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REDES SEM FIO

Introdução às
redes sem fio
Roque Maitino Neto

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Explicar redes com infraestrutura e ad hoc.


>> Identificar as características dos tipos de redes sem fio.
>> Discutir a implementação de redes sem fio nas camadas física e de enlace
de dados.

Introdução
A internet vem modificando profundamente aspectos fundamentais da nossa
vida, e a maneira como a acessamos tem mudado para melhor com as redes sem
fio. Outrora essenciais nas conexões à rede (tratada aqui em sentido amplo),
os cabos deram lugar a sinais que trafegam pelo ar e colocam nossos disposi-
tivos em contato com o mundo instantaneamente. Discutir a importância das
redes sem fio se tornou, portanto, menos importante do que discutir seus tipos
e as tecnologias que viabilizam seu funcionamento.
Por isso, na primeira seção deste capítulo, você vai conhecer as diferenças
entre redes sem fio cujo funcionamento se baseia em uma infraestrutura
definida e redes sem fio ocasionais, sem uma topologia definida, as quais
são conhecidas como “redes ad hoc”. Em seguida, apresentaremos os tipos
de tecnologias de redes sem fio, criados a partir de necessidades específicas.
Nesse contexto, abordaremos desde redes sem fio locais (que funcionam, por
exemplo, em ambiente doméstico), até redes que podem estabelecer comuni-
cação entre continentes. Por fim, fecharemos o capítulo discutindo o modelo
ISO nos sistemas de comunicação de dados sem fio.
2 Introdução às redes sem fio

Redes com infraestrutura e ad hoc


Existem duas formas distintas de configuração para se atingir a finalidade das
redes sem fio, que é possibilitar a comunicação sem cabos entre os disposi-
tivos a ela conectados. A depender do tipo de uso a que se destina uma rede
sem fio e dos equipamentos de que dispõe o projetista, o padrão IEEE 802.11
oferecerá dois modelos básicos de configuração e operação para essa rede:
o modo ad hoc e o modo de infraestrutura, que serão detalhados a seguir.

Redes ad hoc
O entendimento de um assunto, tema ou conteúdo mais denso começa, via
de regra, pela compreensão do termo que o define, sobretudo quando esse
termo não faz parte do nosso vocabulário costumeiro. Por isso, vale a pena
investirmos no esclarecimento da expressão que identifica o tipo de rede
de que trataremos. “Ad hoc” é uma expressão da língua latina que identifica
alguém designado ou nomeado para executar determinada tarefa de forma
improvisada e, portanto, não formal. Por exemplo, um secretário (ou outro
profissional) ad hoc é aquele que, em determinada ocasião e para um deter-
minado fim, se tornou um secretário, mesmo sem de fato sê-lo. Dessa forma,
podemos compreender uma rede ad hoc como sendo uma rede ocasional ou,
em outras palavras, uma rede que permitirá que dispositivos móveis formem
uma rede em locais em que não há uma estrutura pré-definida de comunicação
(MORAES; XAUD; XAUD, 2007).
No modo ad hoc, cada nó transmite dados diretamente para o outro nó,
sem ponto de acesso (AP, do inglês access point). Já no modo de infraestrutura,
toda comunicação precisa passar pelo AP, que conecta dispositivos sem fio à
rede. Uma boa ilustração para o modo de infraestrutura é dada por Li (2019).
Como exemplo, a autora considera dois notebooks posicionados um perto
do outro, os quais, embora possam estar conectados à mesma rede sem fio,
não estão se comunicando diretamente entre si. O que ocorre nesse caso é
que um dos dispositivos manda pacotes para o AP, e então esses pacotes são
remetidos ao outro notebook.
Conceitualmente, uma rede ad hoc é aquela que tem um tipo de configura-
ção em que não há um nó que centraliza o controle e os dados que transitam
por ela, fato que torna desnecessária a presença de um equipamento roteador
que promova a comunicação entre nós da rede ou o compartilhamento de
uma impressora, por exemplo. Rouse (2019) ensina que uma rede ad hoc
sem fio (WANET, do inglês wireless ad hoc network) é um tipo de rede local
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construída espontaneamente (ou de forma ocasional) para permitir que dois


