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TEMA TRANSVERSAL, MEIO AMBIENTE, NO

ENSINO DAS ARTES VISUAIS


Maria Aparecida dos Santos Sousa

Orientador: Priscila Anversa

Centro Universitário Leonardo da Vinci- UNIASSELVI

Curso: Artes Visuais. Turma: ART 0143– Trabalho de Graduação

05/12/15

RESUMO

O profissional de artes é peça chave no ensino-aprendizagem dos temas transversais, por se tratar
de uma disciplina que focaliza a cultura de um modo geral. Através do estudo das artes é possível
englobar vários temas pertinentes ao desenvolvimento cultural e cidadão dos indivíduos. No
decorrer da história podemos perceber a influencia das questões ambientais na vida e obras dos
artistas. Na atualidade essa influencia tem se mostrado mais forte, devido a época atual de
constantes preocupações ambientais. Alguns estudiosos do ensino e aprendizagem das artes
demonstram essa preocupação ambiental, bem como os Parâmetros Curriculares
Nacionais(PCNs), que descrevem a preocupação ambiental na formulação do temas transversais,
para que os educadores envolverem essa temática no ambiente escolar.

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho se baseia nas pesquisas realizadas durante o curso de Licenciatura em Artes
Visuais, da Universidade Leonardo da Vinci (UNIASSELVI), durante a realização dos trabalhos de
estágios e práticas, cuja área de concentração foi: Ensino e Aprendizagem das Artes Visuais. O foco
do estudo é a metodologia do ensino das artes visuais, tomando como base a relação da arte com o
tema transversal Meio Ambiente.

Os temas transversais não são componentes curriculares obrigatórios, mas seus estudos são
incentivados pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), pois são temas que estão presentes
no cotidiano dos indivíduos e possibilitam as práticas de políticas sociais, fortalecendo a cidadania.
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Segundo BARBOSA, (2003, p. 18) “A Arte na Educação como expressão pessoal e como cultura é
um importante instrumento para a identificação cultural e o desenvolvimento individual. Por meio da
Arte é possível desenvolver a percepção e a imaginação, apreender a realidade do meio ambiente,
desenvolver a capacidade crítica, permitindo ao indivíduo analisar a realidade percebida e desenvolver
a criatividade de maneira de mudar a realidade que foi analisada”.

Por essa razão, é fundamental o estudo dos temas transversais no ambiente escolar, pois eles
colaboram para uma vida em sociedade mais saudável, permitindo o diálogo sobre as diferenças
entre as pessoas e suas condutas. Dessa forma, a arte se apresenta como um importante mecanismo
de inclusão social, pois permite uma releitura de mundo e oferece ferramentas para que o indivíduo
possa mudar a sua realidade e influenciar de forma direta no meio social. Os temas transversais têm
esse papel. São eles: Ética e Cidadania, Meio ambiente, Pluralidade Cultural, Saúde e Orientação
Sexual. PCN, (1998 pg. 25)

A transversalidade incentiva o cuidado com o corpo, com o ambiente e tem como principal
objetivo, auxiliar na formação do indivíduo mais humano, que interage de forma saudável com a
sociedade. Os temas compõem um conjunto aberto e articulado, dando-os a mesma importância das
áreas tradicionais, podendo-se trabalhar de forma contextualizada levando em consideração as
diferentes realidades locais e regionais.

Segundo FERREIRA (2008, pg. 22), os indivíduos fazem parte do meio ambiente, e estão
integrados por meio das relações sociais, econômicas e culturais, no entanto vem modificando a
natureza, usando de seus recursos, para privilegiar as relações econômicas e neste sentido é preciso
uma reflexão sobre o uso destes recursos para buscar uma melhor qualidade de vida e equilíbrio
ambiental.

As artes favorecem o desenvolvimento sensível e humano dos indivíduos, dessa forma se


mostra como um mecanismo importante nas relações culturais e ambientais. A escola é a propulsora
dessa idéia, a partir do momento que incentiva o trabalho, que envolva os temas transversais nas
diversas áreas do conhecimento.

Levando-se em consideração a importância de se trabalhar a transversalidade no ambiente


escolar, este trabalho inicia trazendo em pauta a relação do tema transversal meio ambiente com o
ensino das artes visuais. Alguns teóricos desenvolvem estudos baseados nessa relação e muitos
artistas envolvem essa temática nas suas obras e são estudados aqui de forma contextualizada. O
trabalho segue, analisando mais detalhadamente a vida e obras de alguns artistas brasileiros que
envolvem ou envolveram em algum momento as questões ambientais de forma mais direta. Mais
adiante, o trabalho trata dos métodos utilizados para alcançar os resultados aqui descritos. Dentro
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dessa temática, ressalta-se que a arte pode ser uma forma de gerar sensibilização ambiental, essa
pauta é estudada ainda na parte de metodologia, pois com um enfoque teórico, são descritos o
envolvimento do tema transversal, meio ambiente nas aulas de artes durante a minha experiência
docente.

