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NOTA TÉCNICA

Goiânia, 19 de janeiro de 2023.

ÁREA: Educação
TÍTULO: Piso do Magistério – Lei 11.738, de 16 de julho de 2008

1. Introdução

A Federação Goiana de Municípios – FGM, visando orientar as


administrações municipais em relação ao reajuste do piso salarial dos profissionais do
magistério, tendo em vista a publicação da Portaria nº 17/2023, de 16 de janeiro de
2023, do Ministério da Educação, publica a presente Nota de Orientação Técnica.

A referida Portaria, “Homologa o Parecer nº 1/2023/CGVAL/DIFOR/SEB/SEB, da


Secretaria de Educação Básica - SEB, que dispõe sobre a definição do Piso Salarial Nacional dos
Profissionais do Magistério da Educação Básica Pública, para o exercício de 2023”, a qual
dispõe textualmente:

O MINISTRO DE ESTADO DA EDUCAÇÃO, no uso das atribuições que lhe foram


conferidas nos incisos II e IV, parágrafo único, do art. 87, da Constituição, e
considerando o disposto no processo nº 23000.000973/2023-49, resolve:

Art. 1º Homologar o Parecer nº 1/2023/CGVAL/DIFOR/SEB/SEB, da Secretaria de


Educação Básica - SEB, que trata do Piso Salarial Nacional dos Profissionais do
Magistério da Educação Básica Pública para o exercício de 2023.

Convém lembrar, que a situação atual reflete exatamente a mesma do


exercício de 2022, quando o Ministério da Educação e Cultura – MEC, publicou a
Portaria nº 67/2022, a qual previa o reajuste do piso do magistério em 33.24%.

Encontra-se pacificado o entendimento de que uma mera Portaria não é


o instrumento legal e adequado para fixar o reajuste do Piso do Magistério estabelecido
pela Lei 11.738, de 16 de julho de 2008, até porque esta, aumenta despesas para
outros entes da Federação, contrariando frontalmente, desta forma, o princípio da
legalidade consagrado no nosso texto constitucional.

2. Da Lei 11.738/2008 – Piso Salarial dos Professores

A Lei 11.738/2008, que “Regulamenta a alínea “e” do inciso III do caput do


art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, para instituir o piso salarial
profissional nacional para os profissionais do magistério público da educação básica”,
também disciplina a forma de atualização deste Piso, especificamente no parágrafo
único do seu art. 5º:

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“Art. 5º O piso salarial profissional nacional do magistério público da educação
básica será atualizado, anualmente, no mês de janeiro, a partir do ano de 2009.

Parágrafo único. A atualização de que trata o caput deste artigo será calculada
utilizando-se o mesmo percentual de crescimento do valor anual mínimo por aluno
referente aos anos iniciais do ensino fundamental urbano, definido nacionalmente,
nos termos da Lei no 11.494, de 20 de junho de 2007” – O grifo é nosso

Ressalte-se que o índice de atualização foi calculado com base na variação


do crescimento do valor anual mínimo por aluno, referente aos anos iniciais do ensino
fundamental urbano, definido nacionalmente, utilizando-se a fórmula estabelecida na Lei
11.494, de 20 de junho de 2007, a qual foi REVOGADA pela Lei 14.113, de 25 de
dezembro de 2020, senão vejamos:

“Art. 53. Fica revogada, a partir de 1º de janeiro de 2021, a Lei nº 11.494, de 20


de junho de 2007, ressalvado o art. 12 e mantidos seus efeitos financeiros no que
se refere à execução dos Fundos relativa ao exercício de 2020. - Lei 14.113, de
25 de dezembro de 2020.”

Em que pese o fato de que a lei do Piso esteja vigente, a sua atualização
aponta para uma normativa que não existe mais no mundo jurídico, ressalvado o seu art.
12, que trata da complementação do Valor Anual por Aluno (VAAF).

A mera vontade do Governo Federal em determinar que Estados e


Municípios paguem o Piso com a variação calculada pelo MEC, e que não encontra
amparo legal, não resolve a questão, nem mesmo com a edição de uma Portaria, que
poderá ser questionada, já que não existe uma base legal para se fixar o índice de
atualização.

3. Da Judicialização da Matéria

É importante ressaltar, que praticamente não se teve notícia em 2022, de


questionamento judicial por parte das entidades de professores no que se refere à
aplicação do índice de 33.24%. E se houve, não ocorreu qual decisão do judiciário
brasileiro, no sentido de referendar tal índice constante da Portaria nº 67/2022 do MEC.

Em sentido contrário, o município de Santana do Livramento-RS, obteve


sucesso no sentido de não efetuar o pagamento do índice de 33.24% definido em
Portaria pelo MEC. A sentença, da 1ª Vara Federal da Seção Judiciária do Rio Grande
do Sul, ajuizada em desfavor da UNIÃO FEDERAL, julgou procedente o pedido,
ratificando a liminar anteriormente concedida e declarando a NULIDADE da Portaria
067/2022, comprovando desta forma, não haver legislação vigente a sustentar o reajuste
do piso nacional dos professores.

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Conforme já dito, a Lei do Piso (11.738/2008) encontra-se em vigor,
entretanto, o seu critério de reajuste não mais existe no mundo jurídico em virtude da
revogação expressa da Lei 11.494/2007, através da Lei 14.113/2020.

Para preencher esta lacuna, faz-se necessário a edição de uma lei


específica em cumprimento ao disposto no inciso XII, do art. 212-A, da Constituição
Federal, o qual dispõe textualmente que “lei específica disporá sobre o piso salarial
profissional nacional para os profissionais do magistério da educação básica
pública”.

Não há dúvidas quanto a inconstitucionalidade do reajuste do Piso


Nacional do Magistério por meio de Portaria Ministerial, sendo até mesmo lamentável
que o Governo Federal repita o mesmo equívoco de 2022, deixando os gestores
municipais diante de um profundo desgaste político com os profissionais da educação.

4. Conclusão

Ante o exposto, podemos concluir que, atualmente, não existem critérios


que gere segurança jurídica para a fixação de um novo piso salarial para os professores, posto
que, estes foram expressamente revogados pela Lei nº 14.113/2020, que regulamentou o novo
Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais
da Educação Básica (FUNDEB).

Portanto, a concessão de um reajuste que contemple a reposição


inflacionária até que se tenha uma definição definitiva sobre qual índice deverá ser
aplicado, – o qual deve ser feito, necessariamente, através da edição de uma lei específica em
obediência ao disposto no inciso XI do art. 212 da Constituição Federal – entendemos ser um
caminho adequado aos gestores municipais, cujos municípios não possuam condições
financeiras de suportar o reajuste de 14.95% para o Piso Salarial Nacional dos
Profissionais do Magistério da Educação Básica Pública, para o exercício de 2023.

Célio Sanches
Assessor Jurídico da FGM
OAB/GO nº 13.799

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