ou mais dispositivos sem fio sejam conectados entre si sem a necessidade
de um dispositivo central, como um roteador ou AP. Quando as redes Wi-Fi
estão no modo ad hoc, cada dispositivo da rede encaminha dados para os
outros sem a necessidade de um ponto centralizador.
Costa Neto (2013) expõe o conceito em termos consoantes. Segundo o
autor, redes ad hoc são redes sem fio não estruturadas e formadas por nós
móveis interconectados por enlaces de transmissão sem fio. Diferentemente
das redes sem fio convencionais, as redes ad hoc não possuem uma infra-
estrutura de rede fixa ou suporte administrativo. A topologia de tais redes
muda dinamicamente à medida que novos nós são agregados, que os antigos
nós deixam a rede ou que os enlaces entre os nós se tornam inutilizados.
As redes sem fio convencionais funcionam apenas com uma infraestrutura de
rede fixa, com administração e operação centralizadas. De forma diversa, as
redes ad hoc criam dinamicamente uma rede sem fio entre seus dispositivos
e sem a utilização de uma infraestrutura convencional (Figura 1).

Figura 1. Representação conceitual de uma rede ad hoc.


Fonte: Adaptada de Costa Neto (2013).

A Figura 1 ilustra a conexão entre equipamentos diversos de comunicação,


todos eles estando interligados sem que haja um elemento centralizador.
Um avião pode estar conectado a um helicóptero e a um computador, por
exemplo, e a troca de dados é feita apenas entre esses equipamentos, sem
a necessidade de um AP.
4 Introdução às redes sem fio

O modo de infraestrutura e as comparações


com o modo ad hoc
O modo de infraestrutura é uma opção melhor quando se pretende confi-
gurar uma rede mais permanente. Além disso, os roteadores sem fio que
servem como APs geralmente têm rádios e antenas sem fio de alta potência
que fornecem cobertura para uma área mais ampla. Uma rede dotada de
infraestrutura oferece facilidades de gerenciamento, principalmente quando
o administrador precisa conectar mais dispositivos a ela. Como requisito
mínimo, uma rede no modo de infraestrutura deve contar com um AP, embora
a maioria das implementações corporativas incluam outros componentes de
infraestrutura de uma rede tradicional.
Considerando que o modo de infraestrutura é conhecido e bastante utili-
zado como modalidade de rede sem fio nas organizações, cabe tratarmos das
diferenças entre esse modo e o ad hoc, que acabamos de abordar. Conforme
já mencionado, o modo de infraestrutura é ideal para quem está configurando
uma rede mais permanente. Além disso, roteadores sem fio que funcionam
como APs geralmente têm rádios e antenas sem fio de maior potência para
que possam cobrir uma área mais ampla do que aquela coberta pela rede
ad hoc. Nesta modalidade, o alcance do sinal será limitado pela potência da
placa de rede sem fio do equipamento (um notebook, por exemplo), que não
será tão amplo quanto o de um roteador.
A decisão sobre que tipo de rede usar costuma ser muito simples e está
relacionada também à disponibilidade de equipamentos. Quando o pro-
fissional de rede estiver configurando um roteador sem fio para funcionar
como um AP, ele deverá escolher o modo de infraestrutura. Se ele estiver
configurando uma rede sem fio temporária entre alguns dispositivos, o modo
ad hoc provavelmente será adequado. Haverá também uma outra questão a
ser considerada: há dispositivos que não oferecem suporte ao modo ad hoc,
incluindo dispositivos Android, impressoras sem fio e o Chromecast. Esses
equipamentos se conectam apenas a redes no modo de infraestrutura.
Qualquer que seja a modalidade da rede, a capacidade de prover comuni-
cação sem a necessidade de cabos que interliguem o dispositivo à central de
comunicação (ou a outro dispositivo, diretamente) é uma de suas caracterís-
ticas mais marcantes. No entanto, em relação a essa característica, há uma
diferenciação a ser feita. Segundo Costa Neto (2013), apesar de redes sem
fio e computação móvel guardarem relação estreita, elas não são idênticas
(Quadro 1).
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Quadro 1. Distinção entre redes sem fio e computação móvel

Aplicação Sem fio Móvel

Computadores de desktop em escritórios Não Não

Notebook usado em um quarto de hotel Não Sim

Redes em edifícios mais antigos que não dispõem de


Sim Não
fiação

Escritório portátil ou PDA para registrar um estoque de


Sim Sim
uma loja

Fonte: Adaptado de Costa Neto (2013).