2 A RELAÇÃO ENTRE O TEMA TRANSVERSAL MEIO AMBIENTE E AS ARTES


VISUAIS

A arte é uma disciplina privilegiada devido a suas grandes possibilidades para abordagem dos
temas transversais, visto que as manifestações artísticas são produzidas por diferentes povos e
culturas, retratando a diversidade não só de cultura, mas do tempo e espaço delas (FERREIRA,
2008).

Os temas transversais compõem um conjunto aberto e articulado, dando-os a mesma


importância das áreas tradicionais, podendo-se trabalhar de forma contextualizada levando em
consideração as diferentes realidades locais e regionais.

Tendo como base a legislação Federal e Estadual, com os PCNs, LDB, e a Proposta
Curricular do Estado de Santa Catarina, o professor tem a base dos conteúdos a sua disposição para
elaborar seus planos de aula. Desse modo é possível perceber como as Artes Visuais estão
distribuídas nos diferentes níveis do Ensino Básico, nas suas diferentes linguagens, e assim buscar
por artistas e obras que sejam sinônimos de conteúdos pertinentes de Artes Visuais e tragam ao
mesmo tempo reflexões em torno do meio ambiente. Nas séries iniciais é preferível o trabalho com
artistas plásticos brasileiros. O mundo da arte é muito amplo, por essa razão, é necessário focar em
uma metodologia mais regional a fim de favorecer a valorização local e o conhecimento cultural e
histórico do Brasil.

Segundo BARBOSA (2009), o ensino eficaz de arte deve conter a contextualização, fruição e
o fazer artístico. A escritora nos exorta sobre a importância do fazer artístico:

“Este fazer artístico é insubstituível para a aprendizagem da arte e para o desenvolvimento do


pensamento/linguagem presentacional, uma forma diferente do pensamento/linguagem discursivo, que
caracteriza as áreas nas quais domina o discurso verbal, e também do pensamento científico presidido
através da imagem.” BARBOSA, (2009. pg. 26)

Nos trabalhos realizados durante todo o curso de Artes Visuais da Uniasselvi, busquei valorizar a
reciclagem, como alternativa para o fazer artístico, baseado na teoria triangular da Ana Mae
Barbosa, e a inclusão do tema transversal Meio Ambiente, dessa forma relaciono o fazer artístico
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com a inclusão do tema Transversal Meio Ambiente, além disso, a arte contemporãnea, cujo foco é
o meio ambiente, tem sido constantemente abordados em meus estudos e em minha prática
acadêmica. Na arte contemporãnea, vemos a temática do lixo reciclavel sendo constantemente
explorados pelos artistas. Reforçando a idéia de que toda arte é o reflexo de sua época e vivemos
em uma época ecocentrica, onde o meio ambiente é o foco, muito embora ainda não seja a
prioridade em muitas regiões do Brasil. Por essa razão e importância social, a arte com reciclagem
tem sido o foco de muitos artistas.

“A reciclagem é um processo de transformação de materiais usados em novos produtos,


sendo empregada na recuperação de uma parte do lixo sólido produzido“ (REINSFELD, 1994).

O vocábulo surgiu na década de 1970, quando as preocupações ambientais passaram a ser


tratadas com maior rigor, especialmente após o primeiro choque do petróleo, quando reciclar
ganhou importância social.

Ainda que a reciclagem possa parecer um conceito moderno introduzido com o movimento
ambiental da década de 70, ela já existe de fato há cerca de milhares de anos. Antes da era
industrial, as pessoas conseguiam produzir bens rapidamente e com baixo custo; assim, todos
praticavam a reciclagem de alguma forma. Os programas de reciclagem de larga escala, porém,
eram muito raros, os indivíduos praticavam a reciclagem modestamente.

O Brasil é um dos países no mundo que mais reciclam. Esses índices dizem respeito às altas
taxas de desemprego, fato que obriga muitos a fazer uso da reciclagem, como forma de
sobrevivência. Dessa forma, a reciclagem passa a ser uma alternativa para muitos indivíduos. Tal
prática tem atenuado os índices exorbitantes de resíduos sólidos jogados no ambiente, contudo,
muito do que poderia ser aproveitado é lançada no ambiente de forma indiscriminada. Por esse
motivo, nos dias atuais tem se difundido a ideia de se reaproveitar o lixo domésticos de diversas
formas inclusive, o destinando nos atelieres de muitos artistas e nas cooperativas de artesanatos.

