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Resumo
Este artigo tem como propósito problematizar processos de composição e de estética em
dança, políticas de apoio e de circulação, com base em argumentos que possibilitam
relações de analogia e de co-implicância entre dança e políticas culturais à luz de estudos
sobre complexidade, caos e contemporaneidade. Para discutir questões de ações
compartilhadas e colaboração artística em dança, contextualizações e políticas culturais,
faremos uso de reflexões a partir do espetáculo Paradox (2011). Ressaltam-se aspectos
de imprevisibilidade e de complexidade na construção e na apresentação de danças, além
de propostas e formatos plurais que coexistem na contemporaneidade. O espetáculo
Paradox serve como um exemplo para contextualizar e discutir tanto questões de
processos de construção e de configuração em dança, como também para analisar
políticas culturais de fomento à dança na atualidade. Critica-se particularmente a política
de “editais fast food” e de ações que acabam por orientar criações do tipo pocket,
particularmente no que tange à circulação da produção de dança. Tais produções se
caracterizam pelo baixo custo de deslocamento e por grande flexibilidade de adequação
da obra a espaços variados.
Palavras chaves: processos compositivos em dança, políticas culturais, estética
coreográfica.
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Abstract
The purpose of this article is to problematize dance aesthetics and composition and
cultural politics of support/circulation of dance works, based on arguments that reveal
relations of analogy and of co-implications between dance and cultural politics, in light of
studies of complexity, chaos, and contemporaneity. The work Paradox (2011) will be used
to shed light into the discussion of shared actions, artistic collaboration, contextualizations,
and cultural politics. It is observed the role that imprevisibility and complexity play in the
elaboration and presentation of dances, as well as how plural formats of dance coexist in
our contemporary world. The dance Paradox is used as an example to contextualize and
discuss not only issues of dance creation and configuration, but also to analyze cultural
politics of dance in our times. Results suggest that “fast food” proposals of support and of
actions tend to guide productions of the “pocket” kind, which particularly impact in the
circulation of dances. Such productions are characterized by their low cost of traveling and
by their flexibility of adaptation to varied spaces.
Keywords: compositional processes in dance, cultural politics, choreographic aesthetics.
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conjunto; não é possível separá-la. E é por isso que as disciplinas não têm dado conta da
complexidade, dessa diversidade articulada.” (Inojosa, 2001, p.103).
Nada ocorre isoladamente. Nada existe isoladamente. Nada é estático. O que há são
relações em direções múltiplas; trânsitos; movimentos. Deleuze e Guatarri trouxeram da
botânica o conceito de rizoma para iluminar questões de sistemas abertos, tão frequentes
na contemporaneidade. Segundo os autores, “Oposto ao grafismo, ao desenho ou à
fotografia, oposto aos decalques, o rizoma se refere a um mapa que deve ser produzido,
construído, sempre desmontável, conectável, reversível, modificável, com múltiplas
entradas e saídas, com suas linhas de fuga”(2004, p. 32-33). Isto inclui desterritorialização,
desierarquização, mediação, negociação, conceitos pertinentes também à discussão de
processos artísticos na atualidade.
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atuado mais como o “compositor” da cena da dança. O coreógrafo, aquele a quem era
atribuída a função de criação e estruturação da coreografia, ou seja, dos movimentos
levados à cena e das relações espaço-temporais que orquestravam os dançarinos, passa
a agir de forma articulada com todas as demais informações presentes em cena, ou seja,
figurino, luz, trilha sonora, vídeos, elementos de cena, ou outros que por ventura são
utilizados. Isto tudo numa relação desierarquizada, porém articulada rumo à composição
da cena da dança. As relações entre tais informações passam a ser fundamentais no
processo compositivo e, assim, deixam de ser vistas como elementos de cena. O que
resulta destas negociações e articulações entre as diferentes informações que constituem
o trabalho, são investigações e estéticas compartilhadas de informações distintas, gerando
de fato construções integradas. Por exemplo, era comum a coreografia ter maior
importância hierárquica frente aos demais elementos que compõem a cena. O figurinista
era chamado ao final quando a coreografia estava pronta para criar um figurino que seria
colado ao corpo e à coreografia. Atualmente, é frequente o coreógrafo ser o próprio autor
do figurino, trazendo-o ao processo desde seu início, o que altera sobremodo os
resultados desta relação. O mesmo pode ocorrer em relação ao som ou ao cenário, etc.
