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Monografia de Bacharelado.
Monografia apresentada ao
Curso de História da
Universidade Federal de Ouro
Preto como parte dos
requisitos para a obtenção do
grau de Bacharel em História.
Bacharelado.
Orientador: Valdei Lopes de
Araújo.
Agradecimentos:
Pablo, Wil, Erick, Si, Rodrigo, Pedrão, Ana, Pri, Bel, Luana, e Etelvino.
Por fim, agradeço aos amiguinhos que participaram dessa grande experiência.
4
Resumo:
Abstract:
The brasilian civil public range was constitued parallel to the process of
independende, especifically as a contribuitios of a recent inaugurated press, and the
freemasonary logde important places of sociability which incorporated the
enlgetenent spirit Hipólito José da Costa, a consciousness man at his time, had a
great participation in this process because he was a proment fremasonry member
and as a monthy publisher of brasilian “Correio Braziliense”.
This work aim to analyse the fremasonry discourse passed on along Hipólito
José da /costa works, evidencing how freemasonry virtues were transmitted to a
learned and litzed public concomitantly intends to reflect about the freemasonry
contiuition to the ciil public range constitution, yet as a constituition of Brazil
previous independence.
5
Sumário
Introdução..................................................................................................6.
Considerações Finais................................................................................49.
Fontes........................................................................................................51.
Bibliografia................................................................................................52.
6
Introdução.
Brasil. Nesse período de tempo, Hipólito exerceu um oficio que se confundiu entre
que emergiam no mundo ocidental, mas também opinava de forma crítica sobre os
Correio pode ser medida, a priori, por duas características fundamentais: pelo
Porém, para além dessas primeiras impressões sobre Hipólito José da Costa e
como a imprensa, foi outra dimensão da vida de Hipólito, a qual ele também se
social que compunha o período entre 1750 a 1820. Isto é, segundo Hespanha, uma
reflexão sobre: “os modelos mentais com que essa sociedade se compreendeu a si
políticas”1.
1
Antônio Manuel HESPANHA. A representação da sociedade e do Poder. In. Arquitetura dos Poderes.
Lisboa. 198?. Pág. 121.
2
Jürgen HABERMAS. Mudança estrutural da esfera pública. Rio de Janeiro. Tempo Brasileiro, 1984.
Pág. 50.
8
ocidental.
cultura em que estava inserido o autor político imerso na tradição maçônica. Para
tal, a reflexão sobre as linguagens do ideário político será orientada pelos estudos de
Jonh G. Pocock.
hermética para um público restrito aos iniciados4. Isto é, a ambigüidade presente nas
3
Reinhart KOSELLECK. Crítica e crise. uma contribuição à patogênese do mundo burguês. Tradução
Luciana Villas – Boas Castelo – Branco. Rio de Janeiro. Editora UERJ – Contraponto, 1999. Pág. 12
4
Jonh Greville Agard POCOCK. Linguagens do Ideário Político. São Paulo. Edusp, 2003. Pág. 52.
9
afirmou que a “escrita secreta” expõe o texto a leitores que irão interpretá-lo a partir
do trabalho de Luiz Carlos Villalta. O autor afirma que “ambas revoluções tiveram
política.
que defendeu e estimulou a crítica do Antigo Regime, tecendo assim, uma nova
apenas se situasse com privilégio no começo do século XIX, como também permitiu
que ele adquirisse uma consciência histórica suficiente para elaborar um esplêndido
olhar sobre o mundo que o cercava. Hipólito percebeu bem as mudanças que
no começo do século XIX, mundo este que passava por intensas mudanças,
quais sacudiram todo o mundo Ocidental, sendo elas a Independência das Treze
política, mas também, a quebra total do Antigo Regime, tendo como modelo a bem
interiorização da razão iluminista nas colônias dos Brasis entrou em choque com os
transferências demonstrou-se a melhor solução para a crise gerada pela guerra 11. A
política, abrindo seus portos às nações amigas e mais tarde elevando-o à categoria
de reino unido12.
Brasil, no ano de 1774. Filho de um pequeno nobre, após completar sua formação
Direito e Filosofia. Após sua partida, Hipólito nunca mais retornou ao Brasil, e
durante sua vida, morou também em Portugal, onde estudou e serviu a Corte.
