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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS


DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE ESTRUTURAS

NOTAS DE AULA PARA AS DISCIPLINAS


RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS E MECÂNICA DOS SÓLIDOS

PROFESSOR EDSON DENNER LEONEL

SÃO CARLOS-SP, JANEIRO DE 2021


O texto que será apresentado a seguir não tem por objetivo substituir o conteúdo
apresentado em livros clássicos de resistência dos materiais e estática das estruturas. O
objetivo dessas notas de aula é somente fornecer ao aluno uma ferramenta extra para o
aprendizado dos conteúdos fundamentais da mecânica dos sólidos deformáveis. Assim,
o autor recomenda fortemente que o aluno complemente o conteúdo apresentado nessas
notas de aula, assim como todos aqueles discutidos ao longo do curso, em livros
clássicos sugeridos na ementa do curso. Este texto é revisado anualmente pelo autor
com o objetivo de torná-lo completo e atualizado.

O autor disponibiliza conteúdo complementar de forma gratuita em seu canal no


youtube. Procure o canal “Mecânica dos Moles” e se inscreva para assistir às aulas.
“O universo não é explicável satisfatoriamente, sem Deus”.
Albert Einstein
“Somente nega a Deus aquele a quem convém que Ele não exista”.
Francis Bacon
Sumário

1. – Introdução................................................................................................................. 1

2. – Equilibrio de Ponto Material e Corpo Rígido ..................................................... 19

3. – Elemento de Barra Simples: Treliças .................................................................. 39

4. – Elemento de Barra Geral: Vigas .......................................................................... 63

5. – Relações Diferenciais entre Esforços Solicitantes e Ações Externas ................ 84

6. – Elemento de Barra Geral: Pórticos Planos ......................................................... 99

7. – Estruturas Mistas Planas .................................................................................... 137

8. – Elemento de Barra Geral: Grelhas .................................................................... 150

9. – Elemento de Barra Geral: Pórticos Tridimensionais ...................................... 178

10. – Estruturas Mistas Tridimensionais ................................................................. 195

11. – Cabos .................................................................................................................. 213

12. – Tensão e Deformação Médias ........................................................................... 231

13. – Propriedades dos Materiais e Lei de Hooke ................................................... 252

14. – Barras Carregadas Axialmente ....................................................................... 263

15. – Torção em Elementos de Barra ....................................................................... 327

16. – Formulação Geral da Torção. Analogia de Membrana ................................ 367

17. – Tensões Normais na Flexão .............................................................................. 401

18. – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral ........................................ 468

19. – Tensões de Cisalhamento Devido à Força Cortante ...................................... 516

20. – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos ........ 539

21. – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica ........................................................ 603

Sumário ____________________________________________________________
22. – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas .......................................... 689

23. – Tensões ............................................................................................................... 736

24. – Deformações ...................................................................................................... 774

25. – Lei de Hooke Generalizada .............................................................................. 814

26. – Critérios de Falha .............................................................................................. 784

27. – Vasos de Pressão de Paredes Finas .................................................................. 838

28. – Métodos de Energia .......................................................................................... 855

29. – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear ...................................................... 921

30. – Tópicos da Teoria da Elasticidade Não Linear .............................................. 980

31. – Tópicos Complementares ............................................................................... 1014

Anexo A ..................................................................................................................... 1029

Sumário ____________________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 1

1. – Introdução

1.1 – Definições Iniciais

Para a compreensão dos conceitos e o entendimento dos fenômenos contidos no


domínio da mecânica dos materiais e dos corpos deformáveis, torna-se necessária a
introdução de algumas definições iniciais. Tais definições são de grande importância e
serão utilizadas com frequência ao longo deste curso. Inicialmente, define-se Mecânica
dos Sólidos/Resistência dos Materiais como o ramo da mecânica dos corpos
deformáveis que visa à determinação de níveis de tensões e deformações de forma a
selecionar materiais e estabelecer dimensões para os elementos de uma estrutura,
máquina ou manufatura qualquer, a fim de capacitá-los a cumprir suas funções com
segurança, confiabilidade, durabilidade e em condições econômicas.
O estudo da mecânica dos corpos deformáveis teve início no século XVII, com
Galileu Galilei. Nessa época, esse renomado cientista realizou diversos experimentos
em vigas formadas por diferentes materiais. Depois disso, no século XVIII, Poisson,
Lamé, Navier e Saint-Venant realizaram estudos teóricos e experimentais, baseados na
aplicação da mecânica clássica, estendendo a compreensão dos fenômenos ligados a
corpos deformáveis solicitados por ações externas. Esses cientistas denominaram seu
estudo como “resistência dos materiais”. Porém, atualmente, esse domínio do
conhecimento é conhecido como mecânica dos corpos deformáveis, ou simplesmente
mecânica dos materiais, sendo a mecânica dos sólidos/resistência dos materiais um dos
subdomínios que a compõem.
No contexto da mecânica dos sólidos/resistência dos materiais, os corpos em
análise ou em estudo são denominados estrutura. Assim, define-se Elemento Estrutural
a parte menor que compõe a estrutura/corpo. A Estrutura pode ser compreendida como
o conjunto de elementos estruturais adequadamente dispostos com o objetivo de resistir

Capítulo 1 – Introdução ___________________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 2

às ações mecânicas externas. Os elementos estruturais transmitem e resistem a forças,


momentos, binários, ações térmicas, entre outros. Portanto, todo objeto material pode
ser classificado como uma estrutura.
A Resistência de um elemento estrutural, ou de uma estrutura, pode ser
brevemente entendida como sua capacidade de suportar solicitações externas sem a
observação de falha. Nesse contexto, Falha está relacionada ao colapso da estrutura ou
do elemento estrutural, observação de deformações ou deslocamentos excessivos, perda
de estabilidade ou demais ações que comprometam sua durabilidade e funcionalidade.
Assim, denomina-se Falha ao estado/processo no qual a estrutura deixa de atender aos
requisitos ao qual foi projetada.
A capacidade que um elemento estrutural possui de se opor às mudanças
geométricas provocadas por solicitações externas (deformações) é denominada Rigidez.

A rigidez é proporcional ao inverso da deformação, ou seja, rigidez  1


deformação .
Portanto, quão mais deformável for o corpo em análise menos rígido ele o é, e vice-
versa. Por exemplo, o aço é mais rígido que uma espuma.

Figura 1.1 Perda de estabilidade em uma régua comprimida.

Muitas vezes o elemento estrutural em estudo atende aos critérios de resistência


e rigidez quando exposto às solicitações externas. Apesar disso, pode-se ainda observar

Capítulo 1 – Introdução ___________________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 3

nessa situação, especialmente em elementos estruturais comprimidos, a ocorrência de


um cenário de falha denominado de Perda de Estabilidade, como no caso da régua
flexível comprimida mostrada na Fig. (1.1). Apesar de ser possível a obtenção de uma
configuração de equilíbrio, esta é somente encontrada em uma posição diferente da
inicial. Deve-se enfatizar que a determinação da configuração de equilíbrio nessa
situação é uma árdua tarefa. Porém, a determinação da intensidade da carga externa que
causa essa mudança de configuração geométrica é uma tarefa menos complexa.
Em mecânica dos sólidos/resistência dos materiais, empregam-se modelos
matemáticos simplificados para a descrição de fenômenos físicos, que são muitas vezes
complexos. Devido a essas simplificações, correções posteriores, como coeficientes de
segurança, devem ser aplicadas. A modelagem dos fenômenos associados aos corpos
deformáveis segue, geralmente, o fluxograma apresentado na Fig. (1.2).

Problema 
Físico

Modelo 
Teórico

Simplificações 
Facilidade de  Resultados  Coeficientes 
(impõem 
solução aproximados de segurança
restrições)

Figura 1.2 Simplificações para a modelagem de problemas de corpos deformáveis.

Assim, os modelos matemáticos da mecânica dos sólidos/resistência dos


materiais são propostos assumindo-se hipóteses simplificadoras sobre os fenômenos
físicos a serem representados. Tais considerações são efetuadas com o objetivo de se
obter uma representação teórica e matemática de fácil utilização no cotidiano da
engenharia, a qual não conduza ainda a perdas sensíveis de representatividade física dos
fenômenos. Devido às hipóteses simplificadoras assumidas, resultados aproximados

Capítulo 1 – Introdução ___________________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 4

são, consequentemente, obtidos. Portanto, para que condições de segurança sejam


garantidas à estrutura, coeficientes de segurança devem ser aplicados.

1.2 – Algumas das Hipóteses Simplificadoras Correntemente Assumidas

No domínio da mecânica dos corpos deformáveis, modelos teóricos baseados em


hipóteses simplificadoras são utilizados na modelagem de problemas físicos. De forma
a propor modelos teóricos que não sejam extremamente complexos para a utilização
corrente em engenharia, e que ao mesmo tempo não sejam excessivamente
simplificados, perdendo assim a representatividade do problema físico, as seguintes
hipóteses serão assumidas.

1.2.1 – Materiais

Os materiais que compõem os corpos em estudo devem ser contínuos,


homogêneos, isótropos e de comportamento mecânico elástico linear.

1.2.2 – Elemento Estrutural

As estruturas devem ser entendidas como disposições racionais e adequadas de


diversos elementos estruturais. Classificam-se como elementos estruturais os corpos
deformáveis com capacidade de receber e transmitir solicitações mecânicas em geral.
Em função de suas dimensões, esses elementos podem ser divididos nas seguintes
categorias:

I. Tridimensionais, 3D ou Bloco. Nessa categoria a  b  c

São elementos estruturais comumente utilizados em fundações de edificações


como sapatas e blocos de fundação. Eles possuem as três dimensões de sua geometria
com mesma ordem de grandeza e estados de tensão essencialmente tridimensionais.

Capítulo 1 – Introdução ___________________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 5

Podem ser simplificadamente analisados utilizando as teorias de bielas e tirantes. Na


Fig.(1.3) apresentam-se dois exemplos de estruturas tridimensionais.

Figura 1.3 Estruturas tridimensionais.

II. Bidimensionais, 2D, Chapa, Placa ou Casca. Nessa categoria e « a, e « b

As estruturas bidimensionais, de superfície ou laminares, ficam definidas quando


se conhecem a sua superfície média e a lei de variação de sua espessura. Essas
estruturas possuem duas de suas dimensões muito maiores que a terceira (espessura).
Destacam-se nesse grupo de elementos estruturais as placas, as cascas e as chapas,
como mostrado na Fig. (1.4).
 Placas – São estruturas planas sujeitas a carregamentos perpendiculares ao seu
plano médio. As placas são solicitadas por esforço cortante, momentos fletores e
momentos volventes. As lajes de edifícios são exemplos comuns de estruturas de placas.
 Cascas – Placas onde atuam também esforços de tração ou de compressão
paralelos ao seu plano médio são denominadas cascas. As cascas podem apresentar
geometrias curvas e irregulares como em coberturas de quiosques e domos de igrejas.
Essas duas estruturas são representadas de forma teórica/matemática e estudadas na
teoria de placas e cascas, a qual resulta de uma particularização adequada da teoria da
elasticidade.
 Chapas – São estruturas planas que suportam carregamentos orientados apenas
ao longo das direções paralelas de seu plano médio. As chapas são muito utilizadas na
representação de problemas enquadrados como estado plano de tensão e estado plano de
deformação. As paredes e muros de contenção são exemplos clássicos de estruturas de
chapa.
 Membrana – Trata-se de uma estrutura de casca, onde os momentos fletores e
volventes são nulos. Nessa estrutura atuam somente esforços paralelos ao seu plano
médio.

Capítulo 1 – Introdução ___________________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 6

Figura 1.4 Chapas, cascas e placas.

III. Unidimensionais, 1D, Barra simples, Barra geral ou Arcos. Nessa


categoria L » a, L » b

Os elementos estruturais unidimensionais, correntemente denominados barras,


são caracterizados por possuírem duas de suas dimensões muito menores que a terceira.
Nesses elementos estruturais, as dimensões de sua seção transversal são muito menores
se comparadas a seu comprimento. As estruturas formadas por uma ou mais barras são
denominadas estruturas lineares. Tais elementos estruturais possuem grande
importância no estudo de corpos deformáveis, apresentando larga aplicação na análise
de estruturas de edifícios, manufaturas, pontes, máquinas e equipamentos, entre outros.
Essas estruturas são analisadas segundo hipóteses estabelecidas na mecânica dos corpos
deformáveis e na estática das estruturas, observando-se, naturalmente, os aspectos
peculiares de cada uma. A seguir, apresentam-se algumas definições de interesse:
 Eixo de uma barra: É a trajetória formada pelo ponto representativo do centro de
gravidade da figura geradora da seção transversal de uma barra ao longo de seu
comprimento.
 Seção transversal de uma barra: É o resultado da intersecção entre o eixo da
barra e um plano normal a este.
 Barra reta e barra curva: São barras cujos eixos são retilíneo ou curvilíneo,
respectivamente.
 Barra prismática: Barra reta de seção transversal constante.
As barras podem ser classificadas segundo os esforços que a solicitam e os
deslocamentos assumidos ao longo de seu domínio (comprimento). Assim, pode-se

Capítulo 1 – Introdução ___________________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 7

efetuar a seguinte classificação dos elementos de barra, os quais estão ilustrados na Fig.
(1.5).

Figura 1.5 Barras e arcos.

 Vigas – São elementos de geometria linear que possuem dois graus de liberdade,
v (deslocamento perpendicular ao seu eixo) e  (rotação da seção transversal). As
vigas diferem-se segundo suas condições de vinculação podendo ser: viga em balanço,
viga simplesmente apoiada, viga bi engastada, viga Gerber (viga articulada e isostática
sobre mais de dois apoios), viga contínua (viga hiperestática sobre mais de dois apoios),
entre outros. São solicitadas por esforço cortante e momento fletor.
 Treliças – As treliças são estruturas lineares constituídas por barras retas,
dispostas, em geral, formando painéis triangulares. As treliças são solicitadas
predominantemente por esforços de tração e compressão. Isso se deve ao fato das barras
que formam a treliça serem conectadas por articulações assumidas como perfeitas. As
barras que compõem este tipo de estrutura podem ser divididas em banzos inferior e
superior, montante e diagonal conforme indicado na Fig.(1.6). Nesse tipo de estrutura,
apenas os deslocamentos dos pontos que conectam as barras são determinados. A
rotação relativa entre as barras é, normalmente, desprezada. As treliças podem ser
planas, quando suas barras estão contidas em um único plano, ou espaciais no caso
contrário.
 Pilares – São barras, geralmente retas e com eixo disposto verticalmente, em
que os esforços solicitantes são: esforço normal (compressão), esforço cortante e
momento fletor. Permite-se representar, com esse elemento estrutural, os deslocamentos
e rotações dos pontos que o compõem.

Capítulo 1 – Introdução ___________________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 8

Figura 1.6 Treliça plana.

 Pórticos – Os pórticos planos, conforme indicado na Fig. (1.7), são estruturas


lineares planas com solicitações coplanares à sua geometria que, sendo constituídas
unicamente por barras de eixo retilíneo, não recaem na categoria de viga, treliça ou
pilar, nem na categoria de arco. São elementos estruturais de geometria reta, solicitados
por esforço normal, esforço cortante e momento fletor. Além disso, permitem a
representação, em cada ponto da barra, dos dois deslocamentos no plano e da rotação da
seção transversal. Existem também os pórticos tridimensionais, os quais nada mais são
que a generalização do problema plano. Nesse caso, em cada ponto que compõe a
estrutura representam-se três deslocamentos e três rotações. Além disso, no caso
tridimensional, a barra é solicitada a esforços normal e cortantes e a momentos fletores
e torçor.

Figura 1.7 Pórticos plano, Pórtico tridimensional e Arcos.

 Arcos – Podem ser simplificadamente definidos como pórticos compostos por


barras de eixo curvilíneo, como mostrado na Fig. (1.7).
 Grelhas – As grelhas são constituídas por elementos estruturais lineares situados
em um mesmo plano, formando uma malha (conjunto de barras contínuas limitando
uma região fechada do plano), como mostrado na Fig. (1.8). Nesse tipo de estrutura, os
carregamentos externos são aplicados perpendicularmente ao plano de disposição das
barras. Em cada ponto da grelha são representados duas rotações (perpendiculares ao

Capítulo 1 – Introdução ___________________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 9

plano da grelha) e o deslocamento perpendicular ao plano das barras.


Consequentemente, a grelha é solicitada por momentos fletor e torçor e esforço cortante.

Figura 1.8 Grelhas.

1.2.3 – Carregamentos

As ações externas que atuam sobre os elementos estruturais podem ser


idealizadas segundo sua dimensão, distribuição, intensidade e localização. Para os casos
considerados na mecânica dos sólidos/resistência dos materiais, idealizam-se os
carregamentos como:

I. Forças Distribuídas

As forças distribuídas podem ser divididas em três categorias, segundo a


dimensão do problema analisado.
 Forças de Volume: São ações gravitacionais, inerciais ou forças de origem
eletromagnéticas. São distribuídas no espaço tridimensional, como mostrado na
Fig.(1.9), e mensuradas como unidade de força dividida por unidade de volume.

Figura 1.9 Forças volumétricas.

 Forças de Área: Comumente encontradas nas análises de placas e cascas e em


pressão de fluidos, conforme ilustrado na Fig. (1.10). Essas ações são distribuídas ao

Capítulo 1 – Introdução ___________________________________________________


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longo de uma determinada região (área) da estrutura. São mensuradas por meio de uma
unidade de força dividida por uma unidade de área.

Figura 1.10 Forças de área.

 Forças de Linha: São ações, distribuídas unidimensionalmente, atuantes ao


longo de elementos de vigas e pórticos, como mostrado na Fig. (1.11). São mensuradas
por meio de uma unidade de força dividida por unidade de comprimento.

Figura 1.11 Forças de linha.

II. Ações Concentradas ou Pontuais

São ações localizadas em áreas de pequenas dimensões. Portanto, podem ser


assumidas como pontuais. As ações concentradas podem ser forças ou momentos, como
ilustrado na Fig. (1.12).

Figura 1.12 Carregamento pontual.

Capítulo 1 – Introdução ___________________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 11

1.2.4 – Condições de Vinculação

As condições de vinculação são impostas à estrutura por meio de dispositivos


mecânicos que impedem sua movimentação. Estes dispositivos são, por vezes,
denominados de dispositivos de fixação chapa/terra. Para a análise de problemas
bidimensionais estes dispositivos podem ser divididos em:

I. Apoio Móvel

Este tipo de apoio impede o deslocamento do ponto vinculado apenas ao longo


de uma direção pré-determinada. Como consequência, nesse tipo de apoio surge uma
única reação, orientada na direção do deslocamento impedido. Na Fig. (1.13) está
apresentado o mecanismo de funcionamento do apoio móvel. A presença do apoio
móvel no sistema estrutural é representada por meio dos símbolos apresentados na Fig.
(1.14).

Figura 1.13 Apoio móvel

Figura 1.14 Representação do apoio móvel.

Este tipo de vinculação é utilizado com frequência nas aplicações práticas da


engenharia de estruturas. Na Fig. (1.15) é apresentada a utilização desta vinculação no
sistema estrutural de uma ponte em aço. Mais precisamente, na vinculação de uma de
suas vigas.

Capítulo 1 – Introdução ___________________________________________________


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Figura 1.15 Aplicação real de um apoio móvel.

II. Apoio Fixo

Este tipo de apoio impede o deslocamento dos pontos vinculados ao longo de


duas direções, no caso plano, e três direções no caso tridimensional. Nos apoios do tipo
fixo surgem duas (três) forças reativas, como consequência da restrição aos dois (três)
deslocamentos pontuais impedidos no caso plano (tridimensional). As reações de apoio
são orientadas nas direções dos deslocamentos restringidos. O apoio fixo pode ser
efetuado por meio dos mecanismos ilustrados na Fig. (1.16). Para a representação deste
tipo de apoio no sistema estrutural utiliza-se o símbolo apresentado na Fig. (1.17).

Figura 1.16 Apoio fixo caso plano.

Capítulo 1 – Introdução ___________________________________________________


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Figura 1.17 Representação apoio fixo

Nas ilustrações apresentadas na Fig. (1.18) são mostradas utilizações reais do


apoio fixo em estruturas de barra. Na ilustração A desta figura, apresenta-se a
vinculação de um pilar à sua fundação. Já na ilustração B, observa-se a vinculação de
uma viga a um pilar. Em ambos os casos, constata-se que os deslocamentos são
impedidos pela presença dos parafusos, mas o giro da seção transversal não o é.

Figura 1.18 Aplicações reais do apoio fixo.

III. Engastamento Perfeito

O apoio do tipo engastamento perfeito impede dois deslocamentos no caso plano


e três no caso tridimensional. Além disso, impede também a rotação do ponto
vinculado. Surgem no engaste duas (três) forças reativas decorrentes do impedimento
dos deslocamentos no caso plano (tridimensional) e um (três) momento (s) que resulta
(m) do impedimento à rotação do ponto. Na Fig. (1.19) estão apresentados os
mecanismos que podem ser utilizados para a construção de um engaste. Quando o
engastamento perfeito está presente em um dado sistema estrutural, este é representado
por meio do símbolo mostrado na Fig. (1.20).
Na Fig. (1.21) são ilustradas duas aplicações reais do engastamento perfeito. Na
ilustração A desta figura apresenta-se a utilização deste tipo de vinculação em um pilar,
o qual é engastado a um elemento de fundação. Já na ilustração B da Fig. (1.21),
observa-se a vinculação de uma viga a um pilar por meio do engastamento perfeito.

Capítulo 1 – Introdução ___________________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 14

Destaca-se que, neste tipo de vinculação, os parafusos que efetuam a conexão do


elemento estrutural estão posicionados distantes do centro de gravidade da seção
transversal. Tal localização tem por objetivo impedir os deslocamentos da seção
transversal do engaste, mas principalmente impedir seu giro.

Figura 1.19 Engastamento perfeito. Caso plano.

Figura 1.20 Representação do engastamento perfeito. Caso plano.

Figura 1.21 Aplicações reais do apoio engastamento perfeito.

Capítulo 1 – Introdução ___________________________________________________


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IV. Engastamento Móvel

O engastamento móvel é um tipo especial de vinculação não encontrada com


frequência em aplicações práticas de engenharia, embora seja empregada em diversas
aplicações teóricas. Este tipo de vinculação pode ser observado, por exemplo, na
conexão entre tabuleiro e pilar de pontes e em fundações especiais projetadas contra a
ação de terremotos. Nesse tipo de apoio, o deslocamento ao longo de uma direção pré-
determinada e a rotação do ponto considerado são impedidos. Consequentemente,
surgem nesse apoio duas ações reativas, sendo uma força (atuando ao longo da direção
do deslocamento restringido) e um momento.

Figura 1.22 Engastamento móvel.

Na Fig. (1.22) ilustram-se os mecanismos para a realização de um engastamento


móvel. A simbologia para representação deste tipo de apoio é apresentada na Fig.
(1.23).

Figura 1.23 Representação do engastamento móvel.

É apresentada na Fig. (1.24) a aplicação do engastamento móvel à vinculação de


vigas pertencentes ao sistema estrutural de pontes. Verifica-se que o giro da seção
transversal do apoio é impedido, assim como seu deslocamento vertical. O
deslocamento horizontal é permitido devido a uma folga existente no sistema de
fixação, entre o furo da chapa de ligação e o parafuso.

Capítulo 1 – Introdução ___________________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 16

Figura 1.24 Aplicações reais do apoio engastamento móvel.

1.3 – Princípio de Saint Venant

Este princípio estabelece que em pontos suficientemente afastados das regiões


de aplicação dos carregamentos externos, os efeitos internos se manifestam
independentemente da forma da distribuição daqueles carregamentos. Em outras
palavras, pode-se dizer que:
" As tensões que podem ser produzidas em um corpo pela aplicação, em uma pequena
parte da sua superfície, de um sistema de forças equivalente estaticamente a força zero
e conjugado zero, são de magnitude desprezível a distâncias que são maiores se
comparadas com as dimensões lineares do corpo."

Figura 1.25 Princípio de Saint Venant.

Este princípio é de grande importância na análise mecânica de corpos


deformáveis. À medida em que a zona de análise se afasta da região de aplicação das

Capítulo 1 – Introdução ___________________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 17

ações externas, o gradiente das tensões e deformações tende a ser uniforme, ou seja, as
concentrações decorrentes da aplicação das ações externas tendem a desaparecer.
Assim, a diferença entre o comportamento mecânico real e aquele previsto pelos
modelos matemáticos da mecânica dos sólidos/resistência dos materiais, os quais
assumem distribuição uniforme de tensões e deformações, é significativa apenas na
região vizinha à de aplicação dessas ações externas.
Em outras palavras, este princípio estabelece que se um corpo estiver sujeito à
ação de um conjunto de forças, aplicado numa zona limitada da sua superfície, as
tensões e deformações provocadas por essas forças a uma “distância suficientemente
grande” do seu ponto de aplicação dependem apenas de sua resultante e não da forma
como estas são aplicadas.
Assume-se, como parâmetro prático, que as tensões e deformações tornam-se
uniformes a partir de uma distância igual à maior dimensão da superfície onde estão
aplicadas as ações externas. Este princípio é sustentado por observações experimentais.
Na Fig. (1.25) apresenta-se a aplicação do princípio de Saint Venant. Destaca-se, nessa
figura, a zona de concentração de tensões e deformações, além da zona onde essas
grandezas apresentam variação uniforme.

1.4 – Princípio da Superposição dos Efeitos

O princípio da superposição dos efeitos prevê que os efeitos de um sistema


composto por várias ações agindo em um corpo serão iguais à somatória dos efeitos
parciais produzidos neste corpo quando cada ação é aplicada isoladamente,
independente da origem da aplicação, conforme indicado na Fig. (1.26). Esse princípio é
válido desde que as seguintes condições sejam atendidas.

Figura 1.26 Princípio da superposição dos efeitos. Aplicação em viga fletida.

Capítulo 1 – Introdução ___________________________________________________


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I. Regime de pequenos deslocamentos.


II. Material de comportamento mecânico elástico linear.
O princípio da superposição dos efeitos é de grande utilidade na análise de
tensões e deslocamentos em corpos deformáveis. Este princípio será utilizado em
diversas oportunidades durante este curso.

1.5 – Compatibilidade de Unidades de Medida

Diversos problemas da engenharia de estruturas envolvem a transmissão de


forças e momentos ao longo do domínio de elementos estruturais. Essas grandezas,
assim como as dimensões do elemento estrutural e de sua seção transversal além das
propriedades materiais, devem ser descritas por unidades de medida compatíveis.
Assim, com o objetivo de resolver tais problemas utilizando números com formatos
convenientes, utilizam-se com frequência os prefixos do sistema internacional (S.I.),
conforme descrito na Tabela (1.1).

Tabela 1.1 Prefixos do Sistema Internacional.

Dessa forma, forças são usualmente descritas em kN (quilo newton), ou seja, 1


kN = 103 N. Similarmente, os módulos de elasticidade dos materiais são descritos em
GPa (giga pascal), ou seja, 1 GPa = 109 Pa = 106 kPa = 103 MPa. Em relação às
dimensões de comprimento, deve-se enfatizar que 1 m = 100 cm = 1000 mm. Tais
transformações serão efetuadas com frequência ao longo do curso. Assim, sugere-se que
o leitor tenha sempre em mente as transformações apresentadas na Tabela (1.1).

Capítulo 1 – Introdução ___________________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 19

2. – Equilíbrio de Ponto Material e Corpo Rígido

2.1 – Introdução

Um ponto material, ou um ponto pertencente ao um corpo ou a uma estrutura,


está em equilíbrio se, e somente se, pelo menos uma das condições abaixo é verificada:
 Se o ponto está em repouso e permanece em repouso.
 Se o ponto está em movimento retilíneo uniforme, ou seja, se sua velocidade for
constante.
De acordo com as duas condições acima apresentadas, o ponto material deve

apresentar aceleração, a , nula para estar em equilíbrio. Portanto, utilizando a 2ª lei de
Newton, assumindo que o ponto material tenha massa não nula, pode-se concluir que na
condição de equilíbrio a seguinte condição é observada:
   
 F  ma  ma  0  F  0 (2.1)

Decorre da 2ª lei de Newton que se o ponto material está em equilíbrio então a



somatória das forças atuantes sobre o dado ponto deve ser nula, ou seja,  F  0 . Esta

é uma condição necessária ao equilíbrio.


Para mostrar que o resultado apresentado na Eq. (2.1) é também uma condição
suficiente ao equilíbrio do ponto material, deve-se utilizar a 1ª lei de Newton, a qual
enuncia que:
“Todo ponto permanece em seu estado de repouso ou de movimento retilíneo
uniforme, a menos que seja obrigado a mudar seu estado por forças a ele impressas.”

Consequentemente, decorre da primeira lei de Newton que  F  0 é uma

condição necessária e também suficiente para o equilíbrio do ponto material.

Capítulo 2 – Equilíbrio de Ponto Material e Corpo Rígido________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 20

2.2 – Equilíbrio Estático do Ponto Material

O termo equilíbrio estático é utilizado para descrever a condição de equilíbrio de


um objeto que encontra-se em repouso. Esta é uma condição desejável em grande parte
das estruturas utilizadas em engenharia, especialmente as civis. O ponto material está
em equilíbrio estático se as seguintes condições estáticas e cinemáticas forem atendidas:

 Condição estática:  F  0 .

 Condição cinemática: u  0 .

sendo u o vetor que contém os deslocamentos do ponto material.
Para a análise de problemas bidimensionais, as condições apresentadas acima
podem ser particularizadas como:
 Condição estática: F x 0, Fy  0.

 Condição cinemática: ux  0 , u y  0 .

Para a verificação da veracidade, ou imposição, das duas condições acima em


um ponto material, uma simples ferramenta deve ser empregada, a qual é denominada
diagrama de corpo livre. Esse diagrama envolve um esboço do sistema de ações atuante
em torno do ponto material, ou seja, mostra o ponto material e sua vizinhança sendo
todas as ações aplicadas no ponto definidas e representadas segundo sua direção,
intensidade e sentido.
Deve-se notar que como estão envolvidas apenas duas somatórias de força, para
o caso plano, somente duas grandezas poderão ser identificadas por ponto material no
problema. Para problemas tridimensionais três grandezas por ponto material podem ser
identificadas. Porém, um número maior de grandezas poderá ser identificado e
mensurado utilizando as condições de equilíbrio estático. Para que isso seja possível,
condições subsidiárias devem ser impostas, relacionando as diversas ações e reações.

2.2.1 – Exemplo 1

Um conjunto de cabos suporta uma caixa cujo peso é igual a 1,0 kN. As
dimensões dos cabos bem como sua disposição estão apresentadas na Fig. (2.1).

Capítulo 2 – Equilíbrio de Ponto Material e Corpo Rígido________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 21

 
Determine as forças atuantes ao longo dos cabos AC e BC efetuando o equilíbrio
estático do ponto C.

Figura 2.1 Geometria e ações para o exemplo 1.

Para a solução deste problema, deve-se, inicialmente, construir o diagrama de


corpo livre do sistema de cabos e força. O diagrama de corpo livre para o problema
considerado está ilustrado na Fig. (2.2).

Figura 2.2 Diagrama de corpo livre.

Utilizando relações trigonométricas fundamentais obtêm-se os valores


relacionados aos ângulos  e mostrados na Fig. (2.2)Assim:
sen    0, 625 cos    0, 781 sen     0,8 cos     0, 6

A partir dos valores das relações trigonométricas apresentados anteriormente,


pode-se decompor as forças atuantes apresentadas no diagrama de corpo livre segundo
as direções x e y. Efetuando este procedimento, e aplicando a condição de somatória
nula de forças, têm-se:

Capítulo 2 – Equilíbrio de Ponto Material e Corpo Rígido________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 22

F x  0  FBC cos     FAC cos    0


F y  0  FBC sen     FAC sen    1  0

Manipulando o sistema de equações anterior de forma a torná-lo mais


conveniente, pode-se escrever que:

 cos     cos     FBC  0


   
 sen    sen     FAC  1 
Resolvendo este sistema matricial obtêm-se:
FBC  0, 782 kN
FAC  0, 6 kN

2.2.2 – Exemplo 2

Para o conjunto de forças atuante no ponto material mostrado na Fig. (2.3),


determine a intensidade da força F3 de forma que a resultante das forças atuantes neste

ponto seja a mínima possível. Considere F1  20kN e F2  12kN .

Figura 2.3 Conjunto de forças atuantes em um ponto material.

Para a resolução desse problema, as forças atuantes no ponto material devem ser
decompostas em relação às direções x e y, ou em relação aos versores unitários i e j.
Para a força F1 , suas componentes podem ser obtidas com base no apresentado na Fig.

(2.4). Utilizando relações trigonométricas fundamentais obtém-se: sen    3 e


5

cos    4 . Assim, as componentes do vetor F1 são iguais a:


5

Capítulo 2 – Equilíbrio de Ponto Material e Corpo Rígido________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 23

Figura 2.4 Componentes da força F1 .


F1x  F1 cos   , F1 y  F1sen    F1  16i  12 j

Para a força F2 procedimento semelhante deve ser efetuado. Com base na


ilustração apresentada na Fig. (2.5), verifica-se que as componentes dessa força são
iguais a:

F2  0i  12 j

Figura 2.5 Componentes da força F2 .

Considerando a força F3 , esta deve também ser decomposta segundo as direções


i e j. Sabendo que seu ângulo de inclinação em relação a estes eixos é de 45º, como
mostrado na Fig. (2.6), suas componentes podem ser descritas como:
 2 2
F3x  F3 cos  45º  , F3y  F3 sen  45º   F3   F3i  F3 j
2 2

Figura 2.6 Componentes da força F3 .

Capítulo 2 – Equilíbrio de Ponto Material e Corpo Rígido________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 24

Assim, o vetor resultante das forças atuantes no ponto material considerado pode
ser calculado como:
      2   2 
F  F1  F2  F3  F  16  0  F3  i  12  12  F3  j
 2   2 
O que resulta em:
  2   2 
F  16  F3  i   F3  j
 2   2 
A intensidade do vetor resultante é calculada somando-se o quadrado de cada
uma de suas componentes e em seguida extraindo sua raiz quadrada (norma de um
vetor). Efetuando este procedimento tem-se:
2 2
  2   2 
F   16  F3    F3 
 2   2 
Manipulando algebricamente o termo anterior obtém-se:
 F32 F32 
F  256  16 2 F3    F  F32  16 2 F3  256
2 2

O mínimo valor da intensidade de F pode ser obtido usando os conhecimentos

do cálculo diferencial, os quais prescrevem que o extremo de uma função (mínimo ou


máximo) ocorre quando sua primeira derivada é nula. Assim, o valor da parcela

d F
 0 é igual a:
dF3


   2F  16 2   0
d F 1 2 1
2
 F3  16 2 F3  256 3 
dF3 2

d F

1  2F  16 2 
3
0 
dF3 2
 F32  16 2 F3  256 

d F

F 8 2
3
0
dF3
 F32  16 2 F3  256 
Portanto, para que a intensidade da força resultante seja mínima, isto é nula, a
razão acima deve possuir numerador nulo. Dessa forma, a intensidade será também
nula. Assim:

Capítulo 2 – Equilíbrio de Ponto Material e Corpo Rígido________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 25

F3  8 2  0  F3  11,31 kN
Para que a solução obtida anteriormente seja válida, o valor de F3 obtido deve
tornar o denominador não nulo e o termo dentro da raiz em um número maior que zero.
Fazendo esta verificação tem-se:

11,312  16 2.11,31  256  128


Portanto, a solução obtida é factível.

2.3 – Equilíbrio de Corpo Rígido

Assim como a união de células forma um corpo, a união de pontos materiais


forma uma estrutura. Portanto, o equilíbrio de uma estrutura poderá ser compreendido a
partir dos conceitos discutidos na seção anterior, uma vez que, se todos os pontos
materiais do corpo estiverem em equilíbrio, o corpo estará também em equilíbrio e vice-
versa.
Para a compreensão do equilíbrio de um corpo, deve-se considerar o corpo
rígido apresentado na Fig. (2.7), o qual está em equilíbrio quando submetido a um
conjunto de ações externas, F, e de condições de vinculação.

Figura 2.7 Corpo rígido em equilíbrio.

Se o corpo está em equilíbrio, qualquer parte isolada deste deve também estar
em equilíbrio. Assim, seccionando o corpo apresentado na Fig. (2.7) em duas partes,

Capítulo 2 – Equilíbrio de Ponto Material e Corpo Rígido________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 26

como indicado na Fig. (2.8), ambas as partes, quando analisadas de forma isolada,
devem permanecer em equilíbrio.
Para que a condição de equilíbrio seja mantida em cada uma das porções do

corpo, surgem forças  i , denominadas forças internas, que reestabelecem a condição de

equilíbrio. Assim, se o corpo está em equilíbrio estático, a seguinte condição deve ser
observada:
 
 i  i 0
F   (2.2)

Figura 2.8 Corpo rígido seccionado.


Porém, deve-se enfatizar que as forças internas,  i , surgem aos pares (pela 3ª

Lei de Newton: ação e reação). Consequentemente, os pares de forças internas possuem



mesma direção e intensidade, mas sentidos opostos. Portanto,   i  0 por definição.

Assim, uma condição necessária para que o equilíbrio estático ocorra é a apresentada
pela Eq.(2.3):

 Fi  0 (2.3)

Com relação à verificação da condição de equilíbrio estático, existe ainda outro


quesito que deve ser atendido. Este quesito está relacionado às condições cinemáticas
do problema. Para entender esta condição, deve-se considerar o corpo rígido
apresentado na Fig. (2.9). Trata-se de um corpo plano, retangular, submetido a um
binário F.

Capítulo 2 – Equilíbrio de Ponto Material e Corpo Rígido________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 27

Considerando o corpo apresentado na Fig. (2.9), verifica-se que a Eq. (2.3) é


atendida. Porém, é intuitivo perceber que, sob a ação dessas forças, o corpo gira no
sentido anti-horário. Na Fig. (2.10) são mostradas as configurações deslocada
(pontilhado) e indeslocada (linha cheia) do corpo analisado. Portanto, embora a Eq.(2.3)
seja atendida, o corpo em questão não atende às condições cinemáticas do equilíbrio
estático, ou seja, u x  u y  0 .

Figura 2.9 Corpo rígido submetido a forças F. Figura 2.10 Movimentação cinemática do corpo.

Para que as condições cinemáticas sejam também atendidas, de forma a


possibilitar o equilíbrio estático, o balanço de uma entidade denominada momento deve
também ser verificado. O momento de uma força em relação a um ponto, ou eixo,
fornece uma medida da tendência dessa força em provocar a rotação (giro) de um corpo
em torno deste ponto ou eixo. Considerando o sistema apresentado na Fig. (2.11), o
momento pode ser definido matematicamente como apresentado na Eq.(2.4):

Figura 2.11 Momento causado por uma força.

 
M A  F  d  M A  Fd (2.4)

Dessa forma, a somatória dos momentos em relação a qualquer ponto do espaço


deve ser nula para que haja o equilíbrio estático. Assim, considerando os termos
apresentados na Eq.(2.2) tem-se:
      
 d F
i i 
 i  0   d  F   d 
i i i i 0 (2.5)

Capítulo 2 – Equilíbrio de Ponto Material e Corpo Rígido________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 28

Como as forças internas surgem aos pares (3ª Lei de Newton) e têm sentidos
opostos, a parcela decorrente dos momentos internos é nula. Dessa forma, a Eq.(2.5)
pode ser reescrita como:
  
 i
d  F i  M  0 (2.6)

Portanto, as duas equações de equilíbrio necessárias para a verificação do


equilíbrio estático de um corpo rígido podem ser expressas por:

 
F 0
 (2.7)
M  0
Deve-se enfatizar que as expressões mostradas na Eq.(2.7) exprimem condições
necessárias e suficientes para a observação do equilibro estático de um corpo rígido.
Para mostrar que essas condições são necessárias e suficientes, deve-se considerar um
corpo rígido em equilíbrio, como mostrado na Fig. (2.7). Nessa situação, as seguintes
condições são verificadas:
 
 F  0 e M  0 (2.8)

Se uma força, F , e um momento, M , forem adicionados a este corpo, pode-se
reescrever as Eq. (2.8) da seguinte forma:
  
 F  F  0 e  M 0
M  (2.9)

Como o corpo estava previamente em equilíbrio, antes da aplicação dessas


ações, conclui-se que:
 
 F  0 e M  0 (2.10)

Consequentemente, para que a condição de equilibrio seja novamente observada


tem-se:
 
F 0 e M 0 (2.11)
Para problemas bidimensionais, as Eq.(2.7) podem ser particularizadas como:

F  0
x

F  0
y (2.12)
M  0 z

Já para problemas tridimensionais, tais condições podem ser expressas como:

Capítulo 2 – Equilíbrio de Ponto Material e Corpo Rígido________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 29

F  0
x F  0
y F z 0
(2.13)
M  0 x M  0 y M z 0

Com relação ao equilíbrio cinemático de um corpo plano, observa-se que um


elemento infinitesimal pertencente a este corpo apresenta três deslocamentos possíveis,
conforme indicado na Fig. (2.12):

Figura 2.12 Equilíbrio cinemático no elemento infinitesimal.


O vetor deslocamento, u , é formado por uma componente orientada ao longo da
direção x, ux , e outra na direção y, u y . Além desses, o elemento infinitesimal ainda

pode rotacionar no plano. A cada deslocamento ou rotação em potencial dá-se o nome


de grau de liberdade. No caso plano, um corpo rígido possui 3 graus de liberdade e no
caso tridimensional 6 graus de liberdade. Do ponto de vista cinemático, a estrutura está
em equilíbrio se ela não se desloca ou rotaciona rigidamente no espaço. Portanto, a
estrutura deve ser convenientemente vinculada para que movimentos de corpo rígido
não sejam observados.

2.3.1 – Exemplo 3

Determine as reações de apoio da estrutura rígida apresentada na Fig. (2.13), de


forma que o equilíbrio estático seja observado.
Para a solução deste problema, deve-se construir o diagrama de corpo livre do
sistema estrutura e carregamentos. Como o apoio do ponto A é do tipo engaste, surgem,
nesse ponto, três reações de apoio, as quais estão indicadas na Fig. (2.14).

Capítulo 2 – Equilíbrio de Ponto Material e Corpo Rígido________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 30

Figura 2.13 Estrutura a ser analisada.

Figura 2.14 Diagrama de corpo livre.

Para que o equilíbrio ocorra, as Eq. (2.12) devem ser atendidas. Assim:

F  0
x  Fh  0

F  0
y  FV  10  0  FV  10 kN
M  0 A  10  2  M  0  M  20 kNm

2.3.2 – Exemplo 4. Exercício Proposto

O exercício apresentado neste item será proposto para a resolução pelo leitor.
Para a estrutura mostrada na Fig. (2.15), determine as reações de apoio e mostre que o
princípio da superposição dos efeitos é válido para o problema.

Capítulo 2 – Equilíbrio de Ponto Material e Corpo Rígido________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 31

Figura 2.15 Estrutura considerada.

2.3.3 – Exemplo 5

A porta apresentada na Fig. (2.16) possui peso próprio igual a 100 N. Determine
as reações em suas articulações, sabendo que a dobradiça A suporta apenas reação
horizontal e a dobradiça B suporta reações horizontal e vertical. As dimensões
apresentadas na Fig. (2.16) são dadas em metro.

Figura 2.16 Estrutura considerada. Dimensões apresentadas em metro.

A resolução desse problema envolve duas etapas. A primeira delas relacionada à


construção do diagrama de corpo livre e a segunda à verificação das condições de
equilíbrio expressas pela Eq.(2.12). O diagrama de corpo livre para o problema

Capítulo 2 – Equilíbrio de Ponto Material e Corpo Rígido________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 32

considerado é o apresentado na Fig. (2.17), o qual leva em consideração as condições


propostas no enunciado sobre as restrições ao deslocamento nas dobradiças.

Figura 2.17 Diagrama de corpo livre.

Segundo as ações apresentadas no diagrama de corpo livre, podem ser aplicadas


as Eq.(2.12) e, consequentemente, a imposição do equilíbrio estático do corpo rígido.
Assim, as reações nas dobradiças são dadas por:

F  0
y  FBV  100  0  FBV  100 N

M  0 A  100  2  FBH  6  FBV  0  0  FBH  100 N


3
F  0
x   FA  FBH  0  FA  100 N
3

2.3.4 – Exemplo 6

Para o sistema estrutural mostrado na Fig. (2.18), determine o menor


comprimento d, de forma a evitar o tombamento da estrutura. Determine também a
intensidade do carregamento aplicado, W.
Para que o tombamento não ocorra, as equações de equilíbrio estático devem ser
satisfeitas. Aplicando as Eq. (2.12) obtém-se:
W  d 2d
M A  0  800  4 
2

3
0  W  d 2  9600

W d
F y 0  800 
2
0  W  d  1600

As duas equações obtidas acima devem ser manipuladas algebricamente para se


obter os valores de d e W. Dividindo a primeira equação pela segunda tem-se:

Capítulo 2 – Equilíbrio de Ponto Material e Corpo Rígido________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 33

d  6 ft
Consequentemente:

1600
W  W  266, 67 lb
6 ft

Figura 2.18 Sistema estrutural considerado.

2.3.5 – Exemplo 7

Para a estrutura mostrada na Fig. (2.19) determine as reações de apoio


considerando duas hipóteses. Hipótese 1: h = 0 e Hipótese 2: h = 20 cm.

Figura 2.19 Sistema estrutural considerado.

Capítulo 2 – Equilíbrio de Ponto Material e Corpo Rígido________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 34

Hipótese 1 (h=0)
Para essa hipótese, o diagrama do corpo livre pode ser construído facilmente,
como mostrado na Fig. (2.20). Aplicando as equações de equilíbrio estático obtém-se:

M A  0   180  25  By  50  0  180  0,5  B  sen  30º   B  180 N


F x  0  Ax  Bx  0  Ax  B  cos  30º   0  Ax  155,885 N

F y  0  Ay  By  180  0  Ay  B  sen  30º   180  0 


Ay  180  sen  30º   180  0  Ay  90 N

Figura 2.20 Diagrama de corpo livre.

Hipótese 2 (h = 20 cm)
Considerando a Hipótese 2, o diagrama do corpo livre pode ser construído
posicionando-se o apoio A a 20 cm da base do corpo, conforme indicado na Fig. (2.21).

Figura 2.21 Diagrama de corpo livre.

Capítulo 2 – Equilíbrio de Ponto Material e Corpo Rígido________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 35

Aplicando as equações de equilíbrio obtém-se:

 M  0   A  20  A  50  180  25  0
B x y  20 Ax  50 Ay  4500

F 0  A B 0
x x x  Ax  B cos  30º   0

 F  0  A  B  180  0
y y y  Ay  B  sen  30º   180
A obtenção das reações de apoio passa pela solução conjunta das três equações
de equilíbrio obtidas anteriormente. Organizando-as de forma matricial, para a solução
de um sistema de equações, obtém-se:

 20 50 0   Ax  4500   Ax   507, 479 


 1 0 0,86603  A    0    A   112,992  N
  y    y  
 0 1   
0,5   B   180     
 B   585,983 

2.4 – Conceituação Sobre a Determinação de Estruturas

De acordo com os conceitos apresentados neste capítulo, constata-se que o


equilíbrio estático é verificado se as somatórias de forças e de momentos atuantes sobre
este são nulas em relação a qualquer ponto do plano, Eq.(2.12) e Eq.(2.13).
Consequentemente, para o caso plano têm-se três equações de equilíbrio e para o
tridimensional seis, as quais devem ser atendidas. Porém, deve-se perguntar o que
ocorre quando estruturas como as apresentadas na Fig. (2.22) devem ser analisadas:

Figura 2.22 Sistemas hiperestático e hipostático.

Com base na quantidade de incógnitas a ser determinada e no número de


restrições de movimento (translações e rotações) imposto pelos apoios e conexões
internas ao corpo rígido, é possível classificar as estruturas em isostática, hiperestática e
hipostática. Às estruturas onde as reações (interna e externa) envolvem número de
incógnitas igual ao número de equações de equilíbrio e os tipos de apoio usados são tais

Capítulo 2 – Equilíbrio de Ponto Material e Corpo Rígido________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 36

que impossibilitam o corpo rígido de se mover (rigidamente) sob a ação de quaisquer


condições de carregamento, dá-se o nome de estrutura de isostática, sendo suas reações
estaticamente determinadas.
De forma semelhante, considerando a estrutura impedida de se deslocar
rigidamente pela presença dos apoios, quando as incógnitas reativas (interna e externa)
decorrentes das condições de vinculação são em maior número que as equações de
equilíbrio, as reações são estaticamente indeterminadas e a estrutura é denominada
hiperestática, como é o caso da primeira ilustração da Fig. (2.22). Essas estruturas são
resolvidas empregando-se condições de compatibilidade de deslocamento.
Nos problemas onde o número de incógnitas devido às condições de vinculação
é menor que o número de equações de equilíbrio, pelo menos uma das equações de
equilíbrio, Eq.(2.12) ou Eq.(2.13), não será satisfeita. Consequentemente, a estrutura
poderá mover-se rigidamente no espaço em pelo menos uma direção. Nessa situação, o
equilíbrio estático não é garantido, sendo essas estruturas denominadas hipostáticas. A
segunda ilustração apresentada na Fig. (2.22) trata de uma estrutura hipostática.
Apesar do exposto anteriormente, a estrutura deve ser eficientemente vinculada
para evitar que deslocamentos de corpo rígido ocorram. Assim, o número de
vinculações é uma condição necessária, mas não suficiente para o equilíbrio estrutural.
Na Fig. (2.23) estão ilustrados dois exemplos onde as condições de vinculações
resultam três ou mais ações reativas. Apesar disso, a estrutura não apresenta equilíbrio
estático por não estar eficientemente vinculada. Assim, nos dois casos apresentados
nessa figura, pelo menos uma das Eq.(2.12) não é satisfeita. Em ambos os casos as
estruturas podem deslocar-se rigidamente.

Figura 2.23 Estruturas vinculadas, porém sem equilíbrio estático.

Capítulo 2 – Equilíbrio de Ponto Material e Corpo Rígido________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 37

2.5 – Forças Equivalentes e Pontos de Aplicação

No capítulo anterior foi discutida a maneira com a qual as forças atuantes em


uma estrutura podem ser representadas. Assim, ações concentradas e distribuídas foram
apresentadas bem como suas simplificações. No presente capítulo, tais forças foram
utilizadas na imposição do equilíbrio de ponto material e equilíbrio de corpo rígido.
Porém, nada foi ainda dito, formalmente, a respeito da obtenção de carregamentos
equivalentes aos carregamentos distribuídos assim como a localização dessas forças
equivalentes. Utilizando os conceitos apresentados na mecânica Newtoniana, bem como
a ilustração apresentada na Fig. (2.24), observa-se que a força equivalente associada a
um carregamento distribuído é obtida utilizando-se a Eq. (2.14):
FR   w  x  dx (2.14)
L

__
Além disso, seu ponto de aplicação, x , é obtido utilizando a seguinte equação:

__  xw  x  dx
x L
(2.15)
 w  x  dx
L

Figura 2.24 Forças equivalentes e seus pontos de aplicação.

Deve-se enfatizar a semelhança das Eq. (2.14) e Eq. (2.15) com as equações que
possibilitam a determinação da área e centro de gravidade, respectivamente, de figuras
planas.

Capítulo 2 – Equilíbrio de Ponto Material e Corpo Rígido________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 38

2.5.1 – Exemplo 8

Determine a força equivalente e seu ponto de aplicação para a estrutura


apresentada na Fig. (2.25).

Figura 2.25 Forças equivalentes e seus pontos de aplicação.

Utilizando os resultados apresentados nas Eq. (2.14) e Eq. (2.15) obtém-se:


4
1
FR   w  x  dx  FR    4  x  dx  FR  10, 667 kN
2

L 0
2
4
1
 xw  x  dx  x 2 4  x
2
dx
__ __ __
x L
 x 0
 x  1, 0 m
 w  x  dx
4
1
 2 4  x
2
L
dx
0

Deve-se enfatizar que resultados triviais são obtidos para carregamentos


distribuídos constantes e lineares, os quais compõem grande parte das solicitações em
estruturas. Assim, sugere-se que o leitor resolva o exercício 2.3.4 Exemplo 6 utilizando
as Eq. (2.14) e Eq. (2.15).

Capítulo 2 – Equilíbrio de Ponto Material e Corpo Rígido________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 39

3. – Elemento de Barra Simples: Treliças

3.1 – Introdução

O elemento de barra simples é o elemento estrutural mais simples utilizado no


domínio da engenharia de estruturas. Este elemento pode ser definido, em termos
estáticos, como um elemento estrutural que transmite (ou resiste) apenas a forças
segundo seu eixo longitudinal. Já do ponto de vista cinemático, o elemento de barra
simples impede que dois pontos materiais ligados por ele se afastem ou se aproximem.
A força interna transmitida ao longo do eixo longitudinal do elemento de barra
simples é denominada esforço solicitante normal. O esforço solicitante normal, muitas
vezes denominado apenas de esforço normal, pode ser entendido a partir de um
elemento de barra simples em equilíbrio, como mostra a Fig. (3.1). Seccionando um
elemento de barra simples em equilíbrio, solicitado por duas forças trativas F em seus
extremos, surgem, para o reestabelecimento do equilíbrio, duas forças N no ponto de
seccionamento. A força N é o esforço solicitante normal.

Figura 3.1 Elemento de barra simples.

Para que o equilíbrio seja satisfeito, o esforço N deve ser igual à força F
aplicada. Assim, pode-se definir o esforço solicitante normal como: “Conjunto de forças
auto equilibrado atuante em um elemento estrutural em equilíbrio de modo que a
resultante no elemento seja nula”.

Capítulo 3 – Elemento de Barra Simples: Treliças_______________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 40

Se o esforço normal tende a alongar o elemento, este é denominado trativo ou de


tração (T) e convencionado com sinal positivo. Por outro lado, se o esforço normal tente
a encurtar o elemento, este será compressivo ou de compressão (C) e convencionado
com sinal negativo. Na Fig. (3.2) estão ilustradas as ações dos esforços trativos e
compressivos atuantes sobre um elemento de barra simples. Esforços trativos do lado
esquerdo e esforços compressivos do lado direito.

Figura 3.2 Esforços solicitantes em elementos de barra simples.

De acordo com as condições cinemáticas desse elemento, conforme a definição


anteriormente apresentada, verifica-se que o elemento de barra simples retira um grau
de liberdade (GDL) do sistema. Já o ponto material, também denominado nó, acrescenta
dois graus de liberdade para o caso bidimensional e três para o caso tridimensional. Na
Fig. (3.3) é apresentado um sistema formado por dois pontos materiais e um elemento
de barra simples, ambos contidos no plano. Quando os pontos materiais são analisados
de forma isolada, estes apresentam quatro graus de liberdade (dois deslocamentos cada
um). Porém, quando o elemento de barra simples é adicionado, um grau de liberdade do
sistema é removido, resultando, portanto, três graus de liberdade do sistema. Os três
graus de liberdade resultantes do sistema são: deslocamento x, ux , deslocamento y, u y e

a rotação no plano,  xy . Deve-se enfatizar que estes três GDL estão associados ao

deslocamento de corpo rígido do sistema. Para que não ocorra este tipo de
deslocamento, a estrutura deve ser convenientemente vinculada. Neste caso, três
vinculações devem ser adicionadas, cujas reações são determinadas por meio das
equações de equilíbrio de corpo rígido no plano, Eq.(2.12).

Figura 3.3 Sistema formado por dois pontos materiais e um elemento de barra simples.

Capítulo 3 – Elemento de Barra Simples: Treliças_______________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 41

Com base no sistema apresentado na Fig. (3.3), pode-se perguntar: Qual é a


estrutura rígida mais simples formada por elementos de barra simples? Para responder a
esta questão, deve-se efetuar uma análise evolutiva considerando um conjunto de nós e
a inserção progressiva de elementos de barra simples, ambos no plano. Esta análise será
discutida considerando a ilustração apresentada na Fig.(3.4).

Figura 3.4 Sistema estático mais simples. Triangulo rígido.

Para o caso 1A, observa-se a presença de três nós no plano. O sistema formado
por esses nós conduz à existência de seis GDL, sendo dois GDL (dois deslocamentos no
plano) por nó. Ao sistema formado por três nós, pode-se acrescentar um elemento de
barra simples, como mostrado no caso 2A. O elemento de barra simples retira um GDL
do sistema. Portanto, o sistema resultante possui cinco GDL, os quais são dois
referentes ao nó isolado e três relacionados ao deslocamento de corpo rígido, ( ux , u y e

 xy ), do conjunto barra simples/dois nós. Evoluindo nessa análise, pode-se acrescentar


um elemento de barra simples ao sistema mostrado no caso 2A. Esse caso pode ser
visualizado na ilustração 3A, a qual mostra um sistema composto por três nós e dois
elementos de barra simples. Como a inclusão do elemento de barra simples retira um
GDL do sistema, constata-se que esse caso apresenta quatro GDL. Esses GDL são três
referentes ao deslocamento de corpo rígido do conjunto, ( ux , u y e  xy ), e um

relacionado ao deslocamento relativo entre os dois elementos de barra simples.


Finalmente, pode-se acrescentar mais um elemento de barra simples ao conjunto
mostrado no caso 3A, retirando, assim, um GDL desse sistema. Essa situação é
mostrada na ilustração 4A, a qual possui três GDL. Todos estes relacionados ao
deslocamento de corpo rígido do conjunto. Para que o movimento de corpo rígido não
ocorra, condições de vinculação devem ser propriamente inseridas a este sistema.
Assim, o equilíbrio estático pode ser estabelecido. Com base nas ilustrações 1A-4A,
constata-se que o quadro triangular rígido é a estrutura rígida mais simples composta
por nós e elementos de barras simples.

Capítulo 3 – Elemento de Barra Simples: Treliças_______________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 42

Para a obtenção de estruturas planas funcionais compostas por nós e elementos


de barra simples, o crescimento natural é obtido a partir do triângulo rígido,
acrescentando-se, a cada crescimento, duas barras e um nó conforme ilustrado na Fig.
(3.5).

Figura 3.5 Desenvolvimento de estruturas funcionais a partir do triangulo rígido.

Com base na análise apresentada anteriormente, verifica-se que os GDL de uma


estrutura composta apenas por barras simples podem ser calculados por meio da
seguinte relação:
GDL  2 NÓS  BARRAS se 2 D
(3.1)
GDL  3NÓS  BARRAS se 3D
Deve-se enfatizar que a análise efetuada anteriormente pode ser facilmente
estendida para o estudo de problemas 3D. Nesse caso, a estrutura rígida mais simples
formada por nós e elementos de barra simples é um tetraedro rígido. A determinação
estática das estruturas compostas por elementos de barras simples pode ser verificada
com base no número de graus de liberdade do sistema. Assim, pode-se definir que:
GDL  3 HIPOSTÁTICA GDL  6 HIPOSTÁTICA
GDL  3 ISOSTÁTICA SE 2D GDL  6 ISOSTÁTICA SE 3D
GDL  3 HIPERESTÁTICA GDL  6 HIPERESTÁTICA
O autor propõe que o leitor, com base nas definições acima, classifique os
sistemas apresentados na Fig. (3.6) em hipo, iso ou hiperestáticas.

Figura 3.6 Classificação de sistemas segundo sua condição de estaticidade.

Capítulo 3 – Elemento de Barra Simples: Treliças_______________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 43

Embora a condição estática de uma estrutura de barras simples possa ser


determinada com base em seu número de GDL, deve-se atentar para que a disposição
das barras no sistema seja também adequada. Na Fig. (3.7) é mostrado um conjunto de
barras simples que possui GDL=3. Porém, devido ao arranjo inadequado de suas barras,
existe uma configuração de falha.
Muitas vezes, situações como estas podem ser planejadas para o
desenvolvimento de projetos mecânicos. Nesses casos, devem ser utilizados
equipamentos mecânicos, como pistão, por exemplo, para o controle dos GDL
excedentes.

Figura 3.7 Arranjo adequado de barras simples.

3.2 – Estruturas de Barra Simples: Treliças

Treliça é um sistema estrutural muito utilizado em engenharia de estruturas para


a construção de coberturas, pontes e estruturas de grandes dimensões. As treliças são
compostas por elementos lineares, denominados barras simples, ligados entre si por
articulações que se consideram perfeitas, chamadas nós. Nas treliças, as cargas externas
são pontuais e atuam somente sobre os nós, ficando, assim, as barras sujeitas apenas à
esforços normais de tração ou compressão. As treliças são ditas planas quando todas as
suas barras encontram-se num mesmo plano. Treliças espaciais são aquelas onde as
barras estão posicionadas no espaço (coberturas de postos de combustíveis,
estacionamentos e ginásios). Na Fig. (3.8) ilustra-se uma treliça plana típica.

Capítulo 3 – Elemento de Barra Simples: Treliças_______________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 44

Figura 3.8 Treliça plana típica.

Nas treliças, apenas esforços normais estão presentes. Isso ocorre pelo fato das
barras estarem ligadas aos nós, os quais são considerados como articulações perfeitas.
Para demonstrar que nessa estrutura apenas esforços axiais estão presentes, pode-se
considerar a barra mostrada na Fig.(3.9):

Figura 3.9 Elemento de barra simples.

Considerando que as extremidades da barra são perfeitamente rotuladas, pode-se


escrever que:

M B  0  FAC  L  0  FAC  0 (3.2)

Consequentemente, FBC  0 e o equilíbrio é efetuado somente por meio das


forças axiais.

Capítulo 3 – Elemento de Barra Simples: Treliças_______________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 45

Para que a hipótese de nós perfeitamente rotulados seja atendida, a ligação entre
as barras deve ser projetada utilizando-se pinos lisos ou parafusos. A ligação pode
também ser construída por meio de chapas soldadas, conforme indicado na Fig. (3.10),
desde que todas as barras concorram para um único ponto.

Figura 3.10 Ligação de barras de treliça. Ligação parafusada e por meio de uma chapa de ligação.

Na análise estrutural de treliças, o peso próprio é levado em consideração


aplicando-se metade do peso de cada barra em suas extremidades. As estruturas
treliçadas são uma alternativa interessante e inteligente para o projeto de estruturas de
grandes dimensões. Nas treliças, os esforços são transmitidos por meio de forças axiais,
o que pode gerar barras de seções transversais diferentes, de forma a melhor aproveitar
sua capacidade portante. Assim, nas treliças o material é melhor utilizado e as
dimensões das seções transversais das barras podem ser consideravelmente reduzidas.
As treliças são uma interessante alternativa às estruturas fletidas, na qual grande parte
do material estrutural é utilizada sob níveis de solicitação bem abaixo de sua capacidade
portante. Nas Fig. (3.11), Fig. (3.12), Fig. (3.13) e Fig. (3.14) ilustram-se aplicações
grandiosas de elementos de barra simples em engenharia de estruturas.
Serão agora discutidos alguns processos analíticos para a determinação dos
esforços normais em treliças planas isostáticas. Deve-se informar que para a análise de
problemas envolvendo treliças hiperestáticas, utilizam-se métodos que empregam
condições de compatibilidade. Nesses métodos, a estrutura hiperestática é transformada
em uma estrutura isostática equivalente, sendo resolvida tantas vezes quantos forem os
GDL excedentes do caso isostático.

Capítulo 3 – Elemento de Barra Simples: Treliças_______________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 46

Figura 3.11 Cobertura de um galpão. Figura 3.12 Tabuleiro de uma ponte.

Figura 3.13 Cobertura de um aeroporto. Figura 3.14 Torre Eiffel.

3.3 – Método dos Nós para Treliças Planas

O método dos nós é um procedimento utilizado para a determinação da


intensidade dos esforços normais em estruturas compostas por elementos de barras
simples. Segundo esse método, o esforço normal em cada uma das barras da treliça é
determinado por meio de um balanço de forças, o qual deve ser efetuado em cada nó da
estrutura. Deve-se enfatizar que, se cada nó da estrutura está em equilíbrio,
consequentemente toda a estrutura também o estará. Este método baseia-se na aplicação
do equilíbrio de ponto material, o qual é verificado em cada nó da estrutura.
A metodologia para a utilização deste método pode ser resumida em três etapas
simples:
1. Escolher um nó da estrutura para efetuar o equilíbrio de forças. Sugere-se iniciar o
processo por um nó que possua, no máximo, dois esforços normais incógnitos (duas
barras conectadas ao nó, por exemplo).

Capítulo 3 – Elemento de Barra Simples: Treliças_______________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 47

2. Arbitrar o sentido do esforço normal atuante nas barras, separando o nó da estrutura,


conforme apresentado na Fig. (3.15). Sugere-se que todos os esforços normais sejam
arbitrados como trativos, como mostrado na Fig. (3.15).
3. Utilizar as equações apresentadas para o equilíbrio do ponto material e efetuar o
equilíbrio nodal.

Figura 3.15 Separação entre o nó e a estrutura.

3.3.1 – Exemplo 1

Determine os esforços normais atuantes na treliça plana mostrada na Fig. (3.16)


utilizando o método dos nós.

Figura 3.16 Treliça plana a ser analisada.

Capítulo 3 – Elemento de Barra Simples: Treliças_______________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 48

Com base na geometria da estrutura, pode-se determinar os valores dos senos e


cossenos dos ângulos  e . Utilizando relações trigonométricas básicas, obtém-se:
sen    0, 3846 cos    0, 9231 sen     0,8 cos     0, 6

Para aplicar o método dos nós deve-se escolher um nó onde existam no máximo
duas incógnitas. As incógnitas, neste problema, referem-se ao número de forças
desconhecidas atuantes sobre o nó. Assim, pode-se escolher o nó B para iniciar os
procedimentos de equilíbrio. Isolando este nó do restante da estrutura, como
apresentado na Fig. (3.17), obtém-se:
Equilíbrio nó B:

Figura 3.17 Equilíbrio nó B.

Aplicando as equações de equilíbrio de ponto material tem-se:

F X 0  N AB  N BC cos    0
F Y 0  N BC sen    1, 2  0  N BC  3,1201 kN  compressão 

Com base no valor de NBC determinado anteriormente, pode-se também definir o

valor de NAB. Assim:


N AB  3,1201  0, 9231  N AB  2,8802kN (tração)
Pode-se agora repetir este procedimento considerando o equilíbrio do nó C
Equilíbrio nó C:
Isolando o nó C da estrutura, como indicado na Fig. (3.18), e aplicando as
equações de equilíbrio de ponto material obtém-se:

F X 0  N AC cos     3,1201cos    0  N AC  4,80kN (compressão)


F Y 0 RC  N AC sen     3,1201sen    0 
RC  4,80  0,8  3,1201 0,3846  RC  5, 04kN

Capítulo 3 – Elemento de Barra Simples: Treliças_______________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 49

Figura 3.18 Equilíbrio nó C.

Considerando agora o nó A, tem-se:


Equilíbrio do nó A:
Isolando o nó A do restante da estrutura, como ilustrado na Fig. (3.19), observa-
se que atuam sobre este nó as forças Ax e Ay, as quais representam as reações do apoio
A:

Figura 3.19 Equilíbrio nó A.

Aplicando as equações de equilíbrio do ponto material, obtêm-se os seguintes


valores:

F x 0  Ax  2,8802  4,80 cos     0  Ax  0


F y 0 Ay  4,80 sen     0  Ay  3,84kN

Assim, têm-se definidos todos os valores dos esforços normais atuantes nos
elementos de barra simples. Como verificação ao leitor, sugere-se que as reações Ax e Ay
sejam também calculadas considerando o equilíbrio de corpo rígido e os valores
encontrados devem ser comparados aos obtidos pelo método dos nós.

Capítulo 3 – Elemento de Barra Simples: Treliças_______________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 50

3.3.2 – Exemplo 2

Para a treliça mostrada na Fig. (3.20), determine os valores dos esforços normais
em suas barras utilizando o método dos nós.

Figura 3.20 Treliça plana a ser analisada.

Figura 3.21 Forças reativas.

Para a resolução deste problema, deve-se atentar para o fato de que todos os nós
da estrutura possuem mais que duas incógnitas. Portanto, antes do processo de
equilíbrio de cada um dos nós ser iniciado, devem ser determinadas as reações de apoio

Capítulo 3 – Elemento de Barra Simples: Treliças_______________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 51

da estrutura utilizando as equações de equilíbrio de corpo rígido. Efetuando este


procedimento, obtêm-se os valores das forças reativas mostradas na Fig. (3.21).
Com base nos valores das reações de apoio apresentados na Fig. (3.21), o
equilíbrio nó a nó pode ser efetuado (como apresentado no exemplo 1). Seguindo este
procedimento obtêm-se os seguintes valores para os esforços normais, o qual fica como
exercício para o leitor.
N AB  750 (compressão)
N BC  250 (tração)
N AC  450 (tração)
N BD  600 (compressão)
N CD  200 (compressão)

3.4 – Método das Seções para Treliças Planas

O método das seções é outro método muito utilizado para a determinação de


esforços normais em treliças. Este método baseia-se no equilíbrio de corpo rígido.
Assim, a metodologia de análise do método consiste em efetuar cortes (secções) na
estrutura e, em seguida, aplicar o equilíbrio de corpo rígido de cada porção de corpo
seccionada. A vantagem deste método em relação ao método dos nós refere-se à
facilidade de determinação dos esforços normais em barras específicas, especialmente
em treliças com um grande número de barras. Portanto, por meio do método das seções,
os esforços normais podem ser determinados sem a necessidade de equilibrar todos os
nós da estrutura.
A metodologia de análise do método pode ser resumida nos seguintes passos:
1. Efetuar uma secção imaginária na estrutura. Este corte (secção) deve passar pelas
barras cujos esforços normais o analista tenha interesse.
2. Construir o diagrama de corpo livre das partes seccionadas.
3. Escolher a região de seccionamento de forma que, no máximo, três variáveis
(incógnitas) estejam presentes. Isto se deve ao fato de existirem apenas três
equações de equilíbrio no plano, o que permite a determinação de apenas três
incógnitas.
4. Aplicar as equações de equilíbrio de corpo rígido e obter os esforços normais.

Capítulo 3 – Elemento de Barra Simples: Treliças_______________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 52

Com o objetivo de aplicar os procedimentos de análise do método das seções,


será apresentado um exemplo onde poderão ser observadas algumas vantagens desse
método em relação ao método dos nós.

3.4.1 – Exemplo 3

Determine os esforços normais nas barras FC, BC e FE da treliça plana mostrada


na Fig.(3.22) utilizando o método das seções:

Figura 3.22 Treliça plana a ser analisada.

Como neste exemplo o interesse é a determinação dos esforços normais de


apenas três barras, o método das seções torna-se mais adequado (e de aplicação mais
rápida) que o método dos nós. Por meio do último método, o equilíbrio de pelo menos
três nós deverá ser efetuado antes da obtenção dos esforços desejados. Antes de
proceder à aplicação da metodologia proposta pelo método das seções, devem ser
determinadas as reações de apoio da estrutura. Para tal fim, deve-se construir o
diagrama de corpo livre do sistema, o qual é mostrado na Fig. (3.23).
Aplicando as equações de equilíbrio de corpo rígido no plano obtêm-se:

 M  0  1200  8  400  3  D
A y 12  0  Dy  900 N

 F  0  A  1200  900  0
y y  Ay  300 N

 F  0   A  400  0
x x  Ax  400 N

Capítulo 3 – Elemento de Barra Simples: Treliças_______________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 53

Figura 3.23 Diagrama de corpo livre.

Como o objetivo do exercício é a determinação dos esforços normais apenas nas


barras FC, BC e FE, deve-se proceder à realização de um corte passando por estas três
barras. Deve-se também salientar que este corte irá gerar três incógnitas, justamente os
esforços normais das barras desejadas. Portanto, as três equações de equilíbrio de corpo
rígido poderão ser aplicadas de forma a determiná-las. O corte AA para o seccionamento
da treliça está representado na Fig. (3.22). Isolando a porção esquerda da treliça
seccionada, tem-se o sistema mostrado na Fig. (3.24).

Figura 3.24 Porção direita do corte.

A partir de relações trigonométricas simples, podem ser determinados os seno e


cosseno do ângulo  mostrado na Fig. (3.24). Assim:
sen    0,8 cos    0, 6

Efetuando o equilíbrio de corpo rígido do sistema mostrado na Fig. (3.24)


determinam-se aos esforços normais FC, BC e FE. Assim:

Capítulo 3 – Elemento de Barra Simples: Treliças_______________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 54

 M  0  400  3  300  4  N
F BC 3  0  N BC  800 N (tração)

 F  0  300  N cos    0
y FC  N FC  500 N (tração)

 F  0  400  N  N  N
x BC FE FC sen    0 
 400  800  N FE  500  0,8  0  N FE  800 N (compressão)

3.5 – Treliças Tridimensionais

Treliças tridimensionais são largamente utilizadas no cotidiano da engenharia de


estruturas. Como exemplo, basta observar as Fig. (3.13) e Fig. (3.14) apresentadas
anteriormente neste capítulo. As treliças tridimensionais, também denominadas treliças
espaciais, são um conjunto de barras simples conectadas em suas extremidades
perfeitamente rotuladas de forma a compor uma estrutura tridimensional estável
solicitada apenas por esforços normais.
Para a determinação dos esforços normais em cada uma das barras deste tipo de
estrutura, pode-se utilizar o método dos nós, aplicado a problemas tridimensionais. Por
meio deste método, os esforços normais atuantes nas barras são decompostos
utilizando-se os versores unitários que definem a geometria da barra. Isso é feito uma
vez que o esforço normal é transmitido ao longo do eixo da barra. Assim, com base na
geometria das barras, têm-se definidas as componentes dos esforços ao longo das
direções x, y e z.
Esses versores são obtidos subtraindo-se as coordenadas cartesianas dos pontos
final e inicial que definem as barras simples de interesse. Em seguida, divide-se as
componentes do versor por sua norma, de forma a torná-lo unitário. Se o esforço normal
atuante for de tração, suas componentes são obtidas multiplicando-se a intensidade do
esforço normal pelas componentes desse versor. Caso o esforço normal atuante seja de
compressão, as componentes do esforço normal são obtidas multiplicando-se a
intensidade do esforço normal pelo valor negativo das componentes do versor.
Depois disso, o equilíbrio nodal deve ser efetuado, considerando as condições de
equilíbrio de ponto material. Para a análise de problemas tridimensionais, o equilíbrio
do nó deve ser efetuado por meio da somatória de forças ao longo das direções x, y e z,
somatórias estas que devem ser nulas.

Capítulo 3 – Elemento de Barra Simples: Treliças_______________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 55

O método das seções pode também ser aplicado à análise de treliças


tridimensionais. Nesse caso, efetua-se um corte ao longo das barras cujos esforços
normais desejam ser determinados. Como o problema é tridimensional, o referido corte
é composto por um plano e não mais por uma linha como no caso bidimensional. A
partir das porções separadas da estrutura, efetua-se o equilíbrio de corpo rígido
considerando um corpo tridimensional, Eq.(2.13). Nessas notas de aula, a análise de
treliças tridimensionais por meio do método das seções não será considerada.
Para ilustrar a aplicação do método dos nós na análise de treliças
tridimensionais, serão apresentados dois exemplos na sequência deste texto.

3.5.1 – Exemplo 4

Determine os esforços normais atuantes nas barras simples da treliça


tridimensional mostrada na Fig. (3.25) e informe se estes esforços são trativos ou
compressivos. Responda também porque é possível resolver esse problema equilibrando
somente o nó D.
A estrutura mostrada na Fig. (3.25) é uma treliça tridimensional composta por
três barras. Assim, a solução deste exemplo pode ser efetuada equilibrando apenas o nó
D, uma vez que sobre este nó existem somente três incógnitas, as quais referem-se aos
esforços normais nas barras que concorrem ao nó D.

Figura 3.25 Treliça tridimensional a ser analisada.

Capítulo 3 – Elemento de Barra Simples: Treliças_______________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 56

Equilíbrio do nó D:
Inicialmente, devem ser determinados os versores unitários que definem a
geometria das barras DB, DA e DC, as quais concorrem ao nó D. Esses versores são
obtidos subtraindo-se as coordenadas cartesianas dos pontos final (A, B e C) e inicial
(D) que definem as barras simples de interesse. Em seguida, divide-se as componentes
do versor por sua norma, de forma a torna-lo unitário. Por meio de uma simples
inspeção na geometria da estrutura, e com base no sistema de coordenadas adotado,
pode-se escrever que:
1
LDB   10i  5 j  10k 
15
1
LDA  10i  5 j  10k 
15
1
LDC   2i  5 j  10k 
129
Como nas treliças estão presentes apenas esforços normais, sabe-se que as
componentes destes esforços atuam na direção paralela ao eixo das barras simples.
Assim, as componentes destes esforços podem ser escritas com base nos versores
unitários determinados anteriormente. Portanto, o conjunto de esforços normais e
carregamento que atua sobre o nó D pode ser assim escrito, com base em suas
componentes:
 N DB
N DB   10i  5 j  10k 
15
 N DA
N DA  10i  5 j  10k 
15
 N DC
N DC   2i  5 j  10k 
129

F  0i  0 j  1000k
A partir dos valores definidos para as componentes dos esforços e da força,
apresentados acima, pode-se efetuar o equilíbrio do nó por meio das seguintes
condições:

F  F  F
X Y Z 0

Para o caso em estudo pode-se escrever que:

Capítulo 3 – Elemento de Barra Simples: Treliças_______________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 57

F  0  10 N DB  10 N DA 
X
2
N DC  0
15 15 129

 5 5 5
 FY  0  15 N DB  15 N DA  129
N DC  0

 10 10 10
 Z  15
F  0   N DB 
15
N DA 
129
N DC  1000  0

Reorganizando as equações acima de uma maneira matricial, a qual é mais


facilmente resolvida com o auxílio de calculadoras, pode-se reescrever estas equações
como:

 10 10 2 
  15 15 
 129  N
 DB   0 
 5 5 5    
  15 
15 
129  
 N DA    0 
  N DC  1000 
 10 10 10 
  15 
15

129 

Resolvendo o sistema matricial anterior obtém-se:

 0, 667 0, 667 0,176   N DB   0   N DB   450 


 0,333 0,333 0, 440   N    0      
   DA     N DA    300  lb
   
 0, 667 0, 667 0,880   N DC  1000   N   567, 75
 DC   
Devido ao sinal negativo encontrado no valor dos esforços normais, conclui-se
que todos os esforços solicitantes encontrados são compressivos. Esse resultado era
esperado, uma vez que, intuitivamente, percebe-se que a força aplicada comprime as
barras da treliça em seu nó D.

3.5.2 – Exemplo 5

Determine os esforços normais atuantes nas barras da treliça tridimensional


mostrada na Fig. (3.26). Considere que todos os apoios da treliça são do tipo móvel.
Antes que o processo de equilíbrio nodal seja iniciado, é conveniente que sejam
determinados os valores das reações dos apoios localizados sobre os nós A, B e C. Para
tal fim, pode-se fazer o equilíbrio de corpo rígido na condição de análise tridimensional.
Assim:

Capítulo 3 – Elemento de Barra Simples: Treliças_______________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 58

 M  0  8  2  V  4,5  0
AC B  VB  0i 0 j 3,556k
 M  0  V  6  3,556  3  8  3  0
y A  VA  0i 0 j 2, 222k

 F  0  3,556  2, 222  V  8  0
z C  VC  0i 0 j 2, 222k

A partir das reações de apoio calculadas acima, pode-se efetuar o equilíbrio


nodal.

Figura 3.26 Treliça tridimensional a ser analisada.

Equilíbrio do nó D:
O primeiro passo a ser efetuado para o equilíbrio desse nó refere-se à
determinação dos versores unitários das barras que concorrem ao nó D. Com base no
sistema de coordenadas adotado, e nas dimensões dos elementos de barra simples, tem-
se:
1
LDB   0i 2,5 j  6k 
42, 25
1
LDC   3i  2 j  6k 
7
1
LDA   3i  2 j  6k 
7
Consequentemente, as componentes dos esforços normais nas barras que
concorrem ao nó D e da força aplicada podem ser expressas como:

Capítulo 3 – Elemento de Barra Simples: Treliças_______________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 59


N DB   0i 2,5 j  6k 
N DB
42, 25

N DC   3i  2 j  6k 
N DC
7

  3i  2 j  6k  DA
N
N DA
7

F   0i 0 j  8k 

Aplicando as condições de equilíbrio de um ponto material tridimensional,


expressas por F  F  F
X Y Z  0 , e considerando as componentes da força

aplicada e dos esforços normais tem-se:



F  0
X
3 3
0 N DB  N DC  N DA  0
 7 7
 2,5 2 2
 FY  0  42, 25 N DB  7 N DC  7 N DA  0

 6 6 6
 FZ  0  42, 25 N DB  7 N DC  7 N DA  8  0

Reorganizando as três equações acima em um sistema matricial, pode-se
escrever que:
 3 3 
 0  
 7 7   N  0 
 2,5 2 2 
DB
  
     N DC   0 
 42, 25 7 7   
   N DA  8 
6 6 6
   
 42, 25 7 7 

Resolvendo este sistema, composto por três equações e três incógnitas, tem-se:

 0 0, 429 0, 429   N DB  0   N DB   3,852 


 0,385 0, 286 0, 286   N   0    N   2,593 kN
   DC     DC   
   
 0,923 0,857 0,857   N DA  8     
 N DA  2,593
Como os valores encontrados para os esforços normais são todos negativos,
conclui-se que estes são esforços compressivos.
Equilíbrio do nó A:

Capítulo 3 – Elemento de Barra Simples: Treliças_______________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 60

Para a realização do equilíbrio do nó A, os mesmos procedimentos empregados


para o equilíbrio do nó D devem ser repetidos. Assim, a determinação dos versores
unitários das barras que concorrem ao nó A conduz a:
1
LAC   6i 0 j 0k 
6
1
LAB   3i 4,5 j 0k 
29, 25
1
LAD   3i 2 j 6k 
7
Consequentemente, as componentes dos esforços normais das barras que
concorrem ao nó A e da reação de apoio no ponto A podem ser escritas como:

N AC   6i 0 j 0k 
N AC
6

  3i 4,5 j 0k 
N AB
N AB
29, 25

N AD   3i 2 j 6k 
N AD
7
VA   0i 0 j 2, 222k 

Assim, o equilíbrio do nó A conduz às seguintes equações:


 3 N AB 3 N AD
F  0   N AC 
X
29, 25

7
0

 4,5 N AB 2 N AD
 FY  0  0 N AC  29, 25 
7
0

 6N
 FZ  0 0 N AC  0 N AB  7AD  2, 222  0
Reorganizando o sistema acima composto por três equações e três incógnitas em
uma forma matricial tem-se:
 3 3
 1   
29, 25 7
   N AC   0 
 4,5 2    
0   N AB    0 
 29, 25 7    
  N AD  2, 222 
6 
0 0 
 7 
Resolvendo este sistema matricial determinam-se os esforços normais nas
barras, os quais estão apresentados a seguir:

Capítulo 3 – Elemento de Barra Simples: Treliças_______________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 61

 1 0,555 0, 429   N AC   0   N AC   0, 617 


         
 0 0,832 0, 286   N AB    0    N AB    0,891  kN
 0 0 0,857   N AD   2, 222   N  2,593
 AD   
Deve-se notar que os esforços N AC e N AB são trativos, enquanto o esforço na

barra AD, N AD , é compressivo. Além disso, deve-se destacar que o valor encontrado

para o esforço N AD por meio equilíbrio do nó A é o mesmo encontrado no equilíbrio do


nó D. Essa verificação é importante e reforça a correção dos resultados obtidos.
Para finalizar o exercício, resta ainda efetuar o equilíbrio do nó B.
Equilíbrio do nó B:
Seguindo os mesmos procedimentos efetuados anteriormente para o equilíbrio
dos nós D e A, podem ser agora determinados os esforços normais nas barras que
concorrem ao nó B. Para isso, deve-se inicialmente calcular as componentes dos
versores unitários que definem a geometria das barras que concorrem ao nó B. Com
base no sistema de coordenadas apresentado na Fig. (3.26) e na geometria da estrutura
pode-se escrever que:
1
LBA   3i  4,5 j 0k 
29, 25
1
LBC   3i  4,5 j 0k 
29, 25
1
LBD   0i  2,5 j 6k 
42, 25
Portanto, utilizando esses versores unitários, definem-se as componentes dos
esforços normais nas barras que concorrem ao nó B. Essas componentes e as
componentes da força reativa neste nó podem ser escritas como:

N BA   3i  4,5 j 0k 
N BA
29, 25

N BC   3i  4,5 j 0k 
N BC
29, 25

N BD   0i  2,5 j 6k 
N BD
42, 25
VB   0i 0 j 3,556k 

Com base nas componentes da força e dos esforços determinadas anteriormente,


deve-se proceder à realização do equilíbrio do ponto material do nó B. Efetuando a

Capítulo 3 – Elemento de Barra Simples: Treliças_______________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 62

somatória das forças ao longo dos eixos x, y e z e igualando-as a zero obtém-se o


seguinte sistema:
 3N BA 3N BC
F  0
X
29, 25

29, 25
 0 N BD  0

 4,5 N 4,5 N BC 2,5 N BD
 Y
F  0   BA

29, 25

29, 25

42, 25
0

 6N
 Z 0 N BA  0 N BC  42,BD25  3,556  0
F  0

Reescrevendo as três equações acima em um sistema matricial, de forma a torná-
lo mais facilmente solvível, tem-se:
 3 3 
  0 
 29, 25 29, 25  N   0 
 4,5 4,5 2,5  
BA
  
     N BC    0 
 29, 25 29, 25 29, 25     
 6   N BD  3,556 
 0 0 
 29, 25 

Resolvendo o sistema matricial mostrado acima, determinam-se os esforços


normais atuantes ao longo das barras que concorrem ao nó B. Assim:

 0,555 0,555 0   N BA   0   N BA   0,891 


 0,832 0,832 0,385  N    0    N    0,891  kN
   BC     BC   
 0    
0,923   N BD  3,556     
0  N BD  3,853
Com base no resultado obtido, verifica-se que os esforços N BA e N BC são

trativos uma vez que estes apresentaram valores positivos. Já o esforço N BD , este é de
compressão devido a seu sinal negativo. Além disso, deve-se destacar que o valor
determinado para o esforço N BD , por meio do equilíbrio do nó B, é igual ao valor
encontrado efetuando-se o equilíbrio do nó D. O mesmo comentário deve ser feito para
o esforço N AB , o qual apresentou valores iguais para os equilíbrios dos nós B e A. Essa
verificação simples reforça o fato de que os cálculos efetuados neste exercício estão
corretos.
Sugere-se que o leitor faça verificações semelhantes durante a resolução dos
exercícios propostos. Este procedimento simples permite a determinação de erros
durante a resolução dos exercícios.

Capítulo 3 – Elemento de Barra Simples: Treliças_______________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 63
 

4. – Elemento de Barra Geral: Vigas

4.1 – Introdução

Os elementos de barra geral são elementos estruturais largamente empregados na


análise e na modelagem de problemas da engenharia de estruturas. Estes elementos são
definidos, do ponto de vista estático, como elementos estruturais que transmitem (ou
resistem) a esforços normais e transversais ao seu eixo geométrico. Assim, estes
elementos transmitem esforços normal e cortantes, momentos fletores, além do
momento torçor ou torque. Diferentemente dos elementos de barra simples, nas
estruturas compostas por elementos de barra geral, as ações externas podem ser
aplicadas transversalmente ao eixo da barra e/ou ao longo de seu comprimento. Além
disso, ações concentradas e/ou distribuídas podem ser também consideradas.
No contexto cinemático, esse elemento estrutural apresenta seis graus de
liberdade, sendo três translações (ao longo dos eixos x (u), y (v) e z(w)) e três rotações
(nos planos xy, xz, yz), conforme apresentado na Fig. (4.1).

Figura 4.1 Graus de liberdade de um elemento de barra geral.

Para melhor compreender o comportamento mecânico e a atuação dos esforços


transmitidos pelo elemento de barra geral, deve-se considerar a estrutura mostrada na
Fig. (4.2), a qual está em equilíbrio estático sob a ação de um dado carregamento
externo. Seccionando este elemento em um ponto ao longo de seu comprimento,

Capítulo 4 – Elemento de Barra Geral: Vigas__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 64
 

surgirão um conjunto de forças e momentos auto equilibrado que atuarão no sentido de


restaurar a condição de equilíbrio inicialmente observada.

Figura 4.2 Elemento de barra geral em equilíbrio sob a ação de carregamento externo.

No elemento de barra geral poderão surgir os seguintes esforços solicitantes:


1. Forças:
 Direção normal x, esforço normal (N).
 Direção transversal y, esforço cortante ou cisalhante (Vy).
 Direção transversal z, esforço cortante ou cisalhante (Vz).
2. Momentos:
 Direção normal x, momento torçor (Mx).
 Direção transversal y, momento fletor y (My).
 Direção transversal z, momento fletor z (Mz).
Estes esforços solicitantes estão ilustrados na Fig. (4.3).

Figura 4.3 Esforços solicitantes caso geral.

Capítulo 4 – Elemento de Barra Geral: Vigas__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 65
 

Na Fig. (4.4) estão ilustrados os sentidos de atuação dos esforços solicitantes


enunciados acima, bem como a convenção adotada sobre seus sinais. O elemento de
barra geral é um elemento estrutural que permite a análise de estruturas no espaço
tridimensional. Porém, a partir da consideração de algumas simplificações, este
elemento pode ser também aplicado à análise de problemas planos. Estas simplificações
estão associadas à restrição de um ou mais graus de liberdade do elemento e,
consequentemente, de seus esforços transmitidos. Portanto, o elemento de barra geral
pode ser particularizado para a análise de diversos problemas de interesse da engenharia
de estruturas.
As estruturas compostas por elementos de barra geral mais simples são as vigas
e as colunas, como ilustrado na Fig. (4.5). A diferença entre essas estruturas encontra-se
na ausência ou presença, respectivamente, do esforço solicitante normal. Ambas as
estruturas transmitem momentos fletores.

Figura 4.4 Elemento de barra geral em equilíbrio sob a ação de carregamento externo.

Figura 4.5 Vigas e colunas.

Capítulo 4 – Elemento de Barra Geral: Vigas__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 66
 

Porém, existem estruturas mais complexas envolvendo elementos de barra geral.


Para o caso bidimensional, a associação destes elementos dispostos segundo diferentes
orientações no plano, além da consideração da presença conjunta dos deslocamentos ao
longo dos eixos x e y, dá origem aos pórticos bidimensionais. A associação direta de
elementos de barra geral formando uma estrutura estável no espaço tridimensional dá
origem aos pórticos tridimensionais. Finalmente, as estruturas de grelha consideram
carregamentos perpendiculares a seu plano e permitem a análise dos esforços
solicitantes cortante, de flexão e de torção. Na Fig. (4.6) estão apresentadas as estruturas
discutidas neste parágrafo.

Figura 4.6 Estruturas de pórtico plano, pórtico tridimensional e grelha.

4.2 – Vinculações Internas no Elemento de Barra Geral: Caso Plano

Um dos objetivos da mecânica dos sólidos/resistência dos materiais é o estudo


do equilíbrio estático de elementos estruturais de barra geral e a determinação de seus
esforços solicitantes. Nesse contexto, são de grande importância a descrição e a

Capítulo 4 – Elemento de Barra Geral: Vigas__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 67
 

compreensão da cinemática desses elementos quando estes são conectados para a


formação de estruturas planas de maior complexidade. Considerando o caso
bidimensional, um elemento de barra geral apresenta três graus de liberdade (GDL), os
quais são: deslocamento ao longo do eixo x, deslocamento ao longo do eixo y e a
rotação no plano xy, conforme indicado na Fig. (4.7).

Figura 4.7 Elemento de barra geral e seus graus de liberdade.

Para que o elemento esteja em equilíbrio estático, os três GDL relativos ao seu
deslocamento de corpo rígido devem ser convenientemente impedidos por meio da
aplicação de condições de vinculação adequadas. Para o elemento apresentado na Fig.
(4.7), pode-se empregar um engaste ou uma combinação entre apoios fixo e móvel,
conforme indicado na Fig. (4.8), para a obtenção do equilíbrio estático.

Figura 4.8 Aplicação de condições de vinculação ao elemento de barra geral plano.

Porém, como deve-se proceder em estruturas mais complexas que possuem mais
de um elemento de barra geral? Como deve ser feita a conexão entre as barras? Para
responder a estas perguntas deve-se inicialmente entender o processo de conexão
(vinculação interna) entre as barras. Como o elemento de barra geral plano apresenta
três GDL, cada conexão pode transmitir três, dois ou apenas um dos GDL do plano.
Para a ilustração desses casos, deve-se considerar as barras apresentadas na Fig. (4.9).

Figura 4.9 Conexão via engaste interno.

Capítulo 4 – Elemento de Barra Geral: Vigas__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 68
 

Na ilustração A dessa figura, tem-se um sistema composto por dois elementos de


barra geral, o qual totaliza seis GDL. Deseja-se que a conexão entre as barras resulte um
engaste interno, ou seja, que os deslocamentos ao longo das direções x e y além da
rotação no plano do ponto de conexão sejam os mesmos para os dois extremos das
barras conectadas. Assim, a próxima etapa encontra-se na compreensão da conexão
entre essas duas barras, como mostrado em B. Para tal fim, elementos de barra simples
podem ser úteis. Lembrando-se dos conceitos apresentados no capítulo anterior,
verifica-se que esses elementos eliminam um GDL do sistema. Assim, devem ser
inseridos três elementos de barra simples à referida conexão de forma a retirar do
sistema os deslocamentos relativos das barras ao longo dos eixos x e y e a rotação
relativa no plano xy.
A determinação do número de GDL resultante do sistema é efetuada
considerando-se o número de barras geral e o número de vinculações internas entre
barras, como mostrado na ilustração C. No caso apresentado na Fig. (4.9), têm-se dois
elementos de barra geral que inserem seis GDL ao sistema. Porém, subtrai-se deste
sistema três GDL referentes aos deslocamentos relativos das barras ao longo dos eixos x
e y e a rotação no plano. Assim, restam ao sistema apenas três GDL, os quais são os
deslocamentos referentes ao corpo rígido das duas barras. Para que a estrutura esteja em
equilíbrio estático, deve-se inserir no sistema condições de vinculação suficientes para
impedir que o deslocamento de corpo rígido da estrutura ocorra. Deve-se enfatizar que
devido à vinculação interna imposta, compatibilização dos três GDL no plano, serão
transmitidos na conexão esforço normal, esforço cortante e momento fletor.
Os elementos de barra simples utilizados na realização das conexões entre
elementos de barra geral são comumente denominados de dispositivos de fixação
interna. A partir da utilização conveniente destes elementos, diferentes conexões entre
elementos de barra geral podem ser propostas. Um tipo de conexão muito utilizado na
engenharia de estruturas é aquele que impõe que os deslocamentos x e y dos pontos
pertencentes às barras que estão sobre o nó de conexão sejam os mesmos. Porém, esta
conexão permite a existência de uma rotação relativa entre os elementos de barra geral
que concorrem ao nó de conexão. Na Fig. (4.10) é apresentada a referida conexão, a
qual é denominada articulação ou rótula.

Capítulo 4 – Elemento de Barra Geral: Vigas__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 69
 

Figura 4.10 Conexão via rótula.

Na Fig. (4.10) é apresentado o sistema formado por dois elementos de barra


geral, resultando seis GDL, ilustração A. A partir da inserção de dois elementos
vinculares internos, que retiram os deslocamentos relativos das barras nas direções x e y
(ilustração B), dois GDL são retirados do sistema. Consequentemente, como mostrado
na ilustração C, o sistema passa a apresentar quatro GDL. Para que a estrutura apresente
equilíbrio estático, condições de vinculação devem ser adequadamente inseridas para
impedir seu deslocamento de corpo rígido. Como na ligação via rótula apenas os
deslocamentos ao longo das direções x e y estão compatibilizados, esta conexão
transmite apenas os esforços solicitantes normal e cortante. Devido à possibilidade de
giro relativo no nó de conexão, o momento fletor neste ponto é nulo. Tal condição deixa
de ser verdadeira se momentos fletores externos forem aplicados sobre a articulação. De
maneira geral, nos pontos da estrutura onde um dado GDL não é vinculado, o esforço
solicitante associado a este GDL, neste ponto, é nulo. Assim, o momento fletor é nulo
nas articulações, por exemplo. Semelhantemente, se a vinculação interna aplicada
permitir o deslocamento relativo entre as barras em uma dada direção, não haverá
transmissão de força ao longo desta direção e consequentemente, o esforço solicitante
associado a esta força (normal ou cortante) será nulo.
Outro tipo de vinculação interna possível, porém menos utilizada para fins
práticos, é a denominada engaste interno móvel. Neste caso, a conexão interna
compatibiliza apenas um deslocamento, além da rotação do ponto de conexão.
Consequentemente, os elementos de barra que concorrem a esta conexão poderão
apresentar deslocamento relativo ao longo da direção não vinculada, como mostrado na
Fig. (4.10).
Efetuando a análise cinemática considerando os elementos apresentados na Fig.
(4.11), ao sistema composto por dois elementos de barra geral, que apresentam seis
GDL (ilustração A), são inseridos dois elementos vinculares, que para o caso mostrado

Capítulo 4 – Elemento de Barra Geral: Vigas__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 70
 

na ilustração B, retira o deslocamento relativo do sistema ao longo da direção y e a


rotação do ponto de conexão. Deve-se enfatizar que um elemento vincular pode também
ser posicionado de forma a eliminar o deslocamento relativo ao longo da direção x ao
invés do deslocamento relativo na direção y. Desta forma, o sistema resultante possui
quatro GDL, como mostrado na ilustração C. Para que o equilíbrio estático seja
obedecido, condições de vinculação devem ser adequadamente impostas de maneira a
impedir o deslocamento de corpo rígido do sistema.

Figura 4.11 Engaste interno móvel.

No caso apresentado anteriormente, o deslocamento horizontal da conexão não é


impedido. Assim, na conexão, o esforço cortante, na barra vertical, e esforço normal, na
barra horizontal são nulos.
É importante enfatizar que os procedimentos apresentados anteriormente para a
análise das vinculações internas em elementos de barra geral, os quais foram aplicados
para análises bidimensionais, podem ser facilmente estendidos para o caso
tridimensional. Nessa situação, hipóteses de vinculação devem ser também efetuadas
com relação ao deslocamento ao longo do terceiro eixo e também as rotações não
consideradas na análise plana.

4.3 – Diagramas de Esforços Solicitantes. Aplicação ao Caso de Barras Gerais


no Plano

Os diagramas de esforços solicitantes são ferramentas gráficas muito utilizadas


em engenharia de estruturas para a representação do comportamento dos esforços
solicitantes, bem como de suas variações, ao longo do domínio da estrutura. Deve-se
enfatizar que é a partir da análise dos esforços solicitantes que os procedimentos de
dimensionamento estrutural são efetuados, ou seja, a determinação das dimensões

Capítulo 4 – Elemento de Barra Geral: Vigas__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 71
 

estruturais de maneira que estas suportem, com segurança e economia, aos


carregamentos atuantes. Portanto, a determinação incorreta destes diagramas pode
conduzir ao dimensionamento contra segurança e consequentemente à falha estrutural.
Para que os diagramas de esforços solicitantes sejam construídos, o analista deve
determinar a variação dos esforços solicitantes ao longo da estrutura levando em
consideração os carregamentos atuantes, pontuais ou distribuídos, bem como as
condições de vinculação. Para tal fim, o primeiro passo a ser efetuado pelo analista é a
determinação das reações de apoio da estrutura e das reações vinculares internas entre
os elementos conectados. Para a realização desta etapa, a construção do diagrama de
corpo livre deve ser efetuada. Como já é de conhecimento do leitor, para a construção
deste diagrama, deve-se substituir as vinculações existentes na estrutura por reações
equivalentes, segundo os GDL restringidos. Para fins de exemplificação, deve-se
considerar a estrutura de barra geral apresentada na Fig. (4.12), a qual possui apoios
fixo e móvel e está submetida a carregamentos concentrados e distribuídos ao longo de
seu comprimento. Nesta mesma figura, estas vinculações são substituídas por reações
equivalentes de maneira a compor o diagrama de corpo livre.
Para a determinação da variação dos esforços solicitantes ao longo do domínio
da estrutura pode ser utilizado o método das seções. Assim, cortes devem ser efetuados
ao longo da estrutura de forma a separá-la em duas ou mais partes. Em cada ponto
seccionado, esforços solicitantes surgirão de maneira a restaurar o equilíbrio
originalmente observado. Assim, estes podem ser determinados e mensurados por meio
deste método. Se uma quantidade conveniente de cortes for efetuada na estrutura, a
variação dos esforços solicitantes ao longo do corpo da estrutura poderá ser
corretamente avaliada.

Figura 4.12 Diagrama de corpo livre.

Considerando a estrutura apresentada na Fig. (4.12), esta pode ser seccionada


por meio de um plano CC, como mostrado na Fig. (4.13). Sabendo que esta estrutura é

Capítulo 4 – Elemento de Barra Geral: Vigas__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 72
 

plana, surgirão, no ponto de secção, um esforço normal (Nc), um esforço cortante (Vc) e
um momento fletor (Mc), todos auto equilibrados segundo a terceira lei de Newton.
Estes esforços podem ser determinados efetuando-se o equilíbrio de corpo rígido das
porções separadas da estrutura isoladamente. Para isso, as equações de equilíbrio de
corpo rígido devem ser empregadas.

Figura 4.13 Método das seções e esforços solicitantes.

Se os esforços forem determinados para todas as seções do elemento estrutural,


então, estes poderão ser registrados por meio de uma representação gráfica. Esses
gráficos são denominados diagramas de esforços solicitantes e indicam, graficamente, a
distribuição destes esforços ao longo da estrutura. Para a construção desses diagramas,
uma convenção de sinais deve ser definida de forma que um valor positivo ou negativo
indique um sentido para os esforços solicitantes em qualquer seção da estrutura. Nestas
notas, a convenção de sinais apresentada na Fig. (4.4) será adotada.
Deve-se enfatizar que embora a discussão apresentada neste tópico tenha sido
efetuada para problemas bidimensionais, sua extensão para casos tridimensionais é
facilmente realizada. Para este último caso, deve-se considerar a atuação dos seis
esforços solicitantes anteriormente apresentados, os quais estão apresentados na Fig.
(4.3). Assim, o método das seções deve ser aplicado objetivando determinar a variação
destes esforços ao longo do corpo da estrutura. Posteriormente, estes deverão ser
registrados através de uma representação gráfica, ou seja, através dos diagramas de
esforços solicitantes.

Capítulo 4 – Elemento de Barra Geral: Vigas__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 73
 

4.3.1 – Exemplo 1

De forma a ilustrar os conceitos apresentados anteriormente neste capítulo, deve-


se determinar os diagramas de esforços solicitantes do elemento de barra geral
apresentado na Fig. (4.14). Trata-se de uma estrutura simplesmente apoiada submetida a
uma carga concentrada no centro do seu vão.
As variações dos esforços solicitantes ao longo do comprimento do elemento
podem ser obtidas utilizando-se o método das seções. As funções obtidas podem então
ser ilustradas por meio dos diagramas de esforços solicitantes. As funções que
descrevem o comportamento dos esforços solicitantes serão descontínuas em pontos
onde aparecem descontinuidades nas condições de carregamento aplicadas, ou seja,
mudanças nas intensidades e distribuições de carregamentos distribuídos ou onde forças
ou momentos concentrados são aplicados. Nesses casos, torna-se necessária a
determinação das funções dos esforços para cada trecho do elemento localizado entre
quaisquer descontinuidades.

Figura 4.14 Elemento de barra geral.

O primeiro passo para a construção dos diagramas de esforços solicitantes é a


determinação das reações de apoio do sistema. Para tal fim, deve-se construir o
diagrama de corpo livre da estrutura, como mostrado na Fig. (4.15). Nesta figura
encontra-se também ilustrada a diferenciação entre os trechos entre descontinuidades.
Devido à presença de uma carga pontual no centro do vão, observa-se na estrutura dois
trechos, os quais conduzirão a dois conjuntos de equações que descreverão a variação
dos esforços solicitantes ao longo do comprimento da barra.

Capítulo 4 – Elemento de Barra Geral: Vigas__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 74
 

Figura 4.15 Diagrama de corpo livre.

Efetuando o equilíbrio de corpo rígido do sistema apresentado na Fig. (4.15),


obtêm-se os seguintes valores para as reações de apoio.

F x 0  Ay  0
L P
M A 0  Bx L  P
2
0  Bx 
2
P P
F y 0  Ax 
2
P0  Ax 
2
Considerando o primeiro trecho, o primeiro conjunto de equações pode ser

determinado. Este trecho é caracterizado pelo seguinte intervalo 0  x  L , segundo a


2
orientação do eixo x mostrada na Fig. (4.15). Efetuando um corte em qualquer ponto
dentro do intervalo mencionado tem-se o seguinte diagrama de corpo livre:

Figura 4.16 Diagrama de corpo livre primeiro trecho.

Efetuando o equilíbrio de corpo rígido considerando o corpo apresentado na Fig.


(4.16) tem-se:

Capítulo 4 – Elemento de Barra Geral: Vigas__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 75
 

F x 0  N0
P P
F y 0 
2
V  0  V
2
P P
Mx  0  M  2 x  0  M x
2
Deve-se ressaltar que o esforço cortante no trecho considerado é constante,
conforme as equações acima. Além disso, o momento fletor apresenta variação linear ao
longo do comprimento do elemento, estando este esforço tracionando a face inferior do
elemento.
Para o segundo trecho, análise semelhante deve ser efetuada. Sabendo que este

trecho é definido no intervalo L  x  L , o seguinte diagrama de corpo livre é obtido.


2

Figura 4.17 Diagrama de corpo livre segundo trecho.

Procedendo ao equilíbrio do corpo rígido mostrado na Fig. (4.17) tem-se:

F x 0 N 0
P P
F y 0
2
 P V  0 V  
2
P  L P
 M x  0   2 x  P  x  2   M  0  M   L  x
2
Deve-se destacar que no segundo trecho o esforço cortante é constante e o
momento fletor apresenta variação linear. Porém, ao contrário do primeiro trecho, o
momento fletor apresenta variação negativa em relação à ordenada x, indicando,
portanto, que seu valor diminui à medida que a ordenada x aumenta. Neste trecho,
embora constante, o esforço cortante apresenta sinal oposto ao observado no primeiro
trecho. Com base nas equações que descrevem a variação dos esforços solicitantes ao
longo do comprimento da barra, pode-se construir os diagramas de esforços solicitantes.
Para o problema estudado, estes diagramas, que nada mais são que representações
gráficas das equações determinadas anteriormente, estão ilustradas na Fig. (4.18).

Capítulo 4 – Elemento de Barra Geral: Vigas__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 76
 

Figura 4.18 Diagramas de esforços solicitantes.

4.3.2 – Exemplo 2

Objetiva-se, neste exemplo, a determinação dos diagramas de esforços


solicitantes da estrutura apresentada na Fig. (4.19). Trata-se de um elemento de barra
geral engastado em sua extremidade esquerda sendo submetido a um carregamento
uniformemente distribuído em parte de seu comprimento. Nesta mesma figura encontra-
se também representado seu diagrama de corpo livre.

Figura 4.19 Estrutura considerada e diagrama de corpo livre.

Para a determinação dos diagramas de esforços solicitantes, devem ser,


inicialmente, obtidos os valores das reações de apoio da estrutura. Com base em seu
diagrama de corpo livre, Fig. (4.19), e na aplicação das equações de equilíbrio obtêm-
se:

Capítulo 4 – Elemento de Barra Geral: Vigas__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 77
 

F x 0 Ay  0

F y 0  Ax  PL2  0  Ax  PL2
 L   L 
M A  0   M A  PL2  L1  2   0
 2
 M A   PL2  L1  2 
 2
Como na estrutura considerada tem-se a presença de dois trechos, devido à
descontinuidade do carregamento uniformemente distribuído, as equações que
descrevem a variação dos esforços solicitantes ao longo do corpo do elemento serão
obtidas para cada um dos trechos. Efetuando um corte ao longo do intervalo 0  x  L2
obtém-se o diagrama de corpo livre apresentado na Fig. (4.20).

Figura 4.20 Diagrama de corpo livre primeiro trecho.

Aplicando as equações de equilíbrio de corpo rígido ao corpo apresentado na


Fig. (4.20) obtêm-se:

F x 0 N 0
F y 0  V  Px  0  V  Px
x x2
 M x  0   M  Px 2
0  M  P
2
Considerando agora o segundo trecho, cujo intervalo é L2  x   L1  L2  , uma

secção deve ser efetuada neste intervalo de maneira a determinar as variações dos
esforços solicitantes no trecho. Procedendo a este corte, obtém-se o diagrama de corpo
livre ilustrado na Fig. (4.21).

Figura 4.21 Diagrama de corpo livre segundo trecho.

Capítulo 4 – Elemento de Barra Geral: Vigas__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 78
 

Aplicando a este corpo as equações de equilíbrio de corpo rígido têm-se:

F x 0  N 0
F y 0  V  PL2  0  V  PL2
 L  L22
 M x  0   M  PL2  x  22   0  M   PL2 x  P
2
Deve-se destacar, com base nas equações obtidas, que o esforço cortante
apresenta variação linear no primeiro trecho e comportamento constante no segundo. Já
o momento fletor, este apresenta variação quadrática no primeiro trecho e linear no
segundo. Assim, a partir destas equações, os diagramas de esforços solicitantes podem
ser construídos, os quais estão apresentados na Fig. (4.22).

Figura 4.22 Diagramas de esforços solicitantes.

4.3.3 – Exemplo 3

O último exemplo deste capítulo visa a determinação dos diagramas de esforços


solicitantes da estrutura apresentada na Fig. (4.23). Trata-se de um elemento de barra
geral, simplesmente apoiado, submetido a um carregamento pontual e a um
carregamento distribuído. Para este exemplo os seguintes valores foram adotados,
q  x   5 kN m , P  5 kN , L1  2 m , L2  1 m e L3  1 m .

Para a resolução deste exemplo, o primeiro passo a ser seguido trata da obtenção
do diagrama de corpo livre da estrutura, o qual permitirá a determinação de suas reações
de apoio. Este diagrama está apresentado na Fig. (4.24).

Capítulo 4 – Elemento de Barra Geral: Vigas__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 79
 

Figura 4.23 Estrutura considerada.

Aplicando ao corpo apresentado na Fig. (4.24) as equações de equilíbrio de


corpo rígido obtêm os seguintes resultados:

Figura 4.24 Diagrama de corpo livre.

F  0
x  Ay  0

M  0 A  5, 0  2, 0 1, 0  5, 0  3, 0  Bx  4, 0  0  Bx  6, 25kN


F  0
y  Ax  6, 25  5, 0  5, 0  2, 0  0  Ax  8, 75kN

Sabendo que a reação Ay é nula, observa-se que o esforço normal ao longo de


todo o corpo da estrutura é nulo. Assim, a variação deste esforço não será determinada
no equilíbrio de cada trecho. Com base na Fig. (4.23), constata-se que o elemento
considerado apresenta três trechos distintos, os quais são decorrentes das
descontinuidades introduzidas pelos carregamentos atuantes.
Para o primeiro trecho, no intervalo 0  x  L1 , um corte conduz a obtenção do
seguinte diagrama de corpo livre.

Capítulo 4 – Elemento de Barra Geral: Vigas__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 80
 

Figura 4.25 Diagrama de corpo livre para o primeiro trecho.

Aplicando as equações de equilíbrio de corpo rígido à porção da estrutura


apresentada na Fig. (4.25) obtêm-se:

F y  0  8, 75  5, 0 x  V  0  V  8, 75  5 x
x 5 2
M x  0  8, 75 x  5, 0 x  M  0
2
 M  8, 75 x 
2
x

Com base nas equações acima, observa-se que neste trecho o esforço cortante
apresenta variação linear, enquanto o momento fletor apresenta variação quadrática.
Considerando agora o segundo trecho, cujo intervalo é L1  x   L1  L2  , um corte neste

trecho gera o diagrama de corpo livre apresentado na Fig. (4.26). Aplicando sobre este
corpo as equações de equilíbrio de corpo rígido, obtêm-se as seguintes equações.

Figura 4.26 Diagrama de corpo livre para o segundo trecho.

F y  0  8, 75  5, 0  2, 0  V  0  V  1, 25
 2, 0 
M x  0  8, 75 x  5, 0  2, 0  x 
 2, 0 
M 0  M  1, 25 x  10

Analisando as equações obtidas anteriormente, observa-se que o esforço cortante


tem comportamento constante enquanto o momento fletor apresenta variação linear ao
longo do trecho considerado. Finalmente, pode-se analisar o terceiro trecho. Este trecho

Capítulo 4 – Elemento de Barra Geral: Vigas__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 81
 

abrange o intervalo  L1  L2   x   L1  L2  L3  . Aplicando o método das seções no

referido intervalo obtém-se o diagrama de corpo livre mostrado na Fig. (4.27).

Figura 4.27 Diagrama de corpo livre para o terceiro trecho.

Aplicando as equações de equilíbrio de corpo rígido à porção estrutural mostrada


na Fig. (4.27), determinam-se as seguintes equações:

F y  0  8, 75  5, 0  2, 0  5, 0  V  0  V  6, 25
 2, 0 
M x  0  8, 75 x  5, 0  2, 0  x 
 2, 0 
 5, 0  x  3, 0   M  0  M  6, 25 x  25

No terceiro trecho, o esforço cortante apresenta comportamento constante


enquanto o momento fletor possui variação linear. Com base nas equações que
descrevem a variação dos esforços solicitantes ao longo do comprimento da estrutura,
pode-se representar os diagramas de esforços solicitantes simplesmente desenhando as
curvas decorrentes das equações determinadas anteriormente. Para a estrutura em
questão, esses diagramas estão apresentados na Fig. (4.28).

Figura 4.28 Diagramas de esforços solicitantes.

Capítulo 4 – Elemento de Barra Geral: Vigas__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 82
 

4.4 – Elemento de Barra Geral: Viga

As vigas consistem, basicamente, de elementos de barra geral, contínuos ou não,


com eixo reto, equilibrados por um sistema de apoios (móvel, fixo ou engaste), de modo
a garantir que essas barras sejam, no mínimo, isostáticas. Em virtude da transferência
apenas dos esforços dos tipos flexão e cisalhamento, estas estruturas estão aptas a
suportar ações aplicadas ao longo do seu comprimento, as quais podem ser concentradas
ou distribuídas. As vigas podem ser compostas por diferentes materiais como concreto,
aço, alumínio, madeira ou composição destes, entre outros. Este tipo de estrutura tem
grande aplicação em pontes, edifícios, passarelas entre outros, onde usualmente
suportam lajes.
Quando a viga está submetida a ações que provocam flexão, observa-se que o
momento fletor conduz a rotação de suas seções transversais. Portanto, como mostrado
na Fig. (4.29), parte de sua seção estará comprimida e parte tracionada. Para o elemento
de viga, a barra geral pode ser particularizada considerando apenas os graus de
liberdade que envolvem a rotação no plano e o deslocamento perpendicular ao eixo da
barra. Portanto, este elemento possui somente dois GDL. Consequentemente, apenas
dois tipos de esforços solicitantes serão não nulos, os quais são os correspondentes aos
GDL considerados, ou seja, momento fletor e esforço cortante, respectivamente. Deve-
se enfatizar que nos elementos de viga, o valor do esforço normal é nulo por definição,
já que o deslocamento paralelo ao eixo da barra não é considerado. Assim, a equação de
equilíbrio envolvendo a somatória das forças orientadas ao longo do eixo da viga é
automaticamente satisfeita.

Figura 4.29 Rotação das seções de elementos de viga.

Com base nestas simples definições sobre o elemento de viga, constata-se que
todas as estruturas cujos esforços solicitantes foram determinados neste capítulo são do

Capítulo 4 – Elemento de Barra Geral: Vigas__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 83
 

tipo viga. Portanto, ao leitor foram já introduzidos os procedimentos básicos para a


análise estrutural de um elemento de barra geral importante no domínio da engenharia
de estruturas. Na sequência destas notas, pretende-se introduzir métodos diretos para a
determinação dos esforços solicitantes bem como elementos e sistemas estruturais mais
complexos.

Capítulo 4 – Elemento de Barra Geral: Vigas__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 84
 

5. – Relações Diferenciais entre Esforços Solicitantes e Ações Externas

5.1 – As Relações Diferenciais

Os diagramas de esforços solicitantes são de fundamental importância na análise


estrutural e no dimensionamento de estruturas de barra. Com base na intensidade dos
esforços solicitantes atuantes, seções transversais críticas podem ser identificadas,
permitindo assim a determinação das dimensões dos elementos estruturais para que estes
resistam aos efeitos das ações externas com níveis de segurança e economia desejados.
No capítulo anterior foi apresentado um procedimento, baseado no método das
seções e nas equações de equilíbrio de corpo rígido, onde expressões analíticas para os
esforços solicitantes eram obtidas em uma seção genérica "x" da estrutura. Apesar desse
método ser aplicável a todos os tipos de estrutura e carregamentos externos, observa-se
que nos casos onde várias descontinuidades estão presentes (ações externas
concentradas em diversos pontos e ações distribuídas em diversos trechos), o método
torna-se demasiadamente oneroso e cansativo.
Uma alternativa para a solução deste problema é encontrada utilizando-se as
relações diferenciais que efetuam a ligação entre os carregamentos distribuídos, esforços
cortante e normal e momentos fletores. Por meio dessas relações, os diagramas de
esforços solicitantes podem ser mais rapidamente construídos e também interpretados.
Para a determinação dessas relações, deve-se considerar o elemento de barra geral
apresentado na Fig. (5.1), o qual está em equilíbrio estático sob a ação de forças
concentradas e distribuídas ao longo de seu comprimento.
Objetivando analisar o equilíbrio da estrutura, deve-se isolar um elemento de
comprimento infinitesimal, x , pertencente à estrutura, e estudar o comportamento dos
esforços solicitantes neste elemento. Para o caso considerado, o elemento infinitesimal e
os esforços solicitantes, estão apresentados na Fig. (5.2).

Capítulo 5 – Relações Diferenciais entre Esforços Solicitantes e Ações Externas______


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 85
 

Figura 5.1 Elemento de barra em equilíbrio.

Figura 5.2 Elemento infinitesimal em equilíbrio.

Utilizando as equações de equilíbrio de corpo rígido, as quais são aplicadas ao


elemento ilustrado na Fig. (5.2) obtêm-se:

F y  0  V  x   V  x   V  x    q  x  x  0 
(5.1)
V  x   q  x  x

Dividindo ambos os membros da Eq. (5.1) pelo comprimento do elemento


infinitesimal, ou seja, por x , e em seguida tomando o limite quando x  0 , quando o
elemento infinitesimal torna-se uma seção transversal da barra, obtém-se:
V  x  dV  x 
lim  q  x    q  x  (5.2)
x  0 x dx
Segundo a Eq. (5.2), verifica-se que a inclinação do diagrama de esforço
cortante é igual ao negativo da intensidade do carregamento transversalmente

Capítulo 5 – Relações Diferenciais entre Esforços Solicitantes e Ações Externas______


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 86
 

distribuído na seção transversal em análise. Ou seja, a variação do esforço cortante ao


longo do comprimento da barra é igual ao negativo da função que descreve a carga
distribuída aplicada perpendicularmente ao eixo da barra.
Procedendo agora ao equilíbrio em termos de momentos fletores, têm-se:
x
 M x x 
 0   M  x   V  x  x  q  x  x
2 
  M  x   M  x    0 
(5.3)
 x 
2

V  x  x  M  x   q  x  0
2
Dividindo ambos os membros da Eq. (5.3) pelo comprimento do elemento
infinitesimal, x , e na sequência tomando o limite quando  x  0 , ou seja quando o
elemento infinitesimal torna-se uma seção transversal da barra, obtém-se:
M  x  q  x  x M  x 
lim  V  x     0  lim  V  x   0 
x  0 x 2 x  0 x (5.4)
dM  x 
 V  x
dx
Com base no resultado apresentado pela Eq. (5.4), verifica-se que a inclinação
do diagrama de momento fletor é igual à intensidade do esforço cortante atuante na
seção transversal considerada. Deve-se também destacar que os valores mínimos e
máximos do momento fletor podem ser facilmente encontrados utilizando-se a Eq. (5.4)
e os conceitos clássicos de cálculo diferencial. Quando V assume valor nulo,

consequentemente dM  0 . Isso indica que quando o esforço cortante é nulo, o


dx
momento fletor apresenta um ponto de extremo, ou seja, máximo ou mínimo. Portanto,
com base na Eq. (5.4) a construção e a interpretação do diagrama de momento fletor
podem ser efetuadas.
Finalmente, considerando o equilíbrio do elemento infinitesimal apresentado na
Fig. (5.2) com relação à somatória de forças atuantes ao longo da direção x tem-se:

F x  0   N  x    N  x   N  x    p  x  x  0 
(5.5)
N  x    p  x  x

Dividindo ambos os membros da Eq. (5.5) pelo comprimento do elemento


diferencial, x , e tomando o limite quando  x  0 tem-se:
N  x  dN  x 
lim   p  x    p  x (5.6)
x 0 x dx

Capítulo 5 – Relações Diferenciais entre Esforços Solicitantes e Ações Externas______


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 87
 

De forma análoga ao observado para o esforço cortante, constata-se que a


inclinação do diagrama de esforço normal, em um dado ponto, é igual ao negativo do
valor da função que descreve o carregamento axialmente distribuído.
Deve-se enfatizar que embora as Eq.(5.2), Eq. (5.4) e Eq.(5.6) tenham sido
apresentadas em sua forma diferencial, estas equações podem ser também resolvidas
utilizando-se técnicas integrais. Essas equações, em termos integrais, podem ser assim
reescritas:
B
VAB   q  x  dx
A
B
M AB   V  x  dx (5.7)
A
B
N AB    p  x  dx
A

sendo que A e B são as ordenadas genéricas "x", ao longo do eixo da barra, inicial e
final, respectivamente, e Δ é a variação dos esforços solicitantes no intervalo
considerado.
As relações diferenciais apresentadas anteriormente são válidas apenas em
pontos onde não atuam ações pontuais, ou seja, forças ou momentos concentrados.
Nesses dois casos especiais, surgem descontinuidades nas variações dos esforços
solicitantes ao longo do domínio da estrutura. Portanto, estes casos devem ser
criteriosamente considerados. Apenas para ilustrar o surgimento da descontinuidade,
deve-se considerar o elemento infinitesimal de comprimento x apresentado na Fig.
(5.3). Este elemento está submetido apenas a uma força concentrada de intensidade F.

Figura 5.3 Elemento infinitesimal em equilíbrio submetido a uma carga concentrada.

Capítulo 5 – Relações Diferenciais entre Esforços Solicitantes e Ações Externas______


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 88
 

Efetuando o equilíbrio de corpo rígido no elemento apresentado na Fig. (5.3)


tem-se:

F y  0  V  x   F  V  x   V  x    0  V  x    F (5.8)

O equilíbrio apresentado na Eq. (5.8) mostra que a variação do esforço cortante é


negativa, para o sentido da força pontual considerada, sendo que no diagrama de esforço
cortante ocorre uma descontinuidade (salto) quando a ação concentrada F está presente.
Deve-se ressaltar que o valor da descontinuidade no diagrama será exatamente igual à
intensidade da ação concentrada. Como sugestão ao leitor, compare esse resultado a um
dos exemplos resolvidos no capítulo anterior.
Embora mostrado apenas para a ação de forças pontuais, o mesmo efeito ocorre
quando momentos fletores pontuais são aplicados. Nesse caso ocorre uma
descontinuidade (salto) no diagrama de momento fletor. De acordo com a relação
diferencial apresentada na Eq.(5.4), e nos conhecimentos de cálculo diferencial,

verifica-se que no ponto onde V não é contínua dM também não apresenta valor
dx
definido. Portanto, os pontos de descontinuidade no diagrama de esforço cortante
conduzem a pontos onde o diagrama de momento fletor possui derivadas não contínuas.
Nesses pontos, as tangentes das curvas que descrevem o momento fletor imediatamente
antes e depois da descontinuidade possuem valores diferentes.

5.1.1 – Exemplo 1

No primeiro exemplo deste capítulo, objetiva-se a determinação dos diagramas


de esforços solicitantes da viga apresentada na Fig. (5.4). Trata-se de uma viga
engastada submetida a um carregamento distribuído de forma triangular ao longo de seu
comprimento. A Fig. (5.4) apresenta também o diagrama de corpo livre da viga.

Figura 5.4 Estrutura considerada na análise.

Capítulo 5 – Relações Diferenciais entre Esforços Solicitantes e Ações Externas______


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 89
 

Com base no diagrama de corpo livre apresentado na Fig. (5.4), pode-se


determinar as reações de apoio utilizando-se as equações de equilíbrio de corpo rígido.
Assim:

F x 0  Bx  0
53
F y 0  By 
2
0  By  7,5kN

53 3
 M B  0  M B  2  3  0  M B  7,5 kNm

Antes de empregar as relações diferenciais, o problema será resolvido


utilizando-se a metodologia proposta no capítulo anterior, onde expressões analíticas
para os esforços solicitantes são obtidas com base no equilíbrio de corpo rígido.
Considerando a ilustração mostrada na Fig. (5.4), constata-se que a viga apresenta
trecho único. Portanto, efetuando um corte ao longo do comprimento da viga obtêm-se
o diagrama de corpo livre apresentado na Fig. (5.5).

Figura 5.5 Diagrama de corpo livre para o trecho único da estrutura.

Aplicando as equações de equilíbrio de corpo rígido ao elemento apresentado na


Fig. (5.5) obtém-se:
5x x 5x2
 Fy  0  V 
 0
3 2
V  
6
5x x x 5 x3
Mx  0  M  3  2  3  0 M 
18
Resolvendo o problema com base nos recursos das relações diferenciais, obtém-
se a seguinte relação para o esforço cortante:
5x 5x2
V    q  x  dx  V   dx  V  C
3 6
Considerando a distribuição do carregamento do problema analisado, constata-se
que o esforço cortante é nulo em x = 0. Consequentemente, o termo constante, C, que
surgiu da integração da equação do carregamento deve ser nulo. Assim, a expressão

Capítulo 5 – Relações Diferenciais entre Esforços Solicitantes e Ações Externas______


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 90
 

para a variação do esforço cortante ao longo do comprimento da viga fica definida como
5x2
V  , que é o mesmo resultado obtido por meio da metodologia do capítulo
6
anterior.
Aplicando agora as relações diferenciais na determinação da expressão que
descreve a variação do momento fletor ao longo do comprimento da viga obtém-se:

5x2 5 x3
M   V  x  dx  M   dx  M  C
6 18
Como na coordenada x = 0 nenhuma ação externa é aplicada, constata-se que
nesse ponto o momento fletor é nulo. Portanto, a constante de integração, C, que surgiu
da integração da equação do esforço cortante deve ser nula para que essa condição de
contorno seja atendida. Portanto, a expressão que descreve a variação do momento
5 x3
fletor ao longo do comprimento da viga torna-se igual a M   , que é a mesma
18
expressão obtida utilizado-se a metodologia empregada no capítulo anterior. Com base
nessas duas equações, os diagramas de esforços solicitantes podem ser construídos, os
quais estão apresentados na Fig. (5.6).

7,5

M
V
+

7,5
Figura 5.6 Diagramas de esforços solicitantes.

5.1.2 – Exemplo 2

Objetiva-se, neste exemplo, a construção dos diagramas de esforços solicitantes


da estrutura apresentada na Fig. (5.7). Trata-se de uma viga engastada em seu extremo
esquerdo e vinculada, através de um apoio móvel, em seu extremo direito. A estrutura
está submetida à ação de uma força concentrada igual a 5 kN e a um carregamento

Capítulo 5 – Relações Diferenciais entre Esforços Solicitantes e Ações Externas______


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 91
 

distribuído igual a 2 kN/m. Deve-se ressaltar a presença de uma articulação na estrutura,


a qual está posicionada sobre o nó B.

Figura 5.7 Estrutura considerada na análise.

Quando uma articulação é inserida em um sistema estrutural, insere-se também


um GDL extra, referente à rotação relativa entre as barras que concorrem à articulação.
Consequentemente, para que o sistema resultante seja no mínimo isostático, devem ser
empregadas condições de vinculação tais que restrinjam os três GDL referentes ao
deslocamento de corpo rígido da estrutura no plano mais o(s) GDL relativo(s) à
introdução da(s) articulação(ões). Dessa forma, se uma única articulação estiver
presente, como é o caso do exemplo considerado, devem ser restringidos quatro GDL,
os quais conduzirão à determinação de quatro reações de apoio. Como somente três
equações de equilíbrio estão disponíveis para o caso plano, a quarta reação de apoio é
determinada utilizando-se a condição de momento fletor nulo sobre a articulação,
conforme discutido no capítulo anterior (onde o GDL é permitido o esforço solicitante
associado é nulo).
Assim, para a determinação das reações de apoio e das reações vinculares a
estrutura, esta deve ser seccionada sobre a articulação. Em seguida cada porção
seccionada deve ser equilibrada isoladamente utilizando as equações de equilíbrio de
corpo rígido. Considerando este procedimento, o trecho da estrutura referente aos nós B
e C conduz ao diagrama de corpo livre apresentado na Fig. (5.8).
Aplicando as equações de equilíbrio de corpo rígido à porção da estrutura
apresentada anteriormente têm-se:

F x 0  NB  0
1, 0
M B  0  2, 0 1, 0 
2, 0
 C y 1, 0  0  C y  1, 0 kN

F y  0  V B 2, 0 1, 0  1, 0  0  VB  1, 0 kN

Capítulo 5 – Relações Diferenciais entre Esforços Solicitantes e Ações Externas______


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 92
 

Figura 5.8 Diagrama de corpo livre trecho entre nós B e C.

Analisando agora a outra porção de estrutura, a qual corresponde à viga


delimitada pelos nós A e B, tem-se o seguinte diagrama de corpo livre:

Figura 5.9 Diagrama de corpo livre trecho entre nós A e B.

Empregando as equações de equilíbrio de corpo rígido para o corpo apresentado


na Fig. (5.9) obtêm-se:

F  0
x  Ax  0
F  0
y  Ay  5, 0  1, 0  0  Ay  6, 0 kN

M  0 A   M  5, 0 1, 0  1, 0  2, 0  0  M  7, 0 kN  m

Com base no equilíbrio efetuado para cada porção da viga isoladamente, o


seguinte diagrama de corpo livre é obtido.

Figura 5.10 Diagrama de corpo livre viga.

Assim, utilizando-se as relações diferenciais e o diagrama de corpo livre


apresentado na Fig. (5.10), pode-se construir os diagramas de esforços solicitantes.

Capítulo 5 – Relações Diferenciais entre Esforços Solicitantes e Ações Externas______


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 93
 

Considerando o esforço normal, observa-se que este tipo de esforço é nulo ao longo de
todo o comprimento da viga. Portanto, o diagrama de esforço normal para a viga
considerada é o apresentado na Fig. (5.11).

Figura 5.11 Diagrama de esforço normal.

Para a construção do diagrama de esforço cortante, observa-se que no trecho


entre os nós A e D não existe carregamento distribuído. Assim, segundo a Eq.(5.2),
neste trecho o esforço cortante deve ser constante. Como a reação do apoio A é igual a
6,0 kN, neste trecho o esforço cortante será igual a 6,0 kN. Sobre o ponto D atua um
carregamento concentrado de valor igual a 5,0 kN. Consequentemente, sobre o nó D
ocorrerá uma descontinuidade no diagrama de esforço cortante. A intensidade desta
descontinuidade, como mostrado na Eq.(5.8), é igual ao valor da carga concentrada,
portanto, igual a 5,0 kN.
Assim como no trecho entre os nós A e D, no trecho que envolve os nós D e B o
carregamento distribuído é igual à zero. Dessa forma, como mostra a Eq.(5.2), neste
trecho o diagrama de esforço cortante deve ser constante. Portanto, através do equilíbrio
de corpo rígido apresentado na Fig. (5.8), constata-se que neste trecho o esforço cortante
é igual a 1,0 kN.
Finalmente, considerando o trecho que envolve os nós B e C, observa-se a
presença de um carregamento uniformemente distribuído. Utilizando o resultado
apresentado pela Eq.(5.2), conclui-se que neste trecho o esforço cortante deve
apresentar variação linear. Com base no equilíbrio apresentado na Fig. (5.8), constata-se
que sobre o nó C o esforço cortante é negativo e igual a 1,0 kN.
Com base na discussão apresentada anteriormente, obtém-se o diagrama de
esforço cortante para a viga analisada, o qual está apresentado na Fig. (5.12).
Considerando as variações do esforço cortante ao longo do comprimento da viga, pode-
se também empregar as relações diferenciais para a construção do diagrama de
momento fletor. Para o trecho que envolve os nós A e D, observa-se que o esforço
cortante é constante. Consequentemente, por meio da Eq.(5.4), contata-se que o
momento fletor neste trecho deve apresentar variação linear. Assim, determinando-se os
valores dos momentos fletores sobre os nós A e D tem-se caracterizada a variação deste

Capítulo 5 – Relações Diferenciais entre Esforços Solicitantes e Ações Externas______


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 94
 

esforço no trecho desejado. Por meio de um equilíbrio simples, constata-se que sobre o
nó D o momento fletor é igual a -1,0 kN (tração na parte superior).

Figura 5.12 Diagrama de esforço cortante.

No trecho que envolve os nós D e B, o esforço cortante apresentou também


comportamento constante. Assim, neste trecho o momento fletor, segundo a Eq.(5.4),
deve apresentar variação linear. Como sobre a articulação o momento fletor é nulo, tem-
se os dois pontos necessários para a caracterização da variação deste esforço no trecho.
Finalmente, para o trecho entre os nós B e C, observa-se que o esforço cortante
apresentou variação linear. Consequentemente, pelo apresentado na Eq.(5.4), neste
trecho o momento fletor deve apresentar variação quadrática. Como sobre os nós B e C
o momento fletor é nulo, basta que se conheça o valor deste esforço ao longo de
qualquer ponto no trecho considerado para que se caracterize o diagrama. Um ponto de
particular interesse para a determinação do momento fletor é aquele onde o esforço
cortante é nulo. Como apresentado anteriormente, no ponto onde o esforço cortante é
nulo o momento fletor observa um valor extremo (máximo ou mínimo). Assim,
calculando o momento nesta posição tem-se o valor de máximo e consequentemente os
pontos necessários para o traçado deste diagrama.
Com base nas explicações apresentadas, obtém-se o diagrama de momento fletor
para a viga analisada, o qual está apresentado na Fig. (5.13). A determinação das
equações que descrevem a variação dos esforços solicitantes ao longo do comprimento
da viga pode ser também efetuada. Utilizando as Eq.(5.7) obtêm-se as seguintes
equações:

Capítulo 5 – Relações Diferenciais entre Esforços Solicitantes e Ações Externas______


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 95
 

Figura 5.13 Diagrama de momento fletor.

Para o trecho AD:


q0 e V 6
M   6dx  M  6 x  C1
em x  0 , M  7  C1  7  M  6 x  7
Para o trecho DB:
q0 e V  65  V 1
M   1dx  M  x  C2
em x  0 , M  1  C2  1  M  x  1
Para o trecho BC:

q  2 e V   2dx  V  2 x  C3  em x  0 ,V  1 
C3  1  V  2 x  1
2 x 2
M   2 x  1dx  M   x  C4  x  0 , M  0 
2
C4  0  M   x 2  x
Representando graficamente as equações apresentadas acima, obtêm-se os
diagramas de esforços solicitantes ilustrados nas Fig. (5.11), Fig. (5.12) e Fig. (5.13).

5.1.3 – Exemplo 3

No último exemplo deste capítulo, objetiva-se a determinação dos diagramas de


esforços solicitantes da estrutura apresentada na Fig. (5.14). Trata-se de um sistema

Capítulo 5 – Relações Diferenciais entre Esforços Solicitantes e Ações Externas______


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 96
 

formado por duas vigas, onde uma viga apoia-se sobre a outra, e atua um carregamento
uniformemente distribuído.

Figura 5.14 Estrutura considerada para análise.

O primeiro passo para a resolução deste exemplo trata da obtenção do diagrama


de corpo livre da estrutura analisada. Substituindo as condições de vinculação do
problema por reações equivalentes, obtém-se o diagrama apresentado na Fig. (5.15).

Figura 5.15 Diagrama de corpo livre.

Aplicando as equações de equilíbrio de corpo rígido a viga superior, ou seja, a


viga delimitada pelos nós A e E obtêm-se:

F x 0  HA  0
14, 0
M A  0  VB 12, 0  150, 0 14, 0 
2, 0
0  VB  1225, 0 lb

F y 0  VA  150, 0 14, 0  1225, 0  0  VA  875, 0 lb

Considerando o equilíbrio de corpo rígido da viga delimitada pelos nós C e D


resulta:

F  0
x  ND  0
M  0 C   1225, 0  2, 0  VD  8, 0  0  VD  306, 25 lb
F 0
y  VC  1225  306, 25  0  VC  918, 75 lb

Capítulo 5 – Relações Diferenciais entre Esforços Solicitantes e Ações Externas______


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 97
 

Para a viga delimitada pelos nós A e E observa-se a presença de um


carregamento uniformemente distribuído. De acordo com o apresentado pelas Eq.(5.2) e
Eq.(5.4), conclui-se que para este trecho o esforço cortante apresentará variação linear e
o momento fletor variação quadrática. Deve-se destacar que devido à presença da
reação pontual VB, ocorrerá, no diagrama de esforço cortante, uma descontinuidade, de
intensidade igual ao valor de VB, a qual conduzirá a um “bico”, ou ponto com derivadas
descontínuas, no diagrama de momento fletor.
Já para a viga delimitada pelos nós C e D, o carregamento distribuído atuante é
nulo. Assim, neste trecho, conforme indicam as Eq.(5.2) e Eq.(5.4), o esforço cortante
será constante e o momento fletor apresentará variação linear. Assim como na viga
superior, na viga inferior ocorrerá também a descontinuidade no diagrama de esforço
cortante devido à presença da reação pontual VB.
Com base nos comentários dos dois últimos parágrafos, e nos diagramas de
corpo livre, os diagramas de esforços solicitantes para as vigas analisadas podem ser
construídos, os quais estão apresentados nas Fig. (5.16) e Fig. (5.17).

Figura 5.16 Diagrama de esforço cortante.

Capítulo 5 – Relações Diferenciais entre Esforços Solicitantes e Ações Externas______


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 98
 

Figura 5.17 Diagrama de momento fletor.

Capítulo 5 – Relações Diferenciais entre Esforços Solicitantes e Ações Externas______


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 99
 

6. – Elemento de Barra Geral: Pórticos Planos

6.1 – Os Pórticos Planos

Pórticos planos são estruturas lineares planas submetidas a ações externas


contidas no plano que define a geometria de sua estrutura. Seu emprego é amplo no
domínio da engenharia das estruturas, principalmente em edificações e manufaturas
mecânicas. Esse tipo de estrutura é composto por elementos de barra geral de geometria
reta, sendo solicitado apenas por esforço normal, esforço cortante e momento fletor.
Consequentemente, os pórticos planos conseguem representar os deslocamentos da
estrutura no plano, ou seja, deslocamentos ao longo dos eixos x e y bem como a rotação
no plano xy. Deve-se destacar que existem também os pórticos tridimensionais, os
quais são a generalização do caso plano.
A análise estrutural dos pórticos planos é efetuada de forma semelhante à
apresentada para os elementos de viga. Assim, utilizam-se as relações diferenciais para
o traçado dos diagramas de esforços solicitantes. Porém, como os pórticos envolvem
normalmente mais de uma barra, nessas estruturas os diagramas são construídos barra a
barra. Na sequência deste capítulo, serão apresentados três exemplos com o objetivo de
ilustrar a determinação dos diagramas de esforços solicitantes em pórticos planos.

6.1.1 – Exemplo 1

O primeiro exemplo deste capítulo visa à determinação dos diagramas de


esforços solicitantes do pórtico plano apresentado na Fig. (6.1). Trata-se de um pórtico
composto por duas barras sendo solicitado por uma carga distribuída e duas forças
pontuais. Na estrutura estão presentes um apoio fixo e um móvel, os quais impedem seu
deslocamento de corpo rígido. Com base na geometria da estrutura, verifica-se que o

Capítulo 6 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Planos___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 100
 

ângulo de inclinação apresentado na Fig.  possui as seguintes propriedades

trigonométricas: sen    3 , cos    4 .


5 5

Figura 6.1 Estrutura considerada.

Para a resolução deste exemplo, deve-se, inicialmente, decompor a força


equivalente correspondente à ação distribuída ao longo dos eixos x e y. A Fig. (6.2)
ilustra a decomposição desta força, a qual resulta uma parcela orientada ao longo do
eixo x: Parcela x  50sen    30 kN , e uma parcela orientada ao longo do eixo y:

Parcela y  50 cos    40 kN .

Figura 6.2 Decomposição da força equivalente a carga distribuída.

Com base na decomposição da força apresentada na Fig. (6.2) obtém-se o


diagrama de corpo livre mostrado na Fig. (6.3). Assim, as reações de apoio da estrutura

Capítulo 6 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Planos___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 101
 

são obtidas aplicando-se as equações de equilíbrio de corpo rígido sobre o sistema


apresentado nessa figura. Portanto:

Figura 6.3 Diagrama de corpo livre.

 F  0  30  20  H  0
x A  H A  50 kN
 M  0  20  3  10  7  40  2  30 1,5  V
A c 5  0  Vc  51 kN
 F  0  V  51  40  10  0
y A  VA  1 kN

Para o traçado dos diagramas de esforços solicitantes deve-se isolar o elemento


de barra no qual deseja-se estudar a variação dos esforços. Iniciando o estudo pelo
elemento 1 apresentado na Fig. (6.3), este deve ser isolado e as ações em suas
extremidades devem ser representadas. Como esta barra é definida pelos nós A e B, as
ações sobre o nó A são as reações de apoio calculadas anteriormente e sobre o nó B são
os esforços solicitantes do extremo da barra. O diagrama de corpo livre desta barra, com
as ações mencionadas, está apresentado na Fig. (6.4).
Para tornar possível a determinação dos esforços normal (atuante ao longo do
comprimento da barra) e cortante (perpendicular ao eixo da barra), as reações do apoio
A devem ser decompostas em parcelas orientadas ao longo do eixo da barra e
perpendicular a este, como mostra a Fig. (6.4). Por meio desta figura, observa-se que a
reação HA gera uma componente normal, NHA, e outra cortante, VHA, as quais são
determinadas pelas seguintes relações:

Capítulo 6 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Planos___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 102
 

N H A  50 cos    40 kN
VH A  50sen    30 kN

Figura 6.4 Diagrama de corpo livre barra 1.

Efetuando decomposição semelhante para a reação VA obtém-se:


NVA  1sen    0,6 kN
VVA  1cos    0,8 kN

Assim, o diagrama de corpo livre da barra 1 pode ser reconstruído da maneira


como apresentado na Fig. (6.5).

Figura 6.5 Diagrama de corpo livre barra 1.

Capítulo 6 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Planos___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 103
 

Aplicando as equações de equilíbrio de corpo rígido ao elemento 1 determinam-


se os esforços solicitantes na extremidade B desta barra. Assim:

F  0
N  N  40, 6 kN
F  0
V  29, 2  10  5  V  0  V  20,8kN
M  0 x  29, 2  5  10  5  2,5  M  0  M  21kNm

Com base nas equações diferenciais, verifica-se que na barra 1 o esforço normal
atuante é constante ao longo do comprimento da barra, sendo o mesmo de tração.
Devido a presença da carga distribuída sobre a barra 1, constata-se, com base nas
Eq.(5.2) e Eq.(5.4), que o esforço cortante apresentará variação linear ao longo do
comprimento da barra, enquanto para o momento fletor, esta variação será quadrática.
Assim, considerando os esforços nas extremidades da barra e as informações relativas à
variação destes ao longo de seu comprimento, obtêm-se os diagramas de esforços
solicitantes, os quais estão apresentados na Fig. (6.6).

Figura 6.6 Diagramas de esforços solicitantes barra 1.

Para a construção dos diagramas de esforços solicitantes da barra 2, devem ser


determinados os valores das ações atuantes em suas extremidades. Considerando o
equilíbrio da barra 1, observa-se que as ações atuantes sobre o nó B foram já obtidas.
Consequentemente, estas ações sobre a barra 2 terão mesma intensidade e direção mas

Capítulo 6 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Planos___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 104
 

sentidos opostos (terceira lei de Newton). Dessa forma, para a barra 2, o diagrama de
corpo livre mostrado na Fig. (6.7) pode ser facilmente obtido.

Figura 6.7 Diagrama de corpo livre para a barra 2.

Para que os diagramas de esforços solicitantes desta barra sejam construídos, as


ações atuantes sobre o nó B devem ser decompostas segundo as direções paralela e
perpendicular ao eixo da barra. Esta decomposição de forças está ilustrada na Fig. (6.8).

Figura 6.8 Decomposição de forças para a barra 2.

Para o esforço normal atuante na barra 1 sobre o nó B, de valor igual a 40,6 kN,
sua decomposição em relação aos eixos x e y resulta:

PyN  40, 6sen    PyN  40, 6  3  PyN  24,36 kN


5
PxN  40, 6 cos    PxN  40, 6  4  PxN  32, 48 kN
5
Já para o esforço cortante atuante na barra 1 sobre o nó B, de valor igual a 20,8
kN, sua decomposição em relação aos eixos paralelo e perpendicular à barra 2 resulta:

PxV  20,8sen    PxV  20,8  3  PxV  12, 48 kN


5
PyV  20,8cos    PyV  20,8  4  PyV  16, 64 kN
5

Capítulo 6 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Planos___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 105
 

Dessa forma, as ações de força na extremidade da barra 2, localizada sobre o nó


B, resulta da soma conveniente das componente determinadas acima. Portanto, as
resultantes ao longo dos eixos x e y são iguais a:
Px  32, 48  12, 48  Px  20 kN
Py  24,36  16, 64  Py  41 kN

Assim, como base nas ações determinadas na última equação, obtém-se o


diagrama de corpo livre da barra 2 como mostrado na Fig. (6.9).

Figura 6.9 Diagrama de corpo livre para a barra 2.

Para a verificação da correção dos resultados até aqui obtidos, pode ser efetuado
o equilíbrio de corpo rígido do elemento mostrado na Fig. (6.9). Como todas as ações
são conhecidas, as equações de equilíbrio de corpo rígido devem ser satisfeitas. Assim:

F 0
x   F  20  20  0
x OK !
F 0
y   F  41  51  10  0
y OK !
M 0 B   M  10  3  511  21  0
B OK !

Com base no diagrama de corpo livre apresentado na Fig. (6.9) e nas relações
diferenciais, constata-se que o esforço normal é trativo, constante e igual a 20 kN.
Como não existem cargas distribuídas sobre a barra 2, conclui-se, com base nas Eq.
(5.2) e Eq.(5.4), que o esforço cortante apresentará variação constante e o momento
fletor variação linear ao longo do comprimento da barra. Deve-se ressaltar que devido à
reação do apoio C, surgirá uma descontinuidade no diagrama de esforço cortante de
intensidade igual à reação deste apoio, a qual produzirá um “bico”, ou ponto com
derivada descontínua, no diagrama de momento fletor. Assim, com base nestes
comentários, os seguintes diagramas de esforços solicitantes podem ser construídos.

Capítulo 6 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Planos___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 106
 

Figura 6.10 Diagramas de esforços solicitantes.

6.1.2 – Exemplo 2

Neste exemplo serão determinados os diagramas de esforços solicitantes da


estrutura apresentada na Fig. (6.11). Esta é uma estrutura de pórtico plano, submetida a
carregamentos concentrados e distribuído ao longo de suas barras e a um par de
momentos fletores aplicado sobre o nó G. Além disso, estão também presentes dois
apoios fixos e uma articulação.
Para a obtenção dos diagramas de esforços solicitantes, devem ser, inicialmente,
determinadas as reações de apoio da estrutura. Como estão presentes no sistema
estrutural dois apoios do tipo fixo, conclui-se que quatro reações de apoio deverão ser
determinadas. Considerando o equilíbrio de corpo rígido plano, dispõe-se de três
equações de equilíbrio, as quais poderão determinar três reações. Assim, a quarta reação
de apoio será calculada utilizando o fato de que, sobre a articulação, o momento fletor é
nulo. Portanto, na articulação a estrutura poderá ser seccionada e a somatória dos
momentos fletores em relação à articulação, de ambas as partes seccionadas deverá ser
nula. Dessa forma, obtém-se o diagrama de corpo livre da estrutura seccionando-a na
articulação, como apresentado na Fig. (6.12).
Considerando que os esforços que surgem no ponto de corte são auto
equilibrados tem-se:

Capítulo 6 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Planos___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 107
 

Figura 6.11 Estrutura a ser analisada.

Figura 6.12 Diagrama de corpo livre.

Capítulo 6 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Planos___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 108
 

M  0  VA  8  20  6  10  8  8  60  60  40  2  20  2  0 
B 2
VA  60 kN
F y  0  60  20  10  8  20  40  VB  0 
VB  100 kN
O equilíbrio de corpo rígido da porção esquerda da estrutura, ou seja, aquela
definida pelos nós A, C e G, pode ser efetuada utilizando o fato do momento ser nulo
sobre a articulação. Assim:

M  0 G  60  4  H A  6  10  4  4  20  2  60  0
2
 H A  30 kN

F 0
x  30  H B  0  H B  30 kN

Com base nas reações de apoio determinadas anteriormente, deve-se calcular os


valores das ações nas extremidades das barras que compõem a estrutura. Iniciando a
análise do problema pela barra 1, pode-se determinar seu diagrama de corpo livre, o
qual está ilustrado na Fig. (6.13).

Figura 6.13 Diagrama de corpo livre barra 1.

Aplicando as equações de equilíbrio de corpo rígido sobre a barra apresentada na


Fig. (6.13) obtém-se:

Capítulo 6 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Planos___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 109
 

 F  0  N  60 kN
N

 F  0  V  30 kN
V

 M  0  30  3  M  0
C  M  90 kN

Por meio do equilíbrio efetuado anteriormente e das relações diferencias,


observa-se que o esforço normal é compressivo, constante e igual a 60 kN para esta
barra. Já as variações do esforço cortante e do momento fletor podem ser determinadas
utilizando as Eq. (5.2) e Eq.(5.4). Como nesta barra não existem carregamentos
distribuídos perpendicularmente ao eixo da barra, o esforço cortante será constante e o
momento fletor apresentará variação linear ao longo do comprimento da barra. Assim,
os diagramas de esforços solicitantes apresentados na Fig. (6.14) podem ser construídos.

Figura 6.14 Diagramas de esforços solicitantes barra 1.

Passando agora à análise do elemento de barra 2, verifica-se que este encontra-se


posicionado de forma inclinada em relação aos eixos cartesianos. Consequentemente, as
ações internas e externas atuantes sobre esta barra deverão ser decompostas em relação
às direções paralela e perpendicular ao eixo da barra. Com base no equilíbrio da barra 1,
tem-se determinadas as ações atuantes sobre o nó C. Assim, o diagrama de corpo livre
da barra 2 pode ser construído, como mostrado na Fig. (6.15).
A primeira ação a ser decomposta será a força concentrada de 20 kN. Com base
no apresentado pela Fig. (6.16), suas componentes normal e cortante são obtidas
utilizando a inclinação . Assim:

Capítulo 6 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Planos___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 110
 

PNF  20  3  PNF  12 kN


5
PVF  20  4  PVF  16 kN
5

Figura 6.15 Diagrama de corpo livre para a barra 2.

Figura 6.16 Decomposição da carga concentrada.

As reações da barra 1 sobre a barra 2 atuantes no nó C podem ser também


decompostas. Utilizando a inclinação  da barra em relação ao eixo x e a Fig. (6.17)
tem-se:

Capítulo 6 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Planos___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 111
 

Figura 6.17 Decomposição reações da barra 1 sobre a barra 2.

Para a ação horizontal:


PNH  30  4  24 kN
5
PV  30  3  18 kN
H
5
Para a ação vertical:

PNV  60  3  36 kN
5
PV  60  4  48 kN
V
5
Somando convenientemente as parcelas correspondentes a decomposição das
ações da barra 1 sobre a barra 2, verifica-se que a força orientada paralela ao eixo da
barra 2 é igual a PN  24  36  PN  60 kN . Já a parcela orientada perpendicular ao

eixo da barra 2 é igual a PV  18  48  PV  30 kN .


Com relação à decomposição do carregamento uniformemente distribuído, deve-
se, primeiramente, determinar sua força equivalente. Para isso, multiplica-se o valor do
carregamento uniformemente distribuído pelo comprimento no qual este atua. Em
seguida, a força equivalente deve ser decomposta segundo as direções paralela e
perpendicular ao eixo da barra 2. Finalmente, para a obtenção dos carregamentos
distribuídos orientados em relação ao eixo da barra, divide-se cada uma das
componentes calculadas pelo comprimento da barra. Para a barra estudada, este
procedimento pode ser efetuado com o auxílio da Fig. (6.18).
A força equivalente a este carregamento distribuído é igual a 10  4  40 kN .
Utilizando a inclinação  da barra e dividindo cada uma das componentes de força pelo
comprimento da barra tem-se:

Capítulo 6 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Planos___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 112
 

PN  40  3  24  PND   24  4,8 kN m


5 5
PV  40  4  32  PV   32  6, 4 kN m
D
5 5

Figura 6.18 Decomposição da carga distribuída.

Dessa forma, as cargas distribuídas determinadas acima estão orientadas como


apresentado na Fig. (6.19).

Figura 6.19 Decomposição da carga distribuída.

Portanto, com base na decomposição de todas as ações tem-se o diagrama de


corpo livre da barra 2, o qual está ilustrado na Fig. (6.20).

Capítulo 6 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Planos___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 113
 

Figura 6.20 Diagrama de corpo livre para a barra 2.

Aplicando as equações de equilíbrio de corpo rígido ao elemento apresentado na


Fig. (6.20) obtém-se:

F N  0  60  4,8  5  N  12  0  N  24 kN
F V 0  30  6, 4  5  16  V  0  V  18 kN

Para a verificação sobre a correção dos resultados, pode-se verificar se a equação


de somatória de momentos é atendida. Assim:
5
M G  0  30  5  90  6, 4  5   16  2,5  60  0
2
OK !

Com base nas relações diferenciais mostradas no capítulo anterior, verifica-se


que o esforço normal apresenta variação linear ao longo da barra 2. Esta variação ocorre
devido à presença de um carregamento distribuído axialmente como mostra a Fig.
(6.20). O mesmo tipo de variação é observado para o esforço cortante. Este
comportamento decorre da presença de uma carga distribuída perpendicularmente ao
eixo da barra, como ilustrado na Fig. (6.20). Consequentemente, o momento fletor
apresentará variação quadrática no trecho considerado. Deve-se ressaltar que devido à
presença de duas forças concentradas no centro da barra 2, surgirão, neste ponto,
descontinuidades nos diagramas de esforço normal e esforço cortante, além de, neste
mesmo ponto, o diagrama de momento fletor apresentar derivada não contínua. Com
base nas considerações deste parágrafo, podem ser construídos os diagramas de esforços
solicitantes, os quais, para a barra 2, estão apresentados na Fig. (6.21).

Capítulo 6 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Planos___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 114
 

Figura 6.21 Diagramas de esforços solicitantes para a barra 2.

A próxima barra a ser analisada é a de número 3. Inicialmente, os esforços


calculados na extremidade da barra 2, atuantes sobre o nó G, devem ser reaplicados
sobre o extremo da barra 3 localizado sobre o nó G considerando mesma intensidade e
direção, mas sentido oposto (terceira lei de Newton). Efetuando este procedimento, é
possível construir o diagrama de corpo livre da barra 3, o qual está apresentado na Fig.
(6.22).

Figura 6.22 Diagrama de corpo livre para a barra 3.

Na sequência, as forças representadas na Fig. (6.22), atuantes sobre o nó G,


devem ser decompostas segundo as direções normal e paralela ao eixo da barra 3.
Utilizando a inclinação  da barra 2 e o diagrama ilustrado na Fig. (6.23), as

Capítulo 6 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Planos___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 115
 

componentes horizontal e vertical dos esforços inclinados aplicados sobre o nó G


resultam:

Figura 6.23 Decomposição de forças sobre o nó G.

PxN  24  4  19, 2 KN
5
Py  24  3  14, 4 KN
N
5
Px  18  3  10,8KN
V
5
PyV  18  4  14, 4 KN
5
Somando convenientemente as parcelas x e y calculadas acima, obtém-se o
diagrama de corpo livre mostrado na Fig. (6.24).

Figura 6.24 Diagrama de corpo livre para a barra 3.

Aplicando as equações de equilíbrio de corpo rígido ao corpo apresentado na


Fig. (6.24) obtém-se:

F  0
N  30  N  0  N  30 kN
F  0
V  0  10  4  V  0  V  40 kN

M  0 F  60  10  4  4  M  0
2
 M  140 kNm

Com base no diagrama de corpo livre apresentado na Fig. (6.24) e nos valores
acima calculados para as ações nas extremidades da barra 3 é possível a construção dos

Capítulo 6 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Planos___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 116
 

diagramas de esforços solicitantes desta barra. Com base nos esforços atuantes nas
extremidades da barra e nas relações diferenciais, observa-se que o esforço normal é
compressivo, constante e igual a 30 kN. O esforço cortante apresenta variação linear ao
longo do comprimento da barra, já que sobre esta existe um carregamento
uniformemente distribuído orientado de forma perpendicular ao seu eixo.
Consequentemente, utilizando as relações diferenciais, verifica-se que o momento fletor
apresentará variação quadrática ao longo do comprimento da barra. Como o esforço
cortante não passa por zero ao longo do comprimento da barra, constata-se que o
momento máximo ocorrerá nas extremidades da barra. Considerando estes comentários,
obtêm-se os diagramas de esforços solicitantes apresentados na Fig.(6.25).

Figura 6.25 Diagramas de esforços solicitantes para a barra 3.

Isolando a barra 4 da estrutura, obtém-se o diagrama de corpo livre apresentado


na Fig. (6.26).

Figura 6.26 Diagrama de corpo livre para a barra 4.

Aplicando as equações de equilíbrio de corpo livre sobre este elemento obtêm-se


os valores das ações atuantes sobre suas extremidades. Assim:

Capítulo 6 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Planos___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 117
 

F  0
N N 0
F  0
V  V  20 kN
M  0 F  M  40 kN

Com base nos valores dos esforços nas extremidades da barra e nas relações
diferenciais, constata-se que o esforço normal é nulo. Além disso, o esforço cortante
será constante e o momento fletor apresentará variação linear ao longo do comprimento
da barra. Esse comportamento ocorre devido à ausência de carregamentos distribuídos.
Assim, os seguintes diagramas de esforços solicitantes podem ser construídos.

Figura 6.27 Diagramas de esforços solicitantes para a barra 4.

Considerando agora o elemento 5, sua análise é muito semelhantes a apresentada


para a barra 4, devido a semelhança entre os carregamentos atuantes e as condições de
extremidade. Isolando o elemento 5 da estrutura obtém-se o diagrama de corpo livre
mostrado na Fig. (6.28):

Figura 6.28 Diagrama de corpo livre para a barra 5.

Aplicando as equações de equilíbrio de corpo rígido ao elemento apresentado na


Fig. (6.28) obtém-se:

Capítulo 6 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Planos___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 118
 

F  0
N N 0
F  0
V  V  40 kN
M  0 E  M  80 kNm

Considerando os mesmos comentários efetuados sobre a variação dos esforços


solicitantes ao longo do elemento 4, obtém-se os diagramas de esforços solicitantes
atuantes sobre a barra 5, os quais estão ilustrados na Fig. (6.29).

Figura 6.29 Diagrama de esforços solicitantes para a barra 5.

A próxima barra a ser analisada é a de número 6, a qual é definida pelos nós F e


E sendo apresentada na Fig. (6.30). Para a obtenção dos esforços nas extremidades desta
barra deve-se, primeiramente, efetuar o equilíbrio do nó F. Para tal fim, as ações nas
extremidades das barras 3 e 4, atuantes sobre o nó F, devem ser aplicadas sobre este nó
juntamente com as ações da extremidade da barra 6 atuantes também sobre este nó.
Devido a 3 lei de Newton, as ações atuantes sobre o nó para a consideração do
equilíbrio devem possuir mesma direção e intensidade, mas sentidos opostos aos
determinados no equilíbrio das barras. As ações atuantes sobre o nó F estão ilustradas
na Fig. (6.31).

Capítulo 6 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Planos___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 119
 

Figura 6.30 Diagrama de corpo livre para a barra 6.

Aplicando as equações de equilíbrio de corpo rígido às ações mostradas na Fig.


(6.31) tem-se:

140

30 0

40
40 20

NF VF
MF

Figura 6.31 Equilíbrio nó F.

F  0
x  VF  30  0  VF  30kN
F  0
y  40  20  N F  0  N F  60kN
M  0  140  40  M F  0  M F  100 kNm

Com base nas ações “XF” obtidas no equilíbrio apresentado acima, pode-se
reconstruir o diagrama de corpo livre mostrado na Fig. (6.29). Dessa forma, obtém-se o
diagrama de corpo livre ilustrado na Fig. (6.32).

Capítulo 6 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Planos___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 120
 

Figura 6.32 Diagrama de corpo livre para a barra 6.

Aplicando as equações de equilíbrio de corpo rígido a barra mostrada na


Fig.(6.32) obtém-se:

F  0
N  N  60  0  N  60 kN
F  0
V  V  30  0  V  30 kN
M  0 E  100  30  3  M  0  M  10 kNm

Devido a ausência de carregamentos distribuídos nessa barra, pode-se concluir,


com base nas relações diferenciais apresentadas no capítulo anterior, que o esforço
normal será compressivo, constante e igual a 60 kN. O esforço cortante será constante e
o momento fletor apresentará variação linear ao longo do comprimento da barra. Assim,
os diagramas de esforços solicitantes desta barra podem ser construídos, como mostrado
na Fig. (6.33).
Finalmente, deve-se analisar a última barra do pórtico, a qual apresenta o
número 7. Esta barra é delimitada pelos nós E e B, sendo que sobre o nó B atuam as
reações de um apoio fixo. Dessa forma, pode-se construir o diagrama de corpo livre
desta barra como mostrado na Fig. (6.34).

Capítulo 6 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Planos___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 121
 

Figura 6.33 Diagramas de esforços solicitantes para a barra 6.

Figura 6.34 Diagrama de corpo livre para a barra 7.

Aplicando as equações de equilíbrio de corpo rígido sobre o elemento e as ações


mostradas na Fig. (6.34) tem-se:

F  0
N  100  N  0  N  100 kN
F  0
V  30  V  0  V  30 kN
M  0 E
 M  30  3  0  M  90 kNm

Capítulo 6 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Planos___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 122
 

Devido a ausência de forças distribuídas sobre esta barra, constata-se, com base
nas relações diferenciais apresentadas no capítulo anterior, que o esforço normal será
constante, compressivo e igual a 100 kN. Além disso, o esforço cortante apresentará
comportamento constante e o momento fletor apresentará variação linear ao longo da
barra. Os diagramas de esforços solicitantes para esta barra, com base nestes
comentários, podem ser construídos, os quais estão apresentados na Fig. (6.35).

Figura 6.35 Diagramas de esforços solicitantes para a barra 7.

De forma a verificar a correção do exercício, pode-se averiguar se a condição de


equilíbrio do nó E é atendida. Sobre este nó concorrem três barras. Assim, as ações das
extremidades dessas barras, atuantes sobre o nó E, devem ser aplicadas sobre este nó e a
condição de equilíbrio de corpo rígido deve ser atendida. Para tal finalidade, os esforços
determinados nas extremidades das barras devem ser reaplicados sobre o nó com mesma
intensidade e direção, mas com sentido contrário (3º lei de Newton).
Na Fig. (6.36) estão apresentadas as ações atuantes sobre o nó E. Impondo, sobre
essas ações, a condição de equilíbrio tem-se:

 F  0  0  30  30  0
x OK !
 F  0  100  40  60  0
y OK !
 M  0  80  10  90  0 OK !

Assim, o equilíbrio é satisfeito indicando a correção do exercício.

Capítulo 6 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Planos___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 123
 

60 10
80
30
0

40 30
100
90
Figura 6.36 Verificação do equilíbrio do nó E.

6.1.3 – Exemplo 3

Nesse exemplo, serão determinados, para o pórtico plano apresentado na Fig.


(6.37), os diagramas de esforços solicitantes e as reações dos vínculos internos e
externos existentes. O pórtico está submetido apenas a carregamentos uniformemente
distribuídos ao longo das barras que o compõem. Além disso, a estrutura é vinculada
por meio de dois apoios do tipo fixo, posicionados sobre os nós A e D. Uma
característica diferente presente neste pórtico, e ainda não discutida nos exemplos
anteriores, é o tipo de ligação (ou vínculo interno) existente entre as barras 2 e 3, ou
seja, sobre o nó C. Este tipo de ligação impede apenas o deslocamento vertical e o giro
relativo entre as referidas barras. Portanto, são transmitidas somente a força vertical
(esforço normal da barra 2 e esforço cortante da barra 3) e o momento fletor entre as
barras unidas neste nó.
O diagrama de corpo livre da estrutura, separada no nó C com os respectivos
esforços internos e externos, é apresentado na Fig. (6.38). Se a estrutura está em
equilíbrio, cada parte isolada da estrutura também estará em equilíbrio. Fazendo o
equilíbrio da parte esquerda da estrutura, definida pelos nós A, B e C, tem-se:

F x  0   H A  10  5  0  H A  50kN

Considerando todas as ações atuantes sobre a estrutura, tem-se:

 F  0  50  10  5  H  0  H  0
x D D

 M  0  V  8  50  5  10  5  5 2  10  4  4 2  M
D A C  M C  2  VC  VC   0
VA  5, 625 kN
F y  0  5, 625  10  4  VD  0  VD  45, 625 kN

Capítulo 6 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Planos___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 124
 

Figura 6.37 Estrutura a ser analisada.

sen    3
5
cos    4
5

Figura 6.38 Diagrama de corpo livre.

Considerando agora apenas a parte direita da estrutura, definida pelos nós C e D,


obtêm-se os valores dos esforços atuantes sob o nó C aplicando as seguintes equações
de equilíbrio de corpo rígido:

Capítulo 6 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Planos___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 125
 

 F  0  V  V  10  4  0 
y C D VC  45, 625  40  0  VC  5, 625 kN

 M  0  V  4  10  4  4 2  M
C D C 0  M C  102, 5 kNm

Conhecidas as reações dos vínculos externos e do vínculo interno entre as barras


2 e 3, deve-se analisar o diagrama de corpo livre de cada uma das barras de forma
isolada, para então serem traçados os diagramas de esforços solicitantes desejados.
Começando pela barra 1, a Fig. (6.39) apresenta o diagrama de corpo livre desta
barra, que encontra-se inclinada de  em relação à horizontal.

Figura 6.39 Diagrama de corpo livre da barra 1.

Antes de serem aplicadas as equações de equilíbrio de corpo rígido, faz-se


necessária a decomposição das reações de apoio atuantes sobre o nó A em relação às
direções paralela e perpendicular ao eixo da barra. Isso será feito utilizando a Fig.(6.40).

Figura 6.40 Decomposição das reações de apoio do nó A.

Capítulo 6 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Planos___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 126
 

As parcelas paralela e perpendicular ao eixo da barra, devidas à reação do apoio


A, são obtidas por:
PN50  50 cos    40 kN
PV50  50 sen    30 kN
PN5,625  5, 625sen    3,375 kN
PV5,625  5, 625 cos    4,5 kN

Somando convenientemente as parcelas correspondentes à decomposição das


reações no nó A, verifica-se que a força resultante orientada paralela ao eixo da barra 1
é igual a PN  40  3,375  PN  43,375 kN . Já a parcela orientada perpendicular ao

eixo da barra 1 é igual a PV  30  4,5  PV  25,5 kN .


Além da decomposição das reações, é necessária a decomposição da carga
distribuída que atua ao longo da barra 1. Primeiramente, determina-se a força
concentrada equivalente ao carregamento distribuído, a qual é obtida multiplicando-se o
valor da carga distribuída pelo comprimento no qual esta atua. Então, decompõe-se a
força equivalente segundo as direções perpendicular e paralela ao eixo da barra em
questão. Dividindo-se as componentes da força equivalente pelo comprimento da barra,
encontram-se os valores das cargas distribuídas, paralela e perpendicular, ao longo da
barra 1. Este procedimento está representado na Fig. (6.41).
A força equivalente a este carregamento distribuído é igual a 10  3  30 kN .
Utilizando a inclinação  da barra e dividindo cada uma das componentes de força pelo
comprimento da barra tem-se:

PN  30 cos    24kN  PND  24  4,8 kN m


5
PV  30sen    18kN  PV  18  3, 6 kN m
D
5

Figura 6.41 Decomposição da carga distribuída.

Capítulo 6 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Planos___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 127
 

Dessa forma, as cargas distribuídas determinadas anteriormente estão orientadas


como apresentado na Fig. (6.42), a qual também ilustra o diagrama de corpo livre da
barra 1.

Figura 6.42 Diagrama de corpo livre.

Aplicando as equações de equilíbrio de corpo rígido à barra apresentada na Fig.


(6.42) obtém-se:

 F  0  43,375  4,8  5  N  0
N  N  19,375kN
 F  0  25,5  3, 6  5  V  0
V  V  7,5kN

 M  0  25,5  5  3, 6  5  5 2  M  0
B  M  82,5KN  m

Com base nas relações diferenciais apresentadas no capítulo anterior, verifica-se


que o esforço normal possui variação linear ao longo do comprimento da barra. Esta
variação ocorre devido à presença de uma carga distribuída de forma paralela ao eixo da
barra como mostrado na Fig. (6.42). O mesmo tipo de variação é observado para o
esforço cortante. Este comportamento decorre da presença de uma carga distribuída de
forma perpendicular ao eixo da barra, como também ilustrado na Fig. (6.42).
Consequentemente, o momento fletor apresentará variação quadrática no trecho
considerado. Com base nas considerações deste parágrafo, podem ser construídos os
diagramas de esforços solicitantes da barra analisada, os quais estão apresentados na
Fig. (6.43).

Capítulo 6 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Planos___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 128
 

Figura 6.43 Diagramas de esforços solicitantes para a barra 1.

Para a barra 2, esquematiza-se o diagrama de corpo livre tal como apresentado


na Fig. (6.44). Salienta-se que os esforços do nó C foram obtidos no instante em que as
reações dos vínculos internos e externos foram determinadas.

Figura 6.44 Diagramas de corpo livre para a barra 2.

Aplicando-se as equações de equilíbrio de corpo rígido ao corpo apresentado na


Fig. (6.44) obtém-se:

 F  0   N  5, 625  0
N  N  5, 625 kN
 F  0  V  10  2  0
V  V  20 kN

 M  0  M  10  2  2 2  102,5  0
B  M  82,5 kN  m

Uma maneira de verificar se os resultados obtidos até o momento estão corretos,


é efetuando o equilíbrio do nó B considerando as ações das extremidades das barras 1 e

Capítulo 6 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Planos___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 129
 

2 atuantes sobre o nó B. Decompondo as ações da barra 1 em relação aos eixos x e y,


como mostrado na Fig. (6.45), obtém-se:

Figura 6.45 Decomposição dos esforços da barra 1 no nó B.

Considerando as ações determinadas na barra 2, pode-se escrever o equilíbrio do


nó B, conforme apresentado na Fig. (6.46). Portanto, verifica-se que o equilíbrio é
satisfeito, indicando a correção dos equilíbrios até aqui efetuados.
82,5
Fx Fy M
2 20 5,625
2 2

1
1

20 1 5,625
82,5

Figura 6.46 Equilíbrio do nó B.

Com base no diagrama de corpo livre da barra 2, apresentado na Fig. (6.44), e


nos valores anteriormente calculados para as ações em suas extremidades, é possível a
construção dos diagramas de esforços solicitantes para a referida barra. Com base nos
valores dos esforços nas extremidades da barra e nas relações diferenciais, observa-se
que o esforço normal atuante na barra é de tração, constante e igual a 5,625 kN. O
esforço cortante apresenta variação linear ao longo do comprimento da barra, já que
sobre esta existe um carregamento uniformemente distribuído atuando.
Consequentemente, utilizando-se as relações diferenciais, verifica-se que o momento
fletor apresentará variação quadrática ao longo do comprimento da barra. Com base
nestes comentários, obtêm-se os diagramas de esforços solicitantes apresentados na
Fig.(6.47).

Capítulo 6 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Planos___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 130
 

Figura 6.47 Diagrama de esforços solicitantes para a barra 2.

Para a barra 3, o diagrama de corpo livre é o ilustrado na Fig. (6.48).

Figura 6.48 Diagrama de corpo livre para a barra 3.

As componentes dos esforços solicitantes sobre os nós C e D já haviam sido


calculadas quando da determinação das reações dos vínculos internos e externos. Com
base nesses valores, verifica-se que o esforço normal na barra é nulo. Além disso, em
função da carga distribuída uniformemente ao longo da barra, o comportamento do
esforço cortante é linear e, consequentemente, o comportamento do momento fletor é
quadrático. Assim, os seguintes diagramas de esforços solicitantes podem ser
construídos.

Figura 6.49 Diagrama de esforços solicitantes para a barra 3.

Capítulo 6 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Planos___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 131
 

6.1.4 – Exemplo 4

No último exemplo do presente capítulo serão determinados, para o pórtico


plano apresentado na Fig. (6.50), os diagramas de esforços solicitantes e também as
reações dos vínculos internos e externos existentes. O pórtico plano em análise está
submetido a carregamentos uniformemente distribuídos ao longo de suas barras além de
dois carregamentos concentrados em seu nó B. A estrutura é vinculada por meio de dois
apoios do tipo fixo sobre os nós A e C. Deve-se destacar a existência de uma rótula
sobre o nó B. Assim, apesar de introduzir uma mobilidade extra à estrutura, ou seja, um
GDL adicional, a rótula introduz também uma condição subsidiária, a qual é relacionada
a nulidade dos momentos fletores. Esse aspecto será utilizado aqui para a determinação
de uma reação de apoio.

Figura 6.50 Estrutura a ser analisada.

O diagrama de corpo livre da barra BC, separada da estrutura em seu nó B, é


apresentado na Fig. (6.51). Se a estrutura está em equilíbrio, cada parte isolada da
estrutura deverá também estar em equilíbrio. Portanto, impondo o equilíbrio de corpo
rígido à barra ilustrada na Fig. (6.51) obtém-se:

Capítulo 6 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Planos___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 132
 

2
 M  0  V  2  3 2  2  0
B C  VC  3kN

 F  0  V  3 2  3  0
y B  VB  3kN

F  0  H  H
x B C

Constata-se que o equilíbrio isolado da barra BC permitiu a determinação da


reação de apoio VC e da reação interna VB . Além disso, possibilitou associar as reações

H B e HC .

Figura 6.51 Equilíbrio isolado da barra BC.

Após a determinação da reação VC , pode-se agora voltar a analisar a estrutura


com todas as suas barras. A Fig. (6.52) apresenta o diagrama de corpo livre da estrutura.
Com base nessa ilustração, pode-se impor o equilíbrio de corpo rígido, resultando em:
2
 M  0  3 2  H 3  3 2  2  33  0
A C  H C  3kN

 F  0  3  H  3  0
x A  HA  0
 F  0  2  3  5  3  2  3  V  0
y A  VA  14kN

Portanto, com base no equilíbrio anteriormente efetuado, tem-se determinados


todos os valores das reações de apoio. Assim, pode-se passar a análise das barras de
forma isolada, com o objetivo de traçar os diagramas de esforços solicitantes. A Fig.
(6.53) apresenta o diagrama de corpo livre da barra BC com todas as ações em seus
extremos determinadas.
Com base nas relações diferenciais apresentadas no capítulo anterior, verifica-se
que o esforço normal possui variação constante ao longo do comprimento da barra. Esta
variação ocorre pelo fato de não ser observado nenhum carregamento distribuído de
forma paralela ao eixo da barra. O esforço cortante possui variação linear ao longo do

Capítulo 6 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Planos___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 133
 

comprimento da barra, já que observa-se a presença de uma carga distribuída constante


atuando de forma perpendicular ao eixo da barra. Consequentemente, o momento fletor
apresentará variação quadrática no trecho considerado. Sabe-se que o momento fletor é
nulo nas extremidades da barra, uma vez que ambas são articuladas. O terceiro ponto
necessário ao traçado deste diagrama refere-se ao ponto de cortante nulo. Nesse ponto
será observado o momento fletor máximo. Devido à simetria do diagrama de esforço
cortante, esse ponto encontra-se na metade do comprimento da barra. Impondo o
equilíbrio de momentos nesse ponto, contata-se que a intensidade do momento fletor é
igual a 1,5 kNm.

Figura 6.52 Diagrama de corpo livre da estrutura.

Figura 6.53 Diagrama de corpo livre barra BC.

Capítulo 6 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Planos___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 134
 

Assim, com base nos comentários efetuados anteriormente, podem ser


construídos os diagramas de esforços solicitantes da barra analisada, os quais estão
apresentados na Fig. (6.54).

Figura 6.54 Diagramas de esforços solicitantes para a barra BC.

Deve-se agora impor as condições de equilíbrio de ponto material sobre o nó B.


Essa operação permitirá a determinação da intensidade das ações sobre o extremo B da
barra AB. Assim, as ações atuantes sobre o nó B podem ser indicadas como mostra a
Fig. (6.55).

Figura 6.55 Ações sobre nó B.

Deve-se enfatizar que sobre o nó B atuam as forças externas horizontal de 3kN e


vertical de 5kN. Além disso, atuam também as reações do extremo B da barra BC, as
quais possuem intensidade de 3 kN. Ressalta-se que o sentido dessas forças sobre o nó
B é o oposto do indicado na Fig. (6.53). Tal comportamento ocorre pela terceira lei de
Newton (ação e reação). Além disso, atuam também sobre o nó B as ações da
extremidade B da barra AB ( VB e H B ). Assim, impondo o equilibro de ponto material
sobre as ações ilustradas na fig. (6.55) obtém-se:

Capítulo 6 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Planos___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 135
 

Fx  0  3  3  H B  0  HB  0
F y  0  5  3  VB  0  VB  8kN

Assim, como base no equilíbrio efetuado anteriormente, pode-se construir o


diagrama de corpo livre da barra AB, o qual é ilustrado na Fig. (6.56).

Figura 6.56 Diagrama de corpo livre barra AB.

Na Fig. (6.56), estão ilustradas as reações do apoio A e também as ações do


extremo B determinadas anteriormente, as quais atendem à terceira lei de Newton (ação
e reação). Pode-se verificar se a barra apresentada na Fig. (6.56) atende às condições de
equilíbrio de corpo rígido. Assim:

M  0  0  0
A  OK !
F  0  0  0
x  OK !
 F  0  14  8  2  3  0
y  00  OK !

Portanto, observa-se que a barra atende às condições de equilíbrio de corpo


rígido. Assim, pode-se efetuar o traçado dos diagramas de esforços solicitantes para essa
barra. Com base nas relações diferenciais apresentadas no capítulo anterior, verifica-se
que o esforço normal possui variação linear ao longo do comprimento da barra. Esta
variação ocorre devido à presença de um carregamento distribuído constante de forma
paralela ao eixo da barra como mostrado na Fig. (6.56). Já o esforço cortante possui

Capítulo 6 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Planos___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 136
 

variação constante no trecho considerado, com valor nulo mais especificamente. Este
comportamento decorre da ausência de uma carga distribuída de forma perpendicular ao
eixo da barra, como também ilustrado na Fig. (6.56), e pelo fato das forças
perpendiculares ao eixo da barra atuantes nos extremos da barra serem nulas. Pelo fato
do esforço cortante ser nulo, o momento fletor apresentará variação constante no trecho
considerado. Como os momentos fletores são nulos nos extremos, seu valor é nulo ao
longo do comprimento da barra. Com base nas considerações deste parágrafo, podem
ser construídos os diagramas de esforços solicitantes da barra analisada, os quais estão
apresentados na Fig. (6.57).

Figura 6.57 Diagramas de esforços solicitantes para a AB.

Capítulo 6 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Planos___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 137
 

7. – Estruturas Mistas Planas

7.1 – Os Sistemas Mistos Planos

O termo misto é normalmente utilizado na língua portuguesa para designar


objetos compostos por elementos diferentes. No contexto da engenharia de estruturas,
esse termo pode ser empregado para a designação de estruturas formadas por diferentes
materiais e/ou diferentes tipos de elementos estruturais. Esses tipos de estruturas são de
grande importância no cotidiano da engenharia de estruturas, pois permitem a
concepção de projetos e a determinação de configurações estruturais que melhor se
adéquam aos recursos disponíveis, como apresentado na Fig. (7.1).
Neste capítulo serão analisadas estruturas planas mistas compostas por
elementos de barra geral e elementos de barra simples. Objetivam-se determinar os
diagramas de esforços solicitantes para os elementos de barra geral e os esforços
normais nos elementos de barra simples.

Figura 7.1 Exemplos de estruturas mistas.

Capítulo 7 – Estruturas Mistas Planas________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 138
 

7.1.1 – Exemplo 1

O primeiro exemplo deste capítulo refere-se à análise estrutural da estrutura


mista apresentada na Fig. (7.2). Trata-se de um pórtico plano formado por duas barras,
sobre o qual apoia-se uma treliça plana composta por quatro barras. Esta estrutura é
engastada em seu nó E, sendo que dois carregamentos concentrados atuam sobre o nó
A. Além disso, um carregamento uniformemente distribuído atua sobre a barra
horizontal do pórtico.

Figura 7.2 Estrutura a ser analisada.

A análise será iniciada determinando-se os esforços normais atuantes nas barras


da treliça (elementos de barra simples) por meio do método dos nós. Efetuando o
equilíbrio do nó A, obtém-se o seguinte diagrama de corpo livre.
FAC

FAB
8

Figura 7.3 Diagrama de forças para o nó A.

Capítulo 7 – Estruturas Mistas Planas________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 139
 

Segundo a disposição geométrica dos elementos de barra simples, verifica-se


que o ângulo  apresenta os seguintes valores para seu seno e cosseno:
sen    0,3162 ; cos    0,9486 . Aplicando as equações de equilíbrio de ponto

material sobre as forças atuantes no nó A obtêm-se:

F y  0   8  FAC sen    0  FAC  25,30 kN  tração 


F x  0   FAB  FAC cos    3  0  FAB  21 kN  compressão 

O próximo nó a ser equilibrado é o de letra C. Isolando-o da estrutura e


representando as forças que atuam sobre ele, obtém-se o diagrama de corpo livre
mostrado na Fig. (7.4), o qual já leva em conta o esforço atuante sobre a barra AC.

25,3
FCD
FCB

Figura 7.4 Diagrama de forças para o nó C.

Conforme a disposição geométrica dos elementos de barra simples, observa-se


que os ângulos  e  apresentam os seguintes valores para as funções trigonométricas
seno e cosseno:
sen     0,9486 ; cos     0,3162 ; sen     0,8321 ; cos     0,5547

Portanto, aplicando as equações de equilíbrio de ponto material sobre as forças


apresentadas na Fig. (7.4) obtém-se:

F x  0   FCD sen     25,3sen     0  FCD  28,842 kN  tração 


F y  0   FCD cos     25,3cos     FCB  0  FCB  24 kN  compressão 

Com base no equilíbrio desses dois nós, determinam-se as forças atuantes sobre
os nós B e D, pertencentes ao pórtico, referentes às reações da treliça. Tais ações
obedecem a terceira lei de Newton, ou seja, ação e reação. Assim, obtém-se o conjunto
de forças mostrado na Fig. (7.5) para os nós B e D respectivamente.
24 KN 16
28,842

21 KN 24

Figura 7.5 Forças atuantes sobre os nós B e D.

Capítulo 7 – Estruturas Mistas Planas________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 140
 

A partir das forças atuantes sobre os nós B e D, é possível a representação do


conjunto total de forças atuantes sobre o pórtico, o qual é mostrado na Fig. (7.6).
16 2
24

24 21

Figura 7.6 Forças atuantes sobre o pórtico plano.

Para a determinação dos esforços solicitantes no pórtico plano mostrado na Fig.


(7.6), deve-se inicialmente obter seu diagrama de corpo livre. Este diagrama é ilustrado
na Fig. (7.7).
16 2
24

24 21

HE

M
VE

Figura 7.7 Diagrama de corpo livre.

