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Boletim do

Venerável D. António Barroso


Director: Amadeu Gomes de Araújo, Vice-Postulador
Propriedade: Associação dos Amigos de D. António Barroso. NIPC 508 401 852
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Publicação trimestral | Assinatura anual: 5,00€

III Série  .  Ano XIII  .  N.º 38  .  Janeiro / Março de 2023

D. António Barroso e a Juventude


Desde a sua chegada a África, o missionário António Barroso deu prioridade
à instrução e à promoção dos jovens. Assumiu o ensino como uma base para a
acção evangelizadora.
As primeiras escolas para o sexo feminino, que se criaram em Moçambique,
nasceram da sua iniciativa. Já antes, nos anos em que trabalhou no Congo, nunca
juntou um tostão, porque aplicava a côngrua que recebia no apoio a alunos caren-
ciados. 
Em memória deste educador exemplar, o Ateneu Comercial do Porto, quando
da sua morte, em 1918, instituiu um prémio de 10$00, para os alunos mais bem
classificados. 
O empenho de D. António Barroso na instrução e na formação da juventude é
um tema a que dedicaremos o próximo número deste Boletim.

A Jornada Mundial da
Juventude, que irá decor-
rer em Lisboa, de 1 a 6 do
próximo mês de Agosto,
é um encontro dos jovens
de todo o mundo com o
Papa. É uma festa da ju-
ventude e um convite a
uma geração determinada
em construir um mundo
Escola da Missão de Lhanguene, em Lourenço Marques. A primeira Missão / mais justo e solidário.
Escola no Sul de Moçambique, criada por D. António Barroso, em 21-07-1892.

Feliz Páscoa!

Fundador: Pe. António F. Cardoso


Design: Filipa Craveiro | Alberto Craveiro
Impressão: Escola Tipográfica das Missões - Cucujães - tel. 256 899 340 “Chamada para a rede fixa nacional” | Depósito legal n.º 92978/95 | Tiragem 2.000 exs. | Registo ICS n.º 116.839 P1
Boletim do Venerável D. António Barroso

D. António Barroso e o potencial incremento de Remelhe

Fig. 1 - Cartaz alusivo à comemoração do Centenário da Morte de


D. António Barroso e 90 anos da Elevação de Barcelos a Cidade.

nário de Nascimento, em Remelhe, e foi inaugu- de Rua Direita (designada de Rua D. António Bar-
rada uma exposição documental e iconográfica roso, desde 3.1.1900), paragem junto à Estátua
sobre a vida e obra de António José de Sousa que lhe foi erigida em 3.09.1931 na Praça do
Barroso, no Salão Nobre dos Paços do Conce- Município, visita ao túmulo de D. António Bar-
lho (Fig. 2), apresentada pelo Dr. Victor Pinho. É roso na Capela-jazigo em Remelhe, deposição
Por Maria Isabel Lobarinhas Limpo emocionante estar na presença de um conjunto de uma coroa de flores no memorial erigido
Trigueiros. Professora. Mestre em de objetos que foram pertença de alguém que, frente à igreja paroquial (Fig. 3) e celebração de
Património e Turismo Cultural por alguma razão, é objeto da nossa admiração. uma Missa Solene na igreja paroquial de Reme-
Cada pertence fala por si e relata pormenores lhe, transmitida em direto pela TVI. É digna de
Decorridos sete anos dos nossos estudos/ sobre a vida de quem os usou. Fica-nos a sensa- registo a iniciativa de difundir a Eucaristia da
investigação sobre a figura de D. António Bar- ção de que estamos a reviver um passado que Igreja Paroquial de Remelhe, do dia 2.09.2018,
roso, dois deles num contexto pandémico que não foi nosso. pelo canal televisivo TVI, permitindo que Reme-
comprometeu toda a atividade de âmbito social A data da morte de D. António Barroso – lhe tivesse, naquele momento, uma projeção a
cultural e turística, cumpre-nos, até para louvar 31 de agosto de 1918 – foi assinalada no dia nível nacional, associada ao nome de D. António
os promotores, elencar algumas iniciativas já 2.9.2018, realizando-se a habitual Romagem à Barroso. Provavelmente, muitos portugueses to-
concretizadas que poderão contribuir para con- Capela-Jazigo, decalcando, grosso modo, o per- maram conhecimento da existência desta terra
solidar o desenvolvimento de Remelhe/Barce- curso efetuado aquando da trasladação dos res- – Remelhe – através desta emissão televisiva.
los através da imagem de António José de Sousa tos mortais de D. António Barroso, do Porto Remelhe celebrou festivamente esta data,
Barroso. para Remelhe: partida do largo da estação fer- engalanando-se a rigor; o percurso entre a por-
À semelhança da abordagem anterior, não roviária de Barcelos, breve paragem no templo ta da entrada do cemitério e as escadas que dão
é nosso propósito explanar o valor religioso do Senhor da Cruz com a presença do Prior da acesso à porta da entrada da igreja paroquial foi
da vida de D. António Barroso, deixando essa Colegiada, percorrida a comummente apelidada (Continua na pág. 5 e 6)
nobre missão para outros bem mais habilitados,
mas, mais uma vez, dissertar sobre as poten-
cialidades de associar esta figura à valorização
presente e futura da sua terra natal: REMELHE.
Pelo seu significado e projeção, começamos
por relembrar que a 31 agosto de 2018 assina-
lou-se o Centenário de Morte de D. An-
tónio Barroso, havendo por parte das enti-
dades religiosas, entidades políticas, associações
várias e população em geral (principalmente os
remelhenses) empenho e esmero em assinalar
a data. É pertinente e de louvar a associação
das duas comemorações: Centenário da Morte
de António Barroso e os 90 anos de Elevação de
Barcelos a Cidade (Fig.1). Esta junção represen-
ta benefícios para a maior projeção e difusão
do nome de António Barroso e sua terra natal,
promovendo curiosidade e motivando visitas,
potenciando, eventualmente, crescimento e de-
senvolvimento local.
Neste dia foram descerradas placas evoca-
tivas da comemoração do Centenário de Morte
no monumento a D.António Barroso, em Barce-
Fig. 2- Exposição documental e iconográfica sobre a vida e obra de D. António Barroso.
los, e no monumento comemorativo do Cente-

