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Plutarco

De Ísis e Osíris
Plutarco
De Ísis e Osíris

TRADUÇÃO, I N T R O D U Ç Ã O E N O TA S

Maria Aparecida de Oliveira Silva


Copyright © 2022 by Maria Aparecida de Oliveira Silva

Direitos reservados e protegidos pela Lei n. 9.610, de 19 de


fevereiro de 1998.

É proibida a reprodução total ou parcial sem autorização, por


escrito, da autora.

Produção editorial: Maria Aparecida de Oliveira Silva

Primeira revisão: Marcelo Carvalho

Segunda revisão: Angela Cavinatti

A
Revisão final: Francisca Luciana Sousa da Silva

Capa: Gabriel Araújo

Imagem de capa: Alto relevo de Ísis e Osíris, templo de Seth I em


gradecimentos
Abido, Egito. XIXª dinastia.
ID 13312116 © Basphoto | Dreamstime.com

Design e editoração: Tamar Fortes

Esta tradução é fruto da fé coletiva na união de forças


atuantes em um projeto inédito voltado ao desenvolvimento dos
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Estudos Clássicos no Brasil. Agradeço imensamente a energia de
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
cada participante, com suas distintas notas, mas com a consciência
S586p Silva, Maria Aparecida de Oliveira uníssona de que somente o conhecimento pode nos elevar e nos
Plutarco De Ísis e Osíris / Maria Aparecida de aproximar do divino; pois, como afirma Plutarco em seu prólogo:
Oliveira Silva. Edição bilíngue. – São Paulo, SP: 2022.
284 p.: il. ; 14 x 21 cm.
“aspirar à divindade é o desejo da verdade” (De Ísis e Osíris, 351E).
Inclui índices A verdade humana é um construto de investigações e raciocínios
ISBN: 978-65-00-39639-3
elaborados ao longo dos anos, impossível de ser alcançada em sua
1. Literatura grega. 2. Ísis e Osíris. 3. Plutarco. I. Silva,
Maria Aparecida de Oliveira. II. Título.
totalidade por uma só existência. No espaço de uma vida humana não
CDD 888
se é capaz de entender tudo porque pouco se viu e ouviu; diferente do
deus que tudo sabe por ter visto os acontecimentos desde o seu início
e sempre acompanhará o seu desenrolar. É o saber acumulado pela
Índice para catálogo sistemático:
1. Literatura grega: 888 humanidade, ainda que incompleto por sermos mortais, que move
Isabel Cristina Pereira da Costa  Bibliotecária  CRB-3/1324
nosso mundo e torna possível compreender cada vez mais a natureza
humana em suas diversas manifestações.

A todos que colaboraram para mais este estudo da obra


plutarquiana na minha carreira, por mais que eu escreva, não serei
capaz de expressar toda a minha gratidão e todo o meu carinho
por vocês que apoiaram este projeto! Não quero aqui citar nomes
individualmente, foram muitos amigos, colegas, alunos, familiares,
pessoas que conheci apenas por meio das mídias sociais, algumas
páginas especializadas que me ajudaram, pois temo esquecer alguém
e cometer alguma injustiça. Em razão disso, todos os nomes dos
participantes estão grafados em ordem alfabética no fim deste livro,
S umário
para que todos se sintam lembrados.

É com muita alegria que informo que esta tradução está


disponível em pdf no site: https://independent.academia.edu/ Agradecimentos xi
MariaAparecidadeOliveiraSilva, como forma de ampliarmos
Prefácio 9
nossa contribuição ao nosso país. A versão impressa é exclusiva dos
colaboradores da Campanha De Ísis e Osíris, de Plutarco – Tradução, Introdução 31
edição e impressão, cuja primeira fase foi realizada de outubro a
Περι ισιδος και οσιριδος | De Ísis e Osíris 53
dezembro de 2018 e a segunda, de abril a junho de 2021; com edição e
impressão executadas de julho de 2021 a fevereiro de 2022. Notas 179

Muito obrigada a todos por esta experiência única! Índice onomástico 247

Índice topográfico 257


Maria Aparecida de Oliveira Silva
Referências bibliográficas 261

Participantes 269
P r efácio

É interessante notar que Plutarco inicia a narrativa contida no


texto Ísis e Osíris com uma espécie de epístola dirigida a Clea, que
presidia as Tríades de Delfos:
Tudo que é bom, ó Clea, [...] devem pedir para si junto aos
deuses, sobretudo suplicamos em nossa busca obter da
parte deles, o quanto for possível aos homens alcançar, o
conhecimento deles em sua essência. Porque não há nada
melhor para um homem receber nem mais venerável para
conceder a um deus que a verdade.
(Plutarco. De Ísis e Osíris, 351C-D)

Em que pese sua competência literária, o que o torna um mestre


na escritura de biografias, a missão a que ele se propôs, ao ensaiar
uma interpretação histórica do mito de Ísis e Osíris, levou Plutarco a
enfrentar problemas quase inexpugnáveis. Isto porque, para o filósofo
grego, a busca da verdade era a finalidade precípua de suas biografias.
Devido, entretanto, à escassez de fontes, ao acesso a informações
cifradas pelos valores egípcios, bem como à despreocupação total dos a boca”. Importa particularmente para o presente texto contextualizar
próprios egípcios com a veracidade e a racionalidade de seus relatos, algumas das características presentes na narrativa de Plutarco, ao
eles, ao misturarem magia, política, religião, criavam um contexto descrever os deuses egípcios Ísis e Osíris, particularmente, no
que não se submetia à razão, impossibilitando, com isso, qualquer momento em que ele se propõe a traçar um esboço da personalidade
tipo de categorização de suas narrativas, o que dificulta, em muito, e modo de ser desses protagonistas  seu caráter, modo de agir e
sua análise. ditos.

Quando Plutarco se dispôs a entender os mitos egípcios, Com vistas ao aprofundamento de sua visão sobre os egípcios,
passou, assim, a espreitar um mundo cheio de mistérios, a começar Plutarco, ao escrever, recorre às fontes, interpelando Cleo, pois, por
pela própria linguagem escrita convocada para sua expressão, da formação e inquietude, como historiador, acreditava que:
qual, aliás, ele possuía pouco domínio. Além disso, por formação, invenções vazias, tais como os poetas e os logógrafos que,
fora levado a desprezar os hieróglifos por seu carácter imagético, como as aranhas, geram as primeiras ideias de si mesmos, sem
pela recorrência ao figurativo. Mais ainda, precisou se defrontar fundamento, tecem-nas e as expandem, mas com algumas
dificuldades e narrativas de sofrimentos, tu mesma as conheces.
com relatos que lhe chegavam trazidos (e traídos) por uma memória, (Plutarco. De Ísis e Osíris, 358F)
como alertava Fedro, segundo Platão (428-348 a.C.), constituída
“por histórias inventadas por Sócrates”. Em razão de tal contexto, Um outro exemplo desta preocupação se manifesta quando
não surpreende encontrarem-se, no interior dessas narrativas míticas, Plutarco discorre sobre o surgimento do mundo na visão dos antigos
relatos de situações interpretadas, modificadas e/ou censuradas egípcios, assim se expressando:
por Plutarco. Ele próprio confessa, no encerramento de seu texto, é uma mistura que vem de poderes contrários, sem dúvida,
essas interferências: “Esses são mais ou menos os principais fatos não com a mesma força, mas o melhor é o que predomina; e
é completamente impossível que o mal seja destruído, porque
característicos do mito; dele foram retirados os mais desagradáveis, está muito enraizado no corpo e na alma do universo, e está
como o desmembramento de Horo e a decapitação de Ísis”. sempre combatendo com o melhor.
(Plutarco. De Ísis e Osíris, 371A)
No entanto, na visão dos egípcios, não houve, em nenhum
momento, um desmembramento de Hórus e, sim, de Osíris, após a Em sua perspectiva, na alma, “Osíris é a inteligência e a razão,
sua morte, o que é narrado por Plutarco em outro momento. Já Ísis que são guias e soberanas sobre todas as coisas excelentes na terra, nos
foi agredida pelo filho no episódio em que o mesmo pensou haver ventos, nas águas”. Já quando se refere a Tífon, correspondente ao
ela protegido Seth; mas ele não chegou às vias de fato - ela não foi Seth egípcio, Plutarco o configura com tudo o que “existe na alma
morta por ele. A liberdade, nesse relato, pode ser considerada como de patético, titânico, irracional e impulsivo”. Ao esboçar os traços
inadequada, em se tratando de divindades, diz o sábio de Queroneia, da personalidade dos protagonistas da narrativa, Plutarco atenta
que se justifica citando as palavras de Ésquilo (524-455 a.C.): “se para o caráter metafórico das qualificações empregadas. Em razão
fossem ações e acontecimentos verdadeiros, deve-se cuspir e purificar disso, acredita que a Seth cabe o que há de mais estúpido dentre

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os animais domésticos  o asno; e, dentre os animais selvagens, o principal, aliás, plenamente atingida nesta obra. Mas, afinal, de que
crocodilo e o cavalo do rio (hipopótamo). Os egípcios diziam que trata o mito de Ísis e Osíris?
Tífon escapou de Hórus porque se transformou em um crocodilo. Já
Osíris é representado por um olho e um cetro, o primeiro referindo O MITO DE HELIÓPOLIS, PELOS EGÍPCIOS
a previdência e o segundo, o poder. Ele é também frequentemente E SEUS HISTORIADORES

aludido pela imagem de um gavião, ave que, por natureza, se destaca


Os antigos egípcios, entre os anos de 2350 e 2175 a.C.,
pela agudez de visão, pela velocidade do voo e pelo pouquíssimo
inscreveram nas paredes da sua pirâmide em Sakkara os famosos
alimento de que necessita para sobreviver.
Textos das Pirâmides, a maior e melhor coleção de literatura
Plutarco relata que, à época, circulava por toda parte, no religiosa do mundo antigo.
mundo egípcio, uma estátua de Osíris na forma humana, exibindo Fragmentos dos mitos antigos egípcios são encontrados nos
seu membro viril ereto, uma menção explícita ao seu poder Textos das Pirâmides, tais como o 7075, o qual refere ao mito
cosmológico para explicar o efeito de que o sol aparece dos
fecundante e nutriz. Essa, não obstante, foi, segundo os egípcios, a cornos da vaca celeste, que posteriormente se manifestam na
única parte do corpo dessa divindade que ficou faltando na busca de deusa Hathor.
Ísis. Essa imagem de um deus com o falo ereto permite estabelecer Esses egípcios antigos acreditavam em muitos deuses, cujas
uma correspondência com Min. Assim, apesar da fama de loucos que histórias são hoje compreendidas como mitos que, referentes a
os egípcios gozavam entre os gregos, Plutarco, muito provavelmente, pessoas ou a coisas, só existem na imaginação, estando especialmente
surpreendeu-se com o tom fantástico que perpassa o encaminhamento associados a crenças religiosas e rituais. Embora o pensamento
final desta narrativa mítica, concluída com o coroamento de Hórus moderno seja crítico e analítico, vale ressaltar que ele também inclui
como rei do Egito e com sua escolha de Osíris para ocupar a função as suas crenças, pois fundamenta-se muitas vezes em premissas e
de governante do mundo do além, conforme registro no Livro dos raciocínios sobre os quais não fornece provas concretas de existência.
mortos... O fato é que, ainda hoje, esses mitos seguem passíveis de Muitas crenças são milenares. E as primeiras construções míticas
múltiplas interpretações e fomentam inúmeras discussões, o que datam exatamente desses tempos remotos. Os textos conhecidos
torna este livro tão instigante e necessário como exercício de reflexão. como pertencentes às pirâmides não provêm das construções
Mas, por que se faz necessária uma nova tradução? monumentais de Gizé; suas inscrições estão presentes apenas nas
pirâmides da V dinastia. A primeira delas a conter esses relatos foi
É Maria Aparecida quem responde a essa questão ao se dispor a a de Unas, o último faraó da V dinastia. Gaston Maspero (1885-
traduzir, de forma exemplar e irretocável, o texto original de Plutarco. 1915) foi quem primeiramente traduziu os encantamentos inscritos
Ela esmiúça os sentidos da língua grega para encontrar, em suas na pirâmide de Teti (2323-2291 a.C.). Neles, o universo dos mortos
dobraduras c, este autor do princípio do século I. Assim, depurar seu (Duat) e o mundo celeste eram bastante semelhantes ao dos vivos
trabalho acadêmico e tornar compreensíveis as transculturações que (Kemet). Os egípcios acreditavam que, quando um morto superasse
a dinâmica da linguagem provoca nos leitores modernos é sua meta as dificuldades do Julgamento dos Mortos, ele viveria nos campos de

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Ianu, lugar de natureza idílica, cujo significado é vida após a morte. de que, dos egípcios antigos, especialmente daqueles que viveram
Veja-se o que diz sobre o tema o capítulo 147 do Livro dos Mortos: durante o Velho Reino ou em tempos anteriores, não se pode esperar
...o morto refaz o caminho do deus Osíris, de modo a atingir nada que se aproxime do que hoje se entende por pensamento
a sua justificação e juntar-se à esfera divina. No mundo dos filosófico. Suas especulações de forma alguma se restringiam àquilo
vivos não há igualdade, a desigualdade se dilui no caminho que atualmente se compreende como uma demanda científica da
dos mortos, a caminha do Maat. Nessa senda os juncos em
associação com a água produzem o efeito de vida e fertilidade. verdade. Essa busca intelectual, aliás, está completamente ausente
Eles formam o caldo sagrado do oceano primordial. do grande corpo constitutivo da literatura religiosa proveniente do
antigo Egito, representado pelos famosos Textos das Pirâmides.
Os egípcios chamavam o Livro dos Mortos de Capítulos para
sair à luz. Foi Richard Lepsius (1810-1884) quem denominou esses Para Mercer (1880-1969), o fato de esses povos primitivos
textos de Livro dos Mortos. Lepsius foi também o primeiro tradutor serem, essencialmente, movidos por apelos emocionais e volitivos,
dos Textos dos Sarcófagos, que registram os espaços inicialmente sempre presentes em suas manifestações, determinava que as
ocupados pela nobreza para a formalização do julgamento de conclusões a que chegassem não se fundamentassem em julgamentos
seus mortos. Os melhores exemplos desses procedimentos são os críticos, e, principalmente, complexos, pois, vale lembrar, o que
encontrados nos sarcófagos da XI e XII dinastias, primeiro período se pode chamar de filosofia egípcia era apresentada em termos
intermediário. Tudo indica haver sido James Henry Breasted (1865- pictóricos. É evidente que eles raciocinavam de forma lógica, mas
1935) quem sugeriu, para denominação desses registros, o título de raramente o faziam de maneira formal, como é o caso da construção
Textos dos Sarcófagos. Os egiptólogos que mais trabalharam com da Enéade Heliopolitana, que ilustra muito bem a sua forma de
os Textos dos Sarcófagos foram Alan Henderson Gardiner (1879- especulação sobre o real.
1963) e Adriaan de Buck (1892-1959), esse último também editor de
seus seis volumes. Os papiros em que se encontram registrados esses Observando com atenção os textos das pirâmides em seu
textos funerários mediam até mesmo 24 metros. E o seu custo podia conjunto, percebe-se que o mito de Heliópolis foi primeiramente
ser acessível, pois variava como o valor pago por outros serviços ou narrado com o nome e a estrutura de O Conto das pirâmides,
aquisições – uma cama, um feixe de papiros, ou mesmo a metade da preservado no Papyrus Chester Beatty I, cuja principal característica
remuneração do trabalho anual de um operário qualificado. é a forma como evidencia o encaminhamento dos procedimentos
judiciais nos tempos primordiais do Egito Antigo, o que, sem dúvida,
Esses textos constituem-se em um corpus de encantamentos, o torna surpreendente. Muitos dos pesquisadores e egiptólogos que
cujo principal objetivo era promover a ressurreição e o bem-estar se debruçaram sobre esse corpus, lidaram com As Contendas de
dos falecidos. Quando talhados nas paredes, esses encantamentos Hórus e Seth. John Gwyn Griffiths (1862-1934), por exemplo,
estão claramente separados uns dos outros por meio de um termo discorre sobre todo o conflito entre Hórus e Seth em seu livro The
introdutório e por linhas divisórias, o que indica se tratar de conflict of Horus and Seth, discutindo os diferentes aspectos
‘enunciados’ distintos e independentes. É lugar comum a afirmação envolvidos na batalha iniciada por Seth, inclusive as mutilações, o

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episódio homossexual e o julgamento. Griffiths argumenta que se também filhos de Osíris. Em sua análise da literatura egípcia antiga,
trata de mito cuja origem é política e histórica e que a querela entre Antonio Loprieno afirma que o Contendings é um dos primeiros
Hórus e Seth tem a ver com lutas tribais anteriores à unificação exemplos de “mitologia como gênero textual”, ou seja, de quando
do Egito. Outros historiadores, não obstante, descartaram essa a mitologia adentra no campo literário. Ele acredita que isso tem a
ideia, como é o caso do autor de As contendas de Hórus e Seth, ver com a transformação da história em sátira política. Nessa direção,
que defende a posição de que esse relato, em particular, foi criado Loprieno elogia seu orientando Marcelo Campagno, egiptólogo
simplesmente como um mito religioso, não devendo ser relacionado argentino, por atribuir ao mito a função de concepção e difusão do
ao contexto histórico. conceito de universo para os antigos egípcios. Loprieno também
destaca a ênfase que Marcelo confere à descrição da forma de atuação
Os textos das pirâmides foram primeiramente publicados por
dos primeiros procedimentos judiciais, ao tomar como referência o
Maspero (1846-1916) que obteve a permissão para copiá-los do Diretor
percurso empreendido durante o processo de julgamento de Seth
do Serviço de Antiguidades do Egito, François Auguste Mariette
como pretendente ao trono do rei Osíris.
(1821-1881), “o Pasha”, denominação conferida pelos turcos a pessoas
de excelência, como era o seu caso. Ao todo, Maspero então copiou Marcelo Campagno oferece uma solução bastante convincente
os textos das pirâmides de Pepi I (2289-2255 a.C.) e Merenre (2255- para o problema conceitual. Graças ao seu extraordinário domínio dos
2246 a.C.), havendo traduzido 4000 linhas da inscrição em hieróglifos. estudos históricos e antropológicos, ele consegue demonstrar que:
Outra das grandes figuras da filologia egípcia do século XX foi o a dicotomia da enciclopédia subjacente ao conto mitológico do
egiptólogo alemão Kurt Seth (1869-1934). Ele fez descobertas em todos papiro Chester Beatty é aquela entre dois modelos (ou lógicas)
os ramos da egiptologia, havendo conferido e reeditado os Textos das de organização social, aparentemente coexistindo - na realidade
social ou em termos de memória cultural - no Ramesside Egito.
Pirâmides, fruto do trabalho exaustivo de Maspero, seu principal autor.
Também é importante a contribuição de Campagno, mais
É importante destacar que a edição modelo de Kurt Seth comporta
recentemente, em que ele considera a rivalidade entre Hórus e Seth
um total de 714 enunciados, acrescidos de textos adicionais, trazidos
tal como relatada no Papiro Chester Beatty I, como evocativa do
posteriormente, perfazendo o número de 759 enunciados.
triunfo do sistema de corte de Estado sobre o sistema de parentesco
Maspero e Kurt Seth são as principais autoridades, em baseado em práticas judiciais. Na publicação de Oxford do dito
língua inglesa, dessa fase da egiptologia mundial, juntamente com papiro, contendo As disputas de Hórus e Seth, a discussão sobre
Samuel Mercer (1880-1969) e Raymond Faulkner (1894-1982). Eles o conto é conduzida por Alan Gardiner, que compara essa narrativa
pertencem ao grupo que defende a posição de que o aumento do com as histórias das divindades gregas e com a Odisseia de Homero.
poder e atribuições ao rei estavam estreitamente ligados ao fato de O fato é que o Livro dos Mortos, retirado das pirâmides, bem
ele ser um representante de Hórus, crença que se difundiu com o como os textos do Papiro Chester Beatty I comportam inúmeros
mito de Osíris, na Vª dinastia. Considerado como o filho de Osíris, ensinamentos sobre os procedimentos judiciais adotados no Egito
Hórus, com essa origem, reforçou o mito de que todos os faraós são Antigo, que ainda hoje encantam juristas e egiptólogos.

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Outros historiadores, no entanto, descartam essa pretensão Foi sobre essa grande massa de materiais, constituída pelas primeiras
e, quando abordam As Contendas de Hórus e Seth, classificam lendas e narrativas, que os estudiosos sacerdotais de Heliópolis e
essa narrativa, em particular, como um mito religioso, sem nenhuma Mênfis mais tarde construíram sua teologia, os mitos.
relação com o contexto social e histórico. Sabe-se que os mais
O advento da escrita no antigo Egito ocorreu, acredita-
remotos relatos dos antigos egípcios jamais estabeleceram claramente
se, durante a Iª dinastia, quando as primitivas paletas de ardósia,
a diferença entre oceano e mar, entre mar e lago, entre um lago,
contendo as palavras reais, apareceram. Datam do tempo de Menes,
um canal e um rio. Nun, entretanto, era equivalente ao abismo. De
primeiro faraó da Iª dinastia, aquele responsável pela união do
acordo com essa teoria, no começo
Egito. Durante o seu reinado, ter-se-ia iniciado a vida intelectual no
...não existia nada em todo o mundo, exceto Nun, abismo ou Egito. A escrita, ainda em formação, tinha uma estrutura complexa,
oceano primordial, do qual brotou uma colina; e nela, o deus
comportando três classes de signos - os ideogramas, os sinais fonéticos
Atum, se auto criou. Então, desse sêmen ou saliva ele criou
outro deus, Shu, a atmosfera e, para ele, uma esposa, a deusa e os determinativos -, configurando-se como o sistema adequado
Tefnut, uma divindade da umidade. Para este par nasceram mais antigo hoje conhecido de escrita fonética, o que assegurava
Geb, a terra; e Nut, o céu, que se tornaram pais de Osíris e
de sua esposa Ísis; e Set e sua esposa Néftis. Atum e seus oito
ao Egito a liderança no avanço gradual, mas seguro, da civilização.
descendentes formaram o Grande Enéade de Heliópolis Desde os tempos da Iª dinastia, os reis do Egito começaram a colocar
(Mercer, 1957, p. 88). inscrições nas rochas do sul do Sinai, onde a mineração era realizada.
O Egito pré-dinástico era, de início, constituído por um grupo No chamado Antigo Império, pelos idos da IIIª dinastia, a
de nomos. Um nomo era uma região territorial do país englobando forma de organização do Estado já estava fixada, tendo, como titular
várias herdades e/ou aldeias, contando com um administrador e cabeça de todos os departamentos, o faraó. Havia numerosos
responsável pelo gerenciamento de seu território, mas não há funcionários para cobrar taxas, organizar os censos, operar com as
registros escritos sobre seu funcionamento, com exceção da presença cortes judiciais. E, em assuntos administrativos, os egípcios antigos, de
de tumbas e de vasos pré-dinásticos. A bandeira do clã principal em pronto, descobriram o quanto os governantes podiam ser generosos e/
relação a um grupo de clãs que se formara ao seu redor, conferia seu ou terríveis. A base da autoridade e da justiça era o rei que, divinizado,
nome ao nomo, ou seja, o nomo inteiro era designado pelo nome de dava respaldo aos atos praticados pelos vizires e funcionários. Sabe-se
sua capital. E, mais tarde, quando, por vezes, a capital possuía um que o mito de Ísis e Osíris foi gerado no alvorecer da história egípcia,
santuário, chamado de ‘casa’ do deus, ela, mais tarde, passava a ser a nordeste do Cairo atual, onde se encontravam as ruínas de Yunu,
conhecida pelo nome da “casa” da divindade adorada no santuário. que se tornaram conhecidas, com a obra de Heródoto, pelo nome
Assim, a cidade de Busíris era a “Casa de Osíris”. Muitos animais de Heliópolis, ou seja, a cidade do Sol. Embora essa referência tenha
eram adorados nesses tempos. Os mais antigos tornaram-se ganhado forma a partir da visita de Heródoto (séc. V a.C.), o sítio,
emblemáticos, tais como o touro e o leão. Com o correr do tempo como é natural, já era conhecido pelos egípcios, conforme registros
e o desenvolvimento do pensamento, os antigos egípcios passaram no Livro dos Mortos, advindo do período de unificação dos dois
a considerar o céu, a terra, o mar, a luz e a escuridão como deuses. reinos, cerca de 3.000 a.C.

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Os desdobramentos do mito de Heliópolis foram inúmeros, definitivamente, qualquer pretensão de Seth ao trono do Egito e ao
pois ele tornou públicos os sentimentos fundantes das relações privilégio de a desposar. Como então, a partir desse contexto, poderia se
familiares contraídas a partir da terceira geração de deuses míticos, dar a relação entre os irmãos? Como poderia ser pacífica a convivência
quando do nascimento dos quatro filhos de Nut (deusa céu) e Geb entre eles a partir de uma situação tão desigual? A solução encontrada
(deus terra): Osíris, Seth, Ísis, Néftis. A companhia dos Nove Deuses, por Seth foi o assassinato do irmão. Como se pode ver, este, que seria
originalmente situada em Heliópolis, foi, segundo a lenda egípcia, um pensamento bastante atual, foi também aquele que motivou Seth a
responsável pela criação do deus do sol e seus descendentes. A origem tomar a decisão de matar o irmão.
do vocábulo enéade é a palavra grega que designa nove. Os antigos
egípcios chamavam essas divindades coletivas de Pesdjet. A primeira tentativa de fazer justiça na repartição dos bens
ocorreu durante a realização de uma festa promovida por Seth que
serviu de engodo para o assassinato de Osíris. Nesse cenário festivo,
NÚCLEO DO MITO DE HELIÓPOLIS
que contou com a participação de inúmeros deuses, muitos deles ainda
A tragédia relatada nesta narrativa mítica teve início na desconhecidos pelos estudiosos e cuja origem permanece inexplicada,
necessidade de fazer a partilha da herança recebida pelos filhos dos uma figura se destaca, Osíris, o protagonista principal do mito. Seth,
criadores do céu (Nut) e da terra (Geb), que, pela grandiosidade o organizador do evento, fez uma listagem dos quarenta e dois deuses
do legado, alimentou vaidades e despertou cobiças inimagináveis convidados e, ao final do banquete, expôs um magnifico sarcófago
no mundo divino egípcio. Mas, afinal, de que trata o mito de Ísis em madeira preciosa e convidou todos os deuses a experimentá-
e Osíris? Por que é necessária uma discussão, que torna o livro de lo, com a promessa de que ele daria o esquife a quem dentro dele
Plutarco (46 a.C-148 d. C), tão instigante e necessário como exercício coubesse. Os deuses excitados disputaram então a hora de entrar no
de reflexão, exigindo inúmeras traduções? Quando Plutarco dispôs- caixão, mas ele ficou grande para todos, exceto para Osíris. Mal o
se a entender os mitos egípcios, passou a espreitar e a direcionar sua irmão entrou no esquife, Seth rapidamente o fechou e jogou o caixão,
atenção para um mundo tão cheio de mistérios que, sem dúvida, até com o corpo de Osíris, no rio Nilo. Teoricamente, Osíris morreu no
mesmo para ele, foi de difícil decifração. Aliás, é fato que, ainda hoje, ato; mas, na prática, o herói egípcio permaneceu, não obstante o
esses mitos seguem passíveis de múltiplas interpretações por parte de crime praticado pelo irmão, em cena, de corpo presente, através dos
sábios egiptólogos. atos de sua esposa, cuja persistência acaba por fazê-lo ressuscitar. A
correnteza do rio arrastou a caixa funerária até o mar Mediterrâneo,
A questão central, responsável pelo desencadeamento da
onde ela acabou por aportar na cidade fenícia de Biblos.
narrativa mítica, reside no como realizar a partilha real, se a Osíris coube
a fertilidade e a Seth o deserto mortal? Para tornar mais complexa e A narrativa, à medida que Seth começa a planejar o desfecho
difícil essa relação, Ísis, a mais bela do quarteto de irmãos, imagem sinistro para o impasse que o atormentava, vai-se impregnando de um
perfeita de mulher e protótipo da companheira ideal, casou-se tom trágico: o mito reveste-se então de uma lógica racional, quase do
com Osíris para, com ele, formar uma descendência, eliminando, tipo causa/consequência, bem próxima da tragédia que, mais tarde,

20 MARGARET MARCHIORI BAKOS PREFÁCIO 21


se institui entre os gregos como gênero literário, como bem lembrou a preocupação da rainha de Biblos que, havendo recentemente parido
Gardiner, profundo conhecedor das lendas gregas. O pioneirismo um menino, temia pela segurança do filho. Assim, a Ísis desgrenhada
desse tipo de relato, bem como a escolha do banquete como o cenário traveste-se de ingênua, delicada e, purificada de todas as sujeiras do
adequado para o estabelecimento de um pacto político entre os percurso, segue em direção ao castelo, lá se oferecendo como babá.
membros de uma elite permanece, ainda hoje, como um dos marcos
O tempo passa rápido e Ísis, aos poucos, vai-se apaixonando
da teatrologia universal. Aliás, o poder dos fortes, das lideranças tem
pelo bebê. Ela decide então agraciá-lo com o melhor presente possível
sido, ao longo do tempo, como já destacava Homero (928 a 898 a.C.),
para um ser humano: a imortalidade. Para isso, durante sete noites,
o terror dos humildes e o locus de atuação privilegiado pela literatura
acende, conforme prescrevia o ritual, dezenas de velas ao redor do
a serviço da realeza.
berço e gira outras tantas voltas, entoando uma cantoria de feitiço. Já
no final da magia, o rei acorda e sai gritando enlouquecido, avisando
ÍSIS EM BUSCA DE OSÍRIS EM BIBLOS
aos guardas que havia fogo no quarto de seu filho. Tropeçando na
Ísis, inconsolada com a morte do marido, lamenta, juntamente própria deusa, os soldados apagam o fogo. E Ísis se lamenta, abraçada
com sua irmã Néftis, a perda de Osíris, mas vai destemidamente à à rainha a quem relata a sua própria história. Na sequência, Ísis, com
luta, sob a forma de pássaro. O papel desempenhado por Ísis, a partir a ajuda da rainha, o que assinala uma parceria nova e feminina no
do momento em que ela sai, transtornada, em busca do sarcófago mito, corta a árvore, recupera o sarcófago e regressa ao Egito com o
de Osíris e chega à terra de Biblos, manifesta-se de duas formas: corpo de seu amado.
a primeira delas marca a entrada em cena da figura feminina; a
Seth, contudo, encontra a caixa e, furioso, esquarteja o corpo
segunda, confere-lhe a oportunidade para evidenciar o seu poder de
de Osíris em catorze pedaços, que espalha por todo o Egito. Alguns
deusa, capaz de realizar todas as magias necessárias para conquistar o
textos do  período ptolomaico afirmam haver sido em dezesseis ou
seu objetivo maior - trazer Osíris à vida. Mas, com pesar, a heroína
quarenta e duas partes. Quanto ao significado desses números,
acaba por descobrir que, nem mesmo aos deuses, tudo é permitido
acreditam os estudiosos que eles devem referir-se ao número de
por Rá. Ela herdou, entretanto, a astúcia que, na mitologia grega,
dias que decorre entre a lua cheia e a  lua nova que é quatorze, ou
Zeus também destinou à mulher. Assim, Ísis passa a lutar por um
ao número de províncias (ou nomos) em que o Egito se encontrava
outro mundo, onde Osíris possa reinar.
então dividido, ou seja, quarenta e duas, o que lhes confere uma força
Nos desdobramentos da “odisseia” de Ísis, ela chega a Biblos, mítica. Ísis, auxiliada por sua irmã Néftis, parte então em busca das
onde, desesperada, sai à procura do corpo do marido, buscando, partes do corpo de Osíris. Consegue reunir todas elas, com exceção
para tanto, obter todo o tipo de informações dos que encontra pelo do pênis, que teria sido devorado por um ou três peixes, conforme as
caminho. Nesse percurso, Ísis acaba por descobrir a caixa funerária de diferentes versões. Para suprir a falta deste, Ísis criou um falo artificial
Osíris incrustrada em uma árvore, cortada para fazer uma coluna no com caules vegetais.
quarto do filho do rei de Biblos. Por sua extrema empatia, ela reconhece

22 MARGARET MARCHIORI BAKOS PREFÁCIO 23


Ísis, Néftis e Anúbis procederam então à prática da Isso representa, de seu ponto de vista, explica Gwyn Griffihs,
primeira mumificação da História. Na sequência, Ísis se transforma um refinamento do mito original, análogo àquele que se refere à
em um milhafre, pássaro que, graças ao bater das asas sobre o corpo criação de Shu pela exalação de um sopro em lugar da masturbação, o
de Osíris, cria uma espécie de ar mágico que acaba por ressuscitá- que, certamente, produz uma dramática gênesis para o jovem Hórus.
lo. Ainda sob a forma de ave, Ísis une-se sexualmente a Osíris e, Como a polêmica, se fosse gerada, seria muito forte, Griffiths propõe
dessa cópula, resulta um filho, o deus Hórus. Assim, no desenrolar uma solução neutra: “it is hoped that the following translation and
de acontecimentos tão fantásticos, o herói egípcio morto entra notes will enable scholars to decide between us”. A partir de então,
novamente em cena: havia concebido um herdeiro! E Plutarco, com Osíris passou a governar apenas o mundo dos mortos. Quanto ao
toda a certeza, ficou confuso com as soluções encontradas para a seu filho, ele conseguiu, como se verá na sequência, derrubar Seth e
trama. Nem mesmo Aquiles, a grande figura masculina do mundo reinar sobre a terra. A história de Ísis, por sua vez, revela ser ela uma
grego, seria capaz de tal façanha, embora tivesse ao seu lado o astuto deusa com imensos poderes mágicos, simbólicos e energéticos. O seu
Odisseu! nome é escrito, acompanhado de um símbolo que representa um
trono, o que possivelmente significa, para os antigos egípcios, a sua
William Faulkner (1849-1982), que estudou com afinco
enorme influência na condução do governo do Egito. E, como ela,
este ato de concepção, explica que a lenda da gravidez póstuma de
encontram-se outras tantas mulheres na chefia do Estado Egípcio em
Ísis por Osíris e o subsequente nascimento de Hórus criança é um
variadas dinastias.
lugar comum na religião egípcia, embora, como em todas as crenças
religiosas, seus detalhes mudem, dependendo das fontes originais Nas primeiras referências à deusa nos Textos da Pirâmide,
consultadas. Uma delas é a formula 148 do Texto dos Sarcófagos, Ísis parece prever o assassinato de Osíris por Seth, e é descrita sentada
que se refere especificamente à proclamação por Ísis de sua gravidez em desespero, ao lado de sua irmã, a deusa Néftis, ambas chorando
de Hórus e sua interpelação aos deuses para que protegessem a pelo irmão. Enquanto Osíris estava vivo, Isis, sua irmã e amada
ambos – mãe e filho. A fórmula em questão já havia sido estudada companheira na terra, ajudou-o, com persistência e dedicação, a
por Gwyn Griffiths (1911-2004) no Conflito de Hórus e Seth (p. conquistar o trono do Egito; enquanto morto, sua astúcia chegou ao
52-53), mas ele destaca: ponto de criar um outro mundo em que ele pudesse reinar. Caberia
Minha tradução deste texto difere da sua em um número de mais uma vez questionar se Seth estava sendo justo ao lutar pelo seu
importantes aspectos, então me parece desejável estudá-lo direito ao trono do Egito. Trata-se de questão de difícil resposta.
novamente. Por exemplo, se a minha interpretação da primeira Mas, a verdade é que a divisão dos bens herdados dos criadores do céu
sentença for correta, Ísis foi fecundada não pelo rude processo
físico descrito no texto das pirâmides, e ilustrado nas paredes e da terra foi injusta, havendo com isso, incendiado o mundo divino
dos templos, notadamente em Abydos, mas por um flash de egípcio, desencadeando revoltas e querelas profundas.
iluminação que aterrorizou os deuses (Griffiths, Conflito de
Hórus e Seth, p. 52-53).

24 MARGARET MARCHIORI BAKOS PREFÁCIO 25


JUSTIÇA ENTRE OS ANTIGOS EGÍPCIOS Diante dos deuses, novamente em assembleia, Ísis, ao chamar
pelas sementes de Hórus e elas responderem estar na cabeça de
Dando sequência a essa narrativa mítica, Hórus que, nascido no
Seth, consegue então comprovar que o agressor era o tio. Os deuses
nordeste do Delta, havia sido escondido por Ísis, em meio aos papiros,
ouvem com atenção os procedimentos a serem adotados durante
para evitar a perseguição de Seth, ao crescer, demanda ao Tribunal
o julgamento: eles comungam algumas crenças, tais como o fato
dos deuses, presidido pelo deus sol de Heliópolis, o trono do Egito.
de que os olhos do falcão representam a lua e o sol. Ísis convoca o
Trava-se, com isso, uma nova luta pelo trono, desta vez entre Seth e seu
Vento Norte para dar as notícias a Osíris, seu sagrado marido e pai
sobrinho já crescido, Hórus, luta essa que dura 80 anos e configura-
de Hórus, pois era ele quem julgava os mortos na “Sala das duas
se como uma trama dolorosa e ardilosamente tecida, de intrigas, que
Verdades”, onde se procedia à pesagem do coração ou psicostasia.
culminam com um assédio homossexual de Seth ao sobrinho. Conta
Mas Seth não admitia a sua interferência; desejava disputar o poder
o mito que Seth faz uma outra festa para a qual convida Hórus. Desta
no corpo a corpo com Hórus. Toth argumentou que Hórus era filho
feita, ele não pensa em morte, mas, à noite, ataca homossexualmente
de Rá, mas que o próprio Rá acreditava ser melhor Seth ser o seu
o sobrinho. Pela manhã, Hórus corre para contar à mãe o ocorrido e
filho, pois ele era mais forte fisicamente.
mostra os sêmens do tio. Furiosa, Ísis, colhe os sêmens do filho e os joga
de imediato, nas plantações de alface que o deus do deserto cultivava Como Ísis intervém inúmeras vezes, Seth fica furioso e declara
pessoalmente, com todo o esmero. E Seth consome gulosamente as então não aceitar participar de nenhuma corte da qual Ísis faça parte.
verduras ali produzidas. Consegue, assim, a promessa de Rá de que isso seria aceito por todos.
Em razão do ocorrido, Rá transfere o julgamento para uma ilha,
Em meio a vários episódios, Hórus, transtornado, pensando ordenando ao barqueiro Nemty que não deixasse nenhuma mulher
que a mãe havia favorecido o tio na luta, termina ferindo-a. Mas, como Ísis cruzar as águas em direção à ilha. Mas os membros da corte
Ísis, com a sua magia, além de sobreviver à fúria do filho, restitui ali reunida desconsideraram a astúcia e a magia de Ísis, que, disfarçada
a ele o olho ferido pelo cunhado insano, dando, com essa imagem, de uma velha murcha, carregando um pote com farinha e usando um
origem ao mito conhecido como o “olho de Hórus”, outro símbolo anel sinete de ouro, aproximou-se do barqueiro com a desculpa de
do poder exercido por Ísis, que vem sendo aceito, através dos séculos, levar comida para os pastores que lá trabalhavam há já cinco dias.
como portador de uma missão apotropaica, a de proteção a quem o Apesar de torná-la ciente da ordem recebida, após regatear o preço,
utiliza. Segue-se então o julgamento. Geb, o “grande átrio”, deus da Nemty concordou em levar Ísis até a ilha mediante o seu pagamento
terra, e presidente do tribunal divino no reino, chamado no Livro com um bolo e o anel de sinete.
das Pirâmides, de “filho mais velho de Shu”, juntamente com sua
irmã-consorte, Nut, a deusa celeste mais velha, ofereceu o seu espaço Na ilha, Ísis observou os deuses comendo pão. E utilizando-
terreno para o grande julgamento. Toth disse então que esta decisão se da magia, transformou-se em uma linda jovem que seduziu Seth,
era um milhão de vezes correta. muito sensível à beleza feminina. Ela relatou a ele ser uma viúva que
havia sido roubada de suas terras e implorou que Seth a defendesse.

26 MARGARET MARCHIORI BAKOS PREFÁCIO 27


Seth disse ser isso uma injustiça, o que era exatamente o que Ísis que o verdadeiro nome lhe seja dito. Ela até piora o quadro, levando
queria ouvir. Ela transformou-se em um pássaro, voou para os o veneno a queimar Rá com mais intensidade. Então, deus sol, em
galhos de uma acácia e informou o plenário de que o seu veredicto se desespero, revela o seu segredo para Ísis que se torna “a senhora dos
constituía na sua condenação. Rá precisou chamar a atenção devido à deuses que conhece Rá pelo seu verdadeiro nome”.
algaravia que se formou no plenário. Seth começou a chorar, dizendo
O aspecto mais relevante desta história é a permissão de Rá
que tudo fora um truque sujo de Ísis. Ele chamou o barqueiro que
para que Ísis passe o conhecimento de seu nome misterioso para o seu
teve os dedos dos pés cortados pela desobediência.
filho, Hórus. Em consequência desta revelação, o Faraó, por firme
Rá, furioso com a balbúrdia, manda que cessem com tudo. determinação da deusa, tal qual Hórus, detém um poder com o qual
Durante o julgamento, Ísis relata o ocorrido; Seth, não obstante, nenhum outro deus pode rivalizar.
inverte tudo. Mas, como boa advogada, Ísis, para dirimir qualquer
É a criação do poder divino do Faraó!
dúvida, pede aos juízes que convoquem os sêmens para verem sua
origem. Toth chama os sêmens de Hórus, que então aparecem sob a
forma de um disco solar sobre a cabeça de Seth. Assim, Ísis prova a Margaret Marchiori Bakos
culpa de Seth de agressão sexual: Seth é humilhado e Hórus vingado! Universidade Estadual de Londrina
Em síntese, durante essa disputa, em que Seth faz um bem-sucedido
ataque sexual a Hórus, este último leva parte do sêmen de Seth como
testemunho do acontecido, o que determina com que Ísis leve Seth
para o desprezo dos deuses. Ao pedir, frente ao tribunal, que o seu
sêmen seja chamado da cabeça de Seth, Hórus faz com que ele,
envergonhado, seja ridicularizado. No final do litígio, é Ísis então
quem traz Seth em grilhões à Corte, perante a qual ele reconhece sua
derrota.

Mas, como Ísis e Hórus chegam ao poder? A resposta é


simples: mediante a uma nova artimanha de Ísis, que conseguiu
saliva de Rá e a misturou com a terra, na qual moldou uma serpente
que o picou quando ele por ela passou. Com o veneno caiu em uma
trêmula agonia febril. Ísis então se ofereceu para, com sua magia,
aliviar a dor do deus sol em troca do seu nome secreto. Rá tenta
confundir a deusa, recitando uma lista de nomes, mas Ísis se faz de
desentendida e permanece obstinada, recusando-se a curar o deus até

28 MARGARET MARCHIORI BAKOS PREFÁCIO 29


I n t rodução

PLUTARCO
Plutarco nasceu em Queroneia1, uma pequena cidade no
interior da Beócia, na província romana da Acaia, região que
encerrava a península do Peloponeso e o sul da antiga Grécia. As
dimensões da cidade foram comentadas por esse ilustre intelectual,
que abertamente declara seu intento de lá permanecer: “Nós
habitamos uma pequena cidade que amamos ocupar, para que não
se torne menor.” (Vida de Demóstenes, 2.2)2. Nos dois primeiros
séculos de nossa era, como aponta Grimal, as cidades romanas são
urbanizadas e de grandes dimensões, e suas estruturas se assemelham
à da cidade de Roma (2003, p. 14). Em razão disso, conclui-se

1 Esta breve apresentação de Plutarco foi composta a partir de seus escritos e do


que foi publicado na tradução: Plutarco. Da malícia de Heródoto. Estudo, tradução
e notas de Maria Aparecida de Oliveira Silva. São Paulo: Edusp, 2013, p. 27-31.

2 Os trechos provenientes do Corpus Plutarchi, nome dado ao conjunto da obra


plutarquiana, citados nesta introdução foram traduzidos pela autora.

30 MARGARET MARCHIORI BAKOS INTRODUÇÃO 31


que Plutarco, além de demonstrar seu apego à sua cidade natal, de autores de seu tempo ou de épocas posteriores que tenham
também revela que a magnitude da cidade romana não ultrapassa escrito uma biografia sua ou ainda registrado dados desconhecidos
a importância de sua pequena cidade, local de memória histórica de sua vida pessoal. As informações de que dispomos encontram-se
dos gregos e de sua memória particular. Do mesmo modo, Plutarco distribuídas de forma esparsa em seus escritos.
evidencia seu sentimento de pertença ao mundo grego, bem como
Plutarco era bisneto de Nicarco, neto de Lâmprias, filho de
sua responsabilidade pela manutenção dos locais de memória de
Autobulo, irmão de Tímon e Lâmprias, casado com Timôxena e pai
seu povo, para que não desapareçam, literalmente, do espaço, e
de Autobulo, Plutarco, Quéron, Soclaro, Timôxena e um filho ou
para que, em última instância, a Grécia não perca sua identidade e
filha de nome desconhecido. Plutarco não cita os nomes femininos de
representatividade geográficas.
sua família, com exceção de sua mulher e de sua filha. Em Consolação
A cidade natal de Plutarco desponta no cenário histórico do à Esposa, Plutarco lamenta a perda de três filhos, dentre os quais está
mundo greco-romano por ter servido de palco para as batalhas de o mais velho (609D), que, no entender de Flacelière, trata-se de outra
Filipe da Macedônia, ao lado de seu imberbe filho Alexandre (338 filha de Plutarco, porque o nome de seu pai, Autobulo, deveria ser
a.C.), e de Sula (86 a.C.). Wilamovitz-Moellendorf nos lembra que dado, conforme o costume, ao primeiro filho homem. Tal assertiva
a cidade natal de Plutarco traz sinais de uma dominação anterior está embasada no fato de Autobulo ter sobrevivido e de Soclaro
à romana realizada por Felipe da Macedônia, que, quando de sua ter sido o outro filho morto de Plutarco3. Ele costuma ainda fazer
vitória na batalha de Queroneia, erigiu uma monumental estátua referências à sua família em vários momentos de sua extensa obra;
comemorativa por ter-se tornado governante da Grécia (1995, p. por exemplo, em Assuntos de Banquetes, apresenta o irmão Tímon
48). A pequena cidade, portanto, já era conhecida dos gregos e como organizador de um banquete (615C), registra conversas com
romanos por assinalar momentos importantes de sua história. Não seu pai Autobulo (641F) e o irmão Lâmprias, que lembra o dito pelo
por acaso, essas batalhas foram realizadas em Queroneia, notória por avô (668D).
sua importância na geopolítica greco-romana e por estar localizada
Na biografia de Antônio, também registra histórias contadas
próxima ao desfiladeiro das Termópilas, passagem da Grécia ocidental
por seu avô Lâmprias (Vida de Antônio, 27.3) e por seu bisavô
para a oriental, ponto estratégico para as ambições de dominação do
Nicarco (57.7). Plutarco faz também diversas referências aos filhos
mundo grego (Pérez Jiménez, 1985, p. 7-8).
Autobulo, Plutarco e Soclaro em Se os Terrestres ou os Marinhos são
Estima-se que Plutarco tenha nascido em 45 d.C. Conforme os mais Inteligentes dos Animais (959A-985C). Seu filho Autobulo
apurou Ziegler, alguns autores dataram sua morte em 125 ou até é o narrador de Diálogo do Amor, ao passo que o filho Soclaro é
mesmo em 127 d.C., mas, em seu entender, a datação correta para apresentado frequentando lições de poesia em seu tratado Como o
sua morte é 120 d.C., por ser mais fundamentada (1951, cols. 639-
641), mas há vários autores que aceitam a data de 125 d.C. Embora 3 Para mais detalhes, consultar Robert Flacelière, Emile Chambry e Marcel Juneaux,
Plutarco tenha uma vastíssima produção literária, não há referências “Introduction”, em Plutarque: Vies, t. I, Paris: Les Belles Lettres, 1957, nota 6, pp.
XIV-XV.

32 MARIA APARECIDA DE OLIVEIRA SILVA INTRODUÇÃO 33


Jovem Deve Ouvir Poesia (15A). Por não se encontrar em Queroneia, Plutarco desempenhou importantes funções na vida pública
em Consolação à Esposa, uma carta consolatória enviada à sua mulher de sua região; a primeira delas foi logo ao retornar de seus estudos
após a morte da filha com apenas dois anos de idade, Plutarco revela em Atenas, quando foi nomeado embaixador junto ao procônsul
ter sido casado com Timôxena e que, juntos, tiveram uma filha com da Acaia, como registra em Preceitos Políticos (816B). Ocupou
o mesmo nome e que também perdera seu filho Quéron (609D). igualmente os cargos de superintendente da edilícia pública e
chefe da guarda edilícia em sua cidade natal (811B-C); foi ainda
No tratado Do E de Delfos, Plutarco relata que Nero esteve
eleito beotarca (814D) e exerceu a função de arconte epônimo em
em Atenas na mesma época em que estudara filosofia com o mestre
Queroneia (Assuntos de Banquetes, 642F). Por muitos anos, foi
Amônio (385B). Em um artigo específico sobre a relação de Plutarco
sacerdote permanente de Apolo em Delfos (700E e 709A), agonoteta
com o filósofo egípcio, Jones conclui que eles se conheceram em
dos jogos Pítios e membro do Conselho dos Anfictiões (Se um
67 d.C. e que Amônio foi apresentado a Plutarco como mestre
Ancião Deve Engajar-se em Assuntos Públicos, 785C).
de filosofia e comandante hoplita, quando da realização de uma
cerimônia pública em Atenas (1966, p. 206). Em um estudo Por sua amizade com Sósio Senecião, Plutarco conhece o
prosopográfico dos amigos de Plutarco, Puech descreve Amônio imperador Trajano, com quem também estabelece amizade e passa
como um filósofo platônico, mestre de Plutarco4, originário do a circular nos corredores dos palácios romanos, a proferir palestras e
Egito e habitante de Atenas. O mestre egípcio também desenvolveu a a ministrar lições de filosofia a romanos ilustres (Ziegler, 1951, cols.
atividade de hoplita e exerceu magistratura em Atenas; de acordo com 657-658). A fama proveniente de suas palestras e lições proporcionou-
a autora, suas tarefas políticas foram realizadas no final do governo lhe a aproximação com os romanos politicamente mais influentes,
de Nero e no início dos anos 80. Amônio de Lamptras recebeu como Lúcio Méstrio Floro (Grube, 1965, p. 14). Este fora o
cidadania romana com a intervenção de Méstrio Ânio Afrino, responsável pela concessão da cidadania romana a Plutarco, que, em
passando a ser nomeado Méstrio Ânio (Puech, 1992, p. 4835). agradecimento a seu amigo, adotou o nome de sua família e passou
Froidefond afirma que a contribuição da filosofia platônica na a ser denominado, em Roma, de Méstrio Plutarco5. Como afirma
composição da obra plutarquiana é irrefutável, todavia informa que Roskam, Plutarco não registra o recebimento da cidadania romana
Amônio é um produto do platonismo de Alexandria, e o mestre se em sua obra, o que fortalece sua identificação com a cultura grega
estabelece em Atenas para dedicar-se à difusão da filosofia platônica, (2004, p. 256). Sabe-se que Plutarco recebeu a cidadania romana
embora não se possa mais falar, nesse momento, da influência direta em razão de uma inscrição compilada por Dittenburger (Syll3 829).
da Academia em seus ensinamentos, uma vez que o platonismo de Trata-se de uma inscrição encontrada em uma inscrição aos pés da
Amônio representa uma síntese dogmática das exegeses alexandrinas estátua do imperador Adriano em Delfos, na qual Plutarco é citado
(1987, p. 15-189). como o sacerdote oficial de seu santuário e com o nome de cidadão

5 Como Russell (1973, p. 8) observa, não se pode afirmar qual Imperador lhe
concedeu o título de cidadão romano em virtude do desconhecimento dos
4 Sobre a perspectiva plutarquiana do Egito, consultar: Silva (2013, p. 171-196). estudiosos sobre o período exato em que Lúcio Méstrio Floro foi cônsul.

34 MARIA APARECIDA DE OLIVEIRA SILVA INTRODUÇÃO 35


romano Lucius Mestrius Plutarchus. Stadter esclarece que Delfos DO TRATADO
era a segunda casa de Plutarco depois da de Queroneia e que sua
O sincretismo religioso de Roma se faz notar nas diversas
relação com o santuário se deu por mais de quinze anos, período
religiões presentes no império, do mitraísmo ao catolicismo, cujos
compreendido entre os governos de Nero e Adriano. Delfos, segundo
ritos eram seguidos não somente por estrangeiros mas também
o autor, representava o domínio romano sobre a cultura grega ao
por cidadãos romanos. O culto aos deuses egípcios Ísis e Osíris se
lado de Atenas, Esparta e Olímpia (2004, p. 19). Outro dado que
destacavam entre os romanos, havia também os ritos dedicados a
valida a inscrição citada é que Plutarco faz menção à sua amizade com
Serápis, mas a deusa Ísis é a que claramente se destaca. Diversos
Méstrio Floro em várias passagens de sua obra, como, por exemplo,
monumentos são erigidos e muitas são as referências aos isíacos, ao
em Assuntos de Banquetes (626F).
seu festival Isidis nauigium7 no qual celebravam sua participação
Calcula-se que Plutarco tenha iniciado suas funções sacerdotais na navegação como protetora das embarcações e dos navegantes.
em Delfos entre 95 e 100 d.C., período em que não mais exercia Embora não cite o nome desse festival, Apuleio narra sua experiência
cargos políticos, proferia palestras e ministrava cursos. Desde então em uma festa romana dedicada a Ísis, então relata poderes da deusa
manteve uma vida monástica e passou a redigir seus escritos com que vão além dos assuntos do mar, o autor conta que ela alcança o
mais intensidade, em especial, as Vidas Paralelas, atividade que céu, o mar, os seres humanos e todos os tipos de animais, selvagens
desempenhou até o fim de sua vida. Plutarco relata seu sentimento de e domésticos, por isso o especial cuidado com a fertilidade e a
honra em ter servido Apolo Pítio como sacerdote em Delfos no tratado maternidade (O asno de ouro, 11.3-5). Apuleio conta que a deusa
Se um Ancião Deve Engajar-se em Assuntos Públicos (792F). Ainda lhe disse: cuius numen unicum multiformi specie, ritu uario/nomine
hoje, no Museu de Delfos, encontra-se preservado e aberto à exposição multiiugo totus ueneratus orbis, isto é, “sou a divindade única, a quem
o célebre epigrama, um dístico, oferecido por délficos, queronenses e o o mundo inteiro venera sob múltiplas formas, ritos variados e os mais
Conselho dos Anfictiões a Plutarco, com a seguintes palavras: diversos nomes” (O asno de ouro, 11.5.1). Portanto, Ísis desponta
como a deusa principal dos isíacos, vista como a mãe do mundo. O
Δελφοὶ Χαιρωνεῦσιν ὁμοῦ Πλούταρχον ἔθηκαν,
τοῑς Ἀμφικτυόνων δόγμασι πειθόμενοι. imaginário isíaco descrito por Apuleio não dista muito do descrito
Os delfos junto com os queronenses ofertaram a Plutarco, por Plutarco, razão pela qual elabora um tratado sobre os deuses Ísis
por obeceder o decreto dos Anfíctions.6 e Osíris, com notável admiração pela deusa.
(Dittenburger Syll3 843A)
De Ísis e Osíris (Περὶ Ἴσιδος καὶ Ὀσίριδος ou De Iside et Osiride)
recebe este título no Códex de Máximo Planudes, com o número 32.
Enquanto recebe o título de Περὶ τοῦ κατ’ Ἴσιν λόγου καὶ Σάραπιν
6 Descendentes de Anfíction ou relativo a ele, que era o segundo filho de Deucalião e ou Tratado sobre Ísis e Serápis no Catálogo de Lâmprias e recebe o
de Pirra, foi um rei mítico de Termópilas, quando também realizava assembleias em
Delfos. Posteriormente, casou-se com uma filha de Crânao, rei de Atenas, e se tornou
seu rei após a morte do sogro. Conforme a tradição grega, Anfíction foi quem fez a 7 Literalmente “Barco de Ísis”, que era uma festa anual realizada em Roma, no dia 5
escolha do nome da cidade de Atenas e a da sua deusa protetora: Atena. de março, em honra à deusa Ísis.

36 MARIA APARECIDA DE OLIVEIRA SILVA INTRODUÇÃO 37


número 118. O primeiro título se difundiu mais em razão do próprio costumes das biografias dos homens ilustres e nomeou o conjunto dos
conteúdo da obra, cuja temática principal é o mito de Ísis e Osíris. tratados plutarquianos de Moralia. Segundo a datação proposta por
Griffiths explica que, quando Plutarco cita o nome de Clea, ele faz Manfredini (1992, p. 123), Máximo Planudes realizou seu trabalho
referência à deusa Ísis, por ser sacerdotisa de Ísis (De Ísis e Osíris, de reunião dos escritos de Plutarco entre 1295 e 1296.’ Para conhecer
351F) e ainda ter sido iniciada nos ritos de Osíris (364E) (1970, a extensão do trabalho de Máximo Planudes com os manuscritos de
p. 45). Padovani nos lembra que a figura e o nome de Osíris eram vários autores da Antiguidade além de Plutarco, consultar: Schneider
amplamente conhecidos entre os gregos com o nome de Serápis, um (2009, p. 63-85). Bianconi (2011, p. 114) afirma que Máximo
deus novo à época helenística (2015, p. 123). Em termos estatísticos, Planudes concluiu seu Catálogo de dois volumes em 11 de julho de
o nome de Osíris é citado diretamente 102 vezes, enquanto o nome 1296 e que estes se encontram na Biblioteca Nacional da França, gr.
de Serápis aparece grafado 12 vezes. 1671, onde também podemos encontrar uma versão menor em um
volume de seu Catálogo, gr. 1674. A Biblioteca Apostólica Vaticana
Sobre estes catálogos, aquele, como notou Lamberton (2001,
também abriga o volume destinado aos Tratados morais ou Moralia,
p. 5), no tratado Do declínio dos oráculos, Lâmprias é identificado
gr. 139, e há ainda uma cópia incompleta dos tratados na Biblioteca
como seu irmão, e, como o próprio autor ressalta, a datação do
Ambrosiana, que acolhe os de número 1 a 69 do Códex de Máximo
Catálogo de Lâmprias é desconhecida pelos estudiosos, o que,
Planudes.
em nosso entendimento, explica as divergências sobre o grau de
parentesco de Lâmprias em relação a Plutarco. Da mesma forma, é Quanto à época de sua escrita, a datação do tratado feita por
importante lembrar que Lâmprias era o nome de seu avô e de seu Jones (1966, p. 73) nos levar a crer que foi composto por volta de
irmão (Assuntos de banquetes, 617E e 668D). Ressalte-se que não há 115 a.C., quando Plutarco já estava em idade avançada8. O tratado
qualquer referência sobre Lâmprias como sendo seu filho na obra foi dedicado a Clea, uma sacerdotisa de Delfos, com quem Plutarco
plutarquiana. A produção literária de Plutarco atinge a notável soma parece nutrir profunda amizade e consideração9. De acordo com o
de 227 títulos, conforme apurado no Catálogo de Lâmprias, dos estudo prosopográfico dos amigos de Plutarco realizado por Puech
quais 130 não chegaram aos nossos dias. Os títulos remanescentes (1999, p. 4842-4843), Clea era parente de Mêmia Leôntis, que
encontram-se organizados em duas obras intituladas Vidas Paralelas pertencia a uma antiga família de Delfos e que por isso ela era a chefe
e Obras Morais e de Costumes, originalmente listadas por Lâmprias. das Tíades10. A amizade de Clea com Plutarco ocorreu por meio do
No entanto, o Catálogo de Lâmprias não apresenta todas as obras sacerdócio em Delfos e pelas discussões filosóficas que travavam, a
compostas por Plutarco e arrola obras de autoria duvidosa, o que sua confiança em Plutarco era tamanha que a sacerdotisa permitiu
impossibilita aos estudiosos afirmar com exatidão o número de que ele fosse responsável pela educação de sua filha Mêmia Eurídice,
títulos produzidos por ele.
8 Estima-se que Plutarco tenha vivido entre os anos 40 e 45 d.C. e 120 e 125 d.C.
No final do século XIII e início do XIV, Máximo Planudes, 9 Tradução de Maria Aparecida de Oliveira Silva (2019).
um monge bizantino, divisou os escritos filosóficos, religiosos e de 10 Sobre as Tíades, consultar o parágrafo 364E da tradução.

