Você está na página 1de 676

Monárquias Ibéricas.

indb 1 13/12/18 14:55


Monárquias Ibéricas.indb 2 13/12/18 14:55
Monárquias Ibéricas.indb 3 13/12/18 14:55
Esta publicação teve o apoio de:

–  Ministerio de Ciencia, Innovación y Universidades (España), através do projecto


«Imperios de papel: textos, cultura escrita y religiosos en la configuración del Imperio
portugués de la Edad Moderna (1580-1668)». HAR2014-52693-P.

–  CHAM (NOVA FCSH—UAc) através do projecto estratégico financiado pela FCT


(UID/HIS/04666/2013)

–  Casa de Velazquez

Monárquias Ibéricas.indb 4 13/12/18 14:55


Alberto José Belo
AMonarquias
Câmara dosIbéricas
Pares
na Época
emdas Grandes
Perspectiva
Reformas Políticas
Comparada
(séculos xvi-xviii)
1870-1895
Dinâmicas imperiais e circulação
de modelos político-administrativos

Ângela Barreto Xavier,


Federico Palomo e Roberta Stumpf
(organizadoras)

Monárquias Ibéricas.indb 5 13/12/18 14:55


Imprensa de Ciências Sociais

Instituto de Ciências Sociais


da Universidade de Lisboa

Av. Professor Aníbal de Bettencourt, 9


1600–189 Lisboa – Portugal
Telef. 21 780 47 00 – Fax 21 794 02 74

www.ics.ul.pt/imprensa
imprensa@ics.ul.pt

Instituto
Institutode
deCiências
Ciências Sociais – Catalogação
Catalogaçãona naPublicação
Publicação
Monarquias ibéricas em perspectiva comparada
BELO, Alberto (sécs. XVI-XVIII) : dinâmicas
José, 1966-
imperiais e circulação
A Câmara dena
dos Pares modelos administrativos
época das / org.
grandes reformas Ângela1870-1895
políticas, Barreto Xavier,
/
Frederico Palomo
Alberto José e Roberta
Belo. – Lisboa Stumpf.
: ICS.
- Lisboa : Imprensa
ICS - Imprensa de Ciências
de Ciências Sociais,Sociais,
2015 2018. -
ISBN
ISBN 978-972-671-508-5
978-972-671-346-3
CDU 94(469)

Capa: João Segurado


© Instituto
Composição de Ciências
e paginação: Sociais, 2018
Ana Cristina Carvalho
Revisão: Soares de Almeida
ImpressãoConceção gráfica:
e acabamento: João Félix
Manuel - Artes
Barbosa Gráficas
& Filhos, Lda – Lousa
Capa: Mário Félix
Depósito legal: 386648/15
Revisão: Levi Condinho 1.ª (português) e Elisa
edição: Janeiro García Prieto (espanhol)
de 2015
Impressão e acabamento: Gráfica Manuel Barbosa & Filhos, Lda.
Depósito legal: 448 217/18
1.ª edição: Dezembro de 2018

Monárquias Ibéricas.indb 6 13/12/18 14:55


Índice
Os autores................................................................................................. 11
Pensar as Monarquias Ibéricas de forma comparada........................... 17
Ângela Barreto Xavier, Federico Palomo e Roberta Stumpf

Parte I
Quadros político-administrativos

1. A estrutura territorial das monarquias ibéricas.................................. 51


Pedro Cardim e António Manuel Hespanha
2. El Patronato Real en la América Hispana: fundamentos y prácticas 97
Ignasi Fernández Terricabras
3. O padroado da coroa de Portugal: Fundamentos e práticas.............. 123
Ângela Barreto Xavier e Fernanda Olival

Parte II
A administração civil

4. Prácticas de gobierno: instituciones, territorios y flujos de comuni-


cación en la Monarquía Hispánica........................................................... 163
María Victoria López-Cordón Cortezo
5. As instituições civis da monarquia portuguesa na Idade Moderna:
centro e periferia do império.................................................................... 209
Maria Fernanda Bicalho e Nuno Gonçalo Monteiro
6. Las poco y las más repúblicas. Los gobiernos indios en la América
española..................................................................................................... 237
Ana Díaz Serrano
7. O império português face às instituições indígenas (Estado da
Índia, Brasil e Angola, séculos xvi-xviii)................................................. 271
Catarina Madeira-Santos

Monárquias Ibéricas.indb 7 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

8. As finanças do rei de Espanha nas Índias. Estruturas administrati-


vas, serviço régio e interesses familiares vistos a partir do vice-reinado
da Nova Espanha...................................................................................... 303
Michel Bertrand
9. O governo da Fazenda no império portugués.................................... 325
Susana Münch Miranda e Roberta Stumpf
10. Justicia y letrados en la América Ibérica: administración y circula-
ción de agentes en perspectiva comparada.............................................. 351
Nuno Camarinhas e Pilar Ponce Leiva

Parte III
Administração militar

11. Ejército y reformas militares en la Monarquía Hispánica a ambos


lados del Atlántico. Un análisis en perspectiva comparada (siglos xvi-
-xviii) 387
Antonio Jiménez Estrella e Francisco Andújar Castillo
12. Instituições, contingentes e culturas militares na monarquia portu-
guesa (séculos xv-xix)............................................................................... 431
Vítor Luís Gaspar Rodrigues e Miguel Dantas da Cruz

Parte IV
Administração eclesiástica

13. Las instituciones eclesiásticas en la Monarquía Hispánica............... 481


Ana de Zaballa Beascoechea
14. Estruturas eclesiásticas da monarquia portuguesa. A Igreja dioce-
sana............................................................................................................ 513
Evergton Sales Souza
15. La misión en los espacios del mundo ibérico: conversiones, formas
de control y negociación........................................................................... 543
Aliocha Maldavsky e Federico Palomo

Bibliografia............................................................................................... 593

Monárquias Ibéricas.indb 8 13/12/18 14:55


Índice de figuras
Introdução
Figura 1: Mapa dos impérios ibéricos, c. 1580................................. 14-15

Cap. 2
Figura 1: Diócesis americanas hasta 1620......................................... 115

Cap. 3
Figura 1: Arquidiocese do Funchal, c. 1534..................................... 149
Figura 2: Arquidioceses extra territorium, c. 1668........................... 151
Figura 3: Arquidioceses extra territorium, c. 1750........................... 152

Cap. 13
Figura 1: Diócesis y archidiócesis en América Hispana.................. 491
Figura 2: Diócesis y provincias franciscanas novohispanas............. 492

Monárquias Ibéricas.indb 9 13/12/18 14:55


Monárquias Ibéricas.indb 10 13/12/18 14:55
Os autores
Aliocha Maldavsky é professora catedrática de História Moderna e da
América Ibérica na Université Paris Nanterre. A sua área de especialidade
é a História Religiosa e Missionária dos séculos xvi a xviii, nomeadamente
nos espaços andinos e da América hispânica.
Ana Diaz Serrano é investigadora na Universidad de Murcia. Os seus
trabalhos centram-se no estudo dos poderes territoriais no contexto da
Monarquia Hispânica, nomeadamente na configuração política das comu-
nidades indígenas americanas.
Ana de Zaballa Beascoechea é professora titular na Universidad del
País Vasco. Especialista em História Eclesiástica da América colonial, a sua
investigação mais recente está centrada no estudo dos tribunais eclesiásti-
cos e sua relação com a sociedade no quadro da Nova Espanha.
Ângela Barreto Xavier é investigadora do Instituto de Ciências Sociais
da Universidade de Lisboa. As suas áreas de especialidade são a ­História das
Ideias Políticas e História Política e Cultural dos impérios da época moderna,
sobretudo no que respeita às articulações entre Europa e Ásia.
Antonio Jiménez Estrella é professor contratado doutor do Departa-
mento de Historia Moderna y de América da Universidad de Granada e
especialista em História Social e Institucional do Reino de Granada e His-
tória Social e das Elites na Monarquia Hispânica sob o regime dos Áustrias.
António Manuel Hespanha é professor catedrático jubilado da Facul-
dade de Direito da Universidade Nova de Lisboa e doutor honoris causa pelas
Faculdade de Direito da Universidade de Lucerna (Suíça) e da U ­ niversidade
Federal do Paraná (Brasil). É um reconhecido especialista nas áreas da Histó-
ria, História do Direito, mas também da Teoria do Direito.

11

Monárquias Ibéricas.indb 11 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Catarina Madeira-Santos é Maître de conférences na École des Hautes


Études en Sciences Sociales. Especialista em História do Império Português
e em História da África, tem dedicado a sua investigação recente ao estudo
dos poderes africanos e das instâncias de saber nas «Áfricas lusófonas» dos
séculos xviii-xx.
Evergton Sales Souza é professor associado do Departamento de His-
tória da Universidade Federal da Baía e especialista em História Religiosa e
Política do Brasil e do império português da época moderna.
Federico Palomo é professor titular de História Moderna na Universi-
dad Complutense de Madrid. É especialista em História Religiosa e Missio-
nária nos mundos ibéricos da época moderna, com destaque para os espaços
do império português.
Fernanda Olival é professora auxiliar com agregação no Departamento
de História na Universidade de Évora. Trabalha em torno aos processos de
mobilidade e distinção social no Antigo Regime, nomeadamente a partir
das Ordens Militares e da Inquisição.
Francisco Andújar Castillo é professor catedrático da Universidad de
Almeria especializado na História do Reino de Granada nos séculos xvi
e xvii, na História Social do exército no Setecentos e também no estudo da
venalidade de ofícios e patentes na Espanha do século xviii.
Ignasi Fernández Terricabras é Professor Agregat d’Història Moderna
na Universitat Autònoma de Barcelona. A sua investigação é centrada no
estudo da Refoma católica, a Contra-Reforma e a Confessionalização no
contexto hispânico. Em particular, trabalha sobre as relações entre o poder
político e a Igreja nos séculos xvi e xvii.
Maria Fernanda Batista Bicalho é professora associada no Departa-
mento de História da Universidade Federal Fluminense (Rio de Janeiro), e
especialista em História Política do Brasil colonial e do império português
da época moderna.
María Victoria López-Cordón Cortezo é professora catedrática hono-
rária da Universidad Complutense de Madrid, e especialista em História
Político-Administrativa da Monarquia Hispânica na época moderna.
Michel Bertrand é director da Casa de Velázquez e professor catedrá-
tico da Université de Toulouse. É especialista em História Social e Político­-
-Administrativa da América hispânica, em especial da Guatemala e da Nueva
España.

12

Monárquias Ibéricas.indb 12 13/12/18 14:55


Os autores

Miguel Dantas da Cruz é investigador de pós-doutoramento no


­Instituto de Ciências Sociais (Universidade de Lisboa) e bolseiro da Fun-
dação para a Ciência e a Tecnologia. É especialista em História Política e
Institucional do império português, e das elites militares nas sociedades
coloniais.
Nuno Camarinhas é investigador de pós-doutoramento no Centro de
Investigação & Desenvolvimento sobre Direito e Sociedade (CEDIS) da
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. É especialista em História
Político-Administrativa em Portugal e no seu império nos séculos xvii e xviii.
Nuno Gonçalo Monteiro é investigador coordenador do Instituto
de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, e especialista em História
social e institucional da Época Moderna e do primeiro Liberalismo.
Pilar Ponce Leiva é professora titular do Departamento História da
América da Facultad de Historia e Geografía da Universidad Complutense
de Madrid, e especialista em História Política e História Social da América
Hispânica.
Pedro Cardim é professor associado da Universidade Nova de Lisboa,
investigador integrado do Centro de Humanidades (CHAM)/FCSH do
UNL e UAç e investigador associado do Instituto de Ciências Sociais da
Universidade de Lisboa. É especialista em cultura política e instituições ibé-
ricas na Época Moderna.
Roberta Stumpf é investigadora integrada do Centro de Humanidades
(CHAM)/FCSH da Universidade Nova de Lisboa e da Universidade dos
Açores e investigadora associada do Instituto de Ciências Sociais da Uni-
versidade de Lisboa. É especialista em História Político-Administrativa e
social na América portuguesa dos séculos xvii e xviii.
Susana Münch Miranda é docente na Faculdade de Ciências Económi-
cas e Empresariais da Universidade Católica Portuguesa. É especialista em
História Política e Institucional do império português da época moderna,
nomeadamente no estudo da fiscalidade e o governo da Fazenda.
Vítor Luís Gaspar Rodrigues é investigador auxiliar com a­ gregação da
Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras, Centro de História, e inves-
tigador associado do Centro de Humanidades (CHAM)/FCSH da UNL e
UAÇ. É especialista em História da Expansão Portuguesa e História Militar
do Estado da Índia nos séculos xvii e xviii.

13

Monárquias Ibéricas.indb 13 13/12/18 14:55


Fonte: Antonio Espino López, Atlas histórico del colonialismo
(Madrid: Síntesis, 2010).

Monárquias Ibéricas.indb 14 13/12/18 14:55


Monárquias Ibéricas.indb 15 13/12/18 14:55
Monárquias Ibéricas.indb 16 13/12/18 14:55
Ângela Barreto Xavier
Federico Palomo
Roberta Stumpf

Pensar as Monarquias Ibéricas


de forma comparada

O livro que aqui se apresenta propõe-se discutir, a partir de uma


perspetiva comparada, as monarquias imperiais ibéricas entre os
­séculos xvi e xviii. Ele resulta de um projecto de longa duração, finan-
ciado pela Casa de Velázquez e pelo Instituto de Ciências Sociais da
Universidade de Lisboa, e de um conjunto de encontros científicos,
realizados entre Lisboa e Madrid, durante os quais foram discutidas
as temáticas aqui apresentadas.
Dos debates desenvolvidos nesses encontros, tornou-se cada vez
mais evidente que, apesar de volumosa a bibliografia disponível sobre
o império espanhol e o império português e as suas arquitecturas
­político-administrativas, escasseavam os estudos que pensavam ambas
as experiências em perspectiva comparada. Diferentemente do que
acontece, aliás, com os impérios espanhol e britânico, em relação aos
quais existe uma longa tradição comparativa,1 ou das monarquias espa-
nhola e francesa.2 No que respeita à análise das ­monarquias ibéricas,

1
  Anthony Pagden, Lords of all the world. Ideologies of Empire in Spain, Britain,
France, c. 1500-c.1800 (New Haven: Yale University Press, 1995); John H. Elliott,
Empires in the Atlantic World, Britain and Spain in America, 1492-1830 (New
Haven e Londres: Yale University Press, 2006); Jorge Cañizares-Esguerra, Puri-
tan Conquistadors. Iberianizing the Atlantic, 1550-1700 (Stanford: Stanford Uni-
versity Press, 2006); Entangled Empires: The Anglo-Iberian Atlantic, 1500-1830, ed.
de Jorge Cañizares-Esguerra (Filadélfia: University of Pennsylvania Press, 2018).
2
  Jean-Frédéric Schaub, La France espagnole. Les racines hispaniques de l’abso-
lutisme français (Paris: Le Seuil, 2003); Las monarquías española y francesa siglos
xvi-xviii) ¿Dos modelos políticos? Estudios reunidos por Anne Dubet y José Javier
Ruiz Ibáñez (Madrid: Casa de Velázquez, 2010).

17

Monárquias Ibéricas.indb 17 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

o volume Comparing Empires de John Hart constitui uma excepção,


apesar de não totalmente conseguida, bem como o livro Polycentric
Monarchies, coordenado por Pedro Cardim, Tamar H ­ erzog, José
Javier Ruiz Ibáñez e Gaetano Sabatini, ou ainda o clássico (e pioneiro)
livro de Eulália Lobo, publicado em 1952, apesar de este se centrar, e
apenas, nos territórios americanos, como acontece, aliás, com alguns
outros livros com um pendor comparativo.3
Em diálogo com esta bibliografia, o livro Monarquias Ibéricas
em Perspectiva Comparada privilegia a organização territorial destas
monarquias, tanto do ponto de vista das jurisdições políticas como
religiosas, da estruturação das administrações civil (e dentro desta,
a administração «indígena»),4 militar e eclesiástica, bem como da
circulação de modelos entre as duas monarquias e no interior delas.
O enfoque privilegia a dimensão colonial destas administrações, muito
embora em permanente diálogo com as instituições metropolitanas.
Dispor de uma análise dos quadros administrativos das duas
monarquias é fundamental para o investigador que pretende estu-
dar temáticas integradas. Como António Hespanha já demonstrou,
os quadros jurídico-políticos e administrativos são variáveis críticas
para entender os horizontes de acção dos agentes concretos e suas
práticas, sem os quais se torna impossível compreender, por sua vez,
a estruturação destes mesmos quadros5.

3
  John Hart, Comparing Empires: European Colonialism from Portuguese Expan-
sion to the Spanish-American War (Houndmills, England and New York: Palgrave/
St. Martin’s Press, 2003); Polycentic Monarchies. How did Early Modern Spain and
Portugal Achieve and Maintain a Global Hegemony?, coords. Pedro Cardim, Tamar
Herzog, José Javier Ruiz Ibáñez e Gaetano Sabatini (Eastbourne: Sussex Academic
Press, 2012); Eulália Maria Lahmeyer Lobo, Administração Colonial Luso-Espanhola
nas Américas (Rio de Janeiro: Editora Companhia brasileira de Artes Gráficas, 1952).
Veja-se ainda Comprendere le monarchie iberiche, Risorse materiali e rappresentazione
del potere, ed. de Gaetano Sabatini (Roma: Edizioni Viella, 2010); Las Indias occi-
dentales: procesos de incorporación territorial a las Monarquías Ibéricas, ed. de Óscar
Mazín e José Javier Ruiz Ibáñez (México: Colegio de México, 2012); Tamar Her-
zog, Frontiers of Possession. Spain and Portugal in Europe and the Americas (Cambri-
dge, Mass.: Harvard University Press, 2015); The Iberian World, org. por Fernando
Bouza, Pedro Cardim e Antonio Feros (Londres: Routledge, no prelo).
4
  À falta de melhor palavra, e por uma questão de facilidade analítica, continua-
mos a utilizar o vocábulo «indígena», o qual reenvia, infelizmente, para uma teoria
da história eurocentrada.
5
  Entre a extensa bibliografia do autor onde esta questão é discutida, veja-se
António Manuel Hespanha, Como os Juristas Viam o Mundo. 1550-1750. Direito,

18

Monárquias Ibéricas.indb 18 13/12/18 14:55


Pensar as Monarquias Ibéricas de forma comparada

Daí que explicitar a interdependência entre dimensões mais gerais,


agentes concretos e práticas, quando pensada numa perspectiva com-
parada, cruzada e, até mesmo, conectada, permita compreender com
mais rigor as gramáticas de cada uma destas experiências imperiais,
e as suas dimensões concorrentes e divergentes, mais a mais tendo
estas vivido sessenta anos ou quase noventa anos de União Ibérica
(1580-1640/1668). Perceber em que medida é que esta se constituiu
como um momento importante para entender as dinâmicas imperiais
portuguesas e espanholas anteriores e futuras é também um deside-
rato deste volume.
Ao longo desta introdução, algumas características destas experiên-
cias administrativas serão destacadas: em primeiro lugar, aquela que
constitui a espinha dorsal do livro – a constante tensão entre tendên-
cias unitaristas e particularistas, entre os séculos xvi e xviii; depois, e
em directa articulação com esta primeira questão, a transferência, ino-
vação e circulação de modelos entre metrópoles e territórios imperiais,
no interior de cada império, e no interior da própria Península Ibérica;
segue-se uma reflexão sobre a mobilidade demográfica e a circulação de
agentes, e suas características; terminando-se com um pequeno apar-
tado sobre geografia e distância. Uma breve explicação sobre a estru-
tura do livro e a bibliografia completam estas páginas introdutórias.

Unitarismo e particularismo nas monarquias


ibéricas da época moderna
O argumento central deste livro não é, em si mesmo, inédito, e
reaparece na generalidade dos textos, bem como em vários lugares
desta introdução: o de que existe nas duas monarquias ibéricas uma
tensão, estrutural, entre unitarismo e particularismo, e a tendência,
ao longo do tempo, para o primeiro prevalecer sobre o segundo.6

Estados, Coisas, Contratos, Ações e Crimes (S.l.: Create­Space Independent Pub-


lishing Platform, 2015), maxime 43-60.
6
  No que diz respeito ao império português, o mesmo argumento foi desen-
volvido, recentemente, no livro O Governo dos Outros. Poder e Diferença no Impé-
rio Português, orgs. Ângela Barreto Xavier e Cristina Nogueira da Silva (Lisboa:
Imprensa de Ciências Sociais, 2016) e em Um Reino e Suas Repúblicas no Atlântico:
Comunicações Políticas entre Portugal, Brasil e Angola nos Séculos XVII e XVIII,
orgs. João Fragoso e Nuno Gonçalo Monteiro (Rio de Janeiro: C
­ ivilização ­Brasileira,

19

Monárquias Ibéricas.indb 19 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

A sua novidade reside, sobretudo, na observação, em paralelo, da


maneira como esta tensão se foi manifestando nos dois casos sob
análise e como ela se expressou em tempos e espaços distintos; e na
observação do modo como as experiências de monarquias vizinhas
se contaminaram mutuamente.
Privilegiando a estrutura territorial das monarquias ibéricas, o
capítulo de autoria de Pedro Cardim e António Manuel Hespanha,
com o qual se inicia o itinerário, expressa bem esta tensão: de um
modelo marcadamente particularista, característico do século xv,
caminhou-se, nos dois casos, timidamente a partir do século xvi, em
crescendo durante o século xvii, para concepções mais unitaristas
dos espaços do império, cuja expressão se tornou muito visível no
século xviii.
O período inicial, que podíamos balizar, tentativamente, entre
meados do século xv e meados do século xvi, comum às duas monar-
quias, em que uma cultura política particularista prevaleceu, corres-
pondeu, também, à construção de «espaços imperiais». Durante este
período verificou-se, no contexto peninsular, um processo de «con-
quista» e agregação, com o recurso aos modelos jurídico-políticos de
agregação disponíveis, intra territorium (a união de Castela e Aragão,
e as conquistas de Granada, em 1492, e Navarra, em 1512) e extra
territorium (territórios em África, nas «Américas», na Ásia – quer de
Portugal, quer de Castela; mas também na Europa – da Monarquia
Hispânica). Para o caso da expansão extra territorium, esta foi acom-
panhada por um conjunto de dispositivos legitimadores – as bulas
papais, elas próprias testemunho desta cultura política parti­cularista
– aí se destacando a Romanus Pontifex e Inter Caetera atribuídas
ao rei de Portugal e à Ordem de Cristo, em 1455 e 1456, e a Piis
­Fidelium e Inter Caetera, de 1493, atribuídas à coroa de Castela. Mas,
e ironicamente, a delegação de poderes inicial significou um reforço
do poder dos reis ibéricos, contribuindo, na longa duração, para

2017). Para o caso espanhol, a questão (unitarismo/particularismo) é tratada de


forma impícita no dossier «Vencer la distancia: Actores y prácticas del gobierno
de los imperios español y portugués», orgs. Guillaume Gaudin, ­Antonio Castillo
Gómez, Margarita Gómez Gómez e Roberta Stumpf, Nuevo Mundo ­Mundos Nue-
vos [En ligne], Débats, mis en ligne le 02 octobre 2017, URL: http://journals.ope-
nedition.org/nuevomundo/71453; e ainda em Guillaume Gaudin, El imperio de
papel de Juan Díez de la Calle. Pensar y gobernar el Nuevo Mundo en el siglo xvii
(Madrid-México: Fondo de Cultura Económica, 2017).

20

Monárquias Ibéricas.indb 20 13/12/18 14:55


Pensar as Monarquias Ibéricas de forma comparada

a centralização (tendencialmente homogeneizadora) desse poder,


ou até mesmo, como defende Ignasi Fernández Terricabras para o
caso espanhol, para o estabelecimento de uma «Iglesia de Estado en
los territorios ultramarinos» (p. 121). A par das bulas papais, desta-
cam-se ainda, neste período inicial, os tratados, com saliência para
o de ­Tordesillhas, de 1494, mas também os acordos variados com
potestades africanas e asiáticas.
O capítulo 1 mostra-nos como este processo foi acompanhado
por alterações institucionais quer nos reinos quer, necessariamente,
nos territórios ultramarinos. No caso espanhol, começar-se-ia a veri-
ficar, por exemplo, a aplicação de determinadas leis de Castela, for-
mas de governo e instituições a outros reinos peninsulares – como
em Granada. A transferência de instituições reinícolas para os espa-
ços ultramarinos, por seu turno, caracteriza as duas experiências.
Por exemplo, a cronologia de construção de centros políticos ultra-
marinos e correspondente expansão dos bispados tem um grande
impulso, nas duas coroas, na década de 1530, durante os reinados
de Carlos V e João III. Esta cronologia aproxima espacialidades
inesperadas, como os territórios de Goa, do México e do Peru (pese
embora a diferença de escala territorial), diferenciando-os do B ­ rasil,
onde os mesmos processos de implantação política e religiosa foram
ligeiramente mais tardios. Se o primeiro Tribunal da Relação foi
criado em Goa em 1554, o da Baía foi apenas em 1621, embora já na
década de 1540 tivesse chegado ao Brasil o primeiro ouvidor­-geral,
acompanhado do primeiro governador-geral. É igualmente simultâ-
nea às duas monarquias alguma inovação institucional que procura
dar resposta à multiplicidade de demandas políticas, e o estabeleci-
mento da Casa da Índia e Mina, de 1500, e da Casa da Contratación,
de 1503, o «vicariato régio», ou as Repúblicas de Índios, são disso
bons exemplos.
Apesar de se poderem identificar muitos paralelismos entre os
reinos de Castela e de Portugal, também se verificam muitas dife-
renças. Desde logo, do ponto de vista geográfico: a expansão caste-
lhana apresenta uma dimensão essencialmente europeia e atlântica,
enquanto à expansão portuguesa acresce, neste período, a forte
dimensão asiática e africana. Depois, na própria cronologia, já que a
expansão extra territorium se inicia mais cedo em Portugal do que em
Castela, como atestam as bulas pontifícias de meados do século xv
(talvez por isso, a primeira arquidiocese peninsular extra territorium

21

Monárquias Ibéricas.indb 21 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

seja a do Funchal, de 1514). E, por fim, no estilo: a expansão cas-


telhana faz-se, sobretudo, por processos de «conquista territorial»,
enquanto na portuguesa, e para além da «conquista» de entrepostos
e pequenos territórios, se destaca o carácter fortemente «negocial»,
e, cedo, «informal», aí sobressaindo as parcerias «privadas» (que tam-
bém existem, note-se, no império espanhol). E enquanto no caso
português parecem coexistir dois modelos – um de ocupação bélica
e militar, com base no controlo de entrepostos comerciais costei-
ros e praças fortificadas, no qual a negociação é, também, uma forte
componente, e o de ocupação territorial e agrícola (mais atlântico);
no caso espanhol, ultramarino, estes dois modelos parecem fundir-se
num só com variadas declinações: conquista e ocupação territorial
e agrícola.
Um segundo período, de consolidação da implantação terri-
torial cobre, por assim dizer, os meados do século xvi e finais do
século xvii, dele fazendo parte a União Ibérica (1580-1640). Durante
este período, a pressão para o unitarismo começa a manifestar-se de
forma mais clara: a expansão das formas de governo castelhanas e do
direito régio castelhano para os demais territórios ibéricos parece
fazer-se de um modo mais programático; e o controlo das coroas
ibéricas sobre as estruturas eclesiásticas, através das dioceses, paró-
quias e clero secular, é cada vez mais intenso.
A «conquista» e agregação da monarquia portuguesa, em 1580,
potenciou, esta pulsão. Todavia, e pelo menos nos primeiros dois
reinados, o princípio aeque principaliter conduziu a agregação,
respeitando­-se as demarcações políticas e o particularismo institu-
cional da monarquia portuguesa e seus espaços ultramarinos, apesar
de, desde o início, haver violações deste mesmo princípio (nomeada-
mente nos territórios de fronteira).
As tendências unitaristas convergiram, por assim dizer, no Gran
Memorial de 1624, e o seu propósito geral de «reduzir os reinos ao
modo de Castela», reconfigurando as formas de união (não apenas
peninsular), no plano militar e no terreno ­fiscal, pro­curando aca-
bar com particularismos reinícolas e especificidades jurisdicionais
(expresso, por exemplo, no controlo cada vez mais intenso dos agen-
tes religiosos). E convergiram, por fim, nos movimentos de 1640, em
Portugal e na Catalunha, bem como num outro conjunto de reacções
que se verificaram tanto nos espaços peninsulares como nos ultra-
marinos, dando conta da permanência de um modus operandi e de

22

Monárquias Ibéricas.indb 22 13/12/18 14:55


Pensar as Monarquias Ibéricas de forma comparada

uma imaginação política que continuavam a ser, na maior parte das


instituições e seus agentes, particularistas (caso dos municípios por-
tugueses, cuja autonomia era cada vez maior, custeando, inclusive, a
sua própria defesa, a partir de 1640). Ao mesmo tempo, a guerra que
opôs Portugal a Espanha entre 1640 e 1668 desempenhou um papel
importante nas articulações entre o reino português e os seus territó-
rios americanos, africanos e asiáticos, cujos laços com a metrópole se
foram estreitando, até mesmo pelo aumento considerável dos fluxos
demográficos entre Portugal e as partes ultramarinas, em particular
o Brasil, como foi sublinhado por Maria Fernanda Bicalho e Nuno
Gonçalo Monteiro (ao contrário do que ocorreu com a migração de
peninsulares para a América hispânica que começou a declinar já nas
três primeiras décadas do Seiscentos, como mostrou María Victoria
López-Cordón Cortezo).
Respondendo à questão que colocámos nas páginas iniciais, pode-
-se afirmar com alguma segurança que o impacto da União I­ bérica se
terá feito sentir mais sobre a monarquia portuguesa do que sobre a
monarquia espanhola, desde logo porque a União foi acompanhada
por aquilo que se designou a «viragem estrutural» da Ásia para o
Atlântico, no contexto das opções geopolíticas da monarquia portu-
guesa, dando início ao processo de atlantização do império português
que seria irreversível até à independência do Brasil. Foi durante este
período que se verificou uma reconfiguração espacial­-institucional da
América portuguesa, a criação de novas instituições e circunscrições
administrativas, o adensamento da rede de oficiais régios, e maior
controlo do território que terá caracterizado, no geral, o domínio dos
Habsburgo.7
As maiores rupturas, todavia, processam-se num terceiro período
que cobre, sensivelmente, o século xviii, as quais ocorreram aparen-
temente de forma mais intensa na monarquia espanhola do que na
portuguesa, logo no início do século xviii, com a introdução da Nova
Planta, em 1707, no quadro da Guerra de Sucessão, que significou a

  António Manuel Hespanha, «O governo dos Áustria e a ‘modernização’ da


7

constituição política portuguesa», Penélope. Fazer e Desfazer História, n.º 2, Feve-


reiro, 1989; Jean-Frédéric Schaub, Portugal na Monarquia Hispânica (­Lisboa: Livros
Horizonte, 2001); Pedro Cardim e Susana M. Miranda, «A expansão da Coroa
portuguesa e o estatuto político dos territórios». Em O Brasil ­Colonial. 1580-
-1720, 2.º volume, orgs. João Fragoso e Maria de Fátima Gouvêa (Rio de Janeiro:
­Civilização Brasileira, 2014), 51-106.

23

Monárquias Ibéricas.indb 23 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

subordinação dos reinos da Coroa de Aragão às leis e instituições de


Castela, e sobretudo, com as reformas que pontuaram os reinados de
Filipe V e Carlos III.
No caso português, a pressão para o unitarismo e para o ­controlo
dos particularismos teve muitas expressões, algumas das quais da­
tadas da primeira metade do século xviii, com a criação das ­Secretarias
de Estado em 1736, marco de um processo político que culminou
na maior centralização política atribuída ao reinado de D. José.
A criação de capitanias e ouvidorias nas novas regiões americanas,
colonizadas após as descobertas auríferas, e a criação do Tribunal
da Relação do Rio de Janeiro, em 1751, parecem evidenciar a repro-
dução de velhos modelos, com novas formas de governação, com o
centro a tentar gerir e controlar melhor as suas partes ultramarinas.
Elas ganharam cada vez mais destaque, por exemplo, com a incor-
poração na administração régia das últimas capitanias donatarias e
com a já referida criação do Erário Régio, em 1761. A transferência
da capital do vice-reinado do Brasil para o Rio de Janeiro, em 1763,
expressa o dinamismo desta região, de onde se escoava o ouro para
Lisboa, assim como as preocupações militares, sobretudo de defesa,
que assolaram a monarquia lusa. Com os conflitos com a monarquia
vizinha a ­acentuarem-se na América, em particular na parte meridio-
nal, tratava-se também de reorganizar as forças militares. D
­ uplica-se
o número de militares pagos na América, opta-se por um treina-
mento eficaz, mas a necessidade crescente de defender fronteiras
de larga distância acaba por levar a soluções locais e de certa forma
improvisadas.
No caso da monarquia castelhana, a pressão para o unitarismo
evidencia-se, como se referiu, no processo de reformas levadas a
cabo após a Guerra de Sucessão, apontando para um paulatino forta-
lecimento da autoridade régia e para a busca de uma administração,
digamos assim, mais «eficaz». A diferença em relação à monarquia
portuguesa, para além da cronologia que as pontua, é a intensidade
com que ocorrem as transformações. Não há dúvida de que as refor-
mas bourbónicas evidenciaram um unitarismo mais pronunciado,
seja na A­ mérica ou na Península, expressando um desejo de recon-
figuração das jurisdições administrativas, com a criação de novos
vice-reinados na América e de novas instituições que reordenaram
as jurisdições das autoridades até então existentes. Através delas,
as autoridades p ­ eninsulares encararam cada vez mais as províncias

24

Monárquias Ibéricas.indb 24 13/12/18 14:55


Pensar as Monarquias Ibéricas de forma comparada

e os «reinos» americanos como «colónias», sendo assim denomina-


dos, como assinala López-Cordón (p. 169). É verdade que em alguns
âmbitos, como na administração da Fazenda, pretendeu-se reconfi-
gurar o perfil dos agentes que serviam a Coroa, uma outra maneira de
se buscar uma maior eficácia da administração dos territórios ultra-
marinos. No plano militar – e como nos mostram Antonio J­ iménez
e Francisco Andújar –, as reformas iniciaram-se nos princípios do
século xviii, em pleno contexto da Guerra Sucessória. Foi com
Filipe V que o exército peninsular foi reorganizado, com estruturas
diferenciadas (cavalaria, infantaria…) e com uma nova hierarquia de
patentes que reflectia, em grande parte, a da sociedade estamental,
com a alta nobreza a ocupar os postos mais elevados. Acentuou-se
o controle das tropas e, em consonância com a maior centralização
régia, o monarca passou a ter exclusividade na nomeação de todos
os militares. Diferentemente do que afirmam muitos historiadores,
estes autores contestam a ideia de que a reforma militar foi impulsio-
nada na segunda metade de Setecentos. Carlos III teria promovido
o surgimento de academias e escolas, visando uma formação mais
«profissionalizada», mas a verdadeira mudança teria ocorrido com a
militarização do território americano, forçado em grande parte pelas
circunstâncias de grande conflitualidade externa e interna. Apesar
disso, e quando comparados os territórios ultramarinos e peninsula-
res, se algumas soluções apontam para o unitarismo, a verdade é que
a reforma militar foi tardia na América, um espaço que só ganhou
reforços peninsulares quando se tornou urgente agir neste sentido.
Nas relações entre poder político e religioso, o regalismo
bourbónico, traduz-se na Concordata de 1753, entre o Papado e
­Fernando VI, concedendo-lhe, e aos seus sucessores, o padroado
universal nos reinos europeus, «imitando», por assim dizer, o que
já acontecia nos direitos de padroado granadinos e americanos.
­Similarmente, pela bula In Suprema Apostolatus Solio, Bento XIV
concederia a João V de Portugal o direito de apresentação de todos
os bispados da metrópole, para além dos ultramarinos (que adqui-
rira no século xvi). Isto é, as novidades institucionais permiti-
das pela expansão ultramarina e que favoreciam o poder da coroa
tinham agora um retorno peninsular, reforçando o seu poder inter-
namente, também.
De qualquer forma, vale a pena considerar o facto de que as refor-
mas setecentistas, tal como propostas em cada uma das m ­ onarquias

25

Monárquias Ibéricas.indb 25 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

ibéricas, expressaram, para além dos interesses vigentes, outras dinâ-


micas políticas e sociais. Ou seja, o maior rigor na implantação do
unitarismo também contribuiu ironicamente para uma maior plu-
ralidade, administrativa ou jurisdicional, bem como uma distinção
mais acentuada entre os naturais da América e da Península, como
foi muito visível na Monarquia Hispânica, mas que também teve
expressões na monarquia portuguesa.

Transferência, inovação e circulação de modelos


administrativos
A tensão entre unitarismo e particularismo também pode ser
identificada nas modalidades de transferência, inovação e circulação
de modelos administrativos das metrópoles para os territórios ultra-
marinos, bem como entre as duas monarquias ibéricas. Quais foram
os modelos dominantes no momento de construir política e admi-
nistrativamente os territórios imperiais? É possível identificar uma
matriz ibérica comum, ou há diferenças assinaláveis nas soluções
adoptadas no contexto da monarquia espanhola e da monarquia por-
tuguesa? E em que medida é que os modelos ibéricos preexistentes,
ao serem transferidos e adaptados a diferentes contextos políticos,
sociais e culturais, potenciaram soluções político-administrativas
distintas das que operavam nas metrópoles?
No capítulo 1 mostra-se como a história peninsular de conquista
e alargamento territorial constituiu, de facto, o primeiro enquadra-
mento político-jurisdicional das experiências ultramarinas. Desde
logo, e como já foi referido, cada alargamento territorial suscitava
questões relativas ao tipo de união que dele resultaria, se uma união
do tipo aeque principaliter, que tinha como base a igualdade entre ter-
ritórios e sociedades, ou uma relação político-jurisdicional mais hie-
rárquica. Ora, se a diferenciação interna de várias entidades políticas
que se designavam como reinos, e, posteriormente, em alguns casos,
como coroas (caso da união entre Castela e Aragão), ao longo do
século xv, potenciou a futura transferência destas instituições penin-
sulares para outros territórios (o reino de Granada, por exemplo), ela
foi acompanhada pelo gizar de soluções novas, caso da c­ olonização
efectiva de territórios desabitados por parte do reino de Portugal,
como os arquipélagos da Madeira, dos Açores e de Cabo Verde, ou de

26

Monárquias Ibéricas.indb 26 13/12/18 14:55


Pensar as Monarquias Ibéricas de forma comparada

soluções pautadas pela hierarquia e pela desigualdade, estabelecidas


pelos mesmos reis portugueses nos seus territórios africanos. A par
disso, os portugueses estabeleceriam fortalezas e feitorias nos seus
territórios africanos, atlânticos e asiáticos, posteriormente enqua-
dradas por essas estruturas mais abrangentes. Efectivamente, muitos
dos espaços extra territorium viriam posteriormente a ser aglome-
rados e designados como Estado da Índia, Governo do ­Brasil (no
caso português) ou Virreinato de Nueva España, Virreinato del Perú,
etc. (no caso espanhol). Em todos eles, estabeleceu-se uma malha
administrativa e militar, bem como uma malha eclesiástica secular e
regular, marcada pelas instituições tipicamente existentes nos reinos
peninsulares: governos, capitanias-gerais, cidades, conselhos, tribu-
nais e audiências, dioceses, paróquias, etc.
Apesar de os modelos de dominação e de ocupação dos territó-
rios imperiais portugueses não serem idênticos em todas as partes
do império, Maria Fernanda Bicalho e Nuno Gonçalo Monteiro
mostram como é que a arquitectura institucional introduzida na
América portuguesa, e de certa forma também na Índia, reprodu-
zia em grande medida aquela que existia no reino, ainda que neste
não existissem os poderes a nível regional que se criaram no solo
americano (caso dos governos das capitanias). Todavia, e talvez as
câmaras municipais sejam a maior evidência disso, se a normativa era
a mesma, o modus operandi podia variar de território para território.
O mesmo se observa em relação aos cargos. Muitas vezes as tipolo-
gias repetiam-se, mas as atribuições eram diferentes. Por exemplo,
«na Índia, a distância e as dificuldades na comunicação entre Lisboa
e as conquistas na Ásia devia ser resolvida mediante a delegação de
atribuições a um oficial (o vice-rei) dotado de uma dignidade quase
real» (p. 230). Estabelecido no Estado da Índia em 1505, o oficial
homónimo da América portuguesa, o governador-geral (aí somente
a partir de 1720 o título de vice-rei se tornaria uma rotina) teve pode-
res bem mais limitados.
Nas Índias de Castela, diferentemente do que acontecia na
­América portuguesa, mas mais próximo do que se passava no Estado
da Índia, os vice-reis eram alter egos dos monarcas, o que, na expres-
são de López-Cordón, «respondía perfectamente al paradigma de la
monarquía de los reinos» (p. 194). O título fora concedido em 1493
a ­Cristovão Colombo, conseguindo o seu filho, em 1511, o reco-
nhecimento deste e de outros títulos. Todavia, o primeiro v­ ice-rei

27

Monárquias Ibéricas.indb 27 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

a ­exercer as atribuições do ofício (definidas de forma mais claras


em 1568) seria Antonio de Mendoza, nomeado para o Virreinato de
Nueva España em 1534. Embora as suas competências fossem mui-
tas e de extrema relevância, como a de afirmar em terras distantes
a presença real, e ter sob seu controlo outras autoridades como os
governadores, nos vice-reinados da América, os vice-reis ultrama-
rinos tinham uma autoridade essencialmente governativa, diferente
da que praticavam no reino aragonês, onde exerciam sobretudo uma
autoridade de justiça. Em matéria de fazenda, a mesma autora afirma
que tinham competências limitadas, pois, como aprofunda Michel
Bertrand no capítulo 8, se podiam reivindicar o direito régio de
escrutinar os oficiais das Cajas régias, este nunca se tornou efectivo
dirigindo-se estes directamente ao monarca.
Ou seja, ainda que os modelos peninsulares fossem dominantes,
a diversidade dos contextos locais induzia a apropriações plurais dos
mesmos, como fica claro no capítulo dedicado à administração finan-
ceira no império português, da autoria de Susana Münch Miranda e
Roberta Stumpf. No Estado da Índia, o estabelecimento e a adapta-
ção de tribunais e instituições superiores congéneres aos existentes
em Portugal reflectia a necessidade de vencer as longas distâncias, o
mesmo acontecendo com a autonomia na gestão dos recursos finan-
ceiros e no controlo das contas dos almoxarifes e tesoureiros que
se atribui a este território de estatuto jurídico superior aos demais.
Já a América portuguesa apresentaria um quadro institucional e uma
dinâmica diferente, mais dependente do controlo e das resoluções
provenientes de Lisboa, sendo que as contas americanas deviam ter-
minar por ser fiscalizadas na Casa dos Contos lisboeta. A diversi-
dade entre as partes do império português, no entanto, viria a ser
repensada com as reformas da segunda metade do século xviii, de
cunho centralizador, sobretudo com a criação do Erário Régio em
1761 e das suas contadorias, as quais incluiriam, doravante, e tam-
bém, a fiscalização das contas dos territórios asiáticos. Quer isto
dizer que foram estes os territórios que sentiram com maior inten-
sidade as transformações administrativas que visavam uma maior
uniformidade.
A adaptação inovadora de modelos teve, no contexto portu-
guês, maior expressão no campo militar, em parte resultantes de
­sincretismos com as culturas militares locais. Vítor Rodrigues e
Miguel Dantas Cruz lembram, por exemplo, que no Estado da Índia

28

Monárquias Ibéricas.indb 28 13/12/18 14:55


Pensar as Monarquias Ibéricas de forma comparada

os portugueses só conseguiram superar as marinhas asiáticas, nas pri-


meiras décadas do século xvi, porque tinham apurado um modelo de
organização naval, ao longo do século xv, no Estreito e no Atlântico
ao longo da costa africana. Ora, muitas das práticas então adoptadas
eram de raiz muçulmana, vindo a servir as necessidades lusas quando
se tornou necessário defender os territórios do Índico. No Atlântico
Sul, ou seja, no Brasil e na África Ocidental, apesar da circulação
de militares europeus, também se observou um sincretismo entre
os saberes marciais europeus e locais, revelando uma maior permea-
bilidade aos conhecimentos «indígenas» nem sempre visíveis nou-
tras esferas de actuação. Todavia, se tais adaptações podem sugerir
um predomínio dos particularismos, em muitos casos prevaleceram
estratégias e/ou soluções comuns.
Em contrapartida, Antonio Jiménez Estrella e Francisco Andújar
Castillo mostram como o desenvolvimento de modelos de exército e
de mobilização militar no império hispânico apresentou características
muito distintas. Nas Índias de Castela, na primeira fase da conquista,
ou mesmo ao longo de todo o século xvi, «no llegó a establecerse una
estructura militar estatal sólida, de tropa profesional, similar a la des-
plegada en otros territorios del imperio hispânico» (p. 400). T ­ ambém
no século xvii, os esforços da Monarquia Hispânica, no sentido de
aumentar os efectivos militares na Europa, reduziu a política defensiva
na América, em grande parte, às forças navais. Em Setecentos, com
a mudança dinástica, às milícias locais somar-se-iam novas unidades
fixas. Ainda assim, as reformas militares introduzidas na Europa, por
razões variadas, só chegaram à América muito tempo depois.
Mas seria no âmbito das jurisdições religiosas que a inovação se
revelaria mais necessária. Desde logo, ela torna-se evidente no papel
atribuído às ordens religiosas nos territórios imperiais das duas
monarquias, nomeadamente nos primeiros tempos da colonização.
A esse periodo inicial refere-se Ana de Zaballa quando identifica
uma igreja missionária na qual os religiosos contaram com «una
jurisdicción cuasi episcopal» (p. 485). Os religiosos foram, desse
modo, uma peça fundamental para a própria articulação institucional
do campo eclesiástico, desempenhando muitas vezes funções epis-
copais, mas, sobretudo, assumindo o officium parrochi, face a um
clero secular insuficiente em número de efectivos. Apesar de a malha
­institucional eclesiástica (dioceses, cabidos, vicariatos, paróquias,
visitas, etc.) se ter replicado nos contextos de ambos os impérios, os

29

Monárquias Ibéricas.indb 29 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

r­ egulares ­continuaram a ter uma posição de relevo até às reformas do


século  xviii. As transformações que a recepção de Trento propiciou
nos contextos coloniais ibéricos – como o reforço da autoridade
episcopal – incidiram, muitas delas, sobre este aspecto em parti­cular,
mas com resultados limitados. Os religiosos conservaram muitas
vezes os privilégios extraordinários que os isentavam da jurisdição e
do controlo episcopal, para além de poderem acumular, como acon-
teceu nos territórios de Goa, o governo das estruturas paroquiais, o
qual só começou verdadeiramente a alterar-se após a expulsão dos
jesuítas. A forte presença de religiosos esteve na origem de inúme-
ras disputas com os prelados diocesanos, tendo consequências na
própria formação de um clero local. Como aponta Evergton Sales
Souza, em Goa, as ordens e as congregações religiosas (à excepção
dos oratorianos, de origem indiana) não só se recusaram a receber
indianos entre os seus membros, como contestaram as tentativas de
entregar paróquias a clérigos nativos (p. 529).
Se esta dimensão «missionária» e regular das igrejas coloniais foi
comum às duas experiências ibéricas, algumas das diferenças que
se podem identificar entre elas – nomeadamente a malha diocesana
mais densa dos territórios ultramarinos espanhóis quando compa-
rados com os territórios ultramarinos portugueses – traduzem uma
experiência jurisdicional peninsular distinta, ditando, neste caso,
operacionalizações diferentes nas conquistas espanholas e portugue-
sas, como se pode perceber a partir dos textos de Ignasi F ­ ernández
Terricabras e de Ângela Barreto Xavier e Fernanda Olival, mas
­
também através dos capítulos de Ana de Zaballa Beascoechea e de
­Evergton Sales Souza.
Note-se que as transferências estiveram longe de se esgotar na
relação entre reinos peninsulares e territórios ultramarinos. Para além
destas – as mais comuns –, é de assinalar a circulação de modelos no
mundo peninsular, bem como no interior de cada império. Do ponto
de vista da cultura jurídico-política, a circulação interna ao mundo
peninsular foi assinalada por Pedro Cardim e António Manuel Hes-
panha, os quais sublinham o papel impactante que as experiências
castelhanas tiveram sobre os demais reinos da Península.
Na segunda metade do século xv, e no que respeita ao enqua-
dramento do Papado das experiências ultramarinas dos ibéricos,
o impacto teve, inicialmente, um sentido inverso: seriam as bulas
portuguesas de meados do século xv a inspirar as bulas de finais de

30

Monárquias Ibéricas.indb 30 13/12/18 14:55


Pensar as Monarquias Ibéricas de forma comparada

­ uatrocentos atribuídas aos Reis Católicos, alargando-se nestas,


Q
porém, a concessão de direitos de padroado. Essa mudança viria a
alterar, como assinalou Ignasi Fernández Terricabras, a própria
concepção do Padroado, a qual viria a marcar, por sua vez, as futu-
ras solicitações ao Papado por parte dos próprios reis de Portugal.
Como notam Ângela Barreto Xavier e Fernanda Olival, ao longo do
século  xvi, e convergindo na incorporação das Ordens militares na
coroa de Portugal, em 1551, verificar-se-ia uma gradual e consistente
aproximação do modelo de Padroado português ao modelo espanhol.
Também as soluções desenvolvidas num dado território podiam
ser trasladadas para um outro, e, por vezes, terem ressonância na pró-
pria metrópole. É o caso, por exemplo, do modelo feitoria-fortaleza,
primeiro experimentado em territórios africanos e depois transfe-
rido para a Ásia; ou das Repúblicas de Índios estudadas por Ana
Díaz Serrano neste mesmo volume, que foram experimentadas em
vários espaços da América espanhola. Também a institucionalização
da missão em contextos como Goa, o Brasil, a América espanhola,
ou Filipinas, passou pela circulação de modelos de organização
semelhantes que se declinaram diferentemente em cada território.
Por exemplo, a fórmula que, através das aldeias, os jesuítas ensaia-
ram na América portuguesa a partir década de 1550 (e, de forma dis-
tinta, na Ásia, durante o mesmo período), organizando populações
«indígenas» em estruturas aldeãs tuteladas pelos missionários, tive-
ram múltiplas expressões – com importantes matizes – nas zonas
de fronteira da América hispânica, como foi o caso das reduções do
Paraguai, Mojos e Chiquitos, das missões de Mainas, na A ­ mazónia,
ou das estabelecidas na Alta Califórnia. Todas elas, como aponta
o texto de Aliocha Maldavsky e Federico Palomo, assentam sobre
um referente paroquial que também tem expressão em outros espa-
ços de ambos os impérios, quer seja sob a forma de doutrinas de
índios, congregações e reduções (no Peru e na Nova Espanha), quer
sob a forma de paróquias (na Índia portuguesa). Algumas destas
transferências entre os contextos imperiais hispânicos e portugue-
ses ocorreram no contexto da conjuntura de 1580-1640, durante a
qual a união de ambas as coroas proporcionou uma intensificação da
circulação de experiências. «O impulso legislativo e ‘modernizador’
dos ­Áustrias estendeu-se a múltiplos terrenos» (p. 215), resultando,
por exemplo, na criação de novas instituições e circunscrições
administrativas.

31

Monárquias Ibéricas.indb 31 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

A perspectiva top down adoptada até agora precisa, necessaria-


mente, de ser complementada por uma perspectiva bottom up, que
privilegie as características político-administrativas e socioculturais
dos territórios imperiais das monarquias ibéricas. Como se verá,
algumas das características identificadas anteriormente reaparecem
quando o enfoque privilegia os mundos «indígenas», e o modo como
estes foram apropriados no contexto das dominações ibéricas, ao
mesmo tempo que apropriaram, na medida do possível, as novas for-
mas de dominação.
A permeabilidade das duas monarquias aos modelos preexis-
tentes nos territórios conquistados ou dominados, a interacção e
até mesmo a interdependência foram muito evidentes nos territó-
rios americanos da monarquia espanhola, e asiáticos e africanos da
monarquia portuguesa, muito embora se tenha verificado também
no caso singular do espaço brasileiro, onde, todavia, não se pode
falar em «reconhecimento sem reservas das formas de organização
preexistentes» (p. 212).
No que respeita ao caso espanhol, Ana Díaz Serrano, que privi-
legiou os territórios americanos, argumenta que após um primeiro
momento de contacto que requeria, obrigatoriamente, uma «con-
ciliación de interesses» (p. 239), num segundo momento verificar-
-se-ia um estranhamento em relação às ordens «indígenas», e a sua
reconstrução em função da normalização do domínio espanhol.
Ou seja, a pulsão para a unitarização contrapunha-se a um período
inicial mais particularista. É nessa nova conjuntura – a da pulsão para
a unitarização – que deve ser entendido o estabelecimento das Repú-
blicas de Índios, instituição que teve a sua expressão mais acabada
na Nova Espanha, cuja experiência seria matricial para as demais
colónias americanas da Monarquia Hispânica. Díaz Serrano mos-
tra que apesar de expressarem a imposição do modelo espanhol, e
de haver interpretações historiográficas divergentes em relação ao
impacto que as ­Repúblicas de Índios tiveram na conservação ou no
desmantelamento das instituições indígenas, é consensual reconhe-
cer a sobrevivência destas, à margem de, ou com a conivência dos
próprios espanhóis.
O reconhecimento da capacidade de autogoverno dos índios,
a integração das suas chefias nas Repúblicas, a sua diferenciação
em relação aos espanhóis através do recurso ao termo «cacique»,
de o­ rigem antilhana, bem como o desenvolvimento de formas de

32

Monárquias Ibéricas.indb 32 13/12/18 14:55


Pensar as Monarquias Ibéricas de forma comparada

governo muito distintas no contexto do cabildo, são o exemplo mais


acabado da relação entre «espanhóis» e «indígenas». Este modelo
reaparece, de alguma maneira, em estruturas missionárias que, como
as reduções guaranis ou as missões de Mojos e Chiquitos, se organi-
zaram sob um referente urbano/paroquial de origem hispânica, mas
no qual o papel das antigas chefias e das «nobrezas» indígenas foi
essencial, quer no governo das comunidades (diversas) que confor-
mavam estes espaços missionários, quer nas estruturas confraternais
que articulavam uma parte importante da vida religiosa nas missões.
No caso de Goa, por exemplo, as fábricas das igrejas recuperaram,
em boa medida, as mazanias, instituições que, antes da conversão
ao cristianismo dos habitantes daqueles territórios, se ocupavam da
administração da vida dos templos.
A par disso, sob o cabildo – a principal instituição das Repúblicas
dos Índios, réplica dos ayuntamentos e das vereações peninsulares –,
desenvolver-se-iam formas de governo diferentes, em parte resul-
tantes das culturas político-administrativas pré-hispânicas muito
distintas, mas também por causa da forma como os locais se iam
apropriando, ao longo do tempo, dos modelos castelhanos (valori-
zando mais o ofício de alcaide do que o de regedor, por exemplo).
Às diferenças cronológicas acrescentam-se diferenças geográficas,
aglomeradas sob as mesmas estruturas e os mesmos ofícios (repú-
blicas, cabildos, regedores, alcaides, etc.), e acentuando as práticas
particularistas que se opunham às tendências centralizadoras.
No geral, é de natureza institucional distinta a relação entre
poderes portugueses e instituições «indígenas», como mostra bem o
estudo de Catarina Madeira-Santos, seminal no âmbito dos estudos
sobre a monarquia portuguesa, no contexto da qual as instituições
«indígenas» e a participação das suas elites não têm o mesmo fôlego
historiográfico que a literatura existente sobre o caso espanhol.
No caso português, não há traços de enquadramentos análogos ao
das ­Repúblicas de Índios, apesar de, na segunda metade do século
xviii, a implementação do Directório dos Índios, no contexto do
consulado do ­marquês de Pombal, implicar o estabelecimento de
municípios de índios. A ausência de instituições similares não sig-
nificou, porém, a inexistência de incorporação (e frequentemente
de interdependência) das estruturas político-administrativas «indí-
genas» e das suas elites nos quadros administrativos da monarquia
portuguesa.

33

Monárquias Ibéricas.indb 33 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Ao invés, e por vezes com uma expressão mais acentuada do que


aquela que foi identificada por Ana Díaz Serrano para o caso espa-
nhol, o particularismo terá sido estruturante, até ao século xviii, da
maior parte dessas relações, certamente relacionado não apenas com
a cultura política de matriz jurisdicionalista dominante, mas também
com a própria logística imperial – as enormes distâncias que se veri-
ficavam, nomeadamente, entre o reino e os domínios ultramarinos,
e a enorme dispersão de territórios e situações socioculturais com as
quais interagir.
Os territórios asiáticos são, nessa perspectiva, exemplares. Para
além da influência das culturas militares islâmicas nas práticas militares
dos portugueses, atrás referidas, aí verificar-se-ia, sobretudo, o reco-
nhecimento das culturas político-administrativas pré­-portuguesas, e o
recurso a instituições «indígenas» para governar territórios e socieda-
des (gancarias e gãocares, tanadarias e tanadares, prazos, iqtas, etc.).
­Catarina Madeira-Santos destaca, nomeadamente, a etnografia admi-
nistrativa levada a cabo pelos agentes imperiais portugueses com o
­objectivo claro de inserir instituições, ofícios e agentes «indígenas»
naquilo que a mesma autora designa como conectores institucio-
nais, isto é, instituições que, como a Casa da Índia ou, mais tarde, o
­Conselho ­Ultramarino, articulavam a diversidade de soluções político­-
-administrativas (conectores­-catalisadores ou partilhados, e conectores
indirectos ou informais (p. 277). No caso do Brasil, e até ao ­Directório
dos Índios, destacavam-se os já referidos aldeamentos, tutelados por
missionários, onde, apesar de estabelecidos e tutelados por autorida-
des imperiais, as elites índias desempenharam um papel fundamental.
­Todavia, e à semelhança das Repúblicas de Índios, as chefias índias
seriam profundamente reconfiguradas pela própria relação colonial.
Já o caso de Angola é expressivo, mas significativamente diferente.
Como frisaram Maria Fernanda Bicalho e Nuno Gonçalo Monteiro,
verificou-se o «reconhecimento de uma entidade política preexistente
no território, já que a conquista e cristianização do reino do Ndongo
se deu […], por meio da instituição de um pacto de vassalagem entre o
rei de P
­ ortugal e a dinastia local» (p. 229). Todavia, Catarina Madeira­-
-Santos mostra como as relações de vassalagem estabelecidas com os
sobas, as chefias locais, eram permeadas pelo recurso à língua e ao voca-
bulário local, experiência que permitiria a «aprendizagem reciproca de
culturas políticas», moldando quer as chefias africanas quer a adminis-
tração colonial (p. 294).

34

Monárquias Ibéricas.indb 34 13/12/18 14:55


Pensar as Monarquias Ibéricas de forma comparada

Esta «aprendizagem recíproca» é transversal, pois, às duas expe-


riências ibéricas, ainda que com características e soluções distintas.
Mas em ambas é incontornável o papel das culturas políticas, das
estruturas político-administrativas preexistentes, mais, ou menos
sofisticadas, que permitiam paralelismos maiores ou menores, mais
ou menos equívocos, com a enciclopédia administrativa peninsular;
merecendo, pois, uma observação cada vez mais atenta, de modo a
compreender com rigor as formas de implantação e conservação dos
poderes ibéricos nas «quatro partes do mundo».

Mobilidade demográfica e circulação de agentes


Se os modos como se procedeu à transferência de modelos penin-
sulares e à integração de práticas preexistentes nos territórios conquis-
tados ou agregados, entre impérios ou intra-imperiais, expressam bem
a tensão entre unitarismo e particularismo, o mesmo acontece com
a mobilidade demográfica e a circulação dos agentes administrativos
entre metrópoles e colónias, e seu enraizamento ou não nas socieda-
des locais. Com efeito, a maior ou menor fluidez na circulação de pes-
soas e dos agentes administrativos permite avaliar o grau de interacção
que tinham os oficiais de diferentes partes, no interior de cada um
dos impérios, e correspondente implicação nas formas de governação
e consolidação (ou não) de uma política mais conveniente à centrali-
zação pretendida pelos monarcas, sobretudo a partir do século xviii.
Privilegiando a relação entre as metrópoles peninsulares e as
­Américas, Nuno Camarinhas e Pilar Ponce Leiva, num capítulo
sobre os agentes da justiça, verificam ter havido maior intensidade
e amplitude na circulação de juristas, no caso português, quando
comparado com o caso espanhol. Licenciados na Universidade de
­Coimbra, ­reinóis e naturais do Brasil podiam servir em diversos
lugares de letras em diferentes partes do império português, criando
assim uma rede global. Esta integração das carreiras, sem uma fron-
teira rígida entre a Península Ibérica e os territórios ultramarinos,
não encontrou paralelo na Monarquia Hispânica, nem mesmo no
século xviii quando a defesa da paridade entre peninsulares e criollos,
no acesso aos cargos de justiça, foi aventada por alguns. Em conse-
quência, em Espanha, os cargos da alta esfera da justiça continuaram
praticamente vedados aos americanos, restando a estes inserir-se na

35

Monárquias Ibéricas.indb 35 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

administração, sobretudo pela via dos benefícios/compra dos cargos


muitas vezes a título vitalício, a partir de 1640 e sobretudo em 1670
e 1690, sem que este processo fosse interrompido em Setecentos.
Esta patrimonialização dos ofícios da justiça foi uma especificidade
da Monarquia Hispânica, pois no caso português, os altos ofícios de
judicatura eram concedidos de forma precária para serem servidos ao
longo de três anos. São diferenças que também podem ajudar a expli-
car porque os letrados reinóis e americanos circulavam pelo império
português, ainda que a formação em Direito não pudesse ser adqui-
rida no Brasil, onde não existiam universidades, diferentemente das
Índias castelhanas. De qualquer forma, ao enfatizarem o tópico da
circulação dos agentes de judicatura, os autores evidenciam as dife-
renças das experiências ibéricas no que compete à administração da
justiça – e, certamente, aos seus impactos locais –, embora as estru-
turas jurisdicionais não diferissem significativamente.
Se o interesse de os peninsulares servirem nos cargos de justiça
dos territórios ultramarinos era reduzido na Monarquia Hispânica,
sobretudo porque a experiência adquirida ali não era valorizada no
momento de se conceder novos e melhores cargos, em relação à admi-
nistração financeira, no seio do mesmo império, passar-se-ia algo de
distinto. Como é evidenciado por Michel Bertrand, os cargos supe-
riores da Fazenda na Nova Espanha eram atractivos para os penin-
sulares que neles reconheciam uma oportunidade de ascensão social,
mas não necessariamente na carreira. Longe de cumprirem as suas
atribuições de gestão e de controlo, os oficiais da Fazenda estabele-
ciam redes e laços interpessoais e inseriam-se nas sociedades locais.
Se agiam muitas vezes de forma a contrariar os interesses de Castela,
tal não se devia à falta de monitorização empreendida pelos poderes
do centro, mas sim à sua integração no tecido social que lhes trazia
vantagens que uma mera carreira administrativa não seria capaz de
fornecer. Neste sentido, para Bertrand, o controlo por parte do cen-
tro da monarquia não teria sido implantado apenas com as reformas
bourbónicas. Ele já existia anteriormente, mas com pouca eficácia.
O período bourbónico caracterizar-se-ia, sobretudo, por promo-
ver uma renovação dos oficiais da Fazenda. Enfim, a a­bordagem
­circunstanciada à realidade do Virreinato de Nueva España permite
a Michel Bertrand observar um universo social que só a redução da
escala de análise permite entrever, iluminando dimensões das práti-
cas administrativas de outra forma imperceptíveis.

36

Monárquias Ibéricas.indb 36 13/12/18 14:55


Pensar as Monarquias Ibéricas de forma comparada

Já no império português, a circulação dos agentes da Fazenda


limitava-se praticamente aos do topo da hierarquia administrativa e
mesmo assim numa escala bastante mais reduzida que os seus coetâ-
neos magistrados, pois houve casos em que os ofícios de provedores
das capitanias na América ou mesmo de provedores-gerais (do Estado
do Brasil e do Estado do Grão-Pará e Maranhão) foram concedidos
em propriedade e monopolizados por uma mesma família. Todavia, a
tendência para o enraizamento local esteve particularmente presente
entre os oficiais intermédios (tesoureiros, almoxarifes, feitores…)
assim como os inferiores.
Analisando distintos espaços da monarquia, o Estado da Índia, a
África e o Brasil, Susana Münch Miranda e Roberta Stumpf, Nuno
Camarinhas e Pilar Ponce Leiva mostram como a circulação dos
altos oficiais da administração da Fazenda e da Justiça da monar-
quia portuguesa era bastante diferente, sendo o império palco para
as carreiras ascendentes (e «profissionalizadas») apenas no âmbito
da magistratura.
Estas diferenças no interior de cada império, e entre os dois impé-
rios, devem ser assinaladas, pois elas parecem traduzir não só expe-
riências distintas, com implicações práticas na governança imperial,
como ainda concepções político-administrativas diferentes.
Também no campo militar se identificam diferenças no interior de
cada império (e entre ambos). Antonio Jiménez Estrella e ­Francisco
Andújar Castillo mostram que o envio de militares de E ­ spanha era
muito diferente nos espaços do império espanhol, sem que a A ­ mérica,
e mais uma vez, canalizasse um fluxo de homens ou de recursos finan-
ceiros significativo. A prioridade neste campo seria dada à protecção
contra o corso, de forma a garantir a remessa do ouro e da prata ame-
ricanos que financiavam a guerra na Europa, aquela que, do ponto de
vista da coroa espanhola, era a mais relevante. O século xviii viria a
ser uma excepção, mas somente a partir da década de 1770, quando se
verificou a criação de regimentos fixos na América com militares que
antes pertenciam ao exército peninsular, um processo que os autores
denominam «política de ‘vasos comunicantes’ entre los dos ejércitos»
(p. 425).
Também o envio de homens da metrópole portuguesa para os ter-
ritórios do Estado da Índia de dominação bélica não era quantitati-
vamente suficiente para atender às necessidades da guerra, como o
mostram Vítor Rodrigues e Miguel Cruz. A escassez da s­ oldadesca,

37

Monárquias Ibéricas.indb 37 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

sempre em número insuficiente nestes territórios distantes e dis-


persos levou a que se utilizassem nas ordenanças recursos humanos
locais: casados, populações mestiças, escravos, e até mesmo ecle-
siásticos. No Atlântico Sul, inversamente, de ocupação territorial e
agrícola (mesmo quando condicionada por imperativos comerciais),
o fluxo de militares foi maior, apesar de o Brasil ter tido sempre (com
excepção do período da invasão holandesa) um «estatuto de campo
de batalha secundário» (p. 464).
Mais uma vez, a mobilidade demográfica e a circulação de agentes
foi mais intensa no contexto das instituições eclesiásticas, nomea-
damente de religiosos e missionários, condicionando a configuração
do clero (secular e regular) nos contextos coloniais, bem como os
mecanismos do recrutamento missionário e a própria mobilidade
dos sujeitos vinculados às Ordens. A este respeito, as diferenças
entre os mundos hispânicos e os portugueses foram menos visíveis.
Estas construíram verdadeiras redes ou arquitecturas institucionais
de dimensões planetárias, contribuindo para a circulação de pessoas,
objectos, modelos de actuação, informações, etc., entre os espaços
metropolitanos e os coloniais, mas também entre os diferentes con-
textos missionários entre si. A circulação de cartas – no caso dos
jesuítas – fez que chegassem a Goa notícias do Paraguai, em Lima as
pudessem receber de Luanda, e em Cartagena de Índias, do colégio
de Macau. Porém, a circulação dos missionários entre os territórios
de ambos os impérios ou – numa circulação inversa – destes para
os centros metropolitanos foi relativamente reduzida. Na realidade,
uma proporção importante dos religiosos e missionários enviados
para a América ou para a Ásia provinha dos contextos peninsula-
res, onde eram recrutados e enviados para os territórios missio-
nários, dos quais raramente regressavam à Europa. Ainda assim,
houve alguma mobilidade dentro de alguns espaços: entre o Peru e
Nova Espanha, entre Nova Espanha e Filipinas, entre Goa e ­Etiópia,
entre Macau e o Japão... Mas, como indicam Aliocha M ­ aldavsky e
­Federico Palomo, essa circulação raramente se verificou entre os
mundos hispânico e português: por exemplo, os m ­ issionários do
Paraguai eram ­recrutados em Lima, mas não em São Paulo. Para
além dos sujeitos recrutados na Europa, parte dos religiosos (e uma
boa porção do clero secular) tinha uma origem local. Muitos deles
estavam ligados aos grupos de criollos/casados (em parte tam-
bém ­mestiços), ­mantendo assim os respectivos vínculos sociais e

38

Monárquias Ibéricas.indb 38 13/12/18 14:55


Pensar as Monarquias Ibéricas de forma comparada

f­ amiliares e ­evidenciando a profunda imbricação das ordens religio-


sas – nomeadamente as mendicantes, mas também a Companhia de
Jesus – no seio das sociedades coloniais. As resistências que, cada
vez mais ao longo do século xvi, suscitou a eventual criação de um
clero nativo ou indígena nos territórios sob a alçada dos respectivos
Padroados denotam, aliás, o papel central que as ordens religiosas,
nomeadamente, atribuíam aos territórios imperiais, lugares privile-
giados de colocação dos seus agentes.

Geografia e distância
Como fica claro da leitura das páginas anteriores, muitas das
características adquiridas pelas administrações das monarquias ibé-
ricas, na metrópole, e nos seus territórios imperiais, foram condi-
cionadas pela geografia e pela distância. Efectivamente, os desafios
territoriais colocados pelas experiências continentais americanas aos
dois reinos ibéricos foram substantivamente diferentes daqueles que
se colocaram ao reino de Portugal nos espaços asiáticos, nos quais
a distância incomensurável era uma variável crítica no momento
de pensar a governação desses territórios longínquos e dispersos.
O caso da administração militar, abordado por Vítor Rodrigues e
Miguel Dantas da Cruz, é disso sintomático, já que a monarquia
portuguesa tinha efectivos dispersos por três continentes. De igual
modo, a forma intensiva como se recorreu, em boa parte destes ter-
ritórios, e como nos mostra Catarina Madeira-Santos, às estruturas
político-administrativas preexistentes é, certamente, uma variável
associada a esta diferença, que se esbate, porém, quando se pensa na
integração das Filipinas na Monarquia Hispânica.
Os desafios e vicissitudes dos padroados ibéricos, e suas con-
sequências a nível da estruturação do campo eclesiástico, são um
excelente lugar de análise para pensar estas questões. Note-se que
assinalar a relevância dos padroados ibéricos para entender as histó-
rias administrativas das duas monarquias ibéricas é, a nosso ver, um
dos contributos mais inovadores deste livro, já que permite pensar
de forma mais integrada as experiências administrativas destas duas
monarquias. É que a dimensão territorial e de territorialização asso-
ciada aos direitos de padroado atribuídos a ambas as coroas, sobre
territórios a «descobrir» ou a «conquistar», obriga a equacionar os

39

Monárquias Ibéricas.indb 39 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

direitos de padroado como um complemento que não só ilumina


os próprios estatutos territoriais como ajuda a compreender algumas
das dimensões da organização administrativa.
Os direitos de uns e de outros eram, de facto, a primeira garantia
internacional (sobretudo enquanto o Papado continuou a ser o prin-
cipal árbitro no contexto da Cristandade) dos avanços ­territoriais,
por «descoberta» ou por «conquista». Cruzam-se com as geogra-
fias traçadas pelas bulas, as do Tratado de Tordesilhas, definindo os
horizontes de expansão virtual e efectiva das monarquias ibéricas.
Os Padroados constituíram-se, nesse sentido, como uma das primei-
ras condições do expansionismo ibérico, em si mesmo criadores de
distância. Ao mesmo tempo, tornaram-se numa das principais variá-
veis de diferenciação entre as duas experiências, desde que o Papado
começou por atribuir direitos amplos ao rei de Portugal e a uma
ordem religioso-militar, em meados do século xv, e, posteriormente,
direitos bem mais amplos aos Reis Católicos.
Foi nesse contexto que a estruturação das geografias e dos cam-
pos eclesiásticos nos territórios ultramarinos de ambas as monar-
quias se processou, mas que também se criaram condições para o
financiamento dos próprios empreendimentos imperiais (nomeada-
mente, a partir da colecta dos dízimos). Algumas das cronologias
de construção destas geografias eclesiásticas a uma escala global
não foram muito distintas das anteriormente assinaladas: a segunda
década do século xvi, e a década de 1530-1540 foram momentos
muito estruturantes destes espaços, para ambas as monarquias,
conjunturas que se caracterizaram, também, pelo investimento na
missão da evangelização das sociedades com as quais os ibéricos
passaram a interagir. Todavia, as diferentes geografias físicas do
expansionismo espanhol (mais atlântico-americano) e português
(asiático e atlântico, africano e brasileiro), também criaram condi-
ções para experiências religiosas diferenciadas extra territorium, e no
interior de cada monarquia.
Como mostra Evergton Sales Souza, a singularidade – até a novi-
dade – de algumas das soluções adoptadas nos espaços do império
português resultou das tentativas de fazer face à dimensão desco-
munal que aí assumiram as divisões diocesanas (ver, a esse propó-
sito, mapas dos arcebispados portugueses incluídos no capítulo 3).
Em 1563, nomearam-se administradores eclesiásticos ­ amovíveis
em ­Moçambique, Ormuz e Sofala, submetidos ao Padroado e com

40

Monárquias Ibéricas.indb 40 13/12/18 14:55


Pensar as Monarquias Ibéricas de forma comparada

c­ apacidades jurisdicionais semelhantes às do bispo. Mas a solução


adoptou novos contornos nos espaços do Atlântico, onde a figura
do administrador eclesiástico ensaiada no Índico levou, na reali-
dade, à criação de novas circunscrições administrativas, dotadas de
um território, separadas do bispado ou arcebispado de que eram
desmembradas, e com um estatuto semelhante às prelazias nullius
­diocesis. A criação, em 1575, da Administração Eclesiástica do Rio de
Janeiro estabeleceu as bases de um modelo singular que rapidamente
se estendeu a outras partes do império (Moçambique, P ­ ernambuco,
etc.), comportando menos despesas que um bispado. Esta solução,
como indica Sales Souza, permitiu à coroa portuguesa responder
de um modo mais eficaz e mais económico às demandas espiri-
tuais e pastorais das populações católicas que viviam no Índico e no
­Atlântico, não resolvendo, ainda assim, os problemas que a gover­
nação das enormes circunscrições eclesiásticas (bispados e adminis-
trações) ultramarinas acarretava.
Muito embora o mapa episcopal na América espanhola fosse
mais denso que o configurado nos espaços do Padroado português,
os prelados diocesanos – como aponta Zaballa – confrontaram-se
igualmente com a necessidade de administrar territórios demasiado
extensos, nos quais a comunicação e os mecanismos de controlo
assumiam contornos específicos, mais complexos que nos espaços
metropolitanos, ao que se juntava o confronto com realidades locais/
nativas muito diferentes, que também determinavam a adaptação das
instituições e formas de governo eclesiástico. O exercício da visita
pastoral nas dioceses de Nova Espanha, do Peru ou do Brasil, ao
mesmo tempo que mostra a implementação de Trento em contextos
religiosos coloniais (como bem sublinha Sales Souza), é um outro
exemplo das dificuldades que podia gerar a extensão considerável
dos espaços diocesanos, limitando, como neste caso, a preceptiva
supervisão anual de todas as paróquias e igrejas sob jurisdição do
prelado.
A densidade diferente da geografia diocesana teve também tradu-
ção na malha paroquial. Todavia, a diferença entre os mundos hispâ-
nico e português não resulta, apenas, da maior ou menor extensão
dos territórios diocesanos. Como mostra Evergton Sales Souza, as
formas de colonização dos territórios foram igualmente determi-
nantes, podendo dar origem, dentro do mesmo império, ­inclusive,
a ­realidades diversas: enquanto no pequeno território de Goa as

41

Monárquias Ibéricas.indb 41 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

­ rovíncias de Salcete e de Bardez contavam com 49 paróquias, admi-


p
nistradas por jesuítas e franciscanos, no imenso Brasil de finais do
século xvi, havia apenas 50 paróquias. Um olhar sobre a América
hispânica daria certamente uma imagem semelhante ao confrontar
os espaços centrais do Peru e de Nova Espanha, e as regiões mais
fronteiriças de colonização mais recente.
Foi no quadro da acção missionária que a geografia e, em parte,
também a distância, acabaram por criar as situações mais distintas,
resultantes, em grande medida, do grau de domínio político que
cada coroa tinha, ou não, sobre os territórios em que os religiosos
intervinham ao abrigo do Padroado ou do Patronato. O texto de
Aliocha Maldavsky e Federico Palomo destaca, em primeiro lugar,
os contextos propiamente coloniais (cidades e regiões sob domínio
político dos soberanos ibéricos), onde a evangelização acabou por
ser mais intensa e as instituições missionárias mais articuladas, per-
mitindo estabelecer vínculos entre o México, as zonas centrais da
região andina, ou o território de Goa e as Províncias do Norte, no
Estado da Índia. Depois, os espaços de fronteira. Aí, a autoridade
colonial era fraca ou, inclusive, podia ver-se contestada pelos pode-
res locais, sendo a missão um instrumento para controlo dos espa-
ços e das populações (Amazónia, Califórnia, Chile, Paraguai, etc.).
E, por fim, os territórios que ficavam completamente à margem do
poder político português ou castelhano, nomeadamente nos contex-
tos asiáticos e do Índico (Japão, China, Pérsia, Etiópia, etc.), onde
a capacidade dos missionários para agir ficava sujeita ao critério dos
soberanos locais. Essa expansão simultaneamente formal (porque no
âmbito dos limites dos dois Padroados) e informal (porque em ter-
ritórios que não estavam sob o domínio político dos ibéricos) com-
plementa aquela que Pedro Cardim e António Manuel Hespanha
referem ao identificarem, precisamente, o grau de informalidade que
a presença portuguesa na Ásia adquiriu, onde, por razões variadas, se
tornava muito difícil à coroa portuguesa «vencer a distância», para
citar o dossier com este inspirador nome.8
Essa incapacidade de «vencer a distância» e de cumprir as obri-
gações inerentes aos direitos de padroado esbarrou, a partir do
século  xvii, no «centralismo pontifício romano», iconizado no

  «Vencer la distancia: Actores y prácticas del gobierno de los imperios español y


8

portugués»… Disponível em: http://journals.openedition.org/nuevomundo/71453.

42

Monárquias Ibéricas.indb 42 13/12/18 14:55


Pensar as Monarquias Ibéricas de forma comparada

estabelecimento da Propaganda Fide em 1622. O processo de cen-


tralização política que se verifica no Papado pós-tridentino, e a cor-
relativa intenção de recuperar para si o controlo, a vários níveis, da
vida religiosa dos cristãos das diferentes partes do mundo, viria a
ter impacto sobre os Padroados das monarquias ibéricas, inter-
vindo directamente na sua lógica monopolista, nomeadamente no
que dizia respeito à circulação e controlo de pessoas (neste caso,
do clero secular e regular), lesando a autonomia que caracterizara
o período anterior – como se pode entrever pela leitura dos textos
de Ignasi Fernández Terricabras, Ângela Barreto Xavier e Fernanda
Olival, Ana de Zaballa Beascoechea, e Aliocha Maldavsky e Federico
Palomo. Mas estas interferências manifestaram-se de forma diferen-
ciadora nas duas experiências, já que com intervenções mais intensas
e sistemáticas nos espaços asiáticos, na sua maioria sob a jurisdição
do Padroado da Coroa de Portugal, do que, pelo menos inicialmente,
nos espaços americanos e africanos das duas monarquias.

Estrutura do livro
O livro estrutura-se em quatro partes, com um conjunto de capí-
tulos que pro­cura oferecer uma visão mais panorâmica sobre cada
uma das dimensões sob análise, e outros que visam permitir ao leitor
mergulhar nas experiências concretas das instituições e dos agentes
administrativos. Nestes últimos não houve a intenção de cobrir toda
a cronologia e a geografia sobre o qual o livro incide, privilegiando
casos muito específicos, por vezes pontuais, mas que permitem ao
leitor aproximar-se da tessitura urdida pelas práticas.
Na primeira parte, mais contextual, privilegiam-se os diversos
enquadramentos político-administrativos das monarquias ibé-
ricas e seus territórios ultramarinos, aí se incluindo os estatutos
político-administrativos dos territórios e os dois Padroados. Esta
parte é constituída por três textos, iniciando-se com o capítulo
intitulado «A estrutura territorial das duas monarquias ibéricas»,
da autoria de Pedro Cardim e António Manuel Hespanha. Neste
capítulo propõe­ -se entender, de forma integrada e comparada,
como é que os diversos territórios que constituíam as monarquias
ibéricas foram sendo classificados e hierarquizados, bem como as
alterações que os seus estatutos territoriais foram sofrendo entre

43

Monárquias Ibéricas.indb 43 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

os ­séculos  xvi e xviii. Seguem-se os capítulos de Ignasi F­ ernández


­ erricabaras, «El ­Patronato Real en la América Hispana: funda-
T
mentos y prácticas» e de Ângela Barreto Xavier e Fernanda O ­ lival,
«O padroado da coroa de Portugal: fundamentos e práticas».
Enquanto o primeiro texto incide sobre as experiências espanholas,
e os seus percursos diferenciados no tempo e no espaço, o segundo
privilegia o caso português. Em diálogo, estes dois capítulos per-
mitem acompanhar a transferência de modelos de padroado das
metrópoles para os territórios ultramarinos e as metamorfoses que
essas transferências encerraram, mas também a circulação intra-
peninsular e intra-imperial de modelos. E conjuntamente com o
primeiro, pretendem oferecer ao leitor uma visão abrangente dos
enquadramentos mais gerais dos mundos administrativos destas
duas monarquias.
Uma segunda parte privilegia a administração civil, nela incluindo,
também, as instituições «indígenas», isto é, as instituições preexisten-
tes nos territórios africanos, americanos e asiáticos dominados por
espanhóis e portugueses. Esta parte combina capítulos mais panorâ-
micos com outros que proporcionam análises focadas em dimensões
mais específicas destas administrações, proporcionando ao leitor,
dessa forma, um jogo de escalas, e o acesso a dimensões mais prá-
ticas destas administrações. Inicia-se com dois textos de síntese,
de natureza mais panorâmica, nos quais se abordam os modelos de
organização administrativa considerando os diferentes contextos e
suas respectivas cronologias. O que incide sobre o caso espanhol
é da autoria de María Victoria López-Cordón Cortezo, «Prácticas
de gobierno: instituciones, territorios y flujos de comunicación en
la Monarquía Hispánica»; o que privilegia o caso português, «As ins-
tituições civis da monarquia portuguesa na época moderna: centro
e periferia», deve-se a Maria Fernanda Bicalho e Nuno ­Gonçalo
­Monteiro. Seguem-se dois capítulos sobre a relação estabelecida
entre instituições peninsulares e instituições «indígenas», cada um
privilegiando, igualmente, estas experiências no âmbito de cada
uma das monarquias: «Las poco y las más repúblicas. Los gobiernos
indios en la América española, de Ana Díaz Serrano, mais focado
nas ­Repúblicas de Índios; e «O império português face às institui-
ções indígenas (Estado da Índia, Brasil e Angola, séculos xvi-xviii)»,
de Catarina Madeira-Santos, que oferece uma abordagem de síntese
sobre a situação portuguesa. No que diz respeito às instituições

44

Monárquias Ibéricas.indb 44 13/12/18 14:55


Pensar as Monarquias Ibéricas de forma comparada

­ nanceiras e seus agentes, Michel Bertrand, «As finanças do rei de


fi
Espanha nas Índias. Estruturas ­administrativas, serviço régio e interes-
ses familiares vistos a partir do vice-reinado da Nova Espanha» elege
o vice-reinado de Nova Espanha, enquanto Susana Münch Miranda e
Roberta Stumpf abordam os diferentes territórios do império portu-
guês, proporcionando uma análise comparativa da administração lusa
nestes espaços. Já Nuno Camarinhas e Pilar Ponce Leiva apresentam
um texto conjunto no qual abordam a administração da justiça e seus
agentes nos dois espaços ibéricos, oferecendo um texto exemplar de
análise em perspectiva comparada: «Justicia y letrados en la América
Ibérica: administración y circulación de agentes».
Uma terceira parte é dedicada às instituições militares, e para ela
contribuem dois capítulos que articulam, simultaneamente, uma aná-
lise mais macro com dimensões concretas das experiências dos agen-
tes militares. Em «Ejército y Reformas Militares en la ­Monarquía
Hispánica a ambos lados del Atlántico. Un análisis en perspectiva
comparada (siglos xvi-xviii)», Antonio Jiménez e Francisco ­Andújar
Castillo observam o modo como a administração militar da monar-
quia castelhana, especialmente voltada para os campos de batalha
no continente europeu, procurava proteger, simultaneamente, as
colónias americanas; enquanto Vítor Rodrigues e Miguel Dantas da
Cruz abordam a pluralidade das experiências militares da monarquia
portuguesa, presentes em três continentes, os desafios que isto colo-
cava, e as suas diferentes cronologias.
Finalmente, o universo eclesiástico, um dos elementos mais
característicos de ambas as configurações imperiais e mais significa-
tivos das respectivas experiências nos contextos africanos, asiáticos
e americanos, é analisado na última parte do volume. Três são os
capítulos que o exploram através das suas instituições diocesanas e
missionárias. Com efeito, o texto de Ana de Zaballa B ­ eascoechea,
«Las instituciones eclesiásticas en la Monarquía Hispánica», e o de
Evergton Sales Souza, «Estruturas eclesiásticas da monarquia por-
tuguesa. A Igreja diocesana», constituem duas leituras em paralelo
das arquitecturas institucionais do poder episcopal (dioceses, bispos,
paróquias, cabidos, visitas, auditórios) e de enquadramento religioso
que, no mundo hispânico e no império português, acompanharam a
construção das respectivas igrejas coloniais. Já o texto de Maldavsky
e Palomo propõe uma visão integrada do fenómeno missionário nos
vários contextos asiáticos, africanos e americanos em que castelhanos

45

Monárquias Ibéricas.indb 45 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

e portugueses estiveram presentes. Neste sentido, à apresentação da


evangelização enquanto instrumento de legitimação e de conversão
cultural nos impérios ibéricos, segue a análise dos processos de ins-
titucionalização que experimentou a missão já desde o século xvi,
para, no fim, considerar quer os múltiplos elementos que haveriam
de enquadrar a missão numa dimensão global, num contexto de pri-
meira globalização ibérica, quer as suas articulações locais, com os
diferentes actores que conformavam as sociedades (coloniais) nas
quais os religiosos se inseriam.
Uma palavra para a bibliografia. O leitor encontrará, nas notas de
rodapé de cada capítulo, as referências completas às fontes e obras
citadas no âmbito desse capítulo. Julgámos oportuno, porém,
construir uma bibliografia final a partir das bibliografias parcelares
de cada capítulo, por considerarmos que esta se poderia tornar num
instrumento de trabalho útil para todo aquele que quiser iniciar um
estudo sobre as dimensões administrativas das monarquias ibéricas
abordadas neste livro. Esta bibliografia final obedece à divisão por
partes do próprio livro. Aí se destacam, por conseguinte, as obras
citadas na Introdução, e, sucessivamente, nas Partes I, II, III e IV.
Não espere o leitor, porém, encontrar um guia bibliográfico exaus-
tivo, mas um itinerário bibliográfico que congrega as escolhas que
cada autor achou por bem fazer para discutir as temáticas do seu
capítulo.
Dada a sua inegável ambição, este livro é pouco mais do que
um exercício introdutório e incompleto, para o qual foi necessá-
rio tanto seleccionar quanto excluir. Em primeiro lugar, ele não
oferece uma comparação clássica, mas, como o título indica, uma
abordagem em «perspectiva comparada», isto é, tendo presente o
horizonte comparativo, mas não desenvolvendo, metodologica-
mente, uma comparação plena. Por vezes em função do próprio
estado da bibliografia, inegavelmente mais extensa, na maior parte
dos casos, para as experiências da coroa espanhola do que da coroa
portuguesa, algumas das administrações e instituições a elas asso-
ciadas não mereceram igual atenção: por exemplo, nas instituições
económicas deu-se relevo, sobretudo, à dimensão financeira. Por
seu turno, neste livro a Casa da Índia e Mina, no império portu-
guês, tem menos protagonismo do que a sua homóloga castelhana,
a Casa de la Contratación, sendo que ambas são essenciais para
entender a circulação imperial, tanto de pessoas como de objectos

46

Monárquias Ibéricas.indb 46 13/12/18 14:55


Pensar as Monarquias Ibéricas de forma comparada

e mercadorias9. As estruturas vice-reinais tiveram, igualmente, um


tratamento diferenciado, mais sistemático para o caso espanhol do
que para o caso português, muito embora sobre elas se disponha de
um olhar comparativo relativamente recente.10 Do mesmo modo,
no contexto das instituições eclesiásticas, foi preterida a análise
da Inquisição, privilegiando-se, ao invés, as instituições e práticas
associadas ao clero secular e ao clero regular. Do ponto de vista
geográfico, a amplitude destas experiências ibéricas obrigou a que
algumas territorialidades fossem privilegiadas em detrimento de
outras. Essa assimetria é resultado, em parte, da opção por uma
análise temática das configurações institucionais, em vez de se ter
organizado o livro a partir das compartimentações dos espaços no
interior destes dois impérios. Por fim, não foi nossa intenção dis-
cutir sistematicamente as taxonomias que foram sendo utilizadas
pelos autores: reino, coroa, monarquia, com as suas adjetivações
espanhola/hispânica e portuguesa, império, colónias, indígenas,
colonos, colonizadores, Índia e Índias, América, pluralismo e par-
ticularismo, entre outros. Palavras e conceitos, que, por não terem
sido sistematizados de modo uniforme, podem ter sido empregues
com sentidos polissémicos, convidando, aliás, a reflexões futuras
sobre esta dimensão lexical.

9
  O reduzido espaço dado à Casa da Índia e Mina deve-se em parte à sua escassa
bibliografia, ao contrário do que acontece para a Casa de la Contratación, citada em
grande parte no capítulo deste volume de autoria de María Victoria López-Cordón.
Para a Casa da Índia, o trabalho mais sistemático permanece por publicar: ­Carlos
Geraldes, Casa da Índia: Um Estudo de Estrutura e Funcionalidade (1509-1603)
(­Lisboa: Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 1997), dissertação de mes-
trado; já o livro de Susannah Humble Ferreira, The Crown, the Court and the Casa
da Índia. Political centralization in Portugal, 1497-1521 (Leiden, 2015) aborda a ins-
tituição de forma marginal. Veja-se ainda Ângela Barreto Xavier, «The Casa da Índia
and the emergence of a science of administration in the Portuguese Empire», Jour-
nal of Early-Modern History, dossier Of Archives and Empires: governance, ideology,
and culture in the early modern world, org. Maria-Pia Donato, 22 (2018) 327-347.
10
 Pedro Cardim e Joan Lluís Palos, eds., El mundo de los virreyes en las
monarquías de España y Portugal (Madrid-Frankfurt: Iberoamericana-Vervuert,
2012); Manuel Rivero Rodríguez, La edad de oro de los virreyes. El virreinato en la
­Monarquía Hispánica durante los siglos xvi y xvii (Madrid: Akal, 2011).

47

Monárquias Ibéricas.indb 47 13/12/18 14:55


Monárquias Ibéricas.indb 48 13/12/18 14:55
Parte I
Quadros político-administrativos

Monárquias Ibéricas.indb 49 13/12/18 14:55


Monárquias Ibéricas.indb 50 13/12/18 14:55
Pedro Cardim
António Manuel Hespanha

Capítulo 1

A estrutura territorial
das duas monarquias ibéricas
(séculos xvi-xviii)

Entendendo por «território» um espaço dominado por um deter-


minado grupo e dotado de um perfil político-jurisdicional próprio,
este capítulo tem como finalidade caracterizar a estrutura territorial
das duas monarquias ibéricas. No centro da análise estará, fundamen-
talmente, o modo como os diversos territórios que integravam esses
dois conglomerados foram classificados e escalonados. ­Veremos,
também, como essa classificação evoluiu entre os séculos xv e xviii,
um tempo em que as duas monarquias cresceram em dimensão e
acentuaram a sua diversidade interna.
Começamos por olhar para o período tardo-medieval, momento
em que se consolidaram, na Península Ibérica, as categorias que
expressavam a diversidade de estatutos dos vários territórios. Depois,
acompanhamos o modo como essas categorias foram utilizadas a
partir do século xv, no quadro do alargamento do horizonte político
que então teve lugar. Em seguida, olhamos para as designações de
conjunto que foram atribuídas aos dois conglomerados territoriais
ibéricos que resultaram desse alargamento do horizonte político.
Na sequência disso, analisamos o longo período que vai de meados
de Quinhentos até ao final do século xviii e assinalamos as principais
mudanças introduzidas na estrutura territorial das duas monarquias.

51

Monárquias Ibéricas.indb 51 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

As reformas que a dinastia dos Bourbon levou a cabo serão alvo de


uma atenção especial. As páginas finais deste capítulo são dedicadas
ao reformismo ilustrado e ao modo como as autoridades portugue-
sas e espanholas lidaram com os seus territórios na segunda metade
de Setecentos.
Neste capítulo a expansão territorial na Europa e a conquista de
terras fora do continente europeu são encaradas como processos que
interagiram entre si. Nas secções referentes à expansão em África, na
Ásia e na América tivemos em conta, fundamentalmente, os actores
de origem europeia e o modo como estes classificaram os espaços
que foram ocupando. Mostramos que a sua situação de suprema-
cia permitiu a portugueses e a espanhóis não só ditar a condição
jurídico­-política das terras conquistadas, mas também impor essa
condição, frequentemente com violência, às populações autóctones.
Em graus diversos e com resultados variáveis, as populações asiá-
ticas, ameríndias e africanas contestaram, negociaram e rejeitaram
essas categorias que lhes foram impostas pelas autoridades ibéricas.
No entanto, esse é um tema que não comparece nestas páginas por-
que será abordado, sobretudo, nos capítulos de Ana Díaz Serrano e
Catarina Madeira-Santos.
O texto que se segue procura construir algo cuja pertinência
parece evidente, mas que, de facto, a historiografia não tem feito:
uma descrição comparada das estruturas políticas e institucionais
dos territórios colonizados por portugueses e espanhóis, entre os
séculos xvi e xviii. Os obstáculos a esta visão integrada de dois pro-
cessos históricos tão contemporâneos e interligados explica-se por
um viés nacionalista da historiografia corrente, que potenciou uma
natural tendência para reduzir o âmbito da análise a conjuntos mais
facilmente geríveis e, de alguma maneira, sugeridos pela localiza-
ção física das fontes. Porém, esta distorção nacionalista teve con-
sequências mais profundas, gerando percepções segundo as quais
cada um dos «impérios» teria lógicas institucionais distintas, o espa-
nhol mais territorial e homogéneo, o português mais descontínuo
e variado. Relacionando-se isso com alegados «espíritos» das duas
­colonizações1. No texto seguinte, procuramos elidir estas p
­ retensões

  Sérgio Buarque de Holanda opôs o «semeador» ao «ladrilhador», o p


1
­ rimeiro
mais preocupado com o imediato e eficaz, o segundo mais orientado por um
modelo geral da arquitectura imperial (Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do B
­ rasil,

52

Monárquias Ibéricas.indb 52 13/12/18 14:55


A estrutura territorial das duas monarquias ibéricas

­ ntologistas da história colonial ibérica, realçando embora as múl-


o
tiplas conjunturas que diferenciam local e epocalmente a organiza-
ção dos territórios ultramarinos. Mas também se chama a atenção
para um lastro largamente comum – sobretudo de origem discursiva
(palavras, tópicos, tradições letradas) – que marca de forma idêntica
as categorias de compreensão – e, logo, de organização – do espaço.

Uniões territoriais e conquistas no mundo


ibérico tardo-medieval
A trajectória histórica dos reinos ibéricos cristãos está muito
ligada à conquista de terras aos potentados muçulmanos que domi-
naram, durante vários séculos, boa parte da península. Tal processo
de conquista envolveu: a substituição das autoridades muçulmanas
pelas novas autoridades cristãs; a supressão do ordenamento muçul-
mano e a imposição da normativa jurídica dos vários reis cristãos; a
articulação entre as estruturas político-administrativas dos territó-
rios já conquistados e o novo governo dessas terras recém­-ocupadas;
o povoamento dessas áreas conquistadas com população cristã
oriunda das zonas meridionais da península; o desapossar dos ante-
riores habitantes de boa parte das suas terras; e, finalmente, a atribui-
ção, a essas populações, de um estatuto marcadamente subalterno.
­Muitas destas operações voltariam a ser postas em prática no quadro
da expansão extra-europeia.
Portugal participou plenamente neste processo de alargamento
territorial e foi nesse contexto que se consolidaram as categorias que
expressavam a diferença de estatuto entre os vários territórios da
Península Ibérica. Assim, a partir do século xiii a chancelaria régia
passou a intitular Afonso II (1211-1223) como rex Portugaliae ou

São Paulo: José Olympio,1936; v. Sérgio Costa, «O Brasil de Sérgio Buarque de


Holanda», 2014. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-69922014000300008. Já Antó-
nio Sardinha tinha insistido em temas românticos e esboçado uma oposição deste
género, imputando-lhe origens étnicas remotas. Ver António Manuel Hespanha,
«El ‘derecho de Indias’ en el contexto de la historiografía de las colonizaciones ibé-
ricas» (conferência inaugural proferida no XIX Congreso del Instituto Internacional
de Historia del Derecho Indiano, Berlim, 28 de Agosto a 2 de Setembro de 2016,
Max-Planck Institut für europäische Rechtsgeschichte [em publicação nas respe-
tivas atas]).

53

Monárquias Ibéricas.indb 53 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Portugalensis, «rei de Portugal» ou «rei portucalense»2. Desse modo,


esse órgão deixava patente que tal rei, para além de querer governar
um conjunto de vassalos, pretendia, igualmente, dominar um deter-
minado espaço territorial em crescimento, espaço esse que foi sendo
cada vez mais apelidado de «reino».
Esta mudança na intitulação régia portuguesa ocorreu numa
altura em que todos reinos ibéricos estavam envolvidos em proces-
sos de consolidação territorial. Ao mesmo tempo que prosseguia a
conquista de terras aos muçulmanos, os reinos de Leão e de Castela
consumaram a sua união. Este acontecimento, associado à incorpo-
ração de outros territórios (como a Galiza ou os senhorios bascos) e
à conquista de mais territórios aos muçulmanos (caso da Andaluzia,
de Jaén e de Múrcia) fez que os reis de Castela e Leão passassem
a ser senhores de vários reinos. Em virtude disso, o seu conjunto
territorial começou a ser classificado como «Corona», palavra que
remetia, precisamente, para a natureza plural desse conglomerado.
No entanto, e a despeito dessa diversidade interna, as autoridades
castelhanas foram estendendo a mesma lei a todos os seus reinos.
Da mesma forma, aos seus habitantes foi reconhecida a mesma
«naturaleza» em termos jurídicos, o que lhes permitiu circular entre
esses vários territórios e aceder aos seus cargos. Além disso, todos
esses territórios passaram a contar com uma única assembleia repre-
sentativa presidida pelo rei: as Cortes de Castela e Leão.
No universo aragonês estavam também a ocorrer mudanças signi-
ficativas no que respeita à sua estrutura territorial. A união dinástica
entre o reino de Aragão e o condado de Barcelona conferiu a este con-
glomerado um carácter ainda mais compósito do que o da coroa cas-
telhana e, a partir de finais do século xviii, expressões como Corona
regni Aragonum, Corona Regum Aragoniae, Corona ­Aragonum ou
Corona de Aragón começaram a ser utilizadas na d ­ ocumentação
oficial. Como se sabe, o carácter plural do conglomerado Aragão­-
-Barcelona foi acentuado pela subsequente expansão mediterrâ-
nica dessa formação política, com a incorporação de Malhorca, de
­Valência, da Sicília, da Córsega, da Sardenha, de ­Nápoles e, ainda, dos
ducados de Atenas e de Neopátria. É importante frisar que, ao con-
trário do que se passava em Castela, cada um dos reinos de Aragão

  José Mattoso, A Identidade Nacional (Lisboa: Fundação Mário Soares, 1998),


2

23-24.

54

Monárquias Ibéricas.indb 54 13/12/18 14:55


A estrutura territorial das duas monarquias ibéricas

manteve o seu ordenamento e a sua própria assembleia representa-


tiva. Para além disso, os seus habitantes continuaram a ter «naturale-
zas» diferentes em termos jurídicos.
O uso do qualificativo «Corona», tanto no contexto aragonês
quanto no castelhano, transmitia uma certa noção de superioridade
face aos demais territórios ibéricos que continuavam a ser qualifi-
cados como «reino», caso de Portugal, de Navarra e de Granada.
­Significativamente, a expressão «coroa de Portugal» não chegou a
ser utilizada em documentação oficial. Em todo o caso, a conquista
do Algarve, em 1249, permitiu aos soberanos portugueses passarem
a apresentar-se como «reis de Portugal e do Algarve», mudança que
representava, sem dúvida, uma pequena emulação dos seus pares his-
pânicos. Era um título que remetia para um certo carácter plural dos
territórios que se encontravam sob a autoridade dos reis portugue-
ses, permitindo-lhes ostentar a sua capacidade não só de conquistar
territórios muçulmanos, mas também de os cristianizar.
Importa ter presente que, a partir do final de Quinhentos, o
Algarve passaria mesmo a contar com um governo próprio, caso
único no quadro peninsular português. Além disso, a individuali-
zação do Algarve como reino separado de Portugal manteve-se, na
intitulação dos reis de Portugal, até ao final do Antigo Regime, fenó-
meno que não deixa de ser significativo. De qualquer modo, a nor-
mativa vigente em terras algarvias foi sempre a portuguesa. Quanto
aos seus habitantes, foram sempre tidos como «vassalos naturais» do
rei de Portugal e não há notícia de que alguma vez tenha surgido a
pretensão de reunir uma assembleia de Cortes algarvia. Apesar de ser
qualificado como o Algarve era, fundamentalmente, uma «provín-
cia», um termo que, como lembrou A. M. Hespanha, «… denunciava
etimologicamente (pro-vincere) um estatuto interino de ocupação
militar (decorrente da conquista inicial)…»3.
Igualmente importante para a definição do estatuto de cada um dos
territórios que integravam as duas monarquias ibéricas foi a institu-
cionalização do sistema judicial. A partir do final do século xv come-
çou a formar-se, em cada um desses territórios, uma rede de tribunais,
de audiências e de chancelarias. Em Aragão destacou­-se o «­Justicia
de A ­ ragón», um tribunal que se assumiu como instância última
para c­ ausas relativas a esse reino, tendo também ­desempenhado um

3
  Hespanha, «El ‘derecho de Indias’…», 16.

55

Monárquias Ibéricas.indb 55 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

i­mportante papel de aferição da concordância entre as normas régias


e o ordenamento vigente naquele território4.
Em Portugal a malha judicial também se adensou, através da
criação de tribunais régios de recurso («relações») e do desen-
volvimento de um procedimento equivalente ao do «Justicia»:
o chanceler­-mor podia recusar a selagem das cartas régias que
ofendessem o direito em vigor5. Do final do século xv em diante
­Portugal continuou a ser palco de um significativo crescimento do
dispositivo judicial régio, materializado numa série de novos tri-
bunais (o Desembargo do Paço, a Casa do Cível de Lisboa, a Mesa
da C
­ onsciência e Ordens e, ainda, o tribunal da Inquisição). Tais
tribunais desenvolveram estilos decisórios específicos e criaram
um sistema de comunicação próprio, desse modo concorrendo
para uma maior individualização do espaço jurisdicional portu-
guês6. De sentido provavelmente particularista, registe-se, igual-
mente, a chamada Reforma dos Forais (importante para a relação
entre a coroa e os poderes municipais)7.
Castela participou neste adensar da malha judicial. Importa lem-
brar que a coroa castelhana era, ela própria, uma formação política
compósita, pois resultou da incorporação de oito reinos jurisdicio-
nalmente diversos uns dos outros (Castela, Leão, Toledo, Múrcia,
Córdova, Jaén, Sevilha e, ainda, Granada a partir de 1492, para além
dos senhorios bascos e, após 1515, de Navarra). Este facto, aliado à
grande dimensão geográfica de Castela, levava a que essa coroa fosse
relativamente pouco integrada em termos judiciais8. Além disso, e ao

4
 Jon Arrieta Alberdi, «Ubicación de los ordenamientos de los reinos de la
Corona de Aragón en la Monarquía Hispánica: concepciones y supuestos varios
(siglos xvi-xviii)», em Il Diritto Patrio tra Diritto Comune e Codificazione (secoli
xvi-xix), orgs. Italo Birochi e Antonello Matone (Roma: Viella, 2006), 127-171.
5
  António Manuel Hespanha, «Direitos, Constituição e Lei no constituciona-
lismo monárquico português», Themis. Revista da Faculdade de Direito da UNL,
VI, n.º 10 (2005): 7-40.
6
  Armando Luís Carvalho Homem, O Desembargo Régio (1320-1433) (Porto:
Instituto Nacional de Investigação Científica – Centro de História da Universidade
do Porto, 1990).
7
 Sobre o sentido (particularista e não centralista) desta reforma, António
Manuel Hespanha, «O Foral Novo de Évora no contexto da reforma dos forais de
D. Manuel», em Foral Manuelino de Évora (Évora: Câmara Municipal de Évora,
2003), 43-65.
8
  I. A. A. Thompson, «Castile, Spain and the monarchy: the political commu-
nity from ‘patria natural’ to ‘patria nacional’», em Spain, Europe and the Atlantic

56

Monárquias Ibéricas.indb 56 13/12/18 14:55


A estrutura territorial das duas monarquias ibéricas

contrário de Portugal ou dos reinos da coroa de Aragão (que con-


tavam, cada um deles, com um único tribunal superior), em Castela
foram sendo criadas várias audiências e chancelarias, por vezes com
marcadas diferenças entre si9. Seja como for, e apesar de não possuir
os elementos galvanizadores que existiam em Aragão (por exemplo
as Leis de Sobrarbe) ou na Catalunha (as Constitucions), Castela aca-
bou por desenvolver um ordenamento que não só se tornou comum
a todas as suas diversas parcelas territoriais, como se expandiu para
os demais reinos ibéricos10.
A influência das normas originárias de Castela fez-se sentir em
todos os reinos ibéricos11. Como assinalou Bartolomé Clavero, a
comunicação jurídica com Castela fez-se, sobretudo, através da lex
regni vicinoris, ou seja, o princípio jurídico que previa a extensão de
direitos «particulares» a territórios adjacentes sem que tal pusesse
em causa a independência de cada um deles12. Para além da vizi-
nhança e da semelhança cultural e linguística – que levava mesmo
alguns jurisconsultos a evocar a ideia de uma ancestral Hispania,
um certo horizonte comum a todos os povos ibéricos –, tal fenó-
meno era ainda propiciado pelo carácter «aberto» da generalidade
da legislação daquela época. O avolumar da legislação portuguesa de
iniciativa régia coexistiu com este recurso ao direito castelhano, bem
visível nas várias compilações de direito português que apareceram
a partir de meados do século xv13, com destaque para as ordenações
surgidas sob D. Afonso V (1446) e, também, para as Ordenações
Manuelinas (1512-1513).

world. Essays in honour of John H. Elliott, orgs. Richard Kagan e Geoffrey Parker
(Cambridge: Cambridge University Press, 1995), 134 e segs.
9
  Carlos Garriga, Las Audiencias y las Chancillerías Castellanas (1371-1525).
Historia Política, Régimen Jurídico y Práctica Institucional (Madrid: Centro de
Estudios Constitucionales, 1994); Bartolomè Clavero, Ordenanças de la Real
­
Audiencia de Sevilla (Sevilha: Fundación El Monte, 1995).
10
 Jesús Villanueva, «Francisco Calça y el mito de la libertad originaria de
­Cataluña», Revista de Historia Jerónimo Zurita, n.º 69-70 (1994): 75-87.
11
 Nuno Espinosa Gomes da Silva, História do Direito Português (Lisboa:
­Fundação Calouste Gulbenkian, 2000), 3ª edição.
12
  Bartolomè Clavero, «Lex Regni Vicinoris. Indicio de España en Portugal»,
Boletim da Faculdade de Direito de Coimbra, n.º 58 (1983): 275.
13
  Guilherme Braga da Cruz, «O direito subsidiário na história do direito por-
tuguês», Revista Portuguesa de História, XIV (1975): 310 e segs.; Gomes da Silva,
­História do Direito…; António Manuel Hespanha, A Cultura Jurídica Europeia.
Síntese de um Milénio (Coimbra: Almedina, 2012), 182 e segs.

57

Monárquias Ibéricas.indb 57 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

O estatuto dos territórios em tempos


de expansão
Como se sabe, no começo do século xv estava praticamente
encerrada a conquista cristã da Península Ibérica. Foi precisamente
nessa altura que os portugueses, os castelhanos e os aragoneses
entraram numa nova fase do alargamento do seu espaço político. Tal
expansão teve como palco a própria Península Ibérica, a Europa de
além­-Pirenéus e, sobretudo, uma série de áreas situadas para lá dos
limites europeus. Esta nova fase de alargamento territorial levou a
que se debatesse, com renovada intensidade, o modo de proceder, no
plano político-jurídico, quando dois territórios se uniam e passavam
a estar submetidos a uma mesma autoridade régia.
A doutrina jurídica estabelecia uma distinção fundamental entre
dois tipos de ligação política: a «união em igualdade com o princi-
pal» (aeque principaliter) e a ligação «vertical», típica das situações
de «conquista»14. Aeque principaliter era o nome dado ao processo de
agregação mediante o qual cada um dos territórios que se uniam pre-
servava a sua estrutura institucional e o seu ordenamento15. Quanto
à «conquista», era uma forma de união territorial pela via militar e
através da qual o líder vitorioso ficava em posição de retirar aos ven-
cidos o seu ordenamento, bem como de instaurar unilateralmente
esse mesmo ordenamento. Traduzia-se, em regra, por uma domina-
ção mais impositiva, normalmente de cariz militar.
O carácter unilateral da dominação típica da «conquista» foi
acentuado pelo facto de portugueses e de espanhóis nutrirem sen-
timentos de superioridade face aos povos dos outros continentes.
Convictos de que tal superioridade lhes dava legitimidade para
se apropriarem das terras extra-europeias, os ibéricos impuse-
ram às populações autóctones, muitas vezes com violência, o seu

14
  Jon Arrieta Alberdi, «Las formas de vinculación a la Monarquía y de relación
entre sus reinos y coronas en la España de los Austrias», em La Monarquía de las
Naciones. Patria, nación y naturaleza en la Monarquía de España, orgs. B ­ ernardo
García e Antonio Álvarez-Ossorio (Madrid: Fundação Carlos de Amberes e
­Universidad Autónoma de Madrid, 2004), 303-326.
15
 Carlos Garriga, «Patrias criollas, plazas militares: sobre la América de
­Carlos IV», em La América de Carlos IV. Cuadernos de Investigaciones y D
­ ocumentos,
coord. Eduardo Martiré (Buenos Aires: Instituto de Investigaciones de Historia del
Derecho, 2006), t. i, 35-130.

58

Monárquias Ibéricas.indb 58 13/12/18 14:55


A estrutura territorial das duas monarquias ibéricas

­ rdenamento político e social, ao mesmo tempo que exploraram os


o
seus recursos.
Foi isso, precisamente, o que aconteceu em 1415, o momento
em que Portugal realizou a sua primeira conquista territorial fora
da Europa: a tomada de Ceuta, no Norte de África. Seguiu-se, entre
1458 e 1471, a conquista de outras praças, como Alcácer Ceguer,
Arzila e Tânger. Este processo daria origem a uma série de fortalezas
portuguesas, cada uma delas governadas por um governador militar,
mas sem que se tivesse chegado a consumar a territorialização da
presença lusa no Norte de África e as várias fortalezas portuguesas
jamais tendo sido submetidas a um comando único. Não obstante,
figuraram na titulação dos reis portugueses como uma unidade polí-
tica («Algarve d’além mar»).
Nos anos que se seguiram teve início o assentamento mais per-
manente na Madeira e nos Açores. Por se encontrarem desabitados,
estes arquipélagos foram inseridos no espaço político português com
base no direito da descoberta e da ocupação efectiva. A sua ocupa-
ção foi caracterizada como «povoamento» e não como «conquista»,
e esse foi um dos motivos que levaram a que essas ilhas fossem enca-
radas como extensões do território do «reino». Sintomaticamente,
jamais estiveram sob a alçada do Conselho Ultramarino (criado em
1643). O mesmo não sucederia com os arquipélagos de Cabo Verde
ou de São Tomé.
Nas incursões portuguesas no litoral da África Ocidental as solu-
ções de incorporação dependeram tanto das opções de exploração
económica (sobretudo o tráfico de africanos escravizados), quanto
da resposta das autoridades locais à intrusão lusa. Legitimadas pelas
bulas papais de meados do século xv, foram estabelecidas feitorias
no golfo de Arguim (de meados do século) e no golfo da Guiné
(São Jorge da Mina, 1482), materializadas na ocupação e no controlo
de pequenas parcelas de terra por parte dos portugueses. A manu-
tenção de tais feitorias – sempre costeiras – envolveu uma constante
negociação com as autoridades dessas áreas de África, pois depen-
deu, em grande medida, do consentimento e do interesse dos reinos
que dominavam essas áreas.
Paralelamente a estas incursões lusas ao longo da costa ociden-
tal africana, foram tendo lugar as primeiras conquistas castelhanas
no Atlântico, com destaque para o arquipélago das Canárias. Não
por acaso, foi precisamente na altura em que se passou da fase das

59

Monárquias Ibéricas.indb 59 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

incursões para a da conquista e ocupação do espaço que portugueses


e castelhanos sentiram a necessidade de demarcar as suas respectivas
áreas de expansão. Assim, através do tratado de Alcáçovas (1479)
Portugal reconheceu a soberania castelhana sobre as Canárias, e
Castela o domínio português sobre a Madeira e os Açores. Portugal
obteve também garantias de que Castela não ocuparia terras na costa
ocidental do Norte de África.
Como se sabe, a demarcação dos espaços de conquista prosseguiu
logo após o regresso de Cristóvão Colombo da sua primeira viagem.
Através de uma série de bulas inspiradas nas que o Papado concedera
aos reis de Portugal décadas antes – começando pela Inter caetera (de
1493) – o papa (invocando a sua condição de dominus mundi) come-
teu aos reis de Castela e de Aragão a evangelização das terras des-
cobertas e por descobrir, atribuindo-lhes o domínio temporal como
forma de concretizar essa evangelização.16 A bula de Alexandre VI
declarava que as terras descobertas e a descobrir ficariam sujeitas às
leis de Castela. De qualquer modo, essa norma pontifícia enfermava
de alguma ambiguidade, pois dirigia-se a ambos os Reis Católicos,
e não apenas a Isabel de Castela.
Estabeleceu-se, então, uma linha de demarcação a 100 léguas a
oeste de Cabo Verde, linha essa que delimitava a zona de expansão
exclusiva dos portugueses. A única exceção eram as Canárias, cuja
conquista aos Guanches terminaria em 1496, consumando-se desse
modo o controlo total dos castelhanos sobre o arquipélago. Pouco
tempo depois a expressão «reino de Canarias» começaria a ser usada
em documentação oficial de Castela.
Em 1494, com a assinatura do tratado de Tordesilhas, fixava-se
uma nova localização para a linha que demarcava as áreas de expan-
são de Portugal e de Castela: 370 léguas a leste de Cabo Verde.
Esta linha procedia também à repartição do espaço magrebino:
enquanto a Portugal tocou, como «zona de conquista», a região do
reino de Fez, a Castela e a Aragão coube o reino de Tremecém. Esta
demarcação estaria na origem de uma presença espanhola mais per-
manente no Norte de África, materializada na ocupação de Melilla
(1497) e, entre 1505 e 1510, de Mazalquivir, de Orão, de Argel
e de Trípoli.

  Ver a esse propósito, os capítulos sobre os Padroados ibéricos da autoria de


16

Ignasi Fernández Terricabras e de Ângela Barreto Xavier e Fernanda Olival.

60

Monárquias Ibéricas.indb 60 13/12/18 14:55


A estrutura territorial das duas monarquias ibéricas

Nos anos que se seguiram a coroa castelhana deu início ao reco-


nhecimento e à conquista das Caraíbas. Como se sabe, Cristóvão
Colombo começou por encarar a ocupação de La Hispaniola como
um empreendimento mais ou menos privado da sua família, regulado
pelas Capitulaciones de Santa Fe, documento no qual estavam plasma-
das as condições acordadas com a rainha Isabel de Castela. Mediante
esse acordo a rainha concedia a Colombo e aos seus descendentes o
título de «Visorey e Governador General en todas las dichas tierras
firmes e yslas que como dicho es el descubriere o ganare en las dichas
mares». Era assim criado o primeiro cargo de vice-rei fora do espaço
europeu. Recorde-se que este título, de origem catalano-aragonesa,
já era corrente em Nápoles e na Sicília.
Em La Hispaniola, e para satisfazer as reivindicações dos recém-
-chegados de Castela, os Taínos foram sendo violentamente desa-
possados das suas terras e, a partir de 1501, estas foram distribuídas
aos espanhóis através do sistema da encomienda. É bem sabido que
este sistema envolvia a possibilidade de utilização – num regime
parti­cularmente coercitivo – das populações indígenas como traba-
lhadores forçados. A quebra demográfica entre os Taínos foi de tal
ordem que, a partir de 1508, se tornou necessário introduzir africa-
nos escravizados nas principais ilhas caribenhas.
Enquanto decorria a conquista de terras exteriores à Europa, tive-
ram lugar vários processos de consolidação territorial na Península
Ibérica: a união entre as coroas de Castela e de Aragão, bem como a
conquista de Granada (1492) e, mais tarde, de Navarra (1512). Como
é bem sabido, a união entre Castela e Aragão assentou no princípio
aeque principaliter, pois os ordenamentos dessas duas formações polí-
ticas foram mantidos, incluindo o estatuto dos territórios que inte-
gravam a coroa de Aragão. Em 1494 seria estabelecido, na corte régia,
o Consejo de Aragón, órgão que passaria a ter o mesmo estatuto do
Consejo de Castilla, o qual também se vinha institucionalizando desde
1480. A ambos conselhos foi concedido o estatuto de «Supremo»,
o que indicava que eram presididos pelo rei, tinham o exclusivo de
decidir sobre processos de cada um dos territórios e estavam dotados
de auto-suficiência jurisdicional, no sentido em que os processos se
resolviam dentro do seu âmbito jurisdicional e por magistrados natu-
rais desses territórios, não sendo levados para fora das suas fronteiras.
A criação desta dupla de conselhos palatinos é importante, pois
está na origem do futuro sistema polissinodal. De qualquer modo,

61

Monárquias Ibéricas.indb 61 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

e apesar de a união ter assentado no princípio aeque principaliter,


é bem sabido que Fernando de Aragão esteve longe de ser um mero
rei consorte de Castela. Não obstante a administração da justiça de
cada reino se fazer, de um modo geral, em separado, com o passar do
tempo Isabel e Fernando foram concedendo mais poder um ao outro
para poderem intervir em ambas as coroas.
Quanto à incorporação de Granada e, mais tarde, de Navarra
(1512), nos dois casos assentou numa «conquista» e numa acção
militar qualificada como «guerra justa». Por isso, o caminho adop-
tado acabou por ser a supressão dos seus ordenamentos, a imposi-
ção da lei do vencedor e a supressão do estatuto reinícola tanto de
­Granada, quanto de Navarra. Ambos os reinos seriam convertidos
em «províncias» da coroa de Castela.
Todas estas movimentações decorreram em simultâneo com as
acções militares aragonesas em Itália, sobretudo a partir de 1494.
Nápoles e Sicília acabariam por ficar na esfera jurisdicional de
­Aragão, mas no seu governo houve sempre muita ingerência caste-
lhana. Este dado confirma o que atrás referimos: apesar de a união
entre A­ ragão e Castela assentar no princípio aeque principaliter,
continuou a registar­-se muita interacção entre o ordenamento caste-
lhano e as normativas da coroa de Aragão. Da mesma forma, a des-
peito de terem sido conquistados, Granada e Navarra mantiveram
uma parte do seu ordenamento, o qual acabou por ser combinado
com o direito dos vencedores, ou seja, o direito castelhano.

Conquistas na Ásia, na América e em África


Portugal começou a desenvolver – a partir de 1498 – a sua estraté-
gia de conquista e de ocupação de alguns pontos em diversas partes
do continente asiático. Num artigo fundador, de 1985, Luís Filipe
Thomaz apontou a dispersão e a variedade do status político dos
territórios como a principal característica da expansão portuguesa
naqueles lugares17. Embora o seu papel de matriz nem sempre seja

17
  Luís Filipe Thomaz, «Estrutura política e administrativa do Estado da Índia
no séc. xvi», em II Seminário Internacional de História Indo-Portuguesa. Actas
(Lisboa: Instituto de Investigação Científica Tropical, 1985, agora em De Ceuta a
Timor, Lisboa: Difel, 1994), 207-243.

62

Monárquias Ibéricas.indb 62 13/12/18 14:55


A estrutura territorial das duas monarquias ibéricas

destacado pelos autores que em seguida usaram uma tal ideia, este
artigo é pioneiro na conceituação do «império português» como
uma rede, enfatizando a sua heterogeneidade política e administra-
tiva, a fluidez dos seus contornos e a gradação fina que existe entre
a submissão política formal e a simples influência nas áreas não
sujeitas. Esta fluidez resultava não apenas da porosidade e indistin-
ção das fronteiras – uma situação que é geral nas entidades políticas
pré­-modernas –, mas também de a rede imperial ter sido estabele-
cida sobre redes anteriores de outros tipos, nomeadamente redes
comerciais, por vezes incompletamente integradas no «império» ou
constituindo uma sua extensão ou complemento não-político, que
formava como que uma sua sombra. Noutras ocasiões, a rede «impe-
rial» era acompanhada por uma «colonização» espontânea, pela fixa-
ção de súbditos do império, como particulares, para além das suas
fronteiras, constituindo comunidades mais ou menos autónomas em
novos territórios. Comunidades que, no entanto, se consideravam
«portugueses» ou que eram classificados como tal pelas sociedades
indígenas circundantes, devido a factores identificadores muito dife-
rentes, em particular as especificidades religiosas ou linguísticas, mas
também a forma vestir, a aparência das casas ou as ocupações e os
modos de vida.
Estabelecida sem um plano prévio18, a rede teria evoluído de acordo
com uma dinâmica interna. Operando com base na complementari-
dade dos produtos a serem trocados, a rede integrou gradualmente
regiões que oferecessem bens necessários para trocas interessantes,
tecendo uma rede humana organizada espontaneamente, cada uni-
dade requerendo a integração de outra. Com as armas de fogo vindas
da Europa, adquiriam-se escravos, marfim e ouro na Senegâmbia e
na Guiné. Com os escravos alimentava-se o comércio do Brasil e das
Caraíbas. Com o ouro e o marfim compravam-se as especiarias e
tecidos no Malabar – em troca direta ou através dos tecidos adquiri-
dos no Guzarate ou dos cavalos comprados na Pérsia. Estes tecidos
e especiarias iriam ser trocados por outros produtos, noutros luga-
res – em particular, no Ceilão, canela; em Bengala, na Malásia ou

18
  Há, em todo o caso, um esboço disso, sugerido ao rei D. Manuel por Afonso de
Albuquerque. Ver Cartas de Affonso de Albuquerque seguidas de documentos que as elu-
cidam, Lisboa, Academia Real das Sciencias de Lisboa, 1884, on line em https://archive.
org/stream/cartasdeaffonso00patogoog/cartasdeaffonso00patogoog_djvu.txt).

63

Monárquias Ibéricas.indb 63 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

no Sião, barcos ou arroz; sândalo e cravo-da-índia, em Timor, noz­-


-moscada e macis nas Molucas; tudo isto, mais os produtos de luxo
vindos da Europa, era vendido no Japão, donde se trazia a prata pela
qual os chineses vendiam sedas e porcelanas. Uma rede que se auto-
gerava, em ondas sucessivas, e se espraiava, no Extremo Oriente e no
­Pacífico, para regiões já excluídas da zona atribuída aos portugueses
pelos títulos de ocupação do final do século xv.
A aquisição do espaço não apareceu, portanto, como um objec-
tivo estratégico, mas como um efeito autónomo e, ao mesmo tempo,
uma condição, do funcionamento da rede – ou como um meio de
subsistência para cada um dos seus nódulos19.
Esta natureza reticular e não-territorial da colonização portuguesa,
especialmente na Ásia e em África, mas também no Brasil – apesar do
carácter mais «territorial» do seu modelo de colonização – originou as
suas características políticas e jurídicas.
Uma delas foi a indiferença ou mesmo a hostilidade – logo desde
os primeiros anos do Estado da Índia – em relação à aquisição for-
mal de territórios, que era muito mais exigente em meios militares e
logísticos, parcos num pequeno reino20. Uma outra foi a diversidade
de modelos de enquadramento político e jurídico dos territórios e das
populações. É neste contexto que, no oceano Índico, os portugue-
ses criaram estabelecimentos permanentes através de formas muito
diversas de aquisição territorial. No Índico e no Sudeste Asiático as
«conquistas» ou «senhorios», isto é, as parcelas de território sub-
metidas politicamente ao rei de Portugal pela força das armas (Goa,
Malaca) ou por meio de actos voluntários de doação realizados pelas
autoridades locais (Salsete, Bardez, Baçaim e Damão), coexistiram
com as fortalezas e feitorias, baseadas em acordos estabelecidos com

19
 Luís Filipe Thomaz, «Estrutura política…», 214-215: Georges Winius,
«Portugal’s shadow empire in the Bay of Bengala», Revista Cultura, 13-14 (1991),
273-287; Anthony Disney, «Constrasting models of empire; the Estado da India
in South East and East Asia in the sixteenth and early seventeenth centuries», em
The Portuguese and the Pacific, eds. Frank Dutra e João Camilo dos Santos (Santa
Barbara: University of California U. P., 1995), 26-37; Malyn Newitt, «Formal and
Informal empire in the History of Portuguese Expansion», Portuguese Studies,
17.1(2001), 1-21.
20
  Susana Münch Miranda e Pedro Cardim, «A incorporação de territórios e o
estatuto político do espaço ultramarino», em O Brasil Colonial. A Dinâmica dos
Pactos e Conflitos entre os Impérios, orgs. João Fragoso e Maria de Fátima Gouvêa
(Rio de Janeiro: Civilização, 2015), 214-215.

64

Monárquias Ibéricas.indb 64 13/12/18 14:55


A estrutura territorial das duas monarquias ibéricas

as autoridades indianas e africanas (fortalezas da costa do Canará,


Malabar e da costa oriental africana). O estatuto político-jurídico das
fortalezas era decalcado no dos capitães das fortalezas do Norte de
África, já incluído nas Ordenações Manuelinas (II, 27), constituindo o
modelo de enquadramento político básico das conquistas. O das fei-
torias dependia dos acordos feitos e, nos aspectos internos, decorria
dos poderes atribuídos aos feitores, no âmbito da gestão patrimonial
da coroa. Outros territórios estavam enquadrados segundo mode-
los político-administrativos metropolitanos, como os concelhos,
criados nas ilhas do Atlântico, na Índia, na Malásia, na China, em
Timor, muitas vezes com forais decalcados nos de terras metropoli-
tanas, como Lisboa, Porto e Évora21. O seu estatuto político era o do
foral e, sobretudo, o estabelecido nos títulos as Ordenações sobre o
governo municipal (Ord. Man., I, 45 e segs.; Ord. Fil., I, 67 e segs.).
Em diversos lugares os acordos de aliança ou de vassalagem que iam
sendo estabelecidos não envolviam a cedência de soberania aos por-
tugueses, razão pela qual estes não chegavam a deter, em exclusivo,
o controlo sobre um determinado território.22 Quanto a Ormuz,
conquistada pelos lusos em 1511, a presença portuguesa nesta cidade
do golfo Pérsico baseou-se num tratado que os lusos estabeleceram
com as autoridades locais que tinham acabado de derrotar23. Outros
territórios estavam simplesmente regidos pelos termos de acordos e
tratados estabelecidos com os potentados locais. Um bizarro «capi-
tão das viagens da China e do Japão», com um território jurisdicional
flutuante e móvel, completava este heteróclito conjunto. Uma ter-
ceira característica, por fim, foi a diversidade dos modelos de rela-
ção – complementaridade, dependência mútua, oposição – entre as
zonas oficialmente integradas no império e as que lhe escapavam.
Muitas vezes, a expansão formal constituía uma base, uma condição
de desenvolvimento ou a fonte do incentivo ao desenvolvimento da
expansão do trato comercial dos privados24, também acontecendo
frequentemente que numerosos oficiais da coroa nele participassem
de boa vontade, a par ou apesar dos seus compromissos no comércio

  Joaquim Romero de Magalhães, Uma Estrutura do Império Português: O Muni-


21

cípio (Lisboa: Fundação Oriente, 1994).


22
  Miranda e Cardim, «A incorporação de territórios…».
23
  Thomaz, «Estrutura política e administrativa…», 224-225.
24
  Thomaz, «Os portugueses e o mar de Bengala na época manuelina», em Luís
Filipe Thomaz, De Ceuta a Timor…, 403–486, 432.

65

Monárquias Ibéricas.indb 65 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

da coroa25. Em contrapartida, a expansão privada podia pressupor


a ausência do poder formal português, com as suas regras, as suas
imposições, os seus tributos e as suas proibições, da mesma forma
que o poder formal podia ser posto em causa pela concorrência do
trato privado, que ocupava meios humanos escassos, rivalizava nos
mercados, desviava produtos interessantes para a coroa26.
Enquanto Portugal conquistava e ocupava diversos pontos na
Ásia, do lado castelhano prosseguia a conquista das Caraíbas, esten-
dendo-se às demais ilhas: Porto Rico (1508), Jamaica (1509) e Cuba
(1512). Importa lembrar que, na fase imediatamente a seguir à tomada
destas ilhas, se recorreu à figura dos adelantados como primeira
forma de enquadramento das terras recém-ocupadas. O ­adelantado
era um título que remontava ao tempo da «Reconquista» e que cos-
tumava ser atribuído aos militares incumbidos de instaurar uma nova
autoridade em zonas recém-conquistadas. Quanto à malha judicial,
adoptou-se o modelo castelhano da audiência, sendo a primeira esta-
belecida em Santo Domingo (1511). Em 1515 seria criado o cargo
de Teniente de gobernador de Cuba, o que levaria ao desenvolvi-
mento de uma administração bicéfala, complementar mas ao mesmo
tempo concorrente: de um lado, o governador de Cuba e, do outro,
a audiência em La Hispaniola.
Paralelamente, e depois de realizadas as primeiras incursões na
«Tierra Firme», a partir de 1512-1513 teve início a conquista de ter-
ritório no continente americano, começando por Castilla del Oro
(Panamá). Alguns anos mais tarde, em Agosto de 1521, a expedi-
ção de Hernán Cortés conquistaria Tenochtitlan, capital da confe-
deração Mexica, seguindo-se Michoacán, Oaxaca e outras áreas do
norte do México. Entretanto, em 1530 Pedro de Heredia fundava
­Cartagena e, três anos depois, Francisco Pizarro conquistava Cuzco,
a capital inca. Já a conquista do Iucatão e de algumas regiões da Amé-
rica do Sul foi bem mais demorada.

25
  Sobre estas personagens de dupla identidade, estatutária ou cultural, ver Amélia
Polónia, «Evangelização e comércio: a figura do eclesiástico mercador», em E ­ studos
em Homenagem a João Francisco Marques, orgs. Luís de Oliveira Ramos Jorge
­Martins Ribeiro e Amélia Polónia, 2 vols (Porto: FLUP, 2001), II, 297–310.
26
  Como aconteceu no período de explosão do comércio privado no golfo de
Bengala durante o período da sua liberalização («soltura»), durante o governo
de Lopo Soares de Albergaria, de 1515 à 1518 (Luís Filipe Thomaz, «Os portugue-
ses e o mar de Bengala…», 437).

66

Monárquias Ibéricas.indb 66 13/12/18 14:55


A estrutura territorial das duas monarquias ibéricas

A condição político-jurídica das terras caribenhas e americanas


conquistadas (e a conquistar) pelos espanhóis foi sendo clarificada à
medida que se consumavam estas aquisições territoriais. Foi a partir
de 1519 que Carlos V, como rei de Castela, tomou medidas no sentido
de evitar a dependência exclusiva das doações papais, sublinhando,
por exemplo, que os seus direitos se baseavam na «conquista» ou
no «primeiro descobrimento». Na legislação promulgada nesse ano
afirmava-se que a união dessas terras à coroa castelhana iria ser per-
pétua, proibindo-se qualquer alienação ou divisão dos territórios a
favor de outra parte. Tal significa que foi o ordenamento (direito e
matriz institucional) de Castela (e não o de um dos reinos da coroa
de Aragão) que acabou por ser transposto para a América. Assim,
essas novas possessões extra-europeias tornaram-se numa entidade
anexa ao reino de Castela27.
Pela mesma ordem de razões, em princípio apenas os «naturais»
do território castelhano estavam autorizados a estabelecer-se nes-
sas terras e a aceder aos seus ofícios e honras28. Em todo o caso, é
importante não esquecer que as interferências entre Castela e Aragão
continuaram a ser frequentes, o que levou ao envolvimento de um
certo número de aragoneses na conquista das Índias. E é igualmente
fundamental não esquecer que a configuração da América espanhola
ocorreu numa altura em que, na Europa, a moldura institucional de
Castela ainda se estava a definir29. A matriz castelhana não era um
produto nem fixo, nem acabado.
O Portugal peninsular, contrariamente a Castela e Aragão, não se
apresentava como um conjunto territorial politicamente compósito.
Por isso, não houve dúvidas quanto ao ordenamento que iria vigorar
nas terras ultramarinas da coroa lusa: seria, evidentemente, o orde-
namento jurídico português. No Estado da Índia, muito embora o

27
  Carlos Jose Hernando Sánchez, Las Indias en la Monarquía Católica. Imáge-
nes e ideas políticas (Valhadolid: Universidad de Valladolid, 1996).
28
  John. H. Elliott, Imperios del Mundo Atlántico. España y Gran Bretaña en
América, 1492-1830 (Madrid: Taurus Historia, 2006), 193 e segs.
29
  Carlos Garriga, «Las audiencias: la justicia y el gobierno de las Indias», em
El Gobierno de un Mundo. Virreinatos y Audiencias en la América Hispánica, coord.
Feliciano Barrios Pintado (Cuenca: Universidad de Castilla-La Mancha, 2004), 711-
-794; também de Carlos Garriga, «Sobre el Gobierno de Cataluña bajo el régimen de
la Nueva Planta. Ensayo historiográfico», Anuario de Historia del Derecho Español,
80 (2010): 22 e segs.

67

Monárquias Ibéricas.indb 67 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

máximo representante do rei de Portugal na Ásia tivesse ostentado,


bastantes vezes, a dignidade de vice-rei, as terras sob sua autoridade
não foram dotadas de qualquer particularismo reinícola: as leis do
Portugal peninsular foram estendidas até essas terras; as pessoas de
origem portuguesa aí nascidas eram «vassalos naturais» do rei por-
tuguês; e os portugueses de origem peninsular podiam aceder aos
cargos administrativos de todos esses territórios, em princípio sem
qualquer restrição jurídica.
Com a ocupação de áreas territoriais mais vastas passou-se a uma
nova fase da governação das chamadas «Indias». Em 1530 era criada
uma nova audiência no México e, em 1535, Don Antonio de M ­ endoza
seria nomeado vice-rei de uma nova circunscrição territorial criada
pelas autoridades de Castela: a «Nueva España». Retomava-se, assim,
um cargo que tinha sido atribuído a Colombo e que os portugueses
já tinham introduzido na Índia (1505). Recorde-se, também, que a
instituição vice-reinal (de origem catalã-aragonesa) já estava então a
ser utilizada nos territórios da Península Ibérica: em 1517 havia sido
nomeado o primeiro vice-rei de Aragão, o mesmo sucedendo, em
1520, na Catalunha e em Valência. Em 1542 seria criado um segundo
vice-reinado das Índias, o do Peru («Nueva Castilla»). Quando tal
aconteceu o processo de territorialização da administração estava já
em curso em diversos espaços americanos, sendo disso um sinal claro
o adensar da rede de audiências (Nova Espanha em 1530; Panamá em
1538; Peru e Guatemala em 1543; Guadalajara e Santa Fé de Bogotá
em 1547). No final do século xvi existiam mais de dez audiências na
América espanhola.
Apesar de encabeçadas por representantes régios com a dignidade
vice-reinal, as duas circunscrições que dividiam a América espanhola
não tinham qualquer particularismo reinícola: as normas de Castela
eram vigentes nesses espaços; não era possível reunir Cortes nesses
territórios (apenas juntas de cidades); as pessoas de origem hispâ-
nica aí nascidas tinham «naturaleza» castelhana; e os castelhanos de
origem peninsular podiam aceder aos cargos administrativos desses
territórios. Os vice-reinados foram divididos em várias circunscri-
ções territoriais que, sintomaticamente, adquiriram o nome de rei-
nos peninsulares que se encontravam na esfera castelhana: reino de
Nueva Galicia; reino de Nueva Granada; reino de Nueva Toledo;
reino de Nueva Andalucia; e reino de Nueva León. A despeito da
qualificação régia, essas terras eram meras províncias, encabeçadas

68

Monárquias Ibéricas.indb 68 13/12/18 14:55


A estrutura territorial das duas monarquias ibéricas

por governadores ou por capitães-generais. Em geral cada uma delas


era dotada de uma ou mais audiências.
Mais do que os vice-reinados, os tribunais superiores viriam a
ser determinantes, a longo prazo, na consolidação do espaço terri-
torial deste vasto e variado conjunto territorial que, com o passar
do tempo, passou cada vez mais frequentemente a ser apelidado
de «Indias de Castilla». O mesmo poderia dizer-se dos grandes
núcleos urbanos: México, mas também Lima, Santo Domingo,
Guatemala, Santa Fé de Bogotá, Cartagena e, ainda, Manila. Recor-
de-se que, em Fevereiro de 1565, Miguel López de Legazpi chegaria
às Filipinas, conquistando parte do arquipélago. Subsequente-
mente nomeado Adelantado de las islas, Legazpi dirigiu a funda-
ção de Manila (Julho de 1571), cidade que passaria a ser capital da
Filipinas. Em 1574, as Filipinas tornar-se-iam Gobernación e Capi-
tanía General dependente do vice-reinado do México. Refira-se
que, a despeito do estabelecimento dos vice-reinados, continuaram
a marcar presença capitanías generales, gobernaciones e outro tipo
de circunscrições que, em termos práticos, se encontravam fora da
alçada dos vice-reis.
A coroa portuguesa também introduzira bastante cedo (1505)
a figura do vice-rei, para além de criar em Goa uma série de conse-
lhos e tribunais paralelos aos que existiam no Portugal peninsular,
com jurisdição sobre os territórios portugueses para lá do cabo da
Boa Esperança: Conselho de Estado (finais do séc. xvi), ­Relação
(1544), Casa dos Contos (1517), Mesas da Fazenda (c. 1580),
­Tribunal da Inquisição (1560). Como assinalou Susana Miranda30,
do ponto de vista jurisdicional os poderes desse vice-rei exerciam-
-se fundamentalmente sobre pessoas, ou seja, os oficiais régios,
soldados ou gente de mar vinda de Portugal adscrita às feitorias/
fortalezas já constituídas, e também sobre os «vassalos das partes
da Índia» que, não sendo «naturais» de Portugal, se submetiam
à jurisdição do vice-rei por meio de tratados de paz ou mediante a
sua conversão ao cristianismo. O ano de 1505 é também consi-
derado o momento da criação, por parte da coroa portuguesa, do
«Estado da Índia», expressão que designava o conjunto de estabe-
lecimentos, parcelas de território e pessoas que iriam passar a estar
sob a jurisdição do rei de Portugal num vasto espaço geográfico que

30
  Miranda e Cardim, «A incorporação…».

69

Monárquias Ibéricas.indb 69 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

iria ­estender-se da costa oriental africana até ao Japão31. De qual-


quer modo, a expressão «Estado da Índia» só se generalizou na
segunda metade do século xvi.
Já a conquista portuguesa do espaço sul-americano foi muito mais
lenta e gradual do que a ocupação espanhola da América e a estrutu-
ração portuguesa do Estado da Índia. Nesse processo a coroa come-
çou por adoptar, a partir da década de 1530, as ­capitanias-donatarias,
­instituições de cariz senhorial já utilizadas com sucesso nos arquipé-
lagos atlânticos. Como assinalou Susana Miranda, nesses primeiros
anos de ocupação portuguesa do Brasil o oficialato régio era mínimo32,
pois em matéria de justiça e de governo civil os donatários possuíam a
jurisdição necessária para conduzir o povoamento e a exploração eco-
nómica do espaço que lhes tinha sido doado pela coroa.
Em 1549 a coroa portuguesa estabeleceu, na capitania da Bahia,
o governo-geral do «Estado do Brasil», circunscrição que, a partir
daí, abarcou os vários focos de conquista e de colonização portu-
guesa. Pouco tempo depois, a «Vila Velha» (um pequeno povoado na
entrada da baía de Todos os Santos) seria convertida em São ­Salvador
da Bahia, seguindo-se o estabelecimento do primeiro bispado do
­Brasil, razão pela qual o recém-criado núcleo urbano adquiriu, de
imediato, o estatuto de cidade. O bispado da Bahia seria a única
diocese da América portuguesa até à década de 1670. Já o primeiro
tribunal superior do Estado do Brasil só entraria em funções, em
Salvador, corria o ano de 160933.
A jurisdição do governador-geral, com forte cunho militar, sobre-
punha-se à das capitanias, constituindo uma estrutura de governo
régio de carácter intermédio, dotada de poderes alargados no domí-
nio da coordenação superior da defesa, do exercício da justiça e da
administração da Fazenda34. De qualquer modo, e por comparação
com a solução governativa desenvolvida no Estado da Índia, o leque
dos poderes concedidos ao governador-geral do Estado do Brasil

31
  Thomaz, «Estrutura política e administrativa…», 207.
32
  Miranda e Cardim, «A incorporação…».
33
  Stuart B. Schwartz, Sovereignty and Society of Colonial Brazil. The High Court
of Bahia and Its Judges, 1609-1751 (Berkeley: University of California Press, 1973).
34
  António Manuel Hespanha, «A constituição do império português. Revisão
de alguns enviesamentos correntes», em O Antigo Regime nos Trópicos. A dinâmica
Imperial Portuguesa (Séculos XVI-XVIII), orgs. João Fragoso, Maria Fernanda Bica-
lho e Maria de Fátima Gouvêa (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001), 176-177.

70

Monárquias Ibéricas.indb 70 13/12/18 14:55


A estrutura territorial das duas monarquias ibéricas

é bem mais modesto. Era um posto com muito menos faculdades


governativas e uma muito menor distinção simbólica35.
Na sua actuação os governadores-gerais do Estado do Brasil
tiveram de enfrentar desafios de monta: a vastidão das áreas a con-
quistar; a tenaz resistência dos povos ameríndios; a descontinuidade
territorial da colonização portuguesa; a exiguidade de meios à sua
disposição; e, ainda, a relutância dos donatários em aceitar a autori-
dade desses representantes régios no interior da sua esfera senhorial.
Acresce que, com o avançar da colonização, foram surgindo vários
pólos políticos concorrentes com a autoridade de governador­-geral
da Bahia, como as chamadas «capitanias de baixo», encabeçadas
pelo Rio de Janeiro; a vila de São Paulo, no interior; e, mais tarde, o
­Maranhão, cujo governo seria institucionalizado em 1621 («Estado
do Maranhão e do Pará»).
Com a conquista e ocupação de áreas cada vez mais vastas da
América do Sul, algumas capitanias foram sendo incorporadas pela
coroa, tornando-se, desse modo, «capitanias régias». Distinguiam-
-se das chamadas «capitanias hereditárias» por terem à sua frente
governadores nomeados pela coroa, e não capitães-donatários que
transmitiam esse título hereditariamente. Com o passar do tempo
surgiu também o estatuto de «capitania anexa» ou «capitania subal-
terna», expressões que denominavam capitanias de menor porte e em
grande medida ligadas – política e jurisdicionalmente – às capitanias
de maior relevo, caso de Pernambuco, da Bahia e do Rio de Janeiro.
Porque a capitania da Bahia tinha o estatuto de «capitania-geral», as
suas forças militares tinham um raio de alcance mais amplo.
A despeito da crescente presença de representantes régios e da
sua gradual passagem para a jurisdição régia, as c­ apitanias-donatarias
foram sendo criadas, pela coroa, até ao final do período colonial,
sendo em regra adoptadas em espaços recém-conquistados ou fra-
camente povoados por população de origem portuguesa. Eram uma
forma de criar as bases para uma futura ocupação mais intensiva do
território. As capitanias seriam formalmente abolidas em 1821 e
algumas delas acabariam por ser convertidas em províncias do Brasil
independente.

  Cfr. Francisco Cosentino, «Governadores gerais do Estado do Brasil (séculos xvi


35

e xvii): ofício, regimentos, governação e trajetórias» (Rio de Janeiro: Universidade


Federal Fluminense, 2005, dissertação de doutoramento).

71

Monárquias Ibéricas.indb 71 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

À semelhança do que se passou na Ásia, também não se estabe-


leceu qualquer particularismo reinícola no Estado do Brasil: a lei
portuguesa vigorou nas áreas americanas controladas por Portugal;
os cargos administrativos criados no Brasil eram – e foram sem-
pre – acessíveis a portugueses peninsulares; e os nascidos no Brasil
mas de origem portuguesa eram considerados «vassalos naturais» do
rei português. E apesar de se terem ouvido, no século xviii, apelos
para a celebração de uma reunião de Cortes em solo brasileiro, esse
tipo de assembleia jamais teve lugar, apenas juntas de câmaras.
A ocupação da América, por parte de portugueses e de espanhóis,
envolveu o uso continuado de violência sobre as populações autóc-
tones. Embora vastos sectores das sociedades ameríndias tenham
conseguido sobreviver, estas viram uma parte significativa das suas
terras ser ocupada por indivíduos e grupos de origem europeia. Além
disso, um número considerável de autóctones foi submetido a regi-
mes diversos de trabalho compulsório e, até, à escravatura. Muitos
foram obrigados a abandonar os lugares onde viviam e a deslocar-
-se para povoados criados pelas autoridades coloniais (reducciones,
aldeias). Governadas por oficiais eclesiásticos ou civis, esses povoa-
dos serviram vários propósitos, como por exemplo o fornecimento
de mão-de-obra para as populações de origem europeia que viviam
nas imediações, ou como barreira defensiva contra os ataques das
populações autóctones que continuavam a lutar contra a ocupação
espanhola e portuguesa. De qualquer modo, as culturas ameríndias
revelaram uma extraordinária resiliência, tendo conseguido perdurar
mesmo nessas condições tão difíceis.
Uma palavra para as incursões portuguesas em terras africanas a
sul do Sara. Na África ocidental Portugal já detinha, havia mais de
um século, estabelecimentos nas costas da Guiné e de Benim, bem
como municípios nas ilhas fronteiras de Cabo Verde e de São Tomé e
Príncipe. A partir de 1575 os lusos investiram sobre a costa da África
Central Ocidental, na área onde se desenvolveria, nos anos que se
seguiram, o porto de Luanda. A conquista e a ocupação de enclaves
costeiros e de algumas áreas do interior dessa parte do continente
africano eram indispensáveis para o tráfico de africanos escravizados,
mas foram igualmente estimuladas pelas notícias de que ­existiam
minas de prata em Cambambe. Porque se registou uma forte resis-
tência dos reinos africanos, em particular do reino do Ndongo, o alar-
gamento territorial foi lento e baseou-se em s­ ucessivas ­campanhas

72

Monárquias Ibéricas.indb 72 13/12/18 14:55


A estrutura territorial das duas monarquias ibéricas

­ ilitares, seguidas da construção de uma série de presídios no inte-


m
rior. De qualquer modo, a resistência dos potentados africanos con-
tinuou a ser muito forte e os portugueses tiveram sempre muita
dificuldade em controlar áreas territoriais extensas, ficando-se, quase
sempre, pela ocupação de pequenas áreas no litoral36.
Na África Oriental, a presença lusa repousou sobretudo em for-
mas indirectas de colonização, como os prazos zambezianos, em
que, tirando partido da estrutura matrilinear das sociedades locais,
portugueses se alcandoravam a posições de predominância e de con-
trolo indirecto37. Embora houvesse, desde 1507, uma capitania-geral
na Ilha de Moçambique, feitorias contemporâneas em Sofala e nos
Rios do Sena. Eram, fundamentalmente, pequenos assentamentos
– como Quelimane –, alguns deles nas imediações do rio Zambeze
(Sena e Tete). Entre 1569 e 1630 tiveram lugar expedições milita-
res que visavam conquistar parcelas territoriais mais alargadas no
interior. C­ ontudo, essas incursões enfrentaram, sempre, uma fortís-
sima oposição por parte das autoridades locais e suas forças milita-
res. Refiram-se, também, os tratados que Portugal estabeleceu com
o Monomotapa em 1607 e 1629, através dos quais este potentado
cedeu, para colonização portuguesa, uma vasta área na região a sul
do Zambeze. De qualquer modo, a presença portuguesa foi sempre
bastante exígua do ponto de vista territorial.
Em síntese, no que toca às terras extra-europeias a incorporação
territorial processou-se maioritariamente, no caso espanhol, através
de operações de «conquista», sendo essa incorporação subsequente-
mente legitimada, do lado europeu, por meio de doações pontifícias
e consolidada por tratados diplomáticos negociados entre Castela
e Portugal. No entanto, e como vimos, tal coexistiu, na Ásia, na
­América e em África, com o estabelecimento de numerosos acor-
dos com as autoridades locais, envolvendo a confirmação-doação de
determinados direitos ou o reconhecimento de situações prévias à
chegada dos europeus. Nas Índias de Castela o exemplo mais célebre
é, sem dúvida, o de Tlaxcala. Quanto aos ­portugueses, ­negociaram

36
  Joaquim Romero Magalhães, «As incursões no espaço africano», em História
da Expansão Portuguesa, dirs. Francisco Bethencourt e Kirti N. Chaudhuri (Lisboa:
Círculo de Leitores, 1997), vol. ii, 70-71.
37
  V. Allen Isaacman, «The ‘prazos’ da Coroa, 1752-1830. A functional analysis
of the political system», Studia, n.º 26 (Abril de 1968): 194-277.

73

Monárquias Ibéricas.indb 73 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

c­onstantemente a sua presença com potentados da África subsariana,


do golfo Pérsico, da Índia, do Ceilão, do Sudeste Asiático e da Ásia
oriental38. A par disso, é de destacar a dimensão «informal» da pre-
sença imperial portuguesa no espaço asiático. Este «império informal»
emerge, mais visível, quando as estruturas políticas­-administrativas
formais eram fracas. Assim, torna-se muito evidente no golfo de
Bengala, de São Tomé de Meliapor ao Pegu [bacia de Irrauadi, na
­Birmânia], na Insulíndia, precisamente a área mais estudada pelos
autores que primeiro chamaram a atenção para esta modalidade de
«expansão»39. Já no Brasil, uma área de colonização bem emoldurada
pelas estruturas administrativas da coroa, despertou pouca atenção,
excepto nas periferias, onde havia presenças «portuguesas» infor-
mais, como «índios não bravos» e «bandeirantes crioulos»40. ­Todavia,
a existência desta colonização espontânea, com os seus modelos
informais de organização e disciplina, não é uma característica dis-
tintiva da colonização portuguesa. Para começar, estas comunidades
autónomas e autogeridas, sujeitas apenas a um controlo pouco for-
mal do centro político, existiam nas próprias metrópoles, organiza-
das de acordo com paradigmas políticos não-estatais e pluralistas41.
Para além disso, outros «impérios» – o espanhol, o holandês e o
inglês – também as conheciam. O que acontece é que a maioria das
fontes de história colonial – produzidas no âmbito do Estado e do

38
 Hespanha, A Cultura Jurídica..., 282. Ver a esse propósito os capítulos de Ana
Díaz Serrano e Catarina Madeira Santos.
39
 Sobre esta «tribo portuguesa» de populações crioulas ou nativas, auto ou
heteroidentificadas como «portugueses», ver António Manuel Hespanha, ‘Filhos da
terra’. Comunidades Mestiças nos Confins da Expansão Portuguesa. Lisboa: Tinta-da-
-China, no prelo; Leonard Andaya, «The Portuguese Tribe in the Malay-Indonesian
Archipelago in the Seventeenth and Eighteenth Centuries». Em The Portuguese and
the Pacific, eds. Francis A Dutra e João Camilo dos Santos (Santa Barbara: C ­ enter
for Portuguese Studies, 1995), pp. 129-148; Stefan Halikowski Smith, C ­ reolization
and Diaspora in the Portuguese Indies: The Social World of Ayutthaya, 1640-1720
(Leiden: Koninkloijke Brill, 2011).
40
  Ver Denise Maldi. «De Confederados a bárbaros», Revista de Antropologia,
vol. 40 (2), 1997; A. J. R. Russell-Wood, «New Directions in Bandeirismo Studies
In Colonial Brazil», The Americas, 61.3 (Jan. 2005), 353-371; Alida C. Metcalf,
­Go-betweens and the Colonization of Brazil: 1500–1600 (University of Texas Press,
2005).
41
 Cf. António Manuel Hespanha, «Savants et rustiques. La violence douce
de la raison juridique», Ius commune, 1983 (revisão: António Manuel Hespanha,
A Ordem do Mundo e o Saber dos Juristas, Amazon-Kindle, 2017).

74

Monárquias Ibéricas.indb 74 13/12/18 14:55


A estrutura territorial das duas monarquias ibéricas

seu aparelho – tendem a não referir ou a desvalorizar a acção de agen-


tes não-oficiais na empresa da expansão42.
Formal ou informalmente, todo este processo se saldou pela des-
truição, por parte de portugueses e de espanhóis, de numerosas for-
mações políticas ameríndias e, também, por muita violência nas suas
relações com potentados africanos e asiáticos. Mesmo quando apa-
rentemente mais «suaves», as fontes da época traçaram um retrato
suficientemente violento da relação entre ibéricos e nativos – por
exemplo, no cenário bengalo-indo-malaio-chinês, presente numa
fonte de excepção, como a Peregrinação de Fernão Mendes Pinto –
para desaconselhar qualquer leitura calmante ou edificante deste
mundo da expansão, um mundo reciprocamente hostil e violento.

O nome do conjunto: império, monarquia


ou conquistas?
Olhemos agora para a designação de conjunto que foi atribuída
a cada um dos dois conglomerados territoriais que resultaram da
expansão de portugueses e de espanhóis.
A conquista de espaços «ultramarinos» deu origem a uma cres-
cente produção discursiva sobre a ideia de «império»43 e o seu pode-
roso imaginário esteve muito presente entre todos aqueles que
protagonizaram a ocupação de terras, dentro e fora da Europa44.

42
  Ver Cátia Antunes. «Free Agents and Formal Institutions in the Portuguese
empire: Towards a Framework of Analysis», Portuguese Studies, 28.2(2012), 173-185,
maxime 174-176. No caso português, uma magnífica exceção é a de Fernão Mendes
Pinto que, na sua Peregrinação (1614), faz a crónica deste outro império das sombras,
em que os actores são aventureiros, comerciantes privados, piratas, agindo fora da lei
e dos espaços imperiais, fracamente relacionados – ou mesmo nada – relacionados
com os poderes formais. De alguma forma e em menor grau, os cronistas da Igreja
também nos podem permitir ter um olhar para as comunidades de crentes completa­
mente, independentemente de sua obediência ao império. Mas, aqui, as ficções são
outras, nomeadamente a do carácter exemplar da missão. Sobre o interesse histórico­-
-antropológico, Joan-Pau Rubiés, «The Oriental Voices of Mendes Pinto, or the tra-
veller as ethnologist in Portuguese India», Portuguese Studies, vol. 10, 1994, pp. 24-43.
43
  Carlos Jose Hernando Sánchez, Las Indias en la Monarquía…, 14 e 49.
44
  Xavier Gil Pujol, «Imperio, monarquía universal, equilibrio: Europa y la polí-
tica exterior en el pensamiento político español de los siglos xvi y xvii», Lezione
XII del Seminario de la Università di Perugia (Dipartimento di Scienze Storiche,
1996), 4.

75

Monárquias Ibéricas.indb 75 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

No contexto português assistiu-se à elaboração de um discurso de


dominação imperial fundamentalmente suscitado pela expansão
«ultramarina», em especial na Ásia45. Logo no início do século xvi
Francisco de Almeida e Afonso de Albuquerque, duas figuras cen-
trais da presença lusa na Ásia, sugeriram a D. Manuel que assumisse
o título de «imperador», alegando que o soberano português era
dele merecedor porque contava com vários reis como tributários.
No entanto, nem D. Manuel nem nenhum dos subsequentes reis
portugueses usaram o título imperial ou denominaram oficialmente
os seus domínios como «império»46.
O imaginário imperial também se fez sentir, com muita intensi-
dade, no contexto espanhol. Muito embora a conquista da América
tenha tido o seu peso, no âmbito hispânico o relançamento do ima-
ginário imperial foi sobretudo motivado pelas uniões e conquistas
de territórios localizados no espaço europeu. Contudo, Carlos V
não classificou o seu conglomerado territorial como um «imperio»
porque alguns dos seus reinos, com Castela à cabeça, insistiam no
facto de que estavam isentos da jurisdição imperial, frisando que esse
título não tinha precedência nos seus territórios47. Além disso, era
um título fundamentalmente ligado à realidade centro-europeia do
Sacro Império.
Mais frequente – sobretudo nos contextos castelhano e arago-
nês – foi a utilização de «monarquia» para designar o conjunto de
territórios, europeus e não-europeus. Recorde-se que eram termos
que tinham um significado muito especial para a sensibilidade polí-
tica coetânea. Antes de mais porque o título de «monarca» se repor-
tava ao domínio exercido sobre um conjunto vasto e heterogéneo
de territórios, muitos deles com o estatuto de reino. Do «monarca»
se dizia que exercia esse poder tão alargado não propriamente por

45
 Cfr. maxime Giuseppe Marcocci, L’invenzione di un impero. Politica e cultura
nel mondo portoghese (1450-1600) (Roma: Carocci, 2011).
46
 Luís Filipe Thomaz, «L’idée impériale manueline», em La découverte, le
­Portugal et l’Europe. Actes du colloque, org. Jean Aubin (Paris: Fundação Calouste
Gulbenkian, 1990), 35-103.
47
  Pablo Fernández Albaladejo, «‘Imperio de por sí’: la reformulación del poder
universal en la temprana Edad Moderna», em Fragmentos de Monarquía. Trabajos de
historia política (Madrid: Alianza, 1982), 168-183; John Robertson, «Empire and
union: two concepts of the early modern political order», em A Union for Empire.
Political Thought and the British Union of 1707, org. John Robertson (Cambridge:
Cambridge University Press, 1995), 6 e segs.

76

Monárquias Ibéricas.indb 76 13/12/18 14:55


A estrutura territorial das duas monarquias ibéricas

avidez ou ambição, mas sim porque tinha como meta a realização de


um ancestral anseio da cristandade: o domínio universal sob o signo
do catolicismo. Isso mesmo é sugerido pelo qualificativo «católico»,
evocador de domínio universal, mas também de uma especial res-
ponsabilidade, política e moral48.
Em todo o caso, do ponto de vista político e jurídico a categoria
«monarquia» não estava isenta de problemas. Antes de mais, por-
que para muitos evocava não propriamente um poder benigno de
inspiração católica, mas sim uma ideia agressiva de dominação uni-
versal e, portanto, desmedida, violenta ou, até mesmo, antinatural.
Acresce que, e como frisou I. A. A. Thompson, a «monarquia» era
uma entidade corporativa desconhecida pelo direito, não tinha um
ordenamento próprio e remetia para um conceito de autoridade mais
carismático do que jurídico, razão pela qual a mentalidade jurídica
«não a entendia»49.
No que especificamente respeita aos territórios ultramarinos, em
Castela a expressão «Indias de Castilla» acabou por ser aquela que
se impôs. No contexto português, pelo contrário, com o passar do
tempo o conceito de «conquista» tendeu a adquirir um sentido bas-
tante amplo, passando a denominar a totalidade dos espaços ultra-
marinos sob a alçada dos reis de Portugal (mesmo sabendo-se que
os lusos combinaram as ações militares de «conquista» com alguns
acordos com as autoridades locais). Assim, no léxico português dos
séculos xvi e xvii tornou-se muito frequente o uso da expressão
«conquistas ultramarinas» para qualificar, em termos gerais, os terri-
tórios situados fora da Europa e dela separados por mar.
O perfil dos órgãos especializados no governo das «conquis-
tas» também é revelador da condição jurídica dos territórios afri-
canos, americanos e asiáticos detidos pelos ibéricos. No que toca
ao governo central de Portugal, as terras localizadas fora da Europa
começaram por ser administradas pelos órgãos de governo e de

48
  John H. Elliott, «Monarquía compuesta y Monarquía Universal en la época
de Carlos V», em Carlos V. Europeísmo y universalidad. Vol. V – Religión, cultura y
mentalidad, AA.VV. (Madrid: SECCFC, 2001), 699-710.
49
  I. A. A. Thompson, «La Monarquía de España: La invención de un concepto»,
em Entre Clío y Casandra. Poder y sociedad en la Monarquía Hispánica durante la
edad moderna, orgs. Francisco Xavi Guillamón, Julio D. Muñoz Rodriguez e David
Centenero de Arce, Cuadernos del seminario Floridablanca, n.º 6 (Universidad de
Murcia: Servicio de Publicaciones, 2005): 33-56.

77

Monárquias Ibéricas.indb 77 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

administração preexistentes e baseados em Lisboa. Foi precoce a


criação da Casa de Ceuta (1434), depois transformada em Casa da
Guiné e da Mina e, mais tarde, seguida pela Casa da Índia, criada, ao
que tudo indica, em 1500, ou seja, ainda antes do estabelecimento da
Casa de la Contratación em Sevilha (1503). Quanto ao primeiro con-
selho palatino português especializado em questões «ultramarinas»,
o efémero Conselho da Índia, foi estabelecido em 1604 e suprimido
em 161450. Algumas décadas mais tarde, em 1642-1643, as autorida-
des portuguesas criaram um outro conselho especializado em maté-
rias referentes à Ásia, à América e à Ásia: o Conselho Ultramarino51.
Entrando no século xviii verificamos que, quando se levou a cabo
a institucionalização das secretarias de Estado (1736), a designa-
ção escolhida para a secção especializada nos assuntos relativos aos
territórios extra-europeus acabou por ser «Secretaria de Estado da
­Marinha e do Ultramar»52.
Quanto à coroa de Castela, vimos já que foi na década de 1520
que definiu, com mais precisão, o estatuto das terras americanas que
estavam então a ser conquistadas. A criação do Consejo de Indias e a
sua colocação sob a alçada do Consejo de Castilla fez parte de tal pro-
cesso. A partir de 1526 este conselho desempenhou um papel funda-
mental no governo dos territórios exteriores à Europa que estavam
sob a dominação da Monarquia Hispânica53. Convém notar, em todo
o caso, que o Consejo de Indias não foi classificado, no início, como
«Supremo» porque não era presidido pelo rei nem detinha qualquer
direito exclusivo para intervir no governo das terras americanas.

50
  Francisco Mendes Luz, O Conselho da Índia. Contributo ao Estudo da Histó-
ria da Administração do Ultramar Português nos Princípios do Século XVII (Lisboa:
Agência Geral do Ultramar, 1952); Guida Marques, L’Invention du Brésil entre deux
mondes. Gouvernement et pratiques politiques de l’Amérique portugaise dans l’union
ibérique (1580-1640) (Paris: EHESS, 2009), 257 e segs.
51
  Erik Lars Myrup, «Kings, Colonies, and Councilors: Brazil and the Making
of Portugal’s Overseas Council, 1642-1833», The Americas, vol. 67, n.º 2 (Outubro
2010): 185-218; Miguel Cruz, Um Império de Conflitos. O Conselho Ultramarino e
a Defesa do Brasil Colonial (Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2015).
52
  Cfr. Maria Fernanda Bicalho, «Ascensão e queda dos Lopes de Lavre: secre-
tários do Conselho Ultramarino», em Raízes do Privilégio. Mobilidade Social no
Mundo Ibérico do Antigo Regime, orgs. Rodrigo Bentes Monteiro, Bruno Feitler,
Daniela Calainho e Jorge Flores (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011),
283-315.
53
  Garriga, «Patrias criollas…», 39 e ss.

78

Monárquias Ibéricas.indb 78 13/12/18 14:55


A estrutura territorial das duas monarquias ibéricas

Muitas outras instituições régias também intervieram nos proces-


sos de decisão sobre matérias ligadas às terras americanas e asiáticas
sob o domínio de Castela54. Do ponto de vista da cultura jurídica e
política da época, esta ausência de exclusivismo jurisdicional era uma
clara indicação de que não se reconhecia qualquer particularismo
jurídico-político a esses territórios.
A institucionalização do Consejo de Indias como órgão subordi-
nado ao Consejo de Castilla confirmou que as Índias ficariam situa-
das na esfera castelhana. Do ponto de vista espanhol tratou-se de
um processo de territorialização, ou seja, a conversão do espaço
americano (como entidade geográfica) em território (como entidade
política), um espaço armado de jurisdição, uma área politicamente
estruturada de acordo com os padrões europeus. Esse processo con-
firmou, também, que, do ponto de vista hispânico, as Índias eram um
espaço mais ou menos vazio, sem instituições nem ordenamentos
suficientemente fortes ao ponto de servirem de contraponto à von-
tade do príncipe. E confirmou, ainda, que o direito castelhano seria
comum nos territórios das Índias55.
No início do reinado de Filipe II foram dados outros passos no
sentido de clarificar o modo como as várias partes da Monarquia
Hispânica se articulavam entre si em termos político-jurisdicionais.
Destaque-se a criação do Consejo de Italia, um conselho palatino
especializado nos assuntos de Nápoles, da Sicília e de Milão56 e que
se juntou aos já existentes Consejo de Castilla e Consejo de Aragón.
Como explicou Jon Arrieta Alberdi57, estas e outras mudanças reve-
lam que a liderança da Monarquia sentiu a necessidade de se colocar
num plano mais elevado, numa posição supraterritorial que lhe pro-
porcionasse uma visão global e que lhe permitisse actuar devidamente
em cada matéria governativa. Tal passou pelo desenvolvimento do

54
  Arrigo Armando Amadori, Política americana y dinámicas de poder durante
el valimiento del Conde-Duque de Olivares (1621-1643) (Madrid: Universidad
­Complutense de Madrid, 2011), 54 e segs.
55
  Carlos Garriga, «Sobre el gobierno de la justicia en Indias (siglos xvi-xvii)»,
Revista de Historia del Derecho (Buenos Aires), 34 (2006): 67-160.
56
  Manuel Rivero, Felipe II y el gobierno de Italia (Madrid: SECCFC, 1998); e
Gaetano Sabatini, «El espacio italiano de la Monarquía: distintos camiños hacia una
sola integración», em Las Indias Occidentales. Procesos de incorporación territorial
a las Monarquías Ibéricas, orgs. Óscar Mazín e José Javier Ruiz Ibáñez (México:
Fondo de Cultura Económica / Colegio de México, 2012), 155 e segs.
57
  Alberdi, «Ubicación…», 129.

79

Monárquias Ibéricas.indb 79 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

sistema polissinodal, mas também pelo investimento na capitalidade


de Madrid, urbe que, com o passar do tempo, foi apresentada como
patria communis – uma noção jurídica tradicional que designa a corte
como foro comum de todos os vassalos –, uma «pátria de todos»,
corte de todos os vassalos dos Áustrias e um lugar que, em teoria,
estava separado do solo castelhano e onde as questões dos diversos
territórios seriam apreciadas por oficiais e magistrados conhecedores
do ordenamento a aplicar em cada caso.
O desenvolvimento da estrutura polissinodal tornou mais visível o
estatuto de que cada um dos diversos territórios desfrutava. A­ queles
que mantiveram o seu ordenamento continuaram a contar com um
conselho palatino correspondente; com uma normativa própria;
com tribunais territoriais que aferiam a admissibilidade das medidas
tomadas pelo rei, criando um estilo próprio que servia de base à juris-
prudência territorial; e, também, com auto-suficiência jurisdicional,
no sentido em que os processos se resolviam dentro do seu âmbito
jurisdicional e por magistrados naturais desses territórios.
É importante ter em conta que o estatuto político que portugue-
ses e espanhóis atribuíram aos territórios incorporados pela força
das armas não era estático. Com o passar do tempo, tanto no âmbito
castelhano quanto no português, alguns dos territórios que foram
inicialmente qualificados como «conquistas» questionaram o laço
que os unia à coroa que os havia incorporado, reivindicando a revisão
da ideia de conquista inicial58. À semelhança do que foi acontecendo,
por exemplo, em Navarra, na América espanhola os grupos dirigen-
tes dos territórios originariamente de «conquista» procuraram mini-
mizar o que tinha sucedido, apresentando-se como incorporados por
pacto ou por herança. No que respeita a Portugal, algo de análogo se
passou no Estado da Índia: em Goa, o grupo dos «casados» também
fez ouvir a sua voz, desenvolvendo uma linguagem fortemente rei-
vindicativa e clamando por mais direitos, designadamente preferên-
cia no acesso aos ofícios e distinções locais59.

  José Javier Ruiz Ibáñez e Gaetano Sabatini, «Monarchy as Conquest. ­Violence,


58

Social Opportunity, and Political Stability in the Establishment of the Hispanic


Monarchy», The Journal of Modern History, vol. lxxxi, n.º 3 (2009): 501-536.
59
  Ângela Barreto Xavier, «Dissolver a Diferença – Conversão e Mestiçagem no
Império Português», em Itinerários: A Investigação nos 25 Anos do ICS, eds. Manuel
Villaverde Cabral, Karin Wall, Sofia Aboim e Filipe Carreira da Silva (­Lisboa:
Imprensa de Ciências Sociais, 2018), 720 e segs.

80

Monárquias Ibéricas.indb 80 13/12/18 14:55


A estrutura territorial das duas monarquias ibéricas

Sintomaticamente, na segunda metade do século xvi o termo «con-


quista» foi-se tornando mais incómodo no contexto da A ­ mérica his-
pânica, deixando de ser aplicado aos hispano­-americanos, referindo­-se,
apenas, ao modo como a população ameríndia tinha sido subjugada.
Em 1573, nas Ordenanzas de descubrimientos, nueva población y pacifi-
cación de las Indias, as autoridades decidiram mesmo suprimir a palavra
«conquista» e substituí-la pelo termo «pacificação», por considerarem
que «conquista» era um vocábulo que denotava uma submissão dema-
siado unilateral e especialmente vertical, para além de evocar a enorme
violência da conquista e ­ocupação da América60.

O estatuto político dos territórios entre meados


de Quinhentos e 1700
A partir de meados do século xvi as vicissitudes da política dita-
ram várias mudanças no estatuto de alguns dos territórios que esta-
vam sob a alçada dos reis de Portugal e de Castela-Aragão.
Refiram-se, antes de mais, os desenvolvimentos no contexto
espanhol. A inexistência de um ordenamento jurídico comum para
o conjunto da Monarquia dos Áustrias contribuiu para uma certa
desarticulação interna no plano governativo. Em parte por esse
motivo, as autoridades começaram a recorrer, com cada vez mais
frequência, ao direito de Castela e a chamar um número crescente
de naturais desse território para o desempenho de cargos nos mais
diversos territórios da Monarquia. Quanto ao direito régio caste-
lhano, continuou a expandir-se para os demais territórios ibéricos,
mas agora de uma forma mais programática61. Perante este processo,
as autoridades aragonesas, catalãs, valencianas ou maiorquinas reagi-
ram «defensivamente», fixando, em compilações de legislação, o seu
direito privativo, e procurando preservar as instituições que simboli-
zavam o estatuto político dos seus territórios62.

60
  Acerca das reservas acerca da categoria «conquista», numa perspectiva europeia,
ver Anthony Pagden, «Afterword: from Empire to Federation», em ­Imperialisms.
Historical and Literary Investigations, 1500-1900, eds. Rajan Balachandra e ­Elizabeth
Sauer (Nova Iorque: Palgrave Macmillan, 2004), 259 e segs.
61
 Bartolomé Clavero, Temas de historia del derecho. Derecho de los reinos (Sevi-
lha: Publicaciones de la Universidad de Sevilla, 1980), 2.ª edição, revista, 116 e segs.
62
  Clavero, Temas…, 116.

81

Monárquias Ibéricas.indb 81 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Apesar de também se encontrar sob a dinâmica expansiva do


direito castelhano, Portugal, por ser um reino independente, não
teve de suportar o mesmo tipo de pressão sobre a sua normativa,
acabando por desenvolver o seu ordenamento jurídico em função
dos seus próprios interesses e estratégia. Contudo, a crise sucessória
de 1580-1581 e a subsequente incorporação de Portugal na Monar-
quia Hispânica interromperam este processo, dando origem a uma
intensa reflexão sobre o estatuto do território português. Como se
sabe, as elites portuguesas negociaram bastante bem a sua entrada nos
domínios dos Habsburgo e alcançaram uma situação ímpar, sobre-
tudo quando comparada com a dos outros integrantes da Monar-
quia de Filipe II (à excepção de Castela, claro). No fundamental,
Portugal e as suas possessões ultramarinas mantiveram-se como um
espaço territorial demarcado pela linha de Tordesilhas e separado da
Monarquia espanhola. E a despeito de, na entrada de Filipe II em
Portugal, ter ocorrido uma operação de «conquista», também se veri-
ficou muita negociação63, acabando por não ter lugar uma tentativa
sistemática de impor uma «planta» castelhana às instituições congé-
neres situadas no espaço jurisdicional de Portugal. Filipe II acabou
por optar por uma união aeque principaliter e, consequentemente, o
território português continuou a contar com uma série de marcas do
seu particularismo reinícola64.
Assim, foi criado o Consejo de Portugal, um conselho palatino
próprio, no qual só tinham assento «naturais» do reino, dotado do
estatuto de «supremo» (porque presidido pelo monarca) e com o
exclusivo sobre matérias portuguesas. Manteve-se em vigor a nor-
mativa régia lusa e não se tocou na rede de tribunais que já marcavam
presença no espaço português. Manteve-se, igualmente, uma situa-
ção de auto-suficiência jurisdicional, no sentido em que os proces-
sos se resolviam dentro do âmbito do ordenamento português e por
magistrados naturais de Portugal; conseguiu-se que os títulos e os
benefícios portugueses só fossem concedidos a pessoas naturais de
Portugal, e que a língua portuguesa fosse o idioma oficial para lidar

63
  Fernando Bouza Álvarez, Felipe II y el Portugal «dos povos». Imágenes de espe-
ranza y revuelta (Valhadolid: Universidad de Valladolid, 2010).
64
  Fernando Bouza Álvarez, «Portugal en la monarquía hispánica (1580-1640).
Felipe II, las Cortes de Tomar y la génesis del Portugal católico» (Madrid: Univer-
sidade Complutense de Madrid, 1987, dissertação de doutoramento); Jean-Frédéric
Schaub, Portugal na Monarquia Hispânica (Lisboa: Livros Horizonte, 2001).

82

Monárquias Ibéricas.indb 82 13/12/18 14:55


A estrutura territorial das duas monarquias ibéricas

com assuntos governativos lusos65. Filipe II comprometeu-se, ainda,


a colocar à frente do governo português um dignitário aparentado
com a família real e, last but not least, Portugal manteve-se como um
território separado do resto da Monarquia, característica que, como
vimos, incluiu não só o espaço peninsular, mas também o conjunto
do mundo ultramarino português. No fundo, o estatuto fortemente
particularista que foi alcançado por Portugal mostra que, quanto
mais tardias eram as incorporações, mais «subiam de tom» as reivin-
dicações dos «incorporados». E revela, também, o quão complexas
podiam ser as uniões entre entidades que já eram muito heterogéneas
antes de a união se consumar.
A partir de finais do século xvi o conglomerado dos Áustrias pas-
sou a ser mais frequentemente apelidado de «monarquia», categoria
que permitia englobar as suas vastas e diversificadas terras, ordená­-
-las hierarquicamente e conferir à autoridade dos reis um cunho cató-
lico ainda mais forte. Por vezes essa categoria vinha acompanhada por
adjectivos como «católica» ou «espanhola». Contudo, este último
atributo estava longe de ser pacífico. Convém lembrar que «­Espanha»
ou «espanhol» eram categorias que, apesar de serem usadas na inte-
racção quotidiana, não existiam de jure. Além disso, os vassalos dos
Áustrias oriundos dos territórios exteriores à Península Ibérica (por
exemplo, de Itália ou da Flandres) não se reviam nesses qualificativos,
preferindo designações desprovidas de conotações «nacionais», como
«Monarquia Católica»66.
Nos primeiros anos de Seiscentos foram sendo tomadas cada
vez mais medidas que não tinham em conta o estatuto político dos
ter­ritórios da Monarquia Hispânica, tendo sido sobretudo sob o
valimento do conde-duque de Olivares que essa estratégia assumiu
contornos mais programáticos. Como é sabido, a pressão sobre os
«foros» dos territórios materializou-se no intensificar da expansão da
normativa castelhana (sobretudo nas áreas militar e fiscal), na colo-
cação de naturais de Castela à frente de órgãos que ­representavam

65
  Para este tema é fundamental a consulta dos trabalhos de Fernando Bouza
Álvarez; e, também, de Jean-Frédéric Schaub, Portugal na Monarquia…
66
  Maria José Rodríguez-Salgado, «Christians, Civilised and Spanish: multiple
identities in Sixteenth Century Spain», Transactions of the Royal Historical Society,
6th series, vol. 8 (1998): 250-251; e, Antonio Feros, «‘Por Dios, por la Patria y el
Rey’: el mundo político en tiempos de Cervantes», em España en Tiempos del Qui-
jote, dirs. Antonio Feros e Juan Gelabert (Madrid: Taurus, 2004), 61-96.

83

Monárquias Ibéricas.indb 83 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

outros territórios (como por exemplo o Consejo de Aragón entre


1628 e 1646) e, ainda, na defesa da prerrogativa régia para nomear
oficiais em qualquer ponto da Monarquia Hispânica, segundo a con-
veniência da coroa e não de acordo com o particularismo de cada
território67. No famoso Gran Memorial (1624) enunciava-se o pro-
pósito de «reduzir os reinos ao modo de Castela», naquilo que
­prometia ser uma importante reconfiguração da forma de união em
que assentava a Monarquia, sobretudo em duas principais áreas: no
plano militar e no terreno fiscal68.
As terras americanas69 e asiáticas70 não escaparam a esta pres-
são reformadora nos campos militar e fiscal. Aliás, desde finais de
­Quinhentos que se fazia sentir, na América, a tendência para pôr de
lado os particularismos reinícolas e para lidar com todos os territó-
rios como se cada um deles não tivesse qualquer especificidade juris-
dicional71. Importa ter presente que foi neste contexto que Antonio
de León Pinelo escreveu o seu Discurso sobre la importancia, forma,
y disposición de la Recopilación de Leyes de las Indias Occidentales...
(1623), uma tentativa de sistematizar as normas que diziam respeito
à América72. Anos antes, em 1614, a coroa estabelecera que as novas
leis promulgadas em Castela só seriam aplicadas nas Índias mediante
uma ordem explícita nesse sentido, sinal de que a especificidade da
normativa produzida in loco nos diversos pontos da América espa-
nhola estava a acentuar-se. As compilações de leis que foram surgindo
deram mais visibilidade ao ordenamento jurídico vigente em terras
americanas, contribuindo para reforçar os argumentos ­daqueles que

67
  Alberdi, «Ubicación…», 146 e ss.
68
  Pablo Fernández Albaladejo, «Common Souls, Autonomous Bodies: the lan-
guage of Unification under the Catholic Monarchy, 1590-1630», Revista Internacio-
nal de Estudios Vascos, Cuad. 5 (2009): 75.
69
  Jonathan Israel, «Olivares and the government of the Spanish Indies, 1621-
-1643», em Jonathan Israel, Empires and Entrepots. The Dutch, the Spanish Monarchy
and the Jews, 1585-1713 (Londres: The Hambledon Press, 1990), 265-283.
70
  Rafael Valladares, Castilla y Portugal en Asia (1580-1680). Declive imperial y
adaptación (Lovaina: Leuven University Press, 2001).
71
  Tamar Herzog, Defining Nations. Immigrants and citizens in early modern
Spain and Spanish America (New Haven-Londres: Yale University Press, 2003), 64
e segs.
72
  Sobre León Pinelo, veja-se El Gran Canciller de las Indias, [1629], ed. G.
Lohmann Villena (Sevilha: Publicaciones de la Escuela de Estudios Hispanoameri-
canos, 1953).

84

Monárquias Ibéricas.indb 84 13/12/18 14:55


A estrutura territorial das duas monarquias ibéricas

procuravam tirar partido de um suposto particularismo73. Em todo


o caso, o conceito de «derecho de Indias» – que a historiografia do
século xx tornou corrente – não estava estabelecido, pois a unidade
jurídica do todo colonial americano era fictícia, sendo antes eviden-
tes os particularismos jurídicos de cada uma das muitas partes do
território espanhol das Américas74.
Ao longo desses anos coexistiram, por vezes de uma forma tensa,
duas visões contrastantes do mundo ultramarino hispânico: de um
lado estavam aqueles que insistiam no facto de as Índias serem parte
integrante de Castela, alegando que, por esse motivo, estavam des-
providas de qualquer particularismo substantivo no plano político­-
-jurídico; do outro, os que frisavam o particularismo das Índias e a
sua especificidade jurisdicional. Hoje sabemos que a tese do parti­
cularismo jurisdicional americano servia os interesses das ­ elites
criollas, que assim pretendiam reivindicar direitos exclusivos a car-
gos e mercês, bem como os regimes jurídicos locais, muito mais
favoráveis ao domínio e à exploração dos indígenas. Pelo contrário,
a tese da unidade jurídica entre Castela e as Índias adequava-se à
visão veiculada pelo famoso Gran Memorial, especialmente notória
no passo onde se refere que os territórios americanos eram «casi uno
en ­Castilla», ou seja, uma espécie de províncias de Castela75.
Com o aprofundar da crise da Monarquia de Filipe IV, a pressão
sobre os «foros» dos territórios aumentou ainda mais, em especial
nas áreas militar e fiscal76. Quanto à categoria «território conquis-
tado», começou a ser aplicada a reinos e a províncias que até aí não
eram oficialmente considerados como tais. A normativa castelhana
também se expandiu com uma especial intensidade, facto que deu
origem a uma nova onda de reacções defensivas em toda a M ­ onarquia.

73
  Cf. Tamar Herzog, «Los americanos frente a la monarquía: el criollismo y
la naturaleza española», em La monarquía de las naciones. Patria, nación y natura-
leza en la Monarquía de España, orgs. Antonio Álvarez-Ossório e Bernardo García
(Madrid: Fundación Carlos de Amberes, 2004), 77-92.
74
  Ver, sobre a construção historiográfica do conceito, António Manuel Hespa-
nha, «El ‘derecho de Indias’… ».
75
  Demetrio Ramos Pérez, «Las ciudades de Indias y su asiento en Cortes de
Castilla», Revista del Instituto de Historia del Derecho Ricardo Levene, Buenos
Aires, n.º 18 (1967): 180 e segs.
76
  No âmbito inquisitorial essa pressão também se fez sentir, como assinalou
Ana Isabel López Salazar, Inquisición y política. El gobierno del Santo Oficio en el
Portugal de los Austrias (1578-1653) (Lisboa: CEHR-UCP, 2011).

85

Monárquias Ibéricas.indb 85 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

No caso do ordenamento português, foi sem dúvida determinante


o facto de Portugal, mesmo sob os Áustrias, continuar a encabeçar
um vasto conglomerado ultramarino. Este facto conferiu uma força
muito significativa ao reino luso e ao seu ordenamento, dando-lhe
um prestígio e uma projecção que faltavam, por exemplo, aos orde-
namentos aragonês, catalão, valenciano ou malhorquino.
O ano de 1640 ficaria marcado pelo eclodir de duas grandes revol-
tas na Península Ibérica: primeiro na Catalunha e, alguns meses mais
tarde, em Portugal. A partir desse momento as autoridades desses
dois territórios insurgentes deram início ao processo de desvin-
culação dos seus ordenamentos político-jurídicos relativamente à
Monarquia Hispânica.
Na Catalunha – território governado pelos Áustrias havia bas-
tante mais tempo do que Portugal –, pouco tempo depois da eclo-
são da revolta foram tomadas as primeiras medidas no sentido da
sua desagregação da Monarquia de Filipe IV. Contudo, ao invés da
instauração de uma situação independente, optou-se pelo estabeleci-
mento de uma ligação política com a França e a Catalunha passou a
ter à sua frente um vice-rei francês. A despeito do estatuto vice-rei-
nal que lhe foi atribuído, a Catalunha seria tratada, pelas autoridades
francesas, como uma «província»77.
Em Portugal, pelo contrário, a desvinculação da Monarquia dos
Áustrias levou ao retomar da condição de reino independente, bem
como ao sublinhar de todos os atributos do seu estatuto de «reino»,
como por exemplo a liderança do corpo político por um rei «natural»
do reino – D. João IV – ou a frequente convocatória da assembleia de
Cortes, presidida pelo monarca.
A restauração da autoridade dos Áustrias na Catalunha, a partir
de 1653, foi um importante observatório para o que poderia vir a
acontecer aos rebeldes portugueses, ainda em luta contra Filipe IV.
Na sequência da conquista de Barcelona discutiu-se o que fazer
com o estatuto político do principado. Apesar de terem circulado

  Xavier Gil Pujol, «‘The Good Law of a Vassal’. Fidelity, obedience and obliga-
77

tion in Habsburg Spain», Revista Internacional de Estudios Vascos, Cuad. 5 (2009):


101 e segs.; ver também, de Daniel Aznar, «La Catalunya Borbónica (1641-1659):
Virregnat I dinàmiques de poder durant el govern de Lluís XIII i Lluís XIV de
França al principat», em Del Tractat dels Pirineus [1659] a l’Europa del segle XXI, un
model en construcció?, org. Oscar Jané (Barcelona: Generalitat de Catalunya-Museu
d’Història de Catalunya, 2010), 265-278.

86

Monárquias Ibéricas.indb 86 13/12/18 14:55


A estrutura territorial das duas monarquias ibéricas

a­ lgumas propostas bastante duras, Filipe IV e os que o rodeavam


resolveram não as implementar, acabando por decidir manter as leis
do principado e os privilégios de Barcelona como concessão ex novo.
Por outras palavras, a derrota catalã não levou à «redução» do esta-
tuto político da Catalunha. O que se decidiu foi, fundamentalmente,
uma maior carga fiscal e um controlo militar muito mais rigoroso
sobre Barcelona e sobre os processos de escolha daqueles que iriam
fazer parte de órgãos politicamente mais sensíveis, como o Consell
de Cent ou a Diputación.
Com o tratado de paz de 1668 entre Portugal e a Monarquia de
Carlos II, Portugal voltou a ostentar todos os atributos político-
-jurídicos do seu estatuto reinícola. A coroa portuguesa aproveitou
então para intensificar a sua presença na América do Sul, agora que o
Brasil se assumia cada vez mais como a parte principal da estratégia
ultramarina portuguesa (a partir de 1640 alguns governadores-gerais
do Brasil passaram a ostentar o título de vice-rei). Sinal de que as
autoridades portuguesas estavam apostadas num controlo territorial
mais efectivo é o facto de a malha eclesiástica do Atlântico Sul se ter
adensado significativamente ao longo destes anos78.

6. Da Nueva Planta ao final do Antigo Regime


A partir de 1700 teve início a desagregação da Monarquia dos
Áustrias. Desencadeado pelo vazio sucessório gerado pela morte de
Carlos II, este processo teve, como se sabe, um enorme impacto no
estatuto de alguns dos principais territórios hispânicos.
Assim, em plena guerra da sucessão de Espanha, e logo após a
vitória bourbónica em Almansa (Abril de 1707), decretou-se a abo-
lição do ordenamento de Valência. Quanto a Aragão, os seus foros
também foram abolidos em 1707, mas esta medida só se tornou
efectiva a partir de 1711. Estas decisões foram uma surpresa para
muitos, devido ao seu sentido de transformação radical e de corte
com a tradicional forma de lidar com a estrutura constitucional da
monarquia79. Nesse mesmo ano impôs-se uma «Nueva planta de la

78
  Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia, introdução de Bruno Feitler
e Evergton Sales Souza (São Paulo: Universidade de São Paulo, 2010).
79
  Garriga, «Sobre el gobierno de Cataluña…», 13 e segs.

87

Monárquias Ibéricas.indb 87 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Audiencia» de Aragão e, a partir daí, o Consejo de Castilla passou a


ser a instância de recurso às decisões desse alto tribunal aragonês, até
porque, entretanto, na corte, o Consejo de Aragón tinha sido supri-
mido80. Em 1715 chegou a vez de a reforma chegar a Maiorca.
Quanto à Catalunha, a resistência contra Filipe V foi mais tenaz
e longa do que em outros territórios. O castigo aplicado a partir de
1716 teve isso em conta, e a situação de ocupação militar sofrida pelos
catalães, após a guerra, propiciou o intervencionismo régio nesse ter-
ritório. O decreto de Nueva Planta correspondente à ­Catalunha foi
promulgado em 1716 e, através dele, a Catalunha foi reduzida a pro-
víncia, as «Corts» e a sua «Diputació» foram suprimidas, e o mesmo
aconteceu à Audiencia81. A Nueva Planta foi aplicada com especial
dureza na Catalunha, dando origem a exílios, ao confisco de bens e a
outras medidas repressivas.
Filipe V pôs fim à união aeque principaliter entre Castela e Aragão
e enveredou por uma união «compacta», na qual Aragão, Catalunha,
Valência e Maiorca perderam o estatuto de «reino» e passaram a ser
tratados como províncias. Recorde-se que Navarra, porque perma-
neceu leal a Filipe V, não foi abrangida pela Nueva Planta, o mesmo
se podendo dizer das Províncias Bascas82. Quanto à América, por-
que se manteve fiel aos Bourbons e porque a adesão ao «austracismo»
foi, aí, muito minoritária, não conheceu qualquer mudança substan-
tiva no seu ordenamento aquando da instauração da nova dinastia.
Como assinalou Jon Arrieta Alberdi83, os ordenamentos dos rei-
nos de Aragão ficaram subordinados ao de Castela e o Consejo de
Castilla saiu deste processo fortalecido, pois, na prática, absorveu,
também, o Consejo de Estado, passando a ser acompanhado pelo
­Consejo de Navarra e pelo Consejo de Indias. Seja como for, o estatuto
reinícola de Castela também foi desaparecendo, ao mesmo tempo
que se afirmava, pelo menos no plano das ideias, a unicidade territo-
rial da «Espanha». Sintomaticamente, o direito que se desenvolveu,
a partir desse momento, foi sendo qualificado como «espanhol» e
estendido a todos os territórios da desaparecida coroa de Aragão.

  Clavero, Temas…, 207.


80

  Clavero, Temas…, 232-233.


81

82
  Jon Arrieta Alberdi, «La Idea de España entre los Vascos de la Edad Moderna»,
em Idea de España en la Edad Moderna, AA.VV. (Valência: Real Sociedad Econó-
mica de Amigos del País, 1998), 49 e segs.
83
  Alberdi, «Ubicación…», 162.

88

Monárquias Ibéricas.indb 88 13/12/18 14:55


A estrutura territorial das duas monarquias ibéricas

Não há dúvida de que, a partir do fim da guerra, os Bourbon pro-


moveram uma linguagem de união de territórios bem diferente da
que tinha predominado até àquele momento. O modo como foram
instauradas as Secretarias de Estado espanholas, a partir de 1714,
é também revelador da disponibilidade que os Bourbon detinham
sobre o conjunto do seu conglomerado84. Impôs-se, também, um
modelo absolutista de disposição e de tratamento patrimonial do
território do reino (em parte inspirado no exemplo francês) e, ainda,
o recurso a uma linguagem de «grandeur dynastique»85. Registe-se,
por outro lado, que os Bourbon usaram a expressão «emperador del
Nuevo Mundo» com muito mais à-vontade do que os Áustrias.
Porque os antigos reinos de Aragão foram convertidos em pro-
víncias, as reformas de Filipe V favoreceram a circulação de pessoas
entre todos os territórios, mudança que também afectou, claro, as
Índias, já que, como começámos por assinalar, estas estavam inseri-
ras no ordenamento de Castela. Aos poucos foi levantada a proibição
de pessoas que não eram naturais de Castela de se estabelecerem no
mundo ultramarino, medida que foi aproveitada, em primeiro lugar,
por bastantes valencianos e por alguns aragoneses. De qualquer
modo, foi só em 1765 que se autorizou, oficialmente, o acesso dos
não-castelhanos às Índias.
A partir dos anos centrais de Setecentos a prática judicial e os
estudos jurídicos86 favoreceram, de um modo cada vez mais insis-
tente, o chamado «direito pátrio», bem como um maior fechamento
do território de cada uma das duas monarquias ibéricas a interferên-
cias de outros ordenamentos, em especial a doutrina do ius ­commune.
A famosa Lei da Boa Razão, promulgada em Portugal corria o ano de
1769, consagrava estas orientações restritivas do direito não-legisla-
tivo (doutrina, direito judicial, costumes), na verdade reafirmando

84
  María Victoria López Cordón, «Instauración dinástica y reformismo admi-
nistrativo: la implantación del sistema ministerial», Manuscrits, 18 (2000): 93-111.
85
  Pablo Fernández Albaladejo, «El problema de la ‘composite monarchy’ en
España», em Identities: nations, provinces and regions (1550-1900), orgs. Isabel
­Burdiel e James Casey (Norwich: University of East Anglia, 1999), 195 e segs.
86
  António Manuel Hespanha, «Forma e valores nos Estatutos Pombalinos da
Universidade (1772)», em A História do Direito na História Social (Lisboa: Livros
Horizonte, 1978), 150 e segs. Acerca da reforma veja-se in genere Ana Cristina
Araújo, coord., O Marquês de Pombal e a Universidade (Coimbra: Imprensa da
Universidade de Coimbra, 2000), 97-125.

89

Monárquias Ibéricas.indb 89 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

algo que já vinha nas Ordenações (Ord. Fil, 3, 64), mas que se man-
tinha mais teórico do que prático87.
Em Espanha, desde o tempo de Fernando VI que as faculdades
jurídicas estavam a seguir um caminho bastante semelhante de favore-
cimento do «derecho pátrio»88. Estas medidas foram adoptadas num
período em que, predominando o regalismo tanto em Portugal como
em Espanha, se desvalorizaram todos os elementos do ordenamento
tradicional que consubstanciavam alguma limitação para a autoridade
do rei. Registe-se, em todo o caso, que em Espanha o interesse pelo
«direito pátrio» foi muito plural e potencialmente conflituoso, pois
também se fez sentir nos territórios da antiga coroa de Aragão, em
particular na Catalunha89. Portugal, pelo contrário, não foi palco de
tensões comparáveis, pois, como vimos, a sua estrutura territorial não
tinha os particularismos que abundavam em Espanha.
Enquanto decorriam estes debates na Península Ibérica, a questão
do estatuto político da América – espanhola e, em menor medida,
também portuguesa – continuou presente. Ao longo do século xviii
as autoridades peninsulares encararam cada vez mais as províncias
e os «reinos» americanos como «colónias», palavra que, sintomati-
camente, começou então a ser usada com crescente frequência por
portugueses e por espanhóis. A coroa foi-se afastando de um estilo
de governo ditado pelo domínio jurisdicional, s­ubstituindo-o por
uma lógica de patrimonialização ainda mais voluntarista, autoritária
e executiva.
O adensar da presença régia na América do Sul levou ao estabe-
lecimento de duas novas circunscrições político-administrativas na
América espanhola: Nueva Granada ascenderia a vice-reino (1717),
o mesmo sucedendo, décadas mais tarde, com o Rio de la Plata, em
1776. Foram também criadas novas capitanías generales e, depois da
Guerra dos Sete Anos, seriam introduzidos intendentes na América
espanhola. Quanto ao «Estado do Brasil», a partir da década de 1720

87
  António Manuel Hespanha, «Sobre a prática dogmática dos juristas oitocen-
tistas», em A História do Direito…, 73 e segs.
88
  Cfr. Bartolomé Clavero, «Anatomía de España», em Hispania. Entre derechos
propios y derechos nacionales: atti dell’incontro di studio Firenze – Lucca 25, 26, 27
maggio 1989, orgs. Bartolomé Clavero, Paolo Grossi e Francisco Tomás y Valiente
(Giuffré Editore,1990), vol. I, 47-86.
89
  Cf. Carlos Garriga, «La Historia del Derecho Catalán, según el abogado
Vicente Doménech», Initium, n.º 17 (2012): 531-582.

90

Monárquias Ibéricas.indb 90 13/12/18 14:55


A estrutura territorial das duas monarquias ibéricas

todos os representantes régios passaram a ostentar a dignidade de


vice-rei, ao mesmo tempo que se assistiu a uma evidente afirmação
política do Rio de Janeiro e da sua governação. Em 1751 foi criado um
segundo tribunal da Relação, com sede no Rio de Janeiro e, a partir
de 1763, o Rio passaria a ser a sede do governo do Estado do Brasil.
A par da consolidação da governação do Rio de Janeiro como o
principal centro político da América portuguesa, entre 1750 e 1770
o número de núcleos urbanos criados no interior do Brasil aumentou
exponencialmente, sinal do desenvolvimento que se estava a registar
na América. A ocupação efectiva do interior do território brasileiro
e o pleno aproveitamento dos seus recursos tornou-se na grande
prioridade, consubstanciada em medidas como o Directório dos
índios, implementado a partir de finais da década de 1750. Através
desta nova legislação as antigas aldeias foram suprimidas e os antigos
«índios aldeados» passaram a viver – sob jurisdição civil – em vilas.
Poucos anos mais tarde surgiram, nesses núcleos urbanos, as primei-
ras câmaras municipais. Estes desenvolvimentos não impediram, no
entanto, que as terras dos indígenas continuassem a ser ocupadas,
frequentemente de uma forma violenta, pelos luso-brasileiros.
Tanto os criollos da América espanhola quanto os luso-brasileiros
cultivaram então um discurso de exaltação da realidade americana.
Enalteceram a sua natureza, os seus «foros» e os seus «privilégios».
Ao mesmo tempo, recorreram à linguagem da equiparação aos
peninsulares, insistindo, cada vez mais, na recusa da condição polí-
tica subordinada que era inerente à caracterização do seu território
como «colónia»90.
Quanto ao Consejo de Indias, foi aos poucos considerado como
um tribunal mais ou menos equiparado ao seu congénere caste-
lhano. A 20 de Fevereiro de 1773 o Consejo de Indias endereçou a
­Carlos III uma consulta na qual solicitava que fosse elevado à cate-
goria de «Tribunal de término»91. De acordo com Carlos Garriga,
o caminho percorrido foi no sentido de procurar configurar as Índias
como um território «separado», ou seja, como um corpo político
auto-suficiente (como uma communitas perfecta), com entidade

90
  Mark A. Burkholder, Spaniards in the Colonial Empire. Creoles vs. Peninsu-
lars? (West Sussex, U. K.: Wiley-Blackwell, 2013).
91
  Rafael García Pérez, El Consejo de Indias durante los reinados de Carlos III y
Carlos IV (Pamplona: EUNSA, 1998).

91

Monárquias Ibéricas.indb 91 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

superior aos territórios que o formavam e com uma condição própria


no heterogéneo conjunto que dava corpo à monarquia espanhola.
Nas palavras de Garriga, era o evoluir para um esquema que pen-
sava a América como uma «totalidade», como uma universitas, o que
equivalia a reconhecer a sua condição de «reino separado», dotado
do seu próprio direito, diverso do de Castela, mas no interior dessa
coroa92. O crescente volume de normas produzidas na América e
que respondiam à enorme especificidade das populações americanas
também contribuiu para fortalecer essas reivindicações.
Cumpre em todo o caso assinalar que o processo de aprofun-
damento do particularismo jurisdicional foi mais pronunciado na
América espanhola do que na portuguesa, na qual, recorde-se, não
existiam faculdades de Direito. No caso do Brasil houve, sem dúvida,
diversas inovações no direito oficial que aí foi surgindo, sobretudo
na área fiscal, da mineração e em matérias de «polícia». De qualquer
modo, o ordenamento que vigorou – sobretudo no que respeita ao
estatuto dos concelhos, aos ofícios, ao direito de propriedade, aos
contratos, às sucessões por morte ou, ainda, ao direito penal – conti-
nuou a ser o direito do «reino», ou seja, o ordenamento do P ­ ortugal
peninsular, embora com muitas especialidades locais e regionais
americanas93.
O sinal mais manifesto da tendência para a centralização do
direito foi a reforma da justiça concebida pelo marquês de Pombal,
que tinha entre as ideias condutoras da sua política de justiça o ataque
ao grupo letrado que dominava os tribunais de recurso. O resultado
é a sua extinção, a 15 de Janeiro de 1774. Restaurada por D. Maria,
foi novamente extinta em 1822, na sequência de comoções políticas
de sentido antiliberal, ocorridas no Estado da Índia.
O intervencionismo autoritário – sobretudo nos campos militar
e fiscal – do poder régio ilustrado originou, tanto na Europa como
nos territórios coloniais, movimentos de contestação política, vin-
dos sobretudo de sectores anti-absolutistas e de libertários que, por
vezes, recorreram a elementos do «constitucionalismo tradicional»
como forma de oposição. Em Espanha este foi também o tempo em
que as elites provinciais expressaram o seu desagrado face ao modo
como a monarquia tinha sido reformada sob o signo das Luzes.

92
  Garriga, «Patrias criollas…», 47 e segs.
93
  Hespanha, «El ‘derecho de Indias’…», 23.

92

Monárquias Ibéricas.indb 92 13/12/18 14:55


A estrutura territorial das duas monarquias ibéricas

Catalães, aragoneses, bascos, navarros ou valencianos, apoiados nas


suas instituições (agora revigoradas pelo convívio com a monarquia
ilustrada94), chamaram a atenção para a diversidade constitutiva de
Espanha e relembraram, a propósito, o ancestral estatuto político de
cada território95. Nessa ocasião pesou, também, a frustração sen-
tida pelos grupos influentes dos antigos reinos da coroa de Aragão
que vinham sendo governados como se fossem províncias96. A estes
protestos há que juntar as reivindicações do foralismo basco97 e o
«desconforto» das elites coloniais no que respeita à sua posição no
tipo de monarquia que havia resultado das reformas das décadas de
1760 e de 1770.
Como é bem sabido, a cultura das Luzes contribuiu igualmente
para a denúncia do carácter alegadamente «despótico» e a-jurídico
do governo da monarquia, e para responsabilizar a realeza pelo fra-
casso na modernização quer de Espanha, quer de Portugal98. Boa
parte deste ideário também se desenvolveu na América ao longo da
segunda metade de Setecentos, época em que ocorreram grandes
revoltas contra a dominação exercida a partir das duas metrópoles
ibéricas.
Foi precisamente neste ambiente que a condição política das ter-
ras americanas voltou a estar na ordem do dia, tanto na ­Península
Ibérica como nos seus domínios coloniais. Em 1783 o conde de
Aranda propôs, num famoso «informe» enviado a Carlos III, a divi-
são da América espanhola em três reinos independentes, cada um
deles governado por um príncipe da família real de Espanha. Pouco
tempo depois Rodrigo de Sousa Coutinho, secretário de Estado da
Marinha e Domínios Ultramarinos, também defendeu a criação do

94
  Cf. José Maria Portillo Valdés, Monarquía y gobierno provincial. Poder y cons-
titución en las provincias vascas (1760-1808) (Madrid: Centro de Estudios Consti-
tucionales, 1991), 46 e ss.
95
  Cf. as pertinentes reflexões de Pablo Fernández Albaladejo a respeito deste
tema em «La España austro-húngara de Ernest Lluch», Revista de Libros, n.º 36
(Dezembro, 1999); consulte-se, também, de Garriga, «La Historia del Derecho
Catalán…», 549 e segs.
96
  John Robertson, «Enlightenment, Reform, and Monarchy in Italy», em
Enlightened Reform in Southern Europe and its Atlantic Colonies, c. 1750-1830, ed.
Gabriel Paquette (Farnham-Burlington: Ashgate, 2009), 24 e segs.
97
  Veja-se maxime Portillo Valdés, Monarquía y Gobierno Provincial…
98
  Fernandéz Albaladejo, «El problema…», 196.

93

Monárquias Ibéricas.indb 93 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

chamado «Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve»99. Esta nova


formação política seria finalmente criada em 1815, numa altura em
que a corte régia portuguesa estava estabelecida no Brasil.

Conclusão
Procurámos interligar, ao longo deste capítulo, contextos meso-
lógicos, logísticos, políticos, sociais, ideológicos e discursivos, sem
sequer ensaiar uma matriz geral dos seus impactos sobre a organiza-
ção imperial ibérica.
Em todo o caso, nestes parágrafos conclusivos importa realçar
a eficácia de algo que, frequentemente, fica mais obscuro, perante
a vivacidade da narrativa da história social: a importância das pala-
vras e das tradições do seu uso na constituição de um imaginário
imperial100. Alguns historiadores tendem a pensar como adquiri-
das coisas que, de facto, são bastante problemáticas. Uma delas é
que os acontecimentos discursivos são gerados – e sempre gerados,
nunca «independentes» – pelo que ocorre fora do discurso. Outra
é que o discurso não tem qualquer impacto no «mundo social», de
tal forma que a tradição das fórmulas descritivas não constitui um
quadro de contextos extradiscursivos. Um realismo linguístico que
assimile palavras a coisas, atribuindo às primeiras um sentido «reifi-
cado», indisponível e poiético, chama, em contrapartida, a atenção
para a espessura dos discursos e a sua resistência a instrumentaliza-
ções fáceis e conjunturais, ou a mudanças externas ao contexto da
comunicação.
Ao longo deste capítulo estivemos, por isso, atentos a palavras, a
discursos e a fórmulas, observando, nomeadamente, como os usos
de falar acerca da ordem do território – nomeadamente na litera-
tura jurídica e política da Europa, desde o período antigo e, depois,
medieval – cunharam muitas das soluções que vieram a ser transpos-
tas para o ultramar. Realmente, «império» não é senão um nome.
Como apenas nomes são também «monarquia», «colónia», «súbdito»

99
  Cristina Nogueira da Silva, «Nação federal ou Nação bi-hemisférica? O Reino
Unido de Portugal, Brasil e Algarves e o ‘modelo’ colonial português do século xix»,
Almanack Braziliense, n.º 9 (Maio, 2009).
100
  Ver Penélope. Fazer e Desfazer a História, n.º 15 (1995).

94

Monárquias Ibéricas.indb 94 13/12/18 14:55


A estrutura territorial das duas monarquias ibéricas

(«sujeito») ou «vassalo». Mas são nomes que carregam tradições de


usos, que evocam imagens e que, transformados em conceitos jurí-
dicos, contêm normas e, por isso, criam constrangimentos e obri-
gações. Consideramos que isto tem importância, não apenas para
complexificar a genealogia dos formas político-institucionais, mas
também para temperar uma certa tendência para encontrar «excep-
cionalismo colonial» onde, na verdade, há muita reiteração de mode-
los e de soluções já experimentadas nas metrópoles101.

101
  Problematizando o «excepcionalismo colonial», nomeadamente no domí-
nio da história do direito, Luigi Nuzzo, «Colonial Law», 2012, http://ieg-ego.eu/
en/threads/europe-and-the-world/european-overseas-rule/luigi-nuzzo-colonial-
-law/?searchterm=nuzzo&set_language=en.

95

Monárquias Ibéricas.indb 95 13/12/18 14:55


Monárquias Ibéricas.indb 96 13/12/18 14:55
Ignasi Fernández Terricabras

Capítulo 2

El Patronato Real en la América


Hispana: fundamentos y prácticas

A su retorno del primer viaje americano, Cristóbal Colón escribió


una carta a los Reyes Católicos, el 4 de marzo de 1493, recordando que
«también la Yglesia de Dios debe entender en esto: a proveer de perla-
dos y devotos y savios religiosos; y porque la cosa es tan grande y de tal
calidad, quess razzon que provea el Sancto Padre de perlados que sera
muy fuera de cobdiçia».1
Dejando ahora al margen – lo que es mucho dejar – que redactaba
la carta con la intención de obtener un capelo cardenalicio para su
hijo, Colón señalaba un hecho que preocupó desde el principio a los
Reyes Católicos y al Papado. Era necesario proveer de eclesiásticos – y
dotar de una estructura institucional religiosa – las nuevas tierras, tanto
más cuanto que la evangelización iba a legitimar la expansión colonial.
Habida cuenta de los conflictos que por las mismas fechas sobrevenían
entre la Corona y el Papado por la provisión de cargos eclesiásticos en
la Península, este proceso fue más fácil de lo que cabría haber esperado.
Se siguió entonces el modelo más reciente: el patronato conce-
dido a los reyes para las conquistas de las Islas Canarias y del Reino

  Álvaro Fernández de Córdova Miralles, Alejandro VI y los Reyes Católicos.


1

Relaciones político-eclesiásticas (1492-1503) (Roma: Università della Santa Croce,


2005), 481.

97

Monárquias Ibéricas.indb 97 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

de Granada. En ese sentido, se puede decir que la Santa Sede cedió


prácticamente toda la responsabilidad de la estructuración eclesiás-
tica de los territorios recién descubiertos a la Corona. Quizás no
podía hacerlo de otra manera: no disponía de conocimientos, de
recursos, ni de agentes sobre el terreno para afrontar una operación
de esta envergadura.2 Los mismos papas que cedieron estos dere-
chos casi omnímodos a los monarcas sobre sus nuevas conquistas se
resistieron férreamente a otorgar privilegios semejantes en los reinos
cristianos medievales, sin que las muchas presiones recibidas hicie-
ran mella en ellos.
Se descuida a menudo, sin embargo, un hecho muy importante:
las concesiones pontificias se hacían sobre una geografía completa-
mente desconocida. En la fecha de la firma, nadie sospechaba que
existía todo un continente ignoto detrás de aquellas islas sobre las
que iban llegando noticias inauditas. Las bulas de patronato, por lo
tanto, fueron expedidas pensando en el modelo de expansión ultra-
marina desarrollado hasta entonces: el de los archipiélagos atlánti-
cos que actuaban como escala camino del lejano y deseado Cipango.
Fue más tarde, como dice Prien, cuando unos y otros tomaron cons-
ciencia de que aquellas «bulas preasiáticas» eran en realidad «bulas
preamericanas».3
Pero una vez conocidas las nuevas dimensiones geográficas del
planeta, aquellas bulas de los primeros años de la conquista ser-
virían, en manos de los Austrias y aún más de los Borbones, para
diseñar el modelo más acabado de «Iglesia de Estado» en el mundo
católico, mucho más completo que el de las metrópolis. Porque las
concesiones pontificias para las Indias superaban de mucho el dere-
cho de patronato tradicional, dejando toda la estructura eclesiástica
sometida a la Corona, sin apenas resquicios para que el papa pudiera
intervenir.

