Você está na página 1de 38

PROJETO EM

ARTE: DANÇA,
MÚSICA,
TEATRO,E VISUAIS

PROFESSOR (A): COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA


INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
PROJETO EM ARTE: DANÇA, MÚSICA, TEATRO E VISUAIS

SUMÁRIO

1 PROJETOS DE TRABALHO ........................................................................ 03

1.1 Transgredindo as regras ............................................................................ 06

2 A DANÇA ...................................................................................................... 12

2.1 Composição, performance e observação em dança .................................. 15

3 A MÚSICA..................................................................................................... 18

4 O TEATRO NA ESCOLA .............................................................................. 22

5 A ESTÉTICA NAS ARTES VISUAIS ............................................................ 28

REFERÊNCIAS CONSULTADAS E UTILIZADAS .......................................... 33

2
WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
PROJETO EM ARTE: DANÇA, MÚSICA, TEATRO E VISUAIS

1 PROJETOS DE TRABALHO

Na palavra projeto está contida uma intencionalidade, ou seja, ainda não


é, ainda não aconteceu, ainda é um vir-a-ser. A palavra também designa o que
será feito, entendido com maior ou menor grau de rigidez nesta proposição.
Assim, a palavra projeto designa igualmente tanto o que é proposto para ser
realizado quanto o que será feito para atingi-lo.

Segundo Martins (2003) esta ambiguidade leva a muitas possibilidades


de construção de projetos, tendo em vista diferentes preocupações, de todo
modo, é uma intenção que precisa ser continuamente avaliada e replanejada.

Podemos falar de projetos políticos para a nação, projetos políticos-


pedagógicos, projetos educativos, projetos de trabalho, projetos artísticos,
enfatizando também sua possibilidade de construção coletiva. Assim, os
projetos firmam-se como propostas interdisciplinares, que podem causar boas
transformações na dinâmica das escolas, com temas transversais que são
ampliados pelas perspectivas dos vários campos do conhecimento.

Pode-se falar também de projetos de uma disciplina, ou de um grupo de


alunos, ou mesmo de projetos individuais.

Alguns autores utilizam os termos: Pedagogia de projetos, Projetos de


trabalho, Projetos de ação. Entretanto, mais do que uma técnica ou uma
estratégia sujeita a regras predeterminadas, os projetos são processos
contínuos que refletem uma postura fundamentada numa concepção de
educação que valoriza a construção do conhecimento, coordenados por um
educador capaz de intervir, encaminhar e sistematizar (MARTINS, 2003).

Um projeto gerado pode ser transformado durante sua concretização, na


medida em que novas ações precisem ser inseridas a fim de que os objetivos
possam ser alcançados. Esta característica pode dar um novo sentido ao
planejamento escolar, que frequentemente acaba sendo parte de um arquivo
morto, pois ninguém o lê, não se utiliza depois que está pronto.

3
WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
PROJETO EM ARTE: DANÇA, MÚSICA, TEATRO E VISUAIS

Transformar o ensinar/aprender arte em projetos, criando situações de


aprendizagem através de sequências articuladas continuamente avaliadas e
replanejadas, e não como atividades isoladas, pode se converter numa postura
metodológica eficaz. Este modo de trabalhar tem uma dinâmica própria que
poderá ser transformada e adequada às diferentes realidades de cada grupo-
classe, não se constituindo como método, mas como uma postura
metodológica (MARTINS, 2003).

Não há métodos maus ou bons, e sim métodos que pensam o aprendiz


e a ajuda pedagógica de formas diferentes. Cada método é sempre recriado
pelo professor, que na sua prática e teoria, nem sempre conscientes, traça as
suas opções metodológicas.

Em relação ao ensino de arte algumas propostas de ensino têm trazido


oportunidades interessantes de trabalho: a proposta triangular preconizada por
Ana Mae Barbosa é uma dela. A metodologia de jogos teatrais de Viola Spolin;
os métodos Kodaly e Orff; a dança educativa de Laban, são algumas das
possibilidades metodológicas. Estes e outros métodos podem ser aglutinados
na dinâmica de projetos que apresentaremos.

Antes porém, é preciso dizer que num processo de ensino-


aprendizagem na perspectiva dos projetos em ação, estão presentes:

1. Uma temática, isto é, um conjunto de ideias ou temas que se articulam


e que permitem que se focalize aspectos específicos dentro dele
mesmo, de acordo com as necessidades, interesses e faltas a serem
trabalhadas. Há temáticas mais amplas e mais restritas, centradas na
construção da própria linguagem, na sua história, ou em temas
relacionados com a natureza, à vida social, etc.;

2. Uma sequência de atividades, que instigam o perseguir ideias


germinais, problematizando, desvelando pensamentos/sentimentos e
ampliando referências. Esta sequência não é definida previamente, mas
vai se estruturando pela análise dos seus resultados, que levam à novas
ações, como exercício do pensamento projetante. Desta maneira,
supera-se as atividades estanques como a aprendizagem de técnicas,

4
WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
PROJETO EM ARTE: DANÇA, MÚSICA, TEATRO E VISUAIS

os trabalhos com temas, jogos expressivos, experiências sonoras, leitura


e releituras de obras de arte, etc., pois estarão inseridas num trabalho
mais abrangente, por um período de tempo significativo.

3. A utilização dos códigos da linguagem da arte como meio não só de


materializar, de tornar presente, através da competência simbólica, o
que se quer expressar e comunicar, mas também como meio de
conhecer e ler os objetos artísticos que são a produção artística da
humanidade.

4. O ato de desvelar/ampliar como ações que se alimentam


dialeticamente no sentido de aflorar o que está velado e abrir horizontes
de possibilidades.

5. O trabalho com projetos tenta sintonizar os conteúdos que queremos


ensinar - conteúdos da matéria - com aqueles trazidos pelos aprendizes
- conteúdos do sujeito. É na sua inter-relação que poderemos
problematizar e provocar o que já se sabe e o aquilo que se deseja
saber, ampliando e aprofundando o conhecimento arte, alimentando o
questionamento, a dúvida, as possíveis soluções e o prazer de estar
vivo no processo de aprender e ensinar.

6. O projeto, enquanto um vir-a-ser, proporciona ao grupo a aprendizagem


e o conhecimento através da organização de atividades de leitura e
produção expressiva onde escolher, propor, opinar, discutir, decidir,
avaliar são habilidades desenvolvidas durante o processo do próprio
aprendizado em parceria com o grupo e com o professor.

7. Há um processo de criação que também acompanha o ato de ensinar,


também atento ao aluno, ao que desvela e ao que pode ser ampliado,
tanto em relação ao fazer artístico como em relação ao compreender o
universo da arte e de seus produtores. Assim, a aprendizagem dos
conteúdos da linguagem da arte deve ser conduzida em torno do saber
fazer e do saber compreender sua própria produção e a dos Outros -
parceiros e artistas. E, aprender fazer/conhecer Arte é aprender a

5
WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
PROJETO EM ARTE: DANÇA, MÚSICA, TEATRO E VISUAIS

produzir/ler Arte, cabendo ao professor a tarefa de articular estas ações


(MARTINS, 2003).

O trabalho com projetos constitui-se em alternativa viável, que pode


contemplar as quatro vertentes propostas nos PCN (Artes visuais, Teatro,
Música e Dança) e promover a interdisciplinaridade, a expressão artística em
suas diversas formas e o gosto estético. Martins, Picosque e Guerral (1998, p.
158) corroboram esse pensamento quando afirmam que “transformar as
atividades isoladas das aulas de Arte em ensinar/aprender Arte através de
projetos, criando situações de aprendizagem através de sequências
articuladas, continuamente avaliadas e replanejadas, pode se converter numa
eficiente atitude pedagógica”.

O trabalho com projetos é uma alternativa que favorece esse


planejamento, como também outros fatores, os quais podem ser encontrados
em Petitto (2003), que apresenta as seguintes fases para a elaboração de um
projeto:

planejamento, recursos, montagem e execução, depuração, ensaio,


apresentação e avaliação.

Essas etapas são de fundamental importância para que um projeto seja


bem sucedido e, delas, professores e alunos devem participar. Hernández
(1998, p. 81) adverte que “a aprendizagem e o ensino se realizam mediante um
percurso que nunca é fixo, mas serve de fio condutor para a atuação do
docente em relação aos alunos”. Assim, cabe ao docente o acompanhamento
aos alunos nas diversas fases do projeto, com atenção aos percursos e a
flexibilidade necessária à correção de rumos.

Trabalhar com pedagogia de projetos significa escolher um caminho


mais investigativo e pleno, no processo de construção das competências e
habilidades de cada área do conhecimento, respeitando as especificidades e
função que compete a cada uma delas, sem deixar de evidenciar a
interdisciplinaridade entre as mesmas, que acontece naturalmente cada vez

6
WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
PROJETO EM ARTE: DANÇA, MÚSICA, TEATRO E VISUAIS

que o tema do projeto demandar uma investigação especifica (CENPEC,


2010).