Os trabalhos artísticos e de artesanato, tem sido uma alternativa interessante de se praticar a


reciclagem e tem se difundido em vários setores da sociedade, como cooperativas, centros de
reabilitação, no meio educacional bem, como entre muitos artistas contemporâneos.

O lixo doméstico e comercial é apenas um tipo de resíduo sólido gerado pela sociedade
moderna, que inclui ainda resíduos industriais e restos de construções gerados pela sociedade
moderna. Em geral o lixo doméstico não contém componentes perigosos podendo ser
tranquilamente reciclado por indivíduos de diversas faixas etários, sendo necessário prevenir-se em
seus devidos cuidados em se tratando de crianças. Cabe ao educador, orientar seus alunos sobre os
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cuidados de armazenamento e manuseio. É interessante, como essa temática pode envolver vários
temas que dizem respeito a toda sociedade, perpassando pelo mundo das artes, cultura e os temas
transversais diversos.

Muitos cidadãos conscientes têm pensado em alternativas para atenuar o desperdício da


matéria reciclável, se utilizando de mecanismos como, a produção de trabalhos artísticos nos
ambientes educacionais, juntamente com a coleta seletiva na comunidade.

“Em tese, não há nada do lixo que não possa ser transformado em algo útil à humanidade,
inclusive os materiais orgânicos, que podem ser reciclados como adubos ou como fonte de energia.”
(SINGER, 2005, prefácio).

A temática ambiental envolve diversos assuntos que podem ser trabalhados pelo educador, de
forma que seus alunos obtenham conhecimentos envolvendo cidadania, desenvolvimento
sustentável e sensibilização ambiental, bem como os demais temas transversais. O educador pode
explorar os diversos temas envolvidos na temática dos resíduos sólidos, de forma que seus alunos se
sintam motivados a reciclar e obtenham conhecimentos sobre os diversos assuntos apresentados.

É possível incluir a reciclagem nas aulas de arte, tal pratica é capaz de envolver os alunos,
gerar a socialização das idéias através de trabalhos em grupo e ainda favorecer o desenvolvimento
de habilidades artísticas. O resultado esperado nessa atividade é a produção de trabalhos artísticos
que depois de expostos e mostrados à comunidade, podem até mesmo se tornar uma fonte de renda.

2.1 ARTISTAS BRASILEIROS QUE CONTRIBUEM PARA REFLEXÕES AMBIENTAIS

No Brasil temos grandes nomes de artistas que sugerem um estudo ambiental mais apurado em suas
obras e de forma contextualizada são grandes referências, não só artísticas, mas também são
exemplos de cidadania. São eles:

2.1.1 Roberto Burle Marx:

Roberto Burle Marx faz parte da história artística brasileira, tendo construído jardins que são
uma verdadeira obra de Arte a céu aberto nas cidades mais conhecidas do país e algumas capitais do
Brasil, como Rio de Janeiro, Recife, Curitiba, Araxá. Sua vida e obra estão diretamente ligadas ao
tema transversal meio ambiente, pois ele era um grande amante da natureza, e sua Arte
proporcionou bem estar ao público com seus jardins, que aliavam a natureza com as necessidades
da vida urbana CARUSO, (2006. Pg. 57). Em sala de aula, a biografia deste artista poderá ser
exemplo de cidadania, ao mesmo tempo em que suas obras podem refletir sobre problemas e
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soluções urbanas como escoamento das águas, bueiros entupidos, benefícios de um contraste entre
asfalto e área verde.

Foi um artista plástico brasileiro, conhecido mundialmente pelos seus trabalhos paisagísticos.
Nasceu em São Paulo e passou grande parte de sua vida no Rio de Janeiro. Seu interesse pelas
plantas foi transmitido por sua mãe, que era paisagista.

A preocupação desse artista com a degradação da flora era evidenciada em constantes


entrevistas a jornais e revistas. Roberto Burle Marx disse uma vez, quando retornava de uma
viagem “Fiquei encabrunhado com o que vi: uma destruição tenaz e impiedosa, liquidando reservas
florestais, de valor inestimável. Algo profundamente lamentável” CARUSO, (2006 p. 24).

Aos 18 anos foi com a família para Alemanha para tratar da saúde de seus olhos, onde
conheceu um Jardim Botânico composto por vegetação brasileira, e exposições de Picasso e Van
Gogh, os quais o motivou para estudar pintura. Em 1930 quando retornou ao Brasil, matriculou-se
na escola nacional de Belas Artes.

Um fato marcante na sua carreira de paisagista foi quando Lúcio Costa passou em frente a sua
casa contemplando o jardim. Roberto Burle Marx o convidou para conhecer melhor, recebendo em
seguida um convite de Lúcio para fazer um jardim numa residência que estava projetando. Roberto
Burle Marx deu início a sua carreira de paisagista com este jardim aprovado por Lúcio Costa e
outro para a família Alfredo Schwartz.

