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Pontifícia Universidade Católica de Goiás

Escola Politécnica
Arquitetura e Urbanismo

AMANDA CÂNDIDO RODRIGUES

ASPECTOS SIMBÓLICOS DA ARQUITETURA ART DÉCO EM GOIÂNIA.


(Década 30-40)

Goiânia
2022
AMANDA CÂNDIDO RODRIGUES

ASPECTOS SIMBÓLICOS DA ARQUITETURA ART DÉCO EM GOIÂNIA.


(Década 30-40)

Artigo apresentada à disciplina Ensaio Crítico do curso de


Arquitetura e Urbanismo da Escola Politécnica da Pontifícia
Universidade Católica de Goiás, orientada pela Professora M.a
Vânia Maria F. F. de Carvalho.

Goiânia
2022
SUMÁRIO

RESUMO........................................................................................................................03
ABSTRACT....................................................................................................................04
INTRODUÇÃO..............................................................................................................04
1 GOIÂNIA E O ART DÉCO....................................................................................06
2 O SIMBOLISMO NA ARQUITETURA..............................................................14
3 ASPECTOS SIMBÓLICOS DO ART DÉCO EM GOIÂNIA............................16
3.1 CASA PEDRO LUDOVICO TEIXEIRA................................................................18
3.2 PALÁCIO DO GOVERNO......................................................................................20
3.3 MUSEU ZOROATRO ARTIAGA...........................................................................24
CONCIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................27
REFERÊNCIAS.............................................................................................................27
3

ASPECTOS SIMBÓLICOS DA ARQUITETURA ART DÉCO EM GOIÂNIA.


(Década 30-40)

SYMBOLIC ASPECTS OF ART DECO ARCHITECTURE IN GOIÂNIA


(Decade 30-40)

Amanda Cândido Rodrigues1


M.a Vânia Maria F. F. de Carvalho2

RESUMO

A nova capital, Goiânia (1937), foi concebida com intuito de trazer a modernidade para
o sertão, seus símbolos são presenciados tanto na arquitetura quanto no plano urbanístico, o
Déco trouxe para a capital a modernidade tanto idealizada por seu interventor Pedro Ludovico
Teixeira, deixando assim sua antiga contextualização colonial para trás, e se colocando evidente
para os outros Estados do país. No decorrer de sua concepção, por influência política houve a
troca do antes designado pelo projeto e execução das obras Attílio Corrêa Lima, para os
engenheiros Coimbra Bueno. Com esse jogo político e econômico a concretização do projeto
foi adiante, o que ocasionou mudanças nas edificações, muitas vezes por falta de matéria-prima
para a sua execução, e as inserções urbanísticas que foram acontecendo com a troca de
responsável pela obra, foram responsáveis por deixar a nova capital fragmentada, cheia de
sobreposições, sem uma identidade concreta. Nesse contexto, pretende-se analisar três obras
selecionadas, a casa de Pedro Ludovico Teixeira (1937), o Palácio do Governo (1937) e o
Museu Zoroastro Artiaga (1943), evidenciando o Art Déco nessas edificações e o que representa
os seus aspectos simbólicos, na busca de uma identidade para a capital nas décadas de 1930-
1940.

Palavras-chave: Art déco; simbolismo; arquitetura; Goiânia.

1
Graduanda em Arquitetura e Urbanismo da Escola Politécnica da Pontifícia Universidade Católica de Goiás.
2
Possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Católica e Goiás (2000), especialização em
Filosofia da Arte pelo IFITEG (2008) e Mestrado no Curso de História pela FG (2010). Atualmente é professora
da PUCGO no curso de Arquitetura e Urbanismo, tem experiência na área de Teoria e História, atuando
principalmente nos temas de artes e arquitetura.
4

ABSTRACT

The new capital, Goiânia (1937), was conceived with the aim of bringing modernity to
the backwoods, its symbols are witnessed both in architecture and in the urban plan, Deco
brought to the capital modernity both idealized by its intervener Pedro Ludovico Teixeira, thus
leaving its old colonial context behind, and making itself evident to the other States of the
country. In the course of its conception, due to political influence, the former designated by the
design and execution of the Attílio Corrêa Lima works was exchanged for the engineers
Coimbra Bueno. With this political and economic game, the realization of the project went
ahead, which caused changes in the buildings, often due to lack of raw material for its execution,
and the urban insertions that were happening with the change of responsible for the work, were
responsible for leaving the new capital fragmented, full of overlaps, without a concrete identity.
In this context, we intend to analyze three selected works, the house of Pedro Ludovico Teixeira
(1937), the Government Palace (1937) and the Zoroastro Artiaga Museum (1943), showing the
Art Deco in these buildings and what their aspects represent. symbols, in the search for an
identity for the capital in the 1930s-1940s.

Keywords: Art deco; symbolism; architeture; Goiânia.

INTRODUÇÃO

A conexão do Art Déco brasileiro com o simbolismo está correlacionada com a


preocupação nacionalista, vivida pelo país naquele momento. Além do nacionalismo tem o
regionalismo, pois observa-se as nuances dos edifícios Art Déco em sítios diferentes,
apresentando também o aspecto poderio.
A escolha da temática deve-se ao fato de que os elementos simbólicos das construções,
são capazes de causar emoções e sensações ao homem, quando esse está inserido no ambiente.
Os ornamentos exercem várias funções nas edificações, podendo ser estruturais, estéticos,
expressar status, duração e valorização econômica, tudo na arquitetura tem um significado,
nada é construído sem uma razão.
Embora muito se tenha explanado sobre o Art Déco e a importância desse estilo para
Goiânia, a proposta desse trabalho justifica-se por aprofundar ainda mais nos aspectos
simbólicos que essa vertente carrega em seus edifícios, contribuindo assim para essa temática.
5