38 MARIA APARECIDA DE OLIVEIRA SILVA INTRODUÇÃO 39


que mais tarde se casará com Poliano, e juntos gerarão Flávia Clea, desprovida de alma nem razão, nem de movimento próprio,
como alguns consideram, mas depende de ambas aquelas
que também chefiará as Tíades durante o período dos Antoninos. duas, que seguem a melhor sempre, tanto a desejam como a
Plutarco também dedica seu tratado Das virtudes das mulheres à perseguem, o que se mostrará na continuação do nosso tratado,
sacerdotisa e amiga Clea. que se propõe especialmente a acomodar a teologia dos egípcios
a essa filosofia.
A amizade entre Plutarco e Clea era tão sólida que se estendeu à (Plutarco. De Ísis e Osíris, 370F-371A)
filha de sua admirada amiga e companheira de sacerdócio em Delfos.
A interpretação filosófica e teológica do mundo que Plutarco
O tratado Preceitos conjugais é oferecido como presente aos recém-
engendra em sua escrita tem como finalidade cosmogônica, voltada
casados Poliano e Eurídice. Esta é filha de Cleo, que se tornou amiga
para a criação e ordenamento do mundo. Os ritos religiosos egípcios
de Plutarco à época em que ele desempenhou a função de sacerdote
surgem associados ao Pitagorismo, a ida de Pitágoras ao Egito
em Delfos, e Poliano é filho de Soclaro, um amigo íntimo de nosso
levou-o a aprender e compreender a teologia egípcia e o capacitou a
autor. Quando recém-casados, Poliano e Cleo receberam um tratado
interpretá-la à luz de sua filosofia, como podemos ler nos parágrafos
para celebrar sua união, como podemos ler a seguir:
352C a 355D. A filosofia pitagórica em muito influenciou a de
Depois da lei pátria, com que a sacerdotisa de Deméter estabeleceu Platão, não por acaso, como notou De Piemonte, já do prólogo deste
a harmonia entre vós que fostes unidos pelo casamento, penso
também que o presente tratado, que atua em consonância
tratado é possível perceber a perspectiva platônica do mito, pois o
convosco e celebra ao mesmo tempo o vosso himeneu, poderia mito é importante para o conhecimento, e ainda a visão platônica
torna-se um tanto útil e afinado com o costume. de tríade com Osíris, Ísis e Tífon e a presença do mal no mundo
(Plutarco. Preceitos conjugais, 138B)
(2106, p. 81). Dillon afirma que Pitágoras é um filósofo muito
Quanto à natureza desse tratado plutarquiano, Ziegler (1951, respeitado por Plutarco, por seus ensinamentos e seu modo de vida,
col. 636) coloca De Ísis e Osíris na categoria dos escritos teológicos (Die mas que, ao longo de sua vida, a sua preferência foi marcadamente
theologishen Schriften), com o que também concordaram Flacelière e platônica (p. 143) Não podemos ainda deixar de lado o pensamento
Irigoin (1987, p. 9). Plutarco segue o pensamento filosófico de Platão heraclitiano que se manifesta na ideia plutarquiana de aparecimento e
que nos conduz à teologia, no sentido de elaborar um discurso sobre desaparecimento e que claramente se refere ao aforisma de Heráclito:
os deuses a partir de preceitos filosóficos, dado que torna possível a “O que nasce tende a desaparecer”, como nos ensina Hadot (2004, p.
compreensão do divino, o que nos leva a entender melhor a seguinte 7-12). Petrucci reforça o argumento de que a cosmogonia proposta
afirmação de Plutarco: por Plutarco segue a elaborada por Platão no diálogo Timeu, 21a7 e
nas Leis, já mais velho, não por meio de alegorias nem
ss., enfatizando o poder do bem, pois o mal não pode ser destruído
simbolicamente, mas com nomes adequados, afirma que com (2016, p. 235-236).
uma só alma não se move o mundo, mas com muitas, talvez com
duas, certamente não menos; portanto, destas, é uma benéfica
e a outra lhe é contrária, também é artífice do contrário; deixa
também uma terceira que é uma natureza intermediária, não

40 MARIA APARECIDA DE OLIVEIRA SILVA INTRODUÇÃO 41


DO ENREDO etimologia do nome da deusa Ísis já nos conduz à verdade por meio
do senso de realidade que desperta em quem a cultua, conforme
Logo nas primeiras linhas de seu tratado, Plutarco revela o
lemos a seguir:
tema central de sua obra: obter a verdade divina a partir do divino. Em
seguida, critica as narrativas míticas que se excedem nas descrições das Pois Ísis é um nome helênico, [...] a palavra sagrada, a que a deusa
reúne, organiza e transmite aos iniciados em seus ritos, por sua
façanhas dos deuses e nos registros dos acontecimentos maravilhosos natureza divina; com perseverança e uma vida moderada, com
que os circundam. Plutarco nos mostra que, na longa duração, essas privações de muitos alimentos e dos prazeres de Afrodite, impede
palavras perderam sua essência porque passaram a sofrer a interferência a licenciosidade e o gosto pelo prazer, para que permaneçam
austeros e firmes nos assuntos sagrados pelo costumeiro
de superstições e do gosto por narrativas fantasiosas. Como notou serviço prestado aos deuses nos templos, pelos quais o fim é o
Griffiths, Plutarco rejeita a superstição e o ateísmo de seu tempo, conhecimento do ser primeiro, do senhor e do inteligível, a quem
a deusa convida a buscar como se estivesse e convivesse junto a
aceita o politeísmo religioso egípcio, mas interpretado sob as lentes da ela e com ela. E o nome do seu templo também evoca claramente
filosofia grega (1970, p. 32). Desse modo, a verdade sobre os deuses conhecimentos e saberes da realidade; pois recebe o nome de
torna-se imperativa e necessária para a relação entre homens e deuses, Iseion para que conheçamos a realidade, se, com razão e piedade,
entrarmos nos templos da deusa.
para que os homens sejam justos ao falar de um ser divino sem a
(Plutarco. De Ísis e Osíris, 351F-352A)
presença de superstições nem de ações dissonantes da essência divina.
Não por acaso Plutarco inicia seu tratado assim: O conhecimento adquirido junto aos deuses possibilita o
Tudo que é bom, ó Clea, os inteligentes devem pedir para si entendimento da origem do mundo, do seu ordenamento e do lugar
junto aos deuses, sobretudo suplicamos em nossa busca obter do mortal na terra e na relação com os deuses. Plutarco afirma que “o
da parte deles, o quanto for possível aos homens alcançar, deus concede aos homens o que eles necessitam e os torna partícipes
o conhecimento deles em sua essência. Porque não há nada
melhor para um homem receber nem mais venerável para da inteligência e da sabedoria que lhe são próprias e das quais faz
conceder a um deus que a verdade. uso,” (De Ísis e Osíris, 351C). A sabedoria divina que toca o intelecto
(Plutarco. De Ísis e Osíris, 351C-D) humano o torna produtivo e autossuficiente, pois aprende a retirar
da terra, do céu e do mar tudo que precisa para a sua existência e
É clara a intenção de Plutarco de distinguir os homens dos
o culto aos deuses. Plutarco esclarece que o poder de Zeus se apoia
deuses, não lhes atribuindo a imortalidade como os antigos gregos
em um conhecimento abrangente, onisciente e admirável sabedoria,
faziam, mas explicando que os deuses se diferenciam dos humanos
elementos que justificam sua divindade eternidade, de onde conclui
por seu conhecimento da verdade11. Portanto, é esta onisciência que
que “aspirar à divindade é o desejo da verdade” (351E).
os torna divinos, algo que jamais poder ser aspirado pelo ser humano.
No entanto, a veneração pelos deuses encaminha os mortais a um Como é característico de sua obra, Plutarco traz informações
conhecimento elevado e dotado de verdade, através do conhecimento sobre a religião e a religiosidade dos egípcios com o olhar de quem
dos assuntos divinos. Nesse sentido, Plutarco argumenta que a se vê partícipe dessa cultura, tal pensamento é nutrido pelo fato de
elementos da cultura grega também terem influenciado os egípcios.
11 Consultar o parágrafo 351E.

42 MARIA APARECIDA DE OLIVEIRA SILVA INTRODUÇÃO 43


Desse modo, Plutarco apresenta pontos de contato entre esses dois Plutarco aponta para a racionalização dos ritos e deuses
povos e alguns aspectos dessa relação entre essas diferentes culturas, egípcios por meio da contribuição da filosofia grega na elaboração de
então explica a origem grega do nome da deusa egípcia Ísis: conceitos e na escrita de uma mitologia pautada na razão filosófica.
A análise de nosso autor destina-se à crítica dos cultos baseados nos
E muitos ainda têm concluído em suas investigações que ela êxtases de seus integrantes, carregados de superstições e de ações
era filha de Hermes, e muitos outros, de Prometeu, porque sem sentido. A religião em Plutarco está permeada pela razão, o que
consideram a descoberta da sabedoria e da previsão como sendo
deste segundo, e a da gramática e a da música como sendo de
confere ao ser humano a consciência de sua existência, um lugar no
Hermes; por isso também chamam Ísis de a primeira das mundo dos mortais que pode ou não lhe ser favorável. O conceito de
Musas, junto com Diceosine, por sua sabedoria [...] raciocínio lógico é constante nas obras plutarquiana e serve de baliza
(Plutarco. De Ísis e Osíris, 352A) para suas conclusões, um exemplo disso está expresso neste parágrafo:
Mas Ísis não é a única, Plutarco associa Hórus a Apolo, Serápis Pois, dentre as doenças que são próprias do corpo, o raciocínio
a Osíris, e muitos outros deuses egípcios a divindades de origem lógico, mesmo enfraquecido, percebe-as, enquanto as que
são da alma, embora doente, porque ela mesma não tem o
grega, discorrendo com propriedade sobre a etimologia e a pronúncia discernimento de que sofre com isso, pois sofre com o que
dos nomes no Egito (Richter, 2001, p. 196-197). Assim, Plutarco julga; e devemos contar como o primeiro e o maior dos males
anímicos a ignorância, por meio da qual, o vício é incurável
revela ao mundo romano as marcas linguísticas deixadas pelos para a maioria que com ele convive, passa a vida e morre.”
séculos de convivência entre gregos e egípcios, com especial ênfase no (Plutarco, Se as paixões da alma são piores que as do corpo, 500E-F)
período em que os gregos colonizaram várias regiões do Egito. Este
processo de associação direta entre os nomes dos deuses gregos e os O raciocínio lógico (λογισμός/logismós) neste texto aparece
egípcios, com as mesmas características e atributos, conhecido como como algo intrínseco à condição humana, capaz de identificar
interpretatio Graeca, conforme nos esclarece Graf (1998, p. 1042- alterações no corpo, e as alterações da alma são afetadas pela ignorância
1043). Convém lembrar que a religião e a religiosidade egípcias em (ἄνοια/ánoia), que debilita sua capacidade de raciocinar sobre o seu real
Plutarco manifestam ainda sua idealização tanto da cultura filosófica estado. Além do raciocínio lógico (λογισμός/logismós), outro conceito
e religiosa dos gregos como da religiosidade egípcia (Borghini, 1991, importante, derivado deste, é o de razão (λόγος/ lógos), fundamental
p. 121). Sob essa perspectiva, Plutarco parece mesclar sua descrição para a compreensão da filosofia que o conduzirá ao caminho da
dos egípcios à sua visão do que seriam os gregos e sua conduta virtude, conforme lemos abaixo:
filosófica. Observemos esta passagem: Não vês que os doentes resistem, recusam e rejeitam com
desprezo as refeições mais saborosas e dispendiosas; que lhes
Pois nenhum elemento irracional, nem fabuloso, nem em favor
oferecem e os forçam a aceitá-las, depois que a constituição do
da superstição, como alguns consideram, foi instituído nas suas
corpo muda, a respiração torna-se eficiente, o sangue regulado
práticas religiosas, mas princípios éticos e causas úteis, e o que
e a temperatura do corpo costumeira, levantam-se, agradecem
não está desprovido da fina arte da investigação e do estudo da
e sentem prazer em comer pão simples com queijo e agrião?
sua natureza [...].
A razão incute na alma tal disposição. Serás independente se
(Plutarco. De Ísis e Osíris, 353E)

44 MARIA APARECIDA DE OLIVEIRA SILVA INTRODUÇÃO 45


aprenderes o que é belo e bom; serás voluptuoso na pobreza e Por isso, diante dessas questões, devemos sobretudo tomar
viverás como rei, e desejarás uma vida sem trabalho e particular como guia a razão vinda da filosofia, refletir piedosamente
não menos que uma vida de estratégias militares e cargos sobre cada uma das doutrinas e ritos, do mesmo modo que
políticos; se não vives sem o prazer de filosofar, por toda parte Teodoro disse que as palavras que com a mão direita ele oferecia
viverás e aprenderás com prazer, e de tudo; e a riqueza te alegrará, a alguns dos seus ouvintes eles as recebiam com a mão esquerda;
porque serás o benfeitor de muitos; e a pobreza, porque muitas assim, nós não cometamos o erro de entender de outro modo
vezes não te preocuparás com ela; a fama, porque serás honrado; o que os costumes estabeleceram com excelência sobre os ritos
e a falta de fama, porque não serás invejado. sacrificiais e as festas.
(Plutarco. Da virtude e do vício, 101C-E) (Plutarco, De Ísis e Osíris, 378A-B)

A sorte do ser humano depende do seu raciocínio lógico, de sua E será por intermédio da filosofia grega que Plutarco
razão e de sua capacidade de pensar a sua existência através do divino e discursará em favor da filosofia e da religião como meios de se
de preencher seu pensamento com razão e sabedoria, sempre em busca encontrar a verdade através do conhecimento do divino, uma vez
da verdade. A tradição filosófica à qual se filia Plutarco nos é revelada, sustentado pelos princípios filosóficos:
ele cita as referências de onde partiram suas conclusões: Por isso também Platão e Aristóteles chamam a essa parte da
E dão testemunho disso também os mais sábios dos helenos, filosofia de epóptica, o quanto os que ultrapassaram com o
Sólon, Tales, Platão, Eudoxo, Pitágoras, como alguns dizem, auxílio da razão todas essas situações, confusas e misturadas,
também Licurgo, que foram ao Egito e andaram em companhia que se deslocam em direção ao primeiro, simples e imaterial,
dos sacerdotes. Contam que Eudoxo escutou com atenção e tocam realmente a pura verdade que o cerca, como em um
Conúfis de Mênfis, e Sólon a Sônquis de Sais, e Pitágoras a festival com ritos místicos, consideram que atingiram o fim
Enúfis, um heliopolitano. último da filosofia.
(Plutarco. De Ísis e Osíris, 354E) (Plutarco, De Ísis e Osíris, 382D-E)

Com isso, Plutarco delineia um panorama do pensamento Ao longo do tratado plutarquiano é exposto, ainda que
filosófico dos antigos gregos sobre o Egito por meio dos registros dos superficialmente, o pensamento de um grande número de filósofos
sábios que conviveram com filósofos egípcios. Embora descreva uma gregos, e dentre eles o mais citado é Platão. Plutarco dedica-se
situação de troca cultural e intelectual entre gregos e egípcios, como com afinco a explicar os acontecimentos religiosos dos egípcios
vimos, a inclinação de Plutarco é destacar a influência grega no Egito, empregando vários argumentos psicológicos, históricos, políticos,
dado que se faz presente em muitos trechos de sua narrativa. O contato econômicos e estéticos, com ênfase naqueles que ressaltam o conceito
dos gregos com os egípcios como algo indelével na constituição da de razão filosófico-religiosa contido em sua educação platônica.
identidade egípcia, ele constrói essa aproximação etimológica dos Em um estudo de fôlego sobre a religião egípcia em Plutarco, Hani
nomes dos deuses egípcios a vocábulos gregos com o objetivo único de demonstra que Plutarco descobriu no culto a Ísis reflexões filosóficas
evidenciar a fundamental contribuição dos filósofos gregos. O papel dos pensadores gregos, em particular os preceitos observados pelo
da filosofia grega no entendimento da religião egípcia afasta dela as filósofo ateniense Platão (Hani, 1976, p. 8).
crendices e os pensamentos supersticiosos, pois:

46 MARIA APARECIDA DE OLIVEIRA SILVA INTRODUÇÃO 47


Em seu tratado De Ísis e Osíris, Plutarco sintetiza o sincretismo vemos em muitos momentos seus relatos serem dissonantes e até
religioso de gregos e egípcios, iniciado já à época ptolomaica. Desde a contraditórios. O cerne da questão está na visão de Plutarco sobre
instauração no Egito da dinastia dos Ptolomeus, seus reis estimularam Heródoto, pois afirma que o historiador de Halicarnasso é um
a criação de uma religião greco-egípcia. No entanto, esta jamais se “filobárbaro” ou philobárbaros (φιλοβάρβαρος). Plutarco também
tornou predominante no Egito, como o próprio Plutarco admite, cria um efeito de sentido ao se referir a Heródoto como “o nobre”
quando se refere à diversidade cultural e religiosa dos territórios ou ho gennaîos (ὁ γενναῖος) (Da Malícia de Heródoto, 856E), termo
egípcios (Calderón Dorda, 1996, p. 203). No entanto, a visão de que deriva de génna (γέννα), cujo significado nos remete à “raça”,
Egito que transmite em seu tratado privilegia a visão corrente na “boa raça” e “descendência”. Entendemos que este termo é escolhido
cidade de Alexandria, como se a parte respondesse pelo todo (Scott- de maneira irônica, porque deseja ressaltar a descendência grega de
Moncrieff, 1909, p. 89). Heródoto, mas que pertence a uma região de colonização grega na
Ásia Menor, portanto mais próxima dos bárbaros.
Outro ponto interessante nesse tratado, como notou
Pérez Lagarcha, reside no fato de Plutarco citar vários autores que Heródoto é visto como um grego arcaico, que não foi
escreveram sobre o povo egípcio, exceto Heródoto. E é sabido influenciado por esse racionalismo filosófico clássico, por isso
que o segundo livro da obra herodotiana é dedicado aos hábitos, inconcebível para a estrutura dialógica deste tratado plutarquiano.
costumes e histórias do Egito. Com bem assinala o autor, as razões Pois, como afirma Lozano Castro, a religiosidade plutarquiana se
estão em A malícia de Heródoto, 857 A-D, em que Plutarco censura manifesta em três tendências marcantes: a influência egípcia, a da
Heródoto por sua conduta favorável aos egípcios ao afirmar que própria religião grega e a convergência delas, concebidas a partir da
várias divindades gregas eram procedentes do Egito. Dessa maneira, o oposição “puro” e “impuro”, sob a influência da filosofia platônica
discurso plutarquiano sobre o sincretismo filosófico e religioso entre (Lozano Castro, 1994, p. 261-263). E como bem notou Parthey, no
gregos e egípcios reforça seu sentimento de superioridade cultural dos entender de Plutarco, Heródoto interpreta a religião e a religiosidade
gregos (Pérez Lagarcha, 1990, p. 196). A interpretação herodotiana dos egípcios sob a ótica investigativa do historiador, não como ele
dos egípcios recebe acirradas críticas de Plutarco, que contesta com postula, o uso da história aliada à filosofia (1850, p. X).
veemência a maledicência de Heródoto, quando atribui origem
egípcia aos deuses gregos Dioniso e Deméter e quando afirma que DA TRADUÇÃO
Héracles foi um deus cultuado no Egito antes de sê-lo na Grécia (Da
Dezessete são os manuscritos que nos transmitem o texto do
Malícia de Heródoto, 857C-D).
tratado De Ísis e Osíris, os mais citados nas traduções modernas são
Froidefond entende que Plutarco nos traz uma releitura do Ambrosianus 859, que se encontra na Biblioteca Ambrosiana de
Livro II – Euterpe, de Heródoto, pelas razões já expostas em seu Milão, de 1295-1296, e o Parisinius graecus 1671 A, de 1296, uma
tratado Da malícia de Heródoto (1988, 56-59). É claro que Plutarco cópia do primeiro e está localizado na Biblioteca Nacional da França,
não aceita o parecer de Heródoto sobre o Egito, pelo contrário, em Paris, em razão de serem as cópias mais antigas. Estes manuscritos

48 MARIA APARECIDA DE OLIVEIRA SILVA INTRODUÇÃO 49


são o resultado do exaustivo trabalho de classificação e ordenação corresponde à época de Plutarco, certamente há nuanças perceptíveis
completa de todos de Moralia realizado pelo monge bizantino apenas aos de seu tempo e que nós recebemos como informações,
Máximo Planudes. Entre os antigos, Eusébio de Cesareia, século IV por vezes desconexas. Esta realidade se impõe pelo espaço temporal
d.C, em Preparação evangélica, e Estobeu, séc. V d.C., em Antologia, decorrido e pelo seu contexto histórico-cultural, os quais definem suas
este último cita vários trechos deste tratado (Pordomingo Pardo, 1995, particularidades nas escolhas das palavras que ora nos fornecem fios
p. 46-48). Depois destes trabalhos, outros mais abrangentes foram que nos ligam a outros debates, muitos deles soltos, a nos intrigar e nos
elaborados a partir destes que classificam e organizam as biografias fazer pensar sua razão de ser. A introdução desta tradução trouxe apenas
plutarquianas junto com os tratados morais. algumas das muitas questões levantadas ao longo deste tratado, pela
riqueza temática e conceitual da obra plutarquiana, fomos obrigados a
Dentre as traduções publicadas nos tempos modernos, as
fazer um recorte, mas há outras questões levantadas nas notas que nos
mais importantes são a de Samuel Squire, Samuel, com comentários
levam a diversas reflexões.
de Xylandri, Baxteri, Bentleii e Marklandi, reconhecidos editores
dos manuscritos plutarquianos; J. Bentham, Cambridge, em
174412; Gustav Parthey, em 185013, publicada por Nicolaische
Buchhandlung, em Berlim; Frank Cole Babbitt para a Loeb Classical
Library, em 1936; J. Gwyn Griffiths, publicada em Cambridge, em
1970; Marina Cavalli, publicada em Milão, em 1985; de François
Froidefond para a Les Belles Lettres (Coleção Budé), em Paris, 1988
e Francisca Pordomingo Pardo para a Gredos, Madrid, 1995. Em
língua portuguesa, com tradução direta do grego antigo, temos a de
Jorge Fallorca, publicada em Lisboa, em 2001, que não é bilíngue.
Agora temos a primeira tradução bilíngue em língua portuguesa feita
no Brasil, em São Paulo, entre os anos de 2019 e 2021, publicada em
2022, feita por Maria Aparecida de Oliveira Silva.

Esta tradução intenta seguir, na medida do possível, o original


grego em seus significado e sintaxe. Longe da pretensão de ser fiel ao
original por entender que a realidade linguística de nosso tempo não

12 A consulta a esta obra pode ser feita no site: https://wellcomecollection.org/


works/cwszu9rw/items.
13 Edição que pode ser lida e baixada no site: https://digi.ub.uni-heidelberg.
de/diglit/plutarch1850.

50 MARIA APARECIDA DE OLIVEIRA SILVA INTRODUÇÃO 51


Π ερι ισιδος και
οσιριδος1

D e Ísis e Osíris

1 Texto grego estabelecido por W. Sieveking. In: Plutarchi. Moralia. Vol. 2.3. De Iside
et Osiride. Ed. W. Sieveking. 2ª ed. Leipzig: Teubner, 1971.
351C 1. Πάντα μέν, ὦ Κλέα, δεῖ τἀγαθὰ τοὺς νοῦν 1. Tudo que é bom, ó Clea1, os inteligentes2 devem pedir 351C1
ἔχοντας αἰτεῖσθαι παρὰ τῶν θεῶν, μάλιστα δὲ τῆς para si junto aos deuses, sobretudo suplicamos em nossa busca
περὶ αὐτῶν ἐπιστήμης ὅσον ἐφικτόν ἐστιν ἀνθρώποις obter da parte deles, o quanto for possível aos homens alcançar, o
D μετιόντες εὐχόμεθα τυγχάνειν παρ’ αὐτῶν ἐκείνων· conhecimento deles em sua essência. Porque não há nada melhor D
ὡς οὐθὲν ἀνθρώπῳ λαβεῖν μεῖζον, οὐ χαρίσασθαι θεῷ para um homem receber nem mais venerável para conceder a um
σεμνότερον ἀληθείας. τἄλλα μὲν γὰρ ἀνθρώποις ὁ θεὸς deus que a verdade3. Pois, quanto ao resto, o deus concede aos
ὧν δέονται δίδωσιν, νοῦ δὲ καὶ φρονήσεως μεταδίδωσιν homens o que eles necessitam e os torna partícipes da inteligência e
οἰκεῖα κεκτημένος ταῦτα καὶ χρώμενος. οὐ γὰρ ἀργύρῳ da sabedoria que lhe são próprias e das quais faz uso. Pois não é pela
καὶ χρυσῷ μακάριον τὸ θεῖον οὐδὲ βρονταῖς καὶ prata e pelo ouro que o divino é bem-aventurado nem pelos trovões
κεραυνοῖς ἰσχυρόν, ἀλλ’ ἐπιστήμῃ καὶ φρονήσει, καὶ e raios que é forte, mas por seu conhecimento e pensamento; dentre
τοῦτο κάλλιστα πάντων Ὅμηρος ὧν εἴρηκε περὶ θεῶν tudo que já foi dito sobre os deuses, isso foi o que Homero4 recitou
ἀναφθεγξάμενος   do modo mais belo sobre os deuses com elevação na voz:
 ’ἦ μὰν ἀμφοτέροισιν ὁμὸν γένος ἠδ’ ἴα πάτρη, Sem dúvida, ambos tinham a mesma linhagem e uma só pátria,
ἀλλὰ Ζεὺς πρότερος γεγόνει καὶ πλείονα ᾔδει’ mas Zeus5 havia nascido primeiro e era o que mais sabia6

σεμνοτέραν ἀπέφηνε τὴν τοῦ Διὸς ἡγεμονίαν ἐπιστήμῃ revelou que a hegemonia de Zeus é mais venerável por seu
E καὶ σοφίᾳ πρεσβυτέραν οὖσαν. οἶμαι δὲ καὶ τῆς αἰωνίου conhecimento e sua sabedoria, porque é a mais antiga. E penso E
ζωῆς, ἣν ὁ θεὸς εἴληχεν, εὔδαιμον εἶναι τὸ τῇ γνώσει μὴ também que a felicidade da vida eterna, que coube ao deus por
προαπολείπειν τὰ γινόμενα· τοῦ δὲ γινώσκειν τὰ ὄντα sorteio, é o que por ela conhecerá sem que os acontecimentos lhe
καὶ φρονεῖν ἀφαιρεθέντος οὐ βίον ἀλλὰ χρόνον εἶναι τὴν escapem; e se fossem retirados o conhecimento e o pensamento da
ἀθανασίαν. sua existência, a imortalidade não seria vida, mas o passar do tempo7.
2. διὸ θειότητος ὄρεξίς ἐστιν ἡ τῆς ἀληθείας μάλιστα δὲ 2. Em razão disso, aspirar à divindade é o desejo da verdade8,
τῆς περὶ θεῶν ἔφεσις, ὥσπερ ἀνάληψιν ἱερῶν τὴν μάθησιν especialmente à relacionada aos deuses, como elevação dos assuntos
ἔχουσα καὶ τὴν ζήτησιν, ἁγνείας τε πάσης καὶ νεωκορίας sagrados, obtendo-a por meio de aprendizado e investigação,
ἔργον ὁσιώτερον, οὐχ ἥκιστα δὲ τῇ θεῷ ταύτῃ κεχαρισμένον, tarefa mais sagrada que toda purificação e dedicação ao templo,
ἣν σὺ θεραπεύεις ἐξαιρέτως σοφὴν καὶ φιλόσοφον οὖσαν, não menos grata a essa deusa que tu serves9, porque ela é sábia e
ὡς τοὔνομά γε φράζειν ἔοικε παντὸς μᾶλλον αὐτῇ τὸ εἰδέναι filósofa com distinção, como o seu nome parece indicar10, mais
F καὶ τὴν ἐπιστήμην προσήκουσαν. Ἑλληνικὸν γὰρ ἡ Ἶσίς que tudo lhe convém o saber e o conhecimento. Pois Ísis11 é um F
ἐστι καὶ ὁ Τυφὼν πολέμιος ὢν τῇ θεῷ καὶ δι’ ἄγνοιαν καὶ nome helênico, também o é Tífon12, que é inimigo da deusa e
ἀπάτην τετυφωμένος καὶ διασπῶν καὶ ἀφανίζων τὸν ἱερὸν está cego13 por ignorância e engano, subverte e esconde a palavra
sagrada, a que a deusa reúne, organiza e transmite aos iniciados
λόγον, ὃν ἡ θεὸς συνάγει καὶ συντίθησι καὶ παραδίδωσι τοῖς
1
As numerações desta tradução seguem as divisões feitas por Henricus
Stephanus, séc. XVI, em parágrafos (351C-384C) e as de Máximo
Planudes, séculos XIII-XIV, em capítulos (1-80).

54 ΠΛΟΥΤΑΡΧΟΣ | P LUTARCO ΠΕΡΙ ΙΣΙΔΟΣ ΚΑΙ ΟΣΙΡΙΔΟΣ | D E ÍSIS E OSÍRIS 55


τελουμένοις διὰ θειώσεως σώφρονι μὲν ἐνδελεχῶς διαίτῃ καὶ em seus ritos, por sua natureza divina; com perseverança e
βρωμάτων πολλῶν καὶ ἀφροδισίων ἀποχαῖς κολουούσης τὸ uma vida moderada, com privações de muitos alimentos e
352A ἀκόλαστον καὶ φιλήδονον, ἀθρύπτους δὲ καὶ στερρὰς ἐν ἱεροῖς dos prazeres de Afrodite14, impede a licenciosidade e o gosto 352A
pelo prazer, para que permaneçam austeros e firmes nos assuntos
λατρείας ἐθιζούσης ὑπομένειν, ὧν τέλος ἐστὶν ἡ τοῦ πρώτου
sagrados pelo costumeiro serviço prestado aos deuses nos templos,
καὶ κυρίου καὶ νοητοῦ γνῶσις, ὃν ἡ θεὸς παρακαλεῖ ζητεῖν παρ’ pelos quais o fim é o conhecimento do ser primeiro, do senhor e
αὐτῇ καὶ μετ’ αὐτῆς ὄντα καὶ συνόντα. τοῦ δ’ ἱεροῦ τοὔνομα do inteligível15, a quem a deusa convida a buscar como se estivesse e
καὶ σαφῶς ἐπαγγέλλεται καὶ γνῶσιν καὶ εἴδησιν τοῦ ὄντος· convivesse junto a ela e com ela. E o nome do seu templo também
ὀνομάζεται γὰρ Ἰσεῖον ὡς εἰσομένων τὸ ὄν, ἂν μετὰ λόγου καὶ evoca claramente conhecimentos e saberes da realidade; pois recebe
ὁσίως εἰς τὰ ἱερὰ τῆς θεοῦ παρέλθωμεν. o nome de Iseion16 para que conheçamos a realidade, se, com razão
e piedade, entrarmos nos templos da deusa.
3. Ἔτι πολλοὶ μὲν Ἑρμοῦ, πολλοὶ δὲ Προμηθέως
ἱστορήκασιν αὐτὴν θυγατέρα, ὧν τὸν μὲν ἕτερον σοφίας καὶ 3. E muitos ainda têm concluído em suas investigações que
ela era filha de Hermes17, e muitos outros, de Prometeu18, porque
προνοίας, Ἑρμῆν δὲ γραμματικῆς καὶ μουσικῆς εὑρετὴν consideram a descoberta da sabedoria e da previsão como sendo
νομίζοντες. διὸ καὶ τῶν ἐν Ἑρμοῦ πόλει Μουσῶν τὴν deste segundo, e a da gramática e a da música como sendo de
B προτέραν Ἶσιν ἅμα καὶ Δικαιοσύνην καλοῦσι, σοφὴν οὖσαν, Hermes; por isso também chamam Ísis de a primeira das Musas19, B
ὥσπερ εἴρηται, καὶ δεικνύουσαν τὰ θεῖα τοῖς ἀληθῶς καὶ δικαίως junto com Diceosine20, por sua sabedoria, como já foi dito21, que
ἱεραφόροις καὶ ἱεροστόλοις προσαγορευομένοις· οὗτοι δ’ εἰσὶν οἱ mostra os assuntos divinos aos que, de modo verdadeiro e justo,
τὸν ἱερὸν λόγον περὶ θεῶν πάσης καθαρεύοντα δεισιδαιμονίας são chamados hieróforos22 e hieróstulos23; os primeiros são os que
carregam na alma, como em uma cesta, a palavra sagrada sobre os
καὶ περιεργίας ἐν τῇ ψυχῇ φέροντες ὥσπερ ἐν κίστῃ καὶ
deuses, que é isenta de toda superstição24 e indiscrição, enquanto os
περιστέλλοντες, τὰ μὲν μέλανα καὶ σκιώδη τὰ δὲ φανερὰ καὶ segundos sugerem elementos obscuros e sombrios, também claros
λαμπρὰ τῆς περὶ θεῶν ὑποδηλοῦντες οἰήσεως, οἷα καὶ περὶ τὴν e brilhantes da noção que têm dos deuses, que se evidenciam em
ἐσθῆτα τὴν ἱερὰν ἀποφαίνεται. διὸ καὶ τὸ κοσμεῖσθαι τούτοις τοὺς suas vestes sagradas. Por isso também, adornar com esses elementos
ἀποθανόντας Ἰσιακοὺς σύμβολόν ἐστι τοῦτον τὸν λόγον εἶναι os Isíacos25 mortos é um sinal de que essa palavra está com eles,
C μετ’ αὐτῶν, καὶ τοῦτον ἔχοντας ἄλλο δὲ μηδὲν ἐκεῖ βαδίζειν. οὔτε de que a detêm e de que nada além dela caminha para a morada C
γὰρ φιλοσόφους πωγωνοτροφίαι, ὦ Κλέα, καὶ τριβωνοφορίαι dos mortos com eles. Pois os filósofos não são os que deixam suas
barbas crescer, ó Clea, e trajam mantos puídos, nem Isíacos são os
ποιοῦσιν οὔτ’ Ἰσιακοὺς αἱ λινοστολίαι καὶ ξυρήσεις· ἀλλ’ Ἰσιακός que usam vestes de linho e se barbeiam26; mas um Isíaco de verdade
ἐστιν ὡς ἀληθῶς ὁ τὰ δεικνύμενα καὶ δρώμενα περὶ τοὺς θεοὺς é aquele que, quando recebe legitimamente da tradição o que se vê
τούτους, ὅταν νόμῳ παραλάβῃ, λόγῳ ζητῶν καὶ  φιλοσοφῶν περὶ e o que se faz a esses deuses, por meio da razão, busca e se aplica
τῆς ἐν αὐτοῖς ἀληθείας. filosoficamente ao estudo da verdade existente nisso.
4. ἐπεὶ τούς γε πολλοὺς καὶ τὸ κοινότατον τοῦτο καὶ 4. Certamente, visto que a maioria não percebe isso, que é o
σμικρότατον λέληθεν, ἐφ’ ὅτῳ τὰς τρίχας οἱ ἱερεῖς ἀποτίθενται mais comum e o menos importante, o porquê os sacerdotes cortam
καὶ λινᾶς ἐσθῆτας φοροῦσιν· οἱ μὲν οὐδ’ ὅλως φροντίζουσιν seus cabelos e trajam vestes de linho27; uns não estão absolutamente
εἰδέναι περὶ τούτων, οἱ δὲ τῶν μὲν ἐρίων ὥσπερ τῶν κρεῶν nada preocupados em saber disso, outros dizem que evitam a lã,

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352D σεβομένους τὸ πρόβατον ἀπέχεσθαι λέγουσι, ξύρεσθαι δὲ como a carne de ovelha porque a respeitam, eles raspam as cabeças 352D
τὰς κεφαλὰς διὰ τὸ πένθος, φορεῖν δὲ τὰ λινᾶ διὰ τὴν χρόαν, por luto e trajam vestes de linho por sua cor, que à flor do linho
ἣν τὸ λίνον ἀνθοῦν ἀνίησι τῇ περιεχούσῃ τὸν κόσμον αἰθερίῳ se aproxima, semelhante ao azul celeste do éter que envolve o
χαροπότητι προσεοικυῖαν. ἡ δ’ ἀληθὴς αἰτία μία πάντων ἐστί· mundo. E a única causa verdadeira de tudo é: “não é permitido28
‘καθαροῦ γάρ’ ᾗ φησιν ὁ Πλάτων ‘οὐ θεμιτὸν ἅπτεσθαι μὴ ao puro tocar o impuro!”29, no que Platão30 diz. E os resíduos dos
καθαρῷ·’ περίσσωμα δὲ τροφῆς καὶ σκύβαλον οὐδὲν ἁγνὸν οὐδὲ alimentos e os restos de refeição não são algo puro nem sacro; dos
καθαρόν ἐστιν· ἐκ δὲ περιττωμάτων ἔρια καὶ λάχναι καὶ τρίχες resíduos nascem e crescem as lãs, os pelos, os cabelos e as unhas31.
καὶ ὄνυχες ἀναφύονται καὶ βλαστάνουσι. γελοῖον οὖν ἦν τὰς Portanto, seria ridículo que, depois se despojarem dos seus cabelos
μὲν αὑτῶν τρίχας ἐν ταῖς ἁγνείαις ἀποτίθεσθαι ξυρωμένους καὶ nas purificações, rasparem e depilarem todo o seu corpo por igual,
E λειαινομένους πᾶν ὁμαλῶς τὸ σῶμα, τὰς δὲ τῶν θρεμμάτων eles se cobrissem e se trajassem com a pele desses animais; de fato, E
ἀμπέχεσθαι καὶ φορεῖν· καὶ γὰρ τὸν Ἡσίοδον οἴεσθαι δεῖ λέγοντα devemos acreditar quando Hesíodo32 diz:
  ’μηδ’ ἀπὸ πεντόζοιο θεῶν ἐν δαιτὶ θαλείῃ Não cortar dos cinco ramos, no banquete abundante
αὖον ἀπὸ χλωροῦ τάμνειν αἴθωνι σιδήρῳ’ dos deuses, o seco do verde com o brilhante ferro33
διδάσκειν ὅτι δεῖ καθαροὺς τῶν τοιούτων γενομένους ele ensina que devemos nos purificar de tais impurezas para
ἑορτάζειν, οὐκ ἐν αὐταῖς ταῖς ἱερουργίαις χρῆσθαι καθάρσει celebrarmos as festas, não realizarmos à época dessas cerimônias
καὶ ἀφαιρέσει τῶν περιττωμάτων. τὸ δὲ λίνον φύεται μὲν sagradas a purificação e a retirada de secreções. E, com relação ao
ἐξ ἀθανάτου τῆς γῆς καὶ καρπὸν ἐδώδιμον ἀναδίδωσι, linho, ele cresce em uma terra imortal, produz um fruto comestível,
λιτὴν δὲ παρέχει καὶ καθαρὰν ἐσθῆτα καὶ τῷ σκέποντι μὴ produz vestes simples e limpas, também não é pesado para o que
βαρύνουσαν, εὐάρμοστον δὲ πρὸς πᾶσαν ὥραν, ἥκιστα δὲ protege, é conveniente para qualquer estação do ano e menos
φθειροποιόν, ὡς λέγουσι· περὶ ὧν ἕτερος λόγος. perecível, como dizem; sobre isso, existe outro tratado34.
F 5. οἱ δ’ ἱερεῖς οὕτω δυσχεραίνουσι τὴν τῶν 5. E os sacerdotes toleravam com tanta dificuldade a natureza das F
περιττωμάτων φύσιν, ὥστε μὴ μόνον παραιτεῖσθαι τῶν secreções que não somente evitavam a maior parte dos legumes,
ὀσπρίων τὰ πολλὰ καὶ τῶν κρεῶν τὰ μήλεια καὶ ὕεια das carnes de carneiro e de porco, porque produzem secreções em
πολλὴν ποιοῦντα περίττωσιν, ἀλλὰ καὶ τοὺς ἅλας τῶν grande quantidade, mas também porque tiram o sal dos alimentos
σιτίων ἐν ταῖς ἁγνείαις ἀφαιρεῖν, ἄλλας τε πλείονας nas purificações, e eles têm muitos outros motivos, também por
αἰτίας ἔχοντας καὶ τὸ ποτικωτέρους καὶ βρωτικωτέρους provocar o desejo e torná-los mais propensos à bebida e à comida35.
ποιεῖν ἐπιθήγοντας τὴν ὄρεξιν. τὸ γάρ, ὡς Ἀρισταγόρας Pois isso, como Aristágoras36 dizia que considerar o sal impuro
ἔλεγε, διὰ τὸ πηγνυμένοις πολλὰ τῶν μικρῶν ζῴων é ingênuo, porque ele frequentemente captura em seus cristais
ἐναποθνήσκειν ἁλισκόμενα μὴ καθαροὺς λογίζεσθαι τοὺς pequenos seres vivos que morrem neles. E dizem também que
353A ἅλας εὔηθές ἐστι. λέγονται δὲ καὶ τὸν Ἆπιν ἐκ φρέατος 353A
Ápis37 bebia a água de um poço privado, que era completamente
ἰδίου ποτίζειν, τοῦ δὲ Νείλου παντάπασιν ἀπείργειν, οὐ afastado do Nilo38, não porque acreditavam que a água era impura
μιαρὸν ἡγούμενοι τὸ ὕδωρ διὰ τὸν κροκόδειλον, ὡς ἔνιοι por causa do crocodilo, como alguns consideram (pois não existe
νομίζουσιν (οὐδὲν γὰρ οὕτως τίμιον Αἰγυπτίοις ὡς ὁ Νεῖλος)· ἀλλὰ nada tão venerado pelos egípcios como o Nilo); mas parece que
πιαίνειν δοκεῖ καὶ μάλιστα πολυσαρκίαν ποιεῖν τὸ Νειλῷον ὕδωρ
beber a água do Nilo engorda e produz muito mais gordura; e não

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πινόμενον· οὐ βούλονται δὲ τὸν Ἆπιν οὕτως ἔχειν οὐδ’ ἑαυτούς, ἀλλ’ querem que Ápis seja assim, nem eles mesmos, mas que seus corpos
εὐσταλῆ καὶ κοῦφα ταῖς ψυχαῖς περικεῖσθαι τὰ σώματα καὶ μὴ πιέζειν sejam ágeis e leves para envolver suas almas e que não oprimam nem
μηδὲ καταθλίβειν ἰσχύοντι τῷ θνητῷ καὶ βαρύνοντι τὸ θεῖον. pressionem o divino com a corpulência e o peso do mortal.
6. Οἶνον δ’ οἱ μὲν ἐν Ἡλίου πόλει θεραπεύοντες τὸν θεὸν 6. E os servidores do deus na cidade de Hélio39 não levam em
353B οὐκ εἰσφέρουσι τὸ παράπαν εἰς τὸ ἱερόν, ὡς οὐ προσῆκον absoluto vinho para dentro do templo, porque não convém aos 353B
ὑπηρέτας πίνειν τοῦ κυρίου καὶ βασιλέως ἐφορῶντος· οἱ δ’ ἄλλοι servos beber sob o olhar do seu senhor e do rei40; e os demais fazem
χρῶνται μὲν ὀλίγῳ δέ. πολλὰς δ’ ἀοίνους ἁγνείας ἔχουσιν, uso dele, mas pouco41. Eles têm muitos períodos de purificações,
ἐν αἷς φιλοσοφοῦντες καὶ μανθάνοντες καὶ διδάσκοντες nos quais filosofam, aprendem e ensinam assuntos divinos. E seus
τὰ θεῖα διατελοῦσιν. οἱ δὲ βασιλεῖς καὶ μετρητὸν ἔπινον reis bebiam a quantidade prescrita pelos Livros Sagrados, como
ἐκ τῶν ἱερῶν γραμμάτων, ὡς Ἑκαταῖος ἱστόρηκεν, ἱερεῖς Hecateu42 havia concluído em sua investigação, porque também
ὄντες· ἤρξαντο δὲ πίνειν ἀπὸ Ψαμμητίχου, πρότερον δ’ eram sacerdotes; e começaram a bebê-lo a partir de Psamético43, e
οὐκ ἔπινον οἶνον οὐδ’ ἔσπενδον ὡς φίλιον θεοῖς ἀλλ’ ὡς antes dele não bebiam vinho nem faziam libações como algo dileto
αἷμα τῶν πολεμησάντων ποτὲ τοῖς θεοῖς, ἐξ ὧν οἴονται aos deuses, mas como o sangue dos que outrora guerrearam contra
πεσόντων καὶ τῇ γῇ συμμιγέντων ἀμπέλους γενέσθαι· διὸ os deuses, dos que tombaram e se misturaram à terra, pensam que
C καὶ τὸ μεθύειν ἔκφρονας ποιεῖν καὶ παραπλῆγας, ἅτε δὴ deles nasceram os vinhedos; por isso também a embriaguez os torna C
τῶν προγόνων τοῦ αἵματος ἐμπιπλαμένους. ταῦτα μὲν οὖν insensatos e dementes, porque estavam cheios de sangue dos seus
Εὔδοξος ἐν τῇ δευτέρᾳ τῆς περιόδου λέγεσθαί φησιν οὕτως antepassados. Isso é o que Eudoxo44, no segundo livro de sua Volta
ὑπὸ τῶν ἱερέων. à Terra, diz que assim é contado pelos sacerdotes.
7. Ἰχθύων δὲ θαλαττίων πάντες μὲν οὐ πάντων ἀλλ’ 7. E dos peixes marinhos45, todos se abstêm não de todos, mas
ἐνίων ἀπέχονται, καθάπερ Ὀξυρυγχῖται τῶν ἀπ’ ἀγκίστρου· de alguns, como os habitantes de Oxirrinco46, dos vindos de anzol;
σεβόμενοι γὰρ τὸν ὀξύρυγχον ἰχθὺν δεδίασι μή ποτε τὸ pois veneram o peixe oxirrinco47, temem que um dia o anzol48 não
ἄγκιστρον οὐ καθαρόν ἐστιν ὀξυρύγχου περιπεσόντος esteja puro, por ter caído em cima de um oxirrinco; e os habitantes
αὐτῷ· Συηνῖται δὲ φάγρου· δοκεῖ γὰρ ἐπιόντι τῷ Νείλῳ de Siene49, do pargo50; pois acham que ele aparece quando o Nilo
συνεπιφαίνεσθαι καὶ τὴν αὔξησιν ἀσμένοις φράζειν transborda para indicar sua cheia e alegrá-los, que ele é o portador
D αὐτάγγελος ὁρώμενος. οἱ δ’ ἱερεῖς ἀπέχονται πάντων· da notícia. E os sacerdotes se abstêm de todos; e no nono dia do D
πρώτου δὲ μηνὸς ἐνάτῃ τῶν ἄλλων Αἰγυπτίων ἑκάστου primeiro mês51, quando cada um dos demais egípcios se senta
πρὸ τῆς αὐλείου θύρας ὀπτὸν ἰχθὺν κατεσθίοντος οἱ ἱερεῖς diante da porta do pátio com um peixe assado, os sacerdotes não
οὐ γεύονται μὲν κατακαίουσι δὲ πρὸ τῶν θυρῶν τοὺς ἰχθῦς o provam, mas queimam completamente os peixes diante das
δύο λόγους ἔχοντες, ὧν τὸν μὲν ἱερὸν καὶ περιττὸν αὖθις portas sob dois argumentos; o primeiro deles porque é sagrado e
ἀναλήψομαι συνᾴδοντα τοῖς περὶ Ὀσίριδος καὶ Τυφῶνος extraordinário e está relacionado à piedade, elemento das doutrinas
ὁσίως φιλοσοφουμένοις, ὁ δ’ ἐμφανὴς καὶ πρόχειρος οὐκ filosóficas de Osíris52 e Tífon, retomaremos isso mais tarde53; o
ἀναγκαῖον οὐδ’ ἀπερίεργον ὄψον ἀποφαίνων τὸν ἰχθὺν outro porque é manifesto e palpável, para mostrar que o peixe não
Ὁμήρῳ μαρτυρεῖ μήτε Φαίακας τοὺς ἁβροβίους é necessário nem requintado, isso se prova com Homero, nem os

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μήτε τοὺς Ἰθακησίους ἀνθρώπους νησιώτας ἰχθύσι delicados feácios nem os itacenses, homens ilhéus, serviam-se de
χρωμένους ποιοῦντι μήτε τοὺς Ὀδυσσέως ἑταίρους ἐν peixes, nem os companheiros de Odisseu54 em longa navegação e
πλῷ τοσούτῳ καὶ ἐν θαλάττῃ πρὶν εἰς ἐσχάτην ἐλθεῖν no mar aberto, exceto quando iam para uma situação de extrema
353E ἀπορίαν. ὅλως δὲ καὶ τὴν θάλατταν ἔκφυλον ἡγοῦνται dificuldade55. Em suma, também acreditam que o mar é estranho 353E
καὶ παρωρισμένην οὐδὲ μέρος οὐδὲ στοιχεῖον ἀλλ’ οἷον e externo aos limites da terra, não é parte nem elemento dela, mas
περίττωμα διεφθορὸς καὶ νοσῶδες. é tal um resíduo corrompido e nocivo56.
8. Οὐδὲν γὰρ ἄλογον οὐδὲ μυθῶδες οὐδ’ ὑπὸ 8. Pois nenhum elemento irracional, nem fabuloso, nem em
δεισιδαιμονίας, ὥσπερ ἔνιοι νομίζουσιν, ἐγκατεστοιχειοῦτο favor da superstição, como alguns consideram, foi instituído nas
ταῖς ἱερουργίαις, ἀλλὰ τὰ μὲν ἠθικὰς ἔχοντα καὶ χρειώδεις suas práticas religiosas, mas princípios éticos e causas úteis, e o que
αἰτίας, τὰ δ’ οὐκ ἄμοιρα κομψότητος ἱστορικῆς ἢ φυσικῆς não está desprovido da fina arte da investigação e do estudo da sua
ἐστιν, οἷον τὸ περὶ κρομμύου. τὸ γὰρ ἐμπεσεῖν εἰς τὸν ποταμὸν natureza, tal o que se refere à cebola. Pois Díctis57, filho de leite de
καὶ ἀπολέσθαι τὸν τῆς Ἴσιδος τρόφιμον Δίκτυν ου κρομμύων Ísis, caiu no rio e morreu quando estava pegando cebolas com as
ἐπιδρασσόμενον ἐσχάτως ἀπίθανον· οἱ δ’ ἱερεῖς ἀφοσιοῦνται mãos, extremamente inacreditável; e os sacerdotes recusam a cebola
F καὶ δυσχεραίνουσι καὶ τὸ κρόμμυον παραφυλάττοντες, em rituais sagrados, detestam-na e a evitam, porque ela é a única F
ὅτι τῆς σελήνης φθινούσης μόνον εὐτροφεῖν τοῦτο καὶ que cresce e se desenvolve quando a Lua está minguando. E ela não
τεθηλέναι πέφυκεν. ἔστι δὲ πρόσφορον οὔθ’ ἁγνεύουσιν convém nem aos que se mantêm puros nem aos que celebram as
οὔθ’ ἑορτάζουσι, τοῖς μὲν ὅτι διψῆν τοῖς δ’ ὅτι δακρύειν festas, a uns, porque produz sede e a outros, porque os faz chorar
ποιεῖ τοὺς προσφερομένους. ὁμοίως δὲ καὶ τὴν ὗν quando a levam à boca. Do mesmo modo também, acreditam que
ἀνίερον ζῷον ἡγοῦνται· ὡς μάλιστα γὰρ ὀχεύεσθαι δοκεῖ o porco58 é um animal impróprio ao templo; pois parece que eles
τῆς σελήνης φθινούσης, καὶ τῶν τὸ γάλα πινόντων emprenham mais quando a Lua está minguando, e os corpos dos
ἐξανθεῖ τὰ σώματα λέπραν καὶ ψωρικὰς τραχύτητας. que bebem o seu leite são cobertos por lepra e erupções cutâneas
354A τὸν δὲ λόγον, ὃν θύοντες ἅπαξ ὗν ἐν πανσελήνῳ καὶ violentas59. E argumentam porque sacrificam um porco uma única 354A
κατἐσθίοντες ἐπιλέγουσιν, ὡς ὁ Τυφὼν ὗν διώκων vez, na lua cheia, e o comem, porque enquanto Tífon perseguia
πρὸς τὴν πανσέληνον εὗρε τὴν ξυλίνην σορόν, ἐν ᾗ τὸ um porco na lua cheia, encontrou um ataúde de madeira no qual
σῶμα τοῦ Ὀσίριδος ἔκειτο, καὶ διέρριψεν, οὐ πάντες jazia o corpo de Osíris e o espalhou por todos os lados60, mas nem
ἀποδέχονται, παράκουσμα τῶν νεωτέρων ὥσπερ ἄλλα todos aceitam isso, consideram como algo, dentre as histórias
πολλὰ νομίζοντες. Ἀλλὰ τρυφήν γε καὶ πολυτέλειαν recentes, contrário à tradição, como muitas outras. Mas contam
καὶ ἡδυπάθειαν οὕτω προβάλλεσθαι τοὺς παλαιοὺς que certamente os antigos lançavam mão da comodidade, do luxo
λέγουσιν, ὥστε καὶ στήλην ἔστησαν ἐν Θήβαις ἐν τῷ ἱερῷ e da vida prazerosa, a ponto de reprovarem uma coluna levantada
κεῖσθαι κατάρας ἐγγεγραμμένας ἔχουσαν κατὰ Μείνιος no templo61, situado em Tebas62, com imprecações inscritas contra
τοῦ βασιλέως, ὃς πρῶτος Αἰγυπτίους τῆς ἀπλούτου καὶ o rei Mines63, o primeiro que afastou os egípcios de um gênero de
B ἀχρημάτου καὶ λιτῆς ἀπήλ-λαξε διαίτης. λέγεται δὲ καὶ vida simples, sem riqueza nem dinheiro. E também contam que B
Τέχνακτις ὁ Βοκχόρεως πατὴρ στρατεύων ἐπ’ Ἄραβας Tenactis64, o pai de Bócoris65, quando realizava uma expedição

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militar contra os árabes, um dia em que seu equipamento demorou
τῆς ἀποσκευῆς βραδυνούσης ἡδέως τῷ προστυχόντι
a chegar, serviu-se com prazer do alimento que encontrou por acaso
σιτίῳ χρησάμενος εἶτα κοιμηθεὶς βαθὺν ὕπνον ἐπὶ e em seguida foi tomado por um sono profundo sobre um leito de
στιβάδος ἀσπάσασθαι τὴν εὐτέλειαν, ἐκ δὲ τούτου folhagem, porque se alegrou com a frugalidade, a partir de então,
καταράσασθαι τῷ Μείνι καὶ τῶν ἱερέων ἐπαινεσάντων lançou imprecações contra Mines, louvou as ações dos sacerdotes e
στηλιτεῦσαι τὴν κατάραν. insculpiu em uma coluna a imprecação.
9. Οἱ δὲ βασιλεῖς ἀπεδείκνυντο μὲν ἐκ τῶν ἱερέων ἢ τῶν 9. E os reis eram indicados pelos sacerdotes ou os guerreiros,
μαχίμων, τοῦ μὲν δι’ ἀνδρείαν τοῦ δὲ διὰ σοφίαν γένους estes pela sua valentia e aqueles pela sua sabedoria, casta que
ἀξίωμα καὶ τιμὴν ἔχοντος. ὁ δ’ ἐκ μαχίμων ἀποδεδειγμένος detinha honra e estima. E quem era indicado pelos guerreiros
εὐθὺς ἐγίνετο τῶν ἱερέων καὶ μετεῖχε τῆς φιλοσοφίας logo se tornava um dos sacerdotes e participava da sua filosofia, a
ἐπικεκρυμμένης τὰ πολλὰ μύθοις καὶ λόγοις ἀμυδρὰς maior parte dela está oculta em mitos e em histórias obscuras, com
354C ἐμφάσεις τῆς ἀληθείας καὶ διαφάσεις ἔχουσιν, ὥσπερ aparências e transparências de verdade, como, sem dúvida, eles 354C
ἀμέλει καὶ παραδηλοῦσιν αὐτοὶ πρὸ τῶν ἱερῶν τὰς σφίγγας mesmos mostram quando convenientemente erigem esfinges66
ἐπιεικῶς ἱστάντες, ὡς αἰνιγματώδη σοφίαν τῆς θεολογίας diante dos templos, como se o seu discurso sobre os deuses e a
αὐτῶν ἐχούσης. τὸ δ’ ἐν Σάι τῆς Ἀθηνᾶς, ὃ καὶ Ἶσιν cosmologia deles tivesse uma sabedoria enigmática. E a estátua da
νομίζουσιν, ἕδος ἐπιγραφὴν εἶχε τοιαύτην ’ἐγώ εἰμι πᾶν τὸ deusa Atena67 sentada em Sais68, que consideram como sendo de
γεγονὸς καὶ ὂν καὶ ἐσόμενον καὶ τὸν ἐμὸν πέπλον οὐδείς Ísis também, tinha tal inscrição: “eu sou tudo o que foi, o que é e
πω θνητὸς ἀπεκάλυψεν.’ ἔτι δὲ τῶν πολλῶν νομιζόντων o que será, e o meu peplo69 nenhum mortal jamais levantou.”70 E
ἴδιον παρ’ Αἰγυπτίοις ὄνομα τοῦ Διὸς εἶναι τὸν Ἀμοῦν além disso, a maioria crê que o nome próprio de Zeus junto aos
(ὃ παράγοντες ἡμεῖς Ἄμμωνα λέγομεν) Μανεθὼς μὲν ὁ egípcios71 é Ámon72 (que nós corrompemos e dizemos “Ammón”)
Σεβεννύτης. τὸ κεκρυμμένον οἴεται καὶ τὴν κρύψιν ὑπὸ
Mâneton73, o sebenita, pensa que o oculto e o ocultamento são
D ταύτης δηλοῦσθαι τῆς φωνῆς, Ἑκαταῖος δ’ ὁ Ἀβδηρίτης demonstrados por esse som; e Hecateu74, o abderita, afirma que D
φησὶ τούτῳ καὶ πρὸς ἀλλήλους τῷ ῥήματι χρῆσθαι τοὺς
os egípcios usavam essa palavra entre eles quando chamavam
Αἰγυπτίους, ὅταν τινὰ προσκαλῶνται· προσκλητικὴν
alguém; pois esse som é evocativo. Por isso, ao deus primeiro, que
γὰρ εἶναι τὴν φωνήν. διὸ τὸν πρῶτον θεόν, ὃν τῷ παντὶ
consideram como o mesmo que está no todo75, como um ser
τὸν αὐτὸν νομίζουσιν, ὡς ἀφανῆ καὶ κεκρυμμένον ὄντα
προσκαλούμενοι καὶ παρακαλοῦντες ἐμφανῆ γενέσθαι καὶ invisível e oculto, invocam e chamam para que se torne visível e
δῆλον αὐτοῖς Ἀμοῦν λέγουσιν. Ἡ μὲν οὖν εὐλάβεια τῆς claro para eles, e dizem que é Ámon. Tamanha era a circunspecção
περὶ τὰ θεῖα σοφίας Αἰγυπτίων τοσαύτη ἦν. da sabedoria dos egípcios sobre os assuntos divinos.