Os projetos didáticos são compostos por elementos que elegem,


organizam, viabilizam um tema a ser estudado. Uma das condições para a
escolha deste tema é que ele mobilize o interesse do grupo, isto é, que seja
escolhido respeitando o interesse do grupo, considerando a faixa etária e o
contexto social que o grupo está inserido. Dentro do tema há o recorte
temático, que é um assunto contido num tema geral, e que vai ser um objeto de
estudo, o foco de atenção maior (CENPEC, 2010).

1.1 Transgredindo as regras

O subtítulo parece bem sugestivo não é mesmo? Ele é pertinente na


medida em que os trabalhos por projetos fogem às regras convencionais, o que
mostraremos a partir de uma breve evolução dos acontecimentos
acompanhado de argumentos a partir de agora para que nos façamos
entender.

Nos últimos anos, sob a influência dos avanços da ciência - da biologia e


da psicologia no início do século -, e das mudanças sociais causadas pela
industrialização, urbanização acelerada e pelas duas grandes guerras, a
organização do ensino passou por um movimento educacional renovador
conhecido como Escola Nova (ARANHA, 1989).

Este movimento (final do século XIX na Europa e 1920 - mais fortemente


na década de 1930 no Brasil) foi uma reação à educação tradicional alicerçada
no silêncio e no imobilismo, no estudo de conteúdos descontextualizados e no
descompasso entre a escola e a vida, serviu como base para propostas de
ensino integrado, entre elas a Pedagogia de Projetos (SANTOMÉ, 1998).

Pestalozzi e Fröebel ainda no século XVIII foram os precursores,


apontando a necessidade de uma educação voltada para os interesses e
necessidades infantis.

7
WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
PROJETO EM ARTE: DANÇA, MÚSICA, TEATRO E VISUAIS

Ferrière e Krupskaia e depois Makarenko realizaram experiências com


projetos integrados no início do século XX. Montessori e Decrolly - a partir de
1907 - defendem os temas lúdicos e o ensino ativo. Maria Montessori aponta a
necessidade da atividade livre e da estimulação sensório-motora e Ovide
Decrolly sugere a aprendizagem globalizadora em torno de centros de
interesse. Dewey e Kilpatrick - década de 1920 - acentuam a preocupação de
tornar o espaço escolar um espaço vivo e aberto ao real. John Dewey, que
esteve no Brasil valoriza a experiência e considera que a educação tem função
social e deve promover o sujeito de forma integrada, principalmente valendo-se
da arte. Freinet - década de 1930 - propôs a valorização do trabalho e da
atividade em grupo para estimular a cooperação, a iniciativa e a participação.
Paulo Freire - década de 1960 - é destaque na educação brasileira com a
introdução do debate político e da realidade sociocultural no processo escolar
com a educação libertadora e os chamados temas geradores. Suas ideias são
mundialmente divulgadas através de seus vários livros como Pedagogia do
oprimido, Pedagogia da autonomia, entre outros (KEHRWALD E GANDOLFO,
2008).

Santomé e Hernández - década de 1990 em diante- propõem o currículo


integrado e os projetos de trabalho (na Espanha) com repercussões no Brasil.

Antoni Zabala - década de 1990 e século XXI - (Espanha) entende que a


complexidade do projeto educativo deve ser abordado por um enfoque
globalizador no qual a interdisciplinaridade está presente. Jolibert na França,
Adelia Lerner e Ana Maria Kaufman, ambas na Argentina, também divulgam
estudos sobre propostas educativas globalizadoras.

Miguel Arroyo, entre outros educadores brasileiros, defende a presença


na escola dos temas emergentes, de um currículo plural e aponta que “Se
temos como objetivo o desenvolvimento integral dos alunos numa realidade
plural, é necessário que passemos a considerar as questões e problemas
enfrentados pelos homens e mulheres de nosso tempo como objeto de
conhecimento. O aprendizado e vivência das diversidades de raça, gênero,
classe, a relação com o meio ambiente, a vivência equilibrada da afetividade e
sexualidade, o respeito à diversidade cultural, entre outros, são temas cruciais
8
WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
PROJETO EM ARTE: DANÇA, MÚSICA, TEATRO E VISUAIS

com que, hoje, todos nós nos deparamos e, como tal, não podem ser
desconsiderados pela escola” (ARROYO, 1994, p. 31).

São várias as modalidades de projetos educativos integrados, mas de


um modo geral todas envolvem atitudes interdisciplinares, planejamento
conjunto, participação ativa e compartilhada entre professores e professoras e
seus alunos e alunas, bem como aspectos da realidade cotidiana de ambos.
Dessa forma, todos são co-responsáveis pelo desenvolvimento do trabalho e,
principalmente, vislumbram a possibilidade de, cada um, expor sua
singularidade e encontrar um lugar para sua participação na aprendizagem.

A organização do trabalho escolar por projetos sugere o reconhecimento


da flexibilização organizativa, não mais linear e por disciplinas, mas em espiral,
pela possibilidade de promover as inter-relações entre as diferentes fontes e os
desafios impostos pelo cotidiano, ou seja, articular os pontos de vista disjuntos
do saber, num ciclo ativo (Morin, 1981), aprendendo a utilizar fontes de
informação contrapostas ou complementares, e sabendo que “[...] todo ponto
de chegada constitui em si um novo ponto de partida” (HERNÁNDEZ, 1998,
p.48).

Essa evolução toda poderíamos chamar de transgressão, mas é um


caminho que vai se concretizar a partir dos projetos de trabalho de Fernando
Hernández.

Hernández (1998) chama Projeto de trabalho o enfoque integrador da


construção de conhecimento que transgride o formato da educação tradicional
de transmissão de saberes compartimentados e selecionados pelo/a
professor/a e reforça que o projeto não é uma metodologia, mas uma forma de
refletir sobre a escola e sua função. Como tal, sempre será diferente em cada
contexto. Há um conceito de educação que permeia esta modalidade de ensino
que entende a função da aprendizagem como desenvolvimento da
compreensão que se constrói a partir de uma produção ativa de significados e
do entendimento daquilo que pesquisam, identificando diferentes fatos,
buscando explicações, formulando hipóteses enfim, confrontando dados para
poder realizar “uma variedade de ações de compreensão que mostrem uma

9
WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
PROJETO EM ARTE: DANÇA, MÚSICA, TEATRO E VISUAIS

interpretação do tema, e, ao mesmo tempo, um avanço sobre o mesmo”


(HERNÁNDEZ, 2000, p. 184).

Um problema, uma situação conflitante ou algo que está intrigando


alunos e alunas pode ser um bom início de projeto, uma vez que favorece o
interesse e a busca das informações, esta entendida como construção de
saberes interligados. Indica também a importância de envolver no projeto,
várias áreas de conhecimento, presentes tanto na escola, como fora dela.

No que se relaciona à Arte, Hernández (2000) defende a ideia de educar


para a compreensão da cultura visual, relata projetos executados e sugere que
se inicie com uma pergunta que poderá ser um fio condutor de outras. Por
exemplo:

- O que se pode aprender de uma imagem? Desta questão é possível


derivar outras três: o que foi pintado? De que falam estas obras? O que se
pode estudar e aprender de um quadro?

A partir das respostas do grupo, o professor/a vai compondo com seus


alunos e alunas, um roteiro de construção de conhecimento, no qual estão
entrelaçados os objetivos, conceitos e conteúdos elencados no planejamento
pedagógico da área de Artes Visuais. Fica estabelecido, também, quem
registrará cada etapa do trabalho e como isso será feito. Os relatórios com os
registros dessas observações, servem de suporte para dar continuidade ao
planejamento do roteiro. É conveniente que o grupo possa contar com a
assessoria de outros profissionais, de modo que a pesquisa possa ser
enriquecida com saberes de diferentes áreas do conhecimento (KEHRWALD;
GANDOLFO, 2008).

As possíveis etapas para fazer um projeto são dadas por Hernández


(2000).

 Determinar com o grupo a temática a ser estudada e princípios


norteadores;

 Definir etapas: planejar e organizar as ações - divisão dos grupos,


definição dos assuntos a serem pesquisados, procedimentos e
delimitação do tempo de duração;
10
WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
PROJETO EM ARTE: DANÇA, MÚSICA, TEATRO E VISUAIS

 Socializar periodicamente os resultados obtidos nas investigações


(identificação de conhecimentos construídos)

 Estabelecer com o grupo os critérios de avaliação;

 Avaliar cada etapa do trabalho, realizando os ajustes necessários;

 Fazer o fechamento do projeto propondo uma produção final, como


elaboração de um livro, apresentação de um vídeo, uma cena de teatro
ou uma exposição que dê visibilidade a todo processo vivenciado e
possa servir de foco para um outro projeto educativo.