Com base na Fig. (7.7) podem ser obtidas as reações de apoio da estrutura
aplicando-se as equações de equilíbrio de corpo rígido. Assim:

Capítulo 7 – Estruturas Mistas Planas________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 141
 

F x 0 24  21  H E  0  H E  3 kN
F y  0  VE  16  2 1,5  24  0  VE  11 kN
2 1,52
 M E  0  21 3  24 1,5  2
 24  3  M  0  M  47, 25 kNm

Iniciando o traçado dos diagramas de esforços solicitantes pela barra 1, esta deve
ser isolada da estrutura como mostrado na Fig. (7.8). Para que a variação dos esforços
solicitantes ao longo do domínio da barra seja conhecida, os valores das ações em suas
extremidades devem ser determinados. Assim, aplicando as equações de equilíbrio de
corpo rígido à barra mostrada na Fig. (7.8) obtém-se:
M
N

-47,25
11

Figura 7.8 Diagrama de corpo livre para barra 1.

F 0x  V  3 kN
F 0y  N  11 kN

M  0 E    47, 25   3  3  M  0  M  38, 25 kNm

Com base nos valores das ações nas extremidades da barra 1, determinados
anteriormente, pode-se utilizar as relações diferenciais para o traçado dos diagramas de
esforços solicitantes. A partir destas relações, e dos valores dos carregamentos atuantes
sobre a barra, constata-se que o esforço normal será constante, compressivo e igual a 11
kN. Já o esforço cortante, este será também constante e igual a 3 kN. Devido a seu
sentido (tende a rotacionar a barra no sentido horário) seu sinal é positivo. O momento
fletor apresentará variação linear ao longo do comprimento da barra (uma ordem

Capítulo 7 – Estruturas Mistas Planas________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 142
 

polinomial a mais que para o esforço cortante), sendo que os momentos fletores em suas
extremidades tendem a tracionar sua face esquerda da barra. Assim, obtêm-se os
diagramas ilustrados na Fig. (7.9).

Figura 7.9 Diagramas de esforços solicitantes para barra 1.

Continuando a análise, os esforços solicitantes atuantes sobre a barra 2 devem


também ser determinados. Isolando esta barra da estrutura obtém-se o corpo ilustrado na
Fig. (7.10).
M 2
24

N 21

Figura 7.10 Diagrama de corpo livre para a barra 2.

Aplicando as equações de equilíbrio de corpo rígido sobre o corpo acima têm-se:

F x 0  N  21  0  N  21 kN
F y 0  V  24  2 1,5  0  V  27kN
2 1,52
MD  0  24 1,5 
2
M 0  M  38, 25 kNm

A partir das ações determinadas nas extremidades da barra 2, das relações


diferenciais e dos carregamentos atuantes sobre esta barra, verifica-se que seu esforço
normal será constante, compressivo e igual a 21 kN. Já o esforço cortante apresentará

Capítulo 7 – Estruturas Mistas Planas________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 143
 

variação linear ao longo do comprimento da barra. Esse comportamento decorre da


presença de um carregamento uniformemente distribuído orientado perpendicularmente
ao eixo da barra. Finalmente, verifica-se que o momento fletor apresentará variação
quadrática ao longo do comprimento da barra. Assim, com base nesses comentários,
obtêm-se os diagramas de esforços solicitantes, os quais são representados na Fig.
(7.11).

Figura 7.11 Diagramas de esforços solicitantes para a barra 2.

Para a verificação sobre a correção da resolução do exemplo, a condição de


equilíbrio deve ser verificada sobre o nó D. Para tal fim, as ações das extremidades das
barras atuantes sobre este nó devem ser reaplicadas sobre ele com sentido inverso (3º lei
de Newton). Além disso, os carregamentos externos sobre o nó devem ser também
considerados. Assim, obtêm-se as representações mostradas na Fig. (7.12). Aplicando
sobre as ações mostradas nesta figura as equações de equilíbrio de corpo rígido tem-se:
16

M-
24 21
27

11 M
Figura 7.12 Verificação do equilíbrio nó D.

F  0
x  24  21  3  0 OK !
F  0
y  11  16  24  0 OK !
M  0 D  38, 25  38, 25  0 OK !

Assim, como o equilíbrio é atendido, constata-se a correção do exemplo.

Capítulo 7 – Estruturas Mistas Planas________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 144
 

7.1.2 – Exemplo 2

A estrutura a ser analisada neste item é a apresentada na Fig. (7.13). Trata-se de


um pórtico plano formado por dois elementos de barra geral, delimitados pelos nós
ADB e CEB, e um tirante horizontal posicionado entre os nós DE. O tirante é um
elemento de barra simples solicitado apenas por esforços de tração. Sobre os nós B, D e
E atuam forças concentradas de valor igual a 10 kN. Além disso, a estrutura possui uma
articulação (rótula) localizada em seu nó B sendo vinculada nos nós A e C onde atuam
um apoio fixo e um móvel, respectivamente.

Figura 7.13 Estrutura a ser analisada.

Para a determinação dos diagramas de esforços solicitantes deve-se,


inicialmente, determinar as reações nos apoios. Para este fim, o diagrama de corpo livre
da estrutura deve ser construído. Este diagrama, para a estrutura em análise, está
apresentado na Fig. (7.14).

Figura 7.14 Diagrama de corpo livre.

Capítulo 7 – Estruturas Mistas Planas________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 145
 

Aplicando as equações de equilíbrio de corpo rígido sobre a estrutura mostrada


na Fig. (7.14) obtém-se:

 M  0  V  8  10  6  10  4  10  2  0
C A  VA  15 kN
 F  0  15  10  10  10  V  0
y C  VC  15 kN

F 0
x  HA  0

De posse dos valores das reações de apoio, os valores das ações nas
extremidades das barras devem ser calculados. Portanto, deve-se separar a estrutura em
seu nó B, ou seja, sobre a articulação. Através dessa separação, obtém-se o diagrama de
corpo livre apresentado na Fig. (7.15).

Figura 7.15 Diagrama de corpo livre da estrutura separada.

Efetuando o equilíbrio de corpo rígido da barra esquerda mostrada na Fig.(7.15),


delimitada pelos nós ADB, é possível a determinação das reações internas V1, H1 e N.
Assim:

F 0 
y 15  10  V1  0  V1  5 kN

M  0 B 15  4  10  2  N 1,5  0  N  26, 67 kN


F 0 
x N  H1  0  H1  26, 67 kN

Para que as variações dos esforços normal, cortante e momento fletor ao longo
da barra ADB sejam determinadas, as ações determinadas anteriormente devem ser

Capítulo 7 – Estruturas Mistas Planas________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 146
 

decompostas segundo as direções paralela e normal ao eixo desta barra. Utilizando a


inclinação  da barra, a qual é mostrada na Fig. (7.16), verifica-se que seno () e

cosseno () são dados por: sen    3 e cos    4 . Assim, utilizando esta
5 5
informação e o diagrama de corpo livre apresentado na Fig. (7.16) é possível a
determinação da decomposição das ações.

Figura 7.16 Decomposição das forças para a barra.

Efetuando a decomposição da reação do apoio A, a qual será designada pelo


índice R, tem-se:
PNR  15sen    9 kN
PVR  15cos    12 kN

Decompondo agora o esforço normal atuante sobre o tirante obtém-se:


PNN  26, 67 cos    21,34 kN
PVN  26, 67 sen    16 kN

Considerando a decomposição da força pontual de intensidade igual a 10 kN,


tem-se:
PNF  10 sen    6 kN
PVF  10cos    8 kN

Decompondo, finalmente, as reações internas H1 e V1 obtêm-se:


PNV1  5sen    3 kN
PVV1  5cos    4 kN

Capítulo 7 – Estruturas Mistas Planas________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 147
 

PNH1  26, 67 cos    21,34 kN


PVH1  26, 67 sen    16 kN

Levando em consideração o sentido de atuação de cada uma das ações


decompostas, é possível reconstruir o diagrama de corpo livre da barra ADB. O
diagrama atualizado está mostrado na Fig. (7.17). Com base nesta figura é possível a
determinação da variação dos esforços solicitantes nesta barra. Considerando o
carregamento atuante, verifica-se que o esforço normal será constante e compressivo.
Porém, devido à ação do tirante e do carregamento pontual aplicado, os quais
introduzem uma força pontual localizada no centro do comprimento da barra, o
diagrama deste esforço apresentará uma descontinuidade de valor igual a componente
do esforço normal no tirante dirigida ao longo do comprimento da barra. Já o esforço
cortante, este será também constante. Porém, assim como no esforço normal, será
observada uma descontinuidade neste diagrama, em decorrência da presença da
componente do esforço normal do tirante e do carregamento pontual aplicado orientada
de forma perpendicular ao eixo da barra. Com relação ao diagrama de momento fletor,
verifica-se que, segundo as relações diferenciais, este esforço solicitante apresentará
variação linear ao longo do comprimento da barra. No entanto, devido à
descontinuidade observada no diagrama de esforço cortante, haverá um “bico”, ou
ponto com derivada descontínua, no diagrama de momento fletor, exatamente onde
ocorre a descontinuidade no diagrama de esforço cortante. Com base nestes comentários
podem-se determinar os diagramas de esforços solicitantes da barra ADB, os quais estão
apresentados na Fig. (7.18).

Figura 7.17 Diagrama de corpo livre para a barra ADB.

Capítulo 7 – Estruturas Mistas Planas________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 148
 

Figura 7.18 Diagramas de esforços solicitantes.

Utilizando a simetria da geometria da estrutura e dos carregamentos, pode-se


determinar o diagrama de corpo livre para a barra CEB considerando as ações já
decompostas. Esse diagrama está apresentado na Fig. (7.19).

Figura 7.19 Diagrama de corpo livre da barra CEB.

Com base nos comentários efetuados anteriormente para a variação dos esforços
solicitantes na barra ADB, podem-se representar os diagramas de esforços solicitantes
para a barra CEB. Estes diagramas estão apresentados na Fig. (7.20).

Figura 7.20 Diagramas de esforços solicitantes.

Capítulo 7 – Estruturas Mistas Planas________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 149
 

Como parte final deste exemplo, sugere-se que o leitor verifique se o equilíbrio
do nó B, onde atua uma força concentrada de 10 kN, é atendido. Para isso, basta
verificar se a somatória das forças atuantes sobre o nó é nula.

Capítulo 7 – Estruturas Mistas Planas________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 150
 

8. – Elemento de Barra Geral: Grelhas

8.1 – As Grelhas

As grelhas são estruturas constituídas por elementos de barra geral situados em


um mesmo plano, que se interceptam e consequentemente passam a interagir
mecanicamente com o objetivo de resistir às ações que neles venham a atuar. Estas
estruturas estão sujeitas a ações predominantemente perpendiculares ao seu plano, como
mostra a Fig. (8.1), tendo como respostas rotações em relação aos eixos das barras que
as compõem e o deslocamento perpendicular ao plano formado por suas barras. Dessa
forma, nas grelhas estarão presentes apenas esforços cortantes, momentos fletores e
momentos torçores.
As grelhas constituem sistemas estruturais mais racionais quando comparado às
vigas isoladas, uma vez que permitem melhor redistribuição de carga e
consequentemente dos esforços internos. Esse tipo de sistema estrutural permite vencer
grandes vãos, como ilustrado na Fig. (8.1), possibilitando assim a concepção e o projeto
de grandes estruturas.

Figura 8.1 Estruturas de grelha.

Capítulo 8 – Elemento de Barra Geral: Grelhas_________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 151
 

Neste capítulo serão apresentados três exemplos que objetivam a determinação


dos diagramas de esforços solicitantes de grelhas isostáticas. A metodologia a ser
empregada é a mesma aplicada nos capítulos anteriores, a qual pode ser resumida como:
1) Construção do diagrama de corpo livre. Substituição das condições de
vinculação por reações equivalentes;
2) Determinação das reações de apoio da estrutura. Aplicação das equações de
equilíbrio de corpo rígido;
3) Análise de cada elemento de barra geral da grelha de forma isolada.
Determinação dos valores das ações nas extremidades das barras;
4) Análise da presença de descontinuidades nas barras, como ações
concentradas, e estudo da variação dos esforços solicitantes ao longo do
comprimento da barra;
5) Traçado do diagrama de esforços solicitantes.
A seguir serão apresentados os exemplos que ilustram a aplicação dessa
metodologia.

8.1.1 – Exemplo 1

Construa os diagramas de esforços solicitantes da grelha apresentada na Fig.


(8.2). Trata-se de uma grelha isostática simplesmente apoiada sobre os nós A, E e F.
Nessa estrutura atuam três forças concentradas e uma distribuída, conforme indicado na
Fig.(8.2).
A primeira etapa a ser efetuada objetivando a resolução desse exemplo trata da
construção do diagrama de corpo livre da estrutura. Substituindo as condições de
vinculação da estrutura por reações equivalentes obtém-se o diagrama de corpo livre
apresentado na Fig. (8.3). Aplicando as condições de equilíbrio de corpo rígido às ações
apresentadas na Fig. (8.3) determinam-se as reações de apoio da estrutura, as quais são
iguais a:

M A
y  0  5  2  10  2  1  2   10  4  VE  4  0  VE  27,5 kN

M E
x  0   VA  3  5  3  VF  3  10  3  0   3  VA  3  VF  15 
VA  VF  5

Capítulo 8 – Elemento de Barra Geral: Grelhas_________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 152
 

F z  0  VA  VE  VF  5  10  10  10  2  0 
VA  27,5  VF  45  0  VA  VF  17,5

Figura 8.2 Estrutura a ser analisada.

Figura 8.3 Diagrama de corpo livre.

Organizando as duas últimas equações obtidas anteriormente, escritas em função


de VA e VF , em um sistema matricial e em seguida resolvendo-o, obtêm-se as duas

reações de apoio ainda não explicitadas. Assim:

Capítulo 8 – Elemento de Barra Geral: Grelhas_________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 153
 

1 1 VA   5  VA   6, 25 


1 1  V   17,5  V   11, 25 kN
  F    F  
Após a determinação das reações de apoio, cada uma das barras que compõem a
grelha considerada deve ser isolada e as ações em suas extremidades determinadas. Este
procedimento pode ser iniciado pela barra AB, a qual está apresentada na Fig. (8.4).

Figura 8.4 Barra AB.

Aplicando as equações de equilíbrio de corpo rígido a barra apresentada na Fig.


(8.4) obtém-se:

M  0 x  T 0
M  0 y  6, 25  2  M  0  M  12,5 kNm
F 0
z  6, 25  V  0  V  6, 25 kN

Com base nas relações diferenciais, constata-se que o esforço cortante possui
valor constante ao longo do comprimento da barra, enquanto o momento fletor possui
variação linear. Assim como o esforço cortante, o momento torçor possui valor
constante ao longo da barra, sendo igual a zero. Portanto, com base nessas informações
e nos valores das ações nas extremidades das barras, os diagramas de esforços
solicitantes para a barra AB podem ser construídos, os quais estão apresentados na Fig.
(8.5).
Antes dos valores das ações nas extremidades da barra BD serem determinados,
deve-se considerar o equilíbrio do nó B. Este procedimento, que é necessário devido a
transmissão de esforços de uma barra para outra, é efetuado reaplicando sobre o nó B
(com sentidos opostos) as ações atuantes sobre a extremidade da barra AB que concorre

Capítulo 8 – Elemento de Barra Geral: Grelhas_________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 154
 

ao nó B (3ͣ lei de Newton). O nó B, bem como os esforços atuantes sobre ele, estão
apresentados na Fig. (8.6).

Figura 8.5 Diagramas de esforços solicitantes para a barra AB.

Figura 8.6 Equilíbrio nó B.

Impondo as condições de equilíbrio de corpo rígido às ações apresentadas na


Fig. (8.6) obtêm-se:

M  0 x  M xBD  0

M  0 y  12,5  M yBD  0  M yBD  12,5 kNm

F  0
z  6, 25  5  FzBD  0  FzBD  1, 25 kN

Transferindo as ações determinadas acima (com sentidos opostos) para a


extremidade da barra BD que concorre ao nó B, obtém-se a configuração apresentada na

Capítulo 8 – Elemento de Barra Geral: Grelhas_________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 155
 

Fig. (8.7). Impondo, sobre a barra mostrada na Fig. (8.7), as equações de equilíbrio de
corpo rígido obtêm-se:

Figura 8.7 Barra BD.

M  0 x   1, 25  3  M  0  M  3, 75 kNm
M  0 y  12,5  T  0  T  12,5 kNm
F 0
z  1, 25  V  0  V  1, 25 kN

De acordo com o apresentado na Fig. (8.7) e nas relações diferenciais, observa-


se que o esforço cortante apresentará valor constante ao longo do comprimento da barra,
enquanto o momento fletor possuirá variação linear. Como não existem momentos
torçores aplicados ao longo do corpo da barra, o momento torçor apresentará valor
constante. Portanto, com base nos valores determinados anteriormente para as ações nas
extremidades da barra BD, e nas observações descritas, os diagramas de esforços
solicitantes para a barra BD podem ser traçados, os quais estão apresentados na Fig.
(8.8).

Figura 8.8 Diagramas de esforços solicitantes para a barra BD.

Capítulo 8 – Elemento de Barra Geral: Grelhas_________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 156
 

Considerando agora a barra CD, esta deve ser isolada da estrutura e as ações em
suas extremidades determinadas para que seus diagramas de esforços solicitantes sejam
construídos. Esta barra, assim como as ações em suas extremidades, estão apresentadas
na Fig. (8.9). Aplicando sobre a barra apresentada na Fig. (8.9) as equações de
equilíbrio de corpo rígido obtêm-se:

Figura 8.9 Barra CD.

M  0 x  T 0
M  0 y   10  2  M  0  M  20 kNm
F 0z   10  V  0  V  10 kN

Para a barra CD, observa-se, com base nas relações diferenciais e nas ações
atuantes, que o esforço cortante e o momento torçor apresentarão valores constantes ao
longo do corpo da barra. Como o esforço cortante possui variação constante, o momento
fletor apresentará variação linear ao longo do comprimento da barra. Com base nessas
observações e nos valores das ações nas extremidades da barra, os diagramas de
esforços solicitantes podem ser construídos, como mostrado na Fig. (8.10).

Figura 8.10 Diagramas de esforços solicitantes para a barra CD.

Capítulo 8 – Elemento de Barra Geral: Grelhas_________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 157
 

A Fig. (8.11) ilustra a barra DE, isolada do restante da estrutura, e as ações


atuantes sobre ela. Aplicando sobre a barra mostrada nesta figura as equações de
equilíbrio de corpo rígido obtêm-se:

Figura 8.11 Barra DE.

M  0 x  T 0
M  0 y   27,5  2  10  2 1  M  0  M  35 kNm
F 0z  27,5  10  2  V  0  V  7,5 kN

Devido à presença do carregamento uniformemente distribuído nesta barra,


constata-se, com base nas relações diferenciais, que o esforço cortante possuirá variação
linear ao longo do comprimento da barra, enquanto que para o momento fletor, esta
variação será quadrática. Já o momento torçor, este possuirá valor constante ao longo da
barra. Assim, a partir destas informações, os diagramas de esforços solicitantes podem
ser construídos, como indicado na Fig. (8.12).

Figura 8.12 Diagramas de esforços solicitantes para a barra DE.

Capítulo 8 – Elemento de Barra Geral: Grelhas_________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 158
 

A próxima barra a ser analisada é a GH. Isolando esta barra do restante da


estrutura e considerando as ações em suas extremidades, obtém-se a ilustração da Fig.
(8.13).

Figura 8.13 Barra GH.

Aplicando as condições de equilíbrio de corpo rígido a barra mostrada na Fig.


(8.13) obtém-se:

M  0 x  T 0
M  0 y  10  2  M  0  M  20 kNm
F  0
z  V  10  0  V  10 kN

Devido à configuração dos carregamentos atuantes na barra analisada, constata-


se, a partir das relações diferenciais, que o esforço cortante e o momento torçor
possuirão valores constantes ao longo do comprimento da barra. Já o momento fletor
apresentará variação linear no domínio da barra. Assim, os diagramas de esforços
solicitantes para a barra GH podem ser construídos, como indicado na Fig. (8.14).

Figura 8.14 Diagramas de esforços solicitantes para a barra GH.

Capítulo 8 – Elemento de Barra Geral: Grelhas_________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 159
 

Considerando agora a barra FG, esta deve ser isolada da estrutura e os valores
das ações atuantes em seus extremos quantificados para que os diagramas de esforços
solicitantes sejam construídos. A barra FG, assim como as ações atuantes em suas
extremidades, estão apresentadas na Fig. (8.15).

Figura 8.15 Barra FG.

Impondo sobre a barra ilustrada na Fig. (8.15) as equações de equilíbrio de corpo


rígido, obtêm-se os valores dos esforços solicitantes na extremidade G, os quais são
iguais a:

M  0 x  T 0
M  0 y  11, 25  2  M  0  M  22,5 kNm
F 0
z  11, 25  V  0  V  11, 25 kN

De acordo com os carregamentos atuantes sobre a barra FG e as relações


diferenciais, constata-se que na barra analisada o esforço cortante e o momento torçor
apresentarão valores constantes ao longo de toda a extensão da barra. Além disso, como
o esforço cortante é constante, o momento fletor possuirá variação linear ao longo da
barra. Portanto, com base nessas observações e nos valores das ações nas extremidades
da barra, os diagramas de esforços solicitantes para a barra FG podem ser construídos,
os quais estão apresentados na Fig. (8.16).

Capítulo 8 – Elemento de Barra Geral: Grelhas_________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 160
 

Figura 8.16 Diagramas de esforços solicitantes para a barra FG.

Para que a próxima barra seja analisada, barra DG, o equilíbrio do nó G deve ser
efetuado. Este procedimento se faz necessário uma vez que, por meio dele, os valores
das ações atuantes na barra DG, na extremidade que concorre ao nó G, podem ser
determinados. Para tal finalidade, as ações atuantes sobre os extremos das barras FG e
GH que concorrem ao nó G devem ser reaplicadas sobre este nó com sentidos opostos
(3ͣ lei de Newton). Este procedimento é necessário devido à transmissão de esforços de
uma barra a outra. O nó G, assim como as ações atuantes sobre ele, estão apresentadas
na Fig. (8.17).

Figura 8.17 Equilíbrio nó G.

Impondo sobre as ações atuantes no G e ilustradas na Fig. (8.17) as equações de


equilíbrio de corpo rígido obtêm-se:

Capítulo 8 – Elemento de Barra Geral: Grelhas_________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 161
 

M  0 x  M xDG  0

M  0 y  22,5  20  M yDG  0  M yDG  42,5 kNm

F  0
z  11, 25  10  FzDG  0  FzDG  1, 25 kN

Transferindo as ações determinadas anteriormente (com sentidos opostos) para a


extremidade da barra DG que concorre ao nó G, obtém-se o conjunto barra/ações
mostrado na Fig. (8.18). Impondo, sobre a barra mostrada na Fig. (8.18), as equações de
equilíbrio de corpo rígido obtêm-se:

Figura 8.18 Barra DG.

M  0 x   M  1, 25  3  0  M  3, 75 kNm
M  0 y   T  42,5  0  T  42,5 kNm
F 0z  1, 25  V  0  V  1, 25 kN

Para a barra mostrada na Fig. (8.18) constata-se, com base nas relações
diferenciais, que o esforço cortante e o momento torçor possuirão valores constantes ao
longo do comprimento da barra. Consequentemente, como o esforço cortante possui
variação constante, o momento fletor apresentará variação linear. Assim, a partir dessas
observações, os diagramas de esforços solicitantes podem ser construídos para a barra
DG. Estes diagramas estão apresentados na Fig. (8.19).

Figura 8.19 Diagramas de esforços solicitantes para a barra DG.

Capítulo 8 – Elemento de Barra Geral: Grelhas_________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 162
 

Finalmente, pode-se verificar a correção do exemplo efetuando-se o equilíbrio


das ações atuantes sobre o nó D. Reaplicando sobre este nó, com sentidos opostos (3ͣ lei
de Newton), as ações atuantes no extremo D das barras BD, CD, DE e DG, a condição
de equilíbrio de corpo rígido deve ser observada. As ações atuantes sobre o nó D estão
apresentadas na Fig. (8.20).

Figura 8.20 Equilíbrio nó D.

Impondo sobre as ações apresentadas na Fig. (8.20) a condição de equilíbrio de


corpo rígido obtêm-se:

M  0 x   20  42,5  35  12,5  0  OK !
M  0 y   3, 75  3, 75  0  OK !
F  0
z   10  1, 25  7,5  1, 25  0  OK !

Assim, como a condição de equilíbrio foi atendida, a correção na resolução do


exemplo foi observada.

8.1.2 – Exemplo 2

O segundo exemplo deste capítulo visa a determinação dos diagramas de


esforços solicitantes da estrutura apresentada na Fig. (8.21). Trata-se de uma grelha de

Capítulo 8 – Elemento de Barra Geral: Grelhas_________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 163
 

três barras, isostática, engastada em seu nó E, sendo submetida a duas forças


concentradas de intensidades iguais a 10 kN e 20 kN.

Figura 8.21 Estrutura a ser analisada.

Para que os diagramas de esforços solicitantes sejam construídos, deve-se,


primeiramente, determinar o diagrama de corpo livre da estrutura. Este diagrama é
construído substituindo-se as condições de vinculação por reações equivalentes, como
indicado na Fig. (8.22).

Figura 8.22 Diagrama de corpo livre.

Capítulo 8 – Elemento de Barra Geral: Grelhas_________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 164
 

Impondo sobre o corpo apresentado na Fig. (8.22) as equações de equilíbrio de


corpo rígido obtêm-se os valores das reações de apoio. Assim:

F 0z   10  20  V  0  V  30 kN
M  0 E
y  T  20  2  10  4  0  T  80 kNm

M  0 E
x   M  20  6  0  M  120 kNm

Após serem determinados os valores das reações de apoio, a próxima etapa a ser
efetuada envolve a separação de cada uma das barras que compõem a estrutura e a
determinação dos valores das ações em seus extremos. Na presente análise, este
procedimento será iniciado pela barra AB. Isolando esta barra da estrutura, esta pode ser
representada como indicado na Fig. (8.23).

Figura 8.23 Barra AB.

Aplicando sobre a carga e os esforços que atuam na barra AB as equações de


equilíbrio de corpo rígido obtêm-se os valores das ações no extremo B. Dessa forma:

M  0 x   M  10  6  0  M  60 kNm
M  0 y  T 0
F 0z   10  V  0  V  10 kN

Segundo o carregamento atuante na barra AB, observa-se, de acordo com as


relações diferenciais, que o esforço cortante e o momento torçor apresentarão valores
constantes ao longo do comprimento da barra. Assim, o momento fletor, nesse domínio,
possuirá variação linear. Com base nessas informações e nos valores dos esforços

Capítulo 8 – Elemento de Barra Geral: Grelhas_________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 165
 

solicitantes nos extremos da barra AB, os diagramas de esforços solicitantes dessa barra
podem ser construídos, os quais estão apresentados na Fig. (8.24).

Figura 8.24 Diagramas de esforços solicitantes para a barra AB.

Antes que a barra BD seja considerada, o equilíbrio do nó B deve ser efetuado.


Esse procedimento é necessário para que a transmissão de esforços da barra AB para a
barra BD seja representada, já que ambas as barras concorrem a este nó. Portanto,
devem ser reaplicadas sobre o nó as ações atuantes nos extremos das barras AB e BD,
que concorrem ao nó B, com sentidos opostos (3ͣ lei de Newton). Efetuando este
procedimento, obtêm-se a ilustração mostrada na Fig. (8.25).

Figura 8.25 Equilíbrio do nó B.

Impondo sobre as ações mostradas na Fig. (8.25) a condição de equilíbrio de


corpo rígido obtêm-se os seguintes valores para as ações no extremo B da barra BD.

M  0 x  M xBD  60  0  M xBD  60 kNm

M  0 y  M yBD  0

F  0
z   10  FzBD  0  FzBD  10 kN

Capítulo 8 – Elemento de Barra Geral: Grelhas_________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 166
 

Com base nos valores das ações atuantes no extremo B da barra BD


determinadas anteriormente, pode-se isolar esta barra da estrutura para que as ações em
seu extremo D sejam calculadas. Os esforços solicitantes e o carregamento atuante
sobre a barra BD estão apresentados na Fig. (8.26).

Figura 8.26 Barra BD.

Impondo as condições de equilíbrio de corpo rígido à barra mostrada na Fig.


(8.26) obtêm-se:

M  0 x   60  T  0  T  60 kNm
M  0 y   10  4  20  2  M  0  M  80 kNm
F 0z   10  20  V  0  V  30 kN

Considerando o carregamento atuante na barra BD, observa-se, de acordo com


as relações diferenciais, que o esforço cortante apresentará variação constante entre os
nós BC e CD. Além disso, sobre o nó C haverá uma descontinuidade no valor do
esforço cortante, uma vez que sobre esse nó está aplicada uma força concentrada de
intensidade igual a 20 kN. A intensidade dessa descontinuidade será igual à intensidade
da força concentrada aplicada, ou seja, igual a 20 kN.
O momento fletor está diretamente associado ao esforço cortante, segundo as
relações diferenciais. Assim, entre os nós BC e CD a variação do momento fletor será
linear, já que nesses trechos o esforço cortante apresenta variação constante. Além

Capítulo 8 – Elemento de Barra Geral: Grelhas_________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 167
 

disso, devido à descontinuidade do esforço cortante sobre o nó C, ocorrerá um ponto


com derivada não contínua (“bico”) no diagrama de momento fletor. Já o momento
torçor apresentará valor constante ao longo de todo o comprimento da barra.
A partir dessas observações e dos valores das ações nos extremos da barra BD,
os diagramas de esforços solicitantes podem ser construídos. Estes diagramas, para a
barra considerada, estão apresentados na Fig. (8.27).

Figura 8.27 Diagramas de esforços solicitantes para a barra BD.

Antes que a última barra da grelha em análise seja considerada, o equilíbrio do


nó D deve ser efetuado. Esse procedimento deve ser realizado para que a transmissão de
esforços da barra BD para a barra DE seja corretamente representado. Assim, as ações
que atuam nos extremos das barras BD e DE, que concorrem ao nó D, devem ser
reaplicadas sobre este nó com sentidos opostos (3ͣ lei de Newton). Efetuando este
procedimento, obtêm-se as ações mostradas na Fig. (8.28). Impondo sobre as ações
apresentadas nessa figura as equações de equilíbrio de corpo rígido obtêm-se:

M  0 x  M xDE  60  0  M xDE  60 kNm

M  0 y  M yDE  80  0  M yDE  80 kNm

F  0
z   30  FzDE  0  FzDE  30 kN

Após a realização do equilíbrio do nó D, deve-se agora isolar a barra DE do


restante da estrutura, reaplicando sobre seu extremo D as ações determinadas
anteriormente com sentidos opostos. Efetuando este procedimento, obtém-se a

Capítulo 8 – Elemento de Barra Geral: Grelhas_________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 168
 

ilustração apresentada na Fig. (8.29), a qual mostra as ações atuantes nos extremos da
barra DE.

Figura 8.28 Equilíbrio do nó D.

Figura 8.29 Barra DE.

Impondo as equações de equilíbrio de corpo rígido à barra mostrada na Fig.


(8.29) obtêm-se:

M  0 x   60  M  30  6  0  M  120 kNm
M  0 y   80  T  0  T  80 kNm
F 0z   30  V  0  V  30 kN

Deve-se salientar que os valores obtidos para as ações atuantes no extremo E da


barra DE são exatamente os mesmos determinados anteriormente, no cálculo das

Capítulo 8 – Elemento de Barra Geral: Grelhas_________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 169
 

reações de apoio. Isso reforça a correção das operações realizadas para a determinação
da condição de equilíbrio da estrutura e também a correção na resolução deste exemplo.
Com relação aos diagramas de esforços solicitantes, observa-se, de acordo com
as relações diferenciais, os carregamentos atuantes na barra e nas ações em seus
extremos, que o esforço cortante e o momento torçor apresentarão valores constantes ao
longo do comprimento da barra. Assim, o momento fletor, ao longo do comprimento da
barra, apresentará variação linear. Com base nessas informações e nos valores dos
esforços solicitantes nos extremos da barra DE, os diagramas de esforços solicitantes
dessa barra podem ser construídos, os quais estão apresentados na Fig. (8.30).

Figura 8.30 Diagramas de esforços solicitantes para a barra DE.

8.1.3 – Exemplo 3

O último exemplo a ser resolvido neste capítulo refere-se à estrutura de grelha


apresentada na Fig. (8.31). Trata-se de uma estrutura de grelha isostática, submetida a
um carregamento distribuído e a outro concentrado, sendo engastada em seu nó C.
Objetiva-se, neste exemplo, a determinação dos diagramas de esforços solicitantes dessa
estrutura.
Antes que a resolução desse exemplo seja iniciada, é importante destacar que as
duas barras que compõem a estrutura a ser analisada não formam um ângulo reto entre
si. Portanto, a transmissão de esforços de uma barra à outra deve ser cuidadosamente
avaliada nessa situação. Isso se faz necessário uma vez que, ao contrário dos exemplos
anteriores onde as barras formavam ângulos retos entre si, o momento fletor atuante no
extremo de uma barra não será exatamente igual ao momento torçor atuante no extremo
da barra que se conecta a essa, e vice-versa.

Capítulo 8 – Elemento de Barra Geral: Grelhas_________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 170
 

Além disso, na Fig. (8.31), a estrutura está sendo representada em planta,


enquanto nos exemplos anteriores as estruturas analisadas foram representadas em
perspectiva. Dessa forma, atenção especial deve ser dada a determinação do sentido de
atuação das forças e momentos bem como das dimensões da estrutura, para o cálculo
dos momentos provocados pelas forças.

Figura 8.31 Estrutura a ser analisada. Dimensões em metro.

O primeiro passo a ser efetuado objetivando a determinação dos diagramas de


esforços solicitantes para a estrutura apresentada na Fig. (8.31) é a construção de seu
diagrama de corpo livre. Esse diagrama é construído substituindo-se as condições de
vinculações por reações (de apoio) equivalentes aos graus de liberdade restringidos. O
diagrama de corpo livre para a grelha a ser analisada está apresentado na Fig. (8.32).
Impondo sobre as ações mostradas na Fig. (8.32) as equações de equilíbrio de
corpo rígido, obtêm-se os valores das reações de apoio, as quais são iguais a:

F  0
z  R2  8  5  3  2  0  R2  29, 213 kN

M  0 C
x  5  3  2 1,5  8 1,5  M RX  0  M RX  43,820 kNm

M  0 C
y   5  3  2  5,5  8  2  M RY  0  M RY  132, 673 kNm

Após a determinação das reações de apoio, cada uma das barras que compõem a
grelha considerada deve ser isolada e as ações em suas extremidades determinadas. Este
procedimento será iniciado pela barra AB, a qual está apresentada na Fig. (8.33).
A barra AB apresentada na Fig. (8.33) não encontra-se totalmente contida nos
eixos x ou y do sistema de coordenadas cartesiano padrão. Assim, as ações atuantes em
seu extremo B, momento fletor e momento torçor, em especial, devem ser determinadas

Capítulo 8 – Elemento de Barra Geral: Grelhas_________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 171
 

considerando o sistema de coordenadas auxiliar x’y’, o qual é definido a partir da


orientação do eixo da barra.

Figura 8.32 Diagrama de corpo livre.

Figura 8.33 Barra AB.

Aplicando sobre as ações mostradas na Fig. (8.33) as equações de equilíbrio de


corpo rígido obtêm-se os valores das ações atuantes no extremo B da barra AB. Assim:

Capítulo 8 – Elemento de Barra Geral: Grelhas_________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 172
 

M x' 0  T 0
3 2
M y'  0   53 2 
2
M 0  M  45 kNm

F z 0   53 2 V  0  V  21, 213 kN

Conforme apresentado na Fig. (8.33), observa-se a presença de um carregamento


uniformemente distribuído nesta barra. Portanto, com base nas relações diferenciais,
constata-se que o esforço cortante possuirá variação linear ao longo do comprimento da
barra, enquanto que para o momento fletor, esta variação será quadrática. Já o momento
torçor, este possuirá valor constante, nulo, ao longo da barra. Assim, a partir destas
informações, os diagramas de esforços solicitantes podem ser construídos, como
indicado na Fig. (8.34).

Figura 8.34 Diagramas de esforços solicitantes para a barra AB.

Antes que o equilíbrio da barra BC seja efetuado, deve-se considerar o equilíbrio


do nó B. Este procedimento é necessário para que a transmissão de esforços da barra
AB para a barra BC seja corretamente representada. Assim, os esforços solicitantes
atuantes na extremidade B da barra AB devem ser reaplicados sobre o nó com sentidos
opostos (3ͣ lei de Newton). Em seguida este nó deve ser equilibrado. Consequentemente,
determinam-se os valores das ações que devem atuar na extremidade B da barra BC
para que a condição de equilíbrio seja atendida.
As ações atuantes na extremidade B da barra AB reaplicadas sobre o nó B estão
representadas na Fig. (8.35). Deve-se salientar que estas ações estão orientadas segundo
o sistema x’y’, o qual foi definido pela orientação da barra AB. Impondo a condição de
equilíbrio de corpo rígido a este nó obtêm-se:

Capítulo 8 – Elemento de Barra Geral: Grelhas_________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 173
 

M  0 x'  M x'  0
M  0 y'   45  M y '  0  M y '  45 kNm
F 0z   21, 213  Fz  0  Fz  21, 213 kN

Figura 8.35 Equilíbrio do nó B.

O momento M y ' determinado acima está orientado segundo o sistema x’y’,

definido de acordo com a orientação da barra AB. Para que esse momento seja
reaplicado sobre o extremo B da barra BC, deve-se, primeiramente, decompô-lo em
relação ao sistema cartesiano padrão xy. O momento M y ' reaplicado sobre o extremo B

da barra BC está representado na Fig. (8.36).

Figura 8.36 Decomposição momento M y ' .

As parcelas M x e M y podem ser determinadas da seguinte maneira:

M x  M y ' cos  45º   M x  45cos  45º   M x  31,820 kNm


M y  M y ' sen  45º   M y  45sen  45º   M y  31,820 kNm

Capítulo 8 – Elemento de Barra Geral: Grelhas_________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 174
 

Assim, a partir dos valores de M x e M y calculados anteriormente, pode-se

representar a barra BC como indicado na Fig. (8.37).

Figura 8.37 Barra BC. Ações definidas no sistema cartesiano padrão.

Conforme indicado na Fig. (8.37), as ações atuantes nos extremos da barra BC


estão todas determinadas. Assim, a condição de equilíbrio de corpo rígido pode ser
verificada sobre essa barra. Se esta condição for atendida, tem-se um bom indicativo
sobre a correção do exercício. Portanto:

M  0 C
x   31,820  21, 213  3  8 1,5  43,820  0 OK !
M  0 C
y   31,820  21, 213  4  8  2  132, 673  0 OK !
F 0
z   21, 213  8  29, 213  0 OK !

Assim, como todas as equações de equilíbrio foram atendidas, constata-se que a


barra BC está em equilíbrio. A próxima etapa a ser realizada refere-se a decomposição
dos momentos atuantes nos extremos da barra BC, definidos em relação ao sistema
cartesiano padrão, para o sistema x’’y’’. Estes momentos estão representados na Fig.
(8.38).
Segundo a geometria da barra BC, constata-se que cos    0, 6 e sen    0,8 .

Portanto, pode-se decompor os momentos apresentados na Fig. (8.38) segundo as


direções x’’y’’ da seguinte maneira.

Capítulo 8 – Elemento de Barra Geral: Grelhas_________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 175
 

Figura 8.38 Momentos atuantes no extremo B da barra BC.

M 1x ''  31,820  sen    M 1x ''  31,820  0, 6  M 1x ''  19, 092 kNm


M 1y ''  31,820  cos    M 1y ''  31,820  0,8  M 1y ''  25, 456 kNm
M x2''  31,820  cos    M x2''  31,820  0,8  M x2''  25, 456 kNm
M y2''  31,820  sen    M y2''  31,820  0, 6  M y2''  19, 092 kNm

Assim, os momentos fletor e torçor no extremo B da barra serão dados por:


T B  M 1x ''  M x2''  T B  19, 092  25, 456  T B  44,548 kNm
M B   M 1y ''  M y2''  M B  25, 456  19, 092  M B  6,364 kNm

De forma análoga, os momentos atuantes no extremo C da barra BC, definidos


no sistema cartesiano padrão, devem ser decompostos segundos o sistema x’’y’’. As
componentes desses momentos no sistema x’’y’’ podem ser determinadas com o auxílio
da Fig. (8.39).

Figura 8.39 Momentos atuantes no extremo C da barra BC.

Sabendo que cos    0, 6 e sen    0,8 tem-se:

M 1x ''  132, 673  sen    M 1x ''  132, 673  0, 6  M 1x ''  79, 604 kNm
M 1y ''  132, 673  cos    M 1y ''  132, 673  0,8  M 1y ''  106,138 kNm
M x2''  43,820  cos    M x2''  43,820  0,8  M x2''  35, 056 kNm
M y2''  43,820  sen    M y2''  43,820  0, 6  M y2''  26, 292 kNm

Portanto, os momentos fletor e torçor atuantes no extremo C da barra BC serão


iguais a:

Capítulo 8 – Elemento de Barra Geral: Grelhas_________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 176
 

T C  M 1x ''  M x2''  T C  79, 604  35, 056  T C  44,548 kNm


M C  M 1y ''  M y2''  M C  106,138  26, 292  M C  132, 43 kNm

Considerando a decomposição dos momentos efetuada anteriormente, pode-se


definir as ações atuantes nos extremos da barra BC. Esta barra e as ações atuantes sobre
ela estão indicadas na Fig. (8.40).

Figura 8.40 Barra BC. Ações definidas no sistema x’’y’’.

Com base no carregamento atuante na barra BC, mostrado na Fig. (8.40),


observa-se, conforme as relações diferenciais, que o esforço cortante apresentará
variação constante nos trechos entre os extremos da barra e o ponto onde atua a carga
concentrada de intensidade igual a 8 kN. Além disso, exatamente sobre este ponto,
haverá uma descontinuidade no valor do esforço cortante, uma vez que sobre esse ponto
está aplicada uma força concentrada. A intensidade dessa descontinuidade será igual à
intensidade da força concentrada aplicada, ou seja, igual a 8 kN.
A variação do momento fletor está diretamente associada ao esforço cortante,
segundo as relações diferenciais. Assim, nos trechos da barra onde o esforço cortante
apresentar variação constante, o momento fletor apresentará variação linear. Além
disso, devido à descontinuidade do esforço cortante no ponto onde atua a força
concentrada, ocorrerá, nesse mesmo ponto, um “bico” no diagrama de momento fletor,
ou seja, haverá um ponto com derivada não contínua. Já o momento torçor possuirá
valor constante ao longo de todo o comprimento da barra.

Capítulo 8 – Elemento de Barra Geral: Grelhas_________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 177
 

A partir dessas observações e dos valores das ações atuantes nos extremos da
barra BC, pode-se construir os diagramas de esforços solicitantes. Estes diagramas estão
apresentados na Fig. (8.41).

Figura 8.41 Diagramas de esforços solicitantes para a barra BC.

Capítulo 8 – Elemento de Barra Geral: Grelhas_________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 178
 

9. – Elemento de Barra Geral: Pórticos Tridimensionais

9.1 – Os Pórticos Tridimensionais

Os elementos de barra geral são largamente empregados em aplicações


tridimensionais no contexto da engenharia de estruturas. Esse elemento estrutural
permite o projeto e a execução de diversos tipos de estruturas complexas. Basta verificar
a concepção de edifícios, chassis de automóveis e estruturas de máquinas, por exemplo,
como mostrado nas Fig. (9.1), Fig. (9.2), Fig. (9.3) e Fig. (9.4).

Figura 9.1 Ponte rolante. Figura 9.2 Chassi de caminhão.

Figura 9.3 Parthenon. Figura 9.4 Estádio Ninho do Pássaro em Pequim.

Capítulo 9 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Tridimensionais___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 179
 

Nessas aplicações, este elemento estrutural é empregado sem nenhuma


simplificação em relação a seus graus de liberdade, como efetuado nas vigas, nos
pórticos planos e nas grelhas. Assim, simulam-se, com seu uso pleno, os seis GDL no
espaço, três deslocamentos e três rotações, por ponto material que compõe a barra.
Neste capítulo será efetuada a determinação dos diagramas de esforços
solicitantes de duas estruturas formadas por elementos de barra geral, as quais compõem
pórticos tridimensionais. A metodologia a ser seguida é a mesma aplicada nos capítulos
anteriores. Assim, determina-se o diagrama de corpo livre da estrutura, calculam-se suas
reações de apoio e isola-se barra por barra da estrutura para, com o auxílio das relações
diferenciais, construir os diagramas de esforços solicitantes.
Porém, deve-se ressaltar que os elementos de barra geral nessa situação simulam
os seis GDL possíveis no espaço. Consequentemente, surgirão na análise estrutural seis
esforços solicitantes, os quais correspondem a cada um dos GDL do elemento. Portanto,
os diagramas de esforços solicitantes devem contemplar a presença de dois momentos
fletores, dois esforços cortantes, um momento torçor e um esforço normal.
O equilíbrio de corpo rígido a ser realizado no caso tridimensional envolve a
somatória nula de três forças e três momentos, os quais são orientados ao longo de eixos
pré-definidos (pode ser o cartesiano clássico, por exemplo). O equilíbrio de forças, nessa
análise, é efetuado levando-se em consideração as direções positiva e negativa dos eixos
coordenados adotado. Já o equilíbrio em termos de momentos deve ser efetuado
levando-se em conta a direção das forças e dos braços de alavanca. Assumindo que
orientação da estrutura siga a dos eixos cartesianos clássica, os momentos podem ser
calculados seguindo a definição apresentada no capítulo 2, Eq.(2.4), como:
M x  Fy z  Fz y
M y   Fx z  Fz x (9.1)
M z  Fx y  Fy x

onde x, y e z indicam a subtração entre as coordenadas x, y e z , respectivamente, do


eixo em torno do qual o momento é calculado e o ponto de atuação da força.

Capítulo 9 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Tridimensionais___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 180
 

9.1.1 – Exemplo 1

A estrutura a ser analisada no primeiro exemplo deste capítulo refere-se ao


pórtico tridimensional apresentado na Fig. (9.5). Trata-se de um pórtico de três barras
onde carregamentos distribuídos e concentrados estão presentes. A estrutura está
vinculada em seu nó A, onde um engaste está localizado. Objetiva-se nesse exemplo a
determinação dos diagramas de esforços solicitantes das três barras que compõem o
pórtico.

Figura 9.5 Estrutura a ser analisada.

O primeiro passo a ser efetuado para a resolução desse exemplo refere-se à


construção do diagrama de corpo livre da estrutura. Esse diagrama, como mostrado na
Fig. (9.6), leva em consideração a substituição das condições de vinculação por reações
equivalentes. Com base nesse diagrama, determinam-se os valores das reações de apoio
da estrutura aplicando as equações de equilíbrio de corpo rígido para o caso
tridimensional. Assim, são considerados os equilíbrios de forças nas direções x, y e z e
as somatórias nulas de momentos em torno dos eixos x, y e z.

Capítulo 9 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Tridimensionais___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 181
 

Figura 9.6 Diagrama de corpo livre.

Aplicando as equações de equilíbrio de corpo rígido ao sistema mostrado na Fig.


(9.6) obtêm-se:

F x 0  Rx  8  5  3  2  0  Rx  7kN
F y 0  Ry  5  3  2  0  Ry  6kN
F z 0  Rz  1 3  10  5  2  5  4  2  0  Rz  45kN
2
M x 0  Rmx  5  3  5  2   2  2  3  3  2  3  0 
2
Rmx  4kNm

4
M y 0  Rmy  3  2  3  5  3  5  4   8  3  0
2
 Rmy  61kNm

2
M z 0  Rmz  3  2   5  2  2  4  0
2
 Rmz  4kNm

Com as reações de apoio calculadas, pode-se isolar cada uma das barras que
compõem o pórtico tridimensional e determinar os valores das ações em suas
extremidades. Com base nessa informação, nos carregamentos atuantes nas barras e nas
relações diferenciais, traçam-se os diagramas de esforços solicitantes.
Esse procedimento será iniciado pela barra BC. Esta barra, assim como os
carregamentos sobre ela atuantes, está apresentada na Fig. (9.7). Impondo a condição de
equilíbrio de corpo rígido a esta barra, obtêm-se os valores das ações em seus extremos,
os quais são iguais a:

Capítulo 9 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Tridimensionais___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 182
 

Figura 9.7 Barra BC.

F x 0  Vx  3  2  5  0  Vx  1kN
F y 0   Ny  3  0  N y  3kN
F z 0  Vz  5  2  2  0  Vz  12kN
2
M x 0  M x  5 2  2 2  0
2
 M x  14kNm

M y 0  T 0
2
M z 0  M z  3 2   5 2  0
2
 M z  4kNm

Com base nas ações atuantes nos extremos da barra, nos carregamentos atuantes
e nas relações diferenciais, observa-se que os esforços cortantes, tanto em x quanto em
z, possuirão variação linear. Isso se deve a presença de carregamentos distribuídos
nessas direções. Consequentemente, os momentos fletores atuantes em torno desses
eixos apresentarão variação quadrática.

Figura 9.8 Diagramas de esforços solicitantes para a barra BC.

Capítulo 9 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Tridimensionais___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 183
 

O esforço normal será compressivo e constante, enquanto os esforços de torção


nessa barra são nulos. Com base nesses comentários, os diagramas de esforços
solicitantes podem ser traçados, os quais são apresentados na Fig. (9.8).
A próxima barra a ser analisada é a delimitada pelos nós B e D. Isolando esta
barra do restante da estrutura, esta pode ser representada como mostrado na Fig. (9.9).

Figura 9.9 Barra BD.

Impondo sobre a barra BD a condição de equilíbrio de corpo rígido, determinam-


se os valores das ações em seus extremos. Assim:

F  0
x  Nx  8  0  N x  8kN
F  0
y  Vy  2  0  Vy  2kN
F  0
z  Vz  5  4  0  Vz  20kN
M  0 x  T 0
4
M y 0  M y  54
2
0  M y  40kNm

M z 0  Mz  24  0  M z  8kNm

Considerando as ações atuantes nos extremos da barra BD, nos carregamentos


atuantes e nas relações diferenciais, constata-se que o esforço normal nessa barra será
constante, trativo e de intensidade igual a 8 kN. Já o momento torçor será nulo para toda
a extensão da barra. Devido à presença de uma carga distribuída no eixo z, o esforço
cortante nesse eixo apresentará variação linear, o que conduz a variação quadrática no
momento fletor atuante em torno do eixo y. Já o esforço cortante no eixo y apresentará
variação constante, uma vez que nenhuma carga distribuída atua nessa direção ao longo
do comprimento da barra. Assim, o momento fletor em torno do eixo z possuirá variação

Capítulo 9 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Tridimensionais___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 184
 

linear. Com base nesses comentários, os diagramas de esforços solicitantes para a barra
analisada podem ser construídos, os quais estão apresentados na Fig. (9.10).

Figura 9.10 Diagramas de esforços solicitantes para a barra BD.

Antes que o equilíbrio da última barra desse pórtico seja considerado, deve-se
efetuar o equilíbrio do nó B, o qual realiza a ligação entre as três barras da estrutura.
Esse procedimento é efetuado reaplicando sobre o nó B as ações atuantes nas
extremidades das barras que concorrem a esse nó com sentidos contrários (3ͣ lei de
Newton).
Se a estrutura está em equilíbrio, qualquer parte constituinte desta deverá
também estar em equilíbrio. Portanto, impondo sobre os esforços mostrados na Fig.
(9.11), que nada mais são que as ações atuantes no extremo B das barras AB, BC e BD,
a condição de equilíbrio de corpo rígido determinam-se os valores das ações no extremo
B da barra AB. Assim:

Figura 9.11 Equilíbrio nó B.

Capítulo 9 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Tridimensionais___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 185
 

F  0 x  Fx  8  1  0  Fx  7kN
F  0 y   5  3  Fy  2  0  Fy  6kN
F  0 z  Fz  10  12  20  0  Fz  42kN
M  0 x  M x  14  0  M x  14 kNm
M  0 y  M y  40  0  M y  40kNm
M  0 z  Mz  4 8  0  M z  4kNm

Dessa forma, os valores das ações determinados anteriormente podem ser


transferidos para o extremo B da barra AB. Para tal finalidade, basta reaplicar, com
sentidos opostos, as ações incógnitas calculadas sobre o nó B. Efetuando este
procedimento obtém-se o diagrama de corpo livre da barra AB, o qual está ilustrado na
Fig. (9.12).

Figura 9.12 Barra AB.

Conforme ilustrado na Fig. (9.12), todas as ações atuantes sobre a barra são
conhecidas. Assim, pode-se verificar a correção do exercício por meio do equilíbrio de
corpo rígido desta barra. Como todas as ações são conhecidas, as somatórias de forças e
momentos devem resultar nulas para que o equilíbrio seja observado. Portanto,
aplicando sobre esta barra as equações de equilíbrio de corpo rígido obtém-se:

Capítulo 9 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Tridimensionais___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 186
 

F  0
x  77  0  OK !
F  0
y  66  0  OK !
F  0
z  45  1 3  42  0  OK !
M  0 x   14  6  3  4  0  OK !
M  0 y   40  7  3  61  0  OK !
M  0 z  44  0  OK !

Conforme mostrado anteriormente, as somatórias de forças e momentos


resultaram nulas, o que indica a correção na resolução deste exemplo. Com base nesse
resultado os diagramas de esforços solicitantes podem ser construídos. Conhecendo-se
os valores das ações nos extremos da barra e os carregamentos atuantes, as relações
diferenciais podem ser empregadas para tal fim.
Verifica-se que não atuam na barra AB carregamentos distribuídos
perpendiculares ao seu eixo. De acordo com as relações diferenciais, isso faz com que
os esforços cortantes apresentem variação constante e os momentos fletores variação
linear ao longo da barra. Já o esforço normal apresentará variação linear ao longo do
comprimento da barra. Esse comportamento é observado devido a presença de um
carregamento distribuído atuante na direção paralela ao eixo da barra. Já o momento
torçor, este é constante e de intensidade igual a 4 kNm. Com base nesses comentários,
os diagramas de esforços solicitantes para a barra AB podem ser construídos, os quais
estão apresentados na Fig. (9.13).

Figura 9.13 Diagramas de esforços solicitantes para a barra AB.

Capítulo 9 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Tridimensionais___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 187
 

9.1.2 – Exemplo 2

O último exemplo desse capítulo objetiva a determinação dos diagramas de


esforços solicitantes da estrutura apresentada na Fig. (9.14). Trata-se de um pórtico
tridimensional formado por três barras, o qual é solicitado por carregamentos
distribuídos e concentrados, sendo engastado em seu nó A.

Figura 9.14 Estrutura a ser analisada.

Para que os diagramas de esforços solicitantes sejam determinados deve-se,


inicialmente, calcular as reações de apoio da estrutura. Para isso, deve-se construir seu
diagrama de corpo livre, o qual é obtido substituindo-se as condições de vinculação por
reações (de apoio) referentes aos GDL restringidos. Para a estrutura em análise, o
diagrama de corpo livre está apresentado na Fig. (9.15). Com base nas ações
apresentadas na Fig.(9.15), as reações de apoio são determinadas impondo-se as
equações de equilíbrio de corpo rígido para o caso tridimensional. Portanto, são
impostas as condições de equilíbrio de forças nas direções x, y e z e somatórias nulas de
momentos em torno dos eixos x, y e z. Efetuando esse equilíbrio obtêm-se:

Capítulo 9 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Tridimensionais___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 188
 

Figura 9.15 Diagrama de corpo livre da estrutura.

F x 0  Rx  8  0  Rx  8kN
F y 0  Ry  3  0  Ry  3kN
F z 0  Rz  5  3  5  4  0  Rz  35kN
3
M x 0  Rmx  5  3   5  4  3  3  3  0
2
 Rmx  91,5kNm

4
M y 0  Rmy  8  3  5  4   0
2
 Rmy  64kNm

M z 0  Rmz  8  3  3  4  0  Rmz  12kNm

Com as reações de apoio determinadas, pode-se isolar cada uma das barras que
compõem a estrutura. Em seguida calculam-se os valores das ações nos extremos de
cada uma dessas barras e traçam-se os diagramas de esforços solicitantes para cada uma
delas. Este procedimento, nesse exemplo, será iniciado pela barra AB. Isolando-a do
restante da estrutura obtém-se o diagrama de corpo livre apresentado na Fig. (9.16).
Impondo sobre as ações apresentadas nessa figura as condições de equilíbrio de corpo
rígido obtém-se:

Capítulo 9 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Tridimensionais___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 189
 

Figura 9.16 Barra AB.

F  0
x  Vx  8  0  Vx  8kN
F  0
y   3  Vy  0  Vy  3kN
F  0
z  35  N z  0  N z  35kN
M  0 x  91,5  M x  3  3  0  M x  82,5kNm
M  0 y  64  M y  8  3  0  M y  40kNm
M  0 z   12  T  0  T  12kNm

Com base nas ações e carregamentos apresentados na Fig. (9.16), constata-se


que os esforços cortantes apresentarão variação constante ao longo do comprimento da
barra, enquanto os momentos fletores possuirão variação linear. Esse tipo de
comportamento para esses esforços solicitantes, segundo as relações diferenciais, deve-
se a ausência de carregamentos distribuídos ao longo do comprimento da barra. Já o
esforço normal e momento torçor apresentarão variação constante ao longo do
comprimento da barra sendo iguais a -35 kN e 12 kNm, respectivamente. Com base
nessas informações, os diagramas de esforços solicitantes podem ser traçados, sendo os
mesmos apresentados na Fig. (9.17).
A próxima barra a ser estudada é a BC. Porém, antes de isolá-la da estrutura,
deve-se efetuar o equilíbrio do nó B, nó este que faz a conexão entre as barras AB e BC,
para que a intensidade das ações atuantes no extremo B da barra BC seja calculada.

Capítulo 9 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Tridimensionais___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 190
 

Figura 9.17 Diagramas de esforços solicitantes para a barra AB.

O equilíbrio do nó B é efetuado impondo-se a condição de equilíbrio de corpo


rígido ao nó considerando as ações atuantes no extremo B das barras que concorrem a
este nó, reaplicadas com sentido oposto ao de atuação destes no extremo das respectivas
barras (3ͣ lei de Newton). As ações atuantes sobre o nó B estão apresentadas na Fig.
(9.18). Impondo a condição de equilíbrio de corpo rígido a essas ações obtém-se:

Figura 9.18 Equilíbrio nó B.

F  0
x  Fx  8  0  Fx  8kN
F  0
y   3  Fy  0  Fy  3kN
F  0
z  35  Fz  0  Fz  35kN
M  0 x  M x  82,5  0  M x  82,5kNm
M  0 y  M y  40  0  M y  40kNm
M  0 z   12  M z  0  M z  12kNm

Capítulo 9 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Tridimensionais___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 191
 

Portanto, as ações determinadas anteriormente podem ser transferidas para o


extremo B da barra BC. Para isso, basta reaplicar, com sentidos opostos, as ações
incógnitas calculadas sobre o nó B. Efetuando este procedimento obtém-se o diagrama
de corpo livre da barra BC, o qual está ilustrado na Fig. (9.19).

Figura 9.19 Barra BC.

Impondo-se a condição de equilíbrio de corpo rígido a barra apresentada na Fig.


(9.19), obtêm-se os valores das ações em seus extremos, os quais são iguais a:

F x 0  Vx  8  0  Vx  8kN
F y 0   3 Ny  0  N y  3kN
F z 0  35  5  3  Vz  0  Vz  20kN
3
M x 0  82,5  5  3   M x  20  3  0
2
 Mx  0

M y 0  40  T  0  T  40kNm
M z 0   12  8  3  M z  0  M z  12kNm

Com base nas ações atuantes nos extremos da barra BC, nos carregamentos
atuantes e nas relações diferenciais, constata-se que o esforço normal nessa barra será
constante, trativo e de intensidade igual a 3 kN. Já o momento torçor apresentará
variação constante ao longo da extensão da barra. Devido à presença de uma carga
distribuída na direção do eixo z, o esforço cortante nesse eixo apresentará variação
linear, o que conduzirá a variação quadrática do momento fletor atuante em torno do
eixo x. Já o esforço cortante no eixo x apresentará variação constante, uma vez que
nenhuma carga distribuída atua nessa direção ao longo do comprimento da barra. Assim,
o momento fletor em torno do eixo z possuirá variação linear. Com base nesses

Capítulo 9 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Tridimensionais___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 192
 

comentários, os diagramas de esforços solicitantes para a barra analisada podem ser


construídos, os quais estão apresentados na Fig. (9.20).

Figura 9.20 Diagramas de esforços solicitantes para a barra BC.

Para que a última barra do pórtico tridimensional considerado seja analisada,


deve-se efetuar o equilíbrio do nó C. Esse equilíbrio é efetuado reaplicando-se sobre o
referido nó as ações atuantes nos extremos das barras que concorrem a esse nó com
sentidos opostos ao (3ͣ lei de Newton). As ações atuantes sobre o nó C estão mostradas
na Fig. (9.21). Impondo a condição de equilíbrio de corpo rígido nessas ações obtém-se:

Figura 9.21 Equilíbrio nó C.

F  0
x  Fx  8  0  Fx  8kN
F  0
y   3  Fy  0  Fy  3kN
F  0
z  20  Fz  0  Fz  20kN
M  0 x  Mx  0  0  Mx  0
M  0 y  M y  40  0  M y  40kNm
M  0 z  12  M z  0  M z  12kNm

Capítulo 9 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Tridimensionais___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 193
 

Assim, com o equilíbrio do nó C efetuado, pode-se transferir as ações incógnitas


calculadas para o extremo C da barra CD. Para tanto, basta reaplicar, com sentidos
opostos, as ações incógnitas determinadas anteriormente. Efetuando este procedimento
obtém-se o diagrama de corpo livre da barra CD, o qual está ilustrado na Fig. (9.22).

Figura 9.22 Barra CD.

Conforme ilustrado na Fig. (9.22), todas as ações atuantes sobre a barra são
conhecidas. Assim, pode-se verificar a correção do exercício por meio do equilíbrio de
corpo rígido desta barra. Como todas as ações são conhecidas, as somatórias de forças e
momentos devem resultar nulas para que o equilíbrio seja observado. Dessa forma:

F  0
x  88  0  OK !
F  0
y  33  0  OK !
F  0
z  20  5  4  0  OK !
M  0 x  0  OK !
4
M y 0  40  5  4 
2
0  OK !

M z  0  12  3  4  0  OK !

Conforme apresentado anteriormente, as somatórias de forças e momentos


resultaram nulas, o que indica a correção na resolução deste exemplo. Com base nesse
resultado os diagramas de esforços solicitantes para essa barra podem ser construídos.
Considerando as ações atuantes nos extremos da barra CD, os carregamentos
atuantes nessa barra e as relações diferenciais, verifica-se que o esforço cortante ao
longo de z possuirá variação linear e o momento fletor atuante em torno do eixo y
apresentará variação quadrática. Esse comportamento se deve, segundo as relações

Capítulo 9 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Tridimensionais___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 194
 

diferenciais, a presença de uma carga distribuída atuando na direção do eixo z. Já o


esforço cortante no eixo y apresentará variação constante, uma vez que nenhuma carga
distribuída atua nessa direção ao longo do comprimento da barra. Consequentemente, o
momento fletor em torno do eixo z possuirá variação linear. O esforço normal nessa
barra será constante, trativo e de intensidade igual a 8 kN. Já o momento torçor possui
intensidade nula ao longo da extensão da barra. Com base nesses comentários, os
diagramas de esforços solicitantes para a barra analisada podem ser construídos, os
quais estão apresentados na Fig. (9.23).

Figura 9.23 Diagramas de esforços solicitantes para a barra CD.

Capítulo 9 – Elemento de Barra Geral: Pórticos Tridimensionais___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 195
 

10. – Estruturas Mistas Tridimensionais

10.1 – Os Sistemas Mistos Tridimensionais

O acoplamento entre elementos de barra simples e elementos de barra geral no


caso tridimensional permite a análise, a modelagem e o projeto de estruturas complexas
no contexto da engenharia de estruturas. Por meio desse tipo de acoplamento, sistemas
estruturais de complexa geometria e comportamento mecânico podem ser considerados,
como os apresentados nas Fig. (10.1), Fig. (10.2) e Fig. (10.3).

Figura 10.1 Corpo Humano. Figura 10.2 Ponte.

Figura 10.3 Ponte Rodoviária.

Capítulo 10 – Estruturas Mistas Tridimensionais________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 196
 

No acoplamento entre elementos de barra simples e barra geral esforços normais


devem ser determinados nos elementos de barra simples, enquanto nos elementos de
barra geral esforços normais, esforços cortantes, momentos fletores e momentos
torçores devem ser quantificados. Os procedimentos de análise estática e traçado dos
diagramas de esforços solicitantes de estruturas compostas por esses elementos
estruturais de forma isolada foram apresentados nos capítulos 3 e 9. No presente
capítulo, a novidade encontra-se na transmissão dos esforços dos elementos de barra
simples para os elementos de barra geral. Assim, esse capítulo contém uma extensão,
para o caso tridimensional, das análises apresentadas no capítulo 7. Dois exemplos
envolvendo a análise estrutural de estruturas mistas tridimensionais serão apresentados,
de forma a ilustrar suas potenciais aplicações.

10.1.1 – Exemplo 1

A estrutura a ser analisada neste item refere-se à apresentada na Fig. (10.4), a


qual envolve o acoplamento entre dois elementos de barra geral e três elementos de
barra simples no caso tridimensional. Carregamentos distribuídos e concentrados atuam
sobre os elementos de barra geral, enquanto na treliça tridimensional apenas uma força
concentrada atua na conexão entre suas três barras simples. A estrutura é vinculada em
seus nós A e E onde engastes são aplicados. Objetiva-se, nesse exemplo, a determinação
dos diagramas de esforços solicitantes dos elementos que compõem a estrutura.
O primeiro passo a ser considerado para a resolução deste exemplo trata da
determinação dos esforços normais atuantes nos elementos de barra simples. Para
alcançar tal objetivo, deve ser efetuado o equilíbrio do nó F. Com base nos
procedimentos apresentado no capítulo 3, pode-se aplicar o método dos nós, o qual
requer a determinação dos versores unitários que definem a geometria das barras. Esse
procedimento conduz a:

Capítulo 10 – Estruturas Mistas Tridimensionais________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 197
 

LFB 
  2  2  i   0  4  j   0  3 k   LFB 
 0i  4 j  3k 
 4    3 5
2 2

LFC 
  4  2  i   0  4  j   0  3 k   LFC 
 2i  4 j  3k 
22   4    3 29
2 2

LFD 
  4  2  i   8  4  j   0  3 k   LFD 
 2i  4 j  3k 
22  42   3 29
2

Figura 10.4 Estrutura a ser analisada.

Sabendo que o esforço normal possui orientação paralela ao eixo geométrico que
define a barra, constata-se que suas componentes podem ser definidas utilizando os
versores unitários calculados anteriormente. Portanto, os esforços normais na treliça
tridimensional analisada podem ser obtidos multiplicando os versores unitários que
definem as geometrias de suas barras pela norma do esforço normal, resultado em:

Capítulo 10 – Estruturas Mistas Tridimensionais________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 198
 

 N FB
N FB   0i  4 j  3k 
5
 N FC
N FC   2i  4 j  3k 
29
 N
N FD   2i  4 j  3k  FD
29
Considerando que a força externa atuante sobre o nó F pode ser definida como

F   0i  0 j  10k  , pode-se efetuar o equilíbrio desse nó por meio das seguintes

condições:

F  F  F
X Y Z 0

Para o caso em estudo pode-se escrever que:

F  0 0 N FB  2 N FC  2 N FD  0
X

 29 29
 4 4 4
 FY  0  5 N FB  29 N FC  29 N FD  0

 3 3 3
 Z  5
F  0   N FB 
29
N FC 
29
N FD  10  0

Reorganizando as três equações anteriores de uma maneira matricial, a qual é


mais facilmente resolvida com o auxílio de calculadoras, obtém-se:

 2 2 
 0 
 29 29  N
 FB   0 
 4 4 4    
 5 
29 
29  
 N FC    0 
  N FD  10 
 3 3 3 
 5  
29 
 29
Resolvendo o sistema matricial anteriormente apresentado, composto por três
equações e três incógnitas, obtém-se:

 0 0,3714 0,3714   N FB   0   N FB   16, 667 


 0,8 0, 7428 0, 7428   N    0      
   FC     N FC    8, 975  kN
 0, 6 0, 5571 0, 5571  N FD  10    
 N FD   8, 975 

A próxima etapa a ser realizada envolve a transmissão dos esforços solicitantes


atuantes nas barras da treliça tridimensional para os elementos de barra geral que a
suportam. Essa transmissão de esforços deve ser efetuada em cada um dos nós de

Capítulo 10 – Estruturas Mistas Tridimensionais________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 199
 

conexão entre os elementos de barra simples e elementos de barra geral. Devido à


terceira lei de Newton, ação e reação, os esforços solicitantes atuantes sobre o elemento
de barra simples devem ser aplicados com sentidos contrários sobre o elemento de barra
geral. Iniciando esse procedimento pelo nó B, pode-se determinar a força sobre ele
atuante devido à ação da barra simples FB da seguinte maneira:
  1
F B   LFB N FB  F B    0i  4 j  3k   16, 667  
5

F B   0i  13,334 j  10k 
Para os demais nós do acoplamento barras simples/barras geral procedimento
semelhante deve ser efetuado. Para o nó C obtém-se:
  1
F C   LFC N FC  F C    2i  4 j  3k  8,975 
29

F C   3,333i  6, 666 j  5k 
Já para o nó D, as seguintes componentes de força são obtidas:
  1
F D   LFD N FD  F D    2i  4 j  3k   8,975 
29

F D   3,333i  6, 666 j  5k 
Até o presente momento, apenas a transmissão da força externa atuante sobre o
nó F para os elementos de barra simples e sua aplicação sobre os elementos de barra
geral foi considerado. De forma a comprovar a correção dos procedimentos efetuados
  
até aqui, deve-se verificar se a somatória das forças F B , F C e F D resulta a força
externa aplicada. Isso deve ser constatado uma vez que forças não podem ser criadas
nem eliminadas durante o processo de equilibrio. Assim:

   
 F B  F C  F D    0i  13,334 j  10k    3,333i  6, 666 j  5k  
 
   
 3,333i  6, 666 j  5k    F B  F C  F D    0i  0 j  10k 
 
O resultado anterior concorda com o vetor que define a força externa aplicada,

ou seja, F   0i  0 j  10k  . Portanto, a análise dos elementos de barra geral pode ser

Capítulo 10 – Estruturas Mistas Tridimensionais________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 200
 

iniciada, já que o equilíbrio da treliça tridimensional foi verificado assim como sua
transmissão de esforços.
A análise dos elementos de barra geral será iniciada pela barra AC.
Considerando as forças aplicadas nessa barra decorrentes da presença da treliça
tridimensional e os demais carregamentos externos, obtém-se a representação mostrada
na Fig. (10.5).

Figura 10.5 Barra AC.

Figura 10.6 Diagrama de corpo livre da barra AC.

Capítulo 10 – Estruturas Mistas Tridimensionais________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 201
 

Substituindo a vinculação atuante na barra, ou seja, o engaste atuante sobre o nó


A, por reações de apoio equivalentes aos graus de liberdade restringidos obtém-se o
diagrama de corpo livre dessa barra, o qual está apresentado na Fig. (10.6). Impondo as
condições de equilíbrio de corpo rígido no caso tridimensional ao sistema apresentado
na Fig. (10.6) obtém-se:

F 0
x   N  3,333  0  N  3,333 kN
F 0
y  Vy  3  4  13,334  6, 666  0  Vy  18, 668 kN
F  0
z  Vz  10  5  5  0  Vz  10 kN
M  0 x  T  0  T  0 kNm
M  0 y  M y  10  2  5  4  5  4  0  M y  20 kNm
4
M z 0 
M z  3  4   13,334  2  6, 666  4  0  M z  24 kNm
2
Com base nas reações de apoio calculadas anteriormente, nos carregamentos
atuantes nessa barra e nas relações diferenciais, observa-se que o esforço cortante
atuante na direção y possui variação linear, sendo uma descontinuidade nesse diagrama
observada no ponto B. Essa descontinuidade decorre da presença de uma força
concentrada nesse ponto, a qual deve-se à reação da treliça tridimensional sobre a barra
geral tridimensional. Consequentemente, o momento fletor orientado na direção z
apresentará variação quadrática, sendo um ponto com derivada não contínua (“bico”)
observado no ponto B. Já o esforço cortante atuante na direção z possui comportamento
constante por trechos ao longo do comprimento da barra. Este esforço solicitante possui
valor igual a 10 entre os pontos A e B e valor nulo do ponto B até o ponto C. Esse
comportamento deve-se a ausência de carregamentos distribuídos orientados na direção
z e a uma força concentrada atuante no ponto B. O momento fletor atuante na direção y
possuirá variação linear do ponto A ao ponto B e valor nulo do ponto B ao ponto C, em
conformidade à variação observada para o esforço cortante na direção z. O esforço
normal será compressivo constante e de intensidade igual a 3,333 kN ao longo de toda a
extensão da barra. Já o momento torçor será nulo em todos os pontos da barra AC. Com
base nos comentários apresentados nesse parágrafo, os diagramas de esforços
solicitantes para a barra considerada podem ser construídos, os quais estão apresentados
na Fig. (10.7).

Capítulo 10 – Estruturas Mistas Tridimensionais________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 202
 

Figura 10.7 Diagramas de esforços solicitantes para a barra AC.

A próxima barra a ser analisada refere-se à barra definida pelos nós DE. Os
carregamentos atuantes nessa barra bem como a condição de vinculação presente estão
ilustrados na Fig. (10.8).

Figura 10.8 Barra DE.

Capítulo 10 – Estruturas Mistas Tridimensionais________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 203
 

Para a construção dos diagramas de esforços solicitantes dessa barra, deve-se


inicialmente determinar seu diagrama de corpo livre. Substituindo a vinculação atuante
na barra, ou seja o engaste atuante sobre o nó E, por reações de apoio equivalentes aos
graus de liberdade restringidos obtém-se a representação mostrada na Fig. (10.9).
Impondo sobre o sistema apresentado na Fig. (10.9) a condição de equilíbrio de corpo
rígido no caso tridimensional obtém-se:

F  0
x   N  5  3,333  0  N  8,333kN
F 0y  Vy  6, 666  0  Vy  6, 666kN
F 0z  Vz  3  4  5  0  Vz  17 kN
M  0 x  T 0  T 0
4
M y 0  M y  3 4   5 4  0
2
 M y  44kNm

M z 0  M z  6, 666  4  0  M z  26, 664kNm

Considerando as ações atuantes nos extremos da barra DE, os carregamentos


atuantes e as relações diferenciais, constata-se que o esforço normal nessa barra será
constante, trativo e de intensidade igual a 8,333 kN. Já o momento torçor será nulo para
toda a extensão da barra. Devido à presença de um carregamento distribuído orientado
ao longo do eixo z, o esforço cortante nesse eixo apresentará variação linear, o que
conduz a variação quadrática do momento fletor atuante em torno do eixo y.

Figura 10.9 Diagrama de corpo livre da barra DE.

Capítulo 10 – Estruturas Mistas Tridimensionais________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 204
 

Já o esforço cortante no eixo y apresentará variação constante, uma vez que


nenhum carregamento distribuído atua nessa direção ao longo da barra. Assim, o
momento fletor em torno do eixo z possuirá variação linear. Com base nesses
comentários, os diagramas de esforços solicitantes para a barra analisada podem ser
construídos, os quais estão apresentados na Fig. (10.10).

Figura 10.10 Diagramas de esforços solicitantes para a barra DE.

10.1.2 – Exemplo 2

O segundo exemplo desse capítulo objetiva a determinação dos diagramas de


esforços solicitantes da estrutura apresentada na Fig. (10.11). Trata-se de uma estrutura
tridimensional formada pelo acoplamento de três elementos de barra simples e dois
elementos de barra geral. Esta estrutura é solicitada por dois carregamentos distribuídos
atuantes nos elementos de barra geral e por duas forças concentradas atuantes sobre o nó
no qual convergem as barras simples, nó D. Além disso, a estrutura é vinculada por
meio de um engaste em seu nó A e um apoio simples em seu nó E.

Capítulo 10 – Estruturas Mistas Tridimensionais________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 205
 

Figura 10.11 Estrutura a ser analisada.

Para que a construção dos diagramas de esforços solicitantes seja possível, deve-
se efetuar, inicialmente, a determinação dos esforços normais atuantes nas barras da
treliça tridimensional. Essa etapa é realizada aplicando o método dos nós sobre o nó D.
Porém, antes de impor as condições de equilíbrio de ponto material no caso
tridimensional sobre este nó, deve-se determinar os versores que definem a geometria
das barras que concorrem ao nó citado. Esses versores são determinados da seguinte
maneira:

LDB 
  4  2  i   0  1,5 j   0  3 k   LDB 
 2i  1,5 j  3k 
22   1,5    3 15, 25
2 2

LDC 
  4  2  i   3  1,5 j   0  3 k   LDC 
 2i  1,5 j  3k 
22  1,52   3 15, 25
2

LDE 
  0  2  i   3  1,5 j   0  3 k   LDE 
 2i  1,5 j  3k 
 2   1,52   3 15, 25
2 2

O esforço normal possui orientação paralela ao eixo geométrico da barra no qual


atua. Portanto, as componentes dos esforços normais, definidas segundo os eixos

Capítulo 10 – Estruturas Mistas Tridimensionais________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 206
 

cartesianos, podem ser determinadas por meio dos versores unitários calculados
anteriormente. Multiplicando os versores unitários que definem as geometrias das barras
pela norma do respectivo esforço normal obtêm-se as componentes do esforço normal
segundo os eixos cartesianos. Para a treliça tridimensional considerada, os esforços
normais podem ser definidos como:
 N DB
N DB   2i  1,5 j  3k 
15, 25
 N DC
N DC   2i  1,5 j  3k 
15, 25
 N DE
N DE   2i  1,5 j  3k 
15, 25
Com base na ilustração apresentada na Fig. (10.11), constata-se que a força

externa atuante sobre o nó D pode ser definida como F   0i  10 j  10k  . Assim,

pode-se efetuar o equilíbrio desse nó por meio das seguintes condições:

F  F  F
X Y Z 0

Para a estrutura em análise pode-se escrever que:

 2 2 2
F  0
X
15, 25
N DB 
15, 25
N DC 
15, 25
N DE  0

 1,5 1,5 1,5
 Y  15, 25 N DB  15, 25 N DC  15, 25 N DE  10  0
F  0

 3 3 3
 Z  15, 25 N DB  15, 25 N DC  15, 25 N DE  10  0
F  0

Reescrevendo as três equações anteriores de uma forma matricial, a qual é mais
facilmente resolvida com o auxílio de equipamentos eletrônicos, obtém-se:

 2 2 2   N DB   0 
1  1, 5 1, 5 1, 5   N    10 
15, 25    DC   
 3 3 3   N DE   10 
  

Resolvendo o sistema matricial determinado anteriormente, composto por três


equações e três incógnitas, obtém-se:

 N DB   6,5085 
   
 N DC    13, 0170  kN
 N   6,5085 
 DE   

Capítulo 10 – Estruturas Mistas Tridimensionais________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 207
 

Os esforços normais nas barras simples determinados anteriormente devem ser


aplicados sobre os elementos de barra geral sobre os quais se apoiam a treliça
tridimensional. Sabendo que esse processo deve ser efetuado considerando os efeitos de
ação e reação (terceira lei de Newton), deve-se aplicar sobre cada um dos nós de
elementos de barra geral onde a treliça tridimensional é apoiada o esforço solicitante
atuante no extremo da barra simples que concorre ao nó de conexão com sentido
contrário ao observado no elemento de barra simples. Assim, a força decorrente da
presença da treliça tridimensional sobre o nó B pode ser calculada da seguinte maneira:
  1
F B   LDB N DB  F B    2i  1,5 j  3k  6,5085 
15, 25

F B   3,333i  2,50 j  5, 0k 
Para os nós C e E, as forças decorrentes da presença da treliça tridimensional
podem ser calculadas de maneira similar. Portanto, para o nó C tem-se:
  1
F C   LDC N DC  F C    2i  1,5 j  3k   13, 0170  
15, 25

F C   6, 666i  5, 00 j  10, 0k 
Já para o nó E, as seguintes componentes de força são obtidas:
  1
F E   LDE N DE  F E    2i  1,5 j  3k   6,5085 
15, 25

F E   3,333i  2,50 j  5, 0k 
De forma a comprovar a correção dos procedimentos relacionados à transmissão
de esforços efetuados até o presente momento, deve-se verificar se a somatória das
  
forças F B , F C e F E resulta a força externa aplicada. Isso deve ser constatado uma vez
que forças não podem ser criadas nem eliminadas durante o processo de equilibrio.
Portanto:

   
 F B  F C  F E    3,333i  2,50 j  5, 0k    6, 666i  5, 00 j  10, 0k  
 
   
 3,333i  2,50 j  5, 0 k    F B  F C  F E    0i  10 j  10k 
 

Capítulo 10 – Estruturas Mistas Tridimensionais________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 208
 

O vetor obtido da soma das forças aplicadas sobre os nós B, C e E é igual ao



vetor que define a força externa aplicada, ou seja, F   0i  10 j  10k  . Portanto, a

análise dos elementos de barra geral pode ser iniciada, já que o equilíbrio da treliça
tridimensional foi verificado assim como sua transmissão de esforços.
Antes que a análise estrutural dos elementos de barra geral seja iniciada, deve-se
aplicar sobre estes as forças decorrentes da ação da treliça tridimensional. O pórtico
tridimensional a ser analisado, os carregamentos atuantes e sua vinculação estão
apresentados na Fig. (10.12).

Figura 10.12 Pórtico tridimensional a ser analisado.

A primeira barra geral a ser analisada é a definida pelos nós B e C. Isolando esta
barra do restante da estrutura, irão surgir, no ponto de separação da barra do restante da
estrutura, esforços solicitantes que atuam no sentido de restaurar a condição de
equilíbrio. A barra delimitada pelos nós B e C com os carregamentos concentrados e
distribuído atuantes e as ações em seu extremo B estão apresentados na Fig. (10.13).
Impondo sobre o sistema apresentado na Fig. (10.13) as condições de equilíbrio
de corpo rígido no caso tridimensional obtêm-se:

Capítulo 10 – Estruturas Mistas Tridimensionais________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 209
 

Figura 10.13 Barra BC.

F x 0  Vx  6, 666  0  Vx  6, 666kN


F y 0   N 5  0  N  5kN
F z 0  Vz  3  3  10  0  Vz  19kN
3
M x 0  M x  3  3   10  3  0
2
 M x  43,50 kNm

M y 0  T 0  T 0
M z 0  M z  6, 666  3  0  M z  20 kNm

Com base nas ações e carregamentos apresentados na Fig. (10.13) e nas relações
diferenciais, constata-se que o esforço cortante atuante na direção x apresentará variação
constante ao longo do comprimento da barra BC. Já o momento fletor orientado na
direção z, o qual é associado ao cortante x, possuirá variação linear. O comportamento
para esses dois esforços solicitantes, segundo as relações diferenciais, deve-se a
ausência de carregamentos distribuídos orientados na direção x ao longo do
comprimento da barra. O esforço cortante atuante na direção z possui variação linear ao
longo do comprimento da barra, enquanto o momento fletor associado, atuante na
direção x, apresentará variação quadrática. Constata-se que o esforço normal é trativo,
constante e de intensidade igual a 5,0 kN ao longo de toda a extensão da barra. Já o
momento torçor será nulo em todos os pontos da barra BC. Com base nos comentários
apresentados nesse parágrafo, os diagramas de esforços solicitantes para a barra
considerada podem ser construídos, os quais estão apresentados na Fig. (10.14).

Capítulo 10 – Estruturas Mistas Tridimensionais________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 210
 

Figura 10.14 Diagramas de esforços solicitantes para a barra BC.

A próxima barra a ser estudada é a definida pelos nós A e B. Porém, antes de


isolá-la da estrutura, deve-se efetuar o equilíbrio do nó B, nó este que faz a conexão
entre as barras AB e BC, para que assim as intensidades das ações atuantes no extremo
B da barra AB sejam calculadas.
O equilíbrio do nó B é efetuado impondo-se a condição de equilíbrio de corpo
rígido ao referido nó, considerando as ações atuantes no extremo B das barras que
concorrem a este nó, reaplicadas com sentido oposto ao de atuação destes no extremo
das respectivas barras (3ͣ lei de Newton). As ações atuantes sobre o nó B estão
apresentadas na Fig. (10.15). Impondo a condição de equilíbrio de corpo rígido a essas
ações obtém-se:

F  0
x  Fx  3,333  6, 666  0  Fx  3,333kN
F  0
y  2,5  5  Fy  0  Fy  7,5kN
F  0
z   19  5  Fz  0  Fz  14kN
M  0 x  M x  43,50  0  M x  43,50kNm
M  0 y  My  0  My  0
M  0 z   20  M z  0  M z  20kNm

Capítulo 10 – Estruturas Mistas Tridimensionais________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 211
 

Figura 10.15 Equilíbrio nó B.

Portanto, as ações determinadas anteriormente podem ser transferidas para o


extremo B da barra AB. Para isso, basta reaplicar, com sentidos opostos, as ações
incógnitas calculadas sobre o nó B. Efetuando este procedimento obtém-se o diagrama
de corpo livre da barra AB, o qual é ilustrado na Fig. (10.16).

Figura 10.16 Barra AB.

Capítulo 10 – Estruturas Mistas Tridimensionais________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 212
 

Impondo-se a condição de equilíbrio de corpo rígido a barra apresentada na Fig.


(10.16), obtêm-se os valores das ações em seus extremos, os quais são iguais a:

F 0x   N  3,333  0  N  3,333kN


F 0y  Vy  7,5  0  Vy  7,5kN
F 0z   14  3  4  Vz  0  Vz  26kN
M  0 x   T  43,50  0  T  43,50 kNm
4
M y 0  M y  3  4   14  4  0
2
 M y  80kNm

M z 0   20  7,5  4  M z  0  M z  10kNm

Com base nas ações atuantes nos extremos da barra AB, nos carregamentos
atuantes e nas relações diferenciais, constata-se que o esforço normal nessa barra será
constante, trativo e de intensidade igual a 3,333 kN. Já o momento torçor apresentará
variação constante ao longo da extensão da barra, sendo seu valor igual a 43,50 kNm.
Devido à presença de uma carga distribuída orientada na direção do eixo z, o esforço
cortante nesse eixo apresentará variação linear, o que conduzirá a variação quadrática do
momento fletor atuante em torno do eixo y. Já o esforço cortante no eixo y apresentará
variação constante, uma vez que nenhuma carga distribuída atua nessa direção ao longo
do comprimento da barra. Assim, o momento fletor em torno do eixo z possuirá variação
linear. Com base nesses comentários, os diagramas de esforços solicitantes para a barra
analisada podem ser construídos, os quais estão apresentados na Fig. (10.17).

Figura 10.17 Diagramas de esforços solicitantes para a barra AB.

Capítulo 10 – Estruturas Mistas Tridimensionais________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 213
 

11. – Cabos

11.1 – Introdução

Cabos são elementos estruturais que resistem unicamente a solicitações de


tração. Dessa forma, os cabos podem ser considerados como um caso particular dos
elementos de barra simples. Esses elementos estruturais são muito utilizados em
estruturas de pontes, como mostrado na Fig. (11.1), linhas de transmissão, teleféricos,
entre outros.

Figura 11.1 Estruturas que utilizam cabos.

Os cabos podem ser divididos em duas categorias, dependendo do carregamento


solicitante: Cabos que suportam carga concentrada e Cabos que suportam carga

Capítulo 11 – Cabos______________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 214
 

distribuída. A seguir serão discutidos aspectos específicos relacionados a cada uma


dessas categorias.

11.2 – Cabos que Suportam Carga Concentrada

Nessa categoria enquadram-se os cabos que apresentam cargas concentradas em


determinados pontos localizados ao longo de seu comprimento como mostra a Fig.
(11.2). Por simplicidade, pode-se assumir que os cabos sejam flexíveis, ou seja, não
possuem resistência à flexão. Além disso, assume-se também que seu peso próprio é tão
pequeno comparado com a intensidade das ações aplicadas que este pode ser
desprezado.
L

d
y1
y2
y3 B
C1

Q1
x1 C2
C3
Q2
x2
Q3
x3

Figura 11.2 Cabos com carga concentrada.

A Fig. (11.2) apresenta um cabo fixo nos pontos A e B, suas extremidades,


sendo submetido à ação dos carregamentos concentrados Q1, Q2 e Q3, atuantes nos
pontos C1, C2 e C3, respectivamente. Admite-se que as projeções horizontais da
distância do ponto de fixação A até cada uma das cargas seja conhecida (x1, x2, x3).
Além disso, assume-se também que as projeções horizontais e verticais entre os pontos
de fixação A e B também sejam conhecidas.
O objetivo da análise estrutural nesse problema trata da determinação das
projeções verticais da distância de A até cada ponto, bem como da tração exercida no
cabo. Para tal fim, deve-se, inicialmente, construir o diagrama de corpo livre do cabo.

Capítulo 11 – Cabos______________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 215
 

Para o cabo apresentado na Fig. (11.2), o diagrama de corpo livre assume a forma
ilustrada na Fig. (11.3).

Ay

Ax
A
By
d
y1
y Bx
y2
y3 B
C1
D
Q1
x1 C2
x C3
Q2
x2
Q3
x3

Figura 11.3 Diagrama de corpo livre do cabo.

Aplicando as equações de equilíbrio de corpo rígido ao sistema apresentado na


Fig. (11.3), ou seja,  F ,  F ,  M  ,
x y
B
z observa-se que nesse problema existem

quatro incógnitas, as quais estão relacionadas às reações dos apoios A e B (Ax, Ay, Bx e
By). Como existem apenas três equações de equilíbrio para o caso plano, deve-se obter
uma equação adicional para que o problema apresente uma solução única. Essa equação
pode ser determinada conhecendo-se as coordenadas x e y de um ponto qualquer
pertencente ao cabo, como o ponto D, por exemplo. Traçando o diagrama de corpo livre
do trecho que vai de um apoio fixo até o ponto D, como mostrado na Fig. (11.4), e
impondo o equilíbrio em termos de momentos   M zD  0  obtêm-se as reações dos

apoios A e B.
Em seguida, deve-se construir o diagrama de corpo livre para cada ponto do
cabo que contenha uma carga concentrada. Nesses pontos, a condição de equilíbrio de
corpo rígido deve ser atendida. Assim, obtém-se a projeção vertical da distância de A
até esse ponto. Como exemplo, considere o equilíbrio do ponto C2 apresentado na Fig.
(11.5).

Capítulo 11 – Cabos______________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 216
 

Aplicando a condição de somatória de momentos nula em relação ao ponto


seccionado obtém-se:

M C2  0   Ax  y2  Ay  x2  Q1 ( x2  x1 )  0 (11.1)

Como x1 e x2 são conhecidas, determina-se y2.

Ay

Ax
A

y1
y

C1
D
Q1
x1 T
x

Figura 11.4 Diagrama de corpo livre do trecho AD.

Ay

Ax
A

y1
y2
C1

Q1
x1 C2
T
Q2
x2

Figura 11.5 Diagrama de corpo livre do trecho AC2.

As forças internas nos diversos trechos do cabo resumem-se ao esforço de tração


(T) orientado na direção tangente ao cabo no ponto analisado. Esse esforço pode ser
facilmente determinado pela expressão apresentada na Eq.(11.2):

Capítulo 11 – Cabos______________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 217
 

T cos    Ax (11.2)
Portanto, a tração máxima ocorrerá nos pontos em que o cosα for mínimo, ou
seja, adjacente a um dos dois suportes.

11.2.1 – Exemplo 1

Na Fig. (11.6) é apresentada uma estrutura composta por cabos solicitados por
ações concentradas. Sabendo que as dimensões a e b são iguais a 4,8 m, determine as
componentes da reação do apoio E e a intensidade da tração máxima no cabo.

6,0 m 6,0 m 6,0 m 6,0 m

a
A b

D
B C
20KN
20KN 30KN

Figura 11.6 Estrutura a ser analisada.

Para a solução desse exemplo deve-se, inicialmente, construir o diagrama de


corpo livre da estrutura. Substituindo as condições de vinculação por forças
equivalentes aos graus de liberdade restringidos obtém-se o diagrama ilustrado na Fig.
(11.7).
Ey
E Ex

Ay

Ax
A
D
B C
20KN
20KN 30KN

Figura 11.7 Diagrama de corpo livre.

Capítulo 11 – Cabos______________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 218
 

Aplicando, sobre o conjunto de forças mostrado na Fig. (11.7), as equações de


equilíbrio de corpo rígido obtêm-se:

F 0 x  Ax  Ex  0
F 0 y  Ay  E y  20  30  20  0  Ay  E y  70
(11.3)
M  0 E   Ay  24  Ax  4,8  20 18  30 12  20  6  0 
Ax  5  Ay  175

Com base nas equações obtidas anteriormente constata-se que têm-se três
relações e quatro incógnitas a serem determinadas. Portanto, o sistema é não
determinado. Para que as incógnitas sejam determinadas de forma única, uma equação
adicional deve ser considerada. Esta equação é escrita efetuando uma secção no cabo
em seu nó C, como apresenta a Fig. (11.8). Aplicando a condição de somatório nula de
momentos ao corpo livre mostrado na Fig. (11.8) obtém-se:
Ay

Ax
A
C
T0
B

20KN 30KN

Figura 11.8 Diagrama de corpo livre do trecho AC.

M C  0   Ay 12  Ax  0  20  6  0  Ay  10 kN

Substituindo o resultado obtido para Ay nas Eq.(11.3) obtém-se:

Ey  60kN , Ax  125kN , Ex  125kN

A tração máxima ocorrerá no trecho onde a inclinação entre o eixo que define o
cabo e o eixo horizontal for maior. Assim, a tração máxima será encontrada no trecho
DE. O diagrama de corpo livre desse trecho está mostrado na Fig. (11.9).
Ey
E Ex

T0 D

20KN

Figura 11.9 Diagrama de corpo livre do trecho DE.

Capítulo 11 – Cabos______________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 219
 

A fim de encontrar o valor da tração nesse trecho, deve-se, inicialmente,


determinar o valor de yD. Para isso, impõe-se a condição de somatória nula de
momentos em relação ao ponto D, o que resulta em:

M D  0  125  yD  60  6  yD  2,88m

Em seguida, determina-se o ângulo do cabo com a horizontal facilmente como:

2,88
tg     25, 64
6
Por fim, impõe-se o equilíbrio das forças na direção horizontal:

F x  0  Ex  T cos    0  T  138, 65kN

11.3 – Cabos que Suportam Cargas Distribuídas

Em estruturas onde os cabos são solicitados por carregamentos distribuídos,


estes tendem a configurar uma curva. Nessa situação, o cabo será solicitado por uma
força interna de tração (T) dirigida ao longo da tangente a esta curva.
O objetivo da análise estrutural de problemas desse tipo é a determinação da
intensidade do esforço de tração em qualquer ponto do cabo. Nesse item, serão
analisados casos particulares de cabos submetidos a dois tipos diferentes de
carregamentos distribuídos: Carga uniformemente distribuída ao longo da horizontal,
formando o chamado cabo parabólico, e a Carga uniformemente distribuída ao longo do
próprio cabo, formando a catenária.

11.3.1 – Caso Geral

Como caso geral, deve-se considerar um cabo fixo nos pontos A e B e submetido
a uma carga distribuída, com formato qualquer, ao longo do seu comprimento, como
mostra a Fig. (11.10). Para a determinação da tração em qualquer ponto do cabo,
constrói-se, inicialmente, o diagrama de corpo livre da parte compreendida pelo ponto
mais baixo, C, e um ponto qualquer, D, como apresenta a Fig. (11.11).

Capítulo 11 – Cabos______________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 220
 

D
A

Figura 11.10 Caso geral de cabo com carga distribuída.


T
D

C
T0

Figura 11.11 Diagrama de corpo livre CD.

Sendo T0 o esforço de tração em C, o qual é horizontal, T o esforço de tração no


ponto qualquer, D, o qual é dirigido ao longo da tangente ao cabo no ponto seccionado,
e W a resultante do carregamento distribuído no trecho considerado, CD, verifica-se que
as equações que governam o problema são as Eq.(11.4), Eq.(11.5), Eq.(11.6) e
Eq.(11.7). Estas equações podem ser facilmente verificadas com o auxílio da Fig.
(11.12).

T
W

T0
Figura 11.12 Resultante de forças.

T cos    T0 (11.4)

Capítulo 11 – Cabos______________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 221
 

Tsen    W (11.5)

T  T02  W 2 (11.6)

W
tg    (11.7)
T0
Com base nas Eq.(11.6) e Eq.(11.7), verifica-se que a tração T é mínima no
ponto mais baixo do cabo e máxima em um dos pontos de fixação do cabo. As quatro
últimas equações serão agora particularizadas para os casos envolvendo curvas
parabólicas e catenária.

11.3.2 – Caso Parabólico

Considerando primeiramente o caso parabólico, este configura-se pelo fato do


cabo estar submetido a um carregamento uniformemente distribuído ao longo de sua
projeção horizontal, como mostra a Fig. (11.13).
y

D
A

C x

Figura 11.13 Cabo com carga uniformemente distribuída ao longo do comprimento.

Na Fig. (11.13), q representa a intensidade do carregamento distribuído por


unidade de comprimento medida horizontalmente.
Adotando o ponto mais baixo, C, do cabo como a origem do sistema coordenado
e traçando o diagrama de corpo livre, têm-se:

Capítulo 11 – Cabos______________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 222
 

T
D

C x
T0
W
Figura 11.14 Diagrama de corpo livre do trecho CD.

Sendo W a resultante da carga distribuída no trecho CD, sua intensidade é dada


por:
W  q x (11.8)

Substituindo a Eq.(11.8) nas Eq.(11.6) e Eq.(11.7), obtém-se o módulo e a


direção de atuação do esforço de tração em D. Assim:

T  T02  W 2 x 2
qx (11.9)
tg   
T0
Como a distância entre D e a linha de ação da resultante W é igual à metade da
projeção horizontal da distância de C até D, a somatória dos momentos em relação a D é
expressa por:
x
M D  0  q  x   T0  y  0
2
(11.10)

Assim, y pode ser determinado como:


qx 2
y (11.11)
2T0
De acordo com a Eq.(11.11), percebe-se que a forma final do cabo corresponde a
uma parábola com eixo vertical e vértice na origem das coordenadas.
Quando os suportes A e B do cabo estão na mesma cota, a distância entre esses
pontos é denominada de vão (L), enquanto que a projeção vertical da distância desses
suportes até o ponto mais baixo é denominada flecha (h). Sendo L e h conhecidos de um

Capítulo 11 – Cabos______________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 223
 

cabo submetido a uma carga q por unidade de comprimento horizontal, então a tensão
mínima T0 pode ser encontrada substituindo x = L/2 e y = h na Eq. (11.11).
Quando os suportes estão em cotas diferentes, como na Fig. (11.15), a posição
do ponto mais baixo do cabo pode não ser conhecida. Portanto as coordenadas xA, yA, xB
e yB dos suportes devem ser determinadas. Para isto, essas coordenadas devem satisfazer
a Eq. (11.11) e as seguintes relações:
xB  x A  L
(11.12)
yB  y A  d
onde L e d correspondem as projeções horizontal e vertical da distância entre os dois
suportes, respectivamente.
O comprimento do cabo entre o ponto inferior C e o apoio B é obtido pela
seguinte relação:
L

B
y
B

y A
A

C xA xB x

Figura 11.15 Cabo com suportes em cotas diferentes.

xB 2
 dy 
SB  
0
1    dx
 dx 
(11.13)

Derivando a Eq.(11.11) em relação à ordenada x, obtém-se dy dx  q  x T0 .


Substituindo esse resultado na Eq.(11.13) e usando o teorema do binômio para
desenvolver o radical numa série infinita, tem-se:
2
 q2 x2   
xB x
B
q2 x2 q4 x4
SB  
0
1   2  dx   1 
 T0  0 

2  T02 8  T04
   dx
 (11.14)
 q 2 xB2 q 4 xB4 
S B  xB  1     
 6  T0 40  T0
2 4

Capítulo 11 – Cabos______________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 224
 

Sabendo que q  xB2 2T0  yB tem-se:

 2  y 2 2  y 4 
S B  xB 1    B     B    (11.15)
 3  xB  5  xB  

A série converge para valores da razão yB xB menores que 0,5. Em geral, essa

razão é muito pequena. Assim, apenas os dois primeiros termos da série são
normalmente suficientes.

11.3.3 – Exemplo 2

Um cabo preso a um apoio A passa sobre uma roldana em B e suporta uma carga
P. Sendo a flecha do cabo igual a 0,5 m e sua massa por unidade de comprimento igual
a 0,75 Kg/m, determine: a intensidade da carga P, a inclinação do cabo em B e o
comprimento total do cabo de A até B. Como a razão da flecha para o vão é pequena,
pode-se considerar o cabo como parabólico. Desprezar o peso próprio do cabo entre os
pontos B e D.

40 m

A B
0,5 m

C D

P
Figura 11.16 Estrutura a ser analisada.

Para a determinação da intensidade da carga P aplicada, deve-se construir o


diagrama de corpo livre envolvendo o ponto mais baixo do cabo, C, e o ponto B. Esse
diagrama está apresentado na Fig. (11.17).

Capítulo 11 – Cabos______________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 225
 

TB
B

T0 x

C W
Figura 11.17 Diagrama de corpo livre no trecho considerado.

Como a carga é uniformemente distribuída ao longo da horizontal, pode-se


transformar o peso do cabo em carregamento como:
q   0, 75 kg m    9,81 m s 2   7, 36 N m

Sabendo que a carga é distribuída em relação a projeção horizontal do cabo, a


resultante do carregamento distribuído é dado por:
W  q  xB  W  7,36  20  W  147, 2 N
Deve-se ressaltar que W é aplicada no ponto médio entre C e B. Efetuando a
somatória dos momentos em relação a B, considerando as forças mostradas na Fig.
(11.17), tem-se:

M B 0  147, 2 10  T0  0,5  0  T0  2944 N

Calculando TB por meio da Eq.(11.6) tem-se:

TB  T02  W 2  29442  147, 22  2948 N

Como o esforço de tração em cada um dos lados da roldana é a mesmo tem-se


que:
P  TB  2948N
Aplicando agora a Eq.(11.7), pode-se determinar a inclinação do cabo em B
como:
W 147, 2
tg      0, 05    arctan  0, 05    2,9
T0 2944
Finalmente, pode-se empregar a Eq.(11.15) entre C e B, considerando apenas a
aproximação quadrática da série, para a determinação do comprimento do cabo. Assim:

Capítulo 11 – Cabos______________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 226
 

 2  y 2   2  0,5  2 
S B  xB 1        20  1   
B
     20, 00833m
 3  xB    3  20  
O comprimento total do cabo é o dobro do valor calculado acima. Portanto:
Comprimento  2 S B  40, 0167 m

11.3.4 – Caso Catenária

Os cabos enquadrados no caso catenária são aqueles submetidos à cargas


uniformemente distribuídas ao longo do próprio comprimento, e não mais em relação à
sua projeção horizontal como no caso parabólico, como mostra a Fig. (11.18).
y

s D
A

c
O x

Figura 11.18 Cabo submetido à carga uniformemente distribuída ao longo do próprio comprimento.

Denominando a carga distribuída por unidade de comprimento medida ao longo


do cabo, q, a resultante dessa carga, W, corresponde ao produto entre q e o
comprimento, s, da porção do cabo que está sendo analisada. Portanto:
W  qs (11.16)

Substituindo W na Eq.(11.6), obtém-se a tração num ponto D qualquer. Assim:

T  T02  q 2 s 2 (11.17)

Objetivando simplificar os cálculos, denomina-se c a constante apresentada na


Eq.(11.18), a qual recebe o nome de parâmetro da catenária.
c  T0 q (11.18)

Assim, obtém-se:

Capítulo 11 – Cabos______________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 227
 

T0  q  c (11.19)

W  qs (11.20)

T  q  c2  s2 (11.21)

A Fig. (11.19) representa o diagrama de corpo livre do trecho CD do cabo.


Como a distância de D até o ponto de aplicação da resultante da carga não é conhecida,
deve-se analisar um elemento infinitesimal de comprimento ds do cabo e obter a
equação da curva formada pelo cabo através da integração da resultante encontrada na
porção ds ao longo do comprimento do cabo.

T
D
dy

s
ds

dx

T0 C W

Figura 11.19 Diagrama de corpo livre do trecho CD.

Portanto, inicialmente, pode-se escrever a projeção horizontal desse elemento


infinitesimal da seguinte forma:
dx  ds  cos   (11.22)

Como cos    T0 T , utiliza-se essa relação juntamente com as Eq.(11.19) e

Eq.(11.21) na Eq.(11.22). Assim:


T0 q  c  ds ds
dx  ds  cos    ds   (11.23)
T q  c2  s2 1  s2 c2

Tomando como origem do sistema coordenado um ponto a uma distância c do


ponto C mostrado na Fig. (11.18), realiza-se a integral da Eq.(11.23) de C(0,c) a D(x,y).
Dessa forma:
S
 s
S
ds s
x  c  senh 1   c  senh 1 (11.24)
0 1  s2 c2  c 0 c

Exprimindo na Eq.(11.24) o comprimento s da porção CD do cabo, têm-se:

Capítulo 11 – Cabos______________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 228
 

x
s  c  senh (11.25)
c
Por meio da Fig. (11.19), observa-se que dy  dx  tg   e tg    W T0 .

Utilizando essas expressões, juntamente com as Eq.(11.19), Eq.(11.20) e Eq.(11.25),


obtém-se a expressão que relaciona as coordenadas x e y. Essa expressão é a
apresentada na Eq.(11.26).
W s x
dy  dx  tg    dx  dx  senh dx (11.26)
T0 c c
Integrando a expressão acima de C(0,c) até D(x,y) e utilizando as identidades
dsenh  z  dcosh  z 
trigonométricas =cosh  z  , =senh  z  , senh  0  =0 e cosh  0   1 ,
dz dz
obtém-se:
x
 x  x 
x
x
y  c   senh dx  c  cosh   c  cosh  1 (11.27)
0
c  c 0  c 
x
y  c  cosh (11.28)
c
A Eq.(11.28) consiste na equação de uma catenária com eixo vertical. A
constante c é denominada parâmetro da catenária. Utilizando as Eq.(11.25) e
Eq.(11.28), e sabendo que cosh 2  z  -senh 2  z  =1 , têm-se a relação entre y e s:

y 2  s 2  c2 (11.29)

Exprimindo o valor de s2 e substituindo na Eq.(11.21), têm-se:


T  q y (11.30)

11.3.5 – Exemplo 3

Um cabo uniforme, pesando 50N/m está suspenso por dois suportes A e B como
mostra a Fig. (11.20). Para essa estrutura, determine os valores máximo e mínimo da
tração no cabo e o comprimento do cabo.

Capítulo 11 – Cabos______________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 229
 

150 m

A B

30 m

C
Figura 11.20 Estrutura a ser analisada.

A origem das coordenadas é colocada a uma distância c abaixo do ponto inferior


do cabo, como indica a Fig. (11.21).
y

B
A

c
x

Figura 11.21 Localização da origem e o ponto inferior do cabo.

Utilizando a Eq.(11.28), sabendo que as coordenas do ponto B são iguais a


xB  75 e yB  30  c tem-se:

 75  30  75 
30  c  c  cosh     1  cosh  
 c  c  c 
A expressão acima é do tipo não linear. Assim, o termo c deve ser determinado
por meio de um processo iterativo. Atualmente, as calculadoras científicas possuem
esquemas de solução que permite a fácil resolução dessa equação. Para a equação
considerada esse termo é igual a:
c  98, 4
Dessa forma:
yB  30  c  128, 4m

Capítulo 11 – Cabos______________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 230
 

Portanto, com base nas Eq.(11.19) e Eq.(11.30) obtêm-se os valores extremos


das trações no cabo, as quais são iguais a:
Tmin  T0  50  98, 4  4920 N
Tmax  TB  50 128, 4  6420 N
O comprimento do cabo é encontrado utilizando a Eq.(11.29) no trecho CB:
yB2  sCB
2
 c 2  sCB
2
 yB2  c 2  128, 42  98, 42  sCB  82,5m
O comprimento final é o dobro do comprimento do trecho CB. Assim:
sAB  2  sCB  sAB  165 m

Capítulo 11 – Cabos______________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 231

12. – Tensão e Deformação Médias

12.1 – Introdução

Um dos objetivos da Mecânica dos Materiais (Resistência dos Materiais e


Mecânica dos Sólidos) é o desenvolvimento de relações entre carregamentos externos
aplicados a um corpo deformável, solicitações internas e deformações provocadas por
estes. Nesse contexto, as solicitações internas, as quais podem ser compreendidas por
meio de nosso próprio corpo quando fazemos algum movimento que solicita a nossa
musculatura, estão associadas ao conceito de tensão. Já a mudança de forma
(geométrica) de um determinado objeto após ser solicitado por qualquer ação externa,
que pode ser percebida por meio da flexão de uma régua flexível, está associada ao
conceito de deformação. Como esses dois fenômenos são acionados pela mesma ação
externa, é intuitivo perceber que deve haver uma relação única entre deformações e
tensões, que para o caso de corpos elásticos lineares, é denominada Lei de Hooke
(1678).
Os conceitos de tensão e deformação bem como a compreensão da Lei de Hooke
são fundamentais para o adequado entendimento do campo da Mecânica dos Materiais
e, portanto, indispensáveis à formação de um bom engenheiro.

12.2 – Tensão Normal Média

O conceito de tensão foi utilizado nos séculos passados para a compreensão


sobre as causas das falhas em estruturas. Sob um mesmo nível de carregamento externo,
estruturas compostas por um mesmo material observavam a segurança e a falha
conforme as dimensões da seção transversal dos elementos que as compunham eram

Capítulo 12 – Tensão e Deformação Médias___________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 232

variadas. As tensões foram inicialmente estudadas por pesquisadores renomados como


Galileo (1638), Mariotte (1688) e Hooke (1678).
Para introduzir o conceito de tensão, deve-se considerar o elemento de barra
simples mostrado na Fig. (12.1), o qual está em equilíbrio quando exposto a duas forças
trativas de intensidade F.

Figura 12.1 Barra prismática tracionada.

Assume-se ainda que essa barra seja seccionada por um plano α, ortogonal ao
seu eixo, dividindo-a em duas porções. Como a barra está em equilíbrio, cada elemento
isolado da barra seccionada deverá estar também em equilíbrio. Portanto, no plano 
surgirá o esforço normal N, o qual restaura o equilíbrio originalmente observado, como
mostrado na Fig. (12.2).

Figura 12.2 Representação do esforço solicitante normal.

Deve-se ressaltar que o esforço normal N será resistido pelo material que
compõe a barra (terceira lei de Newton). Assim, as partículas do material, localizadas na
seção transversal da barra, deverão reagir mecanicamente para equilibrar o esforço
normal atuante. Portanto, a somatória das reações de cada uma dessas partículas,
presentes na seção transversal da barra, deverá ser igual a N. Assumindo, por
simplificação, que o esforço N seja igualmente resistido por todas as partículas da seção
transversal, como mostra a Fig. (12.3), pode-se definir a grandeza tensão normal média,
 m , que será associada à integridade da barra e consequentemente ao seu equilíbrio.

Figura 12.3 Tensão normal média.

Capítulo 12 – Tensão e Deformação Médias___________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 233

A tensão é dita normal, pois atua de forma normal a um plano (área) de


referência, no presente caso ao plano α. Matematicamente, a tensão normal média é
definida pela relação mostrada na Eq.(12.1), cuja intensidade é dada pela razão entre o
esforço normal atuante e a área da seção transversal do elemento estrutural. Com base
nessa equação, constata-se que a unidade de medida da tensão é força/área.
N
m  (12.1)
A
Deve-se informar que para os materiais de uso corrente na engenharia, a tensão
normal média resistente é obtida por meio de ensaios experimentais. Assim, a
verificação sobre a falha de um dado elemento estrutural é feita com base nas tensões
atuantes sobre ele, as quais são comparadas à sua tensão resistente.

12.2.1 – Exemplo 1

Determine as tensões normais médias nas barras da treliça apresentada na Fig.


(12.4), sabendo que as áreas da seção transversal das duas barras são iguais a:
A1  10cm 2 e A2  15cm 2 .

Figura 12.4 Estrutura a ser analisada.

Capítulo 12 – Tensão e Deformação Médias___________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 234

Este problema pode ser resolvido aplicando-se o método dos nós. Deve-se
aplicar as equações de equilíbrio de ponto material sobre o nó onde a força de 10 kN é
aplicada. O diagrama de corpo livre deste nó é mostrado na Fig. (12.5). Sabendo que

Sen(  )  3 e Cos (  )  4 , o equilíbrio desse nó resulta nas seguintes equações.


5 5
F2

F1 ß

10 KN
Figura 12.5 Diagrama de corpo livre.

F y  0  F2 sen     10  0  F2  16, 667 kN


F x  0   F1  F2 cos     0  F1  13,333 kN

Assim, as tensões normais médias, nas duas barras que compõem a treliça,
podem ser calculadas empregando a Eq.(12.1). Portanto:
13,333
 m1   1,333 kN 2
10 cm
16, 667
 m2   1,111 kN 2
15 cm
Deve-se ressaltar que o sinal negativo observado na tensão da barra 1 indica que
a mesma está submetida a uma tensão de compressão. Deve-se também chamar a
atenção do leitor para o fato de que, apesar da barra 2 estar solicitada por um esforço
normal de maior intensidade, esta apresenta tensão normal menor. Assim, desprezando
os efeitos de flambagem, essa barra romperia após a falha da barra 1.

12.3 – Tensão de Cisalhamento Média

Após a compreensão do conceito de tensão normal média, pode-se questionar se


a presença de uma força atuando não mais normal, mas sim paralela ao plano (área) da
seção transversal de um elemento de barra provoca tensões. A resposta a esta pergunta é
positiva, sendo este o caso da atuação do esforço cortante. Nessa situação, as tensões

Capítulo 12 – Tensão e Deformação Médias___________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 235

médias provocadas pelo esforço cortante são denominadas tensões cisalhantes médias
ou tensões de cisalhamento médias.
Para compreender a atuação das tensões de cisalhamento, deve-se considerar o
corpo apresentado na Fig. (12.6), o qual consiste de duas chapas conectadas em seus
extremos, sendo solicitadas por duas forças de intensidade F, que atuam no sentido de
provocar o corte (separação) das chapas. Assume-se que este corpo esteja em equilíbrio
estático sob a atuação dessas ações externas.

Figura 12.6 Corpo em equilíbrio solicitado ao corte.

Separando as chapas mostradas na Fig. (12.6), surgirão esforços solicitantes que


atuarão no sentido de reestabelecer a condição de equilíbrio originalmente observada,
antes da separação. Se um corpo está em equilíbrio, cada porção isolada deste corpo
encontra-se também em equilíbrio. A Fig. (12.7) ilustra a separação das chapas e o
surgimento do esforço cortante V.

Figura 12.7 Esforço solicitante e tensão de cisalhamento média.

O esforço cortante deverá ser resistido pelas partículas do material que compõem
a região onde este esforço atua. Portanto, a somatória das reações mecânicas de cada
uma das partículas que contribuem para a resistência do material deverá ser igual ao
esforço cortante para que o equilíbrio seja satisfeito. Assumindo que todas as partículas
da área de atuação do esforço cortante contribuam uniformemente para a resistência do
material, como mostra a Fig. (12.7), pode-se definir a grandeza tensão de cisalhamento

Capítulo 12 – Tensão e Deformação Médias___________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 236

média,  m , como uma medida da solicitação do carregamento externo, com relação ao


esforço cortante, sobre o material.
A tensão é denominada cisalhante, ou também de cisalhamento, uma vez que
está orientada na direção paralela ao plano (área) em que esta grandeza deseja ser
mensurada. Matematicamente, a tensão de cisalhamento média,  m , é definida pela

relação mostrada na Eq.(12.2). Com base nessa equação, constata-se que, assim como
para  m , a unidade de medida da tensão cisalhante é força/área.

V
m  (12.2)
A
Embora de simples determinação, deve-se enfatizar que a utilização das
Eq.(12.1) e Eq.(12.2) pode conduzir a aproximações grosseiras nos valores das tensões
avaliadas em problemas práticos. Isso se deve ao fato de, em muitos problemas de
engenharia, as tensões não serem uniformemente distribuídas sobre a área analisada.
Destacam-se as porções materiais próximas ao contorno do corpo, onde vinculações e
carregamentos são aplicados. Menciona-se também problemas onde concentradores de
tensão estão presentes, como o caso de chapas furadas de ligações por exemplo. Tais
problemas requerem a adoção adequada de coeficientes de segurança. Além disso, na
grande maioria das estruturas, as tensões normal e cisalhante atuam conjuntamente.

12.3.1 – Exemplo 2

Na Fig. (12.8) é apresentado um sistema estrutural que suporta uma força igual a
600 kN. Essa força é resistida por um pino de diâmetro igual a 0,25 m. Com base nesse
sistema, determine a tensão de cisalhamento média que atua sobre o pino.

Figura 12.8 Sistema a ser analisado.

Capítulo 12 – Tensão e Deformação Médias___________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 237

Na Fig. (12.8) é apresentado o diagrama de corpo livre do pino que suporta a


ação de 600 kN. Traçando o diagrama de esforço cortante deste pino, o qual será
omitido nessa resolução por simplicidade, verifica-se que o esforço cortante máximo
será igual a 300 kN. Assim, utilizando a Eq.(12.2) verifica-se que a tensão cisalhante
média será igual a:
300
  6111,55 kN
 0, 252  m2
4

12.4 – Tensões Médias em Planos Quaisquer

Conforme discutido nos itens anteriores, as tensões atuantes na estrutura,


decorrentes das ações externas e esforços internos, dependem do plano (área) analisado
assim como da direção de atuação dos esforços neste plano. Para ilustrar esta
dependência, deve-se considerar a barra simples mostrada na Fig. (12.9), a qual está
tracionada sob a ação de duas forças de intensidade F. Deseja-se analisar as tensões
atuantes ao longo de um plano que secciona a barra em duas partes, como ilustrado na
Fig. (12.9). Este plano apresenta uma inclinação  em relação ao plano que define a
seção transversal da barra.

Figura 12.9 Análise das tensões em planos quaisquer.

Analisando o elemento 1, observa-se que, após a separação da barra, surgirá uma


tensão equivalente Tm decorrente da resultante dos esforços solicitantes atuantes no

plano inclinado. A tensão equivalente Tm e o elemento 1 estão ilustrados na Fig. (12.10).

Capítulo 12 – Tensão e Deformação Médias___________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 238

A tensão equivalente pode ser determinada dividindo a resultante dos esforços


solicitantes no plano inclinado, F, pela área inclinada, a qual é igual a A cos   .

Assim:
F F
Tm  
A A
cos  

Figura 12.10 Tensão resultante no plano inclinado.

A determinação das tensões normal e de cisalhamento médias no plano inclinado


é efetuada calculando-se as componentes da força F atuantes ao longo das direções
normal e paralela ao plano inclinado. Assim, como mostra a Fig. (12.11), a componente
normal é igual a Fcos  θ  e a componente cortante é dada por Fsen  θ  .

Figura 12.11 Tensão resultante no plano inclinado.

Aplicando as Eq.(12.1) e Eq.(12.2) no problema estudado obtêm-se que:


N F cos   F
m    m     m   cos 2   (12.3)
A A A
cos  

V Fsen   F
m    m     m   sen   cos   (12.4)
A A A
cos  

Deve-se enfatizar que tanto a tensão normal quanto a tensão de cisalhamento


dependem do plano considerado e consequentemente de sua inclinação. Segundo as

Capítulo 12 – Tensão e Deformação Médias___________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 239

Eq.(12.3) e Eq.(12.4), constata-se que a tensão normal tem seu valor máximo para a
inclinação igual a zero e a tensão de cisalhamento tem seu valor máximo para a
inclinação de 45º.
Além disso, no plano onde a tensão normal é máxima a tensão de cisalhamento é
nula. E o plano onde a tensão de cisalhamento é máxima está rotacionado em 45º com
relação ao plano em que a tensão normal é máxima. Essas conclusões serão discutidas
em mais detalhes no capítulo 23.

12.4.1 – Exemplo 3

A Fig. (12.12) mostra um sistema estrutural composto por três elementos


prismáticos, os quais resistem ao carregamento aplicado de 600 N por meio de forças de
contato. Determine as tensões médias nas áreas de contato Ai.

Figura 12.12 Sistema a ser analisado.

Na Fig. (12.12) é apresentado o diagrama de corpo livre do sistema analisado.


Aplicando as equações de equilíbrio de corpo rígido a este sistema estrutural,
_ _
determinam-se as ações normais às áreas A2 e A3 , as quais são Fy e Fx respectivamente.

Assim:

Capítulo 12 – Tensão e Deformação Médias___________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 240

_
3 _

F  0  Fx  600   0  Fx  360 N
x
5
_
4 _

 Fy  0  Fy  600  5  0  Fy  480 N
Portanto, na interface que contém a área A2 , a tensão normal média é dada por:
480
m   160 N
2 1, 5 cm 2

Já na interface que contém a área A3 , a tensão normal média é dada por:


360
m   240 N
1 1, 5 cm 2

Na interface que contém a área A1 , o esforço é transmitido por meio de tensões

de cisalhamento. Assim, a tensão de cisalhamento média atuante sobre a área A1 é dada


por:
360
m   80 N
3  1, 5 cm 2

12.5 – Deformação Normal Média e Distorção Média

Quando uma ação externa é aplicada a um corpo deformável, este tende a alterar
sua forma inicial. A mudança de forma deste corpo, a qual é provocada pela variação
dos deslocamentos dos pontos que o compõe, como mostra a Fig. (12.13), é denominada
deformação. As deformações são observadas experimentalmente podendo ser de grande
magnitude, como em elásticos, ou mesmo imperceptíveis como nas edificações.

Figura 12.13 Configuração não deformada e deformada de um corpo.

Capítulo 12 – Tensão e Deformação Médias___________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 241

As deformações podem ser normais ou distorções segundo a solicitação atuante


sobre a estrutura. A deformação normal está associada ao alongamento ou encurtamento
do elemento considerado. Assumindo que o elemento analisado seja infinitesimal de
comprimento dl , como mostrado na Fig. (12.14), a deformação normal,  , pode ser
definida, matematicamente como:


 dl   dl   dl  
 dl
(12.5)
dl dl

Figura 12.14 Deformação normal, alongamento.

Portanto, a deformação normal pode ser definida por meio da variação do


comprimento do elemento dividida por seu comprimento inicial. Conforme apresentado
na Eq.(12.5), a deformação normal é uma grandeza adimensional.
Já a deformação distorcional, ou simplesmente distorção, está associada à
distorção dos elementos que compõem a estrutura. Assumindo, novamente, que a
análise seja efetuada com um elemento de dimensões infinitesimais, como mostrado na
Fig. (12.15), a distorção é determinada com base na variação do ângulo entre duas
arestas do elemento infinitesimal analisado.

Figura 12.15 Distorção.

Capítulo 12 – Tensão e Deformação Médias___________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 242

Considerando que as arestas estejam inicialmente perpendiculares, a distorção, ,


é definida como:

  (12.6)
2
Como  é dada por meio de uma variação angular, sua unidade de medida é
radianos.

12.5.1 – Exemplo 4

A Fig. (12.16) mostra um elemento retangular deformado após a atuação de


ações externas. Com base em sua configuração deformada, determine a distorção neste
elemento, a deformação normal ao longo da aresta AD e a deformação normal ao longo
da diagonal do elemento que une os pontos DB.

Figura 12.16 Elemento Deformado.

A distorção é dada pela variação angular das arestas do elemento após a atuação
dos carregamentos externos, Eq.(12.6). Como o elemento considerado deforma-se
angularmente ao longo de suas arestas AD e AB, a deformação  será composta por
duas variações angulares. Assim:
 2   3 
  Arctg    Arctg      1,1416 x 102 rad
 300   400 

Capítulo 12 – Tensão e Deformação Médias___________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 243

Já a deformação normal ao longo do lado AD pode ser determinada utilizando-se


a Eq.(12.5). Então:

4002  32  400
 AD    AD  2,812 x 105
400
Finalmente, a deformação normal ao longo da diagonal DB poderá também ser
calculada utilizando a Eq.(12.5). Assim:

 300  3   400  2 
2 2
 3002  4002
 DB    DB  6, 797 x 103
300  400
2 2

12.6 – Componentes de Tensão no Caso Tridimensional

Os problemas apresentados até o momento foram essencialmente


unidimensionais, ou seja, devido às condições de contorno e às hipóteses de modelagem
surgiram apenas uma tensão normal e uma tensão de cisalhamento na estrutura
considerada. Além disso, foi assumida variação uniforme dessas tensões nas áreas de
interesse. Porém, muitos dos problemas encontrados no cotidiano da engenharia de
estruturas não podem ser classificados como unidimensionais ou as tensões não são
uniformemente distribuídas. Nesses problemas, as tensões variam de ponto material a
ponto material que compõe a estrutura devendo, portanto, ser definidas e mensuradas
pontualmente.
Para efetuar uma representação e descrição mais precisas do comportamento das
tensões ao longo do material estrutural, deve-se determinar a distribuição dos esforços
internos para cada ponto material que compõe o corpo considerado. Para tanto, deve-se
considerar o corpo apresentado na Fig. (12.17), o qual está em equilíbrio quando
submetido a um conjunto de forças externas. Para estudar os esforços internos atuantes
nesse corpo, deve-se seccioná-lo por meio de um plano .

Capítulo 12 – Tensão e Deformação Médias___________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 244

Figura 12.17 Corpo tridimensional em equilíbrio.

Assumindo que o corpo encontra-se inicialmente em equilíbrio, conclui-se que


cada porção material que o compõe deverá estar também em equilíbrio após o
seccionamento. Portanto, separando o corpo ao longo do plano , verifica-se que as
porções inferior e superior do corpo seccionado, que estavam inicialmente em
equilíbrio, deverão permanecer em equilíbrio. Para que isso ocorra, esforços solicitantes
surgem objetivando o reestabelecimento da condição de equilíbrio. Tais esforços
solicitantes dão origem às Tensões (T), as quais nada mais são do que respostas
mecânicas do corpo às ações externas aplicadas, atuantes em cada um dos pontos
materiais que compõem o plano de secção.
Considerando que as tensões variam pontualmente, a condição de equilíbrio será
reestabelecida pela somatória das respostas mecânicas de cada ponto material do corpo,
como mostrado na Fig. (12.18).

Figura 12.18 Surgimento das tensões.

Capítulo 12 – Tensão e Deformação Médias___________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 245

Assim, tomando um ponto P localizado sob o plano , pode-se determinar sua


contribuição, em termos de força F , para o equilíbrio por meio da Eq.(12.7).
F  T A (12.7)
onde A é a área de atuação das tensões T.
Desta forma, pode-se definir a tensão atuando em um ponto como sendo “a
intensidade da força, por unidade de área, atuante em uma dada área de referência”.
Matematicamente a tensão atuante em um ponto pode ser definida como:
F
T  lim (12.8)
A0 A

Deve-se observar que a tensão depende da intensidade da força F e também da


orientação desta em relação à área A considerada. Lembrando que a tensão pode ser
classificada como normal ou de cisalhamento se a força estiver orientada de maneira
normal ou paralela a área considerada, respectivamente.
Como as tensões atuantes em um dado ponto dependem do plano (área) de
referência considerado, normal ou paralelo, não se pode dizer que as componentes de
tensão descritas até agora definam o estado de tensão em um ponto. De forma a definir
o estado de tensão em um ponto, deve-se considerar o corpo apresentado na Fig.
(12.19), no qual isola-se um ponto e atribui-lhe dimensões infinitesimais.

Figura 12.19 Corpo em equilíbrio. Análise da tensão em um ponto.

A partir deste elemento infinitesimal, que representa o ponto em análise, pode-se


definir o estado de tensão escrevendo-se três componentes de tensão para cada uma de
suas faces, como mostrado na Fig.(12.20). Sobre cada uma das faces do elemento atuam
uma tensão normal e duas tensões de cisalhamento. As tensões normal e de
cisalhamento são definidas pelas letras gregas  e  , respectivamente.
Na nomenclatura das tensões são empregados dois índices. O primeiro deles
refere-se à orientação do vetor normal ao plano onde a tensão considerada atua. O
segundo índice indica o eixo no qual a tensão está orientada. Assim, a tensão  xy indica

Capítulo 12 – Tensão e Deformação Médias___________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 246

uma tensão de cisalhamento que atua em um plano cujo vetor normal está orientado ao
longo do eixo x. Além disso, esta tensão está orientada ao longo do eixo y.

Figura 12.20 Estado de tensão em um ponto.

As tensões são consideradas positivas quando o sinal de seus dois índices forem
ambos positivos ou negativos. Assim, se o vetor normal ao plano onde a tensão
considerada atua estiver orientado no sentido positivo de um eixo coordenado e, além
disso, a tensão estiver também orientada ao longo do sentido positivo do outro eixo
coordenado, a tensão será positiva. A tensão será também positiva se o vetor normal ao
plano considerado e a tensão estiverem ambos orientados ao longo do sentido negativo
dos referidos eixos coordenados. Para casos contrários aos descritos neste parágrafo, a
tensão será negativa. Como exemplo, todas as tensões ilustradas na Fig. (12.20) são
positivas.
Ao longo de cada uma das faces do elemento infinitesimal que representa o
ponto em análise atuam três tensões. Assim, existem dezoito componentes de tensão que
definem o estado de tensão no ponto. Porém, na ausência de forças de corpo (como o
peso próprio, por exemplo), essas componentes devem estar relacionadas entre si para
que a condição de equilíbrio seja verificada. Para mostrar a relação entre as
componentes de tensão, deve-se aplicar o princípio da superposição dos efeitos, o qual
foi discutido no capítulo 1. Assim, o estado de tensão mostrado na Fig. (12.20) será
decomposto em dois: no primeiro, apenas tensões normais atuam e no segundo deles
apenas tensões de cisalhamento estarão presentes. Para mostrar a relação existente entre
as tensões normais, deve-se considerar o primeiro caso, onde apenas tensões normais
estão presentes no ponto em análise. Nessa situação, o estado de tensão mostrado na
Fig. (12.20) pode ser modificado para o apresentado na Fig. (12.21). Para que esse

Capítulo 12 – Tensão e Deformação Médias___________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 247

elemento esteja em equilíbrio, a somatória de forças ao longo das direções x, y e z deve


ser nula.

Figura 12.21 Elemento infinitesimal submetido a tensões normais.

Impondo esta condição, pode-se, primeiramente, efetuar a somatória das forças


ao longo da direção x. Assim:

F x  0   x y z   x' y z  0   x   x' (12.9)

Analogamente, pode-se efetuar o equilíbrio de forças ao longo das direções y e z.


Por meio desses equilíbrios, os quais serão omitidos aqui por simplicidade, pode-se
concluir que:
 y   y' ;  z   z' (12.10)

Portanto, das seis tensões normais atuantes no ponto em análise, verifica-se que
conhecendo-se apenas três delas é possível definir o estado de tensão normal do ponto.
Para a análise da dependência entre as tensões de cisalhamento, o princípio da
superposição dos efeitos será novamente aplicado. Assim, as tensões de cisalhamento
atuantes nos planos xy, xz e yz serão consideradas separadamente. Os elementos
infinitesimais contendo as tensões de cisalhamento nos planos mencionados estão
apresentados na Fig. (12.22). Considerando o primeiro elemento desta figura, o
equilíbrio de forças ao longo do eixo x conduz a:

F x  0   yx xz   yx' xz  0   yx   yx' (12.11)

Efetuando equilíbrio semelhante para os demais elementos apresentados na Fig.


(12.22), o qual será omitido por simplicidade, pode-se facilmente concluir que:
 xy   xy' ;  xz   xz' ;  zx   zx' ;  yz   yz' ;  zy   zy' (12.12)

Capítulo 12 – Tensão e Deformação Médias___________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 248

Figura 12.22 Elementos infinitesimais submetidos a tensões de cisalhamento.

Para que a condição de equilíbrio de um corpo seja verificada, além da


somatória das forças, a somatória dos momentos em relação a qualquer ponto do espaço
deve ser também nula. Assim, considerando o primeiro elemento infinitesimal
apresentado na Fig. (12.22), a somatória dos momentos em torno do eixo z conduz a:
x ' x y ' y
M z  0   xy yz
2
  xy yz   yx xz
2 2
  yx xz
2
 0 (12.13)

Simplificando a Eq.(12.12) obtém-se:


 xy   xy'   yx   yx'  0 (12.14)

Utilizando os resultados obtidos nas Eq.(12.11) e Eq.(12.12) têm-se:


 xy   xy   yx   yx  0   xy   yx (12.15)

De forma análoga, impondo a condição de somatória nula de momentos para os


demais elementos mostrados na Fig. (12.22), pode-se facilmente concluir que:
 xz   zx ;  yz   zy (12.16)

Portanto, as componentes de tensão em um ponto, que dão origem ao estado de


tensão, compõem um tensor, o qual pode ser representado como mostra a Eq.(12.17).
 x  xy  xz 
 
 xy  y  yz  (12.17)
 xz  yz  z 
 
Portanto, apesar de existirem 18 componentes de tensão em um ponto, o estado
de tensão é caracterizado conhecendo-se apenas 6 delas. O estado de tensão é
representado por meio de um tensor simétrico, como mostra a Eq.(12.17).

Capítulo 12 – Tensão e Deformação Médias___________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 249

12.6.1 – Exemplo 5

Um dado ponto material de um corpo possui o estado de tensão mostrado a


seguir. Determine as componentes de tensão representadas pelo ponto de interrogação.
10 ? 9 
 3 2 ?
 
 ? 6 1 

Com base na Eq.(12.17) verifica-se que o tensor de tensões, para um corpo de


propriedades mecânicas isótropas, é simétrico. Portanto, o tensor de tensões para o caso
em questão é o mostrado abaixo.
10 3 9 
 3 2 6
 
 9 6 1 

12.7 – Componentes de Deformação no Caso Tridimensional

Conforme apresentado no item 12.10, as tensões no interior de corpos variam de


ponto a ponto. Assim, como existe uma correspondência entre tensões e deformações,
as deformações variarão também de ponto para ponto. As Fig. (12.23) e Fig. (12.24)
ilustram a atuação das deformações normal e distorção, respectivamente.

Figura 12.23 Deformação normal.

Matematicamente, as deformações normais podem ser determinadas com base


na razão entre a variação do comprimento do elemento analisado e seu comprimento

Capítulo 12 – Tensão e Deformação Médias___________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 250

inicial (ver item 12.8). Assumindo que o deslocamento do corpo apresentado na Fig.
(12.23) tenha ocorrido na direção x, sua deformação normal pode ser calculada como:
dl   dl  dl  dl  dx
x   x   x  (12.18)
dl dl dx
De forma análoga, pode-se definir as componentes da deformação normal
atuantes ao longo das direções y e z como:
 dy  dz
y  z  (12.19)
dy dz
Com relação às distorções, estas são determinadas com base na variação do
ângulo de duas arestas que compõem o elemento de dimensões infinitesimais
representativo do ponto antes e depois da deformação (ver item 12.5). Considerando que
as arestas estejam inicialmente perpendiculares, como mostrado na Fig. (12.24), a
distorção, , é definida como:

  (12.20)
2

Figura 12.24 Distorção.

Considerando ainda que o plano que contém o elemento mostrado na Fig.


(12.24) seja o xy, a distorção mostrada é a  xy . De maneira análoga, as distorções

atuantes nos planos xz e yz dão origem às  xz e  yz , respectivamente. De forma a

uniformizar a notação das deformações, pode-se definir as seguintes variáveis:


 xy  xz  yz
 xy   xz   yz  (12.21)
2 2 2

Capítulo 12 – Tensão e Deformação Médias___________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 251

Assim, as deformações podem ser representadas por meio de um tensor, como


mostra a equação seguinte:
  xy  xz 
x  x 2 2
 xy  xz    yz 
    xy  y  yz 

    xy 2
  y 
2
(12.22)
 xz 
  yz  z    xz  yz 
 2 2
z 
 
Deve-se lembrar que, embora não demonstrado nesse texto, a relação
 ij   ji com i, j  x, y, z é válida. Tal relação pode ser intuitivamente percebida com
base no conteúdo apresentado durante o estudo das componentes de tensão.
As deformações são representadas por meio de um tensor simétrico, Eq.(12.22).
Assim como nas tensões, o estado de deformação é definido se seis componentes de
deformação forem conhecidas.

Capítulo 12 – Tensão e Deformação Médias___________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 252

13. – Propriedades dos Materiais e Lei de Hooke

13.1 – Introdução

Quando um corpo deformável é submetido a um dado conjunto de ações


externas, os pontos materiais desse corpo deslocam-se diferencialmente gerando
deformação. Sendo assim, pode-se perguntar se existe alguma relação entre os
carregamentos aplicados, ou as tensões que este gera, e as deformações no corpo.
Muitas vezes o conhecimento sobre o comportamento mecânico de um dado material é
necessário para a verificação quanto a sua adequação em um determinado sistema
estrutural.
As propriedades relacionadas à resistência mecânica dos materiais podem ser
determinadas por meio de ensaios experimentais, dentre os quais o de tração uniaxial é
um dos mais utilizados. Outros testes podem também ser aplicados, como aqueles
frequentemente necessários na análise de solos, sendo normatizados pela ASTM
(American Society of Testing and Materials). Em um ensaio de tração uniaxial, o
objetivo central é a determinação da relação entre a tensão normal média e a deformação
normal média do material para diferentes níveis de solicitação. Para a realização desse
ensaio, utiliza-se um corpo de prova padronizado, o qual depende do material. Em
seguida, são medidas, por meio de extensômetros, as deformações em um ponto
suficientemente distante das extremidades. Isso ocorre pelo fato de, nos extremos, o
estado de tensão não ser uniforme devido à presença das garras que seguram o corpo de
prova. Em outras palavras, nessas regiões o princípio de Saint-Venant não é atendido. A
intensidade do carregamento imposto é conhecida uma vez que ela é aplicada por um
equipamento hidráulico, sendo documentada a cada incremento. Esse equipamento é
provido de juntas de rotação nos extremos para que seja aplicada uma tração uniforme,
sem efeitos de flexão.

Capítulo 13 – Propriedades dos Materiais e Lei de Hooke________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 253

A partir dos dados obtidos no ensaio de tração, é possível a determinação dos


vários pares de valores de tensão e deformação no corpo de prova e finalmente a
construção de um gráfico com esses resultados. A curva resultante é chamada de
diagrama tensão-deformação.
Usualmente, esse diagrama é mostrado na sua forma convencional, também
denominado de diagrama tensão-deformação convencional, usando a tensão nominal ou
de engenharia. Essa tensão é obtida dividindo-se a força aplicada, F, pela área da seção
transversal inicial do corpo de prova, A0 . Assim:

F
 (13.1)
A0
Da mesma forma, a deformação específica nominal ou de engenharia é obtida
diretamente do extensômetro elétrico, ou por meio da divisão da variação no
comprimento nominal do corpo de prova, δ, por seu comprimento nominal original, L0 .
Assim:

 (13.2)
L0

Se os pontos  i ,  i  forem representados em um gráfico, a curva resultante é

chamada de diagrama tensão-deformação convencional. Apesar de ser geral, isso é,


valer para outros materiais, deve-se salientar que a presença da variabilidade no
processo de produção dos materiais torna praticamente impossível a obtenção de
resultados iguais, para o mesmo material, em ensaios consecutivos.

13.2 – Diagrama Tensão x Deformação Uniaxial

Considerando que o material em estudo seja o aço, uma curva   


convencional típica é apresentada na Fig. (13.1), a qual pode ser dividida em quatro
regiões.
Região 1 → região caracterizada pelo comportamento elástico. Assim, uma
estrutura nessa condição volta a sua configuração indeformada se o carregamento for
removido. Nessa região, as tensões são linearmente relacionadas às deformações até
   lp . A variável  lp é conhecida como limite de proporcionalidade. Para tensões

Capítulo 13 – Propriedades dos Materiais e Lei de Hooke________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 254

entre  lp e  E , essa última denominada de tensão de escoamento, ainda observa-se

regime elástico. Porém, nesse trecho a curva tende a se arquear não sendo mais linear.
Deve-se mencionar que  lp é de difícil determinação experimental, sendo, portanto,

muitas vezes, inferido como uma porcentagem de  E . Deseja-se que as estruturas sejam
dimensionadas para atuarem nesta região. Assim, as deformações presentes serão
elásticas, ou seja, recuperáveis e não permanentes. Para aços de utilização corrente, a
tensão de escoamento varia no intervalo de 250 MPa a 600 MPa.

Figura 13.1 Diagrama Tensão x Deformação de engenharia e real.

Região 2 → a região 2 é caracterizada por uma acomodação dos cristais que


compõem o material, a qual gera deformações permanentes. Essa região é conhecida por
escoamento. Uma carga que provoque uma tensão maior que  E causará deformações
denominadas plásticas, as quais são permanentes, provocando mudanças permanentes
nas propriedades do material. Nessa região, as deformações crescem sem aumento
significativo da tensão.

Capítulo 13 – Propriedades dos Materiais e Lei de Hooke________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 255

Região 3 → após o trecho de escoamento, a estrutura interna do material fica


organizada de forma diferente, resultado da acomodação dos cristais e compactação da
microestrutura interna do material, gerando assim a região 3. Nessa região o material
suporta um acréscimo no nível de tensão até que este alcance  r conhecido por tensão

última. O acréscimo da tensão nessa região é conhecido como encruamento ou


hardening.
Região 4 → A região 4 é conhecida como estricção. Nesse trecho ocorre a
localização da deformação em um dado ponto do corpo de prova. Nesse ponto
particular, a área da seção transversal diminuirá até ocorrer a ruptura com a tensão igual
a  rup (tensão de ruptura). O ponto onde ocorre a ruptura é denominado de ponto de

estricção, ou seja, o ponto onde a seção transversal foi progressivamente reduzida.


Outra maneira de expressar o diagrama    requer a utilização dos valores
verdadeiros de tensão e deformação, os quais conduzem a construção do diagrama
tensão-deformação verdadeiro. Como discutido anteriormente, constata-se que em todas
as regiões, e de forma mais acentuada nas regiões 3 e 4, a área da seção transversal da
barra vai sendo progressivamente reduzida. Assim, de acordo com a expressão da tensão
normal média,  m  N A , é de se esperar que a tensão normal aumente mais
acentuadamente nessas duas regiões, devido à redução da área da seção transversal.
Portanto, calculando a tensão em cada incremento de carga considerando a área da seção
transversal verdadeira, tem-se o diagrama    verdadeiro. Esse diagrama é
caracterizado pela curva cinza, ilustrada na Fig. (13.1), que concorre ao ponto  rup
'
,o

qual é denominado de tensão de ruptura real. Assim como as tensões, as deformações


são também calculadas com base no comprimento verdadeiro do corpo de prova LR , ou

seja,    . Portanto, o diagrama tem esse nome, por utilizar os valores verdadeiros,
LR
ou reais, das grandezas  e  .
Existem outros materiais que apresentam diagramas    diferentes do
mostrado na Fig. (13.1). Como exemplo, citam-se os materiais dúcteis (como alguns
tipos de aços) e tipos de borracha (comportamento elástico não linear). Esses diagramas
característicos são mostrados na Fig. (13.2).
Com base nas representações mostradas nas Fig. (13.1) e Fig.(13.2), verifica-se
que de acordo com o material tem-se um diagrama    característico. Na verdade,

Capítulo 13 – Propriedades dos Materiais e Lei de Hooke________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 256

esses diagramas dependem da microestrutura interna do material, sendo que a análise


micro estrutural é desenvolvida pela ciência dos materiais.

Figura 13.2 Diagramas    para outros tipos de materiais.

Outro material de grande interesse e utilização na engenharia de estruturas é o


concreto. Esse material é não homogêneo e seu comportamento mecânico é descrito por
meio da complexa interação entre os componentes de sua microestrutura interna. Seu
diagrama    unidimensional pode ser visualizado na Fig.(13.3). É do conhecimento
dos engenheiros que o concreto comporta-se mecanicamente de forma diferente a
solicitações de tração e compressão. Esse material tem resistência uniaxial maior à
solicitações de compressão do que à solicitações de tração (aproximadamente dez vezes
maior). A queda de resistência do concreto deve-se ao processo de crescimento de
fissuras nesse material. Primeiro, na interface entre agregado e pasta, e depois na pasta
(pode ser que o agregado se rompa dependendo do tipo de agregado).
Esse material apresenta comportamento mecânico não linear. Até 30% de  uc o

material pode ser considerado como elástico linear. Depois desse ponto, deformações
permanentes surgirão no material em decorrência do processo de propagação de
fissuras. Depois do ponto  uc , tem-se uma região denominada amolecimento (softening)
onde as deformações aumentam mesmo reduzindo-se a carga aplicada (na verdade nesse
trecho as fissuras representam uma considerável parcela da seção transversal. Assim, a
seção diminui nesse trecho. Tem-se uma equivalência com a região 4 do diagrama do
aço).

Capítulo 13 – Propriedades dos Materiais e Lei de Hooke________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 257

Na tração o comportamento é semelhante, porém o trecho de amolecimento é


menos acentuado. Para mais detalhes, sugere-se que o leitor busque livros de mecânica
dos materiais que abordem microestruturas dos materiais.

Figura 13.3 Diagramas    para o concreto.

13.3 – O Coeficiente de Poisson

Quando um corpo deformável é submetido a uma força axial trativa, ele não
apenas será alongado longitudinalmente, mas também contraído transversalmente. Para
compreender este fenômeno, deve-se, inicialmente, considerar um material facilmente
deformável. Constata-se que estirando-o, sua seção transversal contrairá, como mostra a
Fig. (13.4). Analogamente, se o mesmo corpo for comprimido axialmente, sua seção
transversal será estendida.

Figura 13.4 Efeito da deformação lateral.

Capítulo 13 – Propriedades dos Materiais e Lei de Hooke________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 258

Com base nas ilustrações apresentadas na Fig. (13.4), verifica-se que, quando a
barra é estirada, ela aumenta seu comprimento de um valor  e sua seção transversal é
contraída de um valor   . O mesmo ocorre para a barra comprimida, porém seu
comprimento é reduzido em  e sua seção transversal é aumentada em   .
Assim, as deformações normais longitudinal (direção axial) e transversal
(direção transversal) podem ser expressas por:
 
 long  e  transv  (13.3)
L r
Por volta dos anos de 1800, o pesquisador francês Poisson constatou que quando
o material é solicitado no domínio elástico (região 1) a relação entre essas deformações
é uma constante, uma vez que as elongações  e   são proporcionais. Isso ocorre
porque nessa região as tensões e deformações são linearmente dependentes. Essa
constante, conhecida como coeficiente de Poisson (  ), possui um valor numérico único
para um material homogêneo e isótropo. Matematicamente, esse coeficiente pode ser
assim definido:
 transv
  (13.4)
 long
O sinal negativo é utilizado tendo em vista que uma elongação longitudinal
(deformação específica positiva) gera uma contração transversal (deformação específica
negativa) e vice-versa. Para os aços de utilização corrente em engenharia, o valor do
coeficiente de Poisson é igual a 0,33 (1/3), enquanto para os concretos, este valor
depende da proporção entre os agregados estando, normalmente, dentro do intervalo
0,15 a 0,20.

13.4 – Lei de Hooke

Muitos materiais utilizados no campo da engenharia apresentam dependência


linear entre  e  na região elástica, região 1 do diagrama apresentado na Fig. (13.1).
Portanto, um aumento na tensão normal gera um aumento proporcional na deformação
normal. Esse fato foi descoberto por Robert Hooke em 1676 (quando este efetuava
experimentos em molas) e deu origem a conhecida Lei de Hooke, a qual pode ser
matematicamente expressa como:

Capítulo 13 – Propriedades dos Materiais e Lei de Hooke________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 259

  E (13.5)
Na Eq.(13.5), a variável E representa a constante de proporcionalidade entre  e
 , sendo conhecida como Módulo de Elasticidade Longitudinal ou Módulo de Young
(após Thomas Young ter publicado alguns estudos sobre ele em 1807). Deve-se ressaltar
que a Eq.(13.5) representa realisticamente o comportamento mecânico do material
apenas na parte inicial da curva    , ou seja, até o limite de proporcionalidade. Além
disso, deve-se perceber que o parâmetro E está associado à inclinação da reta    nessa
região. Assim:
p
E (13.6)
p
onde p indica proporcionalidade.
O módulo de elasticidade longitudinal é uma propriedade mecânica de cada
material. Para os aços de utilização corrente, seu valor é igual a Eaço=200 GPa. Já para
os concretos, esse valor é da ordem de Econc=25 GPa, uma vez que este valor depende da
dosagem utilizada.

13.5 – Relação Tensão x Deformação ao Cisalhamento

No início deste capítulo foi discutido o ensaio de tração (compressão) uniaxial


de um elemento estrutural. Foi visto que o corpo alonga-se (comprime-se) e que sua
seção transversal diminui (aumenta). Além disso, foi apresentada a Lei de Hooke, a qual
associa tensões às deformações normais. Foi definido que para a região elástica essas
grandezas estão relacionadas por meio de uma propriedade do material conhecida como
módulo de elasticidade longitudinal, E. Porém, o que ocorre quando o ensaio de
caracterização do material é repetido aplicando não mais uma tração ou compressão
simples, mas sim um estado de cisalhamento puro?
Sabe-se que as tensões de cisalhamento estão diretamente relacionadas às
distorções. Assim, em um ensaio de cisalhamento puro, ou mesmo em um ensaio de
torção pura, as grandezas obtidas serão  e γ. Existem procedimentos normatizados
para a realização de tais ensaios. Dentre estes, destaca-se um conhecido procedimento
em que o estado de cisalhamento puro é induzido por meio da aplicação de uma torção
pura ao corpo de prova. Toma-se um tubo de parede fina e aplica-se um momento de

Capítulo 13 – Propriedades dos Materiais e Lei de Hooke________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 260

torção. Em seguida mede-se o ângulo de giro resultante, o qual permite a determinação


da relação entre  e γ. Na Fig. (13.5) é apresentado um diagrama  e γ característico
para aços de utilização corrente em engenharia.
Analogamente ao ensaio de tração uniaxial, o material, quando sujeito a um
estado de cisalhamento puro, apresentará comportamento elástico linear até que o nível
de tensão atinja o limite de proporcionalidade  p . A fase de encruamento será também

observada. Essa região engloba as tensões no intervalo entre  p e a tensão cisalhante

última,  u . Finalmente, o material gradativamente perderá sua resistência ao

cisalhamento, quando este atinge a tensão de ruptura,  R , e a deformação de ruptura,

 R . Deve-se ressaltar a presença de uma fase elástica no diagrama apresentado na Fig.


(13.5). É desejável que as estruturas sejam projetadas levando-se em consideração o fato
de os materiais que a compõem serem solicitados a níveis de tensão que não
ultrapassem o limite elástico. Isso é necessário para evitar o surgimento de deformações
permanentes na estrutura, as quais inviabilizarão sua utilização.

Figura 13.5 Diagrama  x  para aços de utilização corrente.

Como observado no diagrama apresentado na Fig. (13.5), o trecho que envolve o


comportamento elástico é também linear. Assim, a Lei de Hooke para as tensões de
cisalhamento pode ser escrita como:
  G (13.7)

Capítulo 13 – Propriedades dos Materiais e Lei de Hooke________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 261

onde G é denominado de Módulo de Elasticidade transversal.


O módulo de elasticidade transversal é dado pela inclinação da reta
compreendida entre a origem e o ponto  p ,  p  . Assim como o módulo de elasticidade

longitudinal, E, G é uma propriedade do material sendo mensurada por meio de unidade


de tensão.
Utilizando os conhecimentos da teoria da elasticidade, é possível determinar
uma relação entre E e G para materiais homogêneos e isótropos. Essa relação é
mostrada na Eq.(13.8).
E
G (13.8)
2 1   

Essa relação será de grande utilidade na resolução dos problemas que serão
discutidos neste texto.

13.6 – Exemplo 1

Uma barra de diâmetro D0 = 25 mm e comprimento inicial L0 = 250 mm está


submetida a um ensaio de tração. Sabendo que uma força de 165 kN alonga seu
comprimento em 1,20 mm, calcule o módulo de elasticidade longitudinal do material e a
contração do diâmetro da barra. Sabe-se que G = 26 GPa e  p  440MPa . Em seguida,

determine a tensão normal verdadeira atuante no corpo de prova.


Para que a determinação do módulo de elasticidade longitudinal da barra seja
efetuada, deve-se, inicialmente, verificar se a barra encontra-se no regime elástico.
Nessa situação a tensão normal atuante deve ser menor que o limite de
proporcionalidade. Assim, utilizando a Eq.(13.1) tem-se:
N 165
    336135 kN 2  336,135MPa   p
   0, 025 
2
A m
4
Portanto, a barra encontra-se no regime elástico. Assim, a deformação normal na
barra pode ser calculada como:
 1, 20
   0, 00480
L0 250

Capítulo 13 – Propriedades dos Materiais e Lei de Hooke________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 262

O módulo de elasticidade longitudinal pode ser determinado empregando-se a lei

de Hooke. Portanto:
 336,1
E   70020 MPa  70GPa
 0, 0048
A contração no diâmetro da barra, devido à tração atuante, pode ser calculada
utilizando o coeficiente de Poisson. Para esse material,  pode ser determinado por
meio da Eq.(13.8). Assim:
E 70
G  26     0,346
2 1    2 1   

Sabendo que as deformações lateral e longitudinal estão relacionadas através da

Eq.(13.4) tem-se:
 trans  trans
   0,346     trans  0, 00166
 long 0, 0048

Assim a contração será:



 trans      0, 00166  25     0, 0415mm
D0
Com base na contração do diâmetro do corpo de prova determinado
anteriormente, pode-se calcular o valor do diâmetro verdadeiro. Assim:
Dver  D0     Dver  25  0, 0415  Dver  24,9585 mm
Em seguida, o valor da tensão normal verdadeira pode ser assim calculado:
N 165
    337263 kN 2  337, 263 MPa
   0, 0249585 
2
A m
4
A diferença entre as tensões calculadas considerando as situações indeformada e
deformada pode ser assim mensurada:
336,135
1  0, 0033  0, 33%
337, 263
A diferença encontrada é muito pequena. Portanto, em aplicações práticas, pode-
se analisar estruturalmente o corpo em sua configuração indeformada sem perdas
significativas de representatividade.

Capítulo 13 – Propriedades dos Materiais e Lei de Hooke________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 263

14. – Barras Carregadas Axialmente

14.1 – Deslocamentos em Estruturas Carregadas Axialmente

A partir dos conceitos apresentados nos capítulos 12 e 13, onde tensões médias,
deformações médias e a lei de Hooke foram tratadas, pode-se formular um problema
envolvendo a análise mecânica de estruturas onde a determinação dos deslocamentos de
barras axialmente carregadas seja o foco. A determinação dos deslocamentos nessas
estruturas permite uma interessante aplicação estrutural, a qual está relacionada à
determinação de esforços solicitantes em estruturas hiperestáticas compostas por
elementos de barras simples.
Para formular o problema em questão, deve-se considerar a barra simples
mostrada na Fig. (14.1), a qual é solicitada por um carregamento distribuído paralelo ao
seu eixo, cuja intensidade seja igual a p  x  .

Figura 14.1 Elemento de barra axialmente carregado.

Assumindo que o elemento de barra considerado esteja em equilíbrio sob a ação


dessas condições de vinculação e carregamento, pode-se seccionar a estrutura e analisar
os efeitos do carregamento sobre uma fatia de comprimento infinitesimal dx. O

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 264

elemento infinitesimal considerado, assim como o esforço normal atuante, estão


apresentados na Fig. (14.2).

Figura 14.2 Deslocamento do elemento axialmente carregado.

Conforme mostrado na Fig.(14.2), verifica-se que a condição de equilíbrio é


atendida no elemento analisado. Porém, observa-se um alongamento do elemento
devido à ação do esforço solicitante normal atuante. Com base nos conceitos
apresentados no capítulo 12, sabe-se que a tensão normal média e a deformação normal
N  x
média são calculadas por  m  e   d
A dx , respectivamente. Portanto, para o
problema analisado, pode-se utilizar a lei de Hooke para a obtenção de uma expressão
que relacione o esforço normal atuante, N  x  , ao deslocamento da barra, d . Assim, a

lei de Hooke pode ser reescrita utilizando estas considerações da seguinte maneira:
N  x d N  x
E  d  dx (14.1)
A dx EA
Portanto, o deslocamento axial relativo entre as extremidades consideradas da
barra pode ser obtido integrando a Eq.(14.1) ao longo do comprimento considerado da
barra. Assim:
L
N  x
  dx (14.2)
0
EA

Deve-se ressaltar que em diversas aplicações de engenharia, os elementos


estruturais podem apresentar variação nas dimensões de sua seção transversal ao longo
de seu comprimento. Isso faz com que o termo representativo da área da seção
transversal, A, dependa também do comprimento da barra, x, o que deve ser levado em
consideração na integração da Eq.(14.2).

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 265

Por outro lado, em outras tantas aplicações de engenharia, como nas estruturas
de treliça (planas ou tridimensionais), tanto o esforço normal quanto a área da seção
transversal não apresentam variação em relação ao comprimento do elemento. Portanto,
essas grandezas são constantes em relação ao comprimento do elemento, facilitando
sobremaneira a avaliação da Eq.(14.2). Nessas condições, a Eq.(14.2) transforma-se em
uma somatória, uma vez que envolve apenas termos constantes ao longo do
comprimento da barra. Assim, para essas estruturas tem-se:
NL
 (14.3)
AE

14.1.1 – Exemplo 1

Nesse exemplo, deve-se calcular o deslocamento horizontal do ponto A sabendo


que a barra mostrada na Fig. (14.3) está submetida a duas forças axiais pontuais de
intensidades iguais a 6,0 kN, ponto B, e 18,0 kN no ponto A. Esta estrutura é composta
por dois diferentes materiais, cujos módulos de elasticidade longitudinais são iguais a:
ECB  200GPa e EBA  70GPa . Esta barra possui seção transversal circular maciça de
diâmetro igual a 12 mm.

Figura 14.3 Estrutura a ser analisada.

Sabendo que a seção transversal da barra é circular maciça, sua área pode ser
determinada por meio da seguinte equação:

A    6 103   1,131104 m2
2

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 266

Para a determinação dos deslocamentos axiais da estrutura, deve-se determinar a


variação dos valores do esforço normal atuante ao longo do comprimento da barra. Para
tal fim, deve-se construir o diagrama de esforço normal da barra, o qual está
apresentado na Fig. (14.4).

Figura 14.4 Diagrama de esforço normal.

A variação do esforço normal apresentada na última equação decorre da


ausência de forças distribuídas ao longo do comprimento da barra, conforme prevê as
relações diferenciais. Assim, pode-se determinar o deslocamento relativos entre as
extremidades dos trechos considerados utilizando a Eq.(14.3). Portanto:
12  3
 BCB  4
 1,5915 103 m
200 10 1,13110
6

18  2
 ABA   4,5471 103 m
70 10 1,131104
6

 A   BCB   ABA  6,1387 103 m 


O sinal positivo para os deslocamentos calculados indica que tais trechos sofrem
alongamentos. Assim, como a barra está presa em sua extremidade esquerda, constata-
se que o deslocamento do ponto A é horizontal para a direita, conforme destaca a seta
posicionada ao lado do valor do alongamento.

14.1.2 – Exemplo 2

Além da importância por si só do conhecimento dos deslocamentos nas


estruturas compostas por elementos de barra simples, para a verificação de estados
limites de utilização, a determinação dessa grandeza permite a resolução de problemas
estaticamente indeterminados. Nesses tipos de problemas, a equação decorrente do
deslocamento fornece uma condição de compatibilidade, a qual deve ser atendida para a
solução do problema.

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 267

Para ilustrar a aplicação da equação do deslocamento axial na resolução de


problemas estaticamente indeterminados, deve-se determinar as reações de apoio axiais
da estrutura mostrada na Fig. (14.5). Trata-se de uma barra onde atua uma força
concentrada de intensidade igual a 20 kN sobre o ponto B. A barra possui seção
transversal circular maciça de diâmetro igual a 5,0 mm. Além disso, existe um espaço
(folga) entre o ponto C e o anteparo que impede o deslocamento axial do extremo direito
da barra (apoio). Sabendo que o módulo de elasticidade longitudinal da barra é igual a
E  200GPa , e que sob a ação do carregamento aplicado o contato entre o ponto C e o
anteparo existe, determine as reações de apoio da estrutura.

Figura 14.5 Estrutura a ser analisada.

Como o diâmetro da barra é igual a 5,0 mm, a área da seção transversal pode ser
determinada da seguinte forma:
A   2,52  A  19,63mm2  A  19,63 106 m2
Sabendo que o contato entre o ponto C e o apoio existe, o diagrama de corpo
livre do sistema pode ser construído, o qual é apresentado na Fig. (14.6). Deve-se
enfatizar que os sentidos das reações FA e FC foram arbitrados, sendo seu sentido
correto verificado ao final da resolução, com base no sinal algébrico obtido para cada
uma dessas forças.

Figura 14.6 Diagrama de corpo livre.

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 268

Com base no diagrama de corpo livre mostrado na Fig. (14.6) a seguinte equação
de equilíbrio pode ser escrita:

F x  0   FA  20  FC  0  FA  FC  20 (14.4)

Sabendo que o contato entre o ponto C e o apoio ocorre, verifica-se que a


condição de compatibilidade para o problema prevê que o deslocamento da barra deve
ser igual à folga existente, ou seja, igual a 1,0 mm. Sabendo que o esforço normal no
trecho AB é igual a FA e no trecho BC igual a  FC , pode-se calcular a condição de
compatibilidade da seguinte maneira:
FA  0, 400  FC  0,800
 AC  6
 6
 1103
200 10 19,63 10
6
200 10 19, 63 10
6
(14.5)
4 4 3
1, 0188 10 FA  2, 0377 10 FC  110
Resolvendo as Eq.(14.4) e Eq.(14.5) conjuntamente obtém-se:

 1 1   FA   20   FA  16,60

1,0188 104 2,0377 104  F    3      kN
   C  110   FC   3, 40 
Como o sinal das reações de apoio determinadas por meio do sistema de
equações anterior resultou positivo, isso indica que os sentidos inicialmente arbitrados
estão corretos.

14.1.3 – Exemplo 3

O terceiro exemplo deste capítulo objetiva a determinação das reações de


apoio/forças transmitidas por cada um dos materiais que compõem a estrutura mostrada
na Fig. (14.7). Trata-se de uma coluna formada por dois materiais distintos cujos
módulos de elasticidade longitudinal são iguais a
E1  22  10 3 kN m 2 e E 2  10  10 3 kN m 2 . Essa coluna é solicitada por uma força pontual

de intensidade igual a 9,0 kN, a qual atua no sentido de comprimir a coluna. Despreze os
efeitos de concentração de tensão. A seção transversal da estrutura é circular sendo que
o material 1 está posicionado no núcleo da coluna, como indicado na Fig. (14.7).
Com base na estrutura a ser analisada, e na disposição dos materiais 1 e 2,
obtém-se o diagrama de corpo livre mostrado na Fig. (14.8). Considerando as reações
ilustradas nesta figura, a seguinte equação de equilíbrio pode ser escrita:

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 269

F y  0  F1  F2  9  0  F1  F2  9 (14.6)

Figura 14.7 Estrutura a ser analisada.

Figura 14.8 Diagrama de corpo livre.

O próximo passo a ser efetuado trata da determinação da condição de


compatibilidade do problema, a qual envolve o cálculo dos deslocamentos na estrutura.
Para que a estrutura analisada resista/transmita o carregamento aplicado
monoliticamente, ou seja, de forma que os materiais 1 e 2 resistam ao esforço
conjuntamente, a deformação normal nestes materiais deve ser igual. Além disso, o
deslocamento axial provocado pelo carregamento atuante deve ser igual nesses

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 270

materiais, uma vez que o comprimento dos materiais é igual. Assim, a condição de
compatibilidade do problema prevê que o deslocamento no ponto B, para os materiais 1
e 2, seja igual. Portanto:
 B1   B2

F1 1,50 F2 1,50
  F1  0, 7333F2  0 (14.7)
22 10     0, 01 10 10    0, 02 2    0, 012 
3 2 3

Resolvendo conjuntamente as Eq.(14.6) e Eq.(14.7) tem-se:

1 1   F1  9  F1  3,80768
1 0,7333  F   0   F   5,19232 kN
  2    2  
Com base nas reações normais determinadas acima, pode-se avaliar a tensão
normal média atuante em cada material. Para isso, deve-se aplicar a Eq.(12.1). Assim:
3,80768
 m1    m1  12120, 2218 kN
 0, 012 m2
5,19232
 m2    m 2  5509, 2226 kN
 0, 022   0, 012 m2

Verifica-se que a tensão normal média no material 2 é menor que a tensão


normal média atuante sobre o material 1. Isso se deve ao fato do material 2 possuir
maior área de seção transversal para suportar o carregamento atuante, embora atue sobre
ele a maior reação normal. Apesar das tensões normais médias resultarem valores
diferentes, um parâmetro interessante que deve ser avaliado é a deformação normal em
cada material. Aplicando a lei de Hooke obtém-se:
12120, 2218
1   1  0,55092
22 103
5509, 2226
2    2  0,55092
10 103
Isso mostra que ambos os materiais apresentam a mesma deformação normal
quando solicitados pelo carregamento externo, indicando que a coluna deforma-se
monoliticamente.

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 271

14.2 – Aplicação do Princípio da Superposição dos Efeitos. Método das


Forças

O princípio da superposição dos efeitos pode ser utilizado para a resolução de


diversos problemas envolvendo estruturas estaticamente indeterminadas, as quais são
também conhecidas como estruturas hiperestáticas. Por meio dessa abordagem,
condições de compatibilidade, escritas em termos de deslocamento, são impostas para os
pontos onde atuam as diversas vinculações hiperestáticas.
Por meio dessa metodologia, a estrutura hiperestática é transformada em uma
estrutura isostática equivalente, por meio da remoção de condições de vinculação. As
reações de apoio correspondentes às vinculações removidas são consideradas como
ações externas aplicadas. Então, os deslocamentos decorrentes dos carregamentos
externos e das reações hiperestáticas correspondentes às vinculações removidas,
vinculações hiperestáticas, são calculados para permitir a imposição das condições de
compatibilidade. Portanto, a estrutura deve ser analisada, inicialmente, considerando os
carregamentos externos atuantes e a modificação das condições de vinculação, de forma
a transformar a estrutura hiperestática em uma isostática equivalente. Nessa análise,
devem ser determinados os deslocamentos nos pontos onde as vinculações hiperestáticas
foram removidas. Em seguida, as reações de apoio hiperestáticas são aplicadas, uma a
uma, como ações externas. Assim como no caso dos carregamentos externos,
determinam-se os deslocamentos sobre os pontos onde as vinculações hiperestáticas
foram removidas. Finalmente, sobrepõem-se os deslocamentos dessas análises, de forma
a impor as condições de compatibilidade de deslocamento. Na Fig. (14.9) ilustra-se a
aplicação desse método em uma estrutura de barra onde apenas uma reação hiperestática
está presente. Deve-se ressaltar que, através dessa abordagem, a estrutura é analisada
quantas vezes forem as ações hiperestáticas presentes. No problema mostrado na Fig.
(14.9), a estrutura é analisada para o problema inicial, contendo a estrutura isostática
equivalente e o carregamento atuante. Determina-se, nessa análise, o deslocamento
correspondente à vinculação removida, . Em seguida, a estrutura é novamente
analisada considerando a aplicação da reação horizontal do apoio direito, P. Assim,
como a análise anterior, determina-se o deslocamento no ponto da vinculação removida,
’. Então, a condição de compatibilidade é escrita para o apoio direito, sobrepondo-se

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 272

esses deslocamentos, uma vez que neste ponto o deslocamento horizontal é nulo devido
à presença do apoio fixo. Assim, essa condição é expressa por:    '  0 . Deve-se
ressaltar que é expresso em função dos carregamentos externos, enquanto ’ depende
da intensidade da reação P. Portanto, determina-se o valor de P necessário para que o
deslocamento desse ponto seja nulo. Deve-se enfatizar que este método permite a
análise de estruturas submetidas a condições de contorno complexas. Portanto, possui
uso geral na análise de estruturas.

Figura 14.9 Aplicação simples do princípio da superposição dos efeitos.

14.2.1 – Exemplo 4

Neste exemplo, objetiva-se a determinação das tensões normais médias atuantes


ao longo dos elementos de barra simples que compõem a estrutura mostrada na Fig.
(14.10).

Figura 14.10 Estrutura a ser analisada. Dimensões em mm.

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 273

Trata-se de uma barra engastada em seus extremos sendo submetida a um


conjunto de ações externas axialmente concentradas. Esta barra é composta por dois
diferentes materiais, cujos módulos de elasticidade longitudinal são iguais a:
E1  101GPa e E2  200GPa . Os elementos que compõem a barra possuem seção
transversal circular maciça, onde os diâmetros estão apresentados na Fig. (14.10).

Figura 14.11 Etapas da superposição dos efeitos.

Este problema será resolvido utilizando-se o princípio da superposição dos


efeitos. Assim, a estrutura, que é hiperestática, será transformada em uma estrutura
isostática equivalente por meio da retirada do engaste localizado na extremidade direita.
Na sequência, a estrutura isostática equivalente e os carregamentos externos atuantes
serão considerados na determinação do deslocamento axial da extremidade direta da
barra. Os procedimentos descritos nas duas frases anteriores compõem o que será
chamado nessas notas de problema 0. Em seguida, a reação de apoio atuante sobre o nó
B, FB , será considerada como uma ação externa. Então, o deslocamento do nó B, para
esse carregamento, será calculado. Esse problema será denominado nesse exemplo de

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 274

problema 1. Finalmente, a condição de compatibilidade do problema poderá ser escrita,


a qual prevê que o deslocamento no ponto B do problema 0 adicionado ao deslocamento
neste mesmo ponto do problema 1 deve ser nulo. A Fig. (14.11) ilustra
esquematicamente estas etapas.

Problema 0
O problema 0 envolve a estrutura e as condições de contorno apresentados na
Fig. (14.12). Assim, o objetivo deste problema é a obtenção do deslocamento axial do
ponto B. Para isso, deve-se determinar o diagrama de esforço normal da barra.
Efetuando o equilíbrio, facilmente determina-se este diagrama, o qual está apresentado
na Fig. (14.13).

Figura 14.12 Estrutura considerada no problema 0.

Figura 14.13 Diagrama de esforço normal para o problema 0.

Aplicando a Eq.(14.3) obtém-se:


50  0, 250 200  0,50
0     0  1, 65458 103 m 
101 10   25 10
6

3 2
200 10  10 10
6

3 2

A seta à direita do valor de  0 indica que este deslocamento ocorre na horizontal


para a direita. O sinal positivo para o deslocamento encontrado indica apenas
alongamento para a barra.

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 275

Problema 1
No problema 1, deve-se utilizar a estrutura isostática equivalente, sendo a reação
de apoio hiperestática atuante sobre o ponto B, considerada como uma ação externa
aplicada. Esse problema está apresentado na Fig. (14.14).

Figura 14.14 Estrutura considerada no problema 1.

Para a aplicação da Eq.(14.3), deve-se construir o diagrama de esforço normal


para a estrutura mostrada na Fig. (14.14). Este diagrama está apresentado na Fig.
(14.15).

Figura 14.15 Diagrama de esforço normal para o problema 1.

Assim:
 FB  0, 250  FB  0,50  FB  0, 250
1   
10110   25 10 
3 2
200 10  10 10 
3 2
101106   25 103 
6 6 2

1  1, 0479 105 FB 

A seta à direita do valor de 1 mostra que este deslocamento ocorre na


horizontal para a esquerda. O sinal negativo obtido demonstra um encurtamento da
barra analisada.
Como o ponto B do problema inicial, apresentado na Fig. (14.10), não é
deslocável (esse ponto é um apoio), a seguinte condição de compatibilidade pode ser
definida:
 0  1  0
Utilizando os resultados obtidos anteriormente neste exemplo, pode-se escrever
a soma vetorial dos deslocamentos como:

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 276

1, 65458  10  3  1, 0479  10  5 FB  0  FB  157, 89 kN

Com base no resultado obtido para o valor da reação FB , sinal positivo, verifica-
se que o sentido arbitrado para esta força no problema 1 é o verdadeiro. Portanto, com o
conhecimento da intensidade, direção e sentido de FB , pode-se facilmente efetuar o
equilíbrio de corpo rígido da estrutura analisada, uma vez que esta torna-se isostática.
Efetuando este procedimento, obtém-se o diagrama de corpo livre apresentado na Fig.
(14.16).

Figura 14.16 Diagrama de corpo livre para a estrutura analisada.

Assim, com base no apresentado na Fig. (14.16), podem ser facilmente


determinadas as tensões normais médias atuantes nos elementos que compõem a
estrutura analisada. Para isso, devem-se calcular os valores dos esforços solicitantes
normais atuantes em cada barra que compõe a estrutura ilustrada na Fig. (14.10). Então,
divide-se este valor pela área da seção transversal onde o esforço atua e obtém-se o
valor da tensão normal média. Efetuando este procedimento obtêm-se:
107,89
 m AD   54,947 MPa
  25 103 
2

42,11
 m DC   134, 40 MPa
 10 10 
3 2

157,89
 m BC   80, 41 MPa
  25 10 3 
2

Finalmente, pode-se também analisar o deslocamento relativo entre os trechos


AD e CB. Para isso, basta que sejam calculados os deslocamentos de cada um destes
trechos isoladamente e, em seguida, estes devem ser subtraídos de forma a verificar seu
deslocamento relativo. Aplicando a Eq.(14.3) tem-se:
107,89  0, 25
 AD    AD  1,36 104 m encurta
101 10   25 10
6

3 2

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 277

157,89  0, 25
 CB    CB  1,99 104 m encurta
101 10   25 10
6

3 2

Assim, o deslocamento relativo pode ser obtido como:


    AD   CB    1, 36 10 4   1, 99 10 4     6, 30 10 5 m

O resultado apresentado anteriormente indica que estes trechos aproximaram-se


(de  ) após a ação dos carregamentos.

14.2.2 – Exemplo 5

Determine as tensões normais médias atuantes nos elementos estruturais


verticalmente dispostos na estrutura mostrada na Fig. (14.17). Esta estrutura é composta
por dois elementos de barra simples verticalmente posicionados, os quais suportam uma
barra rígida submetida a um carregamento uniformemente distribuído de intensidade
igual a 3,0 kN/m. Os elementos de barra simples apresentam módulo de elasticidade
longitudinal igual a E  210 GPa e área de seção transversal igual a A  1,0 cm2 .

Figura 14.17 Estrutura a ser analisada.

A estrutura considerada neste exemplo é hiperestática, uma vez que a aplicação


exclusiva das equações de equilíbrio de corpo rígido, para o caso plano, não possibilita
a determinação de todas as reações de apoio da estrutura, as quais totalizam quatro.

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 278

Assim, uma dessas reações deverá ser determinada por meio de uma equação de
compatibilidade escrita em termos de deslocamento. Este exemplo será resolvido
aplicando-se o princípio da superposição dos efeitos/método das forças.

Problema 0
O problema zero será composto pela estrutura isostática equivalente e o
carregamento externo atuante. Nesse exemplo, a estrutura isostática equivalente
considerada é a apresentada na Fig. (14.18), a qual conduz ao diagrama de corpo livre
apresentado nesta mesma figura.

Figura 14.18 Estrutura considerada no problema 0.

O sentido de N1 apresentado na figura anterior assume tração no elemento de


barra simples, pela terceira lei de Newton. Impondo as condições de equilíbrio de corpo
rígido à estrutura apresentada na Fig. (14.18) obtêm-se:

F 0 x  H 0
 M  0  N 1, 0  3, 0  3, 0 1, 5  0
A 1  N1  13, 5kN
 F  0  13, 5  V  3, 0  3, 0  0
y  V  4,5 kN

Com base no valor obtido para N1 , pode-se determinar o deslocamento axial da


barra vertical de comprimento igual a 1,0m. Aplicando a Eq.(14.3) tem-se:

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 279

N1L 13,5 1 13,5


10   10   10  
EA EA EA
A seta à direita do valor de 1 indica que este deslocamento ocorre na vertical
0

para baixo. O sinal positivo associado ao valor do deslocamento indica um alongamento


da barra analisada. A partir do deslocamento calculado anteriormente, pode-se
determinar o valor do deslocamento observado no ponto onde a vinculação hiperestática
foi retirada. Sabendo que a barra horizontal é rígida, este deslocamento pode ser
determinado utilizando semelhança de triângulos, como apresentado na Fig. (14.19).

Figura 14.19 Deslocamento ponto B problema 0.

Assim:
1m  10
3m   20
13,5 40,5
 20  310   20  3    20 
EA EA
Assim, pode-se escrever que:
40,5
 20   B0  
EA
Portanto, o deslocamento do ponto onde a vinculação hiperestática foi removida
é vertical para baixo, conforme indica a seta à direita do valor de  20 .

Problema 1
O problema 1 envolve a aplicação da reação hiperestática desprezada no
problema 0 sobre a estrutura isostática equivalente. Assim, nesse problema, a estrutura a
ser considerada é a apresentada na Fig. (14.20).

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 280

O sentido de N1 apresentado na Fig. (14.20), o qual foi definido arbitrariamente,


considera uma tração no elemento de barra simples, pela terceira lei de Newton. Com
base no diagrama de corpo livre apresentado na Fig. (14.20) pode-se efetuar o equilíbrio
de corpo rígido, o qual conduzirá a determinação das reações incógnitas. Assim:

F 0 x  H 0
 M  0  N 1, 0  N  3, 0  0
A 1 2  N1  3, 0 N 2
 F  0  N V  N  0
y 1 2  V  2, 0 N 2

Figura 14.20 Estrutura considerada no problema 1.

O deslocamento do ponto onde a vinculação hiperestática foi retirada pode ser


obtido somando-se o deslocamento do ponto B, apresentado na Fig. (14.17), pertencente
à barra rígida, ao deslocamento axial da barra vertical conectada ao ponto B. O
deslocamento observado na barra simples de comprimento igual a 1,0m pode ser
determinado com base na Eq.(14.3). Assim, nessa barra o deslocamento é igual a:
3 N 2 1 3N
11   11  2 
EA EA

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 281

A seta à direita do valor de 1 indica que este deslocamento ocorre na vertical


1

para baixo, enquanto que o sinal positivo associado ao valor do deslocamento indica um
alongamento da barra analisada. Já o deslocamento do ponto B pode ser determinado
considerando o fato de que a barra horizontal é rígida. Assim, nesse ponto, o
deslocamento é calculado utilizando-se a semelhança dos triângulos mostrada na Fig.
(14.21).

Figura 14.21 Deslocamento ponto B problema 1.

1m  11
_
3m   1
B

_ _ _
3N 2 9N2
 B1  311   B1  3    B1  
EA EA
_
A seta à direita do valor de  B1 mostra que o deslocamento do ponto analisado
ocorre na vertical para baixo. O sinal positivo associado ao valor do deslocamento
indica um alongamento da barra considerada. Devido à atuação do esforço N2 , a barra
vertical de comprimento igual a 3,0 m tem seu comprimento encurtado, uma vez que
este esforço foi arbitrado como compressivo. Assim, este encurtamento é dado por:
_
 N2  3 _
 N2
 BB    BB  
3EA EA
Como esta barra está fixada em sua extremidade inferior à barra rígida e
solicitada por uma força concentrada compressiva em sua extremidade superior,
observa-se que a barra sofrerá um encurtamento. Tal comportamento se reflete no sinal
_
negativo obtido para o deslocamento  BB . No entanto, o deslocamento observado da

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 282

extremidade livre da barra é vertical para baixo, o qual é representado pela seta
posicionada do lado direto do valor do deslocamento calculado.
Portanto, o deslocamento do ponto onde a vinculação hiperestática foi removida
pode ser determinado, para o problema 1, somando-se vetorialmente os deslocamentos
_ _
 e  BB . Como ambos os deslocamentos estão orientados no mesmo sentido, vertical
1
B

para baixo, tem-se:


_ _
9 N2 N2 10 N 2
 B1   B1   BB   B1     B1  
EA EA EA
Sabendo que no ponto onde o deslocamento foi calculado, para os problemas 0 e
1, existe um apoio que impõe que o deslocamento seja nulo, pode-se escrever a seguinte
condição de compatibilidade, com base na superposição vetorial dos deslocamentos:
 B0   B1  0

Portanto:
40,5 10 N2
  0  N2  4,05 kN
EA EA
Com base no resultado obtido, verifica-se que o sentido arbitrado para o esforço
N2 no problema 1 está incorreto. Seu sentido correto é trativo e não compressivo como
assumido inicialmente.
Assim, com base no valor de N2 determinado anteriormente, pode-se calcular o
valor do esforço normal atuante sobre o outro elemento de barra simples presente na
estrutura. Para tal fim, deve-se efetuar o equilíbrio de corpo rígido do sistema mostrado
na Fig. (14.22). Assim:

Figura 14.22 Equilíbrio de corpo rígido.

Aplicando as equações de equilíbrio de corpo rígido obtêm-se:

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 283

F  0 x  H 0
 M  0  N 1, 0  3, 0  3, 0 1,5  4, 05  3, 0  0
A 1  N1  1,35kN
 F  0  1,35  V  3, 0  3, 0  4, 05  0
y  V  3, 6 kN

Assim, as tensões normais médias nos elementos de barra simples são dadas por:
N1 1,35 kN
 m1    m1    m1  1,35 2
A 1, 0 cm
N 4, 05 kN
 m2  2   m2    m 2  4, 05 2
A 1, 0 cm

14.2.3 – Exemplo 6

Neste exemplo objetiva-se a determinação dos valores dos esforços solicitantes


normais atuantes ao longo dos elementos de barra simples verticalmente posicionados
para suportarem uma barra horizontal rígida, como mostra a Fig.(14.23). Esta estrutura
é duplamente hiperestática e deve ser analisada considerando o princípio da
superposição dos efeitos/método das forças. Ressalta-se que a barra horizontal é perfeita
rígida, ou seja, desloca-se rigidamente sem a observação de deformação.

Figura 14.23 Estrutura a ser analisada.

Problema 0
O problema 0 é composto pela estrutura isostática equivalente e por todos os
carregamentos externos aplicados. Para a estrutura em questão, este problema é
composto pelo sistema apresentado na Fig. (14.24). Assim, são removidas as
vinculações associadas aos elementos de barra simples central e direito.

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 284

Efetuando o equilíbrio de corpo rígido do sistema apresentado na Fig. (14.24),


onde assume-se que N1 cause tração na barra simples correspondente, obtêm-se:

F  0
x  H 0
 M  0  N 1, 0  1, 0  3, 0  0
A 1  N1  3, 0 kN
 F  0  3, 0  V  1, 0  0
y  V  2, 0 kN

Os deslocamentos nos pontos onde as vinculações hiperestáticas foram


removidas podem ser determinados, para este problema, por meio do conhecimento do
deslocamento da barra simples onde atua o esforço normal N1 . Assim, nessa barra, o
deslocamento axial é igual a:
3L
N  
EA
O sinal positivo para esse resultado indica um alongamento na referida barra
simples. Como essa barra está presa em sua extremidade superior, constata-se que o
deslocamento é vertical para baixo, conforme destaca a seta posicionada do lado direito
de  N .

Figura 14.24 Estrutura a ser analisada.

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 285

Assim, sabendo que a barra horizontal é perfeitamente rígida, os demais


deslocamentos de interesse podem ser obtidos com o auxílio da Fig. (14.25) e com a
aplicação da técnica de semelhança de triângulos. Portanto:

Figura 14.25 Deslocamentos na barra rígida problema 0.

