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Planos de Carreira do magistério dos municípios paulistas de São Caetano do Sul e

Natividade da Serra

Leandro Thomazini
Orientadora: Márcia Aparecida Jacomini

Pesquisa financiada pela Capes

Eixo temático 3. Pesquisa, Formação de Professores e Trabalho Docente

Resumo: Este texto é resultado parcial de pesquisa de mestrado que estuda planos de carreira do
magistério de municípios paulistas e da rede estadual de São Paulo. Elementos que compõem
aspectos inerentes aos planos de carreira aparecem em legislações desde o período imperial. No
cenário internacional, a recomendação da OIT/UNESCO, aprovada em 1966, constitui um marco de
orientações sobre as condições de trabalho docente aos países signatários. A Constituição Federal
de 1988, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, a Lei nº 11.738/2008 e o
Parecer CNE/CEB nº 9/2009 dão a regulamentação básica para a elaboração ou adequação dos
planos de carreira dos profissionais da educação básica. Com base nessas legislações realizou-se
análise dos planos de carreira e estatuto do magistério dos municípios paulistas de São Caetano do
Sul e Natividade da Serra, no que concerne à jornada de trabalho docente, à progressão na carreira
e ao vencimento base. Verificou-se alguns descompassos entre as legislações vigentes e os planos
de carreira desses municípios, por exemplo, o período destinado a atividades educacionais
extraclasse e a desvalorização salarial docente.

Palavras-chave: plano de carreira; vencimento base; jornada de trabalho docente.

Introdução
O Brasil é uma República Federativa, na qual os entes federados da União (Estados, Distrito
Federal e os Municípios) são esferas de Governo que mantém certa autonomia frente à União, mas
cujas legislações devem respeitar os princípios expressos em leis federais. Assim, a legislação
federal que formata as diretrizes para a política educacional brasileira deve ser considerada pelos
entes federados na elaboração de suas legislações.
Nesta pesquisa destacam-se legislações que estabelecem princípios e orientam a
elaboração de planos de carreira dos profissionais da educação básica em aspectos, entre outros,
como: jornada de trabalho, progressão na carreira e vencimento base.
A questão salarial do magistério público é assunto debatido ao longo da história do Brasil. O
estabelecimento de um piso salarial data da Lei de 15 de outubro de 1827, que regulamenta, entre
outras, o ordenado dos professores:
Art. 3º Os presidentes, em Conselho, taxarão interinamente os ordenados dos
Professores, regulando-os de 200$000 a 500$000 anuais, com atenção às
circunstâncias da população e carestia dos lugares, e o farão presente a
Assembleia Geral para a aprovação. (BRASIL, 1827)

No entanto, este salário anual não era de grande valor na época, pois conforme
(SUCUPIRA,1996 apud MONLEVADE 2000, p. 23) “A lei de 1827 falhou, entre outras causas, por
falta de professorado qualificado, não atraído pela remuneração irrisória que na maior parte das
vezes não atingia o nível máximo fixado na lei”.
Um estudo de Camargo e Jacomini (2011), apresenta que elementos necessários aos
planos de carreira já aparecem em legislação nacional do período imperial, bem como na
recomendação da OIT/UNESCO aprovada em 1966, que se mostrou muita rica e importante para a
comunidade internacional, pois reconheceu a necessidade dos profissionais da Educação terem
planos de carreira no setor público e privado, com vistas à melhoria da qualidade da Educação.
Além disso, essa recomendação estabeleceu um conjunto de orientações que deveriam ser
consideradas pelos países para a elaboração dos planos de carreira dos profissionais da Educação
Básica e da importância da indicação de destinação de recursos financeiros públicos para o
alcance de tais medidas.
A valorização do professor por meio de plano de carreira está presente na Constituição de
1988 (CF/88) e na Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional, Lei 9.394/1996 (LDB/96). De
acordo com a CF/88 a
V - valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei,
planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e
títulos, aos das redes públicas; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53,
de 2006)

