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ROTEAMENTO

Leandro Lottermann
Protocolo de
roteamento OSPF
Leandro Lottermann

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Descrever o protocolo de roteamento OSPF.


>> Identificar as métricas e tabelas de roteamento OSPF.
>> Explicar a implementação do protocolo OSPF.

Introdução

Neste capítulo, você vai conhecer os conceitos do protocolo de roteamento


OSPF (Open Shortest Path First), que é um protocolo intradomínio (IGP — In-
terior Gateway Protocol) em sistemas autônomos (AS). Comparado a outros
protocolos IGP, o OSPF é mais complexo, por ser um protocolo Link-State, isto
é, ele utiliza informações de links e interfaces dos roteadores para definir o
melhor caminho. É indicado para topologias que demandam mais desempenho
e sofrem alterações constantes.

Protocolo de roteamento OSPF


Para satisfazer a demanda de um protocolo de roteamento que atendesse
às grandes organizações, o Internet Engineering Task Force (IETF) concebeu
um IGP conhecido como OSPF. O nome deriva do algoritmo de Dijkistra, que
calcula os caminhos mais curtos. O OSPF surgiu em substituição ao RIP, uma
vez que este apresentava certas limitações, como a quantidade de redes que
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poderiam ser alcançadas, além de introduzir atrasos que comprometiam o


tempo de convergência da rede (COMER, 2016).
O algoritmo de Dijkstra geralmente é chamado de algoritmo de caminho
mais curto primeiro. Ele acumula custos ao longo de cada caminho, da origem
para o destino, sendo usado em roteamento do tipo Link-State. Roteadores
que executam um protocolo de roteamento Link-State enviam informações
sobre o estado dos links desse protocolo para outros roteadores no domínio de
roteamento. O estado desses links refere-se a suas redes diretamente
conectadas e inclui informações sobre o tipo de rede e todos os roteadores
vizinhos nessas redes.
Por se tratar de um protocolo do tipo link state, o OSPF considera
diversos tipos de informações de conectividade, como velocidade e taxa de
uso, para viabilizar a definição de métricas. Além disso, dá suporte a CIDR
(Classless Inter-Domain Routing), isto é, ele reconhece não apenas as
máscaras de rede padrão (A, B, C, etc) mas também o processo de
segmentação destes blocos. Essa característica permite que seja usada a
divisão de sub-redes, muito importante em momentos de esgotamento do
IPv4. Na troca de mensagens, os roteadores que utilizem o OSPF podem
autenticar cada mensagem. Eles dão suporte a métricas, e permitem que o
administrador intervenha em seu respectivo custo de modo a auxiliar na
definição do melhor caminho. Dá suporte também a redes de acesso
múltiplo, contribuindo para o desempenho da rede — no OSPF, é eleito um
único roteador para envio de broadcast à rede. O roteamento é hierárquico e
ocorre pela definição de áreas de roteamento, o que otimiza o desempenho
da rede.
tion Protocol) e ao IS-IS (Intermediate System to Intermediate System), por
exemplo. Para implementar o OSPF, é necessário que o administrador tenha
conhecimentos avançados sobre roteamento, principalmente porque ele
permite personalizar algumas configurações, podendo alterar as métricas
e, consequentemente, a escolha do melhor caminho.

Métricas e tabela de roteamento OSPF


De modo diferente de protocolos de vetor de distância, que utilizam a
contagem de saltos para definir o melhor caminho, o OSPF emprega
métricas distintas para calcular o custo. Esse custo está associado à
interface de saída, normalmente, a interface de cada roteador. Quanto
menor o custo, mais provável que a interface seja eleita para envio de
dados.
No OSPF, a cada enlace, pode ser atribuído um peso com base na sua
banda passante, no RTT (Round-Trip Time) ou ping correspondente, na
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confiabilidade e assim por diante. Um ponto interessante sobre o custo OSPF


é que diferentes tipos de serviços podem incorrer em pesos diferentes nos
custos (FOROUZAN; MOSHARRAF, 2013).”

Para fins de exemplificação, observe a Figura 1, que representa uma to-


pologia de roteamento OSPF. Veja que há links de comunicação entre os
roteadores R1, R2 e R3 e cada um desses roteadores está conectado a um
servidor representando a LAN de cada um deles.

Figura 1. Topologia OSPF.

Normalmente, a conexão entre os roteadores se dá por interfaces seriais


ligadas a links de comunicação WAN de menor velocidade dos links
presentes no ambiente LAN, que estão ligadas em interfaces do patrão
Ethernet, normalmente Ethernet (10Mbps) Fast Ethernet (100Mbps), Gigabit
Ethernet (1Gbps) ou 10 Gigabit Ethernet (10Gbps). A Figura 2 identifica essas
interfaces em um roteador Cisco 1841, que vem a ser um equipamento
normalmente fornecido pela operadora de telecomunicações que presta o
serviço de conectividade WAN.