2
  Lo mismo sucedió en el caso de la expansión portuguesa, lo que justificó la
atribución del patronato a la Orden de Cristo, como explican Ângela Barreto Xavier
y Fernanda Olival en este mismo volumen.
3
  Hans-Jürgen Prien, «Las Bulas Alejandrinas de 1493», en Tordesillas y sus con-
secuencias, eds. Bernd Schröter y Karin Schüller (Frankfurt – Madrid: Vervuert –
Iberoamericana, 1995), 20.

98

Monárquias Ibéricas.indb 98 13/12/18 14:55


El Patronato Real en la América Hispana: fundamentos y prácticas

La concesión del Patronato Regio


En medio de la inestabilidad y de las guerras civiles que asolaban
las Coronas de Castilla y de Aragón en el siglo xv, asegurar la lealtad
a la Monarquía de los obispos – procedentes en su inmensa mayoría
de las principales casas nobiliarias – se convirtió en un objetivo fun-
damental de los reyes. No era sólo un problema de reforma moral y
religiosa, que también. Los enormes recursos económicos y militares
como señores feudales, además de la autoridad moral derivada de su
estatus, convertían a los obispos, llegado el caso, en preciosos aliados
o en temibles adversarios.
Por ese motivo, durante todo el reinado de los Reyes Católicos no
cesaron sus peticiones a Roma para poder tener obispos afines. Las
primeras reivindicaciones buscaban obtener el derecho de suplica-
ción: que el papa concediera la gracia de nombrar obispo al eclesiás-
tico sugerido por la Corona. El derecho de suplicación, de hecho, ya
había sido concedido por Martín V (1421) y por Eugenio IV (1434)
a Juan II de Castilla y, posteriormente, por Calixto III (1456) y por
Pío II (1459) al rey Enrique IV. Pero se trataba de una gracia tempo-
ral que sólo comprometía al papa que la otorgaba durante su ponti-
ficado, no a la Santa Sede como institución que, una vez fallecido el
pontífice, recuperaba todos sus derechos y su libertad de elección.4
Por eso, los Reyes Católicos rápidamente pasaron a solicitar el
derecho de presentación: el papa debía atribuirles la prerrogativa de
presentar a las personas que ocuparían determinados cargos eclesiás-
ticos, en vez de reservársela a sí mismo; el pontífice se limitaría a con-
ceder la investidura espiritual que, conforme al Derecho Canónico,
no podía denegar si la persona presentada cumplía con los requisitos
establecidos. La presión sobre Roma para obtener amplios derechos
de presentación – elemento básico del derecho de patronato, pero no
el único –5 no cejó durante todo el reinado de los Reyes Católicos,
pero, es necesario decirlo, con pobres resultados. En el marco de
complejas negociaciones en las que estaban involucrados múltiples

4
  Christian Hermann, L’Église d’Espagne sous le Patronage Royal (1476-1834):
essai d’ecclésiologie politique (Madrid: Casa de Velázquez, 1988), 45-46.
5
  Insiste en ello Teófanes Egido, «El Real Patronato», en Iglesia y sociedad en
el Reino de Granada (ss. xvi-xviii), eds. Antonio Luis Cortés Peña, Miguel Luis
López-Guadalupe Muñoz y Antonio Lara Ramos (Granada: Universidad de Gra-
nada, 2003), 9-21.

99

Monárquias Ibéricas.indb 99 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

agentes y factores políticos y económicos, los papas defendieron


celosamente sus prerrogativas de nombramiento, a pesar de todas las
presiones recibidas. Entre ellas, cabe incluir el desarrollo, en Castilla,
de numerosas obras y dictámenes anticuriales, en los que se defendía
que el papa no tiene plenos poderes en materia beneficial y se funda-
mentaba el derecho de presentación de los reyes.6
En efecto, desde 1475 los representantes de la reina Isabel en Roma
recibieron instrucciones de que no se expidieran nombramientos
eclesiásticos contra la voluntad de la soberana. No con mucho éxito:
la disputa con Sixto IV (1471-1484) por el obispado de Cuenca duró
4 años; sólo en 1482, el papa aceptó las sugerencias de Isabel para
Cuenca y otras tres sedes vacantes, pero explicitando en las bulas
de nombramiento que no se concedía derecho alguno de patronato.
En los dos últimos años de su pontificado, Sixto IV se negó a conce-
der diversas provisiones solicitadas por Isabel. Su sucesor, I­ nocencio
VIII (1484-1492), solucionó alguna de esas controversias, pero
arrastró el problema de la colación del obispado de Salamanca hasta
1491. Alejandro VI (1492-1503), interesado en adoptar una política
acomodaticia hacia los monarcas, aceptó diferentes propuestas a
suplicación de los reyes, más al principio que al final de su mandato.
Pero siempre era necesario entablar delicadas negociaciones sobre
las sedes vacantes, en las que tanto el papa como los reyes algunas
veces habían de ceder consintiendo candidatos propuestos por el
otro. En cambio, el papa Borgia nunca accedió a las peticiones de
los reyes, formuladas crudamente por su embajador López de Haro,
para obtener el derecho de patronato.7 Conviene señalar que, según
una ley de las Cortes de Toledo de 1480, el proveído no podía tomar
posesión de su diócesis sin haber prestado antes juramento de fide-
lidad a la Corona.8

6
  José Manuel Nieto Soria, «Las relaciones Iglesia-Estado en España a fines del
siglo xv», en El Tratado de Tordesillas y su época. Congreso Internacional de Historia
(Madrid: Junta de Castilla y León – Sociedad V Centenario del Tratado de Tordesi-
llas, 1995), vol. 2, 739-740. El caso más estudiado, por Tarsicio de Azcona, Juan de
Castilla, rector de Salamanca. Su doctrina sobre el derecho de los reyes de España a la
presentación de obispos (Salamanca: Universidad Pontificia, 1975).
7
  Córdova Miralles, Alejandro VI…, 552-568; sobre los pontificados anteriores,
541-550. La obra clásica donde se pueden seguir todos los casos y controversias:
Tarsicio de Azcona, La elección y reforma del episcopado español en tiempos de los
Reyes Católicos (Madrid: Instituto P. Enrique Flórez, 1960).
8
  Nieto Soria, «Las relaciones…», 742.

100

Monárquias Ibéricas.indb 100 13/12/18 14:55


El Patronato Real en la América Hispana: fundamentos y prácticas

Tampoco Julio II (1503-1513) ni León X (1513-1521) transfirie-


ron el derecho de presentación, más allá de algunas concesiones por
una vez a ciertas dignidades y obispados. No fue hasta mucho más
tarde, el 6 de septiembre de 1523, cuando Adriano VI, el antiguo pre-
ceptor de Carlos V, concedió a éste y a sus sucesores la presentación
perpetua de todos los obispados de España y de todos los benefi-
cios consistoriales con una renta superior a 200 ducados de oro de la
Cámara Apostólica. El privilegio era esperable después de que el rey de
­Francia hubiera obtenido un patronato semejante en el ­Concordato
de Bolonia (1516). Pero aún así una gracia tan importante requirió
sucesivas confirmaciones por Clemente VII (11-1-1530 y 1­ 3-3-1531)
y Paulo III (7-7-1536).9 En las Coronas de Aragón y de Castilla – con
la excepción del Reino de Granada y de las Islas ­Canarias – el Patro-
nato Regio se ejercería sobre los obispados, las capillas reales y un
número limitado de beneficios de conventos, hospitales y cabildos.10
No puede dejar de notarse el contraste entre las reticencias de
los pontífices en este terreno y la relativa facilidad con la que otor-
garon el Patronato en los reinos que habían de ser conquistados.
En el Papado hubo una clara intención de estimular la expansión
de la fe cristiana mediante la conquista, asegurando a los reyes el
dominio sobre las estructuras eclesiásticas que se hubieren de crear
e incentivándoles a fundar y dotar nuevas iglesias. Pero también
pesaba la necesidad de fijar el fundamento jurídico del patronato.
Algunos canonistas sostenían que los monarcas lo adquirían por el
solo hecho de haber conquistado un territorio a los infieles. Para
la Santa Sede, que nunca reconoció que esa causa generase dere-
cho alguno, era mejor explicitar que el patronato derivaba de una
concesión expresa y fechable de un pontífice que del mero acto de
soberanía del príncipe.
Así, el mismo Inocencio VIII que defendió durante meses su
derecho a nombrar a Rodrigo de Borja arzobispo de Sevilla en contra
del parecer de los Reyes Católicos, concedió con bastante rapidez el
derecho de patronato real sobre todas las iglesias de Granada y las
Canarias. En la bula Provisiones nostrae de 15 de mayo de 1486, el

 Hermann, L’Église…, 46.


9

  Ignasi Fernández Terricabras, Felipe II y el clero secular. La aplicación del con-


10

cilio de Trento, (Madrid: Sociedad Estatal para la Conmemoración de los Centena-


rios de Felipe II y Carlos V, 2000), 173-181.

101

Monárquias Ibéricas.indb 101 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

papa ratificó la concesión hecha por Eugenio IV en 1436 de reservar


al rey el patronato sobre todas las iglesias en los territorios que se
ganaran a los musulmanes, aunque no parece que dicha bula tuviera
consecuencias prácticas11. La bula Dum ad illam fidei, de 23 de agosto
de 1486, confirió a los Reyes Católicos la facultad de fundar y dotar
conventos en el Reino de Granada y en las Islas Canarias. Fue defi-
nitiva la bula Orthodoxae fidei, firmada el 13 de diciembre de 1486,
que incluía el derecho de presentación en el Reino de Granada, las
Islas Canarias y en Puerto Real sobre todos los beneficios secula-
res o prioratos conventuales cuyas rentas superasen los 200 florines
de oro, así como de los beneficios de catedrales y colegiatas, con la
intención de fomentar la fe y la conversión de los infieles.12 Menos
de dos años después, en febrero de 1488, la bula Dum ad illam fidei
autorizó a los arzobispos de Toledo y de Sevilla a erigir iglesias que
quedarían bajo patronato regio en territorio ganado a los musulma-
nes. Y el 16 de marzo de 1488, el papa concedió las tercias – la ter-
cera parte de los diezmos – de todas las tierras conquistadas o por
conquistar.13 El propio Alejandro VI aceptó sin problemas el organi-
grama de beneficios y el mapa de las diócesis del recién conquistado
Reino de Granada que le presentaron los reyes (bula Ad apostolicae
­dignitatis, 11 de abril de 1493),14 cedió a los Reyes los diezmos de
los cristianos nuevos, con obligación de usarlos en la dotación de las
iglesias, y, en 1494, confirmó a perpetuidad la concesión de las tercias.
En el caso de las Islas Canarias, conocido por el trabajo de Peraza
de Ayala, en la práctica, se fue imponiendo la costumbre de consi-
derar comprendidas en el regio patronato todas las iglesias, inclui-
das las de menor renta de la especificada en la bula; es lo que se ha
llamado el Patronato Universal. Incluso decisiones sustancialmente
eclesiásticas, como la segregación de beneficios eclesiásticos, eran
tomadas mediante cédulas reales. En 1533, Carlos V concedió el pri-
vilegio de que fueran los consejos municipales de las Islas Canarias

11
  José Peraza de Ayala, «El Real Patronato de Canarias», Anuario de Historia
del Derecho Español, 30 (1960): 129, 168-169.
12
  Alberto de la Hera, «El Regio Patronato de Granada y las Canarias», Anuario
de Historia del Derecho Español, 27-28 (1957-58): 5-16, que cuestiona la inclusión
de la ciudad de Puerto Real en la concesión pontificia. Peraza de Ayala: «El Real…»,
131-132, 170-172.
13
  Nieto Soria, «Las relaciones…», 744.
14
  Córdova Miralles, Alejandro VI…, 553. Sobre las tercias, 672.

102

Monárquias Ibéricas.indb 102 13/12/18 14:55


El Patronato Real en la América Hispana: fundamentos y prácticas

quienes hiciesen las propuestas de nombres para los beneficios a la


Corona. Los consejos convocaban oposiciones con un tribunal en
el que había tanto eclesiásticos como laicos que, bajo la dirección
de un vicario del obispo, elevaba dos nombres a la Corona. Este pri-
vilegio estuvo en vigor hasta que Felipe IV, en 1633, dispuso que el
obispo, su provisor y dos examinadores eclesiásticos constituyeran
el tribunal y propusieran tres nombres al monarca por cada beneficio
vacante.15 En las diócesis del Reino de Granada, el rey solía pedir a
los obispos del lugar una terna de candidatos elegidos por oposición.
Pero en el caso de los beneficios en catedrales y colegiales se reservó
absolutamente las presentaciones, así como las de los administrado-
res de hospitales y los ermitaños.16
El modelo que imitó la Santa Sede en Indias en los primeros años
de la conquista fue el portugués. No es este el lugar para reseguir
toda la polémica y la larga bibliografía que han generado las cinco
«bulas alejandrinas» de 1493: las cuestiones de crítica textual, jurídi-
cas, de filosofía política, etc.17 Lo que sí parece obvio es que la fina-
lidad de estos documentos no era fijar una estructura institucional
eclesiástica ni política para los territorios de que Colón había traído
noticia, sino tan solo garantizar el dominio de la Corona de Castilla
sobre ellos – eliminando cualquier pretensión portuguesa – y equi-
parar los privilegios que los Reyes Católicos podrían tener con los
que el rey de Portugal gozaba de manera exclusiva en los territorios
al sur del cabo Bojador.
Ha sido Alberto de la Hera quien más ha insistido en los para-
lelismos entre las tres bulas básicas del patronato portugués (la
­Romanus Pontifex, de Nicolás V, en 1455; la Inter caetera de Calixto
III en 1456; la Aeterni Regis de Sixto IV en 1481) y las bulas de Ale-
jandro VI en 1493.18 En todas ellas quedaba claro que el derecho al

15
  Peraza de Ayala: «El Real…», 113-174.
16
 Archivo General de Simancas, Patronato Real, 68-96; Biblioteca Nacional
(Madrid), Manuscrito 843.
17
  Estados de la cuestión todavía válidos en Alberto de la Hera, Iglesia y Corona
en la América Española (Madrid: Fundación Mapfre, 1992), 53-75; Prien, «Las
Bulas…», 11-28.
18
 Edición moderna de todos estos textos en Luís Adão da Fonseca e José
Manuel Ruiz Asencio, coords., Corpus documental del Tratado de Tordesillas (Valla-
dolid: Sociedad V Centenario del Tratado de Tordesillas – Comissão Nacional para
As Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1995).

103

Monárquias Ibéricas.indb 103 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

­ ominio político y la colonización económica iban a la par con el


d
deber de difundir el cristianismo, que a su vez generaba, como con-
trapartida, el patronato eclesiástico: el derecho a proveer las perso-
nas que se encargarían de esa cristianización. Para De la Hera, en los
descubrimientos hispánicos se siguió el ejemplo portugués, inten-
tando salvar la diferencia de que no había un equivalente a la Orden
de Cristo para encomendarle la organización de las misiones.19
Quizás la más importante concesión de Alejandro VI a nuestros
efectos fue la bula Piis fidelium, de 25 de junio de 1493, que ­reiteraba
la responsabilidad de la Corona de Castilla en la evangelización de las
poblaciones de esos territorios y designaba, a propuesta de los reyes,
a fray Bernat Boïl como vicario papal, encomendándole la supervi-
sión de las tareas evangelizadoras.20 Es habitual decir que Boïl fue el
primer vicario pontificio en América, lo que es cierto… si se hace
abstracción del hecho de que por entonces ni el papa ni los reyes
sabían que América existía.
Las propias bulas alejandrinas eran, como no podría ser de otra
manera, de una altísima indeterminación geográfica. Como decía la
segunda bula Inter caetera, la del 28 de junio de 1493 – pero retro-
fechada a 4 de mayo –, su aplicación se extendía a «certas insulas
remotissimas et etiam terras firmas» halladas o por hallar. Es más,
las bulas estaban seguramente otorgadas presuponiendo un modo
de colonización a la portuguesa, en el cual las islas recién descu-
biertas – o los enclaves que se pudieran establecer en tierra firme –
serían sólo escalas para asegurar rutas comerciales camino de Asia.
Será en la primera mitad del siglo xvi cuando los reyes de Castilla
descubrirán que pueden aplicar aquellas bulas y utilizarlas para legi-
timar una conquista en un contexto geográfico – y económico, y
político – radicalmente diferente del inicialmente presupuesto por
equivocación.21
Pero una vez fijada una delimitación clara de las áreas de influen-
cia con el Tratado de Tordesillas (1494), en el lado castellano rápida-
mente se repitió el modelo de patronato granadino. Ante todo, con

19
  Sobre el modelo portugués de Patronato, véase el capítulo de Ângela Barreto
Xavier y Fernanda Olival en este mismo libro.
20
  Análisis detallado de la bula en de la Hera, Iglesia…, 97-102.
21
  Alberto de la Hera, «El Regio Vicariato de Indias en las bulas de 1493», Anua-
rio de Historia del Derecho Español, 29 (1959), 317-350.

104

Monárquias Ibéricas.indb 104 13/12/18 14:55


El Patronato Real en la América Hispana: fundamentos y prácticas

la cesión por Alejandro VI a los Reyes Católicos, el 16 de ­noviembre


de 1501 (bula Eximiae devotionis), de los diezmos de los nuevos
territorios, con obligación de fundar las iglesias y dotar a los ecle-
siásticos encargados de garantizar el culto divino. Quizás ese fue el
momento en que más clara se pudo ver la conexión entre los diversos
patronatos, pues el mismo día se concedieron también a los sobera-
nos los diezmos que se pagasen en las Islas Canarias.22
Un conflicto entre Roma y la Corte en 1504 es muy ilustrativo.
Al avanzar la colonización de las Antillas, los Reyes Católicos solici-
taron la creación de obispados. Por bula de 15 de noviembre de 1504
(bula Illius fulciti presidio), Julio II erigió el arzobispado de Yaguata,
con obispados sufragáneos en Magua y Baynúa. Pero Fernando –
Isabel había fallecido hacía pocos días – rechazó la bula porque en
ella no se afirmaba el patronato regio sobre dichos obispados ni se
explicitaba la cesión a la Corona de los diezmos y del poder de pre-
cisar los límites de las diócesis. En sus instrucciones al embajador, el
rey hacía una comparación reveladora:

«Es menester que su santidad conceda el dicho Patronazgo de todo


ello perpetuamente a mí y a los reyes que en estos reinos de Castilla y de
León sucedieren, aunque en las dichas bulas no haya sido hecha mención
de ello, como hizo en las del reino de Granada.»23

El paso definitivo lo dio Julio II al conceder a la reina Juana el


patronato a las catedrales, colegiales, monasterios y demás dignidades
consistoriales en Indias por la bula Universalis Ecclesiae Regiminis, el
28 de julio de 1508. El texto de la bula establecía una continuidad entre
la liberación del «maurorum iugo» en la Península y la extirpación de
los «falsis et pernitiosis ritibus» en La Española.24 La ausencia de refe-
rencia a los diezmos llevó al rey Fernando a insistir sobre el particular:
el 8 de abril de 1510, la bula Eximiae devotionis volvió a donar los
diezmos a la Corona, aunque exonerando del pago por el oro, la plata

  Fernández de Córdova Miralles, Alejandro VI…, 675; Peraza de Ayala, «El


22

Real….», 122.
23
  Pedro de Leturia, Relaciones entre la Santa Sede e Hispanoamérica 1493-1835
(Roma – Caracas, Universidad Gregoriana – Sociedad Bolivariana de Venezuela,
1959), vol. 1, 13. El subrayado es mío.
24
 Leturia, Relaciones…, 233-258.

105

Monárquias Ibéricas.indb 105 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

y los metales.25 En 1512, la Concordia de Burgos fijó la forma en que,


con ligeras variantes según las diócesis, se repartirían los diezmos en
América: una cuarta parte para el obispo, otra para el cabildo y la mitad
restante a compartir entre el rey (que se queda un 11% del total), los
beneficiados, las fábricas de las iglesias diocesanas y los hospitales.26
Las primeras diócesis efectivamente creadas, en agosto de 1513, con
reconocimiento explícito del regio patronato, fueron las de Santo
Domingo, la Concepción y San Juan de Puerto Rico. Los límites dio-
cesanos se irían fijando según los planes de la Corona, pero sin que
hubiera una concesión pontificia de carácter general.
En cuanto al clero regular, el 10 de mayo de 1522, Adriano VI, en
el breve Exponi nobis fecisti, más conocido como Omnimoda por la
extensión de las facultades otorgadas, concedió a Carlos V el privile-
gio de enviar a los misioneros y de poder seleccionarlos. Recordemos
que en ese momento todo el esfuerzo evangelizador estaba recayendo
sobre las órdenes religiosas y apenas había cinco diócesis creadas en
América, todas ellas en el entorno del Caribe.27 Hubo que esperar a
las décadas de 1530 y 1540, cuando se crearon 17 diócesis, la mayoría
ya en el continente, para tener una estructura episcopal mucho más
extensa y completa, y al reinado de Felipe II para que el clero secular
intentara tomar en sus manos las riendas de la evangelización. Aún
Clemente VII concedió al rey las facultades de hacerse con los frutos
de las sedes vacantes – importante concesión, pues las vacancias en
Indias podían prolongarse durante años – y de elegir a los colectores.28
La presión incesante de los Reyes Católicos y de Carlos V y las
concesiones hechas sucesivamente por cuatro papas condujeron a
una situación eclesiástica que desbordaba completamente el derecho
de patronato tal como había sido entendido en términos jurídicos

25
  Alberto de la Hera, «El gobierno espiritual de los dominios ultramarinos»,
en El Gobierno de un mundo. Virreinatos y Audiencias en la América Hispánica, ed.
Feliciano Barrios Pintado (Cuenca: Universidad de Castilla-La Mancha, 2004), 874.
26
  Ronald Escobedo Mansilla, «La Economía de la Iglesia Americana», en His-
toria de la Iglesia en Hispanoamérica y Filipinas, ed. Pedro Borges Morán (Madrid:
BAC, 1992), vol. 1, 100-101.
27
  Para ver las diferencias de concepción entre las diócesis de la colonización
hispánica y las de la colonización portuguesa, compárese esta situación con la des-
crita en los mapas que proporcionan Ângela Barreto Xavier y Fernanda Olival en
este mismo libro.
28
  Consuelo Maqueda Abreu, «Evolución del Patronato Regio. Vicariato indiano
y conflictos de competencias», en El Gobierno de un Mundo…,809.

106

Monárquias Ibéricas.indb 106 13/12/18 14:55


El Patronato Real en la América Hispana: fundamentos y prácticas

hasta entonces y como sería practicado en los reinos europeos: el


derecho de presentación a ciertas prebendas y de gozar de cier-
tos privilegios honoríficos anexos a ellas, con la contrapartida – o
no – de tenerlas que dotar y proteger. Lo que los distintos documen-
tos pontificios fueron diseñando en los treinta primeros años de la
conquista no era un mero derecho de patronato, sino una estructura
eclesiástica completamente controlada por la Corona: eran los reyes
quienes seleccionaban a los obispos, al clero secular y a los misione-
ros, definían los límites eclesiásticos y cobraban los diezmos.
¿Podía haber actuado la Santa Sede de otra forma? La construc-
ción gradual de los conocimientos geográficos de la época hace creer
que los contemporáneos no eran conscientes de la extensión de las
concesiones que se estaban dando. Y, por otro lado, Roma no dis-
ponía por entonces de una estructura institucional específica para
la actividad misionera y con capacidad para organizar y financiar la
evangelización de un territorio. Se continuó con el modelo granadino
de atribución a los reyes de la evangelización sobre los territorios
que iban conquistando, a cambio de la concesión del dominio de los
recursos y de los nombramientos. A su vez, los soberanos confiaron
en el potencial humano y evangelizador de diversas órdenes religio-
sas, que enviaron oleadas de misioneros bajo el control de la Casa de
Contratación de las Indias. Cuando en la segunda mitad del siglo xvi
los llamados «papas de la Contrarreforma», inmersos en un proceso
de centralismo pontificio no exento de continuos conflictos con los
reyes absolutos, quieran revertir, o al menos atemperar el control
monárquico sobre la Iglesia en Indias, ya será demasiado tarde.

Vice-dioses en la tierra. La teoría del Vicariato Regio29


El control de la Corona sobre la administración eclesiástica en
el Nuevo Mundo lo ejercía el Consejo de Indias. Fundado formal-
mente en 1524, toda la administración eclesiástica de América y de

 No existe una teoría paralela a la del Vicariato Regio para la Corona de
29

­ ortugal. En ella, en cambio, a través del providencialismo se buscó una justificación


P
divina al poder real, especialmente después de 1640. Véase un ejemplo en Ângela
Barreto Xavier, «Looking through the Vizão Feita por Xpo a el Rey Dom Affonso
Henriques (1659) Franciscans in India and the legitimization of the B ­ raganza
monarchy», Culture & History Digital Journal, 5(2) (Dec. 2016).

107

Monárquias Ibéricas.indb 107 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

las ­Filipinas pasaba por su mano: la creación de nuevas diócesis, la


selección de los obispos y de los misioneros de órdenes regulares y
las ayudas que podían recibir, la revisión de las decisiones tomadas en
concilios provinciales o sínodos diocesanos, la concesión del placet a
las bulas y otros documentos pontificios para que pudieran tener eje-
cución, la capacidad legislativa sobre temas de administración y orga-
nización eclesiástica, etc.30 Fueron las leyes y ordenanzas dictadas por
la Corona las que regularon la vida religiosa en Indias, con una mínima
participación de la Santa Sede, reservada prácticamente a los asuntos
dogmáticos y a la potestad de orden. Cabe recordar que G ­ regorio XIII
concedió incluso que todas las causas eclesiásticas fueran resueltas en
apelación en Indias, sin poder ser trasladadas a Roma.31
Tan absoluto fue el control de la Corona, que en tiempos de Felipe
II se extendió la teoría de que el rey era el vicario o delegado del papa
para el gobierno de la Iglesia en Indias. Y aunque nunca hubo una
concesión explícita de tal título, ni nunca Roma lo aceptó, diversos
autores defendieron su existencia en base al entramado creado por las
sucesivas concesiones pontificias que ya hemos enumerado en orden a
la evangelización y conservación del catolicismo en América.32
Tradicionalmente se asocia el inicio de la teoría del Vicariato
Regio con la publicación póstuma del franciscano Juan de Focher,
Itinerarium catholicum (1574). Focher sostiene que los misioneros
son enviados a América por el rey como delegado del papa. También
en otras obras, el franciscano insiste en que las decisiones del rey
sobre la Iglesia indiana tienen el mismo rango que si hubieran sido
expedidas por la Santa Sede. Otros franciscanos defenderán la misma
idea, como el influyente confesor del rey, Juan de Silva, quien en su
tratado sobre el buen gobierno de las Indias de 1621 distingue que
el rey es patrono en lo temporal y legado del papa en lo espiritual.33
Pronto se encuentran representantes de esta teoría en todas las
órdenes. Así el agustino Alonso de Veracruz (1507-1584), como
Focher profesor de la Universidad de México, defiende la autonomía
de los religiosos frente a los obispos, ya que al rey «competa en este

30
  Ernesto Schäfer, El Consejo Real y Supremo de las Indias (Sevilla: Universidad
de Sevilla, 1935), vol. 2, 191-237.
31
  Maqueda Abreu, «Evolución…», en El Gobierno…, 820.
32
  La obra todavía fundamental, que seguimos: Antonio de Egaña, La teoría del
Regio Vicariato Español en Indias (Roma: Universidad Gregoriana, 1958).
33
  Maqueda Abreu: «Evolución… », en El Gobierno…, 802.

108

Monárquias Ibéricas.indb 108 13/12/18 14:55


El Patronato Real en la América Hispana: fundamentos y prácticas

Nuevo Orbe no solo lo temporal, pero lo espiritual, por especial comi-


sión hecha por Su Santidad a los Reyes Católicos». Al igual que su
colega franciscano, Veracruz piensa que el rey es juez delegado por el
Papa con jurisdicción tanto sobre los obispos como sobre los supe-
riores del clero regular, sin que obste para ello su condición de laico.34
Entre los dominicos, Antonio de Remesal, en su historia de ­Guatemala
publicada en 1619, escribe: «Los reyes de España en estas tierras tienen
mayor poder que el que el Derecho Canónico concede a los patronos,
porque usan de oficio de delegados del Papa en cuanto a la conversión
de estos pueblos».35
Dejando al margen que la teoría nace también como un elemento
de defensa del clero regular que intenta hacer valer los privilegios
concedidos por la Corona frente a una jerarquía episcopal que trata
de asentar su control sobre el territorio,36 lo cierto es que la Corona
la asume de facto rápidamente. La Junta Magna, convocada por
Felipe II en 1568 con miembros de diferentes consejos bajo el con-
trol del cardenal Espinosa, trabaja para incrementar el control regio
sobre la concesión de beneficios, la repartición de diezmos, la instau-
ración de tribunales inquisitoriales y la organización tanto diocesana
como de las órdenes religiosas.37 Sus trabajos dan pie a la cédula real
firmada por Felipe II a 1 de junio de 1574, que comienza afirmando
claramente el patronato universal con un doble fundamento:

«Como sabéis, el derecho de patronato eclesiástico nos pertenece en


todo el Estado de las Indias, así por haberse descubierto y adquirido aquel
Nuevo Orbe y edificado y dotado en él las Iglesias y monasterios a nues-
tra costa y de los Reyes Católicos nuestros antecesores, como por habér-
senos concedido por bulas de los Sumos Pontífices, de su propio motu».38

34
  Fernando Campo del Pozo, «Patronato y Vicariato Regio en Alonso de Vera-
cruz y Gaspar de Villarroel», Anuario jurídico y económico escurialense, 26-I (1993),
483-512.
35
 Egaña, La teoría…, 98.
36
 Ha insistido mucho en ello, quizás con formas exageradas, Fernando de
Arvizu, «Una nueva interpretación de la teoría del Regio Vicariato Indiano», Ius
Canonicum, vol. 36, n.º 71 (1996), 63-99.
37
  Pedro de Leturia: Relaciones…, 59-100 y 205-231. José Martínez Millán y
Carlos J. de Carlos Morales, Felipe II (1527-1598). La configuración de la Monar-
quía Hispana (Salamanca: Junta de Castilla y León, 1998), 126-131.
38
  León Lopetegui y Félix Zubillaga, Historia de la Iglesia en la América Espa-
ñola (Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 1965), 136.

109

Monárquias Ibéricas.indb 109 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

La cédula regula minuciosamente el derecho de presentación por


el monarca de arzobispos y obispos ante el papa, así como de los
beneficiados en las catedrales y de los curas ante los respectivos obis-
pos. En cuanto al clero regular, recuerda que ningún superior puede
ejercer su autoridad sin la facultad del Consejo de Indias ni de la
autoridad regia en el territorio y prescribe la elaboración de listas
regularmente actualizadas con los conventos y el número de frailes
que los habitan.39 La cronología, de nuevo, no es casual. La provisión
del rey coincide con la publicación en Sevilla del libro de Focher, ese
mismo año.
Y de todos es conocido cómo los virreyes y demás representan-
tes de la autoridad del rey en Indias velan para que estos derechos
claramente enunciados por el rey sean reconocidos efectivamente,
ejerciendo lo que ha sido llamado el «vicepatronato» – y defendién-
dolo hasta llegar en ocasiones a la máxima tirantez con obispos y
misioneros – o controlando férreamente a los obispos reunidos en
los concilios provinciales.40
En el siglo xvii se llega a la codificación completa de la teoría del
Vicariato Regio gracias a la obra del famoso jurista y consejero de
Indias, Juan de Solórzano Pereyra, De indianum Iure (1629). Para
Solórzano, el patronato es una concesión inalienable, presente ya en
las bulas alejandrinas, de la que se deducen una seria de derechos para
el monarca, incluidos la provisión de todos los beneficios y oficios
eclesiásticos, la jurisdicción criminal contra clérigos y su condena a
destierro o revocación de destino, el monopolio sobre la fundación de
iglesias o conventos, etc. Con el fin de demostrar que nada obsta para
que los laicos sean vicarios pontificios, Solórzano aduce el ejemplo de
la Monarchia Sicula.41 Acremente censurada por el antiguo colector
apostólico en Madrid, Antonio Lelio, la obra de Solórzano fue puesta
entre los libros prohibidos por la Congregación del Índice en 1642.42
Pero a pesar de la censura romana, autores tanto laicos como ecle-
siásticos siguieron defendiendo las mismas teorías. Entre los prime-
ros merece destacar la obra De regio patronatu indiano (1671-1679),

  Ernesto Schäfer, El Consejo…, vol. 2, 243.


39

  Véase, por ejemplo, el estudio de Luis Martínez Ferrer, Decretos del concilio
40

tercero provincial mexicano (1585) (Michoacán – Roma: El Colegio de Michoacán –


Universidad Pontificia de la Santa Cruz, 2009).
41
 Egaña, La teoria…, 106-125.
42
 Egaña, La teoria…, 133-147; Leturia, Relaciones…, 335-408.

110

Monárquias Ibéricas.indb 110 13/12/18 14:55


El Patronato Real en la América Hispana: fundamentos y prácticas

de Pedro del Frasso, oidor, como lo fue Solórzano, en la Audiencia de


Lima, cuya obra fue prohibida por Roma en 1688. Entre los segun-
dos sobresale el agustino Gaspar de Villarroel (1587-1665), obispo
de Santiago de Chile y arzobispo de Charcas.43 En su obra Gobierno
Eclesiástico Pacífico y Unión de los dos cuchillos, pontificio y regio
(2 vols., 1656-67), que sigue la de Solórzano, el patronato universal
aparece como la total delegación de facultades jurisdiccionales por la
Santa Sede a los monarcas, de manera que las leyes del rey vinculan a
todos los eclesiásticos en Indias, obispos incluidos:

«Aunque el Patronazgo no da por naturaleza jurisdicción en las


cosas eclesiásticas (que la presentación no es un acto jurisdiccional), no
sucede así con el Patronazgo de nuestros Reyes Católicos, porque este
Patronazgo tiene gran suma de privilegios, en virtud de los cuales, unos
doctores llaman al Rey vicario general, otros (y muchas veces) legado
a latere, porque el Papa puede, aunque no sea eclesiástico el Rey, darle
jurisdicción en lo civil y en lo criminal».44

La teoría del Vicariato Regio, aun cuando sin explicitar ese nom-
bre, en la práctica se impone en la legislación, como lo demuestran
las 51 leyes recogidas en el título VI de la Recopilación de las leyes de
Indias mandada por Carlos II en 1680 y alcanza su paroxismo en el
siglo xviii, en manos de los autores regalistas que justifican la política
borbónica sobre la Iglesia en América. En efecto, los dos principales
defensores del regalismo borbónico en Indias no dudan sobre la con-
sistencia de la delegación pontificia al monarca.
Álvarez de Abreu, que recibirá el significativo título de marqués
de la Regalía, en su Víctima Legal (Madrid, 1726) sostiene que todo lo
que disponen los reyes sobre la Iglesia en Indias «es visto disponerlo,
arbitrarlo y resolverlo Su Santidad, de quien son Lugar­-Tenientes
Generales y Delegados», de forma que los monarcas tienen

«el venerado carácter de Vice-Dioses en la tierra, no solo en cuanto al


gobierno temporal, sino también para el espiritual por lo respectivo a las
tierras conquistadas a infieles, como lo fueron las de las Indias».45

43
 Egaña, La teoria…, 162-165.
44
  Campo del Pozo, «Patronato…», 503.
45
  De la Hera, «El Regio…», 324-325.

111

Monárquias Ibéricas.indb 111 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Antonio Joaquín Rivadeneira, en su Manual compendio de el


Regio Patronato Indiano (Madrid, 1755) escribe:

«Son nuestros Reyes, Delegados de la Sede Apostólica por la Bula


de Alejandro VI que comienza: Inter Caetera y como a tales Delegados
y Vicarios Generales, les compete el exercicio de la autoridad, jurisdic-
ción y gobierno Eclesiástico y Espiritual en todas las materias tocantes
a lo Religioso y Eclesiástico en algunos Reynos, tanto entre seculares,
como Eclesiásticos y Regulares, con plena y absoluta potestad para dis-
poner a su arbitrio todo lo que les pareciere más conveniente al espi-
ritual gobierno, ampliación y extensión de la Religión católica, culto
­Eclesiástico, conversión de los Infieles y progresos espirituales de los
Fieles».46

Con tales propagandistas, no es extraño que Fernando VI convierta


el Patronato indiano en «Regalía Soberana Patronal»,47 culminando así
la trayectoria marcada por los tratadistas: de concesión pontificia se ha
pasado a derecho inherente a la soberanía del monarca. De la misma
manera, en el proyecto de Carlos III de redactar un Nuevo Código
de las Leyes de Indias que pudiera sustituir a la Recopilación de 1680,
aunque nunca fue aprobado, se escribe:

«En fuerza de la distinguida calidad que por las Bulas pontificias nos
asiste y han exercido nuestros gloriosos predecesores de vicarios y dele-
gados de la Silla Apostólica para el gobierno espiritual de las Indias, es
nuestra voluntad que esta especial gracia, que desde el principio de su
concesión ha sido constantemente observada, se tenga y considere como
una de las más preeminentes regalías de nuestra real Corona, y manda-
mos que como tal se observe, guarde y cumpla en lo sucesivo».48

Y en 1765, el rey llega al punto que ninguno de sus predecesores


había alcanzado. En una real cédula con la que zanja un pleito entre el
cabildo y el arzobispo de Santo Domingo, Carlos III se ­autoproclama

46
  De la Hera, «El Regio…», 322.
47
  Maqueda Abreu, «Evolución…», 797.
48
  Alberto de la Hera y Rosa Mª Martínez de Codes, «La Iglesia en el ordena-
miento jurídico de las Leyes de Indias», en Recopilación de Leyes de los reynos de
las Indias. Estudios Histórico-Jurídicos (México: Miguel Angel Porrúa, 1987), 113.

112

Monárquias Ibéricas.indb 112 13/12/18 14:55


El Patronato Real en la América Hispana: fundamentos y prácticas

«vicario y delegado de la Silla Apostólica, en virtud de lo cual compete


a mi real potestad intervenir en todo lo concerniente al gobierno espi-
ritual de las Indias».49

La construcción de una geografía diocesana


Dado su omnímodo poder sobre la Iglesia en Indias, correspondió
a la Corona la definición de una estructura diocesana. No se siguió
un plan predeterminado, así que se fue construyendo la geografía
diocesana a medida que se iba ampliando el control hispánico sobre
el territorio americano y, a menudo, en competencia con las órdenes
regulares que hacían de avanzadilla en la evangelización. Hubo pues
un goteo de creaciones de obispados en el que participaron los suce-
sivos papas de los dos primeros tercios del siglo xvi.
Sin efecto, como hemos visto, el intento de fundación de dió-
cesis por Julio II en 1504, las primeras demarcaciones episcopales
se crearon de forma efectiva en las Antillas en 1511: los obispados
de Santo Domingo y Concepción en La Española – posteriormente
unidos –, así como el de Puerto Rico. En 1513, en tierra firme, se
erigió la diócesis de Santa María de la Antigua, trasladada en 1519 a
Panamá. En 1515, se fundó la Abadía de Jamaica, sin rango de obis-
pado, y, en 1519, la diócesis de Santiago de Cuba.50 El importante
número de traslados de diócesis en América y, posteriormente, la
creación de nuevos arzobispados, son el resultado de esta construc-
ción diocesana al paso que marcaba la conquista.
Así, después del Caribe, correspondió a la América Central otra
tanda de fundaciones episcopales. En 1519 se creó de manera efí-
mera una diócesis llamada «Carola», sin límites definidos, antes de
la conquista del Imperio Azteca.51 Pero la demarcación diocesana en
la América Central y en el entorno del Caribe advino en la década

49
 Egaña, La teoria…, 256-257; de la Hera y Martínez de Codes, «La Iglesia…»,
113.
50
  En este apartado tomamos las fechas de fundaciones de Lopetegui y Zubi-
llaga, Historia…, 178-179. Aunque hay divergencias en la bibliografía sobre las
fechas de fundación de los obispados, esta fuente nos parece la más segura, pues
sigue las fechas propuestas en la tesis doctoral inédita de Sergio Méndez Arcedo en
base a la documentación del Archivo Secreto Vaticano.
51
 Schäfer, El Consejo…, vol. 2, 192.

113

Monárquias Ibéricas.indb 113 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

de 1530, una vez asentado el dominio español: México (1530),


­Nicaragua, Venezuela y Comayagua (en Honduras, 1531), Santa
Marta, Cartagena y Guatemala (1534), Oaxaca (1535), Michoacán
(1536) y Chiapas (1539). Y cuando se avanzó en la colonización de
América del Sur, se fueron erigiendo las diócesis de Cuzco (1537),
Lima (1541) y Quito (1546).
Hasta 1547 todas las diócesis creadas dependían del arzobis-
pado de Sevilla. Eso generaba graves problemas por la distancia y el
tiempo de espera cuando se producían apelaciones de las decisiones
de un tribunal diocesano al metropolitano. Desde 1533 existen pro-
yectos para crear arzobispados en Indias, pero no se materializaron
hasta 1547, al establecer tres archidiócesis: las de Santo Domingo,
México y Lima. Poco después, los obispados de Popayán (1546),
Asunción (1547) y Guadalajara (1548) completaron el mapa de las
diócesis.
La existencia de tres archidiócesis demuestra que la organi-
zación diocesana de las Indias había adquirido su madurez, aun
cuando los obispados eran todavía demasiado grandes. Y en los dos
pontificados siguientes, los de Julio III y de Paulo IV, sólo se creó
la diócesis de La Plata (1552). Pero a partir de 1561 surgieron nue-
vas diócesis, a medida que se disponía de recursos suficientes para
ir dotando nuevos obispos y catedrales: Santiago de Chile, Verapaz
y Yucatán (1561), Concepción y Santa Fe, que fue elevada a arzo-
bispado (1564), y más tardíamente Tucumán (1570), Arequipa y
Trujillo (1577).
Señalemos también la fundación de la diócesis de Manila en 1579,
transformada en archidiócesis en 1595, al mismo tiempo que se crea-
ban tres nuevas sedes filipinas: las de Nombre de Jesús (en Cebú),
Nueva Cáceres (Camarines) y Nueva Segovia (Camayán). Si descon-
tamos esta remodelación eclesiástica de las Islas Filipinas, no hubo
modificaciones diocesanas entre 1579 y los inicios del siglo xvii.
Entonces surgieron los obispados de Santa Cruz de la Sierra (1605),
La Paz (1608), Huamanga (Ayacucho, en 1609) y una década más
tarde, Buenos Aires y Durango (1620). Estas fundaciones crearon
fuertes discusiones sobre la delimitación entre los nuevos obispados
y los que perdían territorio, por lo que a menudo el nombramiento
de los primeros obispos se dilató. La existencia de nuevas diócesis
obligó a una revisión de las provincias eclesiásticas: en 1609, el obis-
pado de Los Charcas se convirtió en archidiócesis (Fig. 1).

114

Monárquias Ibéricas.indb 114 13/12/18 14:55


El Patronato Real en la América Hispana: fundamentos y prácticas

Figura 1 – Diócesis americanas hasta 162052.

Desde 1620 hasta el reinado de Carlos III, no se produjo ningún


cambio en esta estructura episcopal, que quedó firmemente esta-
blecida por más de un siglo. Incluyendo en el recuento a las Islas
­Filipinas, la Iglesia indiana quedó estructurada en 6 arzobispados
(Santo Domingo, Méjico, Lima, Santa Fe, Manila y Charcas) y 32
obispados, creando un marco estable para la acción pastoral.
No fue hasta el apogeo del regalismo borbónico cuando se volvió
a cuestionar la división diocesana. A partir de 1777, en los reinados
de Carlos III y Carlos IV, se crearon tres nuevas archidiócesis y ocho
nuevas diócesis: Nuevo León y Mérida de Venezuela (1777), Sonora

  En Paulino Castañeda Delgado y Juan Marchena Fernández, La Jerarquía


52

de la Iglesia en Indias. El episcopado americano: 1500-1850 (Madrid: Fundación


­Mapfre, 1992), p. 15.

115

Monárquias Ibéricas.indb 115 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

(hoy Hermosillo, 1779), Cuenca (1786), La Habana (1787); Santo


Tomás de la Guayana (hoy Ciudad Bolívar, 1790) y Maynas (hoy
Chachapoyas, 1805) así como, finalmente, Salta (1806). Además, las
diócesis de Guatemala (1743), Santiago de Cuba y Caracas (1803) se
convirtieron en arzobispados metropolitanos
En resumen, hubo dos momentos álgidos de creación de diócesis,
el primero entre 1511 y 1519 (5 fundaciones) y el segundo en las
décadas de 1530 y 1540 (16 fundaciones). Salvo alguna excepción, se
dieron después dos períodos de ampliación del número de obispa-
dos: entre 1561 y 1577 (8 fundaciones) y entre 1605 y 1620 (5 fun-
daciones). Y, mucho más tardía, la oleada de cambios del reformismo
borbónico entre 1777 y 1806 trajo 8 fundaciones más.

Los intentos de intervención del Papado


La historiografía tradicional española ha sostenido que si hasta
los mismos obispos toleraron o incluso defendieron la preponderan-
cia de la Corona sobre toda la estructura eclesiástica en Indias fue
porque su continuidad a lo largo de décadas implicaba un consen-
timiento tácito de la Santa Sede. Como dicen Alberto de la Hera y
Rosa Mª. Martínez de Codes, los papas «optaron por dejar hacer, sin
asentir porque no querían y sin evitar porque no podían». 53 Lo cierto
es, sin embargo, como han demostrado autores como Pedro Borges,
Matteo Sanfilippo, Giovanni Pizzorusso54 y Boris Jeanne55, que la
Corona veló estrictamente ante cualquier intento de la Santa Sede de
adquirir jurisdicción en Indias o de establecer un vínculo directo con
las jerarquías eclesiásticas americanas. Y ese es un rasgo estructural
de la política indiana de todos los monarcas hispanos.

53
  De la Hera y Martínez de Codes, «La Iglesia…», 121. Véase también de la
Hera, «El gobierno…», 870.
54
 Matteo Sanfilippo y Giovanni Pizzorusso, «L’America iberica e Roma fra
Cinque e Seicento: notizie, documenti, informatori», en Gli archivi della Santa Sede
e il mondo asburgico nella prima età moderna (Viterbo: Edizioni Sette Città, 2004),
73-118.
55
  Boris Jeanne, «The Franciscans of Mexico. Tracing Tensions between Rome
and Madrid in the ‘provincia del Santo Evangelio’ (1454-1622)», en Papacy, ­Religious
Orders and International Politics in the Sixteenth and Seventeenth Centuries, ed.
­Massimo Carlo Giannini (Roma: Viella, 2013), 17-28.

116

Monárquias Ibéricas.indb 116 13/12/18 14:55


El Patronato Real en la América Hispana: fundamentos y prácticas

Según Borges, en el principio de la conquista hay una «automargi-


nación pontificia» que no fue mayor porque Alejandro VI no aceptó
que las prerrogativas concedidas en 1493 a Boïl recayesen en otro
eclesiástico designado por los reyes, una vez que este fraile volvió
de América enemistado con Colón. Pero ese proceso persistió en la
medida en que, ratificando la Inter caetera, Roma insistía en la nece-
sidad de licencia regia para el paso de misioneros a Indias (en 1522,
en 1544, en 1554, …).

«La marginación definitiva de la Santa Sede sobrevendría desde


comienzos del siglo xvi, como consecuencia de una serie de concesiones
hechas por el Pontificado a la Corona española y de otra serie de facul-
tades que los reyes castellanos se arrogaron por su cuenta, todo lo cual
abocó en los sistemas denominados del Patronato Real, del Vicariato
Regio y del Regalismo borbónico».56

Los intentos de León X de enviar colectores apostólicos a Indias


que pudieran drenar una parte de las riquezas americanas hacia el
Papado fueron vanos. En 1537, Paulo III expidió la bula Altitudo
divini consilii y un breve al arzobispo de Toledo que prohibían redu-
cir a los indios a la esclavitud, pero Carlos V ordenó recoger todos
los ejemplares de la bula e instó a la anulación del breve, lo cual
obtuvo al año siguiente.57
Y cuando a partir de 1545 se reunió el Concilio de Trento, C
­ arlos V
impidió que el episcopado de América participase. Su veto expreso
afectó no solo a los obispos que hubieran debido cruzar el océano para
asistir al concilio, sino también a aquellos que en aquel momento se
encontraban en Europa.58
El centralismo pontificio romano subsiguiente al Concilio de
Trento, tanto en el plano organizativo (organización de un sistema
de nunciaturas y congregaciones),59 como desde el plano teológico

56
  Pedro Borges Morán, «La Santa Sede y la Iglesia americana», en Pedro Bor-
ges Morán, dir., Historia de la Iglesia en Hispanoamérica y Filipinas (siglos xv-xix)
(Madrid, BAC, 1992), vol. 1, 47-62; cita: 48.
57
  Lopetegui y Zubillaga, Historia…, 81-82; de la Hera y Martínez de Codes,
«La Iglesia…», 108.
58
 Leturia, Relaciones…, 497-509.
59
  Paolo Prodi, Il sovrano pontefice. Un corpo e due anime: la monarchia papale
nella prima età moderna (Bolonia: Il Mulino, 1982).

117

Monárquias Ibéricas.indb 117 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

(insistiendo en la condición de pastor universal del papa),60 renovó el


interés romano por las misiones americanas. En tiempos de Felipe II,
el Consejo de Indias rechazó abiertamente los proyectos de Pío V
(1566-72) y de Gregorio XIII (1572-85) de instituir un Nuncio, o
al menos unos visitadores apostólicos en Indias.61 Y cuando en 1588
Sixto V reorganizó la Curia romana, creando una serie de Congre-
gaciones permanentes, aparentemente los cardenales miembros de
dichas instituciones no tuvieron ningún poder efectivo sobre la Igle-
sia americana. El mismo papa impuso la obligación de realizar la visita
ad limina a todos los obispos, incluidos los que tenían sus sedes en
América, pero la Corona bloqueó cualquier intento de los prelados
de ponerse en camino; y cuando se obtuvo que bastase el envío de
una delegación con una relación sobre el estado de la diócesis, el
Consejo de Indias exigió ver previamente dichas relaciones.62 Roma
poco pudo obtener del episcopado hispanoamericano más que algu-
nas consultas esporádicas sobre la aplicación del concilio de Trento
o sobre sus diferendos con las órdenes religiosas y, eso sí, solicitudes
de creación de cofradías y de dispensas matrimoniales.63
La fundación, tras varios precedentes, de la Congregación De
Propaganda Fide por Gregorio XV en 1622 dotó por fin a la Santa
Sede de una institución para la actividad misionera, de alcance, en
teoría, planetario. Pero era también un organismo jurisdiccional
que, como ha señalado Giovanni Pizzorusso, establecía una relación

60
  Paolo Broggio, «Teologia ‘romana’ e universalismo papale: la conquista del
mondo (secoli XVI-XVII)», en Papato e politica internazionale nella prima età
moderna, ed. Maria Antonietta Visceglia (Roma: Viella, 2013), 441-477.
61
  Pedro Borges, «La Nunciatura Indiana. Un intento pontificio de intervención
directa en Indias bajo Felipe II, 1566-1568», Missionalia Hispanica, 19 (1962): 169-
-227.
62
  Ramon Robres Lluch y Vicente Castell Maiques, «La visita ad limina durante
el pontificado de Sixto V (1585-1590). Datos para una estadística general. Su cum-
plimiento en Iberoamérica», Anthologica AnnuaI, 7 (1959): 147-213. Misael Camus
Ibacache: «La visita ad limina desde las Iglesias de América Latina en 1585-1800»,
Hispania Sacra, 46 (1994): 159-189.
63
  Giovanni Pizzorusso y Matteo Sanfilippo, «L’attenzione romana alla chiesa
coloniale hispano.americana nell’età di Filippo II», en Felipe II (1527-1598). Europa
y la Monarquía Católica, dir. José Martínez Millán (Madrid: Parteluz, 1998), vol. 3,
321-340. Benedetta Albani, Sposarsi nel Nuovo Mondo. Politica, dottrina e pratiche
della concessione di dispense matrimoniali tra la Nuova Spagna e la Santa Sede (1585-
-1670) (Tesis doctoral, Roma/Ciudad de México: Università di Roma Tor Vergata/
Universidad Nacional Autónoma de México, 2009).

118

Monárquias Ibéricas.indb 118 13/12/18 14:55


El Patronato Real en la América Hispana: fundamentos y prácticas

v­ ertical entre Roma y las misiones.64 Los sistemas de patronato pre-


existentes y algunas órdenes religiosas se resistieron a someterse a
­Propaganda Fide, haciendo valer sus privilegios y concesiones pon-
tificias anteriores. Roma condenó la teoría del Vicariato regio en
1634 y en 1644,65 y prohibió los libros de Solórzano. Con todo, Pro-
paganda Fide, que jugó un papel determinante en las expediciones
de misioneros en Asia o a territorios protestantes, no parece haber
tenido la misma relevancia en las misiones de la América hispánica.
No obstante, las investigaciones más recientes de Benedetta Albani
y de Giovanni Pizzorusso están obligando a matizar la relación de
Propaganda, y más ampliamente de la Santa Sede, con los patronatos
ibéricos66. En el siglo xvii, la Congregación llegó a disponer de una
red de informadores sobre los territorios indianos, al tiempo que la
presencia de misioneros católicos franceses o italianos se reforzaba
en las Antillas.67
La contrapartida de la Corona a la voluntad del papa de enviar
nuncios a América fue intentar crear un Patriarcado de Indias con
poderes efectivos. La primera petición se elevó a Roma en 1513.
En 1524 Clemente VII creó el título de Patriarca de Indias, pero
con un contenido meramente honorífico y prohibición expresa de
residir en América. Algunos de sus sucesores tendrían facultades
de nuncio, sin llegar nunca a ejercerlas.68 Según el proyecto de la

64
  Sobre la incidencia de esta Congregación en el Imperio portugués, véase el
capítulo de Ângela Barreto Xavier y Fernanda Olival en este mismo volumen.
65
 Egaña, La teoria…, 189-209. Lopetegui y Zubillaga, Historia…, 153.
66
  El Max-Planck-Institut für Europäische Rechtsgeschichte de Frankfurt publi-
cará las actas del Seminario Internacional «Una nueva mirada sobre el P ­ atronato
Regio. La Curia Romana y el gobierno de la Iglesia Ibero-Americana», dirigido por
Benedetta Albani y Giovanni Pizzorusso, que tuvo lugar el 15 y el 16 de diciembre
de 2016.
67
 Matteo Sanfilippo y Giovanni Pizzorusso, «L’America iberica e Roma fra
­Cinquecento e Seicento: notizie, documentari, informatori», en Gli archivi della
Santa Sede e il mondo asburgico nella prima età moderna, eds. Matteo Sanfilippo,
Alexander Koller y Giovanni Pizzorusso (Viterbo: Sette Città, 2004), 73-118.
Giovanni Pizzorusso, «La Congregazione Romana ‘De Propaganda Fide’ e la
­
duplice fedeltà dei missionari tra Monarchie coloniali e universalismo pontificio
(xvii secolo)», Librosdelacorte.es, Monográfico 1, año 6 (2014). Benedetta Albani,
ed., «The Apostolic See and the World: Challenges and risks facing global history»,
Zeitschrift des Max-Planck-Instituts für europäische Rechtsgeschichte, 20 (2012): 330-
-403 (en línea: http://rg.rg.mpg.de/Rg20).
68
  Borges, «La Santa…», 59.

119

Monárquias Ibéricas.indb 119 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Junta Magna creada por Felipe II en 1568, el Patriarca debería ser


un prelado residente en la Corte, nombrado a presentación del rey,
que tendría jurisdicción de legado pontificio para las Indias y recibi-
ría informes anuales sobre el estado de cada diócesis. Tendría como
asesores a los Comisarios Generales para las Indias de cuatro órde-
nes – franciscanos, dominicos, agustinos y jesuitas –, elegidos tam-
bién a presentación del rey, lo que permitiría coordinar las acciones
misionales. Ni Pío V ni Gregorio XIII – ni las órdenes religiosas,
con excepción de los franciscanos observantes –69 aceptaron dichos
planes. Y cabe sospechar, como dicen Lopetegui y Zubillaga, que la
ausencia de nuncios y de patriarca lo que hizo es reforzar la naciente
teoría del vicariato regio: a falta de esos legados explícitos del pon-
tífice, era el rey quien aparecía de forma más o menos tácita como el
delegado papal para las Indias.

Conclusión: una «Iglesia de Estado»


La Iglesia hispanoamericana siguió el modelo del patronato real
granadino y canario. Las concesiones que Inocencio VIII había
hecho para los reinos que se conquistarían en Granada fueron prác-
ticamente replicadas por Alejandro VI y Julio II en los nuevos terri-
torios que la Corona de Castilla estaba conquistando más allá del
Atlántico, cuando aún no había una conciencia clara de su extensión
e importancia.
Los Reyes Católicos obtuvieron los derechos de patronato y de
recaudación de los diezmos en Granada, Canarias y América con
relativa facilidad, en contraste con las reiteradas negativas de diver-
sos papas a concedérselos en sus demás reinos. Fernando el C ­ atólico
consiguió dejar sentadas las bases de ese Patronato Regio y los
­Austrias lo explotaron hasta sus últimas consecuencias: primero, en
la práctica, con la política del Consejo de Indias, gestionando el que
se llamó Patronato Universal. Después, en la teoría, con la publica-
ción de libros y memoriales sobre el Vicariato Regio en los que se
defendía abiertamente que el rey era vicario o delegado de la Santa

 Pedro Borges, «En torno a los Comisarios Generales de Indias entre las
69

órdenes misioneras en América», Archivo Ibero-americano, 23 (1963): 145-196; 24


(1964): 147-182; 25 (1965): 3-61, 173-221.

120

Monárquias Ibéricas.indb 120 13/12/18 14:55


El Patronato Real en la América Hispana: fundamentos y prácticas

Sede en América y que, por lo tanto, sus decisiones tenían el mismo


valor que las del papa. Dicha tesis alcanzó su cénit en el siglo xviii,
cuando los Borbones reivindicaron el patronato universal no como
una concesión pontificia, sino como una regalía. El resultado fue
la creación de una estructura institucional controlada en todos sus
aspectos por la Corona, tanto por lo que respecta al clero secular y
al episcopado, como al clero regular, lo que de facto desbordaba en
muchos aspectos el marco del patronato eclesiástico como institu-
ción jurídica conocida ya en la Edad Media.
Resulta así que a los historiadores europeos, que hemos discutido
sobre los conflictos de jurisdicción entre la Santa Sede y los monar-
cas absolutos en Europa, o sobre la mayor o menor influencia del
galicanismo y del regalismo en cada momento de los siglos xvi y xvii,
quizás nos ha pasado por alto el ejemplo más completo y acabado de
«Iglesia de Estado» en el mundo católico: el diseñado por los Habs-
burgo en América y Filipinas, con un dominio de la Corona muy
superior al que pudo tener en los reinos europeos de la Monarquía,
si exceptuamos Granada y las Canarias.70
A mediados del siglo xviii el anillo se cierra y se cumple la vieja
aspiración de los Reyes Católicos, ya en un contexto muy distinto.
El patronato granadino y canario había procurado el modelo seguido
en América durante los siglos xvi y xvii. En el Concordato de 1753
la Santa Sede concede a Fernando VI y a sus sucesores el patronato
universal en sus reinos europeos, citando explícitamente el modelo
americano y granadino.71
La historiografía reciente ha insistido en que todo el Imperio
no se pudo gestionar sólo desde Madrid. Con el nombramiento
de un número reducido de virreyes y gobernadores y el envío de
un contingente limitado de soldados, ¿cómo se podía dominar
todo un continente? Lo mismo tendríamos que decir en el ámbito
eclesiástico, tanto por lo que respecta a los misioneros como a los

70
  Para el Reino de Granada, se ha hablado de «Iglesia de Estado»: Antonio Luis
Cortés Peña, Iglesia y Cultura en la Andalucía Moderna (Granada: Proyecto Sur,
1995), 150; y de «Iglesia Nacional»: Francisco Javier Martínez Medina, «Sacerdocio
y reino en la Edad Moderna. Una Iglesia Nacional: El Patronato Regio desde la
perspectiva histórica», en Religión y poder en la Edad Moderna, eds. Antonio Luis
Cortés Peña, José Luis Betrán y Eliseo Serrano Martín (Granada: Universidad de
Granada, 2005), 37-51.
71
 Hermann: L’Église…, 129-138

121

Monárquias Ibéricas.indb 121 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

­obispos.72 Desde 1629 hasta 1769 América tuvo 36 diócesis, ape-


nas una más que la mucho más pequeña Corona de Castilla (inclu-
yendo en ella el Reino de Navarra). ¿Podían los obispos designados
por la Corona controlar ese vasto territorio? ¿Cuál fue su actua-
ción? ¿Y el de los numerosos canónigos y curas repartidos por el
territorio? Por eso los historiadores se plantean actualmente el
estudio del papel de las élites, ya sean criollas o indígenas, y su rol
de mediadores entre la Corte y los diferentes centros de poder en
las colonias, así como su función de intermediarios culturales entre
las diferentes partes del mundo.73 A nuestro juicio, ese es el camino
por el que debería seguir la historiografía, un tanto anquilosada74,
sobre el Patronato Real. Gracias al estudio de Paulino Castañeda y
Juan Marchena, ya conocemos los grandes rasgos prosopográficos
del conjunto del episcopado americano.75 Ahora queda el estudio
concreto de los hombres que fueron designados para los distin-
tos obispados y demás prebendas en América, de los misioneros
que fueron seleccionados – y de los que fueron vetados – por la
Corona, de su distribución geográfica, sus redes de sociabilidad, su
impacto cultural, de los roles que jugaron in situ y en la Corte…
¡Una laboriosa pero apasionante tarea!

72
  Véase a este respecto Oscar Mazín y José Javier Ruiz Ibáñez, eds., Las Indias
Occidentales. Procesos de incorporación territorial a las Monarquías Ibéricas (México:
El Colegio de México, 2012) y, en particular, las reflexiones de Thomas Calvo, 442-
-445.
73
  Como por ejemplo hace Federico Palomo, «Procurators, religious orders and
cultural circulation in the Early Modern Portuguese Empire: printed works, ima-
ges (and relics) from Japan in António Cardim’s journey to Rome (1644-1646)»,
e-journal of Portuguese History (e-JPH), vol. 14, n.º 2 (Dic. 2016).
74
  En su contribución, Ângela Barreto y Fernanda Olival señalan algo similar
para la bibliografia sobre el Padroado portugués.
75
  Paulino Castañeda Delgado y Juan Marchena Fernández, La Jerarquía de la
Iglesia en Indias….

122

Monárquias Ibéricas.indb 122 13/12/18 14:55


Ângela Barreto Xavier
Fernanda Olival

Capítulo 3

O padroado da coroa de Portugal:


fundamentos e práticas 1

Introdução
A bibliografia sobre o padroado da coroa de Portugal é relativa-
mente extensa. No entanto, pouca é de fresca data, o que significa que
raras vezes incorporou as mudanças recentes no campo historiográ-
fico, nomeadamente os estudos dos últimos anos sobre o «patronato
castelhano», tanto mais relevantes quanto os dois fenómenos foram
quase correlatos e persistiram na longa duração2. No que respeita
a Portugal, a historiografia privilegiou o «Oriente», dando muito
menos atenção ao espaço atlântico3. A par disso, preferiu estudar

1
  Trabalho desenvolvido no âmbito de: UID/HIS/00057/2013 (POCI-01-0145-
-FEDER-007702), FCT/Portugal, COMPETE, FEDER, Portugal2020 e do projecto
Rituais Públicos no Império Português (1498-1822), PTDC/HAR-HIS/28364/2017.
2
  Entre as excepções, ver: Giovanni Pizzorusso, «Il padroado régio portoghese
nella dimensione ‘globale’ della Chiesa romana. Note storico­-documentarie con parti-
colare riferimento al Seicento», em Gli archivi della Santa Sede come fonte per la storia
del Portogallo in età moderna. Studi in memoria di Carmen Radulet, eds. Giovanni Piz-
zorusso, Gaetano Platania e Matteo Sanfilippo (Viterbo: Sette Città, 2012), 157-199.
3
  Para uma visão panorâmica do padroado, ver: José Joaquim Lopes Praça,
Ensaio sobre o padroado portuguez: dissertação inaugural para o acto de conclusões
magnas (Coimbra: Imprensa da Universidade, 1869); Jno G ­ odinho, The Padroado
of Portugal in the Orient (1454‑1860) (Bombaim: ed. de autor, 1924); António

123

Monárquias Ibéricas.indb 123 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

essencialmente o fenómeno da missionação, deixando de lado outras


dimensões do padroado.
Tendo em conta o horizonte bibliográfico disponível, este texto
propõe uma síntese, analisando, na longa duração, quatro gran-
des problemas: a definição jurídica de padroado; o modo como o
padroado português evoluiu e interagiu com o castelhano; a geogra-
fia organizativa desta estrutura ao longo do tempo; e, por fim, as
implicações destes processos nas práticas que suportaram a persis-
tência do padroado da coroa de Portugal. Na realidade, a proposta
que se descreve procura criar condições para o desenvolvimento de
estudos comparados neste âmbito temático. Recorreu-se, por isso, a
diferentes escalas de análise, sem deixar de aflorar, quando oportuno,
o horizonte micro.
Em matéria de fontes primárias, quando delas se fez uso, explo-
rou-se uma documentação variada, dando especial atenção à produ-
zida pela Mesa da Consciência, a instituição que tutelava as Ordens
Militares, bem como a tratadística.

da Silva Rego, O Padroado Português do Oriente Esboço Histórico ([­Lisboa]:


Agência Geral das Colónias, 1940) e O Padroado Português no Oriente e a Sua
­Historiografia (Lisboa: Academia Portuguesa da História, 1978); José Machado
Lourenço, O Padroado português no Oriente (Angra do Heroísmo: Tip. União
Gráfica, 1950); Charles M. De Witte, «Les bulles pontificales et l’expansion por-
tugaise au XVe siècle», Revue d’Histoire Ecclésiastique, XLVIII (1953): 683-718,
XLIX (1954): 413-461, LI (1956): 809-836, LIII (1958): 5-46, 443-471 e Les let-
tres papales concernant l’expansion portugaise au XVIe siècle (Immensee: ­Nouvelle
Revue de Science Missionaire, 1986); William E. Shiels, King and Church. The
Rise and Fall of the Patronato Real (Chicago: Loyola U ­ niversity Press, 1961);
­António Brásio, O Padroado da Ordem de Cristo na Madeira (Funchal: [s. n.],
1962); Angel Santos Hernández, Las misiones bajo el patronato portugués
(Madrid: Eapsa, 1977); Charles. R. Boxer The church militant and Iberian Expan-
sion (Baltimore/Londres: The Johns Hopkins U ­ niversity Press, 1978); Roland
Jacques, De ­Castro Marim à Faïfo: naissance et développement du Padroado por-
tugais d’Orient des origines à 1659 (Lisboa: Fundação Calouste G ­ ulbenkian,
1999); Ângela Barreto Xavier, «A organização religiosa do primeiro Estado da
Índia. Notas para uma investigação», Anais de História de Além-Mar, V (2004):
27-59; Isabel dos Guimarães Sá, «Ecclesiastical structures and religious actions»,
em Portuguese Oceanic Expansion, 1400-1800, eds. F ­ rancisco ­Bethencourt e
Diogo Ramada Curto (Cambridge: Cambridge U ­ niversity Press, 2007), 255-
-282; P­ izzorusso, «Il padroado…», Fernanda Olival, The Military Orders and
the P
­ ortuguese Expansion (15th-17th centuries) (Petersborough: Baywolf Press,
2018).

124

Monárquias Ibéricas.indb 124 13/12/18 14:55


O padroado da coroa de Portugal: fundamentos e práticas

Constituição e enquadramento jurídico


do padroado
No segundo capítulo do Patronatibus Ecclesiarum Regiae Coronae
Regni Lusitaniae, publicado em 1602, Jorge de Cabedo (1525-1604),
juiz da Casa da Suplicação, do Desembargo do Paço e chanceler-mor
do Reino, explica que o ius patronatus era constituído pelos direitos
e obrigações daquele que fundava, edificava e dotava uma igreja ou
outra fundação pia e lhe atribuía os meios necessários para o seu
funcionamento ou manutenção (desde os benefícios e as rendas que
lhes correspondiam, outras rendas, até às alfaias, ornamentos e ins-
trumentos necessários à realização condigna do culto). Fundatio,
dotatio, aedificatio eram, por assim dizer, três actos que davam – em
conjunto ou cada um deles por si – o estatuto de padroeiro a um
sujeito social ou a uma instituição. Ou seja, o ius patronatus recom-
pensava um serviço feito a Deus, em nome da fé.
À atribuição do direito de padroado correspondia ao direito
de apresentação e, eventualmente, à percepção e administração do
dízimo eclesiástico e a j­urisdição espiritual sobre as circunscrições
das igrejas patrocinadas. Para além destes direitos, o padroeiro podia
desfrutar dos iura honorifica, direitos honorários que contemplavam,
por exemplo, preeminência nas procissões, orações e intercessões,
enterramento em lugar de destaque na igreja, bem como de um ou
mais iura utilia, direitos materiais que incluíam a participação nas
rendas remanescentes do benefício, ou outro tipo de apoio, como o
jantar, o alojamento, e a ajuda financeira.4
Quando um padroeiro (e este podia ser de vários tipos: singular,
comum, colegial; laical, eclesial, ou místico) detinha a plenitude de
direitos era designado como padroeiro pleno iure. Entre os direi-
tos que acompanhavam o estatuto de patrono, os mais desejados
eram o usufruto o dízimo e o direito de apresentação nos ofícios/
benefícios estabelecidos (o ius praesentandi). A par da dimensão
económica, a legitimação religiosa providenciada pelo direito de
apresentação dos benefícios religiosos era crucial para a sedimen-
tação dos vínculos sociais e políticos. Recorde-se que o direito de
padroado tinha a sua inspiração no patronus do direito romano,

  Jorge de Cabedo, De patronibus Ecclesiarum Regiae Coronae Regni Lusitaniae


4

(Lisboa: 1603), caps. 2 & 6.

125

Monárquias Ibéricas.indb 125 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

nomeadamente na relação entre o paterfamilias e o servus, pelo que


o vínculo do padroado instituía uma espécie de parentela entre o
patrono e o beneficiado. Dado o elevado número de clérigos exis-
tentes na sociedade portuguesa do Antigo Regime, por vezes acima
das necessidades, dispor do direito de apresentar era, por conse-
guinte, um poder relevante. É certo que o candidato apresentado
pelo patrono devia ser confirmado pelo superior eclesiástico da cir-
cunscrição jurisdicional em causa – no caso de um pároco, o bispo;
no caso dos prelados, o próprio pontífice, mas essa dependência
constituía, frequentemente, um pró-forma.5
Se nos primeiros séculos da monarquia portuguesa, a tendên-
cia foi a de reconhecer a posteriori o direito de padroado, expres-
sando, nas palavras de Silva Rego, «a gratidão da Igreja para com
os seus benfeitores»6, a atribuição a priori desse mesmo direito
também começou a acontecer. As bulas papais dos séculos xv e
xvi que constituíram juridicamente o padroado do rei de Portugal
extra territorium, bem como a extensão de alguns dos seus direi-
tos no interior do reino, devem ser entendidas a partir deste duplo
enquadramento. Para ­perceber o alcance destas bulas, e os proble-
mas de interpretação que geraram posteriormente, torna-se igual-
mente necessário compreender as várias conjunturas papais em que
elas foram sendo atribuídas, para já não referir o protagonismo e a
concomitante rivalidade ibérica no que respeita à expansão extra-
-europeia. Estes aspectos, que, por razões de economia de espaço,
não serão aqui explorados, foram ainda mais relevantes se tivermos
em consideração que as bulas iniciais foram promulgadas numa
época em que o próprio Papado foi atravessado por várias convul-
sões, tendo na altura saído em data recente do Cisma que dividira a
Igreja do ­Ocidente. Ou seja, é plausível pensar que a delegação de
poderes encerrada nas bulas de Nicolau V tenha resultado de um
contexto papal particularmente complexo, no qual o Papado (ele
próprio, muito heterogéneo) não dispunha de recursos suficientes
para avançar com a evangelização dos territórios reconhecidos e/ou

5
  Arturo Carlo Jemolo, Renato Karzolo e Emilio Albertario, «Patronato», em
Enciclopedia Italiana di scienze, lettere ed arti, vol. 25: Novg-Palen (Roma: Istituto
dell’Enciclopedia Italiana, 1935); José Pedro Paiva, Os Bispos de Portugal e o Império
(1495-1777) (Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2006), 42-44.
6
  Silva Rego, O Padroado…, 1940.

126

Monárquias Ibéricas.indb 126 13/12/18 14:55


O padroado da coroa de Portugal: fundamentos e práticas

c­ onquistados pelos monarcas p­ ortugueses.7 Desse modo, o Papado


exercia, doravante, um novo poder: o de autorizar determinadas
entidades a tratar da difusão do catolicismo em espaços conside-
rados novos para os europeus. À semelhança da coroa portuguesa,
também o Papado teve nítidos ganhos de poder ao atribuir a priori
o padroado das «geografias desvendadas» pelos países ibéricos.
É nesse contexto que, a partir do século xvi, os prelados das recém-
-criadas dioceses «portuguesas», fossem elas da metrópole ou do
espaço ultramarino (as mais antigas só a partir de 1740), passaram a
ser apresentados pelo rei de Portugal.8

As várias fases do padroado português e a sua


interacção com o modelo castelhano
Três grandes recortes cronológicos sobressaem quando analisa-
mos os direitos de padroado da coroa portuguesa na época moderna9:
um primeiro engloba a segunda metade do século xv (1455-1456) e
a primeira metade do século xvi (1551), período no qual se constitui
aquilo que podemos designar como «o modelo português», o qual,
face às dinâmicas do reino vizinho de Castela, se foi reconfigurando
ao longo do século xvi – de forma decisiva a partir de 1514 –, conver-
gindo com o «modelo castelhano», selado, em 1551, com a agregação
das ordens militares à monarquia e a criação do bispado da Baía.10
Um segundo recorte, aquele em que o «modelo castelhano» se impôs
de forma irreversível, abarca o período de 1551 a 1668. Durante esta
fase destacam-se: a união da coroa portuguesa com a Monarquia
Hispânica, a qual estimulou tensões entre os dois padroados ibéri-
cos; no contexto das disputas pelo mare liberum, o estabelecimento
da Propaganda Fide, organização que tinha como objectivo último

7
  Giuseppe Marcocci, A Consciência de um Império. Portugal e o Seu Mundo
(Sécs. XV-XVII) (Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2012).
8
  Em Castela datava de 1523. E nesse mesmo ano, Carlos V também conseguiu
a adminitração perpétua das Ordens Militares.
9
  Ao analisar especificamente o caso brasileiro, Evergton Sales Souza propõe
uma cronologia distinta: «Structures d’encadrement du christianisme au Brésil.
L’église diocesaine», manuscrito em vias de publicação, 3-4).
10
  Sobre o modelo castelhano, veja-se o estudo de Ignasi Terricabras neste mesmo
volume, cap. 2.

127

Monárquias Ibéricas.indb 127 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

controlar a evangelização e a vida espiritual fora da Europa a par-


tir do Papado, em 1622, o que contribuiu activamente para a erosão
dos direitos de padroado do rei de Portugal; as tentativas sistemá-
ticas de substituição do clero regular pelo clero secular, e crescente
controlo da coroa sobre os primeiros; o problema do provimento
dos bispados, no contexto restauracionista, que acentuou as tensões
com o Papado. Um terceiro recorte compreende, por isso mesmo,
o período entre 1668 e os finais do século xviii. Depois de 1668,
as relações com a chefia da Igreja católica romana normalizaram-se
temporariamente, recrudescendo, porém, com a crescente rivalidade
internacional no campo missionário e a intensificação do regalismo
político na coroa de Portugal.

As características fundamentais do padroado extra territorium


da coroa de Portugal são definidas, num primeiro momento, pela
sucessão das bulas de Nicolau V, de 1455, e de Calisto III, de 1456.
­Esquematicamente pode dizer-se que a primeira, a Romanus ­Pontifex,
de 8 de Janeiro de 145511, concedia ao rei de Portugal (Afonso V) e
ao Infante D. Henrique o direito de se apropriar de territórios, já
conquistados ou que de futuro viessem a conquistar, desde os cabos
Bojador e Não até à Guiné, toda a costa meridional e para além disso.
Neste amplo espaço, podiam aprisionar os infiéis, apresar escravos,
conquistar terras de muçulmanos e gentios; ao mesmo tempo, a todos
os outros cristãos ficava vedada a navegação, a pesca e o comércio,
sem prévia licença do monarca português e do infante D. Henrique.
Estes últimos deviam enviar missionários, fundar igrejas, mosteiros e
outros lugares pios extra territorium. Já a bula Inter coetera, de 13 de
Março de 1456, confirmava a anterior e atribuía a jurisdição espiritual
destes lugares, nullius diocesis, à Ordem de Cristo, perpetuamente.
Pela bula invocada cabia ao prior do convento de Tomar prover
naquela vasta área os benefícios eclesiásticos, com cura ou sem cura
de almas, seculares ou regulares. É através destes diplomas que, por
um lado, o Papado se assume como distribuidor de territórios fora

 Publicada na Monumenta Henricina (Coimbra: Comissão Executiva das


11

Comemorações do V Centenário da Morte do Infante D. Henrique, 1971), vol. 12,


71-79.

128

Monárquias Ibéricas.indb 128 13/12/18 14:55


O padroado da coroa de Portugal: fundamentos e práticas

do espaço europeu e do Norte de África, e que, por outro, se confi-


gura o «modelo português», marcado pelo protagonismo atribuído a
uma Ordem Militar na expansão da fé. Neste «modelo português»,
uma entidade «privada» (a Ordem de Cristo) de uma unidade polí-
tica (a monarquia portuguesa) devia responsabilizar-se pelo avançar
da fé católica, recebendo em troca os dízimos dos novos territórios.
Tudo isto fora concedido sob o argumento de que a Ordem de Cristo
investira recursos no processo expansionista, constituindo-se, por
conseguinte, como uma espécie de pagamento. Ou seja, a atribuição
do padroado tinha uma causa onerosa.12
Este entendimento começou a alterar-se sob o reinado de
D. Manuel I, mas nem sempre de uma forma totalmente consis-
tente.13 Dando resposta a um pedido da coroa portuguesa, a 26 de
Março de 1500, através dos breves Cum sicut maiestas e Exponi
nobis, o papa Alexandre VI concederia ao rei de Portugal o con-
junto do ius ­patronatus et praesentandi nos territórios do império.
­Aparentemente, estes breves excluíam a Ordem de Cristo da jurisdi-
ção que esta detinha sobre tais lugares.14
O primeiro momento de ruptura efectiva ocorre com a bula Pro
Excellenti, de 12 de Junho de 1514, através da qual se criava o bis-
pado do Funchal. Esta bula delegava explicitamente em D. Manuel,
enquanto rei de Portugal e não como administrador da Ordem de
Cristo, o direito de apresentação do prelado daquele bispado; reser-
vando para a Ordem apenas o direito de apresentação dos restan-
tes benefícios, incluindo o cabido. Isto é, o ius praesentandi era
agora repartido entre a coroa e a Ordem de Cristo, as entidades que

12
 Olival, The Military Orders..., pp. 75-125.
13
 Já anteriormente o Padroado da Ordem de Cristo fora questionado. Por
exemplo, pela bula Clara devotionis sinceritas, de 21 de Agosto de 1472, atribuía-se
aos bispos de Lamego e de Lisboa a faculdade de erigirem bispados no Norte de
África, contrariando o disposto nas bula de 1456.
14
 No Cum sicut maiestas, concede-se ao rei de Portugal o direito de apresen-
tar comissário apostólico responsável pelos seculares e regulares («aliquas personas
ecclesiasticas seculares et religiosas») que estavam nas cidades e nos lugares entre o
cabo da Boa Esperança e a Índia superior com o objectivo de converter as popula-
ções à fé católica. Embora este comissário devesse ser confirmado pelo próprio pon-
tifíce, o rei podia enviar um comissário com jurisdição ordinária durante um ano.
No Exponi nobis, o pontífice delega o poder nos referidos bispos para autorizar o rei
de Portugal – enquanto rei – a fundar doze conventos nos seus territórios, tanto no
reino como fora dele, De Witte, Les lettres papales…, 11-13.

129

Monárquias Ibéricas.indb 129 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

contribuíam para dotar a nova sé com 500 e 250 ducados de ouro,


­respectivamente.15 A partir de então a Ordem de Cristo iniciava
um processo irreversível de perda de poder no que dizia respeito à
expansão da fé, e aos direitos de padroado que lhe estavam associa-
dos, inaugurando-se, de facto, um novo tipo de padroado. A clarifi-
cação de competências continuaria a fazer-se, com avanços e recuos,
através das bulas subsequentes. A bula Dum fidei constantiam, de
7 de Julho de 1514, explicava que a jurisdição ordinária nas terras
conquistadas ou a conquistar no Norte de África e noutros lugares
ultramarinos continuava na posse do vigário de Tomar, mas o ius
patronatus et praesentandi era do rei de Portugal.16
Esta documentação parece tornar clara uma tendência: a apre-
sentação dos antístites cabia doravante ao rei de Portugal, tendência
confirmada pela bula Dudum pro parte, de 31 de Março de 1516, na
qual se atribuiu a D. Manuel o direito de apresentação dos bispados
de ­Marrocos.17 Em 1551, a bula de criação do bispado de São Salvador da
Baía reafirmava o duplo padroado, desenhado pela primeira vez em
1514: régio (apresentação dos bispos) e magistral (apresentação do
cabido e restantes benefícios). De resto, o mesmo modelo já fora
usado no surto de bispados extra-europeus de 1533-1534 (Goa, Cabo
Verde, Angra e São Tomé), a pedido de D. João III18. Em 1514 e em
1533-1534, como posteriormente, a Ordem de Cristo também supor-
tava (através dos dízimos extra-europeus) a parcela nuclear dos recur-
sos financeiros da nova estrutura, a começar pelos dos bispos e do
cabido, mesmo sendo o primeiro da apresentação do rei19.
Da inicial primazia da Ordem de Cristo que caracterizou a segunda
metade do século xv, com a criação dos bispados passou-se para uma
hierarquização de competências. No remate, a coroa de Portugal assu-
mia-se como o vértice dos direitos de padroado extra territorium, tarefa

15
  Bula publicada no Corpo Diplomatico Portuguez, ed. Luis Augusto Rebelo da
Silva (Lisboa: Typ. da Academia Real das Sciencias, 1862), vol. i, 257-260.
16
 Jacques, De Castro Marim…; António Brásio, História e Missiologia: Inéditos
e Esparsos (Lisboa: Instituto de Investigação Científica de Angola, 1973), 494 e segs.
Ver ANTT, Mesa da Consciência, liv. 304, f. 57.
17
  De Witte, Les lettres papales…, 49-55.
18
  Corpo Diplomatico Portuguez, vol. ii, 369-376; António Brásio, Monumenta
Missionaria Africana: África Ocidental (Lisboa: Agência-Geral do Ultramar, 1953),
vol. ii, 49-52.
19
  Numa carta régia de 1535 estes assuntos aparecem descritos de forma minu-
ciosa: Brásio, Monumenta…, vol. ii, 49-51.

130

Monárquias Ibéricas.indb 130 13/12/18 14:55


O padroado da coroa de Portugal: fundamentos e práticas

facilitada pelo facto de o rei ser também o governador da Ordem de


Cristo desde 1495. Em consequência, boa parte das funções anterior-
mente desempenhadas pela Ordem20 deviam ser transferidas para ele-
mentos estabelecidos nas dioceses ultramarinas, como os bispos ou
outras entidades. Era sobretudo uma questão pragmática, e uma forma
de vencer o tempo e os riscos que a distância implicava. Citem-se dois
exemplos: um do Funchal, outro de Goa. Desde 1513 que D. Manuel
enquanto administrador da Ordem de Cristo outorgara ao vigário
desta Ordem no Funchal, Nuno Cão (a partir de 1514, seria o deão
da sé) e ao cabido, um papel essencial na escolha dos eclesiásticos da
ilha, que deviam ser «filhos de homens de bem naturais da terra». Aos
seleccionados era emitida carta com o selo da Ordem, confirmada pelo
«Mestre»21. Em 1515, o mesmo regimento passou a englobar a escolha
do cabido e respectivas dignidades, bem como as capelanias da ilha22.
A clara selecção local pelo deão e cabido terá vigorado até 1554,23 e
em 1558, esta escolha, incluindo os capitulares (excepto o deão),24 foi
pela primeira vez consignada ao bispo, o quarto da diocese e o pri-
meiro que a ela se deslocou25. Em 1570 introduziram-se os concursos
organizados pelo antístite e sempre privilegiando os naturais, um sis-
tema que foi interrompido em 1619 e retomado em 164626. A partir de
1660, as indigitações locais eram posteriormente consultadas na Mesa
da Consciência para se tornarem válidas27.
No caso de Goa, numa provisão de 1560, o rei diz confiar que o
arcebispo, à época D. Gaspar de Leão, que ia residir na sua arquidio-
cese, nomearia e confirmaria «pessoas indonias e sobficientes», tanto

20
 Cabedo, De patronatibus...., cap. 5.
21
 ANTT, Cabido da Sé do Funchal, mç. 5, doc. 17 (copiado em 1562 no
Tombo 1.º do Registo Geral da Câmara Municipal do Funchal, Arquivo Histórico da
Madeira, Funchal, Vol. XIX, 1990, 15-17).
22
 ANTT, Cabido da Sé do Funchal, mç. 5, doc. 28.
23
  Entre 1554 e 1558 a apresentação dos benefícios da Sé e das restantes igrejas
da ilha deixou de ser feita pelo deão e cabido e passou a ser feita pelo monarca como
governador e perpétuo administrador da Ordem de Cristo (ANTT, Cabido da Sé do
Funchal, mç. 5, doc. 19).
24
 ANTT, Cabido da Sé do Funchal, mç. 5, doc. 33.
25
  Bruno Abreu da Costa, «O estado eclesiástico na Madeira: o provimento de
benefícios (séculos xv-xvii)» (Coimbra, Universidade de Coimbra, 2013, disserta-
ção de mestrado), 88-89.
26
 ANTT, Cabido da Sé do Funchal, mç. 5, docs. 34-35.
27
 BNP, Pomb. 155, f. 93, 94v, 95. Ver também BNP, Cód. 10 890, f. 164v.

131

Monárquias Ibéricas.indb 131 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

para o serviço da Sé28 como das restantes igrejas. Cabia ao vice-rei


apresentar esses clérigos em nome do monarca como «mestre» da
Ordem de Cristo, excepto se o arcebispo optasse por eclesiásticos que
estivessem no Reino, porque nessa situação era o rei a fazê-lo, depois
de examinados pela Mesa da Consciência29. Este ­princípio – que se
reencontra noutros bispados – seria consagrado nas ­Constituições do
arcebispado de Goa, e reiterado por outras cartas régias.
É certo que a expansão do clero secular foi lenta, sobretudo no
Índico. Nesta vasta área caracterizou-se este primeiro período, ao
invés, pela presença das ordens religiosas (uma das muitas provas
disso é que foram dominicanos e franciscanos os primeiros a viaja-
rem para a Ásia), as quais, ainda que enquadradas pelo padroado e
protegidas pela coroa, mantinham com ela uma relação mais ténue
do que o clero secular viria a ter, já que – entre outros aspectos – não
dependia do rei a apresentação dos seus prelados. Tudo isto subsistia
a par da Ordem de Cristo, que não tinha efectivos suficientes para
tão amplo espaço, o que também explica que, a partir de 1513, e no
Atlântico, se começasse a apostar nos «naturais», como acontecera
nesse espaço de ensaio que foi a Madeira.30 Mesmo São Tomé, pelo
menos em 1595 teria em Coimbra umas casas para receber estudan-
tes do arquipélago. Seria um meio de atrair naturais formados para o
clero local, apesar de nem sempre esta opção ser pacífica31.
Se os recursos humanos da Ordem de Cristo já eram escassos, a
transformação dos conventuais de Tomar em monásticos, em 1529-
-1532, doravante obrigados à clausura, reduziu ainda mais o número

28
  Incluía o cabido e respectivas dignidades.
29
 Joaquim Heliodoro da Cunha Rivara, Arquivo Portuguez Oriental (Deli:
Asian Educational Services, 1992), fasc. 5, parte I, 436-438.
30
  Ver, sobre o assunto, Aldair Carlos Rodrigues e Fernanda Olival, «Reinóis
versus naturais nas disputas pelos lugares eclesiásticos do Altântico português:
aspectos sociais e políticos (século xviii)», Revista de História, n.º 175 (2016):
25-67. Para o caso asiático, Ângela Barreto Xavier, «Punctus contra punctum. ‘Cleros
nativos’, tensão e harmonia no império», em Cristianismo e Império, orgs. Madalena
Larcher e Paulo Teodoro de Matos (Lisboa: CHAM E-books, 2017), e bibliografia
aí citada. Nos capítulos de Evergton Sales Souza, Aliocha Maldavsky e Federico
Palomo, neste mesmo volume, são exploradas, com maior detalhe, as articulações
entre coroa, padroado, poder episcopal, clero secular, e ordens religiosas.
31
  Embora não naquela data se considerasse mais oportuno que o «seminário de
estudos» fosse vendido, «pois não havia da Ilha quem viesse estudar ao Reino e se
aplicassem ao seminário de S. Tomé» (BNP, Pomb. 155, f. 83).

132

Monárquias Ibéricas.indb 132 13/12/18 14:55


O padroado da coroa de Portugal: fundamentos e práticas

de freires disponíveis para ocuparem benefícios extra territorium.


Mesmo assim, o afastamento dos freires do padroado não foi uma rea-
lidade aceite tranquilamente no interior da Ordem32, e nem esta nem
a Mesa da Consciência abandonaram a aspiração de continuar a enca-
beçar a evangelização extra territorium, mesmo quando a ­acumulação
dos direitos de padroado pela coroa de Portugal, e correspondente
subalternização dos direitos da Ordem de Cristo, era irrevogável
(veja-se, a esse propósito, o último ponto deste mesmo capítulo).
É neste contexto de já erosão que os direitos de padroado da
Ordem de Cristo foram mapeados pelo jurista Pedro Álvares Seco,
cerca de 1571. Seco explicou que a Ordem de Cristo possuía igrejas
nas quais exercia diferentes direitos de padroado. Nas de pleno iure,
porque Tomar era nullius diocesis, o prior-mor do convento acumu-
lava «a administração dos bens e direitos e encargos, e com isso o
poder e jurisdição que os Bispos tem nas egrejas das suas dioceses
assi nas cousas que pertencem a lei diocesana, como nas da lei da
jurisdição», e deste tipo seriam as igrejas da prelazia nullius diocesis
de Tomar, algumas igrejas de Lisboa, Coimbra, Lamego, África e ilhas
e continentes que o infante D. Henrique «acquirio»33. Entre esses
direitos contava-se o de colar os eclesiásticos, visitar e actuar perante
infracções. Nas demais igrejas, tinha direitos e obrigações mais redu-
zidas, basicamente direitos de partilha dos frutos e de apresentação.
As igrejas da Ásia, embora não o parecesse, incluíam-se entre as pri-
meiras. Essa percepção resultava, em larga parte, da insuficiência dos
recursos humanos de que a Ordem de Cristo dispunha, no momento
de suprir as necessidades da evangelização.34 Ela decorria, também,
da criação dos bispados extra territorium, e do direito de apresenta-
ção dos seus prelados que cabia ao rei. Aliás, quando Pedro Álvares
Seco inventariou os direitos e documentos da Ordem de Cristo, já o
pleno jure sobre os territórios ultramarinos era pouco efectivo, pois
a jurisdição ordinária passara para os bispos, segundo várias vezes foi
esclarecido, especialmente em 1646,35 situação que se verificava tanto
no Atlântico como no Índico. Na realidade, a mudança datara de

32
  Charles M. De Witte, «Une tempête sur le Couvent de Tomar (1558-1580)»,
Arquivos do Centro Cultural Português, 25 (1988): 307-423.
33
  Veja-se BNP, Cód. 739, f. 7 e segs.; Cabedo, De patronatibus…, cap. 5.
34
  De Witte, Les lettres papales…, 78 e segs.
35
 BNP, Pomb. 155, f. 2.

133

Monárquias Ibéricas.indb 133 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

1514, quando a bula de criação do bispado do Funchal dera ao bispo


o poder de conferir instituição ao cabido e respectivas dignidades.
Em suma, neste período, a Ordem de Cristo não perdeu juridi-
camente o controlo sobre os benefícios de teor paroquial e capitu-
lar, que eram custeados pelos dízimos, mas em larga medida acedeu a
que se delegasse em autoridades relevantes fixadas nas localidades, e
sobretudo nos prelados, o primeiro crivo de escolha dos candidatos,
em condições normais. Era também uma forma de abonar estes últi-
mos no plano local. No entanto, não foi o Convento de Tomar ou a
prelazia tomarense a activar as dinâmicas descritas; fê-lo o rei-mestre
e depois a Mesa da Consciência, na qual facilmente tinham eco os
interesses do monarca. Mesmo assim, a Ordem de Cristo continuava
a ser a figura retórica que selava o modelo de padroado português.
As alterações que foram sendo identificadas denotavam uma
tendência para aproximar o «modelo português» e o «modelo cas-
telhano», no qual os monarcas tinham notório poder, a ponto de
interditarem a comunicação directa dos territórios das Índias com
o Papado. Neste último modelo, a publicação de qualquer diploma
papal exigia prévia autorização do rei; a fundação de conventos
fazia-se apenas mediante licença do monarca; os visitadores das
Ordens regulares eram nomeados pelo rei; desde 1493, nenhum clé-
rigo ­secular ou regular ou Ordem religiosa se podia estabelecer na
­América, ou dela regressar, sem licença do rei. Recorde-se que os
reis de C
­ astela e Aragão tinham-se tornado numa espécie de vigários
do pontífice, e era este o estatuto que os reis de Portugal aspiravam
alcançar.36 A anexação dos mestrados de Cristo, Santiago e Avis à
monarquia portuguesa, in perpetuum e por via hereditária, a 30 de
Dezembro de 1551, através da bula Praeclara charissima, viria a sedi-
mentar este novo posicionamento da coroa portuguesa.37
Ainda assim, mesmo após a ligação perpétua das ordens militares
à coroa de Portugal, o padroado do rei exercia-se a par do da Ordem
de Cristo ou das restantes Ordens Militares. Com efeito, o rei era, ao
mesmo tempo, rei e «governador e perpétuo administrador da Ordem

36
 Christian Hermann, L’Église d’Espagne sous le patronage royal, 1476-1834:
essai d’ecclésiologie politique (Madrid: Casa de Velazquez, 1988), 58. Ver, maxime,
o ensaio de Ignasi Terricabras, neste mesmo volume.
37
 Jacques, De Castro Marim…, 63; Fernanda Olival, As Ordens Militares e o
Estado Moderno: Honra, Mercê e Venalidade em Portugal (1641-1789) (Lisboa:
Estar, 2001), 42.

134

Monárquias Ibéricas.indb 134 13/12/18 14:55


O padroado da coroa de Portugal: fundamentos e práticas

de Cristo»38, fórmula que sublinhava a coexistência, no monarca, de


duas pessoas institucionalmente distintas: o rei de Portugal e o pre-
lado eclesiástico que era «mestre» ou governador e administrador das
ordens militares. Essa segunda pessoa podia agir, inclusive, contra os
interesses da primeira, pois enquanto mestre das ordens militares o
rei comprometia-se a respeitar os direitos adquiridos por estes ins-
titutos.39 Muita da documentação produzida pelas Ordens Militares
portuguesas aponta para esta tensão, e o mesmo sucedia, de facto,
com muita da doutrina dominante na época.40 Para concretizar esta
dualidade, havia o cuidado de exarar os diplomas subscritos pelo
rei-mestre sempre «como governador e perpétuo administrador da
Ordem Militar de»; de outra forma, não eram obedecidos.
A convergência citada só não foi maior porque o monarca portu-
guês enquanto «mestre» tinha demasiados interesses nos dízimos (para
além dos encargos com o clero e a igreja, suportavam várias necessi-
dades do domínio português sobre as possessões extra territorium),
e, quando necessário, designadamente no pelouro dos provimentos
eclesiásticos, usava a dupla figura para se colocar tanto acima dos inte-
resses dos prelados como das forças locais. É de notar que estas últimas
eram parti­cularmente sensíveis à forma de colocação do clero paroquial
e capitular, pois representava, no âmbito das localidades, uma das mais
relevantes oportunidades para a mobilidade e a promoção social.41
O processo até agora descrito conviveu, a partir de meados do
século xvi, com as alterações introduzidas no funcionamento das ins-
tituições e dos agentes eclesiásticos pelo Concílio de Trento. Qual foi
o seu impacto nos padroados ibéricos, nomeadamente no que dizia
respeito à apresentação dos benefícios eclesiásticos?
Recorde-se que, apesar de se ter celebrado em plena época de mis-
são, Trento foi, a seu modo, e como foi relembrado por A. da Silva, um
concílio não-missionário, ideia semelhante à veiculada por um frei João
Pereira, que residia em Itália, nas décadas em que se realizou o concílio,
numa missiva a uma dignidade da corte portuguesa. Para este frade, a
preocupação com a divisão interna da Respublica ­Christiana era «hum

38
  António Brásio, «Do último cruzado ao padroado régio», Studia, n.º 3 (Jan.
1959): 124-154, 154.
39
 Olival, As Ordens Militares…, 40-41.
40
 Olival, As Ordens Militares…, 39-42.
41
  Rodrigues e Olival, «Reinóis versus naturais…», 25-67.

135

Monárquias Ibéricas.indb 135 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

riso», quando comparada com a necessidade de evangelização extra


­territorium, concluindo a sua carta com um desabafo: «ay da crystam-
dade se ho turquo entra na Imdia».42 No entanto, o concílio, nas suas
várias fases, apenas se preocupara com a divisio que marcava a Europa.
Apesar dessa sua condição não-missionária, os efeitos estrutu-
rantes de Trento far-se-iam sentir, até porque Portugal esteve, desde
logo, entre as primeiras monarquias a adoptar os decretos tridentinos
como lei do reino.43 De Trento se emanaram disposições que tendiam
a homogeneizar o modo como, na cristandade, eram apresentados os
benefícios eclesiásticos, pretendendo-se generalizar o concurso como
meio de provimento, submetendo-se os candidatos a exames que
garantiam que os mesmos dispunham de preparação em «Letras» e em
Teologia, necessária para desempenhar convenientemente o ofício que
lhes era atribuído. Trento impediu, ao mesmo tempo, a acumulação
de vários benefícios numa mesma pessoa, impondo a residência do
beneficiado no local para onde tinha sido apresentado, delimitando
as relações entre patronos e beneficiados, e proibindo ingerências
dos primeiros no trabalho pastoral dos segundos.44 Outro obstáculo
criado por Trento dizia respeito à possibilidade de os regulares serem
párocos, algo que acontecia muito na Ásia. Em relação a estes, Pio V
concederia, em 1567, a permissão para o exercício do officium parochi,
confirmando a prática anterior, já de si escorada no diploma papal de
Nicolau V de 8 de Janeiro de 1455, como se lembrou nos estatutos da
Ordem de Cristo saídos do capítulo geral de 1619.45

42
  Apud Ângela Barreto Xavier, A Invenção de Goa: Poder Imperial e Conversões
Culturais nos Séculos XVI e XVII (Lisboa: ICS, 2008), 155-156; A. da Silva, Trent’s
impact on the Portuguese Patronage Missions (Lisboa: Centro de Estudos H ­ istóricos
Ultramarinos, 1969), 40; Colecção de S. Lourenço (Lisboa: Centro de Estudos
­Históricos Ultramarinos, 1973-1975), vol. 1, 118.
43
  A esse propósito, veja-se Marcelo Caetano, «Recepção e execução dos decre-
tos do Concílio de Trento em Portugal», Revista da Faculdade de Direito da Univer-
sidade de Lisboa, XIX (1965): 7-87.
44
 Jemolo, Karzolo e Albertario, «Patronato»…; Gaetano Greco, «Las par-
roquias en la Italia della epoca moderna (siglos xv-xix)», Obradoiro de Historia
Moderna, n.º 22 (2013): 1-34.
45
  Definições e estatutos dos cavalleiros e freires da Ordem de Nosso Senhor Jesus
Christo: com a historia da origem e principio della (Lisboa: Off. Miguel Manescal da
Costa, 1746 [1ª ed. 1628]), Parte iii, tít. xii, § 1V; Concílio de Trento, sess. xxiv,
c. 13, sess. xiv, c. 11, sess. vii, cc. 6 & 7. Veja-se, a este propósito, Fortunato Cou-
tinho, Le régime paroissial des diocèses de rite latin de l’Inde des origines (xvie. siècle)
jusqu’à nos jours (Louvain-Paris: PUL & Ed. Béatrice-Nauwelaerts, 1958).

136

Monárquias Ibéricas.indb 136 13/12/18 14:55


O padroado da coroa de Portugal: fundamentos e práticas

Ora, a estas disposições – que, pelo menos em teoria, deviam


afectar o modo de funcionamento interno dos padroados – não
corresponderam disposições especificamente relacionadas com os
padroados ibéricos extra territorium, nem anularam os das Ordens
Militares. Aliás, em geral, tanto os padroados com causas onerosas
(com títulos de fundação ou «doação») como os régios subsistiram46.
Quer isto dizer que, a curto prazo, os efeitos de Trento foram mais
indirectos do que directos e impeliram sobretudo a maior presença
dos bispos e eclesiásticos nas dioceses e igrejas ultramarinas.
Alguma aproximação do «modelo português» ao «modelo caste-
lhano» e correlativa subalternização da Ordem de Cristo, a par da
hegemonia das ordens religiosas extra territorium (com especial inci-
dência na Ásia), e – comparativamente – maior presença do clero
secular nos territórios atlânticos (sobretudo, nos arquipélagos da
Madeira e dos Açores), são, talvez, as principais variáveis caracteri-
zadoras deste primeiro período e da transição para o imediatamente
subsequente.
Alguns problemas caracterizaram a etapa seguinte, entre 1551 e
1668: a manutenção das fronteiras do padroado português no con-
texto da monarquia dual; a erosão dos direitos de padroado do rei
de Portugal por causa da fundação da Propaganda Fide, em 1622,
e das disputas em torno ao mare liberum; a adopção dos estatutos
de limpeza de sangue no clero secular; o problema do provimento
dos bispados, entre 1640 e 1668. Somam-se a todos estes a crescente
necessidade de acompanhamento e controlo, por parte da coroa, das
ordens religiosas fixadas extra territorium e o estabelecimento da
Junta Geral das Missões, em 1655 (esteve activa primeiro durante
cinco anos, tendo sido depois retomada entre 1672 e 1745).47
O primeiro problema parecia estar resolvido a partir de 28 de
Janeiro de 1585, quando Gregório XIII, através de um motu ­proprio,
reiterou a exclusividade territorial de cada um dos padroados tutela-
dos a partir da Península Ibérica, à semelhança, aliás, do que aconte-
cia com os impérios ultramarinos ibéricos no contexto da monarquia

  Silva Rego, O Padroado…, 1978, 16.


46

 Paiva, Os Bispos…; Federico Palomo, «Para el sosiego y quietude del reino.


47

En torno a Felipe II y el poder eclesiástico en el Portugal de finales del siglo xvi»,


Hispania, LXIV/1, n.º 216 (2004): 63-93; Marcia E. A. Souza e Mello, Fé e I­ mpério.
As Juntas das Missões nas Conquistas Portuguesas (Manaus: EDUA, 2007; reimp:
­Universidade Federal do Amazonas: EDUA, 2009.

137

Monárquias Ibéricas.indb 137 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

compósita: o de Castela apenas pertencia a Castela, e o de P ­ ortugal,


a esta unidade política. Todavia, o diploma citado não impediu que
se verificassem animosidades, sobretudo em zonas de fronteira,
cujas delimitações territoriais eram ténues. Um exemplo ilustrativo
foram os conflitos que se verificaram entre os franciscanos da recém­-
-estabelecida província de São Gregório das Filipinas, e os da «velha»
Custódia de São Tomé, de Goa. Os primeiros arrogaram-se o direito
de fundarem conventos em Macau, mas esta cidade estava sob a juris-
dição do arcebispo de Goa, pelo que os seus religiosos dependiam
das casas «goesas», neste caso, o convento de São Francisco de Goa.
Apesar de estas jurisdições serem relativamente claras, a verdade é
que estas contendas tiveram uma duração muito longa, repetindo-se
noutros lugares.48
Não ficando totalmente resolvidos, estes diferendos denotavam
os problemas envolvidos na vasta territorialidade do padroado por-
tuguês, e os escassos meios institucionais de implementação dos
poderes, direitos e obrigações que lhe eram inerentes. A visibilidade
destes problemas tornou-se maior com o estabelecimento em 1622,
pelo papa Gregório XV, da Sacra Congregazione della Propaganda
Fide, instituição que tinha como objectivo monitorizar as activida-
des missionárias católicas em todo o mundo, nelas se incluindo, evi-
dentemente, as que se desenvolviam sob os padroados ibéricos.
As mudanças geopolíticas que a ruptura luterana encerrara (o esti-
lhaçar do conceito de Respublica Christiana), os acertos que se esta-
vam a processar no interior do Papado, especialmente a partir do
Concílio de Trento, tiveram efeitos a médio prazo no campo missio-
nário extra territorium, doravante disputado não apenas pelos ibéri-
cos e outras potências católicas, mas também por príncipes cristãos
protestantes. Em particular, os debates em defesa do mare liberum
tiveram implicações na maneira como os padroados ibéricos (para
além das suas outras conquistas e direitos «internacionais») foram

48
  Para uma visão abrangente sobre estas tensões, Anabela Nunes Monteiro,
Macau e a Presença Portuguesa Seiscentista nos Mares da China. Interesses e E
­ stratégias
de Sobrevivência (Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 2011,
dissertação de doutoramento); Kevin Soares, Os Bispos de Macau (1576-1782)
(Coimbra: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 2015, dissertação de
mestrado); Paulo Jorge de Sousa Pinto, «Enemy at the Gates. Macao, Manila and
the ‘Pinhal Episode’ (end of 16th century)», Bulletin of Portuguese/Japanese Studies,
n.º 16 (2008): 11-43.

138

Monárquias Ibéricas.indb 138 13/12/18 14:55


O padroado da coroa de Portugal: fundamentos e práticas

crescentemente criticados. Para muitos (os católicos não-ibéricos),


o direito de padroado não era mais do que um direito obsoleto. Para
os restantes (os protestantes, os não-cristãos), nem sequer chegava
a ser um direito. Ora, o estabelecimento da Propaganda Fide, cro-
nologicamente coincidente com o estilhaçar da doutrina do mare
­clausum, inaugurava um período em que os padroados «de monopólio
fechado» das coroas ibéricas iriam ser objecto de constantes ameaças.
Efectivamente, a reconfiguração de alguns dos direitos que tinham
sido concedidos aos príncipes ibéricos através das bulas quatrocentis-
tas e quinhentistas foi esboçada, em 1608, pela bula Apostolicae Sedes,
de Paulo V. Este diploma permitia às ordens mendicantes (agostinhos,
franciscanos, dominicanos, carmelitas descalços) dirigirem-se para a
Ásia através de portos não-portugueses. Violava, dessa forma, a exclu-
sividade do transporte de religiosos pela coroa de Portugal, um dos
direitos mais importantes do padroado português, pois garantia à
coroa o monopólio (político) da evangelização católica daquelas par-
tes do mundo.
Com o estabelecimento da Propaganda Fide, transgressões deste
tipo tornaram-se rotineiras. Apesar de a coroa portuguesa pugnar
pela preservação dos direitos adquiridos pelas bulas quatrocentis-
tas e quinhentistas, o Papado passou a enviar vigários apostólicos
e missionários para as regiões onde as estruturas religiosas imple-
mentadas pelos portugueses eram pouco estáveis ou inexistentes, o
que acontecia, de facto, na maior parte da Ásia, suscitando intensos
conflitos jurisdicionais.49 Com efeito, após a recuperação de 1654,
foi no Brasil que o monopólio religioso do padroado português foi
mais eficiente, se se excluir a realidade dos arquipélagos atlânticos50.
A incapacidade que a coroa de Portugal demonstrou em cum-
prir as obrigações inerentes ao direito de padroado, nomeadamente
a nível da quantidade e qualidade dos recursos humanos, seria fre-
quentemente invocada pelo Papado, mas a própria coroa estava cons-
ciente desse problema.51 Por exemplo, em carta de 1591, Filipe II

49
  João Paulo Oliveira e Costa, «A diáspora missionária», em História ­Religiosa
de Portugal, dir. Carlos Moreira Azevedo (Lisboa: Círculo de Leitores, 2000), vol. ii,
255-313, 293.
50
  Sá, «Ecclesiastical structures…», 259.
51
  Nuno da Silva Gonçalves, «Padroado», em Dicionário de História Religiosa de
Portugal, dir. Carlos Moreira Azevedo (Lisboa: Círculo de Leitores, 2000), vol. iii,
364.

139

Monárquias Ibéricas.indb 139 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

abordava a questão do provimento de ­clérigos seculares, no império,


em vez de religiosos, relembrando a falta que havia de clérigos no
Estado da Índia e «se acharem neste Reino com muita difficuldade
pera irem a elle».52 Este tipo de referências foi frequente, eviden-
ciando as preocupações da coroa em relação ao reduzido número de
clérigos seculares que seguiam para os territórios ultramarinos, e a
sua intenção em substituir os regulares por estes últimos. ­Todavia,
ao se procurar substituir o clero regular por clero ­secular – em teo-
ria, mais controlado pela coroa e pelos bispos –, não se resolvia o
persistente problema da escassez de recursos humanos, tanto mais
evidente quando se considerava a amplitude geográfica do padroado
português. Mesmo nos séculos xvii e xviii, na quase totalidade dos
territórios, esta escassez ainda era crónica e recorrente.53
A dimensão destes problemas foi reiterada nos memoriais solici-
tados e enviados, a partir das quatro partes do mundo, à P ­ ropaganda
Fide.54 Nestes, a não-progressão da cristandade da Índia era atribuída à
carência e à fraca qualidade dos recursos humanos disponíveis, defen-
dendo-se a alteração da organização da evangelização daquelas par-
tes.55 Colidindo com os direitos de padroado da coroa de ­Portugal, a
congregação romana intervinha no sentido de colmatar as necessida-
des, de tal forma que, cerca de 1640, é o padre jesuíta João de Matos
a lamentar o facto de a Propaganda Fide ter enviado um bispo para
a Etiópia, ignorando o direito de padroado que assistia aos reis de
­Portugal (que aí tinham estabelecido um patriarca jesuíta), reiterando
que este direito se estendia ao Japão, ao Malabar, à China e à Etiópia.
O mesmo jesuíta criticava igualmente o facto de a mesma congregação

52
  Joseph Wicki, org., Documenta Indica (Roma: ARSI, 1948-1988), vol. 15,
600.
53
  No que respeita às dinâmicas do clero secular e regular na monarquia por-
tuguesa, vejam-se os capítulos de Evergton Sales Souza, e de Aliocha Maldavsky e
Federico Palomo, neste mesmo volume.
54
  Estes memoriais davam conta da dificuldade que a coroa tinha em impedir a
comunicação directa com o Papado, agora que existia uma instituição directamente
ligada à evangelização (Archivio de la Sacra Congregazione della Propaganda Fide
[doravante ASCPF], vols. 385-390, «Memoriais»).
55
  Pizzorusso, «Il padroado…». Trata-se da relação enviada por Antonio Alber-
gati, coleitor em Lisboa (ASCPF, «Congregazioni Particolari», vol. 1, fls. 414-417;
ASCPF, «Scritture Originale», n.º 98, fls. 77-103). Sobre o impacto da Propaganda
Fide na monarquia espanhola, vejam-se os capítulos de Ignasi Terricabras e de
­Aliocha Maldavsky e Federico Palomo, neste mesmo volume.

140

Monárquias Ibéricas.indb 140 13/12/18 14:55


O padroado da coroa de Portugal: fundamentos e práticas

ter ordenado bispo o brâmane indiano Mateus de C ­ astro – talvez o


caso mais emblemático no século xvii –, enviando-o para terras do
Adil Shah de Bijapur, e para os reinos de Golconda e de Pegu, todos
eles sujeitos aos bispos da Índia, apresentados pelo rei de Portugal.
O jesuíta solicitava ao pontífice que interviesse e anulasse tais acções
da Propaganda Fide.56 Mesmo no espaço ­Atlântico, onde a ­Propaganda
Fide teve menos impacto, houve críticas aos agentes portugueses, como
aconteceu em 1689 na zona de Angola: «Dando o bispo de Angola
conta da Congregação da Propaganda lhe estranhara dar ele ordens a
ilegítimos, e a menos capazes; e que não havia outros naquele Reino:
mandou elRei escrever ao ministro em Roma para que a C ­ ongregação
não restringisse ao bispo a faculdade que tinha». 57

Note-se que a resposta de D. Pedro II é sintomática da situação


que se vivia em finais do século xvii, no que respeitava à monitori-
zação da vida religiosa nos territórios que faziam parte do padroado
régio. Ao contrário do que acontecera na centúria anterior, o Papado,
através da Propaganda Fide, não se inibia de interferir na vida das
dioceses «portuguesas»; ao mesmo tempo, era o próprio rei que,
ao solicitar à Propaganda Fide que não limitasse o campo de acção
dos bispos portugueses, reconhecia implicitamente a jurisdição da
mesma, e a crescente erosão dos seus direitos de padroado.
Os problemas nos territórios do padroado régio persistiram, per-
mitindo os avanços da congregação romana, a qual acolhia, em simul-
tâneo, os interesses de outras unidades políticas católicas europeias.
Reivindicavam estas últimas o direito de missão nos territórios que
estavam sob pretensa jurisdição das coroas de Portugal e de Espanha.
Cerca de 1639, por exemplo, havia receios de interferências francesas
nos conventos portugueses da Ásia. Uma carta do vice-rei da Índia
dava conta de que um religioso carmelita francês por ordem do seu
geral iria visitar as casas religiosas da sua ordem e que elegera prela-
dos estrangeiros para as mesmas, o que não era conveniente. Fora,
aliás, sem passar por Portugal e sem ordem do monarca no trono
português58. Também na década de 1640, os carmelitas descalços de
Goa tinham superiores estrangeiros, o que causava incómodos59.

56
  ASCPF, vol. 409, «Memoriais», 441/441v.
57
 BNP, Pomb. 155, f. 81v.
58
 BNP, Pomb. 155, f. 41v.
59
 BNP, Pomb. 155, f. 43v.

141

Monárquias Ibéricas.indb 141 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

A situação complicou-se ainda mais com a separação das coroas


ibéricas a partir de 1640. Entre 1640 e 1668, durante as guerras da
Restauração e o não-reconhecimento internacional da legitimidade
da dinastia dos Bragança, muitos bispados do reino e do império fica-
ram sede vacante. O Papado recusava-se a reconhecer os bispos apre-
sentados pelo novo rei de Portugal, salvo através do motu proprio do
pontífice. Ora, o recurso ao motu proprio significava, em última ins-
tância, o não-reconhecimento dos Bragança como reis legítimos da
monarquia portuguesa, e o gozo inerente dos direitos de padroado,
o que seria reiteradamente recusado por D. João IV e Afonso VI.
Da situação resultou uma interessante tratadística, destacando-se a
Summa Politica de Sebastião César de Meneses, de 1649, o anónimo
Balidos das igrejas de Portugal ao Supremo Pastor Pontifice Romano.
Pelos Tres Estados do Reyno, de 1653, e o Tratado Analitico e apologe-
tico sobre os provimentos dos bispados do reino de Portugal, de Manuel
Rodrigues Leitão, escrito cerca de 1660, mas apenas publicado em
1715. Insitindo no argumento comum aos três tratados, Rodrigues
Leitão afirmaria a quase impossibilidade de o pontífice revogar os
direitos de padroado do rei de Portugal, nomeadamente «faltando
causa urgente, sem ofensa da justiça e da equidade, como diz o
sagrado Concílio Tridentino», o que, no seu entender, era o caso.60
O estabelecimento da Junta Geral das Missões, em 1655, com
dependências no reino e no império, possivelmente por proposta
jesuíta, também deve ser entendida tendo como horizonte estas difi-
culdades sentidas pela coroa de Portugal no que dizia respeito ao
provimento da estrutura episcopal e do clero ordinário. O recurso
aos agentes religiosos no terreno que escapavam aos espartilhos
resultantes das tensões entre coroa e Papado parece dar conta, nova-
mente, das fragilidades e limites do padroado do rei de Portugal, e da
própria Mesa da Consciência e Ordens. Ao mesmo tempo, algumas
das funções da Junta, cujos membros (na sua maioria da ­Companhia
de Jesus ou Oratorianos) tinham uma comunicação privilegiada
com o Conselho Ultramarino, pareciam sobrepor-se às do t­ ribunal

  Sebastião César de Meneses, Summa Politica (Lisboa: 1649), Balidos das igre-
60

jas de Portugal ao Supremo Pastor Pontifice Romano. Pelos Tres Estados do Reyno
(Paris: 1653); Manuel Rodrigues Leitão, Tratado Analitico e apologetico sobre os
­provimentos dos bispados do reino de Portugal (Lisboa: 1715), 652-3, apud Luís Reis
Torgal, Ideologia Política e Teoria do Estado na Restauração (Coimbra: Biblioteca
Geral da Universidade de Coimbra, 1982), vol. 2, 79.

142

Monárquias Ibéricas.indb 142 13/12/18 14:55


O padroado da coroa de Portugal: fundamentos e práticas

da Consciência, motivando, inclusive, uma denúncia do deputado


Lázaro Leitão Aranha. Desde finais do século xvii, na orgânica
interna, a Junta das Missões adquirira, enquanto organismo consul-
tivo, um papel cada vez mais relevante, tornando-se na interlocutora
privilegiada do Conselho Ultramarino, acabando por praticamente
se subordinar àquele. Ainda assim, o aparecimento da Secretaria de
Estado dos Negócios e Domínios Ultramarinos, em 1736, viria a
sobrepor-se não apenas à Junta das Missões, como também à Mesa
da Consciência. Tudo isto mostrava que as velhas estruturas do
Padroado se tinham tornado relativamente desajustadas.61
O reconhecimento internacional da dinastia de Bragança, a partir
do tratado de paz entre Portugal e a Monarquia Hispânica de 1668
– o qual dá início ao que pode constituir um terceiro período –, nor-
malizou, mas não pacificou completamente o relacionamente entre
a coroa e o Papado. Disso mesmo dá conta o tratado de D. Luís de
Sousa, embaixador de Portugal em Roma, durante o pontificado de
Clemente X. Ao Discurso histórico-jurídico sobre o direito, que tem
Sua Magestade de mandar missionários, de não irem outros sem seu
beneplácito, e de padroado nas terras das conquistas desta Coroa de
Portugal, da década de 1670, um longo tratado que faz o historial
dos direitos de padroado da coroa portuguesa, seguiu-se a publica-
ção, em 1715, do já referido tratado de Manuel Rodrigues Leitão,
e em 1738, da Monomachia sobre as concordias que fizeram os Reis
de Portugal com os Prelados, nas duvidas da jurisdição espiritual e
temporal, de Gabriel Pereira de Castro, obra também de meados
do século anterior.62 Trata-e de um conjunto de textos que expres-
sam bem as tensões que subsistiam entre o Papado e a coroa de
Portugal.
A obra citada de D. Luís de Sousa é sintomática das dificulda-
des enfrentadas pelo padroado do rei de Portugal no mundo pós-
-Vestfália, caracterizado também pelo enfraquecimento do poder

61
  Marcia de Souza e Mello, Fé e Império… Um ponto de situação sobre a supe-
rintendência das missões em 1758, de Lázaro Leitão Aranha e dirigido a Paulo de
Carvalho e Mendonça, encontra-se em BNP, Pomb. 155, f. 27a, 27b, 27c verso.
62
  Luís de Sousa, Discurso histórico-jurídico sobre o direito, que tem Sua Mages-
tade de mandar missionários, de não irem outros sem seu beneplácito, e de padroado
nas terras das conquistas desta Coroa de Portugal (c. 1670); Gabriel Pereira de Castro,
Monomachia sobre as concordias que fizeram os Reis de Portugal com os Prelados, nas
duvidas da jurisdição espiritual e temporal (Lisboa: José Francisco Mendes, 1738).

143

Monárquias Ibéricas.indb 143 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

papal, o fortalecimento das ambições da monarquia francesa, o gra-


dual ocaso do poder Habsburgo. Sousa queixa-se, por exemplo,
da dificuldade de impedir a criação de novos vicariatos e dioceses
no âmbito da geografia do padroado português na Ásia, devido ao
desinteresse jesuítico pela causa portuguesa, e pela pressão cres-
cente da França. À semelhança do que aconteceu com Mateus
de Castro na década de 1630, em 1673, Clemente X autorizaria
vigários apostólicos a seguirem em direcção ao continente asiático
sem paragem em Lisboa, isentando-os da jurisdição do arcebispo e
da Inquisição de Goa63. A par disso, o estabelecimento da Societé
des Missions Étrangères, no início da década de 1660, patrocinada
pela Propaganda Fide, marcaria não só a «entrada oficial» do Rei
­Cristianíssimo na disputa dos territórios de evangelização e sua
jurisdição, dando enquadramento aos muitos missionários france-
ses dispersos pelo mundo, como assinalava uma nova geometria
de alianças do Papado, afectando o posicionamento das coroas
ibéricas. Em 1715-1717, por exemplo, a correspondência régia
com o provincial dos jesuítas no Malabar revelava a preocupação
que a coroa portuguesa tinha no sentido de que as escolhas dos
gerais para as missões daquela região recaíssem em portugueses,
como forma de assegurar «as regalia da coroa». Se a naturalidade
dos missionários era uma das inquietações, havia inclusive o cui-
dado de assegurar que os códigos simbólicos de posse nas igrejas
fossem igualmente portugueses. Com efeito, suscitou algum incó-
modo naquela cronologia a ocorrêncica do falso boato de que uma
igreja de Travancore tinha as armas do rei de França e não a cruz da
Ordem de Cristo, símbolo que efectivamente lá estava64.
Os problemas entre o Papado e a coroa de Portugal intensifica-
ram-se no século xviii. Desde logo, o envio pelo papa Clemente XI,
no contexto da Querela dos Ritos, do patriarca de Antioquia até à
China, violava os direitos do bispo de Macau. Além disso, a presença
deste prelado perturbara as relações entre aquela cidade e o impera-
dor da China, o qual solicitaria a sua manutenção em Macau, mas sob

63
  António Vasconcelos de Saldanha, De Kangxi para o Papa, pela via de ­Portugal:
memória e documentos relativos à intervenção de Portugal e da Companhia de Jesus na
questão dos ritos chineses e nas relações entre o Imperador Kangxi e a Santa Sé (Macau:
Instituto Português do Oriente, 2002), vol. i, 28.
64
 AHU, Conselho Ultramarino, Cód. 204, f. 6-6v.

144

Monárquias Ibéricas.indb 144 13/12/18 14:55


O padroado da coroa de Portugal: fundamentos e práticas

prisão. A expulsão de todos os missionários da China, em 1721, só


viria a agravar a situação.65
A embaixada extraordinária do 3.º marquês de Fontes, D. Rodrigo
Anes de Sá Almeida e Meneses, ao papa, ente 1712 e 1718, decor-
reu neste contexto.66 Conhecida pelo seu fausto, e pela solicitação
da concessão do título de patriarca ao arcebispo-cardeal de Lisboa
(atribuído em 1716), numa tentativa de equiparar a coroa portuguesa
às outras potências católicas europeias, esta embaixada teve como
objectivo, também, sanar as relações entre a coroa portuguesa e o
Papado, minadas desde a criação da Propaganda Fide e a crise política
de 1640-1668.
A 11 de Dezembro de 1740, com a bula in suprema apostolatus
solio, de Bento XIV, e a concessão – finalmente – do direito de apre-
sentação de todos os bispados da metrópole, para além dos ultrama-
rinos, a pacificação destas relações ficou selada. Este direito, que já
assistia às dioceses que tinham sido criadas a partir do século xvi, era
agora estendido às mais antigas dioceses da metrópole (nomeada-
mente à de Braga), cuja apresentação requeria, até então, uma supli-
cação ao pontífice.
A paz iria ser de curta duração e o consulado josefino-pombalino
alteraria, mais uma vez, os equilíbrios alcançados. O regalismo polí-
tico que despontara na cultura política joanina, e até anterior, acentuar­-
-se-ia no reinado de D. José.67 Um conjunto de decisões políticas que
cerceavam as prerrogativas eclesiásticas, colocando cada vez mais o
clero sob a tutela da coroa, e autonomizando muitas das decisões que
esta tomava em relação à vida religiosa do reino e dos territórios do
império (desde o estabelecimento de novas dioceses e a renovação
dos prelados, até à reforma da Inquisição das décadas de 1760-1770
e à expulsão dos jesuítas, por exemplo) acabaram por ditar, inclusive,
o corte de relações diplomáticas com o Papado em 1760. Todavia, e
como foi sublinhado por José Pedro Paiva e Evergton Sales Souza,

65
 Saldanha, De Kangxi para o Papa,…; Pedro Miguel Vilas Boas Tavares,
«Os prelados de Goa e Macau perante o legado papal Maillard de Tournon. Notas
sobre as reacções sino-portuguesas», em Miscelânea (Porto: Faculdade de Letras da
Universidade do Porto, 1999), 200-252.
66
  José Pedro Paiva, «A Igreja e o poder», em História Religiosa de Portugal, dir.
Carlos Moreira Azevedo (Lisboa: Círculo de Leitores, 2000), vol. ii, 170.
67
 Evergton Sales Sousa, «Igreja e Estado no período pombalino», Lusitania
Sacra, 23 (Janeiro-Junho 2011): 207-230, 210-211, 212 e segs.

145

Monárquias Ibéricas.indb 145 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

entre outros, esta não deve ser considerada uma política anti-reli-
giosa, mas sim de reorganização dos poderes eclesiásticos na sua
relação com o poder político e na relação deste com o Papado.
Um memorial redigido em São Paulo, no Brasil, no último quartel
do século xviii, dá conta dos efeitos desta política. O direito do rei
de Portugal a nomear todos os benefícios da América portuguesa
era reiterado, o que tinha implicações em termos de política interna
brasileira, nomeadamente nas relações entre poder régio e poder
eclesiástico, submetendo este, de forma decisiva, ao primeiro; mas
também externas, na relação com o Papado, ao sublinhar que o rei
de Portugal era «Pastor» e «Prelado» nas terras brasileiras, indo de
encontro, aliás, à declaração de 1774 de que o rei de Portugal, por-
que mestre da Ordem de Cristo, era prelado espiritual, com poder
e jurisdição superiores a todos os prelados estabelecidos no reino e
no império. 68

A construção de uma nova geografia eclesiástica


Os recortes cronológicos atrás delineados dão conta de algumas
das possibilidades e limites da aliança entre poder e religião repre-
sentada pela figura do padroado, fosse ele régio ou magistral e régio.
Destacam-se, de entre estas possibilidades, a combinação entre
«conquista espiritual» e conquista territorial em contexto imperial.
De um ponto de vista estritamente canónico, o padroado fora con-
cedido para que as condições práticas para a conservação, reprodu-
ção e expansão da cristandade extra territorium ficassem garantidas
após a «conquista» territorial, ou que a possibilitassem. Na prática,
a sua existência permitiu que os agentes religiosos (do clero secular,
do clero regular, das ordens militares) também se tornassem numa
espécie de «primeiros conquistadores», «pioneiros» da expansão
política, fazendo um reconhecimento do terreno, cartografando e
demarcando territórios (de missão, em primeiro lugar), tornando-se,
alguns deles, em territórios de conquista e de colonização (caso do
interior do Brasil, por exemplo). A par disso, as populações sub-
metidas ao padroado e suas instituições eram mais do que as que

  José Pedro Paiva, «Os novos prelados diocesanos nomeados no consulado


68

pombalino», Penélope, n.º 25 (2001): 41-63; Souza, «Igreja e Estado…».

146

Monárquias Ibéricas.indb 146 13/12/18 14:55


O padroado da coroa de Portugal: fundamentos e práticas

se encontravam sob domínio político directo ou indirecto da coroa


de Portugal. Ao mesmo tempo, estes cristãos feitos em contexto
de missão, fora das fronteiras do Estado da Índia, do governo do
­Brasil, e dos territórios africanos sob domínio português, por esta-
rem submetidos à jurisdição canónica dos prelados portugueses tor-
navam-se, indirecta e parcialmente, numa espécie de súbditos do rei
de Portugal.
A expansão da geografia eclesiástica da coroa portuguesa, e as
tensões que foram ocorrendo ao longo do tempo, traduzem essa
forte articulação entre padroado, aspirações políticas e territorializa-
ção do império, constituindo-se como um excelente ponto de obser-
vação das dinâmicas de expansão, rotação e retracção do império
português. Houve, como já foi enunciado, uma grande homologia
entre a política ibérica de mar fechado, consagrada em Tordesilhas,
e os padroados ibéricos. Quando o mar aberto triunfou, foi criada a
­Propaganda Fide, que passou a exigir a abertura do padroado, e com
o passar do tempo cada vez mais a aferir a capacidade para o impor
territorialmente69. Esta última matéria era particularmente sensível
em zonas de fronteiras pouco precisas e onde o domínio territorial
era muito descontínuo e pouco consistente, como acontecia na Ásia.
Retomando os recortes atrás referidos, pode afirmar-se que a
extensão da geografia eclesiástica da monarquia portuguesa pelo
Norte e Ocidente africanos e pelo espaço asiático correspondeu ao
primeiro período (segunda metade do século xv – 1551); a consoli-
dação das estruturas eclesiásticas no espaço asiático, e o crescimento
de estruturas brasileiras corresponderam ao segundo período (1551-
-1668); e que o terceiro período (entre 1668 e finais do século xviii)
se caracterizou pela retracção asiática e pela expansão brasileira,
denotando o papel central que o Brasil passou a desempenhar na
economia política do império, correlativo à crescente periferização
do Estado da Índia.
As experiências de construção diocesana que caracterizaram
o século xv não assentaram numa clara supervisão dos arcebispa-
dos metropolitanos, designadamente do de Lisboa. Veja-se o caso
de Ceuta, cujo bispado foi criado em 1417 e efectivado em 1420.
Em 1444, recebeu a comarca eclesiástica de Valença, que foi desmem-
brada de Tui e o território de Olivença (desmembrado de Badajoz)

69
 Saldanha, De Kangxi para o Papa…, vol. i, 17.

147

Monárquias Ibéricas.indb 147 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

e Campo Maior. A anexação foi feita por Ceuta estar em África e não
ter rendas suficientes. No final de 1475, o papa desanexou Olivença
do bispado de Ceuta, mas em 1512 e 1513, Valença passou a perten-
cer ao Arcebispado de Braga e Olivença voltou ao bispado de Ceuta.
Foi então que os bispos de Ceuta fixaram residência em Olivença e aí
permaneceram até 1570. Até esta data, Ceuta foi sempre um bispado
não dependente de outro. Era tutelado directamente por Roma, mas
entre 1475 e 1512, o território de Valença da diocese de Ceuta podia
enviar apelações para a Metrópole de Braga para evitar o incómodo
de Roma.
Esse modelo inicial alterou-se no século xvi, quando a geogra-
fia eclesiástica portuguesa (virtual e efectiva) se rasgou de forma
radical, pondo termo à tutela do vicariato de Tomar sobre os novos
territórios «portugueses». As bulas de 1514 e de 1533-1534 foram,
a esse respeito, incontornáveis. Através delas, a administração ecle-
siástica dos espaços ultramarinos passou a ser feita a partir desses
territórios, atribuindo-se um papel central às estruturas diocesa-
nas, em consonância, aliás, com o que viriam a ser as determinações
tridentinas.
A criação do bispado do Funchal, com jurisdição sobre todas as
áreas do Atlântico e do Índico, através da bula Pro Excellenti, de
12 de Junho de 1514, de Leão X, iniciou essa nova etapa, pondo fim
ao modelo português de padroado inaugurado pelas bulas papais
de 1455 e 1456.70 É, no entanto, com as bulas de 1533 e 1534 que
o novo modelo se consolida. Nessa altura, a diocese do Funchal é
elevada a arquidiocese, sendo-lhe concedida a jurisdição ordinária
sobre todos os lugares extra territorium conquistados e a conquistar
(fig. 1). ­Através deste gesto, o Funchal tornava-se na maior arquidio-
cese portuguesa, cuja jurisdição abrangia metade do mundo conhe-
cido e por conhecer, atribuída à coroa de Portugal pelo Tratado de
Tordesilhas. O estabelecimento dos bispados dos Açores, de Cabo
Verde e São Tomé, e de Goa, sufragâneos da arquidiocese funcha-
lense, asseguravam a delegação de competências, quer no Atlântico,
quer no Índico.

70
 Jacques, De Castro Marim…; Alberto Vieira, «A igreja, a criação da diocese da
Madeira e as demais ilhas atlânticas (séculos xv e xvi)», em Diocese do Funchal: A Pri-
meira Diocese Global: História, Cultura e Espiritualidade, dirs. José Eduardo Franco
e João Paulo Oliveira e Costa (Funchal: Diocese do Funchal, 2015), vol. i, 159-172.

148

Monárquias Ibéricas.indb 148 13/12/18 14:55


O padroado da coroa de Portugal: fundamentos e práticas

Figura 1 – Arquidiocese do Funchal.

Tudo ficava sob a supervisão do arcebispo do Funchal, D. ­Martinho


de Portugal, um homem muito próximo do rei D. João III. Era como
se o império marítimo, na sua larga extensão, se bastasse a si pró-
prio também em termos de superintendência eclesiástica. Como esta
realidade era pouco viável, por isso mesmo durou apenas dezassete
anos. Em 1551, e a par da anexação dos mestrados das ordens milita-
res à coroa de Portugal e da criação do bispado da Baía (sufragâneo
do arcebispado de Lisboa, e com a prelazia do Rio de Janeiro, desde
1575, sob a sua alçada), extingue-se o estatuto de metropolitana do
Funchal, diocese que ficaria na dependência de Lisboa, conjunta-
mente com as suas sufragâneas. O mesmo papel tutelar viria a ser atri-
buído, em 1557, à diocese de Goa, elevada a arquidiocese, em 1568,
com o título de «Primaz de todas as Índias», em 1572. Por outras
palavras: na segunda metade do século xvi verificou-se uma translatio
do «modelo funchalense» para Goa, extinguindo-se a maior parte do
poder e do alcance geográfico da diocese madeirense. Esta alteração
reflectiu a importância que o Estado da Índia adquirira na econo-
mia política do império. Em consonância, em 1555 ­estabelecer-se-ia
o patriarcado da Etiópia, e em 1558 fundar-se-iam os bispados de
Cochim e de Malaca, sufragâneos da arquidiocese de Goa, em 1576,

149

Monárquias Ibéricas.indb 149 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

o de Macau, e em 1588, o de Funai (o qual seria extinto em 1633,


em virtude da mudança de atitude das autoridades japonesas em
relação à presença religiosa portuguesa). Estas duas últimas dioce-
ses acompanharam o crescimento do comércio intra-asiático, com a
emergência de Macau como um pólo económico muito importante,
que podia articular a coroa portuguesa com entidades tão poderosas
como o império chinês ou o xogunato japonês.71 Também sufragâ-
neos de Goa seriam a diocese de Angamale/Cranganor, fundada em
1599, e a de São Tomé de Meliapor, de 1606.
A maior arquidiocese da monarquia portuguesa seria, dora-
vante, a de Goa. Para além da geografia virtual que abrangia, sob
a sua tutela estavam, também, as várias cristandades asiáticas, não­-
-católicas, que se pretendiam reduzir à obediência a Roma, caso
dos cristãos de São Tomé e dos cristãos da Etiópia. Ao contrário
do Funchal, cuja distância da corte era relativamente curta, o arce-
bispo de Goa tinha uma enorme autonomia (para além da correla-
tiva responsabilidade). Face às queixas do arcebispo respeitantes à
amplitude geográfica da sua jurisdição, que o impedia de cumprir
as suas obrigações de prelado, em 1636, o pontífice outorgou um
breve através do qual aceitou criar a prelazia de Moçambique, com
jurisdição entre os cabos Guardafui e da Boa Esperança, autori-
zando o rei de Portugal a nomear um administrador apostólico para
aqueles lugares.72 É pouco antes deste período, também, que Ceuta,
Faro e porventura Tânger (criada em 1468) passaram a dioceses
sufragâneas de Évora, elevada a metropolitana em 1540. Só em
1570, quando as dioceses de Tânger e Ceuta se juntaram, passaram,
à semelhança do Funchal e suas sufragâneas africanas, e da Baía,
a depender de Lisboa73.
Muito sucintamente, é esta a situação que prevalece até ao final
de 1668 (fig. 2): duas províncias eclesiásticas que englobavam as
dioceses ultramarinas, uma encabeçada por Lisboa, integrando
as dioceses atlânticas e norte-africanas, uma outra asiática, encabe-
çada por Goa.

71
  Pinto, «Enemy at the gates…».
72
  Archivio Segreto do Vaticano, Arch. Nunz. Lisbona, 32 (2), fls. 210-213.
73
 Paiva Manso, visconde de, Memória historica sobre os Bispados de Ceuta e
­ anger (Lisboa: Typ. da Academia Real das Sciencias, 1858), 3-8.
T

150

Monárquias Ibéricas.indb 150 13/12/18 14:55


O padroado da coroa de Portugal: fundamentos e práticas

Figura 2 – Arquidioceses extra territorium, c. 1668.

Neste contexto, existiam no império uma diocese (São Salvador


da Baía) e duas prelazias brasileiras (Rio de Janeiro e Pernambuco,
esta última estabelecida em 1614 e suprimida em 1624), quatro/
cinco dioceses africanas (Cabo Verde, São Tomé, Ceuta/Tânger, até
Ceuta ser integrada na Monarquia Hispânica, e Congo/Angola, esta-
belecida em 1596), um patriarca e uma prelazia africana (Etiópia e
­Moçambique – sob a jurisdição eclesiástica de Goa), uma arquidio-
cese (Goa) e seis dioceses asiáticas integradas naquele arcebispado
(Cochim e Malaca, as quais permaneceram activas mesmo depois
da sua conquista pelos holandeses; Macau; Angamale/Cranganor;
Meliapor e Funai).
À redução política e territorial asiática, que caracteriza o século xvii,
correspondeu um investimento na extensão da malha diocesana bra-
sileira. É significativo o arco que se pode traçar entre a fundação do
bispado da Baía, em 1551, sufragâneo do arcebispado de Lisboa, da
prelazia do Rio de Janeiro, em 1575, da de Pernambuco, em 1614, e a
fundação dos bispados de Olinda e do Rio de Janeiro, em 1676, como
sufragâneos da Baía, passando esta a ser arcebispado nessa data, e o
Brasil uma província eclesiástica. Doravante, também o prelado da
Baía passava a ter a jurisdição espiritual sobre uma área muito vasta,

151

Monárquias Ibéricas.indb 151 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

acompanhada pelo surgimento e crescimento de um número cada vez


maior de centros urbanos (essencialmente povoados por africanos e
populações de origem portuguesa, é certo), e de terras colonizadas.74
Essa área de jurisdição seria ainda maior, caso o pontífice tivesse aceite
tornar sufragâneos da Baía os bispados de São Tomé e Angola, o que
tornaria São Salvador da Baía numa «nova Goa», acompanhando, aliás,
a translatio do Índico para o Atlântico na economia dos interesses
imperiais. A expansão brasileira continuou com a fundação, em 1677,
da diocese do Maranhão – sufragânea, porém, do arcebispado de Lis-
boa –, e em 1719, da de Belém do Pará. Em meados do século xviii,
verifica-se um novo surto diocesano: as dioceses de Mariana e de São
Paulo foram estabelecidas em 1745, acompanhando a descoberta das
minas de ouro e a crescente urbanização para sul, no mesmo ano em
que se criaram as prelazias de Goiás e de Cuiabá.

Figura 3 – Arquidioceses extra territorium, c. 1750.

74
  Souza, «Structures d’encadrement…», 5, 7; Arlindo Rupert, A Igreja no B
­ rasil
(Santa Maria: Pallotti, 1981); Evergton Sales Souza e Bruno Feitler, A Igreja no
­Brasil. Normas e Práticas durante a Vigência das Constituições Primeiras do Arcebis-
pado da Bahia (São Paulo: Ed. Unifesp, 2011).

152

Monárquias Ibéricas.indb 152 13/12/18 14:55


O padroado da coroa de Portugal: fundamentos e práticas

Neste período, e no contexto da rivalidade com as monarquias


espanhola e francesa, e dos interesses adjacentes a Macau, foram ainda
instituídos na Ásia, em 1690, os bispados de Pequim e de N ­ anquim,
os quais resultaram quer do poder acrescido das ordens religiosas no
contexto da retracção do domínio político, mas também do papel
proeminente que Macau adquiriu como ponto de contacto com o
império da China e o xogunato do Japão.
Note-se que ao longo deste arco temporal – à semelhança do que
acontecia no reino, e ao contrário do que se registava em Espanha e
no contexto do padroado espanhol –, a malha diocesana era pouco
densa, caracterizada por poucos arcebispados e com uma grande
amplitude geográfica, e por bispados igualmente escassos. Aliás,
a dimensão enorme de cada uma das dioceses, e os perigos que as
viagens marítimas acarretavam, impedia os prelados da coroa por-
tuguesa de cumprirem plenamente a sua missão pastoral. Uma con-
sulta da Mesa da Consciência e Ordens, de 8 de Janeiro de 1616,
disso dá conta. Refere a resposta do arcebispo de Goa face a uma
admoestação que a Mesa lhe fizera por o dito arcebispo, por ocasião
da visita a Malaca, não ter também visitado Solor. Este defendeu-se
com a distância e o «mar infestado de piratas», desculpa que seria
aceite pelo tribunal, ciente dos limites inerentes ao padroado do rei
de Portugal.75

A persistência de um padroado limitado


Sobretudo a partir de 1514, não havia um padroado português,
mas sim direitos de padroado76. O suposto pleno jure da Ordem de
Cristo permaneceu, mas paradoxalmente limitado, já que, a partir
da criação dos bispados, o rei como mestre tinha apenas direitos de
apresentação (do clero das igrejas e do cabido) e de recolha dos dízi-
mos, um aspecto crucial no equilíbrio financeiro do império pelo
menos até ao século xviii.
Na prática, os monarcas-mestres tinham a obrigação de propagar
a fé no espaço extra territorium e faziam-no delegando nos prelados
a nomeação dos clérigos da respectiva diocese, incluindo as conezias

75
 ANTT, Mesa da Consciência, liv. 304, f. 47, fl. 48-48v.
76
  Xavier, «A organização religiosa do primeiro Estado da Índia…»: 44.

153

Monárquias Ibéricas.indb 153 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

e dignidades do cabido, excepto o lugar de deão (ou o lugar cimeiro


do cabido quando não era este). Assim, quando um deado vagava,
colocavam-se editais nas Universidades de Coimbra e de Évora e na
porta da Mesa da Consciência, de forma a captar candidatos para este
postos77.
Se os referidos poderes de indigitação não fossem logo atribuí-
dos ao novo bispo preconizado, este solicitava-os quando chegava à
sua diocese. Os exemplos citáveis são muitos, do século xvi ao xviii,
do Atlântico ao Índico.78 Todavia, o provimento dos eclesiásticos
só tocava ao bispo a partir do momento em que este cumpria o seu
dever de residência79, o que era um tópico relevante no contexto
imperial. Até porque estas dioceses não eram atractivas, e mesmo
depois de Trento alguns bispos nunca pisaram o solo do seu bis-
pado. Também se tornou norma que nas dioceses recém-criadas a
primeira nomeação das dignidades do cabido fosse do rei; a dele-
gação de competências no prelado ocorreria apenas em relação às
vacaturas seguintes80.
No Atlântico, a partir de 1660 e até 1781, as nomeações dos
bispos ou arcebispos para benefícios curados, cabidos e dignida-
des vinham à Mesa da Consciência para serem consultadas (junto
com os candidatos que fizessem o concurso para a mesma igreja na
metrópole) e obterem carta de apresentação em nome do rei como
mestre; na Índia, atendendo à distância, eram os vice-reis que trata-
vam desta tarefa das cartas de apresentação, quando tinham poderes
para o efeito81, mas havia sempre a preocupação de que se conser-
vasse o direito do rei como mestre e os da Chancelaria da Ordem
de Cristo82. Os governadores na Baía, inclusive com a anuência dos
antístites, ainda tentaram, por diversas vezes, ter poderes idênticos
aos do vice-rei de Goa, mas sem grande sucesso83. Em 1781, por

77
 Numa Notícia história da Mesa da Consciência, feita no século xviii, esclarecia­-se
a este respeito: «e na oppozicão sempre tem preferencia os formados em Coimbra»,
BNP, Cód. 10 887, 430.
78
 BNP, Pomb. 155, f. 31, 123v; ANTT, MCO, Ordem de Cristo – Padroados do
Brasil, mç. 4, doc. sem número.
79
 ANTT, Mesa da Consciência, liv. 304, fl. 17.
80
 ANTT, Mesa da Consciência, liv. 304, fl. 17-17v.
81
 BNP, Pomb. 155, f. 30v e 499, f. 205v.
82
 BNP, Pomb. 155, f. 30v-31.
83
 BNP, Pomb. 155, f. 123v, 125a.

154

Monárquias Ibéricas.indb 154 13/12/18 14:55


O padroado da coroa de Portugal: fundamentos e práticas

alvará de 14 de Abril, introduziram-se mudanças: os bispos ultra-


marinos, feito o concurso, enviavam para Lisboa apenas uma lista
com três nomes e a Mesa da Consciência deixou de poder consultar
novos opositores, mesmo que naturais do bispado em causa; apenas
o monarca podia escolher outro clérigo, quando na sua qualidade
de mestre recebia a lista e a documentação do bispo, através do tri-
bunal das Ordens. O alvará citado foi revogado por outro de 14 de
Fevereiro de 1800 e a Mesa da Consciência passou a poder seguir as
directivas que vinham de 166084. Exarada a carta de apresentação pela
Mesa da Consciência, esta era registada na Chancelaria da Ordem
de Cristo e, por fim, cabia ao bispo da diocese ultramarina colar o
clérigo. Enquanto durava a tramitação, o antístite local podia nomear
um pároco encomendado para assegurar o serviço religioso.
Em regra, apenas as vacaturas de cónegos e dignidades que ocor-
riam durante o período de sede vacante tinham concursos exclusiva-
mente efectuados em Lisboa, pela Mesa da Consciência e Ordens.
Nas mesmas circunstâncias, os cabidos faziam os concursos para as
vigararias e benefícios curados, embora os do Atlântico viessem a
Lisboa para o apuramento final. Unicamente os curatos anuais e os
ofícios estavam dispensados desta última formalidade, quer na falta
do bispo ou arcebispo, quer quando este existia e era residente85.
Na Ásia seriam os lugares do cabido e os benefícios simples os que,
mais frequentemente nos períodos seiscentistas de sede vacante,
tiveram de ser disputados em Lisboa86. Uma vez nomeado o clé-
rigo, cabia ao Conselho Ultramarino emitir o alvará de mantimento,
apesar de este resultar dos dízimos auferidos pelo rei na qualidade
de mestre87.
No espaço extra territorium a criação de novas igrejas ou a passa-
gem de curatos a vigararias era sempre da competência do rei-mestre,
através da Mesa da Consciência. Por isso mesmo se fizeram adver-
tências aos arcebispos de Goa, como aconteceu em 1619, quando

84
  D. José Joaquim da Cunha de Azeredo Coutinho, Copia da analyse da Bulla
do Smo. Padre Julio III de 30 de Dezembro de 1550 que constitui o padrão dos reys
de Portugal a respeito da união, consolidação e incorporação dos mestrados das ordens
militares de Christo, de S. Tiago e de Aviz com os reynos de Portugal (Londres: T. C.
Hausard, 1818), 283-289.
85
  BNP, Cód. 10 887, 430-430v.
86
 BNP, Pomb. 155, f. 30v-31.
87
 ANTT, Mesa da Consciência, liv. 304, fl.11v, 12-12v.

155

Monárquias Ibéricas.indb 155 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

aquele prelado erigiu duas novas igrejas nos territórios do Norte,


sem dar conta nem ao vice-rei nem ao monarca, como devia fazer88.
No Brasil, no século xviii, eram muitas as igrejas ou ermidas erectas
pela população, pelos bispos e irmandades e ordens terceiras, espe-
cialmente nas zonas mineiras de rápido crescimento demográfico.
Por vezes, passavam-se largos anos e decénios até serem sancionadas
pelo rei-mestre, o que significava para algumas passarem de cura-
tos a vigararias, com clérigos providos por concurso e com côngruas
pagas à custa da Fazenda real, através dos dízimos. Antes disso, os
curas ou padres encomendados podiam ser pagos pela população
ou pelos rendimentos da igreja (pés de altar e outros emolumen-
tos, por exemplo) e a coroa economizava nas suas receitas89. Os cha-
mados curatos eram muito frequentes no Centro Sul do Brasil, no
século xviii90.
É de salientar que, não obstante o suposto e teórico pleno iure da
Ordem de Cristo, a partir da criação dos bispados, os assuntos de
teor disciplinar eram da incumbência dos Ordinários, segundo diver-
sas vezes fez notar o Tribunal das Ordens no século xvii91. O pleno
iure deixara de o ser.
Os procedimentos atrás descritos iriam perdurar no tempo. Este
era o modelo habitual de gestão do padroado que vigorou nos sé­
culos xvii e xviii. Quando havia excepções eram quase sempre os
provimentos «sem editais»92 ou «por decreto», ou seja, sem concurso
ou sem atender aos resultados deste93. Juridicamente era possível
fazê-lo, pois a exigência tridentina do concurso não se aplicava aos
benefícios das ordens militares, conforme foi aclarado em 1589.
Note-se que, a partir do momento em que os prelados ultrama-
rinos passaram a seleccionar os clérigos, proveram os lugares em
­seculares, contrariando o que ficaria inscrito nos estatutos da Ordem

 BNP, Pomb. 155, f. 29v.


88

 BNP, Pomb. 155, f. 125averso; Cláudia Damasceno Fonseca, «Freguesias e


89

capelas: instituição e provimento de igrejas em Minas Gerais», em A Igreja no ­Brasil:


Normas e Práticas durante a Vigência das Constituições Primeiras do Arcebispado da
Bahia, orgs. Bruno Feitler e Evergton Sales Souza (São Paulo: UNIFESP, 2011),
425-452.
90
 Aldair Carlos Rodrigues, Igreja e Inquisição no Brasil: Agentes, Carreiras e
Mecanismos de Promoção Social – Século XVIII (São Paulo: Alameda, 2014), 37-40.
91
 ANTT, Mesa da Consciência, liv. 304, fl. 7, 8v, 9v-10, 11.
92
 BNP, Pomb. 155, f. 125-125v.
93
 Rodrigues, Igreja e Inquisição no Brasil…, 55-62.

156

Monárquias Ibéricas.indb 156 13/12/18 14:55


O padroado da coroa de Portugal: fundamentos e práticas

de Cristo, saídos do capítulo geral de 1619. Ali pedira-se que fos-


sem providas as prelazias ultramarinas nos religiosos da Ordem,
«pois nelles se conservará mais o direito della, que com razão devem
preceder aos outros, que o não são» e que o mesmo se fizesse nas
dignidades e igrejas ultramarinas94. A insistência para que se nomeas-
sem bispos das fileiras de religiosos da Ordem de Cristo terá sido
questão recorrente na primeira metade do século xvii. Registaram-se
apelos nesse sentido por parte da Mesa da Consciência efectuados
pelo menos em 1624, 1625 e em 163095. Também se solicitaram frei-
res tomaristas no início da colonização portuguesa no Maranhão e
Pará, em 1621, pois os capuchos não queriam ir e tudo foi em vão e
acabaram por ir os capuchos96. Mas em 1631, era a própria Mesa da
Consciência a afirmar que nas «igrejas do Ultramar não há obriga-
ção de se proverem em freires nem estes para elas têm preferência:
mas se deve votar no mais digno».97 Ainda assim, a questão persistia:
em 1666, perante a falta de candidatos a cónegos e vigários em São
Tomé, e depois de feito um apelo «aos bispos cabidos e prelados das
religiões para que diligenciassem catequizar eclesiásticos que para lá
fossem», sem resultado, a própria Mesa da Consciência propôs que o
monarca obrigasse os religiosos de Tomar a irem.98
Se os freires de Tomar escassa presença marcaram nos territó-
rios extra-europeus, o mesmo não aconteceu com outros regulares.
Em vários lugares havia tensões entre religiosos regulares e sacerdo-
tes seculares.99 Na Ásia, onde as ordens religiosas estavam segura-
mente em maioria100, essa clivagem tornou-se ainda mais notória nos
séculos  xvii e xviii, e o mesmo terá acontecido na África ­Oriental,
segundo se referia a título de balanço em 1768.101 Considerem-
-se, a esse propósito, alguns exemplos: no arcebispado de Goa, e à

94
  Definições e estatutos dos cavalleiros e freires da Ordem de Nosso Senhor Jesus
Christo…, parte iii, tít. xii, § 1.
95
 ANTT, Mesa da Consciência, liv. 304, fl. 15v; Brásio, Monumenta…, vol. vii,
632-634.
96
 BNP, Pomb. 155, f. 21v.
97
 BNP, Pomb. 155, f. 13.
98
 BNP, Pomb. 155, f. 84.
99
 Cf. capítulos de Evergton Sales Souza e Federico Palomo neste mesmo
volume.
100
  Sobre o elevado número de religiosos em Goa, em 1635, ver Xavier, A Invenção
de Goa…, 166.
101
 ANTT, Mesa da Consciência, liv. 319, f. 21, 22.

157

Monárquias Ibéricas.indb 157 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

s­ emelhança do que já acontecia nos territórios de Tiswadi, Bardez,


Salcete e da Província do Norte, onde a quase totalidade das paró-
quias fora entregue a franciscanos e jesuítas, em 1618, em Ceilão,
em 53 igrejas apenas duas eram administradas por clérigos seculares;
as restantes estavam nas mãos de franciscanos e jesuítas102. Também
em relação ao Brasil, em 1623, uma consulta da Mesa da Consciência
referia que «para a conversão dos gentios são melhores os religio-
sos, que os clérigos, que regularmente só vão para o Brasil os cléri-
gos menos bem procedidos, e vão a adquirir para trazer: e que não é
assim nos religiosos, e assim se deve escrever aos bispos: e assim se
resolveu».103 No entanto, no Brasil, o interesse na fixação de religio-
sos dependeu das regiões e das épocas (por exemplo, as ordens regu-
lares foram proibidas na região das Minas no seu período áureo).
Foi também em relação ao tipo de cenário descrito que a coroa
procurou intervir por diversas vezes. Em 1615, perante os inconve-
nientes que o vice-rei da Índia apontava de existirem muitos conven-
tos e muitos religiosos na Índia, mostrando a Mesa da C ­ onsciência
que estes eram necessários para a propagação da fé e que era para
isso que o monarca recebia os dízimos, a resolução régia foi ilustra-
tiva do posicionamento da coroa: mandava o rei que não se edificas-
sem mais conventos sem permissão régia e que o vice-rei não pudesse
dispensar neste particular, nem atribuir ordinárias. Dois anos mais
tarde, cartas régias destinadas ao vice-rei de Lisboa denotavam, mais
uma vez, as preocupações com a falta de controlo dos religiosos que
partiam para a Índia. Filipe III de Espanha lamentava o facto de «os
superiores das religiões que tem conventos na Índia», não darem
memória dos religiosos que para lá despachavam, para «serem apro-
vados», exigindo que lhe fossem enviadas «sempre memórias dos
superiores para se ver se os sujeitos que escolhem são a propósito
e tem as partes necessárias para se ocuparem no ministério em que
hão de servir». Ao mesmo tempo, condicionava a ida de religiosos
a seis por religião: «E nesta forma se poderão enviar cada ano seis
religiosos de Santo Agostinho São Domingos e da Companhia.»104
Em 1621, tendo o monarca solicitado aos dominicanos doze religio-
sos «capazes» para a Índia, a Mesa da Consciência chegou ao ponto

102
  BNP, Cód. 10 890, f. 73v.
103
 BNP, Pomb. 155, f. 22.
104
 ANTT, Colecção de S. Vicente, liv. 18, f. 276.

158

Monárquias Ibéricas.indb 158 13/12/18 14:55


O padroado da coroa de Portugal: fundamentos e práticas

de fazer consulta com os nomes propostos pela Ordem.105 Enfim,


entre as décadas de 1620 e 1670, foram várias as tentativas para limi-
tar o número de religiosos naquela área, também enquadradas pelo
discurso crítico e reformista de combate à falta de soldados e aos
não-reprodutivos do ponto de vista biológico.106
Um dos argumentos recorrentes endereçados sobretudo pelo
clero nativo contra os regulares era o seu desconhecimento das lín-
guas locais e o consequente recurso a intérpretes para efectuar as
confissões.
As referidas tensões entre seculares e regulares abrangiam tam-
bém os bispos, porque na prática tinham um menor controlo sobre
uma parcela dos párocos, por serem religiosos. Esse facto era muito
evidente na Ásia, sendo alimentado de parte a parte. Um conflito
emblemático foi o que opôs, em meados do século xvi, o arcebispo
D. Gaspar de Leão, à Companhia de Jesus, que recusava o direito que
o prelado tinha em monitorizar as igrejas que os jesuítas considera-
vam como sendo «nuestras».107 Essa era, de facto, a tensão mais fre-
quente: a isenção do Ordinário reclamada pelos religiosos, e a recusa
dos bispos em aceitarem a autonomia das paróquias dos regulares.
Que as inquietações persistiram fica bem ilustrado, aliás, no entre-
mez que os franciscanos de Goa tinham feito, em 1630 e no qual se
falava do bispo governador, frei Luís Brito e Meneses, com menos
decoro, o que motivou uma queixa à Mesa da Consciência.108 Sendo
que a doutrina variou, ao longo do tempo, em relação às paróquias
de regulares, as quais também foram sujeitas, por vezes, a visitas pas-
torais, a verdade é que, cerca de 1730, Lázaro Leitão Aranha consi-
derava que estas igrejas e paróquias não eram nem do padroado da
Ordem de Cristo, nem da apresentação do bispo, mas sim «igrejas
missionárias».109

Em síntese, este padroado ultramarino limitado desde 1514,


embora fosse mais homogéneo do que aquele registado no reino, coe-
xistia, na prática, com estas «igrejas missionárias», que se ­reclamavam

105
 BNP, Pomb. 155, f. 41.
106
 BNP, Pomb. 155, f. 44, 45.
107
 Xavier, A Invenção de Goa…, 138-142, 155-166.
108
 BNP, Pomb. 155, f. 41.
109
 BNP, Pomb. 499, f. 208-208v.

159

Monárquias Ibéricas.indb 159 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

autónomas, e com muitos curatos (surgidos por espontânea iniciava


dos antístites ou de outras pessoas e entidades e, por vezes, apenas
temporariamente não sancionados pelo padroado). Assim sendo,
mais do que um duplo padroado (régio e magistral), talvez seja mais
prudente falar também em direitos de padroado no que respeita ao
espaço extra territorium. Entre estes estava o magistral, ou seja, o da
Ordem de Cristo. A crescente convergência com o padroado caste-
lhano nunca anulou este último. Persistiu, mas a par de outros.

Abreviaturas

AHU Arquivo Histórico Ultramarino


ANTT Arquivo Nacional da Torre do Tombo
BNP Biblioteca Nacional de Portugal
MCO Mesa da Consciência e Ordens
Pomb. Pombalina

160

Monárquias Ibéricas.indb 160 13/12/18 14:55


Parte II
A administração civil

Monárquias Ibéricas.indb 161 13/12/18 14:55


Monárquias Ibéricas.indb 162 13/12/18 14:55
María Victoria López-Cordón Cortezo

Capítulo 4

Prácticas de gobierno: instituciones,


territorios y flujos de comunicación
en la monarquía hispánica

La conquista: de los precedentes a la configuración


de un modelo político y territorial

1492, fuera o no un annus admirabilis, no cabe duda que cons-


tituyó un antes y un después, marcado por la conquista castellana
del último reino musulmán en la Península y la llegada de Cristóbal
Colón a un territorio que no era el que buscaba. Ni uno ni otro
fueron hechos casuales, ni tampoco tuvo, en el caso del segundo,
una respuesta unívoca1. Hubo que esperar a 1502 para reconocer que
el obstáculo que interfería en la ruta de Asia era la Quarta Pars del
mundo y, solo en 1512, el regente de Castilla, Fernando II de Aragón,
intentó formalmente tomar posesión de la tierra americana y hacer
efectivos los justos títulos que avalaban la conquista. La pretensión
se apoyaba en las Bulas Alejandrinas, concedidas por Alejandro VI
que, al ser una justificación de naturaleza religiosa, implicaba tanto
la evangelización como el patronato regio2. No hubo reproches por

  Bernard Vincent, 1492: el año admirable (Madrid: Crítica, 1992).


1

  Este asunto es asimismo discutido en el capítulo de Ignasi Fernández Terrica-


2

bras que se incluye en el presente volumen.

163

Monárquias Ibéricas.indb 163 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

parte de otros monarcas, o muy tenues, en el caso de Francisco I.


El Tratado de Tordesillas firmado con Portugal, que tenía como
referente el de Alcáçovas/Toledo, establecía una línea de demarca-
ción cuyos extremos eran ambos polos geográficos y que pasaba a
370 leguas​al oeste de las islas de Cabo Verde, en virtud de la cual
la parte oriental de América del Sur, quedaba adscrita a la acción de
­Portugal, lo que se hizo efectivo en 1500, cuando Alvares Cabral
llegó a las costas brasileñas3.
La experiencia de las Islas Canarias, ocupadas de forma perma-
nente desde 1402, fue un precedente importante, ya que su conquista
siguió un modelo lento de colonización, inspirado en procedimientos
propios de la reconquista peninsular, en el que el protagonismo de
la nobleza fue decisivo, quedando, por tanto, las islas de L
­ anzarote,
Fuerteventura, El Hierro y La Gomera, sujetas al régimen señorial.
Ya con los Reyes Católicos, entre 1478 y 1496, la Corona tomó la
iniciativa, financiando e impulsando la conquista de las islas que
faltaban: de forma directa en el caso de Gran Canaria; a través de
capitulaciones en los de La Palma y Tenerife, e integrando, después,
el conjunto en la Corona de Castilla. Para recompensar a quienes
participaban en la empresa se recurrió a otra fórmula medieval, los
repartimientos de tierras y agua que, sobre todo en Gran Canaria,
fueron la base de su estructura agraria4. También se dotó a las islas
de un sistema de gobierno cuya unidad básica era el cabildo, y cuyos
componentes, en el caso de los señoriales, eran nominados por el
señor, mientras que los de realengo, libres en origen, siguieron la
tónica castellana, siendo en su mayoría enajenados y convertidos
en hereditarios5. La administración de la Corona consistía en dos

3
  Jesús Varela, El tratado de Tordesillas en la política atlántica castellana (Vallado-
lid: Universidad, 1997); El tratado de Tordesillas y su época. Actas (Valladolid: Socie-
dad Estatal V Centenario, 1995); Margarita Prieto Yegros, El Tratado de Tordesillas.
(Asunción: Intercontinental Editora, 2006).
4
  Francisco Morales Padrón, Descubrimiento, toma de posesión, conquista: Cana-
rias una modesta América (Las Palmas: Cabildo Insular, 2009); M. José Vázquez de
Parga, Redescubrimiento y conquista de las islas Afortunadas (Madrid: Doce Calles,
2013).
5
  Eduardo Aznar Vallejo, La integración de las Islas Canarias en la Corona de
Castilla (1478-1526): aspectos administrativos, sociales y económicos (Las Palmas:
Cabildo insular, 1992); Felipe Fernández-Armesto, Las Islas Canarias después de la
conquista: la creación de una sociedad colonial a principios del siglo xvi (Las Palmas:
Cabildo Insular, 1997).

164

Monárquias Ibéricas.indb 164 13/12/18 14:55


Prácticas de gobierno: instituciones, territorios y flujos de comunicación

g­ obernadores, en Gran Canaria y Tenerife, y un teniente de este en


La Palma, hasta 1629, en que se creó el cargo de capitán general de
las islas, pasando los gobernadores a ser corregidores. En 1537 se
estableció una Audiencia en Las Palmas, que tardó en funcionar,
y allí radicó también el tribunal del Santo Oficio, la sede episcopal
y el capitán general, hasta su traslado a La Laguna, en Tenerife, ya
en 1723. Allí también se estableció, en 1718, la intendencia general
y, entre esta fecha y 1812, la superintendencia, que estaba unida a
la comandancia general6. Como territorio castellano, dependía del
Consejo de Castilla, aunque ninguna de sus ciudades tuvo represen-
tación en las Cortes castellanas, al contrario que Granada que sí la
obtuvo. La conquista trajo consigo una repoblación importante, no
sólo de origen peninsular, nuevos sistemas de cultivo y la integra-
ción, a través de un comercio cada vez más activo, en una economía
de mercado. Un proceso que impulsó el tráfico comercial, atrajo a
colonizadores y favoreció la introducción del azúcar desde Madeira7.
De distinto carácter, pero igualmente significativo, fue la experien-
cia inicial en la isla caribeña de La Española. El sistema de factoría,
implantado por Colón en la costa norte de Santo Domingo, previsto
en las Capitulaciones de Santa Fe de 1492, fracasó tras el abandono
de La Isabela por parte de sus pobladores. Era la primera ciudad fun-
dada en la isla y había pretendido ser astillero, aduana, almacén y, sobre
todo, el puerto que canalizara el tráfico entre la isla y España. Pero
los efectos de dos fuertes huracanes y las expectativas creadas por
la explotación del oro, provocaron graves conflictos entre los colo-
nos y el almirante que concluyeron en 1499, con la destitución de este
y el nombramiento de Francisco de Bobadilla como «pesquisidor» y
gobernador de La Española. Ya entonces se habían producido repar-
timientos de indios, ya que el tributo establecido por Colón para su
factoría, solo había beneficiado a su familia, y se recurrió a ellos como
compensación. Ese mismo año de 1500, antes del retorno de Colón, la
Corona comenzó a otorgar a otros exploradores permisos para descu-
brir nuevas tierras en las Indias, siempre previa firma de capitulaciones
que obligaban al solicitante a financiar y armar la expedición, lo que

6
 José Peraza de Ayala, «La intendencia de Canarias. Notas y documentos»,
Anuario de historia del Derecho Español, nº40 (1970): 565-580.
7
  La empresa azucarera en Canarias: siglos xv-xx, dir. Santiago de Luxán y Ana
Viña Brito (Las Palmas: Auheces, 2009).

165

Monárquias Ibéricas.indb 165 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

hacía imprescindible un socio capitalista. La contrapartida eran bene-


ficios económicos o algún cargo, pero no señoríos hereditarios8.
La llegada de Nicolás de Ovando en 1503, antiguo preceptor del
príncipe D. Juan y nuevo gobernador, impulsó la política de pobla-
miento, no solo por las muchas personas que se trasladaron con su
flota, sino porque, por primera vez, iban mujeres casadas. De ahí
que se constituyeran municipios en los lugares que iban pacificando,
los llamados establecimientos, obligando a los colonos a avecindarse.
Aunque se favorecieron las actividades comerciales, la búsqueda de
oro resultó mucho más ventajosa, lo mismo que enrolarse en otras
expediciones o navegar a otros puntos y practicar el trueque con los
nativos, el lucrativo negocio del rescate. Cuando a partir de 1517 el
oro empezó a escasear, se importó desde Canarias la caña de azúcar
que, con el tiempo, convertiría el Caribe en una región de explota-
ción intensiva9.
Otro tercer elemento que coincidió cronológicamente con los
anteriores merece tenerse en cuenta: el cierre a los españoles de la
ruta natural hacia Asia, a través del cabo de Buena Esperanza, desde
el tratado de Alcáçovas/Toledo. De ahí que llegar a las Molucas por
occidente, a través de mares no reservados a los portugueses, fuera
un objetivo que el descubrimiento del Pacífico y el paso del estrecho
de Magallanes cumplió solo en parte por las dificultades del retorno.
Pensando en el tráfico de especias se abrió en La Coruña, en 1522,
una segunda Casa de Contratación, llamada de la Espicería, dirigida
a satisfacer las aspiraciones de los negociantes del norte de Castilla y
del poderoso consulado de Burgos10. Dadas sus estrechas ­relaciones

8
  Juan Pérez de Tudela, Las armadas de Indias y los orígenes de la política de
colonización, 1492-1505 (Madrid, Instituto Gonzalo Fernández de Oviedo, 1956);
Hugh Thomas, El Imperio español: de Colón a Magallanes (Barcelona: Planeta,
2003); Guillermo Céspedes, «América Hispánica (1492-1898)», en Historia de
España, dir. Manuel Tuñón de Lara (Barcelona: Labor, 1992), vol. IV, 63-66.
9
 Carl Ortwin Sauer, Descubrimiento y dominación española del Caribe
(México: Fondo de Cultura Económica, 1984); Guillermo Céspedes, América
Hispánica (1492-1898)…,135-138; Enrique Otte, «Los mercaderes y la conquista
de América», en Proceso histórico al conquistador, eds. Francisco de Solano et al.,
(Madrid: Alianza, 1988), 54-55.
10
  Antonio Eiras Roel, El Reino de Galicia en la época del Emperador Carlos V,
(Santiago de Compostela: Xunta de Galicia, 2000); Mariano Cuesta Domingo,
«La Casa de contratación de la Coruña», Mar oceana. Revista del humanismo español
e iberoamericano, nº 16 (2004): 59-88.

166

Monárquias Ibéricas.indb 166 13/12/18 14:55


Prácticas de gobierno: instituciones, territorios y flujos de comunicación

con mercaderes flamencos, no es improbable que proyectaran for-


mar una gran compañía que hubiera propiciado otro modelo de colo-
nización. Pero, vendidos los derechos sobre las Molucas a Portugal
en 1529, en el tratado de Zaragoza, la que debería haber sido la plata-
forma para explorar otras islas y llegar al continente y China, la casa
coruñesa, se dio por cancelada, quedando el tráfico centralizado en
Sevilla, y en manos de su Consulado desde 1543.
A comienzos del siglo xvi, solo las islas del Caribe estaban bajo
ocupación, más o menos efectiva, de los españoles y los primeros ensa-
yos de colonización fueron fallidos. Fue entre 1519 y 1549 cuando se
llevó a cabo un rápido proceso de conquista, sobre todo si se tienen
en cuenta los medios técnicos de la época, por el cual, la Corona de
Castilla se anexionó una extensión territorial cercana a los 2 ­millones
de km2, y vio sumados a sus 4 millones escasos de habitantes una
población que, a pesar de la dramática crisis de mortalidad que sufrió,
la triplicaba. No fue, desde luego, un proceso aleatorio. Desde Santo
Domingo se pasó a la región caribeña y desde Cuba al espacio mesoa-
mericano, hacia el centro de la confederación azteca desde donde se
iría descendiendo ya de forma más lenta. Especialmente importante
fue Panamá y su estrecho como punto de paso hacia el sur, en para-
lelo al Pacífico, de un lado, o subiendo por el Río de la Plata por otro.
Evidentemente, se trataba de una anexión parcial, más efectiva en las
tierras fértiles y pobladas, meramente formal en otras muchas zonas
al norte, al sur y hacia el interior, donde la conquista no se llevaría a
cabo hasta el siglo xviii. En cualquier caso, entonces se fijó el modelo
de sociedad que tendrían esos territorios sobre la base de una ocupa-
ción territorial que reprodujo el modelo social y económico del que
partían los conquistadores. La Corona intervino pronto organizando
y reclamando una parte proporcional, pero como las expediciones
en gran medida fueron financiadas por particulares, especialmente
comerciantes y banqueros, sus intereses no siempre predominaron.
Tanto ellos como los conquistadores aspiraban a una ganancia propor-
cional a lo invertido, que quedaba oficializada en las capitulaciones de
conquista que reconocían su jefatura y las obligaciones, inmediatas y
onerosas, de lo que se proponían llevar a cabo. Cuando el botín y los
metales disminuyeron, la tierra volvió a ser la mejor fuente de riqueza,
dirigiéndose preferentemente hacia las zonas más ricas y densamente
pobladas, en busca de tributos y mano de obra y utilizando la enco-
mienda a modo de señores no de vasallos, sino de indios.

167

Monárquias Ibéricas.indb 167 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Bajo estos y otros muchos imponderables, la colonización fue


evolucionando de una sociedad de conquista a un sistema más com-
plejo en la década de los cuarenta, en el cual los centros mineros
de Potosí y Zacatecas, las ciudades y los puertos habilitados para la
importación y exportación, se convirtieron en un aglutinante que
favoreció una cierta especialización geográfica de la producción y
una progresiva integración de los mercados internos, en contrapo-
sición con la tesis que venía sosteniendo la casi total desconexión
entre ellos11.

La periodización, una convención


Los años centrales de la conquista transcurrieron bajo la auto-
ridad del único emperador que tuvieron las Indias, Carlos V, cuyas
referencias espaciales y clásicas, del «Plus Ultra» a los precedentes
romanos, son bien explícitas12. De ahí que su renuncia a la dignidad
imperial cierre una etapa, correspondiendo a sus sucesores mantener
y transformar algunos de los caracteres establecidos bajo su man-
dato. Desde un punto de vista meramente evolutivo, tras una etapa
de consolidación que termina en el primer tercio del siglo xvii, se
opera una transformación del sistema sociopolítico y, debido a la
guerra y a los conflictos que afectan a la Monarquía, una clara inten-
sificación de un proceso de regionalización que venía de lejos. Tras
la Guerra de Sucesión, la inserción institucional de las Indias en la
monarquía borbónica dará lugar a un intenso debate sobre el modelo
adoptado hasta entonces. Un marco teórico en el que dos elementos
casi fundacionales, el monopolio comercial y su consideración de
«reinos», se cuestionan, dando lugar a un proceso de reformas diri-
gido tanto a una mejor administración como a un fortalecimiento de
la autoridad real. Un cambio que reforzó la estructura colonial de los
territorios americanos y provocó la progresiva pérdida de confianza
de las elites indianas. En el transcurso de estos tres siglos, las Indias

11
  Pedro Pérez Herrero, América latina y el colonialismo europeo. Siglos xvi-xviii
(Madrid: Síntesis, 1992), 47-62.
12
  Horst Pietschmann, «Imperio y comercio en la formación del Atlántico espa-
ñol», en El sistema comercial español en la economía mundial, eds. Isabel Lobato e
José M. Oliva (Huelva: Publicaciones de la Universidad, 2013), 73-77.

168

Monárquias Ibéricas.indb 168 13/12/18 14:55


Prácticas de gobierno: instituciones, territorios y flujos de comunicación

­ ccidentales, que fue su denominación oficial inicial, pasaron a ser


O
los reinos de las Indias y solo a mediados del siglo xviii se las empezó
a denominar como provincias de Ultramar o colonias. El término
no era nuevo, ya que figuraba en el Covarrubias, referido a la época
romana y en sentido migratorio, y así pasó al Diccionario de auto-
ridades, aplicándose ya a situaciones de presente en las ediciones
posteriores a 1780. También se fue insertando en el vocabulario eco-
nómico, de mano de las traducciones, aplicándose la dualidad metró-
poli/colonia ocasionalmente a las posesiones españolas. Pero, pese al
incremento de su uso, la palabra no se transformó en un concepto
político hasta la crisis de 1808-181013. Ni esta ni otras variaciones
semánticas que ocurren a lo largo de estos tres siglos son inocuas,
ya que detrás de cada nombre había no solo una manera específica
de relacionar dos territorios que formaban parte de un conjunto,
sino también un proyecto de engarce. El término América, que se
fue extendiendo solo en el siglo xviii, se empleó con reticencias
en España por considerarse poco clarificador, ya que existían otras
Américas que no eran hispanas, equívoco que también se esgrimió
cuando empezó aplicarse a los Estados Unidos.

Las Indias en la Monarquía española: 1560-1621

En 1558 Felipe II había recibido de su padre dos grandes impe-


rios, el azteca, que era una confederación, conquistado entre 1519 y
1523, y convertido oficialmente en 1535 en Nueva España, y el de
los Incas, que fue sometido entre 1532 y 1535, adoptando el nom-
bre de Perú. En torno suyo se aglutinaron espacios y pueblos de
Mesoamérica, los Andes centrales, los llanos del Orinoco y amplias
regiones que iban desde el noroeste de Argentina hasta la Patagonia.
Los grandes centros urbanos con sus arzobispados, México y Lima,
estaban ya consolidados y había también tres universidades, en Santo
Domingo, desde 1538, en Lima en 1551 y en la capital mexicana
desde 1553. Bajo su reinado se llevaron a cabo nuevos asentamientos
en la Florida y se iniciaron las reducciones indígenas en el Perú como
antes se habían hecho en Nueva España.

  Philippe Castejón, «Colonia y Metrópoli, la génesis de unos contextos histó-


13

ricos fundamentales (1760-1808)», Illes i Imperis, nº 18 (2016): 163-179.

169

Monárquias Ibéricas.indb 169 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Pero dos hechos fueron especialmente significativos. El primero,


el cambio de ruta de las navegaciones que se venían haciendo por el
Pacífico, a partir de los años sesenta, cuando Urdaneta descubrió y
documentó la ruta que conectaba las Filipinas con ­Acapulco, el lla-
mado tornaviaje y la fundación de Manila en 1571. Un floreciente
enclave musulmán, dedicado al comercio con China que, a partir
de entonces, sería uno de los dos ejes que estructurarían el trá-
fico español en el Pacífico, mediante el llamado Galeón de Manila.
A través suyo, se llevó a cabo un activo intercambio entre pro-
ductos asiáticos suministrados por mercaderes chinos y remesas de
plata americana, que convirtió la ciudad en un punto de contacto
con los vecinos asiáticos y en cabeza de una red de establecimientos
militares y misionales14. Su dependencia del virreinato de Nueva
España, donde se quedaban la mayor parte de los productos asiáti-
cos en manos de sus comerciantes, supuso una primera quiebra del
monopolio sevillano.
El segundo fue que esta etapa estuvo presidida por la masiva
extracción de plata, que convirtió la minería en el sector más diná-
mico de aquella economía, sin que ello impidiera los apuros financie-
ros de la Corona, ni las sucesivas bancarrotas. La producción mayor
correspondió a los años 1551-1580 y 1581-1610 y, de ella, en torno al
60% se envió a Sevilla. Zacatecas en Nuevo México y Potosí en Perú
fueron los centros más destacados, perdiendo importancia la minería
mexicana a favor de la peruana a lo largo del siglo xvii. El oro, menos
abundante pero más generalizado, procedía de la zona del Pacífico
y del futuro Nuevo Reino de Granada. En ambos casos, la dismi-
nución de las importaciones de metales se inicia hacia 1625, más
que por caída de la producción, por la generalización del fraude15.

14
  Carmen Yuste López, El comercio de Nueva España con Filipinas, 1590-1785
(México: Instituto Nacional de Antropología e Historia, 1984); Luis A. Álvarez,
El costo del Imperio Asiático. La formación colonial de las Islas Filipinas bajo domi-
nio español, 1565-1800 (A Coruña: Universidad, 2009); Patricia Hidalgo Nuchera,
La recta administración: primeros tiempos de la colonización hispana en Filipinas: la
situación de la población nativa (Madrid: Polifemo, 2001).
15
  Michel Bertrand, Grandeur et misères de l’Office: les officiers de finances de
Nouvelle-Esagna (S.XVII.-XVIII) (París: Sorbonne,1999); José M. Oliva Melgar,
«La metrópoli sin territorio. ¿Crisis del comercio de Indias en el siglo xvii o pérdida
de control del monopolio?» en El sistema Atlántico español (siglos xvii-xix), ed. José
M. Oliva Melgar y Carlos Martínez Shaw (Madrid: Marcial Pons, 2005), 19-73.

170

Monárquias Ibéricas.indb 170 13/12/18 14:55


Prácticas de gobierno: instituciones, territorios y flujos de comunicación

Felipe II, «primer Monarca de las Españas y de las Indias»16, intro-


dujo cambios en la estructura institucional heredada de su padre, lo
mismo que su sucesor. Y si el primero se sirvió de la riqueza minera
americana para solventar los problemas fiscales y financiar la guerra,
el segundo, aunque cerró los frentes abiertos al firmar las treguas de
1604 y 1609 con Inglaterra y Holanda, abrió la primera brecha legal
en el monopolio del comercio americano.
Durante este periodo, el número de los peninsulares que emigra-
ron a las Indias siguió creciendo, para frenarse a partir del primer
tercio de la centuria. Se calcula que entre 1560 y 1600, pudieron pasar
unos 151 000 pasajeros desde España y unos 111 000 entre 1600 y
1625, lo que explica que en la Península se empezara a ver las Indias
como causa de su declive demográfico y económico17. No se trataba
ya solo de varones, sino de familias andaluzas y extremeñas y, en
menor medida, de castellanas. También hubo muchos retornos, lo
que explica que el término indiano figure ya en el Tesoro de la lengua
castellana de 1611.
No fue el único movimiento migratorio del periodo, ya que la
trata de africanos, primero a las Antillas y después al continente,
aumentó notablemente. Una situación que movió a regularizar el
comercio de esclavos siempre que se obtuviera una licencia real y
se pagara por cada uno desembarcado. En Nueva España, en torno
a 1570, triplicaban ya el número de españoles, mientras que en
Perú, en 1584, se calculan unos 4000. El proceso fue rápido, cal-
culándose que en los cinco primeros años en que los portugueses
tuvieron el asiento, entre 1595 y 1600, pudieron transportarse unos
25 000 esclavos. Según Enriqueta Vila Vilar, incluyendo el contra-
bando, el número de africanos transportados a las posesiones espa-
ñolas oscilaría en este periodo entre 250 000 y 300 000. En 1640
el tráfico se suspendió, reanudándose, sobre otras bases, a partir
de 165118.

16
  Enrique Garcés, dedicatoria a la traducción de la obra de Francisco Patricio
Senés, De regno et institutione Regis, (Madrid: Luís Sánchez, MDXCI.)
17
  Jean-Paul Zuñiga, Espagnols d’outre-mer. Émigration, métissage et reproduction
sociale à Santiago du Chili au XVIIe siècle (París: Éditions de l’EHESS, 2002).
18
  Enriqueta Vila Vilar, Hispanoamérica y el comercio de esclavos. Los asientos
portugueses (Sevilla: Escuela de Estudios Hispano-Americanos, 1977).

171

Monárquias Ibéricas.indb 171 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Reconfiguración interna e identidades (1621-1700)

Desde 1630, ya en el reinado de Felipe IV, una serie de circuns-


tancias detuvieron el modelo de centralización que se había ido ope-
rando en el periodo precedente, cuestionándose la forma en que se
había desarrollado. No se trataba solo del coste del mantenimiento
de tan extensos dominios y de la política de reputación que había
derramado sus recursos por toda Europa, sino de los problemas deri-
vados de un sistema administrativo, bien diseñado, pero sustentado
sobre bases patrimoniales y de gestión difícil por la distancia, pero
también porque la Real Hacienda fallaba a la hora de poner en mar-
cha sistemas contables más eficaces para el control del gasto y la
rendición de cuentas. La Monarquía pagaba tarde y mal en la Penín-
sula y, sobre todo, en América, de modo que la práctica de utilizar
el oficio como beneficio, se convirtió en un sistema de retribución
sustitutorio19.
Sobre los territorios americanos se proyectaron las dificultades
de la Monarquía en Europa y las medidas tomadas para afrontar-
las. La ampliación de la Unión de Armas al Nuevo Mundo en 1627
puso las finanzas de los virreinatos americanos al borde de la quie-
bra, porque, descartada la opción del reclutamiento, se decidió que
Perú y Nueva España aportaran 600 000 ducados anuales, que solo
podían recaudarse en colaboración con los principales cabildos.
Las protestas fueron inmediatas, enviándose representantes a las
Cortes de Castilla y solicitándose contrapartidas que no se obtuvie-
ron. Las quejas contra los virreyes también fueron constantes y el
enfrentamiento de estos con las autoridades eclesiásticas, más incli-
nadas hacia los criollos, obligaron a volver a poner en marcha visitas
generales, como la de Palafox en 164020.
Tras la Paz de Westfalia, el número de navíos mercantes entre
España y las Indias descendió casi hasta la mitad mientras que duró

19
 Carlos Morales, Carlos Javier de, Felipe II: el imperio en bancarrota. La
Hacienda real de Castilla y los negocios financieros del Rey prudente (Madrid: Dilema,
2008). Esta cuestión es asimismo abordada en el texto de Michel Bertrand incluido
en este volumen (cap. 8).
20
  Ismael Sánchez Bella, Las visitas generales en la América española (Pamplona:
Eunsa, 1991); Arrigo Amadori, «Política americana y dinámica del poder: el vali-
miento de Olivares (1621-1643)» (Tesis doctoral, Madrid, Universidad Complu-
tense de Madrid, 2011).

172

Monárquias Ibéricas.indb 172 13/12/18 14:55


Prácticas de gobierno: instituciones, territorios y flujos de comunicación

la guerra con Francia, hasta 1659, y de manera más moderada hasta


1700. Aunque la armada de Barlovento quedó establecida en 1641 y
existió durante un siglo, su presencia fue discontinua, hasta el punto
que, en 1674, se tomó la decisión de autorizar el corso21. El tráfico
negrero, que cayó en 1640, se recuperó gracias al contrabando holan-
dés. Por otra parte, aunque el ritmo de los envíos de metales preciosos
a la Península fue decreciente durante la segunda mitad del siglo xvii,
la tesis del paralelismo entre la crisis peninsular y la indiana, hoy ha
sido contestada desde distintos frentes22. Y parece probado que una
parte de los envíos se invirtieron en el propio territorio. El aumento
de la actividad mercantil de otras rutas, como las asiáticas, así como
las exportaciones metálicas ilegales, que tanto García Fuentes como
Morineau consideraron muy superiores a las registradas, son facto-
res a considerar23.
Tal y como señaló Moutoukias, medidas negativas, como el incre-
mento de la venta de cargos, provocaron efectos que no lo fueron,
ya que, al debilitarse la trama mercantil, buena parte de los capitales
acumulados se centraron en el interior de los espacios americanos o
fuera de los conductos legales, disminuyendo la concentración en
el sector minero y expulsando de las ciudades población, que pre-
firió volver al campo. Tampoco tardaron determinados indianos en
invadir áreas de influencia de la administración española imperial,
especialmente en las audiencias y en las instituciones municipales24.
Y hubo transformaciones en las formas de vida indígenas, que fueron
más allá de un retorno a modelos prehispánicos.25

21
  Enrique Otero Lana, Los Corsarios Españoles durante la decadencia de los Aus-
trias. El Corso español del Atlántico peninsular en el Siglo xvii, 1621-1697 (Madrid:
Ministerio de Defensa, 2015).
22
  Ruggiero Romano, Coyunturas opuestas: la crisis del siglo xvii en Europa y en
América (México: Fondo de Cultura Económica, 1993).
23
 Lutgardo García Fuentes, El comercio español con América (1650-1700)
(Sevilla: Diputación Provincial de Sevilla, 1989), 382-389. José M. Oliva Melgar, «La
metrópoli sin territorio» 19-73.
24
 Zacarias Moutokias, «Burocracia, contrabando y autotransformación de las
élites: Buenos Aires en el siglo xvii», Anuario IEHS: Instituto de Estudios histórico
sociales, nº 3 (1988), 213-248; Zacarias Moutokias, «El comercio interregional», en
Historia general de América Latina, Volume 3, Tomo 1, (Consolidación del orden colo-
nial) , coord. Alfredo Castillero Calvo e Allan J. Kuethe (Madrid: Trotta­-Ediciones
UNESCO, 1999), 133-150.
25
  Las instituciones indígenas son objeto de análisis en el capítulo de Ana Díaz
Serrano del presente volumen.

173

Monárquias Ibéricas.indb 173 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

El que los criollos lograran desde el primer tercio de siglo títu-


los de nobleza de Castilla, creciera el número de universidades hasta
diecinueve y el dinero cobrara creciente importancia en el caso de las
dotes, es una prueba de que, más allá de las fluctuaciones económicas
o, quizás, debido a ellas, la sociedad y, en especial, el grupo criollo fue
aumentando su presencia e influencia26.

Entre la guerra y el comercio: la etapa de los primeros


Borbones (1701-1750)

La Guerra de Sucesión no pudo por menos que repercutir en las


posesiones hispánicas. Hubo, al comienzo, algunas actitudes inde-
cisas e, incluso, apoyos explícitos como ocurrió en Caracas o en
México, pero fueron desarticulados. Circuló propaganda, en gran
parte procedente de Curaçao y Jamaica y, en determinados momen-
tos, hubo inquietud por el resultado de la contienda, pero los terri-
torios ultramarinos se mostraron leales al testamento de Carlos II.
Lo fueron las autoridades y buena parte de la población española o
criolla, debido también a la desconfianza respecto a las pretensiones
de ingleses y holandeses27. La guerra repercutió de forma inmediata
en la carrera de Indias y en la proliferación de operaciones corsarias,
no solo en el Caribe sino en el Atlántico sur y el Pacífico, aunque,
con la excepción del ataque a los galeones en Cartagena de Indias, el
resultado fue favorable para los hispanos-franceses. Pero no se saldó
sin concesiones a Francia, tanto en Perú, donde desde 1704 se permi-
tió a los mercantes franceses seguir la ruta del cabo de Hornos, como
en ­Sevilla, a donde llegaron las remesas a bordo de barcos franceses28.
En 1701, la Compagnie de Guinée et de l’Asiente des Royaume de
la France obtuvo el asiento para importar un total de 48 000 e­ sclavos

26
  Águeda Rodríguez Cruz, La universidad en la América hispánica (Madrid:
Mapfre, 1992). John H. Elliott, Imperios del mundo atlántico España y Gran Bretaña
en América, 1492-1830 (Madrid: Taurus, 2006), 368-369.
27
  Carlos Martínez Shaw, «La Guerra de Sucesión en América», en La Guerra de
Sucesión y la batalla de Almansa, coord. Francisco García González (Madrid: Silex/
UCLM, 2009), 71-94.
28
 Carmen Sanz Ayán, «Causas y consecuencias económicas de la guerra de
Sucesión española», Boletín de la Real Academia de la Historia, nº 2, (2013), 187-
-226.

174

Monárquias Ibéricas.indb 174 13/12/18 14:55


Prácticas de gobierno: instituciones, territorios y flujos de comunicación

por diez años. Los ingleses, por su parte, llegaron a un acuerdo, fir-
mado entre Stanhope y el archiduque Carlos, de condiciones muy
similares que no pudo llevarse a cabo29. Fue el antecedente inme-
diato del concedido a la británica South Sea Company, en virtud de
las clausulas establecidas en el artículo 42 del tratado hispano inglés
de 1713 firmado en Utrecht, con una duración de treinta años. Una
verdadera operación mercantil, favorecida por la coyuntura diplomá-
tica que ponía fin a la contienda30. Además, se otorgaba a la misma
compañía el llamado «navío de permiso», un barco cargado con
500 toneladas de mercancía que podía amarrar en los puertos ame-
ricanos donde llegaba la flota, Veracruz, Portobelo y Cartagena de
Indias. Favoreció el contrabando y provocó enfrentamientos béli-
cos, como la guerra llamada de la «oreja de Jenkins» 31.
Más allá del peso de la coyuntura internacional, el cambio de dinas-
tía supuso el intento de una mayor participación de la Real Hacienda
en el negocio colonial, fruto de lo cual será el traslado de la Casa de
Contratación a Cádiz y la creación de la Real Factoría de las Indias,
cuya finalidad era la administración y gobierno de los caudales india-
nos, proveyendo con sus retornos las Reales Fabricas, en el caso del
Tabaco, y facilitando el embarque de mercaderías o de materias primas
como el hierro vasco, en beneficio del erario32. En opinión de Bernal,
la monarquía borbónica recuperó el interés por actuar como un agente
económico en América y, también, se pusieron las bases de un inci-
piente proceso industrializador, a través de la protección de un mer-
cado reservado y el desarrollo de las Reales Fábricas33. Un objetivo que
ahora se pretendía hacer sobre unos supuestos nuevos, ya se llamara
política mercantilista o «pacto colonial».

29
  Reyes Fernández Durán, La Corona española y el tráfico de negros: Del mono-
polio al libre comercio (Madrid: Editorial del Economista, 2011), 94.
30
  Antonio Miguel Bernal, «Borbones por Austrias cambio de dinastía y papel
de la Corona en el comercio colonial» en El cambio dinástico y sus repercusiones en la
España del siglo xviii, coord. María Antonia Bel Bravo, José Fernández García y José
Miguel Delgado Barrado, eds. (Jaén: Universidad de Jaén, 2001), 79-198.
31
  Jorge Cerdá Crespo, La guerra de la oreja de Jenkins. Un conflicto colonial
(1739-1748) (Alicante: Universidad, 2009).
32
  Antonio Miguel Bernal, «La Real factoría de Indias. Coste/beneficio en el
comercio del hierro vasco por la Corona», en Doctor Jordi Nadal: [homenaje]: la
industrializació i el desenvolupament econòmic d’ Espanya, volume 1, coord. Miquel
Gutiérrez i Poch, (Barcelona: Universidad, 1999), 107-126.
33
  Antonio Miguel Bernal, «La Real factoría de Indias…», 196-198.

175

Monárquias Ibéricas.indb 175 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Los ministros de Felipe V, de Patiño a Ensenada, adoptaron medi-


das acertadas en materia fiscal y arancelaria y, sobre todo, trataron de
restaurar la marina mercante y de guerra como pieza consustancial
al tráfico comercial español. Pero, a pesar de las críticas al régimen
de flotas e, incluso, al propio monopolio y a las propuestas de cam-
bios en la carrera de Indias, después de Utrecht el sistema quedó
reforzado, tanto porque el cumplimiento del acuerdo con Inglaterra
dependía de su salida regular, tal y como había aclarado el tratado
de Bubb de 1716, como porque esta solución también convenía a
los propósitos revisionistas de la monarquía. Los que sí habían cam-
biado eran los virreinatos, cada vez más autodependientes34. Patiño,
en 1725, quiso limitar su autonomía económica, restaurar la carrera
de Indias y, con ella, la Feria de Portobelo, pero los resultados fueron
negativos, tanto ahí como en Jalapa y, si bien se mantuvo la flota, fue
a costa de reducir su tonelaje.35. Igualmente, la prohibición de expor-
tar determinadas mercancías fue causa de importantes disturbios en
Filipinas en 172236. El resultado fue una nueva y masiva penetración
extranjera en el comercio hispano americano, muchas disposiciones
y el proyecto fallido de trasladar la Compañía comercial de Ostende
a España37.
Tras el conflicto contra Inglaterra de 1739-1748, el sistema de flo-
tas acabó en la práctica, al tiempo que, al incorporarse Buenos Aires
al sistema comercial español, se usó cada vez más la ruta del cabo de
Hornos. También, previa indemnización, la compañía británica dio
por terminado el asiento en 1750. Hubo expectativas de reformas en
la línea de los planteamientos mercantilistas que tanto el secretario
de la Junta de Comercio, Jerónimo de Uztariz, como el ministro
Campillo habían propuesto38. Pero los intereses de los comerciantes

34
  Goffrey J. Walker, Política española y comercio colonial, 1700-1789 (Barcelona:
Ariel, 1979), 107.
35
  Antonio García-Baquero, Cádiz y el Atlántico, 1717-1778 (Cádiz: Diputación,
1976), vol. I, 159-160.
36
  Goffrey J. Walker, Política española y comercio colonial, 1700-1789 …, 136-
-140 y 213-214.
37
  Allan J. Kuethe, The Spanish Atlantic World in the Eighteenth Century. War
and the Bourbon Reforms, 1713-1796 (Cambridge: Cambridge University Press,
2014), 64.
38
  Allan J. Kuethe, «Proyectismo et Reform commercial à l’époque de Philippe V»,
en L’Amerique en projet: Utopies, controversies et réformes dans l’empire espagnol (xvi-
-xviii), ed. Nejma Kermale y Bernard Lavallé (París: L’Harmattan, 2008), 243-251.

176

Monárquias Ibéricas.indb 176 13/12/18 14:55


Prácticas de gobierno: instituciones, territorios y flujos de comunicación

gaditanos y mexicanos lograron que, en 1754, se suspendiera el envío


de registros y que aún saliera la flota seis veces entre 1757 y 177639.
De Patiño a Ensenada, los ministros españoles no querían conflic-
tos y se inclinaron por incrementar el sistema de registros y promo-
ver Compañías Comerciales, como fue el caso de la Real Compañía
Guipuzcoana de Caracas en 1728, la de La Habana, en 1740, o la de
Barcelona, en 175540. Pero, a pesar de sus esfuerzos, se hizo evidente
que las relaciones entre España y sus territorios americanos no fun-
cionaban como debieran. Había graves problemas defensivos y, ade-
más, las medidas adoptadas no dieron demasiados resultados porque
no alteraban las restricciones vigentes desde el siglo xvi41.

El fin de un ciclo: reformas y crisis (1760-1810)

No es fácil conocer cuál era el grado de conocimiento que


­ arlos III tenía de sus extensos territorios cuando llegó a España en
C
septiembre de 1759. Si como escribió Tanucci en 1760 su intención
en materia de política exterior era ser amigo de todos y guardar todo
lo recibido para su heredero, en lenguaje diplomático, eso significaba
que, si lo consideraba necesario, participaría en la guerra iniciada en
1756. Su secretario de Estado, Wall, previendo dificultades, encargó
al nuevo gobernador y capitán general de Cuba, D. Juan de Prado,
la reparación de las fortificaciones en la isla. Mientras, el conde de
Fuentes, en Londres desde mayo de 1760, inició las conversaciones
con Pitt sobre los asuntos pendientes. No hubo acuerdo con L ­ ondres
y, a mediados de agosto, se firmó el Tercer Pacto de Familia, por el

39
  Allan J. Kuethe ,«El fin de monopolio: los Borbones y el consulado andaluz»,
en Relaciones de poder y comercio colonial: nuevas perspectivas, ed. Enriqueta Vila y
Allan. J. Kuethe, (Sevilla: CSIC, 1999), 56-82.
40
  Raquel Rico Linaje, Las Compañías de comercio en América. Los órganos de
gobierno (Madrid: CSIC, 1983). Bernd Hausberger y Antonio Ibarra, eds. Comer-
cio y poder en América colonial: los consulados de comerciantes, (México: Instituto
Mora, 2002); Guillermina del Valle, ed. Mercaderes, comercio y consulado de Nueva
España en el siglo xviii (México: Instituto Mora, 2003); Margarita Eva Rodríguez
García, «Compañías privilegiadas de comercio en América y cambio Político (1706-
-1765)», Estudios de historia económica, nº 46 (2005): 13-76.
41
  Ismael Sánchez Bella, Las visitas generales en la América española…, 124-139;
M. Teresa Álvarez Icaza Longoria, La secularización de doctrina y misiones en el
arzobispado de México, 1749-1789 (México: UNAM, 2015).

177

Monárquias Ibéricas.indb 177 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

que, en enero de 1762, la monarquía española se sumó al conflicto


general. Fue una guerra tan rápida como mal calculada por lo que,
tras las noticias de la caída de La Habana, se iniciaron las conver-
saciones de paz que llevaron a la firma del tratado de París, el 10 de
febrero de 176342. La Habana fue devuelta. Se perdió la Florida y se
recibió de Francia la Luisiana. Pero Manila, tomada por buques ingle-
ses financiados por la Compañía británica de las Indias ­Orientales,
no fue incluida en el tratado por desconocerse su situación; no fue
devuelta hasta 176443. Un año después, se tomó la decisión de esta-
blecer el tráfico directo entre Cavite y Cádiz44.
Carlos III quiso afrontar el fracaso exterior abordando sin dila-
ciones la situación de las Indias45. A iniciativa del ministro Wall y,
después, de Grimaldi, convocó una Junta especial de Indias para
analizar las propuestas que iban llegando. Entre ellos estaba una
Memoria de Francisco de Craywinckel, un comerciante nacido en
Cartagena de Indias, de origen holandés y familia catalana, vocal de
la Junta de la Real Compañía de la Habana, que daba una explicación
económica de la victoria británica y proponía que España se gober-
nase como ella, “en lo que sea aceptable a su constitución46. También

42
  Celia M. Parcero Torre, La pérdida de la Habana y las reformas borbónicas
en Cuba (1760-1773) (Valladolid: Junta de Castilla y León, 1998), 39-45; Allan
J. ­Kuethe, Cuba, 1753-1815. Crown, Military and Society (Knoxville: Univ. of
­Tennesee Press, 1986), 161-17; Richard Pares, War and Trade in the West Indies,
1759-1765 (Londres: F. Cass, 1963), 590-595.
43
  Carlos Mira Miranda, «Toma de Manila por los ingleses en 1762», Anuario de
Estudios Atlánticos,nº 53 (2007): 167-220; Karl Clayton Leebrick, The English expe-
dition to Manila and the Philippine Islands in the year 1762 (Berkeley: University of
California, 2007).
44
 Antonio Miguel Bernal, «La Carrera del Pacífico: Filipinas en el sistema
colonial de la Carrera de Indias», en España y el Pacífico: Legazpi, coord. Leoncio
Cabrero Fernández (San Sebastián: 2004), vol. I, 485-526; Marina Alfonso y Carlos
Martínez Shaw, «España y el comercio de Asia en el siglo xviii. Comercio directo
frente a comercio transpacífico», en El sistema comercial español en la economía
mundial….,325-380.
45
  Josep M. Delgado Ribas, «La paz de los Siete años (1750-1757) y el inicio de
la reforma comercial española», en 1802: España entre dos siglos, ciencia y economía,
coord. Antonio Morales (Madrid: Sociedad Estatal de C.C. 2003), 336-337.
46
  Jesús Astigarraga y Juan Zabalza, «Francisco Graywinkel, plagiario de Richard
Cantillón (1760-1763)», Mélanges de la Casa de Velázquez, nº 44 (2) (2014): 225-
-247; Diego Téllez Alarcia, El ministerio Wall: la “España discreta” del “ministro
olvidado (Madrid: Marcial Pons, 2006), 217-219; Pere Molas, «Tres textos ècono-
mics de la Catalunya ilustrada”, Pedralbes, nº 7 (1987): 159-161.

178

Monárquias Ibéricas.indb 178 13/12/18 14:55


Prácticas de gobierno: instituciones, territorios y flujos de comunicación

unas Reflexiones de Simón de Aragorri, futuro marqués de Iranda,


un comerciante de granos, provisor de hierro para los arsenales del
Ferrol, Cádiz y Cartagena y director del pósito de Madrid, incidía
en planteamientos parecidos47. Ambos, junto a otros miembros de
la Junta especial de Indias, fueron inspiradores del Reglamento del
Comercio Libre de 1765, una primera revisión de la relación secu-
lar entre España y sus colonias48. También entonces se pusieron en
marcha las expediciones directas a Filipinas por la ruta del Cabo de
Buena Esperanza, que se añadieron a la ruta indirecta del Galeón
de Manila. De su mano se crearon las primeras compañías comercia-
les para el comercio directo, como la ya citada la Real Compañía de
Filipinas, establecida en 178549.
El decreto de 1765 fue el antecedente inmediato del Reglamento
y Aranceles Reales para el Comercio Libre de España a Indias, pro-
mulgado por Carlos III el 12 de octubre de 1778, que supuso abrir
13 puertos españoles y 27 indianos al comercio libre. A partir de
esa fecha, aumentaron las exportaciones españolas, sobre todo las
de productos agrícolas. En 1797, Carlos IV, por el decreto de bar-
cos neutrales, lo extendió a comerciantes de otros países, excepto
para algunas mercancías50. Pero la guerra contra Gran Bretaña, que
empezó entonces, cortó la recuperación51.
La política regalista de Carlos III y Carlos IV, provocó muchas
tensiones en los territorios americanos. El concordato de 1753 había
clarificado algunos extremos del Patronato regio y para resolver los
contenciosos pendientes se enviaron visitadores eclesiásticos, con

47
  Jesús Astigarraga, «Un nuevo sistema económico papal la monarquía espa-
ñola. Las “Reflexiones sobre el estado actual del comercio de España” (1761), de
Simón de Aragorri», Revista de Historia Industrial, nº 52 (2013): 13-43.
48
  Stanley J. Stein e Barbara H. Stein, Apogee of Empire: Spain and New Spain
in the Age of Charles III, 1759-1789 (Baltimore: Johns Hopkins Univ. Press, 2003).
49
  Carlos Martínez Shaw, El sistema comercial español del Pacífico (1765-1820),
(Madrid: Real Academia de Historia, 2007), 27-42.
50
  John Fisher, «Estructuras comerciales en el mundo hispánico y el reformismo
borbónico», en El reformismo borbónico, ed. Agustín Guimerá (Madrid: Alianza,
1996), 109-122.
51
  John Fisher, Comercial relations Between Spain and Spanish America in the
Era of Free Trade (Liverpool: Liverpool Univ. Press, 1985), 66-71. Antonio Miguel
Bernal, «De Utrecht a Trafalgar. El papel de la economía e instituciones en los impe-
rios atlánticos», en El equilibrio de los imperios: de Utrecht y Trafalgar (Madrid:
FEHM, 2005), vol. II, 235-256.

179

Monárquias Ibéricas.indb 179 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

instrucciones sobre lo que convenía reformar52. Pero lo verdadera-


mente grave fue la expulsión de los jesuitas en 1767. Si drástica fue
la orden en la Península, en los virreinatos americanos la partida de
unos 2200 jesuitas, en gran parte criollos que en muchos casos esta-
ban en comunidades de misión, causó una verdadera conmoción con
efectos inmediatos, tanto en el ámbito pastoral y educativo, como
en el económico, por lo que supuso la transferencia de sus bienes,
primero a la Corona y, ya más tarde, a compradores privados53 Entre
1759-1773, circuló por América abundante literatura a su favor y en
su contra, lo que refleja una doble imagen que venía lejos54.
Durante este último periodo, se puso en marcha un importante
proceso de centralización, que provocó conflictos. El más grave, la
rebelión de Túpac Amaru, entre 1780 y 1783. Paralelamente hubo
otro en Nueva Granada en el que participó una numerosa población
indígena, especialmente damnificada por la expansión de los reparti-
mientos y la presión fiscal55. No fueron unos movimientos unitarios,
ya que fueron respuesta a situaciones diferentes, pero fueron una lla-
mada de atención sobre los efectos de los abusos de las autoridades
y de la presión tributaria56.

52
  Nancy M. Farriss, Crown and Clergy in Colonial Mexico, 1759-1821: The
Crisis of Ecclesiastical Privilege (Londres: Athlone Press, 1986).
53
 José Andrés Gallego, El motín de Esquilache. América y Europa (Madrid:
Fundación Mapfre-Tavera/CSIC., 2003). Eva M. St. Clair Segurado, «La expul-
sión de los jesuitas de América. Reflexiones sobre el caso de Nueva España», en La
Compañía de Jesús en la América española (siglos xvi-xviii) coord. Francisco Javier
Gómez Díez (Madrid: Universidad Francisco de Vitoria, 2005), 165-204.
54
 Luis Navarro García y Fernando Antolín, Las dobles exequias del arzo-
bispo Figueredo (1765): El canto del cisne de los jesuitas en Guatemala (Huelva:
­Universidad, 2016); María Valeria Ciliberto, «De los jesuitas a la administración de
las Temporalidades. El patrimonio de la Compañía de Jesús y la fuerza de trabajo
esclava en el Río de la Plata (fines del siglo xviii)», Cuadernos de Historia, nº 44
(2016): 29-56.
55
  John Leddy Phelan, El pueblo y el rey: La revolución comunera en Colombia
(Bogotá: C. Valencia, 1980).
56
  John Fisher, Allan J. Kuethe y Anthony McFarlane, eds. Reform and Insu-
rrection in Borbon New Granada and Peru, (Luisiana: Baton Rouge, 1990); Alberto
Flores Galindo, «La revolución tupamarista y el Imperio español», en Governare
il mondo. L’Impero Spagnolo dal xv al xix Secolo», eds. Massimo Ganci y Ruggiero
Romano (Palermo: Società Siciliana per la Storia Patria, Istituto di Storia Moderna,
Facoltà di Lettere, 1991); Scarlett O’Phelan, Un siglo de rebeliones anticoloniales:
Perú y Bolivia, 1700-1783 (Cuzco: Centro de Estudios Rurales Andinos, 1988);
Joseph Pérez, Los movimientos precursores de la emancipación en Hispanoamérica

180

Monárquias Ibéricas.indb 180 13/12/18 14:55


Prácticas de gobierno: instituciones, territorios y flujos de comunicación

No menos significativos fueron las demandas del Consulado de


Comerciantes de Veracruz, creado en 1795, que pretendía, si no des-
amortizar, al menos la liberalización de las tierras realengas y baldías
y la supresión de monopolios y privilegios que trabaran sus intere-
ses57. También en las repúblicas de indios se reivindicó la equipara-
ción de su cabildo con el de los españoles o, incluso, la reunión de
ambos en uno solo58.
A comienzos del siglo xix, en 1810, las colonias españolas tenían
unos 15 000 000 de habitantes, frente a los 11 000 000 que había en
España. De ellos, el 45% eran indios, una cuarta parte ­mestizos y
un 10% africanos. La población española la constituían unos 35 000
individuos legales, que casi se duplicaba teniendo en cuenta los ilega-
les. Había mantenido un ritmo ligeramente ascendente, con variacio-
nes importantes respecto a su procedencia geográfica y la condición
social de los emigrantes. Andalucía seguía estando a la cabeza, pero
le seguían el País Vasco, Galicia, Cantabria, Navarra y Asturias.
­También aumentó el número de extranjeros, con casi un 20% de
las licencias concedidas. Una emigración en la que destaca el grupo
de los comerciantes, seguidos de militares y burócratas, y en la que
disminuyen los religiosos. Que se dirige preferentemente a Nueva
España y las Antillas, pero también a zonas poco frecuentadas hasta
entonces, como el Río de la Plata. Los estudios sobre el ejército colo-
nial realizados por Marchena muestran dos hechos interesantes: una
progresiva criollización de oficiales y soldados y un claro incremento
de los efectivos militares que operaban allí59.

