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ANÁLISE DE NORMAS DE PROJETO PARA ESTRUTURAS DE MADEIRA

CONSIDERANDO A RESISTÊNCIA AO FOGO

Poliana Dias de Moraes e Carlos Alberto Szücs

RESUMO: O objetivo deste artigo é a análise comparativa de diversas normas estrangeiras


que regulamentam o dimensionamento de estruturas de madeira, considerando a resistência ao
fogo. O trabalho visa fornecer subsídios aos projetistas brasileiros no uso destas normas,
especialmente quanto às hipóteses e modelos básicos, simplificações e critérios de projeto de
vigas de madeira submetidas à flexão. As diferenças entre as diversas normas e suas
implicações são indicadas. Resultados numéricos que ilustram as diferenças e semelhanças
entre as normas quanto aos critérios de projeto são apresentados e algumas sugestões sobre
tópicos a serem investigados concluem o trabalho.
Palavras-chave: resistência ao fogo, madeira laminada colada, dimensionamento ao fogo.

ANALYSIS OF DESIGN STANDARDS FOR WOOD STRUCTURES CONSIDERING


FIRE RESISTANCE

ABSTRACT: This paper presents the analysis and comparison of 4 standards that regulate
the design of timber structures, regarding fire resistance. The work aims to provide
information to Brazilian designers wishing to apply these standards on the basic models and
assumptions, simplifications and design criteria for wood beams submitted to flexural
bending, underlying those standards. The similarities between them are indicated and the
consequences for the design of the differences between different standards are analyzed.
Numerical results that illustrate the practical implications of these differences are presented.
Several suggestions regarding topics to be investigated conclude the work.
Keywords: fire resistance, glulam, fire design, wood beam
1 INTRODUÇÃO

A preocupação dos organismos reguladores nacionais com a segurança estrutural ao fogo nas
edificações modernas é demonstrada pelo recente Projeto 24:301.06-002, Exigências de
resistência ao fogo de elementos construtivos de edificações, de março de 1999, da
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Este projeto de norma estabelece
condições a serem atendidas pelos elementos estruturais de edifícios em caso de incêndio para
que seja evitado o colapso estrutural e sejam atendidos os requisitos de estanqueidade e
isolamento por um tempo suficiente a fim de permitir a desocupação da edificação em
condições de segurança, a retirada de equipamentos e objetos de valor, as operações de
combate ao incêndio e a minimização de danos a edificações adjacentes e à infraestrutura
pública.

Teoricamente, a resistência ao fogo de estruturas de madeira pode ser determinada, baseando-


se na distribuição da temperatura no interior do elemento, na deformação e na resistência
mecânica do material quando sob altas temperaturas. Porém, no momento, a falta de
conhecimentos precisos sobre os processos térmicos que ocorrem internamente à estrutura da
madeira durante a exposição ao fogo e sobre o comportamento mecânico das diferentes
espécies dificulta o cálculo acurado da resistência ao fogo.

A norma brasileira NBR 5628 (1980), a norte americana ASTM E 119 (1980) e de outros
países recomendam que o comportamento ao fogo de peças estruturais seja determinado com
amostras representativas do elemento construtivo, incluindo todos os tipos de juntas previstos,
os elementos de fixação e apoio, os vínculos e os acabamentos que reproduzam as condições
de uso. Como estes métodos experimentais são bastante caros, surgiram métodos analíticos
para prever a resistência estrutural de peças de madeira baseados na redução da seção
transversal causada pela carbonização.

Esses métodos foram desenvolvidos a partir da determinação, durante um incêndio padrão, da


velocidade de carbonização em função das propriedades fundamentais da madeira. Ao longo
do tempo, esses métodos transformaram-se em critérios de projeto que garantem a
estabilidade das peças de madeira sob a ação do fogo e foram incorporados pelas normas
técnicas dos países que os desenvolveram. No Brasil, contudo, não existem normas que
fixem critérios de projeto para o dimensionamento de estruturas quando submetidas à ação do
fogo. Nestes casos é indicada a utilização de especificações estrangeiras com as devidas
ressalvas no sentido de adequá-las à realidade nacional.