Morou nos Estados Unidos por dois anos, a serviço de D. Rodrigo de Souza
10
Luiz Carlos VILLALTA. O império luso-brasileiro e os Brasis. 1789 – 1808. São Paulo. Companhia das
Letras, 2000, p. 27.
11
Luiz Carlos VILLALTA. O império luso-brasileiro e os Brasis. 1789 – 1808. São Paulo. Companhia das
Letras, 2000.
12
Sergio Buarque de HOLANDA. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro. Editor José Olympio, 1976.
15
Hipólito se exilou até sua morte em 1823, local de onde editou o Correio
Braziliense13.
experiência do drama e da glória. Após seu retorno dos Estados Unidos da América,
pelo Santo Oficio, motivo pelo qual Hipólito foi preso em seu retorno a Lisboa14.
Por três anos Hipólito ficou preso nos cárceres da Inquisição, sob o motivo
fragilizada, o que o atormentou até seus momentos finais. Sua fuga pelos portões da
frente, como frisa o próprio Hipólito, aconteceu sob circunstâncias misteriosas, mas
que nos permite pensar em uma clara ligação com os maçons, tanto de Portugal,
Após sua fuga, Hipólito José da Costa se exilou em Londres, sob a proteção
como prova de sua gratidão. Sobre a vida de Hipólito podemos traçar um marco
principal, sua vida antes e depois da Maçonaria. Esse caráter fica claro na
Hipólito agradece:
13
Antônio F. COSTELLA. Cronologia Pessoal. In: Correio Braziliense ou Armazém Literário. Edição
Fac-Similar. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2001.
14
Hipólito José da COSTA. Narrativa da perseguição. Brasília, DF. Fundação Assis Chateaubriand, 2001,
pág. 96.
16
presentemente e a tem tido pelo espaço de vinte anos de possuir a Sua Alteza
Real, o Príncipe Regente por seu Grão-Mestre, nesta obra humilde e
repeituosamente dedicada como um sinal de veneração por sua constituição. E
um Penhor de gratidão pela sua reconhecida filantropia que se não limita
meramente à Europa, antes bem se estende a todas as partes conhecidas do
globo15.
momento que Hipólito decide encerrar sua edição para poder se dedicar a outros
projetos. Esse período de tempo no qual o Correio Braziliense foi publicado foi
letrados da terra. Cabe destacar que mesmo com pouco leitores, os fatos relatados
no Correio atingiam um público maior, pois um único jornal poderia ser lido por
qual o Brasil estava incluso, chegou a seu destino por meio de navios Ingleses, que
15
Hipólito José da COSTA. Narrativa da Perseguição. Brasília, DF. Fundação Assis Chateaubriand, 2001,
pág. 8.
16
Jean Marcel Carvalho FRANÇA. A construção de um público. In: Correio Braziliense ou Armazém
Literário. Edição Fac-Similar. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2001. pág.121.
17
pelo jornal pode ser mensurado ao constatarmos que várias de suas páginas foram
espaço de sociabilidade que reuniu essa elite social, e que foi o público de privilégio
da elite social, e pela inauguração de uma imprensa atuante, que até então tinha
esses setores que desempenhavam papel político em esfera local, formada pelas
que a elite social enviasse seus filhos para se instruírem no reino lusitano, sendo
nas Universidades européias. O retorno à terra natal permitiu que esses letrados,
forte na sociedade européia. Hipólito José da Costa dialogou com vários desses
pesadas, como os ataques a Rosseau e Voltaire, ora tecendo elogios sinceros, como
Estado absolutista foi mantida, desde sua inauguração com Pombal, e perpetuada
por d. Rodrigo de Souza Coutinho. Hipólito José da Costa foi um exemplo dessa
era a imprensa.
de valores que era conhecida da maioria de seu público. Hipólito era católico, e
Coimbra, permitiu que sua autoridade intelectual fosse reconhecida. Nesse sentido,
moral e intelectual para seu público leitor. Sua prisão pela inquisição sob o crime de
20
ser franco-maçom, e sua fidelidade e lealdade a Ordem dos Pedreiros Livres, e por
fim sua fuga da inquisição, relacionada também com os maçons, fez com que
Hipólito fosse visto com um grau de reverencia pelo martírio vivido. Hipólito foi
pró-maçônica.
não eram restritas apenas aos maçons, e essas eram transmitidas a um público leigo
com o sentido de uma razão moral, legitimada pelo bom costume, e pelos valores
público que não compartilhava dos mesmos valores e símbolos que os maçons eram
moral. Aqui vale destacar o valor polissêmico dos conceitos, que compreendidos
nas virtudes maçônicas, possuíam um sentido mais amplo que para o público leito.