Os desktops podem acessar uma rede em modo sem fio ou não, mas esse
fato não os torna necessariamente dispositivos móveis. Já um notebook,
que é essencialmente móvel, pode ser conectado à rede em modo cabeado.
De modo geral, para esses tipos de redes, não há suporte à mobilidade pro-
vido por um ponto central (simplesmente por não haver um ponto central,
conforme já mencionamos), e, devido a isso, as redes ad hoc são indicadas
em situações em que não se pode — ou não faz sentido — instalar uma rede
fixa. Além disso, a característica de mobilidade desse tipo de rede afeta o
modo como entendemos sua topografia, que muda frequentemente e de forma
imprevisível. Esse fato, por sua vez, faz que a conectividade entre os nós mude
constantemente, o que requer permanente adaptação e reconfiguração de
rotas (COSTA NETO, 2013).
Em uma rede ad hoc móvel, o próprio conjunto de dispositivos (ou nós)
conectados a ela é responsável pelas operações da rede, incluindo opera-
ções de roteamento, segurança, endereçamento e gerenciamento de chaves.
Os dispositivos na rede ad hoc requerem um adaptador de rede sem fio con-
figurado no modo ad hoc, em vez de no modo de infraestrutura. Além disso,
todos eles precisam usar o mesmo identificador do conjunto de serviços
(SSID, do inglês service set identifier) e o mesmo número de canal para que
a comunicação seja possível (ROUSE, 2019).
6 Introdução às redes sem fio

Computadores móveis, como notebooks e assistentes pessoais di-


gitais (PDAs, do inglês personal digital assistants), constituem um
dos segmentos de mais rápido crescimento da indústria de informática. Muitos
usuários desses computadores têm máquinas de desktop no escritório e querem
se manter conectados a essa base mesmo quando estão longe de casa ou em
trânsito. Dessa forma, existe um grande interesse em redes sem fio, que têm
muitas utilidades, sendo um uso comum o escritório portátil. Quando viajam,
muitas vezes as pessoas querem usar seu equipamento eletrônico portátil para
realizar ligações telefônicas, enviar e receber correio eletrônico, navegar pela
web, acessar arquivos remotos e se conectar a máquinas distantes. E elas querem
fazer isso onde estiverem, em qualquer lugar do planeta. Por exemplo, nas
conferências de informática de hoje, os organizadores muitas vezes configuram
uma rede sem fio na área de conferência (COSTA NETO, 2013).

A depender da sua aplicação, as WANETs podem se enquadrar em subtipos,


os quais apresentamos a seguir, conforme Rouse (2019).

„„ Rede ad hoc móvel (MANET, do inglês mobile ad hoc network): rede


composta por dispositivos móveis que se comunicam diretamente uns
com os outros. Também chamada “on the fly” ou “rede espontânea”,
a MANET é uma rede de dispositivos móveis sem fio, sem uma infra-
estrutura e auto-organizáveis, autoconfiguráveis.
„„ Redes ad hoc móveis baseadas na internet (iMANET): oferecem suporte
a protocolos de internet, como TCP/IP e UDP. O iMANET emprega um
protocolo de roteamento de camada de rede para conectar nós móveis e
configurar rotas distribuídas automaticamente. Esse tipo de rede pode
ser usado na coleta de dados de sensores para mineração de dados
para uma variedade de aplicações, como, por exemplo, monitoramento
de poluição do ar.
„„ Redes ad hoc de smartphone (SPAN, do inglês smartphone ad hoc
network): empregam hardware existente, como Wi-Fi e Bluetooth, e
protocolos em smartphones para criar redes ponto a ponto (P2P, do
inglês point-to-point) sem depender de redes de operadoras de celular,
de APs sem fio ou de infraestruturas tradicionais de rede. Como não
existe a noção de um líder de grupo nesse tipo de aplicação, os pares
podem entrar ou sair sem prejudicar a rede.
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„„ Rede veicular ad hoc: esse tipo de rede envolve dispositivos de comu-


nicação implementados em veículos, que viabilizam a comunicação
entre veículos e equipamentos instalados em estradas.