Com o objetivo de fornecer subsídios ao projetista que deseja considerar a ação do fogo em
estruturas de madeira, será apresentada uma análise dos critérios de dimensionamento de
elementos submetidos à flexão de algumas normas estrangeiras. Para ilustrar as diferenças
encontradas nestas normas, foram selecionadas as normas francesa, norte americana,
australiana e britânica.

Este artigo é organizado da seguinte forma: a seção 2 apresenta os fundamentos da


determinação da resistência ao fogo comuns às normas analisadas; na seção 3 encontra-se o
sumário dos critérios de projeto destes padrões; a seção 4 ilustra a aplicação dos critérios de
projeto por meio de um exemplo numérico e propicia uma análise comparativa; finalmente a
seção 5 apresenta as conclusões e sugestões de futuras pesquisas.
2 ANÁLISE BÁSICA DA RESISTÊNCIA AO FOGO

A estrutura de madeira, quando submetida à ação do fogo, tem perda de seção resistente
devido à combustão e perda de resistência mecânica devido à degradação térmica da sua
estrutura provocada pelas altas temperaturas. Os elementos de madeira laminada colada ou
maciça, quando expostos ao fogo, são mais rapidamente consumidos nas suas quinas que se
arredondam progressivamente. Neste local, a velocidade de carbonização é maior que a
velocidade de carbonização média. Conforme as dimensões da seção transversal da peça, o
arredondamento pode influenciar significativamente a resistência ao fogo do elemento
estrutural.

A redução da seção transversal das peças de madeira está ligada diretamente à velocidade de
carbonização. Portanto, para a determinação confiável da resistência ao fogo, é necessário que
a velocidade de carbonização seja determinada em função de propriedades representativas da
madeira. WHITE e NORDHEIM (1992) e WHITE e DIETENBERGER (1999) mencionam
que as diferenças de comportamento entre as espécies de madeira com relação à resistência ao
fogo e à carbonização estão relacionadas basicamente com a espécie, densidade, anatomia,
teor de umidade, composição química e permeabilidade, sendo o teor de umidade o fator que
mais afeta a velocidade de carbonização. Sabe-se também que a forma e a dimensão da seção
transversal, a duração do aquecimento, a natureza do foco calorífico e o fornecimento e
velocidade do ar influenciam a queima do material.

As dimensões da seção residual de um elemento estrutural são definidas deduzindo das


dimensões iniciais a espessura xc consumida pelo fogo como mostra as figuras 1a e 1b. Esta
espessura, de modo geral, é dada por
xc = t ⋅ β , (1)
sendo t o tempo de exposição ao fogo e β a velocidade média de combustão dada em
mm/min.

Seção Seção
residual H residual h H
h

b b
B B
a) 4 lados de exposição ao b) 3 lados de exposição ao
fogo fogo
Figura 1 – Seção transversal da viga

As diversas normas de dimensionamento de estruturas de madeira que consideram a ação do


fogo prevêem que a estabilidade das estruturas deve ser verificada pela combinação das ações
sobre a estrutura, levando em conta a redução da seção transversal da peça devido à
combustão e, em alguns casos, a redução das propriedades mecânicas da madeira devido à
temperatura. Estas reduções devem ser tais que a seção transversal remanescente seja capaz
de suportar as cargas durante o tempo de exposição ao fogo exigido pelos códigos de cada
pais. A estrutura entrará em colapso quando a tensão resistente máxima do material for
atingida.

LIE (1977) apresenta um método simplificado para a determinação da resistência ao fogo.


Este método é baseado na exposição da estrutura a um incêndio padrão, sendo a resistência ao
fogo definida como a capacidade do elemento suportar uma fração k da carga última. O autor
considera que a velocidade de carbonização da madeira é dada por um valor médio β e a
resistência e o módulo de elasticidade do material sofrem uma redução α devido às altas
temperaturas.

Portanto, uma viga cuja seção transversal tem largura e altura iniciais B e H, respectivamente,
quando exposta ao fogo por certo um tempo, tem as suas dimensões reduzidas para b e h. O
colapso ocorre quando a redução na seção transversal resultar no valor crítico do módulo
resistente da seção, Wfogo, o que por sua vez levará à tensão limite, conforme a equação 2.
 M fogo   M  α
   = , (2)
W 
 fogo   W  k
sendo Mfogo o momento fletor devido às ações consideradas em caso de incêndio;
M, o momento fletor devido às ações em serviço;
Wfogo, o módulo resistente da seção residual;
W, o módulo resistente da seção;
α, coeficiente de redução das propriedades mecânicas da madeira e
k, coeficiente de segurança utilizado.