José da Costa, por seu patriotismo largamente defendido no jornal, foi tido como
21
enquanto “maçom virtuoso” foi lido com respeito por maçons brasileiros, nesse
Reunião, situada no Rio de Janeiro, no ano de 1801. No decorrer das duas primeiras
Pernambuco22.
Independência foi bastante relevante. Como intelectual, transmitiu por seu jornal
21
VARNHAGEN. História da Independência do Brasil. Quarta edição. Editora Melhoramentos. 19--. Pág.
121.
22
Alexandre Mansur BARATA. Sociabilidade Maçônica e Independência do Brasil. In: Independência:
História e Historiografia, p. 667.
22
passo é uma analise reflexiva que busca a compreensão do paradigma maçônico que
mesmo que “cortador de pedra”. Chamado pelos próprios maçons de arte real, o
oficio dos maçons corresponde, assim, a “polir o homem rude, uma pedra bruta, e
reunirem. Cada loja é composta por oficiais que coordenam os trabalhos maçônicos,
23
Reinhart KOSELLECK. Critica e crise. Uma contribuição à patogênese do mundo burguês. Tradução
Luciana Villas – Boas Castelo – Branco. Rio de Janeiro. Editora UERJ – Contraponto, 1999. Pág. 64.
23
anteriormente deve ter sido vigilante, e apenas os Veneráveis vigilantes pode vir a
ser grão-mestres.
estabelece seu próprio parâmetro de conduta, suas metas, e suas empatias, como
reunião maçom, sendo composto por um aparato simbólico que evoca ao mesmo
tempo as virtudes da ordem e símbolos esotéricos que dão sentido a reunião. São
pelos ritos que se transmite o conhecimento maçom, no qual, a cada grau um novo
vários rituais, e cada obediência escolhe o que mais lhe agrada. A maçonaria em seu
Templários. Para o imaginário maçom do século XIX, do qual Hipólito era intimo, a
Maçonaria seria a face moderna dos antigos Templários. Neste mesmo texto, no
qual Hipólito rapidamente refere-se a origem da Maçonaria, ele também afirma que
Pedreiros Livres:
extinta ordem dos Templários, em clara alusão a sua suposta origem. Hipólito José
24
Hipólito José da COSTA.Correio Braziliense ou Armazém Literário. Edição Fac-Similar. São Paulo:
Imprensa Oficial do Estado, 2001. Volume III. Pág.274.
25
seus textos, lança-se na defesa dos Templários frente aos ataques da Inquisição.
Nesse sentido, destaco uma pequena citação de Hipólito, que foi escrita quando a
carregavam, talvez pela grande simpatia que tinha pela nobreza, o que revela certos
traços que a Maçonaria adquiriu nesse contexto. Um dos poucos momentos que
Hipólito faz referência ao polêmico tema dos Templários é em uma ocasião na qual
contra a opressão feita pela Igreja, ele afirma: “Mas deixando essas acusações
Obediência Maçônica, com a junção das três principais lojas londrinas. Com essa
por uma esfera maior, ao passo que seis anos depois, James Anderson publicou as
25
Hipólito José da COSTA.Correio Braziliense ou Armazém Literário. Edição Fac-Similar. São Paulo:
Imprensa Oficial do Estado, 2001.Volume III. Pág. 145.
26
Hipólito José da COSTA.Correio Braziliense ou Armazém Literário. Edição Fac-Similar. São Paulo:
Imprensa Oficial do Estado, 2001.Volume III. Pág. 147
26
paradoxal, que ao mesmo tempo propiciava uma ascensão social – por meio da
um das raras ocasiões que Hipólito José da Costa escreveu sobre festividades
dos Framações em obséquio de Lord Moira”, no qual Lord Moira recebeu uma
estava associada à Maçonaria, como o caso relatado por Hipólito do rei Frederico da
Sociedade dos Pedreiros Livres, a Maçonaria era mal vista pela Igreja Católica. A
perspectiva de rivalidade aberta pela Igreja, fez com que a perseguição à Maçonaria
nos paises católicos fosse severa. Hipólito sentiu na pele essa perseguição, sob o
Perseguição.