Outros tipos de WANET incluem redes de sensores sem fio, iluminação


inteligente doméstica ad hoc, redes de iluminação pública ad hoc, redes
ad hoc de robôs, redes ad hoc de resgate de desastres e redes ad hoc de
hospitais. As WANETs também têm várias aplicações militares, como MANETs
táticas do Exército, redes ad hoc de veículos aéreos não tripulados e redes
ad hoc da Marinha (ROUSE, 2019).
Antes de passarmos para a próxima seção, cabem algumas considerações
a respeito das WANETs. Embora seja muito útil em certas aplicações, esse tipo
de rede também apresenta desvantagens, estando uma delas diretamente
relacionada à quantidade de dispositivos conectados à WANET: sem uma
infraestrutura mais robusta, pode ser difícil gerenciar um grande número
de dispositivos. Outra consideração importante diz respeito à escolha entre
uma rede ad hoc e uma dotada de infraestrutura, decisão essa que deve ser
tomada tendo-se em conta o uso que se pretende dar à rede. Se o objetivo
for que um roteador sem fio sirva como um AP, a escolha deverá ser pelo
modo de infraestrutura. Por outro lado, o modo ad hoc pode ser uma boa
opção para um usuário que está configurando uma rede sem fio temporária
entre um pequeno número de dispositivos. As WANETs exigem configuração
mínima e podem ser implantadas rapidamente, o que as torna adequadas para
emergências, como desastres naturais ou conflitos militares (ROUSE, 2019).

Taxonomia dos sistemas de transmissão


sem fio
Foi-se o tempo em que usávamos a internet apenas como meio de envio de
mensagens e de acesso aos (poucos) sites de que dispúnhamos. Hoje em dia,
essa ferramenta se tornou indispensável em nosso desenvolvimento pessoal
e profissional, e, sem ela, a vida como a conhecemos seria inconcebível.
Contando com uma infraestrutura física bastante diversificada e uma imensa
variedade de aplicações, a internet é capaz de integrar dados, voz e imagem,
além de oferecer programas e infraestrutura como serviços, para registrar o
mínimo. Conforme Rochol (2018, p. 21), três marcos no desenvolvimento das
tecnologias de comunicação vêm posicionando a internet em um novo patamar:
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1. as tecnologias ópticas de transmissão e multiplexação, como o DWDM (Dense


Wavelength Division Multiplex) e a comutação óptica de rajadas de pacotes ou
OBS (Optical Burst Switching);
2. as tecnologias de comutação rápida de pacotes ou rajadas, como o MPLS (Mul-
tiprotocol Label Switching) ou GMPLS (Generic Multiprotocol Label Switching);
3. as tecnologias de comunicação sem fio que oferecem facilidade de acesso,
mobilidade e altas taxas em nível local, metropolitano e regional.

Embora essas novas tecnologias contribuam (e continuarão contribuindo)


bastante para a velocidade nas comunicações que têm a internet como meio
e para o aprimoramento da qualidade dos serviços prestados, é necessário
que o enfoque se torne mais específico em favor das redes sem fio. Nesta
seção, trataremos das principais tecnologias de comunicação sem fio, de modo
que possamos compreender como sua disseminação tem proporcionado um
crescimento jamais experimentado nas aplicações possíveis através de um
meio sem fio. A seguir, vamos classificar e analisar algumas tecnologias de
redes sem fio, segundo seu alcance geográfico, a mobilidade oferecida, as
aplicações possíveis e as taxas de transferências de dados, de acordo com
Rochol (2018).

Redes sem fio pessoais


As redes sem fio pessoais (WPAN, do inglês wireless personal area network) são
redes cujo alcance não ultrapassa muito o perímetro de uma residência. Elas
servem basicamente para conectar computadores, televisores, impressoras,
celulares e alguns outros dispositivos que funcionam conectados a uma rede.
O padrão que atende a esse tipo de rede é o IEEE 802.15, cuja implementação
prevê pequenas redes que interligam tais dispositivos.

Redes de sensores sem fio


Como o seu nome sugere, as redes de sensores sem fio (RSSF) são formadas
por dispositivos dotados de sensores, distribuídos de modo que possam mo-
nitorar os fenômenos pretendidos pelo seu projetista. Os sensores assumem
a posição de nós e podem se comunicar entre si por meio de uma WANET.
As redes de sensores, frequentemente classificadas como MANET, são utili-
zadas em aplicações militares, industriais e médicas, por exemplo.
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Redes sem fio locais


Bastante conhecidas e utilizadas, as redes sem fio locais (WLAN, do inglês
wireless local area network) compreendem sistemas destinados à interconexão
de dispositivos em uma área que não ultrapasse algumas centenas de metros.
O funcionamento dessas redes pode estar baseado em uma infraestrutura
com AP ou organizar-se de modo ad hoc, conforme tratamos na seção anterior.