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Boletim do Venerável D. António Barroso

Amigos incondicionais - D. António Barroso e


D. Henrique Reed da Silva
tre outros, Sebastião José Pereira e o sub- Maria de Carvalho Martens, será nomea-
-diácono Francisco Maria Sampaio. do bispo de Portalegre. Confia-lhe, ainda,
Em 1886, Helena não pudera seguir o que “o novo bispo de Angola e Congo,
irmão para a Índia. Fora uma imposição. após D. José Sebastião Neto, será D. An-
Não seria bem vista a sua presença ao tónio Thomaz de Castro Leitão”.
lado de Henrique. No momento em que Por fim, comunica-lhe que ele pró-
ela e Barroso se correspondem, Henrique prio, Henrique, será nomeado “prelado
encontra-se no oriente. Nomeado, desde de Moçambique com carácter episcopal”.
1887, bispo residencial de Meliapor, He- Confessa a Barroso que lhe custa mui-
lena desabafa preocupada: “Do Henrique to não voltar à diocese de Luanda. Esta
tenho tido notícias sofríveis, mas manda- afirmação não é um mero floreado. Em
-me uns retratos em que mostra estar Angola, Henrique teve uma promoção
muito abatido”. meteórica, ascendendo rapidamente na
Este estado de abatimento de D. Hen- carreira eclesiástica. Além de secretário,
rique José é elevado, nesse mesmo ano, foi professor, na ilha de Luanda e no Se-
Por Margarida Pogarell, em que começa a desempenhar o car- minário Diocesano. Foi ainda nomeado
professora e escritora go de bispo de Meliapor, sendo esta das Cónego da Sé, na capital angolana e, mais
maiores dioceses do Oriente e sufragâ- tarde, nomeado Vigário Geral da Diocese,
“Meu querido Barroso,” nea da arquidiocese de Goa. Este senti- sendo, por fim, designado Vigário Capitu-
É carinhosa a saudação que Henrique mento contrasta, fortemente, com a dis- lar da diocese, com a partida de D. José
José Reed da Silva dirige, na correspon- posição anímica e efusiva do ano de 1880. Sebastião Neto.
dência, ao seu grande amigo e condiscí- Do tempo em que este missionário, nas- Em 1883, o bispo de Angola e Con-
pulo, António Barroso. Escrevem-se com cido na Lapa, em Lisboa, partia à aventura go é escolhido para patriarca de Lisboa,
alguma frequência, durante a estadia em como secretário ao lado do bispo
Angola, mas com o passar dos anos a cor- de Angola e Congo, D. José Sebas-
respondência decai ou não foi guardada. tião e se correspondia alegremen-
António Barroso está, já há oito anos, te com Barroso.
no norte do território angolano, sem ver
a família, sem sentir o cheiro da sua ter- Uma escrita emotiva
ra, quando, a 28 de Maio de 1888, escreve Cuidada, a letra. Elegante, o
à sua comadre, Helena Reed da Silva(1). papel. Bem estruturado, o texto.
Anuncia-lhe a sua provável ida à metrópo- A escrita é emotiva e detalhada.
le e acusa a falta de notícias do seu amigo Muito expressivo, Henrique pince-
Henrique. Helena responde-lhe meses la nas suas missivas o colorido dos
depois, no dia 5 de Agosto. Trata o chefe acontecimentos sociais em que se
da missão do Congo por “meu querido vai vendo envolvido.
compadre” e chama-lhe a atenção para Quando eram incipientes mis-
o simbolismo, do dia e do mês, em que sionários, Reed da Silva não se
responde à sua carta. Nostálgica, Helena coibia de partilhar com Barroso as
refere: “Faz hoje 8 anos que partimos to- informações adquiridas nos basti-
dos para Angola, lembra-se? Tenho sauda- dores.
de desse tempo.” É ele, Henrique, que, em 1884,
Também Helena saíra, para África, na- no dia 6 de Março, a partir da
quele Verão ido de 1880. A 5 de Agosto, metrópole, de modo não oficial,
embarcara no vapor “Zaire”, na compa- informará Barroso de ”por decre-
nhia do seu irmão Henrique, nomeado to ter sido nomeado Cónego da
secretário do franciscano José Sebastião Sé de Luanda”. Mais avisa-o que a
Neto. O novo bispo de Angola e Congo, “nomeação não o deve retirar (da
D. José Sebastião, levava no séquito um sua missão) do Congo, onde a sua
grupo de jovens e enérgicos missionários presença é insubstituível”. Anun-
