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Para Josephine, que tira o pó do

ponto de fuga localizado em algum


lugar entre os meus olhos, para o
qual o Universo converge e de onde
ele jorra de volta na linguagem dos
sonhos.
O Universo é mesmo um lugar bem grande...

Talvez seja infinitamente grande, o que quer dizer que é


praticamente infinito!
Digo isso porque ele, o Universo, pode começar em
qualquer parte...

Pode até ter começado num meio de semana...

Mesmo que ninguém saiba exatamente quando, como e

porque, fato é que se o Universo está aqui é porque


começou... de um jeito ou de outro.

Mas, onde termina???

Se a gente não vê o fim, talvez seja devido a uma miopia... ou

talvez porque o Universo seja infinito ou o fim dele


seja invisível.
E, num Universo desse tamanho, certamente existem muitas

sereias!

Sereias sonhadoras... sonhando, entre outras coisas, em

conhecer todos os segredos do Universo! Que aparentemente

é infinito...
Conhecer as coisas do infinito...

Saber se o infinito não tem mesmo fim...

Sonhos turbulentos de Sereias que perturbam a viagem


dos navegadores e passageiros do Universo.
A Terra, levitando em verde e azul é uma parte até que

importante do Universo.

Isso porque na Terra moram muitas sereias... não uma


quantidade infinita, mas uma infinidade, que é quase infinito,
mas que quer dizer só que são muitas.
E elas sonham como as outras sereias de outros pontos do

Universo.
Muitas sereias daqui moram em condomínios de gotas d'água,

a maioria talvez...

Mas, tem as que moram nas montanhas e as que moram nas


grandes cidades cheias de gente...

e até as que moram nos desertos onde o Sol brilha com toda a
força e onde a Lua é da cor da areia.
Lá é tão ensolarado que até dá pra ver a sombra que a Lua faz no
Universo.

E lá, elas têm os cactos como amigos e eles contam pra elas um

pouco dos segredos do Universo porque eles estão aqui há

muito mais tempo do que elas e sabem muitas coisas.


E no deserto, com os cactos, elas aprendem com lições
espinhosas, nada teóricas...

Aprendem que os cactos matam sua sede com a água que eles
encontram apenas no seu interior, já que lá fora é só areia e
tempestades... de areia. O que eles precisam eles encontram
primeiro dentro de si.

Então, elas aprendem que a essência pode permanecer íntegra,


mesmo no mais hostil dos ambientes.

Aprendem também com as flores do deserto.


Flores que encaram o Sol durante o dia, como que para
guardar toda aquela luz e oferecê-la aos que numa noite qualquer
aparecerem lá no deserto.

Porque sempre há um deserto por perto e pessoas que o


atravessam sob o sol ou numa noite escura.
Da mesma forma que sempre há um caminho iluminado pelas

flores do deserto para quem prestar atenção!


Certamente, as sereias que moram no deserto já se sentiram
vez ou outra como um peixe fora d'água!

E, como podem ser muito complicados os anseios de sereias


que se sentem um peixe fora d'água, é mais saudável sondar os
sonhos de uma sereia que viva, por exemplo, num condomínio
de gotas d'água.
É bom saber que não é muito fácil encontrar uma sereia

disposta a compartilhar seus sonhos...

Às vezes falam demais, realmente, mas sabem ser bem


reservadas e não curtem muito ficar falando... gostam mesmo é

de ouvir e cantar o canto das sereias e dançar a dança das

sereias.

Ler livros e escrever contos de sereias e, nos contos,

entregam os pontos de seus sonhos.


Foi assim que uma que estava bem chateada porque tinha perdido
sua tornozeleira (e as tornozeleiras são importantíssimas para as

sereias), confessou que o grande sonho dela era recuperar sua


tornozeleira!!!
Não demorou muito e ela teve seu sonho realizado... achou a
tornozeleira que estava pendurada no pedal da sua bike! Uma bike
que é um design exclusivo feito à imagem e semelhança de um

mulefa dos livros Fronteiras do Universo do Philip Pullman.


De tão feliz, até falou um pouco de como é viver num condomínio
de gotas d'água...
E de como a vida pode ser bem certinha, redondinha e previsível,
até sufocada, num condomínio de gotas d'água.

Desse jeito, fica fácil imaginar que um pouco mais de ar e ação

seria o sonho de uma sereia de lá...


