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Letramento Escolar e

Cotidiano
Análise de Experiências sobre Práticas
de Letramento à Luz da
Crítica Social
Conselho Editorial

Profa. Dra. Andrea Domingues


Prof. Dr. Antonio Cesar Galhardi
Profa. Dra. Benedita Cássia Sant’anna
Prof. Dr. Carlos Bauer
Profa. Dra. Cristianne Famer Rocha
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©2014 Úrsula Nascimento de Sousa Cunha


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C9145 Cunha, Úrsula Nascimento de Sousa.


Letramento Escolar e Cotidiano: Análise de Experiências Sobre
Práticas de Letramento à Luz da Crítica Cultural/Úrsula Nasci-
mento de Sousa Cunha. Jundiaí, Paco Editorial: 2014.

144 p. Inclui bibliografia.

ISBN: 978-85-8148-527-0

1. Letramento 2. Crítica Cultural 3. Análise de Experiências


4. Educação I. Gonçalves, Ana Teresa Marques.

CDD: 370

Índices para catálogo sistemático:


Pedagogia 370
Escola - Métodos de Ensino. Pedagogia. A Escola - 371
Política Escolar

IMPRESSO NO BRASIL
PRINTED IN BRAZIL
Foi feito Depósito Legal
Dedicatória

A meu esposo, Everton José, meu filho Daniel


e meus pais, Lourival e Ermicelina, que me inspira-
ram na busca pelo conhecimento, com seus exem-
plos e palavras.
Às minhas irmãs, Damaris e Daniela, e meu ir-
mão, Lourival, por seus acolhimentos em momen-
tos de cansaço e introspecção.
Aos meus sobrinhos, Arthur e Maria Eduarda,
pela beleza que é aprender a cada dia.
Sumário

Prefácio.........................................................................11
Introdução......................................................................................15

CAPÍTULO 1

Opções Político-Metodológicas para a Investigação de Práticas


de Letramento Escolar e Social.....................................................21
1. Etapas de trabalho................................................................24
1.1 Primeira etapa: elaboração do projeto de
pesquisa..................................................................................24
1.2 Segunda etapa: a coleta de dados.................................25
1.2.1 A observação como técnica de coleta de
dados.................................................................................27
1.2.2 Instrumento de coleta de dados: questionários.......27
1.2.3 Técnica da entrevista..................................................30
1.2.4 Reuniões de coordenação e reunião com pais e
professores........................................................................32
1.3 Terceira etapa: análise e interpretação dos dados..........32
1.4 Quarta etapa: triangulação metodológica........................33
2. Professor pesquisador..........................................................35

CAPÍTULO 2

Um Olhar Sobre Concepção de Letramento...............................37


1. Letramento: pressupostos e funcionalidades....................37
1.1 Letramento escolar........................................................43
1.2 Letramento modelo autônomo e letramento modelo
ideológico..............................................................................46
1.3 Mitos do letramento......................................................55
2. Letramento e interação oral: prática discursiva que
precede a escrita........................................................................57
CAPÍTULO 3

Aspectos Identitários e o “Entre-Lugar”: Onde Esses Sujeitos


se Encaixam?....................................................................................61
1. Identidade escolar e identidade do sujeito: entre o diálogo
e a ruptura..................................................................................62
2. Identidade letrada dos moradores da periferia................69
2.1 “É leitura, né diretora, eu nem percebi”: o
conhecimento escolar e o conhecimento cotidiano nas
práticas de leitura e de escrita.............................................76
3. Expectativa dos discentes e dos docentes em torno da
escola.......................................................................................81
4. Os alunos e seus textos: o que os discentes revelam sobre
suas leituras e seus escritos......................................................89

CAPÍTULO 4

Letramentos Dominantes e Marginalizados: Como a Escola Lida


com essa Situação?.......................................................................93
1. Caracterização dos sujeitos da pesquisa em relação ao uso
de tecnologias............................................................................96
2. A tecnologia como suporte de produção de textos........98
2.1 O aparelho celular como potencializador de
textos.....................................................................................98
2.2 Blog, espaço quase libertário de escrita....................101
3. A escrita nos meios digitais: é possível refletir sobre a função
social da escrita e da leitura, além dos muros da escola?..........103
3.1 O ciberespaço e o descortinar de identidades: o texto
digital empoderando vozes silenciadas..........................108
3.2 Blog discente................................................................111
4. Blog: “livro em que se aponta o rumo de uma
navegação”...............................................................................113
5. Enunciação discursiva: a voz da denúncia social através da
tecnologia.................................................................................120
5.1 Um breve relato da produção do documentário sobre a
poluição dos riachos................................................................120
5.2 Outros textos, outras leituras: o meio ambiente
enquanto elemento textual.....................................................123