(Madrid: Editorial Alhambra, 1977); Anthony Pagden, El imperialismo español y la


imaginación política (Barcelona: Planeta, 1999), 181-208; Antonio Miguel Bernal,
«De colonias a repúblicas España-América (siglos xviii-xix)» en Historia y proyecto
social. Jornadas de Debate del Institut Universitari d’Història Jaume Vicens Vives, ed.
Josep Fontana (Barcelona: Crítica, 2004), 103-148.
57
  Matilde Souto, Mar abierto. La política y el comercio del consulado de Veracruz
en el ocaso del sistema imperial (México: Instituto Mora, 2006).
58
  Manuel Chust y José Antonio Serrano, «El ocaso de la monarquía: conflictos
guerra y liberalismo en Nueva España. Veracruz 1750-1820», Ayer, nº 74/2, (2009):
24-32.
59
  David A. Branding, «Los españoles en México hacia 1792», Historia Mexi-
cana, XXIII/1 (1975): 126-144; Josep M. Delgado Ribas, «La emigración española
a América Latina durante la época del comercio libre (1765-1820): el caso cata-
lán», BA, nº 32 (1992): 115-137; Juan Fernández Marchena, Oficiales y soldados
en el ejército de América (Sevilla: 1983); Rosario Márquez Macía, «La emigración
española en el siglo xviii a América en la época del comercio libre (1765-1824)»

181

Monárquias Ibéricas.indb 181 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Las instituciones de la monarquía


En apenas un siglo la monarquía española había adquirido un
importante imperio en el Atlántico y en el Pacífico y, desde el pri-
mer momento, cómo gobernarlo en la distancia fue el primero de
los problemas. Las comunicaciones eran difíciles y no lo era menos
reponer o cambiar las autoridades allí desplazadas, ni conocer con
exactitud lo que pasaba o actuar con la rapidez que la gravedad de
determinadas circunstancias exigía. Desde el primer momento se
tuvo claro que aquellos territorios debían ser gobernados desde
España y, en ciertos niveles de responsabilidad, por españoles. Para
ello, había que dar forma y estructura a lo que no era, en princi-
pio, más que un inmenso conglomerado de tierras y súbditos muy
diferentes, constituyendo unos poderes in situ que ejercieran en
nombre del rey las funciones básicas que en la metrópoli hacían una
serie de instituciones dirigidas a gobernar, impartir justicia, recau-
dar impuestos y defender el territorio. Pese a su carácter sustancial,
ni de la Real Hacienda en Indias, ni de la organización militar se va a
tratar en este capítulo, sino de lo relativo al gobierno y la justicia, si
bien la permeabilidad entre unas y otras y las competencias compar-
tidas forman parte sustancial no solo de la administración colonial
sino de la propia monarquía.
Con la excepción de las innovaciones introducidas en la segunda
mitad del siglo xviii, la administración española en América quedó
diseñada muy pronto en sus instituciones fundamentales, si bien
estas evolucionaron desde dentro, por la alteración de los compo-
nentes que les daban vida y, desde fuera, por la presión de las nece-
sidades fiscales y de la guerra. No siguieron tampoco un mismo
camino, por lo que lo que sucedía en México, no siempre se adap-
taba a lo que pasaba en Perú o en otros territorios60. En aquellas que
tuvieron un carácter personal, la impronta del individuo jugó un
papel importante, mientras que en las colegiadas, la práctica y los

Revista c­ omplutense de Historia de América, 19 (1993): 233-277; Carlos Martínez


Shaw, La emigración española a América (1492-1824) (Gijón: Quinta Guadalupe,
1994); Nicolás Sánchez Albornoz, Historia mínima de la población de América
latina (Madrid: Turner, 2015). Esta cuestión es asimismo analizada en el texto de
Antonio Jiménez y Francisco Andújar incluido en este volumen (cap. 11).
60
  Anthony McFarlane, War and Independence in Spanish America (New York:
Routledge, 2014).

182

Monárquias Ibéricas.indb 182 13/12/18 14:55


Prácticas de gobierno: instituciones, territorios y flujos de comunicación

­ rocedimientos marcaron su actuación. Es en ellas donde el anta-


p
gonismo peninsular/criollo se manifiesta mejor, de mano de la gran
oportunidad que supuso la venta de oficios.
No son pocas las cuestiones que esta evolución suscita, en rela-
ción con el tránsito de un régimen de conquista a un sistema juris-
diccional y, de este, hacia otro de carácter fiscal y militar, a final del
periodo61. Las formas de cooperación y «negociación» fueron claves
en un proceso de gestión política, a la vez individual y colectivo,
arbitrario y competente, entre un soberano poderoso y lejano y sus
representantes a quien esa misma distancia les dotaba de una gran
autonomía.

Las manos del rey: patronato regio, Casa de Contratación,


Consejo y Secretaría de Indias

Resuelta la vinculación de los nuevos territorios mediante su inte-


gración en el reino castellano, el segundo paso fue incorporarlos a
una estructura en construcción desde 1501, fecha en que la princesa
Juana se convirtió en heredera de los reinos de Castilla y de Aragón,
cuyo proceso de agregación culminaría con la herencia borgoñona
y flamenca que su padre legó a Carlos I y su elección como empe-
rador del Sacro Imperio Romano Germánico en 1519. En este con-
glomerado de reinos y títulos, la autoridad de la Corona castellana
sobre los territorios ultramarinos estaba confiada a dos institucio-
nes específicas de significación muy distinta: el Patronato regio y la
Casa de Contratación. A ellas se añadiría, ya con el emperador, el
Consejo de Indias. Y con la reforma del aparato institucional de la
­Monarquía a la llegada de los Borbones, otra institución de nuevo
cuño, la S
­ ecretaría de Marina e Indias.
La configuración de un aparato eclesial de nueva planta en ­América,
de acuerdo con el Patronato regio, fue una pieza decisiva de su gober-
nanza. Desde 1486, los Reyes Católicos obtuvieron de Sixto IV un
patronato restringido pero perpetuo para Granada, Canarias y Puerto
Real, que posteriormente fue ampliado por Alejandro VI en 1505.
La presentación se concedió en 1523, por Adriano VI, pero solo por

  Christopher Storrs, ed., The fiscal-military state in eighteenth-century Europe:


61

essays in honour of P.G.M. Dickson, (Farnham: Ashgate, 2009).

183

Monárquias Ibéricas.indb 183 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

el Concordato de 1753 el papa concedió al rey de España el derecho


al patronato universal, con la reserva de 52 beneficios62. Respecto al
indiano, Alejandro VI lo concedió en 1493, por la bula Inter caetera
y Julio II, en 1508, en la bula Universalis ecclesiae, incorporó el dere-
cho de presentación y accedió, en 1511, a que el monarca se aplicara
los diezmos del oro. Ya en 1518, Carlos I lo obtuvo de León X, de
modo que entre 1493 y 1518 se elaboró un cuerpo de derechos regios
de intervención inmediata del poder civil en el régimen eclesiástico
indiano, con los mismos privilegios que los portugueses63. Sobre el
patronato general y el indiano en particular, una Real Cédula de 4 de
julio de 1574 asentó sus términos, fundados en el derecho de gen-
tes y en el Canónico. Circunscrito a las Indias, era inmune, en su
calidad de contrato oneroso, según Solórzano Pereira, a la disciplina
tridentina que había derogado los derechos patronales en general64.
Era laical por ejercerlo los laicos y fundarse en bienes laicales dados
a la Iglesia por el monarca, de carácter jurídico, de tuición, por el que
los tribunales civiles podían entender en causa eclesiásticas; suponía
el derecho de presentación para todos los cargos, obediencia de los
obispos; intervención en los expolios episcopales; el derecho de veto
a los extranjeros y la posibilidad de castigo contra los eclesiásticos
insolventes65. En una palabra, el Patronato regio, concedía un enorme
poder a los monarcas españoles, no solo en forma de rentas y de con-
trol de cargos eclesiásticos, sino de poder simbólico66.
La segunda institución establecida para las Indias fue la Casa de
Contratación, creada en 1503. Instalada en el Alcázar sevillano, era

62
  Feliciano Barrios, El sistema beneficial de la iglesia española en el Antiguo régi-
men (1474-1834), (Alicante: Universidad, 2010).
63
 Ismael Sánchez Belda, Iglesia y estado en la América española (Pamplona:
EUNSA, 1990), 22-25.
64
  Carmen Sánchez Maíllo, El pensamiento jurídico político de Juan Solorzano
Pereira (Pamplona: Universidad, 2010); James Muldoon, The Americas in the ­Spanish
World Order. The Justification for Conquest in the Seventeenth Century (­Filadefia:
University of Pennsylvania Press, 1994).
65
  Ismael Sánchez Bella, Iglesia y estado en la América española …, 71-74; Sobre
su evolución: Consuelo Maqueda Abreu, «Evolución del patronato regio. Vicariato
indiano y conflictos de competencias», en El gobierno de un mundo. Virreinatos y
Audiencias en la América hispánica, coord. Feliciano Barrios (Cuenca: Ediciones de
la Universidad de Castilla-La Mancha: 2004), 795-830.
66
  Víctor Mínguez, Los reyes distantes. Imágenes del poder en el México virreinal
(Castellón: Universidad, 1995).

184

Monárquias Ibéricas.indb 184 13/12/18 14:55


Prácticas de gobierno: instituciones, territorios y flujos de comunicación

una verdadera oficina comercial, cuyo modelo era la portuguesa Casa


da Guiné e Mina, fundada en Lagos y trasladada a Lisboa en 1482
con el nombre de Casa da India67. Sin embargo, fue voluntad de la
Corona dejar en manos privadas el comercio trasatlántico, por lo que
su función se centró en la gestión del tráfico comercial y en el con-
trol de personas y mercancías que intervenían en él. Controló, por lo
tanto, la emigración al Nuevo Mundo, las excepciones a las prohibi-
ciones establecidas sobre el paso de extranjeros y actuó de tribunal
de justicia en materia de navegación, y, desde 1508, se convirtió en la
primera institución oficial de conocimiento náutico, con escuela de
pilotos y sección cartográfica
Fue el único órgano ejecutivo de la administración de las Indias,
hasta la creación del Consejo de Indias en 1524, del que pasó a
depender. A partir de entonces, sus competencias se fueron redu-
ciendo, al traspasarse al Consejo de Hacienda la administración de
las rentas reales de las Indias y ceder a la jurisdicción del Consulado
de Sevilla, creado en 1543, gran parte de los pleitos comerciales en
los que, hasta entonces, intervenía. El papel del Consulado que, en el
siglo xvii se hizo con los asientos de la avería y paso a controlar la
navegación a Indias, condicionó la evolución de la Casa.
En 1552, el Consejo fijó su plantilla; en 1579, se le dotó de un pre-
sidente, elegido entre los consejeros de Indias, cargo que, en 1597,
por decisión del monarca, debía ser ejercido por un caballero de capa
y espada no perteneciente al Consejo68. A lo largo del siglo xvii, la
Casa se vio afectada por tres problemas diferentes: el primero era su
funcionamiento interno, ya que una parte importante de sus oficiales
tenían intereses propios en al ámbito de su jurisdicción, se beneficia-
ban de las rentas que gestionaban o, incluso, intervenían en nego-
cios clandestinos, convirtiendo un organismo intermediario entre la
monarquía y los súbditos, en un instrumento de gestión al servicio de

67
  Mariano Cuesta Domingo, La Casa de Contratación de Sevilla (Madrid: Inst.
de Historia y Cultura Naval, 2001); Clarence H. Haring, Comercio y navegación
entre España y las Indias en época de los Habsburgo (México: Fondo de Cultura
Económica, 1979), 34-41; Antonio Miguel Bernal, «La Casa de la Contratación de
Indias: del monopolio a la negociación mercantil privada (siglo xvi)», en La Casa de
la Contratación y la Navegación entre España y las Indias, eds. Enriqueta Vila Vilar,
Antonio Acosta y Adolfo L. González (Sevilla: CSIC, 2004), 129-160.
68
  Ernesto Shäfer, El consejo real y supremo de Indias, volumen 1, (Madrid: Junta
de Castilla y León/Marcial Pons, 2003), 152-161.

185

Monárquias Ibéricas.indb 185 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

intereses particulares, sin que las visitas, y algún escarmiento, logra-


ran cortar estas prácticas69; el segundo tenía que ver con la provisión
de la presidencia, sujeta al favoritismo del valido, situación que no
cambió cuando se estableció un régimen de alternancia entre toga-
dos y caballeros; el tercero era debido a las restricciones que tuvo el
Consejo a la hora de hacer nombramientos, ya que se hicieron por
decreto del rey y a través de la compra de futuras, hasta el punto que,
en los años noventa, llegó a haber hasta cuatro personas esperando
una vacante. Lo cual hizo que, tanto estas plazas como las que no
entraban en este régimen, se convirtieran en hereditarias. Su plantilla
llegó a alcanzar los 110 individuos, lo que obligó al Conde de Oro-
pesa, en 1691, a reducirla70.
El 12 de mayo de 1717 Felipe V ordenó el traslado de la Casa de
Contratación a Cádiz y también del Consulado de Sevilla. La medida,
tomada por Alberoni, vino precedida del nombramiento del almi-
rante Andrés de Pez como gobernador del Consejo de Indias, y el de
Patiño como intendente general de Marina y presidente de la Casa de
Contratación. Los comerciantes sevillanos protestaron y aún con-
siguieron una rectificación de la medida, que no se produjo. Hasta
1790 siguió cumpliendo con sus funciones, si bien muy mermadas
por el Reglamento de Comercio libre de 177871.
La tercera institución fue el Real y Supremo Consejo de Indias,
el órgano más importante de la administración indiana que aseso-
raba al rey en materia ejecutiva, legislativa y judicial. Formado en
1511 como una sección dentro del Consejo de Castilla, en 1524
alcanzó entidad propia y poco después se convirtió en la jurisdicción
suprema para los litigios civiles y penales de las Indias. Sus primeras
Ordenanzas se promulgaron en 1542 y fueron incluidas en las Leyes
Nuevas. Reformadas en 1571, entonces se introdujo la figura del cro-
nista en la persona de Juan López de Velasco, que puso en marcha

69
 Carlos Álvarez Nogal, «Instituciones y desarrollo económico: la Casa de
Contratación y la Carrera de Indias (1503-1790)», en Enriqueta Vila, Antonio
Acosta y Adolfo L. González, La Casa de la Contratación…, 21-51.
70
  Ernesto Shäfer, El consejo real y supremo de Indias…, 308-315.
71
  Ana Crespo, La Casa de Contratación y la Intendencia General de Marina en
Cádiz (1717-1730) (Cádiz: Servicio de Publicaciones de la Universidad de Cádiz,
1996); Manuel Bustos, «El traslado de la Casa de Contratación y del Consulado de
Indias y sus efectos en el contexto de la nueva planta de la Marina y del comercio
americano», Studia Histórica. Historia Moderna, nº39/2, (2017): 115-152.

186

Monárquias Ibéricas.indb 186 13/12/18 14:55


Prácticas de gobierno: instituciones, territorios y flujos de comunicación

las Relaciones Geográficas. Sin sede fija bajo el emperador, se reunía


todas las semanas con el rey para el trámite de la consulta. Estaba
compuesta por un presidente y un número variable de consejeros,
entre 5 a 7 con Carlos V y de 9 a 10 con Felipe II, que solían ser
letrados y tener conocimientos o experiencia directa en las Indias.
Además había un fiscal, dos secretarios, del Perú y de Nueva España,
un Gran Canciller, encargado de custodiar el sello real, y una serie
de oficiales de distinto tipo, además de astrónomo, cosmógrafo, cro-
nista o guionista mayor de Indias.
Sus competencias, en materia de gobierno temporal, eran amplias,
ya que le correspondía toda la administración de las Indias, debiendo
presentar al Rey las políticas relativas al Nuevo Mundo, organizar
administrativamente el territorio y proponer los nombres de las per-
sonas adecuadas para los cargos americanos. También dictaba medi-
das de probidad administrativa y nombraba Jueces de Residencia.
Le correspondía autorizar los libros que podían embarcarse, regular
y autorizar el flujo de pasajeros y, desde 1614, autorizar la aplica-
ción de la legislación castellana en las Indias, así como examinar la
legislación originada en América y dar su aprobación o rechazo. Así
mismo, elaboraba las normas dictadas por el rey, como Reales Cédu-
las o Reales Provisiones.
En relación con el «gobierno espiritual», era el brazo ejecutor del
patronato regio, por lo cual, a través suyo, se ejercía el derecho de
presentación; se creaban nuevos Obispados; se revisaban las Bulas
papales, para darles el pase regio o Exequatur. Igualmente examinaba
las disposiciones de la Iglesia en América y los Sínodos, ya que estos
no se cumplían sin su aprobación.
El Consejo de Indias era el más alto tribunal en América,
actuando en todo como el Consejo de Castilla. Su sala de justicia
estaba integrada por ministros letrados. También tenía competencia
sobre delitos ocurridos en la carrera de Indias, los fiscales o los de
contrabando, y conocía las apelaciones en lo civil y las de los Juicios
de residencia72.
Durante el reinado de Felipe III hubo cambios en su funciona-
miento, pero sobre todo, en el Consejo entraron los afines al duque
de Lerma. La más importante innovación fue la creación de la Cámara
de Indias, compuesta por el presidente y tres consejeros, al modo de

72
  Ernesto Shäfer, El consejo real y supremo de Indias… 53-60 y 130-136.

187

Monárquias Ibéricas.indb 187 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

la Cámara de Castilla. Fue suprimida en 1609. También se crearon


dos juntas, la de Guerra y la de Hacienda, en las que se integraban
miembros de los respectivos consejos. El conde duque de Olivares,
para quien Felipe IV resucitó el nombramiento de Gran Canciller de
Indias, se interesó por esta institución y le dio nuevas ordenanzas en
1636. Durante los 44 años del reinado se nombraron 78 consejeros,
21 de los cuales eran de capa y espada, lo que redujo la proporción de
letrados en la plantilla73.
Los consejeros de Indias solían rotar por otras instituciones.
De los 39 nombrados por Felipe II, la mayoría procedía de las universi-
dades de Valladolid y Granada y 14 fueron promovidos al ­Consejo de
Castilla. Con Felipe III, durante la presidencia del conde de Lemos,
sobrino de Lerma, no solo se nombró a juristas, sino que se buscó
a personas con experiencia en asuntos americanos, como fue el caso
de Juán de Solorzano, que fue fiscal. Los 10 presidentes que hubo
en el siglo xvi salieron todos a un puesto superior. La mitad fueron
eclesiásticos y solo uno había desempeñado un cargo en A ­ mérica.
De los 14 que se sucedieron hasta final del siglo xvii, ninguno era
eclesiástico, 13 llevan título, 5 pasaron a desempeñar virreinatos, 2 la
presidencia del Consejo de Castilla, otros 2 la de los Consejos de
Italia y Aragón, proviniendo 5 de otros consejos y uno del cargo
de capitán general de Artillería. De todos, solo Juan de Villela había
desarrollado su carrera en América como alcalde del crimen y oidor
en Lima y presidente en la Audiencia de Guadalajara74.
Ya asegurada la Corona de España, tras la firma de la paz de Utrecht,
Felipe V puso en marcha nueva forma de gobernar. Un decreto de 10 de
noviembre de 1714 transformó la planta del Consejo de Indias, aumen-
tando a 3 sus presidentes y estableciendo 20 consejeros, 10 letrados y
10 de capa y espada, aumentado a 3 los secretarios, entre otros cambios.
Al mismo tiempo, para resolver la situación financiera se creaba una
Junta, formada por 3 consejeros de Indias y 3 de Hacienda y presidida
por uno de los de Hacienda. La creación de la Junta provocó la protesta
del Consejo, pero la voluntad del rey fue que “en esta planta y regla se
uniformen en él todos los tribunales de la corte”75.

73
  Ernesto Shäfer, El consejo real y supremo de Indias… 197-220.
74
  Ernesto Shäfer, El consejo real y supremo de Indias… 333-335 y 418.
75
  Gildas Bernard, Le secrétariat d’Etat et le Conseil espagnol des Inds, (Ginebra­-
-París: Éditeur Librairie Droz, 1972), 6-10.

188

Monárquias Ibéricas.indb 188 13/12/18 14:55


Prácticas de gobierno: instituciones, territorios y flujos de comunicación

La reforma de los consejos fracasó y Felipe V ordenó volver a


la antigua planta por un Real Decreto de 5 de agosto de 1715. Los
consejos sobrevivieron durante una centuria, pero sus fundamen-
tos, los propios de una monarquía jurisdiccional y agregativa, habían
dejado de tener vigencia. Aunque debilitados, seguían siendo nece-
sarios para la administración de justicia en sus respectivos ramos y la
regularización de los nombramientos o las jurisdicciones específicas.
El número de los consejeros creció, llegando, en el caso de Indias, a
23, lo cual no evitó la presencia de supernumerarios. Desde 1715 su
presidencia volvió a ser única y dependió de la secretaría de Indias76.
El nombramiento en 1717 de Andrés de Pez como presidente, hecho
por Alberoni, refleja bien la estrecha relación entre ambas institucio-
nes, ya que en 1721 pasó a ocupar la Secretaría de Marina e Indias.
Activo colaborador de Patiño en la creación de la Superintendencia
de Marina y el traslado de la Casa de Contratación a Cádiz, man-
tuvo las competencias relativas a todo lo contencioso y judicial y al
gobierno municipal, las licencias para pasar a América y el patronato
regio77. En mayo de 1747, un decreto de Fernando VI separó for-
malmente del Consejo todo lo relativo a finanzas, comercio y nave-
gación, y estableció que, como venía haciéndose desde 1721, fuera
por la vía reservada. La expedición de los nombramientos para las
plazas de justicia en Indias, una vez consultadas, era competencia de
su Cámara, que también intervenía en la presentación para cargos
eclesiásticos. Siguió teniendo a su cargo tanto la inspección como la
preparación de la armada, administrando las minas de Almadén y el
transporte del mercurio a Cádiz, aunque la financiación de las mis-
mas corría a cargo de la Secretaría, a través de la Pagaduría Mayor78.
Según sostiene García Pérez, el Consejo de Indias conoció una
revitalización durante los reinados de Carlos III y Carlos IV, que
le llevó a jugar un papel importante en la política reformista en
­América. Un Real Decreto de 29 de julio de 1773 lo constituyó en
tribunal de término, con rango similar al de Castilla, inclinándose a

  José Antonio Escudero. Los Secretarios de Estado y del Despacho (1474-1724)


76

(Madrid: Instituto de Estudios Administrativos, 1969), t. I, 307.


77
  Gildas Bernard, Le secrétariat d’Etat et le Conseil espagnol des Indes…, 8-10;
Rafael García Pérez, «El Consejo de Indias en la Corte de Felipe V. Lógica Jurídica y
Lógica Política en el Gobierno de América» en El gobierno de un mundo. Virreinatos
y Audiencias en la América hispánica…, 167-202.
78
  Gildas Bernard, Le secrétariat d’Etat et le Conseil espagnol des Indes…, 15-17.

189

Monárquias Ibéricas.indb 189 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

la hora de los nombramientos por quienes contaban con una cierta


experiencia en las audiencias americanas. También la Contaduría de
Indias, organismo dependiente del Consejo y fiscalizador de la Real
Hacienda indiana, aumentó su influencia, gracias a la presencia de
personajes como Felipe de Altolaguirre, Tomás Ortiz de Landázuri o
Francisco Machado, interesados y bien informados sobre la realidad
americana. No se modificaron, sin embargo, sus Ordenanzas, que
databan de 1636, y la junta que se creó en 1790, se disolvió en 1802
sin promulgar nada79.
Tras la Guerra de Sucesión, la creación de las Secretarias de Estado
y del Despacho cambió sustancialmente la forma de gobierno de la
monarquía española. Sobre la base de la antigua del Despacho uni-
versal, un Real Decreto de 30 de noviembre de 1714 estableció qua-
tro secretarías del despacho, encargadas de los negociados de Estado,
Asuntos Eclesiásticos y Justicia, Guerra y Marina e Indias y se nom-
bró a un veedor general para las cuestiones de Hacienda, cargo éste
que detentó Orry, inspirador de la medida. La disposición fue comu-
nicada a todos los consejos para que remitiesen los asuntos a los
secretarios de su misma competencia. A los recién nombrados, se les
dotó de una oficina específica, organizada según el doble criterio de
jerarquía y afinidad80. Al contrario que la reforma de los Consejos,
las secretarias se mantuvieron, aunque hasta los decretos de 1754 no
se fijaran sus competencias en un reglamento.
El establecimiento de las secretarías planteó varios problemas
de carácter político y, también, cuestionó el modelo territorial de
la monarquía, especialmente respecto al gobierno de América.
En efecto, la unidad o dispersión de los asuntos indianos no era una
mera cuestión administrati­va, sino que afectaba al modelo de rela-
ción entre la metrópoli y las colonias, por ello la creación de una

79
  Rafael García Pérez, El Consejo de Indias durante los reinados de Carlos III y
Carlos IV (Pamplona: EUNSA, 1998); Rafael García Pérez, «Las nonatas Ordenan-
zas del Consejo de Indias de Carlos IV», Anuario de estudios Americanos, nº 56/2
(1999): 651-672.
80
  María Victoria López-Cordon, «Instauración dinástica y reformismo admi-
nistrativo : implantación del sistema ministerial», Manuscrits nº 18 (2000): 99; María
Victoria López-Cordón, «Les nouveaux commis: le secrétariat d’État de Grâce et
Justice» en Les figures de l’administrateur. Institutions, réseaux, pouvoirs en Espagne,
en France et au Portugal, 16e – 19e siècles, eds. Robert Descimon, Jean­-Frédéric
Schaub y Bernard Vincent (París: Editions de l’EHESS, 1997), 202-206.

190

Monárquias Ibéricas.indb 190 13/12/18 14:55


Prácticas de gobierno: instituciones, territorios y flujos de comunicación

secretaría de igual título que el Consejo respondía al deseo de no


alterar el antiguo sistema.81 La unión con Marina, entre 1721 y 1754
y desde 1763 hasta 1787, era consecuencia del peso que tenían las
Indias en la política defensiva de la monarquía y de la necesidad impe-
riosa de una escuadra para su defensa. Pero resultó difícil una separa-
ción nítida respecto a las de otros departamentos, especialmente con
Hacienda, arreciando las críticas contra los inconvenientes de que
las Indias se gobernaran «como reino aparte». Se fueron definiendo
dos soluciones: dividir la Secretaría de Indias en dos, ya fuera por
materias o por territo­rios, y distri­buir sus competencias entre las
restantes. Esa fue, por ejemplo, la opinión de Floridablanca, parti-
dario de que cada secretario dirigiese los mismos asuntos, «tanto en
Europa como en Indias». Pero la medida, al diluir la especificidad
legislativa, resultaba demasiado radical, por lo que, a la muerte de
Gálvez, y como conse­cuencia de la libertad de comercio, se optó por
crear dos departamentos, uno de Gracia y Justicia y otro de Guerra,
Hacienda, Comercio y Navegación de Indias. En 1790 la balanza se
inclinó a favor de la asimilación, y así se hizo, pero solo en la direc-
ción ya que las oficinas nunca se fundieron82. Mientras, los asuntos
propiamente internos se trataban en Consejo, y así siguió hasta su
disolución en época de José I. Un decreto de 6 de febrero de 1809
atribuía la «gobernación universal» de los dominios en América y
Asia a un Ministerio de Indias que resultó inoperante. Por su parte,
la Constitución de 1812 estable­ció una fórmula parecida: integró en
Marina y Guerra los asuntos relativos a estas materias y creó una
secretaría de Gobernación de Ultramar, con funciones de adminis­
tración, economía, fomento y también evangeliza­ción83.

81
  Gildas Bernard, Le secrétariat d’Etat et le Conseil espagnol des Indes…; José
de Campillo, Inspección de las seis Secretarías de Estado y calidades y circunstan-
cias que deben concurrir en sus respectivos secretarios (1739), Biblioteca Nacional de
España, ms. 10849, publicado parcialmente por José Antonio Escudero, Los orígenes
del Consejo de Ministros. La Junta Suprema de Estado (Madrid, Editora Nacional,
1979), vol. 1, 122.
82
  M. A. Pérez Canal, «Las Secretarías de Estado y del despacho de Gracia y
Justicia de Indias (1808-1834)», Historia. Instituciones. Documentos, nº 17 (1990):
183-194.
83
  Álvaro Flórez Estrada, Examen imparcial de las disensiones de la América con
España..., (Londres: s.n., 1811), 23; María Teresa Berruezo, La participación ameri-
cana en las Cortes de Cadiz (1810-1814), (Madrid: Centro de Estudios Constitu-
cionales, 1986).

191

Monárquias Ibéricas.indb 191 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Durante todo el periodo, el rey seguió siendo el regulador del sis-


tema de la gracia y el dispensador de los cargos y honores, una forma
de recompensar los servicios que las oligarquías urbanas o financie-
ros y los hombres de negocios le prestaban84. Desde luego que la
venalidad, el clientelismo o el favor son realidades que no pueden
soslayarse porque constituyeron los verdaderos nervios de la admi-
nistración americana85. Pero bajo esta realidad también subyace un
creciente dinamismo interno que hace que estos cuerpos de magis-
trados, oficiales o militares se vayan transformando en el ejercicio
del oficio, regulen sus jerarquías internas y establezcan sus propios
límites a la arbitrariedad.
Los consejeros tenían muchos rasgos comunes: edad más que
mediana, dilatada trayectoria profesional, prestigio derivado de su
categoría social y de valía personal e, incluso, un lenguaje común.
Contó con pocos eclesiásticos, pero con un 25% de colegiales86.
Entre los muchos cambios que afectaron a este organismo en la
segunda mitad del siglo xviii, en que por Real Decreto de 1773 se le
declaraba como tribunal de término modificó su sistema de selección
y, en opinión de Burkholder, favoreció el nombramiento de sujetos
más idóneos y mejor preparados, figurando en sus salas cada vez
más a magistrados provenientes de las Audiencias americanas, que
aportaban su experiencia en asuntos ultramarinos y veían así cumpli-
das sus las expectativas de su carrera con la promoción al Consejo87.
Según García Pérez, sobre los 46 ministros togados que hubo entre
1773 y 1808, solo 7 no habían ejercido ningún cargo en Indias, y del

84
 Jean-Pierre Dedieu, Après le roi: essai sur l’effondrement de la Monarchie
Espagnole, (Madrid: Casa de Velázquez, 2010), 14-16; Jean-Pierre Dedieu y Andoni
Artola, «Venalidad en contexto: Venalidad y convenciones políticas en la España
Moderna», en El poder del dinero. Venta de cargos y honores en el Antiguo Régimen,
eds. Francisco Andújar y Maria del Mar Felices, (Madrid: Biblioteca Nueva, 2011),
29-45.
85
  Francisco Andújar, «Los contratos de venta de empleos en la España del Anti-
guo Régimen», en El poder del dinero. Venta de cargos y honores en el Antiguo Régi-
men…, 63-84.
86
  Mark A. Burkholder, Biographical Dictionary of Councilors of Indies (1717-
-1808) (Connecticut: Greenwood Press, 1986), 122-123.
87
  Mark A. Burkholder, Biographical Dictionary of Councilors of Indies…, XV;
María Ángeles Gálvez Ruiz, «Demanda de plazas en el Consejo de Indias. Méritos
y servicios para la promoción para la carrera judicial», Chronica Nova, nº 35 (2009):
311-331; Rafael García Pérez, El Consejo de Indias…, 23.

192

Monárquias Ibéricas.indb 192 13/12/18 14:55


Prácticas de gobierno: instituciones, territorios y flujos de comunicación

resto, 25 ­procedían de las Audiencias indianas, 2 habían desempe-


ñado funciones de visitador general, 6 procedían de la Casa de la
­Contratación, 5 venían de tribunales peninsulares y otro había sido
intendente en Cuba. De un total de 83 consejeros, incluyendo los
de capa y espada, 47 habían vivido algún tiempo en América, de los
cuales 39 habían pasado más de diez años en aquellas tierras, aunque
sólo 28 llegaron a servir efectivamente en el Consejo, ya que el resto
eran ministros honorarios88.
Cohesionados por la autoridad del secretario, los oficiales que
componían la oficina de Marina e Indias también tuvieron un perfil
propio. En la parte correspondiente a Marina, la presencia de milita-
res y marinos fue cada vez mayor, mientras que los oficiales que lo
eran de Indias, que manejaron también asuntos de Marina, a partir de
1754 debieron especializarse en uno u otro negocio. A partir de esta
última fecha y hasta 1787, durante el mandato de Gálvez, la oficina se
multiplicó hasta llegar a contar 19 oficiales, debido a que algunos de
ellos servían por comisión en las secretarías de los virreinatos ameri-
canos, con lo cual debían ausentarse durante cierto tiempo. En 1790,
al desaparecer este despacho, los oficiales de la de Gracia y Justicia
de Indias pasaron a la general de igual título, mientras que los de la
extinta de Hacienda, Guerra y Navegación se dividieron entre los
departamentos afines. Elegidos por el titular de la secretaría, se les
exigía requisitos específicos, como que fuesen «sujetos peritos en el
gobierno del Nuevo Mundo», y la conveniencia de que conociesen el
derecho indiano89. Según datos aportados por Margarita Gómez, más
de la mitad habían estado antes en contacto previo con el gobierno
de Ultramar, en instituciones peninsulares relacionas con esos terri-
torios o desempeñado algún cargo allí, bien en la secretaría de algún
virreinato o en otros puestos. La experiencia indiana disminuyó en
la segunda mitad del siglo, aumentando, sin embargo, los expertos
en historia y derecho indiano, como Ayala o Cerdá y Rico90.

  Rafael García Pérez, El Consejo de Indias…,131-133. Según datos tomados de


88

Mark A. Burkholder, Biographical Dictionary of Councilors of Indies…y del Archivo


General de Indias.
89
  Escudero lo atribuye a Joseph Méndez del Yermo. José Antonio Escudero,
Los orígenes del Consejo de Ministros…vol. I, 243.
90
  Margarita Gómez Gómez, Forma y expedición del documento en la secretaría
de Estado y del despacho de Indias (Sevilla: Universidad, 1993), 90-96.

193

Monárquias Ibéricas.indb 193 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Los agentes de la monarquía: virreyes, audiencias,


corregidores, intendentes

Gobernar desde la corte territorios distantes no era sencillo y


nada podía hacerse si no se contaba con personas e instituciones que
pusieran en práctica disposiciones que, desde Sevilla o de Cádiz, se
enviaban, bien custodiadas, hacia América o las Filipinas. De aquí que
los agentes in situ fueran elemento decisivo para el gobierno. ¿Cuán-
tos? ¿De qué clase? ¿Con qué capacidad de acción? Los puestos más
significativos, nombrados por la Corona, no llegaban a 4000 en 1645,
algo menos que las autoridades eclesiásticas que alcanzaban esa cifra,
pero los cargos intermedios, nombrados en su mayoría por los virre-
yes y las audiencias multiplicaban esa cifra con grandes diferencias
entre unos territorios y otros. La venalidad los incrementó aún más,
aunque, si bien relajó los lazos entre el rey y sus agentes, también
contribuyó a tupir la malla excesivamente abierta de una administra-
ción que convirtió la negociación en un arma de supervivencia.
La organización territorial indiana quedó configurada en 1570
y hasta el siglo xviii, con los Borbones, no experimentó cambios
significativos, pero sí modificaciones en sus delimitaciones por la
agregación de territorios o la reconfiguración de otros. La primera
autoridad indiscutible era el virrey, el alter ego del rey, una institución
que respondía perfectamente al paradigma de la monarquía de los rei-
nos. El título fue concedido por primera vez a Cristóbal Colón en las
Capitulaciones de Santa Fe y reafirmado con una Real Cédula del 28
de mayo de 1493, aunque, en realidad, no actuó como gobernador.
En 1511, su hijo Diego Colón consiguió del Consejo de Indias el
reconocimiento de las concesiones hechas a su padre, pero pronto
fue destituido. Desde entonces no volvió a haber virreyes hasta 1534,
en que se nombró a Antonio de Mendoza (1535-1550) para serlo de
Nueva España. Era una forma de afirmar la presencia regia, pero tam-
bién de acabar con las disputas en el seno de la Audiencia de México,
tal y como había solicitado el obispo Fr. Juan de Zumárraga. Por ello,
además de gobernador, fue presidente de la Audiencia y, después de la
muerte de Cortés, capitán general, pero a título personal.
El territorio sobre el que extendía su autoridad abarcaba desde el
Caribe al Oceáno Pacífico, incorporando en 1572 la Nueva Galicia
y la gobernación de Nueva Vizcaya; es decir, se extendía de Texas a
Guatemala. En un primer momento comprendía dos audiencias, la de

194

Monárquias Ibéricas.indb 194 13/12/18 14:55


Prácticas de gobierno: instituciones, territorios y flujos de comunicación

Santo Domingo y la de México, a las que se añadieron las de Guate-


mala, Guadalajara y, ya en 1582, la de Manila. En la circunscripción
novo hispana hubo también tribunal de Consulado y otro de minería,
un arzobispo y ocho obispos, y, ya a finales del periodo, el territorio
quedó dividido en 12 intendencias y 3 provincias. Según describió
Humboldt, existían cuando lo visitó, 254 conventos y 1073 cabildos.
El segundo virreinato, el del Perú, abarcaba la parte española de
América del sur, incluido Panamá desde 1571. Solo se estabilizó bajo
el mandato del virrey D. Francisco de Toledo que creó un marco
administrativo y convirtió el Perú en un gran centro productor
de plata. Llegó a tener 6 audiencias en el siglo xvi, Panamá, Lima,
Santa Fe de Bogotá, Charcas, Quito y Chile, a las que se añadió la
de ­Buenos Aires, brevemente entre 1661 y 1672, la de Caracas en
la Capitanía general de Venezuela, y la de Cuzco en 1787 al pasar
­Charcas a formar parte del virreinato del Rio de la Plata. También
tuvo arzobispo, 5 obispados, Tribunal del Santo Oficio y, ya en la
segunda mitad del siglo xviii, 8 intendencias.
Las directrices de la Junta Magna de 1568 establecían que la
misión principal del virrey era consolidar el dominio en las Indias.
Desde el punto de vista territorial, cada virreinato comprendía un
cierto número de gobernaciones, en las que se ayudaba de un teniente
letrado que actuaba de juez. En algunas, el gobernador era también
capitán general, con poderes militares autónomos. Hubo 34 gober-
naciones en América y una en Filipinas, en muchas de las cuales la
subordinación al virrey era casi nominal. Este ejercía un “gobierno
superior” que consistía en controlar e intervenir si lo requerían las
circunstancias, informar al Consejo de cuanto sucediera, cubrir las
vacantes hasta que llegara el nombramiento del monarca y elevar las
ternas de los obispos para los nombramientos eclesiásticos. Todo
bajo el relativo control de las audiencias que debían evitar cualquier
extralimitación de poder.
Durante el siglo xvi el cargo estuvo ejercido por miembros de la
alta nobleza, pero en la centuria siguiente abundaron los caballeros
de «capa y espada». Felipe II estableció que su desempeño durase
tres años, prorrogables, como fue el caso de D. Francisco de Toledo
que estuvo doce. Además, el pasar de un virreinato a otro fue relati-
vamente habitual. Desde 1614, era también capitán general. En mate-
ria de hacienda, su autoridad era limitada, ya que eran los oficiales
reales, junto a los tribunales de cuentas, los competentes. El virrey

195

Monárquias Ibéricas.indb 195 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

era, también, vicepatrono de la Iglesia indiana, pero los tribunales


inquisitoriales dependían directamente del Consejo.
Su presencia tenía un alto valor simbólico, desde el pautado
ritual de las llegadas de los virreyes, hasta el esplendor de lo que era
una verdadera corte91, ya que, como decía Solórzano, contribuían a
estructurar y comunicar territorios y, también, a «ennoblecerlos».
Como el resto de los funcionarios reales estaban sometidos a múlti-
ples controles y, al final del mandato, a juicio de residencia.
La creación de virreinatos y sus diferencias respecto al modelo
aragonés se han solido entender como expresión de una praxis admi-
nistrativa que trataba de fortalecer las atribuciones de los organismos
situados en la periferia mediante un cierto equilibrio de competen-
cias de gobierno y justicia, de tal manera que, mientras los virreyes
aragoneses tenían poderes tanto en la esfera administrativa como
en la judicial, los americanos se caracterizaban por su actividad «de
gobierno». Variación que tenía por objeto garantizar que ningún
poder prevaleciera demasiado en aquellos reinos. Cada audiencia
representaba la persona y la autoridad del rey en la esfera jurídica,
tomaba decisiones en su nombre y utilizaba el sello real; una duali-
dad de autoridad que se evidenciaba en los ceremoniales y actos de
carácter público y político en que participan, y a nivel simbólico.
¿Puede considerarse la monarquía española como en ocasiones se ha
escrito de Monarquía de los virreyes? Dada su estructura regnícola y
la voluntad expresa de la presencia continua del Rey en sus Reinos
a través de un alter ego, podría decirse que sí, pero la cuestión es
más compleja si tenemos en cuenta que, en el conglomerado de la
monarquía española, el reino y no el gobierno es la clave de la unión.
La creación del Virreinato de Nueva Granada en 1717 tuvo como
consecuencia inmediata la supresión de la Audiencia de Quito. Duró
solo hasta 1721, pero en 1739 volvió a restablecerse, invocando el
buen gobierno de los indios, la atención a las plazas de Cartagena y
Santa Marta y la necesidad de estimular el desarrollo de las provin-
cias que comprendía. Su territorio se extendía de Costa Rica al río
Darién, y constaba de 8 provincias, 1 arzobispado y 7 obispados.
Entre sus provincias estaba la de Venezuela que, en 1742, pasaría a
depender de la Audiencia de Santo Domingo y, en 1776, obtendría

  John H. Elliott, Imperios del mundo atlántico España y Gran Bretaña en Amé-
91

rica, 1492-1830…, 200.

196

Monárquias Ibéricas.indb 196 13/12/18 14:55


Prácticas de gobierno: instituciones, territorios y flujos de comunicación

una propia y se independizaría del virreinato como capitanía general.


También Panamá, cuya audiencia fue suprimida, pasando su juris-
dicción a Lima, se convirtió en 1751 en la Comandancia General de
Tierra Firme, con la misma extensión que tenía la antigua audien-
cia. En 1776 se creó por Real Orden de Carlos III y a propuesta
de su ministro Gálvez, el Virreinato del Río de la Plata, con capital
en Buenos Aires, distribuido en 8 intendencias, 4 gobernaciones y
varias comandancias militares, dados sus muchos frentes abiertos.
Su límite, al este, fue la discutida zona brasileño-platense.
Respecto a las audiencias, han sido consideradas durante mucho
tiempo como el elemento clave de la burocracia de la monarquía
española en América. Entre 1511 y 1583 se fundaron 12 audiencias y,
en 1528, las Ordenanzas precisaron su organización y competencias.
La primera establecida fue la de Santo Domingo, en 1511, durante la
gobernación de Colón, y la última la de Manila, en 1583. Ya en el xvii
lo fueron, en 1606, la de Santiago de Chile y en 1661 la de Buenos
Aires y en el xviii, en 1786, la de Caracas y 1787 la de Cuzco, trasla-
dándose la de Santo Domingo a Puerto Príncipe en 1797. No la hubo
en Cuba hasta 1831, con sede en La Habana.
Mientras en la Península las audiencias eran tribunales de justi-
cia, en América juegan un papel político y administrativo e, incluso,
económico de gran importancia. Constituyeron una organización
colegial, formada por 4 o 5 oidores, que al disponer de sello obraban
como una chancillería y que tenían, además de sus funciones judi-
ciales, otras consultivas y gubernativas. Las de México y Lima esta-
ban presididas por el virrey, pero las de Nueva Granada, Guatemala,
Manila y Santo Domingo, que era capitanías generales, gozaban de
gran autonomía y podían dirigirse directamente al rey. Como los
virreyes, sus oidores estaban sometidos al régimen de visitas y al jui-
cio de residencia. Su presidencia recaía en españoles, pero el ascenso
de criollos fue constante92.

92
  Tomas Polanco Alcántara, Las Reales Audiencias en las provincias americanas
de España (Madrid: Mapfre, 1992); Guillermo Lohmann, Los ministros de la audien-
cia de Lima (Sevilla: Estudios Americanos, 1974); John Fisher, El Perú Borbónico
(1750-1824) (Lima: Instituto Estudios Históricos, 2000); Pilar Arregui Zamorano,
La Audiencia de México según los visitadores (siglos xvi y xvii) (México: Universidad
Nacional Autónoma de México, 1981); Ethelia Ruiz Medrano, Gobierno y sociedad
en Nueva España: segunda audiencia y Antonio de Mendoza, (Zamora: El Colegio de
Michoacán, 1991).

197

Monárquias Ibéricas.indb 197 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

A partir de 1540, y de forma más sistemática de 1570 en Nueva


España, a medida que las encomiendas de conquistadores fueron des-
apareciendo, el poder real intentó hacerse más presente en el poder
local a través de corregidores y alcaldes mayores, nombrados por
los virreyes y gobernadores, excepto en las ciudades más importan-
tes, que lo eran por el rey. Su jurisdicción se extendía por un amplio
territorio con funciones de gobierno y justicia. También intervenían
en la recaudación de impuestos, proporcionaban ayuda militar si era
necesaria y tenían funciones de policía, en el sentido de atención a la
economía y al cuidado de lo común. Eran los llamados corregidores
de ciudades o de españoles, con funciones muy parecidas a las que
tenían en Castilla. Eran superiores a los alcaldes mayores y, en tanto
que gobernadores, a los cabildos que presidían. Como el resto de
los oficiales reales, debían jurar fidelidad y hacer el inventario de sus
bienes al tomar posesión y estaban sujetos al «juicio de residencia»
al final del mandato.
En las zonas rurales, donde la población era mayoritariamente
india, en torno a 1530 y en México, se crean los llamados corregi-
dores de indios, diferenciados de los españoles ya existentes. No se
extendieron a Perú hasta mediada la centuria y se estima que debió
haber unos 100. Ejercían su autoridad en los lugares o reducciones
donde se habían ido reagrupando, haciendo las veces de gobernado-
res93. Debían proteger a la población, atender sus demandas y evitar
que sus reclamaciones llegaran a las audiencias, actuando como jueces
in situ. Como funcionario real, el corregidor recibía un sueldo que
dependía de la capacidad impositiva de la provincia en que residía,
no podía practicar actividades comerciales, ni de carácter privado.
Como los sueldos eran bajos, las autoridades coloniales recurrieron
al llamado reparto de efectos que les otorgaba el monopolio exclusivo
del comercio con los indígenas que, en 1754, tomó naturaleza legal,
lo que provocó no pocos enfrentamientos94. Así mismo se suele
equiparar el corregimiento, en cualquiera de sus modalidades, con el

93
  Alfredo Moreno Cebrián, El corregidor de indios y la economía peruana del
siglo xviii (Madrid: CSIC; Kenneth J. Andrien, «El corregidor de indios, la corrup-
ción y el estado virreinal en Perú, 1580-1630», Revista de Historia Económica, 3, IV
(Otoño 1986): 493-520. Disponible en línea: http://hdl.handle.net/10016/1708
94
  Darío Barriera, «Corregidores sin Corregimientos: Un caso de mestizaje ins-
titucional en Santa Fe del Río de la Plata durante los siglos xvii y xviii», Revista de
estudios históricos jurídicos, nº386 (2014): 245-269.

198

Monárquias Ibéricas.indb 198 13/12/18 14:55


Prácticas de gobierno: instituciones, territorios y flujos de comunicación

alcalde mayor o considerar sus diferencias poco significativas, lo cual


no resulta del todo convincente95.
Sin duda, la medida más importante que se adoptó en la segunda
mitad del siglo xviii fue la introducción de los intendentes, dentro
del programa reformista que puso en marcha Carlos III a partir de
1766. Introducidos ya de manera definitiva en 1718 en España, no
lograron consolidarse, en el caso de los de provincia, hasta 1749.
En América lo hicieron en tres fases, antes de 1782, entre esta fecha y
1786 y a partir de entonces. En España su principal litigio fue con los
corregidores y el Consejo de Castilla; en América, con los virreyes
y gobernadores. La rotación por distintas provincias como medida
formativa y establecer una carrera fue un aspecto que se tuvo en
cuenta y también su procedencia de la nobleza media.
La primera tentativa en las Indias la llevó a cabo Ensenada, en
1749, encargando a los virreyes estudiar la posibilidad de introducir-
los. Pero ambos contestaron negativamente. Sin embargo, en 1756,
se nombró uno para que actuara en La Habana, aunque en calidad
de director de la Real Fábrica de Navíos, sin una finalidad adminis-
trativa concreta. Después de la recuperación de La Habana, en 1764,
se nombró a un intendente, Miguel de Altarriba, y que lo fuera de
«ejército y hacienda», sin competencias políticas. Esas ordenanzas
estuvieron vigentes hasta 1786, en que fueron sustituidas por las de
Nueva España. En 1813, se crearon en Cuba otras dos intendencias
de Puerto Príncipe y Santiago de Cuba, pero solo de «hacienda».
Desde 1766 había una en Nueva Orleáns, en Luisiana, de Ejército
y Real Hacienda, que dependía de la Capitanía General de Cuba.
Su primer intendente fue Juan José de Loyola y Mendoza. Duró
hasta 1803, en que Luisiana fue devuelta a Francia96.
Sobre estas primeras experiencias, en 1768, el virrey de México
Carlos Francisco de Croix, marqués de ese nombre, y el visitador José
Gálvez elaboraron un «Informe y plan de intendencias» para Nueva
España, más sistemático. Partían del buen resultado de las Instrucciones
de 1718 y 1749 y de considerar a los intendentes como un instrumento

95
  José María Ots Capdequí, El estado español en las Indias (México: Fondo de
Cultura Económica, 1957); Stanley J. Stein y Barbara H. Stein, La herencia colonial
de América Latina (México: Siglo xxi, 1970); Guillermo Lohmann Villena, El Corre-
gidor de indios en el Perú bajo los Austrias (Lima: Universidad Católica, 2001).
96
  Luis Navarro García, Las reformas borbónicas en América. El plan de intenden-
cias y su aplicación (Sevilla: Universidad, 1995), 35-37.

199

Monárquias Ibéricas.indb 199 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

eficaz para «mejorar el gobierno civil y económico de las provincias»,


así como de la necesidad de reformar aquel virreinato y, para ello, pro-
ponían dividirlo que 11 intendencias, una general y de ejército, para la
capital, y 10 de segunda y tercera clase para las restantes provincias,
sujetas todas al virrey, como supremo jefe del reino y Superintendente
General de Rentas. Para poder financiarlos sin incurrir en nuevos gas-
tos, se les transferían los sueldos de los corregidores y gobernadores
de las capitales de provincia que se suprimían. También recuperaban
las 4 funciones originarias de J­ usticia, Hacienda, Guerra y Policía de
las Ordenanzas de Patiño de 1718. El proyecto contó con el apoyo
del obispo de Puebla y del arzobispo cardenal Lorenzana, pero tuvo la
oposición de los alcaldes mayores, que se sentían perjudicados.
Remitido a Madrid al ministro y al Consejo de Indias, no contó
con la aprobación del nuevo virrey y hasta que Gálvez fue nombrado
secretario de Indias, en 1776, estuvo paralizado. Entre esta fecha y su
muerte, ocurrida en 1787, fue cuando se llevaron a cabo la mayor parte
de las reformas administrativas en los territorios americanos. I­ niciadas
con la creación de la intendencia de Caracas y el nombramiento de José
de Ábalos como su titular, con autoridad sobre Caracas, Cumaná, Mar-
garita, Guayana y Maracaibo, al margen de los gobernadores y de la
capitanía general, puesta en marcha el 8 de septiembre de 177797. Sus
ordenanzas eran similares a las de Cuba, con especial insistencia en las
atribuciones de policía, siendo reemplazadas en 1783 por las concedi-
das a los intendentes del Río de la Plata. Entonces, el título oficial fue
de Intendente General de Ejército y Superintendente Subdelegado de Real
Hacienda. Ya en 1787 debió adoptar la Ordenanza para Nueva España
de 1786. Aún hubo otra Real Ordenanza, la de 1803, que recortó su
jurisdicción al convertir a los gobernadores de Maracaibo, Barinas,
Cumaná y Guayana en intendentes, pero fue anulada en 1804.
Los intentos de homologar las ordenanzas fueron constantes, así
como los dirigidos a delimitar las funciones entre intendente y virrey y
a establecer extensiones territoriales proporcionadas. Así, por ejemplo,
cuando se creó en 1776 el Virreinato del Río de la Plata, su virrey, Pedro
de Cevallos, fue Superintendente General de la Real Hacienda, mientras
que Manuel I­gnacio Fernández fue nombrado Intendente de Ejército.
Pero cuando, en 1782, Carlos III promulgó la Real Ordenanza para el

  Luis Navarro, Las reformas borbónicas en América… 83-85; Gisela Moraz-


97

zani, La intendencia en España y en América, (Caracas: Universidad Central, 1972).

200

Monárquias Ibéricas.indb 200 13/12/18 14:55


Prácticas de gobierno: instituciones, territorios y flujos de comunicación

establecimiento e instrucción de intendentes de ejército y provincia en el


Virreinato de Buenos Aires era de «ejército y provincia», mientras que las
otras siete sólo de «provincia». Un año más tarde se introdujeron varias
modificaciones a la Real Ordenanza de 1782, suspendiendo algunas de
las intendencias creadas y cambiado los límites de otras98.
Como consecuencia de la revolución de Túpac Amaru II, en Perú,
a propuesta del visitador Areche, en 1784, se ordenó aplicar el régimen
de intendencias y se suprimieron los corregimientos. Se aplicaron las
ordenanzas del Río de la Plata, siendo la intendencia de Lima de «ejér-
cito y provincia» y las otras 6 de «provincia»99. En Nueva ­Granada, el
virrey era superintendente de todo el virreinato, pero en Quito, en
mayo de 1783, el virrey delegó la Superintendencia S ­ ubdelegada de Real
Hacienda en el presidente de la Real Audiencia. Como en otros luga-
res, la Real Ordenanza de 1803 mandó establecer nuevas intendencias
unidas a sus respectivos gobernadores pero fue derogada en 1804 y lo
mismo volvió a ocurrir en 1807, tras un nuevo intento.
La intendencia de Puerto Rico se creó por Real Orden del 24
de mayo de 1784, unida al cargo del gobernador y capitán general,
de acuerdo a la Ordenanza del Río de la Plata. En 1794, se ordenó
observar la Ordenanza de Nueva España. Una Real Orden del 28 de
noviembre de 1811 separó el cargo de intendente de hacienda del
de gobernador y capitán general en la capitanía general de Puerto
Rico. En 1785, comenzó a aplicarse el sistema de intendencias en la
capitanía General de Guatemala, en base a las ordenanzas aplicadas
desde 1782 en el Virreinato del Río de la Plata, pero, a partir de abril
de 1787, se rigieron por las ordenanzas que se dictaron para Nueva
España en 1786. La de San Salvador fue creada el 17 de septiembre de
1785 y, al año siguiente entre septiembre y diciembre, las de Chiapas,
Honduras, Comayagua y Nicaragua. Pero no existió una I­ ntendencia
en Guatemala, aunque el presidente y capitán general ejerció funcio-
nes de Superintendente General100.

98
  John Lynch, Administración colonial española: el sistema de intendencias en el
virreinato del Rio de la Plata (Buenos Aires: Eudeba, 1967); M. Laura San Martino,
Intendencias y provincias en la historia argentina (Buenos Aires: Ciencias de la admi-
nistración, 1990).
99
 Carlos Deustua, Los intendentes en Perú (1790-1796) (Sevilla: Escuela de
Estudios Hispano-Americanos, 1965).
100
  Héctor Samayoa Guevara, El régimen de intendencias en Guatemala (Guate-
mala: Piedra Santa, 1978).

201

Monárquias Ibéricas.indb 201 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

En 1786, se promulgó la Real Ordenanza para el Establecimiento


e Instrucción de intendentes de Ejército y Provincia en el Reino de
la Nueva España que mantenía las 12 intendencias propuestas en
1768 y la supresión de comandancias, corregimientos y alcaldías
mayores. Pretendía sustituir la confusa división del virreinato por
12 intendencias con distritos racionalmente establecidos. A ellas
quedaban subordinadas las jurisdicciones anteriores, gobernacio-
nes, alcaldías mayores y corregimientos bajo el nombre de pro-
vincias, con el nombre de la intendencia. La división interna de
cada una de ellas fue más problemática, por carecerse de cartogra-
fía y datos demográficos precisos. José Mangino fue nombrado
de 1787 primer Superintendente Subdelegado de Real Hacienda de
México, subordinado como subdelegado al Ministro de Indias,
que, hasta entonces, detentaba el virrey en todos los asuntos de
índole fiscal. México, era intendencia de «ejército y provincia»,
unida al cargo de superintendente, mientras que el resto eran de
«provincia»: Puebla, Arizpe o Sonora y Sinaloa, Durando, San
Luis de Potosí, Zacatecas, Guadalajara, Michoacán, Nueva Vera-
cruz, Oaxaca, Mérida y Guanajuato. El 17 de marzo de 1787 el
rey dispuso separar la de Sinaloa de la de Arispe, pero no se llevó
a efecto y tampoco la propuesta de las Cortes de Cádiz de crear
otra en Saltillo, por lo cual la división de 1786 fue que prevaleció
hasta la independencia101.
Por Orden Real del 17 de julio de 1784 se creó la Intendencia de
Manila para las causas de ejército y real hacienda, siendo nombrado
intendente en comisión el oidor de la Audiencia de Manila, González
de Carvajal, debiendo utilizar la Real Ordenanza de Intendentes de
1782 para el Río de la Plata. A propuesta de Carvajal, fueron creadas
el 24 de noviembre de 1786 cuatro intendencias más en las Filipinas,
unidas a sus respectivos corregidores, pero estas intendencias fueron
suprimidas por Real Orden del 20 de noviembre de 1787. Un mes
antes, el 23 de octubre, la Intendencia de Manila fue unida a la capi-
tanía general. Fue nuevamente separada por Real Orden del 25 de

101
  Horst Pietschmann, Las reformas borbónicas y el régimen de intendencias,
un estudio politico administrativo (México: Fondo de Cultura Económica, 1996);
Aurea Commons, Los intendentes de la nueva España (México: UNAM, 1993); Luis
­Navarro, Servidores del rey: La intendencia de Nueva España (Sevilla: Universidad,
2009).

202

Monárquias Ibéricas.indb 202 13/12/18 14:55


Prácticas de gobierno: instituciones, territorios y flujos de comunicación

febrero de 1819, reunida el 14 de septiembre de 1824, separada el 27


de octubre de 1829 y reunida a fines de 1842.
El 6 de febrero de 1787 se aplicó el sistema en la Capitanía ­General
de Chile, estableciendo dos en Santiago y otra en C ­ oncepción,
regidas por las ordenanzas del Río de la Plata con las adaptaciones
peruanas.
Cuando Antonio Valdés sucedió al ministro Gálvez en 1787 había
entonces 46 intendencias, 13 en México, 7 en Perú, 3 en Chile, 9 en
el Rio de la Plata y 5 en Filipinas, más una en Luisiana, Cuenca,
­Caracas, La Habana y Puerto Rico. Vistos los conflictos suscitados,
como el que enfrentó al intendente con el gobernador en Filipinas
y los que paralizaron las Ordenanzas de Caracas y Nueva Granada,
decidió separar las intendencias de los virreinatos, lo cual se llevó a
cabo en México, Lima y Buenos Aires e incluso pensó suprimir la de
­Filipinas, en contra del proyecto de Gálvez que buscaba separar al
virrey de la dirección de la Hacienda. La fallida Ordenanza de 1803
que decretaba la separación de ambos cargos, lo cual solo se aplicó
en México, nombrándose intendente a Francisco Manuel Arce, aun-
que el virrey continuó como Superintendente Subdelegado de Real
Hacienda. En 1809, los cargos volvieron a reunirse, pero el 6 de sep-
tiembre el virrey encargó los asuntos de intendencia al secretario del
virreinato, hasta que en mayo de 1810 fue designado un nuevo inten-
dente que tomó posesión a principios de 1811.
El establecimiento del sistema de intendencias y sus ordenanzas
desencadenó muchas discusiones, especialmente en Nueva España.
Hubo rechazo a las mismas, sus disposiciones fueron víctimas de las
rivalidades entre los nombrados y las autoridades establecidas y faltó
una base técnica que permitiera asentarlas en el territorio. Es más,
detrás de tantas disposiciones, hay en realidad dos proyectos distintos:
uno que podríamos considerar más radical, que pretendía sustituir a
los gobernadores, corregidores y alcaldes, por un alto funcionario, el
intendente, a cuyas órdenes estarían los subdelegados, que colaborarían
con el virrey; y un segundo, que marginaba la figura del virrey al hacer
pasar sus atribuciones en materia de hacienda a manos de un superin-
tendente, lo que suponía dividir el mando supremo del virreinato.
Incluso la Corona mantuvo una actitud confusa y el rumor de que
las iban a abolir circuló por todos los virreinatos. No fue fácil encon-
trar las personas adecuadas, pero de manera bastante general los
intendentes nombrados fueron hombres ilustrados y ­competentes

203

Monárquias Ibéricas.indb 203 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

desde el punto de vista profesional, que merecieron el elogio de


Humbold cuando visitó Nueva España. Sus efectos no fueron tan
positivos como se esperaba, pero la reforma no fue inútil. La labor de
los intendentes como corregidores supuso un gran cambio y, desde
el punto de la praxis política, la creación de una administración pro-
vincial homogénea también lo fue. Supusieron el punto culminante
de las reformas administrativas en los virreinatos y la expresión del
deseo de acabar con las malas prácticas y de lograr una administra-
ción provincial más eficiente102.

Una reflexión final


A lo largo de los tres siglos de presencia efectiva de la administra-
ción española en América, pueden percibirse unas líneas constantes
que recorren todo el periodo y que pueden servir para caracterizarla
y establecer el sentido de su evolución. La primera es la p ­ ersistencia
del entramado institucional, bien conformado ya con Felipe II,
dirigido a hacer efectiva la autoridad real en aquellos territorios e
incluirlos dentro de un conjunto más amplio que era la Monarquía de
los Reinos. Un proceso que supuso la adaptación de una serie de ins-
tituciones, personales y corporativas, ya existentes tanto en el reino
castellano como en la propia Monarquía, cuyo resultado fue la puesta
en marcha de una burocracia, relativamente simple, compuesta por
unos cientos de personas en la Península y unos pocos miles en
­América, encargadas de gobernar, recaudar impuestos e impartir jus-
ticia en nombre del rey, pero también de negociar, adaptar o flexibi-
lizar las disposiciones que llegaban de la corte103. De su mano, una

102
  Federica Morelli, «Antiguas Audiencias y Nuevas Naciones», en El gobierno
de un mundo. Virreinatos y Audiencias en la América hispánica…, 1079-1093;
Manuel Chus Calero, Las independencias iberoamericanas en su laberinto: Contro-
versias, cuestiones, interpretaciones (Valencia: Universitat de València, 2010). Gabriel
Paquette, ed., Enlightened Reform in Southern Europe and its Atlantic Colonies, c.
1750-1830 (Empires and the Making of the Modern World, 1650-2000), (Farnham:
Adhgate, 2009). Gabriel Paquette, Enlightenment, Governance, and Reform in
Spain and its Empire, 1759-1808 (New York: Palgrave Macmillan, 2008).
103
  Christopher Storrs, «Magistrates to Administrators, Composite Monarchy
to Fiscal-Military Empire: Empire and Burocracy in the Spanish Monarchy 1492-
-1825», en Empires and Burocracy in World History, ed. Peter Crooks y Timothy H.
Parsons (Cambridge: University Press, 2016), 291-317.

204

Monárquias Ibéricas.indb 204 13/12/18 14:55


Prácticas de gobierno: instituciones, territorios y flujos de comunicación

cultura legalista, propia de la sociedad hispánica, impregnó la socie-


dad indiana, pero no de forma unívoca, favoreciendo así la relativa
independencia de sus instituciones y su flexibilidad.
De forma paralela, tuvo lugar la puesta en marcha de la presen-
cia sustitutiva del monarca, a través de una estrategia encaminada a
representarlo a través de determinados símbolos, de forma que la
sociedad actuara frente a ellos, como lo haría ante el propio sobe-
rano. Representaciones alegóricas, retratos, esculturas, objetos de
especial significación ligados a manifestaciones públicas, como el
pendón real o, en el caso del sello real, expresiones de su voluntad.
Igualmente, el recurso a determinados tipos documentales, como
las Reales Provisiones, que mostraban la equiparación legal entre los
documentos emitidos en la Península y los que lo eran en sus reinos
de ultramar, a través de una ceremonia oficial preestablecida, hacían
presente a un rey ausente104. Nexo común en una sociedad dividida,
el monarca, al serlo de todos, españoles, criollos, indígenas, los igua-
laba. De ahí que, más que su deslegitimación, su brusca desaparición
en 1808 hiciera tambalear, aún más, el sistema.
En el proceso de consolidación de un aparato institucional sobre
territorios mal definidos, la Iglesia jugó un papel que trascendía en
mucho el adoctrinamiento. Contribuyó a consolidar el poder real
en los territorios americanos, no solo legitimándolo, sino dando
consistencia a su presencia institucional, al superponer sobre la
administración civil la propiamente eclesiástica, de archidiócesis,
diócesis y parroquias, y organizar la población nativa en reduccio-
nes o congregaciones en aquellos lugares de escasa presencia espa-
ñola105. Desde el primer momento, ambas potestades mantuvieron
un difícil equilibrio, no exento de pugna, que perduraría durante
todo el periodo colonial. Pero el mutuo apoyo benefició a ambas
potestades, ya que la influencia del clero que impregnaba aquella
sociedad, favoreció, por una parte, la aculturación de la población
india, por otra, preservó muchos de sus rasgos propios, siendo

  Julio Alberto Rodríguez Barrios, «Signos del poder en Indias: el documento


104

como representación del monarca en el virreinato peruano» en Archivo General de


Indias. El valor del documento y la escritura en el gobierno de América, coord. Reyes
Rojas (Madrid: Ministerio de Educación, 2016), 20-33.
105
  Arnold J. Bauer, «Iglesia economía y estado en la historia de América Latina»
en Iglesia, Estado, economía. Siglos xvi y xvii, ed. María de Pilar Martínez (México:
UNAM, 1995), 17-32.

205

Monárquias Ibéricas.indb 205 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

un elemento decisivo en la hibridación cultural que caracteriza el


periodo colonial.
El sistema español, no exento de coherencia, fue pronto minado
desde dentro por la temprana puesta en marcha de la venta de oficios
y su permeabilidad a los intereses personales o locales106. Los instru-
mentos de control, como las visitas y los juicios de residencia, resul-
taron ineficaces y la permisibilidad fue la norma, pero jugó un papel
importante al facilitar la incorporación de las elites criollas, primero
al gobierno de las ciudades y, ya entrado el siglo xvii, a las audiencias
y a otras instituciones. Un proceso que favoreció su acercamiento a
la Corona y, en el caso de la venta de oficios, dirigió buena parte de
su riqueza a cubrir las necesidades de la Monarquía, de forma más
provechosa para sus intereses que las demandas fiscales.
Por último, después de una larga etapa, primero de relajación de la
autoridad real y después condicionada por objetivos fiscales y defen-
sivos, las reformas iniciadas en el reinado de Carlos III suponen un
importante proyecto de reorganización del espacio territorial ameri-
cano, de promoción de distintos sectores económicos y de reforza-
miento de la Real Hacienda que, a pesar, de la complicada coyuntura
en que se pusieron en marcha, tuvieron relativo éxito107. Fue un ver-
dadero programa político, que provocó gran oposición en América y
no demasiado entusiasmo en la metrópoli, que tuvo impacto, desde
luego en la economía novohispana, pero no solo. El intentar implan-
tar los intendentes significaba promover una administración pro-
vincial eficaz, que permitiera establecer una relación directa con la
metrópoli, que tuvo efectos distintos según los virreinatos, ya que si
en unos chocaron con los intereses de las otras autoridades, en otros,
como el caso de Chile, supusieron un verdadero cambio positivo en
su estructura institucional108.
Imperios o monarquías imperiales, las potencias marítimas como
se decía en la época, presentan muchos rasgos comunes que facilitan
la comparación entre ellas. En el caso de la española y la portuguesa,

106
  Pilar Ponce Leiva y Francisco Andújar, eds., Mérito, venalidad y corrupción
en España y América, siglos xvii y xviii, (Valencia: Albatros, 2016).
107
  Federica Morelli, Territorio o nación. Reforma y disolución del espacio impe-
rial en Ecuador (1765-1830) (Madrid: CEP y C., 2006).
108
  Lucrecia Enríquez, «Reformar para uniformar. La implantación del régimen de
intendencias en Chile», en Gobernar y reformar la Monarquía, eds. Michel B ­ ertrand,
Francisco Andújar y Thomas Glesener (Madrid: Albatros, 2017), 287-303.

206

Monárquias Ibéricas.indb 206 13/12/18 14:55


Prácticas de gobierno: instituciones, territorios y flujos de comunicación

que, además conviven durante un tiempo en un mismo marco, las


similitudes son muchas y también las diferencias, como Maria Fer-
nanda Bicalho y Nuno Gonçalo Monteiro han puesto en evidencia
en esta misma obra. Poco puedo añadir, tanto en este caso, como
en el del Imperio británico, que realizó el profesor John H. Elliott,
sino subrayar la importancia de la dimensión espacial y de la varie-
dad poblacional, pese al descenso catastrófico de sus habitantes y su
tardía recuperación, a partir de mediados del siglo xvii. Monarquía
o Imperio, en cualquier caso, más allá de la polémica historiográfica,
la autoridad que gobernó las Indias, y la convención que le sirvió de
apoyo, no fue la de un emperador, sino la de un rey.

207

Monárquias Ibéricas.indb 207 13/12/18 14:55


Monárquias Ibéricas.indb 208 13/12/18 14:55
Maria Fernanda Bicalho
Nuno Gonçalo Monteiro

Capítulo 5

As instituições civis da monarquia


portuguesa na Idade Moderna:
centro e periferia do império

O período da Conquista e a definição dos


modelos
Apesar de a apresentação das dimensões militares, eclesisásticas,
judiciais e fazendárias da administração das monarquias ibéricas,
bem como a sua combinação com formas indígenas de administra-
ção do território, serem objecto de intervenções específicas neste
livro, e de nos irmos centrar sobre os séculos xvii e xviii, não pode-
mos prescindir de fazer uma incursão nos modelos básicos, tal
como foram gerados no momento de ocupação dos territórios e
depois se foram consolidando. Entenda-se aqui modelos como um
conjunto de práticas sociais e de habitus institucionais consolidado
em dados espaços, não apenas em função da transposição de nor-
mas, mas também do efeito cumulativo de contextos específicos.
Desse ponto de vista, não faz sentido falar de um «pluralismo admi-
nistrativo» ilimitado, mas de dois modelos de administração, em
grande medida configurados nos séculos xv e xvi e depois insisten-
temente replicados, sobretudo o segundo, cuja expressão territorial
foi muito mais ampla.

209

Monárquias Ibéricas.indb 209 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Os dois modelos de dominação e de ocupação que sugerimos


podem ser apresentados como dois tipos ideais, no sentido webe-
riano do termo. Vejamos o que se propõe para cada um, cruzando
as características essencias com os territórios nos quais se puderam
configurar1:
Um primeiro modelo, associado a uma ocupação bélica e mili-
tar, tal como existiu em Marrocos e na Ásia, baseava-se no con-
trolo de entrepostos comerciais costeiros e praças fortificadas.
Evidentemente, aquilo que depois de meados do século xvi se
­
começa a designar por Estado da Índia foi a sua expressão paradig-
mática2, embora tenha sofrido mutações em diversos contextos. Mas
manterá uma ligação entre conquistas e guerra que permanecerá até
à segunda metade do século xviii, quando ainda morreu um vice-rei
da Índia em combate. E se Goa, cabeça do Estado da Índia, tinha
todos os atributos associáveis a um centro de poder (vice-rei desde
meados do século xvi, Conselho de Estado, tribunais da Inquisição,
da Relação, da Alçada e da Mesa da Consciência e Ordens, Vedoria
da Fazenda, Casa dos Contos, etc.), as câmaras foram sempre pou-
cas: as de Goa, Cochim, Malaca e Macau.3 Malaca e Cochim irão
ser perdidas, surgindo depois Bardez e Salcete (1548). Do ponto de
vista dos modelos, parece claro que a presença portuguesa na costa
ocidental de África, na Mina e, em termos mais gerais, em Angola,
se enquadra neste primeiro tipo. De resto, pode falar-se desde pelo
menos meados do século xviii dos esforços, sem êxito, para fazer
Angola passar do primeiro para o segundo modelo.
O segundo modelo foi aquele que se esboçou nas Ilhas Atlânticas
(Madeira, Açores, Cabo Verde, São Tomé) e Brasil: esteve ligado à
ocupação territorial e agrícola ou à intenção de a promover, mesmo
quando condicionado por imperativos comerciais, e não teve uma

1
  Esta proposta assume como ponto de partida o texto brilhante e com enorme
impacto publicado por António Manuel Hespanha e Catarina Madeira-Santos; mas
procura, precisamente, contrapor-se ao modelo único que o referido texto sugere.
Cf. ­António Manuel Hespanha e Maria Catarina Santos, «Os poderes num impé-
rio oceânico», em História de Portugal. O Antigo Regime, vol. 4, dir. José Mattoso,
coord. António Manuel Hespanha (Lisboa: Editorial Estampa, 1993), 395-413.
2
  Luís Filipe Thomaz, «A estrutura política e administrativa do Estado da Índia
no século xvi» em De Ceuta a Timor (Lisboa: Difel, 1994), 207-243.
3
  Catarina Madeira-Santos, «Goa é a Chave de toda a Índia». Perfil Político da
Capital do Estado da Índia (1505-1570) (Lisboa: Comissão Nacional para as Come-
morações dos Descobrimentos Portugueses, 1999).

210

Monárquias Ibéricas.indb 210 13/12/18 14:55


As instituições civis da monarquia portuguesa na Idade Moderna

génese imediatamente militar. Durante um ciclo mais ou menos


longo, combinou-se com uma concessão senhorial (modelo donata-
rial).4 O que permanecerá deste modelo, porém, será muito menos a
dimensão senhorial (progressivamente esbatida e já residual no iní-
cio século xviii), do que os elementos básicos que o vão caracterizar
a longo prazo: capitanias (providas esmagadoramente em militares,
maioritariamente fidalgos), ouvidorias (de provimento central e
trienal em letrados) e câmaras com formas miliciais a elas associa-
das, coexistindo com as paróquias eclesiásticas, providas pela coroa
em todo o espaço imperial por força do padroado régio, e, também,
com um leque variável de confrarias. Como no reino, as vereações
eram eleitas de três em três anos por mandatos de um ano de entre
os membros da elite local. Como no reino, nunca se venderam os
ofícios de vereador. Como no Sul do reino (Alentejo), este modo
de administração combinou-se com a cedência de terras a colonos,
sem imposição de foro (sesmarias). Este será o modelo replicado e
repetido (com raras excepções, como a Colónia do Sacramento)5 no
império atlântico português, do qual nos iremos ocupar basicamente
nos séculos xvii e xviii. Ao invés do primeiro modelo referido, este
combinou-se desde cedo com a organização de actividades produti-
vas e extractivas em grande escala, pautadas pelo açúcar e pelo tabaco,
depois pelo ouro, pelo algodão, pelo café, pela criação de gado. Esteve
associado à utilização massiva de mão-de-obra africana escravizada e
a fortes ondas de emigração espontânea e semi-ilegal do Nordeste de
­Portugal (Minho), quase exclusivamente masculina, jovem e alfabe-
tizada, bem como a um modelo consolidado de governo do território
apoiado nas elites locais. Este processo teve implicações demográfi-
cas decisivas a longo prazo que condicionaram muito as imagens da
colonização portuguesa, mas que na verdade nunca, nem antes nem
depois, se verificaram numa escala comparável.
Naturalmente, pode questionar-se em que medida estes dois
modelos não se cruzaram, pois o Brasil no século xvii foi um ter-
ritório de guerra viva, contra Holanda, Castela e os franceses, mas

4
  António Vasconcelos Saldanha, As Capitanias do Brasil: Antecedentes, Desen-
volvimento e Extinção de um Fenómeno Atlântico (Lisboa: CNPDP, 2001).
5
  Fabrício Prado, A Colônia do Sacramento: O Extremo-Sul da América Portu-
guesa no Século XVIII (Porto Alegre: Ed. Fabrício Prado, 2002); Paulo Possamai,
A Vida Cotidiana na Colónia do Sacramento (Lisboa: Livros do Brasil, 2006).

211

Monárquias Ibéricas.indb 211 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

marcado também pelas «guerras dos bárbaros» contra os ameríndios


e pelos conflitos com focos de poder instituídos a partir das popu-
lações subalternas (como Palmares)6. Com efeito, pode alegar-se
que o que permaneceu no Brasil foi, afinal, o segundo modelo. Mas,
de facto, as formas de integração das populações ameríndias obri-
gam a reportar um terceiro modelo de dominação. O quadro dos
aldeamentos indígenas (que se distinguia da incorporação ou da
escravização) era o único que atribuía aos ameríndios um estatuto
diferenciado, embora se situasse maioritariamente sob a jurisdição
das ordens religiosas regulares.7 Na América portuguesa não existia
nada equivalente às encomiendas, ou aos cabildos e paróquias indíge-
nas da América espanhola. Tão-pouco se pode falar do reconheci-
mento sem reservas das formas de organização preexistentes. Terão
existido pontualmente aldeamentos indígenas com tutela civil, mas
o único modelo com difusão mais ampla foram os aldeamentos mis-
sionários até cerca de 1755.8
De resto, a acção autónoma dos colonos, num cenário setecen-
tista de crescimento demográfico explosivo e intensos conflitos em
torno de recursos (ouro), tal como a supressão da jurisdição das
ordens religiosas e das aldeias indígenas, acabaram por dar lugar à
réplica (com êxito ou sem ele) do segundo modelo. Criaram-se capi-
tanias, ouvidorias e bispados, muitas vezes, e câmaras, quase sempre.
Em larga medida, pode dizer-se que a coroa portuguesa e os deci-
sores que lhe deram corpo retomaram sempre o mesmo padrão de
enquadramento.
Pesem embora as incertezas várias, a arquitectura institucional da
América portuguesa, oficialmente designada por Estado do Brasil
e Estado do Maranhão e Grão-Pará, pode ser resumida no quadro
seguinte. Nas páginas que se seguem iremos procurar caracterizar

6
  Pedro Puntoni, A Guerra dos Bárbaros. Povos Indígenas e a Colonização do
Sertão Nordeste do Brasil, 1650-1720 (São Paulo, Hucitec, 2002); Sílvia Hunold
Lara, «Marronnage et pouvoir colonial. Palmares, Cucaú et les frontières de la
liberté au Pernambouc à la fin du XVIIe siècle», Annales. Histoire, Sciences Sociales,
vol. 67, (2007): 639-662.
7
 Maria Regina Celestino de Almeida, Metamorfoses Indígenas. Identidade e
Cultura nas Aldeias Coloniais do Rio de Janeiro, 2.ª ed. (Rio de Janeiro: Editora
FGV, 2013).
8
  Márcia Eliane Alves de Souza e Mello, Fé e Império. As Juntas das Missões nas
Conquistas Portuguesas (Manaus: EDUA, 2007). Sobre o tema, ver ainda o texto de
Catarina Madeira-Santos neste mesmo volume, pp. 271 e segs.

212

Monárquias Ibéricas.indb 212 13/12/18 14:55


As instituições civis da monarquia portuguesa na Idade Moderna

cada uma das instituições aí reportadas, centrando a nossa atenção


na América, em detrimento das demais conquistas da monarquia
portuguesa.

Quadro 1. Estados do Brasil e do Maranhão (e Pará)


Data
1600 1700 1750/63/72 1808
População 102 000 237 000 1 555 200 3 179 000
Capitanias
3 5 8 9
principais
Capitanias
8 13 17 19
Todas
Câmaras 18 57 90 186
Ouvidores 1 8 23 26
Tribunais de
0 1 2 2
apelação
Juizados
— — — 19
de Fora
Paróquias — — 468 —
Fonte: João Fragoso e Nuno G. Monteiro. «Apresentação», in Um Reino e Suas
Repúblicas no Atlântico. Comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola nos
séculos xvii e xviii, orgs. João Fragoso e Nuno G. Monteiro (Rio de Janeiro: Civi-
lização Brasileira, 2017), 19.

Periodização
É possível propor uma cronologia? Aquela que aqui se aponta
reporta-se sobretudo aos séculos xvii e xviii e ao Atlântico. Mas per-
mite sugerir uma primeira leitura de conjunto.

1415 a 1580: da conquista de Ceuta à integração na Monarquia


Hispânica
O primeiro período proposto constitui apenas uma forma de apre-
sentar as matérias que foram antes referidas e não serão mais aprofun-
dadas neste capítulo. Como se disse, se coexistem desde o século xv
dois modelos, é o primeiro o prevalecente até finais do século xvi,
em particular na expansão africana e asiática, com um cunho militar

213

Monárquias Ibéricas.indb 213 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

e­ smagador e associado ao controlo de rotas comerciais, mantido em


larga medida pela supremacia militar marítima, assente, entre outras
coisas, no domínio dos respectivos saberes e numa pluralidade de for-
mas em territórios mais remotos9. Com uma marca decisiva de prose-
litismo religioso que iria perdurar, indiscutivelmente pioneiro, entrou
em declínio quando a referida supremacia se desvaneceu na competi-
ção com actores locais e europeus. O centro imperial desta configura-
ção é Goa, cabeça do Estado da Índia, que estende a sua jurisdição por
todo o Índico e todo o Pacífico, incluindo ­Moçambique. Um modelo
similar foi adoptado na costa ocidental africana, incluindo Angola,
diverso do prosseguido nos processos de colonização da Madeira,
Açores, Cabo Verde e São Tomé. É ainda neste período que se cria
o governo-geral e o Estado do Brasil (1549), e se inicia a cultura da
cana-de-açúcar. Entre 1572 e 1577 o Estado do Brasil foi dividido em
dois governos distintos, com iguais atribuições, um deles com sede na
Baía e o outro no Rio de Janeiro.

1580 a 1640: o período dos Áustria


A agregação de Portugal à Monarquia Hispânica deu-se numa
conjuntura marcada pelo que Vitorino Magalhães Godinho chamou
«viragem estrutural» do Índico para o Atlântico, e que se consubstan-
ciou na reorientação das rotas marítimas e comerciais e, sobretudo,
no crescimento das rendas alfandegárias da coroa portuguesa, quer
no litoral da América, quer nos entrepostos da África Ocidental.10
Se em 1619 o comércio asiático representava ainda 40% das rendas
alfandegárias de Portugal, este percentual não cessou de diminuir na
proporção inversa ao crescimento da agricultura açucareira, princi-
palmente nas capitanias do Norte – Baía e Pernambuco – e sua inte-
gração ao complexo atlântico, via tráfico negreiro. Entre 1600 e 1625
o desembarque de africanos no Brasil subiu de cerca de 50 mil para
quase 200 mil almas.11
Em termos globais, pode falar-se de uma reconfiguração espa-
cial-institucional sofrida pela América portuguesa no tempo dos

  Tema também tratado no capítulo 12, de Vítor Rodrigues e Miguel Dantas da


9

Cruz, neste volume.


10
  Vitorino Magalhães Godinho, Ensaios II. Sobre a História de Portugal, 2.ª ed.
(Lisboa: Livraria Sá da Costa, 1978), 258-280.
11
  Luiz Felipe de Alencastro, O Trato dos Viventes. A Formação do Brasil no
Atlântico-Sul (São Paulo: Companhia das Letras, 2000), 43.

214

Monárquias Ibéricas.indb 214 13/12/18 14:55


As instituições civis da monarquia portuguesa na Idade Moderna

Filipes, principalmente a da sua região centro-sul, que se combinou


com as mudanças na administração central da monarquia. Acresce
que o desenho institucional ulterior fica, em larga medida, esboçado
neste período. O impulso legislativo e «modernizador» dos Áustrias
estendeu-se a múltiplos terrenos e ficou marcado pelo adensamento
da rede de funcionários régios, pela criação de novas instituições e
circunscrições administrativas, e pelo esforço de um maior controlo
do território.12
Em relação aos governadores-gerais, foi neste período que se
­produziram três regimentos, de um total de cinco que se conhecem
para toda a época colonial.13 Não havia, no entanto, quer em termos
territoriais, quer político-administrativos, uma rígida hierarquização
das jurisdições, poderes e competências entre os ofícios e oficiais
régios. A superioridade jurisdicional do governador-geral do Estado
do Brasil não correspondia a uma subordinação hierárquica que
pudesse traduzir-se num governo uniforme de um território unifi-
cado, resultado de um poder único e centralizado. Ao contrário, um
dos traços do governo dos Áustrias foi o reforço da administração
sinodal e jurisdicionalista, o que implicava a manutenção e, portanto,
a intensificação dos conflitos de jurisdição.14
A conquista e a colonização da parte norte do Brasil levou ao esta-
belecimento do Estado do Maranhão e Grão-Pará, com uma estru-
tura administrativa directamente subordinada a Lisboa. Embora este
tenha sido criado em 1621, desde 1619 existia um regimento para
o principal responsável pela sua administração judicial: o ouvidor-
-geral do Maranhão. Foi também novamente criado em 1608 um
governo-geral da Repartição do Sul – independente do governador
da Baía – com sede no Rio de Janeiro e jurisdição sobre as capitanias
do Espírito Santo e de São Vicente, que teve, no entanto, existência

12
  Pedro Cardim e Susana M. Miranda, «A expansão da coroa portuguesa e o
estatuto político dos territórios», em O Brasil Colonial. 1580-1720, vol. 2, orgs.
João Fragoso e Maria de Fátima Gouvêa (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2014), 51-106.
13
 Francisco Carlos Cosentino, Governadores Gerais do Estado do Brasil,
­Séculos XVI-XVII. Ofício, Regimentos, Governação e Trajetórias (São Paulo/Belo
Horizonte: Anablume /FAPEMIG, 2009).
14
  António Manuel Hespanha, «O governo dos Áustria e a ‘modernização’ da
constituição política portuguesa». Penélope. Fazer e Desfazer História, n.º 2, (Feve-
reiro de 1989), 53.

215

Monárquias Ibéricas.indb 215 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

efémera, sendo extinto em 1612.15 Em 1609 deu-se a implantação


da Relação da Bahia.16 A sua extinção em 1626 (só seria recriada em
1652) implicou modificações na estrutura judicial da América por-
tuguesa, constituída por três ouvidorias-gerais, independentes entre
si e directamente subordinadas à Casa de Suplicação de Lisboa: uma
no Estado do Maranhão, outra no Estado do Brasil e a terceira na
Repartição do Sul.17 A partir do início do século xvii a atribuição de
designar ouvidores para o ultramar foi sendo gradualmente transfe-
rida das competências dos senhores (ou donatários) para o âmbito
da coroa, a qual passou a instalar magistraturas de designação régia,
de acordo com o estabelecido pelas Ordenações do reino.18 Isso

15
  Apesar da extinção, em 1612, de um governo autónomo em relação ao gover-
no-geral na Baía, com sede no Rio de Janeiro, em 1637 Salvador Correia de Sá e
Benevides assumiu o governo do Rio, gozando de poderes ampliados. À sua jurisdi-
ção ficavam pertencendo os serviços de guerra e justiça das capitanias de São Vicente
e São Paulo, cujos capitães-mores e ouvidores deviam prestar-lhe obe­ diência.
O motivo dessa ampliação de jurisdição estava na necessidade de aumentar a força
militar das capitanias do Sul num momento crítico das guerras contra os holandeses
no Brasil. Cf. Felisbello Freire, História da Cidade do Rio de Janeiro, 1564-1700,
vol. 1 (Rio de Janeiro: Typographia da Revista dos Tribunaes, 1912), 128; Charles R.
Boxer, Salvador de Sá e a Luta pelo Brasil e Angola, 1602-1686 (São Paulo: Editora
Nacional, ed. da USP, 1973), 124-167.
16
  Stuart B. Schwartz, Burocracia e Sociedade no Brasil Colonial (São Paulo, Edi-
tora Perspectiva, 1979).
17
  No início foram instituídas três ouvidorias: a ouvidoria-geral do Estado do
Brasil (1549), a ouvidoria-geral da Repartição do Sul (1608) e a ouvidoria-geral do
Estado do Maranhão (1619). A ouvidoria-geral da Repartição do Sul foi criada a
partir do estabelecimento no Rio de Janeiro de um governo independente do gover-
no-geral na Baía, e era responsável pela administração da justiça nas capitanias do
Rio, do Espírito Santo, de São Vicente e em parte do distrito das Minas. Ao longo
do século xvii, a designação Ouvidoria-Geral da Repartição do Sul caiu em desuso
e a instituição passou a denominar-se Ouvidoria-Geral do Rio de Janeiro, embora
a jurisdição do ouvidor-geral se tenha mantido sobre todo o antigo território da
Repartição do Sul pelo menos até ao início do século xviii, quando foram criadas
novas ouvidorias. Cf. Isabele de Matos Pereira de Mello, «Os ministros da justiça
na América portuguesa: ouvidores-gerais e juízes-de-fora na administração colonial
(século xviii)», Revista de História, n.º 171 (dezembro de 2014), 351-381; Mafalda
Soares da Cunha e António Castro Nunes, «Territorialização e poder na América
portuguesa. A criação de comarcas, séculos xvi-xviii». Tempo, n.º 39 (abril de 2016),
1-30.
18
 Nuno Camarinhas, Juízes e Administração da Justiça no Antigo Regime.
­Portugal e o Império Colonial (Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian/FCT, 2010).
Tópico debatido também no capítulo 10, de Nuno Camarinhas e Pilar Ponce Leiva,
neste volume.

216

Monárquias Ibéricas.indb 216 13/12/18 14:55


As instituições civis da monarquia portuguesa na Idade Moderna

deu-se tanto com a criação de capitanias régias como com o resgate


das capitanias senhoriais por parte da coroa, num movimento que se
intensificou após a Restauração (1640), e que se finalizaria apenas no
reinado de D. José I (1750-1777).
Em 1580 o Brasil dividia-se em oito grandes capitanias: São
Vicente, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Porto Seguro, Ilhéus, Baía,
Pernambuco e Itamaracá. Apenas Rio de Janeiro e Baía eram capitanias
reais, as demais eram donatariais. Em termos de anexação territorial,
ao longo dos reinados dos Áustrias deu-se a conquista do Norte: Pará,
Maranhão, Siará (Ceará), Rio Grande (do Norte), Paraíba e Sergipe
passaram a compor o património régio, potenciando a disponibilidade
da coroa de conceder terras (sesmarias), prover ofícios e garantir pri-
vilégios comerciais e políticos em troca de serviços prestados pelos
novos e leais súbditos portugueses.
A criação de vilas e cidades é sintoma desta mesma tendência.
Durante a agregação de Portugal à Monarquia Hispânica, 18 vilas e
cidades foram fundadas nas diferentes capitanias, tanto no litoral,
quanto no sertão. Esse processo de «institucionalização do Estado
do Brasil» correspondia a uma preocupação simultânea de conhe-
cimento e governo da América portuguesa.19 Atenção especial foi
dada ao aprimoramento dos mecanismos de comunicação político­-
-administrativa entre as suas diferentes localidades e Lisboa ou
Madrid. Vários autores destacam como inovadora a estratégia fili-
pina de governo à distância, com a institucionalização do processo
escrito enquanto expediente burocrático.20 No entanto, tais mudan-
ças significaram também a multiplicação de solicitações e provimen-
tos para os ofícios menores e intermédios, como os de escrivão,
por exemplo, muitos deles providos em representantes das elites
locais21; e o reforço da autonomia dos poderes periféricos, potencia-
lizado pela faculdade que detinham de se comunicar directamente

19
  Guida Marques, L’Invention du Brésil entre deux mondes. Gouvernement et
pratiques politiques de l’Amérique portugaise dans l’union ibérique, 1580-1640 (Paris:
EHESS, 2009).
20
  António Manuel Hespanha, As Vésperas do Leviathan. Instituições e Poder
Político. Portugal. Século XVII (Coimbra: Livraria Almedina, 1994).
21
 Roberta Stumpf, «Dos homens que serviam entre papéis e letras – Escrivães
das câmaras na América portuguesa», Nuevo Mundo Mundos Nuevos. Debates. [em
linha] (Outubro de 2017). Disponível em: http://journals.openedition.org/nuevo-
mundo/71379

217

Monárquias Ibéricas.indb 217 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

com o centro da monarquia.22 Por meio dessa comunicação, incenti-


vada pela possibilidade de todos – oficiais e instituições – se dirigi-
rem à coroa para dirimir os conflitos, o rei reforçava o seu papel de
árbitro e provedor da justiça. Num aparente paradoxo, a expansão
territorial e a reorganização do espaço americano, ao modificar os
equilíbrios de poder na América, contribuíram para a afirmação da
centralidade régia.

1640-1704: a autonomia das câmaras


O período pós-Restauração e de guerra aos holandeses ficou mar-
cado muito menos pela criação de novas circunscrições administrati-
vas do que pelo imenso protagonismo das elites locais e das câmaras
respectivas: em Pernambuco (Olinda), na Baía (Salvador) e no Rio
de Janeiro. Modelo relativamente uniforme de organização local em
todo o território da monarquia portuguesa e de suas conquistas – con-
sagrado nas Ordenações do reino23 –, as câmaras foram instituições
fundamentais na construção e na manutenção do império ultramarino.
Conseguiram manter um constante diálogo político com o centro
da monarquia, e nomearam, assim como destituíram governadores.
Garantiram relativa estabilidade e uma continuidade política que os
oficiais régios, governadores, bispos, magistrados – em geral nomea-
dos por três anos – não podiam assegurar.24 Embora a sua composição
social tivesse variado muito, quer no reino, quer nas diferentes regiões
do ultramar, facultavam a presença nos seus quadros de membros das
elites locais. Em suma, cada câmara possuía uma configuração própria
e um equilíbrio historicamente tecido ao longo do tempo no amplo
espaço geográfico da monarquia pluricontinental portuguesa.
Durante o século xvii, diante da dificuldade em financiar as despe-
sas militares prolongadas, transferiram-se não raro para os ­residentes

  João Fragoso e Nuno Gonçalo Monteiro (orgs.), Um Reino e Suas Repúblicas


22

no Atlântico. Comunicações Políticas entre Portugal, Brasil e Angola nos Séculos XVII
e XVIII (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017).
23
  Cf. «Regimento dos oficiais das cidades, vilas e lugares destes reinos», extracto
das Ordenações Afonsinas (meados do século xv), incorporado nas Ordenações
Manuelinas (1521) e reproduzido, quase sem alterações, nas Ordenações Filipinas
(1603). Ver principalmente o Livro I, títulos 65 a 69, dedicados às atribuições de juí-
zes e vereadores, ao processo eleitoral e às competências de almotacés e pro­curadores.
24
  Charles R. Boxer, Portuguese Society in the Tropics. The Municipal Councils
of Goa, Macao, Bahia and Luanda, 1510-1800 (Madison: University of Wisconsin
Press, 1965).

218

Monárquias Ibéricas.indb 218 13/12/18 14:55


As instituições civis da monarquia portuguesa na Idade Moderna

ultramarinos, os custos de sua própria defesa. Antecedendo e acom-


panhando as guerras de Restauração na Europa, deram-se as inva-
sões holandesas ao Brasil e a Angola – à Baía (1626), a P
­ ernambuco
(1630-1654), e a São Paulo de Luanda (1641-1648) – obrigando os
habitantes de suas praças marítimas a assumirem os altos custos
da manutenção do império. Cabia-lhes administrar, por meio das
câmaras, o pagamento de direitos e tributos, perenes e temporá-
rios, lançados pela coroa em situações especiais, impor taxas ocasio-
nais, arrendar contratos, arrecadar contribuições voluntárias. Cabia
também aos moradores arcar quase inteiramente com os custos da
defesa, com o fardamento, sustento e pagamento dos soldos das tro-
pas e guarnições, com a construção e o reparo das fortalezas, com
a manutenção de armadas em momentos de ameaças de corso ou
pirataria.25
Algumas câmaras de importantes vilas e cidades no Brasil goza-
ram, ao longo do século xvii, de certas «liberdades» impensáveis na
centúria seguinte. Uma provisão régia de 26 de setembro de 1644
fez mercê à câmara do Rio de Janeiro da faculdade de, no caso de
morte do governador, poder nomear interinamente sucessor, ape-
nas com a aprovação do governador-geral na Baía. No ano seguinte,
com o falecimento do governador em exercício, os oficiais cama-
rários decidiram entregar o governo a um membro de destaque da
elite local, enquanto aguardavam instruções do governo-geral e, em
última instância, do rei.26 Em 1666, em Pernambuco, o governador
Jerónimo de Mendonça Furtado foi preso em Olinda pelos oficiais
da câmara e homens principais da terra. Enquanto não fosse indicado
um substituto pela coroa, a câmara de Olinda organizou-se como
junta provisória para governar a capitania. Quando a frota portu-
guesa, proveniente da Baía, passou pelo porto do Recife, Mendonça
Furtado foi embarcado e enviado, a ferros, para Lisboa.27

25
  Luciano R. de A. Figueiredo, Revoltas, Fiscalidade e Identidade Colonial na
América Portuguesa. Rio de Janeiro, Bahia e Minas Gerais, 1640-1761 (São Paulo:
PPGHS – FFLCH – USP, 1996), 446-451; Maria Fernanda Bicalho, A Cidade e o
Império. O Rio de Janeiro no Século XVIII (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2003), 303-317. Sobre o tema ver o capítulo 12, neste volume, de autoria de Vítor
­Rodrigues e Miguel Dantas da Cruz.
26
  Maria Fernanda Bicalho, A Cidade e o Império ..., 313-314.
27
  Evaldo Cabral de Mello, A Fronda dos Mazombos. Nobres contra Mascates.
Pernambuco, 1666-1715 (São Paulo: Companhia das Letras, 1995), 19-50.

219

Monárquias Ibéricas.indb 219 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Por sua vez, determinados ofícios régios nas conquistas – como


os de provedor da Fazenda, desembargador da Relação e até o de
governador de certas capitanias – foram exercidos por membros das
principais famílias locais, em decorrência de mercês concedidas pelos
reis aos descendentes dos primeiros conquistadores e povoadores.
A nomeação de pessoas «naturais da terra» para postos administra-
tivos nos lugares em que haviam nascido foi, algumas vezes, objecto
de disputas entre as diferentes instituições da monarquia. Na Baía,
o relacionamento entre os oficiais da câmara de Salvador e os minis-
tros da Relação baseava-se numa «curiosa dialéctica de necessidade
e rejeição», pois apesar de bacharéis pertencentes a famílias da elite
local terem sido nomeados como desembargadores desse tribunal,
era comum o alvitre de que «os parentescos e amizades pervertiam
aquela inteireza que neles devia haver por serem sujeitos [na sua
pátria] ao ódio e ao amor».28
Terminada a guerra da Restauração, na regência e no reinado
de D. Pedro II (1668-1706), procurou-se enraizar a administra-
ção portuguesa no Estado do Brasil em duas principais frentes de
acção. Por um lado, foram criados os bispados de Olinda e do Rio
de Janeiro, e o da Baía foi alçado à condição de arcebispado. Em
fins dos anos de 1670, outorgaram-se capitanias na parte meridional
da América, concedendo terras até a embocadura do rio da Prata.
Estas medidas culminaram na criação, em 1680, da Nova Colónia
de Sacramento.29
Destaca-se ainda nesse contexto a criação de novos cargos, de
entre eles, o ofício de secretário de Estado dos governos de Angola
e das capitanias do Rio de Janeiro e do Maranhão, em 1688. A partir
de finais do século xvii e início do xviii, o exacerbado poder econó-
mico e político das câmaras ultramarinas foi progressivamente cer-
ceado. Foram-se constituindo meios mais eficazes de enquadramento
político­-administrativo dos poderes locais, tanto no Reino, quanto
no ultramar. A criação do cargo de juiz de fora em Goa (1688), na
Baía (1696), no Rio de Janeiro (1701), assim como em Luanda (1722,
já em fase posterior), correspondeu à necessidade sentida pela coroa

28
  Consulta do Conselho Ultramarino, de 23 de Maio de 1677, apud Stuart B.
Schwartz, Burocracia e Sociedade no Brasil Colonial..., 212.
29
  Luís Ferrand de Almeida, A Colónia do Sacramento na Época da Sucessão de
Espanha (Coimbra: Universidade de Coimbra, 1973).

220

Monárquias Ibéricas.indb 220 13/12/18 14:55


As instituições civis da monarquia portuguesa na Idade Moderna

de intervir nas funções administrativas e financeiras, nomeadamente


tributárias, das câmaras, a fim de controlar os descaminhos e os pos-
síveis prejuízos da Fazenda real. Em Portugal, também os juízes de
fora eram raros até finais do século xvi. Daí que a sua proliferação
mais intensa a partir da segunda metade do século xvii tenha sido
muitas vezes considerada pela historiografia como prova do declí-
nio do municipalismo, cerceado pelas pretensões centralizadoras
da monarquia. O facto de este funcionário ser nomeado pela coroa
e de a ele caber a presidência da câmara – substituindo o antigo
juiz ordinário eleito pelas elites locais – obscureceu o papel que o
mesmo desempenhou. Sendo um indivíduo letrado, formado na
­Universidade de Coimbra, fomentaria a aplicação do direito oficial e
régio, podendo constituir-se em potencial elemento de desagregação
da autonomia do sistema jurídico-político fundado em práticas con-
suetudinárias, promovendo a sua desqualificação por meio da argu-
mentação técnica. Neste sentido, a eficácia da institucionalização do
cargo de juiz de fora residiu na difusão da cultura jurídica letrada, o
que não impediu que muitas vezes este se arvorasse em porta-voz
dos interesses locais.30

1704-1763: A época do ouro no Brasil


O intervalo entre a participação portuguesa na Guerra de
­Sucessão de Espanha e na Guerra dos Sete Anos, as duas com assi-
naláveis impactos no Brasil, pode ser designado como a época do
ouro.31 A descoberta do ouro na região das Minas irá suscitar, à mar-
gem da coroa portuguesa, uma imensa torrente migratória, vinda da
capitania de São Paulo, por um lado, do resto da América e do Norte
de Portugal, por outro, grupos que se enfrentarão numa disputa pelo
controlo na região aurífera que ficou conhecida como Guerra dos
Emboabas.32 Em larga medida, a coroa irá resolver a questão a favor
dos segundos, tentando precisamente enquadrar a sua presença por

30
  António Manuel Hespanha, As Vésperas do Leviathan..., 196-199.
31
  Cf. Charles R. Boxer, A Idade de Ouro do Brasil. Dores de Crescimento de uma
Sociedade Colonial, (São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1963). ­Conjuntura
também conhecida sob a designação de «ciclo do ouro» a partir da obra de João
Lúcio de Azevedo. Épocas de Portugal Económico. Esboços de História, 4.ª ed.
(­Lisboa: Livraria Clássica Editora, 1978).
32
  Adriana Romeiro, Paulistas e Emboabas no Coração das Minas. Ideias, Práticas
e Imaginário Político no Século XVIII (Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008).

221

Monárquias Ibéricas.indb 221 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

meio da criação de vilas, chamando-os a participar no governo local.


Ao mesmo tempo, instituía capitanias e criava ouvidorias.33 Talvez
mais claramente do que em qualquer outro caso, fica muito evidente
que é esse o modelo que a monarquia aplica para integrar interes-
ses locais nas suas malhas institucionais. Proteger o ouro e o Brasil
também é, em boa medida, aquilo que orienta os seus ­representantes
diplomáticos no cenário da guerra na Europa, no qual se consoli-
dará a aliança inglesa, base para a protecção das rotas atlânticas.34
E que levará a coroa a impor um quase total bloqueio à circulação de
informações sobre a América, bem como à presença de estrangeiros
na mesma.35 De resto, outras convulsões percorriam os territórios,
como a disputa em Pernambuco entre as vilas de Olinda e do Recife
(criada em 1709), disputa conhecida como Guerra dos Mascates,
que contrapôs um pólo hegemonizado pelas elites açucareiras a um
outro, associado aos interesses mercantis.36
Com visível deslocação dos seus núcleos mais activos para sul,
a população crescerá de forma explosiva (multiplica por seis em
cinquenta anos) à conta da emigração de portugueses do Norte da
península e do tráfico de africanos escravizados, utilizados na mine-
ração aurífera e diamantina. O número de câmaras quase duplica, o
de ouvidorias praticamente triplica e o de capitanias aumenta muito
menos (cf. quadro 1). As câmaras continuam a enviar representações
e a constituir um incontornável interlocutor local da coroa e dos
seus agentes em cada capitania, mas, fora das Minas – que constitui
em certa medida uma excepção – o centro político começa a aceitar

33
  Em relação às capitanias, em 1709 foi criada a capitania de São Paulo e Minas do
Ouro, e, em 1720 ela foi desmembrada em duas: a de São Paulo e a de Minas Gerais,
com governos independentes. No que diz respeito à organização judiciária, em 1711
foram criadas as comarcas de Vila Rica (com sede em Vila Rica) e a do Rio das Velhas
(com sede em Sabará); em 1713 criou-se a comarca do Rio das Mortes, com sede
em São João del Rei, todas desmembradas da antiga comarca de São Paulo (criada
em 1700, desmembrada, por sua vez, da ouvidoria do Rio de Janeiro); e em 1720 foi
instituída a comarca de Serro Frio, com sede na Vila do Príncipe, desmembrada da
comarca do Rio das Velhas.
34
  Isabel Cluny, D. Luís da Cunha. A Ideia de Diplomacia em Portugal (Lisboa:
Livros Horizonte, 1999).
35
  Andrée Mansuy Diniz Silva. «Introdução e comentário crítico», em André João
Antonil, Cultura e Opulência do Brasil por Suas Drogas e Minas (Lisboa: ­Comissão
Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 2001).
36
  Evaldo Cabral de Mello, A Fronda dos Mazombos...

222

Monárquias Ibéricas.indb 222 13/12/18 14:55


As instituições civis da monarquia portuguesa na Idade Moderna

cada vez com mais dificuldade as pretensões negociais dos poderes


locais.37
Quem fala pelo centro, ou seja, pelo rei? No início do longo rei-
nado de D. João V (1706-1750), certamente o Conselho ­Ultramarino.
Depois, apesar da criação em 1736, com inspiração francesa e espa-
nhola, da Secretaria de Estado da Marinha e Ultramar, não é certo.
O que não oferece dúvidas é que o rei assumiu um protagonismo
directo em muitos assuntos. De permeio os territórios sob adminis-
tração da coroa portuguesa multiplicam-se por três, à custa de espaço
formalmente detido desde o Tratado de Tordesilhas (1494) pela coroa
espanhola. O Tratado de Madrid, firmado pelas duas monarquias em
1750, sancionou os novos ganhos territoriais, a troco da cedência da
Colónia do Sacramento, que protegia o contrabando. A aplicação do
Tratado, entretanto, iria condicionar o ciclo subsequente.

1763-1808: as reformas pombalinas e pós-pombalinas


O ciclo de reformas intensivas na monarquia pluricontinental
portuguesa fica sobretudo associado ao reinado de D. José I (1750-
-1777) e à passagem pelas Secretarias de Estado de Sebastião José
de Carvalho e Melo, depois feito 1.º marquês de Pombal. De facto
parece duvidoso que tivesse concepções sistemáticas sobre reformas
no Brasil, para além dos preceitos claramente mercantilistas, que o
faziam pensar que «cada nação monopoliza o tráfico das suas (coló-
nias) e exclui delas as nações estranhas irremissivelmente».38 Tendo
de aplicar o Tratado de Madrid (1750), negociado entre as coroas
ibéricas nos anos anteriores, consagrando um enorme alargamento
territorial das fronteiras do Brasil, reputava-o prejudicial aos interes-
ses portugueses, por prever a devolução da Colónia do Sacramento,
mas sabia que devia dar início à sua execução. A feroz oposição ao
tratado na América, com as subsequentes guerras guaraníticas, bem
como às companhias comerciais monopolistas que criou para zonas
relativamente periféricas do Grão-Pará e Maranhão (1755) e de

37
  Joaquim Romero Magalhães, «A cobrança do ouro do rei nas Minas Gerais:
o fim da captação, 1741-1750», Revista Tempo, vol. 14, n.º 27 (Jul.-Dez. 2009): 135-
-149; Luciano Figueiredo, «Pombal cordial. Reformas, fiscalidade e distensão polí-
tica no Brasil: 1750-1777», em A «Época Pombalina» no mundo luso-brasileiro, orgs.
Francisco Falcon e Cláudia Rodrigues (Rio de Janeiro: FGV Editora, 2015), 125-174.
38
  José Barreto ed., Sebastião José de Carvalho e Melo. Escritos Económicos de
Londres (1741-1742) (Lisboa: Biblioteca Nacional, 1982), 41-42.

223

Monárquias Ibéricas.indb 223 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

­ ernambuco e Paraíba (1756), desencadearam um processo no qual o


P
esmagamento das oposições políticas se combinou com o Terramoto
de Lisboa (1755), com a expulsão dos jesuítas (1759) e depois com a
guerra na Europa e nas Américas (1756-1763).39
É o conflito e a ulterior extinção dos jesuítas que pautam a polí-
tica adoptada nos anos seguintes. Uma das mais originais foi sem
dúvida o Directório do Índios (1755-1757) através do qual se pre-
tendeu transformar a população dos antigos aldeamentos em vilas
dotadas de câmaras de ameríndios.40 Com poucas alterações, aplica-
-se mais uma vez a receita da municipalização, sendo esse processo
o responsável pela criação da maior parte das novas câmaras então
verificada. A instituição de um tribunal da Relação no Rio de Janeiro
(1751) e a ulterior transferência da cabeça do vice-reinado do Brasil
para essa cidade (1763), em pleno contexto de guerra, inscrevem-se
num processo iniciado no reinado anterior, que faz deslocar o centro
administrativo da colónia para os seus novos pólos economicamente
mais activos.41 A criação de Juntas de Fazenda em cada capitania,
procurando modificar as formas de contabilidade e reforçar o con-
trolo pelo centro das respectivas receitas e despesas, demorou a ser
concretizada e teve resultados ambivalentes42. Ao contrário do que
se passará na monarquia vizinha, parece quase ausente o propósito
de retirar poder às elites locais, que nem sequer eram abrangidas por
uma designação comum que as distinguisse dos naturais de Portugal.
Em resumo, à excepção da supressão dos aldeamentos da jurisdição
das ordens religiosas e da criação das Juntas de Fazenda, pode dizer-
-se que a arquitectura institucional não se altera de forma visível no
período pombalino. No entanto, a análise da comunicação política
revela que o poder dos governadores parece reforçar-se nas capi-
tanias em detrimento das câmaras, tal como no reino a autoridade

39
  Nuno Gonçalo Monteiro, D. José. Na Sombra de Pombal (Lisboa: Temas &
Debates, 2008), 97 e segs.
40
  Ângela Domingues, Quando os Índios Eram Vassalos. Colonização e ­Relações
de Poder no Norte do Brasil na Segunda Metade do Século XVIII (Lisboa: Comis-
são Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 2000); Maria
Regina Celestino de Almeida, «Política indigenista e políticas indígenas no tempo das
reformas pombalinas» em Francisco C. Falcon e Cláudia Rodrigues, orgs., A Época
Pombalina no Mundo Luso-Brasileiro (Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2015), 175-214.
41
  Maria Fernanda Bicalho, A Cidade e o Império..., 49-102.
42
  Tema tratado no capítulo de autoria de Susana Münch Miranda e Roberta
Stumpf, deste volume.

224

Monárquias Ibéricas.indb 224 13/12/18 14:55


As instituições civis da monarquia portuguesa na Idade Moderna

do Secretário de Estado em detrimento do Conselho Ultramarino.


Toda a manifestação pública de dissidência é severamente punida.
As preocupações militares são sempre muito relevantes.
Em 1777, a queda de Pombal e a ocupação espanhola definitiva da
Colónia do Sacramento num novo cenário de guerra são o preâm-
bulo agitado de um período de fim de século que vai pautar-se por
uma grande prosperidade comercial, devido à guerra de independên-
cia das colónias britânicas e à crescente procura europeia de produ-
tos do Brasil. As câmaras recuperam algo de sua voz, as companhias
monopolistas são extintas, mas a independência a­ mericana tem algum
impacto sobre a inconfidência mineira (1789)43 e as conspirações no
Rio de Janeiro (1794)44 e na Baía (1798).45 A prosperidade comer-
cial e o crescimento da população da América portuguesa combi-
naram-se com as pressões diplomáticas, com uma primeira invasão
hispano-francesa na Europa (1801) e com as crescentes dificulda-
des financeiras nas quais a monarquia mergulhou em resultado da
ampliação dos gastos militares. Anos de vertigem, nos quais o Brasil
esteve sempre no centro das preocupações, até que a invasão fran-
cesa em 1807 precipitará a partida da família real para a cabeça do
Estado do Brasil.46

As instituições da monarquia
O Conselho Ultramarino e as Secretarias de Estado
Trataremos aqui de duas das principais instituições responsáveis
pela comunicação política entre reino e conquistas: o Conselho
Ultramarino e as Secretarias de Estado. No entanto, outros órgãos
da polissinodia portuguesa participavam na decisão política da coroa,
que resultava de uma complexa trama de órgãos de aconselhamento
do rei, de armazenamento e de produção de informação. Embora não

43
  Kenneth R. Maxwell, A Devassa da Devassa. A Inconfidência Mineira, Brasil-
-Portugal, 1750-1808, 2.ª ed. (Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978).
44
 Anita C. L. de Almeida, Inconfidencia no Império: Goa de 1787 e Rio de
Janeiro de 1794 (Rio de Janeiro: 7 Letras/FAPERJ, 2011).
45
  István Jancsó, Na Bahia contra o Império. História do Ensaio de Sedição de
1798 (São Paulo/Salvador: Hucitec/EdUFBA, 1996).
46
 Valentim Alexandre, Os Sentidos do Império. Questão Nacional e Questão
Colonial na Crise do Antigo Regime Português (Porto: Edições Afrontamento, 1993).

225

Monárquias Ibéricas.indb 225 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

se possa falar de uma típica hierarquia entre eles, variando muito o


âmbito efectivo da sua actuação, o Desembargo do Paço e o ­Conselho
de Estado eram os mais antigos e determinantes nas questões que
hoje associamos à política. O primeiro era o principal tribunal do
reino, com uma esfera de atribuições variável e jurisdição em maté-
rias de graça de justica, enquanto o segundo só se reuniu de facto
em certos períodos, mas foi depois de 1640, muitas vezes, o centro
da consulta e decisão régia. A Casa de Suplicação constituía-se no
supremo tribunal de justiça da monarquia, sendo a ela subordina-
das as Relações – do Porto (1582), de Goa (1554), da Baía (1609 e
1652) e do Rio de Janeiro (1751). A Mesa da Consciência foi criada
em 1532 para tratar das matérias de obrigação da consciência do rei,
mas as suas atribuições eram sobretudo as decorrentes da incorpo-
ração em 1551 dos mestrados das três ordens militares, de Cristo,
de Santiago de Espada e de São Bento de Avis, com os padroados da
primeira, nestes se incluindo todas as dioceses ultramarinas. O tri-
bunal do Santo Ofício foi criado em Portugal em 1536; o Conselho
da Fazenda, instituído em finais de Quinhentos, com ampla inter-
venção nas matérias fazendárias, e o Conselho da Guerra criado em
1640, são outros dos mais relevantes.47
Fazia parte desta arquitectura institucional, e substituindo a ante-
rior Casa da Mina, a Casa da Índia e da Mina, estabelecida dois anos
depois da viagem de Vasco da Gama à Índia. Esta não era apenas
uma feitoria central, onde eram pagos os tributos sobre os produtos
comerciados no império. Na verdade, e até ao estabelecimento do
Conselho da Índia e do Conselho Ultramarino – que diminuíram a
sua jurisdição –, era a instituição pela qual passavam todas as matérias
relacionadas com a circulação no império, de pessoas, de mercado-
rias, mas também de informação. O seu responsável respondia direc-
tamente ao rei, e, em algumas matérias, ao Conselho da Fazenda.
Sob a égide dos Áustrias foi instituído, em 1604, o Conselho da Índia,
ao qual competia lidar com os negócios relativos aos domínios ultrama-
rinos de Portugal, excepto os dos arquipélagos dos Açores e da Madeira
e dos lugares do Norte da África. De vida curta, foi extinto em 1614.
Depois da Restauração de 1640, com os holandeses em P ­ ernambuco

 José Subtil, «Os poderes do centro», em História de Portugal. O Antigo


47

Regime, vol. 4, dir. José Mattoso, coord. António Manuel Hespanha (Lisboa: Edito-
rial Estampa, 1993), 157-187.

226

Monárquias Ibéricas.indb 226 13/12/18 14:55


As instituições civis da monarquia portuguesa na Idade Moderna

e em Angola, quando a nova dinastia enfrentava um contexto de incer-


tezas, D João IV criou o Conselho Ultramarino (1642-1643), com regi-
mento amplamente baseado no do anterior Conselho da Índia.48
Paralelamente aos conselhos operavam, na monarquia pluricon-
tinental portuguesa, juntas e secretarias com os seus secretários.
Em relação às juntas, a sua criação é atribuída à procura de formas
mais expeditas de lidar com os problemas e a morosidade que afec-
tavam quotidianamente a administração, tornando as decisões mais
rápidas.49 Este foi o caso da criação, em janeiro de 1643, da Junta
dos Três Estados, à qual foi atribuída a administração dos impostos
extraordinários de guerra. Por se constituírem em novos instrumen-
tos decisórios, desestabilizando os canais tradicionais de exercício
da política, como os conselhos, o modo de resolver das juntas foi
considerado por muitos contemporâneos como indesejadas novida-
des ou perniciosa influência dos tempos da Monarquia Hispânica,
falando-se até de «governar à castelhana».50
Para assistir o rei na produção das decisões e no controlo da infor-
mação existia um secretário que, a partir da recriação do ­Conselho
de Estado, passou a acumular também as funções de secretário deste
Conselho.51 Em 1643, a Secretaria de Estado foi desdobrada, sur-
gindo a Secretaria das Mercês, que se juntou, ainda no reinado de
D. João IV, à Secretaria do Expediente. Basicamente, à Secretaria
de Estado ficava reservado o despacho das questões de alta polí-
tica, provimentos de vice-reis, de governadores de províncias, de

48
 Entre os estudos sobre o Conselho Ultramarino, cf. Marcelo Caetano,
O Conselho Ultramarino. Esboço da Sua História (Lisboa: Agência Geral do Ultra-
mar, 1967); Edval de Souza Barros, «Negócios de Tanta Importância»: O C ­ onselho
­Ultramarino e a Disputa pela Condução da Guerra no Atlântico e no Índico, 1643-
-1661 (Lisboa: CHAM/FCSH-UNL, 2008); Erik Lars Myrup, To Rule from Afar:
The Overseas Council and the Making of Brazilian West, 1642-1807 (Yale: Yale
­University, 2006); Miguel Dantas da Cruz, Um Império de Conflitos. O Conselho
Ultramarino e a Defesa do Brasil (Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2015);
­Marcello J. G. L ­ oureiro, Iustiam Dare. A Gestão da Monarquia Pluricontinental.
Conselhos Superiores, Pactos, Articulações e o Governo da Monarquia Portuguesa,
1640-1668 (Rio de Janeiro: PPGHIS-UFRJ, 2014).
49
  Pedro Cardim, «A Casa Real e os órgãos centrais do governo de Portugal da
segunda metade de Seiscentos», Revista Tempo, n.º 13 (julho 2002): 34.
50
 Pedro Cardim, Cortes e Cultura Política no Portugal do Antigo Regime.
(­Lisboa: Edições Cosmos, 1998), 29.
51
  André da Silva Costa, Os Secretários de Estado do Rei. Luta de Corte e Poder
Político, Séculos XVI-XVII. (Lisboa: FCSH – UNL, 2008).

227

Monárquias Ibéricas.indb 227 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

governadores de armas, de generais da armada, de almirantes e de


outros ofícios maiores ligados à guerra, presidência de tribunais e
despachos em grandes mercês, ficando para a Secretaria das Mercês
e Expediente as questões menores e as mercês de menos relevância.
No entanto, sobre aquelas matérias da grande política, o Conselho
de Estado devia antes ser ouvido.52
Durante a Guerra da Sucessão de Espanha, confrontado com a
guerra de corso e as duas invasões francesas ao Rio de Janeiro (1710
e 1711), além das inúmeras revoltas e motins que conflagraram na
América portuguesa, o Conselho Ultramarino foi instado a suge-
rir medidas e a definir políticas para a conservação dos vassalos e
dos domínios americanos, produzindo um conjunto expressivo de
consultas.53 No entanto, já em meados dos anos de 1730 o conselho
experimentou um enfraquecimento aparentemente irreversível.54
Em 1736, foram criadas três novas Secretarias, que viriam a concen-
trar mais eficazmente as distintas matérias da monarquia pluriconti-
nental portuguesa: a Secretaria de Estado dos N
­ egócios Estrangeiros e
da Guerra, a Secretaria de Estado da Marinha e ­Negócios ­Ultramarinos
e a Secretaria de Estado dos Negócios do Reino. Até ao fim do rei-
nado de D. João V, em 1750, as três Secretarias só funcionaram de
forma muito limitada, podendo o rei despachar com juntas ou outros
intervenientes. As Secretarias de Estado só se tornariam «verdadeiros
ministérios» na segunda metade do século xviii, durante o reinado de
D. José I (1750-1777) e de prevalência política do futuro marquês
de Pombal, que institucionalmente levou à supremacia dos secretá-
rios de Estado sobre as outras instituições da administração central,
designadamente os conselhos, embora estes subsistissem até às pri-
meiras décadas do século xix.
Na segunda metade do século xviii, a criação do Erário Régio
em 1761 consistiu num momento relevante do processo de esvazia-
mento das competências remanescentes do Conselho Ultramarino
em matéria financeira, pois o tribunal perdeu o direito de interferir

52
  Nuno Gonçalo Monteiro, «A Secretaria de Estado dos Negócios do Reino
e a administração de Antigo Regime (1736-1834)», em Do Reino à Administração
Interna: História de um Ministério, 1736-2012, orgs. Pedro T. de Almeida e Paulo S.
e Sousa (Lisboa: Imprensa Nacional, 2015), 23-38.
53
  Cf. Laura de Mello e Souza e Maria Fernanda Bicalho, 1680-1720. O Império
deste Mundo (São Paulo: Companhia das Letras, 2000).
54
  Miguel Dantas da Cruz, Um Império de Conflitos..., 337-386.

228

Monárquias Ibéricas.indb 228 13/12/18 14:55


As instituições civis da monarquia portuguesa na Idade Moderna

na Fazenda real das conquistas. Portanto, em finais do século xviii


observa-se o triunfo do Secretário de Estado na comunicação e na
definição da política ultramarina.

Vice-reis e governadores-gerais
No Estado da Índia, em 1503, o governo-geral foi elevado à
condição de vice-reinado, embora só mais tarde o título de vice-rei
fosse concedido de forma sistemática. Para o Estado do Brasil, ape-
nas em 1640 o primeiro vice-rei seria nomeado ainda sob a égide
dos Á
­ ustrias. Uma segunda nomeação, já sob os Bragança, dar-se-ia
em 1663; uma terceira no século xviii, em 1714, e somente em 1720
o título de vice-rei seria atribuído a todos os que fossem governar,
de Salvador da Baía ou do Rio de Janeiro, o Estado do Brasil. Cabe
ressaltar que nenhum dos governadores do Estado do Maranhão
e Grão-Pará foi agraciado com o mesmo título, geralmente adoptado
quer na Nova Espanha, quer no Peru.
Pode também argumentar-se que, embora os domínios ultrama-
rinos da coroa de Castela na América tenham chegado a receber
a designação de «reinos», os territórios americanos e os comple-
xos territoriais portugueses na Ásia foram denominados «­Estados».
É interessante pensar que, de todas as possessões de Portugal, a
única que obteve, senão o estatuto, mas ao menos a designação de
«reino», foi Angola (além do Algarve, desde o século xiii, e o B­ rasil,
somente a partir de 1815, quando a rainha D. Maria I e sua corte
passaram a residir no Rio de Janeiro). O estatuto de reino atribuído
a Angola, de forma distinta dos Estados da Índia, do Brasil e do
­Maranhão ou Grão-Pará, talvez possa ser explicado pelo reconhe-
cimento de uma entidade política preexistente no território, já que
a conquista e a cristianização do reino do Ndongo se deu de forma
bem específica, por meio da instituição de um pacto de vassalagem
entre o rei de Portugal e a dinastia local.55 No entanto, a única tra-
dução ­ institucional significativa dos estatutos dos demais terri-
tórios ultramarinos foi a dos Estados, que na segunda metade do
século  xvii (por meio das suas cidades mais importantes: Goa, São

55
  Pedro Cardim e Susana M. Miranda, «Virreyes y gobernadores de las pose-
siones portuguesas en el Atlántico y en el Índico (siglos xvi-xvii)», em El mundo de
los virreyes en las monarquías de España y Portugal, orgs. Pedro Cardim e Joan-Luís
Palos (Madrid/Frankfurt am Main: Iberoamericana/Vervuert, 2012), 180-181.

229

Monárquias Ibéricas.indb 229 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

S­ alvador da Baía e São Luís do Maranhão) tiveram representação nas


cortes de Portugal.56
Na Índia, a distância e as dificuldades na comunicação entre
­Lisboa e as conquistas na Ásia devia ser resolvida mediante a delega-
ção de atribuições a um oficial (o vice-rei) dotado de uma dignidade
quase real, uma vez que tratava directamente com os reis e os régu-
los locais. Inúmeras foram as embaixadas e os acordos diplomáticos
que exigiram um alto grau de importância do representante máximo
do rei de Portugal. Tais circunstâncias determinavam a concessão de
poderes extraordinários ao vice-rei do Estado da Índia e o reconheci-
mento de uma grande autonomia na tomada de decisões e iniciativas.
Embora o seu mandato estivesse delimitado ao menos regimental-
mente, aos vice-reis foi transferida parte das regalia maiora, como
se do próprio rei se tratasse. Podiam fazer uso da justiça suprema
em matérias civis e criminais, competência exclusiva do monarca,
incluindo a condenação à morte, sem que a sentença estivesse sujeita
à apelação ao rei. Podiam conferir mercês, cunhar moeda, impor
tributos, criar ofícios. Em suma, foram concedidos aos vice-reis do
Estado da Índia direitos majestáticos, considerados inseparáveis da
pessoa do rei. Não é por acaso que em Goa, onde residia o vice-rei, se
estabeleceram, em sua órbita, ou em sua corte, vários dos conselhos
palatinos e organismos de cúpula da monarquia portuguesa, ligados
à guerra, à justiça e à fazenda, mas também à religião, como o único
tribunal do Santo Ofício da Inquisição instalado fora de Portugal.57
O mesmo não se deu em relação aos governadores-gerais e aos
vice-reis no Estado do Brasil, cuja jurisdição era mais limitada.
A particularidade da conferição do título de vice-reis aos represen-
tantes máximos do rei de Portugal na América impõe-nos algumas
considerações acerca do seu governo. A primeira refere-se à ausên-
cia de regras uniformes e de um conjunto epecífico de compilações
legislativas para o governo do ultramar, nos moldes do que fizeram,
por exemplo, os Áustrias. A ordenação político-administrativa por-
tuguesa privilegiou, ao contrário, a experimentação e uma plurali-
dade de soluções que variavam de acordo com a região e as diferentes

56
  Pedro Cardim, Maria Fernanda Bicalho e José Damião Rodrigues, «Cortes,
juntas e procuradores», em Um Reino e Suas Repúblicas no Atlântico..., 101-135.
57
  Catarina Madeira-Santos, «Los virreyes del Estado de la India en la formación
del imaginario imperial português», em El mundo de los virreyes..., 71-117.

230

Monárquias Ibéricas.indb 230 13/12/18 14:55


As instituições civis da monarquia portuguesa na Idade Moderna

c­ onjunturas. Após o momento inicial de conquista e fixação em pon-


tos descontínuos do litoral, período marcado pela descentralização
administrativa e pela doação régia de capitanias hereditárias a parti-
culares, a coroa portuguesa instituiu, em 1549, o governo­-geral, com
sede na cidade de São Salvador da Baía. Foram, ao todo, cinco os regi-
mentos atribuídos aos governadores-gerais do Brasil ao longo dos
séculos xvi e xvii. O de Francisco Giraldes, de 1588, ­autorizava-o
a conceder tenças até determinado valor; enquanto o de Gaspar
de Souza, de 1612, lhe permitia a dispensa do processo devido nos
casos civis e criminais, o lançamento de fintas, a atribuição de ten-
ças, o direito de conceder ofícios em propriedade ou em serventia.
O último regimento foi o de Roque da Costa Barreto, datado de
1677. Todos os demais governadores-gerais e vice-reis, até ao início
do século xix, orientaram-se por ele. 58
O que vimos discutindo remete-nos a duas interessantes ques-
tões: a primeira refere-se à pouca diferença entre o ofício e as jurisdi-
ções dos governadores-gerais e dos vice-reis no Brasil, uma vez que
o estatuto de vice-rei substituiu literalmente o de governador-geral,
sem que as competências respectivas se tenham alterado. A segunda
é sobre a esfera de jurisdição ou do poder efectivo do vice-rei que,
de acordo com o seu exercício no século xviii, a partir da cidade do
Rio de Janeiro, acabou por diminuir. Por outras palavras, ao longo
do século xvii os governadores-gerais tiveram maior jurisdição e
poder, inclusive sobre os governadores das capitanias régias e dona-
tariais a eles subordinadas do que os fidalgos vice-reis nomeados no
século  xviii, quer para a Baía, quer para o Rio de Janeiro.59 A atri-
buição do título de vice-rei aos sucessivamente escolhidos a partir
de 1720 demonstra uma significativa alteração no perfil dos homens
que passaram a ocupar o cargo, egressos cada vez mais da nobreza
titulada; assim como do reconhecimento da importância económica
e política que o Brasil conquistou no conjunto da monarquia pluri-
continental portuguesa no século xviii.60

58
  Francisco Carlos Cosentino, Governadores Gerais do Estado do Brasil..., 203-
-303.
59
  Dauril Alden, Royal Government in Colonial Brazil. With Special Reference
to the Administration of the Marquis of Lavradio, Viceroy, 1769-1779 (Berleley e Los
Angeles: University of California Press, 1968).
60
 Nuno Gonçalo Monteiro, «Trajetórias sociais e governo das conquistas:
Notas preliminares sobre os vice-reis e governadores-gerais do Brasil e Índia nos

231

Monárquias Ibéricas.indb 231 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Se comparados aos vice-reis da Índia – na sua grande maioria


filhos primeiros das casas nobres do reino –, os governadores­-
-gerais do Brasil, embora provenientes da primeira nobreza,
eram com mais frequência filhos segundos. Poucos se elevaram à
­Grandeza. No entanto, esta situação mudaria na primeira metade do
século  xviii, quando passou a ser sistemática a atribuição do título
de vice-rei aos governantes nomeados para a América portuguesa,
o que pode levar-nos a concluir que a coincidência entre o vice-rei-
nado e o título condal era claramente assumida na época. Assim,
todos os vice-reis nomeados a partir de 1714 eram ou seriam feitos
titulares com Grandeza no reino, fossem eles primogénitos e suces-
sores da casa paterna, fossem secundogénitos. De facto, a atribuição
do título vice-reinal e a elevação à G
­ randeza constituíam dimensões
indissociáveis. 61

Vale ainda mencionar um dado significativo: se faltava aos gover-


nadores-gerais nomeados para o Brasil no século xvii experiência
ultramarina anterior, o mesmo não se pode dizer dos vice-reis que
serviram na centúria seguinte. Muitos dentre eles haviam governado
outras capitanias na América, ou passado pelos governos de Angola
e da Índia.

As instituições locais
A matriz institucional da administração local constitui um dos
tópicos deste capítulo. Em contraponto ao modelo fluido e multi-
forme proposto pelos historiadores para o Estado da Índia quinhen-
tista, pode reafirmar-se que, em todas as zonas nas quais a monarquia
portuguesa tinha uma ampla penetração territorial, esta se achava
dividida em: circunscrições militares, com os governadores e capitães­-
-generais no topo e as ordenanças na base; judiciais­-administrativas,

séculos xvii e xviii», em O Antigo Regime nos Trópicos. A Dinâmica Imperial Portu-
guesa, Séculos XVI-XVIII, orgs. João Fragoso, Maria Fernanda Bicalho e Maria de
Fátima S. Gouvêa (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001), 249-283; Maria
de Fátima S. Gouvêa, «Poder político e administração na formação do complexo
atlântico português, 1645-1808», em O Antigo Regime nos Trópicos..., 285-315.
61
  Mafalda Soares da Cunha e Nuno Gonçalo Monteiro, «Governadores e capi-
tães-mores do império atlântico português nos séculos xvii e xviii», em Optima
Pars. Elites Ibero-Americanas do Antigo Regime, orgs. Nuno G. F. Monteiro, Pedro
Cardim e Mafalda Soares da Cunha (Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2005),
191-252.

232

Monárquias Ibéricas.indb 232 13/12/18 14:55


As instituições civis da monarquia portuguesa na Idade Moderna

com os corregedores/ouvidores e as câmaras na base; fazendárias,


com alguns ofícios específicos; e eclesiásticas, com os bispos e os
párocos. Claro que esta enumeração simplificada conhecia numero-
sas excepções e assinaláveis discrepâncias, designadamente, entre o
reino e o ultramar.
A arquitectura institucional do reino europeu era notoriamente
«antirregional»,62 pois as câmaras, cerca de 800 num pequeno terri-
tório, contrapunham-se umas às outras em espaços muito próximos.
O mesmo não se passava na América portuguesa, onde as capitanias
e as ouvidorias abrangiam territórios imensos, com poucas câmaras,
uma destas assumindo frequentemente o estatuto de «cabeça». Pode
presumir-se, assim, que os poderes no Novo Mundo eram muito
mais vincadamente regionalizados.
Também se devem invocar as diferenças decorrentes do padroado
real da Ordem de Cristo no Atlântico: ao contrário do que ocorria
no reino, a coroa – e os bispos por ela indicados – apresentava a
generalidade dos párocos e pagava as respectivas côngruas, da mesma
folha por onde se custeava a maior parcela da administração judicial
e militar de cada capitania.
Assim, em todos os espaços nos quais a administração da coroa
adquiriu uma ampla penetração territorial, foi razoavelmente repli-
cado um modelo semelhante de administração civil, militar e ecle-
siástica. A mais notória excepção, como se disse, foram os territórios
das missões e dos índios aldeados, onde esse modelo acabaria por
ser também retomado, com variações, na sequência da expulsão dos
jesuítas no âmbito do Directório dos Índios. Aliás, a ocupação para
o interior americano muitas vezes não se fez por iniciativa directa da
coroa ou então escapou em grande medida ao seu controlo, sendo
ulteriormente enquadrada por esta. De resto, a esmagadora maioria
dos jovens europeus que partiram para a América portuguesa não foi
para lá mandada por ninguém, a não ser eventualmente pelos pais ou
outros familiares.
No início deste capítulo procura-se traduzir tudo isto em números,
cruzando os dados administrativos com as dimensões demográficas.
Entretanto, a informação disponível é pouco segura. Em particular

 Joaquim Romero Magalhães, «As estruturas sociais de enquadramento da


62

economia portuguesa de Antigo Regime: os concelhos», Notas económicas, n.º 4,


(1994).

233

Monárquias Ibéricas.indb 233 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

para os domínios do Atlântico Sul, fornece-nos apenas uma ordem


de grandeza, uma tendência de evolução. Acresce que só nos oferece
uma indicação sobre as populações nas áreas de administração por-
tuguesa. Não sobre aquelas, imensas na América (índios bravios) ou
em África, da qual não se fala, que escapavam a tal enquadramento
institucional.
Na América portuguesa o aumento da população no século xviii
foi tumultuoso. Entre o início e o fim do século, a população dos
territórios sob administração portuguesa ter-se-á multiplicado pelo
menos por dez! Um crescimento idêntico ao da América inglesa
no mesmo período, mas talvez mais acentuado na primeira metade
do século, e muito maior do que o da América hispânica. Embora
as explicações não sejam consensuais, parece seguro que esse cres-
cimento se deveu em primeiro lugar à imigração forçada de africa-
nos escravizados e, em segundo lugar, de europeus. Os brasis terão
recebido cerca de um terço do volume global do tráfico de escravos
no século xviii, mas também um amplo contingente de jovens portu-
gueses, provavelmente equivalente na primeira metade do século ao
que saiu das ilhas britânicas em direcção aos futuros Estados Unidos
da América.63 Este ciclópico crescimento demográfico, e territorial,
só em parte se traduziu na multiplicação de câmaras e de capitanias,
sendo proporcionalmente maior o aumento do número de magis-
trados letrados: ouvidores e juízes de fora (cf. quadro 1). E porquê?
Em todos os municípios, designados por cidades, vilas ou conce-
lhos, se deviam constituir câmaras municipais, as quais possuíam em
toda a parte atribuições formais parcialmente coincidentes, nestas se
incluindo a jurisdição em primeira instância, pelo menos em matéria
cível, do respectivo juiz presidente. Ou seja, os tribunais de primeira
instância eram constituídos pelas câmaras e assim seria até ao libe-
ralismo. Constituíam propriamente a câmara de um concelho, ou o
chamado «senado» nas terras mais importantes. Todas elas compar-
tilhavam (pelo menos em parte) as mesmas magistraturas, às quais
se atribuíam idênticas competências. Os ofícios municipais abran-
giam sempre, em primeiro lugar, um juiz presidente (ordinário ou de

63
  E muito superior ao número de emigrantes de Espanha para os vários territó-
rios da respectiva monarquia. Os números disponíveis valem o que valem e a biblio-
grafia é imensa. Cf. Massimo Livi-Bacci, Breve historia de las migraciones (Grupo
Anaya Editorial, 2012), 164-165.

234

Monárquias Ibéricas.indb 234 13/12/18 14:55


As instituições civis da monarquia portuguesa na Idade Moderna

fora). Compunham-nas ainda, quase sempre, dois ou mais vereado-


res e um procurador, e, eventualmente, também um tesoureiro. Com
a excepção dos juízes de fora, nas terras onde existiam, todos estes
oficiais eram eleitos localmente e confirmados pela coroa, o que no
Brasil não se fazia de forma uniforme (podia ser o ouvidor, a ­Relação
ou o governador quem a representava). Constituíam propriamente
a câmara de um concelho, ou o chamado «senado» nas terras mais
importantes. Em teoria, não eram remunerados, mas a regra sofria
muitas excepções. Entre os ofícios superiores e não­-pagos incluíam-
-se ainda os almotacés que, embora não fizessem parte das câmaras,
pois eram estas que os elegiam, tinham incumbências importantes
para a vida local em matérias como a vigilância sobre os pesos e medi-
das, o abastecimento em géneros e a fixação de preços. As câmaras
no seu conjunto detinham, ainda, competências numa multipli-
cidade de terrenos relativos à administração e à regulação da vida
económica local. A forma da eleição, indirecta e por prazos anuais,
dos vereadores, procuradores e juízes ordinários – quando existiam
– encontrava­-se definida nas Ordenações do reino, mas foi sendo
modificada através de diversa legislação ulterior. As poucas pessoas
elegíveis para as câmaras e que constavam das listas muito restritas de
residentes elaboradas para o efeito eram designadas pela «nobreza»
ou pelos «principais» da terra, muitas vezes com grande expressão
pública, pois falavam em nome dos habitantes do seu território.
O oficialato remunerado (escrivães e outros), com atribuições rele-
vantes e objecto de venda em certos casos,64 não se confundia com os
ofícios honoráveis locais. Na monarquia portuguesa, nunca se ven-
deram os ofícios da governança. Esse facto, bem como a sua eleição
de entre os residentes, permitiu que a composição das câmaras fosse
mudando. No Brasil, isso traduziu-se na mobilidade das respectivas
elites: os negociantes, grande parte naturais do Norte de Portugal,
entraram em todas as vereações das cidades e vilas mais importan-
tes da ­América portuguesa ao longo do século xviii, em acentuando
contraste com o que se verificou no reino.65

64
  Roberta Stumpf, «Os provimentos de ofícios: a questão da propriedade no
Antigo Regime português», Topoi, vol. 15, n.º 29 (jul.-dez. 2014), 612-634.
65
  Nuno Gonçalo Monteiro, «A circulação das elites no império dos Bragança
(1640-1808): algumas notas», Revista Tempo, vol. 14, n.º 27 (2009): 65-81.

235

Monárquias Ibéricas.indb 235 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Epílogo comparativo
Em conclusão, importa apontar traços específicos aos cenários
estudados, bem como destacar eventuais mutações e traçar uma
breve análise comparativa. Desde logo, parece claro que o nível de
formalização das instituições corporativas foi maior na ­América
Hispânica e, em particular, no vice-reinado da Nova Espanha.66
Há muitas explicações possíveis para essa diferença. É provável que,
para além do conteúdo dos regimentos, o nível de intervenção dos
governadores fosse mais amplo no Brasil. Sabemos também que a
magistratura letrada era «de fora», formada em Coimbra e provida
pelo centro político, ao contrário do que acontecia nos territórios
espanhóis (Audiencias). Ainda se destaca o facto de as populações
ameríndias quase não terem constituído um grupo corporativo no
espaço urbano da A ­ mérica portuguesa, ao contrário do que ocorria
na espanhola, onde existia um ordenamento jurídico e institucional
específico e diferenciado na ordem civil da monarquia, para além
das aldeias missionárias. Mas as maiores diferenças talvez residam
no facto de, no Brasil, a população, nas ampliadas terras adminis-
tradas pela coroa, se ter multiplicado por dez e o número de câma-
ras e outras instituições locais, pelo menos, por três, ao longo do
século xviii. Ao invés, a maior parte das instituições hispânicas estava
estabelecida havia muito e o ritmo do crescimento demográfico, tal
como da imigração, foi claramente menos acentuado. A aparente
menor rigidez das instituições locais do Brasil também se traduziu
na mobilidade das respectivas elites, e no ingresso dos negociantes,
naturais do reino, nas vereações.
Em texto recente, John Elliot comparou as duas Américas ibéri-
cas, concluindo no final: «la impresión predominante es la presencia
de uma comunidad atlântica mucho más integrada en el caso luso de
la que se puede hablar en el mundo atlántico español»67. Esperamos
ter ajudado a explicar essa diferença.

66
  Conforme indica Annick Lempérière, Entre Dios y el rey: la república. La ciu-
dad de México entre los siglos xvi y xix (México, DF: Fondo de Cultura Económica,
2014), insistindo, sobretudo, no peso das confrarias.
67
  John Elliott, El Atlántico español y el Atlántico luso: divergencias y convergen-
cias (Gran Canaria: Ed. del Cabildo de Gran Canaria, 2014), 48.

236

Monárquias Ibéricas.indb 236 13/12/18 14:55


Ana Díaz Serrano

Capítulo 6

Las poco y las más repúblicas.


Los gobiernos indios en la América
española 1

Los europeos que dirigieron sus expectativas hacia el horizonte


abierto allende los mares desde finales del siglo xv lo hicieron asu-
miendo que lo que encontrarían sería nuevo para ellos. Confiaron
en sus habilidades para lidiar con las diferencias, habituados a un
mundo diversificado. La Europa del Renacimiento estaba, por un
lado, definida por particularismos que acentuaban las identidades
locales y complejizaban las relaciones transregionales y, por otro,

  Esta investigación ha contado con financiación de varios proyectos. Las prin-


1

cipales han sido la Ayuda para estancias de movilidad posdoctoral en centros extran-
jeros, Programa Nacional de Movilidad de Recursos Humanos de Investigación
del Ministerio de Educación (España) (2012-2014) y el Proyecto I+D+i Jóvenes
Investigadores Hombre de Dios al servicio del rey. Mediación, discursos y prácticas
políticas en la Edad Moderna (Nueva España, siglos xvi y xvii), Plan Nacional de
Investigación del Ministerio de Economía y Competitividad (España), Código
HAR2015-74322-JIN (AEI/FEDER/UE) (2017-2019). Secundariamente los pro-
yectos Hispanofilia, la proyección política de la Monarquía Hispánica (II): políticas
de prestigio, migraciones y representación de la hegemonía (1560-1650), Plan Nacional
de Investigación del Ministerio de Economía y Competitividad (España), Código
HAR2011-29859-C02-01 (2012-2014); y Columnaria I. Comprender las dinámicas
de los Mundos Ibéricos, Fundación Séneca. Agencia de Ciencia y Tecnología de la
Región de Murcia, Código19247/PI/14 (2015-2018).

237

Monárquias Ibéricas.indb 237 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

marcada en sus extremos por la imponente presencia del Islam, su


principal referente de alteridad. Las primeras relaciones con los
habitantes de los territorios ultramarinos estuvieron condicionadas
por las ambiciones extractivas de los colonos, que dejaron un trá-
gico balance en el área caribeña. El salto a Tierra Firme puso a los
españoles en conocimiento de la existencia de una entidad política
configurada por una serie de señoríos confederados, ligados entre sí
por vínculos económicos y fiscales, si bien con notables diferencias
socio-culturales. Desde la ciudad de Tenochtitlan los mexicas con-
trolaban el corazón de la región y desplegaban su influencia hacia el
conjunto de Mesoamérica, frente a la cual se levantaron fuerzas opo-
sitoras, reforzadas por los crecientes abusos de poder. La posibilidad
de capitalizar estos descontentos favoreció el desarrollo de relacio-
nes políticas entre los españoles y determinados dirigentes locales,
que planearon sus alianzas militares con los recién llegados como
una oportunidad para revertir su posición subalterna2. La caída del
imperio tenochca posibilitó el avance español sobre sociedades para
las que la conquista militar se significaba en el sometimiento de los
vencidos a través del pago de tributos y la guerra fundamentaba el
reconocimiento social y el liderazgo político.
La expansión por el resto de los territorios americanos siguió
las lógicas de esta primera exitosa experiencia, no siendo hasta una
decena de años más tarde cuando la descomposición del Tawanti-
suyo habilitó el dominio sobre el conjunto del continente. La usur-
pación del poder a los incas, quienes desde la ciudad de Cuzco
habían gobernado gran parte de la franja occidental sudamericana,
significó el acceso a regiones cultural, climática y geográficamente
diversificadas. Los diferentes grados de incanización de cada una
de ellas determinó una variedad lingüística, de creencias y valores
apreciable en las formas de lo político, lo social y lo económico.
Así, en el caso peruano la ágil asimilación de los fundamentos de
orden social y gobierno europeos y autóctonos no fue tan evidente.
La identificación de las prácticas náhuatl con las europeas favoreció
las transferencias entre los primeros conquistadores y los primeros
conquistados; sin embargo, la réplica de estas interpretaciones fuera

  José Javier Ruiz Ibáñez y Gaetano Sabatini, «Monarchy as conquest: ­violence,


2

social opportunity, and political stability in the establishment of the Hispanic Monar-
chy», The Journal of Modern History, vol. 81, n.º 3 (September 2009): 5­ 01-536.

238

Monárquias Ibéricas.indb 238 13/12/18 14:55


Las poco y las más repúblicas. Los gobiernos indios en la América española

del ámbito mesoamericano dio lugar a malentendidos que tempra-


namente determinaron el desarrollo político de la administración
indiana. Los diferentes atributos y atribuciones con que el tlatoani y
el curaca – titulares del poder en las unidades territoriales básicas de
cada uno de los imperios prehispánicos – regían las relaciones al inte-
rior y hacia el exterior de sus comunidades y gestionaban sus recur-
sos eran el reflejo de formas muy diferentes de entender el mundo
y gobernarlo. Los españoles, abrumados, pero también confiados en
sus habilidades para interpretar y evaluar las culturas indígenas, acu-
muladas en sus itinerarios americanos, prefirieron obviar muchas de
estas particularidades, aunque las prácticas cotidianas tardarían varias
décadas en mostrar signos de una homogeneización funcional. Con
ello se explica una conquista con varios ritmos (o varias conquis-
tas), dependientes de los recursos disponibles para hacer efectivo el
avance militarizado, así como de las reacciones de las poblaciones
indígenas frente a éste.
En toda su extensión geográfica y cronológica la conquista fue
posible gracias a la conciliación de intereses de las fuerzas implicadas.
Sin embargo, ésta fue generalmente precedida, acompañada o incluso
seguida de episodios de extrema violencia, que afectaron, sobre todo,
de manera directa e inmediata, individual o colectivamente, a quienes
mostraron abiertamente su disidencia a la alianza hispano-indígena.
El conjunto de las poblaciones autóctonas sufrió un tipo u otro de
violencia. En los primeros años sus vidas fueron alteradas, en mayor
o menor medida, por la guerra, o por la mera presencia de nuevos
pobladores, y paulatinamente por la imposición de un marco ideoló-
gico, normativo e institucional que fundamentaba un orden nuevo.
La inicial situación de excepcionalidad dio paso a un extrañamiento,
que requirió de un proceso de reconstrucción, dirigido hacia la nor-
malización del dominio español. Para ello, la Corona ofreció a las
élites indígenas las herramientas para redefinir sus identidades en
términos europeos, es decir, para relocalizar su liderazgo dentro de
la propia Monarquía Hispánica. Al aceptar el reconocimiento por el
rey católico de su estatus social dentro del nuevo orden, estas élites
locales asumieron una nueva jerarquía de poderes. De este modo,
su autoridad quedó subordinada a la del lejano soberano, converti-
das en mediadoras entre sus comunidades y este poder superpuesto.
Esta gran novedad en la representación y la práctica del poder en los
territorios americanos supuso que las élites indígenas perdieran su

239

Monárquias Ibéricas.indb 239 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

autonomía política y renunciaran a usos y creencias tradicionales de


difícil convergencia con las exportadas desde Europa. Estos debían
quedar como parte de un pasado demarcado por la conversión al
catolicismo y, por ende, en súbditos del rey de España.
Este momento fundacional de la relación entre el rey y sus súb-
ditos americanos dio lugar a un largo y pausado proceso de trans-
ferencias de ideas y prácticas que moldeó las sociedades indígenas
con formas hispánicas. Estos cambios se materializaron en las repú-
blicas de indios, entidades políticas regidas por élites locales cuya
autoridad se expandía al conjunto del territorio bajo su jurisdicción,
tras ser acreditada por la Corona y canalizada a través del cabildo.
Esta traslación del modelo municipal castellano pretendía orde-
nar política y territorialmente aquel Nuevo Mundo y consolidar el
dominio real, neutralizando la influencia de las élites indias y redu-
ciendo la incidente intervención de los religiosos y los encomen-
deros en la administración americana. La amplia (pero no agotada)
producción historiográfica sobre las repúblicas de indios (en su
identificación como «pueblos de indios» y «gobiernos indios»)
se ha desarrollado desde mediados del siglo xx en torno al debate
sobre el éxito de la imposición del modelo político de la Monarquía
­Hispánica. El objetivo de este capítulo es, sin embargo, ofrecer un
análisis de la dominación hispánica desde el análisis de la administra-
ción de las distancias y de las diferencias3. Para ello centramos nues-
tra atención en las repúblicas de indios como espacios de transición,
proyectados por la Corona para consolidar la incorporación de sus
territorios americanos a través de unas prácticas políticas capaces de
sublimar la conquista militar.
Puede considerarse que las repúblicas de indios sólo tuvieron
un desarrollo pleno en la Nueva España, de donde fue extraído el

  La categoría conceptual administración o gobierno de las distancias refiere a


3

la doble dimensión espacial y temporal del fenómeno. Por una parte, la constata-
ción de una heterocronía en el encuentro y colisión del Nuevo Mundo, esto es, los
diferentes ritmos culturales y la diversa administración de pasados que entran en
transacción no sólo entre conquistados y conquistadores, sino entre las propias rea-
lidades locales y/o españolas. Por otra parte, el gobierno de las distancias da cuenta
de una heterotopía: los dispares espacios geográficos y políticos que se verifican
en esta coyuntura y que condicionan las acciones, desplazamientos y demandas
desde y hacia el espacio material y simbólico de la Corona. Ver Ana Díaz Serrano,
El gobierno de las distancias. Repúblicas urbanas en la Monarquía Hispánica (Murcia
y Tlaxcala, siglo xvi y xvii) (Madrid: FCE, en prensa).

240

Monárquias Ibéricas.indb 240 13/12/18 14:55


Las poco y las más repúblicas. Los gobiernos indios en la América española

ejemplo que debía servir de modelo al resto de poblaciones indíge-


nas, en uno y otro hemisferio. En este texto abarcamos el conjunto
del virreinato novohispano a través de los casos mejor estudiados
y que resultan paradigmáticos, con Tlaxcala como punta de lanza,
contrastando sus evoluciones a fin de exponer sus diferencias y,
con ellas, la complejidad del gobierno ultramarino. Incorporamos
además algunas apreciaciones sobre la región andina, ampliamente
explorada desde otras perspectivas, pero no tanto desde el de la ins-
titucionalización de los poderes indígenas y su incorporación a la
administración indiana. Para ambas áreas quedamos a la espera de
nuevas investigaciones que permitan hacer una composición general
sobre este tema y, finalmente, un estudio de síntesis que nivele el
interés por las repúblicas americanas (completada con su extensión
filipina) con la producción historiográfica sobre sus homólogas en
otros territorios de la Monarquía Hispánica. Cronológicamente fue
bajo el mandato de Felipe II – desde su período de regencia – cuando
las repúblicas de indios vivieron su mayor esplendor, en coincidencia
con el interés del soberano por ejercer un poder sólido y ordenado,
sin desatender a ninguno de sus territorios. Nuestro análisis necesa-
riamente considera las décadas previas, pero atenúa la atención para
las posteriores, cuando las repúblicas sufrieron diversos procesos de
descomposición y sus pobladores empezaron a ser asimilados como
un grupo social de trabajadores ruralizados.

El gobierno indio a debate


Las luchas de facciones, los selectivos nombramientos de los caci-
ques (y, sobre todo, de los gobernadores), la planificación de las con-
gregaciones, la clasificación de cabeceras y sujetos, y la ocupación del
poder local de forma electiva y/o rotativa dieron lugar a una redefini-
ción de las élites locales. Quienes mejor asimilaron la cultura política
de la Monarquía Católica fueron quienes finalmente ejercieron como
cabezas de las nuevas y particulares repúblicas de las Indias. En las
últimas décadas el estudio sobre este proceso ha sido reforzado por
la incorporación de enfoques indigenistas a corrientes historiográfi-
cas con un enfoque global, complejizando el análisis de la conquista
americana, sus resultados y las relaciones entre sus protagonistas.
Un punto de partida de estos trabajos ha sido el debate generado en

241

Monárquias Ibéricas.indb 241 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

torno al significado de la introducción del modelo de gobierno local


castellano en las poblaciones indígenas. La b ­ úsqueda de equivalen-
cias entre las formas políticas a ambos lados del ­Atlántico hispánico
dio lugar a dos líneas interpretativas que chocaron en 1992, cuando
James Lockhart4 rebatió algunas de las conclusiones a las que había
llegado Charles Gibson en su libro de 19645. En su investigación
sobre el Valle de México, éste definía el cabildo indio como «una
institución colonial deliberadamente introducida por los españoles»
para descomponer las bases de lo que identifica como un «naciona-
lismo azteca», y señalaba que el nuevo sistema carecía de cualquier
antecedente en el mundo náhuatl, provocando su descomposición6.
Lockhart, por el contrario, partió de la base de la inexistencia de una
unidad política náhuatl – aunque sí cultural y lingüística – y explicó
la rápida y exitosa introducción del modelo de gobierno municipal
castellano en el Valle Central por sus notables conexiones con el
prehispánico. Atendiendo a los contenidos en lenguas indígenas de
la documentación conservada, demostró que los naturales asemeja-
ron los cargos concejiles a sus propios rangos socio-políticos, advir-
tiendo de que la adopción del significante no implica necesariamente
también la del significado y abogando por una profundización en los
usos y prácticas7.
Antes que Lockhart, otros autores se habían desbancado de la
línea gibsoniana, superando la idea de la tabula rasa y poniendo en
relieve otros efectos de la implantación del gobierno indio en el con-
junto de la Nueva España. Apenas un año después de la publicación
del libro de Gibson, Delfina López Sarrelangue publicó los resulta-
dos de su investigación sobre el proceso y los mecanismos utilizados
por la nobleza tarasca para adaptar su identidad hegemónica a los
condicionantes hispánicos8. Poco después, William Taylor enfatizó

4
  James Lockhart, The Nahuas after the conquest. A social and cultural history of
the Indians of central Mexico, sixteenth through eighteenth centuries (Stanford: Stan-
ford University Press, 1992).
5
  Charles Gibson, The Aztecs under Spanish rule; a history of the Indians of the
Valley of Mexico, 1519-1810 (Stanford: Stanford University Press, 1964); edición en
español, utilizada para las referencias: Los aztecas bajo el dominio español, 1519-1810
(México: Siglo xxi, 1984).
6
 Gibson, Los aztecas…, 175-177.
7
 Lockhart, The Nahuas…, 59-62.
8
  Delfina Esmeralda López Sarrelangue, La nobleza indígena de Pátzcuaro en la
época colonial (México: UNAM, 1965).

242

Monárquias Ibéricas.indb 242 13/12/18 14:55


Las poco y las más repúblicas. Los gobiernos indios en la América española

la conservación de la autoridad y el prestigio de los antiguos tlatoque


de Cuernavaca al menos hasta 16509. Hilberto Martínez consideró
el cabildo indio como un elemento fundamental en la superviven-
cia de las élites indias de Tepeaca, preservando su autoridad frente a
otros sujetos dominantes, como los encomenderos10. Nancy Farriss
destacó la supervivencia de la sociedad maya en paralelo a la de los
españoles, reflexionado sobre el significado de los cambios culturales
y la capacidad de las sociedades para hacer frente a sucesos desesta-
bilizadores11. Francisco de Solano calificó de novedosa la movilidad
social al interior de los grupos hegemónicos náhuatl, habilitada por
el sistema electivo de los oficios concejiles12. Woodrow Borah señaló
que los cambios más notables de la administración novohispana se
habían producido en su «capa intermedia», donde la función media-
dora de los funcionarios reales introdujo formas de relación entre
los poderes locales y la máxima autoridad desconocidas durante el
período anterior13. García Martínez definió el proceso de transición
entre el altepetl y la comunidad campesina en la sierra de Puebla, ana-
lizando los usos del término «pueblo» y una centralización territorial
y administrativa que hubiera sido impensable en el modelo prehis-
pánico14. Finalmente, podemos destacar el trabajo de ­ Margarita
Menegus, quien había establecido la relación entre congregación,
propiedad de la tierra y cabildo indio a través del estudio de caso
de Toluca15. Sin embargo, desde nuestro punto de vista, el antece-
dente más directo de la propuesta de Lockart provino del ámbito de
los estudios andinos: La vision des vaincus, publicado por Nathan

9
  William B. Taylor, Landlord and peasant in colonial Oaxaca (Stanford: Stan-
ford University Press, 1972).
10
  Hildeberto Martínez, Tepeaca en el siglo xvi. Tenencia de la tierra y organiza-
ción de un señorío (México: Ediciones de la Casa Chata, 1984).
11
  Nancy M. Farriss, Maya society Ander colonial rule. The collectiva enterprise of
survival (New Jersey: Princeton University Press, 1984).
12
  Francisco de Solano, «Urbanización y municipalización de la población indí-
gena», en Estudios sobre la ciudad iberoamericana, coord. Francisco Solano (Madrid:
CSIC, 1983), 241-269.
13
  Woodrow Borah, coord., El gobierno provincial de la Nueva España, 1570-
1787 (México: UNAM, 1985).
14
  Bernardo García Martínez, Los pueblos de la sierra. El poder y el espacio entre
los indios del Norte de Puebla hasta 1700 (México: El Colegio de México, 1987).
15
  Margarita Menegus Bornemann, Del señorío a la república de indios. El caso
de Toluca: 1500-1600 (Madrid: Ministerio de Agricultura, Pesca y Alimentación,
1991).

243

Monárquias Ibéricas.indb 243 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Watchel en 1971, partía haciendo una llamada de atención sobre la


ambigüedad del término «aculturación» y la necesidad de considerar
las formas de resistencia no violentas para valorar las estrategias de
los naturales frente a los conquistadores16.
Todas estas publicaciones insisten en la supervivencia de elemen-
tos de la tradición indígena, a pesar de la acción de los españoles y, en
ocasiones, con su connivencia. Pero, sobre todo, sitúan a los indios
en el centro del análisis historiográfico, del que habían sido excluidos
por aquellas investigaciones que los señalaban como meros sujetos
pasivos de una historia determinada por el impulso conquistador de
los españoles. La aparición de muchos de estos trabajos en la década
de 1980 nos permite intuir su relación (quizás indirecta) con las líneas
de pensamiento que desde finales de la década anterior estaban cues-
tionando (principalmente desde las Ciencias S­ ociales) algunos de
los planteamientos ofrecidos por el Indigenismo17. ­Paradójicamente,
había sido Gibson el pionero de esta perspectiva, con su modélica –
aunque menos exitosa – investigación sobre ­Tlaxcala en el siglo xvi,
publicada en 1952 (aunque no difundida en español hasta 1991)18.
En ella atribuía a los naturales una gran capacidad para sortear las
imposiciones de los conquistadores y alterar la praxis concejil en
provecho propio.
Lockhart intentó fundamentar el giro de Gibson en un prejuicio
ideológico que fue agudizándose con los años, pero, sobre todo, en
su imposibilidad de descifrar la documentación náhuatl19. De hecho,

16
  Nathan Wachtel, La vision des vaincus. Les indiens du Perou devant la conquete
espagnole, 1530-1570 (Paris: Gallimard, 1971); edición en inglés, utilizada para las
referencias: The vision of the vanquished: the Spanish conquest of Peru through Indian
eyes, 1530-1570 (Sussex : Harvester Press, 1977).
17
  J. M. Fernández Fernández, «Indigenismo», en Diccionario crítico de Ciencias
Sociales, dir. Román Reyes, tomo I (Madrid-México: Plaza y Valdés, 2009). Consul-
tada versión on-line de la Universidad Complutense de Madrid: www.ucm.es/info/
eurotheo/diccionario/index_b.html
18
  Charles Gibson, Tlaxcala in the Sixteenth century (New Haven: Yale Univer-
sity Press, 1952).
19
  James Lockhart, Nahuas and Spaniards. Postconquest Central Mexicana His-
tory and Philology (Stanford: Stanford University Press-UCLA Latin American
Center Publications, 1991), cap. 10. Gibson apoya parte de sus conclusiones en
la Leyenda Negra, que considera «burda pero esencialmente justa» (Gibson, Los
aztecas…, 413), postura que justificaría posteriormente en Charles Gibson, The
Black Legend. Anti-Spanish attitudes in the Old World and the New (New York: A.A.
Knopf-A Borzoi Book on Latin America, 1971).

244

Monárquias Ibéricas.indb 244 13/12/18 14:55


Las poco y las más repúblicas. Los gobiernos indios en la América española

uno de los estímulos de las investigaciones sobre las sociedades


indias en los últimos años ha sido el avance en el conocimiento de
sus lenguas, con la publicación de importantes corpus documentales
traducidos e interesantes análisis sobre el significado de la termino-
logía indígena. Éstos se suman a otras fuentes tradicionales – aun-
que quizás no lo suficientemente explotadas – como las Relaciones
­Geográficas o la Historia General de las cosas de la Nueva España,
especialmente interesantes por su carácter compilatorio. Por otro
lado, cabe destacar la influencia de los renovados estudios visuales,
que ha permitido desarrollar análisis iconológicos de fuentes desa-
tendidas, o consideradas sólo desde el punto de vista iconográfico20.
El propio desarrollo de los estudios de élites, junto al esfuerzo por
entender las relaciones de la Corona con sus poderes territoriales,
independientemente de su caracterización étnica, y la administración
e idiosincracia de sus dominios ha favorecido el interés por la formu-
lación, creación y evolución de las repúblicas de indios21.

Las repúblicas de indios


El 14 de agosto de 1531, el oidor Vasco de Quiroga remitió una
carta al Consejo de Indias en la que advertía sobre la conveniencia de
hacer «ciertas poblaciones nuevas de indios […] que estén apartadas
de las viejas». Con ello respondía a una de las órdenes contenidas en
las instrucciones que la Corona había enviado a la II Audiencia mexi-
cana, fechada el 12 de julio de 1530, por la cual debían ser incorpora-
dos a los cabildos novohispanos regidores indios, «para que los indios
naturales de aquella provincia comenzasen a entender nuestra forma
de vivir, así en su gobernación como la policía y cosas de la república»,
esperando además «que esto les haría tomar más amor con los españo-
les, y parecerles ya bien nuestra manera de gobernación».

20
  Un ejemplo de este tipo de estudios es Florine G.L. Asselbergs, Conquered
Conquistadors. The Lienzo de Quauhquechollan. A Nahua vision of the conquest of
Guatemala (Leiden: Leiden University Press, 2004).
21
 Pedro Cardim et al., eds., Polycentric Monarchies: How did Early Modern
Spain and Portugal Achieve and Maintain a Global Hegemony? (Eastbourne: Sus-
sex Academic Press, 2012); Yanna Yannakaris, The Art of Being In-between. Native
Intermediaries, Indian Identity, and Local Rule in Colonial (Durham/Londres:
Duke University Press, 2008).

245

Monárquias Ibéricas.indb 245 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

La experiencia de Vasco de Quiroga (como juez de residencia en


Orán y como oidor en las Indias) le había permitido conocer los
problemas subyacentes en las sociedades pluriculturales, inclinán-
dose por la creación de «nuevas repúblicas», habitadas y administra-
das exclusivamente por indios, que debían proyectarse, a modo de
la Utopía de Moro, como islas, separadas radicalmente de las malas
influencias de los españoles. Éstos representaban la corrupción que
se había apoderado de las repúblicas europeas, guiadas ahora por la
soberbia y la codicia, las cuales no sólo habían provocado la fuerte
crisis política y espiritual que asolaba al viejo continente, sino que
amenazaban el sueño milenarista que había encontrado en el Nuevo
Mundo un motivo de vigorización y renovación. Vasco de Quiroga
confiaba en la eficiencia de la educación impartida por los religiosos
en sus monasterios a los jóvenes indios, también sujetos a un régi-
men de aislamiento que les protegía de las tendencias idolátricas de
sus mayores y los sumergía en la cultura política hispánica.
Pero no fue la opinión particular de Vasco de Quiroga la que con-
venció a la Corona de lo inoportuno de su proyecto inicial de cabildos
mixtos, sino el pronunciamiento corporativo de la Audiencia mexi-
cana, recogido en una carta de 1532, en la que, por un lado, exponía
el problema de comunicación derivado del desconocimiento de las
respectivas lenguas y, por otro, daba cuenta de una distendida prác-
tica política que de poco ejemplo debía servir a los naturales, afir-
mando que «al presente no haría otro provecho sino saber las burlerías
[es decir, los engaños] […] de lo que allí se provee» y considerando
que «no conviene que sepan la mala que entre los españoles hay»22.
Aquel mismo año, la Audiencia hizo llegar al rey el parecer consen-
suado entre las autoridades civiles y eclesiásticas novohispanas sobre
la necesidad de reconocer la capacidad de autogobierno de los natu-
rales como medida para consolidar su integración en la Monarquía,
que debía tener como vector la ratificación de las élites prehispánicas.
Decenas de memoriales y cartas fueron enviadas a la Corte; religiosos,
oficiales reales e incluso principales indios atravesaron el océano para
exponer al soberano la idoneidad de esta medida.
La instalación del alter ego real en la Nueva España a finales de
1535 permitió abrir vías de comunicación «directa» entre el soberano

  Citado en Gudrun Lenkersdorg, Repúblicas de indios. Pueblos mayas en Chia-


22

pas, siglo xvi (México: Plaza y Valdés Editores, 2010), 43.

246

Monárquias Ibéricas.indb 246 13/12/18 14:55


Las poco y las más repúblicas. Los gobiernos indios en la América española

y los naturales, reduciendo la cadena de intermediación y todos los


problemas derivados de ésta. Desde su llegada a México, la principal
misión del virrey Mendoza fue ampliar la efectividad de la autoridad
regia sobre sus todavía crecientes territorios ultramarinos. Para ello
apostó por fortalecer el pacto de reciprocidad con sus súbditos ame-
ricanos, lo cual pasaba por reconocer la condición de sujetos polí-
ticos de los naturales, es decir, su capacidad de intervención en los
asuntos de sus comunidades, y crear un espacio para el autogobierno
a nivel local. La pretensión de la Corona era consolidar su dominio
en aquellas lejanas provincias, por un lado, limitando el incontrolable
poder de los encomenderos y la enorme influencia de los religiosos;
y, por otro, garantizando la ejecución de las ordenanzas relativas a
los indios, en cuanto a sus derechos y obligaciones.
Los indios principales podrían formalizar su autoridad dentro
del nuevo orden. Sin embargo, el acceso al nuevo espacio de poder
estuvo condicionado por el cumplimiento de una serie de requisitos
que permitían a la Corona ejercer cierto control sobre estos gobier-
nos locales. Entre estos requisitos fue importante la posesión de
capital social y simbólico de origen prehispánico, pero sobre todo
la demostración de simpatía por la Doble Majestad que guiaba los
designios de la Monarquía Católica. La Corona venía concediendo
títulos y mercedes a los indios principales que habían auxiliado a los
españoles en sus empresas de conquista, una colaboración militar a
la que se debía sumar cierto voluntarismo (o simplemente no dema-
siada resistencia) a la adopción del cristianismo como nueva religión,
y en general como nueva forma de vida. De este modo, la Corona
había confirmado los estatus hegemónicos prehispánicos en térmi-
nos europeos y además quería traducir esa preeminencia social en
poder político.
Con esta decisión quedó zanjada de facto la larga discusión sobre
la legitimidad de los señores indios, que había sido ya resuelta en el
plano teórico por Francisco de Vitoria, en De potestate civili (1528), al
afirmar que «Además no hay que poner en duda que entre los paganos
haya príncipes y señores legítimos». Esta misma línea sería la seguida
por Bartolomé de las Casas, cuya defensa de los derechos de los seño-
res indios fue extrema, no sólo por las constantes equiparaciones entre
su dignidad y la de los infantes y príncipes de ­Castilla, sino por su radi-
cal oposición a cualquier tipo de intromisión de las autoridades civi-
les españolas en los asuntos de las c­ omunidades indias. Éstas debían

247

Monárquias Ibéricas.indb 247 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

ser intervenidas exclusivamente por quienes habían sido identificados


como sus gobernantes originarios. Dentro de esta misma línea destaca
la argumentación del agustino Alonso de la Vera Cruz, quien desde su
cátedra en la recién inaugurada ­Universidad de México, y después de
una larga etapa como misionero, advertía de que la comunidad indí-
gena estaba en situación de reclamar el dominio ejercido ahora por los
españoles, en base a dos supuestos que hacían obligatoria su devolu-
ción: su transferencia no voluntaria y la tiranía con que estaba siendo
ejercido. Su alusión apuntaba directamente hacia la encomienda, cuya
restitución no debía hacerse al emperador, como éste pretendía, sino
a la comunidad original23.
Al cerrarse este debate sobre la capacidad de gobierno de los
indios, se abrió otro en torno a los límites de su jurisdicción, que
marcará algunas pautas en la configuración del derecho indiano. Éste
partió del modelo legislativo castellano, pero, con el fin de resultar
no solo justo, sino también conveniente a los muy diversos pueblos
y naciones sobre los que se aplicaría, hubo de considerar las leyes y
costumbres prehispánicas, específicamente aquellas que no presen-
taban una incompatibilidad evidente con el derecho natural o con el
derecho positivo castellano24.

23
 Alonso de la Vera Cruz, Sobre el dominio de los indios y la guerra justa,
México, 1553-1556, edición de Roberto Heredia Correa (México: UNAM, 2004),
duda I, párrafo 6. Alonso de la Vera Cruz no pone en duda la legitimidad de la
posesión del emperador sobre las Indias, si bien en ocasiones cae en una ambigüe-
dad que se manifiesta en expresiones como la siguiente: «el emperador no tiene
otro dominio sino el que se le ha dado por la misma república, de tal suerte que si
gobernara tiránicamente, podría la república deponerlo y privarlo del reino» (Vera
Cruz, Sobre el dominio de los indios, duda I, párrafo 18). Las principales líneas de
pensamiento hispánico sobre la soberanía popular han sido trazadas por Mónica
Quijada, «España, América y el imaginario de la soberanía popular», en Modernidad
iberoamericana. Cultura, política y cambio social, edit. Francisco Colom Gonzá-
lez (Madrid/Frankfurt: Iberoamericana/Vervuert, 2009). Este tipo de argumentos
fueron usados con frecuencia por los naturales que pleitearon contra los españoles
con motivo de sus abusos. El caso más paradigmático es el de Tenemaztle, caci-
que de Notliztlan (ver Ana Díaz Serrano, «Nos exilium. Heterodoxias y fronteras
en ­América, siglos xvi-xviii», en Los refugiados del rey de España. Las Monarquías
­Ibéricas como tierra de recepción de exilios (siglos xvi-xviii), coords. José Javier Ruiz
Ibáñez e Igor Pérez Tostado (Madrid: FCE, 2015), 233-258).
24
  El peso específico de la tradición prehispánica en la configuración del dere-
cho indiano dio lugar a un amplio debate. Las afirmaciones de historiadores como
­García Gallo u Ots Capdequí pusieron las bases de la general aceptación de una
rotunda asimilación. Sin embargo, esta idea fue revisada posteriormente, sobre todo

248

Monárquias Ibéricas.indb 248 13/12/18 14:55


Las poco y las más repúblicas. Los gobiernos indios en la América española

En principio la Corona quiso adoptar una actitud prudente y, a la


misma vez que implantaba el gobierno indio, con la orden de «que
los indios sean puestos en policía sin ser oprimidos»25, prohibió que
éstos fueran llamados o intitulados como «señores», evitando con-
fundir su jurisdicción con la del señorío castellano26. Aunque esta
medida sólo tuvo vigencia entre 1538 y 1541, permitió la generali-
zación del uso de una palabra específica, «cacique», de origen anti-
llano, como único título para identificar a los gobernantes indígenas
de todo el continente. Con ello se redujo la terminología del poder
americana, muy amplia y confusa para las autoridades españolas y
sus agentes27, pero también provocó o confirmó, según los casos,
un desequilibrio importante en el ordenamiento social prehispánico,
todavía vigente en la práctica, al invalidar las jerarquías internas de
sus élites y acelerar la introducción de parámetros europeos. Por otro
lado, la Corona confió este tipo de nombramientos a los religiosos y
a los encomenderos, suponiendo que, por su continuado contracto
con los naturales y su conocimiento sobre sus usos, estaban teóri-
camente capacitados para distinguir a quienes gozaban de las cali-
dades requeridas. Sin embargo, en no pocos casos estas elecciones
únicamente siguieron el criterio de simpatías e intereses particulares.
El resultado fue la configuración de grupos de poder indios que, en
ocasiones, poco tenían que ver con la preferencia continuista que la
Corona había predispuesto.
La incorporación de facto de los naturales al cuerpo político de
la Monarquía debía normalizar la administración de los territorios
ultramarinos de la Corona castellana acercándola a la que se venía
desarrollando en la Península. La concesión del gobierno local
a los naturales estaba relacionada con el magno proyecto de las

por la historiografía latinoamericana, desde donde surgen matizaciones, algunas


de las cuales, como las de Tau Anzoátegui, llegan a relativizar esa asimilación al
punto de reservarla a casos excepcionales. Al respecto ver Miguel Ángel González
de ­Sansegundo, Un mestizaje jurídico: el derecho indiano de los indígenas. Estudios de
historia del derecho (Madrid: Universidad Complutense, 1995), 12-18 y 24.
25
  Novísima recopilación de las Leyes de Indias, Libro VI, Título I, Ley XIX.
26
  Leyes de Indias, libro VI, título VII. Ley V, «De los caciques»: «Que los indios
caciques y principales no se intitulen señores (…) porque así conviene a nuestro
servicio, y preeminencia real.»
27
  Tlatoani, pshihipquas, batab, irecha, caltzontzin, curaca, lonco o ruvichá son
algunos de los términos indígenas que fueron suplantados por el genérico ‘cacique’,
si bien su uso se mantuvo hasta el siglo xix.

249

Monárquias Ibéricas.indb 249 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

c­ ongregaciones. Su objetivo era acabar con la dispersión que carac-


terizaba al poblamiento indígena con la creación de núcleos urbanos
bien definidos, donde sería fácil dispensar la Palabra de Dios y el
amor del soberano. Sin embargo, no menos urgente era dar cierta
homogeneidad a la extensa tipología de prácticas de gobierno autóc-
tonas, que tanto dificultaba el gobierno de los intervalos, esto es, la
administración de aquellos territorios desde la distancia (ya fuera
ésta oceánica o continental, espacial o temporal).
En 1545 el visitador Tello de Sandoval envió un memorial
al rey en el que recogía las conclusiones de su visita. Ésta tenía
como objetivo evaluar la implantación de las Leyes Nuevas, y muy
especialmente la referida a la abolición de la encomienda. Ante
la violenta reacción de los encomenderos, Sandoval advirtió de la
inviabilidad de esta medida y propuso, como medida para amor-
tiguar su poder, la implantación de cabildos en todos los pueblos
indios. Su carácter corporativo y electivo evitaría un ejercicio del
poder unipersonal, característico de muchos caciques; mientras
que la necesidad de ser confirmado por el virrey reduciría la inter-
vención de los encomenderos y los religiosos. Sandoval hubo de
defender su propuesta ante el Consejo de Indias, que la convirtió
en ley en 1549. Aquel año, la Corona ordenó la generalización de
los cabildos indios y desde aquel momento los caciques medirían
su autoridad en términos de gobernaciones, regidurías, alcaldías,
alguacilerías o escribanías. Hasta entonces podríamos hablar de
algunas experiencias piloto, tempranos cabildos indios que marca-
ron la pauta a posteriori.
La disposición de los oficiales y las funciones de los cabildos
indios coincidían casi en su plenitud con los cabildos castellanos,
destacando las siguientes funciones: organizar y trasladar el tributo,
planificar los servicios personales, asegurar la lealtad y la obediencia
a la Corona y a la Iglesia, colaborar en la lucha contra la idolatría,
preservar la convivencia (paz y orden), asegurar las relaciones amis-
tosas con los españoles y proporcionar a los indios representación y
gestoría frente a las autoridades españolas. Ésta última es quizás la
marca más elocuente de la finalidad de estos cabildos, ya que dotaba
a las repúblicas indias de los instrumentos necesarios para que su
participación en la estructura política de la Monarquía fuera plena.
Así, en función de su calidad y solvencia, algunas de estas repúblicas
hicieron un uso frecuente de las altas instancias virreinales, tratando

250

Monárquias Ibéricas.indb 250 13/12/18 14:55


Las poco y las más repúblicas. Los gobiernos indios en la América española

sus asuntos en las Audiencias de México y Lima y aproximando sus


intereses a la Corte virreinal.
Desde 1551 la Corona además autorizó el viaje de los naturales
americanos a la Península para tratar asuntos relacionados con el
bien común en las últimas instancias de la Monarquía: el Consejo de
Indias y la Corte real28. Cabe destacar que esta orden real prohibía
a los delegados indios derivar sus reclamaciones hacia problemáticas
relacionadas con los españoles o hacia asuntos particulares. Con ello,
la Corona impidió tratar fuera del ámbito americano lo que en ese
momento surgía como el mayor problema para el mantenimiento de
la integridad de las repúblicas de indios: la trasgresión de sus límites
físicos, por la penetración legal en sus territorios de los estancieros
españoles.
Las décadas centrales del siglo xvi marcaron un proceso de
pauperización de muchos indios principales, debido a factores
demográficos y económicos, pero también fiscales. En 1552 fue
implantada una reforma tributaria con la que la Corona limitó sus
funciones, canalizadas ahora hacia el cabildo. Como reacción a las
múltiples denuncias interpuestas contra ellos por fraude y abusos
fueron apartados de la gestión individual del tributo real y se les
prohibió cualquier tipo de recaudación para su beneficio personal.
Estos delitos, que perjudicaban el bienestar de sus súbditos y, sobre
todo, el flujo de recursos dirigido la Hacienda Real, más que a un
impulso de trasgresión, remitían a una inercia, al mantenimiento de
una praxis asumida como legítima durante décadas, y además muy
rentable. En algunos casos las acusaciones destaparon las prácticas
idolátricas que algunos principales mantenían en privado, que se
convirtieron en propicias armas para aquellos otros que aspiraban a
mejorar sus estatus utilizando los medios dispuestos por el modelo
hispánico.

28
  Para el caso peruano ver José Carlos de la Puente, «A costa de Su Majestad:
indios viajeros y dilemas imperiales en la corte de los Habsburgo», Allpanchis, 39,
72 (2008): 11-60. Para el caso novohispano remito a mis propios trabajos: Ana Díaz
Serrano, «Repúblicas de indios en los reinos de Castilla: (re)presentación de las
periferias americanas en el siglo xvi», en Comprendere le monarchie iberiche. Risorse
materiali e rappresentazioni del potere, edit. Gaetano Sabatini (Roma: Edizioni ­Viella,
2010), 343-364; y «La República de Tlaxcala ante el Rey de España durante el siglo
xvi», Historia Mexicana, LXI, 3 (enero-marzo, 2012): 1049-1107.

251

Monárquias Ibéricas.indb 251 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Las poco y las más repúblicas


En 1575 Jerónimo Román y Zamora incluyó a las repúblicas de
indios en una magna obra en la que describía y escrutaba, bajo el cri-
terio de la Virtud, las repúblicas del mundo que eran y habían sido. El
agustino resumía las cualidades políticas de las comunidades indias en
dos sencillas categorías: las «poco repúblicas» y las «más repúblicas»29.
Estas últimas corresponderían a las comunidades situadas bajo juris-
dicción del virreinato novohispano – área a la que se refiere como «las
Indias» propiamente dichas –, a las que suma el Perú, pero sólo su región
central. El resto de los territorios ultramarinos conformarían las «poco
repúblicas», sin detenerse en ellas. En las descripciones de novohispa-
nos, guatemaltecos, yucatecos o peruanos – basados, según su propia
declaración, en la consulta de gran cantidad de papeles de quienes cono-
cían bien aquellos lejanos territorios – hay una buscada aproximación
a la idea de sociedades políticas dotadas de los medios necesarios para
gobernarse, con especial atención y valoración de sus corpus legislati-
vos. Román, que incluso llega a manifestar la conveniencia de exportar
algunas de las costumbres indígenas a Europa30, declara «que eran muy
políticos y que no era República desordenada ni como behetría, según
algunos dicen, antes en todas sus cosas mostraban juicios muy reposa-
dos y que discernían con la lumbre natural lo que pertenece a hombres
racionales»31. Finalmente señalaba que «esto digo porque mirando la
buena gobernación de esta gente me parece que no se diferenciaba nada
de una muy buena república, pues en todas las cosas tenían orden natu-
ral y en todo mostraban tener gran política...»32.

29
  Jerónimo Román y Zamora, Repúblicas del mundo, dividida en tres partes,
Medina del Campo, 1575 (primera edición) y Salamanca, 1595 (segunda edición
revisada). Sobre la censura de esta obra ver Rolena Adorno, «Sobre la censura y su
evasión: un caso trasatlántico», en Grafías del imaginario. Representaciones culturales
en España y América (siglos xvi-xviii), eds. González Sánchez y Enriqueta Vila Vilar
(Madrid: FCE, 2003), 13-52.
30
  «Cierto [es que] esta costumbre si se usase hoy, no haría daño en nuestra
España», afirmaba sobre la costumbre seguida en la Verapaz de reunir asambleas de
hombres experimentados en materias de guerra y religión cuando surgía algún caso
particular. Opiniones de este tipo tienen que ver con situaciones personales que el
autor refiere en ésta y en otras de sus publicaciones. Ver Román y Zamora, Repúbli-
cas…, parte III, 349.
31
  Román y Zamora, Repúblicas…, parte III, 156.
32
  Román y Zamora, Repúblicas…, parte III, 143.

252

Monárquias Ibéricas.indb 252 13/12/18 14:55


Las poco y las más repúblicas. Los gobiernos indios en la América española

Con estas afirmaciones, y el propio uso del término república para


referirse a las sociedades prehispánicas33, Román verificaba la viabili-
dad de las repúblicas de indios en el presente, haciendo una transfe-
rencia de calidades para el gobierno que es especialmente elocuente
en el capítulo «De la manera de gobernarse los indios de Tlascala, con
otras muchas cosas tocantes a esta República»34. Su apreciación sobre
el estado de los gobiernos indios en aquellos momentos no era tan
desatinada, pues, en general, podemos afirmar que bajo una misma
apariencia jurídico-institucional, la del cabildo, se desarrollaron for-
mas de gobierno muy diferentes, resultantes de la mixtura de la cultura
política hispánica con las muy variadas prácticas prehispánicas, entre
otras particularidades. Veamos algunos casos que nos pueden llevar,
desde las opiniones de Román, a la formulación de algunas considera-
ciones generales sobre su desarrollo.

La Nueva España
En la Nueva España destacaron seis repúblicas de indios: Tlaxcala,
Texcoco, Tacuba y Xochimilco, en el valle central de México, de tradi-
ción náhuatl, y Tzintzuntzan y Paztcuaro, en la provincia de Michoacán,
de tradición tarasca. El oidor Villarroel se refirió a los gobernadores de
Tlaxcala y Patzcuaro como los únicos que cumplían plenamente las fun-
ciones asignadas al cargo, mientras que los demás ejercían como meros
recaudadores de impuestos. Analicemos sus particularidades.
Desde el citado trabajo de Gibson hasta investigaciones recientes,
como las de Martínez Baracs35, Assadourian36, Baber37, Cuadriello38,

33
  Por ejemplo, Bartolomé de las Casas, principal autoridad para Román, se refe-
rirá a ellas como «reinos» y «provincias».
34
  Se trata del capítulo VI, cuyo contenido se corresponde con la misma descrip-
ción publicada unos años antes por Bartolomé de las Casas.
35
  Andrea Martínez Baracs, Un gobierno indio: Tlaxcala, 1519-1750 (México:
FCE, 2009).
36
  Andrea Martínez Baracs y Carlos Sempant Assadourian, comps., Tlaxcala,
una historia compartida, 16 volúmenes (México: Conaculta/Gobierno del Estado
de Tlaxcala, 1991).
37
  Jovita Baber, «The Construction of Empire. Politics, Law, and Community in
Tlaxcala, New Spain, 1521-1640» (tesis doctoral, Chicago, Universidad de Chicago,
2005).
38
  Jaime Cuadriello, Glorias de la República de Tlaxcala o la conciencia como
imagen sublime (México: UNAM/Museo Nacional de Arte, 2004).

253

Monárquias Ibéricas.indb 253 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

o Díaz Serrano39, la provincia india de Tlaxcala ha sido destacada por


su adhesión a la Monarquía Hispánica, motivada por su enemistad
contra los mexicas y consolidada por la predisposición de su élite a
establecer con los españoles una colaboración militar que los hizo
partícipes de las conquistas de Tenochtitlan, Michoacán, la Gran
Chichimeca, Guatemala, Yucatán e incluso Perú. Sin entrar en deta-
lles ni matizaciones sobre cómo llevó a cabo este proceso, es cierto
que Tlaxcala puede parecer ejemplar en su municipalización, y así le
pareció incluso a la Corona, que la incluyó como referencia en su
orden de 1549. En 1535 había recibido del emperador el título de
ciudad. Por aquel entonces estaba tomando forma un núcleo urbano
situado en el epicentro de la provincia, donde se trasladaría la élite
india y se levantarían el convento francisco y poco después las casas
de gobierno en torno a la plaza mayor. El cabildo indio había empe-
zado a funcionar poco después, en 1537, aunque no había sido regu-
lado hasta 1545, con la provisión de las ordenanzas municipales. Esta
normalización estuvo motivada por las disputas que las dudas sobre
los procedimientos a seguir estaban surgiendo entre los principales
tlaxcaltecas.
Aunque el cabildo en sí tuviera un fin centralizador y unificador,
la regulación de su funcionamiento consolidó la ordenación cuatri-
partita de la provincia, como reflejo del antiguo altepetl compuesto
y evitando la preeminencia de alguno(s) de los tlatoque (señores,
plural de tlatoani). De este modo, durante el siglo xvi, el cabildo de
­Tlaxcala contó con una gobernación, 4 regidurías perpetuas, 8 regi-
durías electivas y 4 alcaldías, que fueron repartidas equitativamente
entre las cuatro cabeceras. La gobernación tuvo un carácter rotatorio,
mientras que las regidurías perpetuas recayeron sobre los t­latoque,
reservándoles una cuota de poder con la que se daba continuidad
a su autoridad prehispánica, además de reconocer sus servicios a la
Doble Majestad. Desde 1546 la elección del resto de regidores y de
los alcaldes se hizo de forma anual, implicando al total de principales
censados en la provincia, lo que permitió intensificar las relaciones
entre los linajes principales de cada cabecera. Otros oficios siguie-
ron siendo elegidos «como lo tienen de uso y costumbre», conser-
vando su organización, denominación y funciones prehispánicas.
Siguiendo la pauta generalizada en el Valle de México, también hubo

39
  Díaz Serrano, El gobierno de las distancias…

254

Monárquias Ibéricas.indb 254 13/12/18 14:55


Las poco y las más repúblicas. Los gobiernos indios en la América española

c­ ontinuidad en el sistema de control de la cabecera sobre el conjunto


de la provincia, especialmente útil para la recaudación de impuestos y
la organización del trabajo colectivo. Las poblaciones fueron subdi-
vididas en entidades parecidas a barrios, con una organización vige-
simal de hasta 100 familias, dirigidas por un teniente40 que contaba
con un cuerpo de oficiales, o simplemente con vecinos dispuestos a
asumir deberes especiales,
Junto a estos detalles estructurales del gobierno indio frente al
modelo castellano, en Tlaxcala, como en otras repúblicas de indios,
cabe destacar una particularidad que surgió con el tiempo. A partir
de 1586, el número alcaldes aumentó, percibiéndose un mayor apre-
cio por estos cargos en detrimento de las regidurías. Las alcaldías
empezaron a ser demandadas por los linajes más ilustres, o por prin-
cipales que habían desarrollado una larga y reconocida trayectoria
política ya como regidores. Es difícil saber con certeza a qué se debió
este cambio. Concentrada la administración de justicia en el gober-
nador, en la praxis había pocas diferencias entre los regidores electos
y los alcaldes, teniendo voz y voto en el ayuntamiento y ejecutando
las medidas allí tomadas, pero poco a poco se fue introduciendo una
jerarquía entre ambos oficios contrapuesta a la existente en los con-
cejos castellanos. Lockhart identifica este proceso devaluatorio de
las regidurías con la ausencia de un equivalente prehispánico, que,
por el contrario, sí existía en el caso de las alcaldías. No descarta,
sin embargo, una causa mucho más sencilla: que los oficios fueran
ocupados indistintamente, con el único objetivo de cumplir con el
reparto de funciones establecidas. Aún estando de acuerdo con esta
espiral de poder, por nuestra parte consideramos que este interés
por las alcaldías pudo tener su origen – más que en su relación con
las regidurías – en las competencias que compartía con las goberna-
ciones: la administración de justicia. A través de ella se abría una vía
de control social importante, a la vez que se establecía un contacto
directo con los oficiales reales.41

  También denominados merinos o capitanes, según la provincia.


40

  Paralelamente a este proceso, se construyó la ciudad de Puebla, la república


41

de españoles con la que Tlaxcala mantuvo una continuada competencia. Las tensio-
nes giraron en torno al servicio personal y a la ubicación de la sede del obispado de
Tlaxcala, primero erigida en Tlaxcala como la primera diócesis americana, y luego,
en 1542, trasladada a Puebla.

255

Monárquias Ibéricas.indb 255 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Los estudios de López Sarrelange42, Castro Gutiérrez43, Paredes


Martínez 44 y Martínez Baracs45 han demostrado que la configuración
y desarrollo del gobierno indio de Patzcuaro estuvieron completa-
mente determinados por su antecedente prehispánico46. La provincia
de Michoacán tuvo un importante papel en la estabilización del domi-
nio hispánico en el área más septentrional de la Nueva España. Los
tarascos fueron expuestos por los religiosos como ejemplo de civiliza-
ción frente sus vecinos chichimecas, además de cumplir un importante
papel como abastecedores de El Bajío y de los centros mineros cerca-
nos. La consolidación de Patzcuaro como cabecera durante la segunda
mitad del siglo xvi tuvo lugar en conflicto con Tzintzuntzan. Ésta
había obtenido la condición de realengo en 1528 y el título de ciudad
en 1534, siendo elegida por Vasco de Quiroga como sede arzobispal, lo
que hacía presagiar que mantendría la preeminencia adquirida durante
la época prehispánica como corte perupecha. Sin embargo, en 1540 el
obispo cambió de opinión y se trasladó a Patzcuaro, llevándose con-
sigo al núcleo de poder indio. No fue hasta 1595 cuando ­Tzintzuntzan
recuperó su estatus como cabecera y, con él, el autogobierno y la auto-
ridad sobre siete barrios y veinte sujetos47. Mientras, Patzcuaro había
extendido su jurisdicción sobre 73 sujetos, en los que, bajo la supervi-
sión de Vasco de Quiroga, había establecido una particular y próspera
organización económica48.
Es posible que el cabildo indio en Patzcuaro estuviera ya funcio-
nando en 1545; lo que es seguro es que hasta 1576 compartió jurisdic-
ción con un cabildo español, que ese año fue trasladado a Valladolid,

42
  López Sarrelange, La nobleza indígena de Pátzcuaro….
43
  Felipe Castro Gutiérrez, Los tarascos y el Imperio español, 1600-1740 (México:
UNAM-Universidad Michoacana de San Nicolás de Hidalgo, 2004).
44
  Carlos Salvador Paredes Martínez, «La nobleza tarasca: poder político y con-
flictos en el Michoacán colonial», Anuario de Estudios Americanos, 61, 1 (2008):
101-117.
45
  Rodrigo Martínez Baracs, Convivencia y utopía. El gobierno indio y español de
la ‘ciudad de Mechuacan’, 1521-1580 (México: FCE, 2005).
46
  No se trata sólo de una percepción historiográfica, sino también de un hecho
destacado ya por los contemporáneos. Así se recoge uno de los capítulos de la Rela-
ción de Michoacán, cuyo título es significativo: «De la gobernación que tenía y tiene
esta gente entre sí» (Martínez Baracs, Convivencia y utopía…, 299).
47
  Detalles sobre el conflicto en López Sarrelange, La nobleza indígena de Pátz-
cuaro…, 61-65.
48
  López Sarrelange, La nobleza indígena de Pátzcuaro…, 76.

256

Monárquias Ibéricas.indb 256 13/12/18 14:55


Las poco y las más repúblicas. Los gobiernos indios en la América española

su gemela república de españoles, donde también fue situada la sede


del obispado en 158049. El cabildo indio de Patzcuaro contó con un
número variable de regidores, generalmente entre 6 y 7, aunque llegó
a tener 11, a los que se sumaron dos alcaldes ordinarios, un algua-
cil mayor, un mayordomo, un escribano y un intérprete. En toda la
provincia de Michoacán el sistema de elección de los cargos conce-
jiles fue anual. Los gobernadores eran elegidos siguiendo un criterio
de adscripción territorial rotativa entre los distintos barrios, mien-
tras que el resto de cargos eran asignados según el número de votos
obtenidos.
Los requisitos para participar en las votaciones dependían de la
costumbre de cada lugar, aunque en general se pedía que el candi-
dato fuera «indio puro» principal, sin trabajo vil, además de cumplir
una serie de preceptos morales, como no ser «ebrio consuetudina-
rio». También siguiendo la tradición tarasca, el proceso electoral era
precedido de una larga deliberación, cuyo objetivo era llegar a un
consenso para que el resultado no ofendiera a ninguno de los par-
ticipantes50. Concretamente en Patzcuaro los elegibles seguían una
tanda rotativa entre los tres barrios principales de la ciudad. Llama la
atención el reducido número de electores, entre 10 y 12, que puede
explicarse por el carácter unipersonal del poder tarasco. A diferen-
cia de lo establecido en las órdenes reales, los oficios concejiles fue-
ron acaparados por un único linaje: el de los Huitzimengari y sus
allegados, excluyendo del gobierno de la república a los principales
de los sujetos. En el período prehispánico éstos habían ostentado el
título de cazonzi, y después revalidaron su preeminencia intitulán-
dose como gobernadores51 y tomando el control de las cofradías52.

49
  En 1696 volvió a constituirse un cabildo de españoles en Patzcuaro.
50
  Castro Gutiérrez, Los tarascos…, 132-135.
51
  Entre estos gobernadores destaca la figura de Don Antonio, quien ocupó el
cargo de forma continuada entre 1545 y 1562, y cuya autoridad se hizo extensiva
al conjunto de la provincia michoacana. Su capacidad para movilizar mano de obra
y su liderazgo militar explican su prolongada hegemonía consentida por los espa-
ñoles: Martínez Baracs, Convivencia y utopía…, 320. No menos destacable fue-
ron sus excelentes relaciones en todas las esferas del poder novohispano: Martínez
Baracs, Convivencia y utopía…, 308-309; y López Sarrelange, La nobleza indígena
de ­Pátzcuaro…, 49-61.
52
 Bechtloff ha destacado el papel de las cofradías como instrumentos de la
población indígena para reforzar su identidad como grupo autónomo dentro de
la sociedad colonial, siendo especialmente útil para sus élites, que encontraron en

257

Monárquias Ibéricas.indb 257 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

La llegada de los españoles se había producido en el momento en que


un grupo de nobles con atributos de gobierno se habían enfrentado
a la familia real tarasca, haciendo tambalear su poder. Su adhesión a
los conquistadores le permitió estabilizar su situación, haciendo de
Patzcuaro un refugio bajo la protección de Vasco de Quiroga y de las
instituciones hispánicas, mientras que la nobleza opositora quedaba
relegada en Tzintzuntzan, como sujetos, situación que pudo corregir
sólo cuando el linaje Huitzimengari empezó a debilitarse, aunque sin
separarse del poder hasta finales del siglo xvii53.
Las continuidades con respecto a los antiguos esquemas políti-
cos prehispánicos son también visibles en oficios relacionados con el
control de la producción artesanal54, e incluso más evidentes en figu-
ras ajenas pero fuertemente vinculadas con el cabildo. Por un lado,
los acambecha, o mandones, continuaron con su actividad recauda-
toria, aunque su posición mejoró con el nuevo modelo. Presentaron
su labor fiscal como un servicio a la Corona y, con ello, pudieron
identificarse con el grupo hegemónico, lo que les posibilitó un leve
ascenso social55. Más llamativo es el caso de los tharepecha, o tatas
(«viejos») – apelativo que no respondía a su edad, si no a su vete-
ranía en el servicio a la comunidad – habiendo ocupado todos los
escalones de la administración local. Su papel como consejeros fue
especialmente útil en las decisiones en torno a títulos y tierras, pero,
en general, los oficiales españoles e indígenas coincidieron en repro-
charles su despótico dominio sobre los más jóvenes56.
De vuelta al valle de México, me interesa destacar el caso de
Xochimilco57. Durante las décadas anteriores a la llegada de los

ellas un espacio donde «retomar el mando religioso de su comunidad bajo el signo


del cristianismo.» Dagmas Bechtloff, «La formación de una sociedad intercultural:
las cofradías en el Michoacán colonial», Historia Mexicana, XLIII, 2 (1993): 256.
Para una visión más amplia del caso michoacano ver también Dagmas Bechtloff,
Las cofradías de Michoacán durante la época de la Colonia. La religión y su relación
política y económica en la sociedad intercultural (Morelia: El Colegio de Michoacán,
1996); y para el caso yucateco, Gabriela Solís Robleda, Entre el cielo y la tierra.
­Religión y sociedad en los pueblos mayas del Yucatán colonial (México: Purrúa, 2005),
caps. 4 y 5.
53
  Paredes Martínez, «La nobleza tarasca…».
54
  Martínez Baracs, Convivencia y utopía…, 298-305.
55
  Castro Gutiérrez, Los tarascos…, 128-129.
56
  Castro Gutiérrez, Los tarascos…, 130-131.
57
 Gibson, Los aztecas…, 175-177.

258

Monárquias Ibéricas.indb 258 13/12/18 14:55


Las poco y las más repúblicas. Los gobiernos indios en la América española

españoles, Xochimilco había perdido un porcentaje importante de


su territorio como consecuencia de sucesivos conflictos con los
poderes vecinos. Especialmente gravosa fue su caída bajo el domi-
nio mexica, que condicionó el poder de sus tlatoque. Sus prioridades
pasaron a ser la recaudación del tributo (flores) y la organización del
envío a Tenochtitlán tanto de la mano de obra exigida para su cons-
trucción como de los alimentos para abastecerla58. Bajo los españoles
fue primero encomienda, en posesión de Pedro de Alvarado, para
integrarse al realengo en 1541. Entre 1535 y 1548 se instalaron allí
los franciscanos, quienes impulsaron la congregación que daría lugar
al surgimiento del núcleo de población donde se concentrarían las
actividades políticas y económicas y que en 1559 sería distinguido
con el título de ciudad.
Las antiguas cabeceras indias se trasladaron a ella y fue el lugar
elegido para el establecimiento del cabildo indio. Desconocemos
el momento exacto en la que empezó a funcionar, aunque la fecha
de sus ordenanzas, aprobadas por el virrey el 9 de octubre de 1553,
hace pensar que se hizo en cumplimiento de la Real Orden de 1549.
El nuevo órgano de gobierno estaba compuesto por un gobernador,
3 alcaldes, 7 regidores y un escribano. Nada se dice en las ordenan-
zas del sistema de elección. Presumiblemente cada cacicazgo estaba
representado por un alcalde y dos regidores (el séptimo regidor
ofrece más conjeturas que certezas), mientras que la gobernación
habría sido triple en una etapa anterior a la implantación del cabildo,
tras la cual fue ejercida de forma unitaria y rotativa por cada uno de
los cacicazgos durante intervalos de tiempo desiguales59.
Como en el caso de Patzcuaro, las deliberaciones y decisiones
del ayuntamiento xochimilca fueron influidas por individuos que,
en principio, habían sido excluidos de él. Pero, sorpresivamente, en
este caso se trataba de los propios tlatoque, cuya participación en el
gobierno de la república fue expresamente prohibida en las orde-
nanzas municipales. El veto afectaba también un grupo concreto de
nobles indios. Carecemos de la argumentación de esta decisión, aun-
que es de suponer que tuvo que ver con el modo en el que se llevó

58
  Juan Manuel Pérez Cevallos, «El gobierno indígena colonial en Xochimilco
(siglo xvi)», Historia Mexicana, XXXIII, 132 (1984): 148-149.
59
  Sobre la evolución y referencias de la gobernatura xochimilca ver Gibson, Los
aztecas…, 191.

259

Monárquias Ibéricas.indb 259 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

a cabo su adhesión a la Monarquía. La autoridad había sido cedida


a una parte de la élite xochimilca, quizás secundaria en el período
prehispánico, quizás protagonista de forma unilateral de la alianza
con los españoles, a través de su habilitación para ocupar los car-
gos concejiles. Con esta escisión, la Corona buscaba consolidar el
cabildo como instancia de gobierno local, neutralizando los poderes
tradicionales, poco confiables para las autoridades españolas, que no
dejaron de imaginar conjuras y rebeliones capitaneadas por los anti-
guos señores tenochtla y sus aliados, convencidas además de su éxito.
El estudio de la asimilación del modelo hispánico por los mayas
ha tenido un hito historiográfico: el libro de Nancy Farriss, en el que
concluye que la implantación de los cabildos indios en esta región
estaba consolidada hacia 1583-158460. Sin embargo, los posteriores
trabajos de Sergio Quezada61 y Gudrun Lenkersdorf62 ralentizan
este proceso, definiendo y contextualizando una nueva cronología.
La península de Yucatán contó con tres características que favorecie-
ron el reordenamiento político-territorial impulsado por la Corona:
su homogeneidad lingüística y cultural, que evitó conflictos étnicos;
su uniformidad climática y topográfica, sin fronteras geográficas y
sin condicionantes naturales que entorpecieran el reacomodo de las
poblaciones; y su división política en cuchcabaloob (singular: cuchca-
bal), dirigidas por un halach uinic y articuladas por los bataob (sin-
gular: batab). Periódicamente un consejo formado por miembros de
la élite se reunía en la capital con el fin de tratar los asuntos que
afectaban al conjunto del cuchcabal.
Los españoles obviaron, o no entendieron bien, la compleja
organización de estas unidades político-territoriales y centraron
su atención en los elementos más identificables con los modelos
ya conocidos: el batab, que equipararon al tlatoani, y el consejo, al
que atribuyeron el carácter corporativo de los cabildos castellanos63.

 Farriss, Maya society….


60

  Sergio Quezada, Pueblos y caciques yucatecos, 1550-1580 (México: El Cole-


61

gio de México, 1993); y Lenkersdorg, Repúblicas de indios…. Destacamos también


sobre este área los recientes trabajos de Caroline Cunill, entre ellos, «‘Nos traen
tan avasallados hasta quitarnos nuestro señorío’: cabildos mayas, control local y
representación legal en el Yucatán del siglo xvi», Revista Histórica, vol. 40/2 (2016):
49-80.
62
 Lenkersdorg, Repúblicas de indios….
63
 Quezada, Pueblos y caciques yucatecos…, 64.

260

Monárquias Ibéricas.indb 260 13/12/18 14:55


Las poco y las más repúblicas. Los gobiernos indios en la América española

El halach uinic desapareció64, quedando como máximas autoridades


los bataob, que fueron redefinidos como caciques, conectando los
intereses de los encomenderos y la mano de obra indígena. La escasa
intervención de los agentes reales sobre aquel territorio creó ten-
siones que estallaron en varias revueltas de carácter idolátrico. Esta
situación llamó la atención de los franciscanos, quienes, en 1546,
activaron un plan de evangelización que impulsó la concentración
demográfica y centralización administrativa65.
El balab reforzó su hegemonía con su nombramiento como
gobernador, mientras que otros miembros de la élite yucateca acce-
dieron a los espacios de poder local a través de las alcaldías y regi-
durías, junto a otros oficios concejiles, representando y atendiendo
a todos los grupos que habían sido congregados en la provincia.
­Aunque periódicamente hubo intentos por generalizar la presencia
de estos oficiales, la oposición de la élite india, la indiferencia de los
encomenderos y la cautela de los religiosos limitaron los resultados
de su funcionamiento, que no fue regulado hasta 1585, sin que el
cabildo indio llegara a ser constituido institucionalmente.
En Guatemala, todos los actores implicados jugaban en contra
de los planes de municipalización de la Corona: la Audiencia de los
Confines se declaró contraria a las repúblicas de indios al conside-
rar que éstos carecían de las aptitudes necesarias para administrarlas,
mientras que los dominicos argumentaron su feroz oposición en el
derecho natural, defendiendo el dominio exclusivo de los caciques,
quienes debían ejercer como vectores de la hispanización y conside-
rando como única ingerencia tolerable su designación como gober-
nadores66. En 1555 la organización de los cabildos indios tomó un
nuevo impulso bajo la dirección de Rodríguez de Quesada, nuevo
presidente de la Audiencia de los Confines, y anteriormente oidor
de la Audiencia de México, conocedor por tanto de los antecedentes
novohispanos. Los primeros alcaldes fueron introducidos en algu-
nos pueblos cercanos a la ciudad de Guatemala, pero el proyecto se
truncó con la prematura muerte del presidente67.

64
  Sus descendientes mantuvieron el liderazgo como caciques, sufriendo, por
tanto, una reducción de su dignidad: Quezada, Pueblos y caciques yucatecos…, 106.
65
 Quezada, Pueblos y caciques yucatecos…, 72-81.
66
 Lenkersdorg, Repúblicas de indios…, 81-90.
67
 Lenkersdorg, Repúblicas de indios…, 94-97.

261

Monárquias Ibéricas.indb 261 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Unos años más tarde, la congregación de los naturales en centros


urbanizados favoreció el esbozo de las repúblicas de indios. En algu-
nas provincias, como Chiapas, la idea de un gobierno corporativo fue
bien acogido por los naturales, al adecuarse a sus formas de gobierno
tradicionales, sustentadas en un consejo de ancianos. Sin embargo,
el oidor Cristóbal Axcoeta, en su visita de 1572-1573, declaró que
estas nuevas repúblicas vivían en «completo desorden», ya que ni los
ayuntamientos ni la administración de justicia se ajustaban a la legis-
lación vigente, haciendo referencia, entre otras cosas, a la frecuente
celebración de concejos abiertos en los que participaba el conjunto
de la población68.

El Perú

A pesar de la evaluación de fray Jerónimo de Román, en el


­ irreinato del Perú se ha afirmado que el cabildo indio reportó un
V
completo fracaso. A diferencia de la experiencia en el área novohis-
pana, la organización y los fundamentos del poder y del prestigio
andinos distaban significativamente de los europeos, pues se basan
en la gobernanza exitosa de comunidades configuradas a través de
lazos de parentesco y regidas por el principio de reciprocidad. Las
Guerras Civiles limitaron la aplicación de la orden real de 1549 a las
proximidades de los dos núcleos urbanos principales del virreinato:
Lima y Cuzco. En las demás regiones no fue hasta 1566 cuando el
proyecto fue recuperado por los oidores González de Cuenca, desde
la Audiencia de Lima, y Juan de Matienzo, desde la de Charcas, y
definitivamente impulsado por el Virrey Toledo, a partir de 1569.
Durante los casi cuarenta años previos, había sido la encomienda
la que había ido moldeando la reorganización política y territorial
del antiguo Tawantisuyo. El liderazgo de los curacas pronto cambió
de registro, encontrando grandes dificultades para conservarlo tras
perder las cualidades que tradicionalmente los habían caracterizado:
la administración de justicia; la redistribución de la producción del
ayllu, ahora desviada hacia el pago de las obligaciones tributarias
implantadas por la Corona y por la Iglesia; y la intermediación entre
la comunidad y sus ancestros, para garantizar bienestar y riquezas.