Esta forma de organização de saberes que vai se construindo como uma


rede, sensibiliza alunos e alunas para aquilo que lhes interessa ou preocupa,
legitimando a função social da escola. Possibilita a validade do conhecimento
aprendido, resultando numa melhor decisão para a qualidade de vida na
sociedade e reconhece o sujeito cidadão, capaz de se inserir no pensamento
coletivo para o compartilhamento de espaços e serviços comuns (KEHRWALD;
GANDOLFO, 2008).

Incluir o aluno na análise e na decisão, de questões que lhe dizem


respeito, contribui para o desenvolvimento consciente de sua cidadania. A
escola, em particular, é o lugar para oportunizar este tipo de aprendizagem: o
exercício da tomada de decisões, tanto individuais como coletivas. Ao refletir
sobre suas próprias concepções, frente às de outros, o aluno amplia seu
repertório de alternativas para uma determinada situação e provoca a
desestabilização e o descentramento de seus critérios de inserção na
coletividade.

E os professores, o que podem e devem fazer frente aos projetos?

 Ele deve ser um pesquisador da realidade e deve conduzir seus alunos


ao exercício da observação, percepção, análise crítica e criatividade.

 Ele compreende sua responsabilidade social e investe na interação

 Sabe como se constrói conhecimento e planeja levando em conta o


aluno real.

11
WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
PROJETO EM ARTE: DANÇA, MÚSICA, TEATRO E VISUAIS

 Avalia permanentemente sua prática e a modifica.

 Deve ser comprometido com novos paradigmas que orientam o pensar


pedagógico.

 É um observador constante e atento, mediando as ações e interagindo


com seus alunos (KEHRWALD; GANDOLFO, 2008).

É importante ressaltar novamente que não há um método ou uma


fórmula pronta para desenvolver projetos, mas sim uma concepção
diferenciada do/a professor/a em relação ao ensinar e aprender. Esta será
sempre uma relação de troca e de construções sociais interativas, nas quais
todos são importantes parceiros e colaboradores

2 A DANÇA

A dança contribui de várias maneiras com o crescimento e


desenvolvimento do ser humano, educando pessoas capazes de criar, refletir,
criticar, possibilitando uma compreensão de mundo de forma diferenciada.

O ensino de dança na escola se propõe a:

 Desenvolver a sensibilização e a conscientização tanto nas posturas,


nas atitudes, nos gestos e nas ações cotidianas, quanto na necessidade
de se expressar, de comunicar, compartilhar e interagir na sociedade na
qual vivemos.

 Despertar nos alunos o interesse pela dança, levando em consideração


o repertório artístico que eles têm, deixando bem claro que homem
também dança e, claro, convidando a turma toda para participar.

Araújo, em matéria na Revista Nova Escola de setembro de 2005,


ressalta que dançar é uma das maneiras mais divertidas e adequadas para
ensinar, na prática, todo o potencial de expressão do corpo humano. Enquanto
mexem o tronco, as pernas e os braços, os alunos aprendem sobre o
desenvolvimento físico. Introduzir a dança na escola equivale a um tipo de
alfabetização.

12
WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
PROJETO EM ARTE: DANÇA, MÚSICA, TEATRO E VISUAIS

“É um ótimo recurso para desenvolver uma linguagem diferente da fala e


da escrita, aumentar a sociabilidade do grupo e quebrar a timidez”, afirma Atte
Mabel Bottelli, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. E o
melhor: o trabalho pode ser feito com turmas de todas as idades e de forma
interdisciplinar, envolvendo as aulas de Artes e de Educação Física. O mais
importante, no entanto, não é convencer a turma a ensaiar para se apresentar
no final do ano. “A prioridade é levar a criança a ter consciência corporal e
entender como o corpo dela se relaciona com o espaço”, ensina Ivaldo
Bertazzo, coreógrafo e professor de reeducação do movimento, de São Paulo.

Por volta dos 10 anos, a criança sedentária pode apresentar


encurtamento de alguns músculos, o que provoca tensão. Esse estado tira o
corpo da postura vertical, fundamental para que os sentidos (visão, audição
etc.) funcionem bem e para manter a concentração inclusive nas aulas. Fique
atento: nos garotos, as evidências mais comuns do encurtamento dos
músculos são o corpo jogado para trás, a coluna curvada ao sentar e as pernas
abertas quando estão parados em pé. Já nas meninas, um corpo mal-educado
se revela pelo abdome saliente, o bumbum empinado para trás e os ombros
contraídos. Em ambos, pescoço tenso, coluna pouco ereta e desinteresse por
esportes são motivos para deixar pais e educadores alertas. Passos de dança
e o alongamento contribuem para evitar a tensão. “A dança é a única
manifestação artística que realmente integra o corpo e a mente”, afirma Marília
de Andrade, professora da Universidade Estadual de Campinas (ARAUJO,
2005).

Estudos de Fiamoncini (2003) apontaram que o trabalho com a dança na


educação apresenta em sua maioria uma visão instrumental dela. Dentro dessa
visão, o que importa saber (quando muito) refere-se à história da dança, a seus
diferentes estilos e a técnicas empregadas. Esses conteúdos sem dúvida são
importantes e integrantes do ensino da dança, mas não é possivel reduzir tal
ensino à transmissão de um conhecimento já existente, de modo a priorizar a
forma e as técnicas de movimentação, dentro de um ou outro estilo de dança.

Esse reducionismo se dá, em parte, em virtude de que, durante anos, a


produção científica em dança se limitou a livros de história da dança, biografias
13
WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
PROJETO EM ARTE: DANÇA, MÚSICA, TEATRO E VISUAIS

e manuais de dança, contendo explicações de termos e técnicas com


demonstração de passos através de figuras. Ou seja, ao que parece, o que tem
acontecido na escola com relação à dança é uma consequência da escassez
bibliográfica (com as respectivas implicações que isso acarreta à formação de
pessoas habilitadas). Alia-se a esse fato a visão instrumental e funcional,
imperativa de nossa sociedade capitalista. Nos estabelecimentos escolares,
predominantemente, a dança aparece sob a forma de apresentações em datas
festivas, e raramente como conteúdo a ser ensinado. Além disso, quando se
utiliza a dança como conteúdo, este se reduz, quase que unanimemente, ao
ensino técnico estilístico e a exercícios convencionais. E para a realização
destes, são requeridos aperfeiçoamentos constantes, visando ao desempenho
e à funcionalidade do movimento. Não se pretende aqui negar que é preciso
lidar com a aprendizagem da técnica de dança, mas isso não pode impedir a
imaginação e a sensibilidade para um aguçar de todos os sentidos. Vemos a
participação nas datas comemorativas como algo válido, mas não com o
objetivo único de agradar aos pais, de mostrar uma escola colorida, bonita,
pensando apenas numa produção final. Isso significaria deixar de lado o ensino
da dança como um processo de aprendizagem (FIAMONCINI, 2003).

Para Langer (1980), arte é “a criação de formas simbólicas do


sentimento humano”. Por símbolo, entende-se todo artifício através do qual
podemos fazer uma abstração, sendo que o símbolo refere-se ao sentimento e
às formas, não se limitando apenas à esfera lógica e linguística. Arte implica
modificar (criativamente) o existente para que ele chegue a ser outra coisa.
Assim, entendemos arte como um canal aberto à crítica, à espontaneidade e
ao momento próprio de criação, o que resulta na obra que expressa nossos
sentimentos, vivências e sonhos.

Para o ensino da dança, de acordo com a compreensão que se tem


desta como a arte de expressão do ser humano e a possibilidade de encontro
consigo mesmo, acredita-se na viabilidade da improvisação. Entende-se que
este seja o caminho mais recomendável para quem se propõe a ensinar a
dançar, um caminho que favorece a criatividade, a experimentação, a
superação dos modelos (tanto de movimento quanto de pensar, de sentir).

14
WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
PROJETO EM ARTE: DANÇA, MÚSICA, TEATRO E VISUAIS

Improvisação na dança significa dar forma espontânea aos movimentos,


realizar movimentos não treinados, ou seja, a improvisação conduz à
descoberta, à criação pessoal, possível a todos (SARAIVA KUNZ, 1994). O
aluno, no momento da improvisação, tem de lidar com o não planejado, com o
imprevisto, buscando resolver a tarefa que lhe for apresentada através de
movimentações criativas, despindo-se das formas tradicionais e estereotipadas
(muitas delas fornecidas pela Educação Física e pelo esporte). “Neste sentido,
a dança através da improvisação é um importante veículo de aprendizagem,
pois proporciona a abstração dos significados que o símbolo permite, não se
reduzindo a um adestramento de movimentos” (SARAIVA KUNZ, 1994, p.168).