28
como força motriz, como também enquanto sentido legitimador de ação de Hipólito
Hipólito participava. Para além de sua postura intelectual, transposta por sua
formação iluminista e seu ofício de editor ilustrado, Hipólito estava envolto em uma
tamanha que Hipólito dedica seu primeiro livro, a Narrativa da Perseguição, a ele,
e também a “Sociedade dos Pedreiros Livres”, como já mencionado acima 28. Parte
expressiva do público leitor de Hipólito, como também grande parte dos assinantes
londrina30. Em suma, Hipólito viveu com intensidade uma vida pautada nas relações
28
Hipólito José da COSTA. Narrativa da Perseguição. Brasília, DF. Fundação Assis Chateaubriand, 2001.
Pág. 8.
29
Ivan Alves FILHO. Cronologia Geral. In: Correio Braziliense ou Armazém Literário. Edição Fac-
Similar. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2001.
30
Idem.
29
difuso e pouco conhecido, torna-se necessária uma analise reflexiva que busca dar
conceitos que organizam o sistema simbólico que legitimam a ação dos Pedreiros
Livres a fim de lançar luz em suas estruturas de pensamentos; estruturas essas que
sociais e políticos utilizados por Hipólito, que tem seu significado inaugurado pelo
maçons cultivam virtudes essenciais para seu modelo de sociedade, sendo essas
a razão ponderada32. Essas virtudes são as vias para a libertação das trevas da
31
Leigo é o mesmo que profano, ou seja, aquele que não participa dos elementos do ocultismo maçônico.
32
Literatura maçônica, ver fontes secundárias. James ANDERSON. As Constituições de Anderson 1738.
30
entre os homens. Nesse estágio utópico a qual a maçonaria visa levar a humanidade,
pela moral33.
loja.
organização interna da ordem, quanto sua finalidade externa, ou seja, de sua auto-
33
Reinhart KOSELLECK. Crítica e Crise uma contribuição à patogênese do mundo burguês. Tradução
Luciana Villas – Boas Castelo – Branco. Rio de Janeiro. Editora UERJ – Contraponto, 1999.
34
Esse estudo faz a opção por tratar a Maçonaria em seu sentido teórico e simbólico, assim, considero correto
utilizar da forma singular por considerar como único o principio maçom.
35
Francês A. YATES. Giordano Bruno e a Tradição Hermética. Tradução Yolanda Steidel de Toledo. Ed.
Cultrix. São Paulo. 1995.
31
exterior das lojas, as virtudes defendidas no interior delas. De tal forma, o maçom
modernidade ocidental37.
escreveu que a Maçonaria há muito já não era mais uma ordem na qual perpetuava o
36
Reinhart KOSELLECK. Crítica e Crise uma contribuição à patogênese do mundo burguês. Tradução
Luciana Villas – Boas Castelo – Branco. Rio de Janeiro. Editora UERJ – Contraponto, 1999. Pág. 79.
37
A participação política e social dos maçons, pontualmente no final do século XVIII e no decorrer do XIX,
é de tamanho alcance, que vale destacar, sobretudo, a crise do Antigo Regime, e sua correlação com a
expansão da maçonaria, questão tão bem trabalhada por Kosseleck, em seu livro Critica e Crise.
38
Literatura maçônica, ver fontes secundárias.
39
Francês A. YATES. Giordano Bruno e a Tradição Hermética. Tradução Yolanda Steidel de Toledo. Ed.
Cultrix. São Paulo. 1995.
40
PAPUS. Tarô dos Boêmios. Barra Funda-S.P. Ícone Editora, 1995., pág. 21.
