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Remissão

radical
Sobrevivendo ao câncer
contra todas as
probabilidades

Kelly A. Turner
Tradução de Vera Caputo
Copyright © 2014 by Kelly A. Turner
Copyright da tradução © 2014 Alaúde Editorial Ltda.
Título original: Radical Remission – Surviving Cancer Against All Odds
Publicado mediante acordo com Harper Collins Publishers. Os nomes e as
características físicas de algumas pessoas citadas neste livro foram alterados
em respeito à privacidade delas. Este livro tem como único objetivo informar.
As informações nele contidas não substituem de modo algum os conselhos de
um médico especializado, que deve ser sempre consultado antes do início de
qualquer tratamento.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta edição pode ser utilizada ou
reproduzida – em qualquer meio ou forma, seja mecânico ou eletrônico –, nem
apropriada ou estocada em sistema de banco de dados, sem a expressa autorização
da editora.
O texto deste livro foi fixado conforme o acordo ortográfico vigente no Brasil desde
1o de janeiro de 2009.
Preparação: Cacilda Guerra
Revisão: Claudia Vilas Gomes e Júlia Almeida
Capa: Rodrigo Frazão
Imagens de capa: ©ppatty (textura), ©Derter (pulmão) | Shutterstock.com
Impressão e acabamento: EGB – Editora Gráfica Bernardi Ltda.
1a edição, 2014
Impresso no Brasil

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Turner, Kelly A.
Remissão radical : sobrevivendo ao câncer contra todas as probabilidades / Kelly A. Turner ;
tradução de Vera Caputo. -- São Paulo : Alaúde Editorial, 2014.
Título original: Radical remission : surviving cancer against all odds.
Bibliografia.
ISBN 978-85-7881-260-7
1. Câncer 2. Câncer - Aspectos psicológicos 3. Câncer - Cuidados 4. Câncer - Pacientes -
Reabilitação I. Título.
14-09713 CDD: 616.994
NLM-QZ 266

Índices para catálogo sistemático:


1. Câncer : Tratamento : Medicina 616.994

2014
Alaúde Editorial Ltda.
Rua Hildebrando Thomaz de Carvalho, 60
04012-120, São Paulo, SP
Tel.: (11) 5572-9474
www.alaude.com.br
A todos que ouviram a frase “Você tem câncer”
e aos seus entes queridos que os acompanharam nessa jornada.
Sumário

Introdução 7
1 Mude radicalmente a sua dieta 19
2 Assuma o controle da sua saúde 51
3 Siga a sua intuição 79
4 Saiba usar ervas e suplementos 109
5 Libere as emoções reprimidas 135
6 Tenha mais emoções e sentimentos positivos 163
7 Seja receptivo ao apoio social 189
8 Aprofunde a sua espiritualidade 213
9 Tenha fortes razões para viver 249
Conclusão 271
Agradecimentos 279
Leituras complementares 283
Notas 285
Índice remissivo 301
Sobre a autora 309
Introdução

Anomalia |a.no.ma.lˈi.jə| substantivo: o que se afasta do padrão


normal e esperado.

V ocê já deve ter ouvido uma história como esta: uma pessoa
com câncer em estágio avançado tenta tudo que a medicina
convencional tem a oferecer, aí incluídas cirurgia e quimioterapia,
mas nada resolve. Ela vai para casa para esperar a morte, mas volta
ao consultório do médico cinco anos depois, completamente livre
do câncer e saudável.
Na primeira vez que ouvi uma história como essa, eu dava acon-
selhamento a pacientes com câncer em um grande hospital de San
Francisco, onde também se faziam pesquisas. Numa pausa para o al-
moço, eu estava lendo o livro Spontaneous Healing [Cura espontânea],
do dr. Andrew Weil, quando me deparei com um caso do que chamo
de remissão radical. Fiquei perplexa, surpresa, curiosa. Aquilo havia
realmente acontecido? Aquela pessoa vencera mesmo um câncer em
estágio avançado sem usar medicamentos convencionais? Nesse caso,
por que os jornais não tinham dado a notícia na primeira página?
Mesmo que tivesse acontecido aquela única vez, ainda assim seria um
fato digno de uma manchete em letras garrafais. Afinal, de alguma
maneira aquela pessoa havia encontrado uma cura para o seu câncer.
8 Remissão radical