do Real Colégio das Missões de Cernache. cia-lhe, entretanto, que o superior
Além de Henrique e António, seguiam, en- do Seminário de Cernache, D. José 
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Boletim do Venerável D. António Barroso
ao tempo Sede Vacante(2). A 5 de Janeiro, dia 1 de Junho de 1856, o cónego da Sé festa, acrescenta, “que “a discrição seria
Ferreira do Amaral, Governador Geral de de Lisboa, José Maria da Silva Ferrão de longa”, resume-a, “limito-me a dizer-te
Angola, nomeia uma comissão composta Carvalho Martens, mais tarde Superior que satisfez a expectativa, tendo assisti-
pelo vigário geral, Henrique, pelo chefe do Real Colégio das Missões, bem como do a alta elite da aristocracia de Lisboa”,
da Missão do Congo e outros elemen- conselheiro e amigo de Reed da Silva e mas a “seguir ao acto religioso serviu-se
tos. Será tarefa, ainda, escolherem, entre Barroso foi chamado a proferir a oração um lunch a 180 convidados, e sabes tu
si, o presidente e o secretário, a fim de fúnebre nas exéquias solenes. em quanto me importou toda essa festa?
apresentarem um projecto de reorganiza- Rua Formosa, nº. 80, nesta artéria de Em perto de 500$000 réis” E acrescenta
ção da missão do Congo. A 8 de Janeiro, Lisboa, actualmente, a rua do Século, ainda orgulhoso “estou pois bispo de direito e
Henrique faz uma provisão a favor do seu hoje se pode admirar o imponente edifí- de facto”, enviando a sua bênção para a
amigo António José de Sousa Barroso. Faz, cio do Palácio dos Carvalhos, onde a 13 Missão do Congo. Anuncia a sua coloca-
ainda, saber que tem “de se ausentar da- de maio de 1699, nasceu Sebastião José ção na “costa oriental”, na prelazia de Mo-
quela cidade em serviço do Bispado”. No- de Carvalho e Melo, o 1.º Marquês de çambique, onde “vejo um imenso territó-
meia Barroso seu “substituto com toda a Pombal. Reed da Silva tinha um contacto rio reclamando a minha acção de Pastor”,
jurisdição e poderes necessários para o próximo com a família Pombal, sendo o mas sente “falta do meu lado de um amigo
representar durante a sua ausência”. A 20 5.º Marquês, camarista e mestre-sala da como tu ou o Sebastião”.
de Janeiro, Barroso é nomeado Provisor, casa de el-rei D. Fernando II. Coincidência
Vigário Geral e Governador do Bispado, ou não, após a morte do rei D. Fernan- Mudava o ministro,
mantendo a presença em São Salvador do do II, em 15 de Dezembro de 1885, se- mudava a entourage
Congo(3). guida da morte do seu camarista, poucos Por estes anos, os domínios ultrama-
Na segurança da sua cidade natal, Lis- meses depois, a 4 de Outubro de 1886, rinos encontravam-se num estado mise-
boa, Henrique terá chegado a poder a abria-se a contragosto para Henrique a rável. Uma das grandes causas do des-
conviver com o boato de substituir o bis- preparação para o futuro campo evange- calabro, para além do péssimo governo
po de Angola e Congo. A sobrinha, Maria lizador na Índia. Durante um ano, o bispo de Lisboa, mais centrado no Brasil, era a
José, chega mesmo, em carta de 26 de De- Henrique Reed da Silva visita o norte e constante falta de continuidade do traba-
zembro de 1884(4), a enviar ao tio Henri- o sul da prelazia de Moçambique. Pensa, lho iniciado. Já Sá da Bandeira, em 1836,
que “Mil parabéns pela transferência” sa- planeia, propõe a Lisboa. Ordena a cria- avisava para a necessidade de uma polí-
lientando o quanto ele “gostava de ir para ção de algumas missões. Atribui-se a este tica consequente, em África. Sempre que
Loanda”. Em 23 de Janeiro de 1885, Maria bispo missionário a presença dos Jesuítas, mudava o ministro mudava a entourage e,
José lamenta que tenha sido apenas um em Moçambique, tendo em conta a sua isto, com frequência. A constante mudan-
“falso boato”. preparação académica e teológica. Em- ça dos intervenientes desarmava qualquer
Em 1884, o recém-nomeado bispo penhados, os Jesuítas lutaram contra a política africana. Sem planificação e sem