68
 Lenkersdorg, Repúblicas de indios…, 186-190.

262

Monárquias Ibéricas.indb 262 13/12/18 14:55


Las poco y las más repúblicas. Los gobiernos indios en la América española

Cuando el número de encomiendas superó al de ayllus, éstos ade-


más fueron divididos, lo que requirió la aparición de nuevos curacas.
Nombrados por los propios encomenderos, frecuentemente gober-
naron obviando el principio de reciprocidad que había caracterizado
a sus predecesores, e introdujeron criterios de gobierno más cerca-
nos al modelo hispánico, más adecuados para cumplir con las exi-
gencias de los encomenderos, pero también para obtener beneficios
propios69.
La actuación de estos principales indígenas no se correspondía
con los intereses de la comunidad, e incluso a veces atentaba contra
ellos, por ejemplo, vendiendo tierras a los españoles, lo que alteraba
el sentido tradicional de su tenencia y uso. Enriquecidos y obe-
dientes, los nuevos curacas fueron los que captaron el favor de las
autoridades españolas con más facilidad, lo que les permitió conso-
lidar su estatus hegemónico dentro del incipiente modelo hispánico.
­Mientras, muchos de ellos sufrieron la reprobación de sus comu-
nidades, desconcertadas antes la falta de sus referencias políticas y
religiosas. En la década de 1550 algunas de ellas dejaron de cultivar
las tierras como un acto de rebeldía y empezó a hacerse frecuente la
huída de familias hacia otros cacicazgos, tal vez con el deseo de recu-
perar relaciones y solidaridades tradicionales, al reincorporándose
a los ayllus de los antiguos curacas sobrevivientes70. No fueron los
únicos que intentaron conseguir reconocimiento social superando
la rígida estructura social incaica, ya que algunos indios próximos
al círculo de los curacas se autodesignaron como cobradores del
tributo, con el fin de ser identificados como parte del grupo hege-
mónico y gozar de los privilegios asociados71. Este reordenamiento

69
  Nathan Wachtel, The Vision of the Vanquished: The Spanish Conquest of Peru
Through Indian Eyes, 1530-1570 (Barnes & Noble Imports, 1971), 123-125 y 129-
-131.
70
  Ver Susan Elisabeth Ramírez, The world upside down: cross-cultural contact
and conflict in sixteenth-century Peru (Stanford: Stanford University Press, 1996);
Aude Argouse, «¿Son todos caciques? Curacas, principales e indios urbanos en
Cajamarca (siglo xvii)», Bulletin d’ Institut Français d’Études Andines, 37 (1) (2008):
163-184; y Carolina Jurado, «Las reducciones toledanas a pueblos de indios: aproxi-
mación a un conflicto. El repartimiento de Macha (Charcas). Siglo xvi», Cahiers des
Amériques Latines, 47 (2004): 123-137.
71
  Aude Argouse ha analizado este fenómeno en Cajamarca, destacando el riesgo
que conllevaba esta actividad, ya que la recaudación, siempre difícil, era avalada con
el patrimonio de los recaudadores. La frecuencia con la que fracasaban, los llevaba

263

Monárquias Ibéricas.indb 263 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

de las élites indígenas generó enfrentamientos internos, que fueron


aprovechados por los españoles para neutralizar su poder.
De modo que cuando el virrey Toledo visitó aquellos territorios y
evaluó como intolerable la pervivencia de formas de gobierno prehis-
pánicas, en realidad encontró sociedades indias muy alteradas, ya en
transición hacia el modelo hispánico, pero por caminos alternativos
a los trazados por la Corona. Por otro lado, los pueblos toledanos no
respondían exactamente al modelo de repúblicas de indios que había
proyectado la Corona dos décadas antes. La orden de congregar a
los naturales en el menor número posible de poblaciones conllevó la
convivencia de indios de varios orígenes bajo la autoridad de élites
que representaba más una novedad que una referencia para la mayo-
ría de ellos. Además, los españoles también encontraron un lugar en
estos espacios, en principio reservado a los indígenas72.
La jurisdicción del cabildo indio se implementó sobre el conjunto
del repartimiento, abarcando varios ayllus, con sede en la cabecera y
compuesto por un alcalde mayor, uno o dos alcaldes ordinarios, uno
o dos regidores y un alguacil, además de otros oficios concejiles. Las
ordenanzas toledanas prohibían a los curacas ejercer estos oficios,
limitando su capacidad de acción y creando dos gobiernos indios
paralelos: el del cabildo indio, que debía seguir la normativa hispá-
nica, y el de los cacicazgos, que conservaba algunas nociones prehis-
pánicas. La relación entre ambos fue tensa, cuando no violenta. Así,
ya en 1565, se advertía de que los curacas tenían en poco a los oficia-
les indios, y llegaban a golpearlos y apalearlos cuando consideraban
que estaban limitando o contradiciendo su autoridad, denuncias que
se repetían a lo largo y ancho del virreinato73.
Sobre la constitución de repúblicas de indios y la implantación del
cabildo indio en las regiones más periféricas del virreinato peruano,
como fue el caso del Nuevo Reino de Granada, caracterizadas por
una gran diversidad étnica, cultural y geográfica, podríamos afirmar

al endeudamiento, por lo que se puede hablar de ellos como una ‘red de deudas’, en
la que se incluyeron también a algunos de los indios principales más enriquecidos,
éstos como prestamistas: Argouse, «¿Son todos caciques?…», 180.
72
  Argouse, «¿Son todos caciques?…», 170-171.
73
  Sobre las dudas sobre la legitimidad del poder de los curacas y las denuncias
contra sus abusos de poder ver Carlos Sempat Assadourian, «Dominio colonial y
señores étnicos en el espacio andino», en Transiciones hacia el sistema colonial andino
(Lima: El Colegio de México-Instituto de Estudios Peruanos, 1994), 151-170.

264

Monárquias Ibéricas.indb 264 13/12/18 14:55


Las poco y las más repúblicas. Los gobiernos indios en la América española

que ni siquiera llegó a intentarse. Hasta finales del siglo xvi sólo se
habían creado cargos de tipo religiosos: los fiscales o alguaciles de
doctrina; y en general, los cambios se fueron realizando con lenti-
tud, sin que el modelo hispánico fuera tomando consistencia en las
sociedades muiscas o caucas hasta los últimos años del Quinientos74.

La República de las Indias


Desde principios del siglo xvii, tomó fuerza la idea de que las
Indias conformaban una única república, en palabras de Solórzano
y Pereyra, «mezclada ya, y compuesta, como hoy se haya, de espa-
ñoles, e de indios»75. El objetivo era destacar la conformación de un
cuerpo político, en el que cada una de las partes cumplía funciones
complementarias76. En las grandes ciudades esta integración alcanzó
un nivel cercano a la fusión77. En principio, en ellas se impuso una
ocupación dual del espacio: los españoles se reservaron los centros
urbanos, mientras que los indios fueron ubicados en las periferias.
Sin embargo, este orden no fue definitivo y muchos españoles y

74
 Jorge Augusto Gamboa M., «Las instituciones indígenas de gobierno en
los años posteriores a la conquista: caciques y capitanes muiscas del Nuevo Reino
de Granada (1537-1650)», en Imperios ibéricos en comarcas americanas: estudios
regionales de historia colonial brasileña y neogranadina, eds. Adriana María Alzate,
Manolo Florentino y Carlos Eduardo Valencia (Bogotá: Editorial Universidad del
Rosario, 2008), 136-161; y Héctor Manuel Cuevas Arenas, La república de indios:
un acercamiento a las encomiendas, mitos, pueblos de indios y relaciones interestata-
les en Cali, siglo xvii (Santiago de Cali: Programa Editorial Universidad del Valle,
2005).
75
  Juan Solórzano Pereira, Política Indiana, Madrid, 1736 (primera edición de
1647). Libro II, cap. IV, 71.
76
  Paulino Castañeda Delgado, Los memoriales del Padre Silva sobre predicación
pacífica y repartimientos (Madrid: CSIC, 1983)
77
  Destacamos dos recientes publicaciones que han ofrecido un estado gene-
ral de las investigaciones en esta material, además de adelantar proyectos en curso
y proponer nuestras investigaciones: Felipe Castro Gutiérrez, comp., Los indios y
las ciudades de Nueva España (México: UNAM, 2010); y Dane Velasco Murillo,
Mark Lentz y Margarita Ochoa R., eds., City Indians in Spain´s American Empire.
Urban indigenous society in Colonial Mesoamerica and Andean South America, 1530-
-1810 (Portland: Sussex Academia Press, 2012). Añadimos además el muy reciente
trabajo de Beatriz Rojas, Las ciudades novohispanas. Siete ensayos. Historia y terri-
torio (México: Instituto de Investigaciones Dr. José María Luis Mora/Colegio de
Michoacán, 2016).

265

Monárquias Ibéricas.indb 265 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

«castas» se trasladaron a los barrios de indios, simplemente porque


había espacios disponibles y el precio de las casas y la renta del suelo
era más barato. A la vez, muchos indios se vieron obligados a habitar
en el centro, donde trabajaban para los españoles, en talleres o como
servicio doméstico. Este ir y venir, el contacto constante entre ambas
repúblicas aceleró la transferencia, la mezcla, y también los conflic-
tos. Conflictos ante los cuales los oficiales reales se mostraron poco
resolutos, esforzados en aplicar normativas y procedimientos pensa-
dos para los pueblos de indios con otras características.
Este desordenamiento de las repúblicas fue motivo de inquie-
tud entre las autoridades, que quisieron ver cumplidos sus peores
temores en 1692, interpretando el tumulto que sacudió la ciudad de
México aquel verano como la consecuencia de la insana convivencia
entre indios y españoles, a los que se sumaban las castas78. En rea-
lidad, detrás de aquel estallido social se encontraba el descontento
acumulado por españoles e indios, afectado de igual manera por la
pauperización y el mal gobierno. Pero aquella acción conjunta evi-
dencia que a finales del siglo xvii la separación de las repúblicas era
un fenómeno culturalmente insostenible, siendo evidente la diso-
lución de una república en otra. La pregunta que subyace es cuál
en cuál. La complejidad de la respuesta puede intuirse en la orden
del visitador Juan de Gálvez en 1767: indios e indias debían vestir
su «propio traje» «para que se distingan de las demás castas con las
cuales se habían confundido en perjuicio del Estado, queriendo ya a
fuerza de la muchedumbre que todos juntos componen, avasallar y
aún extinguir a la nación conquistadora y dominante».79

Consideraciones finales
Las repúblicas de indios son el resultado opuesto a un proyecto
político expansionista, homogeneizador y centralizador, reflejando la
multitud de factores que mediaron en su implantación y ­desarrollo.

78
  Natalia Silva Prada, La política de una rebelión: los indígenas frente al tumulto
de 1692 en la Ciudad de México (México: El Colegio de México, 2007). Ver también
Gibrán Bautista y Lugo, «Castigar o perdonar. El gobierno de Felipe IV ante la
rebelión de 1624» (tesis doctoral, México: UNAM, 2014).
79
  Citado en Castro Gutiérrez, Los indios y las ciudades…, 26.

266

Monárquias Ibéricas.indb 266 13/12/18 14:55


Las poco y las más repúblicas. Los gobiernos indios en la América española

Los vestigios de las tradiciones prehispánicas – bien contando con


la connivencia de la Corona o bien resistiendo sus órdenes – pro-
dujeron inevitables alteraciones del modelo hispánico, con manifes-
taciones locales muy variadas. No menos determinantes fueron las
ideologías que confluyeron en aquel Nuevo Mundo, no necesaria-
mente contrapuestas, pero sí frecuentemente divergentes. Sus pun-
tos de encuentro más o menos estables propiciaron la negociación
y, con ritmo variable, la ordenación de una nueva sociedad, que pasó
por la desconfiguración tanto de las sociedades prehispánicas como
del modelo hispánico que pretendía imponerse. Así, el estudio de
caso de estas entidades políticas locales devela la complejidad del
sistema de gobierno que se desplegó en América, permite poner en
evidencia el papel activo de los naturales en la configuración de las
nuevas sociedades sobre las que se articuló la dominación hispánica
trasatlántica y plantea algunos interrogantes sobre el alcance de ésta,
contrastando sus bases teóricas con unas prácticas traspasadas por
múltiples interferencias.
El aumento en los últimos años del número de publicaciones
sobre la vida política de las sociedades indias tras la conquista espa-
ñola pone en evidencia el interés que suscita esta temática a la luz de
los nuevos enfoques historiográficos, pero también denotan todavía
un carácter localista que dificulta una comprensión compleja de la
proyección global de la Monarquía Hispánica. Es necesario un tra-
bajo de síntesis que permita una definición y una clasificación de las
repúblicas de indios. La formulación teórica de una república para
los naturales, excluyente y contrapuesta a una república de españoles
que no existía de por sí, sino que surge por antagonismo, merece una
mayor atención80. Es preciso también clarificar el significado y, sobre
todo, el uso de términos como «gobierno indio», «cabildo indio»,
«pueblo de indios», o «república de indios», con frecuencia utilizados
como sinónimos, dando una falsa apariencia de homogeneidad de la
administración de las sociedades indígenas. Así, como hemos visto,
el nombramiento de oficiales concejiles no significó necesariamente
la formación de un gobierno corporativo, y los procedimientos de
designación, cumplimiento y valoración de los cometidos de estos

 Abelardo Levaggi, «Repúblicas de indios y repúblicas de españoles en los


80

­ einos de Indias», Revista de Estudios Histórico-Jurídicos. Historia del Derecho,


R
XXIII (2001): 428.

267

Monárquias Ibéricas.indb 267 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

oficiales estuvieron llenos de particularidades (a veces también de


ilegalidades), alterando el sentido del gobierno municipal hispánico.
Por otro lado, la consideración del cacicazgo como un puente
entre la tradición prehispánica y el modelo hispánico debe ser mati-
zada. Es indiscutible que, frente a la figura abstracta del lejano rey
castellano, los caciques representaban una autoridad visible, tangible
y audible. Sin embargo, incluso en los casos que han sido destacados
por la supervivencia de las élites indias, como Patzcuaro o T ­ laxcala,
es perceptible una renovación de estos grupos de poder tras la con-
quista, más evidente a partir de la segunda mitad del siglo xvi debido
al inevitable relevo generacional. Sería interesante determinar quié-
nes fueron los sucesores de aquellos antiguos señores que enfrenta-
ron con más o menos éxito la llegada de los españoles y cuáles fueron
las líneas políticas de sus gobiernos en lo que se refiere a dar conti-
nuidad a prácticas prehispánicas o asumir, ya como propio, el nuevo
modelo. El hecho de que muchos de estos principales fueran educa-
dos por los religiosos, alejados de la cultura de sus padres, e incluso
en contra de ella, hace pensar en una ruptura, pero las demandas
del resto de la población precisaban de prudencia y el cacique debía
canalizar la afección a la tradición hacia las nuevas pautas culturales
evitando contrariedades y tensiones. No siempre fue así, en parte
porque los propios principales oscilaban entre ambos modelos con
cierta ambigüedad, buscando el provecho propio, o simplemente
intentando descifrar aquel «mundo al revés».
Se ha subrayado el desinterés o el desprecio de los españoles
frente a la alteridad indígena, pero se ha obviado una actitud seme-
jante por parte de los naturales, interpretando su alejamiento del
modelo hispánico como rebeldía o torpeza. Además, no todos los
naturales recibieron el mismo nivel de evangelización. La política de
congregaciones fue lenta y discontinua, favoreciendo la conservación
o reaparición de poblaciones alejadas de las cabeceras, hasta donde
los religiosos se desplazaban de forma periódica, quejándose de la
escasa afluencia de los neófitos a los servicios religiosos. T­ ambién
hubo desigualdades en la formación, incluso entre los principales.
La fundación del colegio de caciques de Cuzco con casi una centuria
de diferencia con respecto a su equivalente en Tlatelolco es signifi-
cativa. Los religiosos desplegaron un gran programa didáctico para
explicar la cosmovisión cristiana y sus usos y costumbres, que en
su recorrido continental requirió de múltiples reformulaciones para

268

Monárquias Ibéricas.indb 268 13/12/18 14:55


Las poco y las más repúblicas. Los gobiernos indios en la América española

hacerse inteligible, lo que necesariamente debía conllevar cambios en


las prácticas.
Por último, es importante considerar la evolución de las repú-
blicas de indios bajo dos condicionantes del éxito de las políticas
reales. Por un lado, el régimen jurídico asignado a cada territorio,
definiendo los obstáculos interpuestos por los encomenderos y, por
el contrario, las facilidades que ofrecía la condición de realengo. Por
otro lado, la influencia localizada de las órdenes religiosas, o incluso
del clero secular, cada una de las cuales defendieron ideas políticas y
desarrollaron proyectos de evangelización muy diferentes. Ante esta
trama de intereses, opiniones, percepciones y sentimientos divulga-
dos a lo largo y ancho del extenso continente americano, en ocasio-
nes, podríamos pensar que era la Corona la que ejercía un papel de
mera espectadora, paciente ante la evolución de los diversos escena-
rios sobre los que se extendía su dominio, recibiendo informaciones
y emitiendo órdenes que cruzaban los océanos con la expectativa
(sólo con la expectativa) de ser las unas leídas y las otras obedecidas.

269

Monárquias Ibéricas.indb 269 13/12/18 14:55


Monárquias Ibéricas.indb 270 13/12/18 14:55
Catarina Madeira-Santos

Capítulo 7

O império português face às


instituições indígenas 1

(Estado da Índia, Brasil e Angola,


séculos xvi-xviii) 2

... pola muita confiança que temos de João Machado […] [e por causa do
que ele] […] tem sabido daquelas terras do reyno de Daquem, e daque-
les que senhoreava o Sabayo, e assi da maneira que se melhor povoarão
aquellas ilhas de Goa, e assy de como se recadarão nossos direitos dos
lavradores, e vassalos nossos, que viverem nas ditas Ilhas; […] queremos
[…] que ele seja o principal oficial disto, o quoal officio segundo semos
informados se chamava na linguoa da terra Tanadar, e elle queremos que
seja o principal e soo, que tudo carregue no modo que dito he, nam
tolhendo que hi haja outros nossos direitos e que na terra se ouverem
de arrecadar; e que polo costume della forem compridoiros […] nossa
vontade he que se não recade mais nem menos pera nos que o que se
recadava pera Sabayo…3

1
  O termo «indígena» é empregue com um intuito descritivo – o que é autóctone
ou nativo – independentemente do sentido político-jurídico derrogatório que lhe
foi imputado pela legislação indigenista colonial do século xx.
2
 Este capítulo faz parte do projecto PTDC/SOC/87640/2017, intitulado
INDICO – Arquivos coloniais nativos: micro-histórias e comparações.
3
 «Carta de Tanadar e capitão da terra dada pelo rei Dom Manuel I a João
Machado», de 4 de Fevereiro de 1515, em Archivo Portuguez Oriental [doravante,

271

Monárquias Ibéricas.indb 271 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Conforme ao costume daquela gente, toda a segurança da conquista


do reino de Angola estava em se conservar o que eles usam, que era em
se sujeitando um soba, a primeira coisa que fazia pedia logo amo a quem
tivesse na corte do Governador, por conservador e como protector, para
em tudo lhe obedecer e recorrer a êle, porque assim o fazem também
com o Rei de Angola, em cuja corte todos os sobas do reino teem seus
amos que lhes são como conservadores e protectores […] pois com isso
tinham os sobas sujeitos e quietos.4

Quando o legítimo principal da aldeia [chefe índio] morrer, tendo


legítimo filho de capacidade e idade, lhe sucede o governo, sem mais
outra diligência; mas não havendo filho ou não sendo capaz, o estilo é
que o padre, que tem cuidado da aldeia, consulte com os maiores, quem
tem merecimento para ser principal, e esse se propõe ao governador para
que mande passar provisão.5

«Conservar o que eles fazem» ou pensar


o império «ao contrário»
Este capítulo propõe um exercício pouco comum: pensar o impé-
rio português a partir do lugar que nele ocuparam as instituições
indígenas, em alternativa à perspectiva clássica que consiste em pri-
vilegiar o papel das instituições coloniais na constituição da estru-
tura imperial. As três citações em epígrafe provam que esse exercício
não tem apenas uma pertinência historiográfica. Começou por ser
realizado pelos actores da história do império. Estes, não só leva-
ram a cabo uma investigação sobre os modos de funcionamento das
instituições indígenas – uma verdadeira etnografia administrativa

APO], Joaquim Heliodoro da Cunha Rivara (Nova Deli/Madras: Asian Educatio-


nal Services, 1992), fasc. 5, parte I, 1-3.
4
  Padre Fernão Guerreiro, «Relação Annual das Coisas que fizeram os Padres
da Companhia de Jesus nas suas missões (1602-1603)», em Monumenta Missio­naria
Africana, António Brásio (Lisboa: Agência Geral do Ultramar, 1952), vol. v, 51-52.
5
  Padre António Vieira, «Regulamento das Aldeias do Pará e Maranhão (1658-
-1660)», em Leis e regimentos das missões: política indigenista no Brasil, José Oscar
­Beozzo (São Paulo: Loyola, 1983), § 40, 204. Citado por Maria Regina Celestino de
Almeida, Metamorfoses Indígenas. Identidade e Cultura nas Aldeias Coloniais do Rio
de Janeiro (Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2003), 157.

272

Monárquias Ibéricas.indb 272 13/12/18 14:55


O império português face às instituições indígenas

e­spontânea, que disponibilizou e pôs em circulação informações,


sobre as culturas políticas, na Ásia, na América e em África, e respec-
tivo vocabulário, nas múltiplas línguas locais –, como se ocuparam
em as conectar com as instituições imperiais.
No primeiro exemplo, D. Manuel nomeia o português João
Machado, para o ofício de tanadar – cargo de origem persa, pre-
sente no sultanato de Bijapur – acentuando que usa o termo por
ter sido informado de que era essa a denominação na «língua da
terra». Assim se conservavam os dispositivos de arrecadação das
rendas, empregues pelo antigo senhor de Goa – o sultão de Bijapur
(Sabaio) – que, agora, passariam a ser contabilizadas na Fazenda do
Estado da Índia. Mais reveladora é a justificação apresentada pelo
rei para a escolha de Machado. Note-se que este não era um oficial
da coroa, mas um antigo degredado, com um curriculum de quinze
anos na Ásia, nomeadamente junto de Yusuf Adil Shah (Hidalcão),
sultão de Bijapur6. Precisamente, na sua nomeação, D. Manuel I
evoca o conhecimento que ele detinha da cultura política dos sulta-
natos do Decão, em geral e, em particular, da administração que o
sultanato de Bijapur fazia das Ilhas de Goa. Daqui se infere que
o rei não o nomeia porque ele conhece as instituições portuguesas,
mas antes porque conhece as instituições indígenas. Ironicamente
o projecto messiânico manuelino de luta contra o infiel suspende-
-se, quando se trata de administrar, na prática, e para isso se adop-
tam os procedimentos «dos reys e senhores da terra em tempo de
Mouros7».
Já no segundo caso, a narrativa jesuítica explica que o sistema dos
amos – de origem mbundu e usado pelo rei do Ngola na relação com
os sobas seus subordinados – é conservado e apropriado pela admi-
nistração portuguesa em Angola, como meio para assegurar a colecta
de impostos e a paz no sertão.

6
  João Machado era um degredado que fora deixado na África Oriental pela
armada de Pedro Álvares Cabral. Na Índia serviu no sultanato de Yusuf Adil Shah
[Adil Khan ou (H)Idalcão] onde foi chefe dos firangiyan (mercenários estrangei-
ros, «francos»). Serviu de intermediário entre Adil Shah e Afonso de Albuquerque.
Reaproximou-se dos portugueses e em 1511 passou para o lado português. Maria
Augusta Lima Cruz, «As andanças de um degredado em Terras Perdidas – João
Machado», separata de Mare Liberum, n.º 5 (Lisboa: CNCDP, 1995).
7
 «Regimento do feitor da cidade de Goa», de 1526 ou 1530, APO, fasc. 5,
parte i, 134.

273

Monárquias Ibéricas.indb 273 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Finalmente, o padre António Vieira, no Regulamento que regia a


organização das aldeias missionárias do Grão-Pará e Maranhão, pre-
coniza não só que as chefias índias aí se conservem, como também
que sejam designadas pelos índios principais.
É evidente que o facto de a dominação imperial se servir das ins-
tituições indígenas não exclui os actos de guerra e de violência. Nada
disto põe assim em causa, por exemplo: a vaga de violência naval
desencadeada pela entrada dos portugueses no oceano Índico, no iní-
cio de Quinhentos; os massacres de índios, nas aldeias da região do
Rio de Janeiro, perpetrados pelos exércitos do ­governador Mem de
Sá, na década de 1550; nem as verdadeiras guerras de razia, empreen-
didas pelo governador Luís Mendes de Vasconcelos (1617-1621)
e outros «conquistadores», nos sobados do hinterland de Luanda.
Mas a paz era um bem precioso, porque o esforço de guerra tinha
os seus limites e os efectivos demográficos – oriundos da metró-
pole – para uma colonização de povoamento, também. Logo, era
necessário compor: no Estado da Índia – por causa das especiarias
– em Angola – por causa dos escravos – no Brasil – por causa das ter-
ras (agricultura de plantação e mineração). A prática de uma antro-
pologia das instituições indígenas (que alguns assimilariam à relação
entre saber e poder) inscreve-se, assim, num programa imperial mais
vasto, no interior do qual a guerra e a violência nunca deixaram de
ser accionadas.
Para o que aqui nos interessa, a prática de uma etnografia admi-
nistrativa posiciona os portugueses como herdeiros de soluções de
dominação imperial locais que os precederam. E ao colocarem-se
como herdeiros eles criam genealogias institucionais imperiais – vir-
tuais – e inevitavelmente transformam essas instituições, como se
verá. Por outro lado, esta atitude etnográfica tem a sua própria histó-
ria, isto é, sofre alterações – da adopção à recusa – relacionadas com
as próprias reconfigurações da política imperial.
Para o historiador, a focalização sobre as instituições indígenas
supõe uma inversão de perspectiva, isto é, obriga a estudar o império
«ao contrário», a pensá-lo não a partir da imposição, «de cima para
baixo», de uma matriz de administração exportada pela Europa; mas,
de baixo para cima, bottom up, a partir dos diferentes terrenos – asiá-
tico, americano e africano e respectivas culturas político-institucio-
nais – onde esse império se inscreve. O que não deve ser confundido
com uma abordagem from below, no sentido de uma história dos

274

Monárquias Ibéricas.indb 274 13/12/18 14:55


O império português face às instituições indígenas

actores subalternos. Trata-se, antes, de observar a estrutura imperial, a


partir de uma multiplicidade de situações institucionais locais. O que
equivale a adoptar uma dupla metodologia. Primeiro, fazer um zoom
sobre os fenómenos institucionais à escala micro; depois, desenvol-
ver uma análise em contre-plongée, como o cineasta que posiciona
a sua objectiva na base para olhar o topo, produzindo assim uma
imagem inteira e englobante. Precisamente, o desafio deste capítulo
consiste em abarcar simultaneamente a multiplicidade de fenómenos
institucionais indígenas nos espaços coloniais e as interacções que
estabelecem – de baixo para cima – com as instituições coloniais e o
próprio império como um todo. Esta opção pretende por um lado,
evitar as visões que estabelecem separações dualistas, onde as rela-
ções radicam apenas na dominação e na resistência; por outro, com-
preender a maneira como os fenómenos da base são constitutivos da
própria estrutura imperial. Sendo a simples equação da dominação
insuficiente, há que partir dos vários terrenos institucionais locais
para avaliar o seu impacto sobre – e os graus de articulação e de inte-
racção com – as instituições imperiais.
Dificilmente se pode pensar que uma única matriz institucio-
nal, constante no tempo, seja aplicada a todos os espaços imperiais
da mesma maneira e independentemente das circunstâncias locais.
Mas, ao mesmo tempo, é preciso não esquecer que as soluções ins-
titucionais particulares se inscrevem numa organização imperial e
que os organismos centrais (como a Casa da Mina e Índia, a Junta
das Missões, ou o Conselho Ultramarino) e os próprios adminis-
tradores estabeleceram paralelismos entre as diferentes partes do
império.
Depois, é preciso não esquecer, os próprios fundamentos jurídicos
da organização do poder na Europa de Antigo Regime, formulados
pela doutrina romano-canónica do ius commune, explicam e legiti-
mam o pluralismo jurídico e jurisdicional do império. De facto, a
construção da estrutura imperial sobre uma diversidade de sociedades
– incluindo o estatuto dos povos e dos direitos que os regiam – não
era radicalmente diferente do que se passava no reino. Os princípios
jurídicos que regulavam as hierarquias entre ius commune e iura pro-
pria, entre direitos gerais e direitos particulares – nomeadamente
aquele que estabelecia que os direitos especiais, que cada comunidade
estabelece para si mesma, prevalecem sobre o direito geral, romano-
-canónico, ou o do rei – fornecem o enquadramento legal necessário

275

Monárquias Ibéricas.indb 275 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

à vigência dos direitos indígenas, no seio do império português8. Por


outro lado está a aplicação do princípio da personalidade do direito.
Os povos indígenas deviam reger-se pelos seus próprios direitos,
desde que não fossem vassalos do rei de Portugal. Assim, o pluralismo
jurídico e jurisdicional metropolitano era potencialmente expansível
à escala do império. Nesta perspectiva, o carácter proteiforme das
instituições imperiais não subverte o modelo político-institucional
metropolitano, mas expande-o dentro das mesmas regras, acrescen-
tando-lhe uma multiplicidade de situações jurídicas e jurisdicionais.
Mas nem tudo se equivale, porque o império representa em si
mesmo «um acto» de violência física e epistemológica. Portanto, o
fenómeno de expansão do pluralismo jurídico e jurisdicional, atra-
vés da integração de múltiplos ordenamentos jurídicos, instâncias de
arbitragem, regimes fiscais e outras instituições indígenas, inscreve­-
-se num projecto de domínio político. No plano institucional foi
preciso forjar os utensílios que serviram esse programa.
Antes de passar à matéria empírica é útil circunscrever o períme-
tro deste capítulo necessariamente sintético e enunciar os seus limi-
tes. Idealmente, um estudo desta amplitude suporia a mobilização
das histórias do império português e também das sociedades locais
na Ásia, na África e na América; das respectivas historiografias; e
de conhecimentos linguísticos vastíssimos. Um verdadeiro pro-
grama para uma equipa pluridisciplinar. Mas, postas as coisas assim,
a redacção deste capítulo seria impossível. Então, como proceder?
Que metodologia adoptar? Vale a pena tentar o exercício?
O primeiro passo deve consistir no mapeamento das instituições indí-
genas em espaços distintos do império: Estado da Índia, Brasil, e Angola.
Para depois destacar os fenómenos transversais que revelam os denomi-
nadores comuns e os paralelismos entre esses diferentes espaços.
Mas estas duas operações devem ser acompanhadas pela identi-
ficação dos conectores institucionais e das expressões da interacção
colonial situada no terreno.
Proponho que se empregue o conceito de conectores institucio-
nais para nomear a multiplicidade de dispositivos administrativos que
foram accionados pelo império de modo a que as instituições ­indígenas

 Sobre este tópico, ver, entre os seus múltiplos trabalhos, António Manuel
8

Hespanha, Cultura Jurídica Europeia. Síntese de um Milénio (Lisboa: Publicações


Europa-América, 2003).

276

Monárquias Ibéricas.indb 276 13/12/18 14:55


O império português face às instituições indígenas

passassem a fazer parte do circuito da estrutura imperial. Quer dizer,


as instituições indígenas tornam-se também instituições do império
porque participam dos seus regimes de circulação e são por eles rede-
finidas. Por razões de ordem expositiva apresento aqui uma tipologia
desses conectores institucionais.
Os conectores directos ou englobantes correspondem à conexão formal
entre a administração imperial e as instituições indígenas. Ocorrem sem-
pre que se dá a transferência de soberania (implicando a territorialização
directa ou indirecta), levando à apropriação dos sistemas administrati-
vos locais, no plano fundiário e fiscal, que passam a ser contabilizados na
estrutura imperial9. Frequentemente as instituições indígenas de cúpula
– dirigindo uma rede de funcionários subordinados – foram articuladas
às instituições imperiais. Assim se garantia o acesso às redes administra-
tivas preestabelecidas. Os conectores bifrontes (que podem actuar em
situações de soberania ou não) correspondem à criação de cargos inter-
mediários que participam ao mesmo tempo da cultura política colonial
e indígena. Os conectores­-catalisadores, representados sobretudo pelos
­tratados político-diplomáticos, desencadeiam relações regulares, encon-
tros e/ou traduções entre culturas institucionais. Os c­ onectores indirec-
tos ou informais, não consignados na administração, compreendem os
actores, os saberes e as práticas institucionais.
Os conectores institucionais desencadeiam a interacção colonial
situada no terreno entre portugueses e colectividades locais, cada
uma com a sua historicidade, a sua inscrição em constrangimen-
tos culturais, e no movimento global das suas próprias sociedades.
A interacção admite, ao mesmo tempo, um processo dialéctico (onde
ocorrem contradições, conflitos, lutas, tendo como pano de fundo a
dominação e a resistência); e também uma prática dialógica – existe
a negociação, a domesticação de cada lado, a diferentes níveis e, se
quisermos, formas de «conversação». Portanto a interacção designa
um processo de influências recíprocas entre os actores em presença
e de articulação entre as dimensões políticas, institucionais e cul-
turais que estão em jogo. Mais do que estabelecer uma separação

9
  Os «títulos de aquisição de direitos de soberania» implicam a territorialização
directa – os senhorios de Goa e Malaca, as conquistas territoriais no Brasil ou em
Angola; e indirecta – os prazos de Baçaim e Damão: Luís Filipe Thomaz, «Estrutura
político-administrativa do Estado da Índia», em De Ceuta a Timor (Lisboa: Difel,
1994), 225.

277

Monárquias Ibéricas.indb 277 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

rígida ou mesmo uma conexão simples entre instituições indígenas


e instituições portuguesas/imperiais, é importante identificar as
áreas de imbricação e os canais de circulação das culturas político­-
-institucionais locais à escala do império, para apreender os fluxos
ou a fluidez da cultura institucional. É a este nível que se produz
o próprio sentido do império português, no singular.

No terreno: mapeamento das instituições


indígenas
Quando, onde e em que contextos prevaleceram as instituições
indígenas? E em que domínios: fiscal, fundiário, judicial, etc.? A sua
mobilização produz-se sobretudo nos séculos xvi e xvii sofrendo,
depois, modificações. A ordem de exposição adoptada neste texto
obedece à própria sequência de formação do império e de experi-
mentação de soluções administrativas envolvendo instituições locais:
Estado da Índia, Brasil e Angola. O mapeamento é feito em sobrepo-
sição com o das instituições imperiais, dado que as modalidades de
aquisição de cada território determinaram o grau e o tipo de conexão
com as instituições indígenas.
Neste mapeamento aparecem instituições bem formalizadas,
como as instâncias judiciais de arbitragem, as instituições fundiá-
rias e fiscais; ao lado, de instituições inscritas na própria sociedade,
como o parentesco e a matrilinhagem. E as primeiras interagem com
as segundas. Em complemento, importa examinar formas de poder
subliminares que vão desde a materialidade da burocracia até aos
seus formulários. Por fim, as instituições são habitadas por actores,
portadores dos seus próprios saberes, e cujas práticas umas vezes
reforçam, outras subvertem a ideologia imperial.

Estado da Índia

No Estado da Índia (fundado em 1505) produz-se a primeira


experiência administrativa de contacto com um complexo e variado
arsenal de instituições não-europeias10. A solução administrativa de

10
  Opto por não tratar o caso do Reino do Kongo (1491).

278

Monárquias Ibéricas.indb 278 13/12/18 14:55


O império português face às instituições indígenas

enquadramento consistiu na criação – pela primeira vez no quadro


imperial – de um vice-reinado (1505), de que Goa foi a capital admi-
nistrativa (1530)11. Porém, como mostrou Thomaz, o Estado sobre
o qual o vice-rei exercia a sua jurisdição era, acima de tudo, «uma
rede e não um espaço»12. A construção do império português na Ásia
consistiu sobretudo na apropriação de redes comerciais, preexisten-
tes no oceano Índico Ocidental e Oriental. Em consequência de uma
política bélica violenta e tecnologicamente vantajosa (pelo menos
nas primeiras décadas), essas redes foram unificadas sob um mesmo
poder político soberano e, sobretudo, suserano, dando lugar a um
vasto espaço marítimo de circulação comercial. No século xvi, a
questão da conquista territorial apenas se colocou para firmar pontos
de apoio em terra firme que consolidavam a tal rede. As tentativas de
territorialização operam-se na viragem para e durante o século xvii.
À diversidade de modos de aquisição das posições em terra (conquis-
tas, protectorados, acordos de paz e de amizade, doações, testamen-
tos, tratados de vassalagens, feitorias, fortalezas, etc.) corresponde
a multiplicidade das situações político-institucionais regionais. Ora,
esta colonização quinhentista – com fins essencialmente mercantis,
desinteressada da produção dos bens comercializados e da imposição
sistemática de soberania territorial – foi particularmente favorável
à apropriação das instituições indígenas.
O Estado da Índia aparece, assim, como uma formação política
territorialmente deficitária e descontínua, e também institucional-
mente heterogénea, quer no que respeita às instituições imperiais
quer às instituições indígenas13.
Na Ásia, os territórios já estavam ocupados e o uso da terra havia
sido regulado por um sistema de direitos de propriedade bem conso-
lidado. Os portugueses apropriaram os sistemas fundiários e fiscais

11
  Geograficamente, o Estado da Índia abarca um vasto espaço compreendido
entre a África Oriental e os Mares do Sul da China. Englobava, assim os Rios de
Sena (em Moçambique) que permaneceram sob a jurisdição de Goa até 1752. Pas-
sim, Catarina Madeira-Santos, Goa é a Chave. Perfil Político da Capital do Estado da
Índia/1505-1570 (Lisboa: CNCDP, 1999).
12
 Thomaz, De Ceuta…, 218-233.
13
  Exceptuo da análise o regime dos cartazes (do árabe, qirtás), instituído em
1502, presumivelmente já existente no Índico e que correspondia a um salvo-con-
duto outorgado pelos portugueses, para navegação dos não-cristãos, Thomaz, De
Ceuta…, 221-223.

279

Monárquias Ibéricas.indb 279 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

preexistentes e adaptaram-nos, de maneira mais ou menos formalizada,


ao direito português, criando conectores institucionais e/ou instituições
de imbricação. O sistema das aldeias e das tanadarias era específico das
regiões dependentes de cidades onde os portugueses exerceram sobera-
nia. Nos territórios de Goa a terminologia imperial apropriou a designa-
ção gãocarias-tanadarias; enquanto no Concão – Baçaim e Damão – se
usou o termo português – prazos, com uma outra organização – e que
não devem ser confundidos com os prazos do Zambeze.
Analisemos as gãocarias-tanadarias de Goa e o papel do tanadar-
-mor, como conector bifronte. No caso de Goa, a análise filológica é
muito útil porque revela a sobreposição de instituições de diferentes
origens. Em concani, o gaokar é o chefe da aldeia. A palavra «gancar»
ou «gãocar» (nas fontes coloniais) tem origem em gãokar que asso-
cia gão – aldeia – e kãr – habitante de um lugar, mas que neste caso
adquire o significado de «senhor». Já as palavras tanadar ou tanadaria
(nas fontes portuguesas) remetem para thànedar, palavra de origem
persa, que vem de thana, um posto de polícia para a manutenção
da ordem pública. O thànedar é o chefe do thana14. Compreende-se
que, antes da chegada dos portugueses, já se tinham operado pro-
cessos de dominação imperial, implicando asobreposição entre cul-
turas políticas e administrativas indígenas e persas (sabendo que os
impérios indo-islâmicos pré-mogóis foram muito influenciados pelo
vocabulário institucional persa). Os portugueses acrescentam mais
uma camada a estes processos de interacção e de apropriação, que
são, afinal, processos típicos da formação dos impérios. O cronista
Gaspar Correia, entre outros, propunha ainda a equivalência entre:
os tanadares, os gancares e os almoxarifes (al musharraf, palavra que
por sua vez é de origem árabe): aqueles que «arrecadão as rendas»15.
Assim, um mero exercício filológico permite constatar a presença
de quatro camadas de empréstimos vocabulares que revelam outros
tantos empréstimos institucionais.
O sistema das gãocarias-tanadarias é portanto uma herança da
estrutura administrativa estabelecida anteriormente, cujas raízes
são difíceis de destrinçar, combinando, em todo o caso, dispositivos
desenvolvidos quer no contexto da dominação bamânida, da con-

  Agradeço esta informação a Kapil Raj.


14

  Gaspar Correia, Lendas da Índia, dir. Rodrigo José de Lima Felner (Lisboa:
15

Typographia da Academia Real das Sciencias, 1883), vol. ii, 73.

280

Monárquias Ibéricas.indb 280 13/12/18 14:55


O império português face às instituições indígenas

quista por Vijayanagar, e, posteriormente, da conquista destes terri-


tórios pelo sultanato de Bijapur.
A conexão entre a hierarquia administrativa portuguesa e o sis-
tema das gãocarias-tanadarias fez-se através da subordinação do ofício
indígena de cúpula – o tanadar – a um ofício português – o vedor da
Fazenda – hierarquicamente subordinado ao vice-rei ou governador­-
-geral. Conectando, a rede administrativa imperial expandia-se e esta-
belecia uma cadeia hierárquica, que ia desde o gãocar ao vice-rei da
Índia, passando por um cargo intermediário que era o tanadar-mor16.
Note-se que o tanadar – ofício local – passa, agora, a ser designado
por tanadar-mor – o que configura uma instituição de imbricação.
A designação associa um termo do reportório político persa – thàne-
dar – a um termo português – mor – habitualmente utilizado para dis-
tinguir os oficiais superiores. O cargo de tanadar-mor não só figura
nos Orçamentos do Estado da Índia, como passa a ser regulado por
um regimento e uma carta patente, à imagem do que acontecia com
qualquer outro ofício da administração portuguesa17. ­Corresponde,
assim, ao dispositivo institucional a que propus chamar conector
bifronte. É reconhecido, ao mesmo tempo, pela sociedade colonial
e pela sociedade local porque resulta de uma operação em que um
«ofício da terra» (para usar a linguagem das fontes) se vê equiparado
a um cargo imperial. Sob a tutela deste «conector bifronte» situa-
-se uma multiplicidade de instituições e de cargos hierarquicamente
inferiores (v. g., no serviço dos Pagodes), que passam a participar do
circuito imperial. No caso das aldeias de Goa, as fontes referem mui-
tas funções que não aparecem consignadas nos orçamentos ou na
documentação oficial do Estado da Índia, mas que se mantêm activas
sob a tutela do tanadar-mor. Para este cargo tanto eram nomeados
portugueses, caso de João Machado, como brâmanes, caso de Crisná,
que inaugurou uma dinastia de intérpretes do Estado da Índia e assu-
miu muitas outras funções, como a de embaixador18.

16
  No judicial, os gãocares estavam sujeitos ao tanadar-mor, instância de arbi-
tragem com apelação para o vedor da Fazenda ou governador-geral, conforme as
matérias.
17
 04.02.1515, APO, fasc.5, parte i, 1-3, 35-36.
18
  «Regimento de tanadar», de 20.10.1520, APO, fasc. 5, parte i, 65-68. Sobre
Crisná, ver Panduronga S. S. Pissurlencar, Agentes da Diplomacia Portuguesa na
Índia (Hindus, Muçulmanos, Judeus e Parses) (Goa: Tipografia Rangel, 1952), 1-16;
Flores, 2015, passim.

281

Monárquias Ibéricas.indb 281 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

O conjunto de várias aldeias que formava cada uma das gãocarias


pagava doravante a renda ao rei de Portugal. Seguindo os seus usos e
costumes, os gãocares, com o respectivo escrivão, repartiam o paga-
mento dessa renda pelos lavradores, e as pessoas que no limite de
cada aldeia detinham heranças.
Uma vez integrados no sistema administrativo português, os cargos
dos gãocares e de escrivães das aldeias conservaram a h ­ ereditariedade
que os caracteriza no quadro pré-colonial19. A poligamia, reconhecida
no direito sucessório local, foi inicialmente respeitada20. Já a arbitra-
gem que o tanadar-mor fazia dos conflitos entre gãocares, conciliava
os direitos dos naturais da terra com os interesses imperiais: devia visar
a paz – «resguardando a cada um sua justiça» – porque dela dependia
«o acrescentamento das rendas da dita ilha21».
Mas, evidentemente, a conexão com o sistema português também
introduz alterações no funcionamento da instituição.
Primeiro, no plano social, os muçulmanos vêem-se expropriados
das suas terras e expulsos de Goa; e os casados tornam-se proprietá-
rios rurais, a par dos canarins (como eram designados os nativos pro-
prietários dessas terras). Depois, no plano jurídico e fundiário, está o
Foral de Usos e Costumes dos Gancares e lavradores desta Ilha de Goa
e outras anexas a ella (16.09.1526), exemplar do tipo de operações
de manipulação que os direitos indígenas sofrem quando inscritos
na estrutura imperial. Se bem que o Foral pretenda ser um registo
do direito consuetudinário, levado a cabo pelo vedor da Fazenda,
Afonso de Mexia, corresponde, de facto, a uma redefinição das insti-
tuições locais em função de uma grelha jurídica europeia e, portanto,
à criação de um direito costumeiro colonial, diferente dos direitos
indígenas22. O uso da designação – foral – supõe a inscrição das nor-
mas locais num formulário metropolitano. Ora, o foral consistia
num documento particular a cada povoação de Tiswadi e restantes
ilhas (mas não dos territórios de Salcete e Bardez, aos quais também
viria a ser aplicado) cujo conteúdo variava segundo as necessidades
e actividades dos moradores. Era um instrumento jurídico de admi-
nistração local e é com esse estatuto, de direito local, que o direito

19
  APO, fasc. 5, parte i, 122.
20
  «Foral de 1526», art. xxxiii, APO, fasc. 5, parte i, 131.
21
  APO, fasc. 5, parte i, 36.
22
  APO, fasc. 5, parte i, 113-133.

282

Monárquias Ibéricas.indb 282 13/12/18 14:55


O império português face às instituições indígenas

consuetudinário se vê inscrito naquele formulário europeu. Com


uma consequência: a tradução linguística e conceptual que origina
equivalências vocabulares imprecisas, como «câmara e gãocaria»;
«gãocar e governador, ministrador e benfeitor», etc. Por outro lado,
os brâmanes letrados de Tiswadi são os informadores dos portugue-
ses, o que lhes permite introduzir deturpações e omissões, ao apre-
sentar a sua versão de assuntos tão importantes como a poligamia e
o direito sucessório23.
O Foral de Afonso de Mexia permite discutir uma questão, mais
ampla, que é a da diferença que existe entre os direitos indígenas e o
direito que os colonizadores registam com esse estatuto. O registo
em português corresponde sobretudo à fabricação de um direito
costumeiro colonial, por sua vez distinto do próprio direito colonial.
É assim que se forma um terceiro grau que tem o seu próprio âmbito
de aplicação.
A articulação com as gãocarias-tanadarias desencadeia trocas de
natureza burocrática. A par da cobrança dos impostos, começa a cir-
cular de forma regular uma correspondência que interliga os dois
níveis da administração. Não admira que os próprios procedimen-
tos burocráticos sejam alterados. Embora as comunidades domi-
nassem a cultura escrita (com os seus escrivães), a administração
colonial introduziu dois novos elementos no quotidiano: a diglossia
e a tradução. O que supõe a produção de registos escritos onde o
­português e as línguas locais, mais as instituições que elas designam,
se confrontam e se transformam, graças à participação de intérpretes
e de escrivães imperiais e indígenas. Apesar da tradução, o facto de
a designação de uma instituição indígena, em língua local, subsistir
na tradução portuguesa (porque é intraduzível), confere maior resis-
tência à própria instituição dentro do circuito imperial. A prová-lo
está a circulação da palavra «tanadar» até à corte em Lisboa, que per-
mite a D. Manuel I, por um lado, avaliar a importância do cargo, por
outro, definir os critérios para a escolha de quem o vai ocupar.
Se a primeira metade do século xvi representa a aprendizagem
das instituições indígenas e respectiva conexão ao aparelho imperial,
logo a partir da década de 1530 começam a operar-se transformações
nesse primeiro modelo, quer com as propostas elaboradas e enviadas

 Teotónio de Souza, Goa Medieval. A Cidade e o Interior no Século XVII


23

(­Lisboa: Estampa, 1994), 58.

283

Monárquias Ibéricas.indb 283 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

a D. João III pelo vigário-geral P.e Miguel Vaz e a institucionalização


do ofício do Pai dos Cristãos (que, como juiz privativo dos indígenas
cristianizados, julgava causas de pequeno valor), quer com a acção
administrativa e pastoral do bispo D. Juan de Albuquerque e dos
franciscanos, e correspondente destruição das estruturas religiosas
locais. A instalação da Companhia de Jesus e, depois, as directivas do
Concílio de Trento (1568) reforçam a política de conversão sistemá-
tica ao cristianismo, consequente na reorganização social e religiosa
das aldeias, através da aplicação de medidas repressivas, do combate
à poligamia e a mudança do regime de hereditariedade das terras e
dos cargos24.
A coroa destitui os «naturais da terra», não convertidos, do exer-
cício de cargos da administração. Se bem que a repetição de ordens
para que «nenhum oficial se servisse de brâmanes» e os ofícios fossem
dados a cristãos indicie a dificuldade da sua aplicação. Já os «ofícios
da terra», com origens indo-islâmicas e canarins, passam a ser con-
fiados, unicamente, aos convertidos ao cristianismo25. As terras dos
pagodes de Tiswadi são doadas ao Colégio de São Paulo registadas
num tombo e a sua organização transformada, com a intermediação
de brâmanes convertidos ao cristianismo, intérpretes e conhecedo-
res quer da língua portuguesa quer das instituições portuguesas26.
A política de conversão tem portanto um impacto importante nas
instituições indígenas na medida em que aqueles que as ocupam têm
de ser cristianizados.
Por outro lado, a Reforma anula as práticas vernaculares do arquivo.
Em 1593, o vice-rei Matias de Albuquerque proíbe os cristãos recen-
temente convertidos, de escrever sobre as olas (folhas de palmeira),
impondo o suporte em papel para todo o tipo de contractos. As olas
antigas ou modernas deviam ser tresladadas e registadas no Livro dos
Tombos, perante o ouvidor-geral, sob pena de não serem juridicamente
válidas. Além da manipulação da propriedade fundiária, estas medidas
revelam a transformação das práticas da escrita e do arquivo, e deram
origem aos Livros das Comunidades, no arquivo colonial27.

24
  Sobre as populações indígenas de Goa, ver, por todos, Ângela Barreto Xavier,
A Invenção de Goa: Poder Imperial e Conversões Culturais nos Séculos XVI e XVII
(Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2008).
25
 25.06.1557, APO, fasc. 5, parte i, 319-320.
26
 03.01.1553, APO, fasc. 5, parte i, 249-254; Xavier, A invenção…, passim.
27
 31.07.1593, APO, fasc. 5, parte i, 1323-1324; Idem, fasc. 5, parte iii, 1374.

284

Monárquias Ibéricas.indb 284 13/12/18 14:55


O império português face às instituições indígenas

Em 1735 as «gãocarias» foram submetidas a um novo regimento


que não alterou substancialmente a sua organização. O próprio
Estado da Índia conheceu um período de expansão militar e terri-
torial passando a incluir as comunidades das chamadas Novas Con-
quistas. Em 1761, as reformas pombalinas anularam as diferenças
entre naturais do Reino e naturais do Estado da Índia, permitindo
que estes ocupassem os cargos públicos28. Porém as elites instaladas
(civis e religiosas) desencadeiam fortíssimas resistências. Já as insti-
tuições fundiárias e fiscais não foram objecto de legislação precisa.
Seria durante o liberalismo que viria a discutir-se a pertinência, quer
da sua profunda reestruturação, quer da sua extinção.
Um outro caso de instituições fundiárias e fiscais é o dos prazos
do Estado da Índia situados no Concão – as chamadas Províncias
do Norte de Baçaim e Damão – e no vale do Zambeze, na África
Oriental que fazem intervir duas instituições locais, a iqta e a matrili-
nhagem, respectivamente. Apesar de a designação ser comum, apre-
sentam muitas diferenças29.
No Concão, como em Goa, as instituições indígenas prevale-
cem, no domínio do sistema fundiário e fiscal. Os prazos das terras
de Baçaim (1530) e de Damão (1559), abastecedoras de géneros a
outras praças, têm como «principal interesse» a garantia ao Estado
de rendas fixas – de origem fundiária – que lhe permitem sustentar
regularmente a administração «à margem do comercio»30.
Por um tratado de paz e amizade, o sultão de Gujarat concede
as terras de Baçaim aos portugueses em 1534, com todos os seus
rendimentos. A estrutura administrativa preexistente de origem
indo-islâmica era amplamente baseada na iqta a que os p ­ ortugueses
sobrepõem, a partir de 1546, a enfiteuse e o sistema das mercês.
Neste caso a instituição de conexão é a feitoria que arrecada as ren-
das e as faz circular na Fazenda do Estado da Índia31.

28
  Catarina Madeira-Santos, «Entre Velha Goa e Pangim: a capital do Estado
da Índia e as reformulações da política ultramarina, séculos xvi-xix», Revista de
­História Militar, número especial (1998): 130.
29
  Opto por não tratar Damão.
30
 Thomaz, De Ceuta…, 215
31
  Sobre os prazos do Norte ver, sobretudo, Susana Münch Miranda. «Property
rights and social uses of land in Portuguese India: the Province of the North (1534-
-1739)», em Property rights, land and territory in the European Overseas Empire, orgs.
José Vicente Serrão, Eugénia Rodrigues, Bárbara Direito e Susana Münch Miranda

285

Monárquias Ibéricas.indb 285 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Os impérios islâmicos do Decão – caso do sultanato de Deli –


tinham importado instituições persas nos domínios político, admi-
nistrativo, fundiário-fiscal e militar. Entre elas está a iqta (século xi)
que consistia numa forma de pagamento, por serviços prestados,
a funcionários e militares aos quais era feita uma concessão vitalícia e
não-hereditária dos rendimentos de uma terra (iqta’dari). Portanto
o iqta’dar, a pessoa que detém o cargo, sob a forma de concessão, não
detinha a posse da terra mas recolhia as suas rendas.
Segundo Miranda o modelo indo-islâmico só foi alterado em 1546,
quando a administração imperial criou o sistema de prazos do Norte
(a palavra prazo significa que a terra era concedida por um período de
tempo)32. Nessa altura verificou-se mais uma expropriação: as iqtas
foram transferidas dos iqta’dars muçulmanos para os brâmanes e os
portugueses de Goa. Ao mesmo tempo, o sistema preexistente das
iqtas foi adaptado à figura legal portuguesa da enfiteuse – propriedade
imperfeita – de maneira a garantir a apropriação dos rendimentos
fundiários pelos portugueses. O sistema da enfiteuse implicava uma
relação jurídica na qual o senhor/senhorio eminente abdicava tem-
porariamente da posse de parte dos seus direitos sobre a terra em
benefício do enfiteuta/foreiro que lhe paga um foro. Em Baçaim,
o rei de Portugal detém o senhorio eminente e substitui com este
título o sultão do Gujarat na percepção dos direitos sobre a terra.
A estas duas instituições – iqta e enfiteuse – vem ainda sobrepor-se
o sistema das mercês regulado pela Lei Mental (1434). O que significa
que a terra e as próprias aldeias passam a ser doadas como recompensa
por serviços, sobretudo militares, feitos ao rei de ­Portugal. Os prazos
do Norte formam, assim, uma instituição de imbricação, com uma ori-
gem de base no direito islâmico a que se sobrepõem uma instituição do
direito europeu e outra do direito português. A integração das estru-
turas fundiárias locais e da administração que as regia explica-se, antes

(Lisboa: CEHC-IUL, 2015), 169-180; Alexandre Lobato, «Sobre os ­prazos da


Índia», em II Seminário Internacional de História Indo-Portuguesa. Actas, dirs. Luís
de Albuquerque e Inácio Guerreiro (Lisboa: Instituto de Investigação ­Científica
Tropical/Centro de Estudos de História e Cartografia Antiga, 1985), 460-466; sobre
Baçaim, André Pinto de Sousa Dias Teixeira, Baçaim e o Seu Território: Política e
Economia (1534-1665) (Lisboa: FCHS/NOVA, 2010); sobre a Fazenda no Estado
da Índia, Susana Münch Miranda, A Administração da Fazenda Real no Estado da
Índia (1517-1640) (tese de doutoramento, Lisboa: FCSH/UNL, 2007).
32
  Miranda, «Property rights and social…», 173.

286

Monárquias Ibéricas.indb 286 13/12/18 14:55


O império português face às instituições indígenas

de tudo, porque elas constituem uma significativa fonte de tributação.


Do ponto de vista imperial, esta solução permite, assim, a rendibiliza-
ção de uma rede fundiária e fiscal já constituída e a formação de uma
força militar. À imagem do que acontece em Goa, a partir de 1554,
realizam-se os Tombos das aldeias e das terras com as implicações
que acima evoquei. Neste caso a homologia entre iqta’dars e foreiros
parece não ter conduzido a t­ ransformações ­fundamentais no sistema
indo-islâmico preexistente. Porém, do ponto de vista social, os prazos
acabaram por ser descaracterizados, sendo as regras da transmissão
regulamentadas ao longo dos séculos xvii e xviii, no sentido da heredi-
tariedade. Os actores sociais acabariam por transformar os usos deste
sistema. Em 1739, ano da entrada dos maratas nas possessões portu-
guesas, deste território apenas restará a pequena ilha de Bombaim que
foi concedida aos ingleses em 1661.
No caso dos Prazos do Zambeze, mais tardios, o rei de ­Portugal
concede a vassalos portugueses, as terras extorquidas aos africanos
graças aos tratados de vassalagem celebrados com o rei do Mono-
motapa (1609 e 1629)33. ­Contrariamente ao Concão, os prazos do
Zambeze não radicam numa instituição indígena. O instrumento
jurídico de concessão das terras é puramente colonial. Foi a alteração
do direito sucessório que acabou por levar à articulação entre prazos
e matrilinhagem africana.
Para obviar à dificuldade em manter o povoamento colonial
(causada pela elevada taxa de mortalidade) os governadores come-
çam a produzir em Goa legislação autorizando a concessão e trans-
missão de terras da coroa a mulheres, no Estado da Índia. No caso
dos Prazos do Norte e das Gãocarias de Goa, a legislação parece ser

33
  Sobre os prazos do Zambeze, ver Alexandre Lobato, Evolução Administrativa
e Económica de Moçambique. 1752-1763 (Lisboa: Agência Geral do Ultramar, 1957);
Alexandre Lobato, Colonização Senhorial da Zambézia e Outros Estudos (­Lisboa:
Junta de Investigações do Ultramar, 1962); Allen Isaacman, Mozambique: the afri-
canization of a European Institution. The Zambezi Prazos. 1750-1902 (­Madison: The
University of Wiscosin Press, 1972); Malyn D. D. Newitt, A history of Mozambi-
que (Londres: Hurst & Company, 1995); Eugénia Rodrigues, «As donas de prazos
do Zambeze. Políticas imperiais e estratégias locais», em VI Jornada Setecentista:
Conferências e Comunicações, dirs. Magnus R. de Mello Pereira, António César de
Almeida Santos, Maria Luiz Andreazza e Sergio Odilon Nadalin (­Curitiba: Aos
Quatro Ventos/Cedop, 2006), 15-34; Eugénia Rodrigues, Portugueses e Africanos
nos Rios de Sena. Os Prazos da Coroa em Moçambique nos Séculos XVII-XVIII
(­Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2014).

287

Monárquias Ibéricas.indb 287 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

contraditória e sem efeitos34. Mas, no vale do Zambeze, a sucessão


uterina consolida-se, na passagem do século xvii para o xviii. O que
é importante sublinhar, e é aqui que intervém a dimensão indígena,
é que a feminização dos prazos ocorre no contexto de uma socie-
dade colonial estreitamente conectada com as sociedades africanas.
Os homens, em geral europeus ou indianos, estabeleciam alianças
matrimoniais com mulheres africanas ou mestiças. Era uma forma de
assegurar a continuidade do povoamento. Ora, o facto de o direito
sucessório contemplar a linha de sucessão feminina acabou por se vir
imbricar com o próprio regime local africano da matrilinhagem, em
que a sucessão se faz sempre pelo lado materno. O que isto significa
é que a feminização dos prazos foi favorecida, mas não provocada,
pelo facto de essas mulheres serem originárias de sociedades matri-
lineares. Portanto a matrilinhagem – instituição local – imbrica-se
com os prazos, a posteriori, isto é, depois da sua fundação. É essa
amálgama que faz dos prazos verdadeiros poderes políticos, próxi-
mos, na sua organização das chefias africanas. Do ponto e vista judi-
cial, porém os senhores dos prazos parecem não ter interferido na
jurisdição dos potentados locais35.
Num regime jurídico diferente, que não envolvia transferência
directa de soberania encontram-se os tratados – conectores catalisa-
dores – estabelecidos por acordo de dois interlocutores. Os tratados
de paz e de amizade ou de irmandade são relações entre dois Estados
soberanos onde existe simetria de poderes36. Noutro plano estão os
tratados de vassalagem, que inauguram uma relação de suserania –
em que o Rei português é «rei de reis». I­ nstauram relações políticas
assimétricas e podem desencadear cadeias de vassalagem. O con-
trato, assinado pelas duas partes, estabelece um catálogo de direi-
tos e deveres acompanhado de cerimónias gestuais – inspiradas na
homenagem medieval associadas a diferentes ritos com significado
político local – em que os reis subordinados se posicionam como

34
  Ver, por exemplo, a Lei de Dom Sebastião, que aplica o princípio da herança
nas mulheres ou no parente mais próximo, em caso de não haver descendente do
sexo masculino, 22.03.1559, APO, fasc. 5, parte i, 381-383.
35
  Rodrigues, «As donas de prazos…», 15-34.
36
  Sobre os tratados no Estado da Índia, António Vasconcelos Saldanha, Iustum
Imperium. Dos Tratados como Fundamento do Império dos Portugueses no Oriente.
Estudo de História do Direito Internacional e do Direito Português (Lisboa: Funda-
ção Oriente – Instituto Português do Oriente, 1997), 362e ss.

288

Monárquias Ibéricas.indb 288 13/12/18 14:55


O império português face às instituições indígenas

vassalos do rei de Portugal. Nos dois casos, para o que aqui interessa,
os tratados aparecem como poderosos catalisadores, no sentido em
que desencadeiam intensas interacções politicas, diplomáticas e cul-
turais – com o envio de embaixadas entre as cortes e a troca de cor-
respondência e de presentes. Para o Estado da Índia, a Collecçao de
tratados e concertos de pazes que o Estado da Índia ­Portugueza fez
com os reis e senhores..., está repleta de exemplos onde as culturas
locais transformam os ritos diplomáticos e da vassalagem. No caso
de reis muçulmanos, o cerimonial sofre significativos processos de
ressemantização, nomeadamente pelo uso do A ­ lcorão – Al’Qran
(­chamado moçafo), para o juramento37. É no domínio dos tratados,
das embaixadas e das cortes que as instituições indígenas sob a forma
de noções e de protocolos são traduzidas em vista de um entendi-
mento conceptual38.

Brasil

Os estudos que identificam a presença de instituições amerín-


dias no aparelho institucional colonial são, ainda, minoritários39.
­Predominam os trabalhos sobre política indigenista (v. g., Directório
dos Índios). Mas, como lembra Monteiro, «a história dos índios do
Brasil não se resume à história da política indigenista»40. Por isso, há
vantagem em pensar, seguindo C. Almeida, que «as aldeias coloniais

37
  Julio Firmino Judice Biker, Collecção de tratados e concertos de pazes que o
Estado da Índia Portugueza fez com os reis e senhores com quem teve relações nas partes
da Asia e da África Oriental desde o princípio da conquista até ao fim do século xviii,
12 vols. (Asian Educational Services, 1881), 117.
38
 Sobre as cortes como lugares de tradução de conceitos políticos, Sanjay
Subrahmanyam, Courtly Encounters. Translating Courtliness and Violence in Early
Modern Eurasia (Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 2012), passim.
39
  A etnogénese própria da colonização criou as categorias dos Tupis e dos Tapuias,
Neste texto refiro-me aos índios, como categoria analítica, fazendo uma generalização
necessária, sabendo que entre as aldeias havia diferenças regionais e que as incidências
da cultura índia eram muito mais fortes na Amazónia do que no Sul, onde a presença
colonial se fez sentir desde o século xvi. Sobre os índios do Brasil sigo de perto os
trabalhos de Monteiro, 1989…, 45-57, 46; John M. Monteiro, Negros da Terra – Índios
e Bandeirantes nas Origens de São Paulo (São Paulo: Companhia das Letras, 1994),
passim; Almeida, Metamorfoses Indígenas…, passim.
40
  Monteiro, 1989, 46.

289

Monárquias Ibéricas.indb 289 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

foram também um espaço indígena»41. Afinal, apesar da descaracte-


rização e das perdas culturais, o que é que os índios conservaram das
suas instituições de origem ou como é que elas foram reconfiguradas?
Importa lembrar a especificidade institucional do Brasil colonial,
na relação com as populações indígenas. A partir de 1504, instau-
ram-se as capitanias-donatarias, mas é em 1549, com a fundação do
governo-geral, que a intensificação das guerras de conquista conduz
à subjugação de um largo contingente de populações índias, sobre-
tudo na capitania do Rio de Janeiro. A ocupação efectiva da terra e a
instalação da cultura da cana exigiam a paz. Para enquadrar os índios
(vencidos ou aliados) adoptou-se a estrutura das aldeias, primeiro,
por iniciativa dos jesuítas (com o argumento da conversão) e depois
do rei, de privados, e dos capuchinhos.
A administração colonial ignorou as diferenças étnicas, e dividiu
as populações em índios aldeados – aliados – e índios bravos, politi-
camente autónomos e inimigos. No primeiro caso, foram povoado-
res indispensáveis à expansão das fronteiras da colónia; no segundo,
serviram sobretudo como fonte de mão-de-obra escrava; e, em cer-
tos casos, como fontes de prestígio e de riqueza graças a alianças
matrimoniais.
Para avaliar o impacto das instituições indígenas foco a análise
nos descimentos e acordos de paz e nas lideranças índias convertidas
em capitanias-mores.
A formação das aldeias liga-se às expedições de descimentos de
índios que constituíram um instrumento fundamental de povoa-
mento (dada a elevada mortalidade e as fugas). Consistiam na deslo-
cação dos índios das suas aldeias para as novas aldeias missionárias,
muitas vezes com a presença dos jesuítas. As condições dos desci-
mentos são negociadas com os principais das aldeias índias e, por
vezes, acompanham-se de acordos de paz – implicando o auxílio
de um intérprete e a dádiva de presentes, sem que se faça alusão ao
regime de trabalho. Os descimentos supõem tratados bem diferen-
tes dos que se realizam no Estado da Índia ou em Angola porque se
­traduzem-se no «acto de aldear». As comunidades aceitam abandonar
as suas terras; instalar-se em aldeias tuteladas pela coroa portuguesa e
administradas por missionários; converter-se ao cristianismo; cultivar
as terras que lhe eram distribuídas; e, de uma maneira geral, a­ doptar

41
 Almeida, Metamorfoses Indígenas…, 90.

290

Monárquias Ibéricas.indb 290 13/12/18 14:55


O império português face às instituições indígenas

dos hábitos europeus, em troca de protecção. Mas as chefias índias


desempenham um papel central na avaliação das condições dos desci-
mentos e da integração das aldeias. Esse papel de intermediários pro-
longa-se na organização das aldeias que na prática eram governadas
pelos padres e pelos próprios chefes índios, nomeados para o cargo
de «capitão-mor da aldeia»42. Este pode ser considerado um cargo/
conector bifronte (como o tanadar-mor ou o tendala-capitão-mor,
ver infra). Embora as línguas índias não subsistam na designação do
cargo, as maneiras de liderar indígenas prevalecem, já que o capitão-
-mor da aldeia é o índio principal do grupo dominante à época de seu
estabelecimento. Ora, para o colonizador, a continuidade das chefias
indígenas é crucial para assegurar a disciplina na aldeia. Além disso,
observa-se uma política para a criação de nobrezas indígenas – e de
dinastias – por meio da concessão de títulos, patentes militares e
de nomes portugueses prestigiantes. É o caso de Araribóia, que foi
baptizado Martim Afonso de Sousa, recebeu o posto de capitão-
-mor da aldeia de São Lourenço e está na origem de uma dinastia
que ocupou o cargo durante três séculos. Elevados a capitães­-mores,
os índios gozaram de muitos privilégios comparativamente aos seus
subordinados. Mas as chefias indígenas sofreram profundas trans-
formações: a transmissão do poder passou a ser feita por via here-
ditária, por nomeação do governador, por vezes com um salário;
a capacidade de coacção, e em especial, ao trabalho, acrescentou-se
aos poderes tradicionais43.
Em contrapartida, a concessão de terras em regime de sesmaria
– a índios principais – não impediu o uso colectivo da terra, segundo
o regime pré-colonial. Finalmente, as aldeias reuniam índios de várias
origens, provocando a convergência de tradições. Por outro lado,
embora a presença de brancos fosse interdita, na prática isso nem
sempre se verificou e veio a intensificar-se com o passar do tempo.
Durante o período da União Ibérica, em 1609, Filipe II pro-
mulga uma lei – equivalente à mesma que se aplicava à América espa-
nhola – proclamando a liberdade dos índios do Brasil (eliminando a
excepção da guerra justa, presente na legislação portuguesa). Pouco
tempo depois essa lei é anulada por ter desencadeado convulsões

 Almeida, Metamorfoses Indígenas…, 92, 151, 160.


42

 Sobre as chefias índias, ver Almeida, Metamorfoses Indígenas…, 130, 156-


43

-158, 160, 221.

291

Monárquias Ibéricas.indb 291 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

sociais graves. É a publicação, pelo marquês de Pombal, do Directó-


rio dos Índios do Grão-Pará e Maranhão em 1757 que instaura uma
viragem, pelo menos programática, nas modalidades de inscrição dos
índios na sociedade colonial. Embora este diploma tenha sobretudo
a ver com a política indigenista e com a expulsão dos jesuítas, cor-
responde a uma tentativa para pôr fim ao que até aí prevalecia das
instituições índias, nas aldeias missionárias. Primeiro, transformou
os índios em vassalos do rei e elevou as antigas aldeias de índios à
categoria de lugares e vilas, dotadas de freguesias. A transformação
dos índios em vassalos tinha implícito o fim da cooptação das chefias
e das dinastias índias, como agentes de comando, e a sua substituição
pelas instituições da administração colonial. Daí, também, a intenção
de extirpar, definitivamente, os costumes indígenas (Directório...,
art. 95). Transformadas em vilas, as antigas aldeias deviam estar abertas
a brancos e africanos, e agir como pólos irradiadores de colonização
e de povoamento. A médio prazo os modos de governo vernaculares
seriam extintos. Na prática, a política de Pombal colapsou. O papel
das lideranças manteve-se e os índios permaneceriam mais um século
nas aldeias com um estatuto diferente do dos outros moradores44.

Angola

Em Angola, a coroa começa por optar pela solução da capitania-


-donataria, como nas ilhas atlânticas e no Brasil. Em 1476, o capitão
donatário, Paulo Dias de Novais, instala as tropas no espaço da futura
cidade de Luanda (1605) Aí se situava a «boca do sertão», base para a
conquista dos sobados no interior. Com o objectivo de pagar os servi-
ços militares aos conquistadores e de subordinar os chefes locais ven-
cidos, Novais adoptou uma instituição local – o «sistema dos amos».
O capitão-donatário «dava sobas» aos militares, para que eles cobras-
sem directamente àqueles – «para si» – os tributos ou baculamentos,
que anteriormente pagavam ao rei Ngola. Aqui, como na Índia, trans-
feria-se a cobrança dos impostos já percebidos pelos poderes locais,
para a esfera colonial, como meio de pagamento de serviços militares.
Um procedimento que durou pouco tempo. Em 1607 a política de

  Rita Heloísa de Almeida, O Diretório dos Índios – Um Projeto de «Civilização»


44

no Brasil do Século XVIII (Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1997), 120-130.

292

Monárquias Ibéricas.indb 292 13/12/18 14:55


O império português face às instituições indígenas

conquista foi reformulada: a coroa chamou a si a administração directa


e a cobrança dos baculamentos45. Entretanto – 1589 – abandonara­-
-se a solução da capitania. Pensou-se num vice-reinado, como no
Estado da Índia. Optou-se por um governo-geral, como no Brasil.
No século xvii a colónia de Angola era apenas constituída por duas
cidades (Luanda, 1576, e Benguela, 1617) e por presídios situados
no c­ orredor do rio Cuanza, conectados por redes comerciais e pelos
intermediários que as percorriam. O comércio de escravos torna-se
rapidamente no motor da colonização e, portanto, a ocupação do
território é aqui, como na Índia, secundária. São as redes comerciais
e os mercados que justificam a penetração no interior.
Os tratados de vassalagem enquadram e regulam as relações com
as autoridades locais – sobas – que a eles se submetem, vencidos ou
voluntariamente. Os sobas vassalos, convertidos ao cristianismo,
pagam um tributo em escravos, géneros e utensílios domésticos
e fornecem tropas em troca de protecção. Aqui, como na Índia, a
vassalagem é localizada. À cerimónia medieval sobrepõem-se gestos
com um significado político local: a cerimónia do vestir e do peso
durante a qual os sobas se cobrem de pemba (caulino branco), batem
palmas, etc. Um processo que se instala ao ponto de, na documen-
tação colonial, a vassalagem ser designada com uma palavra quim-
bundu – o verbo ndua – que sendo aportuguesada se transformou em
undar e undamento. Undar um soba africano equivalia, portanto, a
dar-lhe o juramento que inaugurava ou confirmava e renovava a rela-
ção de vassalagem. A assinatura do tratado, com a aposição de uma
cruz para os africanos, e as cerimónias do undamento, constituíam
apenas um ponto de partida que desencadeava uma série de outros
actos políticos e simbólicos, encontros e inovações46.

45
  «Regimento do governador de Angola», 23.07.1607, Monumenta Missionaria
Africana, vol. 5, 267-269.
46
 Beatrix Heintze, Luso-african feudalism in Angola? The vassal treaties of the
16 to the 18th century, separata da Faculdade de Letras da Universidade de C
th
­ oimbra
(Coimbra: Instituto de História Económica e Social, 1980), 111-131; Catarina
Madeira-Santos e Ana Paula Tavares, «Fontes escritas africanas para a história de
África», Estudos e Documentos. Revista do Arquivo Histórico de Angola, n.º 4-5
(1999): 87-134; Catarina Madeira-Santos e Ana Paula Tavares, edição, introdução,
glossário e índices, Africae Monumenta, vol. i – Arquivo Caculo Cacahenda (IICT,
2002), 23-49; Catarina Madeira-Santos, «Um governo polido para Angola: reconfi-
gurar dispositivos de domínio (1750 c. 1800)» (tese de doutoramento em ­História,
Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa/

293

Monárquias Ibéricas.indb 293 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Na longa duração, essas relações desencadeiam rotinas – a troca de


correspondência e de embaixadas entre Luanda e as chefias. E criam
inovações, a aprendizagem recíproca de culturas políticas e a criação
de uma burocracia nas chefias africanas que passam a contar com
secretários e arquivos. A administração colonial, por sua vez, passou
a mobilizar os conceitos político-institucionais africanos, nomeada-
mente relacionados com os direitos de linhagem, os títulos políticos,
que se articularam com a linguagem das instituições feudo­-vassálicas,
da burocracia e dos formulários, do império português47.
A vassalagem origina instituições co-construídas que são tam-
bém conectores bifrontes e que resultam, como na Índia da incor-
poração (e modificação) de cargos locais (mbundu) na hierarquia
colonial. Em meados do século xvii surge formalizado um cargo
de imbricação com regimento e carta patente : «tendala e Capitão-
-mor da Guerra Preta», associando um cargo português – capitão,
com competências militares e judiciais – a um outro mbundu – o
tendala, um título político de Estado, associado ao intérprete que
assim se torna o comandante da guerra preta (das tropas indígenas).
­Também a integração do título político africano dembo, na adminis-
tração portuguesa, passa pela atribuição de uma carta patente. Ligado
aos mercados, está o mani-quitanda: aquele que organiza as feiras
do interior. Mais uma vez, a cultura político-institucional colonial
não só difunde modelos como integra segmentos dos reportórios
institucionais indígenas. É em si mesma resultado de processos de
interacção e de empréstimos múltiplos48.
No domínio fundiário, as sociedades africanas possuíam, eviden-
temente, regimes organizados, no quadro das relações de linhagem.
Mas estavam vocacionados para uma agricultura comunitária e de

Paris, École des Hautes Études en Sciences Sociales, 2005a, 124-134 e 387-403; Cata-
rina Madeira-Santos, «Entre deux droits, les Lumières en Angola (1750-v.1800)»,
Annales. Histoire Sciences Sociales, n.º 4 (2005b): 817-848; ­Catarina Madeira­-Santos,
«Écrire le pouvoir en Angola. Les archives ndembu (xviième-xxème siècles)»,
Annales, Histoire Sciences Sociales, LXIV, n.º 4, número especial «Cultures écrites
en Afrique» (2009): 767-795; Catarina Madeira-Santos, «­Esclavage africain et traite
atlantique confrontés: transactions langagières et juridiques (à propos du tribunal
de mucanos dans l’Angola des xviie et xviiie siècles)», Brésil(s). Sciences humaines et
sociales, n.º 1 (2012, mai): 127-148.
47
 Madeira-Santos, «Um governo polido para Angola…», 403-420; Madeira-
-Santos, «Entre deux droits, les Lumières…», 817-848.
48
  Madeira-Santos, «Um governo polido para Angola…», 287-295.

294

Monárquias Ibéricas.indb 294 13/12/18 14:55


O império português face às instituições indígenas

subsistência que não se traduzia num sistema formalizado de paga-


mento de rendas. As terras expropriadas às comunidades africanas
foram concedidas em regime de sesmaria aos militares conquista-
dores. As estruturas fundiárias tradicionais sobrevivem nos arimos
ou fazendas, propriedade de portugueses e de luso-africanos, que se
situavam nos arredores das cidades e das vilas europeias e eram cru-
ciais para o seu abastecimento diário. Neste caso a linhagem surge
como instituição indígena central na definição das relações de traba-
lho de origem comunitária, pela ­mobilização de dependentes e escra-
vos, a par da inserção nas estruturas sociais coloniais49.
Em sentido inverso, os sobas procuram registar os limites das
suas terras perante o poder colonial, desde o século xvii. Para isso
recorrem a escrituras públicas, usando os utensílios jurídicos colo-
niais que protegem a sua propriedade, no plano interno e externo50.
Porém, sendo Angola um grande mercado escravista, as áreas pri-
vilegiadas de interacção com as instituições indígenas situam-se no
plano da (i)legitimidade da escravização. Deparamos, aqui, com uma
instituição única, em todo o império: o Tribunal dos Mucanos resul-
tado da incorporação de uma instância de decisão judicial africana
(mbundu ou ambundo) na administração colonial (nos presídios
e em Luanda)51.
Nas sociedades mbundu, o termo mukanu remetia para a reso-
lução verbal de litígios num tribunal presidido pelo soba, acom-
panhado de um conselho – os macotas – chefes de linhagem e
portadores de títulos políticos. Em geral, acrescentava-se à pala-
vra mukanu outra que precisava o tipo de crime: feitiçaria, roubo,
assassinato, adultério, etc. Neste tribunal era aplicado o direito
consuetudinário. A sentença pronunciada implicava o pagamento
de uma multa para reparar o crime cometido, através da entrega
de escravos, gado ou penhor. Isto porque, de uma maneira geral,
o direito penal indígena não infligia sanções, mas compensações.

49
  Aida Freudenthal, Arimos e Fazendas. A Transição Agrária em Angola (1850-
-1880) (Luanda: Edições Chá de Caxinde, 2005), 150.
50
  Madeira-Santos, «Um governo polido para Angola…», 106-135.
51
  Sobre os mbundu, ver Joseph C. Miller, Poder Político e Parentesco. Os Antigos
Estados Mbundu em Angola, trad. de Maria da Conceição Neto (Luanda: Arquivo
Histórico Nacional, Ministério da Cultura, 1995), passim; Jill Dias, «Mudanças nos
padrões de poder no ‘Hinterland’ de Luanda. O impacto da colonização sobre os
mbundu (c. 1845-1920)», Penélope, n.º 14 (1994): 43-91.

295

Monárquias Ibéricas.indb 295 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Por exemplo, em caso de assassinato, o culpado devia «pagar a


morte que tinha feito» entregando um certo número de escravos.
­Portanto, os julgamentos de mucanos não diziam directamente res-
peito às questões de liberdade ou de escravatura, mas «a economia
das multas», na qual se traduzia o direito penal, implicava o recurso
a pessoas de estatuto servil52.
A incorporação dos mucanos na hierarquia administrativa
de Angola acontece como consequência da co-presença de dois
regimes de escravatura – a atlântica e a das sociedades africanas
que, a partir do século xvii, se sobrepõem e entram em conflito.
Em cada regime, a escravização obedece a regras específicas – a
guerra justa para os portugueses e um conjunto de preceitos con-
suetudinários para os mbundu. Mas, essas regras sofrem constantes
violações por parte de comerciantes, capitães-mores e brancos em
geral53. Só a articulação dos dois critérios permite o fluxo de escra-
vos pretendido.
Para alimentar o tráfico atlântico é imperioso garantir o acesso
aos mercados do interior e manter a paz com os chefes aliados. Por
isso, quando a escravização ilegítima de africanos livres, súbditos
dos sobas vassalos, desencadeou queixas por parte destes, o gover-
nador chamou a si o julgamento destas questões, que interferiam nas
relações políticas regionais. Nesse sentido, o governador não só se
investiu como juiz de mucanos, como passou a arbitrar a legitimi-
dade da escravização, segundo o direito consuetudinário mbundu.
De facto, aplicava «um» direito indígena, já muito transformado pelo
quadro colonial de aplicação. Nos presídios, os capitães-mores tam-
bém julgavam com a jurisdição de juízes de mucanos, com apelo para
o governador. Os tribunais dos sobas avassalados funcionavam como
primeira instância com apelo para o governador-juiz-de­-mucanos.
Assim, no plano judicial, Angola apresenta uma bifrontalidade: os
tribunais de mucanos (nos presídios e em Luanda) funcionam em
paralelo à jurisdição, em primeira instância, dos capitães­-mores com
apelo para a Ouvidoria-Geral. O próprio governador­-juiz-de-mucanos
procede, assim, como um conector-bifronte.

52
 Madeira-Santos, «Um governo polido para Angola…», 364-408; Madeira-
-Santos, «Entre deux droits…», 820 e segs.
53
  Madeira-Santos, «Esclavage africain et traite atlantique confrontés…», 127-
-148.

296

Monárquias Ibéricas.indb 296 13/12/18 14:55


O império português face às instituições indígenas

Porém, convém realçar que o recurso a esse arbítrio reflecte mais


um fenómeno restrito aos sobas vassalos e seus súbditos, do que a
um fenómeno generalizado. Não esqueçamos que cerca de 45% dos
escravos que entraram nos portos americanos saíram dos portos ango-
lanos!54 Este fenómeno é, contudo, significativo porque o Tribunal de
Mucanos oficializa a aceitação das regras africanas da escravatura, arti-
culando-as com as europeias, como condição para fazer funcionar uma
instituição transversal – a escravatura – que apresentava características
diversas nas sociedades africanas e no tráfico atlântico.
Este processo explica ainda que, uma vez integrado na esfera colo-
nial, o juízo de mucanos passasse a arbitrar, exclusivamente, casos de
escravização ilegítima. Ao ponto de os administradores começarem a
designá-lo por «juízo de liberdades». Contrariamente ao que se pas-
sou em Goa, com o Foral de 1526, as autoridades coloniais nunca
codificaram o direito mbundu, que permaneceu na esfera da oralidade.
Os próprios intérpretes devem ter desempenhado o papel de infor-
madores. Mas as queixas apresentadas a este tribunal podiam subir até
aos tribunais metropolitanos que, em última instância, faziam regres-
sar do Brasil os escravos ilegítimos, não por razões humanitárias, mas
políticas e comerciais55. Durante todo o século xix os capitães-mo-
res nos presídios mantiveram os julgamentos de mucanos, apesar do
regime liberal e constitucionalista.
Os exemplos evocados – para o Estado da Índia, o Brasil e
Angola – provam que os direitos e as instituições indígenas, quando
apropriados pela linguagem do colonizador e inscritos no circuito
administrativo imperial, configuram um terceiro grau jurídico e ins-
titucional, profundamente proteiforme. Portanto, por um lado, há
uma diferença entre aquilo que são os direitos indígenas das socie-
dades indígenas e o que é o direito colonial costumeiro56. Por outro,
nenhuma das instituições indígenas permanece verdadeiramente
indígena, uma vez conectada com a administração do império.

54
 David Eltis e David Richardson, «A New Assessment of the Transtlantic
Slave Trade», em Extending the Frontiers: Essays on the New Transatlantic Slave Trade
Database, coords. David Eltis e David Richardson (New Haven: Yale University
Press, 2008), 1-62.
55
  Madeira-Santos, «Esclavage africain et traite atlantique confrontés…», 146-8.
56
  Sobre o «direito costumeiro colonial», Martin Chanock, Law Custom and
Social Order. The colonial experience in Malawi and Zambia (Cambridge: ­Cambridge
University Press, 1985).

297

Monárquias Ibéricas.indb 297 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Por fim, as próprias instituições imperiais sofrem processos de


indigenização em dois planos. Os cargos imperiais entregues a africa-
nos, asiáticos ou ameríndios são transformados no seu próprio fun-
cionamento, porque aqueles que os exercem recorrem muitas vezes
aos saberes e práticas locais que dominam (v. g., índios principais
como capitães-mores das aldeias). Já os ofícios imperiais, mesmo
quando exercidos por portugueses, podem ser irrigados por práticas
institucionais locais. Por exemplo, os capitães-mores de Angola, que
exercem funções de juízes ordinários nos presídios do interior, apli-
cam com frequência o direito consuetudinário seguindo os esti-
los judiciais vernaculares, porque desconhecem o direito erudito.
Ao ponto de, na documentação oficial, designarem o julgamento de
primeira instância com a palavra quimbundu – mukanu – que nos
­sobados designava a arbitragem de conflitos, pelos chefes africanos57.
Em suma, os actores, os saberes e as práticas indígenas na Ásia, no
Brasil e em Angola, irrigam e metamorfoseiam subliminarmente a
própria estrutura imperial.

Transversalidades e circulações administrativas:


o império no singular
As especificidades das instituições indígenas em cada região não
permitem identificar relações directas entre elas. É o império que as
unifica. Para isso contribuem, por um lado, as instituições imperiais
e as redes burocráticas. Por outro lado, o discurso e as práticas dos
agentes imperiais, cuja carreira se faz no contacto com múltiplas cul-
turas institucionais. De facto, as estruturas administrativas centrais
(em Lisboa), supra-regionais (em Goa ou Luanda) e os funcionários
que as servem criam paralelismos – por vezes mal-entendidos – à
escala imperial, sempre que legislam, estabelecem programas políti-
cos e instauram práticas governativas.
O exemplo dos prazos é a este propósito muito revelador. O uso de
uma mesma palavra para designar as instituições fundiárias da Índia
e da África Oriental indicia que para a coroa portuguesa – represen-
tada pelo governo-geral estabelecido em Goa – o prazo era mais

  Madeira-Santos, «Um governo polido para Angola…, 403-408, e Madeira-


57

-Santos, «Entre deux droits…», passim.

298

Monárquias Ibéricas.indb 298 13/12/18 14:55


O império português face às instituições indígenas

ou menos a mesma coisa, em todo o lado, apesar das profundas


diferenças que separavam os prazos de Baçaim e os do Zambeze58.
A dissolução das diferenças viria a ser reformulada, a partir de 1752.
Nessa altura a tutela administrativa de Moçambique transita de Goa
para Lisboa. Ora, como se viu, a feminização dos prazos fora favore-
cida pelo governo de Goa. Mas o Conselho Ultramarino em Lisboa,
mais familiarizado com a gestão do regime fundiário no Atlântico
Sul, acabou por subsumir a administração dos prazos do Zambeze
ao modelo das sesmarias do Brasil, procedendo à «sesmarização dos
prazos59». Assim, a transferência da administração dos prazos do
Zambeze, do governo de Goa para o de Lisboa, obliterou a sua espe-
cificidade – a relação entre o regime fundiário e a herança uterina que
entretanto se associara à matrilinhagem, enquanto instituição indí-
gena – em favor da assimilação a uma categoria jurídica amplamente
vulgarizada nos organismos metropolitanos. Produziu-se, assim,
uma falsa homogeneização institucional, à escala do império, se bem
que localmente os procedimentos anteriores se mantivessem.
Os paralelismos produzidos nos meios administrativos represen-
tam também um mal-entendido, porque os «prazeiros» do Concão e
do Zambeze eram tão diferentes entre si, como estes o eram dos «ses-
meiros» brasileiros. Mas, do ponto de vista da administração imperial,
o mal-entendido não significa uma ausência de eficácia, pelo contrário,
é um «atalho», como muitos outros, para tornar inteligível, dominar e
unificar a pluralidade de situações que se produz no terreno.
Depois está a formação e a circulação de imaginários políticos
através do império. O Estado da Índia funciona como um espaço
de aprendizagem e também como um marco fundador em mui-
tos domínios. O vocabulário que designa os poderes locais tran-
sita de uns espaços para outros. Na documentação de Angola do
século xvii, por exemplo, confluem, ao mesmo tempo, as expressões:
«reis comarcões» (usada para os reis da Costa da Mina); «reis vizi-
nhos», comum no Estado da Índia; e «sobas vassalos», esta própria
do contexto angolano60.

58
 Subrahmanyam, Courtly Encounters…, 246-247.
59
  Rodrigues, «As donas de prazos…», 19 e segs.
60
  «Jesuítas (1602-1603)», Monumenta Missionaria Africana, 56; Beatrix Heintze,
Fontes para a História de Angola do Século XVII, memórias, relações e outros manus-
critos da colectânea documental de Fernão de Sousa (1622-1635), transcrição dos
documentos em colaboração com Maria Adélia de Carvalho Mendes, ­Studien zur

299

Monárquias Ibéricas.indb 299 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Finalmente, as próprias redes administrativas funcionavam como


veículos privilegiados de transmissão e reformulação das culturas
institucionais e políticas asiáticas, ameríndias e africanas. Embora a
análise historiográfica tenha tendência para separar as áreas geográ-
ficas, o facto é que instituições e os tribunais centrais em Lisboa tra-
tavam quotidiana e simultaneamente assuntos referentes ao Estado
da Índia, Brasil, Angola, Guiné, ilhas de Cabo Verde e de São Tomé.
A este nível, o Conselho Ultramarino (1642) é paradigmático.
Sabendo que a petição é uma instituição apropriável por todos
(desde os mais graduados aos que ocupam a base da hierarquia
social), não é de estranhar que, por vezes, entre os peticionários
figurem asiáticos, índios e africanos. Redigem-nas eles próprios,
ou com o auxílio de quem domina a escrita, os formulários e a
retórica da administração imperial. Dessas petições, endereçadas
ao ­Conselho Ultramarino, e nas consultas que elas suscitam, cons-
tam as instituições indígenas, seus modos de funcionamento e suas
denominações nas línguas locais (soba, mambo, sultão, mucanos,
milandos, tananadares, mocadões, etc.). Mas não só. Os concei-
tos, os argumentos e a credibilidade política também circulam e
são politicamente performativos na esfera imperial. Por exem-
plo, as petições dos índios principais das aldeias que evocam um
ascendente nobre de prestígio vêem-se reconhecidas pelos conse-
lheiros que as despacham favoravelmente. Assim aconteceu com
as petições dos descendentes do prestigiado Araribóia, junto do
­Conselho Ultramarino61.
Também sob a alçada do Conselho Ultramarino, ficou o pro-
vimento dos postos da Fazenda, da justiça e dos capitães-mores,
mediante a realização de um concurso62. Ora os curricula apresentados
pelos candidatos mencionam os dispositivos político­-institucionais
africanos e asiáticos que, assim, atingem o mais elevado tribunal da
administração ultramarina em Lisboa. Um exemplo, que revela a
comunicação em espelho entre cortes, burocracias e instituições, vem

Kulturkinde, vol. 75 (Estugarda: Franz Steiner Verlag, Wiesbaden GMBH, 1985),


I, 320.
61
 Sobre Araribóia e a sua dinastia, Almeida, Metamorfoses Indígenas…, 37 e 157.
62
  Edval de Souza Barros, Negócios de Tanta Importância: O Conselho Ultra-
marino e a Disputa pela Condução da Guerra no Atlântico e no Índico, 1643–1661
(Lisboa: CHAM, 2008), 105.

300

Monárquias Ibéricas.indb 300 13/12/18 14:55


O império português face às instituições indígenas

de Angola63. Em 1749, António Carneiro de Magalhães candidata­-se


ao posto de capitão-mor de um presídio angolano. Entre os nume-
rosos documentos que Magalhães junta ao curriculum figura uma
certidão passada pelo dembo (chefe) Mbwila, na sua banza (cen-
tro político), que atesta a qualidade dos serviços por ele prestados
enquanto seu escrivão. Magalhães estabelece, assim, uma simetria
entre o valor de um documento produzido por um chefe mbundu
e os documentos emanados dos oficiais imperiais. As provas dadas
no âmbito de uma chefia africana e certificadas por uma autoridade
africana são mobilizadas junto das mais altas instâncias da adminis-
tração ultramarina para aceder a um cargo na administração imperial.
Neste caso como no de Araribóia, o Conselho Ultramarino dispõe
do conhecimento e da memória administrativa que lhe permitem
avaliar da legitimidade dessas realidades institucionais longínquas.
Os próprios tratados celebrados com autoridades indígenas (nas
suas múltiplas formas) percorriam as redes da administração cen-
tral. O documento da vassalagem do rei de Ormuz é exemplar. Dele
foram redigidas duas versões, uma em persa, sobre papel com letras
de ouro, à guarda do capitão-mor; outra em árabe, feita em folha de
ouro batido, metida numa caixa de prata em forma de livro e enviada
ao rei de Portugal64. Por fim, os formulários usados nas chancelarias
coloniais inscrevem as instituições locais nos protocolos da adminis-
tração colonial, formalizam-nas e fazem-nas chegar às instituições e
aos arquivos centrais.
Quem era capaz de fazer a decifração de tudo isto, em Lisboa?
Muitos dos membros dos conselhos possuíam um curriculum ultra-
marino (por vezes como governadores-gerais) e outros eram espe-
cializados em certas áreas do império.
No início deste capítulo referi a existência de uma etnografia
administrativa espontânea que se constrói com o próprio império.
As redes administrativas fazem-na circular desde a multiplicidade de
terrenos institucionais onde ela se produz até aos organismos cen-
trais. É claro que os administradores em Lisboa não compreendem
tudo, nem podem. Quem estava no terreno possuía um conheci-
mento de imersão, experiencial, raramente sistematizado, que visava

  Madeira-Santos, «Entre deux droits…», 837.


63

  Fernão Lopes de Castanheda, História do Descobrimento e Conquista de Índia


64

pelos Portugueses (Lisboa: Typ. Rollandiana, 1883 [1559]), II, LXIII.

301

Monárquias Ibéricas.indb 301 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

uma rentabilidade imediata. Um conhecimento sempre performa-


tivo para atingir fins políticos e comerciais. Portanto, há questões
de fundo que nunca circulam além da esfera regional. O que tem
consequências. As instituições indígenas são parcialmente percep-
cionadas, e eu diria que é esse nível – do entendimento suficiente do
outro – que permite que a comunicação se estabeleça e que a eficácia
da política imperial se verifique. Foi também por isso que se fabrica-
ram «atalhos» e se criaram amálgamas e equívocos.
A leitura transversal do império, sob o prisma das instituições
indígenas, torna visíveis e inteligíveis fenómenos ignorados por aná-
lises cantonadas ao ponto de vista da imposição da estrutura imperial
ou focalizadas apenas sobre uma das secções do império. O Estado
da Índia pré-anuncia soluções que depois foram aplicadas no Brasil e
em África. É, assim, historicamente pertinente, pensar a construção
do Atlântico Sul em diálogo com a história do Estado da Índia e do
oceano Índico e vice-versa. A tricontinentalidade do império é, em
si mesma, performativa, tanto histórica como historiograficamente.
Assim, ao estabelecer ligações e reconhecer constantes transversais,
o que este capítulo propõe, in fine, é a substituição de uma geogra-
fia estrutural por uma geografia das práticas imperiais. No sentido
em que o império constitui uma área cultural historicamente cons-
truída que contém e propõe a sua própria grelha de análise, grelha
essa que não coincide com aquelas que a análise historiográfica tem
consagrado.

302

Monárquias Ibéricas.indb 302 13/12/18 14:55


Michel Bertrand

Capítulo 8

As finanças do rei de Espanha


nas Índias. Estruturas
administrativas, serviço régio e
interesses familiares vistos a partir
do vice-reinado da Nova Espanha 1

A preocupação constante da administração peninsular em melhorar


a eficiência do funcionamento das finanças régias nas Índias comprova
a preocupação que a Espanha teve, desde o início, com este sector da
burocracia colonial. De acordo com as normas gradualmente implanta-
das a partir do século xvi, observa-se a introdução de uma racionaliza-
ção e profissionalização sistemática e precoce do sector administrativo
financeiro, bem como o estabelecimento de novas estruturas que se
pretendiam mais eficientes. Mas será que se observa, na prática, uma
melhoria significativa nos seus modos de funcionamento?2

1
  Este texto actualiza uma contribuição publicada em Anne Dubet, Les finances
royales dans la monarchie espagnole (xvie-xixe siècles) (Rennes: Presses Universi-
taires de Rennes, 2008) na qual se fez uma síntese dos principais contributos dos
oficiais das finanças da Nova Espanha nos séculos xvii e xviii. Tradução do original
em francês de Ângela Barreto Xavier.
2
  Referimo-nos, em concreto, ao debate relativo à corrupção da administração
régia, retomado recentemente, nomeadamente em torno dos grupos de investigação
constituídos por Francisco Andújar (Universidad de Almería) e Pilar Ponce Leiva

303

Monárquias Ibéricas.indb 303 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

A julgar pela correspondência administrativa disponível para o


século xviii e pelos relatórios regularmente emitidos por visitan-
tes enviados à Índia para inspeccionar esta esfera administrativa, há
razões para acreditar que a prática do dia-a-dia dos oficiais que admi-
nistravam as finanças reais não mudou radicalmente. Ou seja, parece
necessário retomar a reflexão sobre as reformas administrativas nas
Índias, não tanto para nos concentrarmos nas reorganizações das suas
estruturas, mas para nos focarmos, em primeiro lugar, naqueles que
eram responsáveis por assegurar a gestão desse sector a­ dministrativo.3
Mais competentes, mais bem seleccionados no momento do recruta-
mento, submetidos a condições cada vez mais rigorosas, o que é que
os levou a manter práticas abertamente condenadas?
Neste texto argumenta-se que é através do conhecimento, tão
preciso quanto possível, da sua inserção no tecido social colonial que
se pode aceder aos mecanismos profundos que contribuíram para o
fracasso dos projectos elaborados na metrópole. Isso supõe compa-
rar a realidade das carreiras administrativas dos oficiais de Finanças,
bastante maçadoras, com a atracção exercida por essas mesmas car-
reiras, cujo acesso suscitava uma grande competição.
Desta discrepância emerge a hipótese de que um conjunto de
benefícios, mais simbólicos do que reais, que se associava a estes ofí-
cios, pode ajudar a explicar a sua capacidade de atracção. Comece-se,
porém, por relembrar brevemente o quadro administrativo no con-
texto do qual se integram estas reflexões.

(Universidad Complutense de Madrid). Um colóquio recente em Madrid ilustra bem


o dinamismo destas reflexões: «Debates sobre la corrupción en el Mundo ­Ibérico
siglos xvi-xviii», Maio de 2017. O programa detalhado do colóquio está disponível no
seguinte endereço: www.debatessobrelacorrupcion.blogspot.com. O livro, resultante
do colóquio, organizado por Francisco Andújar e Pilar Ponce Leiva, pode ser encon-
trado gratuitamente em: http://www.cervantesvirtual.com/obra/debates-sobre-la-
-corrupcion-en-el-mundo-iberico-siglos-xvi-xviii-928763/. Por seu turno, a revista
e-Spania, 2013, n.º 16, consagrou recentemente um dossier ao mesmo tema. Por fim,
uma obra coordenada por Martin Rodrigo Alharilla e Alexandre Coello de la Rosa foi
publicada também sobre o mesmo problema: Alexandre Coello de la Rosa e Martín
Rodrigo Alharilla, eds., La justicia robada. Corrupción, codicia y bien público en el
mundo hispánico (siglos xvii-xx) (Barcelona: Icaria Editotial, 2018).
3
  Estas questões estiveram no centro da historiografia interessada no «reformismo
borbónico». Para um estudo historiográfico crítico do uso desta categoria desde os
anos de 1950, ver Ernest Sanchez Santiró, «Las reformas borbónicas como categoría
de análisis en la historiografía institucional, económica y fiscal sobre Nueva España:
orígenes, implantación y expansión», Historia Caribe, vol. 11, n.º 29 (2016).

304

Monárquias Ibéricas.indb 304 13/12/18 14:55


As finanças do rei de Espanha nas Índias

Uma administração das Finanças regionalizada


Desde o início do processo de exploração e colonização das ter-
ras que viriam a constituir a América, a monarquia espanhola teve de
garantir, sistematicamente, que lhe seria devolvida a parte dos lucros
resultantes dos contratos assinados com os conquistadores. Ou seja,
não é surpreendente encontrar entre os membros de uma expedição, e
isto desde a primeira viagem de Cristóvão Colombo, um notário e, em
especial, um vedor responsável por «proteger», no verdadeiro sentido
da palavra, os interesses reais. Logo depois, entre os primeiros oficiais
reais nomeados pelos Reis Católicos para as Antilhas, encontram-se
representantes do rei encarregados da gestão das finanças americanas.
Com a expansão do império pelo interior do continente ameri-
cano, este sector administrativo continuou a desenvolver-se através
de uma crescente densificação de sua presença, no âmbito de cada
um dos dois vice-reinados, nomeadamente para o espaço mesoame-
ricano da Nova Espanha, que tinha a cidade do México como capital,
e para o espaço andino, do Peru, centrado em Lima.4 Muito concre-
tamente, na Nova Espanha passa-se de sete Cajas reales no final do
século xvi – e de um número equivalente de circunscrições de admi-
nistração financeira –, para doze nos finais do século seguinte, e vinte
e uma nas vésperas da independência.5
Esse crescimento regular da infra-estrutura administrativa das
finanças foi acompanhado pela afirmação da grande especificidade
da Hacienda Real em todo o aparelho administrativo colonial. Cada
Caja real administrava uma vasta circunscrição, nunca se sobre-
pondo a outras circunscrições administrativas regionais, fossem elas
­gobiernos, alcadías mayores, ou bispados.

4
  Posteriormente, a vastíssima vice-realeza do Peru, que se estendia, a partir do
Norte, do golfo do México até à imensa região da Pampa, para além de Buenos
Aires, no Sul, passando pelo espaço andino, a oeste, foi desmembrada em três vice-
-realezas : a da Nova Granada, com a capital em Bogotá, criada em 1717, a de Buenos
Aires, em 1776, e a do Peru, reduzida ao espaço andino.
5
  Para a lista detalhada das diversas Cajas reales com as datas da sua criação, ver
Michel Bertrand, Grandeur et misères de l’office, les officiers de finances de Nouvelle
Espagne aux XVIIème et XVIIIème siècles (Paris: Les Publications de la Sorbonne,
1999), 50-52. Para as Cajas Reales que existiam na vice-realeza meridional, veja-
-se Maria Luisa Laviana Cueto, «Organización y funcionamiento de las cajas reales
de Guayaquil en la segunda mitad del siglo xviii», Anuario de estudios americanos,
n.º 37 (1980): 313-349.

305

Monárquias Ibéricas.indb 305 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

A sede da Caja correspondia sempre a uma capital económica


regional, fosse ela um porto – como Veracruz ou Acapulco –, um
importante centro de mineração – como Zacatecas, Pachuca ou
­Guanajuato – ou, finalmente, uma capital administrativa, como a
Cidade do México ou Guadalajara. Assim se fazendo, o desenvol-
vimento da malha desta administração seguiu de forma precisa a
integração progressiva das zonas periféricas e marginais na unidade
económica colonial, caso das regiões do Norte da Nova Espanha.
Ao mesmo tempo, um declínio económico regional podia sig-
nificar o desaparecimento, mais cedo ou mais tarde, da Caja real
que poderia ter ali existido, como ocorreu com a Caja fundada em
Caxamarca, na Nova Galiza. À cabeça dessas circunscrições financei-
ras, os oficiais régios gozavam de uma verdadeira autonomia adminis-
trativa. Certamente, o vice-rei, com o seu título de superintendente
das finanças reais da sua circunscrição, podia argumentar possuir um
direito real de escrutínio. Mas a dispersão das Cajas reales por um
território tão vasto tornou essa superioridade hierárquica mais teó-
rica do que efectiva. Além disso, como «oficiais reais», os oficiais das
Cajas tinham o privilégio de se poderem dirigir directamente ao pró-
prio rei ou ao seu Conselho das Índias, sem precisarem da interme-
diação do vice-rei; o que, como a documentação mostra, aconteceu
com uma enorme frequência.6
Esta especificidade administrativa exigiu o recurso a métodos
específicos de monitorização, especialmente porque um dos lugares-
-comuns da correspondência administrativa é a denúncia dos abu-
sos dos diversos oficiais régios que se sucederam nesses cargos da
administração das Finanças. A inspecção ou a visita foram as solu-
ções tradicionalmente utilizadas pela administração espanhola, uma
prática que se iniciou no século xv no mundo h ­ ispânico e que, natu-
ralmente, se exportou para a América espanhola.7 ­Simultaneamente,

6
  É esse o testemunho da correspondência administrativa dos oficiais das Finan-
ças, disponível na 5.ª série do Archivo General de Indias, estruturada em torno das
diversas Audiencias do império. Para a Nova Espanha, ver os maços das subséries
«Cartas de los oficiales reales de la Nueva España» e os «Expedientes de oficiales
reales sobre dependência», na série Audiencia de México.
7
 A bibliografia sobre esta questão é particularmente abundante. Referimos
aqui os trabalhos mais significativos que oferecem uma perspectiva jurídica quase
exaustiva: Ismael Sanchez Bella, La organización financiera de las Indias, siglo xvi
(Sevilha: EEHA, 1968), maxime 282-291; Analola Borges, «Una Real Instrucción

306

Monárquias Ibéricas.indb 306 13/12/18 14:55


As finanças do rei de Espanha nas Índias

a ­necessidade de um controlo mais regular desses oficiais ameri-


canos percebidos como não tendo escrúpulos levou, no início do
século  xvii, à criação de um tribunal real das contas vice-reais, sob
o nome de Tribunal de Cuentas.8 Ou seja, a coroa de Espanha estava
consciente das muitas disfunções que afectavam esta administração
que lhe era demasiado preciosa, e desde cedo se preocupou com o
estabelecimento de mecanismos de controlo que permitissem redu-
zir a sua amplitude.
O conjunto destas observações, assentes na demonstração da
lógica administrativa estabelecida desde o início da construção de
um Estado colonial na América espanhola, obrigam a questionar as
interpretações historiográficas que põem em paralelo o crescimento
lento da estrutura administrativa colonial e o reforço da autoridade
metropolitana. Além disso, segundo essas mesmas interpretações, o
verdadeiro controlo do aparelho de Estado colonial seria um fenó-
meno bem tardio, associado ao que identificam como uma ruptura:

de 1714, primer intento reformista de los jueces visitadores en Indias, y posible


precedente del sistema de intendencias», em Memorias del II Congreso Venezolano
de Historia (Caracas, 1975), t. 1; Benjamín González Alonso, Sobre el Estado y la
administración de la Corona de Castilla en el Antiguo Régimen: las comunidades de
Castilla y otros estudios (Madrid: Siglo Veintiuno de España, 1981), sobretudo o
artigo «Control y responsabilidad de los oficiales reales: Notas en torno a una pes-
quisa del siglo xviii», 141-203; Ismael Sánchez Bella reuniu um conjunto de artigos
seus sobre o tema sob o título Derecho indiano. Estudios: Las visitas generales en la
América española (siglos xvi-xvii) (Pamplona: Colección jurídica, Ediciones de la
Universidad de Navarra, 1991). Do mesmo autor, ainda que não na mesma colec-
ção, «La jurisdicción de Hacienda en Indias (s. xvi y xvii)», Anuario de Historia
del Derecho Español, XXIX (Madrid, 1959): 175-228; Leopoldo Zumalacárregui y
Calvo, «Visitas y residencias en el siglo xvi: unos textos para su distinción», Revista
de Indias, vol. 26 (Madrid, 1946); Guillermo Céspedes del Castillo, «La visita como
institución indiana», Anuario de Estudios Americanos, vol. 3 (Sevilha, 1946): 984-
-1025; José María Mariluz Urquijo, Ensayo sobre los juicios de residencias indianos
(Sevilha: EEHA, 1952); Carlos Molina Argüello, «Visita y residencia en Indias»,
em Tercer Congreso Internacional del Instituto de Historia del Derecho Indiano,
Madrid, 1973 e «Las visitas-residencias y las residencias-visitas de la Recopilación
de Indias», em Memorias del II Congreso Venezolano…, t. 2; Milagro Contreras,
«Aportación al estudio de las visitas de audiencias», em Memorias del II Congreso
Venezolano…, t. 1.
8
  Sobre a criação, no México, desta nova instituição em 1605, ver M. Bertrand,
Grandeur et misères de l’office…, 97 e segs. A partir da mesma data, encontramos um
tribunal similar em Lima: Ronald Escobedo Mansilla, Control fiscal en el Virreinato
peruano: el Tribunal de Cuentas (Madrid: Editorial Alhambra, 1986).

307

Monárquias Ibéricas.indb 307 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

a implementação das grandes reformas administrativas da segunda


metade do século xviii. 9 Mais: uma das raízes profundas do processo
de independência encontrar-se-ia nesse momento de ruptura, no
qual se verificara a exclusão dos criollos dos principais ofícios admi-
nistrativos, os quais tinham ocupado até então.
Ao escolher o sector administrativo das Finanças para verificar a
validade desta hipótese explicativa, torna-se inevitável questionar a
ruptura da política administrativa da metrópole após o século xvii:
Faz sentido identificá-la e situá-la na viragem do primeiro para o
segundo século xviii? Não podemos, e em alternativa, identificar
na política metropolitana uma continuidade fundada num pragma-
tismo político sistematicamente interessado em tornar efectivo o
controlo administrativo?
A partir deste ponto de vista, as reformas administrativas do
segundo século xviii deixam de ser uma ruptura ou reorientação, mas,
e ao contrário, o culminar de um processo político­-administrativo
multissecular. 10

O oficial das Finanças nas Índias: uma carreira


sem sossego
Se a questão das reformas administrativas, que atraiu tanta aten-
ção na historiografia, é, naturalmente, essencial, no momento de
avaliar o funcionamento de uma instituição financeira, torna-se

9
  A historiografia mais abundante sobre este tema identificou, há já bastante
tempo, essa ruptura com o estabelecimento, a partir de 1780, de intendências na
América espanhola continental. No que diz respeito à Nova Espanha, o estudo de
referência é o de Horst Pietschmann, por muito tempo de difícil acesso, mas agora
felizmente traduzido como Las reformas borbónicas y el sistema de intendencias en
Nueva España, un estudio politico administrativo (México: FCE, 1996). Esta pers-
pectiva clássica foi enriquecida, a partir da década de 1970, com a análise social das
instituições, interessada nas mudanças introduzidas no recrutamento dos homens
chamados a servir o Estado colonial. A esse nível, a referência é o estudo de Mark
Burkholder e Dewit Chandler, De la impotencia a la autoridad, 1687-1808 (México:
FCE, 1984).
10
  Sobre a questão fundamental de pôr em perspectiva e, logo, de interpretar as
políticas «reformistas» de Carlos III, ver em Dubet, Les finances royales…, o capí-
tulo 10 intitulado «Un siècle de réformes dans l’administration des finances aux
Amériques: rationalisation et professionnalisation (xviie-xviiie siècles)».

308

Monárquias Ibéricas.indb 308 13/12/18 14:55


As finanças do rei de Espanha nas Índias

igualmente crucial compreender o papel daqueles que ocuparam os


seus ofícios.
Assim sendo, é fundamental entender as relações que estes ofi-
ciais das Finanças – pois é deles que trata este estudo – tinham com
as regras e normas cada vez mais exigentes impostas pela coroa.
Estas lembravam a sua existência aos possíveis candidatos, logo que
estes consideravam a hipótese de ingressar na carreira administrativa
da América espanhola. Tomar isto em consideração implica revisitar
a questão da atracção exercida por estes ofícios.
Pode admitir-se que estes oficiais encontravam compensações
no exercício das suas funções, caso da venalidade, o que explicaria
que considerassem os requisitos impostos pela coroa aceitáveis. Mas
o mais natural é considerar, em primeiro lugar, a possibilidade de
estes ofícios satisfazerem expectativas do tipo profissional. A esse
respeito, porém, a carreira de um funcionário na América espanhola
estava longe de oferecer uma satisfação significativa.
É verdade que entrar no ofício significava obter uma remuneração
que não era negligenciável. Para os ofícios criados no seio das Cajas
reales, essa remuneração oscilava entre 1270 e 4200 pesos anuais11,
situando os seus ocupantes na fracção superior dos oficiais da admi-
nistração régia. Mas a própria amplitude desses salários sugere o
estabelecimento de uma espécie de hierarquia interna entre as diver-
sas Cajas que constituíam a armadura da administração financeira
nas Índias.
Os primeiros ofícios instituídos nos centros vitais da econo-
mia colonial – o porto de Veracruz, os principais centros mineiros
como Zacatecas e Durango, as capitais administrativas, México e
­Guadalajara – beneficiaram do conjunto de remunerações mais ele-
vadas. Ao invés, os ofícios das Cajas situadas em centros adminis-
trativos e económicos periféricos do Norte, como o Iucatão ou até
mesmo Acapulco, tinham salários bastante inferiores, menos 30%
do que os que usufruíam os oficiais das Cajas das regiões acima cita-
das. É certo que algumas destas assimetrias foram posteriormente
corrigidas, tendo em consideração as novas realidades económicas
regionais e os fluxos fiscais recebidos, de facto, pelas diversas Cajas
do vice-reinado. Isso não impediu, porém, que as duas principais
Cajas da Nova Espanha, as do México e de Veracruz, continuassem

11
  Ver Bertrand, Grandeur et misères de l’office…, cap. 5.

309

Monárquias Ibéricas.indb 309 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

a ter a primazia nas remunerações até ao fim do período colonial,


recebendo mais do que o dobro do que podia ser recebido em Mérida
ou em Pachuca.
Os contadores do Tribunal de Cuentas da Cidade do México esta-
vam numa situação um pouco diferente, já que na instituição, presi-
dida por um regedor, havia três tipos de contador – um «gestor», o
contador dos resíduos, e o contador das contas –, o que estabelecia
uma verdadeira hierarquia interna que se plasmava, também, no nível
salarial de cada ofício. A categoria salarial mais alta era três vezes
superior à mais baixa, marcando assim de forma muito explícita as
diferenças de responsabilidade entre ambas.
Já os intendentes eram dos oficiais mais bem pagos da América
espanhola, mas internamente os níveis remuneratórios variavam bas-
tante, marcando mais uma vez a forte hierarquia de prestígio dos
postos: os salários oscilavam entre os 7000 pesos recebidos pelo
intendente do México e os 4000 pesos atribuídos a titulares de
­Intendências de segunda categoria como Chiapas12.
Estas remunerações ainda estavam muito longe dos montan-
tes dez vezes superiores recebidos pelo vice-rei do México, no
século  xviii. Mas também estavam igualmente distante da modesta
remuneração recebida por um alcalde mayor – algumas dezenas de
pesos, no máximo –, já que estava previsto pela lei que este não rece-
beria um salário regular, para não falar do salário médio de um jor-
naleiro, de 1 peso, aquilo que nessa mesma época era habitualmente
recebido pelos trabalhadores das fazendas. Estas remunerações
situavam os oficiais das Finanças, grosso modo, a níveis equivalen-
tes ao do ofício de justiça mais prestigiante da América espanhola:
o de auditor. Assim se compreende que numa sociedade onde, para-
doxalmente, dada a importância da actividade extractiva de metais
preciosos, as espécies monetárias eram uma mercadoria rara, o paga-
mento regular daqueles montantes pudesse exercer uma verdadeira
atracção.

  Mickaël Augeron, Entre la plume et le fer: le personnel des intendances de la


12

vice-royauté de Nouvelle-Espagne, 1785-1824, pratiques de pouvoirs et réseaux sociaux


en Amérique espagnole, tese de doutoramento, Université de La Rochelle, 2000, cap.
4 [policopiada]; e, mais recentemente, Marie Pierre Lacoste, Les intendants de la
vice-royauté de la Nouvelle-Espagne (1764-1821): origines, carrières et intégration
coloniale. Essai prosopographique, tese de doutoramento, Université de Toulouse
Jean-Jaurès, 2017 [policopiada].

310

Monárquias Ibéricas.indb 310 13/12/18 14:55


As finanças do rei de Espanha nas Índias

Ou seja, a par do anacronismo que a mera tomada em considera-


ção dessa dimensão financeira pode ter para entender uma sociedade
de Antigo Regime, é fundamental trazer à colação um conjunto de
nuances. A principal diz respeito à irregularidade dos pagamentos
salariais, da qual se queixavam frequentemente os oficiais. Não era
invulgar que esses pagamentos em atraso fossem depois contabi-
lizados, em anos de salários, quando as viúvas fossem reivindicar
junto do monarca, após a morte dos seus maridos, ou mais tarde, em
busca de uma mercê para os seus filhos. Efectivamente, estas con-
tabilizavam de forma muito rigorosa as somas não recebidas pelos
seus maridos. Uma segunda nuance refere-se ao poder real de com-
pra desses salários pagos de forma demasiado irregular para enri-
quecer, de facto, os servidores régios na América espanhola. Não é
raro vê-los exprimir, a esse propósito, o seu descontentamento face
às suas condições de vida que não tinham qualquer magnificência,
às suas queixas relativas a um custo de vida considerado exorbitante
ou às dificuldades que conheciam na vida do dia-a-dia. Uns e outros
não hesitavam em pedir um aumento da sua remuneração, o que lhes
permitiria, por fim, e segundo eles, viver com a dignidade que convi-
nha aos oficiais régios.
Mediocremente e sobretudo irregularmente remunerado, o ofi-
cial da América espanhola não conhecia um desenvolvimento da car-
reira verdadeiramente estimulante ou entusiasmante. Até ao final do
século xviii, não existia um verdadeiro cursus honorum susceptível de
marcar diferentes etapas de uma ascensão profissional contínua. Para
os oficiais das Finanças, em particular, em momento algum a admi-
nistração espanhola conseguiu estabelecer um esquema desse tipo, se
é que alguma vez teve a vontade de o fazer. O desenvolvimento das
carreiras dos oficiais das Cajas reales definia-se pela sua estabilidade
geográfica entendida como uma regra quase intangível do funciona-
mento profissional. É verdade que, a partir do início do século xviii,
a monarquia procurou tornar obrigatória a mobilidade dos oficiais
das Cajas reales, com o objectivo de evitar o enraizamento destes ofi-
ciais nas sociedades locais. Todavia, e à semelhança de um Francisco
de Tineo, oficial da Caja de Sombrerete, a quem o vice-rei quis impor
que se transferisse, em 1760, para a Caja vizinha de San Luis Potosí,
a capacidade de resistência dos oficiais das Finanças face a tais pro-
jectos revelou-se muito eficaz. Os argumentos mobilizados varia-
vam pouco, entre uns e outros o custo excessivo das t­ ransferências,

311

Monárquias Ibéricas.indb 311 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

as dificuldades impostas à família do oficial, problemas pessoais,


relacionados, por exemplo, com a idade ou à saúde, sempre agrava-
dos pela dureza do clima. A recusa da mobilidade para outras fun-
ções, fosse ela temporária ou definitiva, foi a regra dominante no
seio desta administração. Fortemente ligado ao seu posto, por vezes
adquirido com muito trabalho, o oficial das Finanças conhecia uma
carreira sem grandes surpresas, somente interrompida pelas suspen-
sões das funções resultantes de sanções que lhe eram impostas. Dos
200 oficiais das Cajas reales que exerceram na Nova Espanha entre
1660 e 1780, apenas 24 optaram pela mobilidade, a qual se traduziu
para 17 destes numa verdadeira promoção. Assim sendo, quando
comparados com outras autoridades regionais – vereadores eleitos
anualmente, ­alcaldes mayores designados por quinquénios, governa-
dores provinciais que podiam ser retirados dos seus cargos a qualquer
momento –, os oficiais das Cajas reales conheciam uma estabilidade
excepcional. Dado o período médio da sua carreira ser de quinze
anos, eles incarnavam, aos olhos dos que estavam sob a sua autori-
dade, a verdadeira continuidade monárquica à escala provincial.13
Diferentemente dos oficiais das Cajas reales, e considerando a
hierarquia entre as suas três categorias, os contadores do Tribunal de
Cuentas podiam acarinhar a ilusão de possíveis promoções no seio da
instituição. Contudo, a falta de coerência no recrutamento para esse
tribunal traduzia-se num afunilamento recorrente das categorias supe-
riores em detrimento dos oficiais subalternos.14 Na verdade, 4/5 dos
oficiais do tribunal exerceram apenas um dos três graus, o que ilustra
bem o bloqueamento da instituição, tornando ilusória qualquer pro-
moção. Com algumas excepções, os contadores do México deixavam
o Tribunal de Cuentas na mesma categoria para a qual tinham entrado,
quinze ou vinte anos antes. Enquanto foi praticada, isto é, até 1715,
a principal responsável por esta situação foi a venalidade dos ofícios.
Posteriormente, a prioridade quase absoluta concedida à antiguidade
para a atribuição de algumas promoções eventuais acabou por travar
um mecanismo caótico, deixando por promover apenas 23 contadores
dos 60 recrutados até ao final do século xviii.
Em relação à totalidade deste período, a venalidade dos ofícios, a
estrutura administrativa afunilada, e a ausência de criação de postos

13
 Bertrand, Grandeur et misères de l’office…, 156-157.
14
 Bertrand, Grandeur et misères de l’office… gráficos, 164-168.

312

Monárquias Ibéricas.indb 312 13/12/18 14:55


As finanças do rei de Espanha nas Índias

suplementares acabaram por impedir as promoções internas. Esta


ausência de perspectivas profissionais explica o mal-estar profundo
que se pressentiu entre estes oficiais quando eles se exprimiram
sobre as suas actividades profissionais. A elas preferiam, mais fre-
quentemente do que deviam, os seus assuntos pessoais, causa prin-
cipal de um absentismo maciço. Sob esta luz, a carreira desta fracção
dos oficiais das Finanças da Nova Espanha aparece como sendo bas-
tante insignificante, rica em virtualidades raramente concretizadas,
tão poderosos eram os bloqueios internos. Só a obtenção de distin-
ções honoríficas, tão apreciadas pela sociedade do Antigo Regime,
adoçava a amargura de uma trintena de contadores.15
A situação dos intendentes parece ter sido bem melhor: mais
bem remunerados, não sofreram os efeitos perversos induzidos pela
venalidade no desenvolvimento das suas carreiras. Todavia, apesar
das remunerações confortáveis, muitos dos intendentes evocavam
o número de encargos associados ao estatuto de servidor régio que
pesava sobre eles, e que eles avaliavam como consumindo entre um
quarto ou um quinto das somas por eles recebidas. Assim sendo, não
era raro ver um intendente abandonar o seu ofício com uma dívida
elevada, sendo perseguido pelos seus credores… Quanto ao desen-
volvimento das suas carreiras, não estavam muito melhor do que os
seus colegas de outros corpos de oficiais das Finanças: entrando na
carreira já com uma certa idade, esta não lhes permitia, a não ser
excepcionalmente, alcançar os ofícios mais elevados. É verdade que
uma mobilidade ascendente se vislumbra entre as diversas circunscri-
ções inegavelmente prestigiantes dentro de um mesmo vice-reinado.
Mas carreiras inevitavelmente curtas não deixavam muito espaço
para perspectivas de promoção brilhantes.
À luz do desenvolvimento das carreiras dos oficiais que adminis-
travam as finanças reais na América espanhola, é fora da satisfação
estritamente profissional que se deve procurar a atracção destes ofí-
cios que, vendidos ou não, nunca deixaram de ter candidatos. A­ pesar
da insistência colocada nas competências e na profissionalização
como critérios primordiais no recrutamento dos oficiais do rei ao
longo do século xviii, é sobretudo nas manifestações sociais, na sua

  Referem-se, sobretudo, à obtenção de 14 hábitos das ordens militares, ao que


15

se juntariam distinções de natureza puramente administrativa, todas distribuídas


pelos membros do Tribunal de Cuentas.

313

Monárquias Ibéricas.indb 313 13/12/18 14:55


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

tradução em termos de signos e de símbolos, na constituição de um


verdadeiro «capital social» que importa procurar o interesse cons-
tante que estes ofícios longínquos continuavam a ter.

As atracções do ofício das Finanças: honra


e benefícios
Entre as primeiras atracções dos ofícios da América espanhola,
a obtenção das honras que lhes estavam associadas não era uma
das menores delas. Numa sociedade na qual a riqueza ocupava um
lugar importante, ter títulos honoríficos era um sinal de distinção
fortemente apreciado e ambicionado pelas elites16. Ora, o serviço ao
rei era um dos meios mais seguros para alcançar essas dignidades
distribuídas pela coroa, nomeadamente as que estavam associadas a
uma das três ordens militares. Além disso, a partir de 1771, consi-
derando as origens sociais modestas de um grande número de fun-
cionários régios, Carlos III criou uma ordem civil com o seu nome,
com o objectivo de recompensar os seus servidores impedidos de
aceder às ordens militares tradicionais. Dessa forma, vários inten-
dentes conseguiram obter uma ou outra destas distinções, e se os
oficiais das Finanças stricto sensu foram muito menos numerosos
neste caso, muitos receberam estas distinções a título póstumo para
os seus filhos, assim remunerados pelos serviços paternos. O reco-
nhecimento familiar que ia a par destas distinções – a sua obtenção
supunha a realização de inquéritos aos vizinhos, bem como a recons-
tituição da genealogia do beneficiário remontando a quatro gerações
com o objectivo de atestar a «pureza de sangue» e a «nobreza» da
linhagem distinguida – reforçava significativamente a consideração
associada ao exercício de um cargo régio.
Nesse domínio, as próprias condições de nomeação de oficiais
munidos de um título devidamente assinado pelo monarca já impac-
tavam fortemente nesses espaços onde este último era, por defini-
ção, um personagem totalmente invisível. Mais ainda, o direito que
o funcionário reservava para si mesmo de comunicar directamente
com o rei, sem passar pela mediação do vice-rei, materializava essa

  Doris Ladd, La nobleza mexicana en época de la independencia: 1780-1826


16

(México, FCE, 1984).

314

Monárquias Ibéricas.indb 314 13/12/18 14:56


As finanças do rei de Espanha nas Índias

proximidade e concorria para o reforço do seu prestígio. Este prestí-


gio incarnava-se, por fim, nas regras de precedência que presidiam a
todas as procissões dos corpos constituídos nas grandes festas públi-
cas, tanto cívicas quanto religiosas. A ordem, imutável, previa que
depois do vice-rei viessem os auditores, os contadores do Tribunal
de Cuentas, e por fim, os oficiais das Finanças da Cidade do México.
Todos precediam, assim, os representantes de outras administrações,
tanto regionais como municipais, materializando uma hierarquia que
era descodificável por todos.17

Exercício do poder e integração das elites


Outra atracção exercida por estes ofícios era o próprio exercício de
poder, com as vantagens, favores e ganhos que lhes estavam associa-
dos, se se tiver em conta a concepção patrimonialista dos cargos. Estes
últimos podiam ser quantificados de forma concreta, nomeadamente
no que respeita aos oficiais das Finanças, em termos de vantagens
materiais, em particular, financeiras. Estes ganhos faziam mesmo parte
da «remuneração» que todo o oficial esperava obter do seu cargo, já
que eles mesmos, no seu jargão administrativo, os baptizavam muito
cruamente como «ganhos lícitos e ilícitos»18. Estes ganhos adqui-
ridos pelos oficiais das Finanças da América espanhola são um dos
­leitmotiven das denúncias de que foram regularmente objecto desde o
século xvi, e de que os procedimentos perante o Conselho das Índias
guardam muitos traços. É verdade que o princípio do julgamento das
residências – para aqueles que a elas eram submetidos, como os inten-
dentes – e das visitas de natureza jurídica variada para outros oficiais
das Finanças, favoreceu a produção de uma massa documental excep-
cional, tanto em volume como em interesse, e ainda largamente inex-
plorada, disponível no Archivo General de Indias.
Mas podiam ter uma dimensão mais subtil, ainda assim não menos
importante. Nas sociedades do Antigo Regime, onde o papel das

17
  Essa questão das precedências ocupava um lugar importante, por vezes exces-
sivo, no funcionamento das referidas instituições, como bem o revela a correspon-
dência administrativa reagrupada na série Audiencia de México no Archivo General
de Indias.
18
 Bertrand, Grandeur et misères de l’office…, sobretudo o capítulo 1.

315

Monárquias Ibéricas.indb 315 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

relações sociais de protecção e entreajuda eram essenciais19, o exer-


cício de uma parcela do poder real tinha conteúdos muito concre-
tos. Estes traduziam-se rapidamente na distribuição de vantagens,
prebendas e outros favores aos próximos e aos amigos. Nesse sen-
tido, o prestígio social real atribuído aos ofícios das Índias, dos quais
beneficiaram os seus titulares, manifestavam-se directamente nas
estratégias de captação matrimonial de que estes oficiais podiam ser
objecto por parte da sociedade americana, e nomeadamente das suas
elites.20 Estas últimas, preocupadas com a «purificação do sangue»
sempre suspeito de degradação dada uma mestiçagem indesejável
mas inevitável,21 apreciavam estas alianças com espanhóis de origens
sociais não necessariamente brilhantes mas que não sofriam das mes-
mas «dúvidas» que pesavam sobre os espanhóis da América. Os ofi-
ciais metropolitanos, nomeadamente os das Finanças, podiam assim
ambicionar alianças matrimoniais vantajosas, mais difíceis de con-
ceber na metrópole, as quais encerravam uma verdadeira promoção
social. As mulheres dos oficiais das Finanças dividiam-se por três
meios socioprofissionais claramente identificáveis. Umas pertenciam
ao mundo da elite criolla, nomeadamente ao mundo dos «empreen-
dedores», fossem eles grandes financeiros ou ricos mineiros, grandes
comerciantes ou ricos proprietários fundiários. Outras, muito espe-
cialmente as que desposavam os oficiais que exerciam ou residiam na
Cidade do México, vinham de famílias solidamente estabelecidas na
administração central, em Madrid ou no México. As últimas, sobre-
tudo as dos oficiais das Cajas reales provinciais vinham de famílias
de elites locais ou municipais, ou seja, daquilo que podemos qualifi-
car como elites de segunda, para as distinguir das elites principais,22
frequentemente presentes na administração das Finanças regionais.
No que diz respeito a esta extracção social das esposas, os oficiais

19
  Giovanni Levi, Le pouvoir au village, histoire d’un exorciste dans le Piémont du
xviième siècle (Paris: Gallimard 1985).
20
  Entre os oficiais de Finanças peninsulares, 60% destes casaram com criollas:
Bertrand, Grandeur et misères de l’office…, 192, nota 18.
21
  Jean-Paul Zúñiga, Espagnols d’outre-mer. Émigration, métissage, et reproduc-
tion sociale à Santiago de Chili au 17e siècle, (Paris: Édition de l’École des Hautes
Études en Sciences Sociales, 2002).
22
 John Tutino, Creole Mexico: Spanish Elites, Haciendas, and Indian Towns
(1750-1810) (University of Texas at Austin, 1976); John Tutino, «Power, Class, and
Family: Men and Women in the Mexican Elite (1750-1810)», The Americas, 39: 3
(Janeiro, 1983): 359-381.

316

Monárquias Ibéricas.indb 316 13/12/18 14:56


As finanças do rei de Espanha nas Índias

pertenciam a meios sensivelmente mais modestos. Três quartos deles


eram oriundos da administração local ou provincial metropolitana ou
americana, da administração central da península ou da colónia,
ou, por fim, do exército. Estas alianças matrimoniais não são sur-
preendentes quando elas se revelaram equivalentes do ponto de vista
social: elas contribuíam, nomeadamente, para o reforço das posições
de uns e de outros. Não acontecia o mesmo quando elas traduziam
uma endogamia profissional explícita, de tal modo que essa prática
se tornava decisiva para a transmissão do ofício, ou para a entrada no
cargo. Por fim, as últimas alianças matrimoniais, claramente desequi-
libradas, testemunham simultaneamente o culminar de uma ascensão
social bem-sucedida e a preocupação de uma linhagem de prestígio
em manter sob seu controlo um ofício cujos benefícios não eram
despiciendos. Para os oficiais das Finanças que o conseguiam, essas
alianças brilhantes eram um efeito colateral do exercício de um cargo
que lhes permitia integrar, de forma duradoira, o mundo restrito do
poder, das honras, e do dinheiro.
Em relação aos intendentes, podemos identificar o mesmo pro-
cesso de integração nas elites locais e regionais, sobretudo conside-
rando-se que as suas origens sociais mais elevadas não podiam senão
favorecer essas pretensões23. Em contrapartida, as famílias de aco-
lhimento obtinham, tanto na colónia como na metrópole, um laço
directo e pessoal com a estrutura estadual colonial superior, da qual
os seus membros vinham sendo progressivamente excluídos, dada a
desaparição da venalidade dos ofícios24. Essas linhagens integraram
nas suas estratégias a nova instituição com o objectivo de assegu-
rar o seu controlo, usando tanto os seus laços tradicionais com a
administração colonial, como os que entreteceriam com os «novos»
burocratas, frequentemente presentes nas colónias desde uma longa
data. O pessoal da intendência, a começar pelos próprios intenden-
tes, não escapou a este processo de «crioulização» conhecida noutros
ofícios, nomeadamente nos ofícios das Finanças. Aí reencontramos
as mesmas lógicas de integração, e os mesmos efeitos em termos de
maus usos administrativos. A esse respeito, o exemplo da intendên-
cia de Yucatan mostra bem a capacidade de controlo dessas famílias

 Augeron, Entre la plume et le fer… ; Lacoste, Les intendants de la vice-royauté


23

de la Nouvelle-Espagne…..
24
  Burkholder e Chandler, De la impotencia a la autoridad….

317

Monárquias Ibéricas.indb 317 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

criollas sobre uma instituição cuja criação podia pôr em causa a sua
preeminência social. Elas conseguiram estabelecer laços estreitos,
tanto familiares quanto económicos, com os sucessivos intendentes
da circunscrição, os quais se transformaram em verdadeiros repre-
sentantes dos interesses das elites de Mérida25.
É pelo critério deste capital social adquirido graças às honras e
vantagens redistribuídas em virtude de um poder exercido, que
importa compreender o lugar ocupado por estes oficiais das Finanças
nas redes de poder construídas por ou em torno das elites coloniais.
Para os grandes mineiros do vice-reinado e sobretudo para os gran-
des comerciantes, nomeadamente os da cidade do México reagru-
pados no seio do seu consulado, mas também para os dos grandes
centros económicos da região, estes oficiais constituíam intermediá-
rios polivalentes que lhes abriam espaços sociais dificilmente aces-
síveis sem relações sólidas e numerosas. Porque peninsulares, estes
oficiais contribuíam para reforçar as necessárias redes comerciais
transatlânticas sobre as quais repousavam as suas actividades eco-
nómicas.26 Como oficiais régios, eles ofereciam-lhes garantias ou
protecções úteis à perpetuação de uma actividade económica tingida
por um respeito muito relativo das regras particularmente melindro-
sas e condicionantes. É essa a integração com os principais agentes
económicos locais da Nova Espanha que se tornou possível recons-
tituir, quer para os oficiais das Finanças stricto sensu,27 quer para os
intendentes28. Os primeiros, em particular, tornam evidente a forte
correlação entre as actividades profissionais dos membros das redes
constituídas em torno destes oficiais e a especialização económica da
região considerada, confirmando também a assimilação destes ofi-
ciais às realidades locais.

25
 Augeron, Entre la plume et le fer…, cap. 6 e Lacoste, Les intendants de la vice-
-royauté de la Nouvelle-Espagne…..
26
  Gabriella Dalla Corte, Vida i mort d’una aventura al riu de la Plata, Jaime
Alsina i Verjés, 1770-1836 (Barcelona: Publicacions de l’Abadia de Montserrat,
2000); Jean-Philippe Priotti, Bilbao et ses marchands au xvi e siècle. Genèse d’une
croissance. Genèse d’une croissance (Lille: Presses Universitaires du Septentrion,
2004).
27
 Bertrand, Grandeur et misères de l’office…, cap. 6.
28
 Augeron, Entre la plume et le fer…, e Lacoste, Les intendants de la vice-royauté
de la Nouvelle-Espagne…

318

Monárquias Ibéricas.indb 318 13/12/18 14:56


As finanças do rei de Espanha nas Índias

Linhagens e redes sociais


Fortemente inseridos no tecido social americano, tendo laços
sólidos entre os grupos familiares mais poderosos da vice-realeza,
e dispondo de alavancas de poder que iam a par dos seus cargos, o
conjunto destes oficiais encontrava-se na posição ideal para estabe-
lecer laços fortes com os responsáveis políticos locais, regionais e
vice-reais. Estes últimos, em particular, frequentemente isolados, e
que se sucediam à frente do governo vice-reinal, viam agitar-se à sua
volta verdadeiros clãs que disputavam as prebendas que eles podiam
distribuir. Para o mundo das Finanças da Nova Espanha, pusemos
em evidência cerca de trinta destes sistemas de relação complexos,
ou redes sociais, rivalizando audazmente para obter ou conservar a
«confiança» dos detentores do poder político. Organizadas a partir
de laços fortes – associando-lhes, frequentemente, laços familiares,
laços de amizade, camaradagem, relações clientelares – e de laços fra-
cos – mais estritamente instrumentais, tais como os que surgiram
no quadro profissional, ou de uma colaboração económica pontual,
mas podendo estender-se, também, a laços clientelares – essas redes
implicando oficiais das Finanças organizavam-se de acordo com
uma tripla tipologia29. As primeiras podiam definir-se como sendo
essencialmente fundadas em laços fortes através da multiplicação de
relações entre os membros que a constituíam. Estas primeiras redes
oferecem a aparência de um fechamento em torno de um espaço geo-
gráfico habitualmente reduzido. Mas elas também garantiam a afir-
mação de um poder local ou regional, à imagem da rede construída
à volta de si, no final do século xviii, pelo oficial régio de Zacatecas,
Francisco Gómez Rendón30.
Um segundo tipo de rede identificável entre os oficiais das Finan-
ças da Nova Espanha caracteriza-se pela sua amplitude e pela sua
complexidade, associando laços frouxos e laços bem mais apertados.
À diferença do modelo precedente, estas redes não se inscrevem
num espaço geográfico específico, ultrapassando largamente a zona
de actividade ou de influência do oficial em causa. Também elas se

29
  Sobre os critérios de análise que permitem distinguir os vários tipos de rede,
ver Michel Bertrand, «De la familia a la red de sociabilidad», Revista Mexicana de
Sociología, vol. 61, n.° 2 (Abril-Junho de 1999): 107-135.
30
 Bertrand, Grandeur et misères de l’office…, 263-266.

319

Monárquias Ibéricas.indb 319 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

caracterizam pela sua capacidade de articular espaços sociais relati-


vamente heterogéneos. É o caso da rede constituída em torno de
Pedro Alejo Lopez Cotilla, oficial das Finanças de Veracruz no iní-
cio do século xviii. Essa rede permitiu-lhe, num primeiro momento,
constituir uma sólida fortuna assente sobre um monopólio de
facto sobre a provisão das frotas que chegavam àquele porto. Num
segundo momento, quando a sorte se tinha alterado, e a necessidade
de prestar contas a um visitador exigente, Prudencio de Palacios,
tinha chegado, ele foi capaz de mostrar uma resistência excepcional
ao mobilizar de forma hábil apoios e conexões31.
Um último tipo de rede, ainda mais vasta e complexa, integrava os
oficiais das Finanças, reservando-lhes, contudo, posições de segundo
plano. Constituídas, à partida, por oficiais oriundos de outros sec-
tores da burocracia colonial, elas funcionavam como verdadeiros
clãs políticos rivalizando para assegurar o controlo das alavancas do
poder. Nessa configuração, os oficiais das Finanças subalternizavam
as funções específicas dos seus ofícios, colocando-se ao serviço do
clã ao qual pertenciam. Em contrapartida, este assegurava a sua pro-
tecção que a sua responsabilidade permitia distribuir. Uma dessas
redes, encabeçada na cidade do México, entre 1720 e 1740, por dois
auditores, P. Malo de Villavicencio e D. de Valcárcel, exerceu uma
verdadeira tutela sobre o poder administrativo da Nova Espanha.
Reagrupava vários membros da Audiência, contadores do Tribunal
de Cuentas, oficiais régios de Caja do México, bem como alguns das
cajas provinciais de Zacatecas e Veracruz32. O seu poder permitia-
-lhe contrariar, de forma muito efectiva, os agentes administrativos
enviados de Espanha, para remediar o mau funcionamento de que o
Conselho das Índias tinha conhecimento.33
Estes conjuntos sociais acabaram por constituir, no seio do apa-
relho do Estado colonial, verdadeiros sistemas de poder ocultos que
transcendiam todos os organogramas administrativos pacientemente
elaborados a partir de Madrid, e que souberam jogar com as reformas

31
  Sobre o detalhe do caso que implicava este oficial das Finanças, ver Bertrand,
Grandeur et misères de l’office…, cap. 1, 21-34. Sobre a composição invulgar da rede
deste oficial ver, na mesma obra, 266-271.
32
  Sobre a composição desta rede, ver Bertrand, Grandeur et misères de l’office…,
cap. 6, quadro 7, 273.
33
  Num contexto ligeiramente diferente, que não toma como ponto de partida
a administração das Finanças, procurámos reconstituir o mesmo tipo de rede com-

320

Monárquias Ibéricas.indb 320 13/12/18 14:56


As finanças do rei de Espanha nas Índias

impostas. Os laços que uniam os seus membros conectavam tanto


as partes superiores e inferiores da estrutura administrativa, quanto
o seu centro e as periferias. Assim sendo, as hierarquias administra-
tivas paralelas, construídas, acima de tudo, sobre laços interpessoais
de natureza variada, condicionavam o funcionamento do aparelho de
Estado, impondo-lhe lógicas ou critérios estranhos às necessidades
ou objectivos estabelecidos a partir de Madrid.
As muitas possibilidades oferecidas pelo simples exercício de um
cargo explicam a preocupação dos oficiais das Finanças em associar
parentes, preparando dessa forma a sua transmissão em favor dos que
lhe eram próximos e que eles tinham escolhido. A simultaneidade da
presença de subalternos ou de intermitentes de várias gerações que
pertenciam a uma mesma linhagem nos diversos serviços do apare-
lho de Estado reforçava a posição do grupo familiar, assegurando­-
-lhe o início de uma formação prática aos futuros sucessores. Com
o objectivo de atrair a atenção dos serviços do rei no momento em
que este estabeleceu a famosa terna na qual o conselho escolheria,
em nome do rei, o feliz eleito, era necessário apresentar um dossier
convincente de «serviços prestados» à coroa pela família do impe-
trante, e fazer prova das competências do pretendente. Todas as
funções exercidas, o mais frequentemente sem remuneração, neste
ou naquele serviço da administração das Finanças, de preferência,
tornavam-se activos preciosos. Dominando perfeitamente as regras
de funcionamento da instituição administrativa, muitas famílias de
oficiais conseguiram, geração após geração, manter-se ao abrigo
do aparelho de Estado, e frequentemente em serviços idênticos ou
próximos. Tais perpetuações linhagísticas não devem ser analisadas,
tão-somente, em termos de especialização profissional – que, evi-
dentemente, existe, sobretudo para os ofícios com conteúdos mais
técnicos, como os das Finanças – mas sobretudo como a consciên-
cia muito forte dos activos que o exercício do cargo representava:
assegurava, desde logo, a ascensão familiar, a integração no seio das

plexa em luta pelo poder na Guatemala nos finais do século xviii. Duas dessas redes
dividiam a Audiência em dois clãs rivais. Estendiam-se ao Consulado dos merca-
dores, recentemente criado, bem como ao governo municipal da capital; Michel
­Bertrand, «Esta audiencia es toda una sodoma y sicarismo: Complots, trahisons
et crise politique fin de siècle à Guatemala», Trace, n.° 37 (Junho de 2000): 74-85;
Michel Bertrand, «Poder, negocios y familia en Guatemala a principios del siglo
xix», Historia mexicana, vol. 56, n.° 3 (2006): 863-917.

321

Monárquias Ibéricas.indb 321 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

elites e a constituição de patrimónios sólidos. Perder o ofício ao


não controlar a sua transmissão, após a desaparição da venalidade,
era arriscar ver deslocarem-se as bases sobre as quais repousara, até
então, o sucesso linhagístico.

Conclusão: mediocridade profissional


e prestígio social
Assim se compreende que a atracção exercida pelas funções
burocráticas americanas não podia limitar-se a uma simples aspira-
ção, verdadeiramente anacrónica, diga-se, ao desenvolvimento de
uma «carreira» no seio da administração régia na América espanhola.
Para além das funções exercidas, e sem dúvida, mesmo antes delas,
­vislumbram-se todas as marcas simbólicas associadas ao exercício do
poder – traduzidas em termos de honras, de prestígio, e de reconhe-
cimento social – que atraíam os candidatos, prontos a pagar as altas
somas que, durante um século, lhes seriam exigidas. É, por conse-
guinte, em função de critérios mais sociais do que profissionais que
se deve compreender a opção por uma carreira destinada a admi-
nistrar as finanças reais na América espanhola: ela assegurava sem
grandes problemas a inserção no mundo das elites coloniais, isto é,
no mundo do dinheiro, da honra, do prestígio, e do poder. Aceitar
os muitos riscos da mudança transatlântica, por parte do cada vez
maior número de peninsulares ao longo do século xviii, inscreveu-se
numa verdadeira estratégia de promoção social. Nesse sentido, as
reformas introduzidas ao longo do século xviii tiveram como pri-
meiro efeito não apenas a ambicionada renovação das práticas de
poder, demasiado enraizadas para serem extirpadas assim facilmente,
mas também, de forma indirecta, do pessoal administrativo. Entre
os peninsulares que se tornaram maioritários nos ofícios predomi-
navam, doravante, os homens novos, ou seja, aqueles que estavam
cada vez menos ligados às velhas aristocracias enquistadas no apa-
relho de Estado. É verdade que esta situação nunca fora completa-
mente predominante entre os oficiais das Finanças – frequentemente
de origens modestas – ou entre os intendentes – para quem o exér-
cito já servira de trampolim social. Mas essa tornou-se a regra quase
geral à medida que as reformas tomaram corpo e se concretizaram.
O impacto das reformas está longe de ser negligenciável na ­América

322

Monárquias Ibéricas.indb 322 13/12/18 14:56


As finanças do rei de Espanha nas Índias

espanhola. É verdade que elas não responderam exactamente aos


objectivos oficiais fixados pela coroa, nomeadamente o reforço do
controlo efectivo sobre o império, já que os oficiais nomeados não
podiam escapar à pressão que as elites criollas sobre eles exerciam.
Em contrapartida, ao mudar as exigências profissionais esperadas
por esses oficiais e as suas condições de recrutamento, elas abriam
as portas da administração a homens oriundos de outros horizontes
sociais, bem menos notáveis que os seus predecessores. Num certo
sentido, os oficiais das Finanças constituíram o protótipo desses
ministros que emergiram durante o último século da colónia: sóli-
dos nas suas competências e no seu saber-fazer, utilizaram sistema-
ticamente o seu ofício como uma alavanca para a ascensão social.
­Posteriormente, com as intendências, é exactamente esse o modelo
que se generaliza entre os oficiais vindos para a América espanhola
para administrar as finanças régias.

323

Monárquias Ibéricas.indb 323 13/12/18 14:56


Monárquias Ibéricas.indb 324 13/12/18 14:56
Susana Münch Miranda
Roberta Stumpf

Capítulo 9

O governo da Fazenda no império


português

Introdução
Este capítulo propõe-se observar o governo da Fazenda no Estado
da Índia e na América Portuguesa, a fim de avaliar o papel dos siste-
mas fiscais e administrativos na construção e manutenção do impé-
rio português do período moderno. Em perspectiva comparada, aqui
se esboçam os processos de transposição para o império das insti-
tuições que no reino geriam as receitas fiscais da monarquia, pro-
curando compreender como é que se moldaram às circunstâncias
locais e aos objectivos da monarquia e como é que deram origem a
sistemas administrativos com autonomias diferentes em relação às
instituições metropolitanas. Este enfoque institucional completa-se,
sempre que possível, com uma análise das práticas de governo da
Fazenda, que se colhem por meio da observação das características
do provimento dos oficiais e da sua monitorização. Por último, as
reformas administrativas implementadas na segunda metade de Sete-
centos serão também objecto de análise.

325

Monárquias Ibéricas.indb 325 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

O governo da Fazenda no Estado da Índia


Depois de várias décadas de gestação, por volta de 1570 o governo
da Fazenda no Estado da Índia estava consolidado. Compunha-se de
algumas dezenas de feitorias, geograficamente dispersas entre a costa
oriental africana e as ilhas Molucas, unificadas por um punhado de
órgãos centrais sediados em Goa. No quadro dos projectos políticos
e comerciais da monarquia portuguesa na Ásia, a cobrança e a gestão
de receitas fiscais, bem como a compra e a venda de bens e merca-
dorias eram as principais funções desempenhadas por esta estrutura
organizativa, que cedo se afirmou como um espaço administrativo
vital.
A sua unidade-base – a feitoria – encerra algumas características
singulares, inseparáveis das dinâmicas que marcaram as primeiras
intervenções no Índico. Depois da viagem inaugural de Vasco da
Gama, entre 1501 e 1508 estabeleceram-se feitorias régias na costa do
Malabar (Cochim, Cananor e Coulão), fundadas em acordos nego-
ciados com os governantes locais. Por seu intermédio, estendia-se ao
mundo asiático um instrumento europeu de organização mercantil,
amplamente utilizado no Mediterrâneo desde a Baixa Idade Média.
Semelhante solução administrativa já tinha, ademais, sido ensaiada
pela monarquia na costa ocidental africana, em Arguim e São Jorge
da Mina.1 Às feitorias do Malabar, seguiram-se outras constituídas na
costa oriental africana, em Quíloa, Sofala e Ilha de Moçambique. Aos
seus feitores (um por feitoria) cabia adquirir as mercadorias asiáticas
destinadas à Carreira da Índia, por meio de verbas remetidas da Casa
da Índia (Lisboa), bem como fornecer apoio logístico à navegação.2
Esta primeira rede de feitorias adensou-se a partir da segunda
década de 1500, quando os portugueses alargaram e intensificaram
a sua presença no oceano Índico. A dilatação fez-se por meio da

1
  Virgínia Rau, «Feitores e feitorias, instrumentos do comércio internacional
português no século xvi», em Estudos sobre História Económica e Social do Antigo
Regime (Lisboa: Editorial Presença, 1984), 143-149.
2
 Outras funções incluíam a cobrança e a gestão de certas receitas próprias,
como tributos pagos por alguns potentados asiáticos ou presas marítimas. Cf.
Susana Münch Miranda, «A Administração da Fazenda Real no Estado da Índia
(1517-1640)» (tese de doutoramento em História dos Descobrimentos e da
­Expansão ­Portuguesa, Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Univer-
sidade Nova de Lisboa, 2007), 50-51.

326

Monárquias Ibéricas.indb 326 13/12/18 14:56


O governo da Fazenda no império português

guerra que, por seu turno, permitiu a incorporação de algumas par-


celas de território asiático.3 A conquista de Goa em 1510 sinaliza a
aquisição do primeiro senhorio português e, com ela, a emergência
de uma administração fiscal, como se verá. Seguiram-se as agrega-
ções de Malaca (1511) e Ormuz (1515), de Salsete e Bardês (1543),
territórios adjacentes à ilha de Goa, de Baçaim (1534) e Damão
(1559) ambos na costa noroeste do subcontinente indiano.4 ­Nestes
territórios incorporados em soberania plena, a coroa portuguesa
sub-rogou-se aos anteriores governantes na cobrança dos direitos
e rendas fiscais. No último quartel do século xvi, o Estado da Índia
compreendia também várias fortalezas na costa do Canará (Onor,
Barcelor e Mangalor), no Malabar (Cochim, Cananor, Cranganor,
Coulão), na costa oriental africana (Moçambique e Sofala) e na
­Insulíndia (Ternate). Fundadas em relações de aliança e vassalagem
com os governantes locais, estas praças não implicaram a incorpora-
ção de receitas fiscais.
Graças aos seus senhorios e conquistas, em meados do século xvi
a monarquia portuguesa tinha já na fiscalidade uma importante
fonte de receitas. O sistema fiscal do Estado da Índia caracterizava­-
-se, todavia, por um grande diversidade de taxas e rendas fiscais, na
medida em que os portugueses pouco buliram com os sistemas tribu-
tários herdados dos anteriores governantes. Simplificando bastante,
é possível afirmar que as receitas fiscais da Ásia Portuguesa de Qui-
nhentos resultavam da cobrança de duas taxas indirectas – direitos
aduaneiros e monopólios de vendas – e de algumas rendas fundiárias.
Estas últimas cobravam-se apenas nalguns estabelecimentos – Goa,
Salsete, Bardez, Baçaim, Damão e Ceilão (depois de 1590) –, como
decorrência da incorporação de direitos de propriedade dos anterio-
res soberanos. Entre 1581 e 1620, o seu peso relativo oscilou entre os
16 e o 25% dos rendimentos do Estado da Índia. A fatia m ­ aioritária

3
 Luís Filipe Thomaz, «A estrutura política e administrativa do Estado da
Índia no século xvi», em De Ceuta a Timor (Lisboa: Difel, 1994), 207-243; Sanjay
Subrahmanyam, The Portuguese Empire in Asia, 1500-1700. A Political and Econo-
mic History (Londres: Longman, 1993), 64-67.
4
 Cf. Dejanirah Couto, «Em torno da Concessão e da Fortaleza de Baçaim
(1529-1546)», Mare Liberum, 9 (1995): 117 e segs; António Vasconcelos de S­ aldanha,
­Iustum Imperium. Dos Tratados como Fundamento do Império dos P ­ ortugueses no
Oriente (Lisboa: Fundação Oriente – Instituto Português do Oriente, 1997), 435
e 444-446.

327

Monárquias Ibéricas.indb 327 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

dos encaixes provinha, todavia, de taxas cobradas nas alfândegas


marítimas de Goa, Malaca, Ormuz e Diu, na sequência da estratégia
de controlo dos fluxos de comércio regional, concretizada por meio
de licenças de navegação (cartazes) e de armadas de patrulhamento.5
O domínio português sobre a navegação regional asiática não chegou
a ser completo, mas certo é que, entre 1581 e 1620, as taxas aduanei-
ras representavam cerca de 60% das receitas da Fazenda Real. Menos
expressivos eram os monopólios locais de venda, que incidiam sobre
produtos muito diversos, e cujo peso relativo oscilou entre os 13 e os
15%.6 Outras fontes de receita provinham da arrecadação de páreas7,
da venda de cartazes, da exploração directa de viagens comerciais
pela coroa8 ou ainda de presas marítimas. ­Contudo, ou porque caíam
na classificação de receitas extraordinárias ou porque eram encaixes
irregulares, só raramente surgem quantificadas em relações de receita
e despesa.9
O governo quotidiano destes rendimentos era assegurado por um
tecido organizativo, que compreendia instituições periféricas e cen-
trais. Entre as instituições periféricas, a feitoria constituía a unidade
administrativa de base, como já se disse. Depois das primeiras seis
feitorias estabelecidas entre 1501 e 1508, outras se foram criando,
ao ritmo da incorporação de novos estabelecimentos ou parcelas
de território. Sempre que tivesse ocorrido incorporação plena, as
novas feitorias caracterizavam-se, porém, pelo facto de disporem de
jurisdição fiscal. Aos seus feitores cabia arrecadar taxas e direitos,
bem como executar pagamentos de âmbito local, designadamente

5
  Sobre os cartazes, veja-se Thomaz, «A estrutura política e administrativa…»,
221-224.
6
  Artur Teodoro de Matos, «A situação financeira do Estado da Índia no período
filipino (1581-1635)», em Na Rota da Índia. Estudos de História da Expansão Portu-
guesa (Macau: Instituto Cultural de Macau, 1994), 69.
7
 Sobre as páreas, tributos pagos por alguns potentados asiáticos ao rei de
­Portugal a título de vassalagem, veja-se Saldanha, Iustum Imperium…, 643-645.
8
 Sobre este assunto, veja-se L. F. Thomaz «Os portugueses nos mares da
­Insulíndia. Século xvi», em De Ceuta…, 571-572; Susana Münch Miranda e ­Cristina
Serafim, «Trocas comerciais» em História dos Portugueses no Extremo Oriente.
Em torno de Macau, vol. i, t. 1, ed. A. H. de Oliveira Marques (Lisboa: Fundação
Oriente, 1998), 224-227.
9
 Francisco Bethencourt, «O Estado da Índia», em História da Expansão
­Portuguesa, vol. ii, Do Índico ao Atlântico (1570-1697), eds. F. Bethencourt e K.
Chaudhuri (Lisboa: Círculo de Leitores, 1998), 296-297.

328

Monárquias Ibéricas.indb 328 13/12/18 14:56


O governo da Fazenda no império português

­ rdenados e soldos das folhas civil, militar e eclesiástica. Nestes ter-


o
mos, muitas feitorias do Estado da Índia eram, na prática, unidades
administrativas híbridas: por um lado, conduziam funções de repre-
sentação comercial e, por outro, estavam dotadas de competências
fiscais e financeiras, em tudo semelhantes às dos almoxarifados do
reino.10 Nesta combinação funcional encontra-se, provavelmente,
a maior singularidade do governo da Fazenda do Estado da Índia.
Nalgumas praças e territórios, as feitorias ainda hierarquizavam
outras repartições administrativas, algumas delas decalcadas da qua-
drícula preexistente. Assim sucedia com as alfândegas e tanadarias
que cobravam, respectivamente, direitos alfandegários e rendas fun-
diárias. O procedido desta cobrança era, todavia, canalizado para a
feitoria competente, o que permite considerar que estas repartições
eram tesourarias ou recebedorias, destituídas de poderes para des-
pender verbas cobradas. Situação semelhante ocorria ainda com os
almoxarifados de Goa, como a Casa dos Mantimentos, o Armazém e
a Ribeira Grande. Os respectivos almoxarifes não detinham atribui-
ções fiscais, mas geriam quotidianamente bens e recursos da monar-
quia sob a supervisão do feitor/tesoureiro de Goa.11
Sensíveis aos fluxos e refluxos da presença portuguesa na Ásia, as
feitorias caracterizavam-se por um elevado grau de volatilidade que
dificulta a sua quantificação. Ainda assim, sabemos que, em 1618,
a administração periférica da Fazenda se compunha de vinte feitorias,
a que acresciam doze tesourarias – almoxarifados e recebedorias –
dos territórios de Goa, Salsete e Bardez, num total de 32 repartições
administrativas autónomas hierarquizadas pelas instituições centrais
de Goa.12 Os seus oficiais cumpriam as directivas gerais e ­particulares
emitidas pelo vice-rei e pelo vedor da Fazenda e ­submetiam-se a um

10
  Sobre as funções dos almoxarifes, cf. António Manuel Hespanha, As Vésperas
do Leviathan. Instituições e Poder Político, Portugal – Século XVII (Lisboa: Alme-
dina 1994), 214.
11
  Cf. Miranda, A Administração da Fazenda Real…
12
 As feitorias eram as seguintes: Sofala, Mombaça, Mascate, Ormuz, Diu,
Damão, Baçaim, Manorá, Chaul, Goa, Onor, Barcelor, Mangalor, Cananor, Cochim,
Cranganor, Coulão, Manar, Ceilão e Malaca. Entre as doze tesourarias subordinadas
ao feitor/tesoureiro de Goa merecem destaque o executor da Casa dos Contos, os
almoxarifes da Ribeira Grande e da Ribeira das Galés e os recebedores de Salsete e
de Bardez. Cf. Susana Münch Miranda, «The Centre and the Periphery in the Admi-
nistration of the Royal Exchequer of the ‘Estado da India’, 1517-1640», e-Journal of
Portuguese History, 7-2 (2009): 4.

329

Monárquias Ibéricas.indb 329 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

processo de monitorização na Casa dos Contos de Goa no final dos


seus triénios. Pese embora a dimensão desta rede, vale notar que
as feitorias tinham potenciais distintos de arrecadação de receitas.
Em 1620, as feitorias de Ormuz, Diu, Baçaim, Damão, Goa e Malaca
eram as mais rendosas e, como tal, as mais fiscalizadas pelas institui-
ções centrais.13 Pela mesma ordem de razões, feitorias destituídas de
receitas fiscais, como Barcelor, Cananor, Mangalor ou Coulão, eram
consideradas secundárias.

A administração central
No centro, as instituições do governo da Fazenda decalcaram-se,
em grande medida, de instituições comuns à maioria das monarquias
da Europa Ocidental. Em meados da década de 1570 estruturavam-
-se em torno de quatro funções distintas: 1) o governo oeconomico
ou a administração activa da Fazenda; 2) a fiscalização dos oficiais
da administração periférica e central; 3) a centralização do registo de
oficiais e soldados; e 4) a gestão executiva das despesas da administra-
ção central. A origem deste modelo organizativo recua a 1505, com a
nomeação do primeiro vice-rei da Índia, a quem o rei delegou plenos
poderes para que pudesse administrar bens e recursos da coroa, isto
é, que pudesse assegurar o governo oeconomico.14 Novo passo foi
dado em 1517, quando algumas jurisdições do vice-rei foram atribuí-
das ao recém-criado vedor da Fazenda da Índia. Se esta magistratura
se decalcava dos vedores da Fazenda do reino, o seu campo de acção
incluía, todavia, competências específicas, como a coordenação do
provimento das fortalezas e a superintendência da carga das naus da
Carreira. Nas décadas subsequentes, este primeiro desenho institu-
cional complexificou-se. Em 1550, criou-se uma nova magistratura
– o «vedor da fazenda da carga e descarga das naus», com sede em
Cochim –, enquanto na década de 1590 se instituiu o Conselho da
Fazenda, que replicou em Goa a instituição congénere sediada em
Lisboa. As atribuições deste órgão centravam-se na administração

  Matos, «A situação financeira…», 79.


13

  Catarina Madeira-Santos, «Goa é a Chave de toda a Índia». Perfil Político da


14

Capital do Estado da Índia (1505-1570) (Lisboa: Comissão Nacional para as Come-


morações dos Descobrimentos Portugueses, 1999), 35.

330

Monárquias Ibéricas.indb 330 13/12/18 14:56


O governo da Fazenda no império português

activa da Fazenda, competindo-lhe o exercício dos actos de poder


necessários à sua conservação e acrescentamento.15 Para esse efeito,
submetia hierarquicamente todo o dispositivo de fazenda, desde os
feitores e recebedores até aos vedores da Fazenda.16
A Casa dos Contos, por seu turno, assegurava a inspecção admi-
nistrativa de feitores, recebedores e almoxarifes, que se concreti-
zava, tal como no reino, num processo de tomada de contas. Muito
embora a sua formação date ainda da década de 1520, a instituição
só ganhou autonomia face à Casa dos Contos do Reino e Casa em
1545, quando foi investida de poderes para despachar até quitação
final todas as contas. Durante a governação dos Áustrias, foram-lhe
atribuídos poderes jurisdicionais para responsabilizar os infractores,
bem como para dirimir litígios relacionados com a verificação das
contas, o que permite considerar que funcionava também como um
tribunal.17 Sinalizando a extensão e a complexidade das suas funções,
entre 1554 a 1638, o seu quadro humano oscilou entre um mínimo
de 27 e um máximo de 49 indivíduos, compreendendo oficiais espe-
cializados – provedores, contadores e escrivães – e oficiais meno-
res – chamadores, naiques, peões e servidores.18
A Matrícula Geral, o terceiro pilar desta estrutura de governo,
tinha por função manter registos nominais de todos os indivíduos
– oficiais da administração civil, soldados e eclesiásticos – que servis-
sem a monarquia na Ásia. Uma vez que só quem constasse dos livros
da Matrícula podia receber soldo ou ordenado da mão dos feitores,
a centralização desta informação era decisiva para comprovar a legi-
timidade desses pagamentos. A Matrícula Geral deveria, pois, operar
em estreita articulação funcional com a Casa dos Contos, razão pela

15
 Entre os assuntos apreciados contavam-se a contratação de rendas reais, o
acrescentamento de ordenados, a aquisição de abastecimentos para as armadas e for-
talezas, a superintendência da Carreira da Índia, a contratação da pimenta e a transfe-
rência e circulação de fundos entre as feitorias.
16
  O Conselho da Fazenda era presidido pelo vice-rei e nele tinham assento dois
ministros de fazenda (o vedor da Fazenda de Goa e o provedor-mor dos Contos)
e três juristas. Miranda, A Administração da Fazenda Real…, 247-253.
17
  Um amplo corpo normativo foi promulgado entre 1589 e 1605. Arquivo Por-
tuguês Oriental (APO), ed. J. H. da Cunha Rivara (Nova Deli: Asian Educational
Services [fac-símile da edição de 1877] 1992), fasc. 5, parte iii, doc. 933, 1181-1246;
Idem, doc. 931, 1173-1180; Idem, doc. 1101, 1578-1585; Idem, fasc. 6, doc. 45, 778-
-779.
18
 Miranda, A Administração da Fazenda Real…, 293-320, 347-350.

331

Monárquias Ibéricas.indb 331 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

qual estas duas instituições partilhavam o mesmo espaço físico no


palácio dos vice-reis em Goa. No final do século xvi, o seu quadro
humano era, todavia, bem mais pequeno, já que dispunha apenas de
quatro contadores enquadrados pelo escrivão da Matrícula Geral.19
A gestão executiva das despesas centrais, por seu turno, cabia ao
Tesouro de Goa, órgão concebido em 1576 como caixa central do
Estado da Índia. Ao seu tesoureiro competia centralizar e despender
os saldos líquidos das feitorias, doravante obrigatoriamente canaliza-
dos para Goa, para que a capital dispusesse de meios financeiros para
custear as despesas extraordinárias com a guerra, designadamente os
aprestos das armadas que patrulhavam o Índico.20 Vale a pena frisar
que a criação do Tesouro de Goa sinaliza uma tendência centrali-
zadora inequívoca, que parece não replicar um fenómeno metropo-
litano. Atendendo à prática corrente na metrópole de consignar
pagamentos nos almoxarifados, difícil de reproduzir no Estado da
Índia devido à dispersão geográfica e à distância física entre as feito-
rias, o tesoureiro-mor dos assentamentos e restos (Lisboa) não terá
tido a mesma relevância administrativa. Este assunto merece uma
investigação mais aprofundada, mas parece desde já seguro conside-
rar a guerra como condição de dinamismo do governo da Fazenda
do Estado da Índia.

A articulação centro/periferia
Feitorias, alfândegas e recebedorias dão corpo a um modelo
organizativo marcado não só pela autonomia funcional e financeira
relativamente aos tribunais de corte, mas também pela atomização
contabilística, donde decorria, na prática, uma descentralização face
ao governo de Goa. Por um lado, as receitas fiscais do Estado da Índia
despendiam-se na manutenção da sua organização administrativa,
eclesiástica, militar e naval. Dos rendimentos arrecadados na Ásia,
nada fluía para os cofres do reino, como se reconhecia em 1591.21
Por outro lado, esses mesmos rendimentos pulverizavam-se em múl-
tiplos saldos locais, já que as feitorias executavam q
­ uotidianamente

19
  APO, fasc. 5, parte iii, doc. 1000, 1325-1359.
20
  Miranda, «The Center and the Periphery…».
21
  Arquivo Histórico Ultramarino (AHU), Cartas da Índia, cód. 281, f. 151.

332

Monárquias Ibéricas.indb 332 13/12/18 14:56


O governo da Fazenda no império português

despesas. Se é certo que os saldos líquidos daquelas repartições deve-


riam afluir ao Tesouro de Goa, vários constrangimentos dificultavam
a movimentação desses fluxos. Por um lado, o regime das monções
condicionava o ritmo de viagens marítimas e, como tal, a ligação entre
Goa e as feitorias mais rendosas. Por outro, a elevada autonomia com
que os feitores administravam os bens e os recursos da monarquia
dificultava também a captação dos excedentes das caixas.
A autonomia dos feitores evidenciava-se em vários planos. Não
se submetiam hierarquicamente aos capitães das fortalezas, ao abrigo
de um princípio imposto ainda no início do século xvi que sepa-
rava o governo da Fazenda do governo civil e militar nas fortalezas.
Detinham ampla margem de manobra para gerir quotidianamente os
fluxos financeiros das feitorias, deles só tendo de prestar contas na
Casa dos Contos de Goa no final dos respectivos triénios. Também
a jurisdição de que gozavam, equivalente à dos almoxarifes do reino,
contribuía para o reforço da sua autonomia: tinham poder para diri-
mir feitos cíveis e crimes em que fossem partes os rendeiros ou forei-
ros, dando apelação para o vedor da Fazenda; e tinham alçada para
confiscar bens a rendeiros incumpridores e de os mandar prender em
determinadas circunstâncias. Comportavam-se, pois, como «juízes»
na área da Fazenda.
Sendo os feitores figuras centrais deste modelo organizativo,
impõe-se considerar o seu perfil colectivo que se colhe da observação
dos critérios de recrutamento. Fidelidade pessoal e serviços prévios à
monarquia, preferencialmente militares, eram os filtros que determi-
navam as nomeações, feitas pelo rei, e desde meados do século xvi,
também pelo vice-rei. Na prática, todavia, estes critérios eram fre-
quentemente contornados pelos vice-reis, que tendiam a prover
indivíduos das suas próprias clientelas, razão pela qual o Conselho da
Fazenda da Índia seria chamado a sancionar previamente as provisões
de mercê para aqueles cargos. Na década de 1630, ainda se procurou
condicionar os provimentos a quem, além de serviços militares pres-
tados durante um mínimo de oito anos na Ásia, dominasse também
os rudimentos da escrita. Contudo, na prática, esta última medida
não subverteu a natureza remuneratória do sistema, que abria cami-
nho a práticas de rentabilização dos ofícios. Entre as mais comuns
contam-se o uso privado das rendas da monarquia e os desvios de
fundos, de que as «praças fantásticas e mortas» constituem um bom
exemplo. Os soldos de indivíduos já falecidos desviavam-se para os

333

Monárquias Ibéricas.indb 333 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

bolsos dos capitães e feitores numa fraude que envolvia a manipula-


ções dos livros de receita e despesa e a falsificação de recibos.22
A extensa autonomia dos feitores tinha tradução em problemas
de liquidez que afectavam as instituições centrais de Goa. Fosse por
via legítima (pagamento de soldos, aquisição de bens e serviços),
ou por meio da fraude sistémica, que envolvia cumplicidades com
oficiais régios e membros das elites locais, os cofres das feitorias
esvaziavam-se, sendo as verbas enviadas para o Tesouro de Goa ten-
dencialmente inferiores aos excedentes inscritos nos orçamentos.
Para incrementar as remessas, os vice-reis recorreram, desde mea-
dos do século xvi, ao envio de comissários às feitorias mais ren-
dosas, localizadas em Ormuz e Mascate no golfo Pérsico; em Diu,
Damão, Baçaim e Chaul na Província do Norte; e em Malaca no
Sueste Asiático. Com designações variadas – superintendente, pro-
vedor ou visitador das fortalezas – estes magistrados iam investidos
de poderes para tutelar os feitores, o que foi causa de conflitos e
de queixas interpostas na corte de Madrid. No quadro da cultura
jurídico­-política da época, este expediente posto em prática pelo
governo de Goa era percepcionado como um atropelo ao espaço
jurisdicional dos feitores, razão pela qual Filipe II de Espanha lhe
impôs fortes restrições. Todavia, sob a pressão de gastos crescen-
tes com a guerra no oceano Índico, o governo de Madrid reconhe-
ceu que havia vantagem em procurar limitar a autonomia financeira
dos oficiais de recebimentos para atenuar os efeitos negativos da
dispersão orçamental. Entre 1608 e 1615, em três praças relevan-
tes do ponto de vista dos seus rendimentos – Ceilão, Malaca e em
Ormuz – foram instituídos vedores da Fazenda a título permanente,
enquanto noutras, como Baçaim e Damão, se continuou a recorrer
ao envio de magistraturas ­comissariais para, monitorizar periodica-
mente os fluxos financeiros locais.23
É difícil saber se estas soluções administrativas se traduziram
num aumento das remessas para Goa, mas parece seguro que deno-
tam uma tendência de centralização do governo financeiro do Estado
da Índia sob o governo dos Áustrias que visava equipar a capital de
poderes jurisdicionais e dos meios administrativos para fiscalizar
a rede periférica. Todavia, esta tendência centrípeta não obedeceu

22
 Miranda, A Administração da Fazenda Real….
23
  Miranda, «The Center and the Periphery…».

334

Monárquias Ibéricas.indb 334 13/12/18 14:56


O governo da Fazenda no império português

a um plano sistemático de aperfeiçoamento da gestão fiscal e finan-


ceira. As iniciativas tomadas pelo governo de Madrid eram sobre-
tudo moldadas por factores de ordem política, que visavam assegurar
o equilíbrio e a manutenção do sistema administrativo, largamente
dominado pelas magistraturas locais, dotadas de jurisdição indispo-
nível. Tal como nas demais monarquias europeias, princípios como
a racionalidade económica e contabilística estavam ainda longe de
dominar as decisões políticas. Nesse sentido, e até às reformas pom-
balinas, o governo financeiro no Estado da Índia permaneceu mar-
cado pela descentralização e pela autonomia dos oficiais, suas marcas
estruturantes.

América portuguesa
Logo nos primeiros anos do século xvi, as sociedades de mer-
cadores a quem foi cedido o exclusivo do comércio com a Terra de
Vera Cruz construíram algumas feitorias no litoral para assegurar
a obtenção de pau-brasil. Sobre estas primeiras décadas pouco se
sabe, a não ser que estes entrepostos comerciais fortificados se redu-
ziam a um número exíguo, restritos às regiões de Cabo Frio (Rio de
Janeiro) e de Pernambuco onde foi edificada a primeira feitoria régia
em 1516, numa altura em que a monarquia chamou a si a administra-
ção directa do comércio do pau-brasil. Estas feitorias visavam asse-
gurar o comércio com os ameríndios e fornecer apoio às navegações,
pelo que os seus feitores, mesmo quando serviam em nome da coroa,
actuavam sobretudo como agentes comerciais.
Com a instalação das capitanias hereditárias a partir de 1534, a
monarquia portuguesa irá afirmar-se como entidade fiscal, possibili-
tando a criação de um dispositivo de governo da Fazenda na ­América
portuguesa que coincidiu com uma administração de fazenda de
natureza senhorial. As cartas de doação e os forais concedidos a
12 donatários, entre 1534-153624, consignaram o sistema tributário aí

24
 Neste período foram concedidas 12 capitanias hereditárias em 15 lotes.
Outras foram criadas posteriormente sendo Xingu, em 1695, a última a ser conce-
dida. António Vasconcelos Saldanha, As Capitanias do Brasil: Antecedentes, Desen-
volvimento e Extinção de um Fenómeno Atlântico (Lisboa: Comissão Nacional para
as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 2001 [1992]), 22-23.

335

Monárquias Ibéricas.indb 335 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

definido, distinguindo duas esferas de tributação (a dos donatários e


a da coroa). À Fazenda do monarca pertenciam as dízimas alfandegá-
rias, os dízimos eclesiásticos e o dízimo do pescado (que nos espaços
insulares e ultramarinos estavam sujeitos ao padroado da Ordem de
Cristo), o quinto dos metais e pedras preciosas e o monopólio do
pau-brasil.25
Sem que se possa fazer uma reflexão pormenorizada sobre a
prerrogativa dos donatários na data dos ofícios de seu senhorio,
que possa inclusive contemplar algumas variações por capitania, o
facto é que o provimento dos ofícios de justiça e a convocação dos
«principais da terra» para a eleição dos oficiais camarários (verea-
dores, procurador e juiz ordinário) a eles foram concedidos.26
­Estamos a falar, evidentemente, de uma estrutura administrativa
pouco complexificada, com um número muito reduzido de oficiais.
Será, todavia, na administração da Fazenda que vamos encontrar
os primeiros oficiais nomeados pelo monarca: os feitores encar-
regados de cobrar e executar as rendas régias e de administrar os
interesses comerciais do soberano. O foral do primeiro capitão
donatário de Pernambuco, Duarte Coelho, faz-lhes referência em
24 de Setembro de 1534.27
Em 1536, foram nomeados os primeiros provedores, um para cada
uma das respectivas capitanias donatárias: Baía, Ilhéus, Pernambuco
e Porto Seguro. No alvará de concessão deste ofício a Diogo de Góis,
para servir na capitania da Baía pertencente ao fidalgo ­Francisco
Pereira Coutinho, a experiência das Ilhas do Atlântico serviu de «ins-
piração» pois este provedor havia de «ser (e) como o é o provedor

25
  Por seu turno, os donatários tinham direito à redízima (10% do total dos
rendimentos da coroa), à meia-dízima do pescado, a 20% do valor da exportação
do pau-brasil, aos direitos de monopólio sobre os meios de produção (moendas
de água, sal e engenhos de açúcar) e aos rendimentos das alcaidarias-mores. Pedro
­Puntoni, O Estado do Brasil: Poder e Política na Bahia Colonial, 1548-1700 (São
Paulo: Alameda Editorial, 2014), 112-113.
26
  Ver, por exemplo, o foral concedido a Martim Afonso de Sousa em 1534,
apud Waldemar Martins Ferreira, História do Direito Brasileiro (Rio de Janeiro/São
Paulo: Livraria Freitas Bastos S. A, 1951); Saldanha, As Capitanias do Brasil…, 182.
27
  Pedro Puntoni, O Estado do Brasil…, 114. Couto menciona o caso de Diogo
Dias, feitor de Pernambuco, que após o assalto francês a esta capitania em 1530,
teve de fugir para o Rio de Janeiro. Jorge Couto, A Construção do Brasil. Amerín-
dios, Portugueses e Africanos do Início do Povoamento a Finais de Quinhentos, 2.ª ed.
(­Lisboa: Edições Cosmos, 1997), 211.

336

Monárquias Ibéricas.indb 336 13/12/18 14:56


O governo da Fazenda no império português

de minha fazenda da ilha da Madeira».28 Este magistrado combinava


a tutela dos resíduos, órfãos e concelhos com as funções de conta-
dor, que incluíam, entre outras, a coordenação da cobrança fiscal e a
fiscalização dos almoxarifes.29 Comum também nos provedores das
comarcas do reino, esta acumulação de funções foi, pois, transposta
para as capitanias do Brasil.30
Após poucos anos, em 1549, com a instalação do governo-geral,
a cidade de São Salvador da Baía de Todos os Santos tornou-se a
capital do Estado do Brasil, passando a administração da capitania
da Baía para as mãos da coroa portuguesa, como ocorrerá, paulati-
namente, e com ritmos diversos, com outras capitanias donatárias.31
A soberania régia, porém, pouco alterou a tipologia e a hierarquia
dos ofícios fazendários existentes até então (provedor de capitania
e almoxarifes).32 Entretanto, em conformidade com a centralização
que se pretendia com o governo-geral, o novo ofício de provedor-
-geral impôs uma nova dinâmica governativa com este a servir de
pólo unificador dos interesses fiscais da coroa na América portu-
guesa e como instância superior a quem os provedores das capita-
nias e demais oficialato deviam dirigir-se33. Segundo o regimento do
primeiro provedor-geral do Estado do Brasil, António Cardoso de
Barros, as suas competências iam desde a inspecção administrativa
da arrecadação das rendas régias ao controlo da actuação dos ofi-
ciais de recebimento, que serviam ao monarca em todo o território
brasileiro, na medida em que deveria desempenhar também a função
de contador-geral (que logo seria desmembrada). Pelo Regimento,

28
  Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT), Chancelaria de D. João III,
liv. 21, fl. 166. Provimento de Diogo de Góis no ofício de provedor da Fazenda na
capitania da Baía. Évora, Lisboa, 25 de Agosto de 1536.
29
  Susana Münch Miranda, A Fazenda Real na Ilha da Madeira (Segunda Metade
do Século XVI) (Lisboa: Instituto de História de Além-Mar, 1994), 58.
30
  Sobre esta acumulação de funções no reino, cf. Hespanha, As Vésperas…, 206-
-207.
31
  As últimas capitanias donatariais brasileiras foram incorporadas à coroa em
1753-1754. Saldanha, As Capitanias do Brasil…, 422-429.
32
  Ao contrário do almoxarife, o feitor não é mencionado no «Regimento dos
provedores da Fazenda de capitanias» de 17 de Dezembro de 1548, sendo um cargo
muito pouco referido na documentação a partir de então.
33
  Embora o ofício de provedor-geral do Estado do Brasil, ou do Estado do
Maranhão, fosse nas fontes da época referido com mais frequência como provedor-
-mor, optamos por denominá-lo sempre como provedor-geral para evitar confusões
com o ofício de provedor-mor do Reino.

337

Monárquias Ibéricas.indb 337 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

detinha ainda jurisdição contenciosa, com o conhecimento das ape-


lações e agravos oriundos dos provedores e oficiais da fazenda das
capitanias. Neste sentido, o campo de competências deste magis-
trado aproxima-se, em muitos aspectos, da do vedor da Fazenda
da Índia. Inicialmente, acumulava também o cargo de provedor da
alfândega da Baía, a qual ficara encarregado de erigir, e esta união
de circunscrições fiscais distintas (provedorias/alfândegas) revela
como os altos oficiais da Fazenda, que controlavam os direitos fis-
cais, actuaram, indistintamente, sobre a produção agrícola/mineral e
sobre o comércio marítimo34. Entretanto, quando o edifício da alfân-
dega da Baía foi concluído,35 abrigando também a Casa dos Contos,
os cargos de provedor/contador-geral e provedor da alfândega pas-
saram a ser servidos por diferentes titulares, reflectindo uma maior
complexificação administrativa.
Não tardou muito que o provedor-geral encontrasse grande
dificuldade em dar cumprimento às suas tarefas, dentre as quais
nomear os provedores e fiscalizar os oficiais da Fazenda quando
acompanhasse o governador-geral nas suas visitas às capitanias.36
O desafio de organizar a cobrança dos direitos régios e centralizar
o custeio das despesas administrativas e militares não se tornou
menos árduo quando, em 1621, foi criado o Estado do ­Maranhão,
com a capital em São Luís, sendo concedida a um novo provedor­-
-geral a jurisdição fazendária das capitanias do Grão-Pará, do
­Maranhão e do Ceará.
A vastidão do território americano e a importância das receitas
advindas das taxas e dos direitos régios para o pagamento dos orde-
nados dos oficiais, das côngruas dos párocos/prelados e dos custos
da defesa ajudam a explicar o porquê da perda gradual da autoridade
efectiva do provedor-geral. A centralidade atribuída a este cargo

34
  Como de resto ocorria com os provedores de algumas capitanias.
35
  Ainda que com um Regimento muito posterior, de 1714. Hyllo Nader de
Araújo Salles, Negócios e Negociantes em uma Conjuntura Crítica: O Porto de Salva-
dor e os Impactos da Mineração, 1697-1731 (dissertação de mestrado, Juiz de Fora,
­Universidade Federal de Juiz de Fora – programa de pós-graduação em História do
Instituto de Ciências Humanas, 2014), 42.
36
  «Carta dos oficiais da fazenda da cidade do Salvador da Baía expondo ao rei
que o ouvidor-geral servira também de provedor-mor, sendo lugares incompatíveis
porque como provedor-mor não podia entender nas coisas da fazenda, saindo fora
da capitania, nem menos era necessário nela, por não ter mais alçada que os prove-
dores» ANTT, Corpo Cronológico, parte i, mç. 105, n.º 142, 1562.

338

Monárquias Ibéricas.indb 338 13/12/18 14:56


O governo da Fazenda no império português

cedeu à autonomia conquistada e concedida a alguns dos provedores


das capitanias que, nomeados pelo monarca, comunicavam directa-
mente com os tribunais de corte, sem intermediários. Ao alargar o
poder de intervenção destas autoridades, uma nova hierarquia políti-
co-administrativa foi-se consolidando em matéria da Fazenda, mais
bem adaptada às necessidades de uma conquista vasta, próspera e
ameaçada por perigos de toda a ordem.37 Frente a isso, a jurisdição
do provedor-geral na prática nivelou-se por aquela que possuíam os
demais provedores das capitanias, passando assim a circunscrever-se
à capitania da Baía e às que lhe eram subordinadas, como as capita-
nias de Ilhéus e de Porto Seguro.38
No que respeita às modalidades de provimento, os ofícios de pro-
vedor e provedor-geral revelavam similitudes: eram concedidos para
serem exercidos trienalmente mas, em algumas ocasiões, foram dados
de forma vitalícia e tendencialmente hereditária, contribuindo para
a sua patrimonialização. Muitas vezes a aquisição da propriedade do
ofício podia ser feita mediante a compra, sendo este o caso da famí-
lia Pegado e Serpa, que monopolizou o cargo de provedor­-geral em
Salvador no século xviii39 e de alguns provedores que actuaram, por
exemplo, na capitania de Rio de Janeiro e em ­Angola.40 Quando o
ofício era preenchido por nomeação do monarca, e não transmitido
a um herdeiro presumível, as virtudes do sangue ou as demonstradas
no serviço régio eram valorizadas,41 porém a experiência adquirida

37
  Como as invasões estrangeiras, o ataque dos índios bravios, as epidemias.
38
 Para o século xvii ver Francisco Carlos Cosentino, «Hierarquia política
e poder no Estado do Brasil: o governo-geral e as capitanias, 1654-1681», Topoi.
Revista de História, 16, n.º 31 (Julho-Dezembro de 2015): 515-543. Disponível em
https://www.revistatopoi.org.
39
  Ernest Pijning, «Conflicts in the Portuguese Colonial Administration: Trials
and Errors of Luís Lopes Pegado e Serpa, Provedor-mor da Fazenda in Salvador,
Brazil 1718-1721», Colonial Latin American Historical Review (New Mexico, Uni-
versity of New Mexico, Fall, 1993): 403-423.
40
  Na Madeira, a propriedade do ofício de provedor da Fazenda só foi concedida
até meados do século xvi, altura em que o ofício perde o seu carácter patrimonial.
Miranda, A Fazenda Real na Ilha da Madeira…, 99-101. No Brasil, o ofício chegou
mesmo a ser vendido: Roberta Stumpf, «Os provimentos de ofícios: a questão da
propriedade no Antigo Regime português», Topoi. Revista de História. 15, n.º 19
(Julho-Dezembro de 2014): 612-634, Disponível em https://www.revistatopoi.org.
41
  ANTT, Chancelaria de D. João III, liv. 6, fl. 95, Lisboa, 15 de Novembro
de 1540. Carta de provedor e contador da terra da capitania do Brasil de Pero do
Campo Tourinho.

339

Monárquias Ibéricas.indb 339 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

no exercício de outros cargos era o factor mais apreciado. Ainda


assim, estamos muito longe da ideia de mérito, tal como será conce-
bida pelo Estado liberal.42
A diferença em relação aos almoxarifes, tesoureiros e outros ofi-
ciais de recebimento é flagrante. Tal como os anteriores, estes eram
providos maiormente no reino, mas em regime precário, ou seja, por
poucos anos, e raríssimas vezes em propriedade. No século xvi, nos
alvarás de provimentos que ainda restam à consulta, muitos dos pro-
vidos possuíam fidalguia, embora não fosse esta qualidade comum à
generalidade dos oficiais da Fazenda que serviram no Brasil. Nos sé­
culos posteriores, dos homens providos para lidar directamente com
o dinheiro de Sua Majestade, valorizavam-se os serviços desempenha-
dos nas armas e/ou a posse de cabedais, qualidades que afiançavam as
virtudes máximas da fidelidade e da honestidade à monarquia. Neste
sentido, não se estranha que quando foi legalizada a venda das serven-
tias dos ofícios intermédios da América portuguesa no século xviii se
tenha proibido que esta prática abrangesse os ofícios de recebimento.43
Também o monitoramento a que estavam sujeitos revela a impor-
tância atribuída a estes cargos. Os titulares tinham os seus livros de
receita e despesa averiguados no princípio de cada ano e decorrido
o triénio, para o qual haviam sido providos, tomavam-se suas contas
e em caso de aprovação era-lhes concedida uma carta de quitação.
A suspeita de «erro» ou de «abuso de poder» implicava, conforme
as fontes normativas, penas severas como a perda do ofício e/ou o
impedimento de servir qualquer outro cargo, civil ou militar.
Ao longo do período considerado, este controlo sofreu modi-
ficações quanto às autoridades que deviam exercê-lo, e esta análise
é fundamental para se observar distintos aspectos do governo da
Fazenda na América portuguesa. Conforme o teor do Regimento
do 1.º provedor­-geral de 1548, que servia também de contador­-geral,
este devia fornecer informações sobre os oficiais de r­ecebimento

42
  Roberta Stumpf, «Ser apto para servir a monarquia portuguesa: Profissiona-
lização e hereditariedade», em Mérito, venalidad y corrupción en España y América,
siglos xvii y xviii, orgs. Pilar Ponce Leiva e Francisco Andújar Castillo (Valência:
Albatros, 2016), 115-134.
43
  Decreto de 18 de Fevereiro de 1741, «Para se proverem por donativos as ser-
ventias dos ofícios que não tiverem proprietários» e Alvará de 20 de Abril de 1758,
«Para se arrematarem os ofícios de justiça e fazenda do Brasil». Disponíveis em
http://www.governodosoutros.ics.ul.pt.

340

Monárquias Ibéricas.indb 340 13/12/18 14:56


O governo da Fazenda no império português

e, «havendo neles o que não devem», verificar as suas culpas e


suspendê­-los para que fossem substituídos44. Apesar de serem pou-
cos os que à altura cobravam os direitos régios em todo o território
americano, já no ano seguinte foi nomeado um oficial para servir de
«contador da Bahia de Todos os Santos e das terras do Brasil por
tempo de 5 anos»45 não originando, entretanto, uma estrutura apri-
morada na averiguação das contas. Assim, os livros que eram previa-
mente recenseados pelos provedores nas capitanias eram remetidos
a ­Salvador para serem avaliados pelo contador-geral e, em caso de
aprovação, para que o provedor-geral desse vista. Havendo dúvidas,
este podia nomear dois desembargadores da Relação da Baía para lhe
assessorar na Casa dos Contos da capital do Estado do Brasil46.
Com o crescimento da economia e o adensamento da população,
os provedores das capitanias, que acumulavam a função de contado-
res, passaram a ter maior protagonismo neste processo na medida
em que assumiram a responsabilidade pelo controlo dos oficiais de
recebimento dentro do âmbito da sua jurisdição, sem passar pelo
crivo das autoridades em Salvador. Assim, conforme os seus regi-
mentos, recenseavam anualmente os livros dos recebedores e após
os três anos servidos tomavam as suas contas que passaram a ser
enviadas a Lisboa para serem revistas na Casa dos Contos do Reino
e Casa47 onde eram passadas as cartas de quitação48.

44
  «Regimento do provedor-mor e dos provedores da Fazenda», em Marcos de
Carneiro Mendonça, Raízes da Formação Administração do Brasil, t. i (Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro, 1972), 89-98.
45
  ANTT, Chancelaria de D. João III, liv. 70, fl. 103v, «Nomeação de Gaspar
Lamego para contador da Bahia de Todos os Santos e das terras do Brasil», Lisboa,
5 de Janeiro de 1549.
46
  Ver Carta Régia de 21 de Abril de 1614.
47
  «Regimento da Casa dos Contos», Lisboa, 1627, em Carneiro, Raízes da for-
mação administrativa do Brasil…, t. ii.
48
 Como ocorrerá também com as contas dos almoxarifes de provedorias
nas ilhas de Cabo Verde. Alvará de 3 de Março de 1645, «Almoxarifes da Ilha de
­Santiago de Cabo Verde dêem ali contas ao Provedor da Fazenda, mandando-as
dentro em três anos para se verem nos Contos do Reino». Disponível em http://
www.governodosoutros.ics.ul.pt Ver ainda AHU, AHU_ACL_CU_017, cx. 07,
doc. 770, Rio de Janeiro, 13 de Fevereiro de 1703, «Parecer do Conselho Ultra-
marino sobre as cartas do governador [D. Álvaro da Silveira e Albuquerque] e
do provedor da Fazenda Real do Rio de Janeiro [Luís Lopes Pegado], acerca da
criação de vários ofícios para se acudir ao expediente dos negócios pertencentes
a Fazenda Real».

341

Monárquias Ibéricas.indb 341 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Neste processo de exame dos livros dos oficiais recebedores ame-


ricanos, a participação do provedor-geral acabou por ser definitiva-
mente extinta ficando numa ponta os provedores das capitanias e
noutra os oficiais de Lisboa. Antes mesmo do início do século xviii, a
centralidade de Salvador já estava seriamente fragilizada, pelo menos
no que concerne às modalidades de controlo e ao papel desempe-
nhado pelo mais alto representante das Finanças no Estado do Bra-
sil. Neste processo, as capitanias da América portuguesa adquiriram
cada vez mais autonomia de decisão no âmbito fazendário, prescin-
dindo da tutela do governo-geral. Porém, passaram a estar sujeitas
a autoridades instaladas na cidade lisboeta, que ao avaliar os livros
dos oficiais de recebimento avaliavam indirectamente a actuação dos
provedores-gerais e dos provedores das capitanias que após os seus
anos de serviço ainda deviam passar pelas conhecidas e aparente-
mente inócuas residências49.

As reformas pombalinas e a Fazenda


no Ultramar
Na segunda metade do século xviii, a administração fazendária
sofreu grandes alterações em todo o império português com a reforma
promovida pelo secretário de Estado do monarca D. José I, Sebastião
José de Carvalho e Melo 50. Certamente a mudança mais expressiva
foi a criação do Tribunal do Erário Régio, em 22 de Dezembro de
176151, que extinguiu a Casa dos Contos do Reino e Casa, em Lisboa,
assim como os seus ofícios e incumbências, e reorganizou e redefiniu
as competências do Conselho da Fazenda (que passou a concentrar as
causas das jurisdições voluntária e contenciosa)52. Para o Tesouro Geral

49
  Pelo menos se for possível cogitar que tenham tido resultados similares a resi-
dências já estudadas dos magistrados no Reino. Nuno Camarinhas, Juízes e Admi-
nistração da Justiça no Antigo Regime: Portugal e o Império Colonial, Séculos XVII e
XVIII (Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian/FCT, 2010).
50
  O marquês de Pombal (a partir de 1769) foi secretário de Estado dos Negó-
cios Interiores do Reino do monarca D. José I de Bragança (1750-1777).
51
  Carta de Lei de 22 de Dezembro de 1761. Disponível em http://www.gover-
nodosoutros.ics.ul.pt
52
 A primeira já lhe era exclusiva, mas a jurisdição contenciosa estava sob a
alçada do Juízo dos Feitos da Coroa e dos Feitos da Fazenda da Casa de Suplicação.

342

Monárquias Ibéricas.indb 342 13/12/18 14:56


O governo da Fazenda no império português

daquele Tribunal «deveria ser remetido o produto de todas as rendas


e (direitos)» assim como dele deveriam «sair todos os fundos desti-
nados à regulamentação das despesas públicas»53 numa clara demons-
tração do intuito centralizador pretendido para as Finanças públicas,
ou seja, para a captação, gestão e gasto das rendas régias. A criação de
quatro contadorias-gerais54, que abrangiam os territórios do reino e
d’além-mar, com seus livros próprios, atendia à racionalidade adminis-
trativa almejada para promover o aumento da arrecadação e o combate
à fraude fiscal. Essencial a este programa foi a tentativa de implantação
de um método de contabilidade uniforme, já utilizado no sistema mer-
cantil, as partidas dobradas, cuja aplicação se mostrou difícil por parte
de um corpo de funcionários pouco qualificados55 e pouco propenso
a esta «modernização» promovida por outras monarquias56. No Rio
de Janeiro, por exemplo, em 1775, quando já era capital do Estado
do Brasil havia cerca de 12 anos, o vice-rei não dispunha de um escri-
vão competente que ensinasse aos oficiais recebedores o novo método
de registo das contas daquela capitania57.
A jurisdição destas contadorias sediadas em Lisboa apresentava
por vezes uma grande descontinuidade geográfica, sobretudo quando
concernentes aos territórios ultramarinos. A priori, pode pensar-se
que o agrupamento dos territórios portugueses nas contadorias do

53
  Carta de Lei de 22 de Dezembro de 1761 (grifos nossos), Leonor Freire Costa,
Pedro Lains e Susana Münch Miranda, História Económica de Portugal, 1143-2010
(Lisboa: Esfera dos Livros, 2011), 275; Fernando Tomaz, «As finanças do Estado
pombalino, 1762-1776, em Estudos e Ensaios em Homenagem a Vitorino Magalhães
Godinho (Lisboa: Lisboa Sá da Costa,1988), 355-371.
54
  Contadoria para Estremadura (no Reino); Contadoria para as demais provín-
cias do Reino de Portugal, Ilhas de Açores e Madeira; Contadoria para África Oci-
dental, Maranhão e Baía (territórios sujeitos à jurisdição do Tribunal da Relação da
Bahia); Contadoria para Rio de Janeiro, Ásia e África Oriental; também aqui, enten-
de-se, territórios sujeitos à jurisdição do Tribunal da Relação do Rio de Janeiro.
55
 Como lembra Figueiredo, recorrendo aos trabalhos de Fernando Tomaz,
e especialmente ao de José Luís Cardoso, em co-autoria com Alexandre Cunha.
Luciano Figueiredo, «Pombal cordial. Reformas, fiscalidade e distensão no Brasil:
1750-1777», em A Época Pombalina no Mundo Luso-Brasileiro, orgs. Francisco
­Falcon e Cláudia Rodrigues (Rio de Janeiro: Editora FGV, 2015), 132.
56
  Carta de Lei de 22 de Dezembro de 1761. Disponível em http://www.gover-
nodosoutros.ics.ul.pt
57
  Dauril Alden, Royal Government in Colonial Brazil. With Special Reference to
the Administration of the Marquis of Lavradio, Viceroy, 1769-1779 (Berkeley, Uni-
versity of California Press, 1968), 322.

343

Monárquias Ibéricas.indb 343 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Erário Régio tenha sido concebido em conformidade com as rotas


de comunicação preexistentes. Analisemos o caso da Contadoria da
África Ocidental pelos territórios do Maranhão e de todos os que
estavam sob a jurisdição da Relação da Baía. Já nos inícios do século
xviii, os livros dos oficiais da Fazenda de São Tomé eram remetidos
a Salvador, para depois serem despachados para Lisboa, onde seriam
inspeccionados na Casa dos Contos do Reino e Casa58. Entretanto,
os navios que transladavam os livros daqueles que serviam no Estado
do Maranhão não faziam escalas noutros portos americanos, já que
este território da monarquia, administrativamente autónomo do
Estado do Brasil, estabelecia desde o século xvii uma comunicação
directa com Lisboa.
A escolha dos espaços a serem contemplados pelas contadorias
obedecia à referida racionalidade administrativa que, tendo o cen-
tro no reino, repartia entre os funcionários do Erário, neste caso
os contadores, atribuições segundo os espaços geográficos que esta-
riam muitas vezes distantes, mas que ainda assim eram os que mais
próximos estavam entre si. Neste sentido, as contas dos territórios
do Rio de Janeiro, das conquistas portuguesas na Ásia e na África
Oriental,59 eram da responsabilidade de uma só contadoria sem que
para isto contribuísse alguma autoridade fazendária na América que
pudesse fazer a intermediação. Pelo contrário. No ano da criação do
Erário Régio proibiu-se que embarcações vindas da Ásia com des-
tino a Portugal arribassem ao Brasil. As únicas escalas permitidas
foram Moçambique e Luanda60. Se há alguma razão que justifique os

58
  AHU, cx. 27, doc. 2493. Bahia, 5 de Agosto de 1726, «Carta do [provedor­-
-mor da Fazenda Real do Estado do Brasil], Bernardo de Sousa Estrela ao rei
[D. João V] sobre a entrega das quatro caixas com as contas do tesoureiro e almo-
xarifes ao mestre da nau capitania Santa Rosa.» Não está claro se esta provedoria
englobava todas as ilhas de São Tomé. Nesta altura, a ilha de Príncipe ainda estava
sob a administração de um capitão-mor, nomeado pelo capitão donatário que ali
não residia.
59
  A utilização da denominação Ásia e África Oriental, ao invés de Estado da
Índia, contempla a outorga da autonomia administrativa da província de Moçambi-
que, em 1752, até então pertencente a este. Arthur Teodoro de Matos, Junta da Real
Fazenda do Estado da Índia (Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações
dos Descobrimentos Portugueses – Centro de Estudos Damião de Góis, 2000), 263.
60
  Isto segundo o teor das Instruções Gerais de 7 de Maio de 1761. Fritz Hoppe,
A África Oriental Portuguesa no Tempo do Marquês de Pombal 1750-1777 (Lisboa:
Agência-Geral do Ultramar, 1970), 168.

344

Monárquias Ibéricas.indb 344 13/12/18 14:56


O governo da Fazenda no império português

nexos geográficos de cada contadoria criada em 1761, ela não demo-


rou a ser posta em causa quando vários cofres lhes passaram a ficar
vinculados sem qualquer relação geográfica aparente61.
Isto no que respeita às mudanças institucionais pensadas para o
centro da monarquia. Quanto ao espaço ultramarino, as mais emble-
máticas foram a extinção das Casas dos Contos e o estabelecimento
das Juntas da Fazenda, concebidas em moldes semelhantes mas com
uma calendarização muito desigual. A sua criação, em alguns territó-
rios do Brasil, como São Paulo, Goiás, Baía e Rio de Janeiro ocorreu
alguns meses antes de o diploma de 22 de Dezembro de 1761 ser
sancionado, o qual não fazia nenhuma referência às mesmas, e nem a
qualquer outra criada posteriormente. Parece evidente, assim, que as
reformas fiscais no Reino e no ultramar não possuem a estrita con-
sonância que por vezes se lhes atribui62.
Criada por carta régia de 10 de Abril de 1769, a Junta da Real
Fazenda do Estado da Índia63 recebeu, onze dias depois, instru-
ções de como proceder em relação à organização e à escrituração
das contas. Pensada para substituir a Vedoria da Fazenda e a Casa
dos Contos, sediadas em Goa, pressupunha uma mudança muito
mais significativa do que aquelas que ocorreram em qualquer parte
do império64. É certo que em todas elas foram extintos os órgãos
fazendários, mas esta medida teve impactos muito diversos. A parti-
cularidade do Estado da Índia foi ter perdido a sua autonomia, des-
frutada desde a instituição do primeiro vedor da Fazenda em 1517 e
depois aprofundada com a criação da Casa dos Contos na década de
1520 e do Tesouro central em 1576. Durante cerca de duzentos e cin-
quenta anos, as contas dos feitores eram fiscalizadas e ­despachadas

61
 Cláudia Chaves, «Negócios, contratos e administração fiscal nas Minas»
(comunicação apresentada ao Congresso Internacional Pequena Nobreza nos Impé-
rios Ibéricos de Antigo Regime, Lisboa, 18 a 21 de Maio de 2011), 5.
62
  Como mostrou Bruno Aidar Costa, «A vereda dos tratos. Fiscalidade e poder
regional na Capitania de São Paulo 1723-1808» (tese de doutoramento, São Paulo,
Universidade de São Paulo – Departamento de História da Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas, 2012), 237-238.
63
 Matos, Junta da Real Fazenda do Estado da Índia…
64
  No mais, tudo parece indicar que do ponto de vista administrativo, e não
só fazendário, o Estado da Índia sofreu mudanças mais profundas do que aquelas
implementadas nas demais partes do império. Ver a título de exemplificação: Alvará
de 15 de Janeiro de 1774. Com o novo Regulamento para os Governos Político,
Civil e Económico de Goa, e Estado da Índia.

345

Monárquias Ibéricas.indb 345 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

até à quitação final em Goa, assim como as rendas provenientes deste


vasto e descontínuo território deviam confluir para esta capital. Mas
a proposta centralizadora de 1761, ao responsabilizar o Tribunal do
Erário Régio por toda a contabilidade e tesouraria do império65, quis
também homogeneizar os seus espaços e obrigar o Estado da Índia
a submeter-se às autoridades lisboetas que passaram a fazer o exame
final das suas contas e a entrega aos seus oficiais das suas cartas de
quitação.
Não foi este, entretanto, o impacto da criação das Juntas da
Real Fazenda nas conquistas portuguesas na África Ocidental e no
Brasil66. As Juntas, implantadas no decorrer da segunda metade do
século xviii, embora não tivessem sido projectadas para substituir
as provedorias nas capitanias principais, acabaram por levar a este
desfecho, assim como a perda de autoridade dos provedores que ini-
cialmente foram incorporados a elas mas que terminaram por ser
extintos. P­ resididas pelos governadores/capitães-generais ganharam
atribuições alargadas, como coordenar e fiscalizar a arrematação dos
contratos das rendas reais (como a dízima da alfândega ou o dízimo),
anteriormente arrematadas no reino pelo Conselho ­Ultramarino67.
As ­ Juntas tinham ainda atribuições jurisdicionais (jurisdições
voluntária e contenciosa), reunindo competências que no reino em
1761 foram divididas entre o Erário Régio (governo económico)
eoC ­ onselho da Fazenda (instância jurídica exclusiva em matéria

65
  Segundo Moreira, o Erário Régio compreendia ainda três Tesourarias-Gerais:
uma que centralizava o expediente e pagamento de ordenados, outra que se ocupava
do expediente e pagamento de juros e uma terceira responsável pelo expediente e
pagamento de tenças. Alzira Teixeira Leite Moreira, Inventário do Fundo do Erário
Régio. Arquivo do Tribunal das Contas (Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian,
1977).
66
 Para além das já mencionadas, foram criadas Juntas em Angola, Minas
Gerais e Maranhão. Os historiadores não estão de acordo quanto às datas de sua
criação, mas isto deve-se ao desfasamento entre a instituição da Junta e a sua efec-
tiva criação, como no caso da Junta da Capitania de Minas Gerais (1765 e 1771,
­respectivamente).
67
 Tribunal que foi perdendo paulatinamente as suas atribuições no período
pombalino. Cláudia Chaves, «Administração fiscal nas províncias do centro.
As fronteiras fiscais na América portuguesa. 1780-1815», tiempo&economia, 2 (1)
(2015): 53-68. A autora mostra com muita clareza o carácter judicial das Juntas
ao analisar o caso das Minas Gerais. Cláudia Chaves, «A administração fazendária
na A
­ mérica portuguesa: a Junta da Real Fazenda e a política fiscal ultramarina nas
Minas Gerais», Almanack, n.º 5 (Guarulhos, 1.º semestre de 2013): 81-96.

346

Monárquias Ibéricas.indb 346 13/12/18 14:56


O governo da Fazenda no império português

­ nanceira), unidos, ou seja, que passaram a estar sob a autoridade de


fi
um mesmo presidente em 179068.
A eficácia das reformas propostas a partir de 1761 e que em larga
medida não foram interrompidas nos reinados seguintes, objecto
de discordância da historiografia luso-brasileira69, infelizmente não
poderá ser aqui tratada. Mas o facto é que as mudanças introdu-
zidas foram muitas e nos mais diversos âmbitos, sinalizando uma
centralização administrativa que convergia para o reino as rendas da
monarquia e os livros de contas dos oficiais recebedores, sem deixar,
entretanto, de proporcionar às elites locais maior entrada em deci-
sões referentes à Fazenda.

Conclusão
A observação comparada que se traçou nestas páginas permite
reter algumas ideias estruturantes do governo da Fazenda no impé-
rio português. Desde logo, o carácter fragmentado dos dois modelos
organizativos aqui analisados, materializado na autonomia com que
as repartições administrativas de base – feitorias (Estado da Índia) e
almoxarifados (Brasil) – geriam os fluxos financeiros da monarquia.
Reproduzindo o modelo organizativo do reino, esta fragmentação
permitia ultrapassar custos e riscos da deslocação física de verbas,
mas impedia uma direcção unificada das receitas fiscais que só se
começou a esboçar com as reformas pombalinas. À fragmentação
junta-se, pois, a descentralização deste modelo organizativo, não só
face aos tribunais de corte, mas também aos governos centrais cons-
tituídos em Goa e Baía.
Apesar desta inequívoca matriz comum, os modelos organizati-
vos que se constituíram no Estado da Índia e na América Portuguesa
para o governo financeiro ostentam várias diferenças, resultan-
tes de circunstâncias locais e de objectivos do governo imperial
que determinaram a escolha das instituições transpostas. Nessa
­escolha, processos de experimentação prévios conduzidos noutros
espaços geográficos desempenharam um papel relevante. Assim, a

  Chaves, «A administração fazendária…».


68

  Para o assunto, ver Ângelo Alves Carrara, «O reformismo fiscal pombalino


69

no Brasil», Historia Caribe, XI, n.º 29 (Julho-Dezembro de 2015): 83-111.