Considerações Finais.....................................................................125

Referências...................................................................................133

Tabelas e Imagens

Tabela 1 - Resultado do IDEB dos anos 2005, 2007 e 2009..........19


Tabela 2 - Jornada de trabalho dos professores entrevistados
para a pesquisa.................................................................................84
Tabela 3 - Grau de satisfação com a docência..............................85
Tabela 4 - Expectativa do aluno em relação à escola.................86
Tabela 5 - Intercâmbio entre os conhecimentos escolares e a
vida cotidiana do aluno...................................................................86
Figura 1 - Fachada da lanchonete de dona Coaraci....................41
Figura 2 - Capa do Livro do Projeto Literário..................52
Figura 3 - Foto tirada através do celular pelo aluno André, 7ª
série, de um poço artesiano no bairro Pedra do Descanso.......101
Figura 4 - Texto escrito pelo aluno da EJA II, EIXO IV e pos-
tado no blog da escola..................................................................118
Quadros 1, 2 e 3..........................................................................53
Quadro 4 - Dados da entrevista com professores.....................83
Gráfico 1...........................................................................................91
Gráfico 2...........................................................................................91
Gráfico 3 - Aparelhos tecnológicos mais utilizados pelos alunos
pesquisados da 7ª série.....................................................................97
Gráfico 4 - Quantidade de acesso à internet pelos alunos da
7ª série................................................................................................97
Gráfico 5 - Sites mais acessados pelos alunos da 7ª série..........98
Prefácio

Os estudos do letramento escolar na realidade brasileira po-


dem, a partir do livro Letramento Escolar e Cotidiano: refle-
xão sobre práticas de letramento à luz da Crítica Cultural,
de Úrsula Cunha, superar uma importante dicotomia que se for-
taleceu na conceituação de práticas escolares e práticas sociais de
letramento. O conceito de letramento como práticas sociais que
inclui a escola, por exemplo, contempla em boa medida a diver-
sidade das práticas sociais de uso da escrita. Há estudos focados
nas praticas sociais religiosas, jurídicas, jornalísticas, médicas, etc.
Rigorosamente, os estudos sobre a pluralidade das práticas sociais
de uso da escrita são vastos e podem se expandir ainda mais, por-
que a nossa realidade social é cada vez mais pautada por deman-
das de leitura e de escrita que, também, são demandas de estudos
em letramento. Essas demandas, por sua vez, são complexas e
vinculadas a importantes processos de interfaces implicados nas
relações interculturais étnicas e territoriais, por exemplo, as que se
configuram nas relações entre a cultura rural e a cultura urbana.
As comunidades rurais, em geral, cada vez mais reivindicam a
escola como parte dos seus direitos sociais legítimos. As cidades,
por sua vez, são cada vez mais obrigadas a oferecer a educação
escolar para os jovens que migram da zona rural à procura de
emprego nas grandes e médias cidades brasileiras.
Esses deslocamentos, a rigor, se configuram como desafios
importantes não apenas para o poder público, mas também e,
necessariamente, para a pesquisa educacional e escolar, já que
resultam em alguma mudança da expectativa em relação à escola
e, consequentemente, na mudança do projeto de escolarização e
do letramento escolar. Dito de outra forma e, ao mesmo tempo,
arriscando uma expansão dessa reflexão, os pesquisadores do le-
tramento escolar, tal como o faz Úrsula Cunha nesta obra, terão
também o desafio de investigar os significados desse letramento,
levando em conta a pluralidade cultural que ocupa suas carteiras

