Victor olhou para Lourdes que acenou com a cabeça positivamente e saiu também da
sala, Victor não comemorou ele estava mais preocupado com o que General disse do
que em mostrar a expressão de satisfação de seu plano ir à frente, enfrentar um exército
poderoso como o de Arenek não era coisa fácil de fazer, principalmente com um
exército fraco como o dele.

−− O que foi Victor? −− Carlos o perguntou reparando que ele estava nervoso
transpirando e estremecendo ligeiramente.

−− Nada, só estou preocupado de o plano fracassar −− Falou com certa culpa na voz.

204
Carlos se aproximou pegou o ombro dele com a sua mão e disse:

−− Ei man! Eu sei que o plano não irá dar certo. −− Disse brincando e rindo. −− Mas
como você disse, é a nossa melhor hipótese. Agora se recomponha que tens um exército
para liderar.

−− Tens razão! −− Disse voltando a si. −− Eu preciso te dizer algo importante Carlos.

−− O que é?

−− É melhor fechar a porta −− Falou sério, Carlos fechou a porta pronto para escutar o
que era tão importante para ouvir.

Yara estava deitada no chão frio de uma cela, ela levantou-se tinha a cabeça tonta e
zumbindo, depois da luta que ela deu ontem esperava uma melhor recepção e não uma
garrafa na cabeça para lhe fizer desmaiar, tinha a visão embaçada, a sua cabeça estava
doendo para caramba, não sabia que levar uma garrafada na cabeça pudesse doer tanto.

Ficou de pé com a cabeça olhando para baixo, limpou os olhos e pegou na cabeça,
propriamente na área afectada que ainda doía muito retirou a mão de lá e massageou a
testa, a sua visão começou a voltar ao normal, mas a dor de cabeça não desaparecia.

−− Parece que acordou. −− Disse uma vez, ela olhou ao redor da cela e não tinha mais
ninguém além dela, olhou para frente e viu o capitão da equipe que a imobilizou ontem.
Ao contrario de outras celas, essa não tinha grades, mas sim uma grande parede de
vidro, e a trás da parede, tinha uma cadeira, a sala era quadrada, era como uma sala de
prisão estilo interrogatório com cadeiras nos dois lados, e um grande vidro estampado à
parede na parte onde o capitão estava, e tinha uma pequena porta de entrada. −−
Surpresa por me ver de novo?

−− Nem tanto, só estou surpresa por te ver de novo em pé depois de ontem. −− Ele cerrou
os punhos e bateu no vidro cheio de raiva. −− O que foi? Machuquei-te? Achei que a luta
de ontem já fez o suficiente. −− Ela piscou os olhos e riu, mesmo estando presa ela tinha
o censo de humor forte.

−− Muito engraçadinho. Senhorita Analarai. −− Disse uma nova voz entrando na sala,
que Yara a reconheceu de imediato, era Arenek em pessoa com aquele olhar cheio de
malícias e surpresas terríveis, assim que ele entrou o capitão saiu da sala. −− Mesmo
presa a uma sala com alguém que a pode mata-la só com um estalar de dedos, você
ainda tem censo de humor, devo admitir que isso é notável −− Ele sentou na cadeira.

−− O que você quer? −− Yara perguntou séria.

−− Indo directamente ao assunto, gosto disso. −− Disse Arenek recostando-se a cadeira.

−− Não vai me dizer o que você quer? −− Perguntou aborrecida.

−− Eu vim aqui olhar-te directamente nos seus olhos e te dizer o quanto fracassarão ao
tentar me derrubar. −− Disse inclinando-se para mais perto do vidro em que podia olha-la
directamente nos seus olhos. Apesar de Yara não saber do que Arenek estava falando ela
205
não queria deixar ele notar isso ao invés disso ela fingiu que sabia absolutamente de tudo.

−− Você acha que o teu reinado será eterno? −− Perguntou o encarando.

−− Ele já é… −− Arenek respondeu simplesmente não mudado o olhar.

−− Sabe qual é semelhança entre você e os demais ditadores? −− Yara perguntou não o
deixando de encarar. Ele semicerrou os olhos aguardando pela resposta. −− Todos eles
caíram e você só será mais um deles a cair.

−− Você acha isso? −− Perguntou cruzando os braços.

−− Eu não acho, eu tenho a certeza, todos os ditadores têm o medo de perder o seu
reinado, todos eles pensam que o seu reinado será eterno, mas quando chega a hora
todos eles caiem como moscas e você será o próximo, daqui a alguns anos Arenek será
nome de piada e de estupidez, ninguém o levará a sério. −− Falou alto e em bom som.

−− Você fala como se tivesses a plena certeza do assunto. −− Disse Arenek indiferente
às palavras provocativas dela. −− Quando acontece exactamente o contrário.

−− O que? −− Ele pôs-se em pé, andando de um lado para o outro.

−− Sabe, se o teu namorado não tivesse se intrometido, vocês estariam ao meu lado no
desfile que vai se realizar daqui a dois dias e não veriam o que eu iria fazer aos rebeldes,
mas ele tinha que estragar tudo, agora sofrerá as consequências! −− Disse ríspido.

−− O que acontecerá daqui a dois dias?!

−− Vejo que mudaste o tom. −− Disse com um sorriso presunçoso no rosto. −− Eu


irei invadir o esconderijo deles, a muito que eu queria fazê-lo, irei matar todos os
que eu encontrar.

−− Todas as pessoas inocentes?!

−− Inocentes? Você os chama de inocentes? Eles são um bando de vândalos! −− Gritou.

−− Eles lutam por uma causa, eles defendem a sua liberdade, os seus direitos, lutam
contra a opressão algo que poucos têm a coragem de fazê-lo, eles são heróis −− Yara
rebateu.

−− Heróis? Eles são um bando de gananciosos, eu os ofereci liberdade e olha o que eles
me dão em troca? Rebelião, o que você acha se um deles subir ao poder? Você acha que
eles serão melhores ou piores que eu? Deixa-me te dizer Yara, eles serão piores mil
vezes piores, o poder irá corrompê-los, porque é isso que ele faz, ele corrompe a todos,
eles esquecerão porque é que lutaram.

−− Não tenha assim tanta à certeza...


−− E o que eles farão comigo? −− Arenek continuou como se não tivesse ouvido o que
Yara disse. −− Você acha mesmo que irão me julgar de acordo ao seu censo de justiça ou
na base da vingança? Deixa-me contar o que irá de acontecer eles irão ignorar o seu
206
censo de justiça que choram sabe por quê? Por que não existe justiça daquele que foi
oprimido para o seu opressor.
Yara não disse nada, por mais que adorasse responder a isso, sabia que lá bem lá no
fundo, Arenek tinha razão.

−− Sabe o mais engraçado nisso é que o seu namorado está planejando invadir a Casa
Real −− Ele riu como se isso fosse à coisa mais engraçada já dita.

−− Como?...

−− Como eu sei disso? −− Disse a olhando. −− Eu tenho as minhas fontes.

−− O que você vai fazer?!

−− O que eu irei fazer? Espere para ver −− Disse indo para a porta. −− Ah, mim quase
esqueceu... Deseje-me sorte!

−− Uma última pergunta. −− Disse Yara impedindo Arenek de sair. −− Como você
conseguiu manter o Regime por tanto tempo?

−− Dê de comer a um cão, e ele será fiel a você pelo resto de sua vida. −− Dito isso ele
saiu deixando Yara reflectiva.

−− Como você acha que Arenek descobriu a verdade sobre ele? −− Victor perguntou a
Carlos, eles estavam na sala de comando após a reunião. −− Como você acha que ele
descobriu? Você acha que ele descobriu sem mais nem menos? −− Victor perguntou
erguendo as sobrancelhas em questão.

Carlos andava de um lado para o outro com a mão sobre o queixo pensando nos
milhares de possibilidades que poderiam existir e por melhores que elas sejam as opções
em que ele estava pensando só existia uma que fazia sentido para tudo.

−− Como isso é possível? −− Carlos perguntou parando de andar e chegando perto da


mesa. −− Quem seria capaz de fazer isso?

−− Eu não sei... só sei que não devemos confiar em ninguém, só sei que não podemos
confiar em absolutamente ninguém. −− Disse decidido.

−− E qual é o teu plano? −− Carlos perguntou sentando-se. −− Imagino que tenhas um


plano para essa situação. −− Disse com os cotovelos apoiados na mesa esperando o que
ele iria de falar.

Dois dias depois...

Estava chovendo, as nuvens negras de chuva acobertavam o céu, a luz do sol lutava para
penetrar entre as nuvens, o ambiente estava tenso e húmido, milhares de soldados da
Resistência estavam prontos para a batalha, usavam armadas de cores azuis
representando o céu azul que os dá a esperança de mais um dia para viver lutando.

207
Eles se encontravam tensos, a água batia em seus capacetes lentamente enquanto eles
respiravam pesadamente, prontos para morrer para trazer paz e a liberdade que tanto
ansiavam, o campo de batalha era uma vasta colina verde, a relva daninha crescia
lentamente pelo solo fértil da montanha enquanto o sol lá no horizonte lutava para
penetrar entre as nuvens e iluminar a colina.

Victor estava à frente deles liderando o pequeno, mais destemido exército, os riscos eram
tão grandes, o risco de isso for um grande fiasco.

A sua frente, estava o exército de Arenek (com Arenek ao comando) completamente


surpreendido por vê-los eles fazendo tamanha estupidez sabendo que são bem menores
que eles. Victor olhava para eles com determinação, de seguida olhou para Carlos que
se encontrava bem atrás dele que assentiu em resposta, Victor virou o seu olhar
olhando para o exército inimigo sem medo, disposto a ir até ao fim.

−− “Hoje, é o dia mais importante das nossas vidas”. −− Começou Victor por dizer, a
sua voz era ouvida por todo o exército resistente, todos se encontravam em silencio
ouvindo o grande discurso antes da grande batalha. −− “Hoje é o dia em que decidimos
o nosso destino e quem nós queremos ser”

−− “Eu sei que vocês estão com medo, eu sei que não queriam estar aqui, acreditem, eu
realmente sei”. −− Victor continuou a falar. −− “Mas nós hoje não lutaremos por nós,
lutaremos pelos nossos filhos e mulheres que se encontram em casa rezando por nós,
hoje nós lutaremos pela justiça e pela liberdade que nos é negada, lutaremos por uma
terra melhor, onde possamos viver em liberdade e sem medo algum”!

−− “Arenek planeja apagar a nossa existência de Arlandor. Ele planeja matar-nos a


todos nós”. −− Ele fez uma pausa curta e continuou a falar. −− “Mas eu digo, se ele
planeja fazer então nós lutaremos, lutaremos até ao fim, até não restar nada para além
de sombras e ossos! Porque nós somos a Resistência! Lutamos contra a opressão e o
opressor”!

−− “Os livros de histórias contarão sobre esse dia, de como um pequeno exército
venceu um exército de milhares de homens vencendo a opressão e conquistando a paz
na Tribo do Ar!” −− Gritou com firmeza na voz.

−− Ayambé! Ayambé! Ayambé! −− Todo o exército iniciou gritando o cântico de guerra


da Resistência.

. −− Resistentes! Preparem vossas armas, porque hoje... Morreremos no inferno! −−


Ele ergueu a sua espada ao alto e gritou: −− Atacaaaaarrrr! −− Ele pôr-se a correr, à
medida que todo o exército o acompanhava para a batalha. Carlos transformou-se em
uma águia e saiu voando para fora da batalha.

O exército de Arenek não se moveu, em vês disso ficou esperando as ordens do seu
líder, este que por sua vez estava a frentes deles imóvel usando a sua armadura e a sua
longa e mortal espada quando começou a falar.

208
−− “Eles acham que têm forças para nos enfrentar” −− Começou a Arenek por falar, a
sua voz se ouvia por todo o seu exército. −− ““ Eles se acham soldados! Mas nós os
mostraremos o contrário, eles são um bando de escuteiros que acham que se acham
capazes de nos enfrentar! ””.

−− “Ao contrário deles, nós somos soldados! Nós sabemos o que é lutar, o que é
vencer!” −− Ele virou-se olhando os seus soldados, todos com a expressão séria e
rígida. −− ―Guerreiros!... Saquem as armas!”. −− Todos os seus soldados sacaram as
armas ao mesmo tempo a erguendo ao alto.

−− “Matem todos os que respirarem perto de vocês sem excepção de ninguém, não
sobrarão vestígios de que um dia eles existiram por aqui!” −− Disse desaforado. −−
“Preparem os canhões”... −− Os canhões foram sendo preparados. −− “Apontar... −−
Disse apontando com a espada em direcção ao exército da Resistência que corria
bravamente pronto para a derradeira luta. −−... E fogo”! −− As balas foram disparadas e
voaram a incrível velocidade, atingido o exército resistente em um golpe tremendo
derrubando vários soldados e matando outros.

Lá do alto, Carlos via toda a guerra a medida que se afastava cada vez mais.

−− Quando o nosso exército estiver no campo de batalha. −− Disse Victor respondendo a


pergunta de Carlos. −− Quando eu acabar de fazer o discurso tu irá entrar em acção, a tua
missão será de ir para Casa Real, que nessa altura estará desprotegida... Eu não posso
enviar ninguém até saber quem é o espião por isso eu conto contigo para isso.

O exército resistente continuava correndo destemido a medida que muitos morriam


sendo atingidos por canhões, o exército de Arenek sacou os seus arcos e flechas e
disparou em uma grande chuva de flechas pelo céu, as flechas voavam e atingiam os
resistentes em vários sítios, uns na cara, outros no peito e outros na perna, os atingidos
gritavam de dor mas não desistiam de lutar.

Carlos voava rapidamente se esquivando das flechas e dos canhões que eram
disparados, voava com tanta agilidade e velocidade não queria ser atingido por nada
enquanto voava.

Finalmente o exército resistente exército conseguiu se chocar com o exército de Arenek,


foi uma luta sem igual os dois exércitos lutavam bravamente com as suas espadas,
lanças e mais outras armas, alguns dos dois exércitos transformaram-se em seus Chin e
levaram a batalha nos céus, Carlos deu de caras com um do exército inimigo que subia
para o alto como um míssil e apanhou desprevenido o atacando em pleno ar o
arranhando as suas asas, Carlos olhou para ela, ele estava sangrando olhou para o alto
procurando quem fez isso e viu se escondendo entre as nuvens escuras parecendo um
míssil voando a grande velocidade.

Carlos mergulhou baixando a sua altitude, queria levar a luta para baixo de onde o
poderia ver bem, o inimigo abaixou mergulhando a grande velocidade com as asas
encolhidas e com o bico para baixo ele voou até aonde Carlos estava tentando o apanhar

209
mais uma vez desprevenido, quase se chocando com ele, Carlos virou abruptamente
fazendo com ele errasse o alvo, enquanto o inimigo passava por entre eles, Carlos
enquanto virava se transformou em um gorila e o apanhou em pleno ar segurando as
suas pernas e depois o restante do corpo enquanto caiam a uma grande altitude, Carlos
continuou apertando o inimigo (enquanto esse se debatia ferozmente) com força
quebrando as suas asas e o jogou para baixo onde caiu com um estrondo ao se
transformar de volta em humano, Carlos se transformou de volta em águia antes que
atingisse o solo e saiu voando até a Casa Real.

Carlos sabia por aonde ir, a voz de Victor ainda entoava pela sua mente o dando
instruções do que fazer ao chegar lá.

−− A Casa Real tem vários sítios por isso quando chegares lá... −− Disse Victor a Carlos
enquanto via o mapa da Casa Real sobe a mesa. −− Vai directo para as masmorras, que
ficam no subsolo na área mais restrita e protegida da Casa, eu tenho a certeza que Yara
estará lá.

Carlos pousou no prédio do outro lado da Casa por onde Victor o espionava e ficou
analisando a Casa, a segurança tinha sido reforçada notava-se pelos guardas a porta e no
telhado armados até os dentes, a janela do seu quarto assim como as restantes tinham
sido substituída por janelas de ferro, transformando a Casa numa real fortaleza, ele
olhava atentamente estudando uma forma de entrar na Casa, coisa difícil de fazer nessa
altura.

Foi então que viu uma falha, o sistema de ventilação, a única área que não estava
protegida, ele voou até a Casa, transformou-se um rato e entrou pelos túneis andando
sorrateiramente por entre eles, enquanto andava deu de caras com um túnel que descia o
bom de ser um Yedi, é que você pode se transformar no que quiser, ele transformou-se
em uma formiga e desceu calmamente pelo túnel.

Chegando ao fim do túnel ele deu de caras com uma saída, o túnel conduzia
directamente para as masmorras, Carlos saltou do túnel transformou-se em uma mosca e
saiu voando, à medida que ele voava deu de cara com várias celas (as portas das celas
eram todas elas de ferro, por fora só existia um pequeno circulo por cima de onde se
podia ver o interior da cela, o que estava dentro da cela não conseguia ver o exterior) as
primeiras estavam fechadas outras estavam ocupadas, ocupadas por membros da
resistência, ladroes, assassinos ou qualquer um que discordava do Regime de Arenek,
todos eles, o destino era ali.

Os seus ocupantes estavam desnutridos com a cara de que não comiam nada a dias ou a
meses mesmo, tinham a expressão de cansaço no rosto e o corpo magro, estavam tão
magros que os seus ossos se marcavam na pele, as suas costas estavam marcadas por
feridas de chicotes, feridas que não curavam porque os guardas não permitiam, todos os
dias eles davam com chicotes, e os queimavam com olho quente queimado misturado
com vinagre, alguns só usavam a roupa interior para os proteger do frio das masmorras.

210
Ele temia se Yara também passava por essas coisas, mas não viu nenhuma mulher
nessas celas, passava por entre os corredores chegando até a uma ala em que tinha uma
placa coloca em cima em que estava escrito: Mulheres.

Ele andava olhando entre os corredores a procura de Yara, foi então que a viu, na última
cela a direita do corredor, ela estava lá, deitada olhando para o teto, uma sensação e
felicidade e alivio o invadiu, ele sorriu por vê-la bem e sem nenhum arranhão visível
que preocupasse assim tanto.

O corredor em que ele se encontrava estava vazio sem nenhum guarda ou câmara que
pudesse vigiar, ele transformou-se de volta em humano, à porta abria-se girando uma
manivela, ele iniciou por girando a manivela (ele não conseguia ver Yara de dentro, não
era alto o bastante) o que chamou a atenção de Yara que se escondeu ao lado da porta
para tentar surpreender quem quer que fosse que estava tentando abrir a porta.

Ele girou a manivela rapidamente, abrindo a porta assim que entrou na cela e foi
surpreendido por um pontapé na barriga da parte de Yara.

−− Auu! −− Exclamou ajoelhando-se e pegando na barriga.

−− Carlos! Você está bem? −− Disse Yara vindo em seu auxilio percebendo que era
Carlos.

−− Estou perfeitamente bem. −− Respondeu irónico. −− O que você acha?!

−− Que tu demoraste muito. −− Respondeu ela cruzando os braços.

−− Demorei em que sentido? −− Perguntou ele. −− Quês que eu vá embora?

−− É melhor a gente ir embora daqui. −− Disse Yara a ele o ajudando a levantar-se.

−− Não sabia que você tinha um pontapé tão forte. −− Disse Carlos a olhando
directamente nos olhos.

−− Agora já sabes...

−− Me lembre de nunca lutar com você. −− Disse arrastando-se para fora da cela.

−− Assim farei.

Saindo da cela, eles estavam no corredor quando Yara perguntou a Carlos:

−− Como sairemos daqui?

−− Sinceramente... Eu não pensei nisso. −− Respondeu sincero. −− Tens algum plano?

−− Tenho... −− Disse de uma forma suspeito.

Victor corria pelo campo de batalha lutando e vencendo os soldados de Arenek, a luta se
desenrolava ao redor de forma violenta e mortal, ele estava à procura de Arenek, queria
enfrenta-lo, se ele vencesse Arenek a luta estaria ganha, ao seu lado ele viu um dos
211
soldados da Resistência ser atingido por uma flecha ao peito e cair ao chão morto, ele
olhou para essa cena todo arrepiado e foi então que viu Arenek, massacrando o exército
Resistente como se fosse um bando de amadores lutando, ele olhou para a cena arrepiante
e com raiva por ver os seus amigos sendo massacrado desse jeito então ele aproximou-se
ficando próximo dele e gritou o seu nome alto e em bom som.

−− Arenek! −− Arenek virou-se ao ouvir o seu nome ser entoado e deu de caras com
Victor que o olhava com a expressão cheia de determinação, Arenek o olhou com
aquela expressão cruel no rosto, ao redor deles os outros guerreiros formaram um
circulo mantendo eles dois no centro, todo mundo queria ver a luta. −− Finalmente nos
encontramos!

−− Então é você! −− Disse Arenek não acreditando no que via. −− O pirralho por quem
os meus homens tremem. −− Ele riu alto achando isso a coisa mais engraçada que
existe, os seus homens o acompanharam rindo junto com ele.

−− Tu não me conheces...

−− Não. Tu é que não me conhece rapaz. −− Arenek tomou a palavra. −− Você se acha
um líder? Você se acha o grande salvador? Aquele que trará a justiça para todos? −− Ele
riu achando uma grande piada até para ele. −− Tu não és nada... és só um simples garoto
armado em herói.

−− Estás enganado numa coisa... −− Disse sacando a sua espada e contemplando-a −−


Eu não sou um simples garoto. −− Ele correu até Arenek pronto para o enfrentar.
Arenek ergueu a espada o esperando

Victor investiu por cima, Arenek travou o seu ataque, as duas espadas se chocaram
deixando-os frente a frente com o outro, Victor olhava para a Arenek com os dentes
semicerrados e a expressão furiosa no rosto, Arenek o jogou para trás ele cambaleou
apoiou-se no seu pé direito e investiu outra vez, Arenek esquivou-se da investida e com
a espada em mãos ele golpeou bem na face de Victor.

Victor passou a mão na face, ele estava sangrando na bochecha, a espada de Arenek
estava manchado de sangue na ponta, Victor correu em mais uma investida, Arenek
permaneceu parado o esperando, ele atacou por baixo, Arenek travou o ataque, colocou
a sua perna direita atrás se apoiando nela ganhou impulso e contra atacou passando ao
lado de Victor e golpeou a cintura de Victor.

Victor virou-se rapidamente e deu de caras com um ataque de Arenek que o feriu o seu
peito em um golpe, Victor caiu ao chão lamacento sujado o seu belo rosto com lama, à
espada de Arenek estava toda ensanguentada ele olhou para Victor com um sorriso
cruel no rosto e disse para ele:

−− Eu te disse que tu eras só um garoto.