Aqui, o sentimento de êxito no aprendizado da dança não depende da


melhor execução de movimentos técnicos, mas de realizar movimentos que
deixem transparecer sensações/sentimentos, pois, no conceito da educação
estética, expande-se a ideia de dar sentido à dança (LANGE, 1999 apud
FIAMONCINI, 2003).

Para Saraiva Kunz (1994, p.168), no “espaço da Dança-Improvisação, o


ser humano expressa-se com ou sem instrumentos e elementos alheios a ele e
estabelece relações consigo mesmo e com os outros”.

A dança-improvisação, como educação estética, pode, portanto, ser


encarada como um desafio para a descoberta de movimentos interessantes, de
modo a despertar a criatividade para desfechos imprevisíveis (FIAMONCINI,
2003).

2.1 Composição, performance e observação em dança

É fundamental discorrermos sobre a composição, a performance e a


observação, aspectos que Rolfe (1992 apud Freire, 2001) enfatiza ser
apropriadas pelas crianças e/ou pelos estudantes de dança de um modo em
geral:

Composição em dança

15
WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
PROJETO EM ARTE: DANÇA, MÚSICA, TEATRO E VISUAIS

As crianças precisam desenvolver as habilidades e conhecimentos


necessários para criar, modelar e estruturar movimentos em forma de dança
expressiva. A criança, muitas vezes, usa os movimentos espontaneamente,
variando seus gestos e dinâmicas para expressar seus sentimentos e ideias.
Com um pouco de encorajamento e assistência, elas brincarão e improvisarão
com esses padrões básicos de movimento.

Este é um dos objetivos da Dança-Educação nos anos iniciais para


promover e desenvolver todas as suas habilidades naturais, ou seja, oferecer
oportunidades para as crianças criarem simples sequências, através da
improvisação, interagindo uma com a outra, orientadas por um professor
sensível. Com suas habilidades e conhecimentos desenvolvidos, elas poderão
ser capazes de criar danças mais complexas, as quais terão uma estrutura
clara, incluindo aspectos interessantes de composição, tal como
desenvolvimento de tema e repetição.

Execução da dança

Sendo uma arte de execução, como a música e o teatro, a dança pode


ser apresentada para uma audiência, por mais informal que possa ser. A
performance proporciona aos dançarinos a oportunidade de avaliar a eficácia
da dança que eles compuseram, aprenderam e compartilharam com outras
crianças ou outro grupo. As crianças poderão ser encorajadas a reconhecer
suas performances, tanto como realização pessoal como uma apresentação
para uma audiência (FREIRE, 2001).

As crianças pequenas possuem um repertório de movimentos naturais e


habilidades expressivas. Muitas adquiriram um sentido elementar de
consciência estética do movimento, fazendo-o conscientemente, mas com
prazer e com consciência da fluência e do ritmo. Nesses anos iniciais, esse
deleite e satisfação em expressar-se através de movimentos devem ser
aproveitados como oportunidades de aprendizagem designadas para desafiar e
desenvolver todo esse potencial. A aquisição e o domínio de habilidades são
essenciais para capacitar as crianças a se movimentarem com facilidade e
precisão, auxiliando-as a expressar sua individualidade em situações mais
imaginativas. Inicialmente, o foco poderia ser a melhoria do equilíbrio, do
16
WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
PROJETO EM ARTE: DANÇA, MÚSICA, TEATRO E VISUAIS

controle, coordenação e postura, período em que as características de


dinâmica espacial do movimento necessitam ser constantemente enfatizadas.

Uma introdução sobre específicos estilos de dança social, teatral e


tradicional poderá ser desenvolvida conforme a sua faixa de competência para
realizar diferentes estilos e técnicas e danças. Conforme progridam na escola,
terão muitas oportunidades de trabalhar com professores especialistas ou
dançarinos profissionais (FREIRE, 2001).

Observando a dança

Ao começar um programa de dança, as crianças poderão ser


encorajadas a observar o trabalho corporal um do outro e, em seguida, tecer
seus comentários. Observar a dança tanto durante o processo criativo como o
produto final é um aspecto integral para as crianças apreciarem e entenderem
a dança. As crianças precisam estar conscientes de que a dança é um meio de
expressão e comunicação. Através da regular observação e discussão do
trabalho em sala de aula e da dança profissional, quando possível, elas
gradualmente podem reconhecer a linguagem da dança. Também necessitam
estar preparadas para serem capazes de olhar e ouvir perceptivelmente e com
imaginação, assim como interpretar e avaliar a dança atentando para as
características específicas do trabalho. O professor, em algumas situações,
poderá guiar e focalizar o olhar das crianças de modo a desenvolver suas
habilidades para a crítica e para o conteúdo. Isto encorajará sua opinião e
interpretação pessoal, como também enriquecerá seu conhecimento de dança.
(FREIRE E ROLFE, 1999)

Um aspecto muito importante a ser considerado na dança educação está


no reconhecimento de que nenhum padrão de movimento é bom ou ruim. Em
seu estudo, Fitt (1996 apud Freire, 2001) explicita que todos os padrões de
movimento têm um valor potencial pelo próprio fato de poder se mover em
certas circunstâncias.

No trabalho com pessoas com necessidades educacionais especiais, um


programa que busque ampliar o repertório de movimento deve ser pensado
17
WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
PROJETO EM ARTE: DANÇA, MÚSICA, TEATRO E VISUAIS

como uma contribuição para o desenvolvimento daquela pessoa, à medida que


esse trabalho vai possibilitá-las usar com mais eficiência e qualidade o seus
movimentos.

No contexto educacional brasileiro o desafio aos professores de Arte -


dança pode ser incluir a dança como uma atividade curricular e capacitar o
professor para ensiná-la a todos os alunos, inclusive às crianças e aos jovens
com necessidades educativas especiais.

3 A MÚSICA

Muito se tem dito sobre o poder da imagem no mundo contemporâneo,


mas ainda é tímida a atenção que se dá à produção de sons que tem
crescentemente adensado a paisagem sonora, em particular nas grandes
cidades. Não atentamos o suficiente para as implicações e possíveis alterações
do meio ambiente, das relações sociais e da subjetividade humana que podem
ser perspectivadas por essa produção (CENPEC, 2008).

Entendendo que som é movimento, porque qualquer coisa que se mova


em nosso mundo vibra o ar e soa, podemos pensar que a produção musical dá
sentido a diferentes movimentos da humanidade e que a educação musical das
crianças pode colocá-las a par dessa dinâmica.

Nessa perspectiva, música não seria outra coisa senão uma expressão
da cultura, da vida, da energia, do universo em movimento e a consideração de

18
WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
PROJETO EM ARTE: DANÇA, MÚSICA, TEATRO E VISUAIS

nossa audição como o limite de nossa escuta vem re-significar a abordagem


das noções de som, silêncio, altura, duração, intensidade e timbre, entre outras
que compõe a gramática fundamental para a educação musical. Aliás, a
compreensão de uma gramática musical básica se somada a uma consciência
sobre as possibilidades de exploração, expressão e construção da música,
pode balizar qualitativamente uma proposta que responda às necessidades
próprias da Educação Infantil no que tange ao trato com essa linguagem, ao
mesmo tempo em que educa a sensibilidade das crianças para auscultar os
sons do viver em sociedade (CENPEC, 2008).

A música faz com que a criança eleve seu pensamento e sua


criatividade. Com a música o professor cria conceitos e identifica elementos
das diferentes culturas, estabelecendo assim pontes importantes para a quebra
de possíveis preconceitos das crianças com relação a algum gênero musical.
Pode-se pensar na música também a partir de seus elementos, como: o
silêncio, o ruído e o som e suas características são o timbre, a duração, a
altura e a intensidade. Na música, a criança encontra um forte fator de
motivação, que influenciará não só na atividade criadora, mas também em
todos os planos direcionados à música, influenciando também em seu
processo cognitivo e afetivo (GARCIA; SILVA, 2009).

Muito além de formar músicos profissionais ou especialistas na área, a


Educação Musical auxilia no desenvolvimento cultural e psicomotor, estimula o
contato com diferentes linguagens, contribui para a sociabilidade e democratiza
o acesso à arte. Por isso, a partir de 2012, a Música será conteúdo
obrigatório em toda Educação Básica. É o que determina a Lei nº 11.769,
de 18 de agosto de 2008.

Embora ainda não se saiba se os conteúdos serão trabalhados em uma


disciplina específica ou nas aulas de Artes, com professores polivalentes, as
escolas devem adaptar seus currículos até o início do ano letivo de 2012.
Tocar, ouvir, criar e entender sobre a História da Música são pontos
fundamentais de ensino. Para a professora do Departamento de Música da
Universidade de São Paulo, Teca Alencar de Brito, contudo, os currículos não
devem ser engessados. “Não se pode ensinar Música a partir de uma visão
19
WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
PROJETO EM ARTE: DANÇA, MÚSICA, TEATRO E VISUAIS

utilitarista. Estamos falando de arte. É preciso explorar as sensibilidades”,


afirma a especialista, criadora da Teca Oficina de Música (REVISTA NOVA
ESCOLA, 2010).