Além do previsto na CF/88, a LDB/96 inclui o piso salarial e licença remunerada para
formação continuada (BRASIL,1996). A Resolução nº 2, de 28 de maio de 2009, fixa diretrizes
nacionais para os planos de carreira e remuneração dos profissionais da educação básica pública.
Contudo, foi somente em 2008 com a Lei nº 11.738, de 16 de julho que se estabeleceu um
Piso Salarial Profissional Nacional (PSPN) regulamentando a alínea “e” do inciso III do caput do art.
60 do ato das disposições constitucionais transitórias de 1988. De acordo com a Lei do Piso,
Art. 2o O piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério
público da educação básica será de R$ 950,00 (novecentos e cinquenta reais)
mensais, para a formação em nível médio, na modalidade Normal, prevista no art.
62 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e
bases da educação nacional.
§ 4o Na composição da jornada de trabalho, observar-se-á o limite máximo de 2/3
(dois terços) da carga horária para o desempenho das atividades de interação com
os educandos.
o
Art. 5 O piso salarial profissional nacional do magistério público da educação
básica será atualizado, anualmente, no mês de janeiro, a partir do ano de 2009.
Parágrafo único. A atualização de que trata o caput deste artigo será calculada
utilizando-se o mesmo percentual de crescimento do valor anual mínimo por aluno
referente aos anos iniciais do ensino fundamental urbano, definido nacionalmente,
nos termos da Lei nº 11.494, de 20 de junho de 2007.

Essa Lei constitui um passo importante na valorização dos professores da educação básica,
na medida em que estabelece um mínimo que o professor deve receber pelo exercício do
magistério, embora seja necessário destacar que o valor do piso está aquém do necessário a uma
real valorização do magistério público e da importância social da profissão.
Na Tabela 1 são apresentados os valores do piso defendido pela Confederação Nacional
dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e o valor real pago entre os anos de 2009 e 2014.

TABELA 1 – Valores e reajustes do PSPN


ANO Expectativa inicial Valor do piso Crescimento do Valor do piso
de crescimento defendido pela Custo-Aluno real
Custo-Aluno CNTE anunciado pelo MEC
(%)
2009 19,23% 1132,69 - R$ 950,00
2010 15,93% 1313,13 7,86% R$ 1.024,67
2011 21,71% 1598,21 15,84% R$ 1.187,08
2012 21,24% 1937,97 22,22% R$ 1.451,00
2013 20,17% 2328,5 7,97% R$ 1.567,00
2014 13,00% 2631,20 8,32% R$ 1.697,37
Fonte: CNTE, 2014 (http://www.frisson.com.br/ftp/publicacoesCNTE/projeto_Cnte1/index.html)

Conforme apresentado na Tabela 1, a CNTE defende que o piso nacional em 2014 seja de
R$ 2.631,20, com base na atualização e cálculo que faz desde 2009, tendo em vista a Lei
11.738/2008, quem além do valor do piso para o ano de 2009 estabelece o dispositivo de
atualização a ser utilizado, o mesmo adotado no percentual de crescimento anual mínimo por
aluno, com base na Lei nº 11.494, de 20 de junho de 2007.
Art. 15. O Poder Executivo federal publicará, até 31 de dezembro de cada exercício,
para vigência no exercício subsequente:
I - a estimativa da receita total dos Fundos;
II - a estimativa do valor da complementação da União;
III - a estimativa dos valores anuais por aluno no âmbito do Distrito Federal e de
cada Estado;
IV - o valor anual mínimo por aluno definido nacionalmente.

Além do conflito sobre a atualização dos valores de reajuste anual do piso salarial, no qual o
Ministério da Educação (MEC) tem outro entendimento frente à Lei e publica portarias para fixar o
percentual a ser utilizado para o reajuste que vem sendo praticado, a aplicação da Lei nº
11.738/2008 (PSPN) sofreu ação direta de inconstitucionalidade (ADI) nº 4167 impetrada por cinco
governadores de estados brasileiros de Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande
do Sul e Ceará. Esta ação foi analisada e a princípio finalizada com base na publicação no dia 24
de agosto de 2011, no qual o Acórdão do Supremo Tribunal Federal (STF), reconheceu a
legalidade da Lei do Piso Nacional do Magistério na íntegra.
A batalha judicial só teve seu desfecho em 27 de fevereiro de 2013, data em que o STF
negou os recursos (embargos de declaração) apresentados por quatro Unidades da Federação (Rio
Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Ceará) contra a decisão da Corte na Ação
Direta de Inconstitucionalidade (ADI) nº 4167, requerendo a alteração dos efeitos da decisão no
sentido de aumentar o prazo de cumprimento da medida, para que fossem concedidos mais 18
meses a partir da publicação do acórdão dos embargos de declaração. A decisão dos ministros
encaminhou que o pagamento do piso nos termos estabelecidos pela Lei 11.738/2008, passou a
valer em 27 de abril de 2011, data do julgamento definitivo sobre a norma pelo plenário do STF.
Essa decisão judicial foi importante para a implementação da Lei Piso pelos entes
federados, inclusivo no que diz respeito ao estabelecimento de 1/3 da jornada para atividades
extraclasse. Após a decisão do STF em 2013, Governadores, Prefeitos e gestores educacionais
não podem mais postergar o cumprimento da medida, alegando que estão aguardando a
finalização jurídica sobre a Lei do Piso Salarial Profissional Nacional.
No entanto, verificamos que alguns Municípios e Estados como demonstrado no estudo de
Gurgel (2012) vem se esquivando de tais medidas, pareceres e legislação Federais, sejam na
composição da jornada de trabalho ou na efetivação do piso salarial.

