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Universidade Eduardo Mondlane

Faculdade de Letras e Ciências Sociais

Departamento de Ciência Política e Administração Pública

Licenciatura em Administração Pública

Análise da eficácia do processo de aquisição de DUATS no Município da Matola( 2015-2021).

Discente: Neima Arlindo Munave

Supervisor: Mestre João MAngachaia

Maputo, aos 11 de Abril de 2023


´

Análise da eficácia do processo de aquisição de DUATS no Município da Matola( 2015-


2021)

Neima Arlindo Munave

Trabalho de Fim do Curso apresentado em cumprimento dos requisitos exigidos para a


obtenção do grau de licenciatura em Administração Pública na Universidade Eduardo Mondlane,
Faculdade de Letras e Ciências Sociais, Departamento de Ciência Política e Administração
Pública

Mesa de Júri

O Presidente

O Supervisor

O Oponente

Maputo aos 11 de Abril de


SUMÁRIO
DECLARAÇÃO DE HONRA........................................................................................................iv

DEDICATÓRIA...............................................................................................................................v

EPÍGRAFE......................................................................................................................................vi

AGRADECIMENTOS...................................................................................................................vii

ABREVIATURAS E SIGLAS.....................................................................................................viii

ÍNDICE DE QUADROS, FIGURAS E GRÁFICOS.....................................................................ix

RESUMO.........................................................................................................................................x

ABSTRACT....................................................................................................................................xi

CAPÍTULO I. INTRODUÇÃO...................................................................................................12

1.1. Delimitação do Tema..............................................................................................................13

1.1.1. Delimitação Temporal..........................................................................................................13

1.1.2. Delimitação Espacial............................................................................................................13

1.2 Contextualização......................................................................................................................13

1.3. Problemática............................................................................................................................16

1.4. Justificativa..............................................................................................................................18

1.5. Objectivos................................................................................................................................18

1.5.1. Objectivo geral.....................................................................................................................18

1.5.2. Objectivos Específicos.........................................................................................................18

1.6. Questões de Pesquisa...............................................................................................................19

CAPÍTULO II. REVISÃO DA LITERATURA........................................................................20

2. Quadro Conceptual.....................................................................................................................20
2.1. eficácia.....................................................................................................................................20
2.2. Administração de terras...........................................................................................................20

2.3. A Terra e seus Conceitos.........................................................................................................21

2.4. Teoria sobres administraçao de terras.....................................................................................24

2.4.1. Teoria Da Colectivização.....................................................................................................24

2.4.2. Teoria evolucionária dos direitos de propriedade................................................................26

2.4.3. Teoria neo-institucionalistas sobre a terra............................................................................26

2.5. Procedimentos de acesso a terra e o Duat nas áreas autarcizadas em Moçambiue................27

2.5.1. Modelos formais de acesso ao DUAT.................................................................................27

2.5.2. Deferimento Da Atribuição..................................................................................................28

2.5.3. Ocupação de Boa-Fé.............................................................................................................30

CAPÍTULO III. METODOLOGIA............................................................................................32

3. Tipo de Pesquisa.........................................................................................................................32
3.1. Quanto à Natureza...................................................................................................................32

3.2. Quanto aos Objetivos..............................................................................................................32

3.3. Quanto aos Procedimentos Técnicos.......................................................................................33

3.4. Universo..................................................................................................................................33

3.5. Técnicas e Instrumentos de Recolha de Dados.......................................................................34

3.6. Técnicas e Instrumentos de Análise e Validação de Dados....................................................34

CAPITULO IV: ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS............................36

4. Modalidade de Acesso à Terra no Município da Matola...........................................................37


4.1. Regularização do direito de uso e aproveitamento do solo urbano no município da Matola. 40

4.2. Os procedimentos administrativos para o acesso DUAT no Município da Matola................42

4.3. Os factores interferem na eficácia do processo de emissão de DUATs no Município da


Matola.............................................................................................................................................44
4.4. As estratégias levadas acabo pelo Município da Matola com vista a emissão eficaz dos
DUATs...........................................................................................................................................46

5. CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES................................................................................48

5.1. Conclusão................................................................................................................................48

5.2. Recomendações.......................................................................................................................49

5. 3. Referências Bibliográficas......................................................................................................50

Apêndices.......................................................................................................................................52

Anexo 1. Folha a de lançamento....................................................................................................54

Anexo 2. Ficha de pedido de regularização...................................................................................55

Anexo 3 Título de direito de uso e aproveitamento de terreno urbano..........................................56

Anexo 4. credencial........................................................................................................................57
DECLARAÇÃO DE HONRA

Declaro por minha honra que o presente trabalho de fim de curso nunca foi apresentado
na sua essência para a obtenção de qualquer grau e que mesmo constitui-o resultado da minha
investigação pessoal, estando citadas, no texto e na bibliografia todas as fontes utilizadas para a
sua concepcão.

A Licencianda

Neima Arlindo Munave

Maputo, aos 27 de Março de 2023

i
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais (Jaime e Marta), ao meu Esposo (Adérito Cau); ao
meu filho (Akin Celestino) minhas fontes de expiração, com muito amor e ternura, vocês são os
meus heróis! aos meus irmãos (Ivete e Geraldo), que vos sirva de inspiração

v
EPÍGRAFE

“A Terra é mais nobre que o mundo que colocamos sobre ela”

Joseph Boynton (1733 -804)

v
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiro á Deus pela sabedoria, endereço de forma particular, os meus


agradecimentos ao Prof Dr. João Mangachaia, meu supervisor, pela confiança em mim
depositada, sou grata pelas experiências partilhadas, pelo rigor científico na orientação de todos
passos do trabalho, pelas críticas e sugestões.

Os meus agradecimentos são extensivos á todos Docentes da Faculdade de Letras e


Ciências Sociais em particular aos do Departamento de Ciência Política e Administração Pública.
Expresso a minha gratidão aos meus colegas da turma de AP-CP pelo companheirismo.

Agradeço aos meus padrinhos (Alexandre e Anatércia) pelo apoio incondicional. Por fim,
manifesto a minha gratidão ao Conselho municipal da Matola, em especial ao Director da VPTU
Aurélio Elias Salomão o, aos técnicos, assim como os munícipes desta urbe, sem os quais não
teria dados suficientes para levar a cabo a pesquisa e produzir conclusões.

v
ABREVIATURAS E SIGLAS

BM Banco Mundial

DNTF Direção Nacional de Terras e Florestas

DUAT Direitos de Uso e Aproveitamento da Terra

SiGIT Sistema de Informação e Gestão de Terras

SDPIs Serviços Distritais de Planificação e Infraestruturas

RSU Regulamento de solo urbano

VPTU Vereação de Planeamento Territorial e Urbanização

PEU Plano de estrutura urbano

PAMMS Posto administrativo Municipal da Matola Sede

PAMM Posto administrativo Municipal da Macha

PAMI Posto administrativo Municipal de infulene

v
ÍNDICE DE QUADROS, FIGURAS E GRÁFICOS

Tabela. 1: Sobre os principais conceitos da terra------------------------------------------------20

A figura 1- Sobre as modalidades de acesso ao Direito de Uso e Aproveitamento da Terra


em Moçambique no meio urbano 26

Figura 2- Sobre os Procedimentos de deferimento por atribuição e licença de construção----


28

Figura 3- Sobre a Regularização da posse por ocupação de Boa – Fé------------------------29

Figura 4-Sobre a Triangulação de dados 33

Tabela 2. Sobre o processo de registo e regularização por parte dos proprietários de terra ou
habitação no Município da Matola 39

Gráfico: Sobre a evolução de emissão de DUATs no Município da Matola-------------------40

i
RESUMO

A terra é um meio universal de criação de riqueza e do bem-estar da sociedade no mundo


em geral e em particular em Moçambique, o seu acesso formal tem sido o ponto essencial de
debate por todos os actores da sociedade moçambicana. O presente estudo objectivou, Analisar a
eficácia do procedimento administrativo na aquisição de DUATs no conselho municipal da
cidade da Matola. Onde pretendíamos responder a seguinte questão de partida: quais são os
constrangimentos enfrentados pela administração do município da Matola que contribuem para
ineficácia do processo da aquisição de DUATs? Por meio de uma abordagem qualitativa e
recorrendo as técnicas de amostragem não probabilística por acessibilidade entrevistou-se 4
elementos, nomeadamente: 1 Director da Vereação de Planeamento Territorial e Urbanização, 1
munícipe do posto administrativo municipal da Matola sede, 1 munícipe do posto administrativo
municipal de Machava e 1 Munícipe do Posto Administrativo do Infulene.

Com base nas entrevistas efetuadas o estudo constatou que a pesar os esforços que têm
sido implementados pelo Conselho Municipal da Cidade da Matola como por exemplo as
presidências sem parede e informatização do processo, esses esforços não têm sortido feitos na
medida que o processo continua sendo moroso quer por falta de técnicos especializados, de
recursos por parte do conselho Municipal da Cidade da Matola e pela excessiva burocracia do
próprio procedimento, o que abre espaço para ocorrência de práticas corruptas por forma a
acelerar o processo de aquisição do DUAT.

Palavras-chave: Acesso a terra, DUAT, Os constrangimentos da aquisição do DUAT no


Município da Matola

x
ABSTRACT

The Land is a universal means of creating wealth and well-being for society in the world
in general and in Mozambique in particular, its formal access has been the focal point of debate
by all actors in Mozambican society. The present study aimed to analyze the effectiveness of
the administrative procedure in the acquisition of DUATs in the municipal council of the Matola
City. Where we intended to answer the following starting question: what are the constraints faced
by the administration of the municipality of Matola that contribute to the ineffectiveness of the
process of acquiring DUATs?
Through a qualitative approach and resorting to non-probabilistic sampling techniques for
accessibility, 4 elements were interviewed namely: One Director of the Territorial Planning and
Urbanization Council. 1 citizen of the municipal administrative post of Matola headquarters, 1
citizen of the municipal administrative post of Machava and 1 citizen of the administrative post
of Infulene. Based on the interviews carried out, the study found that despite the efforts that have
been implemented by the Municipal Council of the City of Matola, such as the presidencies
without walls and the informatization of the Process, these efforts have not been made as the
process continues to be lengthy. either because of the lack of specialized technicians, lack of
resources on the part of the Municipal Council of the City of Matola and the excessive
bureaucracy of the procedure itself, which opens space for the occurrence of corrupt practices for
accelerate the process of acquiring the DUAT.

Keywords: Land access, DUAT, the constraints to acquisition the DUAT in the municipality of
Matola.

x
CAPÍTULO I. INTRODUÇÃO

A terra é um meio universal de criação de riqueza e do bem-estar da sociedade no mundo


em geral e em Moçambique em particular. O uso e aproveitamento da terra em Moçambique e
direito de todo povo, e ela segundo a constituição e propriedade do estado e não pode ser
vendida, ou por qualquer outra forma, alienada, hipotecada ou ponderada (CRM, 2004, Art.109).