E, diferentemente do Universo que ninguém sabe exatamente

o começo...o sonho dessa sereia começa com ela voando num

balão!
Depois, continua numa ilha...
numa ilha que ela não conhece mas que sabe de cor, de
coração! E para essa ilha ela até canta um canto,

um canto de sereia...

vou desenhar uma estória

que é a estória de uma ilha...

ela vem do coração e não da memória,

uma ilha da qual sou filha!


Ela está estacionada num pedaço do mar, brilhando como
esmeralda no Sol do verão...
e parecendo uma montanha de algodão doce no inverno!

Isso porque a neve, quando cai, se encontra com a doçura da ilha.


Aí, quando derrete adoça a vida das coisas desse pedaço de mar
que, às vezes é tão gelado e agitado e, quase sempre, muito
salgado.
Nessa ilha tem 333 castelos!

Todos com aquecimento solar, captação da água da chuva e


internet rápida.
Todos também com lindos jardins e muralhas imensas!

Jardins com espécies bem diferentes daquelas de lá do deserto.

Mas que vivem nas rochas graças à água da neve de algodão doce
que as rochas armazenam porque sabem que uma semente de flor
vai precisar dessa água pra brotar na primavera.
Cada castelo tem também suas esculturas.

Daquelas que, inicialmente, parecem ser só um amontoado de


pedras, mas que são cheias de simbolismos e guardam, como as
rochas fazem para as flores, alguma coisa que a gente não sabe
ainda muito bem o que é, mas sabe que precisa disso pra brotar.
Existem também escudos e um monte de panos que ficam

pendurados nos castelos. Cada um tem o seu e, assim, a gente

sabe de que castelo se trata, afinal lá tem 333 deles.

É como se fosse o documento de identidade do castelo ou as

cores de um time de polo aquático.


A sereia pensou em polo aquático porque é o esporte mais

praticado lá onde ela mora, no condomínio de gotas d'água... Mas,


podia ser qualquer outro, desde que tivesse times com suas cores.

Agora, o mais esperado, talvez...


Afinal, não se trata de uma ilha deserta... Ou se trata?
Cada castelo tem uma princesa e...

claro, também tem uma bruxa!


Que, na verdade, são a mesma pessoa, como seis e meia dúzia,

porque toda princesa tem seu lado bruxa, assim como toda

bruxa tem seu lado princesa!

E a felicidade acontece quando uma reconhece e aceita a


existência da outra e elas se abraçam e coexistem em paz.

E o inferno acontece quando uma esconde a outra e finge que


ela não existe, gastando energia e calor que daria para iluminar
e aquecer toda a ilha, além de assar uma torta de maçãs,
cozinhar uma sopa de abóbora, gelar uma cerveja, tocar um CD
e outras coisas que a gente pode conseguir com energia e calor.

Mas, não só as princesas e bruxas,


além de alguns aparelhos eletrônicos, são assim...
dois (ou muitos) em um!

Todos nós temos TUDO das duas e podemos ser

QUALQUER COISA entre princesas e bruxas!!!


Só que, em algum momento lá do começo ou da metade da

invenção do Universo (que talvez não tenha fim...),

classificaram como boas ou ruins,


as coisas que a gente pode ser
ou as características que a gente pode ter e,
algumas delas pega muito mal a gente admitir
ou demonstrar que pode ser ou ter.

Então, a gente esconde essas coisas de todo mundo... e,


fica mais grave ainda quando a gente
esconde da gente mesmo!

É puro desperdício de energia, porque...


Atiramos tudo para longe, no meio da noite, Universo afora...

até que num amanhecer qualquer o Universo nos devolve e

tudo volta Universo adentro como bumerangues,

só que mais fortes e em maior número!


Aí, acontece um estrago qualquer... além de todo aquele
desperdício de energia e calor que daria para iluminar e aquecer
toda a ilha, além de assar uma torta de maçãs, cozinhar uma sopa
de abóbora, gelar uma cerveja, tocar um CD etc etc etc... e a gente
acaba devastado pelos bumerangues.

É que somos uma grande colcha de retalhos onde todos os


retalhos são importantes para o todo que nós somos!

E uma colcha com buracos ou desfiada não funciona.


Assim como uma toalha bem colorida daquelas de picnic não pode
ter partes faltando...

