Cenário Atual, Perspectivas e Aplicações de IoT
Vitor José Costa Rodrigues, Fabrício Braga Soares de Carvalho
Grupo de Pesquisa em Comunicações e Processamento de Sinais (GCOMPS)
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica (PPGEE)
Departamento de Engenharia Elétrica (DEE) – Centro de Energias Alternativas e Renováveis (CEAR)
Universidade Federal da Paraíba – UFPB
E-mail: vitor.rodrigues@cear.ufpb.br , fabricio@cear.ufpb.br
Resumo—Com a crescente tendência global na incorporação
da tecnologia em ambientes e atividades do cotidiano humano,
cada vez mais são discutidos métodos para permitir a integração
entre dispositivos e para uma melhor interação entre máquinas
e homens. Neste contexto, o termo IoT (Internet of Things ou
Internet das Coisas) vem ganhando cada vez mais importância
diante das novas aplicações que têm sido desenvolvidas nos
mais variados segmentos. O objetivo deste trabalho, portanto, é
avaliar o cenário atual de IoT levando-se em conta as tecnologias
associadas a este novo paradigma de comunicações, bem como
as aplicações e potenciais desenvolvimentos aguardados para os
próximos anos.
Index Terms—IoT, LoRa, Redes de Sensores Sem Fio.
I. I NTRODUÇÃO
Quando Kevin Ashton cunhou o termo Internet das Coisas
ou Internet of Things (IoT) em 1999, durante uma apresenta-
ção comercial para a Procter & Gamble, ele propunha que a
solução para eliminar as falhas, perdas e atrasos pertinentes
ao ambiente de produção industrial estava em remover a
grande dependência existente na troca de informações entre
dispositivos de um intermediário humano [1]. Em sua visão,
esses problemas só deixariam de existir quando as máquinas
pudessem interagir entre si e tomar decisões assertivas por
conta própria. Para isso, ele esperava que a integração entre a
Internet e a tecnologia de Intentificadores por Radiofrequência
ou Radiofrequency Identificators (RFID) seria o caminho para
tal [2].
Mais de duas décadas depois, a expressão “Internet das
Coisas” carrega um significado muito maior do que a pro-
posta inicial de Ashton. Alguns estudiosos inclusive preferem
utilizar um novo termo, mais abrangente: a “Internet do Tudo”
(Internet of Everything), que engloba todas as relações entre
dados, pessoas e a tecnologiano mundo atual [3]. A definição
exata de IoT pode variar dependendo do contexto de aplicação
em que está inserida mas, de maneira bastante abrangente,
pode-se tomá-la como sendo toda e qualquer tentativa de
integração pervasiva de tecnologia que permeia um ou mais
aspectos do cotidiano [4].
As formas de integração são diversas, geralmente
recorrendo-se a tecnologias de comunicação sem fio, como
Wi-Fi, Bluetooth, ZigBee, GSM (Global System for Mobile
Communication) ou o já mencionado RFID, por ser várias
vezes menos complexo e custoso gerenciar canais de co-
municação sem fio do que redes de cabos e barramentos.
Quanto aos dispositivos conectados em si, são aplicados nos
mais diversos contextos, desde agricultura de precisão até
robótica de enxame, além de já serem mais numerosos do
que a população humana. Espera-se que, até o final de 2020,
este número ultrapasse a marca de 12 bilhões de dispositivos
conectados [5].
Diante desta realidade, o objetivo deste artigo consiste em
avaliar o cenário atual das aplicações de Internet das coisas no
Brasil e no mundo, levando em consideração as tecnologias
associadas e detalhando algumas aplicações (tanto já consoli-
dadas quanto em desenvolvimento). Neste contexto, o restante
deste artigo está organizado da seguinte forma: na Seção II
são apresentados conceitos e definições relacionados a IoT;
exemplos de aplicações baseadas em IoT são analisados na
Seção III; e, por fim, as conclusões deste artigo são sintetizadas
na Seção IV.
II. C ONCEITO E D EFINIÇÕES DE I OT
O conceito de IoT está associado a um sistema de dis-
positivos conectados a uma rede ou a outros dispositivos,
trocando/compartilhando informações (dados) sem haver, obri-
gatoriamente, alguma interação com um ser humano [6]. Há
inúmeros exemplos de aplicações, que serão detalhados alguns
na Seção IV.