Outro ponto nebuloso da nova legislação diz respeito a não


obrigatoriedade da graduação em Música para ministrar as aulas. O artigo da
lei que previa a formação específica na área foi vetado pelo Ministério da
Educação sob alegação de que, no Brasil, existem diversos profissionais
atuantes na área sem formação acadêmica. A discussão, agora, está a cargo
da Fundação Nacional de Artes (Funarte) que, a partir de um protocolo de
parceria firmado entre o Ministério da Cultura e o Ministério da Educação, está
organizando encontros regionais com acadêmicos, especialistas, Secretarias
de Educação e Associações de Estudos Musicais para realizar uma espécie de
mapeamento do ensino de Música nos estados brasileiros (BRITO, 2010).

Do primeiro encontro, realizado no Rio de Janeiro, formaram-se dois


grupos de trabalho. Um que deve propor nortes para as questões curriculares e
outro, formado por representantes das universidades, responsável por articular
propostas de ampliação das licenciaturas em Música e demais cursos de
formação continuada na área, inclusive, os ministrados a distância. Os
objetivos são elaborar uma nova proposta de regulamentação da Lei nº 11.769,
assim como um manual aplicativo destas determinações, que auxiliem os
gestores escolares e educadores da área de Música.

Apesar das indefinições, desde 2002, os cursos de graduação em


Música superaram em número os cursos de graduação em Artes Visuais.
Atualmente, são cerca de 70 cursos de licenciatura em Música em todo o país.
O processo de adaptação das escolas e de formação dos educadores será
lento, mas o primeiro passo, o da mobilização para que as escolas se
organizem, já foi dado. “A discussão sobre o ensino de Música já é um avanço.
Os cursos de graduação, especialização e formação continuada estão
crescendo. Há profissionais preocupados em desenvolver materiais didáticos
para ensinar Música. Isso é muito importante” (BRITO, 2010).

Depois de um levantamento sobre conceitos de música feito com os


alunos, uma das professoras que ganhou o Prêmio Victor Civita Educador Nota
20
WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
PROJETO EM ARTE: DANÇA, MÚSICA, TEATRO E VISUAIS

10, Áudrea Martins, ao sentir a necessidade de ampliar o repertório da turma,


promoveu então atividades de apreciação de música contemporânea,
selecionando obras acústicas, eletrônicas e aleatórias (gênero em que parte
das decisões de criação são destinadas à procedimentos de acaso). Os alunos
debateram sobre a estrutura dessas músicas e discutiram a presença de
elementos sonoros experimentais, como ruídos, sons captados do ambiente e
manipulações eletrônicas. Em seguida, a professora levou esse conhecimento
para a prática, propondo aos alunos que compusessem músicas utilizando
textos, instrumentos musicais e procedimentos de acaso (ou aleatórios) para a
criação (REVISTA NOVA ESCOLA, 2009).

Em grupos, com instrumentos em mãos e os conceitos na cabeça, cada


estudante criou seu repertório de sons aleatórios. Sorteios definiram as
repetições e a ordem de aparição de cada um deles na composição final. Para
expandir o processo de criação e edição sonora, a professora ensinou a turma
a usar um software gratuito de edição de áudio. Com a gravação de sons
tocados nos instrumentos ou captados do ambiente, eles passaram a editar e a
criar uma música eletroacústica, dessa vez em duplas.

Um projeto tão rico só foi possível pelo fato desta professora ser uma
professora estudiosa. Pós-graduanda em Educação, a professora representa
uma mudança no perfil dos professores inscritos no Prêmio Victor Civita
Educador Nota 10 no ano de 2009. Enquanto em 2004, 32% dos inscritos
possuíam título de pós-graduação, em 2009 esse número aumentou para 53%.

21
WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
PROJETO EM ARTE: DANÇA, MÚSICA, TEATRO E VISUAIS

4 O TEATRO NA ESCOLA

De acordo com Silva (2006) o axioma1 acerca do valor educacional da


arte está centrado, em nossos dias, tanto no campo do entendimento de
propostas que possam valer-se desse potencial próprio à atividade artística,
quanto no desafio de tentar esclarecer em que medida a fruição da arte pode,
por si, ser compreendida como atividade pedagógica.

Na sala de aula, o texto dramático constitui uma excelente técnica para


se aperfeiçoar a linguagem, a comunicação, incentivar a criatividade e
combater a inibição do aluno. Para Sarmento (2002, p. 26), “o simples ato de

1
Premissa imediatamente evidente que se admite universalmente verdadeira sem exigência de
demonstração. Uma máxima, uma sentença.

22
WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
PROJETO EM ARTE: DANÇA, MÚSICA, TEATRO E VISUAIS

brincar desenvolve nos alunos a cumplicidade espontânea, fazendo com que


eles descubram o lúdico para que, através do real e do imaginário, possam
verdadeiramente reconstruir a realidade”. Dessa forma, constrói-se um
espetáculo em que a interação da fantasia, da magia e do lúdico seja um
resultado da reflexão das ações experimentadas entre eles.

Coelho (1999, p. 38) assegura que o teatro “faz parte da vida de todos
nós e não precisa ser feito só por profissionais e artistas”. Ele pode ser feito por
qualquer um que goste de representar, de imaginar histórias, de viver
personagens. E como quase todo mundo gosta destas coisas, o teatro está
(nas escolas, nas ruas, nos hospitais) vivo em muitos e diferentes lugares.

Segundo Freitas (2002, p. 75), a literatura e a arte sempre foram a


paixão de Vygotsky que a elas se dedicou teórica e praticamente.

O ensino do teatro se encontra presente na educação escolar brasileira


já desde o século dezesseis, com a implementação da pedagogia inaciana
pelos jesuítas. No entanto, sua experimentação como prática pedagógica
eclodiu somente a partir da segunda metade do século passado, introduzindo
alguns elementos fundamentais para a motivação do aprendizado em outras
disciplinas. Apesar de timidamente, e vista pelo corpo docente com certa
desconfiança, a atividade teatral vem aos poucos convencendo professores e
diretores quanto a sua eficácia no desenvolvimento social, psicológico e motor
dos alunos (SILVA, 2006).

O teatro é uma modalidade artística que privilegia o uso da linguagem e


promove o desenvolvimento da imaginação e do pensamento generalizante.
Como atividade coletiva, o teatro promove uma forma especial de interação e
cooperação entre os sujeitos. O teatro motiva os alunos à aprendizagem e lhes
permite construir seu próprio conhecimento. Entende-se que é possível
promover aprendizagem e desenvolvimento dos educandos por meio da
atividade e linguagem teatral (OLIVEIRA; STOLTZ, 2010).

Na sociedade, diferentes linguagens estão presentes e são importantes


no desenvolvimento humano, como as artes, a matemática e a informática. O

23
WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
PROJETO EM ARTE: DANÇA, MÚSICA, TEATRO E VISUAIS

acesso e domínio a essas diferentes linguagens propiciam o desenvolvimento


de capacidades cognitivas e afetivas distintas.

A linguagem artística é, nesse trabalho, de especial interesse. Vygotsky


(2001) explica que a música e a poesia provavelmente surgiram com o trabalho
coletivo, físico e pesado, com o objetivo de aliviar a tensão. A função da arte
revela-se, então, organizadora ou sistematizadora do sentido social do
indivíduo e solução e vazão à tensão angustiante. “A arte, deste modo, surge
inicialmente como o mais forte instrumento na luta pela existência (...)”
(VYGOTSKY, 2001, p.310).

De acordo com Schleder Stoltz (1999) os elementos artísticos e seu


significado, são produzidos e transmitidos socialmente. Cada objeto de arte
expressa a história e a cultura do artista e do homem de determinada época.
Os sentimentos que desperta e supera também são históricos.

Sobre a arte, Vygotsky (2001, p. 308) diz que “o sentimento é


inicialmente individual, e através da obra de arte torna-se social ou generaliza-
se. [...] a arte é uma espécie de sentimento social prolongado ou uma técnica
de sentimentos”.

O autor explica, ainda, que o ser humano não é capaz de dar conta da
enorme quantidade de estímulos que recebe do meio, isso quando se observa
a realidade analiticamente, apenas de forma cognitiva. Ele compara o sistema
nervoso humano a uma estação em que muitos trens chegam, mas apenas um
consegue partir. Permanece, então, no interior do indivíduo, muito a realizar, o
que só pode ser solucionado na ação completa da existência: um processo que
exige a participação da cognição e da afetividade.