E 10. μαρτυροῦσι δὲ καὶ τῶν Ἑλλήνων οἱ σοφώτατοι, 10. E dão testemunho disso também os mais sábios dos
Σόλων Θαλῆς Πλάτων Εὔδοξος Πυθαγόρας, ὡς δ’ helenos, Sólon76, Tales77, Platão, Eudoxo, Pitágoras78, como E
ἔνιοί φασι, καὶ Λυκοῦργος εἰς Αἴγυπτον ἀφικόμενοι καὶ alguns dizem, também Licurgo79, que foram ao Egito e andaram
συγγενόμενοι τοῖς ἱερεῦσιν. Εὔδοξον μὲν οὖν Χονούφεώς em companhia dos sacerdotes80. Contam que Eudoxo escutou

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φασι Μεμφίτου διακοῦσαι, Σόλωνα δὲ Σόγχιτος Σαΐτου, com atenção Conúfis81 de Mênfis82, e Sólon a Sônquis83 de Sais,
Πυθαγόραν δ’ Οἰνούφεως Ἡλιοπολίτου. μάλιστα δ’ e Pitágoras a Enúfis84, um heliopolitano. E especialmente este,
οὗτος, ὡς ἔοικε, θαυμασθεὶς καὶ θαυμάσας τοὺς ἄνδρας como parece, porque foi admirado e admirou esses homens,
ἀπεμιμήσατο τὸ συμβολικὸν αὐτῶν καὶ μυστηριῶδες imitou o simbólico e os mistérios deles ao misturar suas doutrinas
ἀναμίξας αἰνίγμασι τὰ δόγματα· τῶν γὰρ καλουμένων com alegorias; pois, dentre os caracteres chamados hieróglifos, não
ἱερογλυφικῶν γραμμάτων οὐθὲν ἀπολείπει τὰ πολλὰ τῶν abandonam a maioria dos preceitos pitagóricos, tal é o não “comer
Πυθαγορικῶν παραγγελμάτων, οἷόν ἐστι τὸ μὴ ‘ἐσθίειν ἐπὶ sobre um carro”85, nem “sentar-se sobre a quênice”86, nem “plantar
δίφρου’ μηδ’ ‘ἐπὶ χοίνικος καθῆσθαι’ μηδὲ ‘φοίνικα φυτεύειν’ palmeiras, nem “cavoucar o fogo com uma faca87 em casa.”88 Eu, ao
F μηδὲ ‘πῦρ μαχαίρᾳ σκαλεύειν ἐν οἰκίᾳ.’ δοκῶ δ’ ἔγωγε καὶ menos, acho também que o que estes homens chamam mônada é F
τὸ τὴν μονάδα τοὺς ἄνδρας ὀνομάζειν Ἀπόλλωνα καὶ τὴν Apolo89, a díada é Ártemis90, a hebdômada é Atena e Posídon91 é o
δυάδα Ἄρτεμιν, Ἀθηνᾶν δὲ τὴν ἑβδομάδα, Ποσειδῶνα δὲ primeiro cubo, que se assemelha às construções erigidas nos templos
τὸν πρῶτον κύβον ἐοικέναι τοῖς ἐπὶ τῶν ἱερῶν ἱδρυμένοις e às suas liturgias, por Zeus! Também aos seus escritos. Pois o nome
καὶ δρωμένοις νὴ Δία καὶ γραφομένοις. τὸν γὰρ βασιλέα καὶ do rei e senhor Osíris o escrevem com um olho e um cetro; e alguns
κύριον Ὄσιριν ὀφθαλμῷ καὶ σκήπτρῳ γράφουσιν· ἔνιοι δὲ escrevem o seu nome como “o de muitos olhos, dizem que do os
355A καὶ τοὔνομα διερμηνεύουσι πολυόφθαλμον, ὡς τοῦ μὲν ος τὸ vem o “muito”, enquanto do iri vem o “olho” na língua egípcia; 355A
πολύ, τοῦ δ’ ιρι τὸν ὀφθαλμὸν Αἰγυπτίᾳ γλώττῃ φράζοντος· e o céu, como não envelhece por sua eternidade, com um coração,
τὸν δ’ οὐρανὸν ὡς ἀγήρω δι’ ἀιδιότητα καρδίᾳ θυμὸν ἐσχάρας pelo ânimo, embaixo de um braseiro. E em Tebas, havia imagens
ὑποκειμένης. ἐν δὲ Θήβαις εἰκόνες ἦσαν ἀνακείμεναι dos juízes erigidas sem as mãos, e a do chefe do tribunal com os
δικαστῶν ἄχειρες, ἡ δὲ τοῦ ἀρχιδικαστοῦ καταμύουσα τοῖς olhos fechados, porque a justiça é ao mesmo tempo incorruptível
ὄμμασιν, ὡς ἄδωρον ἅμα τὴν δικαιοσύνην καὶ ἀνέντευκτον e implacável. E os guerreiros tinham a figura de um escaravelho92
οὖσαν. τοῖς δὲ μαχίμοις κάνθαρος ἦν γλυφὴ σφραγῖδος· οὐ no seu selo; pois não existe escaravelho fêmea, ao contrário, todos
γὰρ ἔστι κάνθαρος θῆλυς, ἀλλὰ πάντες ἄρσενες. τίκτουσι δὲ são machos. E eles se reproduzem quando jorram o sêmen no seu
τὸν γόνον ἀφιέντες εἰς ὄνθον, ὃν σφαιροποιοῦσιν, οὐ τροφῆς excremento, que modelam em forma de esferas, preparam mais um
μᾶλλον ὕλην ἢ γενέσεως χώραν παρασκευάζοντες. lugar de geração, não de alimentação.
11. Ὅταν οὖν ἃ μυθολογοῦσιν Αἰγύπτιοι περὶ τῶν 11. Portanto, quando escutares o que os egípcios contam
B θεῶν ἀκούσῃς, πλάνας καὶ διαμελισμοὺς καὶ πολλὰ sobre os mitos de seus deuses, errantes, desmembrados e com B
τοιαῦτα παθήματα, δεῖ τῶν προειρημένων μνημονεύειν muitos tipos de sofrimentos, deves te lembrar do que foi dito antes
καὶ μηδὲν οἴεσθαι τούτων λέγεσθαι γεγονὸς οὕτω καὶ e pensar que nada disso que se diz tenha sido feito e acontecido
πεπραγμένον· οὐ γὰρ τὸν κύνα κυρίως Ἑρμῆν λέγουσιν, assim; pois não chamam Hermes propriamente de cão, mas do
ἀλλὰ τοῦ ζῴου τὸ φυλακτικὸν καὶ τὸ ἄγρυπνον καὶ τὸ que é próprio do animal, a sua qualidade para guarda, vigilância
φιλόσοφον, γνώσει καὶ ἀγνοίᾳ τὸ φίλον καὶ τὸ ἐχθρὸν e sabedoria93, conhece e desconhece ao distinguir o amigo e o
ὁρίζοντος, ᾗ φησιν ὁ Πλάτων, τῷ λογιωτάτῳ τῶν θεῶν inimigo, pelo que diz Platão94, eles associam isso ao mais eloquente
συνοικειοῦσιν· οὐδὲ τὸν Ἥλιον ἐκ λωτοῦ νομίζουσι βρέφος dos deuses; nem consideram que Hélio tivesse nascido do lótus

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ἀνίσχειν νεογιλόν, ἀλλ’ οὕτως ἀνατολὴν ἡλίου γράφουσι, como um bebê recém-nascido, mas é assim que representam o
τὴν ἐξ ὑγρῶν ἡλίου γινομένην ἄναψιν αἰνιττόμενοι. καὶ γὰρ nascimento do Sol, expressam-se por alegorias que a luz do sol se
τὸν ὠμότατον Περσῶν βασιλέα καὶ φοβερώτατον Ὦχον origina da umidade. De fato, Oco95, que era o mais cruel e temido
ἀποκτείναντα πολλούς, τέλος δὲ καὶ τὸν Ἆπιν ἀποσφάξαντα rei dos persas, que matou muitos e, por fim, degolou Ápis96 e o
355C καὶ καταδειπνήσαντα μετὰ τῶν φίλων ἐκάλεσαν ‘μάχαιραν’ devorou em companhia dos seus amigos que o chamaram “faca”97 e 355C
καὶ καλοῦσι μέχρι νῦν οὕτως ἐν τῷ καταλόγῳ τῶν βασιλέων, οὐ o chamam assim até hoje no Catálogo dos reis, assinalando não a sua
κυρίως δήπου τὴν οὐσίαν αὐτοῦ σημαίνοντες, ἀλλὰ τοῦ τρόπου própria essência, mas comparando a inflexibilidade e a maldade do
τὴν σκληρότητα καὶ κακίαν ὀργάνῳ φονικῷ παρεικάζοντες. seu comportamento com o instrumento mortífero98. Desse modo,
οὕτω δὴ τὰ περὶ θεῶν ἀκούσασα καὶ δεχομένη παρὰ τῶν escuta os acontecimentos sobre os deuses e os recebe daqueles que
ἐξηγουμένων τὸν μῦθον ὁσίως καὶ φιλοσόφως καὶ δρῶσα μὲν explicam o mito de modo sagrado e filosófico, executa-os sempre
ἀεὶ καὶ διαφυλάττουσα τῶν ἱερῶν τὰ νενομισμένα, τοῦ δ’ ἀληθῆ preservando as práticas dos sagrados ritos estabelecidos, pensa que
δόξαν ἔχειν περὶ θεῶν μηδὲν οἰομένη μᾶλλον αὐτοῖς μήτε θύσειν nada agrada mais aos deuses, nem sacrifício nem ação, que ter uma
D μήτε ποιήσειν αὐτοῖς κεχαρισμένον, οὐδὲν ἔλαττον ἀποφεύξῃ crença verdadeira sobre eles evitarás um mal não menor ao ateísmo: D
κακὸν ἀθεότητος δεισιδαιμονίαν. a superstição.
12. Λεγέσθω δ’ ὁ μῦθος οὗτος ἐν βραχυτάτοις ὡς ἔνεστι 12. E que esse mito seja contado em breves palavras, porque
μάλιστα τῶν ἀχρήστων σφόδρα καὶ περιττῶν ἀφαιρεθέντων. nelas, sobretudo, o inútil e o supérfluo estão ocultos. Diz-se que
τῆς Ῥέας φασὶ κρύφα τῷ Κρόνῳ συγγενομένης αἰσθόμενον Reia99 teve relações sexuais em segredo com Crono100, que Hélio
ἐπαράσασθαι τὸν Ἥλιον αὐτῇ μήτε μηνὶ μήτ’ ἐνιαυτῷ soube disso e lançou contra ela a imprecação de que não daria à luz
τεκεῖν· ἐρῶντα δὲ τῆς θεοῦ τὸν Ἑρμῆν συνελθεῖν, εἶτα nem em um mês nem em um ano; e que Hermes, tomado de amor
παίξαντα πέττια πρὸς τὴν Σελήνην καὶ ἀφελόντα τῶν pela deusa, uniu-se sexualmente a ela, depois jogou dados101 com
φώτων ἑκάστου τὸ ἑβδομηκοστὸν ἐκ πάντων ἡμέρας πέντε Selene102 e arrebatou-lhe a septuagésima parte de cada um dos seus
συνελεῖν καὶ ταῖς ἑξήκοντα καὶ τριακοσίαις ἐπαγαγεῖν, ἃς ciclos lunares, totalizando cinco dias de todos e acrescentou aos
νῦν ἐπαγομένας Αἰγύπτιοι καλοῦσι καὶ τῶν θεῶν γενεθλίους trezentos e sessenta, que hoje os egípcios chamam de adicionais e
E ἄγουσι. τῇ μὲν πρώτῃ τὸν Ὄσιριν γενέσθαι καὶ φωνὴν αὐτῷ neles celebram o nascimento dos deuses103. No primeiro dia, nasceu E
τεχθέντι συνεκπεσεῖν, ὡς ὁ πάντων κύριος εἰς φῶς πρόεισιν. ἔνιοι Osíris e, quando nasceu, uma voz saiu junto com ele e avisou que
δὲ Παμύλην τινὰ λέγουσιν ἐν Θήβαις ὑδρευόμενον ἐκ τοῦ ἱεροῦ “o senhor de tudo vem primeiro à luz”. E alguns contam que um
τοῦ Διὸς φωνὴν ἀκοῦσαι διακελευομένην ἀνειπεῖν μετὰ βοῆς, certo Pamiles104, enquanto estava buscando água no templo de
ὅτι μέγας βασιλεὺς εὐεργέτης Ὄσιρις γέγονε, καὶ διὰ τοῦτο Zeus em Tebas, escutou uma voz que lhe ordenou que gritasse alto
θρέψαι τὸν Ὄσιριν ἐγχειρίσαντος αὐτῷ τοῦ Κρόνου καὶ τὴν τῶν que o grande rei e benévolo Osíris havia nascido e que, por isto,
Παμυλίων ἑορτὴν αὐτῷ τελεῖσθαι Φαλληφορίοις ἐοικυῖαν. τῇ criou Osíris, porque Crono colocou-o em suas mãos e ordenou-
δὲ δευτέρᾳ τὸν Ἀρούηριν, ὃν Ἀπόλλωνα, ὃν καὶ πρεσβύτερον lhe que instituísse a festa das Pamílias, que era semelhante à das
Ὧρον ἔνιοι καλοῦσι, τῇ τρίτῃ δὲ Τυφῶνα μὴ καιρῷ μηδὲ κατὰ Faloforias105. No segundo dia, Aruéris106, a quem chamam Apolo
e alguns também o chamam Hórus, o Velho; e no terceiro, Tífon,

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355F χώραν, ἀλλ’ ἀναρρήξαντα πληγῇ διὰ τῆς πλευρᾶς não no momento oportuno nem no lugar certo, mas abriu sua 355F
ἐξαλέσθαι. τετάρτῃ δὲ τὴν Ἶσιν ἐν πανύγροις γενέσθαι, mãe com um golpe e pulou através do seu flanco. E no quarto
τῇ δὲ πέμπτῃ Νέφθυν, ἣν καὶ Τελευτὴν καὶ Ἀφροδίτην, dia, nasceu Ísis, em lugares completamente úmidos107; no quinto,
ἔνιοι δὲ καὶ Νίκην ὀνομάζουσιν. εἶναι δὲ τὸν μὲν Ὄσιριν Néftis108, que chamavam tanto Teleute109 como Afrodite, alguns
ἐξ Ἡλίου καὶ τὸν Ἀρούηριν, ἐκ δ’ Ἑρμοῦ τὴν Ἶσιν, ἐκ também Nice110. E que Osíris e Aruéris eram filhos de Hélio,
δὲ τοῦ Κρόνου τὸν Τυφῶνα καὶ τὴν Νέφθυν. διὸ καὶ Ísis de Hermes, e Tífon e Néftis de Crono. Por isso também que
τὴν τρίτην τῶν ἐπαγομένων ἀποφράδα νομίζοντες οἱ os reis consideram nefasto o terceiro dia dos adicionais e não se 356A
356A βασιλεῖς οὐκ ἐχρημάτιζον οὐδ’   ἐθεράπευον αὑτοὺς ocupavam dos assuntos públicos nem cuidavam de si mesmos até
μέχρι νυκτός. γήμασθαι δὲ τῷ Τυφῶνι τὴν Νέφθυν, Ἶσιν à noite. E contam que Néftis casou-se com Tífon, que Ísis e Osíris
δὲ καὶ Ὄσιριν ἐρῶντας ἀλλήλων καὶ πρὶν ἢ γενέσθαι foram tomados de amor um pelo outro, mesmo antes de nascer,
κατὰ γαστρὸς ὑπὸ σκότῳ συνεῖναι. ἔνιοι δέ φασι καὶ τὸν que tiveram relações sexuais na escuridão do seu ventre. E alguns
Ἀρούηριν οὕτω γεγονέναι καὶ καλεῖσθαι πρεσβύτερον também dizem que assim nasceu Aruéris, que é chamado de
Ὧρον ὑπ’ Αἰγυπτίων, Ἀπόλλωνα δ’ ὑφ’ Ἑλλήνων. Hórus, o Velho, pelos egípcios, e Apolo pelos helenos111.
13. Βασιλεύοντα δ’ Ὄσιριν Αἰγυπτίους μὲν εὐθὺς 13. E logo que Osíris começou a reinar sobre os egípcios,
ἀπόρου βίου καὶ θηριώδους ἀπαλλάξαι καρπούς τε δείξαντα ele os livrou de uma vida sem recursos e selvagem, mostrou-lhes
καὶ νόμους θέμενον αὐτοῖς καὶ θεοὺς διδάξαντα τιμᾶν· os frutos, instituiu leis e os ensinou a honrar os deuses112; mais
ὕστερον δὲ γῆν πᾶσαν ἡμερούμενον ἐπελθεῖν ἐλάχιστα μὲν tarde, percorreu toda a terra para torná-la habitável; poucas
B ὅπλων δεηθέντα, πειθοῖ δὲ τοὺς πλείστους καὶ λόγῳ μετ’ vezes necessitou das armas113, persuadia e arrastava a maioria B
ᾠδῆς πάσης καὶ μουσικῆς θελγομένους προσαγόμενον· enfeitiçada por sua palavra acompanhada de todo tipo de canto
ὅθεν Ἕλλησι δόξαι Διονύσῳ τὸν αὐτὸν εἶναι. Τυφῶνα δ’ e de música114. Por isso, os helenos acham que ele é o mesmo
ἀπόντος μὲν οὐθὲν νεωτερίζειν διὰ τὸ τὴν Ἶσιν εὖ μάλα que Dioniso115. E Tífon, na sua ausência, não fez nada de novo
φυλάττεσθαι καὶ προσέχειν ἐγκρατῶς ἔχουσαν, ἐπανελθόντι porque Ísis o vigiava muito bem e prestava atenção nele com
δὲ δόλον μηχανᾶσθαι συνωμότας ἄνδρας ἑβδομήκοντα firmeza, mas, quando voltou, tramou um ardil contra ele, reuniu
καὶ δύο πεποιημένον καὶ συνεργὸν ἔχοντα βασίλισσαν ἐξ setenta e dois homens conjurados e tinha como cúmplice uma
Αἰθιοπίας παροῦσαν, ἣν ὀνομάζουσιν Ἀσώ· τοῦ δ’ Ὀσίριδος rainha vinda da Etiópia, a que eles chamam Aso116. E, às ocultas,
ἐκμετρησάμενον λάθρα τὸ σῶμα καὶ κατασκευάσαντα πρὸς ele mediu o corpo de Osíris por completo e, com essa medida,
τὸ μέγεθος λάρνακα καλὴν καὶ κεκοσμημένην περιττῶς preparou uma arca bela e ornada de modo extraordinário e a levou
C εἰσενεγκεῖν εἰς τὸ συμπόσιον. ἡσθέντων δὲ τῇ ὄψει καὶ ao banquete. E porque ficaram deleitados e admirados com sua C
θαυμασάντων ὑποσχέσθαι τὸν Τυφῶνα μετὰ παιδιᾶς, aparência, Tífon prometeu, com gracejos, que quem se deitasse
ὃς ἂν ἐγκατακλιθεὶς ἐξισωθῇ, διδόναι δῶρον αὐτῷ τὴν nela e fosse do mesmo tamanho, ele lhe daria a arca de presente.
λάρνακα. πειρωμένων δὲ πάντων καθ’ ἕκαστον, ὡς οὐδεὶς E após cada um deles todos tê-la experimentado, ninguém nela
ἐνήρμοττεν, ἐμβάντα τὸν Ὄσιριν κατακλιθῆναι· τοὺς coube harmoniosamente, então Osíris veio e se deitou nela; e logo
δὲ συνωμότας ἐπιδραμόντας ἐπιρράξαι τὸ πῶμα καὶ τὰ μὲν uns conjurados correram para bater a tampa com força, enquanto

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γόμφοις καταλαβόντας ἔξωθεν, τῶν δὲ θερμὸν μόλιβδον outros bateram pregos do lado de fora, outros verteram chumbo
καταχεαμένους ἐπὶ τὸν ποταμὸν ἐξενεγκεῖν καὶ μεθεῖναι quente sobre ela, depois a levaram para o rio e a deixaram ir pela
διὰ τοῦ Τανιτικοῦ στόματος εἰς τὴν θάλασσαν, ὃ διὰ τοῦτο embocadura do Tanítico em direção ao mar, a que, por isso, ainda
μισητὸν ἔτι νῦν καὶ κατάπτυστον νομίζειν Αἰγυπτίους. hoje, os egípcios consideram odiosa e desprezível. E dizem que essas
ταῦτα δὲ πραχθῆναι λέγουσιν ἑβδόμῃ ἐπὶ δέκα μηνὸς Ἀθύρ, ações ocorreram no dezessete do mês de átir117, enquanto o Sol
356D ἐν ᾧ τὸν σκορπίον ὁ ἥλιος διέξεισιν, ὄγδοον ἔτος καὶ εἰκοστὸν passava por escorpião, durante o vigésimo oitavo ano do reinado de 356D
ἐκεῖνο βασιλεύοντος Ὀσίριδος. ἔνιοι δὲ βεβιωκέναι φασὶν Osíris. E alguns dizem que esse correspondia ao tempo de vida, não
αὐτόν, οὐ βεβασιλευκέναι χρόνον τοσοῦτον. que tenha reinado por tanto tempo.
14. Πρώτων δὲ τῶν τὸν περὶ Χέμμιν οἰκούντων τόπον 14. E os Pãs118 e os Sátiros119 que habitavam em um lugar nas
Πανῶν καὶ Σατύρων τὸ πάθος αἰσθομένων καὶ λόγον proximidades de Quêmis120 foram os primeiros que souberam do
ἐμβαλόντων περὶ τοῦ γεγονότος τὰς μὲν αἰφνιδίους τῶν ocorrido e deram a notícia do acontecido, por isso os tumultos
ὄχλων ταραχὰς καὶ πτοήσεις ἔτι νῦν διὰ τοῦτο πανικὰς repentinos e espantos das massas ainda hoje são chamados
προσαγορεύεσθαι· τὴν δ’ Ἶσιν αἰσθομένην κείρασθαι “pânicos”121; e quando Ísis soube disso, ela cortou um dos cachos
μὲν ἐνταῦθα τῶν πλοκάμων ἕνα καὶ πένθιμον στολὴν dos seus cabelos ali e trajou uma veste de luto, no lugar onde está
ἀναλαβεῖν, ὅπου τῇ πόλει μέχρι νῦν ὄνομα Κοπτώ. ἕτεροι a cidade que até hoje tem o nome de Copto122. E outros pensam
δὲ τοὔνομα σημαί-νειν οἴονται στέρησιν· τὸ γὰρ ἀποστερεῖν que o seu nome significa “privação”; pois dizem que o “privar” é
E ‘κόπτειν’ λέγουσι. πλανωμένην δὲ πάντῃ καὶ ἀποροῦσαν kóptein123. E vagava por toda parte, não sabia aonde ir nem faltava E
οὐδένα παρελθεῖν ἀπροσαύδητον, ἀλλὰ καὶ παιδαρίοις alguém a quem ela não dirigisse a palavra para perguntar, mas
συντυχοῦσαν ἐρωτᾶν περὶ τῆς λάρνακος· τὰ δὲ τυχεῖν também às crianças que encontrou ao acaso perguntou sobre a
ἑωρακότα καὶ φράσαι τὸ στόμα, δι’ οὗ τὸ ἀγγεῖον οἱ φίλοι arca; e, por acaso, esses a tinham visto e indicaram a embocadura
τοῦ Τυφῶνος εἰς τὴν θάλασσαν ἔωσαν. ἐκ τούτου τὰ por onde os amigos de Tífon deixaram a caixa ir em direção ao
παιδάρια μαντικὴν δύναμιν ἔχειν οἴεσθαι τοὺς Αἰγυπτίους mar. Em razão disso, os egípcios pensam que as crianças têm poder
καὶ μάλιστα ταῖς τούτων ὀττεύεσθαι κληδόσι παιζόντων mântico, sobretudo os presságios vindos dos sons emitidos por eles
ἐν ἱεροῖς καὶ φθεγγομένων ὅ τι ἂν τύχωσιν. αἰσθομένην quando brincam nos templos e gritam o que lhes vem ao acaso124.
δὲ τῇ ἀδελφῇ ἐρῶντα συγγεγονέναι δι’ ἄγνοιαν ὡς ἑαυτῇ E quando Ísis soube que Osíris, tomado de amor, havia tido
τὸν Ὄσιριν καὶ τεκμήριον ἰδοῦσαν τὸν μελιλώτινον relações sexuais com sua irmã125 por ignorância, como se fosse com
στέφανον, ὃν ἐκεῖνος παρὰ τῇ Νέφθυι κατέ λιπε, τὸ ela, e viu como prova a coroa de meliloto126, a que ele deixou junto
παιδίον ζητεῖν (ἐκθεῖναι γὰρ εὐθὺς τεκοῦσαν διὰ φόβον a Néftis127, começou a procurar a criança (pois a expulsou logo que
F τοῦ Τυφῶνος)· εὑρεθὲν δὲ χαλεπῶς καὶ μόγις κυνῶν lhe deu à luz por medo de Tífon); e foi encontrada com dificuldade F
ἐπαγόντων τὴν Ἶσιν ἐκτραφῆναι καὶ γενέσθαι φύλακα καὶ e lida porque cães a guiaram, Ísis a criou, tornou-se sua guardiã e
ὀπαδὸν αὐτῆς Ἄνουβιν προσαγορευθέντα καὶ λεγόμενον assistente e recebeu o nome de Anúbis128, diz-se que ele protege os
τοὺς θεοὺς φρουρεῖν, ὥσπερ οἱ κύνες τοὺς ἀνθρώπους. deuses, como os cães129, os homens.

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357A 15. Ἐκ δὲ τούτου πυθέσθαι περὶ τῆς λάρνακος, ὡς πρὸς τὴν 15. E depois disso, foi informada de que a arca fora levada em 357A
Βύβλου χώραν ὑπὸ τῆς θαλάσσης ἐκκυμανθεῖσαν αὐτὴν ἐρείκῃ uma onda pelo mar até o território de Biblos130 e as ondas a fizeram
τινὶ μαλθακῶς ὁ κλύδων προσέμιξεν· ἡ δ’ ἐρείκη κάλλιστον chegar suavemente a uma urze131. E a urze, um arbusto que em
ἔρνος ὀλίγῳ χρόνῳ καὶ μέγιστον ἀναδραμοῦσα περιέπτυξε pouco tempo cresceu belo e grande, abraçou-a e a escondeu no
καὶ περιέφυ καὶ ἀπέκρυψεν ἐντὸς ἑαυτῆς. θαυμάσας δ’ ὁ seu interior. E o rei ficou maravilhado com o tamanho da planta,
βασιλεὺς τοῦ φυτοῦ τὸ μέγεθος καὶ περιτεμὼν τὸν περιέχοντα cortou a parte que continha o ataúde, que não se via, e a usou
τὴν σορὸν οὐχ ὁρωμένην κορμὸν ἔρεισμα τῇ στέγῃ ὑπέστησε. como um tronco longo para suporte de seu teto. E dizem que
ταῦτά τε πνεύματί φασι δαιμονίῳ φήμης πυθομένην τὴν Ἶσιν logo após Ísis ter sido informada disso por um vento divino, partiu
εἰς Βύβλον ἀφικέσθαι καὶ καθίσασαν ἐπὶ κρήνης ταπεινὴν em direção a Biblos, sentou-se desestimulada e chorosa em uma
καὶ δεδακρυμένην ἄλλῳ μὲν μηδενὶ προσδιαλέγεσθαι, τῆς δὲ fonte, sem conversar nada com ninguém, mas quando as servas
βασιλίδος τὰς θεραπαινίδας ἀσπάζεσθαι καὶ φιλοφρονεῖσθαι da rainha passaram, saudou-as, tratou-as com cortesia, pediu-lhes
B τήν τε κόμην παραπλέκουσαν αὐτῶν καὶ τῷ χρωτὶ θαυμαστὴν para trançar seus cabelos e soprou sobre a pele delas um perfume B
εὐωδίαν ἐπιπνέουσαν ἀφ’ ἑαυτῆς. ἰδούσης δὲ τῆς βασιλίδος maravilhoso que vinha dela. E quando a rainha viu suas servas, veio-
τὰς θεραπαινίδας ἵμερον ἐμπεσεῖν τῆς ξένης τῶν τε τριχῶν τοῦ lhe o desejo de saber quem era a estrangeira, dos seus cabelos e da
τε χρωτὸς ἀμβροσίαν πνέοντος· οὕτω δὲ μεταπεμφθεῖσαν καὶ pele exalando ambrosia132; desse modo, mandou que a buscassem
γενομένην συνήθη ποιήσασθαι τοῦ παιδίου τὴν τίτθην. ὄνομα e que se tornassem íntimas para que ela fosse a ama de leite do seu
δὲ τῷ μὲν βασιλεῖ Μάλκανδρον εἶναί φασιν· αὐτῇ δ’ οἱ μὲν menino133. E dizem que o nome do rei era Malcandro134; e uns
Ἀστάρτην οἱ δὲ Σάωσιν οἱ δὲ Νεμανοῦν, ὅπερ ἂν Ἕλληνες dizem que o dela era Astarte135, outros Saósis, e outros Nemanos,
Ἀθηναΐδα προσείποιεν. a mesma que os helenos chamavam Atenaida.

C 16. τρέφειν δὲ τὴν Ἶσιν ἀντὶ μαστοῦ τὸν δάκτυλον εἰς τὸ 16. E Ísis o criava, no lugar do seio, ela colocava o dedo na boca C
στόμα τοῦ παιδίου διδοῦσαν, νύκτωρ δὲ περικαίειν τὰ θνητὰ τοῦ do menino, e à noite queimava as partes mortais do seu corpo; e ela se
σώματος· αὐτὴν δὲ γενομένην χελιδόνα τῇ κίονι περιπέτεσθαι transformava em andorinha, voava em volta do tronco e gemia, até
καὶ θρηνεῖν, ἄχρι οὗ τὴν βασίλισσαν παραφυλάξασαν καὶ que a rainha, que a vigiava, gritou alto, quando viu que o seu bebê
ἐγκραγοῦσαν, ὡς εἶδε περικαιόμενον τὸ βρέφος, ἀφελέσθαι τὴν estava sendo queimado, e privou-o da imortalidade136. E a deusa se
ἀθανασίαν αὐτοῦ. τὴν δὲ θεὰν φανερὰν γενομένην αἰτήσασθαι τὴν manifestou e lhe pediu o tronco que fazia o suporte do teto; ela o
κίονα τῆς στέγης· ὑφελοῦσαν δὲ ῥᾷστα περικόψαι τὴν ἐρείκην, retirou com facilidade, cortou a ponta da urze, em seguida cobriu-a
εἶτα ταύτην μὲν ὀθόνῃ περικαλύψασαν καὶ μύρον καταχεαμένην com um tecido fino, verteu-lhe mirra e a colocou nas mãos dos
ἐγχειρίσαι τοῖς βασιλεῦσι καὶ νῦν ἔτι σέβεσθαι Βυβλίους τὸ ξύλον reis, ainda hoje os biblos veneram o tronco de madeira depositado
ἐν ἱερῷ κείμενον Ἴσιδος. τῇ δὲ σορῷ περιπεσεῖν καὶ κωκῦσαι no templo de Ísis. E caiu sobre o ataúde e lançou um lamento tão
D τηλικοῦτον, ὥστε τῶν παίδων τοῦ βασιλέως τὸν νεώτερον ἐκθανεῖν· grande a ponto de o mais novo dos filhos do rei ter morrido; mas D
τὸν δὲ πρεσβύτερον μεθ’ ἑαυτῆς ἔχουσαν καὶ τὴν σορὸν εἰς πλοῖον manteve com ela o mais velho, colocou o tronco em um barco e o
ἐνθεμένην ἀναχθῆναι. τοῦ δὲ Φαίδρου ποταμοῦ πνεῦμα τραχύτερον levou. E quando do rio Fedro137 alimentou um vento mais forte ao
ἐκθρέψαντος ὑπὸ τὴν ἕω θυμωθεῖσαν ἀναξηρᾶναι τὸ ῥεῖθρον. raiar da aurora, ela ficou irritada e secou o seu curso de água.

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17. Ὅπου δὲ πρῶτον ἐρημίας ἔτυχεν, αὐτὴν καθ’ 17. E onde primeiro encontrou um lugar deserto, ela ficou
ἑαυτὴν γενομένην ἀνοῖξαι τὴν λάρνακα καὶ τῷ προσώπῳ τὸ sozinha, abriu a arca, pôs-se face a face com ele, abraçou-o e chorou.
πρόσωπον ἐπιθεῖσαν ἀσπάσασθαι καὶ δακρύειν. τοῦ δὲ παιδίου E, em silêncio, estava indo atrás deles o menino que os observava
σιωπῇ προσελθόντος ἐκ τῶν ὄπισθεν καὶ καταμανθάνοντος de perto, quando ela o percebeu, virou-se e, dominada pela cólera,
αἰσθομένην μεταστραφῆναι καὶ δεινὸν ὑπ’ ὀργῆς ἐμβλέψαι· olhou nos seus olhos com terror; e a criança não conseguiu suportar
357E τὸ δὲ παιδίον οὐκ ἀνασχέ σθαι τὸ τάρβος, ἀλλ’ ἀποθανεῖν. o assombro, então morreu. E outros dizem que não foi assim, mas, 357E
οἱ δέ φασιν οὐχ οὕτως, ἀλλ’ ὡς εἴρηται τρόπον ἐκπεσεῖν εἰς como já foi dito antes138, que caiu no mar e obteve muitas honrarias
τὴν θάλασσαν, ἔχειν δὲ τιμὰς διὰ τὴν θεόν· ὃν γὰρ ᾄδουσιν por causa da deusa; pois é esse quem os egípcios cantam nos
Αἰγύπτιοι παρὰ τὰ συμπόσια Μανερῶτα, τοῦτον εἶναι. τινὲς seus banquetes para Maneros139. E alguns chamam o menino de
δὲ τὸν μὲν παῖδα καλεῖσθαι Παλαιστινὸν ἢ Πηλούσιον καὶ Palestino ou Pelúsio, e a cidade tornou-se sua epônima por ter sido
τὴν πόλιν ἐπώνυμον ἀπ’ αὐτοῦ γενέσθαι κτισθεῖσαν ὑπὸ τῆς fundada pela deusa140; concluíram por meio de investigações que
θεοῦ· τὸν δ’ ᾀδόμενον Μανερῶτα πρῶτον εὑρεῖν μουσικὴν o celebrado Maneros foi o primeiro a descobrir a música. E alguns
ἱστοροῦσιν. ἔνιοι δέ φασιν ὄνομα μὲν οὐδενὸς εἶναι, διάλεκτον dizem que esse não é o nome de ninguém, que é uma expressão
δὲ πίνουσιν ἀνθρώποις καὶ θαλειάζουσι πρέπουσαν ‘αἴσιμα apropriada aos homens que estão bebendo e festejando, um “que
τὰ τοιαῦτα παρείη·’ τοῦτο γὰρ τῷ Μανερῶτι φραζόμενον tal momento seja moderado!”. Pois isso é o que significa “Maneros”
F ἀναφωνεῖν ἑκάστοτε τοὺς Αἰγυπτίους. ὥσπερ ἀμέλει καὶ cada vez que os egípcios a utilizam. Como, sem dúvida, mostram- F
τὸ δεικνύμενον αὐτοῖς εἴδωλον ἀνθρώπου τεθνηκότος lhes a imagem de um homem morto carregada em uma caixinha
ἐν κιβωτίῳ περιφερόμενον οὐκ ἔστιν ὑπόμνημα τοῦ não é uma lembrança do que aconteceu com Osíris, como alguns
περὶ Ὀσίριδος πάθους, ᾗ τινες ὑπολαμβάνουσιν, supõem, mas uma exortação a si mesmos enquanto bebem vinho,
ἀλλ’ οἰνωμένους παρακαλοῦντες αὑτοὺς χρῆσθαι servem-se dos bens presentes e os desfrutam; com o propósito de
τοῖς παροῦσι καὶ ἀπολαύειν, ὡς πάντας αὐτίκα μάλα que logo mais todos serão como ele, introduzem o desagradável
τοιούτους ἐσομένους, ἄχαριν ἐπίκωμον ἐπεισάγουσι. convidado141.
18. Τῆς δ’ Ἴσιδος πρὸς τὸν υἱὸν Ὧρον ἐν Βούτῳ 18. E Ísis partiu em viagem com o seu filho Hórus, criado em
τρεφόμενον πορευθείσης τὸ δ’ ἀγγεῖον ἐκποδὼν Buto142, e colocou o ataúde em um lugar distante; mas, à noite,
ἀποθεμένης Τυφῶνα κυνηγετοῦντα νύκτωρ πρὸς τὴν quando Tífon caçava à luz da lua, encontrou-o por acaso e, como
358A σελήνην ἐντυχεῖν αὐτῷ καὶ τὸ σῶμα γνωρίσαντα διελεῖν reconheceu o corpo, cortou-o em quatorze pedaços e jogou-os 358A
εἰς τεσσαρεσκαίδεκα μέρη καὶ διαρρῖψαι, τὴν δ’ Ἶσιν para todos os lados143, e Ísis, depois de ter sido informada disso,
πυθομένην ἀναζητεῖν ἐν βάριδι παπυρίνῃ τὰ δ’ ἕλη buscava-o em um barco feito de papiro144, navegando nas várzeas
διεκπλέουσαν· ὅθεν οὐκ ἀδικεῖσθαι τοὺς ἐν παπυρίνοις úmidas do Egito; desde então, os que navegam em botes feitos de
σκάφεσι πλέοντας ὑπὸ τῶν κροκοδείλων ἢ φοβουμένων ἢ papiro não são atacados pelos crocodilos, ou porque temem ou
σεβομένων διὰ τὴν θεόν. ἐκ τούτου δὲ καὶ πολλοὺς τάφους veneram a deusa. Por esses acontecimentos, também dizem que
Ὀσίριδος ἐν Αἰγύπτῳ λέγεσθαι διὰ τὸ προστυγχάνουσαν existem muitos túmulos de Osíris, visto que, quando encontravam
ἑκάστῳ μέρει ταφὰς ποιεῖν. οἱ δ’ οὔ φασιν, ἀλλ’ εἴδωλα cada uma de suas partes, construíam-lhe um túmulo. E alguns

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ποιουμένην διδόναι καθ’ ἑκάστην πόλιν ὡς τὸ σῶμα dizem que não, mas que Ísis moldava imagens dele e as dava cidade
διδοῦσαν ὅπως παρὰ πλείοσιν ἔχῃ τιμὰς καί, ἂν ὁ Τυφὼν por cidade, como se desse o seu corpo, a fim de que tivesse o
358B ἐπικρατήσῃ τοῦ Ὥρου, τὸν ἀληθινὸν τάφον ζητῶν maior número de honras possível, e para que, se Tífon dominasse 358B
πολλῶν λεγομένων καὶ δεικνυμένων ἀπαγορεύσῃ. μόνον Hórus, fosse procurado o verdadeiro túmulo e lhe dissessem
δὲ τῶν μερῶν τοῦ Ὀσίριδος τὴν Ἶσιν οὐχ εὑρεῖν τὸ αἰδοῖον· que existiam muitos e sinalizados145, ele desistiria. E houve
εὐθὺς γὰρ εἰς τὸν ποταμὸν ῥιφῆναι καὶ γεύσασθαι τόν τε somente uma parte de Osíris que Ísis não conseguiu encontrar:
λεπιδωτὸν αὐτοῦ καὶ τὸν φάγρον καὶ τὸν ὀξύρυγχον, ὡς o membro viril; pois logo que foi jogado no rio, o lepidoto, o
οὓς μάλιστα τῶν ἰχθύων ἀφοσιοῦσθαι· τὴν δ’ Ἶσιν ἀντ’ pargo e oxirrinco o comeram, que são os mais evitados dentre
ἐκείνου μίμημα ποιησαμένην καθιερῶσαι τὸν φαλλόν, ᾧ os peixes; e Ísis fez uma imitação daquele e consagrou o falo,
καὶ νῦν ἑορτάζειν τοὺς Αἰγυπτίους. ao qual ainda hoje os egípcios celebram uma festa.
19. Ἔπειτα τῷ Ὥρῳ τὸν Ὄσιριν ἐξ Ἅιδου 19. Depois, quando Osíris chegou do Hades146 junto a Hórus,
παραγενόμενον διαπονεῖν ἐπὶ τὴν μάχην καὶ ἀσκεῖν, treinava-o para a batalha e o fazia se exercitar, logo lhe perguntou o
εἶτα διερωτῆσαι, τί κάλλιστον ἡγεῖται· τοῦ δὲ φήσαντος que ele considerava mais belo; foi quando ele lhe disse: “vingar o pai
‘τὸ πατρὶ καὶ μητρὶ τιμωρεῖν κακῶς παθοῦσι’ δεύτερον e a mãe por terem sido maltratados”, em segundo lugar, perguntou
ἐρέσθαι, τί χρησιμώτατον οἴεται ζῷον εἰς μάχην qual ele pensava que era o animal mais útil para que avançassem
C ἐξιοῦσι· τοῦ δ’ Ὥρου ‘ἵππον’ εἰπόντος ἐπιθαυμάσαι καὶ na batalha; foi quando Hórus lhe disse: “o cavalo”, e ele ficou C
διαπορῆσαι, πῶς οὐ λέοντα μᾶλλον ἀλλ’ ἵππον· εἰπεῖν οὖν espantado e sem saber o que dizer, como um leão não era o mais
τὸν Ὧρον, ὡς λέων μὲν ὠφέλιμον ἐπιδεομένῳ βοηθείας, útil, mas um cavalo; então, Hórus disse que o leão era útil quando
ἵππος δὲ φεύγοντα διασπάσαι καὶ καταναλῶσαι τὸν se necessita de socorro, enquanto o cavalo era útil para dispersar o
πολέμιον. ἀκούσαντ’ οὖν ἡσθῆναι τὸν Ὄσιριν, ὡς ἱκανῶς inimigo e aniquilá-lo enquanto fugia. Então, Osíris alegrou-se com
παρασκευασαμένου τοῦ Ὥρου. λέγεται δ’ ὅτι πολλῶν o que escutou, porque Hórus estava suficientemente preparado. E
μετατιθεμένων ἀεὶ πρὸς τὸν Ὧρον καὶ ἡ παλλακὴ τοῦ conta-se que muitos mudaram de lado e foram continuamente para
Τυφῶνος ἀφίκετο Θούηρις· ὄφις δέ τις ἐπιδιώκων αὐτὴν o lado de Hórus, também a concubina de Tífon, Tuéris147; uma
ὑπὸ τῶν περὶ τὸν Ὧρον κατεκόπη, καὶ νῦν διὰ τοῦτο serpente que a perseguia foi cortada em pedaços pelos partidários
D σχοινίον τι προ-βάλλοντες εἰς μέσον κατακόπτουσι. τὴν de Hórus, por isso, ainda hoje lançam uma corda no meio deles e a D
μὲν οὖν μάχην ἐπὶ πολλὰς ἡμέρας γενέσθαι καὶ κρατῆσαι τὸν cortam em pedaços. Sem qualquer dúvida, o combate ocorreu por
Ὧρον· τὸν Τυφῶνα δὲ τὴν Ἶσιν δεδεμένον παραλαβοῦσαν muitos dias e venceu Hórus; e Tífon, embora Ísis o tenha recebido
οὐκ ἀνελεῖν, ἀλλὰ καὶ λῦσαι καὶ μεθεῖναι· τὸν δ’ Ὧρον οὐ atado, ela não o aniquilou, mas o soltou e o deixou ir; mas Hórus
μετρίως ἐνεγκεῖν, ἀλλ’ ἐπιβαλόντα τῇ μητρὶ τὰς χεῖρας não suportou isso de modo comedido, ao contrário, agarrou a mãe
ἀποσπάσαι τῆς κεφαλῆς τὸ βασίλειον· Ἑρμῆν δὲ περιθεῖναι com as mãos e arrancou a coroa da sua cabeça; e Hermes colocou
βούκρανον αὐτῇ κράνος. τοῦ δὲ Τυφῶνος δίκην τῷ Ὥρῳ na sua cabeça um capacete em forma de vaca. E Tífon abriu um
νοθείας λαχόντος βοηθήσαντος δὲ τοῦ Ἑρμοῦ καὶ τὸν Ὧρον processo contra Hórus porque ele era um bastardo, mas, com a
ὑπὸ τῶν θεῶν γνήσιον κριθῆναι· τὸν δὲ Τυφῶνα δυσὶν ἄλλαις ajuda de Hermes, Hórus foi julgado legítimo pelos deuses; e Tífon

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μάχαις καταπολεμηθῆναι. τὴν δ’ Ἶσιν ἐξ Ὀσίριδος μετὰ τὴν foi derrotado em outros dois combates. E de Osíris, com quem ela
τελευτὴν συγγενομένου τεκεῖν ἠλιτόμηνον καὶ ἀσθενῆ τοῖς teve relações sexuais depois de morto, Ísis deu à luz a Harpócrates,
κάτωθεν γυίοις τὸν Ἁρποκράτην. um prematuro e fraco nos membros inferiores.
358E 20. Ταῦτα σχεδόν ἐστι τοῦ μύθου τὰ κεφάλαια τῶν 20. Esses são mais ou menos os principais aspectos do 358E
δυσφημοτάτων ἐξαιρεθέντων, οἷόν ἐστι τὸ περὶ τὸν Ὥρου mito, deles foram retirados os mais desagradáveis, como o
διαμελισμὸν καὶ τὸν Ἴσιδος ἀποκεφαλισμόν. ὅτι μὲν desmembramento de Hórus e a decapitação de Ísis. Porque, se isso
οὖν, εἰ ταῦτα περὶ τῆς μακαρίας καὶ ἀφθάρτου φύσεως, sobre a natureza bem-aventurada e imperecível, segundo a qual é
καθ’ ἣν μάλιστα νοεῖται τὸ θεῖον, ὡς ἀληθῶς πραχθέντα especialmente concebida o divino, eles o consideram e contam
καὶ συμπεσόντα δοξάζουσι καὶ λέγουσιν, ‘ἀποπτύσαι como se fossem feitos e fatos verdadeiros, “deve-se cuspir e purificar
δεῖ καὶ καθήρασθαι’ τὸ ‘στόμα’ κατ’ Αἰσχύλον, οὐδὲν a boca”148, conforme Ésquilo149, nem devia dizer-te isso; de fato,
δεῖ λέγειν πρὸς σέ· καὶ γὰρ αὐτὴ δυσκολαίνεις τοῖς οὕτω tu mesma recusarás aqueles que têm ideias anormais e bárbaras
παρανόμους καὶ βαρβάρους δόξας περὶ θεῶν ἔχουσιν· ὅτι δ’ sobre os deuses; que esses fatos não se assemelham em absoluto a
F οὐκ ἔοικε ταῦτα κομιδῇ μυθεύμασιν ἀραιοῖς καὶ διακένοις essas narrativas míticas inconsistentes e invenções vazias, tais como F
πλάσμασιν, οἷα ποιηταὶ καὶ λογογράφοι καθάπερ οἱ ἀράχναι poetas e logógrafos que, como as aranhas, geram as primeiras ideias
γεννῶντες ἀφ’ ἑαυτῶν ἀπἀρχὰς ἀνυποθέτους ὑφαίνουσι de si mesmos; sem fundamento, tecem-nas e as expandem, mas
καὶ ἀποτείνουσιν, ἀλλ’ ἔχει τινὰς ἀπορίας καὶ παθῶν com algumas dificuldades e narrativas de sofrimentos, tu mesma
διηγήσεις, γινώσκεις αὐτή. καὶ καθάπερ οἱ μαθηματικοὶ as conheces150. E como os matemáticos dizem que o arco-íris é o
τὴν ἶριν ἔμφασιν εἶναι τοῦ ἡλίου λέγουσι ποικιλλομένην reflexo do sol, que seu multicolorido é por nossa vista que se afasta
359A τῇ πρὸς τὸ νέφος ἀναχωρήσει τῆς ὄψεως, οὕτως ὁ μῦθος dele em direção à nuvem151; desse modo, o mito aqui é reflexo de 359A
ἐνταῦθα λόγου τινὸς ἔμφασίς ἐστιν ἀνακλῶντος ἐπ’ ἄλλα um tipo de discurso que afasta sua mente para outras ideias, como
τὴν διάνοιαν, ὡς ὑποδηλοῦσιν αἵ τε θυσίαι τὸ πένθιμον nos dão a entender os sacrifícios com duelo e a aparência sombria,
ἔχουσαι καὶ σκυθρωπὸν ἐμφαινόμενον αἵ τε τῶν ναῶν as disposições dos recintos dos templos152 por onde se lançam alas
διαθέσεις πῆ μὲν ἀνειμένων εἰς πτερὰ καὶ δρόμους e corredores ao ar livre e puro, por onde há também as criptas
ὑπαιθρίους καὶ καθαρούς, πῆ δὲ κρυπτὰ καὶ σκότια κατὰ e túmulos sob a terra, lugares com estátuas e vestes dos deuses,
γῆς ἐχόντων στολιστήρια θηκαίοις ἐοικότα καὶ σηκοῖς, que se assemelham a câmaras funerárias e tumbas, e não menos
οὐχ ἥκιστα δ’ ἡ τῶν Ὀσιρείων δόξα, πολλαχοῦ κεῖσθαι importante é a crença sobre Osíris, quando se diz que seu corpo
λεγομένου τοῦ σώματος· τήν τε γὰρ Διοχίτην ὀνομάζεσθαι jaz por toda parte; pois dizem que Dioquites153 é o nome dado a
πολίχνην λέγουσιν, ὡς μόνην τὸν ἀληθινὸν ἔχουσαν, ἔν uma pequena cidade, que é a única que tem o verdadeiro, e que
B τ’ Ἀβύδῳ τοὺς εὐδαίμονας τῶν Αἰγυπτίων καὶ δυνατοὺς os egípcios afortunados e poderosos são enterrados em Abido154 B
μάλιστα θάπτεσθαι φιλοτιμουμένους ὁμοτάφους εἶναι por buscar as honras de estar em túmulos que estão no mesmo
τοῦ σώματος Ὀσίριδος. ἐν δὲ Μέμφει τρέφεσθαι τὸν lugar que o corpo de Osíris. Em Mênfis, era criado Ápis, imagem
Ἆπιν εἴδωλον ὄντα τῆς ἐκείνου ψυχῆς, ὅπου καὶ τὸ da alma daquele, onde também jaz o seu corpo; e interpretam
σῶμα κεῖσθαι· καὶ τὴν μὲν πόλιν οἱ μὲν ὅρμον ἀγαθῶν que a cidade significa “porto dos bons”, e outros propriamente

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ἑρμηνεύουσιν, οἱ δ’ ἰδίως τάφον Ὀσίριδος. τὴν δὲ “túmulo de Osíris”. E próximo a Fila155 havia uma ilhazinha que
πρὸς Φιλαῖς νιστιτάνην ἄλλως μὲν ἄβατον ἅπασι καὶ ainda por cima era absolutamente inacessível e inabordável, as
ἀπροσπέλαστον εἶναι καὶ μηδ’ ὄρνιθας ἐπ’ αὐτὴν aves não pousavam nela, sequer os peixes se aproximavam dela,
καταίρειν μηδ’ ἰχθῦς προσπελάζειν, ἑνὶ δὲ καιρῷ τοὺς e em uma época apropriada, os sacerdotes faziam a sua travessia
ἱερεῖς διαβαίνοντας ἐναγίζειν καὶ καταστέφειν τὸ σῆμα para oferecer sacrifícios fúnebres e coroar o seu túmulo, que é
μηδίθης φυτῷ περισκιαζόμενον ὑπεραίροντι πάσης sombreado por uma planta de medites156 que cresce acima do
ἐλαίας μέγεθος. tamanho de qualquer oliveira.
21. Εὔδοξος δὲ πολλῶν τάφων ἐν Αἰγύπτῳ λεγομένων 21. Eudoxo, dentre os muitos túmulos existentes no Egito,
359C ἐν Βουσίριδι τὸ σῶμα κεῖσθαι· καὶ γὰρ πατρίδα ταύτην diz que o seu corpo jaz em Busíris157; porque essa havia se tornado 359C
γεγονέναι τοῦ Ὀσίριδος· οὐκέτι μέντοι λόγου δεῖσθαι τὴν a pátria de Osíris; por certo, Tafosíris158 não precisa ainda de
Ταφόσιριν· αὐτὸ γὰρ φράζειν τοὔνομα ταφὴν Ὀσίριδος. argumento; pois seu próprio nome indica que é a tumba de
ἐῶ δὲ τομὴν ξύλου καὶ σχίσιν λίνου καὶ χοὰς χεομένας διὰ Osíris. E deixo de lado o corte da madeira, a fenda da pedra e o
τὸ πολλὰ τῶν μυστικῶν ἀναμεμῖχθαι τούτοις. οὐ μόνον derramamento de libações, porque muitos assuntos místicos estão
δὲ τούτων οἱ ἱερεῖς λέγουσιν, ἀλλὰ καὶ τῶν ἄλλων θεῶν, relacionados a eles. E não somente isso, mas também sobre os
ὅσοι μὴ ἀγέννητοι μηδ’ ἄφθαρτοι, τὰ μὲν σώματα παρ’ demais deuses, quantos não sejam ingênitos nem incorruptíveis, os
αὐτοῖς κεῖσθαι καμόντα καὶ θεραπεύεσθαι, τὰς δὲ ψυχὰς sacerdotes dizem que seus corpos jazem fatigados junto a eles e que
ἐν οὐρανῷ λάμπειν ἄστρα καὶ καλεῖσθαι κύνα μὲν τὴν por eles são honrados, enquanto suas almas brilham como astros no
Ἴσιδος ὑφ’ Ἑλλήνων, ὑπ’ Αἰγυπτίων δὲ Σῶθιν, Ὠρίωνα δὲ céu e que a alma de Ísis é chamada de Cão pelos helenos, Sótis, pelos
D τὴν Ὥρου, τὴν δὲ Τυφῶνος ἄρκτον. εἰς δὲ τὰς ταφὰς τῶν egípcios, e Órion, a de Hórus, e Ursa, a de Tífon. E para as tumbas D
τιμωμένων ζῴων τοὺς μὲν ἄλλους συντεταγμένα τελεῖν, dos animais venerados, os demais pagam o tributo estabelecido, e
μόνους δὲ μὴ διδόναι τοὺς Θηβαΐδα κατοικοῦντας, ὡς os únicos que não o dão são os habitantes de Tebaida, porque não
θνητὸν θεὸν οὐδένα νομίζοντας, ἀλλ’ ὃν καλοῦσιν αὐτοὶ cultuam nenhum deus mortal, mas o que eles mesmos chamam
Κνήφ, ἀγέννητον ὄντα καὶ ἀθάνατον. Cnef, que é ingênito e imortal.
22. Πολλῶν δὲ τοιούτων λεγομένων καὶ δεικνυμένων 22. Porque existem muitos relatos e representações desse tipo,
οἱ μὲν οἰόμενοι βασιλέων ταῦτα καὶ τυράννων δι’ celebram essas ações e experiências extraordinárias e grandiosas, de
ἀρετὴν ὑπερφέρουσαν ἢ δύναμιν ἢ ἀξίωμα δόξαν reis e tiranos que pensam que despontaram por sua virtude, ou
θεότητος ἐπιγραψαμένων εἶτα χρησαμένων τύχαις ἔργα poder, ou dignidade, que atribuíram a si mesmos uma reputação
καὶ πάθη δεινὰ καὶ μεγάλα διαμνημονεύεσθαι ῥᾴστῃ divina, e que depois sofreram as ações da sorte com grandes e terríveis
μὲν ἀποδράσει τοῦ λόγου χρῶνται καὶ τὸ δύσφημον sofrimentos, que facilmente escaparam do relato verdadeiro,
οὐ φαύλως ἀπὸ τῶν θεῶν ἐπ’ ἀνθρώπους μεταφέρουσι porque as narram com habilidade, transferem a difamação dos
D καὶ ταύτας ἔχουσιν ἀπὸ τῶν ἱστορουμένων βοηθείας. deuses para os homens, com a ajuda dessas investigações159. Pois E
ἱστοροῦσι γὰρ Αἰγύπτιοι τὸν μὲν Ἑρμῆν τῷ σώματι os egípcios concluem por meio de suas investigações que Hermes

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γενέσθαι γαλιάγκωνα, τὸν δὲ Τυφῶνα τῇ χρόᾳ πυρρόν, nasceu com um corpo de braços curtos, que Tífon tinha a
λευκὸν δὲ τὸν Ὧρον καὶ μελάγχρουν τὸν Ὄσιριν, ὡς pele vermelha, Hórus, branca e Osíris, negra, como se tivessem
τῇ φύσει γεγονότας ἀνθρώπους. ἔτι δὲ καὶ στρατηγὸν nascido homens por natureza. Além disso, nomearam Osíris
ὀνομάζουσιν Ὄσιριν καὶ κυβερνήτην Κάνωβον, οὗ como estratego e Canobo160 como piloto, do qual, contam, que
φασιν ἐπώνυμον γεγονέναι τὸν ἀστέρα, καὶ τὸ πλοῖον, o astro recebe o seu nome, e o barco, que os helenos chamam de
ὃ καλοῦσιν Ἕλληνες Ἀργώ, τῆς Ὀσίριδος νεὼς εἴδωλον Argo161, uma representação da nau de Osíris, foi colocado entre
ἐπὶ τιμῇ κατηστερισμένον οὐ μακρὰν φέρεσθαι τοῦ os astros em sua homenagem; e não se desloca muito além de
Ὠρίωνος καὶ τοῦ Κυνός, ὧν τὸν μὲν Ὥρου τὸν δ’ Ἴσιδος Órion e do Cão, que os egípcios consideram consagrados um a
ἱερὸν Αἰγύπτιοι νομίζουσιν. Hórus e o outro, a Ísis.
359F 23. ὀκνῶ δέ, μὴ τοῦτ’ ᾖ τὰ ἀκίνητα κινεῖν καὶ 23. E temo que isto seja mover assuntos inamovíveis162 e 359F
‘πολεμεῖν οὐ τῷ πολλῷ χρόνῳ’ (κατὰ Σιμωνίδην) μόνον, somente “guerrear por não muito tempo” (conforme Simônides163),
‘πολλοῖς δ’ ἀνθρώπων ἔθνεσι’ καὶ γένεσι κατόχοις ὑπὸ τῆς mas “contra muitas etnias de homens”164 e linhagens tomadas
πρὸς τοὺς θεοὺς τούτους ὁσιότητος, οὐδὲν ἀπολείποντας por esses sentimentos de piedade aos deuses, que não deixam de
ἐξ οὐρανοῦ μεταφέρειν ἐπὶ γῆν ὀνόματα τηλικαῦτα καὶ transferir nomes tão poderosos do céu para a terra, que falta pouco
τιμὴν καὶ πίστιν ὀλίγου δεῖν ἅπασιν ἐκ πρώτης γενέσεως para aniquilar e retirar a honra e a crença em todos desde a primeira
360A ἐνδεδυκυῖαν ἐξιστάναι καὶ ἀναλύειν, μεγάλας μὲν τῷ ἀθέῳ geração, abrindo grandes portas165 ao ateu Léon166 e que tornam 360A
Λέοντι κλισιάδας ἀνοίγοντας καὶ ἐξανθρωπίζοντι τὰ θεῖα, humanos os assuntos divinos, concedendo brilhante liberdade
λαμπρὰν δὲ τοῖς Εὐημέρου τοῦ Μεσσηνίου φενακισμοῖς de expressão aos enganos do messênio Evêmero167, ele mesmo
παρρησίαν διδόντας, ὃς αὐτὸς ἀντίγραφα συνθεὶς narrou versões da mitologia sem credulidade nem realidade e as
ἀπίστου καὶ ἀνυπάρκτου μυθολογίας πᾶσαν ἀθεότητα espalhou para todo tipo de ateísmo do mundo habitado, quando
κατασκεδάννυσι τῆς οἰκουμένης, τοὺς νομιζομένους nomeia todos os deuses tradicionais no mesmo nível dos inscritos
θεοὺς πάντας ὁμαλῶς διαγράφων εἰς ὀνόματα στρατηγῶν nas listas168 dos estrategos, navarcas e reis, como se de fato tivessem
καὶ ναυάρχων καὶ βασιλέων ὡς δὴ πάλαι γεγονότων ἐν δὲ nascido em outros tempos, e inscreve-os com letras de ouro em
Πάγχοντι γράμμασι χρυσοῖς ἀναγεγραμμένων, οἷς οὔτε Panconte169, que nenhum bárbaro nem heleno, mas somente
βάρβαρος οὐδεὶς οὔθ’ Ἕλλην, ἀλλὰ μόνος Εὐήμερος, ὡς Evêmero, como parece, navegou em direção aos que não nasceram
B ἔοικε, πλεύσας εἰς τοὺς μηδα-μόθι γῆς γεγονότας μηδ’ em lugar nenhum da terra, que não eram sequer pancoos e trífilos, B
ὄντας Παγχώους καὶ Τριφύλλους ἐντετύχηκε. mas ele os havia encontrado.
24. καίτοι μεγάλαι μὲν ὑμνοῦνται πράξεις ἐν 24. Por certo, são celebradas com hinos as grandes ações de
Ἀσσυρίοις Σεμιράμιος, μεγάλαι δὲ Σεσώστριος ἐν Semíramis170 entre os assírios e as grandes de Sesóstris171 no Egito;
Αἰγύπτῳ· Φρύγες δὲ μέχρι νῦν τὰ λαμπρὰ καὶ θαυμαστὰ e até hoje os frígios chamam “mânicos” os feitos brilhantes e
τῶν ἔργων Μανικὰ καλοῦσι διὰ τὸ Μάνην τινὰ τῶν admiráveis por causa de Manes172, um dos seus reis de antigamente,
πάλαι βασιλέων ἀγαθὸν ἄνδρα καὶ δυνατὸν γενέσθαι um homem bom e que se tornou poderoso junto a eles, que