de Philadelphia da Arabia, despede-se do escravatura, centrando-se no resgate de continuidade, era, se não impossível, uma
amigo Barroso, desejando que o novo bis- crianças escravas. De resto existiam, ape- tarefa inglória e humilhante para a po-
po de Angola, António Thomaz “seja favo- nas, 9 missionários provenientes de Goa, tência de outrora. Portugal, tarde, muito
rável aos missionários e saiba apreciar” o a sede do Padroado português. Assume tarde, sem Brasil, é obrigado a enfrentar
seu amigo Barroso como este “merece”. mesmo, na ausência, o papel de Governa- a evolução dos tempos. Com a riqueza
Henrique pede a António que lhe envie dor, incluído numa comissão política. Sem e o fausto de outros tempos dissipados,
o correio para Lisboa, para o Palácio dos que o desejasse, é nomeado coadjuctor Portugal, avança para garantir a manu-
Carvalhos, na Rua Formosa, nº. 80, onde do Arcebispo de Goa. Reclama. Nada fei- tenção dos seus territórios, contra a gula
pernoita. De lá envia “lembranças” dos to! Tem de partir e abandonar os seus das potências emergentes. Acabava, assim
donos da casa, os marqueses de Pombal, projectos. Parte para a Índia. Após a Con- a posse por títulos adquiridos, excepto
que lhe pedem que congratule Barroso e cordata de 1886, pensada para dirimir os o outorgado pela Santa Sé, o Padroado
lhe apresente, em seu nome, a “sua satis- conflitos de jurisdição que existiam entre português, mas sob a mira invejosa da
fação pelo canonicato”. o Padroado português e a Congregação Congregação da Propaganda Fide. Portu-
da Propaganda Fide, do Vaticano, Reed da gal entra no jogo europeu e reinicia a sua
Henrique movimenta-se Silva é nomeado por Roma 1.º bispo resi- colonização do espaço africano, a sua úl-
nas altas esferas do reino dencial de Meliapor. tima esperança de recriar o império, com
A morada postal denuncia o estrato No dia 5 de Julho de 1884, mal feste- as regras em mudança. O país ficara para
social em que Henrique J. Reed da Silva jara o seu 30.º aniversário, D. Henrique, trás. O futuro era sombrio, para todos os
se movimenta nas altas esferas da aristo- o bispo mais jovem do país e, provavel- participantes desta corrida desembarga-
cracia portuguesa.Apesar da controvérsia mente, de toda a cristandade, exulta com da. António Barrroso e Henrique Reed da
à volta do poderoso ministro de D. José a sua ordenação na igreja dos Paulistas, Silva actuaram no olho deste furacão, na
I, Sebastião José de Carvalho e Mello, 1.º em Lisboa, ocorrida a 4 de Maio de 1884, luta contra o tempo, a evolução económi-
Marquês de Pombal, a família deste per- como bispo titular de Philadelphia da ca e tecnológica dos países e a decadência
tencia ao círculo íntimo de D. Maria II e D. Arabia, pelo antigo Superior do Colégio de Portugal.
Fernando II. Aquando da trasladação dos de Cernache e bispo de Portalegre José A partir de 1884, à distância, o novo
restos mortais do eminente político, no Maria Martens Ferrão. Sobre a posterior 
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Boletim do Venerável D. António Barroso
prelado de Moçambique tem a seu cargo guerras intestinas em Cernache, de como
“um enorme espaço potencial ao longo “o colégio de Chelas acabou”, e a forma
da costa oriental de África entre o Cabo como os missionários partiram sem “o en-
Delgado e a baía de Lourenço Marques, xoval do costume, nem sequer um triste
dentro do qual existiam dispersas e isola- breviário”. Era sabido que a fome também
das várias colónias portuguesas adminis- os apertava, pois “o bispo proibiu que o
tradas por um Governo-Geral com sede colégio os sustentasse nos últimos dias”.
na ilha de Moçambique”(7). É neste vasto D. Henrique não esconde a sua pro-
território, minimamente controlado pela funda amizade e confiança em Barroso,
coroa portuguesa que o novo bispo vai notando mesmo ao despedir-se,“ninguém
tentar exercer o seu múnus. me conhece melhor que tu”. “Adeus”
Em 1883, desconhecedor do fim da Teu de coração,
nova aventura, escreve sobre as pequenas Henrique J. Reed da Silva