Planos de Carreira de São Caetano do Sul e Natividade da Serra1


A carreira docente é fundamental na valorização do professor, que é um dos cernes para a
qualidade da educação pública. Monlevade (2000) afirma que os três pilares da educação se
constituem em: uma remuneração digna, com base num piso salarial nacional que possibilite uma
subsistência do professor num único emprego e confira visibilidade social positiva à profissão do
magistério; uma formação inicial de qualidade e formação continuada proporcional às demandas
reais de seu trabalho, conferindo competência e autonomia ao ato docente; e uma carreira que fixe
o professor ao sistema de ensino e uma jornada organicamente composta de aulas e tempo de
formação continuada e que possibilite o estudo individual e coletivo do ato docente que propicie
identidade do profissional com a proposta pedagógica da escola e compromisso político com a
melhoria do ensino.
Com base em tais premissas será investido o esforço na análise dos planos de carreira e
estatuto do magistério dos municípios de São Caetano do Sul e Natividade da Serra, no que
concerne à jornada de trabalho docente, à progressão na carreira e ao vencimento base.
Inicialmente, na Tabela 2, serão apresentados alguns dados educacionais referentes aos
municípios de São Caetano do Sul e Natividade da Serra.

TABELA 2 – Dados educacionais dos municípios de São Caetano do Sul e Natividade da Serra
São Caetano do Sul Natividade da Serra
Nível Matrículas Docentes Escolas Nível Matrículas Docentes Escolas
Ensino pré-escolar 2305 105 27 Ensino pré-escolar 79 7 1
Ensino fundamental 11015 630 19 Ensino fundamental 566 41 4
Ensino médio 1485 90 2 Ensino médio 0 0 0
Total 14805 825 48 Total 645 48 5
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 2010.

Segundo dados do IBGE referente ao índice de estimativa de população para 2013, São
Caetano do Sul é uma cidade com cerca de 156.362 habitantes, considerada de porte médio e
Natividade da Serra com 6.821 habitantes, avaliada como uma cidade pequena, com apenas cinco
escolas em sua rede. Em ambas a regulamentação do trabalho docente se dá pela Consolidação
das Leis Trabalhistas (CLT).