Redes celulares de telefonia e dados


A conceituação mais comum para telefonia celular é aquela que a classifica
como um sistema de telecomunicação que permite a transmissão de dados,
voz e imagem por meio de enlace de rádio. Esse sistema oferece ao assinante
boa variedade de aplicações — além, naturalmente, do serviço de telefonia
—, e seu alcance está associado a pequenas regiões de cobertura chamadas
células. Uma vez posicionado no interior dessa célula, o usuário, com sua
estação móvel (EM), estará conectado à estação rádio base (ERB), que, por
sua vez, estará conectada à rede de telefonia fixa (Figura 2).

Figura 2. Rede celular de telefonia e dados.


Fonte: Rochol (2018, p. 26).
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Redes sem fio metropolitanas


Padronizadas pelo IEEE 802.16, as redes sem fio metropolitanas (WMAN, do
inglês wireless metropolitan area network) dão suporte à distribuição de
canais de televisão e fornecem acessos de banda larga sem fio (WBA, do
inglês wireless broadband access). Essa tecnologia é similar à banda larga
cabeada, em que a conexão ao backbone de internet é feita comumente por
meio de fibra ótica. No entanto, ela não usa cabo algum para se conectar às
residências ou organizações.

Rádio enlace ponto a ponto


Os rádio enlaces (WLL, do inglês wireless local loop) são sistemas sem fio com
arquitetura P2P que concentram a potência do sinal de radiofrequência em
antenas direcionais, de forma visada. Essa modalidade de tecnologia sem fio
permite comunicação a distâncias na ordem de dezenas de quilômetros, com
taxas de transmissão na casa de alguns gigabits por segundo.

Sistemas de satélite
A comunicação via satélite se dá por meio de ondas de rádio enviadas a antenas
situadas na Terra. Tais antenas capturam os sinais e processam as informações
contidas nesses sinais, usualmente de natureza científica (CAMPBELL, 2017).
Um satélite também é capaz de retransmitir dados, sinais de televisão e de
telefonia em uma área geográfica de milhares de quilômetros.
No Quadro 2, estão resumidas as principais características dos sistemas
sem fio de que tratamos nesta seção, considerando extensão geográfica,
taxas de transmissão, grau de mobilidade e aplicações típicas.

Quadro 2. Resumo das principais características técnicas dos sistemas


sem fio

Classes de Extensão Mobilidade


Aplicação típica
sistemas sem fio geográfica do usuário

Redes sem fio Alguns metros Portabilidade Conexão de


pessoais (WPAN) periféricos

Redes de sensores Centenas de Fixo Aplicações


sem fio (RSSF) metros específicas
(Continua)
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(Continuação)

Classes de Extensão Mobilidade


Aplicação típica
sistemas sem fio geográfica do usuário

Redes sem fio locais Aprox. 100 m Portabilidade Redes de


(WLAN) computadores

Sistemas celulares Alguns Mobilidade Telefonia e


quilômetros acesso à internet

Redes sem fio Dezenas de Mobilidade Acesso à internet


metropolitanas quilômetros
(WMAN)

Rádio enlace (WLL) Aprox. 50 km Fixo Backbones

Sistemas de satélite Intercontinental Fixo Broadcast e P2P

Fonte: Adaptado de Rochol (2018).

Feita a análise dos principais sistemas de comunicação sem fio, aborda-


remos na próxima seção a modelagem OSI desses sistemas.

Modelagem OSI de um sistema de


comunicação de dados sem fio
Segundo Tanenbaum e Wetherall (2011), o modelo OSI (open systems inter-
connection, em português “interconexão de sistemas abertos”) se baseia em
uma proposta desenvolvida pela International Organization for Standardiza-
tion (ISO) como um primeiro passo em direção à padronização internacional
dos protocolos usados nas várias camadas de comunicação. O objetivo da
criação desse modelo foi, portanto, o de permitir a troca de dados entre
equipamentos de diferentes origens, mas usando uma arquitetura única
baseada em sete camadas.
No caso de um sistema de comunicação de dados sem fio (SCDSF), ele
também pode ser modelado segundo o modelo de referência OSI, e essa
modelagem se restringe à interconexão e a interoperação dos dois primeiros
níveis do modelo. De acordo com Rochol (2018), os diferentes SCDSFs dispo-
níveis têm a modelagem funcional caracterizada em relação aos níveis físico
e de enlace do modelo OSI. No nível de enlace, ou nível 2, o fluxo de dados
chega ao SCDSF através de um AP, que pode ser, ao mesmo tempo, ponto
final de conexão de enlace. O nível de enlace é dividido em dois subníveis:
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de convergência de serviço e de controle de acesso ao canal. No nível físico,


que é o nível 1 do SCDSF, há dois subníveis: o subnível de convergência de
transmissão e o subnível de transmissão e recepção de dados, ou subnível
dependente do meio (PMD, do inglês physical medium dependent).
A seguir, trataremos das principais funções e serviços disponibilizados
pelos níveis físico e de enlace de um SCDSF não específico, segundo Rochol
(2018).