Os homens e mulheres a quem eu dava aconselhamento dariam tudo


para conhecer o segredo desse sobrevivente – e eu também.
Intrigada, comecei de imediato a procurar outros casos de remis-
são radical. E o que descobri foi assombroso. Havia mais de mil
casos discretamente publicados em revistas médicas, e eu, que traba-
lhava em uma importante instituição de pesquisa do câncer, estava
ouvindo falar nisso pela primeira vez.
Quanto mais eu lia, mais me decepcionava. Ninguém estava inves-
tigando seriamente esses casos nem fazendo qualquer tentativa de ras-
treá-los. E, o que era pior, as pessoas que haviam tido remissão radical
com as quais comecei a conversar disseram que seus médicos, embora
felizes por elas, não se interessavam em saber o que tinham feito para
melhorar. A gota d’água, porém, foi quando alguns desses sobrevi-
ventes contaram sobre o pedido dos médicos para não comentar com
outros pacientes a surpreendente recuperação que haviam tido. Por
que não? Para não lhes dar “falsas esperanças”. É compreensível que os
médicos não queiram induzir seus pacientes a pensar que os métodos
utilizados por outras pessoas possam dar resultado também para eles,
mas manter silêncio sobre essas histórias de cura é bem diferente.
Semanas mais tarde, uma paciente a quem eu dava aconselhamen-
to caiu num choro convulsivo enquanto recebia a quimioterapia.
Ela tinha 31 anos, dois gêmeos ainda bebês e recentemente recebera
o diagnóstico de um câncer de mama agressivo em estágio 3 (de
um total de quatro estágios). Entre soluços, ela implorou: “O que
posso fazer para melhorar? Diga e eu farei. Farei qualquer coisa. Não
quero que meus filhos cresçam sem mãe”. Olhei para ela, sentada à
minha frente, exausta e quase sem cabelos, com a única esperança de
recuperação gotejando lentamente em suas veias. E então pensei nos
milhares de casos de recuperação radical que ninguém investigava.
Respirei fundo, olhei bem nos olhos dela e disse: “Não sei, mas vou
tentar descobrir”.
Introdução 9

Nesse momento decidi cursar doutorado e dedicar minha vida


a encontrar, analisar e – por que não? – falar dos casos de remis-
são radical. Afinal, se estávamos tentando “vencer a guerra contra o
câncer”, era lógico conversar com quem já saíra dela vitorioso. Por
que não submeter esses fantásticos sobreviventes a inúmeros testes
científicos, fazer-lhes todas as perguntas possíveis e tentar desvendar
seus segredos? Só porque ainda não sabemos explicar por que algu-
ma coisa acontece não quer dizer que devemos ignorá-la – ou, pior,
nem tocar no assunto.
O exemplo que sempre me ocorre é o de Alexander Fleming, o
cientista que preferiu prestar atenção em uma anomalia. Segundo
consta, em 1928 Fleming retornou das férias e encontrou todas as
suas placas de Petri emboloradas, o que não o surpreendeu, dada sua
longa ausência. Ele então decidiu esterilizar as placas e reiniciar o
experimento. Por sorte, parou para examiná-las melhor e notou que
em uma determinada placa as bactérias estavam todas mortas. Em
vez de desprezar a placa anômala como uma ocorrência acidental,
Fleming resolveu investigar o fato – e descobriu a penicilina.
Este livro é resultado das pesquisas que tenho feito sobre remissão
radical do câncer. É fruto da minha decisão de não ignorar esses
casos anômalos, mas fazer o que fez Alexander Fleming: examiná-los
melhor. Antes, porém, falarei um pouco da minha trajetória, para
que você saiba de onde venho e o que me inspirou a dedicar a minha
vida a esse assunto.