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παρ’ αὐτοῖς, ὃν ἔνιοι Μάσνην καλοῦσι· Κῦρος δὲ Πέρσας alguns chamam Masnes; e Ciro173 aos persas, e Alexandre174 aos
Μακεδόνας δ’ Ἀλέξανδρος ὀλίγου δεῖν ἐπὶ πέρας τῆς γῆς macedônios, faltou pouco para que alcançassem e dominassem
κρατοῦντας προήγαγον· ἀλλ’ ὄνομα καὶ μνήμην βασιλέων até os limites da terra; mas têm o nome e a memória dos bons reis.
360C ἀγαθῶν ἔχουσιν. ‘εἰ δέ τινες ἐξαρθέντες ὑπὸ μεγαλαυχίας’ “e se alguns são exaltados pela arrogância”, como diz Platão, “ao 360C
ὥς φησιν ὁ Πλάτων ‘ἅμα νεότητι καὶ ἀνοίᾳ φλεγόμενοι τὴν mesmo tempo, pela juventude e irreflexão, a alma inflamada pela
ψυχὴν μεθ’ ὕβρεως’ ἐδέξαντο θεῶν ἐπωνυμίας καὶ ναῶν insolência”175, aceitaram nomes de deuses e edificações de templos,
ἱδρύσεις, βραχὺν ἤνθησεν ἡ δόξα χρόνον, εἶτα κενότητα καὶ a sua glória floresceu por pouco tempo, mas depois, convencidos
ἀλαζονείαν μετ’ ἀσεβείας καὶ παρανομίας προσοφλόντες pela vaidade e jactância acompanhadas de impiedade e transgressão,
’ὠκύμοροι καπνοῖο δίκην ἀρθέντες ἀπέπταν’ prematuros na morte, como fumaça se elevaram e voaram176
καὶ νῦν ὥσπερ ἀγώγιμοι δραπέται τῶν ἱερῶν καὶ τῶν e agora, como escravos fugitivos, arrancados dos templos e dos
βωμῶν ἀποσπασθέντες οὐδὲν ἀλλ’ ἢ τὰ μνήματα altares, eles não têm nada além de tumbas e túmulos. Por isso,
καὶ τοὺς τάφους ἔχουσιν. ὅθεν Ἀντίγονος ὁ γέρων Antígono, o velho177, quando um certo Hermódoto se proclamou
Ἑρμοδότου τινὸς ἐν ποιήμασιν αὐτὸν Ἡλίου παῖδα filho de Hélio e um deus em seus poemas, “tais qualidades
καὶ θεὸν ἀναγορεύοντος ‘οὐ τοιαῦτά μοι’ εἶπεν ‘ὁ em mim”, disse, “o escravo que carrega o meu urinol não as
D λασανοφόρος σύνοιδεν’. εὖ δὲ καὶ Λύσιππος ὁ πλάστης reconhece”178. E também Lisipo, o escultor, bem advertiu Apeles, D
Ἀπελλῆν ἐμέμψατο τὸν ζωγράφον, ὅτι τὴν Ἀλεξάνδρου o pintor, sobre a imagem de Alexandre que ele representara com
γράφων εἰκόνα κεραυνὸν ἐνεχείρισεν· αὐτὸς δὲ λόγχην, um raio na mão; enquanto ele o representou com uma lança, da
ἧς τὴν δόξαν οὐδὲ εἷς ἀφαιρήσεται χρόνος ἀληθινὴν καὶ qual a glória nenhum tempo a retirará, porque é verdadeira e um
ἰδίαν οὖσαν. atributo próprio dele.
25. Βέλτιον οὖν οἱ τὰ περὶ τὸν Τυφῶνα καὶ Ὄσιριν καὶ 25. Portanto, é melhor os que consideram que as conclusões
Ἶσιν ἱστορούμενα μήτε θεῶν παθήματα μήτ’ ἀνθρώπων, das investigações dos relatos sobre Tífon, Osíris e Ísis não são
ἀλλὰ δαιμόνων μεγάλων εἶναι νομίζοντες, οὓς καὶ desgraças próprias nem dos deuses nem dos homens, mas dos
Πλάτων καὶ Πυθαγόρας καὶ Ξενοκράτης καὶ Χρύσιππος grandes dêmones179, os que Platão, Pitágoras180, Xenócrates181 e
ἑπόμενοι τοῖς πάλαι θεολόγοις ἐρρωμενεστέρους μὲν Crisipo182, que seguiram os antigos teólogos183, dizem que são
ἀνθρώπων γεγονέναι λέγουσι καὶ πολὺ τῇ δυνά-μει τὴν dotados de um poder sobre-humano e que ultrapassam em muito
E φύσιν ὑπερφέροντας ἡμῶν, τὸ δὲ θεῖον οὐκ ἀμιγὲς οὐδ’ a capacidade da nossa natureza, e eles não têm o divino constituído E
ἄκρατον ἔχοντας, ἀλλὰ καὶ ψυχῆς φύσει καὶ σώματος sem mistura nem puro, mas ele também participa da natureza da
αἰσθήσει ἐν συνειληχὸς ἡδονὴν δεχομένῃ καὶ πόνον alma e da percepção pelos sentidos do corpo, no qual recebe o
καὶ ὅσα ταύταις ἐπιγενόμενα ταῖς μεταβολαῖς πάθη prazer, a fadiga e quantas paixões se sucederem por essas mudanças,
τοὺς μὲν μᾶλλον τοὺς δ’ ἧττον ἐπιταράττει· γίνονται que perturbam a uns mais e a outros menos; pois, como entre os
γὰρ ὡς ἐν ἀνθρώποις καὶ δαίμοσιν ἀρετῆς διαφοραὶ καὶ homens, também entre os dêmones nascem as diferenças de virtude
κακίας. τὰ γὰρ Γιγαντικὰ καὶ Τιτανικὰ παρ’ Ἕλλησιν e de vício. Pois os feitos dos Gigantes184 e dos Titãs185 são cantados

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ᾀδόμενα καὶ Κρόνου τινὲς ἄθεσμοι πράξεις καὶ Πύθωνος junto aos helenos, algumas ações ilegais de Crono, o combate
ἀντιτάξεις πρὸς Ἀπόλλωνα φυγαί τε Διονύσου καὶ de Píton186 contra Apolo, as fugas de Dioniso, as vagâncias de
πλάναι Δήμητρος οὐδὲν ἀπολείπουσι τῶν Ὀσιριακῶν Deméter, não ultrapassam os feitos de Osíris, de Tífon e das
360F καὶ Τυφωνικῶν ἄλλων θ’ ὧν πᾶσιν ἔξεστιν ἀνέδην narrativas de outros mitos que todos podem escutar livremente; 360F
μυθολογουμένων ἀκούειν· ὅσα τε μυστικοῖς ἱεροῖς quantos feitos estão ocultos em ritos místicos e cerimônias de
περικαλυπτόμενα καὶ τελεταῖς ἄρρητα διασῴζεται καὶ iniciação, e é guardado em segredo e nada contemplável à maioria,
ἀθέατα πρὸς τοὺς πολλούς, ὅμοιον ἔχει λόγον. tem semelhante argumento.
26. ἀκούομεν δὲ καὶ Ὁμήρου τοὺς μὲν ἀγαθοὺς 26. E escutamos Homero a todo momento chamar os
διαφόρως ‘θεοειδέας’ ἑκάστοτε καλοῦντος καὶ bons, de modo diferente, de “semelhantes aos deuses”187 e “iguais
‘ἀντιθέους’ καί ‘θεῶν ἄπο μήδε’ ἔχοντας’, τῷ δ’ ἀπὸ τῶν aos deuses”188 e “absolutamente tomados pelos deuses”, mas usa a
361A δαιμόνων προσρήματι χρωμένου κοινῶς ἐπί τε χρηστῶν denominação derivada de “dêmones”, usualmente, para os bons e 361A
καὶ φαύλων para os maus:
’δαιμόνιε, σχεδὸν ἐλθέ· τίη δειδίσσεαι οὕτως Ἀργείους;’ Miserável189, aproxima-te! Por que temes tanto os argivos?190
καὶ πάλιν E outra vez:
’ἀλλ’ ὅτε δὴ τὸ τέταρτον ἐπέσσυτο δαίμονι ἶσος,’ Mas quando, pela quarta vez, lançou-se igual a um dêmon,191
καί e
’δαιμονίη, τί νύ σε Πρίαμος Πριάμοιό τε παῖδες Miserável192, o que então a ti, Príamo e os filhos de Príamo
τόσσα κακὰ ῥέζουσιν, ὅ τ’ ἀσπερχὲς μενεαίνεις
tantos males fizeram, que fervorosamente desejas
Ἰλίου ἐξαλαπάξαι ἐυκτίμενον πτολίεθρον;’
destruir a bem construída cidade de Ílion? 193
ὡς τῶν δαιμόνων μικτὴν καὶ ἀνώμαλον φύσιν ἐχόντων
καὶ προαίρεσιν. ὅθεν ὁ μὲν Πλάτων Ὀλυμπίοις θεοῖς como se os dêmones tivessem uma natureza e um propósito misto
τὰ δεξιὰ καὶ περιττά, τὰ δ’ ἀντίφωνα τούτων δαί-μοσιν e mutável. Por isso, Platão atribui aos deuses olímpios a direita e o
B ἀποδίδωσιν· ὁ δὲ Ξενοκράτης καὶ τῶν ἡμερῶν τὰς número ímpar, e o contrário disso, aos dêmones194; e Xenócrates195 B
ἀποφράδας καὶ τῶν ἑορτῶν, ὅσαι πληγάς τινας ἢ κοπετοὺς também pensa que os dias nefastos e as festas, quantas tenham
ἢ νηστείας ἢ δυσφημίας ἢ αἰσχρολογίαν ἔχουσιν, οὔτε certas flagelações, ou golpes no peito, ou abstinências e maus
θεῶν τιμαῖς οὔτε δαιμόνων οἴεται προσήκειν χρηστῶν, augúrios ou obscenidades, não são convenientes para honrar os
ἀλλ’ εἶναι φύσεις ἐν τῷ περιέχοντι μεγάλας μὲν καὶ deuses nem os dêmones bons, mas existem em nosso entorno
ἰσχυράς, δυστρόπους δὲ καὶ σκυθρωπάς, αἳ χαίρουσι naturezas grandes e poderosas, também intratáveis e sombrias,
τοῖς τοιούτοις καὶ τυγχάνουσαι πρὸς οὐθὲν ἄλλο χεῖρον as que se comprazem com tais honras e, depois de obtê-las, não
τρέπονται. τοὺς δὲ χρηστοὺς πάλιν καὶ ἀγαθοὺς ὅ θ’ tendem para nenhuma outra coisa pior. E aos bons e úteis196, por
Ἡσίοδος. ‘ἁγνοὺς δαίμονας’ καὶ ’φύλακας ἀνθρώπων’ sua vez, Hesíodo os chama de “puros dêmones” e “guardiões

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προσαγορεύει, ‘πλουτοδότας καὶ τοῦτο γέρας βασιλήιον dos homens”, “doadores de riquezas e detentores desse privilégio
ἔχοντας’· ὅ τε Πλάτων ἑρμηνευτικὸν τὸ τοιοῦτον ὀνομάζει real”197; e Platão crê que tal raça fosse um tipo de intérprete e
361C γένος καὶ διακονικὸν ἐν μέσῳ θεῶν καὶ ἀνθρώπων, auxiliar que está na posição intermediária entre os deuses e os 361C
εὐχὰς μὲν ἐκεῖ καὶ δεήσεις ἀνθρώπων ἀναπέμποντας, homens, enviam para lá as suas orações e pedidos dos homens,
ἐκεῖθεν δὲ μαντεῖα δεῦρο καὶ δόσεις ἀγαθῶν φέροντας. e de lá trazem a adivinhação e as doações de bens198 para cá.
Ἐμπεδοκλῆς δὲ καὶ δίκας φησὶ διδόναι τοὺς δαίμονας Empédocles199 também diz que os dêmones são punidos quando
ὧν ἂν ἐξαμάρτωσι καὶ πλημμελήσωσιν cometem algum erro e se comportam mal
’αἰθέριον μὲν γάρ σφε μένος πόντονδε διώκει, Pois a força do éter os impele até o mar, e o mar os persegue
πόντος δ’ ἐς χθονὸς οὖδας ἀπέπτυσε, γαῖα δ’ ἐς αὐγὰς até a terra, e a terra os precipita aos raios do sol
ἠελίου ἀκάμαντος, ὁ δ’ αἰθέρος ἔμβαλε δίναις· infatigável, e o éter os lança nos redemoinhos;
ἄλλος δ’ ἐξ ἄλλου δέχεται, στυγέουσι δὲ πάντες’,
um do outro os recebe, mas todos os odeiam,200
ἄχρι οὗ κολασθέντες οὕτω καὶ καθαρθέντες αὖθις τὴν
até que, após terem sido castigados assim e purificados, de novo
κατὰ φύσιν χώραν καὶ τάξιν ἀπολάβωσι.
obtêm a sua posição por natureza.
D 27. τούτων δὲ καὶ τῶν τοιούτων ἀδελφὰ λέγεσθαί φασι 27. E também situações análogas a essas são contadas, D
περὶ Τυφῶνος, ὡς δεινὰ μὲν ὑπὸ φθόνου καὶ δυσμενείας dizem, a respeito de Tífon, que operou ações terríveis por inveja
εἰργάσατο καὶ πάντα πράγματα ταράξας ἐνέπλησε κακῶν e animosidade, por isso perturbou tudo, encheu de males quase
γῆν ὁμοῦ τι πᾶσαν καὶ θάλασσαν, εἶτα δίκην ἔδωκεν· ἡ δὲ toda a terra e o mar por igual, depois recebeu o seu castigo; e a
τιμωρὸς Ὀσίριδος ἀδελφὴ καὶ γυνὴ τὴν Τυφῶνος σβέσασα vingadora, irmã e esposa de Osíris, depois de ter sufocado e
καὶ καταπαύσασα μανίαν καὶ λύσσαν οὐ περιεῖδε τοὺς ἄθλους interrompido a loucura e a fúria de Tífon, não permitiu os
καὶ τοὺς ἀγῶνας, οὓς ἀνέτλη, καὶ πλάνας αὑτῆς καὶ πολλὰ combates e as lutas que suportou; e as suas errâncias e muitas obras
μὲν ἔργα σοφίας πολλὰ δ’ ἀνδρείας ἀμνηστίαν ὑπολαβοῦσαν da sabedoria, muitas vezes, da coragem, caíram no esquecimento
E καὶ σιωπήν, ἀλλὰ ταῖς ἁγιωτά-ταις ἀναμίξασα τελεταῖς e no silêncio, mas uniu aos mais puros ritos iniciatórios imagens, E
εἰκόνας καὶ ὑπονοίας καὶ μιμήματα τῶν τότε παθημάτων alegorias e representações dos sofrimentos de outrora, igualmente
εὐσεβείας ὁμοῦ δίδαγμα καὶ παραμύθιον ἀνδράσι καὶ consagrou uma lição de piedade e estímulo aos homens e
γυναιξὶν ὑπὸ συμφορῶν ἐχομένοις ὁμοίων καθωσίωσεν. mulheres que passaram pelas mesmas vicissitudes. Ela e Osíris,
αὐτὴ δὲ καὶ Ὄσιρις ἐκ δαιμόνων ἀγαθῶν δι’ ἀρετὴν εἰς θεοὺς porque haviam se transformado de bons dêmones201 em deuses
μεταβαλόντες, ὡς ὕστερον Ἡρακλῆς καὶ Διόνυσος, ἅμα καὶ por sua virtude, como mais tarde Héracles202 e Dioniso203, porque
θεῶν καὶ δαιμόνων οὐκ ἀπὸ τρόπου μεμιγμένας τιμὰς ἔχουσι, são, ao mesmo tempo, deuses e dêmones, não fora do costume
πανταχοῦ μὲν, ἐν δὲ τοῖς ὑπὲρ γῆν καὶ ὑπὸ γῆν δυνάμενοι têm honras mistas e são extremamente poderosos por toda parte,
μέγιστον. οὐ γὰρ ἄλλον εἶναι Σάραπιν ἢ τὸν Πλούτωνά nos territórios acima e abaixo da terra. Pois dizem que Serápis204
φασι καὶ Ἶσιν τὴν Περσέφασσαν, ὡς Ἀρχέμαχος εἴρηκεν não é outro Serápis senão Plutão205 e que Ísis206 é Perséfone207,

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ὁ Εὐβοεὺς καὶ ὁ Ποντικὸς Ἡρακλείδης τὸ χρηστήριον como já disse o eubeu Arquêmaco208 e Heraclides209 do Ponto210.
ἐν Κανώβῳ Πλούτωνος ἡγούμενος εἶναι. Pensa que é o oráculo de Plutão em Canobo211.
361F 28. Πτολεμαῖος δ’ ὁ Σωτὴρ ὄναρ εἶδε τὸν ἐν 28. Ptolomeu212 Sóter213 viu em sonho o colosso de Plutão 361F
Σινώπῃ τοῦ Πλούτωνος κολοσσόν, οὐκ ἐπιστάμενος em Sinope214, sem saber nem ver antes qual era a sua forma,
οὐδ’ ἑωρακὼς πρότερον οἷος ἦν τὴν μορφήν, κελεύοντα ordenou que o transportassem o mais rapidamente possível para
κομίσαι τὴν ταχίστην αὐτὸν εἰς Ἀλεξάνδρειαν. ἀγνοοῦντι Alexandria215. E, na ocasião, não conhecia nem sabia onde havia
δ’ αὐτῷ καὶ ἀποροῦντι, ποῦ καθίδρυται, καὶ διηγουμένῳ sido erigido; depois de ter contado aos amigos sobre a sua visão, foi
τοῖς φίλοις τὴν ὄψιν εὑρέθη πολυπλανὴς ἄνθρωπος encontrado um homem muito errante, seu nome era Sosíbio216,
ὄνομα Σωσίβιος, ἐν Σινώπῃ φάμενος ἑωρακέναι τοιοῦτον que lhe disse que havia visto em Sinope um colosso desse tipo, tal
κολοσσόν, οἷον ὁ βασιλεὺς ἰδεῖν ἔδοξεν. ἔπεμψεν οὖν o rei achava ter visto. Então, enviou Sóteles217 e Dionísio218, os que,
Σωτέλη καὶ Διονύσιον, οἳ χρόνῳ πολλῷ καὶ μόλις, οὐκ com muito tempo e dificuldade; por certo, não sem a providência
ἄνευ μέντοι θείας προνοίας, ἤγαγον ἐκκλέψαντες. ἐπεὶ divina, eles o levaram, porque o roubaram de lá219. E depois de ter
362A δὲ κομισθεὶς ὤφθη, συμβαλόντες οἱ περὶ Τιμόθεον τὸν sido levado, foi exposto, e os discípulos de Timóteo220, o exegeta, 362A
ἐξηγητὴν καὶ Μανέθωνα τὸν Σεβεννύτην Πλούτωνος e os de Mâneton, o sebenita, supunham que era de Plutão,
ὂν ἄγαλμα τῷ Κερβέρῳ τεκμαιρόμενοι καὶ τῷ que essa estátua com Cérbero221 e a serpente222 testemunhava
δράκοντι πείθουσι τὸν Πτολεμαῖον, ὡς ἑτέρου θεῶν por eles e persuadiram Ptolomeu de que a estátua não era de
οὐδενὸς ἀλλὰ Σαράπιδός ἐστιν· οὐ γὰρ ἐκεῖθεν οὕτως nenhum outro deus, senão de Serápis; pois de onde veio não
ὀνομαζόμενος ἧκεν, ἀλλ’ εἰς Ἀλεξάνδρειαν κομισθεὶς era assim que a chamavam, mas, depois de ter sido levada à
τὸ παρ’ Αἰγυπτίοις ὄνομα τοῦ Πλούτωνος ἐκτήσατο Alexandria, recebeu o nome junto aos egípcios de Serápis.
τὸν Σάραπιν. καὶ μέντοι τὰ Ἡρακλείτου τοῦ φυσικοῦ Por certo, também o que Heráclito223, o filósofo da natureza,
λέγοντος ‘Ἅιδης καὶ Διόνυσος ωὑτὸς ὅτεῳ μαίνονται disse: “Hades e Dioniso são o mesmo ser do qual são tomados
καὶ ληναΐζουσιν’ εἰς ταύτην ὑπάγουσι τὴν δόξαν. οἱ de delírio e celebram a festa dos pisadores de uva”224, o que
γὰρ ἀξιοῦντες Ἅιδην λέγεσθαι τὸ σῶμα τῆς ψυχῆς οἷον sustenta essa crença. Pois os que julgam que “Hades” é mesmo
B παραφρονούσης καὶ μεθυούσης ἐν αὐτῷ, γλίσχρως que se chamar “corpo”, como se houvesse uma alma delirante B
ἀλληγοροῦσι. βέλτιον δὲ τὸν Ὄσιριν εἰς ταὐτὸ συνάγειν e embriagada dentro dele, criam essa alegoria com tenacidade. É
τῷ Διονύσῳ τῷ τ’ Ὀσίριδι τὸν Σάραπιν, ὅτε τὴν φύσιν melhor concluir que Osíris é o mesmo que Dioniso, e Osíris que
μετέβαλε, ταύτης τυχόντι τῆς προσηγορίας. διὸ πᾶσι Serápis, quando mudou de natureza, que recebeu esse nome por
κοινὸς ὁ Σάραπίς ἐστιν, ὡς δὴ τὸν Ὄσιριν οἱ τῶν ἱερῶν acaso. Por isso, Serápis é comum a todos, como sabem que o é
μεταλαβόντες ἴσασιν. também Osíris os que participam dos ritos sagrados.
29. Οὐ γὰρ ἄξιον προσέχειν τοῖς Φρυγίοις 29. Pois não vale a pena prestar atenção nos Escritos
γράμμασιν, ἐν οἷς λέγεται χαροπῶς τοὺς μὲν τοῦ frígios , nos quais se diz que Héracles estava cheio de alegria
225

Ἡρακλέους γενέσθαι θυγάτηρ, ἰσαιακοῦ δὲ τοῦ porque nasceu Ísis, que seria sua filha, e não se importou quando

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Ἡρακλέους ὁ Τυφών, οὐδὲ Φυλάρχου μὴ καταφρονεῖν Tífon nasceu; nem se deve importar quando Filarco226 escreve
γράφοντος, ὅτι πρῶτος εἰς Αἴγυπτον ἐξ Ἰνδῶν Διόνυσος que Dioniso foi o primeiro que conduziu dois bois da Índia para
ἤγαγε δύο βοῦς, ὧν ἦν τῷ μὲν Ἆπις ὄνομα τῷ δ’ Ὄσιρις· o Egito, dos quais, um cujo nome era Ápis e o outro Osíris; e que
362C Σάραπις δ’ ὄνομα τοῦ τὸ πᾶν κοσμοῦντός ἐστι παρὰ τὸ Serápis, de quem o nome vem de saírein, que alguns dizem que 362C
σαίρειν, ὃ καλλύνειν τινὲς καὶ κοσμεῖν λέγουσιν. ἄτοπα significa “embelezar” e “ornar”. Pois essas assertivas de Filarco
γὰρ ταῦτα τοῦ Φυλάρχου, πολλῷ δ’ ἀτοπώτερα τὰ são absurdas, e muito mais absurdas as daqueles que dizem
τῶν λεγόντων οὐκ εἶναι θεὸν τὸν Σάραπιν, ἀλλὰ τὴν que Serápis não era um deus, mas que este nome foi dado ao
Ἄπιδος σορὸν οὕτως ὀνομάζεσθαι, καὶ χαλκᾶς τινας ἐν ataúde de Ápis, que em Mênfis havia algumas portas de bronze
Μέμφει πύλας λήθης καὶ κωκυτοῦ προσαγορευομένας, que eram chamadas de Lete227 e Cocito228, quando celebram
ὅταν θάπτωσι τὸν Ἆπιν, ἀνοίγεσθαι βαρὺ καὶ σκληρὸν os funerais de Ápis229, elas se abrem com um barulho pesado e
ψοφούσας· διὸ παντὸς ἠχοῦντος ἡμᾶς χαλκώματος forte; por isso colocamos as mãos sobre tudo que é de bronze
ἐπιλαμβάνεσθαι. μετριώτερον δ’ οἱ παρὰ τὸ σεύεσθαι quando ressoa. E tem mais comedimento os que afirmam
καὶ τὸ σοῦσθαι τὴν τοῦ παντὸς ἅμα κίνησιν εἰρῆσθαι que significa o movimento conjunto do universo a partir de
φάσκοντες. οἱ δὲ πλεῖστοι τῶν ἱερέων εἰς ταὐτό φασι seúesthai e soûsthai230. E a maior parte dos sacerdotes diz que
τὸν Ὄσιριν συμπεπλέχθαι καὶ τὸν Ἆπιν, ἐξηγούμενοι Osíris e Ápis foram entrelaçados no mesmo ser, e nos mostram e
D καὶ διδάσκοντες ἡμᾶς, ὡς ἔμμορφον εἰκόνα χρὴ νομίζειν ensinam que é preciso considerar que Ápis é a imagem corpórea D
τῆς Ὀσίριδος ψυχῆς τὸν Ἆπιν. ἐγὼ δ’, εἰ μὲν Αἰγύπτιόν ἐστι da alma de Osíris. E eu, se o nome de Serápis é egípcio, penso
τοὔνομα τοῦ Σαράπιδος, εὐφροσύνην αὐτὸ δηλοῦν οἴομαι que isso é por mostrar alegria e regozijo, há como testemunho
καὶ χαρμοσύνην, τεκμαιρόμενος ὅτι τὴν ἑορτὴν Αἰγύπτιοι o que os egípcios chamam festival das Carmosinas Seri231. Pois
τὰ Χαρμόσυνα ‘Σαίρει’ καλοῦσιν. καὶ γὰρ Πλάτων τὸν também Platão232 diz que Hades é filho da benevolência e que
Ἅιδην ὡς Αἰδοῦς υἱὸν τοῖς παρ’ αὐτῷ γενομένοις καὶ προσηνῆ θεὸν recebe esse nome por ser um deus favorável aos que estão junto a
ὠνομάσθαι φησί· καὶ παρ’ Αἰγυπτίοις ἄλλα τε πολλὰ τῶν ὀνομάτων ele233; e entre os egípcios muitos outros nomes têm um sentido;
λόγον ἔχει καὶ τὸν ὑποχθόνιον τόπον, εἰς ὃν οἴονται τὰς ψυχὰς e o lugar subterrâneo, para onde pensam que as almas partem
ἀπέρχεσθαι μετὰ τὴν τελευτήν, Ἀμένθην καλοῦσι σημαίνοντος depois da morte, chamam Amentes234, o nome que significa
E τοῦ ὀνόματος τὸν λαμβάνοντα καὶ διδόντα. εἰ δὲ καὶ τοῦτο τῶν ἐκ “o que recebe e o que dá”. E se esse é um daqueles nomes que E
τῆς Ἑλλάδος ἀπελθόντων πάλαι καὶ μετακομισθέντων ὀνομάτων vieram da Hélade de antigamente e que foram transferidos de
ἕν ἐστιν, ὕστερον ἐπισκεψόμεθα· νῦν δὲ τὰ λοιπὰ τῆς ἐν χερσὶ δόξης lá235, mais tarde os examinaremos236; agora discorreremos sobre
προσδιέλθωμεν. o restante da crença que temos em mãos.
30. Ὁ μὲν γὰρ Ὄσιρις καὶ ἡ Ἶσις ἐκ δαιμόνων ἀγαθῶν 30. Então, Osíris e Ísis se transformaram de dêmones
εἰς θεοὺς μετήλλαξαν· τὴν δὲ τοῦ Τυφῶνος ἠμαυρωμένην bons em deuses; e ao poder fraco e exaurido de Tífon, mas ainda
καὶ συντετρυμμένην δύναμιν, ἔτι δὲ καὶ ψυχορραγοῦσαν καὶ em luta contra a morte e se agitando convulsivamente, existem
σφαδᾴζουσαν, ἔστιν αἷς παρηγοροῦσι θυσίαις καὶ πραΰνουσιν, os sacrifícios com os quais eles o acalmam e o apaziguam, é
ἔστι δ’ ὅτε πάλιν ἐκταπεινοῦσι καὶ καθυβρίζουσιν ἔν quando novamente o humilham e o ultrajam em algumas festas,

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τισιν ἑορταῖς, τῶν μὲν ἀνθρώπων τοὺς πυρροὺς καὶ e censuram com palavras grosseiras os homens que têm cabelos
προπηλακίζοντες, ὄνον δὲ κατακρημνίζοντες, ὡς vermelhos e atiram um asno do alto de um precipício, como os
Κοπτῖται, διὰ τὸ πυρρὸν γεγονέναι τὸν Τυφῶνα καὶ ὀνώδη coptitas, porque Tífon tinha nascido vermelho e com a aparência
362F τὴν χρόαν. Βουσιρῖται δὲ καὶ Λυκοπολῖται σάλπιγξιν οὐ de um asno. E buritas e licopolitanos não usam em absoluto as 362F
χρῶνται τὸ παράπαν ὡς ὄνῳ φθεγγομέναις ἐμφερές. καὶ trombetas, porque emitem sons semelhantes ao de um asno237. Em
ὅλως τὸν ὄνον οὐ καθαρὸν ἀλλὰ δαιμονικὸν ἡγοῦνται uma palavra, pensam que o asno é um animal impuro, mais ainda,
ζῷον εἶναι διὰ τὴν πρὸς ἐκεῖνον ὁμοιότητα καὶ πόπανα demônico238, por sua semelhança com aquele; quando fazem os
ποιοῦντες ἐν θυσίαις τοῦ τε Παϋνὶ καὶ τοῦ Φαωφὶ μηνὸς bolos redondos nos sacrifícios durante os meses paini e faofi239,
363A ἐπιπλάττουσι παράσημον ὄνον δεδεμένον. ἐν δὲ τῇ τοῦ modelam neles a marca de um asno amarrado. No sacrifício em 363A
Ἡλίου θυσίᾳ τοῖς σεβομένοις τὸν θεὸν παρεγγυῶσι μὴ honra de Hélio, aos que veneram o deus, recomendam que não
φορεῖν ἐπὶ τῷ σώματι χρυσία μηδ’ ὄνῳ τροφὴν διδόναι. levem em seu corpo peças de ouro nem deem alimento a um
φαίνονται δὲ καὶ οἱ Πυθαγορικοὶ τὸν Τυφῶνα δαιμονικὴν asno. Também os pitagóricos240 mostram seu entendimento de
ἡγούμενοι δύναμιν· λέγουσι γὰρ ἐν ἀρτίῳ μέτρῳ ἕκτῳ καὶ que o poder de Tífon é demônico; pois dizem que Tífon nasceu
πεντηκοστῷ γεγονέναι Τυφῶνα· καὶ πάλιν τὴν μὲν τοῦ em uma medida par, a quinquagésima sexta; por sua vez, que a
τριγώνου φύσιν Ἅιδου καὶ Διονύσου καὶ Ἄρεος εἶναι· τὴν natureza do triângulo é a de Hades, de Dioniso e de Ares241; e a
δὲ τοῦ τετραγώνου Ῥέας καὶ Ἀφροδίτης καὶ Δήμητρος καὶ do quadrado de Reia, Afrodite, Deméter, Héstia242 e Hera243; a do
Ἑστίας καὶ Ἥρας· τὴν δὲ τοῦ δωδεκαγώνου Διός· τὴν δὲ τοῦ dodecágono de Zeus; e a do polígono de cinquenta e seis lados de
ἑκκαιπεντηκονταγωνίου Τυφῶνος, ὡς Εὔδοξος ἱστόρηκεν. Tífon, conforme Eudoxo concluiu em sua investigação.
31. Αἰγύπτιοι δὲ πυρρόχρουν γεγονέναι τὸν Τυφῶνα 31. E porque os egípcios creem que Tífon tinha a pele
B νομίζοντες καὶ τῶν βοῶν τοὺς πυρροὺς καθιερεύουσιν, vermelha, 244 eles lhe consagram os bois vermelhos, que B
οὕτως ἀκριβῆ ποιούμενοι τὴν παρατήρησιν, ὥστε, κἂν examinavam com tanta precisão, de modo que, se tivesse um
μίαν ἔχῃ τρίχα μέλαιναν ἢ λευκήν, ἄθυτον ἡγεῖσθαι· único pelo negro ou branco, acreditavam que era impróprio
θύσιμον γὰρ οὐ φίλον εἶναι θεοῖς, ἀλλὰ τοὐναντίον, para ser uma oferenda sacrificial245; o que os deuses têm como
ὅσα ψυχαῖς ἀνοσίων ἀνθρώπων καὶ ἀδίκων εἰς ἕτερα sacrifício não o seu querido, mas o contrário, o que tem recebido
μεταμορφουμένων σώματα συνείληχε. διὸ τῇ μὲν as almas dos homens impuros e injustos metamorfoseados em
κεφαλῇ τοῦ ἱερείου καταρασάμενοι καὶ ἀποκόψαντες outros corpos246. Por isso, após ter proferido imprecações sobre a
εἰς τὸν ποταμὸν ἐρρίπτουν πάλαι, νῦν δὲ τοῖς ξένοις cabeça da vítima sacrificial e a cortado, antigamente eles a atiravam
ἀποδίδονται· τὸν δὲ μέλλοντα θύεσθαι βοῦν οἱ no rio, mas hoje a vendem aos estrangeiros; e o boi que ia ser
σφραγισταὶ λεγόμενοι τῶν ἱερέων κατεσημαίνοντο, sacrificado era marcado com um selo pelos sacerdotes, chamados
τῆς σφραγῖδος, ὡς ἱστορεῖ Κάστωρ, γλυφὴν μὲν os esfragistas247, como conclui Castor248 em sua investigação,
ἐχούσης ἄνθρωπον εἰς γόνυ καθεικότα ταῖς χερσὶν com a imagem de um homem colocado de joelhos com
C ὀπίσω περιηγμέναις, ἔχοντα κατὰ τῆς σφαγῆς ξίφος as mãos amarradas atrás das costas, com uma espada enfiada na C
ἐγκείμενον. ἀπολαύειν δὲ καὶ τὸν ὄνον, ὥσπερ εἴρηται, garganta. E pensam que o asno perecia, como já foi dito, por sua

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τῆς ὁμοιότητος διὰ τὴν ἀμαθίαν καὶ τὴν ὕβριν οὐχ semelhança, por sua ignorância e insolência, não menos que pela
ἧττον ἢ διὰ τὴν χρόαν οἴονται· διὸ καὶ τῶν Περσικῶν cor do seu pelo; por isso também, dentre os reis da Pérsia, eles
βασιλέων ἐχθραίνοντες μάλιστα τὸν Ὦχον ὡς ἐναγῆ καὶ odeiam especialmente Oco249, tido como maldito e impuro250,
μιαρόν, ὄνον ἐπωνόμασαν. κἀκεῖνος εἰπών ‘ὁ μέντοι ὄνος a quem eles deram o título de asno. E aquele, após dizer que:
οὗτος ὑμῶν κατευωχήσεται τὸν βοῦν’ ἔθυσε τὸν Ἆπιν, “por certo, esse asno se deleitará do vosso boi”, e sacrificou Ápis,
ὡς Δείνων ἱστόρηκεν. οἱ δὲ λέγοντες ἐκ τῆς μάχης ἐπ’ como concluiu Dínon251 em sua investigação. E os que contam
ὄνου τῷ Τυφῶνι τὴν φυγὴν ἑπτὰ ἡμέρας γενέσθαι καὶ que a fuga de Tífon da batalha ocorreu, durante sete dias252, em
363D σωθέντα γεννῆσαι παῖδας Ἱεροσόλυμον καὶ Ἰουδαῖον, cima de um asno e que, depois de ter se salvado, gerou os filhos 363D
αὐτόθεν εἰσὶ κατάδηλοι τὰ Ἰουδαϊκὰ παρέλκοντες εἰς Hierosólimo e Judeu253, a partir daí é evidente que acrescentam
τὸν μῦθον. elementos judaicos ao mito254.
32. Ταῦτα μὲν οὖν τοιαύτας ὑπονοίας δίδωσιν· ἀπ’ 32. Portanto, tais são as interpretações que dão a essas
ἄλλης δ’ ἀρχῆς τῶν φιλοσοφώτερόν τι λέγειν δοκούντων alegorias; a partir de outro princípio, dentre os que parecem
τοὺς ἁπλουστάτους σκεψώμεθα πρῶτον. οὗτοι δ’ εἰσὶν οἱ dizer algo mais filosófico, examinemos primeiro as mais simples.
λέγοντες, ὥσπερ Ἕλληνες Κρόνον ἀλληγοροῦσι τὸν χρόνον, Esses são os que dizem que, como os helenos fazem a alegoria
Ἥραν δὲ τὸν ἀέρα, γένεσιν δὲ Ἡφαίστου τὴν εἰς πῦρ ἀέρος de Crono com o tempo, de Hera com o ar e o nascimento de
μεταβολήν, οὕτω παρ’ Αἰγυπτίοις Νεῖλον εἶναι τὸν Ὄσιριν Hefesto255 como a mudança do ar em fogo, do mesmo modo,
Ἴσιδι συνόντα τῇ γῇ, Τυφῶνα δὲ τὴν θάλασσαν, εἰς ἣν ὁ entre os egípcios, Osíris é o Nilo que se une com a terra, e Tífon
Νεῖλος ἐμπίπτων ἀφανίζεται καὶ διασπᾶται, πλὴν ὅσον ἡ γῆ é o mar, no qual o Nilo deságua, desaparece e se dispersa, exceto
μέρος ἀναλαμβάνουσα καὶ δεχομένη γίγνεται γόνιμος ὑπ’ o quanto a terra recebe como sua parte e, após recebê-lo, torna-
E αὐτοῦ. καὶ θρῆνός ἐστιν ἱερὸς ἐπ’ αὐτοῦ Κρόνου γενόμενος, se fecunda por causa dele. E existe um treno256 sagrado em honra E
θρηνεῖ δὲ τὸν ἐν τοῖς ἀριστεροῖς γινόμενον μέρεσιν, ἐν δὲ τοῖς de Crono; nesse treno, ele nasce nos territórios à esquerda de suas
δεξιοῖς φθειρόμενον. Αἰγύπτιοι γὰρ οἴονται τὰ μὲν ἑῷα τοῦ margens, enquanto é destruído à direita. Pois os egípcios pensam
κόσμου πρόσωπον εἶναι, τὰ δὲ πρὸς βορρᾶν δεξιά, τὰ δὲ πρὸς que as regiões voltadas para a aurora são a cara do mundo, as que
νότον ἀριστερά· φερόμενος οὖν ἐκ τῶν νοτίων ὁ Νεῖλος, estão voltadas para o norte à direita e as meridionais à esquerda257;
ἐν δὲ τοῖς βορείοις ὑπὸ τῆς θαλάσσης καταναλισκόμενος portanto, o Nilo, que corre do Sul e que é distribuído pelo mar
εἰκότως λέγεται τὴν μὲν γένεσιν ἐν τοῖς ἀριστεροῖς ἔχειν, nas regiões do norte, dizem com razão que tem seu nascimento
τὴν δὲ φθορὰν ἐν τοῖς δεξιοῖς. διὸ τήν τε θάλασσαν οἱ ἱερεῖς à esquerda e sua morte à direita. Por isso, os sacerdotes rejeitam
ἀφοσιοῦνται καὶ τὸν ἅλα Τυφῶνος ἀφρὸν καλοῦσι, καὶ as expiações do mar e chamam o sal de “espuma de Tífon”258,
τῶν ἀπαγορευομένων ἕν ἐστιν αὐτοῖς ἐπὶ τραπέζης ἅλα e dentre o que lhes é proibido, um é que eles não coloquem sal
F μὴ προτίθεσθαι· καὶ κυβερνήτας οὐ προσαγορεύουσιν, ὅτι em sua mesa; também que não dirijam a palavra aos pilotos259, F
χρῶνται θαλάττῃ καὶ τὸν βίον ἀπὸ τῆς θαλάττης ἔχουσιν· porque usam o mar e do mar obtêm seu meio de vida; e por esse
οὐχ ἥκιστα δὲ καὶ τὸν ἰχθὺν ἀπὸ ταύτης προβάλλονται τῆς motivo também, não menos evitam o peixe vindo dele, e escrevem
αἰτίας καὶ τὸ μισεῖν ἰχθύι γράφουσιν. ἐν Σάι γοῦν ἐν τῷ “odiar” com a imagem de um peixe. Então, em Sais, no vestíbulo

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προπύλῳ τοῦ ἱεροῦ τῆς Ἀθηνᾶς ἦν γεγλυμμένον βρέφος, do templo de Atena, havia a imagem esculpida de um bebê, de
γέρων καὶ μετὰ τοῦτον ἱέραξ, ἐφεξῆς δ’ ἰχθύς, ἐπὶ πᾶσι um velho, depois dele, de um gavião seguido de um peixe, e sobre
δ’ ἵππος ποτάμιος. ἐδήλου δὲ συμβολικῶς ‘ὦ γινόμενοι todos, um cavalo do rio260. E isso mostrava de modo simbólico
καὶ ἀπογινόμενοι, θεὸς ἀναίδειαν μισεῖ’. τὸ μὲν γὰρ que “ó vós que nasceis e morreis, o deus odeia a impudência”261.
βρέφος γενέσεως σύμβολον, φθορᾶς δ’ ὁ γέρων· ἱέρακι Pois o bebê é o símbolo do nascimento e o velho, da morte; e
δὲ τὸν θεὸν φράζουσιν, ἰχθύι δὲ μῖσος, ὥσπερ εἴρηται, afirmam que o deus é representado por um gavião, o ódio por um
διὰ τὴν θάλατταν, ἵππῳ ποταμίῳ δ’ ἀναίδειαν· λέγεται peixe, como já foi dito, por causa do mar, e a impudência262 pelo
364A γὰρ ἀποκτείνας τὸν πατέρα τῇ μητρὶ βίᾳ μίγνυσθαι. cavalo do rio263; pois diz-se que, depois de matar o pai, relaciona-se 364A
δόξειε δ’ ἂν καὶ τὸ ὑπὸ τῶν Πυθαγορικῶν λεγόμενον, sexualmente à força com a sua mãe. Poderia parecer também que
ὡς ἡ θάλαττα Κρόνου δάκρυόν ἐστιν, αἰνίττεσθαι τὸ μὴ o dito pelos pitagóricos em alegorias que o mar é uma lágrima de
καθαρὸν μηδὲ σύμφυλον αὐτῆς. Ταῦτα μὲν οὖν ἔξωθεν Crono264, que não é puro nem tem afinidade com ele. Então, que
εἰρήσθω κοινὴν ἔχοντα τὴν ἱστορίαν· isso seja dito como algo fora da investigação comum.
33. οἱ δὲ σοφώτεροι τῶν ἱερέων οὐ μόνον τὸν Νεῖλον 33. E os mais sábios dos sacerdotes não somente
Ὄσιριν καλοῦσιν οὐδὲ Τυφῶνα τὴν θάλασσαν, ἀλλ’ Ὄσιριν chamam o Nilo de Osíris e Tífon de mar, mas Osíris de
μὲν ἁπλῆς ἅπασαν τὴν ὑγροποιὸν ἀρχὴν καὶ δύναμιν, todo poder e princípio da umidade, porque o consideram
αἰτίαν γενέσεως καὶ σπέρματος οὐσίαν νομίζοντες, Τυφῶνα causa da geração e da fecundação, e Tífon, de toda a secura,
δὲ πᾶν τὸ αὐχμηρὸν καὶ πυρῶδες καὶ ξηραντικὸν ὅλως καὶ ardência, em uma palavra, aridez e inimigo da umidade;
B πολέμιον τῇ ὑγρότητι· διὸ καὶ πυρρόχρουν γεγονέναι τῷ por isso também, acreditam que ele nasceu com a pele do B
σώματι καὶ πάρωχρον νομίζοντες οὐ πάνυ προθύμως corpo vermelha e levemente pálida, eles não encontram com
ἐντυγχάνουσιν οὐδ’ ἡδέως ὁμιλοῦσι τοῖς τοιούτοις τὴν muito boa vontade nem estão com prazer em companhia de
ὄψιν ἀνθρώποις. τὸν δ’ Ὄσιριν αὖ πάλιν μελάγχρουν homens com essa aparência. Osíris, por sua vez, nasceu com
γεγονέναι μυθολογοῦσιν, ὅτι πᾶν ὕδωρ καὶ γῆν καὶ ἱμάτια a pele negra, como narram os mitos, porque a água, quando
καὶ νέφη μελαίνει μιγνύμενον, καὶ τῶν νέων ὑγρότης se mistura à terra, às vestes e às nuvens torna tudo negro,
ἐνοῦσα παρέχει τὰς τρίχας μελαίνας, ἡ δὲ πολίωσις οἷον e a umidade existente nos jovens produz cabelos negros,
ὠχρίασις ὑπὸ ξηρότητος ἐπιγίνεται τοῖς παρακμάζουσι. enquanto o grisalho, como se sua palidez fosse pela secura,
καὶ τὸ μὲν ἔαρ θαλερὸν καὶ γόνιμον καὶ προσηνές, τὸ δὲ sobrevém aos que envelhecem. E a primavera é florescente,
φθινόπωρον ὑγρότητος ἐνδείᾳ καὶ φυτοῖς πολέμιον καὶ fecunda e agradável, enquanto o outono, pela necessidade de
ζῴοις νοσῶδες. ὁ δ’ ἐν Ἡλίου πόλει τρεφόμενος βοῦς, umidade, é hostil a plantas e nocivo aos animais. E, na cidade
C ὃν Μνεῦιν καλοῦσιν (Ὀσίριδος δ’ ἱερόν, ἔνιοι δὲ καὶ τοῦ de Hélio265, foi criado um boi que chamavam de Mnévis266 (e C
Ἄπιδος πατέρα νομίζουσι), μέλας ἐστὶ καὶ δευτέρας ἔχει que está consagrado a Osíris, que também alguns consideram
τιμὰς μετὰ τὸν Ἆπιν. ἔτι τὴν Αἴγυπτον ἐν τοῖς μάλιστα pai de Ápis, é negro e tem o segundo lugar nas honras
μελάγγειον οὖσαν, ὥσπερ τὸ μέλαν τοῦ ὀφθαλμοῦ, depois de Ápis. O Egito é ainda uma terra mais negra que as
Χημίαν καλοῦσι καὶ καρδίᾳ παρεικάζουσι· θερμὴ γάρ outras267, chamam-na de Quêmia268, como o negro do olho,

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ἐστι καὶ ὑγρὰ καὶ τοῖς νοτίοις μέρεσι τῆς οἰκουμένης, e a comparam ao coração; pois é quente, úmida e está nas
ὥσπερ ἡ καρδία τοῖς εὐωνύμοις τοῦ ἀνθρώπου, μάλιστα regiões do sul habitado, como o coração está ao lado esquerdo
ἐγκέκλεισται καὶ προσκεχώρηκεν. do homem, completamente encerrado e desse lado.
34. Ἥλιον δὲ καὶ Σελήνην οὐχ ἅρμασιν ἀλλὰ πλοίοις 34. Também dizem que Hélio e Selene não usam carros,
ὀχήμασι χρωμένους περιπολεῖν φασιν αἰνιττόμενοι τὴν mas barcos como meio de transporte para andar ao redor do
ἀφ’ ὑγροῦ τροφὴν αὐτῶν καὶ γένεσιν. οἴονται δὲ καὶ mundo, dando a entender que obtêm seu princípio e origem na
364D Ὅμηρον ὥσπερ Θαλῆν μαθόντα παρ’ Αἰγυπτίων ὕδωρ umidade. E pensam ainda que Homero, como Tales269 aprendeu 364D
ἀρχὴν ἁπάντων καὶ γένεσιν τίθεσθαι· τὸν γὰρ Ὠκεανὸν com os egípcios, considerava a água como princípio e origem
Ὄσιριν εἶναι, τὴν δὲ Τηθὺν Ἶσιν ὡς τιθηνουμένην de tudo; pois o Oceano270 é Osíris e Tétis271 é Ísis, como
πάντα καὶ συνεκτρέφουσαν. καὶ γὰρ Ἕλληνες τὴν τοῦ a que tudo nutre e alimenta. De fato, os helenos chamam
σπέρματος πρόεσιν ἀπουσίαν καλοῦσι καὶ συνουσίαν a emissão de esperma de apousía272 e a união sexual de
τὴν μῖξιν, καὶ τὸν υἱὸν ἀπὸ τοῦ ὕδατος καὶ τοῦ ὗσαι, synousían273, e o hýos274 a partir de hýdor275 e de hŷsai276,
καὶ τὸν Διόνυσον’ ὕην’ ὡς κύριον τῆς ὑγρᾶς φύσεως Dioniso Hýēn277, porque é o senhor da natureza úmida e
οὐχ ἕτερον ὄντα τοῦ Ὀσίριδος· καὶ γὰρ τὸν Ὄσιριν não outro que Osíris; de fato, Helânico278 diz que parece ter
Ἑλλάνικος Ὕσιριν ἔοικεν ἀκηκοέναι ὑπὸ τῶν ἱερέων escutado os sacerdotes chamarem Osíris de Hýsiris279; pois
λεγόμενον· οὕτω γὰρ ὀνομάζων διατελεῖ τὸν θεόν, assim chamam o deus com frequência, com razão, por sua
εἰκότως ἀπὸ τῆς φύσεως καὶ τῆς εὑρέσεως. natureza e a descoberta que fez280.
E 35. Ὅτι μὲν οὖν ὁ αὐτός ἐστι Διονύσῳ, τίνα μᾶλλον 35. Então, que Osíris é o mesmo que Dioniso, a quem é E
ἢ σὲ γινώσκειν, ὦ Κλέα, δὴ προσῆκόν ἐστιν, ἀρχηίδα mais adequada que tu para sabê-lo, ó Clea, porque foste a
μὲν οὖσαν ἐν Δελφοῖς τῶν Θυιάδων, τοῖς δ’ Ὀσιριακοῖς chefe das Tíades281 em Delfos, consagrada por seu pai e por sua
καθωσιωμένην ἱεροῖς ἀπὸ πατρὸς καὶ μητρός; εἰ δὲ τῶν mãe nos ritos sagrados de Osíris?282 Se por causa dos demais,
ἄλλων ἕνεκα δεῖ μαρτύρια παραθέσθαι, τὰ μὲν ἀπόρρητα deve-se apresentar testemunhos, deixemos os mistérios no seu
κατὰ χώραν ἐῶμεν, ἃ δ’ ἐμφανῶς δρῶσι θάπτοντες território, mas o que os sacerdotes fazem às claras enquanto
τὸν Ἆπιν οἱ ἱερεῖς, ὅταν παρακομίζωσιν ἐπὶ σχεδίας enterram Ápis283, quando transportam o seu corpo em uma
τὸ σῶμα, βακχείας οὐδὲν ἀποδεῖ· καὶ γὰρ νεβρίδας barca284, em nada difere das celebrações dos mistérios de Baco285;
περικαθάπτονται καὶ θύρσους φοροῦσι καὶ βοαῖς χρῶνται de fato, cobrem-se com peles de corça, carregam tirsos, gritam
καὶ κινήσεσιν ὥσπερ οἱ κάτοχοι τοῖς περὶ τὸν Διόνυσον e se agitam, como os possuídos nas celebrações dos mistérios
ὀργιασμοῖς. διὸ καὶ ταυρόμορφα Διονύσου ποιοῦσιν de Dioniso. Por isso também muitos helenos fazem estátuas de
ἀγάλματα πολλοὶ τῶν Ἑλλήνων· αἱ δ’ Ἠλείων γυναῖκες Dioniso em forma de um touro286; e as mulheres de Elea também
F καὶ παρακα-λοῦσιν εὐχόμεναι ‘ποδὶ βοείῳ τὸν θεὸν ἐλθεῖν’ o invocam suplicando que “o deus venha com o pé bovino”287 F
πρὸς αὐτάς. Ἀργείοις δὲ βουγενὴς Διόνυσος ἐπίκλην para elas. E entre os argivos, Dioniso é chamado pelo epíteto de
ἐστίν· ἀνακαλοῦνται δ’ αὐτὸν ὑπὸ σαλπίγγων ἐξ ὕδατος búgenes288; eles o invocam por meio de trombetas289 e, quando

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ἐμβάλλοντες εἰς τὴν ἄβυσσον ἄρνα τῷ Πυλαόχῳ· τὰς δὲ sai da água, lançam um cordeiro no abismo para o Guardião da
σάλπιγγας ἐν θύρσοις ἀποκρύπτουσιν, ὡς Σωκράτης ἐν Porta290; e as trombetas estão ocultas nos tirsos, como Sócrates291,
τοῖς περὶ ὁσίων εἴρηκεν. ὁμολογεῖ δὲ καὶ τὰ Τιτανικὰ καὶ em seu tratado Das cerimônias sagradas, já contou. Também as
Νυκτέλια τοῖς λεγομένοις Ὀσίριδος διασπασμοῖς καὶ Titânicas292 e as Nictélias293 são semelhantes ao que dizem sobre os
ταῖς ἀναβιώσεσι καὶ παλιγγενεσίαις· ὁμοίως δὲ καὶ τὰ desmembramentos de Osíris, suas ressurreições e transmigrações
365A περὶ τὰς ταφάς. Αἰγύπτιοί τε γὰρ Ὀσίριδος πολλαχοῦ de almas; e igualmente os assuntos relacionados às tumbas. Pois 365A
θήκας, ὥσπερ εἴρηται, δεικνύουσι, καὶ Δελφοὶ τὰ τοῦ os egípcios exibem câmaras funerárias de Osíris por toda parte,
Διονύσου λείψανα παρ’ αὐτοῖς παρὰ τὸ χρηστήριον como já foi dito294, e os delfos creem que os restos de Dioniso estão
ἀποκεῖσθαι νομίζουσι, καὶ θύουσιν οἱ ὅσιοι θυσίαν com eles, junto ao oráculo; e os Hosios295 realizavam sacrifícios no
ἀπόρρητον ἐν τῷ ἱερῷ τοῦ Ἀπόλλωνος, ὅταν αἱ Θυιάδες templo de Apolo, quando as Tíades despertavam Licnites296. E os
ἐγείρωσι τὸν Λικνίτην. ὅτι δ’ οὐ μόνον τοῦ οἴνου helenos pensam que Dioniso não somente é o senhor e criador do
Διόνυσον, ἀλλὰ καὶ πάσης ὑγρᾶς φύσεως Ἕλληνες vinho, mas também de toda umidade da natureza, basta Píndaro297
ἡγοῦνται κύριον καὶ ἀρχηγόν, ἀρκεῖ Πίνδαρος μάρτυς para ser nossa testemunha, quando diz “Que Dioniso, cheio de
εἶναι λέγων ‘δενδρέων δὲ νομὸν Διόνυσος πολυγαθὴς alegria e puro esplendor do outono298, aumente a frutificação
αὐξάνοι, ἁγνὸν φέγγος ὀπώρας·’ διὸ καὶ τοῖς τὸν Ὄσιριν das árvores!”299 Por isso também, anuncia-se a proibição aos que
σεβομένοις ἀπαγορεύεται δένδρον ἥμερον ἀπολλύναι veneram Dioniso de destruir qualquer cultivo ou tapar qualquer
καὶ πηγὴν ὕδατος ἐμφράττειν. fonte de água.
B 36. Οὐ μόνον δὲ τὸν Νεῖλον, ἀλλὰ πᾶν ὑγρὸν 36. Não somente ao Nilo, mas a toda umidade chamam B
ἁπλῶς Ὀσίριδος ἀπορροὴν καλοῦσι, καὶ τῶν ἱερῶν ἀεὶ simplesmente de emanação de Osíris, e dentre as procissões
προπομπεύει τὸ ὑδρεῖον ἐπὶ τιμῇ τοῦ θεοῦ. καὶ θρύῳ sagradas, um recipiente com água sempre andava na frente,
βασιλέα καὶ τὸ νότιον κλίμα τοῦ κόσμου γράφουσι, abrindo a procissão em honra do deus. E escrevem “rei” e “região
καὶ μεθερμηνεύεται τὸ θρύον ποτισμὸς καὶ κύησις meridional do mundo” com a imagem de um junco, e o junco é
πάντων καὶ δοκεῖ γεννητικῷ μορίῳ τὴν φύσιν ἐοικέναι. interpretado como a irrigação e a concepção de tudo, também se
τὴν δὲ τῶν Παμυλίων ἑορτὴν ἄγοντες, ὥσπερ εἴρηται, parece com um membro de geração, por sua natureza semelhante,
φαλλικὴν οὖσαν ἄγαλμα προτίθενται καὶ περιφέρουσιν, era uma estátua fálica. E celebravam a festa das Pamílias, como já
οὗ τὸ αἰδοῖον τριπλάσιόν ἐστιν· ἀρχὴ γὰρ ὁ θεός, ἀρχὴ foi dito, onde o seu membro viril é três vezes maior; pois o deus é o
δὲ πᾶσα τῷ γονίμῳ πολλαπλασιάζει τὸ ἐξ αὑτῆς. τὸ δὲ princípio, e todo princípio multiplica por sua fecundidade o que
πολλάκις εἰώθαμεν καὶ τρὶς λέγειν, ὡς τό ‘τρισμάκαρες’ vem dele. E frequentemente estamos acostumados a dizer “três
C καὶ ‘δεσμοὶ μὲν τρὶς τόσσοι ἀπείρονες’, εἰ μὴ νὴ Δία vezes”, como “três vezes bem-aventurados”300 e “laços três vezes C
κυρίως ἐμφαίνεται τὸ τριπλάσιον ὑπὸ τῶν παλαιῶν· ἡ tantos, infinitos”301, a não ser, por Zeus, que a expressão “três
γὰρ ὑγρὰ φύσις ἀρχὴ καὶ γένεσις οὖσα πάντων ἐξ αὑτῆς vezes” seja revelada no seu sentido próprio pelos antigos; pois a
natureza úmida é o princípio e a origem de tudo e produz de si os
três primeiros elementos materiais, a terra, o ar e o fogo. De fato,

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τὰ πρῶτα τρία σώματα, γῆν ἀέρα καὶ πῦρ, ἐποίησε. καὶ γὰρ o relato que se acrescenta ao mito é o de que Tífon lançou o
ὁ προστιθέμενος τῷ μύθῳ λόγος, ὡς τοῦ Ὀσίριδος ὁ Τυφὼν membro viril de Osíris no rio, e Ísis não o encontrou, mas fez
τὸ αἰδοῖον ἔρριψεν εἰς τὸν ποταμόν, ἡ δ’ Ἶσις οὐχ εὗρεν, uma imitação dele e o modelou como era, ordenou que ele
ἀλλ’ ἐμφερὲς ἄγαλμα θεμένη καὶ κατασκευάσασα τιμᾶν καὶ fosse honrado e que carregassem o falo em procissão302; então,
φαλληφορεῖν ἔταξεν, ἐνταῦθα δὴ περιχωρεῖ διδάσκων, ὅτι esse é o momento em que ensina que o poder fecundante e
τὸ γόνιμον καὶ τὸ σπερματικὸν τοῦ θεοῦ πρώτην ἔσχεν ὕλην reprodutor do deus teve como sua primeira matéria a umidade,
365D τὴν ὑγρότητα καὶ δι’ ὑγρότητος ἐνεκράθη τοῖς πεφυκόσι e através da umidade e misturou a tudo que, por natureza, 365D
μετέχειν γενέσεως. ἄλλος δὲ λόγος ἐστὶν Αἰγυπτίων, ὡς participa da geração. E existe outro relato entre os egípcios, o de
Ἄποπις Ἡλίου ὢν ἀδελφὸς ἐπολέμει τῷ Διί, τὸν δ’ Ὄσιριν que Apópis303, que era irmão de Hélio, guerreou contra Zeus, e
ὁ Ζεὺς συμμαχήσαντα καὶ συγκαταστρεψάμενον αὐτῷ este, com Osíris, Zeus fez uma aliança e juntos realizaram uma
τὸν πολέμιον παῖδα θέμενος Διόνυσον προσηγόρευσε. expedição militar contra o inimigo, que ele adotou como filho e
καὶ τούτου δὲ τοῦ λόγου τὸ μυθῶδες ἔστιν ἀποδεῖξαι τῆς lhe deu o nome Dioniso. E o elemento mítico que é próprio desse
περὶ φύσιν ἀληθείας ἁπτόμενον. Δία μὲν γὰρ Αἰγύπτιοι τὸ relato mostra que está em contato com uma verdade característica
πνεῦμα καλοῦσιν, ᾧ πολέμιον τὸ αὐχμηρὸν καὶ πυρῶδες· da natureza. Pois os egípcios chamam Zeus de vento, que tem
τοῦτο δ’ ἥλιος μὲν οὐκ ἔστι, πρὸς δ’ ἥλιον ἔχει τινὰ como inimigo a secura e a ardência; este não é o Sol, mas tem
συγγένειαν· ἡ δ’ ὑγρότης σβεννύουσα τὴν ὑπερβολὴν τῆς alguma familiaridade com ele; e a umidade, quando abranda o
ξηρότητος αὔξει καὶ ῥώννυσι τὰς ἀναθυμιάσεις, ὑφ’ ὧν τὸ excesso de secura, aumenta e fortalece as exalações pelas quais o
πνεῦμα τρέφεται καὶ τέθηλεν. vento é alimentado e revigorado.
E 37. Ἔτι τε τὸν κιττὸν ὃν Ἕλληνές τε καθιεροῦσι 37. E, além disso, os helenos consagram a hera304 a Dioniso; E
Διονύσῳ καὶ παρ’ Αἰγυπτίοις λέγεται ‘χενόσιρις’ diz-se que recebe o nome de “quenosíris” entre os egípcios e que
ὀνομάζεσθαι σημαίνοντος τοῦ ὀνόματος, ὥς φασι, φυτὸν o seu nome significa “planta de Osíris”. Entretanto, Aríston305, o
Ὀσίριδος. Ἀρίστων τοίνυν ὁ γεγραφὼς Ἀθηναίων ἀποικίας autor de Colonização dos atenienses, encontrou uma certa carta de
ἐπιστολῇ τινι Ἀλεξάρχου περιέπεσεν, ἐν ᾗ Διὸς ἱστορεῖται Alexarco306, na qual concluiu por meio de sua investigação que
δὲ καὶ Ἴσιδος υἱὸς ὢν ὁ Διόνυσος ὑπ’ Αἰγυπτίων οὐκ Dioniso, filho de Zeus e de Ísis, é chamado pelos egípcios não
Ὄσιρις ἀλλ’ Ἀρσαφὴς ἐν τῷ ἄλφα γράμματι λέγεσθαι de Osíris, mas de Arsafes307, com a grafia de um só alfa, nome
δηλοῦντος τὸ ἀνδρεῖον τοῦ ὀνόματος. ἐμφαίνει δὲ τοῦτο que designa a virilidade. E Hermeu308 também esclarece isso no
καὶ ὁ Ἑρμαῖος ἐν τῇ πρώτῃ περὶ τῶν Αἰγυπτίων ἑορτῶν· primeiro livro sobre Os festivais egípcios; pois disse que Osíris
F ὄβριμον γάρ φησι μεθερμηνευόμενον εἶναι τὸν Ὄσιριν. ἐῶ é traduzido como vigoroso. E deixo de lado Mnáseas,309 que F
δὲ Μνασέαν τῷ Ἐπάφῳ προστιθέντα τὸν Διόνυσον καὶ τὸν relaciona Épafo310 a Dioniso, a Osíris e Serápis311, também deixo
Ὄσιριν καὶ τὸν Σάραπιν, ἐῶ καὶ Ἀντικλείδην λέγοντα τὴν de lado Anticlides,312 que diz que Ísis era filha de Prometeu313, que
Ἶσιν Προμηθέως οὖσαν θυγατέρα Διονύσῳ συνοικεῖν· αἱ coabitou com Dioniso; pois as particularidades já mencionadas
γὰρ εἰρημέναι περὶ τὰς ἑορτὰς καὶ τὰς θυσίας οἰκειότητες sobre suas festas e ritos têm uma credibilidade que é mais notável
ἐναργεστέραν τῶν μαρτύρων τὴν πίστιν ἔχουσι. que os testemunhos.