A arte seria, desse modo, um instrumento que integraria essas duas


instâncias, uma forma de equilibrar o organismo ao meio. Os sentimentos
provocados pela arte, seja fazendo arte ou apreciando-a, superam os
sentimentos comuns, que podem de alguma maneira ser expressos ou
resolvidos, como quando se está triste ou alegre; aqueles sentimentos tocados
e representados pela arte são emoções fortes, poderosas paixões que

24
WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
PROJETO EM ARTE: DANÇA, MÚSICA, TEATRO E VISUAIS

encontrariam na expressão artística a sua resolução (OLIVEIRA E STOLTZ


(2010).

Dessa forma, a arte teria, segundo o autor, funções tanto psicológicas


quanto biológicas. Vygotsky (2001, p. 57) diz que “A arte é trabalho do
pensamento, mas de um pensamento emocional inteiramente específico [...]” e
acrescenta mais adiante:

“[...] a arte parte de determinados sentimentos vitais, mas realiza certa


elaboração desses sentimentos [...] que consiste na catarse, na transformação
desses sentimentos em sentimentos opostos, nas suas soluções [...]”
(VYGOTSKY, 2001, p. 309).

Separada do trabalho, em si mesma, a arte faz a mediação entre o


sujeito, o mundo e as emoções que ela suscita ao mesmo tempo em que é
objeto sobre o qual o sujeito age. De acordo com Vygotsky, para se perceber e
compreender a arte é preciso perceber as contradições do mundo real. Em
relação à percepção, o autor diz que o mundo é percebido não apenas como
cores e formas, mas com sentido e significado:

[...] toda percepção humana consiste em percepções categorizadas ao


invés de isoladas. [...] A transição, no desenvolvimento para formas
qualitativamente novas, não se restringe a mudanças apenas na percepção. A
percepção é parte de um sistema dinâmico de comportamento; por isso, a
relação entre as transformações dos processos perceptivos e as
transformações em outras atividades intelectuais é de fundamental importância
(VYGOTSKY, 2004).

Dentre as modalidades artísticas, o teatro é particularmente interessante


quanto às possibilidades de interação, internalização da cultura, uso da palavra
e expressão afetiva. A realização de atividades teatrais pode ser de grande
valia no desenvolvimento da criança e do adolescente.

No mundo contemporâneo, no qual as desigualdades sociais e


econômicas tornam-se cada vez mais acentuadas nos países em
desenvolvimento, a arte tem sido tratada como algo supérfluo. Porém, a
experiência artística é uma necessidade de todo ser humano, como afirma
25
WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
PROJETO EM ARTE: DANÇA, MÚSICA, TEATRO E VISUAIS

Vygotsky (2001). Na escola, o ensino de artes tem priorizado as artes visuais,


ainda que pouco a pouco a dança, o teatro e a música venham ganhando
espaço.

Trabalhar com essas outras modalidades artísticas envolve o estímulo


de outras percepções sensoriais e regiões do cérebro. A música necessita de
atenção, uso da audição, exercício intenso, seja para cantar ou para tocar um
instrumento. A dança, os movimentos musculares organizados e controlados, o
ritmo, a atenção ao conjunto ou à música, a organização espacial. O teatro usa
a linguagem verbal e corporal, a memorização, a atenção, também a
organização espacial. Todas exigem a interação social e fazem parte da
cultura. Todas implicam a mobilização de aspectos cognitivos, afetivos, sociais
e motores dos sujeitos; implicam ainda em aprendizagens, exercício repetitivo,
construção de conhecimento. Em especial, pretende-se, aqui, tratar da arte do
teatro.

A palavra teatro, em sua origem grega theatron, significa o lugar de onde


se vê e, para Aristóteles, o teatro permitia conhecer, e conhecer além da
superfície. Para o pensador grego, o teatro tinha a qualidade de ensinar às
pessoas a enxergarem além do discurso, além das aparências, a ver o que
estava encoberto, nas profundezas (GUENON, 2004). Tal conhecimento,
entretanto, não ocorre de um momento para o outro. É uma construção lenta e
é importante começar ainda na infância o aprendizado de ver além das
aparências. Vygotsky parece concordar com Aristóteles, quando diz:

De igual maneira é possível e exequível o pós-efeito cognitivo da arte.


Uma obra de arte vivenciada pode efetivamente ampliar a nossa concepção de
algum campo de fenômenos, levar-nos a ver esse campo com novos olhos, a
generalizar e unificar fatos amiúde inteiramente dispersos. É que, como
qualquer vivência intensa, a vivência estética cria uma atitude muito sensível
para os atos posteriores e, evidentemente, nunca passa sem deixar vestígios
para o nosso comportamento (VYGOTSKY, 2004, p. 342).

Segundo Vygotsky (1932), o ator não precisa experimentar


determinadas situações para poder sentir uma emoção e reproduzi-la no teatro.
As emoções são construídas socialmente e estão dispersas por todas as
26
WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
PROJETO EM ARTE: DANÇA, MÚSICA, TEATRO E VISUAIS

situações e lugares percebidos via sentidos do sujeito, que é ator na sociedade


em que vive e ator no palco. O sujeito compreende o significado das emoções
e quando e como ele as “utiliza” ou as sente. Assim, o ator percebe e constrói
seus esquemas de comportamento de acordo com as situações e experiências
vividas por outros e os transporta para sua atuação no palco.

A interação social na atividade teatral acontece em diversas dimensões.


Há a interação entre ator e escritor do texto através do próprio texto, entre
atores, diretor, técnicos e outras pessoas envolvidas na montagem de uma
peça, entre os atores durante a representação, enfim, entre sujeitos com
diferentes papéis. Uma, contudo, é muito peculiar: há uma espécie de diálogo
entre ator e plateia, por meio do qual o ator aprende a conduzir os gestos, as
palavras, o olhar. A reação da plateia, para onde ela olha, se boceja ou dorme,
se ri nas horas “certas” ou “erradas”, configura para quem está no palco uma
resposta às suas ideias e conceitos sobre o ser humano, sobre seu caráter,
fragilidades, sua força. Diferentemente da televisão, na qual a distância entre o
ator e a plateia é maior e este não pode, imediatamente, perceber, sentir, ver, a
reação de quem o assiste. No teatro há um aprendizado de uma linguagem
própria desta arte, que expressa o sentimento de quem assiste, seja via calor
do aplauso ou pela emoção que parece se concretizar e emanar da plateia ao
palco, e vice-versa.

Na escola, o teatro pode oferecer um amplo espectro de situações e


oportunidades de aprendizagem e conhecimento. Uma característica
importante é o uso que faz da linguagem. No teatro a palavra é, de certa forma,
manipulada em relação ao sentido e associada a imagens. Mas a palavra,
sozinha, pode suscitar inúmeras imagens na mente de quem as ouve enquanto
que uma imagem, ainda que suscite muitas interpretações, por si, é fechada.

O ensino das artes visuais tem, como um de seus objetivos, desvelar a


informação contida na imagem. No teatro, desvela-se a informação da voz, do
corpo, do gesto, da ação, da emoção do ator. É necessário que tanto o ator
como o público aprendam a organizar logicamente todas essas informações
para compreenderem o significado do espetáculo teatral e para se
comunicarem entre si. Essas informações, antes de chegarem ao palco, estão
27
WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
PROJETO EM ARTE: DANÇA, MÚSICA, TEATRO E VISUAIS

presentes na sociedade, são construídas nela e nas relações que nela se


estabelecem. Há, então, um processo até certo ponto intuitivo pelo qual ator e
plateia aprendem um com o outro sobre a realidade que os cerca.

A qualidade das interações intersubjetivas, culturalmente mediadas,


interferem decisivamente no processo de constituição dos sujeitos (JAPIASSU,
1998, p. 9).

Na interação e cooperação entre seus iguais, a criança percebe seus


próprios pensamentos e os compara aos pensamentos dos outros, coloca-se
no lugar do outro; um processo desencadeado pelo fenômeno da alteridade,
que possibilita a empatia.

Representar um personagem é também colocar-se no lugar de outro, é


criar possibilidades de trabalhar e compreender a diversidade, as diferenças,
as semelhanças, o ser e o vir a ser; é poder perceber a si e ao outro como
sujeitos no mundo, como agentes de transformação da sociedade
(COURTNEY, 1990 apud OLIVEIRA E STOLTZ, 2010).

O teatro é extremamente motivador para crianças e adolescentes; afeta-


os nos aspectos emocional, cognitivo, motor e social. Exige também
mobilização da atenção, da percepção e da memória, compreensão textual,
capacidade de jogar com as palavras; trabalha a expressividade e a
imaginação. Esses aspectos referentes à realidade juvenil são comumente
desconsiderados como significativos

A imaginação passa, na adolescência, a se utilizar das palavras,


abandonando gradualmente as imagens. Esse fato permite que o teatro seja
um meio interessante para produção de sentido das palavras e formação de
conceitos.