Foram selecionados três edifícios para serem analisados, a casa de Pedro Ludovico Teixeira
(1937), o Palácio do Governo (1937) e o Museu Zoroastro Artiaga (1943), no sentido de
ressaltar o caráter de modernidade e do poder político em Goiânia.
No período de 1930 a 1940 a nova capital ainda estava sendo construída e por influência
política teve seu projeto inicial modificado, além da escassez de matéria-prima, que justificam
as alterações ocorridas em algumas edificações em relação a concepção inicial. A política nesse
período tem muito peso nas ações tomadas em Goiânia, pode-se constatar muito bem esse
aspecto na Dissertação de Mestrado em Arquitetura e Urbanismo de Anamaria Diniz (2007), lá
deixa muito claro essa interferência e demonstração de poder.
Ao se deparar com uma edificação deve-se levar em consideração todo o aglomerado
daquela materialidade visual, a arquitetura dá aspecto a nossa cultura, sendo manifestado
através de várias compreensões dos estilos arquitetônicos. O sentido e a percepção estão ligados
a arquitetura, entender como eles atuam e o que contribuem para espaço em que estão inseridos
é importante para o todo. Mediante ao exposto chega-se à problematização: Quais são os
aspectos simbólicos do Art Déco na arquitetura goiana e, quais mensagens transmitem?
Através das análises das edificações escolhidas, chegar à conclusão de quais são esses
aspectos simbólicos, e o que o interventor Pedro Ludovico quis que Attílio Corrêa Lima e os
irmãos Coimbra Bueno concretizasse na construção de Goiânia, deixando lucido essa
mensagem que foi tão importante para a nova capital, que se tornou evidente para o resto do
país, deixando a antiga característica de cidade colonial e enfim se tornando uma cidade
moderna.
Como procedimento metodologia, o trabalho, mediante revisão bibliográfica, captando
os conceitos de simbolismo e Art Déco em Goiânia, apresenta a seguinte estrutura.
Primeiramente será explanado sobre, Goiânia e o Atr Déco, contextualizando o Art Déco no
aspecto geral, chegando no Brasil e por fim em Goiânia, enaltecendo suas características
principais em cada etapa. Após será abordado, o simbolismo na arquitetura, procurando
evidenciar os símbolos e signos que são utilizados na arquitetura, que podem se manifestar nos
adornos, ornamentos, elementos estruturais, conjunto de obras/edificações e até mesmo no
traçado urbanístico. Eles vêm para representar elementos/momentos históricos, políticos, poder,
religiosidade, grandiosidade, dentre outros, por vezes eles podem estar ocultos, provocando no
usuário curiosidade. Em terceiro momento, os aspectos simbólicos do Art Déco em Goiânia,
procurando assim entender o porquê do Art Déco foi escolhido para representar a nova capital,
sendo assim, analisando as três edificações selecionadas e seus aspectos simbólicos, através de
6

plantas, fachadas, ornamentos, registros fotográficos, além de buscar em referencias biográficas


conhecimentos para as conclusões que serão tomadas.

1 GOIÂNIA E O ART DÉCO

Inicialmente o Art Déco adquiriu cunho decorativo, cujo objetos procuravam representar
o progresso tecnológico, características de aviões, navios, trens dentre outros. Ainda que se
tenha iniciado assim, sua manifestação chegou na moda, na arquitetura, urbanismo, arquitetura
de interiores, publicidade, designer gráfico, moveis, joias, dentre outros. O Art Déco buscou
referências de outros movimentos, foram eles, o Cubismo, de onde vieram suas formas
sobrepostas e facetadas, o Construtivismo Russo, pegando sua linguagem da mecanização, o
Futurismo, o fascínio pelo movimento, pode-se citar também o Art Nouveau, Fauvismo,
Expressionismo, Neoplasticismo e por algumas artes mais singulares, como a Egípcia, Maia
Astecas, Ameríndia, flores estilizadas, formas vegetais onduladas, figuras humanas estilizadas,
idealizadas e heroicas.( AZEVEDO, 2008; FAZIO, 2011)
Segundo Mello (1996, p. 64),

o Art Déco é difícil de ser definido, seja nas artes ou na arquitetura. As influências
que moldaram sua fisionomia foram múltiplas, ecléticas e hibridas. Além disso, os
elementos tomados para o seu repertório foram muitas vezes abstraídos, distorcidos e
simplificados. Identificam-se motivos inspirados nas vanguardas do início do século,
tais como o cubismo, o construtivismo russo e o futurismo italiano.
(apud COELHO, 2002, p. 105)

O Art Déco foi apresentado formalmente na Exposição Internacional das Artes


Decorativas e Industriais Modernas, que aconteceu em Paris em 1925. Na França foram
construídos vários exemplos da Arquitetura Art Déco, mas foram demolidos no final do evento.
Na Inglaterra, as obras desse movimento procuravam manifestar a modernidade através da
função e da economia, o estilo foi considerado adequado para ser utilizado na concepção de
edificações como usinas de energia elétrica, aeroportos e cinemas. Já nos Estados Unidos, os
arquitetos da década de 1920 estavam em busca de uma nova expressão decorativa para serem
aplicadas aos arranha-céus. A ornamentação Art Déco era tida como moderna, “elegante e
apropriada para a substituição do historicismo das torres com inspiração gótica”. Outro
benefício era que seus ornamentos podiam ser executados em terracota, latão, alumínio, aço
7

inoxidável e cobre. Ainda que não abraçasse a estética da era da máquina, o Art Déco brindava
tanto a arte quanto a tecnologia. (FAZIO, 2011)
O arranha-céu mais famoso do Art Déco é o Edifício Chrysler (1928) projetado por
William Van Alen (1883-1954). Sua principal característica é a cúpula em forma de coroa
concebida em aço inoxidável, com sucessivos arcos preenchidos com raios de sol e coroada
com uma flexa, essa obra se tornou um clássico marco de skyline urbano, que por muito tempo
foi ignorado pelos modernistas, mas que voltou nas décadas de 1970 e 1980 como favorito para
as edificações de grande porte, outras características ornamentais relevantes são as gárgulas de
águias e o famoso acrotério com motivos radiais e frisos adjacente com rodas de veículos
abstratas (figura 01). (FAZIO, 2011)

