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Vida e obras

INTRODUÇÃO

Ludwig Wittgenstein nasceu em Viena em 1889 e morreu em Cambridge


em 1951. O seu Tractatus logico-philosophicus, um clássico de 70 páginas da
filosofia do século XX, foi completado em 1918, quando Wittgenstein tinha
29 anos. Ele depois abandonou a filosofia por 10 anos, trabalhando primei-
ramente como professor de escola primária na Áustria rural e depois como
arquiteto, construindo uma casa para a sua irmã em Viena. Pouco depois do
seu retorno à filosofia, em 1929, publicou um breve texto de conferência;
mas ele não gostou do texto e falou sobre um assunto diferente na conferên-
cia para a qual aquele foi intencionado. Não publicou nada mais durante o
seu período de vida. Mas, de 1929 até a sua morte em 1951, ele trabalhou
quase con­tinuamente em filosofia, escrevendo milhares de páginas em ma-
nuscrito e, na maior parte desse tempo, ensinando em Cambridge, onde foi
conferencista e mais tarde Professor de Filosofia. Fez várias de tentativas de
produzir um livro que propriamente expressasse os pensamentos que tinha
desenvolvido desde que escrevera o Tractatus. Mas ficava insatisfeito com
cada tentativa e jamais publicou ele próprio esses pensamentos, deixando aos
seus testa­menteiros literários a tarefa de levar a sua obra à publicação, após
a sua morte.
A segunda obra principal de Wittgenstein, as Investigações filosóficas,
foi publicada postumamente em 1953. As edições-padrão dessa obra contêm
duas partes. Nas primeiras três edições (publicadas em 1953, 1958 e 2001),
essas são intituladas Investigações filosóficas Parte I e Parte II. A quarta edição
(publicada em 2009) as chama de, respectivamente, Investigações filosóficas
e Filosofia da psicologia – um fragmento. Farei uso da terminologia da quarta

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edição. O texto publicado das Investigações filosóficas é o último de uma série


de versões do seu livro projetado e que Wittgenstein produziu no período de
1937 a 1946. Filosofia da psicologia – um fragmento é uma seleção, por Witt-
genstein, a partir do trabalho que ele realizou nos três anos até 1949.
Desde 1953 tem havido a publicação de um amplo corpo de outras obras
escritas por, ou que se originam de, Wittgenstein. Alguns dos textos datilogra-
fados e cadernos de notas de Wittgenstein foram publicados como livros, há
textos que ele ditou para estudantes, notas tomadas por estudantes em suas
aulas e assim por diante. E todos os manuscritos e textos datilografados de
Wittgenstein estão agora disponíveis em uma edição eletrônica. Para nenhum
desses materiais Wittgenstein tinha o objetivo de uma publicação geral, e
a maior parte do que hoje em dia é tratado como obras escritas por Witt-
genstein foi considerada por ele como sendo, na melhor das hipóteses, um
trabalho em preparação. Mas esses escritos são importantes em si mesmos;
eles lançam uma luz sobre as ideias expressas nas Investigações filosóficas e
mostram o pensamento de Wittgenstein sobre tópicos que não são diretamen-
te discutidos nas Investigações filosóficas.
No período que segue a publicação das Investigações filosóficas, era co-
mum considerar Wittgenstein como o criador de duas filosofias muito dife-
rentes e diametralmente opostas: a primeira filosofia do Tractatus e a filosofia
tardia das Investigações filosóficas. Com a publicação de mais partes dos escri-
tos de Wittgenstein e com a distância crítica propiciada pelo tempo, a relação
entre a primeira obra e a obra tardia de Wittgenstein parece mais complicada,
ao menos em dois aspectos. Em primeiro lugar, é claro que existem continui-
dades significativas entre o Tractatus e as Investigações filosóficas, bem como
significativas descontinuidades. Há um debate vivo e contínuo entre comen-
tadores acerca da natureza, da extensão e da importância relativa dessas con-
tinuidades e descontinuidades. Em segundo lugar, os escritos de Wittgenstein
entre 1929 e 1951 não representam uma “filosofia tardia” unificada e homo-
gênea. As ideias apresentadas nas Investigações filosóficas se desenvolveram
gradualmente, depois do retorno de Wittgenstein à filosofia, com mudanças
significativas ao longo do caminho.
Alguns autores identificam um “período intermediário” distinto na obra
filosófica de Wittgenstein, representado pelos seus escritos desde o início dos
anos de 1930. Outros veem os últimos escritos de Wittgenstein – a obra que
ele escreveu depois da composição das Investigações filosóficas – como in-
corporando ideias novas distintivas. A minha própria opinião é que fazemos
melhor simplesmente lendo cada obra no contexto do seu lugar no desenvol-
vimento das ideias de Wittgenstein, sem tentar contar um número de fases
distintas na sua filosofia.

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CONTEXTO E PRIMEIROS ANOS


Wittgenstein foi o mais jovem de oito crianças; ele tinha quarto irmãos e
três irmãs. O seu pai, Karl Wittgenstein, era uma figura de destaque na indús-
tria do ferro e do aço, um dos homens mais ricos no Império Austro-Húngaro.
A sua mãe, Leopoldine, era uma música de talento. Noites musicais na man-
são da família, em Viena, eram visitadas por Brahms e Mahler, entre outros.
A família tinha uma coleção de arte que incluía obras feitas por Klimt (que
pintou um retrato da irmã de Wittgenstein, Margaret Stonborough) e Rodin.
O irmão de Wittgenstein, Paul, era um concertista de piano que realizava
concertos: ele perdeu o seu braço direito na I Guerra Mundial, mas continuou
a interpretar; foi para ele que Ravel e Prokofiev compuseram, cada um deles,
um concerto para piano para a mão esquerda. E Wittgenstein partilhava a pai-
xão por música que era comum à maior parte da família. “É impossível para
mim dizer uma palavra em meu livro sobre tudo o que a música significou
na minha vida”, ele disse uma vez para um amigo; “Como, então, posso ter a
esperança de ser entendido?” (Drury, 1981:173).
Nos seus primeiros anos, Wittgenstein, como os seus irmãos, foi educado
em casa. Isso mudou quando ele estava no início da sua adolescência. O seu
pai havia obrigado os irmãos mais velhos de Ludwig a um regime de educação
rigoroso, designado para prepará-los para uma vida no comércio e na indús-
tria. Mas as consequências foram desastrosas para dois dos irmãos de Ludwig,
que tinham talentos e interesses muito diferentes do seu pai. Hans, um gênio
musical, fugiu para os Estados Unidos e desapareceu em 1902, tendo aparen-
temente tirado a própria vida. Rudolf, um ator, cometeu suicídio em Berlim,
em 1904. Em parte como resultado da morte de Hans, os irmãos mais jovens,
Ludwig e Paul, receberam subsequentemente uma educação mais ortodoxa e
foram enviados para a escola, em 1903. Por três anos, até 1906, Ludwig fre-
quentou uma escola técnica em Linz. De 1906 a 1908, ele estudou na univer-
sidade técnica em Charlottenburg, Berlim. Ele mais tarde contou a um amigo
que, embora “tivesse sido educado para a engenharia... ele não tinha nem
gosto nem talento” para o assunto (McGuinness, 1988:93). Mas, ainda que
ele claramente sofresse com o peso do desejo do seu pai de que ao menos um
dos seus filhos tivesse sucesso em uma profissão técnica, o seu fascínio pela
maquinaria foi genuíno e duradouro. Na infância, ele construiu uma máqui-
na de costurar que funcionava. E “mesmo nos seus últimos anos ele gastaria
um dia inteiro com as suas tão apreciadas máquinas a vapor”, no Museu de
Ciência em Londres (von Wright, 1955:4–5). Tendo obtido um diploma de
Berlim, Wittgenstein se mudou para Manchester, onde permaneceu de 1908
a 1911, inscrito como estudante de pesquisa na Universidade de Manchester.