O sistema de posse da terra em Moçambique é dual entre os órgãos formais de


administração de terras e autoridade tradicional por práticas costumeiras. Sendo nas zonas rurais
é centralizada pela Direção Nacional de Terras e Florestas do Ministério de Agricultura-DNTF,
que é responsável pela produção da informação cadastral georreferenciada e gerência todo o
processo relativo à autorização de Direitos de Uso e Aproveitamento da Terra (CUMBE, 2016).1

Porém, no que concerne as áreas urbanas e municipais o acesso ao direito de uso e


aproveitamento da terra é regido pelo Artigo 24 do Decreto-Lei 60/2006, de 26 de Dezembro. No
caso das áreas autarcizadas a responsabilidade é do Presidente do conselho Municipal. Compete
aos Presidentes dos Conselhos Municipais e Administradores Distritais autorizarem pedidos de
uso e aproveitamento da terra em áreas cobertas por planos de urbanização desde que tenham
serviços públicos de Cadastro (LEI DE TERRAS, Lei nº 19/97 De 1 de Outubro, Art. 23).

Esta monografia tem como tema: Análise da eficácia do processo de aquisição de


DUATs no Município da Matola (2015-2021). Onde objectivamos compreender as dinâmicas e
constrangimentos dos processos Administrativos para a aquisição de DUAT no Município da
Matola.

Contudo a Monografia está estruturada em cincos capítulos, no primeiro capitulos


apresentamos para além da introdução, a delimitação do tema, a contextualização e problema, a
justificativa, e por último os objectivos.

1
CUMBE, R.A (2016). Modelo De Implementação De Cadastros Territoriais Multifinalitários Urbanos Em
Moçambique. Dissertação apresentada à Universidade Federal de Pernambuco como parte dos requisitos
para obtenção do título de mestre em Ciências Geodésicas e Tecnologias da Geoinformação.

1
No segundo capítulo, consta a revisão da literatura assim como, a definição de alguns
termos, considerados essencial para a compreensão do tema em questão. No terceiro capítulo
consta de forma resumida os procedimentos metodológicos usados para consumação da
Monografia. No quarto capítulo apresenta os resultados da pesquisa e por último consta a
conclusão e as recomendações.

1.1. Delimitação do Tema

1.1.1. Delimitação Temporal

O presente tema cinge-se na Análise da eficácia do processo de aquisição de DUATS no


Município da Matola (2015-2021). A escolha deste horizonte temporal justifica-se pela
introdução do Sistema de Informação e Gestão de Terras-SiGIT. A tecnologia proporciona aos
vários agentes responsáveis instrumentos que permitem manter de forma fácil e eficiente os
registos actualizados, e suportam exercícios de planificação para o uso e aproveitamento da terra
nos vários domínios de interesse.

1.1.2. Delimitação Espacial

A pesquisa foi realizada no Município da Matola a escolha deste município deu-se por se
verificar segundo o censo populacional de 2017 que o Município Matola apresenta um
crescimento acelerado demográfico e de infraestruturas urbanas de 142.976, infraestruturas de
habitação e serviços acima da cidade do Maputo2. O que faz com que haja maior pressão na
procura e aquisição o de parcela de terra seja ela para habitação ou para fins comercias por parte
dos cidadãos nacionais assim como estrangeiros.

1.2 Contextualização

Dada a sua composição (aspectos físicos e cognitivos), a terra demanda sistemas de


administração para uma gestão eficaz como um recurso. A administração da terra como um
recurso natural, garante o seu desenvolvimento sustentável e, enquanto instrumento, trata da
estrutura

1
2
INE 2017; IV Recenseamento Geral da População e Habitação: Divulgação de Resultados Preliminares.

1
social, jurídica, econômica e técnica, onde gestores do espaço fundiário e administradores devem
trabalhar (FERNADES & REYDON 2017. p, 19).3

Em Moçambique as questões de conflitos de posse de terra reportam-se desde o período


de ocupação colonial portuguesa, quando as populações viram suas terras serem expropriadas.
Mais tarde, após a independência nacional, a situação agudizou-se, pois, as populações ocuparam
vários espaços de terra sem obedecer critério formais ou normas legais. Na época, a expressão
generalizada era de que “A terra é nossa, por isso, podemos ocupá-la sem qualquer problema”
(ALFREDO , 2009, p. 222) 4.

Entretanto, no período após a independência a população viram a terra a ser nacionalizada


pelo Estado e torná-la sua propriedade. Todas as terras que outrora foram propriedade de colonos
portugueses passaram a constituir empresas estatais agrárias e formaram-se também cooperativas
agropecuárias cujo objectivo era desenvolver as zonas rurais, através de formas de produções
socialistas. Algumas dessas terras foram usadas para criar as aldeias comunais (ARAÚJO, 1997).

De facto, a independência nacional em 1975 e o aparecimento da “1ª república” no


mesmo ano (Constituição da República Popular de Moçambique) trazem consigo a
nacionalização de todos os recursos naturais, incluindo a terra, transformando-se esta em
propriedade unicamente Estatal (MANDAMULE, 2017, p. 46).

Apesar do ideal de “libertação da terra e dos homens”, não houve em Moçambique pós-
independência, como referiu NORTON (2005 Apud MANDAMULE, 2017, p 47), uma
redistribuição justa da terra pelas famílias rurais. Pelo contrário, assistiu-se a uma “dependência
da trajetória” marcada pela reprodução das práticas administrativas das antigas potências
coloniais, transformação das propriedades agrícolas privadas em Machambas estatais,
socialização do campo

3
FERNANDES, V. B; REYDON, B. P. (2017). A governança de terras e o desenvolvimento econômico. In.
Governança de TERRAS: DA TEORIA À REALIDADE BRASILEIRA. Organização das Nações Unidas para a
Alimentação e a Agricultura (FAO) Brasília, 2017.

1
4
ALFREDO, B. (2009) “Alguns aspectos do regime jurídico da posse do direito de uso e aproveitamento da terra e
os conflitos emergentes em Moçambique”.

1
nas cooperativas e aldeias comunais, e confiscação das terras dos camponeses e pequenos
produtores privados5

Nestes termos verifica-se que questão de gestão da terra já preocupava o governo que
emergia logo após a independência, como consequência foi a aprovação da primeira lei de Terras,
aprovada em 1979 (LEI Nº 6/79 de 3 de JULHO) que em decorrência da constituição de 1975,
igualmente consagrava a propriedade estatal sobre as terras. Uma legislação suplementar é
aprovada em 1987 (DECRETO Nº 16/87 de 15 de JULHO) que determina que a terra não pode
ser vendida.

Na década 90 Moçambique empreendeu uma serie de reformas económicas como


resultado da sua adesão às instituições da Bretton Woods como o Fundo Monetário Internacional
(FMI) e o Banco Mundial (BM), e face ao novo contexto, marcado por profundos ajustamentos
estruturais, foi também inevitável a reforma da Lei de Terras pois havia necessidade de adequar a
legislação à nova realidade em curso no país (MANHIQUE, 2013)

Esse processo criou e aprovou três instrumentos importantes para a organização e


administração do território: (a) o PNT - Plano Nacional de Terras (1995), que preconiza, dentre
vários aspectos, o reconhecimento dos direitos costumeiros; (b) a Lei de Terras 19/1997, de 1 de
Outubro; e (c) a Lei no 2/1997 de 28 de Maio, que cria o quadro jurídico-legal das autarquias
locais no âmbito da descentralização do poder em Moçambique (CUMBE, 2016).

Segundo SOUSA (2011), a institucionalização das autarquias visava garantir uma maior
participação dos cidadãos na busca de soluções dos seus próprios problemas, além de garantir
uma maior interação entre os dirigentes com a população. Em caso específico da gestão de terras,
visava garantir uma gestão mais eficiente, participativa e mais célere dos processos. Não
obstante, colocam-se às entidades autárquicas vários desafios e problemas arrolados na presente
pesquisa no que diz respeito a gestão de terras.

5
MANDAMULE, U. A. (2017). DISCURSOS SOBRE O REGIME DE PROPRIEDADE DA TERRA EM
MOÇAMBIQUE. REVISTA NERA – ANO 20, Nº. 38 - Dossiê 2017 - ISSN: 1806-6755

1
Dentre várias atribuições, que estabelece as condições de acesso, uso e aproveitamento da
terra entre os cidadãos nacionais e estrageiros da autarquia local, destaca-se a urbanização,
construção e habitação (Cap. I, art.6, n.ᴼ 1, alínea h). No mesmo ano em que é aprovada a lei das
autarquias locais, é aprovada a lei de terras (Lei n.ᴼ 19/97, de 1 de Outubro), que destaca a
introdução das competências das autarquias no quadro da gestão de terra, descritas no Capítulo I,
artigo 23, pressupondo que:

“Compete aos Presidentes dos Conselhos Municipais e de Povoação e seus


Administradores de Distrito, nos locais onde não existem órgãos municipais, autorizar
pedidos de uso e aproveitamento da terra nas áreas cobertas por planos de urbanização
e desde que tenham serviços públicos de cadastro”.

1.3. Problemática

A partir da década a 90 Moçambique implementou um conjuntos de reformas com vista a


melhor a funcionamento do sector público e garantir a maior aproximação do entre o Estado e a
sociedade, no que concerne a questão de gestão da terra podemos destacar o seguinte: o PNT -
Plano Nacional de Terras (1995), que preconiza, dentre vários aspectos, o reconhecimento dos
direitos costumeiros; a Lei de Terras 19/1997, de 1 de Outubro, que estabelece as condições de
acesso, uso e aproveitamento da terra entre os cidadãos nacionais e estrangeiros; a Lei no 2/1997
de 28 de Maio, que cria o quadro jurídico-legal das autarquias locais no âmbito da
descentralização do poder em Moçambique que e; por ultimo a implementação do Sistema de
Informação de Gestão de Terras – SiGIT em 2015, que dentre outros objectivos é viabilizar a
melhoria da qualidade dos dados e eficiência dos processos de tramitação relativos ao Direitos de
Uso e Aproveitamento da Terra (DUAT).

Entretanto, no que concerne na o acesso e a posse de terra, a legislação nacional prevê três
formas de acesso e posse: i) havendo reconhecimento de ocupação segundo as normas e práticas
costumeiras; ii) por ocupação de boa-fé num período de pelo menos dez anos; e, iii) através da
autorização pelo Estado mediante a um pedido expresso (CAPAINA, 2021 p.6).

1
Os sujeitos que se encontrem nas duas primeiras formas de acesso e posse podem solicitar
a titulação legal. Nos três casos, o processo de titulação do direito do uso e aproveitamento inclui
o parecer das autoridades administrativas locais, precedido de consulta às comunidades, para
efeitos de confirmação de que a área está livre e não tem ocupantes6.