Figura 01: Edifício Chrysler

Fonte: https://www.westwing.com.br/guiar/art-deco/

As pessoas que vivenciaram o estilo, passaram a desfrutar das representações do Art


Déco como uma oportunidade de fugir da realidade, como a devastação deixada pela guerra,
assim idealizando um mundo de fantasia, cujos musicais, os cinemas Hollywoodianos, a
sofisticação e exuberância eram exaltados nas formas decorativas de modernidade, velocidade
e inovação. Na Europa, o Art Déco só não atingiu uma proporção maior, pois a prioridade no
momento eram outras, como a reconstrução das cidades que foram arruinadas pela Primeira
Guerra Mundial. (AZEVEDO, 2008)
Na América, o boom imobiliário de 1920 estimulou a produção de edificações no estilo
Déco de pequeno, médio porte e até arranha-céus de várias esferas, o principal uso era comercial
ou serviço público. Com a possibilidade de configuração em inúmeros lugares do mundo, o
Déco expressa não somente a internacionalização, mas também dispõe de atributos
regionalizantes, em virtude das particularidades que os padrões decorrentes de cada cultura
8

local apresentam, as adaptações das estruturas físicas, os materiais e alusões dos costumes
locais. A abundância de formas e ornamentos, e particularmente sua capacidade de criação, o
uso de materiais como cimento possibilitou que o estilo se estende-se por todo o Brasil e não
somente nas metrópoles, se tornando popular e garantindo inúmeros modelos das mais variadas
abordagens e que confirmam um patrimônio singular com exemplares diferenciados na
abundância cultural, propagados em todas as classes sociais.
No Brasil o então presidente Getúlio Vargas, adotou o Art Déco como signo de mandato,
fixado pelo reflexo do progresso e poder, e o Déco possibilitou que esse conceito se
manifestasse por sua monumentalidade e imponência de suas formas geométricas e
racionalismo, retratando assim o signo de modernidade e avanço no país, em seus exemplares
relevantes, em particular nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Goiânia.
Por se tratar de um país tropical, onde a maioria das atividades coletivas serem realizadas ao ar
livre, no Brasil a representação do Art Déco é mais vista no tratamento das fachadas do que seu
interior, sendo assim a fachada tem maior relevância, mostrando a imponência da edificação.
(AZEVEDO, 2008; UNES, 2008)
A racionalidade é representada através da “padronização das estruturas dos
equipamentos públicos” pertinentes as oportunidades de aplicação das técnicas construtivas de
cada região. No tocante a regionalidade brasileira, a arquitetura no estilo Art Déco recebeu
influência cultural indígena marajoara, gerando uma variedade de elementos geométricos,
signos indígenas, elementos da fauna e flora amazônica e a utilização de nomes indígenas nas
edificações como o Edifício Itahy3 (figura 02), cuja fachada é ornamentada com uma escultura
de uma sereia indígena, ao mesmo tempo que elementos abstratos aludem as ondas do mar.
(JORGE, 2000 apud AZEVEDO, 2008, p. 48)
Além dos signos marajoaras, o Art Déco brasileiro exibe outras composições
transmitindo a regionalidade expressados especialmente nas composições formais de

“[...] simetrias, racionalidade e axialidade das fachadas, no acesso principal


centralizado, nos halls de entrada, valorização de esquinas, predominância de cheios
e vazios, varandas semi-embutidas, linguagem formal, geometrização, ornamentação
racional, escalonamento de elementos da fachada, plantas flexíveis, formas
aerodinâmicas, [...]” (apud AZEVEDO, 2008, p. 48)

dentre outros.

3
nome de origem Tupi
9

Figura 02: Edifício Itahy (1932) Copacabana – Rio de Janeiro

Fonte: Marcelo Nacinovic4

Ainda que houvesse aceitação e popularidade entre a maioria dos brasileiros, o Déco
teve rejeição dos especialistas, justificada pelo enaltecimento e eternização do movimento em
ascensão do modernismo, somado ao debate terminológico e teórico do Art Déco, que era
considerado por muitos como uma adoção em larga escala de elementos decorativos comuns.
A importância patrimonial do Art Déco estabeleceu posições contrarias, já que o estilo foi
utilizado principalmente na Era Vargas (1930-45), e até 1950, no Brasil o estilo compreendia
uma derivação estilística proveniente de uma época em que se propagava o progresso, inovação
e a modernidade brasileira. (AZEVEDO, 2008)
Goiânia faz parte de um agrupamento de experiências que percorre vários núcleos
urbanos brasileiros, de ser uma capital planejada, concebida em pensamentos antes de se fazer
palpável. Porém, a capital goianiense, como qualquer outra capital planejada, expressa
particularidades, resultantes de um passado singular, a construção dessas capitais planejadas é
consequência de vivências históricas particulares, exprimindo, sempre, uma intervenção no
percurso político, econômico, social e cultural das populações envolvidas. (BOTELHO, 2002)
Fundada em 24 de outubro de 1933, Goiânia desenvolveu-se a partir de um plano
urbanístico para desempenhar a função de centro político administrativo do Estado de Goiás,
mas foi apenas em 1937 que passou a ser a Capital. Em 1930, que a possibilidade da viabilização
do projeto político de cunho modernizante, possibilitou a Pedro Ludovico Teixeira tomar

4
Disponível em: https://www.flickr.com/photos/mmvic/6735617727
10

providencias e colocar em prática o plano da Marcha para o Oeste, movimento criado para
acelerar o progresso e a ocupação do Centro-Oeste. Em 6 de julho de 1933, Pedro Ludovico
encarregou o urbanista Attílio Corrêa Lima da elaboração do projeto da nova capital. Goiânia
tornou-se a materialização de um discurso e momento, em que o símbolo se materializou e se
modificou em um marco na concretização de uma política nacionalista, e o Brasil civilizado
pôde contar com a agregação de suas regiões, em direção ao progresso e à civilização, retirando-
se, determinantemente, de um passado ultrapassado e de inferioridade perante do mundo
civilizado. Nas palavras de um de seus construtores, a intenção era construir edifícios que desse
ao Centro Cívico de Goiânia um aspecto verdadeiramente moderno na época. No discurso da
inauguração da nova capital Pedro Ludovico Teixeira, exaltou o pensamento que os goianos
progressistas tinham de seu Estado. (PEREIRA, 2002; DINIZ, 2007)