Minha história

Minha primeira experiência com o câncer se deu aos 3 anos,


quando um tio recebeu o diagnóstico de leucemia. Foi uma doença
longa, um processo lento que se arrastou por cinco anos e projetou
10 Remissão radical

uma sombra sobre as reuniões familiares, causando em nós, crianças,


um medo muito grande dessa doença misteriosa chamada “câncer”.
Eu tinha 8 anos quando meu tio morreu, deixando um filho de 9.
Então aprendi que os pais podiam morrer de câncer.
Tempos depois, já com 14 anos, um amigo muito querido rece-
beu o diagnóstico de câncer de estômago logo após nossa formatura.
Nossa pequena cidade do Wisconsin se mobilizou: organizamos inú-
meros encontros para arrecadar fundos e fizemos muitas visitas ao
hospital. Alguns ainda tinham esperança, mas eu fiquei apavorada.
Afinal, já tinha visto aquilo. Após dois longos anos de efeitos cola-
terais, meu amigo faleceu, aos 16 anos. Toda a comunidade compa-
receu ao funeral, e nos anos que se seguiram visitávamos o túmulo
e levávamos flores regularmente. Então aprendi que qualquer um
pode morrer de câncer, a qualquer momento.
Enquanto fazia meu curso na Universidade Harvard, conheci a
medicina complementar, a ioga e a meditação. Essas ideias e práticas
estrangeiras me fizeram questionar minhas crenças sobre o corpo e a
mente, e comecei a praticar ioga. Após quatro anos maravilhosos em
Harvard, meu primeiro trabalho foi a coautoria de um livro sobre
aquecimento global, e eu passava dias inteiros sentada na frente de
um computador, sem me relacionar com ninguém – uma vida muito
diferente daquela que eu levava na faculdade. Quando um amigo
sugeriu que eu saísse do casulo e fosse prestar serviço voluntário, a
primeira coisa que me ocorreu foi ajudar pacientes com câncer, cer-
tamente pelas minhas experiências anteriores.
Ainda me lembro do meu primeiro dia como voluntária na ala pe-
diátrica do Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, em Nova York.
O que eu fazia era apenas jogar Banco Imobiliário com as crianças que
recebiam quimioterapia intravenosa, mas o significado mais profundo
de ajudá-las a esquecer a doença por algumas horas foi transformador.
Um novo caminho se abriu diante de mim e me levou a pesquisar
Introdução 11

os programas de pós-graduação. Matriculei-me na Universidade da


Califórnia, em Berkeley, no curso de serviço social em oncologia com
especialização em aconselhamento de pacientes com câncer.
Durante o curso de pós-graduação, comecei a ficar ainda mais
interessada em medicina complementar. Li muitos livros sobre o as-
sunto e fiz um treinamento intensivo para me tornar instrutora de
ioga. Durante o dia eu dava aconselhamento a pacientes com câncer
e à noite estudava e praticava ioga. Nessa mesma época, meu marido
concluiu o curso de medicina tradicional chinesa (acupuntura, ervas
etc.) e passou a estudar uma forma esotérica de cura energética, de
modo que eu estava cercada pela medicina complementar. Foi então
que o livro de Andrew Weil mudou os rumos da minha vida ao me
apresentar o que o autor chama de “cura espontânea”. Decidi cursar
doutorado para estudar o tema em profundidade. Desse momento
em diante, tenho dedicado minha vida à descoberta do que as pesso-
as fazem para vencer o câncer contra todas as probabilidades.

O que é remissão radical?