Especialmente se formos o convidado especial e o picnic for a


nossa própria vida...
Ensolarada, mas com risco de tempestades em qualquer hora!
Com névoas que parecem não ter fim e baixa visibilidade, mas que
num belo dia se dissipam de forma inexplicável e tudo fica claro à
nossa frente!
E, por falar em névoas... brumas e coisas assim, é claro, também,
que todo castelo que se preza tem fantasmas!
fantasmas que espreitam cada passagem, cada porta.

fantasmas que assombram cada corredor (não aqueles de

F1, mas os que ligam os muitos ambientes de um castelo)...

fantasmas que, quando criamos coragem para encará-los,


percebemos que são bem menores e menos assustadores do
que imaginamos.

Os fantasmas de verdade são mais


inofensivos do que aqueles que criamos na nossa imaginação!
Mas, voltando à ilha... Lá existem inúmeros luminosos, que
parecem aqueles que orientam o trânsito nas cidades e que as

sereias (princesas e bruxas) urbanas conhecem muito


bem (ou deveriam!).
Só que os da ilha são diferentes.
São diferentes porque além de iluminarem eles têm som e as
lâmpadas são figuras...

e cada figura é uma frase, uma frase cheia de graça, uma frase
escrita com luz!
Atenção!
Aqui e agora!
Acorde!
Atenção!!!!
Silêncio!!!!

Escute o seu CORAÇÃO!


Aqui e agora!!!
Esse é o melhor lugar para estar!!!

Esse é o verdadeiro PRESENTE!


Acorde...

pra receber e viver o seu presente!

Sua amiga Sofia já lhe contara de uma ilha onde as pessoas eram
lembradas disso tudo por papagaios! Eles repetiam isso a todo
instante...

AtençãoAquieAgoraAcorde
O pai da Sofia, que viajava e escrevia muito foi quem contou essa
estória de papagaios para ela.

Essa sinalização é bastante útil.

Até porque se a gente olhar a ilha de cima, com um zoom, que


nem precisa ser muito poderoso, a gente vai ver que ela é cheia de
caminhos e de pontes... e se for para cruzar uma ponte só pela fé,
sem sinalização, a gente não a cruza não!
E as pontes dessa ilha são tão cheias de estilo na cidade como
são rústicas lá longe, onde acontecem os penhascos e o mar
bate como quem dá um saque de efeito e velocidade num jogo
de tênis.

Algumas vão de um lugar bem conhecido para outro idem...

Outras, já não são tão óbvias... elas ligam o visível ao invisível.

Como aquelas de corda que estão penduradas


e balançando entre penhascos!

No começo delas a gente sabe onde está...


Mas, além do penhasco é outra estória porque a gente não sabe
o que vem depois.
A gente imagina que seja o mar! E que lá embaixo seja o caminho
dos salmões.
Mas, isso é só uma suspeita!!!
E a sereia, em seu sonho, atravessa a ponte e... acorda!

Acorda em seu condomínio de gotas d'água e... de salmões!!!!


Como é que ela nunca tinha percebido esses vizinhos antes???
E ela acorda conhecendo mais sobre princesas e bruxas e,

claro... também sobre os

que sereias, princesas e bruxas


alimentam na sua imaginação.
Sabendo que eles podem até virar algodão doce e derreter se ela
resolver olhar bem pra eles e anotar o código de barras deles.
Porque é assim...
os sonhos são como sementes dormindo no nosso coração e
quando nossa cabeça descansa no sono e a gente atravessa a
ponte dos salmões, eles acordam e brotam...

… crescem e sobem até a nossa cabeça e a gente sonha com eles!


E então começam a fazer parte da nossa realidade.
E mesmo que a gente não perceba logo de cara, ou que de início
não façam o menor sentido...
quando a gente fecha os olhos eles se tornam realidade
novamente!
E nos acompanham até o...

FIM

Mas esse é só o começo de um fim... digo porque tenho uma


amiga que diz que tudo sempre tem começo, meio e fim, e às
vezes se repete.

Até o Universo.
Sereia em série...

A série da Sereia

“Metade o busto de uma deusa Maia


Metade um grande rabo de baleia”

Paralamas do Sucesso / Gilberto Gil


Sobre a autora

Claudia Schmidt, artista visual, frequentou a pintura clássica


na adolescência, mas profissionalmente trilhou os caminhos
da engenharia eletrônica onde se familiarizou com a criação
de conteúdo via software, explorando a animação de formas
geométricas e a agregação de fotos e cores. Dessa
familiaridade nasceu o impulso de se manifestar
artisticamente por meio dessas ferramentas.

Suas ilustrações iniciais lhe inspiraram reflexões corriqueiras


que, reunidas, deram origem à Sereia e sua série.

https://cschmidt303.wixsite.com/ilustras reúne o seu


trabalho visual e um blog.

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