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Primeiramente, ele esteve ocupado em construir e fazer experimentos com pi-


pas, em uma estação de pesquisa meteorológica em Glossop. Posteriormente,
trabalhou no projeto de uma máquina a jato e, mais tarde, em um propulsor,
cujo projeto patenteou em 1911.
Nesses primeiros anos, Wittgenstein não fez nenhum estudo formal
de filosofia. Ele observou mais tarde que “tinha lido Die Welt als Wille und
Vorstellung (O mundo como vontade e representação), de Schopenhauer, em
sua juventude e que a sua primeira filosofia foi um idealismo epistemológico
schopenhaueriano” (von Wright, 1955:6) – uma visão que faz distinção entre
o mundo como ele aparece a nós (o “mundo empírico” ou o mundo “como re-
presentação’) e o mundo como ele é em si mesmo (o “mundo numênico” ou o
mundo “como vontade”), considerando o mundo tal como é em si mesmo como
acessível a nós via a nossa própria experiência de vontade. Outras influên­
cias intelectuais do início incluíam os físicos Ludwig Boltzmann e Heinrich
Hertz, ambos os quais escreveram sobre filosofia bem como sobre ciência. As
suas visões sobre a relação entre pensamento e realidade têm eco em partes
do Tractatus de Wittgenstein. E Wittgenstein tinha simpatia pela concepção
de filosofia de Hertz, citando com aprovação a observação de Hertz de que
a tarefa da filosofia não é avançar teorias positivas próprias, mas “moldar
expressões de tal maneira que certas preocupações desaparecem” (GT:310).
Enquanto trabalhava como estudante de pesquisa em Manchester, Witt­
genstein se tornou cada vez mais interessado pela matemática e por seus
fundamentos. Ele participou de preleções e de seminários sobre esses tópicos.
E fez um estudo detalhado dos Princípios da matemática, de Bertrand Russell,
e dos Grundgesetze der Arithmetik (As leis básicas da aritmética), de Gottlob
Frege, ambas as quais têm interesse no projeto de derivar a matemática de
princípios lógicos básicos, autoevidentes. Em 1909, ele formulou uma tentati-
va de solução para um dos problemas que Frege e Russell estavam tratando,
enviando-a para um amigo de Russell, e em 1911 ele visitou Frege em Iena, na
Alemanha. Frege o aconselhou a ir para Cambridge, para estudar os fundamen-
tos da matemática com Russell. Os próximos dois anos se revelaram centrais
nas vidas intelectuais tanto de Wittgenstein quanto de Russell.

1911–1919: CAMBRIDGE, A I GUERRA MUNDIAL E O TRACTATUS


Wittgenstein chegou a Cambridge em outubro de 1911. Ele foi dire­
tamente ver Russell, em quem causou uma impressão imediata. Russell es-
creveu:

Um alemão desconhecido apareceu, falando muito pouco de inglês,


mas recusando-se a falar alemão. Ele revelou ser um homem que tinha
aprendido engenharia em Charlottenburg, mas durante o seu curso tinha

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adquirido, por si mesmo, uma paixão pela filosofia da matemática, vindo
agora para Cambridge com o propósito de me ouvir.
(Russell, Carta a Ottoline Morrell, 18 de outubro de 1911,
citado em Monk, 1990: 38–39; ainda que Russell escreva “um
alemão desconhecido”, Wittgenstein era, em realidade, austríaco.)

No dia seguinte ele escreveu: “O meu amigo alemão ameaça ser um fardo,
ele voltou comigo depois de minha aula e debateu até a hora do jantar – é obs-
tinado e perverso, mas creio que não é burro” (Russell, 19 outubro de 1911, em
Monk, 1990, p. 39). E quatro semanas mais tarde, “O meu feroz alemão veio e
debateu comigo depois da minha aula. Ele é revestido por uma armadura con-
tra todos os assaltos do raciocínio. É realmente uma perda de tempo conversar
com ele” (Russell, 16 de novembro de 1911, em Monk, 1990:40).
Ao final do trimestre em Cambridge, Wittgenstein estava incerto sobre
insistir na filosofia ou continuar o seu trabalho em aeronáutica. Ele pediu o
conselho de Russell:

O meu alemão está hesitando entre filosofia e aviação; ele me perguntou


hoje se eu acreditava que ele era definitivamente sem futuro em filoso-
fia, e eu lhe disse que não sabia, mas achava que não. Pedi-lhe que me
trouxesse alguma coisa escrita para me ajudar a fazer uma apreciação.
(Russell, 27 de novembro de 1911, em Monk, 1990:40)

Foi quando Wittgenstein lhe entregou o que tinha escrito durante as fé-
rias de Natal que Russell viu a extensão verdadeira da sua habilidade. Era, as-
sim ele escreveu, “muito bom, muito melhor do que os meus alunos ingleses
fazem. Eu certamente o encorajarei. Talvez ele venha a fazer grandes coisas”
(Russell, 23 de janeiro de 1912, em Monk, 1990:41).
Pouco depois, Wittgenstein estava matriculado como aluno do bachare-
lado e depois como estudante avançado em Cambridge, com Russell como o
seu supervisor. Ele gastou os próximos cinco trimestres, até o verão de 1913,
trabalhando em Cambridge, em estreita colaboração intelectual com Russell.
Durante esse tempo, ele também firmou amizades duradouras com o filósofo
G. E. Moore e o economista J. M. Keynes, entre outros. Na morte do seu pai,
em janeiro de 1913, ele herdou uma grande fortuna.
Na maior parte do ano acadêmico de 1913–1914, Wittgenstein viveu so-
zinho, em um vilarejo remoto no oeste da Noruega, trabalhando em filosofia
e desenvolvendo as concepções que tinha começado a formar em Cambridge.
Moore o visitou na Noruega, na primavera de 1914; Wittgenstein ditou a
Moore algumas notas relatando as suas novas ideias, e ele tinha esperança de
que esse seria um meio de comunicá-las a Russell.
A guerra irrompeu em agosto de 1914. Wittgenstein foi dispensado do
serviço militar por motivos de saúde: ele tinha tido passado por mais de uma