Victor levantou-se do chão abruptamente com a raiva o dominando e continuou a lutar
com mais determinação que antes.

212
Carlos e Yara corriam pelos corredores procurando por uma saída, ao seu redor um
motim causado por eles se desenrolava com os prisioneiros se vingando dos guardas, o
plano de Yara era simples, libertar todos os prisioneiros e enquanto os guardas
mantinham-se ocupados com os prisioneiros, eles poderiam escapar.

Os dois esgueiravam-se pelos corredores esquivando-se das lutas violentas que


decorriam e esquivando-se dos guardas que os tentavam captura-los, eles conseguiram
chegar até as escadas que davam acesso a Cova, subiram por ela rapidamente saindo às
pressas da Cova, chegaram até uma porta de ferro pesada, Carlos inclinou-se até ela
empurrando-a e a abrindo devagarinho, atrás da porta não estava ninguém, todos os
guardas tinham sido chamados para tentar controlar o motim que estava decorrendo.

Ele saiu primeiro e de seguida Yara, deixaram a porta entreaberta para os que
desejassem sair da Cova e subiram ao telhado que se encontrava vazio, Carlos
transformou-se na águia gigante, Yara subiu as suas costas e saíram voando indo em
direcção ao campo de batalha.

Enquanto voava pelo campo de batalha, Carlos viu um rapazinho correndo pelo campo,
usando a sua supervisão de águia, ele o reconheceu como sendo Shasta carregando
Mickey em seus ombros, Shasta corria de um lado para o outro socorrendo os soldados
feridos da Resistência enquanto a luta violenta se desenrolava ao redor, Mickey desceu
dos ombros de Shasta obedecendo a uma ordem dele de ir ver outros feridos já que
Mickey também tinha conhecimento em medicina, Carlos mergulhou para baixo indo ao
seu encontro, mas não conseguiu chegar a tempo antes de uma grande explosão jogar
Shasta ao longe em grande estrondo, assim que Mickey ouviu e viu a explosão ele
correu até onde Shasta foi parar.

Carlos aterrou ao chão, Yara desceu das suas costas, ele voltou à forma humana e correu
até onde Shasta estava chegando até ele ajoelhou-se e segurou a cabeça e o as costas em
seu colo, sangue saia da sua boca descontroladamente, o seu corpo estava todo
queimado e a roupa rasgada.

−− Shasta! −− Chamou Carlos dando palmadinhas para o seu rosto, ele acordou de
súbito e viu Carlos e Mickey o olhando.

−− Carlos! −− Tossiu e mais sangue saiu de sua boca. −− E... Euuu vo...vou
mo...mo...rrer −− Ele tremia descontroladamente, o seu corpo estava todo arrepiado e a
sua respiração toda pesada.

−− Não, tu não vás Shasta. Hoje não! −− Disse Carlos com a voz firme.

−− E... euuu que...quero q...ue m...e pro...prome... me...tas uma…uma co…co...coi...sa.


−− Disse Shasta ignorando o que Carlos acabara de dizer, ele tinha a certeza de que
seria o seu fim.
−− O que? −− Perguntou Carlos.

−− Cuide do Mickey. −− Sussurrou olhando para Mickey. −− Eu te amo cara −− Dito


isso, a sua cabeça baixou lentamente até tocar o chão, um vento forte soprou batendo
213
em seu corpo anunciando o que ninguém queria ouvir, Shasta estava morto, Mickey
pôs-se a chorar e jogou-se ao corpo de Shasta o abraçando pela última vez ele gostava
demais de Shasta, os dois era a dupla inseparável.

Carlos fechou os olhos mortos de Shasta levantou-se lentamente colocando o corpo no


chão, aceitando a triste verdade, ele gostava dele, era um bom garoto não merecia ter
esse final tão horrível.

No outro lado, Victor continuava lutando bravamente contra Arenek, ele não queria
desistir, estava mais motivado que nunca, a luta decorria sobre os olhares atentos dos
soldados dos dois exércitos que tinham parado de lutar para ver essa grande luta, Victor
transpirava pesadamente enquanto tentava desferir mais um golpe em Arenek, o seu
corpo estava todo marcado pela espada de Arenek.

A luta se tornava mais intensa com Victor a ripostar e travando um ataque feroz de
Arenek e o ferindo no abdómen com a espada o perfurando ficando toda ela
ensanguentada de seguida acertou-o em um pontapé acrobático em sua face.

Arenek caiu ao chão a espada voando ao longe, dominado pela raiva Victor ergueu a
espada pronto para dar o golpe final, e naquele instante em que ele se preparava para o
golpe algo aconteceu com ele, de repente percebeu o que estava fazendo, ele não era
assim cego e dominado pela raiva, não era um assassino, ele sabia que não era assim
que conseguiria a justiça que tanto ansiava, sabia que desse jeito ele estaria sendo outro
Arenek.

Victor não conseguiu finalizar a investida, em vês disso ficou olhando para Arenek
(derrotado no chão e pegando no seu ferimento no abdómen) com um olhar fixo e a
respiração pesada a espera que ele o atacasse de surpresa.

−− Eu não sou assim. −− Proferiu Victor entre suspiros deixando cair à espada. −− Eu
não sou como você. −− Disse se dirigindo directamente a Arenek estendido ao chão. −−
Eu conheço... A justiça. −− Arenek assentiu e recostou-se ao chão admitindo a sua
derrota, o seu exército seguiu o seu exemplo e atiraram as armas ao chão, a chuva parou
e os primeiros raios de sol iluminaram Victor e Arenek, era um novo dia em Arlandor, e
uma nova esperança estava surgindo.

214
Uma nova era em Arlandor
“Aprender é a única coisa de que a mente nunca se cansa, nunca tem medo e nunca se
arrepende” − Leonardo da Vinci.

Após a batalha em Arlandor, Arenek e mais outros grandes nomes do seu regime foram
levados ao julgamento, os julgamentos de todos eles estavam sempre cheios de pessoas
furiosas que somente pediam a cabeça de Arenek para ficarem satisfeita, achavam que
isso era a melhor forma de pedir justiça pelo monstro que ele era.

−− Morte a Arenek! Morte a Arenek! Morte a Arenek! −− Gritavam no tribunal fazendo


uma grande confusão que o juiz do caso pediu para que todos saíssem, sem sucesso
porque ninguém aceitou sair.

Victor que tinha ao seu lado Carlos (que carregava consigo Mickey nos ombros) e Yara
que olhava apreensiva para o público, decidiu pôr-se em pé e falar alto e em bom som
para que todos os que estavam ali presentes ouvissem, ele começou por dizer o seguinte:

−− Eu sei que vocês estão zangados. Acreditem vocês eu sei. Mas se nos deixamos levar
pelos nossos sentimentos do que pela real justiça, então todas as vezes que falamos
sobre implementar justiça e democracia outra vez em Arlandor será em vão, a nossa luta
será tudo em vão, me digam... É isso que vocês querem? Seguir as pisadas de Arenek e
transformarem-se num povo cruel e sem escrúpulos? Ou querem seguir o bom senso da
justiça e transformarem-se num povo íntegro e correcto? −− Dito essas palavras ele
sentou-se, as palavras pareciam ter mexido com as pessoas ao redor porque todas elas
cochichavam entre si e acenavam a cabeça em concordância.

De seguida o representante da multidão levantou-se e disse a todos ali presentes:

−− Ouvimos as palavras de Victor, e o que nós povo de Arlandor, membros da Tribo de


Água queremos dizer... É que concordamos com ela, nós não queremos ser conhecidos
como um povo vingativo e bárbaro, queremos ser um povo correcto e com boas acções
e intenções, por isso imploramos que a justiça seja feita e que todos os membros do
anterior regime sejam julgados com base na verdadeira lei. Obrigado. −− Dito isso ele
voltou a sentar, seguiu-se um grande aplauso e o juiz voltou a falar.

No final, Arenek foi condenado a prisão perpetua por todos os crimes que ele cometeu,
e os restantes membros do anterior regime receberam penas que variam entre os 100 aos
350 anos de prisão, a população toda saiu festiva da sala do julgamento após ouvirem o
veredicto final.

Lá fora ouve uma grande mudança de visual na cidade, todas as bandeiras e símbolos do
regime de Arenek foram queimadas e substituídas pela antiga bandeira da Tribo do Ar,
a que está uma águia dourada voando com os braços esticados.

Foram também queimadas todas as imagens de Arenek assim como de membros da sua
ditadura, os prisioneiros que estiveram contra o regime de Arenek e foram presos por
isso foram libertos, e aos seus apoiantes fanáticos foi lhes oferecido à oportunidade de
mudarem de lado, de começarem do zero com todos os seus crimes perdoados, coisa
215
que eles receberam como sendo um total insulto, por isso preferiram manter-se
apoiantes incondicionais de Arenek, recusando a oferta de Victor, sem mais opção pela
frente eles foram banidos de Arlandor para nunca mais retornarem.

O clima gótico e sombrio que pairava sobre a cidade aos poucos começou a
desaparecer, novo leis foram criadas leis que garantiriam que Arlandor nunca deveria
passar por mais um regime ditador como esse e pela primeira vez foi criado em
Arlandor a Assembleia Constitucional, na qual deputados votavam e discutiam sobre o
que era melhor para o povo e também se realizaram as primeiras eleições democráticas
da era pós-Arenek, na qual Victor, sem surpresas algumas foi escolhido como o novo
Líder da Tribo do Ar conquistando a maiorias dos votos sem nenhuma abstenção ou um
voto contra.

Como em Animândia não se pode investir ou aprovar um novo líder de uma das tribos
sem a presença de uma alta figura da realeza e, bem, Carlos era uma alta figura da
realeza, já que era príncipe directo na linha de sucessão ao trono, ele serviu como
testemunha na investidura de Victor como o novo Líder da Tribo do Ar e assinou o seu
nome dando a permissão para que Victor se tornasse o mais novo Líder.

A mudança súbita de poder em Arlandor abalou a todos os animanos já que Victor


enviou uma carta para todos os líderes animanos explicando o que acontecia em
Arlandor em todos esses anos, detalhe por detalhe, as barbaridades que os Arenek vêem
cometendo durante todos esses anos de terror, ninguém esperava que pudesse existir um
regime desses em Animândia e que ninguém fora de Arlandor tivesse dado conta da sua
existência.

Mudou também em Arlandor as regras do quotidiano a que os cidadãos tinham de


cumprir, como o recolher obrigatório, não ousar falar mal de Arenek ou do regime,
fazer sempre o símbolo do regime como saudações e entre outros... Uma das coisas que
mais sofreu alteração foi na escola, antes só ensinavam tudo o que fosse relacionado ao
regime e em como ele era grandioso, pois tornava a Tribo do Ar forte e poderosa, agora
com o fim do regime tudo mudou voltando ao que se ensinava em Animândia em geral.

Após essas e mais outras mudanças, a Tribo do Ar voltou a ser um lugar acessível
permitindo assim de que pessoas de outros locais pudessem entrar em Arlandor
ganhando assim mais diversidade na sua população.

Após ficarem por uns tempos e de puderem testemunhar as mudanças positivas que
Arlandor sofreu após a derrota de Arenek, Carlos achava que já estava na hora de partir
e seguir viagem.

−− Obrigado pela sua visita Carlos −− Disse Victor assim que Carlos o abordou sobre o
assunto de partirem. −− Acho que sem você nós não teríamos vencido Arenek.
−− Acho que não... −− Carlos respondeu. −− Eu tenho a certeza que tu o vencerias. −−
Victor colocou aquela expressão de satisfação no rosto agradecendo por ouvir aquelas
palavras.

216
−− Mas... Não deixo de agradecer pela sua ajuda −− Respondeu Victor. −− É melhor
irmos, Yara deve estar te esperando. −− Disse se virando para sair da Casa Real.

Os dois saíram da Casa Real e foram ao encontro de Yara que os esperava juntamente
com Mickey fora do edifício da Casa, eles continuaram andando até chegarem ao pé de
uma grande multidão que tinha se reunido para uma grande despedida para eles, a
multidão toda cantarolava em sinal de agradecimento e esperando que eles voltam mais
vezes, Carlos riu de felicidade ao ver essa cena, nunca pensou ver o povo que tinha sido
oprimido tão feliz.

−− Muito obrigado! −− Dizia Carlos enquanto atravessava a multidão todo felizardo.

−− Já pensou como iremos descer a montanha? −− Yara perguntou caminhando bem ao


seu lado.

−− Não sei, também estou pensando como. −− Carlos respondeu.

−− Não se preocupe, eu tenho a solução. −− Victor intrometeu-se os mostrando os dois


planadores que se encontravam no final do cominho.

−− Fixe! −− Disse Carlos entusiasmado, sempre quis voar em um planador.

−− Não existe outra forma de descer a montanha? −− Yara perguntou inquieta e não
gostando nada dessa ideia.

−− O que? Essa é a melhor ideia que existe −− Carlos respondeu todo entusiasmado e
felizardo colocando o seu capacete.

−− É que eu... −− Disse Yara desesperadamente procurando desesperadamente uma


palavra para usar. −− Não gosto de planadores. −− Respondeu usando a primeira
desculpa que surgiu na sua mente. Carlos retirou o capacete e foi até ela.

−− Posso falar contigo? −− Perguntou Carlos sério, eles se afastaram um pouco para
poderem falar. −− O que se passa? Porque esse receio?

−− É que eu nunca fiz isso. −− Respondeu indicando para o planador.

−− E você acha que eu já fiz? −− Rebateu Carlos.

−− Bem... Você... Está −− Disse desesperadamente procurando as palavras certas,


enquanto Carlos a concentrava directamente nos olhos −− tão entusiasmado que achei
que tu...

−− Há quanto tempo me conheces? −− Perguntou Carlos. −− Tempo suficiente para


saberes o quanto eu não sei de algo. −− Respondeu ele.

217
−− O que? Você também nunca andou nisso? −− Perguntou incrédula.

−− Claro que não. −− Respondeu obviamente. −− Mas eu irei lá e irei tentar até
conseguir, porque eu sempre quis andar nisso. −− Respondeu com um sorriso no rosto e
andando até o planador. −− E não irei sem você. −− Disse decidido.

Ela suspirou profundamente e foi ao encontro de Carlos. E juntos, eles montaram em


seus planadores.

−− Quase me esqueci de algo. −− Disse Carlos a Victor, ele levou a mão ao bolso e
retirou o pergaminho que o mago o deu. −− Podes assinar aqui? −− Disse entregando o
pergaminho a Victor que o leu sorriu e assinou o seu nome e o devolveu a Carlos. −−
Algum conselho antes de irmos?
−− Nós pensamos que existe uma passagem secreta na montanha que cruza ela, se vocês
conseguirem encontra-la, talvez vocês irão conseguir reduzir o tempo da viagem em
dois dias ou menos.

−− Obrigado Victor.

−− Imagina... Eu que agradeço. −− Respondeu Victor acenando com a cabeça.

Eles montaram em seus planadores olharam-se um para o outro, nervosos e


entusiasmados.

−− Estás preparada? −− Carlos a perguntou, ele levando consigo Mickey que exprimiu o
desejo de sair de Arlandor.

−− Não. −− Disse com um sorriso fingido no rosto.

Eles saltaram descendo e voando pelas montanhas além, seguindo o vento frio que
passava por entre seus cabelos.

218
Escalando a Montanha mais Alta
“A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original” −
Oliver Wendell Holmes Sr.

Após a grande aventura em Arlandor, Carlos, Yara e o pequeno Mickey nos ombros de
Carlos, encontravam-se esgotados escalando a Montanha mais Alta, estavam
agasalhados com enormes casados para evitar que morressem congelados, em geral
morriam mais pessoas nas Montanhas Geladas do que em qualquer outro lugar, os
corpos eram bastante conservados, quem morresse congelado, por exemplo, há 100
anos, parecia que só tinha morrido há um dia, nível de conservação que montanha
oferecia era surpreendente, era um cemitério gelado e sobreviver a ela não era tarefa
fácil a se fazer.

Já que contornar a montanha demoraria mais tempo do que atravessá-la ao meio,


quando eles partiram de Arlândia tinham lhes dito que na Montanha mais Alta existia
um túnel construído pelos Vettorianos para facilitar a sua deslocação.

A grande prioridade era encontrar o túnel e poder descansar, Carlos pensava que seria
algo fácil só não contava que a natureza pudesse tramá-los. Assim que andaram por
alguns quilómetros, começou uma forte nevasca, que os obrigou a andarem mais
depressa para procurar uma gruta, após encontrarem uma pequena gruta, Yara tentou
abrir o seu cantil de água, mas a água que estava dentro dele estava congelada, frustrada
ela atirou o cantil ao longe.

As coisas só voltaram a piorar quando no dia seguinte voltaram a andar e uma


avalancha abateu-se sobre eles obrigando-os a correr naquele frio capaz de congelar o
corpo de qualquer humano.

Após andarem na neve por três dias e sem verem nenhum sinal do túnel eles ficaram
sem esperança de saírem de lá vivos, antes seus passos eram cheios de entusiasmo agora
pareciam caracóis andando sem nenhum propósito, a neve expressa no chão atrasava os
seus movimentos.

Mickey tinha se encolhido nas vestes que Carlos usava evitando que congelasse depois
do que aconteceu em Arlândia, ele tinha sorte em estar vivo, pensar em Arlândia só
trazia lembranças ruins como a morte prematura de Shasta, apesar de conhecê-lo por
pouco tempo ele se viu em Shasta, um garoto alegre e com grandes sonhos prontos para
começar a realiza-los por ironia do destino, ambos não conseguiram realizar os seus
sonhos, o sonho de Carlos era ser piloto de aviões.

Ele estudou tanto de aviões quando ele era pequeno que quase conseguia pilotar um
pequeno avião, só algumas aulas práticas que já estaria apto para o serviço, nunca
pensasse que ele teria a responsabilidade ajudar a salvar uma Tribo inteira e melhor,
nunca pensou estar em Animândia.

219
Ele suspirou contente por estar ali, a neve era tão branca, linda, fina e suave. Quando se
vive num país como Angola, um país predominante quente, a gente só vê neve na
televisão, se não neve é só coisa dos nossos pensamentos, um angolano normalmente só
a vê quando tem dinheiro suficiente para sair do poder ou então nunca mesmo, mas nós
nos contentamos com as belas praias que temos e com o verão basicamente ser todo o
ano.

Era a primeira vez que Carlos via neve e era a primeira vez que pisava nela, ele riu
contente de realizar tal ato. Yara virou-se o olhando com a testa contraída que dizia
―sério isso‖?

−− O que foi? −− Carlos a perguntou.

−− Parece que nunca viste neve. −− Respondeu, Carlos olhou para baixo não sabendo o
que falar. −− Espera aí você nunca viu?! −− Yara reagiu com a expressão de surpresa
estampada em seu semblante e riu.

−− Não é preciso rir tanto assim. −− Carlos resmungou.

−− Em que mundo vive para nunca ver neve?

−− No meu país a gente tem o verão o ano todo −− Rebateu.

−− Entendi... Bem tu podes aproveitar ver a neve aqui. −− Disse virando para frente não
parando de rir.

Carlos abaixou-se tocando na neve fresca com as mãos cobertas de luvas, formando
uma pequena bola de neve, as suas mãos estavam tão frescas que ele poderia congelar
uma lata de refrigerante só a tocando, ele atirou a bola nas costas de Yara, ela parou de
andar virou-se com a expressão zangada e cheia de terror.

−− Porque você fez isso?! −− Gritou frustrada andando em direcção a ele. Yara nervosa
chegava a dar medo, Carlos realmente ficou assustado.

−− Eu sempre quis fazer isso. −− Respondeu nervoso.

−− Ah é... sempre? −− Ela abaixou-se formando uma bola de neve pôs-se de pé. −−
Então tome esse sempre! −− Ela atirou a bola bem na sua cara. Ela riu de tal feito.

−− Ei! Assim não vale. −− Ele atirou de novo. Mickey vendo isso soltou um resmungo e
voltou a dormir confortando-se no peito de Carlos.

Eles continuaram fazendo isso até o sol se pôr, sempre com grandes sorrisos no rosto,
ao fazerem isso eles esqueceram-se dos problemas que tinham e naquele momento o
que importou mais para eles eram os seus sorrisos, a sua felicidade, o seus desejos
profundos de poderem rir para a sempre, foi tão bom eles esquecerem-se dos problemas
por uns instantes momentos.

Quando o seu se pôs, altura em que estavam completamente esgotados, eles estavam
numa pequena gruta que por acaso Mickey encontrou, Yara tinha feito a fogueira com
220
alguns paus que encontrou por acaso na gruta, há dias que nenhum deles via fogo e
naqueles momentos na montanha, fogo era a coisa mais valiosa que eles poderiam ter
ou desejar.

−− Nunca pensei que veria o fogo novamente! −− Calos comentou tremendo de frio e
recostando-se ao pé da fogueira.

Mickey que tinha passado todo o dia dormindo, fazia uma pequena dancinha ao pé da
fogueira celebrando e agradecendo a existência do fogo, era engraçado ver um macaco
dançando. Depois do longo e difícil dia que tiveram, Yara achou por bem deitar-se
cedo, para ganhar energia para amanhã.

No dia seguinte eles estavam se aproximando perto de onde estaria a suposta passagem
secreta quando o pior aconteceu desde que começaram a escalar a montanha, eles
estavam andando sobre um pequeno lago coberto por uma pequena camada de gelo fino,
coisa que eles não sabiam por esta estar coberta de um pequeno manto de neve.

Carlos que andava sempre atrás tinha os pés pesados, a respiração fresca, da sua boca só
saía fumaça, estava mais frio do que nos outros dias. Carlos deu um passo pesado e o
seu pé entrou na água gelada;

−− Ah! −− Ele tentou tirar o outro pé mais esses também acabou entrando junto com a
sua cintura. Yara virou-se o olhando e não pode acreditar no que via.

−− O que aconteceu? −− Perguntou se aproximando lentamente.

−− Eu não sei, estava andando e meu pé afundou.

−− Consegues sair?

−− Não! Se eu pudesse não deveria sair dessa água gelada? −− Gritou mal-humorado e
irritado.

−− Deixa então eu te ajudar. −− Falou se aproximando cada vez mais.

−− Espere... não pise aí! −− Alertou esticando os braços, mas era tarde demais porque
onde ela estava o gelo também quebrou a fazendo entrar, Mickey que estava andando em
seu ombro durante esse tempo todo saltou bem antes dela entrar no lago.

−− Ah... Está frio! −− Disse fazendo uma careta de profundo desagrado. O lago não era
fundo por causa das intensas nevascas que ocorreram na montanha nesse ano, o nível de
água do lago diminuiu bastante, a maioria ficou congelada, a água só os chegava até a
cintura.