Os dispositivos de internet das coisas, conforme o próprio
nome indica, estão conectados a uma rede ou mesmo à
própria internet de forma direta, ou indiretamente por meio
de dispositivos que são responsáveis por gerenciar ou ro-
tear o fluxo de dados entre um ou vários sensores e seu
servidor. Por conta disso, estes dispositivos intermediários
são conhecidos como Roteadores (ou Gateways). É por meio
da rede que os dispositivos IoT compartilham informações
entre si de modo a possibilitar a execução do objetivo do
sistema IoT, denominada aplicação, que pode ser um propósito
desde controlar qualidade do vinho em barris de uma adega
até gerenciar um sistema de gravidade artificial na Estação
Espacial Internacional. A interface entre a aplicação e os
dispositivos usualmente é realizada através de um Servidor
dedicado, que pode ou não realizar um pós-processamento
ou mesmo gerenciar os dados de mais de uma Aplicação.
Adicionalmente, a conexão através do servidor permite que
tais componentes IoT possam ser acessados ou controlados à
distância por usuários do sistema.
Os dispositivos IoT coletam dados por meio de sensores,
e dependendo de sua configuração podem analisar as infor-
mações medidas. Também de acordo com sua disponibilidade,
decisões podem ser tomadas de acordo com a programação dos
dispositivos, de modo que o sistema pode ser automatizado até
mesmo em seu nível mais baixo de hierarquia. Desta maneira,
o termo dispositivo "inteligente"(Smart Device) tem sido co-
mumente utilizado para se referir a uma gama de aparatos
capazes de integração em IoT, favorecendo a execução de
funções para os usuários ou mesmo auxiliando na tomada
de decisões a partir dos dados coletados e de sua respectiva
avaliação [6]. Conforme detalhado, a Figura 1 apresenta um
esquema genérico de implementação de uma rede IoT.
Figura 1: Esquema de um implementação típica de IoT
Em muitos aspectos, a interação dos Smart Devices em uma
rede IoT é observada em conformidade com a interação de Nós
Sensores (Sensor Nodes) de uma Rede de Sensores Sem Fio
(RSSF). Dessa forma, é comum encontrar topologias de RSSFs
utilizadas em redes IoT, como a Rede Estrela e a Rede Mesh,
visto que estas possuem eficácia comprovada na otimização
do fluxo de dados entre dispositivos e o servidor. De fato,
não é incomum que as próprias RSSFs sejam utilizadas
para implementar determinadas aplicações IoT, usualmente
envolvendo algum tipo de monitoramento ou sensoriamento
remoto (que compõem direta ou indiretamente a maioria das
aplicações) [7],[8].
A. Tecnologias Associadas a IoT
No contexto de redes de sensores sem fio aplicadas a IoT,
as tecnologias de comunicação disponíveis são comumente
avaliadas de acordo com dois critérios: seu alcance e seu
consumo de energia. Portanto, é possível encontrar tecnologias
que levam em conta estes dois fatores, e.g., Wi-Fi, Bluetooth,
GSM e LoRa [9].
1) Wi-Fi: O Wi-Fi, baseado no protocolo IEEE 802.11,
que utiliza as frequências ISM de 2.4GHz e 5.0GHz, é uma
tecnologia de comunicação de curto alcance e alto desempenho
descrita como do tipo LAN (Rede de Acesso Local ou Local
Area Network), transmitindo dados em um raio de até 100
metros a uma taxa de, em sua versão mais moderna, até 1
Gbps [9].
Por conta de seu já extensamente difundido uso na implan-
tação de internet sem fio residencial, o Wi-Fi costuma ser
a primeira opção escolhida para aplicações que envolvam a
comunicação sem fio de múltiplos dispositivos eletrônicos (que
é, essencialmente, o cerne do IoT). Além de sua popularidade
e dos benefícios associados a ela, como o fácil acesso, redução
de custos e a existência prévia de infraestruturas que possam
ser aproveitadas, o Wi-Fi também conta com um robusto
padrão de segurança e de tratamento de perdas, além de
altas taxas de transferência de dados, comumente alcançando
dezenas ou centenas de Mbps.
