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ROTEAMENTO

Leandro Lottermann
Roteamento unicast
OBJETIVOS

Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:


>> Explicar o roteamento unicast e a modelagem de grafos.
>> Descrever árvores de roteamento de menor custo.
>> Relacionar os algoritmos e protocolos de roteamento unicast.

Introdução
Neste capítulo, você verá como interpretar uma topologia de roteamento, anali-
sando-a no formato de grafos. Os grafos auxiliam na visualização das rotas a serem
utilizadas pelos roteadores, porque, se partirmos diretamente para a visualização
da topologia, a tarefa pode ser mais complexa. Unicast é o roteamento de um
para um: um roteador envia datagramas diretamente para um outro roteador
ao qual está diretamente conectado, e assim ocorre sucessivamente até que os
datagramas possam alcançar seu destino.

Roteamento unicast e modelagem de grafos


A função básica dos roteadores é garantir a entrega de pacotes de dados em
redes distantes. Essa topologia de roteadores pode pertencer a um sistema
autônomo (SA). Um SA pode ser exemplificado com uma universidade que
possui vários campi em diferentes cidades do Brasil. Essas unidades estão
todas conectadas por uma topologia de roteadores. Tomando por base esse
exemplo, a topologia é gerenciada pela mesma instituição. Imagine, porém,
o quão complexa se daria a topologia de roteadores da internet.
Para auxiliar no entendimento das conexões e rotas, usa-se o conceito
de modelagem de grafos. Um grafo, em ciências da computação, refere-se
a um conjunto de nós e arestas (linhas) que conectam os nós. Para modelar
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a internet, podemos pensar em cada roteador como um nó e em cada cone-


xão entre um par de roteadores como uma aresta (FOROUZAN; MOSHARRAF,
2013). A Figura 1 apresenta um exemplo básico da modelagem da internet no
formato de grafos.

Figura 1. Internet no formato de grafo.


Fonte: Forouzan e Mosharraf (2013, p. 296).

Observe na modelagem do grafo da Figura 1 que há um número relacionado


entre as conexões dos roteadores. Essa informação é muito importante para
definir o melhor caminho para entrega de pacotes de dados entre as redes
remotas, que veremos a seguir.

Uma internet é representada como um grafo ponderado, em que


há um custo associado a cada aresta. Se usarmos um grafo para
representar o campus de uma universidade, os nós poderiam ser as cidades
onde há um campus, e as arestas poderiam ser o caminho a ser percorrido para
chegar a esse campus. Os valores numéricos são as distâncias entre cada campus.
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Árvores de roteamento de menor custo


A função básica dos roteadores é garantir o transporte e a devida entrega
de pacotes de dados em redes distantes. Essa topologia de roteadores pode
pertencer a um sistema autônomo (SA). Um SA pode ser exemplificado com
uma universidade que possui vários campi em diferentes cidades do Brasil,
cada qual com seu bloco de endereços IP mas todos submetidos a mesma
política de roteamento. Essas unidades estão todas conectadas por uma
topologia de roteadores. Tomando por base esse exemplo, a topologia é
gerenciada pela mesma instituição. Imagine, porém, o quão complexa se
daria a topologia de roteadores da internet.
De modo geral, o melhor caminho é aquele que apresenta o menor custo
para entrega dos pacotes, e este custo é calculado pelo somatório de todos
os custos entre origem e destino. Os custos entre os roteadores podem ser
definidos pelo uso de diversas variáveis, entre elas a quantidade de saltos
ou a qualidade e a velocidade dos links de comunicação. O melhor caminho
não é, necessariamente, o mais curto entre origem e destino. O uso de gra-
fos ponderados é essencial para visualização desses custos e definição do
melhor caminho.
Na Figura 2 vemos uma topologia de roteadores. Observe que há uma
diferença de custo entre eles. Não veremos, neste momento, como foram
gerados esses custos, pois essa é uma tarefa dos protocolos de roteamento.
Uma informação em comum entre eles é o valor do custo dois, que representa
a conexão de cada um dos roteadores com suas redes diretamente conectadas.

Figura 2. Visualização de custos.


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Agora, veja na Figura 3 como ficaria essa mesma topologia representada


no formato de grafo ponderado. A partir desse grafo, podemos analisar a
árvore de menor custo entre as diversas redes remotas.

Figura 3. Grafo ponderado.

Com um grafo ponderado, pode-se analisar todos os caminhos disponíveis


para que os roteadores atinjam todas as redes remotas. Para isso, adota-se
um ponto raiz, conhecido como árvore-raiz. A partir dela, são traçados todos
os caminhos disponíveis, para determinar o caminho mais curto ou melhor
caminho.
O Quadro 1 apresenta os custos a partir de cada um dos nós para que
possam alcançar cada uma das redes representada na Figura 3, em que cada
caminho é rotulado com um valor arbitrário para custo.
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Quadro 1. Árvore-raiz