−− Eu tentei avisar. −− Falou cruzando os braços.

−− Tentar? Depois de eu cair no gelo? −− Gritou irritada.

−− Pelo menos tentei... −− Disse desviando o olhar.

221
−− Ta certo, precisamos sair daqui imediatamente.

−− Como?

−− Você pode transformar-se em um pássaro e sei lá sair voando.

−− E como retiro você daí? Esqueceu que toda essa camada é de gelo fino e que não
sustenta o nosso peso? −− Ela franziu a testa pensando num plano melhor até que uma
ideia completamente louca veio a cabeça.

−− Eu tenho uma ideia, uma ideia muito louca, mas acho que irá funcionar.

−− Manda ver. −− Disse prestando atenção nas palavras dela.

O plano era esse: Yara iria se transformar no seu Chin, uma raposa e ia entrar nas aguas
geladas e enquanto Carlos se transformava numa foca, a puxaria passando por baixo da
camada fina de gelo e logo depois mergulharia ate a superfície fazendo força para o gelo
quebrar e saírem logo do outro lado, longe da zona do perigo.

O Plano era muito doido, louco e arriscado de muitas formas porquê: Número um: tinha
grande chances de Yara morrer afogada ou os dois morrerem congelados ou de
hipotermia;

Número dois: o plano tinha muitas formas de falhar, desde Carlos bater na superfície de
gelo em baixo pode ser que a sua força não seja forte o suficiente da agúe e levar consigo
Yara a morrer por ficar muito tempo debaixo da agua gelada. Em suma era um plano
muito arriscado, mas de momento não tinham outro e eles não poderiam ficar mais
tempo no lago se não congelariam e seriam somente mais uma estatística no numero de
mortos da Montanha mais Alta.

−− Você quer que eu faça isso? −− Disse tentando entender mesmo bem o que ela havia
dito.

−− Sim...

−− Você sabe que esse plano é doido né? Sabes isso?

−− Sei... Mas tens alguma ideia melhorar? −− Ela ergueu as sobrancelhas a espera do
que ele dissesse, mas ele não disse nada.

−− Confesso que não, mas não quero morrer como um picolé. −− Grunhiu.

−− Você vai fazer isso ou não? −− Perguntou sem paciência na voz.

−− Eu vou só estou me concentrando. −− Ele suspirou e inspirou se concentrando


naquele que seria conhecido como o Plano mais gelado de sempre. −− Agora! −− Disse
para ela, ela transformou-se numa raposa e sustém a respiração e afundou no lago.

Carlos transformou-se numa foca e nadou para o lago a segurando indo velozmente
para frente, comparando ao ser humano na água gelada, ser foca era bem melhor e a
222
água fresca não parecia assim ser tão desagradável quase chegando na zona onde a
camada fina acabava, ele mergulhou para baixo ganhando velocidade, e nadando juntos
eles saíram do Lago voando.

Eles aterraram perto dali, voltado as suas formas normais, Yara cuspia toda a água que
tivera inalado, Carlos estava sentado com os pés esticados, estava exausto, com frio e
cansado, os dois ainda estavam molhados e tremiam ligeiramente, depois de nadarem
em água gelada não a quem não treme, Mickey veio cambaleando até eles com um
sorriso por vê-los bem.

−− Pre... Preci... samos sa... Sair da...qui −− Yara gaguejou tremendo toda de frio.

Carlos pôs-se de pé, estava todo congelado, o seu nariz e os seus olhos estavam
vermelhos, estava constipado e tremendo todo.

−− Eu... Eu te di... sse q... Que o pla... Plano e... ra má i....de...ia −− Gaguejou.

O pior não podia esperar, enquanto eles arrastavam-se pela montanha, uma forte
nevasca abateu-se sobre eles, os obrigando a ficarem sentados no meio da neve. Yara
estava sentada com a cabeça apoiada no peito dele e abraçava segurando no seu ombro,
sentindo o calor confortável um do outro evitando que congelasse rapidamente, ela
podia sentir a respiração pesada e ofegante dos dois. Sentir o vento frio de a montanha
navegar pelos seus corpos, aquele calor era a única coisa que os mantinha vivos, era a
única fonte de esperança que os restava, era a motivação que os mantinha vivos que os
mantinha acreditando que talvez consigam sobreviver a neve gelada.

−− Carlos! −− Yara o chamou com a sua voz fraca.

−− Sim? −− Respondeu devagar.

−− Vo... Você a... ch...a que va...mos mo...rrer? −− Uma lágrima saiu dos seus olhos,
enquanto a lágrima circulava pela sua face ela transformou-se em gelo.

−− Nã...o não f...o...i ass...im qu...e ima...gi...nei a mi...min...ha mor...te.

−− E co...mo vo...você ima...ima...ginou?

−− E...u es...ta...rei dei...dei...ta...do vem...vendo o li...ndo pôr d...o sol d...e Ani...
Animân...Animândia e...e ouvi...ndo vo...cê can...tar!

−− Por... que e....ssa i...ma...gi...na...ção?

−− Por... que e...u gos...to d...a tu...a vo...z, e d...o lin...do pô...r d...o sol d...e
Ani...mân...dia!

−− Q...ue bom! −− Após Yara dizer isso, tudo ficou extremamente calmo, nem Mickey
o macaco que não conseguia ficar quieto falou algo, a neve continuou cobrindo eles,
com frio, fome e desesperados e sem forças para andar eles ficaram assim abraçadinhos
um com outro enquanto a neve os cobria completamente acabando com toda a luz de
esperança que os restava.
223
O Reino dos Yetis
“Nenhum médico é capaz de curar a cegueira da mente”

Carlos acordou abruptamente estava numa cama confortável feita de palha, olhou para
cima e via o teto rochoso, estava numa caverna, estava desorientado e confuso, não
sabia como vinha ali parar ou o que estava fazendo, levantou devagar se sentando na
cama, reparou que estava usando novas roupas, roupas que o ficavam um pouco grandes
e largas nas mangas, olhou ao redor e viu Yara deitada em outra cama ao lado.

A sua cabeça latejava, não conseguindo lembrar-se do que aconteceu, a última coisa que
ele se lembrava foi de estar congelando na neve com Yara ao seu lado e Mickey,
deuses! Agora que pensava nisso reparou que não havia nenhum sinal do macaco, como
se tivesse sumido −− onde poderia estar ele? −− Pensou olhando ao redor e mesmo
assim não o viu.

Saiu da cama devagarinho sem fazer nenhum barulho e caminhou indo em direcção a
cama de Yara para acordá-la, no meio do trajecto ouviu o que parecia sendo vozes indo
em sua direcção, depressa voltou para cama e fingiu-se de inconsciente.

A voz entrou pelo buraco na parede que servia de porta e tapado com cortinas, e calou,
aproximou-se de Carlos cantarolando e tocou a sua testa, era uma mão macia e peluda e
grande, os dedos cobriam toda a cara dele, a criatura tirou as suas mãos de Carlos e
caminhou até a cama de Yara onde fez a mesma coisa.

Carlos entreabriu os olhos para ver quem era e para a sua surpresa deu de caras com
uma criatura de pelagem branca como a neve, ele não conseguia ver a cara da mesma
porque estava de costas para ele, a criatura pareceu virar-se, ele fechou os olhos
evitando que a mesma visse que ele já estava acordado.

Ele abriu um pouco os olhos, o suficiente para ver a cara da criatura, era um grande e
belo Yeti de olhos azuis-claros e a pelagem tão branca como a neve, era tão lindo. Ele
não conseguiu resistir e acabou abrindo os olhos completamente.

Ele olhava apreensivo para o yeti sem piscar os olhos e admirando a sua beleza e não
demonstrando sinais de medo, sabia que em Animândia viviam um monte de criaturas
mágicas e mitos do nosso mundo, só não imaginava que existissem também yeti, a
criatura concentrou o seu olhar nos pequenos olhos de Carlos, comparando aos dele de
Yeti e ronronou sentindo-se satisfeito por ver Carlos acordado.

O yeti caminhou até a porta do quarto pronto para sair.

−− Espere! −− Carlos exclamou tentando impedi-lo. −− Não vá! −− O yeti o olhou


colocou aquela expressão que parecia ser um sorriso acenou a cabeça e saiu do quarto.

Após o yeti sair do quarto, Carlos continuou pensando no yeti, era tão bom velo, sentia-
se bem, a um ditado animano que diz: “Quem procura um yeti, encontra a paz e quem
vê um sorriso de um, encontra a felicidade”. Talvez esse ditado seja verdade, porque
era essa a sensação que ele sentia paz e felicidade.
224
No mesmo instante Yara gemeu, ele se levantou caminhou até a cama dela, ela era tão
linda quando dormia, lentamente ela abriu os olhos e deu de caras com Carlos a olhando.

−− Oi! −− Disse Carlos assim que ela abriu os olhos.

−− O que aconteceu? −− Perguntou ela devagar. −− Onde estamos?

−− Eu não sei onde estamos, mas você não vai acreditar no que eu vi! −− Falou
entusiasmado para contá-la a grande novidade.

−− E no que você viu?

−− Eu vi um yeti! −− Respondeu sorrindo. A expressão no rosto de Yara mudou


consideravelmente, de cansaço para surpresa e terror.

−− Você viu um que? −− Perguntou assustada levantando-se rapidamente.

−− Um yeti, qual é o problema? −− Carlos perguntou não entendendo o porquê de ela


assustar-se tanto assim com o fato de ele ver um yeti.

−− Isso é impossível, os Yetis estão extintos e eles são criaturas perigosas Carlos!

−− Extintos? Parece que não estão mais −− Carlos sorriu, Yara o olhou com uma careta.
−− E eles não são nada perigosos. −− Negou com toda a certeza.

−− E como é que sabes que não são?

−− Eu simplesmente sei, além do mais se eles fossem assim tão perigosos eles não
teriam salvado a nossa vida. −− Rebateu na defensiva.

−− Talvez... Tenham nos salvado... Para nos comer vivos ou algo assim −− Respondeu
procurando argumentos validos. −− Você nunca leu nenhum livro de história sobre os
yeti? Vocês sabem o que eles fizeram ou fazem contra nós animanos?

−− Não, e não preciso saber, eu não julgo alguém ou algo pelo passado. −− Disse
caminhando até a porta.

−− O que tu está fazendo? −− Disse ficando a frente dele.

−− Eu irei procurar o yeti que eu vi. −− Respondeu decidido. −− E você não pode me
impedir.

−− Tu és louco?

−− Desde há muito tempo. −− Respondeu passando por ela e indo procurar o yeti.

−− Eu irei com você.


Eles saíram do quarto, deram de cara com um longo corredor iluminado por tochas,
Carlos seguiu por onde a voz tinha vindo seguindo o sentido contrário por onde o
corredor ia, eles andaram fazendo o mínimo de barulho possível, não queriam chamar a
atenção de ninguém.

225
−− Você já se perguntou onde estamos? −− Yara questionou.

−− De acordo com essas grutas, e pela ausência da luz solar e de acordo a nossa
respiração um pouco pesada, eu diria que estamos dentro de uma grande montanha alta.
−− Carlos deduziu, ele sabia mais sobre grutas desde que veio aparecer em uma quando
foi transportado pelo Colar de Yasmin em seu pescoço, que por mais inacreditável que
seja nunca saiu de lá ou caiu, afinal era um colar mágico.

−− Como sabes?

−− É uma longa história... −− Respondeu não querendo entrar em detalhes sobre o seu
conhecimento em espeleologia e encerrando a conversa.

Eles continuaram andando descendo o corredor em direcção à pequena luz que surgia
bem no fim do corredor, eles continuaram andando até chegarem ao fim do corredor.

Olharam boquiabertos com o que viram, a caverna não era só uma caverna, era um
sistema complexo de grutas ligadas entre si era um mundo de Yetis, a gruta em que eles
vieram continuava indo para a esquerda ou pela direita através de uma ponte rochosa, as
escadas desciam entre si em espiral para baixo, sempre conectados com uma gruta,
Carlos olhou para cima e notou uma pequena abertura no topo onde a luz do sol debatia-
se para poder entrar, a sua frente, uma grande estátua de um Yeti (com os músculos
levantados e rugindo ferozmente) erguia-se do chão até onde os dois estavam à estátua
era tão alta e grande como a Estátua da Liberdade.

Em baixo, milhares de Yetis andavam livremente e sem se preocuparem que dois


animanos andassem em sua casa.

−− Uau, esse lugar é incrível! −− Carlos disse contemplando o lugar.

−− É mesmo, nunca pensei que um lugar desses pudesse existir! −− Yara disse olhando
ao redor com os olhos iluminados.

Eles ficaram assim contemplando o lugar por uns segundos quando a sua trás surgiu
um som que Carlos reconheceu de imediato, ele virou-se depressa animado quando o
mesmo Yeti que viu na caverna estava os olhando com seus longos e lindos olhos azuis,
o Yeti estava com os joelhos dobrados e os longos braços peludos tocando o chão, todos
os Yeti andavam assim como se engatinhassem.

−− É um Yeti! Um Yeti de verdade! −− Disse Yara tremendo de medo.

O Yeti acenou a cabeça para eles, e virou-se de costas e começou a andar. Carlos o
seguiu.
−− Para onde vás?! −− Yara perguntou.

−− Ele está nos chamando Yara. −− Carlos disse. −− E eu pretendo descobrir o porque
disso. −− Carlos respondeu continuando a andar, Yara não teve outra alternativa a não
ser segui-lo.

226
O yeti continuou andando de volta pelo corredor em que eles vieram dessa vez passou o
quarto em que Carlos e Yara estavam, continuou andando até curvar na primeira saída a
esquerda, andaram mais um pouco e o yeti voltou a curvar para esquerda, eles deram de
cara com uma linda sala iluminada por tochas colocadas na parede, no centro da sala
existia uma longa mesa com 20 lugares, a mesa estava decorada e várias variedades de
comida estavam na mesa desde um grande peru até bolo de chocolate, parecendo que
era o natal, os assentos eram grandes do tamanho de um yeti e as almofadas eram rosas.

O yeti acenou para a mesa.

−− Acho que ele quer que nos sentemos a mesa. −− Carlos comentou. Ele caminhou até
a mesa e sentou-se ao lado do bolo de chocolate, que por acaso ficava bem ao lado do
assento principal dianteiro. Yara sentou-se ao seu lado.

−− Agora és tradutor de ―yetinês‖?

−− Que língua é essa, yetinês? −− Perguntou rindo.

−− A língua dos yeti.

−− Arranja um nome melhor que yetinês, por favor! −− Disse ainda rindo.

No mesmo instante um Yeti ainda maior que o primeiro apareceu saindo de outra porta
da qual eles tinham vindo, tinha a pelagem também branca como a neve e os olhos
cinzentos, esse (ao contrario do outro ou outra) era mais musculoso e forte tinha o olhar
sério, caminhou até eles e sentou-se no assento dianteiro ao lado de Carlos.

O yeti os encarou sem praguejar os seus grandes olhos, Carlos não piscou os olhos e
com muito esforço não demonstrou sinais de nervosismos ou de medo, já Yara tremia
de medo, a sua respiração estava pesada revirava os olhos olhando ao redor apavorada,
estava ansiosa por sair dali, essa era a única coisa que ela queria e queria tanto tinha
fobia de yeti, Carlos, sentindo o medo dela pegou na sua mão e juntou-a com a sua e
sussurrou em seu ouvido: ―Está tudo bem! Respire! Respire!‖ ela pouco a pouco
regulou a sua respiração acalmando-se pouco a pouco, era mais difícil quando se tem
crises de ansiedade.

−− Vocês dois devem ser Carlos e Yara, imagino, eu sou Ja’el o Líder dos Yetis. −−
Carlos e Yara estranharam-se pelo yeti saber falar sua língua. −− O que foi? Surpresos
por falar a vossa língua?

−− Como...? −− Foi apenas o que Carlos conseguiu dizer.

−− É uma história muito longa, mas resumindo, Enos ensinou-nos.

227
−− Enos? O nosso Enos? O mago? −− Carlos perguntou.

−− Sim, esse mesmo. −− Carlos olhou para Yara com a expressão de profunda surpresa
e admiração, o que mais Enos estava escondendo deles e sobretudo de outros animanos.

−− Uma pergunta. −− Yara disse a Ja’el, ele a olhou esperando que ela continuasse. −−
Quando eu era criança ouvi histórias de que os yetis foram... −− Hesitou, temia que
falar a próxima palavra caísse mal para ele.

−− Extintos? Sim, nós quase fomos extintos claro. −− Respondeu um tanto melancólico.

−− Então o que aconteceu? −− Yara perguntou curiosa. −− Eu nunca entendi o motivo


da guerra ente Yetis contra animanos.

−− Espera aí, houve uma guerra entre os Yeti e os humanos? −− Carlos interrompeu
não entendendo.

−− Sim houve e foi o motivo de nós vivermos escondidos. −− Já’el começou por dizer.
−− Há muito tempo, os animanos e os Yeti viviam em paz e em harmonia, um yeti podia
andar em qualquer lugar sem nenhum medo de ser morto e os animanos podiam andar
pelas montanhas sem nenhum medo de serem atacados, quando meu avô, Já’oki subiu
ao trono e traçou uma aliança com os animanos de paz e cooperação, alguns outros
yetis não gostaram disso, nesse meio estava Ka’len, a quem meu avô tinha ordenado
como o seu general principal. −− Ele fez uma pausa se servindo de um copo de um
líquido azul que Carlos não sabia o que era.

−− O que é isso? −− Perguntou olhando para o líquido.

−− Suco de guaranjeira, uma fruta que só cresce nessas montanhas. Quer


experimentar? −− Já’el respondeu.

−− Pode ser... −− Disse entregando o seu copo, Já’el o encheu e o devolveu, Carlos
provou um pouco do suco e era tão bom que ele acabou bebendo tudo. −− Isso é muito
bom! −− Yara tossiu o interrompendo antes que ele falasse mais algo, queria saber o que
acontecia depois.

−− O que aconteceu depois? −− Yara tomou a palavra.

−− Ka’len odiava os animanos, ele achava que os animanos só prejudicavam


Animândia e que deveria ser exterminado o mais rapidamente possível, ele achava que
esse acordo tornava os yetis fracos e inúteis. −− Respondeu bebendo mais um pouco do
suco de guaranjeira.

−− Então, secretamente ele criou um grupo com o objectivo de derrubar o meu avó do
poder, ele desafiou o meu avó para o Kat’Mohart, meu avó não poderia recusar a um
desafio como esse por isso aceitou a luta, com muito esforço ele derrotou o meu avó
que se encontrava fraco resultado do pequeno veneno que ele tinha posto na comida do
meu avó para o tornar lento, Ka’len prendeu meu avó para ver o seu próprio fracasso e
o sucesso que ele iria ter e que achava que os yeti mereciam.
228
−− O que é o Kat’Mo...Mohart? −− Carlos perguntou.

−− É um desafio que alguém faz ao chefe para poder assumir o poder. −− Yara bramiu.

−− A primeira coisa que Ka’len fez foi organizar as tropas e preparar um ataque a uma
vila animana aqui perto, foi um completo massacre, ele matou todos, homens, mulheres
e crianças, só deixou um para contar a historia, e deixou a mensagem de que a guerra
foi declarada contra os animanos. −− Disse com a voz triste, era triste contar o que
Ka’len fez aos animanos para os animanos sem ter aquele sentimento de tristeza e
arrependimento.

−− Quando o rei de Animândia soube do que aconteceu ele ficou tão irado que
convocou o Conselho Supremo de Animândia às pressas, que imediatamente
respondeu a declaração de guerra com um sim.

−− Meu pai me contou um pouco sobre a guerra, disse que foram anos negros para as
montanhas, ele tinha uns 12 anos na época, dizia sempre que a guerra mudou a vida dele.
−− Disse Yara.

−− E foram anos muito terríveis, nós estávamos quase a ser extintos e meu avô ainda
continuava preso, cada dia que passava ele estava mais fraco, a prisão faz mal a um
yeti. −− Disse Já’el acabando o seu copo de guaranjeira. −− E mesmo nós perdendo a
tão sonhada guerra, Ka’len não queria desistir, ele preferia morrer que desistir e
render-se aos animanos.

−− Naquela altura muito sangue yeti e animano fora derramado, a guerra tinha
chegado ao seu auge, nós os yeti por mais fortes que nós fôssemos estávamos sendo
eliminados pouco a pouco, não havia sinal de esperança para nós e Ka’len sabia disso,
mas ele recusava-se a acreditar, dizia sempre que uma hora ou outra os animanos
acabariam por desistir, ele até enviou uma carta para Nândia, ordenando que eles se
rendessem ou iriam surgir as piores consequências. −− Já’el continuou a falar.

−− Aproveitando-se da carta que Ka’len tinha enviado para Nândia, o novo recém-
eleito Mago de Animândia, um jovem de nome Enos marcou uma reunião com Ka’len
para discutir os termos de desistência dos animanos, o que era uma completa
armadilha.

−− Eu não sabia que Enos já era mago durante a guerra. −− Yara comentou um pouco
impressionada com a longevidade de Enos.

−− Quando Ka’len não estava olhando, Enos caminhou sorrateiramente até a prisão, e
foi até a sela onde estava o meu avô, ele disse ao meu avô quem ele era e disse que o
tiraria da sela se ele desafiasse Ka’len para um Kat’Mohart e que tinha de o vencer,
meu avô o perguntou se podia confiar nele e Enos respondeu, que se ele queria paz
teria de confiar nele próprio.

−− É mesmo o mago −− Carlos comentou com um sorriso torto no rosto.

−− O meu avô assim o fez, ele desafiou Ka’len para um Kat’Mohart e com muito
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sacrifício conseguiu vencê-lo, só que ao fazê-lo meu avô teve que mata-lo porque ele
não queria desistir da luta, todo o povo ficou feliz quando meu avô o venceu e
cantarolaram cânticos em seu nome.

−− Era tarde demais, porque os animanos não queriam desistir de verdade e meu avô
sabia bem disso ele entrou em pânico, não sabia o que fazer, mas Enos tinha um plano
é claro, o plano era ele iria construir uma nova casa para nós dentro da Montanha
mais Alta, lugar onde nenhum animano atrever-se-ia a colocar os pés e ele voltaria
para Nândia e levaria consigo o corpo de Ka’len e diria que conseguiu mata-lo a ele e
a todos os outros yeti terminando assim com a guerra e com a existência de yeti.

−− Em troca nós teríamos que esconder a nossa existência a qualquer custo do mundo,
por que os animanos não perdoariam tão facilmente os yeti depois do que fizeram, e
funcionou ele conseguiu salvar a nossa espécie, meu avô disse que “os Yeti estão
eternamente agradecidos com ele e qualquer coisa que precisasse era só pedir”.