NOTAS : de Henrique José Reed da Silva, Patriarcado de


1 - Irmã do seu condiscípulo do Seminário Lisboa.
de Cernache do Bonjardim, e amigo, Henrique 5 - Maria José Reed da Silva, 23/01/1885, cx.
Reed da Silva. de Henrique José Reed da Silva, Patriarcado de
2 - Couto, Gustavo, Notas biográficas in Lisboa.
O Missionário Católico, Dezembro de 1930, pp. 6 - D. Henrique José Reed da Silva, Bispo de
92-95. Philadelphia, de 1884 a 1886, em cujo mandato
3 - Em carta, de 6 de Dezembro de 1883, a os Jesuítas regressaram a Moçambique.
Ferreira do Amaral, Governador Geral de An- 7 - Madureira, Arnaldo, A Colonização em
gola, Henrique confessa “A minha retirada des- África 1890-1910, Livros Horizonte, 1988, p. 26
Madureira, Arnaldo, A Colonização em Áfri- D. António Barroso, Bispo do Porto
sa província não me exime do cargo de Vigário
capitular, a que tanto procurei fugir”. Torre do ca 1890-1910, Livros Horizonte, 1988, p. 26 D. Henrique José Reed da Silva, Bispo de Phi-
Tombo, Família Ferreira do Amaral, cx. 11, mct. Maria José Reed da Silva, 23/01/1885, cx. ladelphia, de 1884 a 1886, em cujo mandato os
Henrique José Reed da Silva, doc. 1 de Henrique José Reed da Silva, Patriarcado de Jesuítas regressaram a Moçambique, p. 92-95.
4 - Maria José Reed da Silva, 26/12/1884, cx. Lisboa.