A alta velocidade, no entanto, implica diretamente em um
custo em seu consumo energético, sendo um sistema com
baixo desempenho no quesito economia de energia. O Wi-Fi
também possui um alcance de sinal reduzido, sendo utilizado
apenas em redes locais, necessitando do uso conjunto de outros
tipos de redes de médio ou longo alcance (como Ethernet
e GSM) para realizar o interfaceamento entre pontos mais
distantes do sistema.
2) Bluetooth: O Bluetooth teve sua grande popularização
como rede de transferência de dados de curto alcance para
dispositivos móveis. Atualmente, é uma referência para Rede
Sem-Fio de Área Pessoal ou Wireless Personal Area Network
(WPAN), focado na comunicação de dispositivos que estejam
próximos. Possui um grande impacto no mercado de soluções
para IoT, especialmente com sua versão de baixo consumo,
o Bluetooth de Baixo Consumo ou Bluetooth Low Energy
(BLE); trata-se de uma derivação do Bluetooth otimizada
para o uso em dispositivos com bateria, podendo garantir, em
condições normais de uso, até cinco anos de autonomia [10].
Assim como no caso do Wi-Fi, uma das grandes vantagens
do BLE é a possibilidade de se reaproveitar infraestruturas já
estabelecidas no mercado, já que sua camada de comunicação
é inteiramente compatível com qualquer interface Bluetooth
4.0 ou superior (facilmente encontrada em dispositivos de
uso cotidiano, como celulares, navegadores de automóveis,
notebooks e acessórios sem fio - e.g. Fones de Ouvido, Caixas
de Som e Smartwatches). Com o Bluetooth 5.0, foi dado
um suporte significativamente maior ao uso do BLE para
aplicações em IoT [11].
3) GSM/5G: As redes globais de comunicações móveis
passaram por muitas inovações nas últimas décadas. Apesar
de, atualmente, estarmos em um período de transição entre a
quarta e quinta gerações, com o LTE+ ou LTE-A (Long Term
Evolution Advanced), ainda é comum se referir aos sistemas
móveis de maneira geral como GSM.
4) LoRa: O LoRa (Long Range) é uma tecnologia desen-
volvida a partir de 2008, sendo caracterizada como do tipo
Rede de Grande Alcance e Baixo Consumo ou Low Power
Wide Area Network (LPWAN). Seu foco é otimizar o alcance
de transmissões sem comprometer o consumo energético,
sendo baseada na técnica de modulação por Espalhamento Es-
pectral de Chirps (CSS). O LoRa é uma das soluções LPWAN
mais populares do mercado por, dentre outros motivos, ser
bastante equilibrado na relação entre alcance e velocidade sem,
com isso, sacrificar sua economia energética [12].
Possui uma capacidade muito maior de taxa de transmissão
em relação a outras tecnologias LPWAN conhecidas, porém
consideravelmente menor do que outros tipos de tecnologias
comumente utilizadas em IoT (como os exemplos dados
previamente), estando na ordem de dezenas de kbps. Em
compensação, tem um alcance nominal que pode superar a
faixa de quilômetros [13].
Outros pontos positivos em relação ao LoRa, além de seu
alcance, é a robustez de seu sinal, mesmo em zonas urbanas
com alta densidade de edificações, apresentando taxas de erro
de pacote menores do que 2% [14], bem como faixas de
frequência de operação tipicamente nas bandas de 433 MHz
ou 915 MHz.
B. Desafios para a Expansão de IoT
Estimativas apontam que o número de dispositivos IoT em
operação no mundo será em torno de 21,5 bilhões em 2025
(em comparação com os 9,9 bilhões de dispositivos IoT do
final de 2019). Espera-se que o desenvolvimento de novas
aplicações e utilização da tecnologia cresça continuamente nos
próximos anos a partir, principalmente, da consolidação das
redes 5G [6].
Em termos de escala, é possível classificar os dispositivos
IoT em três grupos: o da escala individual, com os Smart
Wearables e Smart Gadgets; o da escala de localidades, com
os Smart Homes, Smart Offices e Smart Stores; e, por fim, o
da escala urbana, com o das Smart Cities.