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operação na hérnia. Mas o seu intenso senso de dever e a sua convicção de


que deveria sofrer as mesmas dificuldades que outros levaram-no a ser volun-
tário para o exército austro-húngaro. Como o coloca a sua irmã Hermine, “ele
não estava apenas preocupado em defender a sua pátria, mas [...] também
sentiu um intenso desejo de assumir para si alguma tarefa difícil e de realizar
alguma coisa além do trabalho puramente intelectual” (Hermine Wittgen­
stein, 1981:3). Tendo se alistado em um regimento de artilharia no início
da guerra, ele serviu inicialmente em um barco no Vístula, e depois em uma
oficina de artilharia em Cracóvia. Ali, a sua aptidão técnica foi reconhecida,
e foi-lhe concedido o estatuto de oficial. Nos anos 1916–1918, ele serviu no
front oriental, e mais tarde no front sul, em condições de grande dificuldade
e perigo, primeiramente como um observador de artilharia e posteriormente
como oficial. Ele ganhou um número de decorações por bravura e foi por fim
promovido ao posto de Leutnant.
Durante os anos de guerra, Wittgenstein seguiu trabalhando em filoso-
fia; os cadernos de notas filosóficos nos primeiros dois anos da guerra foram
publicados como Cadernos de Notas 1914–1916. Eles o mostram como al-
guém que continua lutando com os problemas sobre lógica e linguagem com
que tinha trabalhado em Cambridge e depois na Noruega. E as suas observa-
ções sobre aqueles tópicos são crescentemente intercalados com pensamentos
sobre o bem e o mal, a vida e a morte, o sentido da vida, o místico e assim
por diante. A última nota que sobrevive dos cadernos de Wittgenstein nesses
anos diz respeito à ética e ao suicídio: “Se o suicídio é permitido, então tudo
é permitido... Ou mesmo o suicídio em si não é nem bom nem mau?” (CN:91,
10 de janeiro de 1917). Ele tinha pensado muitas vezes no suicídio anterior-
mente, contando a um amigo, em 1912, que tinha “se sentido envergonhado
de jamais ousar matar a si mesmo” (McGuinness, 1988:93). Em uma ocasião
durante a guerra, ele foi salvo do suicídio por um encontro casual com o seu
tio (McGuinness, 1988:264). E escreveu a um amigo, em 1920, que “eu pen-
sei continuamente em tirar a minha própria vida, e a ideia ainda me assombra
algumas vezes” (Engelmann, 1967:33).
Wittgenstein completou o texto do Tractatus durante uma licença, em
agosto de 1918. Ele tinha o material datilografado do livro consigo, quando
foi feito prisioneiro no final da guerra, e conseguiu enviá-lo a Russell en-
quanto estava em detenção. Ele permaneceu como prisioneiro de guerra, em
Cassino, na Itália, até agosto de 1919.

1919–1928: RETIRADA
Após a sua libertação do cativeiro, depois da guerra, Wittgenstein retor-
nou para Viena. Ele tinha três preocupações imediatas: publicar o Tractatus,

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livrar-se da sua fortuna e encontrar uma ocupação que considerasse honesta e


que valesse a pena. Ele não tinha nenhum desejo de continuar com o trabalho
filosófico. No Tractatus, ele pensou, tinha dito tudo o que havia para dizer;
não havia nada que tivesse sido deixado para ele fazer em filosofia. Como
escreveu no prefácio ao livro: “Eu mesmo creio ter encontrado, em todos os
pontos essenciais, a solução final dos problemas” (TLP, Introdução:4). Ele fez
a mesma observação em uma carta a Russell: “Creio que resolvi os nossos
problemas, finalmente. Isso pode soar arrogante, mas não posso deixar de
acreditar nisso” (13 de março de 1919, WEC:89). E cinco anos mais tarde, em
1924, ele escreveu para Keynes:

Você me pergunta em sua carta se você poderia fazer alguma coisa para
tornar possível para mim o retorno ao trabalho científico. A resposta é
Não: não há nada que possa ser feito nesse sentido, porque eu mesmo
não tenho mais qualquer ímpeto interno forte para aquele tipo de ativi-
dade. Tudo o que eu realmente tinha para dizer, eu disse, e assim a fonte
secou. Isso soa estranho, mas é como as coisas são.
(4 de julho de 1924, WEC:153).

Encontrar um editor para o Tractatus provou ser difícil e frustrante. Isso


dificilmente foi surpreendente, dado que o livro foi escrito em um estilo con-
ciso e altamente idiossincrático, que fazia poucas concessões ao leitor. O pró-
prio Wittgenstein advertiu Russell de que mesmo ele “não o entenderia sem
uma explicação prévia, dado que ele está escrito em notas deveras breves”
(13 de julho de 1919, WEC:89). E, como ele percebeu: “Isso naturalmente
significa que ninguém o entenderá; embora eu creia que tudo está tão claro
quanto cristal” (ibid.). O Tractatus foi rejeitado por um número de editores
antes que fosse encontrado algum que estivesse disposto a produzir o livro,
com uma introdução escrita por Russell, explicando as ideias fundamentais
e a importância da obra de Wittgenstein. Mas esse acerto fracassou quando
Wittgenstein leu o que Russell tinha escrito: “Quando de fato vi a tradução
alemã da Introdução”, ele escreveu a Russell, “eu não pude me convencer a
deixar que ela fosse impressa com a minha obra. Todo o refinamento do seu
estilo em inglês foi obviamente perdido na tradução e o que permaneceu foi
superficialidade e mal-entendido” (6 de maio de 1920, WEC:119). Nesse pon-
to, Wittgenstein desistiu de suas tentativas de ter o livro publicado:

Ou a minha peça é uma obra do mais alto nível, ou ela não é uma obra do
mais alto nível. No último (e mais provável) caso, eu mesmo sou a favor
de ela não ser impressa. E no último caso é uma questão de indiferença
se ela é impressa vinte ou uma centena de anos mais cedo ou mais tarde.
(6 de maio de 1920, WEC:120).

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No final, o Tractatus foi publicado na Alemanha em 1921 (no que pro-


vou ser o número final do periódico Annalen der Naturphilosophie), e na In-
glaterra – com uma tradução inglesa e a Introdução de Russell – em 1922. O
livro teve um impacto imediato. Keynes relatou a Wittgenstein em 1924 que
o Tractatus “domina todas as discussões fundamentais em Cambridge desde
que foi escrito” (29 de março de 1924, WEC:151). E no mesmo ano o filósofo
alemão Moritz Schlick, de Viena, escreveu para Wittgenstein:

Há um número de pessoas aqui – eu mesmo sou uma delas – que estão


convencidas da importância e da correção das suas ideias fundamentais
e que sentem um forte desejo de desempenhar alguma parte em tornar
as suas concepções mais amplamente conhecidas.
(WCV:13)

Wittgenstein retornou da guerra determinado a abrir mão da fortuna


que tinha herdado do seu pai, seis anos antes. Ele tinha sobrevivido à guerra,
mas continuou a sentir que era errado para ele viver uma vida de luxúria e
abundância; acreditava que podia ter parte nas dificuldades experimentadas
pelas outras pessoas e que deveria merecer o seu próprio sustento. Ele achou
uma maneira de fazer com que toda a sua herança fosse dada às suas irmãs e
ao seu irmão sobrevivente, Paul (o seu quarto irmão, Kurt, um oficial da cava-
laria, tinha dado um tiro em si mesmo, ao final da guerra) – insistindo que o
dinheiro deveria ser irrevogavelmente transferido a eles e que parte nenhuma
deveria ser guardada para ele.
Em 1919–1920, Wittgenstein fez treinamento como professor de colé-
gio. Ele precisava de uma fonte de renda. Sentiu atração pelo ensino como
uma ocupação honesta, da qual ele se aproximou com um grau de idealismo
e de um desejo de aperfeiçoar as mentes dos seus alunos. E ele viu na vida de
um professor na Áustria rural um modo de testar a si mesmo e o seu caráter.
Tendo se qualificado em 1920, passou os seis anos seguintes como professor
de escola primária, em três aldeias na montanha na Baixa Áustria. Ele atingiu
excelentes resultados com os melhores dos seus estudantes, com quem for-
mou relações boas e felizes. Mas foi muito menos bem-sucedido com aqueles
que eram menos brilhantes ou que ficavam intimidados com ele; considerou-
-os intensamente frustrantes. E achou difícil tolerar os moradores de aldeia.
Ele escreveu para Russell em 1921:

Eu ainda me encontro em Trattenbach, cercado, como sempre, por


odiosidade e platitude. Sei que os seres humanos na média não valem
muita coisa em qualquer lugar, mas aqui eles são muito mais inúteis e
irresponsáveis do que em qualquer outro lugar... Eu não me entendo
bem aqui nem sequer com os outros professores.
(23 de outubro de 1921, WEC:126)

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E em 1922:

Tenho estado muito deprimido em tempos recentes… Não que eu ache


lecionar na escola primária desagradável: muito pelo contrário. Mas o que
é DURO é que tenho de ser um professor nesse país onde as pessoas são
tão completamente e definitivamente inúteis. Nesse lugar não tenho uma
única alma com quem eu poderia falar de uma maneira de fato razoável.
(Sem data, 1922, WEC:132).