Em 1934, foi indicado para diretor de parques e jardins em Recife, Pernambuco, onde
realizou diversos projetos em prédios, praças e residências.

Roberto Burle Marx se inspirou muitas vezes em Kandinsky. Em muitos de seus trabalhos
paisagísticos, percebemos imagens abstratas que abusam de linhas curvas, características evidentes
do modernismo, que provavelmente tenha sido projetada a partir de uma obra artística.

Em 1938 recebeu encomenda de um projeto, no qual notórios nomes estavam envolvidos,


entre eles Oscar Niemeyer e Lúcio Costa: Os jardins e o terraço do Ministério da Educação e Saúde,
atual Palácio da Cultura, no Rio de Janeiro.

Em 1949, comprou, com seu irmão Siegfried, um sítio a 45 km do Rio de Janeiro, onde
expandia sua coleção de plantas brasileiras e de outros países. Montou no sítio também um ateliê de
desenho e pintura.
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Morreu aos 85 anos em 1994, e foi sepultado sob uma enorme mangueira em seu próprio
sítio, como era seu desejo.

Para Burle Marx:

(...) “Existem duas paisagens: uma natural e dada, a outra humanizada, e portanto, construída.
Esta última resulta de todas as interferências impostas pela necessidade: transportes, agricultura,
culturas, moradia, fábricas, etc.” (...)CARUSO, (2006 p. 18)

Não nos esqueçamos de que a paisagem também se define por uma exigência estética, que não é
nem luxo, nem desperdício, mas uma necessidade absoluta para a vida humana e sem a qual a
própria civilização perderia sua razão de ser. CARUSO, (2006 p. 18)

Entre as obras de Roberto Burle Marx, podemos citar: Largo do Machado no Rio de Janeiro
(1945), Parque Ibirapuera em São Paulo (1954), Museu de Arte Moderna e a Praia de Botafogo no
Rio de Janeiro (1955), Eixo monumental de Brasília (1958), Aterro do Flamengo no Rio de Janeiro
(1959), Centro Cívico de Curitiba (1966), além de numerosos projetos para o Exterior. Essas e
outras obras representam a riqueza da Arte Pública, encomendadas por representantes
governamentais, da qual se vê todos os dias e na maioria das vezes não se sabe sobre sua autoria e
sua história.

Palácio Gustavo Capanema - RJ - Burle Marx


Fonte: http://lesjardinsdumonde.tumblr.com/post/6504462805/burle-marx-palacio-gustavo-capanema-
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Roberto Burle Marx foi um grande paisagista, que aliava a beleza da natureza ao ambiente
urbano, sendo um grande amante da natureza. A abordagem sobre este artista envolve a paisagem
urbana, o patrimônio material, cultural. Tendo em vista não só a beleza de suas obras, mas suas
preocupações com o meio ambiente, e os problemas da urbanização (enchentes, bueiros entupidos).

É possível atentar os estudantes para a importância de calçadas e jardins que colaborem com
o meio, preservando meios naturais para absorção das águas. As atividades evolvendo plantas
seriam de grande valia, mostrando-os jardins ecologicamente corretos, usando suportes recicláveis,
produzindo terrários a partir de potes reutilizáveis, garrafas pet, garrafas de vidro, etc.

2.1.2 Vick Muniz E O Lixo Extraordinário

Nascido em 1961, na cidade de São Paulo, José Vicente Muniz mais conhecido como Vik
Muniz, cursou Publicidade. Em 1983, por conta de um acidente onde foi baleado, recebe dinheiro
da pessoa que o baleou e muda-se para os Estados Unidos. Dentre seus muitos trabalhos, exerceu a
função de moldurador, e essa função fez-lhe perceber que poderia trabalhar com Artes para
aumentar sua renda. Fazia esculturas, fotografava-as e mostrava para outras pessoas, e desse modo a
fotografia começou a conquistar um espaço na sua vida.

Hoje é um dos artistas contemporâneo mais conhecido no mundo. Trabalha produzindo


fotografias, usando para isso diferentes tipos de materiais como geléia, açúcar, diamante, sendo que
a composição determina o material utilizado, onde os dois fatores estão intrinsecamente ligados.

O artista é protagonista de um documentário que foi indicado ao Oscar de melhor


documentário de 2011. O documentário trata da vida e obra de um dos artistas mais conhecidos na
Arte Contemporânea: Vik Muniz, onde o documentário mostra o processo de criação do artista num
dos maiores lixões do mundo, no Jardim Gramacho, Rio de Janeiro.

O artista monta um estúdio naquele lugar, conhece alguns catadores e retrata sua vida diária,
suas histórias, seus sonhos e frustrações. Seu objetivo e retratar da melhor forma a alegria daquele
povo, e os convida a participar de seu trabalho, sendo eles matéria prima de tal.