Apesar de os três grupos terem sua origem mais ou menos
na mesma época, no começo do século 21, o terceiro grupo
(da escala urbana), diferente dos demais, apenas prosperou
nos últimos anos, tendo como principal causa para isso o
surgimento de padrões e sistemas de redes de informação
que suportem a demanda de complexidade necessária para
tal aplicação. Dentre os candidatos principais a atender estes
requisitos, destacam-se padrões mais atuais para Wi-Fi e
Ethernet [15].
Embora muitas cidades já contem com infraestrutura pré-
via que pode ser utilizada para integração urbana em IoT,
especialmente através de redes mistas de Wi-Fi/Ethernet,
esta integração em escala metropolitana apresenta algumas
dificuldades especialmente do ponto de vista administrativo
e político. A integração dessas infraestruturas, bem como a
criação de novas onde necessário, exige tempo e dinheiro, o
que torna sua adoção por órgãos de gestão pública um processo
bastante lento e delicado, especialmente considerando que
muitos políticos não têm conhecimentos técnicos necessários
para saber como implementar medidas que facilitem esta
modernização.
Outro grande problema neste contexto é como processar
todos os dados constantemente fornecidos pelos inúmeros
dispositivos de uma maneira organizada e eficiente. A questão
da logística de dados e a problemática da adoção por órgãos
públicos podem ser solucionadas ao se estabelecer em cada re-
gião metropolitana um corpo público, como um departamento
ou uma secretaria, dedicado somente a gerenciar a integração
inteligente da cidade [15].
E é por conta destas dificuldades inerentes de um sistema em
larga escala que, em inúmeras cidades, surgem iniciativas de
IoT em diversas áreas de aplicação, seja pela ação de empresas,
associações e ONGs, ou mesmo por pessoas isoladas ou
independentes [16].
Neste contexto, em que raramente é necessária uma rede
densa de informações, as demais tecnologias acabam se so-
bressaindo ao Wi-Fi. Com o desenvolvimento de sua 5a
geração, o Bluetooth vem se especializando cada vez mais
para atender as necessidades dos pequenos e médios desen-
volvedores de IoT [11]. Na indústria, também é possível
encontrá-lo, disputando espaço com o já bem estabelecido
ZigBee. Entretanto, o alcance limitado destas tecnologias
as tornava pouco eficientes em aplicações de controle e/ou
monitoramento a longas distâncias.
Desse nicho, inicialmente pequeno, porém em rápida ex-
pansão na atualidade, surgiu a demanda para uma tecnologia
aplicável em sistemas embarcados e que concilie tanto a efici-
ência energética quanto o alcance. Às soluções que surgiram
para suprir esta demanda, deu-se o nome de LPWAN, das
quais os exemplos mais conhecidos são o SigFox e o LoRa.
III. A PLICAÇÕES DE I OT NO M ERCADO ATUAL
Nesta seção serão comentadas diferentes aplicações de IoT,
em diferentes segmentos e categorias. Diante da vasta gama de
implementações e propostas de novas utilizações de IoT, serão
abordadas nesta seção aplicações médico-hospitalares, aplica-
ções industriais, as potencialidades no mercado automotivo,
cidades inteligentes, aplicações residenciais (Smart Homes),
aplicações ambientais e monitoramento e vigilância.
A. Aplicações Médico-Hospitalares
Dentre as aplicações de IoT, talvez a que menos tolere falhas
é a aplicação Medico-Hospitalar, também conhecida como
Internet das Coisas Médicas ou Internet of Medical Things
(IoMT). Os contextos em que essas aplicações trarão bene-
fícios são vários, sendo possível referenciá-los em algumas
categorias [17], [18]:
• Monitoramento de pacientes com condições crônicas,
idosos ou debilitados;
• Dispositivos intra ou extra-corpóreos para detecção de
sintomas;
• Dispositivos para tratamento de doenças ou transtornos;
• Robótica Hospitalar.
• Hospitais Inteligentes;
• Sistemas de Socorro Inteligentes.