1
A pesquisa pretende estudar os planos de carreira de quatro municípios paulistas e da rede Estadual de
Ensino de São Paulo. A escolha desses municípios teve como base o Estado de localidade do pesquisador e
o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) em Educação, que tem como base a dimensão de
acesso ao conhecimento. Dos 645 municípios de Estado de São Paulo, foram selecionados os dois
municípios que se encontram com o padrão mais elevado (Águas de São Pedro e São Caetano do Sul) e
outros dois que se posicionaram no padrão mais baixo do índice (Barra do Turvo e Natividade da Serra). Para
o presente trabalho optou-se pela descrição e comparação dos planos de carreira de um município com o
padrão mais elevado (São Caetano do Sul) e de outro com padrão mais baixo (Natividade da Serra).
A jornada de trabalho do município de São Caetano do Sul, de acordo com a Lei 3614/97,
que institui o plano de carreira e remuneração, regulamenta que o professor I dispõe da carga de
25 horas aula semanais e de 02 horas de trabalho pedagógico coletivo semanal, o professor II pode
ter a carga de até 38 horas aulas semanais, sendo que a hora de trabalho pedagógico coletivo são
apenas 02 semanais, para qualquer que seja a jornada de trabalho. Conforme já citado neste
trabalho a Lei do PSPN nº 11.738, de 2008, estabelece que 1/3 da carga horária seja de atividade
extraclasse, o município aplica muito menos que o necessário para se enquadrar na Lei tanto para
o professor I, como para o professores II.
O Município de Natividade da Serra, com base na Lei nº 540 de 2012, estabelece a Jornada
Semanal de Trabalho do Docente para o Professor de Educação Infantil (PEBIn), com jornada
semanal de 30 (trinta) horas de 60 (sessenta) minutos cada, para o Professor de Ensino
Fundamental I, de 1º ao 5º ano (PEB I), com jornada semanal de 30 (trinta) horas de 60 (sessenta)
minutos cada e para o Professor de Ensino Fundamental II (PEB II), para atuar em área específica,
com carga horária mínima de 20 (vinte) horas de 60 (sessenta) minutos cada. No entanto,
estabelece uma tabela com a quantidade de carga horária de aulas de 2 a 40 aulas, com o
respectivo cálculo de 1/3 para o período extraclasse, diz que o tempo das aulas na rede é de 50
minutos mas não especifica dentro das jornadas de 30 ou 20 horas (apontadas como de 60
minutos), como seria feita a distribuição dos horários extraclasse.
Tal organização remonta a posição adotada pela rede Estadual de São Paulo, no qual
realizou uma “manobra aritmética” indicando que o trabalho do professor tem 60 minutos em carga
horária, mas as atividades inerentes à docência com alunos durariam 50 minutos, e que portanto,
estes 10 minutos que “não são trabalhados” computados juntamente com os horários de trabalho
pedagógico coletivo e livres, cumpririam o 1/3 que a lei regulamenta.
Em relação à progressão na carreira, a Tabela 3 sistematiza o previsto no estatuto do
magistério de São Caetano do Sul.

TABELA 3 – Progressão na carreira de São Caetano do Sul


Referência Professor Diretor/Técnico em Educação/ Coordenador
EI Tempo de Exercício no Magistério Títulos Tempo de Exercício no Magistério Títulos
14 200
13 190
12 170 35 180
11 160 30 170
10 150 25 160
9 140 20 150
8 35 130 15 140
7 30 120 10 130
6 25 110 5 120
5 20 100 3 110
4 15 90
3 10 80
2 5 70
1 1 60
Fonte: Anexo I – Decreto nº 8.771/03 de São Caetano do Sul
A evolução funcional de acordo com o estatuto do magistério de São Caetano do Sul não
incide sobre o vencimento, mas se trata de uma gratificação que sucede uma porcentagem sobre o
valor da hora-aula, essa gratificação leva em conta o tempo de serviço e ou a titulação. Ou seja,
para evoluir para um grau de referência é necessário ter anos de tempo de serviço equivalente à
tabela ou a soma de pontos em titulação, o interstício para uma nova referência deve ser de um (1)
ano.
Para atingir a pontuação necessária para progressão a uma nova referência, leva-se em
conta a entrega de títulos de quatro categorias a saber: Títulos Universitários na área de Educação
ou específicos da Disciplina ministrada (Graduação em Licenciatura Plena, Mestrado e Doutorado);
Cursos de Pós- Graduação na área de Educação ou Específica da disciplina Ministrada
(Especializações acima de 360, 180 horas e Aperfeiçoamento com mínimo de 90 horas); Cursos e
outros eventos de capacitação, na área de Educação ou específica na Disciplina Ministrada
(Organizados pelo Departamento de Educação no programa de formação continuada e realizados
fora de horário de trabalho, organizados em outras instituições, exposição ou coordenação de
trabalhos dentro do programa de formação continuada); e Participação em comissões designadas
por portaria para eventos ou atividades de interesse do Departamento de Educação.
Essas categorias carregam pontuações inerentes a cada título, sendo sua pontuação
calculada de forma cumulativa, no qual a evolução em forma de gratificação se dá em 0,5 por cento
da titulação necessária para o padrão de referência novo, ou seja, a referência 1 do professor seria
após um ano de exercício, e ele ganharia uma gratificação de 30% sobre o valor hora-aula, no que
tange a referência 2 ele deverá atingir o tempo de serviço de cinco anos ou acumular 70 pontos de
títulos, respeitando um ano de interstício da referência anterior, passando a ter a gratificação de
35% sobre o valor hora-aula e assim por diante. Como pode-se observar na Tabela 3, a última
referência a ser atingida pelo professor seria apenas pelo acúmulo de pontos de títulos e sua
gratificação seria de 85% sobre o valor da hora aula.
Na Tabela 4, apresentamos a progressão na carreira de Natividade da Serra.