−− Eu não acredito que Enos tenha feito isso! −− Disse Yara admirada e impressionada
com a história. −− Agora tudo faz sentido! O fato de não vermos mais yeti.

−− De vez em quando Enos vem nos visitar e ele ensinou animandês ao meu avô, que
ensinou ao meu pai e o meu que me ensinou. −− Já’el continuou a falar. −− Antes de
vocês saírem de Nândia, ele me disse que os dois provavelmente iriam passar pela
Montanha mais Alta e que iriam precisar de ajuda e me pediu pessoalmente para vos
ajudar, e aqui vocês estão.

−− Eu não acredito nisso, ele pensou em tudo! −− Disse Carlos também impressionado.
−− O meu respeito para ele aumentou mais!

−− E essa é a verdadeira história, eu vos peço que não contem a ninguém sobre a nossa
existência! −− Já’el pediu.

−− Pode deixar que a gente não conta, não é Yara? −− Disse olhando para ela
aguardando a sua confirmação, ela acenou com a cabeça, estava distraída olhando para
outra coisa.

No mesmo instante o yeti que tinha cuidado de Carlos e Yara voltou com Mickey em
seus ombros e sorrindo de felicidade.

−− Mickey! −− Carlos o chamou assim que o viu, Mickey desceu dos ombros do yeti e
correu até Carlos e o abraçou, Mickey estava começando a gostar de Carlos, agora era o
seu novo dono por isso tinha de se acostumar com ele.

−− Vocês já conhecem a Ma’rai.

−− Ma’rai? −− Carlos exclamou surpreso por ela ser uma yeti, todo esse tempo pensava
que era um yeti e não uma yeti.

−− Sim Ma’rai, ela cuidou de vocês, ela é a Líder Espiritual dos Yetis e é também a
minha mulher! −− Ma’rai acenou para eles e sentou-se ao lado do marido. −− Eu sei
230
que vocês estão esfomeados por isso se servem a vontade, tudo isso é para vocês. −−
Continuou falando e apontando a comida que estava a mesa. −− Quando terminarem
Ma’rai irá vos levar para os vossos aposentos −− Após falar isso, ele retirou-se da
mesa.

−− Mickey onde estiveste? Senti um pouco de saudades! −− Carlos disse a Mickey,


Mickey embrulhou as mãos, abriu-as e apareceu uma moeda animana, Carlos sorriu
após ver esse truque. −− Tens que me ensinar esses truques! −− Ele mexeu a mão e a
moeda desapareceu, esticou a mão até a orelha de Carlos e retirou de lá a moeda,
Mickey sorriu.

Após os momentos de truques eles jantaram e como na mesa tinha um grande bolo de
chocolate, ele devorou a maior parte e a outra deu a Yara, a outra bem menor
comparando com a dele, agora ela entendeu por que ele gostava tanto de bolo de
chocolate, realmente o bolo estava delicioso.

Após o jantar Ma’rai levou-os para os seus aposentos, diferente do lugar onde tinham
acordado o quarto em que eles estariam era uma espécie de suíte ao estilo yeti e
cavernosa, com uma cama de casal, ao pé da cama de casal tinha uma pequena poltrona
e outra cama de solteiro, e uma pequena rede, um braseiro que ficava no canto do
quarto, onde ficaria a chaminé, um guarda-roupa de madeira com roupas para os dois,
um grande tapete estava no chão que cobria todo o quarto e flores perfumadas colocadas
em um jarro com água, rosas para ser mais preciso posto por Ma’rai para dar mais
cheiro ao quarto, o chão era de roxa e revestimento de madeira, todas as coisas que eles
vieram com ele da viagem estava sobe a mesa do quarto, menos os casacos que estavam
pendurados em um cabide.

−− Acho que eu fico com a cama de casal. −− Disse Yara dirigindo-se a ela.

−− Tudo bem. −− Carlos correu até a cama de solteiro e saltou nela. −− É tão
confortável! −− Disse virando de um lado para o outro, a cama era tão macia que fazia
qualquer um dormir nela, qualquer um inclusive Mickey, que também tinha saltado para
a cama. −− Mickey concorda comigo.

Yara caminhou devagarinho até a cama de casal sentou-se nela e abaixou a cabeça.

−− Yara! −− Carlos a chamou, ela levantou a cabeça lentamente o olhando. −− Por que
é que tens tanto medo de yeti? −− Perguntou sentando-se e ansioso por ouvir o que ela
tinha a dizer, Mickey fez o mesmo.

−− Quando eu era criança meu pai me levou eu e o meu irmão Hugo a Tribo do Gelo,
numa tarde nós fomos esquiar nas Três Montanhas, eu queria me divertir mais, por isso
implorei para que fossemos a Montanha mais Alta, eu confesso que a sensação de estar
lá ao pé da montanha foi maravilhosa, sentir o vento frio em seus cabelos e a brisa
gelada refrescando o seu corpo foi uma experiência maravilhosa.

−− E? O que aconteceu depois?

231
−− Nós esquiamos por um bom tempo sem nenhum problema, então enquanto eu
esquiava, me separei do meu irmão e do meu pai, andei pela montanha inteira
procurando por eles, eu tentei voltar pelo caminho por aonde eu vim, mas sem sucesso,
eu estava perdida, eu era bem criança e não sabia como procurar por ajuda. −− Ela fez
uma pausa hesitando em continuar com a história, por fim cruzou os braços, baixou o
olhar e continuou a falar.

−− Eu já andava por algumas horas na montanha e o sol estava quase se pondo e o frio
só piorava, quando eu vi camuflado entre as neves um yeti, eu não conseguia acreditar
no que via, eu achava que eles estavam extintos, visto daquilo que nos ensinaram na
escola, mas eu vi um lindo e brilhante, yeti, eu me aproximei lentamente, enquanto me
aproximava meu coração batia rapidamente, a minha respiração estava tensa eu só
conseguia pensar em ver o seu lindo rosto.

−− Enquanto eu continuava avançando em silencio total, o yeti levantou as suas mãos,


estavam manchadas de sangue, eu gritei de medo, ele virou-se rapidamente e me olhou,
com a boca manchada de sangue e com um olhar que até hoje me aterroriza, um olhar
de arrepiar o corpo, ele correu até mim e usando as suas longas mãos ele me acertou em
um soco, eu cambaleei para trás batendo em uma parede e desabei no chão, eu ainda
estava consciente.

−− Ele correu até onde eu estava me segurou nas pernas me levantando ficando de
cabeça para baixou e bramiu ferozmente contra mim mostrando todos aqueles dentes
afiados, eu chorei horrorizada, eu só queria ter a chance de conhecer um yeti, tocar nos
seus pelos suaves, não satisfeito ele me jogou ao longe partindo a minha perna.

−− Depois daquele dia eu jurei treinar, me preparar, chegar até aos limites para nunca
mais sofrer um ataque daqueles e para estar preparada para um segundo ataque. −−
Disse limpando as lágrimas. −− E é por isso que eu tenho pavor de yeti, sempre que
vejo um a minha mente viaja até as memórias daquele fatídico dia.

Carlos levantou da sua cama e foi até a cama dela virou o seu rosto com as mãos, e um
sorriso de consolo e esperança passou pelo seu rosto e a abraçou dizendo:

−− “Na vida irás sempre passar por momentos difíceis, momentos que te fazem desistir,
mas tu tens que aprender a superá-los, isso te torna forte” −− Ele citou a própria mãe,
sua mãe falava sempre isso para ele para motivá-lo a seguir em frente sempre que surgia
uma dificuldade. −− Eu sei que é difícil ter medo de algo, eu já tive medo de… baratas.
−− Ela riu, achando graça do medo dele, ele também riu, é impossível não rir

−− Eu sei que é pateta ter medo de baratas, mas elas me arrepiavam e me assustavam,
tem um dia enquanto eu dormia uma barata subiu pelo meu corpo me mordendo eu saí
correndo da cama pela casa toda, minha mãe ao invés de me ajudar ficou me rindo a
noite toda.

−− O que querias que ela fizesse? Chamasse o ―Exterminador das baratas‖? −−


Perguntou rindo.

232
−− Sim, aquela experiência foi traumática para mim, eu era só um pobre garotinho
indefeso.

−− Carlos. Cale a boca... −− Disse não parando de rir.

−− Viu, funcionou... Quando vir um yeti, pensa na minha experiência com as baratas
assim o medo irá passar.

−− Você acha que a história da barata irá funcionar comigo? −− Questionou.

−− Tenho a certeza que vai. −− Carlos disse confiante. −− Se não funcionar você irás
me fazer um bolo! −− Falou entusiasmado, ela sorriu.

−− Sempre com o bolo?

−− Ainda estou a espera. −− Disse. −− Bem agora tenho de ir dormir, tive um dia cheio.
−− Ele beijou a testa dela. −− Boa noite! −− Se levantou e caminhou até a cama e
deitou-se nela. −− Antes que me esqueça, não conte a ninguém que eu tinha medo de
baratas.

−− Boa noite! −− Yara respondeu deitando-se.

Não demorou muito para Carlos pegar no sono, hoje não teve nenhum sonho estranho, o
que ele achou estranho não ter nenhum sonho estranho, que coisa complicada.

Carlos acordou, tinha tido um sono maravilhoso, um sono que não tinha há dias, a dias
que não dormia em uma cama tão confortável, poderia ficar ali deitado o dia todo, sem
problemas para ele, era tão confortável para não aproveitar cada momento, sentiu a brisa
fresca de neve da superfície penetrar o seu corpo confortando-o, apesar de viver em um
país de clima tropical quente ele gostava mais do frio.

Depois de ficar deitado por uns minutos só relaxando por fim saiu da cama, olhou para
cama de Mickey, ele ainda estava dormindo de seguida para a cama de Yara, ainda
estava dormindo, ela era tão linda dormindo, tão inocente não parecendo àquela garota
louca o suficiente capaz de enfiar uma espada no olho de um monstro marinho ou de
enfrentar um exército inteiro de ninjas assassinos perigosos ou enfrentar um ditador cara
a cara e sem medo, ou quaisquer outras loucuras que ela fez ou pudesse fazer, Carlos a
admirava e respeitava muito, sem ela ele já estaria morto há muito tempo.

Carlos caminhou até ao guarda-roupa tirou a roupa que ele usaria hoje, nada muito
especial e não muito exagerado, só uma calça jeans, um par de ténis, e uma camisa de
mangas compridas, e uma jaqueta preta, ontem durante o jantar com Já’el sentiu um
pouco de frio, por isso hoje queria prevenir-se, fechou o guarda-roupa e caminhou até ao
banheiro, tomou banho, há dias que não tomava um banho decente, por isso demorou
mais um pouco do que esperado, lavou os dentes, vestiu as roupas que escolheu e saiu do
banheiro.

Ele encontrou Yara acordada, sentada na cama com o semblante de profunda satisfação
e de alguém que tinha acabado de ter uma boa noite de sono, ela levantou os braços
233
espreguiçando e bocejando, estava tão de bom humor.

−− Bom dia! −− Disse Carlos assim que a viu.

−− Bom dia! −− Respondeu deveras aliviada. −− Porque estás acordado tão cedo? Para
onde vás?

−− Eu irei me encontrar com Já’el, ontem depois do jantar me disse que queria falar
comigo antes de nós sairmos daqui.

−− Sobre o que?

−− Não sei... Talvez do quanto eu seja maravilhoso! −− Disse com um sorriso


estampado em seu rosto.

−− Eu tenho a certeza de que não é isso. −− Disse Yara rindo.

−− Entretanto, hoje terá uma espécie de Mortal Combate aqui, talvez você queira ver −−
Carlos sugeriu. −− Será divertido ver Yetis lutando entre si.

−− Vou pensar no caso.

−− Enquanto tu pensas nisso, eu vou indo. −− Disse caminhando até a porta. −− Tchau!
Vemo-nos na luta! −− Falou entusiasmado saindo do quarto.

Carlos caminhou por entre os corredores, indo até onde Já’el o esperava.

−− Então Carlos, fala-me mais um pouco de você −− Disse Já’el, de lembrar que ele só
falava Animandês e a língua dos yeti, por isso tudo o que ele fala está em Animandês.
Eles estavam numa pequena varanda que tinha vista para fora da montanha −− Porque é
que Enos confia tanto em ti ao ponto de saber o nosso segredo, o que Enos vê de
especial em ti?

Essa era uma pergunta muito difícil para Carlos, nos primeiros segundos ele se limitou a
ficar calado, depois abrir a boca para responder quando pensava que uma ideia estava
surgindo na sua mente, mas depressa tornava a fechar quando via que a resposta não era
muito boa como parece, ―O que Enos vê de especial em tu?‖. Essa pergunta ficou
vagueando a sua mente a procura de uma resposta sincera, resposta essa que não
aparecia, parecia que cada vez mais que ele pensava no que responder, mais a resposta
ficava longe de ser alcançada, por fim resolveu ser o mais breve sincero possível.

−− Eu não sei... Essa é a verdade, eu não sei o que Enos vê em mim de especial para
confiar em mim um segredo tão grande como esse… eu só sou um garoto… um garoto
imaturo, alguém que não tem medo de mostrar quem é… talvez seja isso… talvez por eu
for quem eu sou… eu não sei. −− Já’el o encarou sem piscar o olhar, o olhando
directamente na sua alma.

−− Já sei por que ele te escolheu Carlos. −− Respondeu mansamente.

−− E porque ele me escolheu? −− Perguntou curioso e ansioso pela resposta.

234
−− Não cabe a eu responder, cabe a você próprio encontrar a resposta rapaz!

−− Ah... −− Grunhiu desanimado por não saber o que Enos vinha de especial nele.

−− Anima-te Carlos, na vida a tempo para todas as respostas, e um dia tu terás para
todas que afligem, até lá... Tenta não pensar muito nisso. −− Disse colocando a mão no
ombro dele.

−− Tens razão...

−− Eu soube que você abdicou do trono de Animândia, por que você fez isso? −− Já’el
perguntou num assunto que Carlos não gostava muito de falar.

−− Por que eu não estou pronto para ser rei, eu não sei ser um rei, eu não sei como
governar essa terra, não me sinto capaz de reinar...

−− O que te leva a pensar nisso? −− Já’el interrompeu contraindo as sobrancelhas. −−


Carlos, quando o meu pai estava morrendo, eu também não me sentia capaz de
governar os yeti, eu sempre fugi a essa responsabilidade, mas quando o momento me
chegou eu não fui capaz de evitar eu tive que assumir a liderança, eu não sou o melhor
rei do mundo, eu já cometi e cometerei erros, mas eu aprendo com eles, é isso que
significa ser um rei, você me diz que tu não estás pronto, ninguém nunca está pronto
para ser rei nem muito menos eu, e hoje sou o Rei dos Yeti.

−− Talvez tenhas razão... Mas tal como disseste, na hora certa eu irei subir ao trono.
−− Carlos respondeu, Já’el contraiu a expressão em tom de orgulho.

−− Imagino que vocês irão partir hoje? −− Já’el mudou de assunto.

−− Estávamos planejando assistir ao Kombatei e depois irmos. −− Carlos respondeu.

−− É uma óptima ideia, é melhor entrarmos antes que o torneio comece −− Disse Já’el,
eles entraram indo ver o torneio Kombatei.

235
O Torneio Kombatei
"A árvore, quando está sendo cortada, observa com tristeza que o cabo do machado é
de madeira". − Provérbio Árabe

−− Então do que conversaram? −− Yara perguntou a Carlos, eles estavam sentados nas
arquibancadas, propriamente no lugar especial onde Já’el ficava, lugar também mais alto
de onde se podia ver toda a arena, Mickey estava no ombro de Yara atento a tudo o que
se passava na arena, as luzes, as cores, a multidão eufórica deixavam seus olhos
hipnotizados.

−− Nada demais... −− Carlos respondeu.

−− Nada demais?! O Rei dos Yeti chamou você para conversar e você me diz ―nada
demais‖? −− Yara exclamou.

−− Está bem... Ele me perguntou por que é que Enos confiava em mim para saber o
segredo dos Yeti e também me perguntou por que eu abdiquei do trono.

−− Ah... Achei que fosse algo mais importante. −− Yara respondeu um pouco
decepcionada.

−− E isso não é importante? −− Carlos rebateu.

−− Silencio, está começando... −− Yara disse colocando o seu dedo entre os lábios dele.

O torneio estava começando, a arena estava lotada e o ambiente estava barulhento,


festivo semelhante ao jogo de Waterball em Caracol Dourado, só que aqui o ambiente
estava mais barulhento e festivo, de repente uns grupos de Yetis com batuques em mãos
giraram ao redor do circulo e começaram a tocar e entoando:

−− Aya’a Ba Bi Ya’ya! Aya’a Ba Bi Ya’ya! Aya’a Ba Bi Ya’ya!...

−− O que está acontecendo? −− Yara perguntou.

−− É uma prece para os nossos antepassados. −− Já’el respondeu. −− É um costume


muito antigo e espiritual, é muito importante para nós! −− Já’el respondeu.

Os yetis batuqueiros pararam de batucar e saíram da arena, de seguida um Yeti entrou


no meio do estádio, não levava consigo nenhum microfone olhou ao redor e começou a
falar em uma língua que Carlos e Yara não entendiam a Língua dos yeti, ou como Yara
fala Yetinês.

−− O que ele está falando? −− Carlos se perguntou confuso com a testa contraída
querendo desesperadamente entender o que ele dizia.

−− Acho que está falando yetinês −− Yara respondeu. Mickey riu, Yetinês era um nome
horrível até para ele para designar Língua dos Yeti. −− Do que você está rindo Mickey?

−− Eu te disse que o nome yetinês é horrível, e olha que eu não o único que acha isso. −−
Mickey não parava de rir, Carlos também sorriu ver um macaco sorrindo é contagiante
236
uma hora você acaba por rir.

−− Ah... Calem a boca os dois, eu quero entender o que ele está falando. −− Yara
repreendeu.

−− Ele está falando que, sejam bem-vindos a semifinal e final do Torneio Kombatei. −−
Já’el interrompeu traduzindo, Carlos e Yara olharam para ele curiosos que ele
continuasse traduzindo. −− Nessa noite teremos grandes lutas, quatro grandes irão
enfrentar-se disputando dois lugares na grande final e quem vencer será coroado como
o Novo Kombatei.

−− Tenho que aprender yetinês. −− Carlos disse a si mesmo baixinho para Yara não o
ouvisse falando, yetinês.

−− A primeira luta de hoje temos Thaken, o indestrutível! −− Já’el continuou


traduzindo, e no mesmo instante em que ele acabou de dizer isso, um grande yeti de
olhos laranja entrou na arena olhando de um lado para o outro mostrando os seus
enormes dentes e clamando por ovação, a plateia vibrou intensamente a sua chegada,
sem duvidas ele era um dos favoritos a vitória.

O yeti que estava apresentado continuou falando, suspirou fundo e falou alto e em bom
som para todos ouvirem o nome do próximo lutador, aquele que é considerado como um
dos melhores do seu tempo.

−− E agora demos a entrada do grande! O único! O incomparável! Aquele que é temido


em todas as montanhas! El Touro! −− Toda a plateia pôs se pé em sinal de ovação à
medida que El Touro entrava, ele era maior que Thaken, os seus músculos eram enormes,
tinha a expressão fechada e cruel, usava um cinto vermelho na cabeça, parecendo o
Rambo.

Os lutadores foram nas suas posições iniciais, a arena era uma circunferência, por isso
cada um ficava próximo à linha que terminava a arena, no Kombatei as regras eram
simples, não se podiam usar armas e quem saísse da linha que indicava o inicio da
arena perdia logo a luta, era proibido matar, existiam três rondas, quem vencesse o
maior numero de rondas vence a luta ou então se um deles desistir ou não conseguir
colocar-se em pé novamente.

−− Preparados? −− Disse o apresentador para os lutadores, eles confirmaram acenando


com a cabeça. −− Que a luta comece! −− O apresentador saiu o mais rápido possível da
arena antes que fosse esmagado.

−− Em quem você está torcendo? −− Yara perguntou aos dois.

−− Mickey e eu estamos torcendo para o de vermelho, ele tem mais chances de ganhar
e de vencer.

−− Como sabes a quem Mickey está torcendo para ele?


−− Mickey adora vermelho, por isso ele está torcendo para quem está usando vermelho,
não é verdade Mickey? −− Mickey concordou acenando com a cabeça. −− E você em
237
quem está apoiando?
−− Ainda estou esperando...

Os dois lutadores concentravam-se esperando quem fosse atacar primeiro, numa luta
nunca ataque primeiro sem primeiro conhecer o adversário, Thaken correu até El
Touro, investiu em um soco na sua face, El Touro para o soco só com uma mão, olha
para ele irritado e aperta a mão dele, Thaken tenta desesperadamente soltar-se, mas El
Touro tem as mãos duras como pedra, Thaken desfere outro golpe com a mão
esquerda, El Touro também trava esse e aperta à mão dele, El Touro larga as mãos
dele pega em seu pulso e o dá uma cabeçada na cabeça, ele recua para trás, o seu nariz
sangrando.

El Touro corre até ele e o desfere um soco na cara, Thaken cambaleou para trás, El
Touro desferiu outro golpe com outra mão, agarrou o braço seu braço o puxou até ele,
pegou na sua cabeça o puxou dando-o com o seu joelho bem no meio da sua, o pegou na
cintura o ergueu no ar enquanto o público e Mickey (que continuava imitando os
movimentos de El Touro) gritavam por mais violência, e o jogou ao chão
violentamente, Thaken se contorcia no chão, depois da surra que acabou de levar,
ninguém seria burro ao ponto de levantar do chão.

El Touro andava de um lado para o outro com as mãos esticadas e levantadas


apreciando a ovação do público, ele gostava daquilo, o público gritava para ele terminar
o que começou para acabar com Thaken de uma vez por todas. ―O vosso pedido é uma
ordem‖ falou a si mesmo baixinho. Ele andou devagar até onde Thaken estava
arrastando-se de barriga até a linha da arena, ele só queria desistir enquanto ainda havia
chance.

El Touro agarrou-o no seu pé e o puxou, Thaken gritou apavorado, El Touro começou o


girando pela arena o deixando tonto e com vontade de vomitar, até que o atirou para o
alto, ele caiu violentamente no chão, cuspia sangue e gemia de dor estava fraco e sem
forças para lutar, começava a se arrepender desse negocio de luta quando El Touro o
pegou o ergueu ao alto e o jogou contra o seu joelho partindo as suas costelas, ele
gritou de dor e El Touro o jogou fora da arena vencendo assim a luta. A plateia festejou
a vitória de El Touro cantando o seu nome.