Alguns exemplos de aplicações em IoMT são o monito-
ramento de pessoas com condições ou debilidades neuroló-
gicas, como Epilepsia, AVCs, Alzheimer ou Parkinson. Tais
pacientes precisam de apoio constante e passam por períodos
extenuantes de exames e tratamentos, que podem ser menos
cansativos ao se permitir que sejam realizados remotamente,
do conforto de suas casas, por exemplo, ou se tornem menos
invasivos ao utilizar dispositivos compactos e leves (ou mesmo
dispositivos que não entrem em contato com os pacientes); o
monitoramento de idosos para prevenção de quedas, uma das
grandes causas de mortalidade senil, pode ser drasticamente
reduzida em uma integração do ambiente doméstico (a Smart
Home) com um sistema de supervisão de seu hospital, ou
mesmo que conecte o ambiente do idoso diretamente a seu
próprio médico; o uso de sensores injetáveis ou que sejam in-
geridos para realização de exames laboratoriais e endoscópicos
ou supervisão de pacientes em estado de observação também
pode auxiliar a medicina permitindo diagnósticos mais rápidos,
com maior tempo de análise do organismo e procedimentos
menos invasivos ao corpo humano; a integração em tempo real
de exames e diagnóstico clínico, bem como a automatização
de processo de análises sintomáticas pode tanto reduzir o
tempo necessário para diagnósticos quanto apresentar sintomas
e características que de outra forma seriam involuntariamente
omitidas, seja por erro humano ou seja por limitações no
procedimento utilizado, de modo que ambas as melhorias
aumentam as chances de sucesso de cada tratamento [19].
B. Aplicações Industriais
Diferentes segmentos da indústria têm adotado aplicações
de IoT nos seus processos produtivos. As denominadas "inter-
net das coisas industriais"(Industrial Internet of Things - IIoT)
buscam melhorar a comunicação e a troca de informações em
diferentes cenários de produção industrial [6]. As aplicações
industriais de IoT (IIoT) têm investido mais pesadamente no
desenvolvimento e, portanto, onde mais são obtidos avanços
consideráveis [20].
Também conhecida como Indústria 4.0 ou Smart Manufac-
turing, a IIoT surgiu de uma iniciativa do governo alemão em
2011 que buscava aumentar a eficiência da fabricação nacional
através da integração de informação entre as máquinas e pro-
cessos durante todas as etapas de fabricação de produtos [21].
Para Boyes et al. (2018) [22], IIoT é definido como um
sistema composto por objetos integrados em rede, recursos
ciber-físicos, tecnologias de informação gerais associadas e,
opcionalmente, plataformas de computação em nuvem ou
EDG. Tais plataformas permitem, em tempo real e de maneira
inteligente e autônoma o acesso, coleta, análise, transmissão e
permuta de informações pertinentes a processos, produtos e/ou
serviços dentro do ambiente industrial, de modo a otimizar
sua eficiência. Esse valor otimizado pode incluir melhorar
o produto fabricado ou a entrega do mesmo, incrementar a
velocidade de produção, reduzir custos e gastos associados e
reduzir a escala de complexidade no ciclo de fabricação.
Algumas características pertinentes às IIoT a diferem das
demais aplicações de IoT. Por se tratar de um ambiente
industrial, a conveniência e a praticidade são postas em
segundo plano e se dá uma ênfase muito maior na segurança,
estabilidade e na repetibilidade, utilizando-se de padrões e
protocolos de alta confiabilidade para garantir isto. Outra
ênfase, pertinente em todos os âmbitos de IoT mas muito mais
crucial no IIoT é a capacidade de integração e de troca de
informações em tempo real e com o menor atraso operacional
possível, já que em escala industrial os prejuízos ocasionados
por demoras em certas rotinas podem ser refletidos em déficits
financeiros da ordem de milhares ou milhões de dólares. Ou-
tras características típicas de IIoT são uma menor autonomia
dos dispositivos na tomada de decisões (já que por muitas
vezes é necessária uma pré-configuração para execução de
suas rotinas de produção) e uma rotina bem estabelecida
de manutenções e atualizações de dispositivos e do próprio
sistema [21].