Segundo LAHIFF (2007 Apud CAPAINA, 2021, p. 7), estas três formas proporcionam
um direito similar sobre o uso e aproveitamento da terra, embora os direitos por ocupação
habitual e de boa-fé são perpétuos, enquanto os direitos obtidos através da solicitação ao Estado
se estabelecem por um período de 50 anos.

Nos municípios que tenham serviços de cadastro, compete aos respectivos Presidentes,
através dos respectivos serviços de cadastro, autorizar pedidos de uso e aproveitamento. Nos
distritos, os Serviços Distritais de Planificação e Infraestruturas (SDPIs) são a entidade
responsável pelas tarefas de elaboração dos planos anuais sobre a disponibilidade de terras,
atribuição e actualização do mapeamento dos DUATs. Com a visão de contribuir para a melhoria
da vida da população no âmbito socioeconómico de forma sustentável, os SDPIs têm como uma
das suas missões garantir a tramitação processual para a emissão de DUATs e assegurar a gestão
sustentável e transparente dos recursos naturais, nomeadamente da terra7.

Entretanto apesar das reformas introduzidas no âmbito do processo de gestão de terras em


Moçambique, verifica-se município da Matola morosidade no processo tramitação e resposta para
aquisição do DUAT, por parte das autoridades competentes. Situação está que tem criado algum
desconfronto para os munícipes, visto que o DUAT é instrumento para o acesso e posse segura da
terra em Moçambique.

Nesse contexto empregamos a seguinte questão de partida: Quais são os


constrangimentos enfrentados pela administração do município da Matola que contribuem para
ineficácia do processo da aquisição de DUATs?

6
Número 3 do artigo 13 da Lei nº 19/97, de 1 de outubro.
7
CAPAINA, N. (2021). PROCESSOS ADMINISTRATIVOS E PRÁTICAS NA TITULAÇÃO DA TERRA EM
MOÇAMBIQUE: O CASO DOS MUNICÍPIOS DE MAPUTO E MATOLA. OBSERVADOR RURAL (OMR)
Org. Maputo

1
1.4. Justificativa

Nos últimos tempos tem se registado uma crescente procura de terra para vários fins
(produtivos e não produtivos) cresce de forma galopante, o mercado informal de terras, levando a
necessidade de maior segurança legal dos usuários, através da autorização formal, que deveria
funcionar como prova documental para posse segura.

A apresentação do título de DUAT pode conferir ao seu titular legítimos poderes e uso,
até mesmo para transacionar a parcela de terra em causa. Nessa perspectiva abordar sobre o tema
em questão é de extrema importância na medida em que por um lado justificar-se-á pela
actualidade do tema, pois vimos em Julho de 2020, o presidente da república de Moçambique,
Filipe jacinto Nhusy, lançou a auscultação pública para a revisão da politica de terra em
Moçambique, que culminara com a revisão da lei n 19/97 de 1de Outubro lei de terras e de mais
legislações que regulam o processo de gestão de terra no pais. E por outra poderá contribuir numa
melhor perceção da complexidade do processo acesso e posse de terra em Moçambique e em
particular no município da Matola.

Do ponto de vista académico o estudo poderá contribuir no enriquecimento da literatura


sobre as dinâmicas e constrangimentos no processo de acesso e posse de terra nas áreas
autarcizadas em moçambique.

1.5. Objectivos

1.5.1. Objectivo geral

 Analisar a eficácia do procedimento administrativo na aquisição de DUATs no conselho


municipal da cidade da Matola

1.5.2. Objectivos Específicos

 Descrever o procedimento administrativo na tramitação de DUATs,


 Identificar os factores que interferem na eficácia do processo da emissão de DUATs
 Propor as estratégias para emissão a eficaz dos DUATs.

2
1.6. Questões de Pesquisa

1. Quais são os procedimentos administrativos para o acesso e posse de Terra no Município


da Matola?
2. Que factores interferem na eficácia do processo de emissão de DUATs no Município da
Matola?
3. Quais são as estratégias que possam ser levados acabo pelo Município da Matola com
vista a emissão eficaz dos DUATs?

2
CAPÍTULO II. REVISÃO DA LITERATURA

Este capitulo é reservado para a apresentação de alguns conceitos sobre o tema em


questão, conceitos tais como: eficácia administrativa, terras, Administração de terras. Em seguida
faz-se a apresentação de alguns estudos desenvolvidos sobre as dinâmica de acesso e posso de
terra em Moçambique.

2. Quadro Conceptual

2.1. eficácia

Segundo ANDRÉ (1993 apud ALCANTARA, 2010, p. 29) “é o grau em que as metas,
entendidas como atributos mensuráveis de objetivos, para um dado período de tempo, foram
efetivamente atingidas. É o grau no qual uma empresa alcança um objetivo estipulado, como, por
exemplo, melhoria na qualidade, lucros maiores e aumento na participação no mercado”.

RICHARD BOYLE (1989, p. 20) “considera que para avaliar eficácia é necessário definir
claramente os objetivos da organização. No setor público, para este autor, devem participar
políticos, o corpo técnico-burocrático e a população”.

Para CAMARGO e GUIMARÃES (2013, p.138) “eficácia refere-se ao alcance de


resultados e à qualidade dos produtos e serviços e sua utilidade é verificar se os resultados
previstos foram alcançados em termos de quantidade e qualidade”.

Este trabalho apoia-se na explicações apresentadas por CAMARGO e GUIMARÃES


(2013, p.138) pois, nos permitiram captar não só subponto de vista Quantitivo e Qualitativo no
processo de aquizição do DUAT.

2.2. Administração de terras

A administração de terras é o “estudo de como as pessoas se organizam em torno da


terra, incluindo a forma como as pessoas pensam sobre a terra e como as instituições constroem e
gerenciam os processos de administração da terra” (WILLIAMSON, 2010, p. 38).

2
Tais instituições desenvolvem princípios para a gestão sobre a terra em todas as partes do
mundo de forma mais ou menos consciente e integrada. As instituições e as regras que incidem
sobre o uso e a propriedade da terra geram entraves e soluções para um melhor ou pior uso do
solo para os devidos fins, definindo o caráter da governança fundiária em um determinado
território (REYDON et all, 2017).

TJIA (2014 apud, CUMBE,2016, p.30 ) afirma que a Administração de Terras incide
sobre a relação entre as pessoas e a terra. Cada país possui uma realidade própria, a maneira
como essa relação (pessoa-terra) ocorre depende de fatores, como o modo de utilização, a
avaliação e o desenvolvimento da terra. O relacionamento pessoa-terra pode ser legal, como no
caso de registro de propriedade da terra, mas também pode ser de fato, no caso da posse da terra.
Normalmente, na relação jurídica, a propriedade é inscrita em um sistema de registro de título.

2.3. A Terra e seus Conceitos

Composta pelos seus aspectos físicos (recurso natural e edificações) e cognitivos


(conceito), a terra é tanto uma mercadoria física quanto um conceito abstrato, estando coberta por
águas, toda a vegetação natural e variados tipos de edificações e construções (REYDON et all,
2017, p.7).

Entretanto a forma de pensar sobre a terra é variável e difere-se a maneira como outras
pessoas ou comunidades pensam. Essas formas de pensar sobre a terra começam desde a análise
social até a paisagem local existente, visto que os conceitos de uma comunidade sobre a terra são
obtidos à medida que possam atender ao seu estilo ou às necessidades do presente, estando
sempre em mudança e tornando a compreensão dos diferentes conceitos sobre a terra em desafio
para os desenvolvedores de sistemas de administração de terras.

Nesta perspectiva WILLIAMSON (2010, p. 40) sintetiza os e conceitos mais gerais


encontrados sobre a terra. No quadro abaixo

2
Tabela. 1: Sobre os principais conceitos da terra

Conceitos Definição dos Conceitos sobre a Terra

O espaço de terra em que vivemos. Todos os recursos naturais vivos,


Terra como terra firme exceto as pessoas. Significado amplo de natureza e suas
manifestações, incluindo o ar, corpos d’água, solo e subsolo

A superfície e a área sobre a qual a vida tem lugar fixo e quantidade.


Não pode ser destruída ou aumentada. Inclui toda a superfície da
Terra como espaço físico
Terra, espaço cúbico, espaço aéreo, espaço subterrâneo, minerais
associados e gases.

A fonte de toda a vida e sustentadora de toda a vida. Por extensão, a


fonte da fertilidade e o lugar de descanso final de cada pessoa,
Terra como uma divindade
portanto, a morada dos espíritos ancestrais. Uma divindade que se
(espiritual)
possui e detém tudo e todos e exerce certos controles sobre as
pessoas que a usam

A comunidade ecológica natural com a qual os indivíduos têm


direitos e responsabilidades especiais. O grupo de indivíduos que
Terra como uma comunidade vivem em uma área particular com interesses comuns associados ao
seu bem individual e coletivo. Conceitos de “casa” “pátria” e terra
“pátria” como um local ou situação.

Uma instituição que articula direitos privados de posse da terra como


Terra como instituição - base para a negociação e estabelecimento de uma sociedade.
propriedade Propriedade detida pelo Estado em nome do povo em economias
centralizadas.

Como um fator para a economia, juntamente com trabalho, capital e


gestão como fatores de produção. Como uma fonte de “natureza
Terra como fator de
doadora” de alimentos, fibras, materiais de construção, minerais,
produção
recursos energéticos e outras matérias-primas utilizadas pela
sociedade

Na economia clássica, a terra é um “dom gratuito da natureza”


durável e de capital. É a poupança última de consumo e a produção
Terra como capital acumulada de pessoas. Às vezes, a terra é considerada como capital
próprio por causa da capacidade de obtenção de fundos de capital e
de uso da terra como garantia

Um bem de consumo produzido pelo empreendimento humano.


Terra como um bem de
Parques e locais de recreação, lotes de construção, um fator de
consumo
produção

2
Uma mercadoria formada em mercados de terra simples.
“Desagregado”, a terra como novo conceito de alargar as
oportunidades comerciais. Tais interesses são ilimitados por
Terra como uma mercadoria parâmetros espaciais que multiplicam interesses fora da terra por
meio de commodities negociáveis de maneira dissociada, por
exemplo, água mineral. Um sistema de aceleração de riqueza e
crescimento econômico

Reinvindicações exortativas para o direito do solo são ferramentas


políticas fundamentais. A alegação formativa é a Declaração
Terra como um direito
Universal dos Direitos Humanos, artigo 17: “Toda pessoa tem direito
humano
à propriedade ...”. (UN 1948). Constituições nacionais
frequentemente transformam as exortações em direitos. legais.

Um meio de suporte ou disposição. A soma total dos recursos


naturais utilizados pelo homem sobre o qual a posse da terra dá o
Terra como um recurso
controle. Um meio de suporte, fonte de riqueza, poder, status e as
receitas que incluem melhorias humanas ligadas a terra.