11
Úrsula Nascimento de Sousa Cunha

e como essa pluralidade estrangula o modelo universal de esco-


larização e constitui a noosfera da ensino-aprendizagem da escrita
e da leitura nas periferias urbanas brasileira.
Até aqui, os desafios dos estudos do letramento escolar têm
sido o de constatar o fracasso do letramento universal de letra-
mento, muitas vezes confundido com a própria prática escolar
de ensino da escrita. A partir das contribuições desta obra, ou-
tros objetos também relevantes são evidenciados, por exemplo,
os deslocamentos de práticas sociais de escrita, a exemplo dos
usos digitais da escrita, como parte do saber escolar e, conse-
quentemente, como espaços de manifestação de vozes periféri-
cas e oprimidas da cultura juvenil. Rigorosamente, a criação de
espaços virtuais de manifestação dessas vozes como parte do
currículo escolar reformula o conceito de escola como agência
autônoma e universal de letramento, uma vez que abraça com
rigor analítico e formativo a heterogeneidade das manifestações
discursivas. Neste sentido, os resultados da pesquisa aqui publi-
cados fazem com que, ao contrário das formulações conceitu-
ais anteriores, o letramento escolarizado seja confundido com
a prática social da escrita, ou seja, uma prática intercultural e
empoderadora das minorias negras e pobres que se manifestam
no/e pelos espaços escolares de uso da escrita.
O livro Letramento Escolar e Cotidiano: reflexão sobre
práticas de letramento à luz da Crítica Cultural, da professo-
ra Úrsula Cunha, o qual tenho a honra de prefaciar, é uma obra
que permite redesenhar as pesquisas sobre as práticas de ensino
da escrita na escola, já que nos convoca para dentro da escola e
para a sua relação com as práticas efetivas de escrita do cotidiano
das cidades e das suas periferias. A rigor, a obra aponta para este
novo comportamento acadêmico pela pesquisa e pela formação
docente e posiciona a escola ou o projeto da escola como um
espaço dos sujeitos culturalmente situados, como uma proposta
clara e com a clareza da diversidade e das expectativas dessa di-
versidade a serviço de uma política de inclusão, verdadeiramen-

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Letramento Escolar e Cotidiano

te, a serviço das demandas de letramento da periferia, na/e para


diversidade cultural.
Por fim, os leitores deste livro, em especial, os professores-
-pesquisadores terão duas importantes contribuições para sua
formação continuada. A primeira diz respeito a como fazer pes-
quisa sobre letramento escolar, tendo como pressuposto o modelo
ideológico ou não escolar de letramento. O apoio neste pressupos-
to aponta necessariamente para uma visão não preconceituosa
das práticas de escrita, incluindo não apenas o padrão escolar,
mas, sobretudo, os padrões que se definem nos usos, nas inte-
rações sociais em que a escrita, seus usuários e seus variados su-
portes fazem parte. A segunda diz respeito a como desenvolver
a transposição didática dessas práticas para o currículo escolar.
A inserção dos usos sociais da escrita nos projetos escolares re-
quer necessariamente esse fortalecimento da ação docente. As
pesquisas sobre o contexto cultural e social dos alunos e das suas
demandas de ensino-aprendizagem se tornam requisitos relevan-
tes não apenas para a produção de uma pesquisa e da formação
do pesquisador, mas também para a formação docente, inclusive
com desdobramentos práticos na política de letramento escolar
e na elaboração de projetos e sequências didáticas para a inser-
ção efetiva dos alunos nas práticas sociais de escrita.

Cosme Batista dos Santos

Professor Titular da Universidade do Estado da Bahia –


UNEB/Campus de Juazeiro

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Introdução

“A escola é importante, pró, pra gente ser gente”. Essa afirmação do


aluno Nélson1, do 8º ano, de uma escola na periferia na Bahia, re-
flete um dos papéis atribuídos à escola por quem a vivencia e vê,
nessa agência, a possibilidade de concretização de seus anseios
pessoais, profissionais e de inserção em um mundo que cada
vez mais valoriza o conhecimento e a informação. No entanto,
nem sempre essa expectativa gerada em torno dessa instituição
de ensino pode (e deve) ser ratificada, pois é possível notar que
o olhar de outros atores que atuam nesse universo (docentes,
gestores, funcionários da instituição) não percebe, nem atribui, a
mesma significação à escola e às suas práticas cotidianas.
Um desses atores, Nélson, aluno morador de um bairro na
periferia de Feira de Santana (BA), às margens do rio Jacuípe
(na BR 116 – Sul), é o único em sua família que está próximo a
concluir o Ensino Fundamental II: sua mãe, Coaraci, abandonou
os estudos no Ensino Fundamental I e alega que não tem mais
condições de voltar à escola pois, segundo ela, “tem muito trabalho
e falta de tempo para aprender a ler de verdade”. Para ele, as práticas es-
colares são garantia de uma melhor profissionalização no futuro,
embora reconheça que, na atualidade, os assuntos estudados na
escola nem sempre contribuem efetivamente no seu dia-a-dia.
Muitos moradores dessa localidade que frequentam a escola,
apesar de envolverem-se constantemente em diversas práticas
letradas em seu cotidiano na localidade onde vivem – desde o re-
gistro do tipo e da quantidade de peixes pescados no dia a recei-
tas que costumam escrever ao assistirem televisão ou folhearem
revistas – afirmam não saber ler nem escrever “direito” e não
percebem como essas atividades cotidianas que realizam podem
aproximar-se das práticas da escola e dos eventos de letramento
que as constituem. Por isso, apesar de acreditar na escola como

1. Os nomes dos alunos, professores, pais e responsáveis que são citados neste livro.

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