Setembro 2005

A MADEIRA:
PCF Info 3
UM MATERIAL CONSTRUTIVO RESISTENTE AO FOGO

Artigo de
Interesse
Especial O fogo é uma combustão que ocorre de forma violenta e
para:
auto-sustentada. Para que ele aconteça é necessária a
presença simultânea dos seguintes elementos: o calor
(faísca, chama, radiação térmica), o combustível (ex.
• Arquitetos
madeira) e o comburente (oxigênio).
• Projetistas
• Construtoras Ele é considerado um dos grandes inimigo dos materiais
de construção, os quais apresentam distintas reações a sua
ação: perda das propriedades de rigidez e de resistência e
especificamente o concreto apresenta ainda um fenômeno
denominado spalling, no qual a elevadas temperaturas passa Figura 1 Combustão flamejante da madeira
a desprender pequenas lascas resultando na perda de Por meio da figura 1, podemos observar que as chamas, alimentadas
seção. Portanto, a combustibilidade relacionada à madeira pelos gases liberados da madeira queimam a certa distancia de sua
não é o principal critério pelo qual o desempenho ao fogo superfície.
de uma construção pode ser julgado, afinal todos os
materiais são prejudicados pelo fogo. No entanto, peças robustas de madeira quando expostas
ao fogo formam uma camada superficial de carvão que
A insegurança frente a potenciais riscos relacionados à atua como isolante impedindo a rápida saída de gases
combustibilidade da madeira é considerada como um dos inflamáveis e a propagação de calor para o interior da
Artigo publicado
pontos críticos para as restrições na aprovação de seção, resultando na diminuição da taxa de aquecimento
na revista
financiamento de habitações em madeira, no Brasil e em interno e da degradação por combustão, favorecendo a
eletrônica de capacidade de sustentação das cargas projetadas (fig. 2),
outros países, fruto do desconhecimento sobre o
ciências. devido em grande parte a conservação das propriedades
comportamento das diferentes espécies em relação ao
USP - São Carlos fogo. físicas da madeira mesmo após ter sido exposta a elevadas
www.cdcc.sc.usp.br temperaturas, pois a alma da seção se mantém fria a
O conhecimento de que a madeira apresenta boa apenas uma pequena distância da zona queimada (fig. 3).
resistência quando submetida a condições de incêndio é
Divulgação como antiga. Mas apesar de ser um conhecimento comum a
PCF Info
todos, não havia provas científicas que atentassem a isto.
Por volta do século XX, mais precisamente a partir da
gentilmente
década de 50 e 60, os diferentes materiais tais como o aço,
autorizada pelos
concreto, madeira entre outros, passaram a ser alvo de
autores. investigação na busca do melhor desempenho ao fogo
com base em princípios científicos, isto resultou em
vantagens à madeira, pois assim pôde se comprovar, com
o auxílio de suas propriedades físicas e mecânicas, que ela
apresenta um comportamento diferente dos demais
materiais utilizados na construção, comportamento este,
que lhe é favorável.

Como sabemos a madeira é um material combustível,
diferentemente do aço e do concreto. Tal como os demais
combustíveis sólidos a madeira em condições normais não
se queima diretamente, ela primeiro se decompõe em
gases que expostos ao calor se convertem em chamas
(figura 1) que aquecem a madeira ainda não atingida e
promovem a liberação de mais gases inflamáveis que
alimentam a combustão tal qual um círculo vicioso.
Figura 2. Vigas de madeira e aço após um incêndio.
Na figura 2 é possível constatar que a madeira submetida a um severo
incêndio teve sua seção reduzida, mas não a ponto de eliminar sua
capacidade de suportar seu próprio peso e o peso extra das barras de aço
que entraram em colapso devido a temperatura a que foram expostas.
Para se ter uma idéia, durante um incêndio as temperaturas atingem
mais do que 12000C, no entanto o aço a 5000C já perdeu 80% de sua
resistência. Já o concreto começa a perder resistência a partir dos 800C