Kombatei era assim violento, os lutadores eram como os gladiadores da Roma Antiga,
violentos e sem piedades nenhuma com o inimigo.

−− Nossa é muito violento! −− Carlos comentou todo arrepiado. −− Parece que são
gladiadores!

−− Digo o mesmo, nunca tinha visto uma luta como essa. −− Disse Yara −− coitado do
que foi derrotado!

−− Eu não desejaria estar numa luta assim. −− Disse imaginando como seria lutar contra
El Touro, ele sendo esmagado como uma barata, só de pensar nisso o seu corpo ficou
todo arrepiado.
238
−− Parece que a segunda luta está começando. −− Disse Yara.

A segunda luta da semifinal era entre o grande Gilion contra o novato Kai’el, um jovem
yeti que acha que pode ter sucesso no Torneio Kombatei, na verdade ele só entrou no
torneio para poder mostrar para o seu pai que ele vale alguma coisa já que o mesmo
vive o chamando de falhado e inútil, já Gilion era um lutador experiente, tão experiente
como El Touro, aliás, os dois entraram no mesmo ano no Kombatei, mas El Touro
venceu o maior numero de edições do que Gilion, os dois são rivais desde o tempo que
entraram e Gilion é um dos poucos que consegue vencer El Touro.

Os dois lutadores já estavam na arena prontos para enfrentarem-se, pronto para


garantirem um final na final e enfrentarem o grande El Touro.

O apito inicial foi soado iniciando assim a luta, os dois andavam de um lado para o
outro esperando quem atacasse primeiro, é claro que isso irritou o publico que gritava
furiosamente para que eles lutassem, incluindo Mickey que estava com a expressão
fechada, Gilion cedeu à pressão e correu até Kai’el, esse por sua vez conseguiu esquivar
do golpe certeiro, Gilion continuou as suas investidas e Kai’el continuava esquivando, o
público nas arquibancadas começou a chamar de covarde a Kai’el, ele sorriu, ele sabia o
que estava fazendo.

Kai’el correu a volta do campo com a expressão provocativa em Gilion, Gilion já estava
irritado com ele, Kai’el correu até Gilion, Gilion correu até Kai’el, quase se chocando,
Kai’el deslizou entre as pernas de Gilion, levantou-se rapidamente e deu um pontapé em
cheio na cara de Gilion, ele caiu ao chão, Kai’el sorriu confiante. Gilion pegou-o de
repente e o atirou ao longe, correu até ele e enquanto se levantava Gilion o acertou com
um soco bem na cara, ele caiu de novo ao chão.

Gilion virou-se para a plateia que entoava o seu nome, todo lutador do torneio amavam
quando a plateia entoava o seu nome, faz você se sentir importante, faz você se sentir
grande e o seu adversário pequeno, Kai’el cuspiu a terra que tinha comido, estava
irritado, não suportava passar tamanha humilhação, levantou-se rapidamente, Gilion
virou-se para ele, com um sorriso maldoso no rosto que dizia, ―eu vou matar você‖
Gilion correu até ele atacou com um golpe, Kai’el esquivou jogando-se ao lado, virou-
se rapidamente e deu um pontapé rasteiro para Gilion que caiu com a cabeça para baixo,
antes que ele se levantasse Kai’el deu uma cotovelada em suas costas.

Kai’el levantou-se rapidamente, ficando na posição de lutador, Gilion ficou de quatro,


Kai’el correu e chutou a cabeça dele, ele voltou a cair, Kai’el afastou-se dando-lhe
espaço para que se levantasse, Gilion levantou, cuspiu o sangue que estava em sua boca,
agora era ele que estava irritado, Kai’el sorriu o provocando ainda mais.
Gilion correu dando golpes contra Kai’el, este por sua vez esquivava a todos, o publico
mais uma vez gritava contra Kai’el o chamando de ―covarde‖ Kai’el não parava de
sorrir, Gilion estava ficando cansado de tanto desferir golpes inúteis.

Até que por fim, Gilion parou de desferir golpes, estava exausto, se os Yeti não
tivessem pêlos eu diria que ele transpirou bastante, a sua respiração estava pesada, ele
239
não conseguia mais mover os braços para atacar, foi aí que Kai’el aproveitou para dar
volta a luta, ele correu até Gilion saltou dando um golpe na sua cara, ele cambaleou para
trás, Kai’el desferiu vários golpes na barriga dele puxou a cabeça de Gilion o dando com
o seu cotovelo, Gilion recuou cuspindo sangue, Kai’el correu até ele, saltou rodopiando
no ar e o acertando com o seu pé na cara, Gilion cambaleou saindo da arena, onde caiu
no chão inconsciente.

Todo o público ficou de boca aberta, ninguém esperava que Kai’el vencesse essa luta,
ninguém apostou nele para vencer, ninguém mesmo, nem mesmo o pai dele que achava
que o filho seria massacrado por Gilion, todos achavam o mesmo que ele, Kai’el
conseguiu calar a boca de todo o mundo, ele sorriu por isso e fez uma reverencia saindo
da arena.

O apresentador voltou a arena anunciando os finalistas do Kombatei e falando que a


final iniciaria daqui a pouco e de seguida saiu da arena.

Alguns minutos depois a luta estava quase começando, o apresentador voltou ao palco e
anunciou os finalistas à medida que eles entravam na arena e de seguida saiu.

−− Eu aposto que El Touro irá vencer ele facilmente. −− Carlos comentou com toda a
certeza.

−− Eu não teria assim tanta certeza. −− Disse Yara com os olhos fixos na arena.

−− Podes crer que sim. −− Carlos respondeu ainda mais convencido.

−− Estás assim tão convencido. −− Ela virou o olhar olhando directamente nos olhos dele
−− Que tal apostarmos?

−− Apostar?!

−− O que foi? Se tu estás assim tão seguro, porque é que estás com medo? −− Disse o
provocando.

−− Está bem, que tal... 10 anilares?

−− Eu não aposto abaixo de 100. −− Yara respondeu com um sorriso torto e provocativo
no rosto.

−− Então... 100 anilares.

−− 100? Que tal?... 10000?

−− 10000?... −− Ele hesitou pensando no que responder, sabia que a vitória era dele,
estava na manga, mas ao mesmo tempo se viu se perguntando onde tiraria 10000 anilares
para pagar se ele perdesse, ah... Ele esqueceu o fato de ele ser rico, sem conseguir travar
sua língua ele viu-se a responder −− Aceito.

A luta começou, Kai’el e El Touro estavam na arena, alinhados nas duas extremidades
da arena, esperando quem seria o primeiro a atacar, como sempre o público clamava por
acção, violência e sangue e El Touro foi o primeiro a atacar, ele correu até Kai’el,
240
Kai’el correu até ele, quase se chocando ele deslizou para baixo esquivando por pouco o
golpe certeiro, El Touro virou-se furioso, agarrou Kai’el e o atirou ao longe, Kai’el
cambaleou para bem perto do fim da arena.

Carlos olhou para Yara com um sorriso presunçoso no rosto que dizia: eu te avisei.
Kai’el levantou-se do chão cuspindo toda a areia que inalou, olhou para El Touro que se
vangloriava perante a multidão.

Kai’el levantou-se, com um sorriso torto no rosto que dizia: parece que não conseguiste
me vencer. Olhou para El Touro, que olhava para ele irritado por vê-lo em pé e com um
sorriso no rosto. El Touro correu até ele o dando um forte soco, Kai’el voltou
cambaleando para trás, El Touro se aproximou lentamente dele, enquanto ele se
levantava lentamente e o desferiu um chute na barriga, sangue saía da sua boca, estava
todo quebrado, era o que acontece quando você se mete com um dos yetis mais fortes de
Animândia.

Kai’el levantou disposto a mais uma última rodada, El Touro investiu em poderosos
socos e por mais inacreditável para todo o mundo Kai’el esquivava a todos e a outros
travava, todos ao redor ficaram admirados, excepto Yara que permaneceu indiferente.

El Touro desferiu um golpe contra a cabeça de Kai’el, ele esquivou-se ao soco


abaixando-se e desferiu um pontapé na perna de El Touro, e de seguida um soco no
queixo de El Touro, que cambaleou para trás, Kai’el correu fazendo movimentos
acrobáticos, saltou fazendo um rodopio no ar e o acertou com o seu pé num forte
pontapé, El Touro caiu ao chão imóvel.

Toda a plateia olhou para aquilo imóvel e pasma, Yara olhou para Carlos com um
sorriso presunçoso no rosto.

−− Viu... É assim que se faz. −− Carlos e Mickey olhavam para a cena completamente
em choque não acreditando que alguém como Kai’el venceria El Touro.

−− Não... Como isso é possível? −− Perguntou negando a realidade.

−− Quês mesmo saber? −− Yara perguntou de volta, ele a olhou e confirmou com a
cabeça. −− Foi simples, ele usou a inteligência... A primeira coisa que ele fez foi estudar
El Touro, estudou os seus golpes, os seus ataques, o seu tempo de resposta a cada
ataque, aí quando conseguiu entender tudo isso, ele iniciou o seu ataque vencendo
facilmente El Touro, a melhor coisa que se pode usar em uma luta é a inteligência. −−
Falou como se isso fosse à coisa mais simples do mundo.

−− Mas... Isso é impossível! −− Carlos exclamou não acreditando.

−− Parece que é sim possível −− Disse Yara acenando a cabeça saboreando a vitoria. −−
Acostume-se, estás me devendo 10000 anilares −− Disse com um sorriso no rosto e
levantando-se se retirando.

Após a luta, Já’el os convidou para uma última refeição, que aceitaram de bom grado, se
241
existia uma coisa ótima em que os yeti eram bons, era de cozinhar, isso eram autênticos
mestres, depois da refeição, carregadas de autênticos sorrisos, estava na hora deles
partirem e seguir viagem, em direcção a Gelo Branco, capital da Tribo do Gelo.

Eles saíram do Reino dos Yeti, a entrada era uma grande caverna mágica e protegida
por uma barreira invisível que mantinha a barreira igualmente invisível, se despediram
de Já’el que os fez prometer que não contariam a ninguém sobre a existência de Yetis,
feito isso eles seguiram viagem descendo a montanha, Já’el os deu casacos especiais
para protegê-los do frio intenso que se registrava naquela altura.

−− Ainda não consigo acreditar que El Touro. −− Disse Carlos negando-se a acreditar e
mexendo a cabeça em negação. Estavam descendo a Montanha até a cidade de Gelo
Branco.

−− Fazer o que? É a vida. −− Yara respondeu.

−− E que estou te devendo 10000 anilar.

−− Sobre isso... Não é preciso me pagar. −− Yara disse, ela carregava Mickey nos
ombros que decidiu dormir até encontrarem um sítio quente novamente.

−− O que? Como assim?

−− Carlos. Eu não preciso de dinheiro, eu nunca tive intenção de te cobrar.

−− Então porque apostaste comigo? −− Rebateu.

−− Para ti ensinar uma lição. −− Respondeu simplesmente.

−− Que lição?

−− Isso, você já sabe. −− Ela respondeu tirando Mickey dos seus ombros e o colocando
entre o seu peito para ficar bem quentinho. −− É melhor a gente se apressar... Vem aí
uma nevasca.

Eles continuaram descendo a montanha se aproximando cada vez mais de Gelo Branco
e afastando-se dos Reinos dos Yeti, olharam para traz uma ultima vez ainda sonhando
com tudo aquilo que aconteceu e imaginando que talvez seja parte de um sonho, um
sonho que desejariam tornar a repetir vezes sem conta.

242
O Dia de Animândia
“Nunca deixo de ter em mente que o simples fato de existir já é divertido” − Katharine
Hepburn.

Carlos, Yara e Mickey desciam a montanha com extrema cautela, há um dia que
desciam essa montanha desde que saíram do Reino dos Yeti não comiam nada de jeito,
nada que valesse a pena excepto neve e mais neve, os três tinham sobrevivido a uma
grande nevasca que os fez abrigarem-se em uma gruta ali perto, sem poderem fazer uma
fogueira Yara apanhou um forte resfriado que a obrigou passar a noite toda com alta
febre e tosse, ficaram naquela caverna até de manhã, altura em que a tempestade passou
e o estado de Yara melhorou um pouco.

Na manhã seguinte o pior aconteceu, enquanto estavam andando uma grande massa de
neve despenhou rapidamente e violentamente da encosta da montanha criando uma
avalancha apanhando-os de surpresa e os obrigando a correr rapidamente sem parar pelas
suas vidas.

Eles correram até estarem na beira de um precipício Yara ia frente, Carlos ia logo atrás
com a grande avalanche logo atrás dele, ele jogou-se ao lado evitando ser esmagado
pela avalanche que passou bem ao seu lado, Yara olhou para trás subitamente e viu a
avalanche logo atrás dela e sem saber por onde estava correndo a avalancha bateu nela
deixando ela cair no precipício.

Carlos aproximou-se da beira do precipício e viu Yara sentada na neve sem nenhum
arranhão e gritando para ele saltar, a camada de neve era tão extensa que parecia que
caiu em uma grande almofada, sem outra opção, Carlos saltou aterrando bem ao seu
lado.

Continuaram descendo a montanha quando eles tiveram o vislumbre da Cidade Branca


e das suas construções de iglus, os edifícios da Cidade Branca eram todos gigantes
iglus, a cidade tinha a forma circular com uma cúpula invisível os protegendo das
violentas nevascas que se registam naquele lugar, à noite os protegia dos animais
ferozes que existiam nas redondezas, o brilho do sol chocava na cúpula revelando a sua
silhueta invisível brilhando espantosamente.

Após descerem durante a manhã toda, eles finalmente se viram a frente dos portões
gelados da Cidade Branca, Carlos deu um passo à frente e tocou nele subitamente os
portões abriram-se, do outro lado estava Britus o Líder da Tribo do Gelo com aquele
sorriso indescritível estampado no rosto usando um volumoso casaco que deixava
marcado todos os seus músculos, acompanhando por dois guardas igualmente grandes.

−− Carlos! Que honra te receber aqui! −− Disse Britus todo entusiasmado o abraçando
fortemente, Carlos percebendo o entusiasmo de Britus sorriu.

−− Eu que estou honrado em estar aqui! −− Respondeu Carlos sorridente.


−− Ora essa. −− Disse sorrindo alto, ele olhou para o lado e notou a presença de Yara e do
pequeno Mickey, ele parou de rir e disse se dirigindo para ela: −− Como vai minha
243
ovem?
−− Eu estou bem senhor. −− Respondeu Yara de igual modo.

−− E como vai o pequenino...?

−− Mickey. −− Yara concluiu.

−− Certo, deve estar muito frio aqui fora, é melhor vocês entrarem −− Disse Britus os
convidando a entrar.

Eles entraram na Cidade Branca, as construções iglus davam um ar lindo à cidade, as


decorações e a neve branca davam um ar como se fossem cenas de Natal, as pessoas
toda da cidade andavam em volumosos casacos de pele se protegendo do estremo clima
gelado que se fazia sentir na cidade, tem dias em que a temperatura rondava uns 0º C
durante os dias normais, e durante o Inverno em que os dias eram cobertos por grandes
nevascas e o sol não nascia durante toda a estação à temperatura parava em -20º C, por
isso que durante o Verão e Outono os moradores preparavam já um numero
considerável de madeira para abrigá-los durante todo o Inverno.

Chegara o dia, os sinos tocavam por toda a cidade simbolizando o inicio daquele que é o
grande dia, Animândia estava em festa, às crianças dançavam nas ruas alegremente, os
músicos tocavam músicas festivas alegres, hoje o dia era bastante especial, era seis de
Agosto, o Dia de Animândia, o dia mais importante para todos aqueles que vivem em
Animândia, não só os animanos como também para outras espécies e animais.

Em comemoração ao Dia de Animândia, os cidadãos da Tribo do Gelo tinham decorado


as ruas com flores vindas de Chândia e fitas que diziam ―Feliz dia de Animândia!‖ nas
portas de suas casas, usavam cachecóis que também tinham esses dizeres estampados,
essa noite o céu estará iluminado pelos fogos de artifício que serão disparados ao céu
estrelado em toda Animândia.

Britus convidou a Carlos, Yara e até o pequeno Mickey ao seu Castelo Iglu, onde os três
mudaram de roupas e banharam em águas quentes e confortáveis, durante o jantar a
mesa estava cheia com os melhores alimentos que se podiam encontrar na Cidade
Branca.

−− Vocês sabiam que hoje é seis de Agosto? −− Disse Britus propondo uma nova
temática entre conversas e risos.

−− O que tem esse dia de tão especial? −− Carlos perguntou enquanto que todos ao
redor reagiram pasmados após Carlos dizer isso, todo até Mickey que saiu do seu lugar
e foi até Carlos e o deu um coco na cabeça dele. −− Ai! Porque você fez isso?! −−
Perguntou todo indignado enquanto que Yara e Britus riam.

−− Porque você mereceu. −− Disse Yara.


−− Eu mereci? −− Perguntou não acreditando.

−− Sim, todo mundo porque seis de Agosto é tão especial. −− Respondeu Yara
244
obviamente.

−− Por quê?

−− Porque é o Dia de Animândia. −− Respondeu Britus. −− O dia mais importante de


Animândia.

−− Ah... −− Disse Carlos abaixando o olhar se sentindo tão embaraçado por não saber
dessa data. −− E porque é comemorado nesse dia? Aconteceu algo de especial?

−− Porque foi nesse dia em que a Guerra das Cinco Tribos teve o seu fim e as Cinco
Tribos que antes viviam separadas e sem nenhuma relação formaram uma aliança
reconciliando os antigos laços de amizade que reinava em Animândia anos antes, por
isso hoje é o dia de Animândia, para relembrar os animanos acerca desse dia histórico.
−− Respondeu Yara irritada por ter de dizer aquilo tudo de novo.

−− Ah... −− Disse Carlos se sentindo um idiota por não saber disso.

−− Nessa noite iremos lançar fogos de artifícios. −− Disse Britus mudando de assunto,
ele olhou para o relógio e já marcavam as horas. −− Parece que já estamos quase na
hora. −− Disse ele pondo-se em pé −− É melhor irmos lá para fora.

Eles levantaram-se e seguiram Britus até lá para fora, aonde uma grande multidão se
reuniu para poder contemplar os fogos de artifícios exibidos lá fora, subitamente, tudo
ficou extremamente calmo e um grande coral compostos por crianças iniciou a cantar
antes mesmo dos fogos de artifícios serem lançados.

Feliz dia de Animândia!


Regozijem-se! Festejem! O dia finalmente chegou!
Multidões alegram-se! Dançam nas ruas! Cantem canções de alegrias!
Bebem até não caber mais, pois o dia finalmente chegou!
Hoje é seis de Agosto! O melhor dia do ano! Hoje é o dia de Animândia!

Terminada a canção, fogos de artificio foram lançados ao céu nocturno em um grande


festival de luzes coloridas iluminando toda a Cidade Branca dando mais cor a ela,
Carlos olhou ao redor e viu umas luzes subindo e explodindo em lindas cores, eram
fogos de artifícios sendo lançados em Arlandor, como Arlandor era a cidade de maior
altitude de Animândia, as suas luzes chegavam a grandes alturas superior a de outras
cidades.

Foi lançado outro fogo de artifício que dizia escrito em Animandês: Feliz dia de
Animândia! O melhor dia do ano! O ambiente em baixo era de comemoração, músicos
tocavam e cantavam alegremente músicas festivas, as pessoas dançavam ao ritmo da
música com expressões de felicidade presentes em seus rostos.

245
Formou-se uma roda em cada dançarino entrava nela e dançava a vontade, o primeiro a
entrar nela foi Mickey que deu um grande espectáculo de breakdance parecendo
aqueles dançarinos profissionais com as pessoas ao redor o aplaudindo e rindo.

De seguida foi Britus que entrou todo sorridente mexendo o corpo e batendo as mãos
numa dança que não parecia uma dança, de seguida Yara entrou na roda e chamou a
Carlos que no primeiro instante estava relutante em entrar.

−− O que vamos dançar? −− Perguntou ele remitente.

−− Não sei... O importante é divertir-se. −− Respondeu ela feliz e sorrindo, fazendo


gestos com a mão enquanto mexia o corpo ao ritmo da musica, Carlos imitou os gestos
dela, ela tinha razão, o importante era divertir-se, e estava ficando divertido para ele
dançar.

Os festejos alegres continuaram durante a noite toda, na manhã seguinte, Carlos


encontrava-se deitado na cama, abriu os olhos devagar, depois de passar a noite toda
festejando o resultado obvio era ficar extremamente cansado, lentamente ele levantou-se
da cama, olhou com os olhos pesados para o relógio ao seu lado que marcava
10h36min, bocejou alto e de seguida levantou-se lentamente da cama espreguiçando-se
completamente alongando os músculos do corpo todo.

Saiu da cama, e foi directo aonde tomou um bom banho quente e confortável, após o
banho, lavou os dentes e vestiu novas roupas que Britus tinha encomendado
especialmente para ele, e saiu do quarto sentindo-se como novo.

Não teve nenhum sinal de Yara ou Britus, em vês disso ele viu Mickey sentado ao pé
da chaminé abraçando um brinquedo de madeira que parecia uma Barbie ao estilo de
Animândia, quando Carlos o perguntou sobre Yara ele o olhou com aquele olhar
irritado e surpreso que dizia: O que você está fazendo aqui?!

Carlos saiu da sala correndo antes que fosse comido por Mickey e rindo dele altamente,
podem ate achar que fosse maldade da parte de Carlos, mas nos últimos dias Mickey
tem feito muito pior desde que deixaram Arlandor.

Lá fora, as pessoas estavam ocupadas em retirar as decorações da festa de ontem ainda


estavam ressacadas com a grande festa que se realizava, poderiam fazer de tudo por
causa de um copo de café.

Lá fora, ele finalmente viu Yara, ela andava pela Cidade Branca conversando com
Britus sobre coisas em geral que envolviam a cidade.

−− Carlos! −− Chamou-o Britus com um sorriso gostoso estampado no rosto.

−− Sr. Britus! −− Carlos respondeu de igual modo se aproximando deles.

−− Como você está? −− Britus perguntou de imediato. −− Dormiu bem?

−− Estou muito bem. Dormi perfeitamente bem. −− Respondeu ele.

246
−− Ótimo, uma noite de sono é bastante essencial na vida de alguém. −− Alertou Britus.

−− Percebo. −− Carlos respondeu acenando a cabeça em concordância. −− O que vocês


estavam conversando?

−− Eu estava a falar sobre a Tribo do Gelo, propriamente sobre a Cidade Branca a cara
jovem aqui. −− Disse Britus se referindo a Yara.

−− Eu estava curiosa acerca da Tribo do Gelo, por isso resolvi perguntar a respeito. −−
Interrompeu Yara.