C. Mercado Automotivo
Um dos cenários em que mais se observa o efeito da tecno-
logia IoT é nos sistemas eletrônicos de automóveis. Os Carros
Conectados (Connected Cars) são os veículos que possuem al-
gum tipo de conectividade integrada. O primeiro modelo desta
categoria surgiu em 1996 em uma parceria entre a General
Motors e a Motorola Automotive, e sua conectividade tinha
uma função exclusiva de segurança (conectando o condutor do
veículo ao sistema de socorro médico mais próximo em caso
de acidente, diminuindo a chance de fatalidade ao reduzir o
tempo total para o atendimento de primeiros socorros).
Desde então, vários recursos tecnológicos foram imple-
mentados baseados neste primeiro sistema, com aplicações
desde ferramentas para conveniência do condutor (como rotas
guiadas de GPS, acesso à internet móvel e sistema de chama-
das de voz), passando por recursos de gestão inteligente das
funções do veículo e chegando até ferramentas de interação
com elementos e dispositivos externos ao veículo [23]. E é
através dessa interação com elementos externos que é possível
integrar veículos em IoT. De acordo com o tipo de integração,
é possível dividi-las em alguns subtipos [24]:
• Vehicle-to-Vehicle (V2V): Carros interagindo com outros
automóveis.
• Vehicle-to-Infrastructure (V2I): Carros interagindo com
estradas, semáforos, radares e outros elementos externos.
• Vechicle-to-Everything (V2X): Carros interagindo com
outros dispositivos de maneira geral.
Apesar das três categorias de integração serem encontradas
individualmente em um ou outro modelo de veículo atualmente
com determinados níveis de complexidade e determinadas
frequências, o mercado automobilístico já tem desenvolvido
propostas que possuam todas as três categorias presentes
em seu sistema (naquilo que ficou conhecido como Carros
Autônomos ou Carros Auto-Dirigíveis).
Estes veículos são capazes de detectar seus entornos e nave-
garem, bem como regularem sua própria velocidade com redu-
zida ou nenhuma interação de um condutor humano [23],[25].
Alguns autores também preferem dissociar os veículos semi-
autônomos dos totalmente autônomos. Os do primeiro tipo
ainda são dependentes da presença constante de um condutor,
inserindo comandos, enquanto o veículo apenas regula seu
movimento de acordo com o tráfego e com as restrições
rodoviárias. Já o segundo tipo, o dos veículos totalmente
autônomos, engloba veículos que realizam todo o processo
de navegação em rodovias, necessitando apenas da inserção
de uma rota com pontos de partida e de destino [25].
 Algumas das vantagens associadas aos Carros Autônomos,
segundo Krasniqi & Hajrizi (2016) [25], são:
• Aumentar a segurança nas estradas e reduzir o risco de
acidentes de trânsito;
• Dar acesso à mobilidade para não-condutores (crianças,
idosos e deficientes);
• Otimizar a formação e resolução de congestionamentos
nas estradas;
• Melhorar a eficiência no consumo de combustível e
a reduzir os espaços necessários para estacionamentos
públicos.
D. Cidades Inteligentes
As Smart Cities, ou Cidades Inteligentes, são um conceito
intimamente ligado a IoT. Este tem sido um dos tópicos
relacionados a IoT mais discutidos nos últimos anos tanto pela
comunidade acadêmica quanto por entes públicos e privados
em diversos países. Uma nova norma ISO (ISO 37122:2019)
foi lançada, em 2019, para definir e padronizar metodologias
para cidades inteligentes no mundo inteiro [26]. Isto se torna
ainda mais relevante tendo em vista o fato de que o mundo
passa por um processo crescente e cada vez mais rápido de
urbanização. Em 30 anos, espera-se que mais de 75% da
população mundial estará vivendo em centros urbanos [27].
No Brasil, a situação é ainda mais acentuada: prevê-se que,
até 2030, o país tenha mais de 90% de sua população morando
em cidades [28].
Assim como no caso do IoT, não existe uma definição
precisa para o conceito de Cidades Inteligentes, mas uma
vertente mais abrangente que, por vezes, pode se mesclar ou
se confundir com outros conceitos de melhoramento urbano,
como as Cidades Verdes (Green Cities), Cidades Digitais (Di-
gital Cities) ou Cidades Ubíquas (U-Cities). De forma geral,
Cidades Inteligentes são projetos de integração metropolitana
focados na otimização de processos e serviços e na ampliação
no fluxo de dados entre dispositivos e sistemas, o que tanto
melhora o desempenho da integração destes dispositivos e sis-
temas como permite uma maior transparência e acessibilidade
desses dados do ponto de vista do usuário.