Assim os recursos arrecadados pelo artista no fim do trabalho seriam revertidos para aquela
comunidade. Vik Muniz retrata as pessoas, a história de vida não só presente naquele lugar, mas faz
um contraste com sua própria vida, sua história e sua origem, pondo paralelamente sua vida com o
daquelas pessoas.

Surge uma polêmica durante o documentário: o fato de Vik levar uma das pessoas ao exterior
para leilão de uma das obras, e a influência nas pessoas de mudarem seus projetos de vida. A
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questão ali era: depois que se deslumbrassem pelo mundo da arte, e pelas possibilidades do mundo,
o que aconteceria com eles quando voltassem para o lixão? O que aconteceria depois que Vick fosse
embora e eles ficassem apenas com o sonho de mudar de vida, que ficassem apenas a ambição?

O trabalho mostra o processo de criação, a importância da reciclagem, a importância do


trabalho humano, a importância dos sonhos das pessoas, o leilão e exposição de obras de arte.

Uma das obras de maior destaque durante o documentário foi Tião em Marat.

Tião em Marat - Vik Muniz - Fonte http://m.bestofneworleans.com/blogofneworleans/archives/2011/01/13/


waste-land-chronicles-vik-munizs-portraits-of-garbage

A fotografia foi uma imagem criada de forma espontânea durante o documentário, quando o
participante (o fotografado), recolhia um objeto que não era comum encontrar no lixão, uma
banheira. Percebemos aqui a característica de Vick em suas imagens, a de fazê-las levando em
conta o gosto e a personalidade dos fotografados.

Esse trabalho, tanto o documentário, quanto as fotografias criadas, podem ser utilizadas em
sala de aula para mostrar que podemos fazer Arte com lixo e podemos reutilizar objetos que são
jogados fora todos os dias. Pode-se questionar-se a importância dos catadores para elevar o volume
de reciclagens e em contrapartida, a diminuição dos resíduos sólidos do meio ambiente.

2.1.3 Ângela Conte: Intervenção- “Escassez”


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A artista contemporânea de São Paulo faz trabalhos com vídeo, performances, instalações,
intervenções e já trabalhou com escultura em pedra. Grande parte de seus trabalhos mostram sua
preocupação com o ambiente, conforme mostrado em seu site, www.angellaconte.com, a artista
gosta de recolher objetos ao seu redor para colecionar, e também gosta de fotografar. Da vida e um
olhar novo a tudo que reúne.

Escassez – Angella Conte – Fonte: http://angellaconte.wordpress.com/category/1/page/2/

Através de sua obra “Escassez” é possível levar aos estudantes a linguagem Intervenção,
fazendo-os conhecer a obra e a artista, bem como desenvolver discussões sobre a economia da água
em suas casas, a contaminação dos lençóis freáticos por defensivos agrícolas, e contaminação
provocada pelo descarte inadequado de óleo de cozinha.

3 METODOLOGIA

Para a realização deste trabalho, foi realizado além do método bibliográfico, pertinente a todo
trabalho científico, os métodos de estudo de caso e pesquisa-ação. Os métodos foram realizados a
partir do contato direto com os alunos, durante os períodos de estágio, bem como na experiência
prática docente, tendo em vista um maior conhecimento da realidade cultural e social dos alunos.
Nesse período, houve passeios em locais do município de Paulo Lopes, como na localidade de
Ribeirão e também na localidade de Bom Retiro, regiões pertinentes ao estudo ambiental, devido à
grande riqueza ecológica e exploração humana. Nestes passeios foi possível, visitar as residências
de alguns alunos e os centros de apoio às pessoas de baixa renda, como o Cetro de Referencia em
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Assistência Social (CRAS), onde alguns alunos realizam atividades educativas. Os instrumentos
utilizados para a coleta de dados foram observações da realidade dos alunos e as suas formas de
interação com o meio onde vivem.

A construção dos trabalhos advindos dos alunos teve como base, entrevistas realizadas na
comunidade onde vivem como forma de coleta de dados históricos e culturais sobre o ambiente
local e riqueza artística, com o fim de conhecer melhor a região e a valorizá-la como mecanismo
cultural e social.

Os estudos apurados da vida de obra de artistas brasileiros comprometidos com as questões


ambientais se fizeram presente durante todo o processo. A coleta seletiva residencial foi estimulada.
Houve um estudo sobre a importância da reciclagem e os trabalhos artísticos foram realizados com
materiais reciclados, conseguidos tanto nas residências como na natureza.