Para entender o que é remissão radical, temos antes que saber o que
é considerado remissão “padrão”, ou “não radical”. O médico espera
que o câncer entre em remissão se for detectado no início e se for um
dos cânceres “tratáveis” hoje em dia. Por exemplo, se uma mulher rece-
be o diagnóstico de câncer de mama em estágio 1, espera-se que ela es-
teja – estatisticamente falando – livre do câncer em pelo menos cinco
anos, desde que siga o tratamento médico recomendado de cirurgia,
quimioterapia e/ou radioterapia. Entretanto, se essa mesma mulher
receber o diagnóstico de câncer pancreático em estágio 1, ela terá ape-
nas 14 por cento de chance de viver mais cinco anos, mesmo que siga
o tratamento médico recomendado.1 Isso porque, hoje, a medicina
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convencional não conhece tratamentos para o câncer pancreático que


sejam tão eficazes quanto os de câncer de mama.
Defino “remissão radical” como qualquer remissão de câncer que
seja estatisticamente inesperada – as estatísticas variam conforme o
tipo de câncer e o tratamento médico seguido. Mais especificamen-
te, uma remissão radical ocorre quando uma das situações abaixo se
concretiza:

• O câncer desaparece sem que a pessoa recorra à medicina con-


vencional.
• O paciente recorre a tudo que a medicina convencional oferece,
mas o câncer não entra em remissão; passa a usar métodos de
tratamento alternativos, e a remissão acontece.
• O paciente opta por recorrer à medicina convencional para-
lelamente ao tratamento alternativo e tenta sobreviver a um
prognóstico estatisticamente terrível (ou seja, a qualquer tipo
de câncer que ofereça menos de 25 por cento de chance de so-
brevivência em cinco anos).

Embora remissões inesperadas sejam raras, milhares de pessoas já


as tiveram. Pergunto a todos os oncologistas que conheço se já houve
algum caso de remissão radical em sua clínica; até hoje, todos res-
ponderam que sim. Pergunto se já publicaram o caso, ou os casos,
em alguma revista acadêmica; até hoje, todos disseram que não. Por
isso, até que se faça um acompanhamento sistemático das remissões
radicais, não saberemos com que frequência elas acontecem. É com
esse objetivo que existe o website www.radicalremission.com [em in-
glês], um espaço em que sobreviventes de câncer, médicos, terapeu-
tas e leitores descrevem em linguagem acessível seus casos de remis-
são radical, que depois são reunidos, analisados e acompanhados por
pesquisadores. O banco de dados pode ser acessado gratuitamente
Introdução 13

pelo público em geral para que pacientes com câncer e seus entes
queridos saibam como outras pessoas com diagnósticos similares
alcançaram a cura contra todas as probabilidades.

Sobre este livro

Logo que comecei a estudar a remissão radical, fiquei surpresa ao


saber que dois grupos tinham sido ignorados, apesar dos mais de
mil casos publicados em revistas médicas. O primeiro grupo era o
dos próprios sobreviventes radicais. Fiquei chocada quando vi que
os artigos acadêmicos, em sua grande maioria, não mencionavam a
opinião dos pacientes sobre a causa de suas remissões. Li inúmeros
artigos escritos por médicos que descreviam em detalhes as altera-
ções bioquímicas apresentadas pelos sobreviventes com remissão
radical, mas nenhum deles lhes perguntava diretamente o que os
teria curado. Achei isso muito estranho, porque todos deveriam ter
feito alguma coisa, mesmo que não intencionalmente, para curar seu
câncer. Portanto, ao pesquisar para a minha tese, decidi entrevistar
vinte pessoas que tiveram remissão radical: “Por que você acha que se
curou?”, perguntei-lhes.
O segundo grupo ignorado pela pesquisa era o dos terapeutas
alternativos. Como a maioria das remissões radicais ocorre, por
definição, na ausência da medicina convencional ocidental, fiquei
surpresa ao constatar que ninguém tinha estudado ainda como
terapeutas não ocidentais ou alternativos tratavam pessoas com
câncer. Muitos dos sobreviventes por mim entrevistados tinham
recorrido a terapeutas de todas as partes do mundo, então decidi
viajar para conversar com cinquenta terapeutas não ocidentais e
alternativos e descobrir como eles abordavam o câncer. Passei dez
meses entrando em contato com eles em selvas e montanhas, nos
14 Remissão radical

