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A condutividade térmica na madeira

A madeira é um dos mais bem elaborados materiais de origem orgânica, apresentando um


conjunto de características físicas e mecânicas dificilmente encontradas em outros
materiais, além de uma inumerável variação de padrões estéticos. Uma das características
físicas da madeira é apresentar baixa capacidade para conduzir calor.

Há três mecanismos essenciais de transporte do calor: a radiação, a convecção e a


condução. A transmissão de calor por condução é característica do transporte através dos
sólidos. Basicamente a madeira é um mau condutor térmico em conseqüência de sua
estrutura celular (numerosas pequenas massas de ar aprisionadas) e de sua constituição
por membranas celulósicas.

A madeira é um mau condutor térmico. Mesmo sem conhecimento técnico a respeito da


condutividade térmica da madeira, esta é uma característica presente no cotidiano das
pessoas: aprende-se desde cedo que a madeira age melhor como isolante que condutor de
calor.

Esta característica física, de baixa condutividade, deve-se principalmente à constituição e


organização do tecido xilemático. As células que compõem a madeira contêm elevada
proporção de celulose, que é caracterizada como um mau condutor. Além disso, a estrutura
do xilema permite o aprisionamento de inúmeras massas de ar em seu interior,
funcionando como um conjunto isolante.

A condutividade térmica para qualquer espécie depende do peso específico e do teor de


umidade contido na peça de madeira. Quanto mais alto o peso específico e a umidade
maior será a capacidade da madeira em conduzir calor. Madeiras secas a um teor de
umidade constante apresentam melhor desempenho como isolante.

Diversas aplicações da madeira estão relacionadas à sua baixa condutividade. Entre elas é
possível destacar: a) conforto térmico em habitações e em barcos; b) função isolante
protetora: implementos que entrarão em contato com temperaturas adversas, como
espetos para churrasco, colher de pau e até mesmo palitos de fósforo.

Além destes usos, muito se busca a madeira quando há a necessidade de uma sensação
térmica agradável, principalmente em projetos de arquitetura e design. Assentos e braços
de cadeiras, assim como assoalhos confeccionados em madeira causariam uma sensação
real de bem estar superior a materiais como metal e cerâmica, respectivamente.

A respeito do posicionamento geográfico em que a madeira será utilizada como elemento


estrutural visando conforto bioclimático, o seu uso em regiões frias está associado à
retenção de calor no ambiente e em regiões de clima quente, o seu uso visa uma menor
absorção de calor para o interior das construções.

No caso das regiões com clima temperado, o uso de madeira como material de construção
tem uma implicação ecológica direta na utilização dos recursos naturais renováveis, uma
vez que o emprego de um material com maior capacidade isolante pode resultar numa
menor demanda por recursos energéticos (lenha, carvão, gás, etc.).

Construção de habitações

O Brasil possui uma forte tradição construtiva em alvenaria de tijolos. Este sistema
construtivo foi trazido pelos portugueses na época da colonização, utilizando a mão-de-
obra escrava para carregar pedras, fabricar tijolos e telhas. O uso da madeira na
construção de habitações se deu fundamentalmente na região Sul e Sudeste, onde a
matéria prima, a Araucária (Araucaria angustifolia, Araucariaceae) era abundante.

Na região Norte, a tradição indígena das palafitas, a baixa concentração de renda e a


abundante disponibilidade de recursos florestais também fez florescer o hábito de se
construir habitações em madeira. O preconceito em relação à madeira está fundamentado
no uso inadequado, problemas de secagem, tratamento, projeto, especificações e outros,
aliado ao meio ambiente tropical que acelera a sua deterioração.

Infelizmente, em países em desenvolvimento ainda há a tendência cultural de creditar à


madeira um status de produto inferior e temporário quando é empregada na construção de
casas. É comum associar pobreza à casas de madeira e bem estar e alto padrão de vida a
construções de alvenaria.

A propagação do calor na madeira é maior no sentido paralelo às fibras e menor no sentido


perpendicular. Este é um fator adicional e favorável à confecção de revestimentos de
madeira em construções visando melhorar o conforto térmico, uma vez que o calor ou frio
tenderá a se propagar para o interior ou para fora do ambiente atravessando a madeira.
Havendo uma resistência natural das fibras, haverá consequentemente um incremento de
sua capacidade isolante.

Apesar da madeira constituir-se de um isolante térmico de boa qualidade, é necessário ter


um especial cuidado com a orientação da casa em relação ao sol, a ventilação a vedação
das portas e janelas, e principalmente o isolamento térmico das coberturas. Se estas
medidas não forem observadas corre-se o risco de se criar verdadeiras estufas ou
congeladores.

O uso em habitações é uma das principais aplicações do conhecimento existente sobre a


capacidade isolante da madeira. Apesar da importância que representa na construção civil,
a condutividade térmica da madeira é assunto abordado de modo bastante sintético nas
publicações especializadas. Além disso, há poucos exemplos claros utilizando normas
brasileiras e/ou espécies nativas. Como está relacionada muito à construção de habitações,
há mais conteúdo disponível em livros que tratam de resistência de materiais, ainda assim
de maneira superficial.

Fonte: Francisco Tarcísio Moraes Mady - Engenheiro florestal, graduado na Universidade


Federal do Amazonas.

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