Rede-destino Caminho mais curto Custo

Árvore-raiz A

LAN B A→B 12

LAN C A→C 7

LAN D A→C→D 11

LAN E A→C→D→E 31

Árvore-raiz B

LAN A B→A 12

LAN C B→A→C 17

LAN D B→A→C→D 21

LAN E B→E 22

Árvore-raiz C

LAN A C→A 7

LAN B C→A→B 17

LAN D C→D 6

LAN E C→D→E 26

Árvore-raiz D

LAN A D→C→A 11

LAN B D→C→A→B 21

LAN D D→C 6

LAN E D→E 22

Árvore-raiz E

LAN A E→D→C→A 31

LAN B E→B 22

LAN C E→D→C 26

LAN D E→D 22
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O custo do caminho mais curto para B enviar pacotes à LAN anexada a C


é 17. Observe que esse custo não é 17 para todos os nós alcançarem a LAN
anexada ao nó C. Cada roteador determina seu próprio custo para cada des-
tino na topologia. Em outras palavras, cada roteador calcula e determina o
custo a partir de sua própria perspectiva. Além disso, observe que o menor
caminho nem sempre é o melhor. Tomando a perspectiva do nó A para entrega
de pacotes à LAN anexada a D, veja que o menor custo é o envio dos pacotes
para o nó C, em vez de enviá-los diretamente ao nó D.
A definição do melhor caminho é baseada nos protocolos e algoritmos
de roteamento dinâmico. Os protocolos utilizam diferentes variáveis para
definir sua tabela de roteamento. Uma tabela de roteamento dinâmica é
atualizada periodicamente com um dos protocolos de roteamento dinâmico,
como o RIP, o OSPF ou o BGP. Toda vez que houver uma mudança na internet,
por exemplo, o desligamento de um roteador ou a quebra de um enlace, os
protocolos de roteamento dinâmico atualizam automaticamente todas as
tabelas nos roteadores (FOROUZAN, 2008).

Algoritmos e protocolos de roteamento


unicast
Como vimos, a característica do roteamento unicast é entrega de pacote um
para um, ou seja, os roteadores são conectados a outro roteador ao qual
encaminham seus datagramas. Pode ocorrer, porém, que um roteador, dentro
da sua topologia, esteja conectado a mais de um roteador, para alcançar as
redes remotas. Isso quer dizer que há mais de uma rota. A definição de qual
rota será usada está diretamente ligada ao protocolo de roteamento utilizado
no roteador e, consequentemente, ao algoritmo utilizado no protocolo.
O roteador, por si só, busca o melhor custo para definição das rotas, e
esses custos são calculados com base nas métricas e suas variáveis. Essas
métricas, por sua vez, são baseadas nos conceitos usados pelos algoritmos.
No roteamento unicast, os conceitos mais populares são vetor de distância
e estado do link.

Roteamento por vetor de distância


Em protocolos que funcionam no modelo de vetor de distância, a métrica é
dada pelo número de saltos (roteadores) que um determinado pacote irá
passar para alcançar o seu destino. Desta forma, quanto menor a
quantidade de saltos melhor será o custo da referida rota e
consequentemente aquelas que apresentarem menores custos serão
carregadas na tabela de roteamento.
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O Routing Information Protocol (RIP) é um dos protocolos de vetor de


distância mais populares. Utiliza contagem de saltos para definição do
melhor caminho. Os protocolos de vetor de distância normalmente usam o
algoritmo de Bellman-Ford. Essa equação serve para determinar o menor
custo (distância mais curta) entre um nó de origem x e um nó de destino y,
através de um conjunto de nós intermediários, dados os custos entre as
origens e esses nós intermediários o resultado do algoritmo é a seleção do
caminho de menor custo, ou seja, o caminho que apresentar a menor
quantidade de saltos. A equação de Bellman-Ford apresenta-se da seguinte
forma:

dx(y) = minv{c(x,v) + dv(y)}

onde dx(y) refere-se ao custo do menor caminho de menor do nó (x) ao (y).


O minv é calculado para todos os vizinhos de x. Se, após transitarmos de x
para y, tomarmos o caminho de menor custo de v a y, o custo do caminho
será c(x+v) + dv(y). Como devemos começar viajando até algum vizinho v, o
caminho de menor custo de x a y é o mínimo do conjunto dos c(x+y) + dv(y)
calculados para todos os vizinhos (KUROSE; ROSS, 2013).
Na Figura 4 é possível verificar o algoritmo de vetor de distância com uma
abordagem sobre a aplicabilidade da equação de Bellman-Ford.

Figura 4. Algoritmo de vetor de distância.


Fonte: Kurose e Ross (2013, p. 275).
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Na prática, os roteadores habilitados com o RIP trocam informações entre


seus roteadores vizinhos, comunicando quais são suas redes conhecidas e
o número de saltos para atingi-las. Dessa forma, um roteador conectado a
pelo menos outros dois roteadores terá a opção de alcançar determinada
rede remota por pelo menos dois caminhos distintos. Nesse momento, ele
optará pelo encaminhamento de pacotes pelo roteador que possui um menor
número de saltos para atingir a rede destino.
Normalmente, os protocolos de vetor de distância como o RIP são usados
em redes de baixa complexidade, em que a rede é fixa, não requer um design
especial e que o tempo de convergência não é um fator crítico.
A contagem de saltos, utilizada pelo RIP, é a métrica mais fácil de visualizar.
A contagem de saltos se refere ao número de roteadores que um pacote deve
atravessar para alcançar a rede de destino. Para o R3 mostrado na Figura 5,
a rede 172.12.3.0 está há dois saltos, ou dois roteadores, de distância.