A gestão local exige a preservação da sua capacidade de sustentar a


Terra como ambiente
vida, levando a restrições e responsabilidades.

FONTE: WILLIAMSON (2010, P, 40).

Para Glenn e Johnson (2005, p.7) define o termo terra como qualquer tipo de propriedade
imóvel, engloba a terra e todos os anexos permanentes nela localizados, tais como construções,
florestas e estradas.

Entretanto, o conceito de Glenn e Johnson não pode ser aplicado para o nosso estudo, na
medida em que no sistema de administraçao de terra em Moçambique so as pessoas singulares
podem possuir construções, mas nunca a terra onde as construções estão localizadas, uma vez que
esta é propriedade do Estado.

Assim sendo, a definiçao usado nesse estudo é a terra como a superfície e a área sobre a
qual a vida tem lugar fixo e quantidade. Não pode ser destruída ou aumentada. Inclui toda a
superfície da Terra, espaço cúbico, espaço aéreo, espaço subterrâneo, minerais associados e
gases.

2
2.4. Teoria sobres administraçao de terras

As teorias sobre a gestão e administração da terra estavam bipolarizadas, até meados dos
anos 1980, entre a teoria da colectivização (bem comum) e a teoria dos direitos de propriedade e
sua variante evolucionista (NEGRÂO, 2011, p. 11).

2.4.1. Teoria Da Colectivização

Várias são as acepções que a expressão “bem comum” pode assumir, indo desde o
conjunto de elementos oferecidos naturalmente a todos os seres humanos, ou seja, a terra, a água,
os minerais, rios, mares, vento, sol, clima, atmosfera, biodiversidade, entre outros, (FLAHAULT,
2011), às simples relações sociais (materiais ou imateriais) que se estabelecem sobre aqueles
recursos (LIPIETZ, 2010).

Várias são as acepções que a expressão “bem comum” pode assumir, indo desde o
conjunto de elementos oferecidos naturalmente a todos os seres humanos, ou seja, a terra, a água,
os minerais, rios, mares, vento, sol, clima, atmosfera, biodiversidade, entre outros, (FLAHAULT,
2011), às simples relações sociais (materiais ou imateriais) que se estabelecem sobre aqueles
recursos (LIPIETZ, 2010, apud, MANDAMULE, 2017, p. 43 ).

Esta teoria foi popularizado pelo economista Garrent Gradin no seu famoso artigo de
1968, em que argumente que as pessoas que compartilham uma terra num regime comunal
invevitavelmente irao sobercarregá-las (HARDIN, 1968, p. 124-1248). Partindo do exemplo de
um campo de pastagem aberto ao uso de todos, Hardin explica que daquele somente se poderá
esperar que cada pastor procure aumentar a área ocupada pelo seu rebanho, sem se importar com
as áreas ocupadas pelos outros usuários. A conclusão a que chega Hardin no seu artigo é que,
tendo em conta a natureza limitada do mundo (recursos), o livre uso dos bens comuns conduz
à ruína de

2
todos, na medida em que, cada indivíduo procura, de maneira desmedida e ilimitada, aumentar os
seus recursos, antes que os outros façam o mesmo8.
Contudo, alguns críticos se opõem tanto à ideia da tragédia dos bens comuns tachando de
modelo irrealistas. Ressaltando que na vida real, os membros de uma comunidade desenvolvem
uma confi ança social recíproca, colaboram e solucionam problemas, pesquisadores dos bens
comuns, em particular aqueles relacionados com a Associação Internacional para o Estudo dos
Bens Comuns (International Association for the study of the commons, IASC) citam centenas de
sistemas de gestão coletiva de recursos comuns em funcionamento, especialmente nas nações em
desenvolvimento, o que revela que o cenário abstrato de Garret Hardin é empiricamente errôneo
(BOLLIER, 2008,p. 34).

Na mesma perspectiva, Elinor Ostrom 9


, evidencia casos empíricos que obtiveram
resultados satisfatórios ao utilizar uma gestão comum. Verificou-se, por meio deles que as
comunidades estabelecem regras específicas – que atendem as peculiaridades do ambiente – e
participam ativamente tanto da sua elaboração quanto da supervisão, gerando um sentimento
mútuo desolidariedade. Desta forma, um recurso natural, como um pasto, pode-se tornar um
recurso comum, o que não ocasionaria, necessariamente, uma tragédia (OSTROM, 2000).
Aplicadas à terra, as teorias da colectivização – fortemente seguidas nos anos 1980 pelos
países de orientação socialista (como Moçambique) – defendem a ideia segundo a qual a terra é
um bem colectivo que, não tendo sido criado pelo homem, não deve ser vendido nem por este
transformado (BERTHOUD, 2008, apud, MANDAMULE, 2017, p. 44 ). Onde competia ao
Estado a gestão deste bem por meio de locação, construção das infra-estruturas, dos
equipamentos sociais e das habitações, devendo ao munícipe, na medida das suas possibilidades,
pagar uma taxa de uso e aproveitamento (NEGRÃO, 2011).

8
Mandamule, U. A. (2017). DISCURSOS SOBRE O REGIME DE PROPRIEDADE DA TERRA EM
MOÇAMBIQUE. Observatório do Meio Rural (OMR) - Maputo, Moçambique, p.43.
9
OSTROM, Elinor. El gobierno de los bienes comunes: la evolución de las instituciones de acción colectiva. 1,
2000, p. 41-46.

2
2.4.2. Teoria evolucionária dos direitos de propriedade

Esta teoria tinha a terra e os serviços como mercadorias cuja alocação dependia da oferta
e da procura, ou seja, do mercado. Quanto menor fosse a interferência do Estado na alocação da
terra e mais livre fosse a determinação dos preços de venda e de compra da terra e da habitação,
mais perfeita seria a actuação do mercado e, consequentemente, os benefícios do munícipe. Ao
Estado competia elaborar o plano urbanístico e zelar pelo cumprimento das normas na sua
implementação (BALCHIN E KIEVE, 1977 apud, NEGRAO, 2011, P. 6).

2.4.3. Teoria neo-institucionalistas sobre a terra

Duas outras correntes dedicaram-se à análise do estatuto e valor da terra. São elas a teoria
de inovação institucional e as abordagens neo-institucionalistas para quem a criação da
propriedade privada da terra (transformação da terra em um bem comercializável) é resultado de
um processo histórico que não resulta da simples evolução dos regimes de posse de terra
locais (MANDAMULE, 2017).
Estas abordagens reconhecem a existência de diferentes modos de apropriação e de gestão
dos recursos e defendem a constituição de instâncias legítimas aos olhos das populações e
reconhecidas pelo Estado, encarregues de definir os direitos de cada um e arbitrar os conflitos,
mesmo se em certos casos isto pode ser acompanhado por outras formas de arranjos, de tipo
clientelistas ou patrimoniais (LAVIGNE-DELVILLE, 1998, p. 35).

Neste trabalho recoremos as teorias neo-institucionalista sobre a administração de terras


em no município da Matola, visto que no contexto actual o processo de atribuiçao de DUAT nas
areas autarsizadas é da compecometencia dos Presidentes dos Conselhos Municipais e de
Povoação e aos Administradores do Distrito. (LEI DE TERRAS Lei nº 19/97 De 1 de Outubro,
art.23).

2
2.5. Procedimentos de acesso a terra e o Duat nas áreas autarcizadas em Moçambiue

A posse da terra em Moçambique é regulada por duas correntes: (i) sistema legal em que
o direito é acompanhado por provas documentais; e (ii) sistemas tradicionais de ocupação da terra
em que, o direito sobre a terra é reconhecido pelas lideranças comunitárias sem escritura de prova
da posse. Todas as modalidades do acesso a terra estão estabelecidas na Lei de Terras 19/97, de 1
de Outubro.

2.5.1. Modelos formais de acesso ao DUAT

O sistema legal de posse da terra urbano quanto rural, reconhece a necessidade de


titulação dos direitos reais sobre a terra e sua inscrição em cartórios de registro predial. No
entanto, a ausência de titulação por ocupação das comunidades rurais e/ou por pessoas singulares
de Boa - Fé, assim como o registro de terras no geral, não prejudica o direito de uso e
aproveitamento da terra (CUMBE, 2016, p. 76).
Em áreas urbanas, o acesso ao direito de uso e aproveitamento da terra é regido pelo
Artigo 24 do Decreto - Lei 60/2006, de 26 de Dezembro, que estabelece as seguintes
modalidades:
a) Diferimento de atribuição: os pedidos do DUAT são formulados junto às
administrações municipais mediante a apresentação de um requerimento;
b) Sorteio - consiste em parcelas ou talhões de uma área de urbanização básica, em que
um mínimo de 20% é destinado a cidadãos de baixa renda ou em situação desfavorecida;
c) Hasta - Pública: tem por objeto a atribuição do DUAT em parcelas ou talhões
localizadas em zonas de urbanização completa ou intermédia, destinada a construção de edifícios
para habitação, comércio e serviços. A base de licitação não pode ser inferior ao valor da taxa de
urbanização;
d) Negociação particular: entre as administrações municipais e os proponentes de
projetos tem por objeto a atribuição do DUAT em parcelas ou talhões destinadas a construção de
habitação por iniciativa das cooperativas ou associações, unidades industriais ou agropecuárias,
unidades de comércio de grande superfície;
e) Ocupação de Boa - Fé: é reconhecido o direito de uso e aproveitamento da terra por
ocupação de Boa - Fé, caso o tipo de utilização do solo urbano seja harmonizável com o plano de

2
ordenamento.

3
Para além das modalidades acima mencionadas, o direito de uso e aproveitamento da terra
pode ser adquirido, essencialmente, por transferência de direitos entre os vivos ou por mortis
causa mediante a autorização das entidades competentes. Em contrapartida, o Estado também
pode cessar um DUAT para implantação de bens de interesse público (MOÇAMBIQUE, 2013).

A figura 1- Sobre as modalidades de acesso ao Direito de Uso e Aproveitamento da Terra


em Moçambique no meio urbano .

Administrador do Distrito
O presidente do
Conselho Municipal

Gestao

Lei de terra
19/97

Area urbana / decreto 60/2006 artigo 24

Negociaçao particular
Deferimento de pedido
Hasta Pública Boa fé Sorteio

Fonte: Autora, 2023

2.5.2. Deferimento Da Atribuição

Segundo o artigo 25 do Regulamento do Solo Urbano, esta modalidade de aquisição do


DUAT só é aplicável para os cidadãos e pessoas jurídicas nacionais. Caso o requerente seja um
sujeito estrangeiro, o artigo 11 da LT define os requisitos necessários para que possa beneficiar
do DUAT em solo urbano.