Dirijo-me ao Brasil, ao ensejo da passagem do maior acontecimento já registrado no


meu Estado.
Inaugura-se hoje a jovem Goiânia, Capital de Goiaz[sic]
Ao entregar à comunhão nacional a cidade cuja construção foi parte primacial
do meu programa de governo, despido de espírito regionalista, ergo o meu olhar para
a Pátria comum, antevendo o seu futuro esplendoroso.
Tenho a honra de saudar, na pessoa do grande condutor, o Presidente Getúlio
Vargas, o Brasil gigante e poderoso.
Saúdo a Amazônia, tão cheia de mistérios e tão rica de promessas; as terras dos
palmares e babaçuais esplêndidos do Parnaíba longínquo. Saúdo o Nordeste, de
atitudes heroicas e fecundas ante as durezas do clima que o flagela; os Estados do
leste, de riquezas tão numerosas e de um labor tão intenso, em benefício da economia
nacional. Saúdo as terras dos vales históricos do Paraíba e do Tietê, onde vicejam os
cafezais, os algodoais e tantas riquezas; as regiões admiráveis dos pinheirais
paranaenses e catarinenses. Saúdo os pampas do sul, berço de heróis, celeiro do Brasil;
as terras que, a leste e oeste de Goiaz[sic], com ele se irmanam na grandeza das suas
glebas, na variedade dos seus produtos e no labor intrépido dos seus filhos. Saúdo o
Brasil todo, símbolo de pujança, dignidade e elevação moral.
A Ele, BRASIL, entrego um grande Ideal que se tornou uma grande realidade
– GOIÂNIA. (Mensagem de Pedro Ludovico ao Brasil. Oeste, v. 1, n. 1, p. 55, 1943)
(apud PEREIRA, 2002, p. 53)

De acordo com Coelho (2002), Graeff em seu livro Goiânia: 50 anos, observou certas
discordâncias nas posições declaradas pelos dois responsáveis pelo traçado da cidade. De um
lado Attíli Corrêa Lima afirmou haver empregado características monumentais próprias das
11

tradicionais cidades barrocas europeias, por outro lado Armando de Godóy faz citações de
modernidade, referências, às propostas de Cidade Jardim e Cidade Industrial, apontadas por
Graeff como o que de mais avançado que estava se propondo na época. (COELHO, 2002)
Um grupo de famílias, com um poder aquisitivo maior, construíam suas residências com
características do Art Déco, todas no Setor Central e adjacentes ao centro de poder da Praça
Cívica. Atualmente a maioria dessas residências já desvaneceram, restando somente uma delas
que hoje é utilizada como museu, a residência do fundador Pedro Ludovico Teixeira (figura
03), sendo que essa foi projetada e executada pelo escritório Coimbra Bueno, na década de
1930. Ainda que nas residências destinadas para os funcionários o alpendre fosse somente um
elemento simples e de pequeno valor estético, nas construções Déco passaram a ser implantadas

ao programa do edifício, chegando a servir nas casas de esquina, como a da Tocantins


e a do Dr. Pedro Ludovico, como apoio a uma sacada, geralmente é curva, que dá
vista para as duas vias de circulação. O jardim, inicialmente pequeno e acanhado,
ganha agora maior destaque, tornando-se um espaço intermediário entre o público e o
privado. As plantas, mais elaboradas, já atendem preocupações como distribuição e
setorização dos espaços, e os materiais de acabamento podem inclusive ser
considerados como sendo de uma certa sofisticação. (Coelho, 1993, p. 9) (apud
COELHO, 2002, p. 120)

Figura 03: Residência do fundador Pedro Ludovico Teixeira

Fonte: da autora

O Art Déco aparece também em edificações de cunho religioso, como a capela do


Colégio Ateneu Dom Bosco (figura 04), onde a torre se destaca com uma monumentalidade
monolítica, acentuada pelos vários planos compactos que nela se sobrepõem, cujas poucas e
estreitas aberturas, todas na vertical, contribuiu para acentuá-las. (COELHO, 2002)
12

Figura 04: Colégio Ateneu Dom Bosco

Fonte: Jornal Opção5

A história do Art Déco de Goiânia não pode ser vista como uma alternativa de tendência
elegida por Attílio Corrêa Lima, Armando de Godóy ou por qualquer outros que exerceram a
incumbência de construir a capital. O Déco concretizava, nesse contexto, a conexão do Brasil
com o mundo, e de Goiás com a federação, com o intuito de deixar para trás anos de atraso
político, cultural e se estabelecer na modernidade difundida. Na arquitetura oficial, as
edificações públicas, necessitavam que os signos do poder emergente do Estado Novo
estivessem evidentes, por meio da sinuosidade de determinadas linhas, do jogo de volumes e
de uma imponência essa, mesmo que não sendo monumental em suas dimensões, conseguisse
transmitir sua personalização. Determinados pela horizontalidade rigorosamente incluída à
ambiência do lugar, as edificações possuem simetria impecável, em que se exibe regularmente
um elemento vertical, centralidade, indicando uma perfeita harmonia. Tais elementos, estão
distantes se serem uma característica local ou regional, podendo facilmente serem considerados
como uma característica desse período da arquitetura internacional. Transfigurando-se em
elemento de registro a consagrada simetria e da monumentalidade, estabelecendo assim a
personificação do poder agora em Goiás, se igualando com o restante do mundo. (COELHO,
2002; MANSO, v. I, 2004)
Observa-se a predominância de simetria axial e frontalidade, composição tripartida na
vertical - com base, corpo e coroamento -, emprego de modinatura como meio de
expressão arquitetônica e, ao mesmo tempo, tendencia à abstração e simplificação,
ausência de ornamentação figurativa derivada de estilos históricos, tendência a uma