Se forem desprezados os arredondamentos dos cantos no cálculo do módulo resistente da


seção transversal residual, a equação 2 é simplificada para
k M fogo BH 2
⋅ ⋅ = 1, (3)
α M bh 2
possibilitando a determinação das dimensões da seção crítica da estrutura ou do máximo
tempo de exposição ao fogo.

3 ANÁLISE DE NORMAS

Nesta seção será feita a análise dos critérios principais adotados no dimensionamento de
membros submetidos à flexão considerando a resistência ao fogo conforme as normas
americana, francesa, australiana e britânica.

3.1 NORMA FRANCESA - RÈGLES BOIS FEU 88 – MÉTHODE DE


JUSTIFICATION PAR LE CALCUL DE LA RÉSISTANCE AU FEU DES
STRUTURES EN BOIS.

Basicamente a norma francesa determina, para um tempo de exposição previamente definido,


que a seção residual deve resistir a uma combinação de esforços dada por
1,1G + 0,8Q , (4)
sendo G as solicitações causadas pelas cargas permanentes e Q as causadas pelas cargas
acidentais, de tal forma que a tensão atuante na situação de incêndio seja menor que a tensão
admissível multiplicada por 1,75 se a espessura residual da seção transversal for menor que
30 mm ou por 2,25 se a espessura for maior ou igual àquela dimensão.
Se o tempo de exposição ao fogo for superior a 30 min, o arredondamento das quinas da seção
causado pelo fogo deve ser considerado para o cálculo do módulo resistente da seção,
empregando o raio de carbonização dado por
β
R(mm) = t ⋅ 0 + 15β 0 , (5)
2
sendo t o tempo de exposição e βo a velocidade de combustão média da madeira.

Essa norma considera a influência da orientação das superfícies na intensidade da solicitação


térmica. Desse modo a velocidade de combustão média da madeira é função da orientação da
face quando da exposição. Segundo o método francês, para estruturas de madeira laminada
colada com teor de umidade inferior a 17%, a velocidade de combustão média da madeira
mole é βo = 0,7 mm/min e pode ser alterada por um fator multiplicativo k1 de acordo com a
orientação das faces frente ao fogo. Para faces expostas horizontalmente ao fogo recomenda-
se k1 = 1,6. Para faces verticais ou inclinadas com ângulo maior que 45o, k1 = 1,0.

3.2 MÉTODO NORTE AMERICANO DE PROJETO - NATIONAL DESIGN


SPECIFICATION FOR WOOD CONSTRUCTION (NDS)

O NDS de 1991 pouco apresenta sobre a resistência das madeiras ao fogo. Em alguns ítens
aborda a influência de baixas temperaturas (até 65 oC) sobre as peças estruturais ou então
remete à bibliografia auxiliar. Nos ítens 2.3.4 e 7.3.5 são apresentados, conforme o teor de
umidade e a faixa de temperatura, valores para o coeficiente de temperatura Ct, o qual é um
redutor das resistências nominais. O menor valor apresentado é Ct = 0,5 para madeiras úmidas
submetidas a temperaturas entre 51 e 65 oC.

O anexo C desta norma cita o Wood Handbook – Wood as an Engineering Material para
informações adicionais sobre o efeito da temperatura na resistência da madeira. Neste livro
WHITE (1999) apresenta uma síntese do comportamento da madeira quando submetida a
incêndio padrão segundo o método de ensaio ASTM E119. O autor informa as variações das
taxas de carbonização em função do tempo e desenvolve, para várias espécies vegetais,
equações empíricas para a taxa de carbonização C (min/mm) em função da densidade e do
teor de umidade. Para a espécie Douglas-fir, que apresenta características próximas à do
Pinus taeda, é proposta a taxa de carbonização
C = (0,002269 + 0,00457 µ )ρ + 0,331 , (6)
sendo µ o teor de umidade (fração de massa seca ao forno) e ρ a densidade dada em kg/m³.
É proposta ainda, por meio de um modelo linear, uma relação entre o tempo de exposição t
(min), a taxa de carbonização C e a profundidade da camada de carvão xc (mm) por meio da
equação abaixo:
t
xc = . (7)
C
WHITE (1999) expõe rapidamente formulações não lineares para a análise numérica do
gradiente de temperatura na seção transversal com o objetivo de estimar a capacidade de
carga da madeira não carbonizada durante e depois do fogo.