−− E eu me ofereci para dar uma pequena aula de história. −− Britus concluiu.

−− Você sabia que Cidade Branca é a primeira cidade a surgir em Animândia e que os
seus iglus gigantes estão de pé desde o dia em que foi construído quando a cidade foi
criada. −− Disse Yara entusiasmada por saber mais a respeito de Animândia.

−− Uau, isso é interessante. −− Disse Carlos impressionado, não sabia que os iglus
gigantes fossem assim tão antigos.

−− Porque que não nos acompanhas? Assim ficas mais, a saber, a respeito da Tribo do
Gelo.

−− Ótima ideia! −− Disse Carlos realmente entusiasmado e adorando a ideia.

Eles continuaram andando pelas ruas geladas da Cidade Branca, aprendendo mais sobre
a história da Tribo do Gelo em cada lugar que passavam.

Após o grande passeio eles voltaram para o Castelo iglu onde tiveram um excelente
jantar carregado de grandes momentos de humor e alegria, após o jantar, Carlos voltou
ao seu quarto e logo adormeceu.

Na manhã seguinte, era o dia de partida após ficarem dois dias na Cidade Branca era a
hora de dizer adeus, antes de irem, Carlos deu o pergaminho que Enos o tivera dado a
Britus para que assinasse e ele assim o fez, eles se despediram de Britus que ficou muito
feliz com a visita deles em sua terra e os deu um forte abraço de despedida.

Feito isso, eles saíram da Cidade Branca e seguiram viagem até a última tribo a ser
conhecida, a Tribo do Deserto, a viagem até a Tribo do Deserto era bastante longa
comparada com das outras cidades, eles tinham de ultrapassar o grande deserto gelado e
depois entrar no Deserto de Fogo onde o caminho ficava mais penoso a cada passo.

247
O Deserto de Fogo
“A mente é um fogo a ser aceso, não um vaso a preencher” − Plutarco.

O ―Deserto de Fogo‖ também conhecido como o desespero de todo e qualquer viajante,


localizado a nordeste de Animândia, na zona mais estrema da terra onde poucos se
aventuraram a por os pés lá, os que se aventuram poucos voltavam com vida, morriam
pelas atrocidades que o deserto apresentava ou pelos constantes perigos de animais
selvagens que surgiam.

O Deserto de Fogo é o local mais quente de toda Animândia, a temperatura lá só ficava


entre os 38º C á 45º C tem dias que chegava até os 50º C. Depois de andarem pelo
deserto gelado e quase de terem morrido congelados completamente, Carlos, Yara e o
pequeno Mickey que surpreendentemente estava vivo vagueavam pelo deserto.

Assim que entraram no deserto largaram os seus enormes casacos (pois só da entrada
podia se sentir a temperatura quente aquecendo a sua pele) e o jogaram ao chão, que
queimou quase instantaneamente, Carlos estranhou surpreso com isso, nunca vira algo
assim em nenhum lugar.

−− Esse lugar é muito quente! −− Comentou Carlos apavorado por ir andar nesse lugar.

Entraram no deserto, podiam sentir a sua pele queimando e transpirando


descontroladamente enquanto marchavam em lentidão pelo deserto com a areia fina e
quente os atrasando em cada passo que davam e a fome dominando-os completamente.

Estavam andando pelo deserto quando Carlos viu o que achou ser um grande lago no
deserto bem na sua frente, ele correu até o lago esperançoso.

−− Espere! −− Disse Yara o avisando.

Carlos não ouviu e jogou-se no que pensava ser um lago, para a sua surpresa não era um
lago, era uma grande miragem.

−− Auu! −− Gritou levantando-se rapidamente enquanto a areia quente o queimava.

−− Eu te avisei. −− Disse Yara passando por ele carregando Mickey em seus ombros,
assim que Mickey o viu mostrou a língua para ele e riu o insultando.

Eles continuaram andando pelo deserto, a fome agora os dominava, quando se anda
num clima estremo é normal às pessoas ficarem com fome a toda hora, andavam
despreocupados quando Mickey viu algoo se movendo por baixo da areia, preocupado
olhou mais atentamente e foi que finalmente viu o que ele reconheceu como o ferrão de
um escorpião.

Mickey gritou apavorado apontando para baixo chamando a atenção de Yara que
também olhou para baixo e viu a mesma coisa que Mickey e no mesmo instante o medo
misturado com pânico tomou conta dela.
−− Ah não! Corre! −− Gritou ela para Carlos correndo, subitamente da areia emergiram
248
três grandes escorpiões do deserto com as suas longas caudas gigantes e o enorme ferrão
de onde guardava um letal veneno, Carlos assim que os viu engoliu um seco estando
paralisado com aquela terrível visão e tremendo de medo.

Yara a puxou pelo braço o arrastando em sua corrida, os dois corriam desesperados pelas
suas vidas fugindo da horda de escorpiões gigantes assassinos que queriam devorá-los
aos três, Carlos transformou-se em uma chita, Yara jogou-se sobre as suas costas o
montando.

Carlos corria rapidamente enquanto os escorpiões iniciaram a atacar, um deles atacou


com seu longo ferrão na direcção de Carlos, ele conseguiu esquivar-se a tempo saltando
para o outro lado, olhou para trás com medo, foi por um triz, Carlos continuava
correndo se desviando de mais um ataque e desta vez se abaixando quando o ferrão
passou por eles lentamente.

Eles estavam se aproximando de um profundo precipício, o caminho continuava através


de uma estreita ponte de madeira que balançava a força do vento.

−− Eu tenho um plano. −− Disse Yara a Carlos.

−− Não pare de correr! −− Gritou ela levantando-se rapidamente e sacando a sua


espada, ela correu dando passos largos e saltou alto até o primeiro escorpião.

Ela pousou nas costas do escorpião em uma cambalhota ergueu a espada rapidamente e
atacou nas costas do escorpião, esse por sua vez guinchou de dor e olhou para Yara que
estava nas suas costas o encarando sem medo na face, o escorpião moveu rapidamente o
seu ferrão tentou acertar em Yara ela esquivou abaixando-se rapidamente, levantou-se e
acertou ao longo da sua longa cauda perfurando ela e fazendo sair sangue verde viscoso
da espada.

Percebendo que chamou a atenção do primeiro escorpião ela saltou até o segundo
enquanto o primeiro ergueu o seu longo ferrão em sua direcção e atacou, Yara desviou-
se se segurando com uma mão nas costas do escorpião e a outra segurando a espada
enquanto o longo ferrão o perfurava a carne, ela ergueu a espada e deu sucessíveis
golpes contra a pele do segundo escorpião fazendo com ele bramisse de dor e se
mexesse descontroladamente, ela aproveitou-se dessa situação jogou-se por cima dele e
correu saltando até o terceiro e ultimo a medida que o segundo cambaleara rodopiando
no chão arrastando o primeiro com ele.

Yara aterrou directamente em sua cabeça em um pequeno impacto, levantou-se


correndo até o seu longo ferrão ganhou um forte balanço e saltou para frente como se
estivesse se movendo em câmara lenta e aterraou nas costas de Carlos que já se
encontrava a frente da ponte, foi então que o único escorpião restante atacou com o seu
longo ferrão contra a ponte derrubando ela por completo.

−− E agora? −− Perguntou Carlos sem ideias.

−− Salte. −− Disse ela sem brincadeiras.

249
−− O que? −− Perguntou ele incrédulo.

−− Confia em mim, e salte −− Disse confiante em sua voz.

Carlos alongou os passos estava bem a beira do precipício com o escorpião na sua cola,
Yara retirou uma faca que levava desde que saia da Tribo das Neves e lançou-a
directamente no olho direito do escorpião acertando em cheio fazendo berrar de dor,
Carlos saltou o mais alto que pode e o escorpião investiu em mais um novo ataque
antes de cair no fundo do precipício e morrer.

Inacreditavelmente, Carlos conseguiu aterrar do outro lado, Yara desmontou por cima
dele e jogou-se na área fina do deserto, estava exausta, Carlos voltou a sua forma
normal sorrindo não acreditando que conseguiram sobreviver a isso.

−− Nós conseguimos! −− Gritou ele todo entusiasmado e feliz abraçando Mickey que
também se encontrava feliz por estarem vivos, eles até fizeram uma dancinha de festejo
abanando a anca e levantando a mão ao alto como se estivessem dançando funk
brasileiro.

Yara vendo a cena riu eles, eram tão idiotas ao fazerem isso.

Ela pôs-se em pé, após o festejo eles continuaram andando pelo deserto quando
subitamente, o que de início pensaram ser uma tempestade de areia se viram cercado
por montes de soldadas andando em camelos os cercando em um círculo perfeito.

−− Quem são vocês? −− Perguntou uma das guerreiras de cabelos louros e pele morena,
o que Carlos supôs ser a chefe do grupo.

−− Meu nome é Yara Analarai. −− Respondeu Yara com a voz firme. −− Estes são
Carlos e Mickey. −− Disse ela os indicando.

−− Yara Analarai? Será mesmo ela? Será mesmo verdade? −− Cochicharam as


restantes soldadas espantadas por ouvir o nome dela.

−− E quem são vocês?

−− Silêncio! −− Gritou a líder do grupo. −− Nós fomos as Guerreiras Ahosi. Protetoras


da Tribo do Deserto e do Trono Sagrado.

−− Prove que és quem dizes ser. −− Ordenou à loira, Yara assentiu com a cabeça,
retirou a espada lentamente com a mão para cima e os mostrou o símbolo gravado.

−− Esta espada foi me dada pelo meu pai, Tiago Analarai e contem o símbolo dos
Analarai e meu nome estampado nela, e essa espada é tão especial que somente eu a
posso usar ou qualquer um que tenha a minha permissão. −− Disse Yara jogando a
espada ao chão próximo da líder do grupo, que desceu do seu camelo e tentou erguer a
espada mais não conseguia, era pesada como uma rocha.

−− É verdade, é mesmo ela.

250
−− Ela está ansiosa por te ver. −− Respondeu a mulher em um tom diferente. −−
Chamo-me Isabella. E é bom te ver depois de tantos anos. −− Yara assentiu. −−
Ok pessoal, vamos leva-los connosco para casa. −− Ordenou Isabella e elas
obedeceram colocando Carlos e Mickey montando em seus camelos.

Elas foram peregrinando pelo deserto até a Tribo do Deserto passando por deserto e
mais deserto parecendo que o deserto não teria mais fim.

A Tribo do Deserto toda vivia no subsolo os protegendo não só do próprio deserto como
também dos perigos que ele apresentava, lá no subsolo estavam em segurança e faziam
coisas que garantiam a sua subsistência, apesar de viverem em um deserto infernal a
Tribo do Deserto tinham duas coisas em extrema abundância: ouro e diamante. O que
fazia dela a terceira Tribo mais rica de Animândia só atrás da Tribo da Floresta e da
Tribo da Água.

Com abundância do ouro e do diamante a Tribo da Floresta procurou desenvolver


outros sectores inventando assim a agricultura no subsolo em que se criam condições
favoráveis em baixo da terra (simulando como se estivessem na superfície) fazendo
crescer arvores, como estavam no subsolo, não era difícil encontrar água, alias o Rio
Dourado nascia lá. A Tribo do Deserto é uma das Tribos mais batalhadora e persistente
que nunca desistiam facilmente, e era exactamente essa perseverança que os manteve e
ainda mantêm vivos durante todos esses tempos difíceis.

Eles desceram por vários níveis, Zhendur era como no Reino dos yeti era como uma
garganta profunda iluminada com tochas coladas ao redor e rodeada por vários níveis ao
redor, onde tinham casas, hospitais, mercados e mais outras coisas, lá no fundo existia
uma pequena entrada que dava acesso as Minas Rethum de onde vinha à maioria das
riquezas da Tribo.

Eles foram levados a Sala do Trono na presença de Arya, que aguardava ansiosamente
por eles, Carlos estava entusiasmado por essa ser a última Tribo em que eles visitam, e
ainda tinham tempo para ir buscar a espada e voltar para Nândia e narrar as suas grandes
aventuras e feitos.

Eles entraram na Sala do Trono escoltados por uma guarda Ahosi, Arya estava de pé de
costas virada, ela virou-se lentamente, estava linda usando um vestido branco comprido
e uma coroa na cabeça e um sorriso majestoso no rosto ao poder vê-los.

−− Olá mãe. −− Disse Yara.

−− Olá minha querida! −− Respondeu Arya.

−− O que? Ela é sua mãe? −− Carlos perguntou pasmo a Yara (que confirmou acenando
a cabeça) antes de cair inconsciente ao chão e entrar em descontroladas e violentas
convulsões saindo espuma da sua boca.

251
Um Jantar Familiar
"A Saudade é o que ficou do que nunca fomos." − Mia Couto.

Carlos estava deitado em uma cama bastante confortável, sentia uma tremenda dor em
todo o seu corpo, se encontrava fraco e cansado como se tivesse corrido milhões de
quilómetros, sentia uma tremenda dor vinda da sua perna, abriu os olhos lentamente
olhou ao redor e deu de caras com Yara sentada ao lado da sua cama com a cabeça
apoiada em sua cama.

−− Oi! −− Disse ele fraco, ela levantou a cabeça lentamente.

−− Oi! −− Respondeu Yara cansada e com sono.

−− O que aconteceu? −− Perguntou Carlos desorientado não conseguindo lembrar-se de


nada do que aconteceu que o tivesse o deixado inconsciente.

−− Você foi envenenado. −− Disse Yara calmamente. −− Lembras-te quando estávamos


fugindo daqueles escorpiões gigantes e você saltou do outro lado? −− Carlos assentiu
entendendo. −− Ao saltares para outro lado do precipício tu foi atingido pelo ferrão
venenoso, em uma pequena ferida o suficiente para matar.

−− E porque não estou morto? −− Perguntou ele tossindo.

−− Ainda não sei... Tu tens muita sorte. −− Carlos riu, achava aquilo engraçado de ser
sorte. −− Todo o mundo está admirado por você estar vivo.

−− Há quanto tempo estou inconsciente?

−− Há dois dias e meio. −− Respondeu ela olhando para o relógio estampado na parede.

−− Porque você não me contou? −− Perguntou Carlos mudando de assunto.

−− É complicado... −− Respondeu simplesmente não conseguindo o olhar directamente


nos olhos enquanto falava.

−− Complicado como? −− Perguntou Carlos insistindo mais no assunto.

−− É uma história longa... −− Disse dando desculpas para não tocar nesse assunto.

−− Eu estou deitado em uma cama e parece que não posso sair daqui, então eu tenho
tempo −− Respondeu Carlos pressionando mais até que ela acabou por ceder.

−− Ok. −− Ela suspirou profundamente e começou a desabafar. −− Quando eu nasci ela


simplesmente abandonou-me e eu não a conheci, eu fui obrigada a crescer sem mãe
enquanto ela vivia como se eu nem existisse durante anos, e agora ela está tentando ser
uma boa mãe, querendo recuperar o tempo perdido, não existe nenhuma desculpa para o
que ela fez. Por isso eu nunca falei dela, para mim ela é só uma conhecida, não merece
ser chamada de mãe.

−− Ela ainda é sua mãe Yara. −− Disse Carlos, não querendo nem por um momento que
252
ela vivesse a sua experiência, ele sabia que guardar raiva e ódio não eram a melhor
solução e que as vezes a melhor coisa a se fazer era o perdoar. −− Apesar de ela não
estar presente na sua vida, não muda o fato de ela ser sua mãe.

−− Você está do lado dela? −− Exclamou ela não acreditando no que ouvia.

−− Não estou no lado de ninguém. −− Respondeu Carlos. −− Yara, eu sou órfão de pai e
mãe a coisa que eu mais desejo é de poder ver de novo minha mãe e a abraçar e poder
dizer o quanto eu a amo pela última vez.

−− Um dia irás acordar e tua mãe não estará mais com você, tu se arrependerás pelo
resto da tua vida por não a ter dado uma única chance de ela poder ser tua mãe.

−− Não deixe que o teu orgulho fale mais alto do que teu coração realmente quer.

−− Eu sei que é difícil se reconciliar com ela, mas quando chegar o momento tu deves
sempre perguntar a si mesma ―por que‖ dela fizer o que fez e se fosse comigo ―eu
também faria isso?‖.

Tudo aquilo que Carlos disse deixou Yara a pensar a deixando sem palavras e sem saber
o que dizer a respeito, tentava reflectir em que opção tomar, sem dizer mais alguma
palavra ela saiu do quarto toda pensativa.

Após mais algumas horas deitado na cama, Carlos conseguiu sair dela e pôr-se em pé,
pela primeira vez poderia sentir a dor em seu ferimento como se a ferida estivesse
queimando, ele conseguiu dar alguns passos coxeando e sair do quarto, ele andando
pelas cavernas viu Arya sentada pensativa a beira de um precipício, ele se aproximou
lentamente e sentou-se ao seu lado sem fizer nenhum barulho.

−− Ela me odeia! −− Disse Arya lamentando-se por dizer tal coisa.

−− Porque dizes isso? −− Carlos respondeu perguntando.

−− O que quês que eu diga?

−− Porque você a abandonou? −− Carlos perguntou querendo saber mais desta história.

−− Eu não tive escolha!

−− Todo mundo tem uma. −− Disse Carlos olhando para baixo. −− Porque não me
contas o real motivo? −− Pediu Carlos o mais educadamente possível.

−− Havia uma jovem vivia com seus pais em Zhendur, ela era a herdeira direita do trono
da Tribo do Deserto, num certo dia ela receberam a visita de oficiais de Nândia e junto
deles estava o capitão por quem se apaixonou e ele o mesmo.

−− Eles iniciaram por sair os dois juntos, tiveram um relacionamento e até


apresentaram-se ambos aos seus pais que aprovaram a relação, eles se casaram e
tiveram um filho, eles viviam felizes quando subitamente a esposa anunciou ao
marido que estava grávida de outro filho, era uma menina.

253
−− Os quatros formavam uma grande família feliz que se amavam uns aos outros, num
certo dia a esposa recebeu uma terrível noticia, o seu pai estava morrendo e ela
precisava voltar urgentemente para Zhendur, abandonar a sua família para poder
assumir o seu lugar antes que o seu tio usurpa o trono e transforme Zhendur em uma
completa ditadura sem escrúpulos.

−− A dúvida instalou-se pela sua mente, a última coisa que ela queria era abandonar a
sua família ainda mais a sua filha recém-nascida que nunca a perdoaria por crescer sem
a mãe, como uma órfã, ela estava tão indecisa que contou a sua situação ao seu marido
que ficou em choque ao saber disso.

−− Ele a amava mais que tudo e não suportaria a ideia de não poder vê-la por longos
anos, mas entendia o porquê dela ter de fazer aquilo, juntos eles tomaram a difícil
decisão de deixa-la ir até a sua Tribo e resolver a situação.

−− Voltando para a sua Tribo ela encontrou Zhendur em completo caos, a Tribo toda
estava uma desgraça, com milhares morrendo de fomes e desnutrição a cada dia que
passava, outros morrendo de outras doenças alguns morrendo como em consequência
das altas temperaturas que o deserto apresentava, a economia da Tribo estava em
colapso.

−− A primeira coisa que ela fez foi enfrentar o seu tio e o vencendo e o bani-lo da Tribo
por traição, de seguida iniciou um longo processo de restauração da Tribo que levaria
anos a ser executado, diversificando a economia e aumentando o bem-estar a todos.

−− E qual foi o curso por ter de tomar essa decisão? Ela perdeu os melhores anos de sua
vida da sua filha, não pode ouvir as suas primeiras palavras, nem ver os seus primeiros
passos ou mesmo o primeiro dente perdido. −− Disse Arya limpando as lágrimas. −−
Não passa mais de um dia em que a jovem não se arrependa daquilo que ela fez, se
tivesse uma segunda chance ela teria escolhido a outra decisão e estar presente ao lado
dela e poder a ouvir dizendo uma única vez ―eu te amo mãe!‖.

−− Eu trocaria tudo para poder ouvir essas palavras, eu daria todas as riquezas do mundo,
só para ela me amar do jeito que eu amo ela. −− Disse Arya não conseguindo evitar o
choro de emoção e arrependimento.
−− Ela sabe disso? −− Carlos perguntou, ela acenou ―não‖ com a cabeça. Carlos
levantou-se e falou pronto a se retirar. −− Agora já sabe. −− Arya virou-se abruptamente
e viu Yara de pé a sua atrás a encarando com o rosto cheio de lágrimas.

−− Vocês precisam conversar. −− Disse Carlos a Yara se retirando da sala a deixando as


duas. Arya levantou-se não sabendo o que falar a seguir, Yara correu até ela e a
abraçou.

−− Me desculpe! −− Disse chorando toda emocionada. −− Eu não... Não sabia.

−− Está tudo bem querida! −− Disse Arya a abraçando. −− Eu te amo filha!

−− Eu também... Amo-te mãe! −− Respondeu Yara.


254
Carlos espreitava de fora orgulhoso consigo mesmo e voltou coxeando para o quarto e
deitando-se na cama ainda sentido aquela dor infernal terrível. Após ficar por mais
algumas horas deitado na cama a espera do momento em que pudesse se sentir melhor,
uma curandeira entrou no seu quarto, olhou para o ferimento de Carlos o disse para abrir
a boca e o deu uma folha para mastigar que miraculosamente ele parou de sentir mais
dor na perna, curioso olhou para baixo e toda a ferida tinha cicatrizado desaparecido
como se não tivesse existido, ele se sentia bem melhor, a curandeira percebendo o
resultado saiu do quarto.

−− Obrigado! −− Disse Yara a Carlos o agradecendo do fundo do coração. Eles estavam


indo para o jantar que na qual Arya os convidou, tomaram um bom banho retirando toda
a areia do deserto de suas peles e usaram roupas novas. −− Obrigada por tudo!

−− Não foi nada −− Respondeu.

−− Para mim significou muita coisa.

−− Tenho a certeza que farias o mesmo por mim. −− Disse Carlos com certeza. Eles se
aproximaram da mesa e estava ocupada com algumas caras que Carlos desconhecia.

−− Eles chegaram. −− Disse Isabella.

−− Sentem-se meninos. −− Convidou-os Arya para se sentarem a mesa de oito lugares


toda decorada lindamente e cheia de comida extremamente deliciosa parecendo que era
Natal.

−− Antes de sentarmos eu gostaria de te apresentar a minha família. −− Disse Yara a


Carlos. −− Esta é a minha avó Margarida −− Disse indicando a avó que respondeu com
um sorriso.

−− Você já conhece a minha tia Isabella. −− Ela acenou a cabeça. −− E este pequenino é
o meu primo Ernesto. −− Ernesto estava tão concentrado olhando os truques de magica
de Mickey que simplesmente levantou a mão ao ouvir o seu nome.