10  3 9L
 10  3 N  10  
N 1 EA

 20  4 12 L
  20  4 N   20  
N 1 EA
Os deslocamentos determinados anteriormente são verticais para baixo, em
decorrência do alongamento observado na barra simples posicionada à esquerda da
estrutura. Indica-se  xy como o deslocamento no ponto x do problema y. Tal

nomenclatura será também aplicada nos problemas 1 e 2 a seguir.

Problema 1
No problema 1, deve-se calcular os deslocamentos nos pontos onde as
vinculações hiperestáticas foram removidas, considerando a estrutura isostática
equivalente e a aplicação de uma das reações hiperestáticas removidas. Para o problema
1, o sistema considerado está apresentado na Fig. (14.26), onde arbitra-se o sentido
trativo para N1 . Aplicando as equações de equilíbrio de corpo rígido ao sistema
estrutura/carregamentos mostrado na Fig. (14.26) obtêm-se:

F  0x  H 0
 M  0  N 1, 0  N  3, 0  0
A 1 2  N1  3N 2
 F  0  N V  N  0
y 1 2  V  2 N 2

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 286

Figura 14.26 Estrutura considerada no problema 1.

Assim, o deslocamento axial observado na barra onde atua o esforço normal N1 ,


é dado por:
3N 2 L
N 
1

EA
O sinal positivo para o deslocamento calculado indica que a barra analisada
sofre um alongamento. Como essa barra está vinculada em sua extremidade superior,
constata-se que o alongamento da barra promove um deslocamento vertical para baixo
em seu ponto de conexão com a barra rígida.
O deslocamento da extremidade da barra onde atua o esforço normal N2 pode ser
determinado somando-se o deslocamento da barra rígida, no ponto de conexão desta
com a referida barra simples, ao encurtamento da barra simples devido à ação de N2 .
Os deslocamentos dos pontos da barra rígida podem ser determinados em função do
deslocamento  N1 , como mostra a Fig. (14.27).

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 287

Figura 14.27 Deslocamentos na barra rígida problema 1.

Aplicando a técnica de semelhança de triângulos aos elementos apresentados na


Fig. (14.27) tem-se:
_
11  3  _  3 _
 11 
9N2 L

11 N
N 1
1
EA
1

O encurtamento dessa barra devido a ação de N2 pode ser facilmente


determinado como:
* N2 L
11  
2 EA
Sendo que o sinal negativo obtido no resultado anterior indica um encurtamento
dessa barra. Como a barra simples considerada está vinculada em sua extremidade
inferior à barra rígida, constata-se que o encurtamento calculado conduz a um
deslocamento vertical para baixo na extremidade livre da barra. Tal sentido é
representado pela seta posicionada ao lado direto do resultado anterior.
Assim, adicionando vetorialmente os deslocamentos calculados anteriormente
obtém-se:
_ * 9 N2 L N2 L 19 N2 L
11  11  11  11    11  
EA 2EA 2EA
Finalmente, pode-se calcular o deslocamento no ponto sobre o vínculo
hiperestático removido do elemento de barra simples posicionado no extremo direito da
estrutura. Para esse ponto, como o esforço normal atuante na barra simples que o
contém é nulo, o deslocamento da barra rígida, na conexão com a referida barra simples,
é também o deslocamento desejado. Assim, utilizando o apresentado na Fig. (14.27)
obtém-se:

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 288

 21  4 12 N2 L
  21  4 N   21  
N 11
1
EA
Devido ao alongamento da barra simples posicionada à esquerda da estrutura,
constata-se que o deslocamento 21 é vertical para baixo.

Problema 2
No problema 2, a estrutura a ser analisada é a apresentada na Fig. (14.28). Trata-
se da estrutura isostática equivalente sendo o carregamento externo composto pela
reação N3 , a qual corresponde à vinculação removida da barra posicionada no extremo
direito da estrutura. Aplicando as equações de equilíbrio de corpo rígido a este sistema
obtêm-se:

Figura 14.28 Estrutura considerada no problema 2.

F  0 x  H 0
 M  0  N 1, 0  N  4, 0  0
A 1 3  N1  4 N3
 F  0  N V  N  0
y 1 3  V  3N3

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 289

Assim, pode-se determinar o deslocamento axial da barra onde atua o esforço


normal N1 . Aplicando a Eq.(14.3) obtém-se:

4 N3 L
N  1

EA
O sinal positivo obtido para  N1 indica um alongamento para a barra

considerada. Devido às condições de vinculação dessa barra, constata-se que o


deslocamento do ponto de conexão da barra simples com a barra rígida é vertical para
baixo.
Os deslocamentos nos pontos onde as vinculações hiperestáticas foram
removidas podem ser determinados de forma semelhante ao efetuado no problema 1.
Assim, para a barra simples central, este deslocamento pode ser determinado com base
no deslocamento da barra rígida, como mostra a Fig. (14.29). Portanto:
12  3 12 N3 L
 12  3 N  12  
N 11
1
EA

Figura 14.29 Deslocamentos na barra rígida problema 2.

Já o deslocamento no ponto localizado sobre o apoio hiperestático da barra


simples da extremidade direita da estrutura deve ser calculado considerando o
deslocamento da barra rígida e o encurtamento da referida barra simples, a qual encurta-
se em decorrência da ação de N3 . A contribuição de deslocamento associada à barra
rígida pode ser assim determinada:
_
 22  4  _  4 _
  22 
16 N 3 L

22 N
N 1
1
EA
1

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 290

A qual conduz a um deslocamento vertical para baixo em decorrência do


alongamento da barra simples posicionada no lado esquerdo da estrutura. Já o
encurtamento da barra simples é assim determinado:
*  N3 L
 22  
4 EA
O sinal negativo obtido no resultado anterior indica um encurtamento da referida
barra simples. Como a barra simples considerada está vinculada em sua extremidade
inferior à barra rígida, constata-se que o encurtamento calculado leva a um
deslocamento vertical para baixo na extremidade livre da barra. Tal sentido é
representado pela seta posicionada ao lado direto do resultado anterior.
Assim, adicionando vetorialmente os deslocamentos calculados anteriormente
obtém-se:
_ * 16 N3 L N3 L 65N3 L
 22   22   22   22     22  
EA 4EA 4EA

De posse dos deslocamentos calculados nos problemas 0, 1 e 2 nos pontos onde

as vinculações hiperestáticas foram removidas, pode-se escrever as seguintes equações

de compatibilidade, as quais são baseadas na superposição vetorial dos deslocamentos

calculados:
10  11  12  0
 20   21   22  0

Substituindo os termos respectivos tem-se:


9 L 19 N 2 L 12 N 3 L
  0
EA 2 EA EA

12 L 12 N 2 L 65 N 3 L
  0
EA EA 4 EA

Escrevendo as duas equações anteriores em um sistema matricial obtêm-se:


19 12   N   9 
 2  2   
 12 65   N3  12
 4

Resolvendo o sistema algébrico acima, determinam-se os esforços normais nas

barras consideradas, os quais são iguais a:

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 291

 N2  0, 216
   kN
 N3  0,578
O sinal negativo obtido na resposta de N2 e N3 indica que o sentido arbitrado
na resolução dos problemas 1 e 2 não estão corretos. Assim, nas barras analisadas, os
esforços são trativos e não compressivos.
Para a determinação do esforço normal na barra simples localizada a esquerda da
estrutura, pode-se utilizar o seguinte diagrama de corpo livre:

Figura 14.30 Diagrama de corpo livre.

Aplicando as equações de equilíbrio de corpo rígido ao sistema mostrado na Fig.


(14.30) têm-se:

F  0
x  H 0
 M  0  N 1, 0  0, 216  3  0,578  4  1, 0  3  0
A 1  N1  0, 04 kN
 F  0  0, 04  0, 216  0,578  1, 0  V  0
y  V  0,166 kN

Assim, conclui-se que a barra simples que possui o maior esforço solicitante
normal é a posicionada no extremo direito da estrutura. O autor deixa uma pergunta, a
qual deve ser refletida pelo leitor: existe alguma relação entre o fato desta barra possuir
a maior relação EA e o maior esforço normal?

14.2.4 – Exemplo 7

Determine as reações de apoio da estrutura apresentada na Fig. (14.31). Trata-se


de uma estrutura contendo duas barras simples inclinadas e uma vertical sendo
solicitada por uma força vertical de intensidade igual a 10 kN. Todas as barras possuem
módulo de elasticidade longitudinal igual a E  200 GPa e área de seção transversal
igual a A  10 cm 2 . Esta estrutura é hiperestática e deve ser analisada utilizando o
princípio da superposição de efeitos/método das forças.

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 292

Figura 14.31 Estrutura a ser analisada. Dimensões em metro.

A estrutura ilustrada na Fig. (14.31) contém uma única reação de apoio


hiperestática. Isso se deve ao fato da estrutura ser composta por elementos de barra
simples, as quais transmitem forças axiais ao longo de suas barras. Dessa forma, a
resultante das reações dos apoios A e C estará orientada ao longo das barras AD e CD,
respectivamente. Portanto, basta que a remoção de uma vinculação seja efetuada para
torná-la isostática equivalente. Neste exemplo, será removida a vinculação atuante sobre
o nó B, a qual dá origem a uma reação de apoio vertical, sendo que os problemas 0 e 1
deverão ser resolvidos. Em cada um destes problemas, deve-se determinar o
deslocamento vertical do nó B para que em seguida seja imposta a condição de
compatibilidade de deslocamento.

Problema 0
O problema 0 é composto pela estrutura isostática equivalente e pelo
carregamento externo atuante. Para a estrutura em análise, o sistema estrutural a ser a

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 293

considerado é o apresentado na Fig. (14.32), sendo que nessa figura é também


apresentado seu diagrama de corpo livre.

Figura 14.32 Estrutura considerada no problema 0 e seu diagrama de corpo livre.

Efetuando o equilíbrio de corpo rígido do sistema apresentado na Fig. (14.32)


obtêm-se:
0, 6 0, 6
F x 0   RA
1, 0
 RC
1, 0
 0  RA  RC

0,8 0,8
F y 0  RA
1, 0
 RC
1, 0
 10  0  RA  RC  6, 25 kN

Os alongamentos nas barras AD e CD podem ser calculados utilizando a


Eq.(14.3). Os esforços normais nestas barras são iguais, assim como a área da seção
transversal, o material e o comprimento. Portanto os alongamentos nestas barras serão
iguais. Dessa forma:
6, 25 1, 0
 AD   CD    AD   CD  3,125 105 m
200 106 10 104
Deve-se enfatizar que os alongamentos das barras AD e CD são orientados ao
longo de seus eixos. Portanto, para que o deslocamento vertical do nó B seja
determinado, deslocamento alvo do problema 0, deve-se decompor o deslocamento das
barras inclinadas em relação a direção vertical. Para auxiliar nesta tarefa, serão
utilizadas as ilustrações apresentadas na Fig. (14.33).

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 294

Figura 14.33 Decomposição dos alongamentos na direção vertical.

Lembrando que é válida a hipótese de pequenos deslocamentos, assume-se que


as configurações estruturais deslocada e indeslocada são praticamente coincidentes.
Nesse sentido, utilizando geometria do problema, verifica-se que
0,8
sen     sen    0,8 . Assim, o deslocamento  0 assume o seguinte valor:
1, 0

 AD 3,125 105
0   0    0  3,9063 105 m 
sen   0,8

Devido ao alongamento das barras inclinadas, observa-se que  0 é vertical para

baixo. Deve-se enfatizar que o esforço normal na barra BD é nulo. Portanto, o


deslocamento vertical do nó D,  0 , é igual ao deslocamento vertical do nó B e, portanto,

igual ao deslocamento alvo do problema 0.

Problema 1
No problema 1, deve-se determinar o deslocamento vertical do nó B
considerando como ação externa aplicada a reação da vinculação removida para
transformar a estrutura hiperestática em uma isostática equivalente. Para o problema 1,
o sistema estrutural considerado está apresentado na Fig. (14.34). Nesta figura é
também apresentado seu diagrama de corpo livre.
Aplicando as equações de equilíbrio de corpo rígido ao sistema
estrutura/carregamentos mostrado na Fig. (14.34) obtêm-se:

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 295

0, 6 0, 6
F x 0   RA
1, 0
 RC
1, 0
 0  RA  RC

0,8 0,8
F y 0  RA
1, 0
 RC
1, 0
 RB  0  RA  RC  0, 625RB

Figura 14.34 Estrutura considerada no problema 1 e seu diagrama de corpo livre.

Os alongamentos nas barras AD e CD serão iguais devido a igualdade entre seus


comprimentos, área de seção transversal, material e intensidade do esforço normal
atuante. Portanto, nestas barras o alongamento pode ser determinado por meio da
Eq.(14.3), sendo igual a :
0, 625RB 1, 0
 AD   CD    AD   CD  3,125 106 RB
200 106 10 104
O alongamento determinado anteriormente refere-se à direção paralela ao eixo
das barras AD e CD. Assim, este alongamento deve ser decomposto e sua componente
vertical deve ser determinada, a qual irá se referir ao deslocamento vertical do nó D.
Com o auxílio das ilustrações apresentadas na Fig. (14.35), pode-se decompor este
alongamento da seguinte forma:
  AD  3,125 106 RB 
1   1   1  3,9063 106 RB 
sen   0,8

O deslocamento determinado anteriormente é vertical para baixo, uma vez que


as barras inclinadas alongam-se em função do carregamento externo aplicado.
Observa-se que a barra BD possui esforço normal não nulo devido a aplicação
de RB . Com base no sentido assumido para RB , ou seja compressivo, constata-se que

ocorrerá um encurtamento da barra BD. Dessa forma, ao deslocamento 1

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 296

(deslocamento vertical do nó D), deve-se adicionar o encurtamento da barra BD para


que o deslocamento do problema 1 seja determinado.

Figura 14.35 Decomposição dos alongamentos na direção vertical.

Portanto, o encurtamento da barra BD pode ser assim determinado:


*  RB L *  RB  0,8 *
1   1   1  4, 0 106 RB 
EA 200 106 10 104
O sinal negativo indica que a barra analisada sofre um encurtamento. Devido à
vinculação dessa barra na estrutura, conclui-se que o deslocamento calculado é vertical
para baixo.
Assim, o deslocamento do nó B, para o problema 1, pode ser determinado
somando-se vetorialmente os deslocamentos avaliados anteriormente. Portanto:
 *
1  1  1  1  3,9063 106 RB  4, 0 106 RB 
1  7,9063 106 RB 
Como os deslocamentos alvos dos problemas 0 e 1 foram determinados
anteriormente, pode-se agora impor a condição de compatibilidade do problema. Sabe-
se que o deslocamento é nulo no ponto B, uma vez que um apoio é posicionado nesse
ponto. Dessa forma, a condição de compatibilidade envolve a somatória vetorial nula
dos deslocamentos calculados anteriormente nesse ponto. Então:
 0  1  0  3,9063 105  7,9063 106 RB  0  RB  4,9408 kN

Observa-se que a reação RB resulta um valor negativo. Tal resultado indica

apenas que o sentido assumido para esta reação no problema 1 não é o verdadeiro. O
sentido correto é contrário ao assumido no problema 1. Com base nesta resposta, pode-

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 297

se reconstruir o diagrama de corpo livre da estrutura considerando o sentido correto de


RB , como mostra a Fig. (14.36).

Figura 14.36 Diagrama de corpo livre da estrutura com RB .

Aplicando as equações de equilíbrio de corpo rígido às ações apresentadas na


Fig. (14.36) obtêm-se:
0, 6 0, 6
F x 0   RA
1, 0
 RC
1, 0
 0  RA  RC

0,8 0,8
F y 0  RA
1, 0
 RC
1, 0
 4,9408  10  0  RA  RC  3,162 kN

14.3 – Efeitos de Temperatura

As dimensões dos corpos dependem da temperatura na qual estas são


mensuradas. Sabe-se que as variações de temperatura causam mudanças nas dimensões
dos corpos, sendo que, com exceção da água, aumentos de temperatura causam
dilatação e diminuições de temperatura provocam contração nos corpos. Se o
comprimento do elemento apresenta variação, deformações e consequentemente tensões
associadas ao efeito térmico estarão presentes.
Para o caso de uma barra composta por um material homogêneo e isótropo,
exposta a um dado gradiente de temperatura, o acréscimo (ou redução) no comprimento
desta pode ser determinado avaliando-se a equação apresentada na Eq.(14.8):

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 298

L
 T    T  x  dx (14.8)
0

sendo: T a variação de temperatura no ponto considerado, L o comprimento do


elemento analisado,  é denominado coeficiente linear de expansão térmica, o qual é
uma propriedade do material. Finalmente,  T é o valor da variação do comprimento da
barra devido ao efeito da temperatura.
Deve-se destacar que se a temperatura aplicada for uniforme ao longo de todo o
elemento, a integral apresentada na Eq.(14.8) torna-se uma somatória. Nessa situação
tem-se:
 T    i    i  Ti  Li (14.9)
n 1 n 1

Deve-se também ressaltar que em estruturas isostáticas, as ações térmicas não


provocam esforços na estrutura, apenas variação em seu comprimento. Porém, quando
estruturas hiperestáticas são consideradas, as ações térmicas provocam esforços que não
podem ser desprezados. Na Fig. (14.37) são apresentadas duas falhas em estruturas de
trilhos de trem causadas por efeitos de temperatura. Devido à magnitude das
consequências da falha observada, percebe-se que os efeitos de temperatura não devem
ser desprezados, especialmente nos dias atuais onde as mudanças climáticas e o
aumento na amplitude da variação das temperaturas sazonais estão cada vez mais
acentuados. Assim, a temperatura deve ser considerada como um carregamento externo,
cujos efeitos são determinados com a utilização da Eq. (14.8).

Figura 14.37 Efeito de temperatura em trilhos de trem. Falhas e consequências.

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 299

14.3.1 – Exemplo 8

Neste exemplo será analisada uma estrutura submetida a uma variação de


temperatura positiva igual a  T  60  . Trata-se da coluna mostrada na Fig. (14.38), a
qual possui seção transversal quadrada, sendo engastada em seus extremos. Sabendo
que o material apresenta coeficiente linear de expansão térmica igual a

  12 10 6 1 e módulo de elasticidade longitudinal igual a E  200 GPa ,


C
determine a tensão normal média atuante na coluna em decorrência desta ação térmica.
Sabendo que a variação de temperatura é positiva, a ação térmica atuará no
sentido de expandir as dimensões do corpo. Considerando as condições de vinculação
presentes, o diagrama de corpo livre apresentado na Fig. (14.39) pode ser construído.

Figura 14.38 Estrutura a ser analisada.

Figura 14.39 Diagrama de corpo livre.

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 300

Efetuando o equilíbrio de corpo rígido do elemento apresentado na Fig. (14.39)


obtém-se:
FA  FB  0  FA  FB  F
Como ambas as extremidades estão vinculadas, a seguinte condição de
compatibilidade pode ser proposta:
 Atermico   Aforca

Portanto, utilizando os resultados apresentados nas Eq.(14.3) e Eq.(14.9) tem-se:


FL
  T  L   F    T  EA
EA
F  12 106  60  200 106  0,52  F  36000 kN
Assim, a tensão normal média atuante na barra é dada por:
36000
    144000 kN m 2
0,52
A tensão obtida é compressiva, pelo fato da força F considerada na Fig.(14.39)
ser de compressão. Sugere-se que o leitor resolva esse problema utilizando o método
das forças.

14.3.2 – Exemplo 9

Será analisada, neste item, a estrutura mostrada na Fig. (14.40). Trata-se de uma
estrutura formada por três colunas, as quais são compostas por dois materiais diferentes,
onde, em seu topo, tem-se uma barra rígida sobre a qual atua um carregamento
uniformemente distribuído. Sabendo que as seções transversais das colunas são
circulares maciças com diâmetros iguais a D1  40mm e D2  60mm , e que as

propriedades dos materiais são iguais a E1  200GPa, 1  12 10 6 1 , E2  70GPa


C

e  2  23 10 6 1 , determine as reações de apoio da estrutura quando esta é também


C
submetida a uma variação uniforme de temperatura de valor igual a  T  60  C .

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 301

Figura 14.40 Estrutura a ser analisada. Dimensões em m.

Para a solução deste problema, deve-se, inicialmente, relacionar as reações de


apoio da estrutura ao carregamento atuante. Isto pode ser facilmente efetuado com o
auxílio do diagrama de corpo livre apresentado na Fig. (14.41).

Figura 14.41 Diagrama de corpo livre.

Aplicando as equações de equilíbrio de corpo rígido ao sistema mostrado na Fig.


(14.41) têm-se:

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 302

F1  F1  F2 150  0,600  0  2F1  F2  90 (14.10)


Como a barra horizontal presente no topo da estrutura é rígida, e a disposição
dos elementos estruturais e carregamento é simétrica, a equação de compatibilidade
pode ser facilmente escrita considerando que o deslocamento no topo das colunas de
material 1 e 2 deve ser o mesmo. Assim, a equação de compatibilidade pode ser assim
escrita:
1   2

Considerando que o deslocamento é provocado por ações mecânicas (F) e

térmicas (T), a condição de compatibilidade pode ser assim reescrita:


 1 T   1F   2 T   2F

Utilizando as Eq.(14.3) e Eq.(14.9), a condição de compatibilidade pode ser

assim explicitada:
F1L FL
1  T  L    2  T  L  2
EA EA

Substituindo os valores das propriedades dos materiais têm-se:


F1  0, 250
12 106  60  0, 250  
200 106     20 103 
2

F2  0, 250
23 106  60  0, 250 
70 106     30 103 
2

A qual resulta a seguinte equação:


1, 8  10  4  F1  9, 947  10 7  3, 45  10 4  F2  1, 263  10 6

F1  165,879  1, 2697 F2 (14.11)


Resolvendo conjuntamente as Eq.(14.10) e Eq.(14.11) obtêm-se:

2 1   F1   90   F1  14,58
1 1, 2697  F   165,879     kN
  2    F2  119,16 
Assim, com base no resultado obtido para as reações F1 e F2 , verifica-se que as
colunas compostas por material 1 estão tracionadas enquanto a coluna central está
comprimida. Devido à compatibilidade de deslocamento imposta e também ao
comprimento das colunas, constata-se também que a deformação normal nas colunas, a
qual possui componentes mecânica e térmica, é igual.

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 303

14.3.3 – Exemplo 10

Determine as reações de apoio horizontais da estrutura bi engastada, axialmente


solicitada, apresentada na Fig. (14.42). Além da força F de intensidade igual a 10 kN
aplicada no ponto B, a estrutura também está sujeita a uma variação de temperatura
positiva igual a  T  30  C . A estrutura é formada por dois materiais cujas

propriedades mecânicas são iguais a E AB  250GPa,  AB  10 106 1 e


C

EBC  75GPa,  BC  5 10 6 1 . A estrutura é formada por barras de seção transversal


C
circular maciça cujos diâmetros são: DAB  50mm e DBC  30mm .
Este exemplo será resolvido empregando-se o princípio da superposição dos
efeitos/método das forças. Assim, como existe apenas uma reação hiperestática, deverão
ser resolvidos os problemas 0 e 1.

Figura 14.42 Estrutura a ser analisada. Dimensões em cm.

Problema 0
O problema 0 envolve a estrutura isostática equivalente e as ações externas
aplicadas. Para o problema em estudo, as ações externas são compostas pela força F e
pela variação de temperatura. A estrutura a ser considerada no problema 0 é a
apresentada na Fig. (14.43). Assim, o objetivo deste problema envolve a determinação
do deslocamento axial do ponto C, ou seja, do ponto onde a vinculação externa foi
removida. Esse deslocamento é composto pela parcela correspondente à ação da força
F, calculada pela Eq.(14.3), e pelo efeito da temperatura, determinada pela Eq.(14.9).
Para a utilização da Eq.(14.3), deve-se construir o diagrama de esforço normal da

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 304

estrutura. Efetuando o equilíbrio, facilmente determina-se este diagrama, o qual está


apresentado na Fig. (14.44).

Figura 14.43 Estrutura considerada no problema 0.

Figura 14.44 Diagrama de esforço normal para o problema 0.

Aplicando a Eq.(14.3) obtém-se:


10 1
 CF    CF  2, 03718 105 m 
250 10   25 10
6

3 2

A força externa F causa um alongamento na barra, conforme pode ser observado


pelo sinal positivo de  CF . Consequentemente, o deslocamento no ponto C é horizontal

para a direita. Já a contribuição térmica pode ser levada em consideração por meio da
Eq.(14.9). Portanto:
 CT  10  10  6  1  30  5  10  6  0, 5  30   CT  3, 75  10  4 m 

Como a variação de temperatura é positiva, constata-se que o efeito da


temperatura causará uma expansão da estrutura. Assim, a contribuição de deslocamento
no ponto C será horizonta para a direita. Dessa forma, o deslocamento objetivo do
problema 0 é dado pela soma vetorial das componentes de deslocamento anteriormente
determinadas. Assim:
 C0   CF   CT   C0  2, 03718  10  5  3, 75  10  4   C0  3, 95372  10  4 m 

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 305

Problema 1
Para a solução do problema 1, deve-se utilizar a estrutura isostática equivalente,
sendo a reação de apoio hiperestática atuante sobre o ponto C, considerada como uma
ação externa aplicada. Assim, a estrutura a ser considerada no problema 1 é a indicada
na Fig. (14.45).

Figura 14.45 Estrutura considerada no problema 1.

Para a aplicação da Eq.(14.3), deve-se inicialmente construir o diagrama de


esforço normal para a estrutura mostrada na Fig. (14.45). Utilizando as equações de
equilíbrio de corpo rígido e as relações diferenciais, constrói-se facilmente este
diagrama, conforme apresentado na Fig. (14.46).

Figura 14.46 Diagrama de esforço normal para o problema 1.

Assim, o deslocamento no ponto C causado por RC é:


 RC 1  RC  0,50
 C1     C1  1,14686 105 RC 
250 10   25 10
6

3 2
75 10  15 10
6

3 2

Constata-se que a força RC introduz um encurtamento na estrutura analisada,


conforme indica o sinal negativo obtido para  C1 . Assim, devido a RC, o ponto C
desloca-se na horizontal para a esquerda.
Como o ponto C do problema inicial, apresentado na Fig. (14.42), encontra-se
engastado, constata-se que o deslocamento do ponto C é nulo. Dessa forma, escreve-se a
seguinte condição de compatibilidade, com base na soma vetorial dos deslocamentos
obtidos anteriormente:
 C0   C1  0

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 306

Utilizando os resultados previamente obtidos tem-se:


3, 95372  10  4  1,14686  10  5 RC  0  RC  34, 474 kN

Verifica-se que o sentido arbitrado para a reação RC no problema 1 está correto,


devido ao sinal positivo encontrado para sua intensidade. Portanto, para a determinação
da reação atuante no apoio A, deve-se efetuar o equilíbrio de forças atuantes ao longo da
direção do eixo da estrutura. Arbitrando a reação do apoio A em sentido oposto ao da
reação do ponto C tem-se:
RA  10  34, 474  0  RA  24, 474 kN

14.3.4 – Exemplo 11

Determine as reações nos apoios da estrutura apresentada na Fig. (14.47)


utilizando o princípio da superposição dos efeitos/método das forças. Esta estrutura é
composta por dois elementos de barra simples axialmente solicitados, os quais são
verticalmente posicionados, e uma barra horizontal perfeitamente rígida.

Figura 14.47 Estrutura a ser analisada.

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 307

O módulo de elasticidade longitudinal e o coeficiente de expansão térmica dos

elementos de barra simples são iguais a E  200 GPa e   12 106 1


ºC ,
respectivamente. Além disso, essas barras possuem área de seção transversal igual a
0,10 m2 e estão sujeitas a um gradiente positivo de temperatura igual a 25 ºC. A
estrutura possui uma reação de apoio hiperestática. Dessa forma, devem ser resolvidos
os problemas 0 e 1.

Problema 0
O problema 0 contempla a estrutura isostática equivalente e todas as ações
externas aplicadas, conforme anteriormente apresentado neste capítulo. No problema
em questão, as ações externas são compostas por forças concentradas e distribuídas
atuantes nos elementos que compõem a estrutura e também por um aumento de
temperatura atuante nos elementos de barra simples. Para transformar a estrutura
hiperestática em uma estrutura isostática equivalente, foi removida a vinculação do nó
E. Assim, a estrutura a ser considerada no problema 0 é a apresentada na Fig. (14.48).

Figura 14.48 Estrutura considerada no problema 0.

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 308

O objetivo do problema 0 é a determinação do deslocamento correspondente a


vinculação removida. Portanto, no problema 0, objetiva-se a determinação do
deslocamento vertical do nó E. Esse deslocamento é composto por duas parcelas, as
quais correspondem à ação das forças externas aplicadas, calculadas pelas Eq.(14.2) e
Eq.(14.3), e pelo efeito da temperatura, determinado pela Eq.(14.9). Para a utilização
das Eq.(14.2) e Eq.(14.3), deve-se construir o diagrama de esforço normal das barras
que compõem a estrutura. Impondo as condições de equilíbrio de corpo rígido à barra
apresentada na Fig. (14.48) obtém-se:

M A
 0  1 2  4  2  3  2 1  3  4  2 1 2  2  2  R0  0  R0  14 kN

A partir da reação de apoio do nó C determinada anteriormente, pode-se


construir o seguinte diagrama de corpo livre para a barra BC, o qual é apresentado na
Fig. (14.49).

Figura 14.49 Diagrama de corpo livre para a barra BC.

Impondo sobre a barra apresentada na Fig. (14.49) a somatória nula de forças na


direção vertical obtém-se:

F y
 0  14  1  2  RB  0  RB  12 kN

Portanto, a barra BC apresenta o diagrama de esforço normal ilustrado na Fig.


(14.50). Assim, o deslocamento do ponto B devido à ação da força normal é igual a:
2
14  x
 
F
dx   BF  1, 3 10 6 m 
200 10  0,10
6
B
0

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 309

Destaca-se que a barra é alongada, conforme indica o sinal positivo de  BF .


Além disso, como essa barra é vinculada em sua extremidade superior, observa-se que o
deslocamento calculado é vertical para baixo.

Figura 14.50 Diagrama de esforço normal barra BC.

Já devido aos efeitos de temperatura, o deslocamento nesse ponto é dado por:


 B T  12  10  6  2  25   B T  6, 0  10  4 m 

Como a variação de temperatura é positiva, observa-se uma expansão da barra.


Portanto, o deslocamento calculado é vertical para baixo.
Dessa forma, o deslocamento do nó B devido aos efeitos das forças externas e da
temperatura é obtido somando-se vetorialmente os dois deslocamentos anteriormente
determinados. Assim:
 B   BF   B T   B  1, 3  10  6  6, 0  10  4   B  6, 013  10  4 m 

Deve-se ressaltar que o deslocamento  B calculado é vertical para baixo.


Constata-se que o deslocamento da barra BC, calculado anteriormente, faz com que a
barra DE seja também deslocada. Isso ocorre devido à presença da barra rígida, a qual
conecta as barras BC e DE. Portanto, o alongamento da barra BC desloca a barra rígida
na vertical para baixo, deslocando o ponto D da barra DE também para baixo. Como se
trata de uma barra perfeitamente rígida, ou seja essa barra desloca-se sem deformação,
pode-se calcular o deslocamento do ponto D, devido ao deslocamento da barra BC, por
meio de uma semelhança de triângulos. Utilizando a ilustração apresentada na Fig.
(14.51) tem-se:

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 310

Figura 14.51 Determinação deslocamento ponto D.

B  2
D  4
 D  2 B   D  1, 2026 103 m 

O deslocamento  D determinado é vertical para baixo. Para que o deslocamento


do ponto E seja determinado, o qual é o objetivo do problema 0, deve-se determinar o
alongamento da barra DE devido à temperatura e à força distribuída nela atuante.
Assim, devido à temperatura, o alongamento da barra é igual a:
 E T  12  10  6  2  25   E T  6, 0  10  4 m 

Destaca-se que o deslocamento  ET é vertical para cima, uma vez que este
decorre de uma expansão térmica. A orientação desse deslocamento decorre da
vinculação da barra, a qual está conectada em seu extremo inferior à barra rígida. Já o
deslocamento da barra DE devido à da ação da força distribuída é determinado
utilizando-se seu diagrama de esforço normal. O diagrama de corpo livre da barra DE é
apresentado na Fig. (14.52). Impondo sobre as ações apresentadas nessa figura o
equilíbrio de forças verticais obtém-se:

F y
 0  1  2  RD  0  RD  2 kN

Com base no valor de RD constrói-se o diagrama de esforço normal da barra


DE, o qual é apresentado na Fig. (14.53). O deslocamento da barra DE devido à força
distribuída pode ser assim determinado:
2
2 x
 
F
dx   EF  1, 0 10 7 m 
200 10  0,10
6
E
0

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 311

Figura 14.52 Diagrama de corpo livre para a barra DE.

Figura 14.53 Diagrama de esforço normal barra DE.

O deslocamento  EF é vertical para cima. Tal conclusão decorre do fato da barra


DE ser alongada devido a ação da força normal. Além disso, essa barra é vinculada em
seu extremo inferior. Assim, o deslocamento do nó E devido à temperatura e às forças
externas é determinado efetuando-se a soma vetorial dos deslocamentos  D ,  ET e  EF .
Portanto:
 E0   D   EF   ET   E0  1, 2026 103 1,0 107  6,0 104 
 E0  6,025 104 m 
A somatória vetorial dos deslocamentos indica que  E0 é vertical para baixo.

Deve-se enfatizar que os deslocamentos  ET e  EF receberam sinal negativo por terem

seu sentido oposto ao deslocamento  D , ou seja, resulta da soma vetorial.

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 312

Problema 1
No problema 1, deve-se utilizar a estrutura isostática equivalente, sendo a reação
de apoio hiperestática atuante sobre o ponto E, a qual foi removida para a obtenção da
estrutura isostática equivalente, considerada como uma ação externa aplicada. Essa
estrutura está apresentada na Fig. (14.54). Nesse problema, objetiva-se a determinação
do deslocamento vertical no ponto E.
Impondo o equilíbrio de momentos em relação ao ponto A, na estrutura
apresentada na Fig. (14.54), obtém-se o valor da reação R1 , no apoio localizado sobre o
nó C. Assim:

M A
 0  F  4  R1  2  0  R1  2F

Figura 14.54 Estrutura considerada no problema 1.

Com base na reação de apoio determinada anteriormente, pode-se construir o


diagrama de esforço normal da barra BC, o qual é apresentado na Fig. (14.55). Ressalta-
se que o sinal negativo obtido para R1 indica que o sentido inicialmente arbitrado para
essa força não é o correto. A ilustração da Fig. (14.55) contempla o sentido correto
dessa força.

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 313

Figura 14.55 Diagrama de esforço normal barra BC.

Assim, o deslocamento do ponto B, devido a F, possui a seguinte intensidade:


2 F  2
B    B  2 10 7 F 
200 10 6  0,10
O sinal negativo associado a  B indica um encurtamento da barra BC. Assim,

devido às condições de vinculação dessa barra, conclui-se que o deslocamento  B é


vertical para cima. Semelhantemente ao apresentado no problema 0, o nó D desloca-se
em função do deslocamento da barra BC, uma vez que a barra BC está conectada à
barra perfeitamente rígida. A intensidade do deslocamento do nó D pode ser obtida por
meio de uma simples semelhança de triângulos, uma vez que a barra horizontal que
conecta as barras simples é assumida como perfeitamente rígida. Com base na Fig.
(14.56) pode-se escrever que:

Figura 14.56 Determinação deslocamento ponto D.

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 314

B  2
D  4
 D  2 B   D  4 107 F 
O deslocamento determinado anteriormente para o nó D é vertical para cima.
Deve-se destacar que o ponto E desloca-se também em função do alongamento da barra
DE, a qual está solicitada pela ação da força externa F. Com base na ilustração
apresentada na Fig. (14.54), constata-se facilmente que o diagrama de esforço normal da
barra DE é o apresentado na Fig. (14.57).

Figura 14.57 Diagrama de esforço normal barra DE.

Portanto, o alongamento da barra DE devido a F possui a seguinte intensidade:


F 2
 EF    EF  1, 0 10 7 F 
200 10  0,10
6

Como a barra DE é alongada devido a ação de F, conclui-se que o deslocamento


determinado anteriormente é vertical para cima. Assim, o deslocamento do nó E é
obtido efetuando-se a soma vetorial dos deslocamentos envolvendo  D e  EF . Dessa
forma:
 E1   D   EL   E1   4, 0  10  7 F  1, 0  10  7 F   E1   5, 0  10  7 F 

A somatória vetorial anteriormente efetuada leva a um deslocamento  E1 que é


vertical para cima. Por esse motivo, esses deslocamentos receberam sinal negativo, de
forma a indicar que o deslocamento é vertical para cima.

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 315

Portanto, pode-se impor a seguinte condição de compatibilidade, a qual é


baseada na somatória vetorial nula dos deslocamentos no ponto E referente aos
problemas 0 e 1.
 E0   E1  0  6, 025  10  4  5, 0  10  7 F  0  F  1205 kN

Com base na determinação da reação de apoio hiperestática, pode-se construir o


diagrama de corpo livre para a estrutura analisada neste exemplo, o qual é ilustrado na
Fig. (14.58).

Figura 14.58 Diagrama de corpo livre da estrutura.

Impondo sobre o corpo apresentado na Fig. (14.58) as condições de equilíbrio de


corpo rígido obtém-se:

M A
 0  1 2  4  2  3  2 1  3  4  2  1 2  2  4 1205  R1  2  0 
R1  2396 kN
F y
 0   2  2  3  4  1 2  1 2  1205  2396  R2  0  R2  1207 kN

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 316

14.4 – Deslocamentos de Barras Carregadas Axialmente por meio da


Abordagem Diferencial

Até o presente momento, os deslocamentos das barras carregadas axialmente


foram formulados e determinados aplicando-se os conceitos descritos na estática das
estruturas, condições de equilíbrio, definições de tensão normal média e deformação
normal média além da lei de Hooke. Por meio do acoplamento de tais itens foi obtida a
Eq. (14.2), a qual associa o deslocamento axial da barra ao esforço normal atuante, à
área de sua seção transversal e ao módulo de elasticidade longitudinal do material que a
compõe.
No entanto, este problema mecânico pode ser também resolvido por meio de
uma abordagem diferencial. Nesta metodologia, a equação diferencial que governa este
problema mecânico é determinada e em seguida integrada sucessivamente para a
obtenção dos deslocamentos desejados. Para a determinação da equação diferencial que
governa o problema mecânico, deve-se, inicialmente, considerar a barra carregada
axialmente apresentada na Fig. (14.59), a qual está submetida a um carregamento
distribuído q(x), atuante na direção paralela a seu eixo.

Figura 14.59 Barra carregada axialmente.

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 317

Assumindo que a barra esteja na condição de equilíbrio, qualquer porção


material que a compõe estará também em equilíbrio. Assim, isolando um elemento de
pequenas dimensões pertencente a esta barra, o equilíbrio pode ser assim escrito:

F y  0   A  q  x   x       A  0 
 q  x
 q  x  x   A  0  
x A
sendo A a área da seção transversal da barra.
Para que o elemento de pequenas dimensões considerado anteriormente torne-se
uma seção transversal, deve-se impor o limite de x  0 . Nessa situação tem-se:
  q  x  d q  x
lim      (14.12)
x 0 x
 A  dx A
A compatibilidade do campo de deslocamentos deve ser utilizada para a
associação entre deslocamentos e deformações. Com base na ilustração apresentada na
Fig. (14.60), a qual ilustra uma barra deformada pela ação de um carregamento axial,
tem-se:

Figura 14.60 Compatibilidade do campo de deslocamentos.

u   x   x  u   x   u   x   u

Conforme apresentado no capítulo 12, sabe-se que a definição de deformação


normal prevê que:
L x u
   
L x x

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 318

Impondo o limite de x  0 , ou seja, quando o elemento de pequenas


dimensões analisado torna-se uma seção transversal, obtém-se:
u  x d x  du
lim  lim    u' (14.13)
x  0 x x  0 x dx dx
onde o símbolo ‘ indica derivada da referida variável em relação a x.
Assumindo que o material que compõe a barra seja governado pela lei de Hooke,
  E , deve-se acoplar as Eq.(14.12) e Eq.(14.13) para a obtenção da equação
diferencial do problema mecânico. Assim, utilizando a Eq.(14.13) e a lei de Hooke
obtém-se:
d
  E    Eu '   Eu '' (14.14)
dx
Substituindo a Eq.(14.12) na Eq.(14.14) obtém-se:
d q  x q  x
 Eu ''    u ''   (14.15)
dx A EA
A Eq.(14.15) é a equação diferencial que governa os deslocamentos de barras
carregadas axialmente. Para que os deslocamentos sejam determinados, esta equação
diferencial deve ser integrada duplamente e em seguida impostas as condições de
contorno do problema, como usual na solução de equações diferenciais. As condições
de contorno referem-se aos deslocamentos, tensões normais e forças normais em pontos
conhecidos da estrutura.

14.4.1 – Exemplo 12

Determine as equações que representam os deslocamentos, as deformações


normais médias e as tensões normais médias do problema apresentado na Fig. (14.61)
utilizando a abordagem diferencial. Compare as soluções obtidas com a abordagem
diferencial com as respostas fornecidas pela abordagem estática, anteriormente
efetuada. Considere que o produto EA seja constante assim como o q(x).
Utilizando a Eq.(14.15) obtém-se:
q  x q qx
u ''  
EA
  u '' dx    EA dx
L L
 u'  
EA
 C1

Integrando novamente:

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 319

 qx  qx2
L u ' dx  L  EA 1 
  C dx  u  
2EA
 C1 x  C2

Figura 14.61 Estrutura a ser analisada.

Observando a estrutura, verifica-se que as seguintes condições de contorno estão


presentes:
u  0  0 ;   L   0

Aplicando a primeira condição de contorno obtém-se:

q  0
2

u  0    C1 0  C2  0  C2  0
2EA
Utilizando a segunda condição de contorno obtém-se:

u'      L  0    L  u ' L  0
E
qx qL qL
u'    C1  u '  L     C1  0  C1 
EA EA EA
Portanto, a equação que representa os deslocamentos axiais do problema assume
a seguinte forma:
qx 2 qL
u  x    x
2 EA EA

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 320

Já a equação das deformações normais é a seguinte:


qx qL
  u ' x   
EA EA
Finalmente, aplicando a Lei de Hooke, obtém-se a expressão das tensões
normais na barra, a qual é a seguinte:
qx qL
  E    x    
A A
As expressões para u ,  e  obtidas por meio da abordagem diferencial podem
ser comparadas às soluções determinadas pela a abordagem estática, a qual foi
anteriormente trabalhada neste capítulo.
Aplicando o equilíbrio estático da barra analisada, pode-se construir seu
diagrama de esforço normal, o qual é apresentado na Fig. (14.62). Assim, aplicando a
Eq.(14.2), considerando uma integração indefinida para a obtenção da equação dos
deslocamentos, obtém-se:

Figura 14.62 Diagrama de esforço normal.

N  x  qL  qx  qx2 qLx
u dx  u   dx  u     C1
L
EA L
EA 2EA EA

Das condições de contorno verifica-se que u  0  0 . Assim:

q  0 qL0
2

u  0     C1  0  C1  0
2EA EA

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 321

Portanto:
qx 2 qLx
u 
2 EA EA
A resposta obtida coincide com o resultado anteriormente apresentado,
mostrando que as duas abordagens são equivalentes. Com base na equação que governa
os deslocamentos axiais, as deformações normais e as tensões normais são
representadas pelas seguintes expressões:
qx qL
  u'   
EA EA
qx qL
  E     
A A
As respostas obtidas pelas abordagens aplicadas são iguais, o que indica a
equivalência entre elas.

14.4.2 – Exemplo 13

Determine as expressões dos deslocamentos axiais atuantes na barra apresentada


na Fig. (14.63). Compare os resultados da abordagem diferencial com os da abordagem
estática. A estrutura é composta por um material com módulo de elasticidade
longitudinal E.

Figura 14.63 Estrutura a ser analisada.

Conforme apresenta a Fig. (14.63), existem descontinuidades geométrica e de


carregamento na estrutura. Portanto, a Eq.(14.15) deve ser aplicada em cada um dos
trechos da estrutura isoladamente e em seguida compatibilizada. Assim:

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 322

q  x q  x
''
uAB  ''
uBC 
EAAB EABC
Iniciando a análise pela barra AB tem-se:
q  x q qx
  u dx    dx  uAB   C1
'' '' '
uAB AB
EAAB L L
EAAB EAAB
Integrando novamente obtém-se:
 qx  qx2
L AB L  EAAB 1 
       C1 x  C2
'
u dx C dx u AB
2EAAB
As condições de contorno para o trecho AB, são as seguintes:
qL1  F
u AB  0   0 ;  AB  0  
AAB
Utilizando a primeira condição de contorno apresentada obtém-se:

q  0
2

u AB  0   0  u AB  0     C1 0  C2  0  C2  0
2 EAAB
Já a segunda condição de contorno resulta em:
 qL1  F q0
'
u AB    em x=0 tem-se   AB  0    E  C1 E
E AAB EAAB
qL1  F
C1 
EAAB
Portanto, para o trecho AB tem-se:
qx2 qL  F
u AB  x     1 x
2EAAB EAAB

Para a barra BC, na qual q  x  é nula, tem-se:

q  x
  u dx   0dx  uBC  C3
'' '' '
uBC BC
EABC L L

Integrando novamente obtém-se:

u
'
BC dx    C3  dx  uBC  C3 x  C4
L L

As condições de contorno para a barra BC são as seguintes:


F
u AB  L1   uBC  0  ;  BC  x  
ABC

Lembrando que u '   e que   E obtém-se:

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 323

 BC F
'
uBC  x   C3   C3 
E EABC
Assim:
u AB  L1   uBC  0 
2
qxAB qL  F F
  1 xAB  xBC  C4
2 EAAB EAAB EABC
q  L1  qL1  F q  L1  qL1  F
2 2
F
  L1  0  C4  C4    L1
2 EAAB EAAB EABC 2 EAAB EAAB
Dessa forma, as expressões para os deslocamentos da estrutura são as seguintes:
qx2 qL  F
uAB  x     1 x para 0  x  L1
2EAAB EAAB

q  L1  qL1  F
2
F
uBC  x    x  L1 para L1  x   L1  L2 
EABC 2 EAAB EAAB
Os resultados obtidos podem ser comparados às respostas determinadas por
meio da abordagem estática, a qual foi aplicada anteriormente neste capítulo. Tal
abordagem requer a determinação do diagrama de esforço normal da estrutura. Impondo
as condições de equilíbrio de corpo rígido a barra analisada, obtém-se seu diagrama de
esforço normal, o qual é representado na Fig. (14.64).

Figura 14.64 Diagrama de corpo livre e Diagrama de esforço normal na barra analisada.

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 324

Com base no diagrama apresentado na Fig. (14.64) pode-se aplicar a Eq.(14.2)


integrando-a de forma indefinida para a obtenção da equação de deslocamento, o que
conduz a:
N  x  qL1  F  qx   qL1  F  x qx2
u dx  uAB   dx  u AB    C1
L
EA L
EAAB EAAB 2EAAB

Com base nas condições de contorno da estrutura, verifica-se que u AB  0   0 .

Assim:

 qL1  F  0  q  0 
2

u AB  0   0  u AB   C1  0  C1  0
EAAB 2 EAAB
Portanto, o deslocamento axial do trecho AB fica assim determinado:

uAB 
 qL1  F  x  qx2
EAAB 2EAAB
Deve-se ressaltar que a resposta obtida coincide com o resultado apresentado
pela abordagem diferencial. Isso demonstra que estas metodologias são equivalentes.
Já para o treco BC tem-se:
N  x F Fx
u dx  uBC   dx  uBC   C2
L
EA L
EABC EABC

Para que exista compatibilidade de deslocamentos entre os trechos da barra,


deve-se impor que u AB  L1   uBC  0  . Assim:

 qL1  F  L1  q  L1   qL1  F  L1  q  L1 
2 2
F0
  C2  C2 
EAAB 2 EAAB EABC EAAB 2 EAAB
Dessa forma, o deslocamento diferencial do trecho BC fica assim definido:

 qL1  F  L  q  L1 
2
F
uBC  x 1
EABC EAAB 2 EAAB
Que também coincide com a resposta anteriormente obtida, por meio da
abordagem diferencial. Portanto, verifica-se que as metodologias aplicadas são
equivalentes.

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 325

14.4.3 – Exemplo 14

Determine as expressões para o deslocamento axial, a deformação normal média


e a tensão normal média atuantes na barra apresentada na Fig. (14.65) por meio da
abordagem diferencial. Considere que o produto EA seja constante ao longo do
comprimento da barra. Trata-se de um problema hiperestático onde a abordagem
diferencial pode trazer algumas vantagens.

Figura 14.65 Estrutura a ser analisada.

Aplicando a Eq.(14.15) obtém-se:


q  x q qx
u ''  
EA
  u '' dx    EA dx
L L
 u'  
EA
 C1

Integrando a expressão anterior em relação ao comprimento da barra obtém-se:

 qx  qx2
L u ' dx  L  EA 1 
  C dx  u  
2EA
 C1 x  C2

Com base nas condições de vinculação atuantes na barra, constata-se que as


condições de contorno presentes são as seguintes:
u  0  0 ; u  L  0

Impondo a primeira das condições de contorno atuantes obtém-se:

q  0
2

u  0  0    C1 0  C2  C2  0
2EA
Já com a segunda condição de contorno obtém-se:

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 326

q  L
2
qL
u  L  0    C1L  C1 
2EA 2EA
Portanto, a expressão que governa o deslocamento axial da barra analisada é a
seguinte:
qx 2 qL
u  x
2 EA 2 EA
Já para as deformações e tensões normais médias os resultados são os seguintes:
qx qL
 u'   
EA 2EA
qx qL
  E     
A 2A
Deve-se reconhecer que a abordagem diferencial aportou vantagens na resolução
deste exemplo. Caso a metodologia estática fosse aplicada, o princípio da superposição
dos efeitos/método das forças poderia ser utilizado e os problemas 0 e 1 deveriam ser
resolvidos. Além disso, todas as reações de apoio deveriam ser determinadas, para que a
equação que governa a variação do esforço normal fosse determinada, o que poderia
tornar a resolução onerosa. Porém, a metodologia diferencial permitiu a solução do
problema de forma simples e elegante. Tal vantagem pode não ter sido latentemente
observada no exemplo 13, item 14.4.2, devido às descontinuidades geométrica e de
carregamento presentes. Assim, o autor sugere que o método de solução, diferencial ou
estático, seja escolhido pelo leitor de acordo com as vantagens e limitações de cada
abordagem.
Finalmente, deve-se também mencionar que a metodologia diferencial pode ser
também aplicada em conjunto com o princípio da superposição dos efeitos/método das
forças. Nesse caso, os (n+1) problemas isostáticos deverão ser resolvidos pela
abordagem diferencial, sendo n o grau de hiperestaticidade da estrutura. Os
deslocamentos alvos de cada um desses problemas isostáticos poderão ser determinados
por meio da equação diferencial que rege este problema mecânico, o que possibilitará a
posterior imposição da condição de compatibilidade de deslocamentos.

Capítulo 14 – Barras Carregadas Axialmente__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 327

15. – Torção em Elementos de Barra

15.1 – Introdução

Conforme apresentado nos capítulos anteriores, a ação dos esforços solicitantes


normal e cortante produz tensões normais e de cisalhamento, respectivamente. Neste
capítulo serão mostrados os efeitos (tensões e deformações) provocados em uma
estrutura quando esta é submetida a um esforço de torção.
Estruturas submetidas a esforços de torção são de grande importância no
cotidiano da engenharia, sendo muito utilizadas em equipamentos e manufaturas para a
transmissão de potência, por exemplo. Sendo assim, as tensões e as deformações
atuantes nesse problema devem ser cuidadosamente estudadas e mensuradas para
possibilitar o funcionamento estrutural seguro e econômico. Serão tratados,
inicialmente, barras de seção transversal circular submetidas à torção. Em seguida,
barras de seções transversais vazadas de septo único, retangulares e quadradas maciças
serão também estudadas.
Para a compreensão dos fenômenos envolvidos nesse importante problema
estrutural, deve-se considerar a barra em equilíbrio mostrada na Fig. (15.1), a qual está
submetida a um estado de torção puro.

Figura 15.1 Deslocamentos da barra submetida a esforço de torção.

Capítulo 15 – Torção em Elementos de Barra__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 328

Sob a ação dos momentos de torção, os pontos materiais que compõem a barra
deslocam-se seguindo o padrão mostrado na ilustração b da Fig. (15.1). Assim, as linhas
que definem os círculos perpendiculares ao eixo da barra permanecerão com sua forma
inicial após a atuação da torção, e as retas, originalmente paralelas ao eixo da barra,
apresentarão uma configuração deformada semelhante ao de uma hélice. Dessa forma,
desprezam-se os efeitos associados ao empenamento da seção transversal.
Com base no ilustrado na Fig. (15.1), verifica-se que o momento de torção
aplicado provoca na barra deslocamentos (giros) relativos entre as porções materiais
contidas no plano da seção transversal. Portanto, deformações surgirão em decorrência
deste deslocamento relativo.

15.2 – Deformação em um Eixo de Seção Transversal Circular Submetido


à Torção

Para a descrição cinemática do problema, ou seja, para a associação das


deformações aos deslocamentos de uma barra submetida a esforços de torção, deve-se
considerar uma barra engastada em uma de suas extremidades sendo submetida a um
momento de torção em sua extremidade oposta, como mostra a Fig. (15.2). Com base
no ilustrado dessa figura, verifica-se que à medida que a seção analisada afasta-se do
engaste, o ângulo de giro,   x  , também denominado de ângulo de torção, aumenta.

Esse fato pode ser facilmente observado considerando os planos sombreados mostrados
na Fig. (15.2), os quais afastam-se a medida que x cresce.

Figura 15.2 Barra submetida à torção.

Capítulo 15 – Torção em Elementos de Barra__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 329

Para que a variação do ângulo de torção ao longo do comprimento da barra seja


determinada, deve-se isolar um elemento de comprimento x desta barra, o qual está
localizado em uma dada posição radial, . Esse procedimento é mostrado na Fig. (15.3).
Devido à variação do ângulo de torção ao longo do comprimento da barra, as faces
anterior e posterior deste elemento observarão uma rotação diferencial. Em razão desta
rotação diferencial  , constata-se que o elemento em análise estará submetido a uma
deformação distorcional, ou distorção. Consequentemente, pela lei de Hooke, barras
submetidas à esforços de torção estarão sujeitas a tensões de cisalhamento.

Figura 15.3 Análise de um elemento de comprimento x .

Para mensurar esta distorção, deve-se determinar a variação do ângulo  ao


longo do comprimento da barra. Utilizando a definição de deformação distorcional
(distorção) e a ilustração apresentada na Fig. (15.3), constata-se que:

  '
2
Assumindo que o elemento analisado possua dimensões infinitesimais, pode-se
considerar que x  dx , consequentemente   d . Portanto,  pode ser facilmente

Capítulo 15 – Torção em Elementos de Barra__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 330

relacionado à  por meio da seguinte equação, a qual nada mais expressa que uma
compatibilidade geométrica:
d
 d  dx    (15.1)
dx
Portanto, como mostra a Eq.(15.1), verifica-se que a distorção  varia
linearmente de acordo com a distância radial do ponto analisado em relação ao centro da

seção transversal circular. Como o valor de d


dx , conhecido como módulo de
deformação por cisalhamento, é o mesmo para todos os pontos da seção transversal,
constata-se que a intensidade da distorção depende diretamente da localização radial do
ponto analisado. Então, a distorção será mínima quando o ponto analisado estiver sobre
o centro da seção circular e máxima quando o ponto analisado encontrar-se no limite da
seção transversal, ou seja, quando   c . Portanto, para os pontos contidos na seção
transversal circular, a distorção obedece à seguinte variação:

  max (15.2)
c
Como a distorção varia linearmente segundo a posição radial do ponto analisado,
observa-se que a tensão de cisalhamento associada apresentará a mesma variação,
assumindo a validade da lei de Hooke para o material que compõe a estrutura. Portanto,
para as tensões de cisalhamento, observa-se a seguinte variação:

  max (15.3)
c
Como mostrado na Eq.(15.3), as tensões de cisalhamento serão máximas quando
o ponto analisado pertencer a superfície da estrutura. Assim, em problemas envolvendo
esforços de torção, espera-se que a falha da estrutura ocorra no exterior do elemento e se
propague para o seu interior.

15.3 – Fórmula da Torção

Assumindo que as condições de equilíbrio sejam satisfeitas no elemento


estrutural, constata-se que o momento de torção aplicado conduzirá ao surgimento de
tensões de cisalhamento atuantes nos diversos elementos infinitesimais que compõem a
seção transversal da barra. Conforme mostra a Fig. (15.4), verifica-se que em um

Capítulo 15 – Torção em Elementos de Barra__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 331

elemento infinitesimal de área dA, surgirá uma força dF, a qual decorre da integração
das tensões de cisalhamento,  , sobre seu domínio. Ao multiplicar esta força por sua
distância em relação ao centro de gravidade da seção transversal (centro da seção
circular), obtém-se o momento de torção resistente do elemento infinitesimal. Somando-
se os momentos de torção resistente de todos os elementos infinitesimais que compõem
a seção transversal da estrutura, este deverá ser igual ao momento de torção aplicado,
para que a condição de equilíbrio seja observada.

Figura 15.4 Equilíbrio de um elemento torcido.

Assim, o momento de torção resistente do elemento infinitesimal é dado por:


dMT   dA (15.4)
Integrando a Eq.(15.4) ao longo da área da seção transversal do elemento
estrutural e lembrando que o momento resistente deve ser igual ao momento externo
aplicado tem-se:

 dM
A
T    dA
A
(15.5)

Sabendo que  é dado pela Eq.(15.3), pode-se reescrever a equação anterior


como:
  max
MT    max dA  MT    dA
2
(15.6)
A
c c A

O termo integral remanescente no segundo membro da Eq.(15.6) é uma


propriedade geométrica da seção transversal denominada momento polar de inércia.

Capítulo 15 – Torção em Elementos de Barra__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 332

Para seções transversais circulares maciças, esta integral é igual a:


2 c
 c4
IT    2 dA      d  d  I T 
2
. Para seções transversais vazadas o
A 0 0
2

  ce4  ci4 
momento polar de inércia é igual a IT  2 , onde ce e ci são os raios externo
e interno da seção transversal, respectivamente.
Portanto, com base na inserção do momento polar de inércia, a Eq.(15.6) pode
ser reescrita como:
MT c
 max  (15.7)
IT
Sabendo que as tensões de cisalhamento variam linearmente segundo a distância
do ponto analisado em relação ao centro de gravidade da seção transversal, como
mostrado na Eq.(15.3), pode-se reescrever a Eq.(15.7) para qualquer ponto pertencente à
seção transversal do elemento estrutura considerado. Nesse caso, obtém-se a fórmula da
torção, a qual é apresentada abaixo:
MT 
 (15.8)
IT
Com base na utilização da Eq.(15.8) pode-se efetuar o pré-dimensionamento de
estruturas submetidas à torção, bem como determinar as tensões de cisalhamento
desenvolvidas por momentos de torção aplicados.

15.3.1 – Exemplo 1

A estrutura de barra geral mostrada na Fig. (15.5) suporta uma placa de trânsito
retangular cujas dimensões são 2,5 x 1,5 m. Sabendo que sobre esta placa atua um vento
que gera uma força distribuída igual a 5,0 kN/m2, determine o diâmetro mínimo da
seção transversal desta barra para que não ocorra a falha em torção. O material que
compõe a barra possui tensão de proporcionalidade igual a  p  250MPa .

Deve-se, em primeiro lugar, determinar o momento de torção que solicita a barra


vertical. Este é facilmente calculado como:
MT   2,5 1,5  5  3  MT  56, 25 kNm

Capítulo 15 – Torção em Elementos de Barra__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 333

Aplicando a fórmula da torção, Eq.(15.8), sabendo que a tensão máxima deve ser
igual à tensão de proporcionalidade tem-se:
MT  M  2  56, 25
    T 4  3     5, 23 102 m
IT    250 103
2
Portanto, o diâmetro mínimo é igual a 2 = 10,46 cm.

Figura 15.5 Estrutura a ser analisada.

Considerando agora que o material seja substituído por outro com  p  300MPa ,

calcule a economia de material se uma seção vazada for utilizada. Assuma que o
diâmetro externo seja o calculado anteriormente.
MT  MT   56, 25  5, 23 10 2
  
 4

2 
 5, 23  10 
2 4
  4
i 


300 103
IT
2
  e   i4 

 i  3, 336 10 m
2

Assim, observa-se uma economia de material significativa quando uma seção


circular vazada é adotada, embora o material analisado seja um pouco mais resistente.
Isso ocorre pelo fato de que próximo ao centro de gravidade da seção transversal as

Capítulo 15 – Torção em Elementos de Barra__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 334

tensões de cisalhamento possuem baixa intensidade. Portanto, o material não é utilizado


em sua máxima capacidade nessa região. Consequentemente, o material nessa região
contribui com pouca efetividade para a resistência mecânica do elemento estrutural.

15.3.2 – Exemplo 2

Uma barra, cuja seção transversal é circular maciça de raio igual a r, está
submetida a um momento de torção, M T , como mostra a Fig. (15.6). Esse esforço deve

ser transmitido através de uma ligação parafusada, como mostrado nessa mesma figura.
Determine a quantidade de parafusos necessária para que a tensão de cisalhamento
máxima no eixo seja igual à tensão de cisalhamento nos parafusos. Admita tensão
cisalhante média nos parafusos e diâmetro dos parafusos igual a D.
A tensão de cisalhamento provocada no eixo pode ser determinada utilizando-se
a fórmula da torção, Eq.(15.8). Assim:
MT  MT r 2M T
     (15.9)
IT  r4  r3
2

Figura 15.6 Estrutura a ser analisada.

Para que o equilíbrio ocorra, o momento MT aplicado ao eixo deve ser igual ao
momento de torção associado à força desenvolvida nos nos parafusos. Portanto:
M T  nFparafuso R (15.10)

sendo: n o número de parafusos e Fparafuso a força resistente de cada parafuso.

Porém, a força que cada parafuso suporta pode ser determinada com base na
tensão de cisalhamento média atuante em sua seção transversal. Assim:

Capítulo 15 – Torção em Elementos de Barra__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 335

Fparafuso   parafuso  A (15.11)

Do enunciado do problema, verifica-se que a tensão dada na Eq.(15.9) deve ser


igual a  parafuso . Utilizando esta informação e substituindo a Eq.(15.11) na Eq.(15.10)

tem-se:
2M T  D 2 2r 3
MT  n  3  R  n
r 4 RD2
Assim, o número de parafusos não depende do momento de torção aplicado e
sim da configuração da ligação.

15.4 – Distribuição das Tensões de Cisalhamento na Barra

Conforme apresentado previamente neste capítulo, as tensões de cisalhamento


apresentam variação linear no plano da seção transversal segundo a posição radial do
ponto analisado. Quão mais distante o ponto considerado está do centro de gravidade da
seção transversal maior será a tensão de cisalhamento atuante. A ilustração a da Fig.
(15.7) mostra esta variação. Porém, é interessante salientar que as tensões de
cisalhamento atuantes no plano da seção transversal atuam também, por equilíbrio, ao
longo do comprimento da barra, como mostra a ilustração b da Fig. (15.7). Essa
constatação deve ser levada em consideração quando o material utilizado na
composição do elemento estrutural apresenta resistências mecânicas diferentes em
direções diferentes, como a madeira, por exemplo. Isso explica o fato de alguns eixos
submetidos à torção apresentarem danos mecânicos ao longo de seu comprimento e não
no plano de sua seção transversal.

Figura 15.7 Fluxo de tensões de cisalhamento.

Capítulo 15 – Torção em Elementos de Barra__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 336

15.5 – Giro Relativo. Ângulo da Torção

Quando um eixo está submetido a um momento de torção surgirão tensões de


cisalhamento no plano de sua seção transversal como consequência da transmissão
desse esforço pelos microcomponentes do material. Estas tensões podem ser utilizadas
para, por meio da lei de Hooke, determinar as distorções decorrentes da aplicação do
momento de torção. Além disso, as distorções estão associadas à rotação relativa entre
as seções transversais que compõem a barra, como mostrado na Eq.(15.1).
Da forma semelhante ao apresentado no capítulo 14, onde foram determinados
os deslocamentos axiais de barras axialmente carregadas, pode-se também determinar a
rotação relativa, ϕ, entre as seções transversais de barras submetidas à torção. O ângulo
ϕ é chamado de ângulo da torção. Para o cálculo de ϕ deve-se retomar a Eq.(15.1), a
qual é reescrita abaixo:
d 
   d  dx (15.12)
dx 
Utilizando a lei de Hooke para as tensões de cisalhamento,   G , e a fórmula
MT 
da torção,   , pode-se reescrever a compatibilidade descrita pela Eq.(15.12) da
IT
seguinte maneira:
MT  1 1 MT
d    dx  d  dx (15.13)
IT G  IT G
Para a determinação da rotação relativa das seções transversais do eixo
submetido à ação do momento de torção, somam-se as rotações de todas as seções
transversais da barra ao longo do comprimento analisado. Essa operação é efetuada
integrando a Eq.(15.13) ao longo do comprimento analisado da barra. Então:
MT MT
 d   I G dx
L L T
 
I
L T
G
dx (15.14)

Para o caso particular em que os termos integrandos são constantes em relação


ao comprimento da barra, a integral apresentada na Eq.(15.14) transforma-se em uma
somatória, sendo igual a:
MT L
 (15.15)
IT G

Capítulo 15 – Torção em Elementos de Barra__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 337

Com base nos resultados apresentados nas Eq.(15.14) e Eq.(15.15) pode-se


determinar a rotação relativa de seções transversais de barras submetidas à torção.
Apesar do conhecimento dessas rotações por si só ser de grande importância,
especialmente na análise de condições limites associadas ao estado limite de serviço,
tais equações são de grande utilidade na solução de problemas estaticamente
indeterminados. Nesses tipos de problema, as rotações possibilitam a incorporação de
condições de compatibilidade, as quais podem ser convenientemente utilizadas na
determinação das reações de apoio hiperestáticas.

15.5.1 – Exemplo 3

Uma barra engastada-livre está submetida a um conjunto de momentos de


torção, como mostra a Fig. (15.8). Sabendo que no ponto P existe uma engrenagem,
determine o deslocamento relativo do dente da engrenagem em decorrência dos
carregamentos aplicados. Sabe-se que G  80GPa e eixo  20,0 mm .

Figura 15.8 Estrutura a ser analisada.

O deslocamento do dente da engrenagem pode ser determinado a partir da


Eq.(15.15). Primeiramente, deve-se construir o diagrama de momento torçor utilizando
as equações de equilíbrio de corpo rígido. Como a barra analisada é isostática, este
diagrama pode ser facilmente construído, como indicado na Fig. (15.9).

Capítulo 15 – Torção em Elementos de Barra__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 338

Outra grandeza de interesse é o momento polar de inércia da seção transversal


do eixo. Sabendo que o eixo possui raio igual a 20,0 mm tem-se:

  20 10 3 
4

IT   2, 513 10 7 m 4
2

Figura 15.9 Diagrama de momento torçor.

Portanto, a rotação do ponto P é dada por:

p 
150  0, 40

 130  0,3
80 109  2,513 107 80 109  2,513 107


 170  0,5  3,183 103 rad
7
80 10  2,513 10 9

O sinal negativo indica que o giro da seção transversal ocorre no sentido horário,
conforme a convenção para momentos de torção positivos. Assim, o deslocamento do
dente da engrenagem pode ser determinado com base na rotação do ponto P como
mostra a ilustração apresentada na Fig. (15.10). Então, Sp é igual a:
S p  p r  S p  3,183 103 100  S p  0,318mm

Figura 15.10 Rotação do ponto P.

Capítulo 15 – Torção em Elementos de Barra__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 339

15.6 – Problemas Estaticamente Indeterminados

A equação que permite a determinação do ângulo de giro na torção possibilita


também a inserção de uma condição de compatibilidade de rotação para a análise de
problemas estaticamente indeterminados. Nesses problemas, pode-se escrever a
condição de compatibilidade diretamente, quando facilmente visualizada, ou
alternativamente utilizar o método das forças, superpondo os diversos problemas que o
compõem. O leitor pode consultar o conteúdo apresentado no capítulo 14 para relembrar
os procedimentos e etapas associados ao método das forças.

15.6.1 – Exemplo 4

Determine as reações de apoio da estrutura mostrada na Fig. (15.11).

Figura 15.11 Estrutura a ser analisada.

Para a determinação das reações de apoio nesta estrutura, deve-se, inicialmente,


construir o diagrama de corpo livre da estrutura. Este diagrama é mostrado na Fig.
(15.12). Para o sentido dos momentos de torção reativos arbitrados, pode-se construir o
diagrama de momento torçor, o qual é apresentado na Fig. (15.13).

Capítulo 15 – Torção em Elementos de Barra__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 340

Figura 15.12 Diagrama de corpo livre.

Figura 15.13 Diagrama de momento torçor.

Assim, com base na ilustração apresentada na Fig. (15.12), pode-se escrever a


equação de equilíbrio do problema, a qual resulta em:
M B  800  500  M A  0  M B  M A  300
Como ambos os apoios são do tipo engaste, a condição de compatibilidade pode
ser facilmente expressa por AB  0 . Então:

 M B  0, 2  M A  500 1, 5 M A  0, 3
 AB  0    0
IT  G IT  G IT  G
0, 2  M B  1, 5  M A  750  0, 3  M A  0  1,8  M A  0, 2  M B  750  0
Resolvendo conjuntamente as equações que resultaram das condições de
compatibilidade e equilíbrio obtêm-se:

Capítulo 15 – Torção em Elementos de Barra__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 341

 M A  M B  300

1,8  M A  0, 2  M B  750
Que matricialmente podem ser escritas como:
1 1   M A   300   M A   345
1,8 0, 2   M    750      Nm
  B    M B   645 
O autor sugere que o leitor resolva este mesmo problema utilizando o método
das forças. Veja o vídeo Cap 15 2 no canal Mecânica dos Moles no youtube.

15.6.2 – Exemplo 5

A barra mostrada na Fig. (15.14) é composta por dois materiais diferentes cujos
módulos de elasticidade transversal são iguais a G1  3,8 108 kN m2 e

G2  1, 2 108 kN m2 . Sabendo que a estrutura está submetida a um momento de torção


igual a 250 kNm, mostre a distribuição de tensões de cisalhamento atuantes na seção
transversal da barra.

Figura 15.14 Estrutura a ser analisada.

Este problema é hiperestático, uma vez que apenas com a equação de equilíbrio
não é possível determinar as parcelas do momento de torção que são resistidas pelos
materiais 1 e 2. Para isso, deve-se utilizar uma equação de compatibilidade, a qual é
escrita em termos de giros. Sabendo que o momento de torção é resistido por ambos os
materiais, a seguinte equação de equilíbrio pode ser escrita:
T1  T2  250  0
Para que não ocorra falha no plano da seção transversal, a distorção de ambos os
materiais deve ser igual. Portanto, o giro deve ser contínuo no plano da seção

Capítulo 15 – Torção em Elementos de Barra__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 342

transversal. Assim, como indicado na Fig. (15.15), a equação de compatibilidade para o


problema em questão é a seguinte:
  1  2

Figura 15.15 Condição de compatibilidade.

Portanto, a condição de compatibilidade pode ser explicitada como:


T2  L T1  L

 
10 10    5 10   1, 2 10  5 10 
2 4 2 4  2 4
8
 3,8 108
2  2
T2 T1
  T2  4, 73684T1
17671, 459 3730, 641
Resolvendo as equações de compatibilidade e equilíbrio conjuntamente obtêm-
se:
 T1  T2  250

 4, 73684T1  T2  0
Matricialmente este sistema fica assim definido:
 1 1  T1   250  T1   43, 578 
 4, 73684 1 T    0      kN  m
  2   T2   206, 422 
Sabendo que a variação das tensões de cisalhamento é linear no plano da seção
transversal, tem-se que a tensão de cisalhamento máxima no material 1 é dada por:
43,578  5 102
 max    max  221940,93 kN m2  221,940MPa

2
 5 10 
2 4

Capítulo 15 – Torção em Elementos de Barra__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 343

A tensão de cisalhamento mínima no material 1 é igual a zero e atua no centro


de gravidade da seção transversal. Para o material 2, devem ser determinadas as tensões
de cisalhamento máximas e mínimas atuantes. Assim, a tensão de cisalhamento mínima
é dada por:
206, 422  5 102
 min    min  70086,574 kN m2  70,086MPa

10 10    5 10  
2 4 2 4 

2 
Já a tensão de cisalhamento máxima é dada por:
206, 422 10 102
 max    max  140173,148 kN m2  140,173MPa

 10 102    5 102  
4 4

2 
Assim, a distribuição das tensões de cisalhamento para o problema em análise é
a mostrada na Fig. (15.16).
A descontinuidade da tensão de cisalhamento observada na interface entre os
materiais é esperada devido à diferença entre os valores dos módulos de elasticidade
transversal dos materiais envolvidos na constituição da estrutura. Apesar da
descontinuidade em  na interface, a deformação neste conjunto de pontos é a mesma,
indicando, portanto, a continuidade do corpo. A continuidade nas deformações indica
que os materiais deformam-se conjuntamente sob a ação do carregamento externo. A
deformação na interface é dada por:
  G
221940, 0
1    1  5,84052 104
3,8 10 8

70086, 0
2    2  5,84052 104
1, 2 108

Figura 15.16 Distribuição das tensões cisalhantes.

Capítulo 15 – Torção em Elementos de Barra__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 344

15.7 – Torção em Barras de Seção Transversal Retangular e Quadrada

Até o presente momento, foram obtidas as equações que relacionam as tensões


de cisalhamento e a rotação relativa de seções transversais circulares pertencentes a
eixos ao momento de torção atuante (esforço solicitante). Estas equações foram obtidas
assumindo-se que as seções transversais posicionadas ao longo do comprimento da
barra mantêm-se planas e perpendiculares ao eixo da mesma após a atuação do
momento de torção. Portanto, assumem-se que os efeitos do empenamento da seção
transversal são desprezáveis. Essa hipótese é válida graças à axissimetria da seção
transversal (simetria em relação ao eixo da barra). Porém deve-se perguntar: o que
ocorre em seções transversais não axissimétricas submetidas a esforços de torção?
Para ilustrar os efeitos mecânicos decorrentes da ausência de axissimetria, pode-
se considerar uma barra de seção transversal quadrada submetida a um momento de
torção, conforme mostrado na Fig. (15.17). Verifica-se que as linhas que definem as
diagonais da seção transversal da barra e as linhas que ligam os pontos médios dos lados
dessas diagonais mantêm-se retas após a deformação. No entanto, qualquer outra linha
do corpo se deformará. Dessa forma, os efeitos do empenamento da seção transversal
não podem ser desprezados, como apresenta a Fig. (15.18).

Figura 15.17 Configurações indeformada e deformada.

Figura 15.18 Empenamento da seção transversal.

Capítulo 15 – Torção em Elementos de Barra__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 345

Assim, novas equações devem ser incorporadas para a determinação da tensão


de cisalhamento e do ângulo de giro relativo das seções transversais para barras de
seção transversal retangular ou quadrada. Ao contrário das barras de seção transversal
circular, nas barras de seção transversal retangular ou quadrada as tensões de
cisalhamento são nulas nos pontos mais distantes do centro de gravidade da seção. Para
compreender esse fato, deve-se considerar, inicialmente, um elemento de dimensões
infinitesimais localizado no vértice da seção transversal de uma barra retangular
submetida a um momento de torção. Esse elemento está ilustrado na Fig. (15.19), sendo
que adota-se um sistema de coordenadas cartesiano, onde cada eixo cartesiano é
perpendicular a uma das arestas do cubo.

Figura 15.19 Elemento infinitesimal e estado de tensão atuante.

Como essas arestas estão na superfície da barra e nenhuma força de superfície é


aplicada sobre a barra, as tensões de cisalhamento nessas regiões devem ser nulas.
Portanto, o estado de tensão nessa região é dado por:

 yx  0  yz  0
 zx  0  zy  0 (15.16)

 xy  0  xz  0
Com base na observação da configuração deformada da barra, Fig. (15.17) e Fig.
(15.18), intuitivamente percebe-se que as maiores tensões de cisalhamento estarão

Capítulo 15 – Torção em Elementos de Barra__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 346

atuando no centro de cada uma das faces da barra, uma vez que é nessa região onde
observam-se as maiores distorções.
A demonstração da equação que relaciona as tensões de cisalhamento ao
momento de torção em barras de seção transversal retangular ou quadrada requer
conhecimentos apresentados em teorias mais avançadas como a Teoria da Elasticidade,
sendo, portanto, além do escopo desse curso. Nesse caso, torna-se necessária a aplicação
de funções de tensão ou mesmo a utilização de analogias, como a analogia de
membrana. Como a dedução do equacionamento desse problema requer um
conhecimento mais avançado, apresentam-se neste texto as expressões para o cálculo da
tensão máxima de cisalhamento e do ângulo de giro de uma barra de eixo reto com
seção transversal retangular constante atuando em regime elástico, como mostra a Fig.
(15.20). Essas expressões estão escritas nas Eq.(15.17) e Eq.(15.18).
MT
 max  (15.17)
c1ab 2
MT L
 (15.18)
c2ab3G
sendo que os coeficientes c1 e c2 dependem da relação a/b, podendo ser encontrados na
Tabela 15.1. Os parâmetros a e b referem-se à maior e à menor dimensões da seção
transversal, respectivamente.

Figura 15.20 Barra de seção transversal retangular constante.

Capítulo 15 – Torção em Elementos de Barra__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 347

Tabela 15.1 Determinação dos coeficientes c1 e c2.


a/b c1 c2
1,0 0,208 0,1406
1,2 0,219 0,1661
1,5 0,231 0,1958
2,0 0,246 0,229
2,5 0,258 0,249
3,0 0,267 0,263
4,0 0,282 0,281
5,0 0,291 0,291
10,0 0,312 0,312
∞ 0,333 0,333

15.7.1 – Exemplo 6

As duas barras ilustradas na Fig. (15.21) estão submetidas à ação de um


momento de torção de intensidade igual a M T  1800 N  m . Sendo G  26 GPa ,
determine as tensões de cisalhamento máximas em cada uma das barras e o ângulo de
rotação dessas no ponto B.

Figura 15.21 Barras a serem analisadas.

Capítulo 15 – Torção em Elementos de Barra__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 348

A barra a é uma barra de seção transversal quadrada. Assim, nessa barra


a  b  60 , que segundo a Tabela 15.1 conduz a:

a  1   c1  0, 208
b c2  0,1406
Aplicando as Eq.(15.17) e Eq.(15.18) obtém-se:
MT 1800
 max    max    max  40,06 MPa
0,208  60 103   60 103 
2 2
c1ab

MT L 1800  300 103


    
c2ab3G 0,1406  60 10   60 10   26 10
3 3 3 9

  0,0114 rad  0,653º


Já na barra b, observa-se que a  95 e a  38 . De acordo com o apresentado na
Tabela 15.1 tem-se:

a  95  2,5   c1  0, 258
b 38 c2  0, 249
Utilizando-se as Eq.(15.17) e Eq.(15.18) tem-se:
MT 1800
 max    max    max  50,86 MPa
0,258  95 10   38  10 
3 2
2 3
c1ab

MT L 1800  300 103


   
0,249  95  103   38  103   26  109
3
c2ab3G
  0,016rad  0,917º

15.8 – Eixos Vazados de Seções Transversais de Paredes Finas

Após a determinação das equações que possibilitam a avaliação da tensão de


cisalhamento máxima e o ângulo de rotação/giro de eixos com seções transversais
retangulares ou quadradas solicitadas à torção, pode-se então continuar o estudo da
torção de eixos considerando agora o caso onde tais estruturas sejam formadas por
seções transversais compostas por elementos de paredes finas. Esse cenário conduz ao
estudo de seções transversais vazadas de septo único.

Capítulo 15 – Torção em Elementos de Barra__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 349

Com o objetivo de deduzir as equações que permitem a determinação da


variação das tensões de cisalhamento nesse problema, deve-se considerar uma barra de
seção transversal não circular vazada de paredes finas, como mostrado na Fig. (15.22),
cuja espessura da parede seja t. A espessura da parede pode variar nas diversas paredes
finas que compõem a seção transversal. Porém, esta deve ser pequena o bastante se
comparada à altura da parede (aproximadamente 10 vezes menor é suficiente).
Assumindo que a barra esteja em equilíbrio, cada componente material que
forma a barra deverá também estar na condição de equilíbrio. Assim, isolando um
elemento infinitesimal dessa barra, como mostrado na Fig. (15.22), cujo comprimento
circunferencial é igual a s , comprimento longitudinal igual a dx e espessura t, este
elemento estará submetido a duas forças equivalentes de intensidades iguais a FA e FB ,
atuantes em suas faces A e B, as quais decorrem da atuação das tensões de cisalhamento
atuantes nessas faces. Estas forças devem estar em equilíbrio estático, uma vez que
assume-se a ausência de forças normais associadas ao empenamento da seção
transversal. Assim, nesse problema, assume-se que as seções transversais planas e
perpendiculares ao eixo da barra assim permanecem após a atuação do carregamento.
Portanto:

F x 0  FA  FB  0 (15.19)

Figura 15.22 Barra de seção não circular vazada de paredes finas. Equilíbrio elemento AB.

De acordo com o apresentado na Fig. (15.22), verifica-se facilmente que as áreas


das faces A e B do elemento infinitesimal são dadas por tAdx e tBdx , respectivamente.

Sendo  A e  B as tensões de cisalhamento atuantes nas faces A e B, respectivamente,

pode-se exprimir as forças FA e FB da seguinte forma:

Capítulo 15 – Torção em Elementos de Barra__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 350

FA   A  t Adx  FB   B  tB dx  (15.20)

Substituindo o resultado obtido na Eq.(15.20) na Eq.(15.19) obtém-se:


 A  t Adx   B  tB dx   0   At A   BtB (15.21)

Portanto, o produto entre a tensão de cisalhamento e a espessura da parede é


constante ao longo da barra. Por conveniência, define-se que esse produto seja igual a q,
grandeza denominada fluxo de cisalhamento. Assim:
q t (15.22)
Tomando agora uma porção do elemento AB apresentado na Fig. (15.22), pode-
se chegar a uma interessante conclusão. Separando uma porção de AB, conforme
indicado na Fig. (15.23), observa-se que as tensões de cisalhamento nas faces superior e
inferior do elemento são nulas, uma vez que estas faces fazem parte da superfície da
barra, sendo, portanto, livres de forças de superfície aplicadas. Portanto, a tensão de
cisalhamento em qualquer ponto de uma barra de seção transversal vazada de paredes
finas submetida à torção é paralela à superfície da parede, como mostra a Fig. (15.23), e
seu valor médio,  AVG , é calculado pela Eq.(15.22).

Figura 15.23 Porção de AB. Tensão de cisalhamento em um ponto qualquer da seção transversal.

Para a obtenção da relação entre o momento de torção, M T , e o fluxo de


cisalhamento, q, deve-se considerar um elemento infinitesimal pertencente à parede fina
da seção transversal, como indicado na Fig. (15.24). Sendo ds o comprimento do
elemento, t sua espessura, dF a força atuante nessa porção material e h a distância
perpendicular entre dois eixos passando pelo centro de gravidade do elemento
infinitesimal e um ponto O, que indica o centro de cisalhamento da seção transversal,
determinam-se a área dessa porção material e a força nela atuante da seguinte maneira:

Capítulo 15 – Torção em Elementos de Barra__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 351

dA  tds (15.23)
dF   dA  dF    tds   dF  qds (15.24)

Figura 15.24 Elemento infinitesimal da parede da seção.

Já o momento gerado pela força dF em relação ao ponto O é dado por:


dM  hdF  dM  h  qds   dM  q  hds  (15.25)

Com base no conhecimento de identidades trigonométricas básicas, constata-se


que o produto hds é igual a duas vezes o valor da área delimitada pelo triângulo
definido pelos extremos do elemento ds e pelo ponto O. Portanto, pode-se reescrever a
Eq.(15.25) como:
dM  q  2dAm  (15.26)

sendo dAm igual a área média contida no contorno da linha central da espessura da seção
transversal de paredes finas vazada. Esse parâmetro pode ser visualizado na Fig.
(15.25).
Para que a condição de equilíbrio seja satisfeita, o momento de torção aplicado
deve ser igual ao somatório dos dM atuantes em todos os elementos que compõem a
seção vazada de parede fina. Assim:
M T   dM  M T   q  2dAm  (15.27)

Como q é constante ao longo da espessura da parede fina, pode-se simplificar a


equação anterior da seguinte forma:
M T  2 qAm (15.28)

Capítulo 15 – Torção em Elementos de Barra__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 352

Substituindo a Eq.(15.22) na Eq.(15.28), determina-se a tensão de cisalhamento


em qualquer ponto localizado ao longo da parede fina da seção transversal por meio da
seguinte equação:
MT
M T  2 tAm   (15.29)
2tAm

Figura 15.25 Área definida pelo contorno médio de uma seção transversal de paredes finas vazada.

O giro da seção transversal é calculado com base na hipótese de que a tensão de


cisalhamento seja constante ao longo da espessura da parede fina. Assim, pela lei de
Hooke, a distorção paralela à parede final é definida como:
 MT
   (15.30)
G 2tAmG

sendo G o módulo de elasticidade transversal.


Assumindo a validade do regime de pequenos deslocamentos, o arco de
comprimento ds , apresentado na Fig. (15.24), é dado por: ds   dx ou d h , sendo d
o diferencial de giro da seção transversal. Esta constatação decorre da compatibilidade
geométrica apresentada pela Eq.(15.3), a qual tem como base a condição apresentada na
Fig. (15.3). Portanto, com base nessas duas constatações, pode-se relacionar o giro da
seção transversal ao momento de torção da seguinte forma:
M T dx M T dx
ds   dx  ; ds  d h  d h  (15.31)
2tAmG 2tAmG

Capítulo 15 – Torção em Elementos de Barra__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 353

Integrando a Eq.(15.31) ao longo do perímetro da seção transversal obtém-se


uma expressão que permite a determinação do giro médio da seção transversal em
função do momento de torção aplicado. Assim:
M T dx 1 M T dx 1
 d hds  2 A G  t ds
s s
 d  hds 
s 2 AmG s t
 ds (15.32)
m

Como mostrado anteriormente, tem-se que  hds  2 Am . Portanto:


s

M T dx ds
4 Am2 G  t
d   (15.33)

Finalmente, o giro diferencial entre as extremidades consideradas de uma barra


solicitada por um momento de torção é obtido somando-se os giros relativos de todas as
seções transversais que a compõem. Portanto, integrando a Eq.(15.33) ao longo do
comprimento da barra obtém-se:
M T  ds 
 2    dx (15.34)
L
4 Am G  t 
A integral apresentada na Eq.(15.34) deve ser calculada levando-se em
consideração a variação das dimensões da seção transversal e a variação do momento de
torção atuante na barra. Caso todas as grandezas envolvidas no problema sejam
constantes, a última integral torna-se igual a:
M T L ds
4 Am2 G  t
  (15.35)

Assim, as Eq.(15.34) e Eq.(15.35) permitem a determinação de giros em barras


vazadas compostas por elementos de paredes finas.

15.8.1 – Exemplo 7

Um momento de torção de intensidade igual a 6,8 kNm está aplicado em uma


barra de seção transversal vazada composta por elementos de paredes finas. A
geometria da seção transversal assim como suas dimensões estão apresentadas na Fig.
(15.26). Com base nessas informações, determine as intensidades das tensões de
cisalhamento atuantes nos pontos a e b mostrados na Fig. (15.26).

Capítulo 15 – Torção em Elementos de Barra__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 354

Para a solução deste exemplo, deve-se, inicialmente, determinar o valor de Am .


Sabe-se que esta variável refere-se à área da seção transversal calculada considerando-
se as dimensões médias dos elementos de paredes finas. Dessa forma:
 12, 7  6,3 
Am  150  2 100  2   Am  12865, 01 mm 
2

 2  2 
Am  1, 286501102 m2

Figura 15.26 Seção transversal analisada.

Para o ponto a, a tensão de cisalhamento é dada por:


6,8
a    a  41,949 MPa
2  6,3 10 1, 286501102
3

Já para o ponto b, a tensão de cisalhamento é igual a:


6,8
b    b  20,809 MPa
2 12,7 10 1, 286501102
3

Os giros podem ser analisados assumindo-se que a seção transversal ilustrada na


Fig. (15.26) pertença a uma barra de comprimento igual a 2,0m, a qual encontra-se na
condição engastada-livre. Nessa condição, o momento de torção ao longo do
comprimento da barra é constante e igual a 6,8 kNm . Considerando que o material que
compõe essa barra possua G  100 GPa , pode-se determinar o giro na extremidade livre
utilizando a Eq. (15.34). A integral de perímetro a ser avaliada na Eq. (15.34) pode ser
assim explicitada, com base nas dimensões da seção transversal:

Capítulo 15 – Torção em Elementos de Barra__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 355

ds  6,3  1   12, 7  1  ds
 t
 2 100  2 

 
2  12, 7 
 2 150  2 


2  6,3 
  t
 58,343

Portanto, o giro na extremidade livre é igual a:


M T  ds  M T L ds
    dx   
L
2
4 AmG  t  4 Am2 G  t
6,8  2
 58,343    1,1985 102 rad
4  1, 286501 10 
2 2
100 10 6

15.8.2 – Exemplo 8

Determine o momento de torção máximo que pode ser aplicado à barra


apresentada na Fig. (15.27), a qual é uma barra de seção transversal triangular vazada
com espessura de parede igual a 5 mm e módulo de elasticidade transversal igual a 75
GPa, sabendo que a tensão de cisalhamento admissível do material que a compõe é
igual a 90 MPa. Para esse valor de momento máximo, determine o ângulo de rotação da
seção transversal localizada na extremidade da barra, considerando que sua extremidade
oposta esteja engastada.
Para a resolução desse exemplo, deve-se, inicialmente, determinar o valor da
área definida pelo contorno médio das paredes finas que compõem a seção transversal
da barra em análise. Tal área é denominada área média.

Figura 15.27 Estrutura a ser analisada e seção transversal.

Segundo as dimensões apresentadas na Fig. (15.27) tem-se:

Capítulo 15 – Torção em Elementos de Barra__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 356

1
Am  200  200 sen  60    Am  17320, 51 mm 2  Am  1, 732051 10 2 m 2
2
Aplicando a Eq.(15.29) obtêm-se:
MT
90 103   MT  15,558 kNm
2  5 10 1,732051102
3

Já o ângulo de rotação da seção é dado pela Eq. (15.33). Como a espessura das
paredes que compõem a seção transversal da barra é constante, a integral de contorno
que surge nessa equação resulta simplesmente no perímetro médio da seção. Assim:
M T L ds M L
 2 

4 AmG t
   2T  ds 
4 AmGt
15,558  3
  3  200 10 
3
   6, 2355 102 rad
4  1, 73205110 
2 2
 75 10  5 10
6 3

15.8.5 – Exemplo 9

Determine a tensão de cisalhamento média atuante nos pontos A e B da seção


transversal vazada simétrica mostrada na Fig. (15.28) sabendo que a espessura das
paredes finas da seção é igual a 5,0 mm. Em seguida, considerando que a barra esteja
submetida a um momento de torção constante ao longo de seu comprimento, determine
o ângulo de rotação da seção transversal da extremidade dessa barra sabendo que seu
comprimento é igual a 3,0 m e que o módulo de elasticidade transversal do material é
igual a 75 GPa.

Figura 15.28 Estrutura a ser analisada.

Capítulo 15 – Torção em Elementos de Barra__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 357

Para a determinação da tensão de cisalhamento atuante nos pontos desejados


deve-se calcular o valor de Am . Com base nas dimensões apresentadas na Fig. (15.28)
obtêm-se:
Am  160 160  4  60  60  Am  11200 mm2  Am  1,12 102 m2
Aplicando a Eq.(15.29), as tensões de cisalhamento nos pontos A e B são iguais
devido à espessura uniforme da parede que compõe a seção transversal. Assim:
40
 A B    A   B  357,142 kPa
2  5 10 1,12 102
3

O ângulo de rotação da seção transversal de extremidade da barra é calculado


considerando-se a Eq. (15.33). Assim como no exemplo anterior, a espessura das
paredes finas que compõem a seção transversal da barra é constante. Portanto, a integral
de contorno que surge nessa equação resulta simplesmente no perímetro médio da
seção. Dessa forma:
M T L ds M L
 2 

4 AmG t
   2T  ds 
4 AmGt
40  3
 8  60 10 3
 4  40 103  
4  1,12 10 
2 2
 75 10  5 10
9 3

  4, 0816 104 rad


Ressalta-se que o sinal negativo que surge no ângulo de rotação está associado
ao sentido de atuação do momento de torção. Assim, giros da seção transversal no
sentido horário são considerados negativos.

15.8.4 – Exemplo 10

Para a montagem de uma estrutura que vai receber o momento de torção igual a
1000 kN.cm, estão disponíveis barras de aço de diâmetros iguais a 19 mm, 25 mm e 38
mm. Qual o menor diâmetro de barra de aço que pode ser utilizado. Dados: Eixo: G =
8000 kN/cm2, τmáx = 10 kN/cm2, espessura dos elementos de parede fina 0,5 cm. Barras:
E = 21000 kN/cm2, σmáx = 15 kN/cm2.
Para a resolução deste exemplo deve-se expressar a intensidade do esforço
solicitante no eixo (momento de torção) em função dos esforços normais presentes nos
elementos de barra simples. Assumindo que a seção transversal onde estão conectados

Capítulo 15 – Torção em Elementos de Barra__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 358

os elementos de barra simples apresente rotação no sentido anti-horário (mesmo sentido


do momento de torção externo aplicado), serão observados esforços normais de tração
nos elementos de barra simples, conforme apresentado na Fig. (15.30), uma vez que
estes elementos serão alongados. Consequentemente, pela terceira lei de Newton, estes
elementos estruturais introduzirão um momento de torção negativo de intensidade igual
a MB na seção transversal do extremo direito do eixo, como indicado na Fig. (15.30).

Figura 15.29 Estrutura a ser analisada.

Pode-se a determinação do momento de torção atuante nesta seção transversal,


assim como o valor de seu giro, pode-se utilizar a ilustração apresentada na Fig. (15.30).

Figura 15.30 Giro na seção transversal do extremo direito. Esforços normais nas barras de treliça.

Capítulo 15 – Torção em Elementos de Barra__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 359

Assim:
M B  2  N 3  M B  6N

L NL
L  B  3  B   B 
3 3EA
Portanto, o seguinte diagrama de corpo livre é obtido:

Figura 15.31 Diagrama de corpo livre.

Deve-se enfatizar que o momento de torção reativo do apoio A foi escolhido


com o sentido apresentado na Fig. (15.31) (sentido positivo) para que seja possível
observar uma rotação no sentido anti-horário das seções transversais do eixo analisado,
conforme a hipótese assumida anteriormente, na construção das ilustrações da Fig.
(15.30). Com base no diagrama de corpo livre apresentado na Fig. (15.31) pode-se
construir o seguinte diagrama de momento de torção do eixo, o qual é ilustrado na Fig.
(15.32).

Figura 15.32 Diagrama de momento de torção.

A equação de compatibilidade do problema pode ser facilmente escrita


considerando que a somatória das rotações das seções transversais do eixo deve ser
igual a  B . Portanto, pode-se escrever que:

Capítulo 15 – Torção em Elementos de Barra__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 360

eixo  B
M T L ds NL
4 Am2 G  t 3EA
 
eixo 
1000  M B  50  6  12  6  12  
 
4  5,5 11,5  8000  0,5 0,5 0,5 0,5 
2

 M B  50  6 12 6 12  2 5
 0,5  0,5  0,5  0,5   2,8121 10  5, 6242 10 M B
4  5,5 11,5  8000 
2

N  21 N
B   B  3,333 104
3  21000  A A
Lembrando que M B  6 N tem-se:

N
2,8121102  5, 6242 105  6  N  3,333 104 
A
N
2,8121 102  3,3745 104 N  3,333 104
A
Assumindo que o diâmetro dos elementos de barra simples seja igual a 19 mm,
obtém-se:
N
2,8121 10 2  3,3745 10 4 N  3,333 10 4  N  61,803 kN
  0, 95 
2

Para esta intensidade de esforço normal obtém-se o seguinte valor para a tensão
normal nos elementos de barra simples:
N 61,803
      21, 798 kN / cm 2
  0, 95 
2
A

Como a tensão normal máxima nos elementos de barra simples é igual a 15


kN/cm2, constata-se que a barra simples de diâmetro igual a 19 mm não atende ao
requisito de resistência mecânica. Portanto, esta opção é descartada.
Considerando que o diâmetro dos elementos de barra simples seja igual a 25
mm, obtém-se:
N
2,8121 10 2  3,3745 10 4 N  3,333 10 4  N  69, 375 kN
 1, 25 
2

Para esta intensidade de esforço normal obtém-se o seguinte valor para a tensão
normal nos elementos de barra simples:
N 69, 375
      14,133 kN / cm 2
 1, 25 
2
A

Capítulo 15 – Torção em Elementos de Barra__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 361

Portanto, a resistência mecânica dos elementos de barra simples é atendida para


esse diâmetro. Resta verificar se o eixo resiste. Lembrando que M B  6 N , pode-se
determinar os valores dos momentos de torção atuantes na barra da seguinte forma:
M B  6  69, 375  M B  416, 25 kNcm

M A  1000  M B  M A  1000  416, 25  M A  583, 75 kNcm

Tomando o máximo valor de momento de torção, pode-se calcular a tensão de


cisalhamento máxima como:
MT 583,75
      9, 23 kN / cm2
2tAm 2  0,5   5,5 11,5
Portanto, a condição de resistência mecânica é também atendida no eixo. Dessa
forma, conclui-se que o menor diâmetro de barra simples a ser adotado, dentre as
opções fornecidas, é o igual a 25 mm.
Sugere-se que o leitor resolva esse problema utilizando o método das forças.

15.8.5 – Exemplo 11

A estrutura ilustrada na Fig. (15.33) é composta por um eixo de seção transversal


vazada de septo único, o qual encontra-se na condição engastada-livre. Em sua
extremidade livre atua um momento de torção de intensidade T = 10 kNm. No centro do
vão desse eixo, pontos DD’, barras simples estão verticalmente posicionadas conforme
indica o corte AA na figura. Sabendo que para as barras simples EA = 20 000 000 kN e
no eixo G = 100 GPa, t = 3 cm, determine as forças normais nos elementos de barra
simples verticalmente posicionados e a reação no apoio A.

Figura 15.33 Estrutura a ser analisada. Dimensões em cm.

Capítulo 15 – Torção em Elementos de Barra__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 362

O problema a ser analisado é estaticamente indeterminado, uma vez que são


incógnitas no problema as forças normais nos elementos de barra simples e também o
momento de torção reativo no apoio A. Conta-se no problema apenas com a equação de
equilíbrio relacionada a somatória nula de momentos de torção. Dessa forma, o
problema possui uma reação de apoio hiperestática, a qual será determinada utilizando-
se o método das forças. Para tanto, serão resolvidos os problemas 0 e 1 e em seguida
será imposta a condição de compatibilidade.

Problema 0
O problema 0 envolve a estrutura isostática equivalente e os carregamentos
externos atuantes. No problema em questão, a estrutura isostática equivalente é obtida
removendo-se a presença dos elementos de barra simples. Dessa forma, tal estrutura está
ilustrada na Fig. (15.34).

Figura 15.34 Estrutura isostática equivalente e carregamento externo. Problema 0. Dimensões em cm.

Impondo sobre o sistema ilustrado na Fig. (15.34) a condição de equilíbrio de


corpo rígido, determina-se facilmente a intensidade do momento reativo no apoio A, o
qual possibilita o traçado do diagrama de momento de torção para essa barra. Esse
diagrama está ilustrado na Fig. (15.35).

Figura 15.35 Diagrama de momento de torção

A intensidade do giro no ponto onde a vinculação foi removida, seção DD’, pode
ser determinada utilizando a Eq. (15.34). A área média da seção transversal e a integral
de perímetro necessária nessa equação podem ser determinadas como:

Capítulo 15 – Torção em Elementos de Barra__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 363

Am  30  75  Am  2250 cm 2

ds 1 ds
   75  75  30  30     70
t 3 t
Assim:
M T  ds  M T L ds
    dx   
L
2
4 AmG  t  4 Am2 G  t
10  0,100
0  70  0  3, 457 106 rad
4   2250 10 
4 2
100 106

Destaca-se que o giro determinado anteriormente, 0 , é avaliado a seção


transversal onde a vinculação externa foi removida, ou seja, no centro do vão (DD’).
Além disso, o sinal positivo para esse giro decorre da presença de um momento de
torção positivo, o qual está associado a giros da seção transversal no sentido anti-
horário.

Problema 1
O problema 1 incorpora a influência mecânica da vinculação externa removida,
as barras simples na presente aplicação. Nesse caso, para tal finalidade, deve-se assumir
uma configuração deslocada para os elementos de barra simples, uma vez que tais
elementos são deformáveis ao contrário dos apoios. Com base na configuração
deslocada arbitrariamente assumida para esses elementos estruturais, constrói-se a
condição de compatibilidade e determina-se o momento de torção a ser aplicado no eixo
em decorrência da interação mecânica deste com os elementos de barra simples.
Destaca-se que a configuração deslocada pode ser arbitrariamente imposta, sendo seu
sentido correto recuperado após a imposição da condição de compatibilidade.

Figura 15.36 Configuração deslocada assumida. Vista no corte AA.

Capítulo 15 – Torção em Elementos de Barra__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 364

Nesse exemplo, assume-se que a configuração deslocada das barras simples


esteja associada ao um estado de alongamento, conforme indica a ilustração à esquerda
na Fig. (15.36). Portanto, devido ao alongamento considerado, as barras simples serão
alongadas de L em decorrência da força normal nelas atuante. Utilizando o conteúdo
apresentado no capítulo 14 pode-se explicitar tal alongamento como:
NL N  0,5
L   L   L  2,5 108 N
EA 20000000
sendo N a força normal atuante nos elementos de barra simples.
Considerando que os giros nas seções transversais do eixo obedeçam ao regime
de pequenos deslocamentos, determina-se o giro do eixo na seção DD’ como:
L 2,5 108 N
B    B    B  1, 667107 N
0,15 0,15
Destaca-se que o sinal negativo obtido para B resulta do sentido de giro

assumido, ou seja, giros horários no eixo são considerados negativos. Como B é

pequeno, considera-se que tg B   B .

Os alongamentos nos elementos de barra simples estão associados à presença de


forças normais de tração, conforme apresenta a ilustração à direita na Fig. (15.36).
Devido à terceira lei de Newton, ação e reação, as forças normais atuantes nos
elementos de barra simples devem ser de mesma intensidade, mesma direção e de
sentido oposto às forças atuantes no eixo, de forma a representar a reação mecânica dos
elementos de barra simples sobre o eixo. Portanto, conforme ilustrado na Fig. (15.36),
as forças normais nos elementos de barra simples introduzem um momento de torção no
eixo igual a:
M DD '  2  N  0,15  M DD '  0,30 N

Assim, quando M DD ' é aplicado sobre o eixo, obtém-se a configuração ilustrada


na Fig. (15.37).

Figura 15.37 Eixo a ser analisado no problema 1.

Capítulo 15 – Torção em Elementos de Barra__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 365

Impondo as condições de equilíbrio de corpo rígido ao sistema ilustrado na Fig.


(15.37) obtém-se o momento de torção reativo no apoio A. Com base nessa resposta,
constrói-se o diagrama de momento de torção para a barra, o qual está ilustrado na Fig.
(15.38).

Figura 15.38 Diagrama de momento de torção no problema 1.

Assim, utilizando a Eq. (15.34), determina-se o giro na seção transversal onde a


vinculação foi removida. Portanto:
M T  ds  M T L ds
    dx   
L
2
4 AmG  t  4 Am2 G  t
0,3N  0,100
1  70  1  1, 037 107 N rad
4   2250 10 
4 2
100 10 6

O giro alvo do problema 1, 1 , resultou positivo em decorrência da presença de


um momento de torção positivo, o qual introduz giros do plano da seção transversal no
sentido anti-horário.
Finalmente, a condição de compatibilidade pode ser imposta considerando os
giros determinados nos problemas 0 e 1 além do giro B obtido em decorrência da
configuração deslocada assumida nos elementos de barra simples. Destaca-se que a
imposição da condição de compatibilidade leva em consideração que giros da seção
transversal em sentidos diferentes possuem sinais algébricos diferentes, ou seja, giros
horários são negativos enquanto que giros anti-horários são positivos. Tal condição
pode ser assim definida:
0  1  B
3, 457 106  1, 037 10 7 N  1, 667107 N
N  12, 785 kN
O sinal negativo obtido para o valor da força normal nos elementos de barra
simples indica que o sentido inicialmente arbitrado para essas forças no problema 1 está
equivocado. Com base nesse resultado, conclui-se que as barras simples estão de fato
comprimidas e não tracionadas, como anteriormente assumido. Dessa forma, esses
elementos estruturais serão de fato encurtados em decorrência da aplicação do momento

Capítulo 15 – Torção em Elementos de Barra__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 366

de torção na extremidade livre da barra, ao invés de alongados como anteriormente


assumido.
Para concluir esse exemplo, deve-se impor sobre o eixo o momento de torção
introduzido pela interação mecânica entre os elementos de barra simples e o eixo.
Conforme mostrado anteriormente, tal torque pode ser assim mensurado:
M DD '  2  N  0,15  M DD '  0,30 12, 785  M DD '  3,836 kNm

Portanto, com base nesse resultado, constrói-se o sistema ilustrado na Fig.


(15.39), o qual é isostático e pode ser resolvido por meio das equações de equilíbrio de
corpo rígido. Impondo sobre esse sistema o equilíbrio de momentos de torção,
descobre-se facilmente que o momento reativo no apoio A é igual a 6,164 kNm.

Figura 15.39 Estrutura final.

Capítulo 15 – Torção em Elementos de Barra__________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 367

16. – Formulação Geral da Torção. Analogia de Membrana

16.1 – Formulação do Problema Geral de Torção

O problema mecânico que será descrito na sequência deste capítulo envolve a


torção simples de elementos de barra geral compostos por seções transversais de
geometria não circular. Para tal finalidade, considera-se um elemento de barra geral,
com seção transversal prismática, submetido apenas à ação de momentos de torção,
como mostra a Fig. (16.1).

Figura 16.1 Elemento de barra geral submetido a torção simples.

Conforme discutido no capítulo 15, a representação cinemática desse problema


mecânico descreve a rotação relativa,   x  , entre as seções transversais da barra

considerada. Portanto,   x  provoca distorções e, consequentemente, tensões de

cisalhamento na estrutura. Para a formulação que será apresentada a seguir, assume-se


que o elemento de barra geral obedeça ao regime de pequenas rotações   x  , de tal

Capítulo 16 – Formulação Geral da Torção. Analogia de Membrana________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 368

maneira que a condição de equilíbrio da estrutura possa ser efetuada, sem perda
significativa de representatividade, na configuração indeformada.
Assumindo que o elemento de barra geral considerado esteja submetido à ação
de um momento de torção de intensidade constante ao longo de seu comprimento,
verifica-se que o ângulo de rotação relativo das seções transversais depende linearmente
da posição da seção transversal em análise em relação à origem do sistema de
d d
referência, ou seja,   x   x , sendo a taxa de rotação da seção ao longo do
dx dx
comprimento. Destaca-se que tal conclusão foi obtida no capítulo anterior.
Ainda nesse complexo problema mecânico, pode-se observar a presença do
empenamento da seção transversal devido à ação do momento de torção. Esse efeito faz
com que seções transversais, inicialmente planas, deixem de ser planas após a atuação
dos carregamentos externos. Assim, deslocamentos orientados na direção paralela ao
eixo da barra poderão estar presentes. Porém, assume-se que o problema seja de torção
livre, ou de Saint-Venant, onde tais deslocamentos axiais são permitidos, não gerando,
consequentemente, esforço interno. Para essa condição, as seguintes hipóteses são
consideradas:
a) O giro relativo de uma seção transversal em relação a uma seção de referência é
diretamente proporcional a distância entre elas. Assim, é válida a seguinte relação:
d
  x  x.
dx
b) O empenamento, caso ocorra, poderá apresentar intensidades diferentes para cada
ponto que compõe a seção transversal da barra em análise. Portanto, o deslocamento
axial, u , de cada ponto pertencente a seção transversal devido ao efeito do
empenamento dependerá unicamente de sua posição no plano da seção transversal,
podendo ser escrito como u  y, z  .

Com base no sistema apresentado na Fig. (16.2), pode-se determinar os


deslocamentos v e w , ao longo das direções y e z , respectivamente, da seguinte
maneira:
v   xz w   xy (16.1)
Assim, as componentes de deslocamento dos pontos materiais da seção
transversal são conhecidas se os valores de u  y, z  e  forem determinados. O

Capítulo 16 – Formulação Geral da Torção. Analogia de Membrana________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 369

problema pode ser ainda simplificado se estas duas funções forem relacionadas. Assim,
u  y, z  pode ser definida como uma função de  . Sem perda de generalidade, pode-se

considerar que u  y, z  seja igual ao produto k  y, z  , sendo k uma constante e

  y, z  uma função, não singular, relacionada à geometria da seção transversal. Por

facilidade, assume-se que k   .

Figura 16.2 Deslocamentos no plano da seção transversal provocados pelo empenamento.

16.2 – Componentes de Tensão e Deformação do Problema de Tensão de


Saint-Venant

No problema em estudo, como apenas distorções e tensões de cisalhamento


possuem componentes não nulas, suas intensidades podem ser definidas como:
 u v    
 xy       xy     z
 y x   y 
 u w    
 xz       xz     y (16.2)
 z x   z 
 v w 
 yz       yz   x   x  0
 z y 
Deve-se destacar que as únicas componentes de deformação não nulas estão
contidas nos planos xy e xz . Tal conclusão era já esperada levando-se em consideração
a análise da direção de atuação das tensões de cisalhamento nos problemas tratados no
capítulo 15.

Capítulo 16 – Formulação Geral da Torção. Analogia de Membrana________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 370

Assumindo que o material que compõe o elemento de barra geral analisado


possua comportamento mecânico elástico linear, pode-se expressar as tensões de
cisalhamento em função do módulo de elasticidade transversal do material, G , e das
distorções usando a lei de Hooke. Dessa forma:
  
 xy  G xy   xy  G   z
 y 
  
 xz  G xz   xz  G   y (16.3)
 z 
 yz  G yz   yz  0

16.3 – Equação de Equilíbrio no Problema de Torção de Saint-Venant

Quando um elemento de barra geral é submetido a uma torção de Saint-Venant


surgirão tensões de cisalhamento atuantes nos planos xy e xz , como anteriormente
apresentado. Se um elemento de dimensões infinitesimais pertencente à uma dada seção
transversal dessa barra geral em equilíbrio for isolado, as condições de equilíbrio sobre
ele deverão ser observadas. Uma seção transversal geral e um elemento infinitesimal
característico estão apresentados na Fig. (16.3).

Figura 16.3 Elemento infinitesimal e tensões de cisalhamento. Imposição das condições de equilíbrio.

Considerando que os efeitos do empenamento não gerem esforço solicitante


normal, o qual possui orientação paralela ao eixo da barra, x , pode-se então impor a
seguinte equação de equilíbrio:

Capítulo 16 – Formulação Geral da Torção. Analogia de Membrana________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 371

F x 0 
  zx    yx 
   dz  dxdy   dxdy     dy  dxdz   yx dxdz  0 (16.4)
z y
zx zx yx
   
 yx  zx  xy  xz
 0   0
y z y z
Com base no resultado apresentado na Eq.(16.3), pode-se reescrever esta
equação de equilíbrio da seguinte maneira:
 xy  xz           
 0  G   z    G   y   0
y z y   y   z   z 
(16.5)
 2  2
 0
y 2 z 2
Deve-se destacar que esta última equação depende unicamente da função  , ou
seja, um único parâmetro.

16.4 – Relação entre Esforços Solicitantes e Tensões de Cisalhamento no


Problema de Torção de Saint-Venant

No problema mecânico da torção de Saint-Venant, o único esforço solicitante


não nulo é o momento de torção. Portanto, as seguintes equações de equilíbrio,
referentes ao esforço cortante, deverão ser atendidas:


A
xy dA  0
(16.6)
 xz dA  0
A

sendo A a área da seção transversal do elemento de barra geral submetido à torção.


Utilizando as expressões apresentadas na Eq. (16.3), pode-se reescrever a
Eq.(16.6) na seguinte forma:
     
 G  y  z dA  0 

  y  z dA  0

A A
(16.7)
     
A G  z  y dA  0  A  z  y dA  0
Deve-se enfatizar que as expressões mostradas na Eq.(16.7) envolvem apenas
parâmetros relacionados à geometria da seção transversal, sendo de grande utilidade na

Capítulo 16 – Formulação Geral da Torção. Analogia de Membrana________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 372

determinação das coordenadas de seu centro de cisalhamento. Quando o centro de


cisalhamento coincide com o centro de gravidade da seção transversal, os valores y e z
são nulos.
Considerando agora a condição de equilíbrio para o momento de torção, pode-se
escrever, com o auxílio da ilustração apresentada na Fig. (16.4), que:
M t    xz y   xy z  dA (16.8)
A

Considerando as expressões apresentadas na Eq. (16.3) tem-se:


       
M t   G   y  y  G   z  z  dA 
A  z   y  
(16.9)
   
M t  G   y z  y 2  z 2  dA
A
z y 

Figura 16.4 Condição de equilíbrio em termos de momento.

Os parâmetros contidos na integral apresentada na Eq. (16.9) dependem apenas


da geometria da seção transversal do elemento de barra geral submetido à torção.
Destaca-se a presença dos dois últimos termos dessa integral, os quais referem-se aos
momento de inércia da seção transversal em torno dos eixos y e z , respectivamente. A
soma desses dois momentos de inércia define uma grandeza denominada de momento

Capítulo 16 – Formulação Geral da Torção. Analogia de Membrana________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 373

polar de inércia, It , a qual foi já utilizada ao longo do capítulo 15. Assim, pode-se
definir que:
   
It    y z  y 2  z 2  dA (16.10)
A
z y 
Assim, uma vez determinado o valor de It , pode-se calcular a rotação da seção
transversal, por unidade de comprimento, utilizando a Eq. (16.9) da seguinte maneira:
Mt
 (16.11)
It G
Deve-se mencionar que a rotação apresentada na Eq.(16.11) envolve uma seção
transversal específica da barra. Caso seja de interesse na análise a determinação do giro
relativo entre seções transversais de um trecho da barra, a Eq.(16.11) deve ser integrada
ao longo do referido trecho de interesse. Com base no equacionamento apresentado até
o presente momento constata-se que para a resolução do problema de torção de Saint-
Venant devem ser determinadas a função  e a constante  . pode ser obtida por
meio da Eq. (16.5). No entanto, a integração analítica dessa equação diferencial nem
sempre é possível, especialmente se seções transversais de complexa geometria forem
consideradas.
Essa função poderá ser obtida indiretamente se a distribuição das tensões de
cisalhamento no plano da seção transversal for imposta, como no caso das seções
transversais de geometria circular. Porém, uma maneira alternativa para a resolução
desse problema mecânico envolve a utilização da analogia de membrana, a qual decorre
de uma correspondência formal entre a equação diferencial do problema da torção,
Eq.(16.5), e a equação diferencial que descreve o equilíbrio de uma membrana,
submetida a uma pressão positiva distribuída em seu interior, em sua configuração
deformada. No item seguinte será descrita esta analogia. Destaca-se que a membrana é
um elemento estrutural cuja espessura é muito pequena se comparada às demais
dimensões geométricas do elemento. Além disso, as membranas são submetidas a ações
externas aplicadas perpendicularmente a seu plano, resistindo apenas a esforços
paralelos a seu plano médio. Assim, as membranas não transmitem esforços cortante, de
flexão ou torção, mas unicamente forças paralelas ao seu plano, as quais são usualmente
denominadas forças de membrana. Para maiores detalhes, sugere-se que o leitor
consulte o capítulo 1, o qual contém a descrição dos elementos estruturais.

Capítulo 16 – Formulação Geral da Torção. Analogia de Membrana________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 374

16.5 – Analogia de Membrana

Para que a analogia existente entre o equacionamento dos problemas de


equilíbrio de uma membrana solicitada por uma pressão externa e as tensões de
cisalhamento no problema de torção de Saint-Venant seja determinada, deve-se
considerar uma lâmina delgada que ocupa uma dada região no plano yz tendo seu
contorno fixo, como mostra a Fig. (16.5).
Assume-se que a lâmina considerada possua rigidez nula na direção transversal
ao seu plano e resista somente a esforços de tração. Nessa situação, a lâmina é
denominada membrana. Assume-se ainda que essa membrana esteja submetida a uma
pressão interna positiva de intensidade P , a qual faz com que, em sua condição
deformada, a membrana exiba a forma geométrica semelhante à de uma bolha, como
ilustrado na Fig. (16.5). Para que o equilíbrio dessa bolha seja observado, deve atuar, ao
longo de toda a borda da superfície, um esforço de tração de intensidade k , de tal forma
a equilibrar a pressão interna P atuante.

Figura 16.5 Configuração geometria da membrana.

Considera-se que este esforço de tração seja uniformemente distribuído ao longo


do comprimento da superfície da membrana, ou seja, assume-se que as bordas da
superfície da membrana transmitam igualmente esse esforço. Impondo que a somatória
de forças na direção de atuação da pressão interna seja nula, sobre um elemento de
dimensões infinitesimais dA  dydz pertencente a esta membrana, como mostra a Fig.
(16.6), obtém-se a seguinte equação de equilíbrio:
 d   d 
Pdydz  2kdysen    2kdzsen  0 (16.12)
 2   2 

Capítulo 16 – Formulação Geral da Torção. Analogia de Membrana________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 375

Figura 16.6 Equilíbrio na membrana.

Sendo h  y, z  a função que descreve a geometria assumida pela membrana em

sua configuração deformada. As inclinações de sua superfície segundo as direções y e


z são definidas como:
h  y, z 
  hz
z
(16.13)
h  y, z 
  hy
y
Assumindo que os deslocamentos presentes na membrana sejam pequenos, por
consequência também o serão suas inclinações, pode-se aproximar o valor do seno dos
ângulos de inclinação pela própria magnitude do ângulo. Assim:

 d  d  2 h  y, z  h dz
sen      dz  zz
 2  2 2z 2
2
(16.14)
 d  d  h  y, z 
2
hyy dy
sen      dy 
 2  2 2y 2 2
Portanto, com base nessas considerações, a Eq.(16.12) pode ser assim reescrita:
 2 h  y, z   2 h  y, z 
Pdydz  2kdy dz  2kdz dy  0
2z 2 2y 2
(16.15)
 2 h  y, z   2 h  y, z  P
 
z 2
y 2
k
A Eq.(16.15) é a equação diferencial fundamental do problema do equilíbrio de
uma membrana submetida a uma pressão interna, sendo que a função h  y, z  deve ser

nula para todos os pontos pertencentes ao contorno da membrana.

Capítulo 16 – Formulação Geral da Torção. Analogia de Membrana________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 376

A analogia do problema de torção pode ser mostrada admitindo-se que exista


uma função   y, z  tal que:

 
 xy    xz  (16.16)
z y
Deve-se salientar que as expressões apresentadas na Eq. (16.16) atendem à
equação de equilíbrio apresentada na Eq.(16.5). Lembrando-se das definições
apresentadas na Eq. (16.3), pode-se escrever que:
 xy   2   xy  2
 G   1   2 (16.17)
z  yz  z z

 xz   2   xz  2
 G   1   2 (16.18)
y  z y  y y
Com base nos resultados apresentados nas Eq.(16.17) e Eq.(16.18), pode-se
subtrair estas equações de forma a obter uma nova equação diferencial para o problema,
a qual não tem a dependência da função  . Assim:

 xy  xz  2  2
    2G (16.19)
z y y 2 z 2
Deve-se salientar que as equações diferenciais apresentadas nas Eq. (16.15) e
Eq.(16.19) possuem formato semelhante. Ambas envolvem derivadas de segunda ordem
uma dada função. Além disso, seus resultados são iguais se a condição seguinte for
atendida:
k
  y, z    2G h  y, z  (16.20)
P
A analogia existente entre as formulações dos problemas de torção e de
equilíbrio de membranas se completa impondo-se as condições de contorno para a
equação diferencial Eq.(16.19). Com base no apresentado na Eq. (16.20), lembrando
que h  y, z  deve ser nula sobre o contorno da membrana, constata-se que   y, z  deve

também ser nula nessas posições. Portanto, pode-se reescrever a Eq. (16.16) na seguinte
forma:
k h  y, z  k h  y, z 
 xy  2G  xz   2G (16.21)
P z P y

Capítulo 16 – Formulação Geral da Torção. Analogia de Membrana________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 377

Constata-se que, por meio da analogia de membrana, a distribuição das tensões


de cisalhamento no plano da seção transversal possui relação direta com a inclinação da
superfície deslocada de uma membrana submetida a uma pressão interna positiva.
Com base na distribuição das tensões de cisalhamento apresentada
anteriormente, pode-se relacionar o momento de torção aplicado à seção transversal em
análise às tensões de cisalhamento por meio da Eq. (16.8). Assim:
   
M t    xz y   xy z  dA  M t    y z  dA (16.22)
A A
y z 
De forma a tornar esta dedução mais conveniente, pode-se reescrever a equação
anterior na seguinte forma:
   
Mt    y z  2  2  dA 
A
y z 
(16.23)
   
Mt    y z  2  dA   2dA
A
y z  A

Em seguida, pode-se aplicar o teorema da divergência sobre a primeira integral


apresentada na Eq. (16.23), objetivando transformá-la de uma integral de área em uma
integral de contorno ou de linha. Assim:
M t        y cos  , y       z cos  , z   d    2dA (16.24)
 A

sendo  o contorno da área considerada e  a direção de seu vetor normal.


Como a função  possui valor nulo ao longo do contorno da área da membrana,
verifica-se que esta integral de contorno resulta valor nulo. Portanto, utilizando o
resultado apresentado na Eq. (16.20), pode-se reescrever a Eq.(16.24) na seguinte
forma:
k
M t    2dA  M t  2 2G h  y, z  dA 
A A
P
(16.25)
4G k
h  y, z  dA
P A
Mt 

O termo integral apresentado na Eq.(16.25) representa o volume contido na parte


interior da membrana em sua configuração deslocada, a qual inicialmente ocupa uma
área igual à da seção transversal da barra geral submetida à torção. Denotando por V
este volume, pode-se reescrever a Eq.(16.25) da seguinte maneira:

Capítulo 16 – Formulação Geral da Torção. Analogia de Membrana________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 378

4G k PM t Mt
Mt  V     (16.26)
P 4GkV GI t

k
onde I t  4  V .
P
Deve-se enfatizar que a rotação obtida na Eq.(16.26) envolve uma seção
transversal específica da barra. Caso seja de interesse na análise a determinação do giro
relativo de um trecho de uma barra geral, os giros relativos das seções transversais que
compõem este trecho da barra devem ser somados. Portanto, a Eq.(16.11) deve ser
integrada ao longo do referido comprimento da barra para tal finalidade.
Assim, os resultados decorrentes do estudo da configuração deslocada da
membrana podem também ser úteis para a determinação do momento polar de inércia
da seção transversal. Sendo esta propriedade de área proporcional ao volume deslocado
pela membrana, constata-se que seções transversais de mesma área poderão resistir a
diferentes valores de momento de torção, dependendo da disposição dos elementos que
compõem sua geometria, o que conduzirá a diferentes valores de It .
Finalmente, utilizando o resultado apresentado na Eq.(16.26), pode-se reescrever
a Eq.(16.21) na seguinte forma:
k h  y, z  h  y, z  M t
 xz   2G   xz  
P y y 2V
(16.27)
k h  y, z  h  y, z  M t
 xy  2G   xy 
P z z 2V
É importante perceber que, de acordo com o apresentado na Eq.(16.27), as
tensões de cisalhamento possuirão maior intensidade nas regiões onde a inclinação da
tangente à superfície da membrana for maior. Portanto, cuidados especiais devem ser
tomados em cantos e entalhes geométricos para que concentrações de tensão não
causem o colapso de elementos estruturais submetidos a torção.
Deve-se também destacar que, com base nas Eq.(16.26) e Eq.(16.27), se for
possível a determinação, para uma dada geometria, da inclinação da membrana em
qualquer ponto e do volume por ela contido, não há a necessidade de se resolver a
equação diferencial de equilíbrio do problema da torção de Saint-Venant. A dificuldade
na resolução dessa equação é a grande motivação para a realização da analogia de
membrana.

Capítulo 16 – Formulação Geral da Torção. Analogia de Membrana________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 379

Será mostrado, a seguir, que em diversos casos de interesse prático é possível


determinar o volume, V , e as inclinações da membrana, hy e hz , aplicando-se um

simples equilíbrio à membrana solicitada pela pressão interna positiva, sem, contudo,
resolver a equação diferencial do problema.

16.6 – Barras de Seção Transversal Vazada de Paredes Finas

A primeira aplicação da analogia de membrana refere-se à análise de elementos


de barra geral de seção transversal fechada, vazada, composta por paredes finas de
espessura variável, submetidos à torção. Objetivando a melhor compreensão física do
problema, deve-se considerar uma caixa de geometria paralelepipedal, onde observa-se,
em sua face superior, uma abertura cuja forma seja igual à das paredes que compõem a
seção transversal da barra submetida à torção. Introduz-se, no lugar dessa abertura, uma
membrana de igual geometria. Havendo pressão positiva no interior dessa caixa, a
membrana desloca-se em relação à caixa, assumindo uma configuração geométrica na
qual esta apresenta-se tracionada e em equilíbrio com a pressão interna aplicada, como
indicado na Fig. (16.7). A análise do equilíbrio da membrana realiza-se por meio do
digrama de corpo livre da região deslocada, como mostra a Fig. (16.7). Assim, a
resultante da pressão interna deve ser igual à resultante da força de tração na membrana.

Figura 16.7 Membrana em sua configuração deslocada. Configuração de equilíbrio.

Assumindo que a barra solicitada obedeça ao regime de pequenos


deslocamentos, e consequentemente pequenas rotações, pequenos valores para o
deslocamento da membrana, h , e para suas inclinações serão observados. Portanto,

Capítulo 16 – Formulação Geral da Torção. Analogia de Membrana________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 380

assume-se que  seja muito pequeno de forma que   tg    sen   . Assim, a

equação de equilíbrio do problema poderá ser escrita como:


h P Am
PAm   k ds  h  (16.28)
t k 1
 t ds
sendo que  indica uma integral ao longo de um contorno fechado s , que define o

contorno da seção transversal da barra. Com base no apresentado na Eq.(16.28), o


volume da parte deslocada fica definido como:
P Am2
V  Am h  V  (16.29)
k 1
 t ds
Portanto, o momento polar de inércia da seção transversal, segundo o
apresentado na Eq.(16.26), pode ser calculado por meio da seguinte equação:
k P Am2 4 Am2
It  4  It  (16.30)
Pk 1 1
 t ds  t ds
Deve-se salientar que a área tratada na Eq.(16.30), Am , refere-se à área da seção
transversal considerando suas dimensões médias, ou seja, as dimensões definidas pelos
pontos geométricos contidos na espessura média dos elementos de paredes finas.
De forma a tornar mais conveniente a análise do problema da torção usando a
analogia de membrana, as tensões de cisalhamento, até então descritas no sistema
cartesiano,  xy e  xz , devem ser descritas assumindo um sistema de coordenadas paralelo

ao contorno dos elementos de paredes finas. Assim, as tensões de cisalhamento serão


expressas em função da coordenada s em lugar de y e z . Lembrando que  s2   xz2   xy2

e usando o resultado apresentado na Eq.(16.27) tem-se:


hs M t
s  (16.31)
t 2V
sendo t a direção tangente ao contorno da parede fina considerada.
Assumindo que a barra analisada obedeça ao regime de pequenos
deslocamentos, tanto os deslocamentos quanto as rotações possuirão pequena
magnitude. Portanto, a tangente à superfície deslocada da membrana poderá ser
aproximada por:

Capítulo 16 – Formulação Geral da Torção. Analogia de Membrana________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 381

hs h
  (16.32)
t t
Assim, a expressão que relaciona as tensões de cisalhamento ao momento de
torção nesse problema é a seguinte:
Mt Mt h M
      t (16.33)
2V 2 Am h t 2 Amt
Deve-se ressaltar que para seções transversais com uma única célula, ou septo,
esse resultado coincide com a equação de Bredt, apresentada no capítulo 15.

16.7 – Apresentação da Analogia de Membrana de uma Forma Expedita

Até esse momento, a análise do problema geral da torção foi efetuada por meio
de um processo formal, onde foi mostrada a analogia existente entre as equações
diferenciais que governam o problema da torção e o equilíbrio de uma membrana.
Porém, pode-se apresentar também a analogia de membrana por meio de um
procedimento menos formal, mas igualmente consistente.
Para apresentar tal procedimento deve-se considerar o equilíbrio da membrana
apresentado na Fig. (16.7). Impondo que seja nula a somatório das forças horizontais
tem-se:
h 1 1 PAm
PAm   k ds  PAm  kh ds   t ds  (16.34)
s t st s kh
Substituindo a Eq.(16.34) na Eq.(15.34), apresentada no capítulo anterior,
obtém-se:
Mt  1  M t dx
 2  s ds  dx   (16.35)
L
4 Am G  t  L
It G

4 Am2
sendo I t  .
1
s t ds
Assim:
4 Am2 4 Am2 k
It   It   I t  4V (16.36)
1 PAm P
s t ds kh

Capítulo 16 – Formulação Geral da Torção. Analogia de Membrana________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 382

Mt
Como da Eq.(15.29)   , pode-se escrever que:
2tAm
h V
  h  t  V   tAm  tAm  (16.37)
t 
Portanto, com base na Eq.(16.37) pode-se reescrever a Eq.(15.29) como:
Mt
 
2V (16.38)
Que foi o mesmo resultado obtido com a abordagem formal. A determinação dos
giros relativos entre as seções transversais de barras torcidas pode ser efetuada
utilizando o valor do momento polar de inércia apresentado na Eq.(16.36) e a
Eq.(16.35), a qual foi apresentada anteriormente neste capítulo.
Deve-se enfatizar que as maiores tensões de cisalhamento ocorrerão nas paredes
da seção transversal com maior . Dessa forma, sendo a espessura dessas paredes
constante, as maiores tensões de cisalhamento ocorrerão nas paredes periféricas da
seção transversal. Isso ocorre uma vez que nas paredes internas a altura a ser
considerada para o cálculo de  é dada pela diferença entre as alturas dos septos que
concorrem a parede.

16.7.1 – Exemplo 1

Determine as expressões que resultam a tensão de cisalhamento e o ângulo de


giro para a seção transversal mostrada na Fig. (16.8), considerando analogia de
membrana, sabendo que a espessura da parede é igual a t. Esta seção transversal compõe
uma barra de comprimento L , a qual é uniformemente solicitada por um momento de
torção M t .
Com base no equacionamento apresentado anteriormente neste capítulo, pode-se
determinar o valor do momento polar de inércia da seção transversal apresentada na Fig.
(16.8) calculando-se o volume contido abaixo da superfície da membrana, em sua
configuração deslocada, delimitada pela geometria desta seção. Assim:
nl
hi kh P rt
PAm   k li  P     rm    2    rm   h   m
2

i 1 ti t k 2

Capítulo 16 – Formulação Geral da Torção. Analogia de Membrana________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 383

Figura 16.8 Seção transversal considerada.

Portanto, o volume contido abaixo da membrana é igual a:


P rmt P
V  Am h  V     rm   rm  t
2 3
  V
k 2 k 2
Utilizando a Eq.(16.26) ou a Eq.(16.36) obtém-se:
k k P
 rm  t  It  2  rm  t
3 3
It  4  V  It  4  
P P k 2
O giro da seção posicionada no extremo da barra é dado pela expressão
apresentada na Eq.(16.26) ou pela Eq.(16.35). Assim:
Mt L Mt L
  
G 2  rm  t
3
GI t

Já as tensões de cisalhamento podem ser obtidas utilizando a Eq.(16.31) ou pela


Eq.(16.38). Dessa forma:
P rmt

h Mt k 2 Mt 1 Mt
    
t 2V t 2P  r 3t 2   rm 2 t
 m
k 2
Deve-se ressaltar que as respostas obtidas são compatíveis com aquelas
fornecidas pela abordagem clássica anteriormente apresentada, via fórmula de Bredt,
para seções transversais vazadas de paredes finas de septo único.

Capítulo 16 – Formulação Geral da Torção. Analogia de Membrana________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 384

16.7.2 – Exemplo 2

Calcule o módulo de resistência à torção, W , e o momento polar de inércia da


seção transversal mostrada na Fig. (16.9). Todas as paredes finas que compõem esta
seção possuem espessura igual 0,5 cm. Sabendo que a tensão de cisalhamento
admissível do material seja igual a 26 MPa, determine o máximo momento de torção
que pode ser aplicado sem a observação da falha estrutural.

Figura 16.9 Seção transversal considerada.

O primeiro dado a ser determinado para a resolução desse problema refere-se à


área de cada um dos septos dessa seção. Assim, a área do septo 1 é igual a:
A1  30 15  A1  450 cm2
Já para o septo 2 tem-se:
A2  30 10  A2  300 cm 2
O equilíbrio de cada um dos septos deve ser efetuado para a determinação da
altura, h , de cada uma das membranas. O valor de h conduzirá a determinação do
volume contido no interior de cada uma das membranas em sua configuração deslocada.
Para o septo 1 tem-se:
nl
hi kh k  h1  h2 
PA1   k li  P  450  1 15  15  30   30 
i 1 ti 0,5 0,5
(16.39)
P
P  450  120kh1  60kh1  60kh2  180h1  60h2  450
k
Para o septo 2, o equilíbrio conduz a:

Capítulo 16 – Formulação Geral da Torção. Analogia de Membrana________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 385

nl
hi kh k  h1  h2 
PA2   k li  P  300  2 10  10  30   30 
i 1 ti 0,5 0,5
P
P  300  100kh2  60kh1  60kh2   60h1  160h2  300
k (16.40)
Resolvendo o sistema de equações composto pelas Eq.(16.39) e Eq.(16.40)
obtêm-se as alturas das membranas. Portanto:

180 60  h1  450 P  h1   3,571 P



60 160  h  300 k  h   3, 214 k
  2    2  
Com base no resultado obtido para as alturas das membranas, o volume contido
abaixo de sua superfície fica definido como:
P P P
V  A1h1  A2 h2  V  450  3,571  300  3, 214  V  2571,15 cm3
k k k
Com base no apresentado na Eq.(16.26), e com o valor do volume da membrana
em sua configuração deslocada calculado, o momento polar de inércia da seção pode ser
determinado. Dessa forma:
k k P
It  4 V  It  4 2571,15  It  10284,6 cm4
P P k
Portanto, o módulo de resistência à torção, W , é dado por:
Mt Mt
   MAX  
2V W

sendo  MAX  h 
t que conduz ao máximo valor de para a seção transversal. Assim:
P
2  2571,15
2V k
W  W  W  720 cm3
 MAX 3,571
P
k
0,5
Portanto, o máximo momento de torção que pode ser aplicado a esta seção
transversal para que a falha não seja observada é igual a:
Mt
  M t  26 103  720 106  M t  18,72 kNm
W
Deve-se ressaltar que sobre a parede que faz a interface entre os septos 1 e 2 a

altura da membrana é igual a  h1  h2  P . Portanto, assumindo que o momento de


k

Capítulo 16 – Formulação Geral da Torção. Analogia de Membrana________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 386

torção aplicado seja igual a Mt  18,72 kNm , a tensão de cisalhamento atuante nesta
parede será igual a:
Mt 18,72  3,571  3, 214  P kN
         2599, 24 2
2V 2  2571,15 106 
P 0,5 k m
k
Dessa forma, verifica-se que as maiores tensões de cisalhamento, nesse tipo de
problema, ocorrerão nas paredes periféricas da seção transversal.

16.7.3 – Exemplo 3

Determine o módulo de resistência à torção, W , e o momento polar de inércia da


seção transversal apresentada na Fig. (16.10) utilizando a analogia de membrana.
Sabendo que a tensão de cisalhamento admissível do material seja igual a 40 MPa,
determine o máximo momento de torção que pode ser aplicado a esta seção sem a
ocorrência da falha devido a torção. Além disso, sendo o comprimento da barra geral
que contém esta seção transversal igual a 3,0 m, determine o giro máximo da seção
transversal quando a barra é submetida ao momento de torção máximo calculado
anteriormente. Todas as paredes finas que compõem esta seção possuem espessura igual
a
10 .

Figura 16.10 Seção transversal analisada.

Capítulo 16 – Formulação Geral da Torção. Analogia de Membrana________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 387

Para a resolução deste problema, deve-se inicialmente determinar o valor da área


média de cada um dos septos que compõem a seção transversal em análise.
Considerando o septo 1 tem-se:
10a 10a
A1  20a 10a   A1  250a 2
2
Já para o septo 2 obtém-se:
A2  40a 10a  A2  400a 2
Em seguida, o equilíbrio de cada um dos septos deve ser efetuado para que o
valor da altura, h , de cada uma das membranas seja determinado. O valor de h conduz
à determinação do volume contido no interior de cada uma das membranas em sua
configuração deslocada. Para o septo 1 tem-se:
nl
hi
PA1   k li 
i 1 ti
k  h2  h1 
P  250a 2 
kh1
a 
20a  10a  20a  200a   a
10a 
(16.41)
10 10
 
P  250a 2  500  10 200 kh1  100kh2  100kh1 

 600  10 
200 h1  100h2  250a 2
P
k
Para o septo 2, o equilíbrio conduz a:
nl
hi kh k  h2  h1 
PA2   k li  P  400a 2  2  40a  40a   10a  10a 
i 1 ti a a
10 10 (16.42)
P
P  400a 2  800kh2  200kh2  200kh1   200h1  1000h2  400a 2
k
Resolvendo o sistema de equações formado pelas Eq.(16.41) e Eq.(16.42)
obtêm-se as alturas das membranas. Portanto:
 600  10 200 100   h1   250  P 2  h   0, 40198  P 2
      a   1    a
 200 1000   h2   400  k  h2   0, 48040  k
A partir do resultado obtido para as alturas das membranas, o volume contido
abaixo de sua superfície possui o seguinte valor:

Capítulo 16 – Formulação Geral da Torção. Analogia de Membrana________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 388

P 2 P
V  2 A1h1  A2 h2  V  2  250a 2  0, 40198 a  400a 2  0, 48040 a 2
k k
P 4
V  393,15 a
k
Assim, considerando o resultado apresentado na Eq.(16.26), o momento polar de
inércia da seção pode ser determinado da seguinte maneira:
k k P
It  4 V  It  4 393,15 a 4  It  1572,6a 4
P P k
Dessa forma, o módulo de resistência à torção, W , é dado por:
Mt Mt
   MAX  
2V W

sendo  MAX  h
t que possui maior valor na seção transversal. Assim:
P 4
2  393,15
a
2V k
W  W  W  163, 676a3
 MAX P
0, 48040 a 2
k
a
10
Portanto, o máximo momento de torção que pode ser aplicado a esta seção
transversal é igual a:
Mt
  M t  40 103 163,676a3  M t  6,547 106 a3
W
O giro máximo da seção transversal é dado pela expressão apresentada na
Eq.(16.26). Assim:
Mt L 6,547 106 a 3  3 12489,508
    
GI t G 1572, 6a 4
Ga

16.8 – Seções Transversais Abertas de Paredes Finas

A análise mecânica de eixos compostos por seções transversais abertas de


paredes finas submetidos à torção requer a aplicação da analogia de membrana. Nesse
caso, assume-se que a configuração deslocada da membrana devido à atuação de uma
pressão interna positiva P, cuja projeção possua a geometria da seção transversal, seja
aproximada por uma parábola do segundo grau, como indicado na Fig. (16.11).

Capítulo 16 – Formulação Geral da Torção. Analogia de Membrana________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 389

Considerando esta aproximação, o volume contido abaixo da superfície da


membrana em sua configuração deslocada, a qual é aproximada por uma parábola, é
dada pela integral da área da parábola ao longo do comprimento definido pela espessura
média da parede fina da seguinte forma:
2
V  ftds (16.43)

3

sendo f a flecha da parábola como indicado na Fig. (16.11), t representa a espessura da


parede fina que compõe a seção transversal e  indica a direção da linha media da
parede fina.
Impondo o equilíbrio de forças sobre a membrana em sua configuração
deslocada obtém-se:
Ptds   2kds  sen     Ptds  2kds  
2f Pt 2 (16.44)
Ptds  2kds  f 
t 8k
2

Figura 16.11 Seções transversais de paredes finas de geometria aberta.

Substituindo a Eq.(16.44) na Eq.(16.43) obtém-se:


2 2 Pt 2 P 3
V   ftds  V  
12k s
tds  V  t ds (16.45)

3 
3 8k

Consequentemente, o momento polar de inércia passa a ser escrito como:


k k P 3 1
It  4V
P
 It  4 
P 12k s
t ds  It   t 3ds
3s
(16.46)

Lembrando que a tensão de cisalhamento é proporcional à inclinação da tangente


à superfície da membrana, constata-se que sua variação é linear ao longo da espessura
da parede fina. Assim, a tensão de cisalhamento possuirá valor máximo ao longo de sua

Capítulo 16 – Formulação Geral da Torção. Analogia de Membrana________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 390

linha média. Com base na ilustração apresentada na Fig. (16.11), a inclinação máxima é
dada por:
2f 4 Pt 2 Pt
 max    max    max  (16.47)
t t 8k 2k
2
Finalmente, a partir do apresentado na Eq.(16.31), a tensão de cisalhamento
máxima atuante é dada por:
Mt Mt
 max   max   max  t max (16.48)
2V 1 3
3 s
t ds

16.8.1 – Exemplo 4

Determine a intensidade máxima do momento de torção distribuído aplicado à


barra abaixo sabendo que a tensão de cisalhamento admissível no problema seja igual a
125 MPa e que os módulos de elasticidade transversal de cada uma das barra seja igual
a G1  80GPa e G2  100GPa .

Figura 16.12 Estrutura a ser analisada.

Capítulo 16 – Formulação Geral da Torção. Analogia de Membrana________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 391

Para que este problema seja resolvido, devem-se determinar os momentos


polares de inércia de cada uma das seções transversais que compõem a barra geral em
análise. Assim:
1 L 3 1
It1   t ds  It1  23  30  50  30  It1  293,333cm4  It1  2,933 106 m4
3 0 3

4  30  50 
2
4 Am2
I 
2
 I t2   I t2  112500 cm 4  I t2  1,125 103 m 4
t
1 30  30  50  50
 t ds 2

Problema 0
O problema 0 é composto pela estrutura isostática equivalente e o carregamento
externo aplicado. Neste problema, o objetivo é a determinação da rotação na seção
transversal onde o apoio foi removido para a transformação da estrutura hiperestática
em uma isostática equivalente. A barra a ser analisada no problema 0 é a apresentada na
Fig. (16.13).

Figura 16.13 Estrutura a ser analisada no problema 0.

Impondo sobre a estrutura apresentada na Fig. (16.13) a condição de equilíbrio


de corpo rígido, e utilizando as relações diferenciais, o seguinte diagrama de momento
de torção é obtido.

Figura 16.14 Diagrama de esforço solicitante. Momento de torção.

Assim, a rotação da seção transversal da extremidade direita da barra, que é a


seção transversal onde a vinculação foi removida, é igual a:

Capítulo 16 – Formulação Geral da Torção. Analogia de Membrana________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 392

0  
L
Mt
2
dx  0  
 3,5T  Tx  dx  3,5  3,5T  Tx  dx
2,933 106  80 106 2 1,125 103 100 106

0
It G 0
2 3,5
Tx 2 Tx 2
3,5Tx  3,5Tx 
0  2  2  0  2,132 102 T rad
234, 64 0 112500 2
O sinal positivo obtido nesse resultado indica um giro anti-horário da seção
transversal analisada.

Problema 1
O problema 1 é formado pela estrutura isostática equivalente e a reação de apoio
inicialmente removida para a transformação da estrutura hiperestática em uma isostática
equivalente. Neste problema, assim como no anterior, o objetivo é a determinação da
rotação na seção transversal onde o apoio foi removido. A barra a ser analisada no
problema 1 é a apresentada na Fig. (16.15).

Figura 16.15 Estrutura a ser analisada no problema 1.

Impondo sobre a estrutura apresentada na Fig. (16.15) a condição de equilíbrio


de corpo rígido, e utilizando as relações diferenciais que associam o esforço solicitante
ao carregamento, obtém-se o seguinte diagrama de momento de torção.

Figura 16.16 Diagrama de esforço solicitante. Momento de torção.

Assim, a rotação da seção transversal da extremidade direita da barra, que é a


seção transversal onde a vinculação foi removida para transformar a estrutura
hiperestática em uma isostática equivalente, é igual a:

Capítulo 16 – Formulação Geral da Torção. Analogia de Membrana________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 393

R  2  R 1,5
L
Mt
1   dx  1   
0
It G 2,933 10  80 10 1,125 103 100 106
6 6

1  8,537 103 R rad


Destaca-se que o sinal negativo associado ao giro anteriormente determinado
indica um giro da seção transversal no sentido horário. Tal giro está associado à
presença de momentos de torção negativos.
Sabendo que a vinculação removida é um engaste, ou seja, que no extremo
direito da barra o giro é nulo, pode-se impor a seguinte condição de compatibilidade ao
problema:
0  1  0  2,132 102 T  8,537 103 R  0  R  2, 497 T
Destaca-se que a compatibilidade anteriormente apresentada deve levar em
consideração o sinal algébrico associado os sentidos diferentes de giro da seção
transversal. Nesse exemplo, giros no sentido anti-horário são positivo enquanto que
giros no sentido horário são considerados negativos.
Portanto, com base na reação de apoio da extremidade direita da barra
determinada anteriormente, obtém-se o seguinte diagrama de corpo livre para o eixo
analisado:

Figura 16.17 Diagrama de corpo livre para a barra analisada.

Impondo a condição de equilíbrio de corpo rígido a barra apresentada na Fig.


(16.17) obtém-se:

M t  0  RA  2, 497T  3,5T  0  RA  1, 003T

Considerando as reações de apoio anteriormente determinadas, o seguinte


diagrama de momento de torção pode ser construído:

Figura 16.18 Diagrama de esforço solicitante. Momento de torção.

Capítulo 16 – Formulação Geral da Torção. Analogia de Membrana________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 394

Portanto, considerando a barra 1, o valor máximo de T é igual a:


Mt 1, 003T
 tmax    2 102  125 103  T  18, 276 kNm
It 2,933 106 m

Já para a barra 2, o valor máximo de T é igual a:


Mt 2, 497T
    125 103  T  300,36 kNm
2 Atmin 2   0,3  0,5  2 10 2 m

Assim, verifica-se que a seção transversal aberta de paredes finas é


consideravelmente menos resistente que a seções transversais fechadas de paredes finas.

16.8.2 – Exemplo 5

Um elemento de barra geral em balanço, com seção transversal aberta de paredes


finas, está submetido a uma força concentrada atuante em sua extremidade livre
conforme indica a Fig. (16.19). Sabendo que a tensão de cisalhamento admissível do
material que compõe esta barra é igual a 20 MPa e seu módulo de elasticidade
transversal igual a 72 GPa, determine o máximo valor de P para que a falha por
cisalhamento devido à torção não seja observada. Além disso, para o valor máximo de
P , calcule o deslocamento vertical do ponto A devido apenas à torção. A espessura das
paredes finas que compõem a seção transversal é igual a 1 cm.
Para que esse problema seja resolvido deve-se, inicialmente, determinar as
coordenadas do centro de gravidade da seção transversal. Assim:

zcg 
 6 112  2  12 1 6  2  zcg  8 cm
 6 1 2  12 1 2
A localização do centro de gravidade da seção ao longo do eixo y , ycg ,

encontra-se na metade de sua altura devido à simetria da seção em relação a este eixo.
O momento de inércia da seção em torno do eixo z é igual a:

1 63  12 13  1 243


Iz    1 6 152  2    112 122  2   I z  7346 cm4
 12   12  12

Capítulo 16 – Formulação Geral da Torção. Analogia de Membrana________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 395

Figura 16.19 Estrutura a ser analisada. Dimensões em cm.

A força equivalente atuante em cada um dos elementos de paredes finas que


compõem a seção transversal pode ser obtida integrando-se o fluxo de cisalhamento ao
longo do comprimento da parede (ver capítulo 20). Observando os sentidos das forças
ilustrados na Fig. (16.20), estas podem ser obtidas da seguinte maneira:
6 6
V  x V  x V
F1   1 x  12   6  x    dx  F1   x  18   dx  F1  288
I 0  2 I 0  2 I
12 12
V V V
F2 
I   6 115  1 x 12  dx  F2 
0
I   90  12 x  dx
0
 F2 1944
I
12
V   x 
F3  2
I  6 115  12 112  1 x   12  x   2  dx
0

12
V x2 V
F3  2 
I 0
234  12  x 
2
dx  F3  6768
I

Com base nas forças equivalentes determinadas anteriormente, constata-se que o


equilíbrio em termos de forças é verificado, o qual pode ser assim expresso:

F y
 0  V  2F1  F3

A posição do centro de cisalhamento resulta da condição de que na seção exista


somente um esforço cortante estaticamente equivalente, passando por um ponto sobre o
eixo de simetria distante e do eixo de redução (ver capítulo 20). A condição de
equivalência pode ser expressa como:

Capítulo 16 – Formulação Geral da Torção. Analogia de Membrana________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 396

M  0  V  e  2  F1 12   2  F2 12   0  V  e  24  F2  F1 

Figura 16.20 Sentido de atuação das forças equivalente e posicionamento do centro de torção.

Do equilíbrio de forças na direção y foi mostrado que: V  2 F1  F3 . Assim, a

equação anterior pode ser assim reescrita:


24  F2  F1 
V  e  24  F2  F1    2 F1  F3  e  24  F2  F1   e
2 F1  F3
Substituindo os valores das forças equivalentes obtém-se:
 V V
24 1944  288 
24  F2  F1 
 e 
I I
e  e  5, 41cm
2 F1  F3  V V
2  288   6768
 I I
Dessa forma, o momento de torção atuante na seção será igual a:
M t  P  e  zcg   M t  P  5, 41  8  M t  13, 41P

Como a seção transversal utilizada é aberta de paredes finas, seu momento polar
de inércia é assim determinado:
1 3 1
It 
3  t ds  It  13  6  13 12  13  24  13 12  13  6  It  20 cm3
3
Por meio da Eq.(16.48), a tensão e cisalhamento máxima atuante é igual a:

Capítulo 16 – Formulação Geral da Torção. Analogia de Membrana________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 397

M t tmax 13, 41P 1


 max   2,0   P  2,98 kN
1 3 20
3 s
t ds

O giro da seção transversal pode ser assim calculado:


Mt L 13, 41 2,98  200
      0, 0555 rad
It G 20  72 102
O deslocamento vertical do ponto A pode ser determinado da seguinte forma:
vA    e  12   vA  0,0555  5, 41  12   vA  0,966 cm

Destaca-se que o centro de cisalhamento é o ponto em torno do qual a seção


transversal gira devido a atuação do momento de torção.

16.8.3 – Exemplo 6

Determine o giro do ponto A, o qual pertence a uma seção transversal formada


por elementos de paredes finas que está localizada no extremo direito de um elemento
de barra geral prismático submetido a flexo-torção. A estrutura e suas dimensões estão
apresentadas na Fig. (16.21), sendo que o módulo de elasticidade transversal do material
que a compõe é igual a 72 GPa. A espessura das paredes da seção transversal é igual a
0,5 cm.

Figura 16.21 Estrutura a ser analisada. Dimensões em cm.

Capítulo 16 – Formulação Geral da Torção. Analogia de Membrana________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 398

Como o centro de gravidade da seção transversal encontra-se localizado ao


longo de seu eixo horizontal de simetria, o momento de inércia da seção, em torno do
eixo z, assume o seguinte valor:
10  0,53  0,5 103 0,5  203 10  0,53
Iz    10  0,5 102  2    
 12  12 12 12
I z  1375,31cm4
Para que o momento de torção atuante na estrutura seja definido, deve-se
determinar a localização do centro de cisalhamento da seção transversal (ver capítulo
20). Assim, o momento de torção atuante será igual a intensidade da força aplicada
multiplicada pela distância entre seu ponto de aplicação e o centro de cisalhamento da
seção transversal. A integração do fluxo de cisalhamento ao longo dos elementos de
paredes finas conduz às seguintes forças, as quais estão apresentadas na Fig. (16.22):
10 10
V V V
F1   0,5  x  10 dx  F1   5 xdx  F1  250
I 0 I 0 I
10 10
2V   x  2V x2
0,5 10 10  0,5  x  10  x     dx  F2 
I 0 I 0
F2  50  5 x  dx 
  2  4
V
F2 1333,33
I
V  x2 
5 5
V   x 
F3  2  0,5  x    5  x     dx  F3  2   2,5 x    dx 
I 0  2  I 0  4 
V
F3  41, 667
I

Figura 16.22 Sentido de atuação das forças equivalente e posicionamento do centro de cisalhamento.

Capítulo 16 – Formulação Geral da Torção. Analogia de Membrana________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 399

A posição do centro de cisalhamento resulta da condição de que na seção


transversal exista somente um esforço cortante estaticamente equivalente, passando por
um ponto sobre o eixo de simetria, distante e do eixo de redução. A condição de
equivalência pode ser expressa como:
20F1  10F3
M  0  V  e   F1 10 2   F3 10  0  e 
V
Substituindo os valores das forças equivalentes e do momento de inércia
determinados anteriormente obtém-se:
 V   V 
20  250   10  41, 667
20 F1  10 F3 1375,31  1375,31 
e  e   
V V
e  3,333 cm
Dessa forma, o momento de torção atuante na seção será igual a:
Mt  P  e  Mt  P  3,333  Mt  33,33 kNcm
Como a seção transversal empregada é aberta e de paredes finas, seu momento
polar de inércia é assim determinado:
1 3 1
It 
3  t ds  It  0,53 10  0,53  20  0,53 10  0,53 10  0,53 10 
3
It  2,5 cm 3

Por meio da Eq.(16.48), a tensão e cisalhamento máxima atuante é igual a:


M t tmax 33,33  0,5
 max    max    max  6, 666 kN 2
1 3 2,5 cm

3s
t ds

O giro da seção transversal pode ser calculado utilizando a Eq.(16.26). Portanto:


Mt L 33,33  200
      0,3703 rad
It G 2,5  72 102
O giro ocorre no sentido horário em relação ao plano da seção transversal. Além
disso, o giro ocorre com o polo localizado no centro de cisalhamento da seção
transversal, como apresentado na Fig. (16.23).
Portanto, o deslocamento vertical do ponto A pode ser determinado da seguinte
forma:
vA    e  10   vA  0,3703  3,333  10   vA  4,9373 cm

Capítulo 16 – Formulação Geral da Torção. Analogia de Membrana________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 400

Figura 16.23 Sentido do giro da na seção transversal. Dimensões em cm.

Capítulo 16 – Formulação Geral da Torção. Analogia de Membrana________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 401

17. – Tensões Normais na Flexão

17.1 – Introdução

Neste capítulo será apresentado um tópico de grande importância no domínio da


mecânica dos sólidos / resistência dos materiais. Trata-se do estudo do comportamento
mecânico de elementos estruturais submetidos a esforços de flexão. Em especial, no
desenvolvimento das tensões normais geradas por esse tipo de esforço solicitante em
elementos estruturais de barra geral compostos por seção transversal prismática.
Elementos de barra geral submetidos a esforços de flexão são largamente
empregados no cotidiano da engenharia. Destaca-se a utilização desse elemento
estrutural em edificações, máquinas e manufaturas diversas, como mostrado nas Fig.
(17.1), Fig. (17.2), Fig. (17.3) e Fig. (17.4). Assim, a determinação das tensões geradas
durante a flexão é de grande importância na avaliação da segurança bem como da
concepção econômica dessas estruturas.

Figura 17.1 Ponte em múltiplos vãos. Figura 17.2 Barras de suporte de edifício.

Porém, antes da formulação para a determinação das tensões normais na flexão


ser apresentada, devem ser estudadas algumas propriedades geométricas de figuras
planas. Essas propriedades serão necessárias na formulação do problema da flexão e

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 402

serão utilizadas com frequência ao longo deste capítulo. Dentre essas propriedades,
atenção especial será dada ao centroide, ao momento estático e ao momento de inércia.

Figura 17.3 Ponte JK, Brasília. Figura 17.4 Ponte de Millau, França.

17.2 – Propriedades Geométricas das Seções Transversais

Para a análise das tensões normais na flexão, é necessária a determinação dos


momentos de inércia da seção transversal da barra em relação aos seus eixos principais.
Essa propriedade é determinada conhecendo-se o centroide da seção transversal, o qual
por sua vez é determinado a partir do cálculo do momento estático. Embora seções
transversais compostas por elementos geométricos simples tais como retângulos,
quadrados e círculos, apresentem expressões simples para o cálculo do momento de
inércia, seções transversais formadas por elementos geométricos compostos são
frequentemente utilizadas nas aplicações de engenharia. Assim, a determinação destas
propriedades, para esses casos, deve ser efetuada seguindo a metodologia apresentada a
seguir.

17.2.1 – Centroide de uma Figura Plana

O centroide é o ponto que define o centro geométrico de uma figura plana.


Assumindo que a figura plana seja definida no plano cartesiano xy, as coordenadas do
centroide podem ser determinadas por meio das seguintes relações:

_  xdA _  ydA
x A
y A
(17.1)
 dA
A
 dA
A

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 403

Os numeradores contidos na equação anterior são denominados momento


estático. Tal grandeza é semelhante ao momento devido a uma força, o qual é
largamente discutido em estática. No entanto, a grandeza aqui discutida envolve áreas
ao invés de forças. Dessa forma, o centroide é obtido com base em um equilíbrio de
momentos estáticos, conforme indicado na Eq. (17.1). Assim, o centroide está
posicionado em torno de um ponto onde a somatória dos momentos estáticos é nula.
Para ilustrar a aplicação das relações apresentadas na Eq.(17.1), pode-se
considerar a área retangular mostrada na Fig. (17.5). A área do elemento diferencial
hachurado, de altura dy e largura igual a b, constante nesta figura, pode ser escrita como:
dA  bdy .

Figura 17.5 Área retangular.

Assim, a coordenada y do centroide pode ser calculada como:


h
h
y 2b
_  ydA _  ybdy _ 2 0 _
h
y A
 y 0
 y  y
 dA 2
h h
by 0
A  bdy
0

Analogamente, para a coordenada do centroide em relação ao eixo x, toma-se um


elemento diferencial vertical de área igual a dA  hdx . Assim, pode-se escrever que:

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 404

b
b
x2h
_  xdA _  xhdx _ 2 0 _
b
x A
 x 0
 x  x
 dA 2
b b
hx 0
A  hdx
0

Deve-se destacar que o centroide de uma figura plana encontra-se posicionado


sempre ao longo de eixos de simetria da área considerada, caso estes existam. Tal
constatação é facilmente compreendida pelo fato do centroide estar posicionado em
torno de um eixo onde a somatória dos momentos estáticos das porções de área
envolvidas ser nula. No caso de a figura considerada apresentar dois eixos de simetria, o
encontro entre estes eixos define o centroide da figura.

17.2.2 – Determinação do Centroide de Figuras Planas Compostas

Em diversas aplicações correntes na engenharia de estruturas, as seções


transversais de elementos de barra geral são formadas pela composição de figuras
planas básicas. Assim, a determinação do centroide deve ser efetuada considerando não
apenas uma única área, mas um conjunto de áreas. Nessa situação, as integrais
apresentadas na Eq.(17.1) permanecem válidas. No entanto, elas devem ser aplicadas a
cada uma das áreas regulares/básicas que compõem a figura plana total.
Portanto, no caso de figuras planas compostas, a Eq.(17.1) deve ser reescrita
considerando as suas diversas subáreas. Assim, esta equação deve incorporar uma
somatória ao longo das n subáreas consideradas. Então, para este caso, as coordenadas
do centroide ficam assim definidas:
n n

_   xi dAi
i 1 A
_   y dA
i 1 A
i i

x n
y n
(17.2)
  dA
i 1 A
i   dA
i 1 A
i

Como exemplo de aplicação da Eq.(17.2), devem-se determinar as coordenadas


do centroide da área composta apresentada na Fig. (17.6), sabendo que as dimensões
estão apresentadas em cm.
Como as áreas consideradas são regulares, as integrais de área transformam-se
em somatórias simples. Assim, a coordenada y do centroide é dada por:

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 405

A1  y1  A2  y 2 50 10  35  10  30 15
y  y  27,5cm
A1  A2 50 10  10  30

Figura 17.6 Área composta. Dimensões em cm.

Já a coordenada x é obtida por:

A1  x1  A2  x 2 50 10  25  10  30  25
x  x  25cm
A1  A2 50 10  10  30
Conforme discutido no item anterior, o eixo que define o centroide da figura
plana estará posicionado ao longo de um eixo de simetria desta área, caso ele exista. O

resultado obtido anteriormente comprova esta afirmação, ou seja, o termo x está


localizado ao longo da simetria vertical da figura plana considerada.

17.2.3 – Momento de Inércia de Figuras Planas

O momento de inércia é uma propriedade de área de grande importância no


estudo de barras fletidas. Essa propriedade geométrica é muitas vezes denominada
segundo momento, uma vez que ela pode ser interpretada como um momento sobre o
momento estático, o qual é por vezes denominado primeiro momento.
Normalmente, essa grandeza é referenciada aos eixos que passam pelo centroide
da área analisada. Essa grandeza é definida matematicamente por meio das relações
apresentadas a seguir, assumindo que a área analisada seja definida pelo sistema
cartesiano xy:

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 406

I x   y 2 dA I y   x 2 dA (17.3)
A A

Para geometrias simples tais como: retângulos, quadrados, círculos, entre outras,
a determinação de expressões para o momento de inércia pode ser facilmente efetuada.
Com o objetivo de exemplificar a aplicação das Eq.(17.3), deve-se considerar a área
retangular apresentada na Fig. (17.7).
Nessa figura, observa-se a presença de um elemento infinitesimal, de altura dy e
largura igual a b, cuja área pode ser escrita como dA  bdy . Considerando que o
momento de inércia é determinado em relação ao centroide da área, pode-se escrever
que:
h
2
b 3 h2 bh3
I x   y dA  I x 
2
 y 2bdy  I x  y h  Ix 
A h
3  2 12
2

Analogamente, pode-se também determinar uma expressão para o momento de


inércia em torno do eixo y de um retângulo em relação ao seu centroide. Para tal fim,
deve-se tomar um elemento infinitesimal não mais horizontal como ilustrado na Fig.
(17.7), mas sim vertical, cuja área seja definida por dA  hdx . Nesse caso tem-se:
b
2
h 3 b2 b3 h
I y   x dA  I y 
2
 x hdx  I y  x b  I y 
2

A b
3  2 12
2

Figura 17.7 Área retangular.

De maneira semelhante, podem-se determinar expressões para os momentos de


inércia de figuras geométricas básicas. Para geometrias correntemente utilizadas na

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 407

engenharia de estruturas, essas expressões encontram-se tabeladas não sendo necessária


sua dedução. Nessas notas destacam-se as geometrias apresentadas na Fig. (17.8).

Figura 17.8 Relações do momento de inércia para áreas regulares.

Porém, pode-se perguntar: como determinar o momento de inércia de figuras


planas compostas por diversas áreas regulares? Nesses casos deve-se utilizar o teorema
dos eixos paralelos, também conhecido como Teorema de Steiner, o qual será
apresentado a seguir.

17.2.4 – Teorema dos Eixos Paralelos

Por meio deste teorema é possível a avaliação de momentos de inércia de figuras


planas em relação a quaisquer eixos de interesse. Em particular, a utilização desse
teorema possibilita a avaliação dos momentos de inércia de figuras planas compostas
por um conjunto de subáreas regulares em relação ao centroide da área composta.
Para apresentar o equacionamento deste teorema, deve-se considerar a área
retangular mostrada na Fig. (17.9). Deseja-se determinar o momento de inércia em torno
do eixo x desta área. Porém, essa grandeza não deverá ser avaliada em relação ao
centroide da área, mas sim ao longo de um eixo distante de y0 do centroide, conforme

indica a Fig. (17.9).

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 408

Figura 17.9 Aplicação do teorema dos eixos paralelos.

Nesse caso, o momento de inércia ainda poderá ser avaliado por meio da
Eq.(17.3). No entanto, o valor de y, referenciado ao centroide da área, deve considerar a
distância em relação ao novo eixo de referência. Assim:

I x   y 2 dA  I x    y0  y  dA  I x    y02  2 y0 y  y 2  dA
2
(17.4)
A A A

Os termos da última integral podem ser separados e analisados isoladamente.


Separando-os tem-se:
I x   y02 dA  2 y0  ydA   y 2 dA (17.5)
A A A

O primeiro termo da Eq.(17.5) leva em consideração a influência da área e a


distância do centroide da área isolada ao novo eixo de referência. Portanto, este termo
deve ser calculado. O segundo termo integral apresentado na Eq.(17.5) é nulo, uma vez
que avalia a somatória das áreas multiplicadas por sua distância em relação ao centroide
da área analisada. Para demonstrar que este termo é realmente nulo, este pode ser
avaliado considerando a estrutura apresentada na Fig. (17.7). Como a área do elemento
diferencial analisado pode ser escrita como dA  bdy , a integral é dada por:
h h
2
y2 2
 ydA   ybdy  b
2 h
  ydA  0
A h 2
A
2

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 409

Finalmente, o último termo integral nada mais representa do que o momento de


inércia da área analisada calculado em relação ao seu próprio centroide. Esta integral
pode ser obtida por meio das expressões apresentadas na Fig. (17.8).
Assim, a expressão do teorema dos eixos paralelos pode ser reescrita como:
I x  y02  dA  I CG
xx
 I x  y02 A  ICG
xx
(17.6)
A

Este teorema será utilizado com frequência ao longo desse capítulo, sendo
também de grande importância no estudo de outros tópicos da mecânica dos
sólidos/resistência dos materiais.

17.2.5 – Exemplo 1

Determine o momento de inércia em torno dos eixos x e y que passam pelo


centroide da área composta mostrada na Fig. (17.10). As dimensões estão apresentadas
em cm.

Figura 17.10 Área composta analisada. Dimensões em cm.

As coordenadas do centroide desta figura foram calculadas anteriormente neste


capítulo, sendo iguais a  x, y CG   25; 27,5  . Assim, aplicando o teorema dos eixos

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 410

paralelos, a inércia em torno do eixo x considerando o centroide da área analisada é


assim determinada:
10  303 50 103
 10  30   27,5  15    50 10   35  27,5  
2 2
Ix 
12 12
I x  101666, 67cm 4

Já para a inércia em torno do eixo y tem-se:


10  503 30 103
Iy  0  0  I y  106666, 667cm 4
12 12

17.2.6 – Exemplo 2

Determine o momento de inércia em relação aos eixos x e y que passam pelo


centroide da área composta mostrada na Fig. (17.11). As dimensões mostradas nesta
figura estão em cm.

Figura 17.11 Área composta analisada. Dimensões em cm.

Para a resolução deste exemplo deve-se inicialmente determinar as coordenadas


do centroide da área. Assim:
_
100  400  50  400 100  300  100  400  550 _
x  x  300 cm
100  400  400 100  100  400
_
100  400  500  400 100  350  100  400  200 _
y  y  350 cm
100  400  400 100  100  400
As inércias referenciadas ao centroide da área composta são obtidas aplicando-se
o teorema dos eixos paralelos. Portanto:

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 411

100  4003 400 1003 100  4003


 100  400   500  350  
2
Ix   
12 12 12
100  400   200  350 
2
 I x  2,90 109 cm 4

400 1003 100  4003 400 1003


 100  400   300  50 
2
Iy   
12 12 12
100  400   300  550
2
 I y  5,60 109 cm4

17.2.7 – Exemplo 3

Determine o momento de inércia, em relação ao eixo horizontal, da área


mostrada na Fig. (17.12). Trata-se de uma área retangular de dimensões iguais a 15x60
cm, onde observa-se a presença de um furo, de diâmetro igual a 2 cm, posicionado como
mostrado na figura a seguir.

Figura 17.12 Área retangular com furo. Dimensões em cm.

O primeiro passo para a resolução deste exercício envolve a determinação da


posição vertical do centroide da área resultante. Assim:
15  60  30   12 10
y  y  30, 07cm
15  60   12
O momento de inércia em torno do eixo horizontal é determinado utilizando-se o
teorema dos eixos paralelos. Sabendo, da Fig. (17.8), que o momento de inércia de uma

área circular em relação ao seu próprio centroide é igual a I circular  r 4 , tem-se:
4

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 412

15  603 
 15  60   30, 07  30   14   12   30, 07  10  
2 2
Ix 
12 4
I x  268738,175 cm 4

17.3 – Problema da Flexão. Hipóteses Assumidas

Para compreender os efeitos mecânicos decorrentes da ação de um momento


fletor atuante sobre um elemento de barra geral, pode-se considerar a barra abaixo, a
qual é prismática e está solicitada apenas por um momento fletor M.

Figura 17.13 Elemento prismático fletido.

Com base na ilustração apresentada na Fig. (17.13), observa-se que, em


decorrência da ação do momento fletor, as fibras materiais que compõem a barra
apresentarão um padrão deformado que tende a alongar as fibras inferiores da barra e
encurtar as fibras localizadas na parte superior da barra. Portanto, pelo fato do problema
apresentar alongamentos e encurtamentos de porções materiais, intuitivamente percebe-
se que o problema da flexão envolve o desenvolvimento de deformações normais e
tensões normais. Particularmente para o caso ilustrado na Fig. (17.13), constata-se que
uma parte da seção transversal estará tracionada e a parte complementar comprimida.
Esta constatação pode ser também facilmente observada aplicando um momento fletor a
um dos dedos de nossa mão. Verifica-se que as rugas dos dedos em um de seus lados
irão se aproximar (compressão), enquanto no lado oposto estas irão se afastar (tração).

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 413

Assumindo que a barra seja materialmente contínua, haverá, portanto, na


interface entre as regiões tracionada e comprimida, ao longo do plano da seção
transversal, uma superfície cujo comprimento não variará em decorrência da aplicação
do momento fletor. Essa superfície recebe o nome de superfície neutra, uma vez que os
pontos nela posicionado não sofrem deformação.
Para o equacionamento do problema da flexão quatro hipóteses são assumidas:
1) Existe uma superfície neutra na barra, a qual não observa variação em seu
comprimento devido a ação do momento fletor. No plano da seção transversal essa
superfície torna-se uma linha, comumente denominada linha neutra.
2) As seções transversais da barra, que são originalmente planas e
perpendiculares ao eixo longitudinal da barra, permanecem planas e perpendiculares ao
eixo longitudinal da barra após a deformação. Portanto, efeitos de empenamento são
desprezados.
3) Toda e qualquer deformação da seção transversal ocorre em seu próprio
plano. Assim, os efeitos de empenamento são desprezados. Além disso, deformações no
plano da seção transversal são observadas devido ao efeito de Poisson.
4) O material que compõe a barra é elástico linear, isótopo, contínuo e
homogêneo.
Para o desenvolvimento da cinemática do problema, ou seja, para formular a
variação das deformações ao longo do plano da seção transversal, deve-se considerar a
barra mostrada na Fig. (17.14), a qual está submetida a ação de um momento fletor.
Assumindo que o eixo x seja perpendicular ao plano da seção transversal, constata-se
que os eixos coordenados y e z definem o plano da seção transversal. Dessa forma, o
momento fletor atuante resulta um M z , o qual é positivo no sentido considerado.
Assumindo que a barra seja analisada dentro dos limites do regime de pequenos
deslocamentos (é uma hipótese plausível uma vez que as estruturas são analisadas na
condição de comportamento mecânico elástico linear), pode-se aproximar a
configuração deformada da barra por um arco de círculo. Dessa forma, o elemento de
comprimento  x apresentado na Fig. (17.14) apresentará a configuração deformada
mostrada na Fig. (17.15).
Para avaliar a variação da deformação ao longo da altura da seção transversal,
deve-se estudar a variação do comprimento de uma fibra localizada a uma distância y da
superfície neutra, como indica a Fig. (17.15). Inicialmente, esta fibra apresenta

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 414

comprimento igual a  x , isto é, antes da deformação. Após a deformação, ou seja após


a atuação do momento fletor, o seu comprimento inicial é alterado, passando a ser igual
a S  . Aproximando a configuração deslocada da barra por um arco de círculo, este
comprimento deformado, S  , pode ser expresso em função do raio do círculo que
aproxima sua deslocada.

Figura 17.14 Elemento prismático fletido. Variação das deformações ao longo da seção transversal.

Figura 17.15 Configuração deformada de um elemento de comprimento  x que compõe a barra.

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 415

Usando a definição de deformação normal específica, pode-se avaliar a


deformação deste segmento da seguinte forma:

 S  lim
S   S
  S  lim
   y       S  
y
(17.7)
S 0 S  0  
Assim, conclui-se que a deformação normal é dependente da distância entre a
fibra analisada e a superfície neutra. Além disso, esta dependência é linear. A
deformação normal será maior quão mais distante o ponto analisado estiver da
superfície neutra. A deformação normal será nula quando o ponto analisado estiver
sobre a superfície neutra, conforme uma das hipóteses consideradas. Dessa forma, sendo
c a distância entre a superfície neutra e a fibra mais distante da superfície neutra, pode-
se escrever a deformação normal, para qualquer ponto ao longo da altura da seção
transversal, em função da deformação máxima e desta distância, como mostra a Fig.
(17.16). Devido a variação linear das deformações no plano da seção transversal, pode-
se escrever que:
y
    max (17.8)
c

Figura 17.16 Deformação máxima na seção.

A deformação apresentada na Eq.(17.8) refere-se à deformação normal atuante


perpendicularmente ao plano da seção transversal, normalmente referenciado como  x .
Para avaliar as deformações normais presentes ao longo das duas direções que definem
a seção transversal, como mostrado na Fig. (17.17), pode-se utilizar a definição do
coeficiente de Poisson. Assim:
 y   x  z   x (17.9)

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 416

Figura 17.17 Deformações normais nas direções da seção transversal.

17.4 – Fórmula da Flexão. Flexão Simples

Uma das hipóteses assumidas para o desenvolvimento da formulação do


problema da flexão é que o material que compõe a barra apresente comportamento
mecânicos elástico linear. Nesse caso, o comportamento mecânico do material é
governado pela lei de Hooke. Segundo essa lei, as tensões normais são diretamente
proporcionais às deformações normais atuantes no ponto em análise.
Consequentemente, por meio dessa lei, constata-se que as tensões normais atuantes ao
longo da altura da seção transversal apresentarão variação semelhante à das
deformações normais, como mostra a Fig. (17.18).

Figura 17.18 Variação das deformações e tensões ao longo da altura da seção.

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 417

Portanto, por meio dessa consideração, a variação das tensões normais ao longo
da altura da seção transversal da barra pode ser escrita como:
y
    max (17.10)
c
Com base no apresentado na Eq.(17.10), pode-se efetuar o equilíbrio de um
elemento de área infinitesimal dA pertencente à seção transversal da barra, como
indicado na Fig. (17.19). Sabendo que a multiplicação da tensão normal atuante nesse
elemento infinitesimal por sua área resulta uma componente de força, o equilíbrio de
forças pode ser verificado da seguinte maneira:

F  0    dA  0
A

Figura 17.19 Equilíbrio do elemento infinitesimal de área.

Sabendo que a variação da tensão normal ao longo da altura da seção é dada pela
Eq.(17.10) tem-se:
y  max
 c 
A
max dA  0  
c  ydA  0
A

Como  max e c são diferentes do zero, o equilíbrio é verificado apenas se

 ydA  0 . Como mostrado anteriormente nesse capítulo, essa integral é nula desde que
A

seja avaliada em relação ao centroide da seção transversal. Portanto, através desse


equilíbrio, verifica-se que é na linha do centroide da seção transversal que estará
posicionada a superfície neutra, no caso da atuação de um único momento fletor.

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 418

Deve-se também verificar se o equilíbrio em termos de momentos é atendido. O


momento externo aplicado deve ser equilibrado pela ação das tensões linearmente
dispostas na seção transversal. Portanto:
M z   y dA
A

Sabendo que a tensão ao longo da altura da seção é dada pela Eq.(17.10) tem-se:
 y  
M z   y    max  dA  M z   max  y dA
2

A  
c c A

 y dA
2
A integral é denominada momento de inércia, conforme mostrado
A

anteriormente nesse capítulo, sendo uma propriedade geométrica de figuras planas. Para

 y dA
2
o sistema de eixos considerado, ou seja, y vertical e z horizontal, observa-se que
A

retorna o momento de inércia da seção transversal em relação ao seu centroide em torno


do torno do eixo horizontal, z. Essa grandeza é normalmente designada pela letra I.
Assim:
 max Mz
Mz   I z   max   c
c Iz
A expressão anterior relaciona as tensões normais máximas presentes na seção
transversal ao momento fletor atuante. Devido a variação das deformações no plano da
seção transversal, constata-se que as maiores tensões normais estarão posicionadas nas
fibras materiais mais distantes da superfície neutra. Para uma fibra qualquer da seção,
não necessariamente a mais distante da superfície neutra, a tensão normal pode ser
obtida por meio da Eq.(17.11), uma vez que se sabe que as tensões normais variam
linearmente com a distância do ponto analisado à superfície neutra. Assim:
Mz
  y (17.11)
Iz
A relação anterior é denominada fórmula da flexão, já que relaciona o momento
fletor atuante à tensão normal presente em qualquer ponto da seção transversal.
Destaca-se que a Eq. (17.11) contém um sinal negativo, o qual surge em decorrência do
sistema de coordenadas adotado para descrever os pontos no plano da seção transversal.
Assim, M z positivo causa encurtamento/compressão nas coordenadas positivas de y,
resultando em deformação normal negativa e tensão normal negativa nessas posições.

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 419

Além disso, constata-se que seções transversais eficientes nesse problema


possuem elevado valor para I z . Dessa forma, na flexão, seções transversais do tipo I, as
quais possuem grande porção de material afastada do centroide da seção transversal são
desejadas.

17.4.1 – Exemplo 4

Determine as tensões normais máxima e mínima que ocorrem na viga mostrada


na Fig. (17.20) e ilustre a distribuição das tensões normais ao longo da altura da seção
transversal.

Figura 17.20 Estrutura analisada.

Para o cálculo das tensões normais extremas atuantes na viga devido à flexão,
deve-se identificar inicialmente a seção transversal mais solicitada pelo carregamento
atuante. Para tal fim, o diagrama de momento fletor deve ser construído. Para a estrutura
analisada, este diagrama é mostrado na Fig. (17.21).

Figura 17.21 Diagrama de momento fletor.

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 420

Como a seção transversal é simétrica ao longo das duas direções que a definem,
sabe-se que o centroide da seção estará localizado na intersecção entre seus eixos de
simetria. Porém, o leitor pode determinar a posição do centroide utilizando os conceitos
apresentados no item 17.2, caso seja do seu interesse.
Com base nessa informação, o momento de inércia da seção pode ser obtido,
sendo igual a:
 250  203 2 20  3003
Iz    250  20  150  10    2   I z  3, 01333 108 mm 4
 12  12

Para que o problema seja resolvido utilizando unidades compatíveis, o momento


de inércia será determinado na unidade de comprimento metro. Fazendo esta conversão
de unidades obtém-se:
I z  3, 01333 104 m 4
Assim, as tensões normais, máxima e mínima, ficam determinadas como:
Mz 22,5
 MIN   y   MIN   170 103   MIN  12, 7 MPa
Iz 3, 01333 104
22,5
4 
 170 103    MAX  12, 7 MPa
Mz
 MAX   y   MAX  
Iz 3, 01333 10

A distribuição das tensões normais ao longo da altura da seção transversal é a


mostrada na Fig. (17.22).

Figura 17.22 Distribuição das tensões normais ao longo da altura da seção.

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 421

Devido à simetria da seção transversal, constata-se que as tensões de valor


extremo são iguais em módulo.

17.4.2 – Exemplo 5

Sabendo que o material que compõe a viga mostrada na Fig. (17.23) é capaz de
suportar a uma tensão de tração máxima igual a 25 MPa e a uma tensão de compressão
máxima de 130 MPa, determine se nessa estrutura a falha será observada. As dimensões
da seção transversal estão apresentadas em mm.

Figura 17.23 Estrutura analisada.

Para que esse problema seja resolvido, deve-se determinar a seção transversal
mais solicitada da viga. Esta seção é facilmente identificada por meio do digrama de
momento fletor. Traçando este diagrama, o qual é apresentado na Fig. (17.24), constata-
se que a seção mais solicitada é a do engaste, cujo momento fletor atuante é igual a 30
kNm.

Figura 17.24 Diagrama de momento fletor.

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 422

Na sequência, as propriedades geométricas da seção transversal devem ser


determinadas. Portanto, as coordenadas do centroide da seção transversal e seu
momento de inércia devem ser calculados. Assim:
15 180  90  15 180  90  280  20 190
y  y  140,90 mm
15 180  15 180  280  20
Com base na posição do centroide, o momento de inércia pode ser calculado
como:
15 1803 2 280  203
 15 180  140,90  90   2   190  140,90   280  20
2
Iz  
 12  12
I z  42, 257 106 mm4  I z  42, 257 106 m4
A maior tensão de tração ocorrerá nas fibras localizadas na parte superior da
seção transversal, ou seja, nas porções materiais onde as coordenadas y são positivas.
Tal constatação é facilmente obtida com base em uma simples análise do diagrama de
momento fletor. A Fig. (17.24) indica que ao longo do comprimento da viga analisada
M z é negativo. Assim, utilizando a fórmula da flexão, Eq.(17.11), tem-se:

 30 
6 
 MAX    200  140,90  103    MAX  41,957 MPa
 42, 257  10 
Consequentemente, a maior tensão compressiva ocorrerá nas fibras posicionadas
na parte inferior da seção transversal. Por meio da fórmula da flexão obtém-se:
 30 
6 
 MIN    140,90  103    MIN  100, 03MPa
 42, 257 10 
Portanto, com base nas resistências do material informadas, verifica-se que será
observada a falha do material. Além disso, a falha estará localizada na parte tracionada
da seção transversal.

17.5 – Momento Fletor com Orientação Arbitrária. Flexão Oblíqua

Nos itens anteriores foi determinada a distribuição das tensões normais atuantes
no plano da seção transversal de um elemento de barra geral submetido à ação de um
momento fletor, o qual era orientado ao longo de um dos eixos principais de inércia da
seção transversal. Porém, no domínio da engenharia de estruturas, é comum, na
concepção de estruturas, a observação de elementos de barra geral submetidos à ação

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 423

não mais de um, mas de dois momentos fletores, os quais são orientados ao longo dos
eixos principais de inércia da seção transversal.
Neste item será estudada a distribuição das tensões normais, em um elemento de
barra geral, produzidas pela ação de um momento fletor com orientação arbitrária no
plano da seção transversal, como mostrado na Fig. (17.25). Assumindo que o material
que compõe a estrutura obedeça ao regime de comportamento mecânico elástico linear,
ou seja o material segue a lei de Hooke, pode-se aplicar o princípio da superposição dos
efeitos para adicionar as tensões normais produzidas pelos momentos M z e M y , os quais

são resultado da decomposição do momento aplicado em uma direção arbitrária em


relação a estes eixos de referência.

Figura 17.25 Atuação de dois momentos fletores.

Figura 17.26 Sobreposição dos efeitos.