5
Disponível em: https://www.jornalopcao.com.br/colunas-e-blogs/memorando/colegio-ateneu-dom-bosco-80-
anos-de-educacao-de-qualidade-265015/
13

espacialidade mais dinâmica e complexa, preferência por volumes “puros” e


preocupação com a economia e racionalidade construtiva relacionada ao emprego das
novas tecnologias – particularmente o concreto e o elevador. (Andrade et al.,
1993/1994 p. 73) (apud COELHO, 2002, p. 121)

Pode-se observar essas características na Estação Ferroviária de Goiânia (figura 05),


consegue-se evidenciar a sua horizontalidade marcante, o rompimento dela pela única
verticalidade da edificação, a torre do relógio. A Estação se encontra ao nível do terreno e é
acessado por uma série de degraus, reforçando a sensação de horizontalidade. O acesso
principal é marcado por um amplo vestíbulo, de pé direito duplo, decorado com dois painéis do
pintor frei Nazareno Confaloni. Com dimensões não tão marcantes, podemos encontrar esses
elementos de verticalidade no Teatro Goiânia e no Museu Zoroastro Artiaga, antigo edifício
sede do Departamento de Informação e Propaganda (DIP). De um modo geral, a situação
econômica em que o Estado se encontrava não possibilitou a concepção de edificações mais
elaboradas, ficando assim o discernimento e compromisso dos arquitetos, de configurar uma
arquitetura que simbolizasse o poder. Portanto as edificações públicas de Goiânia apresentam,
em relação a Art Déco duas classes de características marcantes. De um lado as construções
com melhores acabamentos, com emprego de decorações mais elaboradas, e de outro lado as
construções com proporções mais compactas, linhas retas com um caráter mais sóbrio, e
decorações utilizando apenas jogo de volumes. (COELHO, 2002)

Figura 05: Estação Ferroviária de Goiânia (2019)

Fonte: Instituto Biapó6


Já em 1950, Goiânia contava com vários prédios públicos, construídos no estilo Art
Déco e contava com um grande acervo da arquitetura brasileira. Atualmente o conjunto urbano
de Goiânia conta com 22 edifícios e monumentos públicos no estilo Art Déco.

6
Disponível em Biapó Notícias Ed. Comemorativa, Ano VII nº 58, ago. – set. 2019.
14

2 O SIMBOLISMO NA ARQUITETURA

A relação que se tem com os símbolos e signos vem desde a antiguidade mesmo a mais
distante, temos documentos de símbolos, e que ajudaram a construir a nossa história, desde
esculturas, pinturas e até mesmo nas construções. Na arquitetura o simbolismo aparece nas
concepções dos adornos, ornamentos e até mesmo nos elementos estruturais, eles vêm
representar muitas vezes elementos históricos, políticos dentre outros, mas nem sempre os
significados deles está evidente, por vezes estão ocultos.
A conexão de inter-relação presente no âmbito da arquitetura e as formas de poder
encontram-se, ao decorrer da história, sem que se possa indicar ou decidir um momento
determinado a ser classificado como referente a seu início. A cronologia da arquitetura
monumental cruza com a do poder, podendo ser administrativo ou religioso, sendo assim
complexa o discernimento entre eles. Pode-se observar isso nos monumentos constantes do
patrimônio da humanidade, cujas datas de concepção perdem-se no tempo. É no desfecho da
Idade Média, quando as sociedades urbanas se estabilizaram por completo, que as edificações
públicas começam a se instituir no contexto das cidades. Tornando-se uma unidade do retrato
do poder, então nada mais evidente que se expressar características de monumentalidade, como
forma de manifestar sua magnitude diante de todos. Tais princípios, de uma forma ou de outra,
é a fisionomia do poder, podendo ser espiritual ou temporal, mas sempre retratado por um
monumento arquitetônico, uma edificação de grande porte, simbolizando assim todo o seu
esplendor exterior.
Tornando-se nítido que o poder está ligado a monumentalidade da edificação que o
representa, ficando para o espaço arquitetônico encarregado desse poder, já que é nele que vai
ser retratado o “teatro” político. No começo do século XX a inserção de vários regimes
autoritários é implantada, tanto da direita como da esquerda, essa situação advém não somente
da Europa como também na América. A ligação dos elementos arquitetônicos em
desenvolvimento com conceitos surgidas na Exposição Internacional de Artes Decorativas e
Industriais, de 1925, apresentando uma nova tipologia arquitetônica, que ressalta o interesse
desses novos regimes políticos, a utilização para ser o novo modelo simbolizando o poder.
(COELHO, 1997)
Normalmente, tanto a arte como a arquitetura vêm sendo interpretadas e reinterpretadas
dentro de contextos contemporâneos. As distinções entre as classes sociais são relevantes e se
relacionam com valores básicos, como o uso e a estrutura do espaço, do tempo e dos materiais.
(HALL, 2005)
15

A particularidade essencial da arquitetura, que a caracteriza das outras vertentes


artísticas, está no fato de agir com um vocabulário tridimensional que inclui o homem, ela é
como uma grande escultura escavada, onde o homem entra e explora seu interior. Cada edifício
é caracterizado por uma abundância de valores, podendo ser econômicos, sociais, técnicos,
funcionais, artísticos, espaciais, mas a realidade do edifício é consequência de todos esses
fatores. (ZEVI, 1998)
Os arquitetos modernos ortodoxos, acreditavam que o significado do simbolismo na
arquitetura deveria ser evidente nas características fisionômicas, dependentes das formas, a
concepção da forma arquitetônica deveria ser um procedimento coerente, desapegado de
representações de vivências passadas, definida apenas pelo programa e pela estrutura. Alguns
críticos mais recentes, indagaram sobre o nível em que formas abstratas podem ser utilizadas.
Outros expõem que os funcionalistas, mesmo com suas afirmações em contradição,
manifestaram um vocabulário formal próprio, influenciado especialmente nos movimentos
artísticos contemporâneos e no vernacular industrial. Palavras e símbolos podem ser utilizados
nos ambientes como possibilidade de persuasão comercial, nas cidades as vitrines e os letreiros
induzem os transeuntes. Ainda que menosprezado pelos arquitetos modernos, as premissas
históricas do simbolismo na arquitetura perduram, e as complexidade iconografia continuaram
a ser uma porção indispensável para a disciplina história da arte. O simbolismo da arquitetura
moderna geralmente é tecnológico e funcional, mas quando os elementos funcionais atuam
simbolicamente eles não atuam funcionalmente, podemos pegar a estrutura de aço de Mies,
simbolicamente exposta, mas subtrativamente encaixadas. (VENTURI, BROWN, IZENOUR,
2003)
Figura 06: Desenho original de Mies van der Rohe de 1952