D. António Barroso e o potencial incremento de Remelhe


(Continuação da pág. 2) obrigação de ser exposta” (Testamento D. Antó-
ornamentado com um artístico tapete (Fig. 4). A nio Barroso).
conjugação de esforços por parte da população “Trata-se de um conjunto notável de moedas
para que tudo estivesse com uma apresentação maioritariamente de cobre e bronze (apenas conta
exímia foi uma constante; é de louvar o empe- com cinco moedas de prata), e quase todas anterio-
nho desmedido para receber bem e conferir res ao século XX; na realidade, apenas conta com
festividade ao evento. Os nossos parabéns pelo um exemplar, de 1909” (Cláudio Brochado).
resultado final. Aguardamos, como era vontade do seu
Outro evento de destaque, para assinalar criador, que se torne possível a exposição per-
manente deste espólio numismático de valor Fig. 5 - Cartaz de divulgação
o encerramento das comemorações do Cen-
incontestável e reconhecido. De momento fica- da Exposição
tenário da Morte de D. António Barroso, foi
a Exposição que decorreu de 31 de agosto a -nos o livro, D. António Barroso – Um Bispo Co-
30 de setembro de 2019, no Salão Nobre dos lecionador, de valor inestimável para os apaixo-
Paços do Concelho, designada “D. António nados destas temáticas, em que modestamente
Barroso, um bispo colecionador” (Fig. 5), nos incluímos. Parabéns aos seus promotores e
no âmbito das Jornadas Europeias do Património autores.
2019, associada ao lançamento da monografia
com o mesmo nome, a 28.09.2019, de Cláudio
Brochado, arqueólogo municipal de Barcelos,
e Constantino António Ribeiro, Presidente da
ACOBAR (Associação de Colecionismo de
Barcelos).
Trata-se de uma coleção constituída por
1.047 moedas, oriundas de cinquenta e cinco Es-
tados espalhados por quatro continentes, doa-
das em testamento ao Município de Barcelos. Fig. 4 - Tapete da comemoração do
“Lego ao Município de Barcellos a minha pobre Centenário da Morte.
Fig. 3 - Monumento da comemoração
collecção de moedas, como base d`uma mais ampla
do Centenário de Nascimento.
collecção, que o mesmo Municipio constitua, com 
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Boletim do Venerável D. António Barroso
Segue-se um acontecimento de importân- de afixar, na Capela-jazigo do cemitério, o horá-
cia crucial em todo este processo, que resulta rio de visitas, ou as placas que foram colocadas
da decisão exarada na reunião de 16.5.2017, do em diferentes locais que dão acesso à freguesia
Congresso Peculiar dos Consultores Teólogos, de Remelhe, como em Silveiros ou Barcelinhos.
onde é aprovado o decreto pontifício no qual Uma sinalética eficiente é imprescindível para
a Santa Sé declara as “Virtudes Heroicas” de D. o conhecimento/divulgação de um espaço que
António Barroso, ao longo de décadas ao servi- pretenda ser objeto de visita.
ço da Igreja, consolidando-se mais uma etapa no Registe-se ainda o cuidado em preservar
processo de beatificação e canonização iniciado o hábito de associar a imagem de D. António
em 1992. Na condição de Venerável, os restos Barroso à elaboração do tradicional Arco das
mortais do Bispo do Porto são trasla- Cruzes (Fig. 8), de forma a fomentar curiosi-
dados, a 17.11.2019, da sua Capela-jazigo para dade que potencie visitas aos locais aí referen-
a igreja Paroquial de Remelhe (Fig. 6), de forma ciados.
a cumprir os preceitos da Igreja Católica, no que Não podemos terminar sem mencionar que
concerne às etapas que conduzem à Santidade. é com muito apreço que sabemos que o sobri-
Assim, mobilizaram-se esforços no sentido de nho-neto António José Barroso, atual proprie-
criar as condições necessárias, nomeadamente tário da casa mandada construir por D.
em termos de remodelações da igreja paro- António Barroso em 1904 (Fig. 9), procedeu
quial de Remelhe (Fig. 7), de forma a albergar a obras de restauro que muito valorizam a
a urna de D. António Barroso, na condição de conservação da casa. Que este património ines-
Venerável; os seus restos mortais são confia- timável perdure para o futuro. O nosso sonho
dos à igreja onde foi batizado com quatro dias de ver este espaço transformado numa Casa-
de vida (9.11.1854) e “(…) a 15 de Outubro de -Museu, com todo o espólio possível, persiste.
1879 celebrou (…) a primeira missa” (Sebastião Um handicap persiste, desde há muitos
d`Oliveira Braz). anos: a reabilitação da Estrada Municipal
Mais uma vez constatámos o empenho de 505 que liga Barcelinhos a Remelhe. O Muni-
todos (entidades, associações e particulares) cípio já aprovou o projeto de execução para ir
para o sucesso desta cerimónia. As exéquias a concurso público, e já atribuiu subsídios que
fúnebres foram presididas pelo arcebispo de permitiram a edificação de paragens de auto-
Braga, D. Jorge Ortiga, acompanhado pelo bispo carros, o alargamento de troços da estrada e
do Porto, D. Manuel Linda e, mesmo por parte a construção de muros de suporte, mas até à
das entidades políticas houve um efetivo apoio presente data, o tortuoso pavimento em calçada
e acompanhamento dos eventos associados a D. de granito perdura.
António Barroso, barcelense nascido em Reme- E assim terminamos este singelo artigo, que
lhe. A presença dos representantes políticos do entendemos não dever ser biográfico, temática
Município de Barcelos foi notória na comemo- já muito bem abordada, mas de índole cultural/
ração do Centenário de Morte e na trasladação artística, âmbito que muito nos apraz. Apenas
dos restos mortais do cemitério da freguesia de foram elencadas algumas atividades/iniciativas,
Remelhe para a igreja paroquial. Relembramos como forma de reconhecer o mérito daqueles
que a viabilidade do desenvolvimento de Re- que continuam a envidar esforços para consoli-
melhe associado à figura de D. António Barroso dar o nome de António José de Sousa Barroso
implica, obrigatoriamente, o envolvimento das (missionário, missiólogo e Bispo do Porto de
autoridades religiosas e políticas. 1899 a 1918) e sua terra natal: REMELHE.
Outras iniciativas foram sendo tomadas, Persistimos na premissa de que o patrimó-
nomeadamente no âmbito da sinalética, para nio material e imaterial associado a D. António
promover a divulgação dos espaços associados Barroso, se inserido nos roteiros do Turismo
à figura de D. António Barroso, como o cuidado Religioso do norte de Portugal, pode funcionar
como alavanca de desenvolvimento local, dina-
mizando Remelhe do ponto de vista social, eco-
nómico e cultural.
Remelhe, 29/08/2022

Fig. 7- Capela de D. António Barroso na


igreja paroquial de Remelhe.

Fig. 9- Representação da casa de


Fig. 6 - Inscrição no interior da Capela
D. António Barroso na parede exterior
Fig. 8- Arco das Cruzes, 2022. na igreja paroquial de Remelhe.
da Capela-jazigo.