A superposição dos efeitos, nesse caso, pode ser visualizada na Fig. (17.26).
Com base nessa figura, constata-se que a superfície neutra encontra-se inclinada em
relação aos eixos que definem o plano da seção transversal.
Sabendo que as tensões normais na flexão são determinadas pela fórmula da
flexão, Eq. (17.11), a qual é válida para a aplicação de um momento M z , pode-se

reescrever esta equação para considerar a presença do momento fletor M y . Com base

no princípio da superposição dos efeitos, as tensões normais na flexão, na presença


desses momentos fletores, podem ser obtidas com base na seguinte relação:

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 424

Mz y Myz
   (17.12)
Iz Iy

Destaca-se que o sinal positivo associado à contribuição de M y surge devido ao

sistema de coordenadas adotado para a descrição da geometria da seção transversal, ou


seja, eixo x normal ao plano da seção transversal e os eixos y e z contidos no plano da
seção transversal.
A partir da Eq.(17.12), verifica-se que quando dois momentos fletores estão
atuando conjuntamente, a superfície neutra passa pelo centroide da seção, ou seja, pelas
coordenadas   0 em  y, z    0, 0  . No entanto, esta encontra-se inclinada com relação

aos eixos coordenados. Tal posição é ligeiramente diferente se comparado ao caso onde
apenas um momento fletor é não nulo, onde a superfície neutra é paralela ao vetor
momento atuante passando pelo centroide. Sabendo que na superfície neutra as tensões
normais são nulas, a equação que define sua posição pode ser obtida a partir da
Eq.(17.12). Assim:
Mz y Myz M I
   0  z z y y (17.13)
Iz Iy M y Iz

Portanto, a Eq.(17.13) define uma reta no sistema de coordenadas yz.

17.5.1 – Exemplo 7

Um elemento de barra geral de seção transversal retangular está submetido à


ação de dois momentos fletores, cujas intensidades são iguais a M y  9, 6 kNm e

M z  7, 2 kNm , como mostra a Fig. (17.27). Determine as tensões normais máxima e


mínima atuantes e posicione a superfície neutra.
Utilizando a Eq.(17.12) tem-se:
7, 2  0, 2 9, 6  0,1
A      A  4950 kN m 2
0, 2   0, 4  0, 4   0, 2 
3 3

12 12
7, 2  0, 2 9, 6   0,1
B      B  2250 kN m 2
0, 2   0, 4  0, 4   0, 2 
3 3

12 12

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 425

7, 2   0, 2  9, 6  0,1


C      C  2250 kN m 2
0, 2   0, 4  0, 4   0, 2 
3 3

12 12
7, 2   0, 2  9, 6   0,1
D      D  4950 kN m 2
0, 2   0, 4  0, 4   0, 2 
3 3

12 12

Figura 17.27 Seção transversal considerada e momentos fletores aplicados.

Com base nas tensões normais calculadas anteriormente nos pontos extremos da
seção transversal, obtém-se a distribuição das tensões normais no plano da seção
transversal mostrada na Fig. (17.28).

Figura 17.28 Distribuição das tensões no plano da seção.

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 426

A orientação da superfície neutra pode ser obtida com base na Eq.(17.13).


Assim:

0, 4   0, 2 
3

Mz Iy 7, 2 12
z y  z y  z  0,1875 y
M y Iz 9, 6 0, 2   0, 4 3
12
A última equação resulta uma reta que depende apenas das coordenadas y e z.
Quando o ponto analisado encontra-se no centroide, ou seja, em y  0 , tem-se z  0 .
Portanto, a superfície neutra passa pelo centroide. Quando y  0, 2 , ou seja, quando
ponto analisado encontra-se sobre a reta AB, tem-se z  0,0375 . Assim, o ponto em
que a superfície neutra corta a reta AB está distante de 0,0625 do ponto B. Portanto, a
superfície neutra está posicionada como mostrado na Fig. (17.29).

Figura 17.29 Posicionamento da superfície neutra.

17.5.2 – Exemplo 8

Determine as tensões normais atuantes nos pontos extremos da seção transversal


mostrada na Fig. (17.30) e indique a posição da superfície neutra. A estrutura é
solicitada por dois momentos fletores cujas intensidades são iguais a M y  7, 5 kNm e

M z  13 kNm .

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 427

Figura 17.30 Seção transversal considerada. Dimensões em mm.

Para a resolução deste exemplo, deve-se, inicialmente, determinar as


coordenadas do centroide da seção transversal para que, em seguida, os momentos de
inércia em torno dos eixos y e z sejam calculados. Posicionando o centroide tem-se:
30  200 115  40 100  50
y  y  89mm
30  200  40 100
30  200 100  40 100 100
z  z  100 mm
30  200  40 100
Com base nas coordenadas do centroide, os momentos de inércias podem ser
assim mensurados:
40 1003 200  303
 40 100   89  50    200  30  115  89 
2 2
Iz 
12 12
I z  1,3923 10 mm
7 4
 I z  13,923 106 m 4

30  2003 100  403


Iy    I y  20,533 106 mm 4  I y  20,533 106 m 4
12 12
Assim, utilizando a Eq.(17.12), as tensões normais nos pontos extremos podem
ser assim determinadas:

13  130  89  103 7,5  100 10 


3

A   6
 6
  A  74808,55 kN m 2
13,923 10 20,533 10

13  130  89  103 7,5   100 10 


3

B      B  1755, 41 kN m 2
13,923 106 20,533 106

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 428

13  100  89  10 3 7,5  100 10 


3

C   6
 6
  C  46797,34 kN m 2
13,923 10 20,533 10

13  100  89  103 7,5   20 10 


3

 C'   6
 6
  C '  17576, 09 kN m 2
13,923 10 20,533 10

13  100  89  10 3 7,5   20 10 


3

D     D'  2965, 46 kN m 2
13,923 10 6 20,533 10 6
'

13  100  89  10 3 7,5   100 10 


3

D      D  26255, 79 kN m 2
13,923 10 6 20,533 10 6

13   89  103 7,5   20 10 


3

E      E  75794, 60 kN m 2
13,923 10 6 20,533 10 6

13   89  10 3 7,5   20 10 


3

F   6
 6
  F  90405, 22 kN m 2
13,923 10 20,533 10
De acordo com a distribuição das tensões normais determinada anteriormente,
verifica-se que existe uma mudança no sentido da tensão (de compressão à tração) ao
longo dos pontos BD e C'E. Portanto, a superfície neutra intercepta as retas definidas
por estes pontos.
Utilizando a Eq.(17.13), a equação da superfície neutra é definida como:
13 20,533 106
z y  z  2,5562 y
7,5 13,923 106
Avaliando a equação da superfície neutra para a coordenada z  100 mm , tem-
se:
100  2,5562 y  y  39,12 mm
Avaliando a equação da superfície neutra para a coordenada z  20 mm , tem-se:
20  2,5562 y  y  7,823 mm
Com base nas duas coordenadas determinadas anteriormente, verifica-se que a
superfície neutra encontra-se posicionada como mostrado na Fig. (17.31).

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 429

Figura 17.31 Posição da superfície neutra.

17.6 –Flexão devido a Momento Fletor Arbitrário e Esforço Normal Não


Nulo. Flexão Composta Oblíqua

Conforme apresentado anteriormente nesse capítulo, verificou-se que a atuação


de momentos fletores gera no plano da seção transversal tensões normais. Porém, como
estudado no capítulo 12, esforços normais geram também tensões normais no plano da
seção transversal. Portanto, o problema da flexão pode ser formulado, de maneira geral,
considerando a presença de um momento fletor arbitrariamente orientado e de um
esforço normal não nulo. Nessa situação, a fórmula da flexão, Eq.(17.11) e Eq.(17.12),
passa a ser escrita em sua forma completa como:
N Mz y Myz
   (17.14)
A Iz Iy

Com base na Eq.(17.14), verifica-se que quando o esforço normal atuante é não
nulo, a superfície neutra não passa pelo centroide. Nesse caso, a equação que contém os
pontos cuja tensão normal é nula é dada por:
N Mz y M yz  N M y  Iy
  0  z    z  (17.15)
A Iz Iy  A Iz  M y

No caso geral descrito pela Eq. (17.15), constata-se que as intensidades dos
esforços solicitantes atuantes podem levar a superfície neutra a estar posicionada fora do

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 430

domínio da seção transversal. No caso de uma compressão simples, por exemplo, tem-
se M z  M y  0 e N negativo. Nessa situação, a superfície neutra estaria posicionada

em z   . Em uma tração simples a superfície neutra estaria posicionada em z   .

17.6.1 – Exemplo 9

Para a seção transversal e carregamentos apresentados no Exemplo 8, determine


as tensões normais nos pontos extremos da seção e a reta que contém a superfície
neutra, se uma força axial trativa de 10 kN for aplicada no centro de gravidade da seção
transversal.
A área da seção transversal é dada por:
A  200 103  30 103  40 103 100 103  A  0, 01 m2
Assim, utilizando a Eq.(17.14), as tensões nos pontos extremos podem ser assim
determinadas:

10 13  130  89  10


3
7,5  100 10 3 
A   6
 6
  A  75808,55 kN m 2
0, 01 13,923 10 20,533 10

10 13  130  89  10


3
7,5   100 10 3

B   6
   B  2755, 41 kN m 2
0, 01 13,923 10 20,533 10 6

10 13  100  89  10


3
7,5  100 103 
C   6
 6
  C  47797,34 kN m 2
0, 01 13,923 10 20,533 10

10 13  100  89  10


3
7,5   20 10 3 
 C'   6
 6
  C '  18576, 09 kN m 2
0, 01 13,923 10 20,533 10

10 13  100  89  10


3
7,5   20 10 3 
D '   6
 6
  D'  3965, 46 kN m 2
0, 01 13,923 10 20,533 10

10 13  100  89  10


3
7,5   100 103 
D      D  25255, 79 kN m 2
0, 01 13,923 106 20,533 106
10 13   89  10
3
7,5   20 10 3 
E   6
 6
  E  74794, 60 kN m 2
0, 01 13,923 10 20,533 10

10 13   89  10


3
7,5   20 10 3 
F   6
 6
  F  89405, 22 kN m 2
0, 01 13,923 10 20,533 10

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 431

A equação que descreve a superfície neutra é obtida avaliando-se a Eq.(17.15).


Assim:
 10 13 y  20,533 106
z    6 

 0, 01 13,923 10  7,5
z  2, 7377 10  2,5562 y  em m 
3

De acordo com a distribuição das tensões normais apresentada anteriormente,


constata-se uma mudança no sentido da tensão (compressão para tração) ao longo dos
pontos BD e C'E. Portanto, a superfície neutra intercepta as retas definidas por estes
pontos. Avaliando a equação da superfície neutra para a coordenada z  100 mm , tem-
se:
100 103  2, 7377 103  2,5562 y  y  38,50 mm
Avaliando a equação da superfície neutra para a coordenada z  20 mm , tem-se:

20 103  2,7377 103  2,5562 y  y  8,895 mm


Assim, a superfície neutra é posicionada como mostrado na Fig. (17.32).

Figura 17.32 Posição da superfície neutra.

17.7 – Tensões Normais na Flexão em Barras Compostas por Materiais de


Diferentes Propriedades Mecânicas. Barras Não Homogêneas

A utilização de estruturas compostas por materiais que possuem diferentes


propriedades mecânicas vem sendo cada vez mais frequente em aplicações de

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 432

engenharia. Por meio da utilização de diferentes materiais, ou seja, estruturas não


homogêneas, pode-se conceber uma estrutura eficiente posicionando os materiais mais
adequados segundo o nível de tensão despertado pelo carregamento atuante.
Considerando o problema da flexão apresentado anteriormente nesse capítulo,
verifica-se que a formulação mostrada é válida para uma estrutura formada por um
único material. Assim, assume-se homogeneidade material. No entanto, esta formulação
permanece válida no estudo/representação de estruturas compostas por materiais de
diferentes propriedades mecânicas, desde que um processo de homogeneização seja
considerado, com o objetivo de transformar a seção transversal não homogênea em uma
homogênea equivalente. Dessa forma, será apresentado neste item um procedimento
para a homogeneização de seções transversais de barras formadas por diferentes
materiais, de forma a considerá-la como formada por um único material de referência.
Assim, pode-se assumir o material como homogêneo de referência, o que possibilita a
aplicação da formulação anteriormente apresentada.
Deve-se destacar que embora a estrutura seja composta por diferentes materiais,
o campo de deformações ao longo do plano da seção transversal deverá ser contínuo. A
continuidade das deformações deverá obrigatoriamente ser observada uma vez que
assume-se que a seção transversal não apresente falhas, ou seja, que ela seja
materialmente contínua. Além disso, assume-se que a seção transversal permaneça
plana e ortogonal a seu eixo durante a flexão. Em decorrência dos diferentes módulos de
elasticidade dos materiais que compõem a seção transversal, as tensões normais no
plano da seção transversal não serão contínuas, pela lei de Hooke, uma vez que as
deformações devem ser contínuas nessas interfaces. Assim, a contribuição para o
equilíbrio de forças e momentos fornecido por cada material é diferente, como mostra a
Fig. (17.33).

Figura 17.33 Variação das deformações e tensões normais ao longo da altura da seção.

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 433

Para efetuar o processo de homogeneização, deve-se determinar a contribuição


mecânica que cada material fornece para o equilíbrio de forças no plano da seção
transversal. Assim, a homogeneização consiste na determinação da extensão de uma
porção material equivalente/homogeneizada a qual transmite/resiste a mesma força
associada ao material original, o qual foi homogeneizado. Para ilustrar a realização
desse processo pode-se considerar a seção transversal mostrada na Fig. (17.34), a qual é
formada por dois materiais com diferentes propriedades mecânicas.
Para transformar todo o material que compõe a seção transversal em material 2
equivalente, ou seja homogeneizar a seção transversal considerando o material 2 como
referência, deve-se determinar uma nova extensão material relacionada ao material 1 de
tal maneira que a força resistida pelo material 1 seja a mesma resistida pelo material
homogeneizado, o qual possuirá extensão material diferente da condição original.
Assim, assumindo que E1  E2 , para um mesmo nível de deformação, tem-se pela lei de

Hooke que 1   2 . Portanto, em decorrência da homogeneização, será necessária uma


área homogeneizada, na localização do material 1, maior para que na região
homogeneizada a força transmitida seja a mesma.

Figura 17.34 Seção transversal não-homogênea.

Assim, utilizando a definição de tensão normal média e a lei de Hooke, pode-se


determinar a força transmitida em um elemento de área diferencial pertencente ao
material 1 como:
F1   1dA  F1  E1 dA (17.16)

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 434

Como as forças resistidas pelo material 1 e pelo material homogeneizado,


material 2, deverão ser as mesmas tem-se:
F1  F2  E1 dA  E2 ndA (17.17)
O termo n na equação anterior é denominado fator de homogeneização. Este
fator é utilizado para a determinação da proporção de área homogeneizada que será
utilizada para que as forças nos materiais a serem homogeneizados (1) e de referência
(2) sejam as mesmas. Como a deformação é a mesma no ponto analisado, a Eq.(17.17)
pode ser simplificada como:
E1
E1 dA  E2 ndA  n (17.18)
E2
Com base no fator de homogeneização definido anteriormente, obtém-se a nova
área da seção transversal e consequentemente suas novas propriedades geométricas
homogeneizadas. Deve-se salientar que os autores de livros clássicos sobre mecânica
dos sólidos e resistência dos materiais sugerem que este fator seja utilizado para a
determinação apenas de uma nova dimensão de base para a seção transversal, a qual é
assumida como composta exclusivamente por subcomponentes retangulares/quadrados.
Assim, tem-se uma dimensão de base homogeneizada enquanto que a altura da seção
transversal permanece inalterada. Essa abordagem é bem limitada, uma vez que exclui
da análise qualquer outro tipo de formato para a seção transversal, como circulares e
elípticos, por exemplo. Além disso, essa abordagem possibilita a solução de problemas
onde atua apenas um único momento fletor, o que restringe a solução à problemas
relativamente simples.
Nesse texto, o autor sugere uma estratégia de solução alternativa, a qual elimina
as limitações mencionadas no parágrafo anterior. Ao invés de se determinar uma base
homogeneizada para os subcomponentes da seção transversal, pode-se determinar as
propriedades geométricas da seção transversal homogeneizada considerando
simplesmente a ponderação pelo fator de homogeneização sobre as contribuições
relacionadas as subáreas e as subinércias. Destaca-se que os exemplos a serem
resolvidos na sequência apresentam a solução pelas duas abordagens, sendo que o leitor
é livre para escolher a estratégia de solução que melhor o convém na solução dos
exercícios propostos.
Deve-se destacar que para seções transversais compostas por mais de dois
diferentes materiais, devem ser obtidos fatores de homogeneização para os materiais

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 435

dividindo-se a o módulo de elasticidade longitudinal do material a ser homogeneizado


pelo módulo de elasticidade longitudinal do material de referência, o qual comporá a
seção homogeneizada. Assim, no caso de dois diferentes materiais tem-se um fator de
homogeneização, no caso de três diferentes materiais tem-se dois fatores de
homogeneização e assim por diante.
Finalmente, enfatiza-se que após a análise, as tensões e deformações
determinadas referem-se aos materiais homogeneizados, uma vez que essas foram
determinadas utilizando propriedades geométricas da seção transversal homogeneizada.
Portanto, para determinar essas grandezas no material real, essas devem ser
multiplicadas pelos respectivos fatores de homogeneização, conforme indica a Eq.
(17.17).

17.7.1 – Exemplo 10

A seção transversal mostrada na Fig. (17.35) é composta por dois diferentes


materiais, cujos módulos de elasticidade longitudinal são E1  12 GPa e E2  200 GPa .
Esses módulos correspondem a madeira (parte superior) e aço (parte inferior). Com base
nessas informações, determine as tensões normais nas fibras mais distantes do centroide
da seção.

Figura 17.35 Estrutura a ser analisada. Dimensões em mm.

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 436

Esse problema será resolvido utilizando a estratégia clássica sugerida pelos


autores em livros clássicos de mecânica dos sólidos/resistência dos materiais. Para
tanto, deve-se, inicialmente, determinar o fator de homogeneização. Considerando que a
seção transversal seja homogeneizada pelo material 2 tem-se:
E1 12
n   0, 06
E2 200
Assim, a nova base para o material 1 será igual a:
bhomog  150  0, 06  bhomog  9, 0 mm

Portanto, a seção transversal homogeneizada, ou seja, composta exclusivamente


pelo material 2 equivalente, apresenta a configuração mostrada na Fig. (17.36). A partir
de agora, a seção transversal mostrada na Fig. (17.36) pode ser analisada considerando a
formulação clássica do problema da flexão discutida anteriormente.

Figura 17.36 Seção transversal homogeneizada. Dimensões em mm.

Assim, determinam-se as propriedades geométricas da seção e em seguida


aplica-se a fórmula da flexão. Portanto:
9 150  95  150  20 10
y homog   36,38mm
150  20  9 150
150  203 9 1503
 150  20   36,38  10    9 150   95  36,38
2 2
I z homog 
12 12
I z homog  9,358 10 mm
6 4
 I z homog  9,358 106 m 4

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 437

Assim, a tensão máxima de tração ocorre no material de referência, a qual pode


ser calculada como:
2   36,38 10 3 
     7775,17 kN m 2
9,358 10 6
E a tensão máxima de compressão, no material homogeneizado, é igual a:
2  170  36,38  103
 homog    homog  28557,38 kN m 2
9,358 106
Assim, a distribuição das tensões normais na seção homogeneizada é a
apresentada na Fig. (17.37).

Figura 17.37 Tensões normais na seção homogeneizada.

Para transformar o problema homogeneizado no problema real, deve-se


multiplicar as tensões normais atuantes no material 1 pelo fator de homogeneização.
Portanto, a tensão normal na fibra superior mais distante do centroide é calculada como:
  0, 06  28557,38    1713, 44 kN m2
Dessa forma, a distribuição das tensões normais, para o problema real, é a
mostrada na Fig. (17.38). Embora as tensões normais sejam descontínuas ao longo da
interface entre os dois materiais, verifica-se que nessa interface as deformações são
contínuas, indicando que os materiais resistem ao momento fletor aplicado
monoliticamente. Verifica-se que a razão entre as descontinuidade das tensões na
interface é igual a razão dos módulos de elasticidade dos materiais envolvidos, como
esperado.

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 438

Figura 17.38 Tensões normais na seção real.

17.7.2 – Exemplo 11

Resolva o problema apresentado no item 17.7.1, Exemplo 10, aplicando o fator


de homogeneização diretamente sobre as propriedades geométricas da seção.
Nesse exemplo, resolve-se o problema anterior utilizando a abordagem
alternativa sugerida por esse autor. Para que a análise das tensões normais na flexão em
materiais não homogêneos seja efetuada pode-se aplicar o fator de homogeneização
diretamente sobre as propriedades geométricas da seção. Assim, considera-se a
equivalência de forças utilizada para a determinação do fator de homogeneização, sem a
necessidade de se determinar uma dimensão de base homogeneizada.
Dessa forma, inicialmente, deve-se determinar o fator de homogeneização.
Tomando o material 2, aço, como referência tem-se:
E1 12
n   0, 06
E2 200

A coordenada y do centro de gravidade da seção fica assim determinada:

0, 06  150 150   95  150  20 10


y  36,38mm
0, 06  150 150   150  20

Portanto, o momento de inércia da seção em torno do eixo z fica igual a:

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 439

150  203 150 1503


 150  20   36,38  10   0, 06 
2
Iz  
12 12
0, 06  150 150    95  36,38 
2

I z  9,358 106 mm 4  I z  9,358 106 m 4

Assim, a tensão normal máxima de tração, que ocorre no material 2 que é a


referência, pode ser calculada como:
2   36,38 10 3 
     7775,17 kN m 2
9,358 10 6
Já a máxima tensão normal de compressão ocorre no material 1. Portanto, para
que a tensão real nesse material seja determinada, deve-se multiplicá-la pelo fator de
homogeneização. Assim:
 2  170  36,38  103 
  0, 06        1713, 44 kN m 2
 9,358 106 
Deve-se enfatizar que os resultados obtidos por meio dessa metodologia, que é
mais expedita e de fácil aplicação, foram os mesmos encontrados homogeneizando a
base da seção transversal, exemplo anterior.

17.7.3 – Exemplo 12

A seção transversal mostrada na Fig. (17.39) é composta por dois diferentes


materiais: aço e madeira. Sabendo que os materiais que compõem essa seção transversal
apresentam as seguintes propriedades  Adm
Aço
 24 ksi , E Aço  29 103 ksi , I Z Aço  20,3 in 4 ,

AAço  8, 79 in 2 ,  Adm
Madeira
 3 ksi e EMadeira  1, 6 103 ksi , determine o máximo momento,

M z , que pode ser aplicado à essa seção transversal considerando e desprezando a


presença do reforço de madeira. As dimensões da seção transversal estão ilustradas na
Fig. (17.39).

1º abordagem. Sem a presença da madeira.


Quando a presença da madeira é desprezada, a seção transversal é composta por
um único material. Além disso, a seção transversal é duplamente simétrica. Nessa
condição, pode-se aplicar a fórmula da flexão diretamente. Assim:

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 440

Mz M  4, 20
 Adm
Aço
 y  24  z  M z  116 Kip  in
I Z Aço 20,3

Figura 17.39 Estrutura a ser analisada.

2º abordagem. Considerando a presença da madeira.


Nesse caso, a seção transversal é formada por dois diferentes materiais. Assim,
deve-se homogeneizar a seção transversal para então determinar as tensões normais
máximas para a seção homogeneizada e, finalmente, transformar as tensões do material
homogeneizado para o material real. Por simplicidade, nesse exercício será aplicado
apenas a abordagem clássica para o processo de homogeneização. Porém, o autor sugere
que o leitor resolva esse mesmo problema utilizando a abordagem alternativa. Assim, o
fator de homogeneização pode ser determinado considerando o aço como material de
referência:
1, 6 103
n  5,517 102
29 10 3

Portanto, a dimensão da base homogeneizada para a porção geométrica que


contém a madeira fica determinada como:
bhomog  nbmad  bhomog  n 12  bhomog  0, 662 in

Dessa forma, a geometria da seção transversal homogeneizada é a apresentada


na Fig. (17.40). Para a seção mostrada na Fig. (17.40), têm-se as seguintes propriedades
geométricas:
8, 79  4, 20  0, 662  4  6, 4
y homog   4, 7093 in
8, 79  0, 662  4

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 441

0, 662  43
I Z homog  20,3  8, 79   4, 7093  4, 20    0, 662  4   4, 7093  6, 4 
2 2

12
I Z homog  33, 679 in 4

Figura 17.40 Seção transversal homogeneizada.

Portanto, para a fibra de aço mais solicitada tem-se:


Mz Mz
 Adm
Aço
 y  24    4, 7093  M z  171, 638 Kip  in
I Z homog 33, 679

Como o aço é o material de referência nessa análise, constata-se que o valor


determinado anteriormente não requer transformação via multiplicação por n. Para a
fibra de madeira mais solicitada, a tensão normal, considerando o fator de
homogeneização pode ser determinada por:
 Mz  5,517 102  M z
 Madeira
Adm
  y  n   3     8, 4  4, 7093 
 I Z homog 33, 679
 
M z  496, 21 Kip  in
Com base nos resultados apresentados anteriormente, verifica-se que o momento
fletor é limitado pela tensão normal máxima atuante no aço, o qual rompe primeiro que
a madeira. Destaca-se que a presença da madeira eleva o momento resistente em:
171,08 116  47,96% . Um desempenho mecânico melhor poderia ser obtido se a
madeira fosse também adicionada na porção inferior da seção transversal.
Alternativamente, a madeira poderia ser substituída por outro material mais resistente e
com módulo de elasticidade longitudinal mais elevado. Finalmente, o autor sugere que o
leitor resolva este exercício aplicando a metodologia alternativa para o processo de

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 442

homogeneização, no qual pondera-se diretamente as áreas e inércias correspondentes


aos materiais homogeneizados pelo fator de homogeneização.

17.7.4 – Exemplo 13

Determine as intensidades das tensões normais, decorrentes da flexão, atuantes


nos pontos extremos das interfaces entre os diferentes materiais que compõem a seção
transversal não homogênea mostrada na Fig. (17.41). Sabe-se que: E1  200 GPa ,

E2  100 GPa e E3  20 GPa . Além disso, atuam nesta seção transversal dois

momentos fletores não nulos de intensidade igual a: M z  10 kNm e M y  4 kNm .

Figura 17.41 Seção transversal não homogênea a ser analisada. Dimensões em cm.

Esse exercício será resolvido utilizando a abordagem sugerida pelos autores de


livros clássicos de mecânica dos sólidos e resistência dos materiais para a
homogeneização da seção transversal. Portanto, serão homogeneizadas as dimensões
das bases da seção ao longo da direção de z e determinam-se as tensões normais
decorrentes de M z . Em seguida, homogeneízam-se as dimensões de base ao longo da

direção de y e determinam-se as tensões devidos a M y . Finalmente, aplica-se a

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 443

superposição de efeitos e somam-se as tensões devidas a ação dos dois momentos


fletores. Dessa forma, o procedimento de análise será iniciado pelo momento fletor M z .

Assim, os fatores de homogeneização dos materiais, considerando o material 1 como


referência, são iguais a:
E2 100
n12   n12   n12  0,5
E1 200
E3 20
n13   n13   n13  0,1
E1 200
Consequentemente, as dimensões homogeneizadas das bases assumem os
seguintes valores:
bhomog 2  b2 n12  bhomog 2  15  0,5  bhomog 2  7, 5 cm

bhomog 3  b3 n13  bhomog 3  15  0,1  bhomog 3  1, 5 cm

A partir dos valores das bases homogeneizadas obtidos anteriormente, a seguinte


seção transversal homogênea/homogeneizada pode ser construída, a qual é apresentada
na Fig. (17.42):

Figura 17.42 Seção transversal homogeneizada. Dimensões em cm.

A localização do centro de gravidade da seção transversal ao longo do eixo y


pode ser assim determinada:

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 444

1,5 15  37,5  7,5 10  25  15  20 10


ycg   ycg  14,3868 cm
1,5 15  7,5 10  15  20
Assim, o valor do momento de inércia da seção homogeneizada em torno do
eixo z assume o seguinte valor:

1,5  15 
3
7,5 103
 1,5 15   37,5  14,3868    7,5 10   25  14,3868  
2 2
Iz 
12 12
15  20 3
 15  20  10  14,3868   I z  37288, 0307 cm 4
2

12
Portanto, as tensões normais ao longo das interfaces inferior (i) e superior (s),
devido à M z , podem ser assim determinadas:

10   0, 45  0,143868 
 3M z s
   3M z s  8209,927 kN m 2
37288, 0307 108
10   0,3  0,143868 
 3M i  
z
8
  3M z i  4187,188 kN m 2
37288, 0307 10

10   0,3  0,143868 
 2M z s
   2M z s  4187,188 kN m 2
37288, 0307 108

10   0, 2  0,143868 
 2M i  
z
8
  2M z i  1505,362 kN m 2
37288, 0307 10
10   0, 2  0,143868 
 1M z s
   1M z s  1505,362 kN m 2
37288, 0307 108

10   0,143868 
 1M i  
z
  1M z i  3858, 289 kN m 2
37288, 0307 108
As tensões normais determinadas anteriormente referem-se ao material
homogeneizado. Dessa forma, para que as tensões normais reais sejam avaliadas, deve-
se multiplicar o valor da tensão normal determinado no material homogeneizado pelo
respectivo fator de homogeneização. Portanto:
 3M z s
  3M z s n13   3M z s  8209,927 0,1   3M z s  820, 9927 kN m 2

 3M i   3M i n13   3M i  4187,188  0,1   3M i  418, 7188 kN m 2


z z z z

 2M z s
  2M z s n12   2M z s  4187,188  0, 5   2M z s  2093, 594 kN m 2

 2M i   2M i n12   2M i  1505, 362 0, 5   2M i  752, 681kN m 2


z z z z

 1M z s
 1505, 362 kN m 2

 1M i  3858, 289 kN m 2
z

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 445

Para que as tensões normais totais (devido à M z e M y ) sejam determinadas,

devem ser avaliadas as intensidades das tensões normais decorrentes da atuação isolada
do momento M y . Assim, para que tais tensões sejam determinadas, as dimensões

homogeneizadas nessa direção devem ser avaliadas. Com base nos fatores de
homogeneização calculados anteriormente obtém-se:
bhomog 2  b2 n12  bhomog 2  10  0, 5  bhomog 2  5 cm

bhomog 3  b3 n13  bhomog 3  15  0,1  bhomog 3  1, 5 cm

Portanto, a seção homogeneizada para a análise das tensões devido à M y é a

apresentada na Fig. (17.43).

Figura 17.43 Seção transversal homogeneizada. Dimensões em cm.

O momento de inércia para a seção transversal apresentada na Fig. (17.43) pode


ser facilmente determinado como:

26, 6  15 
3

Iy   I y  7453,125 cm 4
12
Assim, as tensões normais ao longo das faces verticais esquerda (e) e direita (d)
dessa seção são as seguintes:
4   0, 075 
e    e  4025,157 kN m 2
7453,125 108

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 446

4   0, 075 
d    d  4025,157 kN m 2
7453,125 108
Consequentemente, as tensões normais reais são determinadas multiplicando-se
as tensões avaliadas nos materiais homogeneizados pelo fator de homogeneização.
Portanto:
3   e n13   3  4025,157  0,1   3  402,5157 kN m 2
My e My e My e

3   d n13   3  4025,157  0,1   3  402,5157 kN m 2


My d My d My d

2   e n12   2  4025,157  0,5   2  2012,5785 kN m 2


My e My e My e

2   d n12   2  4025,157  0,5   2  2012,5785 kN m 2


My d My d My d

1  4025,157 kN m 2
My e

1  4025,157 kN m 2
My d

Os pontos extremos das interfaces entre os diferentes materiais que compõem a


seção transversal não homogênea considerada estão apresentados na Fig. (17.44). Para
esses pontos, as tensões reais são obtidas superpondo-se as tensões determinadas
anteriormente devido a atuação isolada de M z e M y . Dessa forma:

Figura 17.44 Localização dos pontos extremos das interfaces.

 A3   3M s   3   A3  1223,5084 kN m 2
z
My e

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 447

 B3   3M s   3   B3  418, 477 kN m 2
z
My d

 C3   3M i   3   C3  821, 2345 kN m 2
z
My e

 D3   3M i   3   D3  16, 2031 kN m 2
z
My d

 C2   2M s   2   C2  4106,1725 kN m 2
z
My e

 D2   2M s   2   D2  81, 0155 kN m 2
z
My d

 E2   2M i   2   E2  2765, 2595 kN m 2
z
My e

 F2   2M i   2   F2  1259,8975 kN m 2
z
My d

 E1   1M s   1   1E  5530,519 kN m 2
z
My e

 F1   1M s   1   1F  2519, 795 kN m 2
z
My d

 G1   1M i   1   G1  166,868 kN m 2
z
My e

 1H   1M i   1   H1  7883, 446 kN m 2
z
My d

Deve-se mencionar que as descontinuidades das tensões normais observadas nos


pontos extremos das interfaces assumem valores proporcionais às razões dos módulos
de elasticidade longitudinal dos materiais das respectivas interfaces. Esse
comportamento demonstra a continuidade de deformações da seção transversal,
indicando, portanto, a sua continuidade material.
Para que essa análise seja finalizada, pode-se assumir também que um esforço
normal trativo de intensidade igual a N  50 kN também atue na seção transversal.
Nesse caso, deve-se determinar o acréscimo nas tensões normais em decorrência da
presença desse esforço solicitante. Para que tal acréscimo de tensões seja determinado,
deve-se determinar o valor da área homogeneizada da seção transversal. Assim,
considerando os fatores de homogeneização determinados anteriormente tem-se:
Ah  A1  A2 n12  A3n13  Ah  15  20  15 10  0,5  15 15  0,1 
Ah  397,5 cm2
A tensão normal decorrente de N no material homogeneizado é igual a:
N 50
      1257,861 kN m2
Ah 397,5 104

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 448

Assim, as tensões normais reais atuantes nos materiais 1, 2 e 3 são obtidas


multiplicando-se a tensão normal atuante no material homogeneizado pelo fator de
homogeneização. Portanto:
 3   n13   3  1257,861  0,1   3  125, 7861 kN m 2

 2   n12   2  1257,861  0, 5   2  628, 9308 kN m 2

 1  1257,861kN m 2
De forma semelhante ao observado na atuação dos momentos fletores, o
acréscimo das tensões normais devido à consideração do esforço normal nas interfaces é
proporcional a razão dos módulos de elasticidade longitudinal dos materiais nas
interfaces. Isso indica a continuidade material, o que é uma das hipóteses impostas
durante o processo de homogeneização. Como a tensão normal devido à N é constante
em cada um dos materiais que compõem a seção transversal, sua intensidade,
respectiva, deve ser somada, impondo a superposição de efeitos, a todos os pontos da
seção transversal, segundo a localização do ponto considerado nos diferentes materiais.
Portanto:
 A3  125, 7861  1223, 5084   A3  1097, 722 kN m 2

 B3  125, 7861  418, 477   B3  292, 691 kN m 2

 C3  125, 7861  821, 2345   C3  695, 448 kN m 2

 D3  125, 7861  16, 2031   D3  109, 583 kN m 2

 C2  628,9308  4106,1725   C2  3477, 241 kN m 2

 D2  628, 9308  81, 0155   D2  547, 915 kN m 2

 E2  628, 9308  2765, 2595   E2  2136, 329 kN m 2

 F2  628, 9308  1259,8975   F2  1888,828 kN m 2

 1E  1257,861  5530, 519   1E  4272, 658 kN m 2

 1F  1257,861  2519, 795   1F  3777, 656 kN m 2

 G1  1257,861  166,868   G1  1090,993 kN m 2

 1H  1257,861  7883, 446   H1  9141, 308 kN m 2


Constata-se que o processo de solução desse problema, como abordado
anteriormente, é consideravelmente longo e requer um conjunto elevado e operações.

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 449

Assim, conclui-se que metodologia de homogeneização sugerida nos livros clássicos de


mecânica dos sólidos e resistência dos materiais pode se tornar inexequível em
problemas complexos de flexão. Para ilustrar que a solução desse exemplo pode ser
expedita, esse será resolvido a seguir considerando a abordagem alternativa sugerida por
esse autor.

17.7.5 – Exemplo 14

Resolva o problema apresentado no item 17.7.4, Exemplo 13, aplicando o fator


de homogeneização diretamente sobre as propriedades geométricas da seção transversal.
Assim, utilize nessa solução a abordagem alterativa de homogeneização sugerida por
esse autor.
Para que a análise das tensões normais na flexão em estruturas não homogêneas
seja efetuada, pode-se aplicar o fator de homogeneização diretamente sobre as
propriedades geométricas da seção. Portanto, inicialmente, os fatores de
homogeneização devem ser determinados. Tomando o material 1 como referência tem-
se:
E2 100
n12   n12   n12  0,5
E1 200
E3 20
n13   n13   n13  0,1
E1 200
A coordenada y cg do centro de gravidade (centroide) da seção transversal fica

assim determinada:
0,1  15 15   37,5  0,5  15 10   25  15  20 10
ycg   ycg  14,3868 cm
0,1  15 15   0,5  15 10   15  20

Assim, o valor do momento de inércia da seção transversal em torno do eixo z


assume o seguinte valor:
 15  15 3   15 103 
  
2
I z  0,1    0,1  15  15  37,5  14,3868  0,5   
 12   12 
 
15  20 3
0,5  15 10    25  14,3868   15  20  10  14,3868  
2 2

12
I z  37288, 0307 cm 4

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 450

Devido à simetria vertical da seção transversal, constata-se que a localização z


do centroide da seção transversal está posicionado ao longo desse eixo de simetria.
Assim, o valor do momento de inércia da seção em torno do eixo y assume o seguinte
valor:

 10 153  20  15 
3
 15 153 
I y  0,1    0,5     I y  7453,125 cm 4
 12   12  12

Enquanto a área da seção transversal pode ser assim ponderada:


A  15  20  0,5  15 10   0,1  15 15   A  397,5 cm 2

Dessa forma, as tensões nos pontos indicados na Fig. (17.44) podem ser assim
determinadas:
  50 10   0, 45  0,143868 4   0, 075   
 A3  0,1   4
 8
  
  397,5 10 37288, 0307 10 7453,125 108  
 A3  1097, 722 kN m2

  50 10   0, 45  0,143868  4   0, 075   


 B3  0,1   4
   
  397,5 10 37288, 0307 108 7453,125 108  
 B3  292, 691 kN m2

  50 10   0,30  0,143868 4   0, 075  


 C3  0,1   4
 8
  
  397,5 10 37288, 0307 10 7453,125 108  
 C3  695, 448 kN m2

  50 10   0,30  0,143868 4   0, 075  


 D3  0,1   4
   
  397,5 10 37288, 0307 108 7453,125 108  
 D3  109,583 kN m2

  50 10   0,30  0,143868 4   0, 075  


 C2  0,5    4
 8
  
  397,5 10 37288, 0307 10 7453,125 108  
 C2  3477, 241 kN m2

  50 10   0,30  0,143868  4   0, 075   


 D2  0,5    4
   
  397,5 10 37288, 0307 108 7453,125 108  
 D2  547,915 kN m2

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 451

  50 10   0, 20  0,143868 4   0, 075  
 E2  0,5    4
   
  397,5 10 37288, 0307 108 7453,125 108  
 E2  2136,329 kN m2

  50 10   0, 20  0,143868 4   0, 075  


 F2  0,5    4
   
  397,5 10 37288, 0307 108 7453,125 108  
 F2  1888,828 kN m2

  50 10   0, 20  0,143868 4   0,075  
 1E    4
   
  397,5 10 37288, 0307 108 7453,125 108  
 1E  4272,658 kN m2

  50 10   0, 20  0,143868 4   0, 075  


 1F  0,5    4
   
  397,5 10 37288, 0307 108 7453,125 108  
 1F  3777, 656 kN m2

  50 10   0,143868 4   0,075  
 G1    4
   
  397,5 10 37288, 0307 108 7453,125 108  
 G1  1090,993 kN m2

  50 10   0,143868 4   0, 075  


 1H    4
   
  397,5 10 37288, 0307 108 7453,125 108  
 1H  9141,308 kN m2
Deve-se ressaltar que o resultado obtido nesse exemplo concorda com aqueles
obtidos no item 17.16, atestando, portanto, a correção da resolução. O autor sugere que
o leitor aplique a metodologia utilizada neste exemplo para a resolução de exercícios
semelhantes. Esta metodologia é mais direta, permite resoluções mais rápidas e
minimiza o erro decorrente da realização de operações algébricas.

17.8 – Tensões Normais na Flexão em Barras Formadas por Diferentes


Materiais. Caso Não Homogêneo Imerso

Quando estruturas fletidas e/ou solicitadas axialmente são compostas por


materiais que possuem diferentes propriedades mecânicas (diferentes módulos de
elasticidade longitudinal particularmente), deve-se aplicar um processo de

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 452

homogeneização para a determinação das propriedades geométricas homogeneizadas da


seção transversal, as quais possibilitarão a avaliação dos estados de tensão e deformação
no elemento estrutural. Este processo foi descrito detalhadamente e aplicado com
sucesso anteriormente neste capítulo. No entanto, as aplicações efetuadas anteriormente
consideraram que os diferentes materiais que compunham a seção transversal estavam
conectados exclusivamente ao longo de seu contorno externo. Portanto, não foram
considerados materiais imersos e não homogeneidade imersa, conforme indicado na
Fig. (17.45).

Figura 17.45 Seção transversal não homogênea considerando materiais imersos.

Neste item, o processo de homogeneização será estendido para a consideração


de não homogeneidade imersa. Para tal finalidade, deve-se considerar a seção
transversal não homogênea apresentada na Fig. (17.45). Esta seção transversal é
composta por um material denominado 1, que possui módulo de elasticidade
longitudinal E1 . Imerso no material 1, encontra-se o material denominado 2, o qual

possui módulo de elasticidade longitudinal E2 . Para que o processo de homogeneização


seja efetuado, devem-se superpor as influências dos materiais 1 e 2 conforme ilustrado
na Fig. (17.46).
Inicialmente, assume-se que a seção transversal considerada seja composta
unicamente por material 1, conforme apresenta a ilustração A. Em seguida, remove-se
uma porção de material 1 (e também suas influências), a qual corresponde à
presença/localização do material 2 como mostrado na ilustração B. Deve-se destacar

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 453

que com a superposição das fases A e B apresentadas na Fig. (17.46), obtém-se a


configuração final de material 1 presente na análise, ou seja, matriz com cavidades
associadas à localização do material 2. Finalmente, à configuração resultante da
superposição das fases A e B, adiciona-se a presença/influência do material 2, conforme
mostra a ilustração C.

Figura 17.46 Superposição das presenças dos materiais.

O processo de superposição descrito é aplicável independentemente da


quantidade da porção material imersa e de sua localização. Além disso, o processo
também possibilita a determinação das propriedades geométricas homogeneizadas da
seção transversal, as quais são necessárias para a determinação das tensões normais
decorrentes da flexão e solicitações axiais pela formulação apresentada nesse capítulo.

17.8.1 – Exemplo 15

Determine as máximas tensões normais atuantes nos materiais que compõem a


seção transversal não homogênea apresentada na Fig. (17.47). A matriz possui módulo
de elasticidade longitudinal igual a E1  20 GPa e os enrijecedores, cujos diâmetros são

iguais a 12,5mm , possuem módulo de elasticidade longitudinal igual a E2  200 GPa .


A solicitação imposta à seção transversal é composta por um momento fletor
M z  5 kNm e um esforço normal N  1,0 kN .
Para a solução deste problema mecânico, deve-se, inicialmente, determinar o
fator de homogeneização. Assumindo que o material 1, matriz, seja o material de
referência obtém-se:

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 454

E2 200
n12   n12   n12  10
E1 20

Figura 17.47 Seção transversal não homogênea. Dimensões em cm.

A coordenada y cg do centro de gravidade da seção fica determinada como:

12  40  20  3  1, 25 2   4  3  . 1, 25 2   4 10


2 2

ycg       ycg  18,9669 cm


12  40  3  . 1, 25 2    3  1, 25 2   10
2 2

   
Dessa forma, o momento de inércia da seção transversal homogeneizada em
torno do eixo z assume o seguinte valor:

12  40 
3

 12  40   20  18,9669  
2
Iz 
12
 1, 25 2 4 
  1, 25 2   4  18,9669   
2 2
3 
 4 

 1, 25 2 4 
  1, 25 2   4  18,9669   10  I z  7,1937cm4
2 2
3 
 4 

Por sua vez, a área da seção transversal homogeneizada pode ser assim
determinada:

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 455

A  12  40  3 1, 25 2   3 1, 25 2  10  A  513,1340 cm2


2 2

Sabendo que o momento fletor atuante em torno do eixo y, M y , é nulo, as

tensões normais podem ser assim quantificadas por meio da fórmula da flexão:
N Mz 1 5. y
  y   4

A Iz 513,1340 10 7,1937 104
Sendo assim, as tensões normais máximas de compressão e de tração no material
1,  C1 e  T 1 , resultam iguais a:

 1 5  0, 40  0,1897  
 C1   4
 4    C  1442, 2076 kN m
1 2

 513,1340 10 7,1937 10 


 1 5  0,1897  
 T1   4
 4 
  T 1  1338, 0029 kN m 2
 513,1340  10 7,1937  10 
Já a tensão normal máxima de tração no material 2,  T 2 , ocorre nas interfaces
inferiores dos enrijecedores. Tal tensão possui a seguinte intensidade:
 1 5  0, 04  0, 0125 2  0,1897  
 T 2  10  4
  
 513,1340 10 7,1937 104 
 T 2  11034, 2264 kN m2
Destaca-se que a homogeneização apresentada anteriormente segue o esquema
alternativo mencionado pelo autor. Não seria possível tratar esse problema utilizando a
abordagem de homogeneização de base mencionada nos livros clássicos de mecânica
dos sólidos e resistência dos materiais.

17.8.2 – Exemplo 16

Determine a intensidade das tensões normais atuantes nos pontos A, B e no


centro de gravidade de cada enrijecedor que compõe a seção transversal não homogênea
apresentada na Fig. (17.48). Os módulos de elasticidade longitudinal dos quatro
materiais que compõem a seção transversal são os seguintes: E1  20 GPa ,

E2  22 GPa , E3  200 GPa e E4  210 GPa . Os enrijecedores formados pelo material


3 possuem diâmetro igual a 10mm , enquanto que o diâmetro do enrijecedor composto
por material 4 é igual a 12,5mm . A seção transversal encontra-se solicitada por uma

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 456

flexão normal composta, com momentos fletores de intensidade igual a M z  5 kNm e

M y  2 kNm , e esforço normal trativo igual a N  2 kN .

Figura 17.48 Seção transversal não homogênea. Dimensões em cm.

Para a resolução deste exemplo, devem ser determinados, inicialmente, os


fatores de homogeneização envolvendo os materiais que compõem a seção transversal.
Tomando o material 1 como material de referência obtém-se:
E2 22
n12   n12   n12  1,1
E1 20

E3 200
n13   n13   n13  10
E1 20

E4 210
n14   n14   n14  10,5
E1 20

Com os fatores de homogeneização calculados, determina-se a coordenada y cg

do centro de gravidade da seção transversal. Assim:

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 457

10  28  55  2  1 2   55 10  1  8  50  25 1,1   1, 25 2   5 10,5  1,1


2 2

ycg     
10  28  2  1 2   10  1  8  50 1,1   1, 25 2   10,5  1,1
2 2

   
ycg  36,5244 cm

O valor do momento de inércia da seção transversal homogeneizada em torno do


eixo z pode ser calculado como:

28 10 
3

 28 10  55  36,5244  
2
Iz 
12
 1 2 4 
  1 2   55  36,5244   10  1 
2 2
2 
 4 

 8  50 3 
 8  50  25  36,5244   1,1 
2

 12 

 1, 25 2 4 
  1, 25 2   5  36,5244   10,5  1,1  I z  2, 64306 105 cm4
2 2

 4 

Devido a simetria vertical da seção transversal, constata-se que o centroide desta


seção encontra-se posicionado ao longo do eixo de simetria. Assim, o valor do momento
de inércia da seção transversal homogeneizada em torno do eixo y resulta em:

10   28   1 2 4 
3

  1 2   4   10  1 
2 2
Iy   
12  4 

 1 2 4 
  1 2   4   10  1 
2 2

 4 

 50  83   1, 25 2 4 
  1,1    10,5  1,1  I y  2, 08682 104 cm4
 12   4 

A área da seção transversal homogeneizada, por sua vez, pode ser determinada
da seguinte forma:

A  10  28  2 1 2  10  1  8  50 1,1   1, 25 2  10,5  1,1 


2 2

A  745, 6727cm 2
Portanto, as tensões normais em qualquer ponto da seção transversal
homogeneizada podem ser calculadas utilizando a seguinte relação:

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 458

N Mz My 2 5y 2z
  y z   4
 3

A Iz Iy 745, 6727 10 2, 64306 10 2, 08682 104
Sendo assim, as tensões normais  A1 e  B 2 nos pontos A e B e as tensões

normais  en 3 e  en 4 no centro dos enrijecedores formados pelos materiais 3 e 4,


respectivamente, resultam em:
 2 5  0, 6  0,3652  2( 0,14) 
 A1   4
 3
  
 745, 6727 10 2, 64306 10 2, 08682 10 4 

 A1  1759,1151 kN m 2

 2 5  0,3652  2(0, 04) 


 B 2  1,1  4
 3
  
 745, 6727 10 2, 64306 10 2, 08682 10 4 

 B 2  1211,1503 kN m 2

 2 5  0,55  0,3652  2( 0, 04) 


 en 3  10  4
 3
  
 745, 6727 10 2, 64306 10 2, 08682 10 4 

 en 3  7061,3178 kN m 2

 2 5  0, 05  0,3652  2(0, 0) 
 en 4  10,5  4
   
 745, 6727 10 2, 64306 10 3 2, 08682 104 

 en 4  6542, 5497 kN m 2

17.9 – Flexão em Regime Elastoplástico

Diversos materiais de uso corrente em engenharia de estruturas podem ser


classificados como dúcteis. Tais materiais apresentam comportamento mecânico
elástico até que seja atingida sua tensão de escoamento. Após ultrapassado este nível de
tensão, deformações permanentes, também denominadas plásticas, serão desenvolvidas
no material. Este tipo de comportamento mecânico foi discutido no capítulo 12, sendo
os aços e suas ligas exemplos típicos de materiais dúcteis.
Sabe-se, conforme apresentado anteriormente neste capítulo, que as tensões
normais devido a atuação de um momento fletor variam linearmente ao longo da seção
transversal. Assim, é possível que durante a flexão tensões normais superiores e
inferiores à tensão de escoamento do material sejam desenvolvidas, ao mesmo tempo,
em uma dada seção transversal. Nesta condição, diz-se que a estrutura está sujeita a um

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 459

regime elastoplástico, uma vez que deformações normais elásticas e plásticas estarão
presentes simultaneamente na estrutura. Deve-se enfatizar que toda a formulação para o
problema da flexão apresentada até então neste capítulo, considera apenas
comportamento elástico linear para os materiais, sendo, portanto, flexão em regime
elástico.
Neste item será apresentada uma metodologia que permite a determinação dos
valores dos momentos fletores resistentes de barras em regime elastoplástico. Assume-
se, nesta metodologia, que durante a flexão em regime elastoplástico as deformações
normais variam linearmente ao longo do plano da seção transversal. Dessa forma, as
componentes de tensão normal correspondentes podem ser determinadas por meio do
diagrama tensão x deformação característico do material.
Conhecendo-se os valores das tensões normais em cada ponto da seção
transversal, as forças equivalentes, de tração e de compressão, devido a estas tensões
são determinadas por meio da integral destas tensões ao longo da área da seção
transversal. Portanto, as forças equivalentes correspondem ao “volume” destas tensões.
Finalmente, multiplicam-se estas forças equivalentes pelos respectivos braços de
alavanca, para a determinação do momento resistente da seção transversal.
Deve-se ainda enfatizar que durante a flexão em regime elastoplástico, o
equilíbrio de forças é atendido, ou seja, F x  0    dA . Além disso, o equilíbrio de
A

momentos também é atendido, ou seja, M z  0  M z   y dA . Com base nestas


A

hipóteses de equilíbrio, existirá uma superfície neutra, a qual dividirá as regiões


comprimida e tracionada da seção transversal.
Serão apresentados a seguir três exemplos onde seções transversais simétricas
são consideradas. Deve-se mencionar que a metodologia utilizada é aplicável também a
seções transversais assimétricas. Porém, neste último caso, a determinação da
distribuição das deformações normais ao longo da seção transversal não é uma tarefa
fácil. Deve-se aplicar, para tal finalidade, técnicas de análise não linear, as quais estão
além do escopo deste curso. Porém, caso estas sejam conhecidas, a metodologia é
aplicável de maneira semelhante às seções simétricas.

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 460

17.9.1 – Exemplo 17

Determine a intensidade do momento fletor resistente elástico e plástico para


uma seção transversal retangular de base b e altura h. O material que compõe esta barra
possui comportamento elastoplástico perfeito, com tensão de escoamento igual a  E e

deformação normal de escoamento igual a  E .

Para a determinação do momento fletor resistente elástico, deve-se,


primeiramente, integrar as tensões normais, que possuem distribuição linear, ao longo
da altura da seção transversal. Nesta condição, a máxima tensão normal atuante na
seção transversal deverá ser igual a  E e solicitar a fibra mais distante de seu centro de

gravidade. O resultado dessa integração são as forças equivalentes nas regiões


tracionada, RT , e comprimida, RC , da seção transversal, conforme indica a Fig. (17.49).

Sabendo que esta integral nada mais é que o “volume” das tensões, pode-se calcular as
forças resultantes com o auxílio das ilustrações apresentadas na Fig. (17.49). Assim:

Figura 17.49 Distribuição das tensões normais caso elástico.

 h1 bh
RC  RT    E  b    RC  RT  E
 22 4
Dessa forma, o momento fletor resistente elástico é obtido multiplicando-se as
forças equivalentes pelos respectivos braços de alavanca. Portanto:
2h 2h  bh 2 h b  h2
M RE  RC  RT  M RE  2  E    M RE  E
32 32  4 3 2 6
Como o material que compõe a barra é elastoplástico perfeito, não existe
aumento no valor da tensão normal do material quando esta atinge a tensão de
escoamento. O diagrama tensão x deformação do material, assim como a distribuição de
tensão normal ao longo da altura da seção transversal e as forças equivalentes estão

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 461

apresentados na Fig. (17.50). Portanto, com base nas ilustrações apresentadas na Fig.
(17.50), as forças resultantes assumem os seguintes valores:

Figura 17.50 Distribuição das tensões normais caso elastoplástico.

h bh
RC  RT   E  b   RC  RT  E
2 2
Já o momento fletor resistente é determinado multiplicando as forças
equivalentes por seu respectivo braço de alavanca. Assim:
1h 1h  bh  1 h b  h2
M RP  RC  RT  M RP  2  E   M RP  E
22 22  2 2 2 4
Dividindo-se os momentos fletores resistentes nos casos elástico e plástico
obtém-se:
b  h2
M RP
E
   42    1,5
M RE bh
E
6
Constata-se que o momento resistente plástico é 1,5 vezes maior que o momento
resistente elástico. Assim, embora deformações plásticas surjam no regime plástico, o
aumento na capacidade resistente é considerável.

17.9.2 – Exemplo 18

Determine a intensidade dos momentos fletores resistentes elástico e plástico


para uma seção transversal retangular de base igual a 50 cm e altura de 75 cm, composta
por um material cujo diagrama tensão x deformação é o apresentado na Fig. (17.51).
O momento fletor resistente elástico pode ser calculado utilizando a expressão
determinada no exemplo anterior. Assim:

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 462

0,50   0, 75 
2
b  h2
M RE   E  M RE  980 103  M RE  45937,5 kNm
6 6

Figura 17.51 Seção transversal e diagrama tensão x deformação a ser considerado.

Para a determinação do valor do momento fletor resistente plástico deve-se,


inicialmente, atribuir a distribuição das deformações normais no plano da seção
transversal. Em seguida, com base nessa distribuição, obtém-se a respectiva distribuição
das tensões normais (via diagrama tensão x deformação), as quais devem ser integradas
para a obtenção das forças equivalentes. Estas forças devem ser multiplicadas por seus
respectivos braços de alavanca, para que o momento fletor resistente seja determinado.
Considerando que a deformação normal máxima na seção transversal é igual a
  0, 04 , obtém-se a distribuição de deformação e tensão normais no plano da seção
transversal apresentada na Fig. (17.52). Nessa figura, as componentes de deformação e
tensão na região tracionada não foram representadas por simplicidade, devido à simetria
destas distribuições.

Figura 17.52 Distribuição de deformações, tensões e forças equivalentes no plano da seção transversal.
Dimensões em cm.

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 463

Portanto, as forças equivalentes são determinados integrando-se as tensões no


plano da seção transversal, o que conduz a:
1
RC1  RT1  1260 103  980 103  0, 28125  0,50  RC1  RT1  19687,5 kN
2
RC2  RT2  980 103  0, 28125  0,50   RC2  RT2  137812,5 kN

1
RC3  RT3  980 103  0, 09375  0,50  RC3  RT3  22968, 75 kN
2
Dessa forma, o momento fletor resistente plástico é igual a:
  2 
M RP  2 19687,5  0, 09375  0, 28125   
  3 
  1   2 
2 137812,5  0, 09375  0, 28125    2  22968, 75   0, 09375   
  2   3 
M RP  78544,92 kNm
A razão entre os momentos resistentes conduz a:
M RP 78544,92
      1, 71
M RE 45937,5
Portanto, o momento fletor que causa uma deformação limite na seção
transversal é 1,71 vezes maior que o momento fletor elástico. Assim, o aumento na
capacidade resistente da seção transversal cresce consideravelmente quando o regime
plástico é considerado, apesar do surgimento de deformações permanentes.

17.9.3 – Exemplo 19

Determine os valores dos momentos resistentes elástico e plástico da seção


transversal apresentada na Fig. (17.53). Para a determinação do momento resistente
plástico considere o diagrama tensão x deformação apresentado na Fig. (17.53) e
também a hipótese elastoplástica perfeita para o comportamento mecânico material.

Figura 17.53 Seção transversal a ser analisada. Dimensões em cm.

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 464

Para a hipótese elástica, o momento resistente deve ser determinado


considerando a tensão de escoamento igual a 120 MPa e a deformação elástica de 0,01.
Com estes valores, a distribuição das tensões normais no plano da seção transversal e as
forças equivalentes podem ser atribuídas, como pode ser observado na Fig. (17.54).
Para estes valores de tensão e deformação normais, as intensidades das forças
equivalentes assumem os seguintes valores:
1
RC1  RT1  120 103  96 103  0, 40  0, 05  RC1  RT1  240 kN
2
RC2  RT2  96 103  0, 40  0, 05  RC2  RT2  1920 kN

1
RC3  RT3  96 103  0, 05  0, 20   RC3  RT3  480 kN
2

Figura 17.54 Distribuição da deformação e da tensão normal no plano da seção transversal. Forças
equivalentes para a determinação do momento resistente elástico.

Multiplicando as forças equivalentes determinadas anteriormente pelos


respectivos braços de alavanca, estas conduzem ao seguinte valor de momento resistente
elástico.
  2    1 
M RE  2  240  0, 20  0, 05    2 1920  0, 20  0, 05   
  3    2 
 2 
2  480   0, 20    M RE  1104 kNm
 3 
Quando a hipótese elastoplástica perfeita é assumida para o comportamento
mecânico material, não existirá acréscimo no valor da tensão normal resistente quando a
deformação normal presente no plano da seção transversal ultrapassar o valor de 0,01.
Nesta condição, as tensões normais no plano da seção transversal e as forças
equivalentes assumem a distribuição apresentada na Fig. (17.55).
Com base nas ilustrações apresentadas na Fig. (17.55), as forças equivalentes
assumem os seguintes valores:

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 465

RC1  RT1  120 103  0, 40  0, 05  RC1  RT1  2400 kN

RC2  RT2  120 103  0, 20  0, 05  RC2  RT2  1200 kN

Figura 17.55 Distribuição da tensão normal no plano da seção transversal. Forças equivalentes para a
determinação do momento resistente plástico perfeito.

Considerando os valores das forças equivalentes determinados anteriormente, o


momento resistente plástico perfeito pode ser determinando multiplicando tais forças
pelos respectivos braços de alavanca. Portanto:
  1   1 
M RP  2  2400  0, 20  0, 05    2 1200  0, 20    M RP  1320 kNm
  2   2 
Para os valores dos momentos resistentes elástico e plástico perfeito
determinados anteriormente, pode-se calcular sua razão. Esta razão permite avaliar a
intensidade percentual do esforço solicitante que deve ser aplicado entre os instantes de
perda da condição elástica ( M RE ) e colapso da seção transversal ( M RP ). Para a seção
transversal considerada e o comportamento mecânico material assumido, esta razão é
igual a:
M RP 1320
      1, 20
M RE 1104
Ou seja, observa-se um incremento de 20% na resistência mecânico-material
devido a incorporação do trecho plástico. Ressalta-se que tal acréscimo de resistência
vem acompanhado de deformações permanentes na estrutura, as quais não são
normalmente desejadas.
Quando o comportamento material mecânico indicado na Fig. (17.53) é
considerado, a distribuição das deformações e das tensões normais no plano da seção
transversal assume o padrão apresentado na Fig. (17.56). Nesta figura, os valores das

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 466

deformações e das tensões normais assim como das forças equivalentes na região
tracionada não foram ilustrados por simplicidade, devido a sua simetria em relação à
região comprimida da seção transversal.

Figura 17.56 Distribuição da deformação e da tensão normal no plano da seção transversal. Forças
equivalentes para a determinação do momento resistente plástico com encruamento.

As forças equivalentes são determinadas considerando a integração das tensões


normais no plano da seção transversal. Para os valores das tensões normais apresentados
na Fig. (17.56), os seguintes valores de forças equivalentes são obtidos:
1
RC1  RT1   250 103  217,5 103  0, 40  0, 05  RC1  RT1  325 kN
2
RC2  RT2   217,5 103  0, 40  0, 05  RC2  RT2  4350 kN

1
RC3  RT3   217,5 103  120 103  0, 05  0,15  RC3  RT3  365, 625 kN
2
RC4  RT4  120 103  0, 05  0,15  RC4  RT4  900 kN

1
RC5  RT5  120 103  0, 05  0, 05  RC5  RT5  150 kN
2
Dessa forma, o momento resistente plástico considerando o comportamento
mecânico material apresentado na Fig. (17.53) assume o seguinte valor, após a
multiplicação das forças equivalente pelos respectivos braços de alavanca:
  2    1 
M RP  2 325  0, 20  0, 05    2  4350  0, 20  0, 05   
  3    2 
  2    1   2 
2 365, 625  0, 05  0,15    2 900  0, 05  0,15    2 150  0, 05   
  3    2   3 
M RP  2453,85 kNm
Portanto, a razão entre os valores dos momentos resistentes elástico e plástico,
para essa seção transversal e para o comportamento mecânica considerado, assume o
seguinte valor:

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 467

M RP 2453,85
      2, 22
M RE 1104
Deve-se destacar que o valor obtido para  é consideravelmente maior neste
caso se comparado às outras aplicações apresentadas neste texto. Isto indica que existe
uma capacidade resistente considerável da seção transversal após a violação do limite
elástico do material. Tal comportamento é facilmente explicado pela presença do
encruamento no comportamento mecânico quando a deformação normal excede 0,01.
Assim, após esse valor de deformação, o material suporta um acréscimo no nível de
tensão, o qual introduz o acréscimo no momento fletor resistente.

Capítulo 17 – Tensões Normais na Flexão_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 468

18. – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral

18.1 –Introdução

Durante o capítulo 17 foram estudados problemas mecânicos envolvendo a


avaliação e a quantificação das tensões normais atuantes no plano da seção transversal
de elementos de barra geral submetidos a esforços de flexão. Casos onde barras
homogêneas ou não-homogêneas solicitadas por dois momentos fletores e por um
esforço axial (compressivo ou trativo) foram considerados, sendo apresentada uma
relação envolvendo a distribuição das tensões normais no plano da seção transversal e
estes esforços solicitantes.
Até o presente momento, estes problemas foram tratados assumindo-se duas
hipóteses simplificadoras. A primeira delas diz respeito à posição de aplicação da carga
axial (associada ao surgimento da força normal), a qual deveria ser posicionada no
centro de gravidade/centroide da seção transversal. A segunda hipótese refere-se à
geometria da seção transversal, a qual deveria obrigatoriamente possuir pelo menos um
eixo de simetria.
Portanto, para possibilitar a análise geral desse problema, serão apresentadas, na
sequência desse texto, as hipóteses e as formulações necessárias para a determinação
das tensões normais no plano da seção transversal de barras fletidas onde as hipóteses
simplificadoras citadas no parágrafo anterior podem ser desprezadas. Dessa forma,
serão estudados problemas mecânicos onde a força axial geradora da força normal não
será aplicada necessariamente no centro de gravidade/centroide da seção transversal e
também problemas onde as seções transversais que compõem o elemento de barra geral
analisado sejam assimétricas.

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 469

18.2 –Carregamento Axial Excêntrico

A hipótese de comportamento mecânico elástico linear para o material e o


atendimento do regime de pequenos deslocamentos pela estrutura possibilita a aplicação
do princípio da superposição dos efeitos. Por meio deste princípio, conforme
apresentado no capítulo 1, pode-se determinar a tensão normal total atuante em um
elemento estrutural superpondo-se algebricamente as tensões normais geradas,
isoladamente, pelos esforços normal e de flexão. Ou seja, superpõe-se linearmente os
efeitos associados a atuação isolada de cada ação. Considerando o caso em que atuam
em uma dada seção transversal um esforço normal de tração, atuante no centro de
gravidade da seção transversal, e um momento fletor M z , conforme apresentado na Fig.

(18.1), o princípio da superposição dos efeitos pode ser aplicado, sendo, a tensão normal
final, obtida adicionando-se as tensões normais geradas pelo esforço normal e pelo
momento M z .

Figura 18.1 Princípio da superposição dos efeitos aplicado ao problema da flexão.

Portanto, o valor da tensão normal, para o problema mostrado na Fig. (18.1),


pode ser determinado por meio da seguinte relação, conforme discutido no capítulo
anterior:
N Mz
  y (18.1)
A Iz
No entanto, em diversas aplicações de engenharia, elementos de barra geral
estarão submetidos a carregamentos axiais posicionados de forma excêntrica em relação
ao centro de gravidade de sua seção transversal. Em muitas manufaturas e elementos

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 470

mecânicos, por exemplo, os carregamentos são transmitidos desta maneira. Além disso,
na indústria civil, elementos de fundação e mesmo pilares poderão ser solicitados a
carregamentos dessa natureza.
Assumindo-se que a seção transversal considerada possua pelo menos um eixo
de simetria, as tensões normais associadas a carga axial excêntrica poderão ser
analisadas por meio da formulação anteriormente apresentada por meio do transporte da
carga axial para o centro de gravidade da seção transversal. Portanto, deve-se obter um
carregamento estaticamente equivalente impondo-se a força axial no centro de
gravidade. Para tanto, em decorrência desta translação da força axial, surgirão
momentos fletores que deverão ser calculados com base nas excentricidades da carga
aplicada. Tais excentricidades nada mais são do que as coordenadas do ponto de
aplicação da carga axial excêntrica, sendo a origem posicionada no centro de gravidade
da seção transversal. Para ilustrar a determinação desses momentos, pode-se considerar
as ilustrações apresentadas na Fig. (18.2).

Figura 18.2 Transformação da carga excêntrica em um carregamento equivalente.

Na seção transversal mostrada na Fig. (18.2), uma carga axial P é aplicada de


forma excêntrica em relação ao seu centro de gravidade. A translação da carga P para o
centro de gravidade da seção transversal introduz a ação de dois momentos fletores M y

e M z . Os momentos fletores decorrentes desta translação podem ser calculados por:

M z   Pey M y  Pez (18.2)

A carga P é considerada negativa se atuar em compressão e as excentricidades


ey e ez são calculadas levando-se em consideração o sinal dos eixos coordenados do
sistema de referência mostrado na Fig. (18.2). Assim, para o caso apresentado na Fig.
(18.2), ambas as excentricidades possuem valor negativo.

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 471

Para o caso geral de atuação de cargas axiais excêntricas, P, as tensões normais


podem ser determinadas por meio da seguinte relação:
P Pe y Pe
   y z z (18.3)
A Iz Iy

Alternativamente, o analista poderia determinar os momentos fletores descritos


na Eq. (18.2) utilizando o senso mecânico do problema. Sabe-se que o momento fletor é
dado pelo produtor vetorial entre os vetores força e distância. Além disso, sabe-se que o
resultado desse produto vetorial é um terceiro vetor que atual perpendicularmente ao
plano formado pelos dois primeiros. Portanto, M z  Fx  ey ou M z  Fy  ex e

M y  Fx  ez ou M y  Fz  ex . Dessa forma, aplicando-se a regra da mão direita, onde


os dedos são apontados no sentido de atuação da força excêntrica e a palma da mão
orientada do ponto de aplicação da força excêntrica para o eixo em torno do qual o
momento atua, constata-se que o polegar indicará o sentido de atuação do vetor
momento associado.

18.2.1 – Exemplo 1

Determine as tensões normais atuantes nos pontos A, B C e D da seção


transversal mostrada na Fig. (18.3), a qual pertence a uma coluna engastada-livre. Em
seguida escreva a equação da linha neutra sabendo que P  10 kN . As dimensões
mostradas na Fig. (18.3) são apresentadas em mm.

Figura 18.3 Seção transversal em análise. Dimensões em mm.

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 472

Como a seção transversal considerada é duplamente simétrica, constata-se


facilmente que seu centro de gravidade/centroide localiza-se na intersecção de seus
eixos de simetria. Assim tem-se:
ey  110 mm ez  50 mm

Assim, os momentos fletores introduzidos pela presença da carga excêntrica


podem ser determinados como:
M z   Pe y  M z  10   110 10 3   M z  1,10 kNm

M y  Pez  M y  10  50 103  M y  0,50 kNm

Portanto, o carregamento estaticamente equivalente a ser analisado é o


apresentado na Fig. (18.4). Para a determinação das tensões normais atuantes na seção
transversal, geradas pelos esforços solicitantes mostrados na Fig. (18.4), devem ser
calculadas as propriedades geométricas da seção transversal.

Figura 18.4 Carregamento equivalente ao da carga excêntrica.

A área e os momentos de inércia em relação aos eixos y e z possuem os


seguintes valores:
A  100 10  200  5  100 10  A  3000 mm 2  A  3, 0 103 m 2

100  10 3  5   200 


3

 100 10  105    2 


2
Iz    I z  25400000 mm 4
 12  12
I z  2, 54 10 5 m 4

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 473

 10  100 3  200   5 
3

Iy   2   I y  1668750 mm 4 
 12  12
I y  1, 66875 10 6 m 4

Utilizando a fórmula geral da flexão para o caso de carregamentos excêntricos,


Eq.(18.3), verifica-se que as tensões normais em todos os pontos da seção poderão ser
calculadas por meio da seguinte equação:
10 1,10 0, 50
  3
 5
y z
3, 0  10 2, 54  10 1, 66875 10 6
Assim, para o ponto A tem-se:
10 1,10 0, 50
A  3
 5
110 10 3  6
 50 10 3 
3, 0 10 2, 54 10 1, 66875 10
 A  13550,8 kPa
Já para o ponto B, a tensão normal é dada por:
10 1,10 0, 50
B  3
 5
100 10 3  6
 50 10 3 
3, 0 10 2, 54 10 1, 66875 10
 B  15978, 6 kPa
No ponto C a tensão normal é igual a:
10 1,10 0, 50
C  3
 5
 100 10 3  6
 50 10 3 
3, 0 10 2, 54 10 1, 66875 10
 C  22645, 3 kPa
Finalmente, a tensão normal no ponto D é dada por:
10 1,10 0, 50
D  3
 5
 110 10 3  6
 50 10 3 
3, 0 10 2, 54 10 1, 66875 10
 D  6884, 2 kPa
Constata-se que a tensão normal atuante nos pontos A e B possuem sinais
opostos. Dessa forma, espera-se que a linha neutra cruze a fibra superior da seção
transversal. Sabendo que a linha neutra contém um conjunto de pontos onde a tensão
normal é nula, sua equação é facilmente obtida como:
10 1,10 0, 50
  3
 5
y z0 
3, 0 10 2, 54 10 1, 66875 10 6
10 2, 54 10 5 0, 50 2, 54 10 5
y   z 
3, 0 10 3 1,10 1, 66875 10 6 1,10
y  0, 0769  6, 9186 z

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 474

Quando a equação anterior é avaliada nas coordenadas y iguais a 110 mm e -110


mm, ou seja, nos extremos da seção transversal obtém-se:
y  110 103  110 103  0,0769  6,9186z  z  4,784 103 m

y  110 103  110 103  0,0769  6,9186 z  z  27,014 103 m


Portanto, devido à presença da carga axial excêntrica, verifica-se que a linha
neutra não passa pelo centro de gravidade da seção. A posição da linha neutra na seção
transversal é a indicada na Fig. (18.5).

Figura 18.5 Posição da linha neutra.

18.2.2 – Exemplo 2

Determine os momentos fletores estaticamente equivalentes associados à carga


axial excêntrica aplicada na seção transversal mostrada na Fig. (18.6). Além disso,
sabendo que P  80 kN , determine a equação da linha neutra. As dimensões mostradas
na Fig. (18.6) estão em mm.

Figura 18.6 Seção transversal em análise. Dimensões em mm.

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 475

Como a seção transversal considerada apresenta apenas um eixo de simetria,


eixo y, deve-se determinar a posição do centro de gravidade em relação a este eixo.
Assim, impondo a somatória de momentos estáticos em relação a parte inferior da seção
transversal obtém-se:
10 110 105  10 100  50
ycg   ycg  78,81 mm
10 110  10 100
As propriedades geométricas da seção transversal podem ser calculadas como:
A  110 10  100 10  A  2100 mm2  A  2,1103 m2

10  100  110  10 


3 3

 10  100   50  78, 81   110  10  105  78, 81


2 2
Iz 
12 12
6
I z  2427023mm  I z  2, 427023  10 m 4
4

100  10  10  110 


3 3

Iy    I y  1117500 mm 4  I y  1,1175 10 6 m 4


12 12
Devido à posição do centro de gravidade da seção, as excentricidades do ponto
de aplicação da carga são iguais a:
ey  100  78,81  ey  21,19 mm ez  55 mm
Assim, os momentos fletores introduzidos pela presença da carga axial
excêntrica podem ser calculados como:
M z   Pey  M z    80   21,19 103  M z  1, 6952 kNm

M y  Pez  M y   80    55 10 3   M y  4, 40 kNm

A expressão da linha neutra pode ser facilmente escrita com base na equação
geral da flexão para o caso onde cargas axiais excêntricas atuam, Eq.(18.3). Assim:
80 1, 6952 4, 40
  3
 6
y z0
2,1 10 2, 427023 10 1,1175 10 6
80 2, 427023 10 6 4, 40 2, 427023 10 6
y   z 
2,1 10 3 1, 6952 1,1175 10 6 1, 6952
y  0, 05454  5, 6371z

18.3 –Núcleo de Ataque em Barras Curtas. Núcleo Central de Inércia

Quando um elemento de barra geral está solicitado por um momento fletor, sabe-
se que no plano de sua seção transversal serão desenvolvidas tensões normais que

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 476

variam linearmente ao longo de seu domínio. Assim, parte da seção transversal estará
tracionada e a parte complementar comprimida. Quando uma força axial excêntrica é
aplicada na seção transversal, a translação desta força até o centro de gravidade da seção
gera a presença de momento(s) fletor(es). Nessa situação, a distribuição das tensões
normais no domínio da seção transversal permanece linear, porém não simétrica em
relação ao centro de gravidade da seção.
Em muitas aplicações de engenharia é de interesse do projetista que as tensões
normais atuantes na seção transversal de barras solicitadas por cargas axiais excêntricas
apresentem um só sentido, ou seja, tais tensões devem ser exclusivamente trativas ou
compressivas. Tal verificação tem especial importância no projeto de estruturas de
concreto protendido e elementos de fundações, onde deseja-se que apenas tensões de
compressão sejam desenvolvidas. O conjunto de pontos possíveis/admissível onde a
carga axial excêntrica pode ser aplicada de forma a gerar tensões que não mudam de
sentido é conhecido como núcleo de ataque.
Para seções transversais comumente utilizadas na engenharia de estruturas, o
núcleo de ataque pode ser facilmente determinado. Pode-se considerar, por exemplo,
uma seção transversal retangular, de base b e altura h, mostrada na Fig. (18.7),
submetida à ação de uma força axial excêntrica de intensidade P. Nessa situação, as
tensões normais produzidas por P podem ser calculadas por meio da Eq.(18.3). Sabendo
que as inércias em relação aos eixos y e z são iguais a:
b  h3 h  b3
Iz  Iy 
12 12
Pode-se reescrever a Eq.(18.3) como:
P Pe y Pez P 12 Pe y 12 Pez
   y z     y z (18.4)
A bh 3
h b 3
A bh 3
h  b3
12 12

Figura 18.7 Seção transversal retangular.

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 477

Para que a tensão normal não mude seu sinal no domínio da seção transversal, a
tensão normal deve ser pelo menos nula em um de seus extremos. Assumindo que a
carga excêntrica esteja contida no eixo y, como mostrado na Fig. (18.8), pode-se
determinar a excentricidade limite ey a partir da Eq.(18.4). Nessa situação, a fibra

superior, maior y positivo, deverá apresentar tensão normal nula. Assim:

Figura 18.8 Carga excêntrica atuante no eixo y.

P 12 P   e y  12 P  0 P 12 P   e y  h
   y z  0  
A bh 3
h b 3
A b  h3 2 (18.5)
h
ey 
6
Assumindo agora que a carga excêntrica esteja posicionada ao longo do eixo z,
como mostrado na Fig. (18.9), a excentricidade limite ez pode ser determinada por meio
da Eq.(18.4) sabendo que a tensão normal deve ser nula nas fibras posicionadas ao
longo da maior ordenada z. Portanto:
P 12 P  0 12 P  ez  P 12 P  ez  b
  y z  0  
A bh 3
hb 3
A h  b3 2 (18.6)
b
ez 
6
Com base nos resultados apresentados nas Eq.(18.5) e Eq.(18.6), pode-se
intuitivamente perceber que quando a carga excêntrica está contida nos eixos
coordenados e, além disso, esta apresenta excentricidades y e z positivas, ao contrário do
efetuado anteriormente, as excentricidades limites ao longo dos eixos y e z são as
mesmas apresentadas nas Eq.(18.5) e Eq.(18.6), respectivamente.

Figura 18.9 Carga excêntrica atuante no eixo z.

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 478

Assim, quando a carga excêntrica encontra-se posicionada ao longo dos eixos


coordenados, as excentricidades limites são as ilustradas na Fig. (18.10).

Figura 18.10 Pontos do núcleo de ataque ao longo dos eixos coordenados.

Para a determinação do contorno do núcleo de ataque entre os pontos limites


ilustrados na Fig. (18.10), deve-se considerar o caso em que a carga excêntrica
encontra-se localizada fora dos eixos coordenados. Esse caso é ilustrado na Fig.(18.11),
onde a carga excêntrica atuante é assumida como compressiva por simplicidade.

Figura 18.11 Determinação do contorno do núcleo de ataque.

As tensões normais, para a solicitação apresentada na Fig. (18.11), são dadas


por:

 P 12    P     e y  12    P     ez 
   y z (18.7)
bh bh 3
h  b3
Como a carga excêntrica atuante é compressiva, toda a seção transversal deve
estar comprimida. Assim, para que a tensão atuante não mude seu sinal, ou seja, passe
de compressão a tração em qualquer ponto da seção, a tensão normal na região mais
tracionada, no caso apresentado na Fig. (18.11) o ponto formado pelas coordenadas

 y, z   
h b
,  , deve ser nula. Portanto:
2 2
 P 12 Pe y h 12 Pez b 6e 6e
      0  1 y  z 
b  h b  h 2 h b 2
3 3
h b
(18.8)
 6e  h
ey  1  z 
 b 6

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 479

Como mostrado na Eq.(18.8), verifica-se que ey varia linearmente com ez . Dessa

forma, para os casos de seções transversais retangulares o núcleo de ataque fica


delimitado pela região hachurada mostrada na Fig. (18.12).

Figura 18.12 Núcleo de ataque para seções retangulares.

De forma semelhante, pode-se também definir o núcleo de ataque de seções


transversais circulares de diâmetro d. Sabendo que nessas seções transversais o
d4 d2
momento de inércia é igual a I  e a área igual a A  , a excentricidade limite
64 4
d
que delimita o núcleo de ataque é dada por e  , sendo d o diâmetro da seção
8
transversal.

18.4 – Tensões Normais na Flexão em Barras de Seção Transversal


Assimétrica. Flexão Geral

Durante o capítulo 17 foram estudados problemas mecânicos envolvendo à


análise das tensões normais desenvolvidas em elementos de barra geral submetidos à
esforços de flexão, cujas seções transversais apresentavam pelo menos um eixo de
simetria. Naquela oportunidade, foi demonstrado que as deformações normais variavam
linearmente ao longo do plano da seção transversal. Como consequência, assumindo a
validade da lei de Hooke, as tensões normais variavam também linearmente ao longo do
plano da seção transversal, como ilustrado na Fig. (18.13).
As variações das deformações e tensões normais ao longo da seção transversal
podem ser expressas em função das tensões e deformações máximas atuantes,
respectivamente, conforme apresentado no capítulo 17, para o caso de atuação exclusiva
de um momento fletor M z . Assim:

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 480

 y  y
     MAX      MAX (18.9)
c c

Figura 18.13 Tensões e deformações atuantes em problemas de flexão.

Com base no equilíbrio do elemento estrutural apresentado na Fig. (18.13), é


possível relacionar a tensão normal no plano da seção transversal ao momento fletor
atuante. Das condições de equilíbrio tem-se, inicialmente, que a integral das tensões
normais no plano da seção transversal, a qual resulta uma força normal equivalente,
deve ser nula, uma vez que na estrutura atua apenas um momento fletor M z . Assim,
assumindo por simplicidade que a barra possua seção transversal retangular, como
apresentado na Fig.(18.14), tem-se:
 MAX
F x 0   dF  0    dA  0 
c  ydA  0 (18.10)
A A A

Figura 18.14 Tensões e deformações atuantes em problemas de flexão.

A Eq.(18.10) é atendida uma vez que o termo integral representa o momento


estático da seção transversal, o qual é nulo em relação ao seu centro de
gravidade/centroide. Para que as condições de equilíbrio sejam atendidas, deve-se
também verificar se a somatória dos momentos fletores é nula em relação aos eixos z e
y. Assim:

M z  0   ydF  M z  0  M z    ydA 
A A
(18.11)
 MAX
Mz    y dA
2

c A

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 481

 y dA
2
Sabe-se que a integral representa o momento de inércia da seção
A

transversal em relação ao eixo z. Portanto, a Eq.(18.11) pode ser reescrita como:


 MAX
Mz   Iz (18.12)
c
As Eq.(18.10), Eq.(18.11) e Eq.(18.12) foram apresentadas e aplicadas aos
problemas discutidos no capítulo 17. Porém, naquela oportunidade, não foi verificado se
a somatória dos momentos fletores em relação ao eixo y era atendida. O equilíbrio dos
momentos em relação ao eixo y pode ser formulado como:

M y 0   zdF  0  M y  0    zdA 
A A
(18.13)
 MAX
My 0 
c  yzdA
A

A integral  yzdA apresentada na Eq.(18.13) é denominada produto de inércia de


A

uma área, sendo uma propriedade geométrica de figuras planas assim como também o
são o momento de inércia e o momento estático. O produto de inércia apresenta valor
nulo quando a área considerada possui pelo menos um eixo de simetria. Dessa forma,
para os problemas estudados no capítulo 17, esta integral era nula e consequentemente a
somatória dos momentos em torno do eixo y era automaticamente atendida.
No entanto, o produto de inércia não é nulo em seções transversais assimétricas
descritas pelos eixos yz posicionados como efetuado até o momento. Dessa forma, para
o estudo de problemas envolvendo a avaliação das tensões normais em barras de seções
transversais assimétricas submetidas à flexão deve-se considerar o termo dependente do
produto de inércia. Esse estudo será apresentado na sequência do presente item. Porém,
antes de mostrar a formulação e as hipóteses assumidas para esse problema, deve-se
estudar um pouco mais sobre a determinação das propriedades geométricas de figuras
planas, em especial o cálculo do produto de inércia.

18.4.1 – Propriedades Geométricas de Área. Produto de Inércia

O produto de inércia é uma grandeza que reflete a assimetria da distribuição de


material em uma dada figura plana com relação a eixos coordenados pré-estabelecidos.
Portanto, essa grandeza tem especial interesse no estudo da distribuição das tensões

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 482

normais na flexão em seções transversais assimétricas de elementos de barra geral.


Conforme apresentado na Eq.(18.13), se a seção transversal for descrita pelos eixos yz,
o produto de inércia é definido por:
I yz   yzdA
A
(18.14)

Quando o produto de inércia é calculado para uma figura plana que possua pelo
menos um eixo de simetria seu valor torna-se nulo. Tal constatação é facilmente obtida
com base na ilustração apresentada na Fig. (18.15), na qual elementos infinitesimais de
área dA estão simetricamente posicionados em coordenadas y e –y, segundo a simetria
horizontal da figura plana.

Figura 18.15 Área com simetria horizontal. Produto de Inércia.

Pelo fato do produto de inércia para essas contribuições ser zydA e  zydA ,
respectivamente, observa-se que a integração desses termos na extensão da figura plana
resulta nula, uma vez que os termos simétricos se cancelarão mutuamente.
Além disso, deve-se destacar que ao contrário dos momentos de inércia em torno
dos eixos cartesianos yz, os quais são sempre positivos, o produto de inércia pode
assumir valores negativos. Tal constatação está associada ao fato dos eixos coordenados
utilizados para a descrição da posição dos pontos na extensão da figura plana conterem
porções positivas e negativas. Assim, o sinal do produto de inércia segue o sinal do
quadrante considerado, conforme indicado na Fig. (18.16).
Para a avaliação do produto de inércia em relação a eixos quaisquer, não
necessariamente passando pelo centroide da figura plana analisada, pode-se aplicar o
teorema dos eixos paralelos. Por meio desse teorema, obtém-se que o produto de inércia
em relação a eixos distantes y e z de um eixo de referência qualquer é dado por:

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 483

I yz    y   y  z   z  dA 
A
(18.15)
I yz  
A
yzdA   y  zdA   z  ydA   y  z  dA
A A A

Figura 18.16 Sinais algébricos para o produto de inércia.

O primeiro termo apresentado na Eq.(18.15) refere-se ao produto de inércia da


figura plana em relação ao seu próprio centro de gravidade/centroide. Os dois termos
integrais seguintes representam o momento estático da figura plana analisada, em
relação aos eixos y e z, respectivamente. Tais termos serão nulos, uma vez que serão
avaliados em relação ao centro de gravidade/centroide da área considerada. Finalmente,
o último termo da Eq.(18.15) resulta no produto das coordenadas, envolvendo o eixo
considerado e o centro de gravidade da área, e a área analisada. De uma forma mais
compacta, a Eq.(18.15) pode ser reescrita como:
____
I yz  I yz   y  zA (18.16)
____
sendo que o termo I yz representa o valor do produto de inércia da figura plana em

relação ao seu próprio centro de gravidade/centroide.


____
Destaca-se que I yz é nulo no caso da figura plana analisada conter pelo menos

um eixo de simetria. Esse caso é comum nas aplicações correntes de engenharia de


estruturas. Além disso, o segundo termo da Eq. (18.16) envolve apenas a multiplicação
da área analisada pelas coordenadas y e z associadas aos eixos envolvidos. Portanto,
a Eq. (18.16) nada mais é que uma generalização da Eq. (17.6), descrita no capítulo
anterior, na qual as coordenadas a serem multiplicadas pela área eram iguais.

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 484

18.4.2 – Produto de Inércia de Áreas Não Simétricas

Conforme anteriormente mencionado, o produto de inércia de uma figura plana


em relação ao seu próprio centro de gravidade é nulo se a figura plana em análise
possuir pelo menos um eixo de simetria. Porém, algumas geometrias não simétricas são
empregadas com frequência no cotidiano da engenharia de estruturas como o triângulo,
por exemplo. Para essa figura geométrica, o produto de inércia em relação ao seu centro
de gravidade pode ser obtido utilizando a ilustração apresentada na Fig. (18.17).

Figura 18.17 Produto de inércia do triângulo.

Em relação ao ponto O ilustrado nessa figura, o produto de inércia é assim


determinado:
h
y yb b2h2
I yz   yzdA  I yz   y b dy  I yz  (18.17)
A 0
h h2 8

Em relação ao centro de gravidade do triângulo ilustrado na Fig. (18.17), o


produto de inércia pode ser obtido por meio do teorema dos eixos paralelos. Assim:

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 485

____
b 2 h 2 ____ 2 h b bh ____
b2h2
I yz  I yz   y  zA   I yz   I yz  (18.18)
8 3 3 2 72
Para outras geometrias não simétricas, o produto de inércia da figura plana em
relação ao seu próprio centro de gravidade pode ser obtido de maneira semelhante ao
apresentado nas Eq.(18.17) e Eq.(18.18). Na Fig. (18.18) são apresentadas as expressões
do produto de inércia para algumas áreas de interesse.

Figura 18.18 Relações do produto de inércia para áreas regulares.

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 486

18.4.3 –Exemplo 3

Determine o produto de inércia da área assimétrica mostrada na Fig. (18.19),


cujas dimensões estão apresentadas em mm, em relação ao seu centro de gravidade.

Figura 18.19 Área considerada. Dimensões em mm.

O primeiro passo para a solução deste exemplo envolve a determinação do


centro de gravidade/centroide da área analisada. Assim, tomando eixos auxiliares
passando pelas extremidades inferior e direita da seção transversal, efetua-se a
somatória dos momentos estáticos em torno desses eixos auxiliares, o que leva a:
300 100  550  100  600  350  300 100 150
ycg   ycg  350 mm
300 100  100  600  300 100
300 100  550  100  600  300  300 100  50
zcg   zcg  300 mm
300 100  100  600  300 100
A figura plana analisada foi subdividida em três subáreas denominadas A, B e C,
conforme indicado na Fig. (18.19). Por conveniência, tal subdivisão foi assim efetuada
para que as subáreas possuíssem pelo menos um eixo de simetria. Assim, o produto de
inércia da área total será obtido somando-se o produto de inércia de cada uma das
subáreas isoladamente. Assim:
I yzA   550  350  550  300  300 100   I yzA  1, 50 109 mm 4

I yzB   350  350  300  300  100  600  I yzB  0 mm 4

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 487

I yzC  150  350  50  300  300 100  I yzC  1, 50 109 mm 4

Portanto:
I yz  I yzA  I yzB  I yzC  I yz  1, 50 109  0  1, 50 109  I yz  3, 0 109 mm 4

18.4.4 – Inércias Principais

Em diversas aplicações de engenharia, torna-se de interesse e conveniência na


análise a determinação dos valores dos momentos de inércia e do produto de inércia em
relação a eixos coordenados rotacionados em relação a um sistema de referência
previamente definido no qual tais grandezas foram previamente determinadas. Tal
interesse é desencadeado, principalmente, pela escolha de um sistema de coordenadas
mais conveniente para a descrição da posição dos pontos que compõem a figura
analisada. Nesse caso, pode-se adotar um sistema de referência conveniente para a
determinação das propriedades geométricas da figura plana e em seguida fazer a
transformação das coordenadas para avaliar tais grandezas no sistema de referência final
da análise. Em tal situação, as propriedades geométricas da figura plana analisada são
definidas em relação a um sistema de referência, yz por exemplo, sendo necessário o
conhecimento dessas propriedades em relação a um sistema de referência rotacionado
y’z’, conforme apresentado na Fig. (18.20).

Figura 18.20 Coordenadas dadas em sistemas rotacionados.

Para tal finalidade, a localização dos pontos definidos no sistema rotacionado


y’z’ pode ser escrita em função das coordenadas desses pontos no sistema yz por meio

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 488

de uma simples transformação de coordenadas. Destaca-se que tal operação é


largamente discutida em Álgebra Linear. Por meio de funções trigonométricas básicas e
da Fig. (18.20), pode-se efetuar essa transformação de coordenadas como:
y '  y cos    zsen    y '  cos   sen     y 
  z '     sen  (18.19)
z '   ysen    z cos        cos     z 
Assim, as propriedades geométricas da figura plana considerada, em especial os
momentos de inércia e o produto de inércia em relação aos eixos y’ e z’, podem ser
obtidas avaliando estas grandezas utilizando as coordenadas y’z’ mostradas na
Eq.(18.19). Dessa forma, sabendo que:

I y'    z '  dA I z'    y '  dA I yz'   y ' z ' dA


2 2
(18.20)
A A A

Os momentos de inércia e o produto de inércia, referenciados ao sistema


rotacionado y’z’, podem ser escritos como:
Iy  Iz Iy  Iz
I y'   cos  2   I yz sen  2 
2 2
Iy  Iz Iy  Iz
I z'   cos  2   I yz sen  2  (18.21)
2 2
Iy  Iz
I yz'  sen  2   I yz cos  2 
2
Destaca-se que a dedução da Eq.(18.21) foi omitida nesse texto por
simplicidade. No entanto, para tal finalidade, basta substituir os valores das novas
coordenadas y’e z’ apresentadas na Eq.(18.19) na Eq.(18.20) e efetuar as integrações das
funções trigonométricas, as quais são de trivial execução. As expressões mostradas na
Eq.(18.21) relacionam os momentos de inércia e o produto de inércia definidos no
sistema y’z’ com essas propriedades de área calculadas em relação a um sistema de
coordenadas conveniente previamente definido, yz. Deve-se notar que estas expressões
dependem do ângulo de inclinação ou de defasagem entre os eixos y e y’, o qual é
positivo se medido no sentido anti-horário, conforme indicado na Fig. (18.20).
Devido ao caráter periódico das funções trigonométricas envolvidas, cosseno e
seno, é intuitivo perceber que haverão ângulos particulares nos quais os valores das
propriedades geométricas da área serão extremos, ou seja, máximo ou mínimo. Para a
determinação desses ângulos, devem ser empregados os conhecimentos do cálculo
diferencial, o qual prevê que uma função apresentará valores extremos quando sua

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 489

derivada primeira for nula (ponto de inflexão). Assim, os eixos em relação aos quais os
momentos de inércia apresentarão valores extremos podem ser obtidos como:
dI y' Iy  Iz  2 I yz
 2 sen  2   2 I yz cos  2   0  tan  2   (18.22)
d 2 Iy  Iz

Devido à característica da função tangente, observa-se que dois ângulos no


intervalo 0° e 360°, os quais são defasados de 180°, conduzem ao mesmo valor para
essa função trigonométrica. Portanto, a Eq.(18.22) fornece dois ângulos 1 e 2 , os quais

são defasados de 90º, que definem dois eixos em relação aos quais os momentos de
inércia apresentam seus valores extremos. Os valores dos momentos de inércia em
relação aos eixos dados pela Eq.(18.22) podem ser facilmente determinados
substituindo seus ângulos na primeira das expressões apresentadas na Eq.(18.21).
Efetuando este procedimento obtém-se:
2
Iy  Iz  I  Iz 
I MAX / MIN    y   I yz
2
(18.23)
2  2 
Os momentos de inércia extremos definidos na Eq.(18.23) são denominadas
momentos principais de inércia e os eixos onde estes atuam eixos principais de inércia.
Os eixos principais de inércia apresentam uma característica importante e que deve ser
destacada. Em relação a esses eixos, ou seja, nos eixos onde os momentos de inércia
são máximo ou mínimo, o produto de inércia é nulo. Essa conclusão, que será omitida
aqui por simplicidade, pode ser facilmente obtida substituindo-se os ângulos
determinados na Eq.(18.22) na expressão que relaciona o produto de inércia a eixos
quaisquer, terceira equação mostrada na Eq.(18.21). O leitor pode fazer essa operação e
conferir essa declaração.
Quando uma dada figura plana apresenta dois eixos de simetria, os eixos
principais de inércia são os próprios eixos de simetria. Quando uma dada figura plana
apresenta apenas um eixo de simetria, um eixo principal de inércia encontra-se sobre o
eixo de simetria enquanto que o outro eixo principal encontra-se localizado
perpendicularmente ao eixo de simetria. Quando a figura plana é assimétrica, os eixos
principais são determinados por meio da Eq.(18.22) e seus valores pela Eq.(18.23).

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 490

18.4.5 –Exemplo 4

Determine os momentos principais de inércia e a inclinação dos eixos principais


da seção transversal mostrada na Fig. (18.21), cujas dimensões estão apresentadas em
mm.
Conforme calculado no item 18.4.3 exemplo 3, tem-se:
ycg  350 mm zcg  300 mm I yz  3, 0 109 mm 4

Figura 18.21 Área considerada. Dimensões em mm.

Assim, para a determinação dos momentos principais de inércia e das


inclinações dos eixos principais, devem ser determinados os momentos de inércia da
seção transversal em relação ao sistema yz. Portanto:
100   300  600  100  100   300 
3 3 3

 100  300   550  350  


2
Iz   
12 12 12
100  300  150  350 
2
 I z  2, 90 109 mm 4  I z  2, 90 10 3 m 4

300  100  100   600  300  100 


3 3 3

 100  300   550  300  


2
Iy   
12 12 12
100  300   50  300 
2
 I y  5, 60  10 9 mm 4  I y  5, 60 10 3 m 4

Portanto, as inércias principais são determinadas com base na Eq.(18.23). Dessa


forma:

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 491

2
Iy  Iz  I  Iz 
I MAX / MIN    y   I yz
2

2  2 
2
5, 60  10 3  2, 90  10 3  5, 60  10 3  2, 90 10 3 
   3, 0 10 
3 2
I MAX / MIN   
2  2 
I MAX / MIN  4, 25  10 3  3, 290  10 3
I MAX  7, 54  10 3 m 4 I MIN  9, 60  10 4 m 4

As inclinações dos eixos principais são obtidas por meio da Eq.(18.22). Assim:
 2 I yz  2  3, 0  10 3
tan  2    tan  2   
Iy  Iz 5, 60  10 3  2, 90  10 3
tan  2    2, 22222   p1   32,886º 
 p 2   p1  90º   p 2  32,886º 90º   p 2  57,114º

Destaca-se que têm-se duas inércias principais para dois ângulos principais. No

entanto, sua correspondência não foi ainda determinada. Para efetuar tal operação, deve-

se substituir os ângulos de inclinação calculados anteriormente na primeira das

expressões apresentadas na Eq.(18.21). Assim:


5, 60  10 3  2, 90  10 3 5, 60  10 3  2, 90  10 3
I y'   cos  2   32, 886  
2 2
 3  10 3 sen  2   32,886    I y'  7, 54  10 3 m 4

Dessa forma, em torno do eixo rotacionado de -32,886º atua a maior das inércias

principais calculadas anteriormente. Consequentemente, em torno do eixo rotacionado

de 57,114º atuará a menor inércia principal. Conforme mostrado na Fig. (18.22), em

torno do eixo IMAX encontra-se a maior porção de área afastada do centro de gravidade,

enquanto que em torno do eixo IMIN, por outro lado, maior porção de área encontra-se

próxima ao centro de gravidade, o que corrobora com os resultados encontrados.

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 492

Figura 18.22 Orientação dos eixos principais.

18.4.6 –Exemplo 5

Determine os momentos principais de inércia e a inclinação dos eixos principais


da seção transversal mostrada na Fig. (18.23), cujas dimensões estão apresentadas em
mm.

Figura 18.23 Área considerada. Dimensões em mm.

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 493

Para resolver esse exemplo deve-se, inicialmente, determinar as coordenadas do


centro de gravidade/centroide da seção transversal. Para tal finalidade, deve-se efetuar a
somatória dos momentos estáticos da figura plana em relação a eixos auxiliares que
passam pelas extremidades inferior e direta da seção transversal. Assim:
200 10 100  10  90  5
ycg   ycg  70,517 mm
200 10  10  90
200 10  95  10  90  45
zcg   zcg  79, 483 mm
200 10  10  90
Com base nas coordenadas do centro de gravidade da seção transversal, podem
ser determinados os valores dos momentos de inércia em relação aos eixos y e z. Dessa
forma:
10   200  90  10 
3 3

 200 10  100  70, 517    90 10   5  70, 517 


2 2
Iz 
12 12
5
I z  1, 2276 10 mm  I z  1, 2276 10 m
7 4 4

200  10  10   90 
3 3

 200 10   95  79, 483    90 10   45  79, 483 


2 2
Iy 
12 12
6
I y  2,1759 10 mm  I y  2,1759 10 m 4
6 4

Já o produto de inércia é dado por:


I yz  100  70, 517  95  79, 483   200 10    5  70, 517  45  79, 483  90 10 
I yz  2, 9483 10 6 mm 4  I yz  2, 9483 10 6 m 4

Portanto, as inércias principais podem ser determinadas utilizando a Eq.(18.23):


2,1759 10 6  1, 2276  10 5
I MAX / MIN  
2
2
 2,1759 10 6  1, 2276  10 5 
   2, 9483  10 
6 2

 2 
I MAX / MIN  7, 2260 10 6  5,8477  10 6
I MAX  1, 3074 10 5 m 4 I MIN  1, 3783  10 6 m 4

As inclinações dos eixos principais são obtidas por meio da Eq.(18.22). Assim:
 2 I yz  2  2, 9483  10 6
tan  2    tan  2   
Iy  Iz 2,1759  10 6  1, 2276  10 5
tan  2   0, 583816   p1  15,138º 
 p 2   p1  90º   p 2  15,138º  90º   p 2  105,138º

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 494

Para efetuar a atribuição das inércias às suas respectivas inclinações, ou seja,

para determinar em qual das inclinações calculadas anteriormente atua cada uma das

inércias principais, deve-se substituir tais ângulos na primeira das expressões

apresentadas na Eq.(18.21). Assim:


2,1759  10 6  1, 2276  10 5 2,1759  10 6  1, 2276  10 5
I y'   cos  2  15,138º 
2 2
 2, 9483  10 6 sen  2  15,138º   I y'  1, 3783  10 6 m 4

Portanto, com base no resultado encontrado, observa-se que em torno do eixo


inclinado de 15,138 atua a menor inércia principal, enquanto que o eixo inclinado de
105,138 contém a maior inércia principal. Tal resultado torna-se intuitivo quando
analisa-se a distribuição de material em torno dos eixos principais, onde percebe-se
maior quantidade de material distante do centroide quando se considera a inclinação de
105,138.

18.4.7 –Tensões Normais na Flexão em Barras de Seção Transversal Assimétrica

A determinação das tensões normais na flexão em elementos de barra geral


efetuada até o presente momento assumia que a seção transversal estudada apresentava
pelo menos um eixo de simetria. Tal condição simplificava sobremaneira a análise, uma
vez que nessa situação os eixos principais de inércia localizam-se sobre os eixos de
simetria da seção, ou seja, tais eixos eram coincidentes com os eixos yz inicialmente
adotados. Além disso, nessa descrição, o produto de inércia é nulo.
Para a análise das tensões normais em barras gerais fletidas de seção transversal
assimétrica, a equação geral das tensões normais na flexão, estudada no capítulo 17,
permanece válida. Porém, essa equação deve ser avaliada considerando os momentos
principais de inércias, de forma que o produto de inércia seja nulo na descrição adotada
e consequentemente a Eq.(18.13) seja atendida. Obviamente, os momentos fletores
atuantes devem ser decompostos segundo os eixos principais de inércia, os quais são
determinados conhecendo-se os valores das inércias em relação a um sistema de
coordenadas previamente conhecido, como anteriormente apresentado.
Dessa forma, as tensões normais na flexão de barras gerais de seção transversal
assimétrica podem ser determinadas por meio da seguinte relação:

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 495

'
N M z' ' M y '
   ' y  ' z (18.24)
A Iz Iy

onde as variáveis que contém ‘ referem-se aos eixos principais de inércia.


Portanto, com os eixos principais de inércia conhecidos e os valores dos
momentos fletores determinados segundo os eixos principais, a análise das tensões
normais na flexão pode ser efetuada utilizando-se a mesma metodologia aplicada no
capítulo 17.

18.4.8 –Exemplo 6

A seção transversal assimétrica mostrada na Fig. (18.24) está submetida à ação


de um momento fletor atuante ao longo do sentido positivo do eixo z, cuja intensidade é
M0. Determine o maior valor de M0 de forma que a tensão normal máxima atuante nessa
seção seja igual a 82 MPa.

Figura 18.24 Área considerada. Dimensões em mm.

O primeiro passo para a resolução desse problema envolve a determinação das


coordenadas do centro de gravidade/centroide da seção transversal. Portanto, deve-se
efetuar a somatória de momentos estáticos em relação a eixos auxiliares, os quais devem
passar pelas extremidades inferior e direta da seção transversal. Assim:
120  12  60  108  12  108  6 
ycg   ycg  85, 58 mm
120  12  108  12

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 496

120  12  108  6   108  12  54


z cg   z cg  85, 58 mm
120  12  108  12
A partir das coordenadas do centro de gravidade, as quais estão ilustradas na Fig.
(18.25), os valores dos momentos de inércia e do produto de inércia ficam definidos
como:
12  120  108  12 
3 3

 12 120   60  85, 58    108 12  114  85, 58 


2 2
Iz 
12 12
I z  3, 73257 10 mm  I z  3, 73257 10 6 m 4
6 4

120  12  12  108 


3 3

 120 12  114  85, 58    12 108   54  85, 58 


2 2
Iy 
12 12
6
I y  3, 73257 10 mm  I y  3, 73257 10 m 4
6 4

I yz   60  85, 58   114  85, 58   12 120   114  85, 58    54  85, 58   108 12 
  34, 42  6    60  85, 58   108 12   34, 42  66   114  85, 58 
I yz  2, 21002 10 6 mm 4  I yz  2, 21002 10 6 m 4

Dessa forma, as inércias principais podem ser avaliadas utilizando a Eq.(18.23).


Assim:
3, 73257  10 6  3, 73257  10 6
I MAX / MIN  
2
2
 3, 73257  10 6  3, 73257  10 6 
    2, 21002  10 
6 2

 2 
I MAX / MIN  3, 73257  10 6  2, 21002  10 6
I MAX  5, 94259  10 6 m 4 I MIN  1, 52255  10 6 m 4

Figura 18.25 Coordenadas do centro de gravidade. Dimensões em mm.

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 497

Os eixos principais podem ser determinados utilizando a Eq.(18.22). Dessa


forma:
 2 I yz  2    2, 21002  10 6 
tan  2    tan  2   
Iy  Iz 3, 73257  10 6  3, 73257 10 6
tan  2      p1  45º 
 p 2   p1  90º   p 2  45º 90º   p 2  135º

Deve-se utilizar a Eq.(18.21) para atribuir à direção principal determinada seu

respectivo valor de inércia. Assim:


3, 73257  10 6  3, 73257 10 6 3, 73257 10 6  3, 73257 10 6
I y'   cos  2  45 
2 2
   2, 21002  10 6  sen  2  45º   I y'  5, 94259 10 6 m 4

Portanto, verifica-se que em torno do eixo inclinado de 45 atua a maior inércia
principal, enquanto que o eixo inclinado de 135 contém a menor inércia principal.
Para que as tensões normais sejam determinadas, deve-se decompor o momento
fletor aplicado ao longo dos eixos principais de inércia. Esse procedimento, conforme
ilustrado na Fig. (18.26), conduz a:
2
M y'  M 0 cos  45º   M y'  M0
2
2
M z'  M 0 sen  45º   M z'  M0
2

Figura 18.26 Sistema de eixos principais e decomposição do momento aplicado.

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 498

Existem dois pontos críticos nesta seção transversal, os quais estão apresentados
na Fig. (18.27). No ponto A atua a maior tensão de tração, enquanto que no ponto B
atua a maior tensão compressiva. Porém, pelo fato do ponto A localizar-se mais distante
do centro de gravidade que o ponto B, verifica-se facilmente que a tensão normal
atuante no ponto A será de maior intensidade (ou em valor absoluto) que a tensão
atuante no ponto B. Consequentemente, o ponto a ser verificado nessa análise é o ponto
A.
Por meio da Eq.(18.19) pode-se determinar as coordenadas do ponto A com
relação ao sistema de eixos principais. Utilizando a transformação de coordenadas
anteriormente apresentada tem-se:
 y '  cos  45  sen  45     85, 58 
 z '     sen 45 cos 45   22, 42  
        
 y '  0, 7071 0, 7071  85, 58   y '   44, 660 
 z '     0, 7071 0, 7071  22, 42    z '    76, 367  mm
        
Sabendo que a tensão normal atuante no ponto A pode ser calculada com a
Eq.(18.24) obtém-se:
2 2
M0 M0
A   2
1, 52255  10  6
  44, 660  10 3
  2
5, 94259  10  6
 76, 367  10 3  
 A  29828 M 0

Como a tensão admissível do material é igual a 82 MPa, tem-se que o momento


fletor aplicado deve ser no máximo igual a :
 A  29828M 0  82 103  M 0  2, 749 kN  m

Figura 18.27 Ponto a ser analisado.

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 499

Deve-se destacar que as componentes do momento fletor ao longo das direções


principal poderiam ser determinadas utilizando a matriz de transformação anteriormente
apresentada uma vez que tal grandeza é também vetorial.

18.4.9 –Exemplo 7

Determine a tensão normal, atuante no ponto P da seção transversal ilustrada na


Fig.(18.28), gerada pela ação de um momento fletor M z  20, 0 kNm .

A seção transversal apresentada na Fig. (18.28) é a mesma analisada nos


exemplos 3 e 4 discutidos anteriormente nesse capítulo. Das análises anteriores tem-se
que:
ycg  350 mm ; zcg  300 mm ; I y  5, 60 10 3 m 4 ; I z  2, 90 10 3 m 4 ;
I yz  3, 0 109 mm 4 ; I MAX  7, 54 10 3 m 4 ; I MIN  9, 60 10 4 m 4 ;
 p1  32,886º ;  p 2  57,114º

A posição dos eixos principais de inércia é apresentada na Fig. (18.29).

Figura 18.28 Seção transversal considerada. Dimensões em mm.

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 500

A decomposição do momento fletor atuante, M z  20, 0 kNm , em relação aos


eixos principais y’z’ pode ser efetuada por meio da matriz de rotação apresentada na Eq.
(18.19). Portanto:
 M y '   cos  32,886º  sen  32,886º    M y 
    
 M z '    sen  32,886º  cos  32,886º    M z 
 M y '   0,840 0, 543   0   M y '  10,86 
        kNm
 M z '   0, 543 0,840   20   M z '   16,8 
As coordenadas do ponto P, em relação ao sistema de referência y’z’, podem ser
obtidas utilizando a Eq.(18.19). Dessa forma:
 y '  cos   32, 886º  sen   32, 886º    350 
 z '     
    sen   32, 886º  cos   32, 886º    200 
 y '  0, 840  0, 543   350   y '  185, 4 
 z '    0, 543 0, 840   200    z '    358, 05  mm
        
Portanto, a tensão normal atuante no ponto P pode ser calculada por meio da
Eq.(18.24). Assim:
16,80 10,86
P   4
185, 4  10 3  3
358, 05  10 3   P  3760, 20 kN 2
9, 60  10 7, 54  10 m

Figura 18.29 Localização dos eixos principais.

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 501

18.5 – Tensões na Flexão em Barras de Seção Transversal Assimétrica


considerando Materiais com diferentes Propriedades Mecânicas. Barras
Não-Homogêneas

A metodologia utilizada para a determinação das tensões normais no plano da


seção transversal de barras gerais fletidas apresentada no item anterior foi desenvolvida
assumindo que o elemento estrutural era composto por um único material. Assim, a
barra geral fletida possuía seção transversal assimétrica formada por um único material,
o qual assumiu-se homogêneo. Porém, o procedimento anteriormente apresentado pode
ser também aplicado ao caso onde a barra geral fletida de seção transversal assimétrica é
composta por materiais de diferentes propriedades mecânicas, módulos de elasticidade
longitudinal particularmente, formando um sistema não homogêneo.
Nos problemas de flexão envolvendo barras de seção transversal assimétrica em
sistemas não homogêneos, a metodologia anteriormente apresentada pode ser aplicada
desde que um processo de homogeneização seja considerado. Este processo de
homogeneização foi mostrado e aplicado no capítulo 17, onde a flexão de barras não
homogêneas de seção transversal com pelo menos um eixo de simetria foi estudado. Tal
processo assume que as seções transversais da barra permanecem planas após a atuação
dos esforços de flexão, o que impõe, portanto, continuidade material apesar do
surgimento de descontinuidades de tensão nas interfaces materiais. Assim, aplicando o
processo de homogeneização descrito no capítulo 17 juntamente à metodologia
apresentada no item 18.4 pode-se determinar as tensões normais devido à flexão em
barras não homogêneas de seção transversal assimétrica.

18.5.1 –Exemplo 8

Determine as tensões normais máximas devido à flexo-compressão na seção


transversal não homogênea apresentada na Fig. (18.30). Nesta seção atuam
M z  10 kNm , M y  6 kNm e N  2 kN . Além disso, as propriedades mecânicas dos

materiais que compõem a estrutura são as seguintes: E1  100 GPa , E2  150 GPa e

E3  200 GPa .

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 502

Para a solução deste problema devem ser, inicialmente, determinados os fatores


de homogeneização. Tomando o material 3 como referência, estes fatores assumem os
seguintes valores:
E1 100
n13   n13   n13  0,5
E3 200
E2 150
n23   n23   n23  0, 75
E3 200

Figura 18.30 Seção transversal considerada. Dimensões em cm.

O valor da área homogeneizada da seção assume o seguinte valor:


A  0,5  10  50   0,75   70 10   10  50  A  1275 cm2

A coordenada ycg do centro de gravidade/centroide é determinada calculando-se

a somatória de momentos estáticos em relação a extremidade inferior da seção


transversal. Assim:
0,5  10  50   85  0, 75   70 10   55  10  50  25
ycg   ycg  49,118 cm
0,5  10  50   0, 75   70 10   10  50

Assim, o valor do momento de inércia da seção transversal em torno do eixo z


assume o seguinte valor:

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 503

10   50 3 
 10  50   85  49,118    0,5 
2
Iz  
 12 
 70  10 3  10   50 
3

 70 10   55  49,118   0, 75   10  50   25  49,118  


2 2

 12  12
I z  7,91507 105 cm 4
Já a coordenada zcg do centro de gravidade/centroide é determinada por meio do

cálculo dos momentos estáticos da seção transversal em relação à sua extremidade


direita. Dessa forma:
0,5  10  50   65  0, 75   70 10   35  10  50  5
zcg   zcg  29,118 cm
0,5  10  50   0, 75   70 10   10  50

Dessa forma, o valor do momento de inércia em torno do eixo y pode ser assim
determinado:
 50  10 3 
 10  50   65  29,118    0,5 
2
Iy  
 12 
10   70 3  50  10 
3

 70 10   35  29,118    0, 75   10  50   5  29,118  


2 2

 12  12
I y  8,51507 105 cm 4
Para que as tensões normais durante a flexão de barras gerais de seção
transversal assimétrica sejam avaliadas, deve-se também determinar o valor do produto
de inércia. Para a seção transversal não homogênea assimétrica apresentada na Fig.
(18.30) o produto de inércia pode ser assim calculado:
I yz   85  49,118  65  29,118  10  50  0, 5 
 55  49,118  35  29,118   70 10 0, 75   25  49,118  5  29,118  10  50 
I yz  6, 30882 105 cm 4

Dessa forma, as inércias principais podem ser avaliadas utilizando a Eq.(18.23).


Assim:
8, 51507 10 5  7, 91507  105
I MAX / MIN  
2
2
 8, 51507  10 5  7, 91507 10 5 
   6, 30882 10 
5 2

 2 
I MAX  1, 45310 10 6 cm 4 I MIN  1,89912 10 5 cm 4

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 504

As direções dos eixos principais de inércia podem ser calculados utilizando a


Eq.(18.22). Dessa forma:
 2 I yz  2   6, 30882  10 5 
tan  2    tan  2   
I y  Iz 8, 51507  10 5  7, 91507 10 5
tan  2    21, 0294   p1   43, 639º
 p 2   p1  90º   p 2  43, 639º 90º   p 2  46, 361º

Para determinar em qual das inclinações calculadas anteriormente atuam cada

uma das inércias principais encontradas, deve-se substituir os ângulos calculados

anteriormente na primeira das expressões apresentadas na Eq.(18.21). Assim:


8, 51507  10 5  7, 91507  10 5
I y'  
2
8, 51507  10 5  7, 91507 10 5
cos  2   43, 639º   
2
6, 30882  10 5 sen  2   43, 639º    I y'  1, 45310  10 6 cm 4

Portanto, em torno do eixo principal rotacionado de -43,639º atua a maior das

inércias principais calculadas anteriormente. Consequentemente, em torno do eixo

rotacionado de 46,361º atuará a menor inércia principal. Conforme ilustrado na Fig.

(18.31), em torno do eixo y’ encontra-se a maior porção de área afastada do centro de

gravidade, enquanto em torno do eixo z’, por outro lado, maior porção de área encontra-

se próxima ao centro de gravidade, o que conduz às direções principais de inércia

determinadas anteriomente.
Os momentos fletores atuantes estão definidos em relação aos eixos yz. No
entanto, para que a análise seja efetuada, esses esforços solicitantes devem ser definidos
em relação ao sistema y’z’, ou seja o sistema principal. A decomposição dos momentos
fletores atuantes em relação aos eixos principais y’z’ pode ser efetuada por meio da
matriz de rotação apresentada na Eq. (18.19). Portanto:
 M y '   cos  43, 639º  sen  43, 639º    M y 
    
 M z '   sen  43, 639º  cos  43, 639º    M z 
 M y '   0, 7237 0, 6901  6   M y '   2, 559 
        kNm
 M z '   0, 6901 0, 7237  10   M z '   11, 378 

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 505

Figura 18.31 Localização dos eixos principais de inércia. Dimensões em cm.

Os pontos onde as maiores tensões normais irão atuar são os pontos A e B


apresentados na Fig. (18.31). Estes pontos estão localizados nas posições extremas do
eixo y. Assim, para que os pontos A e B sejam descritos em relação ao sistema y’z’ a
matriz de rotação apresentada na Eq. (18.19) deve ser empregada. Assim, para o ponto
A tem-se:
 y '  cos   43, 639º  sen   43, 639º   110  49,118 
 z '     
    sen   43, 639º  cos   43, 639º    40, 882 
 y '  0, 7237  0, 6901  60, 882   y ' 15, 848 
 z '    0, 6901 0, 7237   40, 882    z '    71, 601 cm
        
Já para o ponto B pode-se escrever que:
 y '  cos   43, 639º  sen   43, 639º     49,118 
 z '     
    sen   43, 639º  cos   43, 639º    40, 882  70 
 y '  0, 7237  0, 6901   49,118   y '   15, 452 
 z '    0, 6901 0, 7237    29,118    z '     54, 969  cm
        
Assim, a tensão normal atuante no ponto A, pode ser assim mensurada:

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 506

 2 11,378   0,15848 2,559   0,71601  


 A  0,5   4
   
1275 10 1,89912 103 1, 45310 102  
 A  545,632 kN m2
Já a tensão normal atuante no ponto B assume o seguinte valor:
2 11,378   0,15452  2,559   0,54969 
B  4
  
1275 10 1,89912 103 1, 45310 102
 B  1006,877 kN m 2
Deve-se ressaltar que como o ponto B pertence ao material de referência, a
tensão normal nele calculada não necessita ser multiplicada por nenhum fator de
homogeneização.

18.5.2 –Exemplo 9

Determine as tensões normais atuantes nos pontos A e B que pertencem à seção


transversal assimétrica não homogênea localizada no engaste da estrutura apresentada
na Fig. (18.32). Essa estrutura está submetida a ação de um momento fletor M0 e de
uma força axial F, ambos aplicados na extremidade livre do balanço. Essa estrutura é
composta por quatro materiais distintos, conforme indicado na Fig. (18.32), cujos
módulos de elasticidade longitudinal são iguais a: E1  120GPa, E2  100GPa, E3 
150GPa e E4  90GPa. As dimensões da seção transversal estão apresentadas em
centímetro.

Figura 18.32 Estrutura e seção transversal a ser analisada. Dimensões em cm.

Esse problema é facilmente resolvido aplicando-se o processo de


homogeneização discutido no capítulo 17 e utilizado no exemplo anterior. Dessa forma,

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 507

para que o problema seja resolvido, devem ser determinados os fatores de


homogeneização. Considerando que a seção transversal seja homogeneizada tomando
como referência o material 3 obtém-se:
E1 120
n13   n13   n13  0,80
E3 150
E2 100
n23   n23   n23  0,667
E3 150
E4 90
n43   n43   n43  0,60
E3 150

Com base nos valores dos diferentes fatores de homogeneização obtidos


anteriormente, determina-se a área homogeneizada da seção transversal como:
A  A1  n13  A2  n23  A3  A4  n43 
A   5  10   0,8   5  15   0,667   30  5    5  15   0,6  A  285,025 cm²

Já as coordenadas do centro de gravidade/centroide são determinadas


calculando-se os momentos estáticos da seção transversal em torno de eixos auxiliares
que passam pelas extremidades inferior e direita da seção transversal. Assim:
A1  y1  n13  A2  y2  n23  A3  y3  A4  y4  n43
ycg  
A
5  10  (25)  0,8  5  15  (27,5)  0,667  30  5  (17,5)  5  15  (7,5)  0,6
ycg  
285,025
ycg  18,729 cm

A1  z1  n13  A2  z2  n23  A3  z3  A4  z4  n43


zcg  
A
5  10  (27,5)  0,8  5  15  (2,5)  0,667  30  5  (15)  5  15  (17,5)  0,6
zcg  
285,025
zcg  14,955 cm

A partir da localização do centro de gravidade determinada anteriormente, os


valores dos momentos de inércia e do produto de inércia da seção transversal ficam
definidos como:
 5  10 3   5  15 3 
Iz    5  10  (25  18,729)   0,8  
2
 5  15  (27,5  18,729) 2   0,667
 12   12 
 30   5 3   5  153 
  30  5  (17,5  18,729)2     5  15  (7,5  18,729)2  .0,6 
 12   12 
I z  13749,65 cm 4

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 508

10   5 3  15   5 3 
Iy    5  10  (27,5  14,955) 2   0,8    5  15  (2,5  14,955) 2   0,667
 12   12 
 5   30 3  15   5 3 
  30  5  (15  14,955)   
2
 5  15  (17,5  14,955) 2  .0,6 
 12   12 
I y  25878,382 cm 4

I yz   25  18,729  27,5  14,955  5  10   0,8 


 27,5  18,729  2,5  14,955  5  15  0,667  17,5  18,729 15  14,955  30  5
  7,5  18,729 17,5  14,955  5  15  0,6 
I yz  3612,38 cm 4

Os valores das inércias principais da seção transversal são obtidos utilizando-se


a Eq.(18.23). Dessa forma:
2
25878,382  13749,65  25878,382  13749,65 
   3612,38 
2
I MAX / MIN   
2  2 
I MAX  26872,757 cm 4 I MIN  12755, 275 cm 4

As inclinações dos eixos principais de inércia são obtidas por meio da


Eq.(18.22). Assim:
2 I yz 2  3612,38 
tan  2    tan  2   
Iy  Iz 25878,382  13749,65
tan  2   0,59567   p1  15,380º
 p 2   p1  90º   p 2  15,380º 90º   p 2  105,380º

Deve-se agora atribuir à cada uma das direções principais determinadas


anteriormente a inércia principal correspondente. Para tal finalidade, deve-se substituir
os ângulos referentes às direções principais na primeira das expressões apresentadas na
Eq.(18.21). Portanto:
25878,382  13749,65  25878,382  13749,65 
I y'    cos  2(15,380º ) 
2  2 
  3612,38  sen  2(15,380º )   I y'  I MAX  I y  26872,757 cm 4

Dessa forma, contata-se que em torno do eixo rotacionado de 15,380º atua a


maior das inércias principais calculadas para o problema. Consequentemente, em torno
do eixo rotacionado de 105,380º atuará a menor inércia principal, conforme indica a
Fig. (18.33).

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 509

Figura 18.33 Localização dos eixos principais de inércia. Dimensões em cm.

Para que as tensões normais sejam determinadas nos pontos desejados, deve-se
calcular a intensidade dos esforços solicitantes na região do engaste, em particular do
esforço normal e do momento fletor. Com base no diagrama de corpo livre indicado na
Fig. (18.34), calculam-se o esforço normal e o momento fletor atuantes na seção
transversal do engaste, os quais aplicando equilíbrio de corpo rígido assumem as
seguintes intensidades:

Figura 18.34 Equilíbrio no elemento estrutural analisado.

F x
0   N E  2,0  0  N E  2,0 kN
M z
 0   M E  3,0  0  M E  3,0 kN.m

Em seguida, deve-se decompor o momento fletor atuante na seção transversal do


engaste em relação aos eixos principais de inércia. Esse procedimento conduz a:
 M y'   cos(15,380º ) sen(15,380º )   M y 
 '    
 M z   sen(15,380º ) cos(15,380º )   M z 
 M y'   0,9641 0, 2654   0   M y'  0,7962 
 '       ' 
  kNm
 M z   0, 2654 0,9641 3  M z   2,8923 

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 510

Em seguida, determinam-se as coordenadas dos pontos A e B, os quais estão


definidos em relação ao sistema de coordenadas cartesiano padrão yz, com origem no
centro de gravidade da seção transversal, em relação ao sistema de coordenadas
principal. Assim, para o ponto A obtém-se:
 y A'   0,9641 0, 2654  (35  18,729) 
 '    
 z A   0, 2654 0,9641 (15,045  30) 
 y A'   0,9641 0, 2654   16, 271   y A'   11,7178 
 '      ' 
  cm
 z A   0, 2654 0,9641 14,955  z A  18,7364 
Já para o ponto B tem-se:
 yB'   0,9641 0, 2654   (0  18,729) 
 '    
 z B   0, 2654 0,9641 (15,045  15) 
 yB'   0,9641 0, 2654  18,729   yB'  18,0447 
 '       '   cm
 z B   0, 2654 0,9641  0,045   z B   5,0141 
Finalmente, calculam-se as tensões normais atuantes nos pontos de interesse
utilizando a Eq.(18.24). Deve-se lembrar que os pontos A e B estão fora do domínio do
material de referência, material 3. Portanto, as tensões calculadas nesses pontos devem
ser corrigidas aplicando-se o fator de homogeneização correspondente ao material ao
qual pertence cada ponto. Seguindo esse procedimento, para o ponto A obtém-se:
N M z' ' M y ' 
'

A    y  z A  n23
I z' I y'
A
 A 
 2,0 2,8923   0,117178  0,7962   0,187364  
A   4
    0,667 
 285,025  10 12755, 275  108 26872,757  108 
 A  2189,33 kN/m²

Já para o ponto B obtém-se:


N M z' ' M y ' 
'

B    y  z A  n43
I z' I y'
A
 A 
 2,0 2,8923   0,180447  0,7962   0,050141 
B   4
    0,6 
 285,025  10 12755, 275  108 26872,757  108 
 B  2502,05 kN/m²

18.5.3 –Exemplo 10

Um elemento de barra geral possui seção transversal assimétrica composta por


materiais de diferentes propriedades mecânicas. Essa seção transversal, a qual está

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 511

ilustrada na Fig. (18.35), está submetida a ação de um momento fletor orientado na


direção de y, M y  3,0 kNm , de um momento fletor orientado na direção de z,

M z  2,0 kNm , e de um esforço normal de compressão de intensidade igual a

N  4,0 kN . Determine as tensões normais devido a atuação desses esforços

solicitantes nos pontos A e B indicados na Fig. (18.35). A seção transversal indicada


nessa figura é composta por quatro diferentes materiais, devendo-se destacar a presença
de materiais imersos. As propriedades dos materiais envolvidos são as seguintes: E1 
100GPa, E2  200GPa, E3  150GPa, Efibra  300GPa. As dimensões da seção
transversal estão apresentadas em centímetros.

Figura 18.35 Seção transversal a ser analisada. Dimensões em cm.

As tensões normais nesse exemplo serão determinadas utilizando o


procedimento de homogeneização da seção transversal, de forma semelhante ao
aplicado nos dois últimos exemplos. No entanto, deve-se destacar a presença de
materiais imersos, o que requer do procedimento de homogeneização a subtração de
propriedades geométricas do material da matriz e o preenchimento do espaço removido
com as propriedades do material imerso. A incorporação da não homogeneidade imersa
foi discutida no capítulo 17 e será aqui retomada no contexto de seções transversais
assimétricas.
O primeiro passo para a solução do problema envolve a determinação dos
fatores de homogeneização relativos aos materiais que serão homogeneizados.

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 512

Assumindo que a seção transversal seja homogeneizada tomando como referência o


material 2, obtém-se:
E1 100
n12   n12   n12  0,5
E2 200
E3 150
n32   n32   n32  0,75
E2 200
Efibras 300
nfibras   nfibras   nfibras  1,5
E2 200

Enfatiza-se nesse problema a presença dos materiais imersos, fibras, onde o


procedimento de homogeneização requer que as propriedades geométricas da matriz que
as envolve devam ser subtraídas para que, posteriormente, sejam acrescidas as
contribuições do material imerso. Assim, pode-se determinar a área homogeneizada da
seção transversal adicionando às áreas dos elementos da matriz o produto da área de
cada uma das fibras pela diferença entre o fator de homogeneização da fibra (nfibras) e o
fator de homogeneização da matriz onde a fibra está imersa. Portanto, a área
homogeneizada pode ser determinada pela seguinte relação:
i  n matriz j  n matriz
A  Ai ni   j
Afibras  n fibras
j
 nj 
i 1 j 1

Dessa forma, a área homogeneizada da seção transversal pode ser determinada


como:

A   27  8  3   0,5    0,5   3   0,5   1,5   5  20  15  5     0,5    0, 75 


2 2 2
     
    0,5   1,5   A  267,195 cm²
2
 

Já as coordenadas do centro de gravidade/centroide da seção transversal devem


ser determinadas por meio da avaliação dos momentos estáticos da seção transversal em
torno de eixos auxiliares passando por suas extremidades inferior e direta. Assim:
 27  8  29  0.5   3  0,52  29  1,5  0,5    5  20  15   15  5  2,5  0, 75  
 
 
  0,5  2,5  1,5  0, 75 
2

ycg  
267,195
ycg  18,123 cm

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 513

 27  8  13,5  0.5    0,52  22  1,5  0,5     0,52  14,5  1,5  0,5   


 
 
       
    
    
2
0,5 6 1,5 0,5 5 20 14,5 15 5 19,5 0,75 
 
  0,5  22  1,5  0, 75 
2

zcg  
267,195
zcg  15,162 cm

Com base na definição da localização do centro de gravidade anteriormente


efetuada, os valores dos momentos de inércia e do produto de inércia da seção
transversal homogeneizada ficam definidos como:
 27  83 2    0,54 2
Iz    27  8  29  18,123  0,5  3     0,52  29  18,123  1,5  0,5  
 12   4 
 5  203 2 15  53 2
  5  20 15  18,123     15  5  2,5  18,123  0, 75 
 12   12 
   0,5 4
2
    0,52  2,5  18,123  1,5  0, 75   I z  31931,319 cm 4
 4 
 8  27 3 2    0,54 2
Iy    27  8 13,5  15,162   0,5      0,52  22  15,162   1,5  0,5  
 12   4 
   0,54 2
    0,52 14,5  15,162   1,5  0,5  
 4 
   0,54 2  20  53 2
    0,5 2
 6  15,162   1,5  0,5     5  20 14,5  15,162   
 4   12 
 5  153 2    0,54 2
  15  5 19,5  15,162   0, 75      0,52  22  15,162   1,5  0,75  
 12   4 
I y  9355, 413 cm 4

I yz   29  18,123 13,5  15,162  27  8  0,5 


 29  18,123 22  15,162    0,52  1,5  0,5  
 29  18,12314,5  15,162    0,52  1,5  0,5  
 29  18,123 6  15,162    0,52  1,5  0,5  
15  18,12314,5  15,162  5  20    2,5  18,12319,5  15,162  5  15  0,75 

 2,5  18,123 22  15,162    0,5  1,5  0,75   I yz   5646, 277 cm


2 4

Com base nos valores das propriedades geométricas de área da seção transversal
homogeneizada pode-se determinar as inércias principais com base na Eq.(18.23).
Assim:
2
9355, 413  31931,319  9355, 413  31931,319 
   5646, 277 
2
I MAX / MIN   
2  2 
I MAX  33264,710 cm 4 I MIN  8022,022 cm 4

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 514

As inclinações dos eixos principais são obtidas por meio da Eq.(18.22).


Portanto:
2 I yz 2  5646, 277 
tan  2    tan  2   
Iy  Iz 9355, 413  31931,319
tan  2   0,500   p1  13, 29º
 p 2   p1  90º   p 2  13, 29º 90º   p 2  76,71º

Em seguida, deve-se atribuir à cada uma das direções principais o valor da


inércia principal correspondente. Assim, deve-se associar uma direção principal a uma
inércia principal. Para executar essa tarefa, deve-se aplicar a Eq.(18.21). Assim:
9355, 413  31931,319  9355, 413  31931,319 
I y'    cos  2(13, 29)
2  2 
  5646, 277  sen  2(13, 29)  I y'  I MIN  I y  8022,022 cm 4

Dessa forma, em torno do eixo rotacionado de -13,29º atua a menor das inércias
principais anteriormente calculadas. Consequentemente, em torno do eixo rotacionado
de 76,71º atuará a maior inércia principal conforme indica a Fig. (18.36).

Figura 18.36 Localização dos eixos principais de inércia. Dimensões em cm.

Os momentos fletores atuantes na seção transversal analisada estão definidos em


relação ao sistema de coordenadas cartesiano padrão yz. Assim, para que o problema
seja resolvido, esses momentos devem ser avaliados em relação ao sistema de
coordenadas principal. Portanto, pode-se aplicar a seguinte decomposição:

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 515

 M y'   cos(13, 29º ) sen(13, 29º )   M y 


 '    
 M z   sen(13, 29º ) cos(13, 29º )   M z 
 M y'   0,9732 0, 2298  3   M y'   3,379 
 '       '   kNm
 M z  0, 2298 0,9732  2   M z  1, 257 
Em seguida, as coordenadas dos pontos A e B devem ser determinadas em
relação ao sistema de coordenadas principal. Lembra-se que esses pontos estão
definidos em relação ao sistema de coordenadas cartesiano padrão yz, o qual possui
origem no centro de gravidade da seção transversal. Assim, para o ponto A obtém-se:
 y A'   0,9732 0, 2298  25  18,123 
 '    
 z A  0, 2298 0,9732  11,838  27 
 y A'   0,9732 0, 2298  6,877   y A'   10,177 
 '        '   cm
 z A  0, 2298 0,9732   15,162   z A  13,175
Já para o ponto B obtém-se:
 yB'   0,9732 0, 2298  18,123 
 '    
 z B  0, 2298 0,9732  11,838  15
 yB'   0,9732 0, 2298  18,123  yB'  16,910 
 '       '   cm
 z B  0, 2298 0,9732   3,162   z B   7, 242 
Finalmente, calculam-se as tensões normais atuantes nos pontos de interesse
utilizando a Eq.(18.24). Deve-se lembrar que os pontos A e B estão fora do domínio do
material de referência, material 2. Dessa forma, as tensões calculadas nesses pontos
devem ser corrigidas aplicando-se o fator de homogeneização correspondente ao
material ao qual pertence cada ponto, conforme já discutido no capítulo 17. Seguindo
este procedimento, para o ponto A obtém-se:
N M z' ' M y ' 
'

A    y  z A  .n12
I z' I y'
A
 A 
 4,0 1, 257  0,10177  3,379  0,13175  
A   4
    0,5 
 267,195 10 33264,710  108 8022,022  108 
 A  2657,326 kN/m²

Já para o ponto B obtém-se:


N M z' ' M y ' 
'

B    y  z B  n32
I z' I y'
B
 A 
 4,0 1, 257  0,16910  3,379  0,07242  
B   4
    0,75 
 267,195  10 33264,710  108 8022,022  108 
 B  2879,353 kN/m²

Capítulo 18 – Carregamentos Axiais Excêntricos e Flexão Geral___________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 516

19. – Tensões de Cisalhamento Devido à Força Cortante

19.1 – Introdução

Elementos de barra geral submetidos a esforços de flexão estão, normalmente,


também expostos a esforços cortantes. Isso ocorre pelo fato dos momentos fletores
serem originados, em grande parte das aplicações de engenharia de estruturas, por
forças distribuídas ou concentradas ao longo do comprimento do elemento estrutural.
Assim, no problema de barras gerais fletidas, além das tensões normais decorrentes da
flexão, estarão também presentes, normalmente, tensões de cisalhamento associadas às
forças cortantes.
O esforço cortante é o resultado da distribuição das tensões de cisalhamento ao
longo do plano da seção transversal (integração das tensões de cisalhamento no plano da
seção transversal). Estas tensões atuam no plano da seção transversal e também ao
longo do comprimento da barra, como mostra o equilíbrio de um elemento infinitesimal
apresentado na Fig. (19.1).

Figura 19.1 Distribuição das tensões de cisalhamento no plano de uma seção transversal.

Capítulo 19 – Tensões de Cisalhamento Devido à Força Cortante__________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 517

Mecanicamente, este efeito ao longo do comprimento da barra pode ser


verificado por meio de um conjunto de tábuas sobrepostas submetido a uma força
concentrada. Quando as tábuas estão somente sobrepostas (sem conexão entre elas)
estas deslizam umas sobre as outras, como mostra a ilustração a da Fig. (19.2a).

Figura 19.2 Representação da existência do cisalhamento longitudinal.

Porém, se as tábuas forem mantidas unidas por algum mecanismo, todo o


conjunto deforma-se continuamente, como ilustra o desenho b da Fig. (19.2b). Se as
tábuas forem coladas, por exemplo, estas não deslizarão pelo fato dos efeitos mecânicos
do cisalhamento presente serem resistidos pela cola. Considerando agora que a barra
fletida seja não mais composta por três tábuas, mas sim por uma única, a tensão de
cisalhamento gerada pelo esforço cortante deverá ser resistida pelas fibras do material,
por meio da coesão existente entre suas partículas.
Devido à presença das tensões de cisalhamento no plano da seção transversal,
serão também observadas distorções nessa região, as quais apresentam um padrão
consideravelmente complexo, como indicado na Fig. (19.3). Segundo esta figura,
verifica-se que a seção transversal, inicialmente plana, não permanece exatamente plana
após a deformação.

Figura 19.3 Deformações na seção transversal.

Essa constatação viola uma das hipóteses da formulação das tensões normais na
flexão, a qual previa que as seções transversais inicialmente planas e perpendiculares ao
eixo da barra permaneciam dessa maneira após a deformação. Embora essa constatação

Capítulo 19 – Tensões de Cisalhamento Devido à Força Cortante__________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 518

seja realmente verdadeira, a distorção observada é suficientemente pequena se


comparada à deformação normal, podendo ser desprezada nas aplicações práticas. Isso
ocorre, especialmente se seções transversais esbeltas (aquelas cuja altura é bem maior
que à base) são utilizadas, como as correntemente observadas nas aplicações de
engenharia.

19.2 – Formulação do Problema. Determinação da Intensidade das


Tensões de Cisalhamento Devido à Força Cortante

Para que a formulação do problema mecânico envolvendo as tensões de


cisalhamento devidas à força cortante seja desenvolvida, deve-se efetuar o equilíbrio de
forças, as quais atuam paralelamente ao eixo da barra, de um elemento infinitesimal
pertencente ao elemento estrutural. Para tal finalidade, deve-se considerar um elemento
de barra geral submetido a um conjunto de carregamentos que causam, nos pontos que
constituem a estrutura, esforços cortante e de flexão, como mostrado na Fig. (19.4a).

Figura 19.4 Elementos submetidos a esforços cortante e de flexão.

Capítulo 19 – Tensões de Cisalhamento Devido à Força Cortante__________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 519

Assume-se que o elemento de barra geral obedeça às condições de equilíbrio


estático. Dessa forma, qualquer porção material que o componha obedecerá também a
essa condição. Isolando um elemento de comprimento dx , que representa uma seção
transversal desta barra como mostram as Fig. (19.4b) e Fig. (19.4c), verifica-se que
devido à presença do momento fletor, existirão tensões normais nesse elemento cuja
variação é linear ao longo da altura da seção transversal.
O elemento infinitesimal mostrado na Fig. (19.4c) pode ser seccionado ao longo
de sua altura, como mostrado na Fig. (19.5). Verifica-se que o equilíbrio do elemento
seccionado somente é possível devido ao surgimento das tensões de cisalhamento
atuantes ao longo do eixo da barra.

Figura 19.5 Secção do elemento da seção transversal.

Fazendo o equilíbrio do elemento infinitesimal seccionado obtém-se:

F 0     d  dA    dA    t  dx  0 (19.1)
A A

Na equação anterior, assume-se que a tensão de cisalhamento seja


uniformemente distribuída ao longo da espessura da seção transversal. A Eq.(19.1) pode
ser reescrita aplicando a fórmula da flexão para o caso em que apenas um momento
fletor é não nulo. Nessa situação, esta equação torna-se:
 M z  dM z  ydA  Mz dM z

A
Iz 
A
Iz
ydA    t  dx  0  
A
Iz
ydA    t  dx (19.2)

O primeiro membro da Eq.(19.2) contém uma integral que envolve a variação do


momento fletor em torno do eixo z, o momento de inércia em torno do eixo do vetor
momento fletor e a ordenada y. Verifica-se facilmente que dM z e I z , embora possam
variar ao longo da estrutura, são constantes para uma dada seção transversal do

Capítulo 19 – Tensões de Cisalhamento Devido à Força Cortante__________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 520

elemento estrutural. Dessa forma, essas variáveis podem ser colocadas fora da integral.
Assim, a Eq.(19.2) pode ser reescrita como:
dM z
I z  t  dx A
 ydA (19.3)

A integral  ydA é conhecida como momento estático, dado em torno do eixo z.


A

Essa grandeza é uma propriedade da seção transversal e foi utilizada e definida no


capítulo 17. Designa-se esse momento estático, normalmente, pela letra Qz. Além disso,
foram mostradas no capítulo 5, as relações diferenciais que conectam o momento fletor
ao esforço cortante. Com base nas definições apresentadas naquele capítulo, mais
dM
precisamente na Eq.(5.4), verifica-se que  V . Portanto, levando-se em
dx
consideração essas duas observações, pode-se reescrever a Eq.(19.3) da seguinte
maneira:
Vy  Qz
 xy  (19.4)
Iz t
A Eq.(19.4) permite a determinação das tensões de cisalhamento,  xy ,

decorrentes da atuação da força cortante para qualquer ponto localizado na seção


transversal de um elemento fletido. Por meio dessa relação, verifica-se que a tensão de
Qz
cisalhamento será máxima quando
t for máximo, uma vez que os demais parâmetros
dessa equação não variam ao longo das dimensões da seção transversal.
Análise semelhante poderia ser efetuada se o esforço cortante estivesse orientado
na direção z. Nessa situação, a formulação que permite a determinação da tensão de
cisalhamento,  xz , poderia ser desenvolvida de forma semelhante ao apresentado

anteriormente nesse capítulo. Assim, semelhantemente ao apresentado na Eq.(19.4), a


referida tensão de cisalhamento poderia ser determinada pela seguinte equação:
Vz  Qy
 xz  (19.5)
Iy t

Conforme apresentado nas Eq.(19.4) e Eq. (19.5), a tensão de cisalhamento irá


variar segundo a variação do momento estático. Para seções transversais retangulares,
onde t é constante, o momento estático poderá ser calculado com base no ilustrado na
Fig. (19.6).

Capítulo 19 – Tensões de Cisalhamento Devido à Força Cortante__________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 521

Figura 19.6 Secção do elemento da seção transversal.

Portanto, utilizando a definição de momento estático, a porção destacada na Fig.


(19.6) possui momento estático igual a:

h   h  1  1  h2 
Qz  b    y     y    y   Qz     y2   b (19.6)
2   2  2  2  4 
Como Vy, t e Iz não variam ao longo da altura da seção transversal, constata-se
que a tensão de cisalhamento irá variar de forma quadrática ao longo da altura da seção.
Seu valor será máximo no centroide e nulo nas extremidades da seção.
Para o caso particular das seções transversais retangulares e quadradas, a tensão
1,5V
de cisalhamento será máxima no centroide, sendo igual a  max  .
A
A tensão de cisalhamento determinada pela Eq.(19.4), ou Eq.(19.5), é de grande
importância no domínio da mecânica dos sólidos/resistência dos materiais. Porém, esta
abordagem apresenta algumas limitações que precisam ser destacadas. A primeira delas
refere-se à adoção da condição de tensão de cisalhamento uniformemente distribuída ao
longo da espessura (base ou altura de acordo com a direção de atuação da força
cortante) da seção transversal. Considerando teorias mais avançadas (como a teoria da
elasticidade, por exemplo) que estão além do escopo desta disciplina, pode-se mostrar
que essa condição não é perfeitamente representativa para o problema. Quando a razão
b é baixa, o erro fornecido pela Eq.(19.4), ou Eq.(19.5), é pequeno. Por exemplo,
h

Capítulo 19 – Tensões de Cisalhamento Devido à Força Cortante__________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 522

quando b  0,5 , o erro fornecido é de apenas 3%. No entanto, quando essa razão
h
cresce para 2, o erro aumenta para 40%. Apesar disso, deve-se destacar que nas
aplicações reais de engenharia de estruturas, as seções transversais são projetadas

considerando baixa razão b , e consequentemente elevada inércia. Assim, essa equação


h
pode ser aplicada desde que acompanhada de coeficientes de segurança adequados, uma
vez que fornece adequada representatividade ao problema além de ser de fácil
aplicação.
Outro ponto de destaque deve ser dado às seções transversais formadas por
diferentes elementos geométricos. Em especial, nos pontos de conexão entre esses,
como observado na junção entre mesa e alma de perfis do tipo I e T, onde
descontinuidades geométricas são observadas. Nessa região ocorre uma elevada
concentração de tensão de cisalhamento em decorrência da mudança brusca da
dimensão da base. Assim, nessa região, a tensão de cisalhamento não é uniforme e
coeficientes de segurança devem ser utilizados para garantir a segurança das estruturas,
uma vez que a formulação apresentada não representa adequadamente o fenômeno
físico desejado.

Figura 19.7 Tensões de cisalhamento em seções de contorno irregular.

Além disso, seções transversais com contorno irregular, como mostrado na Fig.
(19.7) levam também a distribuições não uniformes de tensão de cisalhamento. Apesar
de todas essas limitações, para aplicações práticas devem ser empregados coeficientes
de segurança, os quais são utilizados para garantir um nível de segurança adequado à

Capítulo 19 – Tensões de Cisalhamento Devido à Força Cortante__________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 523

estrutura. Assim, imperfeições na modelagem do problema, nas resistências dos


materiais além das imprecisões dos modelos mecânicos são levadas em consideração e
“cobertas” por tais coeficientes.

19.2.1 – Exemplo 1

Para a seção transversal mostrada na Fig. (19.8), determine as tensões de


cisalhamento atuantes nos pontos A, B e C. Em seguida, mostre a variação das tensões
de cisalhamento ao longo da altura da seção.

Figura 19.8 Seção transversal considerada. Dimensões em cm.

Para o problema considerado verifica-se que V y  5, 0 kN e t  15cm . O

momento de inércia, em torno do eixo perpendicular ao sentido de atuação de V y , é

facilmente calculado como:


15  503
Iz   I z  156250cm4  I z  1,5625 103 m4
12
Portanto, as tensões de cisalhamento podem ser determinadas utilizando a
Eq.(19.4). Para o ponto B, a área a ser considerada para a determinação do momento
estático é a área hachurada mostrada na Fig. (19.9).
Então, a tensão de cisalhamento atuante nesse ponto é dada por:

Capítulo 19 – Tensões de Cisalhamento Devido à Força Cortante__________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 524

  0,125  
5, 0   0,15  0,125   0, 25  
  2  
 xyB    xyB  75, 0 kN m 2
0,15 1,5625 10 3

Figura 19.9 Área considerada para a determinação de Q no ponto B.

Já para o ponto C, a área a ser utilizada para a determinação do momento


estático é a área hachurada mostrada na Fig. (19.10). Portanto, utilizando a Eq.(19.4) a
tensão de cisalhamento é calculada como:
  0, 25  
5  0, 25  0,15   
  2 
 xy 
C
  xyC  100, 0 kN m 2
0,15 1,5625 103
A tensão de cisalhamento atuante no ponto A é nula, uma vez que nas
extremidades da seção transversal o momento estático é nulo. Assim, no ponto A:
Qz  0   xyA  0

Figura 19.10 Área considerada para a determinação de Q no ponto C.

Capítulo 19 – Tensões de Cisalhamento Devido à Força Cortante__________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 525

Portanto, a variação das tensões de cisalhamento ao longo da altura da seção


transversal é a mostrada na Fig. (19.11). Como mostrado anteriormente neste capítulo,
esta variação é quadrática.

Figura 19.11 Variação das tensões de cisalhamento ao longo da altura (y) da seção.

A tensão de cisalhamento média pode ser calculada dividindo-se o esforço


cortante atuante pela área da seção. Assim:
5, 0
 med    med  66, 667 kN m2
0,15  0,50
Como mencionado anteriormente nesse capítulo, para seções retangulares e
quadradas, a tensão de cisalhamento máxima atuante na seção transversal é igual a uma
vez e meia a tensão cisalhante média. Esse resultado foi verificado para o exemplo
analisado.
De forma semelhante, as tensões de cisalhamento poderiam ser também
determinadas se o esforço cortante estivesse orientado na direção de z. Assumindo que a
seção transversal seja solicitada por Vz  5, 0kN , a tensão de cisalhamento  xz máxima é
obtida utilizando-se a Eq.(19.5). Dessa forma:
50 153
Iy   I y  14062,5 cm4  I y  1, 40625 104 m4
12
0, 075
QyMAX  0,50  0, 075   QyMAX  1, 40625 103 m 4
2

Capítulo 19 – Tensões de Cisalhamento Devido à Força Cortante__________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 526

5 1, 40625 103


 xzMAX    xzMAX  100, 0 kN m2
1, 40625 104  0,5

A variação das tensões de cisalhamento  xz ao longo da base da seção


transversal pode ser observada na Fig. (19.12).

Figura 19.12 Variação das tensões de cisalhamento ao longo da base (z) da seção.

19.2.2 – Exemplo 2

Determine as tensões de cisalhamento atuantes nos pontos A, B, C e D ilustrados


na Fig. (19.13) e mostre a variação dessas tensões de cisalhamento ao longo da altura da
seção transversal. O esforço cortante atuante é igual a V y  80 kN . As dimensões

apresentadas na Fig. (19.13) são dadas em mm.


Para que este problema seja resolvido, deve-se, inicialmente, determinar as
coordenadas do centroide da seção transversal. Como a seção considerada é duplamente
simétrica, verifica-se que o centroide encontra-se posicionado na interseção entre seus
eixos de simetria. Assim, o momento de inércia da seção transversal em torno do eixo
perpendicular ao sentido de atuação de V é dado por:

Capítulo 19 – Tensões de Cisalhamento Devido à Força Cortante__________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 527

 0,300   20 103 3  15 10 3   200 103 


3

 0,300  20 10  110 10    2 


2
Iz    3  3

 12  12
 
I z  1,556 104 m 4

Figura 19.13 Seção transversal considerada. Dimensões em mm.

Para o ponto A, como este encontra-se posicionado em um extremo da seção


transversal, verifica-se que o momento estático desse ponto é nulo. Assim,  xyA  0 , pois

QzA  0 .

Já para o ponto B, a tensão de cisalhamento atuante é determinada por meio da


Eq.(19.4). Assim:

80  0,300  20 103  110 103  


  B
  xyB  1131,105 kN m 2
0,300 1,556 104
xy

No ponto C, as tensões de cisalhamento podem também ser determinadas por


meio da Eq.(19.4). Porém, como este ponto pertence à alma da seção transversal, a
dimensão de t não é mais 300 mm, mas 15 mm. Dessa forma, a tensão de cisalhamento
nesse ponto é dada por:

80  0,300  20 103  110 103  


  C
3 4
  xyC  22622,108 kN m 2
15 10 1,556 10
xy

Capítulo 19 – Tensões de Cisalhamento Devido à Força Cortante__________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 528

Finalmente, no ponto D observa-se o máximo valor de Qz. Isso ocorre pelo fato
do ponto D estar posicionado no centroide da seção transversal. A tensão de
cisalhamento nesse ponto é dada pela Eq.(19.4). Assim:
  100 103  
80  0,300  20 103  110 103   15 103 100 103   
  2 
 xyD  3 4
15 10 1,556 10
 xyD  25192,802 kN m 2
Dessa forma, devido à simetria da seção transversal em relação ao centroide, a
variação das tensões de cisalhamento ao longo da altura da seção transversal é a
mostrada na Fig. (19.14).

Figura 19.14 Variação das tensões de cisalhamento ao longo da altura (y) da seção.

A variação da intensidade da tensão de cisalhamento  xz poderia ser determinada


nessa seção transversal se um esforço cortante não nulo atuasse na direção de z.
Assumindo que o esforço cortante atuante seja de Vz  80 kN , a variação das tensões de

cisalhamento  xz seria determinada se essas tensões forem calculadas nos pontos A, B e


C indicados na Fig. (19.15). Assim, pode-se empregar a Eq.(19.5) para a determinação
de  xz . Dessa forma:

0, 200  15 103 


3
 20 103   0,300 3 
Iy   2  I y  9, 0056 105 m4
 12  12

Capítulo 19 – Tensões de Cisalhamento Devido à Força Cortante__________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 529

Figura 19.15 Pontos da seção transversal considerada para cálculo de  xz .

Para o ponto A indicado na Fig. (19.15), como este encontra-se posicionado no


extremo da seção, o momento estático desse ponto é nulo. Assim,  xzA  0 , pois Qy  0 .
A

Já para o ponto B, assumindo que este pertença a mesa da seção transversal, a


tensão de cisalhamento atuante é determinada por meio da Eq.(19.5). Dessa forma:
  0,1425 
80   20 103  0,1425    0, 0075    2
  2 
 xzB    xzB  9968,80 kN m 2
9, 0056 10   2  20 10 
5 3

Assumindo agora que o ponto B pertença a alma da seção transversal, pode-se


determinar  xz nesse ponto da seguinte forma:

  0,1425 
80  20 103  0,1425    0,0075   2
  2 
 xzB '  5
  xzB ' 1661, 47 kN m2
9,0056 10  0, 240
Finalmente, para o ponto C indicado na Fig. (19.15),  xz assume a seguinte
intensidade:

Capítulo 19 – Tensões de Cisalhamento Devido à Força Cortante__________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 530

  0,1425   0, 0075  
80    20 103  0,1425    0, 0075    2  0, 240  0, 0075   
   2   2 
 xz 
C

9, 0056 105  0, 240
 xzC 1686, 45 kN m2
Dessa forma, devido à simetria da seção transversal em relação ao centroide, a
variação das tensões de cisalhamento ao longo da base da seção transversal é a mostrada
na Fig. (19.16).

Figura 19.16 Variação das tensões de cisalhamento ao longo da base (z) da seção.

19.2.3 – Exemplo 3

Determine as tensões de cisalhamento máximas que atuam nos materiais 1 e 2 da


seção transversal ilustrada na Fig. (19.17). Sabe-se que esta seção transversal está
solicitada por um esforço cortante Vy de intensidade igual a 100 kN. Além disso, os
módulos de elasticidade longitudinal dos materiais 1 e 2 são iguais a E1  200 GPa e

E2  120 GPa , respectivamente.

Capítulo 19 – Tensões de Cisalhamento Devido à Força Cortante__________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 531

Figura 19.17 Seção transversal a ser analisada. Dimensões em cm.

Para a resolução desse exemplo deve-se efetuar a homogeneização da seção


transversal de forma semelhante ao apresentado e aplicado nos capítulos 17 e 18.
Tomando o material 1 como referência tem-se:
E2 120
n  n  n  0, 60
E1 200
Esse problema pode ser inicialmente resolvido utilizando a abordagem clássica
sugerida pelos livros de resistência dos materiais e mecânica dos sólidos, na qual
obtém-se dimensões homogeneizadas para a base da seção transversal. Assim, a
dimensão da base homogeneizada assume o seguinte valor:
bhomog  bn  bhomog  15  0, 60  bhomog  9 cm

Portanto, a seção transversal homogeneizada assume a configuração apresentada


na Fig. (19.18). Para essa configuração, obtém-se a coordenada y do centro de gravidade
com base na determinação do momento estático da seção transversal em relação a um
eixo auxiliar localizado em sua extremidade inferior. Dessa forma:
15 10  5  9  40  30
ycg   ycg  22, 647 cm
15 10  40  9
O valor do momento de inércia da seção transversal homogeneizada em torno do
eixo z pode ser assim determinado:

Capítulo 19 – Tensões de Cisalhamento Devido à Força Cortante__________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 532

15  10  9   40 
3 3

 15 10   22, 647  5    9  40   22, 647  30  


2 2
Iz 
12 12
I z  1,1543 10 cm
5 4

Figura 19.18 Seção transversal homogeneizada. Dimensões em cm.

A tensão de cisalhamento máxima no material 2 ocorre no centro de gravidade


da seção transversal homogeneizada. Assim, com base na Eq.(19.4) obtém-se:
 27,353 
100  9  27,353 
 2 
 xy 2    xy 2  0,3241 kN / cm2   xy 2  3241 kPa
1,1543 10  9
5

A tensão de cisalhamento anteriormente determinada refere-se ao material


homogeneizado. Para a determinação da tensão de cisalhamento no material 2 real,
deve-se utilizar o fato de homogeneização n. Assim:
 xy 2 MAX  n 2   xy 2 MAX  0, 60  3241   xy 2 MAX  1944, 6 kPa

A tensão de cisalhamento no material 1 é dada por:


100  15 10   22, 647  5 
 xy1    xy1  0,1529 kN / cm2   xy1  1529 kPa
1,1543 10 15
5

Como o material de referência adotado para a homogeneização da seção


transversal foi o material 1, verifica-se que a tensão de cisalhamento determinada
anteriormente é a máxima tensão de cisalhamento no material 1, ou seja:

Capítulo 19 – Tensões de Cisalhamento Devido à Força Cortante__________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 533

 xy1 MAX   xy1   xy1 MAX  1529 kPa

De forma semelhante, o problema poderia também ser resolvido aplicando-se o


fator de homogeneização diretamente sobre as propriedades geométricas da seção
transversal e sobre as tensões homogeneizadas, conforme alternativamente sugerido nos
capítulos 17 e 18. Seguindo esta metodologia tem-se:
15 10  5  0, 6  15  40   30
ycg   ycg  22, 647 cm
15 10  0, 6  15  40 

Iz 
15  10 
3

 15 10  22, 647  5   0, 6 


2 15  403 
 0, 6  15  40  22, 647  30 
2

12 12
I z  1,1543 10 cm5 4

Verifica-se que a tensão de cisalhamento máxima no material 2 ocorre no centro


de gravidade da seção transversal homogeneizada. Portanto:
 27,353 
100   0, 6  15  27, 353 
 2 
 xy 2  0, 6   xy 2  0,19446 kN / cm 2 
1,1543 10   0, 6 15 
5

 xy 2  1944, 6 kPa

Já a tensão de cisalhamento no material 1 ocorre na interface entre os materiais 1


e 2. Assim:
100  15 10   22, 647  5 
 xy1    xy1  0,1529 kN / cm2   xy1  1529 kPa
1,1543 10 15 5

Portanto, independentemente da abordagem de homogeneização utilizada para a


determinação das propriedades geométricas da seção transversal, constata-se
continuidade do campo de deformações na interface entre os materiais. Tal condição
garante a continuidade material, a qual é necessária nas análises mecânicas consideradas
na disciplina.

19.3 – Tensões de Aderência entre Materiais de Diferentes Propriedades


Mecânicas. Caso Não Homogêneo Imerso

Estruturas compostas por materiais de diferentes propriedades mecânicas, onde


um desses materiais encontra-se imerso em outro, são largamente utilizadas no
cotidiano da engenharia de estruturas. Em engenharia civil, por exemplo, as estruturas
em concreto armado são largamente utilizadas enquanto que na indústria mecânica, os

Capítulo 19 – Tensões de Cisalhamento Devido à Força Cortante__________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 534

materiais compósitos vêm ganhando cada vez mais espaço. As tensões de cisalhamento
decorrentes da atuação do esforço cortante em estruturas formadas por materiais de
diferentes propriedades mecânicas, estruturas não homogêneas, foram analisadas
anteriormente nesse capítulo. Porém, um parâmetro de grande importância que deve ser
considerado para a análise da integridade mecânica de tais estruturas trata da tensão de
aderência no caso não homogêneo imerso. Para a determinação da expressão que
permite a avaliação de tal tensão, deve-se considerar a viga formada por material não
homogêneo imerso apresentada na Fig. (19.19).

Figura 19.19 Viga formada por materiais de diferentes propriedades mecânicas.

Isolando o elemento destacado apresentado na figura anterior, obtém-se a


representação mostrada na Fig. (19.20), na qual atuam as tensões normais decorrentes
da flexão. Deve-se enfatizar que a viga apresentada na Fig. (19.19) é assumida na
condição de equilíbrio. Portanto, toda porção material que a compõe está também em
equilíbrio. Isolando o material imerso contido na parte superior do elemento ilustrado na
Fig. (19.20), obtém-se a representação mostrada na Fig. (19.21), onde a presença da
tensão de aderência  A deve ser destacada.

Figura 19.20 Análise do elemento infinitesimal destacado.

Capítulo 19 – Tensões de Cisalhamento Devido à Força Cortante__________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 535

Figura 19.21 Análise das tensões no material imerso.

Assume-se que a tensão de aderência  A atuante ao longo do comprimento do


material imerso seja constante. Como as tensões envolvidas atuam em materiais com
diferentes propriedades mecânicas, deve-se aplicar o processo de homogeneização, por
meio do fator de homogeneização, de forma a garantir a compatibilidade de
deformações dos materiais envolvidos. Adotando o material da matriz que envolve o
material imerso como material de referência, pode-se efetuar o equilíbrio do elemento
imerso ilustrado na Fig. (19.21) da seguinte forma:

F x  0  n   dA   A dAF  n    d   dA  0 (19.7)
A AF A

sendo AF a área da superfície do material imerso e n o fator de homogeneização.


Manipulando-se algebricamente a expressão anterior e utilizando a fórmula da flexão no
caso de atuação exclusiva de um momento fletor Mz obtém-se:
dM Z dM Z

AF
A dAF  n  d  dA 
A

AF
A dAF  n 
A
IZ
ydA  
AF
A dAF  n
IZ  ydA (19.8)
A

em que  ydA
A
representa o momento estático correspondente ao material imerso sendo

denominado QZf . Assumindo que  A seja constante ao longo do comprimento do


material imerso, pode-se reescrever a equação anterior da seguinte maneira:
dM Z f dM Z f dM Z QZf 1
 A AF  n QZ   A PF dx  n QZ  A  n (19.9)
IZ IZ dx I Z PF

sendo PF o perímetro da seção transversal do material imerso. O termo dM z dx , de


acordo com as relações diferenciais apresentadas no capítulo 5, é igual ao esforço
cortante VY . Assim, pode-se reescrever a Eq.(19.9) no seguinte formato:

VY QZf
A  n (19.10)
PF I Z

Capítulo 19 – Tensões de Cisalhamento Devido à Força Cortante__________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 536

Deve-se ressaltar que a equação anterior é válida para qualquer formato da seção
transversal do elemento imerso. Basta que sua área superficial seja corretamente
avaliada. Destaca-se que devido às condições de equilíbrio das tensões de cisalhamento,
a tensão de aderência que atua ao longo do comprimento do material imerso atua
também no plano da seção transversal desse material.

19.3.1 – Exemplo 4

Determine a tensão de cisalhamento máxima no material 1 e as tensões de


aderência em cada um dos materiais imersos contidos na seção transversal não
homogênea ilustrada na Fig. (19.22). Os diâmetros das barras constituídas pelos
materiais 2 e 3 são respectivamente d 2  1, 25cm e d3  0,8cm . As propriedades

mecânicas dos materiais envolvidos são as seguintes: E1  25GPa , E2  200GPa ,

E3  220GPa e o esforço cortante atual igual a VY  8kN .


Primeiramente, devem ser calculados os fatores de homogeneização. Tomando o
material 1 como material de referência obtém-se:
E2 200
n12   n12   n12  8
E1 25

E3 220
n13   n13   n13  8,8
E1 25

Figura 19.22 Seção transversal não homogênea considerada. Dimensões em cm.

Capítulo 19 – Tensões de Cisalhamento Devido à Força Cortante__________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 537

Com os fatores de homogeneização calculados, determina-se a coordenada y cg

do centro de gravidade da seção transversal. Para tanto, considera-se a somatória dos


momentos estáticos dos subcomponentes da seção transversal em relação a um eixo
auxiliar posicionado em sua extremidade inferior. Assim:

10  50   25   3  1, 25 2    4  8  1  2   0,8 2    46  8,8  1


2 2

ycg     
10  50  3  1, 25 2    8  1  2   0,8 2    8,8  1
2 2

   
ycg  24, 294cm

Em seguida, o valor do momento de inércia da seção transversal em torno do


eixo z pode ser assim determinado:

10  50 
3

 10  50   25  24, 294  
2
Iz 
12
 1, 25 2 4 
  1, 25 2   4  24, 294    8  1 
2 2
3 
 4 

  0,8 2 4 
   0,8 2   46  24, 294    8,8  1  I z  1,1873 105 cm 4
2 2
2 
 4 

A tensão de cisalhamento máxima no material 1 ocorre no centro de gravidade


da seção transversal. Isso ocorre pelo fato de não existirem mudanças no valor da base
da seção transversal, ou qualquer outro tipo de descontinuidade geométrica semelhante.
Além disso, é em relação a este eixo que o momento estático apresenta seu valor
máximo. Assim:
 24, 294 
  3  1, 25 2   24, 294  4    8  1 
2
Qz CG  10  24, 294 
 2 
Qz  3473,97cm3
CG

8  3473,97
 máx    máx  2,3408 102 kN cm 2 
1,1873 10 10
5

 máx  234, 08 kN m 2
A tensão de aderência em cada uma das barras imersas compostas pelos
materiais 2 e 3 pode então ser calculada utilizando a Eq. (19.10).

Qz 2   1, 25 2   24, 294  4   Qz 2  24, 904cm 3


2

Capítulo 19 – Tensões de Cisalhamento Devido à Força Cortante__________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 538

 8 24,904 
 A2  8  5
  A2  3, 4185 103 kN cm2 
 2 1, 25 2  1,1873 10 
 A2  34,185 kN m2

Qz 3    0,8 2   46  24, 294   Qz 3  10, 910cm 3


2

 8 10,910 
 A3  8,8  5
  A3  2,574 103 kN cm2 
 2  0,8 2  1,1873.10 
 A3  25, 74 kN m2

Capítulo 19 – Tensões de Cisalhamento Devido à Força Cortante__________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 539

20. – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por


Elementos Esbeltos

20.1 – Fluxo de Cisalhamento Perpendicular ao Plano da Seção


Transversal

Em diversas aplicações de engenharia, as seções transversais de elementos


estruturais submetidos a esforços cortante e de flexão são formadas por componentes
esbeltos, os quais são fixados por meio de parafusos, cola ou solda. Essa solução é
comumente empregada em estruturas de aço e madeira, onde chapas finas são
soldadas/coladas, pregadas/parafusadas, objetivando construir uma seção transversal
com maior inércia, de forma a melhor resistir aos esforços de flexão. Assim, a seção
transversal é formada por componentes de pequena espessura se comparado ao seu
próprio comprimento.
Durante o capítulo 19 foi estudada a determinação da variação das tensões de
cisalhamento em elementos de barra geral submetidos a esforços cortante e de flexão.
Naquela oportunidade, foi possível obter uma expressão para a avaliação do valor da
tensão de cisalhamento bem como de sua variação ao longo da altura da seção
transversal. Naquela oportunidade foi mostrado que a seguinte relação é válida:
V j Qk
 ij  (20.1)
I k tk
onde os índices i,j e k representam os eixos x,y e z. V indica o valor da força cortante na
seção transversal em análise, Q representa o momento estático do ponto analisado, I é o
momento de inércia da seção em relação ao eixo k e t é a espessura da seção transversal,
na direção k, do ponto analisado.
Neste capítulo, uma variante do problema citado anteriormente e estudado no
capítulo 19, será apresentada. Considerando a existência de tensões de cisalhamento

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 540

devido a atuação da força cortante, será apresentada a grandeza “fluxo de


cisalhamento”, a qual mensurará a variação do valor das tensões de cisalhamento
atuantes ao longo do comprimento do elemento estrutural. Com base nessa grandeza
pode-se dimensionar o espaçamento dos parafusos/pregos bem como o valor da
resistência da solda/cola para elementos estruturais cujas seções transversais sejam
compostas por perfis esbeltos, ou seja, por elementos de pequena espessura.
Para a determinação da expressão do fluxo de cisalhamento deve-se considerar a
viga apresentada na Fig. (20.1), a qual está solicitada por ações perpendiculares a seu
eixo gerando esforços cortante e de flexão. Destaca-se que essa viga está em equilíbrio
sob a ação de carregamentos externos.

Figura 20.1 Viga solicitada à flexão na condição de equilíbrio.

Isolando um elemento infinitesimal de comprimento dx desta viga, observa-se


que surgirão esforços solicitantes para que a condição de equilíbrio seja mantida. Dessa
forma, a configuração deste elemento infinitesimal é a apresentada na Fig. (20.2).

Figura 20.2 Elemento infinitesimal da viga.

Seccionando o elemento infinitesimal apresentado na Fig. (20.2) ao longo de sua


altura e tomando apenas sua parte superior, obtém-se o elemento mostrado na Fig.
(20.3). Sabe-se que os momentos fletores geram tensões normais no plano da seção
transversal. Se essas tensões forem integradas ao longo da porção considerada da seção
transversal, estas transformam-se em forças equivalentes de intensidade F, conforme
ilustrado na Fig. (20.3). Sabendo que o elemento apresentado nesta figura encontra-se

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 541

na condição de equilíbrio, podem ser aplicadas as equações de equilíbrio de corpo


rígido.

Figura 20.3 Elemento infinitesimal seccionado ao longo de sua altura.

Assim, impondo o equilíbrio de forças ao elemento mostrado na Fig. (20.3)


obtém-se:
____
dF
F dx  F  dF  0 (20.2)
dx

Sabendo que   M y (desprezando o sinal uma vez que esse indica o sentido
I

da tensão) e que F    dA pode-se reescrever a Eq.(20.2) como:


A

____
M dF M dM
A I ydA  dx dx  A I ydA  A I ydA  0 
(20.3)
____
dF dM
dx   ydA
dx A
I

O momento fletor e o momento de inércia da seção transversal dependem apenas


da seção transversal analisada, sendo, portanto, constantes com relação ao termo dA .

Além disso, sabendo que a integral  ydA é igual ao momento estático da seção, pode-
A

se reescrever a Eq.(20.3) da seguinte forma:


____ ____
dF dM dF dM Q
dx
dx 
I  ydA
A

dx

dx I
(20.4)

O termo apresentado no primeiro membro da Eq.(20.4) é denominado fluxo de


cisalhamento, q, uma vez que representa uma medida da intensidade da tensão de

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 542

cisalhamento atuante ao longo do comprimento da barra. Lembrando, das relações


dM
diferencias, que V  pode-se escrever a expressão do fluxo de cisalhamento como:
dx
V j Qk
qi  (20.5)
Ik
A aplicação da Eq.(20.5) segue os mesmos procedimentos já estudados durante o
capítulo 19. A seguir, esta grandeza será aplicada à análise da conexão entre elementos
esbeltos.

20.1.1 – Exemplo 1

Determine a quantidade de parafusos e o espaçamento entre eles para que uma


viga de comprimento igual a 3,0 metros, cuja seção transversal está mostrada na Fig.
(20.4), resista a um esforço cortante Vy  15 kN . Os parafusos a serem utilizados

possuem diâmetro igual a 3,175 mm e tensão de escoamento igual a  E  450 MPa .

Figura 20.4 Seção transversal T.

Os parafusos serão inseridos na ligação entre a mesa e a alma do perfil mostrado


na Fig. (20.4). Portanto, o fluxo de cisalhamento deve ser calculado nesta posição. Para
que este fluxo seja calculado, devem ser determinadas algumas propriedades
geométricas da seção transversal. Assim, utilizando a somatória dos momentos estáticos

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 543

em relação a um eixo auxiliar passando pela extremidade inferior da seção transversal,


determina-se a seguinte localização para o centro de gravidade.
___
60 10  85  10  80  40 ___
y   y  59, 286 mm
60 10  10  80
Ao longo do eixo z, o centro de gravidade está posicionado na simetria vertical
da seção transversal. Com base no resultado anterior, pode-se determinar o valor do
momento de inércia da seção transversal atuante em torno do eixo z, o qual é igual a:
60 103 10  803
 60 10   85  59, 286    10  80   40  59, 286  
2 2
Iz 
12 12
I z  1,125952 10 mm
6 4

Já o momento estático na junção mesa/alma será igual a:


Q z  10  60   85  59, 286   Q z  15428, 4 mm 3

Assim, o fluxo de cisalhamento, baseado na Eq.(20.5), é igual a:


V y Qz 15000 15428, 4 N
qx   qx   qx  205,5380
Iz 1,125952 10 6
mm
A partir do valor da tensão de escoamento do parafuso, sabe-se que cada
parafuso é capaz de resistir a uma força igual a:
2
 0, 003175 
Fparafuso   E Aparafuso  Fparafuso  450 10 6     
 2 
Fparafuso  3562, 6819 N

Para que o equilíbrio seja observado, o fluxo de cisalhamento associado a força


cortante deve ser menor ou igual ao fluxo de cisalhamento mobilizado pelos parafusos.
Dessa forma, pode-se determinar o espaçamento entre os parafusos da seguinte maneira:
Fparafuso 3562, 6819
qresistente  qatuante   qx  esp  
esp 205,5380
esp  17,33 mm
Consequentemente, dividindo-se o comprimento da viga pelo espaçamento dos
parafusos obtém-se a quantidade necessária de parafusos. Assim:
3000
n  n  173, 07  n  174 parafusos
17, 33

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 544

20.1.2 – Exemplo 2

A seção transversal mostrada na Fig.(20.5) é composta por três elementos


esbeltos de três madeiras. Determine o valor do esforço cortante máximo V y que esta

seção poderá suportar sabendo que sua tensão de ruptura ao cisalhamento é igual a 400
psi. Além disso, determine o espaçamento máximo que pregos, que resistem a uma
força de 400lb, devem ter para que a união entre as mesas e alma seja seguramente
efetuada.
O valor do esforço cortante máximo que a seção transversal poderá suportar será
determinado com base no valor da tensão de ruptura do material. Assim, o valor da
máxima tensão de cisalhamento atuante deverá ser igual à tensão de ruptura do material.
Para que esse cálculo seja efetuado, devem ser obtidos, primeiramente, os valores de
algumas propriedades geométricas da seção transversal.

Figura 20.5 Seção transversal I.

A coordenada y do centro de gravidade, obtida com base no somatório dos


momentos estáticos em relação a um eixo auxiliar passando pela extremidade inferior da
seção transversal, é igual a:
___
10 1, 5 14, 25  1 12  7, 5  6 1, 5  0, 75 ___
y   y  8, 625 in
10 1, 5  1 12  6 1, 5

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 545

Com base na posição do centro de gravidade da seção transversal, pode-se


determinar o valor do momento de inércia da seção transversal em torno do eixo z.
Assim:
10 1, 53 1 123 6 1, 53
 10 1, 5  14, 25  8, 625    1 12   7, 5  8, 625  
2 2
Iz  
12 12 12
6 1, 5   0, 75  8, 625 
2
 I z  1196, 4375 in 4
O momento estático será máximo quando o ponto considerado estiver
posicionado sobre o centro de gravidade da seção transversal. Dessa forma:

Q zMAX  10 1, 5  14, 25  8, 625   1  12  1, 5  8, 625  


12  1,5  8, 625  
2
Q zMAX  96, 2578 in 3

Assim, o esforço cortante máximo poderá ser determinado com base na tensão
de cisalhamento máxima, a qual é calculada utilizando-se a Eq.(20.1). Portanto:
V y Qz V y  96, 2578
 xy   400   V y  4971,804 lb
I ztz 1196, 4375 1
Com base no valor do esforço cortante determinado anteriormente, pode-se
calcular os valores dos fluxos de cisalhamento nas conexões entre a alma e as mesas
utilizando a Eq.(20.8). Para a mesa superior, o fluxo de cisalhamento é dado por:
V y Qz 4971,804  10 1, 5  14, 25  8, 625  
q xSUP   q xSUP  
Iz 1196, 4375
lb
q xSUP  350, 620
in
Já para a mesa inferior o fluxo é dado por:
V y Qz 4971,804   6 1, 5   8, 625  0, 75  
q xINF   q xINF  
Iz 1196, 4375
lb
q xINF  294,522
in
Considerando a mesa superior, o espaçamento dos pregos deve ser igual a:
Fprego 400
qresistente  qatuante   q SUP  esp   esp  1,14 in
esp x
350,620
Já na mesa inferior, o espaçamento dos pregos é obtido de forma semelhante,
sendo igual a:

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 546

Fprego 400
qresistente  qatuante   q xINF  esp   esp  1,358 in
esp 294,522

20.1.3 – Exemplo 3

A seção transversal mostrada na Fig. (20.6) é composta por quatro polímeros


esbeltos colados nas quatro regiões indicadas nesta figura. Sabendo que esta seção
transversal deve resistir a um esforço cortante Vy  2000 lb , determine a tensão

cisalhante que deverá ser resistida pela cola nas superfícies a serem coladas.

Figura 20.6 Seção transversal caixão. Dimensões em in.

Para a resolução deste problema, deve-se determinar o valor do fluxo de


cisalhamento em cada uma das superfícies a serem coladas. Assim:
6  5, 253 5, 5  4, 753
Iz    I z  23, 2311 in 4
12 12
Dessa forma, o fluxo de cisalhamento atuante na superfície A, com base na
Eq.(20.5), é o seguinte:
  4, 75 0, 25  
2000  5, 5  0, 25    
V y Qz   2 2   lb
qx 
A
 qx 
A
 q xA  295, 9395
Iz 23, 2311 in

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 547

Já o fluxo de cisalhamento atuante na superfície B é dado por:


  4, 75 0, 25  
2000   6, 0  0, 25    
V y Qz   2 2   lb
qx 
B
 qx 
B
 q xB  322,8430
Iz 23, 2311 in
A tensão de cisalhamento que deverá ser resistida pela cola é obtida dividindo-se
o valor do fluxo de cisalhamento pela espessura da região a ser colada. Como em cada
região a ser colada o fluxo é resistido por dois pontos de cola, deve-se dividir o valor do
fluxo de cisalhamento por dois. Assim:
q xA
2 295, 9395
A   A    A  591,879 psi
0, 25 2  0, 25

q xB
2 322,8430
B   B    B  645, 687 psi
0, 25 2  0, 25

20.1.4 – Exemplo 4

A viga mostrada na Fig. (20.7) é construída com duas tábuas presas uma à outra
na parte superior e na parte inferior por duas fileiras de pregos espaçados de 150 mm.
Se um esforço cortante de intensidade igual a 3 kN está aplicado nesta viga, determine a
força cortante à qual cada prego resistirá.

Figura 20.7 Viga a ser analisada.

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 548

Para que esse problema seja resolvido deve-se igualar o fluxo de cisalhamento
devido à força ao fluxo de cisalhamento decorrente da presença dos pregos. Como
existem dois pregos por linha de ligação, cada prego suportará a metade do fluxo devido
a esforço cortante nestes pontos. Assim:
2 Fprego
qresistente  qatuante   qx 
esp
3  150  50  25 150
Fprego    Fprego  3,375 kN
150 1003 2
12

20.1.5 – Exemplo 5

A viga mostrada na Fig. (20.8) é construída com cinco tábuas parafusadas.


Determine a força cortante desenvolvida em cada parafuso se o espaçamento entre eles
for igual a 250 mm e a força cortante aplicada for de intensidade igual a 35 kN.

Figura 20.8 Viga analisada.

Para que esse problema seja resolvido, devem ser determinadas algumas
propriedades geométricas da seção transversal da viga considerada. Efetuando a

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 549

somatória dos momentos estáticos em relação a extremidade inferior da seção


transversal, obtém-se a coordenada y do centro de gravidade como:
 350 
___  25  350    3  25  250   350  25   2 ___
y   2 
 y  223,387 mm
 25  350   3   25  250   2
Com base na posição do centro de gravidade da seção transversal, pode-se
determinar o valor do momento de inércia da seção transversal em torno do eixo z.
Assim:
 25  3503  350  
2

Iz  3   25  350    223, 387   


 12  2  
 25  2503 2
2  25  250   350  25  223,387    I z  5, 23597 108 mm 4
 12 
Os momentos estáticos nos pontos de encontro entre as tábuas são dados por:
 350 
Q1z  25  350    223, 387   Qz1  4, 23386 105 mm 3
 2 
 350 
Qz2  25  350    223,387   25  250   350  25  223, 387  
 2 
Qz  2,11695 10 mm
2 5 3

Como a seção transversal da viga é composta por cinco tábuas, surgirão quatro
pontos de fluxo de cisalhamento. Dessa forma, a força cortante nos parafusos pode ser
assim determinada:
Fparafuso
qresistente  qatuante  4  qx 
esp
 35  2,11695 105   35  4, 23386 105   250
Fparafuso     2     2 
 5, 23597 10   5, 23597 10   4
8 8

Fparafuso  5,307 kN

20.2 – Fluxo de Cisalhamento Paralelo ao Plano da Seção Transversal

Até o presente momento, foi estudada a determinação da variação do fluxo de


cisalhamento atuante ao longo do comprimento de elementos estruturais formados por
seções transversais compostas de partes esbeltas. Embora o estudo tenha sido efetuado

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 550

considerando que o fluxo de cisalhamento atue ao longo do comprimento da barra,


verifica-se que esse mesmo fluxo atua também no plano da seção transversal e que sua
intensidade é dada pela Eq.(20.5).
Neste item será estudado o comportamento do fluxo de cisalhamento que surge
no plano de seções transversais compostas por elementos de parede fina (esbeltos).
Elementos de paredes finas são aqueles cuja espessura da parede é pequena se
comparada com sua altura ou mesmo a sua largura. Conforme apresentado no capítulo
19, a tensão de cisalhamento está ligada ao esforço cortante por meio da seguinte
relação:
V j Qk V j Qk
 ij    ij tk  (20.6)
I k tk Ik
Igualando o resultado apresentado na Eq.(20.6) com a expressão apresentada na
Eq.(20.5) obtém-se:
V j Qk V j Qk
 ij tk   qi   qi   ij tk (20.7)
Ik Ik
Assim como as tensões de cisalhamento, o fluxo de cisalhamento atua nos
planos longitudinal e transversal da barra fletida. Como a seção transversal é formada
por elementos de parede fina, assume-se que o fluxo de cisalhamento possua
distribuição constante ao longo da parede (espessura) da seção transversal.
Para melhor compreender a variação do fluxo de cisalhamento no plano da seção
transversal, pode-se considerar a viga apresentada na Fig. (20.9), a qual está em
equilíbrio quando submetida a um conjunto de carregamentos externos, os quais causam
esforços cortante e de flexão.

Figura 20.9 Viga solicitada à flexão.

Como a estrutura mostrada na Fig. (20.9) encontra-se em equilíbrio, cada


elemento que a compõe estará também em equilíbrio. Isolando um elemento
infinitesimal de comprimento dx desta viga, observa-se o surgimento de esforços

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 551

solicitantes, V e M, conforme indicado na Fig. (20.10), para a restauração da condição


de equilíbrio.

Figura 20.10 Elemento infinitesimal em equilíbrio.

Sabe-se que o momento fletor gera, no plano da seção transversal, tensões


normais. Se essas tensões forem integradas ao longo da área desta seção, estas darão
origem a forças orientadas ao longo do comprimento da barra. Se a região hachurada 1,
mostrada na Fig. (20.10), for isolada da seção transversal, observa-se que sua
configuração de equilíbrio é a apresentada na Fig. (20.11). Conforme mostrado nesta
figura, as forças F e dF são o resultado da integração das tensões normais na área
considerada da seção transversal, as quais são decorrentes dos momentos M e dM ,
____
respectivamente. Já a parcela dF representa o fluxo de cisalhamento atuante ao longo
do comprimento da barra, conforme estudado nos itens anteriores.

Figura 20.11 Elemento hachurado 1. Condição de equilíbrio.