Pode-se dizer que, segundo a norma americana, a seção residual deve suportar as solicitações
nas situações de incêndio, considerando que as propriedades mecânicas desse material são
afetadas pela temperatura, conforme proposição de SCHAFFER (1973 e 1977) e LIE (1977).
Este último, por exemplo, informa que as reduções da resistência à tração e do módulo de
elasticidade devido ao aumento da temperatura da parte não carbonizada são na ordem de 0,85
a 0,90 das propriedades originais. Porém LIE (1977) adota α = 0,8, com o objetivo de
considerar também o arredondamento dos cantos da seção transversal causado pela velocidade
de carbonização maior.

3.3 MÉTODO AUSTRALIANO - TIMBER STRUCTURES CODE. PART 4: FIRE


RESISTANCE OF TIMBER MEMBERS, AS 1520.4. 1990.

Semelhante à norma francesa, a norma australiana, AS 1720.4-1990, considera que a


estabilidade ao fogo dos elementos estruturais deva ser verificada utilizando uma combinação
específica de solicitações para a condição de incêndio. Para códigos de projeto que
consideram a tensão de serviço da madeira, o carregamento é dado por
w = 0,75 ⋅ w LSD , (7)
no qual wLSD é a combinação de carregamento estipulada pelo código australiano que
considera os estados limites. Esta é dada por
w LSD = 1,1G + ψ c Q , (8)
sendo G, Q e ψc a carga permanente, a carga acidental e um fator de combinação de carga (0,6
para depósitos e 0,4 para os outros casos), respectivamente.

Esta norma especifica que a velocidade de carbonização β (mm/min) seja calculada por
2
 280 
β = 0,4 +   , (9)
 δ 
sendo δ a densidade da madeira com um teor de umidade de 12% dada em kg/m3. A
profundidade efetiva da camada afetada durante o período de exposição ao fogo é dada por
xc = β ⋅ t + 7,5 , (10)
sendo xc dada em mm e t dado em min. A equação acima considera uma camada de 7,5 mm
de madeira não carbonizada durante o processo mas que teve suas propriedades mecânicas
alteradas devido às altas temperaturas e que não mais apresenta propriedades mecânicas para
contribuir com a resistência da seção transversal residual.

3.4 NORMA BRITÂNICA - THE STRUCTURAL USE OF TIMBER, PART 4. FIRE


RESISTANCE OF TIMBER STRUCTURES. SECTION 4.1. RECOMMENDATIONS
FOR CALCULATING FIRE RESISTANCE OF TIMBER MEMBERS

O método britânico define a estabilidade dos elementos estruturais como sendo a capacidade
de suportar a carga aplicada durante o período de teste de fogo. No caso de peças submetidas
à flexão, considera ainda como sendo a capacidade de resistir também à deflexão durante o
referido teste.

Para um tempo de exposição pré-definido, a norma britânica determina que a seção residual
deve resistir aos esforços de tal forma que a tensão atuante seja menor que a tensão
permissível para carga de longa duração e madeira seca multiplicada por 2,0, se a largura
inicial da peça for menor que 70 mm, ou multiplicada por 2,25, se a espessura for maior ou
igual àquele valor.

Na verificação da estabilidade ao fogo e no cálculo da capacidade de carga, se o tempo de


exposição for superior a 30 min e a menor dimensão da seção residual for inferior a 50 mm,
esta norma determina que se considere o arredondamento dos cantos devido à velocidade de
carbonização maior nesta região, sendo o raio do arredondamento igual à espessura da
carbonização e dado por
R(mm) = t ⋅ β , (11)
sendo t o tempo de exposição ao fogo e β a velocidade de carbonização. Para madeiras moles
a norma prescreve uma velocidade de carbonização média de β = 0,67 mm/min.