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Boletim do Venerável D. António Barroso

DOAÇÃO DE LIVROS À CÂMARA MINICIPAL DE BARCELOS


Amadeu Gomes de Araújo, natural de Remelhe - Barcelos, doou à Biblioteca
Municipal 11 livros de que é autor. Para assinalar esta oferta, o Município realizou
uma cerimónia simbólica, que teve apresentação do historiador e ex-bibliotecá-
rio Victor Pinho, e contou com a presença da vereadora da Cultura, Elisa Braga.
O espólio doado consta de 11 livros que registam temas e assuntos que
motivaram o autor ao longo dos anos em que viveu em Moçambique, em Macau
e em Portugal.
Vários deles incidem sobre a figura do Venerável D. António Barroso, barce-
lense insigne por cuja Causa de Canonização o autor é responsável.
Os livros oferecidos passarão a integrar o espólio da Barceliana.
(In Barcelos Município, internet).

Pretinhos da Sorte, quem os não quer?


A múltipla informação que invade o quotidiano de todos, deixa- ço de 1889, no último quartel do séc. XIX, defender, na Conferência da
-nos, tantas vezes, impossibilitados de ver a árvore em tão vasta flo- Sociedade de Geografia de Lisboa, a dignidade e a cor da pele dos afri-
resta… canos que evangelizou, no Congo, perante os responsáveis europeus
A feira de Barcelos, um dos mais antigos mercados do país, rea- da colonização, em tantos países da África. Assim se exprimiu o missio-
liza-se, desde o séc. XIII, às quintas-feiras, no largo espaço, designado, nário e missiólogo: "Eu gostava muito que todos os que accusam o preto
popularmente, «Campo da Feira», por entre árvores frondosas, com de ser um ente boçal e palerma, o estudassem n'este meio, no meio em que
ameaças recentes de destruição. Valera algum bom senso dos respon- elle está à vontade e desenvolve todos os recursos da sua intelligencia e da
sáveis políticos desta cidade histórica. Aqui se oferece uma panorâmica sua phantasia, que é fecunda. O seu juizo seria modificado bem depressa."
alargada dos produtos do mundo rural que envolve esta velha urbe: Volvidos 134 anos sobre estes pronunciamentos do missionário de
a olaria e o figurado, a cestaria, o artesanato de madeira e de ferro, Remelhe, na Sociedade de Geografia de Lisboa, permanece, na menta-
brinquedos, miniaturas, espigueiros, jugos e maceiras. Todo o vestuá- lidade de muitos portugueses, essa praga daninha do racismo, negada,
rio e calçado é a preços mais acessíveis. São manifestações de grande tantas vezes, nas vox populi de rua, nas rádios e televisões e em alguns
criatividade, onde tudo se retrata e comercializa. Aqui também se ven- altares.
dem (vendiam-se já na minha infância) os pretinhos da sorte tal como Texto: Manuel Vilas Boas - Imagem: José Campinho
vieram ao mundo, mas a verdade é que eles estão por ali na feira, às
centenas. Misturam-se em caixotes de papelão com galos, andorinhas,
sapatilhas e até com o pobre do Menino Jesus, feito boneco também.
Soube de um feirante que os ditos pretinhos da sorte são de tradição
muito antiga do barro de Barcelos. Nunca ninguém suporia as trans-
ferências do subconsciente dos bonecreiros da região minhota que
se identificavam com um país colonizador e racista, com diversos
ícones. Pretinhos da sorte a 1 euro cada um, porque não?
Mas tais comportamentos não se verificavam apenas «fora de
casa». No pequeno museu existente no Seminário das Missões de To-
mar, em espaço turístico, ao abrir da porta, emergia, o busto de um
indígena, de ranhura de moedas no peito, que agradecia as ofertas com
acenos simpáticos.
Como pôde o missionário Barroso, natural do concelho, onde se
Pretinhos da sorte, à venda na feira de Barcelos.
negociam estes  pretinhos da sorte, regressado de Angola, a 7 de Mar-

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Boletim do Venerável D. António Barroso

TRIBUNA DO AUTOR
Registamos com gratidão os nomes de alguns leitores amigos, que têm tido a bondade de nos enviar livros de sua au-
toria. No próximo Boletim, daremos às suas obras o espaço e a atenção que merecem. Muito obrigado.