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366A 38. Τῶν τ’ ἄστρων τὸν σείριον Ὀσίριδος νομίζουσιν 38. E dentre os astros, creem que Sírio é o de Osíris, 366A
ὑδραγωγὸν ὄντα καὶ τὸν λέοντα τιμῶσι καὶ χάσμασι porque traz água, também honram o Leão314 e adornam
λεοντείοις τὰ τῶν ἱερῶν θυρώματα κοσμοῦσιν, ὅτι as portas dos templos com faces de leões, porque o Nilo
πλημμυρεῖ Νεῖλος transborda315
’ἠελίου τὰ πρῶτα συνερχομένοιο λέοντι.’ Quando o Sol, pela primeira vez, entra em Leão.316
ὡς δὲ Νεῖλον Ὀσίριδος ἀπορροήν, οὕτως Ἴσιδος σῶμα Que o Nilo é uma emanação de Osíris, como dizem e consideram
γῆν λέγουσι καὶ νομίζουσιν οὐ πᾶσαν, ἀλλ’ ἧς ὁ Νεῖλος a terra o corpo de Ísis, não toda, mas a que o Nilo atinge para
ἐπιβαίνει σπερμαίνων καὶ μιγνύμενος· ἐκ δὲ τῆς συνουσίας fecundá-la e misturar-se com ela; e desta união nasceu Hórus.
ταύτης γεννῶσι τὸν Ὧρον. ἔστι δ’ Ὧρος ἡ πάντα σῴζουσα E Hórus é toda a terra que preserva e nutre, porque é a hṓra 317
καὶ τρέφουσα τοῦ περιέχοντος ὥρα καὶ κρᾶσις ἀέρος, e mistura do ar que a envolve, o que contam que foi criado por
ὃν ἐν τοῖς ἕλεσι τοῖς περὶ Βοῦτον ὑπὸ Λητοῦς τραφῆναι Leto318 nas várzeas úmidas em torno de Buto; pois a terra está
λέγουσιν· ἡ γὰρ ὑδατώδης καὶ διάβροχος γῆ μάλιστα τὰς encharcada e cheia de umidade, e nutre mais as exalações que
B σβεννυούσας καὶ χαλώσας τὴν ξηρότητα καὶ τὸν αὐχμὸν atenuam e dissipam a aridez e a secura. E chamam Néftis os B
ἀναθυμιάσεις τιθηνεῖται. Νέφθυν δὲ καλοῦσι τῆς γῆς τὰ territórios extremos da terra, os que estão junto às montanhas
ἔσχατα καὶ παρόρια καὶ ψαύοντα τῆς θαλάττης· διὸ καὶ e os que tocam o mar; por isso também conferem a Néftis o
Τελευτὴν ἐπονομάζουσι τὴν Νέφθυν καὶ Τυφῶνι δὲ συνοικεῖν epíteto de Teleute319, que coabitou com Tífon. E quando o Nilo
λέγουσιν. ὅταν δ’ ὑπερβαλὼν καὶ πλεονάσας ὁ Νεῖλος ultrapassa seus limites e enche, aproxima-se a esses territórios
ἐπέκεινα πλησιάσῃ τοῖς ἐσχατεύουσι, τοῦτο μῖξιν Ὀσίριδος extremos, isso é o que eles chamam união de Osíris e Néftis,
πρὸς Νέφθυν καλοῦσιν ὑπὸ τῶν ἀναβλαστανόντων φυτῶν que é comprovada pelas plantas que desabrocham; dentre elas,
ἐλεγχομένην· ὧν καὶ τὸ μελίλωτόν ἐστιν, οὗ φησι μῦθος está também o meliloto, sobre o qual o mito diz que, depois de
ἀπορρυέντος καὶ ὑπολειφθέντος αἴσθησιν γενέσθαι Τυφῶνι ter caído e sido abandonado, ele se tornou a pista da traição ao
τῆς περὶ τὸν γάμον ἀδικίας. ὅθεν ἡ μὲν Ἶσις ἔτεκε γνησίως leito cometida por Tífon. Por isso, Ísis deu legitimamente à luz a
C τὸν Ὧρον, ἡ δὲ Νέφθυς σκότιον τὸν Ἄνουβιν. ἐν μέντοι Hórus, e Néftis, ao ilegítimo Anúbis. Por certo, nas Genealogias C
ταῖς διαδοχαῖς τῶν βασιλέων ἀναγράφουσι τὴν Νέφθυν dos reis está escrito que Néftis, depois de ter desposado Tífon,
Τυφῶνι γημαμένην πρώτην γενέσθαι στεῖραν· εἰ δὲ τοῦτο no início era estéril; dizem isso não a respeito da mulher, mas da
μὴ περὶ γυναικὸς ἀλλὰ περὶ τῆς θεοῦ λέγουσιν, αἰνίττονται deusa, expressam-se por alegorias que a terra era completamente
τὸ παντελῶς τῆς γῆς ἄγονον καὶ ἄκαρπον ὑπὸ στερρότητος. infértil e sem fruto por sua excessiva dureza.
39. Ἡ δὲ Τυφῶνος ἐπιβουλὴ καὶ τυραννὶς αὐχμοῦ 39. E a insídia e a tirania de Tífon são o poder da secura que
δύναμις ἦν ἐπικρατήσαντος καὶ διαφορήσαντος τήν predomina e dissipa a umidade geradora do Nilo e o faz crescer, e
τε γεννῶσαν ὑγρότητα τὸν Νεῖλον καὶ αὔξουσαν, ἡ δὲ a sua aliada era a rainha dos etíopes, que alegoricamente eram os
συνεργὸς αὐτοῦ βασιλὶς Αἰθιόπων αἰνίττεται πνοὰς νοτίους ventos do sul vindos da Etiópia; pois, quando esses predominam
ἐξ Αἰθιοπίας· ὅταν γὰρ αὗται τῶν ἐτησίων ἐπικρατήσωσι τὰ sobre os etésios320 que empurram as nuvens até a Etiópia e

108 ΠΛΟΥΤΑΡΧΟΣ | P LUTARCO ΠΕΡΙ ΙΣΙΔΟΣ ΚΑΙ ΟΣΙΡΙΔΟΣ | D E ÍSIS E OSÍRIS 109
366D νέφη πρὸς τὴν Αἰθιοπίαν ἐλαυνόντων καὶ κωλύσωσι τοὺς impedem que as chuvas que fazem crescer o Nilo321 caiam, 366D
τὸν Νεῖλον αὔξοντας ὄμβρους καταρραγῆναι, κατέχων Tífon o domina e o faz evaporar com o seu fogo, e no momento
ὁ Τυφὼν ἐπιφλέγει, καὶ τότε κρατήσας παντάπασι τὸν em que domina completamente o Nilo, que é tomado pela
Νεῖλον εἰς ἑαυτὸν ὑπ’ ἀσθενείας συσταλέντα καὶ ῥυέντα exaustão e corre diminuído e quase sem volume, para lançá-lo
κοῖλον καὶ ταπεινὸν ἐξέωσεν εἰς τὴν θάλασσαν. ἡ γὰρ com dificuldade em direção ao mar. Pois a chamada clausura no
λεγομένη κάθειρξις εἰς τὴν σορὸν Ὀσίριδος οὐδὲν ἔοικεν ataúde de Osíris expressam por meio de alegorias que isso não
ἀλλ’ ἢ κρύψιν ὕδατος καὶ ἀφανισμὸν αἰνίττεσθαι· διὸ parece nada além de ocultamento e desaparecimento da água;
μηνὸς Ἀθὺρ ἀφανισθῆναι τὸν Ὄσιριν λέγουσιν, ὅτε por isso, dizem que o desaparecimento de Osíris aconteceu no
τῶν ἐτησίων ἀπολειπόντων παντάπασιν ὁ μὲν Νεῖλος mês de átir,322 que é quando os ventos etésios cessam e o Nilo
ὑπονοστεῖ, γυμνοῦται δ’ ἡ χώρα, μηκυνομένης δὲ τῆς desaparece completamente sob a terra; e o seu território se
νυκτὸς αὔξεται τὸ σκότος, ἡ δὲ τοῦ φωτὸς μαραίνεται καὶ desnuda, aumenta a escuridão da noite que se prolonga, o poder
E κρατεῖται δύναμις, οἱ δ’ ἱερεῖς ἄλλα τε δρῶσι σκυθρωπὰ καὶ da sua luz desaparece e é vencido, os sacerdotes realizam outros E
βοῦν διάχρυσον ἱματίῳ μέλανι βυσσίνῳ περιβάλλοντες ritos sombrios e no luto da deusa cobrem uma vaca dourada
ἐπὶ πένθει τῆς θεοῦ δεικνύουσι (βοῦν γὰρ Ἴσιδος εἰκόνα com um manto de linho negro (pois creem que a vaca323 é uma
καὶ γῆς νομίζουσιν) ἐπὶ τέσσαρας ἡμέρας ἀπὸ τῆς ἑβδόμης imagem de Ísis324 e da terra) e a exibem durante quatro dias
ἐπὶ δέκα ἑξῆς· καὶ γὰρ τὰ πενθούμενα τέσσαρα, πρῶτον seguidos a partir de dezessete desse mês; de fato, são quatro
μὲν ὁ Νεῖλος ἀπολείπων καὶ ὑπονοστῶν, δεύτερον δὲ τὰ dias de rituais de luto, o primeiro é porque o Nilo cessa seu
βόρεια πνεύματα κατασβεννύμενα κομιδῇ τῶν νοτίων fluxo e desaparece sob a terra; o segundo, porque os ventos
ἐπικρατούντων, τρίτον δὲ τὸ τὴν ἡμέραν ἐλάττονα do norte são extintos, completamente vencidos pelos do sul;
γίνεσθαι τῆς νυκτός, ἐπὶ πᾶσι δ’ ἡ τῆς γῆς ἀπογύμνωσις o terceiro, porque o dia se torna menor que a noite, além de
ἅμα τῇ τῶν φυτῶν ψιλότητι τηνικαῦτα φυλλορροούντων. tudo isso, o desnudamento da terra com a ausência das plantas,
F τῇ δ’ ἐνάτῃ ἐπὶ δέκα νυκτὸς ἐπὶ θάλασσαν κατίασι, καὶ que então perdem as folhas. E no décimo nono dia, à noite, F
τὴν ἱερὰν κίστην οἱ στολισταὶ καὶ οἱ ἱερεῖς ἐκφέρουσι descem até o mar, e os estolistas325 e os sacerdotes levam o cesto
χρυσοῦν ἐντὸς ἔχουσαν κιβώτιον, εἰς ὃ ποτίμου λαβόντες sagrado com um cofre de ouro dentro, dentro do qual vertem
ὕδατος ἐγχέουσι, καὶ γίνεται κραυγὴ τῶν παρόντων ὡς água potável326 que tinham com eles, e surge um clamor dos
εὑρημένου τοῦ Ὀσίριδος· εἶτα γῆν κάρπιμον φυρῶσι presentes como se tivesse encontrado Osíris; depois molham
τῷ ὕδατι καὶ συμμίξαντες ἀρώματα καὶ θυμιάματα τῶν a terra fértil com água e a misturam com aromas e perfumes
πολυτελῶν ἀναπλάττουσι μηνοειδὲς ἀγαλμάτιον καὶ de alto valor, modelam uma pequena imagem em forma de
τοῦτο στολίζουσι καὶ κοσμοῦσιν ἐμφαίνοντες ὅτι γῆς lua crescente, vestem-na e a ornam, revelando que consideram
οὐσίαν καὶ ὕδατος τοὺς θεοὺς τούτους νομίζουσι. esses deuses substância de terra e água.
367A 40. Τῆς δ’ Ἴσιδος πάλιν ἀναλαμβανούσης τὸν 40. E quando Ísis tomou Osíris pelos braços novamente e 367A
Ὄσιριν καὶ αὐξανούσης τὸν Ὧρον ἀναθυμιάσεσι καὶ fez com que Hórus crescesse, por meio de exalações, brumas
ὁμίχλαις καὶ νέφεσι ῥωννύμενον ἐκρατήθη μέν, οὐκ úmidas e nuvens, ele se tornou forte, Tífon foi vencido, mas não

110 ΠΛΟΥΤΑΡΧΟΣ | P LUTARCO ΠΕΡΙ ΙΣΙΔΟΣ ΚΑΙ ΟΣΙΡΙΔΟΣ | D E ÍSIS E OSÍRIS 111
ἀνῃρέθη δ’ ὁ Τυφών· οὐ γὰρ εἴασεν ἡ κυρία τῆς γῆς θεὸς aniquilado; pois a deusa senhora da terra não permitiu que fosse
ἀναιρεθῆναι παντάπασι τὴν ἀντικειμένην τῇ ὑγρότητι φύσιν, aniquilado por completo a natureza oposta ao úmido, mas o
ἀλλ’ ἐχάλασε καὶ ἀνῆκε βουλομένη διαμένειν τὴν κρᾶσιν· οὐ desatou e o deixou ir, porque desejava manter a mistura; pois não
γὰρ ἦν κόσμον εἶναι τέλειον ἐκλιπόντος καὶ ἀφανισθέντος poderia haver um mundo que fosse completo se o fogo faltasse
τοῦ πυρώδους. εἰ δὲ ταῦτα μὴ λέγεται παρὰ τὸ εἰκός, οὐδ’ e desaparecesse. Mas se esses eventos que eles contam não estão
ἐκεῖνον ἄν τις ἀπορρίψειε τὸν λόγον, ὡς Τυφὼν μὲν ἐκράτει longe da verossimilhança, em nada poderia se recusar o relato de
πάλαι τῆς Ὀσίριδος μοίρας· θάλασσα γὰρ ἦν ἡ Αἴγυπτος. que Tífon antigamente tinha o poder sobre as regiões destinadas
διὸ πολλὰ μὲν ἐν τοῖς μετάλλοις καὶ τοῖς ὄρεσιν εὑρίσκεται a Osíris; pois o Egito era mar327. Por isso, entre as minas e as
μέχρι νῦν κογχύλια ἔχειν· πᾶσαι δὲ πηγαὶ καὶ φρέατα πάντα montanhas, encontra-se até hoje muitas que têm conchas; e todas
367B πολλῶν ὑπαρ-χόντων ἁλμυρὸν ὕδωρ καὶ πικρὸν ἔχουσιν, as fontes e todos os poços, que são muitos, que têm água salgada 367B
ὡς ἂν ὑπόλειμμα τῆς πάλαι θαλάσσης ἕωλον ἐνταυθοῖ e amarga, como se fosse resto conservado do mar que outrora
συνερρυηκός. ὁ δ’ Ὧρος χρόνῳ τοῦ Τυφῶνος ἐπεκράτησε, corria ali. E Hórus, com o tempo, dominou Tífon, isso quer
τουτέστιν εὐκαιρίας ὀμβρίων γενομένης ὁ Νεῖλος ἐξώσας dizer que, após ter ocorrido abundantes chuvas, o Nilo expulsa
τὴν θάλασσαν ἀνέφηνε τὸ πεδίον καὶ ἀνεπλήρωσε ταῖς o mar, mostra-se na planície e preenche de terra as aluviões. De
προσχώσεσιν. ὃ δὴ μαρτυροῦσαν ἔχει τὴν αἴσθησιν· ὁρῶμεν fato, é o que tem testemunhado a nossa percepção; pois vemos
γὰρ ἔτι νῦν ἐπιφέροντι τῷ ποταμῷ νέαν ἰλὺν καὶ προάγοντι ainda hoje quando o rio deposita novo sedimento e avança para a
τὴν γῆν κατὰ μικρὸν ὑποχωροῦν ὀπίσω τὸ πέλαγος καὶ terra, pouco a pouco a planície alagada empurra para trás também
τὴν θάλασσαν τὸ ὕψος τῶν ἐν βάθει λαμβανόντων διὰ τὰς o mar e há a elevação das partes que estavam na profundeza por
προσχώσεις ἀπορρέουσαν· τὴν δὲ Φάρον, ἣν Ὅμηρος ᾔδει causa das aluviões depositadas; e Faro328, que Homero sabia que
C δρόμον ἡμέρας ἀπέχουσαν Αἰγύπτου, νῦν μέρος οὖσαν distava o percurso de um dia do Egito, agora é parte dele, isso não C
αὐτῆς, οὐκ αὐτὴν ἀναδραμοῦσαν οὐδὲ προσαναβᾶσαν, é porque essa ilha se mudou nem se aproximou, mas porque o
ἀλλὰ τῆς μεταξὺ θαλάττης ἀναπλάττοντι τῷ ποταμῷ καὶ espaço intermediário do mar foi preenchido pelo rio e alimentou
τρέφοντι τὴν ἤπειρον ἀνασταλείσης. Ἀλλὰ ταῦτα μὲν a planície que se estendeu. Mas isso é semelhante aos discursos
ὅμοια τοῖς ὑπὸ τῶν Στωικῶν θεολογουμένοις ἐστί· καὶ γὰρ sobre os deuses e a cosmologia feita pelos estoicos; de fato, aqueles
ἐκεῖνοι τὸ μὲν γόνιμον πνεῦμα καὶ τρόφιμον Διόνυσον εἶναι dizem que o sopro fecundante e nutriz é Dioniso, o que une e
λέγουσι, τὸ πληκτικὸν δὲ καὶ διαιρετικὸν Ἡρακλέα, τὸ δὲ divide é Héracles, o que recebe é Ámon, enquanto Deméter e
δεκτικὸν Ἄμμωνα, Δήμητρα δὲ καὶ Κόρην τὸ διὰ τῆς γῆς Core329 são o que se espalha através da terra e seus frutos, e Posídon
καὶ τῶν καρπῶν διῆκον, Ποσειδῶνα δὲ τὸ διὰ τῆς θαλάττης. é o que se espalha através do mar.
41. οἱ δὲ τοῖσδε τοῖς φυσικοῖς καὶ τῶν ἀπ’ ἀστρολογίας 41. E os que unem os discursos matemáticos vindos da
D μαθηματικῶν ἔνια μιγνύντες Τυφῶνα μὲν οἴονται τὸν astronomia aos físicos pensam que Tífon é o mundo solar, e D
ἡλιακὸν κόσμον, Ὄσιριν δὲ τὸν σεληνιακὸν λέγεσθαι· τὴν μὲν dizem que Osíris é o lunar; pois a Lua, porque tem a luz fecunda
γὰρ σελήνην γόνιμον τὸ φῶς καὶ ὑγροποιὸν ἔχουσαν εὐμενῆ e úmida, é propícia à geração dos animais e ao crescimento das
καὶ γοναῖς ζῴων καὶ φυτῶν εἶναι βλαστήσεσι· τὸν δ’ ἥλιον plantas; e o Sol, com seu fogo excessivo e seco, fortemente

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ἀκράτῳ πυρὶ καὶ σκληρῷ καταθάλπειν τε καὶ καταυαίνειν τὰ aquece e seca os seres que nascem e brotam, também a maior
φυόμενα καὶ τεθηλότα καὶ τὸ πολὺ μέρος τῆς γῆς παντάπασιν parte da terra é completamente inabitável e domina por toda
ὑπὸ φλογμοῦ ποιεῖν ἀοίκητον καὶ κατακρατεῖν πολλαχοῦ καὶ parte, também a Lua. Por isso os egípcios sempre chamam Tífon
τῆς σελήνης. διὸ τὸν Τυφῶνα Σὴθ ἀεὶ Αἰγύπτιοι καλοῦσιν, de Seth330, que é o mesmo que o opressor ou o constrangedor; e
ὅπερ ἐστὶ καταδυναστεῦον ἢ καταβιαζόμενον, καὶ τῷ μὲν ἡλίῳ sobre o mito de Héracles narram que ele construiu sua casa no
τὸν Ἡρακλέα μυθολογοῦσιν ἐνιδρυμένον συμπεριπολεῖν, τῇ Sol e que anda junto com ele ao redor do mundo, e Hermes
367E δὲ σελήνῃ τὸν Ἑρμῆν· λόγου γὰρ ἔργοις ἔοικε καὶ περὶ σοφίας com a Lua331; pois as obras da razão e a relacionadas à sabedoria 367E
τὰ τῆς σελήνης, τὰ δ’ ἡλίου πληγαῖς ὑπὸ βίας καὶ ῥώμης se parecem com as da Lua, enquanto as do Sol com os golpes
περαινομέναις. οἱ δὲ Στωικοὶ τὸν μὲν ἥλιον ἐκ θαλάττης executados com violência e força332. E os estoicos dizem que o Sol
ἀνάπτεσθαι καὶ τρέφεσθαί φασι, τῇ δὲ σελήνῃ τὰ se sustenta e se alimenta do mar, enquanto as águas das fontes e
κρηναῖα καὶ λιμναῖα νάματα γλυκεῖαν ἀναπέμπειν καὶ dos pântanos enviam à Lua doces e suaves exalações.
μαλακὴν ἀναθυμίασιν. 42. Os egípcios narram no mito de Osíris cuja morte
42. Ἑβδόμῃ ἐπὶ δέκα τὴν Ὀσίριδος γενέσθαι τελευτὴν aconteceu no décimo sétimo dia, no qual a lua cheia se
Αἰγύπτιοι μυθολογοῦσιν, ἐν ᾗ μάλιστα γίνεται μειουμένη torna mais visível e começa a minguar. Por isso também,
κατάδηλος ἡ πανσέληνος. διὸ καὶ τὴν ἡμέραν ταύτην os pitagóricos chamam esse dia de interposição e afastam-
ἀντίφραξιν οἱ Πυθαγόρειοι καλοῦσι, καὶ ὅλως τὸν ἀριθμὸν se completamente desse número; pois entre o número
τοῦτον ἀφοσιοῦνται· τοῦ γὰρ ἑξκαίδεκα τετραγώνου καὶ τοῦ quadrado dezesseis e o retângulo dezoito, que são os únicos
F ὀκτωκαίδεκα ἑτερομήκους, οἷς μόνοις ἀριθμῶν ἐπιπέδων dentre os números planos333 que têm os perímetros iguais aos F
συμβέβηκε τὰς περιμέτρους ἴσας ἔχειν τοῖς περιεχομένοις das suas áreas, o que está no meio deles é o número dezessete,
ὑπ’ αὐτῶν χωρίοις, μέσος ὁ τῶν ἑπτακαίδεκα παρεμπίπτων que interpõe, desliga um do outro e os divide, conforme a
ἀντιφράττει καὶ διαζεύγνυσιν ἀπ’ ἀλλήλων καὶ διαιρεῖ, proporção de nove para oito dividida em partes desiguais.
κατὰ τὸν ἐπόγδοον λόγον εἰς ἄνισα διαστήματα τεμνόμενος. Enquanto uns dizem que é o número dos anos de vida de
ἐτῶν δ’ ἀριθμὸν οἱ μὲν βιῶσαι τὸν Ὄσιριν οἱ δὲ βασιλεῦσαι Osíris, outros que os dos anos em que reinou foram vinte e
368A λέγουσιν ὀκτὼ καὶ εἴκοσι· τοσαῦτα γὰρ ἔστι φῶτα τῆς oito; pois tantas são as iluminações da lua e ela gira durante 368A
σελήνης καὶ τοσαύταις ἡμέραις τὸν αὑτῆς κύκλον ἐξελίσσει. o seu ciclo por tantos dias. E, nos chamados funerais de Osíris,
τὸ δὲ ξύλον ἐν ταῖς λεγομέναις Ὀσίριδος ταφαῖς τέμνοντες eles cortam a madeira e preparam a arca em forma de lua
κατασκευάζουσι λάρνακα μηνοειδῆ διὰ τὸ τὴν σελήνην, ὅταν crescente por causa da Lua, quando se aproxima do Sol, surge
τῷ ἡλίῳ πλησιάζῃ, μηνοειδῆ γινομένην ἀποκρύπτεσθαι. como lua crescente por ter sido eclipsada. Por meio de alegorias,
τὸν δ’ εἰς δεκατέσσαρα μέρη τοῦ Ὀσίριδος διασπασμὸν contam que o desmembramento de Osíris em catorze partes
αἰνίττονται πρὸς τὰς ἡμέρας, ἐν αἷς φθίνει μετὰ πανσέληνον está relacionado a esses dias, nos quais o astro mingua, depois da
ἄχρι νουμηνίας τὸ ἄστρον. ἡμέραν δέ, ἐν ᾗ φαίνεται πρῶτον lua cheia até a lua nova. E o dia em que se mostra pela primeira
ἐκφυγοῦσα τὰς αὐγὰς καὶ παρελθοῦσα τὸν ἥλιον, ’ἀτελὲς vez, depois de ter escapado dos raios do sol e ultrapassado o Sol,
B ἀγαθόν’ προσαγορεύουσιν· ὁ γὰρ Ὄσιρις ἀγαθο-ποιός, eles o chamam de “bem incompleto”; pois Osíris é benéfico e o B

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καὶ τοὔνομα πολλὰ φράζειν, οὐχ ἥκιστα δὲ κράτος seu nome denota muitos sentidos, e não menos o seu poder ativo
ἐνεργοῦν καὶ ἀγαθοποιὸν ὃ λέγουσι. τὸ δ’ ἕτερον ὄνομα e benéfico, é o que dizem. E o outro nome do deus, que é Ônfis,
τοῦ θεοῦ τὸν Ὄμφιν εὐεργέτην ὁ Ἑρμαῖός φησι δηλοῦν Hermeu diz que esse claramente significa “benévolo”.
ἑρμηνευόμενον.   43. Pensam que as fases da lua têm alguma relação com
43. Οἴονται δὲ πρὸς τὰ φῶτα τῆς σελήνης ἔχειν τινὰ a cheia do Nilo. Pois o maior nível, em Elefantina334, é de
λόγον τοῦ Νείλου τὰς ἀναβάσεις. ἡ μὲν γὰρ μεγίστη περὶ vinte e oito côvados, quantos são as iluminações da lua e a
τὴν Ἐλεφαντίνην ὀκτὼ γίνεται καὶ εἴκοσι πήχεων, ὅσα duração de cada um dos seus períodos; o menor nível em
φῶτα καὶ μέτρα τῶν ἐμμήνων περιόδων ἑκάστης ἔστιν· Mendes335 e em Xóis336 é de sete côvados, que são os seis dias
ἡ δὲ περὶ Μένδητα καὶ Ξόιν βραχυτάτη πήχεων ἓξ πρὸς para a meia lua; o nível médio, na região de Mênfis, quando
τὴν διχότομον· ἡ δὲ μέση περὶ Μέμφιν, ὅταν ᾖ δικαία, é normal, é de catorze côvados e está relacionado à lua cheia.
368C δεκατεσσάρων πήχεων πρὸς τὴν πανσέληνον. τὸν δ’ E que Ápis é a imagem viva de Osíris e nasce quando uma 368C
Ἆπιν εἰκόνα μὲν Ὀσίριδος ἔμψυχον εἶναι, γίνεσθαι δέ, luz fecundante cai da lua e engendra uma vaca no céu. Por
ὅταν φῶς ἐρείσῃ γόνιμον ἀπὸ τῆς σελήνης καὶ καθάψηται isso, também, muitas representações de Ápis, que é rodeado
βοὸς ὀργώσης. διὸ καὶ τοῖς τῆς σελήνης σχήμασιν de manchas negras parecidas com as fases da lua, tem suas
ἔοικε πολλὰ τοῦ Ἄπιδος περιμελαινομένου τὰ λαμπρὰ partes brilhantes cercadas de sombras. Além disso, na lua
τοῖς σκιεροῖς. ἔτι δὲ τῇ νουμηνίᾳ τοῦ Φαμενὼθ μηνὸς nova do mês famenot337, celebram uma festa que dão o nome
ἑορτὴν ἄγουσιν ἔμβασιν Ὀσίριδος εἰς τὴν σελήνην de “entrada de Osíris na Lua”, que é o início da primavera.
ὀνομάζοντες, ἔαρος ἀρχὴν οὖσαν. οὕτω τὴν Ὀσίριδος Desse modo, colocam o poder de Osíris na Lua, dizem que
δύναμιν ἐν τῇ σελήνῃ τιθέντες τὴν Ἶσιν αὐτῷ γένεσιν Ísis é a geração e que teve relações íntimas com ele. Por isso
οὖσαν συνεῖναι λέγουσι. διὸ καὶ μητέρα τὴν σελήνην também, chamam a Lua de “mãe do mundo” e pensam que
τοῦ κόσμου καλοῦσι καὶ φύσιν ἔχειν ἀρσενόθηλυν ela tem a natureza masculina e feminina, quando engendrada
D οἴονται πληρουμένην ὑφ’ ἡλίου καὶ κυισκομένην, αὐτὴν e fecundada pelo Sol, por sua vez, ela lança no ar princípios D
δὲ πάλιν εἰς τὸν ἀέρα προϊεμένην γεννητικὰς ἀρχὰς καὶ geradores e os dissemina338; pois não é sempre que a
κατασπείρουσαν· οὐ γὰρ ἀεὶ τὴν φθορὰν ἐπικρατεῖν τὴν destruição típica de Tífon prevalece, muitas vezes é vencida
Τυφώνειον, πολλάκις δὲ κρατουμένην ὑπὸ τῆς γενέσεως e atada pelo poder da geração, e que de novo se solta e luta
καὶ συνδεομένην αὖθις ἀναλύεσθαι καὶ διαμάχεσθαι intensamente contra Hórus. E esse é o mundo terrestre que
πρὸς τὸν Ὧρον. ἔστι δ’ οὗτος ὁ περίγειος κόσμος οὔτε não está completamente livre nem da destruição nem da
φθορᾶς ἀπαλλαττόμενος παντάπασιν οὔτε γενέσεως. geração.
44. Ἔνιοι δὲ καὶ τῶν ἐκλειπτικῶν αἴνιγμα ποιοῦνται τὸν 44. E alguns também imaginam o mito como uma
μῦθον· ἐκλείπει μὲν γὰρ ἡ σελήνη πανσέληνος ἐναντίαν τοῦ alegoria dos eclipses; pois a lua cheia é eclipsada quando
ἡλίου στάσιν ἔχοντος πρὸς αὐτὴν εἰς τὴν σκιὰν ἐμπίπτουσα tem o Sol do lado do seu contrário e ela cai na sombra da
τῆς γῆς, ὥσπερ φασὶ τὸν Ὄσιριν εἰς τὴν σορόν. αὐτὴ δὲ πάλιν Terra, contam, como Osíris no ataúde. E ela por sua vez

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368E ἀποκρύπτει καὶ ἀφανίζει ταῖς τριακάσιν, οὐ μὴν ἀναιρεῖται oculta o Sol e o faz desaparecer nos trigésimos dias do mês, 368E
παντάπασι τὸν ἥλιον, ὥσπερ οὐδὲ τὸν Τυφῶνα ἡ Ἶσις. *** sem dúvida, não o aniquila completamente, como Ísis a
γεννώσης τῆς Νέφθυος τὸν Ἄνουβιν Ἶσις ὑποβάλλεται· Tífon. ***339 Quando Néftis gerou Anúbis, Ísis o colocou
Νέφθυς γάρ ἐστι τὸ ὑπὸ γῆν καὶ ἀφανές, Ἶσις δὲ τὸ ὑπὲρ τὴν sob sua proteção; pois Néftis é o que está sob a terra e o
γῆν καὶ φανερόν, ὁ δὲ τούτων ὑποψαύων καὶ καλούμενος invisível, enquanto Ísis é o que está em cima da terra e o
ὁρίζων κύκλος ἐπίκοινος ὢν ἀμφοῖν Ἄνουβις κέκληται visível, e o círculo que os toca é chamado horizonte, ambos
καὶ κυνὶ τὸ εἶδος ἀπεικάζεται· καὶ γὰρ ὁ κύων χρῆται τῇ são chamados de Anúbis e representado com a imagem de
ὄψει νυκτός τε καὶ ἡμέρας ὁμοίως. καὶ τοιαύτην ἔχειν δοκεῖ um cão; de fato, o cão usa sua visão por igual de noite e de
παρ’ Αἰγυπτίοις τὴν δύναμιν ὁ Ἄνουβις, οἵαν ἡ Ἑκάτη dia. E parece que Anúbis tem tal poder entre os egípcios,
παρ’ Ἕλλησι, χθόνιος ὢν ὁμοῦ καὶ Ὀλύμπιος. ἐνίοις δὲ tal Hécate340 entre os helenos, que é igualmente ctônico e
δοκεῖ Κρόνος ὁ Ἄνουβις εἶναι· διὸ πάντα τίκτων ἐξ ἑαυτοῦ olímpio. E alguns pensam que Anúbis é Crono; porque
F καὶ κύων ἐν ἑαυτῷ τὴν τοῦ κυνὸς ἐπίκλησιν ἔσχεν. ἔστι concebe341 em si e gera de si mesmo, recebeu o nome de cão342. F
δ’ οὖν τοῖς σεβομένοις τὸν Ἄνουβιν ἀπόρρητόν τι, καὶ Portanto, é algo impronunciável aos adoradores de Anúbis, e
πάλαι μὲν τὰς μεγίστας ἐν Αἰγύπτῳ τιμὰς ὁ κύων ἔσχεν· no Egito de outrora o cão recebia as maiores honras; visto que
ἐπεὶ δὲ Καμβύσου τὸν Ἆπιν ἀνελόντος καὶ ῥίψαντος Cambises343 matou Ápis344 e o empurrou com força, nenhum
οὐδὲν προσῆλθεν οὐδ’ ἐγεύσατο τοῦ σώματος ἀλλ’ ἢ outro animal se aproximou dele, nem provou do seu corpo, a não
μόνος ὁ κύων, ἀπώλεσε τὸ πρῶτος εἶναι καὶ μάλιστα ser o cão, o único, que perdeu sua primazia e foi o mais honrado
τιμᾶσθαι τῶν ἑτέρων ζῴων. Εἰσὶ δέ τινες οἱ τὸ σκίασμα dentre os outros animais. Existem os que dão o nome de sombra
τῆς γῆς, εἰς ὃ τὴν σελήνην ὀλισθάνουσαν ἐκλείπειν da Terra a Tífon, no ponto em que consideram que a Lua se
νομίζουσι, Τυφῶνα καλοῦντες· desloca e se eclipsa;
369A 45. ὅθεν οὐκ ἀπέοικεν εἰπεῖν, ὡς ἰδίᾳ μὲν οὐκ 45. Por isso, não é inverossímil dizer que, se cada um dessas 369A
ὀρθῶς ἕκαστος, ὁμοῦ δὲ πάντες ὀρθῶς λέγουσιν· οὐ γὰρ interpretações em particular não está correta, todas juntas se
αὐχμὸν μόνον οὐδ’ ἄνεμον οὐδὲ θάλατταν οὐδὲ σκότος, expressam corretamente; pois não é só dizer que existe secura,
ἀλλὰ πᾶν ὅσον ἡ φύσις βλαβερὸν καὶ φθαρτικὸν ἔχει, nem vento, nem mar, nem escuridão, mas tudo que a natureza
tem prejudicial e destruidor é a parte que caracteriza Tífon. Pois
μόριον τοῦ Τυφῶνος ἔστιν εἰπεῖν. οὔτε γὰρ ἐν ἀψύχοις
nem nos corpos inanimados devemos estabelecer as origens do
σώμασι τὰς τοῦ παντὸς ἀρχὰς θετέον, ὡς Δημόκριτος
universo345, como Demócrito346 e Epicuro347, nem se deve aceitar
καὶ Ἐπίκουρος, οὔτ’ ἀποίου δημιουργὸν ὕλης ἕνα uma única razão artífice de uma matéria sem propriedade e
λόγον καὶ μίαν πρόνοιαν, ὡς οἱ Στωικοί, περιγινομένην uma única providência que domina e comanda tudo, como
ἁπάντων καὶ κρατοῦσαν· ἀδύνατον γὰρ ἢ φλαῦρον os estoicos; pois é impossível que exista qualquer tipo de
ὁτιοῦν, ὅπου πάντων, ἢ χρηστόν, ὅπου μηδενὸς ὁ θεὸς mau, em qualquer lugar, ou algo de bom, onde o deus não é
B αἴτιος, ἐγγενέσθαι. ‘παλίντονος’ γάρ ‘ἁρμονίη κόσμου, a causa de nada, pois “a harmonia do mundo é precisamente B
ὅκωσπερ λύρης καὶ τόξου’ καθ’ Ἡράκλειτον· καὶ κατ’ como a harmonia de um arco ou de uma lira que se estende

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Εὐριπίδην e se distende”348, conforme Heráclito; também conforme
’οὐκ ἂν γένοιτο χωρὶς ἐσθλὰ καὶ κακά, Eurípides349:
ἀλλ’ ἔστι τις σύγκρασις ὥστ’ ἔχειν καλῶς.’ não surgiriam à parte os bens e os males
διὸ καὶ παμπάλαιος αὕτη κάτεισιν ἐκ θεολόγων καὶ mas há um tipo de mistura para haver o bem.350
νομοθετῶν εἴς τε ποιητὰς καὶ φιλοσόφους δόξα, τὴν Por isso, também, essa mais antiga doutrina vinda dos teólogos,
ἀρχὴν ἀδέσποτον ἔχουσα, τὴν δὲ πίστιν ἰσχυρὰν καὶ dos legisladores, que chegou até poetas e filósofos, que tem a sua
δυσεξάλειπτον, οὐκ ἐν λόγοις μόνον οὐδ’ ἐν φήμαις, ἀλλ’ origem anônima, embora tenha sua força inabalável e constante,
ἔν τε τελεταῖς ἔν τε θυσίαις καὶ βαρβάροις καὶ Ἕλλησι não somente em relatos e tradições, mas em ritos de iniciação e
πολλαχοῦ περιφερομένη, ὡς οὔτ’ ἄνουν καὶ ἄλογον καὶ festivais, tanto entre bárbaros como entre os helenos, celebrada
369C ἀκυβέρνητον αἰωρεῖται τῷ αὐτομάτῳ τὸ πᾶν, οὔθ’ εἷς em muitos lugares; não sem inteligência, sem razão, sem piloto, o 369C
ἐστιν ὁ κρατῶν καὶ κατευθύνων ὥσπερ οἴαξιν ἤ τισι todo não flutua no ar ao acaso, nem existe uma única razão
πειθηνίοις χαλινοῖς λόγος, ἀλλὰ πολλὰ καὶ μεμιγμένα que o domina e dirige, tal tivesse timões e freios obedientes,
κακοῖς καὶ ἀγαθοῖς μᾶλλον δὲ μηδὲν ὡς ἁπλῶς εἰπεῖν mas muitas vezes vêm misturados com bens e males, para
ἄκρατον ἐνταῦθα τῆς φύσεως φερούσης οὐ δυεῖν πίθων εἷς dizer de modo simples: nada do que a natureza produz é
ταμίας ὥσπερ νάματα τὰ πράγματα καπηλικῶς διανέμων completamente sem mistura, um único despenseiro não
ἀνακεράννυσιν ἡμῖν, ἀλλ’ ἀπὸ δυεῖν ἐναντίων ἀρχῶν καὶ nos serviria de dois barris351, como os líquidos, bebidos
δυεῖν ἀντιπάλων δυνάμεων, τῆς μὲν ἐπὶ τὰ δεξιὰ καὶ κατ’ sem mistura, mas de dois princípios opostos e dois poderes
εὐθεῖαν ὑφηγουμένης, τῆς δ’ ἔμπαλιν ἀναστρεφούσης καὶ contrários, um que nos guia para a direita em linha reta, e
ἀνακλώσης ὅ τε βίος μικτὸς ὅ τε κόσμος, εἰ καὶ μὴ πᾶς, o outro que nos volta e empurra para trás, e a vida é uma
D ἀλλ’ ὁ περίγειος οὗτος καὶ μετὰ σελήνην ἀνώμαλος καὶ mistura e o mundo, se nem tudo é esse terrestre, além da Lua, D
ποικίλος γέγονε καὶ μεταβολὰς πάσας δεχόμενος. εἰ γὰρ é irregular e variável, nascido para receber toda espécie de
οὐδὲν ἀναιτίως πέφυκε γίνεσθαι, αἰτίαν δὲ κακοῦ τἀγαθὸν mudanças. Pois se, por natureza, nada nasce sem uma causa,
οὐκ ἂν παράσχοι, δεῖ γένεσιν ἰδίαν καὶ ἀρχὴν ὥσπερ ἀγαθοῦ e a causa do mal não é o bem, a natureza deve ter, como o
καὶ κακοῦ τὴν φύσιν ἔχειν. bem, um princípio próprio do mal.
46. Καὶ δοκεῖ τοῦτο τοῖς πλείστοις καὶ σοφωτάτοις· 46. E a maioria e os mais sábios pensam que isso é bom; pois
νομίζουσι γὰρ οἱ μὲν θεοὺς εἶναι δύο καθάπερ ἀντιτέχνους, uns consideram que existem dois deuses, como se fossem rivais,
τὸν μὲν ἀγαθῶν, τὸν δὲ φαύλων δημιουργόν· οἱ δὲ τὸν μὲν um artífice dos bens e o outro dos males; outros chamam o
γὰρ ἀμείνονα θεόν, τὸν δ’ ἕτερον δαίμονα καλοῦσιν, ὥσπερ melhor “deus” e o outro “dêmon”, como Zoroastro352, o mago,
Ζωροάστρης ὁ μάγος, ὃν πεντακισχιλίοις ἔτεσι τῶν Τρωικῶν que concluíram em suas investigações que ele nasceu cinco
E γεγονέναι πρεσβύτερον ἱστοροῦσιν. οὗτος οὖν ἐκάλει τὸν μὲν mil anos antes da guerra de Troia. Portanto, este chamava a um E
Ὡρομάζην, τὸν δ’ Ἀρειμάνιον· καὶ προσαπεφαίνετο τὸν μὲν Horomazes353 e a outro Arimânio354; e declarava que um se parecia
ἐοικέναι φωτὶ μάλιστα τῶν αἰσθητῶν, τὸν δ’ ἔμπαλιν σκότῳ mais com a luz do sensível, e o outro, ao contrário, com a escuridão

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καὶ ἀγνοίᾳ, μέσον δ’ ἀμφοῖν τὸν Μίθρην εἶναι· διὸ καὶ e a ignorância, e que, no meio de ambos, estava Mitra355; por
Μίθρην Πέρσαι τὸν μεσίτην ὀνομάζουσιν· ἐδίδαξε δὲ τῷ isso, também, os persas dão o nome Mesites356 a Mitra; e ensina
μὲν εὐκταῖα θύειν καὶ χαριστήρια, τῷ δ’ ἀποτρόπαια καὶ a realizar a um sacrifícios, preces e ações de graças, ao outro,
σκυθρωπά. πόαν γάρ τινα κόπτοντες ὄμωμι καλουμένην apotropaicos e melancólicos. Pois maceram em um morteiro
ἐν ὅλμῳ τὸν Ἅιδην ἀνακαλοῦνται καὶ τὸν σκότον, εἶτα um tipo de erva chamada amomo357, invocam Hades e as trevas,
μίξαντες αἵματι λύκου σφαγέντος εἰς τόπον ἀνήλιον depois eles a misturam com sangue de lobo degolado e a levam
ἐκφέρουσι καὶ ῥίπτουσι. καὶ γὰρ τῶν φυτῶν νομίζουσι para um lugar sem a luz do sol e lá a derramam. Pois acreditam
τὰ μὲν τοῦ ἀγαθοῦ θεοῦ, τὰ δὲ τοῦ κακοῦ δαίμονος εἶναι, que, dentre as plantas, umas são próprias do deus bom, e outras,
369F καὶ τῶν ζῴων ὥσπερ κύνας καὶ ὄρνιθας καὶ χερσαίους do dêmon mau; e dentre os animais, como cães, aves e ouriços 369F
ἐχίνους τοῦ ἀγαθοῦ, τοῦ δὲ φαύλου μῦς ἐνύδρους εἶναι· da terra, são próprios do bom, enquanto o rato d’água é do mau;
διὸ καὶ τὸν κτείναντα πλείστους εὐδαιμονίζουσιν. por isso também, eles consideram feliz quem mata uma grande
quantidade deles358.
47. οὐ μὴν ἀλλὰ κἀκεῖνοι πολλὰ μυθώδη περὶ τῶν
θεῶν λέγουσιν, οἷα καὶ ταῦτ’ ἐστίν. ὁ μὲν Ὡρομάζης 47. Sem dúvida, também aqueles contam muitos outros
ἐκ τοῦ καθαρωτάτου φάους ὁ δ’ Ἀρειμάνιος ἐκ τοῦ relatos míticos a respeito dos deuses. Como a que Horomazes,
ζόφου γεγονὼς πολεμοῦσιν ἀλλήλοις· καὶ ὁ μὲν ἓξ nascido da mais pura luz, e Arimânio, nascido das trevas
370A subterrâneas, guerreiam entre si; que ele criou os seis deuses, o 370A
θεοὺς ἐποίησε, τὸν μὲν πρῶτον εὐνοίας, τὸν δὲ δεύτερον
ἀληθείας, τὸν δὲ τρίτον εὐνομίας, τῶν δὲ λοιπῶν τὸν primeiro era da benevolência, o segundo, da verdade, o terceiro
μὲν σοφίας, τὸν δὲ πλούτου, τὸν δὲ τῶν ἐπὶ τοῖς καλοῖς da equidade, e dentre os restantes, um da sabedoria e o outro da
ἡδέων δημιουργόν· ὁ δὲ τούτοις ὥσπερ ἀντιτέχνους riqueza, e o terceiro artífice dos prazeres contidos no que é belo;
ἴσους τὸν ἀριθμόν. εἶθ’ ὁ μὲν Ὡρομάζης τρὶς ἑαυτὸν e Arimânio, como seus antagonistas, criou um número igual ao
αὐξήσας ἀπέστη τοῦ ἡλίου τοσοῦτον, ὅσον ὁ ἥλιος τῆς deles. Depois Horomazes aumentou três vezes mais em altura e
γῆς ἀφέστηκε, καὶ τὸν οὐρανὸν ἄστροις ἐκόσμησεν· passou a distar da Terra o tanto que o Sol estava afastado da Terra, e
ἕνα δ’ ἀστέρα πρὸ πάντων οἷον φύλακα καὶ προόπτην adornou o céu com estrelas; e colocou uma estrela à frente de todas
ἐγκατέστησε τὸν σείριον. ἄλλους δὲ ποιήσας τέσσαρας como guardiã e vigia, a Sírio. E criou outros vinte e quatro deuses
καὶ εἴκοσι θεοὺς εἰς ᾠὸν ἔθηκεν. οἱ δ’ ἀπὸ τοῦ Ἀρειμανίου e os colocou em um ovo. E os nascidos de Arimânio, também
B γενόμενοι καὶ αὐτοὶ τοσοῦτοι διατρήσαντες τὸ ᾠὸν γαν***, esses outros tantos, perfuraram o ovo ***359, desde então, os males B
ὅθεν ἀναμέμικται τὰ κακὰ τοῖς ἀγαθοῖς. ἔπεισι δὲ χρόνος foram misturados aos bens. E sobrevirá o tempo marcado pelo
εἱμαρμένος, ἐν ᾧ τὸν Ἀρειμάνιον λοιμὸν ἐπάγοντα καὶ λιμὸν destino no qual Arimânio, condutor da peste e da fome, deve ser
ὑπὸ τούτων ἀνάγκη φθαρῆναι παντάπασι καὶ ἀφανισθῆναι, completamente destruído por elas e desaparecer360, então a terra
τῆς δὲ γῆς ἐπιπέδου καὶ ὁμαλῆς γενομένης ἕνα βίον καὶ se tornará plana e lisa, surgirá um único meio de vida e uma única
μίαν πολιτείαν ἀνθρώπων μακαρίων καὶ ὁμογλώσσων forma de governo dos homens divinamente felizes, todos falantes
ἁπάντων γενέσθαι. Θεόπομπος δέ φησι κατὰ τοὺς μάγους de uma mesma língua. E Teopompo361 diz, de acordo com os
ἀνὰ μέρος τρισχίλια ἔτη τὸν μὲν κρατεῖν τὸν δὲ κρατεῖσθαι magos, que cada um dos deuses na sua vez dominará durante três

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τῶν θεῶν, ἄλλα δὲ τρισχίλια μάχεσθαι καὶ πολεμεῖν καὶ mil anos e o outro será dominado, e que durante outros três mil
ἀναλύειν τὰ τοῦ ἑτέρου τὸν ἕτερον, τέλος δ’ ἀπολείπεσθαι combaterão, guerrearão e destruirão os domínios um do outro362,
370C τὸν Ἅιδην· καὶ τοὺς μὲν ἀνθρώπους εὐδαίμονας ἔσεσθαι que, por fim, Hades será dominado; e os homens serão felizes, não 370C
μήτε τροφῆς δεομένους μήτε σκιὰν ποιοῦντας, τὸν δὲ necessitarão de alimento nem terão sombra, e o deus que tramar
ταῦτα μηχανησάμενον θεὸν ἠρεμεῖν καὶ ἀναπαύεσθαι isso ficará tranquilo e repousará bem, não por muito tempo para
χρόνον καλῶς μὲν οὐ πολύν τῷ θεῷ, ὥσπερ ἀνθρώπῳ um deus, o espaço de tempo de um homem dormir. Portanto, a
κοιμωμένῳ μέτριον.   Ἡ μὲν οὖν μάγων μυθολογία mitologia dos magos tem tal caráter.
τοιοῦτον ἔχει τρόπον· 48. E os caldeus363 dão nome de planetas aos deuses que
48. Χαλδαῖοι δὲ τῶν πλανήτων, οὓς θεοὺς chamam protetores da estirpe, dois são benéficos e os outros
γενεθλίους καλοῦσι, δύο μὲν ἀγαθουργούς, δύο δὲ dois maléficos, e os outros três se revelam intermediários e
κακοποιούς, μέσους δὲ τοὺς τρεῖς ἀποφαίνουσι καὶ comuns a eles. E as doutrinas dos helenos são de algum modo
κοινούς. τὰ δ’ Ἑλλήνων πᾶσί που δῆλα, τὴν μὲν ἀγαθὴν evidentes para todos, porque tornam a parte boa própria de
Διὸς Ὀλυμπίου μερίδα, τὴν δ’ ἀποτρόπαιον Ἅιδου Zeus Olímpio e a abominável de Hades, e narram no mito
ποιουμένων, ἐκ δ’ Ἀφροδίτης καὶ Ἄρεος Ἁρμονίαν sobre Harmonia que ela é nascida de Afrodite e Ares364,
D γεγονέναι μυθολογούν-των, ὧν ὁ μὲν ἀπηνὴς καὶ então um é cruel e destruidor, e a outra é doce e protetora D
φιλόνεικος, ἡ δὲ μειλίχιος καὶ γενέθλιος. σκόπει δὲ τοὺς da estirpe. Observa que os filósofos estão de acordo com
φιλοσόφους τούτοις συμφερομένους. Ἡράκλειτος μὲν γὰρ esses relatos. Pois Heráclito, sem dissimulação, dá à guerra
ἄντικρυς ‘πόλεμον’ ὀνομάζει ‘πατέρα καὶ βασιλέα καὶ κύριον o nome de “pai, rei e senhor de todos”365 e diz que, quando
πάντων’, καὶ τὸν μὲν Ὅμηρον εὐχόμενον ‘ἔκ τε θεῶν ἔριν Homero suplica que “a discórdia entre os deuses e os
ἔκ τ’ ἀνθρώπων ἀπολέσθαι’ ‘λανθάνειν’ φησί ‘τῇ πάντων homens seja destruída”366, “sem perceber, fez imprecações
γενέσει καταρώμενον ἐκ μάχης καὶ ἀντιπαθείας τὴν γένεσιν contra a geração de todos os seres, que tem sua origem na
ἐχόντων, ἥλιον δὲ μὴ ὑπερβήσεσθαι τοὺς προσήκοντας guerra e na oposição”367, que o Sol não ultrapassará os limites
ὅρους· εἰ δὲ μή, Κλῶθάς μιν Δίκης ἐπικούρους ἐξευρήσειν’. estabelecidos; se não, encontrarias Clotes368, protetoras de
Ἐμπεδοκλῆς δὲ τὴν μὲν ἀγαθουργὸν ἀρχήν ‘Φιλότητα’ καὶ Dice369.” E Empédocles frequentemente chama o princípio
‘Φιλίαν’ πολλάκις, ἔτι δ’ ‘Ἁρμονίαν’ καλεῖ ‘θεμερῶπιν’, τὴν benéfico de “Amor” e “Amizade”, e ainda Harmonia de
E δὲ χείρονα ‘Νεῖκος οὐλόμενον’ καὶ ‘Δῆριν αἱματόεσσαν’. καὶ “olhar terno”, e o princípio do mal “Discórdia destruidora” E
οἱ μὲν Πυθαγορικοὶ διὰ πλειόνων ὀνομάτων κατηγοροῦσι e “Luta sangrenta”370. E os pitagóricos, por meio de muitos
τοῦ μὲν ἀγαθοῦ τὸ ἓν τὸ πεπερασμένον τὸ μένον τὸ εὐθὺ nomes, declaram que é próprio do bem, o uno, o limitado,
τὸ περισσὸν τὸ τετράγωνον τὸ ἴσον τὸ δεξιὸν τὸ λαμπρόν, o estável, o reto, o ímpar, o quadrado, o igual, a direita, o
τοῦ δὲ κακοῦ τὴν δυάδα τὸ ἄπειρον τὸ φερόμενον τὸ brilhante, enquanto é próprio do mal a díade, o ilimitado, o
καμπύλον τὸ ἄρτιον τὸ ἑτερόμηκες τὸ ἄνισον τὸ ἀριστερὸν móvel, o curvo, o par, o retângulo, o desigual, a esquerda, o
τὸ σκοτεινόν, ὡς ταύτας ἀρχὰς γενέσεως ὑποκειμένας· sombrio, que estabelecem como os princípios da geração371;
Ἀναξαγόρας δὲ νοῦν καὶ ἄπειρον, Ἀριστοτέλης δὲ τὸ e Anaxágoras372 chama “inteligência” e “infinito”373,

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μὲν εἶδος τὸ δὲ στέρησιν, Πλάτων δὲ πολλαχοῦ μὲν οἷον Aristóteles374 chama um de “Forma” e o outro de
ἐπηλυγαζόμενος καὶ παρακαλυπτόμενος τῶν ἐναντίων “Privação”375, Platão, que muitas vezes se expressa de modo
ἀρχῶν τὴν μὲν ταὐτὸν ὀνομάζει, τὴν δὲ θάτερον· ἐν δὲ velado e oculto, dos princípios contrários dá a um o nome de
370F τοῖς Νόμοις ἤδη πρεσβύτερος ὢν οὐ δι’ αἰνιγμῶν οὐδὲ “o idêntico” e ao outro, de “o diferente”376; e nas Leis377, já mais 370F
συμβολικῶς, ἀλλὰ κυρίοις ὀνόμασιν οὐ μιᾷ ψυχῇ φησι velho, não por meio de alegorias nem simbolicamente, mas com
κινεῖσθαι τὸν κόσμον, ἀλλὰ πλείοσιν ἴσως δυεῖν δὲ nomes adequados, afirma que com uma só alma não se move
πάντως οὐκ ἐλάττοσιν· ὧν τὴν μὲν ἀγαθουργὸν εἶναι, o mundo, mas com muitas, talvez com duas, certamente não
τὴν δ’ ἐναντίαν ταύτῃ καὶ τῶν ἐναντίων δημιουργόν· menos; portanto, destas, é uma benéfica e a outra lhe é contrária,
ἀπολείπει δὲ καὶ τρίτην τινὰ μεταξὺ φύσιν οὐκ também é artífice do contrário; deixa também uma terceira que é
ἄψυχον οὐδ’ ἄλογον οὐδ’ ἀκίνητον ἐξ αὑτῆς, ὥσπερ uma natureza intermediária, não desprovida de alma nem razão,
ἔνιοι νομίζουσιν, ἀλλ’ ἀνακειμένην ἀμφοῖν ἐκείναις, nem de movimento próprio, como alguns consideram, mas
371A ἐφιεμένην δὲ τῆς ἀμείνονος ἀεὶ καὶ ποθοῦσαν καὶ depende de ambas aquelas duas, e seguem a melhor sempre, tanto 371A
διώκουσαν, ὡς τὰ ἐπιόντα δηλώσει τοῦ λόγου τὴν a desejam como a perseguem, o que se mostrará na continuação
Αἰγυπτίων θεολογίαν μάλιστα ταύτῃ τῇ φιλοσοφίᾳ do nosso tratado, que se propõe especialmente a acomodar a
συνοικειοῦντος. teologia378 dos egípcios a essa filosofia.
49. Μεμιγμένη γὰρ ἡ τοῦδε τοῦ κόσμου γένεσις καὶ 49. Pois a origem e a composição do mundo é uma mistura
σύστασις ἐξ ἐναντίων, οὐ μὴν ἰσοσθενῶν, δυνάμεων, ἀλλὰ que vem de poderes contrários, sem dúvida, não com a mesma
τῆς βελτίονος τὸ κράτος ἐστίν· ἀπολέσθαι δὲ τὴν φαύλην força, mas o melhor é o que predomina; e é completamente
παντάπασιν ἀδύνατον, πολλὴν μὲν ἐμπεφυκυῖαν τῷ σώματι, impossível que o mal seja destruído, porque está muito enraizado
πολλὴν δὲ τῇ ψυχῇ τοῦ παντὸς καὶ πρὸς τὴν βελτίονα ἀεὶ no corpo e na alma do universo, e está sempre combatendo com
δυσμαχοῦσαν. ἐν μὲν οὖν τῇ ψυχῇ νοῦς καὶ λόγος ὁ τῶν o melhor. Portanto, na alma, Osíris é a inteligência e a razão, que é
ἀρίστων πάντων ἡγεμὼν καὶ κύριος Ὄσιρίς ἐστιν, ἐν δὲ γῇ καὶ guia e soberana de tudo que excele na terra, nos ventos, nas águas,
B πνεύμασι καὶ ὕδασι καὶ οὐρανῷ καὶ ἄστροις τὸ τεταγμένον no céu e nos astros, o que é regulado, constante e saudável, em B
καὶ καθεστηκὸς καὶ ὑγιαῖνον ὥραις καὶ κράσεσι καὶ περιόδοις relação com as estações, as temperaturas, os ciclos vêm de Osíris
Ὀσίριδος ἀπορροὴ καὶ εἰκὼν ἐμφαινομένη· Τυφὼν δὲ τῆς e emanação da sua imagem; e Tífon é do que existe na alma de
ψυχῆς τὸ παθητικὸν καὶ τιτανικὸν καὶ ἄλογον καὶ ἔμπληκτον, sensível, titânico, irracional e impulsivo, também do corpóreo,
τοῦ δὲ σωματικοῦ τὸ ἐπίκηρον καὶ νοσῶδες καὶ ταρακτικὸν do que perece e é nocivo e perturbador nas estações impróprias
ἀωρίαις καὶ δυσκρασίαις καὶ κρύψεσιν ἡλίου καὶ ἀφανισμοῖς e nas intempéries, nos eclipses do sol e desaparições da lua, como
σελήνης οἷον ἐκδρομαὶ καὶ ἀφηνιασμοὶ καὶ Τυφῶνος· καὶ as saídas intempestuosas e as rebeldias de Tífon; e o seu nome
τοὔνομα κατηγορεῖ τὸ Σήθ, ᾧ τὸν Τυφῶνα καλοῦσι· φράζει prova o de Seth379, pelo que o chamam Tífon; que significa a
μὲν τὸ κατα δυναστεῦον καὶ καταβιαζόμενον, φράζει δὲ τὴν força opressora e constrangedora, e significa o frequente retorno
πολλάκις ἀναστροφὴν καὶ πάλιν ὑπεκπήδησιν. Βέβωνα δὲ e despontar. E alguns dizem que Bebón380 se tornou um dos
C τινὲς μὲν ἕνα τῶν τοῦ Τυφῶνος ἑταίρων γεγονέναι λέγουσιν, companheiros de Tífon, e Mâneton, afirma que o próprio Tífon C

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Μανεθὼς δ’ αὐτὸν τὸν Τυφῶνα καὶ Βέβωνα καλεῖσθαι· também é chamado de Bebón; e o seu nome indica obstáculo
σημαίνει δὲ τοὔνομα κάθεξιν ἢ κώλυσιν, ὡς τοῖς πράγμασιν ou impedimento, porque os acontecimentos vão no seu
ὁδῷ βαδίζουσι καὶ πρὸς ὃ χρὴ φερομένοις ἐνισταμένης τῆς τοῦ caminho e seguem em direção ao que precisa da resistência do
Τυφῶνος δυνάμεως. poder de Tífon.