Sabe-se que o fluxo de cisalhamento atua ao longo do comprimento da barra. No


entanto, para que a condição de equilíbrio no elemento considerado seja mantida, deve
surgir, no plano da seção transversal, um fluxo de cisalhamento de mesma intensidade

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 552

daquele atuante ao longo do comprimento da barra. O sentido desse fluxo no plano da


seção transversal é o mostrado na Fig. (20.12). Portanto, o surgimento do fluxo de
cisalhamento no plano da seção transversal é decorrente da condição de equilíbrio das
tensões de cisalhamento, conforme discutido no capítulo 12.

Figura 20.12 Elemento hachurado 1. Fluxo de Cisalhamento atuante no plano da seção transversal.

Análise semelhante pode ser efetuada para o elemento hachurado 0 indicado na


Fig. (20.10). Isolando este elemento, surgirão forças de intensidade F e dF que estão
____
associadas à atuação do momento fletor. Além disso, surgirá uma força dF , decorrente
da presença do fluxo de cisalhamento orientado ao longo do comprimento da barra,
conforme ilustrado na Fig. (20.13).
Assim como analisado para o elemento hachurado 1, o fluxo de cisalhamento do
elemento hachurado 0 é orientado ao longo do comprimento da barra. Este pode ser
mensurado por meio da Eq.(20.5) e deve estar também atuando no plano da seção
transversal para que a condição de equilíbrio das tensões de cisalhamento seja
observada. Portanto, para o elemento hachurado 0, constata-se que o fluxo de
cisalhamento atuante ao longo do comprimento da barra produz também um fluxo de
cisalhamento orientado no plano da seção transversal como indicado na Fig. (20.14).

Figura 20.13 Elemento hachurado 0. Condição de equilíbrio.

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 553

Pode ser feita análise semelhante para as mesas inferiores. No entanto, como o
momento fletor aplicado produzirá tensões normais de tração, as forças F e dF terão
sentidos opostos ao apresentado na Fig. (20.11) e Fig. (20.13). Consequentemente, os
fluxos de cisalhamento atuantes no plano da seção transversal possuirão sentidos
opostos aos mostrados nessas figuras.

Figura 20.14 Elemento hachurado 0. Fluxo de Cisalhamento atuante no plano da seção transversal.

Ao longo da alma, o fluxo de cisalhamento segue ao sentido da força cortante


atuante. Portanto, com base nesta análise, o sentido do fluxo de cisalhamento no plano
da seção transversal apresenta a configuração ilustrada na Fig. (20.15).
Análise semelhante à efetuada anteriormente pode ser utilizada para a
determinação do sentido do fluxo de cisalhamento atuante no plano de seções
transversais compostas por elementos de paredes finas com formato quaisquer.

Figura 20.15 Fluxo de cisalhamento no plano da seção transversal.

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 554

Além da determinação do sentido do fluxo de cisalhamento no plano da seção


transversal, é de grande importância que seja também estudado o comportamento de sua
variação ao longo do comprimento dos elementos de paredes finas. Deve-se ressaltar
que a relação que permite o cálculo do fluxo de cisalhamento no plano da seção,
Eq.(20.5), assume que os elementos que compõem a seção sejam de paredes finas e que
o esforço cortante seja aplicado ao longo de um dos eixos principais de inércia.

Figura 20.16 Fluxo de cisalhamento na aba de um perfil I.

Considerando a Eq.(20.5), pode-se determinar a intensidade do fluxo de


cisalhamento ao longo da aba direita de um perfil I, como ilustrado na Fig. (20.16), da
seguinte forma:
V j Qk Vy  b  d V y td  b 
q  q   xt  q   x (20.8)
Ik Iz  2  2 2I z  2 
Como apresentado na Eq.(20.8), verifica-se que ao longo das mesas o fluxo de

cisalhamento apresenta variação linear, sendo nulo em x  b e igual a


2
V y tdb
qMAX  em x  0 . Para as demais mesas da seção transversal pode-se efetuar
4I z

análise semelhante. Porém, essas conduzirão ao mesmo resultado apresentado na


Eq.(20.8). Portanto, ao longo das mesas da seção transversal, a distribuição do fluxo de
cisalhamento apresenta variação linear como apresentado na Fig. (20.17). Tal

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 555

comportamento é também observado em todas as porções materiais que estão


perpendicularmente posicionadas em relação ao sentido de atuação da força cortante.
O fluxo de cisalhamento atuante nas mesas pode ser integrado para a
determinação de suas forças equivalentes. Integrando a Eq.(20.8) ao longo da aba
obtém-se:
b
2
V y td  b  V y tdb 2
Fmesa     x  dx  Fmesa  (20.9)
0
2I z  2  16 I z

As forças equivalentes atuantes em cada uma das mesas, bem como seus
sentidos, estão ilustradas na Fig. (20.17). Deve-se notar que embora o fluxo resulte em
forças horizontais, estas são auto equilibradas de modo que a condição de equilíbrio
permaneça válida.

Figura 20.17 Variação do fluxo de cisalhamento e força equivalente ao longo da mesa de um perfil I.

Para a determinação da variação da intensidade do fluxo de cisalhamento ao


longo da alma de uma seção I, pode-se efetuar análise semelhante à apresentada para a
aba do perfil. Considerando a ilustração apresentada na Fig. (20.18) e a Eq.(20.5) tem-
se:
  d t  
    y  
V j Qk V y  btd  d t   2 2 
q  q      y t  y (20.10)
Ik Iz  2  2 2   2 
   

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 556

Figura 20.18 Fluxo de cisalhamento na alma de um perfil I.

Rearranjando os termos da Eq.(20.10) obtém-se:


Vy t  bd  d t 1d t 
q      y     y  
Iz  2  2 2 2 2 2 
(20.11)
Vy t  bd d 2 dt t 2 ty y 2 
q       
Iz  2 8 4 8 4 2
Como a seção analisada é de paredes finas, assume-se que t é muitas vezes
menor que as demais dimensões da seção transversal. Dessa forma, esse termo pode ser
usualmente desprezado. Assim, a Eq.(20.11) pode ser reescrita como:
V y t  bd 1  d 2  
q     y 2  (20.12)
I z  2 2  4  
Assim, com base no resultado apresentado na Eq.(20.12), constata-se que o fluxo
de cisalhamento varia parabolicamente ao longo da alma. Sua intensidade é máxima
V y t  bd d 2 
quando y  0 sendo igual a qmax    .
Iz  2 8 

A força equivalente decorrente da presença do fluxo de cisalhamento na alma do


perfil é obtida integrando-se o fluxo ao longo do comprimento da alma. Assim:
Vy t  bd 1  d 2 2 
 Vy td 2 
d
2
d
Falma       y  dy  Falma   2b   (20.13)
d
I z  2 2  4   4I z  3
2

Para que o equilíbrio se mantenha, a força equivalente atuante na alma do perfil


deve ser igual a força cortante aplicada. Assim, a variação do fluxo de cisalhamento e a

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 557

força equivalente atuante na alma do perfil podem ser ilustradas como apresentado na
Fig. (20.19).

Figura 20.19 Variação do fluxo de cisalhamento e força equivalente ao longo da alma de um perfil I.

Da análise apresentada anteriormente, três pontos importantes devem ser


destacados. No primeiro deles, constata-se que o fluxo de cisalhamento, q, varia ao
longo da seção transversal, uma vez que o valor do momento estático, Q, também varia
conforme o segmento de área analisado. Em particular, q variará linearmente ao longo
de segmentos que sejam perpendiculares à direção de atuação do esforço cortante, V, e
parabolicamente em casos contrários.
O segundo ponto a ser destacado é que o fluxo de cisalhamento atuará sempre ao
longo da direção paralela às paredes finas do elemento. Sua contribuição na direção da
espessura é desprezada. Isso decorre da análise apresentada anteriormente e ilustrado na
Fig. (20.15).
Finalmente, no terceiro ponto, o sentido de q é tal que o fluxo de cisalhamento
parece "fluir" ao longo da seção transversal. Esse fluxo é orientado das periferias para o
interior da seção transversal, combinando-se e fluindo para baixo através da alma, e
finalmente separando-se e fluindo do interior para as periferias. É importante destacar
que a visualização desse fluxo simplificará sobremaneira o estabelecimento do sentido
de q e do correspondente τ. Em caso de dúvidas em relação à determinação do sentido
de atuação do fluxo de cisalhamento, recomenda-se efetuar a análise das tensões
normais no plano da seção transversal. Em seguida, obtém-se o sentido do fluxo na

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 558

direção paralela ao eixo da barra e, finalmente, com base nessa direção, determina-se a
direção no plano da seção transversal.
Outros exemplos de orientação do sentido do fluxo de cisalhamento ao longo de
seções transversais compostas de elementos de paredes finas estão mostrados na Fig.
(20.20).

Figura 20.20 Orientação do fluxo de cisalhamento para outras seções transversais.

20.2.1 – Exemplo 6

Determine a variação do fluxo de cisalhamento para a seção transversal ilustrada


na Fig. (20.21) sabendo que esta é sujeita a uma força cortante Vy  20 kN e que a

espessura da parede fina da seção transversal é igual a 10 mm.


Conforme apresentado anteriormente, sabe-se que ao longo das áreas horizontais
que compõem a seção transversal o fluxo de cisalhamento apresentará variação linear e
que ao longo das áreas verticais esta variação será parabólica. Portanto, basta que sejam
determinadas as intensidades dos fluxos de cisalhamento nos pontos A, B, C e no eixo
do centro de gravidade para que a variação do fluxo de cisalhamento seja determinada.
Assim, a coordenada y do centro de gravidade, considerando um eixo auxiliar passando
pela extremidade inferior da seção transversal, é dada por:
__ 2  10  80  40   400 10  85 __
y  y  72,143 mm
2  10  80   400 10

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 559

Figura 20.21 Seção a ser analisada.

Com a posição do centro de gravidade determinada, pode-se determinar o valor


do momento de inércia da seção em torno do eixo z. Dessa forma:
10  803 2 400 103
 10  80   72,143  40     400 10   72,143  85  
2
Iz  2  
 12  12
I z  3, 20 106 mm 4  I z  3, 20 10 6 m 4
O fluxo de cisalhamento no ponto C é nulo, uma vez que nesse ponto o
momento estático da área é nulo por se tratar de uma extremidade da seção transversal.
Então:
QzC  0
O momento estático da área avaliado no ponto B pode ser calculado
considerando a ilustração apresentada na Fig. (20.22). Com base nessa figura tem-se:
72,143
QzB  10  72,143   10  17,857  5  
17,857  5  
2 2
5
Qz  25196, 55 mm  Qz  2,519655 10 m3
B 3 B

Figura 20.22 Momento estático da área no ponto B. Dimensões em mm.

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 560

Já o momento estático da área representativa da seção transversal no centro de


gravidade é dado por:
72,143
Qzcg  10  72,143   Qzcg  26023, 06 mm 3 
2
5
Qzcg  2, 602306 10 m 3
Finalmente, o momento estático da área, avaliado no ponto A, pode ser
determinado utilizando-se a ilustração mostrada na Fig. (20.23). Assim:

Figura 20.23 Momento estático da área no ponto A. Dimensões em mm.

72,143 17,857
QzA  10  72,143   10 17,857   190 10  17,857  5  
2 2
QzA  0
Com os valores dos momentos estáticos avaliados em todos os pontos de
interesse, pode-se determinar a intensidade do fluxo de cisalhamento nesses pontos
utilizando a Eq.(20.5). Assim:
V j Qk 20  0 kN
qA   qA   qA  0
Ik 3, 20 10 6 m

V j Qk 20  2, 519655 10 5 kN
qB   qB   qB  157, 48
Ik 3, 20 10 6 m

V j Qk 20  0 kN
qC   qC   qC  0
Ik 3, 20 10 6 m

V j Qk 20  2, 602306 10 5 kN
qcg   qcg   qcg  162, 64
Ik 3, 20 10 6 m

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 561

Com base nos valores de fluxo de cisalhamento determinados anteriormente, sua


distribuição no plano da seção transversal é a apresentada na Fig. (20.24).
A intensidade da força equivalente atuante na mesa pode ser obtida integrando-
se o fluxo de cisalhamento ao longo de seu comprimento. Sabendo que esta integral
representa a área da variação do fluxo tem-se:
0,195
Fmesa  157, 48   Fmesa  15, 35 kN
2

Figura 20.24 Variação do fluxo de cisalhamento no plano da seção transversal.

Ao longo das almas da seção, a intensidade da força atuante deve ser igual ao
esforço cortante, de forma que a condição de equilíbrio seja observada. Portanto, a força
na alma é dada por:
20
Falma   Falma  10 kN
2
Dessa forma, a variação das forças no perfil pode ser ilustrada como apresentado
na Fig. (20.25):

Figura 20.25 Variação da força nas paredes finas da seção transversal.

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 562

20.2.2 – Exemplo 7

Determine a distribuição do fluxo de cisalhamento para a seção transversal


mostrada na Fig. (20.26), sabendo que esta é submetida a um esforço cortante igual a
Vy  10 kN .

Figura 20.26 Seção transversal a ser analisada.

Devido à simetria da seção transversal, basta que a intensidade do fluxo de


cisalhamento seja determinada nos pontos A, B e C ilustrados na Fig. (20.26) para que
sua variação seja determinada. Sabendo que nas porções de áreas horizontais o fluxo
apresentará variação linear e que nas porções de áreas verticais esta variação é
parabólica, devem ser determinados os valores dos momentos estáticos nos pontos A, B
e C. Devido à simetria da seção verifica-se que seu centro de gravidade encontra-se
localizado na intersecção entre os eixos de simetria da figura. Assim, o momento de
inércia da seção transversal em torno do eixo z é igual a:
6  83 4  6 3
Iz    I z  184 mm 4
12 12
O momento estático da seção transversal avaliado no ponto A é nulo, uma vez
que nesse ponto Q zA é calculado considerando toda a área da seção. Portanto:

Q zA  0

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 563

Já no ponto B, o momento estático deve ser calculado considerando-se apenas a


área hachurada mostrada na Fig. (20.27). Considerando apenas as dimensões médias da
seção tem-se:
QzB  5 1  3,5  QzB  17,5 mm3
Finalmente, no ponto C o momento estático é dado por:
QzC  6  1  3, 5  2   3 1 1, 5   Q zC  30 mm 3

Figura 20.27 Área hachurada para o cálculo do momento estático do ponto B.

Com base nos valores dos momentos estáticos determinados anteriormente,


pode-se determinar as intensidades dos fluxos de cisalhamento. Utilizando a Eq.(20.5),
constata-se que o fluxo de cisalhamento no ponto A é igual a:
V j Qk 10  0 kN
qA   qA   qA  0
Ik 184 m
Já nos pontos B e C, o fluxo de cisalhamento deve ser dividido por dois, uma
vez que a área considerada para o cálculo do momento estático possui ambas as
extremidades seccionadas. Assim:
V j Qk 10 17, 5
Ik 184 kN
qB   qB   q B  0 , 475
2 2 mm
V j Qk 10  30
Ik 184 kN
qC   qC   qC  0 ,815
2 2 mm
Com base nos valores calculados anteriormente, constata-se que o fluxo de
cisalhamento possui a variação mostrada na Fig. (20.28).

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 564

Figura 20.28 Distribuição do fluxo de cisalhamento para a seção analisada.

20.2.3 – Exemplo 8

Determine o valor do fluxo de cisalhamento nos pontos A e B e também o valor


do maior fluxo de cisalhamento atuante na seção transversal mostrada na Fig. (20.29).

Figura 20.29 Seção transversal a ser analisada.

Para que a Eq.(20.5) seja aplicada, devem-se determinar as coordenadas do


centro de gravidade da seção transversal e também seu momento de inércia em torno do
eixo z. Assim, considerando um eixo auxiliar posicionado na extremidade inferior da
seção transversal obtém-se:
__ 2   40 10  5   2  10  40  30   60 10  55 __
y  y  27, 7272 mm
2   40 10   2  10  40   60 10

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 565

A partir da posição do centro de gravidade, pode-se determinar o valor do


momento de inércia da seção transversal em torno do eixo z. Então:
 40 103 2
Iz  2    40 10   27, 7272  5   
 12 
10  403 2  60 103 2
2  10  40   27, 7272  30      60 10   27, 7272  55   
 12   12 
I z  9,81969 10 mm5 4

O momento estático do ponto A é dado por:


Q zA  40 10   27, 7272  5   Q zA  9090,88 mm 3

Já o momento estático do ponto B é igual a:


17, 7272
QzB  40 10   27, 7272  5   17, 7272 10  
2
 40  17, 7272 
 40  17, 7272  10   Q zB  8181, 76 mm 3
2
O momento estático apresentará seu valor máximo quando o ponto analisado
encontrar-se sobre o centro de gravidade da seção transversal. Assim, será nesse ponto
que o fluxo de cisalhamento apresentará seu valor máximo. Portanto:
17, 7272
Qzcg  40  10   27, 7272  5   17, 7272 10   Qzcg  10662,15 mm 3
2
Com base nos valores dos momentos estáticos calculados anteriormente,
conclui-se que os fluxos de cisalhamento atuantes nos pontos de interesse serão iguais a:
V j Qk 150  9090,88 N
qA   qA   q A  1, 389
Ik 9,81969 10 5
mm

V j Qk 150  8181, 76 N
qB   qB   qB  1, 250
Ik 9,81969 105 mm

V j Qk 150 10662,15 N
qcg   qcg   qcg  1, 629
Ik 9,81969 10 5
mm

20.3 – Centro de Cisalhamento

Até o presente momento, foram estudadas as variações e as intensidades dos


fluxos de cisalhamento atuantes no plano de seções transversais compostas por

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 566

elementos de paredes finas onde o esforço cortante era aplicado ao longo de um de seus
eixos principais de inércia. Porém, pode-se perguntar: o que ocorre quando esta
condição não é atendida?
Esta pergunta será respondida neste item, onde os efeitos mecânicos decorrentes
da atuação de uma força cortante em um eixo que não seja um eixo principal de inércia
serão apresentados. Serão consideradas seções transversais abertas formadas por
elementos de paredes finas. Dessa forma, as dimensões da linha média dos elementos
esbeltos poderão ser utilizadas para a determinação do fluxo, uma vez que o fluxo de
cisalhamento no plano da seção transversal é paralelo à maior dimensão do elemento
esbelto.
Um caso clássico que enquadra-se na categoria dos problemas que serão
estudados nesse item é o de um perfil do tipo C submetido à ação de uma força de
intensidade P aplicada ao longo de um eixo vertical que não seja principal, conforme
mostrado na Fig. (20.30). Embora a estrutura mostrada nessa figura seja isostática e em
balanço, nessa situação o perfil não será apenas fletido, mas também sofrerá a ação de
uma torção.

Figura 20.30 Seção aberta submetida à flexão e à torção.

Para compreender o motivo pelo qual o elemento de barra torce, sem que seja
aplicado nenhum momento de torção, deve-se estudar a distribuição do fluxo de
cisalhamento nas mesas e na alma deste perfil. Para a seção analisada, a distribuição do
fluxo de cisalhamento é apresentada na Fig. (20.30). Quando integrado, o fluxo de
cisalhamento dá origem a forças resultantes nesses elementos. Impondo o equilíbrio dos
momentos resultantes dessas forças, constata-se que surge um momento que tende a
torcer a seção transversal. Observando a barra formada pelo perfil C, apresentada na

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 567

Fig. (20.30), verifica-se que a torção ocorrerá no sentido horário, já que são as forças
reativas internas que garantem o equilíbrio.
Em diversas aplicações de engenharia é interessante que esforços de torção
sejam evitados em elementos de barra geral. Em especial, esforços de torção devem ser
evitados quando seções transversais "abertas" de paredes finas são utilizadas, como em
perfis do tipo C e C enrijecido, uma vez que essas seções (abertas) possuem baixa
inércia à torção (sugere-se que o leitor relembre esta afirmação com os problemas
estudados no capítulo 16). Nessas situações, os efeitos da torção podem ser evitados se
a carga P for aplicada em um ponto conveniente, conforme mostrado na Fig. (20.31). O
ponto em questão é denominado 0 e dista e do eixo da alma do perfil. Caso tal operação
não seja possível, o analista poderá avaliar a intensidade do momento de torção
associado à força aplicada, com o objetivo de prever adequadamente o estado de tensão
na estrutura mobilizado pelo carregamento externo.

Figura 20.31 Ponto conveniente 0. Centro de cisalhamento.

Para a determinação da excentricidade e, deve-se impor as condições de


equilíbrio de corpo rígido. Efetuando a somatória de momentos em relação ao ponto A,
mostrado na Fig. (20.31), tem-se:
d d F d
Fmesa  Fmesa  Pe  0  e  mesa
2 2 P

O valor da força equivalente na mesa, Fmesa , é obtido integrando-se o fluxo de

cisalhamento ao longo da mesa. Este fluxo depende diretamente da intensidade da carga


P. Portanto, a excentricidade e, que mede a distância do ponto de aplicação da carga,
pode ser expresso unicamente em função de parâmetros geométricos da seção
transversal. O ponto 0, no qual a carga P é aplicada fazendo a viga fletir sem torcer, é
denominado centro de cisalhamento ou centro de flexão. Em tabelas elaboradas por

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 568

fabricantes de perfis produzidos industrialmente, a posição do centro de cisalhamento é,


normalmente, indicada.
Deve-se enfatizar que o centro de cisalhamento se apoiará sempre sobre os eixos
principais de inércia da seção transversal. Considerando o perfil C apresentado
anteriormente, porém rotacionado de 90º, com uma carga P aplicada ao longo de um de
seus eixos principais de inércia, como mostra a Fig. (20.32), constata-se que a barra
fletirá sem torcer. Isso ocorre devido à simetria do fluxo de cisalhamento nas mesas e
alma. Quando a força externa é aplicada ao longo de um dos eixos principais de inércia
a barra flete sem torcer.

Figura 20.32 Ponto conveniente 0. Centro de cisalhamento.

Obviamente, se uma seção transversal possuir dois eixos de simetria, o centro de


cisalhamento será localizado na interseção desses eixos.

20.3.1 – Exemplo 9

Determine a posição do centro de cisalhamento do perfil C mostrado na Fig.


(20.33).
Sabe-se que a distribuição do fluxo de cisalhamento no perfil C segue o padrão
apresentado na Fig.(20.34). Além disso, sabe-se também que a integração do fluxo de
cisalhamento nos elementos de paredes finas conduz à determinação das intensidades
das forças equivalentes. Para que a posição do centro de cisalhamento seja determinada,
deve-se efetuar a somatória dos momentos em relação ao ponto A, envolvendo as forças
equivalentes nas mesas e na alma e também a força P aplicada.

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 569

Figura 20.33 Seção transversal a ser analisada.

Figura 20.34 Distribuição do fluxo de cisalhamento e forças equivalente nos elementos de parede fina.

Portanto, o primeiro passo para a solução do problema é a determinação do fluxo


de cisalhamento nas mesas. Assim, o valor do momento de inércia da seção é igual a:
b t3  h   t h
2 3
Iz  2    b t    
 12  2   12

Como a seção transversal é composta por elementos de paredes finas, os termos


de alta ordem de t podem ser desprezados. Portanto:
  h   t h
2 3
t  h2  h
I z  2  b  t       Iz  b  
  2   12 2  6

O momento estático da mesa do perfil, como anteriormente estudado neste


capítulo, é igual a:
h
Qz mesa  b  t 
2

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 570

Dessa forma, a intensidade máxima do fluxo na mesa, segundo a Eq.(20.5), é


igual a:
h
P b t 
V j Qk 2 P b
qmesa   qmesa   qmesa 
Ik t h 
2
h  h
b   hb  
2  6  6
Sabendo que a variação do fluxo de cisalhamento na mesa é linear, pode-se
determinar a força equivalente nesse elemento integrando o fluxo na mesa. Assim:
P b b P  b2
Fmesa   qmesa db  Fmesa   Fmesa 
 h 2  h
b hb   2h  b  
 6  6
De posse do valor da força equivalente na mesa, pode-se aplicar a condição de
equilíbrio de momentos em relação ao ponto A mostrado na Fig. (20.32). Dessa forma:
P  b2 b2
 Fmesa h  Pe  0  h  Pe  0  e 
 h  h
2h  b   2b  
 6  6
Assim, a excentricidade e depende unicamente das propriedades geométricas da
seção transversal. Independentemente do valor da carga P aplicada, o perfil fletirá sem
torcer se esta carga for aplicada na excentricidade determinada anteriormente. Caso
contrário, o analista poderá mensurar a intensidade do momento de torção atuante
multiplicando a intensidade da força aplicada pelo braço de alavanca, o qual é medido
considerando a distância entre o ponto de aplicação da força e o centro de cisalhamento.

20.3.2 – Exemplo 10

Determine a posição do centro de cisalhamento do perfil C enrijecido mostrado


na Fig. (20.35), sabendo que suas dimensões estão apresentadas em in.
Para que esse problema seja resolvido, devem ser determinadas as intensidades
dos fluxos de cisalhamento nas mesas e nos enrijecedores. Em seguida, esses fluxos
devem ser integrados nos elementos de paredes finas, de forma a se obter suas forças
equivalentes. Finalmente, impõe-se o equilíbrio em termos de momento em relação a
um ponto particular. Para esse problema, efetua-se a somatória dos momentos em
relação ao ponto A mostrado na Fig. (20.36).

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 571

Figura 20.35 Seção transversal a ser analisada.

Para a determinação do fluxo de cisalhamento, deve-se utilizar a Eq.(20.5), a


qual depende do momento de inércia da seção transversal e do momento estático das
áreas consideradas. Assim:
 t 13  1,8  t 3  t  43
Iz  2    t 1 1, 5 2   2    1,8  t  2 2  
 12   12  12
Desprezando os termos de alta ordem de t, uma vez que a seção é composta por
elementos de paredes finas, tem-se:
 t 13  t  43
Iz  2    t 1 1, 52   2  1,8  t  2 2    I z  24, 4t
 12  12

O valor do momento estático dos enrijecedores é igual a:


Qz enrijecedor  t 1 1,5  Qz enrijecedor  1,5t

Já o valor do momento estático das mesas é igual a:


Q z mesa  t  1  1, 5  1, 8  t  2  Q z mesa  5,1t

Com base nos valores dos momentos de inércia e estático das áreas, verifica-se
que a intensidade máxima do fluxo de cisalhamento nos enrijecedores é igual a:
V j Qk P 1, 5t
qenrijecedor   qenrijecedor   qenrijecedor  0, 061475 P
Ik 24, 4t
E nas mesas, o valor máximo é igual a:

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 572

V j Qk P  5,1t
qmesa   qmesa   qmesa  0, 2090 P
Ik 24, 4t
Assim, a distribuição dos fluxos de cisalhamento na seção transversal é
apresentada na Fig. (20.36). A força equivalente na mesa é obtida integrando-se o fluxo
ao longo do comprimento da mesa. Sabendo que essa integral é igual à área do fluxo
tem-se:
 0, 2090 P  0, 061475 P 
Fmesa   1,8  Fmesa  0, 2434 P
 2 

Figura 20.36 Distribuição do fluxo de cisalhamento nos elementos de parede fina.

Já nos enrijecedores, a força equivalente é obtida de forma semelhante. Assim:


1 1
P  s P s2
Fenrijecedor  0 24, 4t t  s  1  2  ds  Fenrijecedor 
24, 4 0
s 
2
ds 

Fenrijecedor  0, 0273 P

Impondo a condição de equilíbrio de momentos em relação ao ponto A,


apresentado na Fig. (20.36), obtém-se:
Fmesa  4  2  Fenrijecedor 1,8  Pe  0  0, 2434 P  4  2  0, 0273P 1,8  Pe  0
e  1, 072 in
Dessa forma, assim como no exemplo anterior, a excentricidade de aplicação da
carga que provoca apenas flexão na barra depende somente das propriedades

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 573

geométricas da seção transversal. Se comparado ao perfil C sem enrijecedor, analisado


no exemplo anterior tem-se a seguinte resposta:
b2 1,82
e  e  e  0, 6567 in
 h  4
2b   2 1,8  
 6  6
Assim, a presença dos enrijecedores permite que a carga seja aplicada a uma
distância maior.

20.3.3 – Exemplo 11

Determine a posição do centro de cisalhamento da seção transversal apresentada


na Fig. (20.37).
Para que esse problema seja resolvido deve-se, inicialmente, determinar as
coordenadas do centro de gravidade da seção. Assim:

zcg 
 6 112  2  12 1 6  2  zcg  8 cm
 6 1 2  12 1 2
A localização do centro de gravidade da seção ao longo do eixo y , ycg ,

encontra-se na metade de sua altura devido à simetria da seção em relação a este eixo.

Figura 20.37 Estrutura a ser analisada. Dimensões em cm.

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 574

O momento de inércia da seção em torno do eixo z é igual a:


 1  63  12 13  1  243
Iz    1  6 152  2    1 12 12 2  2   I z  7346 cm 4
 12   12  12

A força equivalente atuante em cada um dos elementos de paredes finas que


compõem a seção transversal pode ser obtida integrando-se o fluxo de cisalhamento ao
longo do comprimento da parede. Observando os sentidos das forças ilustrados na Fig.
(20.38), estas podem ser obtidas da seguinte maneira:
6 6
V  x V  x V
F1   1 x  12   6  x    dx  F1   x  18   dx  F1  288
I 0  2 I 0  2 I
12 12
V V V
F2 
I   6 115  1 x 12  dx
0
 F2 
I   90  12 x  dx
0
 F2 1944
I
12
V   x 
F3  2
I  6 115  12 112  1 x   12  x   2  dx
0

12
V x2 V
F3  2
I  234  12  x 
0
2
dx  F3  6768
I

Com base nas forças equivalentes determinadas anteriormente constata-se que o


equilíbrio em termos de forças pode ser assim expresso:

F y
 0  V  2 F1  F3

Figura 20.38 Sentido de atuação das forças equivalente e posicionamento do centro de torção.

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 575

A posição do centro de cisalhamento resulta da condição de que na seção exista


somente um esforço cortante estaticamente equivalente, passando por um ponto sobre o
eixo de simetria distante e do eixo de redução. A condição de equivalência pode ser
expressa como:

M 0  V  e  2  F1 12   2  F2 12   0  V  e  24  F2  F1 

Do equilíbrio de forças na direção y foi mostrado que: V  2F1  F3 . Assim, a


equação anterior pode ser assim reescrita:
24  F2  F1 
V  e  24  F2  F1    2 F1  F3  e  24  F2  F1   e
2 F1  F3
Substituindo os valores das forças equivalentes obtém-se:
 V V
24 1944  288 
24  F2  F1 
 e 
I I
e  e  5, 41cm
2 F1  F3  V V
2  288   6768
 I I

20.3.4 – Exemplo 13

Determine a localização e do centro de cisalhamento para o elemento de paredes


finas que tem a seção transversal mostrada na Fig. (20.39). Os segmentos têm espessura
t.

Figura 20.39 Seção transversal a ser analisada.

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 576

Para a determinação do centro de cisalhamento da seção transversal mostrada na


Fig. (20.39) deve-se determinar o momento de inércia dessa seção em torno do eixo z.
Como existem porções da seção transversal que não estão alinhadas com os eixos y e z,
o momento de inércia deve ser calculado utilizando a definição, via integral, ou seja,

I z   y 2 dA . Portanto:
A

150
t 1503 t 1503
 2  t  s  sen  30º   75 ds 
2
Iz   2 y 2 dA  I z 
12 A
12 0

t 1503
150
 s2 
Iz   2  t   75  s  5625  ds  I z  281250t  3937500t
12 0 
4 
I z  4218750t
Destaca-se que o momento de inércia determinado anteriormente considera a
aplicação do teorema dos eixos paralelos, uma vez que a posição das porções materiais
consideradas não coincide com o eixo do centroide da seção transversal.
A força resultante do fluxo de cisalhamento na porção inclinada da seção
transversal é obtida integrando-se o fluxo de cisalhamento ao longo do comprimento da
seção. Assim, o fluxo de cisalhamento, em função de uma ordenada s que se inicia na
parte superior do perfil, pode ser assim expresso:
VQz V  s 
qx   qx  st  75  150  sen  30º   sen  30º   
Iz Iz  2 
V  s
qx  st 150  
Iz  4
Portanto, a força na porção inclinada da seção transversal assume o seguinte
valor:
150
V  s Vt
Fmesa   qx ds  Fmesa   st 150  4  ds  Fmesa  1406250 
s
Iz 0
Iz
Vt V
Fmesa  1406250  Fmesa 
4218750t 3
Impondo o equilíbrio de momentos em relação ao ponto O obtém-se:
V 
Ve  2  cos  30   75  e  43,3 mm
3 

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 577

20.3.5 – Exemplo 14

Determine a localização e do centro de cisalhamento para os elementos de


paredes finas que compõem a seção transversal mostrada na Fig. (20.40). Todos os
segmentos de paredes finais possuem espessura t.
Para a determinação do centro de cisalhamento da seção transversal apresentada
na Fig. (20.40) devem-se calcular as forças equivalentes nos elementos de paredes finas
que a compõem. Como existem elementos de paredes finas que não estão alinhados com
os eixos y e z, o valor do momento de inércia da seção transversal em torno do eixo z

deve ser avaliado utilizando-se a definição de momento de inércia, ou seja, I z   y dA .


2

Figura 20.40 Seção transversal a ser analisada.

Por meio de simples constatação geométrica, verifica-se facilmente que estes


elementos de paredes finas podem ser descritos como:
y  s  sen  45º 

sendo s a coordenada paralela a maior dimensão do elemento de parede fina.


Portanto, I z pode ser calculado como:

 bt 3  2  
2
d 
d  2    t  s  sen  45º   ds  2
2
Iz    bt  
 12  2   0 

Como os elementos que compõem a seção transversal analisada são de paredes
finas, os termos de alta ordem de t podem ser desprezados. Assim:

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 578

s2 td 3
d
I z  btd 2  2 t ds  I z  btd 2 
0
2 3

A força equivalente nas mesas da seção (elementos de paredes finas horizontais)


é dada por:
b
V V 2 V 2
Fmesa   ydA  Fmesa   st d  ds  Fmesa  tdb2
Iz A Iz 0 2 Iz 4

Substituindo o valor de I z obtém-se:

2
Vtdb2
3 2 Vb 2
Fmesa  4  Fmesa 
td 3 4  3bd  d 2 
btd 2 
3
Efetuando a somatória de momentos em relação ao ponto onde os elementos de
paredes finas inclinados encontram-se obtém-se o valor de e. Assim:

2 2 3 2 Vb 2 3 b2
Ve  2  Fmesa  d  Ve  2  d  e 
2 2 4  3bd  d 2  2  3b  d 

20.4 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Transversais Assimétricas


Abertas

Até o presente momento, a análise do fluxo de cisalhamento no plano de seções


transversais abertas de paredes finas foi efetuada assumindo que tais seções transversais
possuíam pelo menos um eixo de simetria. Porém, a metodologia anteriormente
apresentada pode ser também aplicada aos casos onde seções transversais assimétricas
são observadas.
Nesta situação, o fluxo de cisalhamento no plano da seção transversal continua a
ser obtido com base no equilíbrio descrito no item 20.2. No entanto, este equilíbrio, para
as seções transversais assimétricas, deve ser efetuado utilizando o sistema de referência
principal, em relação às inércias. Assim, neste sistema, o produto de inércia é nulo e a
tensão normal dependerá dos momentos fletores e das inércias principais. Portanto, no
caso de seções transversais assimétricas, toda a metodologia anteriormente apresentada
permanece válida. Porém, o sistema de referência a ser considerado na descrição do
problema deve ser o principal de inércia. Deve-se mencionar que nos casos tratados

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 579

anteriormente, onde pelo menos um eixo de simetria era observado, o sistema de


coordenadas adotado era coincidente com o sistema principal.

20.4.1 – Exemplo 15

Determine a intensidade do fluxo de cisalhamento nos pontos A, B e C


pertencentes à seção transversal ilustrada na Fig. (20.41). Nesta seção transversal, atua
um esforço cortante de intensidade Vy  P . A espessura das paredes finas da seção

transversal é igual a t .

Figura 20.41 Seção transversal analisada.

O centro de gravidade da seção transversal pode ser assim determinado:


a a
at at
a a
y 2  y z 2  z
2at 4 2at 4
Os momentos de inércia da seção transversal assumem os seguintes valores:
2 2
ta 3  a a  at
3
a 10 3
Iz   ta      ta    Iz  ta
12  2 4  12 4 48
2 2
at 3  a  ta
3
a a 10 3
Iy   ta     ta     Iy  ta
12  4  12 2 4 48

 a a  a  a  a a  1
I yz  at    0    at  0      I yz   ta 3
 2 4  4  4  2 4  8

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 580

As inércias principais da seção transversal podem ser determinadas utilizando a


Eq.(18.23). Assim:
2
10 3 10 3  10 3 10 3 
ta  ta  48 ta  48 ta   1 3 2
 48 48  
I1,2     ta 
2  2   8 
 
1 1 3
I1  ta 3 I2  ta
3 12
As direções principais são determinadas utilizando a Eq.(18.22). Assim:
 1 
2   ta3 
tg  2    8   tg 2      45º
10 3 10 3
 
ta  ta
48 48
Utilizando a Eq.(18.21), verifica-se facilmente que I1  I y' e que I 2  I z' . Assim,

os eixos principais de inércia podem ser posicionados conforme apresenta a Fig.(20.42):

Figura 20.42 Posicionamento dos principais de inércia.

A força atuante, P , pode ser decomposta em relação às direções principais com


a utilização da matriz de rotação. Portanto:
Vy'   cos  45º  sen  45º     P  Vy'   1 2
 '       '    P
Vz    sen  45º  cos  45º    0  Vz   1  2
A partir das direções das forças aplicadas, as quais estão definidas segundo os
eixos principais de inércia, os fluxos de cisalhamento apresentados na Fig. (20.43) são
obtidos:

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 581

Figura 20.43 Posicionamento dos principais de inércia.

Para que os valores dos fluxos de cisalhamento sejam calculados nos pontos
desejados, deve-se, inicialmente, determinar os valores dos momentos estáticos nestes
pontos. Com o auxílio da ilustração apresentada na Fig. (20.44), obtém-se os valores
dos momentos estáticos para os pontos A, B e C, os quais são iguais a:

Figura 20.44 Áreas envolvidas para o cálculo do fluxo de cisalhamento.

ta  a  2 2
QzA'   cos  45º    QzA'  ta
2 4  16

ta  a a  3 2 2
QyA'   sen  45º   sen  45º    QyA'  ta
2 2 4  16

a a 
QzB'  ta  cos  45º   cos  45º    QzB'  0
4 4 

a  2 2
QyB'  ta  sen  45º    QyB'  ta
2  4

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 582

ta  a  2 2
QzC'   cos  45º    QzC'  ta
2 4  16

ta  a a  3 2 2
QyC'   sen  45º   sen  45º    QyC'  ta
2 2 4  16
Dessa forma, os fluxos de cisalhamento nestes pontos, que podem ser
determinados por meio da Eq.(20.1), assumem os seguintes valores:

2 2 2 2 3 2 2
P ta P ta
2 16 2 16 P
q 
A
3
 3
 q A  1,3125
ta ta a
12 3
q A tem direção vertical com o sentido de cima para baixo.

2 2 2 2
P0 P ta
2 2 4 P
q 
B
3
 3
 q B  0,75
ta ta a
12 3
2 2 2 2 3 2 2
P ta P ta
P
qC  2 16 3
 2 16
3
 qC  0,1875
ta ta a
12 3
q C possui direção horizontal com o sentido da esquerda para a direita.

20.5 – Análise do Fluxo de Cisalhamento em Seções Transversais


Assimétricas Abertas com base no Sistema de Coordenadas Padrão

Conforme apresentado no item anterior, as intensidades dos fluxos de


cisalhamento em seções transversais assimétricas abertas de paredes finas podem ser
determinadas considerando o sistema de coordenadas principal em relação às inércias.
Porém, em seções transversais assimétricas gerais, com paredes finas inclinadas em
relação ao sistema principal, por exemplo, a descrição do fluxo de cisalhamento no
sistema principal pode-se tornar uma tarefa complexa. Em especial, a determinação dos
momentos estáticos torna-se complexa, os quais dependerão diretamente das direções
principais determinadas.

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 583

Assim, estes problemas podem ser resolvidos de maneira mais direta, ou menos
trabalhosa, por meio da utilização do sistema de coordenadas yz padrão, classicamente
adotado na descrição da seção transversal nos problemas da engenharia de estruturas.
Conforme apresentado nos capítulos 17 e 18, nos problemas envolvendo tensões
normais na flexão, tanto as tensões normais quanto as deformações normais possuem
variação linear ao longo do plano da seção transversal. Assim, a tensão normal pode ser
escrita de forma geral como:
N
 x  Ay  Bz  (20.14)
A
Os termos A e B podem ser obtidos a partir da imposição do equilíbrio, tomando
o elemento de dimensões diferenciais ilustrado na Fig. (20.45). Assim:

Figura 20.45 Imposição do equilíbrio à flexão.

N
M z    x ydA  M z    Ay 2 dA    BzydA    ydA 
A A A A
A (20.15)
M z   I z A  I yz B

N
M y    y zdA  M y   AyzdA   Bz 2 dA   zdA 
A A A A
A (20.16)
M y  I yz A  I y B

As constantes A e B são determinadas facilmente por meio de um sistema linear


de equações, envolvendo a Eq.(20.15) e a Eq.(20.16). Dessa forma:
 Iz I yz   A M z   A 1  Iy  I yz  M z 
I       I I z   M y 
  (20.17)
 B  I y I z  I yz
2
 yz I y   B  M y   yz

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 584

Portanto, a equação que possibilita mensurar a intensidade da tensão normal na


flexão, Eq.(20.14), pode ser assim reescrita, considerando um sistema de referência que
pode não ser o principal:

N  M z I y  M y I yz   M y I z  M z I yz 
x    y    z (20.18)
A  I y I z  I yz2   I y I z  I yz
2

Deve-se enfatizar que quando a Eq.(20.18) é utilizada considerando um sistema
de coordenadas principal, ou seja, I yz  0 , retoma-se a representação clássica

anteriormente apresentada nos capítulos 17 e 18.


Assim, a intensidade do fluxo de cisalhamento em seções transversais
assimétricas de paredes finas, descritas a partir de um sistema de coordenadas não
principal em relação às inércias, pode ser obtida considerando a imposição do equilíbrio
a partir da Eq.(20.18). Portanto, o equilíbrio descrito no item 19.2 deve ser novamente
efetuado considerando que a intensidade das tensões normais seja dada pela Eq.(20.18).
Retomando o equilíbrio apresentado naquele item obtém-se:

 
A
x  d x  dA    x dA  qdx  0  qdx   d x dA 
A A

 dM z I y  dM y I yz   dM y I z  dM z I yz 
qdx      y    z dA  (20.19)
 I y I z  I yz2 I I  I 2
A    y z yz 
 dM z I y  dM y I yz   dM y I z  dM z I yz 
   zdA
qdx     ydA  
 I I  I 2
I I  I 2
 y z yz  A  y z yz A

Lembrando da definição de momento estático, Qz   ydA e Qy   zdA


A A

dM z dM y
(capítulo 17), e das relações diferenciais de equilíbrio,  Vy e  Vz (capítulo
dx dx
5), pode-se reescrever a Eq.(20.19) na seguinte forma:
 V I V I   Vz I z  Vy I yz 
q    y y z 2 yz  Qz    Qy 
 I I I
 I y I z  I yz
2
 y z yz  
(20.20)
I Q I Q  I Q I Q 
q    y z yz2 y  Vy   z y yz2 z Vz
 I I I   I I I
 y z yz   y z yz 
Portanto, a intensidade do fluxo de cisalhamento pode ser obtida considerando
as grandezas definidas no sistema yz clássico por meio da Eq.(20.20).

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 585

20.5.1 – Exemplo 16

Determine a intensidade do fluxo de cisalhamento nos pontos A, B e C


pertencentes à seção transversal ilustrada na Fig. (20.46) utilizando a metodologia
apresentada no item 20.5. Nesta seção transversal, atua um esforço cortante de
intensidade igual a Vy  P . A espessura das paredes finas da seção transversal é igual a

t.
Com base na resolução apresentada no item 20.4.1, sabe-se que a localização do
centro de gravidade da seção transversal e seus momentos de inércia assumem os
seguintes valores:
a a 10 10 1
y  , z  , I z  ta3 , I y  ta3 e I yz   ta3
4 4 48 48 8

Figura 20.46 Seção transversal analisada.

Para os pontos considerados, A, B e C, os momentos estáticos em relação ao


sistema de coordenadas clássico são assim obtidos:
ta  a a  ta 2
QzA    Q A

2  4 4 
z
4

ta  a a  ta 2
Q      Qz 
B
z
B

2 2 4 4

ta  a  ta 2
Q     Qz  
C
z
C

2  4 8

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 586

ta  a  ta 2
QyA    Q A
 
2  4 
y
8

 a ta 2
QyB  ta    QyB  
 4 4

ta  a a  ta 2
QyC    Q C

2  4 4 
y
4
Assim, utilizando a Eq.(20.20), as intensidades dos fluxos de cisalhamento
nestes pontos são dados por:
 10 3 1 2  1 3  1 2 
 48 ta 4 ta    8 ta   8 ta 
  
q 
P
A
  P   q A  1,3125
 10 3 10 3  1 3   2
a
 ta ta    ta  
 48 48  8  

 10 3 1 2  1 3  1 2  
 48 ta 4 ta    8 ta   4 ta  
  
q 
P
B
  P   q B  0,75
 10 3 10 3  1 3   2
a
 ta ta    ta  
 48 48  8  

 10 3  1 2   1 3  1 2 
 48 ta   8 ta     8 ta  4 ta 
   
q 
C   P  qC  0,1875 P
 
 10 3 10 3  1 3   2
a
 ta ta    ta  
 48 48  8  

Conforme pode ser observado, os resultados obtidos utilizando a metodologia


baseada no sistema de coordenadas clássico são idênticos aos obtidos por meio da
descrição baseada no sistema principal de inércias. Assim, isso demonstra que estas
abordagens são equivalentes.

20.6 – Centro de Cisalhamento em Seções Transversais Assimétricas


Abertas de Paredes Finas

Anteriormente neste capítulo, item 20.3, foi apresentada a metodologia que


possibilita a determinação da localização do centro de cisalhamento em seções
transversais abertas de paredes finas que possuem pelo menos um eixo de simetria. Essa
metodologia se baseia na imposição do equilíbrio, em termos de momentos de torção,

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 587

envolvendo as ações externas, representadas pelo esforço cortante resultante, e as forças


equivalentes nos elementos de paredes finas que compõem a seção transversal, as quais
decorrem da integração do fluxo de cisalhamento nelas atuante.
No caso de seções transversais assimétricas, o fluxo de cisalhamento pode ser
determinado facilmente por meio da Eq.(20.20), conforme anteriormente demonstrado.
Assim, as forças equivalentes associadas ao fluxo de cisalhamento são obtidas a partir
da integração da Eq.(20.20) ao longo do comprimento dos elementos de paredes finas
que compõem a seção transversal. Com base na Eq.(20.20) verifica-se facilmente que
apenas os momentos estáticos Qz e Q y sofrem variação à medida que as dimensões

médias da seção transversal são percorridas. Portanto, a força equivalente, que resulta
da integração do fluxo de cisalhamento ao longo do comprimento dos elementos de
paredes finas, está diretamente associada à integração dos momentos estáticos.
Devido à assimetria geométrica da seção transversal, os esforços cortantes Vz e

V y geram distribuições de fluxo de cisalhamento também assimétricas. Portanto, ambos

os esforços cortantes contribuem para o surgimento de um momento de torção, caso


estes estejam aplicados fora do centro de cisalhamento. Dessa forma, para a
determinação da localização do centro de cisalhamento, os esforços cortantes Vz e V y ,

bem como as forças equivalentes a eles associadas, devem ser analisados isoladamente.
Além disso, o equilíbrio em termos de momentos de torção deve ser também efetuado
de forma isolada. Consequentemente, as excentricidades (localização) do centro de
cisalhamento em relação aos eixos y e z são determinadas a partir dos esforços cortantes
e das forças equivalentes decorrentes de Vz e V y , respectivamente.

20.6.1 – Exemplo 17

Determine a localização do centro de cisalhamento da seção transversal ilustrada


na Fig. (20.47). Nesta seção transversal, a espessura dos elementos de paredes finas que
a compõem é igual a 0,01a .

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 588

Figura 20.47 Seção transversal analisada.

Para que a localização do centro de cisalhamento seja determinada, deve-se,


inicialmente, determinar as propriedades geométricas da seção transversal. Assim, o
centro de gravidade possui a seguinte localização na seção transversal:
a 9  9  9 1
0,01a  a   0,01a a  a 
y
2  10  10  10 2 
 y  0,35625a
a 9
0, 01a  0, 01a a  a0, 01a
2 10
a a 1 a
0,01a    a0,01a  
2  2 2  2   z  0, 26042a
z
a 9
0,01a  0,01a a  a0,01a
2 10
Os momentos de inércia da seção transversal assumem os seguintes valores:
3
a 9 
 0, 01a  a
3
2 0, 01a  a 
9   10  
Iz  2  0, 01a  a  0,35625a  
12 2  10  12
 a  0, 01a 
2 3
9  9
 a0, 01a  0,35625a  
2
0, 01a a  a  0,35625a  
10  20  12
I z  3, 4342 103 a 4
3
a 9
a  0, 01a 
3
0, 01a   2

Iy   2   0, 01a   0, 26042a   10
a a

 
12 2 4  12
0, 01a  a 
3 2
9 a 
0, 01a a  0, 26042a  
2
 a0, 01a   0, 26042a  
10 12 2 
I y  2,1225 103 a 4

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 589

a 9  a
I yz  0,01a  a  0,35625a  0, 26042a   
2  10  4
9  9 
0,01a a  a  0,35625a   0, 26042a  
10  20 
 a
a0,01a  0,35625a   0, 26042a    I yz  1,1016 103 a 4
 2
A localização do centro de cisalhamento é obtida considerando a atuação isolada
de Vz e V y e a imposição do equilíbrio, em termos de momentos de torção, envolvendo

as forças equivalentes a eles associada. Este equilíbrio pode ser imposto em relação a
qualquer ponto do plano. Na presente resolução, a somatória nula de momentos será
imposta em relação a um ponto da linha média da alma, passando pelo centro de
gravidade, conforme indicado na Fig. (20.48).

Figura 20.48 Fluxos de cisalhamento.

Porém, para que as forças equivalentes sejam determinadas, deve-se,


primeiramente, obter expressões que governem a variação dos momentos estáticos ao
longo do comprimento dos elementos de paredes finas. Com base na ilustração
apresentada na Fig. (20.49) tais expressões podem ser obtidas.

Figura 20.49 Elementos representativos para a determinação dos momentos estáticos.

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 590

Para a mesa superior, e para valores negativos de z, obtém-se:


Qz  0, 01a x 0,54375a  Qz  5, 4375 103 a 2 x

x 
Qy  0, 01a x   0, 23985a   Qy  2,3958 103 a 2 x  5 103 ax 2
2 
Para a mesa superior, e para valores positivos de z, tem-se:
Qz  0, 01a 0, 23958a 0,54375a  0, 01a x 0,54375a 
3 3
Qz  1,3027 10 a  5, 4375 10 a x
3 2

 0, 23985a  x
Qy  0, 01a 0, 23985a    0, 01a x 
 2  2
Qy  2,870 104 a3  5 103 ax 2

Para a mesa inferior, e para valores negativos de z, semelhantemente, obtém-se:


Qz  0,01a x  0,35625a   Qz  3,5625 103 a 2 x

x 
Qy  0, 01a x   0, 73958a   Qy  7,3958 103 a 2 x  5 103 ax 2
2 
Para a mesa inferior, e para valores positivos de z, tem-se:
Qz  0,01a 0,73958a  0,35625a   0,01a x  0,35625a  
Qz  2,6348 103 a3  3,5625 103 a 2 x

 0, 73958a  x
Qy  0, 01a 0, 73958a    0, 01a x 
 2  2
Qy  2, 7349 103 a3  5 103 ax 2

As forças equivalentes nas mesas são obtidas por meio da integração do fluxo de
cisalhamento, dado pela Eq.(20.20), ao longo do comprimento dos elementos de paredes
finas. Considerando a atuação apenas de V y obtém-se:

 I y Qz  I yz Qy   I z Qy  I yz Qz 
q    Vy   Vz 
 I I I  2  I I  I2
 y z yz   y z yz 
 2,1225 103 a 4Qz  1,1016 103 a 4Qy 
q  V 
 2,1225 103 a 4  3, 4342 103 a 4  1,1016 103 a 4 2  y
 
 349,350Qz  181,316Qy 
q   4  Vy
 a 

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 591

Assim, as forças equivalentes atuantes na mesa superior, devidas apenas a V y ,

são iguais a:
0,23958 a 0,23958 a
349,350
F z 
  
0
qdx  
a4 
0
5, 4375 103 a 2 xVy dx 

0,23958 a
181,316
  2,3958 10 a 2 x  5 103 ax 2  Vy dx  F z   6, 2828 102Vy
3

a4 0
 
0,26042 a 0,26042 a
349,350
  1,3027 10 a3  5, 4375 103 a 2 x  Vy dx 
3
F z  qdx  
  0
a4 0
0,26042 a
181,316
  2,870 10 a3  5 103 ax 2  Vy dx  F z  0,1912Vy
4

a4 0
 
Já as forças equivalentes atuantes na mesa inferior, devidas apenas a V y ,

possuem as seguintes intensidades:


0,73958 a 0,73958 a
349,350
   3,5625 10 a 2 x Vy dx 
3
F z  qdx  
  0
a4 0
0,73958 a
181,316
  7,3958 10 a 2 x  5 103 ax 2  Vy dx  F z  9,5878 102Vy
3

a4 0
 
0,26042 a 0,26042 a
349,350
   2, 6348 10 a3  3,5625 103 a 2 x Vy dx 
3
F z  qdx  
  0
a4 0
0,26042 a
181,316
a 4   2, 7349 103 a3  5 103 ax 2 Vy dx  F z  0,1581Vy
 
0
A partir das forças equivalentes determinadas anteriormente, pode-se impor o
equilíbrio de momentos de torção para que a excentricidade ez seja determinada. Deve-
se mencionar que os sinais obtidos para as forças dependem dos sinais encontrados para
os momentos estáticos. Considerando a ilustração apresentada na Fig. (20.48) tem-se:

M T  0  6, 2828 102Vy 0,54375a  0,1912Vy 0,54375a 


9,5878 102Vy 0,35625a  0,1581Vy 0,35625a  Vy ez  0  ez  0, 2286a

A excentricidade do centro de cisalhamento em relação ao eixo y, e y , pode ser

determinada considerando as forças equivalentes decorrentes apenas de Vz . Assim,


utilizando a Eq.(20.20) obtém-se:

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 592

 I y Qz  I yz Qy   I z Qy  I yz Qz 
q    V    Vz 
 I I  I2  y  I I  I2
 y z yz   y z yz 
 3, 4342 103 a 4Qy  1,1016 103 a 4Qz 
q V 
 2,1225 103 a 4  3, 4342 103 a 4  1,1016 103 a 4 2  z
 
 565, 248Qy  181,316Qz 
q Vz
 a4 
Assim, as forças equivalentes atuantes na mesa superior, devidas apenas a Vz ,
são iguais a:
0,23958 a 0,23958 a
565, 248
   2,3958 10 a 2 x  5 103 ax 2  Vz dx 
3
F z  qdx 
  0
a4 0
0,23958 a
181,316

a4 
0
5, 4375 103 a 2 xVz dx  F z   5, 4205 102Vz
 
0,26042 a 0,26042 a
565, 248
   2,870 10 a3  5 103 ax 2  Vz dx 
4
F z  qdx 
  0
a4 0
0,26042 a
181,316
 1,3027 10 a3  5, 4375 103 a 2 x  Vz dx  F z   0,1206Vz
3

a4 0
 

Semelhantemente, as forças equivalentes atuantes na mesa inferior, devidas


apenas a Vz , possuem as seguintes intensidades:
0,73958 a 0,73958 a
565, 248
   7,3958 10 a 2 x  5 103 ax 2  Vz dx 
3
F z  qdx 
  0
a4 0
0,73958 a
181,316
  3,5625 10 a 2 x Vz dx  F z  0,5856Vz
3

a4 0
 
0,26042 a 0,26042 a
565, 248
   2, 7349 10 a3  5 103 ax 2 Vz dx 
3
F z  qdx 
  0
a4 0
0,26042 a
181,316
  2, 6348 10 a3  3,5625 103 a 2 x  Vz dx  F z   0, 2396Vz
3

a4 0
 

Assim, com base nas forças equivalentes determinadas anteriormente, o


equilíbrio em termos de momentos de torção pode ser imposto. Lembra-se que os sinais
encontrados para as forças equivalentes estão associados aos sinais atribuídos aos
momentos estáticos. Portanto, considerando a ilustração apresentada na Fig. (20.48)
tem-se:

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 593

M T  0  5, 4205 102Vz 0,54375a  0,1206Vz 0,54375a 


0,5856Vz 0,35625a  0, 2396Vz  Vz ey  0  ey  0,1989a

20.6.2 – Exemplo 18

Determine a localização do centro de cisalhamento da seção transversal


assimétrica de paredes finas ilustrada na Fig. (20.50). Considere que a espessura dos
seus elementos de paredes finas seja igual a 0,01a .

Figura 20.50 Seção transversal a ser analisada.

Para que o centro de cisalhamento seja determinado, deve-se, primeiramente,


encontrar a localização do centro de gravidade. Assim, para a seção transversal
estudada, o centro de gravidade está assim posicionado:
a a a
0,01a  a   0,01a  a   a0,01a  
2 3  2   y  0,64a
y
a a a
0,01a  0,01a  a0,01a  0,01a
2 3 4

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 594

a a a a a a a a a
0, 01a    0, 01a     a0, 01a    0, 01a   
z
2 4 3 2 6 2 4 4 8 
a a a
0, 01a  0, 01a  a0, 01a  0, 01a
2 3 4
z  0, 4517a
Os momentos de inércia da seção transversal assumem os seguintes valores:
a a
 0, 01a  a  0, 01a 
3 3

Iz  2  0, 01a  a  0, 64a   3
2

12 2 12
0, 01a  a 
3 2
a a 
0, 01a  a  0, 64a  
2
 a0, 01a   0, 64a  
3 12 2 
a
 0, 01a  a
3

4  0, 01a  0, 64a   I z  3,1334 103 a 4


2

12 4
3 3
a a
0, 01a   2 0,01a  
Iy   2   a 0,01a  a  0, 4517a   3 
 
12 2 4  12
 a  0,01a 
2 3 2
aa a a 
0,01a    0, 4517a    a0, 01a   0, 4517a  
32 6  12 2 
3
a
0,01a   2
 4   0,01a a  a  a  0, 4517a   I  5, 4362 104 a 4
  y
12 4 4 8 
a  a
I yz  0,01a  a  0,64a   0, 4517a   
2  4

 a  0,64a   0, 4517a     0,01aa   0,64a 


a a a a a
0,01a  0, 4517a   
3  2 6 2  2
 a a
a0,01a  0,64a   0, 4517a     I yz  3,1816 104 a 4
 4 8
A localização do centro de cisalhamento, conforme apresentado anteriormente
neste capítulo, é obtida por meio da imposição do equilíbrio, em termos de momentos
de torção, envolvendo as forças equivalentes atuantes nos elementos de paredes finas, as
quais decorrem do fluxo de cisalhamento, e os esforços cortantes atuantes nas direções y
e z. Este equilíbrio pode ser efetuado em relação a qualquer ponto do plano. Na presente
resolução, este equilíbrio será imposto em relação ao ponto de intersecção entre as
mesas superiores e a alma. Dessa forma, com o equilíbrio imposto em relação a este
ponto, o centro de cisalhamento é determinado apenas com o conhecimento da

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 595

intensidade da força equivalente atuante na mesa inferior. A força equivalente


necessária é determinada a partir da integração do fluxo de cisalhamento ao longo do
comprimento da mesa inferior. Assim, para que essa força seja determinada, devem ser
obtidas expressões que governem a variação dos momentos estáticos dessa parede fina a
medida que seu comprimento médio é percorrido. Considerando a ilustração
apresentada na Fig. (20.51), tais expressões podem ser obtidas.
Para valores positivos de z, tem-se:
Qz  0,01a x  0,64a   Qz  6, 4 103 a 2 x

 x
Qy  0, 01a x 0, 2017a    Qy  2, 017 103 a 2 x  5 103 ax 2
 2
Similarmente, para valores negativos de z, obtém-se:
Qz  0,01a 0, 2017a  0,64a   0,01ax  0,64a  
Qz  1, 291103 a3  6, 4 103 a 2 x

 0, 2017 a  x
Qy  0, 01a 0, 2017a    0, 01a x  Qy  2, 034 104 a 3  5 103 ax 2
 2  2

Figura 20.51 Determinação dos momentos estáticos mesa inferior.

A localização do centro de cisalhamento (excentricidades) pode ser determinada


considerando as direções dos esforços cortantes e dos fluxos de cisalhamento
apresentadas na Fig. (20.52).

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 596

Figura 20.52 Fluxos de cisalhamento.

Dessa forma, a atuação isolada de V y possibilita a determinação da

excentricidade na direção de z. Assim, utilizando a Eq. (20.20), pode-se determinar as


forças equivalentes devido a V y e, em seguida, impor o equilíbrio. Portanto:

 I y Qz  I yz Qy   I z Qy  I yz Qz 
q    V   Vz 
 I I  I2 
 I y I z  I yz
y 2
 y z yz  
 5, 4362 104 a 4Qz   3,1816 104 a 4  Qy 
q   V 
 5, 4362 104 a 4  3,1334 103 a 4   3,1816 104 a 4 2  y
 
 339,306Qz  198,583Qy 
q    Vy
 a4 
Assim, as forças equivalentes atuantes na mesa inferior, devidas apenas a V y ,

são iguais a:
0,2017 a 0,2017 a
339,306
   6, 4 10 a 2 x  Vy dx 
3
F z  qdx  
  0
a4 0
0,2017 a
198,583
  2, 017 10 a 2 x  5 103 ax 2  Vy dx  F z   3,8741102Vy
3

a4 0
 
0,0483 a 0,0483 a
339,306
   1, 29110 a3  6, 4 103 a 2 x  Vy dx 
3
F z  qdx  
  0
a4 0
0,0483 a
198,583
  2, 034 10 a3  5 103 ax 2  Vy dx  F z   2,1777 102Vy
4

a4 0
 

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 597

A partir das forças equivalentes determinadas anteriormente, pode-se impor o


equilíbrio de momentos de torção para que a excentricidade ez seja determinada. Deve-
se mencionar que os sinais obtidos para as forças dependem dos sinais encontrados para
os momentos estáticos. Considerando a ilustração apresentada na Fig. (20.52) tem-se:

M T  0  3,8741102Vy a  2,1777 102Vy a  Vy ez  0  ez  0,0605a

Semelhantemente, a excentricidade na direção de y é determinada considerando


a atuação isolada de Vz . Assim, as forças equivalentes atuantes nos elementos de
paredes finas, decorrentes apenas desse esforço cortante, são determinadas utilizando a
Eq.(20.20). Assim:
 I y Qz  I yz Qy   I z Qy  I yz Qz 
q    Vy   Vz 
 I I I  2  I I  I2
 y z yz   y z yz 
 3,1334 103 a 4Qy   3,1816 104 a 4  Qz 
q  V 
 5, 4362 104 a 4  3,1334 103 a 4   3,1816 104 a 4 2  z
 
 1955, 743Qy  198,583Qz 
q 4 Vz
 a 
0,2017 a 0,2017 a
1955, 743
   2, 017 10 a 2 x  5 103 ax 2 Vz dx 
3
F z  qdx 
  0
a4 0
0,2017 a
198,583
  6, 4 10 a 2 x Vz dx  F z  2, 7642 102Vz
3

a4 0
 
0,0483 a 0,0483 a
1955, 743
   2, 034 10 a3  5 103 ax 2  Vz dx 
4
F z  qdx 
  0
a4 0
0,0483a
198,583
  1, 29110 a3  6, 4 103 a 2 x  Vz dx  F z   4,9812 103Vz
3

a4 0
 

Assim, com base nas forças equivalentes determinadas anteriormente, o


equilíbrio em termos de momentos de torção pode ser imposto. Lembra-se que os sinais
encontrados para as forças equivalentes estão associados aos sinais atribuídos aos
momentos estáticos. Portanto, considerando a ilustração apresentada na Fig. (20.52)
tem-se:

M T  0  2,7642 102Vz a  4,9812 103Vz a  Vz ey  0  ez  0,0326a

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 598

20.7 – Centro de Cisalhamento em Seções Transversais Fechadas de


Paredes Finas

Até o presente momento, a metodologia para a determinação da localização do


centro de cisalhamento foi apresentada e aplicada considerando seções transversais
abertas de paredes finas, simétricas e assimétricas. Porém, esta metodologia pode ser
também aplicada em seções transversais fechadas de paredes finas. Dessa forma, a
localização do centro de cisalhamento é determinada impondo o equilíbrio em termos de
momentos de torção, o qual deve ser aplicado considerando as forças equivalentes
decorrentes do fluxo de cisalhamento e o esforço cortante atuante. Assim, o centro de
cisalhamento resulta da condição nula de momento de torção na seção transversal.
Portanto, espera-se que os giros relativos entre as seções transversais da barra sejam
nulos, se o esforço cortante for aplicado nesse ponto. Portanto, conforme apresentado no
d  0 para a determinação do centro de
capítulo 15, item 15.2 e 15.8, deve-se ter dx
cisalhamento. Assim:
d d 
     0 (20.21)
dx dx G
Integrando a relação anterior ao longo do caminho, s , definido pelas dimensões
médias da seção transversal, obtém-se:
d 1 q
  dx ds  G   ds  0    ds   t ds  0 (20.22)
s s s s

Portanto, o centro de cisalhamento é determinado com base na nulidade da


integral de  ou de q t ao longo do comprimento das paredes finas que compõem a
seção transversal. No caso de seções transversais fechadas de paredes finas, o fluxo de
cisalhamento atuante é determinado utilizando um processo de superposição de efeitos.
Assim, para a seção transversal ilustrada na Fig. (20.53), por exemplo, o fluxo de
cisalhamento em um dado ponto P é obtido a partir da superposição do fluxo de
cisalhamento determinado considerando a seção transversal aberta em P (condição
aberta) ao fluxo de cisalhamento constante  PtP (condição fechada).

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 599

Figura 20.53 Superposição dos efeitos dos fluxos de cisalhamento.

Tal superposição se deve ao fato da parcela aberta resultar fluxo nulo


exatamente na abertura. Assim, a inserção do termo constante  PtP , superposto à
condição aberta, restaura a condição inicial do problema. Portanto, o fluxo de
cisalhamento atuante na seção transversal fechada de paredes finas, qT , é composto pela

parcela de fluxo de cisalhamento decorrente do estado aberto, qA , superposto ao estado

fechado, qP . Assim:

qT  qA  qP (20.23)
Portanto, utilizando a Eq.(20.20) obtém-se:
I Q I Q  I Q I Q 
qT    y z yz2 y Vy   z y yz2 z Vz  qP (20.24)
 I I I   I I I 
 y z yz   y z yz 
No entanto, com base no resultado apresentado na Eq.(20.22), verifica-se que

para a determinação do centro de cisalhamento deve-se ter  q ds  0 . Assim:


T
s

  I y Qz  I yz Qy   I z Qy  I yz Qz   1 q
 q ds     Vy   Vz  ds   P ds  0 
  I y I z  I yz   I y I z  I yz
T 2 2
s s    t s
t
(20.25)
q   I y Qz  I yz Qy   I z Qy  I yz Qz   1
 tP ds     I I  I 2 Vy   I I  I 2 Vz  t ds
s s   y z yz   y z yz  
Deve-se enfatizar que a integral do fluxo de cisalhamento ao longo do
comprimento de um dado elemento de parede fina resulta na força equivalente
decorrente do referido fluxo na parede fina analisada. Portanto, o resultado apresentado
na Eq.(20.25) refere-se a força equivalente no elemento de parede fina analisado
decorrente do fluxo constante  PtP . Assim, para que a localização do centro de
cisalhamento seja determinada, deve-se também determinar a força equivalente

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 600

decorrente da condição aberta. Finalmente, o equilíbrio em termos de momentos de


torção é imposto considerando as forças equivalentes decorrentes dos fluxos qA e qP ,
além do esforço cortante aplicado.

20.7.1 – Exemplo 19

Determine a localização do centro de cisalhamento da seção transversal ilustrada


na Fig. (20.54). Nesta seção transversal, os elementos de paredes finas possuem

espessura constante igual a t . Além disso, define-se L  a 2  b 2 .


A seção transversal em análise possui um eixo de simetria, em relação ao eixo z.
Portanto, conclui-se que o centro de cisalhamento estará contido ao longo deste eixo.
Assim, esforços cortantes Vz induzem a uma distribuição simétrica de fluxo de

cisalhamento. Além disso, em decorrência desta simetria, tem-se I yz  0 . Para que as

intensidades das forças equivalentes sejam determinadas, deve-se, primeiramente,


determinar o momento de inércia da seção transversal em torno do eixo z.

Figura 20.54 Seção transversal analisada.

Portanto:
 L  b 2  t  2b 
3
2
I z   y dA  I z     s  tds  2 
2
 I z  b 2t  L  b 
A  0  L   12 3

Dessa forma, a força equivalente decorrente de  PtP pode ser determinada com
base na Eq.(20.25). Assim:

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 601

qP   I y Qz  I yz Qy   I z Qy  I yz Qz   1
 t ds      I I  I 2  y  I I  I 2 Vz  t ds 
   V 
s s   y z yz   y z yz  
qP Q 1 qP V
 t
ds   z Vy ds 
Iz t
 t
ds  y  Qz ds
I zt s
s s s

Considerando a parede fina inclinada tem-se:


q Vy q Vy bs
L
qP Vy bL2
 tP ds  I t  Qz ds   tP ds  I t  ts L 2ds   t ds  I 6
s z s s z 0 s z

Para que a força equivalente decorrente de qP seja determinada, deve-se dividir o


resultado apresentado na última equação pela integral do inverso da espessura, o qual
surge no primeiro membro. Assim:
Vy bL2 Vy bL2
qP Vy bL2 I 6 I 6
 t ds  I 6   q ds  F
P
qP
Eq  z
1
 FEqqP  z
L

s z s
 t ds t
s

Vy bLt
FEqqP 
Iz 6
Similarmente, a força equivalente na parede fina inclinada, na condição aberta,
pode ser determinada considerando que a abertura seja efetuada na conexão entre as
paredes finas inclinadas. Assim:
Vy L
Vy L
bs Vy bL2t
FEqqA   Qz ds  FEqA   ts ds  FEqqA 
q

Iz 0
Iz 0
L2 Iz 6

As forças equivalentes determinadas anteriormente atuam conforme indicado na


Fig.(20.55). Assim, a somatória nula de momentos de torção pode ser imposta em
relação ao ponto médio da parede fina vertical.
Dessa forma:

 Vy bLt Vy bL2t  a
 MT  0   I 6  I 6  L b2  Vye  0 
 z z 
a Vy 2 a Vy
b t 1  L   Vy e  0  b2t 1  L   Vy e  0 
3 Iz 3 2 b2t L  b
 
3
a 1  L 
e
2  L  b

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 602

Figura 20.55 Forças equivalentes e centro de cisalhamento.

O sinal negativo que surge no resultado apresentado na última equação indica


que o centro de cisalhamento encontra-se posicionado à direita da parede fina vertical e
não à esquerda como inicialmente assumido.
Deve-se mencionar que a metodologia anteriormente apresentada pode ser
também aplicada às seções transversais celulares, ou seja, seções transversais formadas
por múltiplos septos. Nesse caso, a hipótese de nulidade da integral de  ou de q t ao
longo do comprimento das paredes finas que compõem a seção transversal deve ser
aplicada, ou seja, continua válida, para cada um dos septos. Caso o leitor deseje mais
informações sobre esse assunto em particular, o autor sugere que consultas sejam
efetuadas no tema teoria de Vlasov. Além disso, cursos de pós-graduação associados ao
tema flexo-torção também abordam este assunto.

Capítulo 20 – Fluxo de Cisalhamento em Seções Formadas por Elementos Esbeltos____


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 603

21. – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica

21.1 –Introdução

Nos projetos de engenharia estrutural, o estabelecimento de limites para os


valores das deflexões, ou deslocamentos, de elementos estruturais submetidos a
esforços de flexão é de grande importância. Os valores dos deslocamentos dos pontos
materiais pertencentes aos elementos estruturais estão diretamente relacionados ao bom
desempenho da estrutura e também ao conforto e bem-estar de seus usuários.
Embora a condição de equilíbrio seja atendida em diversas situações, ou seja, o
colapso mecânico não é observado, o deslocamento excessivo da estrutura pode causar
sua inutilização. Como mostrado na Fig. (21.1), o deslocamento excessivo de uma viga,
pertencente ao sistema estrutural de um edifício, pode resultar no ineficiente
funcionamento de portas e janelas, além do descolamento dos revestimentos das paredes
e das lajes. Assim, nessas situações a estrutura não atende às suas condições de serviço.

Figura 21.1 Deslocamentos excessivos em estruturas.

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 604

Existem diversos métodos que permitem a determinação dos deslocamentos em


elementos de barra geral fletidos. Dentre estes, será apresentado nestas notas, o método
conhecido como Linha Elástica. A linha elástica refere-se à forma exibida pelo eixo de
um elemento de barra geral composto por material elástico em sua configuração
deslocada.
Para fins ilustrativos, podem ser analisadas, qualitativamente, as linhas elásticas
dos elementos de viga apresentados na Fig. (21.2). Nestes elementos atuam ações
externas que produzem flexão, conduzindo a estrutura a uma configuração deslocada em
relação à sua posição original. A linha formada pela união dos pontos pertencentes ao
eixo da viga na posição deslocada define a linha elástica. Nas ilustrações apresentadas
na Fig. (21.2), as linhas na cor azul representam as linhas elásticas.

Figura 21.2 Linha elástica em vigas.

O estudo da linha elástica que será apresentado neste capítulo visa à avaliação
dos deslocamentos em elementos estruturais do tipo viga. Portanto, objetiva-se
determinar, para os pontos localizados sobre o eixo da viga, o deslocamento
perpendicular ao eixo da viga e suas rotações.
Para a determinação da(s) expressão(ões) que representa(m) a linha elástica,
deve-se considerar as condições de vinculação atuantes na estrutura. Se em um dado
ponto, localizado na ordenada x ao longo do comprimento da viga, o deslocamento v
for nulo, como nos apoios fixo e móvel e também nos engastes, tem-se v  x   0 . Por

outro lado, se a rotação for nula neste ponto, como ocorre nos engastes, tem-se que
dv  x 
 v'  x   0 .
dx
Além disso, os valores dos esforços solicitantes (momento fletor e esforço
cortante) ao longo dos pontos da viga devem também ser considerados. Para as vigas
mostradas na Fig. (21.2), constata-se que o momento fletor nos pontos onde atuam os
apoios do tipo fixo é nulo. Com relação ao esforço cortante, verifica-se que seu valor é
igual a F, para a primeira das vigas mostradas na Fig. (21.2), no ponto localizado na
extremidade do balanço, ou seja, no ponto onde a força concentrada é aplicada.

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 605

O conjunto formado pelos valores dos deslocamentos, das rotações e dos


esforços solicitantes conhecidos ao longo dos pontos da estrutura analisada é
denominado condições de contorno aplicadas a estrutura. As condições de contorno
serão utilizadas para a determinação das expressões que definem a linha elástica.
Para encerrar a parte introdutória deste capítulo, deve-se dedicar atenção
especial aos pontos cuja rotação seja nula. Estes pontos representam inflexões na curva
de deslocamento, portanto, serão nestes pontos em que os deslocamentos apresentarão
seus valores extremos, máximos ou mínimos, locais ou globais. Dessa forma, os valores
extremos dos deslocamentos, que serão utilizados para as verificações de projeto,
devem ser calculados nos pontos onde a rotação é nula. Para a segunda viga mostrada na
Fig. (21.2), constata-se que o deslocamento máximo ocorre no ponto A, localizado no
centro do vão. Não por acaso, nesse ponto a rotação é nula.
Tal constatação pode ser também obtida matematicamente, uma vez que a
rotação é igual a derivada primeira do deslocamento em relação ao comprimento do
dv  x 
elemento estrutural, ou seja,  v '  x   0 . Utilizando os conhecimentos do
dx
cálculo diferencial, quando v '  x   0 tem-se um ponto de extremo de v  x  .

21.2 –Equação da Linha Neutra

Para que o cálculo dos deslocamentos em vigas via linha elástica seja possível,
deve-se, inicialmente, formular o problema associando as deformações no plano da
seção transversal aos carregamentos atuantes e aos esforços solicitantes produzidos por
estes. Para tal fim, pode-se considerar a viga prismática mostrada na Fig. (21.3), a qual
está em equilíbrio quando submetida a um conjunto de ações externas.

Figura 21.3 Viga submetida a um conjunto de ações externas.

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 606

Assumindo que a viga obedeça ao regime de pequenos deslocamentos, pode-se


aproximar sua configuração deslocada por um arco de círculo. Dessa forma, um
elemento infinitesimal de comprimento dx irá apresentar, antes e depois da deformação,
as configurações geométricas mostradas na Fig. (21.4). Por meio desta figura observa-se
que a deformação normal no elemento varia conforme o ponto analisado percorre a
altura da seção transversal, como já discutido nos capítulos 17 e 18.

Figura 21.4 Elemento infinitesimal da viga. Antes e após a deformação.

Utilizando a definição de deformação normal, verifica-se que a deformação


normal ao longo de uma dada fibra dessa seção pode ser calculada por:
ds '  ds
 (21.1)
ds
Conforme mostrado na Fig. (21.4), verifica-se que antes da deformação ds  dx .
Após a deformação, a configuração deslocada da viga será aproximada por um arco de
círculo. Assim, o conjunto de pontos que compõe a fibra que permanece com
comprimento dx , isto é, a fibra que mantém-se indeformada, pode ser definido a partir
de um arco de círculo de raio  e centro O ' . Uma vez que d define o ângulo entre os
lados do elemento infinitesimal considerado (a abertura do arco de círculo), tem-se que:
ds  dx   d (21.2)

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 607

De forma semelhante, o comprimento deformado de uma dada fibra, ds ' , pode


ser definido em função do arco de círculo de raio  e centro O ' . Assim, para as fibras
deformadas tem-se que:
ds '     y  d (21.3)

Com base nas Eq.(21.2) e Eq.(21.3), pode-se reescrever a Eq.(21.1) como:

  lim
   y  d   d   
y
(21.4)
d  0  d 
Como o problema envolve apenas a flexão em torno do eixo z, sabe-se que as
tensões normais, neste caso, estão associadas ao momento fletor atuante por meio da
seguinte relação, conforme apresentado no capítulo 17:
M
  y (21.5)
I
Utilizando a lei de Hooke   E  e a Eq.(21.4), pode-se reescrever a

Eq.(21.5) da seguinte forma:


M M y M 1 M
  y  E   y  E  y   (21.6)
I I  I  EI
A Eq.(21.6) relaciona o valor inverso do raio do arco de círculo, também
conhecido como curvatura, ao momento fletor atuante. O próximo passo para a
obtenção da formulação da linha elástica envolve a associação da curvatura ao
deslocamento da viga. Para tal fim, deve-se considerar um elemento representativo da
linha elástica de uma viga como mostrado na Fig. (21.5).

Figura 21.5 Elemento representativo da linha elástica

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 608

Conforme mostrado na Fig. (21.5),  é o ângulo entre o eixo x e a tangente à


curva de deflexão, ou linha elástica, em um dado ponto. O ângulo  possui valor
positivo se medido no sentido anti-horário. Assumindo-se que a viga obedeça ao regime
de pequenos deslocamentos e pequenas rotações, o comprimento infinitesimal da linha
elástica ds pode ser assim calculado:
ds   d (21.7)
Portanto, a curvatura pode ser escrita como:
1 d
 (21.8)
 ds
Com base na Eq.(21.8), admitindo-se o sistema cartesiano clássico, a curvatura é
positiva se a concavidade da linha elástica estiver voltada para o sentido positivo do
eixo y, sendo negativa em caso contrário, como mostra a Fig. (21.6).

Figura 21.6 Sinais para a curvatura da linha elástica.

A inclinação da curva de deflexão é igual à sua primeira derivada, ou seja,


dv . Com base na Fig. (21.5), verifica-se que, geometricamente, a inclinação da curva
dx
de deflexão é dada pela variação do deslocamento, dv , dividido pelo incremento do
comprimento da linha elástica ao longo do eixo x, dx . Como dv e dx são
infinitesimais, pode-se escrever que:
dv
tan    (21.9)
dx
Essa formulação assume que a viga obedeça ao regime de pequenos
deslocamentos, e consequentemente ao de pequenas rotações. Isso faz com que tanto os
deslocamentos quanto as rotações sejam muito pequenos. Portanto, admite-se que a
curva de deflexão seja praticamente horizontal. Como consequência dessa hipótese tem-
se que:

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 609

ds  dx (21.10)
Assim, a curvatura, expressa pela Eq.(21.8), passa a ser dada por:
1 d
 (21.11)
 dx
Uma vez que a Eq.(21.10) é verdadeira, pelas hipóteses consideradas, tem-se que
o ângulo  é muito pequeno. Nessa condição sabe-se que tan     . Com base nesta

informação, pode-se reescrever a Eq.(21.9) como:


dv dv
tan       (21.12)
dx dx
Derivando a Eq.(21.12) em relação ao comprimento da linha elástica tem-se:
d d 2 v
 (21.13)
dx dx 2
Utilizando os resultados apresentados nas Eq.(21.11) e Eq.(21.13) obtém-se:
1 d 2v
 (21.14)
 dx 2
A Eq.(21.14) relaciona a curvatura ao deslocamento da viga. Para que o
deslocamento seja relacionado ao esforço solicitante atuante deve-se utilizar a
Eq.(21.6), a qual expressa a curvatura em função do momento fletor atuante. Igualando
as curvaturas dadas pelas Eq.(21.6) e Eq.(21.14) tem-se:
d 2v M
 (21.15)
dx 2 EI
A Eq.(21.15) pode ser integrada sucessivamente para a obtenção do
deslocamento da viga, e consequentemente da expressão da linha elástica, desde que
sejam conhecidas as variações do momento fletor, M, do módulo de elasticidade
longitudinal, E, e do momento de inércia da seção transversal em torno do eixo z, I, ao
longo do comprimento da barra.
A Eq.(21.15) pode ainda ser escrita em função do esforço cortante, V, ou do
carregamento distribuído, q, atuante na viga. Para a obtenção dessas expressões devem
ser utilizadas as relações diferenciais apresentadas no capítulo 5. As relações
diferenciais preveem que, na situação de equilíbrio, as seguintes condições são válidas.
dM dV
V  q (21.16)
dx dx

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 610

Portanto, com base nas relações diferenciais mostradas na Eq.(21.16), pode-se


reescrever a Eq.(21.15) na seguinte forma.
d 2v M d  d 2v  d  M  d 3v 1 dM
        
dx 2 EI dx  dx 2  dx  EI  dx 3
EI dx
(21.17)
3
d v V

dx 3 EI

d 2v M d 3v V d  d 3v  d  V  d 4v 1 dV
2
  3
   3      4
 
dx EI dx EI dx  dx  dx  EI  dx EI dx (21.18)
4
d v q
4

dx EI
Portanto, as equações que permitem a determinação das deflexões em vigas, e
consequentemente da linha neutra, são as mostradas na Eq.(21.19).
d 2v M d 3v V d 4v q
2
 v ''  3
 v '''  4
 v ''''   (21.19)
dx EI dx EI dx EI
Em muitas aplicações de engenharia, é comum a utilização de elementos
estruturais cujas seções transversais tenham suas dimensões variando ao longo de seu
comprimento. Nessa situação, o momento de inércia, que depende das dimensões da
seção transversal, deverá ser expresso considerando tal variação. Portanto, nesses casos
deve-se integrar sucessivamente uma das Eq.(21.19) considerando a variação das
dimensões da seção transversal.
Como resultado das integrações sucessivas das Eq.(21.19), surgem termos livres
que necessitam ser determinados em função das condições de contorno presentes na
viga. As condições de contorno referem-se a pontos onde os deslocamentos, rotações ou
esforços solicitantes são conhecidos. Para a viga mostrada na Fig. (21.7) constata-se que
as condições de contorno são as seguintes:

Figura 21.7 Viga engastada apoiada.

dv  A 
v  A  0 v B   0  v'  A  0 (21.20)
dx
Em pontos onde ocorrem descontinuidades, como nos pontos de atuação de
ações pontuais (forças ou momentos) e pontos em que ocorrem mudanças nas
dimensões da seção transversal, condições de compatibilidade de deslocamentos e

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 611

rotações devem ser incluídas na análise. Para a viga mostrada na Fig. (21.8) têm-se as
seguintes condições de contorno.

Figura 21.8 Viga bi apoiada com carga pontual.

v  A  0 vB  0
d 2v  A 
EI  v ''  A  EI  M  A   0
dx 2 (21.21)
d 2v  B 
2
EI  v ''  B  EI  M  B   0
dx
v AC  C   vCB  C  v 'AC  C   v CB
'
C 

21.2.1 – Exemplo 1

Determine a expressão da linha elástica para a viga mostrada na Fig. (21.9).


Calcule também o deslocamento máximo da viga e os valores das rotações nos apoios.
Considere que o produto EI seja constante para toda a extensão da viga.

Figura 21.9 Viga a ser analisada.

Para a solução deste exemplo, deve-se determinar a expressão que relaciona o


momento fletor atuante ao sistema de coordenadas posicionado no apoio A. Para isso,
deve-se inicialmente calcular as reações de apoio. Devido à simetria da estrutura
verifica-se facilmente que estas são iguais a:
qL
R A  RB 
2

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 612

Assim, para uma seção genérica distante de x do apoio A, como ilustrado na Fig.
(21.10), pode-se expressar o momento fletor efetuando-se seu equilíbrio de corpo
rígido. Portanto:

Figura 21.10 Determinação da equação do momento fletor.

qL x qL q
M 0  
2
x  qx  M  x   0  M  x  
2 2
x  x2
2
Utilizando a primeira das equações mostradas na Eq.(21.19) tem-se:
d 2v M d 2v 1  qL q 
    x  x2  (21.22)
dx 2 EI dx 2
EI  2 2 
Integrando a Eq.(21.22) em relação ao comprimento da viga obtém-se:
d 2v 1  qL q 2 dv 1  qL 2 q 3 
 dx 2 dx   EI  2 x  2 x  dx   
dx EI  4
x  x  C1 
6 
(21.23)

Integrando a Eq.(21.23) em relação ao comprimento da viga tem-se:


dv 1  qL q 3 
 dx dx   EI  4 x2 
6
x  C1  dx 

(21.24)
1  qL 3 q 4 
v  12 x  24 x  C1 x  C 2 
EI
Para que as constantes de integração C1 e C 2 sejam determinadas, deve-se

aplicar as condições de contorno do problema. Estas duas constantes de integração são


determinadas utilizando-se as duas condições de contorno do problema. Assim, sabe-se
que:
v  A  v  0   0
v  B  v  L  0

Com a primeira das condições de contorno obtém-se:


1  qL 3 q 4 
v  A  v 0  0  0   12 0  24 0  C1 0  C 2   C 2  0
EI

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 613

Já a aplicação da segunda delas resulta em:


1  qL 3 q 4  q 3
v B  v L  0  0   12 L  24 L  C1 L   C1   24 L
EI
Dessa forma, a expressão do deslocamento da viga fica assim escrita:
1  qL 3 q 4 q 3 
v  12 x  24 x  24 L x  (21.25)
EI
As rotações são calculadas com base na primeira derivada da Eq.(21.25). Assim,
a expressão que relaciona as rotações de todos os pontos da viga é a seguinte:
dv 1  qL 2 q 3 q 3 
 x  x  L (21.26)
dx EI  4 6 24 
Para o apoio A, a rotação é dada por:
dv  A  dv  0  1  qL 2 q 3 q 3  dv  0  q L3
   4 0  6 0  24 L   
dx dx EI dx 24 EI
Já a rotação do apoio B é igual a:
dv  B  dv  L  1  qL 2 q 3 q 3  dv  L  q L3
  L  L  L  
dx dx EI  4 6 24  dx 24 EI
O deslocamento máximo ocorre nos pontos onde a rotação é nula. Assim, para a
viga em questão o deslocamento máximo ocorrerá em:
dv  x  1  qL 2 q 3 q 3 
  x  x  L   0  6 Lx 2  4 x 3  L3  0 (21.27)
dx EI  4 6 24 
Resolvendo o polinômio cúbico mostrado na Eq.(21.27) obtêm-se as seguintes
raízes:

x1 
1
2

L  3L  x2 
1
2

L  3L  x3 
L
2
Constata-se facilmente que as raízes x1 e x2 resultam em valores para

coordenadas x que não pertencem ao domínio da viga. Portanto, não são soluções
possíveis para o problema. O ponto onde ocorre o deslocamento máximo é o ponto dado
pela raiz x3 . Assim, o deslocamento máximo ocorre no centro do vão.

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 614

21.2.2 – Exemplo 2

Determine o deslocamento e a rotação para o ponto B da viga engastada


mostrada na Fig. (21.11). Considere que o produto EI seja constante para toda a
extensão da viga.

Figura 21.11 Viga a ser analisada.

Para a determinação da equação da linha elástica será utilizada a primeira das


equações mostradas na Eq.(21.19). Assim, deve-se obter uma expressão que relacione o
valor do momento fletor à ordenada x ao longo do comprimento da viga. Esta equação é
escrita com base nas reações de apoio da viga. Para a viga em análise, as reações de
apoio são as apresentadas na Fig. (21.12).

Figura 21.12 Reações de apoio.

Efetuando o equilíbrio de corpo rígido considerando as reações de apoio


apresentadas na Fig. (21.12), pode-se escrever a intensidade do momento fletor ao longo
do comprimento da viga, o qual resulta em:
qL2 x qL2 q 2
 M  0   qLx  2  qx 2  M  x   0  M  x   qLx  2  2 x
Utilizando a primeira das equações mostradas na Eq.(21.19) tem-se:

d 2v M d 2v 1  qL2 q 2 
    qLx   x  (21.28)
dx 2 EI dx 2
EI  2 2 

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 615

Integrando a Eq.(21.28) uma vez em relação à variável x obtém-se:


d 2v 
1 qL2 q 2 
 dx 2 dx   EI


qLx 
2
 x  dx 
2 
(21.29)
dv 1  qL 2 qL2 q 
  x  x  x 3  C1 
dx EI  2 2 6 
Integrando a Eq.(21.29) em relação ao comprimento da viga tem-se:
dv 1  qL 2 qL2 q 3 
 dx  EI  2 x  2 x  6 x  C1  dx 
dx 
(21.30)
1  qL 3 qL2 2 q 4 
v  x  x  x  C1 x  C2 
EI  6 4 24 
As duas constantes de integração, C1 e C2 , que surgiram do processo de
integrações sucessivas, devem ser determinadas com base nas condições de contorno do
problema. Com base na Fig. (21.11), observa-se que as condições de contorno são as
seguintes:
dv
v 0  0 0  0
dx
Utilizando a primeira condição de contorno apresentada acima obtém-se:
1  qL 3 qL2 2 q 4 
v 0   0  0  0  C1 0  C 2   C2  0
EI  6 4 24 
Com a segunda condição de contorno determina-se C1 . Assim:

dv  0  1  qL 2 qL2 q 
  0  0  0 3  C1   C1  0
dx EI  2 2 6 
Portanto, as expressões dos deslocamentos e rotações para os pontos que
constituem a viga são iguais a:
1  qL 3 qL2 2 q 4 
v x  x  
EI  6 24 
x
4
(21.31)
dv 1  qL 2 qL2 q 
  x  x  x3 
dx EI  2 2 6 

Avaliando as expressões mostradas na Eq.(21.31) para a extremidade do balanço


obtém-se:

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 616

1  qL 3 qL2 2 q 4  qL4
v L        
EI  6 24 
L L L v L
4 8 EI
dv  L  1  qL 2 qL2 q 3 dv  L  qL3
  L  L  L    
dx EI  2 2 6  dx 6 EI

Percebe-se, intuitivamente, que os valores de deslocamento e rotação calculados


na extremidade do balanço são os valores máximos atuantes na viga.

21.2.3 – Exemplo 3
 
Determine a expressão da linha elástica para a viga mostrada na Fig. (21.13).
Além disso, calcule o deslocamento e a rotação no ponto B. Considere que o produto EI
seja constante para toda a extensão da viga.

Figura 21.13 Viga a ser analisada.

Para a resolução deste exemplo será utilizada a terceira expressão mostrada na


Eq.(21.19), a qual depende da variação do carregamento distribuído ao longo do
comprimento da viga, q. Como o carregamento distribuído considerado varia
linearmente ao longo do comprimento da viga, pode-se escrever sua variação como:
q0
q  q0  x
L
Assim, pode-se escrever a terceira expressão da Eq.(21.19) como:
d 4v  q  1 d 4 v  q0  1
4
   q0  0 x  4
  x  q0  (21.32)
dx  L  EI dx L  EI
Integrando a Eq.(21.32) ao longo do comprimento da viga obtém-se:
d 4v q  1 d 3 v  q0 2  1
 dx 4 dx    L0 x  q0  EI dx  dx 3

 2L
x  q0 x  C1 
 EI
(21.33)

Integrando a Eq.(21.33) novamente em relação ao comprimento da viga resulta


em:

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 617

d 3v q 2  1
 dx 3 dx    2 L0 x  q0 x  C1  EI dx 
(21.34)
d 2 v  q0 3 q0 2  1
2
 x  x  C1 x  C 2 
dx  6L 2  EI
Efetuando a integração da Eq.(21.34) em relação à x obtém-se a expressão das
rotações dos pontos que compõem a viga. Assim:
d 2v q 3 q 2  1
 dx 2 dx    6 L0 x  20 x  C1 x  C2  EI dx 
(21.35)
dv  q0 4 q0 3 C1 2  1
 x  x  x  C 2 x  C3 
dx  24 L 6 2  EI
Finalmente, integrando a Eq.(21.35) em relação ao comprimento da viga obtém-
se a expressão da linha elástica. Dessa forma:
dv  q0 q0 3 C1 2  1
 dx dx    24 L x  x  x  C 2 x  C3  dx 
4

6 2  EI
(21.36)
 q q C C  1
v   0 x 5  0 x 4  1 x 3  2 x 2  C3 x  C 4 
 120 L 24 6 2  EI
A Eq.(21.36) representa a equação da linha elástica, a qual envolve quatro
constantes de integração, C1 , C 2 , C3 e C 4 . Estas constantes são determinadas com base
em quatro condições de contorno do problema. Para a viga mostrada na Fig. (21.13)
têm-se as seguintes condições de contorno:
dv d 2v  L  d 3v  L 
v 0  0 ; 0  0 ; EI  M  L   0 ; EI  V  L   0 (21.37)
dx dx 2 dx 3
Utilizando a primeira das condições de contorno mostradas na Eq.(21.37)
obtém-se:
 q q C C  1
v  0   0   0 0 5  0 0 4  1 0 3  2 0 2  C3 0  C 4   C4  0
120 L 24 6 2  EI
Por meio da segunda condição de contorno apresentada na Eq.(21.37) pode-se
determinar o valor de C 2 . Assim:

dv  0   q q C  1
 0   0 0 4  0 0 3  1 0 2  C 2 0  C3   C3  0
dx  24 L 6 2  EI
Com base na última condição de contorno mostrada na Eq.(21.37), que prevê
que o esforço cortante seja nulo na extremidade do balanço, tem-se:
d 3v  L  q  1 q0 L
3
 0   0 L2  q0 L  C1   C1 
dx  2L  EI 2

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 618

Finalmente, utilizando a condição de contorno que prevê que o momento fletor


seja nulo no ponto B obtém-se:
d 2v  L  q q qL  q0 L2
2
 0   0 L3  0 L2  0 L  C 2   C2  
dx  6L 2 2  6
Dessa forma, com base nas constantes de integração determinadas
anteriormente, as equações que descrevem o deslocamento e a rotação da viga são
escritas como:
 q q qL q L2  1
v   0 x5  0 x 4  0 x3  0 x2  
120 L 24 12 12  EI
(21.38)
dv  q0 4 q0 3 q0 L 2 q0 L2  1
 x  x  x  x
dx  24 L 6 4 6  EI
Com base na Eq.(21.38), verifica-se que os valores do deslocamento e da rotação
no ponto B são iguais a:
 q0 5 q0 4 q0 L 3 q0 L2 2  1
v B  v L   L  L  L  L  
 120 L 24 12 12  EI
q L4
v L   0
30 EI
dv  B  dv  L   q0 4 q0 3 q0 L 2 q0 L2  1
  L  L  L  L 
dx dx  24 L 6 4 6  EI
dv  L  q L3
 0
dx 24 EI

21.2.4 – Exemplo 4
 
Determine as expressões que representam o deslocamento e a rotação dos pontos
da viga mostrada na Fig. (21.14). Considere que o produto EI seja constante para toda a
extensão da viga.

Figura 21.14 Viga a ser analisada.

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 619

Assumindo que a reação do apoio A atue no sentido de y negativo e que a reação


do apoio B atue no sentido de y positivo, pode-se efetuar o equilíbrio de corpo rígido
desta viga com o objetivo de determinar suas reações de apoio, as quais resultam em:
3 3
 M  A  0  P
2
L  RB L  0  RB 
2
P

3 1
F y 0  P
2
P  RA  0  RA 
2
P

Para a determinação das expressões do deslocamento e da rotação será utilizada


a primeira das equações mostradas na Eq.(21.19). Como o apoio B está posicionado de
forma interna à viga, verifica-se que a equação do momento fletor deverá ser avaliada
nos intervalos 0  x  L e L  x  3 L . Assim:
2
P
Para 0  x  L M 0 
2
x  M  x  0 

P
M  x   x
2
P 3P
Para L  x  3 L
2 M 0 
2
x
2
 x  L  M  x  0 
3 PL
M  x   Px 
2
Considerando inicialmente o intervalo 0  x  L , pode-se escrever que:
d 2v M d 2v 1  P 
     2 x (21.39)
dx 2 EI dx 2
EI 
Integrando a Eq.(21.39) uma vez em relação à variável x obtém-se:
d 2v 1  P  dv 1  P 2 
 dx 2 dx   EI   2 x  dx  dx  EI   4 x  C1  (21.40)

Integrando a Eq.(21.40) em relação ao comprimento da viga tem-se:


dv 1  P  1  P 3 
 dx dx   EI   4 x  C1  dx  v   x  C1 x  C 2 
2
 (21.41)
 EI  12 
As duas constantes de integração, C1 e C2 , que surgiram do processo de

integrações sucessivas, devem ser determinadas com base nas condições de contorno do
problema. No intervalo considerado, constata-se, a partir da Fig. (21.14), que as
seguintes as condições de contorno são observadas:
v 0  0 v  L  0

Utilizando a primeira condição de contorno apresentada acima obtém-se:

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 620

1  P 3 
v 0  0    12 0  C1 0  C 2   C 2  0
EI
Com a segunda condição de contorno do intervalo tem-se:
1  P 3  PL2
v L  0  
 12 L  C L
1   C1 
EI  12
Dessa forma, as expressões dos deslocamentos e das rotações para os pontos que
constituem a viga no intervalo 0  x  L são as seguintes:

1  P 3 PL2 
v   12 x  12 x  
EI  
(21.42)
dv 1  P 2 PL2 
  x  
dx EI  4 12 

Considerando agora o intervalo L  x  3 L , pode-se escrever a primeira das


2
expressões mostradas na Eq.(21.19) como:
d 2v M d 2v 1  3 PL 
    Px  2  (21.43)
dx 2 EI dx 2
EI
Integrando a Eq.(21.43) em relação à variável x obtém-se:
d 2v 1  3 PL  dv 1  P 2 3 PL 
 dx 2 dx   EI  Px  2  dx  dx  EI  2 x  2 x  C3  (21.44)

Integrando a Eq.(21.44) em relação ao comprimento da viga tem-se:


dv 1 P 3 PL 
 dx dx   EI  2 x  x  C3  dx 
2

2 
(21.45)
1  P 3 3 PL 2 
v  6 x  4 x  C3 x  C 4 
EI
As duas constantes de integração, C3 e C4 , que surgiram na Eq.(21.45) são

determinadas com base nas condições de contorno do problema. No intervalo


considerado observam-se as seguintes condições de contorno:
d 2v  L  d 3v  L 
v L  0 ;
dx 2
EI  M 3
2 
L 0; 
dx 3
 
EI  V 3 L  P
2
Porém, constata-se, por meio da Eq.(21.45), que as constantes de integração
dependem apenas linearmente da variável x. Dessa forma, as duas últimas condições de
contorno apresentadas neste intervalo não conduzem à determinação de C3 e C4 .

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 621

Para que a viga apresente continuidade sobre o apoio B, tem-se que a rotação
neste ponto deve ser igual para ambos os intervalos que concorrem a este ponto. Assim,
surge uma condição de continuidade igual a:
dv AB  L  dv BC  L 

dx dx
dv AB
Sabendo que a expressão de é dada pela Eq.(21.42) obtém-se:
dx
dv AB  L  dv BC  L  1  P 2 PL2  1  P 2 3 PL 
    L     L  L  C3  
dx dx EI  4 12  EI  2 2 
2
5 PL
C3 
6
Como o deslocamento é nulo sobre o ponto B, x  L , determina-se a constante
C 4 , a qual é igual a:

1  P 3 3 PL 2 5 PL2  PL3
v L  0  6 L  L  L  C 4  C 4 
EI  4 6  4

Portanto, as expressões que relacionam o deslocamento e a rotação aos pontos

posicionados ao longo do comprimento da viga, no intervalo L  x  3 L , são as


2
seguintes:
1  P 3 3 PL 2 5 PL2 PL3 
v 6    
4 
x x x
EI  4 6
dv 1  P 2 3 PL 5 PL2 
  x  x 
dx EI  2 2 6 

21.2.5 – Exemplo 5

Sabe-se que a equação que exprime o deslocamento dos pontos de uma viga
biapoiada é a mostrada na Eq.(21.46). Com base nesta equação, determine o
carregamento distribuído que deu origem a este deslocamento e também os esforços
cortantes nos pontos x  0 e x  L .
q0
v 3L5 x  5 L3 x 3  3 Lx 5  x 6  (21.46)
90 EIL2 
De acordo com a última das expressões mostradas na Eq.(21.19) tem-se que:

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 622

d 4v q
4
 v ''''  
dx EI
Portanto, o carregamento distribuído q é obtido derivando-se quatro vezes a
Eq.(21.46) em relação à variável x. Assim:
q0
v  3 L5 x  5 L3 x 3  3 Lx 5  x 6 
2 
90 EIL
dv q0
 2 
 3 L5  15 L3 x 2  15 Lx 4  6 x 5 
dx 90 EIL
2
d v q0
  30 L3 x  60 Lx 3  30 x 4  (21.47)
dx 2
90 EIL2 
d 3v q0
3
 2 
 30 L3  180 Lx 2  120 x 3 
dx 90 EIL
4
d v q0
  360 Lx  360 x 2 
dx 4
90 EIL2 
Com base na última das expressões mostradas na Eq.(21.47) tem-se:
d 4v q0 q 4 q0
4
 360 Lx  360 x 2   
2 
 q 2 
 Lx  x 2 
dx 90 EIL EI L
Assim, é um carregamento parabólico. Os valores dos esforços cortantes nos
pontos x  0 e x  L são dados por:

d 3v V d 3v
  V EI
dx 3 EI dx 3
Para o ponto x  0 tem-se:
q0 q0 L
V   30 L3  180 L  0 2  120  03  EI
2 
 V 
90 EIL 3
Já para o ponto x  L obtém-se:
q0 q0 L
V   30 L3  180 LL2  120 L3  EI  V 
90 EIL2  3

21.3 –Vigas Submetidas à Ações Concentradas

Em muitas aplicações de engenharia, estruturas são solicitadas por ações


concentradas ao longo de seu comprimento. Tais ações são normalmente forças e
momentos atuantes em um ou mais pontos materiais que compõem a estrutura. Em
problemas deste tipo, ocorrem descontinuidades nas expressões que definem as

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 623

intensidades do momento fletor e do esforço cortante ao longo do comprimento da


estrutura. Portanto, em problemas onde ações concentradas estão presentes, as equações
que definem o deslocamento e a rotação devem ser escritas entre os trechos onde as
descontinuidades estão presentes.
Apesar dos esforços solicitantes nos pontos onde as ações concentradas atuam
poderem ser descontínuos, o deslocamento e a rotação nestes pontos devem ser
contínuos. Assim, deve-se garantir a continuidade da estrutura. Como os deslocamentos
e as rotações são definidos por trechos, deve-se garantir que as expressões que os
descrevem sejam contínuas exatamente nos pontos onde as ações concentradas atuam.

21.3.1 – Exemplo 6

Determine a equação da linha elástica para a viga mostrada na Fig. (21.15).


Considere que o produto EI seja constante para toda a extensão da viga.

Figura 21.15 Viga a ser analisada.

Considerando que as duas reações de apoio estejam orientadas no sentido de y


positivo, pode-se aplicar as equações de equilíbrio de corpo rígido para sua
determinação. Assim:
PL1
 M  A  0  PL1  RB  L1  L2   0  RB 
 L1  L2 
PL1 PL2
F y 0  P R 0 
 L1  L2  A
RA 
 L1  L2 
Devido à presença de uma força concentrada de intensidade P localizada em
x  L1 , constata-se a expressão que define a linha elástica deverá ser escrita em trechos,

sendo seus intervalos iguais a 0  x  L1 e L1  x   L1  L2  . Considerando o primeiro

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 624

destes intervalos, verifica-se que a expressão que define o momento fletor ao longo do
intervalo é dada por:
PL2 PL2
M 0  
 L1  L2 
x  M  x  0  M  x 
 L1  L2 
x

Utilizando a primeira das equações mostradas na Eq.(21.19) obtém-se:


d 2v M d 2v 1 PL2
   x (21.48)
dx 2 EI dx 2
EI  L1  L2 

Integrando a Eq.(21.48) em relação à x obtém-se:

d 2v 1  PL2  dv 1  PL2 
 dx 2   EI  L1  L2    
2
dx  x  dx  x C  (21.49)
dx EI  2  L1  L2 
1
  
Integrando a Eq.(21.49) também em relação à x obtém-se o resultado
apresentado na Eq.(21.50):

dv 1  PL2 
 dx dx   EI  x 2  C1  dx 
 2  L1  L2  
(21.50)
1  PL2 
v  x 3  C1 x  C2 
EI  6  L1  L2  
Já para o trecho definido pelo intervalo L1  x   L1  L2  , tem-se que o

momento fletor é dado pela seguinte expressão:


PL2
M 0  
 L1  L2 
x  P  x  L1   M  x   0 

PL2
M  x  x  Px  PL1
 L1  L2 
Com base na primeira das equações mostradas na Eq.(21.19) pode-se escrever
que:

d 2v M d 2v 1  PL2 
    x  Px  PL1  (21.51)
dx 2 EI dx 2
EI   L1  L2  
Integrando a Eq.(21.51) em relação ao comprimento da viga tem-se:

d 2v 1  PL 
 dx 2 dx   EI   L1  2L2  x  Px  PL1  dx 
 
(21.52)
dv 1  PL2 P 
  x 2  x 2  PL1 x  C3 
dx EI  2  L1  L2  2 
Integrando a Eq.(21.52) em relação à variável x resulta em:

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 625

dv 1  PL2 P 
 dx dx   EI  2  L 1  L2 
x 2  x 2  PL1 x  C3  dx
2

 
(21.53)
1  PL2 P PL 
v  x 3  x 3  1 x 2  C3 x  C 4 
EI  6  L1  L2  6 2 
Segundo ilustrado na Fig. (21.15), observa-se que o problema apresenta as
seguintes condições de contorno:
v 0   0 v  L1  L2   0 (21.54)

Além dessas duas condições de contorno, deve-se impor as condições de


continuidade no ponto onde a ação concentrada atua. Portanto:
dv0  x  L1  L1  dv L1  x   L1  L2   L1 
v0  x  L1  L1   v L1  x   L1  L2   L1   (21.55)
dx dx
Dessa forma, têm-se quatro condições de contorno a serem atendidas, as quais
serão utilizadas para a determinação das quatro constantes que surgiram durante o
processo de integrações sucessivas das relações diferenciais que resultaram nas
expressões do deslocamento de cada trecho. Sabendo que os deslocamentos dos dois
trechos considerados são dados pelas Eq.(21.50) e Eq.(21.53), pode-se utilizar a
primeira condição de contorno mostrada na Eq.(21.54) para a determinação de C 2 .
Assim:

1  PL2 
v  0  0   03  C1 0  C2   C2  0
EI  6  L1  L2  
Com base na segunda condição de contorno mostrada na Eq.(21.55) tem-se:
dv0  x  L1  L1  dvL1  x   L1  L2   L1 

dx dx
1  PL2  1  PL2 P 
 L1   C1     L1    L1   PL1 L1  C3  (21.56)
2 2 2

EI  2  L1  L2   EI  2  L1  L2  2 
P
C1   L1   C3
2

2
Utilizando a primeira condição de contorno mostrada na Eq.(21.55) obtém-se:
v0  x  L1  L1   vL1  x   L1  L2   L1 

1  PL2  1  PL2 P PL  (21.57)


 L1   C1 L1    L1    L1   1  L1   C3 L1  C4 
3 3 3 2
 
EI  6  L1  L2   EI  6  L1  L2  6 2 
P  L1 
3

C1 L1   C3 L1  C 4
3

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 626

Substituindo o valor de C1 , determinado na Eq.(21.56), na expressão Eq.(21.57)


obtém-se:

P  L1  P  L1 
3 3
P 
 2  L1   C3  L1 
2
 C3 L1  C 4  C4  (21.58)
3 6
A partir do resultado obtido na Eq.(21.58), pode-se determinar o valor de C 3
utilizando a segunda condição de contorno mostrada na Eq.(21.54). Assim:
v  L1  L2   0
1  PL2 P PL 2
 L1  L2    L1  L2   1  L1  L2   
3 3

EI  6  L1  L2  6 2 
1  P  L1  
3

C3  L1  L2   0 
EI  6 

P  L1 
3
PL2 P PL
 L1  L2    L1  L2   1  L1  L2   C3 
2
0
6 6 2 6  L1  L2 
P  L1 
3
P L L 
C3   L1  L2    P  L1  L2   2  1 
2

6 6  L1  L2   6 2

Com base no valor de C 3 determinado anteriormente, pode-se escrever C1 como:

P
 L1   C3
2
C1 
2
P  L1 
3
P P L L 
C1   L1    L1  L2    P  L1  L2   2  1 
2 2

2 6 6  L1  L2   6 2 

Considerando as condições de contorno do problema foram determinadas as


constantes C1 , C2 , C3 e C4 . Assim, as expressões dos deslocamentos para os dois trechos

considerados podem ser reescritas como:


Para 0  x  L1
1  PL2 
v  x3  
EI  6  L1  L2  
1  P P P  L1 
3
L L  
  L1    L1  L2    P  L1  L2   2  1   x 
2 2

EI  2 6 6  L1  L2   6 2   

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 627

Para L1  x   L1  L2 
 PL P 3 PL1 2 P  L1  
3
1
v  2
x  x 
3
x  
EI  6  L1  L2  6 2 6 
P P  L1  L 
3
1 L
  L1  L2    P  L1  L2   2  1   x
2

EI  6 6  L1  L2   6 2  

21.3.2 – Aplicação do Princípio da Superposição dos Efeitos

Conforme discutido no item anterior, condições de compatibilidade de


deslocamento e rotação devem ser aplicadas aos pontos onde ações concentradas atuam,
para que as equações que exprimem estas grandezas ao longo do comprimento da viga
sejam contínuas. Deve-se destacar que para cada ponto de aplicação de uma ação
concentrada são inseridas na análise duas condições de compatibilidade. Portanto, em
vigas submetidas a um grande número de ações concentradas, a determinação da
equação da linha elástica, para cada um dos trechos entre as ações concentradas, torna-
se uma tarefa onerosa e pouco produtiva.
Para tornar a análise de problemas envolvendo ações concentradas mais rápida e
eficiente, pode ser aplicado o princípio da superposição dos efeitos. Nos problemas
envolvendo a determinação da linha elástica esse princípio pode ser utilizado, uma vez
que assume-se que a viga seja composta por material de comportamento mecânico
elástico linear e que esta seja governada pelo regime de pequenos deslocamentos. Além
disso, verifica-se que os deslocamentos são diretamente proporcionais aos esforços
solicitantes atuantes.
Quando o princípio da superposição dos efeitos é aplicado à obtenção da linha
elástica, determinam-se os deslocamentos ao longo da viga para cada carregamento
atuante, seja ele concentrado ou distribuído, de forma isolada. O deslocamento da
estrutura, considerando a atuação conjunta de todas as ações externas, é obtido
superpondo-se os deslocamentos obtidos considerando cada ação externa atuando de
forma isolada.
Para ilustrar a aplicação do princípio da superposição dos efeitos, pode-se
considerar a viga bi apoiada ilustrada na Fig. (21.16), a qual é submetida a três forças
concentradas de intensidades P1 , P2 e P3 . Nesta viga, o deslocamento ao longo de seu

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 628

comprimento pode ser obtido superpondo-se os deslocamentos causados pela ação de


cada uma das forças concentradas de forma isolada. Assim, nesse caso, podem ser
empregadas as expressões de deslocamento obtidas na análise do exemplo 6.

Figura 21.16 Aplicação do princípio da superposição dos efeitos.

21.3.3 – Exemplo 7

Determine o deslocamento no centro do vão da viga mostrada na Fig. (21.17).


Considere que o produto EI seja igual a 32000 kNm 2 e que as forças concentradas
possuam intensidades iguais a P1  10 kN e P2  15 kN .

Figura 21.17 Viga a ser analisada. Dimensões em metro.

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 629

Para a solução deste exemplo será empregado o princípio da superposição dos


efeitos. Assim, o deslocamento no centro do vão será determinado assumindo-se,
inicialmente, apenas a presença de P1 . Em seguida, o deslocamento no centro do vão

será novamente calculado considerando apenas a atuação de P2 . Aplicando o princípio


da superposição dos efeitos, obtém-se o deslocamento no ponto desejado superpondo-se
os deslocamentos gerados por cada uma das ações concentradas de forma isolada, como
mostrado na Fig. (21.18).

Figura 21.18 Sobreposição dos efeitos.

A determinação do deslocamento no centro do vão para as duas condições


mostradas na Fig. (21.18) pode ser efetuada utilizando as equações de deslocamento
obtidas no exemplo 6. Naquela análise foram obtidas as expressões mostradas na
Eq.(21.59).
Para 0  x  L1
1  PL2 
v  x3  
EI  6  L1  L2  
1  P P P  L1 
3
L L  
  L1    L1  L2    P  L1  L2   2  1   x 
2 2

EI  2 6 6  L1  L2   6 2   
 (21.59)
Para L1  x   L1  L2 
 PL P 3 PL1 2 P  L1  
3
1
v  2
x  x 
3
x  
EI  6  L1  L2  6 2 6 
P P  L1  L 
3
1 L
  L1  L2    P  L1  L2   2  1   x
2

EI  6 6  L1  L2   6 2  

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 630

Considerando o caso onde atua apenas a força P1 , o deslocamento no centro do


vão é dado pela segunda expressão da Eq.(21.59). Assim:

1  10  3 3 10 3 10 1 2 10 13 
v P1   2  2  2  
32000  6 1  3  6 2 6 
1  10 10  13  3 1 
 1  3    10 1  3      2 
2

32000  6 6 1  3   6 2 
v P1  2,86458 10 4 m

Para a determinação do deslocamento no centro do vão para o caso onde atua


apenas P2 , deve-se utilizar a primeira das expressões mostradas na Eq.(21.59). Dessa
forma:

1  15 1 3  15 2 15 15  33  1 3  
   15  3  1     2 
2
vP2   2   3  3  1 
32000  6  3  1  2 6 6  3  1  6 2   
vP2  4, 2969 10 4 m

Assim, aplicando o princípio da superposição dos efeitos, obtém-se que o


deslocamento no centro do vão, para o caso onde as duas forças concentradas P1 e P2
atuam conjuntamente, é igual a:
v  v P1  v P2   2, 86458  10 4  4, 2969  10 4 m  v   7,16148  10 4 m

21.4 –Vigas Estaticamente Indeterminadas

Problemas envolvendo estruturas estaticamente indeterminadas foram discutidos


durante os capítulos 14 e 15. Naquela oportunidade, elementos de barra geral
estaticamente indeterminados submetidos a esforços solicitantes normal e de torção
foram analisados, sendo suas reações de apoio e o campo de deslocamentos ao longo de
seu domínio determinados.
Neste item serão discutidos problemas estaticamente indeterminados envolvendo
elementos de barra geral submetidos a esforços de flexão. Um problema pode ser
classificado como estaticamente indeterminado quando são restringidos mais graus de
liberdade do que aqueles necessários para impedir o deslocamento de corpo rígido da
estrutura. Nestes problemas, a utilização das equações de equilíbrio de corpo rígido
apenas não é suficiente para a determinação de todas as reações de apoio da estrutura,

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 631

sendo necessária a aplicação de condições de compatibilidade escritas em termos de


deslocamento.
As reações de apoio que decorrem dos graus de liberdade restringidos que
excedem aqueles necessários para o impedimento do deslocamento de corpo rígido da
estrutura são conhecidas como reações redundantes. O número das reações redundantes
conduz ao grau de indeterminação da estrutura. Para ilustrar a obtenção do grau de
indeterminação de uma barra estaticamente indeterminada, pode-se considerar a barra
mostrada na Fig. (21.19).
Devido à presença de um engaste e de um apoio móvel, verifica-se que são
restringidos na estrutura quatro graus de liberdade, os quais dão origem a quatro reações
de apoio incógnitas. Sabendo que no caso em análise a estrutura não apresentará
deslocamento de corpo rígido se três graus de liberdade forem convenientemente
restringidos, conclui-se que para a barra mostrada na Fig. (21.19) tem-se grau de
indeterminação igual a um. Dessa forma, a estrutura torna-se isostática se uma das
restrições aos graus de liberdade atuantes nos apoios for removida.

Figura 21.19 Elemento de barra geral estaticamente indeterminado.

No decorrer dessas notas serão apresentados dois métodos para a análise de


vigas estaticamente indeterminadas. Ambos os métodos aplicam os conceitos da linha
elástica para a determinação das reações de apoio na estrutura. O primeiro deles é
denominado método da integração direta e exprime as reações de apoio redundantes nas
equações que definem os esforços solicitantes ao longo do comprimento da viga. O
segundo é denominado método das forças e utiliza o princípio da superposição dos
efeitos para a solução do problema.

21.4.1 – Método da Integração Direta

No método da integração direta, utilizam-se diretamente as expressões


apresentadas na Eq.(21.19), as quais deverão ser integradas sucessivamente, para a
obtenção do valor das reações de apoio redundantes do problema. Como as vigas

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 632

analisadas serão estaticamente indeterminadas, as equações que exprimem a variação do


momento fletor e do esforço cortante ao longo do comprimento da viga serão escritas
em função das reações de apoio redundantes. Dessa forma, por meio dessa abordagem,
além das constantes de integração que surgem do processo de integrações sucessivas de
uma das Eq.(21.19), deverão ser determinadas também as reações incógnitas envolvidas
nas equações do momento fletor e do esforço cortante.
Apesar da expressão da linha elástica envolver variáveis relacionadas às reações
de apoio redundantes, às quais a princípio são desconhecidas, deve-se destacar que
sempre haverão condições de contorno suficientes para a sua determinação. Isso se deve
ao fato das reações de apoio redundantes sempre atuarem em pontos onde os
deslocamentos são conhecidos. Assim, para cada uma das reações de apoio redundantes
haverá uma condição de contorno em deslocamento ou rotação que deverá ser
empregada para a sua determinação. Essa abordagem é direta e permite a resolução
eficiente de diversos problemas de vigas estaticamente indeterminadas comumente
encontradas na engenharia de estruturas.

21.4.2 – Exemplo 8

Determine a expressão da linha elástica para a viga estaticamente indeterminada


mostrada na Fig. (21.20) utilizando o método da integração direta. Obtenha também as
expressões para suas reações de apoio. Considere que o produto EI seja constante para
toda a extensão da viga.

Figura 21.20 Viga a ser analisada.

Com base na Fig. (21.20), percebe-se que a viga a ser analisada apresenta grau
de indeterminação igual a 1, portanto, tem-se uma reação de apoio redundante. Assim, a
equação que descreverá a variação do momento fletor ao longo do comprimento da viga

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 633

deverá ser escrita em função da reação de apoio redundante. O diagrama de corpo livre
da viga mostrada na Fig. (21.20) é ilustrado na Fig. (21.21).

Figura 21.21 Diagrama de corpo livre.

Considerando o diagrama de corpo livre apresentado na Fig.(21.21), pode-se


escrever a equação do momento fletor como:
q0 x x q0 3
M 0   R1 x 
L
x    M  x  0
2 3
 M  x   R1 x 
6L
x

Utilizando a primeira das equações mostradas na Eq.(21.19) pode-se escrever


que:
d 2v M d 2v 1  q 
    R1 x  0 x 3  (21.60)
dx 2 EI dx 2
EI  6L 
Integrando a Eq.(21.60) em relação à variável x tem-se:
d 2v 1  q 3 dv 1 R 2 q 
 dx 2 dx   EI  R1 x  6 L0 x  dx  dx  EI  21 x  240L x  C1 
4
(21.61)

Integrando a Eq.(21.61) em relação ao comprimento da viga tem-se:


dv 1  R1 q0 4 
 dx dx   EI  2 x2 
24 L
x  C1  dx 

(21.62)
1  R1 3 q0 5 
v  x  x  C1 x  C 2 
EI  6 120 L 
As duas constantes de integração que surgiram do processo de integrações
sucessivas, C1 e C 2 , e também a reação vertical do apoio móvel, R1 , devem ser

determinadas com base nas condições de contorno do problema. Com base na ilustração
mostrada na Fig. (21.20), observa-se que a estrutura apresenta as seguintes condições de
contorno:
dv
v 0  0 ; v  L   0 ; L  0 (21.63)
dx

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 634

Utilizando a primeira condição de contorno apresentada na Eq.(21.63) obtém-se:


1  R1 3 q 
v 0  0   0  0 05  C1 0  C 2   C 2  0
EI  6 120 L 
Aplicando a terceira condição de contorno mostrada na Eq.(21.63) tem-se:
dv  L  1  R1 2 q  q R
0  L  0 L4  C1   C1  0 L3  1 L2 (21.64)
dx EI  2 24 L  24 2
Finalmente, utilizando a segunda condição de contorno mostrada na Eq.(21.63)
obtém-se:
1  R1 3 q  q R
v L  0   L  0 L5  C1 L   C1  0 L3  1 L2 (21.65)
EI  6 120 L  120 6
Igualando os resultados obtidos nas Eq.(21.64) e Eq.(21.65) determina-se o valor
de R1 . Assim:

q0 3 R1 2 q R R1 2 q q0
L  L  0 L3  1 L2   L   0 L3  R1  L
24 2 120 6 3 30 10
Com base no valor de R1 calculado anteriormente determina-se C1 . Portanto:

q0 3 q0 1 2 q0 3
C1  L  L L  C1   L
24 10 2 120
Assim, a equação da linha elástica é igual a:
1  q0 1 3 q q 
v  L x  0 x 5  0 L3 x  
EI 10 6 120 L 120 
1  q0 q q 
v  Lx 3  0 x 5  0 L3 x 
EI  60 120 L 120 
Para encerrar o exemplo, deve-se também calcular as expressões para as reações
de apoio da estrutura. Como a reação redundante da viga foi determinada utilizando a
integração direta das Eq.(21.19), as reações de apoio restantes podem ser facilmente
obtidas efetuando-se o equilíbrio de corpo rígido. Utilizando as reações indicadas na
Fig. (21.21) obtém-se:
q0 q 2
F y 0 
10
L  0 L  R2  0 
2
R2 
5
q0 L

q0 q 1 q q
M 0  
10
LL  0 L L  M  0  M  0 L2  0 L2
2 3 6 10

q0 2
M  L
15

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 635

21.4.3 – Exemplo 9

Determine a expressão da linha elástica para a viga bi engastada mostrada na


Fig. (21.22) utilizando o método da integração direta. Obtenha também as expressões
para suas reações de apoio. Considere que o produto EI seja constante para toda a
extensão da viga.

Figura 21.22 Viga a ser analisada.

A viga ilustrada na Fig.(21.22) apresenta grau de indeterminação igual a 2.


Assim, com a retirada conveniente de duas restrições ao deslocamento a viga
considerada torna-se isostática. Pelo fato de possuir grau de indeterminação igual a 2,
existem duas reações de apoio redundantes, as quais serão determinadas por meio do
método da integração direta. Assim, a equação que descreverá a variação do momento
fletor ao longo do comprimento da viga será escrita em função das duas reações de
apoio redundantes. Para o problema em questão, o diagrama de corpo livre é o
apresentado na Fig. (21.23).

Figura 21.23 Diagrama de corpo livre.

A equação que descreve a variação do momento fletor atuante ao longo do


comprimento da viga pode ser escrita com base no diagrama de corpo livre mostrado na
Fig. (21.23). Dessa forma:
x q
M 0   R1 x  M 1  qx 
2
 M  x   0  M  x   R1 x  M 1  x 2
2

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 636

Com base na primeira das equações mostradas na Eq.(21.19) pode-se escrever


que:
d 2v M d 2v 1  q 2
    R1 x  M 1  2 x  (21.66)
dx 2 EI dx 2
EI
Integrando a Eq.(21.66) em relação ao comprimento da viga tem-se:
d 2v 1  q 2
 dx 2 dx   EI  R1 x  M 1  2 x  dx 
(21.67)
dv 1  R1 2 q 
  x  M 1 x  x 3  C1 
dx EI  2 6 
Integrando a Eq.(21.67) em relação à x obtém-se:
dv 1  R1 q 3 
 dx dx   EI  2 x2  M1x 
6
x  C1  dx


(21.68)
1  R1 3 M 1 2 q 4 
v  x  x  x  C1 x  C 2 
EI  6 2 24 
As duas constantes de integração, C1 e C 2 , que surgiram do processo de

integrações sucessivas e também as duas reações do apoio A, R1 e M 1 , devem ser


determinadas com base nas condições de contorno do problema. A partir da ilustração
mostrada na Fig. (21.22), verifica-se que a viga analisada possui as seguintes condições
de contorno:
dv dv
v 0  0 ; v  L   0 ; 0  0 ;  L   0 (21.69)
dx dx
Por meio da primeira condição de contorno mostrada na Eq.(21.69) obtém-se:
1  R1 3 M 1 2 q 4 
v 0  0   6 0  2 0  24 0  C1 0  C 2   C 2  0
EI
Utilizando a terceira condição de contorno apresentada na Eq.(21.69) tem-se:
dv  0  1  R1 2 q 
0  0  M 1 0  0 3  C1   C1  0
dx EI  2 6 
Com a segunda condição de contorno mostrada na Eq.(21.69) obtém-se:
1  R1 3 M 1 2 q 4  R q
v L  0   L  L  L   M 1  1 L  L2 (21.70)
EI  6 2 24  3 12
Finalmente, aplicando a última das condições de contorno expressas na
Eq.(21.69) obtém-se:

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 637

dv  L  1  R1 2 q  R1 q
0  L  M 1 L  L3   M1  L  L2 (21.71)
dx EI  2 6  2 6
Igualando os resultados obtidos nas Eq.(21.70) e Eq.(21.71) obtém-se:
R1 q R q R1 q q
L  L2  1 L  L2   L   L2  R1  L
3 12 2 6 6 12 2
Com base no valor de R1 calculado anteriormente determina-se a expressão de

M 1 . Assim:

q 1 q q 2
M1  L L  L2  M1  L
2 2 6 12
Portanto, a equação da linha neutra fica assim definida:
1 q 1 3 q 2 1 2 q 4 1 q q 2 2 q 4
v  L x  L x  x   v  Lx 3  Lx  x
EI  2 6 12 2 24  EI 12 24 24 
Como as duas reações de apoio redundantes foram determinadas anteriormente
neste exemplo, as demais reações de apoio podem ser facilmente obtidas efetuando-se o
equilíbrio de corpo rígido da estrutura. Assim:
q q
F y 0 
2
L  qL  R2  0  R2 
2
L

q q L q 2
M B 0  
2
LL  L2  qL  M 2  0  M 2 
12 2 12
L

21.4.4 – Superposição dos Efeitos. Método das Forças

O método das forças foi utilizado durante os capítulos 14 e 15 para a análise de


estruturas compostas por elementos de barra geral estaticamente indeterminados
solicitados por esforços axiais e torcionais. Este método baseia-se no princípio da
superposição dos efeitos e na aplicação de condições de compatibilidade de
deslocamentos para a determinação das reações de apoio redundantes.
Por meio desse método, a estrutura estaticamente indeterminada é transformada
em uma estrutura isostática equivalente. Esta transformação é efetuada removendo-se da
estrutura um número de restrições ao deslocamento igual ao seu grau de
indeterminação. Com base na estrutura isostática equivalente, calculam-se os
deslocamentos provocados pelo carregamento externo atuante nos graus de liberdade
redundantes que foram removidos. A análise estrutural envolvendo a estrutura isostática

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 638

equivalente e os carregamentos externos atuantes para a obtenção desses deslocamentos


é denominada Problema 0.
Em seguida, os deslocamentos nos graus de liberdade cujas restrições foram
removidas para a obtenção da estrutura isostática equivalente são calculados
considerando como carregamentos atuantes cada uma das reações de apoio redundantes
retiradas como consequência da transformação da estrutura estaticamente indeterminada
em estrutura isostática equivalente. Cada reação redundante deve ser aplicada
isoladamente à estrutura isostática equivalente e os deslocamentos mencionados devem
ser calculados para cada uma delas. As análises estruturais envolvendo a estrutura
isostática equivalente e cada uma das reações redundantes são denominadas de
Problema 1 até Problema n, sendo n o número total de reações redundantes removidas.
Finalmente, o problema é resolvido escrevendo-se condições de
compatibilidade de deslocamento para os graus de liberdade removidos no início da
análise. Para isso, utiliza-se o princípio da superposição dos efeitos. Dessa forma, os
deslocamentos calculados nos Problemas 0 à n, para os graus de liberdade removidos na
transformação da estrutura estaticamente indeterminada em estrutura isostática
equivalente, são adicionados. Em seguida iguala-se o resultado dessa adição à zero ou
ao valor do deslocamento inicial atuante (recalque), caso este exista. Como as reações
de apoio redundantes são determinadas diretamente a partir deste procedimento, este
método é muitas vezes denominado método das forças.
Para ilustrar o procedimento descrito anteriormente, deve-se considerar a viga
engastada e apoiada mostrada na Fig. (21.24). Esta viga possui grau de indeterminação
igual a 1, ou seja, removendo-se convenientemente uma das restrições ao deslocamento
atuante, a estrutura torna-se isostática. Assim, o primeiro passo para a resolução do
problema, via método das forças, é a transformação da estrutura estaticamente
indeterminada em uma estrutura isostática equivalente. Esta transformação pode ser
efetuada removendo-se a restrição ao deslocamento vertical existente no apoio B.
Portanto, o problema 0, o qual envolve a estrutura isostática equivalente e o
carregamento externo atuante, é o apresentado na Fig. (21.25). O objetivo do problema
0 é a determinação do deslocamento devido ao carregamento externo atuante no grau de
liberdade cuja restrição foi removida para a obtenção da estrutura isostática equivalente.
Assim, como indicado na Fig. (21.25), o objetivo do problema 0 e a determinação de
 0B .

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 639

Figura 21.24 Viga engastada apoiada.

Figura 21.25 Problema 0.

O problema 1 envolverá a estrutura isostática equivalente e a reação de apoio


redundante correspondente ao grau de liberdade cuja restrição foi removida para a
obtenção da estrutura isostática equivalente. Como a restrição ao deslocamento vertical
do ponto B foi retirada, deve-se considerar, neste ponto, a atuação de uma força vertical.
Assim, o problema 1, para o caso em discussão, é o apresentado na Fig. (21.26).

Figura 21.26 Problema 1.

No problema 1, o objetivo é o cálculo do deslocamento decorrente da ação


redundante aplicada atuante no grau de liberdade cuja restrição foi removida para a
obtenção da estrutura isostática equivalente. Assim, como ilustrado na Fig. (21.26), o
objetivo do problema 1 e a determinação de  1B .

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 640

Com base nas condições de contorno do problema a ser resolvido (hiperestático),


verifica-se que o deslocamento vertical resultante no ponto B deve ser nulo. Isso se deve
à existência de um apoio móvel no problema analisado, como indicado na Fig. (21.24).
Portanto, usando o princípio da superposição dos efeitos, a condição de compatibilidade
do problema deve ser assim escrita:
 0B   1B  0 (21.72)

O termo  0B depende do carregamento externo atuante e o termo  1B depende

da reação de apoio redundante. Assim, a resolução da condição de compatibilidade,


Eq.(21.72), possibilita a determinação da reação de apoio redundante do problema. Com
essa reação determinada, as demais reações de apoio da estrutura poderão ser calculadas
a partir das equações de equilíbrio de corpo rígido.

21.4.5 – Exemplo 10

Determine as reações de apoio da viga mostrada na Fig. (21.27) utilizando o


método das forças. Assuma que o produto EI seja constante para toda a extensão da
viga.
Com base no ilustrado na Fig. (21.27), constata-se que o grau de indeterminação
da estrutura é igual a 1. Dessa forma, a estrutura torna-se isostática se uma das
restrições aos graus de liberdade aplicados for removida. No presente exemplo, a
estrutura isostática equivalente será formada retirando-se a restrição à rotação do apoio
A. Assim, a estrutura isostática equivalente será uma viga bi apoiada e a ação
redundante a ser considerada no problema 1 é o momento reativo atuante no apoio A.
Com base nestas informações pode-se iniciar a resolução dos dois problemas envolvidos
na análise.

Figura 21.27 Estrutura a ser analisada.

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 641

Problema 0
O problema 0 envolve a estrutura isostática equivalente e o carregamento
externo atuante, como ilustrado na Fig. (21.28). O objetivo deste problema é a
determinação da rotação causada pelo carregamento atuante no apoio A.

Figura 21.28 Estrutura isostática equivalente e carregamento externo atuante. Problema 0.

Efetuando o equilíbrio de corpo rígido da viga mostrada na Fig. (21.28) obtêm-


se as reações de apoio. Assim:
L qL
 M  A  0  RB L  qL
2
 0  RB 
2
qL qL
F y  0  RA 
2
 qL  0  RA 
2
A equação da linha elástica será determinada utilizando a primeira das
expressões apresentadas na Eq.(21.19). Portanto, deve-se obter uma equação que
expresse a variação do momento fletor ao longo do comprimento da viga. Com base nas
reações de apoio obtidas anteriormente pode-se escrever que:
qL x qL q
M 0  
2
x  qx  M  x   0  M  x  
2 2
x  x2
2
Utilizando a primeira das equações mostradas na Eq.(21.19) tem-se:
d 2v M d 2v 1  qL q 2
    2 x  x (21.73)
dx 2 EI dx 2
EI 2 
Integrando a Eq.(21.73) em relação à variável x obtém-se:
d 2v 1  qL q 2 dv 1  qL 2 q 3 
 dx 2 dx   EI  2 x  2 x  dx  dx  EI  4 x  6 x  C1  (21.74)

Integrando a Eq.(21.74) em relação ao comprimento da viga tem-se:

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 642

dv 1  qL q 3 
 dx dx   EI  4 x2 
6
x  C1  dx 

(21.75)
1  qL 3 q 4 
v  12 x  24 x  C1 x  C 2 
EI
As duas constantes de integração que surgiram do processo de integrações
sucessivas, C1 e C 2 , devem ser determinadas com base nas condições de contorno do
problema. Com base na ilustração mostrada na Fig. (21.28), observa-se que a estrutura
apresenta as seguintes condições de contorno:
v 0  0 v  L  0 (21.76)

Com base na primeira condição de contorno apresentada na Eq.(21.76) obtém-


se:
1  qL 3 q 4 
v 0  0   0  0  C1 0  C 2   C 2  0
EI  12 24 
Aplicando a segunda condição de contorno mostrada na Eq.(21.76) tem-se:
1  qL 3 q 4  qL3
v L  0   12 L  L  C L
1   C1  
EI 24  24
Dessa forma, com as constantes de integração determinadas, as equações que
descrevem o deslocamento e a rotação dos pontos que compõem a viga mostrada na Fig.
(21.28) são as seguintes:
1  qL 3 q 4 qL3 
v  12 x  24 x  24 x
EI  
(21.77)
dv 1  qL 2 q 3 qL3 
 x  x 
dx EI  4 6 24 

A partir das expressões mostradas na Eq.(21.77), pode-se determinar a rotação


no apoio A, ou seja, em x  0 . Assim:
dv  0  1  qL 2 q 3 qL3  qL3
10   0  0     
EI  4 24 
10
dx 6 24 EI

Problema 1
O problema 1 é formado pela estrutura isostática equivalente e pela reação de
apoio redundante correspondente à restrição ao deslocamento removida. Portanto, para
o caso em estudo, este problema é o ilustrado na Fig. (21.29).

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 643

Figura 21.29 Estrutura isostática equivalente e momento reativo no apoio A. Problema 1.

Aplicando as equações de equilíbrio de corpo rígido à viga mostrada na Fig.


(21.29) obtém-se:
M
 M  A  0   RB L  M  0  RB 
L
M M
F y  0  RA 
L
 0  RA 
L
Por meio da primeira das expressões apresentadas na Eq.(21.19) obtém-se a
equação da linha elástica da viga. Com base nesta expressão, deve-se obter uma
equação que descreva a variação do momento fletor ao longo do comprimento da viga.
Com base nas reações de apoio determinadas anteriormente pode-se escrever que:
M M
M 0  
L
x  M  M  x  0  M  x 
L
xM

Com base na primeira das equações mostradas na Eq.(21.19) tem-se:


d 2v M d 2v 1 M 
    xM (21.78)
dx 2 EI dx 2
EI  L 
Integrando a Eq.(21.78) em relação ao comprimento da viga obtém-se:
d 2v 1 M  dv 1 M 2 
 dx 2 dx   EI  L x  M  dx  dx  EI  2 L x  Mx  C1  (21.79)

Integrando a Eq.(21.79) em relação à variável x obtém-se:


dv 1 M 
 dx dx   EI  2 L x
 Mx  C1  dx 
2


(21.80)
1 M 3 M 2 
v x  x  C1 x  C2 
EI  6 L 2 
Com base nas condições de contorno do problema determinam-se as constantes
de integração C1 e C 2 . Para o problema em estudo, como mostrado na Fig. (21.29), as

condições de contorno são as seguintes:

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 644

v 0  0 v  L  0 (21.81)

Utilizando a primeira condição de contorno apresentada na Eq.(21.81) obtém-se:


1 M 3 M 2 
v 0  0   0  0  C1 0  C 2   C 2  0
EI  6 L 2 
Aplicando a segunda condição de contorno mostrada na Eq.(21.81) tem-se:
1 M 3 M 2  ML
v L  0   6 L L  2 L  C1 L   C1  3
EI
Assim, com base nas constantes de integração determinadas anteriormente,
pode-se escrever as equações do deslocamento e da rotação dos pontos que compõem a
viga mostrada na Fig. (21.29) da seguinte maneira:
1  M 3 M 2 ML 
v x  x  x
EI  6 L 2 3 
(21.82)
dv 1 M 2 ML 
  x  Mx 
dx EI  2 L 3 
Com base nas expressões mostradas na Eq.(21.82), pode-se determinar a rotação
no apoio A. Nesse ponto tem-se x  0 . Portanto:
dv  0  1 M 2 ML  ML
11    0 M0   11 
dx EI  2 L 3  3 EI
Com os valores das rotações dos problemas 0 e 1 determinadas, pode-se escrever
a condição de compatibilidade do problema. Sabendo que o apoio A não sofre recalque
de nenhuma natureza tem-se:
qL3 ML qL2
10  11  0    0  M  (21.83)
24 EI 3 EI 8
Assim, com a reação de apoio redundante determinada, as demais reações de
apoio podem ser calculadas aplicando-se as equações de equilíbrio de corpo rígido.
Com base no resultado apresentado na Eq.(21.83), verifica-se que o diagrama de corpo
livre da viga mostrada na Fig. (21.27) assume a forma apresentada na Fig. (21.30).

Figura 21.30 Diagrama de corpo livre.

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 645

Aplicando as equações de equilíbrio de corpo rígido obtém-se:


qL2 qL2 5 qL
 M B  0   RA L 
8

2
0  RA 
8
5qL 3qL
F y 0 
8
 RB  qL  0  RA 
8

21.4.6 – Exemplo 11

Determine as reações de apoio para a viga bi engastada apresentada na Fig.


(21.31) por meio do método das forças. Assuma que o produto EI seja constante para
toda a extensão da viga.

Figura 21.31 Viga a ser analisada.

A viga a ser analisada possui grau de indeterminação igual a 2, conforme


ilustrado na Fig. (21.31). Assim, a estrutura torna-se isostática com a remoção
conveniente de duas das restrições aos graus de liberdade da viga.
Neste exemplo, a estrutura isostática equivalente será formada removendo-se as
restrições ao deslocamento e à rotação do apoio B. Portanto, a estrutura isostática
equivalente será uma viga engastada (em balanço) e as ações redundantes a serem
consideradas nos problemas 1 e 2 são a reação vertical e o momento reativo no apoio B.
A partir dessas informações pode-se iniciar a resolução dos três problemas que
compõem esta análise.

Problema 0
O problema 0 envolve a estrutura isostática equivalente e o carregamento
externo atuante, como ilustrado na Fig. (21.32). O objetivo deste problema é a
determinação do deslocamento e da rotação causados pelo carregamento atuante no
apoio B, onde as restrições aos graus de liberdade foram removidas.

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 646

Figura 21.32 Problema 0.

Aplicando as equações de equilíbrio de corpo rígido à viga mostrada na Fig.


(21.32) obtêm-se as expressões para suas reações de apoio. Assim:
L qL2
 M  A  0  M  qL
2
0  M 
2

F y  0  R A  qL  0  R A  qL

Com base nas reações de apoio determinadas anteriormente, pode-se escrever


uma equação que expresse a variação do momento fletor ao longo do comprimento da
viga. Dessa forma:
qL2 x qL2 q 2
 M  0   qLx  2
 qx  M  x   0  M  x   qLx 
2 2
 x
2
Utilizando a primeira das expressões apresentadas na Eq.(21.19), a qual permite
a determinação da linha elástica da viga, pode-se escrever que:

d 2v M d 2v 1  qL2 q 2 
     x  (21.84)
dx 2 EI 
qLx
dx 2 EI 2 2 

Integrando a Eq.(21.84) em relação ao comprimento da viga obtém-se:


d 2v 
1 qL2 q 2 
 dx 2 dx   EI


qLx 
2
 x  dx 
2 
(21.85)
dv 1  qL 2 qL2 q 
  x  x  x 3  C1 
dx EI  2 2 6 
Integrando a Eq.(21.85) em relação à variável x obtém-se:
dv 1  qL 2 qL2 q 3 
 dx  EI  2 x  2 x  6 x  C1  dx 
dx 
(21.86)
1  qL 3 qL2 2 q 4 
v  x  x  x  C1 x  C 2 
EI  6 4 24 
As constantes de integração apresentadas na Eq.(21.86), C1 e C 2 , são

determinadas utilizando-se as condições de contorno do problema. Com base no

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 647

apresentado na Fig. (21.32) verifica-se que o problema em estudo apresenta as seguintes


condições de contorno:
dv  0 
v 0  0 0 (21.87)
dx
Com base na primeira condição de contorno da na Eq.(21.87) obtém-se:
1  qL 3 qL2 2 q 4 
v 0  0   0  0  0  C1 0  C 2   C 2  0
EI  6 4 24 
Aplicando a segunda condição de contorno mostrada na Eq.(21.87) tem-se:
dv  0  1  qL 2 qL2 q 
0  0  0  0 3  C1   C1  0
dx EI  2 2 6 
Portanto, com os valores das constantes de integração determinadas
anteriormente, as equações que descrevem os deslocamentos e as rotações dos pontos
que compõem a viga mostrada na Fig. (21.32) podem ser escritas como:
1  qL 3 qL2 2 q 4 
v x  x 
EI  6 24 
x
4
(21.88)
dv 1  qL 2 qL2 q 
  x  x  x3 
dx EI  2 2 6 

Com base nas expressões mostradas na Eq.(21.88), pode-se determinar o


deslocamento e a rotação no apoio B. Nesse ponto tem-se x  L . Portanto:

1  qL 3 qL2 2 q 4  qL4
10  v  L        
EI  6 24 
L L L 10
4 8 EI

dv  L  1  qL 2 qL2 q 3 qL3
 20        
EI  2 6 
L L L 20
dx 2 6 EI

Problema 1
O problema 1 é formado pela estrutura isostática equivalente e pela aplicação de
uma das reações de apoio redundantes correspondentes às restrições ao deslocamento
removidas. Neste problema, a reação de apoio redundante a ser aplicada é a reação
vertical do ponto B. Dessa forma, no problema 1, a estrutura a ser analisada é a
apresentada na Fig. (21.33).

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 648

Figura 21.33 Problema 1.

Aplicando as equações de equilíbrio de corpo rígido à viga mostrada na Fig.


(21.33), determinam-se suas reações de apoio, as quais são iguais a:

 M  A  0  RB L  M  0  M  RB L

F y  0   R A  RB  0  R A  RB

A equação da linha elástica será determinada utilizando-se a primeira das


expressões apresentadas na Eq.(21.19). Assim, para a utilização dessa expressão, deve-
se obter uma equação que represente a variação do momento fletor ao longo do
comprimento da viga. Com base nas reações de apoio obtidas anteriormente pode-se
escrever que:

M  0  RB x  RB L  M  x   0  M  x   RB L  RB x
Utilizando a primeira das equações mostradas na Eq.(21.19) tem-se:
d 2v M d 2v 1
    RB L  RB x  (21.89)
dx 2 EI dx 2 EI
Integrando a Eq.(21.89) em relação à variável x obtém-se:
d 2v 1 dv 1  RB 2 
 dx 2 dx   EI  RB L  RB x  dx  dx  EI  RB Lx  2 x  C1  (21.90)

Integrando a Eq.(21.90) em relação ao comprimento da viga tem-se:


dv 1  RB 2 
 dx dx   EI  R B Lx 
2
x  C1  dx 

(21.91)
1  RB L 2 R B 3 
v  x  x  C1 x  C 2 
EI  2 6 
As duas constantes de integração, C1 e C 2 , que surgiram do processo de

integrações sucessivas devem ser determinadas a partir das condições de contorno do


problema. Com base na viga apresentada na Fig. (21.33), constata-se que a estrutura
apresenta as seguintes condições de contorno:
dv  0 
v 0  0 0 (21.92)
dx
Utilizando a primeira condição de contorno apresentada na Eq.(21.92) tem-se:

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 649

1  RB L 2 RB 3 
v 0  0   0  0  C1 0  C 2   C 2  0
EI  2 6 
Por meio da segunda condição de contorno mostrada na Eq.(21.92) obtém-se:
dv  0  1  R 
0  RB L0  B 02  C1   C1  0
dx EI  2 
Portanto, com as constantes de integração determinadas anteriormente, as
equações que descrevem o deslocamento e a rotação dos pontos que compõem a viga
mostrada na Fig. (21.33) podem ser escritas como:
1 RB L 2 RB 3 
v  2 x  6 x 
EI
(21.93)
dv 1  R 
  RB Lx  B x 2 
dx EI  2 
Utilizando as expressões mostradas na Eq.(21.93), determinam-se o
deslocamento e a rotação no ponto B. Sabendo que nesse ponto x  L tem-se:
1  RB L 2 RB 3  RB L3
11  v  L   L  L   
EI  2  11
6 3 EI

dv  L  1  RB 2  RB L2
 21   R LL  L   
EI  
B 21
dx 2 2 EI

Problema 2
No problema 2, a viga a ser analisada é a formada pela estrutura isostática
equivalente e pela aplicação de uma das reações de apoio redundantes correspondentes
às restrições ao deslocamento removidas. Como a reação vertical do ponto B foi
considerada no problema 1, no problema 2 a ação redundante a ser aplicada é o
momento reativo do ponto B. Dessa forma, neste problema, a estrutura a ser analisada é
a apresentada na Fig. (21.34).

Figura 21.34 Problema 2.

Com base na aplicação das equações de equilíbrio de corpo rígido à viga


mostrada na Fig. (21.34), verifica-se que suas reações de apoio são iguais a:

 M  A  0  MB M  0  M  MB

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 650

F y  0   RA  0  0  RA  0

Com as reações de apoio determinadas, pode-se escrever uma equação que


represente a variação do momento fletor ao longo do comprimento da viga. Esta
equação será utilizada, juntamente com a primeira das expressões apresentadas na
Eq.(21.19), para a determinação da equação da linha elástica da viga mostrada na Fig.
(21.34). Assim:

M  0  M B  M  x   0  M  x   M B
Com base na primeira das equações mostradas na Eq.(21.19) tem-se:
d 2v M d 2v 1
   M B  (21.94)
dx 2 EI dx 2 EI
Integrando a Eq.(21.94) em relação à variável x obtém-se:
d 2v 1 dv 1
 dx 2 dx   EI   M B  dx  dx  EI   M B x  C1  (21.95)

Integrando a Eq.(21.95) em relação ao comprimento da viga tem-se:


dv 1 1  MB 2 
 dx dx   EI   M B x  C1  dx  v 
EI   2 x  C1 x  C 2  (21.96)

As duas constantes de integração, C1 e C 2 , apresentadas na Eq.(21.96) são


determinadas a partir das condições de contorno do problema. Com base na viga
ilustrada na Fig. (21.34), verifica-se que esta possui as seguintes condições de contorno:
dv  0 
v 0  0 0 (21.97)
dx
Com base na primeira condição de contorno apresentada na Eq.(21.97) tem-se:
1  MB 2 
v 0  0    2 0  C1 0  C 2   C 2  0
EI
Utilizando a segunda condição de contorno mostrada na Eq.(21.97) obtém-se:
dv  0  1
0  M B 0  C1   C1  0
dx EI
Dessa forma, com os valores das constantes de integração determinados
anteriormente, as equações que descrevem o deslocamento e a rotação dos pontos que
compõem a viga mostrada na Fig. (21.34) ficam definidas como:

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 651

1  MB 2
v  x 
EI  2  (21.98)
dv 1
 M B x
dx EI
O deslocamento e a rotação no ponto B da viga mostrada na Fig. (21.34) podem
ser determinados utilizando as expressões mostradas na Eq.(21.98). Sabendo que no
ponto B a coordenada x é igual a L, tem-se:
2
1  MB 2 M BL
12  v  L     2 L   12   2 EI
EI

dv  L  1 M L
 22     M B L    22   B
dx EI EI
Com os valores dos deslocamentos e rotações determinados nos problemas 0, 1 e
2, as condições de compatibilidade do problema podem ser escritas. Sabendo que o
apoio B não sofre recalque de nenhuma natureza, pode-se escrever que:
 01  11  12  0

10   21   22  0
qL4 RB L3 M B L2 qL2 2 RB L (21.99)
   0    MB  0
8 EI 3 EI 2 EI 4 3

qL3 RB L2 M B L qL2 RB L
   0    MB  0
6 EI 2 EI EI 6 2
As duas equações mostradas na Eq.(21.99) podem ser organizadas e resolvidas
de forma matricial. Assim:

 2L   qL2   qL 
1   
 3  RB  4   RB  2 
        (21.100)
 L   M B   qL2  M 
 B  qL2 
1  6 
 2   12 

Assim, com as reações de apoio redundantes determinadas, as demais reações


de apoio podem ser calculadas aplicando-se as equações de equilíbrio de corpo rígido.
Com base no resultado apresentado na Eq.(21.100), tem-se que o diagrama de corpo
livre da viga mostrado na Fig. (21.31).
Aplicando as equações de equilíbrio de corpo rígido à viga mostrada na Fig.
(21.35) determinam-se as reações de apoio restantes. Dessa forma:
qL2 qL L qL2
 M  A  0  
12

2
L  qL  M A  0 
2
MA 
12

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 652

qL qL
F y 0 
2
 qL  R A  0  RA 
2

Figura 21.35 Diagrama de corpo livre.

21.4.7 – Exemplo 12

Determine o esforço normal atuante na barra BC, a qual pertence ao sistema


estrutural mostrado na Fig. (21.36), utilizando o método das forças. Assuma que o
módulo de elasticidade longitudinal da viga e da treliça sejam iguais a E1 e E2,
respectivamente. Além disso, considere que o produto E1I seja constante para toda a
extensão da viga e o produto E2A seja constante para toda a extensão do elemento de
treliça.

Figura 21.36 Estrutura a ser analisada.

O sistema estrutural apresentado na Fig. (21.36) envolve dois tipos de elementos


estruturais. A barra AB é constituída por um elemento de barra geral (viga), enquanto a
barra BC é formada por um elemento de barra simples (treliça). Dessa forma, por

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 653

envolver elementos estruturais distintos, o sistema mostrado na Fig. (21.36) é


normalmente denominado de sistema estrutural misto.
No problema em questão, a condição de compatibilidade deve ser escrita para o
ponto B, onde os deslocamentos da viga e da treliça devem ser iguais para que exista a
continuidade do sistema estrutural. Como a compatibilidade de deslocamento deve ser
escrita para apenas um grau de liberdade, verifica-se que o grau de redundância da
estrutura é igual a 1. Portanto, a estrutura isostática equivalente será obtida removendo-
se a restrição a um dos graus de liberdade da estrutura.
No problema em questão, a restrição ao deslocamento do nó B será removida
para a obtenção da estrutura isostática equivalente. Dessa forma, a estrutura isostática
equivalente será composta por uma viga engastada.

Problema 0
O problema 0 envolve a estrutura isostática equivalente e o carregamento
externo atuante, como ilustrado na Fig. (21.37). O objetivo deste problema é a
determinação do deslocamento do ponto B, onde a condição de compatibilidade deverá
ser escrita.

Figura 21.37 Problema 0.

Aplicando as equações de equilíbrio de corpo rígido à viga mostrada na Fig.


(21.37) obtêm-se as expressões para suas reações de apoio. Dessa forma:
L qL2
 M  A  0   qL
2
 MB  0  MB 
2

F y  0  R A  qL  0  R A  qL

Com base nas reações de apoio da estrutura, pode-se escrever uma equação que
represente a variação do momento fletor ao longo do comprimento da viga. Para a viga
mostrada na Fig. (21.37), esta expressão é dada por:
qL2 x qL2 q 2
 M  0   qLx  2  qx 2  M  x   0  M  x   qLx  2  2 x

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 654

Utilizando a primeira das expressões apresentadas na Eq.(21.19), a qual permite


a determinação da linha elástica da viga, pode-se escrever que:
d 2v M d 2v 1  qL2 q 2 
   qLx   x  (21.101)
dx 2 E1 I dx 2 E1 I  2 2 

Integrando a Eq.(21.101) em relação ao comprimento da viga obtém-se:


d 2v 1  qL2 q 2 
 dx 2 dx   E1 I 
 qLx 
2
 x  dx 
2 
(21.102)
dv 1  qL 2 qL2 q 
  x  x  x 3  C1 
dx E1 I  2 2 6 
Integrando a Eq.(21.102) em relação à variável x tem-se:
dv 1  qL 2 qL2 q 3 
 dx  E1 I  2 x  2 x  6 x  C1  dx 
dx 
(21.103)
1  qL 3 qL2 2 q 4 
v  x  x  x  C1 x  C 2 
E1 I  6 4 24 
As constantes de integração apresentadas na Eq.(21.103), C1 e C 2 , são
determinadas com base nas condições de contorno do problema. Conforme apresentado
na Fig. (21.37), verifica-se que o problema em estudo apresenta as seguintes condições
de contorno:
dv  0 
v 0  0 0 (21.104)
dx
Com base na primeira condição de contorno apresentada na Eq.(21.104) tem-se:
1  qL 3 qL2 2 q 4 
v 0  0   0  0  0  C1 0  C 2   C 2  0
E1 I  6 4 24 
Aplicando a segunda condição de contorno mostrada na Eq.(21.104) obtém-se:
dv  0  1  qL 2 qL2 q 
0  0  0  0 3  C1   C1  0
dx E1 I  2 2 6 
Portanto, com os valores das constantes de integração determinadas
anteriormente, as equações que descrevem os deslocamentos e as rotações dos pontos
que compõem a viga mostrada na Fig. (21.37) podem ser escritas como:

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 655

1  qL 3 qL2 2 q 4 
v x  x 
E1 I  6 24 
x
4
(21.105)
dv 1  qL 2 qL2 q 
  x  x  x3 
dx E1 I  2 2 6 

Com base nas expressões mostradas na Eq.(21.105), pode-se determinar o


deslocamento no ponto B. Sabendo que nesse ponto x  L tem-se:

1  qL 3 qL2 2 q 4  qL4
10  v  L        
E1 I  6 24 
L L L 10
4 8 E1 I

Problema 1
O problema 1 é formado pela estrutura isostática equivalente e pela aplicação da
força redundante correspondente à restrição ao deslocamento removida. Neste
problema, a reação redundante a ser aplicada é uma força vertical no ponto B, referente
à restrição que a barra BC efetua sobre o deslocamento no ponto B. Dessa forma, no
problema 1, a estrutura a ser analisada é a apresentada na Fig. (21.38).

Figura 21.38 Problema 1.

Aplicando as equações de equilíbrio de corpo rígido à viga mostrada na Fig.


(21.38), determinam-se suas reações de apoio, as quais são iguais a:

 M  A  0   FL  M  0  M  FL

F y  0  RA  F  0  RA  F

A equação da linha elástica será determinada utilizando-se a primeira das


expressões apresentadas na Eq.(21.19). Assim, para a utilização dessa expressão, deve-
se obter uma equação que represente a variação do momento fletor ao longo do
comprimento da viga. Com base nas reações de apoio obtidas anteriormente, pode-se
escrever que:

M  0   Fx  FL  M  x   0  M  x   Fx  FL
Utilizando a primeira das equações mostradas na Eq.(21.19) tem-se:
d 2v M d 2v 1
    Fx  FL  (21.106)
dx 2 E1 I dx 2
E1 I

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 656

Integrando a Eq.(21.106) em relação à variável x obtém-se:


d 2v 1 dv 1 F 2 
 dx 2 dx   E1 I  Fx  FL  dx  dx  E1 I  2 x  FLx  C1  (21.107)

Integrando a Eq.(21.107) em relação ao comprimento da viga tem-se:


dv 1 F 
 dx dx   E I  2 x  FLx  C1  dx 
2

1 
(21.108)
1  F 3 FL 2 
v  x  x  C1 x  C 2 
E1 I  6 2 
As duas constantes de integração, C1 e C 2 , que surgiram do processo de
integrações sucessivas, devem ser determinadas considerando as condições de contorno
do problema. Com base na viga apresentada na Fig. (21.38), constata-se que a estrutura
apresenta as seguintes condições de contorno:
dv  0 
v 0  0 0 (21.109)
dx
Utilizando a primeira condição de contorno apresentada na Eq.(21.109) tem-se:
1  F 3 FL 2 
v 0  0   6 0  2 0  C1 0  C 2   C 2  0
E1 I
Por meio da segunda condição de contorno mostrada na Eq.(21.109) obtém-se:
dv  0  1 F 2 
0  0  FL0  C1   C1  0
dx E1 I  2 
Portanto, com as constantes de integração determinadas anteriormente, as
equações que descrevem o deslocamento e a rotação dos pontos que compõem a viga
mostrada na Fig. (21.38) podem ser escritas como:
1  F 3 FL 2 
v x  x 
E1 I  6 2 
(21.110)
dv 1 F 2 
  x  FLx 
dx E1 I  2 
Utilizando as expressões mostradas na Eq.(21.110), determina-se o
deslocamento no ponto B. Sabendo que nesse ponto x  L tem-se:
1  F 3 FL 2  FL3
11  v  L    6 L  L    11  
E1 I 2 3 E1 I
Para que a condição de compatibilidade de deslocamento possa ser escrita, deve-
se também determinar o deslocamento da barra BC, no ponto B, ocasionado pela força

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 657

F. Verifica-se que o sentido da força F a ser considerado, para que esta esteja em
coerência com o aplicado no problema 1, é o mostrado na Fig. (21.39).

Figura 21.39 Deslocamento barra treliça.

A determinação do deslocamento de barras axialmente carregadas foi estudada


no capítulo 14. Conforme apresentado naquela oportunidade, o deslocamento em
questão pode ser calculado como:
NL  FL1
 TB    TB 
EA E2 A

O deslocamento  TB calculado acima indica um encurtamento na barra de


treliça. Dessa forma, conclui-se que o deslocamento do ponto B, considerando a atuação
da força F na barra de treliça, ocorre no sentido positivo do eixo y. Portanto, para a
aplicação da condição de compatibilidade de deslocamento, deve-se considerar que os
deslocamentos do ponto B atuantes no sentido negativo do eixo y são negativos e os
deslocamentos atuantes no sentido positivo do eixo y são positivos. Dessa forma, com
base nos deslocamentos calculados no problema 0, problema 1 e no deslocamento da
barra de treliça, pode-se escrever que:
10  11   TB (21.111)

Considerando o sentido de atuação de cada um dos deslocamentos mostrados na

Eq.(21.111), tem-se:
qL4 FL3 FL1  L3 L  qL4
    F  1  
8 E1 I 3 E1 I E2 A  3 E1 I E2 A  8 E1 I
qL4 (21.112)

8 E1 I
F
 L 3
L1 
 3E I  E A 
 1 2 
O sinal negativo da Eq.(21.112) indica que o sentido inicialmente arbitrado para
a força F é errôneo. Esta força foi assumida como sendo de compressão sobre a barra de

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 658

treliça, como mostrado na Fig. (21.39). Porém, para o sentido do carregamento q


atuante, constata-se que o sentido correto da força F será de tração na barra de treliça,
ou seja, oposto ao considerado no problema 1.

21.4.8 – Exemplo 13

Uma viga de comprimento L tem sua seção transversal formada por um perfil do
tipo C, conforme indicado na Fig. (21.40). Esta viga é engastada em seu extremo
esquerdo enquanto que em seu extremo direito atuam uma força concentrada de
intensidade P e uma mola de constante elástica K. Determine o valor da constante da
mola K para que nesta viga não sejam observados esforços de torção. Utilize o princípio
da superposição dos efeitos para tal finalidade. O material que compõe a viga possui
módulo de elasticidade longitudinal igual a E. Além disso, a espessura dos elementos de
parede fina que compõem a seção transversal é igual a a .
20

Figura 21.40 Sistema estrutural considerado.

Conforme apresentado no capítulo 20, flexo-torção é comumente observada em


barras de seção transversal aberta e não simétrica. Nestes casos, o equilíbrio de
momentos envolvendo as forças equivalentes devidas aos fluxos de cisalhamento gera
um momento de torção. Este momento é nulo quando o esforço cortante é aplicado em
um ponto especial denominado centro de cisalhamento. Portanto, para que a barra
analisada sofra flexão sem torção, o esforço cortante, o qual resulta do balanço entre a

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 659

força externa P e a força reativa da mola na viga, deve ser aplicado no centro de
cisalhamento da seção transversal. Este ponto é determinado conhecendo-se as forças
equivalentes atuantes ao longo dos elementos de paredes finas que compõem a seção
transversal. Para que este ponto seja determinado, deve-se, inicialmente, calcular o
momento de inércia da seção transversal, o qual é igual a:
  a 3  a
 2a 
3
a  
 a   a4 a4  a4
I  2     a   a 2   20
20
 I  2   
 12  20   12  96000 20  30
 
 
I  0,1333a 4

As forças equivalentes são determinadas integrando as intensidades dos fluxos


de cisalhamento ao longo do comprimento dos elementos de paredes finas que
compõem a seção transversal. Em seguida, deve-se efetuar o equilíbrio de momentos
envolvendo tais forças, para que o centro de cisalhamento seja determinado. Neste
exemplo, a somatória de momentos será efetuada em relação ao ponto médio da alma do
perfil. Assim, basta que a força F1 indicada na Fig. (21.41) seja determinada. Portanto:

Figura 21.41 Forças equivalentes.

V  a  a2
a a
V
F1    x  adx  F1 
I 0  20  0,1333a 4 0 20 xdx  F1  0,1875V
Portanto, o equilíbrio de momentos conduz a:
2  0,1875Va 
Ve  2  F1a   0  e   e  0, 375a
V

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 660

Para que não haja torção na barra, o balanço de momentos envolvendo a força
externa aplicada P e a reação da mola sobre a viga em relação ao centro de cisalhamento
da seção transversal deve ser nulo. Assumindo que a mola esteja comprimida, a reação
da mola sobre a viga será orientada na vertical para cima. Dessa forma:
Pe  Fm  e  a   0  P  0, 375 a  Fm  0, 375 a  a   Fm  0, 2727 P

Com o valor da força na mola calculado anteriormente, basta que o


deslocamento na mola seja determinado para que sua constante seja especificada dentro
das limitações propostas no enunciado do problema. Este deslocamento será
determinado utilizando o princípio da superposição dos efeitos. O problema 0 envolverá
a viga considerada e a carga externa P. O problema 1 envolverá a viga analisada e a
reação da mola sobre a viga. Finalmente, uma condição de compatibilidade envolvendo
o deslocamento da mola deverá ser imposta.

Problema 0
O problema 0 envolve a viga analisada e a força externa atuante P. Este
problema é indicado na Fig. (21.42), assim como seu diagrama de corpo livre.

Figura 21.42 Problema 0.

A equação que governa a variação do momento fletor ao longo do comprimento


da viga é facilmente determinada efetuando o equilíbrio de momentos em relação a uma
seção genérica distante x do engaste. Efetuando este equilíbrio obtém-se:

M  0  PL  M  x   Px  0  M  x   Px  PL
Com base na primeira das equações mostradas na Eq.(21.19) tem-se:
d 2v M d 2v 1
    Px  PL  (21.113)
dx 2 EI dx 2 EI
Integrando a Eq.(21.113) em relação à variável x obtém-se:

d 2v 1 dv 1  Px 2 
 dx 2 dx   EI  Px  PL  dx     PLx  C1  (21.114)
dx EI  2 
Integrando a Eq.(21.114) em relação ao comprimento da viga tem-se:

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 661

dv 1  Px 2 
 dx  EI  2  PLx  C1  dx 
dx 
(21.115)
1  Px 3 PLx 2 
v    C1 x  C2 
EI  6 2 
As duas constantes de integração, C1 e C 2 , mostradas na Eq.(21.115) são
determinadas a partir das condições de contorno do problema. Com base na viga
ilustrada na Fig. (21.42), verifica-se que esta possui as seguintes condições de contorno:
dv  0 
v 0  0 0 (21.116)
dx
Com base na primeira condição de contorno apresentada na Eq.(21.116) obtém-
se:

1  P 03 PL 0 2 
v 0  0     C1 0  C2   C2  0
EI  6 2 
Utilizando a segunda condição de contorno mostrada na Eq.(21.116) obtém-se:
dv  0  1  P 02 
0   PL0  C1   C1  0
dx EI  2 
Portanto, considerando os valores das constantes de integração determinados
anteriormente, a equação que descreve o deslocamento dos pontos materiais que
compõem a viga mostrada na Fig. (21.42) fica definida como:

1  Px 3 PLx 2 
v  6  2 
EI  
Assim, o deslocamento do ponto onde a força externa P atua é igual a:

1  PL3 PLL2  PL3


v0  v  L          (21.117)
EI  6 2 
v0 v L
3 EI

Problema 1
O problema 1 envolve a viga analisada e a reação da mola sobre a viga. O
sistema a ser considerado neste problema está apresentado na Fig. (21.43). Verifica-se
que o sistema a ser considerado no problema 1 é idêntico ao analisado no problema 0,
ou seja, uma viga engastada com carga concentrada aplicada em seu extremo livre.

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 662

Figura 21.43 Problema 1.

Assim, substituindo a intensidade da força P mostrada na Eq.(21.117) por  Fm


obtém-se o deslocamento alvo do problema 1. Portanto:

1   Fm L3  Fm LL2  Fm L3
v1  v  L       v1  v  L  
EI  6 2  3 EI

Utilizando o valor da força na mola determinado anteriormente, pode-se


reescrever a equação anterior da seguinte forma:
Fm L3 0, 2727 PL3
v1  v  L    v1  v  L  
3 EI 3 EI
O encurtamento na mola é dado por sua equação característica, ou seja,
Fm  K  mola   mola  0, 2727 P K . Portanto, a seguinte equação de compatibilidade

de deslocamento pode ser escrita, levando-se em consideração que v0 e  mola são

deslocamentos verticais para baixo enquanto v1 é um deslocamento vertical para cima:

v0  v1   mola 
PL 0, 2727 PL3
3
P
   0, 2727 
3 EI 3 EI K
PL3 0, 2727 PL3 P
 4
 4
 0, 2727 
3 E 0,1333a 3 E 0,1333a K
0,15 Ea 4
K
L3

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 663

21.5 –Efeitos de Temperatura

Durante o capítulo 14 foram estudados os efeitos mecânicos causados em


elementos de barra simples por uma variação uniforme de temperatura. Nessa situação,
a barra tem seu comprimento aumentado (dilatação) com uma variação positiva de
temperatura e diminuído (contração) com uma variação negativa de temperatura. Deve-
se mencionar que se o deslocamento longitudinal mobilizado pela variação de
temperatura não for impedido, nenhuma tensão extra é gerada na barra.
Quando um elemento de barra geral está submetido a uma variação diferencial
(não uniforme) de temperatura, estando sua parte superior sujeita a uma temperatura T1

e sua face inferior a uma temperatura T2 , será observada uma curvatura na barra e,
consequentemente, uma flexão, como mostra a Fig. (21.44).
Para compreender as deflexões devidas à variação diferencial de temperatura,
deve-se considerar um elemento de comprimento dx isolado de uma barra sujeita a uma
variação diferencial de temperatura, Fig. (21.44).

Figura 21.44 Deslocamentos devido à variação diferencial de temperatura.

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 664

As mudanças no comprimento do elemento, em sua base e topo, são,


respectivamente, iguais a:
 T2  T0  dx
(21.118)
 T1  T0  dx

sendo T0 a temperatura de referência onde a barra foi construída e  o coeficiente linear


de expansão térmica.
Assumindo que T2  T1 , os lados do elemento vão rotacionar, um em relação ao

outro, por meio de um ângulo d . O ângulo d está relacionado às mudanças na


dimensão do elemento pela seguinte equação:
 T2  T0  dx   T1  T0  dx d   T2  T1 
d    (21.119)
h dx h
sendo h a altura da seção transversal da barra.
d
Como mostrado na Eq.(21.11), é igual à curvatura da barra
dx
 1 d d 2 v  d 2v
   2  . Uma vez que a curvatura é também igual a , pode-se escrever a
  dx dx  dx 2

seguinte equação da linha elástica para o caso de efeitos diferenciais de temperatura:


d 2 v  T2  T1 
 (21.120)
dx 2 h
Se T2  T1 , a barra possuirá uma curvatura positiva, ou seja, será côncava para

 T2  T1  M
cima. A parcela é a parte complementar de , a qual foi extensivamente
h EI
estudada neste capítulo. Esta parcela possui sinal positivo devido ao sistema de
coordenadas adotado, no qual deslocamentos negativos estão associados à concavidades
positivas. A Eq.(21.120) é resolvida por meio de um processo de integrações sucessivas,
onde utilizam-se as condições de contorno do problema para a determinação das
constantes de integração.
As temperaturas T1 e T2 devem ser iguais em valor absoluto para que a utilização
da Eq.(21.120) seja possível. No entanto, em diversas aplicações de engenharia, as
temperaturas atuantes nas faces inferior e superior das barras não atendem a esta
condição. Em tais situações, as temperaturas atuantes devem ser decompostas

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 665

considerando seu valor médio. Para o sistema apresentado na Fig. (21.45), a temperatura
__ __
média, sendo T1  T2 , pode ser definida como:

__ __
T T
Tmed  2 1 (21.121)
2

__ __
Figura 21.45 Atuação das temperaturas T 2 e T 1 .

Portanto, nestas situações, as temperaturas T1 e T2 podem ser escritas como:


__
T1  T1  Tmed
(21.122)
__
T2  T2  Tmed

Quando as temperaturas atuantes nas faces inferior e superior da barra não


possuem mesmo valor absoluto, a barra desloca-se perpendicularmente a seu eixo
devido a ação de T1 e T2 . Além disso, desloca-se paralelamente a seu eixo (alongamento

ou encurtamento) devido a Tmed . Tal comportamento decorre da decomposição das

temperaturas, como indicado na Fig. (21.46), onde T1 e T2 possuirão mesmo valor

absoluto e Tmed apresenta valor uniforme ao longo do comprimento da barra.

__ __
Figura 21.46 Decomposição das temperaturas T 2 e T 1 .

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 666

Portanto, a superposição dos efeitos indicado na Fig. (21.46) permite a


representação do problema real.

21.5.1 – Exemplo 14

Determine a expressão da linha elástica para a viga mostrada na Fig. (21.47).


Sabe-se que nesta viga, cuja seção transversal é retangular com base b e altura h, além
do carregamento uniformemente distribuído atua também uma variação diferencial de
temperatura. Na face inferior da barra uma variação de temperatura igual a 50 é
observada, enquanto que em sua face superior uma variação de -20 é verificada.
Considere que o produto EI seja constante para toda a extensão da viga.

Figura 21.47 Viga a ser analisada.

Para a solução deste exemplo, deve-se determinar a expressão que relaciona o


momento fletor atuante ao sistema de coordenadas posicionado no apoio A. Para isso,
deve-se, inicialmente, calcular as reações de apoio da estrutura. Devido à simetria da
estrutura, e assumindo que as reações de apoio estão orientadas no sentido de y positivo,
verifica-se facilmente que estas reações são iguais a:
qL
R A  RB 
2
Assim, para uma seção transversal qualquer distante de x do apoio A, como
ilustrado na Fig. (21.48), pode-se expressar o momento fletor efetuando-se o equilíbrio
de corpo rígido. Portanto:
qL x qL q
M 0  
2
x  qx  M  x   0  M  x  
2 2
x  x2
2

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 667

Figura 21.48 Determinação da equação do momento fletor.

Os efeitos de temperatura são considerados utilizando a Eq.(21.120). Como


__ __
T1  T2 deve-se efetuar a decomposição da temperatura atuante. Utilizando as

Eq.(21.121) e Eq.(21.122) tem-se:


50  20
Tmed   Tmed  15º
2
Portanto, nestas situações, as temperaturas T1 e T2 podem ser definidas como:

T1  20  15  T1  35º
T2  50  15  T2  35º

Utilizando a primeira das equações mostradas na Eq.(21.19) acoplada aos efeitos


térmicos, Eq.(21.120), tem-se:
d 2 v M  T2  T1  d 2v 1  qL q  70
     x  x2   (21.123)
dx 2 EI h dx 2
EI  2 2  h
Integrando a Eq.(21.123) em relação ao comprimento da viga obtém-se:
d 2v 1  qL q 2  70
 dx 2 dx   EI  2 x  2 x   h dx 
(21.124)
dv 1  qL 2 q 3  70
 x  x  x  C1
dx EI  4 6  h
Integrando a Eq.(21.124) em relação ao comprimento da viga tem-se:
dv 1  qL 2 q 3  70
 dx dx   EI 4
x  x 
6  h
x  C1dx 
(21.125)
1  qL 3 q 4  70 2
v x  x  x  C1 x  C 2
EI  12 24  2 h

Para que as constantes de integração C1 e C 2 sejam determinadas, deve-se

aplicar as condições de contorno do problema. As duas constantes de integração são

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 668

determinadas utilizando-se duas condições de contorno do problema. Assim, sabe-se


que:
v  A  v  0   0
v  B  v  L  0

Com a primeira das condições de contorno obtém-se:


1  qL 3 q 4  70 2
v  A  v 0  0  0   12 0  24 0   2 h 0  C1 0  C 2  C 2  0
EI
Já a aplicação da segunda delas resulta em:
1  qL 3 q 4  70 2
v B  v L  0  0  L  L  L  C1 L 
EI  12 24  2 h
1 qL3 35 L
C1   
EI 24 h
Dessa forma, a expressão da linha elástica da viga fica assim escrita:

 qL 3 q 4  35 2  1 qL 35 L 
3
1
v  12 x  x  x     x (21.126)
EI 24  h  EI 24 h 

As rotações são calculadas com base na primeira derivada da Eq.(21.126).


Assim, a expressão que relaciona as rotações de todos os pontos da viga é a seguinte:
dv 1  qL 2 q 3  70  1 qL3 35 L 
 x  x  x     (21.127)
dx EI  4 6  h  EI 24 h 

Como verificação ao leitor, o autor sugere que sejam comparadas as respostas


obtidas nas Eq.(21.126) e Eq.(21.127) com os resultados apresentados nas Eq.(21.25) e
Eq.(21.26).
Como as temperaturas atuantes nas faces inferior e superior da barra são
diferentes em valor absoluto, a barra irá deslocar-se perpendicularmente a seu eixo
devido a T1 e T2 , conforme anteriormente determinado. Além disso, a barra também irá

deslocar-se paralelamente a seu eixo devido a Tmed . Como Tmed apresenta valor positivo,
será observado um alongamento da barra. A barra analisada é isostática, portanto,
nenhum esforço extra será observado devido a este deslocamento. Utilizando os
conceitos apresentados no capítulo 14, o deslocamento axial da barra assume o seguinte
valor:
   LT     LTmed    15 L

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 669

21.6 –Equação da Linha Elástica Considerando a Influência das


Distorções

A Eq. (21.15), apresentada anteriormente nesse capítulo, permite a determinação


das expressões que governam o deslocamento perpendicular ao eixo de barras
submetidas à esforços de flexão bem como a rotação de suas seções transversais. Por
meio dessa equação, assume-se que esses deslocamento e rotação sejam causados
exclusivamente pela ação do momento fletor. A equação da linha elástica anteriormente
apresentada, Eq. (21.15), foi obtida considerando as hipóteses de Euler-Bernoulli, ou
seja, assume-se que as seções transversais da barra que são inicialmente planas e
perpendiculares ao seu eixo assim permanecem após a atuação dos carregamentos.
Porém, esforços de flexão são, normalmente, observados concomitantemente aos
esforços cortantes. Assim, pode-se incorporar na formulação da linha elástica os efeitos
da distorção provocada pelo esforço cortante, de forma a torná-la mais completa, dando
origem a formulação de Reissner-Timoshenko. Conforme apresenta a Fig. (21.49), a
distorção provada pelo esforço cortante causa um aumento na deflexão da barra.

Figura 21.49 Deslocamento adicional devido a deformação distorcional.

Utilizando a definição de deformação distorcional, Eq.(12.6), tem-se que:


dv (V )
 (21.128)
dx
Conforme apresentado no Capítulo 19, Eq.(19.4), sabe-se que a tensão de
cisalhamento mobilizada pelo esforço cortante pode ser assim mensurada:

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 670

Vy Qz
 xy  (21.129)
I zt

sendo V y o esforço cortante aplicado, Qz e I z são o momento estático e o momento de

inércia da seção transversal considerada, respectivamente, e t a dimensão da base da


seção transversal.
Aplicando a Lei de Hooke para as tensões de cisalhamento obtém-se:
1 Vy Qz
 xy  G xy   xy  (21.130)
G I zt
A presença do esforço cortante gera uma distorção não nula no plano da seção
transversal. Dessa forma, a seção transversal deixa de ser plana durante a atuação dos
carregamentos. Como a intensidade da distorção depende da localização do ponto
analisado em relação ao plano da seção transversal, pode-se determinar uma distorção
média, a qual possibilitará incluir, de forma aproximada, a influência das distorção na
deflexão da barra. A distorção média pode ser assim calculada:
1 1 1 Vy Qz V Qz
 médio  
A A
 xy dA   médio  
A A G I zt
dA   médio  y
GAI z 
A t
dA (21.131)

A integral apresentada na última equação deve ser avaliada de acordo com a


geometria da seção transversal utilizada. De forma a simplificar sua avaliação, pode-se
introduzir uma grandeza denominada “fator de forma ao cisalhamento”, f s , cuja
intensidade é a seguinte:
1 Qz Qz
fs 
Iz A t dA  A t dA  f s I z (21.132)

Esse fator depende exclusivamente da geometria da seção transversal. Para


algumas geometrias particulares, correntemente utilizadas na engenharia de estruturas,
esse fator assume os valores indicados na Tabela (21.1).
Portanto, a distorção média pode ser reescrita como:
Vy Vy
 médio  fs I z   médio  f s (21.133)
GAI z GA
Conforme apresentado na Fig. (21.49), tem-se:
dv(V ) dv(V ) Vy
     fs (21.134)
dx dx GA

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 671

O sinal negativo que surgiu na Eq. (21.134) deve-se ao sistema de coordenadas


adotado. De acordo com esse sistema de coordenadas, os deslocamentos orientados em
y negativo são negativos. Portanto, seguindo a convenção de sinais para o esforço
cortante apresentada no Capítulo 4, esforços cortantes positivos geram deslocamento
negativo.
Tabela 21.1 Fator de forma ao cisalhamento.

Geometria da Seção Transversal fs

Retangular 6
5

Circular Maciça 10
9
Circular Vazada de Paredes Finas 2
Perfil I ou Retangular Vazado de Aseção
Paredes Finas Aalma

Aplicando as relações diferenciais introduzidas no Capítulo 5, a primeira


derivada da Eq. (21.134) torna-se igual a:
d 2v(V ) d 2v(V ) f s
dx 2
 
fs d
GA dx
 y
V 
dx 2

GA
q( x) (21.135)

sendo q( x) a função que descreve o carregamento distribuído sobre a barra.


Portanto, pode-se reescrever a Eq. (21.15) incluindo, de forma aproximada, a
influência da distorção causada pelo esforço cortante da seguinte forma:
d 2v(V ) M f s q( x)
  (21.136)
dx2 EI GA
Deve-se mencionar que, para as estruturas de barra usualmente utilizadas na
engenharia, o deslocamento causado pela distorção é pequeno se comparada à
contribuição da flexão. Assim, deve-se ter a consciência da sua existência e influência,
mas pode-se, na grande maioria dos casos, desprezar tal contribuição.
A Eq. (21.136) é resolvida por meio do processo de integrações sucessivas. As
constantes que surgem desse processo de integração são determinadas por meio das
condições de contorno do problema. O deslocamento será nulo em apoios fixo e móvel
e também nos engastes. As rotações serão iguais a  médio , Eq.(21.134). Deve-se
enfatizar a diferença da condição de contorno em termos de rotação da formulação de

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 672

Reissner-Timoshenko em relação a clássica de Euler-Bernoulli. Portanto, na formulação


de Reissner-Timoshenko tem-se a seguinte condição de contorno em termos de rotação:
dv( x) d  f q( x)  dv( x) f d
  s    s  q( x)  (21.137)
dx dx  GA  dx GA dx
Utilizando as relações diferenciais apresentadas no Capítulo 5 tem-se:
dv  x  f s Vy ( x) dv  x  f s Vy ( x)
   0 (21.138)
dx GA dx GA
Finalmente, os efeitos de temperatura podem ser também levados em
consideração nessa formulação. A influência da temperatura na deflexão e na rotação da
barra é representada de forma semelhante ao apresentado no item 21.5, sendo sua
contribuição igual ao apresentado na Eq.(21.120). Portanto, a equação da linha elástica
na formulação de Reissner-Timoshenko, levando em consideração os efeitos de
temperatura, pode ser assim escrita:
d 2v( x) M f s q( x)  (T2  T1 )
   (21.139)
dx 2 EI GA h

21.6.1 – Exemplo 15

Determine as equações que descrevem o deslocamento perpendicular ao eixo da


estrutura ilustrada na Fig. (21.50) e também a rotação de suas seções transversais
utilizando a formulação de Reissner-Timoshenko.
Impondo as condições de equilíbrio de corpo rígido sobre a estrutura a ser
analisada, assumindo que a reação de apoio do nó A seja vertical para cima, obtém-se:
qL2 qL M 0
M B  0  2
 M 0  RA L  0  RA 
2

L

Figura 21.50 Estrutura a ser analisada.