Fonte: Casa cor (2021)7

7
Disponível em: https://casacor.abril.com.br/arquitetura/design-reencontrado-mies-van-der-rohe-em-construcao-
indiana-eua/
16

A arquitetura ao se evidenciar, utiliza determinadas técnicas construtivas, recorre a


utilização de materiais apropriados, busca cumprir as funções características de cada espaço,
considera a topografia e o clima, dentre outros. Entretanto, a arquitetura, também se expressa
materializando concepções e ideias, evidenciando valores e se configurando como um símbolo
concreto. Ao se caracterizar materialmente como uma concepção de mundo, ela consolida laços
com o homem, o mundo que o envolve, a dimensão física e metafisica de determinadas culturas
e épocas. Com isso o arquiteto identifica e indaga quais conceitos e representações vão ser
concretizados no espaço e como isso acontece espacialmente. As dimensões que a arquitetura
toma, tem relação direta com as dimensões do ambiente onde vai ser implantado, em outras
palavras, toda essa materialidade, podendo ser positiva ou negativa, exprimem a vivência e
cultura daquele lugar. Em “A dimensão simbólica da arquitetura” Ribeiro (2003), destaca uma
frase de Susanne Langer que expressa essa perspectiva, onde ela fala que, literalmente, o
acampamento “está” em um lugar, mas culturalmente ele “é” o lugar. (RIBEIRO, 2003)
Ribeiro (2003) ainda relata que, o homem carece de uma sistematização simbólica para
organizar e dar razão ao seu mundo, ele classifica, diferencia e designa alguns sistemas para
alcançar essa organização. E a arquitetura torna-se um mediador simbólico, que permite ao
homem expressar efetivamente seus valores e concepções de mundo, determinando essa
organização. Nessa perspectiva, o ambiente criado pela arquitetura é símbolo da própria
existência humana, ela cria espaços fisicamente presentes que configuram os procedimentos
pelos quais determinada cultura concebe ao mundo, criando assim a imagem de uma cultura.

Na arquitetura, e só nela, “luz” e “pedra” deixam de ser simplesmente luz e pedra.


Sem perder suas qualidades primarias, como imaterialidade e peso, passam a encarnar
algo que as transcende e tornam-se imagens capazes de suscitar, no habitante,
constelações de significados possíveis e inesgotáveis. Estes significados o habitante
já os traz dentro de si, mas só através do “poema arquitetural” ele os constrói e,
encontrando-os “aí fora”, encontrando-os também dentro de si.
Carlos A. Leite Brandão (apud RIBEIRO, 2003, p. 47)

3 ASPECTOS SIMBÓLICOS DO ART DÉCO EM GOIÂNIA

O pensador alemão Schopenhauer (apud BLUMENSCHEIN; GOME; LUCENA;


UNES, 1990, p. 11) disse que a construção de uma verdade passa por três fases: no primeiro
momento ela é ridicularizada, depois ela é violentamente contestada, para finalmente fazer-se
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evidente. Goiânia está entre a segunda e a terceira fase, ela ainda não é evidente, mas já há
quem lhe conteste a existência e a legitimidade, para que assim se torne evidente.
As primeiras edificações a serem concebidas seguindo as diretrizes eminentemente
Déco, anda sob a supervisão de Attílio Corrêa Lima, foram, o Grande Hotel, na Av. Goiás, o
Palácio do Governo e a Secretaria – Geral, ambos no Centro Cívico, local de maior acervo de
edificações Art Déco. Lamentavelmente, inúmeras características originais dos acervos de
edificações Déco de Goiânia, foram perdidas, por constantes reformas. (UNES, 2008)
Um dos principais aspectos simbólicos presentes nas obras arquitetônicas em Goiânia,
é a monumentalidade, esse elemento é utilizado principalmente em edifícios públicos e de
comércios, expressando assim o poder, uma força que em ali se abriga e faz uso dela. Ficando
claro que a monumentalidade está profundamente vinculada a representação de poder.
A escolha das obras para serem analisadas, se deu a princípio por terem sido concebidas
por autores diferentes, assim podendo comparar a fisionomia de cada e salientar suas
características Déco. Quase não se vê residências nesse estilo, então a casa de Pedro Ludovico
se torna essencial para essa análise, podendo então fazer uma comparação entre o privado e
institucional. Onde no privado se tem uma maior riqueza em sua composição ornamental, pelo
detalhamento das formas, já no institucional observa-se primeiramente sua monumentalidade,
suas composições são mais simplórias, tem jogos de volumes e o tratamento da fachada é
primordial.
Figura 07: Situação dos bens imóveis públicos Praça Cívica

Fonte: MUBDG – Mosaico Aerofotogramétrico Digital, 1992


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3.1 CASA DE PEDRO LUDOVICO TEIXEIRA

Ficha Técnica:
Localização: Rua 26, esq. com rua 25, qd. 47, lt. 1.
Início da construção: dezembro de 1936.
Concluída em 1937, em Goiânia-GO.
Autor do Projeto: Coimbra Bueno e Pena Chaves Ltda.
Propriedade: Governo Estadual.
Denominação e Uso:
Original: Residência de Pedro Ludovico Teixeira.
Uso Atual: Museu Pedro Ludovico.
IPHAN – instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Nome Atribuído: Acervo Arquitetônico e Urbanístico Art Déco de Goiânia.
Número do Processo: 1500-T-2002.
Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico: Inscrito em 02/2005.
Livro do Tombo Histórico: Inscrito em 02/2005.
Livro do Tombo Belas Artes: Inscrito em 02/2005.
SPHA – Superintendência de Patrimônio Histórico e Artístico.
Nome Atribuído: Casa de Pedro Ludovico Teixeira.
Resolução de Tombamento: Despacho nº 1.096, de 1982 (Processo CEC 302/81) e Decreto nº
4.943, de 1998 (Processo 16204654).