Subnível de convergência de serviço do nível de enlace


A função desse subnível é atender aos requisitos de qualidade demandados por
um dado serviço, ou por uma classe de serviços, e descritos por parâmetros
de qualidade de serviço (QoS, do inglês quality of service). Esses parâmetros
dependem da taxa de bits exigida pelo serviço, do atraso tolerado dos pacotes,
da taxa de perda de pacotes e da disponibilidade de serviço.

Subnível de controle de acesso do nível de enlace


Por meio desse subnível, é possível o controle de acesso ao meio (MAC, do
inglês medium access control), o que é imprescindível quando o meio é com-
partilhado por diversos usuários e o acesso é proporcionado por um serviço
de conexão. Nesse caso, é fundamental que o sistema controle os recursos
alocados por serviço, o que é feito por meio de um algoritmo que evita novas
conexões quando não há recursos de rede disponíveis. Essa providência evita
queda na qualidade dos serviços prestados às conexões já ativas.

Subnível de convergência de transmissão do nível físico


Conhecido como codificador de canal, esse subnível tem como principal
objetivo obter robustez e confiabilidade na transmissão dos dados, dada a
interferência e o ruído no canal de rádio frequência.

Subnível dependente do meio


Esse subnível corresponde às funcionalidades do transmissor e receptor
de dados que dependem especificamente de cada meio físico. Exemplos de
transmissores e receptores são modems, regeneradores e codificadores, ou
subsistemas mais complexos e inteligentes.
Introdução às redes sem fio 13

Um subsistema inteligente pode derivar das funcionalidades de dois ou três


níveis OSI, conforme se observa em comutadores (níveis 1 e 2) e roteadores
(níveis 1, 2 e 3). O mesmo conceito também se aplica a um único nível. Assim,
encontramos subsistemas inteligentes formados por três ou mais subníveis
dentro do nível físico (ROCHOL, 2018).
O conhecimento das WANETs e das redes sem fio com infraestrutura fará
a diferença no momento da sua decisão sobre qual tipo de rede adotar para
uma determinada circunstância. Como sempre, a informação dará subsídio à
decisão. Da mesma forma, o domínio dos tipos de sistemas de comunicação
sem fio dará a você condições de propô-los como soluções para sua organi-
zação e assumir o controle do eventual projeto de implantação.

Referências
CAMPBELL, A. How do satellites communicate? NASA, 7 ago. 2017. Disponível em: ht-
tps://www.nasa.gov/directorates/heo/scan/communications/outreach/funfacts/
txt_satellite_comm.html. Acesso em: 1 dez. 2020.
COSTA NETO, L. C. Introdução às Redes Ad Hoc. [S. l.]: Edição do Autor, 2013.
LI, S. Comparative Analysis of Infrastructure and Ad-Hoc Wireless Networks. ITM Web
Conf., v. 25, n. 01009, 2019. 3° International Conference on Intelligent Computing and
Cognitive Informatics, 2018, Beijing, China. Disponível em: https://www.itm-conferences.
org/articles/itmconf/abs/2019/02/itmconf_icicci2018_01009/itmconf_icicci2018_01009.
html. Acesso em: 29 dez. 2020.
MORAES, A. L. D.; XAUD, A. F. S.; XAUD, M. F. S. Redes Ad Hoc: Protocolos DSR, AODV, OLSR
e DSDV. Rio de Janeiro: UFRJ, 2007. Disponível em: https://www.gta.ufrj.br/grad/09_1/
versao-final/adhoc/redesadhoc.html. Acesso em: 1 de dez. 2020.
ROCHOL, J. Sistemas de Comunicação sem Fio: conceitos e aplicações. Porto Alegre:
Bookman, 2018.
ROUSE, Margaret. Wireless Ad Hoc Network (WANET). TechTarget, 2019. Disponível em:
https://searchmobilecomputing.techtarget.com/definition/ad-hoc-network. Acesso
em: 1 de dez. 2020.
TANENBAUM, A. S.; WETHERALL, D. Redes de Computadores. 5. ed. São Paulo: Pearson
Prentice Hall, 2011.

Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos


testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da
publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas
páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os edito-
res declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou
integralidade das informações referidas em tais links.

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