Ainda que não seja o coreógrafo responsável por tais tarefas, profissionais destas áreas
são integrados ao processo criativo em estágio inicial e de forma compartilhada (Diniz,
Carolina, 2012).
Corporeografias é um termo criado para designar e problematizar a idéia de que dança = movimento. Foi
cunhado com a ajuda de Adriana Banana para nomear o grupo de pesquisa por mim liderado: PROCEDA -
Processos Corporeográficos e Educacionais em Dança (PPGDança, UFBA).
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Conforme dito acima, várias questões podem ser levantadas a partir deste
espetáculo no que concerne políticas de apoio e de circulação, além de suas
particularidades de construção compartilhada, produção de conhecimento em dança e de
articulação entre pesquisa artística e pesquisa acadêmica. A relação corpo-ambiente tem
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O projeto deste espetáculo teve por base e motivação dois objetivos específicos e de
natureza variada:
(2) O período das fronteiras fixas e rígidas já mostra-se obsoleto. Esta proposta tem
por premissa básica e interesse pilar explorar zonas inter-fronteiriças de diálogo e
colaboração em diferentes níveis. Pretende estabelecer diálogos entre corpo e
ambiente, entre tradição e contemporaneidade, entre arquitetura, artes visuais e
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Como se pode observar nos objetivos, este espetáculo faz em sua gênese uma
crítica às políticas culturais vigentes por não viabilizar o acesso à arte a todo e qualquer
cidadão, e por não oferecer suas ações continuadas, se caracterizando em geral como
ações pontuais via editais de fomento. Assim, o espetáculo questiona a elitização da arte e
políticas de fomento.
A Teoria do Caos, em seu pressuposto geral, nos revela que sistemas complexos,
dinâmicos, não lineares, em desordem, (todos os sistemas em que as variáveis interagem
e com diversas alternativas de soluções) têm, muitas vezes, na sua origem, leis e padrões
simples. Entretanto, as interferências e acasos no seu percurso tornam imprevisível seu
comportamento futuro, gerando desordens aparentes e de difícil explicação e
entendimento. Ocorrências imprevistas criam ordens desconhecidas (desordem) (KON,
João, 1996). Tal compreensão é absolutamente pertinente ao que aconteceu ao longo do
processo e das apresentações do espetáculo. Dentre suas variáveis tínhamos: uma
proposta de se pensar a relação corpo e aquele ambiente monumental, histórico,
arquitetônico, cultural etc.; seis coreógrafos colaboradores com propostas específicas para
diferentes ambientes dentro do palácio; 30 dançarinos, intérpretes e também
colaboradores para a sua construção e apresentação; e o público que, em sua maioria,
veria dança contemporânea pela primeira vez. Esta última questão se mostrou decisiva na
configuração geral da proposta. As perspectivas corporeográficas trazidas pelos seis
coreógrafos colaboradores eram herméticas e, salvo algumas exceções, de difícil fruição,
uma vez que faziam uso de configurações bastante desconhecidas e inovadoras, a
exemplo de performances, instalaçõe e videodanças, com timings excessivamente lentos
e introspectivos, considerando que o público estaria assistindo o espetáculo em pé. Porém,
suas proposições eram legítimas e deveriam ser acatadas, frente ao princípio de
autonomia estabelecido no início do projeto. Desta forma, algumas estratégias foram
adotadas no sentido de estabelecer alguns elos de referência com o público. Foram
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Sua maior dificuldade refere-se à circulação. Apesar de sua produção estar pronta e
de não faltar espaços históricos e monumentais em várias cidades do Brasil, a proposta
não recebe apoio à circulação, uma vez que prevê o deslocamento, hospedagem e
alimentação de um grande elenco, o que é visto como um fator de inviabilidade. E é aí que
chegamos a outra questão crítica em relação às políticas culturais de apoio à circulação.
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Referências
KON, João. A aceleração das mudanças e como enfrentá-las. Jornal "Estado de Minas",
Coluna R. Humanos, em 01/12/96 - MG.
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