Ele permaneceu professor até 1926, quando renunciou ao seu emprego


e retornou para Viena. De 1926 a 1928, Wittgenstein viveu em Viena, onde
esteve ocupado com o projeto e a construção de uma mansão para a sua irmã
Margaret – um projeto no qual ele colaborou com o arquiteto Paul Engel-
mann, a quem tinha encontrado em Olmütz em 1916 e com quem tinha feito
uma estreita amizade. A casa, que agora serve como o Departamento Cultural
da Embaixada da Bulgária, é impressionante por sua completa falta de ade-
reços e decoração. E Wittgenstein exibiu o seu característico perfeccionismo
e atenção a detalhes em cada aspecto da obra. A sua irmã Hermine relata:

Ludwig projetou cada janela, porta, barra de janela e aquecedor nas mais
finas proporções e com tal exatidão que poderiam ter sido instrumentos
de precisão. Afinal, ele foi adiante com a sua irrefreada energia, de modo
que tudo foi em realidade manufaturado com a mesma exatidão. Eu ainda
posso ouvir o chaveiro, que lhe perguntou, com respeito a um buraco de
chave, “Diga-me, Senhor Engenheiro, um milímetro aqui é realmente
importante para você?”, e mesmo antes de ele ter terminado a sentença,
o alto, enérgico “Sim”, que quase fez com que ele recuasse. Sim, Ludwig
tinha tal sentimento sensível a proporções que metade de um milímetro
realmente importava. Não se permitia que tempo e dinheiro fossem de
qualquer importância em tal caso.
(Hermine Wittgenstein, 1981:7)

E:
A prova mais forte do caráter implacável de Ludwig com respeito a medi-
ções precisas é talvez o fato de que ele decidiu ter o forro de um quarto
a modo de saguão erguido por três centímetros, justamente quando a
limpeza da casa inteira estava para começar. O seu instinto estava abso-
lutamente correto e o seu instinto tinha de ser seguido.
(ibid.:9)

Esses anos em Viena são notáveis pelo gradual reanimar do envolvimento


de Wittgenstein com a filosofia. Schlick tinha-lhe escrito em dezembro de 1924,
entusiasmado para encontrar o autor do Tractatus. Eles finalmente se encontra-
ram em Viena, no início de 1927, e Wittgenstein começou a encontrar Schlick

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e outros filósofos do grupo que se tornaria o Círculo de Viena dos positivistas


lógicos, incluindo Friedrich Waismann, Rudolf Carnap, Herbert Feigl e Maria
Kasper. Aqueles encontros e aquelas conversas continuaram até o fim de 1928,
quando Wittgenstein retornou a Cambridge. Mas Wittgenstein continuou a en-
contrar membros do Círculo por muitos anos depois disso, durante períodos
de férias. As notas de Waismann dessas conversas tardias foram publicadas no
volume Wittgenstein e o Círculo de Viena e oferecem um relato interessante do
desenvolvimento das ideias de Wittgenstein nos anos 1929–1932.

1929–1947: RETORNO À FILOSOFIA – CAMBRIDGE,


A II GUERRA MUNDIAL E AS INVESTIGAÇÕES FILOSÓFICAS
Wittgenstein retornou para Cambridge em janeiro de 1929. Ele acabou
por sentir falta da excitação e do estímulo de fazer filosofia. Ele tinha percebi-
do que o Tractatus não era a última palavra em filosofia. E sentiu que tinha de
fato, agora, alguma coisa mais para contribuir. Estava matriculado para o grau
de doutor em filosofia e submeteu o Tractatus como a sua tese de doutorado.
Ele foi examinado por Moore e Russell e recebeu o seu título em julho de 1929.
No ano seguinte, Wittgenstein foi nomeado para um cargo de conferen-
cista de faculdade na Faculdade de Filosofia em Cambridge; o posto conti-
nuou até 1936. Com o apoio de Russell, Moore e Keynes, ele foi eleito para
uma bolsa no Trinity College. Russell tinha de escrever um relatório sobre
o trabalho de Wittgenstein para o Conselho do Trinity College, e, para esse
propósito, Wittgenstein lhe deu um material datilografado que tinha comple-
tado em abril de 1930: uma obra que está agora publicada como Observações
filosóficas. Tal como o Tractatus, ela diz parcialmente respeito ao tópico da
representação e do significado. Mas, ele difere do Tractatus em um número
de importantes aspectos – a serem discutido no Capítulo 4. E mais da metade
das Observações filosóficas lida com questões na filosofia da matemática: o
sentido de proposições matemáticas e a natureza da prova, da generalidade
e da infinitude em matemática. Tais questões permaneceram um ingrediente
importante na obra de Wittgenstein pelos anos que viriam. Russell relatou
sobre essa obra em termos vívidos:

As teorias contidas nessa nova obra de Wittgenstein são novas, muito


originais e indubitavelmente importantes. Se elas são verdadeiras, eu
não sei. Como um lógico que gosta de simplicidade, eu desejaria pensar
que elas não são, mas daquilo que eu li delas estou bastante certo de
que ele deveria ter uma oportunidade de resolvê-las, dado que, quando
completadas, elas podem facilmente revelar-se constituir uma filosofia
nova de todo.
(WEC:183)

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Wittgenstein rapidamente estabeleceu um padrão de docência que man-


teve durante todo o seu período em Cambridge. As aulas eram dadas das 17h
até as 19h, normalmente em seus próprios quartos no Trinity. Os seus aposen-
tos, assim nos é contado,

eram mobiliados de forma austera. Não havia quaisquer enfeites, pinturas


ou fotografias. As paredes eram vazias. Em sua sala de estar estavam duas
cadeiras de lona e uma cadeira de madeira simples, e no seu quarto de
dormir um berço de lona. Um fogão de chapa de ferro, de estilo antigo,
estava no centro da sala de estar. Havia flores em uma jardineira e um
ou dois vasos de flores no quarto. Havia um cofre de metal em que ele
guardava os seus manuscritos, e uma escrivaninha sobre a qual realizava
a sua escrita. Os quartos estavam sempre escrupulosamente limpos.
(Malcolm, 1984:24–25)

E o caráter das próprias aulas era bastante característico:

Wittgenstein sentava-se em uma cadeira simples de madeira no centro da


sala. Aqui, ele conduzia uma visível batalha com os seus pensamentos.
[…] Dificilmente é correto falar desses encontros como “aulas”, embora
essa seja a maneira como Wittgenstein os chamava. Por um lado, ele
estava realizando uma pesquisa original nesses encontros. Ele estava
pensando sobre certos problemas de um modo que poderia ter feito
caso estivesse sozinho. Por outro, os encontros eram em larga medida
uma conversação. Wittgenstein comumente dirigia perguntas a diversas
pessoas presentes e reagia às suas respostas. Com frequência, os encon-
tros consistiam principalmente de diálogo. Algumas vezes, contudo,
quando ele estava tentando tirar um pensamento para fora de si, ele
proibia, com um peremptório movimento da mão, quaisquer perguntas
ou observações. Havia períodos frequentes e prolongados de silêncio,
com somente um murmúrio ocasional de Wittgenstein, e a mais quieta
atenção dos outros. [...] Sabia-se que se estava na presença de extrema
seriedade, absorção e força do intelecto.
(Malcolm, 1984:25)

Da época em que retornou para Cambridge em 1929 até a sua morte em


1951, Wittgenstein esteve quase continuamente envolvido com escrever filo-
sofia. Ele manteve um caderno de notas manuscrito no qual fazia observações
filosóficas. E em outros volumes manuscritos ele escreveu versões mais aca-
badas dos seus pensamentos. De tempos em tempos, ele ditava seleções des-
ses volumes manuscritos a um datilógrafo. Ele continuaria então a trabalhar
nesses textos datilografados, com frequência cortando um texto datilografado
em observações pequenas, que eram então reordenadas, revisadas e suple-
mentadas com observações manuscritas adicionais. Um texto datilografado
adicional seria ditado a partir da versão resultante. O catálogo do Nachlass de

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Wittgenstein – a obra deixada para trás, depois da sua morte – lista cerca de
80 manuscritos e 40 textos datilografados: a maioria deles escritos no período
depois de 1929 (para detalhes completos, ver von Wright, 1993).
Um número dos escritos de Wittgenstein publicados postumamente data
do período da atividade como conferencista de faculdade, em 1930–1936.
Um material datilografado importante, publicado como O grande manuscrito,
foi originalmente produzido em 1933 e gradualmente revisado até 1937: ele
lida com tópicos incluindo linguagem, pensamento e intenção, a natureza da
experiência, a filosofia da matemática e o caráter da própria filosofia. Uma
versão de parte desse material também foi publicada como Gramática filosó-
fica. Em adição, existem duas obras que Wittgenstein ditou aos seus estudan-
tes: O livro azul e O livro marrom, ditados em 1933–1934 e 1934–1935, res-
pectivamente. O livro marrom inclui o que é reconhecidamente uma primeira
versão das primeiras 180 seções, ou cerca disso, das Investigações filosóficas.
O livro azul – que Wittgenstein descreveu para Russell como um conjunto de
notas “ditadas... aos meus alunos, de modo que eles pudessem ter alguma
coisa para levar para casa com eles, nas suas mãos, se não nos seus cérebros”
(AM: v) – lida em parte com os mesmos tópicos, mas também com questões
sobre experiência e subjetividade.
Em 1936, a atividade letiva de Wittgenstein em Cambridge chegou a
um fim e ele se retirou novamente para a Noruega, onde viveu em uma casa
que tinha construído em 1914; ele trabalhou lá – com algumas breves inter-
rupções – até o fim de 1937. O trabalho feito durante 1936–1937 foi a base
para um manuscrito preparado no ano seguinte, o qual se tornou as seções
1–188 da versão final das Investigações filosóficas. Em 1938, a Cambridge
University Press aceitou uma proposta de publicar um livro escrito por Witt-
genstein – para o qual esse material era destinado. Nessa fase, Wittgenstein
estava planejando um livro que iniciaria com uma discussão da linguagem,
do significado e do entendimento e então procederia, via uma discussão do
tópico de seguir-uma-regra,* para um tratamento de questões na filosofia da
matemática. Mas ele em pouco tempo desistiu daquele plano, insatisfeito com

* N. de T.: Em regra, essa é a tradução que será adotada para a expressão inglesa “rule-
-following”, que constitui um tema central na filosofia do “segundo” Wittgenstein. Assim
como no inglês, ela será mantida hifenizada, como de resto tem sido versada para o
português no que diz respeito à tradução da obra de Wittgenstein. Essa é a tradução
que aparece, a propósito, e a meu juízo com correção, na obra de referência (traduzida
para o português) de Hans-Johann Glock, Dicionário Wittgenstein, tradução de Helena
Martins, revisão técnica de Luiz Carlos Pereira, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998,
p. 398. Naturalmente, a presente tradução trará, no restante, um grande número de
passagens em que uma expressão semelhante aparecerá no texto principal sem hifens;
nesses casos, em regra tem-se como pano de fundo expressões inglesas de construções
outras que “rule-following”, a saber, “to follow a rule” e “following a rule”.

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a disposição do material e, particularmente, com o que ele tinha escrito sobre


filosofia da matemática.
A Áustria foi anexada pela Alemanha em março de 1938. Pouco depois
disso, Wittgenstein solicitou a cidadania britânica, que foi concedida em ju-
nho de 1939. Ele se tornou cada vez mais angustiado sobre a situação do
seu irmão Paul e de suas irmãs Helene e Hermine; a ascendência judaica da
família colocava-os em considerável perigo a partir do regime nazista. Ele
desempenhou um papel nas discussões que levaram a família a concordar
em transferir dinheiro ao Reichsbank em troca de uma declaração de que a
“classificação racial” dos Wittgenstein “sob a Lei de Cidadania do Reich não
apresenta quaisquer dificuldades adicionais” (citado em Monk, 1990:400).
Em 1939, Wittgenstein foi eleito para o Professorado de Filosofia em
Cambridge – que anteriormente G. E. Moore detinha – e para uma Bolsa Pro-
fessoral no Trinity College. Com a exceção do breve artigo de 1929, “Algumas
observações sobre a forma lógica”, ele não tinha publicado nada desde o seu
retorno à filosofia há 10 anos, mas era reconhecido como um dos principais
filósofos do seu tempo e, como o filósofo de Cambridge C. D. Broad disse,
“recusar a cadeira a Wittgenstein seria como recusar a Einstein uma cadeira
de física” (citado em Rhees, 1981:156). Naquele ano, ele deu aulas sobre os
fundamentos da matemática para uma audiência que incluía o matemático
Alan Turing, e muito do que escreveu nesse e nos anos seguintes tinha a ver
com tópicos na filosofia da matemática. Uma seleção desses escritos, datan-
do de 1937 a 1944, foi publicada como Observações sobre os fundamentos da
matemática.
Wittgenstein não tinha nenhum prazer em absoluto na vida institucional
do seu College e da sua Universidade. E tinha uma opinião extremamente
negativa da filosofia acadêmica em geral: com efeito, ele ativamente desen-
corajou os seus alunos a se tornarem filósofos profissionais. O seu amigo
Norman Malcolm cita uma carta que Wittgenstein lhe escreveu, em resposta
às notícias de que ele tinha recebido o seu título de doutor:

Parabéns pelo seu doutorado! E agora: que você possa fazer bom uso dele!
Com isso quero dizer: que você possa não enganar nem a si mesmo nem
aos seus estudantes. Porque, a menos que eu esteja muito enganado, é
isso que será esperado de você. E será muito difícil não fazê-lo, e talvez
impossível; e nesse caso: que você possa ter força para sair.
(22 de junho de 1940, Malcolm, 1984:88)

E alguns meses mais tarde:

Desejo-lhe boa sorte; em particular, com o seu trabalho na universidade.