347

Monárquias Ibéricas.indb 347 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

c­ olonização das Ilhas Atlânticas, com os seus objectivos de ocupação


territorial e exploração agrícola, serviu de campo de ensaios para as
repartições territoriais do reino – provedorias e almoxarifados – que
mais tarde se transpuseram para a América; por outro, as feitorias da
costa ocidental africana, e os seus objectivos eminentemente comer-
ciais, serviram de inspiração às feitorias constituídas no Índico, que
evoluiriam depois para repartições híbridas em que se combinavam
funções comerciais e de gestão fiscal-financeira.
No Índico, a distância em relação ao reino, circunstâncias económi-
cas e conjunturas políticas locais foram ainda factores determinantes na
configuração do governo da Fazenda e nas suas dinâmicas evolutivas.
Aqui, uma economia largamente baseada no comércio marítimo, no
controlo dos mares e na guerra explicam uma organização precoce que
se foi complexificando ao longo do século xvi, quer na periferia, por
meio da multiplicação de oficiais e de repartições administrativas, quer
no centro pela constituição de órgãos centrais. As exigências finan-
ceiras com a guerra criaram também condições para que a capital do
Estado da Índia se fosse equipando de soluções que potenciavam a sua
capacidade de fiscalização da periferia, enquanto a extensa autonomia
das instituições centrais de Goa face aos tribunais de corte constituíam
mais uma marca adicional do governo financeiro do Estado da Índia.
Em contraste, a criação de instituições na capital do Estado do
­Brasil, e mais tarde do Estado do Maranhão, não resultou na centra-
lidade do governo da Fazenda na América portuguesa. A jurisdição
dos provedores das capitanias sobrepôs-se à dos provedores-gerais
também no que respeita ao controlo das contas dos almoxarifes e
dos tesoureiros, embora estivessem subordinados às instituições cen-
trais sediadas em Lisboa. Neste sentido, o governo descentralizado
da Fazenda em terras americanas diferenciava-se substancialmente
daquele existente no Estado da Índia, também no que respeita ao con-
trolo exercido pelas autoridades reinóis.
Outra característica peculiar à América portuguesa foi a maior
redistribuição dos recursos da Fazenda Real entre as elites imperiais
e locais, quer por meio da contratação da cobrança fiscal, quer pelo
papel que detiveram na alocação das despesas, sobretudo de âmbito
militar. Típica da América portuguesa era também a patrimoniali-
zação dos ofícios, severamente criticada no período pombalino, o
que, contraditoriamente, até incentivou a venalidade dos ofícios
­intermédios iniciada oficialmente pouco antes.

348

Monárquias Ibéricas.indb 348 13/12/18 14:56


O governo da Fazenda no império português

A dimensão desta estrutura é difícil de avaliar, mas conside-


rando os gastos despendidos com os oficiais régios da Fazenda, não
estamos a falar de muitos, sobretudo quando comparados com os
demais oficiais, da Justiça, do Exército e da Igreja. Talvez por isto, as
reformas propostas no reinado josefino a partir da criação do Erário
Régio puderam ser largamente concretizadas com a uniformização
em todas as terras ultramarinas da hierarquia administrativa (através
da criação das Juntas da Fazenda) e com o maior grau de subordina-
ção ao centro político da monarquia, na corte. Se por um lado tais
mudanças reforçaram as características do governo da Fazenda na
América, alteraram significativamente as do Estado da Índia.
Com a ida da corte para o Brasil em 1808, as hierarquias adminis-
trativas do governo da Fazenda e as rotas de comunicação política
não sofreram alterações significativas, embora tivessem de se adaptar
à realocação do centro político da monarquia de Lisboa para o Rio
de Janeiro.

349

Monárquias Ibéricas.indb 349 13/12/18 14:56


Monárquias Ibéricas.indb 350 13/12/18 14:56
Nuno Camarinhas
Pilar Ponce

Capítulo 10

Justicia y letrados
en la América Ibérica:
administración y circulación de
agentes en perspectiva comparada

Introducción
A lo largo de la última década se ha ido poniendo de mani-
fiesto un creciente interés por la historia de los imperios euro-
peos, especialmente bajo la luz de la llamada Atlantic History y
de la World History,1 adoptando algunos de ellos una perspectiva

1
  David Abernethy, The Dynamics of Global Dominance: European Overseas
Empires, 1415-1980 (New Haven: Yale University Press, 2000); Felipe Fernández­-
-Armesto, «Los imperios en su contexto global, c.1500-1800», en Las tinieblas de la
memoria. Una reflexión sobre los imperios en la Edad Moderna. Debate y perspectivas.
Cuaderno de Historia y Ciencias Sociales n.º 2, coord. M. Lucena Giraldo (Madrid:
2000), 27-45; Jack P. Greene y Philip D. Morgan, eds., Atlantic History: A Criti-
cal Appraisal (Nueva York: Oxford Univ. Press, 2009); Bernard Bailyn y Patricia
L. Denault, eds., Soundings in Atlantic History: Latent Structures and ­Intellectual
Currents, 1500-1830 (Cambridge: Univ. Press, 2009); Jane Burbank y Frederick
Cooper, eds., Imperios. Una nueva visión de la Historia universal (Barcelona:
­Crítica, 2010); Serge Gruzinski, Las cuatro partes del mundo: historia de una mun-
dializaciónI (México D. F.: Fondo de Cultura Económica, 2010).

351

Monárquias Ibéricas.indb 351 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

comparada.2 Sin embargo, lo que sería un esfuerzo por ampliar los


horizontes de análisis a grandes extensiones territoriales vinculadas
en sus procesos históricos, en ocasiones no acaba de alcanzar la com-
prensión de realidades exteriores a la tradición historiográfica anglo-
sajona.3 Realidades complejas como las de las monarquías ibéricas,
tanto en su configuración europea como en las ultramarinas, quedan
con frecuencia fuera del alcance de esos procesos.
Simultáneamente, en ambos lados del Atlántico, pero al margen
del mundo anglosajón, otros proyectos han planteado repensar el
mundo atlántico desde una perspectiva próxima a la nueva historia
política lanzada a mediados de la década de los 80 en torno a autores
como Antonio M. Hespanha o Bartolomé Clavero.4 Este enfoque
ha ganado en los últimos años un notable impulso a través de dife-
rentes publicaciones en las que se plantea la visión de los imperios
ibéricos como un conjunto de redes de relaciones económicas, polí-
ticas, jurídicas y sociales, capaces de articular diferentes sociedades y
poderes autónomos e, incluso, hasta impulsos conflictivos.5 El foco

2
  Pedro Pérez Herrero, América Latina y el colonialismo europeo. Siglos xvi-
-xvii (Madrid: Ed. Síntesis, 1992); Guillermo Céspedes del Castillo, «Formas
de la expansión europea en América», en Historia General de América Latina,
vol. II, El primer contacto y la formación de las nuevas sociedades (París: UNESCO
– TROTTA, 2012), 71-88; Gérard R. Bouchard, Génesis de las naciones y cultu-
ras del Nuevo Mundo (México: FCE, 2003); John Elliott, Imperios del Mundo
Atlántico. España y Gran Bretaña en América (1492-1830) (Madrid: Taurus, 2006);
John Elliott, El Atlántico español y el Atlántico luso. Divergencias y convergencias
(Las Palmas de Gran Canaria: Cabildo de Gran Canaria, 2014); S. Subrahman-
yam, Impérios em concorrência. Histórias conectadas nos séculos xvi e xvii (Lisboa:
Imprensa de Ciências Sociais, 2012); Pedro Cardim y José Luis Palos, El mundo
de los virreyes en las monarquías de España y Portugal (Madrid: Iberoamericana –
Vervuert, 2012).
3
  António Manuel Hespanha, «The Legal Patchwork of Empires», Rechtsgeschi-
chte – Legal History, n.º 22 (2014): 303-314.
4
  António Manuel Hespanha, As Vésperas do Leviathan. Instituições e poder polí-
tico – Portugal, século xvii (Coimbra: Almedina, 1994); Bartolomé Clavero, Tantas
personas como estados. Por uma antropologia política da história europea (Madrid:
Tecnos, 1986).
5
  João Fragoso, Maria Fernanda Bicalho y Maria de Fátima Gouvêa, orgs.,
Antigo Regime nos trópicos: a dinâmica imperial portuguesa (séculos xvi-xviii)
(Rio de Janeiro: Civ. Brasileira, 2001); Óscar Mazín Gómez y José Javier Ruiz
Ibáñez, eds., Las Indias Occidentales. Procesos de incorporación territorial a las
Monarquías Ibéricas (México, El Colegio de México, 2012); Pedro Cardim et
al., eds., Polycentric Monarchies: How did Early Modern Spain and P ­ ortugal

352

Monárquias Ibéricas.indb 352 13/12/18 14:56


Justicia y letrados en la América Ibérica

de atención pasó a centrarse en las relaciones entre el centro polí-


tico y sus territorios ultramarinos y en las relaciones entre los dife-
rentes espacios que constituían los dominios más allá de los mares.
Asimismo, en otra línea de análisis, redes mercantiles fueron iden-
tificadas a partir de la creación de feitorias capaces de mantener y
coordinar tales redes a lo largo y ancho de los imperios.6 Otros
estudios han puesto de manifiesto cómo una singular coexistencia
de centralización administrativa con un amplio margen de autono-
mía para los oficiales reales caracterizaba la gestión de los territorios
ultramarinos ibéricos.7 Así, propuestas en torno a la idea de la exis-
tencia tanto de una constelación de poderes como de un acentuado
casuismo jurídico se han ido aplicando al análisis de la gestión de los
espacios ibéricos de ultramar. El concepto de redes ha sido aplicado
más recientemente a la propia administración política de los terri-
torios, especialmente en la identificación de redes clientelares que
promovieron el nombramiento de individuos para lugares clave de la
administración ultramarina.8 De hecho, algunas de las investigacio-
nes más recientes e innovadoras se han desarrollado en torno a las
redes de comunicación política entre el centro y la administración
ultramarina.9
En los últimos años, asimismo, se han venido produciendo dife-
rentes iniciativas para el desarrollo de investigaciones conjuntas
entre investigadores de Portugal, España, México, Argentina, Italia,
Francia y Brasil, los cuales, superando clásicos enfoques nacionales,
han contribuido a alcanzar una visión más amplia e integrada de las
monarquías ibéricas en la Edad Moderna; en esta línea se inscribe el
proyecto de investigación que dio lugar al presente libro.

Achieve and Maintain a Global Hegemony? (Eastbourne: Sussex Academic


Press, 2012).
6
  Vitorino M. Godinho, Os Descobrimentos e a Economia Mundial, 4 vols. (Lis-
boa: Presença, 1981-1983); Margarita Suárez, Desafíos transatlánticos: mercaderes,
banqueros y el estado en el Perú virreinal, 1600-1700 (Lima: Pontificia Universidad
Católica del Perú – Instituto Riva-Agüero, 2001).
7
  Charles R. Boxer, The Portuguese Seaborne Empire: 1415-1825 (Nueva York:
Knopf, 1969).
8
  João Fragoso y Maria de Fátima Gouvêa, orgs., Na trama das redes: política e
negócio no império português, séculos xvi-xviii (Rio de Janeiro: Civ. Brasileira, 2010).
9
  João Fragoso y Nuno Gonçalo Monteiro, orgs, Um reino e suas repúblicas no
Atlântico: comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola nos séculos xvii e xviii
(Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017).

353

Monárquias Ibéricas.indb 353 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Por último, la reflexión sobre los procesos de reproducción de


órdenes simbólicas fuera de su territorio de origen – un proceso
en el que están implicados tanto los actores, como los artefactos e
ideas – se ha desarrollado entre algunos historiadores del derecho.
Para comprender tales procesos resulta necesario observar y analizar
la circulación y reproducción de ideas, trasferencias y traducciones;
a este respecto, el diálogo entre las ciencias jurídicas y la historia en
un ámbito más amplio de las ciencias sociales y de los estudios cultu-
rales ha sido especialmente fructífero.10 El presente texto se inscribe
en algunas de estas líneas de reflexión.
Tras presentar una visión de conjunto de la organización del sis-
tema judicial implantado por España y Portugal en los territorios
nuevamente incorporados, el foco de atención de las siguientes
páginas se centrará en la magistratura letrada portuguesa y espa-
ñola en la Edad Moderna, analizando tanto las vías de acceso a la
judicatura como sus mecanismos de promoción y, especialmente,
los itinerarios y la intensidad de su circulación por los diversos
espacios ultramarinos que componían sus respectivas coronas.11 El
interés que presenta este fenómeno viene dado por el hecho de que
en la revisión que se está llevando a cabo sobre la naturaleza de las
monarquías ibéricas, sobre sus mecanismos de integración y de per-
vivencia, se ha planteado la consideración de que el vasto conglo-
merado de territorios que las integraban pudo mantenerse unido
durante siglos en buena medida gracias a la circulación de un contin-
gente de personas, objetos e ideas que, al desplazarse de un punto a

10
  Symposium «La formación de espacios jurídicos iberoamericanos», en XVII
International Congress of Ahila (Berlin, septiembre 2014).
11
  Las reflexiones que presentaremos a continuación proceden del estudio rea-
lizado en torno a los 4513 individuos que componen la magistratura letrada por-
tuguesa entre 1620-1800 y, del seguimiento de las carreras administrativas de 86
letrados como fiscales, oidores o presidentes en el virreinato peruano entre 1598 y
1700, muestra que supone un tercio del total de magistrados (277) que ejercieron
en las audiencias de Santa Fe, Quito, Chacas y Lima: Nuno Camarinhas, Juízes e
administração da justiça no Antigo Regime. Portugal e o império colonial, séculos xvii-
-xviii (Lisboa: Gulbenkian/FCT, 2010); Nuno Camarinhas, «Justice administration
in early modern Portugal: Kingdom and empire in a bureaucratic continuum», Por-
tuguese Journal of Social Sciences, vol. 12, n.º 2 (2013): 179-193; Pilar Ponce Leiva,
«La argamasa que une los reinos: gestión e integración de las Indias en la Monar-
quía Hispánica, siglo xvii», Anuario de Estudios Americanos, 74, 2 (Sevilla julio­-
-diciembre, 2017) 461-490.

354

Monárquias Ibéricas.indb 354 13/12/18 14:56


Justicia y letrados en la América Ibérica

otro de los ­imperios, dieron cohesión y solidez a una construcción


que en diversos momentos y por diferentes factores podría haberse
disgregado en múltiples unidades.12 Una parte esencial de ese con-
glomerado fueron los agentes de la administración – civil y ecle-
siástica –, como gestores de la negociación o el conflicto sobre los
que se asentaba el ejercicio del gobierno. Junto a los agentes, viajan
libros y papeles (procesos y memoriales), que también contribuyen
al establecimiento de redes que no fueron sólo personales, sino tam-
bién de comunicación.

Organización del sistema judicial implantado


por España y Portugal
Derecho indiano y Derecho europeo

El sistema judicial implantado en la América Hispana desde


finales del siglo xv, tanto desde el punto de vista normativo como
administrativo, procedió fundamentalmente del derecho castellano
a través de un «proceso de replicación».13 Al cuerpo central de nor-
mas vigentes en Castilla14 se unió una abundante legislación dictada
específicamente para Indias, posteriormente recogida en la Recopila-
ción de Leyes de Indias publicada en 1680. Hubo, por lo tanto, una
legislación indiana que no se aplicaba en Castilla y, una legislación
castellana que no se aplicaba en Indias (ya que en 1614 se declaró que
las nuevas leyes que se dictasen para Castilla solo regirán en Indias
cuando expresamente así se ordenase). A través del derecho caste-
llano llegaron a América, asimismo, concepciones e instituciones
jurídicas de origen no español, pero asimiladas por el derecho cas-
tellano: el ius commune formado en la Baja Edad Media, el Derecho

12
  Mazín Gómez y Ruiz Ibáñez, Las Indias Occidentales…, 10.
13
 Carlos Garriga, «Patrias criollas, plazas militares: Sobre la América de
­Carlos  IV», Horizontes y convergencias, 2009 (disponible en línea: http://horizon-
tesyc.com.ar/?p=3551).
14
  Nueva Recopilación de las Leyes de Castilla, de 1567 (que incluye las Leyes
de Toro); las Ordenanzas Reales de Castilla u Ordenamiento de Montalvo, de 1484;
el Ordenamiento de Alcalá, de 1348, y el Código de las Siete Partidas, elaborado a
mediados del siglo xiii y promulagado en 1348. Véase Antonio Dougnac Rodríguez,
Manual de Historia del Derecho Indiano (Mexico: UNAM, 1994), 16.

355

Monárquias Ibéricas.indb 355 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

natural tal y como lo concibe Santo Tomás de Aquino y desarrollan


los teólogos españoles y, el derecho canónico.15
La idea clave sostenida en múltiples informes y memoriales lle-
gados al Consejo de Indias, especialmente durante la primera mitad
del siglo xvi, fue que la realidad americana resultaba difícilmente
compatible con unas normas legales rígidas y, además, pensadas
para contextos y medios geográficos muy diferentes a los indianos.
Resultaba imprescindible para el buen gobierno, por lo tanto, esti-
mar por encima de todo las circunstancias (de persona, tiempo y
lugar) que rodeaban al caso. Desde tal perspectiva, el casuismo – tan
denostado por la concepción sistemática del Derecho –, no equivalía
a caos, sino a la adaptabilidad y el pragmatismo que las nuevas oca-
siones requerían: de ahí que se convirtiera en un elemento propio de
la legislación indiana dictada en la Península.16
Unida a la Monarquía Hispánica como consecuencia de la crisis
de sucesión de 1580, la Corona portuguesa mantuvo su autonomía
en la administración tanto del reino de Portugal como de sus territo-
rios ultramarinos.17 Ese gobierno recibió una importante influencia
reformadora de los Austrias pero, en términos generales, se mantuvo
su especificidad. Tal especificidad es visible en el hecho de que en sus
dominios ultramarinos, especialmente en Brasil, rigió el mismo dere-
cho que en el reino de Portugal, o sea, la legislación compilada en
las Ordenações. La única excepción sería la India, donde D. Manuel
I promulgó en 1520 unas Ordenações da Índia.18 Solo a partir de
comienzos del siglo xviii territorios como Brasil conocerán el desa-
rrollo de una política administrativa más estructurada. Incluso en ese
momento, la legislación de base fue la contenida en las Ordenações

15
  Alfonso García Gallo, «El pluralismo jurídico en la América Española, 1492-
-1824», en Los orígenes españoles de las instituciones americanas. Estudios de Derecho
Indiano (Madrid: Real Academia de Jurisprudencia y Legislación, 1987), 303.
16
  Víctor Tau Anzoátegui, Casuismo y sistema. Indagación histórica sobre el espí-
ritu del Derecho Indiano (Buenos Aires: Instituto de Investigaciones de Historia del
Derecho, 1992), 33.
17
  Cuando en la historiografía portuguesa se habla de «reino» (con o sin el ape-
lativo de Portugal), se da por sentado que se trata de la parte de Portugal correspon-
diente a la península ibérica. En la historiografía española e hispanoamericana, sin
embargo, cuando se habla de España se alude al territorio de la Monarquía ­Hispánica
que corresponde a la península ibérica. El «reino» en la historiografía portuguesa
corresponde a la «Península» en la historiografía americanista.
18
  Ordenações da India (s. l., s. n., despues del 8 de septiembre de 1520).

356

Monárquias Ibéricas.indb 356 13/12/18 14:56


Justicia y letrados en la América Ibérica

del reino que, en algunos aspectos, sobrevivieron a la independencia


de Brasil en 1822.
El conjunto normativo de la América hispana procedente de la
Península se completó con las disposiciones dictadas por las autorida-
des gubernativas y judiciales radicadas en la América Hispana, tanto
en relación al gobierno temporal como en el eclesiástico. Estas dispo-
siciones – que debían ser confirmadas por la Corona pero teniendo
hasta entonces aplicación inmediata – se materializaron a través de
a) las reales provisiones dictadas por los virreyes, b) los bandos, orde-
nanzas y autos (o decretos) emitidas por virreyes y gobernadores,
c) las Reales provisiones y Autos Acordados de las Audiencias y d) las
Ordenanzas de los Cabildos. El gobierno eclesiástico se reguló a tra-
vés de los cánones conciliares y sínodos.19 La costumbre como fuente
de derecho fue asimismo de general aplicación, tanto en la república de
los españoles como en la república de los indios.
Del mismo modo, en la América portuguesa la legislación reco-
gida en las Ordenações sería completada por las disposiciones dictadas
primero desde el Gobierno General y después por las capitanías gene-
rales, siempre bajo la supervisión de la Corona a través del C ­ onsejo
Ultramarino. Las consultas hechas a este Consejo, los decretos regios
de ellas resultantes y, los asientos de los tribunales de Relação estable-
cidos en Brasil fueron paulatinamente procediendo a la adaptación y
actualización de la normativa dictada. Además de estas instituciones,
otras instancias de naturaleza municipal – como las câmaras, equiva-
lentes a los cabildos hispanos –, o eclesiástica – como las misiones –
fueron determinantes en la administración de la vida cotidiana de las
poblaciones europeas e indígenas en la América portuguesa.

Proceso histórico en la implantación del sistema judicial

En el ámbito hispano

Pese a los vaivenes en las decisiones tomadas, a las ordenes seguidas


de contraordenes y a la inestabilidad y descontrol que caracterizaron
el periodo comprendido entre 1492 y 1535 en la América hispana,
se fue estableciendo entonces un detallado conjunto de ­normas para

19
  Dougnac, Manual de Historia…, 255-259.

357

Monárquias Ibéricas.indb 357 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

regular las tierras recién incorporadas a la Corona de Castilla, lo cual


no significa que tal conjunto se implantase de una vez.
En 1511 se creó la primera Audiencia de las Indias, en Santo
Domingo, por expresa petición de los vecinos de La Española, por
los «muchos gastos y expensas que los vecinos y moradores y estan-
tes en las dichas Indias han hecho hasta aquí en venir en grado de
apelación por cualquier cantidad que fuere, y los que harían si no
se remediase».20 El tribunal se implantó, por lo tanto, a petición de
los vecinos y para cubrir sus necesidades. Más que parecerse a las
Audiencias y Chancillerías de Valladolid y Granada, hasta 1526 este
tribunal fue equiparable a las audiencias regionales de la Península
(Galicia, Sevilla, Canarias); su creación – como la de Galicia – estuvo
determinada por coyunturas políticas, y no había diferencia entre
los jueces de lo criminal y lo civil (a diferencia de las Audiencias de
Valladolid y Granada donde la competencia civil estaba en los oidores
y la criminal en los alcaldes de corte).21 A partir de 1526, cuando la
Audiencia de Santo Domingo se convirtió en Chancillería (es decir,
cuando recibió el sello real), representó a la persona del monarca y
tuvo facultad para dictar provisiones, produciéndose un conflictivo
solapamiento de competencias de justicia y gobierno que iría poste-
riormente resolviéndose.
El periodo de gobernaciones capituladas con particulares (1520-
-1540) dio lugar a un mosaico de circunscripciones – vagas y contra-
dictorias – en las cuales los titulares de las capitulaciones tenían las
atribuciones de gobernador, capitán general, adelantados y alguacil
mayor, rigiéndose por las normas dictadas en Castilla en 1500 para
los corregidores. Hasta 1535 o 1540 el gobierno y la justicia fueron
ejercidos por diferentes vías; a través del virrey (Colón padre e hijo)
al que se le fueron cercenando atribuciones, a través de gobernado-
res (capitulaciones) y a través de audiencias con competencias de
gobierno (bien por delegación real, bien por ausencia de los titulares
del gobierno – Colón y Cortés). A partir de entonces (1535-1540)
el sistema de justicia y gobierno se estructuró en torno a virreyes,
audiencias-gobernadoras, gobernadores, alcaldes mayores y corregi-
dores, sistema que se trasladará a Filipinas en 1564, quedando juris-
diccionalmente incluida en el virreinato de Nueva España.

20
  Dougnac, Manual de Historia…, 549.
21
  Dougnac, Manual de Historia…, 549.

358

Monárquias Ibéricas.indb 358 13/12/18 14:56


Justicia y letrados en la América Ibérica

Una vez concluido el ciclo de conquista de los territorios más den-


samente poblados de la América hispana (c. 1535), el sistema judicial
quedó organizado en doce provincias mayores, formada cada una por
el distrito de una audiencia. Las Leyes Nuevas de 1542 tuvieron una
destacada función en la implantación del modelo judicial castellano
en las Indias. Hasta entonces, a pesar de que recibieran el sello real (si
bien es cierto que con algunas restricciones de uso), las audiencias que
se habían ido creando no tenían, en rigor, la condición de tribunales
supremos, que sólo obtuvieron cuando en ese año quedaron jurisdic-
cionalmente equiparadas a las Chancillerías castellanas.22 Las audien-
cias – tribunales superiores de justicia compuestos por un número
variable de jueces profesionales (presidente, oidores y fiscal) y diver-
sos agentes de menor categoría-, coexistían con jueces de primera o
segunda instancia – como alcaldes ordinarios, corregidores, alcaldes
mayores y gobernadores –, en su mayoría no letrados.
En el proceso histórico de implantación de audiencias en la
­América hispana llaman la atención dos fenómenos aparentemente
contradictorios: por un lado la rápida implantación de tribunales de
justicia – casi todos ellos instaurados en el siglo xvi – y, en muchos,
la persistencia de grandes territorios sin autoridad judicial propia:
tales serían los casos de Buenos Aires, cuya audiencia solo funcionó
entre 1661 y 1673 pasando el territorio a la jurisdicción de Charcas
hasta 1783; Cuzco dependiente asimismo de Charcas hasta 1787; y
­Caracas que no tuvo audiencia hasta 1768. Cuba, uno de los primeros
territorios en ser colonizados, no tuvo audiencia propia hasta 1831.

En el ámbito portugués

Pocas décadas después del poblamiento de las Azores (1439) y


Madeira (c. 1425), los donatarios de esos territorios reciben a los pri-
meros juízes em correição (jueces de comisión). Estos ­nombramientos

  Guillermo Céspedes del Castillo, «La organización institucional», en His-


22

toria general de América Latina, vol. 3, tomo 1, Consolidación del orden colonial,
eds. Castillero y Kuethe (Valladolid – París: Trotta – Ediciones UNESCO, 2000),
33; Carlos Garriga, «Las Audiencias: la justicia y el gobierno de las Indias», en El
gobierno de un mundo. Virreinatos y Audiencias en la America Hispana, coord. F.
Barrios Pintado (Cuenca: Universidad de Castilla – La Mancha / Fundación Rafael
del Pino, 2004), 739.

359

Monárquias Ibéricas.indb 359 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

no tuvieron, inicialmente, carácter regular y no se inscriben en una


estructura administrativa establecida en virtud de la ausencia de un
verdadero aparato judicial sobre el terreno. En las donatarias de los
archipiélagos atlánticos, la Corona confirió privilegios de carácter
económico, judicial y fiscal al donatario, reservándose un conjunto
de derechos inalienables relacionados con la propia naturaleza del
poder real, tales como los asuntos de guerra y paz, la jurisdicción
en crímenes más graves y la acuñación de moneda. Competía a los
donatarios administrar la justicia en sus territorios, quedando reser-
vada a los jueces letrados enviados por la Corona funciones esencial-
mente de fiscalización y control. Un segundo foco en la expansión
de la justicia letrada tendrá lugar, casi simultáneamente, en la India y
Brasil, con la figura de las ouvidorias-gerais (equivalente a los corre-
gimientos o alcaldías mayores hispanos) establecidas en la década de
1540. En la India, la intención fue crear un tribunal da relação (equi-
valente a la audiencia hispana), que sería el primero implantado fuera
del territorio peninsular.23 En realidad, la primera configuración del
­Tribunal da Relação de Goa giraba en torno a la figura de un Ouvidor-
Geral, auxiliado por dos letrados y por el chanceler. El primer juez
letrado enviado por la Corona a Brasil llegó en 1549, con el estable-
cimiento del Gobierno General de Tomé de Sousa. En esta primera
fase, cuando el tejido administrativo local aun estaba delegado en las
autoridades donatarias casi en su totalidad, estos ministros letrados
tenían una intervención muy puntual, enfocada a la resolución de los
casos más graves de desvío en relación a las normas vigentes.
Con la dinastía de los Austrias en 1580, se introduce un con-
junto de reformas en el aparato judicial portugués; por un lado se
intenta dar respuesta a las peticiones continuamente presentadas en
las ­Cortes de Portugal por amplios sectores de población del reino y,
por otro aumentar la eficiencia y racionalidad de la administración de
justicia. Tal objetivo se verifica sin duda en el reino, donde se crea la
Relação de Oporto y es reformada la Casa da Suplicação. En Brasil,
se crea una Relação en Bahía en 1609, y en la India la Relação de Goa

23
  «Primeiro Regimento, que trouxerão a estas partes da India os Doutores
Francisco Toscano, chanceller e Provedor mór dos defuntos, e Simão Martins,
Ouvidor Geral e Juiz dos feitos del-Rei, pelo qual se ordenou a Relação que ora
nellas ha», en Archivo Portuguez-Oriental, ed. Joaquim Heliodoro da Cunha Rivara,
fasc. V, parte I (Nova Goa: Imprensa Nacional, 1865), 177-182.

360

Monárquias Ibéricas.indb 360 13/12/18 14:56


Justicia y letrados en la América Ibérica

recibe una nueva normativa en 1581. Entre 1610 y 1620 se extiende


la presencia de jueces letrados a dos puntos de la costa occidental
africana: Angola, que pasa a tener un ouvidor a partir de 1609, y
Santo Tomé, igualmente con un ouvidor en 1610 y nueva normativa
en 1613.
A fines de la década de 1620 arranca un proceso de creación
de ouvidores en diferentes capitanías de Brasil. Río de Janeiro y
­Maranhão son los primeros lugares en recibir a estos magistrados, en
1619, mientras que Bahía ya tenía un Ouvidor-Geral. La jurisdicción
de estos ouvidores era semejante a la de sus congéneres de África.24
Hasta mediados del siglo xvii, la trama de ouvidores se fue expan-
diendo por zonas muy diversas de los dominios portugueses: Malaca
(1630), Macao (1642), Mozambique (1648), en la esfera de influen-
cia del Estado da Índia, y Mazagão (1657) en el norte de África.
Al mismo tiempo, en la América portuguesa se implantan nuevas
ouvidorias: Bahía (1630), Pernambuco (1646) y Pará (1653). Este
movimiento muchas veces acompaña – y en muchos casos hasta pre-
cede – al proceso de transformación de las capitanías hereditarias en
capitanías reales, a través de su revisión o de su adquisición por la
Corona. De esta forma los territorios que habían sido concedidos a
los donatarios para promover su poblamiento y explotación, regre-
saron a la Corona, que pasó a nombrar sus oficiales por periodos de
tres años. Los jueces letrados fueron formando parte de esas instan-
cias enviadas desde el centro para participar en el gobierno de los
puntos más dinámicos de su ultramar.
Paralelamente a la creación de jurisdicciones letradas ultramarinas
se produce, en la primera mitad del siglo xvii, la creación de las pri-
meras plazas de juiz de fora en ultramar, aunque Brasil no comenzó
a recibirlos hasta comienzos del siglo xviii. Inicialmente surgieron
en los principales centros urbanos (Bahía en 1696, Olinda en 1700 y
Río de Janeiro en 1701), y a partir de 1720 se extendieron a las regio-
nes que adquirieron dinamismo a partir de la minería y su trasporte:
Santos (1713), Itu (1726), Ribeirão do Carmo/Mariana (1731). Esta

24
  «Regimento do Ouvidor do Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Vicente» de
5 de Junio de 1619, en Collecção Chronologica da Legislação Portugueza, vol. II, ed.
José Justino de Andrade e Silva (Lisboa: Imprensa de J. J. A. e Silva, 1854-1859), 382
y ss.; «Regimento do Ouvidor do Maranhão» de 7 de noviembre de 1619, en Silva,
Collecção Chronológica…, 387 y ss.

361

Monárquias Ibéricas.indb 361 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

expansión se integra en una acelerada creación de lugares letrados en


Brasil, sobre todo a través de nuevas ouvidorias, que a mediados del
siglo xviii se extienden ya por todo Brasil.
Durante más de un siglo, a pesar de un período de abolición de
la Relação da Bahia (1626-1652), toda la América portuguesa estuvo
bajo la jurisdicción de un solo tribunal, desde donde fueron envia-
dos varios magistrados a África en diferentes comisiones a lo largo del
siglo xvii, lo que demuestra los lazos que unieron a ambas regiones
bajo el dominio portugués.25 A partir de 1730 comenzaron a levantarse
voces que reclamaban la creación de un segundo tribunal da relação
en Brasil, que finalmente fue establecido en 1751, en Río de Janeiro.26

Jerarquía de las instancias judiciales

Tanto en la España peninsular como en la América hispana las


audiencias fueron los tribunales supremos dentro de su jurisdicción;
entendían en causas civiles y criminales, en primera instancia en
casos de corte y en grado de apelación en las sentencias dictadas por
gobernadores, alcaldes mayores, corregidores y alcaldes ordinarios.
Solo en casos excepcionales y en recursos de fuerza (casos eclesiás-
ticos) se podía apelar ante el Consejo de Indias. Entre las múltiples
atribuciones de las audiencias27 se encontraba la de sentenciar los jui-
cios de residencia de los oficiales nombrados por los virreyes (no así
en los nombrados por el rey).

25
  Stuart B. Schwartz, Burocracia e sociedade no Brasil colonial (São Paulo: Edi-
tora Perspectiva, 1979), 203. El autor cita el caso de Antonio Rodrigues Banha,
enviado a Luanda para tomar la residencia del gobernador cesante de Angola, en
1684.
26
  «Regimento da Relação do Rio de Janeiro» de 13 de octubre de 1751, en
Collecção da Legislação Portugueza desde a última Compilação das Ordenações.
vol. I (legislação 1750-1762), ed. António Delgado da Silva (Lisboa: Typografia
­Maigrense, 1830), 102-119. El preambulo del regimiento refiere la respuesta a la
propuesta de 1733 y a la oferta hecha por los municipios del Sur para cubrir los gas-
tos del nuevo «tribunal de relação». Pero el rey entendió que la Corona debía pagar
la creación del tribunal y los salarios de sus magistrados («fazendo-se por conta de
Minha Fazenda, e das despezas da dita Relação, as que forem necessarias para a sua
creação, e estabelecimento»).
27
  Recopilación de Leyes de Indias [en adelante RLI], lib. 2, tits. 15, 17, 19; Juan
Solórzano Pereira, Política Indiana, lib. 5.º (Madrid: Diego Díaz de la Carrera,
1648).

362

Monárquias Ibéricas.indb 362 13/12/18 14:56


Justicia y letrados en la América Ibérica

Solo los miembros de las audiencias (los agentes con más alto
nivel de profesionalización de la administración indiana) y eventual-
mente los alcaldes mayores eran letrados, por lo que tanto los ade-
lantados, gobernadores y corregidores, como los alcaldes ordinarios
solían actuar bajo el asesoramiento de un letrado. Como en todo
procedimiento judicial, los pleiteantes debían agotar las instancias
inferiores antes de apelar a las audiencias, por lo que las gobernacio-
nes y alcaldías mayores se configuraron como instancias interme-
dias entre los jueces ordinarios y el alto tribunal.28 Los corregidores,
como justicias mayor en su distrito y jueces de primera o segunda
instancia en asuntos civiles y criminales, entendían en las causas que
implicaban tanto a indígenas entre sí, como a indígenas con otros
colectivos étnicos. El hecho de que los corregidores presidieran los
cabildos en las principales ciudades llevó a que acabaran asumiendo
las competencias de justicia de los alcaldes ordinarios elegidos por
el vecindario, quienes no tenían jurisdicción en causas criminales, ni
facultad para imponer penas de muerte o destierro.29
Según el sistema judicial expuesto, en conclusión, cualquier pleito
podía verse cuando menos en tres instancias: primera, vista (ape-
lación) y revista (suplicación) en las audiencias, pero podía haber
alguna más antes de llegar a las mismas, ya que el pleiteante podía
apelar del corregidor ante la audiencia y del alcalde ordinario ante el
alcalde mayor o gobernador.30
En la América portuguesa la estructura jurisdiccional no difiere
mayormente de la existente en la América hispana. Como jurisdic-
ciones supremas se encuentran los tribunales de Relação de Bahía y,
mas tarde, de Río de Janeiro. Reproduciendo el modelo de la Casa
da Suplicação y su adaptación ultramarina que era la Relação de Goa,
los tribunales estaban compuestos por jueces letrados o desembarga-
dores (equivalente a los oidores hispanos). Al contrario de los jueces
de las instancias inferiores, estos jueces lo eran permanentemente y
gozaban de una serie de privilegios acordes con su grado. La implan-
tación de tales tribunales se justificó por la necesidad de administrar
justicia en Brasil con igualdad a todos los vecinos, y para liberarles de

  RLI, lib. 5, tit.12; Garriga, «Las Audiencias…», 767.


28

 Dougnac, Manual de Historia..., 135 y 179; Pedro Pérez Herrero, La América


29

Colonial (1492‑1763). Política y Sociedad (Madrid: Síntesis, 2002), 176 y 767.


30
  Garriga, «Las Audiencias…», 768.

363

Monárquias Ibéricas.indb 363 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

tener que padecer los peligros de la travesía del ­Atlántico para recurrir
las sentencias de los magistrados locales ante la Casa da Suplicação.31
Esta medida correspondia, segun el Regimento da Relação do Brasil
de 1652, a las peticiones formuladas por los oficiales del municipio
de Bahía, por los habitantes del Estado de Brasil y por su Governador
geral, el conde de Castelo Melhor. A las relações cabia juzgar en última
instancia los procesos procedentes de las jurisdicciones inferiores,
entender las apelaciones de causas criminales e intervenir en las causas
competentes a los derechos y hacienda real. Existía asimismo un pro-
veedor de difuntos (Depositario de bienes de difuntos en la América
hispana), que tenía la tutela de los asuntos relativos a los intereses de
las personas desprovistas de capacidad de administrarlos, como huér-
fanos, cautivos, ausentes o personas colectivas, por ejemplo.
Por debajo de las relações, y funcionando como jurisdicciones de
nivel local, se encuentran los ouvidores y, en algunos territorios, los
juízes de fora. A semejanza de los desembargadores, eran jueces letrados
de carrera, de nominación regia por consulta del Consejo Ultramarino.
En términos generales, las ouvidorias correspondían a las jurisdicciones
territoriales de las capitanias. El referente continental de los ouvidores
eran los corregidores y sus normativas fijadas en las Ordenações. Sus
funciones eran esencialmente de inspección administrativa y judicial y
tienen, asimismo, capacidad de juzgar en segunda instancia los casos
de los jueces ordinarios, no letrados. Los juízes de fora, por su parte,
correspondían a las justicias locales de nivel municipal y reproducían
igualmente la instititución continental. Tenían jurisdicción de primera
instancia tanto civil como criminal y a sus funciones judiciales se aña-
dían algunas administrativas, una vez que participaban del gobierno
municipal, teniendo asiento en la mesa da vereação (sala de cabildo).

Principio de promoción y circulación


de los magistrados
Con objeto de calibrar el grado de circulación de los agentes de
justicia por sus respectivos ámbitos de ejercicio, así como la intensi-
dad de tal circulación y las características de los destinos alcanzados,

  Preámbulo del «Regimento da Relação do Brasil», en Silva, Collecção Chrono-


31

logica…, vol. VII (1648-1656), 100-106.

364

Monárquias Ibéricas.indb 364 13/12/18 14:56


Justicia y letrados en la América Ibérica

en las paginas siguientes se hará una análisis comparado del sistema


de promoción existente en la judicatura hispana y portuguesa, el
ascenso de los magistrados con experiencia ultramarina hasta los
más altos niveles de la administración y la participación de hispano
americanos y luso brasileños en el sistema judicial de sus respectivas
metrópolis. Será en algunos de estos aspectos donde las diferencias
entre los espacios ibéricos sean más evidentes.

Principio de promoción en la judicatura

En el mundo ibérico se produce una burocratización precoz en el


aparato de gobierno de las respectivas coronas. Desde mediados del
siglo xv existe un colectivo de agentes con criterios endógenos de
promoción – o mérito, si bien en una acepción fuertemente corpo-
rativa y autorreferencial – que permitía el establecimiento de lazos
profesiones y personales sobre los cuales se constituyó una esfera de
comunicación (jurídica, política y administrativa) fuerte, eficiente y
espacialmente extendida.
Los oficiales del servicio judicial podían servir, a lo largo de su
carrera, diversos oficios en diferentes lugares. Al mismo tiempo, por
seguirse teóricamente una lógica de constante promoción, con cada
nuevo nombramiento se esperaba que el agente fuese obteniendo
lugares de mayor importancia y de creciente ámbito jurisdiccional.
Esta progresión se traducía en una circulación por los oficios («luga-
res de letras») disponibles en los territorios donde estaba en vigen-
cia la administración de justicia letrada de la Corona, teóricamente
sin que existiera una frontera rígida entre la Península y los espacios
ultramarinos.
La posibilidad de acceso a los oficios en diferentes espacios geo-
gráficos tuvo ciertas limitaciones en los territorios ibéricos, por dife-
rentes motivos en el caso español y en el portugués. Como veremos
más adelante, el principio de promoción se vio severamente alterado
en la América Hispana por dos hechos fácilmente constatables: en
primer lugar, el que fuera la Cámara de Castilla la encargada de nom-
brar consejeros de Indias, privilegio que alcanzaron muy pocos de
los magistrados que habían ejercido en América, – quedando blo-
queado así el ascenso más alto-, en segundo lugar, la escasa parti-
cipación de letrados americanos en la judicatura hispana al no ser

365

Monárquias Ibéricas.indb 365 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

incluidos en las consultas elevadas por el Consejo de Indias al rey en


materia de nombramientos. En Portugal, el carácter abierto de la vía
de ascenso en la carrera judicial tuvo como contrapunto dos polos
bastante centralizados de formación y gestión del cuerpo de agen-
tes letrados: la Universidad de Coimbra, por un lado, y el tándem
­Desembargo do Paço/Conselho Ultramarino, por otro. Al contrario
que en la monarquía española, en el conjunto de los territorios por-
tugueses existía un monopolio absoluto por parte de la universidad
de Coimbra en la formación de los letrados que entraban al servicio
de la Corona. En un segundo momento, tras la admisión al servicio,
fue al Desembargo do Paço a quien competía el control del ejercicio y
de los nombramientos para las magistraturas judiciales, en conjunto
con el Conselho Ultramarino en lo tocante a los lugares de letras de
ultramar. De estas características resulta, en un primer análisis, un
cierto carácter monolítico del aparato judicial portugués. Esta obser-
vación, con todo, presenta algunos matices en lo que se refiere a la
estructura interna del aparato judicial, como veremos más adelante.
En todo caso, para lo que interesa en este esfuerzo comparativo con
la realidad hispánica, fácilmente se observa la importancia de la expe-
riencia ultramarina en las trayectorias de los magistrados portugue-
ses, cosa que no ocurre en el espacio hispánico.

Consejeros con experiencia americana

A pesar del énfasis puesto reiteradamente desde el Consejo de


Indias en la necesidad de que entre ellos se encontraran individuos
que hubieran servido en las audiencias americanas, un repaso a la
relación de consejeros de Indias pone de manifiesto que la partici-
pación de letrados con experiencia americana fue muy escasa a lo
largo del siglo xvii. De los 209 individuos que ejercieron como pre-
sidentes y consejeros de Indias a lo largo del siglo xvii, tan sólo 15
(7%) habían estado alguna vez en América y sólo 40 tenían expe-
riencia en asuntos indianos por haber sido previamente fiscales. Si el
­Consejo de Indias era favorable a la promoción de magistrados pro-
cedentes de América, ¿quién se oponía?, ¿cómo se explica su escasa
incorporación al Consejo? La clave de esa aparente contradicción
podría encontrarse en la intensa – y recurrente – polémica mantenida
al respecto entre la Cámara de Indias y la Cámara de Castilla, a quien

366

Monárquias Ibéricas.indb 366 13/12/18 14:56


Justicia y letrados en la América Ibérica

competía proponer al rey el nombre de los candidatos a consejeros


de Indias.
Los argumentos empleados por la Cámara de Castilla para opo-
nerse al nombramiento de letrados con experiencia americana para
ocupar puestos de consejeros fueron recogidos en una consulta
elevada al rey en 1652, en la que se hace constar que «tiene graves
inconvenientes el abrir la puerta a las consecuencias de traer plazas
de los tribunales de esta corte a los que sirven en las audiencias de las
Indias (...) mayormente cuando hay en [las chancillerías de la Penín-
sula] sujetos muy aprobados y beneméritos de 5, 10, 12 y 14 años,
por no haber lugar de traerlos a la corte, a quien causaría sumo des-
consuelo verse pospuestos y que a estos en conciencia no se deben
anteponer los que sirvieren en las Indias, a donde tienen mayores
comodidades».32
Frente a esa reticencia de la Cámara de Castilla al regreso de los
magistrados destinados en América, la de Indias argumentó que:
«no se niega su razón a los que sirven a VM en estos reinos para ser
antepuestos en las plazas de la corte y otras competentes a que sue-
len salir, pero… tal vez se acuerde la Cámara de Castilla de los que
están sirviendo a VM en las Indias, pues no deben excluirse por eso
de sus esperanzas de volver a su naturaleza los que procedieren como
deben, sin echar raíces por allá, ni desconfiarse de esto otros premios
en partes tan remotas y ocasionadas donde si fuera posible se habían
de enviar los mejores sujetos, lo cual se conseguirá mucho menos juz-
gando que sólo pasan a morir fuera de sus patrias, casas y deudos».33
Como queda claro en este cruce de consultas, es la Cámara de Castilla
quien se oponía a trasladar de vuelta a la Península – y más concreta-
mente al Consejo de Indias – a los ministros destinados en América,
posiblemente para conservar para sí ese espacio de patrocinio, criterio
que el rey aceptó frente al defendido por los consejeros de Indias.
Del lado portugués, se observa cómo el servicio en América contri-
buía a la promoción y al progreso más rápido de sus agentes; de hecho,

32
  Archivo General de Indias (en adelante AGI), Quito, 2, 588 y ss., «Con-
sulta de la cámara sobre petición de Martín de Arriola de una plaza de consejero de
Indias», Madrid, 2 de septiembre de 1652.
33
 AGI, Quito, 2, 582, «Decreto a la cámara sobre petición de Martín de Arriola
de una plaza de consejero de Indias», Madrid, 10 de abril de 1652; AGI, Quito, 2,
591, «Decreto a la cámara sobre petición de Martín de Arriola de una plaza de con-
sejero de Indias», Madrid, 5 de septiembre de 1652.

367

Monárquias Ibéricas.indb 367 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

era un factor de gran importancia en el cursus honorum de los letrados.


De hecho, el paso por Brasil aumentaba las posibilidades de llegar a des-
embargador en la Relação de Oporto, el segundo tribunal del reino: el
30% de los jueces con servicio americano lo fueron. Lo mismo ocurre
con la Casa da Suplicação, que acogió un 21,4% de estos jueces.
La participación de individuos con experiencia americana en el
Conselho Ultramarino fue de un 57%. Por su parte, el Desembargo do
Paço, la cima de la pirámide judicial, reservaba sus asientos para otro
tipo de perfil: el de los grandes juristas con un capital social ­acumulado
a lo largo de más de una generación al servicio de la justicia regia.

Retorno de magistrados peninsulares de América


a la península ibérica

Una consulta del Consejo de Indias fechada en 1652 planteó


una cuestión bastante más amplia que la relativa a las plazas en el
Consejo de Indias, al extender el problema de la no promoción de
letrados con experiencia americana a ninguna de las audiencias de la
Península, no solo a los consejos de la corte. En la segunda mitad
del siglo xvii fue el propio consejo quien constató la escasa circula-
ción de magistrados entre ambas orillas de la Monarquía Hispánica
al decir «la experiencia ha mostrado han sido muy pocos los que han
vuelto a España». Por eso, en 1676 volvió a proponer que se adjudica-
sen dos plazas de oidores en las chancillerías de Valladolid y Granada
y otras dos en las audiencias de Sevilla y Galicia para que ascendieran
a ellas los oidores que estuvieran sirviendo en Lima y México («pues
los demás se supone tienen ascensos a ellas»), de manera que «tra-
yendo las experiencias y calificación que les daría su buen proceder y
habiendo servido estos mismos sujetos en las chancillerías y audien-
cias de Castilla serían muy a propósito para cualquiera de los conse-
jos y particularmente para el de Indias». La reina gobernadora aceptó
la propuesta, pero excluyendo las plazas en Galicia y en Sevilla «y a
esta última tendría inconveniente en proveerlos por las dependencias
que traerían de las Indias».34

 AGI, Indiferente General, 785, «Consulta proponiendo el medio para nom-


34

brar a los mejores sujetos en las plazas de las audiencias americanas», Madrid, 11 de
mayo de 1676.

368

Monárquias Ibéricas.indb 368 13/12/18 14:56


Justicia y letrados en la América Ibérica

De acuerdo con lo dispuesto en mayo de 1676, entre enero y


febrero de 1677 la Cámara de Indias propuso el nombramiento de
varios oidores de Lima y México como magistrados en las audien-
cias castellanas o como juez letrado de la Casa de Contratación,
pero a mediados de 1677 aún no se habían expedido los títulos
correspondientes, por lo que la Cámara de Indias volvió a soli-
citar que «VM. se sirva mandar a la cámara de Castilla, empiece
desde luego a poner en práctica la resolución», máxime teniendo
en cuenta la inminente partida de la flota y los galeones y convenía
que la noticia se difundiera lo antes posible por América, «pues
con esto se alentarán los ministros de Indias a proceder con mayor
desvelo en el cumplimiento de sus obligaciones».35 Queda así plan-
teada la estrecha relación existente entre la promoción efectiva de
los magistrados destinados en América y su recto proceder en el
cumplimiento de sus funciones.
Para comprobar si se cumplió, o no, ese principio de promoción
de magistrados con experiencia americana en las chancillerías o en
los consejos de la Península, a continuación se presentan los resul-
tados de un estudio realizado a partir del seguimiento de las carreras
administrativas de 86 letrados como fiscales, oidores o presidentes
en el virreinato peruano entre 1598 y 1700; la muestra constituye
un grupo representativo de magistrados con experiencia en el área
andina, ya que esos 86 individuos suponen un tercio del total de
magistrados (277) que ejercieron en las audiencias de Lima, Charcas,
Quito y Santa Fe.36
De los datos recopilados se desprende que la imagen de un
constante trasiego de agentes de un punto a otro de la ­Monarquía
Hispánica puede ser válida para los cargos de gobierno y­
­

35
 AGI, Indiferente General, 785, «Consulta sobre lo que conviene que la cámara
de Castilla empiece a poner en práctica la resolución de consultar una plaza en las
chancillerías castellanas para ministros indianos», Madrid, 27 de abril de 1677.
36
  La principal fuente de información han sido las consultas y decretos sobre
nombramientos en la Audiencia de Quito en AGI, Quito, 2-5, 102, 106. También
Javier Barrientos Grandón, Guía prosopográfica de la judicatura letrada indiana
(1503-1898) (Madrid: Fundación Histórica Tavera, 2000); Mark Burkholder y
Dewit S. Chandler, Biographical Dictionary of Audiencia Ministers in the Americas,
1687-1821 (Westpoint, Connecticut: Greenwood Press, 1982); Ernesto Schäfer, El
Consejo Real y Supremo de las Indias: su historia, organización y labor administrativa
hasta la terminación de la Casa de Austria (Valladolid – Madrid: Junta de Castilla y
León, Consejería de Educación y Cultura, Marcial Pons, 2003).

369

Monárquias Ibéricas.indb 369 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

militares,37 pero no lo es en absoluto en la judicatura. El seguimiento


preciso de las trayectorias profesionales de los 86 letrados conside-
rados permite constatar su escasa circulación intercontinental ya
que, como reiteradamente expone la documentación, los que iban
a ­América, no regresaban a la Península; de hecho, de los 57 penin-
sulares que llegaron a tomar posesión de su cargo en el área andina,
sabemos el lugar de fallecimiento de 43, de los cuales sólo cuatro
murieron en la España peninsular. Este fenómeno resulta parti­
cularmente interesante para establecer una comparación con el caso
del imperio portugués, donde efectivamente se produce una intensa
y fluida circulación de magistrados entre los diversos tribunales de
Portugal, África, América y Asia, como se verá a continuación.
Yendo un poco más allá, algunos casos que podrían presentarse
como evidencias de una amplia circulación de agentes a lo largo y
ancho de la Monarquía Hispánica comprobamos que, en realidad,
obedecían a dos situaciones un tanto irregulares. La primera era el
producto de una negociación entre el Consejo de Indias y el candi-
dato elegido para un determinado cargo, estableciéndose un com-
promiso por ambas partes: el letrado aceptaba un destino poco grato
(por ejemplo visitador en Filipinas) a cambio de ser recompensado
después con otro más amable (oidor en Guatemala).38 La segunda,
eran los conocidos traslados «en depósito», situación poco deseada
tanto por el Consejo como por los letrados, ya que era un claro
indicador de que el desplazado había tenido problemas en su ante-
rior destino. Cabe destacar, por otro lado, que los magistrados pro-
movidos desde América no necesariamente procedían de Lima o
México, como recomendaban las consultas del consejo y aprobó el
rey, sino que llegaron también desde Quito, La Plata, Guadalajara y
Guatemala.
Estrechando más aún el espacio contemplado, vemos que ni
siquiera se produce la supuesta circulación de agentes por la propia
América, como se ha deducido a partir de algunos casos de virre-
yes que pasaron de Nueva España a Perú. Hay, efectivamente, una

37
  Domingo Centenero de Arce, ¿Una monarquía de lazos débiles?: Veteranos,
militares y administradores 1580-1621 (Florencia: European University Institute,
2009).
38
  AGI, Quito, 2, 35, «Consulta sobre nombramiento de Jerónimo Ortiz de
Zapata como visitador de Filipinas», Madrid, 9 de octubre de 1630.

370

Monárquias Ibéricas.indb 370 13/12/18 14:56


Justicia y letrados en la América Ibérica

intensa circulación pero con una clara especialización regional, o


virreinal; en el caso de los presidentes, oidores y fiscales, al llegar a
Panamá o Santo Domingo siguieron normalmente un itinerario que
les llevó de Panamá a Santa Fe, de ahí a Quito, a Charcas y a Lima, sin
pasar al virreinato de Nueva España. De hecho, solo hemos encon-
trado siete casos de letrados que ejercieron en ambos virreinatos,
siendo la mayoría oidores que pasaron de Lima a México o viceversa,
pero no entre las demás audiencias. Esta diferencia, entre lo supuesto
y lo constatado, es un nuevo indicador de la distorsión que suele
provocar tomar como representativo del conjunto de América lo que
se produce tan solo en las capitales virreinales.
El irregular cumplimiento del principio de promoción tuvo nega-
tivas consecuencias en la gestión de América. La cadena de proble-
mas comenzaba con la dificultad de reclutar letrados para servir en
las audiencias americanas; dada la certeza de que «sólo pasan a morir
fuera de sus patrias, casas y deudos», los recién nombrados alega-
ban situaciones de la más diversa índole que les impedían ocupar la
plaza,39 hasta el punto de que en 1660 el gobernador del consejo de
Indias, José González Caballero, se vio en la obligación de recordar
que las órdenes del rey debían cumplirse, pues no eran opcionales.40
En este aspecto se encuentra una diferencia muy notable con el
caso portugués. Para evitar la falta de candidatos en el servicio ultra-
marino de justicia, en el momento de la admisión de nuevos letra-
dos, aquellos que, en las averiguaciones de genere llevadas a cabo por
el Desembargo do Paço, presentaban alguna falla en el perfil social
de su familia, podían ser extraordinariamente aprobados a cambio
de la firma de un compromiso para servir en ultramar en caso de
necesidad. La Corona constituía de esta forma una reserva de nom-
bramientos para los lugares ultramarinos, a la que no fue necesario
recurrir ya que siempre hubo candidatos suficientes, dada la fluidez
del sistema de promoción.
La dificultad en el reclutamiento observada en el caso hispano
produjo un desequilibrio entre lo deseable y lo posible en materia

39
  AGI, Quito, 3, 36, «Carta de Antonio Genil Santaelices a Ilmo. Sr. José Gon-
zález, gobernador del consejo de Indias, rechazando su nombramiento como presi-
dente de la Audiencia de Quito», Madrid, 24 de julio de 1660.
40
 AGI, Quito, 3, 30, «Consulta del gobernador del consejo de Indias, sobre las
dificultadas para cubrir la plaza de presidente de la Audiencia de Quito», Madrid, 28
de agosto de 1660.

371

Monárquias Ibéricas.indb 371 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

de nombramientos; en opinión del consejo, «no queriendo pasar a


las Indias los sujetos beneméritos es preciso que las plazas de las
audiencias vengan a recaer en otros de menos letras y grados que
no habiendo podido lograr su pretensión en estos reinos, la necesi-
dad les obliga a apetecer las plazas de Indias». Todo ello desembocó,
finalmente, en un incremento de las prácticas arbitrarias e irregulares
que subyacen en el llamado «mal gobierno»; en su consulta de 11 de
mayo de 1676 el consejo estimaba que las Indias, estaban «goberna-
das por ministros que no tienen las partes necesarias para administrar
justicia […] ocasionándose de esto y de la codicia de los ministros
tantos y tan graves daños […] Y es cierto que esto ha muchos años
que se padece en ellas y que el consejo lo tiene entendido y […] lo
ha procurado remediar […] No es bastante remedio el de las visitas
generales y particulares».41 Con claridad establecía el Consejo una
relación de causa-efecto entre lo que parecía ser un asunto mera-
mente administrativo – el sistema de promoción entre agentes desti-
nados en Indias – hasta llegar a un severo y recurrente problema que
debió afrontar la Monarquía Hispánica – como era la corrupción–.
El panorama observado en el imperio portugués en esta materia
es sustancialmente diferente. Por existir una continuidad entre los
lugares del reino y los de ultramar y, además, por premiarse el servi-
cio en el exterior con promociones mas rápidas, los destinos ultra-
marinos ocupan un lugar destacado en las carreras de los letrados a
lo largo del siglo xvii y más aún en el xviii. Con el aumento de plazas
creadas en Brasil, las oportunidades de profesión surgen esencial-
mente en ultramar y por eso será creciente el número de agentes con
experiencia americana; en términos cuantitativos, se pasará de una
media de 19% de magistrados con servicio ultramarino a lo largo del
siglo xvii hasta casi el doble (36%) en la primera mitad del siglo xviii.
Cuando se analiza con más detalle esa circulación de letrados se
observan patrones diferentes entre las distintas partes que componen
el ultramar portugués, especialmente en el caso de la India. Dada su
condición de virreinato y el peso simbólico de su tribunal da relação,
a lo que se añade la casi total ausencia de jurisdicciones inferiores
letradas, quien servía en Oriente ya no pasaba por otros puntos del

 AGI, Indiferente General, 785, «Consulta proponiendo el medio para nom-


41

brar a los mejores sujetos en las plazas de las audiencias americanas», Madrid, 11 de
mayo de 1676.

372

Monárquias Ibéricas.indb 372 13/12/18 14:56


Justicia y letrados en la América Ibérica

imperio: como el servicio realizado en la India era, por regla general,


como desembargador en la Relação de Goa, el paso siguiente en la
carrera conducía directamente al tribunal de la Casa da Suplicação
de Lisboa. Mientras tanto, en Brasil, en África o en los archipiélagos
atlánticos, la circulación y la interposición de destinos en el conti-
nente era más frecuente.
En una primera fase, principios del siglo xvii, comienzan a sur-
gir los primeros ejemplos, que después se convertirán en norma, de
jueces que después de servir en un lugar ultramarino, obtenían el
estatuto de desembargador en el reino o, por lo menos, el derecho
a pedir el acceso a los puestos periféricos más importantes – los lla-
mados lugares de primero banco. Otra realidad observada desde el
final del siglo xvii es la de magistrados que, obteniendo un puesto en
ultramar, incluso para jurisdicciones menores o intermedias, no vol-
vieron al reino ni continuaron la carrera judicial, dedicándose a otras
ocupaciones que no siempre quedan documentadas en las fuentes
oficiales.
Con la creación de jurisdicciones locales en Brasil y, más tarde,
con el establecimiento de dos tribunales de relação, en Bahía y Río de
Janeiro, las etapas ultramarinas, y sobre todo, americanas, comenza-
ron a ser más prolongadas. Fue cada vez más frecuente el ascenso al
estatuto de desembargador en ultramar y, por eso, el regreso a Europa
se hace, cada vez más, para servir en la Relação de Oporto y en la
Casa da Suplicação.

Participación de americanos en la judicatura

Es bien conocida la existencia de una larga tradición reivindica-


tiva de los americanos específicamente dedicada a su participación,
o mejor dicho a su exclusión, de la alta administración hispana. La
documentación al respecto es inequívoca en cuanto a la enorme
importancia conferida por los coetáneos al lugar de origen de aque-
llos que eran objeto de mercedes, fueran estas de cargos o de honores.
Entre 1620 y 1670 cabe situar el punto álgido de la polémica,
siendo entonces cuando la reivindicación de los cargos públicos para
los «españoles nacidos en India» se convierte en un asunto central
de la ensayística hispanoamericana. Un conjunto de textos estre-
chamente relacionados entre sí, cuyo objetivo esencial fue defender

373

Monárquias Ibéricas.indb 373 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

el derecho de prelación que los americanos debían tener sobre los


cargos y oficios de Indias, recurrió tanto a los fundamentos que jurí-
dicamente les amparaban, como a los méritos personales acumulados
por varias generaciones de españoles nacidos en las Indias.42 La cues-
tión nuclear planteada en estas obras guarda relación, en última ins-
tancia, con un debate mucho más amplio en torno a las formas de
incorporación, o agregación, de los diferentes reinos a la Monarquía
Hispánica y las consecuencias políticas que de ello se derivan. Lo que
se dirime, entre otras cosas, es la relevancia y la presencia que debía
tener en el gobierno de la monarquía la impronta americana.
Para aclarar de qué estamos hablando cuando nos referimos a
escasa participación de americanos en la alta administración de jus-
ticia, parece conveniente ofrecer algunos datos concretos. Frente a
los 15 consejeros que ejercieron en el siglo xvii habiendo pasado pre-
viamente por América – sobre un total de 209 –, la presencia en el
consejo de individuos nacidos y criados en América se reduce a dos
casos.43
El ejercicio de americanos en las audiencias indianas como fis-
cales, oidores o presidentes fue notablemente más alto que en el
Consejo de Indias, pero es necesario tener en cuenta una serie de
variables para comprender cómo y bajo qué condiciones se desarro-
lló su ingreso en los tribunales. Retomando el conjunto de los 86
letrados contemplados en este estudio, comprobamos que 57 fueron

42
  Sobre los principios mantenidos por estos autores y sus líneas de argumen-
tación existe una amplísima literatura. A título orientativo véase Bernard Lavalle,
Recherches sur l’apparition de la conscience créole dans la vice-royaute du Pérou:
­l’antagonisme hispano-créole dans les ordres religieux (XVI-XVII), 2 vols. (Burdeos:
Atelier National de Reproduction de Theses, Univ. de Lille III, 1982); Pilar Ponce
Leiva, «El poder del discurso o el discurso del poder: el criollismo quiteño en el
siglo  xvii», Procesos, 10 (1997): 3-20; Carlos Garriga, «El derecho de prelación: en
torno a la construcción jurídica de la identidad criolla», en XIII Congreso del Ins-
tituto Internacional de Historia del Derecho Indiano, coord. Luis E. González Vale
(San Juan de Puerto Rico: Asamblea Legislativa de Puerto Rico, 2003), 1085-1128.
43
 Francisco Guevara Altamirano: Puebla de los Ángeles, c. 1606 – España,
padre y madre mexicanos, formado en Salamanca, nombrado consejero en 1654.
Juan Jiménez de Montalvo y Saravia: Lima, c. 1621 – Madrid, 1685, hijo de oidor en
Lima y madre chilena, formado en Salamanca y nombrado consejero en 1679. No se
incluye en este cómputo a Diego González de Contreras, consejero de Indias en
1624, quien nació en Lima por ser su padre oidor allí, pero su vida transcurrió en
España, donde llegó a ser consejero de Castilla. Véase Barrientos Grandón, Guía
prosopográfica…

374

Monárquias Ibéricas.indb 374 13/12/18 14:56


Justicia y letrados en la América Ibérica

peninsulares y 25 americanos, quedando un resto de 4 de los cuales


no constan datos; la ya conocida mayoría de magistrados peninsu-
lares en las audiencias americanas queda, por lo tanto, claramente
constatada. La cronología de esa incorporación se inicia en la década
de 1640 y tiene su punto álgido entre 1670 y 1690, lo cual confirma
la lenta y en general tardía presencia de americanos en la judicatura,
a diferencia de su amplia participación en la esfera municipal, en la
real hacienda y en menor proporción en los corregimientos. Como
ya se observó en el caso de los consejeros, esta es una cuestión que
claramente diferencia a la América hispana de la portuguesa, donde
la presencia de letrados brasileños en tribunales fue muy amplia.
De los 86 letrados considerados, sabemos la vía de acceso al cargo
desempeñado en Quito44 en el 69% casos, entre los cuales resulta
evidente el predominio de la vía consultiva (un 59% sobre el total,
pero un 86,4% sobre los casos conocidos), frente al 9% sobre el
total (o 13,6% sobre los casos conocidos) que representan los nom-
bramientos por decreto; cabe concluir, por lo tanto, que durante el
siglo xvii prevalece la vía consultiva.
Cruzando el lugar de origen con la vía de acceso, constatamos
que:

a) el porcentaje de magistrados peninsulares es más del doble que


el de americanos (66% frente a 29%)
b) el porcentaje de magistrados peninsulares nombrados por
consulta es tres veces superior al de americanos que acceden
por la misma vía (46% frente a 15%).45
c) el porcentaje de americanos que ingresa por decreto (por dote
o por compra) es el doble que el presentado por los peninsu-
lares (6% frente a 3,6%).

Las cifras globales pueden ser bajas, pero la tendencia es clara y


representativa. No puede ser casualidad que esta cuestión – es decir
las reivindicaciones de los americanos sobre cargos en la alta adminis-
tración y muy especialmente en la administración de justicia – pierda
protagonismo en la literatura americana a partir de la década de 1670,

  Lugar tomado como punto de referencia.


44

  De los 57 peninsulares, 38 fueron elegidos por consulta (46,6%), de los 25


45

americanos fueron 13 (15,8%)

375

Monárquias Ibéricas.indb 375 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

momento en el que la venta de cargos se convierte en la vía mayorita-


ria de acceso a la administración. Ante esa evidencia, continuar escri-
biendo y publicando obras sobre la materia resultaría a todas luces
inútil; la incorporación de americanos a la administración de justicia
no se produjo, por lo tanto, por un éxito de sus reivindicaciones sobre
la prelación a la que aspiraban, sino por el predominio del sistema de
compra en todos los cargos y oficios de la administración – única vía
de acceso efectiva para los españoles nacidos en Indias–. La cues-
tión volvería a resurgir con mayor fuerza si cabe en el siglo xviii,46
precisamente cuando arreció la llegada de agentes peninsulares y las
reformas borbónicas intentaron neutralizar el pacto hasta entonces
mantenido entre las elites americanas y la Corona.
La abundancia, extensión, erudición y cuidado en la argumenta-
ción que presentan las obras escritas por los americanos en relación
al mecanismo de provisión de cargos son, por sí mismas, indicado-
res de la importancia que los contemporáneos otorgaban al tema.
Conocemos bien las opiniones de los americanos al respecto y el
despliegue de argumentos presentados, pero ¿qué se decía en la
España peninsular al respecto? Hasta el momento, no puedo citar
una obra escrita en la Península dedicada específicamente a rebatir
las tesis americanas. De forma dispersa en la documentación aparece
el argumento de que América era parte agregada de forma «acceso-
ria» por conquista a Castilla, y por lo tanto los americanos no tenían
ningún derecho de prelación, como podía ocurrir en otros reinos
incorporados a la Corona aeque pincipaliter;47 también se alude, aquí
y allá, al hecho de que, al ser naturales del territorio en el que preten-
dían ejercer, estaban emparentados con los residentes en su distrito,
(entre otros, con aquellos peninsulares que había sido nombrados
por no estar emparentados).

46
  Véase Carlos Garriga, «Los límites del reformismo borbónico: a propósito de
la administración de la justicia en Indias», en Derecho y administración pública en
las Indias Hispánicas. Actas del XII Congreso Internacional de Historia del Derecho
Indiano (Toledo, 19 a 21 de octubre de 1998), vol. I, ed. F. Barrios (Cuenca: Univer-
sidad de Castilla – La Mancha, 2002), 781-822.
47
  Sobre las diferencias entre ambas vías de incorporación de reinos a una unidad
mayor y, especialmente, sobre las consecuencias de ellas derivadas para los vasallos,
véase Xavier Gil Pujol «Integrar un mundo. Dinámicas de agregación y de cohesión
en la Monarquía de España», en Mazín Gómez y Ruiz Ibáñez, Las Indias Occiden-
tales…, 69-108.

376

Monárquias Ibéricas.indb 376 13/12/18 14:56


Justicia y letrados en la América Ibérica

Dando un salto en el tiempo, que permite constatar la vigencia del


tema a lo largo de los siglos y la importancia que tuvo en la construc-
ción y conservación de la Monarquía, nos situamos a mediados del
siglo xviii, cuando surgen «nuevas propuestas en relación a la política
de nombramientos al servicio de las tareas de construcción nacional,
que algunos vislumbran ya como imperiosas»,48 lo cual no implicó
que se dejaran de vender cargos de justicia y gobierno en América,
como es bien sabido.49 Una de esas propuestas de cambio se presentó
en 1768 en el Consejo extraordinario que se había formado – como
sala especial del Consejo de Castilla tras la crisis de 1766 – para deli-
berar sobre las medidas convenientes para sosegar el descontento
que la expulsión de los jesuitas había causado en México. Los fisca-
les Campomanes y Moñino creían que para «prevenir el espíritu de
independencia y aristocracia» que percibían, se hacía preciso adoptar
medidas que fomentasen el «amor a la matriz que es España», for-
mando de este modo un «cuerpo unido de Nación».50 En esta línea,
una de las medidas más urgentes era implementar, precisamente, la
igualdad o reciprocidad en la política de nombramientos, esto es:
«guardar la política de enviar siempre españoles a Indias con los prin-
cipales cargos, Obispados y Prebendas, y colocar en los equivalentes
puestos de España a los criollos, […] esto es lo que estrecharía la
amistad y unión, y formaría un solo cuerpo de Nación, siendo los
criollos que aquí hubiese, otro tanto número de rehenes para retener
aquellos países bajo el suave dominio de SM».51
Como puede apreciarse en una perspectiva de larga duración, la
cuestión tuvo un amplio recorrido. Los asesores del rey fueron ple-
namente conscientes de la importancia que el tema tenía en la cohe-
sión y conservación de la Monarquía, pero no por ello se avanzó en
su resolución. En realidad, el panorama fue a peor.

48
  Garriga, «Los límites del reformismo…», 800.
49
 Entre la extensa bibliografía publicada al respecto por Francisco Andújar
Castillo, véase, Necesidad y venalidad: España e Indias, 1704-1711 (Madrid: Centro
de Estudios Políticos y Constitucionales, 2008). Sobre la compra de cargos en el
consejo de Indias durante el reinado de Felipe V, véase Guillermo Burgos Lejona-
goitia, Gobernar las Indias. Venalidad y méritos en la provisión de cargos americanos,
1701-1746 (Almeria: Universidad de Almeria, 2015), cap. 5.
50
  Consulta de Campomanes y Moñino como fiscales del Consejo extraordina-
rio – Sala especial del Consejo de Castilla – Madrid, 5 de marzo de 1768. Citada por
Garriga, «Los límites del reformismo…», 800.
51
  Garriga, «Los límites del reformismo…», 800.

377

Monárquias Ibéricas.indb 377 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Las frecuentes reclamaciones de los americanos en relación a su


marginación de la alta administración o a su aspiración de formar parte
de ella, no es la manifestación de un mero conflicto de intereses sus-
ceptible de ser neutralizado con los habituales matrimonios y nego-
cios entre españoles americanos y los llegados de la metrópoli, como
ha sido frecuentemente considerado y, en consecuencia, relegado a un
segundo plano, cabe decir de índole doméstica. No se trata de pre-
sentar una lista de agravios desde una visión victimista, pero tampoco
parece aceptable – por insuficiente – la visión pragmática y economi-
cista del tema que atiende esencialmente a los beneficios materiales
pretendidos u obtenidos. Desde la perspectiva americana, nos encon-
tramos ante una cuestión que al menos desde comienzos del siglo xvii
adoptó un cariz de claro contenido político e ideológico; no sólo se
estaba dirimiendo el papel de los americanos en la Monarquía, sino su
percepción por el resto de reinos que la componían.52
Como conclusión de un largo debate sobre la posición que ocu-
paban las Indias en el conjunto de la Monarquía Hispánica podría
decirse que su situación era de carácter mixto o, quizás, mejor dicho,
incompleto: de las características que definían a los territorios afo-
rados, las Indias cumplían el tener un consejo específico, soberano y
particular en la corte, el tener una legislación propia – además de la
castellana –, el contar con tribunales territoriales capaces de aplicar
la normativa real, el haber creado una jurisprudencia propia en sus
territorios, el tener capacidad de resolver los procesos en su ámbito
jurisdiccional; por el contrario los requisitos que las Indias no cum-
plían – o lo hacían de forma muy esporádica – era el tener magistra-
dos naturales de sus territorios, el gozar de derecho de prelación en
los cargos y, el contar con naturales de esos reinos en las casa de la
reina y del rey.53

52
  Como expuso el quiteño Fray Gaspar de Villarroel, capellán de la Capilla Real
en Madrid y obispo de Chile «es un sambenito portátil para una provincia decir que
no hay capaces ministros dentro de ella. No hay cosa que a un país pueda avergon-
zarle más». Fray Gaspar de Villarroel, Primera parte de los comentarios, dificultades y
discursos literales, morales y místicos obre los evangelios de los domingos de adviento y
todos los del año (Madrid: Domingo García Morrás, 1661), disc. V, 364.
53
  Sobre las características atribuidas a los reinos aforados véase Pedro C­ ardim,
«As Cortes de Portugal e o governo dos ‘territórios ultramarinos’ (séculos xvi-xvii)»,
en O Governo dos Outros. Imaginários Políticos no Império Português (1496-1961),
orgs. Ângela Barreto Xavier y Ana Cristina Nogueira da Silva (Lisboa, Imprensa de
Ciências Sociais, 2016).

378

Monárquias Ibéricas.indb 378 13/12/18 14:56


Justicia y letrados en la América Ibérica

Una vez más, el contrataste entre el panorama observado en la


Monarquía Hispánica y el Imperio portugués es más que notable.
La presencia de naturales de ultramar, especialmente de Brasil, fue
creciendo a lo largo de la Edad Moderna. Si durante el siglo xvii ape-
nas se cuentan tres decenas de individuos naturales de la América
portuguesa en la judicatura, el siglo xviii marcó un viraje radical de
crecimiento constante.
Desde que Brasil se convirtió en uno de los puntos más dinámicos
de la monarquía portuguesa, con el incremento de la producción agrí-
cola y, sobre todo, con la producción de los recursos mineros, se pro-
duce un movimiento de trasvase de población del reino a la colonia que
se traduce en un crecimiento demográfico exponencial. El ­Brasil que
empieza a producir magistrados es un territorio totalmente diferente
del de las primeras décadas de la ocupación: más populoso, dotado
de elites consolidadas y en diversas regiones, inserto en un espacio
jurídico que poco difiere de la práctica institucional del reino. Son esas
élites, de productores agrícolas, pero también de grandes mercaderes,
algunos de ellos de origen extranjero, que, a mediados del setecientos,
comienzan a invertir en el envió de alguno de sus hijos a Coimbra,
para asistir a la única universidad portuguesa con formación en ambos
derechos y, en una segunda etapa, para financiar su ingreso en la carrera
de las letras. Aunque Lisboa fue siempre el principal foco generador
de magistrados, hacia 1750 Brasil superó a Oporto, Coimbra o Beira
como lugar de origen de los magistrados del reino.54 Esta es, sin duda,
una diferencia radical con la América hispana. El hecho de que este
fenómeno fuera tardío, explica que sólo un 5.9% del total de letrados
fueran de origen ultramarino. Por otra parte, las regiones ultramarinas
contribuyeron con un 15% de los magistrados que servían fuera de
la metrópoli, aunque los magistrados de allí provenientes fueron más
propensos a servir en ultramar.55

54
  La década de 1770 registra la cifra más elevada de ingresos de magistrados
de origen brasileño (42), menos de una decena de los que eran naturales de Lisboa
(que, en ese periodo, registraron un descenso acentuado).
55
  Lisboa, Oporto o Guarda, tres de los lugares que mayor número de magistra-
dos suministraban a la justicia letrada de la Corona, se acercan bastante a la media.
Con cifras por encima de la media, encontramos todas las regiones ultramarinas:
África (84,6%), los archipiélagos atlánticos de Madeira y Azores (72,1%) y Bra-
sil (67,7%). Siguen circunscripciones periféricas como Lagos (42,1%), Miranda do
Douro (40,9%) o Torre de Moncorvo (38,6%).

379

Monárquias Ibéricas.indb 379 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Esta propensión a que los magistrados ultramarinos sirvieran


fuera del reino no debe ser interpretada de forma simplista. En pri-
mer lugar, no significa que sólo sirviesen en su territorio de origen.
En el caso de los magistrados nacidos en Brasil, apenas el 36% sir-
vió en la América portuguesa, y aún más reducido es el número de
los que sirven en la capitanía de origen, ya que también ejercen en
otras regiones de Brasil, en Madeira o Azores; es esta una nueva dife-
rencia con la América hispana, donde los magistrados criollos a la
vez que beneficiaban sus plazas, mayoritariamente adquirían – pre-
vio pago – la dispensa para poder ejercer en su lugar de origen.
En segundo lugar, si más de la mitad (57%) sirvieron en América,
un porcentaje considerable (32%) apenas sirve en lugares del reino,
mientras que el restante 11% sirvió en otros territorios ultramarinos
que no eran Brasil. A partir de estos datos, puede afirmarse, que los
magistrados de origen brasileño integran el cuerpo de jueces letrados
de la Corona de forma semejante a los originarios de otras regiones
periféricas. Si bien no tenían el mismo capital social de los naturales
de Lisboa, normalmente procedentes de familias muy próximas al
centro de poder, muchos de ellos pertenecían ya a familias con tra-
dición en el servicio de las letras. Un indicador claro de que las vías
de acceso a los lugares más altos del cuerpo judicial no les eran fran-
queadas, es el hecho de que entre los pocos originarios de Brasil hijos
de ministros letrados (24 en total), especialmente desembargadores,
era muy raro llegar al estrato más alto, el Desembargo do Paço. Tan
solo João António Salter de Mendonça, hijo del desembargador Jorge
Salter de Mendonça, después de un recorrido que se inicia en 1763,
casi sin servicio en las jurisdicciones inferiores, llegó al Desembargo
do Paço en 1802.56
Para la América portuguesa del seiscientos y setecientos, el único
debate en torno al derecho de acceso de los naturales de Brasil a
los lugares de letras, del que tenemos conocimiento, es el ocurrido
en 1676 y 1677 en torno a una queja de los oficiales de la câmara
de Bahía al Conselho Ultramarino. En esa queja, alegando la mala
admiración de justicia de los desembargadores de la Relação da Bahia
naturales de esa ciudad, por estar comprometidos con las partes,
la câmara pidió a la Corona que no nombrase para aquel tribunal

56
  Natural de Goiana Grande o Pernambuco: ANTT, Chancelaria de D. Maria I,
liv. 66, fl. 191.

380

Monárquias Ibéricas.indb 380 13/12/18 14:56


Justicia y letrados en la América Ibérica

j­ueces naturales de aquella parte. La Corona accedió a la petición,


alargando esa exclusión a todos los naturales del Brasil. Esta decisión
acabó por levantar resistencia por parte de las câmaras de otras partes
de la América Portuguesa (Río de Janeiro, Pernambuco y Paraíba)
que enviaron una petición al Conselho Ultramarino para que dicha
exclusión fuera reducida exclusivamente a los naturales de Bahía, por
considerar que sus naturales serían tan ajenos a las partes en Bahía
como cualquier otro natural del reino. En el siglo siguiente, cuando
la realidad brasileña se presenta más dinámica y floreciente, la pre-
sencia de naturales de Brasil en las vías de acceso a los principales tri-
bunales y a los consejos del reino no parece volver a levantar recelo.57

Conclusiones
—  Al partir de tradiciones jurídicas similares, el aparato judicial
ultramarino portugués y el castellano trasladado a América ofre-
cen claras similitudes tanto en las instituciones implantadas como
en los oficios creados. Las principales diferencias serán de tiempo
y extensión: así, mientras la primera audiencia en la América his-
pana se funda en Santo Domingo en 1511, y a fines del siglo xvi se
cuentan ya 12 tribunales, en Brasil el primer tribunal de Relação se
estableció en 1609 en Bahía y hasta 1751 no se crearía otro en Río
de Janeiro.
—  El amplio desarrollo que ofrece la legislación dictada para la
América hispana desde la Península y desde las propias instancias
americanas (Derecho indiano), no tiene un desarrollo equivalente en
el mundo luso.
—  Una característica esencial de las administraciones de ultra-
mar fue el hecho de formar un continuo con las instituciones radi-
cadas en la península ibérica, por el cual los agentes intercalan sus
servicios en los reinos europeos con los prestados allende los mares.
Siendo este un fenómeno general, se observa con más claridad en el
ámbito portugués y, en el caso hispano con mayor intensidad en los
oficios de gobierno y guerra – mucho menos en justicia y hacienda.

  Documentos Históricos. Consultas do Conselho Ultramarino. Bahia e Capi-


57

tanias do Norte 1756-1807. Rio de Janeiro 1674-1687, vol. XCII (Rio de Janeiro:
Biblioteca Nacional, 1951), 230 y ss.

381

Monárquias Ibéricas.indb 381 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

—  Así pues, el servicio de los magistrados en los lugares ultra-


marinos portugueses se inserta, por lo general, en una trayectoria
en la cual el paso por aquellos territorios era apenas una etapa en
el cursus honorum general. Existe, en términos globales, un conti-
nuo de posibilidades de circulación entre la metrópoli y ultramar en
ambas direcciones, fenómeno que no se da con tanta frecuencia en
el ámbito hispano.
—  El hecho de que muy pocos magistrados hispanos enviados
a América regresaran a la Península, trastocó el clásico principio de
promoción desde los puestos y audiencias de menor relevancia hasta
llegar a los consejos de la corte. Esta falta de promoción final hizo
poco atractivos los destinos en América, lo que se tradujo en una
falta de interés entre los letrados hispanos, lo cual dificultó con fre-
cuencia el cubrir las plazas vacantes. En Portugal, por el contrario,
el paso por diferentes destinos ultramarinos fue la vía de promoción
habitual para los magistrados.
—  Si bien se observa una intensa circulación de los magistrados
de una audiencia a otra en la América hispana, se produce dentro
de una clara especialización regional; los magistrados que sirven en
el virreinato del Perú, en pocas ocasiones lo harían también en el
de Nueva España y viceversa. Los magistrados portugueses, por el
contrario, a lo largo de su carrera acumulaban experiencias tanto en
África, como en los archipiélagos atlánticos, en Brasil o en el reino.
—  La precocidad de la burocratización en la administración de
justicia crea una originalidad de la expansión portuguesa, sin paralelo
en otras experiencias imperiales europeas. Se trata de la construcción
de un aparato judicial pluricontinental en el interior del cual se pro-
duce una intensa circulación de agentes. En el caso hispano, el bene-
ficio de oficios podía generar una mayor fijación de los agentes en
sus lugares de destino, incluso a título vitalicio, cosa que no ocurre
en el ámbito portugués. La especificidad lusa está relacionada con la
importancia de la justicia letrada, como grupo menos patrimoniali-
zado de la administración, culturalmente muy homogéneo y forzado
a circular, construyendo una red a escala global.
—  La patrimonialización de las plazas de justicia en el caso his-
pano, a través del sistema de beneficio de cargos, fue una de las dife-
rencias más notables entre los dos espacios contemplados. Desde
finales de la década de 1670 comienzan a beneficiarse las plazas de
justicia en las audiencias americanas, continuando tal sistema de

382

Monárquias Ibéricas.indb 382 13/12/18 14:56


Justicia y letrados en la América Ibérica

­ rovisión de cargos durante el reinado de Felipe V. Este fenómeno


p
que no se produjo en el ámbito portugués.
—  El beneficio de cargos fue la vía por la cual accedieron a la
carrera judicial – y en general a la administración – la mayoría de los
letrados nacidos en la América hispana. La tradición reivindicativa de
tales puestos por parte de los criollos hispanos, no tiene contraparte
en la ensayística portuguesa debido, precisamente, a su amplia inser-
ción en la judicatura.
—  Si bien la aparición de naturales de Brasil o de la América his-
pana en los principales tribunales y consejos de la corte es rara o
bastante tardía (en España casi inexistente), se observa claramente
una mayor presencia de brasileños en la judicatura portuguesa que
de criollos en la administración hispana. Paradójicamente, mientras
todas las grandes ciudades de la América hispana – y a veces no tan
grandes – contaron con sus respectivas universidades – o con varias
en una misma población-, disponiendo así de una capacidad de for-
mación de juristas, en Portugal Coimbra fue la única universidad
portuguesa con formación en ambos derechos; de allí salieron, pues,
todos los letrados lusos y luso-brasileños que han sido objeto del
presente estudio.

383

Monárquias Ibéricas.indb 383 13/12/18 14:56


Monárquias Ibéricas.indb 384 13/12/18 14:56
Parte III
Administração militar

Monárquias Ibéricas.indb 385 13/12/18 14:56


Monárquias Ibéricas.indb 386 13/12/18 14:56
Antonio Jiménez Estrella
Francisco Andújar Castillo

Capítulo 11

Ejército y reformas militares


en la Monarquía Hispánica a ambos
lados del Atlántico. Un análisis
en perspectiva comparada
(siglos xvi-xviii) 1

Política defensiva y ejército en la configuración


de un imperio europeo y ultramarino en época
de los Habsburgo
Introducción

La campaña de la guerra de conquista del Reino de Granada, desa-


rrollada entre 1482 y 1492, constituyó un verdadero campo de expe-
rimentación y de renovación militar. Al margen de la guerra civil
castellana, el conflicto granadino supuso la primera y más evidente
manifestación del poder militar de la joven monarquía que surgía de

1
  El presente trabajo se ha realizado en el marco del Proyecto del Plan Nacional
de I+D Entre venalidad y corrupción en la Monarquía Hispánica durante el Antiguo
Régimen, (HAR2014-55305), financiado por el Ministerio de Economía y Compe-
titividad (España).

387

Monárquias Ibéricas.indb 387 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

la unión dinástica entre Isabel de Castilla y Fernando V de Aragón.


En ella coexistieron huestes y fórmulas de llamamiento militar, pro-
pias de la última etapa del medievo, con la movilización de lo que
podríamos denominar el embrión de un primer ejército regio, finan-
ciado gracias al importante incremento de las rentas a disposición de
los reyes. A las tropas concejiles y señoriales, y a las compañías de
Hermandad, se añadían un importante cuerpo de artillería y efecti-
vos de guardas reales, origen del ejército permanente castellano. Esta
tropa heterogénea se reveló eficaz para una nueva forma de hacer la
guerra, en la que se estaban registrando profundas transformaciones
en el ámbito de la logística, el incremento en la movilización de efec-
tivos puestos en liza y el desarrollo de la guerra de sitios. Por otro
lado, Granada constituyó una de las primeras pruebas de la transfe-
rencia y circulación de hombres y experiencias en lo concerniente
a logística, estrategia y movilización de unidades militares, ya que
muchos de los oficiales y soldados que participaron posteriormente
en las campañas de Nápoles y en las huestes militares que protagoni-
zaron las travesías de exploración y conquista del Caribe y América
Central, eran veteranos de la guerra granadina.2
Después de la guerra, los Reyes Católicos iniciaron una impor-
tante fase de reglamentación y promulgación de ordenanzas sobre
reclutamiento, paga de tropas, procedimientos y mecanismos de
control sobre el gasto militar y armamento de las poblaciones, que
sentaba las bases de una incipiente administración militar hispana.
El fenómeno registrado en Castilla a fines del siglo xv no era, en
absoluto, aislado. La progresiva profesionalización de la milicia, la
burocratización de la guerra, el incremento del tamaño de los ejér-
citos y de sus recursos humanos y financieros, formaban parte de
un proceso extendido por buena parte de modernas monarquías
europeas en los albores del siglo xvi, ligado a la configuración de
los nuevos estados fiscales militares. Tanto las primeras campañas
napolitanas contra Carlos VIII y Luis XII de Francia entre 1494 y
1504, como la promulgación de las ordenanzas de 1503, iniciaron
la consolidación del proceso de reformas del ejército real, con un
conjunto de 62 artículos que venían a regular el funcionamiento
del incipiente ejército real en materia de financiación, contaduría,

  Miguel Ángel Ladero Quesada, Castilla y la conquista del Reino de Granada


2

(Granada: Diputación de Granada, 2004).

388

Monárquias Ibéricas.indb 388 13/12/18 14:56


Ejército y reformas militares en la Monarquía Hispánica

c­ ontrol e i­nspección de alardes, pago de tropa y mantenimiento


de la disciplina.3 El punto de inicio del futuro imperio de los
­Habsburgo se situaría, pues, en las transformaciones introducidas
por Gonzalo Fernández de Córdoba en las guerras de Nápoles. Las
ideas del noble cordobés tuvieron en Fernando de Ávalos, mar-
qués de Pescara, uno de sus más importantes continuadores. No en
vano, Ávalos fue protagonista de la batalla de Pavía de 1525, victo-
ria explotada hasta la saciedad por la propaganda de Carlos V.4 Pero
lo más importante es que Pavía significó la consolidación de un
nuevo modo de hacer la guerra, en el que el alto grado de profesio-
nalización de la infantería, la creación de unidades de combate más
pequeñas, flexibles y operativas, y la incorporación de la pica como
arma de choque en conjunción con el arcabuz, frenaban la carga
de la caballería francesa y soslayaban la tradición militar medieval.
Esta nueva escuela militar, basada en el mantenimiento de la dis-
ciplina y el orden cerrado, sentaba las bases de los futuros tercios
de infantería, cuyas primeras ordenanzas se promulgaron en 1536.
A partir de entonces, el tercio se consolidó como la unidad orgá-
nica del ejército español en el exterior. Se fijaba un número teórico
de 3000 hombres, pero que en la práctica se situaba en torno a los
1500, dividido en 10 compañías. Al mando de cada tercio había un
maestre de campo, en una cadena de mando compleja, en la que
destacaba, por encima de todos, el capitán de compañía como pieza
clave de la oficialidad.
En la configuración de ese entramado militar, cada vez más
complejo, ocupó un lugar central el proceso de burocratización y
centralización del mando y la toma de decisiones desde la Corte,
sobre asuntos tan importantes como la organización de la defensa,
el nombramiento de la oficialidad y el personal burocrático y mili-
tar, el reclutamiento de tropas, el sistema de aprovisionamiento y
pagaduría o la administración de la justicia entre el personal cas-
trense. Todo ello correspondería al Consejo de Guerra, erigido en
el máximo órgano jurisdiccional y gubernativo de la Monarquía en

  René Quatrefages, El Tercio (Madrid: Ministerio de Defensa, 1983), 83-103.


3

  Antonio Jiménez Estrella, «Pavie (1525) et Rocroi (1643). Impact politique


4

et idélogique de deux batailles contre ‘el francés’», en La Bataille. Du fait d’armes


au combat idéologique xie-xixe siècle, eds. Ariane Boltanski, Yann Lagadec, Franck
Mercier (Rennes: Presses Universitaires de Rennes, 2015), 157-170.

389

Monárquias Ibéricas.indb 389 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

materia militar. Creado en época de Carlos V y perfeccionado bajo


Felipe II, el camino del Consejo y su encaje en el sistema polisi-
nodial no fue fácil. Primero, porque si bien era el máximo órgano
castrense, sus competencias y jurisdicción se reducían, de hecho, a
los territorios peninsulares, presidios del norte de África, el Atlán-
tico y las posesiones mediterráneas, quedando fuera de su alcance
las estructuras militares, el generalato y las fuerzas movilizadas en
territorios como Flandes, Italia o América, en beneficio de otros
consejos como los de Estado e Indias. Segundo, porque desde su
creación, y a pesar de las reformas emprendidas, el Consejo pasó
por períodos de especial indefinición normativa, con la participa-
ción de miembros de otros consejos, y la pérdida de algunas de sus
competencias jurisdiccionales y hacendísticas a finales del reinado
de Felipe II.5
Desde fechas muy tempranas, y de acuerdo con la articulación de
ese imperio territorial en espacios geográficos tan distintos como el
Mediterráneo, Italia, Flandes y las Indias, se desarrollaron modelos
de ejército y de movilización militar con características y funciones
muy diferentes. Por un lado, un sistema de defensa peninsular, some-
tido a una fuerte regionalización, carente de unidad y con niveles de
eficacia muy dispares. Por otro, se estaba desplegando una maqui-
naria militar de proporciones humanas y financieras hasta entonces
desconocidas, en territorios como Milán, Europa Central y muy
especialmente, Flandes. Y paralelamente, en Ultramar, se estaba
creando un imperio de dimensiones gigantescas, cuya estructura
militar y defensiva, desde los tiempos de las primeras expediciones
de exploración y las grandes campañas de conquista de México y el
Perú, iba a responder a un modelo de organización, reclutamiento
y financiación muy distinto, condicionado por la prioridad dada a
la protección de los cargamentos de plata y oro llevados a Sevilla.
No en vano, y en una demostración más de la importancia del flujo
Atlántico de recursos, hombres y dinero, los caudales americanos
iban a ser esenciales para financiar los ejércitos de los Habsburgo en
suelo europeo.

 I. A. A. Thompson, «The Armada and administrative reform: the Spanish


5

council of war in the reign of Philip II», English Historical Review, 82 (1967): 698-
-725.

390

Monárquias Ibéricas.indb 390 13/12/18 14:56


Ejército y reformas militares en la Monarquía Hispánica

La formación de una compleja estructura militar durante


los reinados de Carlos V y Felipe II

Partiendo de los tres grandes planos geográficos propuestos para


nuestro análisis, debemos empezar por la península ibérica, donde
el verdadero protagonismo en la defensa del territorio, ya costero o
fronterizo, fue ejercido por instituciones de marcado carácter regio-
nal y local. Frente al enorme esfuerzo financiero emprendido en el
exterior, la Monarquía intentó delegar el coste económico y la res-
ponsabilidad de la defensa en sus reinos y en cuerpos de defensa
de base ciudadana. Galicia, por ejemplo, careció de una estructura
militar profesional organizada y financiada, por lo que tuvo que
recurrir a la nobleza y a las tropas concejiles, aunque con escasa efi-
cacia. A partir de 1590, tras la incorporación de Portugal, la región
comenzó a tener una mayor relevancia estratégica y logística en el
espacio atlántico y en las comunicaciones con Flandes. La Coruña
se confirmó como centro de aprovisionamiento y formación de
armadas y se incrementó la tropa de guarnición.6 En Guipúzcoa, la
defensa era responsabilidad de dos instancias, el capitán general y
la Provincia. El primero era el delegado de la Corona, con mando
sobre las tropas profesionales de los presidios y fortalezas de San
Sebastián y Fuenterrabía, y la segunda, representante de los intereses
de las corporaciones locales, con poder para reclutar efectivos bajo
petición regia y el control sobre las tropas concejiles. La cuestión fue
cardinal en las relaciones entre Guipúzcoa y la Monarquía, porque
si se delegó buena parte del peso financiero de la defensa sobre la
Provincia, fue a costa de otorgarle más privilegios y autogobierno.7
En Navarra, durante la primera mitad del xvi se proyectó un ambi-
cioso programa de fortificaciones y de guarniciones militares para
asegurar la defensa de la nueva frontera, llegándose a un pacto de
colaboración defensiva, siempre y cuando fuese únicamente para la
protección de su propio terruño. Sobre estas bases, Navarra cola-
boró en la defensa de la frontera pirenaica, a cambio de importantes

6
  María del Carmen Saavedra Vázquez, «Galicia al servicio de la política impe-
rial: levas y armadas en el transcurso del siglo xvi», Semata, Ciencias Sociais e Huma-
nidades, 11 (1999): 115-134.
7
  Susana Truchuelo García, Guipúzcoa y el poder real en la Alta Edad Moderna
(San Sebastián: Diputación Foral de Guipúzcoa, 2004), 41-78.

391

Monárquias Ibéricas.indb 391 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

beneficios y mercedes para las elites navarras.8 En Valencia, el incre-


mento del corso y la amenaza otomana intensificaron la actividad
militar en el territorio. Desde época del emperador, se intentaron
transformar las antiguas estructuras defensivas y potenciar el control
regio sobre el entramado castrense, a través del virrey-capitán gene-
ral, clave a la hora de negociar con el reino el modelo de defensa que
se pretendía implantar y lo más delicado, su financiación. El proceso
derivó en la articulación de un sistema de defensa costero, que fun-
cionó con cierta eficacia.9 En el sur peninsular, el Reino de Granada
sí contó con un sistema defensivo permanente y profesional desde su
conquista en 1492, dedicado a defender la costa de la amenaza nor-
teafricana y asegurar el control interno sobre la población morisca.
El aparato militar, sometido al mando de los Mendoza hasta la rebe-
lión de 1568-71, estaba articulado en tres niveles de defensa – torres
y vigías costeras, compañías de jinetes e infantería, fortalezas con
guarniciones –, y contó con algo más de 1500 hombres a lo largo del
siglo xvi. A pesar de sus deficiencias, se erigió en el más eficaz de la
Península, gracias a su dotación regular, su nivel de organización y a
los impuestos que los moriscos pagaban anualmente para su sosteni-
miento. Precisamente, su expulsión dejó la defensa sin su principal
fuente de financiación, lo que derivó en un proceso de degradación
del sistema, paralelo a la pérdida de importancia estratégica del reino
granadino a fines del siglo xvi, en un proceso de decadencia impara-
ble a lo largo del xvii.10
Este brevísimo recorrido por algunos ejemplos de las estructu-
ras militares y de defensa peninsulares, permite constatar la enorme
complejidad de un sistema con niveles de eficacia muy diferen-
tes. Allí donde no había dinero ni cobertura de tropa profesional,
pagada por la Corona, se continuó recurriendo a las viejas fórmu-
las de llamamiento de la población en armas, a cambio de conceder

8
  José M. Escribano Páez, El coste de la defensa. Administración y financiación
militar en Navarra durante la primera mitad del siglo xvi (Pamplona: Gobierno de
Navarra, 2015).
9
  Juan Francisco Pardo Molero, La defensa del imperio: Carlos V, Valencia y el
Mediterráneo (Madrid: Sociedad Estatal para la Conmemoración de los Centenarios
de Felipe II y Carlos V, 2001).
10
  Antonio Jiménez Estrella, Poder, ejército y gobierno en el siglo xv. La Capita-
nía General del Reino de Granada y sus agentes (Granada: Universidad de Granada,
2004).

392

Monárquias Ibéricas.indb 392 13/12/18 14:56


Ejército y reformas militares en la Monarquía Hispánica

l­ibertades y privilegios políticos a reinos, ciudades y corporaciones


­locales. A ello hay que añadir la escasa eficacia de las tropas concejiles
cuando se intentaban movilizar más allá de la defensa de su propio
terruño. Frente a este «cajón de sastre», la Corona intentó articu-
lar una fuerza militar permanente, las guardias viejas de C ­ astilla.
­Creadas a partir las antiguas guardas reales, quedaron inicialmente
configuradas a raíz de las ordenanzas de 1503, por las que se estable-
cía un cuerpo de 25 compañías y unos 2500 hombres, que en 1529
eran 24 compañías de hombres de armas – caballería pesada – y otras
14 de lanzas jinetas – caballería ligera –. El objetivo de este cuerpo
era el de constituir un ejército de reserva permanente y un comple-
mento como tropa de refuerzo estival en territorios fronterizos y de
costa – Reino de G ­ ranada, Navarra, Fuenterrabía –. Desde su fun-
dación, las guardias viejas fueron sometidas a sucesivas reglamenta-
ciones y ordenanzas, como la promulgada en 1525, o las de 1551 y
1573. Sin embargo, a pesar de dicho esfuerzo normativo, el modelo,
como veremos, no acabaría de funcionar en el siglo xvii.11 Tampoco
la alternativa de crear una milicia general que comprometiese a todos
los territorios castellanos en un proyecto de defensa general. Los
intentos de implantación de la milicia general en época de Carlos
V se toparon con la resistencia de las ciudades y la nobleza: el de
Cisneros en 1516, que proyectó la movilización de unos 32 000 efec-
tivos, o el de 1552, que planeaba una milicia de 34 000 hombres bajo
el mando de las ciudades, son algunos ejemplos. Cuando la rebelión
de los moriscos del Reino de Granada evidenció las deficiencias e
indisciplina de las milicias concejiles en campaña, Felipe II tuvo que
plantearse seriamente una nueva política defensiva a nivel global en
Castilla, sobre todo a partir de los ataques de Francis Drake a Vigo
y Cádiz en 1585 y 1587, y el saqueo de la Coruña. Sin embargo, ni el
proyecto de milicia general de 1590, ni el de 1598, que concebían la
movilización de 60 000 hombres, cuajaron, debido, en gran medida,
a la escasa colaboración de las ciudades y de sus oligarquías locales, a
pesar de los privilegios y ventajas fiscales concedidas.12

11
  Enrique Martínez Ruiz y Magdalena de Pazzi Pi Corrales, Las Guardas de
Castilla (Primer ejército permanente español) (Madrid: Sílex, 2012).
12
  Antonio Jiménez Estrella, «Las milicias en Castilla: evolución y proyección
social de un modelo de defensa alternativo al ejército de los Austrias», en Las mili-
cias del rey de España. Política, sociedad e identidad en las Monarquías Ibéricas, ed.
José Javier Ruiz Ibáñez (Madrid: Fondo de Cultura Económica, 2009), 72-103.

393

Monárquias Ibéricas.indb 393 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

El esfuerzo financiero y humano empleado en el ejército des-


plegado por la Monarquía en el exterior fue distinto. El norte de
África fue uno de esos escenarios, aunque secundario en cuanto al
número de efectivos movilizados, si se compara con otros frentes.
Aquí el dispositivo militar se redujo al establecimiento de una serie
de presidios, destacando Vélez de la Gomera, Melilla, Bujía, Trípoli
y, muy especialmente, Orán-Mazalquivir, donde siempre hubo tropa
de guarnición. Esta política de mantenimiento de presidios, que no
alcanzó más allá de la actual región del Magreb, se vio complemen-
tada con la realización de expediciones puntuales y de gran enverga-
dura, como las lideradas por Carlos V en 1535 sobre Túnez, todo un
éxito, y la de 1541 sobre Argel, que acabó en desastre, marcando el
fin de las grandes empresas imperiales en el Mediterráneo. Durante
el reinado de Felipe II, la política de mantenimiento de los presidios
pasó por una fase de estancamiento. La pérdida de Bujía y la desas-
trosa ofensiva sobre Mostaganem en 1558, pusieron en serio peligro
la conservación de Orán. La victoria en Lepanto en 1571 fue tan solo
un breve paréntesis en esta escalada de pérdidas, que culminaría con
la caída de Túnez y la Goleta tres años después, y la relegación del
Mediterráneo a un lugar secundario en la estrategia geopolítica de la
Monarquía Católica.13
Los territorios italianos fueron otro escenario clave en la polí-
tica militar hispana. Desde la época de Carlos V, albergaron presidios
estratégicos con tropas permanentes de guarnición y cumplieron,
además, una función esencial en el sistema de transporte y circula-
ción de hombres para la guerra, constituyendo el verdadero semillero
y lugar de instrucción de los soldados bisoños que, posteriormente,
iban a integrar los tercios. En Nápoles y Sicilia se establecieron con-
tingentes permanentes en torno a los 2000 y 3000 efectivos respecti-
vamente, y se negoció con las elites la movilización y financiación de
tropas locales, con el fin de afrontar el problema secular del bando-
lerismo y la amenaza del corso. No obstante, el verdadero núcleo de
la presencia militar hispana en la península italiana se concentró en
el ducado de Milán. El territorio ocupó una importancia estratégica

13
  Miguel Ángel Bunes Ibarra, «Felipe II y el Mediterráneo: la frontera olvidada
y la frontera presente de la Monarquía Católica», en Felipe II (1527-1598). Europa
y la Monarquía Católica, dir. José Martínez Millán (Madrid: Parteluz, 1998), t. I,
97-110.

394

Monárquias Ibéricas.indb 394 13/12/18 14:56


Ejército y reformas militares en la Monarquía Hispánica

incuestionable. Además de actuar como barrera de contención para


proteger las posesiones italianas de los Habsburgo, ocupaba un papel
fundamental en el eje de comunicaciones entre Europa y el Medite-
rráneo y, sobre todo, en el sistema logístico del ejército de Flandes.
Milán contaba con el segundo ejército de guarnición desplegado por
la Monarquía en territorios extra peninsulares, solo por detrás del
de Países Bajos. Hacia 1558, el ejército de Lombardía y Piamonte
sumaba cerca de 25 000 efectivos, y no pararía de crecer en la segunda
mitad del siglo xvi, nutrido tanto de un flujo constante de tropas de
paso hacia el norte, como de tercios fijos destinados a los presidios
del Milanesado.14
Ahora bien, por encima de todos, despuntó Flandes. Tras el
estallido de la revuelta holandesa, se convirtió en el frente militar
más importante de todos, el que implicó la mayor movilización de
recursos humanos y materiales. Desde los primeros compases de la
revuelta, se creó una estructura militar dirigida por el duque de Alba,
quien, como capitán general del ejército y gobernador, adquirió unas
competencias amplísimas en materia de mando militar, concesión de
oficios y mercedes. Flandes fue el escenario idóneo para el desarrollo
del tercio como unidad orgánica de combate, exigiendo un esfuerzo
de movilización sin precedentes. Según Parker, salvo en 1577, en la
región siempre hubo un ejército permanente de 15 000 hombres, que
debían ser reforzados en los períodos de campaña, alcanzando un
promedio anual en torno a los 65 000 soldados.15 A pesar de que solo
aproximadamente el 10% de la tropa movilizada en Países Bajos era
de origen español – seguidos de italianos, valones, borgoñones, irlan-
deses, alemanes, ingleses… –, Flandes exigió un enorme esfuerzo
reclutador en la Península. Como ha demostrado Thompson, el
impacto del reclutamiento en la Península fue mucho mayor del que
se ha admitido, con una media, entre 1530 y 1630, de 6000 hom-
bres anuales para presidios, fronteras, armadas y tercios. El recluta-
miento afectó, fundamentalmente, a jóvenes pecheros de las áreas
urbanas castellanas, produciéndose un importante e­stancamiento

14
  Enrique Martínez Ruiz, Los soldados del rey. Los ejércitos de la Monarquía
Hispánica (1480-1700) (Madrid: ACTAS, 2008), 719.
15
  Geoffrey Parker, El ejército de Flandes y el Camino Español (1567-1659). La
logística de la victoria y derrota de España en las guerras de los Países Bajos (Madrid:
Alianza, 2000), 61.

395

Monárquias Ibéricas.indb 395 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

en el potencial reclutador y demográfico durante la década de 1580-


-90, período al partir del cual era prácticamente imposible llenar las
compañías.16
Al problema del coste humano, había que unir el logístico. En nin-
gún otro ámbito de la Monarquía fue tan importante el problema de
la distancia y el mantenimiento de las comunicaciones. A pesar de
que hubo territorios mucho más alejados, como los de América o
Filipinas en Ultramar, ningún otro planteó tantos problemas logísti-
cos, porque la Guerra de los Ochenta Años exigió un envío constante
de hombres, recursos y dinero, sobre todo de Castilla. Bloqueada la
ruta del Cantábrico por los holandeses, se tuvo que abrir un gigan-
tesco corredor militar hacia Flandes, el célebre Camino Español, que
precisaba de una constante negociación con los estados y las elites de
los territorios, señoríos y cantones por los que pasaba. Asegurar el
«nervio de la guerra» era fundamental. La llegada de los metales ame-
ricanos, el incremento de la presión fiscal y los importantes emprés-
titos realizados por banqueros alemanes y genoveses, permitieron
a Carlos V contar con una importante fuente de financiación para
movilizar grandes contingentes militares en Europa. Sin embargo,
al final de su reinado, el emperador acumulaba una deuda superior a
los 25 millones de florines, que heredaría su hijo. Con Felipe II, el
problema se agravó aún más, porque Flandes disparó el gasto mili-
tar. Es cierto que Alba consiguió que los Países Bajos concediesen
una contribución fija para costear el ejército de guarnición, y que
Luis de Requesens y Alejandro Farnesio hicieron todo lo posible por
negociar un modelo de autofinanciación, que aligerase el peso de la
carga financiera castellana. También que el papel de las milicias ciu-
dadanas locales como cuerpos de defensa e instrumento para mante-
ner el orden en los territorios católicos, fue mucho más importante
de lo que tradicionalmente se ha afirmado.17 Sin embargo, todo esto
no fue suficiente. El peso del reclutamiento y la financiación de la
guerra fueron sostenidos, esencialmente, por Castilla. La liquidez de

16
  I. A. A. Thompson, «El soldado del Imperio: una aproximación al perfil del
recluta español en el Siglo de Oro», Manuscrits, 21 (2003): 17-38.
17
  Manuel Herrero Sánchez y José Javier Ruiz Ibáñez, «Defender la patria y
defender la religión: las milicias urbanas en los Países Bajos Españoles, 1580-1700»,
en Las milicias del rey de España. Política, sociedad e identidad en las Monarquías
Ibéricas, ed. José Javier Ruiz Ibáñez (Madrid: Fondo de Cultura Económica, 2009),
268-296.

396

Monárquias Ibéricas.indb 396 13/12/18 14:56


Ejército y reformas militares en la Monarquía Hispánica

los Habsburgo dependía del incremento de la presión fiscal y de la


producción de plata de Potosí, que tras su llegada a Sevilla, pasaba
directamente a los circuitos financieros europeos. Para afrontar la
deuda, Felipe II tuvo que recurrir a los decretos de bancarrota en
1557, 1575 y 1596. Además, el corte del flujo monetario hacia Países
Bajos tuvo repercusiones directas sobre el mantenimiento del orden
y la disciplina en un ejército que entre 1572 y 1602 protagonizó casi
medio centenar de motines, fiel reflejo del descontento de una solda-
desca que nunca llegó a percibir sus pagas puntualmente.18 En 1580-
90 el gasto militar era inasumible, con más de 3 millones de ducados
anuales destinados al mantenimiento de flotas y defensa atlántica, y
otros 3,5 millones anuales para sufragar la guerra de Flandes, que se
complicaba con la entrada en guerra abierta con Inglaterra y la Fran-
cia de Enrique IV. 25 millones de ducados de déficit acumulado entre
1596 y 1599 evidencian la escasa viabilidad financiera de la Monar-
quía Hispánica, pero sobre todo la sangría que suponía el sosteni-
miento de la guerra en Flandes.19
Las dimensiones y complejidad de la estructura militar de este
imperio en formación, debieron alcanzar, en teoría, proporciones
aún mayores si se toman en cuenta los vastos territorios que se ocu-
paron en el Nuevo Mundo durante del siglo xvi. Sin embargo, no
fue exactamente así. Dado lo ignoto del nuevo espacio geográfico
que se abría ante la Corona, la realidad militar indiana estuvo ini-
cialmente marcada por el desarrollo de una serie de expediciones y
armadas de exploración. Por medio de aquéllas, el Caribe fue objeto
de un intenso proceso de colonización, como escenario previo a las
grandes expediciones continentales, iniciadas a partir de la década
de 1520-30. La primera etapa de intervención militar consistió en la
realización de expediciones de conquista, de capital privado. A dife-
rencia de las campañas que por entonces se estaban realizando en
Italia, no existió en América un ejército real propiamente dicho, sino
una serie de empresas militares financiadas por particulares, bajo
control de la Corona. Se trataba de caballeros y capitanes, con ele-
vada veteranía en campaña y con una alta capacidad de liderazgo, que
aportaban una parte importante del capital, el equipamiento y las

 Parker, El ejército de Flandes...


18

  I. A. A. Thompson, Guerra y decadencia. Gobierno y Administración en la


19

España de los Austrias, 1560-1620 (Barcelona: Crítica, 1981), 87-92.

397

Monárquias Ibéricas.indb 397 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

armas, para la realización de la expedición en nombre del rey. Todo


ello se sancionaba con la firma de unas capitulaciones e instruccio-
nes, por las que se estipulaba la parte del botín que correspondía al
monarca – el quinto real –, las mercedes y prebendas negociadas con
la Corona, el régimen de cesión en encomienda de los indígenas,
así como el conjunto de disposiciones relativas a la evangelización
de los pueblos sometidos. El reclutamiento de los integrantes de
estos pequeños ejércitos privados se solía realizar, preferentemente,
en las dos Castillas, Andalucía y Extremadura, entre veteranos de
guerra cuyo principal aliciente era la promesa del cobro de un botín
y un ansiado ascenso social, difícil de conseguir en Castilla.20 Este
modelo, seguido en la mayoría de expediciones militares en época
del emperador, permitió financiar, a un bajo coste para la hacienda
regia, las grandes empresas de conquista de Cortés en México y de
Pizarro y Almagro en el Perú. A pesar de estar compuestas por un
número muy reducido de soldados – no solían superar los 1000 efec-
tivos –, tuvieron éxito en un plazo relativamente corto de tiempo,
gracias a la utilización de lanzas y espadas de acero, armas de fuego
portátiles, el uso del caballo en campaña, la introducción de técnicas
de combate más avanzadas y, sobre todo, la colaboración de ejércitos
integrados por varias decenas de miles de aquellos indígenas que,
como los tlazcaltecas en México o los cañaris en el Perú, participa-
ron activamente en el derrocamiento de los imperios azteca e incaico
respectivamente.21 Aun así, la conquista no tuvo los mismos ritmos
en todos los escenarios geográficos, ya que las zonas de selva centro-
americanas, o las más agrestes de Chile, tardaron mucho más tiempo
en ser sometidas.
Después de esta primera fase, la progresiva creación de asenta-
mientos en el continente americano precisó de construcciones y
fortificaciones militares que permitiesen consolidar la ocupación
y defensa de las costas de los nuevos territorios ocupados. El modelo
seguido en América fue muy parecido al desarrollado en el norte de
África, por medio de presidios estratégicamente situados, que ser-
vían para el control de las zonas adyacentes y defender los e­ nclaves

20
  Carmen Gómez Pérez y Juan Marchena Fernández, «Los señores de la Guerra
en la conquista», Anuario de Estudios Americanos, 42 (1985): 127-215.
21
  Francisco Morales Padrón, Historia del descubrimiento y conquista de América
(Madrid: Gredos, 1990).

398

Monárquias Ibéricas.indb 398 13/12/18 14:56


Ejército y reformas militares en la Monarquía Hispánica

conquistados de la amenaza indígena, como las construcciones reali-


zadas en la frontera norte de Nueva España o en Chile.22 Por el con-
trario, otras áreas mucho más inhóspitas y poco interesantes desde el
punto de vista económico, como el Yucatán o el Río de la Plata, estu-
vieron prácticamente desprotegidas hasta el siglo xviii. No obstante,
hablamos de una actividad constructiva muy básica. La mayoría
de las fortificaciones edificadas en la primera mitad del xvi, funda-
mentalmente en el Caribe, eran estructuras muy precarias, a base
de empalizadas y material de mortero, sin una buena planificación
poliorcética. A la precariedad de dichos fuertes hay que unir la esca-
sez de guarniciones militares bien dotadas y pertrechadas.23 En con-
traste con lo que pasaba en el imperio europeo de los H ­ absburgo,
América no canalizó un flujo constante de recursos financieros y
hombres. Muy al contrario, frente a la creciente actividad del corso,
se dio prioridad a la protección del otro flujo: el que llevaba el oro
y la plata procedente de México y del Perú, que servía precisamente
para financiar las guerras europeas de Carlos V y Felipe II. De ahí
la importancia otorgada al sistema de escuadras militares, habili-
tado por la Corona para defender la Carrera de Indias. A mediados
de la década de 1540 se establecieron dos flotas anuales, escoltadas
por una nave de guerra, y en las que se embarcaban dos tercios de
infantería de unos 1000 hombres, que en época de invernada podían
reforzar dotaciones de guarnición de presidios. Dicho sistema, des-
tinado a proteger el oro y la plata indiana del corso y la piratería, se
consolidó bajo el reinado de Felipe II, con la Flota de Nueva España,
que hacía el trayecto Sevilla-Veracruz y viceversa – a la que más tarde
se incorporaría el Galeón de Manila, con base en Acapulco –, y la
Flota de Tierra Firme – también denominada de Galeones –, que
hacía el trayecto Sevilla-Nombre de Dios – a fines del XVI arribaría
a ­Portobelo –, en conexión con la plata del Perú24.

22
  José Antonio Calderón Quijano, Las fortificaciones españolas en América y
Filipinas (Madrid: Mapfre, 1996).
23
  Esteban Mira Caballos, «Espontaneidad y medievalismo en las primeras cons-
trucciones defensivas antillanas (1492-1550)», en Arquitectura e iconografía artística
militar en España y América (Siglos xv-xviii) (Sevilla: Cátedra General Castaños,
1996), 175-191.
24
  Pablo Emilio Pérez-Mallaína, Andalucía y el dominio de los espacios oceánicos:
la organización de la Carrera de Indias en el siglo xvi (Sevilla: Fundación Corpora-
ción Tecnológica de Andalucía, 2010), 125-145.

399

Monárquias Ibéricas.indb 399 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Lo cierto es que en las Indias de los Habsburgo no llegó a esta-


blecerse una estructura militar estatal sólida, de tropa profesional,
similar a la desplegada en otros territorios del imperio hispánico.
El hecho de que durante buena parte del siglo xvi, los presidios y
enclaves controlados por la Corona careciesen de guarniciones
militares bien abastecidas y pagadas, y muy por debajo del número
de hombres fijado en su planta teórica, determinó la búsqueda de
alternativas menos costosas para la hacienda real. Ante la falta de
recursos y de soldados, y al igual que ocurrió en algunas regiones
fronterizas de la península ibérica, la Monarquía negoció con las eli-
tes para intentar descargar buena parte de la responsabilidad de la
defensa en las milicias locales, integradas por hacendados, encomen-
deros y demás pobladores de origen peninsular, cuya importancia en
la defensa de zonas fronterizas y estratégicas fue mucho mayor de
lo que se suele afirmar.25 Igualmente, la colaboración de contingen-
tes de «indios amigos» en regiones como Nueva Vizcaya – norte de
Nueva España – y el Tucumán – al sur del Perú –, fue fundamental
como tropas auxiliares de refuerzo.26
Es cierto que a partir de la década de los sesenta del siglo xvi, y
sobre todo desde los ataques de Jacques Sores a la Habana (1555)
o Drake y Hawkins a Nombre de Dios (1572), hubo una mayor
implicación desde Madrid para financiar una buena estructura de
fortificaciones, con cargo a la aportación económica del «situado»,
procedente de la hacienda regia de Nueva España. Sin embargo,
iban dirigidas, fundamentalmente, a proteger de la actividad cor-
saria aquellos enclaves que tenían mayor importancia estratégica
en el sistema de envío de remesas de oro y plata hacia la Península,
y a dar una mejor cobertura militar a la Carrera de Indias, sobre
todo en el área Caribe. Así, se introdujeron estructuras más com-
plejas y sólidas, siguiendo los modelos abaluartados europeos, de
la mano de ingenieros como Juan Bautista Antonelli, que intervino

25
  Juan Carlos Ruiz Guadalajara, «‘A su costa e minsión…’. El papel de los par-
ticulares en la conquista, pacificación y conservación de la Nueva España», en Las
milicias del rey de España. Política, sociedad e identidad en las Monarquías Ibéricas,
ed. José Javier Ruiz Ibáñez (Madrid: Fondo de Cultura Económica, 2009), 104-138.
26
  Christophe Giudicelli, «‘Indios amigos’ y movilización colonial en las fronte-
ras americanas de la Monarquía católica (siglos xvi-xvii)», en Las milicias del rey de
España. Política, sociedad e identidad en las Monarquías Ibéricas, ed. José Javier Ruiz
Ibáñez (Madrid: Fondo de Cultura Económica, 2009), 349-377.

400

Monárquias Ibéricas.indb 400 13/12/18 14:56


Ejército y reformas militares en la Monarquía Hispánica

en Puerto Rico, Santo Domingo, Portobelo, Cartagena de Indias y


la Habana.27

El siglo xvii. Crisis y cambios en el ejército


de los Habsburgo

Lo aquí expuesto evidencia que a lo largo del siglo xvi, la Monar-


quía había configurado una estructura militar y burocrática más
centralizada, al servicio de una política hegemónica y de expansión
territorial a ambos lados del Atlántico. Sin embargo, conviene mati-
zar el alcance de ese proceso, ya que los Habsburgo se toparon con
serios obstáculos en el camino. Por ejemplo, la guerra de Flandes
evidenció las limitaciones financieras del sistema de administración
militar directo y la necesidad de recurrir al concurso de asentistas
en períodos en que la apertura de múltiples frentes hacía imposi-
ble responder con garantías a las nuevas necesidades logísticas de la
Monarquía, hasta el punto de que hacia 1630, casi toda la maquinaria
bélica de los Austrias se financiaba por medio de contratistas priva-
dos, como, por cierto, ocurría con otras potencias europeas.28 Como
hemos visto, la política hegemónica desarrollada en Europa, la nece-
sidad de desplegar grandes ejércitos para hacer frente a otras poten-
cias militares y navales del Viejo Continente, y la larga guerra de los
Países Bajos, exigieron el trasvase constante de capitales y remesas
de oro y plata desde América, restando buena parte de los recursos y
financiación para desarrollar un sistema de fortificaciones, guarnicio-
nes permanentes y defensa naval eficaces en Indias. Además, la capa-
cidad y eficacia a la hora de movilizar hombres, pertrechos, armas y
dinero en diferentes espacios geográficos, estuvo sometida a largos
y complejos procesos de negociación con los territorios, provincias,
reinos y cuerpos políticos intermedios – nobleza y ciudades – que
integraban la Monarquía Hispánica. Un ejemplo paradigmático es el
del proyecto reformista de Olivares, la Unión de Armas, presentada
en el Consejo de Estado en noviembre de 1625. El conde-duque pre-
tendía crear un ejército de reserva de 140 000 efectivos, que acudiese
a la defensa de cualquiera de los territorios de Felipe IV. El plan se

27
  Calderón Quijano, Las fortificaciones…
28
 Thompson, Guerra y decadencia…

401

Monárquias Ibéricas.indb 401 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

asentaba sobre la base de un reparto más equitativo de la carga fiscal


y militar entre todos los reinos y territorios de la Monarquía Cató-
lica – en la Península, Europa y las Indias –, con el fin de aliviar el
peso soportado por Castilla. Las reticencias mostradas por Aragón y
Valencia, y la firme oposición de Cataluña, evidenciaron a las claras
que la idea de comprometer en un proyecto político unitario a todos
los reinos de la Monarquía era un espejismo.29
La tensión generada por el proyecto de Olivares fue en aumento y
agravó aún más la situación. En 1627 se decretaba la primera suspen-
sión general de pagos del reinado. Y si en 1635 Luis XIII declaraba
la guerra a Felipe IV, lo que suponía un notable incremento del gasto
militar, las revueltas de Cataluña y Portugal en 1640, sobre todo la
primera, iban a exigir un esfuerzo de movilización en campaña que
no tenía precedentes en territorio peninsular. La apertura de estos
conflictos implicó una reformulación en las relaciones políticas entre
rey y reino, a la hora de negociar el nivel de responsabilidad en la
defensa y en el servicio fiscal y militar que debía prestarse. El caso de
Galicia es demostrativo. Durante el período de Olivares se produjo
un aumento importante de la presión reclutadora en la región, muy
especialmente a raíz de la rebelión portuguesa, priorizándose las levas
de hombres para la guerra sobre el mantenimiento de sus guarnicio-
nes de defensa.30 En Guipúzcoa, la declaración de guerra de Luis XIII
y el peligro francés sobre la raya vasca permitieron al conde­-duque
exigir un mayor esfuerzo militar a la P ­ rovincia y dio más poderes al
capitán general sobre las milicias locales, lo que aumentó la tensión
entre ambas instituciones, sobre todo a partir de 1639, cuando se
incrementó el reclutamiento de compañías locales para prestar ser-
vicios en el exterior.31 Algo parecido ocurrió en ­Navarra, donde la

29
  La distribución de la carga militar era la siguiente: Castilla y las Indias 44 000
hombres, Cataluña 16 000, Aragón 10 000, Valencia 6000, Portugal 16 000, Nápo-
les 16 000, Sicilia 6000, Milán 8000, Flandes 12 000, islas mediterráneas y del Mar
Océano 6000. John Elliott, El conde-duque de Olivares (Barcelona: Grijalbo Mon-
dadori, 1990), 282-317.
30
  María del Carmen Saavedra Vázquez, «La financiación de la actividad militar
en Galicia y sus repercusiones fiscales durante la primera mitad del siglo xvii», en
La declinación de la Monarquía Hispánica. VIIª Reunión Científica de la Fundación
Española de Historia Moderna, coord. Francisco J. Aranda Pérez, (Universidad de
Castilla-La Mancha, 2004), vol. I, 433-450.
31
  Susana Truchuelo García, «Controversias en torno a las milicias guipuzcoanas
en el período altomoderno», en Tradición versus innovación en la España Moderna,

402

Monárquias Ibéricas.indb 402 13/12/18 14:56


Ejército y reformas militares en la Monarquía Hispánica

defensa de las prerrogativas forales generó un clima de tensión entre


el reino y Felipe IV, especialmente cuando se les exigió servir con
varios tercios en Cataluña y Portugal, lo que implicó negociar la con-
cesión de hombres bajo unas condiciones más duras y restrictivas.32
Estos ejemplos, a los que se podrían añadir otros muchos,
ponen sobre la mesa el enorme esfuerzo fiscal y militar realizado,
muy especialmente a partir de 1635. Las mayores exigencias para la
guerra provocaron, incluso, cambios importantes en los sistemas
de reclutamiento de compañías y en los criterios meritocráticos de
concesión de oficios militares. Durante el reinado de Felipe II, el
procedimiento normalizado para la formación de compañías y la
concesión de cargos de capitán había sido el del reclutamiento por
comisión, que consistía en la elección de los candidatos, por méritos,
antigüedad y servicios militares, presentados y certificados ante el
Consejo de Guerra. Sin embargo, la crisis demográfica castellana y la
falta de atractivo de la milicia hicieron cada vez más difícil llenar las
compañías. Por ello, desde principios del xvii se empezaron a exten-
der otros modelos en los que el papel jugado por las elites locales y la
nobleza como intermediarios y agentes de reclutamiento, capaces de
adelantar dinero y hombres, empezó a ser clave. Este procedimiento
se hizo prácticamente sistémico bajo el gobierno de Olivares, sobre
todo desde 1635, en que aumentó enormemente la necesidad de
soldados para los nuevos escenarios bélicos. A través del mismo, se
desarrollaron todo tipo de modalidades de reclutamiento en las que
los particulares, a cambio de reclutar compañías a su propia costa
y colocarlas en el frente o en los lugares de embarque habilitados,
obtenían cargos de la oficialidad sin necesidad de acreditar los méri-
tos necesarios o, mejor dicho, utilizando como único mérito el vil
metal. La concesión de las compañías, a cambio del coste que supo-
nía llenarlas, armarlas, vestirlas y transportarlas, era una forma de
beneficiar los oficios por dinero, soslayando la vía de la meritocra-
cia. El hecho de que se les otorgasen las patentes, acompañadas del
correspondiente suplimiento, les eximía de certificar la experiencia

eds. Juan Jesús Bravo Caro y Siro Villas Tinoco (Málaga: Universidad de Málaga,
2009), vol. 2, 1213-1232.
32
  Virginia Coloma García, «Navarra y la defensa de la monarquía en los rei-
nados de Felipe III y Felipe IV (1598-1665)», Príncipe de Viana, 56, 2014 (1995):
163-182.

403

Monárquias Ibéricas.indb 403 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

exigida en las ordenanzas. Las posibilidades de este sistema venal se


multiplicaron exponencialmente, cuando hubo asentistas privados
dispuestos a reclutar y transportar tercios enteros a cambio de los
cargos de maestre de campo y de poder comerciar con las patentes
en blanco y los suplimientos en el mercado privado, con el fin de
llenar las unidades en poco tiempo. Además, por esta vía no solo
se concedieron oficios y honores militares, sino también cientos de
mercedes de hábito y títulos de nobleza – marquesados y condados
a cambio de montar tercios enteros –, e incluso cargos de gobierno
y de administración en Indias, lo que multiplicaba las posibilidades
del procedimiento como instrumento de promoción social, en un
mercado de oficios vinculado al reclutamiento de unidades militares,
que se extendía al otro lado del Atlántico.33 Estos mecanismos vena-
les estuvieron sujetos a distintas coyunturas tras la caída de Olivares,
pero volvieron a registrarse durante el reinado de Carlos II,34 siendo
el precedente de un fenómeno extraordinariamente extendido con
los Borbones, en la centuria siguiente.35
Lo aquí expuesto evidencia que durante el siglo xvii la Monarquía
Católica tuvo graves problemas para movilizar recursos militares y

33
  Se analizan por extenso estos procedimientos venales de reclutamiento y sus
consecuencias sobre el sistema de ascensos y la meritocracia en época de Olivares:
Antonio Jiménez Estrella, «El reclutamiento en la primera mitad del xvii y sus posibi-
lidades venales», en El poder del dinero. Ventas de cargos y honores en el Antiguo Régi-
men, eds. Francisco Andújar Castillo y María del Mar Felices de la Fuente (Madrid:
Biblioteca Nueva, 2011), 169-190; Antonio Jiménez Estrella, «Servir al rey, recibir
mercedes: asentistas militares y reclutadores portugueses al servicio de Felipe IV
antes de la Guerra de Restauración», en Cargos e Ofícios nas Monarquias Ibéricas:
Provimento, Controlo e Venalidade (Séculos XVII e XVIII), orgs. Roberta Stumpf
y Nandini Chaturvedula (Lisboa: Centro de História de Além-Mar – Universidade
Nova de Lisboa – Universidade dos Açores, 2012), 239-266; Antonio Jiménez Estre-
lla, «Servicio y mérito en el ejército de Felipe IV: la quiebra de la meritocracia en época
de ­Olivares», en Mérito, venalidad y corrupción en España y América. Siglos xvii y
xviii, eds. Pilar Ponce Leiva y Francisco Andújar Castillo (Valencia: Albatros, 2016),
91-113. El caso de las mercedes de hábito, concedidas a cambio de armar unidades
militares, ha sido estudiado por Agustín Jiménez Moreno, «Nobleza, guerra y servi-
cio a la Corona: los caballeros de hábito en el siglo xvii» (tesis doctoral publicada en
versión digital, 2011: http://eprints.ucm.es/12051/1/T32672.pdf).
34
  Antonio José Rodríguez Hernández, «Patentes por soldados. Reclutamiento
y venalidad en el ejército durante la segunda mitad del siglo xvii», Chronica Nova,
33 (2007): 37-56.
35
  Francisco Andújar Castillo, El sonido del dinero. Monarquía, ejército y venali-
dad en la España del siglo xviii (Madrid: Marcial Pons, 2004).

404

Monárquias Ibéricas.indb 404 13/12/18 14:56


Ejército y reformas militares en la Monarquía Hispánica

articular un sistema defensivo unificado y coherente. Esta realidad


respondía a las peculiaridades políticas, jurídicas y fiscales de los dis-
tintos territorios que integraban los reinos peninsulares, sacando a
la luz, con más fuerza si cabe, los defectos de muchas de las estruc-
turas militares creadas en el siglo anterior. Por ejemplo, las guardias
viejas de Castilla, a pesar de las nuevas ordenanzas promulgadas en
1613 y 1662, no acabaron de funcionar como fuerza defensiva per-
manente. La mayoría de las capitanías fueron patrimonializadas por
miembros del estamento nobiliario, delegando buena parte de sus
responsabilidades en sus tenientes y practicando un escandaloso
absentismo. Éste, junto a otros problemas como su escasa operativi-
dad, los atrasos en el pago de la tropa, la indisciplina o el fraude, aca-
barían enquistándose con el paso del tiempo, hasta su decadencia y
definitiva disolución a inicios del xviii.36 Tampoco tuvieron éxito los
nuevos planes de milicia general reemprendidos desde 1609. Hubo
obstáculos insoslayables, como el estancamiento demográfico y la
enorme presión fiscal y reclutadora descargada sobre la población
castellana en dicho período. Pero también fue decisiva la tibia res-
puesta de las ciudades, cuya discusión con la Corona giró en torno
a la escasez de brazos para el campo, los privilegios concedidos, la
financiación con cargo a las haciendas municipales y la pretensión
de las oligarquías locales de controlar los cargos de la oficialidad.
El proyecto de una movilización general de la población castellana
en armas acabó fracasando, y en su lugar se llevó a cabo la formación,
a partir de 1669, de una fuerza regular y profesional de 5 ­Tercios
­Provinciales, de 1000 soldados cada uno, financiados gracias a la
«composición de milicias», que venía a sustituir la antigua obligación
de servicio personal miliciano por dinero. Como las guardias viejas,
esta fuerza acabaría diluyéndose con la llegada de los Borbones.37
En el ámbito de la política de intervención militar exterior, a lo
largo del xvii se iban a plantear nuevos problemas que pondrían en
jaque el nivel de carga fiscal que podían soportar los reinos, sobre
todo Castilla, y su capacidad de allegar hombres y recursos al rey.
En el contexto de la geopolítica europea, Italia continuó ocupando
un lugar muy importante. Nápoles y Sicilia siguieron desempeñando
un papel fundamental a la hora de movilizar recursos militares y

36
  Martínez Ruiz y Pi Corrales, Las Guardas de Castilla…
37
  Jiménez Estrella, «Las milicias en Castilla…».

405

Monárquias Ibéricas.indb 405 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

hombres, registrándose en ambos territorios un notable incremento


de la presión fiscal y reclutadora. A pesar de la aparición de fuertes
motines, siguieron manteniendo una importante dotación de tercios
y guarniciones militares de presidio, intensificándose aún más por
el estallido de la Guerra de Mesina en 1674.38 Milán, por su parte,
continuó siendo una plaza de armas de indudable relevancia para los
intereses estratégicos de la Monarquía, sobre todo tras el estallido
de la Guerra de los Treinta Años. Incluso en época de Carlos II, el
­Milanesado continuó albergando el segundo ejército en importan-
cia de la Monarquía, manteniendo un buen sistema de reemplazo
de hombres, que permitió una media de 15 000 efectivos anuales.
Allí el nivel de colaboración militar estuvo fuertemente condicio-
nado por una mayor participación de las elites locales en el gobierno,
muy especialmente la nobleza lombarda, interesada en controlar los
cargos de la oficialidad.39
No obstante, Flandes continuó concentrando, con diferencia,
la mayor parte de los recursos humanos y económicos durante el
siglo xvii. Es cierto que, acuciado por el agotamiento de la hacienda
castellana, Felipe III logró un cierto respiro con la firma de la tregua
en 1609. Pero también lo es que al final de su reinado, la Monarquía
iba a entrar en un conflicto sin precedentes, la Guerra de los Treinta
Años, que obligaría a movilizar grandes contingentes en Europa
­Central y una peligrosa dispersión de fuerzas. En primer lugar,
­Flandes se vio altamente afectado por la política francesa de cortocir-
cuitar los corredores militares españoles, habilitados en el siglo ante-
rior. Tras el intento de Enrique IV con el Tratado de Lyon en 1604,
la pérdida de Breisach en 1639 acabó cortando el Camino Español.
A ello había que unir el problema de la financiación, sin duda, el prin-
cipal escollo. Desde fines del siglo xvi, el gasto militar en Flandes se
multiplicó enormemente, y ello hizo necesario recurrir a los asentis-
tas privados, genoveses y portugueses. Como ha demostrado Alicia
Esteban, el sistema de finanzas y contabilidad del ejército desple-
gado en Países Bajos durante el período comprendido entre 1592 y
1630, pasó por importantes problemas. La autora destaca, asimismo,

38
  Luis Antonio Ribot García, La Monarquía de España y la guerra de Mesina
(1674-1678) (Madrid: Actas, 2002).
39
  Davide Maffi, La cittadella in armi. Eserito, società e finanza nella Lombardia
di Carlo II 1660-1700 (Milán: Franco Angeli Storia, 2010).

406

Monárquias Ibéricas.indb 406 13/12/18 14:56


Ejército y reformas militares en la Monarquía Hispánica

lo importante que fue la negociación con los Estados Provinciales


para arbitrar medios que permitiesen co-financiar la defensa – las
provincias flamencas contribuían con aproximadamente un 25% del
gasto del ejército de Flandes-, y el papel jugado por asentistas y par-
ticulares en el flujo del crédito y el sistema de paga y provisión del
ejército.40 A pesar del paréntesis de la tregua, el nivel de gasto y el
esfuerzo de reclutamiento no dejaron de ascender, multiplicándose
enormemente con la apertura de nuevos frentes entre 1635 y 1640.
Aun así, la Monarquía Católica redobló sus esfuerzos por mantener
en el territorio a su ejército más numeroso, un contingente de entre
70 000 y 80 000 hombres en dicho período.
Estas cifras ponen en tela de juicio la idea de una crisis genera-
lizada del sistema militar español en Europa durante el reinado de
Felipe IV. En ese proceso de decadencia, siempre se ha señalado
como un hito la batalla de Rocroi de 1643 que, no cabe duda, supuso
un duro golpe para Madrid. Sin embargo, no fue el gran desastre
anunciado por la Gazette de Renaudot y la propaganda del joven
Luis XIV, posteriormente reproducido y amplificado por la historio-
grafía francesa del siglo xix.41 No obstante, algunos autores, como
González de León, han continuado perpetuando dicho mito, afir-
mando que Rocroi puso de manifiesto las graves carencias de un
ejército anquilosado, poco flexible y anclado en viejas tradiciones,
debido a la multiplicación, en época de Olivares, de generales y ofi-
ciales de procedencia aristocrática y sin apenas formación ni expe-
riencia, en contraste con la época «gloriosa» del duque de Alba, en
la que prevalecía el mérito en el sistema de ascensos.42 Sin embargo,
esta tesis ha sido fuertemente criticada por la historiografía militar
más reciente, aduciendo que los problemas orgánicos y de falta de
preparación de la oficialidad que aquejaban al ejército hispánico fue-
ron moneda corriente en otros como el holandés, el sueco o el fran-
cés, considerados tradicionalmente más modernos y eficientes. Así,
los problemas de la maquinaria militar de Felipe IV se deberían más
bien a la falta de financiación y la enorme presión fiscal y reclutadora

40
  Alicia Esteban Estríngana, Guerra y finanzas en los Países Bajos católicos. De
Farnesio a Spínola (1592-1630) (Madrid: Laberinto, 2002).
41
  Jiménez Estrella, «Pavie (1525) et Rocroi (1643)...».
42
  Fernando González de León, The Road to Rocroi: Class, Culture and Com-
mand in the Spanish Army of Flanders, 1567-1659 (Boston: Brill, 2009).

407

Monárquias Ibéricas.indb 407 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

que pesaba sobre los reinos hispánicos, que a una cuestión de falta de
cabezas y de estancamiento orgánico, como ha puesto de manifiesto
Davide Maffi.43 La idea de que Rocroi significó el inicio de la deca-
dencia militar de la Monarquía no se sostiene. Incluso años después,
tras la firma de la paz con los holandeses, los ejércitos de Felipe IV
cosecharon victorias importantes en Gravelinas y Dunquerque en
1652, o en Valenciennes en 1656. Tampoco supuso una reducción
drástica de los efectivos militares movilizados en Flandes, cifrados
en más de 75 000 hombres. Al menos hasta 1658, cuando se produjo
la aplastante derrota de las Dunas, se mantuvo esta situación. Fue a
partir de 1666, en el contexto de la política hegemónica de Luis XIV,
cuando se registró una reducción importante del contingente militar
destacado en la zona, prácticamente a la mitad, en un proceso que
no tenía que ver tanto con problemas de organización de las unida-
des del tercio, sino más bien con la mala situación financiera de la
Monarquía. Aun así, Antonio J. Rodríguez ha relativizado la idea de
la decadencia militar hispana durante el reinado de Carlos II, soste-
niendo que en dicho período la Monarquía todavía tenía capacidad
para movilizar ejércitos en campaña. A pesar del ambiente generado
por el problema sucesorio y que las cifras no pueden compararse a
períodos anteriores, de mayor pujanza hegemónica, todavía se con-
servaban guarniciones importantes en los principales presidios de
Italia, en el norte de África y en Países Bajos. En los últimos se man-
tuvo una media superior a los 32 000 soldados, que durante la ­Guerra
de Devolución (1668-1669) subió a 45 000, para caer en picado a par-
tir de la década de 1680-90 y hasta el final de la Guerra de los Nueve
Años, registrándose mínimos históricos en el ejército de Flandes –
menos de 15 000.44
¿En qué medida se trasladaron los problemas de la maquina-
ria militar hispana a las Indias? Hay que partir de la base de que
durante el siglo xvii hubo un mayor esfuerzo para dotar de recur-
sos, pertrechos y hombres el sistema de presidios y fortalezas que
se había habilitado desde la conquista, esfuerzo que ya arrancaba de

43
  Davide Maffi, En defensa del imperio. Los ejércitos de Felipe IV y la guerra por
la hegemonía europea (1635-1659) (Madrid: Actas, 2013).
44
  Antonio José Rodríguez Hernández, Los Tambores de Marte. El reclutamiento
en Castilla durante la segunda mitad del siglo xvii (1648-1700) (Valladolid:
Universidad de Valladolid-Castilla Ediciones, 2011), 23-24.

408

Monárquias Ibéricas.indb 408 13/12/18 14:56


Ejército y reformas militares en la Monarquía Hispánica

los ­últimos años de la centuria anterior. A lo largo del Seiscientos se


construyeron nuevas fortificaciones abaluartadas, se incrementaron
las guarniciones militares permanentes y se estableció un sistema de
protección naval más ambicioso. Uno de los problemas que había
que afrontar era el planteado por los indígenas en las dos fronteras
más activas y militarizadas de la América colonial: la zona norte de
Nueva España, donde la amenaza de los chichimecas determinó la
formación de una peligrosa frontera y la construcción de algunos
presidios, precarios en comparación con los que se iban a edificar en
el siglo xviii,45 y la difícil frontera chilena, donde se levantaron nue-
vos fuertes con guarniciones permanentes, a fin de hacer frente a las
incursiones de los araucanos. No en vano, y ante la rebelión araucana
de 1598, sabemos que tuvieron que abandonarse numerosos asen-
tamientos fronterizos españoles, y que en 1600 se ordenó el envío
de unos 1000 hombres al ejército de Chile, para tratar de pacificar
la frontera. El objetivo no se consiguió, pero la amenaza indígena
justificó el mantenimiento de una fuerza cuya media de efectivos se
situó en torno a los 1500-2000 hombres durante todo el siglo xvii,
un contingente en constante alerta por la inestabilidad de la frontera
araucana, y que creó importantes necesidades de financiación y abas-
tecimiento, con cargo al situado limeño.46
Por otro lado, la Corona trató de dar una respuesta mucho más
contundente al problema de la piratería y el corso en las costas e islas,
sobre todo en el área del Caribe. Dada la precariedad e inutilidad de
algunas fortalezas costeras, se intensificó el programa de construc-
ción y reedificación que se había iniciado a fines del xvi, fortificando
y amurallando muchas ciudades, con objeto de evitar los ataques cor-
sarios. Al igual que en la centuria anterior, el área donde se realizó
una mayor inversión económica fue la del Golfo-Caribe, convertida
en el verdadero núcleo de la defensa en la América hispana durante
el siglo xvii. Como ha demostrado Rafael Reichert, el situado de la

45
  Sobre esta cuestión, vid.: Luis Arnal, «El sistema presidial en el septentrión
novohispano, evolución y estrategias de poblamiento», Scripta Nova. Revista
electrónica de Geografía y Ciencias Sociales, Vol. X, 218, 26 (1 de agosto de 2006).
http://www.ub.edu/geocrit/sn/sn-218-26.htm
46
  Las dimensiones de este mercado de consumo han sido bien estudiadas por
Margarita Gascón, «Comerciantes y redes mercantiles del siglo xvii en la frontera
sur del Virreinato del Perú», Anuario de estudios americanos, vol. 57, 2 (2000): 413-
-448.

409

Monárquias Ibéricas.indb 409 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Caja Real de México destinó una parte muy importante de sus fondos
a la financiación y provisión de los presidios militares caribeños, de
los que La Habana, convertida en la plaza de armas de mayor impor-
tancia estratégica para los intereses de la Monarquía Hispánica en la
zona, concentró prácticamente un 40% durante todo el siglo xvii,
seguida de San Agustín, por su papel estratégico en la frontera marí-
tima con el emplazamiento inglés de Virginia.47 Cartagena de Indias,
gracias a los programas de fortificación de fines del xvi y las mejoras
introducidas durante el xvii, se erigió en la plaza mejor fortificada de
toda la costa atlántica. También se establecieron fortificaciones en el
Pacífico, en el Callao, Panamá, Guayaquil, Valdivia y Valparaíso, y se
amuralló Lima en 1685, del mismo modo que en Filipinas se refor-
zaron las defensas de Cavite. El objetivo era arrostrar la amenaza de
un corso de pabellón francés e inglés, cuyos ataques implicaron la
pérdida de algunos enclaves, como la parte occidental de La Espa-
ñola, Martinica en 1635 y Jamaica en 1655. A este corso se uniría en
el xvii, con más fuerza si cabe, el de pabellón holandés. Precisamente,
la firma de la Tregua de los Doce Años con las Provincias Unidas
no comprendía los territorios de Ultramar, de modo que a partir de
entonces los holandeses comenzaron un proceso de expansión por las
Indias Orientales, el Caribe y Brasil, llevando a cabo una política de
hostigamiento constante sobre buena parte de las colonias portugue-
sas bajo control hispano, ya que la anexión de Portugal a la Monarquía
había lesionado sus intereses en el comercio del azúcar. Ante la esca-
lada de ataques holandeses, la Monarquía intentó arbitrar medidas de
respuesta. Tras el asalto holandés de 1615, se procedió a construir el
presidio del C
­ allao, donde se iba a instalar el contingente militar más
importante del Perú desde la conquista, en estrecha conexión con la
Armada del Mar del Sur. En respuesta al ataque de Piet Heyn a Sal-
vador de Bahía en 1624, se aprestó una gran armada hispano-portu-
guesa de más de 50 navíos, al mando de don Fadrique de Toledo, que
permitió recuperar la plaza. Posteriormente, los holandeses tomaron
Pernambuco – 1630 – y ocuparon la isla de Curaçao – 1634.48

47
  Rafael Reichert, «El situado novohispano para la manutención de los presidios
españoles en la región del Golfo de México y el Caribe durante el siglo xvii», Estudios
de historia novohispana, 46, (2012): 556.
48
 Cornelio Coslinga, Los holandeses en el Caribe (La Habana: Casa de las
Américas, 1983).

410

Monárquias Ibéricas.indb 410 13/12/18 14:56


Ejército y reformas militares en la Monarquía Hispánica

En una clara continuación de lo que había sido la política defen-


siva de la Monarquía en Indias, a lo largo del xvii asistimos a un
reforzamiento de las fuerzas navales que operaban en la zona. Tras
los ataques de Drake a la costa del Pacífico, en 1591 se creó la
Armada del Mar del Sur, una escuadra de unos 5 galeones, destinada
a proteger las costas y la ruta del Pacífico que cubría el trayecto de
la plata peruana entre el Callao y el istmo de Panamá, en conexión
con el sistema de flotas del Caribe, rumbo a Sevilla.49 En 1635 se
creaba la Armada de Barlovento, puesta en funcionamiento cinco
años después, debiendo dedicarse a patrullar el Atlántico y proteger
sus costas. Sin embargo, los buques de esta armada, que pasó por dis-
tintas vicisitudes a lo largo del xvii, priorizaron la protección de las
flotas de la Carrera de Indias frente a la defensa portuaria y costera,
entrando en decadencia a fines del siglo xvii.50
El problema, en gran medida, era que la política de fortificaciones
y defensa naval no se vio complementada con un incremento sustan-
cial de las guarniciones militares profesionales en América. Es cierto
que hubo un cierto aumento de los efectivos, favorecido por el fenó-
meno natural del crecimiento demográfico y el elemento criollo, que
constituía un refuerzo importante sobre el flujo de hombres para la
guerra que circulaban desde la Península hacia las Indias. No obs-
tante, fue insuficiente. A lo largo del Seiscientos, el ejército indiano
era mayoritariamente de procedencia peninsular. Su extracción social
era baja y con un componente marginal importante – vagos, delin-
cuentes, etc. –, al igual que ocurría con las levas que por entonces
se realizaban en la Península para otros escenarios bélicos. Marchena
calcula que en el siglo xvii, las dos áreas donde se concentró esta tropa
fueron los presidios del Caribe y la región de Chile, aunque al primero
no se enviaron más de 5000 hombres, mientras que en la segunda
su número no fue superior a los 2500.51 Estas cifras, raquíticas si se
comparan con los escenarios de guerra y las fronteras europeas de la

49
  Pablo Emilio Pérez-Mallaína y Bibiano Torres Ramírez, La Armada del mar
del Sur (Sevilla: Escuela de Estudios Hispanoamericanos, 1987).
50
 Bibiano Torres Ramírez, La Armada de Barlovento (Sevilla: Escuela de
Estudios Hispanoamericanos, 1981).
51
  Juan Marchena Fernández, «Las levas de soldados a Indias en la Baja Anda-
lucía, siglo xvii», en Actas de las III Jornadas de Andalucía y América en el siglo xvii
(Sevilla: CSIC-Escuela de Estudios Hispanoamericanos, 1985), vol. I, 93-118,
maxime 94-95, 104-108.

411

Monárquias Ibéricas.indb 411 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Monarquía, demuestran que el ambicioso programa de fortificaciones


emprendido en Indias no se correspondió con un incremento paralelo
de los efectivos militares de guarnición, lo que implicó que se tuviese
que continuar recurriendo a las milicias locales en áreas fronterizas y
peligrosas desde el punto de vista defensivo. La cuestión de los flujos
migratorios de los militares entre la Península y América evidencia,
por otro lado, que nos queda mucho por investigar sobre la impor-
tancia que pudo revestir la circulación de soldados y oficiales, de sus
experiencias y conocimientos, a uno y otro lado del Atlántico durante
la etapa de los Habsburgo. ­Conocer qué porcentaje de veteranos de
la milicia que presentaban sus memoriales y solicitudes de mercedes,
sueldos y pensiones ante el Consejo de Guerra, certificaron servicios
en Flandes o Italia, y luego pasaron a Indias, o viceversa. El lugar que
las Indias ocupaban en la configuración de sus cursus honorum. Saber
en qué medida América formó parte de sus aprendizajes y procesos de
promoción militar. Que el siglo xviii fuese el período por excelencia
de las grandes reformas administrativas y militares de los Borbones,
en el que se registró, como veremos, un incremento sin precedentes
de la tropa profesional desplegada en territorio americano, y que con-
temos con menos fuentes para las dos centurias anteriores, hace aún
más difícil el análisis.

Las reformas borbónicas en el ejército de España


y América. Realidades y mitos
Reforma militar en tiempos de Felipe V

Apenas recién amanecido el siglo xviii, el cambio dinástico supuso


en algunos ámbitos del gobierno de la monarquía la transformación
de estructuras heredadas del largo período de los Austrias. Aunque
la historiografía viene insistiendo en los últimos años en la existencia
de más elementos de continuidad que de cambio entre Austrias y
Borbones, lo cierto es que, en lo que se refiere a la institución militar,
las transformaciones fueron radicales.52 Del mismo modo, aunque

  Anne Dubet, «¿La importación de un modelo francés?: las reformas de la


52

administración española a principios del siglo xviii», Revista de Historia Moderna,


Anales de la Universidad de Alicante, 25 (2007): 207-234.

412

Monárquias Ibéricas.indb 412 13/12/18 14:56


Ejército y reformas militares en la Monarquía Hispánica

numerosos estudios han insistido en que el periodo por excelencia


de reforma militar fue el reinado de Carlos III, tomando como para-
digmas de esa reforma la publicación de las Ordenanzas Militares en
1768 en Madrid y, para el caso americano, la reforma de las milicias
acometida a partir del año 1764 tras la toma de La Habana, es preciso
señalar que, de ese análisis del reformismo borbónico, prácticamente
se ha ignorado la etapa en que en todos los ámbitos de la institución
militar se produjeron más cambios y de mayor calado, y que no fue
otra que la primera década del reinado de Felipe V.
La creación de un nuevo modelo militar, a partir del referente
del ejército de la Francia de Luis XIV fue, sin lugar a dudas, no solo
una de las principales transformaciones que permiten identificar
a los Borbones con el «reformismo»53 sino que, si lo comparamos
con otras innovaciones en la maquinaria de gobierno, junto con la
implantación del sistema ministerial, puede considerarse como uno
de los iconos de referencia que permiten identificar al cambio dinás-
tico con el tan manido concepto de «reformismo borbónico».
La aplicación de ese modelo importado de Francia fue posible no
solo por una voluntad política de aunar estructuras de dos ejércitos
que en aquellos primeros años de la centuria luchaban de la mano en
la Guerra de Sucesión contra los ejércitos austracistas, sino que se
vio facilitado sobremanera por el escaso número de efectivos here-
dados del reinado de Carlos II.54 Y aunque, hasta no hace mucho, se
había considerado que la principal reforma había sido la sustitución
de los gloriosos tercios por la nueva estructura de regimientos, lo
cierto es que ese cambio no fue el único ni el más relevante. Como
hemos mostrado en otros estudios, las transformaciones operadas en
el ejército de Felipe V, y que iban a perdurar durante toda la centuria,
amén de la antedicha, se pueden sintetizar en las siguientes: la intro-
ducción de una nueva jerarquía de grados en el escalafón con rangos
inéditos en la Monarquía Hispánica, como los de teniente, ­brigadier

53
  Luís Ribot García, «Las reformas militares y navales en tiempos de Felipe V»,
en Estudios de historia: homenaje al profesor Jesús María Palomares, coords. Elena
Maza Zorrilla, María de la Concepción Marcos del Olmo (Valladolid: Universidad
de Valladolid, 2006), 129-162.
54
  Francisco Andújar Castillo, «El ejército y la guerra en el siglo xviii. La histo-
ria por hacer», en Perspectivas y novedades de la Historia Militar: una aproximación
global, dir. Enrique Martínez Ruiz y Jesús Cantera Montenegro (Madrid: Ministe-
rio de Defensa, 2014), 497-514.

413

Monárquias Ibéricas.indb 413 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

o mariscal de campo, además de la sustitución de los antiguos maes-


tres de campo por coroneles; la reorganización de las milicias pro-
vinciales, aunque para un plan definitivo habría que esperar hasta el
año de 1734; la configuración del escalafón como un instrumento
de poder real, de modo que la única capacidad de nombramiento de
la oficialidad pasó a estar exclusivamente en manos del monarca; la
creación de espacios de control inéditos, como fueron las inspec-
ciones generales y las direcciones generales de las respectivas armas;
y la reconfiguración del poder territorial mediante la atribución de
nuevas facultades a los Capitanes Generales. Por otro lado, desde
una perspectiva social, la transformación de gran calado radicó en
la organización de la institución militar a semejanza de la estructura
social, de modo que se reservarían los puestos de la oficialidad para
la nobleza al crear la figura del cadete como vía especial en la que,
mediante la acreditación de la condición de hidalgo, se accedería por
una senda privativa hacia los empleos de mando de los regimientos y,
en consecuencia, hacia los empleos del generalato.55
Con todo, a nuestro juicio, una de las principales modificacio-
nes que se iban a producir durante los primeros años de la centu-
ria estuvo en la creación de dos estructuras diferenciadas dentro del
ejército borbónico. Por un lado, se situarían las armas del ejército
regular, infantería, caballería, artillería e ingenieros. Por otra parte
se creó lo que hemos denominado como «ejército cortesano», for-
mado por los regimientos de Guardias del rey – Corps, Guardias de
­Infantería Españolas y Walonas, Alabarderos y Granaderos Reales
a Caballo – que se erigiría como un particular «ejército dentro del
ejército» y que a la postre, en razón a su proximidad al soberano y al
disfrute de un sinfín de privilegios, copó la mayor parte de los pues-
tos del generalato a lo largo de toda la centuria.56
Finalmente, más que una reforma en materia de creación de nue-
vos cuerpos de ejército y reclutamiento de soldados, lo que realmente
se acometió fue la formación de un nuevo ejército en plena guerra
sucesoria, para lo cual se recurrió fundamentalmente a servicios de

55
  Francisco Andújar Castillo, «La reforma militar en el reinado de Felipe V», en
Felipe V de Borbón, 1701-1746, coord. José Luis Pereira Iglesias (Córdoba: Univer-
sidad de Córdoba, 2002), 615-640.
56
  Francisco Andújar Castillo, «El ejército de Felipe V. Estrategias y proble-
mas de una reforma», en Felipe V y su tiempo. Congreso Internacional, coord. Eliseo
Serrano (Zaragoza: Institución Fernando el Católico, 2004), 655-676.

414

Monárquias Ibéricas.indb 414 13/12/18 14:56


Ejército y reformas militares en la Monarquía Hispánica

municipios y reinos, así como a la firma de contratos privados con


asentistas o levantadores. En los tres casos, los «contratistas» sumi-
nistraban regimientos vestidos y armados a cambio de la percepción
de las patentes de oficiales en blanco que, en el caso de los particula-
res, entraban de inmediato en un intenso mercado venal, y en el caso
de reinos y municipios, o bien se distribuían de forma gratuita entre
las oligarquías locales o bien se enajenaban igualmente para sufragar
los costos de las reclutas.57
¿En qué medida, cuándo y cómo las reformas descritas llegaron
a América? Una respuesta, ni aun aproximada a esta problemática,
puede abordarse, porque la mayor parte de la historiografía, espa-
ñola y americanista, ha tenido como principal foco de atención en
sus estudios sobre el ejército en América las reformas acometidas
durante el reinado de Carlos III, así como la composición de las
unidades – mayor o menor presencia de criollos o peninsulares –
para analizar su incidencia en los procesos de independencia que se
desarrollarían a partir de 1810. Cada territorio americano cuenta con
estudios sobre esa problemática de la criollización del ejército bor-
bónico en las postrimerías del siglo xviii y albores del xix.58
Más allá de episodios puntuales que fueron correlato del conflicto
que se vivió como consecuencia de la dimensión internacional de la
Guerra de Sucesión, como los acaecidos en Cuba con los ingleses en
Cartagena de Indias o las actitudes proborbónicas o proaustracistas
adoptadas por los principales cargos de la monarquía en América, el
impacto de las reformas de Felipe V sobre las tropas del otro lado
del Atlántico fue mucho más tardío y afectó en menor medida, por
cuanto la estructura de uno y otro ejército presentaba rasgos dife-
renciales acusados. La única excepción, pero que en el fondo fue una
tímida reforma, por cuanto tan solo afectó a un corto número de
efectivos, que tras el cambio supusieron un total de 13 compañías,
se produjo en Chile con el conocido como «Real Placarte de 25 de
abril de 1703», que vino a reorganizar el ejército existente en aquel
territorio, pero lo hizo, no sobre el nuevo modelo regimental, por
lo que no se puede considerar plenamente como una reforma que

57
  Francisco Andújar Castillo, «Guerra, venalidad y asientos de soldados en el
siglo xviii», Studia historica. Historia moderna, 35 (2013): 235-268.
58
  Juan Luis Ossa Santa Cruz, «La criollización de un ejército periférico, Chile,
1768-1810», Historia, 43 (2010): 413-448.

415

Monárquias Ibéricas.indb 415 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

siguiera la nueva planta que se acababa de dar en España al ejército


borbónico, pues ni siquiera adoptó en cuanto a número de efectivos
y organización el modelo de los viejos tercios imperiales.
Como diversos estudios han mostrado, las tropas existentes en
América respondían a un modelo defensivo similar al existente en los
presidios del norte de África, al cual se sumaban las tropas destacadas
en los espacios de frontera donde aún, a la altura de las primeras déca-
das del siglo xviii, persistían conflictos con los indios. Que sepamos,
el modelo de los tercios que caracterizó a los ejércitos de los Austrias,
no estuvo presente como tal en América. El alcance de la reforma
militar de Felipe V fue prácticamente inapreciable en el conteniente
americano, más allá de los lógicos cambios que supuso la introduc-
ción de la nueva jerarquía castrense. No obstante resta por estudiar
el problema de si en América se aplicó o no la reserva en la persona
del monarca de la capacidad absoluta para nombrar a los oficiales del
ejército. Los datos disponibles apuntan a que, al menos durante los
primeros años de la centuria, los virreyes siguieron conservando la
potestad de nombrar a la oficialidad, en especial a la de las nuevas uni-
dades que se levantaban por vez primera, circunstancia que no se iba a
producir en los ejércitos de la metrópoli, pues Felipe V centralizó en
su persona la provisión de todos los cargos militares.
Más que reforma militar lo que se produjo, una vez concluida
la Guerra de Sucesión, fue un incremento del número de efectivos
en América, al crearse nuevas unidades fijas a partir del año 1719.
De hecho, se considera que la primera unidad de lo que luego se
dominarían como «cuerpos fijos o veteranos» se erigió en Cuba en
el año 1719, cuando vio la luz un reglamento que venía a organizar
la guarnición de La Habana así como la de sus castillos y fuertes de
su jurisdicción al crearse una unidad mixta formada por siete com-
pañías de infantería, una de caballos y otra de artillería.59 Por tanto,
la estructura militar existente en América no experimentó cambios
significativos durante la primera década de la centuria, al contrario
de España, donde se operaron profundas transformaciones.
Se podría afirmar pues que mientras que en España el sistema
militar heredado de los Austrias se transformó a partir del año de

  Manuel Gómez Ruiz y Vicente Alonso Juanola, El ejército de los Borbones.


59

III. Tropas de Ultramar. Siglo xviii (Madrid: Servicio histórico militar – Museo del
ejército, 1992), t. II, 7.

416

Monárquias Ibéricas.indb 416 13/12/18 14:56


Ejército y reformas militares en la Monarquía Hispánica

1702, la llegada de la reforma militar a América debió esperar hasta


los años siguientes a la toma de La Habana por los ingleses, a par-
tir del año 1764. Durante ese largo período de tiempo la principal
transformación que experimentó el ejército existente en América
fue el cambio y adaptación de las «compañías de presidios» a la
nueva estructura de compañías, batallones y regimientos, aunque
estos últimos tendrían unas dimensiones, cual sucedía en los exis-
tentes en España, muy desiguales, pues iban desde aquellos que se
componían de un solo batallón, de unos 500 o 600 soldados, hasta
los que acogían a dos batallones, e incluso excepcionalmente a
tres. Como es obvio, la estructura de mando se modificó en ambos
territorios para dar cabida a las nuevas figuras de la jerarquía cas-
trense introducidas a imitación del modelo militar de la Francia de
Luis XIV.
Sin embargo, una de las reformas principales, acometida en
aras de la centralización del poder y del control sobre las tropas,
como fue la creación de las inspecciones en 1704, tendría que espe-
rar hasta las reformas carolinas posteriores a 1764 para que llegase
hasta ­América. Los inspectores se convirtieron en el lazo directo
entre los distintos cuerpos de ejército y la Secretaría del Despacho
de Guerra. No tuvieron un mando directo o militar sobre las uni-
dades básicas de actuación, sobre los regimientos, pero se ocuparon
del control periódico de la instrucción, víveres, disciplina, servicio,
revistas, manejo de caudales, gobierno interior y vestuario, materias
que les erigía en responsables del buen estado y preparación del ejér-
cito en tiempos de paz para una mayor efectividad en los tiempos
de conflicto. En América, al no introducirse figuras semejantes a
las de los inspectores, el control sobre las unidades siguió estando
en poder de los capitanes generales y gobernadores de las distintas
demarcaciones, quienes, a su vez, dependían de los virreyes. Pero se
trataba de un mando militar en cuanto a intervención de las tropas
en cualquier acción militar, no en materia de organización. Ese cam-
bio, como señalamos, tardaría sesenta años en llegar a América y en
ese largo período de tiempo nadie se ocupó de tareas esenciales para
que los distintos cuerpos de ejército se mantuviesen en el buen pie
necesario para el cumplimiento de sus funciones. En cierto modo, la
introducción de figuras como las de los inspectores, habría supuesto
una cierta merma de la autoridad de los capitanes generales, gober-
nadores y virreyes. No en vano, cuando se enviaron los primeros

417

Monárquias Ibéricas.indb 417 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

inspectores a América los conflictos estuvieron a la orden del día.


Así, por ejemplo, cuando en diciembre de 1767 Felipe Fonsdeviela
Ondeano, marqués de la Torre, fue enviado como inspector general
de la infantería veterana y milicias de Nueva España, se vio obligado
a dimitir en el cargo a causa de sus enfrentamientos con el marqués
de Croix, virrey y militar de graduación superior a la que ostentaba
Fonsdeviela por entonces.

Una tibia reforma en tiempos de Ensenada

En consecuencia, a nuestro juicio, para que se produjera la primera


«reforma militar» del siglo xviii en América, habría que esperar hasta
los años de 1751-1753, si bien, como mostraremos, tuvo un alcance
limitado. Sobre la misma no se ha profundizado hasta ahora, a pesar
de que tuvo gran trascendencia en el ámbito del gobierno político y
militar del territorio americano. En 1751, el entonces poderoso mar-
qués de la Ensenada, decidió cortar de forma radical con el sistema
de nombramiento de gobernadores, corregidores, alcaldes mayores,
e incluso capitanes generales, que había venido prevaleciendo a lo
largo de aquella primera mitad de la centuria, y que no era otro que el
de la provisión de los cargos por dinero, esto es, por servicios pecu-
niarios, que se abonaron en un contexto marcado por la presencia
del «oro» como factor determinante en la designación de los agentes
del rey en diferentes ámbitos de la administración, incluyendo entre
ellos los cargos de justicia, hacienda e incluso los de gobierno mili-
tar.60 Pretendía acabar con un sistema venal que se había extendido
desde que a partir del año 1674 el rey quitara a los virreyes la facultad
de proveer los cargos de gobierno político para subrogarse esa capa-
cidad y, al tiempo, proveerlos por dinero, permitiendo que la autori-
dad militar en América en las diferentes circunscripciones militares
estuviese en poder de algunos individuos de más que dudoso presti-
gio y competencia profesional.
La segunda vertiente de esa reforma militar, promovida por el mar-
qués de la Ensenada, afectó directamente a los efectivos castrenses
existentes en América. Aunque el tema ha sido poco tratado, conviene

  Guillermo Burgos Lejonagoitia, Gobernar las Indias: Venalidad y méritos en la


60

provisión de cargos americanos, 1701-1746 (Almería: Universidad de Almería, 2015).

418

Monárquias Ibéricas.indb 418 13/12/18 14:56


Ejército y reformas militares en la Monarquía Hispánica

anotar que las reformas impulsadas durante los primeros años del rei-
nado de Carlos III tuvieron su precedente inmediato en la etapa en
que Ensenada estuvo al frente de la Secretaría del Despacho de Guerra.
Desde el año de 1748 y hasta 1753, en que vieron la luz la mayor parte
de los reglamentos que iban a regular las nuevas unidades, el marqués
de la Ensenada emprendió en diferentes escenarios del continente ame-
ricano una política de creación de unidades fijas que aunque no tuvo un
carácter generalizado sí que supuso la formación de cuerpos profesio-
nales con carácter permanente. En parte se levantaron aprovechando
los oficiales y soldados de las escasas unidades que habían sido enviadas
desde España, pero también se formaron con personal reclutado en los
mismos territorios. El artífice de esa política en el virreinato del Perú
sería un paisano del propio Ensenada, José Antonio Manso Velasco,
ennoblecido como conde de Superunda desde 1748, quien había sido
nombrado virrey en 1745. En Lima, siguiendo ordenes dictadas desde
Madrid, formó un regimiento en 1753, el de Infantería Real de Lima,
reglamentó la guarnición de El Callao, y en Chile reguló también los
de Concepción, Valparaíso, Valdivia y Chiloé.61 Por su parte, en Nueva
España el virrey, conde de Revillagigedo, aumentó las defensas del cas-
tillo y plaza de Campeche creando un nuevo batallón, en tanto que en
La Habana transformó el antiguo batallón en un regimiento de cua-
tro batallones mixtos integrados por fusileros, dragones y artilleros.
La peculiaridad principal de este regimiento radicó en que las reclutas
debían hacerse en España, concretamente en Canarias. Paralelamente,
en Caracas, también en 1753 se levantó un cuerpo de ejército menor, un
batallón fijo de infantería, formado por oficiales y soldados de piquetes
que habían llegado desde España en los años anteriores.
La tercera reforma de Ensenada afectó al ejército existente en
España. En el año 1749 redujo el 20% de los efectivos totales del
ejército, si bien su objetivo fundamental fue iniciar un ataque frontal
contra los privilegiados cuerpos de las Guardias Reales que depen-
dían directamente del monarca y, por ende, escapaban a su control
como Secretario del Despacho de Guerra.62 A tal efecto, las ­tropas de

  Gómez Ruiz y Alonso Juanola, El ejército de los Borbones…, 308-309.


61

  Francisco Andújar Castillo, «La ‘reforma’ militar del marqués de la Ense-


62

nada», en El equilibrio de los imperios: de Ultrecht y Trafalgar, eds. Agustín Guimerá


Ravina y Víctor Peralta Ruiz (Madrid: Fundación Española de Historia Moderna,
2005), 519-536.

419

Monárquias Ibéricas.indb 419 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

la Casa Real fueron minoradas en un 50% de sus efectivos y, como


consecuencia de la reforma, pasaron a estar supeditadas al ministro, al
tiempo que perdieron la autonomía que habían gozado hasta enton-
ces. Sin embargo, ese ataque frontal a tan aristocráticos y poderosos
cuerpos, no duró mucho tiempo, pues tras la exoneración de Ense-
nada del cargo en 1754 se inició una «contrarreforma militar» para
volver al orden existente antes de 1749. Lo sorprendente del caso es
que, siendo a la vez Secretario del Despacho de Indias y Guerra, no
aprovechara la reducción de efectivos acometida en España para el
envío de los mismos hacia América. La única explicación posible ha
de buscarse en que por entonces no funcionaba aún en la corte de
Madrid esa política que se extendería unos años después, de refor-
zar de modo sistemático la seguridad de los territorios americanos
mediante el envío de tropas expertas de los regimientos de línea
peninsulares.

Carlos III. Mito y realidad del reformismo militar.

Que la figura de Carlos III haya pasado a la historia como la de


un monarca reformista, tiene en los cambios introducidos en la ins-
titución militar uno de sus principales puntos de anclaje en su argu-
mentación. La historiografía se ha esforzado por presentarlo como el
soberano que impulsó una serie de transformaciones que cambiaron
de forma radical los que habían sido hasta entonces los fundamentos
del ejército borbónico. En su haber siempre se ha situado la promul-
gación de las nuevas Ordenanzas Militares de 1768, que tan larga
vida iban a tener en el ejército español, la introducción del sistema de
quintas, la creación de academias y escuelas militares y, desde luego,
las reformas en el ejército de América, al ampliar la maquinaria mili-
tar mediante la creación de nuevos cuerpos de ejército, la generali-
zación del sistema de milicias y el envío desde España de numerosos
cuerpos de ejército.
Sin embargo, en nuestra opinión, esas reformas militares que con-
virtieron a Carlos III en paradigma del cambio en el siglo xviii deben
ser analizadas en su contexto y con perspectiva. Así, el símbolo del
reformismo que fueron las Ordenanzas de 1768 debería ser interpre-
tado, más que desde una óptica meramente normativa, valorando la
realidad de aplicación efectiva de esas normas. Adopción ante todo

420

Monárquias Ibéricas.indb 420 13/12/18 14:56


Ejército y reformas militares en la Monarquía Hispánica

del sistema militar prusiano en España en cuanto a táctica e instruc-


ción, las innovaciones que introdujeron las ordenanzas en relación
con las compendiadas por Felipe V en 1728, o las dictadas incluso
durante los primeros años de la Guerra de Sucesión, no parece que
fuesen significativas. Por otro lado, basta señalar que, justo cuando
se estaban imprimiendo aquellas ordenanzas, tanto en la Secretaría
del Despacho de Guerra – para engrosar una particular caja – como
con ocasión de la formación de nuevos regimientos, se estaban ven-
diendo – «beneficiando» – empleos de oficiales que venían a concul-
car unas normas que establecían que la antigüedad en el servicio y,
en menor medida el mérito, debían ser los principios vertebradores
del escalafón militar. Por entonces, el «mérito del dinero» permitía
ingresar directamente en los reales ejércitos en calidad de capitán sin
haber desempeñado antes el empleo de teniente. Se podía adquirir
incluso un puesto de coronel.63
Otra reforma atribuida a Carlos III fue la implantación de un
sistema de reclutamiento regular: las quintas. En efecto, el intento
de normalizar con carácter anual un reclutamiento por quintas fue
introducido por la ordenanza de 1770 para reemplazo del ejército.
Sin embargo, su única novedad estribaba en el intento de nutrir con
periodicidad anual los ejércitos de hombres que quedarían obligados
a defender la nación, pues con anterioridad las quintas ya se habían
utilizado desde el reinado de Felipe V como una de las formas de
reclutamiento que coexistían con el enganche de voluntarios y las
levas de «vagamundos».64
Por lo que respecta a la creación de Academias y Escuelas de for-
mación militar, es cierto que se produjo un notable impulso durante
el reinado de Carlos III, pues a ese período corresponde la funda-
ción de centros de tanta relevancia como el Colegio de Artillería de
Segovia, fundado en el año de 1764 y la más efímera – abierta en 1774
y cerrada en 1779 – Escuela Militar de Ávila, erigida por impulso
del irlandés Alejandro O’Reilly, y que acabaría siendo un intento
frustrado de modernización de la enseñanza militar en España.65

63
  Andújar Castillo, El sonido del dinero…, 305.
64
 Fernando Puell de la Villa «La ordenanza del reemplazo anual de 1770»,
Hispania, 189 (1995): 205-228.
65
  Óscar Recio Morales, «Un intento de modernización del ejército borbónico
del xviii: la Real Escuela Militar de Ávila (1774)», Investigaciones históricas: Época
moderna y contemporánea, 32 (2012): 145-172.

421

Monárquias Ibéricas.indb 421 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Le seguirían luego otros centros menores como la Academia de


Caballería y Picadero de Ocaña (1775-1790). No obstante, esas fun-
daciones no pueden eclipsar centros tan importantes y de tan larga
vigencia en el ejército borbónico, instituidos muchos años atrás,
como fueron la Academia Militar de Matemáticas de Barcelona,
fundada en 1699, y que tras un cierre temporal durante la Guerra
de Sucesión permaneció abierta hasta 1805, o la Academia de Orán,
erigida en 1732 y cerrada en 1790, a las cuales habría que sumar la
­Academia Militar de Badajoz, creada en 1712, la de Pamplona, fun-
dada en 1710, o la de Ceuta instituida en 1739.66
Por otro lado, aunque no ha sido entendido por la historiografía
como una reforma, la orientación del ejército hacia las tareas de
orden público y vigilancia del contrabando, o lo que es lo mismo,
la militarización del orden público, sí parece que fue uno de los
cambios más importantes que se produjeron a finales del reinado
de Carlos III en relación al ejército. Como ha señalado Enri-
que ­Martínez Ruiz, la floración de una serie de cuerpos de ejér-
cito especiales dedicados de forma específica al control del orden
público, viene a desmitificar la imagen historiográfica de época
pacífica y armoniosa que tiene el siglo xviii.67 Pero no solo se crea-
ron compañías especiales destinadas a la seguridad pública sino que
también los cuerpos del ejército regular tuvieron una de sus prin-
cipales misiones en esa tarea, y en tratar de poner coto al problema
del contrabando, que conoció una etapa de fuerte intensificación
durante las últimas décadas de la centuria.68
En este campo los paralelismos entre los dos ejércitos, el penin-
sular y el americano, son harto elocuentes. Si en España se asiste a
una militarización del orden público, la situación en América no fue
demasiado diferente. Aun cuando en este último caso la prioridad

66
  Manuel Reyes García Hurtado, «Formación militar de infantería y caballería
en las academias del XVIII», en Educación, redes y producción de élites en el siglo
xviii, eds. José María Imízcoz Beúnza y Álvaro Chaparro Sáinz, (Madrid: Sílex,
2013), 347-372.
67
  Enrique Martínez Ruiz, «Vivir la guerra, vivir la paz: los militares y el man-
tenimiento del orden público», en Soldados de la Ilustración: el ejército español en el
siglo xviii, ed. Manuel Reyes García Hurtado (A Coruña: Universidad de A Coruña,
2012), 83-100.
68
  Miguel Ángel Melón Jiménez, Los tentáculos de la hidra: contrabando y milita-
rización del orden público en España (1784-1800) (Madrid: Sílex, 2009).

422

Monárquias Ibéricas.indb 422 13/12/18 14:56


Ejército y reformas militares en la Monarquía Hispánica

fuese la defensa del vasto territorio costero frente a los potencia-


les enemigos, particularmente los ingleses, también de sofocar las
revueltas indígenas – como las de Túpac Amaru y Túpac Catan en
los Andes así como las que tuvieron lugar en Nueva España – se
­ocuparon las tropas que se habían creado unos años antes en todas
las circunscripciones territoriales de ambos virreinatos.
Precisamente uno de los principales iconos del reformismo mili-
tar carolino se suele ubicar en los cambios introducidos en las tro-
pas existentes en el continente americano a partir del año de 1764.
Sin embargo, en lugar del concepto de «reforma» consideramos más
pertinente el término de «militarización», sobre todo, porque más
que cambios, lo que se produjo realmente fue un sustancial incre-
mento de efectivos por medio de tres vías fundamentales: creación
de innumerables cuerpos de milicias, envío de tropas de refuerzo
desde España, y formación de regimientos fijos integrados por pro-
fesionales de la milicia. Tal incremento, al menos en su fase inicial,
no estuvo determinado por un plan concreto de modificar el statu
quo vigente en América sino que, por el contrario, estuvo forzado
por el verdadero pánico que sembró en el gobierno de Madrid la
toma de los ingleses de La Habana y Manila en los años de 1762-
-1763. Luego, las revueltas indígenas de la década de los ochenta no
solo contribuyeron a mantener esa política de militarización sino
que favorecieron su intensificación durante las postrimerías de la
centuria.
Es cierto que esos acontecimientos obligaron a transformar las
estructuras militares vigentes hasta entonces, que hubo que adop-
tar un nuevo sistema de defensa para responder tanto al enemigo
exterior como a los problemas en el interior con los indígenas, que
fue necesario reformular los mecanismos de colaboración entre las
corona y los patriciados urbanos, pero no menos cierto es que el
núcleo fundamental de la denominada «reforma militar» consistió en
la formación de un contingente militar mucho más numeroso que el
que había existido hasta entonces, ora mediante la idea de armar a los
sectores populares por medio de la creación de innumerables cuerpos
de milicias organizadas según etnias – blancos, pardos y morenos –
ora mediante la formación de cuerpos veteranos que garantizaran un
mejor sistema defensivo y un mayor control social.
Esos aspectos han sido tratados sobradamente por la historio-
grafía americanista y carece de sentido insistir en lugares comunes.

423

Monárquias Ibéricas.indb 423 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

En cualquier caso, conviene añadir algunas notas derivadas del análi-


sis comparativo entre España y América.69
Por lo que respecta a las milicias, anotar que la reforma del sis-
tema que se acometió en América por parte del conde de Ricla y de
O’Reilly y que desde Cuba70 irradió hasta otros territorios – Villalba
y Angulo se encargó de Nueva España, O’Reilly de Puerto Rico, y
en Perú y Río de la Plata fueron los propios virreyes los comisio-
nados para ello – tuvo un claro precedente en la gran reforma del
sistema de milicias provinciales que se acometió en España en 1734.
Aunque las problemáticas defensivas de uno y otro espacio eran bien
distintas, y desde luego las estructuras demográficas muy diferentes,
a la «reforma americana», más que como innovadora, habría que cali-
ficarla como tardía, porque los cambios introducidos en aquel año
de 1734 en las milicias peninsulares no se trasladaron de inmediato
al extenso territorio americano, que siguió conservando práctica-
mente inalterable la situación heredada de la centuria anterior. Otro
problema sería el de la efectividad de unos cuerpos de milicias que
han provocado más ruido en la historiografía que efectividad en la
defensa del territorio americano.
A nuestro juicio, la verdadera reforma militar del reinado de
­Carlos III en América, o si se prefiere, el proceso de militarización
del territorio americano, se produjo desde el momento en que las
unidades del ejército regular peninsular fueron enviadas de forma
sistemática hacia aquellas tierras, formando parte del denominado
«ejército de refuerzo» que debía completar la estructura militar allí
existente. Su misión, como su nombre indica, fue reforzar deter-
minados puntos débiles del sistema defensivo americano o bien
participar en acciones concretas, de forma que el ejército se viese
incrementado con profesionales «expertos» frente al abrumador
peso que hasta entonces habían tenido los cuerpos de milicias en
América, mucho más numerosos que el llamado «ejército de dota-
ción» que se había formado con carácter permanente como mejor
salvaguarda.

69
  Juan Marchena Fernández, Ejército y milicias en el mundo colonial americano
(Madrid: Mapfre, 1992); Santiago Gerardo Suárez, Las milicias. Instituciones milita-
res hispanoamericanas (Caracas: Academia Nacional de la Historia, 1984).
70
 Allan Kuethe, Cuba 1753-1815: Crown, Military and Society (Knoxville,
1988), 62.

424

Monárquias Ibéricas.indb 424 13/12/18 14:56


Ejército y reformas militares en la Monarquía Hispánica

Durante la primera mitad de la centuria, muy pocos cuerpos


del ejército regular se enviaron a América para reforzar su sistema
defensivo. Podría afirmarse que si entendemos la militarización de
un espacio como la presencia masiva de tropas – al menos en relación
a etapas anteriores –, la debilidad de los envíos de efectivos durante
el reinado de Felipe V invita a pensar que para ese período tan solo es
posible hablar de tímidos ensayos de lo que serían las pautas domi-
nantes a partir de 1764. Los datos recogidos en la obra de Gómez
Ruiz y Alonso Juanola ponen de manifiesto que las primeras uni-
dades del «ejército de refuerzo» marcharon el año 1726 con destino
a Nueva Granada – tan solo dos compañías – y que diez años más
tarde fueron enviadas a Buenos Aires un total de nueve compañías
de infantería y dragones, entre las cuales se encontraba una de arti-
llería. Habría que esperar a los años de 1739-1740 para que se envia-
ran nuevas unidades con ocasión del inicio de la Guerra de la Oreja
de Jenkins, y en compañía de Sebastián de Eslava al ser nombrado
virrey de Nueva Granada. Desde esa fecha, con la sola excepción del
envío del segundo batallón del regimiento de infantería de Portugal
al Callao, que partió en 1746, los envíos de tropas del ejército regular
hacia América se detuvieron por completo hasta el inicio del reinado
de Carlos III.71
El panorama cambiaría de forma radical tras la toma de La Habana
por los ingleses, momento a partir del cual las tropas de refuerzo se
enviarían hacia América en mayor cuantía y asiduidad para ayudar al
«ejército de dotación». Sin embargo, habría que considerar que este
último se formó en buena medida, no tanto con hombres nacidos en
América como con soldados y oficiales que habían llegado hasta allí,
formando parte de las unidades del ejército regular enviadas desde
España. Es precisamente esa política de «vasos comunicantes» entre
los dos ejércitos la que explica en gran medida la composición de las
unidades denominadas como «regimientos fijos» que se iban a levan-
tar de forma ininterrumpida desde esa década de los años sesenta
hasta finales de la centuria. En cierto modo, podría afirmarse que
se forjó un nuevo «ejército permanente» en América a partir de la
desmembración parcial del ejército existente en la península ibérica.
Por ejemplo, los dos regimientos fijos creados en México en 1786,
denominados Nueva España y Fijo de México, se formaron a p ­ artir

71
  Gómez Ruiz y Alonso Juanola, El ejército de los Borbones…, t. I, 222.

425

Monárquias Ibéricas.indb 425 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

de algunos oficiales y soldados de los regimiento de infantería espa-


ñoles que habían llegado unos años antes. En Yucatán, de las dos
compañías formadas en 1767, en su mayoría por catalanes, la deno-
minada Compañía Franca de Voluntarios se formó a partir de una
recluta en el regimiento de Infantería Ligera de Cataluña.72 Unos
años antes, tras la pérdida de La Habana, se creó el Regimiento Fijo
de La Habana con tropas procedentes del regimiento de infantería
de Córdoba que había llegado con el conde de Ricla y con O’Reilly.
Por tanto, los análisis que se han hecho en torno a la mayor o
menor presencia de criollos o peninsulares en el ejército del último
tercio del siglo xviii, deberían tener en cuenta que uno de los fac-
tores esenciales en la creación de nuevos cuerpos de ejército per-
manente estuvo en esos flujos humanos desde el ejército peninsular
hacia el «nuevo ejército de América». Es más, incluso se llegaron a
levantar regimientos en España para su envío a ultramar, caso del
regimiento denominado «América», que fue erigido en 1764 para su
envío a Veracruz, y que formó parte de la expedición que viajó junto
a Juan de Villalba.
El segundo factor a considerar, igualmente ausente en la historio-
grafía sobre el ejército borbónico en América, y directamente rela-
cionado con el anterior, tiene que ver con los propios procesos de
formación de unidades del «ejército de dotación» que se vio sustan-
cialmente incrementado a partir de 1764. Pocos estudios se han ocu-
pado de mostrar cómo se forjaron esos nuevos cuerpos de ejército.
Sin embargo, un somero análisis e interpretación de las hojas de ser-
vicio conservadas de la oficialidad, permite observar que, al igual que
sucedió en la península ibérica, algunos de esos nuevos regimientos
se formaron por procedimientos venales, si no por completo, sí al
menos de forma parcial. Dicho análisis demuestra, por ejemplo, el
ingreso en el ejército con el grado de capitanes de individuos que
jamás vistieron los rangos del escalafón inferiores a ese, es decir,
individuos que debieron abonar una suma de dinero a cambio de
ese rango de capitán que los situaban no solo en posición de mando
militar sino también en la antesala de los honores que proporcio-
naba el disfrute de dicho grado. Si cotejamos esos procesos de for-
mación de nuevas unidades en América, y lo que a todas luces parece
la venalidad subsiguiente a los mismos, con las prácticas seguidas en

72
  Ibid., t. I., 35.

426

Monárquias Ibéricas.indb 426 13/12/18 14:56


Ejército y reformas militares en la Monarquía Hispánica

España con los mismos fines de formar regimientos, todo apunta


a que las dinámicas debieron ser muy similares y, en consecuencia,
parece lógico pensar que la presencia de un mayor o menor número
de criollos o peninsulares en cada regimiento, dependió no solo de
la existencia de unidades veteranas que pudieran aportar hombres
a los nuevos regimientos sino también de la capacidad – y espacio
de oferta – de las elites con caudales suficientes como para adquirir
los puestos de la oficialidad en los numerosos regimientos que se
formaron durante la llamada «reforma militar» del último tercio del
siglo xviii.73
Así, por ejemplo, como hemos indicado, los regimientos fijos
creados en México en 1786 – Nueva España y Fijo de México, así
como el de Puebla – se formaron con oficiales expertos procedentes
de regimientos peninsulares, pero un importante número de compa-
ñías, tenencias y subtenencias recayeron en criollos que adquirieron
dichos empleos. Por tanto, el porcentaje de criollos dependió en cada
regimiento del número de empleos que se «beneficiaron», es decir,
que se pusieron a la venta para sufragar, cual sucedía en España, los
costes de recluta, armamento y uniformes de esas nuevas unidades.74
La dinámica en esos tres casos fue siempre la misma: la plana mayor
de cada regimiento estaría formada por oficiales veteranos, de proce-
dencia peninsular en su gran mayoría, y el resto de los empleos de la
oficialidad serían cuerpos «mixtos» integrados por algunos oficiales
españoles y un elevado número de criollos que habían comprado sus
empleos.
Fuere cual fuere el origen de la oficialidad – criollos o peninsula-
res –, uno de los atractivos principales para servir en la carrera de las
armas, tanto en España como en América, estuvo en la posibilidad
de movilidad social que brindaba y en la posesión de un estatuto de
privilegio tan decisivo como era el disfrute del fuero militar. Aunque
vigente desde largo tiempo, fue uno de los señuelos más importantes
de las reformas de Carlos III para incorporar a hombres a la carrera
de las armas. La extensión de la base social en América del fuero
militar a los cuerpos de milicias fue un acicate para la incorporación
de nuevos grupos, como los comerciantes, que buscaron el ascenso

  Andújar Castillo, El sonido del dinero…, 359-406.


73

  Archivo General de Simancas, Secretaría de Guerra, Legs. 7270-4; 7271-15;


74

7270-3.

427

Monárquias Ibéricas.indb 427 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

social que proporcionaba servir al rey en el ejército y que pudieron


adquirir grados de la oficialidad sin cortapisa alguna, antes al con-
trario, se vieron amparados en sus negocios por el disfrute de los
privilegios jurídicos que otorgaba el fuero.

Los últimos proyectos de reforma militar del siglo xviii

Pocos cambios se produjeron en la institución militar, tanto espa-


ñola como americana, durante el reinado de Carlos IV. En Amé-
rica se prosiguió con la política de «militarización» que se centró
fundamentalmente en incrementar el número de cuerpos fijos de
ejército y en tratar de afrontar los múltiples problemas derivados
de la implantación de un sistema de milicias que se reveló como
mucho más deficiente de lo que pudieran haber supuesto sus artífi-
ces – Ricla, O’Reilly, Villalba – allá por la década de los años sesenta.
Como muestra más elocuente del fracaso de esa reforma habría que
situar los cambios introducidos en los años siguientes, por ejem-
plo en Nueva España, en donde el virrey, el conde de Revillagigedo,
siguiendo en parte el estudio que previamente había hecho el subins-
pector de tropas de aquel virreinato, Francisco Antonio Crespo,75
trazó a partir de 1792 un nuevo plan defensivo, basado en el recelo
hacia las milicias, unos cuerpos en cuya fundación «parece que no se
tuvo otro fin que el de abultar una fuerza aparente, pero de ninguna
utilidad para el reemplazo y refuerzo de los cuerpos veteranos efec-
tivos, y para conservar la quietud de los pueblos».76
En España, una Junta de Generales reunida en 1796 a iniciativa
de Manuel Godoy buscó sin éxito acometer una profunda reforma
del ejército. La Guerra contra la Convención de Francia de 1793-
-1795 había puesto de manifiesto las carencias del ejército español.
Por entonces, numerosos síntomas evidenciaban que la institución
militar borbónica había entrado en crisis, amén de que era necesario
emprender cambios para acercar al ejército a los modelos militares

75
  Christon I. Archer, El ejército en el México borbónico. 1760-1810 (México:
Fondo de Cultura Económica, 1983), 38.
76
  Óscar Cruz Barney, «Las milicias en la Nueva España: la obra del segundo
conde de Revillagigedo (1789-1794)», Estudios de Historia Novohispana, 34 (2006):
87.

428

Monárquias Ibéricas.indb 428 13/12/18 14:56


Ejército y reformas militares en la Monarquía Hispánica

que dominaban en Europa. Los debates de aquella Junta pusieron


de manifiesto que los problemas eran similares a uno y otro lado del
Atlántico. Si en América el problema de la extensión de las milicias
radicaba en los riesgos derivados de armar a amplios sectores de la
población, en España el dilema se hallaba en dirimir si la columna
vertebral del ejército debía ser el permanente o las milicias, dilema
que tenía su origen, por un lado, en la necesidad de conciliar la
defensa con la agricultura, manteniendo la buena disciplina de las
tropas y la reducción de costes para el erario público y, por otro,
en la conveniencia de redefinir el papel de las milicias en la defensa
del reino, un tema que años después sería clave en los debates de las
Cortes de Cádiz. No menor importancia tuvo en el marco de ese
vasto proyecto de reforma militar el debate sobre la necesidad de
crear, como habían hecho otros ejércitos europeos, un Estado Mayor
del ejército.77 Precisamente la carencia de un mando unificado y los
continuos choques entre diferentes ámbitos jurisdiccionales había
sido uno de los problemas más importantes en la «reforma militar»
en América, pues entraron en conflicto los intereses de los virreyes y
los de los inspectores enviados desde la metrópoli para acometer las
principales reformas.
Godoy volvería a la carga en el año de 1802 con un nuevo intento
de reforma militar, mucho más tibio que el de 1796, aunque a diferen-
cia de éste último, sí que acabaría siendo llevado a la práctica. Si bien
su deseo de modernización de las estructuras militares terminó fra-
casando en 1802, fue capaz de reducir los efectivos de los poderosos
regimientos de Guardias Españolas y Guardias W ­ alonas de Infantería,
pero no así los de las aristocráticas Guardias de Corps – su cuerpo de
procedencia – que a la altura de los albores del siglo xix representa-
ban el principal elemento de inmovilismo y resistencia en el ejército
ante cualquier cambio.78 En el haber de Godoy y de esa reforma tan
solo se podría situar la subida de los salarios de los militares que per-
manecían estancados desde 1760, y que fue financiada mediante una
reducción del número total de efectivos del ejército. Así, pervivieron

77
 Francisco Andújar Castillo, «La crisis del ejército borbónico: la Junta de
Generales de 1796», en Monarquía, imperio y pueblos en la España Moderna. Actas de
la IV Reunión Científica de la Asociación Española de Historia Moderna, ed. Pablo
Fernández Albaladejo (Alicante: Asociación Española de Historia Moderna, 1997),
63-77.
78
 Thomas Glesener, «Godoy y la guardia real: reforma y oposición nobilia-

429

Monárquias Ibéricas.indb 429 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

sin resolver problemas estructurales como el de la «macrocefalia»


del ejército, a la que tanto había contribuido el propio Godoy auspi-
ciando la desmesurada creación de oficiales generales, las dificultades
en el reclutamiento, las altas tasas de deserción, la escasa formación
científico-técnica de la oficialidad, la pervivencia de estructuras de
privilegio en el seno de los cuerpos de las G ­ uardias Reales, el des-
fase táctico respecto a otros ejércitos europeos, el escaso peso de
las armas técnicas y los cuerpos de tropas ligeras, así como otros
muchos problemas que pusieron de manifiesto una situación genera-
lizada de crisis del ejército borbónico, que estallaría finalmente con
ocasión de los acontecimientos del año de 1808. En América esa cri-
sis del ejército real se evidenciaría muy poco tiempo después durante
los procesos de independencia aunque, desde luego, convergieron
otros factores ajenos a la propia calidad y competencia del ejército
que se había forjado en las últimas décadas del siglo xviii.
Una reflexión final se impone. Si comparamos las «reformas mili-
tares» a ambos lados del Atlántico, todo parece apuntar a que el espa-
cio americano fue un territorio en el que los cambios llegaron de
forma mucho más tardía que a España, y casi siempre ­forzados por
las circunstancias. Basta señalar, como ejemplo final, la introducción
del sistema de intendencias. Cuando de la mano de las «reformas
de ­Carlos III» llegó a Cuba en 1764 como intendente Miguel Pedro de
Altarriba, en la que sería la primera creación de una intendencia ame-
ricana, el sistema llevaba vigente en España para los intendentes de
ejército y provincia desde 1718, e incluso se habían producido ensa-
yos de su aplicación en los años precedentes. Y es que una mirada
más orientada hacia las necesidades defensivas y de conservación del
orden público en la metrópoli relegó a un segundo plano los proble-
mas del ejército americano.

ria (1784-1808)», en Los nervios de la guerra: estudios sociales sobre el ejército de la


monarquía hispánica (siglos xvi-xviii): nuevas perspectivas, eds. Francisco Andújar
Castillo y Antonio Jiménez Estrella (Granada: Comares, 2007), 317-346.

430

Monárquias Ibéricas.indb 430 13/12/18 14:56


Vitor Luís Gaspar Rodrigues
Miguel Dantas da Cruz

Capítulo 12

Instituições, contingentes
e culturas militares na monarquia
portuguesa (séculos xv-xix)

Introdução
Portugal encontrou no império e em particular no Norte de
África precisamente o mesmo que os seus vizinhos da Península
Ibérica, entretanto unificados sob os auspícios dos Reis Católicos,
tinham encontrado no reino de Granada: um espaço de experiência
e renovação militar.1 Foi nos campos de batalha e nas fortificações
de Marrocos do século xv que o país fez a transição para a moder­
nidade em matérias militares. O território magrebino – primeira área
de expansão portuguesa para além dos limites europeus – deu origem
ao embrião de um exército mais permanente e menos dependente
das forças da fidalguia que tanto tinham contribuído para a conquista
de Ceuta em 1415. A crescente concentração de poder militar nas
mãos do monarca, tão característica dos Estados modernos, esteve
no caso português directamente relacionada com a experiência ultra-
marina e com a luta com o adversário muçulmano (uma luta que

  Ver o capítulo 11, de Antonio Jiménez Estrella e Francisco Andújar Castillo,


1

neste mesmo volume.

431

Monárquias Ibéricas.indb 431 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

paradoxalmente contribuiu para a persistência de algumas caracte-


rísticas medievais no seio do exército português em resultado do
tipo de guerra praticado em Marrocos, onde imperavam sobretudo
as ações de «guerra guerreada»). E a este respeito Portugal será um
caso singular.
Nunca será de mais enaltecer a experiência no Norte de África
e no império em geral. Esta reflectiu-se também na esfera tecnoló-
gica, especialmente no que toca à adopção de armamento pirobalís-
tico. Num certo sentido, é impossível desligar o esforço de guerra
em Marrocos da criação de um corpo de espingardeiros na segunda
metade de ­Quatrocentos ou da política de contratação de bom-
bardeiros, fundidores e espingardeiros europeus, levada a cabo por
D. João II. É igualmente no império que se encontra a explicação
para o desenvolvimento da marinha de guerra portuguesa, inexistente
até ao reinado de D. João II. As armadas provisórias, organizadas,
sempre que necessário, com recurso ao fretamento de navios de parti­
culares, nacionais e estrangeiros, começaram a revelar-se desadequa-
das à defesa dos interesses políticos e comerciais dos portugueses.
Assim, foi para reforçar a posição portuguesa no golfo da Guiné,
onde o confronto com Castela se tinha intensificado, e para proteger
os fluxos comerciais de e para o Mediterrâneo, que D. João II proce-
deu à criação de armadas permanentes. Pela mesma razão promoveu
o artilhamento dos seus navios, sobretudo das ligeiras, mas robustas
caravelas, que haveriam de desempenhar um papel decisivo nos suces-
sos da costa ocidental africana e, na centúria seguinte, do Estado da
Índia. O mesmo tipo de preocupações levou D. Manuel a proceder
a nova reestruturação da marinha de guerra em 1520. Determinou­-se
então criar três armadas: a armada de guarda-costas, a quem competia
vigiar sobretudo a costa atlântica portuguesa; a armada do Estreito,
para o controlo, em colaboração com as forças navais portuguesas
estacionadas nas fortalezas norte-africanas, do mar das Éguas e do
estreito de Gibraltar; e, finalmente, a armada das ilhas, destinada
sobretudo a apoiar a navegação das carreiras da Índia e da Mina2.
Em boa parte da centúria seguinte o império manteve-se crucial
para os interesses portugueses, que, para recuperar o argumento de

  Rui Landeiro Godinho, «A armada do estreito de Gibraltar no século xvi», em


2

A Guerra Naval no Norte de África (séculos xv-xix), orgs. Francisco Contente, Jorge
Semedo de Matos (Lisboa: Edições Culturais da Marinha, 2003), 123.

432

Monárquias Ibéricas.indb 432 13/12/18 14:56


Instituições, contingentes e culturas militares na monarquia portuguesa

Borges de Macedo,3 se desligaram da Europa, das suas armadilhas


diplomáticas e dos seus conflitos internos. Na verdade, depois da
Batalha de Toro (1476) os portugueses só voltariam a ver-se envol-
vidos num grande conflito na Península em 1580, aquando da cons-
tituição da União Ibérica. Seguir-se-iam outros longos hiatos entre
as últimas campanhas da Guerra da Restauração (1640-1668) e a
Guerra da Sucessão de Espanha (1702-1715), e entre esta e a partici-
pação na fase final da Guerra dos Sete Anos (1754-1763). O império,
com destaque para o espaço asiático, foi o grande palco militar. Era
aí que, como se notou no Conselho Ultramarino em 1714, se expe-
rimentava guerra viva: «o governo da Índia é um governo totalmente
militar e guerreiro, e sempre os vice-Reis estão em campanha, ou no
mar e na terra, contendendo com Reis da Ásia, e ainda muitas vezes
com as Nações da Europa».4
A centralidade e a frequência do conflito na frente imperial expli-
cam, até certo ponto, porque neste capítulo se dará ênfase aos espa-
ços ultramarinos, em particular ao Índico e ao Novo Mundo. Todavia,
isto não significa que o reino tenha sido aqui esquecido. Fazem-se,
portanto, algumas incursões nos territórios europeus dos Avis, dos
Áustrias e dos Bragança, que são indispensáveis para contextualizar
desenvolvimentos ocorridos no quadro imperial.

Quadro norte-africano e asiático


O modelo de ocupação restrita em Marrocos: fortalezas
e guarnições

O exército português, que, como refere João Gouveia Monteiro,


havia atingido, em resultado do permanente esforço de guerra a que
havia sido sujeito, níveis significativos no domínio da organização, da
estratégia, do armamento ou mesmo do recrutamento, a ponto «de
ser comparado sem vergonha aos outros exércitos ibéricos e mesmo

3
  Jorge Borges Macedo, História Diplomática Portuguesa – Constantes e Linhas
de Força (Lisboa: Tribuna da História, 2006 [1987]).
4
  Consulta do Conselho Ultramarino de 22 de Dezembro de 1714, Documentos
Históricos, 96, 141-142.

433

Monárquias Ibéricas.indb 433 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

europeus»,5 viria, ao longo da segunda metade do século xv, em vir-


tude do aprofundamento da sua presença no Norte de Marrocos, a
deparar-se com um conjunto de novos desafios. Estes acabaram por
contribuir não só para a afirmação do modelo de ocupação restrita
assente nas suas fortalezas norte-africanas, responsável pela criação
de corpos permanentes de homens de armas, mas também para o
surgimento de uma verdadeira marinha de guerra no reino,6 duas
realidades só possíveis em virtude do eficaz funcionamento das suas
circunscrições de recrutamento e organização militar, com saliência
para a Casa de Ceuta e, mais tarde, para os Tratos da Guiné e Casa da
Mina e das Índias.7
Processou-se, assim, como que a transposição para Marrocos
da organização militar do reino, caracterizada por uma coabitação
de forças régias e senhoriais, que só começou a transformar-se na
segunda metade do século xv quando a coroa, num quadro de cen-
tralização do poder real em Portugal, foi substituindo muitos desses
vassalos e as suas hostes por tropas a quem era pago um soldo e
mantimento, dando-se início à criação de um exército permanente
nessas praças. Com efeito, até aí a sua defesa era assegurada por um
corpo militar de algumas centenas de homens (variava bastante de
fortaleza para fortaleza, aumentando ainda consideravelmente em
situações de assédio), a quem a coroa pagava soldo e mantimento e
que era coadjuvado por contingentes nobiliárquicos aí estacionados
durante períodos mais ou menos longos, formados maioritariamente
por homens a cavalo sem experiência da guerra norte-africana e que
representavam um perigo para os capitães das praças em virtude
da grande autonomia com que combatiam, respondendo apenas às

5
  João Gouveia Monteiro, «As campanhas que fizeram a História». Em Nova
História Militar de Portugal, orgs. Manuel Themudo Barata e Nuno Severiano
­Teixeira, vol. i, 286 (Lisboa: Círculo de Leitores, 2003).
6
  Segundo Luís Miguel Duarte só no reinado de D. João II é possível falar de
«uma frota permanente, composta de barcos, oficiais, tripulações e soldados, que
não fizesse mais nada»: Luís Miguel Duarte, «A Marinha de Guerra Portuguesa», em
Nova História Militar de Portugal, orgs. Manuel Themudo Barata e Nuno Severiano
Teixeira (Lisboa: Círculo de Leitores, 2003), vol. 1, 314.
7
  Francisco Paulo Mendes da Luz, «Dois organismos da Administração Ultra-
marina no séc. xvi: a Casa da Índia e os Armazéns da Guiné, Mina e Índia», em
A Viagem de Fernão de Magalhães e a Questão das Molucas: Actas do II Colóquio
Luso-Espanhol de História Ultramarina, org. A. Teixeira da Mota (Lisboa: JICU,
1975), 91-106.

434

Monárquias Ibéricas.indb 434 13/12/18 14:56


Instituições, contingentes e culturas militares na monarquia portuguesa

­ irectivas dos seus senhores. Subordinada às ordens do capitão da


d
praça, a guarnição era formada por homens de armas (normalmente
cavaleiros e escudeiros da casa real), peões, besteiros, bombardeiros
e espingardeiros, escutas e atalaias, para além, naturalmente, de uma
série de elementos ligados às artes e ofícios que, em situação de assé-
dio, se transformavam também em defensores da praça. ­Tratava-se,
assim, de um número muito significativo de militares a servir no
Norte de África, na ordem dos 5000 na década de 1470, que aumen-
tou significativamente não só com a construção da fortaleza da
Mina, mas também, e sobretudo, com a conquista das praças do Sul
de Marrocos nos primeiros anos de Quinhentos, rondando então um
efectivo de cerca de 6500 homens.8 A essas forças, formadas inicial-
mente quase que exclusivamente por indivíduos oriundos do reino
e ilhas, juntar-se-iam, mais tarde, sobretudo durante o reinado de
D. João III, sucessivos contingentes de mercenários oriundos na sua
maioria da Andaluzia, recrutados através de Sevilha.
A estrutura organizacional das fortalezas norte-africanas tendeu
assim, em resultado de um processo normal de adaptação e ajuste às
condições de guerra aí existentes e em virtude da acção centralizadora
da Coroa, a fixar-se e a tornar-se permanente, dando origem a um
modelo cuja expressão jurídica foi regulamentada nos regimentos das
fortalezas que foram surgindo, dos quais o mais antigo que nos chegou
foi passado à cidade de Tânger em 14729 e se manteve praticamente
inalterável ao longo das centúrias seguintes.10 Nesse documento, que

8
  A guarnição de Azamor era composta, na década de 1520, por um efectivo
que variou entre os 600 e os 650 homens de armas, em que entravam cavaleiros e
peões, número muito significativo se tivermos em conta que era superior aos das
principais fortalezas do «Estado da Índia», como Ormuz, Diu e Malaca, que só em
finais do século xvi passaram a contar por regimento com efectivos similares a esses.
Cf. «Carta de 18 de Setembro de 1525 para D. João III», em Sources Inédites de
l’Histoire du Maroc, org. Pierre de Cenival (Paris: Paul Geuthner, 1934), 1.ª série,
t. ii, parte i, 346-347.
9
  Cf. «Regimento de D. Afonso V, de 1472, outorgado a Rui de Melo, capi-
tão de Tânger», em BNL, Fundo Geral, códice n.º 1782, 1-3 v. De acordo com o
referido regimento a distribuição dos soldados pelos diferentes corpos militares era
a seguinte: Peões – 184; Homens de armas – 160; Besteiros – 130; Bombardeiros
e Espingardeiros – 10; Escutas – 10; Atalaias – 6.
10
  No caso concreto de Mazagão, nem mesmo após a Restauração se procedeu
a uma transformação dessa estrutura, que apenas viria a sofrer ligeiras alterações em
1692, data da publicação de um novo regimento que reduziu e reformou o número
de cargos da praça. Cf. «Regimento da Praça de Mazagão, de 6 de Junho de 1692»,

435

Monárquias Ibéricas.indb 435 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

parece ter sido elaborado com base em regimentos anteriores, pro-


vavelmente de Ceuta ou de Alcácer-Ceguer, de que não nos chegou
qualquer exemplar, encontra-se já definida a organização militar e
civil da praça, estando fixado o número de homens de peleja a soldo
da coroa (500) e a sua distribuição pelos diferentes corpos militares,
bem como a sua estrutura de enquadramento, composta pelo capitão,
alcaide­-mor, adail, condestável e sobrerrolda, entre outros, cabendo a
cada uma daquelas forças tarefas específicas e um soldo diferenciado.

A transposição do modelo norte-africano para o Oriente

Essa estrutura organizativa, que foi aplicada nas demais praças


marroquinas, mesmo nas do Sul de Marrocos conquistadas mais
tardiamente, e que se manteve sem alterações até ao seu abandono
na centúria seguinte, passou igualmente ao Oriente, onde o recon-
tro com o inimigo atávico e a certeza da sua eficácia conduziram à
reprodução do modelo numa vasta área situada entre a costa orien-
tal africana e as ilhas de Maluco. A sua transposição para o Índico,
sustentando aquilo que, Luís Filipe Thomaz definiu como sendo
um Estado que era na sua essência uma rede, ou seja, «um sistema
de comunicação entre vários espaços»,11 foi acompanhada de algu-
mas transformações, desaparecendo muitos dos cargos relacionados
com a guerra terrestre. As excepções foram os casos de Goa e da
­Província do Norte, porque dominavam áreas significativas de terri-
tório, sendo por isso necessário dotá-las de corpos de cavalaria e de
um grande número de peões locais capitaneados pelos seus naiques.
Esses corpos viriam a desempenhar um papel decisivo na sua defesa,
tendo-se os portugueses servido, no caso da Província do Norte,
de um modelo de organização militar preexistente, de raiz muçul-
mana, que assentava a defesa do território na capacidade militar dos
­Iqtadares.12 Estes asseguravam a guarda dessas terras a partir das
suas casas senhoriais fortificadas, as quais, como demonstrou Sidh

em Collecção Chronologica da Legislação Portugueza – 1683-1700, org. José Justino


de Andrade e Silva (Lisboa: Imprensa de J. J. A. Silva, 1859), vol. 8.
11
  Luís Filipe Thomaz, De Ceuta a Timor (Lisboa: Difel, 1998), 208.
12
  Espécie de senhores feudais. Detinham os direitos sobre a produção dessas ter-
ras em recompensa pelos serviços militares que eram obrigados a prestar. Thomaz,
De Ceuta…, 235-240.