32
como Ordem Filantrópica, cujo trabalho foi dirigido para aperfeiçoar e abrandar os
sentido, para entender como a Maçonaria atua como Escola de Virtudes é necessário
razão moderada, no qual não houvesse as fronteiras nacionais. Sob essa lógica, no
espírito. Dessa forma, o culto das virtudes muda a organização do individual, o que
Entre os anos de 1809 a 1812 Hipólito José da Costa destinou quatro artigos
expõe com clareza, parte da história da maçonaria, ao mesmo tempo que disserta
sobre suas virtudes, e suas causas. Nesse sentido, Hipólito inicia sua exposição de
Esta Sociedade dos pedreiros Livres tem por fim beneficiar a humanidade
desprovida dos socorro temporais. A caridade fraterna é o laço, que os une.
Cada indivíduo desta ou daquella particular corporação que vive virtuoso, e
honrado, tem nela um recurso infalível á sua indigência, e calamidade. Tem
igualmente um abrigo á sua desventura, quando esta procede ou de um erro, ou
de sucessos não esperados [...]42
Inglesa43. Ter ocupado tal cargo é um forte indicio da erudição de Hipólito dentre a
41
João José Alves DIAS. A maçonaria em Portugal de 1727 a 1802. In: Correio Braziliense ou Armazém
Literário. Edição Fac-Similar. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2001.
42
Hipólito José da COSTA. Correio Braziliense ou Armazém Literário. Edição Fac-Similar. São Paulo:
Imprensa Oficial do Estado, 2001. Volume VIII. Pág.644
43
Nesse momento a Grande Loja de Londres possuía um papel fundamental frente á Maçonaria mundial, pois
a se tornar a primeira a estabelecer uma obediência que centralizava a maçonaria na Inglaterra, fez-se
referencia mundial como unidade de reconhecimento das demais obediências.
34
legislador das tradições maçônicas, dentre quais estão suas regulamentações, seus
simbolismos e sua história. Outras importantes funções que Hipólito assumiu foi o
feitas por Hipólito, a fim de tentar aproximar do real sentido dado a experiência
mesmo tempo, também ela faz uso da esfera pública através de seu simbolismo
maçônica aberta - mostrando assim seu caráter fechado - ao mesmo tempo em que
percebemos que a Maçonaria nesse momento não foi, ou teve a pretensão de ser,
são guardados pelo segredo, que, porém, faz uso da esfera pública.
44
Antônio F. COSTELLA. Cronologia Pessoal. Correio Braziliense ou Armazém Literário. Edição Fac-
Similar. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2001.
35
espaço público civil por meio da sociabilidade maçônica. O espaço público civil,
José da Costa, enquanto testemunho histórico. Como ponto inicial destaco uma
Lessing para afirmar: “Segundo sua natureza, a maçonaria é tão velha quanto a
sociedade civil. Ambas só poderiam nascer juntas – isto se a sociedade civil não for
lojas, e através delas, a burguesia adquire uma forma social própria” 46. Ou seja,
45
Benedict ANDERSON. Nação e consciência nacional. São Paulo: Atica, 1989.
46
Jurgen HABERMAS. Mudança estrutural da esfera pública. Pág. 51. Reinhart KOSELLECK. Critica e
Crise. Pág. 64.
36
seio do Antigo Regime era um espaço de monopólio real e logo estatal, pois o
domínio desse espaço era necessário para a sustentabilidade do próprio regime. Das
cortes monárquicas aos salões e cafés, os espaços de sociabilidade vieram a ser uma
no qual colocavam em xeque a lógica social do Antigo Regime. Nesse sentido, cito
Habermas:
Para além dos limites da hierarquia social, os burgueses se encontram aí, como
“meros” seres humanos, com os nobres: socialmente reconhecidos, mas
politicamente desprovidos de influência. Ai, o decisivo não é tanto a igualdade
política dos membros, mas, muito mais, sobretudo a sua exclusividade em
relação ao setor político do absolutismo: inicialmente a igualdade social só era
possível como uma igualdade fora do Estado. Por isso, a reunião das pessoas
privadas em um público é antecipada em segredo, uma esfera pública
antecipada ainda grandemente com exclusão da publicidade47.
percebe “sua ordem ameaçada por uma atividade política autônoma da nova
isto é, para os maçons era possível ser “livre em segredo”. Os maçons embasados na
despótico, e da religião “corrupta”, que nos séculos anteriores, teria levado a guerra
47
Jurgen HABERMAS. Mudança estrutural da esfera pública. Rio de Janeiro. Tempo Brasileiro, 1984.