TABELA 4 – Progressão na carreira de Natividade da Serra


Cargo Formação Jornada Faixa A B C D E F G H I J K

Médio 1 10,63 11,16 11,72 12,31 12,92 13,57 14,25 14,96 15,71 16,49 17,32
Professor
Graduação 2 12,22 12,83 13,47 14,15 14,85 15,60 16,38 17,19 18,05 18,96 19,91
Educação
30 H
Básica I
Pós-Grad. 3 13,44 14,11 14,82 15,56 16,34 17,16 18,01 18,91 19,86 20,85 21,90
e
Infantil
Mestrado 4 15,46 16,23 17,04 17,89 18,79 19,73 20,72 21,75 22,84 23,98 25,18

Doutorado 5 18,55 19,48 20,45 21,47 22,55 23,67 24,86 26,10 27,41 28,78 30,22
Fonte: Anexo III da Lei nº 541 de 2012 que estabelece o plano de carreira, vencimentos e salários e edital nº 12/2014 de
Natividade da Serra

A progressão da carreira do magistério de Natividade da Serra se dá conforme tabela, pela


evolução vertical perante via acadêmica, considerando os títulos acadêmicos ou habilitação em
curso de nível superior ou pós-graduação, sendo de 15% (quinze por cento) do nível de médio para
graduação, quando a exigência mínima for de nível médio; 10% (dez por cento) de graduação para
especialização ou pós-graduação; 15% (quinze por cento) da especialização lato sensu para o
mestrado e 20% (vinte por cento) de mestrado para o doutorado.
A progressão horizontal se dá pela via não acadêmica, considerando o interstício de 3 (três)
anos, desde que o docente atinja a pontuação mínima exigida de acordo com os indicadores de
crescimento (assiduidade, atualização e aperfeiçoamento e projeto educacional) avaliados durante
o interstício. A mudança de nível para a progressão horizontal do nível “A” ao nível “K” corresponde
ao aumento de 5% (cinco por cento) por nível.
Com base na tabela de vencimentos acima, pode-se observar que a dispersão dos
vencimentos com base no valor hora-aula, ou seja, a diferença percentual entre o vencimento inicial
e o vencimento final no período de tempo na carreira docente é de 184,29%. Podemos destacar
com base na progressão horizontal que para atingir o nível “K” final da carreira o professor levará
33 anos.
A seguir apresenta-se a Tabela 5 com os vencimentos de ambos os municípios.

TABELA 5 – Comparação entre o PSPN e vencimentos de São Caetano do Sul e Natividade


da Serra
Jornada de Hora- Hora-
Jornada de Jornada de Reajuste Hora-
Valor do 40 horas Reajuste aula aula
40 horas 40 horas Reajuste de aula
Piso para PEB I de São PEB II PEB I e
para PEB II PEB I e II do piso Nativida PEB I
ANO Nacional e Infantil Caetano São II
de São de Nacional de da São
referente a de São do Sul Caetan Nativid
Caetano do Natividade (%) Serra Caetano
40 horas Caetano do (%) o do ade da
Sul da Serra (%) do Sul
Sul * Sul Serra
2009 R$ 950,00 R$ 1.300,00 R$ 1.430,00 - - - - R$ 6,50 R$ 7,15 -
2010 R$ 1.024,67 R$ 1.372,00 R$ 1.508,00 - 7,86% 5,40% - R$ 6,86 R$ 7,54 -
2011 R$ 1.187,08 R$ 1.520,00 R$ 1.670,00 - 15,84% 10,70% - R$ 7,60 R$ 8,35 -
2012 R$ 1.451,00 R$ 1.596,00 R$ 1.752,00 R$ 2.162,00 22,22% 5% - R$ 7,98 R$ 8,76 R$10,81
R$ 1.676,00 R$ 1.840,00 5% R$ 8,38 R$ 9,20
2013 R$ 1.567,00 R$ 2.290,00 7,97% 5,92% R$11,45
** ** ** * *
2014 R$ 1.697,37 - - R$ 2.444,00 8,32% - 6,72% - - R$12,22
Fonte: Anexo III da Lei nº 541 de 2012 que estabelece o plano de carreira, vencimentos e salários e edital nº 12/2014 de
Natividade da Serra, Anexo I – Decreto nº 8.771/03 de São Caetano do Sul
* Suposição de Jornada de trabalho de 40 horas inexistente para essa categoria para efeito de comparação com valor-
hora aula. ** Essa referência de vencimento de jornada e valor hora aula persistiram até outubro de 2013, sendo
reajustado para mais 2% a partir de novembro de 2013, ficando o valor hora-aula de PEB I R$ 8,55 e de PEB II R$ 9,38.
Tabela elaborada com base nos Estatuto do Magistério de São Caetano do Sul (Lei 2.875/1996) e Plano de Carreira de
Natividade da Serra (Lei 540/2012).