A tentação para que você engane a si mesmo será IMENSA (ainda que
eu não queira dizer mais para você do que para qualquer outro na sua

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posição). Só por um milagre você será capaz de fazer trabalho decente


ao ensinar filosofia. Por favor, lembre-se dessas palavras, mesmo se
você esquecer qualquer outra coisa que eu já tenha dito para você; e, se
você puder evitar, não pense que sou um tipo esquisito pelo fato de que
ninguém mais dirá isso a você.
(3 de outubro de 1940, Malcolm, 1984:89)

O desgosto geral de Wittgenstein pela vida acadêmica se tornou ainda


mais intenso depois da deflagração da II Guerra Mundial, em 1939. Como em
1914, ele sentiu uma viva necessidade de fazer alguma coisa útil e de tomar
parte na dificuldade e no perigo da guerra no mesmo patamar que as outras
pessoas. Depois de fazer diversas tentativas de encontrar alguma ocupação de
guerra apropriada, ele achou uma maneira de tornar-se porteiro no dispensário
do Guy’s Hospital, em Londres. Esse arranjo foi facilitado por John Ryle, Pro-
fessor Régio de Medicina em Cambridge, e irmão do filósofo de Oxford, Gilbert
Ryle. Depois de encontrar Wittgenstein, John Ryle escreveu em uma carta:
Eu achava tão interessante que depois de anos como um dignitário do
Trinity, tão distante de ser visto como todos os outros, ele fora vencido
pela insipidez do lugar. Ele me disse “Sinto que morrerei lentamente se
eu ficar ali. Gostaria antes de ter uma chance de morrer rapidamente”.
E assim ele quer trabalhar em algum emprego manual humilde em um
hospital, como o seu trabalho de guerra, e se demitirá de sua cátedra,
se necessário, mas não quer que se fale sobre isso em absoluto. E quer
que o trabalho seja em uma área de bombardeio aéreo.
(Citado em Monk, 1990:431)

Enquanto trabalhando como porteiro no Guy’s – para o que lhe eram pa-
gos 28 shillings por semana –, Wittgenstein continuou a escrever sobre filosofia
da matemática, nos seus cadernos de notas manuscritos. Em fins de semana
alternados, ele viajava para Cambridge para dar aulas. Ele também se tornou
interessado por um projeto de pesquisa no Guy’s sobre “choque de ferimento”
– um diagnóstico frequente em vítimas de trauma, mas cuja existência como
condição genuína era posta em dúvida pelos pesquisadores do Guy’s. Em 1942,
o projeto se mudou para Newcastle, e Wittgenstein acompanhou como o técni-
co do projeto, trabalhando naquela posição de 1943 a 1944.
No início do Trimestre Michaelmas* de 1944, Wittgenstein retornou a
Cambridge e retomou os seus deveres profissionais. Pelos próximos dois anos,

* N. de R. T.: Michaelmas é o primeiro trimestre do primeiro ano acadêmico nas univer-


sidades, bem como em várias escolas inglesas. O nome de Michaelmas tem a sua origem
na comemoração de São Miguel e todos os anjos (“Feast of St. Michael and All Angels”),
celebrada em 29 de setembro. Ele vai de setembro ou outubro até o Natal e é uma
designação única recebida para o trimestre em Cambridge e em Oxford, na Inglaterra.

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produziu a versão final das Investigações filosóficas como agora a temos. Ela
começa da mesma maneira que o manuscrito que ele tinha preparado em
1938, com uma discussão da linguagem e do significado. Mas, a sua segun-
da metade é completamente nova, lidando com a linguagem da sensação
e outros tópicos em filosofia da mente. Em 1944, a Cambridge University
Press mais uma vez aceitou publicar a obra de Wittgenstein: o plano era para
um livro que reproduziria o Tractatus junto com os últimos pensamentos de
Wittgenstein. Mas, como anteriormente, Wittgenstein ficou insatisfeito com
os seus esforços e abandonou a tentativa de publicar ele mesmo a sua obra.
Três anos depois do seu retorno do trabalho de guerra, em 1947, Witt-
genstein renunciou ao seu professorado. Ele estava cada vez mais desgostoso
com a vida em Cambridge e achava impossível combinar os seus deveres
como professor com a obra filosófica que queria fazer. Como ele escreveu
para Norman Malcolm em agosto daquele ano:

Eu gostaria de estar sozinho em algum lugar e tentar escrever e deixar ao


menos uma parte do meu livro publicável. Jamais serei capaz de fazê-lo
enquanto estiver lecionando em Cambridge. Também penso que, inde-
pendentemente de escrever, preciso de um longo intervalo para pensar
sozinho, sem ter de falar com ninguém.
(27 de agosto de 1947, Malcolm, 1984:103)

Ele ofereceu a sua renúncia no verão de 1947 e declinou do seu professorado


no final do ano.

1947–1951: ÚLTIMOS ANOS


Do fim de 1947 ao início de 1949, Wittgenstein viveu na Irlanda: pri-
meiramente, em uma fazenda no Condado de Wicklow, depois em uma ca-
bana remota em Galway, e finalmente em um hotel em Dublin. A sua saúde
estava crescentemente frágil, mas ele continuou a trabalhar sobre os tópicos
que o tinham ocupado desde 1946: os conceitos de pensamento, intenção,
crença, imaginação, imaginário mental, experiência perceptual, memória, as
emoções, consciência corpórea e assim por diante. A obra que ele fez nesses
anos foi a base para dois textos datilografados e um manuscrito – publica-
dos como Observações sobre a filosofia da psicologia Volumes I e II, e Últimos
escritos sobre a filosofia da psicologia Volume I. Em 1949, ele ditou um texto
datilografado adicional, contendo uma seleção de observações tiradas em sua
maioria daquelas três fontes. Esse material datilografado está publicado como
Filosofia da psicologia – um fragmento (ou Investigações filosóficas Parte II,
como foi chamado nas edições primeira, segunda e terceira das Investigações
filosóficas).

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Tivesse Wittgenstein estado em melhor saúde, parece provável que teria