3
Para esta forma de aquisição, os pedidos para a atribuição do DUAT, são feitos pelos
requerentes por via de requerimento modelo , endereçado ao órgão Autárquico competentes, onde
o talhão requerido se localiza. No momento da submissão do pedido (com base no artigo 40 do
RSU), o requerente deve anexar ao pedido os seguintes documentos:
i. Documento de identificação do requerente, se for pessoa singular, e estatutos, no caso
de se tratar de uma pessoa colectiva;
ii. Declaração do bairro de residência;
iii. Cópia da senha do Imposto Pessoal Autárquico;
iv. Cópia do NUIT;
v. Indicação do empreendimento a realizar pelo requerente e;
vi. Memória descritiva, que pode ser disponibilizada pelo respectivo órgão autárquico.

Observados todos os requisitos e formalidades, o processo será encaminhado à decisão do


órgão autárquico competente para respectivo parecer . Após a deliberação, caso o despach seja
favorável, é emitida pelo órgão municipal a autorização provisória válida por um período de 5
anos para nacionais e 2 anos para estrangeiros.

Esta autorização provisória poderá ser prorrogada por duas vezes, como referido nas
posturas do DUAT da cidade de Maputo. Na posse da autorização provisória, o titular deverá,
posteriormente, requerer ao órgão municipal competente a licença de construção, consoante
decreto nº2/2004 de 31 de Março. Caso o titular do DUAT não consiga realizar as obras no prazo
de dois anos, este poderá solicitar a prorrogação do prazo da licença de construção para a
conclusão das obras por um ano, renovável anualmente por igual período.
Pode ser emitida a certidão de benfeitorias desde que estejam edificados no talhão trinta
por cento da obra. Concluídas as obras, o titular do DUAT deverá requerer ao órgão municipal
competente uma vistoria ao terreno para verificação da realização do empreendimento proposto.

Constatada a realização do empreendimento, será emitida a licença de utilização, onde o


órgão local reconhece as condições de segurança, saneamento, água e energia para o
funcionamento pleno do edifício.

3
Depois disto pode avançar-se para a autorização definitiva do uso e aproveitamento da
terra e emitido o respectivo título de DUAT. De forma sistemática, no contexto de deferimento de
atribuição para pedido do DUAT e licença de construção, até à obtenção do título de DUAT,
devem-se seguir os seguintes passos da Figura 2.

Figura. 2- Sobre os Procedimentos de deferimento por atribuição e licença de construção

Deferimento de atribuiçao e licença de construçao

Pedido do DUAT

Autorizaçao provisória do DUAT

Licença de construçao

Certidao de Benfeitorias

Licença de utilizaçao
Vistoria do talhao DUAT

Fonte: Autora, 2023, com base nos dados do Guiao de gestao de terras urbanas

2.5.3. Ocupação de Boa-Fé

Segundo o que refere o artigo 29 do RSU, esta modalidade de aquisição é reconhecida no


âmbito dos inquéritos realizados no processo de elaboração dos Planos Pormenor 10 (artigos 10 a
16 do RSU). Esta modalidade de acesso ao DUAT, o RSU impõe dois requisitos para acesso, uso
e aproveitamento do direito do solo urbano, nomeadamente: Enquadramento da ocupação no
plano de ordenamento e Observância das regras constantes do plano pelo ocupante.

10
O plano pormenor é que define com detalhe a tipologia da ocupação das áreas urbanas, definindo a concepção do
espaço, os usos do solo e as condições das edificações, o traçado das vias de circulação, etc.

3
Observados os requisitos impostos, o ocupante pode iniciar o processo de titulação do
DUAT que deve ter, nos termos do nº 1 do artigo 40 do RSU, os seguintes documentos:
Documento de identificação do requerente; Esboço de localização do terreno; Indicação do
empreendimento a realizar pelo requerente, caso o ocupante não tenha realizado nenhuma
obra/construção no
talhão; Memória descritiva que pode ser disponibilizada pelo respectivo órgão autárquico.

Figura 3- Sobre a Regularização da posse por ocupação de Boa – Fé

Requerente Secretaria DCU Presidente do


Vereador
Analisar e organizar o inquerito Co nselho Municipal
Submeter o pedidoReceber e organizar Resutado do inquerito Despacho do
Elaboraçao da presidente
e subneter a DCU
proposta
Soliciitação
do requerente
Levantamento do Titulo
Sim

Demarcao
Laçamento na base cadastral
Processo legal

Notificação do reqrente

Fonte: Autora 2023

3
Capítulo III. METODOLOGIA

Este capítulo define o tipo de pesquisa e metodologia que usada para elaboração da
Monografia. Aqui são apresentados os procedimentos e abordagens metodológicas usadas na
elaboração da Monografia, bem como, as técnicas que foram usadas no processo e recolha de
dados.

Metodologia é a aplicação de procedimentos e técnicas que devem ser observados para


construção do conhecimento, com o propósito de comprovar sua validade e utilidade nos diversos
âmbitos da sociedade (PRODANOV & FREITAS, 2013).

3. Tipo de Pesquisa

Quanto a abordagem efetuou-se uma pesquisa do tipo qualitativa que segundo GIL (2008,
p. 207), considera que nesse tipo de abordagem “existe uma relação entre o mundo e o sujeito que
não pode ser traduzida em números (…) o pesquisador tende de analisar seus dados
indutivamente”. A pesquisa qualitativa em relação ao tema permitiu ao pesquisador estabelecer a
interação directa com os participantes, extrair dados através da observação direta do local
escolhido para o estudo. entretanto, uso desse tipo de pesquisa não nos impossibilitou uso de
dados estáticos por forma a consubstanciar as narrativas aqui apresentadas.

3.1. Quanto à Natureza

Quanto à natureza a pesquisa classifica-se como sendo básica, que na ótica de JUNG
(2004), a pesquisa básica consiste em entender, descrever e explicar os fenómenos da natureza
Objetiva gerar conhecimentos novos úteis para o avanço da ciência sem aplicação prática
prevista. Envolve verdades e interesses universais.

3.2. Quanto aos Objetivos

Fez o empregue da Pesquisa Descritiva: é aquela que acontece quando o pesquisador


apenas regista e descreve os fatos observados sem interferir neles. Visa descrever as
características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre
variáveis. Envolve o uso de técnicas padronizadas de coleta de dados: entrevista, questionário e
observação sistemática. Assume, em geral, a forma de levantamento. (PRODANOV &
3
FREITAS, 2013, p.51).

3
Em pesquisas descritivas, os factos são observados, registados, analisados, classificados e
explanados, sem que o pesquisador interfira sobre eles, ou seja, os fenômenos do mundo físico e
humano são estudados, mas não são manipulados pelo pesquisador.

Para garantir a solução do problema tendo em conta os objetivos da presente pesquisa


recorreu-se ao tipo de pesquisa acima em apreço, pois por um lado permite na neutralidade do
sujeito pesquisador em relação ao fenômeno em análise. Por outro proporciona maior
objetividade visto que neste tipo de pesquisa os factos socais são tratados e descritos como dados.

3.3. Quanto aos Procedimentos Técnicos

Foi efetuada a pesquisa d bibliográfica, que para MARCONI e LAKATOS (2009), a


pesquisa bibliográfica é feita a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e
publicadas por meios escritos e eletrónicos, como livros, artigos científicos, páginas de websites.
A pesquisa bibliográfica em relação ao tema será fundamental para obtenção de fonte teórica
relacionada com o tema como livros, revistas, Internet etc.

3.4. Universo

Segundo GILL (2008), fala que o universo é o conjunto de elementos que possuem as
características que serão objeto do estudo, e a amostra, é uma parte do universo escolhido
selecionada a partir de um critério de representatividade.

As pesquisas nas ciências sociais abrangem um universo tão grande, sendo impossível
considerar todo o universo ou população - conjunto de seres animados ou inanimados que
apresentam pelo menos uma característica em comum (MARCONI E LAKATOS, 2003:223).
Assim sendo, trabalha-se com uma amostra, que é uma parte dos elementos que compõem o
universo, esperando que ela represente essa população (universo) que se pretende estudar
(PRODANOV & FREITAS, 2013).

Assim sendo, fez-se o empregue do tipo de amostragem não probabilística por


conveniência (Gil, 2007). “Neste tipo de amostragem o pesquisador seleciona os elementos a que
lhe forem convenientes interagir com eles, admitindo que estes possam de alguma forma,
representar o universo. Aplica-se este tipo de amostragem em estudos exploratórios ou
Qualitativos” (GIL,2007,
3
p. 94). nesse sentido selecionamos como amostra 1 funcionário afeto no Conselho Municipal

3
(Diretor técnico de infraestrutura e urbanização) 3 e três munícipes oriundos dos diferentes potos
administrativos existentes.

3.5. Técnicas e Instrumentos de Recolha de Dados

No entender de RAMOS (2014) as técnicas de recolha de dados são compreendidas como


conjunto de procedimentos bem definidos e transmissíveis, destinados a produzirem certos
resultados na recolha e tratamento da informação requerida pela atividade de pesquisa.

Entretanto, com vista a segurar os objetivos a atingir no presente trabalho, foi usada a
técnica triangulação de dados, significa coletar dados em diferentes períodos e de fontes distintas
de modo a obter uma descrição mais rica e detalhada dos fenômenos. Faz-se a triangulação dos
métodos de coletas de dados em pesquisas qualitativas e quantitativas, através da combinação da
técnica de pesquisa bibliográfica, analise documental e entrevistas semiestruturadas (DENZIN,
1978).

3.6. Técnicas e Instrumentos de Análise e Validação de Dados

Para Análise e interpretação dos dados utilizou-se a técnica de Triangulação para análise
das informações coletadas. Nesse sentido, a técnica prevê três momentos distintos que se
articulam dialeticamente, favorecendo uma perceção de totalidade acerca do objeto de estudo e a
unidade entre os aspetos teóricos e empíricos, sendo essa articulação a responsável por imprimir
o caráter de cientificidade ao estudo (MINAZO, 2010). Nesta perspectiva Marcondes e Brisola
(2014) diz que:

Análise por Triangulação de Métodos está presente um modus operando pautado na


preparação do material coletado e articulação de três aspectos para proceder à análise
de facto, sendo que o primeiro aspecto se refere às informações concretas levantadas
com a pesquisa, quais sejam, os dados empíricos, as narrativas dos entrevistados; o
segundo aspecto compreende o diálogo com os autores que estudam a temática em
questão; terceiro aspecto se refere à análise de conjuntura, entendendo conjuntura
como o contexto mais amplo e mais abstrato da realidade (p. 204)

3
A triangulação surge como forma de amenizar problemas de credibilidade em pesquisas,
ao adotar como estratégia de investigação, múltiplas visadas e métodos de obtenção de
informações esses três processos podem ser analisados na figura abaixo:

Figura 4-Sobre a Triangulação de dados.

Dados Empiricos

Articulação

Análise da Conjuntu ra
Dialogo com os Autores

Fonte:
Marcondes e Brisola (2014).