Estados Unidos (Havaí), na China, no Japão, na Nova Zelândia,


na Tailândia, na Índia, na Inglaterra, em Zâmbia, no Zimbábue e
no Brasil. Foi uma viagem transformadora, na qual conheci pessoas
fascinantes. Este livro resume o que elas compartilharam comigo.
Desde então continuo descobrindo muito mais casos; até hoje fiz
mais de cem entrevistas diretas e analisei relatos escritos de mais de
mil casos de remissão radical. Após analisá-los com toda a atenção
e várias vezes, aplicando métodos de pesquisa qualitativos, identifi-
quei mais de 75 fatores físicos, emocionais e espirituais que, hipote-
ticamente, teriam tido algum papel na remissão radical. Porém, ao
contabilizar a frequência de cada um dos fatores, notei que nove de-
les se repetiam em todas as entrevistas. Ou seja, poucos entrevistados
mencionaram, por exemplo, o fator de número 73, isto é, a ingestão
de suplementos de cartilagem de tubarão, mas quase todos tiveram
as mesmas nove atitudes que ajudaram a curar seus cânceres. Esses
nove fatores-chave da remissão radical são:

• Mudar a dieta radicalmente.


• Assumir o controle da própria saúde.
• Ouvir e seguir a intuição.
• Consumir ervas e suplementos.
• Liberar sentimentos reprimidos.
• Alimentar emoções positivas.
• Ser receptivo ao apoio social.
• Aprofundar a ligação espiritual.
• Ter fortes razões para viver.

Cabe lembrar que os fatores da lista não estão dispostos em or-


dem de importância. Não há entre eles nenhum que seja “o princi-
pal”. Pelo contrário, os nove foram citados com a mesma frequência
em minhas entrevistas, embora, como veremos adiante neste livro,
Introdução 15

as pessoas tendam a reforçar uns mais que outros. Mas lembre-se: a


maior parte dos sobreviventes de câncer com remissão radical estu-
dados citaram esses nove fatores, em maior ou menor grau, como
parte dos esforços que fizeram para se curar.
Quanto à organização, o livro está dividido em nove capítulos que
descrevem mais profundamente os nove fatores. Em cada um explo-
raremos as principais características e daremos uma olhada nas últi-
mas pesquisas científicas. Em seguida, veremos um caso de remissão
radical que destaca esse fator. Por fim, o capítulo termina com alguns
passos muito simples que poderão ser dados agora mesmo para in-
cluir em sua vida esses fatores-chave da remissão radical.

Para começar

Antes de compartilhar com você os fatores-chave da cura, há ain-


da algumas coisas que devem ser esclarecidas. Em primeiro lugar,
não sou de modo algum contra o tratamento convencional do cân-
cer, ou seja, a cirurgia, a quimioterapia e a radioterapia. Da mesma
maneira que sei que é preciso usar um tênis apropriado para correr
uma maratona, mesmo que alguns prefiram correr descalços, tam-
bém sei que as pessoas devem recorrer à medicina convencional para
tratar o câncer, mesmo que algumas possam tê-lo vencido por outros
meios. Como pesquisadora, dediquei-me a conhecer melhor o “regi-
me de treinamento” deste último grupo para tentar descobrir como
resultados tão improváveis foram alcançados.
Em segundo lugar, não é absolutamente a minha intenção criar
falsas esperanças com este livro. Lembra-se daquele médico que
não queria que seus pacientes ouvissem falar em remissão radical?
Em parte ele tinha razão, pois enfrentar uma sala de espera onde
as estatísticas de sobrevivência das pessoas que ali estão são muito
16 Remissão radical