continuado a desenvolver e revisar essa obra sobre a filosofia da psicologia.
E ele teria gostado de ter encontrado um modo de justapor o seu tratamento
de tópicos na filosofia da psicologia com uma discussão de tópicos na filosofia
da matemática. Como ele escreve no parágrafo final de Filosofia da psicologia
– um fragmento: “É possível uma investigação em conexão com a matemática
que é inteiramente análoga à nossa investigação da psicologia... [...] Ela po-
deria merecer o nome de uma investigação dos ‘fundamentos da matemáti-
ca”’ (FPF §372 [IF II, xiv:232]). Mas a essa época ele estava resignado quanto
ao fato de que o seu livro não seria publicado em seu período de vida e de que
ele jamais recomporia todos os diferentes elementos da sua obra em um todo
satisfatoriamente unificado.
Wittgenstein passou os últimos dois anos da sua vida ficando com ami-
gos nos Estados Unidos, em Cambridge e em Oxford. Ele visitou a sua família
em Viena e realizou uma última breve viagem para a Noruega. Ele estava
cada vez mais adoentado e, no outono de 1949, foi diagnosticado com câncer.
Mas continuou a trabalhar em filosofia e, ainda que tenha se queixado em
vários pontos de achar impossível pensar propriamente, escreveu extensas
observações de cadernos de notas, que foram publicadas em três livros que
representam a sua obra final. Sobre a certeza lida com o conhecimento, a
certeza e o ceticismo. Metade daquela obra foi escrita nas últimas seis sema-
nas de Wittgenstein; a observação final está datada só dois dias antes de ele
morrer. Observações sobre a cor diz respeito à natureza da cor e é estimulada
em particular pela Teoria da cor, de Goethe. Últimos escritos sobre a filosofia da
psicologia Volume II continua as reflexões sobre a filosofia da psicologia que
tinham ocupado Wittgenstein em 1946–1949; a última dessas observações
vem de duas semanas antes da morte de Wittgenstein.
Quando Wittgenstein soube que tinha câncer, “expressou uma aversão ex-
trema e mesmo medo de passar os seus últimos dias em um hospital” (Malcolm,
1984, p. 80). O seu doutor, Edward Bevan, tinha generosamente convidado que
ele viesse para a sua própria casa, para morrer. De acordo a isso, Wittgenstein
passou os últimos dois meses da sua vida como hóspede na cada do Dr. Bevan,
em Cambridge. Na sua última noite, antes de perder a consciência, foi-lhe dito
que os seus amigos estavam a caminho para vê-lo. “Diga-lhes que eu tive uma
vida maravilhosa!”, ele falou. Morreu em 29 de abril de 1951.

PLANO PARA O LIVRO

Uma introdução à obra de um grande filósofo está obrigada a ser se-


letiva. E ela deve passar por cima de muitas questões de controvérsia espe-
cializada. Tive como meta descrever os elementos mais importantes e mais

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influentes da filosofia de Wittgenstein e discutir escritos de cada período da


sua vida. Não tentei oferecer um guia compreensivo ao debate acadêmico
sobre a sua obra; mas indiquei pontos-chave em que existem interpretações
significativamente divergentes de Wittgenstein. As sugestões para leitura adi-
cional, no fim de cada capítulo, permitem que o leitor interessado prossiga
aqueles debates. A breve descrição que segue oferece um guia dos conteúdos
de cada capítulo.
Os Capítulos 2 e 3 lidam com a obra inicial de Wittgenstein, o Tractatus
logico-philosophicus. O Capítulo 2 descreve a abordagem da linguagem e do
pensamento lançada no Tractatus – a celebrada Teoria Pictórica da Represen-
tação – e a abordagem da lógica e da análise que a acompanham. O Capítulo
3 considera as observações metafísicas no começo do Tractatus. E discute a
ideia de Wittgenstein de que “existem [...] coisas que não podem ser postas
em palavras”, mas que “manifestam a si mesmas” (TLP:6.522).
O Capítulo 4 lida com a transição do Tractatus para as Investigações fi-
losóficas. Ele cobre o repúdio de Wittgenstein ao projeto da análise filosófica
que dá forma ao Tractatus e a sua rejeição, nas primeiras 100 seções das In-
vestigações filosóficas, aproximadamente, das doutrinas centrais do Tractatus
sobre linguagem e significado. Existem continuidades importantes entre o
Tractatus e a obra tardia de Wittgenstein. Mas, como ele escreveu no prefácio
às Investigações filosóficas: “Desde que comecei a me ocupar com filosofia no-
vamente, há 16 anos, fui forçado a reconhecer sérios equívocos naquilo que
escrevi naquele primeiro livro” (IF:viii). E Malcolm anota que:

Wittgenstein com frequência me disse coisas depreciativas sobre o


Tractatus, [embora] ele ainda o considerasse uma obra importante. [...]
Ele me disse uma vez que realmente pensava que no Tractatus ele tinha
oferecido uma abordagem perfeita de uma visão que é a única alternativa
ao ponto de vista de sua obra posterior.
(Malcolm, 1984:58)

Os Capítulos 5 a 8 lidam com a filosofia tardia de Wittgenstein: a obra


que ele escreveu depois do seu retorno à filosofia em 1929. Os Capítulos 5 e 6
enfocam ideias contidas nas Investigações filosóficas – ainda que eles se voltem
de forma significativa a outras obras de Wittgenstein também. Os Capítulos 7
e 8 enfocam aspectos do pensamento de Wittgenstein que não são explorados
em qualquer extensão nas Investigações filosóficas.
O Capítulo 5 diz respeito à intencionalidade e ao conceito de seguir-
-uma-regra. A intencionalidade do pensamento – a sua propriedade de repre-
sentar objetos e estados de coisas – é uma preocupação central nos escritos
de Wittgenstein desde o início dos anos de 1930: quando quero uma maçã,
ele pergunta, o que faz com que seja o caso de que é uma maçã aquilo que
eu quero? Quando espero que Jones chegue às 15h, o que faz com que seja

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o caso que a pessoa que eu estou esperando seja Jones, e que o que eu estou
esperando que ele faça seja chegar às 15h? As mesmas perguntas figuram nas
Investigações filosóficas e além. A discussão de Wittgenstein sobre seguir uma
regra tem um lugar central nas Investigações filosóficas. Ela ocupa os §§143–
242 do livro, e oferece uma ponte entre a discussão da linguagem, do signi-
ficado e do entendimento na primeira metade das Investigações filosóficas e o
tratamento de tópicos em filosofia da mente na segunda metade. Essas pas-
sagens têm sido um tópico central de debate interpretativo e filosófico pelos
últimos 30 anos. E elas são dignas de nota como a área na qual as reflexões
de Wittgenstein sobre a filosofia da matemática são o mais visíveis na obra
que ele mesmo preparou para a publicação. Não exploro os detalhes da obra
de Wittgenstein sobre a filosofia da matemática neste livro, mas a discussão
de seguir uma regra inclui temas que têm um lugar importante naquela obra.
O Capítulo 6 lida com a filosofia da mente e da psicologia, pondo o enfo-
que amplamente nas Investigações filosóficas e na Filosofia da psicologia – um
fragmento (ou Investigações filosóficas Parte II), mas baseando-se também nos
primeiros escritos e nas conversas de 1929 a 1930 e ainda em outros mate-
riais de 1946 a 1949. A primeira parte do Capítulo lida com a discussão sobre
as sensações e a linguagem da sensação de Wittgenstein e considera, entre
outros tópicos, o famoso argumento da linguagem privada das Investigações
filosóficas: o argumento de que não poderia haver uma “linguagem da sensa-
ção privada” – uma linguagem cujas palavras “se referem ao que somente o
falante pode saber: às suas sensações privadas imediatas” (IF §243). A segun-
da parte discute a resposta de Wittgenstein a algumas ideias centrais de dois
psicólogos cujos escritos foram particularmente influentes na época: William
James e Wolfgang Köhler.
O Capítulo 7 discute Sobre a certeza: a coleção de observações sobre o
conhecimento e a certeza que Wittgenstein escreveu nos poucos meses antes
da sua morte. Tem havido um florescimento de interesse em Sobre a certeza,
nos anos recentes. Isso se explica parcialmente por uma retomada de interes-
se em questões sobre conhecimento e ceticismo na filosofia contemporânea.
Ele também reflete um crescimento mais geral na atenção que os especialistas
têm dado à obra final de Wittgenstein.
O Capítulo 8 lida com dois tópicos vinculados: a filosofia da religião de
Wittgenstein e as suas visões sobre o entendimento de rituais e cerimônias –
visões que têm peso sobre a antropologia e a ciência social. Nenhum desses
tópicos é muito proeminente nos escritos de Wittgenstein, mas o que ele de
fato diz sobre eles atraiu uma grande dose de interesse de especialistas em
outras disciplinas bem como de filósofos. Eu os incluo aqui porque as ideias
de Wittgenstein sobre esses tópicos têm tido uma influência particular fora da
filosofia acadêmica, e é particularmente provável que tenha atraído a atenção
de leitores em geral.

