AO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO CEARÁ.

Exmo. Sr. Dr. Francisco Henderson Miranda Gomes.

Promotoria de Justiça de Graça.

Resposta Ofício PMJ n. 0003/2022/COVGRA

Inquérito Civil nº. 06.2019.00003651-8
MUNICÍPIO DE GRAÇA – CE.

O Município de Graça-CE, pessoa jurídica de direito público interno com sede na cidade do mesmo
nome, representado pela Prefeita Municipal, Sra. MARIA IRALDICE ALCÂNTARA, ao final assinada, atendendo
a provocação contida no ofício acima indicado, vem, tempestivamente, a respeitável presença dessa Promotoria
de Justiça, apresentar os esclarecimentos que se segue.

O inquérito civil supracitado foi instaurado no ano de 2019, com intuito de averiguar a regularidade
dos gastos com pessoal no âmbito do município de Graça.

Antes de entrar nas informações solicitadas, é salutar apresentar o contexto no qual o município
foi recebido, pela atual administração, no que tange as despesas com pessoal, já que o IC nº.
06.2019.00003651-8 é oriundo de fatos alusivo ao exercício 2019, para que esse Ilustre membro do Ministério
Público compreenda o histórico e apure as responsabilidades de forma individualizadas.

Em 2020, no último ano de gestão do Sr. Augusto Brito, inclusive ano eleitoral, a despesa de
pessoal se comportou da seguinte forma

PERÍODO % DA RCL GASTO COM PESSOAL

1º Quadrimestre de 2020 56,58%
2º Quadrimestre de 2020 72,95%
3º Quadrimestre de 2020 55,79%
Fonte: RGF 1º, 2º e 3º quadrimestre 2020 (ANEXO I)
 Aqui, além de ser transparente a intenção de utilizar a máquina pública para fins eleitorais, uma
vez que é, no mínimo, estranho o salto de 56,58% ao final de abril de 2020 para 72,95%, no final do segundo
quadrimestre de 2020, as vésperas da eleição municipal, além de infringir a Lei 101/00 – Lei de responsabilidade
Fiscal, em seu artigo 21, parágrafo único.

Tendo recebido o município com gasto de pessoal acima do limite legal, a atual administração,
mesmo enfrentando uma Pandemia, não poupou esforços para cumprir a legislação e já no primeiro
quadrimestre retornou ao limite legal, como se segue.

PERÍODO % DA RCL GASTO COM PESSOAL

1º Quadrimestre de 2021 53,76%
2º Quadrimestre de 2021 53,84%
3º Quadrimestre de 2021 55,71%
Fonte: RGF 1º, 2º e 3º quadrimestre 2021 (ANEXO II)

Ao final do exercício de 2021, a despesa de pessoal ficou 1,71% acima do limite legal, o que
representa em valores 936.097,12.

Aqui, esclarecemos que a despesa do município só ultrapassou o percentual legal, em virtude do

pagamento do Abono do FUNDEB que foi no valor de R$ 2.655.001,81 (ANEXO III), despesa que não estava no
planejamento financeiro do município, uma que só foi autorizada no dia 27 de dezembro de 2021, pelo Governo
Federal através da Lei nº 14.276/21 que alterou a Lei nº 14.113/2020.

Em simples comparativo, se retirarmos a despesa com abono dos Profissionais do Magistério, a

determinação constitucional de aplicar, no máximo, 54% da RCL em gasto de pessoal seria facilmente atendida,
senão vejamos:

Despesa Total com Pessoal 2021 R$ 30.545.273,63

Percentual Gasto com Pessoal 2021 55,71%
Despesa Total de Pessoal Deduzido Abono FUNDEB R$ 27.890.271,82
% Gasto com Pessoal Deduzido Abono FUNDEB 50,86%

O cumprimento do limite legal de pessoal foi problema para quase a totalidade dos municípios
brasileiros em 2021, tanto que o Governo Federal editou a Lei Complementar 178/21, que ampliou o prazo para
redução do excedente de 2021, excepcionalmente, para 10 anos, a contar do exercício de 2023, in verbis:
 Art. 15. O Poder ou órgão cuja despesa total com pessoal ao
término do exercício financeiro da publicação desta Lei Complementar estiver
acima de seu respectivo limite estabelecido no art. 20 da Lei Complementar
nº 101, de 4 de maio de 2000, deverá eliminar o excesso à razão de, pelo
menos, 10% (dez por cento) a cada exercício a partir de 2023, por meio da
adoção, entre outras, das medidas previstas nos arts. 22 e 23 daquela Lei
Complementar, de forma a se enquadrar no respectivo limite até o término do
exercício de 2032.

Mesmo com possibilidade de eliminação do excedente em 10 anos, a iniciar a contagem em 2023

e tendo concedido os reajustes legais aos servidores municipais, inclusive aos profissionais do magistério em
mais de 33%, já no primeiro quadrimestre de 2022, a despesa com pessoal retornou ao Limite Legal, ficando
em 52,85%, como comprovamos através do RGF do 1º quadrimestre de 2022 (ANEXO IV)

Assim, certo do esclarecimento de todos os pontos, venho REQUERER que seja conhecido e
acatado os argumentos aqui apresentados, consequentemente seja procedido com o arquivamento do feito, ou
exclusão dessa gestora do rol de investigados do IC n. 06.2019.00003651-8.

Por fim, reiteramos os votos de estima e consideração.

ATENCIOSAMENTE,

Graça-CE, 27 de julho de 2022.

MARIA IRALDICE ALCÂNTARA

Prefeita Municipal
Graça/CE