50. διὸ καὶ τῶν μὲν ἡμέρων ζῴων ἀπονέμουσιν αὐτῷ 50. Por isso também, dentre os animais domésticos,
consagraram-lhe o mais estúpido, o asno; e dentre os animais
τὸ ἀμαθέστατον, ὄνον· τῶν δ’ ἀγρίων τὰ θηριωδέστατα,
selvagens, os mais ferozes, o crocodilo e o cavalo do rio381; então,
κροκόδειλον καὶ τὸν ποτάμιον ἵππον· περὶ μὲν οὖν τοῦ a respeito do asno nós já esclarecemos isso antes; na cidade de
ὄνου προδεδηλώκαμεν· ἐν Ἑρμοῦ πόλει δὲ Τυφῶνος Hermes382, exibem uma estátua de um cavalo do rio383 como
ἄγαλμα δεικνύουσιν ἵππον ποτάμιον, ἐφ’ οὗ βέβηκεν se fosse a de Tífon, sobre ela vai um gavião lutando com uma
ἱέραξ ὄφει μαχόμενος, τῷ μὲν ἵππῳ τὸν Τυφῶνα serpente, representam Tífon semelhante a um cavalo, e a um
371D δεικνύντες, τῷ δ’ ἱέρακι δύναμιν καὶ ἀρχήν, ἣν βίᾳ gavião por seu poder e autoridade que Tífon adquire muitas 371D
κτώμενος ὁ Τυφὼν πολλάκις οὐκ ἀνίεται ταραττόμενος vezes por meio da violência, que não cessa de atormentar e de
ὑπὸ τῆς κακίας καὶ ταράττων. διὸ καὶ θύοντες ἑβδόμῃ ser atormentado pela sua maldade. Por isso também, quando
τοῦ Τυβὶ μηνός, ἣν καλοῦσιν ἄφιξιν Ἴσιδος ἐκ Φοινίκης, realizam sacrifícios no dia sete do mês de tibi384, que chamam de
“Regresso de Ísis da Fenícia”385, modelam um cavalo do rio atado
ἐπιπλάττουσι τοῖς ποπάνοις ἵππον ποτάμιον δεδεμένον.
sobre os bolos redondos. E na cidade de Apolo386 está estabelecido
ἐν δ’ Ἀπόλλωνος πόλει νενομισμένον ἐστὶ κροκοδείλου por lei que absolutamente cada cidadão coma um crocodilo; e em
φαγεῖν πάντως ἕκαστον· ἡμέρᾳ δὲ μιᾷ θηρεύσαντες um único dia, caçavam quantos podiam e os matavam, depois os
ὅσους ἂν δύνωνται καὶ κτείναντες ἀπαντικρὺ τοῦ ἱεροῦ jogavam diante do templo e diziam que Tífon escapou de Hórus
προβάλλουσι καὶ λέγουσιν ὡς ὁ Τυφὼν τὸν Ὧρον porque se transformou em um crocodilo387, e consideravam todos
E ἀπέδρα κροκόδειλος γενόμενος, πάντα καὶ ζῷα καὶ φυτὰ os animais, plantas, acontecimentos ruins e funestos, ações, partes E
καὶ πάθη τὰ φαῦλα καὶ βλαβερὰ Τυφῶνος ἔργα καὶ μέρη e movimentos de Tífon.
καὶ κινήματα ποιούμενοι. 51. E a Osíris, por sua vez, representam-no com um olho
51. Τὸν δ’ Ὄσιριν αὖ πάλιν ὀφθαλμῷ καὶ σκήπτρῳ e um cetro, aquele expressa a previdência e este, o poder, como
γράφουσιν, ὧν τὸ μὲν τὴν πρόνοιαν ἐμφαίνειν, τὸ δὲ quando Homero chama o chefe e rei de todos de “Zeus supremo
τὴν δύναμιν, ὡς Ὅμηρος τὸν ἄρχοντα καὶ βασιλεύοντα e conselheiro”388, parece que com a palavra “supremo” indica o
πάντων ‘Ζῆν’ ὕπατον καὶ μήστωρα’ καλῶν καὶ ἔοικε τῷ seu poder, e com a palavra “conselheiro” a sua sensatez e sabedoria
μὲν ὑπάτῳ τὸ κράτος αὐτοῦ, τῷ δὲ μήστωρι τὴν εὐβουλίαν divina. E frequentemente também representam esse deus com um
καὶ τὴν φρόνησιν σημαίνειν. γράφουσι δὲ καὶ ἱέρακι τὸν gavião389; pois se sobressai por natureza pela agudez de sua visão e a
θεὸν τοῦτον πολλάκις· εὐτονίᾳ γὰρ ὄψεως ὑπερβάλλει velocidade de seu voo, e ele se nutre com pouquíssimo alimento. E
καὶ πτήσεως ὀξύτητι καὶ διοικεῖν αὑτὸν ἐλαχίστῃ

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τροφῇ πέφυκε. λέγεται δὲ καὶ νεκρῶν ἀτάφων ὄμμασι conta-se também que ele voa sobre os cadáveres insepultos e
371F γῆν ὑπερπετόμενος ἐπιβάλλειν· ὅταν δὲ πιόμενος ἐπὶ τὸν joga terra sobre seus olhos390; e quando desce ao rio para beber, 371F
ποταμὸν καταίρῃ, τὸ πτερὸν ἵστησιν ὀρθόν· πιὼν δὲ κλίνει deixa uma asa levantada; e depois de beber, baixa-a novamente;
τοῦτο πάλιν· ᾧ δῆλός ἐστι σεσωσμένος καὶ διαπεφευγὼς pelo que é evidente que se salva e escapa do crocodilo; pois, se
τὸν κροκόδειλον· ἂν γὰρ ἁρπασθῇ, μένει τὸ πτερὸν ὥσπερ for capturado, a sua asa permanece firmemente levantada. E por
ἔστη πεπηγός. πανταχοῦ δὲ καὶ ἀνθρωπόμορφον Ὀσίριδος toda parte, exibem uma estátua de Osíris na forma humana com
ἄγαλμα δεικνύουσιν ἐξορθιάζον τῷ αἰδοίῳ διὰ τὸ γόνιμον o membro viril ereto, porque mostram seu poder fecundante e
καὶ τὸ τρόφιμον. ἀμπεχόνῃ δὲ φλογοειδεῖ στέλλουσιν nutriz. E cobrem suas imagens com um véu de cor vermelho
372A αὐτοῦ τὰς εἰκόνας, ἥλιον σῶμα τῆς τἀγαθοῦ δυνάμεως fogo391, porque consideram o Sol como o corpo do poder 372A
ὡς ὁρατὸν οὐσίας νοητῆς ἡγούμενοι. διὸ καὶ καταφρονεῖν benéfico e como a luz visível da substância inteligível392. Por isso,
ἄξιόν ἐστι τῶν τὴν ἡλίου σφαῖραν Τυφῶνι προσνεμόντων, também, é justo desprezar os que atribuem a esfera solar a Tífon,
ᾧ λαμπρὸν οὐδὲν οὐδὲ σωτήριον οὐδὲ τάξις οὐδὲ γένεσις para quem nada é brilhante, nem salvador, nem ordem, nem
οὐδὲ κίνησις μέτρον ἔχουσα καὶ λόγον, ἀλλὰ τἀναντία geração, nem movimento com medida e razão, mas o contrário
προσήκει· καὶ ξηρότητα καὶ αὐχμόν, οἷς φθείρει πολλὰ τῶν a isso lhe convém393; a secura e a aridez que destroem muitos
ζῴων καὶ βλαστανόντων, οὐχ ἡλίου θετέον ἔργον, ἀλλὰ animais e plantas não devem ser consideradas obras do Sol, mas
τῶν ἐν γῇ καὶ ἀέρι μὴ καθ’ ὥραν κεραννυμένων πνευμάτων dos ventos e das águas, que se misturam na terra e no ar em um
καὶ ὑδάτων, ὅταν ἡ τῆς ἀτάκτου καὶ ἀορίστου δυνάμεως momento que não lhes é adequado, quando o princípio do poder
ἀρχὴ πλημμελήσασα κατασβέσῃ τὰς ἀναθυμιάσεις. desordenado e ilimitado extingue com potência as exalações.
B 52. Ἐν δὲ τοῖς ἱεροῖς ὕμνοις τοῦ Ὀσίριδος 52. Nos hinos sagrados de Osíris invocam “aquele que está B
ἀνακαλοῦνται τὸν ἐν ταῖς ἀγκάλαις κρυπτόμενον τοῦ oculto nos braços de Hélio” e no trigésimo dia do mês epifi394
Ἡλίου καὶ τῇ τριακάδι τοῦ Ἐπιφὶ μηνὸς ἑορτάζουσιν celebram uma festa para o nascimento dos olhos de Hórus395,
ὀφθαλμῶν Ὥρου γενέθλιον, ὅτε σελήνη καὶ ἥλιος ἐπὶ quando a Lua e o Sol se encontram em uma reta, por pensarem
μιᾶς εὐθείας γεγόνασιν, ὡς οὐ μόνον τὴν σελήνην ἀλλὰ que não somente a Lua, mas também o Sol são o olho e a luz
καὶ τὸν ἥλιον ὄμμα τοῦ Ὥρου καὶ φῶς ἡγούμενοι. τῇ δὲ de Hórus. No oitavo dia, depois de terminado o mês faofi396,
ὀγδόῃ φθίνοντος τοῦ Φαωφὶ βακτηρίας ἡλίου γενέθλιον celebram o nascimento do “bastão do Sol”, depois do equinócio
ἄγουσι μετὰ φθινοπωρινὴν ἰσημερίαν, ἐμφαίνοντες οἷον de outono, significa que necessita de apoio e firmeza porque se
ὑπερείσματος δεῖσθαι καὶ ῥώσεως τῷ τε θερμῷ γιγνόμενον torna carente de calor e luz, caso se incline e se afaste obliquamente
ἐνδεᾶ καὶ τῷ φωτί ἐνδεᾶ, κλινόμενον καὶ πλάγιον ἀφ’ ἡμῶν de nós. Além disso, durante a época em que estão sob o solstício de
C φερόμενον. ἔτι δὲ τὴν βοῦν ὑπὸ τροπὰς χειμερινὰς ἑπτάκις inverno, conduzem uma vaca sete vezes em volta do altar onde está C
περὶ τὸν ναὸν τοῦ Ἡλίου περιφέρουσι, καὶ καλεῖται a imagem de Hélio, e essa volta é chamada de “busca de Osíris”,
ζήτησις Ὀσίριδος ἡ περιδρομή, τὸ ὕδωρ χειμῶνος τῆς θεοῦ porque a deusa no inverno deseja a água397; e dão a volta esse tanto
ποθούσης· τοσαυτάκις δὲ περιίασιν, ὅτι τὴν ἀπὸ τροπῶν de vezes em torno dela porque no sétimo mês termina o período
χειμερινῶν ἐπὶ τροπὰς θερινὰς πάροδον ἑβδόμῳ μηνὶ do solstício de inverno e chega o de verão398. E conta-se também

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συμπεραίνει. λέγεται δὲ καὶ θῦσαι τῷ ἡλίῳ τετράδι μηνὸς que Hórus, o filho de Ísis, foi o primeiro dentre todos a realizar
ἱσταμένου πάντων πρῶτος Ὧρος ὁ Ἴσιδος, ὡς ἐν τοῖς sacrifícios para o Sol no quarto dia do mês, como está escrito nos
ἐπιγραφομένοις Γενεθλίοις Ὥρου γέγραπται. καὶ μὴν Aniversários dos nascimentos de Hórus399. E, sem dúvida, cada dia
ἡμέρας ἑκάστης τριχῶς ἐπιθυμιῶσι τῷ ἡλίῳ, ῥητίνην queimam perfumes três vezes em honra ao Sol: de resina quando
μὲν ὑπὸ τὰς ἀνατολάς, σμύρναν δὲ μεσουρανοῦντι, τὸ ele nasce, de mirra ao meio-dia e do chamado cifi400 quando se
δὲ καλούμενον κῦφι περὶ δυσμάς· ὧν ἕκαστον ὃν ἔχει põe; cada uma delas tem a sua lógica, depois esclarecerei isso401. E
372D λόγον, ὕστερον ἀφηγήσομαι. τὸν δ’ ἥλιον πᾶσι τούτοις acreditam que com todas elas tornam o Sol propício e o honram. 372D
προστρέπεσθαι καὶ θεραπεύειν οἴονται. καὶ τί δεῖ πολλὰ E por que se deve reunir com frequência fatos como esses? Pois
τοιαῦτα συνάγειν; εἰσὶ γὰρ οἱ τὸν Ὄσιριν ἄντικρυς ἥλιον existem os que dizem abertamente que Osíris é o Sol402, que
εἶναι καὶ ὀνομάζεσθαι Σείριον ὑφ’ Ἑλλήνων λέγοντες, também é chamado de Sírio403 pelos helenos, entre os egípcios,
εἰ καὶ παρ’ Αἰγυπτίοις ἡ πρόθεσις τοῦ ἄρθρου τοὔνομα eles fazem a anteposição do artigo ao nome e isso faz com que seu
πεποίηκεν ἀμφιγνοεῖσθαι, τὴν δ’ Ἶσιν οὐχ ἑτέραν τῆς nome seja incerto, e esclarecem que Ísis não é outra senão a Lua;
σελήνης ἀποφαίνοντες· ὅθεν καὶ τῶν ἀγαλμάτων αὐτῆς por isso também, dentre as suas estátuas, as que trazem chifres,
τὰ μὲν κερασφόρα τοῦ μηνοειδοῦς γεγονέναι μιμήματα, são imagens da lua em quarto crescente, enquanto aquelas que
τοῖς δὲ μελανοστόλοις ἐμφαίνεσθαι τὰς κρύψεις καὶ estão cobertas de preto representam os desaparecimentos e as
τοὺς περισκιασμοὺς ἐν οἷς διώκει ποθοῦσα τὸν ἥλιον. ocultações nas quais persegue, desejosa, o Sol. Por isso também,
διὸ καὶ πρὸς τὰ ἐρωτικὰ τὴν σελήνην ἐπικαλοῦνται, invocam a Lua para os assuntos amorosos, e Eudoxo afirma
E καὶ τὴν Ἶσιν Εὔδοξός φησι βραβεύειν τὰ ἐρωτικά. καὶ que Ísis preside os assuntos amorosos. E essas opiniões de modo E
τούτοις μὲν ἁμωσγέπως τοῦ πιθανοῦ μέτεστι, τῶν δὲ algum são de confiança, e dentre as que elaboraram sobre Tífon,
Τυφῶνα ποιούντων τὸν ἥλιον οὐδ’ ἀκούειν ἄξιον. ἀλλ’ a do Sol não é digna de ser escutada. Mas nós devemos retomar o
ἡμεῖς αὖθις τὸν οἰκεῖον λόγον ἀναλάβωμεν. nosso próprio discurso.
53. Ἡ γὰρ Ἶσίς ἐστι μὲν τὸ τῆς φύσεως θῆλυ καὶ 53. Pois Ísis é a essência feminina da natureza e receptora de
δεκτικὸν ἁπάσης γενέσεως, καθὸ τιθήνη καὶ πανδεχὴς todo tipo de geração, de tal modo que é chamada “nutriz” e “a
ὑπὸ τοῦ Πλάτωνος, ὑπὸ δὲ τῶν πολλῶν μυριώνυμος que tudo recebe” por Platão404, e pela maioria de “a de incontáveis
κέκληται διὰ τὸ πάσας ὑπὸ τοῦ λόγου τρεπομένη nomes”, por ser conduzida pela razão quando recebe todos os
μορφὰς δέχεσθαι καὶ ἰδέας. ἔχει δὲ σύμφυτον ἔρωτα τοῦ tipos de formas e elementos. E tem um amor inato pelo primeiro
πρώτου καὶ κυριωτάτου πάντων, ὃ τἀγαθῷ ταὐτόν ἐστι, e o senhor absoluto de todos, que tem o mesmo princípio do
κἀκεῖνο ποθεῖ καὶ διώκει· τὴν δ’ ἐκ τοῦ κακοῦ φεύγει bem, deseja e o persegue; e foge e recusa parte em qualquer mal,
F καὶ διωθεῖται μοῖραν, ἀμφοῖν μὲν οὖσα χώρα καὶ ὕλη, embora sejam para ambos lugar e matéria, inclina-se sempre para F
ῥέπουσα δ’ ἀεὶ πρὸς τὸ βέλτιον καὶ παρέχουσα γεννᾶν o melhor e lhe oferece a possibilidade de engendrar dela e que ela
ἐξ ἑαυτῆς ἐκείνῳ καὶ κατασπείρειν εἰς ἑαυτὴν ἀπορροὰς seja engendrada por seus gérmens e semelhantes, com o que se
καὶ ὁμοιότητας, αἷς χαίρει καὶ γέγηθε κυισκομένη καὶ regozija e se alegra por estar grávida e cheia de seus gérmens. Pois a

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ὑποπιμπλαμένη τῶν γενέσεων. εἰκὼν γάρ ἐστιν οὐσίας imagem da essência é a procriação na matéria e uma imitação do
ἡ ἐν ὕλῃ γένεσις καὶ μίμημα τοῦ ὄντος τὸ γινόμενον. que realmente é.
373A 54. ὅθεν οὐκ ἀπὸ τρόπου μυθολογοῦσι τὴν Ὀσίριδος 54. Por isso, não de modo absurdo, narram em seu mito 373A
ψυχὴν ἀίδιον εἶναι καὶ ἄφθαρτον, τὸ δὲ σῶμα πολλάκις que a alma de Osíris é eterna e incorruptível, e que Tífon
διασπᾶν καὶ ἀφανίζειν τὸν Τυφῶνα, τὴν δ’ Ἶσιν πλανωμένην desmembrou seu corpo muitas vezes e escondeu suas partes,
καὶ ζητεῖν καὶ συναρμόττειν πάλιν. τὸ γὰρ ὂν καὶ νοητὸν enquanto Ísis vagava e as procurava para novamente juntá-las.
καὶ ἀγαθὸν φθορᾶς καὶ μεταβολῆς κρεῖττόν ἐστιν· ἃς δ’ ἀπ’ Pois o ser, o inteligível e o bem são superiores a toda corrupção
αὐτοῦ τὸ αἰσθητὸν καὶ σωματικὸν εἰκόνας ἐκμάττεται καὶ e mudança; e as imagens que provêm dele modelam o sensível
λόγους καὶ εἴδη καὶ ὁμοιότητας ἀναλαμβάνει, καθάπερ ἐν e o corpóreo; e recebe as razões, as formas e as semelhanças,
κηρῷ σφραγῖδες οὐκ ἀεὶ διαμένουσιν ἀλλὰ καταλαμβάνει como selos na cera, não permanecem sempre, mas a desordem
τὸ ἄτακτον αὐτὰς καὶ ταραχῶδες ἐνταῦθα τῆς ἄνω χώρας e a perturbação se apoderam delas e as removem daqui para o
ἀπεληλαμένον καὶ μαχόμενον πρὸς τὸν Ὧρον, ὃν ἡ Ἶσις território de cima e combatem contra Hórus, a quem, sendo
B εἰκόνα τοῦ νοητοῦ κόσμον αἰσθητὸν ὄντα γεννᾷ· διὸ καὶ o mundo sensível, Ísis engendra como imagem do inteligível; B
δίκην φεύγειν λέγεται νοθείας ὑπὸ Τυφῶνος, ὡς οὐκ ὢν por isso também, diz-se que Hórus é acusado de bastardia por
καθαρὸς οὐδ’ εἰλικρινὴς οἷος ὁ πατήρ, λόγος αὐτὸς καθ’ Tífon, porque não é puro nem legítimo como seu pai, como
ἑαυτὸν ἀμιγὴς καὶ ἀπαθής, ἀλλὰ νενοθευμένος τῇ ὕλῃ διὰ τὸ a própria razão em si, sem mistura e impassível, mas que se
σωματικόν. περιγίνεται δὲ καὶ νικᾷ τοῦ Ἑρμοῦ, τουτέστι τοῦ tornou bastardo pela matéria, por causa da sua parte corpórea.
λόγου, μαρτυροῦντος καὶ δεικνύοντος, ὅτι πρὸς τὸ νοητὸν Mas Hórus triunfa e vence, porque Hermes, este que é a razão,
ἡ φύσις μετασχηματιζομένη τὸν κόσμον ἀποδίδωσιν. ἡ atesta e mostra que a natureza se transforma e produz o mundo
μὲν γὰρ ἔτι τῶν θεῶν ἐν γαστρὶ τῆς Ῥέας ὄντων ἐξ Ἴσιδος conforme o inteligível405. Pois conta-se que Ísis e Osíris estavam
καὶ Ὀσίριδος λεγομένη γένεσις Ἀπόλλωνος αἰνίττεται τὸ ainda no ventre de Reia406, quando houve a geração de Apolo
πρὶν ἐκφανῆ γενέσθαι τόνδε τὸν κόσμον καὶ συντελεσθῆναι por Ísis e Osíris, o que nos dá a entender que antes deste mundo
C τῷ λόγῳ τὴν ὕλην φύσει ἐλεγχομένην ἐπ’ αὐτὴν ἀτελῆ se tornar visível e ser completo pela razão, a matéria produziu a sua C
τὴν πρώτην γένεσιν ἐξενεγκεῖν· διὸ καί φασι τὸν θεὸν primeira geração, ainda que traga imperfeição em si mesma;
ἐκεῖνον ἀνάπηρον ὑπὸ σκότῳ γενέσθαι καὶ πρεσβύτερον por isso também, afirmam que aquele deus nasceu mutilado
Ὧρον καλοῦσιν· οὐ γὰρ ἦν κόσμος, ἀλλ’ εἴδωλόν τι καὶ na escuridão e o chamam Hórus, o Velho407; porque não era
κόσμου φάντασμα μέλλοντος· o mundo, mas imagem e aparência do mundo que estaria
prestes a existir.
55. ὁ δ’ Ὧρος οὗτος αὐτός ἐστιν ὡρισμένος καὶ
55. E esse Hórus é o mesmo determinado e perfeito, que não
τέλειος, οὐκ ἀνῃρηκὼς τὸν Τυφῶνα παντάπασιν, ἀλλὰ
destruiu Tífon completamente, mas que o privou de sua força
τὸ δραστήριον καὶ ἰσχυρὸν αὐτοῦ παρῃρημένος. ὅθεν e atividade. Por isso, uma estátua de Hórus em Copto segura
ἐν Κοπτῷ τὸ ἄγαλμα τοῦ Ὥρου λέγουσιν ἐν τῇ ἑτέρᾳ em uma das mãos o membro viril de Tífon; e contam no mito

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χειρὶ Τυφῶνος αἰδοῖα κατέχειν καὶ τὸν Ἑρμῆν μυθολογοῦσιν de Hermes que ele arrancou os nervos de Tífon e os usou como
ἐξελόντα τοῦ Τυφῶνος τὰ νεῦρα χορδαῖς χρήσασθαι, cordas para seu instrumento musical408, e nos ensinam como a
373D διδάσκοντες ὡς τὸ πᾶν ὁ λόγος διαρμοσά-μενος σύμφωνον razão organizou o todo, criou o harmônico a partir das partes 373D
ἐξ ἀσυμφώνων μερῶν ἐποίησε καὶ τὴν φθαρτικὴν οὐκ desarmônicas e não fez perecer seu poder destruidor, mas o
ἀπώλεσεν ἀλλ’ ἀνεπήρωσε δύναμιν. ὅθεν ἐκείνη μὲν ἀσθενὴς mutilou. Por isso, ainda que fraco e inativo, ele está misturado
καὶ ἀδρανὴς ἐνταῦθα, φυρομένη καὶ προσπλεκομένη τοῖς e relacionado às partes sensíveis e metabólicas, é artífice
παθητικοῖς καὶ μεταβολικοῖς μέρεσι, σεισμῶν μὲν ἐν γῇ καὶ dos abalos e dos tremores na terra, da aridez e dos ventos
τρόμων, αὐχμῶν δ’ ἐν ἀέρι καὶ πνευμάτων ἀτόπων, αὖθις δὲ intempestivos no ar e, além disso, dos raios e dos trovões;
πρηστήρων καὶ κεραυνῶν δημιουργός ἐστι· φαρμάττει δὲ καὶ e envenena com as pestes as águas e os ventos, também até
λοιμοῖς ὕδατα καὶ πνεύματα καὶ μέχρι σελήνης ἀνατρέχει
alcançar a Lua, e ele a agita e a perturba, e frequentemente
καὶ ἀναχαιτίζει συγχέουσα καὶ μελαίνουσα πολλάκις τὸ
escurece o seu brilho, como os egípcios consideram e dizem
λαμπρόν, ὡς Αἰγύπτιοι νομίζουσι καὶ λέγουσιν, ὅτι τοῦ
E Ὥρου νῦν μὲν ἐπάταξε νῦν δ’ ἐξελὼν κατέπιεν ὁ Τυφὼν que ora Tífon golpeia o olho de Hórus, ora o arranca e o E
τὸν ὀφθαλμόν, εἶτα τῷ Ἡλίῳ πάλιν ἀπέδωκε· πληγὴν μὲν devora, depois o devolve a Hélio; expressam-se por alegorias
αἰνιττόμενοι τὴν κατὰ μῆνα μείωσιν τῆς σελήνης, πήρωσιν que o golpe é o minguante mensal da lua e que a mutilação é
δὲ τὴν ἔκλειψιν, ἣν ὁ ἥλιος ἰᾶται διαφυγούσῃ τὴν σκιὰν τῆς o seu eclipse, que o Sol cura para que sobreviva à sombra da
γῆς εὐθὺς ἀντιλάμπων. Terra e novamente brilhe.
56. ἡ δὲ κρείττων καὶ θειοτέρα φύσις ἐκ τριῶν 56. E a natureza, melhor e mais divina, é composta de
ἐστι, τοῦ νοητοῦ καὶ τῆς ὕλης καὶ τοῦ ἐκ τούτων, ὃν três partes: a inteligível, a matéria e o que vem dessas, o que os
κόσμον Ἕλληνες ὀνομάζουσιν. ὁ μὲν οὖν Πλάτων τὸ helenos dão o nome de mundo. Portanto, Platão409 costuma
μὲν νοητὸν καὶ ἰδέαν καὶ παράδειγμα καὶ πατέρα, τὴν chamar o inteligível de “ideia”, a matéria de “mãe”, “nutriz”,
δ’ ὕλην καὶ μητέρα καὶ τιθήνην ἕδραν τε καὶ χώραν “base” e “lugar” da geração, e dão o nome ao que vem de
γενέσεως, τὸ δ’ ἐξ ἀμφοῖν ἔγγονον καὶ γένεσιν ὀνομάζειν ambos de “descendente” e “geração”. Poderia se conjecturar
F εἴωθεν. Αἰγυπτίους δ’ ἄν τις εἰκάσειε τῶν τριγώνων τὸ que os egípcios honram sobretudo o mais belo dos F
κάλλιστον τιμᾶν μάλιστα τούτῳ τὴν τοῦ παντὸς φύσιν triângulos quando o igualam à natureza do universo, como
ὁμοιοῦντας, ὡς καὶ Πλάτων ἐν τῇ πολιτείᾳ δοκεῖ τούτῳ também Platão na República410 parece usá-lo para estabelecer
προσκεχρῆσθαι τὸ γαμήλιον διάγραμμα συντάττων. o diagrama do casamento. E esse triângulo tem a altura de
ἔχει δ’ ἐκεῖνο τὸ τρίγωνον τριῶν τὴν πρὸς ὀρθίαν καὶ três unidades, a base de quatro e a hipotenusa de cinco, e o
τεττάρων τὴν βάσιν καὶ πέντε τὴν ὑποτείνουσαν ἴσον seu quadrado é igual aos quadrados dos outros dois lados.
374A ταῖς περιεχούσαις δυναμένην. εἰκαστέον οὖν τὴν μὲν πρὸς Portanto, deve-se comparar a altura ao macho, a base à fêmea 374A
ὀρθίαν ἄρρενι, τὴν δὲ βάσιν θηλείᾳ, τὴν δ’ ὑποτείνουσαν e a hipotenusa ao filho dos dois; e Osíris como o princípio,
ἀμφοῖν ἐγγόνῳ· καὶ τὸν μὲν Ὄσιριν ὡς ἀρχήν, τὴν δ’ Ἶσιν Ísis como a receptora e Hórus como o resultado. Pois o três

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ὡς ὑποδοχήν, τὸν δ’ Ὧρον ὡς ἀποτέλεσμα. τὰ μὲν γὰρ τρία é o primeiro número ímpar e perfeito411; e o quatro é o
πρῶτος περισσός ἐστι καὶ τέλειος· τὰ δὲ τέτταρα τετράγωνος quadrado do número par dois; e o cinco se parece um tanto
ἀπὸ πλευρᾶς ἀρτίου τῆς δυάδος· τὰ δὲ πέντε πῆ μὲν τῷ com seu pai e um tanto com sua mãe, porque é a soma do
πατρὶ πῆ δὲ τῇ μητρὶ προσέοικεν ἐκ τριάδος συγκείμενα καὶ três e do dois. E pánta412 origina-se de pénte413, e dizem que
δυάδος. καὶ τὰ πάντα τῶν πέντε γέγονε παρώνυμα, καὶ τὸ pempasásthai significa “contar por cinco”414. E cinco forma
ἀριθμήσασθαι πεμπάσασθαι λέγουσι. ποιεῖ δὲ τετράγωνον um quadrado a partir de si mesmo, que é tanto o número
ἡ πεντὰς ἀφ’ ἑαυτῆς, ὅσον τῶν γραμμάτων παρ’ Αἰγυπτίοις das letras do alfabeto junto aos egípcios quanto dos anos
374B τὸ πλῆθός ἐστι, καὶ ὅσων ἐνιαυτῶν ἔζη χρόνον ὁ Ἆπις. τὸν que o boi Ápis viveu. Então, costumam chamar Hórus de 374B
μὲν οὖν Ὧρον εἰώθασι καὶ Μὶν προσαγορεύειν, ὅπερ ἐστὶν Min415, que é o mesmo que “o que se vê”; pois o mundo é
ὁρώμενον· αἰσθητὸν γὰρ καὶ ὁρατὸν ὁ κόσμος. ἡ δ’ Ἶσις ἔστιν perceptível e visível. E Ísis é ora chamada de Mut416, ora de
ὅτε καὶ Μοὺθ καὶ πάλιν Ἄθυρι καὶ Μεθύερ προσαγορεύεται· Átiri, ora de Metier; que significam: o primeiro dos nomes
σημαίνουσι δὲ τῷ μὲν πρώτῳ τῶν ὀνομάτων μητέρα, τῷ “mãe”, o segundo “a casa do mundo de Hórus”, como
δὲ δευτέρῳ οἶκον Ὥρου κόσμιον, ὡς καὶ Πλάτων χώραν também Platão afirma “lugar de geração e receptora”, e o
γενέσεως καὶ δεξαμενήν, τὸ δὲ τρίτον σύνθετόν ἐστιν ἔκ τε τοῦ terceiro é composto de “pleno” e de “causa”; pois a matéria
πλήρους καὶ τοῦ αἰτίου· πλήρης γάρ ἐστιν ἡ ὕλη τοῦ κόσμου do mundo é plena e relaciona-se com o bem, o puro e o
καὶ τῷ ἀγαθῷ καὶ καθαρῷ καὶ κεκοσμημένῳ σύνεστιν. ordenado417.
C 57. Δόξειε δ’ ἂν ἴσως καὶ ὁ Ἡσίοδος τὰ πρῶτα πάντων 57. Poderia parecer talvez que Hesíodo418, ao compor C
Χάος καὶ Γῆν καὶ Τάρταρον καὶ Ἔρωτα ποιῶν οὐχ ἑτέρας que os primeiros de todos foram Caos419, Geia420, Tártaro421 e
λαμβάνειν ἀρχάς, ἀλλὰ ταύτας· εἴ γε δὴ τῶν ὀνομάτων Eros422, não aceitava outros princípios, mas esses; se de fato os
τῇ μὲν Ἴσιδι τὸ τῆς Γῆς, τῷ δ’ Ὀσίριδι τὸ τοῦ Ἔρωτος, substituirmos de algum modo, atribuírmos o nome de Ísis a
τῷ δὲ Τυφῶνι τὸ τοῦ Ταρτάρου μεταλαμβάνοντές πως Geia, e o de Osíris a Eros, e o de Tífon a Tártaro; pois o Caos
ἀποδίδομεν· τὸ γὰρ Χάος δοκεῖ χώραν τινὰ καὶ τόπον τοῦ parece colocá-lo embaixo, como território e lugar do universo.
παντὸς ὑποτίθεσθαι. προσκαλεῖται δὲ καὶ τὸν Πλάτωνος E de algum modo isso nos faz lembrar os acontecimentos do
ἁμωσγέπως τὰ πράγματα μῦθον, ὃν Σωκράτης ἐν Συμποσίῳ mito de Platão, o que Sócrates contou no Banquete423 sobre o
περὶ τῆς τοῦ Ἔρωτος γενέσεως διῆλθε, τὴν Πενίαν λέγων nascimento de Eros, que Penia424 carecia de filhos e se deitou
τέκνων δεομένην τῷ Πόρῳ καθεύδοντι παρακλιθῆναι καὶ com Poro425 enquanto ele dormia, que engravidou dele e deu
κυήσασαν ἐξ αὐτοῦ τεκεῖν τὸν Ἔρωτα φύσει μικτὸν ὄντα à luz a Eros, que tem uma natureza mista e muito variada,
D καὶ παντοδαπόν, ἅτε δὴ πατρὸς μὲν ἀγα-θοῦ καὶ σοφοῦ καὶ porque de pai bom, sábio e em tudo autossuficiente, e uma D
πᾶσιν αὐτάρκους, μητρὸς δ’ ἀμηχάνου καὶ ἀπόρου καὶ δι’ mãe inábil e carente de recursos e que, por sua carência, sempre
ἔνδειαν ἀεὶ γλιχομένης ἑτέρου καὶ περὶ ἕτερον λιπαρούσης deseja vivamente algo e pede algo outro com insistência. Pois
γεγενημένον. ὁ γὰρ Πόρος οὐχ ἕτερός ἐστι τοῦ πρώτως Poro não é outro que o primeiro amado, desejado, perfeito
ἐρατοῦ καὶ ἐφετοῦ καὶ τελείου καὶ αὐτάρκους· Πενίαν δὲ e autossuficiente; enquanto atribui a matéria à Penia, que é
τὴν ὕλην προσεῖπεν ἐνδεᾶ μὲν οὖσαν αὐτὴν καθ’ ἑαυτὴν carente em si do bem, depois de saciada por ele, deseja-o sempre

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τοῦ ἀγαθοῦ, πληρουμένην δ’ ὑπ’ αὐτοῦ καὶ ποθοῦσαν ἀεὶ e dele participa. E o que nasceu deles é o mundo, que também
καὶ μεταλαμβάνουσαν. ὁ δὲ γενόμενος ἐκ τούτων κόσμος é Hórus, não é eterno, nem impassível, nem incorruptível, mas
καὶ Ὧρος οὐκ ἀίδιος οὐδ’ ἀπαθὴς οὐδ’ ἄφθαρτος, ἀλλ’ duradouro426 e usa seu engenho para permanecer sempre jovem
ἀειγενὴς ὢν μηχανᾶται ταῖς τῶν παθῶν μεταβολαῖς καὶ nas mudanças e nos ciclos dos acontecimentos, jamais vive na
περιόδοις ἀεὶ νέος καὶ μηδέ ποτε φθαρησόμενος διαμένειν. destruição.
374E 58. Χρηστέον δὲ τοῖς μύθοις οὐχ ὡς λόγοις πάμπαν 58. E os mitos não devem ser usados como relatos 374E
οὖσιν, ἀλλὰ τὸ πρόσφορον ἑκάστου τὸ κατὰ τὴν perfeitamente investigados, mas para o que for conveniente
ὁμοιότητα λαμβάνοντας. ὅταν οὖν ὕλην λέγωμεν, οὐ δεῖ de cada um deles, conforme sua coerência. Portanto, quando
πρὸς ἐνίων φιλοσόφων δόξας ἀποφερομένους ἄψυχόν falamos de matéria, não devemos nos deixar levar pelas opiniões
τι σῶμα καὶ ἄποιον ἀργόν τε καὶ ἄπρακτον ἐξ ἑαυτοῦ de alguns filósofos e pensá-las como um corpo sem alma,
διανοεῖσθαι· καὶ γὰρ ἔλαιον ὕλην μύρου καλοῦμεν καὶ sem qualidade, sem atividade nem ação em si mesmo; de fato,
χρυσὸν ἀγάλματος, οὐκ ὄντα πάσης ἔρημα ποιότητος· chamamos óleo de oliva a matéria do perfume e ouro a matéria da
αὐτήν τε τὴν ψυχὴν καὶ τὴν διάνοιαν τοῦ ἀνθρώπου estátua, e sua matéria não está isenta de toda qualidade; a própria
ὡς ὕλην ἐπιστήμης καὶ ἀρετῆς τῷ λόγῳ κοσμεῖν καὶ alma e a inteligência do homem, como matéria de conhecimento
ῥυθμίζειν παρέχομεν, τόν τε νοῦν ἔνιοι τόπον εἰδῶν e virtude, usamos a razão para ordená-las e colocá-las em um
F ἀπεφήναντο καὶ τῶν νοητῶν οἷον ἐκμαγεῖον. ἔνιοι δὲ καὶ ritmo, e alguns revelam que o pensamento é o lugar das ideias e F
τὸ σπέρμα τῆς γυναικὸς οὐ δύναμιν οὐδ’ ἀρχήν, ὕλην recebe tal impressão do inteligível427. E alguns também pensam
δὲ καὶ τροφὴν γενέσεως εἶναι δοξάζουσιν· ὧν ἐχομένους que o esperma428 da mulher não é potência nem princípio, mas
χρὴ καὶ τὴν θεὸν ταύτην οὕτω διανοεῖσθαι τοῦ πρώτου matéria e alimento da geração; disso, devemos pensar também
θεοῦ μεταλαγχάνουσαν ἀεὶ καὶ συνοῦσαν ἔρωτι τῶν περὶ que essa deusa, que participa sempre do deus primeiro e está
ἐκεῖνον ἀγαθῶν καὶ καλῶν οὐχ ὑπεναντίαν, ἀλλ’ ὥσπερ unida a ele pelo, em torno ao bem e ao belo daquele que não se
375A ἄνδρα νόμιμον καὶ δίκαιον ἐρᾶν, ἂν δικαίως συνῇ, καὶ opõe a ele, mas, como afirmamos que um marido legítimo e justo 375A
γυναῖκα χρηστὴν ἔχουσαν ἄνδρα καὶ συνοῦσαν ὅμως ama, se com justiça convive; e uma mulher honesta que tem um
ποθεῖν λέγομεν, οὕτως ἀεὶ γλιχομένην ἐκείνου καὶ marido e convive com ele, e o deseja sempre; do mesmo modo, a
περὶ ἐκεῖνον λιπαροῦσαν καὶ ἀναπιμπλαμένην τοῖς deusa sempre deseja ardentemente àquele, àquele que se apega e se
κυριωτάτοις μέρεσι καὶ καθαρωτάτοις· preenche de suas partes mais importantes e puras.
59. ὅπου δ’ ὁ Τυφὼν παρεμπίπτει τῶν ἐσχάτων 59. Por isso, Tífon intervém e alcança as regiões limítrofes,
ἁπτόμενος, ἐνταῦθα δοκοῦσαν ἐπισκυθρωπάζειν καὶ nessas a deusa parece entristecida e enlutada, e busca restos e
πενθεῖν λεγομένην καὶ λείψαν’ ἄττα καὶ σπαράγματα pedaços de Osíris, e os põe em ordem, acolhe-os embaixo de
τοῦ Ὀσίριδος ἀναζητεῖν καὶ στολίζειν ὑποδεχομένην τὰ suas vestes e os oculta, com os quais traz à luz novamente o
φθειρόμενα καὶ ἀποκρύπτουσαν, οἷσπερ ἀναφαίνει πάλιν que há de ser e o projeta de si mesma. Pois os raciocínios, as
B τὰ γινόμενα καὶ ἀνίησιν ἐξ ἑαυτῆς. οἱ μὲν γὰρ ἐν οὐρανῷ B

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καὶ ἄστροις λόγοι καὶ εἴδη καὶ ἀπορροαὶ τοῦ θεοῦ μένουσι, formas e as emanações do deus permanecem no céu e nos
τὰ δ’ ἐν τοῖς παθητικοῖς διεσπαρμένα, γῇ καὶ θαλάττῃ καὶ astros, mas disseminadas nas partes sensíveis: na terra, no
φυτοῖς καὶ ζῴοις, διαλυόμενα καὶ φθειρόμενα καὶ θαπτόμενα mar, nas plantas e nos animais; dissolvidas, corrompidas e
καὶ πολλάκις αὖθις ἐκλάμπει καὶ ἀναφαίνεται ταῖς γενέσεσι. enterradas e frequentemente brilham de novo e reaparecem
διὸ τὸν Τυφῶνα τῇ Νέφθυι συνοικεῖν φησιν ὁ μῦθος, τὸν δ’ nos princípios gerativos. Por isso, o mito conta que Tífon
Ὄσιριν κρύφα συγγενέσθαι· τὰ γὰρ ἔσχατα μέρη τῆς ὕλης, coabita com Néftis, e que Osíris teve relações sexuais com
ἃ Νέφθυν καὶ Τελευτὴν καλοῦσιν, ἡ φθαρτικὴ μάλιστα ela em segredo; pois, quanto às partes extremas da matéria,
κατέχει δύναμις· ἡ δὲ γόνιμος καὶ σωτήριος ἀσθενὲς σπέρμα as que chamam de Néftis e Teleute, a destruição é a que mais
καὶ ἀμαυρὸν εἰς ταῦτα διαδίδωσιν ἀπολλύμενον ὑπὸ τοῦ detém poder; a fecundação e a preservação lhes concede um
Τυφῶνος, πλὴν ὅσον ἡ Ἶσις ὑπολαμβάνουσα σῴζει καὶ esperma fraco e débil, que é destruído por Tífon, exceto o
τρέφει καὶ συνίστησι· que Ísis recolhe, salva, nutre e adensa.
375C 60. καθόλου δ’ ἀμείνων οὗτός ἐστιν, ὥσπερ καὶ 60. E, em geral, ele é o melhor429, como supõe Platão, 375C
Πλάτων ὑπονοεῖ καὶ Ἀριστοτέλης. κινεῖται δὲ τῆς também Aristóteles430. E o princípio fecundante e preservador
φύσεως τὸ μὲν γόνιμον καὶ σωτήριον ἐπ’ αὐτὸν καὶ πρὸς da natureza se move até ele e se inclina para o ser, e o elemento
τὸ εἶναι, τὸ δ’ ἀναιρετικὸν καὶ φθαρτικὸν ἀπ’ αὐτοῦ καὶ destruidor e corruptor afasta-se dele e inclina-se ao não ser. Por
πρὸς τὸ μὴ εἶναι. διὸ τὸ μὲν Ἶσιν καλοῦσι παρὰ τὸ ἵεσθαι isso, chamam Ísis por esse nome, que deriva de híesthai431 com
μετ’ ἐπιστήμης καὶ φέρεσθαι, κίνησιν οὖσαν ἔμψυχον καὶ epistḗmē432 e phéresthai433, porque ela é um movimento animado
φρόνιμον· οὐ γάρ ἐστι τοὔνομα βαρβαρικόν, ἀλλ’ ὥσπερ e sensato; pois o nome não é de origem bárbara, mas, como todos
τοῖς θεοῖς πᾶσιν ἀπὸ δυεῖν ῥημάτων τοῦ θεατοῦ καὶ τοῦ os deuses434, têm um nome comum que deriva de duas palavras,
θέοντος ἔστιν ὄνομα κοινόν, οὕτω τὴν θεὸν ταύτην ἀπὸ de theatós435 e théontos436, do mesmo modo, essa deusa deriva de
D τῆς ἐπιστήμης ἅμα καὶ τῆς κινήσεως Ἶσιν μὲν ἡμεῖς, epistḗmē e kínēsis437 juntas, e nós a chamamos de Ísis, e os egípcios D
Ἶσιν δ’ Αἰγύπτιοι καλοῦσιν. οὕτω δὲ καὶ Πλάτων φησὶ também a chamam de Ísis438. Assim também, Platão afirma que
τὴν οὐσίαν δηλοῦντος τοὺς παλαιούς ‘ἰσίαν’ καλοῦντας· os antigos esclareciam a ousía quando a chamavam de ísia439; assim
οὕτω καὶ τὴν νόησιν καὶ τὴν φρόνησιν, ὡς νοῦ φορὰν καὶ
também nóēsis440 e a phrónēsis441, como ímpeto e movimento do
κίνησιν οὖσαν ἱεμένου καὶ φερομένου, καὶ τὸ συνιέναι καὶ
espírito que se lança442 e que se move, e a compreensão, o bem em
τἀγαθὸν ὅλως καὶ ἀρετὴν ἐπὶ τοῖς εὐροοῦσι καὶ θέουσι
geral e a virtude são atribuídos aos que fluem e correm443; como,
θέσθαι· καθάπερ αὖ πάλιν τοῖς ἀντιφωνοῦσιν ὀνόμασι
por sua vez, com nomes contrários insultam o mal, aquele que
λοιδορεῖσθαι τὸ κακόν, τὸ τὴν φύσιν ἐμποδίζον καὶ
tem a natureza atada, retida e impedida de se lançar e ir, palavras
συνδέον καὶ ἴσχον καὶ κωλῦον ἵεσθαι καὶ ἰέναι κακίαν
como kakía444, aporía445, deilía446 e anía447.
ἀπορίαν δειλίαν ἀνίαν προσαγορεύοντας.
61. ὁ δ’ Ὄσιρις ἐκ τοῦ ὁσίου καὶ ἱεροῦ τοὔνομα 61. Osíris tem seu nome vindo de uma mistura de hósios448
μεμιγμένον ἔσχηκε· κοινὸς γάρ ἐστι τῶν ἐν οὐρανῷ καὶ τῶν e hierós449; pois existe algo comum dentre o que há no céu e o que
E ἐν Ἅιδου λόγους, ὧν τὰ μὲν ἱερὰ τὰ δ’ ὅσια τοῖς παλαιοῖς há no Hades, que são racionais, dentre os quais, uns os antigos E

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ἔθος ἦν προσαγορεύειν. ὁ δ’ ἀναφαίνων τὰ οὐράνια tinham o costume de chamar de hierá450 e os outros, de hósia451.
καὶ τῶν ἄνω φερομένων λόγος Ἄνουβις ἔστιν ὅτε καὶ E o nome Anúbis é aquele que revela o celeste e o que se eleva
Ἑρμάνουβις ὀνομάζεται, τὸ μὲν ὡς τοῖς ἄνω τὸ δ’ ὡς τοῖς para o alto, ora também é chamado de Hermanúbis452, pelo
κάτω προσήκων. διὸ καὶ θύουσιν αὐτῷ τὸ μὲν λευκὸν fato de que é conveniente ao que está no alto e ao outro que está
ἀλεκτρυόνα, τὸ δὲ κροκίαν, τὰ μὲν εἰλικρινῆ καὶ φανά, embaixo. Por isso também, ora realizam sacrifícios para ele com
τὰ δὲ μικτὰ καὶ ποικίλα νομίζοντες. οὐ δεῖ δὲ θαυμάζειν um galo branco, ora amarelo, porque consideram que o primeiro
τῶν ὀνομάτων τὴν εἰς τὸ Ἑλληνικὸν ἀνάπλασιν· καὶ é puro e luminoso e o outro é misturado e variado. Não devemos
γὰρ ἄλλα μυρία τοῖς μεθισταμένοις ἐκ τῆς Ἑλλάδος nos admirar dessa formação dos nomes em estilo helênico; pois
συνεκπεσόντα μέχρι νῦν παραμένει καὶ ξενιτεύει também há outros milhares que vieram com os imigrantes da
παρ’ ἑτέροις, ὧν ἔνια τὴν ποιητικὴν ἀνακαλουμένην Hélade que permanecem até hoje e vivem como hóspedes junto
375F διαβάλλουσιν ὡς βαρβαρίζουσαν οἱ γλώττας τὰ τοιαῦτα aos estrangeiros, dentre os quais, alguns que a arte poética evoca, 375F
προσαγορεύοντες. ἐν δὲ ταῖς Ἑρμοῦ λεγομέναις βίβλοις acusam-na de cometer barbarismos, os que chamam tais nomes de
ἱστοροῦσι γεγράφθαι περὶ τῶν ἱερῶν ὀνομάτων, ὅτι “empréstimos linguísticos”453. Nos chamados Livros de Hermes454,
τὴν μὲν ἐπὶ τῆς τοῦ ἡλίου περιφορᾶς τεταγμένην concluem por meio de investigação que, a respeito dos nomes
δύναμιν Ὧρον, Ἕλληνες δ’ Ἀπόλλωνα καλοῦσι· τὴν sagrados, está escrito que ao poder que ordena a circunvolução
δ’ ἐπὶ τοῦ πνεύματος οἱ μὲν Ὄσιριν, οἱ δὲ Σάραπιν, do Sol os egípcios chamam de Hórus e os helenos, de Apolo; e a
*** οἱ δὲ Σῶθιν Αἰγυπτιστί· σημαίνει δὲ κύησιν ἢ τὸ do vento, uns, Osíris e outros, Serápis, ***455 e outros, Sótis456, em
376A língua egípcia; e significa kýēsis457 ou kýein458. Por isso também, 376A
κύειν. διὸ καὶ παρατροπῆς γενομένης τοῦ ὀνόματος
Ἑλληνιστὶ κύων κέκληται τὸ ἄστρον, ὅπερ ἴδιον τῆς com a mudança no nome em língua helena, o astro é chamado
kýōn459, o mesmo que consideram que é próprio de Ísis. Portanto,
Ἴσιδος νομίζουσιν. ἥκιστα μὲν οὖν δεῖ φιλοτιμεῖσθαι
não devemos mais procurar competir a respeito dos nomes, mas,
περὶ τῶν ὀνομάτων, οὐ μὴν ἀλλὰ μᾶλλον ὑφείμην ἂν
sem dúvida, penso que a grafia do nome de Serápis é anterior ao
τοῦ Σαράπιδος Αἰγυπτίοις ἢ τοῦ Ὀσίριδος, ἐκεῖνο μὲν
de Osíris entre os egípcios, porque aquela é de origem estrangeira
οὖν ξενικόν, τοῦτο δ’ Ἑλληνικόν, ἄμφω δ’ ἑνὸς θεοῦ καὶ
e esse de procedência helênica, e ambos são característicos de um
μιᾶς δυνάμεως ἡγούμενος.
único deus e um único poder.
62. Ἔοικε δὲ τούτοις καὶ τὰ Αἰγύπτια. τὴν μὲν γὰρ
62. E se parecem com esses também os nomes egípcios.
Ἶσιν πολλάκις τῷ τῆς Ἀθηνᾶς ὀνόματι καλοῦσι φράζοντι
Pois muitas vezes dão a Ísis o nome de Atena, quando dizem tal
τοιοῦτον λόγον ‘ἦλθον ἀπ’ ἐμαυτῆς,’ ὅπερ ἐστὶν αὐτοκινήτου
expressão: “sai de mim mesma”, que significa um ímpeto de um
φορᾶς δηλωτικόν· ὁ δὲ Τυφών, ὥσπερ εἴρη-ται, Σὴθ καὶ
B movimento vindo de si mesma460; e Tífon, como á foi dito461, é B
Βέβων καὶ Σμὺ ὀνομάζεται, βίαιόν τινα καὶ κωλυτικὴν
chamado de Seth, Bebón462 e Smu463, porque seus nomes tendem
ἐπίσχεσιν ἤ τιν’ ὑπεναντίωσιν ἢ ἀναστροφὴν ἐμφαίνειν
a revelar um obstáculo violento ou um certo impedimento ou
βουλομένων τῶν ὀνομάτων. ἔτι τὴν σιδηρῖτιν λίθον ὀστέον
inversão. Além disso, chamam a pedra de ferro464 de “osso de
Ὥρου, Τυφῶνος δὲ τὸν σίδηρον, ὡς ἱστορεῖ Μανεθώς, Hórus”, e o ferro de “osso de Tífon”, conforme conclui Mâneton

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καλοῦσιν· ὥσπερ γὰρ ὁ σίδηρος πολλάκις μὲν ἑλκομένῳ em sua investigação; pois, como o ferro é frequentemente arrastado
καὶ ἑπομένῳ πρὸς τὴν λίθον ὅμοιός ἐστι, πολλάκις e segue em direção à pedra que lhe é semelhante465, mas também é
δ’ ἀποστρέφεται καὶ ἀποκρούεται πρὸς τοὐναντίον, frequentemente afastado e impelido a se movimentar em direção
οὕτως ἡ σωτήριος καὶ ἀγαθὴ καὶ λόγον ἔχουσα τοῦ a uma pedra que lhe é oposta, assim é o movimento salvador,
κόσμου κίνησις ἐπιστρέφει τότε καὶ προσάγεται καὶ bom e racional do mundo, então o puxa, arrasta-o e o torna
μαλακωτέραν ποιεῖ πείθουσα τὴν σκληρὰν ἐκείνην καὶ mais suave; porque persuade, aquela inflexibilidade e destruição
τυφώνειον, εἶτ’ αὖθις ἀνασχεθεῖσα εἰς ἑαυτὴν ἀνέστρεψε típica de Tífon; depois, outra vez a recebe em si mesmo, revira-
376C καὶ κατέδυσεν εἰς τὴν ἀπορίαν. ἔτι φησὶ περὶ τοῦ Διὸς se e mergulha na dificuldade. Além disso, a respeito de Zeus, 376C
ὁ Εὔδοξος μυθολογεῖν Αἰγυπτίους, ὡς τῶν σκελῶν Eudoxo afirma que os egípcios contam sobre o seu mito que,
συμπεφυκότων αὐτῷ μὴ δυνάμενος βαδίζειν ὑπ’ porque ele nasceu com as pernas unidas, não podia caminhar e
αἰσχύνης ἐν ἐρημίᾳ διέτριβεν· ἡ δ’ Ἶσις διατεμοῦσα καὶ passava o tempo na solidão por vergonha delas; e Ísis as cortou em
διαστήσασα τὰ μέρη ταῦτα τοῦ σώματος ἀρτίποδα τὴν duas e dividiu essas partes do seu corpo, o que lhe proporcionou
πορείαν παρέσχεν. αἰνίττεται δὲ καὶ διὰ τούτων ὁ μῦθος, uma caminhada com pés ágeis. E o mito se expressa por meio de
ὅτι καθ’ ἑαυτὸν ὁ τοῦ θεοῦ νοῦς καὶ λόγος ἐν τῷ ἀοράτῳ alegorias através disso, porque, em si mesmo, a inteligência e a
καὶ ἀφανεῖ βεβηκὼς εἰς γένεσιν ὑπὸ κινήσεως προῆλθεν. razão do deus estão no invisível e no oculto, e chegam à geração
por meio de seu movimento.
63. Ἐμφαίνει καὶ τὸ σεῖστρον, ὅτι σείεσθαι
δεῖ τὰ ὄντα καὶ μηδέποτε παύεσθαι φορᾶς, ἀλλ’ οἷον 63. E o sistro466 também mostra que a existência deve ser
ἐξεγείρεσθαι καὶ κλονεῖσθαι καταδαρθάνοντα καὶ sacudida467 e jamais se deve cessar seu movimento, mas como
D μαραινόμενα. τὸν γὰρ Τυφῶνά φασι τοῖς σείστροις que despertá-lo e agitá-lo quando adormecer e se exaurir. Pois D
ἀποτρέπειν καὶ ἀποκρούεσθαι δηλοῦντες, ὅτι τῆς φθορᾶς dizem que afastam e repelem Tífon com os sistros, mostram que,
συνδεούσης καὶ ἱστάσης αὖθις ἀναλύει τὴν φύσιν καὶ ἀνίστησι quando a destruição amarra e detém a natureza, novamente
διὰ τῆς κινήσεως ἡ γένεσις. τοῦ δὲ σείστρου περιφεροῦς a geração solta e libera a natureza através do movimento.
ἄνωθεν ὄντος ἡ ἁψὶς περιέχει τὰ σειόμενα τέτταρα. καὶ γὰρ ἡ Porque o sistro é arredondado no alto, o seu arco contém os
γεννωμένη καὶ φθειρομένη μοῖρα τοῦ κόσμου περιέχεται μὲν quatro elementos que são sacudidos. De fato, a parte gerada e
ὑπὸ τῆς σεληνιακῆς σφαίρας, κινεῖται δ’ ἐν αὐτῇ πάντα καὶ destruída do mundo é sustentada pela esfera lunar, que se move
μεταβάλλεται διὰ τῶν τεττάρων στοιχείων, πυρὸς καὶ γῆς em si mesma e se altera por meio desses quatros elementos,
καὶ ὕδατος καὶ ἀέρος. τῇ δ’ ἁψῖδι τοῦ σείστρου κατὰ κορυφὴν fogo, terra, água e ar. E no alto da curva do sistro talham em
ἐντορεύουσιν αἴλουρον ἀνθρώπου πρόσωπον ἔχοντα, relevo um gato com a face humana, e embaixo, por baixo
E κάτω δ’ ὑπὸ τὰ σειόμενα πῆ μὲν Ἴσιδος πῆ δὲ Νέφθυος daquilo que é sacudido, de um lado a face de Ísis e de outro, a E
πρόσωπον, αἰνιττόμενοι τοῖς μὲν προσώποις γένεσιν καὶ de Néftis, e com essas faces expressam, por meio de alegorias, o
τελευτήν (αὗται γάρ εἰσι τῶν στοιχείων μεταβολαὶ καὶ nascimento e a morte (pois esses são alterações e movimentos
κινήσεις), τῷ δ’ αἰλούρῳ τὴν σελήνην διὰ τὸ ποικίλον dos elementos), e com o gato468, a Lua, pela variedade das cores
καὶ νυκτουργὸν καὶ γόνιμον τοῦ θηρίου. λέγεται γὰρ ἓν de sua pelagem, por ser noturno e pela fecundidade do animal.