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O Capítulo 9 reflete sobre a influência das ideias de Wittgenstein em


filosofia e para além dela.

RESUMO

Wittgenstein nasceu em uma família excepcionalmente rica e muito ta-


lentosa. Na primeira parte da vida, ele não mostrou nenhum interesse espe-
cial pela filosofia; nem foi particularmente bem-sucedido na escola. O final
da sua adolescência e os primeiros dos 20 anos foram um período de inquie-
tude e infelicidade, quando ele procurava uma ocupação que realmente o
comprometeria. O seu envolvimento com a filosofia foi estimulado por um
interesse nos fundamentos da matemática, que ele estudou através dos es-
critos de Frege e de Russell. Os seus primeiros anos em Cambridge, de 1911
a 1913, foram um estágio crucial na sua vida, durante o qual ele trabalhou
intensamente com Russell sobre os problemas da lógica e da linguagem. A
obra-prima inicial de Wittgenstein, o Tractatus logico-philosophicus, que ele
desenvolveu a partir do trabalho que começou em Cambridge, foi concluída
enquanto ele era um soldado lutando na I Guerra Mundial e foi publicada
em 1921. Ela causou um impacto instantâneo em Cambridge e em Viena, e
estabeleceu a reputação de Wittgenstein como um dos pensadores mais pro-
fundos e brilhantes da filosofia. Tendo concluído o Tractatus, Wittgenstein se
retirou da filosofia por 10 anos: ele não tinha mais um “ímpeto interior forte”
com respeito à filosofia; a sua “fonte tinha secado”. Ele retornou à filosofia em
1929, e pelos próximos 18 anos a sua vida filosófica foi amplamente baseada
em Cambridge, onde foi primeiramente um conferencista e, depois, a partir de
1939, professor – com uma interrupção de 1941 a 1944, durante a qual esteve
envolvido com trabalho de guerra. Nesses últimos anos, abandonou muitas das
doutrinas do Tractatus. Desenvolveu novas visões sobre linguagem e signifi-
cado e uma nova concepção do modo em que o entendimento filosófico deve
ser atingido. E escreveu extensamente sobre a filosofia da mente e a filosofia
da matemática. Contudo, nenhum desses trabalhos foi publicado em seu pe-
ríodo de vida. Ele terminou o trabalho nas Investigações filosóficas em 1947,
o ano em que renunciou ao seu professorado em Cambridge. O manuscrito
publicado como Filosofia da psicologia – um fragmento (em edições anteriores,
Investigações filosóficas Parte II) foi completado em 1949. Nos anos finais de
Wittgenstein, sucederam-se problemas de saúde. Mas ele continuou a traba-
lhar em filosofia até a sua morte, em 1951. A obra Investigações filosóficas
foi publicada postumamente em 1953 e, como o Tractatus mais de 30 anos
antes, foi imediatamente reconhecida como uma obra-prima filosófica. Mui-
tos dos textos datilografados e dos cadernos de notas de Wittgenstein foram

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publicados como livros, desde então. Todos eles estão agora disponíveis ele-
tronicamente.

LEITURA ADICIONAL
Existem duas excelentes biografias de Wittgensten, e eu as tomei fortemente como base ao escrever
este capítulo. Uma delas lida somente com o período até a publicação do Tractatus:
McGuinness, B. (1988) Wittgenstein: A Life – Young Ludwig 1889–1921, London: Duckworth,
reprinted, Harmondsworth: Penguin Books, 1990.
A outra biografia principal cobre o todo da vida de Wittgenstein:
Monk, R. (1990) Wittgenstein: The Duty of Genius, London: Jonathan Cape.
Há uma quantidade de memórias de Wittgenstein, escritas por amigos que o conheceram em
diversos estágios da sua vida. Elas oferecem uma vívida impressão dele e deixam claro o efeito
poderoso que ele teve sobre aqueles ao seu redor. Ver em particular:
Malcolm, N. (1984) Ludwig Wittgenstein: A Memoir, Oxford: Oxford University Press.
Engelmann, P. (1967) Letters from Ludwig Wittgenstein with a Memoir, ed. B. McGuinness, trans.
L. Furtmüller, Oxford: Blackwell.
A memória escrita por Malcolm também contém uma breve biografia, de autoria de outro dos
amigos de Wittgenstein:
von Wright, G. H. (1955) ‘Ludwig Wittgenstein: A Biographical Sketch’, Philosophical Review 64:
527–545.
Diversas outras memórias pessoais, incluindo as lembranças anotadas pela irmã de Wittgenstein,
Hermine, estão contidas em:
Rhees, R. (ed.) (1981) Ludwig Wittgenstein: Personal Recollections, Oxford: Blackwell.
Para um relato de grande auxílio sobre o ambiente intelectual e a cultura da Viena do início do
século XX, bem como a sua influência sobre o pensamento de Wittgenstein, ver:
Janik, A. and Toulmin, S. (1973) Wittgenstein’s Vienna, London: Weidenfeld and Nicolson.
Muitas das cartas de Wittgenstein sobrevivem. Elas são uma fonte útil de informação histórica.
Elas também oferecem uma boa percepção do caráter e das emoções de Wittgenstein, das suas
relações com os seus amigos e da sua opinião sobre a sua própria obra. InteLex publica uma edição
completa da correspondência de Wittgenstein em sua série Past Masters (Mestres do Passado). Para
uma coleção compreensiva de cartas de Wittgenstein a Russell, Moore, Keynes e outros amigos e
colegas de Cambridge, junto com algumas das cartas deles a ele, ver:
B. McGuinness (ed.) (2008) Wittgenstein in Cambridge: Letters and Documents 1911–51, Oxford:
Blackwell.
As memórias de Engelmann e de Malcolm (ver acima) contêm as cartas que cada um deles recebeu
de Wittgenstein. E as cartas de Wittgenstein a G. H. von Wright estão impressas em:
Klagge, J. and Nordmann, A. (eds) (1993) Ludwig Wittgenstein, Philosophical Occasions 1912–1951,
Indianapolis: Hackett Publishing Company.
A maioria das cartas a Malcolm e von Wright são também reproduzidas em McGuinness, Wittgen­
stein in Cambridge.

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Wittgenstein 39
Para um catálogo completo dos escritos de Wittgenstein, ver:
von Wright, G. H. (1993) ‘The Wittgenstein Papers’, Wittgenstein, Philosophical Occasions.
Outras introduções, em um volume, à obra de Wittgenstein, que talvez os leitores queiram con-
sultar, incluem:
Fogelin, R. (1995) Wittgenstein, London: Routledge.
Kenny, A. (2006) Wittgenstein, revised edition, Oxford: Blackwell.
Schroeder, S. (2006) Wittgenstein: The Way Out of the Fly-Bottle, Cambridge: Polity.
Schulte, J. (1992) Wittgenstein, trans. W. Brenner and J. Holley, Albany, NY: SUNY Press.

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Você também pode gostar