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19h30 PM - Pensyble - Russia: Ano 2002

2 anos após o acontecimento o caso foi reaberto.


Sala do Interrogatório, S.W.A.T

Depoimento da irmã, Clarice:


Era tarde da noite, eu estava cansada após meu trabalho, ajudava minha mãe todos os dias em
sua floricultura.

Eu tinha entre 17 anos nessa época, tinha acabado de terminar meus estudos na escola com
recursos melhores na cidade próxima, era 1h30 de distância. Estávamos tentando juntar um
pouco de grana para poder pagar os remédios de minha irmã que havia adoecido a pouco
tempo.

Poderia parecer pouco para alguém com um salário razoável, fixo mas nossa família vivia de
bicos e da floricultura que não rendia bem. Mas minha mãe preferia viver assim com a
esperança da floricultura ser reconhecida do que começar um trabalho que ela não gosta, meu
pai já não consegue muitos trabalhos pelo seu temperamento e por ter feito até o oitavo ano
da escola.

Deitei-me na minha cama de solteira, já estava bem desgastado o colchão, até senti a madeira
por baixo, sabia que na manhã seguinte sentiria uma dor descomunal nas costas. Ao meu lado
havia a cama de minha irmã Nathalie, ela ficava bem pequenina naquela cama que era minha
quando eu tinha sua idade, estava descansando neste momento, já havia sido alimentada pela
minha mãe e tomado seus remedio, sua pele tinha tomado um tom esbranquiçada
recentemente, tinha bastante dificuldade de se movimentar sozinha, tinha vezes que berrava
de dor em seus ossos, mal falava quando perguntávamos o'que estava acontece. Mas o
médico disse para nós que provavelmente eram seus ossos estavam frágeis e qualquer
mínimo movimento haveria uma dor aguda, eles estavam investigando a procedência dessa
‘coisa’, diziam que era algo que jamais haviam visto antes.

Antes desse estado dela achávamos que era apenas uma gripe, que logo iria sarar. Mas após
ela se machucar, estava ficando pior, o machucado não sarava, ficava mais infecciosa e
expelia pus, chegou a ter uma febre descomunal, então a levamos ao médico da cidade
próxima já que em nossa cidade não havia nada disso. Foi horas dentro do carro
desconfortável, ela deitada no colo de minha mãe. O semblante era doloroso demais de ficar
olhando, ela chorava como jamais chorou por mim, estava morrendo de perder a filha caçula
e não poder presenciar seu crescimento, o dinheiro que estávamos tentando guardar para sua
faculdade. Se me permite dizer detetive, tive um pouco de inveja de Nathalie, mas enfim.

Após passarmos pela triagem, e irmos até um médico especializado, ela foi examinada,
coletaram amostras de sangue, urina, fezes e todo tipo de amostras que você imaginar,
passamos mais de 10 horas no hospital, víamos gente entrar e sair, vi minha mãe ir até a
maternidade e chorar porque se lembrava de quando deu a luz a Nathalie, fiquei um pouco
aborrecida e me sentia culpada pois nunca tive um amor assim por eles, fui indesejada já ela
foi uma filha planejada, sei que minha mãe me ama mas é bem triste para mim, não sei dizer.
Enfim

Clarice pega um lenço que a detetive entrega, estava com os olhos marejados. A detetive lhe
dá um olhar solidário

Ele nos passou alguns remédios, disse algumas medidas de cuidados que deveríamos ter com
a pequena esperança, era assim que minha mãe a chamava. Os remédios eram bem caros para
nós, dobrei dias de trabalhos com minha mãe, mal comíamos pois a nossa mistura ia toda
para ela, que era bem pouco já que tínhamos que decidir entre comprar para todos ou os
remédios e pouquíssima comida. Cheguei a odiar Nathalie algumas vezes por essa doença
rara que ela havia desenvolvido em seu corpo e que ninguém sabia uma cura, parecia que as
porcarias dos remédios só faziam efeito por pouco tempo, ela vomitava após 4 horas de
ingerir o remédio, a comida também, a água não hidratava tanto ela. Nada estava funcionando
até aquela noite, demos 30 mg de morfina para que a dor parasse e ela pudesse dormir, e que
a gente também pudesse. Eu chorava todas as noites pedindo que ela morresse logo, para que
pudéssemos ter uma fase de luto e recuperação, ou que melhorasse logo. E naquela noite qu o
caos começou, eu tinha deitado a poucos minutos e estava exausta, iria dormir a qualquer
minuto até que ouvir uns grunhidos baixos vindo de Nathalie, ignorei pois poderia ser ela
falando inconsciente pois sempre fez isso enquanto dormia, comecei a ouvir um bater de
dentes, e não, Nathalie nunca teve bruxismo, isso era novo. Virei-me para o lado de sua cama
e ela estava, Deus como posso dizer isso? Morta-viva? Sim, era isso que parecia.

