Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
“Eu, Spurius Ligustinus da tribo de Crustumina, sou de origem sabina, concidadãos. O meu pai
deixou-me um iugerum de terra e uma choupana, na qual nasci e cresci, e até hoje vivo lá. Quando
cheguei à maioridade, o meu pai deu-me por esposa a filha do seu irmão, que trouxe consigo nada
além do seu nascimento livre e castidade, e com isso uma fertilidade que bastaria para um lar rico.
Temos seis filhos e duas filhas, ambas casadas. Quatro dos nossos filhos assumiram a toga da
masculinidade, dois usam a faixa dos meninos.” (Lívio, Ab urbe Condita 42.34.2-4)
Com essas palavras, Lívio inicia um discurso que foi supostamente proferido pelo veterano
romano altamente condecorado centurião Ligustinus em 171 a. C.. Lívio apresenta-o como um
pequeno proprietário rústico, um cidadão-soldado e também um bom pater familias. Ligustinus era
um homem de poucos recursos: ele possuía até menos do que os dois iugera (aproximadamente 0,5
hectares que, segundo a lenda, Rómulo havia dado a todos os cidadãos como heredium. (Varrão, De
Re Rustica 1.10.2, Plínio, o Velho, Naturalis Historia 18.6-7, 19.50) Havia prestado serviço extra no
exército romano durante a maior parte de sua vida adulta, provavelmente para complementar a sua
renda. (Lívio, Ab urbe Condita 42.34-36) Durante esses mesmos anos, ele e a sua esposa criaram
pelo menos oito filhos além da infância e casaram as suas duas filhas. Os seus seis filhos, quatro
deles adultos, presumivelmente ainda moravam com os pais na sua pequena cabana.
Isso torna a pequena cabana de Ligustinus claramente uma família nuclear. Mas essa não é a
história toda: é um passo no ciclo doméstico. De acordo com Ligustinus, ele viveu na mesma
pequena cabana desde o nascimento. O seu pai dera-lhe a sua esposa, portanto ele ainda estava vivo
quando Ligustinus se casou. Isso significa que, num certo ponto do passado, esta era uma família
extensa ou uma família múltipla, dependendo se a mãe de Ligustinus também estava viva na época.
Com quatro filhos adultos na casa, e ambos Ligustinus e a sua esposa ainda vivos, há uma
expectativa de que essa família se torne uma família múltipla novamente num futuro próximo.
Não sabemos se Ligustinus alguma vez existiu da maneira como Lívio o descreve. O que se
apresenta aqui é certamente um quadro idealizado da vida conjugal romana: um casamento longo,
um grande número de filhos, um filho obediente ao pai e cujos filhos lhe são obedientes. (GALEN,
2016: 156)
Saller, Richard (1994) Patriarchy, property and death in the Roman family (Cambridge: Cambridge
University Press).
Hajnal, John (1982) ‘Two kinds of pre-industrial household formation system’, Population and
Development Review 8: 449-494.
Huebner, Sabine (2011) ‘Household composition in the Mediterranean - What do we really know?’,
in: Beryl Rawson (ed.) A companion to families in the Greek and Roman worlds (Malden: Wiley-
Blackwell) 73-91.
Huebner, Sabine (2013) The family in Roman Egypt: a comparative approach to intergenerational
solidarity and conflict (Cambridge: Cambridge University Press).
Bagnall, Roger, and Bruce Frier (1994) The demography of Roman Egypt (Cambridge: Cambridge
University Press).
Barbagli, Marzio, and David Kertzer (1990) ‘An introduction to the history of Italian family life’,
Journal of Family History 15: 369-383
Laslett, Peter (1983) ‘Family and household as work and kin groups’, in: Richard Wall, Jean Robin
and Peter Laslett (eds.) Family forms in historic Europe (Cambridge: Cambridge University Press)
513-563
Laslett, Peter (1972) ‘Introduction: the history of the family’, in: Peter Laslett and Richard Wall
(eds.) Household and family in past time: comparative studies in the size and structure of the
domestic group over the last three centuries in England, France, Serbia, Japan and colonial North
America, with further materials from Western Europe (Cambridge: Cambridge University Press) 1-
89.
Hopkins, Keith (1987) ‘Graveyards for historians’, in: François Hinard (ed.) La mort, les morts et
l’au-delà dans le monde romain: actes du colloque de Caen 20-22 novembre 1985 (Caen: Université
de Caen) 113–124.
Dixon, Suzanne (1988) The Roman mother (Norman: University of Oklahoma Press).
Dixon, Suzanne (1992) The Roman family (Baltimore: Johns Hopkins University Press).
Parkin, Tim (1992) Demography and Roman society (Baltimore: Johns Hopkins University Press).
Frier, Bruce (2000) ‘Demography’, in: Alan Bowman, Edward Champlin and Andrew Lintott (eds.)
The Cambridge ancient history 11 (Cambridge: Cambridge University Press) 787-816.
Hopkins, Keith (1965) ‘The age of Roman girls at marriage’, Population Studies 18: 309-327.
Duncan-Jones, Richard (1990) Structure and scale in the Roman economy (Cambridge: Cambridge
University Press).
Scheidel, Walter (2001) ‘Roman age structure: evidence and models’, Journal of Roman Studies 91:
1-26.
Galen, Cornelis Willem van (2016) Women and Citizenship in the late Roman Republic and the
early empire, Edição de autor (Nijmegen, RU)
Coale, Ansley, Paul Demeny and Barbara Vaughan (1983) Regional model life tables and stable
populations (New York: Academic Press).