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 673

Assim, com base no diagrama de corpo livre apresentado na Fig. (21.51), as


expressões que governam o momento fletor e o esforço cortante ao longo do
comprimento da barra ficam assim definidas:
2
 qL M 0  qx
M ( x)    x
 2 L  2
 qL M 0 
V ( x)      qx
 2 L 

Figura 21.51 Diagrama de corpo livre da estrutura a ser analisada.

Portanto, a equação da linha elástica pode ser assim escrita:


d 2 v( x) M ( x) f s q ( x) d 2 v ( x ) 1  qL M 0  qx 2  f s q ( x)
        
EI  2 2 
x
dx 2 EI GA dx 2 L  GA

Integrando a equação anterior, e utilizando a relação diferencial entre o esforço


cortante e o carregamento distribuído, obtém-se:

dv( x) 1  qL M 0  x 2 qx3  f s Vy ( x)
       C1 
dx EI  2 L  2 6  GA
dv( x) 1  qL M 0  x 2 qx3  f s  qL M 0  
             qx   C1
dx EI  2 L  2 6  GA  2 L  
Integrando a equação anterior obtém-se:
1  qL M 0  x 3 qx 4  f s  qL M 0  qx 2 
v( x)   2          C1 x  C2
L  6 24  GA  2 2 
x
EI  L 

As constantes de integração contidas na última equação são determinadas por


meio da imposição das condições de contorno. Para o problema em análise tem-se:

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 674

v(0)  0
v ( L)  0
Com base na primeira das condições de contorno obtém-se:
v(0)  0  C2  0
Aplicando a segunda condição de contorno obtém-se:
1  qL M 0  L3 qL4  f s  qL M 0  qL2 
v ( L)  0  0   2          C1 L 
L  6 24  GA  2 2 
L
EI  L 
1  qL4 M 0 L2  f s
0    M 0  C1 L 
EI  24 6  GA
1  qL3 M 0 L  f s M 0
C1    
EI  24 6  GA L
Portanto, o deslocamento perpendicular ao eixo da estrutura analisada é
governado pela seguinte expressão:

1  qL M 0  x3 qx 4  f s  qL M 0  qx 2 
v( x)   2        
L  6 24  GA  2 2 
x
EI  L 
1  qL3 M 0 L  fs M 0
  24  6  x  GA L x 
EI  

1  qL M 0  x3 qx 4  qL3 M 0 L   f s  qLx qx 2 
v( x)        x  
EI  2 L  6 24  24 6   GA  2 2 

A expressão que governa a rotação das seções transversais é determinada


levando-se em consideração a presença da distorção. Assim:
dv( x) f s Vy ( x)
 0 
dx GA
dv( x) 1  qL M 0  x 2 qx3  qL3 M 0 L  
        
dx EI  2 L  2 6  24 6 
f s  qL   f  qL M 0  
    qx    s     qx  
GA  2   GA  2 L  

dv( x) 1  qL M 0  x 2 qx3  qL3 M 0 L   f s  M 0 


       
dx EI  2 L  2 6  24 6   GA  L 

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 675

21.6.2 – Exemplo 16

Determine as equações que governam o deslocamento perpendicular ao eixo da


estrutura ilustrada na Fig. (21.52) e também a rotação de suas seções transversais
utilizando a formulação de Reissner-Timoshenko.

Figura 21.52 Estrutura a ser analisada.

As reações de apoio da estrutura são determinadas aplicando-se as equações de


equilíbrio de corpo rígido. Considerando o diagrama de corpo livre apresentado na Fig.
(21.53) tem-se:

F y
0  R  P  qL  0  R  qL  P

qL2 qL2
 M Engaste  0  M  2
 PL  M 0  0  M 
2
 PL  M 0

Figura 21.53 Diagrama de corpo livre. Determinação das reações de apoio.

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 676

Portanto, as equações que governam a variação do esforço cortante e do


momento fletor ao longo do comprimento da viga podem ser obtidas aplicando-se as
equações de equilíbrio de corpo rígido, considerando o diagrama de corpo livre
apresentado na Fig. (21.54). Assim:

Figura 21.54 Diagrama de corpo livre. Equações que governam os esforços solicitantes.

qx 2  qL2 
M ( x)   qL  P  x    PL  M 0 
2  2 
V ( x)   qL  P   qx

Com os esforços solicitantes determinados, pode-se escrever a equação da linha


elástica da seguinte forma:
d 2 v( x) M ( x) f s q ( x)
  
dx 2 EI GA
d 2 v( x) 1  qx 2  qL2   f q( x)
2
   qL  P  x    PL  M 0    s
dx EI  2  2  GA

Integrando uma vez a última equação e aplicando as relações diferenciais


apresentadas no Capítulo 5 obtém-se:

dv( x) 1  x 2 qx3  qL2   f V ( x)


   qL  P     PL  M 0  x   s y  C1 
dx EI  2 6  2   GA
dv( x) 1  x 2 qx3  qL2   f
   qL  P     PL  M 0  x   s  qL  P   qx   C1
dx EI  2 6  2   GA
Integrando a última expressão obtém-se:

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 677

1  x3 qx 4  qL2  x2 
v ( x)   qL  P     PL  M 0  
EI  6 24  2  2
fs  x2 
      C1 x  C2
GA  2 
qL P x q

As duas constantes de integração da última expressão são determinadas


utilizando as condições de contorno. Para o problema em análise, as condições de
contorno são as seguintes:
v(0)  0
dv(0)
  médio  0
dx
Utilizando a primeira condição de contorno obtém-se:
v(0)  0  C2  0

A segunda condição de contorno do problema conduz ao seguinte valor para C1 .

dv(0)
  médio 
dx
fs f
0  qL  P   q 0   C1   s  qL  P   q 0   C1  0
GA GA
Portanto, o deslocamento perpendicular ao eixo da viga é governado pela
seguinte expressão:

1  x3 qx 4  qL2  x2  fs  x2 
v( x)   qL  P     PL  M 0     qL  P  x  q 2 
EI  6 24  2  2  GA  
Já as rotações das seções transversais são assim determinadas:
dv( x) f s Vy ( x)
 0
dx GA

dv( x) 1  x 2 qx3  qL2  


  qL  P     PL  M 0  x 
dx EI  2 6  2  
f f
 s  qL  P   qx   s  qL  P   qx 
GA GA

dv( x) 1  x 2 qx3  qL2  


  qL  P     PL  M 0  x 
dx EI  2 6  2  
Considerando que E = 25GPa,   0, 25 , que a seção transversal da viga seja
retangular com as dimensões 12 x 50 cm, q = 5kN/m, P = 3 kN, L = 3m e M 0  2 kNm,

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 678

pode-se determinar o deslocamento na extremidade livre do balanço e analisar a


influência da presença da distorção. Assim:

1  33 5.34  5.32  32 
v(3, 0)    5.3  3      3.3  2  
25 106  0, 00125  6 24  2  2
1, 2  5.32 
  5.3  3 3   
10 106  0, 06  2 

v(3, 0)  2, 772 103  6,3 105  2,835 103 m


Com base no resultado obtido, verifica-se que a contribuição do momento fletor
no deslocamento total é igual a:
2, 772 103
 97, 78%
2,835 103
Já a contribuição do esforço cortante é igual a:
6,3 105
 2, 22%
2,835 103
Portanto, verifica-se que a contribuição da ação cortante é pequena, podendo, em
grande parte das aplicações, ser desprezada.

21.6.3 – Exemplo 17

Determine as expressões que governam o deslocamento perpendicular ao eixo e


as rotações das seções transversais da estrutura apresentada na Fig. (21.55) utilizando a
formulação de Reissner-Timoshenko..
A estrutura apresentada na Fig. (21.55) possui uma descontinuidade de
carregamento ao longo de seu comprimento. Portanto, as expressões que governam seus
esforços solicitantes serão descontínuas. Assim, nos pontos de descontinuidade dessas
expressões, compatibilidade de deslocamento e rotações devem ser impostas para que a
continuidade física material seja garantida.

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 679

Figura 21.55 Estrutura a ser analisada.

As expressões que governam o esforço cortante e momento fletor para os dois


trechos uniformes da estrutura a ser analisada são obtidas aplicando-se as condições de
equilíbrio de corpo rígido. Dessa forma, essas expressões são as seguintes:
qx 2  qx 2 
 M  0  M0  2
 M ( x)  0  M ( x)    M 0 
2 
  0  x  L1 

F  0   qx  V ( x)  0  V ( x)  qx  0  x  L1 
 L 
M  0  M 0  qL1  x  1   P  x  L1   M ( x)  0 
 2
 qL 2

M ( x)   1  PL1  M 0    qL1  P  x  L1  x  L 
 2 

F  0   qL1  P  V ( x)  0  V ( x)    qL1  P   L1  x  L 
Com base nas expressões dos esforços solicitantes obtidas para o trecho
L1  x  L , pode-se escrever a equação da linha elástica da seguinte forma:

d 2 v( x) M ( x) f s q ( x)
 
dx 2 EI GA

d 2 v( x) 1  qL12   f q( x)
2
   PL1  M 0    qL1  P  x   s
dx EI  2   GA

Integrando a equação anterior e aplicando as relações diferenciais descritas no


Capítulo 5 obtém-se:

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 680

dv( x) 1  qL12  x 2  f s V ( x)
   PL1  M 0  x   qL1  P     C1 
dx EI  2  2 GA
dv( x) 1  qL12  x2  fs
   PL1  M 0  x   qL1  P     qL1  P   C1
dx EI  2  2  GA

Integrando a última equação obtém-se:

1  qL12  x2 x3  f s
v( x)    PL1  M 0    qL1  P     qL1  P  x  C1 x  C2
EI  2  2 6  GA

No trecho considerado, L1  x  L , as seguintes condições de contorno são


observadas:
v( L)  0
dv( L)
  médio  0
dx
Utilizando a segunda condição de contorno obtém:

dv( L) 1  qL12  L2 
   PL1  M 0  L   qL1  P  
dx EI  2  2
f f
 s  qL1  P   C1   s    qL1  P   
GA GA

1  qL12  L2 
C1     PL1  M 0 L   1  
qL  P
EI  2  2

Com base na primeira condição de contorno do problema obtém-se:

1  qL12  L2 L3  f s
v( L)    PL1  M 0   1     qL1  P  L
qL  P
EI   2  2 6  GA
1  qL12  L2 
   PL1  M 0 L   1   L  C2  0
qL  P 
EI  2  2

1  qL12  L2 L3  f s
C2    PL1  M 0   qL1  P    qL1  P  L
EI   2  2 3  GA

Portanto, para o trecho L1  x  L , a expressão que governa o deslocamento


perpendicular ao eixo da barra é a seguinte:

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 681

1  qL12  x2 x3  f s
v( x)    PL1  M 0   1     qL1  P  x 
qL  P
EI  2  2 6  GA
1  qL12  L2 
   PL1  M 0  L   qL1  P   x 
EI  2  2
1  qL12  L2 L3  f s
   PL1  M 0    qL1  P     qL1  P  L  L1  x  L 
EI  2  2 3  GA

Já as rotações nesse trecho são governadas pela seguinte relação:


dv( x)
  médio  0 
dx
dv( x) 1  qL12  x2  fs
   PL1  M 0 x   1     qL1  P 
qL  P
dx EI  2  2  GA
1  qL12  L2  f s
   PL1  M 0 L   1       qL1  P 
qL  P
EI   2  2  GA

dv( x) 1  qL12  x2 
   PL1  M 0 x   qL1  P  
dx EI  2  2
1  qL12  L2 
   PL1  M 0 L   qL1  P    L1  x  L 
EI  2  2

No trecho 0  x  L1 , a equação da linha elástica assume a seguinte forma:

d 2 v( x) M ( x) f s q( x)
 
dx 2 EI GA
d v( x) 1  
2
qx 2   f s q ( x)
 
  0
M   
dx 2 EI   2  GA

Integrando a última equação e aplicando as relações diferenciais descritas no


Capítulo 5 obtém-se:

dv( x) 1   qx3   f s V ( x)
 
  0
M x     C3 
dx EI   6  GA

dv( x) 1   qx3   f s qx
 
  0
M x     C3
dx EI   6   GA

Integrando a expressão anterior obtém-se:

1   x 2 qx 4   f s qx 2
v( x)    0 
 M    C3 x  C4
EI   2 24   GA 2

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 682

As constantes de integração que surgem desse processo, para o trecho 0  x  L1 ,


são determinadas impondo a compatibilidade de deslocamento e rotação com o trecho
L1  x  L . Compatibilizando a rotação obtém-se:

dv( x)
  médio  0
dx

dv( x) 1   qx3   f s qx f  qx 


   M 0 x     C3  s 
dx EI   6   GA GA
dv( x) 1   qx3  
   M 0 x     C3
dx EI   6 

Assim, no ponto de conexão entre os dois trechos, x  L1 , tem-se:

1   qL13   1  qL12  L12 


   M 0 L1     C3    PL1  M 0  L1   qL1  P  
EI   6  EI  2  2 
1  qL12  L2 
   PL1  M 0  L   qL1  P   
EI  2  2

1  qL12  L12  1  qL13  


C3    PL1  M 0 1
L   1  
qL  P  0 1
M L  
EI   2  2  EI  6 
1  qL12  L2 
   PL1  M 0 L   1  
qL  P
EI  2  2

Dessa forma, a expressão das rotações para o trecho 0  x  L1 é a seguinte:

dv( x) 1   qx3   1  qL12  L12 


 
  0
M x      PL1  M 0 1
L   1  
qL  P
dx EI   6   EI  2  2 
1  qL12  L2  1  qL13  
   PL1  M 0 L   1  
qL  P   0 1
M L  
EI  2  2  EI  6 

Para a determinação da constante C4 , deve-se impor a compatibilidade de

deslocamento. Assim, impõe-se v0 x  L1  L1   vL1  x  L  L1  . Dessa forma:

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 683

1   L12 qL14   f s qL12 1  qL12  2 L13 



  0M       PL1  M 0 1
L   1  
qL  P
EI  2 24   GA 2 EI  2  2
1  qL12  L2 L1  1  qL14  
   PL1  M 0 LL1   1 
qL  P    0 1
M L2
    C4 
EI  2  2  EI  6 
1  qL12  L12 L13  f s
  PL1  M 0    qL1  P     qL1  P  L1
EI  2  2 6  GA
1  qL12  L2 
   PL1  M 0  L   qL1  P   L1 
EI  2  2
1  qL12  L2 L3  f s
   PL1  M 0    qL1  P     qL1  P  L 
EI  2  2 3  GA

Agrupando os termos comuns e simplificando, obtém-se a expressão de C4 .

1 qL12   L2 L12   L3 L13  


C4    PL1  M 0     1
 qL  P    

EI  2   2 2   3 3 
1  M 0 L12 qL14   f s  qL12 
          
8   GA  2 
qL1 P L1 L
EI  2

Assim, a expressão do deslocamento para o trecho considerado fica assim


definida:

1   x 2 qx 4   f s qx 2
v( x)    0 
 M   
EI   2 24   GA 2
 1  qL12  L12  1  qL13   
   PL1  M 0  L1   qL1  P     M 0 L1   
 EI  2  2  EI  6  
 x
 1  qL1  L2 
2

 
 EI  2  PL1  M 0 L   qL1  P   
   2 
1 qL12  L2 L12   L3 L13  
  PL1  M 0     1
 qL  P    

EI  2  2 2   3 3 
1  M 0 L12 qL14   f s  qL12 
      qL1  P  L1  L   
EI  2 8   GA  2 

21.6.4 – Exemplo 18

Determine a reação do apoio B da estrutura hiperestática apresentada na Fig.


(21.56) utilizando a formulação de Reissner-Timoshenko. Além do carregamento

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 684

ilustrado, a estrutura está submetida a um recalque no apoio B igual a  orientado na


direção vertical com o sentido para baixo.

Figura 21.56 Estrutura a ser analisada.

Esse exemplo será resolvido utilizando o método da integração direta. Porém,


sugere-se que o leitor também o resolva utilizando o princípio da superposição dos
efeitos. Para tal finalidade, o leitor poderá utilizar os resultados obtidos no item 21.6.2.
Utilizando o diagrama de corpo livre apresentado na Fig. (21.57), determinam-se
as reações de apoio da estrutura aplicando as condições de equilíbrio de corpo rígido.
Dessa forma:

Figura 21.57 Diagrama de corpo livre. Reações de apoio.

qL2 qL2
 M  0  M 0  RB L  2
 MA  0  MA 
2
  M 0  RB L 

F  0  RA  RB  qL  0  RA  qL  RB

As equações que governam a variação do esforço cortante e do momento fletor


ao longo do comprimento da viga são determinadas aplicando as condições de
equilíbrio de corpo rígido. Para a estrutura em análise, essas expressões são as
seguintes:

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 685

qL2 qx 2
M  0  2
  M 0  RB L    qL  RB  x 
2
 M ( x)  0 

 qL2  qx 2
M ( x)   qL  RB  x   M 0  RB L  
 2  2

F y  0  qL  RB  qx  V ( x)  0  V ( x)   qL  RB   qx

Com base nas expressões que governam os esforços solicitantes atuantes, pode-
se escrever a equação da linha elástica da seguinte maneira:
d 2 v( x) M ( x) f s q ( x)
 
dx 2 EI GA
d v( x) 1 
2
 qL2  qx 2  f s q( x)
  qL  RB x   0
M  R L   
dx 2
B
EI   2  2  GA

Integrando a última equação e aplicando as relações diferenciais apresentadas no


Capítulo 5 obtém-se:

dv( x) 1  x2  qL2  qx3  f s V ( x)


  qL  RB   0
M  RB L   x    C1 
dx EI  2  2  6  GA

dv( x) 1  x2  qL2  qx3 


   qL  RB    0
M  RB L   x  
dx EI  2  2  6 
f
 s  qx   qL  RB    C1
GA
Integrando a equação anterior obtém-se a expressão do deslocamento. Assim:

1  x3  qL2  x 2 qx 4 
v ( x)    qL  RB    0
M  RB L    
EI  6  2  2 24 
f  qx 2 
 s    qL  RB  x   C1 x  C2
GA  2 
As constantes de integração que surgem do processo são determinadas por meio
das condições de contorno. Para o problema considerado as condições de contorno são
as seguintes:
v (0)  0
v( L)  
dv (0)
  médio  0
dx
Aplicando a primeira das condições de contorno obtém-se:
v (0)  0  C2  0

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 686

Aplicando a terceira das condições de contorno obtém-se:


dv(0)
  médio  0
dx
fs f
  qL  RB   C1  s  qL  RB   0  C1  0
GA GA
A segunda condição de contorno do problema conduz à determinação de RB .

Como o recalque de apoio é vertical para baixo, o deslocamento a ser considerado é –.
Assim:

1  L3  qL2  L2 qL4  f s  qL2 


   qL  RB   0
M  RB L        qL  RB  L  
EI  6  2  2 24  GA  2 
1  qL M 0 L  f s  qL  1 RB L
4 2 2 3
f
         s RB L
EI  8 2  GA  2  EI 3 GA

1  qL4 M 0 L2  f s  qL2 
   
EI  8 2  GA  2 
RB 
 L3 f L
  s 
 3EI GA 
A partir da determinação dessa reação de apoio, as demais reações de apoio
podem ser avaliadas com base nas equações de equilíbrio de corpo rígido. Então,
diagramas de esforços solicitantes podem ser traçados e equações de deslocamento e
rotação calculadas utilizando os procedimentos anteriormente apresentados.

21.6.5 – Exemplo 19

Determine a variação de temperatura necessária para que o deslocamento na


extremidade livre do balanço seja nulo utilizando a formulação de Reissner-
Timoshenko.
Nesse exemplo tem-se a atuação conjunta de carregamentos externos e efeitos de
temperatura. Portanto, nessa situação, a equação da linha elástica assume sua forma
completa sendo igual a:
d 2v( x) M ( x) f s q( x)  (T2  T1 )
  
dx 2 EI GA h

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 687

Figura 21.58 Estrutura a ser analisada.

Impondo as condições de equilíbrio de corpo rígido, pode-se determinar as


equações que governam a variação do esforço cortante e do momento fletor ao longo do
comprimento da viga. No presente exemplo, essas equações são as seguintes:

M  0  PL  Px  M ( x)  0  M ( x)  Px  PL

F  0
y  P  V ( x)  0  V ( x)  P

Portanto, a equação da linha elástica pode ser assim escrita:


d 2 v( x) 1 f q( x)  (T2  T1 )
2
  Px  PL   s 
dx EI GA h
Integrando a equação anterior e utilizando as relações diferenciais apresentadas
no Capítulo 5 obtém-se:
dv( x) 1  Px 2  f V ( x)  (T2  T1 )
   PLx   s  x  C1 
dx EI  2  GA h

dv ( x) 1  Px 2  f P  (T2  T1 )
   PLx   s  x  C1
dx EI  2  GA h

Integrando a última equação obtém-se:


1  Px 3 PLx 2  f s P  (T2  T1 ) x 2
v( x)      x   C1 x  C2
EI  6 2  GA h 2

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 688

As constantes de integração que surgem do processo são determinadas com base


nas condições de contorno do problema. Essas condições são as seguintes para o
problema em estudo:
v(0)  0
dv(0)
  médio  0
dx
Utilizando a primeira das condições de contorno obtém-se:
v (0)  0  C2  0
Já a segunda condição de contorno conduz a:
dv(0) f P f P
  médio  0   s  C1  s  0  C1  0
dx GA GA
Assim, a expressão que governa o deslocamento da estrutura é a seguinte:
1  Px 3 PLx 2  fs P  (T2  T1 ) x 2
v( x)      x 
EI  6 2  GA h 2

Para que o deslocamento na extremidade do balanço seja nulo, a seguinte


variação de temperatura deve estar presente:
1  PL3 PL3  f s PL  (T2  T1 ) L2
v( L)      0 
EI  6 2  GA h 2

PL3 f s PL  (T2  T1 ) L2  PL3 f s PL   2h 


    0  (T2  T1 )     
3EI GA h 2  3EI GA    L2 

Capítulo 21 – Deslocamentos em Vigas. Linha Elástica__________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 689

22. – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas

22.1 –Introdução

Os elementos estruturais que compõem um sistema estrutural são projetados


para suportar carregamentos externos, com segurança e economia, de forma que a
edificação, manufatura ou máquina no qual estejam posicionados exerça com plenitude
suas funções. Dessa forma, é de grande importância que os engenheiros projetem os
elementos estruturais de maneira que os possíveis modos de falha da estrutura sejam
consistentemente considerados.
Os elementos estruturais podem falhar de diversas formas, segundo seu tipo,
suas condições de vinculação, os carregamentos atuantes e os materiais que os
compõem. Até o presente momento, foram estudadas falhas relacionadas ao
esgotamento da capacidade portante do elemento. Esse estudo foi conduzido
empregando-se critérios de falha, sendo a falha caracterizada quando o estado de tensão
atuante em algum ponto material da estrutura torna negativa (supera) a equação do
critério de falha (a capacidade resistente do material).
Outro tipo de falha refere-se ao deslocamento excessivo da estrutura, o qual está
relacionado às suas condições de utilização. Nesse caso, embora a estrutura ainda
possua capacidade de absorção de carregamento externo, o deslocamento excessivo dos
elementos estruturais impossibilita o correto funcionamento do sistema estrutural,
impedindo, por consequência, que este atenda às suas finalidades. Tais problemas foram
analisados no capítulo 21.
Neste capítulo será estudado um tipo de falha estrutural, o qual refere-se à
instabilidade de elementos estruturais comprimidos. Elementos estruturais longos e
esbeltos carregados axialmente em compressão poderão defletir-se lateralmente e falhar

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 690

por flexão, em vez de falhar por compressão direta. Às falhas decorrentes da deflexão
lateral de elementos comprimentos dá-se o nome de flambagem.
A flambagem pode ser facilmente observada aplicando-se uma compressão em
uma régua flexível, conforme mostrado na Fig. (22.1). Inicialmente a régua permanece
retilínea, no entanto, a partir de uma intensidade crítica da força compressiva ocorre a
deflexão lateral. A flambagem pode também ser observada em uma treliça plana
composta por duas barras, segundo ilustração da Fig. (22.1). Nesse caso, a deflexão
lateral é observada a partir de uma intensidade crítica do esforço normal no elemento
estrutural.

Figura 22.1 Flambagem de elementos axialmente comprimidos.

É importante ressaltar que o fenômeno da flambagem não está limitado a


colunas submetidas a esforços de compressão. Este tipo de falha pode ocorrer em vários
tipos de estruturas, podendo tomar diferentes formas. Para fins ilustrativos, uma viga
fletida poderá flambar lateralmente devido à ação das tensões de compressão em partes
de sua seção transversal, como mostrado na Fig. (22.2). Já em tubos cilíndricos, ações
decorrentes do impacto podem gerar a flambagem de suas paredes, como ilustrado na
Fig. (22.2).

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 691

Durante o processo de flambagem o carregamento compressivo é aumentado


progressivamente, até que este atinja um valor crítico denominado de carga crítica,
Pcrítico . A partir desta intensidade de carga, a estrutura perde sua estabilidade defletindo

lateralmente de forma súbita. Deve-se ressaltar que, até esse momento, as barras
comprimidas analisadas eram sujeitas apenas à deformação axial. Porém, após ser
ultrapassado o valor de Pcrítico existe uma deflexão lateral e o elemento estrutural,

inicialmente comprimido e com deslocamentos direcionados apenas ao longo de seu


eixo, passa a comportar-se como viga, ou seja, com deslocamentos perpendiculares ao
seu eixo.
Devido ao seu caráter súbito, as falhas por flambagem são frequentemente
catastróficas, o que faz com que seja de extrema importância preveni-las.

Figura 22.2 Outros tipos de flambagem.

22.2 – Condições de Estabilidade ao Equilíbrio

Problemas mecânicos envolvendo elementos estruturais incluem, em sua grande


maioria, a aplicação de condições de equilíbrio. Até o presente momento, foram
consideradas apenas as equações e as condições que conduziam à situação de equilíbrio.
Porém, nada foi dito a respeito da estabilidade dessas condições.

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 692

Considerando estruturas suceptíveis à flambagem, a abordagem da estabilidade


do equilíbrio é de grande importância para a compreensão deste fenômeno. A
estabilidade ao equilíbrio pode ser ilustrada de forma simples considerando o equilíbrio
de uma esfera posicionada sobre três superfícies diferentes, conforme mostrado na Fig.
(22.3). Por meio desta figura, observa-se que nas três situações consideradas a esfera
encontra-se em equilíbrio, ou seja,  F  0 e M  0.

Figura 22.3 Estabilidade ao equilíbrio.

Conforme mostra a ilustração (a) da Fig.(22.3), constata-se que a esfera


encontra-se no fundo de um vale na condição de equilíbrio estático. Nessa situação, se a
esfera for ligeiramente deslocada para qualquer um de seus lados e em seguida for solta,
percebe-se, intuitivamente, que ela retornará ao fundo do vale e à condição de equilíbrio
estático. Embora seja introduzida uma perturbação no sistema, este retorna à condição
de mínima energia e ao equilíbrio. Diz-se que, nessa situação, o equilíbrio é estável,
uma vez que após a introdução da perturbação, a condição de equilíbrio alcançada é
igual à observada na condição não deslocada.
Caso a esfera esteja localizada sobre uma superfície plana, como apresentado na
ilustração (b) da Fig. (22.3), a aplicação de um deslocamento (perturbação) conduz a
esfera à outra posição. Em sua nova posição, posição deslocada, a esfera estará em
equilíbrio estático, assim como em sua configuração inicial. Porém, após a aplicação
deste deslocamento (perturbação), verifica-se que o equilíbrio é somente possível se for
considerada a configuração deslocada do sistema. Diz-se que nessa condição o
equilíbrio é neutro, uma vez que o equilíbrio é verificado considerando-se a
configuração deslocada do sistema.

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 693

Finalmente, na ilustração (c) da Fig. (22.3), apesar da esfera encontrar-se em


equilíbrio em sua posição inicial, qualquer deslocamento (perturbação) aplicado ao
sistema fará com que esta se afaste cada vez mais da posição de equilíbrio inicial. Nessa
condição, diz-se que o equilíbrio é instável, já que qualquer perturbação no sistema, por
menor que seja, resulta na perda de equilíbrio do sistema.
Baseando-se nas condições de estabilidade ao equilíbrio apresentadas
anteriormente as etapas presentes no processo de flambagem podem ser melhor
estudadas. Quando o elemento estrutural está submetido a um carregamento axial que
gera um esforço normal inferior à carga crítica, Pcrítico , o equilíbrio da estrutura é

estável. Nessa situação, a flambagem não ocorre e o deslocamento observado é apenas


axial. Após a retirada do carregamento atuante, a estrutura retoma sua configuração
inicial, tal como observado na ilustração (a) da Fig. (22.3). Todos os problemas
anteriormente estudados neste curso envolvem este tipo de condição de equilíbrio.
Quando o esforço normal atuante no elemento estrutural é superior a Pcrítico , a
flambagem ocorre. Nessa situação, será observado o deslocamento lateral do elemento e
o equilíbrio, caso ele exista, somente será possível considerando a configuração
deslocada do sistema. Nesse caso, o equilíbrio é instável já que a nova posição de
equilíbrio é consideravelmente diferente da configuração inicial. As condições de
equilíbrio não são, normalmente, observadas neste tipo de equilíbrio.
Quando o carregamento axial atuante gera um esforço normal que seja igual a
Pcrítico tem-se a interface entre os equilíbrios estável e instável. Nesse ponto, o equilíbrio
é neutro já que é ainda possível efetuar o equilíbrio do elemento. Porém, este tipo de
equilíbrio é efetuado considerando a posição deslocada do elemento. Nesse ponto ocorre
a bifurcação do equilíbrio, ou seja, para esforços maiores que Pcrítico a configuração final
não é definida.

22.2.1 – Exemplo 1

Analise as condições de estabilidade da coluna mostrada na Fig. (22.4). Trata-se


de uma coluna axialmente solicitada por uma força P, estando, em seu extremo superior,
presa por uma mola de constante elástica k.

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 694

Conforme anteriormente discutido, quando a intensidade de P é menor que


Pcrítico , a coluna desloca-se apenas longitudinalmente. Assim, deflexões laterais não são
observadas e o equilíbrio observado é do tipo estável.

Figura 22.4 Estrutura a ser analisada.

Para que os equilíbrios neutro e instável sejam observados, a coluna deve


defletir-se lateralmente, ou seja, possuir uma configuração deslocada lateral. Em
seguida, o equilíbrio da estrutura em sua configuração deslocada deve ser formulado. A
configuração deslocada assumida para a coluna é apresentada na Fig. (22.5), sendo Fm a
reação da mola sobre a coluna.

Figura 22.5 Configuração deslocada da coluna.

Efetuando o equilíbrio de momentos em relação ao ponto A, assumindo a


validade da equação característica da mola, obtém-se:

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 695

M A 0   Pv  L   Fm L  0   Pv  L   kv  L  L  0 
(22.1)
  P  kL  v  L   0
sendo v  L  a deflexão lateral da coluna em seu topo.

Quando o equilíbrio é estável, a deflexão lateral da coluna não é observada.


Nesta condição v  L   0 e o equilíbrio anteriormente formulado é atendido, Eq.(22.1).

Quando v  L   0 , os termos entre parêntesis devem anular-se para que o equilíbrio seja

atendido, Eq.(22.1). Nesta situação tem-se:


 P  kL  0  P  kL  Pcrítico  kL

Quando P  kL observa-se a condição de equilíbrio neutro, ou seja, existe uma


configuração de equilíbrio a qual é obtida na configuração deslocada da estrutura. Nesta
condição, o equilíbrio formulado na Eq.(22.1) é atendido. O carregamento limite para
que a flambagem não ocorra é Pcrítico  kL .

Por outro lado, quando P  kL o equilíbrio formulado na Eq.(22.1) não é


atendido. Portanto, nesta situação, observa-se a condição de equilíbrio instável da
estrutura. A estrutura poderá apresentar uma nova configuração de equilíbrio. Porém,
esta será possível em uma condição muito diferente da inicial. Em estruturas reais, tal
equilíbrio é observado quando o elemento estrutural desconecta-se do sistema estrutural
ao qual pertence, ou seja, tem-se o colapso mecânico do elemento estrutural e do
sistema estrutural.

22.3 – Flambagem de Euler para colunas biarticuladas

Neste item será apresentada a equação que permite a determinação de Pcrítico


considerando colunas cujos extremos sejam articulados. Para investigar a condição de
estabilidade destas colunas, utiliza-se uma coluna ideal, delimitada em seus extremos
por pinos, conforme apresenta a Fig. (22.6).
Para a formulação do problema, as seguintes hipóteses serão assumidas:
1. A coluna é perfeitamente reta e composta por um material de comportamento
mecânico elástico linear.
2. A coluna é livre para girar em suas extremidades.

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 696

3. A coluna é simétrica em relação ao plano xy e qualquer deflexão lateral da


coluna ocorre neste plano.
4. A coluna é carregada por uma força axial compressiva, P, aplicada no centro de
gravidade da seção.

Figura 22.6 Colunas biarticulada. Condição de equilíbrio.

Com relação ao valor da carga P aplicada, admite-se que:


1. Se P for menor que Pcrítico , a coluna permanecerá reta e terá seu comprimento

reduzido pela ação de uma tensão normal uniforme de compressão. Nessa situação o
equilíbrio é estável.
2. Se P for igual a Pcrítico , então o equilíbrio na posição não deslocada ainda é

possível. Nesse caso o equilíbrio é neutro.


Para a obtenção do valor da carga crítica, Pcrítico , efetua-se o equilíbrio de corpo
rígido da coluna assumindo-se a atuação da carga axial P e uma configuração
geométrica ligeiramente fletida da coluna. Considerando o diagrama de corpo livre
apresentado na última ilustração da Fig. (22.6), pode-se efetuar o equilíbrio da coluna
em sua configuração deslocada. Dessa forma tem-se:

F 0x  P A0  AP


(22.2)
M 0 z  Pv  x   M  x   0  M  x    Pv  x 

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 697

Com base no estudo dos deslocamentos de elementos estruturais fletidos,


apresentado no capítulo 21, tem-se que a seguinte equação é válida:
d 2v M
 (22.3)
dx 2 EI
Assim, substituindo na Eq.(22.3) o valor do momento fletor determinado na
Eq.(22.2) tem-se:

d 2v M d 2 v  x   Pv  x  d 2v  x  P
     v  x  0 (22.4)
dx 2 EI dx 2 EI dx 2 EI
A Eq.(22.4) é a equação diferencial que governa a configuração deslocada de
uma coluna delimitada por apoios articulados. Trata-se de uma equação diferencial
ordinária, homogênea, linear e de segunda ordem. As condições de contorno que a
solução dessa equação deve obedecer são as seguintes:
v 0  0 v L  0 (22.5)

A presença do termo v  x  na equação diferencial Eq.(22.4) indica que a solução

desta equação não é obtida integrando-a duas vezes. Na verdade, uma solução de forma
simples para esta equação somente é possível se o termo EI for constante ao longo do
comprimento do elemento. Nessa situação, a equação diferencial torna-se ordinária e
com coeficientes constantes.
P
Sendo  2  pode-se reescrever a Eq.(22.4) como:
EI
d 2v  x  P
2
 v  x   0  v ''  x    2 v  x   0 (22.6)
dx EI
A solução homogênea desta equação diferencial é conhecida, sendo igual a:
v  x   C1sen  x   C 2 cos  x  (22.7)

Assim, o problema poderá ser formulado se as constantes C1 e C2 forem

determinadas. Essas constantes deverão obedecer às condições de contorno do


problema, as quais estão apresentadas na Eq.(22.5). Portanto, aplicando as condições
expressas na Eq.(22.5) obtém-se:
v 0   0  C1sen  0   C 2 cos  0   0  C 2  0
(22.8)
v L  0  C1sen  L   C 2 cos  L   0  C1sen  L   0

Com base no resultado apresentado na Eq.(22.8), constata-se que se ambas


constantes C1 e C2 forem nulas, a deflexão lateral v  x  será também nula para todos os

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 698

pontos materiais que compõem a coluna. Consequentemente, a configuração deslocada


final será retilínea e o fenômeno da flambagem não terá sido levado em consideração.
Como se deseja obter uma configuração de equilíbrio alternativa, deve-se
considerar um valor de  que satisfaça a segunda condição de contorno, v  L   0 ,

assumindo que a constante C1 seja diferente de zero, ou seja,  deve satisfazer a


equação característica. Assim:
C1sen  L   0 sendo C1  0 tem-se
n (22.9)
sen  L   0    com n  1, 2, 3...
L
P
Sendo  2  , pode-se reescrever o resultado apresentado na Eq.(22.9) como:
EI
n P n 2 2 n 2 2 EI
    2  P (22.10)
L EI L L2
O valor da carga atuante P, que desencadeia o processo de flambagem, é
obviamente o menor valor dado pela Eq.(22.10), ou seja, a flambagem ocorrerá quando
a variável n for igual à unidade. Portanto, a carga crítica de flambagem é dada por:
n 2 2 EI  2 EI
Pcrítico   Pcrítico  (22.11)
L2 L2
A Eq.(22.11) é conhecida como carga de flambagem de Euler, e recebe este
nome devido ao matemático suíço Leonhard Euler (1707-1783), o qual foi o primeiro
pesquisador a estabelecer uma teoria de flambagem para colunas de eixo retilíneo.
A função que representa a configuração deslocada da coluna é denominada de
modo de flambagem. O primeiro modo de flambagem, n  1 , pode também ser
chamado de modo fundamental de flambagem, como ilustrado na Fig. (22.7). Embora a
coluna possa teoricamente flambar em seu segundo modo, ou seja, com n  2 e
4 2 EI
Pcrítico  , isso é somente possível com a presença de algum suporte lateral,
L2
localizado na posição x  L , que provoque o travamento lateral da coluna nesse
2
ponto, fazendo com que o primeiro modo de flambagem seja prevenido. A configuração
deslocada da flambagem em modo 2 é ilustrada na Fig. (22.7). O termo C1 representa o

deslocamento máximo, vMAX , que ocorre no ponto médio da coluna.

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 699

Deve-se notar que a carga crítica é independente da resistência do material, ou


seja, de sua tensão de escoamento ou de ruptura. Esta carga, como mostrado na
Eq.(22.11), depende apenas das dimensões da coluna (I e L) e da rigidez do material (ou
de seu módulo de elasticidade longitudinal, E). Por esta razão, considerando que a
flambagem ocorra em regime elástico, as colunas feitas, por exemplo, de aço de alta
resistência não apresentam vantagens em relação àquelas feitas de aço de baixa
resistência, uma vez que o módulo de elasticidade longitudinal é aproximadamente o
mesmo para ambos os aços.
Deve ser ressaltado que a capacidade portante de uma coluna cresce com o
aumento dos momentos de inércia de sua seção transversal. Assim, colunas
eficientemente projetadas são aquelas onde a maior parte da área de sua seção
transversal encontra-se afastada, tanto quanto possível, de seus eixos principais de
inércia. Por esta razão, colunas compostas por seções transversais de alma vazada são
mais econômicas e eficientes que seções transversais maciças.

Modo 1 Modo 2
Figura 22.7 Dois primeiros modos de flambagem de uma coluna biarticulada.

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 700

É importante também enfatizar que o processo de flambagem ocorrerá


relativamente ao eixo principal em torno do qual atua a menor inércia da seção
transversal, conforme ilustra a Fig. (22.8). Consequentemente, durante o
dimensionamento das seções transversais destes elementos estruturais, os engenheiros
devem, preferencialmente, atender à condição de momentos principais de inércia
idênticos. Por esta razão, seções quadradas, circulares e compostas por perfis do tipo H
são frequentemente selecionados para as colunas.

Figura 22.8 Flambagem em torno do eixo aa, eixo principal de menor inércia.

Para o desenvolvimento de projetos estruturais de colunas, torna-se interessante


a definição de duas variáveis geométricas relativas à seção transversal do elemento
estrutural. A primeira dela é denominada raio de giração, sendo definida como:
I
r (22.12)
A
Como toda seção transversal possui dois eixos principais de inércia, haverão
dois valores de raio giração, sendo cada um deles referenciado a um eixo principal.
A segunda propriedade geométrica de grande utilidade em projetos de colunas é
conhecida como índice de esbeltez, . Este índice representa uma medida da

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 701

flexibilidade da coluna quanto à flambagem, podendo ser classificado como longo,


intermediário ou curto. O índice de esbeltez é definido como:
L
 (22.13)
r
Assim como o raio de giração, existem dois valores para o índice de esbeltez,
sendo cada um deles relacionado a um eixo principal de inércia. Quão maior for o valor
do índice de esbeltez, maior será a tendência da flambagem ocorrer em relação a este
eixo principal.
Por meio das grandezas definidas nas Eq.(22.12) e Eq.(22.13), pode-se obter
uma expressão que permite a determinação da intensidade da tensão normal que causa a
flambagem da coluna. Esta equação é obtida utilizando-se a Eq.(22.11). Dessa forma:
P  2 EI  2 Er 2
 crítico  crítico   crítico    crítico  
A L2 A L2 (22.14)
 E
2
 crítico  2

A partir do resultado apresentado na Eq.(22.14), pode-se construir um diagrama
cujos eixos sejam  crítico e  . Segundo os valores adotados para as propriedades
geométricas da seção transversal, o comprimento da coluna e a tensão de escoamento do
material, constata-se que a coluna poderá falhar por escoamento do material presente na
seção transversal antes da falha por instabilidade geométrica (flambagem). Este
diagrama, para dois materiais estruturais correntemente empregados na construção de
manufaturas, aço e alumínio, é apresentado na Fig. (22.9).

Figura 22.9 Variação da tensão normal de falha com o índice de esbeltez da coluna.

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 702

Nos trechos horizontais do diagrama apresentado na Fig. (22.9), observa-se que


a falha estrutural ocorre devido ao escoamento do material. Já nos trechos curvos,
denominado de hipérbole de Euler, a falha se dá devido à flambagem da coluna. De
forma a melhor utilizar o material estrutural e a disposição geométrica da coluna, deve-
se procurar projetar colunas cujo par  ,  resulte no encontro entre os trechos linear e
hiperbólicos apresentados na Fig. (22.9). Nessa situação, tem-se a condição de máxima
utilização da capacidade portante do material e máxima capacidade portante da coluna
(sistema estrutural), resultando, portanto, na máxima eficiência do sistema.

22.3.1 – Exemplo 2

Uma coluna biarticulada de comprimento igual a 4,0 metros está submetida a


uma força compressiva aplicada no centro de gravidade de sua seção transversal.
Sabendo que o material que compõe esta coluna possui módulo de elasticidade
longitudinal igual a E  70 GPa e tensão de escoamento igual a  E  270 MPa ,
determine a intensidade máxima da carga axial que pode ser aplicada na coluna sem que
a falha da estrutura seja observada. A seção transversal da coluna está apresentada na
Fig. (22.10), cujas dimensões estão representadas em mm.

Figura 22.10 Seção transversal da coluna a ser analisada. Dimensões em mm.

Para a resolução desse exemplo, deve-se determinar o valor da carga crítica por
meio da Eq.(22.11). Em seguida, deve-se verificar se a tensão mobilizada pela carga
crítica é menor que a tensão de escoamento do material. Em caso afirmativo, a maior

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 703

força axial que poderá ser aplicada na coluna, sem a ocorrência da falha, será a própria
carga crítica. Caso contrário, a força axial máxima será igual à força que conduz ao
escoamento a seção transversal da coluna.
As propriedades geométricas da seção transversal são iguais a:
A    45 2  40 2   A  1335,1767 mm 2  A  1335,1767  10  6 m 2


I
4
 45 4
 40 4   I  1, 21  10 6 mm 4  I  1, 21  10 6 m 4

1, 21  10 6
r  r  30,104 mm  r  0, 030104 m
1335,1767

4, 0
    132,87
0, 030104
Devido à simetria da seção transversal em relação a todas as suas direções,
observa-se que os valores do momento de inércia, do raio de giração e do índice de
esbeltez serão iguais em relação a todas as direções. Portanto, a carga crítica pode ser
calculada como:
 2 EI  2  70 106 1, 21 10 6
Pcrítico   Pcrítico   Pcrítico  52, 247 kN
L2 42
A tensão normal produzida pela aplicação da carga crítica é igual a:
Pcrítico 52, 247
        39131, 31 KPa 
A 1335,1767  10 6
  39,13131 MPa

Como a tensão mobilizada pela aplicação de Pcrítico é menor que a tensão de


escoamento da seção, constata-se que a maior força axial que poderá ser aplicada sem a
observação da falha da estrutura é igual a 52,247 kN.

22.3.2 – Exemplo 3

Uma coluna de comprimento igual a 2,0 m e extremidades articuladas possui


seção transversal quadrada. Sabendo que esta coluna é constituída de pinho, cujo
módulo de elasticidade longitudinal e tensão de ruptura são iguais a E  13 GPa e

 u  12 MPa , respectivamente, determine as dimensões da seção transversal da coluna,

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 704

a qual é ilustrada na Fig. (22.11), se esta deve resistir a uma força axial de 100 kN
aplicada no centro de gravidade de sua seção transversal sem a ocorrência da falha.
Para que a falha não ocorra nesta coluna, as dimensões da seção transversal
devem ser tais que não conduzam nem a flambagem nem a ruptura do material. Dessa
forma, as dimensões da seção transversal serão determinadas de forma que essas duas
condições de falha sejam atendidas, ou melhor, impedidas. Considerando primeiramente
a flambagem, deve-se determinar o valor da carga crítica por meio da Eq.(22.11).
Assim:

Figura 22.11 Seção transversal da coluna a ser analisada.

aa 3 a4
I  I
12 12
Por meio da Eq.(22.11) tem-se:
 2 EI  2 13  10 6 a 4
Pcrítico   100   a  0, 07821 m 
L2 22 12
a  7, 821 cm
Verificando a condição a ruptura tem-se:
P 100
   12  10 3   a  0, 09129 m  a  9,129 cm
A a2
Com base nos valores obtidos para o comprimento do lado da seção transversal
da coluna, considerando os modos de falha de flambagem e ruptura da seção, observa-se
que o valor que previne ambos os modos de falha é o maior deles, ou seja, a  9,129 cm
. Com esse valor de comprimento de lado, a tensão mobilizada pelo carregamento
atuante é igual à tensão de ruptura e a carga que gera a flambagem é maior que a carga
aplicada.

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 705

22.3.3 – Exemplo 4

Uma coluna biarticulada com comprimento igual a 3,5 m e seção transversal


retangular, conforme indicado na Fig. (22.12), é feita de um material que possui módulo
de elasticidade longitudinal igual a E  130 GPa . Para esta coluna, determine as
propriedades geométricas de sua seção transversal e as cargas críticas de flambagem em
relação aos planos principais de inércia.

Figura 22.12 Seção transversal da coluna a ser analisada. Dimensões em cm.

As propriedades geométricas da seção transversal são iguais a:


A  20  50  A  1000 cm2  A  0,10 m2

50  203
Iz   I z  3, 33333  10 4 cm 4  I z  3, 33333 10 4 m 4
12
20  503
Iy   I y  2, 08333 105 cm 4  I y  2, 08333  10 3 m 4
12
Os raios de giração são dados por:

Iz 3, 33333  10 4
rz   rz   rz  0, 057735 m  rz  5, 7735 cm
A 0,10

Iy 2, 08333  10 3
ry   ry   ry  0,14434 m  ry  14, 434 cm
A 0,10

Já os índices de esbeltez são dados por:


L 3,5
z   z  z  60, 6218
rz 0, 057735
L 3, 5
y   y    y  24, 2483
ry 0,14434

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 706

Como a esbeltez em torno do eixo z é maior, a coluna flambará primeiramente


em torno desse eixo. Para mostrar essa constatação serão determinados os valores das
cargas críticas em relação a cada um dos eixos principais de inércia, y e z. Em relação
ao eixo z, a carga crítica será menor que em relação ao eixo y. Aplicando a Eq.(22.11)
tem-se:
 2 EI z  2 130 10 6  3, 33333  10 4
Z
Pcrítico  2
 Pcrítico
Z
 2
 Pcrítico
Z
 34912,85 kN
L 3, 5

 2 EI y  2 130 10 6  2, 08333 10 3


Pcrítico 
Y
2
 Pcrítico 
Y
2
 Pcrítico
Y
 218205,19 kN
L 3, 5
Dessa forma, assim como já previsto pela análise do índice de esbeltez, constata-
se que a flambagem ocorrerá primeiramente em torno do eixo z, que é o eixo que
contém a menor inércia, uma vez que Pcrítico
Z
 Pcrítico
Y
.

22.4 – O Efeito das Condições de Extremidade na Flambagem de Colunas

Nos itens anteriores, o problema da flambagem foi formulado e expressões para


a determinação da carga crítica e tensão crítica foram obtidas. Deve-se enfatizar que
todo o equacionamento apresentado é válido para colunas cujas extremidades sejam
articuladas. Dessa forma, pode-se questionar o que ocorre quando essa condição não é
obedecida? Quais são os valores da carga crítica para outros tipos de vinculação que não
a articulação? Esse problema será discutido neste item. Inicialmente, será apresentada a
análise da flambagem para uma coluna engastada em um extremo e livre no extremo
oposto. Para as demais condições de contorno os resultados serão obtidos por indução.
Para a determinação da expressão da carga crítica de uma coluna engastada-
livre, deve-se considerar a coluna mostrada na Fig. (22.13), a qual é engastada-livre e
submetida a uma carga axial de compressão aplicada no centro de gravidade de sua
seção transversal. Por meio das equações de equilíbrio de corpo rígido, obtém-se a
expressão do momento fletor atuante ao longo do comprimento da coluna. Assim, como
mostrado na última ilustração da Fig. (22.13) tem-se:

M z  0   P   v  x    M  x   0  M  x   P   v  x   (22.15)

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 707

Utilizando as equações diferenciais do estudo da linha elástica, conforme


apresentado no capítulo 21, verifica-se que a deflexão lateral da coluna pode ser
expressa por:

d 2v M d 2 v  x  P   v  x  
   
dx 2 EI dx 2 EI (22.16)
d v  x P
2
P
2
  v  x  0
dx EI EI

Figura 22.13 Colunas engastada livre. Condição de equilíbrio.

P
Sendo  2  , pode-se reescrever a Eq.(22.16) como:
EI

d 2v  x  d 2v  x 
 2   2 v  x   0    2 v  x    2 (22.17)
dx 2 dx 2
A equação diferencial apresentada na Eq.(22.17) é não homogênea, uma vez que
o termo presente em seu segundo membro é não nulo. A solução desta equação
diferencial consiste na adição de uma solução particular à sua solução homogênea.
Dessa forma, a solução da Eq.(22.17) é dada por:
v  x   C1sen  x   C 2 cos  x    (22.18)

As constantes C1 e C2 que aparecem na Eq.(22.18) serão determinadas


considerando as condições de contorno atuantes nas extremidades da coluna. Como se
trata de uma coluna engastada livre tem-se que:

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 708

dv  0 
v 0  0 0 (22.19)
dx
Por meio da primeira condição de contorno apresentada na Eq.(22.19) obtém-se:
v 0  0  C1sen  0   C 2 cos  0     0  C 2   (22.20)

Utilizando a segunda condição de contorno apresentada na Eq.(22.19) tem-se:


dv  0 
 0   C1 cos  x    C 2 sen  x   0 
dx (22.21)
 C1 cos  0    C 2 sen  0   0  C1  0

A partir das constantes determinadas nas Eq.(22.20) e Eq.(22.21) pode-se


escrever a equação da deflexão lateral da coluna como:
v  x    cos  x     v  x    1  cos  x   (22.22)

No topo da coluna o deslocamento lateral atuante é igual a  . Para que essa


condição seja atendida, verifica-se que:
v  L      1  cos  L     cos  L   0 (22.23)

A solução trivial da Eq.(22.23) conduz a um valor nulo para o deslocamento na


extremidade da coluna, ou seja,   0 . Quando a solução trivial é adotada, a flambagem
não é representada, uma vez que a deflexão lateral da coluna é nula. Portanto, para que
esse fenômeno seja representado, a solução da Eq.(22.23) deve assumir a seguinte
forma:
 cos  L   0 sendo   0 tem-se
n (22.24)
cos  L   0    com n  1, 3, 5...
2L
P
Sendo  2  , pode-se reescrever o resultado apresentado na Eq.(22.24)
EI
como:
n P n 2 2 n 2 2 EI
     P (22.25)
2L EI 4 L2 4 L2
Considerando o primeiro carregamento que gera a flambagem da coluna, ou
seja, aquele cujo n  1 tem-se:
12  2 EI  2 EI
Pcrítico   Pcrítico  (22.26)
4 L2 4 L2
Comparando a Eq.(22.26) com a Eq.(22.11), ou seja, as equações que resultam
as cargas críticas de flambagem para colunas engastada-livre e biarticuladas,

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 709

respectivamente, constata-se que a coluna engastada-livre suporta apenas um quarto da


carga que poderia ser aplicada a uma coluna biarticulada antes da flambagem. O
formato dessas equações é o mesmo, porém, diferenciam-se pela presença do escalar 4
no denominador. Essas equações poderiam ser reescritas assumindo-se um
comprimento equivalente para cada uma das colunas. Nesse caso, a coluna engastada-
livre possui comprimento equivalente igual ao dobro do comprimento da coluna
biarticulada. De forma a obter uma expressão única para a análise da flambagem de
colunas, independentemente de suas condições de vinculação, deve-se empregar o
conceito de comprimento equivalente de colunas, o qual será introduzido no item
seguinte.

22.5 – Comprimento Equivalente

Conforme demonstrado previamente neste capítulo, a fórmula da flambagem de


Euler, Eq.(22.11), foi desenvolvida assumindo-se uma coluna cujas extremidades eram
biarticuladas. O parâmetro L, que surgiu nesta equação, representa o comprimento da
coluna, o qual é igual à distância entre os pontos onde o momento fletor atuante é nulo.
Caso a coluna considerada esteja vinculada de outra maneira que não a bi
articulação, a fórmula de Euler pode ainda ser aplicada, como apresentado no item
anterior. No entanto, para estas condições de vinculação, o parâmetro L deve ser
avaliado de forma a representar a distância entre os pontos da coluna onde o momento
fletor atuante seja nulo. Esta distância é denominada de comprimento equivalente da
coluna, Le .

Para colunas biarticuladas, Le é igual ao próprio comprimento da coluna. Já para

o caso de colunas vinculadas na condição engastado-livre, o comprimento equivalente é


igual a duas vezes o comprimento da coluna. Para outros tipos de condições de
vinculação, pode-se determinar o comprimento equivalente resolvendo-se uma equação
diferencial baseada na deflexão lateral da coluna. Esse procedimento será omitido
nessas notas apenas para evitar a repetição de cálculos já amplamente apresentados nos
itens 22.3 e 22.8. Para os casos clássicos da mecânica dos sólidos/resistência dos
materiais, a determinação dos valores do comprimento equivalente pode ser efetuada
com base na seguinte relação:

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 710

Le  KL (22.27)
onde K é denominado de fator de extremidade. Para as condições de vinculação
clássicas, o valor do parâmetro K é dado pelas ilustrações apresentadas na Fig. (22.14).
Considerando o fator de extremidade, pode-se escrever a fórmula da flambagem
de Euler de uma maneira geral como:
 2 EI  2 EI
Pcrítico   Pcrítico  (22.28)
 KL 
2
L2e

Com base também no fator de extremidade, pode-se definir o índice de esbeltez


de em sua forma geral como:
KL Le
   (22.29)
r r

Figura 22.14 Determinação do fator de extremidade.

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 711

22.5.1 – Exemplo 5

A coluna apresentada na Fig. (22.15) é fixa em sua base e vinculada por cabos
em seu topo. Sabendo que o perfil que compõe a seção transversal da coluna possui as
seguintes propriedades geométricas:
A  7, 5  10 3 m 2 ; I x  61, 3 10 6 m 4 ; I y  23, 2  10 6 m 4

e que o material que forma a coluna possui as seguintes propriedades mecânicas:


E  70 GPa ;  E  215 MPa

Determine o valor da máxima força axial de compressão que pode ser aplicada no
centro de gravidade da seção transversal da coluna sem que a falha estrutural seja
observada.

Figura 22.15 Coluna a ser analisada.

Como a coluna será submetida a uma força axial de compressão, deve-se


verificar se a falha estrutural não ocorrerá com relação ao escoamento da seção
transversal, à flambagem em torno do eixo x e à flambagem em torno do eixo y.

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 712

Assumindo primeiramente como cenário de falha o escoamento do material


presente na seção transversal da coluna, verifica-se que a máxima intensidade da força
aplicada poderá será igual a:
Pcritico
E   Pcritico  215  10 3  7, 5  10 3  Pcritico  1612, 5 kN (22.30)
A
Considerando a falha por flambagem em torno do eixo x, pode-se aplicar a
Eq.(22.28) para a determinação da carga crítica. Em relação a este eixo, a análise deve
ser conduzida considerando a coluna como engastada-livre. Assim:
 2 EI x  2  70  10 6  61, 3  10 6
X
Pcrítico   X
Pcrítico  
 KL  2  5
2 2
(22.31)
Pcrítico  423, 505 kN
X

Analisando agora a falha por flambagem em torno do eixo y, constata-se que em


relação a este eixo a coluna encontra-se engastada-rotulada. Por meio da Eq.(22.28),
sabe-se que a carga crítica da coluna, para a flambagem em torno deste eixo, é dada por:
 2 EI y  2  70  10 6  23, 2  10 6
Y
Pcrítico   Y
Pcrítico  
 KL   0, 7  5 
2 2
(22.32)
Y
Pcrítico  1308, 428 kN

Assim, a máxima força axial compressiva que pode ser aplicada à coluna é a
menor entre as cargas críticas apresentadas nos resultados das Eq.(22.30), Eq.(22.31) e
Eq.(22.32). Portanto, a carga crítica da coluna é igual a Pcrítico  423, 505 kN e o modo
de falha principal é a flambagem em torno do eixo x.
Deve-se ressaltar que embora o momento de inércia da seção transversal em
torno do eixo y seja menor que o momento de inércia em torno do eixo x, o que poderia
induzir o analisa a pensar que o eixo y seria o eixo mais propenso à flambagem, as
condições de vinculação atuantes nos extremos da coluna tornaram a esbeltez
equivalente em torno do eixo x maior. Apenas para verificação, pode-se aplicar a
Eq.(22.29) para a determinação dos valores dos índices de esbeltez equivalentes. Assim:
KL 2 5
X   X    X  110, 611
rx 61, 3  10 6
7, 5  10 3

KL 0, 7  5
Y   Y   Y  62, 930
ry 23, 2  10 6
7, 5  10 3

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 713

Dessa forma, a coluna irá flambar em torno do eixo cuja esbeltez seja maior.

22.5.2 – Exemplo 6

A coluna apresentada na Fig. (22.16) é formada por um aço cujo módulo de


elasticidade longitudinal é igual a E  29000 ksi e tensão de escoamento igual a
 E  60 ksi . Assumindo que as vigas de contraventamento posicionadas ao longo do
comprimento da coluna permitam o giro da coluna naquele ponto, mas não seu
deslocamento lateral, e que a seção transversal da coluna possua as seguintes
propriedades geométricas:
A  4, 43 in 2 ; I x  29,1 in 4 ; I y  9, 32 in 4

determine a carga crítica da coluna.


Para a determinação da carga crítica da coluna apresentada na Fig. (22.16),
devem ser considerados os cenários de falha referentes ao escoamento da seção
transversal, a flambagem em torno do eixo x e a flambagem em torno do eixo y.

Figura 22.16 Coluna a ser analisada.

Iniciando a análise considerando como cenário de falha o escoamento da seção


transversal, observa-se que a máxima intensidade da força aplicada poderá será igual a:
Pcritico
E   Pcritico  60  4, 43  Pcritico  265, 8 kip (22.33)
A

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 714

Analisando agora a falha por flambagem em torno do eixo x, a carga crítica pode
ser determinada utilizando-se a Eq.(22.28). Com base nas condições de vinculação da
coluna, apresentadas na Fig. (22.16), tem-se:
 2 EI x  2  29000  29,1
X
Pcrítico   X
Pcrítico   X
Pcrítico  401, 667 kip (22.34)
 KL   0, 5  288 
2 2

Considerando a falha por flambagem em torno do eixo y, constata-se que esta é


também dada pela Eq.(22.28). Assim:
 2 EI y  2  29000  9, 32
Pcrítico 
Y
 Y
Pcrítico   Y
Pcrítico  262, 538 kip (22.35)
 KL   0, 7  144 
2 2

Assim, a carga crítica da coluna é a menor entre as cargas obtidas nas


Eq.(22.33), Eq.(22.34) e Eq.(22.35). Portanto, a carga crítica da coluna é igual a
Pcrítico  262, 538 kip , e o modo de falha principal é a flambagem em torno do eixo y.

Portanto, nessa coluna, mesmo com as vigas de contraventamento posicionadas


para reduzir o comprimento equivalente de flambagem em torno do eixo y, o modo de
falha crítico ainda é a flambagem em torno do eixo y.

22.6 – Flambagem de Colunas na Presença de Momento Fletor

No estudo de estabilidade de colunas apresentado até o momento, as estruturas


analisadas e suas condições de contorno eram ideais, ou seja, as colunas eram
perfeitamente retilíneas e a força compressiva aplicada estava posicionada no centro de
gravidade da seção transversal da coluna. Tais condições são, na verdade, idealizadas,
uma vez que os elementos estruturais serão, em raros casos, perfeitamente retilíneos e o
ponto de aplicação da carga axial compressiva dificilmente será o centro de gravidade
da seção transversal.
De forma a considerar estas imperfeições, que são inerentes ao processo de
fabricação do sistema estrutural e de seus elementos, deve-se analisar o problema da
estabilidade de colunas comprimidas assumindo-se que a carga axial esteja aplicada
com uma dada excentricidade em relação ao centro de gravidade da seção transversal da
coluna. Para formular o problema da estabilidade de colunas submetidas a forças
excêntricas, deve-se considerar a coluna apresentada na Fig. (22.17). Trata-se de uma
coluna solicitada por uma força compressiva de intensidade P, a qual encontra-se

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 715

aplicada com uma excentricidade e em relação ao centro de gravidade da seção


transversal. Nessa estrutura, assume-se que o giro seja permitido em seus extremos, ou
seja, a coluna é biarticulada. Além disso, considera-se que o material que compõe a
coluna possua comportamento mecânico elástico linear.
Aplicando as equações de equilíbrio de corpo rígido à coluna mostrada na Fig.
(22.17), determina-se a expressão do momento fletor atuante ao longo de seu
comprimento. Dessa forma, considerando a última ilustração da Fig. (22.17) obtém-se:

M z 0  Pe  Pv  x   M  x   0  M  x    Pe  Pv  x  (22.36)

Por meio das equações diferenciais que permitem a determinação da linha


elástica de estruturas fletidas, conforme apresentado nas Eq.(21.19) do capítulo anterior,
verifica-se que a deflexão lateral da coluna pode ser expressa por:
d 2v M d 2 v  x   Pe  Pv  x 
   
dx 2 EI dx 2 EI (22.37)
d 2v  x  P P
2
 e v  x  0
dx EI EI

Figura 22.17 Coluna com carregamento aplicado de forma excêntrica em relação ao centro de gravidade.

P
Sendo  2  pode-se reescrever a Eq.(22.37) como:
EI
d 2v  x  P P d 2v  x 
2
 e v  x  0  2
 2e  2v  x   0 (22.38)
dx EI EI dx

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 716

Deve ser destacado que, na situação analisada, caso a excentricidade seja nula,
ou seja, se e  0 , a solução do problema é a mesma obtida para a flambagem de Euler
discutida anteriormente. A solução homogênea da equação diferencial apresentada na
Eq.(22.38) é a seguinte:
v  x   C1sen  x   C 2 cos  x  (22.39)

Como o termo livre da Eq.(22.38) é não nulo, sua solução requer a inclusão de
uma solução particular à solução homogênea. Para o caso em estudo, a solução
particular é dada por:
v p  x   e (22.40)

Portanto, a solução geral da Eq.(22.38) é obtida sobrepondo-se as soluções


homogênea e particular. Dessa forma, a solução geral da Eq.(22.38) pode ser assim
escrita:
v  x   C1sen  x   C 2 cos  x   e (22.41)

As constantes C1 e C2 que aparecem na Eq.(22.41) são determinadas utilizando

as condições de contorno do problema. Sabendo que a coluna é biarticulada, tem-se que


as seguintes condições de contorno devem ser atendidas:
v 0  0 v L  0 (22.42)

Aplicando as condições de contorno expressas na Eq.(22.42) obtêm-se:


v 0  0  C1sen  0   C 2 cos  0   e  0  C2  e
vL  0  C1sen  L   C 2 cos  L   e  0  (22.43)
C1sen  L   e  cos  L   1  0

Sabendo que as seguintes identidades trigonométricas são válidas:


 L   L 
sen  L   2sen   cos  
 2   2 
(22.44)
  L  1  cos  L 
sen 2  
 2  2
Pode-se reescrever a última das Eq.(22.43) como:
C1sen  L   e  cos  L   1  0  C1sen  L   e 1  cos  L   
 L   L  2  L   L  (22.45)
C1 2sen   cos    e 2sen    C1  e tan  
 2   2   2   2 
Com base nas constantes determinadas nas Eq.(22.43) e Eq.(22.45) pode-se
escrever a solução para a deflexão da coluna da seguinte maneira:

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 717

 L 
v  x   e tan   sen  x   e cos  x   e
 2 
(22.46)
  L  
v  x   e  tan   sen  x   cos  x   1
  2  
Devido às condições de contorno da coluna, constata-se intuitivamente que a
deflexão máxima ocorrerá na metade de seu comprimento. Portanto, o valor da deflexão
máxima é assim obtido:
  L 
 2  v
v L max  e  tan 
  2 
 L
 2
 L 
 sen    cos    1 
 2 
 2 L  (22.47)
 sen  2  
 e    cos  L   1
vmax  
 cos  L   2 
   
 2
Simplificando a Eq.(22.47) obtém-se:
 2 L 2 L  L 
 sen  2   cos  2   cos  2  
vmax  e       
  L 
cos  
  2 
(22.48)
 
 1    L 
vmax  e  1  vmax  e sec    1
 cos  L     2 
   
 2 
Deve-se ressaltar que diferentemente de colunas onde a força axial esteja
aplicada no centro de gravidade da seção transversal, flambagem de Euler, as quais
defletem-se lateralmente apenas se P iguala ou excede a carga de flambagem de Euler, a
deflexão lateral de um elemento carregado excentricamente ocorre independentemente
P
da intensidade da carga compressiva P. Lembrando que  2  constata-se que o
EI
deslocamento máximo pode ser assim reescrito:
  P L 
vmax  e sec    1 (22.49)
  EI 2  
Com base no termo entre colchetes da Eq.(22.49), observa-se que este torna-se
singular quando o cosseno retorna um valor nulo, fazendo com que a secante torne-se
infinito. Sabendo que isso ocorre para ângulos múltiplos de 90, constata-se que o
deslocamento torna-se singular quando:

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 718

P L 
 (22.50)
EI 2 2
Embora a deflexão lateral da coluna jamais atinja, na prática, um valor infinito,
ela torna-se inaceitavelmente grande próximo ao valor apresentado na Eq.(22.50).
Portanto, a carga aplicada não deve ser de magnitude tal que satisfaça a Eq.(22.50).
Então, a carga axial que conduz a estrutura a um deslocamento singular é a seguinte:
P L   2 EI
  Pcritico  (22.51)
EI 2 2 L2
O resultado apresentado na Eq.(22.51) é o mesmo obtido pela Eq.(22.11), o qual
determina a carga crítica para o caso de colunas com cargas não excêntricas. Com base
na Eq.(22.51), pode-se igualar o produto EI à carga crítica da seguinte forma:
 2 EI Pcritico L2
Pcritico   EI  (22.52)
L2 2
Substituindo o resultado mostrado na Eq.(22.52) na expressão do deslocamento
máximo, Eq.(22.49), obtém-se:
   
  P L    P  
vmax  e  sec  2
  1  vmax  e  sec 
   1 (22.53)
  Pcritico L 2     2 Pcritico  
   2  
 
A Eq.(22.53) é uma forma alternativa de se expressar a deflexão máxima para
uma coluna submetida a uma força compressiva excêntrica. A partir desta equação,
pode-se construir um diagrama que associe o deslocamento lateral máximo da coluna à
Pcritico para diversos valores de excentricidade. Este diagrama está apresentado na Fig.
(22.18), podendo-se notar que quão maior for a excentricidade da carga, menor será
Pcritico para um mesmo deslocamento máximo.
À medida que a intensidade da força aplicada, P, se aproxima do valor da carga
de flambagem de Euler, Pcritico , a deflexão lateral da coluna aumenta sem limite. Por

outro lado, no limite quando a excentricidade e tende a zero, a curva se torna duas
linhas retas que representam as configurações retilínea, P  Pcritico , e flambada,

P  Pcritico .

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 719

Figura 22.16 Diagrama que associa o deslocamento máximo à Pcritico .

22.7 – Tensão Normal Máxima na Presença de Força Axial Excêntrica

Quando uma coluna está submetida a um carregamento axial aplicado de forma


excêntrica em relação ao centro de gravidade de sua seção transversal, os esforços
solicitantes presentes serão normal e de flexão. Assim, torna-se importante a
determinação da tensão normal máxima atuante, a qual é mobilizada pela ação conjunta
desses dois esforços solicitantes, de forma a avaliar a segurança da estrutura em relação
ao colapso mecânico do material que a compõe.
A tensão normal decorrente da ação do momento fletor será máxima na seção
exposta ao máximo valor de momento fletor. Para o caso da coluna biarticulada
submetida a um carregamento axial excêntrico, discutido no item anterior, observa-se
que o momento fletor máximo ocorrerá na seção transversal onde a deflexão lateral da
coluna for máxima. Dessa forma, para o caso em questão, esta seção ocorre no centro da
coluna, ou na coordenada x  L .
2
O deslocamento nessa seção é dado por:
L   L  
vmax  v    e sec    1 (22.54)
2   2  

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 720

Com base na equação que expressa a variação do momento fletor ao longo do


comprimento da coluna, Eq.(22.36), constata-se que o momento fletor nessa seção será
igual a:
 L 
M  x    Pe  Pv  x   x   Pe  Pe sec    1 
L
 M MAX
2

  2  
(22.55)
 L 
 x   Pe sec   
L
2
M MAX
  2 
A tensão normal atuante na seção transversal mais solicitada ao momento fletor
é obtida aplicando-se o princípio da superposição dos efeitos. Dessa forma, a tensão
normal provocada pela ação do momento fletor é adicionada à tensão normal causada
pela ação do esforço normal, como mostrado na Fig. (22.19). Dessa forma, a tensão
normal máxima pode ser calculada como:
P M max
 max   c (22.56)
A I
onde o parâmetro c representa a distância entre a fibra mais comprimida e o centro de
gravidade da seção transversal.

Figura 22.19 Aplicação da sobreposição dos efeitos para a determinação da tensão normal máxima.

Com base no resultado apresentado na Eq.(22.55), pode-se reescrever a


Eq.(22.56) como:
   L 
Pe sec  
 max
P
    2  c (22.57)
A I

Lembrando que r  I e2 P tem-se:


A EI
  P L 
Pe sec  
P   EI 2   P  ec  L P 
 max   c   max  1  2 sec   (22.58)
A 2
r A A  r  2r EA  

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 721

Na Eq.(22.58), o parâmetro L representa o comprimento livre da coluna em seu


plano de flexão. Para colunas cujos extremos sejam não rotulados, deve-se empregar o
comprimento equivalente da coluna, conforme indicado na Fig. (22.14) e expresso pela
Eq.(22.27).
Outro ponto que deve ser enfatizado e a dependência não linear entre a
intensidade da carga aplicada e a tensão normal máxima na coluna. Conforme expressa
a Eq.(22.58),  max depende da secante de P. Isso faz com que o princípio da
superposição dos efeitos não seja válido para a superposição dos efeitos de diferentes
cargas P. Nesse caso, as diferentes cargas P devem ser adicionadas antes da
determinação da tensão normal por elas mobilizada. Portanto, com relação ao projeto de
colunas, os coeficientes de segurança devem ser aplicados sobre as cargas e não sobre
as tensões.

22.7.1 – Exemplo 7

A coluna apresentada na Fig. (22.20) é composta por um aço cujo módulo de


elasticidade longitudinal é igual a E  200 GPa e tensão de escoamento igual a
 E  250 MPa . Sabendo que a intensidade da carga aplicada é de P  90 kN e que esta
é aplicada com uma excentricidade de e  100 mm , determine o valor máximo da
tensão normal compressiva atuante na coluna. A seção transversal possui as seguintes
propriedades geométricas: A  3787,1 mm 2 , rz  67,56 mm e c  78, 74 mm .
A coluna a ser analisada é do tipo engastada livre. Assim, com base na
Eq.(22.27) e na Fig. (22.14), constata-se que seu comprimento equivalente é igual a:
Le  KL  Le  2  5  Le  10 m
Aplicando a Eq.(22.58) obtém-se:

P  ec  L P 
 max  1  2 sec  e  
A  rz  2 rz EA  

90
 max  
3787,1 10 6
 3 3
 
1  100 10  78, 74 10 sec  10 90
  

  67,56 10   
3
 3 2
 2  67,56 10 200 10  3787,1 10 6
6

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 722

 max  83023, 37 kPa   max  83, 023 MPa

Como a tensão normal atuante é menor que a tensão de escoamento do material,


observa-se que este encontra-se em uma condição segura.

Figura 22.20 Estrutura a ser analisada.

22.7.2 – Exemplo 8

Determine a intensidade do momento fletor máximo atuante no elemento de


barra geral ilustrado na Fig. (22.21). Trata-se de uma barra geral solicitada por um
carregamento uniformemente distribuído de intensidade P sendo axialmente solicitada
por duas forças F . Esta barra encontra-se bi apoiada em seus extremos.

Figura 22.21 Estrutura a ser analisada.

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 723

Para a obtenção da expressão do momento fletor, deve-se efetuar o equilíbrio


dessa barra em sua configuração deformada. Efetuando uma secção distante x do
extremo esquerdo da barra obtém-se a configuração e ações apresentadas na Fig.
(22.22). Impondo sobre as ações apresentadas nessa figura as condições de equilíbrio de
corpo rígido obtém-se:

x  F  v  x    Px  M  x   0 
PL x
M z 0 
2 2
2
PLx Px
M  x   Fv  x  
2 2

Figura 22.22 Diagrama de corpo livre.

Deve-se destacar que no equilíbrio de corpo rígido efetuado anteriormente o


deslocamento v  x  foi considerado com sinal negativo. Tal procedimento foi

considerado pelo fato do deslocamento, segundo a convecção adotada para o


equacionamento e apresentada no capítulo 21, apresentar sinal negativo quando
orientado nesta direção.
Portanto, por meio da equação da linha elástica pode-se escrever que:
d 2v M d 2v  x  1  PLx Px 2 
    Fv  x  
dx 2 EI dx 2 EI  2 2 

F
Sendo  ²  , pode-se reescrever a equação anterior no seguinte formato:
EI

PLx  Fv  x   Px 2
v ''  x    
2 EI  EI  2 EI
 v ''  x    2 v  x  
P
2 EI
 Lx  x 2  (22.59)

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 724

A solução geral da Eq. (22.59) é obtida somando-se à sua solução homogênea


uma solução particular. A solução homogênea, como anteriormente apresentado neste
capítulo, é a seguinte:
vH  x   C1 cos  x   C 2 sen  x  (22.60)

Já a solução particular pode ser assim escrita:


P PLx Px ²
vp  x    (22.61)
F ² 2 F 2F
Portanto, a solução de deslocamento assume a seguinte forma:
P PLx Px ²
v  x   C1 cos  x   C2sen  x    
F ² 2 F 2 F
Sugere-se que o leitor verifique que a solução proposta na equação anterior
atende à Eq. (22.59). As constantes C1 e C 2 são determinadas por meio das condições de
contorno do problema. Dessa forma:
P PL 0 P 0²
v  0   0  v  0   C1 cos  0   C 2 sen  0     
F ² 2 F 2F
P
C1  
F ²
P P PL ² PL ²
v L  0  v L   cos  L   C2sen  L     
F ² F ² 2 F 2 F

P P  1  cos  L  
C 2 sen  L    1  cos  L    C 2    
F ² F ²  sen  L  

Lembrando que a seguinte relação trigonométrica é válida:


  L  1  cos( L) 
tg   
 2   sen( L) 
Pode-se escrever que:
P  L 
C2   tg  
F ²  2 
Portanto, a expressão final do deslocamento assume a seguinte forma:
P P  L  P PLx Px ²
v( x)  cos( x)  tg   sen( x)   
F ² F ²  2  F ² 2 F 2 F
Consequentemente, a expressão que resulta a variação do momento fletor ao
longo do comprimento da barra pode ser assim escrita:

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 725

 P P  L  P PLx Px ² 
M ( x)   F  cos( x)  tg   sen( x )    
 F ² F ²  2  F ² 2 F 2 F 
PLx x²
P
2 2
P P  L  P PLx Px ² PLx Px ²
M ( x)  cos( x)  tg   sen( x)     
² ²  2  ² 2 2 2 2
P P  L  P
M ( x)  cos( x)  tg   sen( x) 
² ²  2  ²
P   L  
M ( x)   cos( x)  tg   sen( x)  1
²  2  
O momento fletor será máximo quando o deslocamento v ( x ) for máximo, ou
seja, no centro do vão. Portanto, nesse ponto, o momento fletor possui a seguinte
magnitude:
  L  
 sen   
L P  L  2  sen  L   1
M   cos     
 2   ²   2  cos   L   2 
   
 2 

  L  L    
 cos ²    sen²     
L P  2  2   1  M  L   P  1
M      1
 2 ²  L    2   ²  cos   L  
cos    
  2  
   2  
De forma a tornar a expressão anterior um pouco mais interessante do ponto de
vista de análise, pode-se multiplicar tanto seu numerador quanto seu denominador pelo

fator . Assim:
8
 
 L  L² P  1  8  L  PL ²
M    1  M  Cm
 2  8  ²  cos   L   L ² 2 8
  
 2  

Sendo Cm igual a:

 
8  1 
Cm    1
 L  ²  cos   L  
  
 2  

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 726

O parâmetro Cm pode ser interpretado como um coeficiente de majoração


correspondente aos efeitos de não linearidade geométrica (efeitos de segunda ordem).
L 
Se Cm  1 observa-se o caso elástico linear. Já quando  tem-se singularidade
2 2
no valor do deslocamento no meio do vão.

22.8 – Dados Para Projeto

Como mostrado anteriormente, Eq.(22.58), nas colunas submetidas a


carregamentos axiais excêntricos, a relação entre a tensão normal atuante e a força axial
(esforço normal) é não linear. Dessa forma, a determinação da intensidade da carga que
gera o escoamento do material de uma dada seção transversal da coluna é uma tarefa,
muitas vezes, difícil.
De forma a facilitar a análise desse problema, objetivando o desenvolvimento de
projetos, podem ser empregados ábacos de interação ou mesmo programas de
computador. Nesse contexto, deve ser calculada a taxa de excentricidade, a qual é
definida pela seguinte relação:
ec
Te  (22.62)
r2
Em seguida, deve-se escolher o material que comporá a coluna. Com base na
tensão de escoamento desse material, determina-se a intensidade de P por meio de um
processo de tentativas, uma vez que a equação da secante é do tipo transcendental. Para
fins de projeto, essa solução pode ser obtida com o auxílio de programas de computador
e/ou ábacos de iteração. Nos procedimentos de projetos, utilizam-se com frequência
ábacos de interação como o apresentado na Fig. (22.23).
Deve-se enfatizar que a carga P é aquela que causará na coluna a tensão de
compressão máxima na fibra interna, de sua seção transversal, de sua configuração
deslocada côncava. Devido à aplicação de P com uma excentricidade, esta carga será
sempre menor que a carga crítica determinada por meio da fórmula de Euler,
Eq.(22.28), a qual assume a condição pouco realista de que a coluna será carregada
idealmente de forma axial. Uma vez obtido o valor da carga P, pode-se aplicar um fator
de segurança adequado de forma a especificar uma carga limite segura para a coluna.

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 727

Figura 22.23 Ábaco de interação para aço A36.

22.8.1 – Exemplo 9

A coluna mostrada na Fig. (22.24) está submetida a uma carga P aplicada de


forma excêntrica em relação ao centro de gravidade de sua seção transversal. Sabendo
que o aço que compõe a coluna possui o módulo de elasticidade longitudinal igual a
E  29000 ksi e tensão de escoamento igual a  E  36 ksi , determine o valor máximo

da intensidade da carga P que pode ser aplicada sem que a coluna observe a falha
estrutural. A seção transversal da coluna é formada por um perfil do tipo w8x40 que
possui as seguintes propriedades geométricas:
A  11, 7 in 2 ; I y  49,1 in 4 ; c  4,125 in ; rx  3, 53 in

A coluna em questão irá falhar se houver a flambagem em torno do eixo y ou o


escoamento do material em decorrência da carga excêntrica aplicada.
Para a análise da flambagem em torno do eixo y, constata-se que o problema é
de flambagem de Euler. Assim, aplicando a Eq.(22.28) e sabendo que em relação a este
eixo a coluna encontra-se engastada apoiada obtém-se:

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 728

 2 EI y  2  29000  49,1
Pcrítico   Pcrítico   Pcrítico  1383,115 kip
 KL   0, 70  144 
2 2

Figura 22.24 Estrutura a ser analisada.

Com relação ao eixo x, verifica-se que a carga está aplicada de forma excêntrica
em relação ao centro de gravidade da seção transversal. Portanto, em relação a este eixo
não ocorrerá flambagem, mas sim um aumento gradativo da deflexão lateral da coluna.
Em relação a este eixo, a carga máxima é obtida determinando-se a tensão normal
máxima atuante, a qual é dada pela Eq.(22.58). Sabendo que em relação a este eixo a
coluna é engastada-livre tem-se:

P  ec  KL P 
 max  1  2 sec   
A  rx  2rx EA  

P  9  4,125  2 144 P 
36  1  sec 
   
11, 7   3,53 2  2  3, 53 29000 11, 7  


421, 2  P 1  2,979sec 0, 0700 P 
  
A última equação é do tipo transcendental e deve ser resolvida por tentativas ou
por um método de minimização. Utilizando um método de minimização
unidimensional, obtém-se que a solução da equação é P  88, 4 kip .
Portanto, a maior intensidade da carga P que pode ser aplicada sem que a falha
estrutural seja observada é a menor entre as cargas críticas determinadas. Assim, a
maior carga que pode ser aplicada é P  88, 4 kip .

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 729

22.9 – Flambagem em Regime Inelástico

Durante a análise e formulação dos problemas relacionados a instabilidade de


colunas e flambagem anteriormente apresentadas, assumiu-se que o material estrutural
comportava-se mecanicamente em regime elástico linear. No entanto, este fenômeno
pode também ocorrer em regime inelástico, ou seja, a instabilidade pode também ser
observada quando o estado de tensão atuante no material estrutural supera seu limite de
proporcionalidade elástico. A análise da flambagem inelástica pode ser efetuada
modificando-se a equação de Euler, Eq.(22.28), a qual é válida para materiais em
regime elástico linear. Nos itens seguintes deste capítulo serão apresentadas teorias que
propõem alterações na equação de Euler objetivando incorporar o comportamento
mecânico à instabilidade de colunas em regime inelástico.

22.9.1 – Teoria do Módulo Tangente

Quando o estado de tensão atuante em um dado material supera seu limite


elástico, surgem deformações permanentes no material. Além disso, verifica-se,
normalmente, que a rigidez do material diminui após o trecho elástico ser superado.
Conforme apresentado na Fig. (22.25), a tangente à curva  x  no ponto D é menor que
a tangente a esta mesma curva observada no trecho elástico, a qual é denominada de
módulo de elasticidade longitudinal (E). A inclinação da curva  x  para os trechos
inelásticos é denominada módulo tangente (Et).

Figura 22.25 Identificação do módulo tangente.

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 730

Conforme previamente apresentado neste capítulo, verifica-se que na condição


de instabilidade surgirão deflexões laterais na coluna. Então, assumindo que uma coluna
biarticulada esteja submetida a um carregamento compressivo de intensidade P,
aplicado no centro de gravidade de sua seção transversal, que origine tensões normais
superiores à do regime elástico, pode-se escrever o equilíbrio de momentos dessa
coluna, conforme o conteúdo apresentado no item 22.3 e considerando que as
deformações normais no plano da seção transversal variem de forma linear, da seguinte
forma:

M z 0  Pv  x   M  x   0  Et Iv"  Pv  x   0 (22.63)

A solução da Eq.(22.63) foi obtida no item 22.3. Porém, naquela oportunidade o


material considerado era elástico linear e possuía módulo de elasticidade longitudinal
igual a E. Na Eq.(22.63) o material possui módulo tangente Et. Portanto, a solução da
Eq.(22.63), seguindo os procedimentos apresentados no item 22.3 é a seguinte:
 2 Et I
inelástico
Pcrítico  (22.64)
 KL 
2

Consequentemente, a tensão crítica de flambagem, conforme apresentado no


item 22.3, assume o seguinte valor:
 2 Et
 inelástico
 2 (22.65)
crítico

Deve-se ressaltar que as expressões anteriores, Eq.(22.64) e Eq.(22.65), são
muito semelhantes às obtidas considerando regime elástico. A modificação refere-se à
substituição do módulo de elasticidade longitudinal pelo módulo tangente.
Na Fig. (22.26) é apresentado um diagrama qualitativo que ilustra a relação entre
a tensão crítica de flambagem e o índice de esbeltez nos regimes elástico e inelástico.
Devido à mudança de rigidez existente nestes regimes, observa-se que a tensão crítica
de flambagem varia mais suavemente no trecho inelástico que no trecho elástico. Além
disso, a utilização da equação do regime elástico superestima a resistência da estrutura
no regime inelástico, como esperado devido a diferença de valores entre E e Et.

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 731

Figura 22.26 Tensão crítica de flambagem para regimes elástico e inelástico.

22.9.2 – Teoria do Módulo Reduzido

Quando a flambagem ocorre, deflexões laterais irão surgir na coluna. Como


consequência deste deslocamento lateral, surge também um momento fletor que
possuirá maior intensidade à medida que a deflexão lateral da coluna aumentar. Nessa
situação, as tensões de compressão decorrentes do esforço normal serão somadas às
tensões normais decorrentes da flexão. Portanto, no lado côncavo da coluna defletida
tensões de compressão da flexo-compressão serão adicionadas, enquanto que no lado
convexo da coluna defletida tensões de compressão devido ao esforço normal serão
reduzidas pelas tensões de tração devidas à flexão.
Em uma situação como a descrita no parágrafo anterior, parte da seção
transversal (porção mais comprimida) poderá estar em regime inelástico enquanto que a
porção complementar da seção transversal poderá encontrar-se em regime elástico. De
forma semelhante, toda a seção transversal poderá estar em regime inelástico, mas com
módulos tangentes diferentes para cada porção da seção transversal, de acordo com a
relação constitutiva do material e as intensidades das deformações normais observadas.

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 732

Portanto, na situação descrita anteriormente, a coluna comporta-se


mecanicamente como se fosse composta por diferentes materiais, um do lado côncavo
(com uma dada rigidez) e outro do lado convexo (com rigidez diferente). Assim, a
análise da flexão desta coluna pode ser efetuada utilizando a teoria de materiais não
homogêneos apresentada no capítulo 17. O resultado desta análise, que será omitido no
presente capítulo por simplicidade, mostra que a coluna fletida comporta-se
mecanicamente como se o material que a compõem possuísse um módulo de
elasticidade cujo valor encontra-se entre E e Et. Esse módulo de elasticidade
longitudinal efetivo é denominado módulo reduzido ER, e seu valor depende não apenas
da magnitude da tensão normal atuante, mas também do formato da seção transversal da
coluna. Portanto, ER é consideravelmente de maior complexidade de obtenção que Et.
Para colunas de seção transversal retangular ou quadrada, ER assume o seguinte valor:
4 EEt
ER  (22.66)
 
2
E  Et

Já para seções transversais de abas largas (mesas largas) ER é dado por:


2 EEt
ER  (22.67)
E  Et
Assim, a carga crítica de flambagem e a tensão crítica de flambagem para o
regime inelástico são dados, por meio desta teoria, pelas seguintes equações:
 2 ER I
inelástico
Pcrítico  (22.68)
 KL 
2

 2 ER
 crítico
inelástico
 (22.69)
2

22.9.3 – Limitações das Teorias Apresentadas

Neste texto, apenas dois modelos de análise inelástica foram apresentados.


Ambas as abordagens consideram simplificações importantes que, contudo, não
invalidam sua facilidade de aplicação. Na verdade, a determinação de expressões que
descrevam com fidelidade a flambagem inelástica é uma tarefa de enorme
complexidade. Existem diversos fatores que influenciam o problema tais como o fato do
eixo da barra não ser perfeitamente reto, a carga externa não ser aplicada exatamente no

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 733

centro de gravidade da seção transversal, a existência de tensões residuais devido a


conexão entre os componentes da seção transversal, entre outros.
Teorias mais complexas como a de Shanley, que não consideram o equilíbrio
neutro da coluna e sim seu equilíbrio já na condição instável, podem ser também
aplicadas. A apresentação da teoria de Shanley está além do escopo destas notas. Porém,
para os objetivos de projeto de estruturas, as duas teorias anteriormente apresentadas
são suficientemente precisas.

22.9.4 – Exemplo 10

A coluna apresentada na Fig. (22.27) é solicitada por uma força compressiva P


aplicada no centro de gravidade de sua seção transversal. Sabendo a seção transversal
desta coluna possui as seguintes propriedades: A  500 cm 2 , I x  1, 0416 105 cm4 e

I y  4,1667 103 cm 4 , determine os raios de giração da seção transversal bem como os

índices de esbeltez da coluna. Além disso, determine as cargas críticas de flambagem no


regime elástico e inelástico para a flambagem em torno dos eixos x e y. Considere que o
material que compõe a coluna comporta-se mecanicamente segundo o diagrama  x 
apresentado na Fig. (22.27). A coluna possui comprimento igual a 280 cm.

Figura 22.27 Estrutura a ser analisada.

Os raios de giração da seção transversal são determinados da seguinte forma:

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 734

Ix 1, 0416 105
rx   rx   rx  14, 434 cm
A 500

Iy 4,1667 103
ry   rx   ry  2,887 cm
A 500
Para que os índices de esbeltez da coluna sejam determinados deve-se,
inicialmente, identificar as condições de vinculação atuantes nos extremos da coluna.
Devido à presença de cabos, os quais atuam no topo da coluna e impedem seu
deslocamento ao longo do eixo x mas não sua rotação, verifica-se que para a flambagem
em torno do eixo x a coluna encontra-se na condição engastada-livre, enquanto que para
a flambagem em torno do eixo y esta encontra-se na condição engastada-rotulada. Dessa
forma, os índices de esbeltez da coluna possuem os seguintes valores:
KxL 2  280
x   x    x  38,80
rx 14, 434

KyL 0, 7  280
y   y    y  67, 89
ry 2,887

O módulo de elasticidade longitudinal do material possui o seguinte valor:



E para o regime elástico

12
E  E  12 GPa
0, 001
Assim, as cargas críticas de flambagem considerando o regime elástico podem
ser determinadas por meio da Eq.(22.28). Dessa forma:
 2 EI x  2 12 10 6 1, 0416 10 3
P elástico x
  P elástico x
 
KxL  2  2,80 
crítico 2 crítico 2

elástico x
Pcrítico  3933, 51 kN

 2 EI y  212 106  4,1667 10 5


elástico y
Pcrítico   Pcrítico
elástico y
 
 K y L  0, 7  2,80 
2 2

elástico x
Pcrítico  1284, 50 kN
Para a determinação das cargas críticas de flambagem em regime inelástico,
deve-se, inicialmente, calcular o valor do módulo tangente. Considerando o diagrama
 x  apresentado na Fig. (22.27) este parâmetro é igual a:

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 735


Et  no regime inelástico

20  12
Et   Et  8, 0 GPa
0, 002  0, 001
Por meio da abordagem via teoria do módulo tangente obtém-se:
 2 Et I x  2 8, 0 10 6 1, 0416 10 3
inelástico x
Pcrítico   Pcrítico
inelástico x
 
KxL  2  2,80 
2 2

inelástico x
Pcrítico  2622, 34 kN

 2 Et I y  2 8, 0 106  4,1667 10 5


P inelástico y
  P inelástico y
 
K L  0, 7  2,80 
crítico 2 crítico 2
y

P inelástico y
crítico  856, 34 kN
Por meio da teoria do módulo reduzido, a rigidez reduzida do material é
calculada utilizando-se a Eq.(22.67). Assim:
2 EEt 2 12  8
ER   ER   E R  9, 6 GPa
E  Et 12  8
Portanto, as cargas críticas de flambagem assumem os seguintes valores por
meio desta teoria:
 2 Et I x  2 9, 6 10 6 1, 0416 10 3
P inelástico x
  P inelástico x
 
KxL  2  2,80 
crítico 2 crítico 2

inelástico x
Pcrítico  3146,81 kN

 2 Et I y  2 9, 6 106  4,1667 10 5


P inelástico y
  Pcrítico
inelástico y
 
KyL  0, 7  2,80 
crítico 2 2

inelástico y
Pcrítico  1027, 60 kN

Capítulo 22 – Estabilidade Estrutural. Flambagem de Colunas_____________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 736

23. – Tensões

23.1 –Componentes de Tensão em um Ponto

Durante o capítulo 12 foi introduzida a grandeza tensão, a qual foi aplicada ao


estudo, principalmente, de problemas onde sua distribuição era considerada uniforme. O
estudo da tensão e a introdução de seu conceito foram inicialmente efetuados em barras
carregadas axialmente (elementos de barra simples), os quais estão submetidos apenas a
esforços normais. Na sequência, foi estudado o comportamento das tensões normais e
de cisalhamento em problemas envolvendo flexão e torção em elementos de barra geral.
Com base no estudo desses problemas fundamentais, foi discutida a importância dessa
grandeza na avaliação da segurança estrutural, uma vez que é com base na intensidade
da tensão que verifica-se a condição de colapso mecânico de um corpo.
Os problemas estudados até o momento eram essencialmente unidimensionais,
ou seja, devido às condições de contorno e às hipóteses de modelagem surgiam apenas
uma tensão normal e uma tensão de cisalhamento na estrutura considerada. Porém,
muitos dos problemas encontrados no cotidiano da engenharia de estruturas não podem
ser classificados como unidimensionais. Assim, deve-se perguntar: qual o
comportamento das tensões em problemas que devem ser analisados assumindo-se
hipóteses bi e tridimensionais?
Nos problemas bi e tridimensionais, a distribuição das tensões no interior do
corpo, normalmente, não é uniforme. Portanto, nesses problemas, o estado de tensão
varia de ponto a ponto. Dessa forma, assumir que as tensões atuantes no corpo sejam
uniformes, e portanto médias, é uma aproximação, para a maioria desses casos,
grosseira. Para resolver este problema, ou seja, efetuar uma representação e descrição
mais precisas do comportamento das tensões ao longo do corpo, deve-se determinar a
distribuição dos esforços internos para cada ponto que compõe o corpo considerado.

Capítulo 23 – Tensões____________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 737

Para tanto, deve-se considerar o corpo apresentado na Fig. (23.1), o qual está em
equilíbrio quando submetido a um conjunto de forças externas. Para estudar os esforços
internos atuantes nesse corpo, deve-se seccioná-lo por meio de um plano .

Figura 23.1 Corpo tridimensional em equilíbrio.

Assumindo que o corpo encontra-se inicialmente em equilíbrio, conclui-se que


cada porção material que o compõe deverá estar também em equilíbrio. Portanto,
separando o corpo ao longo do plano , verifica-se que as porções inferior e superior do
corpo seccionado, que estavam inicialmente em equilíbrio, deverão permanecer em
equilíbrio. Para que isso ocorra, esforços solicitantes surgem objetivando reestabelecer a
condição de equilíbrio. Tais esforços solicitantes dão origem às Tensões (T), as quais
nada mais são do que respostas mecânicas do corpo às ações externas aplicadas,
atuantes em cada um dos pontos que compõem o plano de secção.
Considerando que as tensões variem pontualmente, a condição de equilíbrio será
reestabelecida pela somatória das respostas mecânicas de cada ponto material do corpo,
como mostrado na Fig. (23.2).

Figura 23.2 Surgimento das tensões.

Capítulo 23 – Tensões____________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 738

Assim, tomando um ponto P localizado sob o plano , pode-se determinar sua


contribuição, em termos de força  F , para o equilíbrio por meio da Eq.(23.1).
F  T A (23.1)
onde  A é a área de atuação das tensões T.
Desta forma, pode-se definir a tensão atuando em um ponto como sendo “a
intensidade da força, por unidade de área, atuante em uma dada área”. Matematicamente
a tensão atuante em um ponto pode ser definida como:
F
T  lim (23.2)
A0 A

Deve-se observar que a tensão depende da intensidade da força  F e também da


orientação desta em relação à área  A considerada. A tensão pode ser classificada
como normal ou de cisalhamento se a força estiver orientada de maneira normal ou
paralela a área considerada, respectivamente.
Como as tensões atuantes em um dado ponto material dependem de um plano de
referência considerado, normal ou paralelo, não se pode dizer que as componentes de
tensão descritas até agora definam o estado de tensão em um ponto. De forma a definir
o estado de tensão em um ponto, deve-se considerar o corpo apresentado na Fig. (23.3),
isolando desse corpo um ponto e atribuindo-lhe dimensões infinitesimais.

Figura 23.3 Corpo em equilíbrio. Análise da tensão em um ponto.

A partir deste elemento infinitesimal, que representa o ponto em análise, pode-se


definir o estado de tensão escrevendo-se três componentes de tensão para cada uma de
suas faces, como mostrado na Fig.(23.4). Sobre cada uma das faces do elemento atuam
uma tensão normal e duas tensões de cisalhamento. As tensões normal e de
cisalhamento são definidas pelas letras gregas  e  , respectivamente.
Na nomenclatura das tensões são empregados dois índices. O primeiro deles
refere-se ao vetor normal ao plano onde a tensão considerada atua. O segundo índice

Capítulo 23 – Tensões____________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 739

indica o eixo no qual a tensão está orientada. Assim, a tensão  xy indica uma tensão de

cisalhamento que atua em um plano cujo vetor normal está orientado ao longo do eixo x.
Além disso, esta tensão está orientada ao longo do eixo y.

Figura 23.4 Estado de tensão em um ponto.

As tensões são consideradas positivas quando o sinal de seus índices forem


ambos positivos ou negativos. Assim, se o vetor normal ao plano onde a tensão
considerada atua estiver orientado no sentido positivo de um eixo coordenado e, além
disso, a tensão estiver também orientada ao longo do sentido positivo de um eixo
coordenado, a tensão será positiva. A tensão será também positiva se o vetor normal ao
plano considerado e a tensão estiverem ambos orientados ao longo do sentido negativo
dos referidos eixos coordenados. Para casos contrários aos já descritos neste parágrafo,
a tensão será negativa. Como exemplo, todas as tensões ilustradas na Fig. (23.4) são
positivas.
Ao longo de cada uma das faces do elemento infinitesimal que representa o
ponto material em análise atuam três tensões. Assim, existem dezoito componentes de
tensão que definem o estado de tensão no ponto. Porém, na ausência de forças de corpo,
essas componentes devem estar relacionadas entre si para que a condição de equilíbrio
seja verificada.
Para mostrar a relação entre as componentes de tensão, deve-se aplicar o
princípio da superposição dos efeitos. Assim, o estado de tensão mostrado na Fig. (23.4)
será decomposto em dois: no primeiro, apenas tensões normais atuam e no segundo
deles apenas tensões de cisalhamento estão presentes. Para mostrar a relação existente
entre as tensões normais, deve-se considerar o primeiro caso, onde apenas tensões

Capítulo 23 – Tensões____________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 740

normais estão presentes no ponto material em análise. Nessa situação, o estado de


tensão mostrado na Fig. (23.4) pode ser modificado como apresenta a Fig. (23.5). Para
que esse elemento esteja em equilíbrio, a somatória de forças ao longo das direções x, y
e z deve ser nula.

Figura 23.5 Elemento infinitesimal submetido a tensões normais.

Impondo esta condição, pode-se, primeiramente, efetuar a somatória das forças


ao longo da direção x. Assim:

F x  0   x y z   x' y z  0   x   x' (23.3)

Analogamente, pode-se efetuar o equilíbrio de forças ao longo das direções y e z.


Por meio desses equilíbrios, os quais serão omitidos aqui por simplicidade, pode-se
concluir que:
 y   y' ;  z   z' (23.4)

Portanto, das seis tensões normais atuantes no ponto material em análise,


verifica-se que conhecendo-se apenas três delas é possível definir o estado de tensão
normal do ponto.
Para a análise da dependência entre as tensões de cisalhamento, o princípio da
superposição dos efeitos será novamente aplicado. Assim, as tensões de cisalhamento
atuantes nos planos xy, xz e yz serão consideradas separadamente. Os elementos
infinitesimais contendo as tensões de cisalhamento nos planos mencionados estão
apresentados na Fig. (23.6). Considerando o primeiro elemento desta figura, o equilíbrio
de forças ao longo do eixo x conduz a:

F x  0   yx xz   yx' xz  0   yx   yx' (23.5)

Capítulo 23 – Tensões____________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 741

Figura 23.6 Elementos infinitesimais submetidos a tensões de cisalhamento.

Efetuando equilíbrio semelhante para os demais elementos apresentados na Fig.


(23.6), o qual será omitido por simplicidade, pode-se facilmente concluir que:
 xy   xy' ;  xz   xz' ;  zx   zx' ;  yz   yz' ;  zy   zy' (23.6)

Para que a condição de equilíbrio de um corpo seja verificada, além da


somatória das forças, a somatória dos momentos, em relação a qualquer ponto do
espaço, deve ser também nula. Assim, considerando o primeiro elemento infinitesimal
apresentado na Fig. (23.6), a somatória dos momentos em torno do eixo z conduz a:
x ' x y ' y
M z  0   xy yz
2
  xy yz   yx xz
2 2
  yx xz
2
 0 (23.7)

Simplificando a Eq.(23.7) obtém-se:


 xy   xy'   yx   yx'  0 (23.8)

Utilizando os resultados obtidos nas Eq.(23.5) e Eq.(23.6) tem-se:


 xy   xy  yx   yx  0   xy   yx (23.9)

De forma análoga, impondo a condição de somatória nula de momentos para os


demais elementos mostrados na Fig. (23.6), pode-se facilmente concluir que:
 xz   zx ;  yz   zy (23.10)

Portanto, as componentes de tensão em um ponto, que dão origem ao estado de


tensão, compõem um tensor, o qual pode ser representado como mostra a Eq.(23.11).
 x  xy  xz 
 
 xy  y  yz  (23.11)
 xz  yz  z 
 

Capítulo 23 – Tensões____________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 742

23.1.1 – Exemplo 1

Um dado ponto material de um corpo possui o estado de tensão mostrado a


seguir. Determine as componentes de tensão representadas pelo ponto de interrogação.

10 ? 9
 3 2 ?
 
 ? 6 1

Com base na Eq.(23.11), verifica-se que o tensor de tensões, para um corpo de


propriedades mecânicas isótropas, é simétrico. Portanto, o tensor de tensões para o caso
em questão é o mostrado abaixo.

10 3 9 
 3 2 6
 
 9 6 1 

23.1.2 – Exemplo 2

Neste exemplo, deve-se determinar o tensor de tensões para a estrutura mostrada


na Fig. (23.7). Trata-se de uma barra simples, de seção transversal circular, submetida a
um carregamento compressivo. Para essa análise, assuma que as tensões estão
uniformemente distribuídas no plano da seção transversal da barra.

Figura 23.7 Barra submetida a um carregamento compressivo.

A estrutura em questão está submetida a um estado de compressão simples.


Assim, utilizando os conceitos discutidos nos capítulos anteriores tem-se:
N 15
z   z    z  1909,859 kN m 2
  0, 05 
2
A

Capítulo 23 – Tensões____________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 743

Como esta é a única tensão não nula atuante, pode-se definir o tensor de tensões
como:

0 0 0 
0 0 0 
 
0 0 1909,859

23.1.3 – Exemplo 3

A Fig. (23.8) mostra um elemento de barra geral submetido à ação de esforço


cortante e momento fletor. Determine o tensor de tensões para os pontos A, B e C
ilustrados na figura. As dimensões da seção transversal estão apresentadas em cm.

Figura 23.8 Barra geral submetida a esforços de flexão e cortante.

Sabe-se que esforços de flexão geram tensões normais ao plano da seção


transversal. Além disso, essas tensões estão relacionadas aos momentos fletores
atuantes por meio da seguinte relação:
Mz My
x   y z
Iz Iy

Para o problema em questão, apenas o momento M z é não nulo. Assim, as

tensões normais devido a este esforço solicitante nos pontos de interesse podem ser
calculadas como:

10   30 
3

Iz   I z  22500 cm 4  I z  2, 25 104 m 4
12

Para o ponto A tem-se:


3  0,15
 xA   4
  xA  2000 kN m2
2, 25 10

Capítulo 23 – Tensões____________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 744

Para o ponto B tem-se:


3  0,075
 xB   4
  xB  1000 kN m2
2, 25 10

Para o ponto C tem-se:


3 0
 xC   4
  xC  0 kN m2
2, 25 10
As tensões de cisalhamento na flexão, conforme discutido no capítulo 19, são
determinadas por meio da seguinte relação:
Vy Qz
 xy 
I zt
Assim, devem ser conhecidos os momentos estáticos das áreas, Q , referentes
aos pontos de interesse. Para o problema em questão, esta grandeza apresenta os
seguintes valores:
QzA  0 m3

 7,5 
QzB  10  7,5    7,5   QzB  843, 75 cm3  QzB  8, 4375 104 m3
 2 
 15 
QzC  10 15     QzC  1125, 0 cm3  QzC  1,125 103 m3
2
Portanto, as tensões de cisalhamento, nos pontos de interesse, possuem os
seguintes valores:
5 0
 xyA  4
  xyA  0 kN m2
2, 25 10  0,10

5  8, 4375 104
 xyB  4
  xyB  187,5 kN m2
2, 25 10  0,10

5 1,125 103
 xyC  4
  xyC  250 kN m2
2, 25 10  0,10
Dessa forma, o tensor de tensões, para o ponto A, pode ser escrito como:

 2000 0 0
 0 0 0

 0 0 0

Para o ponto B, este tensor assume os seguintes valores:

Capítulo 23 – Tensões____________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 745

 1000 187,5 0
 187,5 0 0

 0 0 0

Enquanto para o ponto C tem-se:

 0 250 0
 250 0 0
 
 0 0 0

Com base nos resultados deste exemplo pode-se perguntar: Porque nos pontos
onde a tensão normal é máxima a tensão de cisalhamento é nula? As respostas para esta
e outras questões serão apresentadas nos tópicos seguintes.

23.2 –Estado Plano de Tensão

O equacionamento de problemas elásticos pode muitas vezes ser simplificado,


sem perdas sensíveis de representatividade, dependendo da geometria do corpo a ser
analisado bem como das condições de contorno aplicadas. A transformação de
problemas tridimensionais em problemas bidimensionais dá origem aos problemas ditos
planos, os quais podem ser divididos em planos de tensão e planos de deformação.
Neste item será apresentado o problema plano de tensão, o qual é caracterizado pelo
fato da distribuição de tensões no corpo ser essencialmente plana. Nesta classe de
problemas podem ser citadas estruturas cuja geometria apresente uma de suas
dimensões muito menor que as demais como observado em vigas-parede, chapas finas e
paredes. Além disso, o carregamento é considerado como composto por forças aplicadas
de forma paralela ao plano formado pelas duas maiores dimensões do corpo, sendo
ainda distribuídas uniformemente ao longo da direção da menor dimensão (espessura).
Considerando que o plano formado pelas duas maiores dimensões do corpo seja
o xy, o estado de tensão em todos os pontos deste corpo pode ser representado pelas
seguintes componentes:  x , y , xy , sendo as demais componentes nulas. Nos

problemas planos de tensão, o estado de tensão toma a forma apresentada na Fig. (23.9).
Portanto, “o estado plano de tensões em um ponto é único e representado por
meio de três componentes de tensão atuantes em um elemento que tenha uma
orientação específica no dado ponto”.

Capítulo 23 – Tensões____________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 746

Figura 23.9 Tensões no estado plano de tensão.

Deve-se destacar que embora definido por seis componentes no caso


tridimensional e três no caso plano, o estado de tensão depende da orientação e da
inclinação do sistema de referência adotado para tal descrição. Isto pode ser facilmente
verificado considerando o primeiro exemplo resolvido neste capítulo. No exemplo
mencionado, o eixo coordenado posicionado ao longo do eixo da barra é o z. Assim,
como a barra analisada estava axialmente solicitada, surgiu apenas uma tensão normal
orientada ao longo do eixo z,  z . Consequentemente, o único valor não nulo do tensor

de tensões para este caso foi o  3 x3 .

No entanto, pode-se considerar o caso em que o sistema de coordenadas adotado


seja rotacionado, de maneira que o eixo coordenado posicionado ao longo do eixo da
barra seja x e não mais z. Nesse caso, surgirá também apenas uma tensão normal não
nula no corpo, a qual será orientada ao longo do eixo x,  x . Assim, nesse novo sistema

de coordenadas, apenas a posição 1x1 do tensor de tensões será não nula. Portanto,
mostra-se claramente a dependência das componentes do tensor de tensões em relação
ao sistema de coordenadas de referência.
Apesar da dependência existente entre as componentes do tensor de tensões e o
sistema de referência no qual estas são determinadas, podem ser escritas equações que
relacionam as componentes de tensão definidas inicialmente em relação a um sistema de
referência para outro sistema de referência de interesse. Para determinar essas relações,
assumindo o caso plano de tensão, deve-se considerar o elemento infinitesimal
mostrado na Fig. (23.10). Deseja-se relacionar as componentes do estado de tensão

Capítulo 23 – Tensões____________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 747

definidas no sistema xy às componentes de tensão em relação a um sistema de referência


x’y’, rotacionado de um dado ângulo  em relação ao sistema inicial.

Figura 23.10 Tensões em uma orientação arbitrária.

Para tal finalidade, deve-se efetuar o equilíbrio do elemento considerando as


forças decorrentes das tensões escritas em relação ao sistema inicial e ao sistema
rotacionado. Assim, os valores das áreas do elemento infinitesimal, onde atuam as
tensões, no sistema inicial podem ser escritos em função da área do plano inclinado.
Além disso, as forças resultantes, decorrente das tensões atuantes, em cada uma das
áreas (faces) do elemento podem ser calculadas e suas componentes decompostas em
relação ao novo sistema coordenado x’y’. Essa decomposição é mostrada na Fig.
(23.11).

Figura 23.11 Forças resultantes no sistema rotacionado.

Efetuando o equilíbrio de forças em relação ao eixo x’ obtém-se:


 x' A   x A cos   cos     y Asen   sen  
(23.12)
 xy A cos   sen     xy Asen   cos    0

Capítulo 23 – Tensões____________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 748

Manipulando os termos trigonométricos da última equação tem-se:

 x'   x  cos      y  sen     2 xy cos   sen  


2 2
(23.13)

Da trigonometria, têm-se as seguintes identidades trigonométricas:


sen  2   2 sen   cos   (23.14)

1  cos  2 
sen 2    (23.15)
2
1  cos  2 
cos 2    (23.16)
2
Substituindo as Eq.(23.14), Eq.(23.15) e Eq.(23.16) na Eq.(23.13) obtêm-se:
x  y  x  y
 x'   cos  2    xy sen  2  (23.17)
2 2
Efetuando agora o equilíbrio de forças na direção y’ tem-se:
 xy' A   x A cos   sen     y Asen   cos  
(23.18)
 xy A cos   cos     xy Asen   sen    0

Simplificando os termos trigonométricos da última equação obtém-se:

 xy'   x cos   sen     y sen   cos     xy  cos      xy  sen   


2 2
(23.19)

Utilizando as identidades trigonométricas apresentadas nas Eq.(23.14),


Eq.(23.15) e Eq.(23.16), pode-se reescrever a Eq.(23.19) como:
 y  x
 xy'  sen  2    xy cos  2  (23.20)
2
Para que o estado de tensão no sistema de coordenadas rotacionado seja definido
resta a determinação de  y' . A relação desta tensão normal é facilmente obtida tomando

a Eq.(23.17) e substituindo o ângulo de rotação por seu valor adicionado a 90º. Assim:
x  y  x  y
 x'   90    y'   cos  2   90     xy sen  2   90   (23.21)
2 2
Sabendo da relação de senos e cossenos com seus respectivos quadrantes, pode-
se reescrever a última equação como:
x  y  y  x
 y'   cos  2    xy sen  2  (23.22)
2 2
Portanto, com base nas Eq.(23.17), Eq.(23.20) e Eq.(23.22) têm-se relacionadas
as componentes do tensor de tensões definidas em um sistema cartesiano particular com
as componentes do mesmo tensor escritas em um sistema rotacionado. Deve-se destacar
que a somatória das tensões normais do ponto em análise é independente do sistema

Capítulo 23 – Tensões____________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 749

adotado. Essa somatória é conhecida, em cursos mais avançados, como invariante.


Assim, independentemente da rotação do sistema considerado a seguinte relação deverá
ser sempre atendida:
 x'   y'   x   y (23.23)

Assim, uma maneira de se verificar se a transformação das tensões foi


corretamente efetuada é verificando se a relação acima é atendida. Fica como exercício
para o leitor particularizar as Eq.(23.17), Eq.(23.20) e Eq.(23.22) para o caso
unidimensional. O leitor pode comparar as equações resultantes dessa particularização
com aquelas determinadas no capítulo 12.

23.2.1 – Exemplo 4

Um bloco de madeira, mostrado na Fig. (23.12), é composto por fibras


inclinadas de 58º com a horizontal. Sabe-se que este corpo falhará se a tensão de
cisalhamento atuante ao longo de suas fibras atingir o valor de 550 MPa . Considerando
que uma tensão normal  x  400 MPa atua neste bloco, determine a tensão compressiva

 y que causará a falha do corpo.

Figura 23.12 Elemento estrutural solicitado.

Para solucionar este problema deve-se determinar o valor da tensão de


cisalhamento atuante ao longo das fibras do material, ou seja, na direção paralela a
essas. Essa tensão, a qual está rotacionada em relação ao sistema considerado, pode ser
determinada por meio da Eq.(23.20). Como mostrado na Fig. (23.12), deve-se avaliar a
equação mencionada considerado um ângulo  igual a:
  58º 90º    148º

Capítulo 23 – Tensões____________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 750

O plano definido pelo ângulo calculado acima resultará a tensão de cisalhamento


paralela à orientação das fibras do material. Assim:
 y  x  y  400
 xy'  sen  2    xy cos  2   550  sen  2  148 
2 2
 y  823,86 MPa

Para esse valor de tensão  y , a tensão normal perpendicular às fibras pode ser

determinada utilizando a Eq. (23.17). Assim:


x  y  x  y
 x'  cos  2    xy sen  2  
2 2
400  823,86 400  823,86
 x'   cos  2 148    x'  56,32 MPa
2 2
Para que a tensão de cisalhamento perpendicular às fibras e a tensão normal
paralela às fibras sejam determinadas, basta repetir os cálculos anteriormente
apresentados utilizando ângulo   58º .

23.2.2 – Exemplo 5

A placa quadrada de aço mostrada na Fig. (23.13) tem espessura de 10mm sendo
solicitada por carregamentos distribuídos ao longo de seus planos laterais. Determine a
tensão de cisalhamento máxima e a tensão normal média desenvolvidas no aço:

Figura 23.13 Placa quadrada solicitada por forças laterais.

Primeiramente, devem ser determinadas as tensões normais atuantes na placa de


aço em decorrência do carregamento aplicado. Assim:

Capítulo 23 – Tensões____________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 751

50  0, 200
x    x  5000 Pa
0, 200  0, 010
50  0, 200
y    y  5000 Pa
0, 200  0, 010

Dessa forma, a tensão de cisalhamento máxima pode ser determinada por meio
da Eq.(23.20). Portanto:
 y  x  5000  5000
 xy'  sen  2    xy cos  2    xy'  sen  2 
2 2
Com base na última equação, verifica-se que a tensão de cisalhamento será
máxima quando o valor sen  2  for máximo. Com base nos conhecimentos de

trigonometria, sabe-se que seu valor máximo é igual à unidade quando o ângulo
considerado é igual a 45º. Consequentemente, quando   45º tem-se:
5000  5000
 xyMAX  sen  2  45   xyMAX  5000 Pa
2
A tensão normal média para o problema em análise será nula uma vez que
 x  y  0 .

23.3 –Tensões Principais e Tensão de Cisalhamento Máxima no Plano

Conforme apresentado no item anterior, foi demonstrado que os valores das


tensões normal e de cisalhamento dependem do plano de referência em consideração,
mais precisamente do ângulo de inclinação deste, como indicam as Eq.(23.17),
Eq.(23.20) e Eq.(23.22). Em diversas aplicações de engenharia existe interesse
particular na determinação dos valores extremos (máximo e mínimo) das tensões
normal e de cisalhamento, bem como de suas orientações, para a avaliação da segurança
e verificação da falha estrutural.
A partir da definição das componentes do tensor de tensões, referenciadas a um
dado sistema de coordenadas, é possível determinar os valores extremos (máximo e
mínimo) que as tensões normais podem apresentar. Os valores extremos das tensões
normais são denominados de Tensões Principais e os planos onde estas atuam Planos
Principais.
Para a determinação do ângulo de inclinação dos planos principais, devem ser
empregados os conhecimentos básicos do cálculo diferencial. Assim, sabe-se que o

Capítulo 23 – Tensões____________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 752

extremo de uma função (local ou global) ocorre quando sua primeira derivada é nula.
Portanto, os valores extremos das tensões normais ocorrerão quando a primeira derivada
da Eq.(23.17) for nula. Então:
x  y  x  y
 x'   cos  2    xy sen  2  (23.24)
2 2

d x'  x  y 2 xy
 2 sen  2   2 xy cos  2   0  tan  2   (23.25)
d 2  x  y

A solução da Eq.(23.25) envolve dois ângulos  p1 e  p 2 , os quais são defasados

de 90º, que definem os planos principais onde as tensões normais são máxima e mínima.
O valor da tensão normal nestes planos pode ser facilmente determinado substituindo-se
os ângulos calculados na Eq.(23.25) na expressão que relaciona a tensão normal a um
plano qualquer, Eq.(23.17). Efetuando esta substituição, obtém-se:
2
x  y   x  y 
   xy 
2
 1,2    (23.26)
2  2 
sendo  1 e  2 as tensões principais máxima e mínima, respectivamente.
Os planos principais apresentam uma característica importante e que deve ser
enfatizada. Nos planos principais, ou seja, nos planos onde as tensões normais são
máxima ou mínima, a tensão de cisalhamento é nula. Essa conclusão, que será omitida
aqui por simplicidade, pode ser facilmente obtida substituindo-se os ângulos
determinados na Eq.(23.25) na expressão que relaciona a tensão de cisalhamento a um
plano qualquer, Eq.(23.20). Essa informação será de grande importância para a
identificação rápida de estados principais de tensão.
Com relação à tensão de cisalhamento, verifica-se, com base na Eq.(23.20), que
esta tensão observará valores extremos à medida que o plano considerado é rotacionado.
Isso ocorre uma vez que esta equação envolve seno e cosseno de 2 . Os ângulos de
rotação nos quais serão observadas as máximas tensões de cisalhamento podem ser
obtidos derivando-se a Eq.(23.20) em relação à inclinação do plano,  , e em seguida
igualando a expressão resultante à zero. Assim:
 y  x
 xy'  sen  2    xy cos  2  (23.27)
2
d xy'  y  x  y  x
 2 cos  2   2 xy sen  2   0  tan  2   (23.28)
d 2 2 xy

Capítulo 23 – Tensões____________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 753

A última expressão retorna dois valores de ângulo,  C 1 e C 2 , defasados de 90º,


que definem os planos onde as tensões de cisalhamento são máximas.
Comparando as inclinações onde as tensões de cisalhamento são máximas  C 1 e

C 2 com os ângulos onde as tensões principais atuam,  p1 e  p 2 , constata-se que estes

estão defasados de 45°, um em relação ao outro. Sugere-se que o leitor comprove esta
constatação para um conjunto qualquer de valores de  x ,  y e  xy . Consequentemente,

os planos em que atuam as tensões cisalhantes máximas podem ser rapidamente


determinados orientando-se um elemento rotacionado de 45° em relação à posição do
elemento que define os planos das tensões principais.
Os valores das tensões de cisalhamento máximas no plano podem ser facilmente
determinados substituindo os ângulos calculados pela Eq.(23.28) na Eq.(23.20).
Efetuando este procedimento obtém-se:
2
  x  y 
   xy 
2
 xy MAX   (23.29)
 2 
Substituindo os valores de  C 1 e C 2 na Eq.(23.17), observa-se que a tensão
normal pode assumir valores diferentes de zero no plano em que a tensão de
cisalhamento é máxima. Substituindo  C 1 e C 2 na Eq.(23.17), constata-se que as tensões
normais nestes planos são dadas por:
x  y
 MED  (23.30)
2

23.3.1 – Exemplo 6

Em um dado ponto material de um corpo em equilíbrio solicitado por ações


 20 60
externas, o estado de tensão atuante é dado por      MPa . Considerando este
 60 90 
estado de tensão determine: as tensões principais, o ângulo de inclinação dos planos
principais, a máxima tensão de cisalhamento no plano, seu o ângulo de inclinação e o
valor da tensão normal nesses planos.
Do estado de tensão fornecido sabe-se que:
 x  20 ;  y  90 e  xy  60

Capítulo 23 – Tensões____________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 754

As tensões principais podem ser determinadas pela Eq.(23.26). Portanto:


2
20  90  20  90 
   60 
2
 1,2      1,2  35  81, 394
2  2 
 1  116, 394 MPa e  2  46, 394 MPa

O ângulo de inclinação dos planos principais pode ser facilmente determinado


pela Eq.(23.25). Assim:
2  60
tan  2    2  47, 489º  1  23, 744º
20  90
Existem dois planos principais, os quais estão defasados de 90º como discutido
anteriormente. Assim, o ângulo de inclinação do outro plano principal é dado por:
 2  1  90º   2  23, 744º 90º   2  66, 255º

A partir dos ângulos de inclinação dos planos principais e dos valores das
tensões principais, deve-se agora determinar o plano de atuação de cada tensão
principal. Para isso, os ângulos 1 e  2 calculados anteriormente devem ser substituídos

na Eq.(23.17). Substituindo-se o valor de 1 nesta expressão obtém-se:


20  90 20  90
 x'   cos  2  23, 744   60 sen  2  23, 744  
2 2
 x'  46, 394 MPa
Portanto, com a inclinação 1 verifica-se a atuação de  2 . Dessa forma, pode-se

escrever que, 1   P 2 e  2   P1 . Assim, com base nas respostas obtidas neste exemplo,

pode-se representar as tensões principais e os planos onde estas atuam. Esta ilustração é
apresentada na Fig. (23.14).

Figura 23.14 Tensões principais e planos principais.

Os ângulos de inclinação dos planos onde a tensão de cisalhamento é máxima


podem ser calculados pela Eq.(23.28). Assim:

Capítulo 23 – Tensões____________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 755

90    20 
tan  2    2  42, 510º   3  21, 255º
2  60
Existem dois planos onde as tensões de cisalhamento no plano são máximas, os
quais estão defasados de 90º, como discutido anteriormente. Assim, o ângulo de
inclinação do outro plano em questão é dado por:
 4   3  90º   4  21, 255º 90º   4  111, 255º

Apenas para ilustração, se os ângulos 1 ,  3 e  2 ,  4 forem comparados, constata-

se que estes estão defasados de 45º, como mencionado anteriormente. A máxima tensão
de cisalhamento no plano é dada pela Eq.(23.29). Assim:
2
 20  90 
   60 
2
 xy MAX     xy MAX  81, 394 MPa
 2 
O sinal correto da tensão máxima de cisalhamento no plano é obtido avaliando a
Eq.(23.20) com o ângulo  3 . Efetuando este procedimento tem-se:

90    20 
 xy'  sen  2  21, 255   60 cos  2  21, 255    xy'  81, 394 MPa
2
Portanto, a orientação é positiva. Com base no sentido correto da tensão de
cisalhamento máxima no plano, esta pode ser representada em um elemento
infinitesimal, como mostrado na Fig. (23.15).

Figura 23.15 Tensões de cisalhamento máximas no plano e seus planos de atuação.

As tensões normais atuantes nos planos onde a tensão de cisalhamento é máxima


podem ser determinadas pela Eq.(23.30). Assim:
20  90
 MED    MED  35 MPa
2
Dessa forma, o estado de tensão nos planos onde a tensão de cisalhamento é
máxima pode ser representado como mostrado na Fig. (23.16).

Capítulo 23 – Tensões____________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 756

Figura 23.16 Estado de tensão nos planos de máxima tensão de cisalhamento.

23.3.2 – Exemplo 7

A Fig. (23.17) apresenta uma viga engastada em sua extremidade esquerda


sendo submetida a um carregamento uniformemente distribuído em parte de seu
comprimento e a duas forças concentradas em sua extremidade direita. Determine o
tensor de tensões para os pontos A, B, C e D, os quais estão localizados na seção S
ilustrada nessa figura. As dimensões da seção transversal estão apresentadas em cm.

Figura 23.17 Estrutura a ser analisada.

Para a determinação dos esforços solicitantes na seção transversal de interesse,


devem ser, inicialmente, obtidos os valores das reações de apoio. Para tal finalidade,
obtém-se o diagrama de corpo livre da estrutura, o qual é apresentado na Fig. (23.18).

Figura 23.18 Diagrama de corpo livre.

Capítulo 23 – Tensões____________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 757

Com base no diagrama de corpo livre apresentado na figura anterior, aplicam-se


as equações de equilíbrio de corpo livre. Assim, obtém-se os seguintes valores para as
reações de apoio:

F x
0  N1  3, 0  0  N1  3, 0 kN
F y
0  V1  5 1,5   2, 0  0  V1  9,5 kN
 1,5 
M z
 0  M 1  5 1,5   2 
 2 
  2  3,5   0  M 1  27, 625 kN.m

Em seguida, determinam-se os valores dos esforços solicitantes atuantes na


seção S aplicando também as condições de equilíbrio de corpo rígido. Considerando o
diagrama de corpo livre apresentado na Fig. (23.19), os esforços solicitantes apresentam
as seguintes intensidades.

Figura 23.19 Diagrama de corpo livre.

F x
0   N S  3, 0  0  N S  3, 0 kN
F y
0  VS  9,5  0  VS  9,5 kN

M z
 0   M S  27, 625  9,5 1, 0   0  M S  18,125 kN.m

Conforme apresentado no capítulo 17, as tensões normais na flexão normal


composta estão relacionadas aos momentos fletores e esforço normal por meio da
N Mz My
seguinte relação:  x   y z . Para o problema em análise, o momento fletor
A Iz Iy

My é nulo. Assim, as tensões normais nos pontos A, B, C e D ilustrados na Fig. (23.17)


possuem as seguintes intensidades:
 0,40³  0,15 
Iz   4
  8,0 10 m
4
A   0,40  0,15  0,06m2
 12 
3,0 18,125
 xA   0,10  2215,625 kN/m²
0,06 8,0  10 4

Capítulo 23 – Tensões____________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 758

3,0 18,125
 xB   0,0  50,0 kN/m²
0,06 8,0  10 4

3,0 18,125
 xC   0, 20  4481,25 kN/m²
0,06 8,0  104

3,0 18,125
 xD    0, 20   4581,25 kN/m²
0,06 8,0  10 4

As tensões de cisalhamento na flexão, conforme apresentado no capítulo 19, são


V y Qz
determinadas por meio da seguinte relação:  xy  . Portanto, os momentos estáticos
Iz t

das áreas, Q, referentes aos pontos de interesse da análise devem ser determinados. Para
o problema em análise, os momentos estáticos dos pontos de interesse possuem as
seguintes intensidades:
  10  
QzA  15 10  10     2250 cm³  QzA  2, 25 103 m³
  2 
  20  
QzB  15  20      3000 cm³  QzB  3,0  103 m³
  2 
Qz  0 m³
C

QzD  0 m³

Portanto, as tensões de cisalhamento nos pontos de interesse da análise possuem


as seguintes intensidades:
9,5  2, 25  103
 xyA   178,125 kN/m²
8,0 104  0,15
9,5  3,0  103
 xyB   237,5 kN/m²
8,0  104  0,15
 xyC   xyD  0 kN/m²

Dessa forma, o tensor de tensões para o problema em análise, que se enquadra


na categoria de estado plano de tensão, pode ser escrito para cada um dos pontos de
interesse da seguinte forma:
 x  xy 
  ;
 xy  y 

 2215,625 178,125  50,0 237,5


A   kN/m²; B  kN/m²;
 178,125 0   237,5 0 

 4481, 25 0   4581, 25 0 
C   kN/m²; D  kN/m².
 0 0   0 0 

Capítulo 23 – Tensões____________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 759

A partir dos tensores de tensão obtidos anteriormente, pode-se determinar as


componentes das tensões principais e o ângulo de inclinação dos planos principais para
cada ponto de interesse da análise por meio das relações:
2
x  y  x  y 
 1,2       xy
2
(Tensões principais)
2  2 

2 xy
tan  2 p1   ;  p 2   p1  90º (Inclinação dos planos principais)
x  y

Assim, para o ponto A obtém-se:


 Tensões principais:
2
2215,625  0  2215, 625  0 
   178,125   2229,85 kN/m²
2
  1
A
 
2  2 
2
2215,625  0  2215,625  0 
   178,125   14, 23 kN/m²
2
 2A   
2  2 

 Inclinação dos planos principais:


 2  178,125 
 pA  arc tan   2   p1  4,5672º e  p 2  85, 4328º
A A

 2215,625  0 
Em seguida, deve-se atribuir a orientação para cada uma das tensões principais.
Para tal finalidade, os ângulos  pA1 e  pA2 calculados anteriormente devem ser substituídos

x  y  x  y
na seguinte equação:  x '   cos  2    xy sen  2  , a qual relaciona as
2 2
componentes do tensor de tensão definidas em relação a um sistema de referência xy
com a tensão normal definida em um sistema de coordenadas x’y’, rotacionado em
relação ao primeiro.
Substituindo-se o angulo  pA1 nessa expressão obtém-se:

2215,625  0  2215,625  0 
 x'    cos 2   4,57     178,125 sen 2   4,57  
2  2 
 x '  1A  2229,85 kN/m²

Portanto, com a inclinação  pA1 observa-se a atuação de  1A . Dessa forma, com

base nas respostas obtidas para o ponto A, pode-se representar as tensões principais e os
planos onde estas atuam. Essa ilustração é apresentada na Fig. (23.20).

Capítulo 23 – Tensões____________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 760

Figura 23.20 Tensões principais e planos principais para o ponto A.

Deve-se também determinar o valor da tensão de cisalhamento máxima no


plano. No plano onde as tensões de cisalhamento são máximas, as tensões normais
atuantes são iguais a tensão média, conforme apresentado previamente nesse capítulo. A
tensão de cisalhamento máxima no plano, a tensão normal média, ambas para um dado
ponto, e a inclinação de atuação da tensão de cisalhamento máxima no plano são obtidas
por meio das seguintes expressões:
2
x  y 
 max      xy
2
(Tensão de cisalhamento máxima)
 2 

x  y
 med  (Tensão normal média)
2
 y x
tan  2 c1   ou
2 xy (Inclinação dos planos de  max )
 C   p  45º ;  c 2   c1  90º ;

Logo, para o ponto A obtém-se:


 Tensão de cisalhamento máxima no plano e tensão normal média:
2
 2215,625  0 
   178,125   1122,04 kN/m²
2
  
A
max
 2 
2215, 625  0
 me
A
d   1107,81 kN/m²
2
 Inclinação dos planos de cisalhamento máximo no plano:
 0  2215,625 
cA  arc tan   2   c1  40, 4328º e  c 2  49,5672º
A A

 
2 178,125 
O sinal correto da tensão de cisalhamento máxima no plano é obtido avaliando a
equação de rotação das tensões de cisalhamento para o ângulo  cA1 . Essa equação foi

Capítulo 23 – Tensões____________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 761

apresentada anteriormente nesse capítulo, sendo igual a:


 y  x
 xy '  sen  2    xy cos  2  . Efetuando esse procedimento tem-se:
2
0  2215,625
 xy '  sen  2  40, 4328    178,125  cos  2  40, 4328 
2

 xy '   max
A
 1122,04 kN/m²

Portanto, a tensão de cisalhamento possui sinal negativo. Com base no sinal


correto da tensão de cisalhamento máxima no plano, o estado de tensão nos planos onde
a tensão de cisalhamento é máxima no plano pode ser representado, como mostra na
Fig. (23.21).

Figura 23.21 Tensões de cisalhamento máxima no plano e tensão normal média para o ponto A.

Todo o procedimento descrito anteriormente, válido para o ponto de interesse A,


pode ser repetido para os demais pontos de interesse. Repetindo o procedimento
realizado anteriormente para os demais pontos de interesse, constata-se que as tensões
principais e os planos principais assumem os seguintes valores:
 Tensões principais:

 50,0   0    50,0   0 
2

   237,5   213,81 kN/m²


2
  1
B

2  2 

 50,0   0   50,0   0 
2

   237, 5   263,81 kN/m²


2
  B
2  
2  2 
2
4481, 25  0  4481, 25  0 
  C
1     0  4481, 25 kN/m²
2

2  2 
2
4481, 25  0  4481, 25  0 
 2C      0  0,0 kN/m²
2

2  2 

Capítulo 23 – Tensões____________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 762

2
4581, 25  0  4581, 25  0 
 1D      0  0,0 kN/m²
2

2  2 
2
4581, 25  0  4581, 25  0 
 2D      0  4581, 25 kN/m²
2

2  2 

 Inclinação dos planos principais:


 2  237,5  
 pB  arc tan   2   pB1  41,996º e  pB2  48,004º
 50,0  0 
 2  0,0  
 pC  arc tan   2   p1  0,0º e  p 2  90,0º
C C

 4481, 25  0 
 2  0,0  
 pD  arc tan   2   p1  0, 0º e  p 2  90,0º
D D

 4581, 25  0 

Utilizando a Eq. (23.17), verifica-se que com a inclinação  pB1 observa-se a

atuação de  2B . Além disso, observa-se que nos pontos de interesse C e D os planos


principais coincidem com os eixos que definem o sistema de coordenadas adotado. Essa
constatação deve-se ao fato de que, nesses pontos, para o sistema de coordenadas
adotado, a tensão de cisalhamento é nula. Portanto, conforme apresentado previamente
nesse capítulo, as tensões principais atuantes nesse caso são as principais. Com base nos
resultados apresentados, é possível representar as tensões principais e os planos
principais. Para o ponto B a representação é ilustrada na Fig. (23.22).

Figura 23.22 Tensões principais e planos principais para o ponto B.

Já para os pontos de interesse C e D, a representação das tensões principais e


planos principais é apresentada na Fig. (23.23).

Capítulo 23 – Tensões____________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 763

Figura 23.23 Tensões principais e planos principais para os pontos C e D.

Para a análise das tensões de cisalhamento máximas no plano e de seus planos


de inclinação tem-se:
 Tensão de cisalhamento máxima e tensões médias:

  50,0   0 
2
50,0  0
   237,5   238,81 kN/m²;  med 
2
 B
max   B
 25,0 kN/m²
 2  2
2
 4481, 25  0  4481, 25  0
 max
C
    0  2240,63 kN/m²;  med 
2 C
 2240,63 kN/m²
 2  2
2
 4581, 25  0  4581, 25  0
 D
max     0  2290,63 kN/m²;  med 
2 D
 2290,63 kN/m²
 2  2

 Inclinação dos planos de cisalhamento máximo:


 0   50  
 cB  arc tan   2   cB1  3,005º e  cB2  86,996º
 2  237,5  
 0  4481, 25 
 cC  arc tan   2   cC1  45º e  cC2  135º
 2  0  
 0   4581, 25  
 cD  arc tan   2   c1  45º e  c 2  135º
D D

 2  
0 
O sinal correto da tensão de cisalhamento máxima no plano, para os pontos de
interesse, é obtido avaliando a Eq.(23.20) para os ângulos  c1 calculados anteriormente.
Assim:
0   50,0 
 xyB '  sen  2   3,005     237,5  cos  2   3,005   
2
 xyB '  238,81 kN/m²   max B

0  4481, 25
 xyC '  sen  2  45º   0  2240,63 kN/m²   max
C

2
0   4581, 25 
 xyD '  sen  2  45º   0  2290, 65 kN/m²   max
D

Capítulo 23 – Tensões____________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 764

Com base no sinal correto das tensões de cisalhamento máximas determinados


anteriormente, o estado de tensão nos pontos de interesse B, C e D, nos planos onde a
tensão de cisalhamento é máxima pode ser representado como mostra a Fig. (23.24).

Figura 23.24 Estado de tensão nos pontos B, C e D nos planos de tensão de cisalhamento máxima.

23.4 – Círculo de Mohr. Estado Plano de Tensões

Atualmente, a realização de operações matemáticas envolvendo relações


trigonométricas, divisão de números fracionários, entre outras, não é uma tarefa
complexa. Isto ocorre pelo fato do acesso a equipamentos eletrônicos do tipo
calculadoras, computadores, tablets e celulares ser fácil. Porém, isso nem sempre
aconteceu. Nos séculos passados, e mesmo nas últimas décadas, essa tarefa, que hoje é
simples, foi o empecilho para a utilização de modelos mais complexos e realistas. Para
vencer essa dificuldade, era comum, no passado, o desenvolvimento de ferramentas
gráficas para as análises dos problemas de engenharia. Com a análise da rotação de
eixos e definição das componentes do tensor de tensões não foi diferente.
A representação gráfica de problemas envolvendo rotação de eixos e
componentes de tensão, tensões principais, planos principais, máxima tensão de
cisalhamento e seus planos de atuação deve-se ao engenheiro alemão Otto Mohr. Esse
engenheiro propôs o conhecido Círculo de Mohr, por meio do qual é possível
desenvolver uma interpretação gráfica do estado de tensão e estudar seu comportamento
conforme o plano em estudo é rotacionado.
Para mostrar o equacionamento do círculo de Mohr, deve-se considerar o
problema de estado plano de tensão. Para esse problema, as equações que relacionam as
tensões normal e de cisalhamento para planos inclinados são as seguintes:

Capítulo 23 – Tensões____________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 765

x  y  x  y
 x'   cos  2    xy sen  2 
2 2
 y  x
 xy'  sen  2    xy cos  2  (23.31)
2
Pode-se reescrever as Eq.(23.31) de uma maneira mais conveniente como:
x  y   x  y
 x'    cos  2    xy sen  2 
 2  2
(23.32)
 x  y 
 xy'     sen  2    xy cos  2 
 2 
Elevando cada uma das equações da Eq.(23.32) ao quadrado e em seguida
somando-as obtém-se:
2
 ' x  y  2
 x       xy  
'

  2 
2 2
  x  y    x  y 
 cos  2     sen  2    xy  sen  2  
2

2 2 2
(23.33)
 2   2 
  cos 2  2 
2
xy

Sabendo, que a seguinte identidade trigonométrica é válida sen2    cos2    1

a Eq.(23.33) pode ser reescrita como:


2 2
 '   x   y   x  y 
    xy       xy 
2 2
 x  
'
(23.34)
  2   2 

Se em um problema as componentes do tensor de tensões são definidas com


relação a um dado sistema de coordenadas, ou seja, os termos  x ,  y e  xy são

conhecidos, a Eq.(23.34) pode ser reescrita de uma maneira mais compacta como:

   MED    xy'   R 2
2 2
'
x
(23.35)

2
   y 
   xy  .
2
sendo  MED definido pela Eq.(23.30) e R dado por R   x
 2 
A Eq.(23.35), de acordo com os conhecimentos da geometria analítica, descreve

 
um círculo com centro em  MED ,0 . Para a construção do círculo de Mohr devem ser

conhecidas as componentes do estado de tensão, as quais conduzirão à determinação de


2
   y 
   xy  .
2
seu centro,  MED , e de seu raio, R   x
 2 

Capítulo 23 – Tensões____________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 766

Deve-se enfatizar que as equações envolvendo as tensões rotacionadas,


 ' , y' e  xy' apresentadas nas Eq.(23.17), Eq.(23.20) e Eq.(23.22), são escritas
x

empregando termos trigonométricos cossenos e senos dependentes de 2 . Assim, para a


determinação das tensões normais e de cisalhamento em um dado plano de interesse
deve-se multiplicar, no desenho representativo do círculo de Mohr, o ângulo desejado
por dois.
Para ilustrar a aplicação do círculo de Mohr, deve-se considerar que seja de
interesse de um analista a determinação das tensões normal e de cisalhamento em um
plano rotacionado de   90º , a partir do estado de tensão A, mostrado na Fig. (23.25),
onde atuam as tensões  x e  xy . Essas duas tensões são obtidas percorrendo-se o círculo

de Mohr, no sentido anti-horário, 2  180º resultando o ponto B. As coordenadas do


ponto B podem ser facilmente determinadas por meio do uso de relações
trigonométricas simples.

Figura 23.25 Círculo de Mohr.

Utilizando ainda o círculo apresentado na Fig. (23.25), verifica-se que as tensões


principais são dadas pelos pontos D e E. Nesses pontos, a tensão de cisalhamento é nula
e, conforme discutido anteriormente, isto define os planos principais. A inclinação dos
planos principais, em relação ao estado de tensão conhecido, pode ser facilmente
determinada por meio do ângulo 2 indicado na Fig.(23.25). Segundo ilustrado no
2 xy
círculo de Mohr, a inclinação do plano principal pode ser obtida por tan  2  
 x  y

Capítulo 23 – Tensões____________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 767

o que concorda com a expressão anteriormente obtida. Além disso, o outro plano
principal encontra-se defasado de 90 º do plano determinado pela equação mencionada,
o que também é consistentemente tratado pelo círculo de Mohr.
As tensões de cisalhamento máximas no plano são dadas pelos pontos F e G
ilustrados na Fig.(23.25). Esses pontos têm coordenadas  MED , R  e  MED , R
respectivamente, o que concorda com a Eq.(23.29) obtidas anteriormente. Além disso, o
ângulo de inclinação entre o plano de atuação da tensão principal e o plano de atuação
da máxima tensão de cisalhamento é 45º  2  90º  , o que é consistente com o

apresentado anteriormente.

23.4.1 – Exemplo 8

Construa o círculo de Mohr e determine as tensões principais para o seguinte


 20 60 
estado de tensão:      MPa .
 60 90 
A partir do estado de tensão fornecido, pode-se determinar o centro do círculo de
Mohr como:
20  90
 MED    MED  35 MPa
2
O raio do círculo de Mohr pode ser calculado como:
2
 20  90 
R    60
2
 R  81, 394 MPa
 2 

Assim, a tensão principal de maior valor pode ser calculada como:


 1   MED  R   1  35  81, 394   1  116, 394 MPa

E a tensão principal de menor valor como:


 2   MED  R   2  35  81, 394   2  46, 394 MPa

A tensão de cisalhamento máxima é dada por:


 xy MAX  R   xy MAX  81,394 MPa

Com base nos valores calculados anteriormente, pode-se traçar o círculo de

Mohr para o problema em questão, o qual está apresentado na Fig. (23.26).

Capítulo 23 – Tensões____________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 768

Figura 23.26 Círculo de Mohr para o problema em estudo.

23.5 – Rotação de Tensões para o Caso Tridimensional

Em problemas tridimensionais gerais têm-se a presença de três tensões normais e


três tensões de cisalhamento não nulas no tensor de tensões. Se essas componentes de
tensão forem expressas em relação a um sistema de referência particular, suas
componentes em relação a outro sistema de referência poderão ser obtidas se os
cossenos dos ângulos formados pelos eixos de referência atual e anterior forem
determinados. Assim, utilizando álgebra tensorial, pode-se escrever que:
 '    R   R 
T
(23.36)

l3   cos  x , x  cos  x , y  cos  x , z  


 ' ' '

 l1 l2
sendo  R  dado por  m1 m2 m3    cos  y ' , x  cos  y ' , y  cos  y ' , z   .
  
 n1 n3   cos z ' , x cos z ' , y cos z ' , z 
n2
      

Capítulo 23 – Tensões____________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 769

23.5.1 – Exemplo 9

Um estado de tensão é definido pelo seguinte tensor


 x  xy  xz  1000 800 100 
 
 xy  y  yz    800 600 60  MPa . Sabendo que um sistema de referência
 xz  yz  z   100 60 400 

auxiliar x’y’z’ é definido, no qual z’ coincide com z e x’ está rotacionado de 30 no
sentido anti-horário em relação ao eixo x, determine as componentes do tensor de
tensões em relação a este novo sistema de referência.
De acordo com a rotação de eixos existente entre os sistemas de referência
descrita anteriormente, pode-se escrever a matriz de rotação da seguinte maneira:
 3 0, 5 0 
 l1 l2 l3   cos  30  cos  60  cos  90    2
    
 R   m1 m2 m3    cos 120  cos  30  cos  90     0, 5 3 0
2
 n1 n2 n3   cos  90  cos  90  cos  0    0 0 1

 

Assim, aplicando a Eq.(23.36) obtém-se:


 '    R   R  
T

 3 0, 5 0   3 0, 5 0 
 2 1000 800 100   2
   
 '    0, 5 3 0   800 600 60   0, 5 3 0
 2  2
 0 0 1   100 60 400   0 0 1

   
1292,82 292,82 116, 60 
    292,82 892,82 1, 96  MPa
'
 
 116, 60 1, 96 400 

23.6 – Tensões Principais para o Caso Tridimensional

Apesar de simples, o processo de transformação do estado de tensão de um


sistema de referência a outro é de grande interesse, em engenharia, para a determinação
de planos particulares onde as tensões experimentam valores máximos e mínimos. Em
especial, a obtenção do estado de tensão em direções particulares onde as tensões de
cisalhamento sejam nulas é de grande interesse, o que define os planos principais. Em

Capítulo 23 – Tensões____________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 770

um problema tridimensional existem três planos perpendiculares entre si onde essa


condição é atendida, ou seja, as tensões de cisalhamento são nulas observando-se
somente a presença de tensões normais.
O vetor de tensão  P  é dito principal se a seguinte relação é verificada:

     
^
P
(23.37)

onde  é um escalar denominado valor principal e   é o versor da normal particular


^

 

que define uma direção principal.


^
Podem-se escrever as tensões em relação a uma direção particular  da seguinte
forma:
^ ^
        (23.38)
   

Ou em termos de componentes:
 ^   ^  ^ ^
  ij  j  ei    i  ei   ij  j   i (23.39)
   
^ ^ ^
 ij  j   j  ij   ij  ij  j  0 (23.40)

A Eq.(23.40) pode ser também escrita na seguinte forma:


^
  x     xy  xz  1 
^    ^  0 
 ij  ij  j  0    yx

 y     yz  2   0 
   
(23.41)
  zx  zy  z    ^3  0
 

A condição para que o sistema homogêneo apresente solução diferente da trivial,

ou seja,   = 0 , é que o determinante da matriz de seus coeficientes se anule. Dessa
^

 

imposição resulta o seguinte polinômio cúbico escrito em termos de  :

 3  I1   2  I2    I3  0 (23.42)
As raízes do polinômio da Eq. (23.42) são as tensões principais. Nessa equação,
I1 , I 2 e I3 são os invariantes do tensor de tensões, assim denominados, pois possuem o
mesmo valor independente do referencial adotado. Os invariantes são definidos da
seguinte maneira:

Capítulo 23 – Tensões____________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 771

I1   x   y   z

I 2   x y   y z   x z   2xy   2yz   2xz (23.43)

I 3   x y z  2 xy xz yz   x 2yz   y 2xz   z 2xy

23.6.1 – Exemplo 10

Determine as tensões principais do seguinte estado de tensão:


 x  xy  xz  1000 800 100 
 
 xy  y  yz    800 600 60  .
 xz  yz  z   100 60 400 

Para a determinação das tensões principais neste caso, devem ser, inicialmente,
determinados os valores dos invariantes de tensão. Assim:
I1   x   y   z  I1  1000  600  400  I1  800 MPa

I 2   x y   y z   x z   2xy   2yz   2xz

I 2  1000   600    600   400  1000  400   800    60   100 


2 2 2

I 2  1093600 MPa 2

I 3   x y z  2 xy xz yz   x 2yz   y xz2   z 2xy

I 3  1000   600   400  2  800 100  60  1000   60    600   100   400   800 
2 2 2

I 3  484000000 MPa3

Assim, o polinômio a ser resolvido é o seguinte:


 3  800 2  1093600  484000000  0

cujas raízes e consequentemente tensões principais são iguais a  1  1345, 445 MPa ,
 2  386,147 MPa e  3  931,593 MPa .

23.7 – Tensão de Cisalhamento Máxima Absoluta

Assumindo um estado de tensão tridimensional, têm-se definidas três tensões


normais e três tensões de cisalhamento que darão origem, como anteriormente
apresentado, a três tensões principais 1 ,  2 e  3 , que por simplicidade de notação serão
denominadas neste item de  MAX ,  INT e  MIN , respectivamente. Se as tensões principais

Capítulo 23 – Tensões____________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 772

forem ilustradas segundo seus planos de atuação, obtém-se a representação mostrada na


Fig. (23.27), segundo os planos y’z’, x’z’e x’y’.

Figura 23.27 Representação das tensões principais em seus respectivos planos.

Com base na representação ilustrada na Fig. (23.27), pode-se utilizar o círculo de


Mohr para a determinação da tensão de cisalhamento máxima atuante em cada um dos
planos considerados. Conforme previamente apresentado neste capítulo, o diâmetro do
círculo de Mohr é dado pela diferença das tensões principais atuantes no plano em
análise. Além disso, a tensão de cisalhamento máxima no plano é dada pelo raio do
círculo de Mohr.
Considerando as três representações de tensões consideradas na Fig. (23.27),
podem ser construídos os círculos de Mohr apresentados na Fig. (23.28). Comparando
os três círculos de Mohr da Fig. (23.28), constata-se que a tensão de cisalhamento
máxima absoluta é definida pelo círculo de Mohr que possui o maior raio.

Figura 23.28 Círculo de Mohr para os casos considerados.

Capítulo 23 – Tensões____________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 773

Assim, pode-se definir que a tensão de cisalhamento máxima absoluta é igual a:


 MAX   MIN 1   3
 MAX
ABS
   MAX
ABS
 (23.44)
2 2
E a tensão normal média associada a este estado é dada por:
 MAX   MIN 1   3
 MED    MED  (23.45)
2 2

Capítulo 23 – Tensões____________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 774

24. – Deformações

24.1 –Componentes de Deformação em um Ponto

A forma e as dimensões de um corpo deformável tendem a ser alteradas quando


este é submetido a um conjunto de carregamentos externos. Essas mudanças,
decorrentes do deslocamento relativo entre os pontos materiais que compõem o corpo,
são chamadas de deformação e podem ser tanto visíveis a olho nu como praticamente
imperceptíveis sem a utilização de equipamentos de alta precisão.
Para ilustrar a presença das deformações, deve-se considerar uma estrutura
plana, em equilíbrio quando submetida a um conjunto de forças e restrições em
deslocamento (condições de contorno). Após a ação das condições de contorno, o corpo
tende a se deformar assumindo uma nova configuração geométrica, como ilustrado na
Fig. (24.1). Nessa situação, os pontos que compõem o corpo ocupam uma nova posição,
ou seja, estes pontos movimentam-se em relação à sua posição original. Portanto,
percebe-se que o estado deformado decorre da variação do campo de deslocamentos
presente no corpo, o qual foi provocado pelas condições de contorno atuantes.

Figura 24.1 Configuração deformada de um corpo.

Capítulo 24 – Deformações________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 775

As equações que serão apresentadas neste capítulo têm como base a descrição
lagrangeana (Lagrange, 1788, Mecanique Analytique), na qual o sistema de referência
considerado permanece inalterado após a ocorrência da deformação. Assume-se ainda
que os deslocamentos presentes no corpo obedeçam ao regime de pequenos
deslocamentos e que a geometria inicial (indeformada) seja semelhante o suficiente à
geometria deformada, para que a imposição das condições de equilíbrio possa ser
efetuada na condição indeformada. Além disso, admite-se que o estado de deslocamento
não altera o estado de carregamento, ou seja, a configuração de equilíbrio não sofre
alteração na mudança de forma da estrutura.
Conforme discutido no capítulo 23, as tensões no interior de corpos variam de
ponto a ponto. Assim, como as tensões estão ligadas às deformações por meio de uma
relação constitutiva, as deformações variarão também de ponto a ponto. As deformações
podem classificadas como normais ou distorcionais, como apresentado no capítulo 12.
As deformações normais estão associadas ao alongamento ou encurtamento do elemento
considerado, enquanto que as deformações distorcionais estão ligadas às distorções dos
elementos que compõem a estrutura. As Fig. (24.2) e Fig. (24.3) ilustram a atuação das
deformações normal e distorcional respectivamente.

Figura 24.2 Deformação normal.

Matematicamente, as deformações normais podem ser determinadas com base


na razão entre a variação do comprimento do elemento analisado e seu comprimento
inicial. Assumindo que o deslocamento do corpo apresentado na Fig. (24.2) tenha
ocorrido na direção x, sua deformação normal pode ser definida como:
dl   dl  dl  dl  dx
x   x   x  (24.1)
dl dl dx

Capítulo 24 – Deformações________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 776

Figura 24.3 Deformação distorcional.

De forma semelhante, pode-se definir as componentes da deformação normal


atuantes ao longo das direções y e z da seguinte maneira:
 dy  dz
y  z  (24.2)
dy dz
Com relação às deformações distorcionais, estas são determinadas com base na
variação do ângulo formado por duas retas concorrentes em um dado ponto antes e
depois da deformação, conforme apresentado no capítulo 12. Considerando que as
arestas estejam inicialmente perpendiculares, como mostrado na Fig. (24.3), a
deformação distorcional, , é definida como:

   (24.3)
2
Considerando ainda que o plano que contém o elemento mostrado na Fig. (24.3)
seja o xy, a deformação distorcional mostrada na Eq.(24.3) é a  xy . De maneira análoga,

as deformações distorcionais atuantes nos planos xz e yz dão origem às  xz e  yz ,

respectivamente. De forma a uniformizar a notação das deformações, pode-se definir as


seguintes variáveis:
 xy  xz  yz
 xy   xz   yz  (24.4)
2 2 2
As deformações podem ser representadas por meio de um tensor como mostra a
equação a seguir:

Capítulo 24 – Deformações________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 777

  xy  xz 
x  x 2 2
 xy  xz    yz 
    xy  y  yz 

     xy 2 y 
2
(24.5)
 xz 
  yz  z    xz  yz 
 2 2
z 
 
Deve-se lembrar que, embora não demonstrado nessas notas, a relação  ij   ji

com i, j  x, y, z é válida. Isso é consistente com o conteúdo já discutido e apresentado


durante o estudo das tensões.

24.2 –Estado Plano de Deformação

Em diversas aplicações de engenharia problemas tridimensionais podem ser


analisados, de maneira simplificada e sem perda significativa de representatividade, de
forma plana. Esta simplificação dá origem aos problemas ditos planos, como citado no
capítulo anterior, os quais são classificados em planos de tensão e deformação.
Um problema é classificado como plano de deformação quando os vetores de
deslocamento dos pontos pertencentes ao corpo em questão são paralelos entre si.
Assim, todos os pontos originalmente pertencentes a um plano, antes do corpo ser
deformado, permanecem nesse mesmo plano após a atuação das ações externas. Nessa
classe de problemas enquadram-se, normalmente, corpos cuja geometria apresenta uma
de suas dimensões muito superior às demais como em barragens, tubulações e estruturas
de contenção, como ilustra a Fig. (24.4). Nestes casos, o plano sob o qual estarão
contidos os pontos (e os vetores deslocamento) é um plano normal a maior dimensão do
corpo.
Portanto, as deformações não nulas ocorrerão no plano definido pelas menores
dimensões do corpo e a deformação ao longo da maior dimensão do corpo será nula.
Para o sistema de coordenadas mostrado na Fig. (24.4) tem-se que:
 z   xz   yz  0 (24.6)

Conforme apresentado no capítulo anterior, as componentes do tensor de tensões


dependem do sistema de referência no qual são definidas. De forma semelhante, as
componentes do tensor de deformações também dependem do sistema de referência
adotado na análise. Para ilustrar esta dependência basta considerar um sistema de

Capítulo 24 – Deformações________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 778

referência rotacionado em relação ao apresentado na Fig. (24.4). Nesse caso, o plano


formado pelas menores dimensões do corpo poderá não ser o xy. Porém, de forma
semelhante ao apresentado no capítulo 23, é possível relacionar as componentes do
tensor de deformações, definidas em relação a um sistema de referência qualquer, a
outro sistema de referência rotacionado em relação ao sistema no qual as componentes
foram inicialmente determinadas.

Figura 24.4 Elemento em estado plano de deformação.

Para a determinação das expressões que relacionam as componentes do tensor de


deformações em um sistema rotacionado, com aquelas determinadas em um sistema de
referência inicial, será aplicado o princípio da superposição dos efeitos. Assim, será
considerada a ação de deformações  x ,  y e  xy atuando cada uma isoladamente e em

seguida seus efeitos serão superpostos. Portanto, será considerado e mostrado o caso
plano.
Para a determinação das expressões que relacionam as componentes de
deformação normal em relação a dois planos perpendiculares,  x' e  y' , deve-se

considerar o elemento de dimensões infinitesimais dx e dy apresentado na Fig.(24.5).


Quando este elemento é submetido a uma deformação uniaxial orientada ao
longo do eixo x, essa deformação produzirá um alongamento do elemento na direção x
igual a  x dx . Considerando um sistema de referência rotacionado x' y ' , verifica-se que
'
os alongamentos do elemento ao longo das direções x e y' podem ser obtidos
decompondo o alongamento inicialmente determinado por meio de relações

Capítulo 24 – Deformações________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 779

trigonométricas simples. Assim, os alongamentos ao longo das direções rotacionadas,


conforme indicado na Fig. (24.5), são dados por:
 xx'   x dx cos  
(24.7)
 xy '   x dx sen  

Figura 24.5 Elemento infinitesimal submetido a uma deformação x .

Para levar em consideração a presença da deformação  y , deve-se assumir que o

elemento infinitesimal em análise esteja submetido a apenas uma deformação uniaxial


orientada ao longo do eixo y, como mostrado na Fig. (24.6).

Figura 24.6 Elemento infinitesimal submetido a uma deformação y .

Capítulo 24 – Deformações________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 780

Nessa situação, a deformação considerada induzirá alongamentos no elemento,


cujas componentes orientadas ao longo das direções x' y ' poderão ser facilmente
determinadas por meio de relações trigonométricas. Os alongamentos ao longo dessas
direções são dados por:
 xy'   y dy sen  
(24.8)
 yy '   y dy cos  

Finalmente, deve-se assumir que o elemento infinitesimal analisado esteja


submetido a apenas uma deformação distorcional  xy . Nessa situação, ilustrada na Fig.

(24.7), observa-se que o elemento move-se  xy dy ao longo da direção x.

Consequentemente, o incremento no comprimento, ou alongamento, ao longo dos eixos


rotacionados será dado por:
 xy
x'
  xy dy cos  
(24.9)
 xyy'   xy dy sen  

Figura 24.7 Elemento infinitesimal submetido a uma deformação  xy .

Com base no conteúdo apresentado anteriormente, verifica-se que a atuação


conjunta das deformações  x ,  y e  xy conduz a uma variação nas dimensões do

elemento infinitesimal analisado. Consequentemente, a dimensão do elemento,


'
orientada ao longo do eixo x , apresentará também uma dada variação, a qual pode ser

Capítulo 24 – Deformações________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 781

facilmente determinada adicionando os resultados mostrados nas Eq.(24.7), Eq.(24.8) e


Eq.(24.9). Assim, superpondo estes efeitos obtêm-se:
ds   x dx cos     y dy sen     xy dy cos   (24.10)

Utilizando a definição de deformação normal, Eq.(24.1), verifica-se que a


'
deformação normal orientada ao longo do eixo x pode ser determinada dividindo-se os
termos da Eq.(24.10) pelo comprimento indeformado do elemento considerado.
Portanto:
ds dx dy dy
 x'    x cos     y sen     xy cos   (24.11)
ds ds ds ds
Com base no apresentado nas três últimas figuras verifica-se facilmente que:
dx dy
 cos   ;  sen   (24.12)
ds ds
Substituindo os resultados da Eq.(24.12) na Eq.(24.11) obtêm-se:
 x'   x cos 2     y sen 2     xy sen   cos   (24.13)

Sabendo que as seguintes identidades trigonométricas são válidas:


sen  2   2 sen   cos   (24.14)

1  cos  2 
sen 2    (24.15)
2
1  cos  2 
cos 2    (24.16)
2
A expressão para a determinação da deformação normal em relação a um eixo
rotacionado qualquer pode ser, finalmente, escrita em sua forma final como:
x  y x  y  xy
 x'   cos  2   sen  2  (24.17)
2 2 2
A determinação da expressão que relaciona a deformação normal em relação ao
eixo rotacionado y' pode ser feita de maneira análoga. A demonstração dessa equação
utilizando o procedimento mostrado para a obtenção da Eq.(24.17) fica a cargo do
leitor. Porém, uma maneira expedita de demonstrar essa equação pode ser utilizada.
Basta lembrar que  y' atua em um plano rotacionado de 90º em relação à x' . Assim, esta

relação é facilmente obtida tomando a Eq.(24.17) substituindo o ângulo de rotação por


seu valor adicionado a 90º. Dessa forma:

Capítulo 24 – Deformações________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 782

x  y x  y  xy
 y'   cos 2   90    sen 2   90   (24.18)
2 2 2
Sabendo da relação de senos e cossenos com seus respectivos quadrantes, pode-
se reescrever a última equação como:
x  y  y x  xy
 y'   cos  2   sen  2  (24.19)
2 2 2
Para a determinação das deformações distorcionais considerando um sistema de
referência rotacionado, deve-se obter a diferença entre os ângulos que definem as
arestas do elemento infinitesimal em análise, conforme a definição de deformação
distorcional mencionada anteriormente. Dessa forma,  xy' é calculada como:

Figura 24.8 Rotação das arestas que definem o elemento infinitesimal.

 xy'     (24.20)

Os ângulos  e  mostrados na Fig. (24.8) podem ser obtidos, para o caso geral,
considerando o princípio da superposição dos efeitos. Portanto, assume-se que as
deformações  x ,  y e  xy atuam isoladamente e em seguida seus efeitos são adicionados.

Quando considera-se apenas a atuação de  x , como ilustrado na Fig. (24.5), o ângulo

resultado de uma rotação horária é igual a razão entre a distância  x dxsen   e o

comprimento inclinado ds . Assim:


dx
x   x sen   (24.21)
ds
De forma análoga, quando apenas a deformação  y está presente, conforme

indicado na Fig. (24.6), existe uma rotação anti-horária igual a:


dy
y   y cos   (24.22)
ds

Capítulo 24 – Deformações________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 783

Finalmente, a deformação distorcional  xy gera uma rotação horária no

elemento infinitesimal considerado, conforme mostrado na Fig. (24.7), igual a:


dy
 xy   xy sen   (24.23)
ds
Assim, a variação final do ângulo  é obtida somando-se os termos mostrados
nas Eq.(24.21), Eq.(24.22) e Eq.(24.23). Deve-se enfatizar que pela convenção de
___
sinais, uma rotação anti-horária da linha oa apresentada na Fig. (24.8) é considerada
positiva. Portanto:
   x   y   xy
dx dy dy (24.24)
   x sen     y cos     xy sen  
ds ds ds
Lembrando que a Eq.(24.12) permanece válida, pode-se reescrever a Eq.(24.24)
da seguinte maneira:
   x cos   sen     y cos   sen     xy sen 2   (24.25)

Para terminar a dedução do termo  xy' , deve-se também determinar o ângulo

em função das deformações  x ,  y e  xy aplicadas isoladamenteEsse ângulo é

facilmente determinado adicionando-se 90º ao ângulo  mostrado nas equações


utilizadas para a determinação dos ângulos . Efetuando essa adição de ângulos e
levando em consideração a convenção de sinais adotada pode-se reescrever a Eq.(24.24)
da seguinte maneira:
   x   y   xy
dx dy dy (24.26)
  x sen   90    y cos   90    xy sen   90 
ds ds ds
Sabendo da relação de senos e cossenos com seus respectivos quadrantes, pode-
se reescrever a última equação como:
   x cos   sen     y sen   cos     xy cos 2   (24.27)

Somando-se os ângulos  e  dados pelas Eq.(24.25) e Eq.(24.26) tem-se:

 xy'  2   x   y  cos   sen     xy cos 2    sen 2    (24.28)

Aplicando as identidades trigonométricas apresentadas anteriormente,


Eq.(24.14), Eq.(24.15) e Eq.(24.16), é possível reescrever a última equação da seguinte
maneira:

Capítulo 24 – Deformações________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 784

 xy'

 x y 
sen  2  
 xy
cos  2  (24.29)
2 2 2
Portanto, com base nas Eq.(24.17), Eq.(24.19) e Eq.(24.29) é possível
referenciar as componentes do tensor de deformação, inicialmente definidas em um
sistema inicial, a qualquer sistema rotacionado. Nesse ponto do estudo é interessante
comparar as expressões Eq.(23.17), Eq.(23.20) e Eq.(23.22), obtidas no capítulo
anterior, com as Eq.(24.17), Eq.(24.19) e Eq.(24.29) determinadas neste capítulo. Cabe
ao leitor responder: quais são suas semelhanças e diferenças?

24.2.1 – Exemplo 1

Mostre que a seguinte identidade é válida.


 x'   y'   x   y
Para mostrar que a relação mostrada acima é verdadeira, basta que as Eq.(24.17)
e Eq.(24.19) sejam adicionadas. Assim:
x   y x y  xy x y  y x
 cos  2   sen  2    cos  2  
2 2 2 2 2
 xy
sen  2    x   y
2
Agrupando os termos semelhantes obtém-se:
x  y x y
  x   y  x   y  x   y
2 2
Assim, comprova-se que a identidade considerada é verdadeira. Deve-se
ressaltar que a utilização dessa identidade é útil para a análise da atuação das
deformações em planos quaisquer. Pode-se verificar se o valor das deformações obtido
nos planos desejados atende a identidade estudada neste exercício. Em caso afirmativo,
tem-se um forte indicativo da correção das deformações calculadas.

24.3 –Deformações Principais

Com base nas Eq.(24.17), Eq.(24.19) e Eq.(24.29), observa-se que as


componentes de deformação em relação a um plano qualquer dependem de funções
trigonométricas. Devido ao caráter periódico dessas funções, pode-se inferir,

Capítulo 24 – Deformações________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 785

intuitivamente, que existirão planos em que as deformações normal e distorcional


apresentarão valores extremos (máximos e mínimos). Esses planos podem ser
determinados empregando os conceitos básicos do cálculo diferencial, os quais preveem
que o valor extremo de uma função ocorre nos pontos em que sua primeira derivada é
nula. Assim derivando a Eq.(24.17) em relação ao ângulo  obtêm-se:
x y x  y  xy
 x'   cos  2   sen  2 
2 2 2
(24.30)
d  x' x  y  xy  xy
 2sen  2   2cos  2   0  tan  2  
d 2 2 x  y
A partir do resultado obtido com a Eq.(24.30), obtêm-se dois ângulos  1 e   2 ,
os quais são defasados entre si de 90º, que determinam os planos onde as deformações
normais apresentam valores extremos. Nesses planos, os valores das deformações
normais podem ser facilmente determinados substituindo as inclinações dos planos,  1

e   2 , na Eq.(24.17). Efetuando este procedimento obtém-se:


2 2
x   y   x   y    xy 
1,2       (24.31)
2  2   2 
As deformações apresentadas na Eq.(24.31) são denominadas deformações
principais e os planos onde essas deformações atuam são conhecidos como planos
principais.
Os ângulos que definem os planos principais podem ser também substituídos na
Eq.(24.29) para a determinação das deformações distorcionais atuantes nesses planos.
Efetuando este procedimento, o qual será omitido nessas notas por simplicidade, pode-
se constatar que o valor da deformação distorcional nos planos principais é nulo.
Portanto, nos planos principais, as deformações distorcionais serão sempre nulas. Deve-
se salientar que comportamento semelhante foi observado para as tensões principais,
conforme discutido no capítulo anterior. Se o material analisado apresentar
comportamento mecânico isotrópico, os planos principais das tensões e das
deformações coincidem.
Assim como verificado para as deformações normais, existirão também planos
onde as deformações distorcionais atingirão valores extremos. Para a determinação
destes planos, deve-se aplicar os conhecimentos do cálculo diferencial igualando a
primeira derivada da Eq.(24.29) em relação ao ângulo  a zero. Assim:

Capítulo 24 – Deformações________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 786

 xy'

 x y 
sen  2  
 xy
cos  2 
2 2 2
 xy' (24.32)
2     x   y  2 cos  2    xy 2 sen  2   0  tan  2    y   x
d
d 2 2  xy

Por meio da Eq.(24.32) determinam-se dois ângulos  1 e   2 , que definem os

planos onde as deformações distorcionais apresentam valores extremos. Esses dois


planos estão defasados entre si de 90º e são defasados de 45º em relação aos planos
principais cujas inclinações são  1 e   2 .
Os valores extremos das deformações distorcionais podem ser facilmente
determinados substituindo os ângulos  1 e   2 na Eq.(24.29). Efetuando este

procedimento obtém-se:
2 2
 xyMAX   x   y    xy 
     (24.33)
2  2   2 
Os ângulos que definem os planos de valor extremo da deformação distorcional
podem também ser substituídos na Eq.(24.17) para a determinação das intensidades das
deformações normais atuantes. Nos planos definidos por  1 e   2 as deformações

normais são iguais à deformação normal média, a qual é definida por:


x y
 MED  (24.34)
2
Dessa forma, nos planos onde as deformações normais apresentam valores
extremos as deformações distorcionais são nulas. Enquanto que nos planos onde as
deformações distorcionais têm valores extremos as deformações normais são calculadas
por meio da Eq.(24.34). Além disso, os planos principais estão defasados de 90º entre si
e os planos onde atuam as deformações distorcionais extremas são defasados entre si de
90º. Finalmente, os planos principais e os de deformação distorcional extrema estão
defasados 45º um em relação ao outro. Esse comportamento é semelhante ao observado
na análise das tensões em problemas planos. Assim, sugere-se que o leitor efetue
comparações entre os conhecimentos apresentados até aqui nessas notas para a melhor
compreensão do conteúdo apresentado.

Capítulo 24 – Deformações________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 787

24.3.1 – Exemplo 2

Em um dado ponto material, o estado de deformação é definido pelas seguintes


  xy   350 80  6
componentes     x 
 y   80 200
10 . Com base nessa informação
 xy

determine: os planos principais, as deformações principais, a inclinação para a


deformação distorcional extrema e o seu valor.
A partir do tensor de deformações dado, pode-se facilmente determinar as
deformações principais por meio da Eq.(24.31). Assim:
2 2
350 106  200 106  350 106  200 106   80 106 
1,2      
2  2   2 
1,2  7,5 105  2, 7789 104
1  2, 0289 104  2  3,5289 104
Para determinar em quais planos as deformações principais atuam, deve-se
utilizar a Eq.(24.30). Assim:
80 106
tan  2    2  8, 2759º
350 106  200 106
1  4,1379º
 2  1  90º   2  85,8621º
Para definir em qual dos planos 1 ou 2 atuam as deformações principais 1 e  2
calculadas anteriormente, deve-se aplicar a Eq.(24.17). Calculando a equação
mencionada com o ângulo 1 obtém-se:

350 106  200 106 350 106  200 106


 x'   cos  2  4,1379º  
2 2
80 106
sen  2  4,1379º    x'  3,5289 104
2
Assim, com base no determinado anteriormente conclui-se que:
 1  85,8621º ;  2  4,1379º
Os valores extremos das deformações distorcionais podem ser calculados por
meio da Eq.(24.33). Assim:
2 2
 xyMAX  350 106  200 106   80 106 
       xyMAX   5,5579 104
2  2   2 

Capítulo 24 – Deformações________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 788

Os valores extremos das deformações distorcionais ocorrem em planos


defasados de 45º em relação à  1 e   2 . Portanto, os planos onde atuam as deformações
distorcionais calculadas anteriormente são:
1   1  45º  1  85,8621º 45º  1  130,8621º
 2   2  45º   2  4,1379º 45º  2  40,8621º
Para saber em qual dos planos calculados acima atuam os valores máximo e
mínimo da deformação distorcional deve-se aplicar a Eq.(24.29). Utilizando esta
equação com o ângulo 1 tem-se:

 xy'

 350 10 6
 200 10 6 
sen  2 130,8621º  
80 106
cos  2 130,8621º 
2 2 2
   5,5579 10
'
xy
4

Dessa forma, com base no valor de deformação distorcional calculado na última


equação tem-se:
 1  40,8621º ;  2  130,8621º
Nos planos onde atuam as deformações distorcionais máxima e mínima as
deformações normais, em ambos os eixos rotacionados, são iguais a:
350 106  200 106
 MED    MED  75 106
2

24.4 –Círculo de Mohr. Estado Plano de Deformações

Assim como apresentado no estudo das componentes de tensão em planos


quaisquer é também possível obter uma representação gráfica para expressar as
componentes de deformação atuantes em planos quaisquer. Esta representação gráfica é
efetuada por meio de um círculo, o qual foi inicialmente proposto pelo engenheiro Otto
Mohr e conhecido no domínio da engenharia como círculo de Mohr.
Para que o equacionamento do círculo de Mohr seja efetuado considerando
problemas planos envolvendo componentes de deformação em planos quaisquer, deve-
se inicialmente escrever as equações que relacionam as componentes de deformação
normal e distorcional para planos inclinados. Assim:

Capítulo 24 – Deformações________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 789

x  y x  y  xy
 x'   cos  2   sen  2 
2 2 2
(24.35)
 xy'

 x y 
sen  2  
 xy
cos  2 
2 2 2
As Eq.(24.35) podem ser reescritas de uma maneira mais conveniente como:
x  y x  y  xy
 x'   cos  2   sen  2 
2 2 2
(24.36)
 xy'

 x y 
sen  2  
 xy
cos  2 
2 2 2
Elevando cada uma das equações da Eq.(24.36) ao quadrado e em seguida
somando-as obtém-se:
2 2
 '  x  y     xy 
'

 x        
  2   2 
2 2 2
 x y   x y    xy  (24.37)
 cos  2     sen  2     sen  2  
2 2 2

 2   2   2 
2
  xy 
 cos  2 
2

 2 

Sabendo, que a seguinte identidade trigonométrica é válida sen 2    cos 2    1 ,

a Eq.(24.37) pode ser reescrita como:


2 2 2 2
 '  x y     xy    x   y    xy 
'

 x             (24.38)
  2   2   2   2 

Se em um problema qualquer as componentes do tensor de deformações são


definidas com relação a um dado sistema de coordenadas, ou seja, os termos  x ,  y e  xy

são conhecidos, a Eq.(24.38) pode ser reescrita de uma maneira mais compacta como:
2
  xy 
 x'   MED   
2
 R
2
(24.39)
 2 
2 2
      
sendo  MED definido pela Eq.(24.34) e R dado por R   x y    xy  .
 2   2 
A Eq.(24.39), de acordo com os conhecimentos da geometria analítica, descreve
um círculo com centro em   MED ,0  . Para a construção do círculo de Mohr devem ser

Capítulo 24 – Deformações________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 790

conhecidas as componentes do estado de deformação, as quais conduzirão a


2 2
      
determinação de seu centro,  MED , e de seu raio, R   x y    xy  .
 2   2 
Deve-se enfatizar que as equações envolvendo as deformações rotacionadas,
 ' ,  y' e  xy' apresentadas nas Eq.(24.17), Eq.(24.19) e Eq.(24.29), são escritas
x

empregando funções trigonométricas cossenos e senos dependentes de 2 . Assim, para


a determinação das deformações normais e distorcionais em um dado plano de interesse
deve-se multiplicar, na figura representativa do círculo de Mohr, o ângulo desejado por
dois.
Por meio da utilização do círculo de Mohr é possível a análise e determinação
das deformações principais e de seus planos de atuação. Utilizando o círculo mostrado
na Fig. (24.9), verifica-se que as deformações principais são dadas pelos pontos A e B.
Nesses pontos, a deformação distorcional é nula e, conforme discutido anteriormente,
isto define os planos principais. A inclinação dos planos principais, em relação ao
estado de deformação conhecido, pode ser facilmente determinada por meio do ângulo
2 indicado na Fig.(24.9). Segundo ilustrado no círculo de Mohr, a inclinação do plano
 xy
principal pode ser obtida por tan  2   o que concorda com a expressão
x y

previamente apresentada neste capítulo. Além disso, o outro plano principal encontra-se
defasado de 90º em relação ao plano determinado pela equação mencionada, o que
também é consistentemente tratado pelo círculo de Mohr.

Figura 24.9 Círculo de Mohr para deformações.

Capítulo 24 – Deformações________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 791

Os valores extremos das deformações distorcionais são observados nos pontos C


e D ilustrados na Fig.(24.9). Esses pontos têm coordenadas   MED , R  e   MED ,  R 

respectivamente, o que concorda com a Eq.(24.33) obtidas anteriormente. Além disso, o


ângulo de inclinação entre o plano de atuação da deformação principal e o plano de
atuação da máxima deformação distorcional é 45º  2  90º  , o que é também

consistente com o apresentado anteriormente.

24.4.1 – Exemplo 3

Trace o círculo de Mohr para um ponto material submetido ao seguinte estado de


 x  xy   350 80  6
deformação      10 .
 xy  y   80 200
Primeiramente, devem ser determinadas as coordenadas do centro do círculo.
Isso é facilmente efetuado determinando-se a deformação normal média. Assim:
 350 106  200 106 
 MED ;0   
2
;0    MED ;0    75 106 ;0 
 
O raio do círculo de Mohr é calculado utilizando as informações apresentadas na
Eq.(24.39). Portanto:
2 2
 350 10 6  200 10 6   80 106 
R      R  277,894 106
 2   2 

A deformação principal maior é calculada como:


1   MED  R  1  75 10 6  277,894 10 6  1  202,894 10 6

E a deformação principal menor pode ser determinada de forma semelhante:


 2   MED  R   2  75 10 6  277,894 10 6   2  352,894 10 6

A metade dos valores extremos das deformações distorcionais são iguais ao

valor do raio, portanto, iguais a:


 xyMAX
 R  277,894 10 6   xyMAX  555, 79 10 6
2
Com base nos valores calculados anteriormente, pode-se traçar o círculo de
Mohr para o problema em questão, o qual está apresentado na Fig. (24.10).

Capítulo 24 – Deformações________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 792

Os resultados obtidos neste exemplo podem ser comparados com aqueles


determinados no exemplo 2, para a verificação sobre sua correção.

Figura 24.10 Círculo de Mohr para o problema em estudo.

24.5 –Medidas de Deformação. Aplicação em Extensômetros

Quando um dado corpo é submetido a um carregamento externo, sabe-se que


surgirão tensões neste corpo que nada mais são do que sua resposta mecânica, a qual é
necessária para que a condição de equilíbrio seja atendida. Embora seja conhecido que
as tensões surgirão, estas não são determinadas diretamente nas aplicações práticas. Não
existem equipamentos que mensuram diretamente, em forma experimental, a tensão em
um corpo. Em aplicações práticas as grandezas mensuradas experimentalmente são
deslocamentos e deformações. Neste item será apresentada uma forma simples e
elegante para a determinação do estado de deformação em um ponto utilizando um
equipamento simples.

Capítulo 24 – Deformações________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 793

As deformações podem ser medidas por meio de equipamentos especiais


denominados extensômetros. Os extensômetros são formados por resistências elétricas,
as quais distendem ou encurtam em função da ação do carregamento aplicado. A
alteração do comprimento da resistência elétrica permite a determinação de um sinal
que indica a deformação ocorrida no ponto de análise.
Normalmente, os extensômetros medem apenas a deformação normal orientada
na direção paralela à de seus filamentos elétricos, conforme mostra a Fig. (24.11).

Figura 24.11 Deformação medida pelos extensômetros.

Quando analisada de forma isolada, a deformação normal medida por um


extensômetro possui fins restritos. No entanto, os extensômetros podem ser
posicionados em conjunto e em direções preferenciais para a determinação do estado
completo de deformação em um ponto. O conjunto de extensômetros posicionados
segundo um padrão particular é chamado de Rosetas de Deformação. As rosetas
contêm, normalmente, três extensômetros posicionados de acordo com ângulos
previamente definidos. Os tipos mais comuns são as rosetas de 45° e 60°, conforme
mostrado na Fig. (24.12):

Figura 24.12 Rosetas de deformação.

Conhecendo-se as deformações normais ao longo das três direções pré-


determinadas é possível calcular o estado de deformação em um dado ponto de interesse
utilizando as equações de rotação de deformações apresentadas anteriormente neste

Capítulo 24 – Deformações________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 794

capítulo. Para tal fim, basta que a Eq.(24.17) seja avaliada para os três ângulos nos quais
os extensômetros são posicionados. Portanto:
x y x  y  xy
a   cos  2a   sen  2a 
2 2 2
x  y x y  xy
b   cos  2b   sen  2b  (24.40)
2 2 2
x y x  y  xy
c   cos  2c   sen  2c 
2 2 2
Para a roseta de 45° tem-se:
x  y x y  xy
a   cos  0º   sen  0º 
2 2 2
x  y x  y  xy
b   cos  2  45º   sen  2  45º  (24.41)
2 2 2
x  y x y  xy
c   cos  2  90º   sen  2  90º 
2 2 2
Assim, resolvendo-se as três equações apresentadas na Eq.(24.41) para as
componentes de deformação no plano obtêm-se:
 x  a
 xy  2 b    a   c  (24.42)
 y  c
Já para a roseta de 60° tem-se:
x   y x  y  xy
a   cos  0º   sen  0º 
2 2 2
x  y x  y  xy
b   cos  2  60º   sen  2  60º  (24.43)
2 2 2
x   y x  y  xy
c   cos  2 120º   sen  2 120º 
2 2 2
Resolvendo as três equações apresentadas na Eq.(24.43) para as deformações no
sistema de coordenadas padrão obtêm-se:
x  a
2
 xy   b   c  (24.44)
3
1
y   2 b  2 c   a 
3

Capítulo 24 – Deformações________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 795

24.5.1 – Exemplo 4

Determine as deformações principais e as máximas deformações distorcionais


em um dado ponto material a partir das medidas de uma roseta de 60° cujas leituras de
seus extensômetros resultaram  a  30 106 ,  b  130 10 6 e  c  200 10 6 .
A partir da leitura dos extensômetros pode-se determinar o estado de deformação
de uma roseta de 60° utilizando o conjunto de expressões mostrado na Eq.(24.44).
Assim:
 x  30 106
2
 xy 
3
130 106  200 106    xy  80,829 106

1
y 
3
 2 130 106  2  200 106  30 106    y  210 106

Dessa forma, as deformações principais são calculadas utilizando a Eq.(24.31).


Portanto:
2 2
30 106  210 106  30 106  210 106   80,829 106 
1,2      
2  2   2 
1,2  120 106  98, 658 106
1  218, 658 106  2  21,342 106

Os valores extremos das deformações distorcionais são obtidos com a avaliação

da Eq.(24.33). Dessa forma:


2 2
 xyMAX  30 106  210 106   80,829 106 
   xy   197,315 10
6
   
MAX

2  2   2 

24.6 – Rotação de Deformações para o Caso Tridimensional

Em problemas tridimensionais gerais têm-se a presença de três deformações


normais e três deformações distorcionais não nulas no tensor de deformações. Se essas
componentes de deformação forem expressas em relação a um sistema de referência
particular, suas componentes em relação a outro sistema de referência poderão ser
obtidas se os cossenos dos ângulos formados pelos eixos de referência atual e anterior

Capítulo 24 – Deformações________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 796

forem conhecidos. Assim, aplicando os conceitos da álgebra tensorial, pode-se escrever


que:
 '    R   R  (24.45)
T

l3   cos  x , x  cos  x , y  cos  x , z  


 ' ' '

 l1 l2
sendo  R  dado por  m1 m2 m3    cos  y ' , x  cos  y ' , y  cos  y ' , z   . O tensor   é
  
 n1 n3   cos z ' , x cos z ' , y
n2
     cos   
z '
, z

o mesmo definido na Eq.(24.5).