−− Muito Prazer! −− Disse Carlos fazendo uma pequena veemência.

−− Senta-te rapaz. −− Disse Isabella apontando para os lugares vazios. Eles se sentaram
−− Como vão as coisas contigo?

−− Eu vou bem, obrigado! −− Carlos respondeu agradecido por ela ter perguntando.

−− Óptimo, porque a saúde vem sempre em primeiro lugar −− Disse Isabella piscando os
olhos. −− Lembro-me que uma vez fiquei tão doente ao ponto de não conseguir fazer
alguma coisa, desde aquele diz eu prometi a mim mesma que sempre que eu ficasse
doente o primeiro remédio que eu procuraria seria... comida. −− Disse ela brincando com
um sorriso no rosto.

−− E até hoje você faz isso. −− Interrompeu a avó Margarida.

255
−− Como não vou fazer mãe? Comer é importante. Quês que eu morra de fome? −−
Rebateu Isabella brincando.
−− Não acho que a fome é que te mataria e sim o contrário. −− Respondeu a avó
Margarida bebendo um pouco do seu suco, enquanto outros sorriam.

−− Nossa... Quanta inveja de mim. −− Disse Isabella.

−− Eu concordo contigo mãe. −− Intrometeu-se Arya.

−− Isso não é justo, dois contra um... Yara minha sobrinha querida o que achas?

−− Acho que é a decisão acertada. −− Disse Yara sorrindo.

−− Sabia que poderia contar contigo. −− Disse Isabella. −− Sabe isso me faz lembrar do
dia em que tua mãe tomou um banho gelado. −− Arya o olhou abruptamente com
aquele olhar de súplica que dizia para não contar a ninguém, pois era bastante
humilhante, Isabella ignorou e resolveu contar.

−− Num certo dia, eu e Arya estávamos acompanhando papai em uma visita a Cidade
Branca, à tarde o clima estava bom para sair e papai queria nos levar para sair, só que
Arya que não queria andar fingiu-se de doente, papai preocupado a resolveu deixar no
Castelo-Iglu Branco onde ela ficaria protegida.

−− E lá fomos nós patinando no gelo, nós nos divertíamos, ela nos viu através da janela
do quarto, o quanto ela perdia a diversão, ela queria sair do quarto, mas não sabia como
encarar papai ao descobrir que estava fingindo.

−− Não ligando isso ela saiu do quarto, nos encontrando lá fora com uma desculpa
foleira de que tivera melhorado, e eu que nunca tivera acreditado naquilo não liguei a
mínima em vês disso continuei patinando, foi então que a vi fazer algo que nunca pensei
que fizesse ela colocou os patins de gelo mesmo não sabendo patinar em condições
como eu e foi até o gelo.

−− Enquanto ela patinava, eu e papai gritávamos para ela não se afastar muito de nós e
não ir para a camada mais fina do gelo de onde era perigoso patinar, ignorando os
nossos avisos ela foi até essa zona e... Como o destino é bom, a camada por baixo dela
cedeu e ela caiu dentro do lago, papai depressa saltou e a tirou dentro do lago.

−− Vocês tinham de vê-la quando ela saiu do lago e papai a perguntou ―se ela estava
bem?‖ ela parecia um patinho molhado toda encolhida e tremendo não conseguindo
encarar o papai ou a mim que não parava de rir. −− Isabella falava enquanto a imitava
se encolhendo e falando como se tivesse acabado de tomar um banho gelado. Enquanto
todos riam deliciosos com a história. −− Naquele dia nós aprendemos uma lição muito
importante, a não amar-se em sabichão quando não sabes de algo.

−− E sim mãe, eu ainda continuou a fazer isso até hoje. −− Disse Isabella se virando para
a mãe.

O jantar continuou agradável, assim como a conversa carregadas de grandes risos e


256
sorrisos. Após o jantar, Carlos foi guiado para o seu quarto onde se deitou na cama e
logo adormeceu, estava muito cansado para ficar acordado até tarde.

Há dias que Carlos não sonhava em nada e dessa vez ele conseguiu sonhar com algo,
estando deitado parado olhando para o céu nocturno cheio de estrelas e a lua cheia
brilhando mostrando a sua beleza, quando de repente a lua explodiu e as outras estrelas
explodiram bem a sua frente transformando o céu numa enorme obra de arte, ele
levantou-se girando enquanto olhava para o céu lindo com um sorriso no rosto e foi
então que ele acordou.

Carlos levantou-se da sua cama um pouco desorientado, foi até ao banheiro onde lavou
os dentes e tomou um bom banho fresco, a água de Zhendur vinha directamente das
nascentes por isso a água era tão refrescante, vestiu novas roupas e saiu do quarto
satisfeito por voltar a sonhar.

Lá fora encontrou todo o pessoal do jantar de ontem novamente sentado a mesa


tomando o pequeno-almoço.

−− Bom dia! −− Saudou Carlos cheio de entusiasmo e felicidade no rosto.

−− Bom dia Carlos! −− Responderam eles. Carlos sentou-se a mesa, todos estavam de
bom humor, a noite passada foi fantástica e parece que fez bem a todos.

−− Porque hoje? −− Isabella perguntou a Yara relutante em acreditar no que tinha


acabado de ouvir.

−− Nós temos mais uma missão a cumprir e infelizmente estamos ficando sem tempo.
−− Disse Yara lamentando a situação.

−− Mas, não pode ser amanhã? −− Interrompeu Arya pedindo de igual modo.

−− Infelizmente não, mãe, tem que ser hoje por enquanto ainda existe tempo, não é
Carlos? −− Disse Yara o mencionando passando a conversa para ele o ajudar na
conversa.

−− Sim, é verdade. −− Respondeu Carlos um pouco nervoso por ter de responder


enquanto todos o encaravam a espera da sua resposta. Isabella o encarou desconfiado,
suspeitava que algo a mais estivesse passando, algo que estivessem a esconder uma coisa
em grande, mas não fez caso.

−− Ok. Já que é assim. Para mim tudo bem. −− Disse ela se rendendo e não pressionando
mais.
−− Posso conversar contigo num instante? −− Pediu Arya a Yara, elas levantaram-se da
mesa e foram até outro lugar conversar.

Carlos permaneceu na mesa calado a espera que elas retornassem uns minutos depois
Yara retornou com uma expressão de satisfação no rosto, Carlos achou por bem não
perguntar sobre o que conversaram o que interessava era que Arya os deu permissão
para irem e antes de irem Carlos a entregou o seu pergaminho que Enos o deu a Arya,
257
logo após ter terminado de assinar o seu nome, o pergaminho brilhou todo terminando
assim a sua visita em todas as Cinco Tribos Animanas, concluindo com êxito as
Jornadas Reais.

Eles se despediram deles e prometeram voltar mais vezes assim que fosse possível e,
Mickey achou melhor ficar em Zhendur ao lado de Ernesto como o seu novo dono, foi
difícil para Carlos se despedir de Mickey, apesar de ele ser irritante e insuportável na
maioria das vezes, Carlos gostava do macaco, era um bom cara e tinha dons que ele
sonhava em ter.

Carlos e Yara partiram juntos, como a sua viagem começou a muito atrás em Nândia,
foram caminhando até a sua última paragem antes de voltarem para Nândia, onde
finalmente desvendariam a verdade por detrás da lenda da Espada Dourada, se era só
uma simples lenda ou se existisse realmente.

258
O Templo Amaldiçoado
"Ao esperarmos algo grandioso deixamos escapar aquilo que já temos." − Provérbio
Indonésio

Conta-se que há muito tempo, três adoradores de Chini estavam vagueando pelo deserto
perdidos, quando em meio as areias e tempestades resolveram criar um templo em
homenagem ao grande Chini na qual eles prestariam as suas orações e agradecimentos a
ele. Chiwa quando soube disso ficou tão furiosa que a sua ira abateu-se sobre eles os
amaldiçoando a eles e ao Templo em uma terrível maldição de morte que dizem durar
até os dias.

Preambulando novamente pelo deserto de fogo, encontravam-se cansados e famintos


sem nenhum sinal de esperança de que sobreviveriam ao longo da jornada, em passos
curtos e cansados olharam para o sol infernal que os queimava pouco a pouco.

Tinham ficado sem nada para comer a alguns dias atrás, altura em que a viagem se
tornara mais penosa, sem água ou comida só dependiam da sua força de vontade para
andar, a noite caiu densa aliviando um pouco a temperatura dando uma pequena
ventania refrescante sobre os seus belos rostos.

O céu estava coberto de estrelas, não se via a lua, era 12 de Agosto, daqui a três dias
aconteceria o eclipse solar, algo que não se via em décadas em Animândia, em que o sol
torna-se negro dando o seu lindo espectáculo entre as nuvens do céu.

−− Não acho que vamos conseguir. −− Disse Carlos a Yara cansado sentando-se no
chão do deserto.

−− Não achas que é muito tarde para desistir? Depois de tudo por que passamos? −−
Carlos ficou pensando no que responder, apesar de relutar sabia que ela tinha razão.

−− Tens razão, agora é muito tarde para desistir.

−− Além do mais eu não lutei contra um monstro marinho para desistir. −− Disse Yara
brincando e rindo.

−− Eu acho que tu deixaste o Kraven traumatizado. −− Carlos respondeu de igual modo


e rindo.

Os dois passaram a noite toda relembrando pelo que passaram desde o dia que saíram de
Nândia até o deserto e sonhando com o que ainda iriam enfrentar no caminho antes de
poderem voltar para casa.

No dia seguinte, Yara consultou o mapa que os gémeos os deram sobre a localização do
Templo e um mapa do deserto que tinham pegado em Zhendur e comparado, pelos
cálculos que ela fez chegariam a localização do deserto somente amanhã depois de
andarem o dia todo pelo deserto.

−− Segundo os mapas, nós chegaremos amanhã à noite no Templo. −− Carlos não


respondeu deitou-se na cama e ficou olhando para o céu estrelado apreciando o máximo
259
os dias antes de a viagem terminar.

No dia seguinte, tal como Yara dissera, eles chegaram a localização exacta do Templo e
não encontraram nada, Yara fez questão de verificar as coordenadas cinco vezes para ter
a exacta certeza, Carlos não sabia o que dizer se o Templo realmente existisse ou teriam
de esperar o eclipse para souberem, Carlos usou esse argumento para justificar a
ausência do Templo.

Eles ficaram esperando até que o eclipse tivesse inicio permanecendo assim acordados a
noite toda esperando e esperando até que os primeiros raios da alvorada tocando os seus
rostos anunciando um novo dia. Subitamente o eclipse solar deu o seu início tornando o
dia quente e insuportável em noite.

E, subitamente das areias do deserto emergiu uma grande pirâmide megalítica com o
símbolo de Chini gravado no topo dela (um grande circulo com uma grande estrela de
quatro pontas nele) e o arco solar iluminava os contornos do símbolo.

−− Não acredito! O templo é real! −− Disse Yara admirada com o que vira.

−− Tomara que a espada também seja. −− Carlos murmurou a si mesmo, dando os


primeiros passos para entrar no Templo. Yara se aproximou da parede do Templo e
retirou o mapa que os gémeos os deu na qual tinha as instruções de como entrar no
Templo. −− Como entramos? −− Carlos perguntou a Yara que olhava o mapa a procura
de algo na parte de trás, mas não viu nada.

−− Não sei... Não a aqui nada para usar. −− Disse ela virando de um lado para o outro e
mesmo assim não viu nada.

−− Claro que não. −− Disse ele recebendo o mapa e andando de um lado para o outro
pensativo. −− Os gémeos nunca disseram que as palavras estavam no mapa.

−− Eles nos disseram que as palavras estavam no verso do mapa, só que disseram de um
jeito estranho seguindo por essa frase, ―Em extensão arco-íris esgueirando-se entre
cordilheiras, revelando uma entrada e vocês poderão marchar suavemente como
pequenos escorpiões‖ −− Disse Carlos ainda pensativo.

−− Eu nunca entendi aquilo que eles disseram até hoje, porque eu não sabia como
encarar aquilo, se era uma questão ou uma frase só dita e mais nada, foi então que eu
percebi que essa frase não foi aleatória, eles estavam nos dando...

−− Um enigma! −− Disse Yara se sobressaltando um pouco. −− Eles nos deram um


enigma,

−− Mas o que significa?


−− ―Em extensão arco-íris esgueirando-se entre cordilheiras, revelando uma entrada e
vocês poderão marchar suavemente como pequenos escorpiões‖ −− Repetiu Yara
pensando a respeito, foi então que surgiu uma ideia na sua mente. −− Já sei o que
significa. −− Disse Yara sorrindo por não ter desvendado o enigma antes de tão simples
que ela achava que era.
260
−− E qual é a resposta? −− Carlos perguntou querendo saber. Yara aproximou-se da
parede do Templo tocando nela sentindo o quanto fresca.

−− Raposa de Fogo −− Sussurrou baixinho, e então subitamente toda a pirâmide


começou a vibrar como se estivesse acontecendo um pequeno terramoto e antes onde
não existia uma entrada surgiu uma pequena passagem para dentro do Templo.

Carlos sorriu ao ver a passagem surgindo bem na sua frente, curioso ele foi à frente,
Yara o seguindo logo atrás, eles passaram por um túnel escuro cheio de teias de aranhas
que colavam em seus corpos, ninguém vinha ali há anos.

−− Nossa! Quanta teia de aranha! −− Disse Carlos agoniado.

−− Ninguém vem aqui a anos. −− Respondeu Yara. −− O que esperavas? Um grande


buquê de flores de boas-vindas?

−− Seria muito melhor. −− Disse Carlos se debatendo em meio às teias.

Eles finalmente saíram das teias e deram de caras com um longo corredor, ao seu lado,
as tochas acenderam-se de repente como se o templo os tivesse esperado, Carlos pegou
numa delas iluminando o chão que estava separado por pequenas placas cada uma
desenhada com um hieróglifo diferente, passou a mão por cima do chão e sentiu uma
corrente de ar vinda de baixo, olhou para as paredes que estava cheio de insetos
viscosos e por último o telhado liso.

−− Temos um grande problema. −− Disse Carlos a Yara olhando nela.

−− Qual? −− Yara perguntou pegando em outra tocha.

−− O chão está todo armadilhado, existem placas seguras que nos levarão para o outro
lado e a outras para a morte certa. O problema é que não sei qual delas seguir. −− Yara
abaixou-se olhando para o chão concentrada.

−− Estas não são simples placas. −− Disse Yara as reconhecendo uma por uma. −− Elas
contam uma história... A história d’A Lua de Inverno.

−− O que?

−− Você não lê livros? −− Yara perguntou pondo-se de pé.

−− Leio, mas não conheço essa história.

−− Então presta atenção. −− Disse Yara saltando para o primeiro hieróglifo que tinha a
forma do sol nascendo e nada aconteceu. −− Era uma vez... −− Ela saltou para o outro
que tinha a aparência de uma mulher. −− Uma mulher chamada Maria. −− Ela saltou
para o outro que tinha a imagem de uma pequena vila. −− Maria vivia em uma
pequena vila −− E saltou em uma que tinha o desenho de um homem e uma mulher de
mãos dadas com seus filhos −− Vivia junto de sua família querida. −− Ela saltou em
um que tinha a imagem de um rosto sorrindo parecendo um emoji.

261
−− Eles eram felizes. −− Ela saltou em outro hieróglifo que tinha o desenho de uma pá e
uma vassoura. −− Maria era uma jovem trabalhadora. −− Ela saltou em outro que
mostrava uma mulher andando. −− Num certo dia, ela estava voltando para casa quando
de repente... −− Ela saltou para outro que tinha a imagem de um jovem com um capacete
do exército na cabeça. −− Deu de caras com um soldado de nome Will. −− Ela saltou para
um hieróglifo com a forma de coração.

−− Por quem ela se apaixonou perdidamente e ele também o mesmo. −− Ela saltou para
outro em que dois jovens estavam de mãos dadas. −− Eles viveram um intenso e lindo
romance amando-se um ao outro com todo o amor do mundo. −− Ela saltou para outro
hieróglifo em que tinha a imagem de uma noiva e do seu noivo no dia do seu
casamento. −− Eles se casaram e foram viver juntos como um só. −− Ela saltou para
um hieróglifo em que tinha a imagem de um soldado indo para a guerra.

−− Foi então que o pior aconteceu, Will foi convocado para a guerra que estava
acontecendo. −− Ela saltou para outro em que tinha a imagem de uma jovem chorando
amargamente. −− Maria quando soube disso chorou amargamente. −− Ela saltou para o
antepenúltimo hieróglifo que tinha a imagem de um caixão e de um papel ao lado com o
símbolo de um coração estampado nele. −− E infelizmente, Will morreu no campo de
batalha, antes de morrer ele deixou uma carta de despedida para a sua amada, em que
dizia:
“Seus olhos são como as estrelas
O seu sorriso é tão radioso como as nuvens do céu
A sua face é tão linda como as estrelas
Eu poderia, passar horas contemplando a sua face, o seu sorriso.
Passaria horas sonhando em nós os dois dançando na aurora boreal
Sonhando em nós dois voando pelo vasto universo espalhando nosso eterno amor‖

Ela saltou para o último no qual a lua cheia brilhava fortemente.

−− Maria aprendeu que o seu amor era como a lua de Inverno lá no céu brilhando
eternamente espalhando todo o seu poder pela eternidade. −− Dito isso ela saltou para o
outro lado.
−− Carlos. Agora é a sua vez −− Gritou Yara do outro lado. −− Faça exactamente do
jeito que eu fiz! −− Carlos que estava com dúvidas sobre que hieróglifo pisar ouviu
Yara a dizer alto e em bom som. −− É só seguires a história! −− Ele suspirou fundo e
iniciou por relembrar cada passo da história que tinha ouvido, bem no meio do
caminho uma dúvida instalou-se na sua mente, não sabia qual hieróglifo pisar, os dois
eram bastante semelhantes com o outro.

Ele fechou os olhos e confiou na sorte pisando o hieróglifo a sua direita, nada
aconteceu, uma sensação de alivio o invadiu pensando que estava seguro, quando de
repente sentiu o seu pé se afundando lentamente, ele retirou o seu pé a medida que a
placa que continha o hieróglifo afundou no vazio, Carlos conseguiu se equilibrar a
tempo evitando que também caísse junto com a placa.

262
Subitamente, o templo começou a mudar, ouviu-se o barulho de algo desabando e ao
mesmo tempo o templo daquela sala começou por desabar.

−− O que você fez? −− Yara perguntou do outro lado em pânico e protegendo a cabeça
para não ser atingida por aquelas rochas.

−− Eu não sei… −− Respondeu Carlos não sabendo o que fazer. −− Acho que pisei na
placa errada.

−− Você acha?! −− Perguntou ela irritada.

−− Qual delas devo seguir?! −− Perguntou em tom urgente. Yara olhou ao redor das
placas pensativa visualizando de novo a historia em sua mente.

A esquerda, Carlos pisou e não caiu, o templo agora desabava mais depressa
apressando-os.

−− É melhor você se apressar! −− Carlos gritou alarmado, e sem esperar mais pela
indicação de Yara ele correu por entre as placas não se importando que pisava em uma
instável e toda a sala desabafa a sua trás a grande velocidade, derrubando todas as
demais placas.

Quase no fim, uma enorme pedra caiu derrubando as placas a sua frente, não tendo por
onde pisar Carlos pisou na antepenúltima que para onde Yara estava tinha uma
distância considerável e saltou o mais alto que pode, a medida que as restantes placas
desabavam igualmente no chão.

Ele falhou a aterravam na zona segura, o impacto foi tão grande que Carlos não
conseguiu se segurar direito com as mãos em algo que o pudesse segurar a não cair no
abismo, se não fosse por Yara que jogou-se ao chão estendendo a mão bem a tempo e
agarrando a mão dele impedindo que ele caísse no vazio.

Yara tentava puxar ele, mas Carlos era um pouco pesado por um instante, seus olhares
se encontraram, ele com seu olhar apavorado e ela com aquele olhar de angústia e
cansado, os dentes serrados e os olhos aflitos quase se enchendo de lágrimas.

−− É melhor você ir. −− Disse Carlos para ela com a voz calma. Sabia que daqui a
qualquer instante estariam enterrados sobre um monte de escombros.

−− Não. Eu não irei abandonar você. −− Falou ela acenando a cabeça em negação.

−− Se você não ir…

−− Não. Nós fizemos uma promessa de terminar isso junto. Você se lembra? −− Disse
ela não evitando que lágrimas saíssem de seus olhos, Carlos permaneceu calado, olhava
para ela com bastante apreensão e admiração, então ele entendeu que ganhara alguém
para confiar para o resto da vida, alguém muito especial na sua vida ele começou a
fazer esforços para subir com ela ajudando e pouco a pouco ele estava são e salvo.

Eles correram para fora daquela sala a medida que ela desabava por completo, a
263
primeira coisa que Carlos fez foi abraçar a ela.

−− Obrigado! Por nunca desistir de mim −− Carlos não pode evitar que uma pequena
lágrima caísse de seus olhos, ele olhou para os olhos dela que brilhavam e seu rosto
macio marcado por uma pequena fagulha de felicidade, Carlos tocou em seu rosto, e
um sorriso surgiu entre o semblante de Yara.

−− Sempre −− Falou ela em resposta.

Ficaram assim, agarrados um ao outro em completo silencio, e esquecendo por um


pouco tudo ao seu redor.

Continuaram andando em silencio quando iniciaram ouvindo sons estranhos vindo dos
longos corredores, sons de alguém gritando por ―socorro!‖, de repente o clima tornou-
se gelado, Yara sentiu um longo arrepio quando milhares de morcegos passaram por
eles ela abaixou-se se protegendo enquanto os morcegos apagaram a sua tocha.

Yara levantou a medida que o último morcego desapareceu, estando apavorada sentia
certo pavor de morcegos, mas não ligou muito para esse problema naquele momento,
ela voltou a andar normalmente como se tudo estivesse normal.

Continuaram andando quando deram de caras com um longo corredor escuro, andaram
pelo corredor quando se aperceberam que estavam no fim dele e não existir mais saída
tentaram voltar, subitamente ouviram um som como algo se arrastando vindo para a
direcção deles, um monte de criaturas estranhas parecendo demónios de Chini surgiu a
sua frente, tinha o corpo de um leão, os dentes maiores e afiados do que de um, as
pernas maiores e mais grossa e com a pelagem mais espessa e os olhos vermelhos
brilhantes, a cauda estava cheia de picos.

Surgiram três desses, cada um maior que o outro, o do centro maior que os outros dois,
eles vieram se aproximando lentamente e de repente pararam.