As crianças de Paulo Lopes têm o privilégio de conviver diretamente com a natureza. O


município é rico em belezas naturais e conta com um parque preservado, a Serra do Tabuleiro.
Muitos dos alunos que estudam nas escolas públicas de Paulo Lopes, moram em locais com
cachoeiras, ou próximos à praia da Gamboa, isso facilita o trabalho relacionado ao meio ambiente,
tema bastante pertinente à realidade desses alunos, pois os mesmos também presenciam a
degradação ambiental da região devido ao plantio desregrado do arroz. A agricultura do arroz
representa a principal fonte de renda da região, contudo tem sido realizado de forma indiscriminada,
por essa razão tem trazido inúmeros prejuízos ambientais principalmente na Lagoa do Coração,
cartão postal da cidade. Diariamente são lançados na lagoa, resíduos tóxicos de inseticidas e
grandes quantidades de agrotóxicos. Tal atividade vem prejudicando substancialmente a fauna e
flora local. O plantio do arroz em Paulo Lopes tem gerando o desmatamento da flora local e
assoreamento da lagoa. Tais atitudes vêm causando inúmeros prejuízos nas diversas áreas tanto
ambientais como também social, e tem se tornado um problema que envolve os seres vivos de modo
geral, incluindo os seres humanos, no quesito, saúde, cultura, turismo e laser, visto que a lagoa, que
poderia representar um local preservado para visitação e lazer da população, se reduz a uma fonte
de renda para uma minoria empresarial, muito embora gere também um percentual de emprego para
o município, na parte de agricultura, indústria e comércio.

A cultura do arroz no município de Paulo Lopes tem seus benefícios, pois emprega um
número considerável de domiciliados do município, contudo tal atividade poderia ser realizada de
forma mais responsável levando em consideração a legislação ambiental. O município não dispõe
de secretaria de Meio Ambiente, e percebe-se o descaso das autoridades frente a essa realidade. As
pessoas utilizam o meio ambiente de forma desregrada, por falta de conhecimento ou simplesmente
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por falta de bom sendo. Esses temas são trabalhados durante as aulas, como forma de educação
ambiental inserida nas aulas de arte, levando em consideração os temas transversais de forma geral,
como Saúde, Ética, Cidadania e Meio Ambiente.

Nas aulas de artes, tomando como base o tema transversal, Meio Ambiente, os alunos
aprendem a importância de interagir com o meio ambiente de forma saudável e a valorizar e
conviver com o mesmo de forma harmônica com as variadas espécies, bem como em sociedade.
Através do conhecimento artístico propriamente dito, os alunos podem tomar como exemplos, a
vida e os trabalhos de artistas de várias épocas que trabalhavam as questões ambientais em suas
obras.

3.1 ABORDANDO A ARTE COMO FORMA DE SENSIBILIZAÇÃO AMBIENTAL

Tendo em vista as conquistas da Arte-Educação já comentadas, propõem-se aqui apresentar


os mecanismos da abordagem sobre o meio ambiente, utilizados em sala de aula.

As artes visuais estão distribuídas num leque de linguagens como pintura, desenho, escultura,
cinema, fotografia, arte digital, vídeos e etc. Temos, portanto um vasto material que pode ser
filtrado levando-se em conta seus temas, conteúdos e autores (que façam uso, considerações ou
inspirações relacionados ao meio ambiente), de forma que possamos estabelecer relações entre as
mensagens destes itens e a situação atual em que se encontra o meio ambiente.

A reflexão é promovida de forma a contribuir com ações responsáveis como a separação de


lixo reciclável do orgânico, economia de recursos como a energia e a água, conscientização sobre
incêndios criminosos, consumo responsável, entre outros. Tudo isso levando em consideração o
material em questão, a obra, o artista, ou o tema.

A conexão entre a Arte e o meio ambiente foi feita através da contextualização desses temas,
fazendo uso da reflexão, abordando questões recentes, situando épocas, lugares (até mesmo mapas
geográficos), solicitando pesquisas, troca de idéias em sala de aula, atividades práticas com poesias
e contos, desenhos, esculturas, vídeo, pintura entre outros.

Se observarmos bem, a grande maioria dos artistas do passado e da atualidade, abordam a


questão ambiental em suas obras. “As quatro estações” de Giuseppe Arcimboldo é uma série de
obras que retrata fisionomias humanas utilizando para isso flores, legumes e frutas. Tais obras
dialogam com o meio ambiente por seu conteúdo, mas é possível dialogá-las para uma reflexão
sobre os problemas atuais que envolvem o meio ambiente, usando atividades como observação,
poemas, desenhos, colagens, ou outros fazeres (trazendo as estações em tempos modernos, com
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suas tempestades, furações, fenômenos climáticos como o “El nino”, desastres ambientais e as
conseqüências das ação do homem na natureza, fazendo comparações com a época o artista).