No tocante à deflexão, esta deve ser menor que o vão livre dividido por 30 e calculada usando
a seção resistente residual definida pela norma e o módulo de elasticidade médio ou mínimo.

4 ANÁLISE COMPARATIVA E RESULTADOS NUMÉRICOS

A seguir analisam-se os principais fatores considerados pelas normas analisadas que afetam a
estabilidade ao fogo de estruturas de madeira, que são: as dimensões originais e residuais da
seção transversal, a combinação de carregamento, os coeficientes de segurança e de redução
da resistência mecânica devido à temperatura.

Quanto à seção transversal residual, as normas francesa e inglesa computam o


arredondamento das arestas devido ao aumento da velocidade de carbonização naquele local,
o que é desconsiderado nas demais normas.

Quanto às cargas de projeto, as normas americana e britânica determinam que o elemento


estrutural seja dimensionado para suportar a carga total mesmo em situações de incêndio.
Contudo, as normas francesas e australiana reconhecem que é pouco provável que a carga
total de projeto ocorra quando da incidência de fogo, como mostram as equações 4, 7 e 8.
Isto permite, para o exemplo mostrado abaixo, uma redução de aproximadamente 40% do
carregamento para norma francesa e de 50% para a norma australiana.

Quanto aos coeficientes de segurança, as normas britânica e francesa utilizam valores


menores para situação de fogo, visto que adotam tensões admissíveis maiores que as
empregadas no projeto normal. Estas normas consideram que probabilidades maiores de falha
são aceitáveis para o projeto ao fogo de estruturas de madeira

No tocante à redução das propriedades mecânicas devido à temperatura, todas as normas,


direta ou indiretamente, consideram esta redução, quer pela aplicação de coeficientes
redutores, quer pelo desconto das camadas que tiveram suas características mecânicas
alteradas. As normas francesa e britânica, quando verificam a estabilidade ao fogo, utilizam
coeficientes de segurança inferiores àqueles utilizados no cálculo normal. A prática norte
americana aplica diretamente um coeficiente redutor da tensão e a norma australiana
desconsidera uma espessura de 7,5 mm, além da camada de carvão, no cômputo do módulo
resistente da seção.

Para ilustrar a aplicação das normas é adotada uma viga bi-apoiada de madeira laminada
colada de Pinus taeda com 15 cm de base, 55 de altura e 5,0 m de comprimento, sendo a
carga permanente da viga igual a 2,92 kN/m e a carga acidental 10 kN/m. Supõe-se que a viga
tenha a sua parte superior protegida pelo assoalho e assim a apenas 3 lados sejam expostos ao
fogo, como mostra a figura 1b. A parte comprimida da viga está impedida de ter flambagem
lateral. Os critérios de dimensionamento seguidos são os prescritos pela NBR7190.
As propriedadades mecânicas do material são: densidade de 430 kg/m3, resistência à
compressão e à tração paralelas às fibras de 22,90 MPa e 28,61 MPa, respectivamente. A
resistência ao cisalhamento na presença de tensões tangencias às fibras é 3,95 MPa. A
velocidade de carbonização da madeira para as normas americana e australiana foram
calculadas conforme as equações 6 e 9, respectivamente. Para as demais normas foram
utilizados os valores fixados para o caso.

Conforme indica o Projeto 24:301.06-002 da ABNT, fazendo a adaptação das normas


analisadas à situação brasileira, foram obtidos os tempos de resistência ao fogo mostrados na
tabela 1.

Tabela 1 – Tempo de resistência ao fogo.


Americana Norma francesa Australiana britânica
B 15 cm 15 cm 15 cm 15 cm
H 55 cm 55 cm 55 cm 55 cm
Mfogo - 35 kN.m 28,8 kN.m -
M - 56,6 kN.m 56,6kN.m -
α 0,7 1,0 0,7 1,0
k 0,311 0,444 0,311 0,444
β 0,065 cm/min 0,07 cm/min 0,0824 cm/min 0,067 cm/min
t 56,5 min 66,2 min 56,6 min 49,2 min

Empregando a equação 2 e os dados da tabela 2, foi construído o gráfico 1, que fornece a


relação crítica B/H em função da altura H, para o tempo de exposição ao fogo de 1 hora. A
partir desse gráfico, para cada norma, foi determinada a largura mínima para uma viga de 55
cm de altura resistir ao fogo de 1 hora, conforme a tabela 2.