Instigar os alunos a imaginar e criar situações, lugares, tempos,


personagens, reproduzir sua criação verbal e corporalmente, movendo-se no
espaço e interagindo com os colegas, e relacionar o criado aos conteúdos
escolares é instigá-los a pensar e agir sobre o mundo (OLIVEIRA E STOLTZ,
2010).

28
WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
PROJETO EM ARTE: DANÇA, MÚSICA, TEATRO E VISUAIS

A elaboração da fala, da linguagem utilizada, da expressão emocional


verbalizada pode propiciar conscientização e melhor compreensão da língua,
das palavras, seus sentidos e significados e dos conceitos científicos. Pela
linguagem tem-se acesso ao conhecimento científico elaborado e acumulado
pela sociedade e socializado na escola. É possível, com o teatro, aprender
conteúdos de diversas disciplinas escolares. História, geografia, literatura,
idiomas e, particularmente, língua portuguesa podem ser trabalhados de uma
maneira atraente e interessante tanto para o aluno como para o professor
(OLIVEIRA E STOLTZ, 2010).

Assim, o teatro, no uso da linguagem, de ações nas representações, na


mobilização da imaginação e da criatividade, na realização em determinado
tempo e espaço e com determinados sujeitos é um universo peculiar de
interação social e de manifestação da cultura que pode cumprir diferentes
objetivos.

5 A ESTÉTICA NAS ARTES VISUAIS

Nos dias de hoje, a imagem visual tem uma inserção cada vez maior na
vida das pessoas. Imagens nos são apresentadas e reapresentadas a todo
momento, num misto de criação e recriação. Nesse contexto, é importante
desenvolver-se a competência de saber ver e analisar imagens, para que se
29
WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
PROJETO EM ARTE: DANÇA, MÚSICA, TEATRO E VISUAIS

possa, ao produzir uma imagem, fazer com que ela tenha significação tanto
para o autor quanto para quem vai vê-la. Nesse sentido, é preciso conhecer a
produção artística visual da comunidade, dando-lhe o devido valor (SEE-MG,
2010).

Os modos de produção e de conhecimento de imagens são bastante


diversificados. Entre os meios eletrônicos e os tradicionais, há uma variedade
bastante grande de possibilidades a serem exploradas e usadas. Construir
conhecimentos que ajudem as escolhas dentre essas possibilidades é
extremamente importante para a inserção do aluno no contexto contemporâneo
de produção e fruição visual. Isso só pode acontecer se for trabalhado, com o
aluno, o pensamento crítico aliado ao pensamento artístico.

As Artes Visuais se compreendidas como uma linguagem, uma forma de


comunicação humana, acaba sendo um dos aspectos que justifica sua
presença na educação infantil. O universo da criança está rodeado de imagens
que trazem significados culturais para o desenvolvimento infantil. Ao utilizar-se
de meios para desenhar, pintar, modelar, colar, cada criança expressa os seus
sentimentos e sensações, manipula diferentes materiais e suportes e
simultaneamente, interage com o mundo social e cultural (GARCIA; SILVA,
2009).

Nas artes visuais, o fazer artístico pode ser estudado de várias


maneiras: desenho, pintura, colagem, escultura, gravura, modelagem,
instalação, vídeo, fotografia, histórias em quadrinhos, entre outras. Com esses
recursos a criança se apropria das diferentes formas de produzir plasticamente,
e seu olhar diante dessas variações artísticas será aguçado para todo o seu
desenvolvimento psíquico.

A criança necessita da liberdade de se expressar plasticamente e


precisa também de intervenções para tornar seu olhar proveitoso diante de
uma obra de arte. Assim, é função do professor articular o conhecimento prévio
da criança com o conhecimento que ele irá adquirir após a atividade (GARCIA;
SIVA, 2009).

30
WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
PROJETO EM ARTE: DANÇA, MÚSICA, TEATRO E VISUAIS

Segundo os PCNs (BRASIL, 1997), as artes visuais, além das formas


tradicionais (pintura, escultura, desenho, gravura, arquitetura, artefato, desenho
industrial), incluem outras modalidades que resultam dos avanços tecnológicos
e transformações estéticas a partir da modernidade (fotografia, artes gráficas,
cinema, televisão, vídeo, computação, performance).

Cada uma dessas visualidades é utilizada de modo particular e em


várias possibilidades de combinações entre imagens, por intermédio das quais
os alunos podem expressar-se e comunicar-se entre si de diferentes maneiras.

O mundo atual caracteriza-se por uma utilização da visualidade em


quantidades inigualáveis na história, criando um universo de exposição múltipla
para os seres humanos, o que gera a necessidade de uma educação para
saber perceber e distinguir sentimentos, sensações, ideias e qualidades. Por
isso o estudo das visualidades pode ser integrado nos projetos educacionais.
Tal aprendizagem pode favorecer compreensões mais amplas para que o
aluno desenvolva sua sensibilidade, afetividade e seus conceitos e se
posicione criticamente (BRASIL, 1997).

A educação em artes visuais requer trabalho continuamente informado


sobre os conteúdos e experiências relacionados aos materiais, às técnicas e às
formas visuais de diversos momentos da história, inclusive contemporâneos.
Para tanto, a escola deve colaborar para que os alunos passem por um
conjunto amplo de experiências de aprender e criar, articulando percepção,
imaginação, sensibilidade, conhecimento e produção artística pessoal e grupal.

A educação visual deve considerar a complexidade de uma proposta


educacional que leve em conta as possibilidades e os modos de os alunos
transformarem seus conhecimentos em arte, ou seja, o modo como aprendem,
criam e se desenvolvem na área.

Criar e perceber formas visuais implica trabalhar frequentemente com as


relações entre os elementos que as compõem, tais como ponto, linha, plano,
cor, luz, movimento e ritmo. As articulações desses elementos nas imagens dá
origem à configuração de códigos que se transformam ao longo dos tempos.
Tais normas de formação das imagens podem ser assimiladas pelos alunos

31
WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
PROJETO EM ARTE: DANÇA, MÚSICA, TEATRO E VISUAIS

como conhecimento e aplicação prática recriadora e atualizada em seus


trabalhos, conforme seus projetos demandem e sua sensibilidade e condições
de concretizá-los permitam. O aluno também cria suas poéticas onde gera
códigos pessoais (BRASIL, 1997).

Além disso, é preciso considerar as técnicas, procedimentos,


informações históricas, produtores, relações culturais e sociais envolvidas na
experiência que darão suporte às suas representações (conceitos ou teorias)
sobre arte. Tais representações transformam-se ao longo do desenvolvimento
à medida que avança o processo de aprendizagem (BRASIL, 1997).

As imagens do cotidiano podem ser boa dica para se trabalhar a


linguagem visual com turmas finais do ensino fundamental II tendo como
objetivos:

 Analisar criticamente imagens do cotidiano, procedentes de diversas


fontes.

 Refletir e investigar o mundo imagético.

 Distinguir as finalidades de imagens: artística, propaganda ou


documentação de fatos reais.

Esperamos que tenham entendido que a expressão artística, como


afirmou Vigotsky, é uma necessidade intrínseca do ser humano. Além de se
tornar meio de externar positivamente emoções e sentimentos como
ansiedade, agressividade, medo, raiva, angústia, as atividades artísticas
podem ser trabalhadas de modo que os sujeitos conheçam melhor aos outros e
a si mesmo, criando condições para a reflexão a respeito das próprias atitudes
e possibilidades de mudança na convivência social.

Como falamos inicialmente, a arte é um elemento fundamental para a


vida e que pode contribuir na construção de uma sociedade composta de
cidadãos que saibam situar-se integralmente entre as suas dimensões afetiva e
cognitiva.

32
WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
PROJETO EM ARTE: DANÇA, MÚSICA, TEATRO E VISUAIS

Deixamos a título de contribuição e reflexão, dez encaminhamentos


didáticos seguidos pelos educadores vencedores do “Prêmio Victor Civita
Educador Nota 10”, no ano de 2009, e esperamos que entendam por que
esses encaminhamentos ajudam qualquer projeto a dar certo.

1. Fazer uma avaliação inicial consistente e saber usá-la. Para o


trabalho se traduzir em aprendizagem, é fundamental que ele seja precedido
por uma avaliação sobre o que cada aluno já sabe e precisa aprender. Foi
exatamente o que fez de Milca Luiza Toyneti dos Santos de Itápolis, SP.

2. Planejar com base numa intencionalidade educativa. Ao refletir sobre


o que e como vai ser ensinado, você deve ter clareza do propósito didático de
cada ação a ser desenvolvido. Assim agiu o Professor Ademir Testa Junior, de
Bocaina, SP.

3. Definir objetivos claros e possíveis de alcançar. Delimitando com zelo


as metas de uma atividade, fica mais fácil saber quais conteúdos serão
adequados para atingi-las. Esse foi o caminho de Maria das Dores de Macedo
Coutinho Raposo, de São Luís, MA.