No Brasil nós temos exemplos como: Tarsila do Amaral, grande artista brasileira que traz
muitas obras que refletem a cultura brasileira, sua natureza, tendo entre elas a obra “A floresta”, que
pode ser explorada a partir do tema, levantando questões sobre a situação das florestas do Brasil da
época da artista e na atualidade. Com esta obra não apenas podemos exercitar a leitura, apreciação,
e o contexto, mas também fazeres evidenciados na reflexão sobre queimadas e desmatamento.

Frans Krajcberg é um escultor polonês naturalizado brasileiro, amante da natureza, que


produz esculturas a partir de restos de madeira, árvores queimadas, mostrando sua forma de protesto
contra a destruição da mata. O artista produz a partir de sua enorme sensibilidade, tendo construído
sua casa sobre uma árvore num sítio na Bahia. Em sala de aula a abordagem sobre o artista, seguida
de apresentação de suas obras através de data-show, e questões a respeito de crimes ambientais
(queimadas principalmente), sugerem reflexão para os estudantes. As produções podem ser feitas a
partir de materiais da própria natureza, como sobras de madeira (com técnicas de xilografia), folhas
secas e galhos.

Há um grande leque de artistas envolvidos pela natureza e a preocupação com o adjetivo


ecologicamente correto. A natureza é retratada por pintores, botânicos, paisagistas, de forma
criativa e educativa, levando ao público uma visão simples e bonita a respeito do meio ambiente.
Artistas plásticos usam como matéria-prima para suas obras, materiais recicláveis para a
composição de suas obras. As indústrias e fábricas começam a investir nessas atitudes, produzindo e
distribuindo produtos de origem reciclada.

Percebemos assim que para trabalhar o tema transversal meio ambiente é necessário observar
os recursos disponíveis (em suas diferentes formas, fotografias, esculturas, designer, etc.), seja
títulos, composições, autores, e até mesmo o fator consumo representado através da Arte.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Um arte educador pode se beneficiar, e muito, da Abordagem triangular quando se percebe


em contínua aprendizagem. Se estiver disposto a perguntar a si mesmo, em primeiro lugar, qual a
intenção que rege o seu trabalho. Se estiver disposto a exercitar-se continuamente produzindo,
lendo, aprendendo sobre as formas artísticas e refletindo sobre os diversos contextos da arte. É antes
de tudo essa aprendizagem complementar que pode capacitá-lo a usar a bússola da Abordagem
Triangular, como nos afirma a Arte-Educadora Regina Stela Machado, em seu texto, Sobre mapas e
bussolas: apontamentos a respeito da Abordagem Triangular:
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“Abordagem Triangular é uma “espécie de bússola” que serve como um guia, um


ponto de partida, e não uma bula. Uma bússola é extremamente útil nas mãos de
alguém que sabe que está a caminho, que se sabe um viajante e que se dispõe a
enfrentar obstáculos e descobertas a cada instante, porque uma determinada intenção
anima cada passo e cada parada. Nas mãos de quem não está preparado para viajar,
uma bússola é inútil”. (BARBOSA, CUNHA, 2010, p. 73)

Percorrendo ele mesmo os campos da produção, da leitura e das contextualizações, é essa


experiência viva – feita do exercício da curiosidade, da percepção, da flexibilidade, da imaginação e
da reflexão que torna possível a aprendizagem da arte.

Portanto pode-se dizer que o projeto aplicado nas escolas do município de Paulo Lopes,
envolvendo o Tema Transversal Meio Ambiente, nas aulas de artes, junto aos alunos do 1º ao 5º
ano do ensino fundamental, foi dinâmico ao instigar e permitir o diálogo entre os estudantes,
executando os três eixos da Abordagem Triangular: Contextualização: o processo de pesquisa como
mecanismo de incentivo para suas próprias descobertas, utilizando aulas em campo, como forma de
valorização ambiental local, internet, filmes, músicas, poesia, bem como formas de selecionar as
informações apropriadas de maneira objetiva, reservando os resultados obtidos para os comentários
posteriores. Produção: artes com materiais reciclados, fotografias criando figuras a partir do
conjunto de materiais na própria sala de aula (carteiras, cadeiras, cadernos, livros, celulares, recortes
de revistas etc.) Apreciação: comparação entre as imagens de artistas plásticos brasileiros que
utilizam a temática ambiental em suas obras.

O fazer artístico ou a produção artística refere-se a uma execução, como escultura, dança
filme ou outras formas de arte; refere-se ainda à formação de idéias sobre a arte e a leitura de obras
quando o estudante encontra significados de si para com a obra, ou seja, quando ele “entende
poeticamente”. Isso quer dizer que não só a prática do fazer, envolvendo materiais e diferentes
linguagens compõem a produção, mas também envolve a capacidade de produzir relações
conceituais que o conectam com a ação artística (BARBOSA, CUNHA, 2010, pg. 36).