436

Monárquias Ibéricas.indb 436 13/12/18 14:56


Instituições, contingentes e culturas militares na monarquia portuguesa

­ endiratta, se encontravam disseminadas pelos principais pontos


M
estratégicos das praganas ou cassabés.13
Um pouco a exemplo do que sucedia em Marrocos, também no
império português oriental é evidente uma relação directa entre o
estatuto político-militar dos reinos, em cujos territórios as fortale-
zas foram sendo implantadas, e o número de homens de armas que
compunham as respectivas guarnições. Com efeito, se a estrutura
militar das praças foi adoptada de forma quase uniforme no Oriente,
mantendo-se constante ao longo dos séculos xvi e xvii, o número
dos cargos que as compunham, tanto em relação aos bombardeiros
e homens de armas, como à guarda pessoal e aos «criados e che-
gados do capitão»,14 era muito variável, oscilando de acordo com a
importância económica, política e geoestratégica de cada uma delas.
Nas chamadas fortalezas fronteiras (casos de Ormuz, Diu e Malaca)
encontravam-se orçamentados, sobretudo a partir da década de 1580,
efectivos da ordem dos 500 a 600 homens de armas, coadjuvados
por um grande contingente de tropas locais. Estas forças, somadas
aos casados15 e respectivos escravos de peleja, foram um elemento
fundamental para a sustentação da presença portuguesa no Oriente
ao longo dos séculos xvi e xvii, uma vez que raramente os efectivos
arregimentados às fortalezas ali se encontravam a servir. 16

13
  Sidh Daniel Losa Mendiratta, «Dispositivos do sistema defensivo da P
­ rovíncia
do Norte do Estado da Índia, 1521-1739» (tese de doutoramento em Arquitectura
apresentada à Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra,
2012), 423 e segs.
14
  Também por vezes designados como «acostados». Em Ormuz o seu número
variou, de 1560 a 1620, entre os 40 e os 60 homens de armas. Vítor Luís Gaspar
Rodrigues, «A evolução da arte da guerra dos portugueses no Oriente (1498-1622)»
(dissertação apresentada para acesso à categoria de investigador auxiliar no IICT,
1999), vol. 2, 438.
15
  Uma criação de Afonso de Albuquerque que, após a conquista de Goa em
1510, sentindo necessidade de dotar o Estado da Índia com um grupo social enrai-
zado localmente, promoveu o casamento de soldados portugueses com mulheres
locais, hindus sobretudo, tenho-lhes sido doada uma parte das terras expropriadas
aos seus anteriores detentores. Esta categoria social foi depois generalizada às res-
tantes fortalezas da Índia, havendo muitos casos, sobretudo nas de menor dimen-
são, em que se transformaram, com o apoio dos seus serviçais e escravos de peleja,
no seu principal sustentáculo militar.
16
  Veja-se, por exemplo, o caso de Colombo (Ceilão) em que o seu número era
quase três vezes superior ao dos homens de armas portugueses presentes na forta-
leza. Rodrigues, «A evolução da arte da guerra…», 467.

437

Monárquias Ibéricas.indb 437 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

A construção dessas fortalezas no Oriente era, a exemplo do que


sucedia no Norte de África, sempre acompanhada da criação de uma
armada, maior ou menor segundo a dimensão estratégica, política e
económica de cada uma dessas praças, como o comprovam não só os
seus regimentos, mas também a «Relação dos navios que servem na
Índia», de 1522.17 Todavia, ao contrário do que ali sucedia, em que
só ocasionalmente deparamos com a realização de acções militares
navais concertadas entre os navios estacionados nas diferentes pra-
ças ou entre estes e as armadas enviadas do reino para o estreito de
Gibraltar,18 na Ásia, por força da existência desde cedo de um governo
vice-real (1505), bem como da criação do cargo de capitão-mor do
mar da Índia, de quem dependiam os capitães-mores das diferentes
esquadras, foi possível criar desde cedo um modelo de organização
naval. Este, partindo da presença inicial de uma grande armada esta-
cionada no Índico, reforçada anualmente com homens e navios pela
rota do Cabo, evoluiu no sentido da organização anual de armadas
regulares (a armada do Norte, a armada do Malabar ou a armada
dos mares do Sul, estacionada em Malaca, por exemplo), que não
só procuravam apoiar e controlar a navegação das principais rotas
marítimas orientais, como serviam também de suporte militar às
fortalezas.
Paralelamente, eram organizadas as chamadas armadas extraordi-
nárias, destinadas a acções de conquista, ao socorro de fortalezas ou
meramente para afirmação da soberania do Estado. Organizadas em
Cochim, primeiro, e em Goa, a partir da década de 1530,19 foram ao
longo da centúria responsáveis por uma parte muito significativa dos
desequilíbrios orçamentais do Estado da Índia.

17
  Cf. «Relação de 11 de Maio de 1522», em Documentos sobre os Portugueses em
Moçambique e na África Central (1497-1588) (Lisboa: NARN/CEHU, 1965), vol.
vi, 92 e segs.
18
 A armada do estreito de Gibraltar apenas foi criada em 1520, tendo sido
extinta em 1552 por D. João III em resultado da sua política de desinvestimento no
Norte de África. Godinho, «A armada do estreito…», 117.
19
  A transferência definitiva da corte do vice-rei acarretou a mudança das prin-
cipais estruturas militares do «Estado da Índia» de Cochim para Goa, aí se fixando
não só a «Matrícula», mas também o arsenal e os armazéns, alargando-se a Ribeira.
Catarina Madeira-Santos, «Goa é a Chave de Toda a Índia»: Perfil Político da Capital
do Estado da Índia (Lisboa: CNCDP, 1999), 193.

438

Monárquias Ibéricas.indb 438 13/12/18 14:56


Instituições, contingentes e culturas militares na monarquia portuguesa

A arregimentação da soldadesca

A criação por D. Manuel, em 1505, do cargo de governador e


vice-rei da Índia20 em simultâneo com a transposição para o Oriente
de uma estrutura governativa análoga à existente no reino, com
saliência para a Casa da Matrícula Geral, acabou por ter profundas
repercussões não só em termos da condução da política ultramarina,
mas também das formas de arregimentar e organizar os homens de
armas pelas diferentes fortalezas. Contrariamente ao que sucedia em
Marrocos, onde o recrutamento dos homens era feito caso a caso,
em resultado tantas vezes da pressão militar a que cada fortaleza
estava sujeita, na Índia cumpria à Matrícula Geral proceder à distri-
buição pelas fortalezas dos homens que aí chegavam nos navios da
Carreira da Índia.
Recrutados um pouco por todo o reino, na sua grande maioria
em sistema de voluntariado (só a partir de finais do século xvi e
na centúria seguinte se recorrerá ao recrutamento compulsivo), os
homens de armas eram registados na Casa da Índia, em L ­ isboa,
o mesmo sucedendo aos homens da navegação e aos bombar-
deiros que, entretanto, haviam sido previamente assentados nos
­Armazéns da Guiné, Mina e Índias.21 Todos eles recebiam em regra
um soldo de embarque, partindo do reino com a obrigatoriedade de
servirem no Oriente por um período mínimo de três anos, embora
tenha havido momentos em que o seu engajamento se fez por mais
tempo – 7/8 anos. Com excepção dos de maior estatuto social, que
iam providos nos principais cargos e ofícios das fortalezas e arma-
das, ou dos oficiais mecânicos e bombardeiros, que do reino par-
tiam por vezes já com a incumbência de prestarem serviço numa
fortaleza ou armada predeterminada, a quase totalidade dos que

20
  A sua criação resultou não só da enorme distância entre os diferentes centros
decisores do império, mas também, como bem salientaram Pedro Cardim e Susana
Miranda, da existência de poderes organizados e ordens jurídicas que justificavam a
presença na Ásia «de uma magistratura dotada de dignidade real e com capacidade
para estabelecer tratados internacionais». Pedro Cardim e Susana Munch Miranda,
«La Expansión de la Corona Portuguesa y el Estatuto Político de los Territorios»,
em Las Indias Occidentales. Procesos de Incorporación Territorial a las Monarquías
Ibéricas, orgs. Óscar Mazin e José Javier Ruiz Ibaňes (México: Colegio de México-
-Rede Columnaria, 2012), 215.
21
  Cargo criado em 27 de Novembro de 1501. Luz, «Dois organismos da Admi-
nistração Ultramarina…», 102.

439

Monárquias Ibéricas.indb 439 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

­ assavam à Índia faziam-no arrolados sob a designação geral de


p
gente de guerra.22
Aos escrivães e contadores da Casa da Matrícula, inicialmente
sediada em Cochim, por se tratar do local de chegada e partida dos
navios da Carreira, competia proceder ao alistamento desses homens
nas diferentes fortalezas do Estado ou nas armadas que aí aguarda-
vam a monção favorável, por onde passariam a receber o soldo e
mantimento com que vinham providos. Tratava-se, no entanto, de
uma tarefa complexa dada não só a morosidade de circulação entre
as fortalezas do Estado da Índia em virtude das enormes distâncias
que distavam entre si, mas também porque o soldo variou, sobre-
tudo nas primeiras décadas, de acordo com os anos da incorporação,
vindo a uniformizar-se mais tarde, como o comprovam os regimen-
tos das diferentes fortalezas existentes para a segunda metade de
Quinhentos.
Cumpridos os anos de serviço contratados, deviam, todos aque-
les que pretendessem regressar ao reino, munir-se de uma certidão
passada pela Matrícula23 onde constasse o número de anos pres-
tados na Índia e as fortalezas ou armadas em que haviam servido.
Do ­documento constaria ainda uma relação dos soldos e mantimento
auferidos (regra geral apenas uma ínfima parte era paga aos solda-
dos) e, no caso dos principais capitães e oficiais, uma relação das
«mesas»24 dadas aos soldados, importante para a concessão no reino
das tão almejadas mercês régias. No entanto, dado o elevadíssimo
preço das viagens de regresso imposto pela coroa e porque esta não
lhes assegurava o mantimento a bordo, poucos eram os soldados que

22
  Cf. «Livro dos soldos que se pagaram na casa da Índia a António de ­Saldanha
que foi per capitam-mor de Sofala, 1509», no ANTT, Fundo Antigo, n.º 596; e «Livro
do pagamento feito a gente que veyo na nao S. Roque de soldos vencidos, e outras
naos e navios das armadas da India. Anno de 1531», no ANTT, Fundo Antigo,
n.º 620.
23
  No caso de Marrocos, dada a inexistência de um organismo centralizador,
competiria aos oficiais da fortaleza, onde o serviço fora prestado, atestá-lo.
24
  Dizia-se na Índia que um fidalgo ou um capitão dava mesa aos soldados quando
o encargo com a alimentação de um número variável de soldados lhe estava cometido,
substituindo-se, assim, à coroa em virtude dos sucessivos atrasos no pagamento do
soldo e mantimento à soldadesca no Oriente. Em muitos desses casos era-lhes dada
ainda aposentadoria, ou estes recolhiam-se nos quintais e alpendres das suas moradias
durante o período da monção, altura em que eram obrigados a permanecer em terra
por as armadas se encontrarem varadas nas ribeiras.

440

Monárquias Ibéricas.indb 440 13/12/18 14:56


Instituições, contingentes e culturas militares na monarquia portuguesa

r­ etornavam ao reino: uns porque simplesmente não estavam interes-


sados em o fazer, outros porque não tinham cabedais para isso.

Contingentes militares no século xvi

Fosse por incúria e desleixo dos funcionários da Matrícula em


Cochim, primeiro, e em Goa, mais tarde, ou por não haver qualquer
estrutura de enquadramento para os recém-chegados, uma parte
considerável desses contingentes que aí chegavam em miseráveis
condições acabava por nunca se incorporar na estrutura militar do
Estado da Índia. Vários foram, com efeito, os governadores que ao
longo dos anos se queixaram do reduzido número de homens de
que o Estado da Índia dispunha para a guarda das fortalezas e o pro-
vimento das armadas. O governador Afonso de Albuquerque, por
exemplo, afirmava em 1510 que «a gente que averá na Índia seram
2000 homens: ficaram em Cochim e Cananor 300; ficam na armada
1600, dos quaes seram 120 criados del Rey».25
Dois anos mais tarde, na sequência de sucessivos pedidos de mais
efectivos, queixava-se da primazia que continuava a ser dada ao Norte
de África e de o monarca deixar a Índia «aa misericórdia duns poucos
de navios podres e de 1500 homens, a metade deles sem proveito»,
salientando ainda que na conquista de Goa haviam participado 1680
homens segundo o alardo feito, «e que destes 396 eram das naus da
Carreira, a qual gente nam he da ordenança da India».26 Descontado
algum exagero por parte do governador, decorrente da necessidade
de ver reforçado o contingente militar à sua disposição no Oriente,
julgamos que por essa altura os homens de armas efectivamente ao
serviço da coroa não deveriam ultrapassar os 3500.
Esses números aumentaram, naturalmente, com o correr do
século em resultado do incremento do processo expansionista por-
tuguês oriental, cifrando-se em valores que, para a generalidade dos
historiadores que se têm debruçado sobre o assunto, andariam em

25
  Cf. «Sumário das cartas de 1510», em Cartas de Affonso de Albuquerque segui-
das de Documentos que as elucidam, ed. Raymundo António de Bulhão Pato (Lis-
boa: Academia Real das Ciências, 1884), vol. i, 421.
26
  Cf. «Carta de Albuquerque ao rei, de 22 de Dezembro de 1512», em Cartas
de Affonso de Albuquerque seguidas de Documentos que as elucidam, ed. Raymundo
António de Bulhão Pato (Lisboa: Academia Real das Ciências, 1884), vol. i, 34-36.

441

Monárquias Ibéricas.indb 441 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

finais de Quinhentos entre os 10 000 e os 14 000 homens de armas.27


Tratava-se de um efectivo escasso, sobretudo se se tiver em conta,
como refere Teresa Rodrigues, que ao longo do primeiro quartel
de Quinhentos ali chegaram em média 2400 homens por ano,28 um
valor que não andaria muito longe do registado para a globalidade da
centúria, não obstante a concorrência movida pelo Brasil a partir da
segunda metade de Quinhentos, que levou a que a população branca
passasse aí de cerca de 2000 para 20 000 almas na década de 1580-
-1590, mais do que duplicando até 1612, altura em que se cifrava já
em 50 000 indivíduos.29
A ineficácia do sistema de enquadramento dos homens de armas
à sua chegada ao Oriente e o constante atraso com que, desde muito
cedo, eram pagos os soldos e os mantimentos à soldadesca, aliados à
obrigatoriedade de as armadas terem de invernar nas principais ribei-
ras do Estado, onde os navios eram varados durante o período da
monção, permanecendo os homens em terra sem qualquer estrutura
regular que os enquadrasse, foram responsáveis não só pelo facto de
muitos desses homens andarem «soltos», em condições miseráveis,
aglomerando-se em «bandos e uniões», de que resultava a eclosão
recorrente de rixas e conflitos,30 mas também pela fuga de muitos
deles, levando-os a servir nas diferentes cortes dos soberanos asiáti-
cos ou a engrossarem os inúmeros estabelecimentos comerciais não

27
  Russel-Wood, tal como Charles Boxer, aponta, para finais do século xvi e para
a globalidade do império, um número da ordem dos 10 000 homens habilitados a
combater. A. J. R. Russell-Wood, The Portuguese Empire, 1415-1808: A world on
the move (Baltimore/Londres: Johns Hopkins University Press, 1998), 60. Duncan
propõe um número superior, de 14 000 portugueses oriundos do reino, que julga-
mos excessivo. V. T. Bentley Duncan, «Navigation between Portugal and Asia in the
sixteenth and seventeenth centuries», em Asia and the West: Elements and Exchanges
from the Age of Explorations, eds. E. J. van Kley e C. K. Pullapilly (Notre Dame:
Cross Cultural Publications, 1986), pp. 3-25.
28
  Teresa Rodrigues, «As estruturas populacionais», em História de Portugal: No
Alvor da Modernidade, dir. José Mattoso (Lisboa: Ed. Estampa, 1993), vol. 3, 238.
Os números apresentados por Vitorino Magalhães Godinho são bastante superio-
res, situando-se entre os 3000 e os 4000 indivíduos. Vitorino Magalhães Godinho,
Os Descobrimentos e a Economia Mundial (Lisboa: Arcádia, 1965), vol. ii, 606.
29
  Rodrigues, «As estruturas populacionais …», 238.
30
  São conhecidas as descrições de Pyrard de Laval ou de Linschoten para os finais
do século xvi, princípios do xvii, mas esta foi uma realidade que desde muito cedo
afectou o «Estado da Índia», caso, por exemplo, da «grande soltura» da soldadesca
ocorrida no governo de Lopo Soares de Albergaria (1515-1518).

442

Monárquias Ibéricas.indb 442 13/12/18 14:56


Instituições, contingentes e culturas militares na monarquia portuguesa

oficiais, em especial para lá do cabo Comorim, onde a presença oficial


do Estado da Índia era menos efectiva. Essa contínua drenagem das
gentes prolongou-se por todo o século xvi e parte do xvii, como o
comprova o texto de Francisco Rodrigues da Silveira que, escrevendo
por volta de 1620, avaliava em 2000 o número de homens de armas
portugueses que se havia fixado em Bengala, quando em Goa, a capi-
tal do Estado e onde eram organizadas as armadas anuais da Índia,
o número de soldados, em que se incluíam os luso­-descendentes e
tropas locais, se cifrava em cerca de 1500.31

A criação das companhias de ordenanças no reino


e no império: coabitação com o modelo tradicional
de organização militar, a Hoste

Após a extinção por D. Manuel dos acontiados e dos besteiros do


conto e câmara32, a potência militar portuguesa ficara reduzida nos pri-
meiros anos de Quinhentos às hostes da fidalguia, às guarnições dos
castelos de fronteira e das praças de África e da Índia, à guarda real dos
ginetes, aos professos das ordens militares e ao voluntariado dos fidalgos,
cavaleiros e escudeiros. Essa extinção, associada à necessidade de intro-
duzir, tanto no reino como no império, uma nova dinâmica na estrutura
militar de forma a torná-la mais eficaz e, sobretudo, mais subordinada ao
controlo da coroa, esteve na base da criação pel’O ­Venturoso das «com-
panhias de ordenanças». A um primeiro alvará, de 8 de ­Fevereiro de
1508, seguiu-se outro, de 20 de Maio desse ano, que nomeava D. Nuno
Manuel capitão-geral da gente de ordenança e determinava com detalhe
não só a forma de arregimentar e enquadrar a população, mas também o
tipo de armamento a que cada um dos seus elementos ficava obrigado,
bem como os soldos que aufeririam.33

31
  Francisco Rodrigues da Silveira, Reformação da Milícia e Governo do Estado
da Índia Oriental, eds. Luís Filipe Barreto, George Winius e Benjamin Teensma
(Lisboa: Fundação Oriente, 1996), 131.
32
  Essas reformas enquadram-se no contexto do processo de afirmação do poder
e autoridade da coroa, já que visavam, em última análise, a sua posterior substituição
por oficiais régios.
33
  Cf. «Alvará de regimento da gente de ordenança e das vinte lanças de guerra»,
em Archivo Historico Portuguez, org. Anselmo Braancamp Freire (Lisboa: s. e.,
1903), vol. i, 80-88.

443

Monárquias Ibéricas.indb 443 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Também designadas como «companhias à Suíça», seguiam de


perto os modelos organizativos e técnico-tácticos dos piqueiros suí-
ços, dos lansquenets alemães e dos quadrados de piqueiros espanhóis.
Seriam utilizadas de imediato em Marrocos: primeiro em Azamor,
em Agosto de 1508, e mais tarde, em 1513, na conquista dessa mesma
praça e na batalha campal travada em Bulauão, que garantiu o esta-
belecimento dos portugueses na região da Enxovia e da Duquela por
mais alguns anos.34 Tropas de infantaria, as ordenanças acabariam por
assumir em Marrocos algum protagonismo na defesa das praças até
ao seu abandono, dado o natural retraimento a que se assistiu durante
o reinado de D. João III, que levou, como frisou Dias Farinha, a que
a vigilância dos campos e as entradas passassem a ser substituídas por
uma mais cuidadosa defesa dos muros, cedendo a cavalaria o passo à
infantaria.35 Mais tarde, após a reorganização sebástica de 1569-1570,
essas tropas viriam ainda a participar na batalha de Alcácer Quibir,
que marcou um ponto final nos desígnios expansionistas portugue-
ses relativamente ao Norte de África.
Relativamente à Índia, a criação das primeiras companhias de
ordenanças teve lugar em 1510 por força da acção de Afonso de
Albuquerque. Embora os capitães e os cabos de esquadra enviados
do reino por D. Manuel apenas tivessem chegado à Índia em Outu-
bro de 1512,36 aquele havia organizado já uma parte dos seus homens
em companhias por altura do segundo cerco de Goa, em finais de
1510.37 Compostas por 350 piqueiros, cinquenta besteiros e outros
tantos espingardeiros enquadrados por um corpo de oficiais subordi-
nados aos seus capitães, estes respondiam apenas perante o governa-
dor. Representavam, por isso, o meio ideal para a afirmação do poder

34
  João Paulo Oliveira e Costa e Vítor Luís Gaspar Rodrigues, A Batalha dos
Alcaides – 1514: No Apogeu da Presença Portuguesa em Marrocos (Lisboa: Tribuna,
2007).
35
 António Dias Farinha, História de Mazagão no Período Filipino (Lisboa:
CEHU, 1970), 58; Vítor Luís Gaspar Rodrigues, «As Companhias de Ordenanças
em Marrocos nos reinados de D. Manuel e D. João III», em D. João III e o Império:
Actas do Congresso Internacional Comemorativo do Seu Nascimento (Lisboa: Uni-
versidade Católica, 2004), 185-195.
36
  Cf. «Carta de Albuquerque ao rei. Cananor, 16 de Outubro de 1512», em
Cartas de Affonso de Albuquerque seguidas de Documentos que as elucidam, ed.
­Raymundo António de Bulhão Pato (Lisboa: Academia Real das Ciências, 1884),
vol. i, 20.
37
  Gaspar Correia, Lendas da Índia (Porto: Lello e Irmão, 1975), vol. ii, 44.

444

Monárquias Ibéricas.indb 444 13/12/18 14:56


Instituições, contingentes e culturas militares na monarquia portuguesa

centralizador da coroa, em resultado não só de um controlo mais


efectivo sobre a soldadesca, mas também por atenuarem a dependên-
cia do Estado da Índia relativamente às clientelas senhoriais.
A oposição dos fidalgos e da maioria da soldadesca a um modelo
que entendiam limitador dos seus privilégios, e que desvirtuava os
princípios tradicionais da arte da guerra, assumiu, no ultramar como
no reino, proporções de tal ordem que, em 1515, numa altura em que
o monarca se preparava para as abolir no reino, estas foram extintas
na Índia por Lopo Soares de Albergaria com a justificação de que
«ordenança e soiça são opressão para os homens».38
Essas companhias só viriam a ser reorganizadas no reino alguns
anos mais tarde, em Setembro de 1525, quando D. João III, necessi-
tando de homens mais bem preparados para as praças do seu império
ultramarino, decidiu proceder à mobilização e adestramento de um
grande número de homens segundo esse modelo.39 No entanto, fosse
porque durante os cinco anos que durou a experiência se tivessem
registado nas diversas comarcas do país levantamentos da populaça
instigada pela fidalguia, ou porque o erário régio não tivesse meios
para as custear, a verdade é que a experiência foi de novo abando-
nada. Relativamente a Marrocos, só mais tarde, na década de 1540,
voltariam a fazer parte do sistema defensivo das suas fortalezas.
Na Índia apenas durante a governação de Nuno da Cunha (1528-
-1538), marcada por um forte centralismo, houve alguns arremedos
de organização da soldadesca segundo aquele modelo, mas sem qual-
quer significado. Seria necessário esperar pela governação de D. João
de Castro (1545-1548), também ele um reformador e defensor de
uma política mais marcadamente estatista, para que em 1546 fosse
tentada a revitalização das ordenanças, agora com a particularidade
de se procurarem organizar segundo esse modelo não só os homens
de armas oriundos do reino – que formaram uma companhia de
400 soldados capitaneados por D. Jerónimo de Menezes –, mas tam-
bém tropas malabares que, num total de 500 homens, eram capita-
neadas por Francisco de Sequeira, seu coadjutor.40 A sua acção, no

 Correia, Lendas…, 469.


38

  Cf. «Carta de nomeação de Bartolomeu Ferraz de Andrade como um dos


39

coronéis das gentes de pé das ordenanças a fazer no Reino», no ANTT, Chancelaria


de D. João III, livro 8, 109v.; Jean Aubin, «Le Capitaine Leitão, un sujet insatisfait
de D. João III», Revista da Universidade de Coimbra, XXX, (1984): 103.
40
 Correia, Lendas…, 611.

445

Monárquias Ibéricas.indb 445 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

entanto, não se circunscreveu às terras de Goa. O vice-rei pro-


moveu a sua criação, através de Bastião Coelho, também na for-
taleza de Diu e na de Baçaim, sendo aqui organizados, a exemplo
do que sucedeu na capital do Estado, vários esquadrões de homens
a cavalo para a guarda das tanadarias e dos passos.41 Estas tentati-
vas não tiveram, no entanto, grande êxito, como salientou ­Sanjay
Subrahmanyam, vindo o projecto a ser retomado mais tarde por
D. Luís de Ataíde.42

As reformas sebásticas

As reformas encetadas por Ataíde na Índia, embora surjam como


resposta à crise militar provocada pela destruição do império hindu
de Vijayanagar em 156543, enquadram-se também num contexto de
profunda reformação da orgânica militar do reino e do império por
parte da coroa. Com efeito, a 9 de Dezembro de 1569, D. Sebastião
promulgou a Lei das Armas,44 que determinava, a exemplo da orde-
nação de 1549,45 o tipo de armamento e os cavalos a que cada súb-
dito se encontrava obrigado a possuir e manter. Em 10 de Dezembro
de 1570, porque já se encontrassem formadas as primeiras com-
panhias de ordenanças em Lisboa, foi publicado o Regimento dos

41
 Cf. «Carta de Bastião Coelho ao governador, de Baçaim, 8 de Agosto de
1547», em Obras Completas de D. João de Castro, eds. Armando Cortesão e Luís
de Albuquerque (Coimbra: Academia Internacional da Cultura Portuguesa, 1976),
vol. iii, 429-433.
42
  Sanjay Subrahmanyam, The Portuguese Empire in Asia 1500-1700: A political
and economic History (London / New York: Longeman, 1993), 96-97.
43
  A sua destruição marca o fim do equilíbrio político-militar no subcontinente
indiano entre as forças hindus e muçulmanas, passando os estados muçulmanos
vizinhos de Goa e da Província do Norte a poder centrar sobre as suas fronteiras
todo o seu potencial militar.
44
  Cf. «Lei das armas que cada huma pessoa he obrigada ter em todos os Reinos
e senhorios de Portugal», em Leis Extravagantes collegidas e relatadas pelo Licenciado
Duarte Nunez do Lião, per mandado do muito alto e muito poderoso Rei Dom Sebas-
tião Nosso Senhor: Collecção de Legislação Antiga e Moderna do Reino de Portugal
– parte I da Legislação Antiga (Coimbra: Real Imprensa da Universidade, 1796),
14-25.
45
  Cf. «Ordenação sobre hos cavallos e armas [1549]», em História Orgânica
do Exército Português. Provas, ed. C. A. de Magalhães Sepúlveda (Lisboa: Imprensa
Nacional, 1906), vol. iii, 169-174.

446

Monárquias Ibéricas.indb 446 13/12/18 14:56


Instituições, contingentes e culturas militares na monarquia portuguesa

­ apitães-mores,46 que organizava territorialmente os homens força-


C
dos a possuir armas. Com o objectivo de alargar ao maior número de
indivíduos possível este modelo de organização militar, o monarca
ordenou, em Junho de 1573, a publicação e divulgação de um con-
junto de instruções militares sobre os oficiais de infantaria, organi-
zadas por Isidoro de Almeida.47
De acordo com o Regimento dos capitães-mores, todos os
homens com mais de 18 e menos de 60 anos ficavam obrigados,
salvo raras exceções, a integrar as companhias de ordenanças então
criadas.48 Em número variável segundo as diferentes comarcas do
reino, formavam uma capitania-mor dirigida por um capitão-mor e
um sargento-mor. Cada companhia era composta por 250 homens,
subdivididos em dez esquadras, e teria um capitão, um alferes, um
sargento, um meirinho, um escrivão e dez cabos.49 Pretendia-se
assim criar uma espécie de tropas milicianas, devidamente prepa-
radas para a guerra e destinadas a incorporar o exército real sempre
que necessário.
Foi precisamente este modelo de organização militar que
D. ­ Sebastião procurou criar nos territórios ultramarinos, tendo
encarregado D. Luís de Ataíde de o fazer no Oriente.50 No entanto,
dada a especificidade da Índia, destinava-se a reformar sobretudo
a organização militar dos homens de armas existentes no Oriente

46
 Em Systema ou Collecção de Regimentos Reais, contém os regimentos perten-
centes à administração da Fazenda Real, t. v, Lisboa, Officina Patriarcal de Francisco
Luiz Ameno, 1789, 183-195. Na Biblioteca da Ajuda encontram-se vários exem-
plares do documento, com acrescentos posteriores, a saber: a «Lei sobre as vigias»,
a «Provisam sobre as ordenanças agora novamente feita com algumas declarações
que não estavão nos primeiros Regimentos», de 15 de Maio de 1574 e que procurou
introduzir uma série de correções àquele corpo legislativo. Cf. BA, 44-XIII-60/5;
55 – III-28/2; 55-IV-12/5.
47
  Isidoro de Almeida, «Quarto livro das instruções militares que tracta dos
officiais da infantaria» (Évora: s. e., 1573), em Boletim do Arquivo Histórico Militar,
ed. A. Faria de Morais, XXIII (1953): 123-203.
48
  Regra geral os capitães das ordenanças dividiam as companhias em dois gru-
pos exercitando-as alternadamente ora num ora noutro domingo de forma a evitar
as queixas dos homens. Os exercícios conjuntos tinham lugar, normalmente, uma
vez por mês. Cf. «Regimento de D. Pedro da Cunha, capitão-mor da gente de orde-
nança de Lisboa» (7 de Junho de 1572), na Bibliothèque Nationale de Paris, Manus-
cripts Portugais, vol. 23, doc. 31.
49
  Cf. §11, 12 e 13 do «Regimento dos Capitães-mores», na BA, 55-III-28/2.
50
  Diogo do Couto, O Soldado Prático, 3.ª ed. (Lisboa: Sá da Costa, 1980), 95.

447

Monárquias Ibéricas.indb 447 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

e não, como sucedia no reino, a criar uma espécie de tropas de


segunda linha. Apesar de a constituição de companhias de ordenan-
ças com casados e luso-descendentes ter tido lugar apenas nos pri-
meiros anos de Seiscentos, em resultado da ameaça dos «inimigos
europeus», D. Luís de Ataíde, anos antes, como refere Romero de
Magalhães, «não deixou de ordenar por momentos a defesa de Goa
segundo princípios próximos da ordenança, servindo-se para isso de
eclesiásticos e de escravos51 devidamente enquadrados».52 Esse foi o
processo seguido pelo vice-rei relativamente às populações m
­ estiças e
cristianizadas, também elas chamadas momentaneamente a defender
os territórios de Goa, como nos dá conta Couto ao afirmar: «orde-
nou quatro bandeiras de mil christãos da terra e outra de trezentos
escravos cativos dos moradores […]; e ajuntou das terras de S­ alcete
e Bardes e da cidade de Goa mil e quinhentos piõis christãos».53
No entanto, passada a crise militar que assolou o seu governo, tudo
voltou à normalidade, dissolvendo-se essas estruturas.

Acção reformadora dos Filipes

Com a união das duas coroas ibéricas, Filipe I (de Portugal) pro-
videnciou a imediata reformação das coisas de guerra no Oriente,
procurando transpor para aí uma vez mais aquele modelo, havia
muito em vigor em Espanha. Nesse sentido foi enviado para a Índia,
em 1584, D. Duarte de Menezes, que levava instruções para promo-
ver a criação das ordenanças nas diferentes fortalezas. Logo após a
sua chegada, publicou um conjunto de alvarás autorizando os seus
capitães a proverem os lugares com criados e parentes, a que nelas
tinham direito por inerência do cargo, e com quaisquer soldados,

51
  Eram conhecidos como escravos de peleja, que acompanhavam os seus senho-
res na guerra.
52
 Joaquim Romero de Magalhães, «A guerra, os homens e as armas», em
História de Portugal, dir. José Mattoso (Lisboa: Círculo de Leitores, 1993), vol. iii,
112.
53
 Em Diogo do Couto e a Década 8.ª da Ásia, ed. Maria Augusta Lima Cruz
(Lisboa: CNCDP, 1992), vol. i, 534-535. António Pinto Pereira que, na generali-
dade, apresenta números iguais aos de Couto, refere que se tratava de quatro ban-
deiras de escravos, em que havia 1000 deles, o que daria 250 homens por bandeira.
António Pinto Pereira, História da Índia no Tempo em que a Governou o Visorei
Dom Luís de Ataíde (Lisboa: INCM, 1987), livro ii, 349.

448

Monárquias Ibéricas.indb 448 13/12/18 14:56


Instituições, contingentes e culturas militares na monarquia portuguesa

mesmo não sendo fidalgos, dando assim sequência a uma tarefa já


anteriormente iniciada por D. Francisco de Mascarenhas.54 Parale-
lamente, D. Duarte procurou incentivar a prática generalizada dos
alardos, a que se seguiam treinos físicos e de tiro à barreira, e proce-
deu à criação de companhias de ordenanças em Ormuz e Malaca.55
Quanto aos «casados» e moradores dessas fortalezas fronteiras, ape-
nas no caso da Ormuz foi determinado que nelas fossem assentados,
recebendo os seus soldos e quartéis ao ano.56
A partir de 1586, não obstante Lisboa continuasse a pressionar o
vice-rei no sentido da incorporação dos soldados nessas «bandeiras»,
surgem os primeiros sinais de que o processo fora interrompido57,
continuando a afluir à corte queixas sobre o mau funcionamento
da Casa da Matrícula, como a de Álvaro de Bolanho Monsalve que,
em Março desse ano, se lamentava ao rei de ali serem pagos 18 000
homens de armas, quando não serviam mais de 10 000.58 No ano
seguinte, surgiria a confirmação, por parte do vice-rei, da sua inca-
pacidade em poder levar por diante a planeada reorganização da
­Matrícula e a integração dos soldados em companhias.59 D. Manuel
de Sousa Coutinho apresentaria como razão principal do seu insu-
cesso a falta de dinheiro no erário do Estado da Índia para «lhes fazer
seus pagamentos tanto a risqua, como requere gente que so disso
hade viver».60
Os responsáveis pela condução dos negócios ultramarinos pro­
curaram então desencadear o processo a partir do reino, determi-
nando que, após 1588, todos os soldados que partissem para a Índia
fossem já «repartidos por bandeiras e capitanias de que ­encarregamos

54
 Vejam-se os «Alvarás de D. Francisco de Noronha [1584] relativos às
diferentes fortalezas do Estado», na British Library, Mss. Add. 28433, ff. 19 e segs.
55
 Cf. «Orçamento do Estado da Índia, 1588-1590», na British Library, Mss.
Add. 28433, 153, 160-162.
56
  «Orçamento do Estado da Índia…», 27.
57
  Cf. «Carta régia para o governador, de 6 de Março de 1587», em Archivo Por-
tuguez Oriental, org. J. H. da Cunha Rivara (Nova Goa: Imprensa Nacional, 1857),
fasc.º 3, parte i, 102 e 103.
58
  Cf. «Carta ao rei, de 24 de Março de 1586», em Archivo General de las Indias,
Sevilha, Patronato Real, legajo n.º 53.
59
  Em Archivo General de Simancas (AGS), Secretarias Provinciales, n.º 1551,
22v-23.
60
 Cf. «Carta de 10 de Dezembro de 1588 para o rei», em AGS, Secretarias
Provinciales, n.º 1551, 246v.

449

Monárquias Ibéricas.indb 449 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

alguns fidalgos que vão embarcados nas mesmas naus». Determi-


nava-se ainda que todos os soldados da Índia fossem igualmente
incorporados em companhias «assi nas armadas como nas forta-
lezas […] e se não pague nenhum soldo senão aos que por esta
vencerem».61 Não obstante as inúmeras provisões emitidas até
aos finais da centúria, pouco ou nada foi feito, tendo em 1596 a
coroa ordenado que «a gente da cidade de Goa, e das demais cida-
des e fortalezas daquele estado estejam em ordenança, e tenham
espingardas e as mais armas segundo a possibilidade de cada hum,
e se exercitem aos domingos e dias santos».62 Procurava-se, assim,
não só enquadrar os soldados nessas companhias, mas criar tam-
bém uma espécie de tropa de segunda linha destinada a apoiá-los
na defesa das praças, como já havia sido feito no reino antes de
Filipe I. Em 1607, no entanto, já não havia qualquer vestígio dessas
companhias, mesmo nas fortalezas de Ormuz e Malaca, onde antes
haviam sido criadas.63
Em 1608, dado o aumento da pressão das potências protestan-
tes no Índico, as autoridades portuguesas tentaram, sobretudo em
Goa, organizar militarmente as populações mestiças e cristianiza-
das em «companhias de gente preta». A vigência foi, no entanto,
muito curta, uma vez que o monarca, pressionado pela edilidade
goesa determinou, em fins de 1610, que fossem extintos não só
os cargos de coronéis de «gente preta» da ilha, mas também os da
«gente portuguesa».64 Nos anos subsequentes, em resultado de
uma estratégia que privilegiava o reforço das estruturas terrestres
do Estado da Índia, dada a superioridade militar naval dos holan-
deses e dos ingleses, foi a população de Salcete e de Rachol organi-
zada em companhias de 200 homens, formadas, segundo Bocarro,
com todos os indivíduos «de sessenta pera baixo e de dezoito pera
cima, com seus capitães portuguezes, quando os houvesse morado-
res nas mesmas terras, com as partes convenientes para isso, e não

61
  Cf. «Carta de 16 de Março de 1588», em Historical Archives of Goa, Livro
das Monções, n.º 3, 259-261.
62
 Cf. «Regimento de D. Francisco da Gama, de 5 de Janeiro de 1596», em
AHU, Códices, n.º 281, 355v.
63
 Rodrigues, A Evolução da Arte da Guerra…, 438-439 e 470-471.
64
  Cf. «Carta de 24 de Dezembro de 1610», em Documentos Remettidos da Índia
ou Livros das Monções, ed. Raimundo A. de Bulhão Pato (Lisboa: Academia Real das
Sciencias, 1880), vol. i, 413-414.

450

Monárquias Ibéricas.indb 450 13/12/18 14:56


Instituições, contingentes e culturas militares na monarquia portuguesa

os havendo fossem dos mesmos naturaes canarins, e assi os alferes


e sargentos».65 Procurava-se assim, segundo Bocarro, defender as
terras firmes «sem puchar muito pelos [soldados] portugueses».66
A partir de 1617, dado o avolumar dos insucessos portugueses
na Ásia – com destaque para a destruição, em 1607, da armada por-
tuguesa de alto bordo ao largo de Malaca, renovam-se as determina-
ções para organizar as tropas do Estado «de acordo com a maneira
europeia». Em princípios de 1619, levado o assunto a Conselho, o
vice-rei decidiu não o fazer «por a guerra deste estado se não fazer
em terra, e toda por mar, e não haver dinheiro pera se lhes fazer as
pagas e arriscar por falta d’ellas a haver desordens e motins».67 Foi
necessário que a fortaleza de Ormuz caísse em poder das forças
anglo-persas, para que as determinações de Lisboa tivessem efeito
junto das populações. Estas, temendo que um desastre semelhante
pudesse ocorrer na ilha de Goa e terras firmes, apressaram-se a
solicitar ao vice-rei «a criação de companhias da terra».68 Em fins
de Julho estavam já organizadas as antigas «companhias de gente
preta». Escolhido Afonso Telles de Menezes como capitão «de toda
a gente branca de Goa»69 e nomeados os capitães das freguesias
das ilhas de Chorão e Juá,70 essas companhias, constatada a incapa-
cidade holandesa para desalojar os portugueses desses territórios,
logo se desmantelaram.
Durante a governação do 4.º Conde de Linhares, D. Miguel de
Noronha (1629-1635), procedeu-se, em paralelo com algumas acções
de reestruturação das fortalezas e armadas do Estado da Índia, à reno-
vação das casas da pólvora e da fundição em Goa, aqui tendo sido criado
um terço de infantaria composto por 2500 soldados e um batalhão de

65
  António Bocarro, Década 13 da História da Índia, ed. R. J. de Lima Felner
(Lisboa: Academia Real das Sciencias, 1876), 234.
66
  Idem, ibidem.
67
  Cf. «Instrucções com que mandou à Índia o Conde de Redondo, Vice-rei»,
em Documentos Remetidos..., vol. iv, 168-169 e 287-288.
68
  Cf. «Advertências que se fizerão ao Senhor governador Fernão de Albuquer-
que por parte desta cidade, de 1 de Junho de 1622», em HAG, Acórdãos e Assentos
do Senado de Goa, n.º 7748, 83-85v.
69
  Cf. «Carta de confirmação da nomeação do ofício da gente branca das fregue-
sias da Trindade e N.ª Snr.ª da Luz da cidade de Goa», em HAG, Cartas Patentes e
Alvarás, n.º 476, 197-198.
70
  Cf. «Carta de nomeação dos capitães das gentes de ordenanças, de 29 de Julho
de 1622», em HAG, Cartas Patentes e Alvarás, n.º 476, 204-206 e 213v-214.

451

Monárquias Ibéricas.indb 451 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

tropas locais formado por 5000 homens.71 A sua criação, no entanto,


parece não ter passado do papel pois em 1633 Linhares afirmava ao
monarca que para defesa da Índia dispunha apenas de 1 500 homens,
não podendo sequer armar os poucos galeões estacionados em Goa.72
Relativamente ao poder naval, para além da clara aposta feita nas arma-
das de remo e nos navios de vela de menores dimensões para continuar a
apoiar as fortalezas cercadas pelas armadas holandesas, um dos maiores
problemas prendia-se com a crónica falta de tripulações, sobretudo para
os grandes navios de vela, situação que se extremou em 1634, a ponto de
os seis galeões da armada de alto bordo, fundeados no porto de Aguada,
não terem podido zarpar por falta de marinheiros e bombardeiros73.
Para além disso, não obstante o grande número de homens enviados do
reino no quinquénio anterior (5228, tendo chegado ao Oriente somente
2495),74 só o recrutamento de um grande número de canarins, malabares
e negros permitiu o aparelhamento das frotas de remo.75 A importân-
cia relativa desses contingentes não deixaria de se acentuar nas déca-
das seguintes, como o comprova a afirmação de ­António de Mello de
Castro (1662-1666), de que nessa altura dois terços dos homens que
serviam nas armadas do Estado da Índia eram pretos.76 Idêntica situação
ocorreu relativamente às guarnições das praças que registaram um cres-
cente processo de «crioulização» dos seus efectivos.

Da «Restauração» à emergência de um exército permanente


na década de 1740

As décadas de 1650 e 1660, dada a necessidade da coroa joanina em


orientar todo o seu potencial militar para o conflito que vinha travando
com a vizinha Espanha, ficaram marcadas pelo r­ eduzidíssimo número

71
  Cf. «Assento do Conselho de Estado, de 18 de Abril de 1630», em Assentos do
Conselho de Estado, I, 271-22. Sobre o assunto veja-se Maria Manuela Sobral Blanco,
O Estado Português da Índia da Rendição de Ormuz à perda de Cochim (1622-1663)
(tese de doutoramento em História apresentada à FLUL, Lisboa, 1992), vol. i, 515.
72
  Cf. «Carta do vice-rei, Goa, de 7 de Outubro de 1631», em HAG, Livros das
Monções, n.º 18, 96.
73
 Blanco, O Estado Português da Índia…, 276.
74
  Cf. informação de Pero Barreto de Resende, Biblioteca da Universidade de
Coimbra, Códice 459, 391.
75
 Blanco, O Estado Português da Índia…, 277.
76
  Cf. AHU, Consultas do Conselho da Fazenda, n.º 211, 367v-368.

452

Monárquias Ibéricas.indb 452 13/12/18 14:56


Instituições, contingentes e culturas militares na monarquia portuguesa

de homens, navios e armamento enviado do reino,77 o que, somado


ao aumento da pressão militar exercida pelos holandeses e diferentes
potentados orientais sobre as possessões portuguesas, contribuiu não
só para a retracção territorial do Estado da Índia, mas também para a
sua transformação numa potência regional do subcontinente indiano,
obrigando à reformulação da sua orgânica militar. Como refere Ernes-
tina Carreira, «não existiam então corpos de tropas permanentes na
Índia, mobilizando-se ou desmobilizando-se pequenas unidades,
nomeadas ‘companhias’, em função das necessidades e dos perigos».78
Só em 1671, em resultado de anteriores directivas emanadas do
­Conselho Ultramarino (Dezembro de 1669), foi criado pelo v­ ice-rei
Luís de Mendonça Furtado e Albuquerque (1671-1676) um terço de
infan­taria composto por 500-600 homens79, o qual, a exemplo dos
­terços de ordenanças do reino, foi, também aqui, enquadrado por uma
cadeia hierárquica de comando composta por um mestre-de-campo e
um sargento­-mor, vários capitães de infantaria, alferes e sargentos de nú-
mero e supranumerários, o qual ficou conhecido como o «terço velho».80
A exemplo do que já antes sucedera, também agora essa estrutura
se manteve numa forma embrionária. A defesa do território era asse-
gurada, para além das reduzidas guarnições das fortalezas, por uma
companhia de cavalaria para guarda das terras de Salsete e algumas com-
panhias de sipais, não tendo estas, no entanto, uma organização regular.
Nos primeiros anos da governação do conde de Sandomil, D. Pedro
Mascarenhas (1732-1741), constatada a extrema debilidade de recursos
e a inexistência de corpos militares organizados no Estado da Índia,81
foram criados os terços de auxiliares de Goa, Bardez e ­Salsete, com as
respectivas companhias (alvará de 21 de Julho de 1733).82

77
  Glen J. Ames, «The Estado da Índia 1663-1677: priorities and strategies in
Europe and the East», Stvdia, n.º 49 (1989), 284 e segs.
78
  Ernestina Carreira, «Aspectos políticos», em O Império Oriental 1660-1820,
coord. Maria de Jesus Mártires Lopes (Lisboa: Estampa, 2006), vol. i, 77.
79
  Cf. «Consulta do Conselho Ultramarino, de 9 de Dezembro de 1669», em
AHU, Documentos Avulsos Relativos à Índia, cx.ª 28, doc. 87.
80
  Carreira, «Aspectos Políticos…», 136.
81
  Cf. «Carta do vice-rei para o secretário de Estado António Guedes Pereira»,
em HAG, Monções do Reino, n.º 107, 286-289.
82
  Segundo Manuel Felicissimo Louzada d’Araújo d’Azevedo eram companhias
avulsas, aquarteladas nas melhores posições da fronteira das ilhas e das comarcas
de Salsete e Bardez. Eram ao todo 23, denominando-se companhias do terço d’au-
xiliares, sete das quais formadas com europeus e as restantes com nativos. Manuel

453

Monárquias Ibéricas.indb 453 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Seria necessário, no entanto, que a situação político-militar do


Estado da Índia se agravasse – a capitulação da Província do Norte
teve lugar em Maio de 1739, encontrando-se Goa à mercê dos exér-
citos maratas – para que a coroa se decidisse finalmente a enviar para
o Oriente os homens e o material de guerra necessários à defesa do
que restava do seu antigo império. Em 1740 foram enviados seis
navios de guerra com quatro batalhões de soldados experimentados
e artilharia (da mais moderna existente na Europa), para além de um
conjunto significativo de oficiais veteranos, muitos deles franceses,
que foram responsáveis pelas reformas operadas não só a nível da
formação militar dos homens, mas também das estruturas militares
do Estado da Índia, tendo estado, por isso, no dizer de Ernestina
Carreira, na base da formação do novo exército, responsável pelo
alargamento do território com a anexação das «Novas Conquistas»83.

Quadro atlântico
Dimensões militares da colonização do Novo Mundo

O Brasil, tal como tinha acontecido na costa africana, viu a sua


exploração entregue à iniciativa privada, o que confirma o estatuto
secundário do território no início do século xvi. Os interesses por-
tugueses orientavam-se então para o Norte de África e para a Ásia,
onde se reencontrara o tradicional adversário muçulmano. Esse ele-
mento tão familiar ao pensamento marcial português estava ausente
do cenário americano. Aí, os portugueses, como outros europeus,
encontraram ao invés um mundo novo também no que dizia respeito a
adversários e aos modos de combate. Aí, no Brasil, ao contrário do que
vinha sendo prescrito por autores europeus, privilegiavam-se ataques­-
-surpresa e emboscadas em operações aparentemente conduzidas de

Felicissimo Louzada d’Araújo d’Azevedo, «Ásia Portugueza. Segunda Memória


Descriptiva e estatística das Possessões Portuguezas na Ásia, e seu estado actual»,
em Annaes Marítimos e Coloniaes (Lisboa, 1842), 2ª série, nº 5, 197-252.
83
 Ernestina Carreira, «Des Terres de France aux Forteresses de l’Estado da
India: les Militaires Français à Goa sous l’Ancien Régime», Anais de História de
Além-Mar, IX, (2008): 271; Ernestina Carreira, Globalising Goa (1660-1820).
Change and Exchange in a Former Capital of Empire, Goa, Ed. Goa-1556, 2014, 138
e segs.

454

Monárquias Ibéricas.indb 454 13/12/18 14:56


Instituições, contingentes e culturas militares na monarquia portuguesa

forma desordenada, sem direcção de oficiais (pelo menos de acordo


com os parâmetros europeus), e que acabavam por envolver práti-
cas antropofágicas.84 Tudo para recorrente desagrado, consternação
ou desdém da maioria dos observadores do Velho Mundo, ainda que
alguns, como o francês Jean de Léry, reconhecessem que tais costumes
não constituíam propriamente monopólio dos nativos da América.85
Todavia, importa notar que a desvalorização explícita dos modos de
combate dos indígenas deve-se ao facto de estes serem estranhos às
referências culturais portuguesas e à doutrina militar emergente que
enfatizava a preferência pela confrontação em campo aberto de unida-
des maciças e serradas de corpos de infantaria. Não estava em causa,
nem nunca esteve, uma suposta ineficácia. Como apontou Rolena
Adrono, os modos de combate e tácticas indígenas, tal como muitas
outras coisas do Novo Mundo, não eram interpretados isoladamente,
mas sempre em relação à prática europeia, e parcialmente com o pro-
pósito de demonstrar «superioridade civilizacional».86 O prestígio
marcial do novo território foi também determinado negativamente
pela inexistência de grandes impérios, semelhantes àqueles que os
espanhóis enfrentaram no Novo Mundo, e cujo derrube tanto contri-
buiria para a grande narrativa imperial espanhola. Seria especialmente
importante para os criollos. De acordo com Anthony Pagden, «a exis-
tência de um passado indígena ‘heróico’ foi crucial para o imaginário
militar que constituiu uma parte significativa da visão que os criollos
tinham da sua história como povo».87
O ciclo inicial de viagens para a América, essencialmente explo-
ratórias e ligadas ao escambo de pau-brasil, foi interrompido em
1534 com o estabelecimento das primeiras capitanias-donatarias,
reproduzindo­-se, assim, o modelo já usado com sucesso nas ilhas
atlânticas da Madeira, Açores e Cabo Verde. Isto significava que a

84
  Entre outros, ver por exemplo as descrições de Pedro Magalhães Gândavo.
Pedro Magalhães Gândavo, Historia da prouincia sancta Cruz a que vulgarmente cha-
mamos Brasil… (Lisboa: Officina de Antonio Gonsaluez (1858) [1576]), ff. 37-40.
85
  Jean de Léry, Histoire d’un voyage fait en la terre du Bresil… (La Rochelle/
Genebra: Antoine Chuppin, 1578).
86
  Rolena Adorno, Polemics of Possession in Spanish America (New Haven/Lon-
dres: Yale University Press, 2007), 113-147.
87
 Anthony Pagden, «Identity formation in Spanish America», em Colonial
Identity in the Atlantic World, 1500-1800, eds. Nicholas Canny e Anthony Pagden
(Princeton: Princeton University Press), 66.

455

Monárquias Ibéricas.indb 455 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

administração militar do território cabia ao donatário, que a exercia


no quadro mais vasto de outras funções. Sublinhe-se, contudo, que
a defesa do território, apesar de ser um aspecto crucial da concessão,
dificilmente poderia ser assegurada na íntegra pelo donatário. Este
estava longe de ser considerado um chefe militar, mesmo nos alvores
do sistema. Como notou António Vasconcelos de Saldanha, o pro-
cesso de criação das capitanias coexistiu com a nítida decadência da
dimensão marcial dos senhorios como chefes militares.88 O mesmo
historiador lembrou que os «exércitos» das capitanias não eram mais
do que hostes de vizinhos despreparados e reunidos com frequên-
cia variável. Na verdade, os próprios donatários não se cansavam
de recordar à coroa a fraca oposição que poderiam fazer a possíveis
ameaças de índios ou de outras potências europeias.
Foi, em grande medida, a necessidade de conferir mais solidez
à presença portuguesa no Brasil que esteve na génese da criação do
governo-geral em 1549. As investidas francesas e os ataques de índios
expunham as fragilidades do sistema de donatarias, o que se procurou
atalhar por via de uma solução centralizadora. A criação do cargo de
capitão-mor da costa denuncia essas mesmas preo­cupações. O pri-
meiro governador-geral, Tomé de Sousa, chegou com 200 soldados
regulares e, ainda mais importante, com instruções para supervisionar
a fortificação das várias capitanias, cuja capacidade defensiva deve-
ria ser permanentemente vigiada. Trata-se de um sinal claro da nova
atitude mais intrusiva da coroa,89 naturalmente geradora de conflitos
com antigos donatários ciosos das suas prerrogativas originais.90
As competências militares dos primeiros governadores­-gerais, con-
cedidas ao abrigo de um perfil funcional que se desejava abrangente,
tinham tratamento muito genérico, não se fazendo grande distinção
entre a esfera civil e a esfera militar.91 Por exemplo, a ­delegação do

88
 António Vasconcelos de Saldanha, As Capitanias do Brasil – Antecedentes,
Desenvolvimento e Extinção de um Fenómeno Atlântico (Lisboa: CNCDP, 2001
[1992]), 192-193.
89
  Francisco Carlos Cosentino, Governadores-Gerais do Estado do Brasil (Sé-
culos XVI-XVII) (São Paulo: Annablume, 2009), 236-243.
90
  Ver sobretudo o caso de Pernambuco. Francis A. Dutra, «Centralization vs.
Donatarial. Priviledge: Pernambuco, 1602-1630», em Colonial Roots of Modern Bra-
zil, ed. Dauril Alden (Berkeley, Los Angeles, Londres, 1973), 19-60.
91
  Miguel Dantas da Cruz, Um Império de Conflitos. O Conselho Ultramarino e
a Defesa do Brasil (Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2015), p. 308.

456

Monárquias Ibéricas.indb 456 13/12/18 14:56


Instituições, contingentes e culturas militares na monarquia portuguesa

direito de prover postos ligados à guerra era feita de um modo similar


àquela que se fazia a respeito das serventias dos ofícios da Fazenda e
da justiça. E, tal como na Fazenda e na justiça, na guerra ainda se falava
em conceder lugares em propriedade – prática que tenderá a desapare-
cer formalmente das tropas regulares portuguesas. Isto não significa,
porém, que o principal administrador colonial do Brasil gozasse de
prerrogativas absolutamente iguais ao congénere do Estado da Índia,
mesmo quando indigitado com o título superior de vice-rei. Aquele,
notava-se, era «um governo totalmente militar e guerreiro» com os
vice-reis sempre «em campanha, ou no mar e na terra».92 A concessão
de certas mercês in loco, atribuída ao vice-rei de Goa e raramente con-
cedidas a quem governava o Brasil,93 é um forte indicador do estatuto
mais secundário do Brasil, enquanto campo de batalha (quando com-
parado com a Ásia); um estatuto de que o território só excepcional-
mente se conseguiu libertar. A forma como se distribuíam mercês no
arranque da expansão, em especial as insígnias das ordens militares,
confirma de resto essa hierarquia de espaços de confronto na cultura
militar portuguesa de Quinhentos. Hábitos e comendas tinham uma
profunda marca religiosa e destinavam-se à luta contra o «infiel», ini-
cialmente no Norte de África, e depois na Índia.94 Sem essa carga reli-
giosa, o Brasil parece ter ficado quase excluído da política oficial de
mercês da coroa; ou seja, numa fase inicial da expansão, não estava
prevista a concessão de tais insígnias por serviços prestados no Novo
Mundo. Angola, que também não possuía essa dimensão religiosa,
mas onde os portugueses enfrentavam grande resistência pelo menos
desde as últimas décadas do século xvi, parece ter-se inclusivamente
antecipado à colónia americana como palco militar remunerável.95
Ainda a respeito do estatuto militar da América durante o
século  xvi é significativa a inexistência de actividade literária d
­ estinada

92
 Consulta do Conselho Ultramarino de 22 de Dezembro de 1714, em
­Documentos Históricos, 96, 141-142.
93
  Tratava-se de hábitos das ordens militares e foros de fidalgo. Ver consultas
do Conselho Ultramarino sobre os pedidos do conde de Óbidos e do marquês de
Angeja, segundo e terceiro vice-reis do Brasil. Consulta de 10 de Junho de 1664,
AHU, Bahia – Luísa Fonseca, cx. 18, doc. 2023; e Consulta de 22 de Dezembro de
1714, em Documentos Históricos, 96, 141-142.
94
  Fernanda Olival, As Ordens Militares e o Estado Moderno: Honra, Mercê e
Venalidade em Portugal (1641-1789) (Lisboa: Estar, 2001), 54.
95
  Referido em Consulta do Conselho Ultramarino de 8 de Julho de 1688, em
AHU, Consultas Mistas, códice 86, 31v-32v.

457

Monárquias Ibéricas.indb 457 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

a fixar a memória dos sucessos alcançados contra indígenas, que


ameaçavam as posições portuguesas, a começar pela Baía, e contra os
franceses, especialmente no Rio de Janeiro. É certo que o território
foi alvo da pena de diversos autores que, ao longo de Q
­ uinhentos,
o descreveram e sublinharam as suas riquezas, mas a gesta de feitos
«heróicos» ficou reservada para a Índia.

Crises atlânticas. Da América e África para


a Península Ibérica

O grande conflito que opôs as Províncias Unidas aos ­Habsburgo,


também chamado Guerra dos Oitenta Anos (1568-1648) e inicial-
mente centrado nos Países Baixos, ganhou novas frentes de combate
nos territórios ultramarinos dos ibéricos a partir dos últimos anos
do século xvi. E foram os empreendimentos portugueses, então inte-
grados na Monarquia Hispânica, que, por conta da sua frágil situa-
ção geográfica (maioritariamente costeiros e expostos ao poder naval
protestante), se tornaram o alvo privilegiado dos ataques holande-
ses. O conflito, apelidado de Primeira Guerra Mundial por Charles
Boxer,96 centrou-se numa fase inicial no Índico, ainda que as primei-
ras escaramuças tivessem ocorrido em São Tomé e Príncipe (1597).
O Atlântico português só foi verdadeiramente afectado na sequência
da fundação da Companhia das Índias Ocidentais (WIC), em 1621,
a qual recebeu os privilégios anteriormente dados à sua bem-suce-
dida congénere asiática (VOC).
Em 1624, e com o propósito de assumir o controlo do comér-
cio do açúcar, a WIC atacou Salvador da Baía, a capital do Estado
do Brasil e centro de uma das mais prósperas capitanias portu-
guesas. Desembarcaram-se 3300 homens num território que
estaria muito mal defendido pelos Habsburgo. Não obstante o
reconhecimento da importância estratégica do Brasil, como ante-
para da ­América espanhola,97 a cidade contava com pouco mais
de 250 homens, ­distribuídos por três companhias, no início do

96
  Charles Boxer, O Império Marítimo Português, 1415–1825 (Lisboa: Edições
70, 2001), 115.
97
  Rafael Valladares, «El Brasil y las Indias españolas durante la sublevación de
Portugal (1640-1668)», Quadernos de Historia Moderna, n.º 14 (1993): 152.

458

Monárquias Ibéricas.indb 458 13/12/18 14:56


Instituições, contingentes e culturas militares na monarquia portuguesa

século xvii.98 A reacção foi, no entanto, pronta. Madrid mobilizou


os seus vastos recursos humanos, persuadindo a aristocracia por-
tuguesa a participar em grande número naquela que era a maior
expedição militar a atravessar o Atlântico, futuramente designada
«Jornada dos Vassalos».99
Esse feito militar tornou-se de imediato um tópico no universo
literário ibérico. Além das crónicas oficiais e semioficiais, dezenas de
exortações e relatos foram escritos e impressos, por vezes denun-
ciando sinais de tensão identitária na União Ibérica.100 Quem tinha
afinal contribuído mais para aquele sucesso? Mas o investimento
político nos 12 463 homens, entre portugueses, espanhóis e napo-
litanos, sugere também uma profunda alteração no estatuto do ter-
ritório enquanto campo de batalha. Para a cultura militar e política
portuguesa, o Brasil, assediado pelos protestantes, deixou de ser um
campo de batalha secundário, até então desvalorizado por um pensa-
mento marcial centrado na guerra contra os muçulmanos.101 Em 1640
o padre António Vieira escreveu, talvez com algum e­xagero, que
«nenhuns serviços paga Sua Majestade hoje com mais liberal mão
que os do Brasil».102 Mais tarde, Francisco de Brito Freire, gover-
nador de Pernambuco entre 1661 e 1664, viria a comparar aquele
conflito com a guerra da Flandres,103 que, para todos os efeitos, cons-
tituía a grande referência da cultura militar europeia.
Em Madrid, o reencontro bem-sucedido com o adversário protes-
tante no Novo Mundo foi inclusivamente escolhido para c­ onsagrar

98
  Evaldo Cabral de Mello, Olinda Restaurada: Guerra e Açúcar no Nordeste,
1630-1654 (Rio de Janeiro: Topbooks, 1998 [1975]), 223.
99
  Stuart Schwartz, «The Voyage of the Vassals: Royal Power, Noble Obliga-
tions, and Merchant Capital before the Portuguese Restoration of Independence,
1624–1640», American Historical Review, 96, 3 (1991): 735–62.
100
  Diogo Ramada Curto, Cultura Imperial e Projetos Coloniais (Séculos XV a
XVIII) (Campinas: Editora da Unicamp, 2009), 259-279.
101
  Rui Bebiano, «A guerra: o seu imaginário e a sua deontologia», em Nova His-
tória Militar de Portugal, dirs. Manuel Themudo Barata e Nuno Severiano Teixeira
(Lisboa: Círculo de Leitores, 2004), vol. 2, 52-58.
102
 António Vieira, Sermam que pregou o P. Antonio Vieira da companhia de
Iesus na Misericordia da Bahia de todos os Santos em dia de Visitação de nossa Señora
Orago da Casa (Lisboa: Officina de Domingos Lopes Rosa, 1655), 321.
103
 Francisco de Brito Freire, Nova Lusitania, historia da guerra brasilica: a
purissima alma e savdosa memoria do serenissimo principe dom Theodosio principe de
­Portugal, e principe do Brasil (Lisboa: Officina de Joam Galram, 1675), nota inicial
ao leitor.

459

Monárquias Ibéricas.indb 459 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

a dinastia num programa artístico que incluía a famosa La rendición


de Breda, de Diego Velázquez. Exposto na Sala dos Reinos do P ­ alácio
del Buen Retiro, La recuperación de Bahía de Todos los Santos, de Juan
Bautista Maino, constitui um poderoso testemunho da valorização
do território americano. Aliás, é significativo que os ­Habsburgo
tivessem escolhido consagrar aquela expedição em detrimento de
êxitos contemporâneos na Ásia, como Macau em 1622, ou sucessi-
vas defesas de Goa. Talvez os Áustrias ignorassem ou fossem menos
sensíveis às credenciais históricas da Ásia portuguesa, enquanto
espaço de expressão privilegiado de actividades militares, divulgadas
por uma vigorosa produção literária. De outra forma, seria de supor
que procurassem consagrar eventos que a seu ver dessem sequência
às façanhas de Vasco da Gama, Afonso de Albuquerque ou D. João
de Castro, inclusivamente como forma de glorificação e legitimação
política da casa reinante.
A «Jornada dos Vassalos», como exemplo de colaboração inter-
nacional, seria, contudo, irrepetível. Os ­Habsburgo foram incapa-
zes de repelir nova iniciativa holandesa, desta vez direccionada para
Pernambuco, a rica capitania-donataria dos Albuquerque C ­ oelho.
As expedições organizadas por Madrid durante a década de 1630
fracassaram e a resistência ibérica foi finalmente vencida em 1637.
Nos anos seguintes caíram outras capitanias no Brasil, assim como
entrepostos de escravos em África (São Jorge da Mina também em
1637 e Angola em 1641).
O êxito holandês no Atlântico foi, porém, de curta duração, sendo
no arranjo político-social de Pernambuco do pós-guerra que estariam
as sementes do seu fracasso. Pressionados por dívidas à WIC, os
luso-brasileiros, que continuaram a manter o controlo da produção
açucareira, revoltaram-se em 1645, contando para isso com o apoio
dissimulado da Baía e do governo de Lisboa (independente desde
finais de 1640). Foram também as populações locais que suporta-
ram o grosso do esforço de guerra, com os Bragança grandemente
manietados pela necessidade de responder nas fronteiras do reino às
tropas do monarca deposto. O maior contributo metropolitano pas-
saria sobretudo pela constituição da Companhia Geral de Comércio
do Brasil, que deveria proteger as frotas do açúcar e que bloqueou
com sucesso o porto de Recife, o último bastião holandês no Brasil.
Note-se ainda que o protagonismo local neste conflito viria a estar
inclusivamente na base do imaginário político pernambucano de forte

460

Monárquias Ibéricas.indb 460 13/12/18 14:56


Instituições, contingentes e culturas militares na monarquia portuguesa

pendor nativista e hostil a Lisboa, numa primeira fase, e depois, já no


período da independência, ao Rio de Janeiro.104
Apesar da influência que a ortodoxia militar espanhola (de cariz
eurocêntrico) exerceu na cultura militar portuguesa, a condução da
guerra no Atlântico Sul não seguiu modelos europeus: não houve
grandes movimentos de tropas disciplinadas que se confrontavam
em campo aberto. Salvo raras exceções, a guerra no Novo Mundo
era uma guerra de atrito, com emboscadas e operações de guerrilha
destinadas a provocar o desgaste no inimigo. F ­ requentemente cha-
mada Guerra Brasílica, constituía um sincretismo de saberes mar-
ciais europeu e indígena,105 não totalmente dissimilar daquele que
ocorreu na África Central entre portugueses e g­ rupos locais.106
A Guerra Brasílica promovia ainda a i­ntegração de camadas da
população social e economicamente mais desfavorecidas, com
destaque para índios e escravos africanos, que podiam ser inclu-
sivamente recompensados com a alforria. Ficaram célebres os
casos do índio Filipe Camarão e do negro Henrique Dias. Este
último, filho de escravos, comandou mesmo um terço de negros
que se tornou uma força permanente no território após a expulsão
dos ­holandeses.107 Na verdade, soluções similares de defesa, que
incorporavam negros e mulatos livres, iriam proliferar doravante
na colonização do Brasil, abrindo inclusivamente a porta à nobili-
tação desses homens.108
Com múltiplas frentes, o império português do Atlântico de Seis-
centos converteu-se num espaço de intensa circulação de ­militares,

104
  Evaldo Cabral de Mello, Rubro Veio – O Imaginário da Restauração Pernam-
bucana (São Paulo: Alameda, 2003), 3.ª ed.
105
 Mello, Olinda Restaurada…
106
  John Thornton, «The Art of War in Angola, 1575-1680», Comparative Stu-
dies in Society and History, 30, 2 (1988): 373.
107
  Sobre este terço cujo significado histórico e historiográfico aqui não se pode
recuperar plenamente, ver, entre outros, Hebe Matos, «‘Black Troops’ and Hierar-
chies of Color in the Portuguese Atlantic World: The Case of Henrique Dias and
His Black Regiment», Luso-Brazilian Review, Special Issue ‘ReCapricorning’ the
Atlantic, 45, 1 (2008).
108
 Este tópico da concessão de mercês a negros e mulatos forros, que tem
alimentado uma historiografia vigorosa, foi muito recentemente revisto por Luiz
Geraldo Silva, em artigo publicado na revista Tempo e para o qual se remete o lei-
tor. Luiz Geraldo Silva, «Indivíduo e sociedade. Brás de Brito Souto e o processo
de institucionalização das milícias de afrodescendentes livres e libertos na América
portuguesa (1684-1768)», Tempo, vol. 23, n.º 2 (2017), 174-203.

461

Monárquias Ibéricas.indb 461 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

que acumulavam comissões na Europa, no Brasil e em África. Luiz


Felipe de Alencastro, entre outros,109 sublinhou o papel de tropas
luso-brasileiras na reconquista de Angola (1648) e em campanhas
subsequentes em território africano, que veteranos das guerras holan-
desas levaram a cabo na segunda metade de Seiscentos, por vezes
em flagrante desobediência à coroa (caso do ataque de André Vidal
de Negreiros ao Congo em 1665). Só de Pernambuco terão partido
sete expedições nesse período, que ajudaram a consolidar a presença
portuguesa num cenário absolutamente decisivo, por conta do for-
necimento de escravos ao Brasil.110 Para além de assegurar o indis-
pensável entreposto costeiro, Portugal conseguiu mesmo penetrar
no interior do território angolano no seguimento de um conjunto
de batalhas divulgadas por um dos seus conhecidos participantes, o
veterano António de Oliveira Cadornega, na sua História Geral das
Guerras Angolanas (1680).
Outros militares moviam-se entre o reino e o Atlântico Sul, por
vezes em grande número, construindo trajectórias que e­ stranhamente
não parecem ter incluído estadias na Ásia. Sugeriu-se, a este respeito,
a existência de dois espaços de circulação neste período, que, um
pouco ao contrário do que teria acontecido no século xvi, não se
sobrepunham. Um era atlântico, incluía o reino, o Brasil e entrepos-
tos africanos, e outro asiático, que poderia eventualmente incluir o
reino.111 Por exemplo, entre 42 oficiais apontados para capitães de
um regimento criado no Alentejo em 1645, existiam 17 com expe-
riência militar na América, sendo que nenhum tinha aparentemente
passado pela Índia.
Na frente europeia, a nova dinastia dos Bragança, confrontada
com grande resistência ao recrutamento militar, recorreu também
a estrangeiros e a portugueses que tinham servido os Habsburgo na
Europa. O influxo de estrangeiros, gerador inevitável de conflitos
com os comandantes lusos, correspondia também às necessidades
de experiência em «guerra viva». Como notou Fernando Dores
Costa, teriam sido alguns desses estrangeiros que comandaram

  Ver também Roquinaldo Ferreira, «O Brasil e a arte da guerra em Angola


109

(séculos xvii-xviii)», Estudos Históricos, n.º 39 (2007).


110
 Luiz Felipe de Alencastro, O Trato dos Viventes. Formação do Brasil no
Atlântico Sul (São Paulo: Companhia das Letras, 2000), 306.
111
  Miguel Dantas da Cruz, «Imperial perceptions and circulation in the Portu-
guese Atlantic World (1620s-1660s)», Itinerario, 41, 2 (2017): 391-392.

462

Monárquias Ibéricas.indb 462 13/12/18 14:56


Instituições, contingentes e culturas militares na monarquia portuguesa

e­ fectivamente os contingentes do reino secessionista, com a nobreza


lusa a emprestar apenas a autoridade própria do seu estatuto.112
A secessão e a guerra viriam, na verdade, a desempenhar um papel
fundamental na formação de uma nova aristocracia de corte: pouco
mais de meia centena de casas, comprometidas com a endogamia,
e que iriam controlar os destinos políticos de Portugal praticamente
até ao Liberalismo.113
A nova casa reinante procedeu a uma reforma institucional signi-
ficativa destinada a lidar com os problemas da guerra no reino, caso
do Conselho de Guerra (1640), mas também no império, caso do
Conselho Ultramarino (1642). Criou-se também a Junta dos Três
Estados (1643) para administrar a cobrança de tributos. Mas foi
nas cortes, sobretudo com o estado dos Povos, que se determinou
a contribuição fiscal necessária à manutenção das operações milita-
res. A altura seria, na verdade, pouco propícia para tais solicitações
de recursos, por muito necessários que estes fossem. As múltiplas
revoltas que rebentaram um pouco por todo o império entre 1640
e 1680 mostram que a fidelidade dos povos tinha limites que não
convinha testar, sobretudo para um poder real pouco seguro de si
mesmo.114
Contra todas as expectativas, os restauracionistas, que raramente
conseguiram mobilizar mais de 20 000 homens contra o poderio dos
Habsburgo, acabaram por ser bem-sucedidos. Os espanhóis tinham
compromissos militares mais prementes na Europa e quando deci-
diram fazer uso dos seus múltiplos recursos, trazendo inclusiva-
mente terços de Flandres e Itália, foram derrotados nas batalhas do
­Ameixial (1663) e de Montes Claros (1665).

112
  Fernando Dores Costa, «A nobreza é uma elite militar? O caso Cantanhede­-
-Marialva em 1658-1665», em Optima Pars – Elites Ibero-Americanas do Antigo
Regime, orgs. Nuno Gonçalo Monteiro, Pedro Cardim e Mafalda Soares da Cunha
(Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2005), 169-190.
113
  Monteiro, «As campanhas…».
114
  Luciano Raposo de Almeida Figueiredo, «O império em apuros. Notas para
o estudo das alterações ultramarinas e das práticas políticas no império colonial
português», em Diálogos Oceânicos – Minas Gerais e as Novas Abordagens para uma
História do Império Ultramarino Português, org. Júnia Ferreira Furtado (Belo Hori-
zonte: UFMG, 2001): 197-254.

463

Monárquias Ibéricas.indb 463 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Aspectos organizacionais e normativos da administração


militar da América portuguesa

Vencidos os holandeses, o Brasil retoma o estatuto de campo de


batalha secundário, como fica claro na carta que o governador-geral
do Estado do Brasil escreveu a Pedro de Melo, a respeito da nomea-
ção deste para governador do Rio de Janeiro. Desdenhando o serviço
naquelas paragens, Francisco Barreto de Meneses denunciou aquela
indigitação, que considerava completamente incompatível com a
condição social de Pedro de Melo:

não posso de deixar de o sentir malogrado; pois em tempo que pudera ser
continuado nas Guerras do Reino, ocupação da fama, o vejo ser sepul-
tado no Brasil, escândalo do serviço de Sua Majestade […]. Permita­-me
a modéstia de Vossa Senhoria que fale deste modo, que lástima da dife-
rença que há de vencer Castelhanos a lidar com Mazombos.115

A América portuguesa não se tornara, contudo, apenas um


espaço de disputas quotidianas, ao contrário do que dizia Barreto
de Meneses. Na segunda metade do século xvii o Brasil foi palco de
conflitos de longa duração ora contra quilombos, sobretudo o de
Palmares, ora contra indígenas. Neste último caso, ficou célebre o
conjunto de enfrentamentos que se mantiveram com várias tribos de
índios que resistiam à colonização portuguesa, sobretudo à expan-
são da pecuária para o interior da região nordeste. Frequentemente
chamada Guerra dos Bárbaros, esta confrontação arrastou-se até ao

  Carta de Francisco Barreto de Meneses para Pedro de Melo de 29 de Abril de


115

1662, em Documentos Históricos, 4, 146-149. Mazombo corresponde genericamente


ao criollo da América espanhola, i. e., filho de português nascido no Brasil. Mazombo
resulta muito provavelmente do desdobramento do banto «mazumba», tendo sido
usado de forma pejorativa pelos africanos chegados ao Brasil e, por vezes, pelos
reinóis. De acordo com a explicação de Evaldo Cabral de Mello, mazombo «seria
etimologicamente o donzelo, isto é o delicado, o apaparicado, não necessariamente
na aceção de tendência sexual mas de estilo de vida, que o apartava do trabalho
manual ou trabalho tout court próprio dos escravos». De qualquer forma, e como
o mesmo historiador sublinhou, nas últimas décadas de Seiscentos o vocábulo foi
reapropriado pelas elites locais cada vez mais entrincheiradas, que o converteram
num poderoso símbolo de distinção. Evaldo Cabral de Mello, A Fronda dos Mazom-
bos: Nobres contra Mascates – Pernambuco (1666-1715) (São Paulo: Companhia das
Letras, 1995), 137.

464

Monárquias Ibéricas.indb 464 13/12/18 14:56


Instituições, contingentes e culturas militares na monarquia portuguesa

início do século xviii e ficou marcada por um grau de violência e de


crueldade de forma alguma ausente de outros espaços de confronto
entre europeus e ameríndios.116 Tratou-se de uma guerra de extermí-
nio, como lembrou Pedro Puntoni,117 com os portugueses a saírem
vencedores apenas quando perceberam que só podiam triunfar com
tropas habituadas às condições do território. De resto, tinham sido
também os paulistas, frequentemente identificados como mame-
lucos porque descendiam de índios e de brancos, que derrotaram
Palmares. Depois de muitas expedições falhadas, o governador-geral
Francisco Barreto de Meneses mobilizou, pela primeira vez, paulistas
com o propósito de derrotar os então chamados tapuias. T ­ ratava-se
de tirar partido da sua reconhecida experiência nas artes da guerra
sertaneja, grandemente desenvolvidas ao arrepio da ortodoxia mili-
tar da Europa moderna. Seguia-se, em grande medida, o caminho
da mimetização de técnicas de guerrilha locais, baseadas em rápidas
emboscadas e ataques-surpresa. Importa referir que o serviço nesta
guerra, ainda que remunerado pela coroa (inclusivamente com insíg-
nias das ordens militares), era pouco compatível com o imaginário
marcial metropolitano, modelado pela sensibilidade aristocrática de
Seiscentos e posteriormente também de Setecentos. A guerra dos
«punhos de renda», estudada por Rui Bebiano,118 não teve lugar no
Novo Mundo.
A coroa, pela sua parte, acabou por criar condições que facilita-
vam a resposta militar às incursões de indígenas. Ao contrário do que
acontecia em conflitos com outros adversários, nomeadamente com
potências europeias, a decisão de ir para a guerra poderia ser tomada
no local. Tudo estava dependente da justeza da guerra, que podia
ser declarada pelos principais membros da administração colonial,
desde que observados os requisitos considerados indispensáveis ao
legítimo uso da força.119

116
 Ver, por exemplo, Harold Selesky, «Colonial America», em The Laws of
War – Constrains on Warfare in the Western World, eds. Michael Howard et al. (Lon-
dres/Yale: Yale University Press, 1994), 59-85.
117
  Pedro Puntoni, A Guerra dos Bárbaros – Povos Indígenas e a Colonização do
Sertão Nordeste do Brasil, 1650-1720 (São Paulo: Hucitec, 2002), 45.
118
  Rui Bebiano, A Pena de Marte. Escrita de Guerra em Portugal e na Europa
(Sécs. XVI-XVIII) (Coimbra: Minerva, 2000).
119
  Desde Cícero à Summa theologiae, de Tomás de Aquino, muitos autores se
debruçaram sobre os requisitos necessários para declarar guerra justa. Por exemplo,

465

Monárquias Ibéricas.indb 465 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Na segunda metade do século xvii, depois de vencida a WIC,


procedeu-se também a uma reforma dos efectivos militares do ter-
ritório, não sem alguns desentendimentos.120 A organização mili-
tar da América portuguesa – a tipologia das forças – ficou também
praticamente definida nesta altura, depois da introdução dos corpos
auxiliares. As chamadas milícias juntaram-se, ainda que de forma
gradual, às tropas regulares ou de primeira linha e às ordenanças.
Formavam o tripé fundamental do sistema militar português, que no
Novo Mundo era enriquecido com outras forças irregulares, como
era o caso dos capitães de mato, criados com o propósito de capturar
escravos fugidos.121
Os corpos de ordenanças, que foram estabelecidos pelo ­Regimento
dos Capitães-mores, de 1570, como se viu acima, constituíam essen-
cialmente uma reserva de recrutamento. Também no Brasil eram alis-
tados todos os homens que tivessem mais de 18 e menos de 60 anos,
ficando subordinados a um capitão-mor escolhido entre as «pessoas
principais das terras». Homens sem instrução militar sistemática, e
sem direito a soldo, as ordenanças foram sobrestimadas pela histo-
riografia lusa de pendor nacionalista, que viu nelas uma singulari-
dade portuguesa, um sinal da propensão marcial da população e do
seu indelével amor à pátria.122 No Brasil, no entanto, o seu papel foi
decisivo no governo do território, contribuindo para a imposição da
ordem jurídica e administrativa, como notou Caio Prado Júnior.123
Tornaram-se, na verdade, num elemento fundamental na estrutura-
ção hierárquica da sociedade colonial. A este respeito, é significativo

para Balthazar Ayala, um influente jurista espanhol do século xvi, estes incluíam: «a
defesa própria ou de um aliado», «recuperar do inimigo aquilo que ele detinha pela
força ou injustificadamente», «a vingança por algo que tenha sido injustificadamente
infligido», quando um vizinho rejeita a marcha pacífica de um exército, e a necessi-
dade de reprimir a rebelião e a rebeldia. Geoffrey Parker, «Early Modern Europe»,
em The Laws of War – Constrains on Warfare in the Western World, eds. Michael
Howard et al. (Londres/Yale: Yale University Press, 1994).
120
 Mello, A Fronda dos Mazombos..., 35-38; Kalina Vanderlei Silva, «Francisco
de Brito Freyre e a Reforma Militar de Pernambuco no século xvii», em Conquistar
e Defender: Portugal, Países Baixos e Brasil, org. Paulo Possamai (São Leopoldo:
Oikos, 2012).
121
 Alencastro, O Trato dos Viventes…, 345.
122
  Fernando Dores Costa, Insubmissão – Aversão ao Serviço Militar no Portugal
do Século XVIII (Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2010).
123
 Caio Prado Júnior, A Formação do Brasil Contemporâneo: Colônia (São
Paulo: Brasiliense, 1994 [1942]).

466

Monárquias Ibéricas.indb 466 13/12/18 14:56


Instituições, contingentes e culturas militares na monarquia portuguesa

que a Lei do Diretório dos Índios de 1757 determinasse o estabe-


lecimento de ordenanças nas novas vilas, a serem criadas a partir
das aldeias indígenas. Tal como no reino, as patentes de ordenanças
constituíram ainda uma plataforma de nobilitação, em especial de
capitão para cima, gerando inumeráveis disputas entre homens que
buscavam símbolos de distinção social.124
Introduzidos no reino em 1645, face à ineficácia das ordenanças no
teatro de operações ibérico, os auxiliares viram a sua implementação
no Brasil várias vezes impedida. Numa dessas vezes, na Baía durante
o governo de D. João de Lencastre (1694-1702), porque ameaçavam
absorver os homens entretanto incluídos nas ordenanças.125 O ser-
viço nos auxiliares garantia direito a soldo, ainda que apenas durante
o serviço na frente de combate, para onde poderiam ser mobiliza-
dos (ao contrário do que acontecia com as ordenanças). Os terços
estavam organizados em base territorial – comarcas e freguesias –
mas também por categoria da população: brancos, negros, pardos,
ricos, comerciantes, nobres, etc. Os procedimentos de nomeação
eram essencialmente controlados pelos governadores, autorizados a
prover todos os postos, sem excepção, devendo os providos reque-
rer no Conselho Ultramarino a sua confirmação. ­Desenvolvimentos
subsequentes, inspirados na prática reinol, exigindo-se por exemplo
o envio de lista com candidatos para Lisboa, dificilmente terão sido
observados.126
As tropas de primeira linha, cujo número era reduzido, existiam
sobretudo para defesa contra potências estrangeiras. Recebiam soldo,
embora quase nunca atempadamente, e eram recrutadas, muitas vezes
à força, quer no reino, quer no território ultramarino. Mais ainda do
que com as ordenanças, as nomeações para os postos destas tropas
resultaram em grandes conflitos jurisdicionais entre governadores,

  Conflitos que a coroa procurava atalhar por meio de regulamentação nem


124

sempre bem-sucedida. José Eudes Gomes, As Milícias D’El Rey – Tropas Militares e
Poder no Ceará Setecentista (Rio de Janeiro: FGV, 2010), 108-110.
125
  A primeira experiência americana com auxiliares ocorreu com Francisco de
Brito Freire, que os introduziu em Pernambuco no início da década de 1660. Seriam
desmobilizados em 1663. Mello, A Fronda dos Mazombos…, 37. Sobre a desmobi-
lização da Baía, de 1707, ver Carta régia de 17 de Janeiro de 1704, anexa à consulta
do Conselho Ultramarino de 19 de Julho de 1706, AHU, Bahia – Avulsos, cx. 5,
doc. 24.
126
  Consulta do Conselho Ultramarino de 20 de Novembro de 1745, AHU, Rio
de Janeiro – Avulsos, cx. 44, doc. 130; cx. 47, docs. 56-58.

467

Monárquias Ibéricas.indb 467 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

e em nenhum caso isso foi mais claro do que em Pernambuco, onde
já havia uma grande tradição de autonomia.127 Note-se que os gover-
nadores desta ex-capitania-donataria herdavam o título de mestre-de-
-campo general do Brasil (de todo o Brasil), que ostentaram durante a
guerra com os protestantes e que lhes conferia grande autonomia em
matéria de provimentos. A autoridade simbólica associada ao cargo não
era irrelevante, e dela se dava conta aos governadores­-gerais e aos vice-
-reis como contraponto à sua agenda centralizadora. Não foi por acaso
que o conde de Óbidos, que dizia estar mandatado para «governar este
estado com toda a superioridade, jurisdição e poder»,128 retorquiu que
esse era um poder «místico»,129 i. e., irreal e desajustado. Alguns anos
antes, o governador-geral Francisco ­Barreto de Meneses (ele próprio
um ex-governador de Pernambuco entre 1654 e 1657) chegou a orde-
nar a invasão da antiga capitania dos Albuquerque Coelho. Tal era o
nível da sua frustração com André Vidal de Negreiros, governador de
­Pernambuco e ex-camarada das guerras com os holandeses.
O governo-geral na Baía manteve uma disputa semelhante com o
Conselho Ultramarino, que começou a insistir na abertura de con-
cursos para provimento de postos superiores.130 A solução admi-
nistrativa era controversa pois esvaziava o poder do administrador
colonial, que passaria a limitar-se a encaminhar para Lisboa uma lista
não-vinculativa dos candidatos ao posto vago. De acordo com diver-
sas disposições normativas, como o Regimento das Fronteiras (man-
dado observar no Brasil em 1653) ou como o Regimento de Costa
Barreto (1677), era ao tribunal criado por D. João IV que cabia pro-
ceder à consulta final ao monarca. A longo prazo, esta solução terá
prejudicado aqueles que já serviam no território americano, pois
ela alargava o universo dos nomeáveis àqueles que respondiam aos
editais em Lisboa. Ainda que essencialmente inócuos do ponto de
vista da lealdade aos Bragança, existem sinais evidentes de frustração
entre elites locais que viam os postos principais serem recorrente-
mente preenchidos por homens chegados do reino.131 O contingente

127
  Ver, por exemplo, Puntoni, A Guerra dos Bárbaros…, 183-186.
128
  Alvará de 21 de Junho de 1663, Documentos Históricos, 5, 370-374.
129
  Carta do conde de Óbidos de 26 de Abril de 1664, Documentos Históricos,
9, 162-167.
130
 Cruz, Um Império de Conflitos…, 337-343.
131
  Miguel Dantas da Cruz, «A nomeação de militares na América portuguesa:
tendências de um império negociado», Varia Historia, vol. 31, n.º 57 (2015): 690-691.

468

Monárquias Ibéricas.indb 468 13/12/18 14:56


Instituições, contingentes e culturas militares na monarquia portuguesa

r­ einol terá sido ainda favorecido por conta da crescente penetração


da ortodoxia militar europeia na cultura militar portuguesa e da con-
sequente valorização da experiência nos campos de batalha do Velho
Mundo. No início do século xviii, essa experiência seria certamente
mais comum entre aqueles que serviram nos teatros de operações
da Guerra da Sucessão de Espanha (1702-1715) e que respondiam
depois ao edital aberto em Lisboa para postos vagos na América.
Toda esta estrutura militar era essencialmente suportada pelas
câmaras municipais, que para isso assumiam a cobrança e administra-
ção de impostos régios. Pode dizer-se que os compromissos alcan-
çados durante as guerras com os holandeses pressupunham uma
transferência de funções da coroa para os poderes locais do Brasil,
tendo sido provavelmente um outro sinal do já chamado «retrocesso
no processo de territorialização do Estado».132 Nas negociações que
tiveram lugar, o senado de Salvador chegou a exigir a permanência do
exército no território baiano, que daí não poderia ser removido pela
coroa.133 Este modelo de financiamento era criticado desde a década
de 1670 e acabaria por ser desmantelado no início do século xviii.
A mudança começou na Baía, no seguimento dos Motins do Maneta
(1711), quando a cumplicidade dos militares com a população revol-
tada provocou evidente incómodo no Conselho Ultramarino. Nessa
altura falou-se mesmo em fazer rodar os corpos militares, de forma
a evitar afinidades indesejadas com a população.134
Outras medidas visando a modernização da administração militar
foram, entretanto, postas em prática durante o reinado de D. João V,135
que se iniciou com o retorno de Portugal a um grande conflito euro-
peu, no caso a Guerra da Sucessão de Espanha. Para além da frente
peninsular, e da muito publicitada tomada da capital espanhola por um
exército português, em 1706, a guerra teve uma frente no Brasil, onde
os franceses assaltaram com sucesso o Rio de Janeiro, em 1711.

132
 Álvaro Ferreira da Silva, «Finanças Públicas», em História Económica de
­ ortugal 1700-2000, vol. i, O Século XVIII, orgs. Pedro Lains e Álvaro Ferreira da
P
Silva (Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2005), 244.
133
  Termo dos oficiais da Câmara de São Salvador da Bahia, de 14 de Julho de
1652, Documentos Históricos, 79, 355-356.
134
 Cruz, Um Império de Conflitos…, 230-231.
135
  Graça Salgado, Fiscais e Meirinhos. A Administração no Brasil Colonial (Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 1985), 97-112.

469

Monárquias Ibéricas.indb 469 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Das reformas pombalinas à independência do Brasil

O envolvimento de Portugal na fase final da Guerra dos Sete Anos


(1756-1763) fez reacender a rivalidade luso-espanhola na Península
Ibérica e também na América, onde a redefinição de fronteiras, esti-
pulada no Tratado de Madrid de 1750, foi, entretanto, posta de parte.
Voltava tudo à forma anterior, com excepção da devastação entre-
tanto causada pelos ibéricos aos Sete Povos das Missões em 1756.
A ofensiva desencadeada pelo governador de Buenos Aires, Pedro
de Cevallos, em 1762, contra a Colónia do Sacramento – enclave
português na margem norte do Rio da Prata – deu início a quinze
anos de guerra intermitente e muitas vezes não declarada entre os
dois países.136 Durante esse período assistiu-se a um esforço sem pre-
cedentes de reorganização da defesa do Brasil, especialmente da rica
região meridional. A sede do império foi simbolicamente transferida
para o Rio de Janeiro em 1763, como que para sinalizar as novas
prioridades políticas da coroa. Um cordão de fortificações foi esta-
belecido no interior do continente, no seguimento de várias viagens
de exploração, com o intuito de demarcar as fronteiras do território
português. Essas fortificações, espécie de «muralhas do sertão»,137
estendiam-se do Rio Grande do Sul à bacia do Amazonas e, na falta
de outros sinais de ocupação efectiva, constituíam testemunhos visí-
veis de soberania. Igualmente importante foi a chegada ao Rio de
Janeiro de três regimentos provenientes do reino (Bragança, Moura
e Estremoz), e comandados pelo intransigente general Böhm, que
tinha chegado a Portugal na companhia do conde Lippe.
Este reforço do dispositivo militar é significativo, e não apenas
por duplicar o número de tropas pagas na capital do Estado do Brasil
(o contingente de regulares compunha-se de 4165 homens, quando
completo).138 A sua proveniência e o treino a que teriam sido sujeitos
volta a sugerir a preferência por um determinado tipo de saber mar-

136
  Dauril Alden, Royal Government in Colonial Brazil, with Special Reference to
the Administration of the Marquis of Lavradio, Viceroy, 1769-77 (Berkeley: Univer-
sity of California Press, 1968), 96-194.
137
  Ângela Domingues, Quando os Índios Eram Vassalos. Colonização e Relações
de Poder no Norte do Brasil na Segunda Metade do Século XVIII (Lisboa: CNCDP,
2000), 199 e segs.
138
  Listas do estado da tropa do Rio de Janeiro, inseridas no ofício do general
Böhm de 19 de Novembro de 1770, AHU, Rio de Janeiro – Avulsos, cx. 91, doc.

470

Monárquias Ibéricas.indb 470 13/12/18 14:56


Instituições, contingentes e culturas militares na monarquia portuguesa

cial eurocêntrico, em detrimento de soluções mais locais. A presença


de Lippe em Portugal, e as reformas impostas pelo alemão, daí em
diante consideradas uma espécie de apogeu da história militar portu-
guesa,139 só teriam reforçado o gosto pelo modelo militar europeu,
e especialmente pelo prussiano.140 No entanto, essa predilecção con-
tinuava a coexistir paradoxalmente com a noção de que tais tropas
seriam desadequadas aos cenários de guerra do Novo Mundo, onde
não abundavam oportunidades para grandes confrontações de infan-
taria. Para o marquês de Pombal, as tropas regulares pouco poderiam
alcançar no extremo sul da América, por conta da sua dependência de
linhas de abastecimento sempre ameaçadas. Como António Vieira,
mais de 100 anos antes, Carvalho e Melo notou que aquela era uma
guerra «de insultos vagos, e de emboscadas, e surpresas por cami-
nhos incógnitos», acrescentando, igualmente à imagem do jesuíta,
que para ela «são muito mais aptos os Naturais desses Países».141
Continuava, portanto, a reconhecer-se a eficácia de certos gru-
pos locais na condução da guerra pelas matas, cerrados e canaviais
do Brasil, sendo especialmente valorizados os paulistas. Em carta
para o marquês do Lavradio, Sebastião de Carvalho e Melo reco-
mendava uma guerra indirecta, uma «guerra contra os mantimen-
tos, e comboios de Munições de Boca dos […] Castelhanos», a ser
levada a cabo por «Tropas ligeiras, Partidos de Paulistas, e Sertane-
jos».142 Nas ordens transmitidas ao morgado de Mateus, quando
este seguiu como governador para a capitania de São Paulo em 1765,
escrevia-se que «os paulistas» eram «o flagelo dos Castelhanos, e os
que com muita facilidade dilatarão os domínios de Sua Majestade»,

7976.
139
 Costa, Insubmissão…, 274.
140
  Isto numa altura em que o modelo prussiano, e as suas tácticas, começavam
a mostrar-se ultrapassadas. O futuro do campo de batalha ia deixar de ser dominado
por formações lineares, movimentando-se lentamente. Como austríacos e russos
tinham começado a mostrar logo na Guerra da Sucessão da Áustria (1740-1748), as
formações organizadas em profundidade, a coluna, encerravam algumas vantagens,
a começar pela maior capacidade de choque. Ver Jeremy Black, European warfare in
a global context, 1660-1815 (Londres/Nova Iorque: Routledge, 2007), 78-92.
141
  Carta do marquês de Pombal para o conde da Cunha de 26 de Janeiro de
1765. Marcos Carneiro Mendonça, Século XVIII – Século Pombalino do Brasil (Rio
de Janeiro: Xerox, 1989), 425-427.
142
  Carta do marquês de Pombal para o marquês do Lavradio de 6 de Abril de
1775, Mendonça, Século XVIII…, 632-633.

471

Monárquias Ibéricas.indb 471 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

r­ecomendando-se, portanto, o fomento de «esta sua natural incli-


nação para que continuem estes utilíssimos progressos».143 Fica evi-
dente a persistência da visão estereotipada que o imaginário marcial
português reservava para os paulistas: um elemento produzido pela
sociedade colonial que lhe parecia viver entre a barbárie e a civiliza-
ção.144 Como sempre, estes, os paulistas, deveriam ser aliciados por
meio de mercês régias, postos e doações de terras.145
O reconhecimento da eficácia militar de forças s­ emi-regulares
no Brasil estendia-se, no entanto, a outras unidades auxiliares,
mais ou menos estruturadas, e frequentemente compostas de
indígenas, negros livres e mestiços. Com o reatar das operações
no Rio Grande do Sul, em 1774, Lisboa lembrou as vantagens de
recorrer aos homens do já referido regimento de Henrique Dias,
de Pernambuco, «descendentes», segundo Pombal, «de heróis tão
grandes como foram o preto Henrique Dias e o pardo D. António
Felipe Camarão». Haveria, talvez, a expectativa de que aqueles ele-
mentos estranhos à cultura militar europeia pudessem surpreender
e desestabilizar a solidez das formações espanholas. Projectar-se-
-ia subconscientemente nos espanhóis o receio daqueles homens
negros, índios e mestiços, que se consideravam mais selvagens
e menos constrangidos pelas leis da guerra, até porque seriam
supostamente desprovidos do treino ou disciplina determinada
nos manuais militares europeus. Como tem sido demonstrado
à saciedade, desde o incontornável Edward Said ao mais recente

143
  Citado por Enrique Peregalli, Recrutamento Militar no Brasil Colonial, Cam-
pinas (UNICAMP, 1986), 45.
144
 Sobre a construção do mito dos paulistas, ver Adriana Romeiro, Paulis-
tas e Emboabas no Coração das Minas – Idéias, Práticas e Imaginário Político no
Século XVIII (Belo Horizonte: UFMG, 2008).
145
  Num dos momentos críticos da campanha do Rio Grande de São Pedro,
determinou-se despachar os paulistas «como Tropas Pagas deste Reino, com
Hábitos e Tenças, sem embargo do Regimento das Mercês [de 1671]». Carta do
marquês de Pombal para o conde da Cunha de 26 de Janeiro de 1765, Mendonça,
Século XVIII…, 422-425. A coroa estaria, portanto, pronta a ignorar as restri-
ções de uma adição de 1706 ao Regimento da Mercês que excluiu os oficiais das
ordenanças (em que se poderiam incluir genericamente os oficiais dos partidos de
paulistas) do despacho de mercês, excepto quando os serviços fossem realizados
em guerra viva. A decisão era, contudo, capciosa, pois ignorava, propositadamente
ou não, uma outra disposição de 1707 que exceptuou os oficiais das ordenanças
do Brasil do âmbito de aplicação dessa legislação de 1706. Olival, As Ordens Mili-
tares…, 133-134.

472

Monárquias Ibéricas.indb 472 13/12/18 14:56


Instituições, contingentes e culturas militares na monarquia portuguesa

­Benjamin Schmidt,146 a crueldade e a violência foram aspectos


essenciais na construção e representação do «outro» por parte dos
europeus, e os portugueses não seriam diferentes. Terá sido essa
percepção que Pombal revelou ao afirmar: aqueles soldados negros
«obrarão maravilhas contra os Castelhanos».147
Pela mesma altura sugeriu-se a cooptação geral de escravos para a
defesa de Minas Gerais, entretanto desguarnecidas pela mobilização
de outras tropas para sul; 148 tudo em prol de uma estratégia arti­
culada de defesa do território, para a qual todas as capitanias con-
tribuiriam.149 O plano não constituía propriamente uma novidade:
havia muito que elites locais utilizavam escravos armados nos seus
séquitos para reforçar o prestígio da sua posição social.150 Sabemos
também que muitos senhores recorriam aos seus escravos para acer-
tar contas entre si. Muitos conflitos, sobretudo na região aurífera de
Minas Gerais, eram inclusivamente resolvidos por pequenos «exér-
citos» de escravos armados.151 O plano proposto pelo marquês do
Lavradio era, contudo, muito problemático: para além de conter
uma escala de ambição desmesurada que assustou o seu congénere
de Minas, encerrava uma controversa intromissão do Estado em
assunto da esfera privada. Uma coisa era o uso particular de escra-
vos, outra, muito diferente, era uma requisição forçada levada a cabo
pelas autoridades coloniais, que seriam inevitavelmente confronta-
das com vários problemas, a começar por direitos de propriedade ou
o estatuto jurídico do escravo-soldado.152

146
  Benjamin Schmidt, Inventing Exoticism – Geography, Globalism, and ­Europe’s
Modern World (Filadélfia: University of Pennsylvania Press, 2015).
147
  Carta do marquês de Pombal para o marquês do Lavradio de 9 de Maio de
1775. Mendonça, Século XVIII…, 635-639.
148
  Carta do marquês de Lavradio para António de Noronha de 20 de Junho de
1775. Marquês do Lavradio, Cartas do Rio de Janeiro – 1769-1776 (Rio de Janeiro:
Secretaria de Estado de Educação e Cultura e Instituto Estadual do Livro, 1978),
doc. 535, 160-161.
149
  Ver, por exemplo, Alden, Royal Government…
150
  João Fragoso, «A nobreza vive em bandos: a economia política das melhores
famílias da terra do Rio de Janeiro, século xvii. Algumas notas de pesquisa», Tempo,
vol. 8, n.º 15 (2003): 14.
151
  Ver, entre outros, Hendrik Kraay, «Arming slaves in Brazil from the Seven-
teenth Century to the Nineteenth Century», em Arming Slaves – From Classical
Times to the Modern Age, eds. Christopher Brown e Philip Morgan (New Haven/
Londres: Yale University Press, 2006), 151-152.
152
  Kraay, «Arming slaves in Brazil…», 154-155.

473

Monárquias Ibéricas.indb 473 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Permaneciam, adicionalmente, resistências à integração plena


destes grupos na estrutura militar portuguesa. Alguns administrado-
res coloniais mostravam-se muito hostis à sua incorporação nos cor-
pos de primeira linha. Por exemplo, nas instruções dadas ao conde de
Azambuja, governador de Mato Grosso, escrevia-se que os dragões
(género de infantaria montada) deveriam ser apenas compostos de
brancos. Os «mulatos» ou aqueles que não fossem suficientemente
brancos deveriam ser incorporados nas tropas irregulares, como
pedestres ou aventureiros.153 Esta distribuição é particularmente
evidente na organização militar da capitania de Mato Grosso, uma
sociedade de fronteira, na segunda metade de Setecentos. Aí, para
além dos dragões e de várias companhias de milícias e de ordenanças,
cuja composição racial não se especifica, existia uma companhia de
negros, outra de pardos, outra de índios Bororos, outra de soldados
aventureiros, de milícias e de ordenanças.154 Num certo sentido, ainda
que o serviço militar oferecesse condições para a ascensão social de
alguns destes grupos, a própria tipologia das unidades, e sua inerente
hierarquia, confirmava dinâmicas de discriminação racial. Tais ambi-
ções estariam, contudo, frequentemente condenadas ao fracasso,
como reconheceu Lavradio a respeito dos soldados que lhe chegavam
da Baía: «estas gentes [recrutadores] não têm tido cuidado, senão em
ir fazendo o número de recrutas, porém uma grande parte é tal que
se Vossa Excelência [governador da Baía] tivesse tempo de os ver,
certamente não consentiria que eles viessem». Seriam, em seu enten-
der, «tão sumamente negros, e encarapinhados, que pouca diferença
fazem dos que puramente são pretos». Aparentemente, o general
Böhm não os queria sob o seu comando, referindo «que El-Rei o
não tinha feito general de negros».155 De resto, o general era generi-
camente hostil ao sistema militar português na América, que com-
binava tropas de primeira linha com uma miríade de outros corpos,
que, em sua opinião, nem eram militares, nem eram civis. O ­alemão

153
 Instruções relativas à criação da capitania de Mato Grosso passadas pelo
conde da Azambuja para D. João Pedro da Câmara de 8 de Janeiro de 1765. Kraay,
«Arming slaves in Brazil…», 148.
154
  Nauk Maria de Jesus, «Para uma história da organização militar na Capitania
de Mato Grosso», em Conquistar e Defender: Portugal, Países Baixos e Brasil, org.
Paulo Possamai (São Leopoldo: Oikos, 2012), 318.
155
  Carta do marquês do Lavradio a Manuel da Cunha de Meneses de 23 de
Novembro de 1774. Lavradio, Cartas do Rio de Janeiro…, 150-152.

474

Monárquias Ibéricas.indb 474 13/12/18 14:56


Instituições, contingentes e culturas militares na monarquia portuguesa

era um militar profissional, que, como notou Vitor I­ zecksohn, teria


dificuldades em entender uma política destinada a tirar proveito das
populações locais, a despeito do seu estatuto, raça ou condição.156
Para as elites brancas naturais da América haveria menos obstá­
culos, existindo dados, ainda que não exaustivos, para a Baía da década
de 1750 e para São Paulo da década de 1770, que sugerem a abertura
do corpo de oficiais de primeira linha a estes colonos.157 E isto numa
altura de evidente valorização da carreira. Lembre-se que em 1763, e
novamente em 1767, a condição dos oficiais superiores do exército
regular da monarquia foi oficialmente equiparada à dos magistrados
(por exemplo, um brigadeiro foi equiparado a um desembargador do
paço).158 A americanização ou o abrasileiramento do corpo de ofi-
ciais do exército neste período foram ainda ­favorecidos por mecanis-
mos de nomeação menos burocratizados que a coroa foi mandando
observar durante o século xviii. Os estereótipos que se alimentavam
relativamente aos homens nascidos no Novo Mundo, e que não dei-
xaram de se manifestar em Portugal,159 seriam para todos os efei-
tos irrelevantes. A obrigação de prover oficiais de capitão para cima
necessariamente por via de concurso, e que alargava por defeito o
universo dos nomeáveis àqueles que respondiam ao edital na porta
do Conselho Ultramarino, começou a desaparecer com a indigitação
do 3.º vice-rei do Brasil, já em 1714. Apesar de indisfarçáveis hesita-
ções, D. João V conferiu ao marquês de Angeja o direito de prover in
loco todos os postos que vagassem por delito grave ou morte do ante-
rior ocupante.160 Este aumento da jurisdição da principal autoridade
colonial, delegada nos seus sucessores (com excepção do conde de
Vimieiro), foi alargada posteriormente a Gomes Freire de ­Andrade
nas capitanias do sul.161 Livre de delongas burocráticas adicionais

156
 Vitor Izecksohn, «Ordenanças, tropas de linha e auxiliares: mapeando os
espaços militares luso-brasileiros», em O Brasil Colonial 1720-1821, de João Fra-
goso e Maria de Fátima Gouvêa (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014), 508.
157
  Cruz, «A nomeação de militares…», pp. 673-710.
158
  Resolução do Conselho de Estado de 8 de Março de 1763, confirmada por
um decreto de 11 de Novembro de 1767, em Repertório Remissivo da Legislação da
Marinha e Ultramar, 1856, 350.
159
  Stuart Schwartz, «Formation of Identities in Brazil», em Colonial Identity in
the Atlantic World, 1500-1800, eds. Nicholas Canny e Anthony Pagden (Princeton:
Princeton University Press, 1987), 21.
160
 Cruz, Um Império de Conflitos…, 346-347.
161
 Cruz, Um Império de Conflitos…, 380-382.

475

Monárquias Ibéricas.indb 475 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

em Lisboa, o preenchimento de postos de oficiais passou a fazer-se


exclusivamente com recurso àqueles que já se encontravam a servir
na América (aí nascidos ou fixados). É certo que em 1767 se reintro-
duziu a interferência de Lisboa no processo de selecção,162 mas sem
consequências de maior para o universo dos nomeáveis, visto que
a Secretaria de Estado da Marinha e Domínios U ­ ltramarinos, que
deveria receber as propostas enviadas pelos governadores, não abria
concursos para os militares que estivessem naquele momento no
reino. Nesse sentido, servia essencialmente para sancionar as esco-
lhas previamente feitas no território americano.
No final do século xviii, a americanização da hierarquia mili-
tar provocou algum desconforto. De acordo com uma advertência
escrita no Rio de Janeiro, a coberto de um pseudónimo, havia uma
hostilidade indisfarçável entre os oficiais «filhos da Europa» e os
oficiais «Nacionais Americanos». Tudo estaria em risco, até porque,
segundo o delator, quase todos os regimentos tinham «mais gente
da América que da Europa». Todos os regimentos estavam cheios
de «cadetinhos americanos, que sem justificarem os requisitos da
lei, foram mandados despoticamente reconhecer por tais».163 O alar-
mismo terá sido desvalorizado em Lisboa. Na verdade, D. Rodrigo
de Sousa Coutinho, que na sua famosa «Memória sobre o melhora-
mento dos domínios de Sua Majestade», chamou a atenção para «o
inviolável e sacrossanto princípio da unidade [...] de que o Português
nascido nas quatro partes do mundo se julgue somente português»164,
fez promulgar legislação propositadamente destinada a favorecer os
naturais do lugar onde a tropa se encontrava aquartelada.165

162
  Ofício de Francisco Xavier de Mendonça Furtado, de 10 de Fevereiro de
1768. AHU, Bahia – Castro Almeida, cx. 45, doc. 8466.
163
  Memória de Amador Patrício Portugal de 4 de Março de 1790, citado por
Miguel Dantas da Cruz, «A americanização do universo militar fluminense em tem-
pos de desagregação identitária. As inquietações de Amador Patrício de Portugal
(1790)», Revista Fontes, n.º 2 (2015): 70-80.
164
  Rodrigo de Sousa Coutinho, «Memória sobre o melhoramento dos domí-
nios de Sua Majestade na América», em D. Rodrigo de Sousa Coutinho: Textos Políti-
cos, Económicos e Financeiros (1783-1811), org. André Mansuy-Diniz Silva (Lisboa:
Banco de Portugal, 1993), 49.
165
  Manuel Amaral, «As tentativas de reforma do Exército, no interior de um
projecto global de reformas da sociedade portuguesa de finais do Antigo Regime»,
em A Guerra Peninsular, Perspetivas Multidisciplinares (Lisboa: CPHM-CEAP,
2008), II, 355-374.

476

Monárquias Ibéricas.indb 476 13/12/18 14:56


Instituições, contingentes e culturas militares na monarquia portuguesa

A chegada da corte ao Brasil em 1808 produziu alterações significa-


tivas na organização militar do território, a começar pela proliferação
de novas instituições, como o Ministério da Guerra (desmembrado
do Ministério dos Negócios Estrangeiros), o ­ Conselho Superior
­Militar, o Arquivo Militar e a Academia Real Militar.166 Por outro
lado, e apesar da chegada de militares da ex-metrópole e de estran-
geiros, as famílias locais aumentaram o seu envolvimento no exército,
concorrendo, assim, para o reforço dos laços da monarquia com os
súbitos da nova sede do império. É aliás significativo que a maioria
dos corpos tivesse tomado o partido de D. Pedro, primeiro imperador
do Brasil, aquando da proclamação da independência. A excepção foi
a divisão de voluntários reais, unidade composta de muitos veteranos
das Guerras Napoleónicas, que tinha sido mobilizada para o Brasil
em 1815 na sequência das campanhas nas províncias do Rio da Prata.
Então, como tinha acontecido várias vezes ao longo dos s­ éculos ante-
riores, a coroa deu sinais de continuar a preferir a experiência militar
adquirida nos campos de batalha do Velho Mundo, mesmo que esta se
revelasse desadequada ao cenário do Atlântico Sul.

166
  Izecksohn, «Ordenanças, tropas de linha…», 509.

477

Monárquias Ibéricas.indb 477 13/12/18 14:56


Monárquias Ibéricas.indb 478 13/12/18 14:56
Parte IV
Administração eclesiástica

Monárquias Ibéricas.indb 479 13/12/18 14:56


Monárquias Ibéricas.indb 480 13/12/18 14:56
Ana de Zaballa Beascoechea

Capítulo 13

Las instituciones eclesiásticas


en la Monarquía Hispánica

Introducción
Tras la conquista y ocupación del territorio americano, se «tras-
plantaron» a Indias las instituciones castellanas tanto seculares como
eclesiásticas; se adoptó el derecho castellano y, por tanto, se regu-
laron según ese derecho las relaciones de las instituciones civiles y
eclesiásticas.
Todas las instituciones eclesiásticas, tanto peninsulares como
indianas, tenían una larga tradición en la organización y estructura
de la Iglesia, desde la organización en obispados y sus ámbitos de
poder, hasta el patronato y derecho de presentación1; desde la Inqui-
sición hasta la organización de los fieles en cofradías. Las nuevas
circunstancias, problemas y necesidades encontradas en Indias gene-
raron nuevas cuestiones jurídico-normativas y requirieron nuevas
competencias para las diferentes corporaciones2. La distancia de la

1
  Tratado en el capítulo de este libro sobre el Patronato regio: «Los modelos
ibéricos de patronato: fundamento y prácticas. El caso español».
2
  Benedetta Albani, «La Formación de Espacios Jurídicos Iberoamericanos (xvi-
-xix): Actores, Artefactos e Ideas. Comentarios Introductorios [The Formation of
Iberoamerican Legal Spaces (xvi-xix): Actors, Artefacts and Ideas. ­Introductory
Comments]». En Jahrbuch für Geschichte Lateinamerikas/Anuario de Historia de

481

Monárquias Ibéricas.indb 481 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

metrópoli, el gigantismo geográfico, la variedad racial con sus conse-


cuencias sociales, etc., exigieron la adaptación de los diferentes orga-
nismos a las nuevas circunstancias. Esto provocó que los obispados
indianos contaran con particularidades respecto a sus homólogos en
el viejo mundo. Así, pues, las diócesis y, en concreto, la jurisdicción
del obispo será especial en Indias3.
Y efectivamente, hubo necesidad de una adaptación de las diver-
sas instituciones, desde el tribunal inquisitorial hasta la pastoral epis-
copal o la actuación del cura de almas. Basta considerar las grandes
extensiones territoriales correspondientes a dichas instituciones o la
mezcla de componentes culturales de la nueva sociedad: peninsula-
res, indígenas, africanos, criollos e incluso filipinos, para compren-
der la necesidad de esa adaptación.
En la formación o implantación de las instituciones eclesiásticas
en Indias, pueden señalarse distintos periodos, no siempre coinci-
dentes en los dos grandes virreinatos establecidos en el siglo xvi,
ni en los otros dos en que se dividirá el virreinato del Perú en el
siglo xviii.
Así tendríamos el periodo denominado periodo de evangeliza-
ción fundante, que en la Nueva España puede llevarse hasta 1585,
momento de celebración del Concilio III Provincial Mexicano, o
1583 para el virreinato del Perú, fecha del III Concilio Limense.
Éstos son años en los que la acción inicial y de preparación del
terreno corrió a cargo de las órdenes mendicantes que comenzaron a
misionar en los diferentes territorios.
Este momento se solapa con el Concilio de Trento y especial-
mente con su adaptación en los territorios de las Indias occidentales.
Los concilios decisivos para adaptar Trento a América fueron el III
Mexicano y el III Limense.

América Latina, ISSN: 2194-3680 n.52 (2015). Max Planck Institute for European
Legal History Research Paper Series nº 2014-07.
3
  Pedro Murillo Velarde, Curso de derecho canónico hispano e indiano, trad.
Alberto Carrillo Cázares con la colaboración de Pascual Guzmán de Laba et al.
(Zamora: Michoacán, El Colegio de Michoacán, Facultad de Derecho, UNAM,
2004), 4 vols.; Justo Donoso, Instituciones de Derecho Canónico americano (París:
Librería de Rosa y Bouret, 1868). Se puede comprobar cómo junto al contenido
del derecho canónico común se indican las bulas, leyes seculares pertenecientes
al Patronato y cánones conciliares que hacen variar la jurisdicción del obispo en
Indias.

482

Monárquias Ibéricas.indb 482 13/12/18 14:56


Las instituciones eclesiásticas en la Monarquía Hispánica

El segundo periodo de implantación de Trento en América, iría


desde los terceros concilios provinciales hasta el inicio del regalismo
en Indias. A lo largo del siglo xvii en el área andina se celebraron,
posiblemente por la fuerza de uno de sus principales obispos, T ­ oribio
de Mogrovejo, abundantes sínodos que sirvieron para adecuar las
decisiones de Trento y del limense a los diferentes y tan diversos
obispados. En Nueva España, también el siglo xvii será de aplicación
de la normativa tridentina. Desde 1620 no se crean nuevas diócesis
(habrá que esperar al siglo xviii), en ellas aumenta la presencia del
clero criollo entre los prelados. El siglo xvii fue también uno de los
momentos fuertes en el intento de los obispos de secularizar las doc-
trinas de indios llevadas por religiosos, lo que no se lograría hasta el
siglo siguiente
En las instituciones eclesiásticas no tuvo grandes repercusiones
la separación de coronas y los conflictos precedentes. La institución
donde más claramente incidió fue la Inquisición y los procesos con-
tra judaizantes, pero no es extensible a los tribunales episcopales o a
la organización diocesana a nivel general o local.
Por último, el siglo del regalismo y las reformas consecuentes.
Lo que sí marcará serán las reformas del siglo xviii, especialmente
el fuerte regalismo que llegará con la dinastía borbónica; más que en
los hechos, en las formas. Este regalismo estará especialmente pre-
sente en las relaciones entre Corona y obispos, en los conflictos de
jurisdicción de ambas potestades. Este último siglo fue muy activo
en creación de diócesis y archidiócesis que permitieron una mejor
atención pastoral del territorio americano «… a pesar del fuerte
regalismo que caracterizó las relaciones Iglesia-Estado durante los
últimos años del siglo xviii y principios del xix, la Iglesia americana
pudo y supo mantener su independencia de criterios y de actuación
en el seno del sistema colonial, más allá de la opinión de algunos
autores»4.
Entre las especiales circunstancias americanas, hay que resaltar la
importancia que tuvo la evangelización en las obligaciones y dere-
chos patronales. Como señala Terricabras en su artículo del presente
libro, en las Bulas alejandrinas el derecho de dominio llevó unido el

  Paulino Castañeda Delgado y Juan Marchena Fernández, La jerarquía de la


4

Iglesia en Indias: el episcopado americano, 1500-1850 (Madrid: Fundación Mapfre,


1992), 18.

483

Monárquias Ibéricas.indb 483 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

deber de evangelización. Se puede afirmar, por tanto, que el origen


de estas prerrogativas se inicia con la Bula Inter Caetera, cuando para
obtener el dominio sobre lo recién descubierto, los Reyes Católicos
solicitaron al Papa la exclusividad de evangelización de aquellos nue-
vos territorios de dimensiones desconocidas en ese momento. 5
Este derecho – «obligación» – de evangelizar y su puesta en mar-
cha, unida a las antiguas ambiciones de patronato del rey Fernando
fueron conllevando «necesidades» de mayor libertad de movimiento,
nuevas prerrogativas hasta alcanzar lo que se engloba bajo el título
de «Patronato Regio en América». Quizá el punto más importante
respecto a la evangelización esté en la Bula Expone Nobis – «Omní-
moda» –, en la que Carlos V recibió la capacidad de seleccionar los
misioneros que podrían pasar a Indias y enviarlos. Por esto, el regio
patronato tuvo desde su origen una especial conexión con las misio-
nes y con las necesidades y organización de las órdenes religiosas.

Las Misiones
La responsabilidad de evangelizar a los pueblos recién descubier­
tos conllevaba ventajas y autoridad para emprender diversas accio-
nes, pero también deberes. Por esto, una de las primeras actuaciones
del Patronato fue la organización y envío de misioneros, la distribu-
ción o adjudicación de los territorios a las diversas órdenes religiosas;
una actuación que a través de la bula Expone nobis – la «Omní-
moda» – llevó una primera organización eclesiástica de impronta
religiosa al Nuevo Mundo. Como se tratará con detalle el desarrollo
misional en Indias, me fijaré únicamente en su relación o conflicto
con la diócesis.6
La distribución territorial y la primera organización eclesiás-
tica llevada a cabo por los misioneros, fue lo que Castañeda7 llama
«los primeros atisbos de organización eclesiástica». Esas primeras
demarcaciones eclesiásticas fueron las que definieron los ámbitos de

5
  En general, sobre las cuestiones relativas al Patronato regio, remitimos al capí-
tulo de Ignasi Fernández Terricabras en este mismo volumen.
6
  Sobre la institución de la misión en ambos imperios ibéricos, véase al texto de
Aliocha Maldavsky y Federico Palomo que se incluye en el presente volumen.
7
  Castañeda y Marchena, La Jerarquía…, 154.

484

Monárquias Ibéricas.indb 484 13/12/18 14:56


Las instituciones eclesiásticas en la Monarquía Hispánica

a­ ctividad de cada orden religiosa que fue construyendo conventos y


repartiéndose la atención religiosa de aquellas tierras8. En la mayor
parte del territorio americano fue difícil concretar esa delimitación
porque la división geográfica entre las órdenes misioneras9 no se hizo
por regiones sino, a veces, por simples comarcas o incluso valles o
sierras10.
La actividad misionera en Nueva España, por ejemplo, se organi-
zaba desde una red de conventos cercanos unos a otros y situados en
torno a una capital, ciudad de españoles, en la que estaba establecida
la casa matriz de la orden con su noviciado, su colegio para formar
sacerdotes y su enfermería11. Desde esos conventos acudían a las
cabeceras y pueblos atendiendo las doctrinas de indios. En el virrei-
nato limense se hizo de forma similar, desde las ciudades importan-
tes se inicia la expansión y se van creando cabezas de provincia que
funcionaban como centro de operaciones; atendían muchas doctri-
nas en torno a los conventos. El clero secular, en cambio, atendía
doctrinas que generalmente estaban diseminadas en torno a la sede
episcopal o en regiones de intensa evangelización12.
Así la Iglesia en Indias tuvo un comienzo misionero, con jurisdic-
ción cuasi episcopal en manos de los religiosos. Hasta el Concilio de
Trento, las órdenes religiosas habían gozado de la plena exención de los
obispos, incluida la cura de almas en sus doctrinas. Este antiguo privile-
gio se aplicó a la evangelización de América a través de la ya citada Bula

8
  Idea tomada de Antonio Rubial, La Iglesia en el México colonial (México: IIH,
BUAP, Ediciones Educación y cultura, 2013), 48-51.
9
  Antonio Gil Albarracín, «Estrategias espaciales de las órdenes mendicantes»,
Scripta Nova. Revista electrónica de geografía y ciencias sociales, X, n. 218 (2006).
http://www.ub.edu/geocrit/sn/sn-218-45.htm. Consultado el 14 de septiembre de
2016.
10
  Pedro Borges Morán, «Estructura y características de la evangelización ame-
ricana», en Historia de la Iglesia en Hispanoamérica y Filipinas, dir. Pedro Borges
Morán (Madrid: BAC, Estudio teológico de San Ildefonso de Toledo, Quinto
­Centenario, 1992), vol. I, 431.
11
  Antonio Rubial García, «Las órdenes mendicantes evangelizadoras en Nueva
España y sus cambios estructurales durante los siglos virreinales», en La Iglesia
en Nueva España. Problemas y perspectivas de investigación, coord. María de Pilar
Martínez López-Cano (México: UNAM-Instituto Investigaciones Históricas,
­
2010), 221.
12
  Mº Berta Pérez Álvarez, «Las órdenes religiosas y el clero secular en la evan-
gelización del Perú. Proyección de su labor misionera», en https://core.ac.uk/
download/pdf/25071801.pdf. Consultado el 24 de septiembre de 2016.

485

Monárquias Ibéricas.indb 485 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

omnímoda de Adriano VI. Ante la llegada de los obispos y, sobre todo,


después de la aplicación de Trento y a partir de los III Concilios provin-
ciales en México y Lima, los religiosos pretendieron continuar con la
plenitud de jurisdicción en los territorios o distritos de sus monasterios,
sin que les afectara la jurisdicción episcopal13. Tendrán que expedirse
normas papales y cédulas para que, en lo relativo al oficio de cura de
almas, los religiosos se sometieran a los obispos y fueran visitados.
Realmente lo que provocó los conflictos entre obispos y religio-
sos fue el momento en que las misiones se convertían en parroquias,
es decir cuando, pasados unos años (diez o veinte años dependiendo
del lugar), entendían que una comunidad indígena estaba plenamente
convertida y dejaba de considerarse misión14. En ese momento el
obispo consideraba tener plena jurisdicción sobre el clero que les
doctrinaba y atendía pastoralmente, pero los religiosos no siempre
cedieron esa jurisdicción al prelado diocesano.
A la primera organización eclesiástica realizada por los frailes le
faltaba la estructura orgánica dirigida por los obispos. Esta estruc-
tura comienza con la creación de diócesis por parte de los Reyes
Católicos, concedida por la Santa Sede 15.
La reclamación de derechos, sobre todo de su plena jurisdicción,
por parte de los obispos, no se debía a la mera confrontación con un
competidor por esa jurisdicción, sino para implantar la estructura
eclesiástica de los inicios de la Iglesia, la comunidad de fieles junto al
obispo, incorporando a los misioneros como colaboradores o ayu-
dantes para la formación de esa estructura16. La «eclesialización» que
llama Huerga17. Esta lucha terminaría con los esfuerzos del siglo xvii
por secularizar las parroquias llevadas por religiosos, que culminaría
en el siglo xviii.

13
  Primitivo Tineo, «La evangelización del Perú en las instrucciones entregadas
al virrey Toledo (1569-1581)», en Evangelización y teología en América (siglo XVI):
X Simposio Internacional de Teología de la Universidad de Navarra, dir. Josep-Ignasi
Saranyana et al. (Pamplona: Servicio de Publicaciones de la Universidad de Navarra,
1990), vol. 1, 273-295 y 286-287.
14
  Pedro Borges Morán, «Los artífices de la evangelización» en Historia de la
Iglesia en Hispanoamérica y Filipinas, dir. Pedro Borges Morán (Madrid: BAC, Estu-
dio teológico de San Ildefonso de Toledo, Quinto Centenario, 1992), vol. I, 449.
15
  Castañeda y Marchena, La Jerarquía…, 154.
16
 Traslosheros, Iglesia, Justicia y sociedad…, 22.
17
  Álvaro Huerga, «La eclesialización de América» en La Iglesia en América:
siglos xvi-xx (Madrid: Deimos, 1992), 77-102.

486

Monárquias Ibéricas.indb 486 13/12/18 14:56


Las instituciones eclesiásticas en la Monarquía Hispánica

Los concilios provinciales18 del xvi, especialmente el III de México


y III de Lima, aplicaron Trento a sendos territorios y fortalecieron la
potestad episcopal. Estos concilios son menos misioneros en cuanto
que se refieren a una población indígena ya cristianizada. Las dispo-
siciones de estos concilios, con toda la fuerza del derecho canónico,
detallaron la necesidad de contar con licencia episcopal para confesar
en su territorio, edificar edificios sagrados, realizar en ellos funcio-
nes sacras, etc. Obligaba, por tanto, a los religiosos a contar con la
autorización del obispo para llevar a cabo su labor pastoral o los pla-
nes de construcción de nuevos conventos, iglesias, etc.

La Inquisición
Para comprender las características de esta institución en ­América
es necesario recordar que señalar la herejía y corregirla es propio
de los obispos, aunque a lo largo de la historia de la Iglesia esto
ha tomado muchas formas, siendo la única constante la solicitud
pastoral. Sólo a partir del siglo xii, desde del Sínodo de Verona de
1184, dirigido por el Papa Lucio III, parte de esa corrección toma
formas judiciales que, después el Papa monopoliza en su persona y
más tarde, para España, da concesión a los Reyes Católicos. En este
último caso, se trata de un tribunal eclesiástico pero bajo el control
del Rey.
El Santo Oficio de la Inquisición trasplantado a Indias sufrió
cambios como las demás instituciones seculares y eclesiásticas. Este
tribunal, en parte eclesiástico y en parte secular por el control que
la Corona tuvo sobre él, que tanta influencia tendrá en la sociedad
indiana, protagonizó fuertes conflictos con la potestad diocesana y
sus tribunales.
En Indias y en relación con los obispos, se da una doble peculiari-
dad. Por una parte, se retrasa la llegada de esta institución a América,
de manera que, en lugar de realizar el trasplante al mismo tiempo
que se creaban los obispados o cuando éstos estuvieron más o menos
instalados, se espera prácticamente al último tercio del siglo xvi.
Este retraso supuso que hasta que se establecieron ­definitivamente

  Ambos virreinatos contaban ya con provincias eclesiásticas y, por tanto, con


18

autonomía para convocar concilios.

487

Monárquias Ibéricas.indb 487 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

los ­tribunales de la Inquisición, los obispos recuperaron en algunos


lugares una facultad que les había sido retirada allí donde existía
­Inquisición: la facultad de juzgar la heterodoxia de sus fieles. Esto,
con la excepción de los lugares a donde se envío un inquisidor apos-
tólico, continuó hasta la implantación de los tribunales en 1570-1571.
Tras las actuaciones inquisitoriales de las primeras décadas – las lla-
madas inquisición monástica, apostólica y episcopal19 –, en el momento
de implantar los tribunales inquisitoriales, el Santo Oficio vio mermada
sustancialmente su jurisdicción al quedar excluidos los indígenas, que
era el grupo más numeroso de la población. Desde su fundación en
tiempo de los Reyes Católicos, el Santo Oficio nunca había visto limi-
tada su jurisdicción sobre ningún grupo social, se entiende de bautiza-
dos. La exclusión de los indios de la jurisdicción inquisitorial constituyó
una novedad absoluta en la práctica procesal hispánica20.
Esto será el origen de muchas de sus peculiaridades en territo-
rio americano: el ser esencialmente urbano (pues era en las ciudades
donde se concentraba la población europea y gran parte de las cas-
tas), la menor presión inquisitorial, la dificultad para el control social
a través de las delaciones por la lejanía de unas ciudades a otras y la
existencia de grandes extensiones de terreno ocupadas por poblados
indígenas, etc. En Indias la actividad será menor por este motivo y,
por supuesto, por el gigantismo geográfico y la escasez de tribunales
y funcionarios para cubrir el inmenso territorio. Hay que añadir otras
diferencias respecto a los tribunales peninsulares, como la escasa pre-
sencia de herejías propiamente dichas entre las causas seguidas por los
tribunales indianos.

19
  Bartolomé Escandell Bonet, «Sobre la peculiarización americana de la Inqui-
sición Española en Indias», Archivum: Revista de la Facultad de Filología, 22 (1972):
395-415; Bartolomé Escandell Bonet y Joaquín Pérez Villanueva, Historia de la
Inquisición en España y América, (Madrid: Biblioteca de autores Cristianos, 2000);
Alvaro Huerga, «La consolidación del Santo Oficio (1517-1569)», en Historia de
la Inquisición en España y América, dir. Bartolomé Escandell y Joaquín Pérez Villa-
nueva (Madrid: Biblioteca de autores Cristianos, 1984), vol. 1, 662-700; Alvaro
Huerga, «El apogeo del Santo Oficio (1569-1621)» en Historia de la Inquisición en
España y América, dir. Bartolomé Escandell y Joaquín Pérez Villanueva (Madrid:
Biblioteca de autores Cristianos, 1984), vol. 1, 724-729.
20
  Ana de Zaballa, «Del Viejo al Nuevo Mundo: novedades jurisdiccionales en
los tribunales eclesiásticos ordinarios en la Nueva España», en Los indios ante los
foros de justicia religiosa en la Hispanoamérica virreinal, coords. Traslosheros y De
Zaballa (México: UNAM IIH, 2010), 18.

488

Monárquias Ibéricas.indb 488 13/12/18 14:56


Las instituciones eclesiásticas en la Monarquía Hispánica

Sin embargo, no existió, como algunos pretendieron, una «inqui-


sición de indios»21, sino que los obispos ejercieron la facultad inquisi-
torial propia de su cargo sólo con la población indígena22. En efecto,
cuando Felipe II decide excluir a los indios del Tribunal de la Inqui-
sición, que era extraordinario, y encomendarlos a la jurisdicción del
Obispo, que era ordinaria, lo que hace en realidad es mantener la
jurisdicción que ya tenían los obispos sobre los indios. Es decir, no
se les otorga una nueva facultad, se les mantiene la que ya tenían.
El Santo Oficio, por su parte, se oponía a que los miembros del
tribunal episcopal al procesar a los indios por herejía empleasen la
misma nomenclatura que los tribunales inquisitoriales, para evi-
tar confusiones23. A pesar de todo esto, en ocasiones en México,
la sección del tribunal encargada de los indios, se llamó a sí misma
Inquisición Ordinaria o Tribunal de Naturales… Para desempeñar
esta función el provisor se fue rodeando de algunos ayudantes de
oficio, que formaron un organismo diocesano y que tuvieron lega-
dos y comisarios en las provincias. Siguiendo la tradición establecida
durante la época de la inquisición episcopal, el provisor y sus comi-
sarios se llamaron a sí mismos inquisidores ordinarios24.
No conocemos estudios sobre los tribunales episcopales en el
virreinato del Perú, aunque sí existen muchas publicaciones basadas
en las fuentes derivadas del mismo, así como de las visitas, especial-
mente de las visitas de idolatrías25.

21
  Zaballa, «Del viejo al Nuevo Mundo…», 17-18.
22
  Richard E. Greenleaf, Inquisición y Sociedad en el México colonial (Madrid:
Ediciones José Porrúa Turanzas, 1985), 2 y 121-122: «La administración eclesiástica
formal establecida en la época medieval confirió al obispo la obligación de imponer
la moralidad y la ortodoxia en su diócesis. Cuando se fundó la Inquisición, en el
siglo xiii, la jurisdicción sobre la herejía se trasladó a este tribunal. Después de la
conquista del continente en América y antes de que se establecieran allí tribunales
formales de la Inquisición en la década de 1570, los obispos reasumieron la función
inquisitorial en sus diócesis como jueces eclesiásticos ordinarios», y al crearse los
Tribunales de la inquisición conservaron esa función respecto a los indígenas.
23
  Greenleaf, Inquisición y Sociedad…, 146.
24
  Greenleaf, Inquisición y Sociedad…, 125.
25
  Pedro Guibovich Pérez, «Visitas eclesiásticas y extirpación de la idolatría en la
diócesis de Lima en la segunda mitad del siglo xvii», en Los indios, el Derecho Canó-
nico y la justicia eclesiástica en la América virreinal. ed. Ana De Zaballa Beascochea,
175-200 (Madrid-Frankfurt: Iberoamericana – Vervuert, 2011); Pierre Duviols, Pro-
cesos y Visitas de Idolatrías. Cajatambo, siglo xvii. (Lima: Instituto francés de Estu-
dios Andinos, Pontificia Universidad Católica del Perú, 2003).

489

Monárquias Ibéricas.indb 489 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

La exclusión de los indios llevó consigo muchos conflictos entre


ambos tribunales, pues, en muchas ocasiones, no era fácil discernir
si los acusados eran o no indios. Se trataba, por ejemplo, de unos
mestizos o castas que estaban completamente asimilados y vivían en
pueblos indígenas, vestían como ellos y sólo hablaban la lengua de
la región. Existe documentación sobre este tipo de problemas y los
casos en que la Inquisición enviaba un proceso al tribunal de la dió-
cesis o a la inversa26.

Instituciones propias de la Iglesia diocesana


Organización territorial y estructura diocesana

«La unidad básica de la organización de la Iglesia es, como era, la


diócesis encabezada por un obispo quien es considerado sucesor de
los apóstoles. En aquel entonces – al igual que hoy –, un conjunto
de diócesis de una región específica se asociaba para atender proble-
mas comunes formando una provincia eclesiástica» y cada provincia
era encabezada por un arzobispo27. En las provincias eclesiásticas se
podían convocar concilios para el gobierno de la misma y, por tanto,
promulgar legislación que pasaba a formar parte del derecho canó-
nico indiano (fig. 1).
El territorio diocesano en Indias, como en Europa, estaba orga-
nizado en provincias eclesiásticas, dentro de las cuales se hallaban las
diócesis; una de ellas era archidiócesis y hacía de cabeza de dicha pro-
vincia, aunque no sustituía ni mermaba la capacidad de orden y juris-
dicción de los obispos sufragáneos. Así, en 1546, fueron erigidas en
archidiócesis las diócesis de Santo Domingo, México y Lima; en ese

26
  Solange Alberro, Inquisición y sociedad en México 1571-1700, (México: Fondo
de Cultura Económica, 20136), 54: nota 15. «Si bien se sabía con precisión qué grupos
o individuos estaban bajo la autoridad del Santo Oficio, los procesos de mestizaje y
de sincretismo no tardaron en enturbiar la hermosa limpidez burocrática. En efecto,
pronto resultó difícil asegurar que la mestiza de tez oscura no era indígena o que el
mulato de ojos rasgados fuese un… y entendemos la perplejidad del comisario inqui-
sitorial de Yucatán cuando en 1674, vió que tres individuos considerados mulatos y
adoradores de ídolos, que estaban encarcelados en Mérida mientras esperaban el tras-
lado a México, empezaron a hablar maya y a ponerse ropa indígena, escapando de este
modo al tribunal, puesto que resultaron ser indios».
27
 Traslosheros, Historia judicial eclesiástica de la Nueva España…, 15.

490

Monárquias Ibéricas.indb 490 13/12/18 14:56


Las instituciones eclesiásticas en la Monarquía Hispánica

Figura 1 – Diócesis y archidiócesis en América Hispana28

momento los obispos americanos dejaron de depender del de Sevilla


para quedar sujetos a los metropolitanos de esas tres provincias ecle-
siásticas. Unos años más tarde se erige la archidiócesis de Santa Fe
de Bogotá (1564) y, a inicios del siglo xvii, se erige la archidiócesis de
la Plata o Charcas. Habrá que esperar al siglo xviii para la aparición
de nuevas archidiócesis29. La distribución o localización geográfica
de los obispados quedó en manos de la Corona que intentó adecuar-
los a las divisiones administrativas30.

28
  Castañeda y Marchena, La Jerarquía…, 185.
29
  Castañeda y Marchena, La jerarquía…, 178 y ss.
30
  Los reyes recibieron la concesión de delimitar diócesis con la bula de 1518,
Sacris Apostolatus Ministerio.

491

Monárquias Ibéricas.indb 491 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

El territorio episcopal estaba dividido en parroquias y doctrinas


de indios; éstas a su vez agrupaban en muchas ocasiones diversas
unidades territoriales como pueblos, estancias, haciendas y ran-
chos31. Esto obligaba a que muchos párrocos o curas tuvieran que
contar con tenientes o ayudantes. Los territorios parroquiales fue-
ron muy variados, algunos muy alejados de la capital episcopal y con
serios problemas de comunicación, especialmente en los Andes y los
territorios de frontera.
A esta división en parroquias hay que añadir las provincias y cus-
todias de religiosos que se repartieron los territorios según fueron
llegando al Nuevo Mundo. Los límites de estas provincias no coin-
cidían con los diocesanos que se establecieron cuando se tenía un
mayor conocimiento del terreno. La atención pastoral de los recién
convertidos pasará poco a poco a depender de la jurisdicción epis-
copal en el momento en el que las misiones pasaban a considerarse
parroquias. Es decir, los conventos y fundaciones de religiosos que
quedaban dentro del territorio jurisdiccional del obispo, estaban
fuera de su potestad en cuanto al gobierno de los conventos y a la
atención misional, en tanto que las misiones no pasaran a ser parro-
quias (fig. 2).

Figura 2 – Diócesis y provincias franciscanas novohispanas32

31
  Antonio Rubial García, coord., La Iglesia en el México colonial (México D. F.:
Instituto Investigaciones Históricas – UNAM, Instituto de Ciencias Sociales y
Humanidades «Alfonso Vélez Pliego» – BUAP, ediciones Educación y Cultura,
2013), 193.
32
  Se representa aquí las provincias franciscanas de Nueva España junto a los
límites diocesanos. Tomado de Peter Gerhard, Geografía Histórica de la Nueva
España. 1519-1821 (México: UNAM, 1986), 18-19.

492

Monárquias Ibéricas.indb 492 13/12/18 14:56


Las instituciones eclesiásticas en la Monarquía Hispánica

Como se ha señalado antes, durante el siglo xvi e inicios del xvii se


asiste a muchos roces entre religiosos y obispos por querer aquellos
mantener su jurisdicción en los lugares donde comenzaron a misio-
nar, aunque por ser territorios ya cristianizados habían quedado bajo
la autoridad del obispo. Las parroquias regentadas por religiosos
debieron sujetarse a la visita y a las directrices del diocesano en todo
lo referente a la cura de almas. Otro problema será el deseo de secu-
larización de dichas parroquias que se llevará a cabo entre el siglo xvii
y sobre todo el xviii.
Los conventos de religiosas no entrarán en estos conflictos pues
arribaron en Indias de la mano de los obispos y estuvieron siem-
pre bajo su jurisdicción con muy pocas excepciones33 entre las que
dependían de sus homónimos varones.
Por último, no hay que olvidar que, al interior del obispado, se
encuentran otras instituciones como hospitales, colegios, cofradías,
archicofradías, dependientes directamente del obispo o del párroco
para su fundación y actividades.
Visto esto, puede hacerse ya una pregunta que resuena muchas
veces: ¿quién protagoniza la implantación de la Iglesia en Indias: el
clero regular o los obispos? No nos hemos preguntado si el clero
regular o secular, sino clero regular u obispos porque los prime-
ros obispos americanos fueron religiosos, pero una vez nombra-
dos obispos actuaron como tales y defendieron no sólo la potestad
episcopal frente a privilegios de los religiosos en América, sino
la jerarquía, la organización e implantación propia de la iglesia
institucional.
Los misioneros trabajaron el terreno, llegaron a lugares inhós-
pitos, trasmitieron cultura, doctrina cristiana, etc. Una labor que
facilitó e hizo posible la implantación de la Iglesia jerárquica. Pero
realmente la implantación de la Iglesia en Indias fue obra de los obis-
pos. Ellos tuvieron que convertir ese territorio en verdaderas dióce-
sis, formar cabildos, tribunales diocesanos, organizar el territorio en
parroquias que fueran abarcables, etc.

 Ángel Martínez Cuesta, «Las monjas en la América colonial 1530-1824»,


33

Thesaurus: boletín del Instituto Caro y Cuervo, 50 (1-3) (1995): pp. 572-626.

493

Monárquias Ibéricas.indb 493 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

El obispo

El gobierno de la diócesis – o de la archidiócesis – estaba en


manos del ordinario que lo ejercía ayudado preferentemente por tres
instituciones: el cabildo catedral, el tribunal eclesiástico y la visita
episcopal. Esta última era la única que no funcionaba en la capital
metropolitana o sede, sino que era itinerante por el territorio juris-
diccional. No se puede olvidar que, en el gobierno de la diócesis,
el aspecto pastoral y el judicial van unidos, en el sentido de que la
instancia de justicia es subsidiaria de la pastoral. De ahí que todos
los actos de gobierno están al servicio de la pastoral, del bien de los
fieles.
El obispo tendrá en Indias cometidos inexistentes en Europa,
como el cuidado pastoral de los recién convertidos o nuevos en la fe,
pues contaba casi siempre con territorios de carácter misional den-
tro de su jurisdicción. En efecto, a la Iglesia plenamente establecida
siempre se sumaba una Iglesia en formación: las misiones dentro de
cada diócesis, las doctrinas o las parroquias de indios, el peligro de
la posible vuelta a la idolatría que se veía como una posibilidad siem-
pre presente34. Al mismo tiempo, por la lejanía de Roma, gozarán
de mayores prerrogativas, como absolver algunas penas y pecados35,
poder apelar a otro obispo en Indias en lugar de acudir a Roma, etc.
La extensión geográfica modificó muchas disposiciones, como, por
ejemplo, las establecidas para las visitas episcopales36.
En Indias llega a haber, cuando se produce la independencia, 43
diócesis agrupadas en 7 provincias eclesiásticas37; en España, en el
siglo xviii, se cuentan 59 obispos residenciales y 8 metropolitanos
para un territorio inmensamente menor. Y miles de párrocos (además
de clero regular y territorios de órdenes militares). Las diócesis ame-
ricanas tenían un territorio jurisdiccional inmenso. Como referencia
puede servir el dato de la superficie de España que es de 505 990 km²,
en comparación con la del México actual 1,973 millones km² que

  Una muestra de esta realidad es la elaboración de tratados de idolatrías, avisos


34

o manuales para párrocos de indios, indicaciones en los decretos conciliares o direc-


trices de la Corona sobre el mismo tema, desde el xvi hasta fines del xviii.
35
  Murillo, Curso de derecho canónico…, libro II, título 28: De las apelaciones,
recusaciones y relaciones, 244 y ss.
36
  Zaballa, Del Viejo al Nuevo Mundo…, 21-24.
37
  Castañeda y Marchena, La Jerarquía…, 12.

494

Monárquias Ibéricas.indb 494 13/12/18 14:56


Las instituciones eclesiásticas en la Monarquía Hispánica

contaba en su interior con seis diócesis; con la de Colombia actual


1,142 millones km², que contaba con cuatro… Como se ve, era
imposible atender adecuadamente aquellos territorios.
La designación de obispos era un tema que competía en princi-
pio a la Santa Sede, pero en virtud de los derechos patronales tam-
bién intervenía el rey. La Corona tuvo el derecho de presentación
de obispos como una de las principales concesiones unida al patro-
nato. Dependían de estas dos voluntades y de la del electo. Era un
proceso complejo, complicado y, por tanto, lento38. A veces se ha
simplificado como un simple presentar al Papa el candidato y, casi
de forma automática, el papa aceptaba, emitía las bulas y le orde-
naba39. En realidad el nombramiento de obispos por la Santa Sede40
fue más complejo, pues comenzaba con el envío de las cédulas de
presentación al embajador de Roma ante la Santa Sede y al Cardenal
responsable de la Congregación consistorial. Al mismo tiempo, el
Nuncio de la Santa Sede en Madrid debía enviar el informe sobre el
candidato y sobre la diócesis a la que se proponía, con la declaración
de una serie de testigos de vida, curriculum vitae, etc.41 La normativa

38
  Castañeda y Marchena, La Jerarquía…, 187.
39
  Ignasi Fernández Terricabras, «Al servicio del rey y de la iglesia: El control del
episcopado castellano por la Corona en tiempos de Felipe II». En Lo conflictivo y
lo consensual en Castilla: sociedad y poder político, 1521-1715: homenaje a Francisco
Tomás y Valiente (Murcia: Universidad de Murcia, Servicio de publicaciones, 2001),
205-232. Ignasi Fernández Terricabras, Felipe II y el clero secular: la aplicación del
concilio de Trento (Madrid: Sociedad Estatal para la Conmemoración de los Cente-
narios de Felipe II y Carlos V, 2000); Andoni Artola Renedo, De Madrid a Roma.
La fidelidad del episcopado en España (1760-1833) (Gijón: Ediciones Trea, 2013).
40
  Lo relativo al nombramiento de obispos se ha tomado de Benedetta Albani,
«Appointment of Bishops in the Ibero-American World as a Governance Tool
between the Spanish Crown and the Holy See» (paper leído en el congreso Beco-
ming a Bishop – Diachronic perspectives, Römisch-Germanisches Zentralmuseum
Mainz, 16-17 March 2016), de próxima publicación. Por manuscrito.
41
  En Roma, toda esta información era leída y discutida por la congregación y des-
pués presentada al Papa que examinaba al candidato (excepción hecha con los candida-
tos americanos por la lejanía). El Papa tenía capacidad de rechazarlo. Si no lo hizo hay
que analizar las conversaciones, influencias y relaciones entre los distintos responsables
de los diversos pasos. Es decir, el rey enviaba sus cédulas de candidatos, pero la Santa
Sede también tenía su parte que el rey y el embajador, debían tener en cuenta.
Artola insiste en que el derecho de presentación es aún un tema pendiente: «La
gama de interacciones, conflictos, enfrentamientos y valimientos que se generaban
en torno a una presentación es básicamente desconocida», Artola, De Madrid a
Roma…, 21.

495

Monárquias Ibéricas.indb 495 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

de Trento sobre el nombramiento de obispos hubo de adaptarse en


América, pues los tiempos establecidos en el Concilio eran práctica-
mente imposibles de cumplir en el Nuevo Mundo.
Los primeros obispos americanos fueron en su mayor parte del
clero regular. En concreto, en el siglo xvi, 76 obispos fueron regula-
res y 38 seculares. Desde 1620 comienza la paulatina disminución de
los regulares en el episcopado americano, que nunca volverán a supe-
rar a los seculares. Por último, en la segunda mitad del siglo xviii, el
75% de los obispos serán del clero secular42.
En los inicios, cuando se van instalando las diócesis en América
y comienzan los conflictos con los privilegios de los regulares, la
Corona fue bastante complaciente con los religiosos, que tenían al
soberano como su interlocutor directo y casi como vicario para los
asuntos de la Iglesia en el nuevo Mundo43. Algo lógico si tenemos
en cuenta que era el rey a través de las distintas instituciones quien
organizaba las misiones, el envío de misioneros, etc. Sin embargo,
con el paso del tiempo y una vez que las diferentes órdenes estuvie-
ron extendidas y bien organizadas, resultaba más difícil para el rey
controlar a quienes obedecían a superiores que no se encontraban en
Indias y a veces tampoco en la Península.
A fines del xvii y sobre todo en el xviii, la Corona apoyará deci-
didamente el planteamiento de secularización de las doctrinas, así
como el apoyo a los obispos. Esta afirmación debe quedar tamizada
por el regalismo que imperó en esa centuria, sobre todo en la segunda
mitad. El regalismo buscó decidida y claramente mermar la potestad
y jurisdicción del obispo en temas variados: en relación con los deli-
tos que le correspondía juzgar, qué bienes se consideraban eclesiás-
ticos o seculares, la jurisdicción de los curas párrocos con respecto a
los indios, frente a los alcaldes mayores, etc.
Es imposible en este trabajo especificar cómo se vivió todo esto
en las diferentes diócesis, pero, al menos, hay que advertir que las
peculiaridades de cada territorio (la importancia numérica de cada
grupo de población, su densidad, el tipo de culturas previas, la

  Castañeda y Marchena, La jerarquía…, 72-74.


42

 No en vano, sería Juan Focher, franciscano que trabajó en México, quien
43

comenzara la teoría del regio vicariato en su intento de defender las misiones fran-
ciscanas en aquel territorio: Juan Focher, Itinerario del misionero en América, ed.
Antonio Eguiluz (Madrid: Librería General Victoriano Suárez, 1960).

496

Monárquias Ibéricas.indb 496 13/12/18 14:56


Las instituciones eclesiásticas en la Monarquía Hispánica

­ cupación del territorio, la facilidad o dificultad para moverse en él,


o
etc.) hicieron variar mucho las condiciones de una diócesis a otra
y, por tanto, diferenciar sus instituciones: desde la composición de
los tribunales episcopales, la organización de parroquias, la relación
entre los territorios misionales y el obispo, hasta las posibilidades y
modos de visita. Un ejemplo rápidamente visible sería, por ejemplo,
la abundancia de sínodos diocesanos en el espacio andino a lo largo
del siglo xvii y su total ausencia en el virreinato novohispano, donde
con alguna excepción, pasamos del concilio tercero mexicano a fines
del xvi hasta el concilio IV terminando ya el siglo xviii.

Las parroquias

Cada obispado estaba a su vez organizado en parroquias y con-


taba con importantes instituciones o cuerpos diversos y comple-
jos, cada uno con su propia normatividad y jurisdicción. Curatos y
parroquias44 tuvieron gran importancia por ser el ámbito donde se
llegaba al contacto directo con la población45. Como dice ­Guibovich,
«fueron en muchos casos los ejecutores de las disposiciones de
gobierno dictadas por la corona y la jerarquía eclesiástica; los trans-
misores de una serie de valores y creencias […]; y los intermediarios

44
  Indudablemente, el mejor estudio para conocer la formación, carrera y vici-
situdes de los curas párrocos en el xviii en México es William B. Taylor, Ministros
de lo sagrado. Sacerdotes y feligreses en el México del siglo xviii (México: El Colegio
de Michoacán, Secretaría de Gobernación, El colegio de México, 1999); Rodolfo
­Aguirre, «La demanda de clérigos «lenguas» en el Arzobispado de México, 1700-
-1750», Estudios de Historia Novohispana, n.º 35 (2006): 47-70; Rodolfo Aguirre, «La
secularización de doctrinas en el arzobispado de México: realidades indianas y razo-
nes políticas, 1700-1749», Hispania Sacra, 60, n.° 122 (2008): 487-505; María Elena
Barral, «Las parroquias del suroriente entrerriano a fines del siglo xviii: los conflictos
en Gualeguay», en Autoridades y prácticas judiciales en el Antiguo Régimen. Problemas
jurisdiccionales en el Río de la Plata, Córdoba, Tucumán, Cuyo y Chile, coord. María
Paula Polimene (Rosario: Prohistoria, 2011), 95-115; Christine Hünefeldt, «Comu-
nidad, curas y caciques hacia fines del período colonial: ovejas y pastores indomados
en el Perú», HISLA, n.° 2 (1983): 3-31; Sabrina Guerra Moscoso, La disputa por el
control de las doctrinas en la Real Audiencia de Quito: Un estudio microhistórico sobre
la tensión entre y dentro del Estado, la Iglesia y las redes de poder local. Guano, siglo xviii
(Castellón: Universitat Jaume I, 2008).
45
  Abundante historiografía para Nueva España y muy escasa para el virreinato
peruano.

497

Monárquias Ibéricas.indb 497 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

entre la comunidad de parroquianos y la corona, como también entre


lo sagrado y lo profano, la cultura letrada y la cultura popular»46.
El obispo era la máxima autoridad sobre esos curas; incluso los reli-
giosos que tenían encomendada una parroquia dependían del obispo
en lo que a esa cura pastoral se refería.
Los territorios parroquiales fueron dinámicos, dependiendo de
las migraciones de población, epidemias, formación de ciudades o
nuevas agrupaciones de indios en pueblos. Estas parroquias y sus
límites conformarán los límites de las diócesis47. En los inicios, la
mayoría de las parroquias de indios estaban encomendadas al clero
regular. Después de la Junta Magna (1568) aumentó el número de
curatos seculares frente a las doctrinas de regulares; la Junta se pro-
puso el incremento de parroquias con curas propietarios para el
territorio indiano48. Con esto pretendían imponer el concepto de
diócesis sobre el de provincia religiosa con que comenzaron divi-
diéndose los territorios indianos desde el punto de vista eclesiástico.

Además del papel pastoral o, mejor, como una parte dentro de


ese encargo, los curas párrocos tenían cierta capacidad judicial, por
ejemplo, en los temas matrimoniales, informaciones matrimonia-
les, primeras quejas de malos tratos, incumplimiento de promesas,
etc. Por este motivo, en la segunda mitad del xviii, los Borbones

46
  Pedro Guibovich Pérez, «Los libros de los doctrineros en el virreinato del
Perú, siglos xvi-xvii», en Esplendores y miserias de la evangelización de América:
antecedentes europeos y alteridad indígena, ed. Wulf Oesterreicher, Roland Schmidt­-
-Riese (Berlín: Walter de Gruyter, 2010), 98.
47
  Guibovich Pérez, «Los libros de los doctrineros …», 98. Aunque contamos
con algunos libros, como el de Taylor para el clero secular de la Nueva España, es
mucho lo que queda por hacer. Poco conocemos de cómo se desarrollaba su carrera
eclesiástica, su cultura, los libros básicos con los que se cuenta en un curato de
indios, etc. Sabemos algo más, quizá por lo llamativo, sobre su conducta moral.
48
 Actas recibidas por Toledo de la Junta Magna en Vidal Abril Castelló y
Miguel J. Abril Stoffels, Francisco de la Cruz, inquisición. Actas, II, 1 (Madrid:
CSIC, 1996). El orden de Granada consistía en adjudicarlas mediante concurso de
oposición y presentación real. Esto impedía al obispo la provisión de beneficios de
manera directa, estas disposiciones menoscababan el poder del obispo, que hasta
entonces nombraba párrocos por vía de simple elección y aceptación. Ahora el nom-
bramiento de curas se hacía en nombre del rey, no del obispo. Con estas ordenanzas,
la labor de los frailes también quedó bajo tutela del virrey y del obispo de la diócesis
que podía pedirles cuenta de las parroquias.

498

Monárquias Ibéricas.indb 498 13/12/18 14:56


Las instituciones eclesiásticas en la Monarquía Hispánica

­ usieron los medios para que el clero local quedara sin capacidad
p
jurídica, pasando la vigilancia de costumbres a los corregidores y
alcaldes mayores.
En las ciudades, las parroquias de españoles y castas, según la
legislación, se encontraban separadas de las que atendían exclusiva-
mente a los indios, pero no se puede generalizar. Por ejemplo, en la
ciudad de Quito, las parroquias no estaban separadas en las dos repú-
blicas49. Por otra parte, con el crecimiento del mestizaje no sólo en el
plano biológico sino en el social, se mezclaron los distintos grupos y,
en el siglo xvii, es común encontrar a todos los grupos de población
en una u otra parroquia50.
Al interior de las parroquias se encuentran las cofradías organi-
zadas por fieles de todo tipo y condición, que contaban con su pro-
pia normativa y que, con sus más y sus menos, administraban con
bastante libertad. Eran asociaciones eclesiásticas, sus bienes fueron
considerados eclesiásticos51 y, por tanto, inalienables. Entre los indí-
genas se distinguen las cofradías eclesiásticas y las cofradías de pue-
blos de indios; estas últimas administradas sin la intervención eficaz
del párroco. Ambas aceptadas por el obispo y el clero por servir para
el mantenimiento del culto y de los párrocos52.
No hay mucho que razonar para comprender la novedad de este
tipo de instituciones respecto a los orígenes que tuvo en la Penín-
sula, así como la total imposibilidad de un «retorno» de esta novedad
al otro lado del Atlántico. Nunca se hubiera aceptado este tipo de

49
  Se ha comprobado que las parroquias de Quito eran de indios y españoles:
Carlos Ciriza-Mendivil, «Los indígenas quiteños a través de sus testamentos: diná-
micas socioculturales en el siglo xvii», Procesos. Revista ecuatoriana de Historia, 45
(2017)9-34, 21.
50
  Ana de Zaballa, «Una ventana al mestizaje: el matrimonio de los indios en el
arzobispado de México. 1660-1686», Revista Complutense de Historia de América,
42 (2016). Lógicamente habrá territorios alejados y sin especial actividad económica
donde se retrase mucho la concurrencia de todos los grupos sociales, pero en el
resto, sí.
51
  La capellanía, visto desde los fieles, suponía un modo de vincular la tierra y de
hacerla intangible, por convertirse en bien eclesiástico. Vide Jorge E. Traslosheros,
La reforma de la Iglesia del antiguo Michoacán. La gestión episcopal de fray Marcos
Ramírez de Prado (1640-1666) (Morelia: Universidad Michoacana de San Nicolás
de Hidalgo, 1995), cap. III, «Testamentos y Capellanías».
52
  Dorothy Tanck de Estrada, Cofradías en los pueblos de indios en el México
colonial. Consultado en linea: http://www.naya.org.ar/congreso2002/ponencias/
dorothy_tanck_de_estrada.htm (24 mayo 2014).

499

Monárquias Ibéricas.indb 499 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

prerrogativas entre los recién convertidos en el territorio peninsular.


Evidentemente nada tenían que ver los «infieles» con los «paganos»,
ni las características de la población nativa americana con los tradi-
cionales convecinos de los cristianos peninsulares.
En la segunda mitad del xviii, el poder real buscará el modo de
que los bienes de dichas cofradías dejaran de ser eclesiásticos para
poder controlarlos53. Durante la segunda mitad del xviii, se mani-
festó plenamente la política ilustrada contra las cofradías, que bus-
caba desacreditar este tipo de corporaciones de laicos; las razones
alegadas eran los excesivos gastos en fiestas y el peligro de supersti-
ción, aunque preocupados en realidad por sus bienes. Así se llega a la
contradicción de que el siglo xviii, considerado el siglo de auge de las
cofradías, fue a la vez el momento en que tanto la jerarquía eclesiás-
tica como el gobierno virreinal buscaron entrometerse en ellas y en
muchos casos anularlas. Por último, este ataque a las cofradías por las
reformas borbónicas escondía una ofensiva contra la autoridad epis-
copal y, a nivel local, de los párrocos, pues de las cofradías dependían
en gran medida el sostenimiento económico de los curas locales.54
El regalismo buscó por diferentes vías el dominio o disminución
de la jurisdicción eclesiástica, también a nivel de los jueces eclesiásti-
cos locales. Taylor sugirió que buscaron controlar a los párrocos por
verles como usurpadores de la autoridad real, otorgando más autori-
dad a los alcaldes mayores sobre temas de costumbres, por ejemplo,
antes reservados a los clérigos que eran quienes velaban por la mora-
lidad pública55. En esto insiste Aguirre que llama la atención sobre
la importancia política que adquirirán las cuestiones locales para los
reformadores56.

53
  Ana de Zaballa y Ianire Lanchas, Gobierno y reforma del obispado de Oaxaca.
Un libro de cordilleras del obispo Ortigosa. Ayoquezco, 1776-1792 (Bilbao: Servicio
de publicaciones Universidad del País Vasco, 2014),76-78.
54
  William B. Taylor, «¿Eran campesinos los indios? El viaje de un norteameri-
cano por la historia colonial mesoamericana» Relaciones, XX, 78 (1999): 81-110, 92.
55
 Taylor, Ministros de lo sagrado…, 30-31. Las cédulas de 1748, en las que se
encargaba, por ejemplo, a los alcaldes mayores controlar la embriaguez local, supo-
nía un desafío contra el papel del clero de controlar la moralidad pública.
56
 Rodolfo Aguirre, «En busca del clero secular: del anonimato a una com-
prensión de sus dinámicas internas», en La Iglesia en Nueva España. Problemas y
perspectivas de investigación, dir. Pilar Martínez López-Cano (México: Instituto de
Investigaciones Históricas, UNAM, 2010), 198.

500

Monárquias Ibéricas.indb 500 13/12/18 14:56


Las instituciones eclesiásticas en la Monarquía Hispánica

El cabildo catedral

El cabildo eclesiástico fue la corporación de clérigos, dotada de


personalidad jurídica, encargada de la celebración del culto de la
catedral, particularmente del oficio divino o rezo de las horas canó-
nicas. En boca de Trento, se establecieron los cabildos para «con-
servar y aumentar la disciplina eclesiástica, con el objeto de que los
poseedores de ellas se aventajasen en virtud, sirviesen de ejemplo a
los demás, y ayudasen a los obispos con su trabajo y ministerio»57.
Les correspondía concretar los métodos de colecta y administración
del diezmo; en algunas diócesis, como México, ellos se encargaban
de la haceduría o tribunal del diezmo. Ayudaban a los obispos en
el tribunal eclesiástico y en el gobierno de la diócesis, con grandes
variantes de unos obispados a otros58.
El número de prebendas dependía del rey y después del obispo
y de las autoridades indianas. La variedad numérica y, por tanto, de
importancia de los cabildos eclesiásticos en Indias fue grande. Pobres
y reducidas en los inicios, sólo Lima, México y Puebla llegaron a
contar con más de veinte miembros59.
Eran considerados una élite que se preocupó mucho de mantener
su prestigio y consideración frente al resto de las autoridades india-
nas y al obispo. Esta institución, a diferencia del obispado y la inqui-
sición, se nutrió fundamentalmente de criollos, tendencia que creció
en el siglo xvii y definitivamente en el xviii. Fueron estos criollos en
gran parte, personas con fuertes lazos en la ciudad, conectados con
las universidades y otras instituciones, adquiriendo poder y posibili-
dades de influencia. En Nueva España, los cabildos fueron ya mayo-
ritariamente criollos en la década de 1630. En términos generales,
los miembros de los cabildos pertenecieron a familias importantes
que mantenían vínculos con los altos niveles de la administración
eclesiástica y secular60.

57
  Concilio de Trento, Sesión XXIV, Obispos y cardenales, cap. XII.
58
  Leticia Pérez Puente, «Los cabildos de las catedrales indianas. Siglos xvi y
xvii», Revista Mexicana de Historia del Derecho, XXXII (2015): 23-52, 25.
59
  Un buen repaso historiográfico sobre los cabildos catedralicios en Pérez Puente,
Los cabildos de las catedrales…
60
 Antonio Rubial García, coord., La Iglesia en el México colonial (México:
Instituto Investigaciones Históricas, UNAM, Instituto Ciencias Sociales y Huma-
nidades «Alfonso Vélez pliego», BUAP, Ediciones Educación y cultura, 2013),

501

Monárquias Ibéricas.indb 501 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

El cabildo se regía por las consuetas o reglas61. Se buscaba con


ellas establecer el orden en el cabildo, en especial lo relativo a las
obligaciones y comportamiento de sus miembros. Como sucede
con la organización del cabildo, también para su normativa buscaron
parecerse a las grandes catedrales peninsulares y especialmente a la
de Sevilla, aunque, no lo lograrán por la falta de financiación y otras
dificultades. La peculiaridad del territorio y de su sociedad obligó a la
adaptación de las consuetas a las necesidades americanas62.

291 y ss. Sobre el Cabildo Oscar Mazín, El cabildo catedral de Valladolid de Michoa-


cán (Zamora: El Colegio de Michoacán, 1996); Ana Carolina Ibarra, El Cabildo
Catedral de Antequera de Oaxaca y el movimiento insurgente (Zamora: El Colegio
de Michoacán, 2000); Leticia Pérez Puente, Tiempos de crisis, tiempos de consolida-
ción. La catedral metropolitana de la ciudad de México, 1653-1680 (México: Centro
de estudios sobre la universidad, UNAM, El Colegio de Michoacán, Plaza y Valdés
editores, 2005); José Gabino Castillo Flores, El cabildo eclesiástico de la Catedral de
México (1530-1612) (Zamora: El Colegio de Michoacán, 2018.)
61
  Ana Mª Martínez de Sánchez, «Las consuetas del obispado de Tucumán»,
Revista de Estudios Histórico-Jurídicos, XXVIII (2006): 491-511: «… en ciertas
Catedrales lleva el nombre de consueta el libro que contiene algunas constituciones
capitulares, por las cuales se gobiernan, o las costumbres y prácticas que se [obser-
van] desde antiguo en funciones tanto ordinarias como extraordinarias y sobre las
cuales no hay escrito ni acuerdo general», y agrega, «en todos los casos imprevistos
que ocurran, sobre los cuales no hay tomado acuerdo, se debe estar a lo que se dice
en la consueta». Consultado en línea: http://www.scielo.cl/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0716-54552006000100014. Vide, así mismo: Ana Mª Martínez de
Sanchez, «Lo normativo y lo pastoral en el Obispado del Tucumán», en Algunos
sujetos y objetos de la oratoria sagrada en América colonial, dir. Ana María Martínez
de Sánchez (Córdoba: CIECS, 2014), 8-32; Carlos Oviedo Cavada, «Las consuetas
de las Catedrales de Chile. 1689 y 1744», Revista chilena de Historia del Derecho, 12
(1986): 129-154.
62
  La especialista en el tema es Ana Mª Martínez de Sánchez, con una larga pro-
ducción sobre el gobierno y legislación del cabildo catedral. Vide, por ejemplo: Ana
Mª Martínez de Sánchez, «Influencias peninsulares en la Iglesia Indiana. El obispado
del Tucumán», en Dos mil años de Evangelización. Los grandes ciclos evangelizadores,
dir. Enrique de la Lama (Pamplona: Servicio de Publicaciones de la Universidad de
Navarra, 2001), 637-649; Ana Mª Martínez de Sánchez, «La pena en las consuetas
indianas: los concilios y la redacción de esas normas», Revista de Historia del Dere-
cho, nº 45 (2013): 141-175; Mario Grignani, La Regla Consueta de Santo Toribio de
Mogrovejo y la primera organización de la Iglesia americana (Santiago: Universidad
Católica de Chile, 2009); Jesús Vidal Gil, «La revisión y aprobación romana de los
Estatutos del Cabildo de la Catedral elaborados en el Tercer Concilio Provincial
Mexicano (1585) y su aceptación en la edición príncipe de 1622», Estudios de His-
toria Novohispana, vol. 53 (2015); Leticia Pérez Puente, «El poder de la norma.
Los cabildos catedralicios en la legislación conciliar», en Los Concilios Provinciales

502

Monárquias Ibéricas.indb 502 13/12/18 14:56


Las instituciones eclesiásticas en la Monarquía Hispánica

El cabildo, ya poderoso como institución, adquiría en sede


vacante un poder importante63. Las vacantes fueron consideradas
uno de los peores males para la Iglesia indiana, pues, durante grandes
periodos, las diócesis fueron gobernadas por los cabildos, quedando
muy perjudicadas. Se debía a que los miembros del cabildo, en su
mayoría criollos emparentados con la ciudad, se movieron más por
intereses que por las necesidades diocesanas. La mayor parte de las
quejas vinieron de la mala administración de la jurisdicción. Trento
obligó a que, al producirse la vacante, el cabildo nombrara un vicario
en el término de ocho días, pero parece que no se cumplía y ejer-
cían la jurisdicción en común. Se producían bandos, se guiaban por
intereses particulares y eso iba en detrimento de la disciplina de los
clérigos y gobierno pastoral. Se encuentran también denuncias por
abusos en nombramientos doctrineros…64.
Se trata de una institución que aparece en muchos casos como un
quebradero de cabeza para el obispo y, al mismo tiempo –y quizá por
ello–, de importancia en la vida política y social virreinal.

La visita pastoral 65

La visita es una institución propia del obispo, que podía realizar


por sí mismo o delegarla en un juez visitador. Tenía fines pastorales y,
para ello, el instrumento judicial jugó un papel decisivo. A través de
ella se produjo derecho y se hizo justicia66. Normalmente se ejercía
la justicia in situ; sólo en determinadas circunstancias se remitía el
proceso al tribunal episcopal. Lo ordinario era que el obispo solu-
cionara en cada parroquia los pleitos o situaciones irregulares que le
presentaban en tiempo de visita.
Se ha repetido que Trento estableció las medidas para fortalecer
la potestad episcopal y, entre ellas, impulsar la visita del obispo a su

en Nueva España. Reflexiones e influencias, coord. María del Pilar Martínez López-
Cano y Francisco Javier Cervantes Bello (México: Universidad Nacional Autónoma
de México/Benemérita Universidad Autónoma de Puebla, 2005), 363-388.
63
  Castañeda y Marchena, La Jerarquía…, 226.
64
  Para los problemas derivados del gobierno del Cabildo en sede vacante: Cas-
tañeda y Marchena, La Jerarquía…, 226-235.
65
  Sigo el último libro de Traslosheros: Traslosheros, Historia judicial eclesiástica
66
 Traslosheros, Historia judicial eclesiástica…, 33-36.

503

Monárquias Ibéricas.indb 503 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

diócesis con fuerza de obligación. En efecto, el Concilio consolidó


algo ya existente, pues la visita del obispo a la diócesis era tarea pro-
pia de los prelados desde época visigótica e incluso antes. La novedad
de Trento fue fortalecer los medios para gobernar la iglesia diocesana
y especialmente el control de su clero. Así, la capacidad legislativa
y judicial se vio reforzada cuando el Concilio concedió facultades
especiales durante la visita, pues de lo mandado en ella no había
recurso de apelación67.
Sin embargo, es interesante constatar que, junto a ese fortale-
cimiento de su capacidad de gobierno, se aconsejaba al obispo que
actuara como pastor, en concreto les decía «traten y abracen a todos
con amor de padres y celo cristiano», siendo esta la actitud o dispo-
sición que el prelado debía tener durante el ejercicio de su ministerio
en visita. Como es lógico, tanto el Tercer Concilio Mexicano como
el Tercer Limense, insistieron en la importancia de esta institución68.
Las visitas episcopales tenían una base común en toda la cristian-
dad, pero cada diócesis tenía margen para adaptar dicha normativa a
las necesidades particulares de su territorio69. En el Nuevo Mundo
esas peculiaridades fueron mayores. En primer lugar, el derecho
canónico en Indias debía incluir las normas procedentes de los
concilios y sínodos americanos que procuraron aplicar y adaptar la
normativa existente, heredada del viejo continente, a las originales
situaciones con las que se encontraban: los indios con su variadí-
sima idiosincrasia según las regiones, la variedad social creada por
el mestizaje, las nuevas condiciones en la implantación y vida de las
diócesis en territorios tan vastos, la situación y problemas que se
encontraban los curas, a veces totalmente aislados por la geografía
de algunas regiones y la lejanía de la Santa Sede.

67
  Vide Concilio de Trento, Sesión XXIV, Obispos y cardenales, cap. X.
68
  Luis Martínez Ferrer, ed., Decretos del concilio tercero provincial mexicano
(Zamora, Michoacán: Universidad Pontificia de la Santa Cruz – El colegio de
Michoacán, 2009), 575-583; Rubén Vargas Ugarte, Concilios Limenses, (1551-1772)
(Lima: Tip. Peruana S.A., 1951), tomo I, 361-363.
69
  Así, por ejemplo, la diócesis de Sevilla contaba con las «instrucciones de visi-
tadores» promulgadas en las constituciones sinodales de 1604. Se detallan todos los
aspectos que debía indagar el visitador y su margen de actuación. Desde el punto de
vista judicial, según dichas instrucciones, la visita comenzaba instando a la delación
de los pecados públicos. Rafael M. Pérez García, «Visita pastoral y contrarreforma
en la archidiócesis de Sevilla, 1600-1650», Historia. Instituciones. Documentos, 27
(2000): 202-233, 208 y 212.

504

Monárquias Ibéricas.indb 504 13/12/18 14:56


Las instituciones eclesiásticas en la Monarquía Hispánica

El obispo llegado a Nueva España o al virreinato del Perú, no


contaba con experiencia previa para llevar a cabo una visita pasto-
ral en un territorio cuyo recorrido constituía una verdadera hazaña;
tampoco se habría encontrado nunca con los problemas entre curas
párrocos, población indígena y toda la variedad social, y, en defini-
tiva, con la novedad de todo lo que tenía delante. Además, a pesar
de la normativa, orientaciones y experiencias de otros prelados, o las
distintas autoridades, la labor siempre sería ingente y, como se com-
prueba al estudiar la actividad de estos obispos, necesitarían mucha
iniciativa y arrestos para encarar y poner en práctica medidas que
solucionaran aquella realidad70.
Los objetivos específicos de la visita pastoral se perfilaron en el
Concilio IV de Letrán (1215)71 y puede comprobarse por los estu-
dios de las visitas peninsulares que su contenido era muy similar a
la que vemos practicar en la Edad Moderna: visita a la parte mate-
rial y la revisión de vida y costumbres de clero y fieles72. Pero, con
Trento, se sitúa como institución especial para el gobierno pasto-
ral. En concreto, Trento sitúa como objetivos principales difundir
la buena doctrina y la lucha contra la herejía, así como promover las
buenas costumbres y corregir las malas. Dentro de este enunciado se
incluían muchos temas, como la enseñanza de la doctrina, la correcta
y asidua administración de los sacramentos, la devoción de los fieles,
el estado de cofradías, colegios, etc. Trento vio la visita como instru-
mento de reforma y fue en la práctica uno de los instrumentos más
importantes para la reforma de las costumbres.
La visita era por tanto una institución de fin pastoral y de reforma;
unido a este fin, o al servicio del mismo, el ejercicio de la justicia jugó
un papel principal. Como hemos comentado, los obispos ejercían la
justicia durante la visita siempre que se necesitaba y, durante la visita,

70
  Zaballa y Traslosheros, Los indios ante los foros…, 45.
71
  Ana Arranz Guzmán, «Las visitas pastorales a las parroquias de la corona de
Castilla durante la baja Edad Media. Un primer inventario de obispos visitadores»,
España Medieval, 26 (2003): 295-339.
72
  Existe sobrada constancia de la realización de visitas pastorales en la Penín-
sula en los siglos xiv y xv, y ejemplos de visitas del siglo xvi antes del concilio
donde apreciar el detalle cómo se realizaban. Vide historiografía sobre visitas pas-
torales en la Península en los siglos xiv y xv en Arranz, «Las visitas pastorales a las
parroquias…». Y ejemplos de visitas del siglo xvi antes de Trento y hasta el xviii en
Manuel Gómez de Valenzuela, «Mandatos de visitas pastorales en la diócesis de Jaca
1547-1767», en Revista de Derecho Civil aragonés, n.º 15 (2009): 109-164.

505

Monárquias Ibéricas.indb 505 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

los fieles podían elevar sus quejas al obispo sin necesidad de ningún
intermediario. Para Ramos la visita pastoral es un medio fundamen-
tal por el cual la Iglesia interactuó con el clero y sus feligreses; abría
espacios de negociación entre los fieles, los parroquianos y los curas
y también con el obispo73.
Una demostración de que la visita era instrumento de gobierno de
la diócesis es que, en muchos casos, la visita dio lugar a ordenanzas
o constituciones generales para la reforma del obispado. Así mismo,
también ayudó al gobierno local fuera de la visita. En efecto, tras el
paso del obispo, quedaban en cada parroquia las instrucciones del visi-
tador. Estas instrucciones serán un documento utilizado por el pre-
lado para comprobar y exigir la buena marcha de cada parroquia según
lo establecido durante la visita. Esta relación entre el obispo y los
curas de su territorio fue muy distinta en los dos grandes virreinatos.
En la Nueva España, se hizo corriente la utilización de cordilleras74
o sistema para que un escrito llegara a todos los curas del obispado,
manteniendo una relación fluida; algo parecido se utilizó en el Río de
la Plata75, pues, lógicamente, cada prelado buscaba sus métodos para
facilitar la comunicación y gobierno de parroquias tan distantes.
En los Andes, sin embargo, fue imposible semejante control por su
extrema dispersión y dificultad geográfica. Muchas veces el libro de la
parroquia viajaba con el párroco de un pueblo a otro y, en ocasiones,
en un mismo libro parroquial se asentaban los bautizos, matrimonios
y las indicaciones del obispo. Sucedía frecuentemente que los visitado-
res no recorrían todos los pueblos, sino sólo los más accesibles, soli-
citando a los curas que acudiesen allí con sus libros parroquiales. Así,
no era extraño que las recomendaciones o instrucciones del visitador
para una parroquia estuvieran fechadas en otro pueblo, aquél donde el

73
  Gabriela Ramos, «Pastoral visitations. Spaces of Negotiation in Andean Indi-
genous Parishes», The Americas: A quarterly review of inter-american cultural history,
73, nº 1 (2016): 39-57, 40.
74
  Ana de Zaballa y Ianire Lanchas, Gobierno y reforma del obispado de Oaxaca.
Un libro de cordilleras del obispo Ortigosa. Ayoquezco, 1776-1792 (Bilbao: Servicio
de publicaciones Universidad del País Vasco, 2014), 37 y ss.
75
 Miriam Moriconi Reseña, Ana de Zaballa y Ianire Lanchas, «Gobierno
y reforma del obispado de Oaxaca. Un libro de cordilleras del obispo Ortigosa.
Ayoquezco, 1776-1792», Historia Mexicana, vol.66, nº 2 (262) (2016): 902-916. La
autora habla de la existencia de «series similares concernientes a parroquias de la
diócesis de Buenos Aires en el Río de la Plata, guardadas en fondos denominados»,
por ejemplo, «autos y decretos» o «cédulas y pastorales».

506

Monárquias Ibéricas.indb 506 13/12/18 14:56


Las instituciones eclesiásticas en la Monarquía Hispánica

visitador había reunido a varios párrocos. La realidad es que el conoci-


miento de la documentación eclesiástica colonial al nivel de las parro-
quias en el Perú es aún muy superficial y rudimentario76.
La visita podía ser general o particular, no en relación con la por-
ción geográfica del territorio jurisdiccional, sino en atención a los
temas tratados. Así, la general debía revisar todos los temas previs-
tos para la visita episcopal. En Indias, la experiencia dejó claro que
era imposible recorrer cada año el obispado; lo habitual fue hacer la
visita general por etapas en las diversas regiones, etapas que llevaban
varios meses, hasta que se completaba – en el mejor de los casos –
todo el territorio episcopal.
La visita particular se dedicaba a un solo tema, bien podía ser una
visita de cofradías, de testamentos y capellanías, de matrimonios, de
idolatrías, etc. Esta visita particular se podía llevar a cabo en todo el
obispado o únicamente en una parroquia. Normalmente dependía
de los temas que preocupaban al obispo y variaba mucho de unos
obispos a otros incluso en la misma diócesis.
En ocasiones, la historiografía se ha centrado en exceso en algún
aspecto específico de esta actuación episcopal y ha variado por ello su
valor. Ejemplo paradigmático de ello son las visitas de idolatrías, que
se han tratado como una institución distinta y separada de la visita
episcopal, cuando no son más que una visita particular o, incluso,
parte de la visita general77.

76
  Comunicación oral de la Dra. Gabriela Ramos de la Universidad de Cambri-
dge, especialista en la historia religiosa del mundo andino. Vide Gabriela Ramos,
Muerte y conversión en los Andes. Lima y Cuzco, 1532-1670 (Lima: Instituto de
Estudios Peruanos, Instituto Francés de Estudios Andinos y Cooperación Regio-
nal Francesa, 2010); Gabriela Ramos, «Los tejidos y la sociedad colonial andina»,
Colonial Latin American Review, 19 (2010), 115-149; Gabriela Ramos, «Funerales
de autoridades indígenas en el virreinato peruano», Revista de Indias, vol. 65, nº 234
(2005), 455-470, y un largo etcétera.
77
  Las llamadas visitas de idolatrías en el Perú han sido consideradas por los
investigadores, a veces, como una especie de inquisición para indios o una institu-
ción per se, dirigida a extirpar la herejía, en concreto la idolatría, de los indígenas.
Guibovich corrige esta conclusión y demuestra que la mayoría fueron parte de la
visita general y fueron extraídas de su lugar por una pésima reordenación del archivo
arzobispal de Lima. Cfr. Pedro M. Guibovich Pérez, «Visitas eclesiásticas y extir-
pación de la idolatría en la diócesis de Lima en la segunda mitad del siglo xvii» en
Los indios, el Derecho Canónico y la justicia eclesiástica en la América virreinal, ed.
Ana De Zaballa Beascochea (Madrid, Frankfurt: Iberoamericana – Vervuert, 2011),
175-200.

507

Monárquias Ibéricas.indb 507 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Tribunal ordinario, provisorato o audiencia episcopal

La historiografía actual sobre tribunales o audiencias eclesiásticas


sigue siendo escasa a pesar de algunos estudios importantes sobre
el tema78. La mayor parte de la producción se enmarca en dos coor-
denadas: una parte orienta la investigación al estudio de sus rela-
ciones con el Santo Oficio, los parecidos y diferencias entre ambas,
etc. Otra, presta atención casi exclusivamente a los casos de idola-
trías seguidos por la Audiencia eclesiástica, destacando el carácter
represivo de esos tribunales sobre las religiones indígenas79. Estudiar
el tribunal del obispado sólo con visión «inquisitorial» o centrado
en un tipo de delitos, impide conocer la riqueza de actuación y de

78
  El único autor que ha abordado específicamente el estudio de un tribunal
eclesiástico en Indias es Traslosheros, Iglesia y sociedad… . No conocemos estudios
sobre los tribunales episcopales en el virreinato del Perú, aunque sí existen muchas
publicaciones basadas en las fuentes derivadas del mismo, así como de las visitas,
especialmente de las idolatrías. Sirvan como ejemplo estos: Guibovich, Visitas ecle-
siásticas… ; Pierre Duviols, Procesos y Visitas de Idolatrías. Cajatambo, siglo xvii
(Lima: Instituto francés de Estudios Andinos, Pontificia Universidad Católica del
Perú, 2003); Juan Carlos García Cabrera, Ofensas a Dios, pleitos e injurias: causas
de idolatrías y hechicerías. Cajatambo, siglos xvii-xix (Cusco: Centro de Estudios
Regionales Andinos Bartolomé de las Casas, 1994).
79
 Juan Pedro Viqueira, «El juzgado Ordinario, una fuente olvidada» en Las
fuentes eclesiásticas y la historia social de México, coord. Brian Connaughton y
Andrés Lira (México: UAM, 1996), 81-99; Dolores Aramoni Calderón, Los Refu-
gios de lo Sagrado. Religiosidad, conflicto y resistencia entre los zoques de Chiapas
(México: Conaculta, 1992); Roberto Moreno de los Arcos, «La Inquisición para
indios en la Nueva España: S. xvi al xix», Chicomóztoc, nº 2 (1989): 7-20; Gerardo
Lara, ¿Ignorancia invencible? Superstición e idolatría ante el Provisorato de Indios y
Chinos del Arzobispado de México en el siglo xviii (México: UNAM, Instituto de
Investigaciones Históricas, 2013); Richard E. Greenleaf, «The Inquisition and the
Indians of New Spain: A Study in Jurisdictional Confusion», The Americas, nº 22
(1965): 138-151; Richard E. Greenleaf, La inquisición en Nueva España, siglo xvi
(México: Fondo de Cultura Económica, 1985); David Tavárez, «Ciclos punitivos,
economías del castigo, y estrategias indígenas ante la extirpación de idolatrías en
Oaxaca y México (Nueva España), siglos xvi-xviii», en Nuevas perspectivas sobre el
castigo de la heterodoxia indígena en la Nueva España: siglos xvi-xviii, coord. Ana
de Zaballa Beascoechea (Bilbao: Servicio Editorial de la Universidad del País Vasco,
2005); Ana de Zaballa Beascoechea y Ronald Escobedo Mansilla, «El Provisorato.
El control ‘inquisitorial’ de la población indígena», Libro Homenaje In Memoriam,
Carlos Díaz Rementería (Huelva: Universidad de Huelva, 1998), 273-283; John
Chuchiak, The Indian Inquisition and the Extirpation of Idolatry: The Process of
Punishment in the Provisorato de Indios of the Diocese of Yucatan, 1563-1812 (Nueva
Orleans: Tulane University, 2000).

508

Monárquias Ibéricas.indb 508 13/12/18 14:56


Las instituciones eclesiásticas en la Monarquía Hispánica

r­ elaciones de esta institución con los diferentes actores de la socie-


dad colonial80.
Siguiendo a Jorge Traslosheros81, podemos afirmar que el tribunal
episcopal era, sin duda, el principal foro de justicia eclesiástica, y
existió uno por obispado, nunca más82. Fue más importante que la
Inquisición en cuanto que ésta tenía como objeto perseguir los deli-
tos contra la fe de la población no india, mientras el tribunal episco-
pal tenía facultades jurisdiccionales amplias, incluyendo la reforma
de las costumbres de la población no clerical, tanto de indios como
no indios. Consideraron como responsabilidad específica del obispo
la supervisión de vida y costumbres de fieles y clérigos. Sin embargo,
ha merecido muy poca atención porque su actuación no fue tan
escandalosa y llamativa como la seguida por el tribunal de la Inquisi-
ción o la sala del crimen de la Real Audiencia.
Los obispos tuvieron libertad para organizar su tribunal, por lo
que se crearon tradiciones locales83. Dentro de los límites canóni-
cos básicos, cada obispado generó sus propias tradiciones judicia-
les, introduciendo las modificaciones que consideró pertinentes
para su funcionamiento. Por este motivo, la actividad y configura-
ción de cada tribunal eclesiástico dependió de sus prelados84. Por
ejemplo, el Tribunal del arzobispado de México, que fue una de las
jurisdicciones que mayor complejidad desarrollaron, llegó a contar
con la A ­ udiencia del arzobispado propiamente dicha, un Juzgado de
­Testamentos, Capellanías y Obras Pías, el Provisorato de indios y
otro más denominado Haceduría, especializado en los diezmos, a
cargo del cabildo de la catedral; mientras otros sólo contaban con un
único tribunal que atendía todos los asuntos. Así mismo, hubo obis-
pos que delegaron su capacidad judicial completamente en el provi-
sor o Vicario general, o quienes quisieron centralizar en el obispo los
esfuerzos de la Audiencia episcopal y sus juzgados
A esta libertad, se unía la falta de normativa para muchos asun-
tos totalmente novedosos que se encontraron en América. Así, en
la actividad de las audiencias eclesiásticas respecto a la novedad de

80
  De Zaballa, Del viejo al Nuevo Mundo…, 17.
81
  Sigo Traslosheros, Historia judicial eclesiástica…,.
82
  No se debe confundir provisoratos o juzgados específicos como tribunales
distintos, pues forman parte del único tribunal episcopal.
83
 Traslosheros, Iglesia, justicia y sociedad…, XII.
84
 Traslosheros, Iglesia, justicia y sociedad…, 45.

509

Monárquias Ibéricas.indb 509 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

sus habitantes – los indios –, los obispos no encontraron un ordena-


miento específico y, por tanto, su aplicación práctica dependía de las
circunstancias y del obispo, por ausencia de reglas comunes85; única-
mente el ordenamiento general, desde las cédulas reales el Concilio
de Trento y más en concreto el III Concilio provincial Mexicano y el
III Concilio provincial de Lima, donde se podían encontrar directri-
ces generales para la actuación en casos de idolatría.
Por supuesto, no existía experiencia en la Monarquía Hispánica,
pues nunca durante la vida del Santo Oficio, los tribunales epis-
copales habían actuado en solitario sobre un grupo específico de
población; ni siquiera sobre los grupos recién convertidos, como
moriscos, esclavos africanos (que en América siguen estando bajo
la jurisdicción inquisitorial). Se puede deducir, por tanto, que una de
las características propias de estos tribunales fue la casuística; cada
tribunal actuó según lo consideró oportuno. Hay que señalar que es
difícil confrontar con los tribunales ordinarios peninsulares por la
casi ausencia de estudios sobre el tema.
Como es sabido, el tribunal del obispo tenía como propios86,
tanto para indios como para españoles, los asuntos testamentarios,
capellanías y obras pías; la defensa de la dignidad y jurisdicción epis-
copal; la disciplina interna de la Iglesia; la justicia civil y criminal de
la clerecía; todo lo relativo a la vida matrimonial, con excepción de
la bigamia (que era seguida por el tribunal de la Inquisición); los
asuntos de fe y costumbres de la población indígena y también los
asuntos de costumbres del resto de la población, españoles, mulatos
y otras mezclas. Es decir, españoles e indios estaban exactamente
igual bajo el tribunal ordinario en aquellos asuntos matrimoniales
y de costumbres. Lo único que distinguía a los indios respecto a los
españoles, en cuanto a la jurisdicción episcopal, eran los asuntos de
fe. Es obvio que con estas competencias la Audiencia episcopal entra
de lleno en la vida indiana, no sólo en casos límite – como sucede
con otros tribunales que tratan la delincuencia, o estratos especia-
les de la sociedad – sino en las familias con problemas de ordinaria

85
 Ana de Zaballa Beascoechea, «Jurisdicción de los tribunales eclesiásticos
novohispanos sobre la heterodoxia indígena: una aproximación a su estudio», en
Nuevas perspectivas sobre el castigo a la heterodoxia indígena en la Nueva España
(siglo xvi-xviii), coord. Ana de Zaballa Beascoechea (Bilbao: Servicio editorial Uni-
versidad País Vasco, 2005), 57-78, 59.
86
 Traslosheros, Historia judicial eclesiástica…, 38-39.

510

Monárquias Ibéricas.indb 510 13/12/18 14:56


Las instituciones eclesiásticas en la Monarquía Hispánica

administración, a través especialmente de los temas de matrimonio,


testamentarias, buenas costumbres y práctica religiosa.
En su inicio estos tribunales tuvieron en Indias una peculiaridad
llamativa respecto a sus homólogos peninsulares: el conocimiento
de causas o delitos de herejía de la población; facultad que compar-
tieron con los religiosos, que la ejercieron gracias a la Bula Expone
nobis, y, en momentos puntuales, a los inquisidores apostólicos.
Esos años, desde la instalación de la primera diócesis en América,
hasta 1571, fecha en la que comienzan su andadura los tribunales
del Santo Oficio en Lima y México, los obispos vieron devueltas
sus facultades sobre los asuntos de herejía de toda la población. Tras
1571, los obispos quedaron con facultades para prevenir y castigar
la herejía de los indios. Y, junto a esta facultad, otra extraordinaria y
especial para el Nuevo Mundo, debido a la idiosincrasia de la pobla-
ción del nuevo continente: la facultad de absolver totalmente – úni-
camente con penitencia de tipo espiritual y abjuración – las «herejías
e idolatrías» si fueron cometidas por los indios (siempre que no fuera
reiteración)87.
Es así mismo interesante considerar el tribunal como recurso al
que acudían los indios. Existen estudios sobre el uso que los indios
hicieron de la justicia eclesiástica, la facilidad que estos foros les
ofrecían para solucionar algunos de sus problemas88; y esto también
para la población no india. Al tener un fin pastoral, muchos delitos
se solventaban antes de llegar al tribunal, a nivel local.
La actuación del tribunal se desplegaba por el territorio episco-
pal a través de los jueces foráneos, jueces eclesiásticos o vicarios in
capite, normalmente estables, y los jueces comisionados, nombrados
para lugar y asunto determinado.
Las características de este tribunal tendrán diferencias respecto a
sus homólogos europeos; diferencias en los temas o problemas trata-
dos: la riqueza y variedad de asuntos que se encontraron eran produ-
cidas en gran medida por el mestizaje racial y cultural, que obligará

  Ejemplos de esta práctica en De Zaballa, Del Viejo al Nuevo Mundo…, 26-28.


87

  John Charles añade a los estudios sobre el recurso de los indígenas a la justicia
88

real, datos muy interesantes de su conocimiento y uso de la justicia eclesiástica en


el Perú: John Charles, «Felipe Guaman Poma de Ayala en los foros de la justicia
eclesiástica», en Los indios, el Derecho Canónico y la justicia eclesiástica en la América
virreinal, ed. Ana De Zaballa Beascochea (Madrid-Frankfurt am Main: Iberoameri-
cana-Vervuert, 2011).

511

Monárquias Ibéricas.indb 511 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

al obispo indiano a atender y resolver muchas situaciones jurídicas


y morales que no se presentaban de ordinario en Europa. Se podría
decir que, en los reinos indianos, más que en el viejo continente, el
tribunal eclesiástico sirvió como «ventana» de la sociedad indígena y
criolla, muestra de sus problemas, conflictos y también armonías o
conexiones – a través de matrimonios mixtos, por ejemplo – entre
los variados grupos del mundo colonial.
La Corona reconoció la libertad a los tribunales eclesiásticos, por
lo que «ejercieron jurisdicción obligatoria para todos los vasallos en
calidad de ‘propios del reino’»89. Y les reconoció inmunidad respecto
a la justicia real, pero el rey dispuso que se pudiera solicitar su auxilio
a través del recurso de la «real fuerza» frente a los autos de dichos
tribunales. Una forma sutil de limitar la inmunidad, sin violentar la
libertad de los foros eclesiásticos de justicia. Un «sí, pero…». Una
actitud que se reforzará en el siglo xviii con el regalismo borbónico,
que intentó por todos los medios limitar y controlar la jurisdicción
eclesiástica.
Llegado al final del recorrido de las instituciones eclesiásticas,
podemos decir que aún queda mucho por conocer de estas institu-
ciones, especialmente los tribunales diocesanos, la visita episcopal y
la organización parroquial. Sin embargo, gracias a las investigaciones
de las dos últimas décadas y el interés por la historia de la Iglesia o
historia religiosa del territorio americano, tenemos ya el gran dibujo,
los lineamientos de estas instituciones y la estructura que funcionó
en Indias.

 Traslosheros, Historia judicial eclesiástica…, cap. 2., 2.2. Un lugar dentro del
89

orden judicial de la Nueva España.

512

Monárquias Ibéricas.indb 512 13/12/18 14:56


Evergton Sales Souza

Capítulo 14

Estruturas eclesiásticas
da monarquia portuguesa.
A Igreja diocesana 1

I
Não há exagero em afirmar que a Igreja teve papel fundamental
na história do império português. A bem da verdade, sua história
se entrelaça com a da própria formação do império, como se pode
ver através das bulas que vão constituindo o padroado ultramarino
lusitano2. Em tese, o compromisso de levar a fé cristã a territórios
muçulmanos e, em seguida, a povos que a desconheciam, exigia, num

1
 Este artigo contou com o financiamento do CNPq e da Fapesb, e foi prepa-
rado no contexto do projeto PTDC/HAR-HIS/28719/2017, Religião, administra-
ção e justiça eclesiástica no império português (1514-1750) — ReligionAJE.
2
  Além do capítulo 3, de Ângela Barreto Xavier e Fernanda Olival neste volume,
ver a este respeito Giovanni Pizzorusso, «Il padroado regio portoghese nella dimen-
sione ‘globale’ della Chiesa romana. Note storico-documentarie con particolare
riferimento al Seicento», em Gli archivi della Santa Sede come fonte per la storia del
Portogallo in età moderna. Studi in memoria di Carmen Radulet, eds. G. ­Pizzorusso,
G. Platania, M. Sanfilippo (Viterbo: Sette Città, 2012), 177-219. ­Giuseppe M
­ arcocci,
A Consciência de um Império: Portugal e o Seu Mundo (Sécs. XV-XVII) (Coimbra:
Imprensa da Universidade de Coimbra, 2012), 35-144, traz instigantes análises
sobre a relação entre bulas papais e construção do império português.

513

Monárquias Ibéricas.indb 513 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

primeiro momento, um esforço missionário voltado à conversão


daqueles que tinham outras crenças. No decurso do século xv, em
função das conquistas de praças no Norte da África, foram erigidas
três dioceses: Ceuta, em 1421, Tânger em 1469 e Safim, em 1499. Até
então, o modelo predominante na expansão das estruturas eclesiásti-
cas era o do estabelecimento das dioceses após a conquista militar de
territórios outrora ocupados por muçulmanos – nos casos de Tânger
e Safim, a criação da diocese é, inclusive, anterior à conquista e ao
estabelecimento dos portugueses no território3.
Após 1440, com os portugueses tendo chegado à costa da Guiné e
iniciado o contato com povos não muçulmanos, novos desafios iriam
se colocar para a organização eclesiástica, não sendo o menor deles a
adoção de práticas de escravização dos gentios africanos4. De modo
geral, as novas terras descobertas e/ou conquistadas convertiam-se,
num primeiro momento, em espaços de missão. Todavia, deve-se
notar que, não obstante a presença franciscana no Oriente desde
1500,5 somente a partir da década de 1520 os franciscanos contariam
com um convento em Goa, tendo até então vivido «soltos», isto é,
sozinhos ou dois a dois, sem casa conventual6. Na década de 1540,
os jesuítas chegaram e o projeto missionário ganhou novo impulso.
Aumentou significativamente o número de missionários, religiosos
regulares, enviados a vários pontos do ultramar, onde procuraram
aprender línguas e costumes dos diferentes povos que pretendiam

3
 Cf. Fortunato de Almeida, História da Igreja em Portugal (Porto-Lisboa:
Livraria Civilização Editora, 1968), vol. ii, 24.
4
  Sobre a importância da escravidão na construção do império português e a
legitimação pontifícia da escravização dos gentios africanos, ver Marcocci, A Cons-
ciência de um Império…, 41-71.
5
  Para uma visão geral sobre a empresa missionária franciscana na Índia, em par-
ticular no século xvi, ver Patrícia Souza de Faria, «A conversão das almas do Oriente.
Franciscanos, poder e catolicismo em Goa: séculos xvi e xvii» (tese de doutora-
mento, Niterói: UFF, 2008), 164-209. António da Silva Rego, História das ­Missões do
Padroado Português do Oriente. India, vol. 1 (1500-1542) (Lisboa: Agência Geral das
Colónias, 1949), 153-161 e 246-272, continua a ser uma importante referência para o
estudo das primeiras décadas da missionação franciscana no Oriente.
6
  É o que afirma F. Félix Lopes em nota explicativa a Paulo da Trindade, Con-
quista espiritual do Oriente, em que se dá relação de algumas cousas mais notáveis
que fizeram os Frades Menores da Santa Província de S. Tomé da India Oriental em
a pregação da fé e conversão dos infiéis, em mais de trinta reinos, do Cabo de Boa
Esperança até as remotíssimas ilhas do Japão (Lisboa: Centro de Estudos Históricos
Ultramarinos, 1962), vol. i, 127 (nota 3).

514

Monárquias Ibéricas.indb 514 13/12/18 14:56


Estruturas eclesiásticas da monarquia portuguesa. A Igreja diocesana

converter ao cristianismo7. Tratava-se de uma verdadeira mudança


metodológica que não se restringia a Portugal e seu império, tendo
sido adotada por uma Igreja abalada pelo choque da reforma protes-
tante, mas que já se encontrava ela mesma em vias de se reformar8.
A missionação moderna também encontraria reforço com a chegada
de uma nova congregação religiosa, a Companhia de Jesus, que ao
lado de ordens mais antigas, como franciscanos, dominicanos e car-
melitas, impulsionaram a propagação do cristianismo pelo mundo9.
Com o tempo, paróquias foram sendo criadas, ordens religiosas esta-
beleceram seus conventos e as estruturas eclesiásticas tornaram-se
mais complexas. Contudo, cumpre atentar para a multiplicidade dos
modelos dessa expansão do cristianismo. Se em toda a África negra,
bem como no Brasil, houve, inicialmente, protagonismo dos mis-
sionários, o mesmo não pode ser dito a respeito dos arquipélagos
atlânticos da Madeira, Açores, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe.
Naquelas ilhas desertas, as estruturas eclesiásticas se desenvolveram
em consonância com o processo de povoamento.
Um elemento, todavia, dá unidade à expansão do cristianismo no
ultramar português: o padroado. Diferente do que ocorre em E ­ spanha,
o padroado ultramarino português, construído ao longo dos séculos xv
e xvi, não está diretamente ligado ao monarca, mas pertence à Ordem de
Cristo. Embora desde o século xv o Mestrado da ordem recaísse sobre
um membro da família real, como foi o caso do Infante D. Henrique,
somente a partir de 1551, pela bula P ­ raeclara charissimi in Christo os
Mestrados das ordens de Avis, Cristo e S­ antiago, foram perpetuamente
anexados à coroa, sendo exercidos pelo monarca reinante10. Isto, entre-
tanto, jamais constituiu verdadeiro óbice para a coroa no que diz res-
peito à sua agência na construção da Igreja no ultramar.

7
 Isabel dos Guimarães Sá, «Estruturas eclesiásticas e acção religiosa», em
A Expansão Marítima Portuguesa, 1400-1800, eds. Francisco Bethencourt e Diogo
Ramada Curto (Lisboa: Edições 70, 2010), 265-266.
8
  João Paulo Oliveira e Costa, «A diáspora missionária», em História Religiosa
de Portugal, dir. Carlos Moreira Azevedo (Lisboa: Círculo de Leitores, 2000), vol. ii,
273.
9
  Ver o capítulo de autoria de Federico Palomo e Aliocha Maldavsky.
10
 Uma boa síntese sobre o padroado português encontra-se em ­Francisco
Bethencourt, «A Igreja», em História da Expansão Portuguesa, eds. F
­ rancisco Bethen-
court e Kirti N. Chaudhuri (Lisboa: Círculo de Leitores, 1998), vol. i, 369-373.
Ver, especialmente, o capítulo deste livro dedicado ao assunto e bibliografia nele
indicada.

515

Monárquias Ibéricas.indb 515 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Até 1514, ano da criação da diocese do Funchal, todas as áreas


atlânticas, exceção feita às dioceses do Norte de África, eram terri-
tórios nullius dioceses e quedavam-se sob a jurisdição espiritual do
vigário de Tomar. Pode dizer-se que com a ereção do bispado do Fun-
chal deu-se início, efetivamente, a uma nova era na geografia dioce-
sana do ultramar português. Com efeito, não tardou a criação de
novos ­bispados tanto no espaço atlântico quanto na Ásia. Em 1533
era criada a diocese de Goa e, no ano seguinte, foram erigidas as
dioceses de Angra, Cabo Verde e São Tomé, todas desmembradas
do bispado do Funchal. A ereção de dioceses seguia, em alguma
medida, o ritmo do povoamento e colonização de novos espaços.
Os territórios d­ iocesanos eram imensos. O bispado de Goa, nos seus
primórdios, tinha por limite ocidental o cabo da Boa Esperança e
espraiava-se por todas as partes do Índico em que os portugueses
tivessem conseguido se estabelecer, tendo a China por limite orien-
tal. Como lembra Ângela Xavier, entre 1534 e 1551, Goa havia se
tornado na maior diocese do império, ao menos em extensão vir-
tual11. O bispado de São Tomé se estendia, pela costa africana, de São
Jorge da Mina até o cabo da Boa Esperança. Embora a divisão dessas
dioceses reduzisse um pouco as dimensões territoriais de cada uma
delas, ainda assim, no mais das vezes, continuavam sendo espaços
gigantescos se colocados em comparação com a realidade europeia.
A diocese da Bahia, erigida em 1551, é um exemplo eloquente disto,
pois seu território compreendia todo o Brasil. Mesmo que se pense
numa ocupação esparsa e restrita a alguns pontos da costa atlântica,
ainda assim, entre, por exemplo, a sede do bispado e a freguesia de
São Vicente, há uma distância de cerca de dois mil quilômetros. Isto
dá uma ideia do quão difícil seria para os bispos, após 1563, cumpri-
rem o preceito tridentino da visita diocesana (Sessão XXIV, Decreto
de Reforma, Cap. III).
Tais extensões territoriais foram, sem dúvida, um elemento impor-
tante a exigir adaptações em relação às formas tradicionais do exercí-
cio da governação eclesiástica. Poderíamos pensar, inicialmente, em
como essas distâncias aliadas ao imperativo da conversão de povos
cujos costumes, no mais das vezes, não coincidiam com aqueles
propugnados pelos católicos implicaram na concessão, por parte da

  Ângela Barreto Xavier, A Invenção de Goa. Poder Imperial e Conversões Cul-


11

turais nos Séculos XVI e XVII (Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2008), 89.

516

Monárquias Ibéricas.indb 516 13/12/18 14:56


Estruturas eclesiásticas da monarquia portuguesa. A Igreja diocesana

cúria romana, de licenças que não eram tão simples de se conseguir


num contexto europeu. As dispensas matrimoniais são emblemá-
ticas disso. Um bom exemplo pode ser visto numa instrução de
D. João III a D. Martinho, seu embaixador em Roma, datada de
1532. Nela o monarca pedia ao seu embaixador que apresentasse ao
papa a situação do rei do Congo, «Rey muito poderoso de senhorio
de terra e de muita gente chamada do mato» que se havia convertido,
junto com boa parte de seus senhorios, à fé católica. Embora con-
vertidos, tratava-se de gente «muy inclinada a Idolatrias e ter muitas
molheres» e se casar «com parentas muy chegadas». Não obstante
o trabalho dos sacerdotes e pregadores, que já haviam conseguido
fazer «grande emenda» em relação à poligamia, mantinha-se o cos-
tume de realizar casamentos nos graus de parentesco proibidos pela
Igreja. Em razão disso, D. João III recomendava que seu embaixador
lembrasse ao papa que sendo aqueles africanos recém-convertidos
não seria de bom alvitre exigir apertada observância de todos os pre-
ceitos católicos, pois o rigor demasiado poderia afastá-los da fé cató-
lica, perdendo-se todo o fruto que já se tinha obtido até então. Por
esta razão, dizia o rei,

supricareis e pedireis de minha parte ao Santo Padre que, avendo res-


peito a estas gentes serem novas na fee, e com rezão deverem ser favo-
recidos da Santa See Apostolica com favores e graças com que sejão
animados, [...] Sua Santidade dispense com o dito Rey Dom Affonso, e
com todas as gentes de seus Regnos, que, assim ele como os que forem
casados com molheres dentro no terceiro grão, assi de consaguinidade
como de afinidade, possam ficar com as ditas suas molheres que assi
agora tem, a saber, huma só12.

Antes de passar a tratar com mais vagar sobre aspectos atinentes


ao governo diocesano, é preciso atentar para duas instituições muito
importantes no âmbito das estruturas eclesiásticas da Ásia portu-
guesa. Uma delas, exclusiva das missões portuguesas do Oriente, é a
do «Pai dos cristãos», cuja primeira notícia de sua existência data de
153713. A ele competia cuidar dos catecúmenos e neófitos, dirigindo,
inclusive, a casa dos catecúmenos. Alexandre Valignano, na instrução

  Corpo Diplomático Português (CDP), vol. 2, 367.


12

  Cf. José Wicki, ed., O Livro do ‘Pai dos cristãos’ (Lisboa: Centro de Estudos
13

Ultramarinos, 1969), IX.

517

Monárquias Ibéricas.indb 517 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

para o «Pai dos cristãos», diz consistir aquele ofício em três coisas:
o que toca à conversão, o ensino dos catecúmenos até receberem o
batismo e, por fim, o amparo e remédio dos recém-convertidos14.
A segunda instituição à qual se fez referência é a Inquisição. A atua-
ção dos Tribunais do Santo Ofício abrangeu toda a extensão do
império português, cabendo a jurisdição da parte atlântica dos domí-
nios ultramarinos lusitanos à Inquisição de Lisboa15. O ­Tribunal
de Goa, erigido em 1560, foi o único existente no ultramar portu-
guês, tendo jurisdição sobre todo o espaço oriental, do cabo da Boa
­Esperança ao Extremo Oriente. Sua atividade foi intensa. O inven-
tário do arquivo inquisitorial, redigido em 1774, quando da primeira
supressão daquele tribunal, dava conta de mais de 16 mil processos16.
No contexto asiático, a Inquisição de Goa adotou práticas que a
diferenciavam em alguma medida daquelas geralmente adotadas por
suas congêneres no reino e no Atlântico português. Com efeito, as
posições portuguesas na Ásia estavam cercadas por sociedades não
cristãs, muçulmanos e hindus no caso da Índia. A condição de fron-
teira parece ter exigido da Inquisição, por vezes, uma aliança mais
clara com o projeto missionário, constrangendo os inquisidores a
atenuarem suas perseguições e a adotarem, em determinadas conjun-
turas, posturas mais misericordiosas em relação à população local,
a fim de não provocar fugas maciças para os territórios controla-
dos por não cristãos17. Entretanto, como mostra Bruno Feitler, a
Inquisição de Goa também parece se destacar por uma atitude muito
rara noutros tribunais inquisitoriais modernos: instaurar processos

14
 Wicki, O Livro..., 16.
15
  Sobre a ação inquisitorial na parte atlântica do império português há uma
grande bibliografia. Para uma síntese muito bem informada, seguida de referências
bibliográficas atualizadas, ver Giuseppe Marcocci e José Pedro Paiva, História da
Inquisição Portuguesa (1536-1821) (Lisboa: A Esfera dos Livros, 2013), especial-
mente, 105-127 e 305-329. Ver também Bruno Feitler, «A ação da Inquisição no
Brasil: uma tentativa de análise», em Travessias Inquisitoriais das Minas Gerais aos
Cárceres do Santo Ofício: Diálogos e Trânsitos Religiosos no Império Luso-Brasileiro
(Sécs. XVI–XVIII), eds. Júnia F. Furtado e Maria Leônia Chaves de Resende (Belo
Horizonte: Fino Traço, 2013), 29-45.
16
 Cf. Charles Amiel, «Goa», em Dizionario storico dell’Inquisizione, dir.
Adriano Prosperi, eds. Vincenzo Lavenia e John A. Tedeschi (Pisa: Edizioni della
Normale, 2010), vol. ii, 716.
17
  Sobre o assunto, ver Giuseppe Marcocci, «A fé de um império: a Inquisição
no mundo português de Quinhentos». Revista de História, São Paulo, 164 (Junho,
2011): 100.

518

Monárquias Ibéricas.indb 518 13/12/18 14:56


Estruturas eclesiásticas da monarquia portuguesa. A Igreja diocesana

contra i­ndivíduos não cristãos. Após identificar a existência de 62


processos contra gentios e 26 contra mouros, entre 1561 e 1623, ele
constatou que alguns desses processos redundaram na absolvição
dos réus após terem aceitado a conversão ao catolicismo18. Não obs-
tante a relevância do papel exercido pelo Santo Ofício no ultramar
português e do peso que teve nas estruturas eclesiásticas no reino e
império português, o objetivo deste capítulo exige que nossa atenção
se volte para as estruturas eclesiásticas mais diretamente relacionadas
com o governo diocesano.