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τίκτειν, εἶτα δύο καὶ τρία καὶ τέσσαρα καὶ πέντε, καὶ Pois diz-se que primeiro dá à luz a um, em seguida, dois, três,
καθ’ ἓν οὕτως ἄχρι τῶν ἑπτὰ προστίθησιν, ὥστ’ ὀκτὼ quatro, cinco, e um a um, e assim até sete, de modo que pari a
καὶ εἴκοσι τὰ πάντα τίκτειν, ὅσα καὶ τῆς σελήνης φῶτ’ um total de vinte e oito, quantas são também as iluminações da
ἔστιν. τοῦτο μὲν οὖν ἴσως μυθωδέστερον· αἱ δ’ ἐν τοῖς Lua. E isso talvez seja demasiado mítico; e pensam que as pupilas
ὄμμασιν αὐτοῦ κόραι πληροῦσθαι μὲν καὶ πλατύνεσθαι nos olhos dele se enchem e se ampliam na lua cheia, enquanto
376F δοκοῦσιν ἐν πανσελήνῳ, λεπτύνεσθαι δὲ καὶ μαραυγεῖν diminui e contrai as pupilas nas épocas minguantes do astro. Com 376F
ἐν ταῖς μειώσεσι τοῦ ἄστρου. τῷ δ’ ἀνθρωπομόρφῳ τοῦ representação humana do gato, revela-se o elemento intelectual e
αἰλούρου τὸ νοερὸν καὶ λογικὸν ἐμφαίνεται τῶν περὶ lógico das mudanças da Lua.
τὴν σελήνην μεταβολῶν. 64. Para dizer em poucas palavras, não é correto considerar
64. Συνελόντι δ’ εἰπεῖν οὔθ’ ὕδωρ οὔθ’ ἥλιον οὔτε γῆν que a água, nem o Sol, nem a Terra, nem o céu, são Osíris ou
οὔτ’ οὐρανὸν Ὄσιριν ἢ Ἶσιν ὀρθῶς ἔχει νομίζειν οὐδὲ πῦρ Ísis, nem, por sua vez, o fogo, nem a secura, nem o mar são
Τυφῶνα πάλιν οὐδ’ αὐχμὸν οὐδὲ θάλατταν, ἀλλ’ ἁπλῶς Tífon, mas simplesmente atribuem o quanto existe neles
377A ὅσον ἐστὶν ἐν τούτοις ἄμετρον καὶ ἄτακτον ὑπερβολαῖς de desmedida, desordem, excessos ou carências, enquanto 377A
ἢ ἐνδείαις Τυφῶνι προσνέμοντες, τὸ δὲ κεκοσμημένον se reverenciássemos e honrássemos o ordenado, o bom e o
καὶ ἀγαθὸν καὶ ὠφέλιμον ὡς Ἴσιδος μὲν ἔργον εἰκόνα δὲ útil como obra de Ísis e imagem, imitação e razão de Osíris,
καὶ μίμημα καὶ λόγον Ὀσίριδος σεβόμενοι καὶ τιμῶντες não cometeríamos um erro. Mas também, silenciaríamos
οὐκ ἂν ἁμαρτάνοιμεν. ἀλλὰ καὶ τὸν Εὔδοξον ἀπιστοῦντα Eudoxo, que não acreditava e duvidava que Deméter não
παύσομεν καὶ διαποροῦντα, πῶς οὔτε Δήμητρι τῆς τῶν estava entre as que cuidavam dos assuntos amorosos, mas
ἐρωτικῶν ἐπιμελείας μέτεστιν ἀλλ’ Ἴσιδι τόν τε Διόνυσον sim Ísis, porque comparam Dioniso a Osíris, mas ele não
Ὀσίριδι προσομοιοῦσι τὸν οὐ τὸν Νεῖλον αὔξειν οὔτε tem o poder de fazer encher o Nilo nem de comandar os
τῶν τεθνηκότων ἄρχειν δυνάμενον. ἑνὶ γὰρ λόγῳ κοινῷ mortos. Por uma única razão comum, pensamos que esses
τοὺς θεοὺς τούτους περὶ πᾶσαν ἀγαθοῦ μοῖραν ἡγούμεθα deuses foram determinados para qualquer parte do bem e
τετάχθαι καὶ πᾶν ὅσον ἔνεστι τῇ φύσει καλὸν καὶ ἀγαθὸν tudo quanto existe na natureza que é belo e bom existe por
B διὰ τούτους ὑπάρχειν, τὸν μὲν διδόντα τὰς ἀρχάς, τὴν δ’ causa deles, porque um concede os princípios, e a outra os B
ὑποδεχομένην καὶ διανέμουσαν. recebe e distribui.
65. Οὕτω δὲ καὶ τοῖς πολλοῖς καὶ φορτικοῖς 65. E desse modo atacaremos também a maioria dos
ἐπιχειρήσομεν, εἴτε ταῖς καθ’ ὥραν μεταβολαῖς τοῦ grosseiros orgulhosos que se alegra em associar as mudanças
περιέχοντος εἴτε ταῖς καρπῶν γενέσεσι καὶ σποραῖς de estação às gerações dos frutos, sementes e arados, os
καὶ ἀρότοις χαίρουσι τὰ περὶ τοὺς θεοὺς τούτοις assuntos desses deuses e, ao dizer que Osíris é enterrado
συνοικειοῦντες καὶ λέγοντες θάπτεσθαι μὲν τὸν Ὄσιριν, quando o fruto semeado se oculta na terra, novamente
ὅτε κρύπτεται τῇ γῇ σπειρόμενος ὁ καρπός, αὖθις volta à vida e reaparece quando começa a brotar469; por isso
δ’ ἀναβιοῦσθαι καὶ ἀναφαίνεσθαι, ὅτε βλαστήσεως também, diz-se que Ísis, ao perceber que estava grávida,

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ἀρχή· διὸ καὶ λέγεσθαι τὴν Ἶσιν αἰσθομένην ὅτι κύει colocou em volta do seu pescoço um amuleto no sexto
περιάψασθαι φυλακτήριον ἕκτῃ μηνὸς ἱσταμένου dia do mês faofi470 e no solstício de inverno deu à luz a
377C Φαωφί, τίκτεσθαι δὲ τὸν Ἁρπο-κράτην περὶ τροπὰς Harpócrates, imperfeito e recente entre as flores que brotam 377C
χειμερινὰς ἀτελῆ καὶ νεαρὸν ἐν τοῖς προανθοῦσι καὶ e desabrocham antes do tempo (por isso também, oferecem-
προβλαστάνουσι (διὸ καὶ φακῶν αὐτῷ φυομένων lhe as primícias das lentilhas nascentes), e depois do equinócio
ἀπαρχὰς ἐπιφέρουσι), τὰς δὲ λοχείους ἡμέρας ἑορτάζειν da primavera, celebram os dias de resguardo do seu parto471.
μετὰ τὴν ἐαρινὴν ἰσημερίαν. ταῦτα γὰρ ἀκούοντες Pois se comprazem quando escutam isso e acreditam, porque
ἀγαπῶσι καὶ πιστεύουσιν, αὐτόθεν ἐκ τῶν προχείρων daí absorvem informações acessíveis a todos e as que estão
καὶ συνήθων τὸ πιθανὸν ἕλκοντες. habituados.
66. Καὶ δεινὸν οὐδέν, ἂν πρῶτον μὲν ἡμῖν τοὺς 66. E não seria nada ruim se, em primeiro lugar, nós
θεοὺς φυλάττωσι κοινοὺς καὶ μὴ ποιῶσιν Αἰγυπτίων mantivéssemos os deuses como sendo comuns472 e não os
ἰδίους μηδὲ Νεῖλον ἥν τε Νεῖλος ἄρδει μόνην χώραν tornássemos como próprios dos egípcios, se não se atribuíssem
τοῖς ὀνόμασι τούτοις καταλαμβάνοντες μηδ’ ἕλη μηδὲ somente os seus nomes ao Nilo e ao território que o Nilo irriga,
λωτοὺς μὴ θεοποιίαν λέγοντες ἀποστερῶσι μεγάλων e se dissessem que as várzeas úmidas do Egito e os lótus são obras
θεῶν τοὺς ἄλλους ἀνθρώπους, οἷς Νεῖλος μὲν οὐκ ἔστιν dos deuses, não privariam os demais homens dos grandes deuses,
D οὐδὲ Βοῦτος οὐδὲ Μέμφις, Ἶσιν δὲ καὶ τοὺς περὶ αὐτὴν entre os quais não estão Nilo, nem Buto, nem Mênfis, e muitos D
θεοὺς ἔχουσι καὶ γιγνώσκουσιν ἅπαντες, ἐνίους μὲν οὐ ainda mantêm e reconhecem Ísis e os deuses que a cercam, há não
πάλαι τοῖς παρ’ Αἰγυπτίων ὀνόμασι καλεῖν μεμαθηκότες, muito tempo atrás, a alguns aprenderam a chamar esses nomes
ἑκάστου δὲ τὴν δύναμιν ἐξ ἀρχῆς ἐπιστάμενοι καὶ τιμῶντες· com os egípcios, mas conhecem desde o início o poder de cada um
δεύτερον, ὃ μεῖζόν ἐστιν, ὅπως σφόδρα προσέξουσι καὶ deles e os honram; em segundo lugar, o que é mais importante,
φοβήσονται, μὴ λάθωσιν εἰς πνεύματα καὶ ῥεύματα καὶ para que prestem muita atenção neles e os temam, para que
σπόρους καὶ ἀρότους καὶ πάθη γῆς καὶ μεταβολὰς ὡρῶν eles percebam que anulam e diluem o divino em ventos, ares,
διαγράφοντες τὰ θεῖα καὶ διαλύοντες, ὥσπερ οἱ Διόνυσον sementes, terras aradas, acidentes da terra e mudanças das estações,
τὸν οἶνον, Ἥφαιστον δὲ τὴν φλόγα· Φερσεφόνην δέ como a Dioniso o vinho e a Hefesto a chama; e Cleantes473 disse
φησί που Κλεάνθης τὸ διὰ τῶν καρπῶν φερόμενον καὶ em algum lugar que Perséfone é um sopro do vento que é levado
φονευόμενον πνεῦμα, ποιητὴς δέ τις ἐπὶ τῶν θεριζόντων e morto através dos frutos, e um poeta a respeito dos ceifadores
E ’τῆμος ὅτ’ αἰζηοὶ Δημήτερα κωλοτομεῦσιν·’ então, quando homens robustos desmembram Deméter;474 E
οὐδὲν γὰρ οὗτοι διαφέρουσι τῶν ἱστία καὶ κάλους καὶ pois esses não diferem em nada dos que imaginam que velas,
ἄγκυραν ἡγουμένων κυβερνήτην καὶ νήματα καὶ κρόκας cordas e âncora sejam um piloto, e fios e tramas do tecido um
ὑφάντην καὶ σπονδεῖον ἢ μελίκρατον ἢ πτισάνην ἰατρόν· tecelão, e um espondeu475, ou um hidromel, ou uma tisana, um
ἀλλὰ δεινὰς καὶ ἀθέους ἐμποιοῦσι δόξας, ἀναισθήτοις médico; mas incutem ideias terríveis e ateias, porque aplicam
καὶ ἀψύχοις καὶ φθειρομέναις ἀναγκαίως ὑπ’ ἀνθρώπων os nomes dos deuses no insensível, inanimado e destrutivo,

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δεομένων καὶ χρωμένων φύσεσι καὶ πράγμασιν ὀνόματα forçosamente destruídos pelos homens, que necessitam e usam.
θεῶν ἐπιφέροντες. ταῦτα μὲν γὰρ αὐτὰ νοῆσαι θεοὺς οὐκ Pois não é possível pensar que esses sejam deuses em sua essência.
ἔστιν. 67. Pois o deus não é desprovido de inteligência, nem
67. οὐ γὰρ ἄνουν οὐδ’ ἄψυχον οὐδ’ ἀνθρώποις ὁ θεὸς inanimado, nem submisso aos homens; por isso nós os
ὑποχείριον· ἀπὸ τούτων δὲ τοὺς χρωμένους αὐτοῖς καὶ reconhecemos como deuses, porque são úteis para nós e nos
377F δωρουμένους ἡμῖν καὶ παρέχοντας ἀέναα καὶ διαρκῆ presenteiam e nos oferecem frutos de modo suficiente e perene, 377F
θεοὺς ἐνομίσαμεν, οὐχ ἑτέρους παρ’ ἑτέροις οὐδὲ não são diferentes em diferentes povos, nem bárbaros nem
βαρβάρους καὶ Ἕλληνας οὐδὲ νοτίους καὶ βορείους· helenos, nem meridionais nem setentrionais; mas como o Sol e a
ἀλλ’ ὥσπερ ἥλιος καὶ σελήνη καὶ οὐρανὸς καὶ γῆ καὶ Lua, o céu, a terra e o mar que todos os têm em comum, porém
θάλασσα κοινὰ πᾶσιν, ὀνομάζεται δ’ ἄλλως ὑπ’ ἄλλων, são chamados de diferentes modos por diferentes povos, é assim
οὕτως ἑνὸς λόγου τοῦ ταῦτα κοσμοῦντος καὶ μιᾶς porque é a única razão que ordena isso e a única providência que as
378A προνοίας ἐπιτροπευούσης καὶ δυνάμεων ὑπουργῶν ἐπὶ governa e os únicos poderes que auxiliam em tudo, que surgiram 378A
πάντα τεταγμένων ἕτεραι παρ’ ἑτέροις κατὰ νόμους entre diferentes povos; conforme seus costumes, recebem
γεγόνασι τιμαὶ καὶ προσηγορίαι, καὶ συμβόλοις χρῶνται diferentes honras e nomes, e usam seus símbolos consagrados,
καθιερωμένοις οἱ μὲν ἀμυδροῖς οἱ δὲ τρανοτέροις, ἐπὶ τὰ uns obscuros, outros mais claros, conduzem, não sem risco, a
θεῖα τὴν νόησιν ὁδηγοῦντες οὐκ ἀκινδύνως· ἔνιοι γὰρ inteligência ao caminho do divino; pois uns se esbarram nele e
ἀποσφαλέντες παντάπασιν εἰς δεισιδαιμονίαν ὤλισθον, caem completamente na superstição, enquanto outros fogem
οἱ δὲ φεύγοντες ὥσπερ ἕλος τὴν δεισιδαιμονίαν ἔλαθον dela, mas vão para as várzeas úmidas da superstição, sem notar,
αὖθις ὥσπερ εἰς κρημνὸν ἐμπεσόντες τὴν ἀθεότητα. retornam, como se tivessem caído no desfiladeiro do ateísmo476.
68. Διὸ δεῖ μάλιστα πρὸς ταῦτα λόγον ἐκ φιλοσοφίας 68. Por isso, diante dessas questões, devemos sobretudo
μυσταγωγὸν ἀναλαβόντας ὁσίως διανοεῖσθαι τῶν tomar como guia a razão vinda da filosofia, refletir piedosamente
λεγομένων καὶ δρωμένων ἕκαστον, ἵνα μή, καθάπερ sobre cada uma das doutrinas e ritos, do mesmo modo que
B Θεόδω-ρος εἶπε τοὺς λόγους αὐτοῦ τῇ δεξιᾷ προτείνοντος Teodoro477 disse que as palavras que com a mão direita ele oferecia B
ἐνίους τῇ ἀριστερᾷ δέχεσθαι τῶν ἀκροωμένων, οὕτως e alguns ouvintes eles as recebiam com a mão esquerda; assim
ἡμεῖς ἃ καλῶς οἱ νόμοι περὶ τὰς θυσίας καὶ τὰς ἑορτὰς nós não cometamos o erro de entender de outro modo o que os
ἔταξαν ἑτέρως ὑπολαμβάνοντες ἐξαμάρτωμεν. ὅτι γὰρ costumes estabeleceram com excelência sobre os ritos sacrificiais
ἐπὶ τὸν λόγον ἀνοιστέον ἅπαντα, καὶ παρ’ αὐτῶν ἐκείνων e as festas. Porque tudo está dito na palavra e se pode obter a
ἔστι λαβεῖν. τῇ μὲν γὰρ ἐνάτῃ ἐπὶ δέκα τοῦ πρώτου partir de si mesma. Pois no décimo nono dia do primeiro mês,
μηνὸς ἑορτάζοντες τῷ Ἑρμῇ μέλι καὶ σῦκον ἐσθίουσιν os egípcios celebram uma festa em honra a Hermes478, comem
ἐπιλέγοντες ‘γλυκὺ ἡ ἀλήθεια’· τὸ δὲ τῆς Ἴσιδος mel e fígado, e logo dizem “coisa doce é a verdade”; e o amuleto
φυλακτήριον, ὃ περιάπτεσθαι μυθολογοῦσιν αὐτήν, de Ísis em cujo mito narram que ela o colocou em seu pescoço, é
ἐξερμηνεύεται ‘φωνὴ ἀληθής.’ τὸν δ’ Ἁρποκράτην οὔτε interpretado como “voz verdadeira”479. E Harpócrates480 não deve

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378C θεὸν ἀτελῆ καὶ νήπιον οὔτε χεδρόπων τινὰ νομιστέον, ser considerado um deus imperfeito e infantil, nem característico 378C
ἀλλὰ τοῦ περὶ θεῶν ἐν ἀνθρώποις λόγου νεαροῦ καὶ das leguminosas, mas que ele é dirigente e conselheiro da palavra
ἀτελοῦς καὶ ἀδιαρθρώτου προστάτην καὶ σωφρονιστήν· sobre os deuses entre os homens, que é infantil, imperfeita e
διὸ τῷ στόματι τὸν δάκτυλον ἔχει προσκείμενον inarticulada; por isso, tem o dedo dentro da boca como símbolo
ἐχεμυθίας καὶ σιωπῆς σύμβολον, ἐν δὲ τῷ Μεσορὴ μηνὶ de discrição e silêncio, e no mês mesore481 trazem as leguminosas
τῶν χεδρόπων ἐπιφέροντες λέγουσιν ‘γλῶσσα τύχη, e dizem “língua é sorte, língua é um dêmon”. E dentre as plantas
γλῶσσα δαίμων.’ τῶν δ’ ἐν Αἰγύπτῳ φυτῶν μάλιστα que existem no Egito, dizem que a persea482 é dedicada à deusa,
τῇ θεῷ καθιερῶσθαι λέγουσι τὴν περσέαν, ὅτι καρδίᾳ porque o fruto dela é semelhante a um coração e a sua folha, a
μὲν ὁ καρπὸς αὐτῆς, γλώττῃ δὲ τὸ φύλλον ἔοικεν. οὐδὲν uma língua. Pois o homem, por natureza, não possui nada mais
γὰρ ὧν ἄνθρωπος ἔχειν πέφυκε θειότερον λόγου καὶ divino que a palavra e especialmente a relacionada aos deuses, nem
μάλιστα τοῦ περὶ θεῶν οὐδὲ μείζονα ῥοπὴν ἔχει πρὸς tem maior influência para a felicidade. Por isso, àquele que desce
D εὐδαιμονίαν. διὸ τῷ μὲν εἰς τὸ χρηστή- ριον ἐνταῦθα aqui para ir consultar o oráculo483, recomendamos refletir sobre D
κατιόντι παρεγγυῶμεν ὅσια φρονεῖν, εὔφημα λέγειν· assuntos piedosos, dizer palavras benéficas; mas a maioria comete
οἱ δὲ πολλοὶ γελοῖα δρῶσιν ἐν ταῖς πομπαῖς καὶ ταῖς atos ridículos nas procissões e nas festas ao proferir palavras de
ἑορταῖς εὐφημίαν προκηρύττοντες, εἶτα περὶ τῶν θεῶν bom augúrio, depois diz e pensa o que é mais injurioso a respeito
αὐτῶν τὰ δυσφημότατα καὶ λέγοντες καὶ διανοούμενοι. dos próprios deuses.
69. Πῶς οὖν χρηστέον ἐστὶ ταῖς σκυθρωπαῖς καὶ 69. Portanto, como devemos realizar os sacrifícios sombrios,
ἀγελάστοις καὶ πενθίμοις θυσίαις, εἰ μήτε παραλείπειν τὰ tristes e enlutados, se não é bom omitir os ritos tradicionais nem
νενομισμένα καλῶς ἔχει μήτε φύρειν τὰς περὶ θεῶν δόξας καὶ confundir as opiniões sobre os deuses nem as desconcertar
συνταράττειν ὑποψίαις ἀτόποις; καὶ παρ’ Ἕλλησιν ὅμοια com suspeitas absurdas? E entre os helenos há muitos ritos
πολλὰ γίνεται περὶ τὸν αὐτὸν ὁμοῦ τι χρόνον, οἷς Αἰγύπτιοι semelhantes, quase à mesma época aos que os egípcios realizam
δρῶσιν ἐν τοῖς Ἰσείοις. καὶ γὰρ Ἀθήνησι νηστεύουσιν αἱ nos Iseions484. De fato, em Atenas, as mulheres celebram as
E γυναῖκες ἐν Θεσμοφορίοις χαμαὶ καθήμεναι, καὶ Βοιωτοὶ Tesmofórias485, jejuando, sentadas no chão, e os beócios movem E
τὰ τῆς Ἀχαίας μέγαρα κινοῦσιν ἐπαχθῆ τὴν ἑορτὴν ἐκείνην os santuários dos templos de Aquea486 e lhe dão o nome “Festa da
ὀνομάζοντες, ὡς διὰ τὴν τῆς Κόρης κάθοδον ἐν ἄχει τῆς Aflição”, por causa da descida de Core, porque Deméter estava
Δήμητρος οὔσης. ἔστι δ’ ὁ μὴν οὗτος περὶ Πλειάδας na aflição. E esse mês das Plêiades487 e do cultivo que os egípcios
σπόριμος, ὃν Ἀθὺρ Αἰγύπτιοι, Πυανεψιῶνα δ’ Ἀθηναῖοι, chamam de átir, os atenienses, de pianépsion e os beócios, de
Βοιωτοὶ δὲ Δαμάτριον καλοῦσι. τοὺς δὲ πρὸς ἑσπέραν damatrio488. Sobre os habitantes que estão na direção do poente,
οἰκοῦντας ἱστορεῖ Θεόπομπος ἡγεῖσθαι καὶ καλεῖν τὸν Teopompo conclui em sua investigação que eles pensam e
μὲν χειμῶνα Κρόνον, τὸ δὲ θέρος Ἀφροδίτην, τὸ δ’ ἔαρ chamam o inverno de Crono, o verão de Afrodite e a primavera
Περσεφόνην· ἐκ δὲ Κρόνου καὶ Ἀφροδίτης γεννᾶσθαι de Perséfone; e que todas essas estações nasceram da união de
πάντα. Φρύγες δὲ τὸν θεὸν οἰόμενοι χειμῶνος καθεύδειν Crono e de Afrodite. E os frígios pensam que o deus dorme no
θέρους δ’ ἐγρηγορέναι τοτὲ μὲν κατευνασμούς, τοτὲ δ’ inverno e desperta no verão, e celebram os mistérios de Baco para

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378F ἀνεγέρσεις βακχεύοντες αὐτῷ τελοῦσι· Παφλαγόνες que durma em uma estação e acorde em outra; e os paflagônios 378F
δὲ καταδεῖσθαι καὶ καθείργνυσθαι χειμῶνος, ἦρος δὲ contam que seu deus está inteiramente amarrado e trancado no
κινεῖσθαι καὶ ἀναλύεσθαι φάσκουσι· inverno, e na primavera ele se movimenta e se liberta.
70. καὶ δίδωσιν ὁ καιρὸς ὑπόνοιαν ἐπὶ τῶν καρπῶν 70. E a ocasião oferece a suspeita de que seu ar sombrio acontece
τῇ ἀποκρύψει γενέσθαι τὸν σκυθρωπασμόν, οὓς οἱ porque ele escondeu os frutos489, os que os antigos não cultuavam
παλαιοὶ θεοὺς μὲν οὐκ ἐνόμιζον, ἀλλὰ δῶρα θεῶν como deuses, mas como presentes dos deuses, necessários e
ἀναγκαῖα καὶ μεγάλα πρὸς τὸ μὴ ζῆν ἀγρίως καὶ importantes para que não vivessem de modo rude e selvagem; e
379A θηριωδῶς· καθ’ ἣν δ’ ὥραν τοὺς μὲν ἀπὸ δένδρων ἑώρων na estação em que viam os frutos desaparecendo completamente 379A
ἀφανιζομένους παντάπασιν καὶ ἀπολείποντας, τοὺς das árvores e lhes fazendo falta, e ainda semeavam grãos com
δὲ καὶ αὐτοὶ κατέσπειρον ἔτι γλίσχρως καὶ ἀπόρως, privação e dificuldade, porque cavavam a terra com suas mãos
διαμώμενοι ταῖς χερσὶ τὴν γῆν καὶ περιστέλλοντες e a cobriam novamente, depositavam a semente com a incerteza
αὖθις, ἐπ’ ἀδήλῳ τῷ πάλιν ἐκφανεῖσθαι καὶ συντέλειαν de se iria crescer e amadurecer, e realizavam muitas cerimônias
ἕξειν ἀποθέμενοι πολλὰ θάπτουσιν ὅμοια καὶ semelhantes ao que enterravam alguém e ficavam enlutados.
πενθοῦσιν ἔπραττον. εἶθ’ ὥσπερ ἡμεῖς τὸν ὠνούμενον Depois, como nós dizemos sobre quem compra livros de Platão
βιβλία Πλάτωνος ὠνεῖσθαί φαμεν Πλάτωνα καὶ que compra Platão e de quem representa os poemas de Menandro
Μένανδρον ὑποκρίνεσθαι τὸν τὰ Μενάνδρου ποιήμαθ’ que representa Menandro, assim aqueles que não nos poupam
διατιθέμενον, οὕτως ἐκεῖνοι τοῖς τῶν θεῶν ὀνόμασι τὰ com esses nomes dados aos deuses que estão relacionados
B τῶν θεῶν δῶρα καὶ ποιήματα καλεῖν οὐκ ἐφείδοντο, com dons e obras dos deuses, que os honram e os veneram por B
τιμῶντες ὑπὸ χρείας καὶ σεμνύνοντες. οἱ δ’ ὕστερον sua utilidade. E os pósteros aceitarão isso de modo incauto e
ἀπαιδεύτως δεχόμενοι καὶ ἀμαθῶς ἀναστρέφοντες ἐπὶ sem discernimento transferirão para os deuses as vicissitudes dos
τοὺς θεοὺς τὰ πάθη τῶν καρπῶν καὶ τὰς παρουσίας τῶν frutos e não somente os chamarão assim e aceitarão as presenças
ἀναγκαίων καὶ ἀποκρύψεις θεῶν γενέσεις καὶ φθορὰς οὐ e os desparecimentos dos produtos necessários a nascimentos e
προσαγορεύοντες μόνον ἀλλὰ καὶ νομίζοντες ἀτόπων καὶ mortes dos deuses, mas também considerarão crenças absurdas,
παρανόμων καὶ τεταραγμένων δοξῶν αὑτοὺς ἐνέπλησαν, ilegítimas e perturbadoras, embora façam saltar o absurdo de sua
καίτοι τοῦ παραλόγου τὴν ἀτοπίαν ἐν ὀφθαλμοῖς ἔχοντες. ὁ irracionalidade aos nossos olhos. Então, Xenócrates de Cólofon490
μὲν οὖν Ξενοφάνης ὁ Κολοφώνιος ἠξίωσε τοὺς Αἰγυπτίους, julgava que os egípcios, se creem nos deuses, não choram por eles,
εἰ θεοὺς νομίζουσι, μὴ θρηνεῖν, εἰ δὲ θρηνοῦσι, θεοὺς μὴ mas se choram por eles, é porque não creem nos deuses, porque
νομίζειν, ἀλλ’ ὅτι γελοῖον ἅμα θρηνοῦντας εὔχεσθαι τοὺς é ridículo que chorem ao mesmo tempo em que suplicam para
καρποὺς πάλιν ἀναφαίνειν καὶ τελειοῦν ἑαυτοῖς, ὅπως os frutos reaparecerem e amadurecerem para eles, a fim de que
πάλιν ἀναλίσκωνται καὶ θρηνῶνται· novamente sejam consumidos e chorados.
C 71. τὸ δ’ οὐκ ἔστι τοιοῦτον, ἀλλὰ θρηνοῦσι μὲν 71. E isso não é assim, mas sim que se lamentam pelos frutos C
τοὺς καρπούς, εὔχονται δὲ τοῖς αἰτίοις καὶ δοτῆρσι e suplicam aos deuses produtores e doadores deles para que

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θεοῖς ἑτέρους πάλιν νέους ποιεῖν καὶ ἀναφύειν ἀντὶ τῶν produzam outros novos e os façam crescer em lugar dos
ἀπολλυμένων. ὅθεν ἄριστα λέγεται παρὰ τοῖς φιλοσόφοις desaparecidos. Por isso, as melhores palavras são ditas junto
τὸ τοὺς μὴ μανθάνοντας ὀρθῶς ἀκούειν ὀνομάτων aos filósofos: quem não aprende a ouvir corretamente os
κακῶς χρῆσθαι καὶ τοῖς πράγμασιν· ὥσπερ Ἑλλήνων nomes também fazem mal uso das representações; como,
οἱ τὰ χαλκᾶ καὶ τὰ γραπτὰ καὶ λίθινα μὴ μαθόντες entre os helenos, que não aprenderam e não se acostumaram
μηδ’ ἐθισθέντες ἀγάλματα καὶ τιμὰς θεῶν ἀλλὰ θεοὺς a chamá-los de bronzes, pinturas e mármores, imagens
καλεῖν, εἶτα τολμῶντες λέγειν, ὅτι τὴν Ἀθηνᾶν Λαχάρης e honras dos deuses, mas a chamá-los de deuses, depois
ἐξέδυσε, τὸν δ’ Ἀπόλλωνα χρυσοῦς βοστρύχους ἔχοντα ousam dizer que Lácares491 desnudou Atena, que Dioniso
379D Διονύσιος ἀπέκειρεν, ὁ δὲ Ζεὺς ὁ Καπετώλιος περὶ τὸν cortou os cachos dourados de Apolo e que Zeus Capitolino 379D
ἐμφύλιον πόλεμον ἐνεπρήσθη καὶ διεφθάρη, λανθάνουσι foi queimado e destruído na guerra civil492, não percebem
συνεφελκόμενοι καὶ παραδεχόμενοι δόξας πονηρὰς que se agarram a opiniões perversas e as aceitam por serem
ἑπομένας τοῖς ὀνόμασιν. Τοῦτο δ’ οὐχ ἥκιστα πεπόνθασιν derivadas desses nomes. E os egípcios não são menos
Αἰγύπτιοι περὶ τὰ τιμώμενα τῶν ζῴων. Ἕλληνες μὲν afetados por suas honras aos animais. Pois, nesses assuntos,
γὰρ ἔν γε τούτοις λέγουσιν ὀρθῶς καὶ νομίζουσιν ἱερὸν os helenos se expressam corretamente e consideram que
Ἀφροδίτης ζῷον εἶναι τὴν περιστερὰν καὶ τὸν δράκοντα o animal consagrado a Afrodite é a pomba; a serpente,
τῆς Ἀθηνᾶς καὶ τὸν κόρακα τοῦ Ἀπόλλωνος καὶ τὸν κύνα a Atena; o corvo, a Apolo; e o cão, a Ártemis, conforme
τῆς Ἀρτέμιδος, ὡς Εὐριπίδης· Eurípides:
’Ἑκάτης ἄγαλμα φωσφόρου κύων ἔσῃ’· uma imagem de Hécate porta-luz, um cão serás.493
Αἰγυπτίων δ’ οἱ πολλοὶ θεραπεύοντες αὐτὰ τὰ ζῷα καὶ E, quando a maioria dos egípcios venera os próprios animais
περιέποντες ὡς θεοὺς οὐ γέλωτος μόνον οὐδὲ χλευα-σμοῦ e os trata como deuses, não somente enche por completo
E καταπεπλήκασι τὰς ἱερουργίας, ἀλλὰ τοῦτο τῆς ἀβελτερίας os ritos sagrados de ridículo e zombaria, mas isso é um mal E
ἐλάχιστόν ἐστι κακόν· δόξα δ’ ἐμφύεται δεινὴ τοὺς μὲν ἀσθενεῖς menor de sua tolice; mas nasce uma crença terrível, que
καὶ ἀκάκους εἰς ἄκρατον ὑπερείπουσα τὴν δεισιδαιμονίαν, subverte os fracos e inocentes em pura superstição, e joga seus
τοῖς δὲ δριμυτέροις καὶ θρασυτέροις εἰς ἀθέους ἐμπίπτουσα raciocínios ateus e selvagens sobre os mais rudes e simples.
καὶ θηριώδεις λογισμούς. ᾗ καὶ περὶ τούτων τὰ εἰκότα διελθεῖν
Pelo que não destoa examinar a verossimilhança deles.
οὐκ ἀνάρμοστόν ἐστι·
72. Isso de os deuses se transformarem nesses animais,
72. τὸ μὲν γὰρ εἰς ταῦτα τὰ ζῷα τοὺς θεοὺς τὸν Τυφῶνα
porque têm medo de Tífon, como se ocultarem em corpos
δείσαντας μεταβαλεῖν, οἷον ἀποκρύπτοντας ἑαυτοὺς σώμασιν
de íbis, cães, gaviões, já ultrapassa todo relato extraordinário
ἴβεων καὶ κυνῶν καὶ ἱεράκων, πᾶσαν ὑπερπέπαικε τερατείαν
F καὶ μυθολογίαν, καὶ τὸ ταῖς ψυχαῖς τῶν θανόντων ὅσαι e mitológico494, e que, pelas almas dos mortos, quantas F
διαμένουσιν εἰς ταῦτα μόνα γίνεσθαι τὴν παλιγγενεσίαν sobrevivam, o seu renascimento acontece somente nesses

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ὁμοίως ἄπιστον. τῶν δὲ βουλομένων πολιτικήν τινα animais é igualmente inacreditável495. E dentre os que querem
λέγειν αἰτίαν οἱ μὲν Ὄσιριν ἐν τῇ μεγάλῃ στρατιᾷ dizer que existe uma razão um tanto política, uns dizem que
φασιν εἰς μέρη πολλὰ διανείμαντα τὴν δύναμιν Osíris, em sua grande expedição, repartiu o seu poderio militar
(λόχους καὶ τάξεις Ἑλληνικῶς καλοῦσιν), ἐπίσημα em muitas divisões (que os helenos chamam de companhias
δοῦναι καὶ ζῳόμορφα πᾶσιν, ὧν ἕκαστον τῷ γένει τῶν e tropas) e deu insígnias em forma de animais a todas, e cada
συννεμηθέντων ἱερὸν γενέσθαι καὶ τίμιον· οἱ δὲ τοὺς um deles tornou-se sagrado e honrado por sua estirpe496;
380A ὕστερον βασιλεῖς ἐκπλήξεως ἕνεκα τῶν πολεμίων ἐν e conforme outros, os reis posteriores, para causar o terror entre os 380A
ταῖς μάχαις ἐπιφαίνεσθαι θηρίων χρυσᾶς προτομὰς inimigos, apareciam nas batalhas com os rostos envoltos em uma
καὶ ἀργυρᾶς περιτιθεμένους· ἄλλοι δὲ τῶνδε τῶν máscara de ouro e prata de animais selvagens497; e outros concluem
δεινῶν τινα καὶ πανούργων βασιλέων ἱστοροῦσι τοὺς ainda, por meio de suas investigações, que um dos seus terríveis
Αἰγυπτίους καταμαθόντα τῇ μὲν φύσει κούφους καὶ e malvados reis percebeu que os egípcios eram por natureza
πρὸς μεταβολὴν καὶ νεωτερισμὸν ὀξυρρόπους ὄντας, levianos e inclinados à mudança e à inovação, mas que, por seu
ἄμαχον δὲ καὶ δυσκάθεκτον ὑπὸ πλήθους δύναμιν ἐν grande número, tinha um poder invencível e incontível quando
τῷ συμφρονεῖν καὶ κοινοπραγεῖν ἔχοντας, ἀίδιον αὐτοῖς atuavam em consonância e de comum acordo, semeou entre eles,
ἐγκατασπεῖραι δείξαντα δεισιδαιμονίαν διαφορᾶς ao trazer à tona a superstição, um incessante motivo de discórdia.
ἀπαύστου πρόφασιν. τῶν γὰρ θηρίων, ἃ προσέταξεν Pois, dentre os animais selvagens que determinou honrar e venerar
B ἄλλοις ἄλλα τιμᾶν καὶ σέβεσθαι, δυσμενῶς καὶ a uns em alguns lugares, e a outros em lugares diferentes, tinham B
πολεμικῶς ἀλλήλοις προσφερομένων καὶ τροφὴν um modo hostil e combativo e destinados por natureza a ser
ἑτέρων ἕτερα προσίεσθαι πεφυκότων ἀμύνοντες ἀεὶ τοῖς alimento uns dos outros, cada um defendia os seus e suportavam
οἰκείοις ἕκαστοι καὶ χαλεπῶς ἀδικουμένων φέροντες mal quando prejudicados, sem perceber, eram arrastados por
ἐλάνθανον ταῖς τῶν θηρίων ἔχθραις συνεφελκόμενοι hostilidades dos animais selvagens e guerreavam uns contra os
καὶ συνεκπολεμούμενοι πρὸς ἀλλήλους. μόνοι γὰρ ἔτι outros. Pois ainda hoje os licopolitanos498 são os únicos dentre
νῦν Αἰγυπτίων Λυκοπολῖται πρόβατον ἐσθίουσιν, ἐπεὶ os egípcios que se alimentam de ovelha, porque o faz também o
καὶ λύκος, ὃν θεὸν νομίζουσιν· οἱ δ’ Ὀξυρυγχῖται καθ’ lobo, a quem consideram um deus; e os habitantes de Oxirrinco
ἡμᾶς τῶν Κυνοπολιτῶν τὸν ὀξύρυγχον ἰχθὺν ἐσθιόντων em nossa época, porque os habitantes de Cinópolis499 comiam o
κύνα συλλαβόντες καὶ θύσαντες ὡς ἱερεῖον κατέφαγον, peixe oxirrinco, capturaram um cão, imolaram-no e o comeram
ἐκ δὲ τούτου καταστάντες εἰς πόλεμον ἀλλήλους τε como se fosse uma vítima sacrificial, por isso posicionaram-se
C διέθηκαν κακῶς καὶ ὕστερον ὑπὸ Ῥωμαίων κολαζόμενοι para guerrear, e fizeram mal uns aos outros e mais tarde foram C
διετέθησαν. castigados pelos romanos, e se contiveram500.
73. πολλῶν δὲ λεγόντων εἰς ταῦτα τὰ ζῷα τὴν 73. Quando muitos dizem que a alma do próprio Tífon
Τυφῶνος αὐτοῦ διῃρῆσθαι ψυχὴν αἰνίττεσθαι δόξειεν ἂν foi repartida entre esses animais, o mito pareceria explicar por
ὁ μῦθος, ὅτι πᾶσα φύσις ἄλογος καὶ θηριώδης τῆς τοῦ meio de alegorias que toda natureza irracional e selvagem vem da
κακοῦ δαίμονος γέγονε μοίρας, κἀκεῖνον ἐκμειλισσόμενοι parte nascida do dêmom mal, e que, para aplacá-lo e apaziguá-lo,

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καὶ παρηγοροῦντες περιέπουσι ταῦτα καὶ θεραπεύουσιν· respeitam e honram esses animais; e se ocorrer uma secura intensa
ἂν δὲ πολὺς ἐμπίπτῃ καὶ χαλεπὸς αὐχμὸς ἐπάγων e difícil, que traz com desmedida quer uma doença destruidora
ὑπερβαλλόντως ἢ νόσους ὀλεθρίους ἢ συμφορὰς ἄλλας quer outros tipos de desgraças imprevistas e espantosas, alguns
παραλόγους καὶ ἀλλοκότους, ἔνια τῶν τιμωμένων οἱ ἱερεῖς que são honrados, os sacerdotes os levam pela escuridão em
380A ἀπάγοντες ὑπὸ σκότῳ μετὰ σιωπῆς καὶ ἡσυχίας ἀπειλοῦσι silêncio e tranquilidade; em primeiro lugar, eles os ameaçam e 380A
καὶ δεδίττονται τὸ πρῶτον, ἂν δ’ ἐπιμένῃ, καθιερεύουσι os atemorizam, se persistir, oferecem-nos como sacrifício e o
καὶ σφάττουσιν, ὡς δή τινα κολασμὸν ὄντα τοῦ δαίμονος degolam, como se fosse um castigo para esse dêmon ou outro
τοῦτον ἢ καθαρμὸν ἄλλως μέγαν ἐπὶ μεγίστοις· καὶ γὰρ grande modo de purificação em ocasiões importantes; de fato, na
ἐν Εἰλειθυίας πόλει ζῶντας ἀνθρώπους κατεπίμπρασαν, cidade de Ilitia501, queimavam os homens vivos, como concluiu
ὡς Μανεθὼς ἱστόρηκε, Τυφωνείους καλοῦντες καὶ τὴν Mâneton em sua investigação, uns a quem chamavam tifônios,
τέφραν αὐτῶν λικμῶντες ἠφάνιζον καὶ διέσπειρον. quando espalhavam suas cinzas, faziam-nas desaparecer e as
ἀλλὰ τοῦτο μὲν ἐδρᾶτο φανερῶς καὶ καθ’ ἕνα καιρὸν dispersavam. Mas isso era feito em público e em uma só ocasião,
ἐν ταῖς κυνάσιν ἡμέραις· αἱ δὲ τῶν τιμωμένων ζῴων nos dias caninos502; enquanto as imolações dos animais venerados,
καθιερεύσεις ἀπόρρητοι καὶ χρόνοις ἀτάκτοις πρὸς τὰ porque eram misteriosas e sem um período determinado, a maioria
συμπίπτοντα γινόμεναι τοὺς πολλοὺς λανθάνουσι, πλὴν não nota quando elas ocorrem, exceto quando faziam o enterro
E ὅταν Ἄπιδος ταφὰς ἔχωσι καὶ τῶν ἄλλων ἀναδεικνύντες de Ápis e indicavam alguns outros animais, com todos presentes, E
ἔνια πάντων παρόντων συνεμβάλλωσιν οἰόμενοι τοῦ lançavam-nos em uma fossa comum, porque acreditavam que
Τυφῶνος ἀντιλυπεῖν καὶ κολούειν τὸ ἡδόμενον. ὁ γὰρ afligiam Tífon e encurtavam seu prazer. Pois Ápis parece que está
Ἆπις δοκεῖ μετ’ ὀλίγων ἄλλων ἱερὸς εἶναι τοῦ Ὀσίριδος· em companhia de outros poucos animais de Osíris; e a maioria
ἐκείνῳ δὲ τὰ πλεῖστα προσνέμουσι. κἂν ἀληθὴς ὁ dedicada àquele. Mesmo que esse relato seja verdadeiro503, penso
λόγος οὗτος, σημαίνειν ἡγοῦμαι τὸ ζητούμενον ἐπὶ τῶν que indica a busca dos que são reconhecidos e recebem honras
ὁμολογουμένων καὶ κοινὰς ἐχόντων τὰς τιμάς, οἷόν comuns, como a íbis, o gavião, o cinocéfalo, o próprio Ápis; pois
ἐστιν ἶβις καὶ ἱέραξ καὶ κυνοκέφαλος, αὐτὸς ὁ Ἆπις· assim chamam o bode504 de Mendes505.
οὕτω δὴ γὰρ τὸν ἐν Μένδητι τράγον καλοῦσι. 74. Abandona-se então sua utilidade e seu valor simbólico,
74. Λείπεται δὲ δὴ τὸ χρειῶδες καὶ τὸ συμβολικόν, ὧν dos quais alguns participam, mas muitos de ambos. Portanto, é
ἔνια θατέρου, πολλὰ δ’ ἀμφοῖν μετέσχηκε. βοῦν μὲν οὖν καὶ evidente que os honram um boi, uma ovelha e um icnêumone506,
F πρόβατον καὶ ἰχνεύμονα δῆλον ὅτι χρείας ἕνεκα καὶ ὠφελείας por sua utilidade e seu proveito, como os lêmnios honram F
ἐτίμησαν, ὡς Λήμνιοι κορύδους τὰ τῶν ἀττα λάβων as cotovias porque elas descobrem os ovos dos gafanhotos e
εὑρίσκοντας ᾠὰ καὶ κόπτοντας, Θεσσαλοὶ δὲ πελαργούς, ὅτι os partem, e os tessálios, as cegonhas, porque, quando a terra
πολλοὺς ὄφεις τῆς γῆς ἀναδιδούσης ἐπιφανέντες ἐξώλεσαν produziu muitas serpentes, elas apareceram e mataram todas (por
ἅπαντας (διὸ καὶ νόμον ἔθεντο φεύγειν ὅστις ἂν ἀποκτείνῃ isso também estabeleceram uma lei que processava quem matasse
πελαργόν)· ἀσπίδα δὲ καὶ γαλῆν καὶ κάνθαρον, εἰκόνας τινὰς uma cegonha)507; e a áspide, a doninha, o escaravelho, porque
ἐν αὐτοῖς ἀμαυρὰς ὥσπερ ἐν σταγόσιν ἡλίου τῆς τῶν θεῶν veem neles algumas imagens débeis do poder dos deuses, como as

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δυνάμεως κατιδόντες. τὴν μὲν γὰρ γαλῆν ἔτι πολλοὶ νομίζουσι do Sol nas gotas de chuvas. Pois a maioria ainda cultua a doninha
καὶ λέγουσι κατὰ τὸ οὖς ὀχευομένην τῷ δὲ στόματι τίκτουσαν e diz que ela engravida pelos ouvidos e dá à luz pela boca, que isso
εἴκασμα τῆς τοῦ λόγου γενέσεως εἶναι· τὸ δὲ κανθάρων γένος é a imagem da geração da palavra508; e a espécie do escaravelho não
οὐκ ἔχειν θήλειαν, ἄρρενας δὲ πάντας ἀφιέναι τὸν γόνον εἰς tem fêmea, são todos machos, que depositam o seu sêmen em uma
τὴν σφαιροποιουμένην ὕλην, ἣν κυλινδοῦσιν ἀντιβάδην matéria que modelam em forma de esfera, giram-na e a empurram
ὠθοῦντες, ὥσπερ δοκεῖ τὸν οὐρανὸν ὁ ἥλιος ἐς τοὐναντίον resistindo de pé firme, como o Sol parece que gira no céu na direção
περιστρέφειν αὐτὸς ἀπὸ δυσμῶν ἐπὶ τὰς ἀνατολὰς φερόμενος· contrária quando se dirige do poente ao nascente509; e a áspide510,
ἀσπίδα δ’ ὡς ἀγήρω καὶ χρωμένην κινήσεσιν ἀνοργάνοις μετ’ como não envelhece, e movimenta-se, mesmo sem órgãos, com
εὐπετείας καὶ ὑγρότητος ἀστραπῇ προσείκασαν. facilidade e ligeireza, comparam-na a um raio.
381B 75. οὐ μὴν οὐδ’ ὁ κροκόδειλος αἰτίας πιθανῆς 75. Sem dúvida, sequer o crocodilo511 teria honra sem um 381B
ἀμοιροῦσαν ἔσχηκε τιμήν, ἀλλὰ μίμημα θεοῦ λέγεται motivo confiável, mas conta-se que ele é a imagem característica
γεγονέναι μόνος μὲν ἄγλωσσος ὤν· φωνῆς γὰρ ὁ do deus porque é o único que nasce sem língua; pois a palavra
θεῖος λόγος ἀπροσδεής ἐστι καί ‘δι’ ἀψόφου βαίνων divina não necessita de voz e “anda por um caminho silencioso
κελεύθου κατὰ δίκην τὰ θνήτ’ ἄγει’· μόνου δέ φασιν ἐν e conduz os assuntos dos mortais conforme a justiça”512; e dizem
ὑγρῷ διαιτωμένου τὰς ὄψεις ὑμένα λεῖον καὶ διαφανῆ que é o único que vive em ambiente aquático, que seus olhos são
παρακαλύπτειν ἐκ τοῦ μετώπου κατερχόμενον, ὥστε escondidos por uma membrana lisa e transparente que cai da sua
βλέπειν μὴ βλεπόμενον, ὃ τῷ πρώτῳ θεῷ συμβέβηκεν. fronte, de modo que vê, mas não é visto, o que acontece com a face
ὅπου δ’ ἂν ἡ θήλεια τῆς χώρας ἀποτέκῃ, τοῦτο Νείλου de um deus. E sobre o lugar do território onde a fêmea deposita
πέρας ἐπίσταται τῆς αὐξήσεως γινόμενον. ἐν ὑγρῷ γὰρ seus ovos, sabe-se que é o limite de onde ocorre a cheia do Nilo.
οὐ δυνάμεναι, πόρρω δὲ φοβούμεναι τίκτειν, οὕτως Pois não podem botar seus ovos em ambiente aquático, mas têm
C ἀκριβῶς προαισθάνονται τὸ μέλλον, ὥστε τῷ ποταμῷ medo de ir longe, desse modo, preveem precisamente o que vai C
προσελθόντι χρῆσθαι λοχευόμεναι, καὶ θάλπουσαι δὲ τὰ acontecer, de modo que usam a cheia do rio para pô-los e guardá-
ᾠὰ ξηρὰ καὶ ἄβρεκτα φυλάσσειν. ἑξήκοντα δὲ τίκτουσι los aquecidos nos pontos secos e sem inundação. E eles põem
καὶ τοσαύταις ἡμέραις ἐκλέπουσι καὶ τοσούτους ζῶσιν sessenta, o número de dias que levam para sair de seus ovos equivale
ἐνιαυτοὺς οἱ μακρότατον ζῶντες, ὃ τῶν μέτρων πρῶτόν ἐστι aos dos anos que eles vivem, número que os astrônomos513 têm
τοῖς περὶ τὰ οὐράνια πραγματευομένοις. ἀλλὰ μὴν τῶν δι’ como a primeira unidade de medida. Mas, sem dúvida, dentre os
ἀμφότερα τιμωμένων περὶ μὲν τοῦ κυνὸς εἴρηται πρόσθεν· que são honrados por ambas as características, o que já foi dito
ἡ δ’ ἶβις ἀποκτείνουσα μὲν τὰ θανατηφόρα τῶν ἑρπετῶν antes sobre o cão514; porque mata répteis mortíferos, a íbis foi a
ἐδίδαξε πρώτη κενώματος ἰατρικοῦ χρείαν κατιδόντας primeira que ensinou o uso da purgação médica, por vê-la purgar-
D αὐτὴν κλυζομένην καὶ καθαιρομένην ὑφ’ ἑαυτῆς, οἱ δὲ se e purificar-se por si mesma, então os sacerdotes mais regrados, D
νομιμώτατοι τῶν ἱερέων καθάρσιον ὕδωρ ἁγνιζόμενοι para se purificar, pegam água do lugar onde a íbis515 bebeu; pois ela
λαμβάνουσιν ὅθεν ἶβις πέπωκεν· οὐ πίνει γὰρ ἢ νοσῶδες ἢ não a bebe quer esteja insalubre ou envenenada, sequer se aproxima
πεφαρμαγμένον οὐδὲ πρόσεισι. τῇ δὲ τῶν ποδῶν διαστάσει dela. Com a distância das patas umas das outras e o bico, forma-