. Pág. 50.
48
Reinhart KOSELLECK. Crítica e Crise uma contribuição à patogênese do mundo burguês. Tradução
Luciana Villas – Boas Castelo – Branco. Rio de Janeiro. Editora UERJ – Contraponto, 1999. Pág. 63.
37
ordem. Essa posição mantida pela constituição maçônica também fomenta uma
lojas. Nessa perspectivas podemos notar a divisão entre moral e política, e também
A ação maçônica estimulada pelo uso da moral, por sua vez, é determinada
sentido que Koselleck chama de ação política indireta. A ação política indireta,
crítica ao regime. Dessas virtudes maçônicas, três delas atingiram uma semântica
Fraternidade.
49
Reinhart KOSELLECK. Crítica e Crise uma contribuição à patogênese do mundo burguês. Tradução
Luciana Villas – Boas Castelo – Branco. Rio de Janeiro. Editora UERJ – Contraponto, 1999. Pág.72.
38
aquelas de cunho conspiratório. Tal ação pode ser muito bem vista no processo de
sentido na ordem, pois o trabalho realizado na loja nunca foi público. Assim, a
de leigos em seus trabalhos. Nesse sentido, escolhi uma longa citação que
ofende desta prudência, sem outro motivo que o de não poder satisfazer á sua
impertinente curiosidade50.
permitiu a união da sociedade civil, esse elemento foi o patriotismo, que carregado
participação de regiões distantes da sociedade civil a uma causa que foi para além
do Estado.
O amor pela pátria era uma condição essencial para o maçom, e para a
Maçonaria. Enquanto instituição privada que compõe uma nação, a Maçonaria foi
associação, e afirma:
defesa da Maçonaria no sentido de quebrar esse vinculo pré - existente. Assim, ele
afirma:
[...] em 23 de Fevereiro de 1778, se acha copiada por extenso uma carta del Rey
de Prússia, dirigida á Loja Amizade de Berlim, cujo original diz a mesma gazeta
50
Hipólito José da COSTA.Correio Braziliense ou Armazém Literário. Edição Fac-Similar. São Paulo:
Imprensa Oficial do Estado, 2001.Volume III. Pág. 272
51
Hipólito José da COSTA.Correio Braziliense ou Armazém Literário. Edição Fac-Similar. São Paulo:
Imprensa Oficial do Estado, 2001.Volume III. Pág. 270
40
que se conserva nos arquivos dessa Loja; onde El Rey mostra a sua mais
decidida aprovação aos princípios desta Sociedade. É logo necessário, para
desfazer este argumento, mostrar, ou que o Rei da Prussia era tão estúpido, que
pertencendo a esta sociedade não sabia o que ela era, ou que era um inimigo de
si mesmo, pois favorecia e louvava uma sociedade, que tinha por objeto o
destruí-lo52.
política para o Brasil, e para a sua majestade. Hipólito deixou claro o patriotismo
enquanto virtude pessoal. De seus escritos, destaco essa pequena citação, na qual
Entendo por amor da Pátria, aquele desejo puro, e ardente da felicidade, a gloria
do País, que nos tem dado o nascimento. Entendo a oferta voluntária dos nossos
talentos, das nossas forças, e da nossa vida para a defesa, e conservação do
Augusto príncipe, á quem tributamos fiel vassalagem, e da nação, á qual
devemos todos os sacrifícios. He um dever indispensável retribuir á Pátria o que
temos recebido dela. Não é pois a nossa utilidade, e proveito, sim a salvação
dela, que devemos ter sempre em vista.53
das sociedades secretas no Brasil, Hipólito se posiciona contra essa lei, e assume
secretas. Hipólito toma uma posição enfática, ao dizer que repetira sua “máxima” e
afima: “Que o Governo do Brazil deve sempre ter em vista, que as Políticas
Européias podem mui bem arruiná-lo, se se embrulhar nelas, e nunca lhe poderão
Essa lógica, embebida no Liberalismo Escocês, fez com que Hipólito afirmasse:
Há porém muitos ramos, que não podendo ser bem administrados por
indivíduos, nem sendo conveniente que o governo se encarregue deles, fazem
que as sociedades particulares sejam, neste caso, de absoluta necessidade, para a
prosperidade nacional. 55
54
Hipólito José da COSTA.Correio Braziliense ou Armazém Literário. Edição Fac-Similar. São Paulo:
Imprensa Oficial do Estado, 2001.Volume XXI. Pág. 216
55
Hipólito José da COSTA.Correio Braziliense ou Armazém Literário. Edição Fac-Similar. São Paulo:
Imprensa Oficial do Estado, 2001.Volume III. Pág.269
56
Hipólito José da COSTA.Correio Braziliense ou Armazém Literário. Edição Fac-Similar. São Paulo:
Imprensa Oficial do Estado, 2001.Volume III. Pág. 148
42
fundamental para criar e fazer circular as criticas que iriam abalar o Antigo Regime.