O capítulo a seguir destina-se à análise e interpretação dos resultados, onde irão ser
revelados os resultados da pesquisa, descrevendo os constrangimentos administrativos da posso
formal de terra no Município da Matola.

4
CAPITULO IV: ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

Breve contextualização do surgimento do Município da Matola

Assumiu o estatuto de cidade à 5 de fevereiro de 1972, sendo antes designado de Vila


Salazar, e em 1975, com a independência do país, passou a designar-se cidade da Matola, termo
originário da etnia Matsolo, que povoou esta região, vindo da Zululândia no processo de
expansão zulo. O território é limitado a Norte pelo distrito de Moamba; a oeste e sudoeste pelo
distrito de Boane; a sul, faz fronteira com a cidade de Maputo, através do posto administrativo da
Catembe, separado da Baia de Maputo.

A este, é também limitado pela cidade de Maputo e a Noroeste, faz fronteira com o
distrito de Marracuene. Com o processo de democratização do país, e através do Decreto-lei 2/97
de 18 de fevereiro, abriram-se as portas para a restauração do estatuto municipal, confirmado
pelas primeiras eleições autárquicas, realizadas a 30 de junho de 1998. Na sequência destas
eleições foram instalados os novos órgãos de poder local, nomeadamente a assembleia municipal,
o conselho municipal e um presidente do conselho municipal. Foi neste período que inicia
um grande crescimento urbano e a implementação do seu plano de estrutura urbano - PEU, pelo
conselho municipal, iniciou em 2010, com duração de 10 anos.

Na nomenclatura atual, administrativamente a cidade da Matola tem 42 bairros,


agrupados em 3 Postos Administrativo municipais , nomeadamente Matola Sede com 13 bairros a
indicar: Matola A, Matola B, Matola C, Matola D, Matola F, Matola G, Matola H, Matola J,
Fomento, Liberdade, Mussumbuluco, Malha psene e Sikwama, todos com caraterísticas urbanas e
sendo o núcleo do surgimento da cidade, onde estão instalados os serviços públicos; a Machava
com 14 bairros, a indicar: Machava Sede, Infulene A, Trevo, Patrice Lumumba, São Dâmaso,
Bunhiça, Tsalala, Km-15, Matlemele, Nkobe, Matola Gare, Singathela, Nwamatibjana e
Sidwava, sendo os 4 primeiros com característica urbana e os restantes com características
urbanas, per-urbana e com o parque industrial; e o Infulene, com 15 bairros, a indicar: T-3, Zona
Verde, Ndlavela, Infulene D, Acordos de Lusaka, Vale do Infulene, Khongolote, Intaca,
Muhalaze, 1º de Maio, Boquisso A, Boquisso B, Mali, Ngolhoza e Mucatine, todos com uma
mistura de características urbanas, periurbanas e rurais.
4
4. Modalidade de Acesso à Terra no Município da Matola

No que tange aos moldes de acesso a terra, NEGRÃO (2010, p. 22), afirma que ʺembora a
terra, na República de Moçambique, seja propriedade do Estado, este tem o papel de adjudicador
exclusivo da terra. A LT (lei n.ᵒ 19/97) prevê que, a transmissão dos direitos de uso e
aproveitamento de terra, consequentemente o acesso à terra, possa ser feita por quatro vias
distintasʺ:

i. Por alocação direta do Estado em resposta à solicitação explícita e aprovação do


respectivo plano de exploração;
ii. Por alocação no âmbito dos sistemas costumeiros;
iii. E pela simples ocupação, individual ou coletiva, desde que seja de boa-fé
iv. E Indiretamente, através da transmissão de benfeitorias existentes na parcela,
normalmente por forma onerosa e via mercado, a qual, nas zonas urbanas, implica a
transmissão automática dos direitos de uso e aproveitamento de toda a parcela11.

Entretanto, o RSU (decreto n.ᴼ 60/2006, de 26 de dezembro)12, no seu Capítulo V, Secção,


Artigo 24, relativo às modalidades de acesso a terra, o n.ᵒ 1 pressupõe que na aquisição do direito
do uso e aproveitamento da terra nas zonas urbanizadas pode realizar-se através das seguintes
modalidades: a) Deferimento da atribuição; b) Sorteio, c) Hasta pública, d) Negociação
particular;
e) Ocupação de boa-fé.

Com base as constatações, percebeu-se que tanto os líderes comunitários como os


residentes locais a as autoridades municipais, afirmaram que a ocupação dos espaços a nível do
município da Matola principalmente nas zonas em expansão, apresenta três principais formas:

Acesso através do direito consuetudinário: Actualmente, esta forma sucede-se em


escala muito reduzida, pelo que, com a evolução do sistema costumeiro de posse de terra no
município da Matola, atualmente a terra está sob o controlo das famílias e segmentos de famílias
que foram ocupando gradualmente parcelas nas áreas periurbanas. ADEMO (2003), justifica este
cenário como decorrente da nova conjetura sobre a terra, argumentando ainda que, a atribuição
pelos líderes
4
11
Negrão, op.cit., p. 22.
12
MOÇAMBIQUE. Conselho de Ministros: Regulamento do Solo Urbano: Decreto n.ᵒ 60/2006, de 26 de Dezembro.

4
comunitários e chefes dos bairros foi cada vez mais se diluindo com a individualização da terra
pelos antigos moradores13.

Acesso através da compra: Com o processo de expansão demográfica, que vem


ocorrendo no município da Matola, principalmente nos bairros pré-urbanos verifica-se uma
crescente procura de terra nestas zonas. Sob este prisma, Muchacona (2019), afirma quando à
procura por terra aumenta, aumenta-se igualmente a tendência em tê-la como mercadoria,
fazendo com que possa ser comprada e vendida, sob forma da transferência de direitos de uso de
propriedade ou das benfeitorias existentes.

Maior parte dos interessados pelas terras no município da matola são oriundos da cidade
de Maputo, Matola, da província da Zambézia e Sofala, e com rendimentos que vão desde o mais
baixo até ao mais alto. a maior parte destes compradores, compra a terra para construção de
residências unifamiliares, outros a adquirem com visão de investimento, esperando que o
processo de urbanização se intensifique e agregue ou acrescente valor a terra e a possam vender a
valores mais elevados.

Aliado a isto, verifica-se que maior parte das parcelas é vendida sem qualquer valoração
em termos de benfeitorias e, por outro lado, a negociação assume um caráter informal ou mesmo
clandestino, evidente principalmente quando surge uma dupla venda da mesma parcela 14
. A
transição monetária efetuada entre o vendedor e comprador é muito instável, razão pela qual em
alguns vezes os vendedores revendem as mesmas parcelas que já tinham vendido a outros
compradores15.

Quando o negócio de terras começou em Moçambique, foi submetido às anteriores


práticas costumeiras de acesso à terra, em circunstâncias nas quais apareciam intermediários:
conhecidos próximos aos nativos, possuidores de mais parcelas, e que por costume, podiam
atribuí-las aos terceiros, nativos ou não da zona.

13
ADAMO, op. cit., p. 19.
14
MUCHACONA, Jorge. (2019) A simbologia de conflitos de terra na história de um povo: Monapo – Moçambique
(XIX – XXI). Revista Nordestina de História do Brasil, Cachoeira, v. 2, n. 3, jul./dez. 2019.
15
ADAMO, M. A, (2003) “Mercado de terras nas áreas urbanas e sua implicação na ocupação e uso da terra: estudo
de caso da área periurbana da cidade da Matola”, UEM, p. 39.

4
Nessa perspectiva, os intermediários faziam o negócio à parte com supostos interessados
pela terra (na maioria dos casos, para a construção de residências unifamiliares), cobrando
valores muito acima dos simbólicos exigidos pelos nativos. Os recém-chegados eram
apresentados pelos intermediários como supostos familiares próximos (como filho, sobrinho,
neto, etc.), e os nativos, por sua vez, pela proximidade e confiança que possuíam para com os
intermediários sediam terra para supostos filhos, sobrinhos, netos destes últimos, assim, o
negócio era efetuado de forma indireta beneficiando aos intermediários.

O essencial nesse processo é a aquisição de maior valor de venda, quanto maior for a
proposta de compra maior é a possibilidade de o comprador conseguir a compra. portanto, a
progressiva valorização da terra despertada pelo processo de urbanização no município da
Matola, fez com que os preços pela terra neste município variam entre 250 000 MT à 5500 000
MT, para um terreno com dimensões de 15/30, 20/40 e 25/50. Preços este podem aumentar em
função de factores tais como: aproximação do espeço em áreas urbanas, existência de corrente
elétrica, agua e de infraestruturas básicas (escola, posto de saúde e posto policial etc.…).

Como narra a nossa entrevistada, o Senhor Arlindo Fernando, Residente no Bairro


Boquisso Posto Administrativo Municipal do Infulene:

“Aqui aterra custa muito caro, na altura eu comprei o meu espeço 20/40 a
2.00.000,00Mts, paguei em três prestações, e actualmente os terrenos variam entre
230.000.00 a 5500.000,00 Mts, pois o preço aumento enfunação da localização do
espeço e o tamanho do mesmo”.

Concessão pelo Conselho Municipal: relativamente a este molde de acesso, NEGRÃO


(2010), defende que quando a terra é abundante a sua valorização é dada pelo seu significado
simbólico, e a gestão é feita pelas instituições locais de acordo com as normas e costumes
comummente aceites. Todavia, à medida que a procura aumenta, a perceção sobre o valor da terra
altera-se, passando esta a ser tida como “recurso” que é preciso preservar e usar com normas e
regras, muitas vezes de carácter legal, sob a responsabilidade do Estado

Nessa, a Lei de Terra (lei nº 19/97), no seu artigo 23 preconiza que, compete aos
Presidentes dos Conselhos Municipais e de Povoações e aos Administradores do Distrito, nos
locais onde não
4
existam órgãos municipais, autorizar pedidos de uso e aproveitamento de terra nas áreas cobertas
por planos de urbanização e desde que tenham serviços públicos de cadastro.

Esta forma de acesso à terra tem sido é problemática, pelo que, o processo de aquisição da
terra através deste molde de acesso tem sido muito moroso. A concessão de terra pelo Conselho
Municipal resulta do despacho do pedido de concessão de uma parcela, mediante a apresentação
de um plano de exploração. O que até certo ponto, repele maior parte dos que procuram parcela
no município, levando-os a efetuar contactos com os antigos moradores que os vendem as
parcelas que necessitam (ADAMO, 2003).

De um modo geral, no Município da Matola a terra pode ser adquirida por meio da
concessão do município ou compra com os naturais ou com alguém que tenha adquirido e que
esteja a vender. O acesso à terra via município é demorado, mas vantajoso uma vez que o
município atribui terrenos em espaços parcelados (ordenados), com arruamento, embora muitas
vezes com falta ou escassez de infraestrutura e equipamentos urbanos. Na atribuição de terrenos,
o município leva em consideração os tipos de uso (residencial, social, comercial, industrial ou
agropecuário)16.