Figura 2. Interfaces de roteador.


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A Figura 3 por sua vez, exibe os parâmetros das interfaces do roteador


R3 mostrado na topologia da Figura 1. Atente especialmente para os campos
grifados, que identificam as interfaces Fast Ethernet e Serial e seus respec-
tivos custos.

Figura 3. Parâmetros de interfaces.

Note que, na Figura 3, o custo para a interface Fast Ethernet que tem a
velocidade de 100 Mbps é “1”, enquanto o custo da interface Serial é “64”. Na
simulação, os roteadores estão conectados nas suas seriais por um link T1,
um método de transmissão digital que realiza a multiplexação de dados em
um par de fios, neste caso com velocidade de 1544 Kbps, muito menor que
a conexão LAN do roteador.
Para definição do melhor caminho, OSPF realiza cálculos vinculados ao
custo de cada link, e esse custo é definido para cada interface em particular.
Além disso, usa parâmetros como o tempo de resposta entre os roteadores
para definição de rotas. O OSPF dará sempre prioridade para o menor custo
para definição da tabela de roteamento, muito mais dinâmica que o RIP,
pois o OSPF está sempre atualizando informações do estado dos links para
definição das rotas.
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Seguindo o mesmo exemplo de topologia da Figura 1, observe, na Figura


4, a tabela de roteamento do roteador R1, que possui conexão com R2 e R3.
Partindo da ideia de que a velocidade dos links é igual em ambas as conexões,
a métrica para atingir as respectivas redes remotas deve ser a mesma, mas
ela pode ser modificada se houver alteração no custo conforme o estado
dos links.

Figura 4. Tabela de roteamento do roteador R1.

Veja agora que, na Figura 5, foi adicionado um novo roteador na topologia.


Após a convergência, as tabelas de roteamento de todos os roteadores são
atualizadas. Essa nova rede remota 192.168.4.0/24 pode ser vista na tabela
de roteamento de R1, já com uma métrica diferente das demais redes.

Figura 5. Tabela de roteamento do roteador R1 (novo roteador).

Implementação do protocolo OSPF


O resultado da implementação de um protocolo de roteamento dinâmico são
as tabelas de roteamento de cada roteador, que devem ser criadas conforme
o conceito de funcionamento do algoritmo usado pelo protocolo. No rotea-
mento com estado dos enlaces, são necessários quatro ações para garantir
que cada nó tenha a tabela de roteamento com menor custo para ir de um
nó a qualquer outro nó (FOROUZAN, 2008). Veja a seguir.
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1. Criação dos estados dos enlaces por cada nó, denominado LSP (Link
State Packet — pacote de estado de enlace).
2. Disseminação de LSPs para cada um dos demais roteadores, a chamada
inundação, de uma forma eficiente e confiável.
3. Formação de uma árvore de rota mais curta para cada nó.
4. Cálculo de uma tabela de roteamento com base na árvore de rota
mais curta.

Na prática, os roteadores têm de estabelecer adjacência com seus


vizinhos, para que possam compartilhar mensagens entre si, conhecidas
como Hello. Um detalhe importante, visto que estamos tratando de um
protocolo Link-State, é que os roteadores, primeiramente, precisam obter
informações sobre seus próprios links e suas próprias redes diretamente
conectadas. Isso é obtido pela detecção do estado (up / down) de suas
interfaces locais. Na figura 3 é ilustrado o estado das interfaces
FastEthernet 0/0 e serial 0/1/0, sendo ambas ativas e operacionais no
momento da avaliação (status up e protocolo up). No passo a seguir, cada
roteador é responsável por encontrar seus vizinhos em redes diretamente
conectadas, momento em que são compartilhados os pacotes Hello com
outros roteadores diretamente conectados. A partir do estabelecimento da
vizinhança, os roteadores criam um pacote LSP contendo o estado do link
diretamente conectado mediante o registro das informações de link de cada
vizinho, incluindo a identificação do vizinho, o tipo de link e a largura de
banda. Após a inundação de LSPs, os roteadores passam a ter informações
completas de todos os destinos da topologia e as rotas para alcançá-los.
Desse modo, usando o algoritmo SPF, são definidos os melhores caminhos
para cada destino.
A Figura 6 representa o formato de um pacote Hello gerado a partir de
determinado roteador. Observe os campos grifados para conhecer os principais
conceitos da implementação do protocolo OSPF.
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Figura 6. Pacote Hello OSPF.

Verifique agora o conceito de cada um dos itens grifados na Figura 6, de


forma a contextualizar sua função para a implementação do OSPF.