Pode-se verificar conforme exposto na Tabela 5, com efeitos de comparação que o aumento
do vencimento do PSPN desde que foi implementado em 2009 até 2013 para a carga horária de 40
horas semanais foi de 52,93% e o de São Caetano do Sul no mesmo período foi de 22,16%, outro
índice de comparação é o da inflação (IPCA), que neste mesmo período foi de 23,53%, o que
demonstra a desvalorização salarial dos professores de São Caetano do Sul.
O Plano Nacional de Educação (PNE) em sua meta 17, propõe valorizar o magistério
público da educação básica, com o intuito de aproximar o rendimento médio do profissional do
magistério com mais de onze anos de escolaridade do rendimento médio dos demais profissionais
com escolaridade equivalente. Segundo dados divulgados pelo IBGE, com base no Cadastro
Central de Empresas (Cempre), os assalariados com nível superior receberam em média, em 2011,
R$ 4.135,06, esses valores nos dão um panorama da desvalorização que a categoria docente
enfrenta frente a outros profissionais com nível de escolaridade equivalente.
Com relação a gratificações, é importante destacar que esta é parte significativa da
remuneração do magistério de São Caetano do Sul, na Lei 3614/97 que institui o Plano de carreira,
de acordo com o art. 5º “a retribuição pecuniária decorrente da aplicação do disposto do artigo 60,
parágrafo 5 da ADCT da Constituição Federal será paga sob a forma de gratificação, conforme
dispuser o regulamento, vedada qualquer incorporação”. Similarmente o plano de carreira de
Natividade da Serra estabelece que os resíduos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da
Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB) serão revertidos em
abono.
De 1998 até 2004 o município de São Caetano do Sul instituiu um abono denominado “Pró
labore”, que seria de 20% sobre o valor da hora aula, sendo aplicado de março a dezembro de
cada ano, com parcela de 13º salário proporcional, este abono era estendido a todos os
professores da rede municipal, inclusive aos professores conveniados da rede estadual de São
Paulo, com abertura também aos professores da rede Estadual ministrantes de aulas no Ensino
Fundamental. Desde 2004, com a Lei 4.217, institui-se um abono especial mensal no valor de R$
100,00 que continua vigorando até a presente data.
Em 2005 o Pró labore foi aplicado de julho a dezembro aos salários dos professores, em
2006 não houve o decreto do pró-labore, apenas um abono de final de ano, depositado em
dezembro a todos os funcionários públicos no valor de R$ 120,00. Em 2007 aplicou-se um novo
tipo de abono em parcela única a todos os professores, no valor de R$ 600,00 ao diretor, R$ 550,00
para funcionários da gestão educacional e R$ 500,00. Aos professores, neste ano também houve
um abono de final de ano, depositado em dezembro a todos os funcionários públicos no valor de R$
150,00. Em 2008, novamente foi aplicado este abono no valor de R$ 600,00 ao diretor, R$ 550,00
para funcionários da gestão educacional e R$ 500,00 aos professores, entretanto, o abono passou
a constar mensalmente de março a dezembro deste ano, ocorreu no final de ano, novamente o
abono a todos os funcionários públicos no valor de R$ 210,00.
De 2009 até 2012 esses abonos aos professores ocorreram nos meses de abril a dezembro,
com o mesmo valor anterior, o abono de final de ano a todos os funcionários públicos foi de R$
210,00 em 2009, R$ 220,00 em 2010 e R$ 240,00 em 2011. No ano passado (2013), o abono foi
entre os meses de abril a julho, R$ 750,00 ao diretor, R$ 600,00 para a gestão, R$ 550 para o
professor de educação infantil e fundamental I, para os professores de Fundamental II até 7 aulas
R$100,00, de 8 a 14 aulas R$ 250,00, de 15 a 19 R$ 400,00, de 20 a 24 aulas R$ 500,00 e acima
de 25 aulas R$ 600,00; de agosto a dezembro o abono subiu para Diretores, Gestão, Professores
do Ensino Fundamental II acima de 20 aulas e professores do fundamental I e Infantil, para o valor
de R$1000,00, para os professores de Fundamental II até 7 aulas R$ 200,00, de 8 a 14 aulas R$
500,00, de 15 a 19 R$ 800,00.
Todos esses abonos citados, somados ao valor acrescido do pagamento da cesta básica e
vale transporte, que respectivamente foram em 2013 no valor de R$174,83 e R$145,52 mensais,
formam parte substancial da remuneração do magistério de São Caetano do Sul. Alejandro
Morduchowicz em estudo que analisou as estruturas salariais e as carreiras docentes, destacou
esse tipo política com vistas a restringir orçamentos:
Na tentativa de recompor as remunerações, e diante da restrição de recursos,
foram-se criando pagamentos adicionais que acabaram por modificar a estrutura
salarial definida através dos pontos atribuídos a cada cargo nos respectivos
Estatutos Docentes e normas legais originais e suas alterações subsequentes. Na
verdade, é comum que se paguem adicionais na forma de valores fixos iguais para
todos os cargos e que haja uma parte dos vencimentos sobre a qual, nem incidam
encargos sociais, nem se calculem outros itens do salário (como o tempo de
serviço, por exemplo). (MORDUCHOWICZ, 2003, p. 17)
Outro ponto que chama atenção na carreira de São Caetano do Sul é a diferenciação dos
valores salariais dos professores de Educação Infantil e PEB I em relação aos PEB II, mesmo tendo
o título de graduação plena em pedagogia, os professores de Educação Infantil e PEB I recebem
valores inferiores da ordem de 10% a menos que os professores especialistas PEB II, com a
mesma titulação. Conforme parecer CNE/CEB nº 9/2009 em seu artigo 5 cabe aos entes
federados:
V - diferenciar os vencimentos ou salários iniciais da carreira dos profissionais da
educação escolar básica por titulação, entre os habilitados em nível médio e os
habilitados em nível superior e pós-graduação lato sensu, e percentual compatível
entre estes últimos e os detentores de cursos de mestrado e doutorado.
O município de Natividade da Serra não faz essa distinção entre professores PEB I e PEB II,
e pagam o mesmo valor de hora-aula, ao passo que o professor de nível magistério entregando a
titulação de nível superior sobe um nível na carreira e iguala seus vencimentos aos outros
profissionais com nível universitário.