Quanto aos terrenos atribuídos para habitação particular, sua regularização é autorizada
pela Vereação de Planeamento Territorial e Urbanização (VPTU); já a dos terrenos para a
implantação dos restruturas para fins comerciais e outros usos é autorizada pelo presidente do
município. A demora no acesso por meio do município faz com que muitos cidadãos adquiram
terrenos de formas consideradas ilegais, sem a observância de critérios de parcelamento,
ocasionando a não reserva de áreas para a implantação de infraestrutura e equipamentos urbanos
necessários à população (RIBEIRO, 2022, p.9).

4.1. Regularização do direito de uso e aproveitamento do solo urbano no município da Matola

Os títulos formais de terra podem ser adquiridos no município da Matola de três maneiras
distintas: a) através da ocupação de “boa-fé”, se a pessoa tiver vivido no terreno por mais de 10
anos, onde passa a ser considerado ocupante legal; b) através do “acesso costumeiro”, onde se
pode registar a terra que tradicionalmente ocupara, fora de áreas de habitação, sendo a cláusula
mais

4
16
Ribeiro, Ester Tomás Natal (2022) Espaços residenciais fechados: o acesso diferenciado e desigual à terra na
cidade da Matola, em Moçambique. Disponível em: https://doi.org/10.11606/issn.2179-0892. geousp.2022.192614.pt
acedido aos 08 de março de 2023.

4
relevante nas zonas rurais; e c) através do registo do “terreno abandonado”, onde indivíduos ou
corporações podem requerer de forma direta ao município ou Estado o registo de título para
ocupação e uso de terrenos abandonados. A Certidão do título é emitida pelas secretarias de
cadastros estatais ou municipais após vistoria ao terreno, destacando-se a ocupação de Boa - Fé e
o Diferimento de um Pedido como as mais comuns.

O processo de registo e regularização por parte dos proprietários de terra ou habitação na


direção de construção e urbanização é feito quando os interessados sentem-se pressionados pelas
suas necessidades, pois constata-se que no período de 2015 a 2016 em campanha de massificação
de regularizações e atribuição do direito de uso e aproveitamento de terra - DUAT, foram feitas
23.569 regularizações, sendo 2.110 na Matola-Sede; 10.437 na Machava; e 11.022 no Infulene,
apresentando um crescimento superior a todo o período do mandato administrativo de 2009 a
2014, que foram de 6.976 em todo o município, sendo 1.266 na Matola Sede, 3.570 na Machava e
2.140 no Infulene. A Matola Sede apresenta números baixos por se tratar de uma área de
urbanização mais consolidada, relativamente as restantes (MIQUIDADE, 2018).

Tabela 2. Sobre o processo de registo e regularização por parte dos proprietários de terra
ou habitação no Município da Matola

2015-2016 2019 2020 2021 2022


Ficha DUATS Ficha DUATS Ficha DUATS Ficha DUATS Ficha DUATS
PAMS 2110,00 1250 1100 765,00 496,00 1701,00 1035,00 502,00 669,00
PAMM 10437,00 975 900 1911,00 1318,00 3105,00 1118,00 1115,00 1260,00
PAMI 11022,00 1300 1099 829,00 547,00 2295,00 1043 1720,00 918,00
Total 23569,00 3525 3099 3505,00 2361,00 7101,00 3196,00 3337,00 2847,00
Fonte: CMCM/VPTU/DPC/AES/2023

PAMS- Posto Administrativo Municipal da Matola Sede


PAMM- Posto Administrativo Municipal da Machava
PAMI- Posto Administrativo Municipal do Infulene
A tabela 2, acima em apreço, mostra que no ano de 2015-2016 o município da matola
emitiu cera de 23569 DUATs (vinte e três mil e quinhentos e noventa e nove), este nume é duas
vezes superior em comparação ao período de 2020-2022. Este facto poder ser explicado por causa
da ocorrência da campanha de massificação 17
de regularizações e atribuição do direito de
uso e

17
O processo de massificação, obedece um caráter político-administrativo, pois é feito em “Presidências sem Paredes”.
4
Isto é, o Presidente do Conselho Municipal interage diretamente com os munícipes.

4
aproveitamento de terra - DUAT neste período. Como evidencia gráfico abaixo sobre a evolução
de emissão de DUATs no município da matola.

Gráfico: Sobre a evolução de emissão de DUATs no Município da Matola

EVOLUÇAO DE EMISSÃO DE DUATs NO MUNICÍPIO DA MATOLA

25000
20000
15000
10000
5000
0 Ficha DUAT Ficha DUAT Ficha DUAT Ficha DUAT Ficha DUAT
S S S S S
2015-2016 2019 2020 2021 2022
PAMS 2110 1250 1100 765 496 1701 1035 502 669
PAMM 10437 975 900 1911 1318 3105 1118 1115 1260
PAMI 11022 1300 1099 829 547 2295 1043 1720 918
Total 23569 3525 3099 3505 2361 7101 3196 3337 2847

Fonte: Elaborada pela autora com base nos dados do CMCM/VPTU/DPC/AES/2023

O gráfico acima mostra que de 2020-2022 uma redução por da emissão de DUATs por
parte do conselho municipal da cidade da Matola, este factos pode ser justificado por um lodo
pelo fato do país, e em particular o município da matola ter sido afetado pela a pandemia de
COVID-19, Que obrigou a implantação de medidas restritivas, o impossibilitou a alguns técnicos
de fazerem visitas a parcela de terra requeridas pelos munícipes para o processo de regularização.

4.2. Os procedimentos administrativos para o acesso DUAT no Município da Matola

Em áreas urbanas, o acesso ao direito de uso e aproveitamento da terra é regido pelo


Artigo 24 do Decreto-Lei 60/2006, de 26 de Dezembro, que estabelece as seguintes modalidades:
a) Diferimento de atribuição;
b) Sorteio;
c) Hasta – Pública;
d) Negociação particular;
e) Ocupação de Boa – Fé;

5
Entretanto, o procedimento mais comum de atribuição do DUAT no município da Matola
é por deferimento e por ocupação de boa-fé. Onde por forma a evitar o duplo registo o processo
começa do bairro com o preenchimento da ficha de pedido de regularização, elaborada em 2010
permite que o processo inicia junto as estruturas do bairro, através do “chefe de quarteirão” e um
visto do secretário de bairro, que legitimam a autenticidade da propriedade e do estágio em que se
encontra.
Este processo sendo de base, o seu procedimento difere de acordo com as condições de
cada bairro, pois verifica-se uma harmonia nas áreas urbanizadas. Nos bairros ainda rurais ou
periurbanos, com uma influência da estrutura tradicional, verificam-se conflito entre esta
estrutura e o secretário de bairro, na cobrança das taxas pela legitimação da autenticidade da
propriedade, pois o decreto 15/2000, de 20 de Junho, que estabelece as formas de articulação dos
órgãos locais do Estado com as autoridades comunitárias, legitima a existência das duas
estruturas, sem que exista subordinação entre elas.

Terminado o processo para o registo da propriedade ao nível do bairro, este é conduzido


para o posto administrativo, onde existe um setor urbano que confere a autenticidade da
propriedade e do proprietário, com um visto na ficha de regularização.

Neste processo o posto administrativo, segundo o seu estatuto orgânico, tem a função de
fiscalizar o uso do solo e o processo de edificações e construções; receber projetos e formar
processos de urbanização; verificar e aprovar projetos; verificar e emitir pareceres de informação
prévia; emitir licenças de construção; verificar e emitir autorização de obras de sexta categoria;
fiscalizar obras de construção civil e todas as obras em curso no território sob sua jurisdição;
fiscalizar o processo de regularizações; fiscalizar a prorrogação do direito de uso e
aproveitamento de terra - DUAT; verificar e emitir pareceres em casos de conflitos de âmbito
local; verificar e confirmar os números de terrenos; efetuar medições e vistorias.
A direção de construção e urbanização, após o reconhecimento da informação prestada ao
nível do bairro e posto administrativo, submete o requerimento ao presidente do conselho
municipal, que procede a autorização, isto é, atribui formalmente o direito de uso e
aproveitamento

5
de terra. Como no afirma o nosso entrevistado o Sr. Aurelio Director do departamento de
planeamento territorial Urbano, salienta que:

“O processo começa no bairro, onde preenche-se uma ficha de regularização, depois


passa para o posto administrativo municipal, sendo que no Município da Matola
existem 3 sedes. Da Matola Sede, Machava e Infulene.
No conselho municipal deve fazer um requerimento deve constar o número do talhão,
depois disso da se uma senha, esse requerimento pode ser diferido positivamente ou
negativamente, no caso de receber uma senha de indicação do talhão levar declaração
do bairro onde reside actualmente. Essa ficha depois vai a vereação na vereação a ficha
passa pelo cadastro para ver se tem registo anterior e quando não tem é aberto um
processo de cadastro, de seguida se atribui o número de processo de cadastro e
preenche a folha de lançamento onde deve ter o parecer do vereador e Diretor”.

Nesse âmbito, o nosso entrevistado acrescenta que:

“Quando é concessão é para residência quem da o parecer/assinar é o vereador, e


quando é para fins comerciais, industrial e social é o presidente do conselho
municipal”.

4.3. Os factores interferem na eficácia do processo de emissão de DUATs no Município da


Matola

MUCHACONA (2019, p. 144) no seu estudo intitulado “A SIMBOLOGIA DE


CONFLITOS DE TERRA NA HISTÓRIA DE UM POVO: MONAPO – MOÇAMBIQUE (XIX
– XXI)”, saliente alguns factores embora na prespectiva de conflito de terra, apresenta factores de
ordem institucional como a falta de técnicos devidamente formados, equipamentos adequados às
exigências do trabalho, a excessiva burocratização típica das instituições públicas, o
desconhecimento por parte de alguns funcionários dos procedimentos legais inerentes à aplicação
da legislação sobre a terra e ainda atos de corrupção durante os procedimentos. Os conflitos de
terra nem sempre são abertos. A maior parte deles, até aparecem de forma camuflada, mas são tão
nefastos que podem contribuir para criar um mau ambiente no desenvolvimento.
Na mesma prespectiva corrobora o nosso entrevistado, o Sr. Aurelio Director do
departamento de planeamento territorial Urbano Salienta os factores que interferem na eficácia
do processo de acesso ao DUAT

5
“ Existem vários factores que interferem na eficácia do processo de atribuição
do DUATS dentre este podemos destacar os seguintes : Irregularidades detetada s faz
com que o processo leve mais tempo; aumento da demanda, pois dificulta o trabalho
são muitos DUATS para poucos técnicos; Factor transporte ( mobilidade) ainda não é
eficiente, os munícipes não pagam imposto isso faz com que o município não tenha
recursos e assim os técnicos se descolarem ao terreno para ver/ tirar dados; Verificação
minuciosa no cadastro esse factor, isso faz com que o processo demore pois em caso de
não atenção pode gerar conflito haver situação de dois munícipes terem DUAT do
mesmo espaço; Não informatização num processo digital para o processo ser célere``.