Segundo Hajduk (2016) [29], as Cidades Inteligentes são
uma perspectiva integrada e compreensiva de todos os aspectos
da vida urbana, incluindo Economia, Governo, Transporte,
Meio Ambiente, Saúde e Cultura. Já de acordo com Dameri
(2013) [30], uma definição mais objetiva para cidades inte-
ligentes é a de que são áreas geográficas bem definidas nas
quais altas tecnologias, como Tecnologias da Informação e
Comunicação (TIC), Logística, Eficiência Energética, entre
outros, cooperam para criar benefícios para cidadãos em ter-
mos de bem-estar, inclusão e participação, qualidade ambiental
e desenvolvimento inteligente. Para Wilson (2019)[27], uma
cidade inteligente, em essência, é a combinação de quatro
elementos: TICs, um grande fluxo de dados, uma forma de
governo ou liderança e algum nível de co-criação e engaja-
mento com seus cidadãos.
E. Aplicações Residenciais (Smart Homes)
Assim como no caso das Smart Cities, as Smart Homes
ou Casas Inteligente têm sido um tópico de discussão e
desenvolvimento nos últimos anos.
Smart Homes são sistemas domésticos integrados que incor-
poram dispositivos controlando seus recursos internos. Apesar
de inicialmente as tecnologias de Smart Homes serem restritas
ao controle de luz e temperatura de ambientes, há muito já
se implementam recursos que fogem desse escopo, podendo
basicamente qualquer dispositivo eletro-eletrônico presente na
casa inteligente ser integrado a ela. Essa integração se estende
também no sentido de que sua função não é somente de
controlar os dispositivos em si, mas de monitorar e aprender
com os padrões do(s) usuário(s), seja de maneira configurável
ou de maneira independente [31]. Estes dispositivos podem ser
conectados e controlados à distância pela Internet, seja por um
aparelho celular ou por outros dispositivos. Incluem-se nessa
classe, dentre outros exemplos: TV’s inteligentes, sistemas de
entretenimento integrados, termostatos e sistemas de controle
de temperatura e luminosidade, travas eletrônicas e sistemas
de segurança [6].
Uma limitação das Smart Homes atuais, que também existe
para o caso de aplicações IoT de uso pessoal, é o problema de
compatibilidade entre dispositivos ocasionado por atualizações
de software [32].
F. Aplicações Ambientais
O contexto da preservação e monitoramento do meio ambi-
ente, em todas suas esferas (vegetação, animais, água, dentre
outros), representa uma tendência mundial. Com o avanço da
internet das coisas, já é possível pensar em estratégias para
monitoramento de reservas florestais, cursos de água (rios,
oceanos, lagos), comunidades de animais, combate a incêndios
e queimadas, etc [33].
Avaliando os sistemas de distribuição de água, tanto públi-
cos quanto domésticos, têm-se observado um enorme cresci-
mento nos últimos cinco a dez anos no número de soluções
propostas e estudos relativos a atualizar os sistemas de distri-
buição, abastecimento e escoamento, hoje quase sempre con-
trolados manualmente por funcionários manipulando atuadores
analógicos, por um um laço de controle inteiramente automá-
tico, feito por dispositivos digitais de medição e atuação [34].
Um dos grandes motivos para esta automatização é otimizar
a detecção e contenção de vazamentos, que são a maior causa
de prejuízos tanto financeiro quanto ambiental. No Brasil, a
perda de água inerente ao sistema de distribuição chegava a
38% da água distribuída, segundo dados de 2016 [35].
Um dos pontos de maior interesse e importância no projeto
de várias Smart Cities ao redor do mundo é um sistema de
controle inteligente de água e esgoto. Alguns autores dão a
estes sistemas o nome de Smart Water ou Smart Waters.