4. Fazer uma avaliação final sobre o que foi ensinado. Diagnosticar o


aprendizado não é só dar uma nota às produções da turma. O objetivo é
perceber o desenvolvimento de cada um em relação ao seu próprio processo
de aprendizagem e aos objetivos propostos. Esse percurso foi seguido pela
Professora Daniela Mazoco, de Urupês, SP.

5. Atualizar-se sobre o conhecimento didático. Estar afinado com as


melhores práticas de sua área é pré-requisito para um professor Nota 10. Esse
conhecimento é característica marcante no trabalho da professsora Cláudia
Tondato, de São Caetano do Sul, SP.

6. Acompanhar a aprendizagem de todos. Uma preocupação esteve


presente em todos os projetos nota 10 deste ano: os professores trabalharam
com afinco para que nenhum aluno ficasse para trás. A professora Karla
Emanuella V. Pinto, de Lavras, MG, fez esse acompanhamento por meio da
internet.

33
WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
PROJETO EM ARTE: DANÇA, MÚSICA, TEATRO E VISUAIS

7. Saber como flexibilizar a prática na inclusão. Neste ano, em vez de


ser uma categoria à parte, a Educação Inclusiva passou a ser julgada dentro
dos projetos tradicionais. Os professores que se destacaram, como a
Professora Andréia Betina Legatzky Klitzke, de Joinville, SC, conseguiram
ensinar à criança com deficiência o mesmo que estava sendo trabalhado com o
resto da classe, fazendo-a participar de acordo com suas possibilidades.

8. Registrar o processo para balizar as intervenções. Tudo o que o


professor observa no decorrer das atividades deve ser anotado e estudado
constantemente, para que seu trabalho seja aperfeiçoado e readequado
conforme a necessidade. A Professora Maria Tereza Gomes de Almeida Lima,
de São João Del-Rei, MG, dá o exemplo.

9. Planejar com cuidado as sequências didáticas. O trabalho deve ter


intencionalidade de ensino e estar focado em um conteúdo. É necessário
também levar em consideração a diversidade de saberes dos estudantes. O
exemplo é dado pela Professora Áudrea da Costa Martins, de São Leopoldo,
RS.

10. Incentivar os alunos a aprender com autonomia. Sugerir situações-


problema ou dar espaço para que os alunos as proponham e reflitam sobre
elas é uma ótima maneira de envolver os estudantes no processo de
construção do conhecimento dentro de sala de aula. Esta foi a linha adotada
pela Professora Rosângela Guella Tamagnone, de Caxias do Sul, RS (NOVA
ESCOLA, 2009).

REFERÊNCIAS CONSULTADAS E UTILIZADAS

34
WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
PROJETO EM ARTE: DANÇA, MÚSICA, TEATRO E VISUAIS

ARANHA, M. L.. História da educação. São Paulo: Moderna, 1989.

ARAÚJO, Paulo. Dança na escola: uma educação pra lá de física. Revista


Nova Escola. Ed. 185. Setembro de 2005. Disponível em:
<http://revistaescola.abril.com.br/educacao-fisica/pratica-pedagogica/danca-
escola-educacao-pra-la-fisica-424014.shtml> Acesso em: 15 jun. 2010.

ARROYO, Miguel. Escola plural. Proposta pedagógica Rede Municipal de


Educação de Belo Horizonte. Belo Horizonte: SMED, 1994.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares


Nacionais: arte / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF,
1997.

BRITO, Teca Alencar de. Música será conteúdo obrigatório na Educação


Básica março 2010. Revista Escola Abril. Disponível em:
<http://revistaescola.abril.com.br/politicas-publicas/legislacao/musica-sera-
conteudo-obrigatorio-educacao-basica-541248.shtml> Acesso em: 15 jun.
2010.

CENPEC. Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação


Comunitária. Projeto Trilha das Artes. São Paulo: 2008.

COELHO, R. Teatro. Belo Horizonte: Formato, 1999.

FIAMONCINI, Luciana. Dança na educação: a busca de elementos na arte e na


estética. Pensar a Prática 6: 59-72, Jul./Jun. 2002-2003.

FREIRE, Ida Mara. Dança-educação: o corpo e o movimento no espaço do


conhecimento. Cad. CEDES [online]. 2001, vol.21, n.53, pp. 31-55. ISSN
0101-3262. Disponível em:

35
WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
PROJETO EM ARTE: DANÇA, MÚSICA, TEATRO E VISUAIS

<http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v21n53/a03v2153.pdf> Acesso em: 15 jun.


2010.

FREIRE, Ida Mara.; ROLFE, L. Dançando também se aprende: O ensino da


dança no Brasil e na Inglaterra. In: CABRAL, B. (Org.). O ensino de teatro:
Experiências interculturais. Santa Catarina: UFSC, 1999.

FREIRE, Ida Mara. Compasso ou descompasso: O corpo diferente no mundo


da Dança. Ponto de Vista, vol. 1, Florianópolis: UFSC/ NUP-CED, 1999.

FREITAS, M. T. de A. Vygotsky e Bakhtin – Psicologia e Educação. 4 ed. São


Paulo: Ática, 2002.

GARCIA, Celeida Ebinger; SILVA, Priscilla Macedo da. Nove anos de ensino
fundamental e o ensino da arte. Revista Educação v.4 n. 1 2009. Disponível
em: <http://www.revista.ung.br/index.php/educacao/issue/view/31/showToc>
Acesso em: 15 jun. 2010.

GUENON, D. O teatro é necessário? São Paulo: Perspectiva, 2004.

HERNÁNDEZ, Fernando. Transgressão e mudança na educação: os


projetos de trabalho. Porto Alegre: Artmed, 1998.

HERNÁNEZ, Fernando. Cultura visual, mudança educativa e projeto de


trabalho. Porto Alegre: Artmed, 2000.

JAPIASSU, R. O. V. Jogos teatrais na escola pública. Rev. Fac. Educ., São


Paulo, v. 24, n. 2, jul. 1998. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0102-
25551998000200005&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 25/11/2008.

KEHRWALD, Isabel Petry; GANDOLFO, Maria Ângela Paupério. Pedagogia


de projetos: transgredindo a linearidade (2008). Disponível em:
36
WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
PROJETO EM ARTE: DANÇA, MÚSICA, TEATRO E VISUAIS

<http://www.artenaescola.org.br/pesquise_artigos.php> Acesso em: 13 jun.


2010.

LANGER, Susanne. Sentimento e forma. São Paulo: Perspectiva, 1980.

MARTINS, Mirian Celeste; PICOSQUE, Gisa; GUERRA, M. Terezinha Teles.


Didática do ensino de arte: poetisar, fruir e conhecer Arte. São Paulo: FTD,
1998.

MARTINS, Mirian Celeste. Projetos em Ação no Ensino de Arte. Revista


Espaço Pedagógico (2003). Disponível em:
<http://www.pedagogico.com.br/paindice.html#indice > Acesso em: 16 jun.
2010.

MORIN, E. El método: la naturaleza de la naturaleza. Madrid: Cátedra, 1981.

OLIVEIRA, Maria Eunice de; STOLTZ, Tania. Teatro na escola: considerações


a partir de Vigotsky. Educar. Curitiba, n. 36, p. 77-93, 2010.

PETITTO, Sônia. Projetos de Trabalho em Informática: desenvolvendo


competências. Campinas, SP: Papirus, 2003.

REVISTA ESCOLA ABRIL. Prêmio Victor Civita Educador Nota 10 (2009).


Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/premiovc/selecao-2009.shtml>
Acesso em: 15 jun. 2010.

SANTOMÉ, Jurjo T. Globalização e interdisciplinaridade: o currículo


integrado. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

SARAIVA KUNZ, Maria do Carmo. Ensinando dança através da improvisação.


Motrivivência, v. 5/6/7, p.166-169, dez. 1994.

37
WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
PROJETO EM ARTE: DANÇA, MÚSICA, TEATRO E VISUAIS

SARMENTO, L. Português – in: O perfil do novo educador. São Paulo:


Moderna, 2002.

SCHLEDER STOLTZ, T. Capacidade de criação: introdução. Petrópolis:


Vozes, 1999.

SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO MINAS GERAIS. Arte Ensino


Médio – artes visuais. Disponível em:
<http://crv.educacao.mg.gov.br/sistema_crv/minicursos/arte_em/cap_eixo_I.htm
> Acesso em: 16 jun. 2010.

SILVA, Célio César da. O fazer teatral e sua relação com a educação. Revista
Solta a Voz, v. 17, n. 2, 2006.

VYGOTSKY, L. S. Psicologia da arte. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

VIGOTSKY, L. S. Psicologia pedagógica. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

ZABALA, Antoni. Enfoque globalizador e pensamento complexo: uma


proposta para o currículo escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 2002.

38
WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521

Você também pode gostar