Administradores e administrações eclesiásticas


No que diz respeito às adaptações, no âmbito da governação ecle-
siástica, mais diretamente ligadas ao problema da extensão das dio-
ceses, parece particularmente marcante a criação de administradores
eclesiásticos amovíveis. Data de 12 de fevereiro de 1563 o breve de
Pio IV, Superna dispositione, pelo qual era concedido ao monarca
português o direito de nomear administradores eclesiásticos para
Moçambique, Ormuz e Sofala19. Esses administradores seriam sacer-
dotes com poder para ministrar todos os sacramentos e exercerem
toda a jurisdição episcopal, salvo no tocante ao sacramento da ordem.
É de se crer que, no curto prazo, em razão da situação reinante naque-
les locais, não houve maior efeito prático na criação desses adminis-
tradores. É o que se depreende, por exemplo, do que escrevia o padre
Antonio de Quadros ao Padre geral da C ­ ompanhia de Jesus, Diego
Lainez, em carta de 18 de janeiro de 1563, sobre Ormuz. Afirmava
que a Companhia já não tinha ali, àquela altura, nenhum religioso.
Naquele ano, entretanto, ia para lá o padre Vicente Tonda – não por
interesse especial no aumento daquela cristandade, mas por muito
haver pedido «o capitão que agora vai pera laa, com o qual veio na
mesma nao e vem muito edificado dele». O padre Antonio Quadros
dizia que embora o padre Francisco Xavier «fizesse muito caso de

18
  Bruno Feitler, «A inquisição de Goa e os nativos: achegas às originalidades da
ação inquisitorial no Oriente», em Justiças, Governo e Bem Comum na Administração
dos Impérios Ibéricos de Antigo Regime (Séculos XV-XVIII), eds. Júnia F. Furtado,
Cláudia C. A. Atallah e Patrícia F. S. Silveira (Curitiba: Editora Prismas, 2017), 111.
19
  CDP, X, 77-79.

519

Monárquias Ibéricas.indb 519 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Ormuz, a experiência tem mostrado que se faz pouco fruito nelle,


porque hé terra mui fronteira ou de guerra, honde não há mais fructo
que confessar e pregar aos soldados que nella estão que são de 400 até
600, pera o qual bastão os frades de Sam Domingos que laa estão»20.
De fato, a importância da criação desses administradores eclesiás-
ticos amovíveis não deve ser compreendida através da observação
do imediato efeito prático produzido na porção oriental do impé-
rio português. Foi na porção atlântica do ultramar luso que a ideia
ganhou novos contornos, pondo em funcionamento uma novidade
no âmbito das estruturas eclesiásticas. Com efeito, em 19 de julho
de 1575 foi erigida a Administração Eclesiástica do Rio de Janeiro21.
Sua criação parece ter sido solicitada ao pontífice romano por
D. ­Sebastião em 157422. Conquanto a documentação que conhe-
cemos não permita identificar a existência de alguma solicitação
precedente da população do Rio de Janeiro, é bem provável que ela
houvesse sido feita pelo clero ou povo, tendo em vista que, nor-
malmente, em tais casos, a ação régia respondia a uma demanda dos
súditos e não se antecipava a ela. Ao apresentar suas alegações à Santa
Sé, o monarca suplicava que aos administradores eclesiásticos do Rio
de Janeiro fossem concedidas as mesmas faculdades que Pio IV con-
feriu aos de Moçambique, Sofala, Ormuz e Maluco, «que foram cria-
das nas Índias Orientais pelas mesmas razões e causas» presentes no
caso do Brasil23. A referência ao breve Superna dispositione merece
ser analisada com um pouco mais de atenção. A distância, os perigos
da navegação e a dificuldade do recurso à Sé arquiepiscopal ou epis-
copal eram, em síntese, as razões alegadas para a criação do cargo de

20
  Joseph Wicki S. J., ed., Documenta Indica (1561-1563). Monumenta Historica
Societatis Iesu (Roma: IHSI, 1958), vol. 5, 740-741.
21
 Retomo aqui alguns argumentos apresentados em Evergton Sales Souza,
«Sobre o governo eclesiástico na América portuguesa. Séculos xvi e xvii», em Jus-
tiças, Governo e Bem Comum na Administração dos Impérios Ibéricos..., 366-367.
22
  Note-se que esta data merece confirmação, pois citamos a carta a partir do
texto publicado no Corpo Diplomático Português que a data, equivocadamente,
de 1563. Não há data no texto da carta, mas sabemos que foi escrita após a morte de
D. Pedro Leitão, bispo da Bahia, em outubro de 1573.
23
  Eis o texto latino: «possitque uti omnibus facultatibus et gratiis, quae per
Sanctam Sedem Apostolicam et Pium Papam IV fuerunt concessae administrato-
ribus de Mocanobique [sic], Çofala, Ormuz et Maluco, qui fuerunt creati in India
Orientali eidem rationibus et causis, quibus in his partibus Brasilii petitur Suae
Sanctitati», em CDP, 1862: vol. xi, 607.

520

Monárquias Ibéricas.indb 520 13/12/18 14:56


Estruturas eclesiásticas da monarquia portuguesa. A Igreja diocesana

administrador eclesiástico. Entretanto, a comparação entre o refe-


rido breve de Pio IV, de 1563, e o de Gregório XIII, de 1575, revela
diferenças importantes. Inicialmente, atente-se para o fato de que
no Oriente o breve trata de administradores amovíveis, submetidos
ao padroado régio, mas não da criação de administrações eclesiás-
ticas separadas do arcebispado ou bispado. Neste sentido, o breve
In supereminenti, de 1575, representava um importante avanço para
a coroa portuguesa em relação ao modo como pretendia adminis-
trar a Igreja em suas conquistas, um verdadeiro reforço ao padroado
português24. Criava-se não apenas um cargo, mas uma nova circuns-
crição administrativa para o governo da Igreja, dotando-a de um
território. Outro elemento que salta aos olhos no breve de criação
da administração eclesiástica fluminense é o da normatização de um
modelo de escolha dos administradores eclesiásticos que mais tarde
servirá para todo o império. Pela primeira vez designa-se a Mesa da
Consciência e Ordens como tribunal encarregado pelo exame dos
conhecimentos teológicos dos clérigos nomeados pelo monarca para
o exercício do cargo25.
A ereção da administração eclesiástica do Rio de Janeiro com
território desmembrado da diocese da Bahia, concedendo jurisdição
«quase episcopalem» aos administradores – que tinham, portanto,
jurisdição sobre o clero e povo –, apresentava um formato similar
ao definido nas prelazias nullius diocesis. Seu administrador era um
prelado inferior que, sem ser bispo, tinha jurisdição semelhante à
episcopal sobre aqueles que se encontravam sob sua administração26.

24
  Bullarum diplomatum et privilegiorum santorum romanorum pontificum: tau-
rinensis editio locupletior facta collectione novissima plurium brevium, epistolarum,
decretorum actorumque S. Sedis a S. Leone Magnus usque ad praesens (Neapoli: Hen-
rico Caporaso editore, 1883), vol. 8, 124-129.
25
  Eis o trecho em Latim: «et pro uno presbytero saeculari vel cuiusvis ordinis
regulari vicario seu administratore in spiritualibus provinciae Fluvii Ianuarii nuncu-
pando, in theologia seu decretis graduatis, vel alias, praevio examine seu iudicio depu-
tatorum senatus mensae regiae, conscientiae et Ordinum militiarum, in quo com-
plures viri, tam saeculares quam regulares, litterarum scientia moribusque et virtute
insignes reperiuntur, habiles et idonei ad alios docendum, approbato, ac per ipsum
Sebastianum et pro tempore existentem Portugalliae et Algarbiorum regem perpe-
tuis futuris temporibus, etiam hac prima vice, libere, nullius ad id requisito consensu,
etiam ad tempus sibi benevisum, deputando et constituendo», Bullarum..., vol. 8, 126.
26
  Para uma visão mais geral sobre o assunto, ver Antonio Viana, «La doctrina
postridentina sobre el territorio separado, nullius dioecesis», Jus canonicum, XLII
(2002): 41-82.

521

Monárquias Ibéricas.indb 521 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

A novidade é importante, pois garante à coroa a possibilidade de


atender à maior parte das demandas espirituais e eclesiásticas sem
gerar maiores despesas. E o problema dos custos podia ser determi-
nante na decisão de se criar ou não uma nova diocese.
Interessante notar o futuro dessa nova configuração no terreno
das circunscrições eclesiásticas. Em 1612, por exemplo, é criada,
sob o mesmo modelo daquela do Rio de Janeiro, a administração
eclesiástica de Moçambique pelo breve de Paulo V27. O fato corro-
bora nosso ponto de vista sobre a ereção da administração do Rio
de Janeiro representar um novo modelo de divisão eclesiástica no
império português, bem como um reforço ao poder da Mesa de
Consciência e Ordens em relação a alguns aspectos da gestão do
padroado régio. Percebe-se, também, que doravante, por tratar-se
de impor divisões territoriais a dioceses pré-existentes, adota-se a
política de aproveitar a vacância do bispado para solicitar a ereção
da nova administração. Foi assim no caso do Rio de Janeiro, quando
a coroa encaminhou a Roma o pedido após a morte de D. Pedro
­Leytão. De modo semelhante, no caso de Moçambique, aproveitou-
-se a ocasião da sede vacante do arcebispado de Goa, em função da
promoção do seu prelado, D. Fr. Aleixo de Menezes, à mitra prima-
cial de Braga28. Foi assim no século xviii, quando da criação das admi-
nistrações, comummente chamadas de prelazias, de Cuiabá e Goiás,
no Brasil, aproveitando a vacância do bispado do Rio de Janeiro, em
1745. Apenas um caso sai desse roteiro: o da ereção da administração
eclesiástica de Pernambuco, em 1611.

A administração eclesiástica de Pernambuco


e Paraíba
A parte setentrional da América portuguesa, que ficou sob juris-
dição imediata do bispado da Bahia, seria objeto de uma nova divisão
administrativa nos mesmos moldes daquela que viemos de mencio-
nar. O breve de criação da Administração eclesiástica de Pernam-
buco, datado de 12 de agosto de 1611, retoma a maior parte das

  CDP, 1862: t. xii, 170-175; Bullarum..., vol. 12, 21-25.


27

  Cf. João M. Gomes, «D. fr. Aleixo de Meneses. Goa – Braga: trajecto de uma
28

missão», Theologica, 2.ª série, 41/2 (2006): 359-393.

522

Monárquias Ibéricas.indb 522 13/12/18 14:56


Estruturas eclesiásticas da monarquia portuguesa. A Igreja diocesana

cláusulas contidas no de 1575, relativo ao Rio de Janeiro, iniciando-


-se, inclusive, pela mesma fórmula In supereminenti29. Entretanto,
em relação à demarcação do território de jurisdição da nova adminis-
tração eclesiástica o breve de 1611 era impreciso, restringindo a nova
circunscrição apenas à Capitania (Provincia) de Pernambuco, sem
qualquer menção às outras capitanias do Norte, ainda mais distantes
do bispado da Bahia. Por esta razão, Filipe II solicitou novo breve no
qual os limites territoriais da administração eclesiástica fossem mais
bem determinados, incluindo as capitanias de Itamaracá, Paraíba e
Rio Grande «até a linha equinocial com tudo quanto de novo se con-
quistará e se construirá»30. Noutras palavras, no breve de 5 de julho
de 1614, todas as terras ao Norte do Rio São Francisco ficavam sub-
metidas à sua jurisdição31.
Como no caso da administração eclesiástica do Rio de Janeiro,
não encontramos documento algum relativo à demanda de sua cria-
ção por parte do povo, clero ou autoridade diocesana. Sem apresentar
fonte comprobatória, Arlindo Rubert afirma que a criação da admi-
nistração eclesiástica de Pernambuco teria sido proposta ao rei pelo
bispo da Bahia, D. Constantino Barradas32. No único d ­ ocumento
que conhecemos sobre a solicitação do rei junto a Roma a respeito
deste assunto nenhuma menção é feita à suposta demanda do bispo.
Eis o que se lê:

Beatissimo Padre
Avendo gia la Maestà cattolica supplicato la Santità Vostra, si
degni concedere che la Provincia di Pernambuco sia dismembrata dal
­Vescovato del Brasil, e sia eretta Vicaria et Admnistazione quase Epis-
copale, attenta la molta distanza che vi è dal loco dove risiede il vescovo

29
  CDP, vol. xii, 160-165.
30
 Cf. Arlindo Rubert, A Igreja no Brasil (Santa Maria: Pallotti, 1981-1993),
vol. 2: Expansão Missionária e Hierárquica (Século XVII), 58.
31
 Cf. Bullarum..., vol. 12, 271-277.
32
 Rubert, A Igreja…, vol. 2, 57. Também sem mencionar a fonte de sua infor-
mação Francisco Augusto Pereira da Costa, Anais Pernambucanos, vol. 2, 323 (Con-
sultado em http://www.liber.ufpe.br/pc2/), afirma que D. Constantino Barradas
visitando «as igrejas de Pernambuco e as demais ao norte do Brasil, sofreu tantos
trabalhos e perigos, que para os evitar solicitou em 1615 do rei Filipe II que elevasse
Pernambuco e o Rio de Janeiro a bispados, porque eram terras ricas e de muitos
dízimos». Note-se que na data apresentada por Pereira da Costa o breve de criação
da administração eclesiástica de Pernambuco já havia sido publicado.

523

Monárquias Ibéricas.indb 523 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

a quello di Pernambuco, attento anco che già la bolle di Gregorio XIII


per l’istessa causa dismembrò dal detto Vescovato la Provincia del Rio
de Janeiro e Vostra Santità quella della Mina da quello di Santo Tomaso,
perche in questa l’istesse cause che inquelle concorrono et al vescovo
non pregiudica, perché non há altra entrata che quella che detta Maestà
gli dà della sua como anco fa alli nuovi amministratori; e per il bisogno
che vi è di quelli per servizio di Dio e bene di quelli Popoli: E da quello
mossa detta [73 v.] Maestà supplica di nuovo la santità Vostra si degni
concedere che detta Provincia di Pernambuco sia dismembrata dal detto
Vescovato del Brasil et erecta Vicaria et amministrazione quase episco-
pale come quelle del Rio de Janeiro e Mina. Il che riceverá per grazia
singolarissima di Vra. Santità. Quam Deus et.33

Não parece credível que na alegação apresentada à Santa Sé não


constasse o pedido do bispo para que sua diocese fosse desmem-
brada. Em lugar disso, aliás, justifica-se que o bispo da Bahia não
terá prejuízo com a criação da nova administração eclesiástica por-
que suas rendas se resumiam ao que a coroa lhe pagava e continuaria
a pagar como côngrua. Outro elemento a contrariar a afirmação de
Rubert é a relação de D. Constantino Barradas com o administrador
eclesiástico do Rio de Janeiro. Este último, numa carta enviada ao
inquisidor-geral, em 1605, dizia que aquele bispo «entendendo de
sy ter capacidade e sufficiencia para governar todo estado do B­ rasil
e outros muitos se a este estiverão anexos vendo a divisão que polos
sumos Pontifices foi feita, desmembrando de seu Bispado anti-
gamente esta provincia da banda do sul, desda capitania do Porto
Seguro ate o Rio da Prata pesaroso da tal desunião tem pretendido
por vezes mandar nela e por o não poder fazer como prelado o quer
fazer e faz como inquisidor que diz ser mor deste Estado»34.
A partir da leitura de algumas cartas do governador e capitão
geral D. Diogo de Meneses tomamos conhecimento de que ele suge-
riu à coroa a criação de nova circunscrição eclesiástica. Entretanto,
como veremos, as razões alegadas pelo governador pouco tinham a
ver com os cuidados pastorais apontados no breve In ­superiminenti.
D. Constantino Barradas visitou a capitania de Pernambuco e lá se

  BA, 46-XI-13, f. 73 r. e v. O documento não está datado ou assinado.


33

  ANTT, TSO, CGSO, Livro 369, fls. 162 r. e v. Agradeço a Bruno Feitler a
34

indicação desse documento que já havia também sido citado por Marccoci e Paiva,
História da Inquisição…, 221.

524

Monárquias Ibéricas.indb 524 13/12/18 14:56


Estruturas eclesiásticas da monarquia portuguesa. A Igreja diocesana

encontrava quando, em junho de 1608, ali estava o governador­-geral,


D. Diogo de Menezes, que só chegaria à Bahia em dezembro do
mesmo ano, após receber carta régia ordenando sua imediata partida
para aquela cidade. Em carta escrita no dia 12 de julho de 1608, em
Olinda, o governador queixava-se ao monarca dos procedimentos de
D. Constantino Barradas que o teria injuriado durante a procissão do
Corpo de Deus daquele ano. O motivo das injúrias era uma sentença
desfavorável ao bispo numa controvérsia havida no ano anterior com
os membros da Câmara de Olinda sobre o lugar que deviam ocupar
na procissão e quem haveria de carregar as varas do Pálio35. Não cabe
aqui entrar em detalhes sobre a querela, mas é importante dizer que
ela era apenas a ponta do iceberg, pois o que estava em jogo eram
questões relativas às competências ou autoridade do governo ecle-
siástico e do secular36. As querelas entre o bispo e Diogo de Meneses
estendem-se num período particularmente delicado que é o da insta-
lação do Tribunal da Relação da Bahia. Em carta de 7 de fevereiro de
1611, dirigida ao rei, na qual tratava largamente dos excessos cometi-
dos pelo bispo, que àquela altura já havia excomungado ao provedor-
-mor por causa do atraso nos pagamentos da folha dos eclesiásticos,
sugeria, como uma das retaliações contra D. Constantino Barradas,
que se lhe colocasse «hum administrador em Pernambuco»37. Está
claro que em sua lógica, a criação daquela nova administração ecle-
siástica equivalia a um castigo para o bispo, na medida em que ele

35
  ANTT, Corpo cronológico, mç. 115, n. 41. Em Anais da Biblioteca Nacional
(ABN), 57 (1937): 33-37.
36
  Guida Marques também percebeu os diferentes aspectos dos desentendimen-
tos entre o bispo e o governador, assinalando que iriam continuar a se verificar em
tempos de D. Marcos Teixeira, prelado que sucedeu a D. Constantino Barradas na
mitra da Bahia. Cf. Guida Marques, «L’invention du Brésil entre deux monarchies.
Gouvernement et pratiques politiques de l’Amérique portugaise dans l’union ibéri-
que (1580-1640)» (tese de doutoramento, Paris: EHESS, 2009), 250-251.
37
  Eis o que diz o governador Diogo de Menezes em sua carta de 7 de Fevereiro
de 1611: «O remédio que parece V. Mag.de devia dar nisto era mandar o Bispo... as
petições de favor que lhe tem concedido como he... os clerigos para os governado-
res aprezentarem em nome de V. Mag.de e todas as mais de que como Rey lhe tem
feito merce e juntamente por lhe hum administrador em Pernambuco e mandalo
emprazar por que nam cumpre os mandados de V. Mag.de e não o deixar renunciar
porque como elle está com bastante commodo de dinheiro para se sustentar lá fol-
gará muito de renunciar e hir viver a sua vontade e mais não se ficar abrindo a porta
a que todos os Bispos que por cá vierem tenham só esse intento de ajuntar dinheiro
e illo lá comer a Portugal com a honra episcopal». Cf. ABN, 57 (1937), 73.

525

Monárquias Ibéricas.indb 525 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

perderia rendas auferidas em causas do eclesiástico38. A ideia não é


desprovida de sentido, pois embora os bispos do padroado portu-
guês não recebessem mais do que uma porção da côngrua paga pela
coroa – non há altra entrata che quella che detta Maestà gli dà, como
se dizia na alegação encaminhada à Santa Sé –, é verdade que as ren-
das auferidas na justiça eclesiástica podiam constituir uma boa fonte
para aumentar os recursos do prelado. No caso de Pernambuco o
fato é ainda mais saliente por tratar-se, naquele momento, da capita-
nia mais povoada e com a maior produção açucareira do Brasil.
A questão que se coloca não é a da influência da referida carta
do governador-geral sobre a decisão régia, até porque sua data mos-
tra que a resolução sobre a criação da administração eclesiástica de
Pernambuco já havia sido tomada. Entretanto, parece legítimo sus-
peitar que a mesma lógica esboçada por Diogo de Meneses pode-
ria estar presente na decisão da coroa. A hipótese se faz ainda mais
forte ao sabermos que, em 26 de julho de 1616, poucos meses após
a nomeação do primeiro administrador da Jurisdição Eclesiástica de
Pernambuco, Filipe III ordenou descontar ao bispo do Brasil metade
da consignação que recebia para esmolas, entregando a outra metade
ao prelado de Pernambuco39. Segundo Bruno Feitler, D. Marcos
Teixeira, sucessor de D. Constantino Barradas, ter-se-ia queixado
da «perda de verbas que a criação da administração lhe infligira», o
que consideramos como mais um elemento a corroborar a hipótese
aqui esboçada, pois mostra como a medida da coroa afetava as ren-
das do bispado da Bahia40. Além disso, por meio da carta régia de

38
  Em carta de 1 de março de 1612 diz: «e fazendo este bispo cousas neste estado
que so elle podia fazer e sua ambição lhe manda... torno a lembrar a V. M.de que
nenhua cousa que se lhe pedir há de comprir senão fazello as nossas como agora
fez e que se V. M.de quer que se lhe defenda sua jurisdição sera por modo forçozo
porque outro não tem para que ordenar na Relaçam diz não tem poder V. M.de para
mais que passar lhe tres Cartas das quaes elle guarda tanto a primeira como a terceira
e os pobres que lhe caem debaixo não tem remedio e assi se ficão excomungados e
como virem que lho não dão hão de cometer a sua jurisdição que he o que elle quer
e comdenallos a dinheiro e os pecados como dantes».
39
  Ignacio Accioli de Cerqueira e Silva (Braz do Amaral, anotador), Memórias
Históricas e Políticas da Bahia (Bahia: Imprensa Oficial do Estado, 1937), vol. v,
66. Cf. José Justino de Andrade e Silva, Collecção Chronologica da Legislação Por-
tugueza (Lisboa: Imprensa de José Justino de Andrade e Silva, 1854), 209, http://
www.iuslusitaniae.fcsh.unl.pt.
40
  Bruno Feitler, «Continuidades e rupturas da Igreja na América portuguesa no
tempo dos Áustrias. A importância da questão indígena e do exemplo ­espanhol»,

526

Monárquias Ibéricas.indb 526 13/12/18 14:56


Estruturas eclesiásticas da monarquia portuguesa. A Igreja diocesana

9 de fevereiro de 1622, sabe-se que houve uma consulta – que muito
provavelmente partiu do bispo da Bahia – «a respeito de se tornar a
unir ao Bispado do Brasil a Administração Eclesiástica da Parahiba e
Pernambuco», que foi indeferida41. Por fim, a carta régia de 8 de feve-
reiro de 1623, ordenando a extinção da Administração Eclesiástica
da Paraíba e Pernambuco – confirmada pelo breve de Urbano VIII,
Romanus pontifex, de 6 de julho de 1624, que revogou sua ereção por
Paulo V, alegando litígios e dissensões entre o bispo da Bahia e o pre-
lado daquela administração –, é mais um elemento a indicar que em
sua criação foram observados critérios diferentes daqueles adotados
para outras administrações eclesiásticas42.
O interesse de analisar por este viés o caso da efêmera Adminis-
tração Eclesiástica de Pernambuco reside na possibilidade de com-
preender melhor os fatores que podem intervir na criação de novas
divisões eclesiásticas. Se o povoamento e as distâncias, como em toda
a parte, são elementos essenciais nesse processo, o exemplo em tela
indica que razões de caráter conjuntural e político também podiam
exercer – e ao menos por uma vez exerceram – alguma influência na
decisão da coroa de solicitar à Santa Sé a criação de uma nova Admi-
nistração Eclesiástica.

Estruturas eclesiásticas, controle


e disciplinamento social
A ereção de bispados e administrações eclesiásticas foi, aos pou-
cos, montando uma rede diocesana destinada a cumprir um papel
importante não só do ponto de vista do enquadramento religioso,
mas também no que toca à própria expansão, consolidação e manu-
tenção do império português. Ao final do século xvi, eram 15 dio-
ceses ultramarinas. Seis outros bispados foram criados na centúria
seguinte. No século xviii, foram erigidas mais três dioceses, todas
na América portuguesa, além de serem criadas duas administrações

em Portugal na Monarquia Hispânica. Dinâmicas de Integração e Conflito, eds.


Pedro Cardim, Leonor Freire Costa e Mafalda Soares da Cunha (Lisboa: CHAM/
CIDEHUS/GHES/Red Columnaria, 2013), 221.
41
  CCLP, 65-66.
42
  CCLP, p. 88 e Bullarum..., t. 13, 183-185.

527

Monárquias Ibéricas.indb 527 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

eclesiásticas, Goiás e Cuiabá, em 1745. Trata-se de uma importante


malha diocesana a cobrir o espaço imperial português.
Os diferentes contextos do império determinaram, frequente-
mente, ritmos e montagens institucionais que apresentaram algumas
especificidades. Bispados situados em regiões de maior densidade
demográfica (pensando-se aqui numa população cristã), com atra-
tivos econômicos mais fortes, tenderam quase sempre a apresentar
um maior e mais rápido desenvolvimento das estruturas de controle
eclesiástico. Evidentemente, o maior ou menor empenho pessoal
de cada prelado no exercício do múnus episcopal também foi fator
importante na construção e fortalecimento dessas estruturas. Vamos
tomar como exemplos dessa construção os bispados e depois arce-
bispados de Goa e da Bahia.

Goa

O bispado de Goa foi criado em 3 de novembro de 1534, como


sufragâneo do bispado do Funchal. Duas décadas depois, em 1557,
Goa foi erigida em Metrópole arquiepiscopal, tendo, então, por
sufragâneos os bispados de Cochim e Malaca. Um elemento carac-
terístico na organização eclesiástica em Goa é o da forte presença
do clero regular. O impulso missionário conduzido por francisca-
nos, dominicanos e jesuítas terminou por atrair um número bastante
grande de religiosos. Com o aumento da população convertida e ine-
xistência de clero diocesano em número suficiente para assumir as
tarefas de cura de almas, religiosos regulares vão construindo novas
igrejas e assumindo funções paroquiais. No contexto de Goa, os
franciscanos, por volta de 1556, ficaram responsáveis pela evangeli-
zação na província de Bardez. Os jesuítas ficaram com a província de
Salcete, aonde, apesar de alguns reveses no trabalho de cristianização
daquela população, os cristãos chegaram a 35 mil, em fins do século
xvi, distribuídos em onze paróquias43. Este modelo de organização,
com paróquias administradas pelos r­ egulares, perdurou até meados

43
 E. R. Hambye, «Goa», Dictionnaire d’histoire et géographie ecclésiastique
[DHGE] (Paris: Letouzey et Ané, 1912), col. 287. Sobre as implicações da desig-
nação de religiosos para administrarem paróquias em Tiswaldi, Salcete e Bardez ver
Xavier, A Invenção de Goa..., especialmente, 151-185.

528

Monárquias Ibéricas.indb 528 13/12/18 14:56


Estruturas eclesiásticas da monarquia portuguesa. A Igreja diocesana

do século xviii, quando havia 24 paróquias em Bardez, administra-


das por franciscanos, e 25 administradas por jesuítas, em Salcete.44
Somente por volta de 1770, após a expulsão dos jesuítas e a substi-
tuição dos franciscanos em Bardez, é que «por quase toda a parte a
indianização em nível local se havia concluído sob a égide do clero
diocesano»45. O certo é que estas paróquias administradas por regu-
lares estiveram, frequentemente, na base de sérios conflitos entre
arcebispos e ordens religiosas. A recusa dos párocos regulares de se
submeterem à visita pastoral pelo prelado diocesano muitas vezes
ocupou o centro das querelas. Mas de modo mais efetivo, pode-se
dizer que foi, em especial, no que respeita ao desenvolvimento de
uma clerezia local que esta concentração de paróquias em mãos de
regulares provocou maiores problemas. Até ao menos a primeira
metade do século xviii as principais ordens religiosas estabelecidas
em Goa – franciscanos46, dominicanos, jesuítas, eremitas de Santo
Agostinho, carmelitas, teatinos – não aceitaram vocações de india-
nos. Somente a Congregação do O ­ ratório recebia indianos47. Efeitos
dessas práticas discriminatórias podem ser vistos em situações de
conflito como a que opôs alguns frades franciscanos, que paroquia-
vam em Bardez, ao arcebispo D. Fr. Inácio de Santa Teresa, em 1728
e 172948. Eis um dos argumentos avançados por esses religiosos que
reagiam face à ideia de entregar suas p­ aróquias a clérigos nativos:

44
  Maria de Jesus dos Mártires Lopes, «O arcebispado de Goa no tempo de
D. Antonio Taveira da Neiva Brum da Silveira (1750-1775). Alguns elementos para
o seu estudo», Arquipélago, revista da Universidade dos Açores, série ciências huma-
nas, VI (Janeiro de 1984), 200.
45
  Hambye, «Goa…», col. 295.
46
 No caso dos franciscanos houve, ao menos nas décadas de 1520 e 1530,
admissão de clérigos mestiços, como se vê na carta do comissário Fr. Rodrigo de
Serpa ao rei, datada de 8 de novembro de 1532. Nela, o franciscano comunicava a
admissão de alguns noviços mestiços, contrariando o regimento enviado no ano
anterior pelos superiores da Província da Observância de Portugal. Cf. Rego, His-
tória das Missões…, 1.° vol., 256 e António da Silva Rego, ed., Documentação para a
História das Missões do Oriente, Índia, vol. 2 (Lisboa, Agência Geral das Colónias,
1949), 213-215.
47
  Sobre o assunto, ver Hambye, «Goa…», col. 325-329. Ver também Charles R.
Boxer, A Igreja e a Expansão Ibérica (Lisboa: Edições 70, 2013), 22-24.
48
  O caso é narrado por Ana Maria Mendes Ruas Alves, «‘O reyno de Deos e a
sua justiça’: Dom Frei Inácio de Santa Teresa (1682-1751)» (tese de doutoramento,
Coimbra: s. n., 2012), 200-213. Sobre o tema geral do clero indígena no império
português ver Boxer, A Igreja…, 11-47.

529

Monárquias Ibéricas.indb 529 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

«Todos estes clérigos negros (exceptuando alguns como por milagre)


são ex sua natura mal inclinados e mal procedidos, lascivos, bêbados,
etc... e por isso incapacíssimos de que se lhe entregue a administação
das Igrejas»49. Note-se, entretanto, que o rigorista jacobeu D. Iná-
cio de Santa Teresa manifestava maior simpatia por ver as paróquias
de sua arquidiocese administradas por clérigos locais do que pelos
regulares.
A particularidade das paróquias administradas por regulares não
deve, todavia, alterar a percepção de uma estrutura eclesiástica que,
desde muito cedo, buscou conformar-se aos moldes tridentinos.
É isto que revela, por exemplo, a realização dos concílios provin-
ciais determinados na vigésima quarta sessão do Concílio de Trento.
O primeiro deles, realizado na Catedral de Santa Catarina, foi reu-
nido em 1567, sob a presidência de D. Gaspar de Leão. Neste que-
sito, aliás, o arcebispado de Goa mostra uma vitalidade que pode
impressionar inclusive numa comparação com o reino. Os primei-
ros concílios provinciais pós-Trento, em Portugal, foram reunidos
no ano de 1566, em Braga, sob a presidência de D. Bartolomeu
dos Mártires, e em Lisboa, sob o governo de D. Jorge de Almeida.
Em Évora, o concílio provincial só veio a ser reunido em 1568, após,
portanto, o concílio de Goa. Mas não é somente pela rapidez com
que organiza o primeiro concílio que o arcebispado de Goa impres-
siona, mas também por realizar cinco concílios provinciais entre
1567 e 1606, revelando maior disposição na realização dessas assem-
bléias do que os arcebispados reinóis50. Talvez a maior recorrência de

49
  BNL, cod. 179 – Memórias e Documentos para a História Eclesiástica na Ásia,
1728-1729, fls. 11-13v., apud Teotónio R. de Souza, «O Padroado português do
Oriente visto da Índia: instrumentalização política da religião», Revista Lusófona
de Ciência das Religiões, 13/14 (2008): 420. Charles J. Borges, «Foreign Jesuits and
native resistance in Goa», em Essays in Goan History, ed. Teotonio R. de Souza
(Nova Deli: Concept publishing company, 1989), 77, escreve: «A Franciscan Frei
Antonio da Encarnação, parish priest at the church of Colvale, excommunicated for
striking his native assistant, wrote a virulent attack on the native clergy. He called
them negros chamados curas […] and termed them perverse and insolent». A infor-
mação parece ser a mesma que se encontra nas Memórias do cod. 179 da BNL, mas
neste caso Borges a cita a partir de documento do Arquivo Histórico Ultramarino
(Índia, maço 35 [1729]).
50
  Para um quadro geral acerca dos concílios provinciais em Portugal e seu impé-
rio, ver Maria Alegria Fernandes Marques, «Concílios provinciais», em Dicionário de
História Religiosa de Portugal, dir. Carlos M. Azevedo (Lisboa: Círculo de Leitores,
2000), 419-423. Sobre os concílios provinciais de Goa na época moderna ver Paolo

530

Monárquias Ibéricas.indb 530 13/12/18 14:56


Estruturas eclesiásticas da monarquia portuguesa. A Igreja diocesana

concílios provinciais em Goa esteja de fato vinculada à necessidade


de adptação do paradigma tridentino «às realidades encontradas no
interior do esparso e heterogêneo Estado da Índia»51. Seja como for,
o importante é constatar que, desde muito cedo, o arcebispado de
Goa buscou adaptar-se aos preceitos tridentinos, desenvolvendo as
estruturas eclesiásticas que permitiam o exercício do controle e dis-
ciplinamento da população cristã. A promulgação de constituições
arquidiocesanas próprias, em 1568, após sua apresentação e exame
no primeiro concílio provincial, mostra bem o engajamento dessa
Igreja no que toca ao estabelecimento de um quadro normativo que
pudesse assegurar o bom funcionamento do arcebispado.
De um ponto de vista prático, percebe-se também o compro-
misso dos sucessivos arcebispos com o controle do clero e povo da
arquidiocese, por meio das visitas diocesanas realizadas52. Sobre este
ponto, é particularmente interessante ver os capítulos da visita reali-
zada por D. Fr. Aleixo de Menezes às igrejas de Salcete. Neles, o arce-
bispo recomenda vivamente que os vigários estimulem a frequência
à comunhão pelos fiéis nos dias da Assunção e noutros dias mais
solenes que «puder para o qual admoeste seus freguezes a Dominga
antes das ditas festas para os que quizerem, e se puderem aparelhar,
e confessar por que achamos ser este Divino ­Sacamento poucas
vezes frequentado dos xptãos novamente convertidos a nossa santa
Fée»53. Também admoestava os vigários e os fregueses a frequenta-
rem amiúde a confissão «pois he remedio q temos depois do peccado

Aranha, Il cristianesimo latino in India nel XVI secolo (Milão: Franco Angeli, 2006),
164-170, e Patricia Souza de Faria, «Os concílios provinciais de Goa: reflexões sobre
o impacto da ‘Reforma Tridentina’ no centro do império asiático português (1567-
-1606)», Topoi, 27 (Julho-Dezembro de 2013): 218-238. Ângela Barreto Xavier,
«Gaspar de Leão e a recepção do Concílio de Trento na Índia», em O Concílio de
Trento em Portugal e nas Suas Conquistas: Olhares Novos, eds. António Camões
Gouveia, David Sampaio Barbosa e José Pedro Paiva (Lisboa: UCP – Centro de
Estudos de História Religiosa, 2014), 133-156.
51
  Patrícia Souza de Faria, «Os concílios provinciais…», 238.
52
  Para uma ideia geral sobre as visitas diocesanas, ver Joaquim Ramos de Car-
valho e José Pedro Paiva, «Visitações», em Dicionário de História Religiosa, dir. Car-
los Moreira de Azevedo (Lisboa: Círculo de Leitores, 2000), 365-370. Para uma
discussão mais detalhada, ver Joaquim Ramos de Carvalho, «A jurisdição episcopal
sobre leigos em matéria de pecados públicos: as visitas pastorais e o comportamento
moral das populações portuguesas de Antigo Regime», Revista Portuguesa de Histó-
ria. 24 (1988): 121-163.
53
  BNL, cod. 176, fl. 116.

531

Monárquias Ibéricas.indb 531 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

e taboa em que nos salvamos do naufrágio da culpa». Ainda sobre o


sacramento da confissão, o prelado ordenava que os vigários não dei-
xassem de confessar e inscrever no rol das confissões os meninos e
meninas a partir de nove anos de idade, recomendando ademais que,
se o vigário «achar que algum menino antes desta idade ao menos
de 7 annos para diante tiver mais entendimento e juizo também o
escreverá no rol e o obrigará a confessar»54. Os capítulos da visita
insistiam ainda sobre os sacramentos do batismo e do matrimônio,
denotando uma forte vontade de enquadramento religioso, em tudo
consonante ao espírito tridentino.
Nos apontamentos de outra visita feita por D. Fr. Aleixo de
Menezes, esta em 1604, nas terras de Salcete, fica registrada a forma
violenta que poderia tomar a correção de determinados desvios que a
autoridade eclesiástica julgava importante extirpar. Eis o texto: «Por
nos parecer mais conveniente mandamos que a penna de asoutes e
Aljube q puzemos na visitação passada, se desse aos que hião jurar
em Devaças, e querellas, sem licença do Pe. Vigr.o se dee a prizão no
tronco de Rachol, e os asoutes a porta da Igreja de sua freguesia em
dias santos a vista do Pouvo.»55 Trata-se, portanto, de castigo público
e exemplar no qual a Igreja procurava dar uma demonstração de
força, ao tempo em que também intentava incutir a obediência por
meio de castigos corporais que, seguramente, infundiam medo na
população que, em dias festivos, assistia à execução daquelas penas.
Se o rito punitivo pode, em alguma medida, se assemelhar às práti-
cas correntes na Europa medieval, não há como deixar de notar que
a sua imposição num contexto moderno, de uma Igreja tridentina
que busca por diversos meios o disciplinamento do clero e dos fiéis,
tende a ganhar novo sentido e contribuir para o desenvolvimento
dos seus ideais de enquadramento religioso.

Bahia

Tomando Goa por parâmetro, não há como deixar de notar que foi
bem mais lento o ritmo de desenvolvimento das estruturas eclesiás-
ticas na América portuguesa. Esta lentidão, entretanto, não deve ser

54
  BNL, cod. 176, fl. 116v.
55
  BNL, cod. 176, fl. 120.

532

Monárquias Ibéricas.indb 532 13/12/18 14:56


Estruturas eclesiásticas da monarquia portuguesa. A Igreja diocesana

entendida como fator de atraso na construção de uma Igreja tridentina


luso-americana. Ela é, antes, o resultado de um processo de coloniza-
ção necessariamente diferente daquele que foi tocado no Estado da
Índia. Nesta margem do Atlântico os portugueses não encontraram
circuitos comerciais pré-existentes. Os povos indígenas não estavam
aptos a se inserir de forma imediata na empresa comercial portuguesa,
tampouco a conversão dos ameríndios poderia seguir o mesmo padrão
observado com os povos da Índia. Tratava­-se de um novo mundo a ser
construído em praticamente todos os níveis. E foi somente a partir
da segunda metade do século xvi que, de fato, a coroa portuguesa se
engajou efetivamente nesta construção. Em 1549, Tomé de Souza, em
cumprimento ao determinado por D. João III, fundava a cidade de
Salvador da Bahia de Todos os Santos, destinada a tornar-se capital do
Brasil. Dois anos depois, a cidade seria erigida em sede episcopal da
diocese da Bahia, que tinha por território todo o Brasil.
A malha paroquial formou-se lentamente, seguindo o ritmo
do povoamento e colonização. A capitania de Pernambuco, onde
se encontrava a região economicamente mais dinâmica do Brasil,
também era a zona que contava com maior número de paróquias.
Ao final do século xvi o Brasil, já dividido em duas circunscrições
eclesiásticas, o bispado da Bahia e a Administração Eclesiástica do
Rio de Janeiro, contava com cerca de 50 paróquias56. Junto com essa
malha paroquial, montou-se todo o aparato de enquadramento do
clero e dos fiéis. Embora as fontes sejam escassas, não há maiores
dúvidas sobre o funcionamento dos tribunais eclesiásticos e do cum-
primento das disposições tridentinas desde muito cedo por parte das
autoridades diocesanas. As visitas pastorais, esse importante meca-
nismo de controle e governo eclesiástico, parecem ter ocorrido com
alguma frequência desde os primórdios do bispado do Brasil, sem
se restringir a espaços contíguos à sede episcopal, como mostram
as visitas realizadas pelo segundo bispo do Brasil, D. Pedro Leitão.
Em 1561, o prelado realizou batismos e casamentos na Igreja de
Santa Cruz de Itaparica (Leite 1958: t. 3, 435 e segs.). Na quaresma
do mesmo ano visitou a capitania de Ilhéus (Leite 1958: t. 3, 424).
As informações de que dispomos acerca do segundo bispo do Brasil
e de sua preocupação pastoral revelam o perfil de um prelado zeloso
que, antes mesmo do final do concílio tridentino, mostrava não se

56
  Cf. Rubert, A Igreja…, vol. i: Origem e Desenvolvimento (Século XVI), 195-212.

533

Monárquias Ibéricas.indb 533 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

furtar aos perigos e incômodos de visitar a sua diocese, indo, inclu-


sive a algumas aldeias indígenas em companhia de jesuítas.
Em 1571, sabe-se que D. Pedro Leitão visitou as igrejas de
­Pernambuco. Teria ido com o jesuíta Luis da Grã. O autor da H ­ istoria
de la fundación del collegio de la Baya de todos los sanctos, y de sus
residentias conta que, à época dessa visita diocesana, os jesuítas de
Pernambuco estavam sofrendo perseguições levadas a cabo por um
sacerdote chamado António de Gouveia, que havia sido degredado
para o Brasil pela Inquisição57. D. Pedro Leitão agiu contra o refe-
rido padre, que havia conseguido mover a oposição dos principais da
terra contra os jesuítas, e numa provisão ordena ao ouvidor eclesiás-
tico da capitania de Pernambuco que, com ajuda do braço secular,
leve-o à cadeia de Olinda. Explica que o motivo daquela ordem era
ter o padre António de Gouveia «culpas graves da Santa Inquisição
e por nolo assim mandar el Rey nosso senhor e ho Senhor Cardeal
­Inquisidor mor dos reinos e senhorios de Portugal e por outros gra-
ves insultos que nestas partes do Brazil tem cometidos ir prezo em
ferros ho mandareis a Santa Inquisição ao Senhor Cardeal» 58.
O caso em tela interessa-nos tanto pelo que reforça a ideia da rea-
lização, desde muito cedo, das visitas diocesanas, em conformidade
com os preceitos tridentinos, quanto pela demonstração de que,
embora não houvesse tribunal do Santo Ofício estabelecido no Brasil,
sua ação já se fazia presente e era mais um dispositivo de enquadra-
mento religioso. Luiz Mott mostra, por exemplo, que na capitania de
Ilhéus, em 1574, o florentino Rafael Olivi seria denunciado ao Santo
Ofício. O vigário da vara de Ilhéus, Padre Gaspar Mendes, o manteve
preso por uns dias em sua freguesia e depois o remeteu para Salvador.
D. Pedro Leitão havia morrido em 1573 e a sede estava vacante. Coube
ao deão do cabido sede vacante, Padre Marcos Pires, enviar carta para
o Santo Ofício, comunicando a prisão do réu e enviando os autos da
denúncia contra Rafael Olivi. Na mesma missiva, o deão colocava-se
à disposição para enviar o réu a Lisboa, para tanto bastando envio de
provisão do Santo Ofício que assim ordenasse59.

57
  ARSI, Bras. 12, fl. 11v.
58
  Cf. ANTT, TSO-IL, proc. 5158, fl. 78.
59
  Luiz Mott, Bahia. Inquisição e Sociedade (Salvador da Bahia: Edufba, 2010),
175-177. O processo encontra-se em ANTT, TSO-IL, proc. 1682 – a carta encontra­-
-se nas primeiras folhas não numeradas do processo.

534

Monárquias Ibéricas.indb 534 13/12/18 14:56


Estruturas eclesiásticas da monarquia portuguesa. A Igreja diocesana

Diante da inexistência de documentos eclesiásticos quinhentis-


tas que tenham sido preservados nos arquivos baianos, os indícios
que se encontram em fontes narrativas e/ou epistolares do Arquivo
romano dos jesuítas (ARSI) ou em processos inquisitoriais, como os
que foram vistos aqui, são preciosos para demonstrar que as estru-
turas diocesanas funcionavam desde muito cedo. Ao aparecerem
nos documentos do século xvi menções aos ouvidores eclesiásticos,
vigários de vara, vigários gerais, etc., cargos e funções típicas das
estruturas da administração diocesana e de seus tribunais, torna-se
mais consistente a ideia de que há uma Igreja sendo construída que
toma por base o modelo existente no reino, e que jamais esteve alheia
ao paradigma tridentino60. E é importante dizer que estas estrutu-
ras de controle do clero e dos fiéis não se fez perceber apenas no
âmbito da diocese da Bahia. O desenvolvimento de uma adminis-
tração diocesana também se verificou na Administração Eclesiástica
do Rio de Janeiro, na qual o administrador exerceu em praticamente
tudo – salvo no que diz respeito às ordenações sacerdotais – as ações
pastorais comuns aos prelados. No contexto da colonização, essas
administrações constituíram um elemento de importante inovação
para o governo eclesiástico no âmbito do padroado ultramarino. Elas
significavam, para a coroa portuguesa, a possibilidade de garantir o
desenvolvimento de uma Igreja diocesana sem os custos que impli-
cavam a existência de um bispo e seu clero catedralício. Foi, aliás,
pensando exatamente em termos econômicos que, nos anos 1650,
o presidente do Conselho Ultramarino, o conde de Odemira, res-
pondendo à demanda de criação de um bispado no Rio de Janeiro,
apresentada pelo procurador da Câmara daquela cidade, teria dito
que num tempo em que havia queixa do seu povo acerca da dimi-
nuição das rendas naquela terra «não convinha tratar de couza, que
pedia tão grande despeza, como a que requeria hum bispado, sé e
seus beneficiados»61.
Em que medida, entretanto, a ausência de concílios provinciais na
América portuguesa, bem como a realização tardia de um sínodo dio-
cesano, no qual foram aprovadas as primeiras constituições p ­ róprias

60
 Para uma visão geral sobre as estruturas eclesiásticas no Portugal pós­-
-tridentino, ver Federico Palomo, A Contra-Reforma em Portugal 1540-1700 (Lisboa:
Livros Horizonte, 2006), especialmente, 17-55.
61
  BA, 50-V-35, fol. 106.

535

Monárquias Ibéricas.indb 535 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

do arcebispado da Bahia, não constituiriam sinais da fragilidade des-


sas estruturas eclesiásticas? Este foi um dos problemas apontados
por historiadores que sustentarem a tese de uma tridentinização
atrasada da Igreja no Brasil62. Inicialmente, no que diz respeito à
ausência de concílios provinciais no Atlântico Sul, é preciso lembrar
que somente em 1676 a Bahia se tornou um arcebispado. Como foi
visto, anteriormente, à época esses concílios já se haviam tornado
bastante escassos no mundo português. Ainda assim, por tratar-se
de uma nova metrópole, seria normal que um concílio provincial
fosse convocado para a aprovação das constituições do arcebispado.
E, com efeito, em 1707, D. Sebastião Monteiro da Vide, arcebispo
da Bahia, tentou realizá-lo, mas terminou, diante das negativas dos
prelados sufragâneos, reunindo um sínodo diocesano63.
As constituições do arcebispado de Lisboa foram adotadas no
Brasil desde a ereção do bispado da Bahia. Há notícias de que o bispo
D. Constantino Barradas, quarto bispo da Bahia, teria tentado dotar
o seu bispado de constituições próprias, tendo chegado a fazer alguns
capítulos que ficaram manuscritos e depois se perderam64. A falta
de constituições próprias não parece ter dado azo a reclamações
antes de a sé episcopal ser erigida em metrópole. A primeira vez em
que se constata efetiva cobrança por constituições ocorreu em fins
do século xvii, durante o arcebispado de D. João Franco de Oliveira,
quando subiram ao Conselho Ultramarino umas «­Queixas do povo
da Bahia»65. Nelas apontava-se a indesculpável falta de c­ onstituições

62
  Sobre o assunto, ver Bruno Feitler, «Quando chegou Trento ao Brasil?», em
O Concílio de Trento em Portugal e nas Suas Conquistas: Olhares Novos…, 157-173.
63
  Ver Bruno Feitler e Evergton Sales Souza, «Estudo introdutório», em Cons-
tituições primeiras do Arcebispado da Bahia feitas, e ordenadas pelo Illustrissimo,
e Reverendissimo Senhor D. Sebastião Monteiro da Vide: propostas, e aceitas em o
Synodo Diocesano, que o dito Senhor celebrou em 12 de junho do anno de 1707, edição
e estudo introdutório de Bruno Feitler e Evergton Sales Souza (São Paulo: EDUSP,
2010), 43.
64
  Cf. «Catálogo dos bispos que teve o Brasil até o ano de 1676, em que a cathe-
dral da Cidade da Bahia foy elevada a Metropolitana, e dos arcebispos que nella tem
havido...», em Constituições primeiras do arcebispado da Bahia..., 11. Há também
notícia – cuja fonte é o célebre jesuíta José de Anchieta – de que D. Pedro Leitão
haveria realizado um sínodo e feito «algumas constituições». Cf. Feitler, «Quando
chegou Trento…», 158.
65
  AHU, Cons. Ultramarino, Bahia – Luisa da Fonseca, cx. 32, n. 4131 – Quei-
xas do povo da Bahia representado por Antônio da Silva Pinto, contra as opressões e
mau procedimento do arcebispo e mais clero.

536

Monárquias Ibéricas.indb 536 13/12/18 14:56


Estruturas eclesiásticas da monarquia portuguesa. A Igreja diocesana

desde os tempos em que a Bahia havia sido erigida em sé episcopal.


Segundo o autor das Queixas, os bispos, no passado, atribuíam isto
à «insuficiência que diziam havia nos sogeitos que para o Synodo
devião convocarse». Todavia, o pouco letramento do clero não pode-
ria escusá-los; afinal nos bispados de Angra e Funchal ter-se-ia dado
a mesma razão, pois neles «apennas se achavão, como ainda hoje, as
dignidades primeiras de deam, formados em Canones ou Theologia,
Sendo o mais cabido todo indocto, e o mais clero iletrado; e con-
tudo vemos impressas duas constituisoens de ambos os Bispados»66.
Em relação aos arcebispos que antecederam a D. João Franco de
Oliveira, as «Queixas» apontam que, efetivamente, o pouco tempo
que cada um deles teve no exercício do múnus arquiepiscopal invia-
bilizou a realização de sínodo e promulgação de constituições. Isto,
contudo, não se verificava no caso daquele arcebispo que já gover-
nava o arcebispado havia cinco ou seis anos e a quem eram dirigidas
ásperas críticas por não cuidar de convocar sínodo e promulgar cons-
tituições. O problema central ao qual aludiam as «Queixas» era o da
administração da justiça eclesiástica. Sem constituições e regimento
do auditório eclesiástico próprios, seus ministros e oficiais estavam
livres para cobrar taxas exorbitantes por seus serviços. Assim, os
custos dos processos eram excessivos, na medida em que corriam
«por aquelas Justiças eclesiásticas, sem freio algum ou Regimento
mais que o da sua [dos ministros] cobiça, nem ordem mais que a da
sua ambição»67.
Uma análise mais detida dos argumentos avançados na longa
súplica apresentada em nome do povo da Bahia deixa entrever que os
problemas relacionados à Justiça eclesiástica não decorriam, neces-
sariamente, da inexistência de constituições, mas da ausência de regi-
mento do auditório eclesiástico. Não à toa, o arcebispo D. Sebastião
Monteiro da Vide, escrevendo em 1704, afirmava que da ausência
de regimento do auditório eclesiástico da Bahia «se seguiam muitos
inconvenientes contra o serviço de Deus e bem comum, e se oca-
sionavam novas demandas, e se dilatavam outras em inquietação
das consciências, perturbação da paz, despesas e gastos». E, algu-
mas linhas adiante, no mesmo mandamento em que promulgava o
­Regimento do Auditório eclesiástico, o prelado diz que «querendo

66
  AHU, Cons. Ultramarino, Bahia – Luisa da Fonseca, cx. 32, n. 4131…
67
  AHU, Cons. Ultramarino, Bahia – Luisa da Fonseca, cx. 32, n. 4131…, fl. 2v.

537

Monárquias Ibéricas.indb 537 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

nós ocorrer a estes danos como somos obrigados, sem embargo de


nos acharmos por hora com a Constituição a que temos dado princí-
pio, por atendermos a que poderá ter mais dilação que a que permite
a falta de Regimento, nos pareceu ser serviço de Deus ordenarmos
logo os Regimentos» 68.
A falta de regimento não equivale à inexistência de justiça ecle-
siástica. As «Queixas do povo da Bahia» e as, posteriores, ações
normalizadoras de Monteiro da Vide parecem mostrar que aquela
justiça não poderia mais funcionar como outrora. Talvez pudésse-
mos pensar que o crescimento demográfico e econômico do Brasil,
e em parti­cular da Bahia, ainda mais depois de erigida em metrópole
eclesiástica, exigiam uma administração da justiça mais bem adaptada
à realidade. A confecção de regimentos para o auditório eclesiástico
era parte importante desse processo de adaptação. Não é muito
diferente do que se pode pensar acerca das Constituições do arcebis-
pado da Bahia, que seriam promulgadas em 1707. Elas respondiam
à mesma necessidade de adaptação aos novos tempos, em particular
pelo fato de que a Bahia era, desde 1676, uma metrópole arquiepis-
copal e, como tal, era preciso ter constituições próprias e não mais
reger-se por aquelas do arcebispado de Lisboa.

Considerações finais
O desafio de expandir as fronteiras do mundo católico, converter
e evangelizar diferentes povos e estabelecer as estruturas eclesiásti-
cas não foi levado adiante sem hesitações, experiências malsucedidas,
erros e, evidentemente, acertos – do ponto de vista governamental
e eclesiástico – que permitiram o desenvolvimento de uma malha de
controle religioso e político no império português.
Um olhar de conjunto sobre as diferentes partes do império por-
tuguês leva-nos a perceber que o ritmo de difusão do aparato eclesiás-
tico esteve sempre atrelado aos interesses da coroa portuguesa num
plano político e econômico. As estruturas diocesanas acompanha-
ram a expansão imperial lusitana e contribuíram decisivamente para

  Sebastião Monteiro da Vide, «Regimento do Auditório eclesiástico do Arce-


68

bispado da Bahia (1720)», em Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia...,


741.

538

Monárquias Ibéricas.indb 538 13/12/18 14:56


Estruturas eclesiásticas da monarquia portuguesa. A Igreja diocesana

a consolidação do domínio de vastos territórios. Sob este ponto de


vista, as dioceses amazônicas – Maranhão (1677) e Belém (1719) – e
as dioceses e prelazias criadas no Brasil, em 1745 – Mariana e São
Paulo, Goiás e Cuiabá –, são bons exemplos de circunscrições ecle-
siásticas úteis à expansão/delimitação de fronteiras sertões adentro.
Mas é sob o aspecto do controle e disciplinamento social das popu-
lações que o aparato eclesiástico revela uma importância ainda maior
para a consolidação e manutenção do poder imperial.
Ao lado do clero regular missionário e da ação inquisitorial, o clero
diocesano, tendo à sua cabeça um bispo, administrador eclesiástico ou
prelado, cumpriu um papel fundamental para o enquadramento reli-
gioso das populações vivendo sob a égide da coroa lusitana. Em dife-
rentes contextos, a Igreja diocesana, por meio da malha paroquial
espalhada pelo território, exerceu suas funções sacramentais, mas
também de registro e controle sobre a vida do conjunto dos fiéis.
O modelo existente no reino foi a base sobre a qual as Igrejas no
ultramar buscaram se organizar. O padroado ultramarino foi respon-
sável por particularidades como a que se observa em relação a aspec-
tos atinentes à arrecadação e administração das rendas diocesanas ou
ainda sobre o modo de provimento dos benefícios eclesiásticos, na
medida em que todos eles, com exceção do bispo e dos deãos, eram
pertencentes ao padroado da Ordem de Cristo. Pode-se pensar que
tais circunstâncias levavam a que a Igreja ultramarina lusitana fosse
mais atrelada e dependente da coroa do que sua congênere reinol, com
um consequente enfraquecimento do poder episcopal. Contudo, à
exceção do período inaugurado pelo reformismo regalista pombalino,
no qual é possível constatar uma forte tendência intervencionista, não
parece haver, por parte da coroa, demasiado desejo de controle sobre
a Igreja ultramarina69. O pacto tácito existente entre o episcopado e a
coroa – todos os bispos eram feituras do rei, como tão bem nota José
Pedro Paiva70 –, funcionava quase sempre muito bem, quer no reino
quer no ultramar. Neste sentido, o padroado não pode ser visto como

69
  O intervencionismo pombalino chegará ao ponto de proibir que bispos rea-
lizassem ordenações sacerdotais em suas respectivas dioceses. No Rio de Janeiro,
por exemplo, o rei, numa carta de 22 de julho de 1766, determina ao bispo D. Fr.
Antônio do Desterro que suspendesse as ordenações, inclusive as de prima tonsura.
Ver AHU-CU, Rio de Janeiro – Avulsos, cx. 79, doc. 7133.
70
  José Pedro Paiva, Os Bispos de Portugal e do Império, 1495-1777 (Coimbra:
Imprensa da Universidade, 2006), especialmente, 171-213.

539

Monárquias Ibéricas.indb 539 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

um elemento a alterar significativamente o efeito decorrente da ação


eclesiástica no império em relação ao reino.
O certo é que, com uma ou outra adaptação, ditada muitas vezes
por contextos demográficos e econômicos desfavoráveis – penso
notadamente no caso das Administrações Eclesiásticas –, as estru-
turas eclesiásticas no ultramar seguiram os modelos do Portugal
continental. A vastidão do território de algumas dioceses, embora
dificultasse o serviço da religião, não deve ser entendida como um
incontornável estorvo ao enquadramento religioso. As visitas dioce-
sanas foram feitas com alguma regularidade por bispos ou seus vigá-
rios com autoridade delegada, e delas, frequentemente, resultavam
processos contra membros da comunidade que tivessem incorrido
em alguma transgressão ou estivessem em estado de pecado, bem
como recomendações aos curas para uma melhor administração de
suas paróquias e maior vigilância sobre os seus rebanhos. No âmbito
da paróquia, com maior ou menor êxito, buscava-se o exercício de
uma estreita vigilância, seguindo as recomendações dos prelados. É o
que se pode observar no Oriente, nas terras de Salcete, onde, no iní-
cio do século xvii, D. Fr. Aleixo de Menezes recomendava aos vigá-
rios, em capítulos de visitas pastorais, especial atenção a mulheres
grávidas sem maridos, as quais deveriam ser notificadas da obrigação
de dar razão do feto, sob pena de seis meses de prisão e açoites à
porta da igreja71. Nota-se, igualmente, nos sertões de Minas Gerais,
na freguesia de Nossa Senhora da Piedade da Borda do Campo, em
1760, onde o Dr. Jozé dos Santos, cônego penitenciário da Sé de
Mariana e visitador geral do bispado, condenava, com pena de não
admitir a satisfação do preceito quaresmal, aos senhores de escravos
que impedissem o matrimônio de seus escravos concubinários; além
de ordenar ao pároco que realizasse o matrimônio dos escravos que
desejassem sair da condição de amancebados e isto independente-
mente do assentimento dos seus senhores72.
De modo geral, pode-se afirmar que em todas as partes do impé-
rio lusitano a Igreja buscou cumprir seu papel disciplinador e exercer

  BNL, Cod. 176, fl. 120v.


71

  Cf. Mons. Flávio Carneiro Rodrigues, «As Visitas Pastorais do século xviii
72

no Bispado de Mariana. Mariana: Cúria Metropolitana», em Cadernos Históricos


do Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana (Mariana: Editora Dom Viçoso,
1998), vol. 1, 124-125.

540

Monárquias Ibéricas.indb 540 13/12/18 14:56


Estruturas eclesiásticas da monarquia portuguesa. A Igreja diocesana

o controle das consciências. Todavia, é bastante difícil determinar ou


medir a eficácia desse trabalho de enquadramento religioso. Muitas
pesquisas se concentraram no estudo de transgressões e terminaram,
por vezes à revelia de suas intenções, contribuindo para uma visão de
conjunto que apontava para a pouca eficácia do trabalho da Igreja, na
medida em que parecia haver preponderância da desobediência sobre
a norma. Entretanto, esta visão não resiste a um olhar mais atento
e melhor informado. A própria documentação oriunda de tribu-
nais episcopais e inquisitoriais, aliada a fontes relativas às atividades
missionárias e aquelas de cunho mais administrativo, como as que
foram dirigidas ao Conselho Ultramarino e à Mesa da C ­ onsciência
e Ordens, mostram uma presença efetiva das estruturas eclesiásti-
cas no cotidiano. A eficácia relativa dessas estruturas é revelada na
punição aos pecados públicos, mas também no desejo de amparo
religioso, em particular sacramental, manifestado pelos fiéis, como
se pode flagrar em relatos de missões ou em documentos como as
súplicas para a ereção de novas paróquias.
Seguindo, em grande medida, os padrões pré-existentes nas
­Igrejas do reino, as estruturas eclesiásticas no ultramar se mostraram
capazes de contribuir para a cristianização de vários povos e, sobre-
tudo, para o exercício do controle e vigilância dos fiéis. No caso do
ultramar português, em particular, a organização da Igreja esteve
mais estreitamente ligada ao poder régio, mas nem por isso parece
ter havido maiores intervenções do poder secular sobre o espiritual.
Na segunda metade do século xviii, quando o Estado luso favoreceu
a adoção de uma doutrina eclesiológica regalista de matriz galicana73,
toda a Igreja, do reino e do império, sentiu os efeitos da mudança de
paradigma na relação entre Estado e Igreja. Com o passar do tempo,
a ideia de um Estado mais forte e menos dependente da Igreja para o
controle das consciências foi tomando corpo, abrindo caminho a um
lento processo de secularização. As estruturas eclesiásticas em todo
o orbe português viram-se diante de novos desafios, mas por muito
tempo a Igreja não parece ter tido modelo ou espelho que não fosse
baseado em seu desejo de retorno ao passado, quando detinha uma
espécie de monopólio do controle das consciências.

 Evergton Sales Souza, «Igreja e Estado no período pombalino«, Lusitania


73

sacra, 2.ª série, 23 (Janeiro-Julho de 2011): 207-230.

541

Monárquias Ibéricas.indb 541 13/12/18 14:56


Monárquias Ibéricas.indb 542 13/12/18 14:56
Aliocha Maldavsky
Federico Palomo

Capítulo 15

La misión en los espacios del


mundo ibérico: conversiones,
formas de control y negociación 1

Introducción
Las monarquías ibéricas hicieron de la adhesión al credo romano
un elemento central de su identidad como reinos y como entida-
des territoriales compuestas. Desarrollaron políticas que buscaban la
uniformidad confesional en sus territorios peninsulares y europeos,
promoviendo, al mismo tiempo, la conversión religiosa entre las
poblaciones de los espacios americanos, asiáticos y africanos en los
que se hicieron presentes. La evangelización fue posiblemente uno
de los elementos que de forma más determinante definió el carácter
de sus respectivas experiencias imperiales durante todo el periodo
moderno. Tanto la Corona castellana como la portuguesa tuvieron
en el proselitismo religioso y la empresa misionera una sólida base

  El presente capítulo se ha elaborado en el marco de los proyectos de inves-


1

tigación Imperios de papel: textos, cultura escrita y religiosos en la configuración del


Imperio portugués de la Edad Moderna (1580-1668). HAR2014-52693P y Trópicos
letrados: textos y prácticas eruditas del clero en los espacios del Imperio portugués de la
Edad Moderna. HAR2017-84627-P. Ministerio de Ciencia, Innovación y Universi-
dades (España).

543

Monárquias Ibéricas.indb 543 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

ideológica a partir de la cual justificar su dominio político sobre los


territorios y poblaciones del Índico, el Atlántico y el Pacífico que
integraron sus respectivas monarquías entre los siglos xv y xviii.
Ambas desempeñaron un papel fundamental – aunque no exclu-
sivo – en la expansión del credo romano por las cuatro partes del
mundo entonces conocido, contribuyendo a dotar al catolicismo de
la Edad Moderna de la dimensión global, planetaria, que tuvo.
No obstante el paralelismo de ambas experiencias y su desarrollo
prácticamente coetáneo, son escasos los análisis que han abordado
el fenómeno misionero en uno y otro imperio de forma comparada
o conjunta, tratando de subrayar las profundas sinergias que, desde
esta perspectiva, se produjeron entre dos espacios políticos cuyas
fronteras, de hecho, fueron mucho más permeables de lo que una
historiografía de corte «nacional» tradicionalmente había pensado y
establecido. En general, los historiadores se han centrado en uno u
otro imperio, con obras de síntesis que, a menudo, han puesto el
acento en las experiencias misioneras de uno de los imperios, dejando
el otro en un segundo plano y dando además particular protagonismo
a la experiencia jesuita2. Queda lejos el ensayo que Charles Boxer
elaboró en 1978, en el cual supo articular una visión global del papel
que las instituciones y actores pertenecientes al campo eclesiástico
desempeñaron en los procesos de expansión y colonización i­ béricos.

  No hay obras de síntesis que tomen en cuenta a todas las órdenes religiosas. Las
2

hay para algunas, como los estudios de Dauril Alden, The Making of an Enterprise:
The Society of Jesus in Portugal, its Empire, and Beyond, 1540-1750 (Stanford: Stan-
ford University Press, 1996) y Nicholas Cushner, Why Have You Come Here?: The
Jesuits and the First Evangelization of Native America (Oxford: Oxford University
Press, 2006) sobre los jesuitas. La dificultad del trabajo de síntesis no ha dejado de
plantearse en algunos libros colectivos recientes como, sobre la conversión, el volu-
men de Kenneth Mills y Anthony Grafton, eds., Conversion: Old Worlds and New
(Rochester: University of Rochester Press, 2003); sobre las misiones en general, el
texto de Pierre-Antoine Fabre y Bernard Vincent, eds., Missions religieuses modernes
«Notre lieu es le monde», eds. (Roma: École Française de Rome, 2007); sobre la inte-
racción entre saberes y misiones, los volúmenes de Guillermo Wilde, ed., Saberes de
la conversión: jesuitas, indígenas e imperios coloniales en las fronteras de la cristiandad
(Buenos Aires: SB Editorial, 2011) y de Charlotte de Castelnau, Marie-Lucie Copete,
Aliocha Maldavsky e Ines G. Županov, eds., Missions d’évangélisation et circulation des
savoirs, xvie-xviiie siècles (Madrid: Casa de Velázquez, 2011); sobre la relación entre
colonización y evangelización en la larga duración, el libro de Dominique Borne y
Benoit Falaize, eds., Religions et colonisation, xvie-xxe siècle: Afrique, Amérique, Asie,
Océanie (París: Les Éditions de l’Atelier-Éditions Ouvrières, 2009).

544

Monárquias Ibéricas.indb 544 13/12/18 14:56


La misión en los espacios del mundo ibérico

Para ello, partió de algunos problemas que, en buena medida, cen-


tran aún hoy muchos de los debates de los historiadores, desde la
cuestión de las relaciones raciales, presente en los debates relativos
al clero indígena, a la importancia de las interacciones culturales que
suscitó la actividad de proselitismo y la confrontación del catoli-
cismo ibérico con las sociedades asiáticas, africanas y americanas.
Se interrogó igualmente sobre los efectos de la actividad misionera,
sobre la naturaleza de las conversiones y la configuración de lo que
denominó un catolicismo «sintético». Señaló finalmente algunos de
los elementos que determinaron la organización de ambas Iglesias
coloniales y sus relaciones con la Corona, subrayando la importancia
de los respectivos patronatos regios, la introducción de la Inquisi-
ción en los espacios coloniales o el papel que desempeñó la misión
como institución de frontera3.
El presente ensayo busca así ofrecer una visión integrada del
fenómeno misionero dentro de los espacios ibéricos del Índico y el
Atlántico. Para ello, partimos de algunas premisas que determinan
nuestra visión de la misión. En primer lugar, la dificultad que encie-
rra la propia definición de Iglesia en el periodo altomoderno, tanto
en el ámbito europeo como en los contextos coloniales. Lejos de
ser una institución jurídico-política completamente autónoma con
respecto a otros polos de poder – en especial, la Corona – y de mos-
trarse como una estructura perfectamente integrada y organizada
de forma jerarquizada y centralizada, surgía en los siglos modernos
como una entidad con fuertes vínculos a las instancias del poder
secular. Pero, sobre todo, aparecía como una constelación en la que
participaban múltiples instancias y actores (curia pontificia, obis-
pos, cabildos, órdenes religiosas, inquisidores, cofradías, etc.) que,
a menudo, gozaban de formas distintas de autonomía jurisdiccional,
dibujando un espacio menos homogéneo de lo que tradicionalmente
se ha pensado4.
Esta percepción más dilatada y relativamente plural del mundo
eclesiástico de la Edad Moderna no deja asimismo de hacerse p ­ resente

3
 Charles R. Boxer, The church militant and Iberian Expansion (Baltimore/
London: The Johns Hopkins University Press, 1978).
4
  Roberto Di Stefano, «¿De qué hablamos cuando decimos ‘Iglesia’? Reflexio-
nes sobre el uso historiográfico de un término polisémico», Ariadna histórica. Len-
guajes, conceptos, metáforas, 1 (2012): 197-222 (http://www.ehu.es/ojs/index.php/
Ariadna).

545

Monárquias Ibéricas.indb 545 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

cuando nos interrogarnos sobre el propio concepto de misión y


nos aproximamos a la actividad de evangelización que se desarro-
lló en los distintos contextos imperiales europeos y, en particular,
en los mundos ibéricos. Fueron múltiples, de hecho, los agentes
que se vieron involucrados en las empresas de conversión religiosa,
actuando además desde instancias diferentes y pudiendo muchas
veces desarrollar estrategias distintas. Hubo sin duda seculares que,
por su estado o por sus funciones políticas, promovieron y apoya-
ron – incluso financieramente – concretas iniciativas misioneras, no
faltando tampoco aquellos que, de un modo u otro, llegaron a parti-
cipar en el adoctrinamiento de nativos y esclavos. Pero, sobre todo,
hubo religiosos que, vinculados a distintas órdenes, asumieron un
papel central en la tarea de conversión. Lejos de constituir un grupo
homogéneo, numerosos aspectos los diferenciaban en función de la
congregación a la que pertenecían, de sus raíces sociales, de sus orí-
genes geográficos, etc. Muchas veces, defendieron criterios distin-
tos en torno a la práctica misionera (que los enfrentaban entre sí y
frente a otros actores), además de desarrollar intereses particulares
que podían ir más allá de lo estrictamente religioso. Junto a ellos, no
faltaron tampoco los miembros del clero secular: aquellos que, como
párrocos, fueron asumiendo el control de las doctrinas de indios en
los territorios de la América hispana, pero también los que, como
prelados, habían de constituir la jerarquía eclesiástica en los territo-
rios del Padroado luso y del Patronato regio hispano, acometiendo
proyectos y adoptando pautas en el ámbito de la evangelización que,
de tanto en tanto, los llevó a chocar con las órdenes religiosas que
participaban en la empresa misionera.
Con todo, las fronteras entre estos varios actores que poblaban
el campo de la conversión religiosa no siempre fueron nítidas. Los
vínculos, por ejemplo, que los regulares tejieron con las instancias
del poder político (virreyes, gobernadores, municipios, etc.) y con
las propias autoridades eclesiásticas fueron estrechos, como veremos
en las próximas páginas. En ocasiones, acabaron situándose al frente
de instituciones que, destinadas a la evangelización de los nativos,
habían sido promovidas en su origen por prelados o representantes
de la Corona. En Goa, la Confraria da Santa Fé, creada en 1541 para
servir de espacio de encuadramiento religioso a los conversos loca-
les, acabó siendo confiada a los religiosos de la Compañía. Al mismo
tiempo, en la América hispana y en determinados territorios de la

546

Monárquias Ibéricas.indb 546 13/12/18 14:56


La misión en los espacios del mundo ibérico

Asia portuguesa, franciscanos, dominicos e, incluso, jesuitas asu-


mieron durante mucho tiempo el control de aquellas parroquias
que congregaban a las poblaciones locales. Los religiosos, por otro
lado, no dejaron de desempeñar asimismo cargas episcopales en los
espacios coloniales, donde las diócesis tuvieron en general un mar-
cado perfil misionero. En la mayoría de las ocasiones, de hecho, los
monarcas ibéricos designaron como prelados a sujetos vinculados a
las órdenes5. Hubo incluso algún caso, como el obispado de Japón,
donde las funciones fueron desempeñadas de forma sistemática por
miembros de la Compañía de Jesús.
A pesar de la dificultad para establecer fronteras nítidas entre unos
agentes y otros, las próximas páginas pretenden hacer hincapié en la
necesidad de considerar situaciones de conversión entre las pobla-
ciones nativas que reflejen esa diversidad de actores que, de un modo
u otro, se vieron implicados en la tarea de evangelización. No obs-
tante, el universo de los regulares adquirirá necesariamente un peso
mayor en nuestro análisis, fruto de la particular implicación que, de
hecho, las órdenes tuvieron en el campo misionero. En este sentido,
resulta imprescindible superar una visión que, en los últimos años,
ha centrado esencialmente la atención en la Compañía de Jesús, en
detrimento del estudio de otros grupos religiosos. C ­ onviene así
poner de relieve el papel que, dentro del campo misionero, les cupo
asimismo a franciscanos, dominicos, agustinos, carmelitas, etc., quie-
nes, en muchas ocasiones, tuvieron un peso tan importante como el
de los ignacianos6, habiéndose anticipado a éstos – cabe recordarlo –

5
 Para el caso portugués, véase José Pedro Paiva, Os bispos de Portugal e do
Império, 1495-1777 (Coimbra: Imprensa da Universidade, 2006); en relación con
el mundo hispano, remitimos a Paulino Castañeda Delgado y Juan Marchena Fer-
nández, La jerarquía de la Iglesia en Indias. El episcopado americano: 1500-1850
(Madrid: Fundación Mapfre, 1992).
6
 En particular, sobre los franciscanos, véase: David Rex Galindo, To Sin no More:
Franciscans and Conversion in the Hispanic World, 1683-1830 (Stanford: ­Stanford Uni-
versity Press, 2018), Federico Palomo, ed., Written Empires: F ­ ranciscans, Texts and the
Making of the Early-Modern Iberian Empires, Culture & History Digital Journal, 5/2
(2016), http://cultureandhistory.revistas.csic.es/ index.php/cultureandhistory/issue/
view/10; Steven E. Turley, Franciscan Spirituality and Mission in New Spain, 1524-1599.
Conflict beneath the Sycamore Tree (Luke 19:1-10) (Farnham­-Burlington: Ashgate,
2014); Marcos Antônio de Almeida, «L’Orbe Serafico, Novo Brasilico»: Jaboatão et les
franciscains à Pernambouc au xviiie siècle. Tesis doctoral (París: EHESS, 2012); Ângela
Barreto Xavier, «Itinerários franciscanos na Índia Seiscentista, e algunas questões de
História e de método». Lusitania Sacra, 18 (2006): 97-116.

547

Monárquias Ibéricas.indb 547 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

en su presencia sobre determinados territorios, así como en muchos


de los métodos de conversión empleados. Fueron además expresión
elocuente – en ocasiones, quizás, de un modo más explícito que los
jesuitas – de la interpenetración que existió entre los actores reli-
giosos y las sociedades coloniales. Baste recordar, por ejemplo, que
el propio desarrollo de las órdenes en los contextos imperiales ibé-
ricos se vio acompañado de un creciente reclutamiento local, reali-
zado principalmente entre los grupos que conformaban la elite de
origen ibérico (criollos, casados, etc.). Esto, sin duda, favoreció la
adaptación de los institutos religiosos, no sólo a los grupos nativos,
sino también a las propias sociedades coloniales en las que, en último
extremo, se integraban y de las que participaban, estableciendo inte-
reses comunes, pero también originando fricciones. No faltaron,
de hecho, las situaciones en las que los misioneros se enfrentaron a
encomenderos, dueños de esclavos, senhores de engenho, etc., cuyos
intereses interferían en la tarea de conversión y evangelización de
las poblaciones nativas o, sencillamente, chocaban con los propios
intereses temporales de los institutos religiosos.
Sobre estas premisas y teniendo en cuenta la perspectiva «ins-
titucional» del presente volumen, la visión integrada – y no estric-
tamente comparativa – que nos proponemos trazar en torno al
fenómeno de la misión, no implica tanto establecer divergen-
cias y/o confluencias entre el ejemplo portugués y el hispánico.
Importa más el identificar, a partir de ambas experiencias, procesos
y situaciones directamente relacionados con la actividad misionera
en función de factores socio-políticos más amplios, desde el grado
de dominación política y militar que el poder ibérico ejercía sobre
un territorio – determinando, por ejemplo, la mayor o menor
dependencia de los misioneros con respecto a las autoridades loca-
les –, a la presencia o no de nuevas sociedades, es decir de socie-
dades coloniales que, sin duda, condicionaban las estrategias de
conversión dirigidas a las poblaciones nativas. En este sentido, se
ha optado por una perspectiva que incide sobre aquellos elemen-
tos y dinámicas misioneras, cuyo origen y desarrollo no se vieron
propiamente condicionados por lo «portugués» o lo «hispánico»
de cada uno de los contextos en los que surgieron. Esto consiente
que podamos establecer una tipología de los espacios misioneros
en el marco general del «colonialismo ibérico», al margen de lógi-
cas estrictamente «imperiales».

548

Monárquias Ibéricas.indb 548 13/12/18 14:56


La misión en los espacios del mundo ibérico

En este sentido, cabe distinguir de antemano entre cuatro con-


figuraciones distintas en las que se desarrollan las actividades de
conversión: los centros urbanos; los territorios estrechamente
controlados por los poderes coloniales, en los que se constituyen
sociedades coloniales (los Andes centrales, la meseta mexicana, las
áreas de la costa brasileña bajo dominio portugués, Goa); las zonas
de frontera y, en general, las regiones imperiales en las que los ibé-
ricos ejercieron un control precario (California y norte de Nueva
España, Florida, la frontera amazónico hispano-portuguesa, la isla de
­Mindanao…); los espacios en los que el dominio político de españo-
les y portugueses fue inexistente o sumamente conflictivo (China,
Japón, Cochinchina, Persia, Imperio mogol, Kongo, etc.)7.
Desde el punto de vista cronológico, nuestro análisis compren-
derá todo el periodo moderno. Sin adentrarnos en las iniciativas de
ocupación territorial y de comercio que protagonizaron portugue-
ses y castellanos en el Atlántico durante el siglo xv, nuestro punto
de partida se sitúa esencialmente en las primeras experiencias más
sistemáticas de evangelización que se llevaron a cabo en la América
hispana, a raíz sobre todo de la conquista de México, y en los pro-
cesos de estructuración del espacio imperial portugués que tuvieron
lugar en las primeras décadas del siglo xvi, con la consiguiente crea-
ción de instituciones eclesiásticas en los espacios del imperio y el
desarrollo de una política de conversión más determinada a partir de
la década de 1530. Por otro lado, entendemos que la segunda mitad
del siglo xviii, con las políticas desarrolladas por ambas Coronas en
sus respectivos contextos coloniales, marca asimismo un segundo
límite cronológico en nuestro análisis, constituyendo, de hecho, un
periodo de transformaciones profundas y, al tiempo, de afirmación
de un cristianismo colonial caracterizado por un progresivo confina-
miento de la misión. De este último resulta, sin duda, la delimitación
conceptual del propio hecho misionero que hemos heredado y que,
quizás, requiere de una visión más amplia. Entre ambos límites tem-
porales, se tendrán igualmente en cuenta determinadas coyunturas
que tuvieron particular impacto sobre el campo de la evangelización,

7
  Aliocha Maldavsky, «Jesuits in Ibero-America: Missions and Colonial Socie-
ties», The Jesuits and Globalization: Historical Legacies and Contemporary Challen-
ges, ed. Tom Banchoff y José Casanova (Washington: The Georgetown University
2016): 93-98.

549

Monárquias Ibéricas.indb 549 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

desde la que surgió a raíz de la aplicación de Trento en los espacios


coloniales, a la que se creó con la aparición, a mediados del siglo xvii,
de nuevos actores. Baste recordar lo que, frente al tradicional prota-
gonismo misionero de los ibéricos, significó la constitución de una
institución pontificia como Propaganda Fide, en 1622, o la irrupción
del poder real francés en los contextos asiáticos mediante expedicio-
nes misioneras patrocinadas por Luis XIV y la Société de Missions
Étrangères, fundada en 1658. Esta situación de competencia, entre
potencias imperiales, instituciones centrales y órdenes religiosas,
se evidencia con la Querella de los Ritos chinos, que se desarrolla
durante un siglo, entre 1643 y 1742. Con todo, en el dominio his-
pano, los colegios de Propaganda Fide no se crean antes del siglo
xviii. En este sentido, tomaremos como periodo final de nuestro
análisis una amplia segunda mitad del siglo xviii.

La misión como instrumento de legitimidad


y de conversión cultural
El vínculo entre conquista, dominación política y conversión
comenzó a establecerse a mediados del siglo xv, a raíz de las dispu-
tas entre castellanos y portugueses por el dominio que reclamaban
sobre las islas atlánticas y las costas africanas. A este respecto, el
control sobre el comercio de esclavos de origen africano, que los
portugueses habían iniciado ya en 1444, no fue un elemento de
menor calado. La autoridad pontificia, sobre la base de una parti-
cular interpretación de la idea de cruzada y en virtud además de
la potestad indirecta que reivindicaba sobre los «infieles» (que le
atribuía responsabilidad pastoral sobre la entera humanidad), vino
a legitimar en 1452, por medio de la bula Dum diversas, el domi-
nio – presente y futuro – del rey de Portugal sobre las tierras que
habitaban los paganos o gentiles, así como el derecho que le asistía a
reducirlos a esclavitud perpetua, con la esperanza de su futura con-
versión y la implícita obligación de favorecer la difusión del cristia-
nismo. El texto, que puso en buena medida las bases jurídicas del
futuro imperio portugués, no sólo consentía extender el derecho de
conquista – en función del objetivo de la conversión – más allá de las
tradicionales fronteras del mundo musulmán, sino que identificaba
además a los gentiles como «enemigos de Cristo», consintiendo el

550

Monárquias Ibéricas.indb 550 13/12/18 14:56


La misión en los espacios del mundo ibérico

reducir a los negros africanos a la condición de esclavos, como si se


tratase de prisioneros de guerra8.
La obligación de convertir a los gentiles, por tanto, quedó ense-
guida reflejada – de un modo más o menos explícito – en las sucesivas
bulas pontificias que sirvieron de base jurídica a las empresas marí-
timas de las Coronas ibéricas9. Sin embargo, la evangelización tuvo
mucho de improvisación – cuando no fue inexistente – durante las
primeras experiencias comerciales y colonizadoras en el Atlántico.
Al margen de las pretensiones que el papado tuvo en los siglos xiv
y xv por acometer la conversión de los nativos de Canarias, con
el establecimiento de obispados en Telde y Lanzarote, la explora-
ción de la costa africana durante la centuria de 1400 no se tradujo
en una verdadera tarea de proselitismo religioso, limitándose en
muchas ocasiones al bautismo formal de los esclavos enviados a la
Península y las islas del Atlántico (lo que justificaba su captura y
comercio). Sólo en la década de 1490, se llevó a cabo un proyecto
más consistente – aunque limitado en el tiempo – mediante el envío
al reino de Kongo de un grupo de religiosos franciscanos. Su actua-
ción siguió un modelo de raíces medievales que apuntaba a la con-
versión del soberano como instrumento que había de propiciar la
propia conversión de sus súbitos. En 1491, de hecho, el rey Nkuwu
Nzinga abrazó el catolicismo, adoptando el nombre de João I. Su
bautismo – al que siguió el de las elites del reino – dio inicio a una
cristiandad que, no obstante, acabaría en buena medida desarro-
llándose al margen del poder portugués, sobre la base de un clero
local y asumiendo trazos particulares10.
En esos mismos años y, sobre todo, durante las primeras décadas
del siglo xvi, se dieron los pasos iniciales en la colonización de las
Antillas por parte de los castellanos. Aunque la conversión de los
gentiles formaba parte del proyecto político de los Reyes ­Católicos,
con arreglo a lo que expresamente dictaban las bulas alejandrinas
(1493), esta primera evangelización del espacio antillano no llegó a
tener un carácter verdaderamente articulado. Los indígenas, ­vistos

8
  Giuseppe Marcocci, A consciência de um império: Portugal e o seu mundo (sécs.
xv-xvii) (Coimbra: Imprensa da Universidade, 2012), 41-71.
9
  Véanse los capítulos incluidos en este volumen de Ignasi Fernández Terrica-
bras y de Ângela Barreto y Fernanda Olival.
10
  Cécile Fromont, The Art of Conversion: Christian Visual Culture in the King-
dom of Kongo (Chapel Hill: The University of North Carolina Press, 2014).

551

Monárquias Ibéricas.indb 551 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

esencialmente como mano de obra servil, se vieron sujetos al con-


trol de colonos y encomenderos, escasamente interesados en su
instrucción religiosa. Tampoco la llegada en 1502 de los primeros
contingentes de religiosos y la posterior creación de los obispados
de Santo Domingo y Puerto Rico (1511) se tradujeron en una activi-
dad sistemática de proselitismo religioso destinada a los indios. Sólo
las denuncias de los dominicos Antonio de Montesinos, Pedro de
Córdoba y Bartolomé de las Casas, enfrentados a los colonos espa-
ñoles, obligaron a repensar las estrategias, forzando la reacción de la
Corona ante la realidad de los indígenas y la cuestión de su conver-
sión. Esta acabó así envuelta en una agria disputa que, si bien supuso
la promulgación de las Leyes de Burgos (1512), mediante las cuales
se trató de limitar el poder de los colonos y sus abusos sobre los
nativos, no trajo consigo un cambio inmediato y sustancial de las
actividades de evangelización.
En realidad, la conversión de las sociedades originarias de los
territorios del Atlántico no adquirió un carácter verdaderamente
articulado hasta la década de 1520, cuando la conquista de México
permitió a los castellanos configurar un imperio de característi-
cas diferentes. Las órdenes mendicantes (especialmente los fran-
ciscanos), imbuidas de ideales milenaristas y de cierta dosis de
humanismo cristiano, buscaron instaurar ahí una nueva Jerusalén,
una nueva cristiandad, que supuso el desarrollo de un programa
sistemático de evangelización, entendido como base para la con-
solidación de la autoridad de la Corona castellana en los nuevos
territorios conquistados11. Poco después, en la década de 1530,
serían nuevamente los franciscanos – y, desde la década de 1540,
también los jesuitas – quienes desempeñarían un papel similar
en el contexto de la Goa portuguesa. Con proyectos que bus-
caban establecer las condiciones sobre las que «reformar y crear
un nuevo mundo», desarrollaron estrategias de conversión que,
semejantes a las empleadas en el contexto mexicano, tendrían en
el bautismo de los naturales – al margen de que mediase la fuerza

11
  Robert Ricard, La «conquête spirituelle» du Mexique: Essai sur l’apostolat et
les méthodes missionnaires des Ordres Mendiants en Nouvelle-Espagne de 1522-24 à
1572 (París: Institut d’Ethnologie, 1933); John Leddy Phelan, The millennial king-
dom of the Franciscans in the New World: a study of the writings of Gerónimo de
Mendieta (1525-1604) (Berkeley: University of California Press, 1956).

552

Monárquias Ibéricas.indb 552 13/12/18 14:56


La misión en los espacios del mundo ibérico

y/o no a­ sentase sobre un adoctrinamiento previo12 – uno de sus


elementos fundamentales13.
Más allá de su función legitimadora del poder imperial, la conver-
sión asumió así un significado de claros ribetes políticos. En realidad,
el bautismo fue el instrumento de inclusión de los naturales en el
nuevo orden colonial. A largo plazo, contribuyó a la transformación
cultural de las poblaciones – a su occidentalización14 –, estableciendo
formas de dominio duraderas. En último término y con arreglo a cri-
terios semejantes a los empleados en los contextos metropolitanos,
hacer de los nativos «buenos cristianos» se entendió como modo de
transformarlos en «buenos súbditos»15.
Los proyectos de «conquista espiritual» de los territorios que
castellanos y portugueses incorporaron al dominio de sus respec-
tivas Coronas, encontraron un referente en la experiencia grana-
dina, así como en los procesos de conversión forzada que, en la
Península, afectaron a judíos y musulmanes. Como en Granada,
las órdenes religiosas ocuparon un papel de primer plano, respecto
al clero secular y la escasa presencia del obispo16. Tanto en México

12
  La estrategia de conversión basada en el bautismo forzado (o sin instruc-
ción previa) tenía referentes inmediatos en la península ibérica, tanto en la con-
versión forzada de los judíos en Portugal (1499), como en la de los musulmanes
de ­Granada (1502). Su fundamento teológico se encontraba en el pensamiento del
franciscano Duns Escoto, quien defendió que los soberanos cristianos recurriesen
al bautismo forzado de infieles y gentiles, en la expectativa de que sus descendien-
tes abrazarían con sinceridad la fe católica; Giuseppe Marcocci, A consciência de
um imperio…, 380.
13
  Ângela Barreto Xavier, A Invenção de Goa: Poder Imperial e Conversões Cul-
turais nos Séculos XVI e XVII (Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2008), 81-144;
Giuseppe Marcocci, A consciencia de um imperio…, 373-404.
14
  Serge Gruzinski, La colonisation de l’imaginaire: sociétés indigènes et occiden-
talisation dans le Mexique espagnol, xvie-xviiie siècle (París: Gallimard, 1988).
15
  Ana Díaz Serrano, «Repúblicas perfectas para el rey católico. Los francisca-
nos y el modelo político de la Monarquía en la Nueva España durante el siglo xvi»,
en Oficiales reales: los ministros de la Monarquía Católica, siglos xvi-xvii, ed. Juan
Francisco Pardo Molero y Manuel Lomas Cortés (Valencia: Universitat de València,
2012): 109-136; Xavier, A invenção de Goa…, 81-144.
16
  Sobre los procesos de conversión religiosa en Granada, tras la conquista de
1492, véase, David Coleman, Creating Christian Granada: Society and Religious Cul-
ture in an Old-World Frontier City, 1492-1600 (Ithaca-Londres: Cornell ­University
Press, 2013). En el caso portugués, el modelo granadino asumió también particular
pertinencia en el caso de la India, donde algunos de los actores presentes en los
primeros momentos de la colonización, como los franciscanos, estaban vinculados

553

Monárquias Ibéricas.indb 553 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

como en Goa (y más tarde en Perú), se adoptaron enseguida estra-


tegias que, junto a los bautismos en masa, conjugaban violencia
y persuasión. Se quiso erradicar el horizonte ritual y sobrenatural
de los nativos para, sobre el mismo, edificar uno nuevo que debía
ser apenas cristiano. Como, en parte, había sucedido en Granada,
se destruyeron templos e ídolos, se prohibieron celebraciones, se
desautorizó a los intermediarios tradicionales. En su lugar, se edi-
ficaron iglesias, se introdujeron nuevos ritos y un nuevo calenda-
rio litúrgico, se elaboraron instrumentos (escritos, visuales, etc.)
para el adoctrinamiento, se introdujeron nuevas normas morales
y sociales. Pero también hubo margen para la adaptación y para
establecer continuidades entre el mundo católico y el local. En un
contexto «inédito» como el americano, se buscaron elementos que
permitiesen inscribir la «nueva humanidad» en la historia sagrada.
Sobre todo, se resignificaron ritos, espacios y personajes, propi-
ciando la persistencia, transformadas, de expresiones del mundo
religioso anterior a la presencia ibérica.
De cualquier modo, la adhesión al cristianismo de los naturales,
su inclusión en el orden imperial a través del bautismo – entendido
inicialmente a la manera paulina, como elemento per se trasforma-
dor – no impidió que, a continuación, se viesen sujetos a formas de
exclusión en muchos aspectos semejantes a las que se usaron con
moriscos y cristãos novos en los espacios peninsulares. Los indígenas
quedaron reducidos a la condición de eternos menores, cuya con-
versión – siempre objeto de duda y sospecha – parecía asumir un
carácter perennemente incompleto, acentuando la posición liminar
que, en buena medida, ocuparon dentro del orden colonial17.
A partir de las décadas de 1560-1570, coincidiendo con cambios
significativos en el campo político y eclesiástico, las formas iniciales
de conversión y los trazos que las habían teñido de humanismo cris-
tiano se vieron cuestionados en los contextos de la América hispana.
En México, el colegio de Tlatelolco, fundado para formar a los nobles
mexicas, entró en decadencia. Fue un periodo de definición de una

a corrientes espirituales próximas de las que adoptaron quienes habían tenido algún
papel en la Península; cf. Xavier, A invenção de Goa…, 97.
17
  Juan Carlos Estenssoro Fuchs, Del paganismo a la santidad: La incorporación
de los indios del Perú al catolicismo, 1532-1750 (Lima: Institut Français d’Études
Andines, 2003); Ângela Barreto Xavier, A invenção de Goa…

554

Monárquias Ibéricas.indb 554 13/12/18 14:56


La misión en los espacios del mundo ibérico

«ortodoxia colonial»18. En este sentido, el mundo americano y la India


portuguesa no quedaron al margen de los cambios que entonces se pro-
dujeron en los contextos metropolitanos, donde, al tiempo que el cato-
licismo fijaba su dogma y establecía las bases de su reforma en Trento
(1545-1563), se delineaban políticas de marcado signo confesional,
orientadas a controlar y a atajar toda expresión de disidencia religiosa,
promoviendo a su vez la socialización de la ortodoxia católica y de las
normas morales que ésta dictaba. En los contextos imperiales ibéricos,
se asiste así al establecimiento de los tribunales inquisitoriales de Goa
(1560), Lima y México (1569 y 1571) y a las primeras visitas del Santo
Oficio portugués al Brasil (1591). Se introducen además las reformas
tridentinas, adaptándolas muchas veces a las especificidades que impo-
nen las nuevas cristiandades asiáticas y americanas, sobre las que se
aspira a ejercer un mayor control. Se tratará así de reforzar la autoridad
episcopal (frente a las órdenes religiosas), celebrándose algunos con-
cilios de particular importancia. En Goa, en 1567, el arzobispo Gaspar
de Leão convocó un concilio provincial en el que se establecieron las
Constituciones del arzobispado. En ellas, se incorporó ya la legislación
tridentina, tratando de adecuarla a las necesidades locales y, al tiempo,
sirviendo de base para la pretendida transformación radical del hori-
zonte social y cultural que entrañaba la conformación de una nueva
cristiandad en un espacio como la India portuguesa, marcado por su
diversidad19. A éste siguieron otros cuatro concilios, celebrados entre
1575 y 1606 que completaron la labor de adaptación de Trento al con-
texto del Índico, siendo cada vez más patente la diferenciación entre
las estrategias destinadas a las «nuevas» y las «viejas cristiandades»20. En
1575 y, de modo aún más claro en el concilio de 1585, las comunidades
de origen nestoriano que habitaban en la costa Malabar y que el poder
eclesiástico en Goa aspiraba a «romanizar», pasaron a ocupar un parte
importante de las discusiones y al articulado conciliar21.

18
  Estenssoro Fuchs, Del paganismo a la santidad…, 177-226.
19
  Ângela Barreto Xavier, «Gaspar de Leão e a recepção do Concílio de Trento
no Estado da Índia», O Concílio de Trento em Portugal e Suas Conquistas. Olhares
Novos, ed. António Camões Gouveia, David Sampaio Barbosa y José Pedro Paiva
(Lisboa: CEHR-UCP, 2014), 133-156.
20
  Xavier, «Gaspar de Leão…», 149.
21
  Patrícia Souza de Faria, «Os concílios provinciais de Goa: reflexões sobre o
impacto da ‘Reforma Tridentina’ no centro do império asiático português (1567-
-1606)», Topoi, 27 (Jul.-Dez. 2013): 218-238.

555

Monárquias Ibéricas.indb 555 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Dentro de la América hispana, el III Concilio de Lima (1582)


y el III de México (1585) tuvieron asimismo especial relevancia
en términos misioneros. En ellos, se buscó sobre todo uniformar
la doctrina que se debía enseñar a los naturales y, al tiempo, defi-
nir claramente el universo de lo que cabía considerar idolátrico.
En este sentido, la imagen obsequiosa del indio que, en el pasado,
le había atribuido particular disposición para abrazar la fe cató-
lica, adoptó los tintes obscuros de una aparente irreductibilidad.
En cierto modo, se pasó del indígena pagano al idólatra culpable22.
Se reelaboró la visión del nativo, justificando muchas veces su ais-
lamiento y diferenciación con respecto al resto de los fieles, su
conversión – como apuntábamos – permanentemente inconclusa.
Para Bernardino de Sahagún, muchas de las devociones cristianas
que observaban los indígenas no eran sino continuación de anti-
guos cultos prehispánicos. Más incisivo, el jesuita José de Acosta
distinguió entre dos géneros de idolatrías: las que se asociaban a
los elementos naturales (sol, ríos, montañas, árboles…) y las que
eran fruto de la invención humana (ídolos, momias). Unas y otras
eran obra del diablo y, por tanto, había que erradicarlas. Entre 1611
y 1660, se realizaron sucesivas campañas de extirpación de idola-
trías dentro del mundo andino, articulando la acción de obispos
y religiosos (jesuitas) en un intento de controlar la religiosidad
indígena y acabar con toda expresión que se considerase idolá-
trica23. El fenómeno, aunque con una intensidad mucho menor,
tuvo también expresión en el contexto novohispano o, incluso,
en la América portuguesa, donde, en 1591-92, el visitador inqui-
sitorial Heitor Furtado de Mendonça no dudó en actuar contra la
llamada Santidade de Jaguaripe24.

22
  Estenssoro Fuchs, Del paganismo a la santidad…, passim.
23
  Pierre Duviols, La lutte contre les religions autochtones dans le Pérou colonial.
«L’extirpation de l’idolâtrie» entre 1532 et 1660 (Lima: Institut Français d’Études
Andines, 1971); Kenneth R. Mills. Idolatry and Its Enemies: Colonial Andean
Religion and Extirpation, 1640-1750 (Princeton, N.J.: Princeton University Press,
1997).
24
  Ronaldo Vainfas, A heresia dos índios: catolicismo e rebeldia no Brasil colonial
(São Paulo: Companhia das Letras, 1995).

556

Monárquias Ibéricas.indb 556 13/12/18 14:56


La misión en los espacios del mundo ibérico

La institucionalización de la misión
Estos cambios en la percepción de los nativos americanos no deja-
ron de hacerse asimismo presentes en el texto De procuranda salute
indorum (Salamanca, 1588), en el que su autor, el propio José de
Acosta, estableció una especie de jerarquía de «bárbaros» o de pue-
blos que carecían del conocimiento de Dios, señalando los medios
que entendía respectivamente más adecuados para su conversión y
evangelización. El jesuita distinguía entre los «salvajes» que carecían
de leyes y gobierno político, a los que había que enseñar a ser hom-
bres e instruir como a niños, constriñéndolos a abrazar la religión de
Cristo mediante el uso de la fuerza; y quienes, como chinos y japo-
neses, tenían república estable, leyes, ciudades fortificadas, magis-
trados y, además, uso y conocimiento de las letras. Tan sólo carecían
de la Revelación, debiendo ser evangelizados como habían hecho los
apóstoles con griegos y romanos; es decir, sin recurrir a la fuerza,
usando de su misma razón y permitiendo así que Dios obrase inter-
namente su conversión25.

Acomodación y movilidad apostólica

Acosta dibujó así un esquema teórico en torno a las formas de


evangelización que, en verdad, ni reflejaba ni habría de condicionar
la práctica misionera. Ésta necesariamente adoptó contornos más
complejos. Sobre todo, se vio determinada por las realidades loca-
les que debía confrontar, al margen de las diferencias que el jesuita,
con un trazo más grueso, apuntaba en su escrito. Así, de la misma
forma que la evangelización de Japón no estuvo falta de elementos
de intransigencia que se alejaban del modelo indicado por Acosta
(y ampliamente reiterado por la historiografía)26, el universo de las
misiones que se llevaron a cabo entre guaranís o tupís no respondió
sólo a un esquema de tabula rasa, basado en la imposición por la

25
  José de Acosta, De natura noui orbis libri duo ; et De promulgatione Euangelii
apud barbaros siue De procuranda indorum salute libri sex (Salamanca: apud Gillel-
mum Foquel, 1589 [1588]), 112-124.
26
  Hélène Vu Than, «Between Accommodation and Intransigence: Jesuits mis-
sionaries and Japanese funeral traditions», Journal of the LUCAS graduate confe-
rence, 2 (2014): 110-126.

557

Monárquias Ibéricas.indb 557 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

fuerza del cristianismo. En realidad, una idea tan debatida como la de


acomodación o adaptación se hizo presente – aunque declinándose
de formas muy diversas – en los diferentes escenarios misioneros. La
atención se ha centrado tradicionalmente en el estudio de las expre-
siones que, desde la década de 1580, la accommodatio jesuita adoptó
en espacios como China, Japón o el sur de la India, suscitando no
pocas controversias dentro y fuera de la orden ignaciana27. Son múl-
tiples las perspectivas que han tratado de comprender el fenómeno,
poniendo de manifiesto sus varias dimensiones, así como sus límites28.
Pero, frente a ópticas que lo han restringido tan sólo a las estrategias
desarrolladas por los jesuitas en los espacios mencionados, que lo
han identificado exclusivamente con formas de misión en contextos
al margen de toda forma de dominio colonial o que han querido ver
en la accommodatio diferencias «nacionales» (italianos vs. ibéricos),
la percepción historiográfica del fenómeno se ha transformado en
los últimos años. Se ha puesto de relieve tanto sus raíces espirituales
en la tradición cristiana, como las bases retóricas que lo fundamen-
taron y que, desde los orígenes de la Compañía de Jesús, permearon
la práctica apostólica jesuita en su conjunto29. En efecto, no faltaron
textos relativamente tempranos, como la segunda serie de Industrias
de Juan de Polanco (c. 1550), que tuvieron una enorme circulación
dentro de la Orden durante la segunda mitad del siglo xvi y que,
destinadas a definir de forma genérica las estrategias del apostolado
jesuita, establecían ya los ingredientes de la acommodatio, sirviendo

27
  Véase Ines G. Županov, Disputed Missions: Jesuit Experiments and Brahmani-
cal Knowledge in Seventeenth-century India (Nueva Delhi: Oxford University Press,
2001). Siendo abundantísima la bibliografía sobre la Querella o Controversia de los
Ritos Chinos, remitimos esencialmente a David E. Mungello, ed., The Chinese Rites
Controversy: Its History and Meaning (Nettetal: Steyler Verlag, 1994).
28
  Elisabetta Corsi, «Introducción: el debate actual sobre el relativismo y la pro-
ducción de saberes en las misiones católicas durante la primera Edad Moderna: ¿una
lección para el presente?», Órdenes religiosas entre América y Asia: ideas para una
historia misionera de los espacios coloniales, ed. Elisabetta Corsi (México: El Colegio
de México, 2008), 34-48; Joan-Pau Rubiès, «The concept of cultural dialogue and
the Jesuit method of accommodation: between idolatry and civilization», Archivum
Historicum Societatis Iesu, 74 (2005): 237-280.
29
 Ines G. Županov, «Accommodation», Dictionnaire des Faits Religieux, ed.
Régine Azria y Danièle Hervieu-Léger (París: PUF, 2010), 1-4; Andrés I. Prieto,
«The Perils of Accommodation: Jesuit Missionary. Strategies in the Early Modern
World», Journal of Jesuit Studies, 4 (2017): 395-414.

558

Monárquias Ibéricas.indb 558 13/12/18 14:56


La misión en los espacios del mundo ibérico

posiblemente de base a los proyectos de Valignano y otros jesuitas30.


En este sentido, la acomodación surge como un elemento transversal
a toda la práctica misionera, conjugándose en grados y modos dis-
tintos y sin que quepa circunscribirla a determinados contextos con-
tinentales, a concretas políticas imperiales o al origen «nacional» de
sus promotores31. Si las formas de acomodación misionera tuvieron
expresiones singulares (aunque distintas entre sí) en China, Japón
y Madurai, aquellas no dejaron de tener asimismo reflejo en otros
espacios, como los americanos, donde los procesos de conversión
tuvieron una notable dimensión negociada, no obstante el marco de
dominio colonial y de violencia en el que se desarrollaron. En Mainas
o entre los mapuches, los jesuitas asumieron perfiles próximos a los
del exorcista como medio de contrarrestar el poder de los chamanes;
incorporaron elementos propios de las celebraciones indígenas a los
ritos católicos (ornamentando, por ejemplo, con animales vivos y
frutos – a modo de ofrenda – el camino de las procesiones); tolera-
ron la práctica de la poligamia; admitieron que los indios siguiesen
enterrándose donde lo hacían sus ancestros…32. En la diócesis de
Arequipa, las complejas articulaciones e intereses mutuos que tejie-
ron curas y caciques indígenas facilitaron una coexistencia pacífica,
de la que estuvieron casi ausentes las expresiones de persecución
idolátrica características de otras regiones andinas durante el siglo
xvii, favoreciendo a su vez la vitalidad – pero también su relación con
el catolicismo ibérico – de determinados cultos coloniales, como el
culto a los antepasados33.
Las propias modalidades que adoptó la misión no fueron sino
expresión de esa acomodación a las realidades indígenas/locales.

30
  Federico Palomo, «Homens enviados do Ceo. Les ‘formes de présentation’ des
missionnaires de l’intérieur (Portugal, 16e-17e siècles), Missions religieuses modernes
‘Notre lieu est le monde’, ed. Pierre-Antoine Fabre y Bernard Vincent (Roma: École
Française de Rome, 2007), 287-306.
31
  Prieto, «The Perils of Accommodation…».
32
 Francismar Alex Lopes de Carvalho, «Estrategias de conversion y modos
indígenas de apropiación del cristianismo en las misiones jesuíticas de Maynas,
1638-1767», Anuario de Estudios Americanos, 72/1 (2016): 99-132; Guillaume
­Boccara, Guerre et ethnogenèse mapuche dans le Chili colonial. L’invention du soi
(París: L’Harmattan, 1998).
33
  María N. Marsilli, Hábitos perniciosos: religión andina colonial en la diócesis de
Arequipa (siglos xvi al xviii) (Santiago de Chile: Dirección de Bibliotecas, Archivos
y Museos, 2014).

559

Monárquias Ibéricas.indb 559 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Dentro de los espacios ibéricos, de hecho, fueron distintas las solu-


ciones que se arbitraron a la hora de conformar la institución misio-
nera. A tal efecto, no sólo fueron determinantes las poblaciones a
las que se destinaba la actividad evangelizadora (y la percepción que
los agentes misioneros construyeron de ellas). También jugaron un
papel esencial las diversas configuraciones que tuvieron los imperios
ibéricos y el modo en el que articularon su presencia en los varios
espacios del Índico, del Pacífico y del Atlántico. En estos diferentes
contextos, encontramos no obstante algunos patrones comunes en
los modos de actuación, sobre la base de una primera distinción que
cabe establecer en función del carácter itinerante o sedentario que,
en cada circunstancia, tuvieron las intervenciones de los misioneros.
La cuestión no será menor y, de hecho, habrá de suscitar algu-
nos debates en el seno de las congregaciones religiosas implicadas
en la evangelización, deudoras de una tradición medieval que había
asociado la tarea de proselitismo religioso y de conversión de infie-
les y gentiles a una práctica itinerante. En la memoria franciscana
de la Edad Moderna, de hecho, no dejaron de estar presentes las
expediciones apostólicas a Mongolia, China e India que realizaron
Giovanni da Pian del Carpine, Willem Van ­Ruysbroeck, Giovanni
da Montecorvino u Odorico da Pordenone entre los siglos xiii y
xiv34. En sus orígenes, los propios jesuitas concibieron la realiza-
ción de su vocación apostólica como una actividad en movimiento,
en la que asumía particular relevancia el discurrir de un sitio a otro,
dentro de una lógica que asociaba la idea de misión a la noción y
la práctica de la peregrinación. No en vano, ésta ocupó mucho
del pensamiento y las energías de los primeros jesuitas y del pro-
pio Ignacio de Loyola35. Es más, entendida como ejercicio que
obligaba al religioso a desarrollar durante el itinerario recorrido,
toda suerte de ministerios apostólicos (predicación, catequesis, con-
fesión, auxilio a los enfermos, etc.), la peregrinación pasó a formar
parte de las probaciones que todos los novicios de la Orden debían
realizar durante su formación espiritual.

34
  Giuseppe Buffon, Khanbaliq. Profili storiografici intorno al cristianesimo in
Cina dal medioevo all’età contemporanea (XIII-XIX sec.) (Roma: Ed. Antonianum,
2014).
35
 John O’Malley, The First Jesuits (Cambridge, Mass.: Harvard University
Press, 1993), 32-34.

560

Monárquias Ibéricas.indb 560 13/12/18 14:56


La misión en los espacios del mundo ibérico

Este modo ­itinerante de entender la ­evangelización, por lo demás,


se haría patente en la actividad que Francisco Javier desarrolló en
Asia. Desde su llegada a la India portuguesa, en 1542, recorrió buena
parte del Índico y del mar de China en sucesivas expediciones que
lo llevaron desde Goa a Ceilán, Malaca, las islas Molucas, Japón y
China, donde falleció, en la isla de Shanghuan, en 1552. Los periplos
del jesuita, aunque geográficamente más extensos, no diferían en
esencia de los que, en esos mismos años, realizaban sus congéneres
por la costa y el interior de Brasil, entrando en contacto con comuni-
dades indígenas a las que se aspiraba a convertir, pero cuya adhesión
al cristianismo no dejó de mostrarse altamente volátil. Las dificul-
tades que los ignacianos encontraron, reflejadas en escritos como
el Diálogo da conversão do gentio de Manuel da Nóbrega (1556),
llevaron a la búsqueda de alternativas que permitiesen una mayor
eficacia evangelizadora, propiciando, como veremos a continuación,
la sedentarización de la misión – mediante la creación de aldeias o
aldeamentos –, al tiempo que se abría un hondo debate en el seno de
la Compañía de Jesús en torno a la naturaleza de una actividad apos-
tólica que, en origen, se había concebido móvil36.
No obstante, la institución misionera conservó su carácter itine-
rante en múltiples contextos y expresiones. En el mundo metropoli-
tano, las llamadas misiones de interior no dejaron de responder, bajo
moldes y lógicas nuevas, a una práctica y un modelo de actuación
similar a la predicación itinerante que figuras como Vicente Ferrer
y otros muchos religiosos vinculados a las órdenes mendicantes
habían ensayado en los territorios de la Europa cristiana a finales de
la Edad Media. Con todo, su intensificación desde la segunda mitad
del siglo xvi tuvo mucho que ver con la experiencia evangelizadora
fuera de Europa. El empeño que la Iglesia contrarreformista puso
en el adoctrinamiento de rústicos e iletrados, fruto de una visión
que hacía de ellos hombres irracionales e ignorantes, se tradujo en
el descubrimiento de las llamadas «Indias de aquí»; es decir, de un
mundo habitado por sujetos cuya rudeza y barbarie los equiparaba
a los nativos de otras latitudes y, en particular, a los indios america-
nos. Como ellos, debían ser asimismo transformados en hombres

  Charlotte de Castelnau-L’Estoile, Les ouvriers d’une vigne stérile. Les jésuites


36

et la conversion des Indiens au Brésil, 1580-1620 (París: Centre Culturel Calouste


Gulbenkian, 2000), 81-140.

561

Monárquias Ibéricas.indb 561 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

c­ iviles mediante la instrucción en la doctrina y las buenas costum-


bres. La identificación del rústico europeo con el indio americano
es quizás una de las expresiones más claras de los vínculos que se
tejieron entre las realidades misioneras del Índico y el Atlántico y un
mundo europeo que, en paralelo, se percibía superficialmente cris-
tiano37. La conciencia de unas Indias domésticas propició así el desa-
rrollo en los territorios de la península ibérica – como en el resto de
la Europa fiel a Roma – de una intensa actividad misionera dirigida
a los católicos, en parte análoga a la que se destinaba a los gentiles.
La misión interior se convirtió en uno de los dispositivos más sin-
gulares de disciplinamiento desplegados por las instancias eclesiásticas
en el marco de las políticas confesionales promovidas por las Coro-
nas ibéricas38. Constituía un tiempo excepcional para obtener el per-
dón de los pecados, convirtiéndose en un instrumento de control y
de reforma más eficaz que los desplegados por las instancias inquisi-
toriales o episcopales. No en vano, las articulaciones con éstas y, en
particular con los poderes diocesanos, fueron frecuentes. Los obispos,
a menudo, dieron curso a sus obligaciones pastorales enviando misio-
neros que recorrían sus diócesis predicando y adoctrinando, desarro-
llando muchas veces tareas complementarias a las que desempeñaban
los visitadores. Al igual que los prelados, también los miembros de la
aristocracia ibérica, como parte de sus obligaciones señoriales, echa-
ron mano de misioneros que acudían a sus estados con el fin de auxi-
liar espiritualmente a los súbditos que los habitaban.
La misión barroca insistió en la conversión interior del sujeto y la
renovación de la vida religiosa de los fieles. Es en esta época cuando
adquiere mayor visibilidad en la península ibérica, no sólo a través
de personajes como Jerónimo López, José de Carabantes, el francis-
cano António das Chagas o, ya en el siglo xviii, Pedro de Calatayud.
También por medio de una abundante literatura que contribuiría a
fijar y divulgar toda una serie de «industrias» o competencias para la
acción misionera, caracterizadas, en general, por la espectacularidad

37
  Adriano Prosperi, «‘Otras indias’: missionari della Controriforma tra conta-
dini e selvaggi». Scienze credenze occulte livelli di cultura (Florencia: Leo S. Olschki,
1982), 205-234.
38
  Federico Palomo, Fazer dos campos escolas excelentes. Os jesuítas de Évora e
as missões do interior em Portugal (1551-1630) (Lisboa: FCG-FCT, 2003); Francico
Luis Rico Callado, Misiones populares en España entre el Barroco y la Ilustración
(Valencia: Alfons el Magnànim, 2006).

562

Monárquias Ibéricas.indb 562 13/12/18 14:56


La misión en los espacios del mundo ibérico

y la dramatización de sus formas de comunicación. Éstas articulaban


eficazmente un sinfín de recursos performativos que, combinando
lo oral, lo icónico-visual y lo escrito, contribuirían a definir la fisio-
nomía de estas expediciones apostólicas. La acción de los misioneros
se adaptaba así a las condiciones de recepción de los públicos misio-
neros con el fin de suscitar en ellos sentimientos de compunción,
orientar sus conductas e introducir (nuevas) rutinas en sus formas
de piedad39.
En los contextos coloniales, las formas itinerantes de misión no
dejaron de materializar una parte importante de la actividad apostó-
lica que acometieron las órdenes. Al margen de una práctica misio-
nera dirigida a los colonos de origen ibérico, que, semejante a la que
se llevaba a cabo en la Península, parece haber tenido algún desa-
rrollo en los espacios americanos de los siglos xvii y xviii, fueron
innumerables las campañas específicamente destinadas a conversos
e infieles que, en escenarios del Índico y del Atlántico, asentaron
sobre la movilidad de los misioneros, sobre su capacidad para evan-
gelizar discurriendo de un lugar a otro. En Asia, algunas de estas
expediciones asumieron contornos diplomáticos, haciendo de los
misioneros interlocutores políticos privilegiados, al tiempo que
desarrollaban actividades de proselitismo religioso destinadas tanto
a los gentiles, como a distintas comunidades de cristianos orientales,
ajenos a Roma. A partir de Goa, los religiosos agustinos acometieron
sucesivas expediciones a Persia desde finales del siglo xvi y durante
la primera mitad de la centuria de 1600. Promovidas a menudo por
arzobispos y virreyes, fueron un instrumento central en las rela-
ciones que entonces se establecieron entre el Estado da Índia (y la
Monarquía Hispánica) y la Persia del sah Abbás. Pero, al margen de
sus connotaciones políticas, la presencia de estos agustinos significó
asimismo el desarrollo de una misión (con la apertura de varias casas)
que no se destinaba tanto al objetivo utópico de la conversión del
soberano y de sus súbditos musulmanes, como a la «romanización»
de las comunidades cristianas (armenios, georgianos, etc.) que vivían

 Palomo, Fazer dos campos escolas…, 215-423; Fernando Bouza, «Público pas-
39

toral: de la prédica a la imprenta. Da golosina y otras industrias de la misionali-


zación», en Papeles y opinión. Políticas de publicación en el Siglo de Oro (Madrid:
CSIC, 2008), 45-65; Bernadette Majorana, «Une pastorale spectaculaire. Missions
et missionnaires jésuites en Italie (XVIe-XVIIIe siècle)». Annales, HSS, 57/2
(2002): 297-320.

563

Monárquias Ibéricas.indb 563 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

bajo dominio persa40. En esos mismos años, el jesuita António de


Andrade realizó dos expediciones al Tíbet, que lo condujeron a la
ciudad Tsaparang, en el reino de Guge (1624 y 1625). La proximidad
al soberano facilitó la construcción de una iglesia y una residencia
de la Compañía, que se hizo así presente en la zona hasta 163141.
En un registro diferente, más próximo de las formas ensayadas en
los contextos europeos, Niccolò Longobardo, en 1599, introdujo en
las misiones de China un método de proselitismo más activo que el
hasta entonces observado, lanzando desde la residencia de Shaozhou
expediciones regulares a las zonas rurales circundantes en las que
se predicaba, se adoctrinaba y se distribuían impresos con el fin de
favorecer la conversión42.
Tanto en la América portuguesa como en la hispana, fueron habi-
tuales las entradas en zonas fronterizas como la región de Paraguay
o el interior brasileño con el fin de reducir a enteras comunidades de
indígenas43. No obstante, en determinadas regiones de frontera, como
la araucana, donde el poder colonial hispano mantuvo un prolongado
conflicto con los mapuches, los jesuitas – actores principales de una
política de pacificación y cristianización que se materializó en los lla-
mados parlamentos – optaron por realizar misiones itinerantes como
mejor respuesta frente a grupos cuya conversión y alianza era frágil44.
Más próximas de los moldes ensayados en el contexto peninsular fue-
ron las misiones volantes. En la América portuguesa jesuitas, francis-

40
  John M. Flannery, The Mission of the Portuguese Augustinians to Persia and
Beyond (1602-1747) (Leiden: Brill, 2013); Rudi Mathee, «The Politics of Protec-
tion. Iberian Missionaries in Safavid Iran under Shā ‘Abbās I (1587-1629), en Con-
tacts and Controversies between Muslims, Jews and Christians in the Ottoman Empire
and Pre-Modern Iran, ed. Camilla Adang y Sabine Schmidtke (Würzburg: Ergon
Verlag, 2010), 245-271.
41
 Hugues Didier, ed., Les Portugais au Tibet: les premières relations jésuites
(1624-1635) (París: Éditions Chandaigne, 1996).
42
 Liam Matthew Brockey, Journey to the East. The Jesuit Mission to China,
1579-1724 (Cambridge, Mass.: The Belknap Press of Harvard University Press,
2007), 290-296.
43
 Castelnau-L’Estoile, Les ouvriers d’une vigne stérile…, 407-447.
44
 Guillaume Boccara, Guerre et ethnogenèse mapuche dans le Chili colonial…,
201-268. Rolf G. Foerster, Jesuitas y mapuches: 1593-1767 (Santiago de Chile: Edi-
torial universitaria, 1996); Jaime Valenzuela Márquez, «Misiones jesuitas entre indios
‘rebeldes’: límites y transacciones en la cristianización mapuche del Chile meridional»,
en Saberes de la conversión. Jesuitas, indígenas e imperios coloniales en las fronteras de la
cristiandad, ed. Guillermo Wilde (Buenos Aires: SB, 2011), 251-272.

564

Monárquias Ibéricas.indb 564 13/12/18 14:56


La misión en los espacios del mundo ibérico

canos y otros religiosos las desarrollaron desde el siglo xvi en las zonas
de producción azucarera. Recorrían plantaciones e ingenios asistiendo
espiritualmente a señores y colonos, pero, sobre todo, adoctrinando
y confesando a las poblaciones de esclavos, tanto indígenas como de
origen africano45. Ya en las zonas centrales de la región andina, desde las
décadas de 1570-1580, los ignacianos de los colegios de Lima, Quito,
Arequipa, La Paz y Potosí empezaron a recorrer regularmente distintas
partes del virreinato del Perú (Chachapoyas, Moyabamba, Jaén, Yungay,
Cajamarca, Cajatambo, Huarochirí, etc.). Destinadas esencialmente a
los sujetos que habitaban las doctrinas de indios, estas misiones volan-
tes vieron disminuir su intensidad durante las décadas de 1590-1600,
pero, enseguida, asumieron de nuevo peso en la actividad apostólica de
la Compañía, articulándose – como ya había sucedido en el contexto
peninsular – con la política episcopal46. En concreto, desde la década de
1610, se pusieron al servicio de las campañas de extirpación de idola-
trías que, durante la primera mitad del siglo xvii, marcaron la actuación
de los prelados andinos. Al igual que en la Europa católica, misioneros
y visitadores actuaron así lado a lado, haciendo que los primeros com-
plementasen mediante la predicación, la catequesis y la confesión, las
averiguaciones del representante episcopal47.

Sedentarización de la misión

Como se indicaba, las primeras experiencias misioneras en los


contextos del Índico y, sobre todo, en América, pusieron ense-
guida de manifiesto en determinadas circunstancias la necesidad

45
  Federico Palomo, «Como se fossem seus curas. Os jesuítas e as missões rurais
na América portuguesa», A Igreja no Brasil. Normas e práticas durante a vigência das
Constituições primeiras do Arcebispado da Bahia, eds. Bruno Feitler y Evergton Sales
Souza (São Paulo: Unifesp, 2011), 231-266.
46
  Aliocha Maldavsky, Vocaciones inciertas. Misión y misioneros en la provincia
jesuita del Perú en los siglos xvi y xvii (Sevilla: Instituto Francés de Estudios Andi-
nos; Universidad Antonio Ruiz de Montoya; Consejo Superior de Investigaciones
Científicas, 2012), 125-206.
47
 Maldavsky, Vocaciones inciertas…, 125-206; Paolo Broggio, Evangelizzare il
mondo. Le missioni della Compagnia di Gesù tra Europa e America, secoli xvi-xvii
(Roma: Carocci, 2004), 147-196. De forma general, sobre las campañas de extir-
pación de idolatrías, véase Duviols, La lutte contre les religions autochtones dans le
Pérou colonial…; y Mills, Idolatry and Its Enemies….

565

Monárquias Ibéricas.indb 565 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

de a­ daptación a las realidades misioneras y, por tanto, de acome-


ter alternativas a una práctica itinerante de la misión, fijándola en
espacios concretos. Ya los frailes de San Francisco concibieron su
proyecto misionero en Nueva España sobre la formación de «repú-
blicas perfectas» que tuvieron su mejor expresión en la fundación y
organización de la ciudad de Tlaxcala, construida junto al complejo
conventual franciscano, en un emplazamiento en el que conver-
gían los distintos señoríos indígenas48. En la América portuguesa,
como se ha señalado, los jesuitas trataron enseguida de resolver
las dificultades que enfrentaban a la hora de convertir de forma
eficaz y duradera a los indígenas seminómadas que poblaban las
costas del Brasil. Para ello, establecieron en la década de 1550 un
sistema de aldeias que supuso abandonar las formas itinerantes de
misión y, al tiempo, reagrupar a los indios en lugares que, a modo
de poblados, permitiesen su control y tutela por parte de los reli-
giosos, embarcados, por otro lado, en una tarea de evangelización
que ya no se limitaba al bautismo/conversión de los gentiles, sino
que contemplaba un adoctrinamiento intenso y continuado, capaz
de operar la transformación cultural de aquellos. Poco antes, en el
contexto de la India portuguesa, el vicario-general Pero Fernandes
Sardinha (después obispo de Brasil, entre 1552 y 1556) quiso esta-
blecer aldeas que permitiesen separar a los conversos de los genti-
les, al tiempo que los jesuitas, en la isla de Chorão, avanzaban con
un modelo de población que sólo reunía a cristianos de la tierra
y que, en cierto modo, parecía esbozar el modelo posteriormente
ensayado en Brasil49.
En realidad, el modelo no dejó de declinarse de formas muy
diversas en los distintos contextos misioneros. Aldeias, doctrinas
de indios, parroquias, misiones, reducciones y misiones surgen así
como espacios en los cuales, más allá de sus características espe-
cíficas, de sus respectivos contornos institucionales o informales,
de sus circunstancias dentro del orden colonial, etc., los religiosos
desempeñaron – en ocasiones de un modo explícito – las funciones
propias del officium parochi. Incluso en distintos ámbitos asiáticos
en los que la misión se desarrolló al margen del poder imperial por-
tugués o hispano, como Persia, el Imperio mogol, China o Japón,

48
  Díaz Serrano, «Repúblicas perfectas para el rey católico…».
49
 Xavier, A Invenção de Goa..., 168 y 299-300.

566

Monárquias Ibéricas.indb 566 13/12/18 14:56


La misión en los espacios del mundo ibérico

el establecimiento de residencias se vio a menudo acompañado de


la ­erección de iglesias en torno a las cuales se congregaban comu-
nidades de neófitos al cargo del misionero, cuyas tareas de cura
animarum acababan por no ser muy distintas de las de un párroco,
a pesar de que, la mayoría de las veces, no hubiese propiamente un
estructura institucional designada como tal y sujeta a una autoridad
episcopal.
Las estructuras propiamente parroquiales, establecidas siguiendo
el modelo tradicional de origen europeo, fueron una constante en
muchos de los territorios en los que los ibéricos – mediante sus
respectivos patronatos – se hicieron presentes, pero tuvieron par-
ticular expresión en los espacios centrales, allí donde el dominio
colonial se hizo más efectivo y donde las propias estructuras ecle-
siásticas/misioneras acabaron teniendo un desarrollo mayor50. La
década de 1550 trajo consigo la articulación del territorio portu-
gués de Goa (de las islas de Bardés, Salcete y Tiswadi) en parroquias
que normalmente incluían una o varias aldeas, establecidas por el
poder portugués a partir de las viejas estructuras locales – las gan-
carías (comunidades controladas por un gancar) – y, por tanto, con
un notable carácter híbrido. El control sobre estas parroquias se
entregó inicialmente a franciscanos, jesuitas y dominicos (más ade-
lante, éstos últimos fueron sustituidos por clero secular), que asu-
mieron así de forma canónica las funciones de párrocos, tomando
por consiguiente a su cargo el gobierno pastoral y espiritual de
estas poblaciones de conversos. Aunque en teoría dependientes del
arzobispo de Goa, los jesuitas y franciscanos que se pusieron al
frente de estas parroquias no sólo gozaron de una enorme autono-
mía con respecto al poder diocesano, como acabaron asumiendo
un peso específico de primer orden dentro de las comunidades que
asistían. Establecieron lazos estrechos con y las elites locales, sin
cuyo apoyo no habrían podido asumir el papel religioso, judicial
y económico que desempeñaron, ni acometer la transformación
de orden cultural que pretendían. En buena medida, el estableci-
miento de estas parroquias y su atribución a los religiosos con-
tribuyó además a la propia territorialización del poder imperial
portugués, pues sólo así, por medio de estos misioneros-párrocos,

  Véanse al respecto los capítulos de Ana de Zaballa y Evergton Sales Souza en


50

este mismo volumen.

567

Monárquias Ibéricas.indb 567 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

pudo hacer efectivo su dominio – más allá de su control militar y


fiscal – sobre las aldeas de Goa51.
No fue muy diferente el papel que desempeñaron asimismo las
órdenes religiosas en espacios como el mesoamericano y el andino,
donde, en las regiones centrales de los antiguos Imperios inca y
azteca, se establecieron las llamadas doctrinas de indios. No obs-
tante, un elemento las diferenció sustancialmente de las parroquias
creadas en la India portuguesa: su articulación directa con el sis-
tema de encomiendas que marcó la conquista y primera coloniza-
ción de los espacios del Caribe, México y Perú, y que, inicialmente,
atribuyó a los encomenderos la obligación de asegurar la evange-
lización de los nativos. Como veremos más adelante, ese vínculo
condicionó y, en buena medida, contribuyó a la propia implanta-
ción de las distintas órdenes mendicantes (franciscanos, domi-
nicos, agustinos, etc.) sobre el terreno, mediante la creación de
conventos que funcionaban a modo de cabeceras desde las que des-
plegar – a veces sobre varias comunidades de indios – la actividad
de los religiosos, encargados así de la cura de almas de los indios.
La determinación por parte de la Corona de, por un lado, limitar
el poder de los encomenderos y, por otro, retomar el control sobre
la evangelización estableciendo mecanismos de encuadramiento
religioso (pero también fiscal) sobre las comunidades indígenas,
condujeron en muchos casos al reagrupamiento de éstas en las lla-
madas congregaciones (México) o reducciones (Perú), dentro de
una política más general de diferenciación (jurídica, fiscal, espacial,
etc.) entre indios y españoles, organizados en «republicas» sepa-
radas. A modo de villas o pueblos de indios, estas congregacio-
nes o reducciones, de hecho, vieron reducido su contacto con el
mundo de los colonos, limitado muchas veces a la sola presencia
del párroco, cuya designación – al menos nominalmente – quedaba
bajo control de la Corona y el prelado diocesano. La realidad fue
algo distinta y la pretensión de sustituir la presencia de regulares
al frente estas parroquias mediante el recurso a un clero secular,
no tuvo verdadero efecto hasta bien entrado el siglo xvii. Como se
señala más adelante, el mismo virrey Francisco de Toledo, artífice
de los cambios que, dentro del Perú, se produjeron en este campo
entre las décadas de 1570 y 1580, no dudó en acudir a los religiosos

51
 Xavier, A Invenção de Goa…, 154-185.

568

Monárquias Ibéricas.indb 568 13/12/18 14:56


La misión en los espacios del mundo ibérico

de la Compañía de Jesús. Éstos, viéndose fuertemente presionados,


acabaron por aceptar el ejercicio de un officium parocchi que, en
principio, era contrario a su Constituciones. Se situaron así al frente
de las parroquias de Santiago del Cercado, en Lima, y de El Juli,
junto al lago Titicaca52.
Las parroquias de indios o doctrinas fueron en Hispanoamérica
un motivo de conflicto jurisdiccional permanente, sobre todo por
su valor económico para el clero secular y regular. El control de las
órdenes religiosas por la Corona fue también una cuestión política y
religiosa de gran envergadura por las críticas a la acción de los espa-
ñoles o de la Corona en América desde el principio del siglo xvi,
como lo demuestran el cierre del colegio de Tlatelolco en la Nueva
España en los años 157053 o la expulsión de los jesuitas en 1767.
Como se apunta más adelante, los regulares dependían de su propia
jerarquía, compuesta por provinciales o capítulos, pero también por
generales que, como los jesuitas, no eran necesariamente españoles
y tampoco estaban bajo el control directo del rey de España. En este
sentido, las ordenanzas de 1574 sobre el Patronato Real especificaron
el papel que el obispo y las autoridades civiles habían de tener en el
nombramiento de los beneficios eclesiásticos. Los superiores de las
órdenes religiosas debían elaborar listas de sus conventos, pueblos y
curas de indios y entregar una copia al presidente de la audiencia. En
caso de nombramiento o de traslado de un doctrinero, el provincial
debía informar al presidente de la audiencia. En 1585, el concilio de
México decretó que los obispos tenían derecho de visita sobre las
parroquias de los regulares. Debían además asesorar a los virreyes
en la elección de curas, al tiempo que los frailes debían someterse al
examen del obispo para verificar sus capacidades54. Pero los decretos

52
  Sobre las relaciones de Toledo con los jesuitas, remitimos a Alexandre Coello
de la Rosa, El pregonero de Dios. Diego Martínez, SJ, misionero jesuita del Perú colo-
nial (1543-1626) (Valladolid, Universidad de Valladolid, 2010), 99-136; Maldavsky,
Vocaciones inciertas…, 35-42. Acerca de la política de reducciones en las regiones
andinas, veáse: Akira Saito y Claudia Rosas Lauro, eds., Reducciones: la concentra-
ción forzada de las poblaciones indígenas en el Virreinato del Perú (Lima: National
Museum of Ethnology-Pontificia Universidad Católica del Perú, 2017).
53
 Ricard, La «conquête spirituelle» du Mexique....
54
 Cayetana Álvarez de Toledo, Politics and Reform in Spain and Viceregal
Mexico. The life and Thought of Juan de Palafox, 1600-1659 (Oxford: Clarendon
Press, 2004), 69.

569

Monárquias Ibéricas.indb 569 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

del concilio no se aprobaron ni se publicaron antes de 162255. En el


Perú, los superiores franciscanos informaban directamente al virrey
acerca de los doctrineros que nombraban y los obispos ignoraban a
menudo quiénes eran los sacerdotes que trabajaban en las doctrinas
de indios56. Las órdenes religiosas se refugiaban detrás de sus exen-
ciones, otorgadas por bulas pontificales, para escapar del control del
ordinario. Al afirmar la primacía del obispo como jefe de la Igle-
sia diocesana, las prescripciones tridentinas fueron un instrumento
que favoreció el Patronato Real y la secularización. En este sentido,
el remplazo del clero regular por miembros del clero secular como
curas de indios, surge como el último eslabón en el ejercicio de ese
control, que, con todo, no se hizo real antes de finales del siglo xviii57.
Hasta la expulsión de los jesuitas en 1767, las interferencias de los
distintos actores coloniales sobre las estructuras misioneras tuvie-
ron un peso mucho menor en las regiones de frontera americanas.
En ellas, el dominio imperial ibérico sobre el territorio y las pobla-
ciones que lo habitaban era bastante escaso o, incluso, inexistente, de
modo que la misión sirvió de instrumento con el que hacer efectivo
un control sobre dichas regiones que, en gran medida, asentó en la
negociación con las comunidades indígenas58. Ahí, los religiosos goza-
ron de mayor independencia con respecto a otros poderes (virreyes,
gobernadores, obispos, colonos) a la hora de articular sus modos de
actuación, obteniendo en muchos casos estatutos particulares para
sus misiones. En este sentido, las reducciones que los jesuitas esta-
blecieron en la región del Paraguay son el ejemplo más expresivo de
una fórmula que encontró múltiples declinaciones en otros espacios
americanos (Mojos, Chiquitos, Mainas…). Vistas tradicionalmente
como un modelo coherente y acabado de gobierno político y reli-
gioso sobre poblaciones indígenas que habrían aceptado sin más el

55
 Magnus Lundberg, Church Life between the Metropolitan and the Local.
Parishes, Parishioners and Parish Priests in Seventeenth Century Mexico (Madrid:
Iberoamericana, 2011), 60-66.
56
  Antonino Tibesar, Comienzos de los franciscanos en el Perú (Iquitos: CETA,
1991), 109-120.
57
 William B. Taylor, Magistrates of the sacred: priests and parishioners in
eighteenth­-century Mexico (Stanford: Stanford University Press, 1996).
58
  Francismar Alex Lopes de Carvalho, Lealdades negociadas. Povos indígenas e a
expansão dos impérios ibéricos nas regiões centrais da América do Sul (segunda metade
do século xviii) (São Paulo: Alameda, 2014).

570

Monárquias Ibéricas.indb 570 13/12/18 14:56


La misión en los espacios del mundo ibérico

modelo de civilización europeo, los estudios recientes han elaborado


una lectura más compleja de las reducciones guaraníes. No sólo se
ha procurado analizarlas desde una perspectiva más amplia, situán-
dolas en el marco de una actividad misionera que, como veremos a
continuación, tuvo una dimensión global. Se ha puesto asimismo de
manifiesto las contradicciones de un sistema misionero que acabó
por tener que adaptarse a las condiciones locales y a las condiciones
que imponía la interacción cotidiana con las poblaciones indígenas
o, incluso, con otros actores. En este sentido, al tiempo que se ha
significado la función que tuvieron en la recomposición de las iden-
tidades indígenas dentro de contextos cristianos y la configuración
de nuevas culturas misioneras, se ha desechado una percepción de las
reducciones del Paraguay como espacios de total dominación, ajenos
a la adaptación y la negociación. A este respecto, se ha subrayado
finalmente el papel activo que les cupo a los propios indígenas en la
configuración de la misión y, en particular, a sus elites que participa-
ron directamente en el gobierno de las reducciones, haciéndolo suyo
y definiendo espacios de autonomía59.
Las tareas de conversión y evangelización, con todo, no queda-
ron restringidas a los marcos que definían las distintas modalidades
que adoptaba la misión, ya fuese en sus expresiones itinerantes o
bajo la forma de parroquias, doctrinas y reducciones. Desde muy
pronto surgieron otros espacios institucionales destinados al adoc-
trinamiento de naturales y gentiles, generalmente vinculados a los
ámbitos urbanos de uno y otro imperio. En México, los francis-
canos fundaron en 1536 el ya mencionado colegio de Tlatelolco,
destinado a las elites indígenas con arreglo a los modelos huma-
nistas peninsulares. En sus aulas, como es bien conocido, se ense-
ñaba latín, retórica, lógica, filosofía…60 Aunque, en su origen, se
pensó como instrumento para la formación de un clero indígena, el
proyecto enseguida debió enfrentar las resistencias que en muchos
suscitaba la ordenación de indios, negros y mestizos y que, tanto
en los contextos del imperio hispano como en los del portugués,
acabó – con raras excepciones – marcando el perfil de las respectivas

59
  Guillermo Wilde, Religión y poder en las misiones de guaraníes (Buenos Aires:
SB, 2009).
60
  Sobre el colegio de Tlateloco, véase el estudio clásico de Ricard, La «conquête
spirituelle» du Mexique…, 260-344.

571

Monárquias Ibéricas.indb 571 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Iglesias coloniales61. En el siglo xvi, sin embargo, no faltaron inicia-


tivas que, a semejanza de Tlatelolco, nacieron como instituciones
colegiales destinadas a las elites nativas. En el propio México, los
agustinos fundaron el colegio del Santísimo Nombre de Jesús y,
en Quito, se creaba en 1551 el colegio de San Andrés. Sus efec-
tos fueron limitados y la idea de formar un clero nativo – también
aquí – rápidamente se abandonó. La experiencia tuvo su correlato
en el contexto de la India portuguesa. En 1541, apenas cinco años
después de la fundación de Tlatelolco, se creaba el Colégio de Santa
Fé en Goa con el objetivo de contar con un espacio para la instruc-
ción de los nativos conversos y la constitución de un clero local.
En realidad, el colegio nacía al amparo de la Confraria de Santa
Fé, fundada como instrumento para estimular la conversión de los
naturales, inscribiéndose así en toda una serie de iniciativas coe-
táneas que, en buena medida, contribuyeron a institucionalizar la
tarea de conversión y evangelización62. Ya en los años de 1530 se
había instituido la figura singular – sin referentes europeos – del
Pai dos Cristãos, cuyas funciones de protección, control y tutela
sobre los nativos convertidos harían de este oficio una pieza esen-
cial en el orden imperial portugués y en el modo en el que éste arti-
culó su relación con las poblaciones nativas en el contexto asiático.
Su perfil, de hecho, fue diferente del que definió a los protectores
de indios en la América hispana y a los procuradores de índios en
el mundo lusoamericano, más orientados a la protección – sobre
todo, jurídica – de aquellos frente a los eventuales abusos de los
colonos63.
Junto a este tipo de oficios e instituciones colegiales, también las
cofradías desempeñaron un papel fundamental como instituciones
– tanto en las ciudades como en las parroquias – que contribuyeron
a modelar y encuadrar la vida religiosa de los naturales en los espa-
cios del Índico y del Atlántico ibéricos, pero también de aquellos

61
 Boxer, The Church Militant…, 2-23. Relativo tan sólo al mundo hispano,
veáse asimismo el ensayo más reciente de Magnus Lundberg, «El clero indígena en
Hispanoamérica: de la legislación a la implementación y la práctica eclesiástica»,
Estudios de Historia Novohispana, 38 (2008): 39-62.
62
 Xavier, A invenção de Goa…, 108-109. Junto a la cofradía de Santa Fe y al
colegio, que más tarde quedaron bajo tutela de los jesuitas, se estableció asimismo
en esos años una Casa de Catecúmenos.
63
 Xavier, A Invenção de Goa…, 100-102.

572

Monárquias Ibéricas.indb 572 13/12/18 14:56


La misión en los espacios del mundo ibérico

g­ rupos de origen africano que, reducidos en su mayoría al estatuto


de esclavos, integraron de manera forzada las sociedades coloniales
de América y, en menor medida, del mundo asiático español y portu-
gués. Establecidas sobre el modelo confraternal forjado en el mundo
medieval de la Europa occidental, estas cofradías, a menudo bajo
tutela de un religioso, sirvieron sobre todo para incorporar a los lai-
cos – indios, mestizos, negros, etc. – a la gestión del culto y organi-
zar sus expresiones de religiosidad, reforzando determinadas formas
de devoción y asumiendo con frecuencia un papel relevante en las
festividades religiosas de la comunidad (especialmente, las relativas
a sus advocaciones). En espacios como parroquias y reducciones, las
élites nativas solían integrar estas asociaciones confraternales, con-
tribuyendo a perpetuar las posiciones que ocupaban en el seno de sus
comunidades64. En el caso de las poblaciones de origen africano, cuya
evangelización no dejó de encontrar serios obstáculos, las cofradías
constituyeron, junto a los santos negros y pardos, una vía esencial de
integración – también de control – de estos grupos en una sociedad
colonial que, no obstante, les atribuía un estatus subalterno. Su desa-
rrollo dentro de los contextos urbanos, se incrementó desde finales
del siglo xvii, reforzando muchas veces determinados trazos étnicos
y culturales, especialmente cuando apenas admitían sujetos de un
mismo origen o «nación», como fue el caso, ya en el siglo xviii, de
la hermandad de San Elesbón, en Río de Janeiro, que congregaba a
los esclavos Mahi65. No obstante, las cofradías también favorecieron
formas de ‘africanización’, congregando individuos de orígenes cul-
turales diversos, pero capaces de asimilar e intercambiar prácticas y
ritos, conformando así una especie de corpus común66.
En definitiva, la misión tomó formas institucionales diferen-
ciadas con arreglo a los contextos en los que se desarrolló, según
las perspectivas de estabilidad con las que los misioneros podían

64
 Olinda Celestino, «Confréries religieuses, noblesse indienne et économie
agraire», L’Homme, 1992, vol. 32, n°122-124, 99-113; Carolyn Dean, Inka Bodies
and the Body of Christ. Corpus Christi in Colonial Cuzco, Peru (Duke: Duke Uni-
versity Press, 1999).
65
  Mariza de Carvalho Soares, People of Faith: Slavery and African Catholics in
Eighteenth-Century Rio de Janeiro (Duke: Duke University Press, 2011).
66
  James Sweet, Recreating Africa: Culture, Kinship, and Religion in the African­-
-Portuguese World, 1440-1770 (Chapel Hill-Londres: The University of North
­Carolina Press, 2003), 206-216. Mariza de Carvalho Soares, People of Faith….

573

Monárquias Ibéricas.indb 573 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

c­ ontar, ya fuese porque formaban parte del aparato colonial o por-


que lograban obtener el apoyo de élites locales, allí donde la domi-
nación colonial no existía o era muy débil. No obstante, aunque en
todas estas situaciones se aprecia un grado mayor o menor de aco-
modación a las condiciones locales, poniendo de relieve la enorme
plasticidad de la acción misional, al tiempo se percibe también una
tendencia a institucionalizar una acción misional sedentaria por
medio de parroquias, reducciones, colegios o cofradías, incluso
en contexto de gran precariedad, como en Japón u otros ámbitos
de Asia. Con todo, el modelo itinerante de la misión mantuvo su
vigencia, no fuese más que de una forma idealizada en la mayoría
de las órdenes religiosas.

Arquitecturas institucionales: entre lo global


y lo local
Las misiones y las instituciones misioneras ayudan a entender la
relación entre lo global y lo local en el momento de la primera mun-
dialización ibérica, en la que las órdenes religiosas cumplen un papel
fundamental, como primeras grandes empresas globales en térmi-
nos de organización interna, de circulación de sujetos, de saberes,
de experiencias, de objetos67. Las órdenes son una puerta de entrada
para la inteligencia de las políticas imperiales de las monarquías ibé-
ricas que recurren a los actores de la misión como mediadores, en
funciones diplomáticas, etc. Pero también los misioneros participan
en los engranajes del imperio y los hacen suyos a la hora de desarro-
llar sus propias políticas, haciéndose presentes mediante procurado-
res en la Corte y los centros del poder imperial. Al mismo tiempo,
estas instituciones misioneras se insertan en los contextos políticos
y sociales locales.

 Michela Catto, Guido Mongini, Silvia Mostaccio, ed., Evangelizzazione


67

e globalizzazione: Le missioni gesuitiche nell’età moderna tra storia e storiografia


(­Castello: Società Editrice Dante Alighieri, 2010); Giuseppe Marcocci et al., ed.,
Space and Conversion in Global Perspective (Leiden: Brill, 2015); Ronnie Po-chia
Hsia, ed., A Companion to Early Modern Catholic ­Global Missions (Leiden: Brill,
2018).

574

Monárquias Ibéricas.indb 574 13/12/18 14:56


La misión en los espacios del mundo ibérico

Creación de instrumentos de gobierno

Entre los elementos que contribuyeron a esta dimensión más glo-


bal de la misión se encuentran las formas de organización que adopta-
ron las órdenes religiosas en los varios contextos imperiales ibéricos.
En ellos, rápidamente crearon estructuras institucionales que, por un
lado, les permitieron asegurar el gobierno de los religiosos allí pre-
sentes, la articulación de sus respectivas actividades sobre el terreno,
sus fuentes de financiación, la interlocución con otros poderes in situ
(virreyes, gobernadores, obispos, inquisidores, colonos, autoridades
nativas, etc.). Por otro, les sirvieron de nodos a través de los cuales
articular redes de comunicación que vinculaban los distintos espacios
imperiales/misioneros entre sí, conectándolos, a su vez, con los cen-
tros metropolitanos y romanos. A la hora de construir las respectivas
arquitecturas de gobierno en Asia, África y América, cada congrega-
ción recurrió esencialmente a sus tradiciones institucionales, trasladán-
dolas grosso modo a los contextos imperiales. Ahí, no dejaron muchas
veces de ser objeto de adaptaciones y reconfiguraciones, dictadas por
las condiciones que establecían tanto las necesidades misioneras como
las realidades geográficas y humanas. En este sentido, los francisca-
nos, con una arquitectura algo más compleja y una multiplicidad de
ramas con sensibilidades espirituales distintas (observantes, recoletos,
etc.), se organizaron esencialmente en torno a conventos, residencias
y misiones integrados a su vez en comisariados, custodias y provin-
cias que comprendían niveles diferentes de autonomía con respecto
al mundo metropolitano. Tanto en el Imperio portugués como en el
hispano, la articulación con los respectivos patronatos e instituciones
regias (Consejo de Indias, Mesa da Consciência e Ordens, Junta das
Missões) fue relativamente intensa. En la América española, la orga-
nización en provincias fue rápida, habiendo quedado definida ya en
el siglo xvi en espacios como Nueva España y Perú. Eso no significó
que su vinculación orgánica con la Península quedase completamente
diluida. En general, se vieron sujetas a un Comisario General de Indias
que residía en la Península, nombrado por el soberano y, a su vez, vica-
rio del Ministro General68. Las r­ eivindicaciones que, desde finales del

  Para el contexto portugués, existía igualmente un Comissário Geral da Índia


68

Oriental del que dependían los conventos asiáticos de la Observancia. Residente en


Lisboa, después de 1640, comenzó igualmente a entender sobre las comunidades y

575

Monárquias Ibéricas.indb 575 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

siglo xvi, plantearon los criollos sobre su participación en el gobierno


provincial y el propio sistema que finalmente se adoptó, alternando
superiores locales y peninsulares, son expresivos de tales vínculos y de
los límites que aquellos imponían69. En la década de 1570, la presencia
en Roma del novohispano Fr. Diego Valadés obedecía a un proyecto
que buscaba la complicidad pontificia para alcanzar mayor autonomía
del mundo peninsular y del propio patronato regio70. En el Imperio
portugués, la geografía provincial franciscana llevó algún tiempo a
construirse y, en ámbitos como el Índico, asumiría además una dimen-
sión virtual semejante a la que encerraba la geografía diocesana. Ahí
se organizaron en torno a dos provincias: la observante de São Tomé
de la India Oriental, constituida primero en custodia (1543) y, más
tarde, en provincia (1619); y la de Madre de Deus, de frailes descalzos,
establecida como tal en 1629. Unos y otros tenían su centro en Goa
(donde los observantes asumieron además el gobierno de las parro-
quias de Bardez), a partir del cual establecieron conventos y misiones
en el Gujarat y la costa de Malabar, Mozambique, Ceilán, Macao y
Malaca. En la década de 1630, la provincia de São Tomé aún tenía que
reivindicar su autonomía frente a los superiores provinciales de Por-
tugal (que sólo les reconocían un estatuto de custodia), dentro de un
conflicto del que no estaban ausentes, como en el mundo hispano, las
aspiraciones de los «nacidos» en la India portuguesa71.
No obstante, el mundo franciscano asentaba sobre formas tradicio-
nales de organización que dejaban un margen relativamente amplio de
resolución a las estructuras locales (conventos, custodias, provincias)
frente a ministros generales y otros superiores de la Orden en Lisboa,
Madrid o Roma. Los jesuitas, menos sujetos a una tradición institu-
cional que aún estaba por construirse, siguieron asimismo un modelo

provincias franciscanas del Brasil. Cf. Giuseppe Buffon, Storia dell’Ordine Fran-
cescano. Problemi e prospettive di método (Roma: Edizioni di Storia e Letteratura,
2013), 91.
69
  Bernard Lavallé, Recherches sur l’apparition de la conscience créole dans la vice-
royauté du Pérou: l’antagonisme hispano-créole dans les ordres religieux (xvie-xviie)
(Lille : Atelier national reproduction des thèses, Universidad Lille 3, 1982).
70
 Boris Jeanne, «Christianisme et criollismo: les franciscaines et la société
de la Nouvelle Espagne au xvie siècle», Cahiers des Amériques Latines, 67 (2012):
55-73; Id., Mexico-Madrid-Rome. Sur les pas de Diego Valades: une étude des milieux
romains connectés au Nouveau Monde à l’époque de la Contre-Réforme (1568-1594).
Tesis doctoral (París: EHESS, 2012).
71
  Xavier, «Itinerários franciscanos na Índia seiscentista... ».

576

Monárquias Ibéricas.indb 576 13/12/18 14:56


La misión en los espacios del mundo ibérico

provincial, pero supieron articularlo en un modo quizás más dinámico.


En Brasil, la llegada de Nóbrega en 1549 supuso el establecimiento
inmediato de una Provincia Brasiliae al margen de la portuguesa, y, en
el Índico, también se crearon enseguida las provincias de Goa, Malabar
y Japón (que incluía la vice-provincia de China), cuyas fronteras – una
vez más – quedaron difuminadas por una geografía desmesurada en la
que se desplegaban puntualmente establecimientos y misiones de la
Orden. Encontramos la misma estructura en el ámbito hispanoame-
ricano, donde rápidamente nacen las provincias de México y Perú en
los años 1560, completadas por la de Paraguay y Nueva Granada en
el siglo xvii, cuya creación remite a una búsqueda de autonomía y a la
necesidad de crear un vínculo directo con las autoridades metropolita-
nas. El sistema, aparentemente, era más centralizado, aunque, en todo
caso, con un carácter igualmente negociado.
En este sentido la figura de los visitadores – como la de los comi-
sarios, en el caso de los franciscanos – no deja de ser expresiva de las
tensiones que, a menudo, se suscitaban entre los centros metropolita-
nos y las provincias. Durante los casi veinte años que André Palmeiro
pasó en Asia como visitador de la Compañía, se vio constantemente
confrontado con realidades misioneras que no siempre se ajustaban a
las percepciones y pretensiones de Roma72. En Brasil, las reticencias de
Francisco de Borja a la implicación de los jesuitas en la cría de ganado,
con el recurso a mano de obra esclava, quedaron disipadas durante la
visita de Inácio de Azevedo (1566-1568) ante las necesidades econó-
micas de la provincia y del propio sistema de aldeias, cuyo estatus y
administración temporal no dejó de ser objeto de constantes negocia-
ciones entre Roma y los superiores locales jesuitas. Es más, la partici-
pación de los colegios en la industria azucarera no dejó de estar en el
centro de los debates que marcaron la visita de la provincia por Manuel
de Lima, en 1607-1610, poniendo de manifiesto el grado de autonomía
que aquella había alcanzado con respecto a los criterios romanos73.

72
  Liam M. Brockey, The Visitor: André Palmeiro and the Jesuits in Asia (Cam-
bridge, Mass.: The Belknap Press, Harvard University, 2014).
73
 Castelnau-L’Estoile, Les ouvriers d’une vigne sterile…, 287-339. Sobre los
debates que en estos años generó la cuestión específica del recurso a la mano de obra
esclava en las propiedades agrícolas de la Orden, véase Carlos Alberto de Moura
Ribeiro Zeron, Ligne de foi. La Compagnie de Jésus et l’esclavage dans le processus de
formation de la société coloniale en Amérique portugaise (XVIe-XVIIe siècles) (París:
Honoré Champion, 2009), 77-104.

577

Monárquias Ibéricas.indb 577 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

La amplia movilidad de las personas y el gobierno epistolar fueron los


dos instrumentos de la negociación entre las órdenes religiosas misione-
ras y los poderes centrales, en la península ibérica como en Roma. A la
circulación de la correspondencia, dentro y fuera de las órdenes religiosas,
se agrega la de los procuradores como principales vectores de la informa-
ción. Éstos se desplazaban desde las Indias a Europa, siguiendo el itine-
rario inverso al realizado por la mayoría de los misioneros. Su jornada,
limitada en el tiempo, solía responder a objetivos bien definidos, cuyo
trato requería la presencia de estos religiosos en la corte del rey, entre los
superiores peninsulares de la Orden o ante las instancias romanas: desde
la participación en congregaciones generales a la reivindicación de auto-
nomía, los enfrentamientos entre naturales (criollos/casados) y penin-
sulares, los conflictos jurisdiccionales con los obispos, la promoción de
procesos de beatificación, la propaganda misionera, el reclutamiento de
personal, la búsqueda de financiación para las empresas de evangeliza-
ción74. Pero la presencia de estos religiosos en el Viejo Mundo es también
ocasión para atender otros asuntos. Muchos participaban en un tráfico
informal de objetos de devoción y artísticos en dirección a los contextos
coloniales (medallas, agnusdéi, rosarios libros, relicarios, lienzos, graba-
dos), al tiempo que llevaban consigo piezas exóticas, reliquias de mártires
y otros elementos oriundos de Asia, África o América que deleitaban la
curiosidad de los públicos europeos. Algunos llegaban con escritos que
mandaban imprimir o que circulaban manuscritos75, contribuyendo a

74
  Antonio Rubial, «Religiosos viajeros en el mundo hispánico en la época de los
Austrias (el caso de Nueva España)», Historia Mexicana, 61/3 (2012): 813-848. Sobre la
actividad propagandística y el patronato de las misiones por particulares, véase: Edmond
Lamalle, «La propaganda du P. Nicolas Trigault en faveur des missions de Chine (1616)»,
Archivum Historicum Societatis Iesu, IX (1940): 49-120; Ronnie Po-chia Hsia, Noble
patronage and Jesuit missions: Maria Theresia von Fugger­-Wellenburg, 1690-1762, and
Jesuit missionaries in China and Vietnam (Roma: Institutum Historicum Societatis Iesu,
2006); Frederik Vermote, «Finances of the Missions», en Early Modern Catholic Global
Missions, ed. Ronnie Po-chia Hsia (Leiden: Brill, 2017), 367-400.
75
  Charlotte de Castelnau L’Estoile y Aliocha Maldavsky, «Entre l’Europe et
l’Amérique: la circulation des élites missionnaires au tournant du xviie siècle», en
La circulation des élites européennes. Entre histoire des idées et histoire sociale, ed.
Henri Bresc, Fabrice d’Almeida y Jean-Michel Sallmann (París: Seli Arslan, 2002),
124-137; Federico Palomo, «Procurators, religious orders and cultural circulation
in the Early Modern Portuguese Empire: printed works, images (and relics) from
Japan in António Cardim’s journey to Rome (1644-1646)», E-Journal of Portuguese
History, 14/2 (2016): 1-32. https://www.brown.edu/Departments/Portuguese_
Brazilian_Studies/ejph/html/issue28/pdf/v14n2a01.pdf

578

Monárquias Ibéricas.indb 578 13/12/18 14:56


La misión en los espacios del mundo ibérico

acumular y elaborar en centros como Lisboa, Sevilla, El Escorial o Roma,


múltiples saberes – lingüísticos, geográficos, naturales, etnográficos –
sobre los mundos del Índico y del Atlántico. Por lo tanto, si el gobierno
epistolar fue una piedra angular del funcionamiento burocrático de una
organización como la Compañía de Jesús76, como lo refleja la densidad
de su archivo romano, no fue menos importante la movilidad de las per-
sonas en todas las órdenes misioneras; movilidad que, como se verá más
adelante, no se producía tan sólo entre los espacios metropolitanos y los
coloniales. La dimensión planetaria que asumieron las propias redes de
establecimientos no sólo propiciaron una circulación de noticias y mode-
los de actuación entre unos espacios y otros. Favoreció también expe-
riencias – a pesar de ser excepcionales – como las del franciscano Martín
Ignacio de Loyola que recorrió en dos ocasiones el globo transitando de
un convento a otro de los que su Orden tenía en la América hispánica,
Filipinas, Macao o la India portuguesa77.
Estas circulaciones muestran la relativa autonomía de las órdenes reli-
giosas dentro del sistema de Patronato, tanto portugués como español.
No se trataba solamente de política institucional, pues la comunicación
con Roma cobra un carácter indispensable para el desarrollo mismo de la
acción evangelizadora. Así lo demuestra la existencia de las «dudas sobre
los sacramentos» en el archivo de Propaganda Fide, en Roma, que ilustra
la intensa comunicación entre los misioneros del mundo ibérico con los
teólogos pontificios, además de los de la Península, para resolver casos
relacionados con la ­adaptación de los sacramentos católicos a los contex-
tos extra-europeos78.

76
  Markus Friedrich, «Communication and Bureaucracy in the Early Modern
Society of Jesus», Scweizerische Zeitschrift für Religions und Kulturgeschichte,101
(2007): 49-75; Markus Friedrich, «Government and Information-Management
in Early Modern Europe. The Case of the Society of Jesus (1540-1773)», Journal
of Early Modern History 12 (2008): 539–63; Id., Der Lange Arm Roms? Globale
Verwaltung Und Kommunikation Im Jesuitenorden 1540–1773 (Frankfurt-New
­
York: Campus, 2011); Fabian Fechner, Entscheidungsprozesse Vor Ort. Die Provinz-
kongregationen Der Jesuiten in Paraguay (1608–1762) (Regensburg: Verlag Schnell
& Steiner GmbH, 2015).
77
  Serge Gruzinski, Les quatre parties du monde. Histoire d’une mondialisation
(París: Éditions de la Martinière, 2004), 250-257.
78
  Paolo Broggio, Charlotte de Castelnau-L’Estoile y Giovanni Pizzorusso,
eds., Administrer les sacrements en Europe et au Nouveau Monde. La Curie romaine
et les dubia circa sacramenta, MEFRIM, Mélanges de l’École française de Rome Italie-
-Méditerranée, 121/1 (2009).

579

Monárquias Ibéricas.indb 579 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

La articulación entre la misión y los actores de la sociedad

Según las configuraciones políticas de los espacios donde actúan


los misioneros, éstos gozan de mayor o menor autonomía en rela-
ción con los poderes seculares y la sociedad local en general. Nos
referimos a las relaciones con la Corona y sus representantes en los
territorios de los imperios, pero también con los actores a nivel local,
como cabildos y élites locales, tanto europeas como indígenas, así
como con las instituciones eclesiásticas y, sobre todo, con obispos
e inquisidores. Estas relaciones se configuran en ámbitos de índole
diversa – política, económica y religiosa – que inciden en la actua-
ción de los actores de la misión de manera concreta, pues afectan a
la propia permanencia de los religiosos, así como a su movilidad, su
supervivencia y sus márgenes de maniobra.
Los poderes presentes en los ámbitos coloniales afectan directa-
mente a la acción misionera y se pueden leer tanto en términos de
colaboración como de confrontación. Si las Coronas están íntima-
mente vinculadas con la circulación de misioneros entre Europa y
los espacios imperiales, pues brindan las autorizaciones necesarias y
financian parcialmente las expediciones79, a nivel local son virreyes y
gobernadores los que supervisan su capacidad de acción concreta. En
la América hispánica, después de un primer momento de relativa liber-
tad, debido a una organización política poco estructurada y contextos
bélicos relacionados con las conquistas o guerras civiles, virreyes y
gobernadores cuentan con religiosos y misioneros para estructurar el
poder colonial a nivel regional y local. Así, desde los años 1570 en ade-
lante, los misioneros y religiosos deseosos de fundar establecimientos
en los Andes deben contar con el apoyo de la tutela virreinal. En 1578,
el virrey Francisco de Toledo frena la fundación de dos colegios jesui-
tas en La Paz y Arequipa, a pesar de que contaban con un financia-
miento local. Estas fricciones, como ya se apuntó, se deben entonces
a discrepancias acerca de la participación de los jesuitas en la organi-
zación de la política de reducciones del dicho virrey, que prevé que los
religiosos asuman el papel de párrocos en las doctrinas de indios, lo
que los jesuitas rehúsan, pues consideran que es contrario a sus Cons-
tituciones. El virrey demuestra su poder de patrón al quitar la doctrina

  Pedro Borges Morán, El envío de misioneros a América durante la época española


79

(Salamanca, Universidad Pontificia, 1977); Brockey, Journey to the East…..

580

Monárquias Ibéricas.indb 580 13/12/18 14:56


La misión en los espacios del mundo ibérico

de Juli, en la ribera del lago T


­ iticaca, a la administración de los domi-
nicos para dársela a la Compañía de Jesús. La orden ignaciana negocia
su participación en la política del virrey a nivel regional, aceptando dos
doctrinas de indios, y también imperial, apelando al rey para poder
fundar colegios en La Paz y Arequipa80. De la misma forma, es con los
gobernadores locales con quienes se negocia la presencia misionera
en zonas de frontera, como el sur de Chile, el piedemonte amazónico
o el norte de México. Aquí los misioneros cobran un interés militar
determinante, pues se transforman en los principales actores imperia-
les ibéricos, manteniendo los límites entre los dos imperios, como en
Amazonia, pero, sobre todo, transformando las sociedades locales a
través de la organización misional. En el caso de las misiones en Para-
guay, asistimos a una verdadera cultura misional específica, al margen
de la sociedad hispano-criolla, pero conectada con ella a través de los
intercambios económicos81.
Las relaciones con las élites locales son fundamentales para enten-
der el margen de maniobra de las órdenes religiosas en su acción
evangelizadora en los territorios imperiales donde se construyen
sociedades coloniales. Encomenderos, hacendados, propietarios de
esclavos, o sea los miembros de las élites coloniales, son los principa-
les representantes de la sociedad ibérica que se instala en los territorios
americanos. Los misioneros deben también contar con el apoyo de las
élites indígenas para llevar a cabo su acción. Todas estas relaciones son
el fruto de negociaciones y, como en Europa, se sustentan a través de
la participación de los religiosos en las redes sociales locales.

  Saito y Lauro, eds., Reducciones…


80

  David Block, Mission culture on the Upper Amazon. Native Tradition, Jesuit
81

Enterprise, and Secular Policy in Moxos, 1660–1880 (Lincoln: University of Nebraska


Press, 1994); David J. Weber, The Spanish frontier in North America (Yale: Yale Uni-
versity Press, 1994); Beatriz Vitar, Guerra y misiones en la frontera chaqueña del
Tucumán (1700-1767) (Madrid: CSIC, 1997); Roberto Tomichá Charupá, La pri­mera
evangelización en las reducciones de Chiquitos, Bolivia (1691-1767) (Cochabamba:
Editorial Verbo Divino, 2002); Akira Saito, «Las misiones y la administración del
documento: el caso de Mojos, siglos xviii-xx», Senri Ethnological Studies 68 (2005):
27-72; Christophe Giudicelli, «Pacificación y construcción discursiva de la frontera.
El poder instituyente de la guerra en los confines del Imperio (Nueva Vizcaya y Tucu-
mán. Siglo xvii)», en Máscaras, tretas y rodeos del discurso colonial en los Andes, ed.,
Bernard Lavallé (Lima: IFEA-Instituto Riva-Agüero, 2006), 157-176; Wilde, Religión
y Poder…; Paula Montero, ed., Deus na aldeia: missionários, índios e mediação cultural
(São Paulo: Globo, 2006); Cristina Pompa, Religião como tradução. Missionários, Tupi
e Tapuia no Brasil colonial (São Paulo: Edusc, 2003).

581

Monárquias Ibéricas.indb 581 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Dada la escasa estructuración de la población andina en pue-


blos estables en el momento de la conquista, la institución de la
encomienda cobra una importancia fundamental en el proceso de
evangelización. Obligados a velar por la instrucción religiosa
de los indios, los encomenderos son los primeros en nom-
brar curas de indios. Son también ellos, como miembros de los
cabildos urbanos, los que financian la instalación de las órdenes
religiosas, dando solares para la construcción de los edificios y
otorgando las limosnas indispensables a la supervivencia de los
religiosos en los momentos iniciales de su instalación82. En los
primeiros momentos de la dominación hispánica, estas autorida-
des laicas pueden asumir un papel ambiguo, pues sus intereses
no necesariamente les llevan a reprimir las prácticas y creencias
religiosas de los indios83. Las relaciones entre los religiosos y los
europeos son frecuentemente tensas a nivel local. Si por una parte
se critica la acción de los conquistadores desde un punto de vista
ético, exigiendo por ejemplo que restituyan los bienes robados a
los indios, como se verifica en el caso andino en el siglo xvi84, en el
caso brasileño asistimos a conflictos abiertos entre misioneros y
colonos, que compiten por el control de la mano de obra indígena
y esclava85.

82
  Aliocha Maldavsky, «Les encomenderos et l’évangélisation des Indiens dans
le Pérou colonial. ‘Noblesse’ et propagation de la foi au xvie siècle», en Le salut par
les armes. Noblesse et défense de l’orthodoxie (xiiie –xviie s.) ed. Ariane Boltanski
y Franck Mercier (Rennes: Presses Universitaires de Rennes, 2011), 239-250; Id.,
«Giving for the Mission: The Encomenderos and Christian Space in the Andes of
the Late Sixteenth Century», en Space and Conversion in Global Perspective ed.
Wietse de Boer, Aliocha Maldavsky, Giuseppe Marcocci e Ilaria Pavan (Leiden­-
-Boston: Brill, 2014), 260-284.
83
 Byron E. Hamman, «Catholicismes catholiques: autorités laïques et reli-
gions non chrétiennes au xvie siècle en Espagne et en Nouvelle-Espagne», en Les
laïcs dans la mission. Europe et Amériques, xvi-xviiie siècle, ed. Aliocha Maldavsky
(Tours: Presses universitaires François Rabelais, 2017), 25-45 .
84
  Guillermo Lohmann Villena, «La restitución por conquistadores y encomen-
deros: un aspecto de la incidencia lascasiana en el Perú», Anuario de Estudios ame-
ricanos, 23, 1966, 21-89. Aliocha Maldavsky, «Encomenderos, indios y religiosos en
la región de Arequipa (siglo xvi): restitución y formación de un territorio cristiano
y señoril», en Invertir en lo sagrado. Salvación y dominación territorial en América y
Europa (siglos xvi-xx), ed. Roberto Di Stefano y Aliocha Maldavsky (Santa Rosa:
UNLPam, 2018).
85
 Castelnau-L’Estoile, Les ouvriers d’une vigne stérile..., 257-285.

582

Monárquias Ibéricas.indb 582 13/12/18 14:56


La misión en los espacios del mundo ibérico

Sin embargo, la necesaria negociación que los misioneros y los


miembros del clero deben llevar a cabo a nivel local es sumamente
importante en el marco de las misiones y parroquias, donde las
élites indígenas cobran un papel indispensable para la mantención
del culto católico y su desarrollo. Esto se verifica ciertamente en
lugares donde la dominación ibérica no es suficiente para impo-
ner la presencia del catolicismo, como en Japón o China. Si allí
los religiosos dependen de los poderes locales, las negociaciones
a nivel local cobran una importancia aún mayor en contextos de
división política, como en Japón a finales del siglo xvi, donde los
jesuitas cultivaron relaciones privilegiadas con algunos daimyo que
permitieron desarrollar un cristianismo japonés86. Pero también
se verifica en zonas donde el control colonial es mayor, como en
Iberoamérica, donde, ya sea en las misiones guaraníes como en las
parroquias andinas, el clero necesita el apoyo de las élites tradicio-
nales para mantenerse. En Paraguay, los misioneros jesuitas utilizan
diversas estrategias para atraer a las poblaciones indígenas en las
reducciones, ofreciendo beneficios a los líderes indígenas, como el
ser miembros del cabildo o colaboradores litúrgicos, y fomentando
una cultura letrada o musical que permite el desarrollo de nuevas
élites87. Pero no porque los guaraníes se incorporan a la reducción,
cabe hablar de una conversión total. No obstante, estos mecanis-
mos no se limitan a contextos donde la dominación colonial no se
ha podido establecer o es difícil de mantener. T ­ ambién los encon-
tramos en ámbitos donde existe una administración colonial bien
asentada, como en los Andes centrales. La existencia de múltiples
intermediarios que hacen posible el culto cristiano en las parro-
quias de indios demuestra el poder que cobran las é­ lites l­ocales

86
  Charles R. Boxer, The Christian Century in Japan, 1549–1650 (Berkeley-Los
Angeles: University of California Press, 1951); Jurgis Elisonas [George Elison],
«Christianity and the Daimyo», en The Cambridge History of Japan, vol 4: Early
Modern Japan, ed., John Whitney Hall (Cambridge: Cambridge University Press,
1991), 301-372; Nathalie Kouamè, Le christianisme à l’épreuve du Japon médiéval
ou les vicissitudes de la première mondialisation, 1549-1569 (Paris : Karthala, 2016),
145-175; Hélène Vu Thanh, Devenir Japonais: La mission jésuite au Japon, 1549–
–1614 (Paris: PUPS, 2016), 59-107.
87
  Guillermo Wilde, «Les modalités indigènes de la dévotion. Identité religieuse,
subjectivité et mémoire dans les frontières coloniales d’Amérique du Sud», en Les
laïcs dans la mission. Europe et Amériques, xvi-xviiie siècle, ed. Aliocha Maldavsky
(Tours: Presses universitaires François Rabelais, 2017), 135-180.

583

Monárquias Ibéricas.indb 583 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

en la organización religiosa88. Los conflictos entre las autoridades


tradicionales y el clero local son la punta conflictiva del iceberg de
la negociación que rige estas relaciones, en su mayoría pacíficas y
muchas veces sumamente tolerantes en relación con prácticas reli-
giosas consideradas heterodoxas89.
La movilidad de los procuradores, la ubicuidad de las dudas, el
gobierno a distancia, así como sus adaptaciones locales muestran la
capacidad de las instituciones misioneras de interactuar con todos
los actores de las sociedades imperiales y de manejar las diversas
escalas en las que están llamadas a intervenir, a nivel local como glo-
bal. Esta habilidad institucional se refleja también en las políticas del
personal misionero.

El personal misionero: vocaciones, circulaciones,


especializaciones

Desde su reclutamiento y su formación hasta su dispersión por los


diversos espacios de las misiones en los territorios bajo control ibérico
real o virtual, el personal misionero refleja los retos institucionales que
plantea la dimensión planetaria del proselitismo religioso de españo-
les y portugueses. La gestión del personal es una puerta de entrada
para entender cómo circulan los hombres de la misión, pero también
cómo las diversas instancias religiosas (órdenes y clero secular) admi-
nistran la distancia, dentro de contextos donde lo local y lo colonial
se articulan necesariamente con lo global. Plantear la cuestión del per-
sonal misionero en términos de vocación y de circulación tiene dos
dimensiones interconectadas, la global y la local. La primera es la más
evidente, pues se trata de entender cuál es el perfil de los misioneros
que zarpan desde Europa hacia América, Asia o África, cómo se los
elige y cómo se forman. Este conjunto de interrogaciones también se
plantea a nivel local, pues parte del personal religioso nace y se forma
en los territorios imperiales, donde mantiene sus vínculos sociales y
familiares, dentro de las sociedades coloniales cuando éstas existen.

88
 John Charles, Allies at odds: the Andean church and its indigenous agents,
1583-1671 (Albuquerque: University of New Mexico Press, 2010).
89
  Gabriela Ramos, Muerte y conversión en los Andes (Lima: IFEA-IEP, 2010);
Marsilli, Hábitos perniciosos…

584

Monárquias Ibéricas.indb 584 13/12/18 14:56


La misión en los espacios del mundo ibérico

Si tomamos en cuenta que en la América hispana, dentro del perso-


nal religioso, encontramos tanto criollos como peninsulares y que, en
ciertos casos, dentro del mundo asiático, un clero nativo, la cuestión
aún se complica al diferenciar las tareas y los lugares donde se desa-
rrolla un trabajo misional concreto, como en las parroquias de indios
y las reducciones americanas, las cofradías de indios y africanos, o en
territorios alejados de los centros imperiales. Si dar clases de latín en
un colegio jesuita americano a las élites criollas no es muy diferente
del trabajo de enseñanza en un colegio europeo, sí lo es la tarea de
recorrer aldeas indígenas en la Nueva España, enseñar la doctrina cris-
tiana en São Paulo o evangelizar a los campesinos japoneses. Si los
religiosos que atraviesan los océanos no necesariamente desempeñan
después una labor estrictamente misional, los que nacen en las socie-
dades coloniales ibéricas tampoco forman exclusivamente un cuerpo
de misioneros especializados. ¿Quiénes se destinan al trabajo misio-
nero, a las misiones itinerantes y o a las misiones estables? ¿Cómo las
órdenes religiosas articulan sus políticas de personal en este sentido?
¿Existen cuerpos de especialistas de la misión?
Investigar sobre estos temas supone entrar en una documentación
interna de las órdenes religiosas que no es necesariamente asequible,
ya sea porque las fuentes no existen o porque no se pueden consul-
tar debido a su dispersión o a la dificultad en su acceso. El caso de
la Compañía de Jesús es el más conocido, por la particularidad de la
documentación administrativa producida al respecto, consultable en
el archivo romano de la Orden, como son los catálogos del personal
y las cartas indipetae. Los primeros son registros del personal envia-
dos a Roma cada tres años desde todos los establecimientos jesuitas
del mundo y brindan informaciones sobre cada miembro de la Orden
(origen, empleo, estatuto, estudios, cualidades y aptitudes, salud). Las
segundas eran cartas que escribían los jesuitas europeos al general de
la Orden solicitando el ser enviados a las misiones de ultramar. Par-
cialmente estudiada, esta documentación es una puerta de entrada a la
concepción que tenían los candidatos a la misión de su vocación y de
las expectativas de los superiores que los elegían90.

90
  Aliocha Maldavsky, «Pedir las Indias. Las cartas indipetae de los jesuitas euro-
peos, siglos xvi-xviii, ensayo historiográfico», Relaciones, 132 (otoño 2012): 147-
-181. Ver los trabajos sobre las cartas indipetae en Fabre y Vincent, eds., Notre lieu
est le monde....

585

Monárquias Ibéricas.indb 585 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Desde una perspectiva imperial y mundial, la movilidad misionera


se materializa a través de los religiosos europeos que tomaron un
barco con destino a África, Asia o América, enfrentando las peligro-
sas travesías marítimas de la época, la lentitud de las comunicaciones
y la casi certidumbre de que era un viaje sin retorno. Pedro Borges
Morán ha calculado que 351 jesuitas viajaron a Hispanoamérica y Fili-
pinas en el siglo xvi, de los cuales 332 fueron españoles y 19 de otras
nacionalidades. En el siglo xvii, hubo un total de 1148, de los cuales
943 fueron españoles y 205, extranjeros. En el xviii, hubo 1690 en
total (1065 españoles y 625 extranjeros)91. En la Compañía de Jesús,
elegir a estos misioneros era la tarea de los superiores de la Península
y también de las autoridades romanas. Se tomaban en cuenta criterios
de índole espiritual, la «vocación» a la misión, expresada en las cartas
indipetae, que se pueden considerar como un verdadero instrumento
de administración de las vocaciones, pero que no necesariamente
escribieron todos los que viajaron. Sabemos, por ejemplo, que los
candidatos portugueses a la misión eran seleccionados por los supe-
riores portugueses, mientras que, para zarpar hacia Hispanoamérica
y Filipinas, las autoridades romanas tenían una mayor capacidad de
influencia, al menos a principios del siglo xvii92. Los redactores de las
cartas indipetae muestran cierto grado de interiorización de los crite-
rios de selección, como la salud, la capacidad para aprender idiomas,
las cualidades intelectuales y literarias, además de reflejar su relativa
ignorancia de la realidad misional local, a pesar de que, por lo menos
para los italianos, las misiones orientales son su principal objetivo.
Sabemos también que, a partir de finales del siglo xvii, los misioneros
de habla alemana, originarios del imperio de los H ­ absburgo, pudieron
acceder a las misiones americanas, anteriormente reservadas a los ibé-
ricos y, de forma esporádica, a los italianos93. Los ­criterios ­geopolíticos

91
  Borges Morán, El envío de misioneros a América…, 537.
92
  Charlotte de Castelnau-L’Estoile, «Élection et vocation: Le choix des mis-
sionnaires dans la province jésuite du Portugal (1592-1596)», en Notre lieu est le
monde. Missions religieuses dans le monde ibérique à l’époque moderne, ed. Pierre­-
-Antoine Fabre, Bernard Vincent (Roma: École Française de Rome, 2007), 21-43.
93
 Anton Huonder, Deutsche Jesuitenmissionäre des 17. Und 18. Jahrh (Fri-
bourg: Herder’sche Verlagsbuchhandlung, 1899); Christoph Nebgen, Missionars-
berufung nach Übersee in drei Deutschen Provinzen der Gesellschaft Jesu im 17. Und
18. Jahrhundert (Regensburg: Schnell & Steiner, 2007); Michael Müller, «Jesuitas
centro-europeos o “alemanes” en las misiones de indígenas de las antiguas provin-
cias de Chile y del Paraguay (siglos xvii y xviii)», en São Francisco Xavier: nos 500

586

Monárquias Ibéricas.indb 586 13/12/18 14:56


La misión en los espacios del mundo ibérico

estaban íntimamente relacionados con las políticas misioneras de las


órdenes religiosas.
Dentro de los espacios misionales, asistimos a la configura-
ción de cuerpos de especialistas, cuya principal característica es el
manejo de los idiomas locales y la experiencia misional de contacto
con la población local. El criterio lingüístico asume entonces una
gran importancia en la administración de las políticas del personal,
por lo menos en la Compañía de Jesús. Esto explica, por ejemplo,
que exista cierta laxitud en la interpretación local de las reglas gene-
rales de promoción interna de los religiosos, si éstos son capaces
de manejar las lenguas de la evangelización, a pesar de no tener
excelentes resultados en otros ámbitos del estudio94. También la
pericia lingüística explica el reclutamiento de mestizos y criollos
en Iberoamérica, a pesar de que los indígenas estén excluidos del
sacerdocio hasta el siglo xviii95. En Asia esta regla es mucho menos
estricta, pues existe un clero nativo, como en Japón, donde cris-
tianos locales son ordenados sacerdotes y acceden a la orden igna-
ciana96. Como lo hemos hecho notar en otro apartado, la presencia
de intermediarios nativos dentro de la actividad misional, síntoma
de las relaciones entre la misión y las sociedades locales, es una
constante en todos los escenarios, ya sean portugueses como espa-
ñoles. Lo vemos en Paraguay, Perú, Japón, Brasil, así como en China
o en las misiones de Madurai.
Como ya se ha señalado, la circulación y la movilidad son una
forma de gobernar los espacios misioneros en una escala impe-
rial. También forman parte del compromiso misionero, a través
de la misión itinerante cuyo modelo es sin duda Francisco Javier.
Por lo tanto, la movilidad dentro de los espacios misionales es una

anos do nascimento de São Francisco Xavier: da Europa para o mundo 1506-2006


(Oporto: CIUHE/UP, 2007), 87-102; Karl Kohut y María Cristina Torales, Desde
los confines de los imperios ibéricos. Los jesuitas de habla alemana en las misiones ame-
ricanas (Monterrey: Instituto Tecnológico y de Estudios Superiores de Monterrey,
2008).
94
 Maldavsky, Vocaciones inciertas…, 259-305; Castelnau-L’Estoile, Les ouvriers
d’une vigne stérile…, 141-169.
95
  Sabine Hyland, «Illegitimacy and racial hierarchy in the peruvian priesthood:
a seventeenth-century dispute», Catholic Historical Review, 84/3 (1998): 431-454;
Juan Bautista Olaechea, «Los indios en las órdenes religiosas», Missionalia Hispa-
nica, XXIX/85 (1972): 241-256.
96
  Vu Thanh, Devenir Japonais..., 107-148.

587

Monárquias Ibéricas.indb 587 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

­condición sine qua non de la perennidad de la acción evangeliza-


dora. Sin embargo, esta circulación no necesariamente atraviesa las
fronteras entre los dos imperios ibéricos, que definen monopolios y
espacios reservados. A pesar de que los jesuitas de São Paulo están
más cerca de Paraguay que los de Lima, son éstos últimos los que
envían misioneros a la frontera, donde fundan las reducciones gua-
raníes. En Extremo Oriente, la rivalidad entre jesuitas dependientes
de P
­ ortugal y Goa y las ordenes mendicantes venidas de Filipinas y
de los dominios españoles, no solamente refleja diferencias en los
métodos misioneros, sino que refuerza las fronteras imperiales. Los
espacios recorridos por portugueses y españoles son, sin embargo,
suficientemente amplios para que se verifique la gran capacidad de
circulación de estos actores religiosos, que atraviesan océanos y
montañas, con sus múltiples experiencias, modelos de conversión,
modelos de devoción, reliquias y haciendo circular métodos misio-
neros, devociones y modelos confesionales97. También resulta de esta
circulación la capacidad de producir saberes nuevos que dan cuenta
de una visión global de la experiencia de la conversión y de la natu-
raleza de los pueblos con los que estos religiosos entran en contacto
y fomentan además la publicidad y la propaganda en Europa acerca
de la misión98.
Sin embargo, la movilidad de estos actores dentro de un perímetro
menor como es el del continente americano revela otras lógicas que
solamente permite adivinar el cambio de escala. La circulación den-
tro del espacio hispanoamericano aparece mucho más frágil y escasa.
Aquí, los agentes religiosos más dispuestos a circular, por ejemplo,
hacia las periferias misioneras de la Amazonia peruana o paraguaya,
o entre los Andes y la Nueva España son los propios europeos, o
sea los que ya han cruzado el Atlántico para llegar a América. Los
jesuitas criollos andinos o mesoamericanos son por lo tanto mucho
menos numerosos desempeñando labores misioneras en zonas peri-
féricas que los europeos. Tal constatación confirma el arraigo local de

 Broggio, Evangelizzare il mondo....


97

 Antonella Romano, Impressions de Chine: l’Europe et l’englobement du


98

monde, xvie-xviie siècle (París: Fayard, 2016); Ângela Barreto Xavier y Ines G.
Županov, Catholic Orientalism: Portuguese Empire, Indian Knowledge (16th-18th
centuries) (Nueva Delhi: Oxford University Press, 2015); Charlotte de Castelnau,
Marie­-Lucie Copete, Aliocha Maldavsky e Ines G. , eds., Missions d’évangélisation et
circulation des savoirs...; Guillermo Wilde, ed., Saberes de la conversión....

588

Monárquias Ibéricas.indb 588 13/12/18 14:56


La misión en los espacios del mundo ibérico

los miembros criollos de las órdenes religiosas en Hispanoamérica.


También revela la interdependencia de las órdenes religiosas con las
sociedades coloniales que nacen dentro de los espacios imperiales99.

Conclusiones
La cuestión misionera no se puede desligar de la capacidad de
dominación de los imperios ibéricos. Adaptaciones, negociacio-
nes, acomodaciones, son un punto común para todas las experien-
cias misionales del catolicismo ibérico durante el periodo moderno,
que varían según el grado de dominación que los poderes políticos
pudieron ejercer y que no necesariamente resultan de una distinción
simple entre imperio portugués e imperio español. Dentro de cada
uno existen espacios de mayor o de menor dominación que lograron
ejercer españoles y portugueses. Además de las ciudades, vitrinas del
modelo ibérico triunfante y que, sin lugar a dudas, permiten com-
parar Lima con Sevilla, Goa o Manila, contamos con espacios domi-
nados por los poderes europeos, donde imperan la imposición y la
negociación. En los ámbitos coloniales, las sociedades locales influ-
yen de manera fundamental en el desarrollo institucional de la activi-
dad misionera, por múltiples razones: el arraigo local del personal y
su adhesión a modelos locales de distinción socio-étnica, la necesaria
integración de las instituciones misioneras en las pautas locales de
funcionamiento económico (mano de obra indígena y/o esclava), la
necesidad de negociar la adhesión al catolicismo con las élites locales.
Esto produce múltiples adaptaciones, que sin lugar a dudas se inten-
sifican en espacios con escasa dominación política, como las zonas
fronterizas en el continente americano y los espacios de dependencia
para con poderes imperiales locales: China y Japón. En estos domi-
nios fuera del imperio, intervienen otras formas de acomodación,
más o menos aceptadas por las autoridades centrales (Roma, Lisboa,
Madrid). La cuestión de la adaptación mutua no es una particulari-
dad de las misiones en determinados espacios. La historiografía a
puesto de relieve que la dimensión negociada de la conversión es una

  Aliocha Maldavsky, «Conectando territorios y sociedades. La movilidad de


99

los misioneros jesuitas en el mundo ibérico (siglos xvi-xviii)», Histórica, ­XXXVIII.2


(2014) 71-109.

589

Monárquias Ibéricas.indb 589 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

realidad generalizada, con matices diversos según las culturas y los


contextos. Los fenómenos de apropiación y de agencia indígena son
permanentes, dando lugar a las diversas manifestaciones del catoli-
cismo heredados de este periodo en los antiguos imperios español y
portugués.
Es evidente que la capacidad de enviar misioneros y de mantener-
los, incluso en contextos de fragilidad política para los europeos y de
competencia entre ellos mismos, fue una manera de materializar una
presencia imperial y de llevar a cabo un proyecto político-religioso
que se pensaba como universal. Las órdenes religiosas que participa-
ron en la empresa imperial y colonial de España y Portugal eran cons-
cientes del papel que las Coronas les atribuían y, al mismo tiempo,
procuraron desarrollar sus propias agendas de expansión apostó-
lica, creando estructuras nuevas de comunicación, de gobierno y de
gestión de su propio personal, que se fueron adaptando a los retos
de una acción global, anclada en contextos locales a veces de gran
fragilidad.

590

Monárquias Ibéricas.indb 590 13/12/18 14:56


Bibliografia

Monárquias Ibéricas.indb 591 13/12/18 14:56


Monárquias Ibéricas.indb 592 13/12/18 14:56
Introdução

Bouza Álvarez, Fernando, Pedro Cardim, e Antonio Feros, eds. The Iberian
World. Londres: Routledge, no prelo.
Cañizares-Esguerra, Jorge. Puritan Conquistadors. Iberianizing the Atlantic,
1550-1700. Stanford: Stanford University Press, 2006.
Cañizares-Esguerra, Jorge, ed. Entangled Empires: The Anglo-Iberian
­Atlantic, 1500-1830. Filadélfia: University of Pennsylvania Press,
2018.
Cardim, Pedro, e Susana M. Miranda. «Virreyes y gobernadores de las pose-
siones portuguesas en el Atlántico y en el Índico (Siglos xvi-xvii)». Em
El mundo de los virreyes en las monarquias de España y Portugal, orgs.
Pedro Cardim e Joan-Lluís Palos, 175-196. Madrid: Editorial Iberoame-
ricana/Vervuert, 2012.
Cardim, Pedro, e Joan-Lluís Palos, orgs. El mundo de los virreyes en las
monarquías de España y Portugal. Madrid: Editorial Iberoamericana,
Vervuert, 2012.
Cardim, Pedro, Tamar Herzog, José Javier Ruiz Ibáñez, e Gaetano Sabatini,
eds. Polycentric Monarchies: How did Early Modern Spain and Portugal
Achieve and Maintain a Global Hegemony? Eastbourne: Sussex Acade-
mic Press, 2012.
Dubet, Anne, e José Javier Ruiz Ibáñez, eds. Las monarquías española y
francesa (siglos xvi-xviii) ¿Dos modelos políticos? Madrid: Casa de Velá-
zquez, 2010.
Elliott, John H. Empires of the Atlantic World: Britain and Spain in Ame-
rica, 1492-1830. New Haven e Londres: Yale University Press, 2006.
Trad. espanhola Imperios del Mundo Atlántico. España y Gran Bretaña
en América, 1492-1830. Madrid: Taurus Historia, 2006.
Ferreira, Susannah Humble. The Crown, the Court and the Casa da Índia.
Political centralization in Portugal, 1497-1521. Leiden: Brill, 2015.

593

Monárquias Ibéricas.indb 593 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Fragoso, João, e Nuno Gonçalo Monteiro, orgs. Um Reino e Suas Repúbli-


cas no Atlântico. Comunicações Políticas entre Portugal, Brasil e Angola
nos Séculos XVII e XVIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017.
Gaudin, Guillaume. El imperio de papel de Juan Díez de la Calle. Pensar
y gobernar el Nuevo Mundo en el siglo xvii. Madrid-México: Fondo de
Cultura Económica, 2017.
Gaudin, Guillaume, Antonio Castillo Gómez, Margarita Gómez Gómez, e
Roberta Stumpf, orgs. Vencer la distancia. Actores y prácticas del gobierno
de los imperios español y portugués. Parte 1 – Conectar mundos distantes:
los oficiales de la pluma en los imperios ibéricos. Dossier publicado em
Nuevo Mundo Mundos Nuevos (2017). Disponível em: https://journals.
openedition.org/nuevomundo/71453.
Geraldes, Carlos. «Casa da Índia: Um Estudo de Estrutura e Funcionali-
dade (1509-1603)». Tese de Mestrado. Lisboa, Faculdade de Letras da
Universidade de Lisboa, 1997.
Hart, John. Comparing Empires: European Colonialism from Portuguese
Expansion to the Spanish-American War. Houndmills/Nova Iorque: Pal-
grave/St. Martin’s Press, 2003.
Herzog, Tamar. Frontiers of Possession. Spain and Portugal in Europe and the
Americas. Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 2015.
Hespanha, António Manuel. «O governo dos Áustria e a ‘modernização’ da
constituição política portuguesa», Penélope. Fazer e Desfazer História,
(Fevereiro 1989).
Hespanha, António Manuel. Como os Juristas Viam o Mundo. 1550-1750.
Direito, Estados, Coisas, Contratos, Ações e Crimes. S.l.: CreateSpace
Independent Publishing Platform, 2015.
Lobo, Eulália Maria Lahmeyer. Administração Colonial Luso-Espanhola nas
Américas. Rio de Janeiro: Editora Companhia brasileira de Artes Grá-
ficas, 1952.
Mazín Gómez, Óscar, e José Javier Ruiz Ibáñez, eds. Las Indias Occi-
dentales. Procesos de incorporación territorial a las Monarquías Ibéricas.
México: El Colegio de México, 2012.
Pagden, Anthony. Lords of all the world. Ideologies of Empire in Spain,
­Britain, France, c. 1500-c.1800. New Haven: Yale University Press, 1995.
Rivero Rodríguez, Manuel. La edad de oro de los virreyes. El virreinato
en la Monarquía Hispánica durante los siglos xvi y xvii. Madrid: Akal,
2011.
Sabatini, Gaetano, ed. Comprendere le monarchie iberiche. Risorse materiali
e rappresentazioni del potere. Roma: Edizioni Viella, 2010.

594

Monárquias Ibéricas.indb 594 13/12/18 14:56


Bibliografia

Schaub, Jean-Frédéric. Portugal na Monarquia Hispânica. Lisboa: Livros


Horizonte, 2001.
Schaub, Jean-Frédéric. La France espagnole. Les racines hispaniques de l’ab-
solutisme français. Paris: Le Seuil, 2003.
Xavier, Ângela Barreto Xavier. «The Casa da Índia and the emergence of a
science of administration in the Portuguese Empire», Em Of Archives
and Empires: governance, ideology, and culture in the early modern world,
org. Maria-Pia Donato. Dossier publicado em Journal of Early-Modern
History, no prelo.
Xavier, Ângela Barreto, e Ana Cristina Nogueira da Silva, orgs. O Governo
dos Outros. Poder e Diferença no Império Português. Lisboa: Imprensa de
Ciências Sociais, 2016.

Parte 1: Quadros político-administrativos

AA.VV., El Tratado de Tordesillas y su época. Congreso Internacional de His-


toria. Madrid: Junta de Castilla y León/Sociedad V Centenario del Tra-
tado de Tordesillas, 1995.
Albani, Benedetta. «Sposarsi nel Nuovo Mondo. Politica, dottrina e prati-
che della concessione di dispense matrimoniali tra la Nuova Spagna e
la Santa Sede (1585-1670)». Tese de doutoramento. Roma/Ciudad de
México: Università di Roma Tor Vergata/Universidad Nacional Autó-
noma de México, 2009.
Albani, Benedetta, ed. The Apostolic See and the World: Challenges and risks
facing global history. Dossier publicado em Zeitschrift des Max-Planck-
-Instituts für europäische Rechtsgeschichte, 20 (2012): 330-403. Disponí-
vel em: http://rg.rg.mpg.de/Rg20.
Álvarez-Ossório, Antonio, e Bernardo García, orgs. Em La monarquía
de las naciones. Patria, nación y naturaleza en la Monarquía de España.
Madrid: Fundación Carlos de Amberes, 2004.
Amadori, Arrigo Armando. «Política americana y dinámicas de poder
durante el valimiento del Conde-Duque de Olivares (1621-1643)».
Tese de doutoramento, Madrid, Universidad Complutense de Madrid,
2011.
Andaya, Leonard. «The Portuguese Tribe in the Malay-Indonesian Archi-
pelago in the Seventeenth and Eighteenth Centuries». Em The Portu-
guese and the Pacific, eds. Francis A Dutra e João Camilo dos Santos,
129-148. Santa Barbara: Center for Portuguese Studies, 1995.

595

Monárquias Ibéricas.indb 595 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Antunes, Cátia. «Free Agents and Formal Institutions in the Portuguese


empire: Towards a Framework of Analysis». Portuguese Studies, 28/2
(2012): 173–185.
Araújo, Ana Cristina, coord. O Marquês de Pombal e a Universidade.
Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2000.
Arrieta Alberdi, Jon. «La Idea de España entre los Vascos de la Edad
Moderna». Em Idea de España en la Edad Moderna, orgs. AA.VV. Valên-
cia: Real Sociedad Económica de Amigos del País, 1998.
Arrieta Alberdi, Jon. «Las formas de vinculación a la Monarquía y de rela-
ción entre sus reinos y coronas en la España de los Austrias». Em La
Monarquía de las Naciones. Patria, nación y naturaleza en la Monarquía
de España, orgs. Bernardo García e Antonio Álvarez-Ossorio. Madrid:
Fundación Carlos de Amberes e Universidad Autónoma de Madrid,
2004.
Arrieta Alberdi, Jon. «Ubicación de los ordenamientos de los reinos de la
Corona de Aragón en la Monarquía Hispánica: concepciones y supues-
tos varios (siglos xvi-xviii)». Em Il Diritto Patrio tra Diritto Comune e
Codificazione (secoli xvi-xix), orgs. Italo Birochi e Antonello Matone.
Roma: Viella, 2006.
Arvizu, Fernando de. «Una nueva interpretación de la teoría del Regio
Vicariato Indiano». Ius Canonicum, vol. 36, n.º 71 (1996): 63-99.
Aubin, Jean, org. La découverte, le Portugal et l’Europe. Actes du colloque.
Paris: Fundação Calouste Gulbenkian, 1990.
Azevedo, Carlos Moreira de, dir. Dicionário de História Religiosa de Portu-
gal. 4 vols. Lisboa: Círculo de Leitores, 2000-2001.
Azevedo, Carlos Moreira de, dir. História Religiosa de Portugal. 3 vols. Lis-
boa: Círculo de Leitores, 2000-2002.
Aznar, Daniel. «La Catalunya Borbónica (1641-1659): Virregnat i dinàmi-
ques de poder durant el govern de Lluís XIII i Lluís XIV de França
al principat». Em Del Tractat dels Pirineus [1659] a l’Europa del segle
xxi, un model en construcció?, org. Oscar Jané. Barcelona: Generalitat de
Catalunya-Museu d’Història de Catalunya, 2010.
Barrios Pintado, Feliciano. El gobierno de un mundo. Virreinatos y Audien-
cias en la América Hispánica. Cuenca: Universidad de Castilla-La Man-
cha/Fundación Rafael del Pino, 2004.
Bethencourt, Francisco, e Kirti N. Chaudhuri, dirs. História da Expansão
Portuguesa, 5 vols., Lisboa: Círculo de Leitores, 1997-1998.
Bethencourt, Francisco, e Diogo Ramada Curto, eds. Portuguese Oceanic
Expansion, 1400-1800. Cambridge: Cambridge University Press, 2007.

596

Monárquias Ibéricas.indb 596 13/12/18 14:56


Bibliografia

Bicalho, Maria Fernanda. «Ascensão e queda dos Lopes de Lavre: secretá-


rios do Conselho Ultramarino». Em Raízes do Privilégio. Mobilidade
Social no Mundo Ibérico do Antigo Regime, orgs. Rodrigo Bentes Mon-
teiro, Bruno Feitler, Daniela Calainho e Jorge Flores, 283-315. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.
Birochi, Italo, e Antonello Matone, orgs. Il Diritto Patrio tra Diritto
Comune e Codificazione (secoli xvi-xix). Roma: Viella, 2006.
Borges Morán, Pedro. «La Nunciatura Indiana. Un intento pontificio de
intervención directa en Indias bajo Felipe II, 1566-1568». Missionalia
Hispanica, 19 (1962): 169-227.
Borges Morán, Pedro. «En torno a los Comisarios Generales de Indias
entre las órdenes misioneras en América». Archivo Ibero-americano, 23
(1963): 145-196; 24 (1964): 147-182; 25 (1965): 3-61, 173-221.
Borges Morán, Pedro, dir. Historia de la Iglesia en Hispanoamérica y Filipi-
nas, vol. i. Madrid: BAC/Estudio teológico de San Ildefonso de Toledo/
Quinto Centenario, 1992.
Borges Morán, Pedro. «La Santa Sede y la Iglesia americana». Em Histo-
ria de la Iglesia en Hispanoamérica y Filipinas (siglos xv-xix), dir. Pedro
Borges Morán, vol. i, 47-62. Madrid: BAC, 1992.
Bouza Álvarez, Fernando. «Portugal en la Monarquía Hispánica (1580-
-1640). Felipe II, las Cortes de Tomar y la génesis del Portugal católico».
Tese de doutoramento. Madrid: Universidade Complutense de Madrid,
1987.
Bouza Álvarez, Fernando. Felipe II y el Portugal «dos povos». Imágenes de
esperanza y revuelta. Valhadolid: Universidad de Valladolid, 2010.
Boxer, Charles R. The church militant and Iberian Expansion. Baltimore/
Londres: The Johns Hopkins University Press, 1978.
Brásio, António. «Do último cruzado ao padroado régio». Studia, (Jan.
1959): 124-154.
Brásio, António. O Padroado da Ordem de Cristo na Madeira. Funchal:
[s. n.], 1962.
Brásio, António. História e Missiologia: Inéditos e Esparsos. Lisboa: Insti-
tuto de Investigação Científica de Angola, 1973.
Broggio, Paolo. «Teologia ‘romana’ e universalismo papale: la conquista del
mondo (secoli xvi-xvii)». Em Papato e politica internazionale nella prima
età moderna, ed. Maria Antonietta Visceglia, 441-447. Roma: Viella,
2013.
Burkholder, Mark A. Spaniards in the Colonial Empire. Creoles vs. Peninsu-
lars? West Sussex: Wiley-Blackwell, 2013.

597

Monárquias Ibéricas.indb 597 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Caetano, Marcelo. «Recepção e execução dos decretos do Concílio de


Trento em Portugal». Revista da Faculdade de Direito da Universidade
de Lisboa, XIX (1965): 7-87.
Campo del Pozo, Fernando. «Patronato y Vicariato Regio en Alonso
de Veracruz y Gaspar de Villarroel». Anuario jurídico y económico
escurialense, 26/1 (1993): 483-512.
Camus Ibacache, Misael. «La visita ad limina desde las Iglesias de América
Latina en 1585-1800». Hispania Sacra, 46 (1994): 159-189.
Carvalho Homem, Armando Luís. O Desembargo Régio (1320-1433).
Porto: Instituto Nacional de Investigação Cientifica – Centro de His-
toria da Universidade do Porto, 1990.
Castañeda Delgado, Paulino, e Juan Marchena Fernández. La Jerarquía de
la Iglesia en Indias. El episcopado americano: 1500-1850. Madrid: Fun-
dación Mapfre, 1992.
Clavero, Bartolomé. Temas de historia del derecho. Derecho de los reinos.
Sevilha: Publicaciones de la Universidad de Sevilla, 1980.
Clavero, Bartolomé. «Lex Regni Vicinoris. Indicio de España en Portugal».
Boletim da Faculdade de Direito de Coimbra, 58 (1983): 239–298.
Clavero, Bartolomé. «Anatomía de España». Em Hispania. Entre derechos
propios y derechos nacionales: atti dell’incontro di studio Firenze – Lucca
25, 26, 27 maggio 1989, orgs. Bartolomé Clavero, Paolo Grossi e Fran-
cisco Tomás y Valiente, vol. i, 47-86. Milão: Giuffré Editore, 1990.
Clavero, Bartolomé. Ordenanças de la Real Audiencia de Sevilla. Sevilha:
Fundación El Monte, 1995.
Clavero, Bartolomé, Paolo Grossi, e Francisco Tomás y Valiente, orgs. Hispa-
nia. Entre derechos propios y derechos nacionales: atti dell’incontro di studio
Firenze – Lucca 25, 26, 27 maggio 1989. Milão: Giuffré Editore, 1990.
Cortés Peña, Antonio Luis. Iglesia y Cultura en la Andalucía Moderna. Gra-
nada: Proyecto Sur, 1995.
Cortés Peña, Antonio Luis, Miguel Luis López-Guadalupe Muñoz, e Anto-
nio Lara Ramos, eds. Iglesia y sociedad en el Reino de Granada (ss. xvi-x-
viii). Granada: Universidad de Granada, 2003.
Cortés Peña, Antonio Luis, José Luis Beltrán, e Eliseo Serrano Martín.
Religión y poder en la Edad Moderna. Granada: Universidad de Granada,
2005.
Cosentino, Francisco. «Governadores gerais do Estado do Brasil (séculos
xvi e xvii): ofício, regimentos, governação e trajetórias». Tese de dou-
toramento. Rio de Janeiro: Universidade Federal Fluminense, 2005
[publicado como Cosentino, Francisco Carlos. Governadores Gerais do

598

Monárquias Ibéricas.indb 598 13/12/18 14:56


Bibliografia

Estado do Brasil, Séculos XVI-XVII. Ofício, Regimentos, Governação e


Trajectórias. São Paulo/Belo Horizonte: Anablume/FAPEMIG, 2009].
Costa, Bruno Abreu da. «O estado eclesiástico na Madeira: o provimento
de benefícios (séculos xv-xvii)». Tese de mestrado. Coimbra: Universi-
dade de Coimbra, 2013.
Costa, João Paulo Oliveira e. «A diáspora missionária». Em História Reli-
giosa de Portugal, dir. Carlos Moreira Azevedo, vol. 2. Lisboa: Círculo
de Leitores, 2000.
Costa, Sérgio. «O Brasil de Sérgio Buarque de Holanda». Sociedade e Estado,
29-3 (2014): 823-839. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0102-
-69922014000300008.
Coutinho, Fortunato. Le régime paroissial des diocèses de rite latin de l’Inde
des origines (xvie. siècle) jusqu’à nos jours. Louvain-Paris: PUL & Ed.
Béatrice-Nauwelaerts, 1958.
Cruz, Guilherme Braga da. «O direito subsidiário na história do direito
português». Revista Portuguesa de História, XIV (1975): 177-316.
Cruz, Miguel. Um Império de Conflitos. O Conselho Ultramarino e a Defesa
do Brasil Colonial. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2015.
Disney, Anthony. «Constrasting models of empire: the Estado da India in
South East and East Asia in the sixteenth and early seventeenth centu-
ries». Em The Portuguese and the Pacific, eds. Frank Dutra e João Camilo
dos Santos. Santa Barbara: University of California U. P., 1995.
Dutra, Francis A., e João Camilo dos Santos. The Portuguese and the Pacific.
Santa Barbara: Center for Portuguese Studies/University of California,
1995.
Egaña, Antonio de. La teoría del Regio Vicariato Español en Indias. Roma:
Universidad Gregoriana, 1958.
Egido, Teófanes. «El Real Patronato». Em Iglesia y sociedad en el Reino de
Granada (ss. xvi-xviii), eds. Antonio Luis Cortés Peña, Miguel Luis
López-Guadalupe Muñoz e Antonio Lara Ramos, 9-21. Granada: Uni-
versidad de Granada, 2003.
Elliott, John H. «Monarquía compuesta y Monarquía Universal en la
época de Carlos V». Em Carlos V. Europeísmo y universalidad. Vol. V –
Religión, cultura y mentalidad, orgs. AA.VV. Madrid: SECCFC,
2001.
Elliott, John H. Empires of the Atlantic World: Britain and Spain in Ame-
rica, 1492-1830. New Haven e Londres: Yale University Press, 2006.
Trad. espanhola Imperios del Mundo Atlántico. España y Gran Bretaña
en América, 1492-1830. Madrid: Taurus Historia, 2006.

599

Monárquias Ibéricas.indb 599 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Escobedo Mansilla, Ronald. «La Economía de la Iglesia Americana». Em


Historia de la Iglesia en Hispanoamérica y Filipinas, ed. Pedro Borges
Morán, vol. i, 90-138, Madrid: BAC, 1992.
Feitler, Bruno, e Evergton Sales Souza, eds. Constituições Primeiras do
Arcebispado da Bahia. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2010.
Feitler, Bruno, e Evergton Sales Souza. «Introdução». Em Constituições
Primeiras do Arcebispado da Bahia, eds. Bruno Feitler e Evergton Sales
Souza. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2010.
Feitler, Bruno, e Evergton Sales Souza, orgs. A Igreja no Brasil: Normas e
Práticas durante a Vigência das Constituições Primeiras do Arcebispado
da Bahia. São Paulo: UNIFESP, 2011.
Fernández Albaladejo, Pablo. «‘Imperio de por sí’: la reformulación del poder
universal en la temprana Edad Moderna». Em Pablo Fernández Albala-
dejo. Fragmentos de Monarquía. Trabajos de historia política, 168-183.
Madrid: Alianza, 1982.
Fernández Albaladejo, Pablo. Fragmentos de Monarquía. Trabajos de historia
política. Madrid: Alianza, 1982.
Fernández Albaladejo, Pablo. «El problema de la ‘composite monarchy’
en España». Em Identities: nations, provinces and regions (1550-1900),
orgs. Isabel Burdiel e James Casey, 185–201. Norwich: University of
East Anglia, 1999.
Fernández Albaladejo, Pablo. «La España austro-húngara de Ernest Lluch».
Revista de Libros, 36 (Dezembro de 1999): 13-18.
Fernández Albaladejo, Pablo. «Common Souls, Autonomous Bodies: the
language of Unification under the Catholic Monarchy, 1590-1630».
Revista Internacional de Estudios Vascos, Cuad. 5 (2009): 73-81.
Fernández de Córdova Miralles, Álvaro. Alejandro VI y los Reyes Católi-
cos. Relaciones político-eclesiásticas (1492-1503). Roma: Università della
Santa Croce, 2005
Fernández Terricabras, Ignasi. Felipe II y el clero secular: la aplicación del
concilio de Trento. Madrid: Sociedad Estatal para la Conmemoración de
los Centenarios de Felipe II y Carlos V, 2000.
Feros, Antonio, e Juan Gelabert, eds. España en Tiempos del Quijote.
Madrid: Taurus, 2004.
Feros, Antonio. «‘Por Dios, por la Patria y el Rey’: el mundo político en
tiempos de Cervantes». Em España en Tiempos del Quijote, dirs. Anto-
nio Feros e Juan Gelabert, 61-96. Madrid: Taurus, 2004.
Fonseca, Cláudia Damasceno. «Freguesias e capelas: instituição e provimento de
igrejas em Minas Gerais». Em A Igreja no Brasil: Normas e Práticas durante

600

Monárquias Ibéricas.indb 600 13/12/18 14:56


Bibliografia

a Vigência das Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia, org. Bruno


Feitler e Evergton Sales Souza, 425-452 (São Paulo: UNIFESP, 2011).
Fonseca, Luís Adão da, e José Manuel Ruiz Asencio, coords. Corpus do­
cumental del Tratado de Tordesillas. Valhadolid: Sociedad V Centenario
del Tratado de Tordesillas/CNCDP, 1995.
Fragoso, João; Maria Fernanda Bicalho, e Maria de Fátima Gouvêa. O Antigo
Regime nos Trópicos. A Dinâmica Imperial Portuguesa (Séculos XVI-
-XVIII). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.
Fragoso, João, e Maria de Fátima Gouvêa. O Brasil Colonial. A Dinâmica
dos Pactos e Conflitos entre os Impérios. Rio de Janeiro: Civilização, 2015.
Franco, José Eduardo, e João Paulo Oliveira e Costa, dirs. Diocese do Fun-
chal: A Primeira Diocese Global: História, Cultura e Espiritualidade.
Funchal: Diocese do Funchal, 2015.
García García, Bernardo, e Antonio Álvarez-Ossorio, orgs. La Monarquía
de las Naciones. Patria, nación y naturaleza en la Monarquía de España.
Madrid: Fundación Carlos de Amberes e Universidad Autónoma de
Madrid, 2004.
García Pérez, Rafael. El Consejo de Indias durante los reinados de Carlos III
y Carlos IV . Pamplona: EUNSA, 1998.
Garriga, Carlos. Las Audiencias y las Chancillerías Castellanas (1371-1525).
Historia Política, Régimen Jurídico y Práctica Institucional. Madrid:
Centro de Estudios Constitucionales, 1994.
Garriga, Carlos. «Las Audiencias: justicia y el gobierno de las Indias». Em El
gobierno de un mundo. Virreinatos y Audiencias en la América Hispánica,
coord. Feliciano Ruiz Barrios Pintado, 711-794. Cuenca: Universidad de
Castilla-La Mancha/Fundación Rafael del Pino, 2004.
Garriga, Carlos. «Sobre el gobierno de la justicia en Indias (siglos xvi­-xvii)».
Revista de Historia del Derecho (Buenos Aires), 34 (2006): 67-160.
Garriga, Carlos. «Patrias criollas, plazas militares: sobre la América de Car-
los IV». Em La América de Carlos IV. Cuadernos de Investigaciones y
Documentos, coord. Eduardo Martiré, t. i, 35-130. Buenos Aires: Insti-
tuto de Investigaciones de Historia del Derecho, 2006 (outra edição em
Horizontes y convergencias. Lecturas históricas y antropológicas sobre el
Derecho. 2009. www.horizontesyc.com.ar).
Garriga, Carlos. «Sobre el Gobierno de Cataluña bajo el régimen de la
Nueva Planta. Ensayo historiográfico». Anuario de Historia del Derecho
Español, 80 (2010): 715-776.
Garriga, Carlos. «La Historia del Derecho Catalán, según el abogado
Vicente Doménech». Initium, 17 (2012): 531-582.