Contudo, os factores no paragrafo acima mencionado, contribuem para o surgimento de


práticas corruptas no processo de aquisição do DUAT, como narra o nosso entrevistado o Sr.:
Rufino Cau, residente no posto administrativo municipal da Macha, doravante:

“Para ele do processo ser moroso, o regulamento de solos urbanos não


especifica de quem é a responsabilidade sobros os encargos de vistoria dos talhões em
processo de regularização, e este quase sempre fica sob responsabilidade do
solicitantes do DUAT, tem pago para alem da taxa regularização as despesas de
deslocação dos técnicos . eu mesmo tive que pager 6 000.00Mts, para obter o DUAT, e
mesmo levou dois anos para sair”

Um outro factor não menos importante e vale a pena salientar é a forma como os
burocratas ao nível da rua implementam as politicas publicas, no que tange ao acesso do DUAT,
temos como por exemplo os burocratas ao nível de rua ( os secretários dos bairros, chefe dos
quarteirão, os técnicos de ligados a érea de cadastro do solo urbanos) e que este para elem de
efetivaram as politicas do Estado. Na medida em que são responsáveis por executar as políticas
no contato com os cidadãos, esses profissionais acabam, ao mesmo tempo, personificando ou
materializando a imagem do Estado e tomando decisões locativas que impactam o bem-estar da
população, em algum momento a sua atuação difere-se ou não segui arisca da prevista na lei e
muitas das vezes estes tipos de funcionários actuam na maioria das vezes a dos seus supervisores,
e em algumas circunstancia são propensos a envolverem-se em situações de corrupção.

Como verificamos no município da Matola no que tange aos custos sobre a mobilidade
dos técnicos de vistoria, pois o regulamento sobre o solo urbano não diz aquém fica o cargo das
despesas de mobilidade dos técnicos e o valor que se deve ser pago aos técnicos para tal

5
mobilidade.

5
“fiz o pedido do DUAT em 2018, e só tive o DUAT no 2022, e nesse período de tempo
gastei aproximadamente a 7mil meticais, pois paguei 3 mil meticais para os técnicos
para questões de mobilidade, pois este alegar ão que não possuíam meios para poderem
se locomover” Arlindo Fernando, Morador do Bairro Boquisso.

Na mesma perspectiva a senhora Leuteria, moradora do Bairro fomento, no posto


administrativo municipal da Matola Sede, narra o seguinte:

“Solicitei o DUAT no ano de 2019, paguei todas as taxas por lei estabelecida incluindo
a mobilidade dos técnicos, mas até hoje ainda não tive o DUAT, quando procuro saber
sobre a minha situação a informação que o meu processo est á no gabinete do vereador,
o que me espanta essa morosidade é o facto de lei estabelece um período de 90 dias
úteis para e emissão do DUAT”

Nesse contexto, constatamos que a própria burocracia institucional, tem criando


condições para que não só contribuem para a morosidade do processo, como também cria
ambiente propicio para o florescimento de atos de corrupção. Como por exemplo, em bairros
periurbanos como o caso do Bairro Tchumene onde coexistem dois tipos de estruturas legais a
estrutura tradicional, o secretário de bairro. verificam-se conflito na cobrança das taxas pela
legitimação da autenticidade da propriedade, pois o decreto 15/2000, de 20 de junho, que
estabelece as formas de articulação dos órgãos locais do Estado com as autoridades comunitárias,
legitima a existência das duas estruturas, sem que, no entanto, exista subordinação entre elas.

4.4. As estratégias levadas acabo pelo Município da Matola com vista a emissão eficaz dos
DUATs

O desenvolvimento e implementação do SIGIT - Sistema de Gestão de Informação sobre


Terras adotado nos serviços provinciais e municipais do cadastro, marca uma nova era na
abordagem do cadastro territorial em Moçambique, onde o processo de regularização do DUAT
passa a ser simplificado e uniformizado criando maior aproximação entre o cadastro rural e
urbano. O que abre espaço para uma futura unificação do cadastro de terras em nível nacional.

5
Outro aspecto que concorre para a unificação dos sistemas de posse é a possibilidade de
se incluir na base cadastral, terras regidas por ocupação de comunidades locais ou de pessoas de
Boa
- Fé mediante a manifestação de interesse.

“Há 5 anos o município criou campanhas massivas de DUATS é um projeto que visa
levar o município ao munícipe só no ano 2022 já realizou 6 campanhas onde fazem as
entregas por bairro ou posto administrativo. Descentralizou de alguns serviços, já há
serviços urbanos há topógrafos e fiscais nos postos administrativos para interpretar
mapas”

Apesar do Município da Matola estar a evidenciar esforços em descentralizar os serviços


de topografia urbana para os postos administrativos municipais, a morosidade no processo da
tramitação de DUATs ainda persiste, e é justificada por um lado pelo excesso de burocracia do
próprio processo, e por outra a falta de técnicos topógrafos que possam responder as de mandas
de cada posto administrativo municipal tendo em conta as especificidades dos birros.

5
5. CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES

5.1. Conclusão

O estudo aqui desenvolvido pretendeu analisar a eficácia do processo de aquisição de


DUATS no Município da Matola (2015-2021). No contexto da introdução do SIGIT,
tecnologia, esta que proporciona aos vários agentes incluindo municipais instrumentos que
permitem manter de forma fácil e eficiente os registos actualizados, e suportam exercícios de
planificação para o uso e aproveitamento da terra nos vários domínios de interesse. O estudo não
teve a pretensão de esgotar o assunto, mas sim abrir espeço para a compreensão do processo de
aquisição de DUAT em áreas autarcisadas, especificamente no Município da Matola. Em
resposta a pergunta de partida que constitui a base desta pesquisa, onde pretendeu-se perceber
quais são os constrangimentos que enfrentado pela administração do município da Matola que
contribuem para ineficácia do processo da aquisição DUATs por parte dos munícipes ?.

Assim sendo, o estudo constatou que no Município da Matola, pesar dos esforços que as
autoridades municipais vem implementando no sentido de descentralizar alguns serviços
planeamento urbano e de topografia e o usos de meio tecnológicos para o registo de dados
geográfico especificamente o SIGIT. Tal esforço não tem sortido efeitos significativos no que
tange na eficácia da emissão do DUAT, visto que o processo costuma a levar em media 12 meses
principalmente quando se trata de licenças de concessão para habitação, encontra partida dos 90
dias estipulados pela lei. A esta morosidade o estudo constatou dois fatores interrelacionados que
possa explicar a ocorrência dessa situação.

1. Burocracia excessiva e lacunosa, pois este começa ao nível do bairro para o posto
administrativo onde se faz todo processasse regularização topográfica e atribuição
de numero do talhão caso não exista alguma irregularidade, o processo avança
para a vereação do bairro, onde o vereador da o desfecho, isto é o DUAT e de
seguida o processo volta para a secretaria do poto administrativo municipal onde
este notifica o requerente para o devido levantamento do seu DUAT. Lacunosa
porque as leis não preveem o tempo máximo para vistoria dos talhões e bem
como as

5
cobranças feitas pelos técnicos topógrafos para questões de mobilidade de espeça
a ser regularizado.

2. A falta de recursos humanos suficientes, especificamente técnicos formados na


área de ordenamento territorial e topografia, possam responder as demandas para
regularização de talhões ou terrenos.

Os factores acima conjugados contribuem para ineficácia de emissão dos DUATs no


Município da Matola contribuem para o surgimentos de outros fenómenos, pese embora não seja
o foco desse estudo mas, que vale apena mencionar é o da corrupção com vista a acelerar o
processo.

5.2. Recomendações

Como fruto das constatações obtidas com a pesquisa, são aqui levantadas as seguintes
recomendações:

I. A necessidade de formação frequente de técnicos do conselho municipal em matéria de


gestão de terra é fundamental, pois permitira a compreensão das dinâmicas de acesso a
terra em moçambique no geral e em particular nas regiões autarcizadas.
II. Intensificação de campanhas de regularização de talhões e dar a conhecer aos munícipes
que O DUAT não é o fim do processo, mas sim o início de um processo de acesso formal e
seguro de terra.
III. a existência de um sistema de gestão de informação de terras é fundamental,
independentemente da dimensão e do orçamento do município, mas que atenda as
especificações do município.
IV. Deve se dar a conhecer ao munícipe a existência uma série de prazos no contexto da gestão
urbana de terras autarcizadas por forma a garantir a transparência do processo, bem como
afixação das taxas de mobilidade dos técnicos.

5
5. 3. Referências Bibliográficas

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 Assembleia da República: Lei de Terras (LT): Lei n.ᵒ 19/97, de 1 de Outubro;

 Assembleia da República: Lei do Ordenamento do Território: Lei n.ᵒ 19/2007, de 18 de Julho;

 Assembleia da República: Lei de Bases das Autarquias Lei n.º. 2/97, de 28 de Maio;

 Conselho de Ministros: Regulamento do Solo Urbano: Decreto n.ᵒ 60/2006, de 26 de Dezembro.

Apêndices

6
Universidade Eduardo Mondlane
Faculdade de Letras e Ciências Sociais
Departamento de Ciência Política e Administração Pública
Licenciatura em Administração Pública

Instituição: UEM
Pesquisador: Neima Arlindo Munave
Contacto:
E-mail:

6
Caro (s) Munícipe (s). Este questionário visa recolher informações para um trabalho de pesquisa, no âmbito
do Curso de Licenciatura em Administração Pública, na Faculdade de Letras e Ciências Sociais-
Universidade Eduardo Mondalane- Maputo, que tem por tema : Análise da eficácia do processo de
aquisição de DUATS no Município da Matola (2015-2021) . Sua colaboração é absolutamente
indispensável para que possamos conduzir nossa investigação à meta desejada.

Guião de Entrevista semi-estruturada direcionados aos Munícipes do Conselho Municipal da Cidade da


Matola que tenha solicitado o DUAT no período de 2015-2021.

Dados

Nome:

Sexo: Habilitação Literárias: Quanto tempo levou para obtenção do DUAT

15 dias 45 dias 60 dias 1 ano

Idade Em que ano solicitou o DUAT:

1. Como avalia o processo de aquisição do DUAT no Município da Matola?

2. Quais são os constrangimentos que teve de enfrentar durante o processo de pedido até a
emissão de DUATs?
3. Quanto é que teve de gastar para obter o DUAT? .
4. Se fosse para melhor esse processo o que o senhor (a) recomendava?

Anexos

Anexo 1. Folha a de lançamento

6
Anexo 2.
Ficha de
pedido de regularização

6
Anexo 3 Título de direito de uso e aproveitamento de terreno
urbano

6
Anexo 4. credencial

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