24.6.1 – Exemplo 5

Um estado de deformação é definido pelo seguinte tensor


  xy  xz 
 x 2 2  10 2 1
  yz  
   xy 2
  y   2 6 1  106 . Sabendo que um sistema de
 2  
  xz  yz   1 1 4 
 2 2
z 
 
referência auxiliar x’y’z’ é definido, no qual z’ coincide com z e x’ está rotacionado de
50 no sentido horário em relação ao eixo x, determine as componentes do tensor de
deformações em relação a este novo sistema de referência.
De acordo com a rotação de eixos existente entre os sistemas de referência
descrita anteriormente, pode-se escrever a matriz de rotação da seguinte maneira:
 l1 l2 l3   cos  50  cos 140  cos  90    0, 6428 0, 766 0 
 
 R   m1 m2 m3    cos  40  cos  50  cos  90     0, 766 0, 6428 0 
 n1 n2 n3   cos  90  cos  90  cos  0    0 0 1 

Assim, aplicando a Eq.(24.45) obtém-se:


 '    R   R  
T

 0, 6428 0, 766 0  10 2 1  0, 6428 0, 766 0 


   0, 766 0, 6428 0 2 6 1 10 0, 766 0, 6428 0 
'     6 
    
 0 0 1   1 1 4   0 0 1 
 1, 358 7, 531 1, 409 
    7, 531 5, 358 0,123  10 6
'
 
 1, 409 0,123 4 

Capítulo 24 – Deformações________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 797

24.7 – Deformações Principais para o Caso Tridimensional

Comportamento análogo ao das tensões pode ser observado também nas


deformações. Isto é, existem direções particulares para a descrição das intensidades das
deformações onde as deformações distorcionais são nulas, ocorrendo somente
deformações normais não nulas no corpo. Essas direções são denominadas principais e
as deformações normais nessas direções são conhecidas como deformações principais.
Para se determinar as deformações principais deve-se, como efetuado na Eq.
(23.41), considerar que:

  x     xy  xz  1 
     0 
  yx

 y     yz  2   0 
   
(24.46)
  zx

 zy  z    3  0
 

Para que a solução trivial não seja observada, o determinante da matriz


anteriormente apresentada deve ser nulo. O cálculo do determinante resulta, portanto, a
seguinte equação cúbica:
3  I12  I 2  I3  0 (24.47)
As raízes do polinômio da Eq. (24.47) fornecem as deformações principais, onde
os invariantes do estado de deformação são definidos como:
I1   x   y   z

I 2   x  y   y  z   x z   2xy   2yz   zx2 (24.48)

I 3   x  y  z  2 xy  xz  yz   x  2yz   y  2xz   z  2xy

24.7.1 – Exemplo 6

Determine as deformações principais do seguinte estado de deformação:


  xy  xz 
 x 2 2  10 2 1
  yz  
    xy 2 y   2 6 1  106 .
 2  
  xz  yz   1 1 4 
 2 2
z 
 

Capítulo 24 – Deformações________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 798

Para a determinação das deformações principais neste caso, devem ser,


inicialmente, determinados os valores dos invariantes de deformação. Portanto:
I1   x   y   z  I1  10  6  4  106  I1  8 106

I 2   x  y   y  z   x  z   2xy   2yz   2zx

   110 
2 2
I 2  10 106   6  106   6  106  4 106  10 106  4 106  2 106 6

 
2
 1 106  I 2  5 1011

I 3   x  y  z  2 xy  xz  yz   x  2yz   y  2xz   z  2xy

   
I 3  10 106  6 106  4 106  2  2 106  1 106 1 106

    6 10    110   4 10   2 10 


2 2 2
10 106  1 106 6 6 6 6

I 3  2, 64 1016

Assim, o polinômio cúbico a ser considerado é o seguinte:


 3  8 106  2  5 1011   2, 64 10 16  0

cujas raízes e consequentemente deformações principais são iguais a 1  1,037 105 ,

 2  4 106 e  3  6,367 106 .

24.8 – Deformação Distorcional Máxima Absoluta

De forma análoga ao apresentado no estudo das tensões, pode-se, a partir da


definição das deformações principais, determinar a intensidade da deformação
distorcional máxima absoluta no ponto material em análise.
Considerando um estado de deformação tridimensional, têm-se definidas três
deformações normais e três deformações distorcionais que darão origem, como
anteriormente apresentado, a três deformações principais 1 ,  2 e 3 , que por
simplicidade de notação serão denominadas neste item de  MAX ,  INT e  MIN ,
respectivamente. Se as deformações principais forem ilustradas segundo seus planos de
atuação, obtém-se a representação mostrada na Fig. (24.13), segundo os planos y’z’,
x’z’e x’y’.
Com base na representação ilustrada na Fig. (24.13), pode-se utilizar o círculo de
Mohr para a determinação da deformação distorcional máxima no plano para cada um

Capítulo 24 – Deformações________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 799

dos casos. Conforme previamente apresentado neste capítulo, o diâmetro do círculo de


Mohr é dado pela diferença das deformações principais atuantes no plano em análise.
Além disso, a deformação distorcional máxima no plano é dada pelo diâmetro do
círculo de Mohr.

Figura 24.13 Representação das deformações principais em seus respectivos planos.

Considerando as três representações das deformações consideradas na Fig.


(24.13), podem ser construídos os círculos de Mohr apresentados na Fig. (24.14).
Comparando os três círculos de Mohr da Fig. (24.14), constata-se que a deformação
distorcional máxima absoluta é definida pelo círculo de Mohr que possui o maior raio.
Assim, pode-se definir que a deformação distorcional máxima absoluta é igual a:
 MAX
ABS
 MAX   MIN
   MAX
ABS
 1   3 (24.49)
2 2
No plano onde a deformação distorcional é máxima, a deformação normal é
dada por:
 MAX   MIN 1   3
 MED    MED  (24.50)
2 2

Capítulo 24 – Deformações________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 800

Figura 24.14 Círculo de Mohr para os casos considerados.

Capítulo 24 – Deformações________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 801

25. – Lei de Hooke Generalizada

25.1 –Tensor Constitutivo Elástico

Em elasticidade linear existe uma relação única entre as componentes de tensão


e as componentes de deformação presentes em um dado ponto material. Durante o
capítulo 13, foi apresentada uma lei para o relacionamento dessas grandezas, a qual foi
denominada lei de Hooke. Naquela oportunidade, apenas aplicações envolvendo
problemas unidimensionais foram apresentadas. Neste capítulo, porém, será discutida a
aplicação da lei de Hooke a problemas em que o ponto em análise esteja submetido a
estados planos e triaxiais de tensão e deformação. Nessa situação, a lei de Hooke passa
a ser denominada Lei de Hooke Generalizada. A lei de Hooke generalizada pode ser
expressa por meio da Eq.(25.1):
 x   D11 D12 D13 D14 D15 D16    x 
    
 y   D21 D22 D23 D24 D25 D26    y 
 z   D D32 D33 D34 D35 D36    z 
    D        31   (25.1)
 xy   D41 D42 D43 D44 D45 D46   xy 
 xz   D51 D52 D53 D54 D55 D56   xz 
    
 yz   D61 D62 D63 D64 D65 D66   yz 

O tensor constitutivo  D é formado por elementos que são naturalmente

constantes, os quais dependem do material em consideração e de seu grau de


anisotropia. Como  D  possui ordem igual a 6x6, tem-se, a princípio, 36 constantes

desconhecidas.
No entanto, é possível reduzir o número de constantes desconhecidas de 36 para
21. Para tal fim, deve-se utilizar o Teorema de Maxwell, o qual estabelece condições de
conservação de energia que são observadas em corpos em equilíbrio (este teorema será

Capítulo 25 – Lei de Hooke Generalizada_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 802

apresentado no capítulo 28). Por meio desse teorema verifica-se que o trabalho de  x

sobre  x causado por  y é igual ao trabalho de  y sobre  y causado por  x , por

exemplo. Quando essa hipótese é assumida,  D  torna-se simétrico com 21 coeficientes

desconhecidos.
Quando os 21 coeficientes restantes são independentes, diz-se que o material
apresenta o maior índice de anisotropia possível. Porém, o material pode apresentar
simetria segundo três eixos ortogonais. Nessa situação, tem-se os conhecidos materiais
ortótropos, cujo número de constantes elásticas independentes é igual a 9. Para esses
tipos de material  D  assume a seguinte configuração:

 D11 D12 D13 0 0 0 


D D22 D23 0 0 0 
 21
D D32 D33 0 0 0 
 D    031 0 0 D44 0 0 
 (25.2)

 0 0 0 0 D55 0 
 
 0 0 0 0 0 D66 

sendo: D12  D21 , D13  D31 , D23  D32 .


Deve-se enfatizar que, nesses materiais, as tensões de cisalhamento atuantes
segundo um dos planos de simetria não promovem distorções em outros planos. Assim,
 xy gera apenas  xy . Esta tensão,  xy , não gera  xz nem  yz .
Finalmente, deve-se ressaltar a relação constitutiva para os materiais isótropos.
Nesses materiais, o comportamento mecânico (ou dependência entre   e   ) é o

mesmo em relação a todas as direções. Nesse caso, o tensor constitutivo possui a mesma
forma que apresentado na Eq.(25.2). Porém os componentes deste tensor podem ser
escritos conhecendo-se apenas duas constantes.

25.2 –Relação Constitutiva para Materiais Isótropos

A relação constitutiva para materiais isótropos (materiais que possuem


propriedades mecânicas idênticas ao longo de todas as direções do espaço), a qual
efetua a ligação entre as tensões e as deformações nesses materiais, pode ser facilmente
entendida a partir de um elemento infinitesimal submetido a um conjunto de tensões

Capítulo 25 – Lei de Hooke Generalizada_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 803

normais  x ,  y e  z . O elemento a ser estudado, assim como as deformações

associadas, estão apresentados na Fig. (25.1). Com base nas ilustrações apresentadas
nesta figura, verifica-se claramente que a aplicação de  y e  z gera também  x . Assim,

torna-se intuitivo perceber que a lei de Hooke, na qual  x era produzida apenas por  x ,

deva incluir os efeitos de  y e  z .

Para ilustrar a dependência da deformação normal, ao longo de cada um dos


eixos coordenados, com relação às tensões normais atuantes pode ser efetuada uma
análise empregando-se o princípio da superposição dos efeitos. Por meio desse princípio
é possível definir as deformações e as tensões observadas na ilustração A com base na
soma dos efeitos das tensões e das deformações das ilustrações B, C e D.

A B

C D

Figura 25.1 Análise de um elemento solicitado triaxialmente.

Capítulo 25 – Lei de Hooke Generalizada_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 804

Conforme é do conhecimento do leitor, e apresentado no capítulo 13, sabe-se


que a lei de Hooke, para o caso unidimensional, pode ser escrita como:
  E (25.3)
Além disso, o coeficiente de Poisson, o qual foi também apresentado no capítulo
13, é calculado como base na razão entre as deformações normais orientadas nas
direções transversal e longitudinal do elemento estrutural. Assim, este coeficiente pode
ser escrito da seguinte maneira:
 transversal
 (25.4)
 longitudinal
Portanto, com base nas Eq.(25.3) e Eq.(25.4), pode-se determinar a deformação
normal orientada ao longo do eixo x,  x , produzida pelas tensões normais  x ,  y e  z .

Assumindo-se que o material que compõe o elemento em análise possua módulo de


elasticidade longitudinal igual a E e coeficiente de Poisson igual a  tem-se:
x
de B   xB 
E
 xC  xC y
de C         xC    (25.5)
 yC y E
E
 D
 D
z
de D     x
  x
  xD   
 D
z
z E
E
Consequentemente, a deformação normal  x será calculada superpondo-se as
deformações normais calculadas nos três cenários mostrados na Eq.(25.5). Assim:
x y z
 x   xB   xC   xD   x     
E E E (25.6)
1
 x   x    y   z  
E
Por indução, pode-se também definir que:
1
y   y    x   z  
E (25.7)
1
 z   z    x   y  
E
Assumindo que as tensões de cisalhamento atuantes em um plano não
provoquem distorções em outros planos ortogonais, pode-se escrever que:

Capítulo 25 – Lei de Hooke Generalizada_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 805

 xy  xz  yz
 xy  ;  xz  ;  yz  (25.8)
G G G
Conforme apresentado nas Eq.(25.6), Eq.(25.7) e Eq.(25.8), constata-se que as
deformações estão relacionadas às tensões por meio dos coeficientes E ,  e G . Porém,
o módulo de elasticidade transversal, G , pode ser expresso em função do módulo de
elasticidade longitudinal e do coeficiente de Poisson, E e  . Para demonstrar essa
relação deve-se considerar o estado plano de tensões ilustrado na Fig.(25.2), o qual é
composto por um estado de cisalhamento puro.

Figura 25.2 Estado de cisalhamento puro.

A partir do estado de cisalhamento puro mostrado na Fig.(25.2) é possível obter


as tensões principais rotacionando o elemento considerado de um ângulo igual a 45º,
conforme discutido no capítulo 23. Nessa situação, as tensões principais serão iguais a
 1   xy e  2   xy (essa verificação fica como exercício para o leitor, o qual pode

aplicar as equações apresentadas no capítulo 23). Quando  1 e  2 estão atuando, no


elemento rotacionado de 45º, apenas tensões normais serão observadas.
Consequentemente, a deformação normal ao longo do eixo x ' será  1 e a deformação

normal ao longo do eixo y ' será  2 . Levando esse resultado até as Eq.(25.6) e Eq.(25.7)
obtém-se:
1 1 
 x  1   1   2    1   xy     xy     1  xy 1   
E E E (25.9)
1 1  xy
 y   2   2   1    2    xy   xy   2   1   
E E E

Capítulo 25 – Lei de Hooke Generalizada_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 806

Utilizando os conceitos do círculo de Mohr, sabe-se que o raio deste círculo


corresponde à metade da deformação distorcional máxima no plano. Como o diâmetro
deste círculo é dado pela subtração de  1 e  2 tem-se:

 MAX 1   2
 (25.10)
2 2
Substituindo, na Eq.(25.10), os termos mostrados na Eq.(25.9) obtém-se:
 MAX 1   2
 
2 2
 xy   xy 
 MAX 1       1    
xy

E  E   (25.11)
2 2
2 xy
 xyMAX  1   
E
Sabendo da lei de Hooke que:
 xy  G xy (25.12)

Concluí-se que:
2 xy E
 xy  G 1     G (25.13)
E 2 1   

Portanto, o tensor constitutivo  D  para materiais isótropos pode ser escrito

utilizando apenas E e  . Assim, a lei de Hooke generalizada para estes materiais


assume a seguinte configuração:
1     0 0 0 
  1  0 0 0  
 x    x
     1 0 0 0   
 y   y 
 z  E  0 0 0
1  2  0 0    z  (25.14)
   2  
 xy  1   1  2  
   xy 
 xz   0 0 0 0
1  2  0    xz 
   2  
 yz     
 0 0 0 0 0
1  2    yz 
 2 
De forma explícita, pode-se escrever a Eq.(25.14) como:

Capítulo 25 – Lei de Hooke Generalizada_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 807

1     x     y   z  
E
x 
1   1  2   
E
y  1     y     x   z  
1   1  2  
1     z     x   y  
E
z 
1   1  2   
(25.15)
E
 xy   xy
2 1   
E
 xz   xz
2 1   
E
 yz   yz
2 1   

A Eq.(25.14) pode ser também escrita em termos de deformações. Para isso,


basta que o tensor constitutivo seja invertido. Dessa forma, pode-se também escrever
que:
x  1   0 0 0   x 
    1  0 0 0   y 
 y 
  z  1    1 0 0 0   z 
     (25.16)
 xy  E  0 0 0 2 1    0 0   xy 
 xz  0 0 0 0 2 1    0   xz 
    
 yz   0 0 0 0 0 2 1      yz 

Explicitamente, pode-se também escrever a Eq.(25.16) da seguinte forma:


1
x   x    y   z  
E 
1
 y   y    x   z  
E
1
 z   z    x   y  
E
(25.17)
2 1   
 xy   xy
E
2 1   
 xz   xz
E
2 1   
 yz   yz
E

Capítulo 25 – Lei de Hooke Generalizada_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 808

25.3 –Módulo de Elasticidade Volumétrico

Pode-se também definir um parâmetro que é de grande importância no estudo de


teorias mais avançadas, como a teoria da plasticidade, por exemplo. Os estados de
tensão e deformação podem ser decompostos segundo componentes denominadas
esférica (ou hidrostática) e desviadora (ou anti-esférica). A primeira das duas
componentes está relacionada com as mudanças volumétricas do corpo, enquanto a
segunda com as mudanças em sua forma (distorções).
A variação do volume por unidade de volume é chamada de deformação
volumétrica ou dilatação, podendo ser definida como:
V
e  x y z (25.18)
V
Utilizando os termos da lei de Hooke generalizada apresentados anteriormente,
pode-se reescrever a Eq.(25.18) em função das tensões da seguinte forma:
1  2
e
E
 x   y   z  (25.19)

Admitindo-se que um estado hidrostático de tensões esteja atuando, ou seja,


 x   y   z e  xy   xz   yz  0 , a Eq.(25.19) pode ser assim reescrita:

  y z 
__
E  E
  
x
(25.20)
e 1  2  e 3 1  2 

Como a expressão obtida na Eq.(25.20) assemelha-se à lei de Hooke


unidimensional, o termo constante do segundo membro é conhecido como módulo de
Bulk, ou Módulo de Elasticidade Volumétrico, já que relaciona uma tensão hidrostática
a uma deformação volumétrica.
Por meio da Eq.(25.20) pode-se analisar o que ocorre em um corpo
perfeitamente rígido. Nesse corpo, nenhuma deformação é observada,
consequentemente a deformação volumétrica é nula. Assim, isso conduz a um valor
infinito para o módulo de elasticidade volumétrico. Por outro lado, pode-se facilmente
verificar, pela Eq.(25.20), que o valor máximo possível para o coeficiente de Poisson é
0,50. Deve-se ainda acrescentar que durante a condição de escoamento não é observada
qualquer variação significativa no volume do material, logo   0, 5 no escoamento
plástico.

Capítulo 25 – Lei de Hooke Generalizada_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 809

25.4 –Aplicação da Lei de Hooke Generalizada à Problemas Planos

Para encerrar os assuntos discutidos neste capítulo, será agora apresentada a


particularização da lei de Hooke generalizada a problemas planos. Sabe-se que
problemas tridimensionais elásticos podem muitas vezes ser simplificados, dependendo
da geometria do corpo em análise e das condições de contorno aplicadas, sem perda
significativa de representatividade em problemas planos. A transformação de problemas
tridimensionais em problemas bidimensionais dá origem aos problemas planos, os quais
podem ser divididos em plano de tensão e plano de deformação.
Um problema é dito ser plano de deformação quando os vetores de
deslocamento dos pontos pertencentes ao corpo em questão são paralelos entre si.
Portanto, todos os pontos originalmente pertencentes a um plano, antes de o corpo ser
deformado, permanecem nesse mesmo plano após a atuação das ações externas. Nesta
classe, enquadram-se problemas cuja geometria apresenta uma de suas dimensões muito
superior às demais, como em barragens, túneis e estruturas de contenção. Assumindo
que o plano formado pelas duas menores dimensões do corpo seja o xy, apenas as
deformações  x ,  y e  xy serão não nulas. Apesar das deformações orientadas ao longo

do eixo z serem nulas, verifica-se, por meio da lei de Hooke generalizada, que a tensão
normal nesta direção não o será. Nos problemas planos de deformação, a tensão normal
orientada na direção perpendicular ao plano onde atuam as deformações não nulas é
determinada com base nas tensões normais atuantes neste plano. Para isso, considere a
expressão para cálculo de  z , dada na Eq.(25.17).

1
z   z    x   y    0   z    x   y  (25.21)
E 

Dessa forma, nos problemas planos de deformação, os tensores de tensão e


deformação são compostos por:
x  xy 0  x  xy 0
    xy y 0      xy y 0  (25.22)
 0 0 0   0 0  z 

Já os problemas planos de tensão são caracterizados pela distribuição


essencialmente plana das tensões no domínio do corpo em análise. Corpos cuja
geometria apresente uma dimensão muito menor que as outras duas, como chapas e

Capítulo 25 – Lei de Hooke Generalizada_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 810

paredes finas, e, além disso, o carregamento atue de forma paralela ao plano da


estrutura, enquadram-se neste caso.
Nos problemas planos de tensão, apenas as componentes de tensão atuantes no
plano da estrutura são não nulas. Assumindo que o plano formado pelas duas maiores
dimensões do corpo seja o xy, as únicas componentes de tensão não nulas serão
 x ,  y e xy . No entanto, embora a tensão normal  z seja nula nesta classe de
problema, constata-se que a deformação normal orientada na direção z será diferente de
zero. Esse resultado pode ser obtido utilizando-se as expressões da lei de Hooke
generalizada apresentadas na Eq.(25.17). Nos problemas de estado plano de tensão, a
deformação normal orientada ao longo da direção perpendicular ao plano da estrutura
pode ser obtida em função das tensões normais atuantes no plano da estrutura. Assim:
1
z   z    x   y  
E 
sabendo que  z  0 (25.23)

z  
E
 x  y 

Deve-se salientar que nos estados planos, todas as relações já mostradas


anteriormente permanecem válidas. Porém, essas são significativamente simplificadas
pelo fato de algumas tensões e deformações serem nulas.

25.4.1 – Exemplo 1

Uma dada estrutura está submetida a um estado plano de tensão. Nessa estrutura,
um conjunto de extensômetros (roseta) foi posicionado com inclinação de 45,
conforme mostrado na Fig.(25.3). Sabendo que o material que compõe a estrutura tem
as seguintes propriedades mecânicas E  200 GPa e   0, 30 e que as leituras dos

extensômetros resultaram  a  60 106 ,  b  135 10 6 e  c  264 106 determine os

tensores completos de deformação e tensão do referido ponto material.


Para que este problema seja resolvido, deve-se, primeiramente, obter as
componentes de deformação atuantes no plano da estrutura. Para isso, pode-se utilizar a
Eq.(24.17), apresentada no capítulo 24. Assim:
x y x y  xy
 x'   cos  2   sen  2 
2 2 2

Capítulo 25 – Lei de Hooke Generalizada_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 811

x   y x y  xy
A   cos  2  0   sen  2  0 
2 2 2
x   y x y  xy
B   cos  2  45  sen  2  45
2 2 2
x   y x  y  xy
C   cos  2  90   sen  2  90 
2 2 2
Organizando em forma matricial o sistema de três equações anteriormente
apresentado obtém-se:

 1 0 0    x   60    x   60 
0,5 0,5 0,5     135  106       264  106
  y     y  
 0 1 0   xy   264  xy   54
 

Figura 25.3 Roseta.

Como o problema em questão é plano de tensão, as componentes de tensão


podem ser facilmente determinadas com base nas deformações atuantes no plano da
estrutura. Assim, utilizando as Eq.(25.17) obtém-se:
1 1
x   x    y   z    60 10 6   x  0, 30 y  
E   200
0, 012   x  0, 30 y
1 1
y 
E
 y    x   z    264 10 6 
200
 y  0, 30 x  
0, 0528   y  0, 30 x

Organizando as duas equações anteriores em um sistema matricial e resolvendo-


o tem-se:

Capítulo 25 – Lei de Hooke Generalizada_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 812

 1 0, 3   x   0, 012   x   0, 030593 


 0, 3           GPa
 1   y   0, 0528   y   0, 061978 
A tensão de cisalhamento atuante é calculada facilmente, como mostrado na
Eq.(25.17), ou seja:
2 1    2 1  0, 30 
 xy   xy   54 10 6   xy   xy  0, 004154 GPa
E 200
Como o problema é plano de tensão, o tensor de tensões fica assim definido:
 x  xy  xz   0, 030593 0, 004154 0 
 
    xy  y  yz       0, 004154 0, 061978 0  GPa
 xz  yz  z   0 0 0 

A deformação orientada ao longo do eixo z é dada em função das deformações
atuantes no plano xy. Utilizando os dados apresentados na Eq.(25.23) tem-se:
 0, 30
z  
E
 x  y   z  
200
 0, 030593  0, 061978  
 z  138,856 10 6
Portanto, o tensor das deformações pode ser escrito como:
x  xy  xz   60 54 0 
    10 6
    xy y  yz       54 264 0 
 xz  yz  z   0 0 138,856 

25.4.2 – Exemplo 2

A Fig. (25.4) representa um estado de tensão principal formado pelas seguintes


tensões  x  70 MPa ,  y  105MPa e  z  182 MPa . Se o material possui

E  5, 60 GPa e   0, 23 , determine as deformações principais.


Para que esse problema seja resolvido, deve-se, inicialmente, escrever o estado
de tensão atuante no ponto em análise. Com base no apresentado na Fig. (25.4) obtém-
se:
 x  xy  xz   70 0 0 
    xy 
 y  yz       0 105 0  MPa

  yz  z 
 xz  0 0 182 

Empregando as expressões apresentadas na Eq.(25.17), pode-se escrever que:

Capítulo 25 – Lei de Hooke Generalizada_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 813

1
x   70  0, 23  105  182     x  0, 0242875
5600 
1
y   105  0, 23  70  182     y  0, 01415
5600 
1
z   182  0, 23  70  105     z  0, 0310625
5600 
Com base no calculado anteriormente pode-se escrever que:
1   x ;  2   y ;  3   z

Figura 25.4 Estado de tensão atuante.

Deve-se enfatizar que as direções de atuação das deformações principais são as


mesmas das tensões principais.

Capítulo 25 – Lei de Hooke Generalizada_____________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 814

26. – Critérios de Falha

26.1 –Introdução

Quando, em um dado projeto de engenharia, necessita-se especificar um material


para a composição de uma estrutura ou sistema estrutural, deve-se levar em
consideração a intensidade das tensões atuantes. Como cada material apresenta uma
capacidade própria/particular para resistir a um dado estado de tensão, torna-se
necessária a imposição de um limite superior ao estado de tensão no material de forma a
definir, configurar e prevenir a falha do material.
Os materiais de uso corrente em engenharia podem ser, normalmente,
classificados em dois grandes grupos segundo sua capacidade de absorção de
deformação. O primeiro deles, denominado frágil, abrange os materiais que falham sob
níveis de deformação consideravelmente pequenos. O outro grupo, que envolve
materiais cujas deformações no instante da falha são significativamente maiores que nos
materiais frágeis, é denominado dúctil. Existem alguns materiais, como o concreto, que
apresentam características comuns dos dois grupos no instante da falha. Costuma-se
referenciar materiais como o concreto e outros materiais cimentícios e cerâmicos, como
quase frágeis.
Quando materiais dúcteis são considerados, a falha é usualmente caracterizada
pelo início do escoamento do material, enquanto nos materiais frágeis, a falha é
caracterizada pela fratura ou ruptura frágil do material (no concreto observa-se ruptura
frágil à tração e ruptura com amolecimento (softening) à compressão).
Esses tipos de falhas são prontamente detectados caso o elemento estrutural
esteja sujeito a um estado uniaxial de tensões, como em uma barra tracionada ou
comprimida. Porém, a avaliação sobre a falha do material torna-se mais complexa
quando estão envolvidos estados bi e triaxiais de tensões. Para ilustrar a complexidade

Capítulo 26 – Critérios de Falha_____________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 815

dos problemas bi e tridimensionais, devem ser considerados os elementos estruturais


apresentados na Fig. (26.1), os quais estão submetidos a diferentes solicitações. A
questão que pode ser colocada é a seguinte: qual elemento irá falhar primeiro?

Figura 26.1 Elementos submetidos a estados unidimensionais e bidimensionais de tensão.

Analisando as ilustrações apresentadas na Fig. (26.1), observa-se que na


estrutura onde atua a força confinante F a ruptura irá ocorrer sob carregamentos P mais
elevados se comparado ao da outra estrutura ilustrada. Esse aumento na capacidade de
resistência da estrutura deve-se à presença do confinamento gerado pela força F. Por
esse motivo, em esportes como o levantamento de peso o atleta utiliza um cinto para
não prejudicar sua coluna. Usando a mesma ideia, reforços estruturais podem ser
concebidos. Dessa forma, pilares e vigas podem ser revestidos (“encamisados”) com
fibra de carbono objetivando gerar o confinamento.
Deve-se salientar também que heterogeneidades e falhas iniciais podem fazer
com que o material comporte-se de forma frágil ou dúctil, segundo o estado de tensão
atuante. Assim, a capacidade resistente dos materiais é o resultado de uma combinação
de efeitos, o que torna árdua a tarefa de formular matematicamente a previsão dos
estados limites em situações mais complexas de solicitação. No entanto, identificar
estados de solicitação que possam exceder a capacidade de resistência dos materiais é
uma tarefa de grande importância para a realização de projetos seguros. Portanto, é
preciso buscar bases ou critérios que permitam efetuar tal julgamento. Para tal, podem
ser utilizados critérios de resistência, ou critérios de ruptura, ou ainda critérios de falha,

Capítulo 26 – Critérios de Falha_____________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 816

para avaliar se o estado de tensão em um ponto ultrapassa ou não a resistência do


material.
O objetivo de um critério de resistência é permitir a identificação de situações de
ruptura local considerando, inclusive, combinações mais complexas de solicitações
(estados duplos e triplos de tensões). Baseando-se em hipóteses plausíveis sobre o
fenômeno responsável pela ruptura, um dado critério pode ser expresso
matematicamente na forma de uma função que relaciona componentes do tensor de
tensões à resistência ou parâmetros de resistência do material. Tal função pode ainda ser
escrita em termos das tensões principais, representada numa forma implícita como:
f  1 ,  2 ,  3   0 (26.1)

sendo que a função f determina o limite entre as regiões de falha e segurança. Se a


Eq.(26.1) for atendida tem-se o domínio de segurança.
Na sequência deste capítulo serão apresentados alguns critérios de resistência
comumente utilizados em aplicações de engenharia. Deve-se destacar que estes critérios
serão brevemente apresentados nestas notas. Para maiores detalhes sobre as formulações
o leitor pode recorrer a livros que tratam da teoria da plasticidade.

26.2 –Critério de Ruptura de Tresca

Esse critério de resistência foi desenvolvido por Henri Tresca em 1868, sendo
largamente utilizado nos dias atuais para a previsão da falha de pontos materiais
pertencentes a materiais dúcteis. Nestes materiais, a falha é frequentemente observada
quando a estrutura entra em regime de escoamento. Na fase de escoamento, o estado de
tensão atuante supera o limite elástico do material causando assim deformações
permanentes na estrutura, as quais não são desejadas.
Durante o escoamento ocorre o deslizamento dos cristais constituintes do
material, os quais não são perfeitamente ordenados, ao longo de seus planos de contato.
Esse deslizamento é provocado pelas tensões de cisalhamento atuantes no corpo, como
indica a Fig. (26.2), e a deformação permanente decorre da acomodação dos cristais em
sua nova posição.
Esse fenômeno é facilmente observado em ensaios experimentais de tração
uniaxial em barras de aço, onde a falha ocorre em um plano inclinado de 45º com o

Capítulo 26 – Critérios de Falha_____________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 817

plano de atuação de carga, como mostrado na Fig. (26.3). Consequentemente, parece


intuitivo que esse critério de ruptura deva relacionar a condição de falha à tensão de
cisalhamento resistente do material, uma vez que a falha ocorre nos planos onde as
tensões de cisalhamento são máximas.

Figura 26.2 Deslizamento dos cristais do material.

Figura 26.3 Planos de falha em materiais dúcteis.

Segundo Tresca, a teoria da máxima tensão cisalhante ou critério de Tresca,


estabelece que o escoamento do material inicia-se quando a tensão de cisalhamento
máxima absoluta atuante no material atinge a tensão de cisalhamento que causa o
escoamento, no mesmo material, ao ser submetido apenas a uma tração axial. Dessa
forma, esse critério pode ser expresso como:
 MAX
ABS
  RESISTENTE
1   3 E (26.2)

2 2
onde  E é a tensão de escoamento do material quando submetido a um ensaio de tração

uniaxial. Quando a Eq.(26.2) é atendida observa-se a condição de segurança. Se o


problema analisado é do tipo plano de tensão, as expressões apresentadas na Eq.(26.2)
possuem uma representação gráfica. Considerando que o sistema de coordenadas seja

Capítulo 26 – Critérios de Falha_____________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 818

definido pelas tensões principais no plano, a Eq.(26.2) assume a representação gráfica


mostrada na Fig. (26.4).

Figura 26.4 Representação gráfica do critério de Tresca para o caso plano de tensão.

Por meio da ilustração apresentada na Fig.(26.4), constata-se que os pontos


representativos do estado de tensão atuante que encontram-se dentro do polígono
hexagonal estão em condição de segurança. Já os pontos que estão posicionados fora do
polígono representam estados de tensão impossíveis de serem observados, já que a falha
estrutural ocorrerá antes do ponto sair da superfície de falha.
Se problemas tridimensionais forem considerados, a representação gráfica da
Eq.(26.2) assume a forma de uma superfície hexagonal no espaço, caso esta seja
representada considerando um sistema de coordenadas definido pelas tensões principais,
como indica a Fig. (26.5).

Figura 26.5 Representação gráfica do critério de Tresca para o caso tridimensional

Capítulo 26 – Critérios de Falha_____________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 819

O eixo no qual  1   2   3 é conhecido como eixo hidrostático, sendo que o


centro de gravidade da seção transversal desta superfície hexagonal localiza-se ao longo
deste eixo. Se o ponto representativo do estado de tensão em análise localiza-se de
forma interna a superfície mostrada na Fig. (26.5) tem-se condição de segurança. Do
contrário observa-se a condição de falha.

26.3 –Critério de Ruptura de Von Mises

Esse critério de ruptura, também conhecido na literatura como teoria da máxima


energia de distorção, foi formulado inicialmente por Maxwell em 1865. Porém, o
critério é atribuído a Von Mises, em seu trabalho “Advanced Mechanics of Materials”
de 1913. Esse critério de ruptura, o qual foi concebido com base em evidências
experimentais, é largamente utilizado na previsão da falha de materiais dúcteis.
Segundo ensaios experimentais realizados em laboratórios, observou-se que
alguns materiais não atingiam o escoamento quando submetidos a estados hidrostáticos
de tensão. Nessa condição, as tensões normais atuantes nas faces do elemento são
1   2   3
idênticas e dadas por  MED  . Como nesse caso o escoamento não é
3
observado, conclui-se que a energia de deformação produzida pelo estado hidrostático
de tensões deve ser desconsiderada para a caracterização da falha.
Consequentemente, segundo as premissas deste critério, o escoamento de um
material dúctil ocorre quando a energia de distorção por unidade de volume do material
for igual ou superior à energia de distorção por unidade de volume do mesmo material
quando ele atinge o escoamento em um ensaio de tração. Sabe-se que a energia de
deformação total é dada por:
1
U   ij  ij (26.3)
2
A Eq.(26.3) representa a área sob a curva  x  para um material de
comportamento mecânico elástico linear. Considerando o estado de tensão escrito com
base nas tensões principais, a energia de deformação total, Eq.(26.3), pode ser reescrita
como:

Capítulo 26 – Critérios de Falha_____________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 820

1 1 1
U   1 1   2 2   3 3 (26.4)
2 2 2
Usando as expressões da lei de Hooke generalizada, a Eq.(26.4) assume a
seguinte forma:
1
U  12   22   32  2  1 2   1 3   2 3   (26.5)
2E
Como a Eq.(26.5) representa a energia de deformação total, deve-se subtrair a
contribuição referente ao estado hidrostático de tensões, a qual, segundo observações
experimentais, não contribui para a falha. Para tal fim, deve-se subtrair
1   2   3
 MED  de cada tensão principal atuante no problema. Efetuando este
3
procedimento, obtém-se a energia de distorção por unidade de volume, a qual pode ser
escrita como:
1 
 1   2    2   3    3   1  
2 2 2
U DISTORÇÃO  (26.6)
6E 
Na condição de falha, a energia de distorção u DISTORÇÃO dada pela Eq.(26.6) deve

ser igual à energia de distorção da falha de um corpo uniaxialmente carregado. Quando


o corpo encontra-se uniaxialmente carregado tem-se que  1   E ,  2   3  0 . Assim,
a Eq.(26.6) pode ser reescrita da seguinte forma:
1 
  E  0  0  0  0   E   
2 2 2
UNIAXIAL
U DISTORÇÃO 
6E  
(26.7)
1 2
U UNIAXIAL
 E
DISTORÇÃO
3E
Considerando a condição de falha, pode-se escrever que:
1  1 2
  1   2    2   3    3   1   
2 2 2

6E   3E E (26.8)
 1   2    2   3    3   1   2 E
2 2 2

A última equação apresentada na Eq.(26.8) representa a expressão geral do


critério de Von Mises. Para problemas planos de tensão, ou seja,  3  0 , a equação do
critério de Von Mises pode ser particularizada da seguinte forma:
 12   1 2   22   E2 (26.9)

Com base nos conhecimentos da geometria analítica, constata-se que a expressão


apresentada na Eq.(26.9) representa uma elipse no sistema de coordenadas das tensões

Capítulo 26 – Critérios de Falha_____________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 821

principais, como mostra a Fig.(26.6). O domínio de segurança é representado pelo


conjunto de pontos pertencentes ao interior do contorno da elipse. Já os pontos
exteriores à elipse representam estados de tensão não possíveis, já que a falha do corpo
ocorrerá antes destes estados de tensão serem atingidos.

Figura 26.6 Representação gráfica do critério de Von Mises para o caso plano de tensão.

Para problemas tridimensionais, a representação gráfica da Eq.(26.8), segundo a


geometria analítica, resulta um cilindro, se representado no sistema de referência
definido pelas tensões principais, cujo centro de gravidade de sua seção transversal está
localizado ao longo do eixo hidrostático, como mostra a Fig. (26.7).

Figura 26.7 Representação gráfica do critério de Von Mises para o caso tridimensional

Capítulo 26 – Critérios de Falha_____________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 822

Os pontos localizados de forma interna ao cilindro indicam estados de tensão em


segurança, enquanto que pontos externos ao cilindro indicam estados de tensão que
induzem a falha do material. Deve-se salientar que o critério de Von Mises considera a
influência da tensão principal intermediária,  2 , o que não é feito pelo critério de

Tresca.

26.4 –Comparativo entre os Critérios de Tresca e Von Mises

Os critérios de resistência de Tresca e de Von Mises, discutidos anteriormente,


foram propostos para a previsão da falha de corpos formados por materiais dúcteis.
Entretanto, existe uma ligeira diferença entre a previsão da condição de falha dada por
ambos os critérios em situações em que o corpo em análise encontra-se solicitado por
um estado de cisalhamento puro.
Para a visualização de tal diferença, os dois critérios de resistência podem ser
representados conjuntamente no espaço das tensões principais assumindo-se um estado
plano de tensão. Esta representação é mostrada na Fig. (26.8).

Figura 26.8 Representação gráfica dos critérios de Tresca e Von Mises para o caso plano de tensão.

Observa-se, por meio da ilustração apresentada na Fig. (26.8), que os critérios


concordam entre si sobre a previsão da falha quando uma das tensões principais no

Capítulo 26 – Critérios de Falha_____________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 823

plano é nula. Porém, para os demais pontos existem pequenas diferenças. Em especial, é
interessante discutir a diferença na previsão do cenário de falha entre os critérios
quando um estado de cisalhamento puro atua sobre o corpo em análise. Nessa condição,
constata-se que o critério de Von Mises admite um estado de tensão aproximadamente
15% mais elevado que o previsto pelo critério de Tresca. Resultados experimentais em
corpos de prova submetidos à torção pura (situação em que tem-se um estado de
cisalhamento puro) indicam que o critério de Von Mises é mais preciso na previsão de
falha.
Em análises tridimensionais, a representação conjunta das superfícies de falha
dos critérios de Tresca e Von Mises resulta a ilustração apresentada na Fig. (26.9).
Verifica-se que a superfície cilíndrica de Von Mises circunscreve a superfície hexagonal
de Tresca, sendo que a diferença máxima entre elas ocorre na presença de estados de
tensão relacionados ao cisalhamento puro. Além disso, observa-se que as superfícies são
coincidentes nos pontos de derivadas não contínuas pertencentes à superfície de Tresca.

Figura 26.9 Representação gráfica dos critérios de Tresca e Von Mises para o caso tridimensional.

Capítulo 26 – Critérios de Falha_____________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 824

26.5 –Critério de Ruptura de Rankine

Este critério de ruptura foi proposto por Rankine, em meados do século XIX,
objetivando a previsão da falha de corpos formados por materiais frágeis. Os materiais
frágeis são aqueles em que, na iminência da ruptura, observa-se a ausência de
deformações plásticas e baixos níveis de deformação. A ruptura desses materiais quase
sempre ocorre de forma brusca, ou seja, após um determinado nível de solicitação,
ocorre a fratura do corpo. Materiais como vidros, ferro fundido e fibras são
considerados frágeis.
Nos materiais frágeis, a ruptura ocorre quando a máxima tensão principal
alcança a resistência última do material. Assim, em materiais frágeis submetidos a um
ensaio de tração uniaxial, a falha ocorrerá quando a tração aplicada,  1 , ultrapassar a

tensão de ruptura do material,  r . No caso de uma barra solicitada por uma torção pura,

por exemplo, a falha ocorrerá em um plano inclinado de 45º com o eixo da barra. A
falha ocorrerá nessa posição uma vez que é nessa inclinação que atuam as tensões
principais  1 , como indica a ilustração apresentada na Fig. (26.10).

Figura 26.10 Ruptura de materiais frágeis a dois diferentes tipos de solicitação.

Esse critério, também conhecido como teoria da máxima tensão normal,


estabelece que um material frágil falhará quando uma das tensões principais atuantes no
material atingir um valor limite igual à tensão normal última que o material resiste
quando sujeito a uma tração simples. Matematicamente esse critério pode ser expresso
por:
1   r e  3   r (26.10)

Capítulo 26 – Critérios de Falha_____________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 825

Quando problemas planos de tensão são considerados, o critério de Rankine


possui uma representação gráfica, a qual está mostrada na Fig.(26.11).

Figura 26.11 Representação gráfica do critério Rankine para o caso plano de tensão.

Os pontos representativos do estado de tensão no corpo que se encontram


internamente posicionados no quadrado apresentado na Fig. (26.11) estarão em
condição de segurança. Do contrário tem-se configurada a falha.
No contexto tridimensional, a representação gráfica do critério de Rankine
resulta um cubo, se ilustrado no espaço das tensões principais, com centro no ponto
onde as tensões principais são nulas tendo comprimento de aresta igual a 2 r . A
condição de segurança é observada se o ponto representativo do estado de tensão
localiza-se internamente a este cubo.

26.6 –Critério de Ruptura de Mohr

Este critério de ruptura foi proposto em 1900 para a previsão da falha de


materiais frágeis que possuem tensões resistentes últimas diferentes quando solicitados
à tração e à compressão. Alguns materiais frágeis rompem diferentemente quando
submetidos a estados de tensão trativos e compressivos. Dentre estes materiais destaca-
se o concreto, largamente utilizado em aplicações civis.
Para a utilização do critério de ruptura de Mohr, devem ser conhecidas as
tensões resistentes do material quando este é submetido a:

Capítulo 26 – Critérios de Falha_____________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 826

1) um estado de tração uniaxial,  r t .

2) um estado de compressão uniaxial,  r c .

3) um estado de cisalhamento puro,  r .

Os valores de  r t ,  r  c e  r podem ser obtidos por meio de ensaios

experimentais que representem as condições 1 a 3 apresentadas anteriormente. Em


seguida, traçam-se os círculos de Mohr para cada uma das condições de carregamento
apresentadas nos itens 1 a 3. A representação dos círculos de Mohr para estas condições
pode ser visualizada na Fig. (26.12). Os círculos A, B, C representam estados de tensão
na ruptura de 2, 1, 3, respectivamente.
Os três círculos de Mohr apresentados na Fig. (26.12) delimitam uma envoltória
de estados de tensão admissível. Essa envoltória é obtida tangenciando-se os círculos de
Mohr para as condições 1 a 3. Se essa envoltória for delimitada por uma simples linha
reta, este critério recebe o nome de critério de Mohr-Coulomb. Assim, se o estado de
tensão atuante no corpo em análise gerar um círculo de Mohr completamente contido no
interior da envoltória, o estado de tensão é admissível e, portanto o corpo encontra-se
em segurança. Caso contrário, observar-se a falha.

Figura 26.12 Círculos de Mohr para o traçado do critério de ruptura de Mohr.

Para problemas de estado plano de tensão, ou seja  3  0 , o critério de Mohr

possui a representação gráfica mostrada na Fig. (26.13). Verifica-se que este critério
leva em consideração as diferentes resistências do material quando solicitado à tensões

Capítulo 26 – Critérios de Falha_____________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 827

de tração e de compressão. Para o caso plano de tensão, o critério pode ser expresso
matematicamente como:
1) se  1 e  2  0   1    r  c e  2    r  c
2) se  1 e  2  0   1   r  t e  2    r t
 r t
3) se  1  0 e  2  0  2     r t (26.11)
 r  c 1
 
4) se  1  0 e  2  0   2  r c  1   r  c
 r t

Figura 26.13 Representação gráfica do critério de Mohr para o caso plano de tensão.

De uma maneira geral, o critério de Mohr-Coulomb pode ser escrito na seguinte


forma:
  c   tan   (26.12)

onde c representa a coesão do material e  o ângulo de atrito. Ambos os parâmetros


podem ser determinados experimentalmente com base em ensaios de compressão e
cisalhamento simples. Com base no círculo de Mohr desses dois ensaios, os parâmetros
c e  são obtidos como indicado na Fig. (26.14).

Reescrevendo a Eq.(26.12) utilizando as tensões principais obtém-se:


 
 1   3  cos    c    1   3   1 3 sen    tan   
1 1
2 2 2  (26.13)
 1 1  sen      3 1  sen     2c cos  

Capítulo 26 – Critérios de Falha_____________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 828

Figura 26.14 Obtenção da coesão e ângulo de atrito material.

Assim, para o caso geral pode-se escrever o critério de Mohr Coulomb como:
 1 1  sen      3 1  sen     2 c cos   (26.14)

Se a Eq.(26.14) for atendida observa-se a condição de segurança. O critério de


Mohr-Coulomb, Eq.(26.14), possui uma representação tridimensional interessante. Esta
representação é mostrada na Fig. (26.15) sendo a figura resultante um hexágono
irregular definido no espaço das tensões principais. Observa-se a condição de segurança
se o ponto representativo do estado de tensão em estudo encontrar-se internamente
posicionado ao hexágono.

Figura 26.15 Representação gráfica do critério de Mohr para o caso tridimensional.

Capítulo 26 – Critérios de Falha_____________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 829

26.7 –Critério de Ruptura de Drucker-Prager

Este critério de ruptura foi proposto por Drucker-Prager em 1952, sendo


considerado na literatura como uma extensão do critério de Von Mises. O critério de
Drucker-Prager é aplicável à materiais que apresentam diferentes respostas mecânicas
quando solicitado a tensões de tração e de compressão. No critério de Drucker-Prager, o
qual é aplicável à representação da ruptura de materiais frágeis, a influência da tensão
hidrostática, desconsiderada na formulação do critério de Von Mises, é incluída.
Portanto, este critério de ruptura pode ser assim escrito:

 1   2     2   3    3   1     1   2   3   K
2 2 2
(26.15)

Se a equação anterior for atendida observa-se a condição de segurança. Do


contrário, tem-se a condição de falha material. Além disso, deve-se enfatizar que se
  0 e K  2 E recupera-se o critério de Von Mises.
No sistema de coordenadas definido pelas tensões principais, a Eq.(26.15) define
uma superfície cônica de base circular, conforme mostra a Fig. (26.16). Se o ponto
representativo do estado de tensão estiver localizado internamente ao cone definido pelo
critério, tem-se condição de segurança. Caso contrário a falha material é observada.

Figura 26.16 Representação gráfica do critério de Drucker-Prager para o caso tridimensional.

Da mesma forma que o critério de Von Mises é uma versão suavizada do critério
de Tresca, como mostrado na Fig. (26.8), o critério de Drucker-Pager também pode ser

Capítulo 26 – Critérios de Falha_____________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 830

considerado como uma versão suavizada do critério de Mohr-Coulomb. Portanto, as


variáveis  e K introduzidas na Eq. (26.15) assumem definições diferentes segundo o
ajuste desejado entre as superfície dos dois critérios. Esse ajuste é normalmente
efetuado fazendo-se coincidir os vértices externos ou internos da superfície hexagonal
irregular do critério de Mohr-Coulomb à superfície cônica dada pelo critério de
Drucker-Prager. Portanto, se esse ajuste for efetuado considerando os vértices externos
de Mohr-Coulomb, como mostra a Fig. (26.17), essas variáveis ficam assim definidas:
2sen   6c cos  
 K (26.16)
3  3  sen    3  3  sen   

Portanto, com base nos valores da Eq.(26.16), o cone de Drucker-Prager


circunscreve a superfície de Mohr-Coulomb, conforme mostra a Fig. (26.17). Já se o
ajuste for efetuado pelos vértices internos de Mohr-Coulomb, esses parâmetros
assumem os seguintes valores:
2sen   6c cos  
 K (26.17)
3  3  sen    3  3  sen   

O que faz com que o cone de Drucker-Prager seja circunscrito pela superfície de
Mohr-Coulomb, como indica a Fig. (26.17). Os parâmetros  e c que surgem nas
Eq.(26.16) e Eq.(26.17) são denominados de ângulo de atrito e coesão material,
respectivamente, os quais são propriedades materiais. Tais parâmetros são obtidos de
ensaios experimentais, sendo dados em relação à superfície de Mohr-Coulomb, sendo 
sua inclinação e c sua intersecção com o eixo da tensão de cisalhamento, como
mostrado no item anterior.

Figura 26.17 Ajuste dos critérios de Mohr-Coulomb e Drucker-Prager.

Capítulo 26 – Critérios de Falha_____________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 831

26.8 –Aplicações dos Critérios de Falha

26.8.1 – Exemplo 1

Em um corpo submetido a um estado plano de tensão atua o estado de tensão


mostrado na Fig. (26.18). Verifique se a falha ocorrerá utilizando os critérios de ruptura
de Von Mises e Tresca. Sabe-se que  E  36 MPa .

Com base na ilustração apresentada na Fig. (26.18) verifica-se que o estado de


tensão atuante pode ser assim definido:
  xy   20 18 
    x 
 y  18 12 
MPa
 xy

Figura 26.18 Estado de tensão considerado. Tensões dadas em MPa.

Para este estado de tensão, as tensões principais são dadas por:


2
x  y   x  y  20  12  20  12 
2

   xy    1,2    18 
2 2
 1,2     
2  2  2  2 
 1,2  4  24, 0832
 1  28, 0832 MPa  2  20, 0832 MPa
Com base nas intensidades das tensões principais no plano, pode-se “ranqueá-
las” para que as tensões principais sejam obtidas. Assim:
1   2   3
 1  28, 0832 MPa 2  0  3  20, 0832 MPa
Por meio da Eq.(26.8) verifica-se o critério de Von Mises. Assim:

Capítulo 26 – Critérios de Falha_____________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 832

 1   2    2   3     3   1 
2 2 2
 2 E 

 28, 0832  0    0  20, 0832    20, 0832  28, 0832   36 2


2 2 2

59, 2622  50, 91
Portanto, o estado de tensão atuante não atende ao critério de Von Mises. Dessa
forma, a falha ocorrerá de acordo com a previsão do critério de Von Mises.
Quanto ao critério de Tresca, deve-se verificar se a Eq.(26.2) é atendida.
Portanto:
1   3 E
 
2 2
28, 0832  20, 0832 36
  24, 0832  18
2 2
Como a Eq.(26.2) não é atendida, constata-se que a falha também ocorrerá com
base na previsão realizada por meio do critério de Tresca.

26.8.2 – Exemplo 2

Sabendo que o estado de tensão em um ponto submetido a um estado plano de


tensão é o apresentado na Fig. (26.19), determine o valor mínimo da tensão de
escoamento do material utilizando o critério de Tresca.

Figura 26.19 Estado de tensão considerado. Tensões dadas em MPa.

Capítulo 26 – Critérios de Falha_____________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 833

Com base na ilustração apresentada na Fig. (26.19) verifica-se que o estado de


tensão atuante pode ser assim escrito:
  xy   8 4 
    x 
 y   4 10 
MPa
 xy

Para este estado de tensão, as tensões principais são dadas por:


2
x  y    y  8  10  8  10 
2

   xy    4
2 2
 1,2    x   1,2   
2  2  2  2 
 1,2  1  9,8489
 1  8,8489 MPa  2  10,8489 MPa
Com base nas intensidades das tensões principais no plano, pode-se “ranqueá-
las” para que as tensões principais sejam obtidas. Assim:
1   2   3
 1  8,8489 MPa 2  0  3  10,8489 MPa
O critério de Tresca é dado pela Eq.(26.2). Assim:
1   3 E
 
2 2
8,8489  10,8489 E E
  9,8489    E  19, 6978 MPa
2 2 2

26.8.3 – Exemplo 3

A Fig. (26.20) mostra o estado de tensão crítico para uma estrutura de concreto
em condição plana de tensão. Considerando que a resistência à tração do concreto é
10% de sua resistência à compressão, segundo o critério de Mohr-Coulomb, determine
qual deve ser a resistência à compressão mínima para o concreto dessa estrutura.

Figura 26.20 Estado de tensão crítico. Tensões dadas em MPa.

Capítulo 26 – Critérios de Falha_____________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 834

Considerando o estado de tensão crítico, verifica-se que este é caracterizado pelo


seguinte tensor:
  xy   15 7 
    x 
 y   7 0 
MPa
 xy

Portanto, as tensões principais apresentam os seguintes valores:


2
x  y    y  15  0  15  0 
2

   xy    1,2    7
2 2
 1,2    x  
2  2  2  2 
 1,2  7, 5  10, 259
 1  2, 759 MPa  2  17, 759 MPa
O par de valores  1 e  2 determinado anteriormente pode ser inserido na

representação gráfica plana do critério de Mohr-Coulomb, Fig. (26.13). Efetuando esta


representação, obtém-se a ilustração apresentada na Fig. (26.21).

Figura 26.21 Representação do critério de Mohr-Coulomb e o estado crítico de tensão.

Dada a linearidade da representação gráfica apresentada na Fig. (26.21), pode-se

efetuar uma semelhança de triângulos para a determinação da resistência a compressão

do concreto. Assim, pode-se escrever que:

Capítulo 26 – Critérios de Falha_____________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 835

C  T
 C  17, 759   2, 759 

2, 759 C   C T  17, 759 T

Sabendo que  C  0,10 T tem-se:

2, 759 C   C 0,10 C  17, 759  0,10 C  0,10 C  4, 5349 


 C  45, 349 MPa

26.9 –Comentários Gerais Sobre Outros Critérios de Ruptura

Além dos critérios de ruptura anteriormente descritos neste capítulo, diversos


outros critérios são também apresentados na literatura para a previsão do colapso
mecânico material. Tais critérios diferenciam-se com relação a dependência do número
de parâmetros materiais em sua definição, na consideração ou não da influência de
estados hidrostáticos de tensão, na evolução da dependência entre as tensões principais
em suas diversas intensidades, entre outros. Com base em cada uma dessas
particularidades, cada critério pode representar com melhor realismo o colapso
mecânico de materiais que possuem comportamentos particulares. Dentre esses
materiais destacam-se o concreto, cujo comportamento mecânico depende fortemente
dos parâmetros utilizados em sua dosagem, e os materiais compósitos, cujo
comportamento mecânico é fortemente influenciado pelas propriedades de seus
constituintes como a matriz e as fibras.
Na Fig. (26.22) são apresentadas ilustrações características das superfícies de
ruptura de quatro importantes critérios: Bresler-Pister, Hsieh-Ting-Chen, Ottosen e
Willam-Warnke.
O critério de ruptura proposto por Bresler-Pister, datado de 1958, é uma
generalização do critério de Drucker-Prager, no qual é inserido um terceiro parâmetro
que permite que a relação entre as tensões de cisalhamento e normal octaédricas seja
parabólica. Já o critério de ruptura de Hsieh-Ting-Chen, de 1982, envolve quatro
parâmetros materiais em sua definição. Esse critério admite que a relação entre as
tensões de cisalhamento e normal octaédricas seja parabólica. No entanto, a evolução de
sua superfície característica não é mais perfeitamente regular como no caso de Bresler-

Capítulo 26 – Critérios de Falha_____________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 836

Pister, Fig. (26.22). Deve-se mencionar que o critério de Hsieh-Ting-Chen é mais


refinado que os demais, exigindo quatro ensaios mecânicos sob diferentes estados de
tensões, que correspondem a cada um de seus parâmetros, para a sua correta definição.
Esse critério de ruptura fornece adequada representação para a ruptura do concreto com
pequenas tensões de confinamento.

Figura 26.22 Critérios de ruptura complementares.

Outro critério de ruptura de quatro parâmetros muito utilizado é o de Ottosen, de


1977. Esse critério apresenta as mesmas vantagens do critério de Hsieh-Ting-Chen e
ainda admite uma variação da seção transversal da superfície de ruptura no plano
desviador de triangular para circular com o aumento da tensão média. Esse critério e um
dos mais robustos para a modelagem do concreto. No entanto, também são necessários
ensaios mecânicos do material em quatro estados de tensões diferentes para a sua
correta definição dos quatro parâmetros do critério. Finalmente, o critério de ruptura
mais refinado para a previsão da ruptura do concreto é o de Willam-Warnke, um critério
de cinco parâmetros. Portanto, a definição adequada desse critério requer ensaios do
material sob cinco diferentes configurações diferentes de tensão, um para cada
parâmetro do critério. Esse critério admite que a relação entre as tensões de
cisalhamento e normais octaédricas seja parabólica e que a seção transversal da
superfície de ruptura no plano desviador seja um traço de elipse, variando de uma forma
triangular para circular com o aumento da tensão média.
Os quatro critérios de ruptura mencionados nesse item estão, obviamente, além
do escopo de cursos de graduação em Resistência dos Materiais e Mecânica dos
Sólidos. Porém, deve-se enfatizar que sua aplicação é baseada nos mesmos conceitos
dos critérios de ruptura clássicos discutidos no início do presente capítulo. O autor

Capítulo 26 – Critérios de Falha_____________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 837

sugere que o leitor complemente as informações apresentadas nesse capítulo, em


especial no último item, em livros de Teoria da Plasticidade.

Capítulo 26 – Critérios de Falha_____________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 838

27. – Vasos de Pressão de Paredes Finas

27.1 –Introdução

Em diversas aplicações industriais, estruturas são utilizadas para o


armazenamento de produtos em estados líquido e gasoso. Estas estruturas são
conhecidas como vasos de pressão e assumem, normalmente, as formas geométricas
cilíndrica e esférica, como mostrado na Fig. (27.1). Quando a estrutura encontra-se em
serviço, esta é submetida a uma pressão hidrostática interna exercida pelo fluido
armazenado.

Figura 27.1 Vasos de pressão cilíndricos e esféricos.

Embora aparentemente complexo, um vaso de pressão pode ser analisado de


forma simplificada, porém sem perda significativa de representatividade, se possuir
paredes finas. Em aplicações práticas, um vaso de pressão é considerado de “paredes
finas” se a relação entre seu raio interno e a espessura de sua parede for maior ou igual a

10, ou seja, r  10 . Especialmente, quando esta razão é igual a 10, os resultados de


t
uma análise considerando essa estrutura como sendo de paredes finas conduzem a
tensões que são aproximadamente 4% menores do que as tensões reais atuantes na

Capítulo 27 – Vasos de Pressão de Paredes Finas_______________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 839

estrutura. Deve-se enfatizar que para relações r


t maiores que 10 esse erro reduz-se
consideravelmente.
Quando o vaso de pressão é de paredes finas, a distribuição das tensões
orientadas ao longo da espessura da parede pode ser desprezada. Esta hipótese pode ser
assumida uma vez que, em sua parte interna, esta tensão será igual a p , enquanto na
parte externa a tensão será igual a zero. Portanto, a tensão reduz-se a zero muito
rapidamente, devido a pequena espessura da parede. Considerando essa hipótese, serão
analisados, neste texto, os estados de tensão atuantes em vasos de pressão cuja
geometria seja cilíndrica ou esférica.

27.2 –Vasos de Pressão Cilíndricos

Para a determinação dos campos de tensão em vasos de pressão de geometria


cilíndrica, deve-se considerar a estrutura mostrada na Fig. (27.2). Trata-se de um vaso
de pressão cilíndrico com espessura de parede t , raio interno r sendo submetido a uma
pressão interna p .

Figura 27.2 Vaso de pressão cilíndrico.

Devido à uniformidade do carregamento atuante, as condições de equilíbrio


devem ser analisadas considerando um elemento suficientemente afastado das bordas do
cilindro (devido ao princípio de Saint-Venant). Como apresentado na Fig. (27.2), o vaso
de pressão cilíndrico estará submetido a uma pressão interna positiva. Assim, este
observará a atuação de duas tensões normais,  R e  L , as quais estarão orientadas ao

Capítulo 27 – Vasos de Pressão de Paredes Finas_______________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 840

longo das direções radial (ou circunferencial) e longitudinal, respectivamente. Deve-se


ressaltar que ambas as tensões atuantes serão trativas.
Para a determinação das expressões de  R e  L em função da pressão positiva

interna aplicada, deve-se tomar um elemento representativo deste vaso de pressão e


impor sobre ele as condições de equilíbrio. O elemento considerado para tal fim é o
formado pela intersecção entre os planos a, b e c ilustrados na Fig. (27.3). Neste
elemento atuam somente a pressão interna p e a tensão  R .

Figura 27.3 Elemento do vaso de pressão cilíndrico na condição de equilíbrio.

Impondo-se a condição de equilíbrio de forças ao longo da direção x obtém-se:


pr
F x  0  2  R dyt   p 2rdy  0   R 
t
(27.1)

Para a obtenção da expressão que relaciona  L à pressão positiva interna e às

dimensões do vaso de pressão deve-se novamente tomar um elemento representativo do


corpo e impor sobre ele as condições de equilíbrio. Nesse caso, o elemento a ser
analisado é o originado pela secção do corpo por meio do plano a, como mostrado na
Fig. (27.4). Nesse elemento atuam apenas a tensão  L e a pressão interna p .

Impondo-se a condição de equilíbrio de forças ao longo da direção y obtém-se:


pr
F y  0   L 2 rt  p r 2  0   L 
2t
(27.2)

Deve-se enfatizar que as expressões obtidas nas Eq.(27.1) e Eq.(27.2) são


válidas se o vaso de pressão analisado apresentar-se fechado em ambas suas
extremidades. Porém, existem casos em que vasos de pressão cilíndricos encontram-se
abertos em uma ou em ambas as extremidades, como em tubulações de condução de

Capítulo 27 – Vasos de Pressão de Paredes Finas_______________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 841

líquidos, por exemplo. Nesses casos, a estrutura estará submetida à pressão interna do
líquido armazenado, porém, devido à ausência de um mecanismo de fechamento em
suas extremidades, o vaso de pressão não observará a atuação da tensão  L . Esta tensão

será nula, uma vez que a pressão interna não produzirá esforço ao longo da direção do
eixo do vaso de pressão. Em vasos de pressão cilíndricos abertos, a única tensão não
nula atuante é determinada pela Eq.(27.1) e atuará ao longo de sua direção radial
(circunferencial).

Figura 27.4 Elemento do vaso de pressão cilíndrico na condição de equilíbrio.

Deve-se também mencionar que as tensões  R e  L são tensões principais se no

vaso de pressão atuar apenas a pressão interna p. Neste caso, não se observa a presença
de tensões de cisalhamento para o carregamento atuante e o sistema de coordenadas
adotado. Portanto em situações como a descrita tem-se:  R   1 e  L   2 .

27.3 –Vasos de Pressão Esféricos

As expressões que relacionam o estado de tensão atuante com a pressão interna e


as dimensões da estrutura em vasos de pressão de geometria esférica podem ser obtidas
de maneira semelhante ao efetuado anteriormente para os vasos de pressão cilíndricos.
Assim, inicialmente, deve-se considerar um vaso esférico de raio interno r e espessura
da parede t sendo submetido a uma pressão interna p . Em seguida, devem ser
verificadas as condições de equilíbrio atuantes sobre um elemento representativo
pertencente a este corpo.

Capítulo 27 – Vasos de Pressão de Paredes Finas_______________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 842

Conforme apresenta a Fig. (27.5), o vaso de pressão esférico observará a atuação


de duas tensões normais, as quais estarão orientadas ao longo de suas direções
circunferenciais. Essas tensões podem ser mensuradas seccionando o corpo por meio do
plano a, como mostra a Fig. (27.5). Impondo, sobre o corpo seccionado, as condições de
equilíbrio obtêm-se:
pr
F y  0   L 2 rt  p r 2  0   L 
2t
(27.3)

Deve-se destacar que esse resultado é idêntico independente do plano


seccionado. Assim, para qualquer orientação do hemisfério de vaso de pressão, este
estará sujeito a um estado biaxial de tensões de intensidade igual a  L ,  L .

Figura 27.5 Elemento do vaso de pressão esférico na condição de equilíbrio.

Nos vasos de pressão esféricos a tensão de cisalhamento atuante é nula.


Portanto, as tensões  L atuantes são, consequentemente, tensões principais.

27.4 –Aplicações dos Vasos de Pressão Cilíndricos e Esféricos

27.4.1 – Exemplo 1

Uma dada indústria deve armazenar um gás a uma pressão de 6,0MPa .


Sabendo que a indústria possui dois reservatórios, um cilíndrico e outro esférico, ambos
com raio interno igual a 5,0 m e espessura da chapa de composição igual a 10 cm,
informe em qual deles o gás deve ser armazenado. A tensão de escoamento do material

Capítulo 27 – Vasos de Pressão de Paredes Finas_______________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 843

que compõe os tanques é igual a 250MPa . Utilize o critério de Tresca para esta
verificação.
Para a solução deste problema deve-se, primeiramente, determinar as
componentes de tensão que atuarão em cada um dos tanques. Assim, para o vaso de
pressão cilíndrico tem-se:
pr 65
R   1    R  300 MPa
t 0,10
pr 65
L   2    L  150 MPa
2t 2  0,10
Como atua sobre o vaso de pressão cilíndrico apenas a pressão interna p,
observa-se a ausência de tensões de cisalhamento no corpo para o sistema de
coordenadas adotado. Assim, pode-se dizer que:
 R   1  300 MPa
 L   2  150 MPa
Já para o caso esférico obtém-se:
pr 65
L   L    L  150 MPa
2t 2  0,10
Analogamente ao observado para o vaso de pressão cilíndrico, as tensões  L
atuantes no vaso de pressão esférico são tensões principais.
Em seguida, deve-se verificar a condição de segurança por meio do critério de
ruptura de Tresca. Efetuando esta verificação para o vaso cilíndrico obtém-se:
 300  150 300  0 150  0  250
MAX    300  250
 2 2 2  2

Portanto, o vaso de pressão cilíndrico conduz a uma condição de falha e não


deve armazenar o gás. Considerando o vaso de pressão esférico, a verificação do critério
de Tresca conduz a:
 150  150 150  0 150  0  250
MAX    150  250
 2 2 2  2

O vaso de pressão esférico conduz a uma condição de segurança e deve,


portanto, ser utilizado para o armazenamento do gás. Com base nos resultados obtidos
neste exemplo ilustra-se o motivo pelo qual tanques de grandes dimensões, como os
utilizados pela Petrobras, são construídos utilizando a geometria cilíndrica.

Capítulo 27 – Vasos de Pressão de Paredes Finas_______________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 844

27.4.2 – Exemplo 2

Um tanque cilíndrico, construído para o armazenamento de ar comprimido, é


fabricado com uma placa de espessura igual a 8,0 mm soldada ao longo de uma hélice
formando um ângulo 30º com a horizontal, como apresenta a Fig.(27.6). Sabendo que a
tensão normal admissível para a solda é de 75MPa , determine a maior pressão
manométrica que pode ser aplicada ao tanque.

Isolando um elemento do tanque tem-se:

Figura 27.6 Elemento do vaso de pressão esférico na condição de equilíbrio.

Como o tanque apresenta a forma cilíndrica, o estado de tensão atuante é o


apresentado na Fig. (27.6). Essas tensões podem ser avaliadas por meio das Eq.(27.1) e
Eq.(27.2). Assim:
pr p   300  8 
R   R    R  36, 5 p
t 8
pr p   300  8 
L   L    L  18, 25 p
2t 2 8
A tensão normal ao plano da solda é obtida considerando um ângulo igual a
  30º 90º    120º . Portanto:
x  y  x  y
 x'   cos  2    xy sen  2 
2 2

Capítulo 27 – Vasos de Pressão de Paredes Finas_______________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 845

36, 5 p  18, 25 p 36, 5 p  18, 25 p


 x'   cos  2 120   0 sen  2 120  
2 2
 x'  22,8125 p
A tensão normal calculada anteriormente deve, no máximo, ser igual a tensão
normal resistente da solda. Dessa forma:
 x'  22,8125 p  75  p  3, 288MPa

27.4.3 – Exemplo 3

Para o problema apresentado no item 27.4.2, determine a máxima pressão


manométrica que pode ser aplicada ao tanque se a tensão de cisalhamento resistente da
solda for igual a 30MPa .
Neste caso deve-se determinar a tensão de cisalhamento atuante paralelamente
ao sentido da solda. Assim:
 x  y
 xy'   sen  2    xy cos  2 
2
36, 5 p  18, 25 p
 xy'  sen  2 120   0 cos  2 120    xy'  7, 9025 p
2
A tensão de cisalhamento calculada anteriormente deve ser, no máximo, igual a
tensão de cisalhamento resistente da solda. Portanto:
 xy'  7, 9025 p  30  p  3, 796 MPa

27.4.4 – Exemplo 4

Dimensione a espessura da chapa que irá compor a parede de um reservatório


esférico de raio interno igual a 8,0m, o qual, em serviço, será submetido a uma pressão
interna de 18MPa . Utilize o critério de Von Mises para este cálculo, sabendo que a
tensão de escoamento do material é igual a  E  400 MPa .
Como o vaso de pressão é esférico, o estado de tensão atuante é determinado
pela Eq.(5.3). Assim:
pr 18  8 72
L   L   L 
2t 2t t

Capítulo 27 – Vasos de Pressão de Paredes Finas_______________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 846

Nos vasos de pressão esféricos o estado de tensão atuante é principal devido a


ausência de tensões de cisalhamento. Assim, pode-se escrever que:
72
1  1 
t
Aplicando o critério de Von Mises obtém-se:

 1   2    2   3    3   1   2 E
2 2 2

2 2 2
 72 72   72   72  10368
      0    0    400 2   565, 685
 t t   t   t  t2
t  0,18 m  180 mm
O resultado obtido utilizando o critério de Von Mises é o mesmo que poderia ter
sido obtido igualando-se a tensão  L à tensão de escoamento do material. Fica a

seguinte pergunta ao leitor: Porque esse fato ocorre?

27.4.5 – Exemplo 5

O reservatório apresentado na Fig. (27.7) é composto por uma parte cilíndrica


(corpo) e duas partes esféricas (tampas). Sabendo que este reservatório estará submetido
a uma pressão interna igual 1, 0MPa e que o diâmetro interno da parte cilíndrica é igual
a 4,2 m, dimensione a espessura das chapas que comporão as paredes deste reservatório
sendo a tensão de escoamento igual a  E  500 MPa . Utilize o critério de Tresca para

este dimensionamento.

Figura 27.7 Reservatório com partes cilíndrica e esféricas.

Para a realização deste dimensionamento, deverão ser determinados os estados


de tensão atuantes nas partes cilíndrica e esférica do reservatório. Iniciando o

Capítulo 27 – Vasos de Pressão de Paredes Finas_______________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 847

dimensionamento pela parte cilíndrica, sabe-se que as tensões normais atuantes nessa
região do vaso de pressão são calculadas pelas Eq.(27.1) e Eq.(27.2). Assim:
pr 1  2,1 2,1
R   R   R 
t t t
pr 1  2,1 1, 05
L   L   L 
2t 2t t
Neste vaso de pressão atua apenas a pressão interna p. Portanto, as tensões
determinadas anteriormente são também tensões principais. Dessa forma:
2,1
 R  1 
t
1, 05
L  2 
t
Levando as tensões principais calculadas anteriormente na expressão do critério
de Tresca obtém-se:
 2,1  1, 05 2,1  0 1, 05  0  500 1, 05
MAX     250 
 2t 2t 2t  2 t
t  0, 0042m  t  4, 2mm
Para a região esférica do reservatório sabe-se que o estado de tensão pode ser
obtido utilizando a Eq.(27.3). Lembrando que este estado de tensão é também principal
tem-se:
pr 1  2,1 1, 05
L   L   L 
2t 2t t
1, 05
1   2   L 
t
Levando o estado de tensão determinado anteriormente na expressão do critério
de Tresca tem-se:
 1, 05  1, 05 1, 05  0 1, 05  0  500 0, 525
MAX     250 
 2t 2t 2t  2 t
t  0, 0021m  t  2,1 mm
Como era de se esperar, a espessura das chapas que comporão as regiões
esféricas do reservatório poderão ser menores que a das chapas que comporão a parte
cilíndrica.

Capítulo 27 – Vasos de Pressão de Paredes Finas_______________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 848

27.5 –Tensões de Cisalhamento em Vasos de Pressão

Com base nas análises até o momento efetuadas foi possível relacionar
parâmetros geométricos de vasos de pressão cilíndricos e esféricos à pressão interna e às
tensões normais atuantes em suas paredes. Para o sistema de referência considerado
para a dedução do equacionamento, as tensões de cisalhamento eram nulas, o que
levava as tensões normais obtidas a serem classificadas como principais.
Embora nulas neste sistema de referência, as tensões de cisalhamento, no plano,
em vasos de pressão cilíndricos apresentam seu valor máximo em um plano inclinado
de 45º em relação ao sistema de referência no qual as tensões principais foram
definidas. Para os vasos de pressão cilíndricos com extremidades fechadas, a tensão de
cisalhamento máxima no plano pode ser obtida com o auxílio do círculo de Mohr.
Como nesses vasos de pressão as tensões principais são dadas pelas Eq.(27.1) e
Eq.(27.2), constata-se que  R  2 L   1  2 2 . Com base nesta informação,
traça-se o círculo de Mohr apresentado na Fig. (27.8).

Figura 27.8 Círculo de Mohr para vasos de pressão cilíndricos.

Como a tensão de cisalhamento máxima no plano é igual ao raio do círculo de


Mohr, tem-se que a tensão de cisalhamento máxima no plano, para os vasos de pressão
cilíndricos fechados, é dada por:
1   2 2 2   2  pr
 MAX
Plano
   MAX
Plano
   MAX
Plano
 2   MAX
Plano
 (27.4)
2 2 2 4t

Capítulo 27 – Vasos de Pressão de Paredes Finas_______________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 849

Caso o vaso de pressão cilíndrico seja de extremidades abertas, constata-se que


 L   2  0 . Nessa situação, a tensão de cisalhamento máxima no plano é determinada
com base na Eq.(27.5).
1   2 1  0 pr
 MAX
Plano
   MAX
Plano
   MAX
Plano
 (27.5)
2 2 2t
Quanto aos vasos de pressão esféricos, constata-se que a tensão de cisalhamento
atuante no plano será sempre nula independentemente do sistema de referência adotado.
Isso ocorre pelo fato das tensões principais atuantes nestas estruturas serem iguais.
Além disso, por meio das equações apresentadas no capítulo 23, constata-se que as
tensões normais definidas em relação a qualquer plano rotacionado em relação ao plano
de referência inicial serão iguais a  L .
A partir do apresentado anteriormente, pode-se também obter expressões que
permitem a determinação da tensão de cisalhamento máxima absoluta para os três casos
discutidos. Como os problemas tratados enquadram-se na categoria estado plano de
tensão, conclui-se que a tensão principal menor será nula. Assim, nesses problemas,
tem-se  3  0 . Portanto, considerando a discussão efetuada no capítulo 23 sobre tensão
de cisalhamento máxima absoluta, pode-se obter a tensão de cisalhamento máxima
absoluta para o caso do vaso de pressão cilíndrico de extremidades fechadas da seguinte
forma:
1   3 1  0 pr
 MAX
Abs
   MAX
Abs
   MAX
Abs
 (27.6)
2 2 2t
Já para o vaso de pressão cilíndrico com extremidades abertas tem-se:
1   3 1  0 pr
 MAX
Abs
   MAX
Abs
   MAX
Abs
 (27.7)
2 2 2t
Finalmente, para o vaso de pressão esférico, a tensão de cisalhamento máxima
absoluta é determinada por meio da seguinte relação:
1   3 2  0 pr
 MAX
Abs
   MAX
Abs
   MAX
Abs
 (27.8)
2 2 4t
Deve-se enfatizar que embora a tensão de cisalhamento máxima no plano seja
nula nos vasos de pressão esféricos, a tensão de cisalhamento máxima absoluta não o é,
sendo esta igual ao apresentado na Eq.(27.8).

Capítulo 27 – Vasos de Pressão de Paredes Finas_______________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 850

27.6 – Aplicações Gerais dos Vasos de Pressão

27.6.1 – Exemplo 6

Um reservatório cilíndrico, vaso de pressão cilíndrico de extremidades fechadas,


está submetido a uma pressão interna, pint , a uma força axial, F , e a um momento
torçor, M t . Sabendo que o diâmetro interno desse reservatório, d i , é igual a 80 cm e que
a espessura da parede que o compõe, t , é igual a 3,0 cm, determine a intensidade das
ações externas aplicadas sabendo que no ponto P indicado na Fig. (27.9) e na Fig.
(27.10) estão colados três extensômetros, cujas leituras são as seguintes:  A  10 106 ,

 B  15 106 e  C  8 106 . O material que compõe essa estrutura possui as seguintes


propriedades: E  120 GPa e   0, 25 .

Figura 27.9 Vaso de pressão de extremidades fechadas submetido à ações externas.

Figura 27.10 Vaso de pressão de extremidades fechadas, representação isogeométrica.

Capítulo 27 – Vasos de Pressão de Paredes Finas_______________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 851

A partir da leitura dos extensômetros posicionados na parede externa desse vaso


de pressão, pode-se determinar o estado de deformação do ponto P por meio do seguinte
conjunto de equações:
x  y x y  xy
 x'   cos  2   sen  2 
2 2 2
 x  y x y  xy
 A  10  10 
6
 cos  2  (30)   sen  2  (30) 
 2 2 2
 x  y x y  xy
 B  15  10 
6
 cos  2  45   sen  2  45 
 2 2 2
 x  y x  y  xy
 C  8 10 
6
 cos  2  120   sen  2  120 
 2 2 2

Resolvendo o sistema de equações anterior matricialmente obtém-se:


 0,75 0, 25 0, 433   x  10    x  13,785
 0,5 0,5      6    
 0,5     y   15  10    y    9,785   106
 0, 25 0,75 0, 433  xy   8     6, 431 
 xy   

Em seguida, aplicam-se as equações da lei de Hooke generalizada para a


determinação do estado de tensão do ponto P. Por se tratar de um problema plano de
tensões (EPT), tem-se, por definição, que  z  0 . Assim, as relações entre as tensões e
as deformações simplificam-se para:
1 1
x   x    y   z    13,785  10 6   x  0, 25  y 
E   120  106 
1 1
 y   y    x   z    9,785  106   y  0, 25  x  (27.9)
E 120  106 
1 1
 z   z    x   y     z   0, 25  x   y  
E 120  106  

E  xy  xy
G   xy   6, 431 106  (27.10)
2 1    G G

Tomando as duas primeiras equações apresentadas na Eq.(27.9) obtém-se:


 1 0, 25  x  1654, 2   x  2077,6 
 0, 25           kN/m²
 1   y  1174, 2   y  1693,6 
Assim, a deformação normal presente na direção z (na direção radial à seção
transversal do vaso de pressão) é igual a:
1 1
z   z   x   y     z   0, 25  2077,6  1693, 6    7,857 106
E   120  106 
E o estado de deformação do ponto pode então ser expresso pelo tensor de
deformações indicado abaixo:

Capítulo 27 – Vasos de Pressão de Paredes Finas_______________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 852

13,785 6, 431 0 
 0   106
    6, 431 9,785
 0 0 7,857 

Para a determinação da deformação distorcional,  xy , deve-se, inicialmente,

calcular o valor do módulo de elasticidade transversal G por meio da seguinte


expressão:
E 120
G   48 GPa
2 1    2 1  0, 25 

Finalmente, calcula-se a tensão de cisalhamento  xy , a qual é igual a:

 xy
6, 431  106    xy   6, 431  106  ·  48  106   308,688 kN/m²
G
Portanto, o tensor de tensões para o estado plano do problema é dado por:
 2077,6 308,688 0 
   308,688 1693,6 0  kN/m²
 0 0 0 

Uma vez caracterizado o tensor de tensões, determinam-se agora a pressão


interna pint , a força axial, F , e o momento torçor M t aplicados à estrutura. Conforme
apresentado anteriormente nesse capítulo, a pressão interna irá provocar componentes
de tensão normal orientadas nas direções longitudinal e radial,  L e R ,
respectivamente. A força axial irá provocar tensões normais orientadas na direção
longitudinal do vaso de pressão. Finalmente, o momento torçor provocará
exclusivamente tensões de cisalhamento no plano da seção transversal do vaso de
pressão. Com base nessas considerações, calcula-se a intensidade do momento de torção
Mt  xy I t
aplicado a partir da seguinte relação:  xy    Mt  , cujo valor para um
It 

ponto situado na superfície externa do vaso de pressão é dado por:


 
 xy
2
r e
4
 ri 4  308,688
2
 0, 434  0, 44 
Mt    9,684 kN  m
re 0, 43

A tensão  y corresponde à tensão radial  R no reservatório. Essa tensão está

associada à pressão interna por meio da seguinte relação:


pint r  y t 1693,6  0,03
R y   pint    127,02 kN/m²
t r 0, 40

Capítulo 27 – Vasos de Pressão de Paredes Finas_______________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 853

Com base no valor obtido, determina-se a parcela da tensão normal longitudinal


causada pela pressão interna. Portanto:

pint r 127,02  0, 40
L x   x   846,8 kN/m²
2t 2  0,03

A tensão normal longitudinal total corresponde à soma da parcela de tensão


normal devido à pressão interna e da parcela de tensão normal causada pela força
normal F . Visto que a tensão longitudinal equivale à tensão  x calculada para o ponto
P, é possível determinar F como:
F pint r F
L x    2077,6   846,8  F  96, 277 kN
A 2t   0, 432  0, 42 

27.6.2 – Exemplo 7

Analise a ocorrência do colapso mecânico do ponto P contido na superfície


externa do vaso de pressão analisado no exemplo anterior considerando que
pint  5,0 MPa , F  96, 277 kN e M t  9,684 kN  m . Considere que  E  200 MPa e utilize

os critérios de Tresca, Von-Mises e Rankine para a análise.


Como o momento de torção aplicado permanece o mesmo do exemplo anterior,
verifica-se facilmente que a tensão de cisalhamento mobilizada por essa ação não
sofrerá alteração de intensidade. Dessa forma, tem-se que  xy  308,668 kN/m² .

As tensões normais podem ser assim calculadas:


 Tensão radial:
pint r 5, 0  0, 40
R y   y   66,667 MPa
t 0,03

 Tensão longitudinal:
F pint r 96, 277 5000  0, 40
L x    x    34,564 MPa
A 2t   0, 43  0, 4 
2 2
2  0,03

Portanto, o tensor de tensões pode ser assim escrito:


34,564 0,309 0 
    0,309 66,667 0 MPa
 0 0 0 

O próximo passo a ser executado envolve a determinação das tensões principais.


As tensões principais no plano assumem a seguinte intensidade:

Capítulo 27 – Vasos de Pressão de Paredes Finas_______________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 854

2
x yx  y  34,564  66,667  34,564  66,667 
2

 1,2       xy 
2
    0,309
2

2  2  2  2 
  1  66,670 MPa  2  34,561 MPa
Como o problema é plano de tensão, a ordenação das tensões principais
(obedecendo a seguinte regra  1   2   3 ) resulta em:

 1  66,670 MPa

 2  34,561 MPa
  0 MPa
 3
Assim, o critério de Tresca pode ser assim verificado:
   1   2   2   3   3   1    E
 ABS  max  ; ; 
max
 2 2 2  2
  66,670  34,561  34,561  0   0  66,670   200
 ABS  max  ; ;   33,335 
max
 2 2 2  2

Verifica-se, então, a condição de segurança do ponto em análise por meio do


critério de Tresca. Utilizando o critério de Von Mises obtém-se:

 1   2    2   3    3   1   2 E
2 2 2

 66, 670  34,561   34,561  0    0  66,670   2  200


2 2 2

75,522  282,84

Portanto, a equação de Von Mises é atendida. Consequentemente, a condição de


segurança é observada segundo o critério de Von Mises. Finalmente, via Rankine tem-
se:
 1   E  66,670 MPa  200 MPa
Portanto o ponto analisado está na condição de segurança segundo o critério de
Rankine.

Capítulo 27 – Vasos de Pressão de Paredes Finas_______________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 855

28. – Métodos de Energia

28.1 – Introdução

Sabe-se que todo corpo deformável, quando submetido à ação de carregamentos


externos, tem sua configuração geométrica alterada. Isso ocorre uma vez que o
carregamento induz deslocamentos nos pontos materiais que compõem o corpo. Devido
ao fato da taxa de deslocamento nem sempre ser constante ao longo do corpo, surgem as
deformações.
Como o corpo se deforma, e consequentemente se desloca sob a ação de
carregamentos externos, constata-se que o(s) ponto(s) de aplicação deste(s) também se
desloca(m). Com base nos conhecimentos da física e da mecânica, sabe-se que uma
força realiza trabalho quando seu ponto de aplicação sofre um deslocamento cuja
orientação é a mesma da força. Além disso, sabe-se também, dos conhecimentos da
física e da mecânica, que a variação de trabalho resulta em energia. A utilização do
conceito de energia será de grande importância para a solução de diversos problemas de
engenharia, como será apresentado na sequência desse capítulo.

28.2 – Trabalho Decorrente das Ações Externas e Energia Externa

Neste item serão apresentadas expressões que relacionam o trabalho externo aos
carregamentos externos atuantes em estruturas solicitadas por tração/compressão e
flexão. Considerando, barras solicitadas axialmente, deve-se analisar a barra
apresentada na Fig. (28.1).
Para que o trabalho decorrente da força externa seja calculado, deve-se
considerar que a força externa atuante, F , seja aplicada gradualmente de 0 até sua

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 856

intensidade máxima, igual a P . Assumindo que o material que compõe a barra possua
comportamento mecânico elástico linear, o deslocamento final,  , observado quando a
força externa atua em sua intensidade máxima, é diretamente proporcional a todo o
deslocamento  atuante para cargas intermediárias F . Assim, pode-se escrever que:
P F P
  F    (28.1)
  

Figura 28.1 Barra axialmente carregada.

Somando-se o trabalho de todas as forças intermediárias F sobre todos os


deslocamentos intermediários  tem-se:
 
P  P
U e   F d  U e      d  Ue  (28.2)
0 0
  2

Portanto, considerando o aumento gradual da força de F até seu valor final P , o


trabalho realizado pela força externa é igual à metade do produto entre o deslocamento
final,  , e a força total P .
Como o trabalho envolve força e deslocamento, pode-se perguntar: o que
ocorreria se a força P fosse mantida constante e um deslocamento adicional fosse
imposto na extremidade da barra, levando o deslocamento de  para  ' ? Nessa
situação, a qual é ilustrada na Fig. (28.2), o trabalho da força P , que é constante, sobre
o deslocamento adicional é dado por:
'
U e   P d  U e   P   U e  P  '   
'
(28.3)

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 857

Graficamente, as parcelas de energia expressas nas Eq.(28.2) e Eq.(28.3) podem


ser visualizadas por meio das regiões 1 e 2, respectivamente, apresentadas na Fig.
(28.3).

Figura 28.2 Barra axialmente carregada. Deslocamento adicional.

Figura 28.3 Parcelas de energia.

De forma análoga ao efetuado para o par força-deslocamento, pode-se também


determinar o trabalho realizado por momentos e rotações. Um momento realiza trabalho
quando seu ponto de aplicação sofre um deslocamento rotacional, d  , ao longo de sua
linha de ação. Assumindo que a intensidade do momento aplicado aumenta
gradualmente até seu valor final M , o trabalho realizado por essa ação, de forma
semelhante ao conjunto força-deslocamento, é dado por:

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 858

 
M  M
U e   m d  U e      d  Ue  (28.4)
0 0
  2

Se uma rotação adicional,  '   , for imposta ao ponto de aplicação do


momento, mantendo-se constante a intensidade do momento aplicado, pode-se
determinar o trabalho realizado pela rotação sobre o momento por meio da seguinte
relação:
'
 U e   M    U e  M  '   
'
U e   M d (28.5)

28.3 – Energia Interna. Energia de Deformação

Quando carregamentos externos são aplicados em corpos deformáveis ocorrerão


mudanças na configuração geométrica do corpo e consequentemente deformações.
Assumindo que não haja dissipações de energia decorrentes de trocas de calor, efeitos
cinéticos (o carregamento é aplicado em regime quase-estático) e processos de
degradação mecânica, toda a energia associada ao trabalho dos carregamentos externos
será convertida em energia de deformação ou energia interna. Essa última energia será
armazenada no corpo em função do surgimento de tensões normais e de cisalhamento.
A energia de deformação associada às tensões normal e de cisalhamento pode
ser expressa utilizando-se as deformações normal e distorcional, respectivamente.
Considerando, um elemento de dimensões infinitesimais submetido à ação de uma
tensão normal  z , como apresenta a Fig. (28.4), constata-se que a força resultante da
tensão atuante é dada por:
dFz   z dA  dFz   z dxdy (28.6)

O deslocamento associado à direção de atuação da força resultante é dado por:


 z
z    z   z dz (28.7)
dz
Assumindo que a tensão normal ao longo do eixo z tenha sua intensidade
aumentada gradualmente de 0 até seu valor final  z , pode-se determinar a energia
resultante, conforme apresentado na Eq.(28.2), da seguinte maneira:

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 859

Fz z  z dxdy z dz  z z dV
dU i   dU i   dU i  (28.8)
2 2 2
sendo dV  dxdydz .

Figura 28.4 Elemento infinitesimal solicitado por tensão normal.

Deve-se destacar que a energia resultante da Eq.(28.8) é sempre positiva, uma


vez que  e  possuem sinais algébricos iguais. Portanto, se o corpo considerado estiver
submetido à ação de apenas uma tensão normal, em uma direção arbitrária, a energia de
deformação associada pode ser assim obtida:

Ui   dV (28.9)
V
2

Por meio da lei de Hooke, pode-se rescrever a Eq.(28.9) na seguinte forma:


2
Ui   dV (28.10)
V
2E

De forma análoga, pode-se determinar a energia de deformação associada às


tensões de cisalhamento. Para tal finalidade, deve-se considerar o elemento de

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 860

dimensões infinitesimais apresentado na Fig. (28.5), o qual está sujeito a um estado de


cisalhamento puro.

Figura 28.5 Elemento infinitesimal solicitado ao cisalhamento.

A tensão de cisalhamento atuante provoca a deformação (distorção) do elemento


de tal modo que somente a força cisalhante que age sobre a face superior do elemento
desloca-se  dz em relação a face inferior. Assume-se que as faces verticais apenas
giram. Portanto, as forças cisalhantes nessas faces não realizam nenhum trabalho, já
que, nessas faces, força e deslocamento estão em direções perpendiculares. Assim, a
energia de deformação contida no elemento é dada por:
Fy  y  zy dxdy zy dz  zy  zy
dU i   dU i   dU i  dV (28.11)
2 2 2
sendo dV  dxdydz .
Assim, integrando a energia descrita na Eq.(28.11) ao longo do volume do corpo
obtém-se:

Ui  
V
2
dV (28.12)

Por meio da lei de Hooke, pode-se reescrever a equação anterior da seguinte


maneira:
2
Ui   dV (28.13)
V
2G

As Eq.(28.10) e Eq.(28.13) foram obtidas assumindo-se que o corpo em análise


estava submetido a estados uniaxiais de tensão. Quando estados bidimensionais e
tridimensionais de tensão estão presentes, a energia de deformação do corpo é obtida

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 861

somando-se as parcelas de energia devido às tensões normal e de cisalhamento em


relação aos três eixos cartesianos. Assim, para o caso geral, pode-se escrever a energia
de deformação do corpo da seguinte forma:

            
U i    x x  y y  z z  xy xy  yz yz  xz xz  dV (28.14)
V
2 2 2 2 2 2 
Utilizando a lei de Hooke generalizada, pode-se substituir as deformações
apresentadas na Eq.(28.14) por tensões. Por meio dessa substituição, esta equação pode
ser assim reescrita:
 1  1 
Ui      x2   y2   z2    x y   y z   z x    xy2   yz2   xz2   dV (28.15)
V 
2E E 2G 
Com base na Eq.(28.15), a energia de deformação, para qualquer estrutura, pode
ser obtida desde que as componentes de tensão sejam determinadas.

28.4 – Energia de Deformação em Problemas Mecânicos Unidimensionais.


Tração/Compressão, Cisalhamento Transversal, Torção e Flexão

Quando elementos de barra simples (treliças) estão submetidos à ação de


carregamentos externos surgem esforços normais, os quais atuam no plano de sua seção
transversal. Assumindo que a tensão normal mobilizada pelo esforço normal seja
uniformemente distribuída no plano da seção transversal do elemento, pode-se escrever

que   N
A , onde N é o esforço normal e A a área da seção transversal do elemento
de barra simples. Portanto, com base na Eq.(28.15), pode-se obter a energia de
deformação do elemento de barra simples por meio da seguinte relação:
2 N2 N2
Ui   dV  Ui    dAdL  U  L 2 EAdL (28.16)
2 EA 2
i
V
2E L A

Se N , E e A forem constantes ao longo do comprimento da barra, como


usualmente observado neste tipo de elemento, a expressão anterior simplifica-se como:
N 2L
Ui  (28.17)
2 EA
Conforme apresentado anteriormente neste curso (capítulos 17 e 18), esforços de
flexão introduzem tensões normais no plano da seção transversal de um elemento de

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 862

barra geral. Assim, a energia de deformação na flexão pode ser determinada utilizando a
Mz M
Eq.(28.15). Sabendo que  x   y  y z , sendo y e z os eixos que definem o
Iz Iy

plano da seção transversal do elemento e I o momento de inércia da seção, pode-se


obter a energia de deformação de um elemento de barra geral fletido por meio da
seguinte expressão:
2
2 1  Mz M 
Ui   dV  Ui      y  y z  dAdL 
V
2E L A
2E  I z I y 

1  M z2 2 2 M z M y M2 
Ui     2 y  zy  2y z 2 dAdL  (28.18)
2E  I z IzI y Iy 
L A 
1 2 M z M y
2 2
1 Mz 2 1 My 2
Ui    y dAdL  L A 2 E I z I y zy dAdL  L A 2 E I y2 z dAdL
L A
2 E I z2

Lembrando que: I z  y dA , I y   z 2 dA e I zy   zydA , pode-se reescrever a


2

A A A

Eq.(28.18) da seguinte maneira:


2
1 M z2 1 M z M y 1 My
Ui   I dL  L E I z I y zy L 2 E I y2 I y dL 
I dL 
2 E I z2
z
L
(28.19)
M z2 1 M zM y M y2
Ui   dL   I zy dL   dL
L
2 EI z L
E IzIy L
2 EI y

Deve-se enfatizar que se y e z forem eixos principais de inércia, o produto de


inércia, I zy , torna-se nulo e a energia de deformação fica determinada calculando-se

apenas o primeiro e terceiro termos da Eq.(28.19).


A parcela, não nula, de energia de deformação associada à tensão de
cisalhamento está presente em problemas de torção e de cisalhamento transversal. A
determinação da intensidade da energia de deformação nestes problemas pode ser
efetuada utilizando-se a Eq.(28.15). Para problemas envolvendo a torção de barras de
seção transversal circular, sabe-se que a tensão de cisalhamento é obtida, conhecendo-se
Mt
o momento de torção, por meio da relação:    , onde It é o momento polar de
It

inércia e  a coordenada radial. Assim, para este problema, a energia de deformação


pode ser determinada pela seguinte relação:

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 863

2 1 M t2 2
Ui   dV  Ui     dAdL (28.20)
V
2G L A
2G I t2

Lembrando que: I t    2 dA , para barras de seção transversal circular, pode-se


A

reescrever a Eq.(28.20) da seguinte maneira:


M t2 M t2
Ui   I t dL  U i   dL (28.21)
L
2GI t2 L
2GI t
Já para barras de seções transversais vazadas de paredes finas, solicitadas à
torção, pode-se empregar o equacionamento proposto por Breddt, conforme apresentado
no capítulo 15. Nessa abordagem, as tensões de cisalhamento são calculadas utilizando-
Mt
se a seguinte relação:   . Consequentemente, a energia de deformação associada
2tAm

pode ser assim determinada:

2 1 M t2 M t2  1 
Ui   dV  U i    dAdL  U i  
8GAm2  A t 2 
 dA  dL (28.22)
V
2G L A
2G 4t 2 Am2 L

A Eq.(28.22) simplifica-se consideravelmente se a seção transversal vazada de


paredes finas possuir espessura de parede constante. Nessa situação tem-se:

M t2  1  M t2
Ui  
8GAm2  A t 2 
 dA  dL  U i   AdL (28.23)
L L
8GAm2 t 2
sendo A a área da seção transversal da barra.
Já no cisalhamento transversal, a tensão de cisalhamento e o esforço cortante
Vy Qz Vz Q y
estão relacionados por meio das seguintes expressões:  xy  ,  xz  ,
I ztz I yt y

conforme apresentado no capítulo 19. Assim, com o auxílio da Eq.(28.15), a energia de


deformação para elementos de barra geral submetidos à cisalhamento transversal pode
ser assim obtida:

2 V y2Qz2 Vz2Q y2
Ui   dV  Ui    dAdL    dAdL 
V
2G L A
2GI z2t z2 L A
2GI y2t y2
(28.24)
V y2  Qz2  Vz2  Q y 
2

Ui   2  2
dA  dL   2   dA  dL
L
2GI z  A t z  L
2GI y  A t y
2 

As integrais entre parêntesis mostradas na Eq.(28.24) devem ser avaliadas de
acordo com a geometria da seção transversal considerada. Objetivando simplificar esta

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 864

equação, pode-se introduzir uma grandeza denominada “fator de forma ao


cisalhamento”, cuja intensidade é dada por:
A Q2 Q2 I2
I 2 A t 2 A t 2
fs  dA  dA  fs (28.25)
A
Substituindo o resultado apresentado na Eq.(28.25) na Eq.(28.24) obtém-se:
f s yV y2 f szVz2
Ui   dL   dL (28.26)
L
2GA L
2GA

O fator de forma ao cisalhamento, f s , depende unicamente da geometria da

seção transversal da barra em análise. Para as seções transversais comumente utilizadas,


este fator pode ser obtido com o uso de tabelas como a apresentada a seguir.

Tabela 28.1 Fator de forma ao cisalhamento.

Geometria da Seção Transversal fs

Retangular 6
5

Circular Maciça 10
9
Circular Vazada de Paredes Finas 2
Perfil I ou Retangular Vazado de Aseção
Paredes Finas Aalma

28.4.1 – Exemplo 1

Determine a energia de deformação da estrutura apresentada na Fig.(28.6).


Trata-se de um pórtico tridimensional solicitado por ações concentradas, em seu nó C, e
uma distribuída ao longo da barra BC, sendo engastado em seu nó A. O material que
compõem esta estrutura possui E  210 GPa e G  80, 7 GPa . Além disso, este pórtico
possui seção transversal circular maciça de diâmetro igual a 30 cm.
Para que os diagramas de esforços solicitantes da estrutura sejam traçados, deve-
se isolar cada uma das barras que compõem o pórtico tridimensional e em seguida
determinar os valores das ações em suas extremidades. Com base nessa informação, nos
carregamentos atuantes nas barras e nas relações diferenciais, estes diagramas podem
ser construídos.

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 865

Figura 28.6 Estrutura a ser analisada.

Para a estrutura considerada, esse procedimento será iniciado pela barra BC. Esta
barra, assim como os carregamentos sobre ela atuantes, está apresentada na Fig. (28.7).
Impondo-se a condição de equilíbrio de corpo rígido a esta barra, obtêm-se os valores
das ações em seus extremos, os quais são iguais a:

Figura 28.7 Barra BC.

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 866

F x 0   Vx  3  0  Vx  3kN
F y 0   N 8  0  N  8kN
F z 0  Vz  3  2  0  Vz  6kN
2
M x 0   M x  3 2   0
2
 M x  6kNm

M y 0  T 0
M z 0  M z  3 2  0  M z  6kNm

Com base nas ações atuantes nos extremos dessa barra, nos carregamentos
atuantes e nas relações diferenciais, observa-se que os esforços cortantes, nas direções x
e z, possuirão variação constante e linear, respectivamente. Esse tipo de variação se deve
à ausência e a presença, respectivamente, de carregamentos distribuídos nestas direções.
Consequentemente, os momentos fletores atuantes em torno dos eixos x e z possuirão
variação quadrática e linear, respectivamente. O esforço normal será trativo e constante,
enquanto que os esforços de torção na barra são nulos. Com base nestes comentários, os
diagramas de esforços solicitantes para a barra analisada podem ser construídos, os
quais estão apresentados na Fig. (28.8).
A partir dos diagramas de esforços solicitantes apresentados na Fig. (28.8) pode-
se determinar a energia de deformação da barra BC da seguinte forma:

Figura 28.8 Diagramas de esforços solicitantes para a barra BC.

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 867

N2 M z2 M x2 M2 f zV 2 f xV 2
L L L L L L
Ui   dL   dL   dL   t dL   s z dL   s x dL 
0
2 EA 0
2 EI z 0
2 EI x 0
2GI t 0
2GA 0
2GA
8  6  3 L 
2 2 2 2

Ui   dL   dL 
2  210 10 6     0,15 
2

  0,15 
4
0 0 2  210 10  6

4
2
 3 2 10
 6  6 L  L   6  3L 
2
2 2
 2  9
 
dL  0  
0 2  80, 7  10     0,15 
6 2
dL 
  0,15 
4
0 2  210 106 
4
10 2
2  3
9
0 2  80, 7 106     0,15 2 dL 

2 2
36  36 L  9 L2
U i   2,1558 10 6 dL   dL 
0 0
166990, 3594
9 4 10
2 36  72 L  54 L2  18 L3  L 2
4 dL  9
 36  36 L  9 L2 

0
166990, 3594 0 11408357, 25 dL 
2
10
 11408357, 25 dL
0

2
 36 L  18 L2  3L3 
2
U i   2,1558 10 L   
6
 
 166990, 3594  0
0

2 2
 9 4 9 5   10 
 36 L  36 L  18 L  2 L  20 L   9  36 L  18 L  3L  
2 3 2 3

   dL  
 166990, 3594   11408357, 25 
 0  0
2
 10 L 
11408357, 25  
 0
U i  4,3116 106  1, 4372 104  8,6233 105  2,3375 106  1, 7531106 
U i  2,3836 104 kNm
Com base na energia de deformação calculada anteriormente, verifica-se que os
esforços de flexão contribuem com 96,48% da energia de deformação total. Já os
esforços cortantes correspondem a 1,72% da energia de deformação da barra analisada,
enquanto que o esforço normal responde por 1,80%. Portanto, para essa barra, constata-
se que a energia de deformação associada aos esforços de flexão representa a parcela de
maior importância em relação à energia de deformação total da barra.
Depois de finalizado o processo de determinação da energia de deformação da
barra BC, pode-se determinar a energia de deformação associada à barra AB. Para tal

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 868

finalidade, deve-se considerar o diagrama de corpo livre dessa barra, o qual considera as
ações determinadas no extremo B da barra BC reaplicadas com sentidos opostos no
extremo B da barra AB, como ilustrado na Fig. (28.9). Impondo sobre as ações
apresentadas nessa figura as condições de equilíbrio de corpo rígido obtém-se:

Figura 28.9 Barra AB.

F  0
x   N 3 0  N  3kN
F  0
y  Vy  8  0  Vy  8kN
F  0
z  Vz  6  0  Vz  6kN
M  0 x  T  6  0  T  6kNm
M  0 y  M y  63  0  M y  18kNm
M  0 z  M z  83  6  0  M z  18kNm

A partir dos valores das ações determinados anteriormente, pode-se construir os


diagramas de esforços solicitantes da barra AB. Constata-se que os esforços cortantes
nessa barra apresentarão variação constante ao longo do comprimento da barra,

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 869

enquanto os momentos fletores possuirão variação linear. Esse tipo de comportamento,


segundo as relações diferenciais, deve-se à ausência de carregamentos distribuídos ao
longo do comprimento da barra. Já o esforço normal e momento torçor apresentarão
variação constante ao longo do comprimento da barra sendo iguais a 3 kN e -6 kNm,
respectivamente. Com base nessas informações, os diagramas de esforços solicitantes
podem ser traçados, sendo os mesmos apresentados na Fig. (28.10).

Figura 28.10 Diagramas de esforços solicitantes para a barra AB.

Considerando os diagramas de esforços solicitantes mostrados na Fig. (28.10),


pode-se determinar a energia de deformação associada à barra AB por meio das
seguintes relações:
N2
L L
M z2
L
M y2 L
M t2 L
f szVz2 L
f s yV y2
Ui   dL   dL   dL   dL   dL   dL 
0
2 EA 0
2 EI z 0
2 EI y 0
2GI t 0
2GA 0
2GA
 3 18  8 L 
3 2 3 2

Ui   dL   dL 
2  210 10 6     0,15 
2

  0,15 
4
0 0 2  210 10  6

4
 18  6 L   6 
3 2 3 2

 
dL  

dL 
  0,15    0,15 
4 4
0 2  210 10 6  0 2  80, 7 106 
4 2
10 10
6  8 
2 2
3 3
9 9
0 2  80, 7 106     0,15 2 dL  0 2  80, 7 106     0,15 2 dL 

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 870

3 3 3
324  288 L  64 L2 324  216 L  36 L2
U i   3, 0316 10 7 dL   dL   dL 
0 0
166990, 3594 0
166990,3594
3 3 3

 2,8050 10 dL   3, 5062 10 dL   6, 2332 10 6 dL


4 6

0 0 0
3
 64 3 
 324 L  144 L2
 L   3
3
3 324 L  108 L2  12 L3 
U i  3, 0316 10 L   
7
   
0
 166990, 3594   166990,3594 0
 0
3 3 3
 2,8050 10 4 L   3,5062 10 6 L    6, 2332 10 6 L  
0 0 0

U i  9,0948 107  1,5091103  1,9402 103  8, 415 104  1,0519 105 


1,8700 105  U i  4,3209 103 kNm
A partir da energia de deformação determinada anteriormente para a barra AB,
constata-se que a energia de deformação associada à flexão corresponde a 79,83% da
energia de deformação total da barra, enquanto as parcelas de energia associadas aos
esforços normal, cortante e torção são, respectivamente, iguais a 0,02%, 0,68% e
19,47%.
Dessa forma, a energia de deformação total da estrutura é igual a:
U i  U iAB  U iBC  U i  4, 3209 10 3  2, 3836 10 4 
U i  4, 5593 10 3 kNm  U i  4, 5593 10 3 kJ  U i  4, 5593 J

28.5 – Conservação de Energia

Em um sistema formado por carregamentos externos e elementos estruturais


tem-se a presença de parcelas de energia externa, devidas ao carregamento externo, e
parcelas de energia de deformação (interna), devidas às deformações no corpo. Portanto,
um balanço de energia deve ser efetuado de forma que a transformação entre as energias
envolvidas seja consistentemente formulada. Assumindo que o carregamento externo
seja aplicado em regime quase-estático, parcelas de energia cinética (externa e interna)
podem ser desprezadas. Além disso, se parcelas de energia associadas a reações
químicas, calor, entre outras, forem também desprezadas, toda a energia decorrente do
trabalho de forças externas será armazenada na estrutura por meio da energia de
deformação.

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 871

Dessa forma, pode-se definir a conservação de energia por meio da seguinte


relação:
Ue  Ui (28.27)
A Eq.(28.27) pode ser aplicada à análise da determinação do deslocamento de
estruturas. Tomando, por exemplo, a treliça plana apresentada na Fig. (28.11), a qual é
bi apoiada e submetida a uma força concentrada P, pode-se determinar o deslocamento
do ponto de aplicação da força P na direção de atuação desta força, com base na
conservação de energia, da seguinte forma:
1 Nel
N 2L
P   (28.28)
2 i 1 2 EA

sendo Nel o número de barras da treliça.

Figura 28.11 Treliça plana. Princípio da conservação de energia.

Se uma viga engastada solicitada por um momento M 0 for considerada, como


apresentado na Fig. (28.12), a conservação de energia permite a determinação da
rotação no ponto de aplicação do momento da seguinte forma:
M2
L
1
M 0   dL (28.29)
2 0
2 EI

Figura 28.12 Viga. Princípio da conservação de energia.

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 872

Deve-se destacar que a aplicação da Eq.(28.27), e consequentemente Eq.(28.28)


e Eq.(28.29), é bastante limitada, uma vez que o deslocamento só pode ser calculado no
ponto e na direção de atuação da força externa ou do momento externo aplicado. Se
mais de uma força externa ou momento externo forem aplicados, o trabalho externo de
cada carregamento envolveria seu deslocamento/rotação desconhecido associado.
Assim, todos os deslocamentos associados não poderiam ser determinados já que
apenas uma equação, Eq.(28.27), é disponível. Porém, apesar de limitado, esse princípio
é a base para métodos mais robustos de determinação de deslocamentos em estruturas
complexas.

28.5.1 – Exemplo 2

Determine o deslocamento vertical do ponto de aplicação da carga P da viga


engastada apresentada na Fig. (28.13).

Figura 28.13 Viga engastada.

Com base em uma análise estática, a qual será omitida nesse exemplo por
simplicidade, pode-se determinar as seguintes equações para o momento fletor e o
esforço cortante atuantes na viga considerada:
M  Px  PL
V P
Portanto, aplicando o princípio da conservação de energia tem-se:

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 873

6 2
P
 Px  PL 
2
f sV 2 M2
L L L L
1 1 5
P   dx   dx  P   dx   dx 
2 0
2GA 0
2 EI 2 0
2GA 0
2 EI
1
L
P  
3P 2
L
dx  
 P 2 L2  2 P 2 Lx  P 2 x 2 dx 
2 0
5GA 0
2 EI
L
 2 2 P 2 x3  
L  P L x  P 2
Lx 2
 
1  3P 2 x    3  6 PL PL3
P       
2  5GA  0  2 EI  5GA 3EI
 
 0
O deslocamento vertical para o ponto de aplicação da carga P dado pela solução
PL3
da linha elástica é igual a   . Verifica-se que, por meio da abordagem de energia,
3EI
esse deslocamento é ligeiramente maior, já que, via energia, a contribuição ao
deslocamento vertical devido ao esforço cortante é levada em consideração. Porém,
como mostrado no exemplo anterior desse capítulo, a contribuição de energia referente
ao esforço cortante é pequena, podendo, em grande parte dos problemas de engenharia,
ser desprezada.

28.6 – Cargas Decorrentes de Impacto

Até o presente momento, assumiu-se que os carregamentos aplicados às


estruturas comportavam-se em regime quase estático. Assim, assumiu-se que a
intensidade destes carregamentos era gradualmente aumentada até seu valor máximo, a
partir do qual permaneciam constantes. Apesar de diversos tipos de carregamentos
enquadrarem-se nesta categoria, outros não o são. Entre as exceções, podem ser citados
os carregamentos decorrentes de impacto. Neste tipo de carregamento, um objeto atinge
outro de modo que forças de grande intensidade são desenvolvidas em um espaço muito
curto de tempo.
Problemas mecânicos envolvendo cargas de impacto podem ser resolvidos
utilizando o princípio da conservação de energia, desde que parcelas de energia não
sejam dissipadas durante o processo de impacto. Assumir esta hipótese significa realizar
uma análise conservadora, já que toda a energia externa decorrente do carregamento de
impacto será transferida para o corpo em forma de energia de deformação ou interna. As

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 874

dissipações de energia tais como produção de calor e som reduzem a intensidade da


energia a ser absorvida pelo corpo.
Nos problemas mecânicos envolvendo impacto, a energia externa devida à carga
de impacto deve ser consistentemente descrita. Quando um objeto, de peso igual a W, é
solto de sua posição de repouso e cai uma distância h atingindo um elemento estrutural,
o qual desloca-se  imp no ponto de contato entre o elemento estrutura e o objeto, pode-

se descrever a energia externa, conforme os conhecimentos da física, por meio da


seguinte relação:
U e  W  h   imp  (28.30)

Alternativamente, se o objeto não estiver em repouso, sua energia cinética será


igual a energia externa. Assim, assumindo que o objeto esteja a uma velocidade v antes
da colisão, pode-se escrever a energia externa, com base nos conhecimentos da física,
da seguinte forma:
1 W  2
Ue   v (28.31)
2 g 

onde g representa a aceleração da gravidade, a qual pode ser tomada igual a 9,8 m .
s2
W indica a massa do objeto.
g

28.6.1 – Exemplo 3

Um tubo de alumínio é utilizado para suportar uma carga de 600 kN. Determine
o deslocamento máximo no topo do tubo se a carga for aplicada gradualmente, de forma
quase estática, ou se for aplicada repentinamente, sob a forma de impacto, sendo solta
do topo do tubo, ou seja, h=0. O tubo bem como suas dimensões estão apresentados na
Fig. (28.14). Considere que E=70 GPa.
Assumindo, primeiramente, que o carregamento seja aplicado em regime quase
estático, pode-se utilizar o princípio da conservação de energia, o qual permite escrever
que:
1 N 2L 1 600 2  0, 240
Ue  Ui  P MAX   600 MAX  
2 2 EA 2 2  70 106    0, 06 2  0, 052 

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 875

 MAX  5, 953  10 4 m

Figura 28.14 Tubo a ser analisado.

Para que os efeitos de impacto sejam considerados, a energia externa deve ser
descrita pela Eq.(28.30). Portanto, pode-se determinar o deslocamento no topo do tubo
considerando a aplicação repentina do carregamento por meio das seguintes relações:
L A
 L
 A
Ue  Ui  P  h   MAX     dadL  P  h   MAX    dL 
0 0
2 0
2

Aplicando a lei de Hooke e a definição de deformação normal tem-se:


2
EA 2 EA   MAX 
L
P  h   MAX    dL  P  h   MAX     L 
0
2 2  L 
EA 2
P  h   MAX    MAX
2L
O primeiro termo apresentado na última expressão refere-se a energia externa
devida ao carregamento de impacto, a qual será integralmente transferida à estrutura.
Como h=0 tem-se:

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 876

EA 2 2  600  0, 240
 MAX  P  MAX  0   MAX  
2L 70 10    0, 06 2  0, 052 
6

 MAX  1,1906 10 3 m


Deve-se enfatizar que o deslocamento obtido considerando os efeitos de impacto
resultou o dobro do obtido assumindo o carregamento aplicado em regime quase
estático. Portanto, os efeitos de impacto devem ser cuidadosamente avaliados em
situações reais.

28.6.2 – Exemplo 4

A viga apresentada na Fig. (28.15) é submetida a um carregamento de


intensidade igual a W=6,0 kN, o qual é aplicado no centro de seu vão. Determine o
deslocamento máximo da viga e sua tensão normal máxima desprezando e considerando
os efeitos de impacto. Considere que o peso é solto de uma altura igual a h=50 mm.
Além disso, o material que compõem a viga possui E=210GPa. A viga possui
comprimento igual a 5 m e sua seção transversal, a qual é duplamente simétrica, tem
momento de inércia igual a I= 87,3 106 mm4 e altura de 252 mm.

Figura 28.15 Viga a ser analisada.

Considerando, inicialmente, que o carregamento seja aplicado em regime quase


estático, pode-se escrever a equação de conservação de energia da seguinte forma:
M2
L
1
Ue  Ui  P  MAX   dL
2 0
2 EI

Devido a simetria da estrutura e das condições de contorno, verifica-se que suas


reações de apoio são iguais a 3,0 kN orientadas no sentido vertical para cima. Assim, as

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 877

equações que descrevem a variação do momento fletor ao longo do comprimento da


viga podem ser facilmente escritas, as quais são iguais a:

M  x   3, 0 x kNm para 0  x  L
2
M  x   3, 0 x  6, 0  x  2, 5 
para L  x  L
M  x   3, 0 x  15 kNm 2

Assim:

 3, 0 x   3, 0 x  15 
2,5 2 5,0 2
1
2
P  MAX  
0
2 EI
dL  
2,5
2 EI
dL 

1 93, 75 2 93, 75
P  MAX    MAX  
2 2 EI 6, 0 2  210 10 6  87, 3 10 6
 MAX  8, 523 10 4 m

Com base nas equações que descrevem a variação do momento fletor ao longo
do comprimento da viga, verifica-se que o momento máximo ocorre no centro do vão,
sendo igual a M  7, 5 kNm . Assim, a tensão normal máxima considerando o
carregamento aplicado em condição quase estática é igual a:
M 7, 5  0, 252  kN
 MAX   y   MAX   6 
    MAX  10824, 74 2
I 87, 3  10  2  m
Para que os efeitos mecânicos decorrentes do impacto sejam considerados, deve-
se avaliar consistentemente a parcela de energia decorrente do carregamento externo.
Assim, com base na Eq.(28.30), pode-se escrever que:
L A
 L
M2
U e  U i  P  h   MAX     dadL  P  h   MAX    dL (28.32)
0 0
2 0
2 EI

Com base nos conceitos de linha elástica, apresentados no capítulo 21, pode-se
obter uma expressão que descreva o deslocamento dos pontos materiais que compõem a
viga em análise em função do momento fletor atuante. Aplicando estes conceitos, os
quais serão aqui omitidos com o objetivo de evitar a introdução de conteúdo repetitivo,
obtém-se a expressão que governa o deslocamento dos pontos da viga em análise, a qual
é igual a:
 Px
v  x 
48EI
 3L2  4 x 2  0 xL
2 (28.33)

Deve-se ressaltar que o sinal negativo que surgiu na última equação indica
apenas que o referido deslocamento ocorre na direção vertical com sentido para baixo.
Considerando a equação que descreve o deslocamento da viga, Eq.(28.33), podem ser

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 878

obtidas as expressões que descrevem a rotação v '  x  e a curvatura v "  x  dos pontos

materiais que compõem a viga em análise. Estas expressões são as seguintes:


3 PL2 12 Px 2
v'  x    0 xL
48 EI 48 EI 2

24 Px
v"  x   0 xL
48EI 2
O deslocamento máximo na viga ocorre no centro de seu vão. Assim, com base
na Eq.(28.33), este deslocamento possui a seguinte intensidade:
L
P  2 L 
2
L 2  PL3
v     MAX  3L  4      MAX  (28.34)
 
2 48 EI   2   48 EI

Utilizando a última equação, pode-se expressar o deslocamento máximo em


função da carga P. Assim:
 PL3  MAX 48 EI
 MAX   P
48 EI L3
Dessa forma, a curvatura da viga v "  x  pode ser reescrita na seguinte forma:

24 Px 24 x   MAX 48 EI 
v"  x    v"  x     
48 EI 48 EI  L3 
24 x
v"  x    3  MAX 0 x L
L 2
Com base nos conceitos de linha elástica apresentados no capítulo 21, verifica-se
que o momento fletor está ligado à curvatura de vigas fletidas por meio da relação
M
v"  . Portanto, pode-se expressar o momento fletor atuante na viga em função de
EI
seu deslocamento máximo da seguinte maneira:
M 24 x M 24 EIx
v"     MAX   M   MAX 0 xL
EI L3
EI L3 2
Portanto, considerando a última equação, a Eq.(28.32) pode ser reescrita na
seguinte forma:
2
 24 EIx 
2   MAX 
L L
2 2 3
dL  P  h   MAX   2    dL
M L
P  h   MAX   2  
0
2 EI 0
2 EI

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 879

2,5
576 EI  2MAX x 2
P  h   MAX   2  dL  6  0, 050   MAX   3519,936 2MAX 
0
2 L6
3519, 936 2
MAX  6 MAX  0, 3  0
As raízes que atendem a última equação podem ser determinadas como:

6  36  4  3519, 936   0, 3  6  4259, 923


 MAX 1,2    MAX 1,2 
2  3519, 936 7039,872
6  4259, 923
 MAX 1    MAX 1  1, 012 10 2 m
7039,872
6  4259, 923
 MAX 2    MAX 2  8, 419 10 3 m
7039,872
Com base nas considerações efetuadas neste capítulo relacionadas à conservação
de energia, verifica-se que o deslocamento  M AX 1 ocorre na direção vertical com o

mesmo sentido de aplicação do carregamento, ou seja, para baixo. Essa conclusão pode
ser obtida devido ao sinal associado ao valor de  M AX 1 , o qual é positivo. Já o

deslocamento  MAX 2 , que apresenta sinal negativo, ocorre também na direção vertical,

mas com sentido oposto ao da aplicação do carregamento, ou seja, para cima. Portanto,
para que o deslocamento calculado tenha consistência com o problema tratado, o
deslocamento solução do problema é  M AX 1 . Dessa forma, o deslocamento máximo

devido a ação do impacto é  MAX 1   MAX  1, 012 10 2 m .

Com base em uma análise estática simples, verifica-se que o momento fletor
PL
atuante no centro do vão é igual a M  . Assim, utilizando a Eq.(28.34), pode-se
4
determinar o valor do momento fletor equivalente, o qual considera a influência do
carregamento de impacto, em função do deslocamento máximo. Assim:
 PL3  L2 PL  L2 12 EI
 MAX    MAX    MAX  M  M   MAX
48 EI 12 EI 4 12 EI L2
Deve-se lembrar que, pelo sistema de coordenadas convencionado para o
desenvolvimento do equacionamento da linha elástica, os deslocamentos na direção
vertical com sentido para baixo recebem sinal negativo. O leitor pode consultar o
capítulo 21 para maiores informações. Portanto, para a determinação da intensidade do
momento fletor atuante, conforme apresentado na última equação,  MAX deve receber
um sinal negativo. Dessa forma:

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 880

12 EI 12  210 106  87, 3 10 6


M 
L2
 MAX  M 
52
 1, 012 102  

M  89, 054 kNm


Portanto, a tensão normal máxima, considerando os efeitos de impacto, pode ser
obtida da seguinte maneira:
M 89, 054  0, 252  kN
 MAX   y   MAX       MAX  128532,1 2
I 87, 3  10 6  2  m
Deve-se ressaltar que a tensão normal e o deslocamento máximos são
consideravelmente maiores quando os efeitos de impacto são considerados. Portanto, tal
efeito mecânico deve ser cuidadosamente avaliado em aplicações práticas.

28.6.3 – Exemplo 5

Um vagão ferroviário tem massa de 80 toneladas e move-se a uma velocidade

v  0, 2 m quando atinge um poste de aço, cuja seção transversal é quadrada de lado


s
igual a 200 mm, conforme apresenta a Fig.(28.16). Determine o deslocamento
horizontal no ponto de impacto do poste devido ao impacto. Considere que o material
que compõe o poste possua E=200 GPa.

Figura 28.16 Sistema considerado.

Neste problema será assumida a conservação de energia, sendo a energia


cinética do vagão totalmente absorvida pelo poste. A transformação da energia cinética
em energia estática equivalente conduz, conforme apresentado na Eq.(28.31), a:
1 2 1
mv  P A (28.35)
2 2

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 881

O poste pode ser representado por meio de uma viga engastada em um extremo,
ponto C, e livre no extremo oposto, ponto B. Além disso, o carregamento devido ao
impacto do vagão pode ser representado considerando uma força pontual, a qual é
aplicada no ponto A conforme mostrado na Fig. (28.16).
Com base nos conceitos da linha elástica, os quais foram apresentados no
capítulo 21, pode-se determinar uma expressão que relacione a intensidade da força
pontual aplicada à intensidade do deslocamento perpendicular ao eixo da viga em seu
ponto de aplicação. Utilizando esta teoria, a qual não será desenvolvida durante a
resolução deste exercício para evitar conteúdo repetitivo, obtém-se o valor do
deslocamento do ponto A em função da intensidade da força de impacto. Dessa forma,
pode-se relacionar P a  A por meio da seguinte equação:

PL3 3 EI
A   P A
3 EI L3
sendo P a intensidade da força externa no ponto de aplicação.
Assim, a Eq.(28.35) pode ser reescrita como:

1 1 1 1  3 EI  mv 2 L3
mv 2  P  A  mv 2   3  A   A  A  
2 2 2 2 L  3 EI
80 103  0, 2  1, 53
2

A    A  1,1619 10 2 m
 0, 2  0, 23 
3  200 109   
 12 
A força equivalente decorrente do impacto apresenta a seguinte intensidade:
 0, 2  0, 23 
3  200 109   
PL3  12  1,1619 102  P  275, 41 kN
A   P 3
3EI 1,5

28.7 – Teorema de Castigliano

O teorema de Castigliano define que o deslocamento em um dado ponto de um


elemento estrutural é igual à derivada parcial de primeira ordem da energia de
deformação do corpo, energia interna, em relação a uma força que age no ponto e na
direção do deslocamento desejado. Analogamente, o giro (rotação) em um ponto de um
elemento estrutural pode ser determinado por meio da derivada parcial de primeira

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 882

ordem da energia de deformação no corpo, energia interna, em relação a um momento


que age no ponto e na direção da rotação desejada.
Considerando um corpo em equilíbrio quando este é submetido a um conjunto
de forças externas P  P1 , P2 ,...Pn  , constata-se que se uma dada força pertencente a este

conjunto tem sua intensidade aumentada de um diferencial dPj , o trabalho das forças

externas aumentará. Assumindo a conservação de energia, ou seja U e  U i , o aumento


diferencial da força externa gerará um aumento da energia de deformação (energia
interna). Assim, pode-se escrever que:
U i
U e  dU e  U i  dU i  U i  dPj (28.36)
Pj

Deve-se ressaltar que a ordem, ou sequência, de aplicação das forças externas


não deve alterar a intensidade da energia de deformação. Assim, se fosse, inicialmente,
aplicado o diferencial de força dPj e em seguida o conjunto de forças P  P1 , P2 ,...Pn  , a

energia final (externa e interna) resultante deve ser a mesma. Considerando esta
sequência de aplicação de carregamentos, ou seja, dPj e em seguida as demais,

constata-se que o trabalho externo devido à dPj é dado por:

1
U e  dPj   dPj d  j (28.37)
2
sendo d j o deslocamento ocorrido na direção dPj .

Como dPj e di são grandezas diferenciais, o produto resultante das duas

grandezas diferenciais pode ser desprezado por ser muito pequeno. A aplicação do
conjunto de forças P  P1 , P2 ,...Pn  faz com que a dPj desloque-se de  j , de modo que a

energia de deformação resultante seja:


U i  dU j  U i  dPj  i (28.38)

sendo U i a energia de deformação devido ao conjunto de forças P  P1 , P2 ,...Pn  e dPj  i

a energia de deformação devido a dPj causada pelo deslocamento posterior, devido a

P  P1 , P2 ,...Pn  ,  i .

Como a ordem de aplicação das forças não deve resultar diferenças na energia
final, constata-se que as energias apresentadas na Eq.(28.36) e Eq.(28.38) devem ser
iguais. Portanto:

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 883

U i U i
Ui  dPj  U i  dPj  i   i  (28.39)
Pj Pj

o que prova o teorema de Castigliano.


Para barras axialmente carregadas, a derivada parcial da energia de deformação
em relação à força aplicada pode ser assim expressa:

N2 U i 2Nk   
L L
Ui  
2 EA
dL   
Pj 0 2 EA  Pj
 N k  P    dL 

0 
(28.40)
U i N   
L
 k 
Pj 0 EA  Pj
 N k  P    dL


Já para barras solicitadas à flexão, a variação de energia de deformação é dada
por:
L
M z2
L
1 M zM y
L
M y2
Ui   dL   I yz dL   dL 
0
2 EI z 0
E Iz I y 0
2 EI y
U i 2 M zk
L
   L
2 M yk   

Pj 0 2 EI z
  z      2 EI
M k
P dL    M yk  P    dL 

 Pj  0 y  Pj 
L 1 Mk    1 M yk   
z
I  
0  E I z I y yz  Pj y
 M k
 P     I
 E I I yz  P  M k
z  P     dL  (28.41)
   z y  j  
U i Mk  M yk 
L L
 z
Pj 0 EI z Pj
 M z
k
 P   dL   EI y Pj
 M yk  P   dL
0

1 I yz  k   
L
  M z
E Iz I y  Pj
 M yk  P    M yk
Pj
 M zk  P    dL

0 
Deve-se destacar que se y e z forem eixos principais de inércia I yz será nulo.

Assim, neste caso, o termo integral final da última equação apresentada na Eq.(28.41)
torna-se nulo.
Para barras de seção transversal circular submetidas à torção, a variação de
energia de deformação fica determinada pela seguinte relação:
L
M t2 U i 2 M tk
L
  
Ui   dL  
Pj 0 2GI t
  M tk  P    dL 

0
2GI t  Pj 
(28.42)
U i L M tk   
 
Pj 0 GI t  Pj
 M tk  P    dL


Finalmente, para barras solicitadas ao esforço cortante, a variação da energia de
deformação pode ser avaliada pela seguinte equação:

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 884

L
f s yV y2 L
f szVz2
Ui   dL   dL 
0
2GA 0
2GA
U i
L
f y 2V yk    L
f z 2V k   
 s
Pj 0 2GA
 V yk  P    dL   s z
  Vzz  P    dL 

(28.43)
 Pj  0
2GA  Pj 
U i L f s V y 
y k L
f szVzk   

Pj 0 GA Pj
 y     GA
V k
P dL   Vzz  P    dL

0  Pj 

28.7.1 – Exemplo 6

Determine o deslocamento vertical da articulação A e horizontal da articulação


B da estrutura formada por elementos de barra simples apresentada na Fig. (28.17).
Trata-se de uma treliça plana, vinculada em dois pontos, submetida à ação de uma força
atuante em sua articulação A. Utilize o teorema de Castigliano sabendo que todas as
barras da treliça possuem as seguintes propriedades E  200 GPa e A  600 mm 2 .

Figura 28.17 Treliça plana a ser analisada.

A determinação da intensidade dos esforços normais atuantes nas barras da


treliça plana mostrada na Fig. (28.17) pode ser facilmente efetuada por meio do método
dos nós, o qual foi apresentado no capítulo 3. Aplicando este método obtêm-se os
seguintes valores para os esforços normais atuantes nas barras da treliça plana analisada:

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 885

N AB  6, 25 kN
N AD  3, 75 kN
N BD  6, 25 kN
N BC  7,5 kN
O sinal negativo indica que o esforço normal determinado é compressivo,
enquanto que o sinal positivo indica esforço normal trativo.
Para a determinação do deslocamento vertical no ponto A, deve-se aplicar uma
força vertical P neste ponto e em seguida obter expressões que relacionem o esforço
normal nas barras da treliça analisada à intensidade da força P. Portanto, deve-se
analisar a treliça plana apresentada na Fig. (28.18). Aplicando o método dos nós, obtêm-
se os valores dos esforços normais nas barras dessa treliça, os quais são iguais a:
N AB  1, 25 P
N AD  0, 75 P
N BD  1, 25 P
N BC  1, 5 P

Figura 28.18 Treliça plana a ser analisada considerando carga P.

Aplicando o teorema de Castigliano para barras axialmente carregadas,


Eq.(28.40), obtêm-se:

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 886

Tabela 28.2 Cálculo do deslocamento via teorema de Castigliano.

N NL N
Barra N (kN) N(P) P L(m) A(m2)
EA P
AB 6,25 1,25 P 1,25 2,5 600 x 10-6 1,6276 x 10-4
AD -3,75 -0,75 P -0,75 3,0 600 x 10-6 7,0313 x 10-5
BD -6,25 -1,25 P -1,25 2,5 600 x 10-6 1,6276 x 10-4
BC 7,5 1,5 P 1,5 1,5 600 x 10-6 1,4063 x 10-4

Assim, o deslocamento vertical do ponto A é obtido somando-se as


contribuições de cada uma das barras. Assim:
 A  1, 6276 104  7, 0313 105  1, 6276 104  1, 4063 104 
 A  5,365 104 m  0,5365 mm
Como o deslocamento obtido resultou positivo, isso indica que o mesmo
encontra-se na direção de atuação da força P aplicada, ou seja, vertical para baixo.
Para a determinação do deslocamento horizontal no ponto B, deve-se aplicar
uma força horizontal P nesse ponto e em seguida expressar os esforços normais nas
barras da treliça em função da intensidade da força externa P aplicada. Portanto, a
estrutura a ser analisada é a apresentada na Fig. (28.19).

Figura 28.19 Treliça plana a ser analisada considerando carga P.

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 887

Aplicando o método dos nós, as intensidades dos esforços normais nas barras da
treliça podem ser facilmente determinadas, os quais são iguais a:
N AB  0
N AD  0
N BD  0
N BC  P
Aplicando o teorema de Castigliano para barras axialmente carregadas,
Eq.(28.40), obtêm-se:

Tabela 28.3 Cálculo do deslocamento via teorema de Castigliano.

N NL N
Barra N (kN) N(P) P L(m) A(m2)
EA P
AB 6,25 0 0 2,5 600 x 10-6 0
AD -3,75 0 0 3,0 600 x 10-6 0
BD -6,25 0 0 2,5 600 x 10-6 0
BC 7,5 P 1 1,5 600 x 10-6 9,375 x 10-5

Assim, o deslocamento horizontal do ponto B é obtido somando-se as


contribuições de cada uma das barras. Dessa forma:
 B  0  0  0  9, 375  10 5   B  9, 375  10  5 m  0, 09375 mm

Como o deslocamento obtido resultou positivo, isso indica que o mesmo


encontra-se na direção de atuação da força P aplicada, ou seja, horizontal para a
esquerda.

28.7.2 – Exemplo 7

Determine o deslocamento vertical do ponto localizado no extremo direito de


uma viga em balanço submetida a um carregamento uniformemente distribuído e a um
momento concentrado, a qual é apresentada na Fig. (28.20). Em seguida, determine a
rotação do ponto localizado no centro do vão dessa viga. Em ambos os casos, considere
apenas a contribuição de energia correspondente ao momento fletor.
Aplicando os conceitos de equilíbrio em elementos de barras isostáticos, pode-se
determinar a equação que governa a variação do momento fletor ao longo do

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 888

comprimento da viga apresentada na Fig. (28.20). Considerando como origem do


sistema de coordenadas o engaste tem-se:
wL2 wx 2
M   wLx   M0
2 2

Figura 28.20 Viga a ser analisada.

Para que o deslocamento vertical desejado seja calculado, deve-se determinar a


equação do momento fletor mobilizado por uma força P aplicada no extremo direito da
viga. Esta condição está ilustrada na Fig. (28.21). Para a viga apresentada nesta figura, a
equação que descreve a variação do momento fletor ao longo da viga, assumindo que a
origem encontra-se no engaste, é igual a:
M  PL  Px

Figura 28.21 Viga com força P aplicada.

Aplicando a relação que permite a determinação do deslocamento vertical em


elementos fletidos, Eq.(28.41) tem-se:
L
M zk   
   M zk  P    dL


0
EI z  Pj 
 wL2 wx 2 
L 
  wLx   M0 

2 2    PL  Px  dx
   
0
EI z  P 

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 889

 wL2 wx 2 
L 
  wLx   M0 
2 2
  L  x dx
  
0
EI z
L
  wL3 x wL2 x 2 wL2 x 2 wLx 3 wLx 3 wx 4 M 0 x2 
 2       
2 
M 0 Lx
4 2 3 6 8
 
EI z 0

 wL4 M 0 L2

 8 2
EI z
O sinal negativo que surgiu no resultado obtido indica que o deslocamento no
ponto ocorre no sentido contrário ao da força P aplicada. Portanto, no ponto localizado
no extremo direito da viga apresentada na Fig. (28.20), o deslocamento observado será
vertical para baixo.
Para a determinação da rotação no ponto localizado no centro do vão, deve-se
aplicar um momento externo de intensidade P neste ponto. Em seguida, deve-se
determinar a equação do momento fletor atuante na viga. Assim, para a situação
descrita, a viga a ser considerada é a apresentada na Fig. (28.22). Com base nos
conceitos de equilíbrio, verifica-se facilmente que a equação que descreve o momento
fletor nessa viga é a seguinte:

M P 0 x L
2
M 0 L  x0
2
Deve-se ressaltar que esta equação é válida a partir da origem, considerada no
engaste, até o ponto de aplicação do momento P, ou seja, o centro do vão da viga.
Portanto, a rotação no ponto desejado será determinada utilizando-se a Eq.(28.41).
Assim:

Figura 28.22 Viga com momento P aplicado.

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 890

M zk
L
  
    M zk  P    dL


0
EI z  Pj 
L
2
M zk    L
M zk   
    M z  P    dL   EI
k
  M zk  P    dL


0
EI z  Pj  L
2
z  Pj 
 wL2 wx 2 
2
 L  wLx   M0 
 
2 2    P  dx 
  
0
EI z   P 
 wL2 wx 2 
   wLx   M0 
 2 2    0  dx
L

    
L EI z  P 
2
L
  wL2 x wLx 2 wx 3  2 7 wL3 M 0 L
     M 0 
x  
2 2 6
      48 2
 EI z  EI z
 
 0
O sinal negativo que surgiu no resultado obtido indica que a rotação atuante na
barra em análise ocorre no sentido contrário ao do momento fletor P aplicado. Portanto,
a rotação atuante é orientada no sentido horário.

28.8 – O Princípio dos Trabalhos Virtuais (PTV)

A palavra virtual indica algo que existe potencialmente, não de fato. Assim,
simplificadamente, pode-se compreender a palavra virtual como algo imaginário, não
real. No tocante à análise mecânica de estruturas, um deslocamento virtual pode ser
entendido como um deslocamento imaginário arbitrariamente imposto sobre um dado
sistema estrutural. Analogamente, por força virtual, entende-se uma força imaginária
imposta sobre um dado sistema estrutural.
Como o conceito de trabalho, conforme anteriormente apresentado, envolve o
produto escalar entre força e deslocamento, pode-se definir uma grandeza relacionada à
força e ao deslocamento virtuais, a qual é denominada trabalho virtual. No contexto dos
conceitos apresentados neste texto, o trabalho virtual será considerado como sendo o
trabalho realizado, em uma dada estrutura, por forças reais durante um deslocamento
virtual ou o trabalho realizado por forças virtuais durante um deslocamento real.

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 891

De forma mais precisa, assumindo a existência de um sistema estrutural e de um


conjunto de ações externas sobre ele atuante, pode-se considerar como deslocamento
virtual um deslocamento provocado por uma ação que não pertença ao sistema de ações
atuante na estrutura. Força virtual, igualmente, pode ser considerada como uma força
qualquer que não provoque um deslocamento real. Portanto, na expressão do trabalho
virtual, a força e o deslocamento envolvidos (virtual e real ou vice-versa) têm uma
relação de correspondência, porém, nunca de causalidade.
Assumindo que a conservação de energia seja observada, U e  U i , o trabalho
virtual pode ser utilizado para a determinação de deslocamentos e rotações em
estruturas. Para entender como o trabalho virtual pode ser aplicado, deve-se considerar
uma estrutura, com geometria qualquer, na condição de equilíbrio estático quando
submetida a um conjunto de carregamentos externos, Pi , e condições de vinculação,
como apresenta a Fig. (28.23). Admitindo que sobre esta estrutura seja aplicado um
deslocamento virtual  em um dado ponto de seu contorno, ponto A, por exemplo, este
deslocamento irá provocar uma pequena mudança na forma (geometria) da estrutura em
análise.

Figura 28.23 Corpo em equilíbrio submetido a carregamentos externos e condições de vinculação.

Durante o deslocamento virtual, mantendo-se constante o carregamento externo


aplicado, cada ponto da estrutura será deslocado para uma nova posição, acarretando,
consequentemente, a deformação da própria estrutura. Portanto, as tensões resultantes
dos carregamentos externos nesses pontos realizarão trabalho virtual. O trabalho

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 892

realizado pelos carregamentos externos durante o deslocamento virtual, em um dado


ponto material, é denominado dWe . Já o trabalho realizado pelas tensões durante o

deslocamento virtual, em um dado ponto material, pode ser subdividido em: dWr
(trabalho causado pelo deslocamento do ponto como corpo rígido – translação e
rotação) e dWd (trabalho associado à deformação do ponto). Assim, considerando a
conservação de energia, pode-se escrever que:
dWe  dWr  dWd (28.44)
Como a estrutura está em equilíbrio estático, todo ponto que compõe esta
estrutura estará também em equilíbrio estático. Assim, o trabalho virtual realizado pelas
forças externas e internas, em decorrência do movimento de corpo rígido, durante o
deslocamento virtual do corpo é nulo ( dWr  0 ). Portanto dWe  dWd . Somando-se as
contribuições de trabalho para todos os pontos materiais que compõem a estrutura
considerada tem-se:

 dW   dW

e

d  We  W d (28.45)

A integral do primeiro membro da Eq.(28.45) é igual ao trabalho virtual das


forças externas atuantes sobre a estrutura, sendo chamado de trabalho externo, Wext . Já a
integral do segundo membro desta equação corresponde ao trabalho virtual associado à
deformação dos pontos que compõem a estrutura, ou seja, trabalho virtual interno, Wint .
A Eq.(28.45) representa o princípio do trabalho virtual e pode ser definida da seguinte
forma: quando à uma estrutura deformável, em equilíbrio sob a ação de um sistema de
carregamentos, é dada um deslocamento virtual, o trabalho realizado pelas forças
externas é igual ao trabalho virtual realizado pelas forças internas.
Deve-se salientar que o deslocamento virtual aplicado deve ser compatível com
as condições de vinculação da estrutura, de forma a manter válida as condições de
continuidade e compatibilidade da estrutura. A mudança virtual na forma pode ser
arbitrariamente imposta à estrutura e não deve ser confundida com deformações
causadas por cargas reais. Além disso, deve-se mencionar que o princípio dos trabalhos
virtuais (PTV) aplica-se independentemente do material estrutural se comportar de
maneira elástico linear ou elástico não linear.
Analogamente, pode-se utilizar o PTV assumindo a aplicação de uma força
virtual e não deslocamento como apresentado anteriormente. Essa discussão será

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 893

omitida aqui por simplicidade. Porém, a conclusão será a mesma que obtida
anteriormente, ou seja, o trabalho realizado pelas forças externas será igual ao trabalho
virtual realizado pelas forças internas.

28.9 – O Método da Carga Unitária

A particularização do PTV na qual se considera a força virtual (ou forças


virtuais) com valor unitário é conhecida como Método da Carga Unitária (MCU). Este
método pode ser aplicado para a determinação de deslocamentos (devidos a
deformações reais causadas pelo carregamento) em estruturas isostáticas. Como o MCU
é uma sistematização do PTV, sua formulação geral pode ser utilizada em estruturas de
comportamento elástico linear e elástico não linear.
Considere que seja de interesse, em uma análise estrutural, a determinação de
um dado deslocamento  , por exemplo o deslocamento vertical no ponto C, de uma
estrutura isostática submetida a um sistema de carregamentos arbitrário, como apresenta
a Fig. (28.24).

Figura 28.24 Estrutura com carregamentos prescritos. Determinação deslocamento ponto C.

Por meio do MCU, considera-se outro sistema de carregamento atuando sobre a


mesma estrutura constituído de uma força virtual unitária P, correspondente ao
deslocamento provocado  , como indicado na Fig. (28.25).
Tem-se, pelo PTV, que dWe  dWd , ou seja Fvirtual
externo
 real  Fvirtual
interno
 real . Então, o
trabalho virtual neste caso é devido a forças virtuais e deslocamentos reais. O trabalho
virtual externo é igual a:

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 894

dWe  P  dWe  1  dWe   (28.46)

Figura 28.25 Atuação da carga unitária no ponto C.

Já o trabalho virtual interno será, como anteriormente apresentado neste


capítulo, igual a:
dWi   nd    md   vd    td  (28.47)
   

onde n , m , v e t representam os esforços solicitantes normal, fletor cortante e torçor


devido a presença da carga unitária P e  ,  ,  e  são os deslocamentos generalizados
associados a cada um dos esforços solicitantes.
Portanto, a equação geral do MCU pode ser assim escrita:
   nd    md    vd    td  (28.48)
   

Os deslocamentos generalizados  ,  ,  e  são provocados por ações reais (não


virtuais) como carregamentos externos, variação de temperatura, recalques de apoio,
modificações impostas na montagem, entre outras; isto é, qualquer tipo de solicitação
externa real que produza deformações na estrutura. Esses deslocamentos generalizados,
como são reais, podem ser relacionados aos esforços solicitantes reais atuantes na
estrutura. Utilizando os conceitos anteriormente introduzidos nesse curso pode-se
escrever que:
N M f sV Mt
d  dl d  dl d  dl d  dl (28.49)
EA EI GA GI t

Substituindo os deslocamentos generalizados reais obtidos na Eq.(28.49) na


Eq.(28.48) obtêm-se:

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 895

nN mM f vV mM
  EA dl  
L L
EI
dl   s
L
GA
dl   t t dl
L
GI t
(28.50)

que é a expressão do MCU para estruturas de comportamento mecânico elástico linear


sujeitas a sistemas gerais de carregamentos.

28.9.1 – Exemplo 8

Determine o deslocamento vertical do ponto C da estrutura composta por


elementos de barra simples (treliça) apresentada na Fig. (28.26). Utilize o PTV sendo
E  210 GPa e A  10 cm2 .

Figura 28.26 Estrutura a ser analisada.

Para a resolução desse exemplo deve-se, inicialmente, determinar os valores das


reações de apoio. Considerando os sentidos das reações de apoio indicados no diagrama
de corpo livre apresentado na Fig. (28.27), pode-se aplicar as equações de equilíbrio de
corpo rígido no plano, as quais conduzem às seguintes respostas.

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 896

M 0 A  VD  2  10  2  5  2  0  VD  5 kN
F 0
x  HA 5  0  H A  5 kN
F 0
y  V A  5  10  0  V A  5 kN

Figura 28.27 Diagrama de corpo livre problema real.

A determinação da intensidade dos esforços normais atuantes nas barras da


treliça plana mostrada na Fig. (28.27) pode ser facilmente efetuada por meio do método
dos nós. Aplicando este método obtêm-se os seguintes valores para os esforços normais
atuantes nas barras da treliça plana analisada:
N CD  10 kN
N BC  0
N BD  7, 071 kN
N AD  5, 0 kN
N AB  5, 0 kN
Para que a resolução desse exemplo seja efetuada via PTV, os esforços
solicitantes na estrutura analisada devem ser determinados considerando uma carga
unitária vertical atuando sobre o nó C. Nessa configuração, o diagrama de corpo livre da
estrutura é o apresentado na Fig. (28.28). Aplicando, sobre o corpo livre mostrado nesta
figura, as equações de equilíbrio de corpo rígido no plano obtêm-se os seguintes valores
para as reações de apoio.

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 897

M 0 D  VA  2  0  VA  0
F 0x  HA  0
F 0y  VD  0  10  0  VD  10 kN

Figura 28.28 Diagrama de corpo livre problema virtual.

Os esforços normais do problema virtual podem ser obtidos utilizando-se o


método dos nós. Por meio desse método obtêm-se os seguintes valores para os esforços
normais:
N CD  1, 0
N BC  0
N BD  0
N AD  0
N AB  0
Assim, o deslocamento vertical do nó C pode ser determinado utilizando-se o
resultado apresentado na Eq.(28.50). Como nas treliças apenas os esforços normais são
não nulos, no problema analisado esta equação simplifica-se como:
nN
  EA dl
L

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 898

Como os esforços normais são constantes, tanto no problema real quanto no


problema virtual, os cálculos necessários à determinação do deslocamento desejado
podem ser organizados de uma maneira simples como mostra a tabela a seguir:
Tabela 28.4 Cálculo do deslocamento via PTV.

nN
Barra n N (kN) L(m) EA(kN) L
EA
AB 0 -5,0 2,0 210000 0
AD 0 -5,0 2,0 210000 0
BC 0 0 2,0 210000 0
BD 0 7,071 2 3 210000 0
CD -1,0 -10 2,0 210000 9,5238 x 10-5

Dessa forma, o deslocamento vertical do nó C é dado por:


n Barras
ni N i
   EA 
i 1
Li    0  0  0  0  9, 5238  10 5    9, 5238  10 5 m
i

28.9.2 – Exemplo 9

Determine o deslocamento vertical e a rotação da extremidade direita da viga


apresentada na Fig. (28.29) utilizando o PTV. Trata-se de uma viga engastada solicitada
por um carregamento uniformemente distribuído. Considere EI constante e utilize
apenas as componentes de energia decorrentes do momento fletor.

Figura 28.29 Viga engastada submetida a um carregamento uniformemente distribuído.

A equação que governa a variação do momento fletor ao longo do comprimento


da viga apresentada na Fig. (28.29) pode ser facilmente determinada utilizando os

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 899

conceitos de equilíbrio em elementos de barras isostáticos. Considerando como origem


do sistema de coordenadas o engaste tem-se:
wL2 wx 2
M   wLx 
2 2
Para que o deslocamento vertical desejado seja determinado, via PTV, deve-se
expressar a variação do momento fletor ao longo do comprimento da viga considerando
a aplicação de uma força unitária na extremidade direta da viga. Esta condição está
apresentada na Fig. (28.30). Para a viga apresentada nesta figura, a equação que
descreve a variação do momento fletor ao longo da viga, assumindo que a origem
encontra-se no engaste, é a seguinte:
M  xL

Figura 28.30 Viga engastada submetida a um carregamento uniformemente distribuído.

O deslocamento vertical do extremo direito da viga analisada pode ser


determinado utilizando-se o resultado apresentado na Eq.(28.50). Como apenas a
contribuição devido ao momento fletor deve ser considerada, conforme o enunciado do
problema, a Eq.(28.50) simplifica-se como:
mM
 
L
EI
dl

Portanto:
 wL2 wx 2 
   wLx  x  L
mM L
 2 2 
 dl   dl 
EI 0 EI
L

 wx 3 wL2 x wLx 2 wL3 


   wLx 2
   wL2
x  
L
 2 2 2 2 
 dl 
0 EI
L
 wx 4 wLx 3 wL2 x 2 wLx 3 wL2 x 2 wL3 x 
 8  3  4  6  2  2 
 0 wL4
  
EI 8 EI

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 900

O sinal positivo obtido para o deslocamento calculado indica que este é


orientado no sentido de aplicação da carga unitária, ou seja, vertical para baixo.
Para a determinação da rotação na extremidade direita da viga analisada, deve-se
aplicar um momento fletor unitário neste ponto e em seguida utilizar a Eq.(28.50). A
viga considerada e o momento fletor unitário estão apresentados na Fig. (28.31). Para a
viga apresentada nesta figura, a equação que descreve a variação do momento fletor ao
longo de seu comprimento, assumindo que a origem encontra-se no engaste, é a
seguinte:
M 1

Figura 28.31 Viga engastada submetida a um carregamento uniformemente distribuído.

Como apenas a contribuição devido ao momento fletor deve ser utilizada, a


Eq.(28.50), aplicada a esta análise, pode ser reescrita como:
mM
 
L
EI
dl

Dessa forma:
 wL2 wx 2 
   wLx   1
mM L
 2 2 
  dl     dl 
EI 0 EI
L
L
 wx 3 wLx 2 wL2 x 
 6  2  2 
wL3
 0
  
EI 6 EI
O sinal negativo obtido como resultado nessa análise indica que a rotação no
ponto desejado possui sentido contrário ao do momento unitário aplicado. Portanto, a
rotação na extremidade direita da viga em balanço analisada ocorre no sentido horário.

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 901

28.10 – Aplicação da Tabela de Integrais de Produtos de Funções

A determinação das equações que descrevem as variações dos esforços


solicitantes ao longo do comprimento de barras, tanto no problema real quanto no
problema virtual, em análises correntes de engenharia pode nem sempre ser uma tarefa
fácil. Além disso, mesmo se tais equações forem conhecidas, existe ainda a tarefa
relacionada à integração do produto de duas funções. Embora de simples execução, esta
última tarefa pode demandar certo tempo, devido ao elevado número de termos que,
normalmente, devem ser integrados. Com o objetivo de acelerar os procedimentos de
análise e evitar erros decorrentes da execução de operações algébricas simples, pode-se
aplicar a tabela de integrais de produtos de funções apresentada no final desse capítulo,
item 28.13. Por meio dessa tabela, basta que as geometrias dos diagramas de esforços
solicitantes sejam conhecidas, tanto no problema real quanto no virtual, assim como
seus valores máximos. As geometrias dos diagramas de esforços solicitantes dos
problemas real e virtual são relacionadas por meio dessa tabela, a qual fornece
diretamente o resultado da integral do produto das funções.

28.10.1 – Exemplo 10

Determine os deslocamentos horizontal e vertical do nó B do pórtico plano


apresentado na Fig. (28.32) por meio do PTV. Trata-se de um pórtico plano apoiado em
dois nós, sendo um apoio fixo e o outro móvel, o qual é solicitado por dois
carregamentos distribuídos e um concentrado. Considere que E  210 GPa ,

I  104  10 6 m 4 , A  8,56 103 m 2 , f s  6 , e G  80, 77 GPa .


5
Para a resolução desse exemplo deve-se, inicialmente, construir os diagramas de
esforços solicitantes do pórtico plano apresentado na Fig. (28.32). Com base no
diagrama de corpo livre apresentado na Fig. (28.33) pode-se determinar as reações de
apoio impondo-se as condições de equilíbrio de corpo rígido. Portanto:
3, 5
M 0 A  VC  3, 5  3  3, 5 
2
 10  3  0  VC  3, 32 kN

F 0x   H A  10  0  H A  10 kN
F 0 y  V A  2  3  3  3, 5  3, 32  0  V A  19,82 kN

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 902

Figura 28.32 Estrutura a ser analisada.

Figura 28.33 Diagrama de corpo livre.

Com base nos valores das reações de apoio e nas condições de carregamento, os
diagramas de esforços solicitantes do problema real podem ser construídos. Tais
diagramas estão apresentados na Fig. (28.34).
Em seguida, devem ser construídos os diagramas de esforços solicitantes para os
problemas virtuais. Objetivando determinar, primeiramente, o deslocamento vertical do
nó B, deve-se aplicar uma força unitária vertical neste nó. Para a estrutura solicitada

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 903

pela carga unitária, deve-se também construir os diagramas de esforços solicitantes para
que estes possam ser combinados com os diagramas obtidos no problema real. Para esta
condição tem-se a estrutura apresentada na Fig. (28.35) sendo nesta mesma figura
apresentado seu diagrama de corpo livre.

Figura 28.34 Diagramas de esforços solicitantes para o problema real.

Figura 28.35 Problema virtual com força unitária vertical. Diagrama de corpo livre.

Impondo sobre a estrutura apresentada na Fig.(28.35) as condições de equilíbrio


de corpo rígido obtêm-se suas reações de apoio. Assim:

M 0 A  VC  0
F 0x  HA  0
F 0y  VA  1

Com base nas reações de apoio determinadas anteriormente e nas condições de


carregamento e vinculação atuantes sobre o problema virtual considerado pode-se

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 904

construir seus diagramas de esforços solicitantes, os quais estão apresentados na Fig.


(28.36).

Figura 28.36 Diagramas de esforços solicitantes para o problema virtual.

O deslocamento vertical do nó B pode ser determinado com base na Eq.(28.50),


a qual envolve os esforços solicitantes dos problemas real e virtual. Porém, neste
exemplo, a integração dos núcleos envolvidos será efetuada por meio da tabela
apresentada em anexo a este capítulo. Assim:
1 1  1 
    3, 0  2   1 19,82  13,82  
EA 210 10  8, 56 10 3
6

  2,8071 10 5 m
O deslocamento calculado resultou sinal positivo, portanto, o deslocamento
possui sentido igual ao da força unitária aplicada, ou seja, vertical para baixo.
Para a determinação do deslocamento horizontal do nó B, deve-se construir os
diagramas de esforços solicitantes do problema virtual composto pela estrutura
apresentada na Fig. (28.32) considerando, como carregamento externo aplicado, uma
força unitária horizontal aplicada sobre o nó B. O problema virtual apresentado neste
parágrafo, assim como seu diagrama de corpo livre, está apresentado na Fig. (28.37).

Figura 28.37 Problema virtual com força unitária horizontal. Diagrama de corpo livre.

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 905

As reações de apoio da estrutura apresentada na Fig. (28.37) podem ser


determinadas impondo-se as equações de equilíbrio de corpo rígido. Dessa forma:

M 0 A  VC  3, 5  1  3  0  VC  0,857
F 0 x  1 H A  0  H A  1
F 0 y  V A  0,857  0  V A  0,857

A partir das reações de apoio determinadas anteriormente e das condições de


carregamento e vinculação atuantes sobre o problema virtual considerado, pode-se
construir seus diagramas de esforços solicitantes, os quais estão apresentados na Fig.
(28.38).

Figura 28.38 Diagramas de esforços solicitantes para o problema virtual.

O deslocamento desejado será determinado por meio da Eq.(28.50), cujos


núcleos integrais serão avaliados utilizando a tabela apresentada em anexo a este
capítulo. Dessa forma:
1 fs fs 1
        
EA GA GA EI

1
  
EI
1  1 
 3 
3    0,857  19,82  13,82   
210 10  8, 56 10  2
6

6
5 3  1  10  
80, 77 10 6  8, 56 10 3
6
5  1 
3 
3, 5    0,857 13,82  3, 32   
80, 77 10  8, 56 10 
6
2 

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 906

1  1 
  3  3  3  30  
210 10 6 104 10 6
1  1 1  3  3, 5 2  
 3, 5   3  30  3, 5   3       8, 3131  10 3 m
210 10 104 10 6
6
 3 3  8 
O deslocamento calculado resultou sinal positivo. Dessa forma, este
deslocamento possui sentido igual ao da força unitária aplicada, ou seja, horizontal para
a esquerda.

28.11 – Minimização do Funcional da Energia Total. Método de Rayleigh-


Ritz

A busca por soluções analíticas para a descrição exata do comportamento


mecânico de estruturas é uma árdua tarefa, sendo factível se um conjunto de hipóteses
simplificadoras for assumido. Além disso, tais soluções são aplicáveis a um conjunto
restrito de problemas, o que torna este tipo de solução limitada e não robusta.
Uma abordagem mais geral envolve a proposição de soluções aproximadoras
utilizando um funcional de energia. O funcional nada mais é que uma função global
formada por um conjunto de funções. Pode-se definir um funcional de energia, no caso
de problemas mecânicos elastostáticos, utilizando-se as parcelas de energia externa e
interna da seguinte maneira:
 u , v   U i  U e (28.51)

sendo u e v os deslocamentos horizontal e vertical dos pontos que compõem o corpo.


Assumindo que a conservação de energia seja válida, constata-se que o funcional
apresentado na Eq.(28.51) possui valo nulo. Dessa forma, as funções aproximadoras
propostas devem tornar estacionário este funcional obedecendo às condições de
vinculação do problema. Considerando que a energia interna dependa dos estados de
tensão e de deformação nos pontos que compõem o corpo e que a energia externa é
dependente dos carregamentos externos aplicados e dos deslocamentos em seus pontos
de atuação, pode-se reescrever a Eq.(28.51) na seguinte forma:
1 n
 u , v                
T

2   

T
 d   b  d   q   d   Pi  i (28.52)
 i i

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 907

onde   e   são vetores que contêm as componentes dos tensores de tensão e

deformação, respectivamente, b é um vetor que representa as componentes de forças

de domínio atuantes no domínio  do corpo em análise,  é o vetor que representa

os deslocamentos, nas direções x e y, dos pontos materiais que compõem o corpo em


análise. Assim,  contém os valores de u e v . q é o vetor que armazena as funções

que descrevem os carregamentos distribuídos atuantes ao longo do contorno  do


corpo, enquanto P são os valores dos carregamentos concentrados atuantes nos n pontos
i.
Para elementos de barra simples, barras de treliças, o deslocamento axial da
barra está associado à sua deformação normal por meio da seguinte relação:
NL Ndx N du
u  du     E    Eu ' (28.53)
EA EA A dx
A relação entre o deslocamento axial e a deformação normal para elementos de
barra simples foi efetuada também no item 14.4. Comparando o resultado da Eq.(28.53)
du
com a lei de Hooke, percebe-se que   . Portanto, a parcela de energia interna para
dx
esse tipo de barra pode ser assim escrita:
L
1 1
U i      d   U i     Eu 'u '  dAdx 
T

2 20A
(28.54)
L
1
U i   EA  u '  dx
2

20

Assim, verifica-se que a parcela de energia interna de elementos de barra


simples depende de um núcleo integral que envolve a primeira derivada da função que
descreve os deslocamentos axiais da barra.
Já para elementos estruturais fletidos, vigas por exemplo, o termo da energia
interna pode ser descrito considerando a expressão da linha elástica (conteúdo descrito
no capítulo 21), ou seja, EIv ''  M . Substituindo esta última expressão na equação da
flexão obtém-se:
M EIv ''
  y    y     Ev '' y (28.55)
I I
Reescrevendo a parcela de energia interna com o auxílio da lei de Hooke e da
Eq.(28.55) obtém-se:

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 908

1 1  L
Ui      d   U i     dAdx 
T

2 20A E
(28.56)
  Ev '' y 
2
L L
1 1
dAdx  U i   EI  v ''  dx
2
Ui   
20A E 20

Segundo a primeira lei da termodinâmica, a variação da energia interna deve ser


igual ao trabalho realizado pelas forças externas. Em caso de ausência de formas de
dissipação de energia, isso implica que a energia potencial total deve permanecer
inalterada durante o processo de deformação. Isso permite estabelecer que a variação de
energia total deve ser nula. Então:
 u , v   U i  U e    u , v    U i   U e (28.57)

A solução do problema variacional consiste em encontrar uma função


deslocamento que torne o funcional   u , v  estacionário, obedecendo às condições de

vinculação (condições de contorno essenciais). Assumindo que a função deslocamento


possa ser expressa em função de parâmetros  i , a Eq.(28.57) pode ser assim reescrita:
  
   u , v        1   2  ...   n  0 (28.58)
 1  2  n

Como o valor de  i pode ser arbitrado tem-se:



0 i  1, n (28.59)
 i

A metodologia descrita permite anteriormente torna-se rápida e robusta para a


solução de diversos problemas de engenharia envolvendo a mecânica dos
sólidos/resistência dos materiais. O procedimento geral de solução envolve a
determinação de uma função aproximadora dos deslocamentos, com i parâmetros  . A
solução aproximadora deve satisfazer as condições de vinculação do problema
(condições de contorno essenciais). Em seguida, deve-se determinar os valores de  i
que minimizem o funcional de energia, Eq.(28.59).
Pode ser demonstrado, e não será aqui efetuado por estar além dos objetivos
desse curso, que o funcional   u , v  é quadrático para os problemas da mecânica dos

sólidos/resistência dos materiais. Dessa forma, a Eq.(28.59) retorna um sistema linear


de equações. Além disso, esse tipo problema apresenta um mínimo energético bem
caracterizado. Por meio desse método, espera-se melhora na precisão da resposta à

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 909

medida que o número de parâmetros  são acrescidos. Assim, espera-se resposta exata
quando a quantidade de parâmetros  for grande o suficiente.
Deve-se destacar que as funções utilizadas no funcional energético para a
aproximação do campo de deslocamentos devem atender às condições de vinculação do
problema. Além disso, tais funções devem apresentar continuidade até a ordem m  1 ,
sendo m a máxima ordem de derivada da função contida no funcional. No caso de
problemas complexos, onde uma única função não é capaz de descrever com precisão o
campo de deslocamentos do problema, pode-se utilizar funções aproximadoras em
trechos isolados da estrutura. Nesse caso, condições de compatibilidade devem ser
impostas ao longa das interfaces entre os trechos analisados de forma a garantir a
continuidade material.
O método descrito nesse item é conhecido como método de Rayleigh-Ritz, o
qual foi desenvolvido por Lord Rayleigh, por meio de seu trabalho intitulado The
Theory of Sound de 1877, e pelo físico Walther Ritz, que em 1908 lhe deu segura base
matemática.

28.11.1 – Exemplo 11

Determine o deslocamento no centro do vão da viga mostrada na Fig. (28.39).


Trata-se de uma viga bi apoiada submetida a um carregamento uniformemente
distribuído. Considere EI constante.

Figura 28.39 Viga a ser analisada.

Pode-se resolver esse problema utilizando-se uma função aproximadora do


segundo grau. Assim:
_
v  , x    1 x 2   2 x   3

Impondo-se as condições de vinculação do problema tem-se:

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 910

_
v  , 0   0   1 0 2   2 0   3  0   3  0
_
v  , L   0   1 L2   2 L  0   2   1 L

Portanto, a função aproximadora para o problema em questão pode ser assim


reescrita:
_
v  , x    1 x 2   1 Lx

Consequentemente, as derivadas da função aproximadora podem ser assim


expressas:
_
v  , x   2 1 x   1 L
'

_
v  , x   2 1
''

Assim, o funcional de energia assume a seguinte forma:


L L
1
EI  v ''  dx   qvdx 
2

20 0
L L L
1 1
 EI  2 1  dx   q  1 x 2   1 Lx  dx     4 EI  12 dx 
2

20 0
20
L

  q x  q 1 Lx  dx 
2
1
0
L
 q x 3 q Lx 2  q L3 q L3
L
1  1
   EI 4 12 x    1  1     EI 4 12 L  1  1 
2 0  3 2 0 2 3 2
q 1 L3
  2 EI  12 L 
6
Derivando o funcional de energia em relação ao parâmetro 1 tem-se:

 qL3 qL2
 4 EI  1 L  0  1  
 1 6 24 EI

Portanto, a solução aproximadora dos deslocamentos assume a seguinte forma:


_
qL2 2 qL3
v  x   x  x
24 EI 24 EI
Dessa forma, o deslocamento no centro do vão possui a seguinte intensidade:
2

 2 qL2  L  qL3 L
 2 qL4
_ _
v L      v L 
24 EI  2  24 EI 2 96 EI
A solução obtida ainda está distante da solução exata para o caso estudado, que é

igual a: v L  
2

5 qL4
384 EI
. Verifica-se que no problema estudado o momento fletor

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 911

possui variação quadrática ao longo do comprimento da viga. Assim, a solução exata do


problema é do quarto grau, conforme a dependência entre o momento fletor e o
deslocamento dado pela equação da linha elástica. Portanto, pode-se resolver novamente
o problema utilizando-se um polinômio completo do quarto grau para a obtenção da
solução exata. Assim:
_
v  , x    1 x 4   2 x 3   3 x 2   4 x   5

Impondo, sobre a função aproximadora, as condições de restrição ao


deslocamento obtêm-se:
_
v  , 0   0   1 0 4   2 0 3   3 0 2   4 0   5  5  0
_
v  , L   0   1 L4   2 L3   3 L2   4 L  0   4   1 L3   2 L2   3 L

Assim, a função aproximadora passa a ser definida na seguinte forma:


_
v  , x    1 x 4   2 x 3   3 x 2   1 L3 x   2 L2 x   3 Lx

Portanto, as derivadas da função aproximadora podem ser assim escritas:


_
v  , x   4 1 x 3  3 2 x 2  2 3 x   1 L3   2 L2   3 L
'

_
v  , x   12 1 x 2  6 2 x  2 3
''

Dessa forma, o funcional de energia pode ser expresso por:


L L
1
   EI  v ''  dx   qvdx 
2

20 0
L
1
   EI 12 1 x 2  6 2 x  2 3  dx 
2

20
L

 q  x   2 x 3   3 x 2   1 L3 x   2 L2 x   3 Lx  dx 
4
1
0
L

 144 x 4  144 1 2 x 3  36 22 x 2  48 1 3 x 2  24 2 3 x  4 32  dx 


EI
 1
2

2 0
L
  q  1 x 4   2 x 3   3 x 2   1 L3 x   2 L2 x   3 Lx  dx 
0

L
EI  144 12 x 5 144 1 2 x 4 36 22 x 3 48 1 3 x 3 24 2 3 x 2 
       4 32 x  
2  5 4 3 3 2 0
L
  x 5  x 4  x 3  L3 x 2  2 L2 x 2  3 Lx 2 
q  1  2  3  1    
 5 4 3 2 2 2 0

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 912

EI  144 12 L5 
   36 1 2 L4  12 22 L3  16 1 3 L3  12 2 3 L2  4 32 L  
2  5 
  L5  L4  L3  L5  L4  L3 
q  1  2  3  1  2  3 
 5 4 3 2 2 2 

Derivando o funcional obtido em relação aos parâmetros  obtêm-se:


 EI  288   3 
   1 L5  36 2 L4  16 3 L3   q  L5   0
 1 2  5   10 

 1 
 2

EI
2
 36 1 L4  24 2 L3  12 3 L2   q  L4   0
4 

 1 
 3

EI
2
16 1 L3  12 2 L2  8 3 L   q  L3   0
6 
Organizando matricialmente o sistema de três equações e três incógnitas obtida
acima tem-se:
 288 2  3 
 5 L 36 L 16 
 1   10    1   0, 041667 
    1  2 qL
2
    q
 36 L
2
24 L 12   2       2     0, 08335 L 
4  EI
 16 L2 12 L 8   3       0  EI
   1 6   3  
 
Consequentemente:
qL3 qL3
 4  1 L3   2 L2   3 L   4  0, 041667  0, 08335 
EI EI
qL3
 4  0, 041667
EI
Dessa forma, a função aproximadora para o deslocamento pode ser assim
escrita:
_
q 4 qL 3 qL3
v  x   0, 041667 x  0, 08335 x  0, 041683 x
EI EI EI
Assim, o deslocamento no centro do vão possui a seguinte intensidade:
4 3

  q L qL  L  qL3  L 
_
v L  0, 041667
   0, 08335    0, 041683   
2 EI  2  EI  2  EI  2 

  qL4
 
5 qL4
_ _
v L  0, 013021  v L 
2 EI 2 384 EI
A solução obtida corresponde à solução exata do problema. Com base na
solução aproximadora adotada, polinômio do quarto grau completo, constata-se que
tanto os deslocamentos quanto o momento fletor são representados de forma exata.

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 913

28.11.2 – Exemplo 12

Determine a expressão do deslocamento para a viga mostrada na Fig. (28.40)


utilizando a conservação da energia total. Considere EI constante.

Figura 28.40 Viga a ser analisada.

Com base nos carregamentos atuantes na viga apresentada na Fig. (28.40),


verifica-se que o momento fletor apresenta variação linear ao longo do comprimento da
viga. Portanto, a solução exata para os deslocamentos envolve um polinômio completo
do terceiro grau, conforme a dependência entre o momento fletor e o deslocamento dado
pela equação da linha elástica. Assim, esse problema pode ser resolvido utilizando-se a
seguinte solução aproximadora:
_
v  , x    1 x 3   2 x 2   3 x   4

Impondo as condições de vinculação do problema sobre a solução aproximadora


obtêm-se:
_
v  , 0   0   1 0 3   2 0 2   3 0   4  4  0

_'
v  , 0   0  3 1 0 2  2 2 0   3  3  0

Portanto, a função aproximadora para o problema em questão pode ser assim


reescrita:
_
v  , x    1 x 3   2 x 2

Consequentemente, as derivadas da função aproximadora podem ser assim


definidas:
_
v  , x   3 1 x 2  2 2 x
'

_
v  , x   6  1 x  2 2
''

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 914

Dessa forma, o funcional de energia assume a seguinte forma:


L
1
EI  v ''  dx  Pv  L   M 0 v '  L  
2

20
L
1
 EI  6 1 x  2 2  dx  P  1 L3   2 L2   M 0  3 1 L2  2 2 L  
2

20
L
1
EI  36 12 x 2  24 1 2 x  4 22  dx  P  1 L3   2 L2  
2 0


M 0  3 1 L2  2 2 L  

12 12 x 3  12 1 2 x 2  4 22 x   P  1 L3   2 L2   M 0  3 1 L2  2 2 L  
EI L

2 0


EI
2
12 12 L3  12 1 2 L2  4 22 L   P  1 L3   2 L2   M 0  3 1 L2  2 2 L 
Derivando o funcional de energia em relação aos parâmetros  obtêm-se:
 EI
 1

2
 24 1 L3  12 2 L2   PL3  3 M 0 L2


 2

EI
2
12 1 L2  8 2 L   PL2  2 M 0 L
Organizando as duas equações anteriores na forma matricial têm-se:
 24 L 12    1   PL  3 M 0  2 1   P  1
12 L 8           
  2  PL  2 M 0  EI  2   3 PL  3 M 0  6 EI
Portanto, a solução aproximadora dos deslocamentos assume a seguinte forma:
_ _
P 3 PL  M 0 2
v  x   1x3   2 x 2  v x   x  x
6 EI 2 EI
Que coincide com a solução exata do problema.

28.12 – Aplicação do Método de Rayleigh-Ritz em Problemas


Bidimensionais

Em problemas planos a relação entre tensões e deformações é efetuada por meio


da lei de Hooke generalizada. Assim:
1
x   x    y   z   (28.60)
E 

1
y   y    x   z   (28.61)
E

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 915

1
z   z    x   y   (28.62)
E 

 xy
 xy  (28.63)
G
Assim, a parcela de energia interna fica expressa como:
   y  y  z  z  xy  xy 
Ui    x x    d (28.64)

2 2 2 2 

Conforme anteriormente discutido, nos problemas planos de tensão e


deformação,  z e  z são nulos, respectivamente. Portanto, a Eq.(28.64) simplifica-se
como:
   y  y  xy  xy 
Ui    x x    d (28.65)

2 2 2 
De forma semelhante, pode-se também explicitar as tensões em termos das
deformações por meio do seguinte sistema matricial, que é obtido com base na lei de
Hooke generalizada:
 
 x  1    0  x 
  E     
 y   
1 0
 y 
(28.66)
  1   1  2  
  1  2    xy 
 0 0
xy
2 
De forma condensada pode-se reescrever a Eq.(28.66) na seguinte forma:
 x  k1 x  k 2 y
 y  k 2 x  k1 y (28.67)
 xy  k 3 xy

E 1     E
sendo k1  , k2  , k3 
1   1  2   1   1  2  2   
1

Portanto, a parcela de energia interna passa a ser definida como:


  k1 x  k 2 y   x  k 2 x  k1 y   y k 3 xy  xy 
Ui       d

 2 2 2 
 (28.68)
 k2 k 2 k 2 
U i    1 x  2 y  k 2 x  y  3 xy  d 
 2 2 2 


Além disso, nos problemas planos as deformações estão associadas aos


deslocamentos por meio das seguintes equações:

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 916

u v  u v 
x  y  x     (28.69)
x y  y x 
Portanto, o procedimento anteriormente apresentado e aplicado à análise de
vigas pode ser também empregado para a análise mecânica de problemas planos.

28.12.1 – Exemplo 13

Determine as expressões que descrevem os deslocamentos e as deformações na


estrutura apresentada na Fig.(28.41), a qual enquadra-se na categoria de estado plano de
tensão. Considere que u   1 x 2 y   2 y 2 x e v   1 y 3   2 x 2 y .
Considerando as funções deslocamento assumidas, pode-se expressar as
deformações utilizando a Eq.(28.69). Assim:
u
x    x  2 1 xy   2 y 2
x
v
y    y  3 1 y 2   2 x 2
y
 u v 
x       x   1 x  4 2 xy
2

  y  x 

Figura 28.41 Estrutura a ser analisada.

Dessa forma, o funcional de energia pode ser assim escrito:

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 917

 2  2 xy   y2    3 1 y 2   2 x 2   k 2  2 1 xy   2 y 2  3 1 y 2   2 x 2  d 
k1 2 k2 2
 1 2

2
k3
  1 x 2  4 2 xy  d    q  1 x 2 y   2 xy 2  d 
2


2 

 k1 
t L c

    2  4 x 2 y 2  4 1 2 xy 3   22 y 4    9 12 y 4  6 1 2 x 2 y 2   22 x 4  dxdydz 
k2
 1
2

0 0 c
2 
t L c

    k  6 xy 3  2 1 2 x 3 y  3 1 2 y 4   22 x 2 y 2  dxdydz 
2
2 1
0 0 c

 k3 
t L c

    2  x 4  8 1 2 x 3 y  16 22 x 2 y 2  dxdydz   q  1 x 2 y   2 xy 2  d 
2
1
0 0 c  

 k1  8  k  
t L
12 2
    2  3  c 3 y 2  2 22 y 4 c   2  18 12 y 4 c   1 2 c 3 y 2   22 c 5  dydz 
2
1
0 0  2  3 5 
  2 2 3 2  k 3  2 2 5 32 2 3 2  
t L

   k 2  6 1 2 y c   2 c y     1 c 
4
 2 c y  dydz   q  1 x 2 y   2 xy 2  d 
0 0  3  2  5 3  

k  8  k  18 
t
2 12 2
    1   12 c 3 L3   22 L5 c   2   12 L5 c   1 2 c 3 L3   22 c 5 L  dz 
0 
2 9 5  2  5 9 5 
 6 2 2 3 3  k3  2 2 5 32 2 3 3  
t

  k 2   1 2 L c   2 c L     1 c L 
5
 2 c L  dz   q  1 x 2 y   2 xy 2  d 
0  5 9  2  5 9  

Assumindo que a espessura seja unitária, ou seja, t  1 , tem-se:


k  8 2  k  18 12 2 
   1   12 c 3 L3   22 L5 c   2   12 L5 c   1 2 c 3 L3   22 c 5 L   
 2 9 5  2  5 9 5 
 6 2 2 3 3  k3  2 2 5 32 2 3 3  
 k 2  5  1 2 L c  9  2 c L   2  5  1 c L  9  2 c L   
5

    

 q  x y   2 xy 2  d 
2
1

O termo integral que resta a ser avaliado, referente a energia do carregamento


externo, assume a seguinte forma, considerando que d   dy .

 d    q    c  
L
  c 2 L2  2 cL3 
 q  1 x y   2 xy y   2   c  y 2 dy  q  1
2
2 2
1  
 0  2 3 

Dessa forma, o funcional de energia para o problema considerado passa a ser


assim escrito:
k  8 2  k  18 12 2 
   1   12 c 3 L3   22 L5 c   2   12 L5 c   1 2 c 3 L3   22 c 5 L   
 2 9 5  2  5 9 5 
 6 2 2 3 3  k3  2 2 5 32 2 3 3     1c 2 L2  2 cL3 
 k 2   1 2 L5
c   2 c L     1 c L   2 c L    q   
 5 9  2 5 9   2 3 

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 918

Derivando o funcional em relação ao parâmetro  1 obtêm-se:

 k1  16  k  36 12  6 
   1c 3 L3   2   1 L5 c   2 c 3 L3   k 2   2 L5 c  
 1 2  9  2  5 9  5 
k3  4 5   c 2 L2 
  1 c L   q  0
2 5   2 

Multiplicando a equação anterior por 2 e introduzindo a variável   c ,


L6 L
esta pode ser reescrita como:
 16 36 4   12 12  2
1  k1  3  k 2   k3  5    2  k2  3  k2    q 2 (28.70)
 9 5 5   9 5  L

Derivando agora o funcional em relação ao parâmetro  2 obtêm-se:

 k1  4  k  12 4  6 4 
   2 L5 c   2   1 L3 c 3   2 c 5 L   k 2   1 L5 c   2 c 3 L3  
 2 2 5  2  9 5   5 9 
k3  64 3 3  cL3 
  2 c L   q  0
2  9   3 

Multiplicando a equação anterior por 2 e introduzindo a variável   c ,


L6 L
esta pode ser reescrita como:
 12 12 
1  k2  3  k2   
 9 5  (28.71)
4 4 8 64  2 
 2  k1   k 2  5  k 2  3  k 3  3    q 2
5 5 9 9  3 L
Matricialmente, as Eq.(28.70) e Eq.(28.71) podem ser escritas como:
 16 36 4 12 12 
 9 k1   5 k 2   5 k 3  k2  3  k2 
3 5
   1  q   
2
9 5 
     2 2  
 12 12 4 4 8 64 3   2  L  
k2  3  k2  k1   k 2   k 2  
5 3
k3   3
 9 5 5 5 9 9 
De forma a facilitar a resolução do sistema linear de equações apresentado
acima, pode-se assumir que: E  210 GPa ,   0, 3 , q  10 kN , L  2 m e   2 .
m
Assim, os parâmetros de rigidez k assumem os seguintes valores:
E 1    210 1  0, 3 
k1   k1   k1  282, 69 GPa
1   1  2  1  0, 3 1  2  0, 3 
E 210  0, 3
k2   k2   k 2  121,15 GPa
1   1  2  1  0, 3 1  2  0, 3 

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 919

E 210
k3   k3   k 3  80, 77 GPa
2 1    2 1  0, 3 

Com base nos valores assumidos, pode-se reescrever o sistema matricial


apresentado anteriormente na seguinte forma:
 7, 83273  10 9 1, 87379  10 9    1   10  1   1, 43667  10 9 
          10 
 1, 87379  10
9
9, 01011  10 9   2    3, 333   2    6, 68732  10 
Portanto, as funções aproximadoras para os deslocamentos e deformações no
corpo em análise podem ser expressas como:
u  1, 4 3 6 6 7  1 0  9 x 2 y  6, 6 8 7 3 2  1 0  1 0 xy 2

v  1, 436 67  10  9 y 3  6, 687 32  10  10 x 2 y

 x  2, 87334  10 9 xy  6, 68732  10 10 y 2

 y  4, 31001  10 9 y 2  6, 68732  10  10 x 2

 xy  1, 43667  10 9 x 2  2, 67493  10 9 xy

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 920

28.13 – Anexo. Tabela de Produtos de Integrais de Funções PTV

Capítulo 28 – Métodos de Energia___________________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 921

29. – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear

29.1 – Forças Interna e Externa

Todos os materiais utilizados na engenharia de estruturas são compostos por


microestruturas internas fundamentais (elementos representativos de volume, ERV), cuja
dimensão está associada ao nível de heterogeneidade do material. Quão mais homogêneo
for o material, menor, normalmente, serão seus ERV’s. As forças internas em um material
contínuo são o resultado da interação mecânica entre seus ERV’s.
Quando um dado corpo está livre de forças externas, as forças internas no material
mantêm o corpo em equilíbrio em sua configuração indeformada. Entretanto, a ação das
forças externas faz com que os ERV’s do material mudem de posição, causando assim
deformações. Tal mudança de posição causa também alteração na distribuição das forças
de interação entre os ERV’s. Se o material está em equilíbrio, as forças externas e internas
são de igual magnitude e direção, mas possuem sentidos opostos. As condições
necessárias e suficientes para a observação do equilíbrio estão apresentadas no capítulo
1, as quais baseiam-se nas leis de Newton.
As ações externas, forças externas, correspondem a influência mecânica do meio
exterior sobre o corpo, sendo compostas por forças aplicadas ao longo da superfície
material. Tais forças são denominadas forças de superfície. Além das forças de superfície,
o meio pode exercer forças volumétricas como às relacionadas às ações gravitacionais e
magnéticas.
Na formulação e na solução do problema elástico, o conhecimento sobre as
intensidades das forças externas atuantes ao longo do contorno da estrutura é de
fundamental importância. O conjunto de forças prescritas no contorno da estrutura é
denominado de condição de contorno natural, ou de Neumann, sendo uma condição de
contorno do problema a ser analisado.

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 922

29.2 – Análise de Tensões

29.2.1 – Definição de Tensão

A interação mecânica entre os componentes da microestrutura de um material


pode ser analisada e definida consistentemente por meio do conceito de tensão. Para que
essa grandeza seja definida, deve-se considerar um corpo na condição de equilíbrio
quando solicitado por um conjunto de forças externas, com indicado na Fig. (29.1).

F1 F2

F4

F5
F3
Figura 29.1 Corpo em equilíbrio.