Seus olhos estavam todos pretos, não havia mais nada ali, nada! Ela me olhava com fúria em
seu rosto pálido, o braço machucado estava muito pior agora, percebi que seus grunhidos
eram como um rosnado de um cão menor. Estava esquelética em pose de ataque, parecia que
seus olhos iam desmontar como uma pilha de cartas algumas horas, com apenas um soprar. E
ela voou em mim com uma velocidade que nenhum humano teria, tentando me morder, esse
parecia o objetivo dela, eu revidei tentando bater em seu rosto com minha mão livre, parecia
que não se importava com a dor ou não a sentia mais.

Ela nesse momento começou a tentar me estrangular, está vendo essas marcas? São os
dedinhos minúsculos e magricela que os fez isso, tinha a força de uma muralha raivosa, nem
um homem altamente bombado teria tamanha força, era surreal.

Eu peguei o abajur que ficava na minha cabeceira e comecei a bater em sua cabeça e a chutei
para longe, fechei a porta. Empurrei com dificuldade um móvel na porta e fui procurar o
primeiro telefone que havia na casa, ficava na sala de estar, numa mesinha com uma flor e
cartões comerciais de minha mãe, era bem velho, era antiguidade de minha bisavó.

Liguei para 911, demorou alguns segundos até que uma moça com uma voz simpática
atendeu, contei o que estava acontecendo e ela pediu para que eu esperasse umas 1h30, pois
é. Não havia uma polícia local, todos os recursos necessários tinha apenas na cidade próxima.
Pediu para que eu ficasse na ligação, mas eu disse que não sabia quanto tempo a porta ia
aguentar então me escondi no sótão da casa, fiquei lá com o telefone sem fio, a mulher tentou
me acalmar. Até que não ouvi mais a porta ser baquetada pela coisa, ela pediu para eu ir
averiguar a situação, então desci com maior cuidado, e vi a coisa no quarto de meus pais.
Que cena horrível! Fico aterrorizada quando lembro, dói meu peito, dá-me uma angústia sem
igual, aquela coisa mordia minha mãe, meu pai não havia dormido em casa. Ele passava a
maior parte em algum bar jogado até o amanhecer, com alguma vadia para satisfazer os
prazeres impuros de sua mente doentia.

E não ouvi nenhum grunhido, minha mãe era muda e surda, usávamos linguagem de sinais
para nos comunicarmos por isso trabalhava com ela em sua floricultura, eu era a balconista da
loja, minha mãe fazia os arranjos e eu me comunicava com a clientela.

Após ver uma mar de sangue naquele quarto, corri de volta para o sótão antes que fosse a
próxima presa daquela criatura animalesca, tentei chorar baixinho e contar em meio a soluços
para a moça da chamada, faltava uns 30 minutos para a polícia chegar até a residência,
comecei a ouvir movimentos na casa, no andar de baixo, acho que o animal estava me
procurando, mas não sabia onde eu estava para meu alívio até que escutei a porta sendo
aberta com uma voz rindo, provavelmente era o nosso pai, bêbado e gritos foram ouvidos,
nisso faltava menos de 3 minutos para polícia chegar e a movimentação dos nossos vizinhos
foram ouvidas, pessoas murmurando e tentando olhar. A polícia cercou o lugar e tentou
afastar a multidão curiosa, a cena foi privada claro. Eu fui resgatada por um policial, alguns
haviam sido mortos no processo até que vi, ela no chão tendo espasmos, foi então isso o tiro
que eu ouvi, um tiro no meio da testa e vários outros pelo corpo, o que saia era um sangue
diferente, não era mais um sangue normal humano. Como era a cor? Bom, jamais poderei me
esquecer daquela cor, um verde musgo tinha um cheiro horripilante, ninguém conseguiu ficar
por muito tempo.

Mas por qual motivo reabriram este caso? Faz mais de dois anos.

Há sim, entendo. Ela brincava muito naquele local abandonado, ela era bastante solitária mas
encantadora ao mesmo tempo então passava por lá, seja lá oque fizesse.

Estão investigando? Iram congelar? Deus! Não acredito que outra criança foi alvo disso.
Entendo, então parece que aquilo é mais agressivo em pessoas já com corpo fragilizado. Por
favor! Peço que faça isso para que nenhuma família sinta o'que eu senti.

Em uma breve pausa, a detetive estava juntando os papéis do caso que estava quase fechado.
O governo local decidiu acabar com o caso e varrer para debaixo dos tapetes. Foi proibido
que falassem nesse caso novamente. Parece que há muito tempo coisas radioativas foram
jogadas lá para que a natureza acabasse com aquilo mas se agravou em algo maior. A
cidade foi acobertada e ninguém mais vive lá.

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