O Museu Pedro Ludovico foi criado em 1987, em homenagem ao fundador de Goiânia,


trata-se da antiga residência de Pedro Ludovico, construída no estilo Art Déco, com dois
pavimentos. A casa abriga a exposição permanente de pertences pessoais da família, além de
documentos políticos, o museu conta também com a biblioteca de Mauro Borges, especializada
em história de Goiânia e Goiás. (SEDUCE)
A composição arquitetônica dos volumes combina monolitos retangulares com um
terraço circular, em alusão ao streamline, realçado pelos detalhes de envasadura encontrados
no parapeito do terraço, a forma de escotilhas arredondadas e com detalhes metálicos. Esse
contraste de volumes é ainda valorizado pelo uso da platibanda ocultando o telhado. O reboco
externo da fachada é todo trabalhado com detalhes circulares e frisos decorativos, nas soleiras
de algumas portas, há elementos escalonados em zigurate. Enfim, pode-se averiguar vários
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aspectos de cunho Déco, uma notável solução para a aguardada monumentalidade da residência
mais importante da capital. (MANSO, 2004; UNES, 2008)

Figura 08: Casa de Pedro Ludovico Teixeira

Fonte: IPHAN

Figura 09: Museu Pedro Ludovico

Fonte: da autora
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Figura 10: Planta Baixa Museu Pedro Ludovico

Fonte: Agência Goiânia de Cultura Pedro Ludovico Teixeira – AGEPEL

3.2 PALÁCIO DO GOVERNO

Ficha Técnica:
Localização: Praça Cívica; Praça Dr. Pedro Ludovico Teixeira – St. Central, Goiânia.
Início da construção: 1933
Concluído em 1937, Goiânia-GO.
Autor do Projeto: Attílio Corrêa Lima
Propriedade: Governo Estadual
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Dominação e Uso:
Original e Atual: Palácio do Governo.
IPHAN – instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Nome Atribuído: Acervo Arquitetônico e Urbanístico Art Déco de Goiânia.
Número do Processo: 1500-T-2002.
Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico: Inscrito em 02/2005.
Livro do Tombo Histórico: Inscrito em 02/2005.
Livro do Tombo Belas Artes: Inscrito em 02/2005.
SPHA – Superintendência de Patrimônio Histórico e Artístico.
Nome Atribuído: Palácio do Governo.
Outros Nomes: Palácio das Esmeraldas.
Resolução de Tombamento: Despacho nº 1.096, de 1982 (Processo CEC 302/81) e Decreto nº
4.943, de 1998 (Processo 16204654).

Concebido com a finalidade de ser a residência oficial do governador do Estado de


Goiás, sendo o edifício mais elaborado do Centro Cívico. É formado por três pavimentos e,
com duas edificações de dois pavimentos que o envolve simetricamente, formando um
conjunto, delimitando a área central superior da Praça Cívica, mais uma característica do Déco.
O primeiro e o segundo pavimento têm a função de serviços administrativos do governador e,
o terceiro têm a função de residência oficial do governador. Na concepção do Palácio, foram
aplicados materiais nunca utilizados antes como, tijolo de vidro, novas tonalidades nas cores
das tintas, metais na ornamentação, vitrais, dentre outros. O revestimento nas paredes externas
é de pó de pedra verde, alusão a esmeralda, pedra valiosa de cor verde, conhecida por sua
pureza. As formas utilizadas no Palácio são mais dinâmicas e despojadas, e volumes mais puros,
linhas retas, fachada limpa e sóbria, simetria axial e frontalidade, possui portas de ferro fundido
com elementos geométricos, uma característica das edificações governamentais, função política
e administrativa de Goiás. Acesso centralizado, feito por duas passarelas tipo galerias abertas,
predominância de cheios e vazios, superfície aerodinâmica, iluminação cenográfica,
representação de figuras humanas e animais nos vitrais, vitral colorido representando o
garimpo, agricultura e pecuária, atividades típicas do Estado, da sacada se tem uma visão
privilegiada das três avenidas radiais: Goiás, Araguaia e Tocantins. (BLUMENSCHEIN,
GOMES, LUCENA, 1990)
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Figura 11: Palácio das Esmeraldas

Fonte: IPHAN

Figura 12: Palácio das Esmeraldas

Fonte: da autora.
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Figura 13: Detalhe porta principal e vitral do Palácio das Esmeraldas

Fonte: da autora

Figura 14: Planta Baixa térreo, primeiro e segundo

Fonte: Agência Goiânia de Cultura Pedro Ludovico Teixeira – AGEPEL


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3.3 MUSEU ZOROASTRO ARTIAGA

Ficha Técnica:
Localização: Praça Cívica; Praça Dr. Pedro Ludovico Teixeira – St. Central, Goiânia.
Concluído em 1943, Goiânia-GO.
Autor do Projeto: Arquiteto Polonês Kazimierz Bartoszewski.
Propriedade: Governo Estadual.
Denominação e Uso:
Original: Departamento Estadual de Informação (DEI)
Uso Atual: Museu e Centro Cultural.
Outros: Departamento Estadual de Cultura, Assembleia Legislativa no 2º piso.
IPHAN – instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Nome Atribuído: Acervo Arquitetônico e Urbanístico Art Déco de Goiânia.
Número do Processo: 1500-T-2002.
Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico: Inscrito em 02/2005.
Livro do Tombo Histórico: Inscrito em 02/2005.
Livro do Tombo Belas Artes: Inscrito em 02/2005.
SPHA – Superintendência de Patrimônio Histórico e Artístico.
Outros Nomes: Antigo Departamento Estadual de Informação.
Resolução de Tombamento: Despacho nº 1.096, de 1982 (Processo CEC 302/81) e Decreto nº
4.943, de 1998 (Processo 16204654).