Assumindo que o corpo ilustrado na figura anterior obedeça às condições de


equilíbrio, qualquer porção material que o componha estará também em equilíbrio. Dessa
forma, se o corpo for separado (virtualmente) por meio de um plano de referência, como
indicado na Fig. (29.2), as porções materiais isoladas do corpo deverão permanecer em
equilíbrio.

F1 F2

DF DF
F4

F5
F3
DA DA
Figura 29.2 Análise do equilíbrio das porções materiais isoladas.

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 923

As forças de intensidade F que surgem após a separação (virtual) do material


são internas, as quais surgem para o reestabelecimento da condição de equilíbrio. As
forças internas são o resultado da interação mecânica entre os ERV’s do material.
Segundo a terceira lei de Newton, tais forças possuem mesma magnitude e direção, mas
sentidos opostos (ação e reação). Portanto, a força F mostrada na Fig. (29.2) representa
a resultante das reações mecânicas desses ERV’s no plano analisado. Para que o efeito
(contribuição) médio das respostas mecânicas dos ERV’s seja determinado, pode-se
dividir F pela área, A , onde tal força é aplicada. Assim:
F
Tm  (29.1)
A
Em grande parte dos problemas de engenharia de estruturas, a análise mecânica
baseada na contribuição média pode levar a aproximações grosseiras. Isso se deve ao fato
das interações mecânicas entre os ERV’s do material não serem perfeitamente
homogêneas e uniformes. Dessa forma, para a descrição consistente de tal problema,
torna-se necessária a avaliação pontual da Eq. (29.1). Portanto, tal contribuição pode ser
determinada com base na seguinte análise limite:
F
T  lim (29.2)
A  0 A
A variável T recebe o nome de Tensão. Essa variável é de extrema importância na
análise mecânica de corpos deformáveis. A tensão fornece uma medida sobre a
intensidade das interações mecânicas entre os componentes micro estruturais do material,
sendo utilizada na avaliação da integridade mecânico-material. A tensão pode ser
classificada como normal,  , ou de cisalhamento,  , segundo a orientação de F em
 
relação ao vetor normal,  , no plano definido por A . Se F e  forem paralelos, a
tensão resultante é denominada normal. Caso contrário, a tensão resultante é dita de
cisalhamento, como mostra a Fig. (29.3). Deve-se destacar que a tensão é sempre
referenciada a um plano ou sistema de coordenadas particular. Se o plano indicado na
Fig. (29.2) possuísse inclinação diferente, por exemplo, a resultante das forças internas
apresentaria também diferentes intensidade e orientação. Portanto, nessa situação, o
balanço entre os valores de  e  seria alterado.
O conceito de tensão em um ponto deve-se a Cauchy. O princípio da tensão de
Cauchy é definido como: “o vetor tensão atuando no interior de um elemento é igual em
magnitude e oposto em direção ao vetor tensão atuante no exterior do mesmo elemento”.

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 924

DF1  F1
DF   lim
A  0  A

DF3  F2
 1  lim
A 0  A

 F3
DF2  2  lim
A  0  A

Figura 29.3 Vetor tensão em relação a um plano inclinado qualquer.

O vetor tensão definido por Cauchy pode ser utilizado na determinação do estado
de tensão em um ponto. Para tal finalidade, o ponto material em análise pode ser
representado, abstratamente, por um cubo cujas faces possuam dimensões infinitesimais.
Em cada face desse cubo atuam três tensões, dadas pelo vetor de Cauchy, como mostra a
Fig. (29.4), que a princípio são independentes. Impondo sobre o elemento mostrado na
Fig. (29.4) as condições de equilíbrio de corpo rígido, como efetuado no capítulo 12,
determinam-se as dependências entre as componentes de tensão atuantes em cada uma
das faces desse cubo.
As tensões ilustradas na Fig. (29.4) são representadas tensorialmente por meio do
tensor das tensões da seguinte forma:
 x  xy  xz 
    xy  y  yz 

(29.3)
 xz  yz  z 

onde o primeiro índice faz referência ao vetor normal do plano de atuação da tensão e o
segundo índice indica a orientação da referida tensão.

Figura 29.4 Estado de tensão em um ponto.

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 925

A partir das componentes de tensão definidas anteriormente, pode-se determinar


as componentes do vetor tensão pertencentes a um plano inclinado que contenha o ponto
material em análise. Para essa finalidade, deve-se seccionar o elemento de dimensões
infinitesimais mostrado na Fig. (29.4) por um plano inclinado, como mostra a Fig. (29.5).
z

sx
t xy η
t
t xy Th z xz
sy
Th y B y
O
t
yz Thx
t
xz
t yz

sz
A

x
Figura 29.5 Determinação do vetor de Cauchy.

Com base em análises trigonométricas usuais, pode-se definir os cossenos


diretores do plano inclinado como:  1  cos   ,  2  cos    e  3  cos   . Os

ângulos descritos podem ser visualizados na Fig. (29.6).


z

θ
α P y
β B
O

x
Figura 29.6 Direções do plano inclinado.

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 926

Portanto, as componentes do vetor tensão atuantes no plano inclinado são


determinadas por meio da imposição das condições de equilíbrio de ponto material ao
elemento mostrado na Fig. (29.5). Dessa forma:

F x 0    x dA 1   xy dA 2   xz dA 3  T x dA  0


F y 0    xy dA 1   y dA 2   yz dA 3  T y dA  0 (29.4)

F z 0    xz dA 1   yz dA 2   z dA 3  T z dA  0

Organizando as equações apresentadas na Eq.(29.4) de uma maneira matricial


obtém-se:
T x   x  xy  xz    1 
   
T y    xy  y  yz    2  (29.5)
 T z   xz  yz  z    3 
  
As componentes do vetor tensão orientadas nas direções normal e paralela ao
plano inclinado são determinadas por meio de uma decomposição das forças equivalentes
resultantes de T x , T y e T z segundo as direções normal e paralela ao plano inclinado.

Assim, a parcela normal é dada por:


T x dA 1  T y dA 2  T z dA 3
      T x  1  T y  2  T z  3 (29.6)
dA
Já a tensão de cisalhamento no plano inclinado é dada pela força equivalente
complementar decorrente de   . Portanto:

F   F   F 
2 2 2
TR   

T dA   T dA   T dA   T x dA 1  T y dA 2  T z dA 3     dA   (29.7)


2 2 2 2 2
x y z

  T  T  T  T   T y  2  T z  3 
2 2 2 2
 x y z x 1

29.2.2 – Transformação de Tensão e Tensões Principais

O procedimento anteriormente apresentado possibilita a determinação das


componentes do vetor tensão, em relação a um plano inclinado qualquer, com base no
estado de tensão em um ponto. Esse procedimento pode ser estendido e aplicado na
determinação das componentes do tensor de tensões, inicialmente definidas em relação a
um sistema de coordenadas de referência, em relação a um sistema de coordenadas
rotacionado. Para tanto, o ponto material pode ser representado, abstratamente, por meio

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 927

de um elemento de dimensões infinitesimais, onde em cada uma das faces desse elemento
atuam três componentes de um vetor tensão. Assumindo que o estado de tensão esteja
definido no sistema cartesiano (x, y, z), essas componentes de tensão podem ser descritas
em relação a um sistema rotacionado (x’, y’, z’), bastando para isso considerar cada face
do elemento de dimensões infinitesimais como um plano inclinado. Sabendo-se as
rotações existentes entre os eixos coordenados, pode-se definir a seguinte matriz de
rotação:

 3   cos  x , x  cos  x , y  cos  x , z  


 ' ' '

 1 2
 R    m1 m2 m3    cos  y ' , x  cos  y ' , y  cos  y ' , z   (29.8)
 
 n1 n3   cos z ' , x cos z ' , y
n2
     cos   
z '
, z

Por meio da imposição das condições de equilíbrio de ponto material em relação


à cada uma das direções rotacionadas pode-se escrever que:
 '    R   R 
T

 x'  xy'  xz'    1  2  3   x  xy  xz    1 m1 n1  (29.9)


 '   
 xy  y'  yz'    m1 m2 m3   xy  y  yz    2 m2 n2 
 xz'  yz'  z'   n1 n2 n3   xz  yz  z    3 m3 n3 

Com base na Eq.(29.9), verifica-se que a intensidade das componentes de tensão
irá depender diretamente das direções de rotação atribuídas. Portanto, existirão direções
particulares onde a intensidade das tensões de cisalhamento será nula e as intensidades
das tensões normais nos planos de referência apresentarão valores extremos (máximos ou
mínimos). À essas tensões normais dá-se o nome de tensões principais e às suas direções
de atuação denominam-se direções principais. O estado principal de tensões pode ser
definido como:
 1 0 0 1 0 0
0  0     0
 2 0  (29.10)
 2

 0 0  3   0 0  3 

sendo  a norma da força equivalente decorrente de   no plano principal.  1 ,  2 e  3

representam as tensões principais.


Assim, se as tensões de cisalhamento são nulas nesse plano tem-se, com base na
Eq.(29.5), que:

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 928

T x    1  0  x  xy  xz    1   1 
  
T y    2  0   xy  y  yz    2      2   0 
T z    3  0  xz  yz  z    3    3 
 (29.11)
  x     xy  xz   
  1
  xy  y   yz    2   0
 
  xz  yz  z       3 
Para que a solução trivial não seja observada no sistema de equações apresentado
na Eq.(29.11), problema de auto valor e auto vetor, o determinante da matriz contida no
primeiro membro dessa equação deve ser nulo. Assim, igualando o determinante dessa
matriz a zero obtém-se:
 3  I1  2  I 2   I 3  0 (29.12)
onde:
I1   x   y   z

I 2   x y   y z   x z   2xy   2yz   2xz (29.13)

I 3   x y z  2 xy xz yz   x 2yz   y 2xz   z xy2

As raízes da equação cúbica mostrada na Eq.(29.12) são reais e representam as


tensões principais. Classicamente, classificam-se as tensões principais como
1   2   3 . As direções principais são obtidas pela Eq.(29.11).
Da mesma forma que as tensões normais assumem valores extremos (máximo ou
mínimo) em direções específicas, as tensões de cisalhamento também assumem valores
extremos segundo direções particulares do plano inclinado (que reflete também a rotação
do sistema de coordenadas). Para a determinação da intensidade extrema das tensões de
cisalhamento, pode-se utilizar a Eq.(29.7). Como a intensidade das componentes de
tensão depende da orientação assumida em sua definição, pode-se tomar como referência
o estado principal de tensão. Portanto, as direções de atuação das tensões extremas de
cisalhamento têm como referência os planos principais.
Dessa forma, pode-se escrever que:
T x   1 1 T y   2  2 T z   3 3 (29.14)

Portanto, a Eq.(29.7) pode ser assim reescrita:

 2   12  12   22  22   32  23   1 12   2  22   3 23 
2
(29.15)

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 929

Se a rotação é nula,  1   2   3  0 , ou seja, o sistema de coordenadas é o sistema

principal, tem-se  2  0 como esperado. Portanto, nesse caso, tem-se   extremo.

Com base nos conceitos apresentados na geometria analítica, pode-se mostrar que:
 12   22   23  1 . Portanto, a última equação pode ser reescrita como:

 2   12   32   12   22   32   22   32    1   3   12   2   3   22   3  (29.16)
2

As direções principais de cisalhamento são determinadas encontrando os pontos


de inflexão da Eq.(29.16). Assim, os valores extremos da tensão de cisalhamento são
 2  2
determinados fazendo-se   0 . Portanto:
 1  2

 2
 2  12   32   1  2   1   3   12   2   3   22   3  2  1   3   1  0 (29.17)
 1

 2
 2  22   32   2  2   1   3   12   2   3   22   3  2  2   3   2  0 (29.18)
 2

As direções principais de cisalhamento que satisfazem a Eq.(29.17) são facilmente


1 1
observadas, sendo iguais a:  1  0 ,  2   e 3   . Já para a Eq.(29.18), a solução
2 2
1 1
para as direções principais de cisalhamento é a seguinte:  1   ,  2  0 e 3   .
2 2

 2 1
Em relação a terceira direção,  0 , a solução é análoga, sendo igual a:  1   ,
 3 2
1
2   e 3  0 .
2
Portanto, com base na matriz de rotação definida na Eq.(29.8), os planos onde as
tensões de cisalhamento assumem valores extremos são assim definidos:
 1 1 
 0  
3   2 2 
 1 2
m  1 1 
m2 m3     0  (29.19)
 1 2 2
 n1 n2 n3   
 1 1 
  2 
2
0 

Com base nas direções principais de cisalhamento determinados anteriormente,
mais especificamente nos cossenos diretores desses planos, verifica-se que essas direções
estão rotacionadas de 45º em relação aos planos principais como indica a Fig. (29.7).

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 930

Figura 29.7 Direções principais de cisalhamento.

A intensidade das tensões extremas de cisalhamento é obtida por meio da


substituição das direções dadas pela Eq.(29.19) na Eq.(29.15). Com base nessa
substituição, obtém-se as seguintes intensidades para as tensões extremas de
cisalhamento:
1   2 2 3  3  1 (29.20)
 MAX
12
  MAX
23
  MAX
13

2 2 2

Nos planos onde a tensão de cisalhamento apresenta valores extremos, as tensões


normais são iguais a tensão normal média no plano. Essa conclusão pode ser obtida
utilizando-se a Eq.(29.6) e o resultado apresentado na Eq.(29.19). Assim:
1   2 2 3  3  1 (29.21)
 1   2   3 
2 2 2

O estado de tensão pode ser representado graficamente com base no círculo de


Mohr. A obtenção da equação que governa esse círculo é mostrada no capítulo 23, bem
como aplicações desse procedimento gráfico.

29.2.3 – Tensores Hidrostático e Desviador e Invariantes de Tensão

Durante a modelagem mecânico-material, muitas vezes torna-se interessante


efetuar a decomposição do tensor de tensões em duas partes, uma delas denominada
esférica ou hidrostática e a outra anti-esférica ou desviadora. O tensor hidrostático de
tensões,  H  , o qual gera no material apenas variação volumétrica, é definido como:

 H 0 0 
x  y z
H   H    0 H 0  (29.22)
3
 0 0  H 

Já o tensor desviador de tensões,  D  , relacionado a distorção do material, é

definido como:

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 931

    H    D 
  x   H   xy  xz  s s xy s xz 
   x  (29.23)
 D     xy  y   H   yz    s xy sy s yz 
 
  xz  yz  z   H    sxz s yz s z 

Tal decomposição é especialmente importante em regimes mecânicos


elastoplásticos. Durante a deformação plástica, a mudança volumétrica é usualmente
desprezada. Assim, nesse caso, apenas a parcela desviadora do tensor de tensões é
relevante.
Como o tensor desviador é obtido por meio de uma subtração de tensões normais
iguais do tensor de tensões, verifica-se, intuitivamente, que as direções principais do
tensor de tensões e do tensor desviador são iguais. Portanto, de forma análoga ao efetuado
anteriormente, Eq. (29.11), as tensões principais do tensor desviador são dadas pelas
raízes do seguinte polinômio:
 3  J 1 2  J 2   J 3  0 (29.24)
onde:
J1  s x  s y  s z

J 2  s x s y  s y s z  s x s z  s 2xy  s 2yz  s 2xz (29.25)

J 3  sx s y sz  2sxy sxz s yz  sx s 2yz  s y s 2xz  sz s 2xy

As componentes do tensor de tensões são definidas unicamente a partir de um


sistema de coordenadas de referência. Porém, com base no conteúdo apresentado
anteriormente nesse capítulo, verifica-se que a intensidade das componentes de tensão
varia se o sistema de coordenadas considerado for rotacionado em relação ao sistema de
coordenadas de referência no qual as componentes de tensão foram definidas. Esse fato
torna-se um complicador em análises mecânicas, uma vez que a definição do tensor de
tensões estará associado ao referencial adotado pelo analista. No entanto, existem alguns
parâmetros relacionados ao tensor de tensões que são invariantes em relação ao sistema
de coordenadas escolhido para a descrição de suas componentes. Tais parâmetros são
denominados invariantes de tensão. No conteúdo discutido nesse capítulo, os parâmetros
I1 , I 2 , I3 , J1 , J 2 , J3 e as tensões principais são invariantes de tensão. Tais parâmetros são

particularmente importantes em domínios relacionados à análise da integridade

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 932

mecânico-material, uma vez que por meio deles pode-se descrever critérios que
representem unicamente a falha material.

29.2.4 – Tensões Octaédricas

Um plano octaédrico é um plano cuja normal possui inclinações iguais em relação


a cada um dos eixos que compõem o sistema de coordenadas utilizado. Dessa forma, os
 1 1 1 
planos cujas componentes normais são iguais a  , ,  em relação ao sistema de
 3 3 3
coordenadas, são denominados planos octaédricos. Como mostra a Fig. (29.8), oito planos
octaédricos existem na descrição via sistema cartesiano. Na análise de tensões, os eixos
x, y, z estão comumente associados às direções de atuação das tensões principais.
z

B´ C´ B y
O
C

x A´

Figura 29.8 Planos octaédricos.

Assumindo que o tensor de tensões seja definido no sistema principal,  em

relação ao plano octaédrico pode ser calculada utilizando a Eq.(29.6). Assim:


oct  112   2 22   323
2 2 2
oct  1   1   1  1   2   3 I1 (29.26)
  1   2   3    oct  
 3  3  3 3 3

Já a tensão de cisalhamento no plano octaédrico é definida por meio da Eq.(29.7).


Dessa forma:

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 933

 oct   12  12   22  22   32  23   1 1   2  2   3  3 
2

2 2 2 2
 1  2  1  2  1   1 1 1  (29.27)
 oct   12   2   3    1 2 3 
 3  3  3  3 3 3
1 2
 1   2     2   3    3   1  
2 2 2
 oct  I12  3 I 2
3 3

29.2.5 – Equações de Equilíbrio

Nos itens anteriores do presente capítulo foi apresentado e discutido o conceito de


tensão. Deve-se enfatizar que a intensidade do estado de tensão varia de ponto para ponto
dentro do meio contínuo, sendo uma função contínua. Para descrever a variação das
tensões no domínio material, pode-se considerar um elemento de dimensões
infinitesimais, como ilustrado na Fig. (29.9), o qual representa o estado de tensão na
vizinhança de um dado ponto material.
z

s z + ¶¶szz dz
C
¶t yz
t yz + dz
¶t ¶z
t + xz dz
xz ¶z
t xy sx ¶t yz
t + dy
yz ¶y
t
t xy xz ¶s
t +
¶t xz
dx
s y + ¶yy dy
sy xz ¶x
O B y
t yz
t ¶ t xy
xz t + dy
xy ¶y
t yz
sz
A ¶t xy
¶s x
sx +
¶x
dx t xy +
¶x
dx

x
Figura 29.9 Estado de tensão e equação de equilíbrio.

As variações das tensões nas faces do elemento de dimensões infinitesimais


apresentado na Fig. (29.9) devem-se a presença de forças volumétricas, B. Impondo sobre
esse elemento as condições de equilíbrio de ponto material obtém-se:

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 934

F x 0 
  x    
 x dydz   xy dxdz   xz dxdy    x  dx  dydz    xy  xy dy  dxdz  (29.28)
 x   y 
  xz   x  xy  xz
  xz  dz  dxdy  B x dxdydz  0     Bx  0
 z  x y z

F y 0 
  y    xy 
 y dxdz   xy dydz   yz dxdy    y  dy  dxdz    xy  dx  dydz  (29.29)
 y   x 
  yz   xy  y  yz
  yz  dz  dxdy  B y dxdydz  0     By  0
 z  x y z

F z 0 
  z    
 z dxdy   xz dydz   yz dxdz    z  dz  dxdy    xz  xz dx  dydz  (29.30)
 z   x 
  yz   xz  yz  z
  yz  dy  dxdy  B z dxdydz  0     Bz  0
 y  x y z

As equações de equilíbrio apresentadas na Eq.(29.28), Eq.(29.29) e Eq.(29.30) são


expressas em termos de tensões e forças volumétricas ao invés de forças externas, como
efetuado no capítulo 1. Além disso, essas três equações de equilíbrio envolvem seis
incógnitas, as quais estão associadas às componentes do tensor de tensões. Portanto,
apenas as equações de equilíbrio apresentadas nesse item não são suficientes para a
solução do problema de análise de tensões. Para tal finalidade, as relações deformação-
deslocamento e a relação constitutiva do material, que serão oportunamente discutidas
nesse capítulo, devem ser consideradas.

29.2.6 – Estado de Tensão Descrito em Coordenadas Cilíndricas

Em diversas análises envolvendo o domínio da mecânica dos materiais, as


grandezas de interesse do problema podem ser descritas utilizando um sistema de
coordenadas que não seja o cartesiano. A mudança de sistema de coordenadas pode ser
especialmente interessante em problemas que envolvam geometrias e condições de
contorno com simetria radial, como em tubos e discos. Nessas situações, as grandezas de
interesse do problema podem ser convenientemente descritas por meio de um sistema de
coordenadas do tipo cilíndrico. Nesse sistema de coordenadas, os eixos coordenados

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 935

definem a localização de um dado ponto por meio de uma distância, r, um ângulo de giro,
, e sua posição ao longo do eixo z.
O estado de tensão em um dado ponto material pode ser obtido por meio da
representação desse ponto por um elemento de dimensões infinitesimais, como indicado
na Fig. (29.10). Em cada uma das faces desse elemento atuam três tensões (vetor tensão),
sendo uma normal e duas de cisalhamento.

Figura 29.10 Estado de tensão em coordenadas cilíndricas.

O estado de tensão no sistema de coordenadas cilíndrico, é definido, com o auxílio


da ilustração apresentada na Fig. (29.10), da seguinte forma:
 r  r  rz 
    r     z  (29.31)
 rz   z  z 

29.2.7 – Equações de Equilíbrio em Coordenadas Cilíndricas

As equações de equilíbrio escritas em termos das componentes de tensão podem


ser obtidas por meio da imposição das condições de equilíbrio sobre o elemento
infinitesimal ilustrado na Fig. (29.11). Por meio da imposição do equilíbrio, considerando
as forças equivalentes decorrentes das tensões atuantes nesse elemento infinitesimal e as
forças volumétricas B, pode-se escrever as que:

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 936

 r 1  r  rz  r   
    Br  0
r r  z r
1    r   z 2 r
    B  0 (29.32)
r  r z r
 z 1   z  rz  rz
    Bz  0
z r  r r

Figura 29.11 Equilíbrio do estado de tensão em coordenadas cilíndricas.

Deve-se mencionar que nos problemas planos descritos em coordenadas


cilíndricas a última equação simplifica-se consideravelmente, uma vez que todas as
componentes de tensão orientadas ao longo do eixo z são nulas. Nessa situação, quando
a ordenada z é desprezada, o sistema de coordenadas cilíndrico transforma-se em polar,
sendo esse último dependente apenas das direções r e .
O sistema cartesiano está associado ao sistema polar por meio das seguintes
relações:

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 937

x = rcos (q )
¶r x ¶θ y sin (θ)
y = rsen (q ) = =cos (θ) =- 2 =-
¶x r ¶x r r
(29.33)
r = x 2 +y 2 ¶r y ¶θ x cos (θ)
= =sen (θ) = =
¶y r ¶y r 2 r
tan (q ) = y
x
No caso plano, as tensões definidas no sistema cartesiano podem ser referenciadas
no sistema polar por meio da seguinte relação, a qual é obtida considerando-se as
condições de equilíbrio:
é σ ù é cos 2 (θ) 2cos (θ) sen (θ) sen 2 (θ) úù êé σ x úù
ê rú ê
ê τ ú = ê -sen (θ) cos (θ) cos 2 (θ) -sen 2 (θ) sen (θ) cos (θ)ú ê τ xy ú
ê rθ ú ê úê ú (29.34)
ê σ ú ê sen 2 (θ) -2cos (θ ) sen (θ ) co s 2
(θ ) ú êσ ú
ë θ û ëê ûú ëê y ûú

29.2.8 – Círculo de Mohr para as Tensões. Caso Tridimensional

O estado de tensão pode ser representado graficamente por meio do círculo de


Mohr. No capítulo 23, tal representação gráfica foi apresentada considerando estados
planos para as tensões. No presente item, essa representação gráfica será estendida para
o caso tridimensional. Sabe-se que a intensidade das componentes do tensor de tensões
varia segundo a orientação do sistema de coordenados utilizado para a sua descrição.
Assim, assumindo que o tensor das tensões seja descrito no sistema principal, onde os
eixos coordenados possuem orientação paralela às direções principais, observa-se que a
intensidade da componente normal do vetor tensão de Cauchy em relação a um dado

plano de análise, cuja normal seja h , é dada pela Eq.(29.6). Assim, a Eq.(29.6) pode ser
particularizada para a presente análise como:
és1 0 0ù
ê ú
[s ] = êê 0 s2 0 ú  sh = s1 21 + s2  22 + s3  23
ú (29.35)
ê0 0 s3 úû
ë
Já as forças equivalentes decorrentes das componentes normal e de cisalhamento
do vetor de Cauchy no referido plano, sh e th , respectivamente, permitem a determinação
da força resultante do vetor de tensão de Cauchy. Utilizando a Eq.(29.7) tem-se:

T dA   T y dA   T z dA     dA     dA 
2 2 2 2 2
x 
(29.36)
 12  12   22  22   32  23   2   2

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 938

Além disso, a direção normal ao plano de análise é descrita por um versor unitário,

h . Portanto, suas componentes podem ser assim relacionadas:

 12   22   23  1 (29.37)

As três últimas equações anteriormente apresentadas podem ser acopladas no


seguinte sistema linear de equações:
 12  22  32    12   2   2 
    
1 2  3    22       (29.38)
1 1 1    
2  1 
 3  
Devido à natureza do versor  , verifica-se que apenas respostas que conduzam
aos intervalos 0   12  1 , 0   22  1 e 0   23  1 são soluções factíveis para o problema.

Para que essa solução seja determinada, o sistema algébrico apresentado na Eq.(29.38)
pode ser reescrito de uma maneira mais conveniente. Assim:
A
 2   2   1   3      1 3   12  0
 1   3 
A
 2   2   2   3      2 3   22  0 (29.39)
 2 3
  
A
 2   2   1   2      1 2  2  0
 1   2  3
sendo A   1   2  2   3  1   3  .

Por meio de operações algébricas simples, pode-se reescrever a última das


relações apresentadas na Eq.(29.39) de uma maneira mais conveniente como:

  a3    2  R3
2
 (29.40)

1 1
onde a3   1   2  e R3   1   2    2   3  1   3   23 .
2

2 4
Com base nos conhecimentos da geometria analítica, verifica-se facilmente que a
Eq.(29.40) representa um círculo no sistema   X   , cujo raio é dado por R3 e o centro é

localizado em C3   a3 , 0  . Os diferentes valores de  23 , 0   23  1 , conduzem a círculos

concêntricos no sistema   X   , os quais delimitam a região admissível do estado de

tensão cujo intervalo inferior é RMIN e intervalo superior é RMAX . Assim, pode-se definir:

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 939

1
 23  0  R3MIN   1   2 
2 (29.41)
1
 1 
2
3 R MAX
3   1   2    3
2
A região admissível delimitada por ambos os círculos extremos é apresentada na
Fig. (29.12).

Figura 29.12 Região admissível para  23 .

Análise semelhante pode ser efetuada para as duas primeiras relações apresentadas
na Eq.(29.39). Cada uma dessas relações conduzirá a dois círculos concêntricos
relacionados aos valores mínimo e máximo de seus raios, que definirão a região
admissível do estado de tensão. A primeira dessas relações conduz a:
1
a1   2   3 
2
1
 12  0  R1MIN   2 3 (29.42)
2
1
 12  1  R1MAX    2   3   1
2
Já a segunda relação descrita na Eq.(29.39) resulta em:
1
a2   1   3 
2
1
 22  0  R2MIN   1   3  (29.43)
2
1
 22  1  R2MAX   1   3    2
2

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 940

Para cada uma das condições apresentadas na Eq.(29.41), Eq.(29.42) e


Eq.(29.43), círculos definem as regiões admissíveis para a representação do estado de
tensão. Assim, o espaço de solução do problema é o espaço delimitado pelas regiões
admissíveis de cada equação. A intersecção das regiões admissíveis dá origem ao espaço
solução apresentado na Fig. (29.13). Os círculos de Mohr dessa figura são facilmente
construídos com base no conhecimento das tensões principais do problema. Portanto,
todo ponto localizado dentro da região admissível indica uma representação do estado de
tensão utilizado para a construção da região admissível.

Figura 29.13 Região admissível para o estado de tensão tridimensional.

29.3 – Translação e Rotação

Quando um dado material está submetido a um conjunto de forças externas, os


ERV’s do material interagirão mecanicamente para a manutenção da condição de
equilíbrio, gerando assim as tensões. Tal interação provoca também mudanças nas
posições dos ERV’s, as quais geram as deformações.
As deformações (mudanças de forma) são o resultado dos deslocamentos relativos
entre os diversos pontos que compõem o material. Dessa forma, uma vez que o campo de
deslocamentos esteja convenientemente descrito, as deformações podem ser definidas.
Os movimentos dos pontos dentro do material podem ser descritos com base na translação
e rotação de seus componentes. Com base na ilustração apresentada na Fig. (29.14), dois

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 941

pontos A e B, assim definidos antes da deformação, podem assumir a posição A’ e B’,


respectivamente, após a deformação.
y

B
B’
A
A’
A’’
B’’

x
Figura 29.14 Translação e rotação.

A distância entre os pontos A e A’ é denominada deslocamento de A. De forma


semelhante pode-se definir o deslocamento do ponto B. Se A’B’ for paralelo a AB, então
a deformação é devida a uma translação. Por outro lado, se os pontos A e B movem-se
para A’’ e B’’, respectivamente, verifica-se que AB não é paralelo a A’’B’’. Portanto,
nesse caso, a deformação é devida a uma translação e a uma rotação. Se A’B’ possuir o
mesmo comprimento que AB, diz-se que a linha AB sofreu um deslocamento de corpo
rígido. Nesse caso, a deformação associada é nula, uma vez que não houve mudança de
forma, já que a variação de deslocamento (deslocamento relativo) é nula. Os
deslocamentos de corpo rígido são evitados nos sistemas estruturais por meio da
imposição de um número conveniente de condições de vinculação. Dessa forma,
possibilita-se a condição de equilíbrio estático, conforme mencionado no capítulo 1.
No sistema cartesiano de coordenadas, os deslocamentos ao longo dos eixos x, y
e z são usualmente associados às variáveis u, v e w, respectivamente. A descrição
Lagrangeana é adotada para a descrição dos deslocamentos. Portanto, os deslocamentos
dos pontos materiais são sempre referenciados à sua posição inicial.
Na formulação e na solução do problema elástico, o conhecimento sobre as
intensidades dos deslocamentos ao longo do contorno da estrutura é de fundamental
importância. O conjunto dos valores prescritos de deslocamento ao longo do contorno da
estrutura é denominado de condição de contorno essencial, ou de Dirichlet, sendo uma
condição de contorno do problema analisado.

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 942

29.4 – Análise de Deformações

29.4.1 – Definição de Deformação

As deformações em um dado ponto material são classificadas em normal ou


distorcional. A deformação normal,  , está associada ao alongamento ou encurtamento
do material. Portanto, à variação volumétrica do material. Já a deformação distorcional,
 , reflete a distorção sofrida pelo material.
Assumindo a validade dos regimes de pequenos deslocamentos e pequenas
deformações no material, a deformação normal pode ser definida, no caso
unidimensional, como um alongamento/encurtamento relativo do material, em um dado
ponto e em uma dada direção, sendo igual a relação entre o alongamento/encurtamento
sofrido pelo material, e seu comprimento inicial. Com base na ilustração apresentada na
Fig. (29.15) pode-se escrever que:
 u u 
 2  2  x   x u
    (29.44)
x x
O elemento discreto apresentado na Fig. (29.15) é transformado em diferencial,
para a representação do ponto material, por meio do seguinte limite:
u du
  lim   (29.45)
x 0 x dx

Figura 29.15 Deformação normal.

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 943

De forma análoga, pode-se escrever a deformação normal para as demais direções


cartesianas da seguinte maneira:
dv dw
y  z  (29.46)
dx dx
Assumindo a validade dos regimes de pequenos deslocamentos e pequenas
deformações no material, a deformação distorcional é associada à variação angular,
mensurada entre as configurações indeformada e deformada, de duas retas que concorrem
ao ponto material de análise. Tomando como base a ilustração apresentada na Fig.
(29.16), pode-se definir  como:

   (29.47)
2
A deformação distorcional é dada em rad.

Figura 29.16 Deformação distorcional.

De forma semelhante ao estado de tensão, o estado de deformação é caracterizado


se as componentes de deformação, orientadas segundo os eixos e os planos coordenados,
forem definidas para um dado ponto material. Assim, considerando o sistema de
coordenadas cartesiano, devem ser determinadas as deformações normais ao longo dos
eixos x, y e z e as deformações distorcionais nos planos xy, xz e yz para a definição do
estado de deformação. As componentes de deformação podem ser agrupadas em um
tensor, denominado tensor de deformações da seguinte forma:

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 944

  xy  xz 
 x 2 2
  yz 
    xy 2 y 
2
(29.48)

  xz  yz 
 2 2
z 
 
 ij
Pode-se definir também que  ij  .
2
Para o caso unidimensional, verifica-se claramente que as deformações estão
associadas às variações de deslocamento. Para os casos em duas e três dimensões, essa
observação também é válida. Para as análises em duas dimensões, que servirão de base
para a extensão ao caso tridimensional, pode-se tomar um elemento de dimensões
infinitesimais como mostrado na Fig. (29.17).
¶u
u+ dy
y ¶y
B'' D'
B'
α
¶v
v + dy
¶y C'
A'
β C''
B D ¶v
v v+ dx
dy ¶x

A C ¶u
u+ dx
dx ¶x
u

x
Figura 29.17 Relação deformação-deslocamento. Caso bidimensional.

Em sua configuração indeformada, o elemento infinitesimal é definido pela figura


ABCD. Já em sua configuração deformada, esse elemento é definido por A’B’C’D’.
Aplicando as definições de deformação normal e distorcional anteriormente apresentadas,
pode-se relacionar as deformações no plano xy às variações de deslocamento. Para as
deformações normais tem-se:
 u 
A ' C " AC u  dx  dx  u   dx
u
x
x   x     x  (29.49)
AC dx x

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 945

 v 
 v  y dy  dy  v   dy
A ' B " AB v
y   y     y  (29.50)
AB dy y
Para as deformações distorcionais tem-se:
 v  v
 v  dx   v
C 'C " x 
Tan      Tan       Tan     x (29.51)
A 'C "   u  u
u  dx  dx   u 1
 x  x

 u  u
 u  y dy   u
B 'B" y
Tan     Tan       Tan    (29.52)
A'B"  v  v
 v  y dy  dy   v  1
  y

Assumindo a validade do regime de pequenos deslocamentos e pequenas


u  v
deformações, verifica-se que e são muito pequenos se comparados a unidade.
x  y
Dessa forma, as tangentes definidas nas Eq.(29.51) e Eq.(29.52) podem ser assim
reescritas:
v
Tan      
x
(29.53)
u
Tan     
y
Dessa forma, aplicando a definição de deformação distorcional tem-se:
u v
       (29.54)
y x
Os resultados apresentados nas Eq.(29.49), Eq.(29.50) e Eq.(29.54) podem ser
utilizados para a obtenção das relações entre deslocamento e deformação para o caso
tridimensional. Nesse caso, a extensão resulta nas seguintes equações:
u v w
x  y  z 
x y z
(29.55)
u v v w u w
 xy    yz    xz  
y x z y z x
As deformações determinadas anteriormente são referenciadas ao sistema
cartesiano, as quais tem como base deslocamentos definidos nesse sistema de
coordenadas. A partir da definição dessas componentes, podem ser determinadas as

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 946

deformações normal e distorcional em relação a um plano inclinado, cuja normal seja ,


como mostra a Fig. (29.18).

z
η

Q
ds
dz y
P
dx

x dy
Figura 29.18 Plano inclinado.

Para tal finalidade, os deslocamentos descritos em xyz devem ser referenciados ao


plano cuja normal é . Para efetuar tal descrição os cossenos diretores anteriormente
definidos nesse capítulo, Eq.(29.8), devem ser utilizados. Os deslocamentos definidos em
xyz podem ser associados à  da seguinte forma:
u  u  1  v 2  w 3
v  um1  vm2  wm3 (29.56)
w  un1  vn2  wn3

A variação de u pode ser associada à deformação   aplicando-se a regra da

cadeia. Assim:
u u x u y u z
     
 x  y  z 
 u v w   u v w 
    1 1   2  1   3 1     1 2   2  2   3 2   (29.57)
 x x x   y y y 
 u v w 
  1 3   2  3   3 3 
 z z z 
Utilizando a Eq.(29.55), pode-se reescrever a equação anterior na seguinte forma:
   x  12   y  22   z  23   xy  1 2   xz  1 3   yz  2  3 (29.58)

A deformação distorcional no plano inclinado é dado por:

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 947

u v
    (29.59)
 
sendo  a direção que define o plano analisado.
Aplicando a regra da cadeia tem-se:
 u x u y u z   v x v y v z 
          (29.60)
  x   y    z     x    y    z   

Utilizando a descrição dos deslocamentos no plano inclinado, Eq.(29.56), e as


direções dos cossenos diretores, Eq.(29.8), tem-se:

 u v w   u v w 
     1m1   2 m1   3 m1     1m2   2 m2   3 m2 
 x x x   y y y 
 u v w   u v w 
   1m3   2 m3   3 m3    m1 1  m2  1  m3 1   (29.61)
 z z z   x x x 
 u v w   u v w 
 m1 2  m2  2  m3 2    m1 3  m2  3  m3 3 
 y y y   z z z 
Pode-se reescrever a equação anterior, utilizando as relações apresentadas na
Eq.(29.55), na seguinte forma:
   2 x  1m1  2 y  2 m2  2 z  3 m3   xy   2 m1   1m2  
(29.62)
 xz   1m3   3 m1    yz   3 m2   2 m3 

29.4.2 – Transformação de Deformações e Deformações Principais

O procedimento anteriormente descrito possibilita a determinação das


componentes normal e distorcional de deformação, em relação a um plano inclinado
qualquer, com base nas componentes do estado de deformação definidas em um ponto.
Esse procedimento pode ser utilizado para a determinação das componentes do tensor de
deformações, as quais são definidas em relação a um sistema de coordenadas de
referência, com relação a um sistema de coordenadas rotacionado. Assumindo que o
estado de deformação esteja definido no sistema cartesiano x, y, z, essas componentes de
deformação podem ser descritas em relação a um sistema rotacionado x’, y’, z’. Para tal
finalidade, basta considerar que os eixos x’, y’ e z’ sejam os eixos normais ao plano
inclinado. Dessa forma, sabendo-se as rotações existentes entre os eixos coordenados,
pode-se definir a matriz de rotação descrita na Eq.(29.8). Portanto, aplicando as

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 948

transformações de deformação descritas anteriormente em relação à planos cujas normais


sejam x’, y’ e z’, as deformações em relação ao sistema rotacionado podem ser assim
escritas:
 '    R   R 
T

 '  xy'  xz'    xy  xz 


 x    x
2 2 2 2  
 '   1 2 3   m1 n1  (29.63)
 yz  
1
  '
  m 
 xy  y' yz
m2 m3   xy y  2 m2 n2 
 2 2   1  2 2 
 '  yz
'   n1 n2 n3     yz    3 m3 n3 
 xz  z'   2
xz
2
z 
 2 2  

Com base na Eq.(29.63), verifica-se que a intensidade das componentes de
deformação irá depender diretamente das direções de rotação atribuídas. Portanto,
existirão direções particulares onde a intensidade das deformações distorcionais será nula
e as intensidades das deformações normais nos planos de referência apresentarão valores
extremos (máximos ou mínimos). À essas deformações normais dá-se o nome de
deformações principais e às suas direções de atuação denominam-se direções principais.
As deformações principais podem ser obtidas derivando a Eq.(29.58) em relação
as direções  1 ,  2 e  3 . Dessa forma obtêm-se:

     
 2 x  1   xy  2   xz  3  
 1   1     xy  xz    1 
       x 
 2 y  2   xy  1   yz  3      xy y  yz    2  (29.64)
 2  
 2  
    xz  yz  z    3 
 
 2 z  3   yz  2   xz  1  
 3   3 
Na equação anterior, as direções  1 ,  2 e  3 definem três eixos mutualmente

perpendiculares. Quando as derivadas de   em relação às direções  1 ,  2 e  3 são nulas,

obtém-se as deformações principais. Nessa situação, as deformações distorcionais são


nulas. Portanto, nessa situação, pode-se escrever que:

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 949

x  xy  xz    1   1 
  
 xy y  yz    2      2   0 
 xz  yz  z    3    3 

(29.65)
  x     xy  xz   
  1
  xy  y   yz    2   0
 
  xz  yz   z       3 
sendo  a norma da deformação decorrente de   no plano principal.

Para que a solução trivial não seja observada no sistema de equações apresentado
na Eq.(29.65), problema de auto valor e auto vetor, o determinante da matriz contida no
primeiro membro dessa equação deve ser nulo. Assim, igualando o determinante dessa
matriz a zero obtém-se:
 3  I1'  2  I 2'   I 3'  0 (29.66)
onde:
I1'   x   y   z

I 2'   x  y   y  z   x  z 
4

1 2
 xy   2yz   2xz  (29.67)

1
4
1

I 3'   x y  z   xy  xz  yz   x 2yz   y  2xz   z  2xy
4

As raízes da equação cúbica mostrada na Eq.(29.66) são reais e representam as
deformações principais. Classicamente, classificam-se as deformações principais como
1   2   3 . As direções principais são obtidas com base nos valores das deformações
principais e na Eq.(29.65). Deve-se enfatizar a semelhança observada nessa análise em
relação às tensões. Em ambas as situações, observa-se a presença de um problema
envolvendo autovalores (grandezas principais) e auto vetores (direções principais).
Da mesma forma que as deformações normais assumem valores extremos
(máximo ou mínimo), as deformações distorcionais também assumem valores extremos
segundo direções de inclinação particulares do plano inclinado (que reflete também a
rotação do sistema de coordenadas).
A determinação da intensidade da deformação distorcional máxima, bem como
sua orientação, pode ser efetuada de maneira similar ao apresentado para as tensões de
cisalhamento. Assim, as distorções de valor extremo ocorrem nas seguintes direções:

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 950

 1 1 
 0  
3   2 2 
 1 2
m  1 1 
m2 m3     0  (29.68)
 1 2 2
 n1 n2 n3   
 1 1 
  2 
2
0 

Assim como no caso das tensões de cisalhamento, as direções principais de
deformação distorcional são defasadas de 45º em relação às direções principais.
A intensidade das deformações distorcionais é obtida por meio da substituição das
direções dadas pela Eq.(29.68) na Eq.(29.62). Com base nessa substituição, obtém-se as
seguintes intensidades para as deformações distorcionais extremas:
 MAX
12
 1   2  MAX
23
 2  3  MAX
13
  3  1 (29.69)

Nos planos onde a deformação distorcional apresenta valores extremos, as


deformações normais são iguais a deformação normal média no plano. Essa conclusão
pode ser obtida utilizando-se a Eq.(29.58) e o resultado apresentado na Eq.(29.68).
Assim:
1   2 2  3  3  1 (29.70)
 1   2   3 
2 2 2

O estado de deformação pode ser representado graficamente com base no círculo


de Mohr. A obtenção da equação que governa esse círculo é mostrada no capítulo 24,
bem como aplicações desse procedimento gráfico.
Se o material que compõe a estrutura possuir comportamento mecânico elástico
linear, as direções principais nos casos da tensão e deformação são coincidentes.

29.4.3 – Tensores de Deformação Hidrostático e Desviador e Invariantes de Deformação

De forma semelhante ao efetuado na análise do campo de tensões, o tensor de


deformações pode ser decomposto também nas partes esférica ou hidrostática e na anti-
esférica ou desviadora. O tensor hidrostático de deformações,  H  , o qual gera no

material apenas variação volumétrica, é definido como:


 H 0 0
x y z
H   H    0 H 0  (29.71)
3
 0 0  H 

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 951

Já o tensor desviador de deformações,  D  , relacionado a distorção do material,

é definido como:
    H    D 
  xy  xz 
  x   H  2  
2
    dx d xy d xz  (29.72)
 yz 
 D    xy 2

 y H   d
2   xy
dy d yz 
  xz  yz   d xz d yz d z 
 2 2  z H 
  
 
Como o tensor desviador de deformação é obtido por meio de uma subtração de
deformações normais iguais em relação ao tensor de deformações, verifica-se,
intuitivamente, que as direções principais do tensor de deformações e do tensor desviador
são iguais. Portanto, de forma análoga ao efetuado anteriormente, Eq. (29.65), as
deformações principais do tensor desviador são dadas pelas raízes do seguinte polinômio:
 3  J 1'  2  J 2'   J 3'  0 (29.73)
onde:
J1'  0

J 2' 
2

1 2
d x  d y2  d z2  2d xy
2 2
 2d yz 2
 2d xz  (29.74)

1
4
1

J 3'  d1d 2 d3  d x d y d z  d xy d xz d yz  d x d 2yz  d y d xz2  d z d xy2
4

As componentes do tensor de deformações são definidas unicamente a partir de
um sistema de coordenadas de referência. Porém, com base no conteúdo apresentado
anteriormente nesse capítulo, verifica-se que a intensidade das componentes de
deformação varia se o sistema de coordenadas for rotacionado em relação ao sistema de
coordenadas de referência no qual as componentes de deformação foram definidas. Esse
fato torna-se um complicador em análises mecânicas, uma vez que a definição do tensor
de deformações estará associado ao referencial adotado pelo analista. No entanto, existem
alguns parâmetros relacionados ao tensor de deformações que são invariantes em relação
ao sistema de coordenadas escolhido para a descrição de suas componentes. Tais
parâmetros são denominados invariantes de deformação. No conteúdo discutido nesse

capítulo, os parâmetros I1' , I 2' , I 3' , J1' , J 2' , J 3' e as deformações principais são invariantes
de deformação.

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 952

29.4.5 – Deformações Octaédricas

As deformações normal e distorcional podem ser também determinadas ao longo


de planos octaédricos. Assim como anteriormente definido nesse capítulo, os planos cujas
 1 1 1 
componentes normais sejam iguais a  , ,  em relação ao sistema de
 3 3 3
coordenadas utilizado, são denominados planos octaédricos.
Com base nessas inclinações, a deformação normal ao plano octaédrico pode ser
assim expressa:
oct   1 12   2  22   3 23
2 2 2
 1   1   1  1   2   3 I1' (29.75)
oct
 1    2    3    oct  
 3  3  3 3 3
Já a deformação distorcional no plano octaédrico é definida por meio da
Eq.(29.62). Dessa forma:
1
2
  1   2    2   3    3   1   2
2 2 2

oct
(29.76)
3  

29.4.6 – Equações de Compatibilidade de Deformação

Conforme anteriormente apresentado no presente capítulo, o campo de


deslocamento, três componentes, determina unicamente o campo de deformações, seis
componentes, Eq.(29.55). No entanto, a análise no sentido contrário não é uma tarefa
fácil, isto é, se o campo de deformações for imposto a um dado material, as três
componentes de deslocamento podem não ser unicamente definidas. Portanto, se os
valores das componentes de deslocamento devem ser unicamente definidos, para que se
tenha um problema univocamente caracterizado, devem ser definidas relações adicionais
envolvendo os deslocamentos e as deformações de forma a tornar única tal
correspondência.
As relações adicionais são denominadas equações de compatibilidade. Tais
relações são assim definidas.

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 953

 2 x   y   xy
2 2

 
y 2 x 2 x  y
 2 y  2 z   yz
2

 
z 2 y 2 y z
 2 z  2 x  2 xz
 
x 2 z 2 xz (29.77)
   yz  xz  xy   2 x
    2
x  x y z y z
   xz  xy  yz   2 y
   2
y  y z x  xz
   xy  yz  xz   2 z
      2
z  z x y  x  y

As seis equações anteriormente apresentadas são necessárias e suficientes para


garantir a unicidade da correspondência entre os campos de deformação e deslocamento.
As relações apresentadas na Eq.(29.77) podem ser facilmente comprovadas por meio das
relações deformação deslocamento descritas na Eq.(29.55).

29.4.7 – Estado de Deformação em Coordenadas Cilíndricas

Em diversos problemas de engenharia de estruturas, a mudança em relação ao


sistema de coordenadas utilizado para a descrição do problema pode tornar-se
interessante. Particularmente, a descrição em coordenadas cilíndricas pode ser útil na
análise de problemas cuja geometria e condições de contorno apresentem simetria radial,
como em tubos e discos, por exemplo. Portanto, a descrição das deformações,
anteriormente elaborada em coordenadas cartesianas, pode ser também efetuada em
coordenadas cilíndricas.
Nesse sistema de coordenadas, os eixos coordenados definem a localização de um
dado ponto por meio de uma distância, r, um ângulo de giro, , e sua posição ao longo do
eixo z. Dessa forma, o estado de deformação pode ser descrito conforme apresenta a
equação a seguir:
   r  rz
 r 2 2
 z 
    r 2  2
(29.78)
 
  rz z z 
 2 2 

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 954

Nesse sistema de coordenadas, os deslocamentos segundo as direções r, e z estão


associados às deformações por meio das seguintes relações:
u r 1 u  u z
r      ur    z 
r r   z
(29.79)
1 ur u u u u u 1 u z
 r     rz  r  z z   
r  r r z r z r 

29.4.8 – Equações de Compatibilidade de Deformação em Coordenadas Cilíndricas

Além das relações apresentadas na Eq.(29.79), os deslocamentos e as deformações


no sistema de coordenadas cilíndrico devem ser conectadas também por meio de
condições de compatibilidade. Tais condições são de grande importância para definir
univocamente a dependência entre as deformações e deslocamentos e vice-versa.
Para o sistema de coordenadas cilíndrico, tais relações podem ser escritas como:
 2 r  2 z  2 rz
 
z 2 r 2 r z
  r
2
 2  r    2  r r 
r r   r 
r  2 r 2 r 
 
2
 z   z2
 rz  2  z
r2  r   r  r
z 2 r  2 z z  
(29.80)
    r r       r  z   rz      r   
      2r   r 
z       r   z  r 
  1    r  z   rz     r r  2   r
2 2
r2      
r  r  r    r z r z 
   r     1  rz    1  z 
  r  z     2  
z  z r  r  r   r  r   

O sistema de coordenadas cilíndrico pode ser reduzido de forma a eliminar a


dependência em relação a z. Nesse caso, quando a ordenada z não é considerada, tem-se
o sistema de coordenadas polar. Nesse sistema de coordenadas, as relações anteriormente
apresentadas continuam válidas. Porém, todas as grandezas relacionadas a direção z são
nulas e as variáveis são descritas unicamente em relação aos parâmetros r e . As relações
que associam os sistemas de coordenadas cartesiano e polar são apresentadas na
Eq.(29.33).
Os deslocamentos definidos no sistema cartesiano podem ser referenciados ao
sistema polar por meio de transformação apresentada na Fig. (29.19).

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 955

y y
y(uθ) y
uθ x(ur) y sin q x
ur
θ x cos q
x sin q
θ x y cos q θ x

Figura 29.19 Transformação de coordenadas.

Assim, utilizando a ilustração apresentada na Fig. (29.19) tem-se:


éu ù é cos (q ) sin (q )ù éu ù
ê rú =ê úê ú (29.81)
êuq ú ê- sin (q ) cos (q )ú êë v úû
ë û ë û

29.5 – Relação Constitutiva

Em elasticidade linear baseada nos regimes de pequenos deslocamentos e


pequenas deformações, a relação que associa as componentes de tensão às componentes
de deformação é denominada Lei de Hooke Generalizada, em homenagem ao cientista
Robert Hooke. Segundo esta lei, as componentes de deformação são combinações
lineares das componentes de tensão. Por definição, um material é denominado isotrópico
quando suas propriedades mecânicas elásticas são idênticas ao longo de todas as direções.
Já um material é denominado anisotrópico quando essas mesmas propriedades são
diferentes segundo as diferentes direções materiais. Quanto à homogeneidade, um
material é denominado homogêneo quando suas propriedades elásticas são idênticas em
todas as direções paralelas passando por qualquer ponto no domínio do sólido.
Em um material com anisotropia geral, considerando coordenadas cartesianas é
possível apresentar a Lei de Hooke Generalizada da seguinte forma:

    D  (29.82)

O tensor D é denominado tensor de constantes elásticas ou tensor constitutivo.


Assumindo que D seja não singular, pode-se também apresentar a Lei de Hooke
Generalizada em sua forma inversa como:

   C  (29.83)

em que o tensor C é denominado tensor de flexibilidade ou compliance.

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 956

Formalmente, os tensores D e C são constituídos por 81 constantes elásticas, as


quais relacionam todas as componentes do tensor de tensões, nove componentes, a todas
as componentes do tensor de deformações, nove componentes. O tensor D relaciona por
meio de uma combinação linear cada uma das nove componentes do tensor de deformação
a cada uma das nove componentes do tensor de tensão. Já o tensor C efetua essa relação
de forma inversa.
Para materiais anisotrópicos, o tensor constitutivo contém 81 termos
independentes, os quais são função somente da direção dos eixos de referência. Porém,
contando com a simetria dos tensores de tensão e deformação, a qual é possível devido
às condições de equilíbrio e compatibilidade, o número de termos independentes do
tensor constitutivo é reduzido para 36. Este número pode ainda ser diminuído assumindo-
se a validade do teorema de Maxwell, o qual estabelece condições de conservação de
energia. Assim, por meio deste teorema, o trabalho de  x sobre  x causada por  y é igual

ao trabalho de  y sobre  y causado por  x , por exemplo. Quando esta hipótese é

assumida, o tensor constitutivo torna-se simétrico, com 21 coeficientes desconhecidos.


Quando os 21 coeficientes são independentes, diz-se que o material apresenta o maior
índice de anisotropia possível.
O caso mais geral de anisotropia se verifica quando a estrutura interna do material
não apresenta nenhum plano de simetria elástica. Nesse caso, nenhuma das 21 constantes
elásticas da lei constitutiva é nula. Assim, todos os componentes do tensor constitutivo
podem ser escritos em função de constantes de engenharia, sendo representado como
segue:
 1  yx  zx  yz , x  xz , x  xy , x 
 Ex Ex Ex Ex Ex Ex 
 
  xy 1  zy  yz , y  xz , y  xy , y 
x   Ey Ey Ey Ey Ey E y   x 
     
 y    xz  yz 1  yz , z  xz , z  xy , z  y
  z   Ez Ez Ez Ez Ez Ez   z 
     (29.84)
 yz   x , yz  y , yz  z , yz 1  xz , yz  xy , yz
  yz 
 xz   G yz G yz Gyz Gyz Gyz Gyz   
xz
    y , xz  z , xz  yz , xz  xy , xz  
 xy   x , xz 1 
  xy 
 G xz G xz Gxz Gxz Gxz Gxz 
 x , xy  y , xy  z , xy  yz , xy  xz , xy 
 1
 G xy G xy Gxy Gxy Gxy Gxy 

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 957

em que E e G representam os módulos de elasticidade longitudinal e transversal do


material, respectivamente, os quais possuem diferentes valores segundo as direções x,y,z.
 indica o coeficiente de Poisson segundo os planos coordenados.
As demais constantes que surgem na Eq. (29.84) são nulas para materiais
isotrópicos ou ortótropos. Porém, em anisotropias gerais, estas constantes possuem
elevada importância, uma vez que quantificam as influências de tensões normais sobre as
deformações distorcionais, das tensões de cisalhamento sobre as deformações normais e
das tensões de cisalhamento sobre as deformações distorcionais. As constantes  ij . k são

denominadas coeficientes de influência mútua de primeira espécie. Esses coeficientes


caracterizam as extensões nas direções dos eixos coordenados “k” produzidas por tensões
de cisalhamento atuantes em planos coordenados “ij”. Já as constantes  i , jk são

denominadas coeficientes de influência mútua de segunda espécie e expressam as


deformações distorcionais nos planos coordenados “jk” provocadas por tensões normais
atuantes nos eixos coordenados “i”. Finalmente, as constantes  ij , jk são denominadas

coeficientes de Chentsov e caracterizam as distorções em planos paralelos aos planos


coordenados produzidas por tensões de cisalhamento atuando em planos paralelos aos
outros planos coordenados.
Um corpo homogêneo descrito em relação aos eixos coordenados x,y,z é
considerado ortótropo quando por qualquer um de seus pontos materiais passam três
planos de simetria elástica mutualmente perpendiculares entre si e com eixos de simetria
paralelos aos eixos coordenados. Nesse caso, a Lei de Hooke generalizada pode ser escrita
como:
1  yx  zx 
 Ex 0 0 0 
Ex Ex
 
x    zy
1 0 0 0   x 
   Ey Ey   
 y   y
  z   1 0 0 0   z 
Ez
    (29.85)
 yz   1 0

0   yz 
 xz   G yz   xz 
   1
 
 xy   Gxz
0   xy 
 
 SIM . 1 
 Gxy 

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 958

Nessa situação, tem-se todos os coeficientes de influência mútua e todos os


coeficientes de Chentsov nulos. Assim, o número de constantes elásticas independentes
é reduzido para 9. Esse tipo de simetria é considerado o mais importante, antes da
isotropia, uma vez que é a mais encontrada em aplicações reais. As relações tensão-
deformação ortótropas fornecem suficiente generalidade para descrever a maioria dos
materiais estruturais. Deve-se enfatizar que, nesses materiais, as tensões de cisalhamento
atuantes segundo um dos planos de simetria não promovem distorções em outros planos.
Assim,  xy gera apenas  xy . Esta tensão,  xy , não gera  xz nem  yz .

Finalmente, a relação constitutiva para materiais isótropos é expressa conhecendo-


se apenas duas propriedades materiais. Nesses materiais, conforme apresentado no
capítulo 25, a relação constitutiva pode ser assim expressa:
x  1   0 0 0   x 
    1  0 0 0   
 y   y
  z  1    1 0 0 0   z 
     (29.86)
 xy  E  0 0 0 2 1    0 0   xy 
 xz  0 0 0 0 2 1    0   xz 
    
 yz   0 0 0 0 0 2 1      yz 

A discussão envolvendo a lei de Hooke generalizada efetuada anteriormente nesse


item leva em consideração a descrição do problema por meio do sistema de coordenadas
cartesiano. No entanto, essa mesma relação constitutiva pode ser utilizada para a
descrição da dependência entre as tensões e as deformações em problemas descritos no
sistema de coordenadas cilíndrico. Nessa situação, as equações anteriormente
apresentadas permanecem válidas, basta que os índices x e y sejam substituídos por r e ,
respectivamente.

29.6 – Solução de Problemas da Elasticidade Linear Plana

29.6.1 – Equação de Lévy

Nos capítulos 23 e 24 foram apresentados e resolvidos problemas elásticos em


estado plano de tensão (EPT) e estado plano de deformação (EPD). Naquela
oportunidade, as tensões, as deformações, as forças e os deslocamentos foram unidos

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 959

convenientemente para a análise de tais problemas. No caso tridimensional, e também em


sua particularização ao caso plano, o problema elástico pode ser formulado e resolvido
com base nas três equações de equilíbrio, Eq.(29.28), Eq.(29.29) e Eq.(29.30), nas seis
relações deformação-deslocamento Eq.(29.55) e nas seis relações tensão-deformação
Eq.(29.86). Assim, tem-se um total de quinze equações que possibilitam a determinação
das seis componentes de tensão, das seis componentes de deformação e das três
componentes de deslocamento. Pode-se resolver o problema diretamente por meio da
imposição de funções que governem, por exemplo, o comportamento do campo de
deslocamentos ou do campo de tensões.
No caso plano, as equações anteriormente mencionadas podem ser utilizadas para
a obtenção de uma equação diferencial baseada em tensão, por exemplo, para a solução
do problema. Considerando o caso plano de tensão, a lei de Hooke generalizada pode ser
escrita como:
 x   y  y   x  xy
x  y   xy  (29.87)
E E G
Substituindo as expressões mostradas na Eq.(29.87) na relação de compatibilidade
de deformações, Eq.(29.77), tem-se:

1 2 1 2 2 1     2 xy
E y 2
 x
   y 
E x 2
 y x
   
E xy
(29.88)

A equação de equilíbrio para o caso plano pode ser assim reescrita:


  x   xy
  Bx  0
x y
(29.89)
  xy   y
  By  0
x y

Derivando a primeira relação mostrada na Eq.(29.89) em relação a x e a segunda


relação mostrada na Eq.(29.89) em relação a y e somando-as obtém-se:
 2 x   xy B x   xy   y B y
2 2 2

     0 
x 2 xy x  x y y 2 y
(29.90)
 2 xy  2 x   y B x B y
2

2    
xy x 2 y 2 x y
Substituindo a Eq.(29.90) na Eq.(29.88) obtém-se:

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 960

2 2   2 x  2 y Bx B y 
y 2
 x   y   x 2  y   x   1      x 2  y 2  x  y  
 
 2 x  y  y
2 2
 2 x
     
y 2 y 2 x 2 x 2
(29.91)
 2 x   y  2 y  B B
2
 2 x 
       1     x  y 
x 2
y 2
x 2
y 2
 x y 
 2 2   B B 
2  x
 2     y    1     x  y 
 x y   x y 

Se o problema for analisado em estado plano de deformação, desenvolvimentos


semelhantes podem ser efetuados e a equação obtida é a seguinte:
 2 2  1   B x B y 
 2  2   x   y       (29.92)
 x y  1    x y 

Nos casos onde as forças de volume são constantes, as Eq.(29.91) e Eq.(29.92)


podem ser escritas na seguinte forma única:
 2 2 
 2    x   y   0   2  x   y   0 (29.93)
 x y 2 

A Eq.(29.93) é denominada equação de Lévy, sendo válida para problemas planos


onde as forças volumétricas são constantes. Em problemas descritos por coordenadas
polares, a equação de Lévy assume a seguinte forma:
 2  x   y    2   r      0 (29.94)

Tal formato é válido devido a invariância das tensões entre os dois sistemas
coordenados.

29.6.2 – Solução via Funções de Tensão. Funções de Airy

A solução do problema plano em termos de tensões é efetuada por meio da


Eq.(29.93), ou Eq.(29.94), sendo que a função solução deve atender às condições de
contorno do problema. Este problema pode ser também resolvido com base em uma
função maior, que se relacione as componentes de tensão do problema. Assumindo que
essa função, denominada função de tensão, esteja associada ao estado de tensão, na
ausência de forças volumétricas, da seguinte forma:

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 961

 2  2  2
x  y   xy   (29.95)
y 2 x 2  x y
pode-se reescrever a Eq.(29.93) como:
  2  2 
 2  x   y   0   2  2  2   0   2  2   4  0 (29.96)
 y x 

A equação anterior é conhecida como equação bi harmônica. Portanto, para a sua


solução,   x, y  deve ser uma função bi harmônica para que seja assegurada a

compatibilidade de deformações. A função   x, y  é denominada função de tensão de

Airy.
Em coordenadas polares, na ausência de forças de volume, as equações de
equilíbrio são satisfeitas por uma função de tensão   r ,  , para a qual as componentes de
tensão nas direções radial e circunferencial são dadas por:
1  1  2
r  
r r r 2  2
 2
 
r 2 (29.97)
1  1  2   1  
 r  2   
r  r r  r  r  

Dessa forma, o operador bi harmônico do caso polar pode ser escrito como:
 1  1  2  2 
 2  r      0   2      
 r r r 2  2 r 2  (29.98)
 
Dessa maneira, a equação de compatibilidade escrita em função das tensões
(equação bi harmônica) desprezando a ação das forças de volume, assume a seguinte
forma:
1  1 2 2  1  1 2 2 
 
 4   2  2  0    2 
 r r r  2 r 2    2     0 (29.99)
  r r r 
2
 r 2 

29.6.3 – Aplicação de Funções de Airy em Domínios Retangulares

Dos desenvolvimentos efetuados anteriormente, verifica-se que as tensões estão


associadas à função de tensão de Airy por meio das relações apresentadas na Eq.(29.95).

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 962

Assim, adotando uma solução polinomial de segunda ordem, ou seja,


a2 x 2 c y2
  b2 xy  2 tem-se:
2 2

 x  c2  y  a2  xy  b2 (29.100)

Assim, com base na função de tensão proposta, tem-se o estado de tensão


apresentado na Fig. (29.20).
a2
b2

c2 c2

b2

a2
Figura 29.20 Tensões atuantes no problema.

Se a2  b2  0 , tem-se uma barra tracionada ao longo do eixo x. Se b2  c2  0 , tem-


se uma barra tracionada ao longo do eixo y. Se a2  c2  0 , tem-se um estado de
cisalhamento puro.
Adotando-se uma solução polinomial de terceira ordem,
a3 x3 b3 x 2 y c3 xy 2 d3 y 3
    , tem-se:
6 2 2 6

 x  c3 x  d 3 y  y  a3 x  b3 y  xy  b3 x  c3 y (29.101)

Assumindo-se que apenas d3 seja diferente de zero, tem-se  y  xy  0 . Nessa

situação, a tensão normal atuante em x varia linearmente com a ordenada y, como mostra
a Fig. (29.21).
Fazendo uma analogia com a solução do problema de flexão em vigas tem-se:
N    x dA  N   d 3 ydA (29.102)
A A

Como N  0 , verifica-se que  ydA deve


A
nulo. Esta integral representa o

momento estático, indicando que a superfície neutra deve ser posicionada no centro de
gravidade da seção transversal.

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 963

d3C
y
C
x

C
-d3C
Figura 29.21 Tensões atuantes no problema.

Em seguida, pode-se determinar o momento fletor como:


M z    x ydA  M z   d 3 y 2 dA (29.103)
A A

 y dA representa o momento de inércia da seção transversal tem-


2
Lembrando que
A

se que M z  d 3 I z

Sendo c3 e d3 são diferentes de zero, tem-se  y   xy  0 e  x  c3 x  d3 y .

Assim, tem-se a variação de tensão apresentada na Fig. (29.22).


c3 d3C
y
C
x

-d3C
Figura 29.22 Tensões atuantes no problema.

Pode-se utilizar a mesma estratégia anteriormente apresentada para a análise de


problemas planos. Considerando o problema apresentado na Fig. (29.23), pode-se propor
a2 x 2
a seguinte função de tensão de Airy para a solução    b2 xy  c2 y 2 .
2

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 964

p
y
x

L
Figura 29.23 Tensões atuantes no problema.

c2 y 2
Como  y   xy  0 , tem-se a2  b2  0 . Assim,   e  x  c2 . Com base na
2

função de tensão utilizada e no problema analisado tem-se c2  p . Utilizando a lei de


Hooke generalizada, pode-se escrever que:
p P
x   y    xy  0 (29.104)
E E
Utilizando as relações entre deformação e deslocamento tem-se:
¶u p p
ex =  u ( x, y ) = ò dx  u ( x, y ) = x + c1 ( y )
¶x E E
¶v p p
ey =  v ( x, y ) = -ò n dy  v ( x, y ) = -n y + c2 ( x ) (29.105)
¶y E E
¶u ¶v ¶c1 ( y ) ¶c2 ( x )
g xy = + =0  + =0
¶ y ¶x ¶y ¶x
Relacionando as constante de integração da Eq.(29.105) tem-se:
¶c1 ( y )
= c3  c1 ( y ) = c3 y + c4
¶y
¶c2 ( x)
= -c3  c2 ( x) = -c3 x + c5 (29.106)
¶x
¶c2 ( x)
= -c3  c2 ( x) = -c3 x + c5
¶x
Portanto:
p
u ( x, y ) = x + c3 y + c4
E (29.107)
p
v ( x, y ) = -n y - c3 x + c5
E
Das condições de contorno, tem-se:

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 965

u (0,0) = 0 \ c4 = 0

v (0,0) = 0 \ c5 = 0 (29.108)

v ( x,0) = 0 \ c3 = 0

Portanto:
p p
u ( x, y ) = x v ( x, y ) = -n y (29.109)
E E
Assim tem-se a solução completa do campo de tensões, deformações e
deslocamentos do problema.
Além das funções de tensão polinomiais, funções de tensão descritas com base em
séries podem ser também utilizadas. Essa solução é particularmente interessante na
análise de problemas planos onde os carregamentos atuam em pequenas porções materiais
na superfície do corpo, aproximando-se de carregamentos concentrados.

29.6.4 – Aplicação de Funções de Airy em Domínios Axissimétricos

Os problemas axissimétricos são caracterizados por possuírem geometria e


condições de contorno simétricas em relação a um eixo, normalmente, o eixo z. No
contexto da elasticidade linear, muitos desses problemas podem ser resolvidos nas
condições planas, devido à presença do eixo de simetria. Portanto, nesses tipos de
problema, a descrição das grandezas de interesse pode ser efetuada no sistema de
coordenadas polar.
Além disso, muitos problemas axissimétricos de interesse prático da engenharia
de estruturas apresentam também simetria circunferencial, como observado nos discos e
nos tubos pressurizados. Nesses casos particulares, as grandezas envolvidas devem ser
unicamente descritas com base na variação radial, r. Assim, nesses casos, o estado de
tensão é associado a função de tensão de Airy, Eq.(29.97), por meio das seguintes
relações:

1 d d 2
r     r  0 (29.110)
r dr dr 2
Consequentemente, a equação bi harmônica, descrita em coordenadas polares,
passa a ser escrita na seguinte forma:

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 966

1 d d 2  1 d d2 
 4  0    2   2   0 (29.111)
 r dr dr   r dr dr 
  

Nos problemas axissimétricos circunferencialmente simétricos pode-se escrever


que:
 1 d  d 2  1 d  d 
  2   r   F r  (29.112)
 r dr dr  r dr  dr 

Portanto, com base no apresentado na Eq.(29.111), tem-se:


 1 d  F  r  d 2  F  r   1 d  d  F  r  
   r 0 (29.113)
r dr dr 2  r dr  dr 
   

Consequentemente, nesses problemas, a equação bi harmônica pode ser reescrita


na seguinte forma:
1 d  d  1 d  d    
r  r   0 (29.114)
r dr  dr  r dr  dr   

Analisando as parcelas isoladas da última equação, conclui-se que:


d  d 
r  C1r ln  r   C 2 r (29.115)
dr  dr 

Consequentemente, pode-se escrever que:


1 d  d 
r  C1 ln  r   C2
r dr  dr 
d  1 d  d   C1
 r  (29.116)
dr  r dr  dr   r
d  1 d  d  
r  r   C1
dr  r dr  dr  

r2  1
Lembrando que  r ln  r  dr 
2  ln  r   2  , pode-se utilizar a Eq.(29.115) para
 

obter  como:

d d r2  1 r2
r
dr
   C1r ln  r   C2 r  dr  r dr
 C1  ln  r     C2
2  2 2
 C3 (29.117)

Assim:
d r 1 r C
 C1  ln  r     C2  3 (29.118)
dr 2 2 2 r

Integrando novamente obtém-se:

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 967

 r 1 r C 

   C1  ln  r     C2  3  dr
 2 2 2 r 

(29.119)
C r2  1 r2 r2
  1  ln  r     C1  C2  C3 ln  r   C4
2 2  2 8 4

Para fins de avaliação do estado de tensão, a constante C4 pode ser suprimida sem
perda de representatividade do problema. Além disso, a última equação pode ser

compactamente reescrita assumindo que: A  C3 , B  C1 4 e C  


C2  C1 
4 . Com essas
novas constantes tem-se:
  A ln  r   Br 2 ln  r   Cr 2 (29.120)
Consequentemente, o estado de tensão, com base na função de Airy descrita na
Eq.(29.120), pode ser assim escrito:
1 d A
r   r   B  2 ln  r   1  2C
r dr r2
d 2 A
       2  B  2 ln  r   3  2C (29.121)
dr 2 r
 r 0

Deve-se enfatizar que a solução geral fornecida pela Eq.(29.121) é válida para
ambos os estados planos. A partir da solução geral apresentada na Eq.(29.121), pode-se
analisar, por exemplo, a estrutura apresentada na Fig. (29.24). Trata-se de um disco
submetido a um carregamento radial uniforme ao longo de seu contorno, cuja intensidade
é P.

Figura 29.24 Disco.

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 968

A origem do sistema de coordenadas está localizada no centro de gravidade do


disco. Dessa forma, para que soluções singulares não seja observadas para as expressões
apresentadas na Eq.(29.121), as constantes A e B devem ser nulas. Esse procedimento é
necessário por serem observadas tensões finitas no centro de gravidade do disco. Pode-se

mostrar, por meio do teorema de L’Hôpital, que tal operação torna nulo os termos A e
r2
B ln  r  contidos nessa equação. Assim, com base na condição de contorno do problema

tem-se:
 r  P em r  
1 d P (29.122)
r    r   P  2C  C  
r dr 2
Consequentemente, para esse problema, o estado de tensão fica assim definido:
 r  P
  P (29.123)
 r  0

O estado de tensão é principal uma vez que  r  0 .


Procedimento semelhante pode ser efetuado para a análise do problema
apresentado na Fig. (29.25). Nessa figura, observa-se um tubo, cuja espessura da parede
é igual a re  ri , o qual está submetido a pressões externa e interna.

Figura 29.25 Tubo pressurizado.

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 969

O campo de deslocamentos para essa estrutura pode ser obtido por meio da
aplicação da relação deformação-deslocamento, Eq.(29.79), da lei de Hooke
generalizada, Eq.(29.86) e da Eq.(29.120), a qual relaciona o estado de tensão à
parâmetros da função de tensão  . Com base nesse procedimento obtém-se a seguinte

função para o deslocamento u :


1
u   4 Br  C7 cos    C8sen    C6 r  (29.124)
E

Para que u  0   u  2  deve-se fazer B nulo. Portanto, a Eq.(29.121) pode ser


assim escrita para problema apresentado na Fig. (29.25) da seguinte forma:
1 d A
r   r   2C
r dr r2
d 2 A
       2  2C (29.125)
dr 2 r
 r 0

As condições de contorno do problema são as seguintes:


 r   Pe em r  re
(29.126)
 r   Pi em r  ri

Assim:

A  Pe  Pi  re2 ri2
 Pe   2C A
re2 re2  ri2
 (29.127)
A  re2 Pe  ri2 Pi
 Pi   2C C
ri2 
2 re2  ri2 
Portanto, o estado de tensão do problema é dado por:

1  Pe  Pi  re ri
2 2
 re2 Pe  ri2 Pi
r  
r2 re2  ri2 re
2
 ri2 
1  Pe  Pi  re ri
2 2
 re2 Pe  ri2 Pi
   
r2 re2  ri2 r e
2
 ri2  (29.128)

 r  0

Análise semelhante poderia ser também efetuada considerando a ausência da


pressão externa ou da pressão interna. Deve-se mencionar que nesse problema tem-se
 r     constante . Portanto, tem-se também  z  constante . Dessa forma, pode-se
concluir que as faces do tubo pressurizado permanecerão planas e paralelas entre si.

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 970

Assim, a solução ilustrada é igualmente válida para tubos de parede espessa submetidos
a pressões interna e externa.

29.7 – Comentários Sobre Grandezas Tensoriais

Nas notas de aula aqui apresentada, uma revisão sobre álgebra tensorial não foi
efetuada. Porém, o leitor pode recorrer a bibliografias especializadas, uma vez que o
objetivo dessas notas não engloba a revisão sobre aspectos matemáticos. No entanto,
cabem aqui alguns comentários superficiais sobre grandezas tensoriais.
Um tensor de segunda ordem pode ser entendido como um operador linear que
atua sobre um dado vetor u gerando um vetor v. Assim:
v  Au (29.129)
onde A é um tensor de segunda ordem.
Nas tensões, o tensor de tensões opera sobre os cossenos diretores para resultar as
forças de superfície. Analogamente, deformações normal e distorcional em um dado
plano de referência podem ser determinadas com base no tensor de deformações e nos
cossenos diretores de uma direção de interesse.
A operação apresentada na Eq.(29.130) define uma transformação linear que
associa o vetor v ao vetor u. Como A é linear tem-se:
A  u  v    Au  Av (29.130)

sendo  um escalar.
Além disso, os tensores possuem a seguinte propriedade:
A     A   I   0 (29.131)

onde  são os autovalores do tensor A e  são os correspondentes autovetores.


Nos casos de análises de tensão e de deformação, que envolvem os tensores de
tensão e de deformação, essa propriedade possibilita a determinação dos valores
principais bem como das direções principais. Portanto, embora a determinação dos
valores principais e das direções principais tenha sido apresentada nessas notas com base
em argumentos físicos, apenas aspectos matemáticos poderiam ter sido utilizados, os
quais são já suficientes.

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 971

29.8 – Noções sobre Viscoelasticidade e Viscoplasticidade

29.8.1 – Introdução

O termo viscoelasticidade decorre da combinação entre as palavras elasticidade e


viscosidade. Esse domínio possibilita a proposição de modelos mecânico-materiais para
a representação do comportamento mecânico de materiais que observam evolução nas
intensidades das tensões e deformações ao longo do tempo para um nível constante de
carregamento. Tais modelos são baseados no acoplamento entre o comportamento
material elástico, observado nos clássicos materiais Hookianos, e no comportamento
material de fluidos, os quais se comportam de forma viscosa. Diversos materiais
estruturais se comportam de maneira viscoelástica. Destacam-se entre eles os polímeros,
fibras sintéticas e alguns metais quando submetidos a altas temperaturas. Além deles, o
concreto também possui comportamento viscoelástico.
Os materiais viscoelásticos são significantemente influenciados pela taxa de
carregamento, ou melhor, pela taxa em que são deformados e/ou solicitados. Dessa forma,
a deformação mobilizada por uma dada tensão varia com o tempo e vice-versa. Portanto,
o tempo é um fator importante no comportamento mecânico desses materiais, sendo esses
materiais também conhecidos como dependentes do tempo.
A importância das contribuições elástica e viscosa no comportamento mecânico-
material depende da influência do parâmetro tempo nas propriedades do material.
Considerando a hipótese de pequenas deformações, pode-se assumir que o
comportamento elástico dos materiais seja governado pela lei de Hooke generalizada,
enquanto que a contribuição viscosa seja governada pela lei de Newton para fluidos. A
combinação das duas teorias possibilita a proposição dos modelos descritos na teoria da
viscoelasticidade linear.
A lei de Hooke generalizada, [σ ] = [ D ][ε ] , é bem estabelecida pela mecânica dos

materiais e largamente conhecida pelos engenheiros de estruturas. Com relação à


representação viscosa, sabe-se que um fluido se deforma indefinidamente sob a ação de
tensões cisalhantes. Considerando a lei de Newton para a viscosidade, sendo o
escoamento laminar, a taxa de mudança da deformação será proporcional à tensão de
cisalhamento. Assim:

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 972

¶u
tµ (29.132)
¶y
¶u
em que é a velocidade angular, taxa de deformação angular ou gradiente de
¶y
velocidade.
A lei de Newton para a viscosidade é definida como:
¶u
t =m (29.133)
¶y
em que m é o coeficiente de viscosidade dinâmica. Existe ainda a diferenciação entre os
fluidos newtonianos e os não-newtonianos. Porém, tal discussão está além do escopo
dessas notas.
Com relação ao comportamento mecânico viscoelástico, dois aspectos
importantes devem ser mencionados. O primeiro deles diz respeito ao creep, que nada
mais é que o aumento nos níveis de deformação no material com base na atuação de um
nível constante de tensão. Esse fenômeno é de grande importância em estruturas de
concreto armado e sua modelagem em estruturas de concreto protendido deve ser
considerada para a determinação das perdas de protensão ao longo do tempo. O segundo
aspecto é denominado relaxação, que refere-se à redução no nível de tensão quando a
estrutura é exposta a um estado de deformação constante. Tal efeito é especialmente
importante no estudo da degradação mecânica de materiais ao longo do tempo, em
especial propagação de fissuras sob fadiga.

29.8.2 – Modelos Viscoelásticos

Os modelos da viscoelasticidade resultam do acoplamento conveniente entre


representações para os comportamentos elástico e viscoso do material. Assim, pode-se
propor representações isoladas para cada um desses comportamentos, as quais devem ser
convenientemente acopladas para a concepção do modelo final. O comportamento
elástico é comumente representado por uma mola, enquanto o comportamento viscoso é
representado por um amortecedor, conforme ilustra a Fig. (29.26).

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 973

   
E 

E 
 
Figura 29.26 Representações elástica e viscosa.

Com base no modelo elástico, pode-se escrever que:


s = Ee (29.134)
em que E é o módulo de elasticidade longitudinal ou rigidez da mola.
Na representação viscosa, o amortecedor possui um líquido viscoso em seu
interior. Assim, uma força é necessária para fazer com que esse líquido seja movimentado
e assim desloque o pistão. Assume-se que o movimento do pistão será proporcional à
força atuante. Entretanto, nessa representação, a taxa de deformação é proporcional à
força atuante e não a própria deformação. Tal relação pode ser escrita como:
s = me (29.135)

em que m é o coeficiente de viscosidade e e é a taxa de deformação d e .


dt
Diversos modelos viscoelásticos podem ser propostos efetuando-se o
acoplamento conveniente, em série e/ou em paralelo, dos dois elementos básicos descritos
anteriormente.

29.8.3 – Modelo de Maxwell

O modelo viscoelástico de Maxwell consiste no acoplamento em série de uma


mola e de um amortecedor, conforme ilustra a Fig. (29.27). Esse modelo indica que, no
instante imediato do carregamento, o material comporta-se elasticamente e apenas
deformações elásticas são mobilizadas. Mantendo-se não nulo o nível de solicitação, as
deformações viscosas serão desenvolvidas. A evolução das deformações ao longo do
tempo no amortecedor sob carregamento constante é conhecido como creep. Assim, se o
carregamento for mantido constante ao longo do tempo, o material deforma-se

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 974

indefinidamente. Por outro lado, nesse modelo, se um deslocamento (deformação) for


prescrito no material e mantido constante ao longo do tempo, então a energia armazenada
na mola é dissipada pelo amortecedor e a tensão decai exponencialmente. Esse tipo de
comportamento caracteriza a relaxação.

E 
 
Figura 29.27 Modelo de Maxwell.

Sendo a deformação na mola denominada por e1 e a deformação no amortecedor

denominada por e2 , então a deformação total ao longo do tempo, assumindo que a tensão
seja constante, é dada pela seguinte equação de compatibilidade:
e = e1 + e2 (29.136)
Como os dois elementos estão conectados em série, a taxa de deformação pode
ser assim escrita:
e = e1 + e 2 (29.137)
Usando as Eq.(29.134) e Eq.(29.135), pode-se reescrever a taxa de deformação
total como:
s s
e = + (29.138)
E m
Nesse modelo, a tensão atuante é igual em ambos os elementos, com base nas
hipóteses de equilíbrio. A deformação total é obtida integrando a Eq.(29.138) ao longo
do tempo. Assim:
s (t f ) f
t
æ s s ö é 1 t -t ù
ò edt = ò çç + ÷÷÷ dt  e (t f ) = +ò ê + t ús (t ) dt
çè E m ÷ø E êë E m úû
t t t0
(29.139)
s (t f )
tf

e (t f ) = + ò D (tt - t )s (t ) dt
E t0

D é denominada função creep, a qual possui dependência linear em relação ao


tempo. Assim, o material deforma-se indefinidamente ao longo do tempo se um nível de
tensão constante for observado. Analogamente, a função relaxação para esse modelo é
dada por:

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 975

E
- (tt -t )
G (tt - t ) = Ee m
(29.140)

Essa função indica que, para um nível constante de deformação, a tensão tende a
zero à medida que o tempo tende a infinito.

29.8.4 – Modelo de Kelvin-Voigt

O modelo de Kelvin-Voigt consiste no acoplamento em paralelo de uma mola e


de um amortecedor, conforme ilustra a Fig. (29.28). Nesse modelo, não são observadas
deformações permanentes após a remoção do carregamento, já que toda a deformação
observada no amortecedor é recuperada pela mola (sistema em paralelo). Porém, os
caminhos de carregamento e descarregamento são diferentes.
Nesse modelo, a tensão atuante, s , é dividida em s1 , atuante na mola e s2 ,
atuante no amortecedor para que um mesmo nível de deformação, e , seja mantido em
ambos os elementos. Dessa forma, tal equação de equilíbrio pode ser assim apresentada:
s = s1 + s 2 (29.141)
Com base nas Eq.(29.134) e Eq.(29.135), pode-se reescrever a equação anterior
na seguinte forma:
s = E e + me (29.142)

 


Figura 29.28 Modelo de Kelvin-Voigt.

A solução da última equação diferencial é obtida, para um dado histórico de


carregamento, por meio da seguinte expressão:

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 976

tf E
1 - (t f -t )
e (t f ) = ò s (t f ) e m dt (29.143)
m -¥

A função creep desse modelo é obtida integrando por partes os termos


apresentados na Eq.(29.143). Assim:

1 æç - (t f -t ) ö
E
÷÷
D (t f - t ) = çç1- e m ÷÷ (29.144)
E çè ÷ø

A função creep desse modelo tende assintoticamente para a solução elástica a


medida que o tempo tende ao infinito. Assim, nesse modelo, toda a deformação observada
no amortecedor é recuperada pela mola sendo, consequentemente, a tensão total atuante
suportada apenas pela mola.

29.8.5 – Modelo de Boltzmann

Embora complexos, os dois modelos viscoelásticos anteriormente apresentados


não são realistas o suficiente para a representação de diversos outros materiais de uso
corrente em engenharia. Porém, modelos viscoelásticos compostos podem ser propostos
a partir das duas associações anteriormente apresentadas. Nesse sentido, pode-se acoplar
em série uma mola a um conjunto paralelo formado por uma mola e um amortecedor,
conforme indicado na Fig. (29.29). Esse modelo é conhecido como modelo de Boltzmann.
E2

E1
 


Figura 29.29 Modelo de Boltzmann.

Como esse modelo é formado por duas molas e um amortecedor, a tensão nos
subelementos desse sistema é constante, com base na imposição do equilíbrio, e igual a:
s = E1e1 , s = E2 e2 + me 2 (29.145)

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 977

Já a deformação é dada pela seguinte equação de compatibilidade:


e = e1 + e v / e (29.146)
onde o índice v/e indica a deformação no sistema em paralelo, formado por uma mola e
um amortecedor.
O modelo de Boltzmann é expresso por uma equação diferencial, a qual é obtida
diferenciando-se a Eq.(29.146) em relação ao tempo. Assim:
m E1e (t f ) + E1 E2 e (t f ) = ms (t f ) + [ E1 + E 2 ]s (t f ) (29.147)

Assim, a deformação nesse modelo viscoelástico é dada por meio da integração


da equação anterior ao longo do tempo. Assim:
tf
é1 1 1 - 2 (t f -t ) ùú
E

e (t f ) = ò êê + - e m ú s (t f ) dt (29.148)
t0 ëê
E1 E 2 E 2 ûú
Já o estado de tensão é governado pela seguinte relação:
tf
é æ E1 + E2 öù
ê E - E1 çç1 - e- m (t f -t ) ÷÷ú e (t ) dt 
2
s (t f ) = ò ê ÷
êë
1
E1 + E2 ççè ÷÷øúú
t0 û (29.149)
tf

s (t f ) = ò G (t f - t ) e (t ) dt
t0

G é denominada função relaxação. Por meio dessa função, verifica-se que ao


longo do tempo, ambas as deformações, elástica e viscosa, são desenvolvidas à medida
que o carregamento é aplicado.
Arranjos alternativos podem ser também propostos para a representação material,
como indicado na Fig. (29.30). Para a proposição desses modelos, condições de
compatibilidade e equilíbrio devem ser propostas de acordo com o acoplamento proposto
entre molas e amortecedores.
E
E2

  E1 
 

 
Figura 29.30 Arranjos alternativos.

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 978

29.8.6 – Modelos Viscoplásticos

Em materiais dúcteis como aços e ligas metálicas, deformações permanentes são


observadas quando o nível de tensão ao qual o material está submetido supera seu limite
elástico. Nessa situação, observa-se um rearranjo da microestrutura interna do material, a
qual ocorre para que o aumento do nível de tensão seja absorvido. Como consequência
desse rearranjo, deformações permanentes, também denominadas plásticas, são
observadas.
Nos modelos viscoplásticos, o comportamento mecânico-material é formulado
por meio do acoplamento conveniente de representações para as contribuições plástica e
viscosa. Essa abordagem é semelhante ao efetuado nas representações viscoelásticas. A
contribuição plástica é representada por meio de um conector plástico, conforme ilustra
a Fig. (29.31). Assim, diversas combinações entre amortecedores e conectores plásticos
podem ser propostos. Além disso, se além desses dois elementos também forem
observadas molas no modelo, a representação passa a ser denominada de
viscoelastoplástica. Modelos viscoplásticos e viscoelásticos gerais são apresentados na
Fig. (29.31), os quais contém acoplamentos convenientes, em série e em paralelo, de
molas, amortecedores e conectores plásticos.
Quando um conector plástico é acoplado em paralelo a um amortecedor
(generalização do modelo de Kelvin-Voigt para comportamento plástico), conforme
indicado na Fig. (29.31), a lei viscoplástica para o acoplamento resultante, com base nas
hipóteses de equilíbrio, é dada por:
s = K + me (29.150)
sendo K é a tensão plástica, a qual é uma função dos parâmetros de encruamento do
material. Nessa condição, s ³ K para que o comportamento plástico seja observado.
Para um modelo geral, com acoplamentos gerais, as componentes de tensão
atuantes no material devem ser compostas por parcelas viscosa e plástica. Assim:
[s ] = éëês p ùûú + [sv ] (29.151)

As componentes de tensão decorrentes da contribuição plástica podem ser obtidas


com base em critérios de resistência (regra de fluxo plástico), como o critério de Von
Mises, por exemplo. Já as componentes de tensão viscosa podem ser determinadas
utilizando a lei de Newton para os fluidos.

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 979


 K 

K
 E
E
 K   


Figura 29.31 Modelos viscoplásticos.

Quando o acoplamento entre o amortecedor e o conector plástico é feito em série


(generalização do modelo de Maxwell para comportamento plástico), conforme indicado
na Fig. (29.31), a taxa de deformação total é obtida adicionando-se as taxas de deformação
individuais. Assim:
e = e p + ev (29.152)

As deformações plásticas e suas taxas são obtidas com base em um critério de


resistência (regra de fluxo). Nesse tipo de acoplamento, apenas deformações viscosas são
observadas quando s < K , ou seja, nesse caso tem-se um meio viscoso puro. Por outro
lado, quando s = K , deformações plásticas sã também observadas.

Capítulo 29 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Linear___________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 980

30. – Tópicos da Teoria da Elasticidade Não Linear

30.1 – Introdução

Diversos problemas da engenharia de estruturas podem ser descritos e resolvidos


consistentemente com base nos conhecimentos da elasticidade linear. Nesses problemas,
as tensões são diretamente relacionadas às deformações e os deslocamentos e as
deformações observados no corpo são pequenos o suficiente para que as configurações
deslocada (atual) e indeslocada (inicial) do corpo confundam-se. No entanto, em diversas
outras aplicações de engenharia de estruturas, a imposição do equilíbrio na configuração
deslocada torna-se necessário, como nos problemas de instabilidade estrutural, os quais
foram tratados no capítulo 22. Além disso, em outras dessas aplicações, os regimes de
deslocamentos observados não são pequenos o suficiente para que as configurações
deslocada e indeslocada confundam-se. Dessa forma, para essas situações, torna-se
necessária a utilização de medidas de deformação que possibilitem a descrição correta do
movimento do material quando o corpo em análise é submetido a ações externas.

30.2 – Medidas de Deformação Unidimensionais

Para que as medidas de deformação unidimensionais sejam introduzidas, deve-se


considerar uma barra homogênea solicitada por um carregamento externo, F, que a faz
alongar de sua configuração inicial, cujo comprimento é Li , para sua configuração atual,

cujo comprimento é L F . Esse problema mecânico é ilustrado na Fig. (30.1).

Com base em sua configuração deformada (atual), pode-se definir o


alongamento/encurtamento relativo médio da barra da seguinte forma:

Capítulo 30 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Não Linear_______________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 981

LF
 (30.1)
Li

 é uma grandeza adimensional que possui valor unitário na condição


indeformada (inicial). Essa variável pode ser também aplicada para trechos isolados da
barra, com o objetivo de mensurar alongamentos/encurtamentos não uniformes.

Figura 30.1 Deslocamento de uma barra tracionada.

As deformações são grandezas que referem-se a alongamentos/encurtamentos ou


distorções relativizados. Assim, a partir do alongamento observado na barra ilustrada na
Fig. (30.1), pode-se definir a deformação normal de engenharia,  E , que nada mais é que
a variação de alongamento por unidade de comprimento, da seguinte maneira:
LF  Li L
E   E    E   1 (30.2)
Li Li

Essa medida de deformação é a mesma utilizada no capítulo anterior, sendo


também denominada deformação normal média, a qual é baseada na medida do
alongamento/encurtamento relativo do corpo.
Outra grandeza utilizada para mensurar a mudança relativa de posição do corpo é
a deformação natural,  e . Tal grandeza, para o caso ilustrado na Fig. (30.1), pode ser
assim definida:
LF  Li L 1
e   e    e  1 (30.3)
LF LF 
Pode-se também definir a deformação de Green (referencial Lagrangeano), para o
presente caso, como sendo a metade da variação dos quadrados dos comprimentos
envolvidos nas configurações atual e inicial por unidade de quadrado do comprimento
inicial. Assim:
1  L2F  L2i  1 2
G     G     1 (30.4)
2  L2i  2

Já a deformação de Almansi (referencial Euleriano), para o presente caso, é


semelhantemente definida como:

Capítulo 30 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Não Linear_______________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 982

1  L2F  L2i  1 1 
A     A  1 2  (30.5)
2  L2F  2  

Deve-se mencionar que nos regimes de pequenos deslocamentos e pequenas


deformações, ou seja, quando L F  Li , as duas medidas de deformação anteriormente

apresentadas fornecem respostas que tendem a ser iguais à apresentada na Eq.(30.2).


Pode-se verificar tal fato facilmente aplicando a definição introduzida pela Eq.(30.4).
Assim:

1   Li   L   Li 
2
1  L2F  L2i 
2

 G
     G
    se  L  0
2  L2i  2  L2i  (30.6)
L
G 
Li

Conclusão similar pode ser também obtida utilizando a definição da deformação


de Almansi. Uma medida alternativa para quantificar a mudança de forma de um corpo é
a deformação logarítmica, a qual possui grande aplicação na análise de fluidos. Tal
medida de deformação pode ser assim definida:
L 
LF
dL
     L  ln  F  (30.7)
L

Li
LF  Li 
As medidas de deformação anteriormente apresentadas são médias e podem ser
aplicadas para o caso unidimensional. Porém, na grande maioria dos problemas
mecânicos, a intensidade da deformação varia pontualmente. Dessa forma, as grandezas
até aqui discutidas devem ser pontualmente avaliadas. Assim, um dado ponto P,
localizado sobre um elemento de geometria linear, possui coordenada X na configuração
inicial e ocupará a posição P* na configuração atual, a qual corresponde à coordenada
x *    X  . Assim, a função alongamento/encurtamento   X  pode ser assim definida:

  X  X     X  d
  lim   (30.8)
x  0 x dX
Dessa forma, o comprimento final do elemento de geometria linear pode ser assim
determinado:
LF LF

LF   d   X  dx  LF     X  dx (30.9)
0 0

Portanto, a quantificação das funções   X  e   X  torna-se necessária para a

quantificação das deformações quando o processo de deformação não é uniforme.

Capítulo 30 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Não Linear_______________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 983

Conforme apresentado no capítulo anterior, na elasticidade linear plana, as


deformações (de engenharia), assumidas como sendo pequenas, estão associadas aos
deslocamentos por meio das seguintes relações:
u v u v
x  y   xy   (30.10)
x y y x
Assume-se, na definição anterior, que os deslocamentos e consequentemente as
deformações sejam pequenos. Portanto, pode-se assumir que as configurações atual e
inicial sejam praticamente coincidentes. Entretanto, essa descrição para as deformações
não é realista quando o ponto material em análise está submetido a deslocamentos que
não sejam pequenos. Para ilustrar tal fato, pode-se considerar um dado corpo em
equilíbrio, conforme ilustrado na Fig. (30.2). A diferença entre as configurações inicial e
atual desse corpo é uma rotação de 90º no sentido anti-horário. Assim, um dado ponto
material que possui coordenada X,Y, antes da aplicação da rotação, assume a posição
–Y, X após a aplicação da rotação. Obviamente, a situação ilustrada na Fig. (30.2)
representa um grande deslocamento. Dessa forma, aplicando a definição de deformação
em pequenos deslocamentos, Eq.(30.10), obtém-se:
u  Y  X v  X Y
u
x    x  1
x
v (30.11)
y    y  1
y
u  v
 xy     xy  0
y  x

Figura 30.2 Rotação de um corpo em equilíbrio.

Capítulo 30 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Não Linear_______________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 984

Verifica-se que os valores de deformação determinados na última equação não são


realistas. Tal conclusão é obtida pelo fato do corpo sofrer apenas uma rotação, ou seja,
deslocamentos diferenciais não são observados e consequentemente as deformações
deveriam ser nulas. Portanto, em situações como a ilustrada na Fig. (30.2), outras medidas
de deformação devem ser aplicadas para a correta descrição do movimento material.
De forma semelhante, pode-se analisar as deformações observadas por uma reta,
a qual é inicialmente contida no eixo x, conforme ilustrado na Fig. (30.3). Após o
deslocamento do corpo, a reta assume a dimensão ds, como mostrado na Fig. (30.3).
Utilizando a definição dada pela deformação de Green obtém-se:
  2
 u     v  
2

  1   dx      dx   dx 
2

1  L2F  L2i  1  x     x   
 xG      xG    
2  L2i  2 dx 2

  (30.12)
 
1   u 1   u   v  
2 2 2 2
u   v 
   1  
G
    1   xG       
x   x  x 2   x   x  
x
2  

Figura 30.3 Análise da deformação de uma reta.

Analogamente, pode-se definir as demais componentes de deformação de Green


no plano da seguinte forma:

v 1   u   v  
2 2

 G
      
y 2   y   y  
y

(30.13)
u v  u u v v 
 xyG     
y x  x y x y 

Capítulo 30 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Não Linear_______________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 985

Obviamente, se os deslocamentos forem pequenos, os termos quadráticos


descritos nas Eq.(30.12) e Eq.(30.13) podem ser desprezados. Nessa situação, recai-se
nas associações deformação-deslocamento descritas no capítulo anterior e relembradas
na Eq.(30.11). Aplicando as relações deformação-deslocamento no plano considerando a
medida de deformação de Green, verifica-se que as deformações são nulas para o
problema do corpo rotacionado, configuração atual, ilustrado na Fig. (30.2). Portanto,
essa descrição de deformação é mais consistente e realista com a descrição do movimento
do corpo.

30.3 – Descrições Lagrangeana e Euleriana de Movimento

A descrição do processo de deformação de um material requer a definição de uma


configuração de referência, a partir da qual o movimento possa ser relativizado. Assim,
para que tal análise seja efetuada, uma configuração geométrica do corpo, ou de
referência, deve ser definida. A identificação da posição de cada um dos pontos materiais
que compõem um dado corpo pode ser efetuada por meio do vetor posição, o qual é
referenciado a um sistema de coordenadas. A configuração inicial do material pode ser
coincidente com a configuração de referência no caso de se considerar uma formulação
do tipo Lagrangeana ou material. Portanto, nesse tipo de formulação, o movimento é
relativizado a um referencial inicial fixo. O sólido apresentado na Fig. (30.4), bem como
sua superfície e os pontos materiais que o compõem, tem sua posição descrita em relação
a um sistema de coordenadas inicial fixo. Dessa forma, a cada ponto material do sólido
pode ser associado um vetor posição x numa descrição Lagrangeana. Similarmente, as
demais grandezas envolvidas no problema são descritas em relação ao referencial inicial.

Figura 30.4 Descrição Lagrangeana.

Capítulo 30 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Não Linear_______________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 986

Durante o processo de deformação, o material deixa sua configuração inicial


(indeformada) e passa a ocupar uma nova posição, a qual é denominada configuração
atual (deformada). Para caracterizar o processo de deformação, deve-se considerar uma
função de mapeamento   X  , a qual associa a posição de cada ponto material P*, na

configuração atual, à sua posição inicial P, conforme indica a Fig. (30.5). Portanto, tal
função descreve a trajetória percorrida pelos pontos materiais entre as suas configurações.
Em regimes de pequenos deslocamentos não se faz menção a essa função pelo fato de se
assumir que as configurações inicial e atual serem coincidentes. Assim, a posição de cada
ponto P* pode ser assim expressa:
x*    X  (30.14)

onde x* refere-se ao vetor posição do ponto P*, P *    P  .

No caso da posição do ponto P tomar como referência a configuração atual do


material, a descrição do movimento é denominada Euleriana ou espacial. Dessa forma, a
cada ponto material do sólido pode ser associado um vetor posição x* numa descrição
Euleriana. Similarmente, as demais grandezas envolvidas no problema são descritas em
relação ao referencial atual.

Figura 30.5 Descrição da mudança de posição.

A descrição de uma dada variável de um referencial Lagrangeano para Euleriano,


e vice-versa, é feita por meio da função mapeamento,   X  .

Capítulo 30 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Não Linear_______________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 987

30.4 – Análise de Deformações

30.4.1 – Deformação Gradiente

Para a descrição realista do movimento de pontos materiais em regimes de grandes


deslocamentos, deve-se definir e utilizar uma variável de grande importância, a qual é
denominada deformação gradiente, F. O tensor de deformação gradiente possibilita a
descrição da posição relativa de pontos materiais na condição atual em termos de sua
posição relativa na condição inicial.
Para introduzir tal variável pode-se considerar dois pontos materiais, Q1 e Q 2 ,
localizados na vizinhança de um dado ponto P , como ilustrado na Fig. (30.6)

Figura 30.6 Descrição da localização material nas configurações inicial e atual.

As posições desses pontos materiais relativas a P podem ser definidas pelos


seguintes vetores:
X 1  X Q1  X P
(30.15)
X 2  X Q2  X P

Depois do movimento, os três pontos materiais considerados assumem novas


posições, configuração atual, as quais são definidas pela função mapeamento,  .
Portanto:
xP    X P , t 
 
xQ1   X Q1 , t (30.16)

xQ2    X ,t
Q2

Capítulo 30 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Não Linear_______________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 988

sendo t o parâmetro que indica a dependência das variáveis em relação ao tempo. Nas
aplicações a serem realizadas nessas notas de aula, a dependência em relação ao tempo
será desprezada. Portanto, os vetores distância relativa podem ser assim definidos:
x1  xQ1  x P  x1    X P  X 1 , t     X P , t 
(30.17)
x2  xQ2  x P  x2    X P  X 2 , t     X P , t 

Os termos descritos na última equação podem ser analisados utilizando uma


expansão em série de Taylor. Aplicando tal expansão, desprezando os termos de alta
ordem, obtém-se:
  X P  X , t     X P , t    X   X  dX (30.18)

Portanto, pode-se definir o tensor de deformação gradiente, F, da seguinte


maneira:

F    X 
X (30.19)
F 1

  X 
1

Deve-se enfatizar que   X  refere-se a configuração inicial do material.

Portanto, tal gradiente é uma grandeza Lagrangeana. Assim, as posições relativas nas
configurações atual e inicial podem ser assim relacionadas:
x1  FX 1
(30.20)
x2  FX 2

30.4.2 – Tensores de Deformação

Com base na definição do tensor deformação gradiente anteriormente apresentada,


verifica-se que esse tensor permite a associação de vetores e grandezas descritos na
configuração atual com base em suas descrições na configuração inicial, e vice-versa.
Dessa forma, tal tensor é útil também para a análise da mudança do produto escalar de
dois vetores posição dx1 e dx2 , descritos na configuração atual, em relação ao produto

escalar desses vetores na configuração inicial, dX 1 e dX 2 . Deve-se mencionar que a


mudança nos produtos escalares mencionados decorrem de movimentos de
alongamento/encurtamento e também rotações. Assim, utilizando o resultado apresentado
na Eq.(30.20) tem-se:

Capítulo 30 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Não Linear_______________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 989

dx1  dx2  dX 1 F T  FdX 2  dx1  dx2  dX 1  CdX 2 (30.21)

C é denominado tensor de deformação direito de Cauchy-Green, sendo igual a

C  F T F . Como C opera nas grandezas descritas na configuração inicial, esse tensor é


também denominado de tensor de quantidade material, sendo uma grandeza Lagrangeana.

C 1   F T F   F 1 F 1 é conhecido como tensor de deformação de Piola.


1 T

Analogamente, essa operação poderia ser efetuada considerando o sentido


inverso. Assim, as grandezas na configuração inicial podem ser descritas com base na
configuração atual da seguinte forma:

dx1 F 1  F 1dx2  dX 1  dX 2  dx1  b 1dx2  dX 1  dX 2


T
(30.22)

b é denominado tensor de deformação esquerdo de Cauchy-Green, sendo igual a

b  1  F  1 F  1 e b  FF T . Como b opera nas grandezas descritas na configuração atual,


T

esse tensor é também denominado de tensor de quantidade espacial, sendo uma grandeza
Euleriana.
A mudança nos produtos escalares anteriormente apresentada pode ser utilizada
para a obtenção do tensor de deformação de Green (grandeza Lagrangeana). Tomando
como base os vetores posição dX 1 e dX 2 tem-se:

1  dx1  dx2  dX 1  dX 2  1  dX 1  CdX 2  dX 1  IdX 2 


EG   EG 
2 dX 1  dX 2 2 dX 1  IdX 2 (30.23)
1
E  C  I 
G

2
sendo I o tensor identidade.
De forma semelhante, a mudança nos produtores escalares anteriormente
apresentada pode ser utilizada para a obtenção do tensor de deformação de Almansi
(grandeza Euleriana). Tomando como base os vetores posição dx1 e dx2 tem-se:

1  dx1  dx2  dX 1  dX 2  1  dx1  Idx2  dx1  b dx2 


1

E 
A
 E 
A

2 dx1  dx2 2 dx1  Idx2 (30.24)


1
EA 
2
 I  b 1 

Capítulo 30 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Não Linear_______________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 990

30.4.3 – Exemplo 1

Em um dado problema elástico plano, os pontos materiais que compõem um corpo


possuem suas posições atual e inicial relacionadas pelas seguintes funções:
x1  X 1  2 X 2 e x 2  2 X 2 . Considerando essas funções de mapeamento, determine os

tensores de deformação de Green e de Almansi.


Para a resolução desse problema, deve-se inicialmente determinar o tensor
deformação gradiente. Assim:
 x1 x1 
 X 1 X 2  1 2
F    F   F 
 x1 x2  0 2 
 X 1 X 2 

Consequentemente:
 1 1 
F 1   
 0 0, 5 
Com base no tensor F, pode-se associar vetores definidos nas configurações atual
1  0
e inicial, e vice-versa. Assim, dois vetores unitários, V1    e V2    , definidos na
0  1 
configuração inicial com a orientação paralela aos eixos coordenados, assumem os
seguintes valores na configuração atual:
v  FV
1 2  1  1 
v1       v1   
0 2  0 0 
1 2  0  2
v2       v2   
0 2  1  2
1  0 
De forma semelhante, dois vetores unitários, v1    e v2    , orientados na
0  1 
direção paralela aos eixos coordenados na configuração atual, assumem os seguintes
valores na configuração inicial:
V  F  1v
 1 1   1  1 
V1       V1   
 0 0, 5   0  0
 1 1   0   1 
V2       V2   
 0 0, 5   1   0, 5 

Capítulo 30 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Não Linear_______________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 991

O tensor de deformação de Green pode ser assim determinado:


1 0  1 2 1 2
C  FT F  C  C
2 2   0 
2 2 8 

1 1  1 2  1 0   0 1 
EG  C  I   EG      EG   7 
2 2   2 8   0 1    1 2
Já o tensor de deformação de Almansi assume a seguinte forma:
1 2  1 0 5 4
b  FF T  b  b
0 2   2 
2 4 4 
 1 1 
b 1  
 1 5 4 
 0 1 
1 1   1 0   1 1  
E   I  b 1  
2
A
E  
A
   E 
A

2 2   0 1   1 5 4   1 1 
   2 8

30.4.4 – Deformações por Alongamento/Encurtamento

O conteúdo discutido no item 30.4.2 pode ser particularizado para estados de


alongamento/encurtamento puros. Nesse caso, basta considerar o produto escalar de um
vetor por ele mesmo, o que resulta no quadrado de seu comprimento. Portanto, pode-se
definir, para dois pontos de referência Q1 e P , por exemplo, as seguintes variáveis:

L2F  dx1  dx1 e L2i  dX 1  dX 1 , que são as medidas de comprimento nas condições atual

e inicial, respectivamente.
Dessa forma, a deformação escalar de Green pode ser analisada como:
1  L2F  L2i  1  dx1  dx1  dX 1  dX 1 
 
G
    
G
 mas
2  Li  2
2 dX 1  dX 1
(30.25)
1
dX 1  E G dX 1   dX 1  CdX 1  dX 1  IdX 1 
2
Dividindo ambos os membros da última equação pelo quadrado do comprimento
inicial obtêm-se:
dX 1 G dX 1 1  dX 1  CdX 1  dX 1  IdX 1 
E    G   L  E G L (30.26)
dX 1 dX 1 2 dX 1  dX 1
dX 1
sendo  L o vetor Lagrangeano orientado na direção de dX 1 ,  L  .
dX 1

Capítulo 30 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Não Linear_______________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 992

Similarmente, pode-se definir a deformação escalar de Almansi como:


1  L2F  L2i  1  dx1  dx1  dX 1  dX 1 
A      
A
 mas
2  LF 2
2 dx1  dx1
(30.27)
1
dx1  E A dx1   dx1  Idx1  dx1  b 1dx1 
2
Dividindo ambos os membros da última equação pelo quadrado do comprimento
atual obtêm-se:

1  dx1  Idx1  dx1  b dx1 


1
dx1 A dx1
E    A   E  E A E (30.28)
dx1 dx1 2 dx1  dx1

dx1
sendo  E o vetor Euleriano orientado na direção de dx1 ,  E  .
dx1

30.4.5 – Exemplo 2

Determine as deformações escalares de Green e Almansi considerando os vetores


1  2
V1    e v2    bem como os dados apresentados no item 30.4.3.
0  2
Com base no conteúdo descrito no último item, sabe-se que a deformação escalar
de Green é dada por:
1  L2F  L2i  1  8  1 7
 G
  2    
G
 G 
2  Li  2 1 2

0 1  0  7
 G   L  E G L    1
0 1 7   1     2
G

 2  
De forma semelhante, a deformação escalar de Almansi é assim obtida:
1  L2F  L2i  1  8  1 7
A   2    
A
 A 
2  LF  2 8 16

 0 1 
1 2  2 1 7
  E  E E
A A
 2 2 
1  1   2  8
 A 
8 16
 2 8

Capítulo 30 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Não Linear_______________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 993

30.4.6 – Teorema da Decomposição Polar

Conforme anteriormente mencionado, o tensor de deformação gradiente, F,


associa um dado vetor definido na configuração inicial, dX , à sua configuração atual,
dx , e vice-versa. Assim, F possibilita a representação do movimento considerando
alongamento/encurtamento e rotações. Dessa forma, o tensor F pode ser expresso como
o produto de um tensor R, relacionado ao movimento de rotação, e um tensor U,
relacionado ao alongamento/encurtamento. Portanto, pode-se escrever que:
F  RU (30.29)
Nessa igualdade, U representa um tensor real, simétrico e positivo definido, que
representa o movimento de alongamento/encurtamento. R é um tensor ortogonal, que
representa o movimento de rotação. Esta equação é conhecida como teorema da
decomposição polar. A decomposição representada por essa equação é única, ou seja,
existe um só R e um só U que satisfaz tal condição.
Pode-se utilizar o teorema da decomposição polar para escrever o tensor de
deformação direito de Cauchy-Green da seguinte forma:
C  FTF  C  U T R T RU (30.30)

Como R é um tensor de rotação, ortogonal, tem-se que R T R  I . Como U é um


tensor real, simétrico e positivo definido, pode-se escrever U em função de C como:
C  U T IU  C  U TU (30.31)
Para que U possa ser obtido a partir da última equação, deve-se escrever C em
função de seus autovalores, 1 , 2 , 3  , e seus correspondentes autovetores,

 N1 , N 2 , N 3  . Como C é um tensor tem-se:


3
C   i  N i  N i  (30.32)
i 1

Devido à simetria de C, tem-se que  N1 , N 2 , N 3  são unitários e mutuamente

ortogonais. Portanto, com base nas Eq.(30.31) e Eq.(30.32), pode-se escrever U como:
3
U   i  N i  N i  (30.33)
i 1

Com base na definição de U dada pela Eq.(30.33), pode-se escrever R na seguinte


forma:
R  FU 1 (30.34)

Capítulo 30 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Não Linear_______________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 994

A partir da decomposição polar apresentada, as porções materiais descritas nas


condições inicial e atual podem ser assim relacionadas:
dx  FdX  dx  R UdX  (30.35)

Dessa forma, a parcela U dX relaciona o alongamento/encurtamento material,


enquanto que R refere-se à rotação para a obtenção da configuração atual.
É também possível decompor F em suas parcelas de alongamento/encurtamento e
rotação considerando como referência a configuração atual (descrição Euleriana). Por
meio desse referencial, a decomposição polar pode ser assim escrita:
F  VR (30.36)
sendo R o tensor relacionado ao movimento de rotação, o mesmo utilizado na descrição
Lagrangeana, e V o tensor relacionado ao movimento de alongamento/encurtamento.
Assim, a configuração atual pode ser descrita em função da configuração inicial como:
dx  FdX  dx  VRdX (30.37)
Utilizando a Eq.(30.29) pode-se relacionar V e U como:
F F  VR  RU  V  RUR T (30.38)
Além disso, o tensor de deformação esquerdo de Cauchy-Green pode ser escrito
como:
b  FF T  b  VRR T V T  b V2 (30.39)
Deve-se mencionar a semelhança existente entre a Eq.(30.31) e a Eq.(30.39).
 __ __ __ 
Assim, V pode ser obtido a partir dos autovalores,  1 , 2 , 3  , e autovetores,
 
 __ __ __ 
 N1 , N 2 , N 3  , de b, como efetuado anteriormente para U. Assim:
 
3 __
 __ __  3 __
 __ __ 
b   i  N i  N i   V   i  N i  N i  (30.40)
i 1   i 1  
Porém, com base no apresentado na Eq.(30.33) e na Eq.(30.38), pode-se escrever
V alternativamente como:
3
V   i  RN i  RN i  (30.41)
i 1

Na última equação, o tensor R rotaciona os vetores Lagrangeanos  N1 , N 2 , N 3 

 __ __ __ 
para o referencial deformado,  N1 , N 2 , N 3  .
 

Capítulo 30 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Não Linear_______________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 995

30.4.7 – Exemplo 3

Determine as parcelas de alongamento/encurtamento e rotação do movimento


1
descrito pelas seguintes transformações: x1  9  X 1  5 X 2  X 1 X 2  ,
4
1 1
x2  16  8 X 1  4 X 2  e x3  X 3 , para o ponto X  0, 0, 0 .
4 4
Para a mudança de configuração descrita no problema, o tensor deformação
gradiente é dado por:
 x1 x2 x3 
 X 1 X 1 X 1 
  1 5 0 
x x2 x3 1
F    F  1   F  8 4 0 
 X 2 X 2 X 2  4
 x   0 0 1 
x2 x3
 1 X X 3 X 3 
 3

Assim, o tensor de deformação direito de Cauchy-Green é dado por:


 1 8 0   1 5 0   65 27 0 
1  1  1 
CF F T
 C   5 4 0   8 4 0   C   27 41 0 
4 4 16
 0 0 1   0 0 1   0 0 1 

Os autovalores e os correspondentes autovetores de C são os seguintes:


5,15916   2, 27138 
i  1, 46584  i   1, 21072 
 0, 0625   0, 25 

 1 0, 649873 0   0,83849 0, 54491 0 



Autovetores   0, 649873 1 0  N i   0, 54491 0,83849 0 
 0 0 1   0 0 1 

Portanto, U é dado por:


3 3
U   i  N i  N i    i N i  N iT
i 1 i 1

 0,83849 
U  2, 27138  0, 54491  0,83849 0, 54491 0  
 0 
 0, 54491 0 
1, 21072  0,83849   0, 54491 0,83849 0   0, 25  0   0
  0 1
 0   1 

Capítulo 30 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Não Linear_______________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 996

 1, 95644 0, 48462 0 

U   0, 48462 1, 52566 0 
 0 0 0, 25 

Finalmente, pela Eq.(30.34), sabe-se que R  FU 1 . Assim:


1
1 5 0   1, 95644 0, 48462 0 
1  
R  8 4 0   0, 48462 1, 52566 0  
4
 0 0 1   0 0 0, 25 
 0, 35898 0, 93334 0 
R   0, 93334 0, 35898 0 
 0 0 1 

A parcela V poderá ser obtida utilizando a Eq.(30.41). Sua obtenção será omitida
nessa resolução, a qual fica a cargo do leitor.

30.4.8 – Exemplo 4

Determine as parcelas de rotação, R, e de alongamento/encurtamento, U, de


movimento correspondente a um corpo que sofre uma rotação livre de 90º no sentido anti-
horário. Nesse problema, a função mapeamento entre as configurações inicial e atual é
dada por:

 x1   cos  90º  -sen  90º    X 1   x1    X 2 


 x   sen 90º        
 2    cos  90º    X 2   x2   X 1 
Consequentemente, o tensor deformação gradiente é definido por:
 x1  x2 
 X 1 X 1  0  1
F    F    F
 x1 x2  1 0 
 X 2 X 2 

Com base em F definido anteriormente, o tensor de deformação direito de Cauchy-


Green assume a seguinte forma:
 0 1  0 1 1 0 
C  FT F  C    C 
 1 0   1 0 0 1 
Os autovalores e os correspondentes autovetores de C são os seguintes:
1 1 1 0  1 0 
i    i    Autovetores    Ni   
1
  1
  0 1  0 1 

Capítulo 30 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Não Linear_______________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 997

Portanto, U é dado por:


2 2
U   i  N i  N i    i N i  N iT
i 1 i 1

1  0 1 0 
U  1, 0   1 0   1, 0    0 1  U   
0 1  0 1 
Como era de se esperar, U resulta em um tensor identidade, uma vez que o
movimento deve-se unicamente a uma rotação.
Finalmente, aplicando a Eq.(30.34), obtém-se:
0 1  1 0  0 1
R  FU 1  R  R
1 0   0 1  1 0 

A parcela V poderá ser obtida utilizando a Eq.(30.41).


2 2
V   i  RN i  RN i    i  RN i    RN i 
T

i 1 i 1

T T
 0 1  1    0 1  1   0 1  0    0 1  0  
V  1, 0        1, 0   
1 0  0   1 0   0   1
 0   1    1 0   1  
1 0 
V  
0 1 
Semelhantemente a U, V resulta em um tensor identidade. Essa resposta era
esperada uma vez que o movimento decorre exclusivamente de uma rotação.

30.4.9 – Variação Volumétrica

Um elemento tridimensional paralelepipédico descrito no sistema cartesiano de


coordenadas tem seu volume determinado, com base em sua configuração inicial, da
seguinte forma:
dV  dX 1 dX 2 dX 3 (30.42)
Para que o volume desse mesmo elemento seja descrito na configuração atual,
podem ser utilizadas as seguintes relações:

dx1  FdX 1  dx1  dX 1
x1

dx2  FdX 2  dx2  dX 2 (30.43)
x2

dx3  FdX 3  dx3  dX 3
x3

Capítulo 30 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Não Linear_______________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 998

Assim, com base nas relações apresentadas na Eq.(30.43), o elemento de volume


pode ser reescrito, na configuração atual, como:
      
dv  dx1   dx2  dx3   dv     dX 1dX 2 dX 3 (30.44)
x1  x2 x3 
Pode-se definir a grandeza Jacobiano, J, como:
dv  JdV  dv  DeT  F  dV (30.45)

O Jacobiano é a grandeza responsável por efetuar a transformação entre as


configurações envolvidas.

30.4.10 – Parcela Distorcional do Tensor de Deformação Gradiente

O movimento material pode ser separado nas parcelas de


alongamento/encurtamento e rotação. Analogamente, as componentes de deformação
podem ser separadas em componentes que geram variação volumétrica e que não geram
variação volumétrica. Tal separação é semelhante à apresentada no capítulo anterior para
a obtenção das parcelas hidrostática e desviadora de deformação, no caso de pequenos
deslocamentos. Assim, pode-se determinar a componente que não gera variação
^
volumétrica do tensor deformação gradiente, F . Portanto, nessa situação, o determinante
^
de F , e consequentemente seu Jacobiano, deve ser unitário para que o volume seja
preservado entre as configurações consideradas.
^
A parcela de F que não gera variação volumétrica é obtida escolhendo F da
seguinte forma:
^ 1
F J 3
F (30.46)
Essa condição é verdadeira, pois decorre da seguinte consideração:

    DeT  F 
3
 ^ 1  ^ 1
DeT  F   DeT J 3 F  DeT  F   J 3 
    (30.47)
 ^
DeT  F   J 1 J  I  1
 
O tensor de deformação gradiente, F, pode ser inversamente expresso por:
1 ^
F J 3
F (30.48)

Capítulo 30 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Não Linear_______________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 999

Analogamente, o tensor deformação direito de Cauchy-Green, para o caso onde


apenas deformações que não causam variação volumétrica estejam presentes, pode ser
assim reescrito:
^ ^ T ^ ^ 1
CF F  C   DeT  C   3
C , sendo DeT  C   J 2 (30.49)

30.4.11 – Exemplo 5

Um domínio paralelepipédico está submetido a uma distorção pura, conforme


ilustra a Fig. (30.7). Sabendo que os pontos materiais nas condições inicial e atual são
relacionados por: x1  X 1  kX 2 , x 2  X 2 e x3  X 3 , determine os tensores de

deformação de Green e de Almansi e verifique a ocorrência de mudança de volume.

Figura 30.7 Domínio paralelepipédico submetido a uma distorção pura.

Para que esse problema seja resolvido, deve-se inicialmente determinar o tensor
de deformação gradiente. Assim:
 x1  x2 x3 
 X 1 X 1 X 1 
  1 k 0
x  x2 x3 
F    F  1   F  0 1 0 
 X 2 X 2 X 2 
 x   0 0 1 
x2 x3
 1 X X 3 
X 3 
 3

Dessa forma, o tensor de deformação direito de Cauchy-Green fica assim definido:

Capítulo 30 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Não Linear_______________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 1000

 1 0 0  1 k 0 1 k 0
 
C  FT F  C   k 1 0   0 1 0   C   k k 2
 1 0
 0 0 1   0 0 1  0 0 1 

Portanto, o tensor de deformação de Green torna-se igual a:
1 k 0  1 0 0  
1 1   
E  C  I  
G
E  k
G
k 2
 1 0    0 1 0   
2 2  
0 0 1   0 0 1  
0 k 0
1
E  k
G
k2 0 
2
 0 0 1 

Já o tensor de deformação de Almansi assume a seguinte forma:

1 k 0 1 0 0   k 2  1 k 0
 
b  FF T  b   0 1 0   k 1 0   b   k 1 0
 0 0 1   0 0 1   0 0 1 
 
1 k 0
 
b 1
 k k 2
 1 0
0 0 1 

 1 0 0   1 k 0 
1 1   
E A   I  b 1   E A    0 1 0     k k 2
 1 0  
2 2 
 0 0 1   0 1  
  0
0 k 0
1
E  k
A
k 2 0 
2
 0 0 0 

Com base na Eq.(30.45), verifica-se que a variação volumétrica é dada pelo


determinante do tensor F, dv  JdV , dv  DeT  F  dV . A partir do tensor F obtido nessa

resolução, verifica-se claramente que DeT  F   1, 0 . Portanto, em uma solicitação de

distorção pura a variação volumétrica observada é nula.

30.4.12 – Exemplo 6

Analise a variação volumétrica que ocorre entre as configurações inicial e atual


do problema apresentada no item 30.4.7.

Capítulo 30 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Não Linear_______________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 1001

Nesse problema, o tensor deformação gradiente é dado por:


 x1 x2 x3 
 X 1 X 1 X 1 
  1 5 0 
x x2 x3 1
F    F  1   F  8 4 0 
 X 2 X 2 X 2  4
 x   0 0 1 
x2 x3
 1 X X 3 X 3 
 3

Assim, DeT  F   0, 6875 . Portanto, com base na Eq.(30.45), observa-se a

ocorrência de mudança de volume entre as configurações inicial e atual.


^
A parcela de F que não causa variação volumétrica, F , pode ser assim obtida:
1 5 0 
1
4 0  
^ 1 ^ 1
FJ 3
F  F   0, 6875  3
8
4
 0 0 1 
 0, 28326 1, 41629 0 
F   2, 26607 
^
1,13303 0 
 0 0 0, 28326 

Os autovetores, unitários, obtidos na resolução daquele exercício são os seguintes:


 0,83849 0, 54491 0 
N i   0, 54491 0,83849 0 
 0 0 1 

Portanto, como esses são unitários, o volume por eles delimitado é também
unitário, ou seja, dV  1, 0 . Na configuração atual, levando-se em consideração apenas
^
F , esses autovetores são assim definidos:
 0, 28326  1, 41629 0   0, 83849 
__
N 1   2, 26607
__
^
N1  F N1  1,13303 0   0, 54491 
 
 0 0 0, 28326   0 
  0, 53424 
N 1   2, 51748 
__

 0 

Capítulo 30 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Não Linear_______________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 1002

 0, 28326  1, 41629 0    0, 54491


__
N 2   2, 26607
__
^
N2  F N2  1,13303 0   0,83849  
 
 0 0 0, 28326   0 
  1, 34190 
N 2    0, 28477 
__

 0 

 0, 28326  1, 41629 0  0


__
N 3   2, 26607
__
^
N3  F N3  1,13303 0  0 
 
 0 0 0, 28326   1 
 0 
__

N3   0 

 0, 28326 

Assim, o volume é dado por:


__ __ __
dv  N1 N 2 N 3  dv   2, 57354 1, 37178  0, 28326   dv  1, 0

Esse resultado ilustra o caráter relacionado a invariância de volume relacionado a


^
F.

30.4.13 – Significado Físico dos Tensores de Green e de Almansi

Conforme apresentado no item 30.4.2, o tensor de deformação de Green contém


medidas Lagrangeanas relacionadas a mudança de forma de um material. O tensor de
deformação de Almansi contém medidas semelhantes, mas com referencial Euleriano. Os
termos contidos na diagonal de E G fazem referência ao alongamento/encurtamento do
material, enquanto que os termos não diagonais são quantificações relacionadas às
variações angulares entre vetores de referência.
Para a análise de alongamento/encurtamento basta considerar um único vetor de
referência. Assim, o alongamento/encurtamento nessa direção é dado por:
1L  C1L   1L  (30.50)

No caso do tensor E G , os elementos da diagonal representam uma medida do


quadrado do alongamento/encurtamento por unidade do quadrado do comprimento
1
inicial, ou seja,    2  1  .
2 

Capítulo 30 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Não Linear_______________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 1003

Se os vetores de referência foram diferentes, o ângulo formado por eles pode ser
assim quantificado:
F 1 L  F 2 L 1 L  F T F  2 L
cos     cos   
F 1 L F  2 L F 1 L F  2 L
(30.51)
1L  C 2 L C ij
cos     cos   
 1L    2 L  Cii C jj

Os elementos não diagonais de E G têm o mesmo significado que os elementos


não diagonais de C. Além disso, tais valores descrevem o ângulo que os vetores de
referência formam na configuração atual.
A análise para o tensor de deformação de Almansi é semelhante. Porém, o
referencial passa a ser Euleriano.

30.4.14 – Relação entre Deformações e Deslocamentos

A função mapeamento,   X  , pode ser também definida considerando o

deslocamento do ponto material analisado entre as suas configurações inicial e atual,


u  X  . Dessa forma,   X  pode ser assim definida:

X   X uX  (30.52)

Portanto, o tensor de deformação gradiente pode ser reescrito na seguinte forma:


F    X   F  I  u  X  (30.53)

Consequentemente, o tensor de deformação direito de Cauchy-Green assume a


seguinte definição:

 C   I   u  X    I   u  X  
T
C  FT F
(30.54)
C  I  u  X   u  X   u  X  u  X 
T T

Assim:
1 1
EG  C  I   EG   u  X    u  X    u  X   u  X 
T T
(30.55)
2 2  

Verifica-se que as duas primeiras parcelas apresentadas na Eq.(30.55) são lineares


e coincidem com a definição apresentada no capítulo anterior. Obviamente, no caso de
regimes de pequenos deslocamentos, o termo quadrático dessa equação pode ser
desprezado, retomando assim a definição original.

Capítulo 30 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Não Linear_______________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 1004

30.4.15 – Deformações Principais

Com base na configuração atual do material, poderão ser observados


alongamento/encurtamento e também distorção nos diversos pontos materiais que
compõem o corpo em decorrência do movimento. Assim, haverão direções particulares
onde os alongamentos/encurtamentos apresentarão valores extremos, ou seja, máximo ou
mínimo. Conforme anteriormente apresentado, o quadrado do alongamento/encurtamento
é dado por:
 2  L    L  C L (30.56)

Como C é um tensor, os valores principais e as direções principais podem ser


obtidos por meio de seus autovalores e autovetores, respectivamente. Portanto:
C  kI   0 (30.57)

k , os autovalores, representa os valores principais, os quais indicam os valores


extremos do quadrado do alongamento/encurtamento. Já  , os autovetores, indica as
direções principais. No sistema principal de coordenadas, as distorções não são
observadas uma vez que as direções principais são mutuamente ortogonais.

30.5 – Condições de Equilíbrio

30.5.1 – Equilíbrio Translacional

A imposição do equilíbrio foi inicialmente discutida no capítulo 2, a qual foi


baseada nas leis Newtonianas e na análise de corpos rígidos. No capítulo anterior, as
condições de equilíbrio foram analisadas considerando o estado de tensão em um ponto,
para a obtenção da equação de equilíbrio local. Neste item, as condições de equilíbrio
serão novamente tratadas, mas por meio de uma abordagem global.
Para que tais condições sejam apresentadas, deve-se considerar um corpo cujo
volume seja  e área superficial seja dada por  . Ao longo do contorno desse corpo
atuam forças de superfície, T, e em seu domínio tem-se a presença de forças de domínio,
B. Para que o equilíbrio seja observado, a somatória de forças atuante nesse corpo deve
ser nula, conforme prescreve a 1º lei de Newton. Assim:

Capítulo 30 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Não Linear_______________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 1005

 Td    Bd   0
 
(30.58)

Utilizando a equação de equilíbrio de Cauchy, Eq.(29.5), pode-se reescrever a


equação anterior na seguinte forma:

  d    Bd   0
 
(30.59)

Aplicando o teorema de Gauss sobre o primeiro termo da Eq.(30.59),

 M  d    Md  , tem-se:
 

  d    Bd   0
 
   d    Bd   0
 
     B  d   0

(30.60)

Como a equação anterior pode ser aplicada a qualquer ponto material, verifica-se
que seu integrando deve ser nulo para que o equilíbrio seja satisfeito. Tal condição é
verdadeira, sendo que sua obtenção foi realizada alternativamente no capítulo anterior,
Eq.(29.28), Eq.(29.29) e Eq.(29.30). A Eq.(30.60) é conhecida como equação de
equilíbrio local de um corpo deformável.

30.5.2 – Equilíbrio Rotacional

Além da somatória nula de forças, que conduz a condição de equilíbrio local,


deve-se também verificar o equilíbrio global, o qual é possível por meio da somatória
nula de momentos. Assim:

 r  Td    r  Bd   0
 
(30.61)

r é o vetor posição (distância), o qual faz menção a origem do sistema coordenado.


Utilizando o equilíbrio de Cauchy, Eq.(29.5), pode-se reescrever a Eq.(30.61) como:

 r    d    r  Bd   0
 
(30.62)

Porém, o primeiro termo da Eq.(30.62) pode ser reescrito na seguinte forma:





ijk jr  kl l d    x  
 l
r  kl  d  
ijk j

 
 xl   ijk rj kl  d     ijk rj xlkl d     ijk kl d   (30.63)


 x  
 l
r  kl  d  
ijk j   r    d     d 
 

Capítulo 30 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Não Linear_______________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 1006

A variável  é denominada tensor de terceira ordem de Levi-Cevita, a qual realiza


a operação de permutação sobre o tensor no qual opera. Tal tensor opera sendo  ijk  1 se

a permutação é na ordem ijk . Se a permutação apresenta outra ordem o operador retorna


-1. Se houverem índices repetidos tem-se valor nulo. Assim:
 32   23 
 
  d      13   31  d  (30.64)

  21   12 

Portanto, com base no resultado apresentado na Eq.(30.63) e Eq.(30.64), a


Eq.(30.62) pode ser assim reescrita:

 r    d    r  Bd     r    d     r  B  d      d   0
    
(30.65)

Por meio do equilíbrio local, Eq.(30.60), constata-se que    B  0 . Portanto, a


equação anterior pode ser reescrita na seguinte forma:

  r    d     r  B  d     d  
  

  r   B  d     r  B  d     d 
  
 (30.66)

  d   0

Portanto, para que o equilíbrio rotacional seja possível, o tensor de tensões de


Cauchy deve ser simétrico. Tal conclusão havia anteriormente sido obtida, capítulo 23,
utilizando condições relacionadas ao equilíbrio local. Porém, na presente apresentação do
equilíbrio, partiu-se de uma condição global e a mesma conclusão foi obtida.

30.6 – Análise de Tensões

30.6.1 – Medidas de Tensão

Várias definições e denominações de tensores de tensões têm sido propostos na


literatura. Embora cada um deles apresente vantagens e desvantagens, sua aplicação tem
sido de grande utilidade na análise de problemas relacionados a elasticidade não linear.
Deve-se enfatizar que muitas dessas tensões não possuem significado ou interpretação
física, ao contrário da tensão de Cauchy.

Capítulo 30 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Não Linear_______________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 1007

Conforme anteriormente apresentado nesse capítulo, é possível associar as


grandezas relevantes nas configurações inicial e atual por meio da função mapeamento
  X  . O tensor de tensões de Cauchy é um tensor descrito na configuração atual. No
entanto, pode-se obter-se tensores das tensões na configuração inicial desde que se
conheça   X  .

Inicialmente, pode-se definir o tensor de tensões de Kirchhoff,  K , o qual é

associado ao tensor de tensões de Cauchy,  C , por meio do Jacobiano como:

 K  J C (30.67)
Pode ser mostrado que o tensor de tensões de Kirchhoff forma junto com o tensor
taxa de deformação o trabalho conjugado com respeito ao volume inicial.
As forças de superfície atuantes nos contornos de corpos bem como suas áreas de
atuação, nas condições inicial T , dA e atual  t , da  , podem ser relacionadas por meio

de   X  e de suas derivadas. Assim:

TdA  tda (30.68)


Utilizando a equação do equilíbrio de Cauchy, Eq.(29.5), a qual é escrita para a
condição atual, pode-se reescrever a equação anterior como:

TdA   C da  TdA  J  C  F 1   da
T
(30.69)

O 1º tensor de tensões de Piola-Kirchhoff,  I PK , é definido com base nas

seguintes igualdades: t   I PK onde tda  J  C  F 1   da . Assim:


T

 I PK  J  C  F 1 
T
(30.70)

sendo que J  DeT  F  . Pode-se mostrar que  I PK forma junto com o tensor taxa de

deformação gradiente o trabalho conjugado com respeito ao volume inicial.


Pode-se também introduzir o 2º tensor de tensões de Piola-Kirchhoff,  II PK , o

qual não possui interpretação física em termos de forças de superfície, como a tensão de
Cauchy. Esse tensor de tensões está associado ao tensor de tensões de Kirchhoff por:

 II PK  F 1 K  F 1 
T
(30.71)

Analogamente,  K está associado a  II PK por:

 K  F  II PK F T (30.72)

Capítulo 30 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Não Linear_______________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 1008

O 2º tensor de tensões de Piola-Kirchhoff está associado ao tensor de tensões de


Cauchy por:

 II PK  F 1 K  F 1    II PK  F 1 J  C  F 1 
T T
(30.73)

Inversamente tem-se:

 II PK  F 1 J  C  F 1 
T
  C  J 1 F  II PK F T (30.74)

Similarmente, os tensores de tensões de Piola-Kirchhoff de 1º e 2º espécie estão


assim relacionados:

 II PK  F 1 J  C  F 1 
T
  II PK  F 1 I PK (30.75)

Inversamente obtém-se:
 II PK  F 1 I PK   I PK  F  II PK (30.76)

Pode-se mostrar que  II PK forma junto com o tensor taxa de deformação de Green

o trabalho conjugado com respeito ao volume inicial.


Pode-se também definir o tensor de tensões de Biot,  B , o qual assume a seguinte

forma:

  B  R T J  C  F 1 
T
 B  R T  I PK (30.77)

Deve-se mencionar que o tensor não simétrico  B nem sempre é positivo definido.

A partir do teorema da decomposição polar pode-se escrever que:


F  RU   B  R T  I PK   B  R T F  II PK   B  U  II PK (30.78)

Assume-se, na definição anterior, que apenas a contribuição de


alongamento/encurtamento do movimento contribui para o estado de tensão.
Consequentemente, assume-se que R seja igual ao tensor identidade. Inversamente, pode-
se escrever  I PK em termos de  B como:

 B  R T  I PK   I PK  R B (30.79)

Pode-se mostrar que o tensor de tensões de Biot forma junto com o tensor taxa de
alongamento/encurtamento o trabalho conjugado com respeito ao volume inicial.
Pode-se também definir o tensor de tensões corrotacionais de Cauchy,  Cc . Para

obtê-lo, deve-se utilizar a parte de alongamento/encurtamento do movimento, U, ao invés


de F. Consequentemente, assume-se que R seja igual ao tensor identidade. Dessa forma,
utilizando a Eq.(30.74), pode-se associar essa tensão a  II PK por:

Capítulo 30 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Não Linear_______________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 1009

 Cc  J 1U  II PK U (30.80)

Esse tensor está associado ao tensor de tensões de Cauchy por meio da seguinte
expressão:

 Cc  J 1UF 1 J  C  F 1  U
T
  Cc  UF 1   C  F 
1 T
U  
(30.81)
 Cc  R  C R
T

Finalmente, pode-se também definir o tensor de tensões de Mendel,  M , o qual

está associado a  II PK por:

 M  C  II PK (30.82)

Essa medida de tensão possui grande aplicação na descrição do comportamento


mecânico inelástico dos materiais.

30.6.2 – Exemplo 7

As configurações atual e inicial de um dado problema elástico não linear são


1 1
associadas por meio das seguintes expressões: x1  4 X 1 , x2   X 2 e x3   X 3 .
2 2
Sabendo que em um dado ponto material pertencente a esse problema o estado de tensão
100 8 0
de Cauchy é definido por:  C   8  20 0  MPa determine os tensores de tensões

 0 0 5 

de Piola-Kirchhoff.
Para que esse problema seja resolvido deve-se inicialmente determinar o tensor
deformação gradiente. Assim:
 x1  x2 x3 
 X 1 X 1 X 1  4 0 0 
   
x x2 x3
F    F  1   F  0 1 0 
 X 2 X 2 X 2   2 
 x x2 x3  0 0 1 
 1 X  2
 3 X 3 X 3 

Com base no tensor deformação gradiente anteriormente definido, pode-se


determinar o Jacobiano como:
J  DeT  F   1

Assim, o 1º tensor de tensões de Kirchhoff é assim obtido:

Capítulo 30 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Não Linear_______________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 1010

100 8 0 100 8 0
 K  J C   K  1  8 20 0 
   K   8 20 0  MPa

 0 0 5   0 0 5 

Para que o 1º tensor de tensões de Piola-Kirchhoff seja determinado deve-se

determinar  F 1  . Portanto:
T

4 0 0  1 0 0
   4 
F  0 1 0   F 1  0 2 0
 2   
0 1   0 0 2 
0 
 2
Consequentemente:
1 0 0
100 8 0
 4 
 I PK  J  C  F 1   1  8 0 
T
  I PK  20  0 2 0 
 
 0 0 5   0 0 2 

 25  16 0 
 I PK   2 40 0  MPa
 0 0  10 

O 2º tensor de tensões de Piola-Kirchhoff pode ser determinado com base na


Eq.(30.73). Assim:

 II PK  F 1 J  C  F 1 
T

1 0 0  100 8 0 1 0 0
 4   4 
 II PK 
  0 2 0  1  8  20 0   0 2 0
   
 0 0  2   0 0 5   0 0 2 
 
 25 4 0
 4 
 II PK    4  80 0  MPa
 
 0 0 20 

Para o problema analisado, o tensor de deformação direito de Cauchy-Green é
assim definido:
4 0 0  4 0 0  16 0 0 
    
C  F F  C   0 0, 5 0   0 0, 5 0   C   0 0, 25
T
0 
 0 0 0, 5   0 0 0, 5   0 0 0, 25 

Dessa forma, o tensor de tensões de Mendel é assim obtido:

Capítulo 30 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Não Linear_______________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 1011

0   4 0
25 4
16 0 
 M  C II PK  M   0 0, 25 0    4  80 0 
 
 0 0 0, 25   0 0 20 
 
100  64 0
M    1  20 0  MPa
 0 0 5 

Os autovalores e os correspondentes autovetores de C são os seguintes:


 16   4, 0  1 0 0 
i   0, 25  i   0, 50  Autovetores  N i   0 1 0 
 0, 25   0, 50   0 0 1 

Portanto, U é dado por:


3 3
U   i  N i  N i    i N i  N iT
i 1 i 1

1, 0  0  0 
U  4, 0  0  1, 0 0 0   0, 50 1, 0   0 1, 0 0   0, 50  0   0 0 1, 0 
   
 0   0  1, 0 

 4, 0 0 0 

U   0 0, 50 0 
 0 0 0, 50 

Aplicando a Eq.(30.34), obtém-se:


4 0 0   4, 0 1
  0 0  1 0 0
R  FU 1
 R  0 1 0   0 0, 50 0   R   0 1 0 
 2 
0 0  1   0 0 0, 50   0 0  1
 2
Portanto, aplicando a Eq.(30.79), pode-se determinar o tensor de tensões de Biot
como:
1 0 0   25  16 0 
 B  R  I PKT
  B   0  1 0   2 40 0  
 0 0  1  0 0  10 
 25  16 0
 B    2  40 0  MPa
 0 0 10 

Capítulo 30 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Não Linear_______________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 1012

Finalmente, o tensor de tensões corrotacionais de Cauchy pode ser determinado


com base na Eq.(30.81). Assim:
 Cc  R T  C R
1 0 0  100 8 0  1 0 0
 Cc  
  0 1 0   8   20 0   0  1 0  
 0 0  1  0 0 5   0 0  1
100  8 0 
 Cc    8  20 0  MPa
 0 0 5 

30.7 – Relação Constitutiva em Elasticidade Não Linear

Na apresentação da relação constitutiva linear elástica efetuada no capítulo


anterior, nenhuma distinção foi mencionada a respeito das deformações ou tensões.
Naquela oportunidade, assumiu-se que as deformações eram pequenas, o que justifica tal
descrição. No caso das deformações não poderem ser consideradas como pequenas, existe
a necessidade de se distinguir entre tensores de Cauchy e de Piola-Kirchhoff, por
exemplo, e o estabelecimento de equações constitutivas torna-se mais complexo. Nas
análises em grandes deformações, torna-se necessário distinguir a configuração inicial da
configuração atual. Portanto, os tensores de deformações e tensões devem referir-se a
mesma configuração. Assim, não se torna adequado relacionar tensões Eularianas com
deformações Lagrangeanas e vice-versa.
De forma a resolver tal problema, pode-se utilizar o conceito de conservação de
energia. Com base nos aspectos termodinâmicos, pode-se mostrar que o 1º tensor de
tensões de Piola-Kirchhoff está relacionado com o tensor deformação gradiente por meio
de uma função energética da seguinte maneira:
  X , F 
 I PK   0 (30.83)
F
sendo  0 é a densidade do material na configuração de referência. Deve-se lembrar que

o tensor deformação gradiente, F, contém informações sobre o movimento material, tanto


alongamento/encurtamento quanto rotações e movimentos de corpo rígido.
Levando-se em consideração que as relações constitutivas não devem ser afetadas
por movimentos de corpo rígido, para que a objetividade seja atendida, a dependência

Capítulo 30 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Não Linear_______________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 1013

entre a energia de deformação,  , e a deformação gradiente deve ser na forma F T F .


Assim, a função energia pode ser assim definida   X , F T F     X , C     X , E G  .

Assim, como base na Eq.(30.75), pode-se reescrever a Eq.(30.83) na seguinte


forma:
  E G
 II PK  F 1 I PK   II PK  0 F 1   II PK   0 F 1 G
F E F (30.84)
 
 II PK  2 0 F 1 F   II PK  2 0 G
E G E
Nestas condições parece adequado relacionar o 2º tensor de tensões de Piola-
Kirchhoff com o tensor das deformações de Green. Em condições de isotropia pode
assumir que esses relacionam-se na forma:

 II PK  1 I  2 E G  3  E G 
2
(30.85)

sendo 1 , 2 e 3 invariantes do tensor de deformação de Green.


A abordagem apresentada anteriormente é a mais simples e recai no tensor
constitutivo elástico aplicado no regime de pequenas deformações. Assim, a relação
constitutiva de Saint-Venant Kirchhoff associa o tensor de deformação de Green ao 2º
tensor de tensões de Piola-Kirchhoff por meio do tensor constitutivo elástico descrito em
pequenas deformações e apresentado no capítulo anterior. Deve-se mencionar que
materiais hiperelásticos podem ter suas relações constitutivas determinadas de forma
semelhante.

Capítulo 30 – Tópicos da Teoria da Elasticidade Não Linear_______________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 1014

31. – Tópicos Complementares

31.1 – Vigas com Cinemática de Euler-Bernoulli

Nas vigas de Euler-Bernoulli, assume-se que as seções transversais inicialmente


planas e perpendiculares ao eixo da barra assim permanecem após a deformação. Assume-
se que as distorções decorrentes da ação do esforço cortante são pequenas e podem ser
desprezadas em comparação com as deformações normais causadas pela ação dos
momentos fletores. Portanto, essa condição se adequa muito bem às barras solicitadas a
flexão pura.

Figura 31.1 Deflexões e rotações

Com base na ilustração apresentada na Fig. (31.1), verifica-se que a rotação das
seções transversais da barra é igual, no regime de pequenos deslocamentos, a derivada do
deslocamento. Assim:
dv  x 
 tg     (31.1)
dx
Dessa forma, o campo de deslocamentos, para um dado ponto A, é assim definido:
dv  x 
u   y cos    u   y
dx (31.2)
v    y  y sen     v   y  v  x 

Capítulo 31 – Tópicos Complementares_______________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 1015

Com base no campo de deslocamentos apresentado na Eq.(31.2) pode-se


determinar o campo de deformações. Portanto:
u d 2v  x 
x   x  y
x dx 2
v v  x 
y   y   y  0 (31.3)
y y
u v y dv  x   2 v  x  dv  x 
 xy     xy   y    xy  0
y x y dx xy dx

Dessa forma, como  xy  0 , tem-se, pela lei de Hooke generalizada, que  xy  0 .

Portanto, nesse problema, a única tensão não nula é  x . Assim:

 d 2v  x  
 x  E x   x  E   y  (31.4)
 dx 2 

Consequentemente, a equação da linha elástica pode ser assim apresentada:


 d 2v  x  
M z    x   y  dA  M z   E   y 2    y  dA 
A A  dx  (31.5)
d v  x 2
2
d v  x
2
d 2v  x  M z
dx 2 A
Mz  E y dA  M  EI  
dx 2 dx 2
z z
EI z

O leitor poderá consultar o capítulo 21 do presente texto para maiores detalhes


sobre aplicações envolvendo vigas de Euler-Bernoulli.

31.2 – Vigas com Cinemática de Reissner-Timoshenko

Neste tipo de cinemática, assume-se que as seções transversais inicialmente planas


e perpendiculares ao eixo da barra permanecem planas, mas não necessariamente
perpendiculares ao eixo da barra após a deformação. Portanto, essa condição se adequa
muito bem às barras solicitadas à flexão e ao corte, sendo que o último possui grande
importância na representação mecânico-material.
O campo de deslocamentos pode ser determinado utilizando a Fig. (31.1), uma
vez que a seção transversal permanece plana após a deformação. Dessa forma, neste
problema, tem-se:

Capítulo 31 – Tópicos Complementares_______________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 1016

dv  x 
u   y cos    u   y
dx (31.6)
v    y  y sen     v   y  v  x 

Para a determinação do campo de deformações, deve-se levar em consideração a


contribuição da deformação distorcional no campo de deslocamentos. Isolando uma
porção de comprimento dx do corpo, conforme indicado na Fig. (31.2), verifica-se que:
dv  x 
   (31.7)
dx
assim,  indica o giro decorrente da distorção e  o giro devido a flexão.

Figura 31.2 Deslocamento adicional devido a deformação distorcional.

Portanto, nesse tipo de cinemática, o campo de deformações é dado por:


u d 2v  x 
x   x  y
x dx 2
v v  x 
y   y   y  0 (31.8)
y y
dv  x 
 xy  
dx
Assim, as tensões não nulas do problema são assim mensuradas:
 d 2v  x  
 x  E x  x  Ey 
 dx 2 
(31.9)
dv  x 
 xy  G xy   xy  G  G
dx

Capítulo 31 – Tópicos Complementares_______________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 1017

Assume-se que  xy seja constante no plano da seção transversal. Assim, seu efeito

médio é levado em consideração. Para tal finalidade, pode-se introduzir uma variável
auxiliar,  , tal que  xy   medio . Essa variável auxiliar é denominada de fator de forma

ao cisalhamento, sendo uma propriedade geométrica da seção transversal. Assim:


dv  x  V V
 xy   medio  G  G     xy   (31.10)
dx A GA
O sinal negativo que surge no segundo membro da Eq.(31.10) apenas indica que
esforços cortantes positivos introduzem deslocamentos negativos. Assim, da Eq.(31.8)
tem-se:
dv  x  V dv  x  dv  x  V
 xy            (31.11)
dx GA dx dx GA
Portanto, com base na Eq.(31.11) pode-se escrever que:
dv  x  V d d v  x 
2
1 dV
    2
 
dx GA dx dx GA dx (31.12)
d d v  x  q  x
2

 2

dx dx GA
sendo q  x  a expressão do carregamento distribuído na barra.

d M z
Lembrando que  , pode-se escrever a equação da linha elástica, para a
dx EI z
cinemática considerada, como:
d 2 v  x  d q  x d 2v  x  M z q  x
2
  2
  (31.13)
dx dx GA dx EI z GA
O leitor poderá consultar o capítulo 21 do presente texto para maiores detalhes
sobre aplicações envolvendo vigas de Euler-Bernoulli.

31.3 – Soluções de Problemas da Elasticidade via Vetor de Galerkin

No capítulo 30 foi apresentada a técnica de solução de problemas da elasticidade


via funções de Airy. Por meio dessa abordagem, propõe-se uma função que aproximará
o campo de tensões do problema, a qual deverá também atender às suas condições de
contorno. A partir de sua determinação, os campos de deformações e de deslocamentos
são adequadamente representados. Porém, os problemas da elasticidade podem ser

Capítulo 31 – Tópicos Complementares_______________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 1018

também abordados a partir da proposição de soluções baseadas em deslocamento. Nesta


abordagem, as equações que governam o problema são escritas em termos de
deslocamentos ao invés de tensões, como efetuado na abordagem de Airy. A resolução
via proposição de funções deslocamento dá origem ao vetor de Galerkin, o qual também
possibilita a resolução de problemas da elasticidade.
Para a aplicação e a apresentação do vetor de Galerkin devem ser apresentadas as
seguintes relações fundamentais:
 Equação de Equilíbrio:
 ij , j  bi  0 (31.14)

 Relação deformação-deslocamento:
1
 ij 
2
 ui, j  u j ,i   ll  ul ,l (31.15)

 Lei de Hooke generalizada


  
 ij  2   ij ll   ij  (31.16)
1  2 
sendo  o módulo de elasticidade transversal e  o operador delta de Kronecker.
Utilizando a Eq.(31.15), pode-se reescrever a Eq.(31.16) como:
  1 
 ij  2   ij ul ,l   ui , j  u j ,i   (31.17)
1  2 2 
Manipulando algebricamente a Eq.(31.17), pode-se obter a equação de equilíbrio
escrita em termos de deslocamentos. Assim:
  1 
 ij , j  2   ij ul ,lj   ui , jj  u j ,ij   
1  2 2 
(31.18)
  1 1 
 ij , j  2  ul ,li  ui , jj  u j ,ij 
1  2 2 2 
Lembrando que u j ,ij  u j , ji tem-se:

 2ul ,li  1  2  ul ,li 1 


 ij , j  2   ui , jj  
 2 1  2  2 
(31.19)
 u 
 ij , j    l ,li  ui , jj 
 1  2  
Assim, com base na Eq.(31.19), a equação de equilíbrio pode ser assim escrita:

Capítulo 31 – Tópicos Complementares_______________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 1019

u j , ji bi
 ui , jj  0 (31.20)
1  2  
A Eq.(31.20) pode ser resolvida utilizando o vetor de Galerkin. Assim, o campo
de deslocamentos para os problemas representados pela Eq. (31.20) é obtido com base
nesse vetor. Assim, as soluções desta equação podem ser assim obtidas:
1
u j  G j ,mm  Gm, jm (31.21)
2 1   

O operador G é conhecido como vetor de Galerkin. Assim, substituindo a


Eq.(31.21) na Eq.(31.20) obtém-se:
G j , mmji Gm , jmji Gm ,imjj bi
  Gi , mmjj   0 (31.22)
1  2  2 1   1  2  2 1    

Como Gm,imjj  Gm, jmji e Gm, jmji  G j ,mmji , pode-se reescrever a equação anterior na

seguinte forma:
bi
Gi , mmjj  0 (31.23)

Assim, os campos de deslocamentos são resolvidos a partir da resolução da
equação diferencial apresentada na Eq.(31.23). Particularmente, pode-se resolver esta
equação assumindo a um domínio semi infinito submetido a uma carga pontual
representada pela função delta de Dirac,  . A solução do vetor de Galerkin, nesta
condição, pode ser assim obtida:
Gi , mmjj   Gi ,mm  jj  Fi , jj 
 ki  k (31.24)
Fki , jj  0

Para o problema apresentado, a solução da equação diferencial é do tipo:
1 1
Fi   Gi ,mm  (31.25)
4 r  4 r 
Integrando sucessivamente obtém-se a expressão do vetor de Galerkin, a qual é a
seguinte:
1
G r (31.26)
8
Assim, substituindo o resultado apresentado na Eq.(31.26) na Eq.(31.21) obtém-
se a resposta para o campo de deslocamentos, a qual é a seguinte:

Capítulo 31 – Tópicos Complementares_______________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 1020

1 1
ulk  Glk ,mm  Glm,km  ulk   3  4   lk  r,l r,k  (31.27)
2 1    16 1    r 

31.4 – Análise da Carga Crítica de Flambagem via Abordagem Energética.


Método de Timoshenko

O método de Timoshenko possibilita a determinação de valores de carga crítica


de flambagem em colunas carregadas axialmente utilizando uma abordagem energética
baseada no método de Rayleigh-Ritz. A vantagem dessa abordagem encontra-se no fato
de não ser necessária a resolução de equações diferenciais. Além disso, barras com rigidez
não uniforme podem ser naturalmente analisadas.
Para apresentar este método, deve-se considerar a viga em balanço ilustrada na
Fig. (31.3), a qual é carregada axialmente em um de seus extremos por meio de uma força
de intensidade P . Assumindo que esta força seja aplicada de forma quase-estática e que
sua intensidade seja crescente a partir de zero, verifica-se que, inicialmente, o trabalho
efetuado por P está associado à energia de deformação da barra durante seu encurtamento.
Para que a instabilidade seja levada em consideração, deve-se assumir a existência de
uma deflexão lateral, v  x  , a qual assume-se ser pequena de tal forma que não altera a

energia do alongamento. Nessa condição, observa-se que a variação da energia potencial


total, U T , é dada por:

U T  U B  U A (31.28)

sendo U B a parcela de energia associada à flexão e U A a parcela de energia associada


ao deslocamento axial.

Figura 31.3 Análise da carga crítica.

Capítulo 31 – Tópicos Complementares_______________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 1021

Segundo o conteúdo apresentado no capítulo 28, item 28.11, sabe-se que:


1
 
2

2 L 
U B  EI  v ''
x 
 dx (31.29)

1
U A  We   PL   P   v '  x   dx
2
(31.30)
2 L

Segundo Timoshenko, a configuração da coluna é estável se U T  0 e instável

se U T  0 . A condição crítica é alcançada quando U T  0 . Dessa forma, a


metodologia pode ser aplicada, inicialmente, à uma coluna de extremidades articuladas,
para verificação de sua precisão. Para esse problema particular, a solução para a carga
crítica de flambagem, segundo o conteúdo apresentado no capítulo 22, é dada por:
 2 EI
Pcrit  .
L2
Utilizando a metodologia de Timoshenko tem-se:
1 1
EI v ''  x   dx  P   v '  x   dx
2 2

2L 2 L
(31.31)

Inicialmente, pode-se aproximar o valor da carga crítica de flambagem por meio


de uma função polinomial de segunda ordem. Assim:
v  x   1 x 2   2 x   3 (31.32)

Sabendo que as condições de contorno do problema são v  0   v  L   0 tem-se:

v  0  0  3  0
(31.33)
v  L   0   2  1 L

Assim:
v  x   1 x 2  1 Lx
dv  x  d 2v  x  (31.34)
 21 x  1 L  21
dx dx 2
Utilizando o resultado apresentado na Eq.(31.31) obtém-se:
1 1
 EI  21  dx  P   21 x  1 L  dx 
2 2

2L 2 L
L L
1 1
EI  412 dx  P   412 x 2  412 Lx  12 L2  dx  (31.35)
2 0 2 0
12 EI
P
L2

Capítulo 31 – Tópicos Complementares_______________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 1022

Portanto, a diferença (erro) observado entre as intensidades das cargas críticas de


flambagem é igual a:
12 EI
PAprox 2 PAprox
 L   1, 216 (31.36)
Pcrit  EI
2
Pcrit
L2
Dessa forma, observa-se um erro não desprezível para a intensidade da carga
crítica de flambagem quando o deslocamento é aproximado por uma função quadrática.
A precisão da solução pode ser aprimorada adotando um polinômio de ordem mais
elevada. Assim, utilizando um polinômio de aproximação quártica obtém-se:
v  x   1 x 4   2 x3   3 x 2   4 x   5 (31.37)

Nesse problema, além das condições de contorno em deslocamento


v  0   v  L   0 , pode-se também impor a condição de momentos fletores nulos nos

extremos da barra. Tal condição pode ser imposta uma vez que a coluna é biarticulada.
Assim, às duas condições de contorno anteriormente apresentadas, pode-se adicionar
M  0   M  L   0 . Impondo as condições de contorno em deslocamento obtém-se:

v  0  0  5  0
(31.38)
v  L   0   4  1 L3   2 L2   3 L

Dessa forma, a expressão do deslocamento fica reescrita como:


v  x   1 x 4   2 x3   3 x 2  1 L3 x   2 L2 x   3 Lx (31.39)

Impondo as condições de contorno em termos de momentos fletores obtém-se:


dv  x 
 41 x3  3 2 x 2  2 3 x  1 L3   2 L2   3 L
dx
d 2v  x 
2
 121 x 2  6 2 x  2 3
dx
(31.40)
d v  x M
2
d 2v  0 
   0  3  0
dx 2 EI dx 2
d 2v  L 
 0   2  21 L
dx 2
Portanto:

Capítulo 31 – Tópicos Complementares_______________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 1023

v  x   1 x 4  21 Lx3  1 L3 x
dv  x 
 41 x3  61 Lx 2  1 L3 (31.41)
dx
d v  x
2

2
 121 x 2  121 Lx
dx
Utilizando o resultado apresentado na Eq.(31.31) obtém-se:
1 2 1 2

2L EI 121 x 2  121 Lx  dx  P   41 x3  61 Lx 2  1 L3  dx 


2 L
L
1
EI  144 x 4  288 x3 L  144 L2 x 2  dx 
2 0
(31.42)
L
1
P 16 x 6  48 Lx5  36 L2 x 4  8L3 x3  12 L4 x 2  L6  dx 
2 0
9,882 EI
P
L2
Dessa forma, a diferença (erro) observado entre as intensidades das cargas críticas
de flambagem é igual a:
9,882 EI
PAprox L2 PAprox
   1, 0014 (31.43)
Pcrit  2 EI Pcrit
L2
A resposta encontrada apresenta satisfatória precisão se comparada com a
previsão analítica descrita no capítulo 22. Embora não seja apresentado neste texto, a
metodologia anteriormente descrita pode ser acoplada a algum método numérico, tal
como o Método dos Elementos Finitos, por exemplo. Assim, as matrizes de rigidez dos
elementos de viga e de treliça pode ser convenientemente acopladas e as cargas críticas
de flambagem determinadas. Essa metodologia pode ser aplicada para casos mais
complexos, como em colunas em diversos trechos e com condições de contorno
diferentes.

31.5 – Placas

As placas podem ser classificadas como muito delgadas ou de Von Kárman se


h <1 ; delgadas ou de Kirchhoff se 1 £ h £ 1 ; ou espessas ou de Reissner
a 100 100 a 10

Capítulo 31 – Tópicos Complementares_______________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 1024

Mindlin se h > 1 . Nesta definição, h representa a espessura da placa e a sua menor


a 10
dimensão em planta. Para a formulação do problema de placas delgadas, assume-se que
as seções transversais da placa originalmente planas e perpendiculares à sua superfície
média assim permanecem na configuração deformada, conforme indicado na Fig. (31.4).
Dessa forma, as tensões orientadas ao longo de sua espessura, direção z , são nulas e,
consequentemente, um problema de estado plano de tensão pode ser formulado.

Figura 31.4 Flexão em placas delgadas.

Considerando a configuração deformada da placa ao longo do plano xz , conforme


indicado na Fig. (31.5) tem-se:
Vista xz:

w( x, y )

qy

qy A
A uz w
uy

Figura 31.5 Giro plano xz .

ìï ¶w
¶w ïïu x = -z
qy = Então: í ¶x (31.44)
¶x ïï
ïî z = w
Já por meio da configuração deformada da placa ao longo de seu plano yz , como
mostrado na Fig. (31.6) obtém-se:

Capítulo 31 – Tópicos Complementares_______________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 1025

Vista yz:

w( x, y )

qx

qx A
A uz w
uy

Figura 31.6 Giro plano yz .

ì
ï ¶w
¶w ï
ïu y = -z
qx = Então: í ¶y (31.45)
¶y ï
ï
î z=w
ï
ï
Dessa forma, as deformações não nulas do problema podem ser assim
relacionadas:
ì
ï ¶2w
ï
ï e = - z
ï
ï
x
¶x 2
ï
ï
ï
ï ¶2w
í e y = -z 2 (31.46)
ï
ï ¶y
ï
ï
ï
ï ¶2w
ï g = - 2 z
ï
ï
î
xy
¶x¶y

¶2w ¶2 w
sendo g xy = u x , y + u y , x = -z -z .
¶x¶y ¶y¶x
Uma vez que o problema analisado é de estado plano de tensão, verifica-se que as
componentes de tensão podem ser assim escritas:
E E æç ¶ 2 w ¶ 2 w ö÷
sx =
1- n 2
( e x + ne y ) = - z ç
1- n 2 çè ¶x 2
+ n ÷
¶y 2 ÷ø÷
E E æç ¶ 2 w ¶ 2 w ö÷
sy =
1- n 2
(y
e + ne x) = - z ç
1- n 2 çè ¶y 2
+ n ÷
¶x 2 ÷÷ø
(31.47)

¶2w zE ¶ 2 w (1- n ) zE (1- n ) ¶ 2 w


t xy = G g xy = -2Gz =- =-
¶x¶y 1 + n ¶x¶y (1- n ) 1- n 2 ¶x¶y

Capítulo 31 – Tópicos Complementares_______________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 1026

A partir da expressão das tensões normais apresentadas na Eq.(31.47), estas


podem ser integradas para a obtenção dos momentos fletores. Com base na ilustração
apresentada na Fig. (31.7) tem-se:

h/2
h/2
xx
my mx

Figura 31.7 Integração das tensões normais.

dM y
dM y = s x dA z  dM y = s x z dz dy  = ò s x z dz = my
dy
(31.48)
sendo my o momento por unidade de comprimento (distribuído). Utilizando o resultado

apresentado na Eq.(31.47) tem-se:


E
h/ 2
æ 2
2 ç¶ w ¶ 2 w ö÷ Eh 3 æç ¶ 2 w ¶ 2 w ö÷
1- n 2 -òh /2 çè ¶x 2
my = z ç + n ÷ dz  m = ç 2 + n ÷ (31.49)
¶y 2 ø÷÷ 12 (1- n 2 ) èç ¶x ¶y 2 ÷÷ø
y

Eh 3
sendo D = a constante de rigidez da placa. Assim:
12 (1- n 2 )

æ ¶2w ¶ 2 w ö÷
ç
my = D ç 2 + n 2 ÷÷ (31.50)
çè ¶x ¶y ÷ø

De forma semelhante, pode-se integrar as tensões normais no plano yz . Por meio


desse procedimento obtém-se:
æ ¶2w ¶2wö
mx = D çç 2 + n 2 ÷÷÷ (31.51)
çè ¶y ¶x ø÷

Deve-se mencionar que mx e my são positivos quando tracionam a face inferior da


placa. A integração das tensões de cisalhamento permite a determinação dos momentos
voltentes na placa. Com base na ilustração apresentada na Fig. (31.8) obtém-se:

Capítulo 31 – Tópicos Complementares_______________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 1027

mxy
Figura 31.8 Integração das tensões de cisalhamento.

E (1- n )
h/ 2 2
2 ¶ w

1- n 2 -òh /2 ¶x¶y
mxy = -t xy dx dy dz  mxy = z dz 
(31.52)
¶2w
mxy = D (1- n )
¶x¶y
Além dos momentos, os esforços cortantes podem também ser determinados.
Utilizando a ilustração apresentada na Fig. (31.9) obtém-se:
Vy

Vx dy
Vx + dx
x

Vx
Vy
Vy + dy
¶y
dx
Figura 31.9 Determinação de esforços cortantes.

¶mx ¶mxy
Vx = +
¶x ¶y
(31.53)
¶m y ¶mxy
Vy = +
¶y ¶x
Impondo a somatória nula de forças ao longo da direção z obtém-se:
¶Vx ¶V ¶V ¶V
åF z =0  -
¶x
dxdy - y dxdy + qdxdy = 0  q = x + y
¶y ¶x ¶y
(31.54)

Substituindo a Eq.(31.54) na Eq.(31.53) obtém-se:

Capítulo 31 – Tópicos Complementares_______________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 1028

¶ 2 mx ¶ 2 mxy ¶ 2 my
q= + 2 + (31.55)
¶x 2 ¶x¶y ¶y 2
Finalmente, pode-se reescrever a Eq.(31.55) utilizando os resultados apresentados
nas Eq.(31.50), Eq.(31.51) e Eq.(31.52). Assim:
q ¶4 w ¶4w ¶4w q
= 4 +2 2 2 + 4  = 4 w (31.56)
D ¶x ¶x ¶y ¶y D
A Eq.(31.56) é denominada equação diferencial da placa de Kirchhoff.

Capítulo 31 – Tópicos Complementares_______________________________________


Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 1029

Anexo A

A.1 – Introdução

A notação indicial permite a representação e a manipulação, em uma forma


compacta e elegante, de sistemas de equações diferenciais, combinações lineares,
somatórios entre outros. Esse tipo de notação foi introduzido por Einstein, sendo muito
útil para denotar grandezas em espaços de dimensão superior a 3.
Vários equacionamentos da resistência dos materiais e da mecânica dos sólidos
podem ser efetuados compactamente por meio da notação indicial. Apesar de amplo, seu
uso nesse texto é bastante restrito, sendo apresentada apenas operações fundamentais.
Por meio da notação indicial, um conjunto de variáveis x1 , x2 ,..., xn é denotado

simplesmente por xi com i  1, 2,..., n . Quando escrito isoladamente, o símbolo xi

representa qualquer uma das variáveis x1 , x2 ,..., xn . O intervalo de variação do índice,



i  1, 2,..., n , deve ser sempre informado. Dessa forma, um vetor v com três componentes
pode ser assim escrito:

v  vi com variando de1a 3
(A.1)
vi  v1 , v2 , v3  vx , v y , vz

Analogamente, uma matriz A com dimensão 3x3 pode ser assim representada:
A  Aij com i e j variando de1a 3
 A11 A12 A13 
(A.2)
Aij   A21 A22 A23 
 A31 A32 A33 

Portanto, um sistema de notações formado com base no uso de índices é


denominado de notação indicial.

Anexo A_______________________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 1030

A.2 – Convenção de Somatório

A convenção da notação indicial para a realização de somatórios pode ser assim


descrita: a repetição de um índice em termos subsequentes representará um somatório
com respeito ao índice repetido, no seu intervalo de variação. O intervalo de variação de
um índice está relacionado à dimensão da variável associada, podendo ser de 1 a n. Nas
aplicações da resistência dos materiais e da mecânica dos sólidos, os índices variam,
normalmente, de 1 a 3, conforme a dimensionalidade do problema analisado, ou seja, uni,
bi e tridimensionais. O índice repetido é empregado apenas para indicar a somatória.
Então, este índice é comumente denominado de falso ou apenas repetido.
Dessa forma, a equação que descreve um hiperplano no espaço xyz pode ser assim
escrita:
a1 x  a2 y  a3 z  p  ai xi  p com i variando de1a 3 (A.3)

sendo p um escalar.
 
Analogamente, o produto escalar entre dois vetores v e w , definidos no espaço
xyz, pode ser assim escrito utilizando a notação indicial:
 
v  w  vi wi  v1w1  v2 w2  v3 w3 com i variando de1a 3 (A.4)

A notação indicial pode também ser aplicada para a realização de uma operação
 
de adição simples de dois vetores. Considerando os vetores v e w definidos no espaço
xyz, a somatória de suas componentes pode ser assim expressa:
h1  v1  w1
  
v  w  h  hk  vk  wk  h2  v2  w2 com k variando de1a 3 (A.5)
h3  v3  w3

Um sistema linear de equações pode ser assim representado por meio dessa
abordagem:
 A11 A12 A13   x1   f1 
   
Aij x j  fi   A21 A22 A23   x2    f 2  com i e j variando de1a 3 (A.6)
 A31 A32 A33   x3   f3 

Deve-se destacar, conforme apresentado na Eq.(A.6), que existe a contração do


índice repetido após a realização da operação. Esse comportamento sempre ocorre
durante a operação de soma e pode ser também verificado na multiplicação de matrizes.

Anexo A_______________________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 1031

Para observar essa contração na multiplicação de matrizes, deve-se considerar as matrizes


A e B cujo produto é igual a matriz C . Assim:
AB  C  Aik Bkj  Cij com i, j e k variando de1a 3
(A.7)
Cij  Ai1 B1 j  Ai 2 B2 j  Ai 3 B3 j

Por outro lado, uma matriz (ou tensor de segunda ordem), pode resultar do produto
de um tensor de ordem 4 por um tensor de ordem 2, como as tensões na lei de Hooke
generalizada, por exemplo. Dessa forma, pode-se escrever que:
Bij  Lijkl Akl com i, j, k e l variando de1a 3 (A.8)

Na operação de soma, pode-se também observar o agrupamento de índices. Tal


comportamento é observado ao se realizar, por exemplo, o produto vetorial entre dois
vetores. Nesse caso tem-se:
Aij  vi w j com i e j variando de1a 3
 v1w1 v1w2 v1w3 
(A.9)
Aij   v2 w1 v2 w2 v2 w3 
 v3 w1 v3 w2 v3 w3 

A.3 – Convenção de Diferenciação

As operações de derivação (gradiente, divergente e rotacional) também podem ser


representadas via notação indicial. Para indicar a derivada de uma função em relação a
uma dada variável utiliza-se o símbolo “,”. Pode-se representar o gradiente de uma função
escalar de R n  R da seguinte maneira:
df df df
Y  f  x1 , x2 , x3   Y  , , 
dx1 dx2 dx3 (A.10)
Y  f,i com i variando de1a 3

Caso o interesse seja mostrar as derivadas de segunda ordem, pode-se escrever


que:
d  df  d  df  d  df 
Y  f  x1 , x2 , x3    2Y   ,  ,   
dx1  dx1  dx2  dx2  dx3  dx3  (A.11)
 Y  f ,ii com i variando de1a 3
2

Se a função de interesse for definida em R n  R n , o resultado apresentado na


Eq.(A.10) pode ser assim redefinido:

Anexo A_______________________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 1032

 f1 f1 f1 


 
 x1 x2 x3 
 f f 2 f 2 
Yi  f i  x1 , x2 , x3   Yi   2  
 x1 x2 x3 
(A.12)
 f 3 f3 f 3 
 
 x1 x2 x3 
f i
 fi, j com i e j variando de1a 3
x j

Embora não apresentado, esta convenção permanece válida e de igual aplicação


na análise de divergentes.

A.4 – Delta de Kronecker

O símbolo  ij com i e j variando de1a 3 é denominado delta de Kronecker, o qual

é definido como segue:


0 se i j
 ij  (A.13)
1 se i j
Como os índices i e j são livres no termo  ij e ambos variam de 1 a 3, tem-se um

total de 9 valores, os quais são dados segundo a definição apresentada na Eq.(A.13), ou


seja,  ij é igual a matriz identidade.

O delta de Kronecker permite a realização de operações específicas tais como:


vi w j ij  vi wi com i e j variando de1a 3
(A.14)
f ,ij jk  f ,ik com i, j e k variando de1a 3

A.5 – Vetores

A mecânica das estruturas está baseada em grandezas oriundas da física. Assim,


sua manipulação requer algumas especificidades, as quais serão mencionadas a seguir.
Deve-se enfatizar que as leis da física permanecem inalteradas independentemente do
sistema adotado para a sua descrição matemática.

Anexo A_______________________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 1033

Um vetor é, geometricamente, um segmento de reta, ao qual é atribuído um


sentido no espaço. Um vetor precisa manter sua norma (módulo) independente do sistema
de referência adotado, bem como a direção e sentido com relação a um observador
qualquer, conforme indicado na Fig. (A.1).
y


y´ v = (1;1)  v = 2


v= ( )
2;0  v = 2

1 v

x
1

Figura A.1 Vetores

Os vetores podem ser representados por meio de notação matricial, {v} , indicial,

vi i = 1, 2,3 ou dyadica, v - vetor . Um vetor no espaço Euclidiano tridimensional

também pode ser representado a partir de suas componentes referenciadas a uma base

ortonormal. Assim, um vetor v pode ser escrito como uma combinação linear de 3
versores (vetores unitários), que definem as direções de cada eixo. Esses versores, assim
como sua combinação, podem ser visualizados na Fig. (A.2).
x2 y

x2 ', e2 ' ìï1üï ì


ï0ü
ï ìï0üï
 ïï ïï  ï ï ï
ï  ïï ïï
e1 = í0ý , e2 = í1ý , e3 = í0ý
x1 ', e1 ' ïï ïï ï ï ïï ïï
ï ï
ïïî0ïïþ ï
ï0ï
ï
î þ ïïî1ïïþ
e2 = j    

v = v1e1 + v2 e2 + v3e3
x1 x
e3 = k e1 = i

x3 z
x3 ', e3 '
Figura A.2 Base ortonormal

A manipulação de vetores pode ser efetuada com base nas seguintes operações
fundamentais:
 Multiplicação por escalar

Anexo A_______________________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 1034

ïìï v1 ïüï ïìï av1 ïüï


 
u = a v = a ïív2 ïý = ïíav2 ïý  ui = a vi i = 1, 2,3  notação indicial
ïï ïï ïï ïï
ïîïv3 ïþï ïîïav3 ïþï
(A.15)
ïìï1ïüï ïìï0ïüï ïìï0ïüï

\ v = v1 í0ý + v2 í1ý + v3 ïí0ïý
ï ï ï ï
ïï ïï ïï ïï ïï ïï
ïîï0ïïþ ïïî0þïï îïï1ïïþ
 Soma
ïì v1 ïü ïìu1 ïü ïì v1 + u1 ï
ü
   ïï ïï ïï ïï ïï ï
g = v + u = ív2 ý + íu2 ý = ív2 + u2 ï ý 
ï ï ï ï ï
ïïv ïï ïïu ïï ïïv + u ï ï
îï 3 þï îï 3 þï îï 3 3þï
ï
gi = vi + ui i = 1, 2,3  notação indicial (A.16)
ìïv1 üï ìï 0 üï ìï 0 üï
 ïï ïï ïï ïï ïï ïï
\ v = í 0 ý + ív2 ý + í 0 ý
ïï ïï ïï ïï ïï ïï
ïîï 0 ïþï ïîï 0 ïïþ ïîïv3 ïþï

 Produto interno/escalar (contração de 1ª ordem para tensor)


 
l = v ⋅ u = v1u1 + v2u2 + v3u3 (A.17)

ì
ï u1 ü
ï
ï
ï ï ï
l = {v} ⋅ {u } = {v1 v2 v3 }⋅ íu2 ý
T
(A.18)
ï
ï ï
ï
ï
ï ï
îu 3 ï
þ
3
l = åvi ui  l = vi ui (soma implícita) (A.19)
i =1
 
Assim, verifica-se que o produto interno resulta em uma projeção de v sobre u .
Alternativamente, também pode-se ter a seguinte situação:
A1 = v1u1 + v1u2 + v1u3
Ai = vi ⋅ u j  A2 = v2u1 + v2u2 + v2u3 (A.20)
A3 = v3u1 + v3u2 + v3u3

 Produto Vetorial
Esta operação resulta um terceiro vetor perpendicular ao plano formado pelos
vetores envolvidos no produto. Assim:
é e1 e2 e3 ù
ê ú
wi = vi ´u j  wi = det ê v1 v2 v3 ú (A.21)
ê ú
êu u u3 úû
ë 1 2

Anexo A_______________________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 1035

A.6 – Tensor de 1º ordem. Vetor

Os tensores são entidades apresentadas nos domínios da matemática e da física


sendo utilizados para generalizar as noções de escalares, vetores e matrizes. Portanto,
assim como as entidades fundamentais, um tensor é uma forma de representação
associada a um conjunto de operações tais como a soma e o produto.
Os vetores podem ser entendidos como tensores de 1º ordem. De maneira prática, salvo
as propriedades estabelecidas pela álgebra para vetores, bem como as operações para os
espaços vetoriais, é imprescindível para a mecânica dos sólidos e resistência dos materiais
que os vetores possam ser descritos por diferentes sistemas de referência mantendo
invariante seu módulo, sua direção e seu sentido, Fig. (A.3).
x2
x2 '
21

x2 ' x2 x1 '
x1 '

m l 11
x1
x1
x3 n
x3 '
x3 31

x3 '

Figura A.3 Mudança de base

Assim, a localização de pontos materiais, descrita em relação ao um sistema de


coordenadas x , pode ser associada a um sistema de coordenadas x' por meio da seguinte
operação:
x1 ' = x1 cos q11 + x2 cos q21 + x3 cos q31
x2 ' = x1 cos q12 + x2 cos q22 + x3 cos q32 (A.22)
x3 ' = x1 cos q13 + x2 cos q23 + x3 cos q33

ïìi = eixo do sistema antigo


sendo qij  ïí .
ïïî j = eixo do sistema novo

Então, em notação matricial, pode-se escrever que:

Anexo A_______________________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 1036

ì x1 'ï
ï ü él l2 l3 ù ïì x1 ïü
ï ï ê 1 ú ï ï
í x2 'ýï = êê m1
ï m2 m3 ú ⋅ ï
ú í
x2 ïý (A.23)
ï
ï ï
ï ên ï
ï ï
ï
ï ú
ï x3 'ï
î ïþ ë 1 n2 n3 û ï ï x3 þï
î ï
sendo que os versores cosseno diretor são assim definidos:
ìcos q11 ï
ï ü ìcos q12 ï
ï ü ìcos q13 ï
ï ü
 ï ï  ï ï  ï ï
l = ícos q21 ï
ï ý m = ícos q22 ï
ï ý n = ícos q23 ï
ï ý (A.24)
ï
ï ï
ï ï
ï ï
ï ï
ï ï
ï
ïcos q31 ï
ï
î ï
þ ïcos q32 ï
ï
î ï
þ ïcos q33 þï
ï
î ï
O produto tensorial de dois vetores é um tensor de 2ª ordem. A definição de
produto tensorial está incluída na igualdade seguinte:
     
é u Ä v ù w = é v ⋅ wù u (A.25)
êë úû êë úû

A.7 – Tensor de 2º ordem

 
Um tensor pode ser escrito pelo produto tensorial de dois vetores u e v ou pela
combinação linear de produtos tensoriais. Os tensores podem ser representados por meio

de notação matricial, [T ] , indicial, Tij i, j = 1, 2,3 ou dyadica, T - tensor . Tem-se as

seguintes operações de interesse com os tensores:


 Produto tensorial

 ì
ï u1 ü
ï
  ï
ï ï ï
T = u Ä v  [T ] = {u }{v} = íu2 ý {v1 v2 v3 }
T
(A.26)
ï
ï ï
ï
ï
ïu
î ï3 ï
þ
Assim:
é u1v1 u1v2 u1v3 ù
ê ú
[T ] = êêu2v1 u2v2 u2 v3 ú , na notação indicial Tij = ui v j
ú
(A.27)
êu v u v u3v3 úû
ë 31 3 2
 Soma tensorial
[T ]{v} +[Q ]{v} = [T + Q ]{v} (A.28)

 Produto por escalar


a [T ] = aTij (A.29)

 Traço

Anexo A_______________________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 1037

O traço de um tensor, [T ] , é um escalar designado por tr (T ) , o qual é igual à

soma dos elementos da diagonal da forma matricial do tensor de 2ª ordem. Assim:


tr (T ) = Tii = T11 + T22 + T33 (A.30)

A.8 – Valores Próprios de Tensores Simétricos de 2º ordem

O produto interno de um tensor [T ] por um vetor {u} pode ser assim escrito:

[T ]{u} = {v}  Tij u j = vi (A.31)

Esta operação pode ser entendida como uma transformação linear, pela qual o
vetor {u} é transformado, por meio do tensor [T ] , em um vetor imagem {v} v num espaço

Euclidiano tridimensional. No caso particular do tensor [T ] ser simétrico, com

componentes reais, Tij , definido em cada ponto do espaço, associado a cada direção no

espaço, definida pelo vector unitário {h } num ponto, existe um vector imagem {v} tal

que:
[T ]{h} = {v}  Tij h j = vi (A.32)

No caso do vector {v} ser um múltiplo escalar de {h } , {v} = l {h } , então a

Eq.(A.32) pode ser assim reescrita:


[T ]{h} = l {h}  Tij h j = lhi (A.33)

Nesta condição, {h } é denominada de direção principal ou vetor próprio de [T ] e

o escalar l é nomeado de valor principal ou valor próprio de [T ] .

A expressão apresentada na Eq.(A.33) resulta em um sistema de equações, o qual


pode ser assim apresentado:
(T - l I ) h = 0  (Tij - ldij ) h j = 0 (A.34)

sendo I a matriz identidade ou operador delta de Kronecker.


O sistema de equações homogêneos apresentado na Eq.(A.34) possui uma solução
não trivial se o determinante dos coeficientes for nulo. Assim, o determinante nulo dos
coeficientes conduz a uma equação característica, cúbica, cujas raízes resultam os valores
principais. Assim:

Anexo A_______________________________________________________________
Resistência dos Materiais / Mecânica dos Sólidos 1038

l 3 - I1l 2 + I 2l - I 3 = 0 (A.35)

1
sendo: I1 = tr (T ) = Tii , I 2 = éëêTiiT jj - TijT ji ùûú , I 3 = det (T ) .
2
As variáveis Ii são denominadas de invariantes, uma vez que independem do

sistema de coordenadas no qual [T ] foi definido. Deve-se mencionar que as raízes obtidas

da Eq.(A.35) são reais desde que o tensor [T ] seja simétrico e com componentes reais. O

cálculo dos vetores principais é efetuado com base na Eq.(A.34) e na condição de que
{h}⋅ {h} = 1 . É possível demonstrar que os vetores principais são mutuamente
ortogonais.

Anexo A_______________________________________________________________

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