Figura 5. Contagem de saltos.

Roteamento estado do link

Roteadores que executam um protocolo de roteamento link-state, ou estado


do link, enviam informações sobre o estado dos links desse protocolo para
outros roteadores no domínio de roteamento. O estado desses links refere-
-se a suas redes diretamente conectadas e inclui informações sobre o tipo
de rede e todos os roteadores vizinhos nessas redes — daí o nome protocolo
de roteamento link-state.
Protocolos de roteamento link-state também são conhecidos como proto-
colos de caminho mais curto primeiro (SPF) e são criados a partir do algoritmo
de Edsger Dijkstra, onde o Open Shortest Path First (OSPF) é o protocolo de
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estado do link mais popular. O algoritmo de Dijkstra acumula custos ao longo


de cada caminho, da origem para o destino. Embora o algoritmo de Dijkstra
seja conhecido como SPF, esse é na realidade o propósito de todo algoritmo
de roteamento.
O algoritmo de Dijkstra calcula um caminho de menor custo entre um
nó (a origem, interpretada por u) e todos os outros nós na rede. É um algo-
ritmo iterativo e tem a propriedade de, após a k-ésima iteração, conhecer
os caminhos de menor custo para k nós de destino e, dentre os caminhos
de menor custo até todos os nós de destino, esses k caminhos terão os k
menores custos (KUROSE; ROSS, 2013). A Figura 6 apresenta a aplicabilidade
do algoritmo de estado de enlace.

Figura 6. Algoritmo de estado de enlace.


Fonte: Kurose e Ross (2013, p. 271).

Na prática, no processo de roteamento link-state, cada roteador obtém


informações sobre suas próprias redes diretamente conectadas. Eles são
responsáveis por enviar um “olá” a seus vizinhos aos quais estão diretamente
conectados. A partir daí, cada roteador cria um pacote link-state que contém
o estado do link diretamente conectado. Cada roteador inunda o Link State
Package (LSP) em todos os vizinhos, que armazenam as informações dos
estados dos links em um banco de dados. Os roteadores, por fim, usam o
banco de dados para criar um mapa completo da topologia e computam o
melhor caminho para cada rede de destino
A Figura 7 mostra as informações contidas nos pacotes LSP, onde o roteador R1
está diretamente conectado a outros três roteadores. Observa-se a informação
de custo do link, que pode estar diretamente ligada a velocidade desse link.
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Figura 7. Descoberta de redes com OSPF.

Os protocolos de link-state são usados principalmente em situações em


que o design da rede é hierárquico, o que normalmente ocorre em topologia
maiores e complexas e quando a rápida convergência é essencial. Geralmente,
as variáveis utilizadas para definição das métricas estão vinculadas à largura
de banda dos links, à carga desses links, considerando o tráfego dos links,
ao atraso e à confiabilidade.
Como vimos, os roteadores definem as rotas para alcançar uma rede de
destino com sua tabela de roteamento. Essa tabela pode ser gerada de forma
estática, em que cada administrador precisar conhecer todas as informações
e endereçamento da topologia, ou podem ser usados protocolos de rotea-
mento dinâmico. Os mais populares em um sistema autônomo são RIP e OSPF.
Esses protocolos se diferenciam pela forma que definem o melhor caminho
para entrega de pacotes, e essa característica está diretamente ligada ao
algoritmo de roteamento utilizado. Observe a comparação entre os dois
principais protocolos de roteamento dinâmico no Quadro 2.
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Quadro 2. Comparação entre RIP e OSPF

Protocolo Algoritmo Métrica Característica

RIP Bellman-Ford Vetor de Usado em


distância topologias
simples — a
convergência não
é relevante.

OSPF Edsger Dijkstra Estado do link Usado em


topologias
complexas — a
convergência é
relevante.

Neste capítulo, focamos nos protocolos de roteamento dinâmico


intradomínio dos sistemas autônomos, uma vez que esse conceito é
mais apropriado para a maioria das topologias de roteadores das corporações
que possuem diferentes unidades conectadas por links de comunicação.

Referências
FOROUZAN, B. A. Comunicação de dados e redes de computadores. 4. ed. Porto Alegre:
AMGH, 2008.
FOROUZAN, B. A.; MOSHARRAF, F. Redes de computadores: uma abordagem top-down.
Porto Alegre: AMGH, 2013.
KUROSE, J. F.; ROSS, K. W. Redes de computadores e a internet: uma abordagem top-
-down. 6. ed. São Paulo: Pearson, 2013.

Leitura recomendada
CISCO. Roteamento. In: CISCO. Introdução a redes. [S. l.]: Cisco Networking Aca-
demy, 2014. cap. 6. Disponível em: http://deptal.estgp.pt:9090/cisco/ccna1/course/
module6/6.2.2.2/6.2.2.2.html. Acesso em: 11 ago. 2020.
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