−− O que são essas coisas? −− Perguntou Carlos recuando à medida que eles
avançaram.

−− Não sei... −− Respondeu Yara sacando a sua espada.

As criaturas atacaram, Carlos que antes não conseguia mudar de forma, transformou-se
em um enorme macaco travando o ataque de um monstro em um poderoso soco em sua
cara, de seguida o elevou ao ar e o bateu ao chão e deu sucessivos golpes o deixando
inconsciente no chão, Yara deslizou por baixo da criatura a ferindo por baixo,
levantou-se rapidamente e a atacou no olho, o fazendo recuar tocando no seu olho
sangrento, a criatura correu até ela saltando, Yara desviou-se enfiando a espada na
garganta do monstro muito rapidamente e a retirando.

Enquanto que Carlos lutava contra a criatura, a criatura saltou por cima dele, Carlos caiu
ao chão e segurava o pescoço do monstro com extrema força travando as suas investidas
violentas, Carlos virou ficando em cima e o monstro bem aixo e iniciou por dar
sucessíveis golpes contra ele, de seguida o levantou e o jogou com estrema força contra a
264
parede o derrotando de vez.

Carlos voltou a sua forma humana, respirou profundamente se recompondo.

−− É melhor irmos. −− Disse ele entre suspiros.

E assim foram continuando, andando pelo Templo Amaldiçoado quando, após andarem
por um tempo sem nenhum incidente deram de caras com uma longa escadaria, no topo
estava mais do que a Espada Dourada (em uma pedra parecendo a espada do rei
Arthur) brilhando com todo o seu brilho.

−− Não acredito! −− Disse Yara completamente admirada e sem palavras por ver a
Espada Dourada, a espada das lendas realmente existe e estava a sua frente. −− Ela
existe! −− Carlos sorriu de alegria ao poder ver a espada.

Carlos deu o primeiro passo em direcção à escadaria quando Yara ouviu passos
pequenos se movendo rapidamente no Templo, ela sacou a sua espada olhou ao redor
lentamente seguindo o barulho dos passos que somente ela ouvia e eis que surge um
grande grupo de ninjas da Liga das Sombras armados com mais diversas armas.

E bem ao lado dos ninjas surge à sombra que atacou Carlos e Yara no Desfiladeiro de
Akandur e a sua frente ele comandava um exército de gigantes de pedras assassinos,
todos eles querendo a mesma coisa: a Espada Dourada.

Carlos e Yara giravam a espera do primeiro ataque, quando os ninjas vieram atacando
primeiro em grandes acrobacias de seguia os gigantes de pedras atacaram os outros
ninjas criando a grande confusão.

−− Carlos! Busque a espada! −− Gritou Yara enquanto lutava contra os ninjas e se


desviava dos ataques dos gigantes de pedra. Carlos confuso iniciou por subir a escadaria
à medida que o chefe desse grupo ninja e o bruxo subiam também cada um em um lado.

Enquanto Carlos corria desesperadamente em busca da espada uma série de lembranças


da viagem passou por entre os seus olhos o fazendo reavaliar o papel que a Espada
Dourada traria na sua vida, foi então que a frase de Chiwa pairou em sua mente:

Tu começaste essa jornada e deves continuar, chegará um momento nessa jornada em


que irás ter de tomar uma grande decisão que irá salvar as vossas vidas ou vos levar
directamente para a morte, e quando o momento chegar lembre-se, “seja quem tu és, e
tu será feliz”.

Ele ficou pensando na frase de Chiwa e no que realmente se significava, qual grande
decisão Chiwa estava se referindo que na qual ele teria de tomar, essa questão invadiu
a sua mente a medida que corria desesperado em direcção ao que ele supôs ser um
sonho, e então outra frase dessa vez dita por Ed pairou sobre a sua mente ―O meu
irmão é mais importante que a espada!‖.
Foi então que percebeu o porquê de Chiwa e Ed dizerem aquilo, ele entendeu o real
significado, subitamente ele parou de correr, descendo rapidamente indo lutar ao lado de
Yara
265
−− Carlos?... Mas… e a espada? −− Disse procurando por ela e reparando que ele não
estava com ela e olhou para cima e viu o bruxo e o líder dos ninjas correndo atrás dela.

−− Eu percebi o que era mais importante. −− Respondeu ele socando um ninja e o


atirando ao longe. −− E que eu não preciso dela.

No mesmo instante o bruxo lançou um feitiço contra o ninja que o fez cair para baixo de
seguida ele alcançou finalmente a espada, aproximou-se lentamente e tocou nela
tentando ergue-la, mas não conseguia, a espada não se movia nem por um instante, e
subitamente as suas mãos iniciaram a queimar como se a espada fosse uma grande
fogueira, ele gritou de dor a medida que foi jogado para trás por uma tremenda força,
subitamente todo o Templo iniciou por tremer, e as paredes por desabar, era o fim do
eclipse solar, e o Templo voltaria outra vez nas areias do deserto.

−− Vamos sair daqui! −− Disse Carlos a Yara a pegando na mão correndo


desesperadamente para a saída enquanto evitavam ser esmagados pelas enormes rochas.
−− Por onde é a saída? −− Perguntou Carlos entre suspiros andando de um lado para o
outro.

−− Por ali. −− Respondeu Yara indicando para a pequena abertura que havia se formado
resultado do desabamento do templo.

Correram até a saída jogando-se ao outro lado enquanto todo o Templo desabava
afundando na areia onde realmente pertencia, Carlos levantou-se tossindo toda a areia
que inalou olhou para trás, toda a pirâmide tinha sido engolida na areia lugar no qual só
iria de sair no próximo eclipse solar, algo que não aconteceria tão breve.

−− Parece que a Espada Dourada permanecerá como uma lenda. −− Disse Yara olhando
para o lugar que antes ficava o Templo.

−− O importante é que nós sabemos que ela existe… ou existiu. −− Respondeu Carlos
não desviando o olhar.

−− Porque desististe dela? −− Yara voltou a perguntar.

−− Essa viagem me fez perceber que existem coisas mais importantes que poder, eu
percebi que tudo o que eu desejava ou preciso já estava comigo durante esse tempo
todo. −− Respondeu Carlos olhando para baixo e de seguida voltou a olhar para o
Deserto. O sol estava se pondo e a noite ganhava vida revelando o lindo céu estrelado.

Carlos suspirou profundamente, enquanto aproveitava a brisa que a noite oferecia não
estava arrependido por não ter consigo a espada, ele se sentia livre e satisfeito por ter
percorrido essa jornada até aqui, ele tinha a certeza de que repetiria essa viagem por mil
vezes só para poder sentir de novo essa sensação maravilhosa de alegria presente em seu
rosto.

266
O Escolhido
"Confiança é o mais primitivo e básico dos sentimentos que precisa existir entre duas
ou mais pessoas." − Içami Tiba

Carlos estava sentado, Yara estava dormindo apoiada a cabeça em seu colo, ele não
sentia sono, estava sentado pensando naquilo que viveu nas últimas semanas, se ele
soubesse em criança da existência desse lugar maravilhoso de nome Animândia a sua
vida só seria maravilha desde o principio.

Estava perdido pensando quando viu uma estrela descendo do céu, ele sabia quem era,
levantou lentamente a cabeça de Yara o colocando devagar na areia para evitar que ela
acordasse e foi ao encontro de Chiwa e usava um longo vestido vermelho bordado com
desenhos de dragões em todo ele.

−− Olá Carlos! −− Disse ela com a voz doce e meiga. −− Como tens passado?

−− Eu vou muito bem. −− Respondeu Carlos um pouco surpreso por ela o visitar.

−− Óptimo. Deves querer saber por que eu estou aqui. −− Carlos disse ―sim‖ com a
cabeça. −− Como você se sente depois de fazeres uma viagem tão tribulada?

−− Me sinto livre e feliz, já não me sentia desse jeito faz algum tempo. −− Respondeu
Carlos com um sorriso no rosto e a expressão de profundo alívio no rosto.

−− Óptimo. Sabe Carlos no início tive minhas dúvidas sobre você, achava que tu eras
muito egoísta para realmente se tornares digno de um poder tão grande. −− Carlos
colocou a expressão de confuso em seu rosto não entendendo o que ela queria dizer.

−− Mas depois de eu ver você sacrificando algo tão poderoso e inestimável como a
Espada Dourada e entenderes que existem coisas mais importante que poder foi então
que eu percebi o quanto tu amadureceste e como eu estou orgulhosa de ti. Por
demonstrares ser alguém sábio.

−− Muito obrigado! −− Respondeu Carlos estando agradecido por Chiwa o dizer tais
palavras.

−− Eu percebi porque escolheu a ti como o seu novo dono. −− Carlos não entendeu bem
o que ela acabara de dizer sobre novo dono. Foi então que Chiwa estendeu a mão e foi
então que surpreendentemente a Espada Dourada apareceu nela flutuando toda ela
reluzente e linda.

−− Isso é...! −− Estranhou-se Carlos ficando sem palavras.

−− Sim, é a Espada Dourada Carlos.

−− Mas... Como? Eu a vi ser enterrada na areia.

−− Você acha mesmo que eu colocaria a Espada Dourada em um lugar qualquer na


terra? −− Carlos fez o sinal de não com a cabeça. −− Aquela era uma cópia. Uma cópia
267
perfeita criada por mim para poder esconder a espada verdadeira.

−− Então e a historia do Templo?

−− Eu própria a inventei. −− Respondeu Chiwa. −− Quando o primeiro dono da espada


morreu ele sabia que seria muito perigoso deixar a espada por isso pediu minha ajuda
para que eu a escondesse e que ninguém deveria souber disso, foi então que criei a
“Lenda do Templo Amaldiçoado” para evitar que as pessoas fossem atrás da cópia
enquanto eu protegia a original comigo.

−− E os gémeos? −− Perguntou Carlos querendo saber o papel dos gémeos nessa


história.

−− Eu só tive que os fazer encontrarem o mapa que eu deixei e entregar a vocês, ou


você acha que o vosso encontro foi coincidência?

−− Bem que eu desconfiei disso no inicio…

−− Bem, chega de falar. −− Ela aproximou-se mais de Carlos ergueu a espada e o


consagrou como o novo portador da Espada Dourada dizendo: −− Eu Chiwa, declaro
Carlos Njinga como o novo portador da Espada Dourada, ficando assim responsável por
qualquer ato cometido por ela.

−− Eu não posso. −− Carlos disse negando a Espada. −− Não sou a pessoa certa para isso.

−− Reconhecer que não és digno de a ter é o que torna você realmente digno dela, Carlos
−− Disse Chiwa. −− É foi por isso que a Espada te escolheu, por teres um coração nobre
capaz de reconhecer os seus defeitos. −− Carlos se sentiu maravilhado e honrado por
ouvir aquelas palavras principalmente vindo de Chiwa.

−− É uma honra receber a Espada −− Disse ele a recebendo com as duas mãos se
sentindo realmente honrado. A espada era feita de Askin dourado (um metal tão valioso
como raro de encontrar) comprida e pontiaguda com um gume, ao longo do seu cabo
era banhado com várias jóias desde diamantes, pérolas, rubis, no centro do cabo estava
gravado a bandeira de Animândia e se encontravam por baixo da bandeira as palavras:
Justo, Honroso e Fiel.

Ele a recebeu e foi envolto em uma luz dourada que e logo sentiu um novo poder
invadir o seu corpo, um novo poder que restaurou todas as suas forças, sarou os seus
ferimentos e curou as suas cicatrizes.

−− Carlos, Seja sábio ao agir e prudente para escutar, e que as maiores batalhas são
aquelas que nunca acontecem. −− Disse Chiwa.

−− Cuide bem da Espada e não deixe que ela caia em mãos erradas, a Espada escolheu-
te porque te acha digno dela, prove que ela está certa disso. −− Carlos acenava a cabeça
em concordância para tudo o que Chiwa dizia. −− Não deixa que os teus sentimentos
falem mais alto do que a razão e não se desvia do caminho da razão e do bom senso.

268
−− Eu conto com você também Yara para ajudá-lo a seguir o caminho correcto quando
ele tentar se desviar. −− Disse Chiwa se dirigindo para Yara que estava atrás de Carlos
escutando toda a conversa. Carlos olhou para trás e viu ela espantada pelo que acabara
de testemunhar.

−− Não tendo mais nada para falar. −− Disse Chiwa flutuando ao ar.

−− Como iremos voltar para casa? −− Gritou Carlos enquanto ela subia aos céus.

−− Confie no leão. −− Gritou Chiwa em resposta. −− E boa sorte! −− Dito isso ela
desapareceu.

−− O que acabou de acontecer? −− Yara perguntou não entendendo o porquê de Chiwa


aparecer em meio ao deserto e entregar a Espada Dourada a Carlos.

−− Eu explico tudo. −− Carlos respondeu explicando tudo do princípio ao fim,


ocultando o fato de ele ter visitado o Reino dos Mortos. −− E foi assim que eu acabei
ficando com a Espada Dourada.

−− Você está me dizendo que tens se encontrado com Chiwa nessas ultimas semanas?
−− Carlos confirmou com a cabeça. −− E porque não me disseste nada?

−− Era segredo. Não poderia contar a mais ninguém.

−− E porque me contaste agora?

−− Porque Chiwa quis e confia em você Yara. −− Respondeu simplesmente. −− Me


desculpa por não ter te contado antes!

−− Prometes que não a mais segredos?!

−− Eu prometo!

−− Óptimo. Agora como iremos sair daqui?

−− Chiwa disse algo como confiar no leão...

−− Carlos, tu se lembra de uma das habilidades da Espada Dourada de invocar...

−− Ah é isso... E como o faço? −− Yara contraiu os ombros não sabendo.

Carlos ergueu a espada ao alto e pensou no que dizer para convoca-lo. −− Eu invoco...
O leão das montanhas? −− Subitamente um relâmpago saiu da espada indo para o céu e
bem lá no alto surgiu um grande leão alado dourado descendo entre as nuvens, voando
até onde Carlos estava e pousando no chão.

Carlos ficou espantado por ver um leão das montanhas real, com a sua enorme estatura,
duas vezes maior que um leão normal, as suas enormes asas de águia o seu belo rosto.

−− Chamo-me Asam, o raio dos céus, e é o meu dever servir o portador da Espada
Dourada, obedecer as suas ordens e cumprir aonde ele me disser para ir. −− Disse

269
Asam mentalmente.

−− Você fala! −− Disse Carlos espantado, Asam assentiu.

−− O que ele disse? −− Yara perguntou a Carlos, somente ele que nesse caso era o novo
portador da Espada o podia entender tudo o que Asam dizia.
−− Que iremos para casa. −− Respondeu Carlos montando em Asam e estendendo a
mão a Yara para subir, ela assim o fez.

−− Para aonde vamos meu senhor?

−− Podes me chamar pelo meu próprio nome Asam. −− Carlos respondeu olhando para
o horizonte a sua frente. −− Iremos para casa.

−− Entendi. −− Disse o leão voando em direcção a Nândia, onde tudo começou…

270
PARTE 5:
O fim da odisseia

271
O Início de uma grande história
“A imaginação é mais importante que o conhecimento” − Albert Einstein

Jackie estava sentado em seu quarto olhando pela janela do seu quarto o céu limpo azul
quando viu algo dourado se movendo rapidamente pelo céu, curioso ele saiu do quarto
desceu as escadas para fora e encontrou uma grande multidão reunida observando
enquanto o objecto dourado que ele viu nos céus se revelava ser um grande leão das
montanhas e os seus ocupantes estava Carlos e Yara.

Ele sorriu ao poder vê-los outra vez, uma parte dele achava que eles não voltariam mais
enquanto a outra lutava acreditando no retorno deles, o grande leão das montanhas voou
girando Nândia todos os habitantes saíram do lugar em que se encontravam para as ruas
para poder ver e testemunhar a sua existência.

Carlos sorria à medida que voava, se encontrava feliz em muito tempo, eles pousaram
no meio da cidade, à medida que a multidão se reunia ao redor querendo saber o que
aconteceu e como é que voltaram com um leão das montanhas a Nândia, e no meio da
multidão estava o Velho Contador de História feliz por saber que finalmente a Espada
Dourada fora encontrada depois desses anos todos aguardando.

−− Carlos! −− Disse Jackie atravessando a enorme multidão. Carlos virou-se à medida


que Jackie corria até o seu encontro e o abraçou. −− Senti sua falta man.

−− Eu também saudades cara. −− Disse Carlos sorrindo. Eles largaram-se, de seguida


Jackie foi até Yara e a abraçou.

−− Eu também senti sua falta Jackie. −− Disse ela sorrindo.

De seguida outra cara conhecida atravessou a multidão, era Enos que sorriu ao vê-los.
Carlos procurou no bolso o pergaminho que o dera, e não o encontrou, Enos ergueu a
mão e estava com o mesmo em sua posse, Carlos sorriu e assentiu.

Durante o resto do dia, Carlos foi levado ao Castelo Real onde foram recebidos em uma
audiência com o rei Marius, Marius ficou muito feliz por Carlos ter retornado sã e
salvo.

Carlos e Yara começaram a informar como correu a viagem de Nândia até Zhendur,
minimizando os grandes detalhes que tinham de permanecer em segredo como os
encontros com Chiwa e como conseguiu a Espada Dourada vinda de suas mãos,
dizendo que a encontraram no deserto, é claro que ninguém acreditou nisso, mas era
uma mentira necessária.

Após isso, o Rei Marius declarou oficialmente Carlos como membro da Realeza por ter
cumprido com êxito as Jornadas Reais e como prova disso, foi mostrado o Pergaminho
com a assinatura dos líderes das Cinco Tribos, toda a multidão gritava em jubilo por
Carlos ter conseguido cumprir com a Jornada.

No dia seguinte, Jackie fez contar de actualizar Carlos sobre o que se passara em Nândia
272
enquanto ele estava de fora e Jackie obrigou Carlos a prometer de que quando houvesse
outra viagem que ele iria com ele em vês de deixá-lo em Nândia sozinho, Carlos
concordou sorrindo e fazendo o juramento do mindinho.

As coisas voltavam ao normal e Carlos foi de novo se acostumando com a nova


realidade um pouco diferente daquilo que ele deixou, e ele já se acostumara com a ideia
de não ser rei, só uma coisa o inquietava no meio de tantos pensamentos, por isso
resolveu ir ao único lugar onde poderia pensar em paz sem a grande agitação da cidade.

Ele estava sentado observando a linda catarata a sua frente e observando o lindo pôr-do-
sol que deixava uma linda marca dourada ao longo do rio criando uma linda passagem
digna de uma linda fotografia.

Ele estava pensando na jornada e existia uma coisa que não batia em certo, quando Yara
aproximou-se lentamente dele e colocou a sua frente um pequeno bolo de chocolate
com uma pequena vela de aniversário acesa.

−− Feliz aniversário! −− Disse ela.

−− Isso é para mim? −− Perguntou ele espantado.

−− A mais alguém que faz anos por aqui? −− Carlos sorriu e recebeu o bolo.

−− Obrigado! Você acabou de fazer um homem feliz! −− Disse ele dando uma pequena
dentada. −− Está delicioso! Você sabe fazer bolos de chocolate?

−− Eu nunca disse que não sei. −− Respondeu ela piscando os olhos e sentando-se ao
seu lado.

Carlos deu mais uma dentada e colocou o bolo de lado ainda pensativo.

−− No que está pensando? −− Yara perguntou preocupada.

−− Existe algo que não faz sentido em toda a história. Quem era o bruxo e porque ele
quereria a Espada Dourada?

−− Eu não sei... −− Respondeu Yara. −− E ficar aqui pensando nisso não irá responder a
tua pergunta.

−− E o que quês que eu faça? Que esqueça isso como se nunca aconteceu? −− Rebateu
ele inquieto.

−− Não. Quero que se divirtas aproveitando o teu tempo em casa. −− Respondeu ela
directa com as palavras.

−− Tens razão. −− Disse abaixando a cabeça. −− Não deveria me preocupar com isso
agora.

Eles continuaram aproveitando a paisagem quando Carlos perguntou uma última vez.

−− Você acha que essa jornada é a última?


273
−− Eu acho que estamos no início... No início de algo em grande que nunca vimos. −−
Disse ela olhando para o horizonte, no local em que a terra se encontra com o sol, uma
das coisas mais bela da natureza é poder contemplar o pôr-do-sol e sonhar com um
novo majestoso amanhã cheio de alegria.
E Yara tinha razão em alguma coisa... Era realmente o início de uma grande história que
afectaria por completo a vida deles traria consigo grandes impactos a todos os
animanos, bruxos ou feiticeiros, magos, faunos, yetis e não só, assim como aos
humanos quando uma grande ameaça surgia da sombra pronta para acabar com a paz e
trazer... O caos.

O FIM
274
Agradecimentos
Agradeço a minha mãe Generosa Manuela Talavenda por todo o carinho e por ser a
melhor mãe do mundo inteiro, aos meus irmãos, Donalda Tchissingue, Vanusa
Tchissingui, por no inicio desacreditarem de mim me servindo de maior motivação para
a publicação desse livro, e. Agradeço também ao meu irmão Euclides Candondo e aos
meus primos Paulino Chimuco e Calisto Raimundo por serem as primeiras pessoas a
lerem este livro.

Agradeço em especial aos criadores de Avatar: A lenda de Aang, Bryan Konietzko e


Michael Dante DiMartino e toda a equipa responsável pela sua produção por terem mim
inspirado a criar esse fantástico mundo de Animândia, sem eles Animândia não existiria.

E sem esquecer eu queria agradecer a uma pessoa muito especial, ao meu professor
Osvaldo Canda por ter me elucido sobre o que era a depressão, eu aprendi muito
ouvindo as suas palavras.

275
CONHECENDO O AUTOR
Jenilson Manuel Chivinga, nascido ao 08 de Fevereiro em
Luanda, província de Angola, estudante da 12ª classe no curso
de informática.

Desde tenra idade mostrou-se como alguém diference, sendo


guiado durante horas pela sua imaginação a criar grandes
histórias que mereciam ser contadas ao publico, mas nunca
chegou a faze-lo.

Nunca gostando de ler, viu na quarentena a oportunidade para a criação de novos


hábitos, inspirado pelos livros que leu e principalmente por Avatar, viu a grande
oportunidade de escrever também as suas histórias e escrever seu nome no mundo da
literatura.

Hoje, os seus grandes passatempos são: Ler e ouvir musica.

Para quaisquer dúvidas ou informações:

E-mail: jenilsonmanuel10@gmail.com

Conta Oficial: www.facebook.com/J.M.Chivinga

276
PRÓXIMO LIVRO:

As Odisseias de Animândia: A Feiticeira


Livro 2

277

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