D. Manuel Linda: Construtores da Cidade Feliz; Orvalho de Luz. D. José Manuel Cordeiro: Caroço de Cereja. Pe. Adelino Ascen-
so: A Mística do Arado. Eugénio Beirão (João Rodrigues Gamboa): A Segunda Vida de Mestre Gonçalo de Gamboa; Memórias
de um Cão Quase como Nós; Trocar Seda por Burel; Antigas e Novas Invenções para Dois Trombones; O Cão Moscatel A Raposa
Ladina. M. de Montemor (Júlio da Cunha Antunes) e Eugénio Beirão (João Rodrigues Gamboa): Como um Perfume de Ros-
maninho. Prof. Doutor António Rodrigues Baptista. Santa Teresa de Ourém. Dr. João Alves Dias: O Sonho e as Estrelas; Para
Além das Margens. Prof. Doutor Levi Guerra: Prémio Nacional da Saúde. Prof. Doutor João Manuel Costa Amado: 1+13+1
Ó Mãe Olhos Meus Teus. Sérgio Cabral (Autores vários): Testemunhas de Uma Memória Viva.

CONTAS EM DIA
A última relação de contas (até 30 de Junho de 2022), está disponível no Boletim n.º 36, III Série. De 1 de Julho de 2022
até 31 de Março de 2023, realizaram-se as seguintes despesas: Escola Tipográfica das Missões (Boletim n.º 36): 592,33€;
Escola Tipográfica das Missões (Boletim n.º 37): 593,05 €; Consumíveis e correio: 95,00 €.TOTAL: 1.280,38 €.
No mesmo período, recebemos os seguintes donativos para apoio à Causa da Canonização e despesas do Boletim: Dra.
Beatrice de Quina: 100,00 €; Dra. Maria Adelaide Azevedo Meireles: 30,00; Dra. Lúcia Araújo Sousa: 50, 00 €; Dr. Francisco
Trigueiros: 60,00 € ; Prof. Dr. Rui Garcia : 50.00 €; D.ª Maria Justina Brito F. Silva: 12,00 €; Sr. José Gomes Pereira e D.ª
Virgínia Pereira: 50,00 €; Assinantes da freguesia de Remelhe/Barcelos, com a colaboração de D.ª Laurinda Fonseca do
Vale, Sr. Augusto Faria dos Penedos, D.ª Maria do Carmo Faria Araújo, D.ª Ana Maria da Silva Coutinho, Sr. Augusto da
Costa Martins, D.ª Margarida Barroso Simões, Sr. Mário da Costa Lopes e D.ª Maria Magalhães Faria Senra : 543,00 €;
Outros assinantes de Remelhe: D.ª Maria Alice Araújo e Sr. Abílio Oliveira, Sr. Joaquim e D.ª Carmo Arantes, D.ª Marinha
Torres Gomes e D.ª Lurdes Guimarães Costa: 30.00 €; Dr.António José Gonçalves Barroso: 100,00 €; D.ª Maria Ermelinda
Osório: 60,00 €; Sr. Martinho Silva Pombo: 15,00 €; Sr. António Joaquim Pereira da Silva: 10,00 €. TOTAL: 1.110,00 €.

PARA APOIO À CAUSA DA CANONIZAÇÃO OU DESPESAS DO BOLETIM,


USE A CONTA DE D. ANTÓNIO, NA C.G.D. :
NIB: 003505420001108153073 IBAN: PT50003505420001108153073 BIC: CGDIPTPL

GRAÇAS RECEBIDAS
Lembramos os nossos leitores que o processo de D. António se encontra em Roma, na Congregação para a Causa dos
Santos, a aguardar que surja um milagre. Se entender que recebeu alguma graça extraordinária (milagre), alguma respos-
ta extraordinária às preces que dirige a Deus, por intercessão do Venerável D. António Barroso, informe o Postulador,
Padre João Pedro Bizarro, pelo tlm. 913366967, ou o Vice-Postulador, Amadeu Gomes de Araújo, pelo tlm. 934285048. Se
preferir comunicar por escrito, use esta direcção:
CAUSA DA CANONIZAÇÃO DE D. ANTÓNIO BARROSO
RUA DE LUANDA, N.º 480, 3.º ESQ. 2775-369 CARCAVELOS, CASCAIS

Arquitecto Alberto Craveiro


O Arquitecto barcelense, Alberto Craveiro, autor do arranjo urbanístico e do monumento erigido a D. António Barroso,
em Cernache do Bonjardim, em 2019, e designer deste Boletim, viu um trabalho seu distinguido pelo Centro Português
de Arquitectura e pelo Turismo de Portugal. A Casa da Porta Estreita, em Gamil - Barcelos, foi escolhida, recentemente,
para integrar o Programa “Turismo e Arquitectura”, que visa promover a arquitectura contemporânea portuguesa. O
Boletim do Venerável D. António Barroso, do qual é colaborador, felicita-o por ter uma obra da sua autoria incluída na
restrita lista de projectos de arquitectura de renome em Portugal. Parabéns, arquitecto Alberto Craveiro!

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