601

Monárquias Ibéricas.indb 601 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Giannini, Massimo Carlo. Papacy, Religious Orders and International Poli-


tics in the Sixteenth and Seventeenth Centuries. Roma: Viella, 2013.
Gil Pujol, Xavier. «Imperio, monarquía universal, equilibrio: Europa y la
política exterior en el pensamiento político español de los siglos xvi y
xvii». Lezione XII del Seminario de la Università di Perugia. Perugia:
Dipartimento di Scienze Storiche, 1996.
Gil Pujol, Xavier. «‘The Good Law of a Vassal’. Fidelity, obedience and
obligation in Habsburg Spain», Revista Internacional de Estudios Vascos,
Cuad. 5 (2009).
Godinho, Jno. The Padroado of Portugal in the Orient (1454-1860). Bom-
baim: ed. de autor, 1924.
Gonçalves, Nuno da Silva. «Padroado». Em Dicionário de História Religiosa
de Portugal, dir. Carlos Moreira de Azevedo. Vol. III. Lisboa: Círculo de
Leitores, 2000.
Greco, Gaetano. «Las parroquias en la Italia della epoca moderna (siglos
xv-xix)», Obradoiro de Historia Moderna, 22 (2013): 1-34.
Hera, Alberto de la. «El Regio Patronato de Granada y las Canarias». Anua-
rio de Historia del Derecho Español, 27-28 (1957-1958): 5-16.
Hera, Alberto de la. «El Regio Vicariato de Indias en las bulas de 1493».
Anuario de Historia del Derecho Español, 29 (1959): 317-350.
Hera, Alberto de la. Iglesia y Corona en la América Española. Madrid: Fun-
dación Mapfre, 1992.
Hera, Alberto de la. «El gobierno espiritual de los dominios ultramarinos».
Em El Gobierno de un mundo. Virreinatos y Audiencias en la América
Hispánica, ed. Feliciano Barrios Pintado, 865-904. Cuenca: Universidad
de Castilla-La Mancha, 2004.
Hera, Alberto de la, e Rosa Mª Martínez de Codes. «La Iglesia en el
ordenamiento jurídico de las Leyes de Indias». Em Recopilación de
Leyes de los reynos de las Indias. Estudios Histórico-Jurídicos, coord.
Francisco de Icaza Dufour, pp. 101-142. México: Miguel Angel
­
Porrúa, 1987. http://www.colmich.edu.mx/files/ceh/rdiego/publica-
­
ciones/pdf/077_RecopilacionLeyesReynosIndias.pdf (consultado a 9
de Fevereiro de 2018).
Hermann, Christian. L’Église d’Espagne sous le Patronage Royal, 1476-1834:
essai d’ecclésiologie politique. Madrid: Casa de Velazquez, 1988.
Hernando Sánchez, Carlos Jose. Las Indias en la Monarquía Católica. Imá-
genes e ideas políticas. Valhadolid: Universidad de Valladolid, 1996.
Herzog, Tamar. Defining Nations. Immigrants and citizens in early modern
Spain and Spanish America. New Haven e Londres: Yale University

602

Monárquias Ibéricas.indb 602 13/12/18 14:56


Bibliografia

Press, 2003 (versão espanhola Vecinos y Extrangeros. Hacerse español en


la epoca moderna. Madrid: Alianza Editorial, 2006).
Herzog, Tamar. «Los americanos frente a la monarquía: el criollismo y la
naturaleza española». Em La monarquía de las naciones. Patria, nación y
naturaleza en la Monarquía de España, orgs. Antonio Álvarez-Ossório e
Bernardo García, 77-92. Madrid: Fundación Carlos de Amberes, 2004.
Hespanha, António Manuel Hespanha. «Sobre a prática dogmática dos
juristas oitocentistas», em A História do Direito na História Social. Lis-
boa: Livros Horizonte, 1978.
Hespanha, António Manuel. «Forma e valores nos Estatutos Pombalinos
da Universidade (1772)». Em António Manuel Hespanha, A História
do Direito na História Social, 150-164. Lisboa: Livros Horizonte, 1978.
Hespanha, António Manuel. A História do Direito na História Social. Lis-
boa: Livros Horizonte, 1978.
Hespanha, António Manuel. «Savants et rustiques. La violence douce de
la raison juridique», Ius commune, X (1983) (revisão: António Manuel
Hespanha, A Ordem do Mundo e o Saber dos Juristas, Amazon-Kindle,
2017).
Hespanha, António Manuel. «A constituição do império português. Revi-
são de alguns enviesamentos correntes». Em O Antigo Regime nos Tró-
picos. A Dinâmica Imperial Portuguesa (Séculos XVI-XVIII), orgs. João
Fragoso, Maria Fernanda Bicalho e Maria de Fátima Gouvêa, 163-188.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.
Hespanha, António Manuel. «O Foral Novo de Évora no contexto da
reforma dos forais de D. Manuel». Em Foral Manuelino de Évora, 43-65.
Évora: Câmara Municipal de Évora, 2003.
Hespanha, António Manuel. «Direitos, Constituição e Lei no constitu-
cionalismo monárquico português». Themis. Revista da Faculdade de
Direito da UNL, VI, n.º 10 (2005): 7-40.
Hespanha, António Manuel. Cultura Jurídica Europeia. Síntese de um
Milénio. Lisboa: Publicações Europa-América, 2003 (2.ª ed. Coimbra:
Almedina, 2012.)
Hespanha, António Manuel. «El ‘derecho de Indias’ en el contexto de
la historiografía de las colonizaciones ibéricas». Conferência inau-
gural proferida no XIX Congreso del Instituto Internacional de His-
toria del Derecho Indiano, Berlim, 28 de Agosto a 2 de Setembro de
2016.
Hespanha, António Manuel, «Filhos da terra». Comunidades Mestiças nos
Confins da Expansão Portuguesa. Lisboa: Tinta-da-China, no prelo.

603

Monárquias Ibéricas.indb 603 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Holanda, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo, José Olympio.
1936. https://www.brown.edu/Departments/Portuguese_Brazilian_Stu-
dies/ejph/html/issue28/pdf/v14n2a01.pdf.
Icaza Dufour, Francisco de, coord. Recopilación de Leyes de los reynos de
las Indias. Estudios Histórico-Jurídicos. México: Miguel Angel Porrúa,
1987. Disponível em: http://www.colmich.edu.mx/files/ceh/rdiego/
publicaciones/pdf/077_RecopilacionLeyesReynosIndias.pdf (consultado
a 9 de Fevereiro de 2018).
Isaacman, Allen. «The ‘prazos’ da Coroa, 1752-1830. A functional analysis
of the political system», Studia, 26 (Abril de 1968): 194-277.
Israel, Jonathan. «Olivares and the government of the Spanish Indies, 1621-
-1643». Em Jonathan Israel, Empires and Entrepots. The Dutch, the Spanish
Monarchy and the Jews, 1585-1713. Londres: The Hambledon Press, 1990.
Jacques, Roland. De Castro Marim à Faïfo: naissance et développement
du Padroado portugais d’Orient des origines à 1659. Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian, 1999.
Jeanne, Boris. «The Franciscans of Mexico. Tracing Tensions between Rome
and Madrid in the ‘provincia del Santo Evangelio’ (1454-1622)». Em Papacy,
Religious Orders and International Politics in the Sixteenth and Seventeenth
Centuries, ed. Massimo Carlo Giannini, 17-28. Roma: Viella, 2013.
Jemolo, Arturo Carlo, Renato Karzolo, e Emilio Albertario. «Patronato».
Em Enciclopedia Italiana di scienze, lettere ed arti, vol. 25: Novg-Palen.
Roma: Istituto dell’Enciclopedia Italiana, 1935.
Kagan, Richard e Geoffrey Parker, eds. Spain, Europe and the Atlantic world.
Essays in honour of John H. Elliott. Cambridge: Cambridge University
Press, 1995.
Larcher, Madalena e Paulo Teodoro de Matos. Cristianismo e Império. Lis-
boa: CHAM E-books, 2017.
Leturia, Pedro de. Relaciones entre la Santa Sede e Hispanoamérica 1493-
-1835, vol. i. Roma/Caracas: Universidad Gregoriana/Sociedad Boliva-
riana de Venezuela, 1959.
Lopes Praça, José Joaquim. Ensaio sobre o padroado portuguez: dissertação
inaugural para o acto de conclusões magnas. Coimbra: Imprensa da Uni-
versidade, 1869.
Lopetegui, León, e Félix Zubillaga. Historia de la Iglesia en la América
Española. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 1965.
López-Cordón Cortezo, María Victoria. «Instauración dinástica y refor-
mismo administrativo: la implantación del sistema ministerial», Manus-
crits, 18 (2000): 93-111.

604

Monárquias Ibéricas.indb 604 13/12/18 14:56


Bibliografia

López-Salazar Codes, Ana Isabel. Inquisición y política. El gobierno del Santo


Oficio en el Portugal de los Austrias (1578-1653). Lisboa: CEHR-UCP, 2011.
Lourenço, José Machado. O Padroado Português no Oriente. Angra do
Heroísmo: Tip. União Gráfica, 1950.
Luz, Francisco Mendes. O Conselho da Índia. Contributo ao Estudo da
­História da Administração do Ultramar Português nos Princípios do Século
XVII. Lisboa: Agência Geral do Ultramar, 1952.
Magalhães, Joaquim Romero de. Uma Estrutura do Império Português:
O Município. Lisboa: Fundação Oriente, 1994.
Magalhães, Joaquim Romero de. «As incursões no espaço africano». Em
História da Expansão Portuguesa, dirs. Francisco Bethencourt e Kirti N.
Chaudhuri, vol. II. Lisboa: Círculo de Leitores, 1997.
Maldi, Denise. «De confederados a bárbaros». Revista de Antropologia, 40/2
(1997).
Maqueda Abreu, Consuelo. «Evolución del Patronato Regio. Vicariato
indiano y conflictos de competencias». Em El Gobierno de un mundo.
Virreinatos y Audiencias en la América Hispánica, ed. Feliciano Barrios
Pintado, 865-904. Cuenca: Universidad de Castilla-La Mancha, 2004.
Marcocci, Giuseppe. L’invenzione di un impero. Politica e cultura nel mondo
portoghese (1450-1600). Roma: Carocci, 2011.
Marcocci, Giuseppe. A Consciência de um Império. Portugal e o Seu Mundo
(Sécs. XV-XVII). Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra,
2012.
Marques, Guida. L’Invention du Brésil entre deux mondes. Gouvernement et
pratiques politiques de l’Amérique portugaise dans l’union ibérique (1580-
-1640). Paris: EHESS, 2009.
Martínez Ferrer, Luis. Decretos del concilio tercero provincial mexicano
(1585). Michoacán/Roma: El Colegio de Michoacán/Universidad Pon-
tificia de la Santa Cruz, 2009.
Martínez Medina, Francisco Javier. «Sacerdocio y reino en la Edad Moderna.
Una Iglesia Nacional: El Patronato Regio desde la perspectiva his-
tórica». Em Religión y poder en la Edad Moderna, eds. Antonio Luis
Cortés Peña, José Luis Betrán e Eliseo Serrano Martín, 37-51. Granada:
Universidad de Granada, 2005.
Martínez Millán, José, dir. Felipe II (1527-1598). Europa y la Monarquía
Católica. Madrid: Parteluz, 1998.
Martínez Millán, José, e Carlos J. de Carlos Morales. Felipe II (1527-1598).
La configuración de la Monarquía Hispana. Salamanca: Junta de Castilla
y León, 1998.

605

Monárquias Ibéricas.indb 605 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Martiré, Eduardo, coord.. La América de Carlos IV. Cuadernos de Investi-


gaciones y Documentos. Buenos Aires: Instituto de Investigaciones de
Historia del Derecho, 2006.
Mattoso, José. A Identidade Nacional. Lisboa: Fundação Mário Soares,
1998.
Mazín Óscar, e José Javier Ruiz Ibáñez, orgs. Las Indias Occidentales.
Procesos de incorporación territorial a las Monarquías Ibéricas. México:
Fondo de Cultura Económica/Colegio de México, 2012.
Mello, Márcia Eliane Alves de Souza e. Fé e Império. As Juntas das Missões
nas Conquistas Portuguesas. Manaus: EDUA, 2007 (reimp: Universidade
Federal do Amazonas: EDUA, 2009).
Miranda, Susana Münch, e Pedro Cardim. «A incorporação de territórios
e o estatuto político do espaço ultramarino». Em O Brasil Colonial.
A Dinâmica dos Pactos e Conflitos entre os Impérios, orgs. João Fragoso
e Maria de Fátima Gouvêa, 214-215. Rio de Janeiro: Civilização, 2015.
Monteiro, Anabela Nunes. «Macau e a presença portuguesa seiscentista nos
mares da China. Interesses e estratégias de sobrevivência». Tese de dou-
toramento. Coimbra: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra,
2011.
Monteiro, Rodrigo Bentes, Bruno Feitler, Daniela Calainho, e Jorge F ­ lores,
orgs., Raízes do Privilégio. Mobilidade Social no Mundo Ibérico do Antigo
Regime. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.
Myrup, Erik Lars. «Kings, Colonies, and Councilors: Brazil and the
Making of Portugal’s Overseas Council, 1642-1833». The Americas,
67/2 (Outobro de 2010): 185-218.
Newitt, Malyn. «Formal and Informal empire in the History of Portuguese
Expansion». Portuguese Studies, 17/1(2001): 1-21.
Nieto Soria, José Manuel. «Las relaciones Iglesia-Estado en España a
fines del siglo xv». Em El Tratado de Tordesillas y su época. Congreso
Internacional de Historia, vol 2, 731-749. Madrid: Junta de Castilla y
León – Sociedad V Centenario del Tratado de Tordesillas, 1995.
Nuzzo, Luigi. «Colonial Law», European History Online. Mainz: Leib-
niz Institute of European History, 2012. Disponível em: http://ieg-
-ego.eu/en/threads/europe-and-the-world/european-overseas-rule/
luigi-nuzzo-colonial-law/?searchterm=nuzzo&set_language=en.
Olival, Fernanda. As Ordens Militares e o Estado Moderno: Honra, Mercê e
Venalidade em Portugal (1641-1789). Lisboa: Estar, 2001.
Olival, Fernanda. The Military Orders and the Portuguese Expansion
(15th-17th centuries). Petersborough: Baywolf Press, 2018.

606

Monárquias Ibéricas.indb 606 13/12/18 14:56


Bibliografia

Pagden, Anthony. «Afterword: from Empire to Federation». Em Impe-


rialisms. Historical and Literary Investigations, 1500-1900, eds. Bala-
chandra Rajan e Elisabeth Sauer. Nova Iorque: Palgrave Macmillan,
2004.
Paiva, José Pedro, «A Igreja e o poder». Em História Religiosa de Portugal,
dir. Carlos Moreira Azevedo. Lisboa: Círculo de Leitores, 2000.
Paiva, José Pedro. «Os novos prelados diocesanos nomeados no consulado
pombalino», Penélope, 25 (2001): 41-63.
Paiva, José Pedro. Os Bispos de Portugal e o Império (1495-1777). Coimbra:
Imprensa da Universidade de Coimbra, 2006.
Paiva Manso, visconde de, Memória historica sobre os Bispados de Ceuta e
Tanger. Lisboa: Typ. da Academia Real das Sciencias, 1858.
Palomo, Federico. «Para el sosiego y quietude del reino. En torno a Felipe II
y el poder eclesiástico en el Portugal de finales del siglo xvi», Hispania,
LXIV/1 (2004): 63-93.
Palomo, Federico. «Procurators, religious orders and cultural circulation
in the Early Modern Portuguese Empire: printed works, images (and
relics) from Japan in António Cardim’s journey to Rome (1644-1646)».
e-journal of Portuguese History (e-JPH), 14/2 (Dic. 2016). D ­ isponível
em: https://www.brown.edu/Departments/Portuguese_Brazilian_Studies/
ejph/html/issue28/pdf/v14n2a01.pdf
Paquette, Gabriel, ed. Enlightened Reform in Southern Europe and its Atlan-
tic Colonies, c. 1750-1830. Farnham-Burlington: Ashgate, 2009.
Peraza de Ayala, José. «El Real Patronato de Canarias». Anuario de Historia
del Derecho Español, 30 (1960): 113-174.
Pinto, Paulo Jorge de Sousa. «Enemy at the Gates. Macao, Manila and the
‘Pinhal Episode’ (end of 16th century)». Bulletin of Portuguese/Japanese
Studies, 16 (2008): 11-43.
Pizzorusso, Giovanni, Gaetano Platania, e Matteo Sanfilippo, Gli archivi
della Santa Sede come fonte per la storia del Portogallo in età moderna.
Studi in memoria di Carmen Radulet. Viterbo: Sette Città, 2012.
Pizzorusso, Giovanni. «Il padroado regio portoghese nella dimensione
‘globale’ della Chiesa romana. Note storico-documentarie con parti-
colare riferimento al Seicento». Em Gli archivi della Santa Sede come
fonte per la storia del Portogallo in età moderna. Studi in memoria di
Carmen Radulet, eds. Giovanni Pizzorusso, Gaetano Platania e Matteo
­Sanfilippo, 157-199. Viterbo: Sette Città, 2012.
Pizzorusso, Giovanni, e Matteo Sanfilippo. «L’attenzione romana alla chiesa
coloniale hispano-americana nell’età di Filippo II». Em Felipe II (1527-

607

Monárquias Ibéricas.indb 607 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

-1598). Europa y la Monarquía Católica, dir. José Martínez Millán,


vol. 3, 321-340. Madrid: Parteluz, 1998.
Pizzorusso, Giovanni. «La Congregazione Romana ‘De Propaganda Fide’
et la duplice fedeltà dei missionari tra Monarchie coloniali e universa-
lismo pontificio (xvii secolo)». Librosdelacorte.es, Monográfico 1, año 6
(2014): 228-241.
Polónia, Amélia. «Evangelização e comércio: a figura do eclesiástico merca-
dor». Em Estudos em Homenagem a João Francisco Marques, orgs. Luís
de Oliveira Ramos Jorge Martins Ribeiro e Amélia Polónia, vol. 2, 297-
-310. Porto: FLUP, 2001.
Portillo Valdés, José María. Monarquía y gobierno provincial. Poder y consti-
tución en las provincias vascas (1760-1808). Madrid: Centro de Estudios
Constitucionales, 1991.
Prien, Hans-Jürgen. «Las Bulas Alejandrinas de 1493». Em Tordesillas y sus
consecuencias, eds. Bernd Schröter e Karin Schüller, 11-28. Frankfurt-
-Madrid: Vervuert – Iberoamericana, 1995.
Prodi, Paolo. Il sovrano pontefice. Un corpo e due anime: la monarchia papale
nella prima età moderna. Bolonha: Il Mulino, 1982.
Ramos, Luís de Oliveira, Jorge Martins Ribeiro, e Amélia Polónia, eds.
Estudos em Homenagem a João Francisco Marques. 2 vols. Porto: FLUP,
2001, vol. 2, 297–310.
Ramos Pérez, Demetrio. «Las ciudades de Indias y su asiento en Cortes de
Castilla». Revista del Instituto de Historia del Derecho Ricardo Levene.
Buenos Aires, 18 (1967): 170-185.
Rego, António Silva. O Padroado Português do Oriente Esboço Histórico.
[Lisboa]: Agência Geral das Colónias, 1940.
Rego, António Silva. O Padroado Português no Oriente e a Sua Historiogra-
fia. Lisboa: Academia Portuguesa de História, 1978.
Rivero, Manuel. Felipe II y el gobierno de Italia. Madrid: SECCFC, 1998.
Robertson, John. «Empire and union: two concepts of the early modern politi-
cal order». Em A Union for Empire. Political Thought and the B
­ ritish Union of
1707, org. John Robertson. Cambridge: Cambridge University Press, 1995.
Robertson, John. «Enlightenment, Reform, and Monarchy in Italy». Em Enli-
ghtened Reform in Southern Europe and its Atlantic Colonies, c. 1750-1830,
ed. Gabriel Paquette. Farnham-Burlington: Ashgate, 2009.
Robres Lluch, Ramón, e Vicente Castell Maiques. «La visita ad limina
durante el pontificado de Sixto V (1585-1590). Datos para una estadís-
tica general. Su cumplimiento en Iberoamérica». Anthologica Annual, 7
(1959): 147-213.

608

Monárquias Ibéricas.indb 608 13/12/18 14:56


Bibliografia

Rodrigues, Aldair Carlos. Igreja e Inquisição no Brasil: Agentes, Carreiras e


Mecanismos de Promoção Social – Século XVIII. São Paulo: Alameda, 2014.
Rodrigues, Aldair Carlos, e Fernanda Olival. «Reinóis versus naturais nas
disputas pelos lugares eclesiásticos do Altântico português: aspectos
sociais e políticos (século xviii)». Revista de História, 175 (2016): 25-67.
Rodríguez-Salgado, Maria José. «Christians, Civilised and Spanish: mul-
tiple identities in Sixteenth Century Spain». Transactions of the Royal
Historical Society, 6th series, 8 (1998): 250-251.
Rubiés, Joan-Pau. «The Oriental Voices of Mendes Pinto, or the traveller as
ethnologist in Portuguese India». Portuguese Studies, 10 (1994): 24-43.
Ruiz Ibáñez, José Javier; Sabatini, Gaetano. «Monarchy as Conquest. Vio-
lence, Social Opportunity, and Political Stability in the Establishment
of the Hispanic Monarchy». The Journal of Modern History, lxxxi/3
(2009): 501-536.
Rupert, Arlindo. A Igreja no Brasil. Santa Maria: Pallotti, 1981.
Russell-Wood, A. J. R. «New Directions in Bandeirismo Studies In Colo-
nial Brazil». The Americas, 61/3 (Janeiro de 2005): 353-371.
Sá, Isabel dos Guimarães. «Ecclesiastical structures and religious actions».
Em Portuguese Oceanic Expansion, 1400-1800, eds. Francisco Bethen-
court e Diogo Ramada Curto, 255-282. Cambridge: Cambridge Uni-
versity Press, 2007.
Sabatini, Gaetano. «El espacio italiano de la Monarquía: distintos camiños
hacia una sola integración». Em Las Indias Occidentales. Procesos de
incorporación territorial a las Monarquías Ibéricas, orgs. Óscar Mazín e
José Javier Ruiz Ibáñez. México: Fondo de Cultura Económica/Colegio
de México, 2012.
Saldanha, António Vasconcelos de. De Kangxi para o Papa, pela via de
­Portugal: memória e documentos relativos à intervenção de Portugal e da
Companhia de Jesus na questão dos ritos chineses e nas relações entre o
Imperador Kangxi e a Santa Sé. Macau: Instituto Português do Oriente,
2002.
Sanfilippo, Matteo, Alexander Koller, e Giovanni Pizzorusso. Gli archivi
della Santa Sede e il mondo asburgico nella prima età moderna. Viterbo:
Edizioni Sette Città, 2004.
Sanfilippo, Matteo, e Giovanni Pizzorusso. «L’America iberica e Roma fra
Cinque e Seicento: notizie, documenti, informatori». Em Matteo San-
filippo, Alexander Koller e Giovanni Pizzorusso Gli archivi della Santa
Sede e il mondo asburgico nella prima età moderna, 73-118. Viterbo: Edi-
zioni Sette Città, 2004.

609

Monárquias Ibéricas.indb 609 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Santos Hernández, Angel. Las misiones bajo el patronato portugués. Madrid:


Eapsa, 1977.
Schäfer, Ernesto. El Consejo Real y Supremo de las Indias: su historia, orga-
nización y labor administrativa hasta la terminación de la Casa de Austria.
Sevilha: Universidad de Sevilla, 1935-1947 [2.ª ed.: Valhadolid-Madrid:
Junta de Castilla y León-Marcial Pons, 2003, 2 vols.].
Schaub, Jean-Frédéric. Portugal na Monarquia Hispânica. Lisboa: Livros
Horizonte, 2001.
Schröter, Bernd, e Karin Schüller, eds.. Tordesillas y sus consecuencias. Frank-
furt-Madrid: Vervuert – Iberoamericana, 1995.
Schwartz, Stuart B.. Sovereignty and Society of Colonial Brazil. The High
Court of Bahia and Its Judges, 1609-1751. Berkeley: University of Cali-
fornia Press, 1973.
Shiels, William E. King and Church. The Rise and Fall of the Patronato Real.
Chicago: Loyola University Press, 1961.
Silva, António da. Trent’s impact on the Portuguese Patronage Missions. Lis-
boa: Centro de Estudos Históricos Ultramarinos, 1969.
Silva, Cristina Nogueira da. «Nação federal ou nação bi-hemisférica?
O Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves e o ‘modelo’ colonial
português do século xix». Almanack Braziliense, 9 (Maio, 2009).
Silva, Nuno Espinosa Gomes da. História do Direito Português. 3.ª ed.
­Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2000.
Smith, Stefan Halikowski, Creolization and Diaspora in the Portuguese Indies:
The Social World of Ayutthaya, 1640-1720. Leiden: Koninkloijke Brill, 2011.
Soares, Kevin. «Os bispos de Macau (1576-1782)». Tese de mestrado.
Coimbra: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 2015.
Sousa, Evergton Sales. «Igreja e Estado no período pombalino», Lusitania
Sacra, 23 (Janeiro-Junho 2011): 207-230.
Souza, Evergton Sales, e Bruno Feitler, orgs. A Igreja no Brasil. Normas e
Práticas Durante a Vigência das Constituições Primeiras do Arcebispado
da Bahia. São Paulo: Ed. Unifesp, 2011.
Tarsicio de Azcona (OFM cap.). La elección y reforma del episcopado
español en tiempos de los Reyes Católicos. Madrid: Instituto P. Enrique
Flórez, 1960.
Tarsicio de Azccona (OFM cap.). Juan de Castilla, rector de Salamanca. Su
doctrina sobre el derecho de los reyes de España a la presentación de obis-
pos. Salamanca: Universidad Pontificia, 1975.
Tavares, Pedro Miguel Vilas Boas. «Os prelados de Goa e Macau perante o
legado papal Maillard de Tournon. Notas sobre as reacções sino-portu-

610

Monárquias Ibéricas.indb 610 13/12/18 14:56


Bibliografia

guesas». Em AA.VV., Miscelânea, 200-252. Porto: Faculdade de Letras


da Universidade do Porto, 1999.
Thomaz, Luís Filipe. «Estrutura política e administrativa do Estado da Índia
no séc. xvi». Em II Seminário Internacional de História ­Indo-Portuguesa.
Actas. Lisboa: Instituto de Investigação Científica Tropical, 1985 (tam-
bém publicado em Luís Filipe Thomaz. De Ceuta a Timor. Lisboa: Difel,
1994).
Thomaz, Luís Filipe. «L’idée impériale manueline». Em La découverte, le
Portugal et l’Europe. Actes du colloque, org. Jean Aubin. Paris: Fundação
Calouste Gulbenkian, 1990.
Thomaz, Luís Filipe, De Ceuta a Timor. Lisboa: Difel, 1994.
Thomaz, Luís Filipe. «Os portugueses e o mar de Bengala na época manue-
lina». Em Thomaz, Luís Filipe, De Ceuta a Timor. Lisboa: Difel, 1994.
Thompson, I. A. A. «Castile, Spain and the monarchy: the political commu-
nity from ‘patria natural’ to ‘patria nacional’». Em Spain, Europe and the
Atlantic world. Essays in honour of John H. Elliott, orgs. Richard Kagan e
Geoffrey Parker. Cambridge: Cambridge University Press, 1995.
Thompson, I. A. A. «La Monarquía de España: La invención de un con-
cepto». Em Entre Clío y Casandra. Poder y sociedad en la Monarquía
Hispánica durante la Edad Moderna, orgs. Francisco Xavi Guillamón,
Julio D. Muñoz Rodriguez e David Centenero de Arce, 33-56. Murcia:
Universidad de Murcia: Servicio de Publicaciones, 2005.
Torgal, Luís Reis. Ideologia Política e Teoria do Estado na Restauração.
Coimbra: Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, 1982.
Valladares, Rafael. Castilla y Portugal en Asia (1580-1680). Declive imperial
y adaptación. Lovaina: Leuven University Press, 2001.
Vieira, Alberto. «A Igreja, a criação da diocese da Madeira e as demais ilhas
atlânticas (séculos xv e xvi)». Em Diocese do Funchal: A Primeira Diocese
Global: História, Cultura e Espiritualidade, dirs. José Eduardo Franco e
João Paulo Oliveira e Costa. Funchal: Diocese do Funchal, 2015.
Villanueva, Jesús. «Francisco Calça y el mito de la libertad originaria de
Cataluña». Revista de Historia Jerónimo Zurita, 69-70 (1994): 75-87.
Visceglia, Maria Antonietta, Papato e politica internazionale nella prima età
moderna. Roma: Viella, 2013.
Winius, Georges. «Portugal’s shadow empire in the Bay of Bengala», Revista
Cultura, 13-14 (1991): 273-287.
Witte, Charles M. de. «Les bulles pontificales et l’expansion portugaise au
xve siècle». Revue d’Histoire Ecclésiastique, XLVIII (1953): 683-718;
XLIX (1954): 413-461; LI (1956): 809-836; LIII (1958): 5-46, 443-471.

611

Monárquias Ibéricas.indb 611 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Witte, Charles M. de. Les lettres papales concernant l’expansion portugaise


au xvie siècle. Immensee: Nouvelle Revue de Science Missionaire, 1986.
www.historicas.unam.mx/publicaciones/publicadigital/libros/igle-
siane/iglesiane.html.
Witte, Charles M. de. «Une tempête sur le Couvent de Tomar (1558-1580)».
Arquivos do Centro Cultural Português, 25 (1988): 307-423.
Xavi Guillamón, Francisco, Julio D. Muñoz Rodríguez, e David Centenero
de Arce, orgs. Entre Clío y Casandra. Poder y sociedad en la Monarquía
Hispánica durante la Edad Moderna. Murcia: Universidad de Murcia:
Servicio de Publicaciones, 2005.
Xavier, Ângela Barreto. «A organização religiosa do primeiro Estado da Índia.
Notas para uma investigação». Anais de História de Além-Mar, V (2004).
Xavier, Ângela Barreto. A Invenção de Goa: Poder Imperial e Conversões
Culturais nos Séculos XVI e XVII. Lisboa: ICS, 2008.
Xavier, Ângela Barreto. «Dissolver a diferença – conversão e mestiçagem
no império português». Em Itinerários: A Investigação nos 25 Anos do
ICS, eds. Manuel Villaverde Cabral, Karin Wall, Sofia Aboim e Filipe
Carreira da Silva, 709-727. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2008.
Xavier, Ângela Barreto. «Looking through the Vizão Feita por Xpo a el Rey
Dom Affonso Henriques (1659) Franciscans in India and the legitimi-
zation of the Braganza monarchy». Culture & History Digital Journal,
5/2 (Dezembro de 2016): 1-19. Disponível em: http://cultureandhis-
tory.revistas.csic.es/index.php/cultureandhistory/article/view/98/336.
Xavier, Ângela Barreto. «Punctus contra punctum. ‘Cleros nativos’, tensão e
harmonia no império». Em Cristianismo e Império, orgs. Madalena Lar-
cher e Paulo Teodoro de Matos, 282-305. Lisboa: CHAM E-books, 2017.

Parte 2: Administração civil

Abernethy, David The Dynamics of Global Dominance: European Overseas


Empires, 1415-1980. New Haven: Yale University Press, 2000.
Adorno, Rolena. «Sobre la censura y su evasión: un caso trasatlántico». Em
Grafías del imaginario. Representaciones culturales en España y América
(siglos xvi-xvii), eds. Carlos Alberto González Sánchez e Enriqueta Vila
Vilar, 13-52. Madrid: Fondo de Cultura Económica, 2003.
Alden, Dauril. Royal Government in Colonial Brazil: With Special Reference
to the Administration of the Marquis of Lavradio, Viceroy, 1769-1779.
Berkeley: University of California Press, 1968.

612

Monárquias Ibéricas.indb 612 13/12/18 14:56


Bibliografia

Alencastro, Luiz Felipe de. O Trato dos Viventes: Formação do Brasil no


Atlântico-Sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
Alexandre, Valentim. Os Sentidos do Império. Questão Nacional e Questão
Colonial na Crise do Antigo Regime português. Porto: Edições Afronta-
mento, 1993.
Alfonso, Marina, e Carlos Martínez Shaw. «España y el comercio de Asia en
el siglo xviii. Comercio directo frente a comercio transpacífico». Em El
sistema comercial español en la economía mundial, eds. Isabel Lobato e
José M. Oliva, 325-380. Huelva: Publicaciones de la Universidad, 2013.
Almeida, Anita C. L. de. Inconfidência no Império: Goa de 1787 e Rio de
Janeiro de 1794. Rio de Janeiro: 7 Letras/FAPERJ, 2011.
Almeida, Luís Ferrand de. A Colónia do Sacramento na Época da Sucessão de
Espanha. Coimbra: Universidade de Coimbra, 1973.
Almeida, Maria Regina Celestino de. Metamorfoses Indígenas. Identidade e
Cultura nas Aldeias Coloniais do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Arquivo
Nacional, 2003 (2.ª ed.: Rio de Janeiro: Editora FGV, 2013).
Almeida, Maria Regina Celestino de. «Política indigenista e políticas indí-
genas no tempo das reformas pombalinas». Em A Época Pombalina no
Mundo Luso-Brasileiro, orgs. Francisco C. Falcon e Cláudia Rodrigues,
175-214. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2015.
Almeida, Pedro Tavares de, e Paulo Silveira e Sousa. Do Reino à Adminis-
tração Interna: História de um Ministério, 1736-2012. Lisboa: Imprensa
Nacional, 2015.
Almeida, Rita Heloísa de. O Diretório dos Índios – Um Projeto de «Civi-
lização» no Brasil do Século XVIII. Brasília: Editora Universidade de
Brasília, 1997.
Álvarez Icaza Longoria, M.ª Teresa. La secularización de doctrinas y misio-
nes en el arzobispado de México. México: IIH/UNAM, 2015.
Álvarez, Luis Alonso. El costo del Imperio Asiático. La formación colonial
de las Islas Filipinas bajo dominio español, 1565-1800. A Coruña: Uni-
versidad, 2009.
Álvarez Nogal, Carlos. «Instituciones y desarrollo económico: la Casa de
Contratación y la Carrera de Indias (1503-1790)». Em La Casa de la Con-
tratación y la Navegación entre España y las Indias, eds. Enriqueta Vila
Vilar, Antonio Acosta e Adolfo L. González, 21-51, Sevilha: CSIC, 2004.
Alzate, Adriana María, Manolo Florentino, e Carlos Eduardo Valencia,
orgs. Imperios ibéricos en comarcas americanas: estudios regionales de his-
toria colonial brasileña y neogranadina. Bogotá: Editorial Universidad
del Rosario, 2008.

613

Monárquias Ibéricas.indb 613 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Amadori, Arrigo. «Política americana y dinámicas de poder durante el vali-


miento del Conde-Duque de Olivares (1621-1643)». Tese de doutora-
mento, Madrid, Universidad Complutense de Madrid, 2011.
Andrés Gallego, José. El motín de Esquilache. América y Europa. Madrid:
Fundación Mapfre-Tavera/CSIC, 2003.
Andújar Castillo, Francisco. Necesidad y venalidad: España e Indias, 1704-
-1711. Madrid: Centro de Estudios Políticos y Constitucionales, 2008.
Andújar Castillo, Francisco. «Los contratos de venta de empleos en la
España del Antiguo Régimen». Em El poder del dinero. Venta de cargos y
honores en el Antiguo Régimen, eds. Francisco Andújar e Maria del Mar
Felices, 63-84. Madrid: Biblioteca Nueva, 2011.
Andújar Castillo, Francisco, e Maria del Mar Felices, eds. El poder del
dinero. Venta de cargos y honores en el Antiguo Régimen. Madrid: Biblio-
teca Nueva, 2011.
Andrien, Kenneth J. «El corregidor de indios, la corrupción y el estado vir-
reinal en Perú, 1580-1630», Revista de Historia Económica, IV, 3 (1986),
493-520.
Argouse, Aude. «¿Son todos caciques? Curacas, principales e indios urba-
nos en Cajamarca (siglo xvii)». Bulletin de l’Institut Français d’Études
Andines, 37/1 (2008): 163-184.
Arregui Zamorano, Pilar. «La Audiencia de México según los visitadores
(siglos xvi y xvii)». Tese de mestrado, México: Universidade Nacional
Autónoma do México, 1991.
Assadourian, Carlos Sempat. Transiciones hacia el sistema colonial andino.
Lima: El Colegio de México-Instituto de Estudios Peruanos, 1994.
Asselbergs, Florine G. L. Conquered Conquistadors. The Lienzo de Quauh-
quechollan. A Nahua vision of the conquest of Guatemala. Leiden: Leiden
University Press, 2004.
Astigarraga, Jesús. «Un nuevo sistema económico para la monarquía
española. Las ‘Reflexiones sobre el estado actual del comercio de
España’ (1761), de Simón de Aragorri», Revista de Historia Industrial,
52, (2013): 13-43.
Astigarraga, Jesús, e Juan Zabalza, «Francisco Graywinkel, plagario de
Richard Cantillón (1760-1763)», Mélanges de la Casa de Velázquez, 44/2
(2014): 225-247.
Augeron, Mickaël. Entre la plume et le fer: le personnel des intendances de
la vice-royauté de Nouvelle Espagne, 1785-1824: pratiques de pouvoirs
et réseaux sociaux en Amérique espagnole. Tese de doutoramento. La
Rochelle: Université de La Rochelle, 2000.

614

Monárquias Ibéricas.indb 614 13/12/18 14:56


Bibliografia

Azevedo, João Lúcio de. Épocas de Portugal Económico. Esboços de Histó-


ria. Lisboa: Livraria Clássica Editora, 1978 (4.ª ed.).
Aznar Vallejo, Eduardo. La integración de las Islas Canarias en la Corona de
Castilla (1478-1526): aspectos administrativos, sociales y económicos. Las
Palmas: Cabildo Insular, 1992.
Baber, Jovita. «The Construction of Empire. Politics, Law, and Community
in Tlaxcala, New Spain, 1521-1640». Tese de doutoramento, Chicago,
University of Chicago, 2005.
Bailyn, Bernard, e Patricia L. Denault, eds. Soundings in Atlantic History:
Latent Structures and Intellectual Currents, 1500-1830. Cambridge:
Cambridge University Press, 2009.
Barreto, José, ed. Sebastião José de Carvalho e Melo. Escritos Económicos de
Londres (1741-1742). Lisboa: Biblioteca Nacional, 1982.
Barrientos Grandón, Javier. Guía prosopográfica de la judicatura letrada
indiana (1503-1898). Madrid: Fundación Histórica Tavera, 2000.
Barriera, Darío. «Corregidores sin Corregimientos: Un caso de mestizaje
institucional en Santa Fe del Río de la Plata durante los siglos xvii y
xviii», Revista de estudios históricos jurídicos, 36 (2014): 245-269.
Barrio Gozalo, Maximiliano. El sistema beneficial de la Iglesia Española en el
Antiguo Régimen (1474-1834). Alicante, Universidad, 2010.
Barrios Pintado, Feliciano, Derecho y administración pública en las Indias
Hispánicas. Actas del XII Congreso Internacional de Historia del Derecho
Indiano (Toledo, 19 a 21 de Outubro de 1998), vol. i. Cuenca: Universi-
dad de Castilla-La Mancha, 2002.
Barrios Pintado, Feliciano. El gobierno de un mundo. Virreinatos y Audien-
cias en la América hispánica. Cuenca: Ediciones de la Universidad de
Castilla-La Mancha, 2004.
Barros, Edval de Souza. «Negócios de Tanta Importância»: O Conselho Ultra-
marino e a Disputa pela Condução da Guerra no Atlântico e no Índico,
1643-1661. Lisboa: CHAM / FCSH-UNL, 2008.
Bauer, Arnold J. «Iglesia, economía y Estado en la historia de América
Latina». Em Iglesia, Estado, economía. Siglos xvi y xvii. ed. Maria de Pilar
Martínez. 17-32. México: Universidad Nacional Autónoma de México,
1995.
Bautista y Lugo, Gibrán. «Castigar o perdonar. El gobierno de Felipe IV ante
la rebelión de 1624». Tese de doutoramento, México, UNAM, 2014.
Bechtloff, Dagmas. «La formación de una sociedad intercultural: las cofra-
días en el Michoacán colonial». Historia Mexicana, XLIII/2 (1993):
251-263.

615

Monárquias Ibéricas.indb 615 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Bechtloff, Dagmas. Las cofradías de Michoacán durante la época de la Colo-


nia. La religión y su relación política y económica en la sociedad intercul-
tural. Morelia: El Colegio de Michoacán, 1996.
Bernal, Antonio Miguel. «La Real factoria de Indias. Coste/beneficio en el
comercio del hierro vasco por la Corona». Em Doctor Jordi Nadal: [home-
naje]: la industrializació i el desenvolupament econòmic d’ Espanya, coord.
Miquel Gutiérrez i Poch, vol. 1, 107-126, Barcelona Universidad, 1999.
Bernal, Antonio Miguel. «Borbones por Austrias: cambio de dinastía y
papel de la Corona en el comercio colonial». Em El cambio dinástico y
sus repercusiones en la España del siglo xviii, coords. Maria Antonia Bel
Bravo, José Fernández García e José Miguel Delgado Barrado, 79-198.
Jaén: Universidad de Jaén, 2001.
Bernal, Antonio Miguel. «La Carrera del Pacífico: Filipinas en el sistema
colonial de la Carrera de Indias». Em España y el Pacífico: Legazpi,
coord. Leoncio Cabrero Fernández, vol. 1, 485-526. Madrid: Sociedad
Estatal de Conmemoraciones Culturales, 2004.
Bernal, Antonio Miguel. «La Casa de la Contratación de Indias: del monopolio
a la negociación mercantil privada (siglo xvi)». Em La Casa de la Contra-
tación y la Navegación entre España y las Indias, eds. Enriqueta Vila Vilar,
Antonio Acosta e Adolfo L. González, 129-160, Sevilha: CSIC, 2004.
Bernal, Antonio Miguel. «De colonias a repúblicas: España-América (siglos
xviii-xix)». Em Historia y proyecto social, ed. Josep Fontana, 103-148.
Barcelona, Jornadas de Debate del Institut Universitari d’Història
Jaume Vicens Vives, 2004.
Bel Bravo, Maria Antonia, José Fernández García, e José Miguel Delgado
Barrado, eds. El cambio dinástico y sus repercusiones en la España del siglo
xviii. Jaén: Universidad de Jaén, 2001.
Bernal, Antonio Miguel. «De Utrecht a Trafalgar. El papel de la economía
e instituciones en los imperios atlánticos». Em El equilibrio de los impe-
rios: de Utrecht y Trafalgar, vol. 2, 235-256. Madrid: FEHM, 2005.
Bernard, Gildas. Le Secrétariat d’État et le Conseil espagnol des Indes. Gene-
bra-Paris: Éditeur Librairie Droz, 1972.
Berruezo, María Teresa. La participación americana en las Cortes de Cadiz
(1810-1814). Madrid: Centro de Estudios Constitucionales, 1986.
Bertrand, Michel. «De la familia a la red de sociabilidad». Revista Mexicana
de Sociología, 61/2 (Abril-Junho de 1999): 107-135.
Bertrand, Michel. «Esta audiencia es toda una sodoma y sicarismo: Com-
plots, trahisons et crise politique fin de siècle à Guatemala». Trace, 37
(juin, 2000): 74-85.

616

Monárquias Ibéricas.indb 616 13/12/18 14:56


Bibliografia

Bertrand, Michel. «Poder, negocios y familia en Guatemala a principios del


siglo xix». Historia mexicana, 56/3 (2006): 863-917.
Bertrand, Michel. Grandeur et misères de l’office, les officiers de finances de
Nouvelle Espagne aux XVIIème et XVIIIème siècles. Paris: Publications
de La Sorbonne, 1999 [trad. espanhola: México: Fondo de Cultura Eco-
nómica, 2010].
Bertrand, Michel, Francisco Andújar, e Thomas Glesener, eds. Gobernar y
reformar la Monarquía. Madrid: Albatros, 2017.
Bethencourt, Francisco, e Kirti Chaudhuri. História da Expansão Portu-
guesa. Lisboa: Círculo de Leitores, 1998, 5 vols.
Bicalho, Maria Fernanda. A Cidade e o Império. O Rio de Janeiro no Século
XVIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
Borah, Woodrow, coord. El gobierno provincial de la Nueva España, 1570-
-1787. México: UNAM, 1985.
Borges, Analola. «Una Real Instrucción de 1714, primer intento reformista
de los jueces visitadores en Indias, y posible precedente del sistema de
intendencias», vol. 1, 99-126. Em Memoria del II Congreso Venezolano
de Historia. Caracas: Academia Naciona de la Historia, 1975.
Bouchard, Gérard R. Génesis de las naciones y culturas del Nuevo Mundo.
México: Fondo de Cultura Económica, 2003.
Boxer, Charles R. A Idade de Ouro do Brasil. Dores de Crescimento de uma
Sociedade Colonial. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1963.
Boxer, Charles R. Portuguese Society in the Tropics. The Municipal Councils
of Goa, Macao, Bahia and Luanda, 1510-1800. Madison: University of
Wisconsin Press, 1965.
Boxer, Charles R. The Portuguese Seaborne Empire: 1415-1825. Nova Ior-
que: Knopf, 1969 [trad. portuguesa: O Império Marítimo P ­ ortuguês,
1415-1825. Lisboa: Edições 70, 2001].
Boxer, Charles R. Salvador de Sá e a Luta pelo Brasil e Angola, 1602-1686.
São Paulo: Editora Nacional, ed. da USP, 1973.
Branding, David A. «Los españoles en México hacia 1792», Historia Mexi-
cana, XXIII/1 (1975): 126-144.
Burbank, Jane, e Frederick Cooper. Imperios. Una nueva visión de la His-
toria universal, Barcelona: Crítica, 2011 [1.ª ed. inglesa: Princeton: Prin-
ceton University Press, 2010].
Burgos Lejonagoitia, Guillermo. Gobernar las Indias: Venalidad y méritos
en la provisión de cargos americanos, 1701-1746. Almería: Universidad
de Almería, 2015.

617

Monárquias Ibéricas.indb 617 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Burkholder, Mark, e Dewit Chandler. Biographical Dictionary of Audien-


cia Ministers in the Americas, 1687-1821. Westpoint, Connecticut:
Greenwood Press, 1982.
Burkholder, Mark, e Dewit Chandler. De la impotencia a la autoridad, la
corona española y las audiencias en América, 1687-1808. México: Fondo
de Cultura Económica, 1984.
Bustos, Manuel. «El traslado de la Casa de Contratación y del Consulado de
Indias y sus efectos en el contexto de la nueva planta de la Marina y del
comercio americano». Studia Historica. Historia Moderna, 39/2 (2017):
115-152.
Caetano, Marcelo. O Conselho Ultramarino. Esboço de Sua História. Lis-
boa: Agência Geral do Ultramar, 1967.
Camarinhas, Nuno. Juízes e Administração da Justiça no Antigo Regime:
Portugal e o Império Colonial, Séculos XVII e XVIII. Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian/Fundação para a Ciência e a Tecnologia, 2010.
Camarinhas, Nuno. «Justice administration in early modern Portugal:
Kingdom and empire in a bureaucratic continuum». Portuguese Journal
of Social Sciences, 12/2 (2013): 179-193.
Cardim, Pedro. Cortes e Cultura Política no Portugal do Antigo Regime. Lis-
boa: Edições Cosmos, 1998.
Cardim, Pedro. «A Casa Real e os órgãos centrais do governo de Portugal da
segunda metade de Seiscentos». Revista Tempo, 13 (Julho de 2002): 13-57.
Cardim, Pedro. «As Cortes de Portugal e o governo dos ‘territórios ultra-
marinos’ (séculos xvi-xvii)». Em O Governo dos Outros. Poder e Dife-
rença no Império Português (1496-1961), orgs. Ângela Barreto Xavier e
Ana Cristina Nogueira da Silva, 437-465. Lisboa: Imprensa de Ciências
Sociais, 2016.
Cardim, Pedro, e Susana M. Miranda. «La expansión de la Corona por-
tuguesa y el estatuto político de los territórios». Em Las Indias Occi-
dentales. Procesos de incorporación territorial a las Monarquías Ibéricas,
orgs. Ó. Mazín e J. J. Ruiz Ibáñez, 183-240. México: El Colegio de
México, 2012.
Cardim, Pedro, Tamar Herzog, José Javier Ruiz Ibáñez, e Gaetano Sabatini,
eds. Polycentric Monarchies: How did Early Modern Spain and Portugal
Achieve and Maintain a Global Hegemony? Eastbourne: Sussex Acade-
mic Press, 2012.
Cardim, Pedro, e Joan-Lluís Palos, orgs. El mundo de los virreyes en las
monarquias de España y Portugal. Madrid: Editorial Iberoamericana –
Vervuert, 2012.

618

Monárquias Ibéricas.indb 618 13/12/18 14:56


Bibliografia

Cardim, Pedro, e Susana M. Miranda. «A expansão da coroa portuguesa e


o estatuto político dos territórios». Em O Brasil Colonial 1580-1720,
orgs. João Fragoso e Maria de Fátima Gouvêa, vol. I, 51-106. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2014.
Cardim, Pedro, Maria Fernanda Bicalho, e José Damião Rodrigues. «Cor-
tes, Juntas e Procuradores». Em Um Reino e Suas Repúblicas no Atlân-
tico. Comunicações Políticas entre Portugal, Brasil e Angola nos Séculos
XVII e XVIII, orgs. João Fragoso e Nuno Gonçalo Monteiro, 101-135.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017.
Carlos Morales, Carlos Javier de. Felipe II: el imperio en bancarrota. La
Hacienda real de Castilla y los negocios financieros del Rey prudente.
Madrid: Dilema, 2008.
Carrara, Ângelo Alves. «O reformismo fiscal pombalino no Brasil». Histo-
ria Caribe, 29 (Julho-Dezembro de 2015): 83-111.
Castañeda Delgado, Paulino. Los memoriales del Padre Silva sobre predica-
ción pacífica y repartimientos. Madrid: CSIC, 1983.
Castejón, Philippe. «Colonia y Metrópoli, la génesis de unos contex-
tos históricos fundamentales (1760-1808)» Illes i Imperis, 18 (2016):
163-179.
Castro Gutiérrez, Felipe. Los tarascos y el Imperio español, 1600-1740.
México: UNAM, Instituto de Investigaciones Históricas, Universidad
Michoacana de San Nicolás Hidalgo, 2004.
Castro Gutiérrez, Felipe, coord. Los indios y las ciudades de Nueva España.
México: UNAM, Insituto de Investigaciones Históricas, 2010.
Centenero de Arce, Domingo. ¿Una monarquía de lazos débiles?: Veteranos,
militares y administradores 1580-1621. Florencia: EUI, 2009.
Cerdá Crespo, Jorge. La guerra de la oreja de Jenkins. Un conflicto colonial
(1739-1748). Alicante: Universidad, 2009.
Céspedes del Castillo, Guillermo. «La visita como institución indiana»,
Anuario de Estudios Americanos, 3 (1946): 984-1025.
Céspedes del Castillo, Guillermo. «America Hispánica (1492-1898)». Em
Historia de España, dir. Manuel Tuñón de Lara, vol. vi. Barcelona: Ed.
Labor, 1992.
Céspedes del Castillo, Guillermo. «La organización institucional». Em His-
toria General de América Latina, eds. Alfredo Castillero Calvo e Allan
Kuethe, vol. iii, t. 1: Consolidación del orden colonial, 29-46. Valhadolid-
-Paris: Trotta-Ediciones UNESCO, 2000.
Céspedes del Castillo, Guillermo. «Formas de la expansión europea
en América». Em Historia General de América Latina, eds. Alfredo

619

Monárquias Ibéricas.indb 619 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

­ astillero Calvo e Allan Kuethe, vol. ii: El primer contacto y la forma-


C
ción de las nuevas sociedades, 71-88. Valhadolid-Paris: Trotta – Ediciones
UNESCO, 2012.
Chanock, Martin. Law Custom and Social Order. The colonial experience
in Malawi and Zambia. Cambridge: Cambridge University Press, 1985.
Chaves, Cláudia. «A administração fazendária na América portuguesa: a
Junta da Real Fazenda e a política fiscal ultramarina nas Minas Gerais».
Almanack, 5 (Guarulhos, 1.º semestre de 2013): 81-96.
Chaves, Cláudia. «Administração fiscal nas províncias do centro. As fron-
teiras fiscais na América portuguesa. 1780-1815». Tiempo & Economia,
2/1 (2015): 53-68.
Chust, Manuel. Las independencias iberoamericanas en su laberinto: contro-
versias, cuestiones, interpretaciones. Valência: Universidad, 2010.
Chust, Manuel, e José Antonio Serrano. «El ocaso de la monarquía: conflic-
tos, guerra y liberalismo en Nueva España. Veracruz 1750-1820». Ayer,
74 (2009): 24-32.
Ciliberto, María Valeria. «De los jesuitas a la administración de las Tempo-
ralidades. El patrimonio de la Compañía de Jesús y la fuerza de trabajo
esclava en el Río de la Plata (fines del siglo xviii)». Cuadernos de Histo-
ria, 44 (2016): 29-56.
Clavero, Bartolomé. Tantas personas como estados. Por una antropología
política de la historia europea. Madrid: Tecnos, 1986.
Cluny, Isabel. D. Luís da Cunha. A Ideia de Diplomacia em Portugal. ­Lisboa:
Livros Horizonte, 1999.
Coello de la Rosa, Alexandre, e Martín Rodrigo y Alharilla, eds. La justicia
robada. Corrupción, codicia y bien público en el mundo hispánico (siglos
xvii-xx). Barcelona: Icaria Editotial, 2018.
Colom González, Francisco. Modernidad iberoamericana. Cultura, política
y cambio social. Madrid/Frankfurt: Iberoamericana/Vervuert, 2009.
Commons, Aurea. Los intendentes de la nueva España. Mexico: UNAM, 1993.
Contreras, Milagro. «Aportación al estudio de las visitas de audiencias».
Em Memoria del II Congreso Venezolano de Historia, vol. 1, 188-194
Caracas: Academia Nacional de la Historia, 1975.
Cosentino, Francisco Carlos. «Governadores-gerais do Estado do Brasil
(século xvi e xvii): ofício, regimentos, governação e trajetórias». Tese de
doutoramento, Rio de Janeiro, Universidade Federal Fluminense, 2005
[publicado como Cosentino, Francisco Carlos. Governadores Gerais do
Estado do Brasil, Séculos XVI-XVII. Ofício, Regimentos, Governação e
Trajectórias. São Paulo/Belo Horizonte: Anablume/FAPEMIG, 2009].

620

Monárquias Ibéricas.indb 620 13/12/18 14:56


Bibliografia

Cosentino, Francisco Carlos. «Hierarquia política e poder no Estado do


Brasil: o governo-geral e as capitanias, 1654-1681». Topoi. Revista de
História, 16, n.º 31 (Julho-Dezembro de 2015): 515-543. Disponível em
https://www.revistatopoi.org.
Costa, André da Silva. «Os Secretários de Estado do Rei. Luta de Corte e
Poder Político, Séculos xvi-xvii». Tese de doutoramento, Lisboa: FCSH-
-UNL, 2008.
Costa, Bruno Aidar. «A vereda dos tratos. Fiscalidade e poder regional na
Capitania de São Paulo 1723-1808». Tese de doutoramento, São Paulo,
Universidade de São Paulo – Departamento de História da Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas, 2012.
Costa, Leonor Freire, Pedro Lains, e Susana Münch Miranda. História Eco-
nómica de Portugal, 1143-2010. Lisboa: Esfera dos Livros, 2011.
Couto, Dejanirah. «Em torno da concessão e da Fortaleza de Baçaim (1529-
-1546)». Mare Liberum, 9 (1995): 117-132.
Couto, Jorge. A Construção do Brasil. Ameríndios, Portugueses e Africanos
do Início do Povoamento a Finais de Quinhentos, 2.ª ed. Lisboa: Edições
Cosmos, 1997 [1ª ed.: Lisboa, Cosmos, 1995].
Crespo, Ana. La Casa de Contratación y la Intendencia General de Marina
en Cádiz (1717-1730). Cádis: Servicio de Publicaciones de la Universi-
dad de Cádiz, 1996.
Cruz, Maria Augusta Lima. As Andanças de um Degredado em Terras Perdi-
das – João Machado. Lisboa: CNCDP, 1995 [separata de Mare Liberum, 5].
Cruz, Miguel Dantas da. Um Império de Conflitos. O Conselho Ultrama-
rino e a Defesa do Brasil. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2015.
Cuadriello, Jaime. Glorias de la República de Tlaxcala o la conciencia como
imagen sublime. México: UNAM/Museo Nacional de Arte, 2004.
Cuesta Domingo, Mariano. La Casa de Contratación de Sevilla. Madrid:
Inst. de Historia y Cultura Naval, 2001.
Cuesta Domingo, Mariano. «La Casa de contratación de La Coruña». Mar
oceana. Revista del humanismo español e iberoamericano, 16 (2004): 59-88.
Cuevas Arenas, Héctor Manuel. La república de indios: un acercamiento a las
encomiendas, mitas, pueblos de indios y relaciones interestamentales en Cali,
siglo xvii. Santiago de Cali: Programa Editorial Universidad del Valle, 2005.
Cunha, Mafalda Soares da, e Nuno Gonçalo Monteiro. «Governadores e
capitães-mores do império atlântico português nos séculos xvii e xviii».
Em Optima Pars. Elites Ibero-Americanas do Antigo Regime, orgs. Nuno
G. F. Monteiro, Pedro Cardim e Mafalda Soares da Cunha, 191-252.
Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2005.

621

Monárquias Ibéricas.indb 621 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Cunha, Mafalda Soares da, e António Castro Nunes. «Territorialização e


poder na América portuguesa. A criação de comarcas, séculos xvi-xviii».
Tempo, 39 (Abril de 2016): 1-30.
Cunill, Caroline. «‘Nos traen tan avasallados hasta quitarnos nuestro seño-
río’: cabildos mayas, control local y representación legal en el Yucatán
del siglo xvi». Revista Histórica, 40-42 (2016): 49-80.
Dalla Corte, Gabriella. Vida i mort d’una aventura al riu de la Plata, Jaime
Alsina i Verjés, 1770-1836, Barcelona: Publicacions de l’Abadia de Mont­
serrat, 2000.
Dedieu, Jean-Pierre, e Andoni Artola, «Venalidad en contexto: venalidad y
convenciones políticas en la España Moderna». Em El poder del dinero.
Venta de cargos y honores en el Antiguo Régimen, eds. Francisco Andújar
e Maria del Mar Felices, 29-45. Madrid: Biblioteca Nueva, 2011.
Delgado Ribas, Josep M.ª «La emigración española a América Latina
durante la época del comercio libre (1765-1820): el caso catalán», BA,
32, (1992): 115-137.
Delgado Ribas, Josep M.ª «La paz de los Siete años (1750-1757) y el ini-
cio de la reforma comercial española». Em 1802: España entre dos siglos,
coord. Antonio Morales, vol. 1: Ciencia y economía, 336-337, Madrid:
Sociedad Estatal de C.C. 2003.
Descimon, Robert, Jean-Frédéric Schaub, e Bernard Vincent. Les figures de
l’administrateur. Institutions, réseaux, pouvoirs en Espagne, en France et
au Portugal, 16e-19e siècles. Paris: Eds. EHESS, 1997.
Deustua Pimentel, Carlos. Los intendentes en Perú (1790-1796). Sevilha:
EEHS-CSIC, 1965.
Dias, Jill. «Mudanças nos padrões de poder no ‘Hinterland’ de Luanda.
O impacto da colonização sobre os mbundu (c. 1845-1920)». Penélope,
14 (1994): 43-91.
Díaz Serrano, Ana. «Repúblicas de indios en los reinos de Castilla: (re)pre-
sentación de las periferias americanas en el siglo xvi». Em Comprendere
le monarchie iberiche. Risorse materiali e rappresentazioni del potere, ed.
Gaetano Sabatini, 343-364. Roma: Edizioni Viella, 2010.
Díaz Serrano, Ana. «La República de Tlaxcala ante el Rey de España durante el
siglo xvi». Historia Mexicana, LXI/3 (Janeiro-Março de 2012): 1049-1107.
Díaz Serrano, Ana. «Nos exilium. Heterodoxias y fronteras en América,
siglos xvi-xviii». Em Los refugiados del rey de España. Las Monarquías
Ibéricas como tierra de recepción de exilios (siglos xvi-xviii), coords. José
Javier Ruiz Ibáñez e Igor Pérez Tostado, 233-258. Madrid: Fondo de
Cultura Económica, 2015.

622

Monárquias Ibéricas.indb 622 13/12/18 14:56


Bibliografia

Díaz Serrano, Ana. El gobierno de las distancias. Repúblicas urbanas en la


Monarquía Hispánica (Murcia y Tlaxcala, siglos xvi y xvii). Madrid:
Fondo de Cultura Económica, no prelo.
Domingues, Ângela. Quando os Índios Eram Vassalos. Colonização e Rela-
ções de Poder no Norte do Brasil na Segunda Metade do Século XVIII.
Lisboa: CNCDP, 2000.
Dougnac Rodríguez, Antonio. Manual de Historia del Derecho Indiano.
Mexico: UNAM, 1994.
Eiras Roel, Antonio. El Reino de Galicia en la época del Emperador Car-
los V. Santiago de Compostela: Xunta de Galicia, 2000.
Elliott, John H. Empires of the Atlantic World: Britain and Spain in Ame-
rica, 1492-1830. New Haven/Londres: Yale University Press, 2006.
Trad. espanhola: Imperios del Mundo Atlántico. España y Gran Bretaña
en América, 1492-1830. Madrid: Taurus Historia, 2006.
Elliott, John H. El Atlántico español y el Atlántico luso: divergencias y con-
vergencias. Gran Canaria: Ed. del Cabildo de Gran Canaria, 2014.
Eltis, David, e David Richardson. «A New Assessment of the Transtlantic
Slave Trade». Em Extending the Frontiers: Essays on the New Transatlan-
tic Slave Trade Database, coords. David Eltis e David Richardson, 1-62.
New Haven: Yale University Press, 2008.
Enríquez, Lucrecia. «Reformar para uniformar. La implantación del régi-
men de intendencias en Chile». Em Gobernar y reformar la Monarquía,
eds. Michel Bertrand, Francisco Andújar e Thomas Glesener, 287-303.
Madrid: Albatros, 2017.
Escobedo-Mansilla, Ronald. Control fiscal en el Virreinato peruano: el Tri-
bunal de Cuentas. Madrid: Editorial Alhambra, 1986.
Escudero, José Antonio. Los Secretarios de Estado y del Despacho (1474-
-1724). Madrid: Instituto de Estudios Administrativos, 1969.
Escudero, José Antonio. Los orígenes del Consejo de Ministros. La Junta
Suprema de Estado. Madrid: Editora Nacional, 1979.
Farriss, Nancy M. Maya society under colonial rule. The collective enterprise
of survival. New Jersey: Princeton University Press, 1984.
Farriss, Nancy M. Crown and Clergy in Colonial Mexico, 1759-1821: The
Crisis of Ecclesiastical Privilege. Londres: Athlone Press, 1986.
Fernández-Armesto, Felipe. Las Islas Canarias después de la conquista: la
creación de una sociedad colonial a principios del siglo xvi. Las Palmas:
Cabildo Insular, 1997.
Fernández-Armesto, Felipe. «Los imperios en su contexto global, c.1500-
-1800». Em Manuel Lucena Giraldo, coord., Las tinieblas de la memoria.

623

Monárquias Ibéricas.indb 623 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Una reflexión sobre los imperios en la Edad Moderna. Debate y perspec-


tivas, dossier publicado em Cuaderno de Historia y Ciencias Sociales, 2
(2014) 27-45.
Fernández Durán, Reyes. La corona española y el tráfico de negros. Del
monopolio al libre comercio. Madrid, Editorial del Economista, 2011.
Fernández Fernández, J. M. «Indigenismo». Em Diccionario crítico de
Ciencias Sociales, dir. Román Reyes, t. i. Madrid-México: Plaza y Valdés,
2009. Versão online, Universidad Complutense de Madrid: www.ucm.
es/info/eurotheo/diccionario/index_b.html.
Ferreira, Waldemar Martins. História do Direito Brasileiro. Rio de Janeiro/
São Paulo: Livraria Freitas Bastos S.A, 1951.
Figueiredo, Luciano R. de A. «Revoltas, Fiscalidade e Identidade Colonial
na América Portuguesa. Rio de Janeiro, Bahia e Minas Gerais, 1640-
-1761»,, 1640-1761. Tese de doutoramento. São Paulo: Universidade de
São Paulo – Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras
e Ciências Humanas, 1996.
Figueiredo, Luciano R. de A. «Pombal cordial. Reformas, fiscalidade e dis-
tensão no Brasil: 1750-1777». Em A Época Pombalina no Mundo Luso-
-Brasileiro, orgs. Francisco Falcon e Cláudia Rodrigues, 125-174. Rio de
Janeiro: Editora FGV, 2015.
Fisher, John. Comercial relations between Spain and Spanish America in the
Era of Free Trade. Liverpool Univ. Press, 1985.
Fisher, John, Allan J. Kuethe, e Antony Mc Farlane. Reform and Insurrec-
tion in Borbon New Granada and Peru. Luisiana: Baton Rouge, 1990.
Fisher, John. «Estructuras comerciales en el mundo hispánico y el refor-
mismo borbónico». Em El reformismo borbónico, ed. Agustín Guimerá,
109-122. Madrid: Alianza, 1996.
Fisher, John. El Perú Borbónico (1750-1824). Lima: Instituto Estudios His-
tóricos, 2000.
Flores Galindo, Alberto. «La revolución tupamarista y el Imperio español».
Em Governare il mondo. L’Impero Spagnolo dal xv al xix Secolo, eds.
Massimo Ganci e Ruggiero Romano, Palermo: Società Siciliana per la
Storia Patria, Istituto di Storia Moderna, Facolta di Lettere, 1991.
Fragoso, João, Maria Fernanda Bicalho, e Maria de Fátima Gouvêa, orgs.
O Antigo Regime nos Trópicos: a Dinâmica Imperial Portuguesa (Séculos
XVI-XVIII). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.
Fragoso, João, e Maria de Fátima Gouvêa, orgs. Na Trama das Redes: Polí-
tica e Negócio no Império Português, Séculos XVI-XVIII. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2010.

624

Monárquias Ibéricas.indb 624 13/12/18 14:56


Bibliografia

Fragoso, João, e Nuno Gonçalo Monteiro, orgs. Um Reino e Suas Repúbli-


cas no Atlântico. Comunicações Políticas entre Portugal, Brasil e Angola
nos Séculos XVII e XVIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017.
Freire, Felisbello. História da Cidade do Rio de Janeiro, 1564-1700. Vol. 1.
Rio de Janeiro: Typographia da Revista dos Tribunaes, 1912.
Freudenthal, Aida. Arimos e Fazendas. A Transição Agrária em Angola (1850-
-1880). Luanda: Edições Chá de Caxinde, 2005.
Gálvez Ruiz, María Ángeles. «Demanda de plazas en el Consejo de Indias.
Méritos y servicios para la promoción para la carrera judicial» Chronica
Nova, 35 (2009): 311-331.
Gamboa M., Jorge Augusto. «Las instituciones indígenas de gobierno
en los años posteriores a la conquista: caciques y capitanes muiscas
del Nuevo Reino de Granada (1537-1650)». Em Imperios ibéricos en
comarcas americanas: estudios regionales de historia colonial brasileña y
neogranadina, eds. Adriana María Alzate, Manolo Florentino e Carlos
Eduardo Valencia, 136-161. Bogotá: Editorial Universidad del Rosa-
rio, 2008.
Ganci, Massimo e Ruggiero Romano, eds. Governare il mondo. L’Impero
Spagnolo dal xv al xix Secolo. Palermo: Società Siciliana per la Storia
Patria, Istituto di Storia Moderna, Facolta di Lettere, 1991.
García Fuentes, Lutgardo. El comercio español con América (1650-1700).
Sevilha: Diputación Provincial de Sevilla, 1989.
García Gallo, Alfonso. «El pluralismo jurídico en la América Española,
1492-1824». Em Los orígenes españoles de las instituciones americanas.
Estudios de Derecho Indiano, 299-310. Madrid: Real Academia de Juris-
prudencia y Legislación, 1987.
García Gallo, Alfonso. Los orígenes españoles de las instituciones americanas.
Estudios de Derecho Indiano. Madrid: Real Academia de Jurisprudencia
y Legislación, 1987.
García Martínez, Bernardo. Los pueblos de la sierra. El poder y el espacio
entre los indios del Norte de Puebla hasta 1700. México: El Colegio de
México, 1987.
García Pérez, Rafael. El Consejo de Indias durante los reinados de Carlos III
y Carlos IV. Pamplona: EUNSA, 1998.
García Pérez, Rafael. «Las nonatas Ordenanzas del Consejo de Indias de
Carlos IV», Anuario de estudios americanos, 56/2 (1999): 651-672.
García Pérez, Rafael. «El Consejo de Indias en la Corte de Felipe V. Lógica
Jurídica y Lógica Política en el Gobierno de América». Em El gobierno
de un mundo. Virreinatos y Audiencias en la América hispánica, coord.

625

Monárquias Ibéricas.indb 625 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Felicianos Barrios Pintado, 167-202. Cuenca: Ediciones de la Universi-


dad de Castilla-La Mancha, 2004.
Garriga, Carlos. «Los límites del reformismo borbónico: a propósito de la
administración de la justicia en Indias». Em Derecho y administración
pública en las Indias Hispánicas. Actas del XII Congreso Internacional
de Historia del Derecho Indiano (Toledo, 19 a 21 de Outubro de 1998),
ed. Feliciano Barrios Pintado, vol. i, 781-822. Cuenca: Universidad de
Castilla – La Mancha, 2002.
Garriga, Carlos. «El derecho de prelación: en torno a la construcción jurídica
de la identidad criolla». Em XIII Congreso del Instituto Internacional de
Historia del Derecho Indiano, ed. Luis E. González Vale, 1085-1128. San
Juan de Puerto Rico: Asamblea Legislativa de Puerto Rico, 2003.
Garriga, Carlos. «Las Audiencias: justicia y el gobierno de las Indias». Em
El gobierno de un mundo. Virreinatos y Audiencias en la América His-
pánica, coord. Felicianoruiz Barrios Pintado, 711-794. Cuenca: Univer-
sidad de Castilla – La Mancha/Fundación Rafael del Pino, 2004.
Garriga, Carlos. «Patrias criollas, plazas militares: sobre la América de
Carlos IV». Em La América de Carlos IV. Cuadernos de Investigacio-
nes y Documentos, coord. Eduardo Martiré, t. I, 35-130. Buenos Aires:
­Instituto de Investigaciones de Historia del Derecho, 2006 (outra edi-
ção em Horizontes y convergencias. Lecturas históricas y antropológicas
sobre el Derecho, 2009. Disponível em: www.horizontesyc.com.ar).
Gaudin, Guillaume, Antonio Castillo Gómez, Margarita Gómez Gómez, e
Roberta Stumpf, orgs. Vencer la distancia. Actores y prácticas del gobierno
de los imperios español y portugués. Parte 1 – Conectar mundos distantes:
los oficiales de la pluma en los imperios ibéricos, dossier publicado em
Nuevo Mundo Mundo Nuevos, 17 (2017).
Gibson, Charles. Tlaxcala in the Sixteenth century. New Haven: Yale Uni-
versity Press, 1952.
Gibson, Charles. The Aztecs under Spanish rule: a history of the Indians of the
Valley of Mexico, 1519-1810. Stanford: Stanford University Press, 1964
[ed. espanhola: Los aztecas bajo el dominio español, 1519-1810. México:
Siglo xxi, 1984].
Gibson, Charles. The Black Legend. Anti-Spanish attitudes in the Old World
and the New. Nova Iorque: A. A. Knopf-A Borzoi Book on Latin Ame-
rica, 1971.
Gil Pujol, Xavier. «Integrar un mundo. Dinámicas de agregación y de cohe-
sión en la Monarquía de España». Em Las Indias Occidentales. Pro-
cesos de incorporación territorial a las Monarquías Ibéricas, eds. Óscar

626

Monárquias Ibéricas.indb 626 13/12/18 14:56


Bibliografia

Mazín Gómez e José Javier Ruiz Ibáñez, 68-108. México: El Colegio de


México, 2012.
Godinho, Vitorino Magalhães. Os Descobrimentos e a Economia Mun-
dial, Lisboa: Arcádia, 2 vols., 1963-1965 (2.ª edição: Lisboa: Presença,
1981-1983).
Godinho, Vitorino Magalhães. Ensaios II. Sobre a História de Portugal. Lis-
boa: Livraria Sá da Costa, 1978 (2.ª ed.).
Gómez Gómez, Margarita. Forma y expedición del documento en la secreta-
ría de Estado y del despacho de Indias. Sevilha: Universidad, 1993.
González Alonso, Benjamín. Sobre el Estado y la administración de la
Corona de Castilla en el Antiguo Régimen: las comunidades de Castilla y
otros estudios. Madrid: Siglo Veintiuno de España, 1981.
González de Sansegundo, Miguel Ángel. Un mestizaje jurídico: el derecho
indiano de los indígenas. Estudios de historia del derecho. Madrid: Uni-
versidad Complutense, 1995.
Gouvêa, Maria de Fátima S. «Poder político e administração na formação
do complexo atlântico português, 1645-1808». Em O Antigo Regime nos
Trópicos. A Dinâmica Imperial Portuguesa, Séculos XVI-XVIII. Orgs.
João Fragoso, Maria Fernanda Bicalho e Maria de Fátima S. Gouvêa,
285-315. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.
Greene, Jack P., e Philip D. Morgan, eds. Atlantic History: A Critical Apprai-
sal. Nova Iorque: Oxford University Press, 2009.
Gruzinski, Serge. Les quatre parties du monde. Histoire d’une mondialisa-
tion. Paris: Éditions de la Martinière, 2004 [trad. espanhola: Las cuatro
partes del mundo: historia de una mundialización. México D. F.: Fondo
de Cultura Económica, 2010, trad. portuguesa: As Quatro Partes do
Mundo: História de uma Mundialização. São Paulo: EDUSP, 2014].
Guimerá, Agustín, ed. El reformismo borbónico. Madrid: Alianza, 1996.
Haring, Clarence H. Comercio y navegación entre España y las Indias en
época de los Habsburgo. México: Fondo de Cultura Económica, 1979.
Hausberger, Bernd, e Antonio Ibarra, eds. Comercio y poder en América
colonial: los consulados de comerciantes. México, Int. Mora, 2002.
Heintze, Beatrix. Luso-african feudalism in Angola? The vassal treaties of
the 16th to the 18th century. Separata da Faculdade de Letras da Universi-
dade de Coimbra, 111-131. Coimbra: Instituto de História Económica
e Social, 1980.
Hespanha, António Manuel. «O governo dos Áustria e a ‘modernização’ da
constituição política portuguesa». Penélope. Fazer e Desfazer História, 2
(Fevereiro de 1989), 49-74.

627

Monárquias Ibéricas.indb 627 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Hespanha, António Manuel, coord.. O Antigo Regime, vol. 4 de História de


Portugal, dir. José Mattoso. Lisboa: Editorial Estampa, 1993.
Hespanha, António Manuel. As Vésperas do Leviathan. Instituições e Poder
Político. Portugal. Século XVII. Coimbra: Livraria Almedina, 1994.
Hespanha, António Manuel. Cultura Jurídica Europeia. Síntese de um
Milénio. Lisboa: Publicações Europa-América, 2003 (2.ª ed.: Coimbra:
Almedina, 2012.)
Hespanha, António Manuel. «The Legal Patchwork of Empires». Rechtsges-
chichte – Legal History, 22 (2014): 303-314.
Hespanha, António Manuel, e Catarina Madeira-Santos. «Os poderes num
império oceânico». Em História de Portugal: O Antigo Regime, dir. José
Mattoso, coord. António Manuel Hespanha, vol. 4, 395-413. Lisboa:
Editorial Estampa, 1993.
Hidalgo Nuchera, Patricia. La recta administración: primeros tiempos de
la colonización hispana en Filipinas: la situación de la población nativa.
Madrid: Polifemo, 2001.
Hoppe, Fritz. A África Oriental Portuguesa no Tempo do Marquês de Pombal
1750-1777. Lisboa: Agência-Geral do Ultramar, 1970.
Isaacman, Allen. Mozambique: the africanization of a European Institution.
The Zambezi Prazos. 1750-1902. Madison: The University of Wisconsin
Press, 1972.
Jancsó, István. Na Bahia contra o Império. História do Ensaio de Sedição de
1798. São Paulo/Salvador: Hucitec/EdUFBA, 1996.
Jurado, Carolina. «Las reducciones toledanas a pueblos de indios: aproxi-
mación a un conflicto. El repartimiento de Macha (Charcas). Siglo xvi».
Cahiers des Amériques Latines, 47 (2004): 123-137.
Kermale, Nejma, e Bernard Lavallé, eds. L’Amérique en projet: Utopies, con-
troversies et réformes dans l’empire espagnol (XVI-XVIII). Paris: l’Har-
matyan, 2008.
Kuethe, Allan. Cuba 1753-1815: Crown, Military and Society. Knoxville:
University of Tennessee Press, 1988.
Kuethe, Allan J. «El fin de monopolio: los Borbones y el consulado
andaluz». Em Relaciones de poder y comercio colonial: nuevas pers-
pectivas, eds. Enriqueta Vila e Allan. J. Kuethe, 56-82, Sevilha: CSIC,
1999.
Kuethe, Allan J. «Proyectismo et Reform commercial à l’époque de Phili-
ppe V». Em L’Amerique en projet: Utopies, controversies et réformes dans
l’empire espagnol (XVI-XVIII), eds. Nejma Kermale e Bernard Lavallé,
243-251. Paris: l’Harmatyan, 2008.

628

Monárquias Ibéricas.indb 628 13/12/18 14:56


Bibliografia

Kuethe, Allan J. The Spanish Atlantic World in the Eighteenth Century. War
and the Bourbon Reforms, 1713-1796. Cambridge: Cambridge Univer-
sity Press, 2014.
Lacoste, Marie Pierre. «Les intendants de la vice-royauté de la Nouvelle-
-Espagne (1764-1821); origines, carrières et intégration coloniale. Essai
prosopographique». Tese de doutoramento. Toulouse: Université de
Toulouse Jean-Jaurès, 2017.
Ladd, Doris. La nobleza mexicana en época de la independencia, 1780-1826.
Mexico: FCE, 1984.
Lara, Sílvia Hunold. «Marronnage et pouvoir colonial. Palmares, Cucaú et
les frontières de la liberté au Pernambouc à la fin du xviie siècle». Anna-
les. Histoire, Sciences Sociales, vol. 67 (2007): 639-662.
Lavallé, Bernard. Recherches sur l’apparition de la conscience créole dans la
vice-royaute du Perou: l’antagonisme hispano-créole dans les ordres reli-
gieux (xvi-xvii), 2 vols. Lille: Atelier National de Reproduction de The-
ses, Univ. de Lille III, 1982.
Laviana Cueto, Maria Luisa. «Organización y funcionamiento de las cajas
reales de Guayaquil en la segunda mitad del siglo xviii». Anuario de estu-
dios americanos, 37 (1980): 313-349.
Leebrick, Karl Clayton, The English expedition to Manila and the Philippine
Islands in the year 1762. Berkeley: University of California, 2007.
Lempérière, Annick. Entre Dios y el rey: la república. La ciudad de
México entre los siglos xvi y xix. México: Fondo de Cultura Econó-
mica, 2014.
Lenkersdorg, Gudrun. Repúblicas de indios. Pueblos mayas en Chiapas, siglo
xvi. México: Plaza y Valdés Editores, 2010.
Levaggi, Abelardo. «Repúblicas de indios y repúblicas de españoles en los
Reinos de Indias». Revista de Estudios Histórico-Jurídicos. Historia del
Derecho, XXIII (2001): 419-429.
Levi, Giovanni. Le pouvoir au village: histoire d’un exorciste dans le Piémont
du xviième siècle. Paris: Gallimard, 1985.
Livi-Bacci, Massimo. Breve historia de las migraciones. Madrid: Grupo
Anaya Editorial, 2012.
Lobato, Alexandre. Evolução administrativa e económica de Moçambique.
1752-1763. Lisboa: Agência Geral do Ultramar, 1957.
Lobato, Alexandre. Colonização Senhorial da Zambézia e Outros Estudos.
Lisboa: Junta de Investigações do Ultramar, 1962.
Lobato, Alexandre. «Sobre os prazos da Índia». Em II Seminário Interna-
cional de História Indo-Portuguesa. Actas, dirs. Luís de A ­ lbuquerque

629

Monárquias Ibéricas.indb 629 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

e Inácio Guerreiro, 459-66. Lisboa: Instituto de Investigação Cien-


tífica Tropical/Centro de Estudos de História e Cartografia Antiga,
1985.
Lockhart, James. Nahuas and Spaniards. Postconquest Central Mexicana
History and Philology. Stanford: Stanford University Press-UCLA
Latin American Center Publications, 1991.
Lockhart, James. The Nahuas after the conquest. A social and cultural history
of the Indians of central Mexico, sixteenth through eighteenth centuries.
Stanford: Stanford University Press, 1992.
Lohmann Villena, Guillermo. Los ministros de la audiencia de Lima. Sevilha:
Estudios Americanos, 1974.
Lohmann Villena, Guillermo. El Corregidor de indios en el Perú bajo los
Austrias. Lima: Universidad Católica, 2001.
López-Cordón, María Victoria. «Les nouveaux commis: le secrétariat
d’État de Grâce et Justice». Em Les figures de l’administrateur, Institu-
tions, réseaux, pouvoirs en Espagne, en France et au Portugal, 16e-19e siè-
cles, eds. Robert Descimon, Jean-Frédéric Schaub e Bernard Vincent,
Paris: Eds. EHESS, 1997.
López-Cordón, María Victoria. «Instauración dinástica y reformismo
administrativo: la implantación del sistema ministerial». Manuscrits, 18
(2000): 93-111.
López Sarrelangue, Delfina Esmeralda. La nobleza indígena de Pátzcuaro en
la época colonial. México: UNAM, 1965.
Loureiro, Marcello J. G. «Iustitiam Dare. A Gestão da Monarquia Pluri-
continental. Conselhos Superiores, Pactos, Articulações e o Governo
da Monarquia Portuguesa, 1640-1668». Tese de doutoramento, Rio de
Janeiro, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2014.
Luxán, Santiago de, y Viña Brito, Ana, dir. La empresa azucarera en Cana-
rias: siglos xv-xx. Las Palmas: Auheces, 2009.
Lynch, John. Administración colonial española: el sistema de intendencias en
el virreinato del Rio de la Plata, Buenos Aires, Eudeba, 1967.
Madeira-Santos, Catarina. «Entre Velha Goa e Pangim: a capital do Estado
da Índia e as reformulações da política ultramarina, séculos xvi-xix».
Revista de História Militar, número especial (1998): 119-158.
Madeira-Santos, Catarina, e Ana Paula Tavares. «Fontes Escritas africanas
para a História de África». Estudos e Documentos. Revista do Arquivo
Histórico de Angola, 4-5 (1999): 87-134.
Madeira-Santos, Catarina. «Goa é a Chave de Toda a Índia»: Perfil Político
da Capital do Estado da Índia (1505-1570). Lisboa: CNCDP, 1999.

630

Monárquias Ibéricas.indb 630 13/12/18 14:56


Bibliografia

Madeira-Santos, Catarina. «Entre deux droits: les Lumières en Angola


(1750-v.1800)». Annales. Histoire Sciences Sociales, n.º 4 (2005): 817-848.
Madeira-Santos, Catarina. «Um Governo Polido para Angola: Reconfigu-
rar Dispositivos de Domínio (1750-c. 1800)». Tese de doutoramento,
Lisboa/Paris, FCSH-NOVA/École des Hautes Études en Sciences
Sociales 2005.
Madeira-Santos, Catarina. «Écrire le pouvoir en Angola. Les archives
ndembu (xviième-xxème siècles)». Annales, Histoire Sciences Sociales,
LXIV/4, número especial «Cultures écrites en Afrique» (2009): 767-795.
Madeira-Santos, Catarina. «Esclavage africain et traite atlantique confron-
tés: transactions langagières et juridiques (à propos du tribunal de muca-
nos dans l’Angola des xviie et xviiie siècles)». Brésil(s). Sciences humaines
et sociales, 1 (Maio, 2012): 127-148.
Madeira-Santos, Catarina. «Los virreyes del Estado de la India en la forma-
ción del imaginario imperial português». Em El mundo de los virreyes en
las monarquias de España y Portugal, orgs. Pedro Cardim e Joan-Lluís
Palos, 71-117. Madrid: Editorial Iberoamericana/Vervuert, 2012.
Magalhães, Joaquim Romero. «As estruturas sociais de enquadramento da
economia portuguesa de Antigo Regime: os concelhos». Notas Econó-
micas, 4 (1994): 32-47.
Magalhães, Joaquim Romero. «A cobrança do outro do rei nas Minas
Gerais: o fim da captação, 1741-1750». Revista Tempo, vol. 14, n.º 27
(Julho-Dezembro de 2009): 135-149.
Maqueda Abreu, Consuelo. «Evolución del Patronato Regio. Vicariato
indiano y conflictos de competencias». Em El Gobierno de un mundo.
Virreinatos y Audiencias en la América Hispánica, ed. Feliciano Barrios
Pintado. 539-600. Cuenca: Universidad de Castilla-La Mancha, 2004.
Mariluz Urquijo, José María. Ensayo sobre los juicios de residencias indianos.
Sevilla: Escuela de los Estudios Hispano-Americanos, 1952.
Marques, Guida. L’Invention du Brésil entre deux mondes. Gouvernement et
pratiques politiques de l’Amérique portugaise dans l’union ibérique, 1580-
-1640. Paris: EHESS, 2009.
McFarlane, Anthony. War and Independence in Spanish America. Nova Ior-
que: Routledge, 2014.
Marchena Fernández, Juan. Oficiales y soldados en el ejército de América.
Sevilha: Escuela de Estudios Hispano Americanos, 1983.
Márquez Macía, Rosario. «La emigración española a América en la época
del comercio libre (1765-1824): el caso andaluz». Revista complutense de
Historia de América, 19 (1993): 233-247.

631

Monárquias Ibéricas.indb 631 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Martínez, Hilberto. Tepeaca en el siglo xvi. Tenencia de la tierra y organiza-


ción de un señorío. México: Ediciones de la Casa Chata, 1984.
Martínez Baracs, Andrea. Un gobierno indio: Tlaxcala, 1519-1750. México:
Fondo de Cultura Económica, 2009.
Martínez Baracs, Andrea, e Carlos Sempant Assadourian, comps. Tlax-
cala, una historia compartida, 16 vols. México: Conaculta/Gobierno del
Estado de Tlaxcala, 1991.
Martínez Baracs, Rodrigo. Convivencia y utopía. El gobierno indio y español
de la «ciudad de Mechuacan», 1521-1580. México: Fondo de Cultura
Económica, 2005.
Martínez Shaw, Carlos. La emigración española a América (1492-1824).
Gijón: Quinta Guadalupe, 1994.
Martínez Shaw, Carlos. El sistema comercial español del Pacífico (1765-
-1820). Madrid: R. A. H., 2007.
Martínez Shaw, Carlos, «La Guerra de Sucesión en América». Em La Guerra
de Sucesión y la batalla de Almansa. Europa en la encrucijada, coord. Fran-
cisco García González, 71-94, Madrid: Silex/UCLM, 2009.
Matos, Artur Teodoro de. «A situação financeira do Estado da Índia no
período filipino (1581-1635)». Em Na Rota da Índia. Estudos de His­
tória da Expansão Portuguesa. Macau: Instituto Cultural de Macau,
1994.
Matos, Arthur Teodoro de. Junta da Real Fazenda do Estado da Índia. Lis-
boa: CNCDP/Centro de Estudos Damião de Góis, 2000.
Maxwell, Kenneth R. A Devassa da Devassa. A Inconfidência Mineira, Bra-
sil-Portugal, 1750-1808. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978 [1973].
Mello, Evaldo Cabral de. A Fronda dos Mazombos: Nobres contra Mascates –
Pernambuco (1666-1715). São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
Mello, Isabele de Matos Pereira de. «Os ministros da justiça na Amé-
rica portuguesa: ouvidores-gerais e juízes-de-fora na administração
colonial (século xviii)». Revista de História, 171 (dezembro de 2014):
351-381.
Mello, Márcia Eliane Alves de Souza e. Fé e Império. As Juntas das Missões
nas Conquistas Portuguesas. Manaus: EDUA, 2007 (reimp: Universidade
Federal do Amazonas: EDUA, 2009).
Mendonça, Marcos de Carneiro. Raízes da Formação Administração do Bra-
sil, ts. i e ii. Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 1972.
Menegus Bornemann, Margarita. Del señorío a la república de indios. El
caso de Toluca: 1500-1600. Madrid: Ministerio de Agricultura, Pesca y
Alimentación, 1991.

632

Monárquias Ibéricas.indb 632 13/12/18 14:56


Bibliografia

Miller, Joseph C. Poder Político e Parentesco. Os Antigos Estados Mbundu


em Angola. Luanda: Arquivo Histórico Nacional/Ministério da Cultura,
1995 (1.ª ed: Oxford: Clarendon Press/Oxford Univ. Press, 1976).
Mínguez, Víctor. Los reyes distantes. Imágenes del poder en el México virrei-
nal. Castellón: Universidad, 1995.
Mira Miranda, Carlos. «Toma de Manila por los ingleses en 1762» Anuario
de Estudios Atlánticos, 53 (2007): 167-220.
Miranda, Susana Münch. A Fazenda Real na Ilha da Madeira (Segunda
Metade do Século XVI). Lisboa: Instituto de História de Além-Mar,
1994.
Miranda, Susana Münch, e Cristina Serafim. «Trocas Comerciais». Em His-
tória dos Portugueses no Extremo Oriente. Em torno de Macau, dir. A.H.
de Oliveira Marques, vol. i, t. 1, 224-227. Lisboa: Fundação Oriente,
1998.
Miranda, Susana Münch. «A administração da Fazenda Real no Estado da
Índia (1517-1640)». Tese de doutoramento. Lisboa: Faculdade de Ciên-
cias Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 2007.
Miranda, Susana Münch. «The Centre and the Periphery in the Adminis-
tration of the Royal Exchequer of the ‘Estado da India’, 1517-1640».
e-Journal of Portuguese History, 7-2 (2009).
Miranda, Susana Münch. «Property rights and social uses of land in Por-
tuguese India: the Province of the North (1534-1739)». Em Property
rights, land and territory in the European Overseas Empire, orgs. José
Vicente Serrão, Eurgénia Rodrigues, Bárbara Direito e Susana Münch
Miranda, 169-180. Lisboa: CEHC-IUL, 2015.
Molas, Pere. «Tres textos econòmics sobre la Catalunya illustrada» Pedral-
bes, 7 (1987): 147-161.
Molina Argüello, Carlos. «Visita y residencia en Indias». Em Tercer Con-
greso Internacional del Instituto de Historia del Derecho Indiano, Madrid:
Instituto Nacional de Estudios Jurídicos, 1973.
Molina Argüello, Carlos. «Las visitas-residencias y las residencias-visitas de
la Recopilación de Indías». Em Memoria del II Congreso Venezolano de
Historia, t. 1, Caracas: Academia Nacional de la Historia, 1975.
Monteiro, John M. Negros da Terra – Índios e Bandeirantes nas Origens de
São Paulo. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
Monteiro, Nuno Gonçalo. «Trajetórias sociais e governo das conquistas:
Notas preliminares sobre os vice-reis e governadores-gerais do B ­ rasil e
Índia nos séculos xvii e xviii». Em O Antigo Regime nos Trópicos. A Dinâ-
mica Imperial Portuguesa, Séculos XVI-XVIII, orgs. João ­Fragoso, Maria

633

Monárquias Ibéricas.indb 633 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Fernanda Bicalho e Maria de Fátima S. Gouvêa, 249-283. Rio de Janeiro:


Civilização Brasileira, 2001.
Monteiro, Nuno Gonçalo. D. José. Na Sombra de Pombal. Lisboa: Círculo
de Leitores, 2006.
Monteiro, Nuno Gonçalo. «A circulação das elites no império dos Bragança
(1640-1808): algumas notas». Revista Tempo, vol. 14, n.º 27 (2009): 65-81.
Monteiro, Nuno Gonçalo. «A Secretaria de Estado dos Negócios do
Reino e a administração de Antigo Regime (1736-1834)». Em Do
Reino à Administração Interna: História de um Ministério, 1736-2012,
orgs. Pedro T. de Almeida e Paulo S. e Sousa, 23-38. Lisboa: Imprensa
Nacional, 2015.
Monteiro, Nuno Gonçalo, Pedro Cardim, e Mafalda Soares da Cunha.
Optima Pars. Elites Ibero-Americanas do Antigo Regime. Lisboa: Imprensa
de Ciências Sociais, 2005.
Morales Padrón, Francisco. Descubrimiento, toma de posesión, conquista:
Canarias una modesta América. Las Palmas: Cabildo Insular, 2009.
Morazzani, Gisela. La intendencia en España y en América. Caracas: Uni-
versidad Central, 1972.
Moreira, Alzira Teixeira Leite. Inventário do Fundo do Erário Régio. Arquivo
do Tribunal das Contas. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1977.
Morelli, Federica «Antiguas Audiencias y Nuevas Naciones». Em El
gobierno de un mundo. Virreinatos y Audiencias en la América hispánica,
ed. Felicianos Barrios, 1079-1093. Cuenca: Ediciones de la Universidad
de Castilla-La Mancha, 2004.
Morelli, Federica. Territorio o nación. Reforma y disolución del espacio impe-
rial en Ecuador (1765-1830). Madrid: Centro de Estudios Políticos y
Constitucionales, 2005.
Moreno Cebrián, Alfredo. El corregidor de indios y la economía peruana del
siglo xviii. Madrid: CSIC, 1977.
Moutokias, Zacarias. «Burocracia, contrabando y autotransformación de
las élites: Buenos Aires en el siglo xvii». Anuario IEHS: Instituto de
Estudios histórico sociales, 3 (1988): 213-248.
Moutokias, Zacarias. «El comercio interregional». Em Historia general de
América Latina, vol. 3, t. 1, (Consolidación del orden colonial), coords.
Alfredo Castillero Calvo e Allan J. Kuethe, 133-150, Trotta: Ediciones
UNESCO, 1999.
Muldoon, James. The Americas in the Spanish World Order. The Justifica-
tion for Conquest in the Seventeenth Century. Filadélfia: University of
Pennsylvania Press, 1994.

634

Monárquias Ibéricas.indb 634 13/12/18 14:56


Bibliografia

Myrup, Erik Lars. To Rule from Afar: The Overseas Council and the Making
of Brazilian West, 1642-1807. Yale: Yale University, 2006.
Navarro García, Luis. Las reformas borbónicas en América. El plan de inten-
dencias y su aplicación. Sevilha: Universidad, 1995.
Navarro García, Luis. Servidores del rey: la intendencia de Nueva España.
Sevilha: Universidad, 2009.
Navarro García, Luis, e Fernando Antolín, Las dobles exequias del arzobispo
Figueredo (1765): El canto del cisne de los jesuitas en Guatemala. Huelva:
Universidad, 2016.
Newitt, Malyn D. D. A history of Mozambique. Londres: Hurst & Com-
pany, 1995.
Oliva Melgar, José M. «La metrópoli sin territorio. ¿Crisis del comer-
cio de Indias en el siglo xvii o pérdida de control del monopolio?».
Em El sistema Atlántico español (siglos xvii-xix), eds. José M. Oliva
Melgar e Carlos Martínez Shaw, 19-73, Madrid: Marcial Pons,
2005.
Oliva Melgar, José M. e Carlos Martínez Shaw, eds. El sistema Atlántico
español (siglos xvii-xix). Madrid: Marcial Pons, 2005.
O’Phelan, Scarlett. Un siglo de rebeliones anticoloniales: Perú y Bolivia,
1700-1783. Cuzco: Centro de Estudios Rurales Andinos, 1988.
Otero Lana, Enrique. Los corsarios españoles durante la decadencia de los
Austrias. El corso español del Atlántico peninsular en el Siglo xvii, 1621-
-1697. Madrid: Ministerio de Defensa, 2015.
Ots Capdequí, José María. El Estado español en las Indias. México: Fondo
de Cultura Económica, 1957.
Otte, Enrique. «Los mercaderes y la conquista de América». Em Proceso
histórico al conquistador, eds. Francisco de Solano et al. 51-79, Madrid:
Alianza, 1988.
Pagden, Anthony. El imperialismo español y la imaginación política. Barce-
lona: Planeta, 1999.
Paquette, Gabriel. Enlightenment, Governance, and Reform in Spain and its
Empire, 1759-1808. Nova Iorque: Palgrave Macmillan, 2008.
Paquette, Gabriel. Enlightened Reform in Southern Europe and its Atlantic
Colonies, c. 1750-1830. Farnham-Burlington: Ashgate, 2009.
Parcero Torre, Celia M. La pérdida de La Habana y las reformas borbónicas
en Cuba (1760-1773). Valhadolid: Junta de Castilla y León, 1998.
Paredes Martínez, Carlos Salvador. «La nobleza tarasca: poder político y
conflictos en el Michoacán colonial». Anuario de Estudios Americanos,
61/1 (2008): 101-117.

635

Monárquias Ibéricas.indb 635 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Pares, Richard. War and Trade in the West Indies, 1759-1765. Londres: F.
Cass, 1963.
Peraza de Ayala, José. «La intendencia de Canarias: Notas y Documentos».
Anuario de Historia del Derecho Español, 40 (1970): 565-580.
Pérez Canal, A. «La Secretaría de Estado y del despacho de Gracia y Justicia
de Indias (1808-1834)». Historia. Instituciones. Documentos, 17 (1990):
183-194.
Pérez Cevallos, Juan Manuel. «El gobierno indígena colonial en Xochimilco
(siglo xvi)». Historia Mexicana, XXXIII, 132 (1984): 148-149.
Pérez de Tudela, Juan. Las armadas de Indias y los orígenes de la política
de colonización, 1492-1505. Madrid: Instituto Gonzalo Fernández de
Oviedo, 1956.
Pérez Herrero, Pedro. La América Colonial (14921763). Política y Socie-
dad. Madrid: Síntesis, 2002.
Pérez Herrero, Pedro. América Latina y el colonialismo europeo. Siglos xvi-
-xvii. Madrid: Síntesis, 2012.
Pérez, Joseph. Los movimientos precursores de la emancipación en Hispa-
noamérica. Madrid: Editorial Alhambra, 1977.
Phelan, John Leddy. El pueblo y el rey: La revolución comunera en Colom-
bia. Bogotá: C. Valencia, 1980.
Pietschmann, Horst. Las reformas borbónicas y el régimen de intendencias: un
estudio politico administrativo. México: Fondo de Cultura Económica, 1996.
Pietschmann, Horst. «Imperio y comercio en la formación del Atlántico
español». Em El sistema comercial español en la economía mundial, eds.
Isabel Lobato e José M. Oliva, 71-95. Huelva: Publicaciones de la Uni-
versidad, 2013.
Pijning, Ernest. «Conflicts in the Portuguese Colonial Administration:
Trials and Errors of Luís Lopes Pegado e Serpa, Provedor-mor da
Fazenda in Salvador, Brazil 1718-1721». Colonial Latin American Histo-
rical Review 2/4 (1993): 403-423.
Pissurlencar, Panduronga S. S. Agentes da Diplomacia Portuguesa na Índia
(Hindus, Muçulmanos, Judeus e Parses). Goa: Tipografia Rangel, 1952.
Polanco Alcántara, Tomás. Las Reales Audiencias en las provincias america-
nas de España. Madrid: Mapfre, 1992.
Ponce Leiva, Pilar. «El poder del discurso o el discurso del poder: el criol-
lismo quiteño en el siglo xvii». Procesos, 10 (1997): 3-20.
Ponce Leiva, Pilar. «La argamasa que une los reinos: gestión e integración
de las Indias en la Monarquía Hispánica, siglo xvii», Anuario de Estudios
Americanos, 74/2 (Julho-Dezembro de 2017): 461-490.

636

Monárquias Ibéricas.indb 636 13/12/18 14:56


Bibliografia

Ponce Leiva, Pilar, e Francisco Andújar Castillo, orgs. Mérito, venalidad y cor-
rupción en España y América, siglos xvii y xviii. Valência: Albatros, 2016.
Possamai, Paulo. A Vida Cotidiana na Colónia do Sacramento. Lisboa:
Livros do Brasil, 2006.
Prado, Fabrício. A Colônia do Sacramento: O Extremo-Sul da América Por-
tuguesa no Século XVIII. Porto Alegre: Ed. Fabrício Prado, 2002.
Prieto Yegros, Margarita. El Tratado de Tordesillas. Asunción: Interconti-
nental Editora, 2006.
Priotti, Jean-Philippe. Genèse d’une croissance: Bilbao et ses marchands au
16ème siècle. Lille: Presses Universitaires du Septentrion, 2004.
Puente, José Carlos de la. «A costa de Su Majestad: indios viajeros y dile-
mas imperiales en la corte de los Habsburgo». Allpanchis, 39, 72 (2008):
11-60.
Puntoni, Pedro. A Guerra dos Bárbaros. Povos Indígenas e a Colonização do
Sertão Nordeste do Brasil, 1650-1720. São Paulo: Hucitec, 2002.
Puntoni, Pedro. O Estado do Brasil: Poder e Política na Bahia Colonial,
1548-1700. São Paulo: Alameda Editorial, 2014.
Quezada, Sergio. Pueblos y caciques yucatecos, 1550-1580. México: El Cole-
gio de México, 1993.
Quijada, Mónica. «España, América y el imaginario de la soberanía popu-
lar». Em Modernidad iberoamericana. Cultura, política y cambio social,
ed. Francisco Colom González. Madrid/Frankfurt: Iberoamericana/
Vervuert, 2009.
Ramírez, Susan Elisabeth. The world upside down: cross-cultural contact and
conflict in sixteenth-century Peru. Stanford: Stanford University Press,
1996.
Rau, Virgínia. «Feitores e feitorias, instrumentos do comércio internacional
português no século xvi». Em Estudos sobre História Económica e Social
do Antigo Regime, 143-199. Lisboa: Editorial Presença, 1984.
Rico Linaje, Raquel. Las compañías de comercio en América. Los órganos de
gobierno. Madrid: CSIC, 1983.
Rodrigues, Eugénia. «As donas de prazos do Zambeze. Políticas imperiais
e estratégias locais». Em VI Jornada Setecentista: Conferências e Comu-
nicações, dirs. Magnus R. de Mello Pereira, António César de Almeida
Santos, Maria Luiz Andreazza e Sergio Odilon Nadalin, 15-34. Curi-
tiba: Aos Quatro Ventos/Cedop, 2006.
Rodrigues, Eugénia. Portugueses e Africanos nos Rios de Sena. Os ­Prazos
da Coroa em Moçambique nos Séculos XVII-XVIII. Lisboa: Imprensa
Nacional­-Casa da Moeda, 2014.

637

Monárquias Ibéricas.indb 637 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Rodríguez Barrios, Julio Alberto. «Signos del poder en Indias: el do­


cumento como representación del monarca en el virreinato peruano».
Em Archivo General de Indias. El valor del documento y la escritura en el
gobierno de América. coord. Reyes Rojas, 20-33, Madrid: Ministerio de
Educación, 2016.
Rodríguez Cruz, Águeda. La universidad en la América hispánica. Madrid:
Mapfre, 1992.
Rodríguez García, Margarita Eva. «Compañías privilegiadas de comercio en
América y cambio político (1706-1765)». Estudios de historia económica,
46 (2005): 13-76.
Rojas, Beatriz. Las ciudades novohispanas. Siete ensayos. Historia y terri-
torio. México: Instituto de Investigaciones Dr. José María Luis Mora/
Colegio de Michoacán, 2016.
Romano, Ruggiero. Coyunturas opuestas: la crisis del siglo xvii en Europa y
en América. México: Fondo de Cultura Económica, 1993.
Romeiro, Adriana. Paulistas e Emboabas no Coração das Minas. Ideias, Prá-
ticas e Imaginário Político no Século XVIII. Belo Horizonte: UFMG,
2008.
Ruiz Ibáñez, José Javier, e Gaetano Sabatini. «Monarchy as conquest: vio-
lence, social opportunity, and political stability in the establishment of
the Hispanic Monarchy». The Journal of Modern History, 81/3 (Setem-
bro de 2009): 501-536.
Ruiz Medrano, Ethelia. Gobierno y sociedad en Nueva España: segunda
audiencia y Antonio de Mendoza. Zamora: El colegio de Michoacán, 1991.
Sabatini, Gaetano, ed. Comprendere le monarchie iberiche. Risorse materiali
e rappresentazioni del potere. Roma: Edizioni Viella, 2010.
Saldanha, António Vasconcelos. Iustum Imperium. Dos Tratados como
Fundamento do Império dos Portugueses no Oriente. Lisboa: Fundação
Oriente/Instituto Português do Oriente, 1997.
Saldanha, António Vasconcelos de. As Capitanias do Brasil: Antecedentes,
Desenvolvimento e Extinção de um Fenómeno Atlântico. Lisboa: Comis-
são Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses,
2001 [1992].
Salles, Hyllo Nader de Araújo. «Negócios e Negociantes em uma Conjun-
tura Crítica: O Porto de Salvador e os Impactos da Mineração, 1697-
-1731». Dissertação de mestrado, Juiz de Fora, Universidade Federal de
Juiz de Fora, 2014.
Samayoa, Hector. El régimen de intendencias en Guatemala. Guatemala:
Pirdra anta, 1978.

638

Monárquias Ibéricas.indb 638 13/12/18 14:56


Bibliografia

Sánchez Albornoz, Nicolás. Historia mínima de la población de América


latina. Madrid: Turner, 2015.
Sánchez Bella, Ismael. «La jurisdicción de Hacienda en Indias (sécs.
xvi­-xvii)». Anuario de Historia del Derecho Español, XXIX (1959):
175-228.
Sánchez Bella, Ismael. La organisación financiera de las Indias, siglo xvi.
Sevilha: EEHA, 1968.
Sánchez Bella, Ismael. Iglesia y Estado en la América española. Pamplona:
EUNSA, 1990.
Sánchez Bella, Ismael. Las visitas generales en la América española. Pam-
plona: Eunsa, 1991.
Sánchez Bella, Ismael. Derecho indiano. Estudios: Las visitas générales en la
América española (siglos xvi-xvii). Pamplona: Colección jurídica, Edi-
ciones de la Universidad de Navarra, 1991.
Sánchez Maíllo, Carmen. El pensamiento jurídico-político de Juan Solorzano
Pereira. Pamplona: EUNSA, 2010.
Sánchez Santiró, Ernest. «Las reformas borbónicas como categoría de aná-
lisis en la historiografía institucional, económica y fiscal sobre Nueva
España: orígenes, implantación y expansión». Historia Caribe, 11, n.º 29
(2016): 19-51.
San Martino de Dromi, M. Laura de. Intendencias y provincias en la historia
argentina. Buenos Aires: Ciencias de la Administración, 1990.
Sanz Ayán, Carmen. «Causas y consecuencias económicas de la Guerra de
Sucesión española» Boletín de la Real Academia de la Historia, 2 (2013):
187-226.
Sauer, Carl Ortwin. Descubrimiento y dominación española del Caribe.
México: Fondo de Cultura Económica. 1984.
Schäfer, Ernesto. El Consejo Real y Supremo de las Indias: su historia, orga-
nización y labor administrativa hasta la terminación de la Casa de Austria.
Sevilha: Universidad de Sevilla, 1935-1947 [2ª ed.: Valladolid-Madrid:
Junta de Castilla y León-Marcial Pons, 2003, 2 vols.].
Schwartz, Stuart B. Burocracia e Sociedade no Brasil Colonial. São Paulo:
Editora Perspectiva, 1979.
Silva, Andrée Mansuy Diniz. «Introdução e comentário crítico». Em André
João Antonil, Cultura e Opulência do Brasil por Suas Drogas e Minas,
Lisboa: CNCDP, 2001.
Silva Prada, Natalia. La política de una rebelión: los indígenas frente
al tumulto de 1692 en la Ciudad de México. México: El Colegio de
México, 2007.

639

Monárquias Ibéricas.indb 639 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Solano, Francisco de. «Urbanización y municipalización de la población


indígena». Em Estudios sobre la ciudad iberoamericana, coord. Francisco
Solano, 241-269. Madrid: CSIC, 1983.
Solís Robleda, Gabriela. Entre el cielo y la tierra. Religión y sociedad en los
pueblos mayas del Yucatán colonial. México: Purrúa, 2005.
Souto, Matilde. Mar abierto. La política y el comercio del consulado de Vera-
cruz en el ocaso del sistema imperial. México: Intituto Mora, 2006.
Souza, Laura de Mello, e Maria Fernanda Bicalho. 1680-1720. O Império
deste Mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
Souza, Teotónio de. Goa Medieval. A Cidade e o Interior no Século XVII.
Lisboa: Estampa, 1994.
St. Clair Segurado, Eva M. «La expulsión de los jesuitas de América. Refle-
xiones sobre el caso de Nueva España». Em La Compañía de Jesús en
la América española (siglos xvi-xviii), coord. Francisco Javier Gómez
Díez, 165-204. Editores: Universidad Francisco de Vitoria, 2005.
Stein, Stanley J., e Barbara H. Stein. La herencia colonial de América Latina.
México: Siglo xxi, 1970.
Stein, Stanley J., e Barbara H. Stein. Apogee of Empire: Spain and New Spain
in the Age of Charles III, 1759-1789. Baltimore: Johns Hopkins Univ.
Press, 2003.
Storrs, Christopher, ed. The fiscal-military state in eighteenth-century Europe:
essays in honour of P. G. M. Dickson. Farnham: Ashgate, 2009.
Storrs, Christopher. «Magistrates to Administrators, Composite Monar-
chy to Fiscal-Military Empire: Empire and Burocracy in the Spanish
Monarchy 1492-1825». Em Empires and Burocracy in World History.
eds. Peter Crooks e Timothy H. Parsons. 291-317. Cambridge: Univer-
sity Press, 2016.
Stumpf, Roberta. «Os provimentos de ofícios: a questão da propriedade no
Antigo Regime português». Topoi. Revista de História, 15, n.º 19 (Julho­-
-Dezembro de 2014): 612-634. Disponível em https://www.revistato-
poi.org.
Stumpf, Roberta. «Ser apto para servir a monarquia portuguesa: Profis-
sionalização e hereditariedade». Em Mérito, venalidad y corrupción en
España y América, siglos xvii y xviii, orgs. Pilar Ponce Leiva e Francisco
Andújar Castillo, 115-134. Valência: Albatros, 2016.
Stumpf, Roberta. «Dos homens que serviam entre papéis e letras – Escri-
vães das câmaras na América portuguesa», Nuevo Mundo Mundos Nue-
vos. Debates. [em linha] (Outubro de 2017). Disponível em: http://
journals.openedition.org/ nuevomundo/71379

640

Monárquias Ibéricas.indb 640 13/12/18 14:56


Bibliografia

Stumpf, Roberta, e Nandini Chaturvedula, orgs. Cargos e Ofícios nas


Monarquias Ibéricas: Provimento, Controlo e Venalidade (Séculos XVII e
XVIII), Lisboa, Centro de História de Além-Mar – Universidade Nova
de Lisboa – Universidade dos Açores, 2012.
Suárez, Margarita. Desafíos transatlánticos: mercaderes, banqueros y el Estado
en el Perú virreinal, 1600-1700. Lima: Pontificia Universidad Católica
del Perú, Instituto Riva-Agüero, 2001.
Subrahmanyam, Sanjay. The Portuguese Empire in Asia, 1500-1700. A Poli-
tical and Economic History. Londres: Longman, 1993 [trad. portuguesa:
O Império Asiático Português, 1500-1700: uma história política e econó-
mica. Lisboa: Difel, 1995].
Subrahmanyam, Sanjay. Courtly Encounters. Translating Courtliness and
Violence in Early Modern Eurasia. Harvard University Press, 2012.
Subrahmanyam, Sanjay. Impérios em Concorrência. Histórias Conectadas
nos Séculos XVI e XVII. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2012.
Subtil, José. «Os poderes do centro». Em O Antigo Regime, coord. António
Manuel Hespanha, vol. 4 da História de Portugal, dir. José Mattoso, 157-
-187. Lisboa: Editorial Estampa, 1993.
Tau Anzoátegui, Víctor. Casuismo y sistema. Indagación histórica sobre el
espíritu del Derecho Indiano. Buenos Aires: Instituto de Investigaciones
de Historia del Derecho, 1992.
Taylor, William B. Landlord and peasant in colonial Oaxaca. Stanford: Stan-
ford University Press, 1972.
Teixeira, André Pinto de Sousa Dias. «Baçaim e o seu território: Política e Eco-
nomia (1534-1665)». Tese de doutoramento, Lisboa, FCSH-UNL, 2010.
Téllez Alarcia, Diego. El ministerio Wall: la «España discreta» del «ministro
olvidado». Madrid: Marcial Pons, 2006.
Thomas, Hugh. El Imperio español: de Colón a Magallanes. Barcelona: Pla-
neta, 2003.
Thomaz, Luís Filipe. «A estrutura política e administrativa do Estado da
Índia no século xvi». Em De Ceuta a Timor. 207-243. Lisboa: Difel,
1994.
Tomaz, Fernando. «As finanças do Estado pombalino, 1762-1776». Em
Estudos e Ensaios em Homenagem a Vitorino Magalhães Godinho, 355-
-371. Lisboa: Lisboa Sá da Costa, 1988.
Tutino, John. Creole Mexico: Spanish elites, haciendas and Indian towns
(1750-1810). Austin: University of Texas, 1976.
Tutino, John. «Power, class and family, men and women in the Mexico elite
(1750-1810)». The Americas, 39/3 (1983): 359-381.

641

Monárquias Ibéricas.indb 641 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Valle Pavón, Guillermina del, ed. Mercaderes, comercio y consulados de Nueva


España en el siglo xviii. México: Instituto Mora, 2003.
Varela, Jesús. El tratado de Tordesillas y su época. Actas. Valhadolid: Sociedad
Estatal V Centenario, 1995.
Varela, Jesús. El tratado de Tordesillas en la política atlántica castellana.
Valhadolid: Universidad, 1997.
Vázquez de Parga, M.ª José. Redescubrimiento y conquista de las islas Afor-
tunadas. Madrid: Doce Calles, 2013.
Velasco Murillo, Dane, Mark Lentz, e Margarita Ochoa R., eds. City
Indians in Spain’s American Empire. Urban indigenous society in Colo-
nial Mesoamerica and Andean South America, 1530-1810. Portland: Sus-
sex Academia Press, 2012.
Vera Cruz, Alonso de la. Sobre el dominio de los indios y la guerra justa.
México, 1553-1556. Edición de Roberto Heredia Correa. México:
UNAM, 2004.
Vila Vilar, Enriqueta. Hispanoamérica y el comercio de esclavos. Los asientos
portugueses. Sevilha: Escuela de Estudios Hispano-Americanos, 1977.
Vincent, Bernard. 1492: el año admirable. Madrid: Crítica, 1992.
Wachtel, Nathan. La vision des vaincus. Les indiens du Perou devant la con-
quete espagnole, 1530-1570. Paris: Gallimard, 1971. [tradução inglesa:
The Vision of the Vanquished: The Spanish Conquest of Peru Through
Indian Eyes, 1530-1570. Nova Iorque: Barnes & Noble Imports, 1971);
trad. espanhola: Los vencidos: los indios del Perú frente a la conquista
española (1530-1570). Madrid: Alianza, 1976.
Walker, Goffrey J. Politica española y comercio colonial, 1700-1789. Barce-
lona: Ariel, 1979.
Xavier, Ângela Barreto. A Invenção de Goa: Poder Imperial e Conversões
Culturais nos Séculos XVI e XVII. Lisboa: ICS, 2008.
Yannakaris, Yanna. The Art of Being In-between. Native Intermediaries,
Indian Identity, and Local Rule in Colonial. Durham/Londres: Duke
University Press, 2008.
Yuste López, Carmen. El comercio de Nueva España con Filipinas, 1590-
-1785. México: Instituto Nacional de Antropología e Historia, 1984.
Zumalacárregui y Calvo, Leopoldo. «Visitas y residencias en el siglo xvi.
Unos textos para su distinción». Revista de Indias, 26 (1946): 917-921.
Zúñiga, Jean-Paul. Espagnols d’outre-mer. Émigration, reproduction sociale et
mentalités à Santiago du Chili au 17ème siècle. Paris : EHESS, 2001.

642

Monárquias Ibéricas.indb 642 13/12/18 14:56


Bibliografia

Parte 3: Administração militar

AA.VV. Arquitectura e iconografía artística militar en España y América


(Siglos xv-xviii). Actas de las III Jornadas Nacionales de Historia Militar.
Sevilla: Cátedra General Castaños, 1996.
AA.VV. A Guerra Peninsular, Perspetivas Multidisciplinares. Lisboa: CPHM-
-CEAP, 2008.
Adorno, Rolena. Polemics of Possession in Spanish America. New Haven/
Londres: Yale University Press, 2007.
Alden, Dauril. Royal Government in Colonial Brazil: With Special Reference
to the Administration of the Marquis of Lavradio, Viceroy, 1769-1779.
Berkeley: University of California Press, 1968.
Alencastro, Luiz Felipe de. O Trato dos Viventes: Formação do Brasil no
Atlântico-Sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
Amaral, Manuel. «As tentativas de reforma do Exército, no interior de um
projecto global de reformas da sociedade portuguesa de finais do Antigo
Regime». Em A Guerra Peninsular, Perspetivas Multidisciplinares, vol. ii,
355-374. Lisboa: CPHM-CEAP, 2008.
Ames, Glen J. «The Estado da Índia 1663-1677: priorities and strategies in
Europe and the East». Stvdia, 49 (1989): 283-300.
Andújar Castillo, Francisco. «La crisis del ejército borbónico: la Junta de
Generales de 1796». Em Monarquía, imperio y pueblos en la España
Moderna. Actas de la IV Reunión Científica de la Asociación Española
de Historia Moderna, ed. Pablo Fernández Albaladejo, 63-77. Alicante:
Asociación Española de Historia Moderna, 1997.
Andújar Castillo, Francisco. «El ejército de Felipe V. Estrategias y proble-
mas de una reforma». Em Felipe V y su tiempo. Congreso Internacio-
nal, coord. Eliseo Serrano, 655-676. Zaragoza: Institución Fernando el
Católico, 2004.
Andújar Castillo, Francisco. El sonido del dinero. Monarquía, ejército y
venalidad en la España del siglo xviii. Madrid: Marcial Pons, 2004.
Andújar Castillo, Francisco. «La ‘reforma’ militar del marqués de la Ense-
nada». Em El equilibrio de los imperios: de Ultrecht y Trafalgar, eds.
Agustín Guimerá Ravina e Víctor Peralta Ruiz, 519-536. Madrid: Fun-
dación Española de Historia Moderna, 2005.
Andújar Castillo, Francisco, e Antonio Jiménez Estrella. Los nervios de la
guerra: estudios sociales sobre el ejército de la Monarquía Hispánica (siglos
xvi-xviii): nuevas perspectivas. Granada: Comares, 2007.

643

Monárquias Ibéricas.indb 643 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Andújar Castillo, Francisco. «Guerra, venalidad y asientos de solda-


dos en el siglo xviii». Studia historica. Historia moderna, 35 (2013):
235-268.
Andújar Castillo, Francisco. «El ejército y la guerra en el siglo xviii.
La historia por hacer». Em Perspectivas y novedades de la Historia
Militar: una aproximación global, dirs. Enrique Martínez Ruiz e
Jesús Cantera Montenegro, 497-514. Madrid: Ministerio de Defensa,
2014.
Archer, Christon I. El ejército en el México borbónico, 1760-1810. México:
Fondo de Cultura Económica, 1983.
Arnal, Luis. «El sistema presidial en el septentrión novohispano: evolu-
ción y estrategias de poblamiento». Scripta Nova. Revista electrónica de
Geografía y Ciencias Sociales, vol. X, 218 (2006). Disponível em http://
www.ub.edu/geocrit/sn/sn-218-26.htm.
Aubin, Jean. «Le Capitaine Leitão, un sujet insatisfait de D. João III».
Revista da Universidade de Coimbra, XXX (1984): 87-152.
Barata, Manuel Themudo, e Nuno Severiano Teixeira, dir. Nova História
Militar de Portugal. Lisboa: Círculo de Leitores, 2003-2004.
Bebiano, Rui. A Pena de Marte. Escrita de Guerra em Portugal e na Europa
(Sécs. XVI-XVIII). Coimbra: Minerva, 2000.
Bebiano, Rui. «A guerra: o seu imaginário e a sua deontologia». Em Nova
História Militar de Portugal, dirs. Manuel Themudo Barata e Nuno
Severiano Teixeira, vol. 2 – Época Moderna, coord. António Manuel
Hespanha, 36-67. Lisboa: Círculo de Leitores, 2004.
Black, Jeremy. European warfare in a global context, 1660-1815. Londres/
Nova Iorque: Routledge, 2007.
Blanco, Maria Manuela Sobral. «O Estado Português da Índia da Rendição
de Ormuz à Perda de Cochim (1622-1663)», vol. i. Tese de doutora-
mento, Lisboa, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 1992.
Boxer, Charles R. The Portuguese Seaborne Empire: 1415-1825. Nova Ior-
que: Knopf, 1969 [trad. portuguesa: O Império Marítimo Português,
1415-1825. Lisboa: Edições 70, 2001].
Bunes Ibarra, Miguel Ángel. «Felipe II y el Mediterráneo: la frontera olvi-
dada y la frontera presente de la Monarquía Católica». Em Felipe II
(1527-1598). Europa y la Monarquía Católica, dir. José Martínez Millán,
t. i, 97-110. Madrid: Parteluz, 1998.
Burgos Lejonagoitia, Guillermo. Gobernar las Indias: venalidad y méritos
en la provisión de cargos americanos, 1701-1746. Almería: Universidad
de Almería, 2015.

644

Monárquias Ibéricas.indb 644 13/12/18 14:56


Bibliografia

Calderón Quijano, José Antonio. Las fortificaciones españolas en América y


Filipinas. Madrid: Mapfre, 1996.
Cardim, Pedro, e Susana M. Miranda. «La expansión de la Corona por-
tuguesa y el estatuto político de los territorios». Em Las Indias Occi-
dentales. Procesos de incorporación territorial a las Monarquías Ibéricas,
orgs. Ó. Mazín e J. J. Ruiz Ibáñez, 183-240. México: El Colegio de
México, 2012.
Carreira, Ernestina. «Aspectos Políticos». Em O Império Oriental 1660-
-1820, coord. Maria de Jesus Mártires Lopes, vol. i, 17-91. Lisboa:
Estampa, 2006.
Carreira, Ernestina. «Des Terres de France aux Forteresses de l’Estado da
India: les Militaires Français à Goa sous l’Ancien Régime». Anais de
História de Além-Mar, IX (2008): 265-289.
Carreira, Ernestina, Globalising Goa (1660-1820). Change and Exchange in
a Former Capital of Empire. Goa: Ed. Goa-1556, 2014.
Coloma García, Virginia. «Navarra y la defensa de la Monarquía en los rei-
nados de Felipe III y Felipe IV (1598-1665)». Príncipe de Viana, 204
(1995): 163-182.
Cosentino, Francisco Carlos. «Governadores-gerais do Estado do Brasil
(séculos xvi e xvii): ofício, regimentos, governação e trajetórias». Tese
de doutoramento, Rio de Janeiro, Universidade Federal Fluminense,
2005 [publicado como Cosentino, Francisco Carlos. G ­ overnadores
Gerais do Estado do Brasil, séculos xvi-xvii. Ofício, Regimentos, Gover-
nação e Trajectórias. São Paulo/Belo Horizonte: Anablume/FAPE-
MIG, 2009].
Coslinga, Cornelio. Los holandeses en el Caribe. Havana: Casa de las Amé-
ricas, 1983.
Costa, Fernando Dores. «A nobreza é uma elite militar? O caso Cantanhede­-
-Marialva em 1658-1665». Em Optima Pars – Elites Ibero-Americanas do
Antigo Regime, orgs. Nuno Gonçalo Monteiro, Pedro Cardim e Mafalda
Soares da Cunha, 169-190. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2005.
Costa, Fernando Dores. Insubmissão – Aversão ao Serviço Militar no Portu-
gal do Século XVIII. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2010.
Costa, João Paulo Oliveira, e Vitor Luís Gaspar Rodrigues. A Batalha dos
Alcaides – 1514: No Apogeu da Presença Portuguesa em Marrocos. Lisboa:
Tribuna, 2007.
Cruz Barney, Óscar. «Las milicias en la Nueva España: la obra del segundo
conde de Revillagigedo (1789-1794)». Estudios de Historia Novohis-
pana, 34 (2006): 73-116.

645

Monárquias Ibéricas.indb 645 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Cruz, Miguel Dantas da. Um Império de Conflitos. O Conselho Ultrama-


rino e a Defesa do Brasil. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2015.
Cruz, Miguel Dantas da. «A americanização do universo militar fluminense
em tempos de desagregação identitária. As inquietações de Amador
Patrício de Portugal (1790)». Revista Fontes, 2 (2015): 70-80.
Cruz, Miguel Dantas da. «A nomeação de militares na América portuguesa:
tendências de um império negociado». Varia Historia, XXXI, n.º 57
(2015): 673-710.
Cruz, Miguel Dantas da. «Imperial perceptions and circulation in the Por-
tuguese Atlantic World (1620s-1660s)». Itinerario, XLI, n.º 2 (2017):
375-403.
Curto, Diogo Ramada. Cultura Imperial e Projetos Coloniais (Séculos XV a
XVIII). Campinas: Editora da Unicamp, 2009.
Domingues, Ângela. Quando os Índios Eram Vassalos. Colonização e Rela-
ções de Poder no Norte do Brasil na Segunda Metade do Século XVIII.
Lisboa: CNCDP, 2000.
Duarte, Luís Miguel. «A Marinha de Guerra Portuguesa». Em Nova Histó-
ria Militar de Portugal, orgs. Manuel Themudo Barata e Nuno Severiano
Teixeira, vol. i, 290-346. Lisboa: Círculo de Leitores, 2003.
Dubet, Anne. «¿La importación de un modelo francés?: las reformas de la
administración española a principios del siglo xviii». Revista de Historia
Moderna, Anales de la Universidad de Alicante, 25 (2007): 207-234.
Duncan, T. Bentley. «Navigation between Portugal and Asia in the six-
teenth and seventeenth centuries». Em Asia and the West: Elements and
Exchanges from the Age of Explorations, eds. E. J. van Kley e C. K. Pulla-
pilly, 3-25. Notre Dame: Cross Cultural Publications, 1986.
Dutra, Francis A. «Centralization vs. Donatarial Priviledge: Pernam-
buco, 1602-1630». Em Colonial Roots of Modern Brazil, ed. Dauril
Alden, 19-60. Berkeley/Los Angeles/Londres: University of Cali-
fornia, 1973.
Elliott, John H. El conde-duque de Olivares. Barcelona: Grijalbo Monda-
dori, 1990 [1.ª ed. em inglês: New Haven: Yale University Press, 1986].
Escribano Páez, José M. El coste de la defensa. Administración y financia-
ción militar en Navarra durante la primera mitad del siglo xvi. Pamplona:
Gobierno de Navarra, 2015.
Esteban Estríngana, Alicia. Guerra y finanzas en los Países Bajos católicos.
De Farnesio a Spínola (1592-1630). Madrid: Laberinto, 2001.
Farinha, António Dias. História de Mazagão no Período Filipino. Lisboa:
CEHU, 1970.

646

Monárquias Ibéricas.indb 646 13/12/18 14:56


Bibliografia

Ferreira, Roquinaldo. «O Brasil e a arte da guerra em Angola (séculos xvii-


-xviii)». Estudos Históricos, 39 (2007): 3-23.
Figueiredo, Luciano R. de A. «O império em apuros. Notas para o estudo
das alterações ultramarinas e das práticas políticas no império colonial
português». Em Diálogos Oceânicos – Minas Gerais e as Novas Abor-
dagens para uma História do Império Ultramarino Português, org. Júnia
Ferreira Furtado, 197-254. Belo Horizonte: UFMG, 2001.
Fragoso, João. «A nobreza vive em bandos: a economia política das melho-
res famílias da terra do Rio de Janeiro, século xvii. Algumas notas de
pesquisa». Tempo, vol. 8, n.º 15 (2003): 11-35.
García Hurtado, Manuel Reyes, ed. Soldados de la Ilustración: el ejército
español en el siglo xviii. A Coruña: Universidad de A Coruña, 2012.
García Hurtado, Manuel Reyes. «Formación militar de infantería y caballe-
ría en las academias del xviii». Em Educación, redes y producción de éli-
tes en el siglo xviii, eds. José María Imízcoz Beúnza e Álvaro Chaparro
Sáinz, 347-372. Madrid: Sílex, 2013.
Gascón, Margarita. «Comerciantes y redes mercantiles del siglo xvii en la
frontera sur del Virreinato del Perú». Anuario de estudios americanos,
57/2 (2000): 413-448.
Giudicelli, Christophe. «‘Indios amigos’ y movilización colonial en las
fronteras americanas de la Monarquía católica (siglos xvi-xvii)». Em Las
milicias del rey de España. Política, sociedad e identidad en las Monar-
quías Ibéricas, ed. José Javier Ruiz Ibáñez, 349-377. Madrid: Fondo de
Cultura Económica, 2009.
Glesener, Thomas. «Godoy y la guardia real: reforma y oposición nobilia-
ria (1784-1808)». Em Los nervios de la guerra: estudios sociales sobre el
ejército de la monarquía hispánica (siglos xvi-xviii): nuevas perspectivas.
eds. Francisco Andújar Castillo y Antonio Jiménez Estrella, 317-346.
Granada: Comares, 2007.
Godinho, Rui Landeiro. «A armada do estreito de Gibraltar no século xvi».
Em A Guerra Naval no Norte de África (Séculos XV-XIX), 117-137. Lis-
boa: Edições Culturais da Marinha, 2003.
Godinho, Vitorino Magalhães. Os Descobrimentos e a Economia Mundial, 2.
vols., Lisboa: Arcádia, 1963-1965 (2.ª ed.: Lisboa: Presença, 1981-1983)
Gomes, José Eudes. As Milícias D’El Rey – tropas militares e poder no Ceará
setecentista. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2010.
Gómez Pérez, Carmen, e Juan Marchena Fernández. «Los señores de la
Guerra en la conquista». Anuario de Estudios Americanos (Sevilla), XLII
(1985): 127-215.

647

Monárquias Ibéricas.indb 647 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Gómez Ruiz, Manuel, e Vicente Alonso Juanola. El ejército de los Borbones.


III. Tropas de Ultramar. Siglo xviii. Madrid: Servicio histórico militar –
Museo del ejército, 1992.
González de León, Fernando. The Road to Rocroi: Class, Culture and
Command in the Spanish Army of Flanders, 1567-1659. Boston: Brill,
2009.
Herrero Sánchez, Manuel, e José Javier Ruiz Ibáñez. «Defender la patria y
defender la religión: las milicias urbanas en los Países Bajos españoles,
1580-1700». Em Las milicias del rey de España. Política, sociedad e iden-
tidad en las Monarquías Ibéricas, ed. José Javier Ruiz Ibáñez, 268-296.
Madrid: Fondo de Cultura Económica, 2009.
Izecksohn, Vítor. «Ordenanças, tropas de linha e auxiliares: mapeando os
espaços militares luso-brasileiros». Em O Brasil Colonial 1720-1821,
orgs. João Fragoso e Maria de Fátima Gouvêa, 482-521. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2014.
Jesus, Nauk Maria de. «Para uma história da organização militar na capita-
nia de Mato Grosso». Em Conquistar e Defender: Portugal, Países Baixos
e Brasil, org. Paulo Possamai, 313-325. São Leopoldo: Oikos, 2012.
Jiménez Estrella, Antonio. Poder, ejército y gobierno en el siglo xv. La Capi-
tanía General del Reino de Granada y sus agentes. Granada: Universidad
de Granada, 2004.
Jiménez Estrella, Antonio. «Las milicias en Castilla: evolución y proyec-
ción social de un modelo de defensa alternativo al ejército de los Aus-
trias». Em Las milicias del rey de España. Política, sociedad e identidad
en las Monarquías Ibéricas, ed. José Javier Ruiz Ibáñez, 72-103. Madrid:
Fondo de Cultura Económica, 2009.
Jiménez Estrella, Antonio. «El reclutamiento en la primera mitad del
xvii y sus posibilidades venales». Em El poder del dinero. Ventas de
cargos y honores en el Antiguo Régimen, eds. Francisco Andújar Cas-
tillo e María del Mar Felices de la Fuente, 169-190. Madrid: Biblioteca
Nueva, 2011.
Jiménez Estrella, Antonio. «Servir al rey, recibir mercedes: asentistas militares
y reclutadores portugueses al servicio de Felipe IV antes de la Guerra de
Restauración». Em Cargos e Ofícios nas Monarquias Ibéricas: Provimento,
Controlo e Venalidade (Séculos XVII e XVIII), orgs. Roberta Stumpf e
Nandini Chaturvedula, 239-266. Lisboa, Centro de História de Além-Mar/
Universidade Nova de Lisboa/Universidade dos Açores, 2012.
Jiménez Estrella, Antonio. «Pavie (1525) et Rocroi (1643). Impact politi-
que et idélogique de deux batailles contre ‘el francés’». Em La Batai-

648

Monárquias Ibéricas.indb 648 13/12/18 14:56


Bibliografia

lle. Du fait d’armes au combat idéologique XIe-XIXe siècle, eds. Ariane


­Boltanski, Yann Lagadec e Franck Mercier, 157-170. Rennes: Presses
Universitaires de Rennes, 2015.
Jiménez Estrella, Antonio. «Servicio y mérito en el ejército de Felipe IV: la
quiebra de la meritocracia en época de Olivares». Em Mérito, venalidad y
corrupción en España y América. Siglos xvii y xviii, eds. Pilar Ponce Leiva
e Francisco Andújar Castillo, 91-113. Valencia: Albatros, 2016.
Jiménez Moreno, Agustín. «Nobleza, guerra y servicio a la Corona: los
caballeros de hábito en el siglo xvii». Tese de doutoramento, Madrid:
Universidad Complutense, 2011. Disponível em: http://eprints.ucm.es/
12051/1/T32672.pdf.
Kraay, Hendrik. «Arming slaves in Brazil from the Seventeenth Century
to the Nineteenth Century». Em Arming Slaves – From Classical Times
to the Modern Age, eds. Christopher Brown e Philip Morgan, 146-179.
New Haven/Londres: Yale University Press, 2006.
Kuethe, Allan. Cuba 1753-1815: Crown, Military and Society. Knoxville:
University of Tennessee Press, 1988.
Ladero Quesada, Miguel Ángel. Castilla y la conquista del Reino de Gra-
nada. Granada: Diputación de Granada, 2004.
Luz, Francisco Paulo Mendes da. «Dois organismos da Administração
Ultramarina no séc. xvi: a Casa da Índia e os Armazéns da Guiné, Mina
e Índia». Em A Viagem de Fernão de Magalhães e a Questão das Molu-
cas: Actas do II Colóquio Luso-Espanhol de História Ultramarina, org.
A. Teixeira da Mota, 91-106. Lisboa: JICU, 1975.
Macedo, Jorge Borges de. História Diplomática Portuguesa – Constantes e
Linhas de Força. Lisboa: Tribuna da História, 2006 [1.ª ed.: 1987].
Madeira-Santos, Catarina. «Goa é a Chave de Toda a Índia»: Perfil Político
da Capital do Estado da Índia (1505-1570). Lisboa: CNCDP, 1999.
Maffi, Davide. La cittadella in armi. Esercito, società e finanza nella Lombar-
dia di Carlo II, 1660-1700. Milão: Franco Angeli Storia, 2010.
Maffi, Davide. En defensa del imperio. Los ejércitos de Felipe IV y la guerra
por la hegemonía europea (1635-1659). Madrid: Actas, 2013.
Magalhães, Joaquim Romero de. «A guerra, os homens e as armas». Em
No Alvorecer da Modernidade (1480-1620). Coord. Joaquim Romero
de Magalhães. Vol. 3 de História de Portugal, dir. José Mattoso, 105-113.
Lisboa: Círculo de Leitores, 1993.
Matos, Hebe. «‘Black Troops’ and Hierarchies of Color in the Portuguese
Atlantic World: The Case of Henrique Dias and His Black Regiment».
Luso-Brazilian Review, 45/1, Special Issue ‘ReCapricorning’ the Atlan-
tic (2008): 6-29.

649

Monárquias Ibéricas.indb 649 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Marchena Fernández, Juan. «Las levas de soldados a Indias en la Baja Andalu-


cía, siglo xvii». Em Andalucía y América en el siglo xvii: Actas , vol. i,
93-118. Sevilha: CSIC-Escuela de Estudios Hispanoamericanos, 1985.
Marchena Fernández, Juan. Ejército y milicias en el mundo colonial ameri-
cano. Madrid: Mapfre, 1992.
Martínez Ruiz, Enrique. Los soldados del rey. Los ejércitos de la Monarquía
Hispánica (1480-1700). Madrid: Actas Editorial, 2008.
Martínez Ruiz, Enrique, e Magdalena de Pazzis Pi Corrales. Las Guardas de
Castilla (Primer ejército permanente español). Madrid: Sílex, 2012.
Martínez Ruiz, Enrique. «Vivir la guerra, vivir la paz: los militares y el man-
tenimiento del orden público». Em Soldados de la Ilustración: el ejér-
cito español en el siglo xviii, ed. Manuel Reyes García Hurtado, 83-100.
A Coruña: Universidad de A Coruña, 2012.
Martínez Ruiz, Enrique, e Jesús Cantera Montenegro, dir. Perspectivas y
novedades de la Historia Militar: una aproximación global. Madrid:
Ministerio de Defensa, 2014.
Mello, Evaldo Cabral de. A Fronda dos Mazombos: Nobres contra Mascates –
Pernambuco (1666-1715). São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
Mello, Evaldo Cabral de. Olinda Restaurada: Guerra e Açúcar no Nordeste,
1630-1654. Rio de Janeiro: Topbooks, 1998 [1975].
Mello, Evaldo Cabral de. Rubro Veio – O Imaginário da Restauração Per-
nambucana. São Paulo: Alameda, 2003 [1986].
Melón Jiménez, Miguel Ángel. Los tentáculos de la hidra: contrabando y mili-
tarización del orden público en España (1784-1800). Madrid: Sílex, 2009.
Mendiratta, Sidh Daniel Losa. «Dispositivos do Sistema Defensivo da
Província do Norte do Estado da Índia, 1521-1739». Tese de doutora-
mento, Coimbra, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade
de Coimbra, 2012.
Mendonça, Marcos de Carneiro. Raízes da Formação Administrativa do Brasil,
2 vols. Rio de Janeiro: Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 1972.
Mira Caballos, Esteban. «Espontaneidad y medievalismo en las primeras
construcciones defensivas antillanas (1492-1550)». Em Arquitectura e
iconografía artística militar en España y América (Siglos xv-xviii). Actas
de las III Jornadas Nacionales de Historia Militar, 175-191. Sevilha:
Cátedra General Castaños, 1996.
Monteiro, João Gouveia. «As campanhas que fizeram a História». Em Nova
História Militar de Portugal, orgs. Manuel Themudo Barata e Nuno
Severiano Teixeira, vol. i, 245-287. Lisboa: Círculo de Leitores, 2003.
Morales Padrón, Francisco. Historia del descubrimiento y conquista de Amé-
rica. Madrid: Gredos, 1990.

650

Monárquias Ibéricas.indb 650 13/12/18 14:56


Bibliografia

Olival, Fernanda. As Ordens Militares e o Estado Moderno: Honra, Mercê e


Venalidade em Portugal (1641-1789). Lisboa: Estar, 2001.
Ossa Santa Cruz, Juan Luis. «La criollización de un ejército periférico:
Chile, 1768-1810». Historia, 43 (2010): 413-448.
Pagden, Anthony. «Identity formation in Spanish America». Em Colo-
nial Identity in the Atlantic World, 1500-1800, eds. Nicholas Canny e
Anthony Pagden, 51-93. Princeton: Princeton University Press, 1987.
Pardo Molero, Juan Francisco. La defensa del imperio: Carlos V, Valencia y el
Mediterráneo. Madrid: Sociedad Estatal para la Conmemoración de los
Centenarios de Felipe II y Carlos V, 2001.
Parker, Geoffrey. «Early Modern Europe». Em The Laws of War – Cons-
trains on Warfare in the Western World, eds. Michael Howard et al.,
40-58. Londres/Yale: Yale University Press, 1994.
Parker, Geoffrey. El ejército de Flandes y el Camino Español (1567-1659).
La logística de la victoria y derrota de España en las guerras de los Países
Bajos. Madrid: Alianza, 2000.
Peregalli, Enrique. Recrutamento Militar no Brasil Colonial. Campinas:
UNICAMP, 1986.
Pérez-Mallaína, Pablo Emilio, e Bibiano Torres Ramírez. La Armada
del mar del Sur. Sevilha: Escuela de Estudios Hispanoamericanos,
1987.
Pérez-Mallaína, Pablo Emilio. Andalucía y el dominio de los espacios oceáni-
cos: la organización de la Carrera de Indias en el siglo xvi. Sevilha: Fun-
dación Corporación Tecnológica de Andalucía, 2010.
Possamai, Paulo, org. Conquistar e Defender: Portugal, Países Baixos e Brasil.
São Leopoldo: Oikos, 2012.
Prado Júnior, Caio. A Formação do Brasil Contemporâneo: Colônia. São
Paulo: Brasiliense, 1994 [1942].
Puell de la Villa, Fernando. «La ordenanza del reemplazo anual de 1770».
Hispania, 189 (1995): 205-228.
Puntoni, Pedro. A Guerra dos Bárbaros. Povos Indígenas e a Colonização do
Sertão Nordeste do Brasil, 1650-1720. São Paulo: Hucitec, 2002.
Quatrefages, René. El Tercio. Madrid: Ministerio de Defensa, 1983.
Reichert, Rafael. «El situado novohispano para la manutención de los pre-
sidios españoles en la región del Golfo de México y el Caribe durante el
siglo xvii». Estudios de historia Novohispana, 46 (2012): 47-81.
Recio Morales, Óscar. «Un intento de modernización del e­jército bor-
bónico del xviii: la Real Escuela Militar de Ávila (1774)». Investigaciones
históricas: Época moderna y contemporánea, 32 (2012): 145-172.

651

Monárquias Ibéricas.indb 651 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Ribot García, Luis Antonio. La Monarquía de España y la guerra de Mesina


(1674-1678). Madrid: Actas Editorial, 2002.
Ribot García, Luis Antonio. «Las reformas militares y navales en tiem-
pos de Felipe V». Em Estudios de historia: homenaje al profesor Jesús
María Palomares, coords. Elena Maza Zorrilla y María de la Concep-
ción ­Marcos del Olmo, 129-162. Valhadolid: Universidad de Vallado-
lid, 2006.
Rodrigues, Teresa. «As estruturas populacionais». Em No Alvor da Moder-
nidade, dir. José Mattoso, vol. 3 da História de Portugal, org. Joaquim
Romero de Magalhães,197-241. Lisboa: Ed. Estampa, 1993.
Rodrigues, Vítor Luís Gaspar. «A Evolução da Arte da Guerra dos Por-
tugueses no Oriente (1498-1622)». Dissertação realizada para acesso à
categoria de Investigador Auxiliar no IICT, 2 vols., Lisboa, Instituto de
Investigação Científica Tropical, 1999.
Rodrigues, Vítor Luís Gaspar. «As Companhias de Ordenanças em Marro-
cos nos reinados de D. Manuel e D. João III». Em D. João III e o Impé-
rio: Actas do Congresso Internacional Comemorativo do Seu Nascimento,
185-195. Lisboa: Universidade Católica, 2004.
Rodríguez Hernández, Antonio José. «Patentes por soldados. Reclutamiento
y venalidad en el ejército durante la segunda mitad del siglo xvii». Chro-
nica Nova, 33 (2007): 37-56.
Rodríguez Hernández, Antonio José. Los Tambores de Marte. El recluta-
miento en Castilla durante la segunda mitad del siglo xvii (1648-1700).
Valhadolid: Universidad de Valladolid-Castilla Ediciones, 2011.
Romeiro, Adriana. Paulistas e Emboabas no Coração das Minas. Ideias, Prá-
ticas e Imaginário Político no Século XVIII. Belo Horizonte: UFMG,
2008.
Ruiz Guadalajara, Juan Carlos. «‘A su costa e minsión…’. El papel de los
particulares en la conquista, pacificación y conservación de la Nueva
España». Em Las milicias del rey de España. Política, sociedad e identidad
en las Monarquías Ibéricas, ed. José Javier Ruiz Ibáñez, 104-138. Madrid:
Fondo de Cultura Económica, 2009.
Ruiz Ibáñez, José Javier, ed.. Las milicias del rey de España. Política, socie-
dad e identidad en las Monarquías Ibéricas. Madrid: Fondo de Cultura
Económica, 2009.
Russell-Wood, A. J. R. The Portuguese Empire, 1415-1808: A world on the
move. Baltimore/Londres: Johns Hopkins University Press, 1998 [trad.
portuguesa: Um mundo em movimento: os portugueses na África, Ásia
e América (1415-1808). Lisboa: Difel, 1998].

652

Monárquias Ibéricas.indb 652 13/12/18 14:56


Bibliografia

Saavedra Vázquez, María del Carmen. «Galicia al servicio de la política


imperial: levas y armadas en el transcurso del siglo xvi». Semata, Cien-
cias Sociais e Humanidades, 11 (1999): 115-134.
Saavedra Vázquez, María del Carmen. «La financiación de la actividad mili-
tar en Galicia y sus repercusiones fiscales durante la primera mitad del
siglo xvii». Em La declinación de la Monarquía Hispánica. VIIª Reu-
nión Científica de la Fundación Española de Historia Moderna, coord.
Francisco J. Aranda Pérez, vol. 1, 433-450. Ciudad Real: Universidad de
Castilla-La Mancha, 2004.
Saldanha, António Vasconcelos de. As Capitanias do Brasil: Anteceden-
tes, Desenvolvimento e Extinção de um Fenómeno Atlântico. Lisboa:
CNCDP, 2001 [1992].
Salgado, Graça. Fiscais e Meirinhos. A Administração no Brasil Colonial. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
Schmidt, Benjamin. Inventing Exoticism – Geography, Globalism, and Euro-
pe’s Modern World. Filadélfia: University of Pennsylvania Press, 2015.
Schwartz, Stuart B. «Formation of Identities in Brazil». Em Colonial Iden-
tity in the Atlantic World, 1500-1800, eds. Nicholas Canny e Anthony
Pagden, 15-50. Princeton: Princeton University Press, 1987.
Schwartz, Stuart B. «The Voyage of the Vassals: Royal Power, Noble Obliga-
tions, and Merchant Capital before the Portuguese Restoration of Inde-
pendence, 1624–1640». American Historical Review, 96/3 (1991): 735-62.
Selesky, Harold. «Colonial America». Em The Laws of War – Constrains on
Warfare in the Western World, eds. Michael Howard et al., 59-85. Lon-
dres/Yale: Yale University Press, 1994.
Silva, Álvaro Ferreira da. «Finanças Públicas». Em História Económica de
Portugal 1700-2000, orgs. Pedro Lains e Álvaro Ferreira da Silva, vol. i:
O Século XVIII, 237-261. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2005.
Silva, Kalina Vanderlei. «Francisco de Brito Freyre e a Reforma Militar de
Pernambuco no século xvii». Em Conquistar e Defender: Portugal, Países
Baixos e Brasil, org. Paulo Possamai, 215-223. São Leopoldo: Oikos,
2012.
Silva, Luiz Geraldo. «Indivíduo e sociedade. Brás de Brito Souto e o pro-
cesso de institucionalização das milícias de afrodescendentes livres
e libertos na América portuguesa (1684-1768)». Tempo, vol. 23, n.º 2
(2017): 174-203.
Silveira, Francisco Rodrigues da. Reformação da Milícia e Governo do Estado
da Índia Oriental. eds. Luís Filipe Barreto, George Winius e Benjamin
Teensma. Lisboa: Fundação Oriente, 1996.

653

Monárquias Ibéricas.indb 653 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Subrahmanyam, Sanjay. The Portuguese Empire in Asia, 1500-1700. A Poli-


tical and Economic History. Londres: Longman, 1993 [trad. portuguesa:
O Império Asiático Português, 1500-1700. Uma história política e eco-
nómica. Lisboa: Difel, 1995.
Thompson, I. A. A. «The Armada and administrative reform: the Spanish
council of war in the reign of Philip II». English Historical Review, 82
(1967): 698-725.
Thompson, I. A. A. Guerra y decadencia. Gobierno y Administración en la
España de los Austrias, 1560-1620. Barcelona: Crítica, 1981.
Thompson, I. A. A. «El soldado del Imperio: una aproximación al perfil del
recluta español en el Siglo de Oro». Manuscrits, 21 (2003): 17-38.
Thomaz, Luís Filipe, De Ceuta a Timor. Lisboa: Difel, 1998.
Thornton, John. «The Art of War in Angola, 1575-1680». Comparative Stu-
dies in Society and History, 30/2 (1988): 360-378.
Torres Ramírez, Bibiano. La Armada de Barlovento. Sevilha: Escuela de
Estudios Hispanoamericanos, 1981.
Truchuelo García, Susana. Guipúzcoa y el poder real en la Alta Edad Moderna.
San Sebastián: Diputación Foral de Guipúzcoa, 2004.
Truchuelo García, Susana. «Controversias en torno a las milicias guipuz-
coanas en el período altomoderno». Em Tradición versus innovación en
la España Moderna, eds. Juan Jesús Bravo Caro e Siro Villas Tinoco,
vol. 2, 1213-1232. Málaga: Universidad de Málaga, 2009.
Valladares, Rafael. «El Brasil y las Indias españolas durante la sublevación
de Portugal (1640-1668)». Cuadernos de Historia Moderna, 14 (1993):
151-172.

Parte 4: Administração eclesiástica

Abril Castelló, Vidal, e Miguel J. Abril Stoffels, eds. Francisco de la Cruz,


Inquisición. Actas, II-1. Madrid: CSIC, 1996.
Aguirre, Rodolfo. «La demanda de clérigos «lenguas» en el Arzobispado
de México, 1700-1750», Estudios de Historia Novohispana, 35 (2006):
47-70.
Aguirre, Rodolfo. «La secularización de doctrinas en el arzobispado de
México: realidades indianas y razones políticas, 1700-1749», Hispania
Sacra, 60 (2008): 487-505.
Aguirre, Rodolfo. «En busca del clero secular: del anonimato a una com-
prensión de sus dinámicas internas». Em La Iglesia en Nueva España.

654

Monárquias Ibéricas.indb 654 13/12/18 14:56


Bibliografia

Problemas y perspectivas de investigación, ed. Pilar Martínez López­-Cano,


185-213. México: Instituto de Investigaciones Históricas, UNAM, 2010.
Albani, Benedetta, Manuel Barbosa, e Thomas Duve. «La formación de
espacios jurídicos iberoamericanos (xvi-xix): Actores, Artefactos e
Ideas. Comentarios Introductorios» («The Formation of Iberoameri-
can Legal Spaces (xvi-xix): Actors, Artefacts and Ideas. Introductory
Comments»). Jahrbuch für Geschichte Lateinamerikas/Anuario de His-
toria de América Latina (no prelo). Max Planck Institute for European
Legal History Research Paper Series n.º 2014-07. Disponível em: https://
papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=2532868.
Alberro, Solange. Inquisición y sociedad en México 1571-1700. México:
Fondo de Cultura Económica, 2013 (ed. or. 1988).
Alden, Dauril. The Making of an Enterprise: The Society of Jesus in Portu-
gal, its Empire, and Beyond, 1540-1750. Stanford: Stanford University
Press, 1996.
Almeida, Fortunato de. História da Igreja em Portugal. Porto-Lisboa: Livra-
ria Civilização Editora, 1968, 4 vols.
Almeida, Marcos Antônio de. «‘L’Orbe Serafico, Novo Brasilico’: Jaboa-
tão et les franciscains à Pernambouc au xviiie siècle». Tese de doutora-
mento, Paris: EHESS, 2012.
Álvarez de Toledo, Cayetana. Politics and Reform in Spain and Viceregal Mexico.
The life and Thought of Juan de Palafox, 1600-1659. Oxford: Clarendon
Press, 2004 [trad. espanhola: Juan de Palafox, obispo y virrey. Madrid: Cen-
tro de Estudios Europa Hispánica/Marcial Pons Historia, 2011].
Alves, Ana Maria Mendes Ruas. «‘O reyno de Deos e a sua justiça’: Dom
Frei Inácio de Santa Teresa (1682-1751)». Tese de doutoramento, Coim-
bra, Universidade de Coimbra, 2012.
Amiel, Charles. «Goa». Em Dizionario storico dell’Inquisizione, dir. Adriano
Prosperi, eds. Vincenzo Lavenia e John A. Tedeschi, vol. II, 716-718.
Pisa: Edizioni della Normale, 2010.
Aramoni Calderón, Dolores. Los Refugios de lo Sagrado. Religiosidad, con-
flicto y resistencia entre los zoques de Chiapas. México: Conaculta, 1992.
Aranha, Paolo. Il cristianesimo latino in India nel xvi secolo. Milão: Franco
Angeli, 2006.
Arranz Guzmán, Ana. «Las visitas pastorales a las parroquias de la Corona
de Castilla durante la baja Edad Media. Un primer inventario de obispos
visitadores». España Medieval, 26 (2003): 295-339.
Artola Renedo, Andoni. De Madrid a Roma. La fidelidad del episcopado en
España (1760-1833). Madrid: Trea, 2013.

655

Monárquias Ibéricas.indb 655 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Azevedo, Carlos Moreira de, dir. Dicionário de História Religiosa de Portu-


gal. 4 vols. Lisboa: Círculo de Leitores, 2000-2001.
Azevedo, Carlos Moreira de, dir. História Religiosa de Portugal. 3 vols., Lis-
boa: Círculo de Leitores, 2000-2002.
Barral, María Elena. «Las parroquias del suroriente entrerriano a fines del
siglo xviii: los conflictos en Gualeguay». Em Autoridades y prácticas
judiciales en el Antiguo Régimen. Problemas jurisdiccionales en el Río de
la Plata, Córdoba, Tucumán, Cuyo y Chile, ed. María Paula Polimene,
95-115. Rosario: Prohistoria, 2011.
Bethencourt, Francisco. «A Igreja». Em História da Expansão Portuguesa,
eds. Francisco Bethencourt e Kirti Chaudhuri, vol. i, 369-373. Lisboa:
Círculo de Leitores, 1998.
Block, David. Mission culture on the Upper Amazon. Native Tradition, Jesuit
Enterprise, and Secular Policy in Moxos, 1660–1880. Lincoln: University
of Nebraska Press, 1994.
Boccara, Guillaume. Guerre et ethnogenèse mapuche dans le Chili colonial.
L’invention du soi. Paris: L’Harmattan, 1998.
Borges Morán, Pedro. El envío de misioneros a América durante la época
española. Salamanca: Universidad Pontificia, 1977.
Borges Morán, Pedro. «Estructura y características de la evangelización
americana». Em Historia de la Iglesia en Hispanoamérica y Filipinas, dir.
Pedro Borges, vol. i, 423-436. Madrid: BAC, Estudio teológico de San
Ildefonso de Toledo, Quinto Centenario, 1992.
Borges Morán, Pedro. «Los artífices de la evangelización» en Historia de la
Iglesia en Hispanoamérica y Filipinas, dir. Pedro Borges, vol. i, 437-455.
Madrid: BAC, Estudio teológico de San Ildefonso de Toledo, Quinto
Centenario, 1992.
Borges Morán, Pedro, ed. Historia de la Iglesia en Hispanoamérica y Fili-
pinas. Madrid: BAC, Estudio teológico de San Ildefonso de Toledo,
Quinto Centenario, 1992.
Borges, Ch. J. «Foreign Jesuits and native resistance in Goa». Em Essays
in Goan History, ed. Teotonio R. de Souza, 69-80. Nova Deli: Concept
publishing company, 1989.
Borne, Dominique, e Benoit Falaize, eds. Religions et colonisation, xvie-xxe
siècle: Afrique, Amérique, Asie, Océanie. Paris: Les Éditions de l’Atelier-
-Éditions Ouvrières, 2009.
Bouza Álvarez, Fernando. «Público pastoral: de la prédica a la imprenta.
Da golosina y otras industrias de la misionalización». Em Id., Papeles y
opinión. Políticas de publicación el Siglo de Oro, 45-65. Madrid: CSIC,
2008.

656

Monárquias Ibéricas.indb 656 13/12/18 14:56


Bibliografia

Boxer, Charles R. The Christian Century in Japan, 1549–1650. Berkeley-


-Los Angeles: University of California Press, 1951.
Boxer, Charles R. The Church Militant and Iberian Expansion. Baltimore/
Londres: The Johns Hopkins University Press, 1978 [ed. portuguesa:
A Igreja e a Expansão Ibérica. Lisboa: Edições 70, 2013].
Brockey, Liam Matthew. Journey to the East. The Jesuit Mission to China,
1579-1724. Cambridge, Mass.: The Belknap Press of Harvard Univer-
sity Press, 2007.
Brockey, Liam Matthew. The Visitor: André Palmeiro and the Jesuits in Asia.
Cambridge, Mass.: The Belknap Press, Harvard University, 2014.
Broggio, Paolo. Evangelizzare il mondo. Le missioni della Compagnia di
Gesù tra Europa e America: secoli xvi-xvii. Roma: Carocci, 2004.
Broggio, Paolo, Charlotte de Castelnau-L’Estoile, e Giovanni Pizzorusso,
eds. Administrer les sacrements en Europe et au Nouveau Monde. La Curie
romaine et les dubia circa sacramenta. Dossier publicado em MEFRIM,
Mélanges de l’École française de Rome Italie-Méditerranée, 121/1 (2009).
Buffon, Giuseppe. Storia dell’Ordine Francescano. Problemi e prospettive di
método. Roma: Edizioni di Storia e Letteratura, 2013.
Buffon, Giuseppe. Khanbaliq. Profili storiografici intorno al cristianesimo
in Cina dal medioevo all’età contemporanea (xiii-xix sec.). Roma: Ed.
Antonianum, 2014.
Carvalho, Francismar Alex Lopes de. Lealdades Negociadas. Povos Indíge-
nas e a Expansão dos Impérios Ibéricos nas Regiões Centrais da América
do Sul (Segunda Metade do Século XVIII). São Paulo: Alameda, 2014.
Carvalho, Francismar Alex Lopes de. «Estrategias de conversión y modos indí-
genas de apropiación del cristianismo en las misiones jesuíticas de Maynas,
1638-1767». Anuario de Estudios Americanos, 72/1 (2016): 99-132.
Carvalho, Joaquim Ramos de. «A jurisdição episcopal sobre leigos em matéria
de pecados públicos: as visitas pastorais e o comportamento moral das
populações portuguesas de Antigo Regime». Revista Portuguesa de His-
tória, 24 (1988): 121-163.
Carvalho, Joaquim Ramos de, e Paiva, José Pedro. «Visitações». Em Dicio-
nário de História Religiosa, dir. Carlos Moreira de Azevedo, vol. iv, 365-
-370. Lisboa: Círculo de Leitores, 2000.
Castañeda Delgado, Paulino, dir. La Iglesia en América: siglos xvi-xx.
Madrid: Deimos, 1992.
Castañeda Delgado, Paulino e Juan Marchez Fernández. La jerarquía de la
Iglesia en Indias. El episcopado americano: 1500-1850. Madrid: Funda-
ción Mapfre, 1992.

657

Monárquias Ibéricas.indb 657 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Castelnau-L’Estoile, Charlotte de. Les ouvriers d’une vigne stérile. Les jésui-
tes et la conversion des Indiens au Brésil, 1580-1620. Paris: Centre Cul-
turel Calouste Gulbenkian, 2000.
Castelnau-L’Estoile, Charlotte de, e Aliocha Maldavsky. «Entre l’Europe et
l’Amérique: la circulation des élites missionnaires au tournant du xviie

siècle». Em La circulation des élites européennes. Entre histoire des idées


et histoire sociale, eds. Henri Bresc, Fabrice d’Almeida e Jean-Michel
Sallmann, 124-137. Paris: Seli Arslan, 2002.
Castelnau-L’Estoile, Charlotte de. «Élection et vocation: Le choix des mis-
sionnaires dans la province jésuite du Portugal (1592-1596)». Em Notre
lieu est le monde. Missions religieuses dans le monde ibérique à l’époque
moderne, eds. Pierre-Antoine Fabre e Bernard Vincent, 21-43. Roma:
École Française de Rome, 2007.
Castelnau-L’Estoile, Charlotte de, Marie-Lucie Copete, Aliocha Malda-
vsky, e Ines G. Županov, eds. Missions d’évangélisation et circulation des
savoirs, xvie-xviiie siècles. Madrid: Casa de Velázquez, 2011.
Castillo Flores, José Gabino. El cabildo eclesiástico de la Catedral de México
(1530-1612). Zamora: El Colegio de Michoacán, 2018.
Catto, Michela, Guido Mongini, e Silvia Mostaccio, eds. Evangelizzazione e
globalizzazione: Le missioni gesuitiche nell’età moderna tra storia e storio-
grafia. Castello: Società Editrice Dante Alighieri, 2010.
Celestino, Olinda. «Confréries religieuses, noblesse indienne et économie
agraire », L’Homme, 1992, vol. 32, n.° 122-124, 99-113.
Charles, John. Allies at Odds: The Andean Church and Its Indigenous Agents,
1583-1671. Albuquerque: University of New Mexico Press, 2010.
Charles, John. «Felipe Guaman Poma de Ayala en los foros de la justicia
eclesiástica». Em Los indios, el Derecho Canónico y la justicia eclesiás-
tica en la América virreinal, ed. Ana de Zaballa Beascochea, 203-222.
Madrid­-Frankfurt: Iberoamericana-Vervuert, 2011.
Chuchiak, John. The Indian Inquisition and the Extirpation of Idolatry: The
Process of Punishment in the Provisorato de Indios of the Diocese of Yuca-
tan, 1563-1812. Nova Orleães: Tulane University, 2000.
Ciriza-Mendívil, Carlos. «Los indígenas quiteños a través de sus testamen-
tos: dinámicas socioculturales en el siglo xvii». Procesos. Revista ecuato-
riana de Historia, 45 (2017): 9-34.

658

Monárquias Ibéricas.indb 658 13/12/18 14:56


Bibliografia

Coello de la Rosa, Alexandre. El pregonero de Dios. Diego Martínez, SJ,


misionero jesuita del Perú colonial (1543-1626). Valhadolid, Universidad
de Valladolid, 2010.
Coleman, David. Creating Christian Granada: Society and Religious Cul-
ture in an Old-World Frontier City, 1492-1600. Ithaca-Londres: Cornell
University Press, 2013.
Corsi, Elisabetta, ed. Órdenes religiosas entre América y Asia: ideas para
una historia misionera de los espacios coloniales. México: El Colegio de
México, 2008.
Corsi, Elisabetta. «Introducción: el debate actual sobre el relativismo y la
producción de saberes en las misiones católicas durante la primera Edad
Moderna: ¿una lección para el presente?». Em Órdenes religiosas entre
América y Asia: ideas para una historia misionera de los espacios colo-
niales, ed. Elisabetta Corsi, 17-54. México: El Colegio de México, 2008.
Costa, Francisco Augusto Pereira da. Anais Pernambucanos, 10 vols. Recife:
Arquivo Público Estadual, 1951.
Costa, João Paulo Oliveira e. «A diáspora missionária». Em História Reli-
giosa de Portugal, dir. Carlos Moreira Azevedo, vol. ii, 255-313. Lisboa:
Círculo de Leitores, 2000.
Cushner, Nicholas. Why Have You Come Here?: The Jesuits and the First Evan-
gelization of Native America. Oxford: Oxford University Press, 2006.
Dean, Carolyn. Inka Bodies and the Body of Christ. Corpus Christi in Colo-
nial Cuzco, Peru. Duke: Duke University Press, 1999.
Di Stefano, Roberto. «¿De qué hablamos cuando decimos ‘Iglesia’? Refle-
xiones sobre el uso historiográfico de un término polisémico». Ariadna
histórica. Lenguajes, conceptos, metáforas, 1 (2012): 197-222. Disponível
em: http://www.ehu.es/ojs/index.php/Ariadna.
Di Stefano, Roberto, e Aliocha Maldavsky, eds. Invertir en lo sagrado. Sal-
vación y dominación territorial en América y Europa (siglos xvi-xx).
Santa Rosa: UNLPam, 2018.
Díaz Serrano, Ana. «Repúblicas perfectas para el rey católico. Los francis-
canos y el modelo político de la Monarquía en la Nueva España durante
el siglo xvi». Em Oficiales reales: los ministros de la Monarquía Católica,
siglos xvi-xvii, eds. Juan Francisco Pardo Molero e Manuel Lomas Cor-
tés, 109-136. Valência: Universitat de València, 2012.
Didier, Hugues, eds. Les portugais au Tibet: les premières relations jésuites
(1624-1635). Paris: Éditions Chandaigne, 1996.
Donoso, Justo. Instituciones de Derecho Canónico americano. Paris: Libre-
ría de Rosa y Bouret, 1868.

659

Monárquias Ibéricas.indb 659 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Duviols, Pierre. La lutte contre les religions autochtones dans le Pérou colo-
nial. «L’expiration de l’idôlatrie» entre 1532 et 1660. Lima: Institut Fran-
çais d’Études Andines, 1971.
Elisonas, Jurgis [George Elison]. «Christianity and the Daimyo». Em The
Cambridge History of Japan, vol. 4: Early Modern Japan, ed., John Whit-
ney Hall, 301-372. Cambridge: Cambridge University Press, 1991.
Escandell Bonet, Bartolomé. «Sobre la peculiarización americana de la
Inquisición Española en Indias», Archivum: Revista de la Facultad de
Filología, 22 (1972): 395-415.
Escandell Bonet, Bartolomé, e Pérez Villanueva, Joaquín, eds. Historia de la
Inquisición en España y América. Madrid: Biblioteca de Autores Cristia-
nos, 2000 (ed. or. 1984).
Estenssoro Fuchs, Juan Carlos. Del paganismo a la santidad: La incorpo-
ración de los indios del Perú al catolicismo, 1532-1750. Lima: Institut
Français d’Études Andines, 2003.
Fabre, Pierre-Antoine e Bernard Vincent, eds. Missions religieuses modernes
«Notre lieu est le monde». Roma: École Française de Rome, 2007.
Faria, Patrícia Souza de. «A conversão das almas do Oriente. Franciscanos,
poder e catolicismo em Goa: séculos xvi e xvii». Tese de doutoramento.
Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2008 [publicado como A Con-
quista das Almas do Oriente: Franciscanos, Catolicismo e Poder Colonial
Português em Goa (1540-1740). Rio de Janeiro: 7 Letras, 2013].
Faria, Patrícia Souza de. «Os concílios provinciais de Goa: reflexões sobre
o impacto da ‘Reforma Tridentina’ no centro do império asiático por-
tuguês (1567-1606)». Topoi, 27 (Julho-Dezembro de 2013): 218-238.
Fechner, Fabian. Entscheidungsprozesse Vor Ort. Die Provinzkongregationen
Der Jesuiten in Paraguay (1608–1762). Regensburg: Verlag Schnell &
Steiner GmbH, 2015.
Feitler, Bruno. «A ação da Inquisição no Brasil: uma tentativa de análise».
Em Travessias Inquisitoriais das Minas Gerais aos Cárceres do Santo
Ofício: Diálogos e Trânsitos Religiosos no Império Luso-Brasileiro (Sécs.
XVI-XVIII), eds. Júnia F. Furtado e Maria Leônia Chaves de Resende,
29-45. Belo Horizonte: Fino Traço, 2013.
Feitler, Bruno. «Continuidades e rupturas da Igreja na América portu-
guesa no tempo dos Áustrias. A importância da questão indígena e do
exemplo espanhol». Em Portugal na Monarquia Hispânica. Dinâmicas
de I­ntegração e Conflito, eds. Pedro Cardim, Leonor Freire da Costa
e Mafalda Soares da Cunha, 203-230. Lisboa: CHAM/CIDEHUS/
GHES/Red Columnaria, 2013.

660

Monárquias Ibéricas.indb 660 13/12/18 14:56


Bibliografia

Feitler, Bruno. «Quando chegou Trento ao Brasil?». Em O Concílio de Trento


em Portugal e nas Suas Conquistas: Olhares Novos, eds. António Camões
Gouveia, David Sampaio Barbosa e José Pedro Paiva, 157-173. Lisboa:
CEHR-UCP, 2013.
Feitler, Bruno. «A inquisição de Goa e os nativos: achegas às originalidades
da ação inquisitorial no Oriente». Em Justiças, Governo e Bem Comum
na Administração dos Impérios Ibéricos de Antigo Regime (Séculos XV-
-XVIII), eds. Júnia F. Furtado, Cláudia C. A. Atallah e Patrícia F. S.
Silveira, 95-116. Curitiba: Editora Prismas, 2017.
Feitler, Bruno e Souza, e Evergton Sales, «Estudo introdutório». Em Constitui-
ções primeiras do Arcebispado da Bahia feitas, e ordenadas pelo Illustrissimo, e
Reverendissimo Senhor D. Sebastião Monteiro da Vide: propostas, e aceitas em o
Synodo Diocesano, que o dito Senhor celebrou em 12 de junho do anno de 1707,
eds. Bruno Feitler e Evergton Sales Souza, 7-75. São Paulo: EDUSP, 2010.
Feitler, Bruno, e Evergton Sales Souza, orgs. A Igreja no Brasil: Normas e Práti-
cas durante a Vigência das Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia.
São Paulo: UNIFESP, 2011.
Fernández Terricabras, Ignasi. Felipe II y el clero secular: la aplicación del
concilio de Trento. Madrid: Sociedad Estatal para la Conmemoración de
los Centenarios de Felipe II y Carlos V, 2000.
Fernández Terricabras, Ignasi. «Al servicio del rey y de la iglesia: el control
del episcopado castellano por la Corona en tiempos de Felipe II». Em
Lo conflictivo y lo consensual en Castilla: sociedad y poder político, 1521-
-1715: homenaje a Francisco Tomás y Valiente, 205-232. Múrcia: Univer-
sidad de Murcia, Servicio de publicaciones, 2001.
Flannery, John M. The Mission of the Portuguese Augustinians to Persia and
Beyond (1602-1747). Leiden: Brill, 2013.
Focher, Juan. Itinerario del misionero en América, ed. Antonio Eguiluz.
Madrid: Librería General Victoriano Suárez, 1960.
Foerster, Rolf G. Jesuitas y mapuches: 1593-1767. Santiago do Chile: Edito-
rial Universitaria, 1996.
Friedrich, Markus. «Communication and Bureaucracy in the Early Modern
Society of Jesus», Schweizerische Zeitschrift für Religions und Kulturges-
chichte,101 (2007): 49–75.
Friedrich, Markus. «Government and Information-Management in Early
Modern Europe. The Case of the Society of Jesus (1540–1773)». Jour-
nal of Early Modern History 12 (2008): 539–563.
Friedrich, Markus.; Der Lange Arm Roms? Globale Verwaltung Und Kommuni­
kation Im Jesuitenorden 1540–1773. Frankfurt-Nova Iorque: Campus, 2011.

661

Monárquias Ibéricas.indb 661 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Fromont, Cécile. The Art of Conversion: Christian Visual Culture in the King-
dom of Kongo. Chapel Hill: The University of North Carolina Press, 2014.
García Cabrera, Juan Carlos. Ofensas a Dios, pleitos e injurias: causas de ido-
latrías y hechicerías. Cajatambo, siglos xvii-xix. Cusco: Centro de Estu-
dios Regionales Andinos Bartolomé de las Casas, 1994.
Gerhard, Peter. Geografía Histórica de la Nueva España. 1519-1821. México:
Universidad Nacional Autónoma de México, 1986.
Gil Albarracín, Antonio. «Estrategias espaciales de las órdenes mendican-
tes». Scripta Nova. Revista electrónica de geografía y ciencias sociales, X,
n.º 218 (2006). Disponível em formato digital em: http://www.ub.edu/
geocrit/sn/sn-218-45.htm.
Giudicelli, Christophe. «Pacificación y construcción discursiva de la fron-
tera. El poder instituyente de la guerra en los confines del Imperio
(Nueva Vizcaya y Tucumán. Siglo xvii)». Em Máscaras, tretas y rodeos
del discurso colonial en los Andes, ed. Bernard Lavallé, 157-176. Lima:
IFEA-Instituto Riva-Agüero, 2006.
Gomes, João M. «D. Fr. Aleixo de Meneses. Goa – Braga: trajecto de uma
missão». Theologica, 2.ª série, 41/2 (2006): 359-393.
Gómez de Valenzuela, Manuel. «Mandatos de visitas pastorales en la diócesis
de Jaca, 1547-1767». Revista de Derecho Civil aragonés, 15 (2009): 109-164.
Gouveia, António Camões, David Sampaio Barbosa, e José Pedro Paiva,
eds. O Concílio de Trento em Portugal e nas Suas Conquistas: Olhares
Novos. Lisboa: CEHR-UCP, 2013.
Greenleaf, Richard E. «The Inquisition and the Indians of New Spain:
A Study in Jurisdictional Confusion», The Americas, 22 (1965): 138-151.
Greenleaf, Richard E. Inquisición y Sociedad en el México colonial. Madrid:
Ediciones José Porrúa Turanzas, 1985.
Greenleaf, Richard E. La Inquisición en Nueva España, siglo xvi. México:
Fondo de Cultura Económica, 1985.
Grignani, Mario. La Regla Consueta de Santo Toribio de Mogrovejo y la pri-
mera organización de la Iglesia americana. Santiago: Universidad Cató-
lica de Chile, 2009.
Gruzinski, Serge. La colonisation de l’imaginaire: sociétés indigènes et occi-
dentalisation dans le Mexique espagnol, xvie-xviiie siècle. Paris: Gallimard,
1988 [trad. espanhola: La colonización de lo imaginario. Sociedades
indígenas y occidentalización en el México español. Siglos xvi-xviii.
México: Fondo de Cultura Económica, 1991].
Gruzinski, Serge. Les quatre parties du monde. Histoire d’une mondialisa-
tion. Paris: Éditions de la Martinière, 2004 [trad. espanhola: Las cuatro

662

Monárquias Ibéricas.indb 662 13/12/18 14:56


Bibliografia

partes del mundo: historia de una mundialización. México D. F.: Fondo


de Cultura Económica, 2010; trad. portuguesa: As Quatro Partes do
Mundo: História de uma Mundialização. São Paulo: EDUSP, 2014].
Guerra Moscoso, Sabrina. La disputa por el control de las doctrinas en la
Real Audiencia de Quito: un estudio microhistórico sobre la tensión entre
y dentro del Estado, la Iglesia y las redes de poder local. Guano, siglo xviii.
Castellón: Universitat Jaume I, 2008.
Guibovich Pérez, Pedro. «Los libros de los doctrineros en el virreinato del
Perú, siglos xvi-xvii». Em Esplendores y miserias de la evangelización de
América: antecedentes europeos y alteridad indígena, eds. Wulf ­Oesterreicher
e Roland Schmidt-Riese, 97-113. Berlim: Walter de Gruyter, 2010.
Guibovich Pérez, Pedro. «Visitas eclesiásticas y extirpación de la ido-
latría en la diócesis de Lima en la segunda mitad del siglo xvii». Em
Los indios, el Derecho Canónico y la justicia eclesiástica en la América
virreinal, ed. Ana de Zaballa Beascochea, 175-200. Madrid-Frankfurt:
Iberoamericana­-Vervuert, 2011.
Hambye, E. R. «Goa». Em Dictionnaire d’histoire et géographie ecclésiastique
[DHGE], ed. R. Aubert, vol. xxi. Paris: Letouzey et Ané, 1912.
Hamman, Byron E. «Catholicismes catholiques: autorités laïques et reli-
gions non chrétiennes au xvie siècle en Espagne et en Nouvelle-Es-
pagne». Em Les laïcs dans la mission. Europe et Amériques, xvi-xviiie
siècle, ed. Aliocha Maldavsky, 25-45. Tours: Presses universitaires Fran-
çois Rabelais, 2017.
Hsia, Ronnie Po-chia. Noble patronage and Jesuit missions: Maria Theresia
von Fugger-Wellenburg, 1690-1762, and Jesuit missionaries in China and
Vietnam. Roma: Institutum Historicum Societatis Iesu, 2006.
Hsia, Ronnie Po-chia ed. A Companion to Early Modern Catholic Global
Missions, Leiden: Brill, 2018.
Huerga, Álvaro. «El apogeo del Santo Oficio (1569-1621)». Em Historia de
la Inquisición en España y América, dirs. Bartolomé Escandell e Joaquín
Pérez Villanueva, vol. 1, 724-729. Madrid: Biblioteca de Autores Cris-
tianos, 1984.
Huerga, Álvaro. «La eclesialización de América». Em La Iglesia en América:
siglos xvi-xx, dir. Paulino Castañeda Delgado, 77-102. Madrid: Deimos,
1992.
Hünefeldt, Christine. «Comunidad, curas y caciques hacia fines del período
colonial: ovejas y pastores indomados en el Perú», HISLA, 2 (1983): 3-31.
Huonder, Anton. Deutsche Jesuitenmissionäre des 17. Und 18. Jahrh. Fri-
burgo: Herderische Verlagsbuchhandlung, 1899.

663

Monárquias Ibéricas.indb 663 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Hyland, Sabine. «Illegitimacy and racial hierarchy in the peruvian pries-


thood: a seventeenth-century dispute», Catholic Historical Review, 84/3
(1998): 431-454.
Ibarra, Ana Carolina. El Cabildo Catedral de Antequera de Oaxaca y el
movimiento insurgente. Zamora: El Colegio de Michoacán, 2000.
Jeanne, Boris. «Christianisme et criollismo: les franciscaines et la société
de la Nouvelle Espagne au xve siècle», Cahiers des Amériques Latines,
67 (2012): 55-73.
Jeanne, Boris. «Mexico-Madrid-Rome. Sur les pas de Diego Valades: une
étude des milieux romains connectés au Nouveau Monde à l’époque
de la Contre-Réforme (1568-1594)». Tese de doutoramento. Paris:
EHESS, 2012.
Kohut, Karl, e María Cristina Torales. Desde los confines de los imperios
ibéricos. Los jesuitas de habla alemana en las misiones americanas. Mon-
terrey: Instituto Tecnológico y de Estudios Superiores de Monterrey,
2008.
Kouamè, Nathalie. Le christianisme à l’épreuve du Japon médiéval ou les
vicissitudes de la première mondialisation, 1549-1569. Paris: Karthala,
2016.
Lamalle, Edmond. «La propaganda du P. Nicolas Trigault en faveur des mis-
sions de Chine (1616)», Archivum Historicum Societatis Iesu, IX (1940):
49-120.
Lara Cisneros, Gerardo. ¿Ignorancia invencible? Superstición e idolatría ante
el Provisorato de Indios y Chinos del Arzobispado de México en el siglo
xviii. México: UNAM-Instituto de Investigaciones Históricas, 2013.
Lavallé, Bernard. Recherches sur l’apparition de la conscience créole dans la
vice-royaute du Perou: l’antagonisme hispano-créole dans les ordres reli-
gieux (xvi-xvii), 2 vols. Burdéus: Atelier National de Reproduction de
Theses, Univ. de Lille III, 1982.
Lohmann Villena, Guillermo. «La restitución por conquistadores y enco-
menderos: un aspecto de la incidencia lascasiana en el Perú», Anuario de
Estudios americanos, 23 (1966): 21-89.
Lopes, Maria de Jesus dos Mártires. «O arcebispado de Goa no tempo de
D. Antonio Taveira da Neiva Brum da Silveira (1750-1775). Alguns
elementos para o seu estudo». Arquipélago, revista da Universidade dos
Açores, série ciência humanas, VI (Janeiro de 1984): 199-225.
Lundberg, Magnus. «El clero indígena en Hispanoamérica: de la legisla-
ción a la implementación y la práctica eclesiástica». Estudios de Historia
Novohispana, 38 (2008): 39-62.

664

Monárquias Ibéricas.indb 664 13/12/18 14:56


Bibliografia

Lundberg, Magnus. Church Life between the Metropolitan and the Local.
Parishes, Parishioners and Parish Priests in Seventeenth Century Mexico.
Madrid: Iberoamericana, 2011.
Majorana, Bernadette. «Une pastorale spectaculaire. Missions et mission-
naires jésuites en Italie (xvie-xviiie siècle)». Annales, HSS, 57/2 (2002):
297-320.
Maldavsky, Aliocha. «Les encomenderos et l’évangélisation des Indiens dans
le Pérou colonial. ‘Noblesse’ et propagation de la foi au xvie siècle». Em
Le salut par les armes. Noblesse et défense de l’orthodoxie (xiiie –xviie s.)
ed. Ariane Boltanski e Franck Mercier, 239-250. Rennes: Presses Uni-
versitaires de Rennes, 2011.
Maldavsky, Aliocha. «Pedir las Indias. Las cartas indipetae de los jesui-
tas europeos, siglos xvi-xviii, ensayo historiográfico». Relaciones 132
(2012): 147-181.
Maldavsky, Aliocha. Vocaciones inciertas. Misión y misioneros en la provin-
cia jesuita del Perú en los siglos xvi y xvii. Sevilha: Instituto Francés de
Estudios Andinos/Universidad Antonio Ruiz de Montoya/Consejo
Superior de Investigaciones Científicas, 2012.
Maldavsky, Aliocha, «Conectando territorios y sociedades. La movilidad de
los misioneros jesuitas en el mundo ibérico (siglos xvi-xviii)», Histó-
rica, XXXVIII/2 (2014) 71-109.
Maldavsky, Aliocha. «Giving for the Mission: The Encomenderos and Chris-
tian Space in the Andes of the Late Sixteenth Century». Em Space and
Conversion in Global Perspective, eds. Wietse de Boer, Aliocha Maldavsky,
Giuseppe Marcocci e Ilaria Pavan, 260-284. Leiden-Boston: Brill, 2014.
Maldavsky, Aliocha. «Jesuits in Ibero-America: Missions and Colonial
Societies». Em The Jesuits and Globalization: Historical Legacies and
Contemporary Challenges, eds. Tom Banchoff e José Casanova, 92-110.
Washington: The Georgetown University 2016.
Maldavsky, Aliocha, ed. Les laïcs dans la mission. Europe et Amériques, xvi-
-xviiie siècle. Tours: Presses universitaires François Rabelais, 2017.
Maldavsky, Aliocha. «Encomenderos, indios e religiosos en la región de
Arequipa (siglo xvi): restitución y formación de un territorio cristiano
y señoril». Em Invertir en lo sagrado. Salvación y dominación territorial
en América y Europa (siglos xvi-xx), eds. Roberto Di Stefano e Aliocha
Maldavsky. Santa Rosa: UNLPam, 2018.
Marcocci, Giuseppe. «A fé de um império: a Inquisição no mundo por-
tuguês de Quinhentos». Revista de História, São Paulo, 164 (2011):
65-100.

665

Monárquias Ibéricas.indb 665 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Marcocci, Giuseppe. A Consciência de um Império. Portugal e o Seu Mundo


(Sécs. XV-XVII). Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra,
2012.
Marcocci, Giuseppe, e José Pedro Paiva. História da Inquisição Portuguesa
(1536-1821). Lisboa: A Esfera dos Livros, 2013.
Marcocci, Giuseppe, Wietse de Boer, Aliocha Maldavsky, e Ilaria Pavon,
eds. Space and Conversion in Global Perspective. Leiden: Brill, 2015.
Marques, Guida. «L’invention du Brésil entre deux monarchies. Gouver-
nement et pratiques politiques de l’Amérique portugaise dans l’union
ibérique (1580-1640)». Tese de doutoramento, Paris: EHESS, 2009.
Marques, Maria Alegria Fernandes. «Concílios provinciais». Em Dicionário
de História Religiosa de Portugal, dir. Carlos M. Azevedo, vol. 1, 419-
-423. Lisboa: Círculo de Leitores, 2000.
Marsilli, María N. Hábitos perniciosos: religión andina colonial en la diócesis
de Arequipa (siglos xvi al xviii). Santiago do Chile: Dirección de Biblio-
tecas, Arquivos y Museos, 2014.
Martínez Cuesta, Ángel O. R. A. «Las monjas en la América colonial 1530-
-1842». Thesaurus, n.º 1/3 (1995): 572-626. Disponível em: https://cvc.
cervantes.es/lengua/thesaurus/pdf/50/TH_50_123_594_0.pdf.
Martínez de Sánchez, Ana Mª. «Influencias peninsulares en la Iglesia
Indiana. El obispado del Tucumán». Em Dos mil años de Evangeliza-
ción. Los grandes ciclos evangelizadores, dir. Enrique de la Lama, 637-
-649. Pamplona: Servicio de Publicaciones de la Universidad de Navarra,
2001.
Martínez de Sánchez, Ana Mª. «La pena en las consuetas indianas: los con-
cilios y la redacción de esas normas», Revista de Historia del Derecho, 45
(2013): 141-175.
Martínez de Sánchez, Ana Mª. «Las consuetas del obispado de Tucumán».
Revista de Estudios Histórico-Jurídicos, XXVIII (2006): 491-511.
Martínez de Sánchez, Ana Mª. «Lo normativo y lo pastoral en el Obis-
pado del Tucumán». Em Algunos sujetos y objetos de la oratoria sagrada en
América colonial, dir. Ana María Martínez de Sánchez, 8-32. Córdova:
CIECS, 2014.
Martínez Ferrer, Luis. Decretos del concilio tercero provincial mexicano
(1585). Michoacán-Roma: El Colegio de Michoacán – Universidad
Pontificia de la Santa Cruz, 2009.
Martínez López-Cano, Pilar, ed. La Iglesia en Nueva España. Problemas y
perspectivas de investigación. México: Instituto de Investigaciones His-
tóricas, UNAM, 2010.

666

Monárquias Ibéricas.indb 666 13/12/18 14:56


Bibliografia

Mathee, Rudi. «The Politics of Protection. Iberian Missionaries in Safa-


vid Iran under Shā ‘Abbās I (1587-1629)». Em Contacts and Controver-
sies between Muslims, Jews and Christians in the Ottoman Empire and
­Pre-Modern Iran, eds. Camilla Adang e Sabine Schmidtke, 245-271.
Würzburg: Ergon Verlag, 2010.
Mazín Gómez, Óscar. El cabildo catedral de Valladolid de Michoacán.
Zamora: El Colegio de Michoacán, 1996.
Mills, Kenneth R. Idolatry and Its Enemies: Colonial Andean Religion and
Extirpation, 1640-1750. Princeton, N. J.: Princeton University Press, 1997.
Mills, Kenneth, e Anthony Grafton, eds. Conversion: Old Worlds and New.
Rochester: University of Rochester Press, 2003.
Montero, Paula, ed.. Deus na Aldeia: Missionários, Índios e Mediação Cultu-
ral. São Paulo: Globo, 2006.
Moreno de los Arcos, Roberto. «La Inquisición para indios en la Nueva
España: siglos xvi al xix». Chicomóztoc, 2 (1989): 7-20.
Mott, Luiz. Bahia. Inquisição e Sociedade. Salvador da Baía: Edufba, 2010.
Müller, Michael. «Jesuitas centro-europeos o ‘alemanes’ en las misiones de
indígenas de las antiguas provincias de Chile y del Paraguay (siglos xvii
y xviii)». Em São Francisco Xavier: Nos 500 Anos do Nascimento de São
Francisco Xavier: Da Europa para o Mundo 1506-2006, 87-102. Porto:
CIUHE/UP, 2007.
Mungello, David E., ed. The Chinese Rites Controversy: Its History and
Meaning. Nettetal: Steyler Verlag, 1994.
Murillo Velarde, Pedro. Curso de derecho canónico hispano e indiano. 4 vols.
Zamora: UNAM-El Colegio de Michoacán, Facultad de Derecho, 2004.
Nebgen, Christoph. Missionarsberufung nach Übersee in drei Deutschen
Provinzen der Gesellschaft Jesu im 17. Und 18. Jahrhundert. Regensburg:
Schnell & Steiner, 2007.
Oesterreicher, Wulf, e Roland Schmidt-Riese, eds.. Esplendores y miserias
de la evangelización de América: antecedentes europeos y alteridad indí-
gena. Berlim: Walter de Gruyter, 2010.
Olaechea, Juan Bautista. «Los indios en las órdenes religiosas», Missionalia
Hispanica, XXIX/85 (1972): 241-256.
O’Malley, John. The First Jesuits. Cambridge, Mass.: Harvard University
Press, 1993.
Oviedo Cavada, Carlos. «Las consuetas de las catedrales de Chile. 1689 y
1744». Revista chilena de Historia del Derecho, 12 (1986): 129-154.
Paiva, José Pedro. Os Bispos de Portugal e do Império, 1495-1777. Coimbra:
Imprensa da Universidade, 2006.

667

Monárquias Ibéricas.indb 667 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Palomo, Federico. Fazer dos Campos Escolas Excelentes. Os Jesuítas de


Évora e as Missões do Interior em Portugal (1551-1630). Lisboa: FCG-
-FCT, 2003.
Palomo, Federico. «Homens enviados do Ceo. Les ‘formes de présentation’
des missionnaires de l’intérieur (Portugal, 16e-17e siècles). Missions
religieuses modernes «Notre lieu est le monde», ed. Pierra-Antoine Fabre
e Bernard Vincent, 287-306. Roma: École Française de Rome, 2007.
Palomo, Federico. «Como se fossem seus curas. Os jesuítas e as missões rurais
na América portuguesa». Em A Igreja no Brasil. Normas e Práticas durante
a Vigência das Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia, eds. Bruno
Feitler e Evergton Sales Souza, 231-266. São Paulo: Unifesp, 2011.
Palomo, Federico, ed. «Written Empires: Franciscans, Texts and the Making
of the Early-Modern Iberian Empires». Dossier publicado em Culture &
History Digital Journal, 5/2 (2016). Disponível em: http://culturean-
dhistory.revistas.csic.es/index.php/cultureandhistory/issue/view/10.
Palomo, Federico. «Procurators, religious orders and cultural circulation
in the Early Modern Portuguese Empire: printed works, images (and
relics) from Japan in António Cardim’s journey to Rome (1644-1646)».
e-journal of Portuguese History (e-JPH), 14/2 (Dic. 2016). Disponível
em: https://www.brown.edu/Departments/Portuguese_Brazilian_Stu-
dies/ejph/html/issue28/pdf/v14n2a01.pdf.
Pérez Álvarez, Mª. Berta. «Las órdenes religiosas y el clero secular en la
evangelización del Perú. Proyección de su labor misionera». Em Evan-
gelización y teología en América (siglo xvi), eds. Josep-Ignasi Saranyana
et al., vol. i, 699-711. Pamplona: Servicio de Publicaciones de la Univer-
sidad de Navarra, 1990. Disponível em: https://core.ac.uk/download/
pdf/25071801.pdf.
Pérez García, Rafael. «Visita pastoral y contrarreforma en la archidiócesis
de Sevilla, 1600-1650». Historia. Instituciones. Documentos, 27 (2000):
202-233.
Pérez Puente, Leticia. Tiempos de crisis, tiempos de consolidación. La cate-
dral metropolitana de la ciudad de México, 1653-1680. México: Centro
de Estudios sobre la Universidad, UNAM-El Colegio de Michoacán-
-Plaza y Valdés Editores, 2005.
Pérez Puente, Leticia, «El poder de la norma. Los cabildos catedralicios en
la legislación conciliar». Em Los Concilios Provinciales en Nueva España.
Reflexiones e influencias, coords. María del Pilar Martínez López-Cano e
Francisco Javier Cervantes Bello, 363-388. México: Universidad Nacional
Autónoma de México-Benemérita Universidad Autónoma de Puebla, 2005.

668

Monárquias Ibéricas.indb 668 13/12/18 14:56


Bibliografia

Pérez Puente, Leticia. «Los cabildos de las catedrales indianas. Siglos xvi y
xvii». Revista Mexicana de Historia del Derecho, XXXII (2015): 23-52.
Phelan, John Leddy. The millennial kingdom of the franciscans in the New
World: a study of the writings of Gerónimo de Mendieta (1525-1604).
Berkeley: University of California Press, 1956.
Pizzorusso, Giovanni. «Il padroado régio portoghese nella dimensione
‘globale’ della Chiesa romana. Note storico-documentarie con parti-
colare riferimento al Seicento». Em Gli archivi della Santa Sede come
fonte per la storia del Portogallo in età moderna. Studi in memoria di
Carmen Radulet, eds. Giovanni Pizzorusso, Gaetano Platania e Matteo
­Sanfilippo, 157-199. Viterbo: Sette Città, 2012.
Pizzorusso, Giovanni, Gaetano Platania, e Matteo Sanfilippo, Gli archivi
della Santa Sede come fonte per la storia del Portogallo in età moderna.
Studi in memoria di Carmen Radulet. Viterbo: Sette Città, 2012.
Pompa, Cristina. Religião como Tradução. Missionários, Tupi e Tapuia no
Brasil Colonial. São Paulo: Edusc, 2003.
Prieto, Andrés I. «The Perils of Accommodation: Jesuit Missionary. Stra-
tegies in the Early Modern World». Journal of Jesuit Studies, 4 (2017):
395-414.
Prosperi, Adriano. «‘Otras indias’: missionari della Controriforma tra con-
tadini e selvaggi». Em Scienze credenze occulte livelli di cultura, 205-234.
Florença: Leo S. Olschki, 1982.
Ramos, Gabriela, «Funerales de autoridades indígenas en el virreinato
peruano». Revista de Indias, vol. 65, nº 234 (2005): 455-470.
Ramos, Gabriela. «Los tejidos y la sociedad colonial andina». Colonial
Latin American Review, 19 (2010): 115-149.
Ramos, Gabriela. Muerte y conversión en los Andes. Lima: IFEA-IEP, 2010.
Ramos, Gabriela. «Pastoral Visitations: Spaces of Negotiation in Andean
Indigenous Parishes». The Americas: A quarterly review of inter-ameri-
can cultural history, LXXIII/1 (2016): 39-57.
Rego, António da Silva, ed., Documentação para a História das Missões do
Oriente, Índia, 12 vols. Lisboa, Agência Geral das Colónias, 1947-1958.
Restrepo, Daniel. Sociedad y religión en Trujillo (Perú), 1780-1790. Bilbao:
Administración de la Comunidad Autónoma Vasca, 1992.
Rex Galindo, David. To Sin no More: Franciscans and Conversion in the
Hispanic World, 1683-183. Stanford: Stanfrod University Press, 2018.
Ricard, Robert. La «conquête spirituelle» du Mexique : Essai sur l’apostolat et
les méthodes missionnaires des Ordres Mendiants en Nouvelle-Espagne de
1522-24 à 1572. Paris: Institut d’Ethnologie, 1933.

669

Monárquias Ibéricas.indb 669 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Rico Callado, Francico Luis. Misiones populares en España entre el Barroco


y la Ilustración. Valência: Alfons el Magnànim, 2006.
Rodrigues, Flávio Carneiro. As Visitas Pastorais do Século XVIII no Bis-
pado de Mariana. Mariana: Cúria Metropolitana. Mariana: Editora Dom
Viçoso, 1998.
Romano, Antonella. Impressions de Chine: l’Europe et l’englobement du
monde, xvie-xviie siècle. Paris: Fayard, 2016.
Rubert, Arlindo. A Igreja no Brasil, 2 vols. Santa Maria: Pallotti, 1981-1993.
Rubial García, Antonio. «Las órdenes mendicantes evangelizadoras en
Nueva España y sus cambios estructurales durante los siglos virreina-
les». Em La Iglesia en Nueva España. Problemas y perspectivas de inves-
tigación, coord. María de Pilar Martínez López-Cano, 215-236. México:
UNAM-Instituto Investigaciones Históricas, 2010.
Rubial García, Antonio. «Religiosos viajeros en el mundo hispánico en la
época de los Austrias (el caso de Nueva España)». Historia Mexicana,
61/3 (2012): 813-848.
Rubial García, Antonio, coord. La Iglesia en el México colonial. México:
IIH, BUAP, Ediciones Educación y cultura, 2013.
Rubiès, Joan-Pau. «The concept of cultural dialogue and the Jesuit method
of accommodation: between idolatry and civilization». Archivum Histo-
ricum Societatis Iesu, 74 (2005): 237-280.
Sá, Isabel dos Guimarães. «Ecclesiastical structures and religious actions». Em
Portuguese Oceanic Expansion, 1400-1800, eds. Francisco Bethencourt e
Diogo Ramada Curto, 255-282. Cambridge: Cambridge University Press,
2007 [trad. portuguesa: «Estruturas eclesiásticas e acção religiosa», em
A Expansão Marítima Portuguesa, 1400-1800, eds. Francisco Bethencourt e
Diogo R. Curto, 265-266. Lisboa: Edições 70, 2010].
Saito, Akira. «Las misiones y la administración del documento: el caso de
Mojos, siglos xviii-xx», Senri Ethnological Studies, 68 (2005): 27-72.
Saito, Akira, e Claudia Rosas Lauro, eds. Reducciones: la concentración
forzada de las poblaciones indígenas en el Virreinato del Perú. Lima:
National Museum of Ethnology-Pontificia Universidad Católica del
Perú, 2017.
Saranyana, Josep-Ignasi et al., eds. Evangelización y teología en América
(siglo xvi). Pamplona: Servicio de Publicaciones de la Universidad de
Navarra, 1990.
Silva, Ignacio Accioli de Cerqueira, e (Braz do Amaral, anotador), Memó-
rias Históricas e Políticas da Bahia, 6 vols. Baía: Imprensa Oficial do
Estado, 1919-1940.

670

Monárquias Ibéricas.indb 670 13/12/18 14:56


Bibliografia

Soares, Mariza de Carvalho. People of Faith: Slavery and African Catholics in


Eighteenth-Century Rio de Janeiro. Duke: Duke University Press, 2011.
Souza, Evergton Sales. «Igreja e Estado no período pombalino». Lusitania
Sacra, 23 (2011): 207-230.
Souza, Evergton Sales. «Sobre o governo eclesiástico na América portu-
guesa. Séculos xvi e xvii». Em Justiças, Governo e Bem Comum na Admi-
nistração dos Impérios Ibéricos de Antigo Regime (Séculos XV-XVIII),
orgs. Júnia Ferreira Furtado, Cláudia C. Azeredo Atallah e Patrícia Fer-
reira dos Santos Silveira, 366-367. Curitiba: Prismas, 2017.
Souza, Teotónio R. de. «O padroado português do Oriente visto da Índia:
instrumentalização política da religião», Revista Lusófona de Ciência das
Religiões, 13-14 (2008): 413-430.
Sweet, James. Recreating Africa: Culture, Kinship, and Religion in the Afri-
can-Portuguese World, 1440-1770. Chapel Hill-Londres: The University
of North Carolina Press, 2003.
Tanck de Estrada, Dorothy. Cofradías en los pueblos de indios en el México colo-
nial. Ponencia presentada al 3er Congreso Virtual de Antropología y Arqueo-
logía (Equipo NAyA. Octubre, 2002). Disponível em: http://www.naya.
org.ar/congreso2002/ponencias/dorothy_tanck_de_estrada.htm.
Tavárez, David. «Ciclos punitivos, economías del castigo, y estrategias
indígenas ante la extirpación de idolatrías en Oaxaca y México (Nueva
España), siglos xvi-xviii». Em Nuevas perspectivas sobre el castigo de la
heterodoxia indígena en la Nueva España: siglos xvi-xviii, coord. Ana de
Zaballa Beascoechea, 37-56. Bilbao: Servicio Editorial de la Universidad
del País Vasco, 2005.
Taylor, William B. «¿Eran campesinos los indios? El viaje de un norte­
americano por la historia colonial mesoamericana». Relaciones, XX, 78
(1999): 81-110.
Taylor, William B. Magistrates of the sacred: priests and parishioners in eigh-
teenth-century Mexico. Stanford: Stanford University Press, 1996 [ed.
em espanhol: Ministros de lo sagrado. Sacerdotes y feligreses en el México
del siglo xviii. México: El Colegio de Michoacán, Secretaría de Gober-
nación, El Colegio de México, 1999].
Tibesar, Antonino. Comienzos de los franciscanos en el Perú. Iquitos: CETA,
1991.
Tineo, Primitivo. «La evangelización del Perú en las instrucciones entre-
gadas al virrey Toledo (1569-1581)». Em Evangelización y teología en
América (siglo xvi): X Simposio Internacional de Teología de la Univer-
sidad de Navarra, dirs. Josep-Ignasi Saranyana et al., vol. i, 273-295.

671

Monárquias Ibéricas.indb 671 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Pamplona: Servicio de Publicaciones de la Universidad de Navarra,


1990.
Tomichá Charupá, Roberto. La primera evangelización en las reducciones de
Chiquitos, Bolivia (1691–1767). Cochabamba: Editorial Verbo Divino,
2002.
Traslosheros, Jorge E. La reforma de la Iglesia del antiguo Michoacán. La
gestión episcopal de fray Marcos Ramírez de Prado (1640-1666). Morelia:
Universidad Michoacana de San Nicolás de Hidalgo, 1995.
Traslosheros, Jorge E. Iglesia, Justicia y sociedad en la Nueva España. La
audiencia del arzobispado de México (1528-1668). México: Editorial
Porrúa México, Universidad Iberoamericana, 2004.
Traslosheros, Jorge E. Historia judicial eclesiástica de la Nueva España.
Materia, método y razones. México: Porrúa-UNAM, 2014.
Traslosheros Jorge, e Ana de Zaballa, coords. Los indios ante los foros de
justicia religiosa en la Hispanoamérica virreinal. México: UNAM-IIH,
2010.
Turley, Steven E. Franciscan Spirituality and Mission in New Spain, 1524-1599.
Conflict beneath the Sycamore Tree (Luke 19:1-10). Farnham-Burlington:
Ashgate, 2014.
Vainfas, Ronaldo. A Heresia dos Índios: Catolicismo e Rebeldia no Brasil
Colonial. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
Valenzuela Márquez, Jaime. «Misiones jesuitas entre indios ‘rebeldes’: lími-
tes y transacciones en la cristianización mapuche del Chile meridional».
Em Saberes de la conversión. Jesuitas, indígenas e imperios coloniales en
las fronteras de la cristiandad, ed. Guillermo Wilde, 251-272. Buenos
Aires: SB, 2011.
Vargas Ugarte, Rubén. Concilios Limenses (1551-1772). Lima: Tip. Peruana
S.A., 1951.
Vermote, Frederik «Finances of the Missions». Em Early Modern Catholic
Global Missions, ed. Ronnie Po-chia Hsia, 367-400. Leiden: Brill, 2017.
Viana, Antonio. «La doctrina postridentina sobre el territorio separado,
nullius dioecesis», Jus canonicum, XLII (2002): 41-82.
Vidal Gil, Jesús. «La revisión y aprobación romana de los Estatutos del
Cabildo de la Catedral elaborados en el Tercer Concilio Provincial
Mexicano (1585) y su aceptación en la edición príncipe de 1622», Estu-
dios de Historia Novohispana, n.º 53 (2015): 63-78.
Viqueira, Juan Pedro. «El juzgado Ordinario, una fuente olvidada». En Las
fuentes eclesiásticas y la historia social de México, coord. Brian Connau-
ghton-Andrés Lira, 81-99. México: UAM, 1996.

672

Monárquias Ibéricas.indb 672 13/12/18 14:56


Bibliografia

Vitar, Beatriz. Guerra y misiones en la frontera chaqueña del Tucumán


(1700–1767). Madrid: CSIC, 1997.
Vu Than, Hélène. «Between Accommodation and Intransigence: Jesuits
missionaries and Japanese funeral traditions». Journal of the LUCAS
graduate conference, 2 (2014): 110-126.
Vu Thanh, Hélène. Devenir Japonais: La mission jésuite au Japon, 1549-
-1614. Paris: PUPS, 2016.
Weber, David J. The Spanish frontier in North America. Yale: Yale University
Press, 1994.
Wilde, Guillermo. Religión y poder em las misiones de guaraníes. Buenos
Aires: SB Editorial, 2009.
Wilde, Guillermo, ed. Saberes de la conversión: jesuitas, indígenas e imperios
coloniales en las fronteras de la cristiandad. Buenos Aires: SB Editorial,
2011.
Wilde, Guillermo. «Les modalités indigènes de la dévotion. Identité reli-
gieuse, subjectivité et mémoire dans les frontières coloniales d’Amé-
rique du Sud». Em Les laïcs dans la mission. Europe et Amériques,
xvie-xviiie siècle, ed. Aliocha Maldavsky, 135-180. Tours: Presses uni-
versitaires François Rabelais, 2017.
Xavier, Ângela Barreto. «Itinerários franciscanos na Índia seiscentista e
algunas questões de história e de método», Lusitania Sacra 2.ª série, 18
(2006): 87-116.
Xavier, Ângela Barreto. A Invenção de Goa: Poder Imperial e Conversões
Culturais nos Séculos XVI e XVII. Lisboa: ICS, 2008.
Xavier, Ângela Barreto. «Gaspar de Leão e a recepção do Concílio de Trento
no Estado da Índia». Em O Concílio de Trento em Portugal e Suas Con-
quistas. Olhares Novos, orgs. António Camões Gouveia, David Sampaio
Barbosa e José Pedro Paiva, 133-156. Lisboa: CEHR-UCP, 2014.
Xavier, Ângela Barreto, e Ines G. Županov, Catholic Orientalism: Portuguese
Empire, Indian Knowledge (16th-18th centuries). Nova Deli: Oxford
University Press, 2015.
Zaballa Beascoechea, Ana de. «La Inquisición ordinaria o tribunal de Natu-
rales». Em Los Inquisidores, AA. VV., 425-451. Vitória: Institución San-
cho el Sabio, 1993.
Zaballa Beascoechea, Ana de. «Jurisdicción de los tribunales eclesiásticos
novohispanos sobre la heterodoxia indígena: una aproximación a su
estudio». Em Nuevas perspectivas sobre el castigo a la heterodoxia indí-
gena en la Nueva España (siglo xvi-xviii), coord. Ana de Zaballa, 57-78.
Bilbao: Servicio editorial Universidad País Vasco, 2005.

673

Monárquias Ibéricas.indb 673 13/12/18 14:56


Monarquias Ibéricas em Perspectiva Comparada (Séculos XVI-XVIII)

Zaballa Beascoechea, Ana de. «Del Viejo al Nuevo Mundo: novedades


jurisdiccionales en los tribunales eclesiásticos ordinarios en la Nueva
España». Em Los indios ante los foros de justicia religiosa en la Hispano­
américa virreinal, coords. Jorge Traslosheros e Ana De Zaballa, 17-46.
México: UNAM-IIH, 2010.
Zaballa Beascoechea, Ana de, ed.. Los indios, el Derecho Canónico y la justicia
eclesiástica en la América virreinal. Madrid-Frankfurt: Iberoamericana­-
-Vervuert, 2011.
Zaballa Beascoechea, Ana de, e Ronald Escobedo Mansilla. «El Provisorato.
El control inquisitorial de la población indígena». Em Libro Homenaje.
In Memoriam. Carlos Díaz Rementería, eds. Gustavo E. Pinard e Antro-
nio Merchán, 273-283. Huelva: Servicio de publicaciones Universidad
de Huelva, 1998.
Zaballa Beascoechea, Ana de, e Ianire Lanchas. Gobierno y reforma del obispado
de Oaxaca. Un libro de cordilleras del obispo Ortigosa. Ayoquezco, 1776-
-1792. ­Bilbau: Servicio de publicaciones Universidad del País Vasco, 2014.
Zaballa Beascoechea, Ana de. «Una ventana al mestizaje: el matrimonio de
los indios en el arzobispado de México (1660-1686)». Revista Complu-
tense de Historia de América, 42 (2016): 73-96.
Zeron, Carlos Alberto de Moura Ribeiro. Ligne de foi. La Compagnie de
Jésus et l’esclavage dans le processus de formation de la société coloniale en
Amérique portugaise (xvie-xviie siècles). Paris: Honoré Champion, 2009.
Županov, Ines G. Disputed Missions: Jesuit Experiments and Brahmanical
Knowledge in Seventeenth-century India. Nova Deli: Oxford University
Press, 2001.
Županov, Ines G. «Accommodation». Dictionnaire des Faits Religieux, eds.
Régine Azria e Danièle Hervieu-Léger, 1-4. Paris: PUF, 2010.

674

Monárquias Ibéricas.indb 674 13/12/18 14:56


Monárquias Ibéricas.indb 675 13/12/18 14:56
Monárquias Ibéricas.indb 676 13/12/18 14:56

Você também pode gostar