Virtudes. Nesse sentido, a ação política indireta foi o modo como se dá a relação
qual participa. Tal mecanismo de disseminação moral só foi possível com o culto a
maçons conseguiram unir uma elite social heterogênea sob a bandeira das virtudes.
Assim, a Maçonaria ganhou um espaço único em seu tempo histórico, pois articulou
uma elite social heterogênea sob uma ideologia suficientemente forte para mantê-la
unida. Essa união dentro da Maçonaria só foi possível sob a coesão das virtudes
57
Hipólito José da COSTA.Correio Braziliense ou Armazém Literário. Edição Fac-Similar. São Paulo:
Imprensa Oficial do Estado, 2001.Volume III. Pág.146
43
atingir todos os homens e abraçar todo o mundo, a fim de libertar o homem das
trevas. Nesse sentido, a Maçonaria enfrenta uma primeira questão paradoxal, pois
mundo, mas restringiu sua escola de virtude a um publico interno. Esse público, os
58
James ANDERSON. As constituições de Anderson. Edição Inglês e Português. Texto em Inglês fac-
similar. São Paulo: Editora A Fraternidade, 1982.
44
relata outra experiência que o Socorro Mútuo proporcionou, ainda maior do que a
sua:
maçons tornaram pública a existência da Sociedade como algo natural, porém suas
Advirta, agora este senhor padre notário do Santo Ofício, que as esmolas que os
framacons fazem aos necessitados são conferidas tão ocultamente, que o
beneficiado ignora a mão que lhe faz o benefício; e isto por um princípio
estabelecido, recomendado e usado pelos mesmos framaçons nas suas lojas;
advirta mais, que os socorros, que mutuamente se prestam uns aos outros, ficam
sempre em segredo, e que as despesas necessárias ao entretenimento da mesma
sociedade são consideráveis, e entretanto, tudo isto lhe sai do produto de sua
trabalho e bens próprios, e não da substancia do povo61.
59
Hipólito José da COSTA.Correio Braziliense ou Armazém Literário. Edição Fac-Similar. São Paulo:
Imprensa Oficial do Estado, 2001.Volume III. Pág. 270
60
Hipólito José da COSTA. Narrativa da Perseguição. Brasília, DF. Fundação Assis Chateaubriand, 2001.
Pág. 96.
61
Hipólito José da COSTA. Narrativa da Perseguição. Brasília, DF. Fundação Assis Chateaubriand, 2001.
Pág. 97.
45
razão da irmandade da grande família maçônica. Nesse sentido, é mantida uma rede
hierarquia social presente no Antigo Regime. Dentro das lojas maçônicas, a nobreza
privilégios sociais, dentro das lojas há uma outra hierarquia, proporcionada pela
então pelos nobres63. Já no começo do século XIX essa lógica iria se alterar, visto a
62
Hipólito José da COSTA.Correio Braziliense ou Armazém Literário. Edição Fac-Similar. São Paulo:
Imprensa Oficial do Estado, 2001.Volume.VIII. Pág. 641.
63
James ANDERSON. As constituições de Anderson. Edição Inglês e Português. Texto em Inglês
fac-similar. São Paulo: Editora A Fraternidade, 1982. Pág. 23.