Ainda segundo Barbosa e Cunha,( 2010) a leitura de obras de arte é o contato com obras
artísticas e seus símbolos culturais presentes, que vão desde espaços urbanos, meios de
comunicação até objetos utilitários. É a aprendizagem estética que envolve, inclusive, o contato
com as formas da natureza. A etapa de contextualização fornece o suporte para as ações artísticas,
por meio da reflexão e estudo de diferentes Culturas e histórias.
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No que diz respeito ao meio ambiente, por meio de diálogo entre os alunos, ficou notável a
sensibilização dos alunos a respeito do ato de separar o reciclável seja em benefício dos catadores,
ou para venda própria, ou para aplicação em Arte. Os alunos perceberam que o 3 RS (reutilizar,
reduzir e reciclar), representam uma tarefa fundamental na nossa sociedade. Os alunos descobriram
a importância do consumo consciente e da economia de bens não renováveis. A arte se apresentou
como meio fundamental para a aplicação da uma idéia cidadã e mais humana em relação ao
indivíduo como parte do meio ambiente, pensamento esse que deve fazer parte da educação na
atualidade.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebemos que as Artes representam o meio ambiente em suas diferentes épocas. A arte faz
parte do meio ambiente e o ambiente é utilizado em produções artísticas, como nas obras de arte
gigantescas da Land Art, “Os artistas da Land Art exploram o potencial da paisagem e do meio
ambiente, tanto pelos seus materiais como pela localização. Em vez de representarem a natureza,
eles a utilizam diretamente em suas obras”. FARTHING (2010, pg. 532).

O meio ambiente também é tema de obras de arte no decorrer da história, como Monet com a
série “Ninféias” que mostra as belezas da natureza em diferentes épocas do ano, levando ao
espectador uma sensação de paz e tranquilidade ao contemplar as belas paisagens de jardins e
vitórias-régias. Contudo na temática ambiental, não só a beleza é representada, mas também se
percebe obras que retratam formas de socialização e cultura, como “Domingo na grande Jatte” de
George Seurat e “A pesca” de Annibale Carracci. “Domingo na grande Jatte” revela à importância
do lazer, dos momentos reservados a família e amigos, quanto “A peca” permite-nos perceber a
necessidade básica da alimentação saciada pela natureza e o trabalho do homem.

A arte está intimamente relacionada às questões ambientais. Ela nos revela a cultura no
decorrer da história, nos revela o ser humano de diferentes épocas e sua forma de interagir com o
ambiente.

A arte é o espelho da sociedade, prova disso é o conhecimento histórico que obtemos através
das obras de artes do passado. Os artistas representam as inquietações da sociedade que está
inserido. Não há como fugir da realidade que está às portas, vivemos em uma época em que a
preocupação ambiental é o foco atual e está presente em vários países, principalmente nos mais
desenvolvidos. O Brasil ainda está engatinhando frente a essa realidade. Ainda vemos profissionais
de várias áreas, até mesmo da área educacional, estranhos frente à realidade ambiental, mas é fato
que essas questões devem se fazer notórias principalmente no ambiente educacional, nas diversas
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áreas do conhecimento, inclusive na área de artes que é uma disciplina que permite o estudo dos
diversos temas inseridos no estudo artístico.

REFERÊNCIAS

Angella Conte. Disponível na internet WWW.angellaconte.com – visto em 04/09/2015. Às 19:36

BARBOSA, Ana Mae; CUNHA, Fernanda Pereira da (orgs). Abordagem Triangular no ensino
das Artes Visuais e Culturas Visuais. São Paulo: Cortez, 2010. Pg. 36, 14, 72.

CARUSO, Carla. Burle Marx. São Paulo: Moderna, 2006. Pg. 18e 24

FERREIRA, Aurora. A imagem da arte e os temas transversais. Rio de Janeiro: Letra Capital,
2008. Pg. 22

FARTHING, Stephen. Tudo sobre Arte. Sextante. 2010. Pg. 532

Lixo extraordinário. Direção: Lucy Walker. Rio de Janeiro: Downtown Filmes, 2010. 90 min.,
DVD, colorido, legendado.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Parâmetros Curriculares Nacionais- Arte. 3° edição. Brasília.


2001. Pg. 49, 113, 116.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Parâmetros Curriculares Nacionais- Temas Transversais.


Brasília. 2008. Pg. 139,193,194.

REINSFELD, Nyles. Sistema de reciclagem comunitária. São Paulo: Makron Books, 1994. Pg.
32.

SINGER, P. (Prefácio) GONZALEZ, Paul (Org.); et al. Empresa Social e Globalização –


Administração Autogestionária: Uma possibilidade de trabalho permanente. São Paulo:
ANTEAG, 1998. Pg 56.

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