Router ID
Numa topologia OSPF, todo roteador deve ter uma identificação que é usada
no momento da eleição do roteador designado, sendo que essa ID pode ser
configurada pelo administrador. Se não houver intervenção do administra-
dor na definição da ID, a identificação é derivada a partir da interface com
endereço IP mais alto no momento em que é habilitado o protocolo OSPF.
Observe a Figura 7, onde um roteador está diretamente conectado às
redes 172.0.0.0 e 192.168.3.0. Porque não houve a intervenção do adminis-
trador para definição da ID, ele adotou o endereço IP mais alto entre suas
interfaces como router ID.
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Figura 7. ID de roteador.

Area ID
Para lidar com o roteamento de forma eficiente e oportuna, o OSPF divide um
sistema autônomo em áreas. Área é um conjunto de redes, hosts e roteadores,
todos contidos dentro do mesmo sistema autônomo. Um sistema autônomo
pode ser dividido em várias áreas diferentes, sendo que todas as redes dentro
de uma área devem ser interligadas (FOROUZAN, 2008).

Authentication
O protocolo OSPF dá suporte à autenticação desde sua primeira versão, com o
intuito de troca de mensagens seguras. A autenticação não é obrigatória, mas,
se necessário, o administrador pode configurar autenticação sem criptografia
no formato texto ou, então, com o uso de criptografia MD5 (message-digest).

Network mask
O endereço de rede no OSPF deve ser inserido com o uso da máscara de
rede, mas ela deve ser informada no formato wildcard mask, ou máscara
curinga. A máscara curinga pode ser configurada como o inverso de uma
máscara de sub-rede. Por exemplo, a interface WAN do roteador da Figura 6
está definida como 172.0.0.2 /30; logo, sua máscara de rede é
255.255.255.252, e a representação da máscara invertida deve ser definida
como 0.0.0.3.

Hello interval
O Hello interval, ou intervalo Hello, é o número de segundos entre os pacotes
Hello OSPF entre os roteadores. O intervalo-padrão é de 10 segundos
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Router dead interval


É a quantidade de tempo restante que o roteador vai esperar para receber
um pacote Hello de OSPF do vizinho antes de declarar o vizinho inativo. O
intervalo-padrão é de 40 segundos, redefinidos quando a interface recebe
um pacote Hello.

Designed router
O designer router (DR), ou roteador designado, tem a responsabilidade de
minimizar o broacast da rede, uma vez que ele assume a responsabilidade
de atualizar os LSPs cada vez que há uma modificação na rede. Observe, na
Figura 8, a representação de um roteador designado na topologia.

Figura 8. Roteador designado.


Fonte: Adaptada de Forouzan (2009).

Para mostrar que cada roteador está conectado a outro roteador por
meio de uma única rede, a rede em si é representada por um nó. Entretanto,
como uma rede não é uma máquina, ela não pode funcionar como roteador.
Um dos roteadores da rede assume essa responsabilidade, sendo designado
com duplo propósito: ele é um roteador real e um roteador designado (FO-
ROUZAN, 2009).
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Backup designed router


Por fim, o roteador designado de backup (BDR) assume a função de
roteador de contingência para o caso do roteador designado venha a
apresentar uma falha. Ele executa as mesmas funções do BDR, contudo não
encaminha as menagens aos demais roteadores OSPF enquanto estiver no
modo de operação de backup (BDR).

Vimos, neste capítulo, as características do protocolo OSPF. Os conceitos


envolvidos na sua implementação mostram porque ele se torna indicado
para topologias em que o desempenho e a convergência são importantes.
Além de conseguir obter informações dos links para definir o melhor caminho,
o conceito de área o torna um protocolo hierárquico, e a figura do roteador
designado minimiza a quantidade de mensagens, uma vez que ele assume a
função de compartilhar os LSPs, otimizando o uso dos links de comunicação.

Referências
COMER, D. E. Redes de computadores e internet. 6. ed. Porto Alegre: Bookman, 2016.
FOROUZAN, B. A. Comunicação de dados e redes de computadores. 4. ed. Porto Alegre:
AMGH, 2008.
FOROUZAN, B. A. Protocolo TCP/IP. 3. ed. Porto Alegre: AMGH, 2009.
FOROUZAN, B. A.; MOSHARRAF, F. Redes de computadores: uma abordagem top-down.
Porto Alegre: AMGH, 2013.

Leitura recomendada
CISCO. Que são áreas do OSPF e enlaces virtuais? [S. l.]: Cisco, 2020. Disponível em: ht-
tps://www.cisco.com/c/pt_br/support/docs/ip/open-shortest-path-first-ospf/13703-8.
html. Acesso em: 4 out. 2020.

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