PCF Soluções
Telefax (11) 5533-3600
www.pcf.com.br ● pcf@pcf.com.br
Setembro 2005
A MADEIRA:
PCF Info 3
UM MATERIAL CONSTRUTIVO RESISTENTE AO FOGO
Figura 3. Seção de uma viga de madeira laminada colada exposta ao
fogo durante 30 minutos.
A figura 3, ilustra as diferentes partes de uma viga de madeira exposta
ao fogo, classificação importante para o estudo da resistência das
estruturas de madeira (a temperatura entre a camada de madeira
carbonizada e a madeira aquecida está em torno dos 290°C.). Após
meia hora de exposição a viga ainda se mantém em bom estado de
utilização, podendo ser reaproveitada após a verificação de sua
capacidade de carregamento. Neste caso a superfície de carvão, por
motivos estéticos, deve ser retirada.
Para o estudo da madeira exposta ao fogo , as
propriedades térmicas e as propriedades relacionadas à
resistência e rigidez são as que mais influenciam seu
desempenho. A maioria destas propriedades está
relacionada a fatores próprios à madeira, como a
densidade, teor de umidade, orientação da grã,
composição química, permeabilidade, condutividade
térmica e a fatores externos como as temperaturas de
exposição ao fogo, duração da exposição e a ventilação no
ambiente.
Com relação ao estudo da madeira estrutural exposta ao
fogo as principais características são fundamentais para o
estudo de seu desempenho: a taxa de carbonização e a
perda das propriedades mecânicas da seção remanescente
devido ao aquecimento.
Fazendo uso destes conhecimentos podemos avaliar a
segurança das estruturas afetadas por um incêndio, e
prever com boa precisão em projeto o tempo de
resistência dos elementos estruturais de uma edificação,
possibilitando por exemplo, que as vítimas de um incêndio
sejam retiradas em segurança e que o fogo seja combatido
sem que a estrutura desabe e comprometa a segurança de
vida da brigada de incêndio e danifique as edificações
vizinhas.
Autores: Dra. Edna Moura Pinto (emoura@sc.usp.br) é Arquiteta Doutora em Ciência e Engenharia de Materiais
Prof. Dr. Carlito Calil Júnior é professor titular LaMEM/SET/EESC/USP
PCF Soluções
Telefax (11) 5533-3600
www.pcf.com.br ● pcf@pcf.com.br
Bibliografia
1. PIGNATTA, V.S. (2001). Estruturas de Aço em
situação de Incêndio. Ed. Zigurate, São Paulo.
2. PINTO, E. M. (2005). Determinação de um modelo
de taxa de carbonização transversal à grã para a
madeira de Eucalyptus citriodora e Eucalyptus grandis.
Tese (Doutorado)- Instituto de Física de São
Carlos, Instituto de Química de São Carlos,
Escola de Engenharia de São Carlos,
Universidade de São Paulo.
3. PINTO, E.M; CALIL, C. (2004). Estudo da
Taxa de Carbonização da Madeira e sua Relação
com a Resistência de Peças Estruturais (CD
ROM). In: ENCONTRO BRASILEIRO EM
MADEIRAS E EM ESTRUTURAS DE
MADEIRA, 9, 26 a 29 de Julho de 2004.
Anais. Cuiabá, Universidade Federal de Mato
Grosso.
4. PINTO, E.M; CALIL, C. (2004). A taxa de
carbonização e a resistência mecânica da madeira exposta
ao fogo.In: Revista TechBahia, ISSN 0104-3285,
Salvador-BA..
5. PINTO, E.M.; INO, A. ; DIAS, A. A. (2000).
Considerations about Fire Protection for Wood
Houses: Codes, Brazilians Panorama. In: IX
Reunión y Primer Congreso Iberoamericano de
Investigacion y Desarrollo en Productos
Forestales, 9,Concepción, 2000. Anais.
Concepcón, Universidade de Bio-Bio.
6. PINTO, Edna M. (2001). Proteção contra incêndio
para habitações em madeira. São Carlos. 143p.
Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharias
de São Carlos, Departamento de Arquitetura e
Urbanismo, Universidade de São Paulo.
7. SCHAFFER, E.L. (1967). Charring rate of selected
woods-transverse to grain. FPL. 69. Madison, WI: US
Department of agriculture, Forest Products
Laboratory.
8. WHITE, R.H.; DIETENBERGER, M.A.
(1999). Fire safety In: FOREST PRODUCTS
LABORATORY. Wood handbook - wood as
an engineering material. Madison, USDA.
Cap.17, p.17-1-17-17.