baixas é, certamente, uma tarefa difícil. Entretanto, manter silên-


cio sobre os casos de remissão radical tem provocado, a meu ver,
coisas muito piores do que falsas esperanças: ninguém está inves-
tigando seriamente nem aprendendo com esses notáveis casos de
recuperação. Na minha primeira aula de pesquisa na universida-
de em Berkeley, aprendi que é obrigação científica do pesquisador
examinar qualquer caso anômalo que não se encaixe em sua hipó-
tese. Após examinar essas anomalias, restam ao pesquisador apenas
duas escolhas: ou ele explica ao público por que esses casos estra-
nhos não se encaixam em seu modelo hipotético ou formula uma
nova hipótese que os inclua. De uma maneira ou de outra, não há
absolutamente nenhum cenário no qual seja admissível ignorar ca-
sos que não se encaixem em determinadas hipóteses.
Além de ser cientificamente irresponsável não levar em conta pes-
soas que curaram seus cânceres por meios não convencionais (so-
bretudo se a meta compartilhada por todos é encontrar a cura do
câncer), eu gostaria de me alongar um pouco mais sobre o termo
“falsas esperanças”. Criar falsas esperanças é permitir que alguém fi-
que esperando por algo que é irreal ou falso. Os casos de remissão
radical talvez não sejam explicáveis – ainda –, mas são reais. Essa é
a principal diferença que deve ser entendida para não se criar fal-
sas esperanças e começar a examinar cientificamente os indícios de
uma potencial cura do câncer. Os nove fatores-chave que descreverei
aqui são ocorrências hipotéticas de remissão radical; ainda não são
fatos comprovados. Infelizmente, muitos estudos aleatórios e quan-
titativos ainda serão necessários para podermos afirmar de maneira
categórica que esses nove fatores aumentam ou não as chances de
sobreviver ao câncer.
Não quero esperar tantos anos para compartilhar essas hipóteses
com você. Prefiro apresentar os resultados da minha pesquisa quali-
tativa e dar início à tão necessária discussão sobre o porquê de esses
Introdução 17

casos serem ignorados e o que podemos aprender com eles. A única


possibilidade de criar falsas esperanças é dizer que o seu câncer será
curado se você seguir os nove fatores. Não é isso que estou dizendo.
Mas estou afirmando que, com base na minha pesquisa, são essas as
nove hipóteses mais plausíveis para explicar a possível ocorrência de
uma remissão radical.
Agora que já deixei claro que não é minha intenção criar fal-
sas esperanças, permita-me dizer o que espero. Em primeiro lugar,
espero sinceramente que os pesquisadores comecem a testar essas
hipóteses de remissão radical o mais rápido possível. Que os pa-
cientes com a doença e seus entes queridos sejam inspirados pelas
histórias reais de cura que aqui são apresentadas, assim como fui
inspirada quando me deparei com o meu primeiro caso de remis-
são radical – e que se sintam confortados ao saber que algumas
pessoas se livraram do câncer contra todas as expectativas. Espero
também que este livro motive os leitores a cuidar da saúde também
através de outros meios, estejam eles se prevenindo contra o cân-
cer, no meio de um tratamento convencional ou buscando outras
opções depois de esgotar todas as possibilidades de cura. E, o mais
importante, espero que este livro dê início à tão necessária discus-
são sobre as remissões radicais, para que não sejam mais ignoradas
e possamos aprender outras coisas a partir delas.

***

No que se refere à remissão radical, talvez ainda não te-


nhamos condições de entender por que algumas pessoas se
curam de câncer e por que certas técnicas dão certo para
uns, mas não funcionam para outros. Entretanto, acredito
que, se nos dedicarmos ao estudo desses casos, em vez de
ignorá-los por não poder explicá-los, teremos dois resulta-
18 Remissão radical

dos: no mínimo, aprenderemos alguma coisa sobre a capa-


cidade de autocura do corpo humano e, no máximo, encon-
traremos a cura para o câncer. Mas nada disso acontecerá
se deixarmos de lado os casos de remissão radical. Afinal,
onde estaríamos hoje se Alexander Fleming tivesse despre-
zado o bolor naquela placa de Petri? A história nos mostra
que não é perda de tempo estudar as anomalias. Pelo con-
trário, historicamente, elas nos permitiram avançar muito
– e aí reside a real esperança.

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