Tabela 2 – Largura mínima de vigas para resistir à 1 h de exposição ao fogo.


Americana Norma francesa Australiana britânica
B 15,79 cm 13,36 cm 16,12 cm 17,27 cm
H 55 cm 55 cm 55 cm 55 cm
Mfogo - 35 kN.m 28,8 kN.m -
M - 56,6 kN.m 56,6kN.m -
α 0,7 1,0 0,7 1,0
k 0,311 0,444 0,311 0,444
β 0,065 cm/min 0,07 cm/min 0,0824 cm/min 0,067 cm/min
t 60 min 60 min 60 min 60 min

Percebe-se que os critérios mais conservativos no dimensionamento de vigas laminadas


coladas de madeira mole são os da norma britânica, como mostram as tabelas 1 e 2. Porém,
se o tempo de exposição ao fogo for de 30 min, a norma mais conservativa passa a ser a
australiana, conforme o gráfico 2, o que se deve à desconsideração dos arredondamentos dos
cantos feitos neste caso pelas normas francesa e inglesa.

Quando as condições de carregamento e os coeficientes α e k são iguais, como mostra o


gráfico 3, o fator determinante do comportamento das normas é a velocidade de combustão.
As diferenças mostradas acima são explicadas pelos diversos modos como são considerados
os fatores que influênciam a estabilidade da madeira ao fogo pelas normas analisadas.
5 CONCLUSÕES

Conclui-se que, para os critérios de projeto das normas analisadas serem utilizados no Brasil é
necessário, antes de tudo, determinar, por meio de testes de incêndio padrão, a velocidade de
combustão das madeiras brasileiras em função de suas características fundamentais, utilizando
amostras representativas do elemento construtivo. Sabe-se que as informações disponíveis na
literatura sobre este parâmetro foram obtidas para espécies vegetais diferentes das brasileiras
e desenvolvidas em outro tipo de clima. Portanto, para serem empregados para as espécies
brasileira é necessário confimá-los por meio de testes experimentais adequados, visto que
sem o valor preciso da velocidade de combustão não se consegue fazer uma previsão
confiável da resistência ao fogo dos elementos estruturais Devido à isso, a determinação
precisa da velocidade de combustão para as diferentes espécies de madeiras brasileiras é uma
área aberta a futuras pesquisas.

Gráfico 1 - Dimensões críticas para tempo de exposição de 1


1,00
hora
0,90
EUA
0,80
Australia
0,70

Inglaterra
0,60

França
B/H

0,50

0,40

0,30

0,20

0,10

0,00
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000

Altura H (mm)

Gráfico 2 - Dimensões críticas para tempo de exposição ao fogo de 30


min.

0,80

0,70
EUA
0,60 Australia

0,50
Inglaterra
França
B/H

0,40

0,30

0,20

0,10

0,00
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000

Altura H (mm)
Gráfico 3 - Dimensões críticas para tempo de exposição ao fogo de 30
min, variando somente a velocidade de carbonização
1,80

1,60

1,40 EUA

1,20
Australia
Inglaterra
1,00
B/H

França
0,80

0,60

0,40

0,20

0,00
0 100 200 300 400 500 600 700 800

Altura H (mm)

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMERICAN NATIONAL STANDARD. Standard test method of fire tests of building


construction and materials, ANSI/ASTM E 119. 1980.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Exigências de resistência ao fogo
de elementos construtivos de edificações, Projeto 24:301.06-002. Rio de Janeiro, 1999.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Projeto de estruturas de
madeira, NBR 7190. Rio de Janeiro, ago.1997.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Componentes construtivos
estruturais. Determinação da resistência ao fogo, NBR 5628. Rio de Janeiro, nov.1980.
AUSTRALIAN STANDARD. Timber Structures Code. Part 4: Fire resistance of timber
members, AS 1520.4. 1990.
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SCHAFFER E. L. State of structural timber fire endurance. Wood and fiber, v. 9, n. 2, p 145-
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WHITE, R. H e NORDHEIM, E. V. Charring rate of wood for ASTM E 119 exposure. Fire
technology, v. 28, n. 1, p 5-30, 1992.

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