Inicialmente o Museu foi construído para ser o Departamento de Imprensa e Propaganda


(DIP), atualmente se encontra exposto um grande número de peças, que exploram a
antropologia, etnologia, arqueologia, arte sacra e arte popular. Apresenta planta baixa com
volumes escalonados, volume de acesso principal destacado dos demais em forma e avanço,
coroamento da platibanda por friso em degraus, incrustações de adornos florísticos, portões
com grades de trama metálica geométrica, produzido com arrebites sem o uso de solda, janelas
amplas marcadas abaixo dos peitoris por frisos em degraus, acesso principal marcado por
escadaria seguida de patamar de entrada para o hall, hall com mezanino. Na fachada principal
o Art Déco está presente nos altos e baixos-relevos aplicados nela, esquematizadas com estilos
florais, vitrais martelados as janelas do pavimento superior foram retiradas. (MANSO, 2004)
O Museu é referência da história de Goiás, onde seu acervo é referência da história de
Goiás, mostrando a diversidade cultural material e imaterial do Estado. (SECULT)
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Figura 15: Museu Zoroastro Artiaga

Fonte: IPHAN

Figura 16: Museu Zoroastro Artiaga

Fonte: da autora
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Figura 17: Ornamentos do Museu Zoroastro Artiaga

Fonte: da autora

Figura 18: Planta baixa Museu Zoroastro Artiaga

Fonte: Agência Goiânia de Cultura Pedro Ludovico Teixeira - AGEPEL


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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Inicialmente foi explanado sobre a o estilo Art Déco de forma geral, como ele chegou
no Brasil e finalmente os motivos pelos quais foi adotado na nova capital que estava sendo
construída. Em seguida o simbolismo na arquitetura, sendo que esse nos acompanha desde os
primórdios, e é através deles que o homem consegue transmitir seu sentimento, podendo ser
uma pintura, escultura, poema, edificação, dentre outros. Enfim chegando nos aspectos
simbólicos do Art Déco em Goiânia, elucidando suas principais características arquitetônicas
utilizadas na capital, deixando claro que essa vertente no Brasil sofreu alterações e
interpretações distintas de outros lugares, sejam elas extraídas do regionalismo, culturas
indígenas ou até mesmo uma alternativa de matéria-prima para conceber as edificações.
Assim, as considerações finais deste estudo, resgatou-se a pergunta norteadora: Quais
são os aspectos simbólicos do Art Déco na arquitetura goiana e, quais mensagens eles
transmitem?
Fica claro na análise das obras selecionadas que, a principal característica do Art Déco
usada na concepção das edificações, foi a monumentalidade sendo que essa representa “poder”,
de valor tanto aquisitivo, quanto político. Esse desejo de poder, se deu, pois Pedro Ludovico
queria que Goiânia se torna-se evidente para as outras regiões do Brasil, agora com uma cidade
planejada e moderna com fisionomia de poder, deixando os atrasos para traz.

REFERÊNCIAS

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2008. 145 folhas. (Dissertação de Mestrado em Arquitetura e Urbanismo). Universidade
Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008.

BLUMENSCHEIN, Marilda R. P.; GOMES, Paulo Vinícius; LUCENA, Regina M.M. Silveira.
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BOTELHO, Tarcísio Rodrigues (Org.). Goiânia: cidade pensada. Goiânia: Ed. da UFG, 2002.

COELHO, Gustavo Neiva. A modernidade do Art Déco na construção de Goiânia. Goiânia:


Ed. do Autor, 1997.
28

COELHO, Gustavo Neiva. O Art Déco e a política modernizadora na fundação de Goiânia.


In BOTELHO, Tarcísio Rodrigues (Org.). Goiânia: cidade pensada. Goiânia: Ed. da UFG,
2002.

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Universidade de Brasília, Brasília, 2007.

FAZIO, Michael; MOFFET, Marian; WODEHOUSE, Lawrence. A História da Arquitetura


Mundial. Tradução de Alexandre Salvaterra. 3 ed. Porto Alegre: AMGH, 2011.

HALL, Edward T. A dimensão oculta. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

IPHAN. Goiânia: acervo Arquitetônico e Urbanístico Art Déco de Goiânia. IPHAN, 2014.
Disponível em: http://www.ipatrimonio.org/goiania-acervo-arquitetonico-e-urbanistico-art-
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LIMA, Rodrigo Félix de. Guia Turístico Art Déco Goiânia: educação patrimonial, cidadania,
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MANSO, Celina Fernandes Almeida. Goiânia: uma concepção urbana, moderna e


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MANSO, Celina Fernandes Almeida. Goiânia art déco: acervo arquitetônico e urbanístico
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PALLASMAA, Juhani. Os olhos da pele, a arquitetura e os sentidos. Porto Alegre:


Bookman, 2012.

PEREIRA, Eliane M. C. Manso. Goiânia, Filha mais moça do Brasil. In BOTELHO, Tarcísio
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RIBEIRO, Cláudia Regina Vial. A dimensão simbólica da arquitetura: parâmetros


intangíveis do espaço concreto. Belo Horizonte: FUMEC-FACE, C/ Arte, 2003.

SECULT. Museu Zoroastro Artiaga. SECULT, 2022. Disponível em:


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http://www.seduce.go.gov.br/museuvirtual/pedro.html. Acesso em: 14 jun 2022.

UNES, Wolney. Identidade Art Déco de Goiânia. Goiânia: instituto casa Brasil de cultura,
2008.

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O simbolismo (esquecido) da forma arquitetônica. São Paulo: Cosac Naify, 2003.

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