A ideia das Smart Waters perfaz um arcabouço de conceitos
tecnológicos para modernização de inúmeras estruturas e ser-
viços públicos, permitindo a criação de um núcleo municipal
com um maior domínio sobre a situação de seus próprios
recursos (além de dispor de uma maior capacidade de interligar
estas informações com um menor esforço logístico, delegando
boa parte deste processamento aos sistemas computadorizados
(produzindo em um futuro próximo aquilo que hoje já é
conhecido como Cidades Inteligentes (Smart Cities), mais
autossustentáveis e mais imunes a todo tipo de problemas Figura 2: Exemplo de aplicação de IoT para Monitoramento
evitáveis). e Vigilância
Em Natividad & Palaoag (2019) [36], vê-se uma solução
baseada em rede GSM para distribuição inteligente de água.
Uma base de dados localizada na concessionária atua como
gateway, enquanto os dispositivos localizados na tubulação
de cada consumidor atuam como nós sensores. Esses nós
sensores são capazes de medir o nível de água e a pressão
no reservatório de cada consumidor e, com isso, regular o
abastecimento desse reservatório através de bombas e vál-
vulas controladas eletricamente. Esse controle pode ser feito
automaticamente pelos próprios nós sensores, com base em
parâmetros definidos pela concessionária ou pode ser forçado
pela própria concessionária se for conveniente.
Em Vethekar et al. (2020) [37], observa-se uma solução
proposta para monitoramento da água, baseada na medição
de nível, fluxo e pH com dados pós-processados acessíveis ao
consumidor por meio de aplicações móveis ou Web conectadas
ao dispositivo sensor via Wi-Fi. Esta proposta tem um enfoque
maior no controle dos dados por parte do próprio consumidor.

G. Vigilância e Monitoramento por Imagem

Um tipo de aplicação que irá se beneficiar da implantação IV. C ONCLUSÕES

das LPWAN são as Redes de Sensores de Imagem Sem
Fio (RSISF), atualmente já implementadas em diversas áreas,
como em Segurança Pública, Monitoramento Ambiental, Ro-
bótica de Enxame, Aeronaves Não-tripuladas (Drones Milita-
res), Observação Espacial, entre outros. E as perspectivas de
crescimento do setor são promissoras [38].
Imagens são arquivos volumosos por natureza. A título de
exemplo, uma imagem RAW 4K de 24-bits ocupa mais de
189 MB, enquanto que uma imagem .bmp 480p ocupa 900
kB. Por conta disso, o avanço das RSISF está intimamente
ligado ao avanço no desenvolvimento tanto de dispositivos
embarcados de compressão de imagem quanto de dispositivos
de transmissão a longas distâncias com altas velocidades.
Dadas as restrições da atualidade, a tecnologia preferida
para implementar RSISF é o Wi-Fi. No entanto, há um
grande interesse tanto por parte de pesquisadores quanto pelas
áreas de aplicação em se desenvolver soluções baseadas em
LPWAN. Em Pham (2016) [39] e em Jebril et al. (2018) [40],
dois exemplos de RSISF aplicados a monitoramento são apre-
sentados. Em ambos os casos, os trabalhos deixam explícitas
as dificuldades de implementação por conta da tecnologia
atual, porém justificam que, mesmo com as limitações tecno-
lógicas, as RSISF baseadas em redes LPWAN ainda possuem
diversas vantagens.
A Figura 2 apresenta um exemplo de aplicação de IoT
para monitoramento e identificação, atualmente em desenvol-
vimento.
A expansão das tecnologias de comunicação sem fio tem
ajudado no surgimento de novas aplicações de internet das
coisas. Dispositivos IoT podem ser integrados por meio de di-
ferentes tecnologias, visando o monitoramento e a atuação em
vários segmentos da atividade humana. Com as perspectivas
de avanços tecnológicos nos próximos anos, espera-se que o
número de aplicações associadas a IoT ganhe cada vez mais
relevância no cotidiano das pessoas e das empresas. Portanto,
é fundamental acompanhar estes avanços e as aplicações
vindouras, seja para aumentar o bem estar da população quanto
para ampliar a produtividade e a lucratividade de empresas que
cada vez mais investem nestas aplicações.
V. AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem o apoio do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq (CNPq No.
315514/2018-3) a esta pesquisa.
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