46
posição social, mas pela conduta moral do pretendente64. Apesar de não ter sido a
Antigo Regime. A proteção que dos nobres foi fundamental para a difusão e
Inglaterra.
fanatismo religioso, que segundo Hipólito: “tem procurado demolir pelos alicerces
Europa a guerra.
dentro da loja qualquer um que creia em Deus66, e que as mais diferentes crenças
64
James ANDERSON. Anderson´s Constitutions, Constitutions d´Anderson 1738. Texte anglais de
l`edition de 1738. Introducion, traducion et notes par Daniel Ligou. Paris: Lauzeray International, 1978. Pág.
14.
65
Hipólito José da COSTA.Correio Braziliense ou Armazém Literário. Edição Fac-Similar. São Paulo:
Imprensa Oficial do Estado, 2001.Volume VIII. Pág. 638
66
Constituição de Anderson.
47
homens de diferentes profissões de fé, muitos sem fé, muitos sem fé alguma. Ela
servil. Porém, a Liberdade vai para além disso, sendo uma condição conquistada
têm o conhecimento, realmente podem ter condições de exercer o livre arbítrio, pois
se emancipado da ignorância.
liberdade civil é aquela comungada por Montesquieu, no qual todo o homem possa
fazer uso de todos os seus direitos68. Esse aspecto difere do sentido dado à liberdade
Passemos á liberdade. Outro fantasma, que infundido grande terror, mas terror
pânico, na vossa atrabiliaria [sic] imaginação. Esta liberdade, como vos a
considereis nunca existiu, nem pode existir. Tendes por liberdade o que cada
um pode, e quer obrar. Semelhante liberdade só a há pór abstração,
considerando o homem no estado da natureza. Este estado não tem existência
real. O homem apenas nasce depende do progenitor que lhe deu o ser. Esta
dependência derriba pelos alicerces constitutivos dessa imaginada liberdade.
Montesquieu, contra o qual vibrais a espada do vosso furor, mostra, em que
consiste a liberdade do cidadão. A liberdade, diz ele, é o direito de obrar tudo o
que as leis permitem; e se um cidadão obrasse o que elas proíbem, não haveria
mais liberdade, porque os outros teriam igualmente este poder69.
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Hipólito José da COSTA.Correio Braziliense ou Armazém Literário. Edição Fac-Similar. São Paulo:
Imprensa Oficial do Estado, 2001.Volume VIII. Pág. 741
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Hipólito José da Costa conhece bem a obra de Montesquieu, e por diversas vezes o autor cita no Correio
Braziliense o filosofo francês. Não obstante em apenas citar, Hipólito também defende veementemente suas
teorias. Outra posição assumida por Hipólito é a defesa de Montesquieu frente a Rousseau e Voltaire.
48
A Liberdade do homem pela luz é uma virtude tão extrema, que sua
contra a tirania nas mais diferentes formas. Foi, ao compartilhar desse espírito, que
foi por assumir essa virtude, que vários maçons arquitetaram um novo futuro e ao
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Hipólito José da COSTA.Correio Braziliense ou Armazém Literário. Edição Fac-Similar. São Paulo:
Imprensa Oficial do Estado, 2001.Volume VIII. Pág. 641.
49
Considerações finais.
Estado, e envolta do segredo, fez uso da esfera pública, principalmente por meio da
opinião pública para promover suas ações políticas e para promover a defesa de sua
Regime, foi institucionalmente absorvida pela nova esfera pública que acabara de se
emancipar.
da nova moral, que em plano racional se legitimava pelo uso virtuoso da razão, no
70
Reinhart KOSELLECK. Crítica e Crise uma contribuição à patogênese do mundo burguês. Tradução
Luciana Villas – Boas Castelo – Branco. Rio de Janeiro. Editora UERJ – Contraponto, 1999. Pág.81
50
moral travada pela opinião pública por meio da imprensa, na qual emanciparam a
I. Fontes:
III. Bibliografia:
UNICAMP, 1999.
BARRETO, Célia de Barros. Ação das Sociedades Secreta. In: História Geral da
BASTOS, Lúcia Maria. Pensamentos vagos sobre o Império do Brasil. In: Correio
COSTA, João Cruz. As idéias novas. In: História Geral da Civilização Brasileira.
Estado, 2001.
DIAS, João José Alves. A maçonaria em Portugal de 1727 a 1802. In: Correio
2001.
54
Lisboa. __ 198-.
2005.
Editora, 2006.
Edusp, 2003.
1975.
Melhoramentos. 19--.