Considerações Finais
Com base na análise dos planos de carreira e estatuto do magistério dos municípios de São
Caetano do Sul e Natividade da Serra, a luz da legislação nacional que regulamenta tal temática,
verificou-se alguns descompassos que geram uma desvalorização da carreira do magistério.
Com relação à jornada de trabalho, ambos os municípios não cumprem a determinação de
1/3 da composição de carga horária destinada a atividades extraclasse, implicando na diminuição
de tempo referente ao planejamento, organização, estudo para a atuação docente. Na progressão
da carreira, o município de Natividade da Serra apresenta uma evolução vertical e horizontal, com
base em indicadores de assiduidade, atualização e aperfeiçoamento e projeto educacional, e
também na entrega de títulos, contando com um nível de dispersão de 184,29%, que se mostra
positivo na medida em que o professor tem expectativa de melhores salários no decorrer de sua
carreira, entretanto, este índice esta atrelado ao vencimento que está aquém do que vem sendo
proposto pela meta 17 do PNE, de igualar o vencimento do magistério a média dos profissionais
com nível universitário.
O estatuto de São Caetano do Sul em relação à evolução na carreira não faz diferenciação
entre professores habilitados em nível médio (magistério) e nível Superior (Licenciatura plena em
Pedagogia), apenas considera este último como critério de pontuação para a titulação, deixando os
valores de hora-aula menores frente a outros professores de nível superior. Apresenta apenas a
evolução vertical com dispersão de 85%. Outro atenuante é que o município não faz a
diferenciação de titulação por nível de vencimento base (hora-aula), apenas coloca a evolução
funcional como critério de gratificação que não se incorpora ao vencimento de hora-aula, assim
como à política de abonos que dependem de decretos anuais e não serão incorporados à
aposentadoria.

Referências
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