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πρὸς ἀλλήλους καὶ τὸ ῥύγχος ἰσόπλευρον ποιεῖ τρίγωνον, se um triângulo equilátero, além disso, a variedade e a mistura de
ἔτι δ’ ἡ τῶν μελάνων πτερῶν πρὸς τὰ λευκὰ ποικιλία καὶ suas asas negras com tonalidades brancas representam a lua no
μῖξις ἐμφαίνει σελήνην ἀμφίκυρτον. οὐ δεῖ δὲ θαυμάζειν, εἰ seu quarto crescente516. E não devemos nos espantar se os egípcios
γλίσχρας ὁμοιότητας οὕτως ἠγάπησαν Αἰγύπτιοι. καὶ γὰρ gostam tanto dessas vagas semelhanças. De fato, os helenos nas
καὶ Ἕλληνες ἔν τε γραπτοῖς ἔν τε πλαστοῖς εἰκάσμασι θεῶν imagens em pinturas e em esculturas dos seus deuses representaram
ἐχρήσαντο πολλοῖς τοιούτοις, οἷον ἐν Κρήτῃ Διὸς ἦν ἄγαλμα muitas desse modo; assim, em Creta517, havia uma estátua de
μὴ ἔχον ὦτα· τῷ γὰρ ἄρχοντι καὶ κυρίῳ πάντων οὐδενὸς Zeus que não tinha as orelhas; pois não convém ao comandante
381E ἀκούειν προσήκει. τῷ δὲ τῆς Ἀθηνᾶς τὸν δράκοντα Φειδίας e ao chefe ouvir ninguém. E Fídias518 acrescentou uma serpente 381E
παρέθηκε, τῷ δὲ τῆς Ἀφροδίτης ἐν Ἤλιδι τὴν χελώνην, à de Atena e uma tartaruga à de Afrodite na Élide519, porque as
ὡς τὰς μὲν παρθένους φυλακῆς δεομένας, ταῖς δὲ γαμεταῖς virgens necessitam de proteção, e convém às casadas o silêncio e
οἰκουρίαν καὶ σιωπὴν πρέπουσαν. ἡ δὲ τοῦ Ποσειδῶνος o hábito de ficar em casa. E o tridente de Posídon é símbolo do
τρίαινα σύμβολόν ἐστι τῆς τρίτης χώρας, ἣν θάλαττα terceiro território, o que ocupa o mar, situado abaixo do céu e do
κατέχει μετὰ τὸν οὐρανὸν καὶ τὸν ἀέρα τεταγμένη· διὸ καὶ ar; por isso também nomearam assim Anfitrite520 e os Tritões521.
τὴν Ἀμφιτρίτην καὶ τοὺς Τρίτωνας οὕτως ὠνόμασαν. Οἱ δὲ Enquanto os pitagóricos fixaram números e figuras geométricas
Πυθαγόρειοι καὶ ἀριθμοὺς καὶ σχήματα θεῶν ἐκόσμησαν com nomes de deuses. Pois eles chamavam o triângulo equilátero
προσηγορίαις. τὸ μὲν γὰρ ἰσόπλευρον τρίγωνον ἐκάλουν de Atena Corifagene522 e Tritogênea523, porque se divide em três
F Ἀθηνᾶν κορυφαγενῆ καὶ τριτογένειαν, ὅτι τρισὶ καθέτοις linhas perpendiculares que saem dos três ângulos; e o número um é F
ἀπὸ τῶν τριῶν γωνιῶν ἀγομέναις διαιρεῖται· τὸ δ’ ἓν o de Apolo, porque é sua negação e pela simplicidade da mônada524;
Ἀπόλλωνα πλήθους ἀποφάσει καὶ δι’ ἁπλότητα τῆς e a díade525 recebeu o nome de “discórdia” e “ousadia”, e a tríade526
μονάδος· ἔριν δὲ τὴν δυάδα καὶ τόλμαν, δίκην δὲ τὴν de “justiça”; pois, quando se comete injustiça e se é injustiçado, por
τριάδα· τοῦ γὰρ ἀδικεῖν καὶ ἀδικεῖσθαι κατ’ ἔλλειψιν καὶ excesso e por defeito, produz-se a justiça porque a igualdade está
ὑπερβολὴν ὄντος τὸ ἰσότητι δίκαιον ἐν μέσῳ γέγονεν· ἡ δὲ situada no meio; e o chamado quaternário, o trinta e seis, era um
382A καλουμένη τετρακτύς, τὰ ἓξ καὶ τριάκοντα, μέγιστος ἦν juramento importante, como é repetido incessantemente, e recebe 382A
ὅρκος, ὡς τεθρύληται, καὶ κόσμος ὠνόμασται, τεσσάρων o nome de mundo527, que resulta da soma dos quatros primeiros
μὲν ἀρτίων τῶν πρώτων, τεσσάρων δὲ τῶν περισσῶν εἰς números pares e dos quatro primeiros números ímpares.
ταὐτὸ συντιθεμένων ἀποτελούμενος. 76. Portanto, se é verdade que os mais notáveis dentre os
76. εἴπερ οὖν οἱ δοκιμώτατοι τῶν φιλοσόφων οὐδ’ filósofos, porque não viram em bens inanimados e incorpóreos
ἐν ἀψύχοις καὶ ἀσωμάτοις πράγμασιν αἴνιγμα τοῦ nada além de um enigma divino, julgaram que era justo não se
θείου κατιδόντες ἠξίουν ἀμελεῖν οὐδὲν οὐδ’ ἀτιμάζειν, despreocupar deles nem os desvalorizar; além do mais, creio,
ἔτι μᾶλλον, οἶμαι, τὰς ἐν αἰσθανομέναις καὶ ψυχὴν devemos apreciar as particularidades que há nas naturezas
ἐχούσαις καὶ πάθος καὶ ἦθος φύσεσιν ἰδιότητας κατὰ que têm percepções, alma, sentimento e caráter, porque não
τὸ ἦθος ἀγαπητέον οὖν οὐ ταῦτα τιμῶντας, ἀλλὰ διὰ honram esses animais, mas o divino através deles, como se, por
τούτων τὸ θεῖον ὡς ἐναργεστέρων ἐσόπτρων καὶ φύσει torná-los seus espelhos mais claros e também por natureza. E

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γεγονότων. ἀληθὲς δὲ καὶ τοῦτ’ ἔστιν, ὡς ὄργανον τὴν isso também é verdade que devemos considerar a alma como
382B ψυχὴν δεῖ τοῦ πάντα κοσμοῦντος θεοῦ νομίζειν καὶ um instrumento do deus que ordena o todo e, em geral, 382B
ὅλως ἀξιοῦν γε μηδὲν ἄψυχον ἐμψύχου μηδ’ ἀναίσθητον julgam justo que nada do inanimado é superior ao animado,
αἰσθανομένου κρεῖττον εἶναι μηδ’ ἂν τὸν σύμπαντά τις nem o que é desprovido de percepção ao que tem percepção,
χρυσὸν ὁμοῦ καὶ σμάραγδον εἰς ταὐτὸ συμφορήσῃ. sequer alguém poderia reunir todo o ouro e esmeralda ao
οὐκ ἐν χρόαις γὰρ οὐδ’ ἐν σχήμασιν οὐδ’ ἐν λειότησιν mesmo tempo e em um mesmo lugar. Pois o divino não tem
lugar nem nas cores, nem nas formas, nem nas superfícies
ἐγγίνεται τὸ θεῖον, ἀλλ’ ἀτιμοτέραν ἔχει νεκρῶν μοῖραν,
lisas, mas tem uma parte de honra que é inferior à dos mortos,
ὅσα μὴ μετέσχε μηδὲ μετέχειν τοῦ ζῆν πέφυκεν. ἡ δὲ
quantas não participaram nem por natureza lhes é permitido
ζῶσα καὶ βλέπουσα καὶ κινήσεως ἀρχὴν ἐξ αὑτῆς ἔχουσα participar da vida. E a natureza que vive, que vê, que tem em
καὶ γνῶσιν οἰκείων καὶ ἀλλοτρίων φύσις κάλλους τ’ si mesma o princípio do movimento e que é ciente do que lhe
ἔσπακεν ἀπορροὴν καὶ μοῖραν ἐκ τοῦ φρονοῦντος, ‘ὅτῳ é próprio e estranho, atraiu para si uma emanação e uma parte
κυβερνᾶται τὸ τε σύμπαν’ καθ’ Ἡράκλειτον. ὅθεν da beleza vinda dessa inteligência528 que “pilota o Universo”529,
οὐ χεῖρον ἐν τούτοις εἰκάζεται τὸ θεῖον ἢ χαλκοῖς καὶ segundo Heráclito. Por isso, o divino está representado nisso
C λιθίνοις δημιουργήμασιν, ἃ φθορὰς μὲν ὁμοίως δέχεται não pior que em obras em bronzes e mármores que podem C
καὶ ἐπιχρώσεις, αἰσθήσεως δὲ πάσης φύσει καὶ συνέσεως igualmente sofrer destruições e colorações superficiais, e
ἐστέρηται. Περὶ μὲν οὖν τῶν τιμωμένων ζῴων ταῦτα que estão privadas por natureza de toda percepção sensorial
δοκιμάζω μάλιστα τῶν λεγομένων· e de entendimento. Portanto, a respeito dos animais que são
honrados, isso é o que eu aprovo mais do que é dito.
77. στολαὶ δ’ αἱ μὲν Ἴσιδος ποικίλαι ταῖς βαφαῖς
(περὶ γὰρ ὕλην ἡ δύναμις αὐτῆς πάντα γινομένην καὶ 77. E as vestes de Ísis têm tingimentos de cores variadas530
δεχομένην, φῶς σκότος, ἡμέραν νύκτα, πῦρ ὕδωρ, ζωὴν (pois o poder dela sobre a matéria que se torna o todo e nos
θάνατον, ἀρχὴν τελευτήν)· ἡ δ’ Ὀσίριδος οὐκ ἔχει σκιὰν recebe, luz - escuridão, dia - noite, fogo - água, vida - morte,
οὐδὲ ποικιλμόν, ἀλλ’ ἓν ἁπλοῦν τὸ φωτοειδές· ἄκρατον princípio - fim); e a de Osíris não tem sombra nem variação,
γὰρ ἡ ἀρχὴ καὶ ἀμιγὲς τὸ πρῶτον καὶ νοητόν. ὅθεν ἅπαξ mas é uma pura: a da luz; pois sua origem é pura, sem mistura e
D ταύτην ἀναλαβόντες ἀποτί-θενται καὶ φυλάττουσιν inteligível. Por isso que, por terem posto essa uma única vez, e a D
ἀόρατον καὶ ἄψαυστον, ταῖς δ’ Ἰσιακαῖς χρῶνται retiram e a guardam sem ser vista nem tocada, enquanto usam
πολλάκις. ἐν χρήσει γὰρ τὰ αἰσθητὰ καὶ πρόχειρα muitas vezes as de Ísis. Pois é no uso que está o perceptível e
ὄντα πολλὰς ἀναπτύξεις καὶ θέας αὑτῶν ἄλλοτ’ ἄλλως o tangível que conferem muitas formas de difusões e aspectos
ἀμειβομένων δίδωσιν· ἡ δὲ τοῦ νοητοῦ καὶ εἰλικρινοῦς de si mesmo em diferentes variações; a noção do inteligível,
καὶ ἁπλοῦ νόησις ὥσπερ ἀστραπὴ διαλάμψασα τῆς o puro e simples, através da alma, como o relâmpago, dá a
ψυχῆς ἅπαξ ποτὲ θιγεῖν καὶ προσιδεῖν παρέσχε. διὸ καὶ oportunidade de tocá-lo e de vê-lo uma única vez531. Por isso
Πλάτων καὶ Ἀριστοτέλης ἐποπτικὸν τοῦτο τὸ μέρος também Platão e Aristóteles chamam a essa parte da filosofia
τῆς φιλοσοφίας καλοῦσιν, καθ’ ὅσον οἱ τὰ δοξαστὰ καὶ de epóptica532, o quanto os que ultrapassaram com o auxílio

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μικτὰ καὶ παντοδαπὰ ταῦτα παραμειψάμενοι τῷ λόγῳ da razão todas essas situações, confusas e misturadas, que se
πρὸς τὸ πρῶτον ἐκεῖνο καὶ ἁπλοῦν καὶ ἄυλον ἐξάλλονται deslocam em direção ao primeiro, simples e imaterial, e tocam
382E καὶ θιγόντες ἀληθῶς τῆς περὶ αὐτὸ καθαρᾶς ἀληθείας realmente a pura verdade que o cerca, como em um festival com 382E
οἷον ἐν τελετῇ τέλος ἔχειν φιλοσοφίας νομίζουσι. ritos místicos, consideram que atingiram o fim último da filosofia.
78. Καὶ τοῦθ’ ὅπερ οἱ νῦν ἱερεῖς ἀφοσιούμενοι καὶ 78. E é isso mesmo que os atuais sacerdotes, ao cumprir seu
παρακαλυπτόμενοι μετ’ εὐλαβείας ὑποδηλοῦσιν, ὡς ὁ θεὸς dever religioso e mantê-lo oculto, com precaução o anunciam,
οὗτος ἄρχει καὶ βασιλεύει τῶν τεθνηκότων οὐχ ἕτερος ὢν como esse deus comanda e reina sobre os mortos não é outro que
τοῦ καλουμένου παρ’ Ἕλλησιν Ἅιδου καὶ Πλούτωνος, o chamado com o nome de Hades e de Plutão junto aos helenos,
ἀγνοούμενον ὅπως ἀληθές ἐστι, διαταράττει τοὺς πολλοὺς por ignorar de que modo é verdadeiro, perturba a maioria que
ὑπονοοῦντας ἐν γῇ καὶ ὑπὸ γῆν τὸν ἱερὸν καὶ ὅσιον ὡς suspeita que o sagrado e piedoso Osíris está na terra e habita
ἀληθῶς Ὄσιριν οἰκεῖν, ὅπου τὰ σώματα κρύπτεται τῶν verdadeiramente embaixo da terra, onde se ocultam os corpos dos
τέλος ἔχειν δοκούντων. ὁ δ’ ἔστι μὲν αὐτὸς ἀπωτάτω τῆς γῆς que parecem ter alcançado o seu fim. Mas ele está muito longe da
F ἄχραντος καὶ ἀμίαντος καὶ καθαρὸς οὐσίας ἁπάσης φθορὰν terra, inalterado, incorruptível, puro de toda substância que aceita F
δεχομένης καὶ θάνατον, ἀνθρώπων δὲ ψυχαῖς ἐνταυθοῖ μὲν a destruição e a morte, e às almas humanas aqui embaixo, cercadas
ὑπὸ σωμάτων καὶ παθῶν περιεχομέναις οὐκ ἔστι μετουσία de corpos e paixões, não lhes é permitido participar do deus, exceto
τοῦ θεοῦ πλὴν ὅσον ὀνείρατος ἀμαυροῦ θιγεῖν νοήσει o quanto é possível a inteligência tocar em um sonho obscuro por
διὰ φιλοσοφίας· ὅταν δ’ ἀπολυθεῖσαι μεταστῶσιν εἰς τὸ meio da filosofia; e quando elas se libertam das amarras, mudam
383A ἀειδὲς καὶ ἀόρατον καὶ ἀπαθὲς καὶ ἁγνόν, οὗτος αὐταῖς para onde não há forma, é invisível, impassível e puro, e esse deus 383A
ἡγεμών ἐστι καὶ βασιλεὺς ὁ θεὸς ἐξηρτημέναις ὡς ἂν é seu guia e rei, ficam nesse lugar como se estivessem suspensas,
ἀπ’ αὐτοῦ καὶ θεωμέναις ἀπλήστως καὶ ποθούσαις τὸ porque contemplam-no insaciavelmente e desejam a sua beleza,
μὴ φατὸν μηδὲ ῥητὸν ἀνθρώποις κάλλος· οὗ τὴν Ἶσιν ὁ que é indizível e inexprimível aos homens; dela, o antigo mito
παλαιὸς ἀποφαίνει λόγος ἐρῶσαν ἀεὶ καὶ διώκουσαν καὶ revela que Ísis é sempre tomada de amor por ela533, persegue-a e
συνοῦσαν ἀναπιμπλάναι τὰ ἐνταῦθα πάντων καλῶν καὶ tem relações sexuais com ela, aqui embaixo, repleta de todo o belo
ἀγαθῶν, ὅσα γενέσεως μετέσχηκε. Ταῦτα μὲν οὖν οὕτως e bom, quantos participem da geração534. Portanto, esse é assim o
ἔχει τὸν μάλιστα θεοῖς πρέποντα λόγον· relato mais conveniente aos deuses.
79. εἰ δὲ δεῖ καὶ περὶ τῶν θυμιωμένων ἡμέρας 79. E se devo falar também dos que queimam os incensos
ἑκάστης εἰπεῖν, ὥσπερ ὑπεσχόμην, ἐκεῖνο διανοηθείη de cada dia, como prometi535; em primeiro lugar, poderia se ter
τις ἂν πρότερον, ὡς ἀεὶ μὲν οἱ ἄνδρες ἐν σπουδῇ μεγίστῃ atentado para o fato de que os egípcios sempre põem muito zelo nas
B τίθενται τὰ πρὸς ὑγίειαν ἐπιτηδεύματα, μάλιστα δὲ ταῖς atividades relacionadas à saúde536, e especialmente nas cerimônias B
ἱερουργίαις καὶ ταῖς ἁγνείαις καὶ διαίταις οὐχ ἧττον sagradas, nas purificações e regimes de vida, a saúde não está menos
ἔνεστι [τουτὶ] τοῦ ὁσίου τὸ ὑγιεινόν. οὐ γὰρ ᾤοντο καλῶς presente nela que a piedade. Pois pensavam que não era bom servir
ἔχειν οὔτε σώμασιν οὔτε ψυχαῖς ὑπούλοις καὶ νοσώδεσι ao puro, o que é completamente intacto e incorruptível com

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θεραπεύειν τὸ καθαρὸν καὶ ἀβλαβὲς πάντῃ καὶ ἀμίαντον. ἐπεὶ corpos e almas contaminados e doentes. Visto que o ar, o que
τοίνυν ὁ ἀήρ, ᾧ πλεῖστα χρώμεθα καὶ σύνεσμεν, οὐκ ἀεὶ τὴν mais utilizamos e com o qual existimos, não tem sempre a
αὐτὴν ἔχει διάθεσιν καὶ κρᾶσιν, ἀλλὰ νύκτωρ πυκνοῦται καὶ mesma composição e temperatura, mas torna-se denso à noite,
πιέζει τὸ σῶμα καὶ συνάγει τὴν ψυχὴν εἰς τὸ δύσθυμον καὶ oprime o corpo e conduz a alma ao desânimo e à inquietação,
πεφροντικὸς οἷον ἀχλυώδη γινομένην καὶ βαρεῖαν, ἀναστάντες como se a tornasse sombria e pesada, eles logo se levantam,
εὐθὺς ἐπιθυμιῶσι ῥητίνην θεραπεύοντες καὶ καθαίροντες queimam bolas de resina perfumada537, tratam e purificam o
383C τὸν ἀέρα τῇ διακρίσει καὶ τὸ σύμφυτον τῷ σώματι πνεῦμα ar com sua dissolução e reanimam o espírito inato ao corpo 383C
μεμαρασμένον ἀναρριπίζοντες ἐχούσης τι τῆς ὀσμῆς σφοδρὸν desfalecido, porque o seu odor tem algo de violento e assustador.
καὶ καταπληκτικόν. αὖθις δὲ μεσημβρίας αἰσθανόμενοι σφόδρα E por sua vez, ao meio-dia, quando percebem que o Sol arrasta
πολλὴν καὶ βαρεῖαν ἀναθυμίασιν ἀπὸ γῆς ἕλκοντα βίᾳ τὸν ἥλιον com força uma intensa e densa exalação da terra e a mistura com
καὶ καταμιγνύοντα τῷ ἀέρι τὴν σμύρναν ἐπιθυμιῶσι· διαλύει ar, queimam mirra; pois o seu calor dissolve e dispersa o lodoso
e o lamacento que está concentrado na atmosfera. De fato, os
γὰρ ἡ θερμότης καὶ σκίδνησι τὸ συνιστάμενον ἐν τῷ περιέχοντι
médicos pensam que estão ajudando nas doenças pestilentas
θολερὸν καὶ ἰλυῶδες. καὶ γὰρ οἱ ἰατροὶ πρὸς τὰ λοιμικὰ πάθη
quando fazem uma grande fogueira para que o ar se torne
βοηθεῖν δοκοῦσι φλόγα πολλὴν ποιοῦντες ὡς λεπτύνουσαν rarefeito; e o melhor se torna rarefeito se queimar madeiras
τὸν ἀέρα· λεπτύνει δὲ βέλτιον, ἐὰν εὐώδη ξύλα καίωσιν, οἷα odorantes, tais como o cipreste, o zimbro e o pinheiro. Durante
D κυπαρίττου καὶ ἀρκεύθου καὶ πεύκης. Ἄκρωνα γοῦν τὸν o tempo em que Atenas foi acometida pela grande peste, contam D
ἰατρὸν ἐν Ἀθήναις ὑπὸ τὸν μέγαν λοιμὸν εὐδοκιμῆσαι que o médico Ácron538 tornou-se célebre quando ordenou que
λέγουσι πῦρ κελεύοντα παρακαίειν τοῖς νοσοῦσιν· ὤνησε acendessem fogo junto aos doentes; pois não foram poucos
γὰρ οὐκ ὀλίγους. Ἀριστοτέλης δέ φησι καὶ μύρων καὶ os que ele ajudou. E Aristóteles também afirma que exalações
ἀνθέων καὶ λειμώνων εὐώδεις ἀποπνοίας οὐκ ἔλαττον das fragrâncias dos perfumes líquidos, das flores e dos campos
ἔχειν τοῦ πρὸς ἡδονὴν τὸ πρὸς ὑγίειαν, ψυχρὸν ὄντα não tem menos influência sobre a saúde que o prazer, porque
φύσει καὶ παγετώδη τὸν ἐγκέφαλον ἠρέμα τῇ θερμότητι distendem prazerosamente com seu calor e suavidade o cérebro,
καὶ λειότητι διαχεούσας. εἰ δὲ καὶ τὴν σμύρναν παρ’ que é por natureza frio e gelado539, se também entre os egípcios
Αἰγυπτίοις σὰλ καλοῦσιν, ἐξερμηνευθὲν δὲ τοῦτο chamam a mirra de sál e isso é interpretado especialmente como
μάλιστα φράζει τῆς ληρήσεως ἐκσκορπισμόν, ἔστιν ἣν “dissipação” da loucura, isso também oferece um testemunho
καὶ τοῦτο μαρτυρίαν τῷ λόγῳ τῆς αἰτίας δίδωσιν. da causa de seu uso.
E 80. τὸ δὲ κῦφι μῖγμα μὲν ἑκκαίδεκα μερῶν 80. E o cifi540 é uma mistura composta de dezesseis partes, que E
συντιθεμένων ἐστί, μέλιτος καὶ οἴνου καὶ σταφίδος são: uma parte de mel, de vinho, de uva passa, de junça longa, de
καὶ κυπέρου ῥητίνης τε καὶ σμύρνης καὶ ἀσπαλάθου bolas de resina perfumada e mirra, de aspálato541, de seseli542, além
καὶ σεσέλεως, ἔτι δὲ σχίνου τε καὶ ἀσφάλτου καὶ θρύου disso, de lentisco e betume, de junco, de labaça, e além deles, ambos
καὶ λαπάθου, πρὸς δὲ τούτοις ἀρκευθίδων ἀμφοῖν os tipos de zimbro (chamam um deles maior e outro, menor) e de

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(ὧν τὴν μὲν μείζονα τὴν δ’ ἐλάττονα καλοῦσι) καὶ cardamomo e de cálamo. Como não os combinam ao acaso, ao
καρδαμώμου καὶ καλάμου. συντίθενται δ’ οὐχ ὅπως contrário, leem os escritos sagrados aos perfumistas quando
ἔτυχεν, ἀλλὰ γραμμάτων ἱερῶν τοῖς μυρεψοῖς, ὅταν ταῦτα os misturam. E quanto ao número, ainda que mais pareça
μιγνύωσιν, ἀναγιγνωσκομένων. τὸν δ’ ἀριθμόν, εἰ καὶ πάνυ convenientemente lhes agradar, o quadrado do quadrado e
δοκεῖ τετράγωνος ἀπὸ τετραγώνου καὶ μόνος ἔχων τῶν ἴσων o único dentre os números que forma um quadrado tem o
383F ἰσάκις ἀριθμῶν τῷ χωρίῳ τὴν περίμετρον ἴσην ἀγαπᾶ- σθαι perímetro igual a sua área543, deve ser dito que ele contribuiu 383F
προσηκόντως, ἐλάχιστα ῥητέον εἴς γε τοῦτο συνεργεῖν, ἀλλὰ um pouco ao menos nesse ponto, mas a maior parte das
τὰ πλεῖστα τῶν συλλαμβανομένων ἀρωματικὰς ἔχοντα substâncias combinadas tem poderes aromáticos, aroma
δυνάμεις γλυκὺ πνεῦμα καὶ χρηστὴν μεθίησιν ἀναθυμίασιν, doce e benéfica exalação, sob seu efeito, o ar sofre alteração
ὑφ’ ἧς ὅ τ’ ἀὴρ τρεπόμενος καὶ τὸ σῶμα διὰ τῆς πνοῆς e o corpo, movendo-se pela emanação e deslizando doce e
κινούμενον λείως καὶ προσηνῶς ὕπνου τε κρᾶσιν ἐπαγωγὸν agradavelmente, mantém-se seduzido por essa temperatura do
ἴσχει καὶ τὰ λυπηρὰ καὶ σύντονα τῶν μεθημερινῶν sono e libera as aflições e as fortes tensões das preocupações
φροντίδων ἄνευ μέθης οἷον ἅμματα χαλᾷ καὶ διαλύει· quotidianas, sem a embriaguez, como nós que se desatam; e
384A καὶ τὸ φανταστικὸν καὶ δεκτικὸν ὀνείρων μόριον ὥσπερ a parte imaginativa e capaz de receber os sonhos544, como um 384A
κάτοπτρον ἀπολεαίνει καὶ ποιεῖ καθαρώτερον οὐδὲν ἧττον espelho, pule-a e a faça mais pura, nada menos que as árias da
ἢ τὰ κρούματα τῆς λύρας, οἷς ἐχρῶντο πρὸ τῶν ὕπνων οἱ lira, as que os pitagóricos545 usavam antes dos seus sonhos;
Πυθαγόρειοι, τὸ ἐμπαθὲς καὶ ἄλογον τῆς ψυχῆς ἐξεπᾴδοντες e desse modo, cuidavam e acalmavam a parte instintiva e
οὕτω καὶ θεραπεύοντες. τὰ γὰρ ὀσφραντὰ πολλάκις μὲν τὴν irracional da alma. Pois as substâncias que exalam odores
αἴσθησιν ἀπολείπουσαν ἀνακαλεῖται, πολλάκις δὲ πάλιν muitas vezes reanimam a percepção perdida; e muitas vezes,
ἀμβλύνει καὶ κατηρεμίζει διαχεομένων ἐν τῷ σώματι τῶν por sua vez, enfraquece-o e o acalma, quando essas emanações,
ἀναλωμάτων ὑπὸ λειότητος· ὥσπερ ἔνιοι τῶν ἰατρῶν τὸν por sua doçura, espalham-se pelo corpo; como alguns médicos
ὕπνον ἐγγίνεσθαι λέγουσιν, ὅταν ἡ τῆς τροφῆς ἀναθυμίασις dizem que o sono acontece quando há a exalação do alimento,
οἷον ἕρπουσα λείως περὶ τὰ σπλάγχνα καὶ ψηλαφῶσα ποιῇ como que arrastado docemente em volta das vísceras e as vai
τινα γαργαλισμόν. τῷ δὲ κῦφι χρῶνται καὶ πόματι καὶ apalpando, como uma sensação de prazer provocada pela
B χρίματι· πινόμενον γὰρ δοκεῖ τὰ ἐντὸς καθαίρειν, .... cócega. E usam o cifi tanto como poção como unguento; pois B
χρῖμα μαλακτικόν. ἄνευ δὲ τούτων ῥητίνη μέν ἐστιν parece que quando é bebido purifica os órgãos internos, ....546 um
ἔργον ἡλίου καὶ σμύρνα πρὸς τὴν εἵλην τῶν φυτῶν unguento laxante. E fora isso, a resina e a mirra são obra do Sol
ἐκδακρυόντων, τῶν δὲ τὸ κῦφι συντιθέντων ἔστιν ἃ diante do calor do dia, quando as plantas derretem-se em lágrimas,
νυκτὶ χαίρει μᾶλλον, ὥσπερ ὅσα πνεύμασι ψυχροῖς καὶ e entre os compostos do cifi há os que são mais deleitantes à noite,
σκιαῖς καὶ δρόσοις καὶ ὑγρότησι τρέφεσθαι πέφυκεν· como quantos por natureza se alimentam de ventos frios, sombras,
ἐπεὶ τὸ τῆς ἡμέρας φῶς ἓν μέν ἐστι καὶ ἁπλοῦν καὶ τὸν orvalhos e umidades; visto que a luz do dia é una e simples, Píndaro

174 ΠΛΟΥΤΑΡΧΟΣ | P LUTARCO ΠΕΡΙ ΙΣΙΔΟΣ ΚΑΙ ΟΣΙΡΙΔΟΣ | D E ÍSIS E OSÍRIS 175
ἥλιον ὁ Πίνδαρος ὁρᾶσθαί φησιν ‘ἐρήμης δι’ αἰθέρος’, ὁ diz que o Sol é visto “através do deserto éter”547, e o ar da noite é um
δὲ νυκτερινὸς ἀὴρ κρᾶμα καὶ σύμμιγμα πολλῶν γέγονε composto e uma mistura de muitas luzes e potencialidades que,
φώτων καὶ δυνάμεων οἷον σπερμάτων εἰς ἓν ἀπὸ παντὸς como gérmens, a partir de todo tipo de astro, confluem em um
384C ἄστρου καταρρεόντων. εἰκότως οὖν ἐκεῖνα μὲν ὡς ἁπλᾶ único ponto. Portanto, com razão, queimam aqueles durante o dia, 384C
καὶ ἀφ’ ἡλίου τὴν γένεσιν ἔχοντα δι’ ἡμέρας, ταῦτα porque são compostos simples e têm sua origem no Sol; enquanto
δ’ ὡς μικτὰ καὶ παντοδαπὰ ταῖς ποιότησιν ἀρχομένης essas, que são misturadas e de todos os tipos de substâncias, quando
νυκτὸς ἐπιθυμιῶσι. começa a noite.

176 ΠΛΟΥΤΑΡΧΟΣ | P LUTARCO ΠΕΡΙ ΙΣΙΔΟΣ ΚΑΙ ΟΣΙΡΙΔΟΣ | D E ÍSIS E OSÍRIS 177
N otas

1 De origem helena, Clea era sacerdotisa de Dioniso em Delfos, desempenhava


a função de chefe das Tíades, era iniciada nos Mistérios de Osíris e exercia
atividades religiosas no templo de Ísis. Plutarco ainda lhe dedica o tratado
Das virtudes das mulheres.
2 A expressão é τοὺς νοῦν ἔχοντας (toùs noûn ékhontas), que literalmente
significa “os que têm inteligência”, pois entendemos noûn como
“inteligência”, no sentido de que se trata da faculdade humana de conhecer,
compreender e aprender coisas.
3 A ἀλήθεια (alḗtheia), ou a verdade, proposta por Plutarco está relacionada
a esta expressa por Platão: “e eles serão condenados pela verdade por sua
perversidade e injustiça” (Apologia de Sócrates, 39b.5), na qual a verdade
aparece com o sentido de onisciência divina, pois ao deus coube por sorte
conhecer os fatos. Plutarco explica seu conceito de verdade logo adiante em
351E. Doravante, a tradução cuja autoria não for identificada pertence a
esta tradutora, exceto os excertos de obras publicadas.
4 Poeta épico heleno a quem é atribuída a autoria dos versos em hexâmetro
dactílicos da Ilíada e da Odisseia. Estudos realizados sobre a cronologia de
suas obras nos trazem informações de que elas datam dos séculos XII a IX a.C.
5 Pai dos deuses e dos homens, Zeus, filho de Crono e Reia, reinou sobre todos 11 Ísis é a esposa de seu irmão Osíris, mãe de Hórus, o Deus dos Céus. A
após destronar seu pai; sobre a origem e os acontecimentos que antecederam deusa é considerada a mãe dos deuses e a divindade relacionada à magia.
seu reinado, Hesíodo nos conta: “Mas quando a Zeus pai dos Deuses e dos A representação mais recorrente de Ísis é a de uma vaca segurando o
homens/ ela devia parir, suplicou-lhe então aos pais queridos,/ aos seus, à símbolo da Lua, por isso esse animal é consagrado a deusa. Outro aspecto
Terra e ao Céu constelado,/comporem um ardil para que oculta parisse/ o interessante dessa divindade e que, ao contrário das demais divindades
filho, e fosse punido pelas Erínias do pai/ e filhos engolidos o grande Crono egípcias, Ísis não tinha um local específico para o seu culto, além de ter
de turvo pensar./ Eles escutaram e atenderam à filha querida/ e indicaram alcançado prestígio entre os antigos helenos e os romanos. Sobre o culto
quanto era destino ocorrer/ ao rei Crono e ao filho de violento ânimo./ a Ísis, Heródoto nos conta que: “todos os egípcios sacrificam bois puros,
Enviaram-na a Licto, gorda região de Creta,/ quando ela devia parir o filho os mais vigorosos e os vitelos, enquanto não lhes é permitido sacrificar as
de ótimas armas,/ o grande Zeus, e recebeu-o Terra prodigiosa/ na vasta vacas, mas são oferendas sacrificiais de Ísis. Pois a estátua de Ísis era de uma
Creta para nutri-lo e criá-lo.” (Teogonia, 468-480), in: Hesíodo. Teogonia: figura feminina com chifres de vaca, conforme os helenos representavam
a origem dos deuses. Edição bilíngue. Estudo e tradução de Jaa Torrano. 3ª Io, e todos os egípcios igualmente veneram de modo mais considerável as
edição. São Paulo: Iluminuras, 1995. Dentre os vários atributos de Zeus, vacas de todos os rebanhos.”. (Histórias. 2.41). In: Heródoto. Histórias.
Livro II – Euterpe. Tradução, introdução e notas de Maria
estava o poder de fazer chover, provocar trovoadas e lançar raios.
Aparecida de Oliveira Silva. São Paulo: Edipro, 2016.
6 Homero. Ilíada, 13.354-355; no entanto, o poeta aqui se refere aos deuses
12 O filho mais novo de Geia e do Tártaro, um ser monstruoso, intermediário
Zeus e Posídon. O pensamento plutarquiano sobre a relação existente entre
entre homem e fera. Era o mais forte de todos os filhos de Geia, maior
a anterioridade e a sabedoria dialoga com o exposto por Platão em Leis,
que todas as montanhas; a sua cabeça tocava nas estrelas. Em vez de
752e, e com Pólux. Onomástico, 2.12.
dedos, Tífon tinha dragões em suas mãos e a cintura cercada por víboras;
7 Em outro tratado, Plutarco afirma que: “pois, o deus não é feliz por seu também possuía asas e os seus olhos soltavam fogo. Ao abrir os braços, as
tempo de vida, mas por sua virtude, pois isso é o divino, e também é belo mãos de Tífon atingiam o Oriente e o Ocidente. Quando Tífon resolveu
ser seu comandado.” (οὐ γὰρ χρόνῳ ζωῆς ὁ θεὸς εὐδαίμων ἀλλὰ τῆς ἀρετῆς atacar o céu, os deuses fugiram para o Egito e se esconderam no deserto.
τῷ ἄρχοντι· τοῦτο γὰρ θεῖόν ἐστι, καλὸν δ' αὐτῆς καὶ τὸ ἀρχόμενον.) (A um Apenas Zeus e Atena resistiram ao ataque de Tífon. O combate aconteceu
governante sem instrução, 781A). no monte Cásio, entre o Egito e a Arábia, quando Zeus o fulminou
8 E mais uma vez Plutarco retoma reflexões sobre verdade, conhecimento e com os seus raios. Consultar: Apolodoro. Biblioteca, 1.6.3. Homero
inteligência como características do divino e reacende o debate já exposto canta algumas características de Tífon – aqui com a variante da tradução
por Platão: “Então, como o pensamento do deus é nutrido pela inteligência apresentada, na qual ele é chamado de Tifeu – como vemos nos seguintes
e pelo conhecimento incólume, também o de toda alma cuidaria para versos: “Os outros Dânaos avançam qual fogo que o solo abrasasse./ Como
receber o que lhe convém, porque vê através do tempo o ser que aprecia e a Terra, que geme ao mostrar-se agastado Zeus grande,/ que com os raios
contempla a verdade que o nutre e o alegra, até o momento em que o giro se apraz, quando em torno a Tifeu a vergasta, entre os Arimos, local onde
da roda volta ao mesmo lugar.” (Fedro, 247d.1-5). Portanto, notamos que se acha Tifeu, e o que dizem:/ do mesmo modo estrondava com o peso
este tratado é marcadamente neoplatônico, como a maioria dos escritos por dos pés o chão todo,/ quando os heróis avançavam, cortando, ligeiros,
Plutarco, que tem Platão como fonte de inspiração e sustentação teórica, o campo.” (Ilíada, 2.780-785). In: Homero. Ilíada. 3. ed. Tradução e
mas é interessante anotar que Plutarco exerce sua liberdade para ora segui- introdução Carlos Alberto Nunes. São Paulo: Melhoramentos, 1960.
los, ora apresentar releituras dos preceitos platônicos. Igualmente Píndaro destaca essas características de Zeus e de Tífon nestes
9 Note a referência direta feita por Plutarco à sacerdotisa que nos informa versos: “Soberano condutor dos trovões de pés incansáveis,/ ó Zeus!
que Clea foi sacerdotisa de Ísis. As tuas Horas,/ dando voltas ao som do canto de variados tons de lira,
me enviaram/ como testemunha dos elevadíssimos jogos;/ mas quando
10 Como veremos em 375C, Plutarco relaciona a deusa Ísis à sabedoria. os amigos da hospitalidade alcançam êxito,/ logo os nobres se alegram

180 MARIA APARECIDA DE OLIVEIRA SILVA NOTAS 181


com a doce notícia./ Pois bem, filho de Cronos, tu que domina o Etna,/ 17 Filho de Zeus e de Maia, o deus nasceu em uma caverna, no alto do Monte
peso tempestuoso/ do terrível Tifão de cem cabeças,/ recebe, em nome Cilene, ao sul da Arcádia. Mensageiro dos deuses, Hermes tem o poder de
das Graças, próprio de um vencedor olímpico/ este cortejo processional, circular entre o mundo dos vivos e o dos mortos.
luz duradoura de façanhas de vastos poderes.”. (Olímpica, 4.1-10), in:
18 Filho de Iápeto, um titã, e de Ásia, filha de Oceano, Prometeu é primo
Píndaro, As odes olímpicas. Introdução, tradução e notas de Glória Braga
de Zeus. O mito de Prometeu é contado por Hesíodo na Teogonia,
Onelley e Shirley Peçanha. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2016.
sobre sua origem conta: “Iápeto deposou Clímene de belos tornozelos/
13 Ésquilo faz referência ao caráter colérico de Tífon: “Chega, perseguida virgem Oceanina e entraram no mesmo leito./ Ela gerou o filho Atlas de
pelo dardo/ do vaqueiro alado,/ ao nutriente bosque de Zeus,/ prado violento ânimo,/ pariu o sobreglorioso Menécio e Prometeu/ astuto de
nutrido de neve, que/ a ira de Tífon invade)”. (Suplicantes, 556-560), in: iriado pensar e o sem-acerto Epimeteu/ que foi um mal dês o começo aos
Ésquilo. Tragédias. Edição bilíngue. Estudo e tradução de Jaa Torrano. homens come-pão,/ pois primeiro aceitou de Zeus moldada a mulher
São Paulo: Iluminuras/Fapesp, 2009. virgem”, tradução de Jaa Torrano. In: Hesíodo, Teogonia: a origem dos
deuses. op. cit. Ésquilo, em Prometeu acorrentado, faz Crato ironizar o
14 Deusa do amor, filha de Urano, nascida dos órgãos sexuais de seu pai,
poder de previsão do Titã: “Agora aqui se insolente e os privilégios dos
cortados por Crono, que caíram nas ondas do mar e que, em suas espumas,
deuses/ rouba e entrega aos efêmeros. Qual das tuas/ penas os mortais
geraram Afrodite. Nas águas do mar, a deusa foi levada a ilha de Citera e,
podem eliminar por ti?/ As divindades te chamam pelo falso nome/
em seguida, a Cipro, ou Chipre. Conforme lemos nestes versos: “Conta-
Prometeu; tu mesmo precisas de previsão,/ para o modo como te libertaras
me, Musa, sobre os trabalhos de Afrodite de ouro,/ de Cípris que fez
deste engenho.” (Prometeu acorrentado, 82-87). In: Ésquilo. Prometeu
nascer o doce desejo nos deuses/ e submeteu a raça dos homens mortais,/
acorrentado. Tradução e notas de Maria Aparecida de Oliveira Silva. São
dos pássaros vindos de Zeus e todas as feras selvagens/ que a terra nutre
Paulo: Martin Claret, 2019. Ésquilo faz um jogo de palavras com o nome
em grande número tanto quanto o mar/ Mas há três corações que ela não
de Prometeu, aqui no acusativo singular, Προμηθέα (Promēthéa) com o
pode persuadir ne seduzir:/a filha de Zeus, que a porta-égide, Atena de
substantivo προμηθέως (promēthéōs), que traduzimos por “previsão”.
olhos brilhantes. [...] Jamais Afrodite que ama sorrir poderá submeter/
às leis do amor a brilhante Ártemis de flechas de ouro; [...] Nem sequer 19 As Musas eram filhas da deusa Mnemôsine (personificação da Memória) e
a Virgem Venerável se compraz com os trabalhos de Afrodite -/ a qual de Zeus pai e trazem ora o epiteto de Piérides, ora de Helicônias. Elas eram
Crono engendrou por si mesmo, [...] (h.Hom. 5: A Afrodite, 1-22), em número nove; a saber: Calíope (poesia épica), Clio (história), Euterpe
tradução de Flávia R. Marquetti. In: Hinos homéricos. Edição bilíngue. (lírica e música de flauta), Melpômene (tragédia), Terpsícore (dança),
Tradução, notas e estudo de vários tradutores. Edição e organização de Érato (hinos e música para lira), Polímnia (cantos sacros), Talia (comédia)
Wilson Alves Ribeiro Jr. São Paulo: Editora da Unesp, 2010. e Urânia (astronomia).
15 Plutarco desenvolve essa afirmação abaixo em 355E. 20 Δικαιοσύνη (Dikaiosýnē), ou Diceosine, era a personificação da Justiça.
16 Templo dedicado à deusa Ísis, tratava-se de um local que não era exclusivo 21 Consultar 351E.
para cerimônias religiosas, também era usado para ensinar os mistérios
22 Responsáveis por supervisionar os procedimentos do culto.
isíacos aos iniciantes, além de ser um local de reunião para iniciados, os
chamados Isíacos. Por esta característica de ser um local da verdade e da 23 Logo adiante em 366F, Plutarco os denominará também de estolistas. Os
realidade, é possível interpretar ’Ισεϊον como a junção de είσει τὸ ὄν ou de hieróstulos ou estolistas vestiam e adornavam as estátuas dos deuses com
είσει ίων, a partir desta afirmação plutarquiana: “ὀνομάζεται γὰρ Ἰσεῖον vestes sagradas e objetos específicos das divindades, pois conheciam todos
ὀνομάζεται γὰρ Ἰσεῖον ὡς εἰσομένων τὸ ὄν”, que traduzimos por “pois os preceitos dos ritos sacrificiais, de acordo com as informações que nos
recebe o nome de Iseion para que conheçamos a realidade”. foram passadas por Clemente de Alexandria, Micelâneas, 5.4.36.

182 MARIA APARECIDA DE OLIVEIRA SILVA NOTAS 183


24 Plutarco tem um tratado específico sobre a superstição que assim a explica: 30 Filósofo heleno, século IV a.C., discípulo de Sócrates, escritor do gênero
“A ignorância e o desconhecimento a respeito dos deuses corre logo desde dialógico pelo qual perpassam seus conceitos filosóficos de forma dialética.
o início através de dois fluxos, um produz, como em territórios secos, o
31 A respeito dos cuidados dos sacerdotes com suas vestes e seu corpo, temos
ateísmo nos caracteres rudes, enquanto o outro, como nos úmidos, a
também o registrado por Heródoto: “os sacerdotes raspam todo o corpo
superstição nos que são moles.” (Da superstição, 164E).
a cada três dias, para que não tenham piolho e para que nenhum outro
25 Nome dado aos sacerdotes da deusa Ísis. tipo de contaminação lhes ocorra quando estão servindo aos deuses. Os
sacerdotes trajam vestimentas somente de linho e calçam sandálias feitas
26 A crer no próprio Plutarco, barbear-se parece que era um costume corrente
de papiro, não lhes e permitido usar nenhum outro tipo de vestimenta
em sua época, pois a barba era um sinal que identificava um filósofo,
nem sandálias de outros materiais. Banham-se duas vezes a cada dia, cada
conforme depreendemos deste relato: “Mas se caça um jovem conhecedor
uma delas com água fria, e ainda duas vezes por noite, e cumprem com
das letras e estudioso, logo está entre os livros, a sua barba desce até os pés,
outras inúmeras cerimônias religiosas, por assim dizer.”. (Histórias, 2.37).
a coisa é vestir uma capa surrada e ter indiferença do filósofo, e pela boca os
In: Heródoto. Histórias. Livro II - Euterpe. op. cit.
números e os triângulos retângulos de Platão. E se um indolente, beberrão
e rico, por sua vez, precipitar-se diante dele, “Em seguida, despiu-se de 32 Poeta nascido na cidade de Ascra, na Beócia, século VIII a.C.
seus farrapos o muito sagaz Odisseu”, o manto grosseiro foi jogado, e a
33 Hesíodo, Os trabalhos e os dias, 742-743, onde faz referência à proibição
sua barba foi aparada, como um campo sem frutos, e vasos para manter
feita aos convivas de cortar suas unhas à mesa. Em Vida de Pitágoras,
frescos os vinhos, taças, sorrisos nas caminhadas e zombarias contra os
21.100, Iâmblico afirma que os pitagóricos seguiam o preceito de não
filósofos.” (Como distinguir o bajulador do amigo, 52C-D), in: Plutarco.
cortar suas unhas durante os sacrifícios.
Como distinguir o bajulador do amigo. Tradução, introdução e notas de
Maria Aparecida de Oliveira Silva. São Paulo: Edipro, 2015. Mas, como o 34 Plutarco não redigiu nenhum tratado específico sobre o tema, ao menos
próprio Plutarco aqui afirma, nem todos que usam barbas são verdadeiros não temos registro disso em nenhum dos catálogos ou listas de obras
filósofos, nem todos que se barbeiam são verdadeiros sacerdotes. plutarquianas. Temos apenas esta breve referência: “Que as transformações
dos animais segundo o gênero do abate e da morte se estendem à pele, ao
27 Heródoto relata que os egípcios: “são de longe os mais tementes aos deuses
pelo e às unhas insinua-o também Homero, que, no seu modo de dizer
dentre todos os homens e tem os seguintes costumes: bebem em tacinhas
a propósito das peles e das correias, se refere a “uma correia de couro de
de bronze, que eles lavam todos os dias, não um e outro não, mas todos
bois que não morreram de doença ou velhice, mas que foram degolados,
o fazem. Trajam vestimentas de linho sempre recém-lavadas, prestando
torna-se firme e espessa. Mas, quando são atacados por animais selvagens,
atenção, sobretudo, nisso. E praticam a circuncisão dos seus genitais por
os cascos ficam negros, o pelo cai e a pele fica escamada e rompe-se aos
causa da limpeza, preferindo estarem mais limpos do que bem-vestidos.”
pedaços.” (Assuntos de banquetes, 642C), tradução de José Luís Brandão.
(Histórias, 2.37). Sobre suas vestes, o historiador conta que “trajavam
In: Plutarco. Obras morais. No banquete – I. Livros I-IV. Tradução do
túnicas de linho com franjas em volta das pernas, as quais eles chamam
grego, introdução e notas de Carlos de Jesus, José Luís Brandão, Martinho
calasíris; e sobre elas portavam mantos brancos de lã, jogados por cima.
Soares, Rodolfo Lopes. Coordenação de José Ribeiro Ferreira. Coimbra:
Todavia, eles não entram trajados com roupas de lã nos templos nem são
CECH, 2008. Igualmente faz rápidas referências em seu tratado Questões
enterrados com elas, pois isso não é permitido pela lei divina.”. (Histórias,
romanas, 286E.
2.37). In: Heródoto. Histórias. Livro II - Euterpe. op. cit.
35 Sobre a alimentação dos sacerdotes, Heródoto registra: “os alimentos
28 θεμιτός (themitós) significa “o que é permitido pelas leis divinas”.
sagrados são cozidos para eles; todos os dias, cada um deles tem grande
29 Platão, Fédon, 67b. quantidade de carnes de bois e de gansos e lhes dão vinho de uva; não lhes
é permitido se alimentarem de peixes. Os egípcios não semeiam nenhum

184 MARIA APARECIDA DE OLIVEIRA SILVA NOTAS 185


tipo de fava no seu território e, quando elas nascem, não as comem nem era capaz de produzir inconveniente saciedade ou embriaguez. Em geral,
cruas nem cozidas; de fato, os sacerdotes não suportam quando as veem, o que estava assim determinado para sua dieta era tão moderadamente
considerando que nenhuma fava é pura.”. (Histórias, 2.37). In: Heródoto. estabelecido que parece não um legislador, mas o melhor dos médicos que
Histórias. Livro II – Euterpe. op. cit. Em um relato tardio, Porfírio registra tem em conta a saúde.” (Biblioteca histórica, 1.70.11).
que os egípcios não comiam peixe (Da abstinência, 4.7).
42 Nascido em Abdera, Hecateu visitou o Egito no reinado de Ptolomeu I,
36 Nascido em Mileto, Aristágoras é um historiador do século IV a.C. no século III a.C.
37 Divindade egípcia que era a personificação da Terra, como Geia para os 43 Não sabemos ao certo de quem se trata, o nome nos leva a crer que descende
helenos. Havia também uma cidade consagrada a esse deus que recebeu de Psamético, que foi Faraó da XXVI dinastia do Egito, 690-610 a.C.
o seu nome; Ápis está localizada na região do Baixo Egito. Sobre Ápis,
44 Eudoxo de Cnido, século IV a.C., é assim apresentado por Diógenes
Heródoto conta que: “E Psamético dominou todo o Egito e construiu
Laércio: “Êudoxos, filho de Aisquines, nasceu em Cnidos e foi astrônomo,
pórticos no templo de Hefesto, em Mênfis, voltados para o lado sul e
geômetra, médico e legislador. Aprendeu geometria com Arquitas e
ainda um pátio aberto em honra a Ápis, no qual, quando Ápis aparecia,
medicina com o siceliota Filistíon, segundo o testemunho de Calímacos
ele era alimentado; e ele construiu os pórticos em frente, em um lugar
em seus Quadros Sinópticos. Na Sucessão de Filósofos, Sotíon diz que
todo rodeado de colunas e cheio de figuras; e, no lugar de colunas, foram
Êudoxos também foi ouvinte de Platão. Tinha vinte e três anos de idade e
colocadas figuras colossais de doze côvados de altura no pátio aberto. E
atravessava uma situação difícil quando, atraído pela fama dos socráticos,
Ápis, conforme a língua dos helenos, é “Épafo”. (Histórias, 2.153). In:
viajou para Atenas com o médico Teomêdon, por quem era mantido
Heródoto. Histórias. Livro II – Euterpe. op. cit. E Heródoto assim o
(segundo outros autores foi seu amásio). Desembarcando no Peiraeus,
descreve: “E Ápis, esse Épafo, e um vitelo que nasceu de uma vaca que
todos os dias ia a Atenas, e regressava após haver ouvido os sofistas. Após
não mais existira e que não gerara nenhuma outra cria em seu ventre;
uma estada de dois meses, regressou à pátria e, ajudado por contribuições
e os egípcios dizem que um raio de luz que veio do céu cobriu a vaca e
dos amigos, viajou de lá para o Egito durante um ano e quatro meses,
que, depois disso ter acontecido com ela, pariu Ápis. E esse vitelo que é
raspou a barba e as sobrancelhas, e segundo alguns autores escreveu a
chamado de Ápis tem os seguintes sinais: ele é negro, tem um triângulo
Octaeteris. Do Egito foi para Cízicos e para a Propontis a fim de ensinar
branco na sua fronte, uma imagem que se assemelha a uma águia no seu
filosofia, porém dirigiu-se à corte de Máusolos. De lá regressou a Atenas,
dorso, tem pelos duplos em seu rabo e embaixo da sua língua existe um
trazendo consigo numerosos discípulos, segundo dizem alguns autores
escaravelho.”. (Histórias, 3.28). Heródoto. Histórias. Livro III - Talia.
para molestar Platão, que a princípio o menosprezara.” (Vidas e doutrinas
Tradução, introdução e notas de Maria Aparecida de Oliveira Silva. São
dos filósofos ilustres, 8.86-87). In: Diógenes Laêrtios. Vida e doutrinas dos
Paulo: Edipro, 2017.
filósofos ilustres. Tradução do grego, introdução e notas de Mario da Gama
38 Segundo maior rio do mundo em extensão, o Rio Nilo corta quase todos Kury. Brasília: UnB, 1977. Convém ressaltar que a grafia dos nomes foi
os territórios do norte da África. mantida conforme o original citado, e que ela não se assemelha a usada
neste livro por nos pautarmos na obra de Maria Helena Prieto, que pode
39 Também conhecida como Heliópolis. Para mais detalhes, veja o texto de
ser consultada nas referências bibliográficas deste Livro VI – Érato.
Margaret Bakos sobre o mito de Heliópolis no prefácio desta tradução.
45 Diógenes Laércio registra alguns hábitos dos pitagóricos que nos levam a
40 Isto é, não lhes convinha beber durante o dia.
crer que estes se inspiraram em rituais egípcios, como podemos depreender
41 Diodoro Sículo também registra o comedimento dos sacerdotes e ainda deste relato: “Acima de tudo Pitágoras proibia seus adeptos de comerem
destaca suas práticas de higiene e saúde, conforme lemos a seguir: “eles peixes, chamados salmonete e melanuro, prescrevia a abstinência tanto
tinham o costume de se servirem de alimentos frugais, consumiam somente do coração dos animais como das favas, e segundo Aristóteles também do
carnes de vitelo e de ganso, bebiam uma determinada medida que não rúmen e da cabrinha. Outros autores dizem que ele se contentava às vezes

186 MARIA APARECIDA DE OLIVEIRA SILVA NOTAS 187


apenas com o mel ou o favo, e pão, e que durante o dia não bebia vinho, helênico, Osíris é apropriadamente “de muitos olhos”, pois quando lança
e juntamente com o pão comia frequentemente verduras cozidas e cruas, seus raios de luz por toda parte, como se tivesse muitos olhos, observa toda
e raramente peixe. Sua roupa era imaculadamente alva, e suas cobertas a terra e o mar.” (Biblioteca Histórica, 1.11.1-2).
eram também alvas e de lã (não se usavam ainda as de linho naquelas
53 Clemente de Alexandria explica que eles não o comiam porque “afirmam
regiões). Nunca o viram comer demais, ou dedicar-se aos prazeres do
que os peixes não respiram esse ar.” (Micelâneas, 7.6.34).
amor, ou embriagar-se.”. In: Diôgenes Laêrtios. Vidas e doutrinas dos
filósofos ilustres. Tradução do grego, introdução e nota de Mário da Gama 54 Filho de Laerte, rei de Ítaca, e Anticleia. Personagem homérica que
Kury. Brasília: Editora da UnB, 1977. Para reforçar nosso pensamento, participou da guerra de Troia, destacada por sua prudência. Figura na
em outro tratado Plutarco afirma sobre Pitágoras que: “Concorda-se que Ilíada e tem seu retorno de Troia narrado por Homero na Odisseia, que
ele conviveu entre os sábios egípcios por muito tempo, emulava muitas trata de suas aventuras até alcançar Ítaca, voltar para os braços de sua
coisas deles e aprovava sobretudo os seus rituais sagrados.” (Assuntos de esposa Penélope e rever seu filho Telêmaco.
banquetes, 729A).
55 Plutarco se refere a estes versos: “Quando me achava sozinho e afastado dos
46 Cidade localizada no Alto Egito. outros, buscou-me,/ pois pelos cantos dessa ilha eles sempre vagando se
achavam,/ com anzóis curvos pescando, que os ventres a fome apertava”.
47 Eliano também afirma que o oxirrinco era um peixe cultuado pelos
(Odisseia, 4.368-369) e “Quando, porém, se acabou tudo quanto se achava
egípcios, porque teria nascido das feridas de Osíris (História dos animais,
na nave,/ a percorrer a ilha toda se viram forçados, em busca/ de algumas aves
10.46).
e peixes, munidos de anzóis retorcidos,/ ou o que achassem, que o estômago
48 Encontramos a mesma afirmação em Estrabão, Geografia, XVII, 1, 40; a todos a fome afligia.”. (Odisseia, 12.329-332). In: Homero. Odisseia.
Eliano, História dos animais, X, 46 e Clemente de Alexandria, Exortações Tradução de Carlos Alberto Nunes. São Paulo: Melhoramentos, 1962.
aos helenos, 2.39.5.
56 Plutarco registra o mesmo em Assuntos de banquetes, 729B. Interessante
49 Cidade situada ao Sul do Egito, às margens do Rio Nilo. perceber que o mar aparece na literatura helena como um excremento da
terra, o local de despejo de suas impurezas.
50 Notamos semelhanças entre os relatos de Plutarco e de Eliano, pois este
também afirma que o pargo era considerado sagrado entre os habitantes 57 Filho do rei que acolheu Ísis.
de Siene e acrescenta que os de Elefantina fazem o mesmo com o meota,
58 A respeito disso, temos o seguinte registro de Heródoto: “E os egípcios
também destaca a época da cheia do Nilo em que os peixes saltam
acreditam que o porco seja um animal impuro; também isso, se alguém
anunciando a chegada da água e que com isso alegram os egípcios. Para
tocasse em um porco passando entre eles, então ele se afastava, caminhava
mais detalhes, consultar: Eliano, História dos animais, 10.19.
até o rio e mergulhava com suas túnicas; e isso: os porqueiros, mesmo sendo
51 Trata-se do mês toth, 6 de setembro, quando as primeiras manifestações egípcios de nascimento, eram os únicos dentre todos que não entravam
da estrela de Ísis despontam no céu, conhecida como Sírio, que aparece à em nenhum templo do Egito, nem queriam dar suas filhas em casamento
época dos transbordamentos e das inundações do Nilo. para eles, nem aceitar as deles em casamento, mas os porqueiros davam e
aceitavam suas filhas em casamento uns aos outros. Portanto, os egípcios
52 Sobre a origem de Osíris, Diodoro Sículo nos conta que: “Portanto, os
não consideram justo sacrificar um porco para qualquer um desses deuses,
homens do Egito nascidos antigamente, porque olhavam para o mundo
para Selene e Dioniso, que são os únicos ao mesmo tempo, na mesma lua
e a natureza do universo, assombrados e maravilhados, supuseram que
cheia, que, depois de sacrificar os porcos, comem suas carnes.”. (Histórias,
havia dois deuses eternos e primeiros: o Sol e a Lua, dos quais, a um
2.47). In: Heródoto. Histórias. Livro II - Euterpe. op. cit.
deram o nome de Osíris e a outra de Ísis, que receberam esses nomes por
sua etimologia. Pois dentro das interpretações desses nomes no dialeto

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59 Isso também é dito em Assuntos de banquetes, 670F. O relato de Eliano para ele. Desde então, os egípcios moldam suas estátuas de Zeus com a
parece ter tido a mesma fonte de Plutarco, ou o próprio, pois é quase cabeça de um carneiro, e os amônios fazem-na graças aos egípcios e aos que
idêntico, a não ser pelo fato de que afirma que Eudoxo não acreditava são colonos dos egípcios e etíopes, e falam uma língua que está entre ambas.
que os egípcios sacrificavam porcos, porque pisava na terra semeada e Parece-me que também o nome que os amônios têm vem disso, eles o
enterrava o grão nela, evitando que os pássaros se alimentassem, e que colocaram como o seu epônimo; pois os egípcios chamam Zeus de Ámon.”.
Mâneton afirma ter ouvido relatos sobre quem bebia leite de porca e era (Histórias, 2.4). In: Heródoto. Histórias. Livro II - Euterpe. op. cit.
acometidos por terríveis erupções cutâneas e lepra; consultar: Da natureza
72 Originário de Karnak, um deus da mitologia egípcia, considerado o rei dos
dos animais, 10.16.
deuses e o criador da vida, sendo identificado com o Sol.
60 Plutarco narra esse episódio nos parágrafos 357 e 358A.
73 Sacerdote egípcio do reinado de Ptolomeu I, escreveu uma obra intitulada
61 Trata-se do templo dedicado à deusa Ísis. Crônicas, onde trata da religião e da história da sua pátria, em três volumes,
infelizmente perdidos, dos quais temos apenas alguns fragmentos.
62 Cidade localizada no Antigo Egito, cujo nome atual é Luxor.
74 Contemporâneo de Ptolomeu I escreveu um longo tratado intitulado Da
63 Também chamado de Menes ou de Min, de quem Heródoto nos conta
filosofia dos egípcios.
o seguinte: “E diziam que Min foi o primeiro homem a reinar no Egito;
em sua época, excetuando a província de Tebas, todo o Egito era um 75 Alguns tradutores interpretam τῷ παντὶ como “mundo” ou “universo”.
pântano; e que nada brotava nos dias de hoje abaixo do Lago Méris, e
76 Legislador e poeta ateniense, século VI a.C., também considerado um
que sua navegação é de sete dias, partindo do mar e subindo rio acima.”.
dos Sete Sábios. Sobre ele, há uma biografia plutarquiana; ler Vida de
(Histórias, 2.4). In: Heródoto. Histórias. Livro II - Euterpe. op. cit.
Sólon, de Plutarco. Também podemos colher informações a seu respeito
64 Após uma guerra interna pelo poder, autoproclamou-se faraó do Baixo em Constituição de Atenas, de Aristóteles, e de seus próprios poemas e
Egito em 725 a.C. fragmentos.
65 Faraó do Egito por volta de 718-712 a.C. Eliano conta que se tratava de 77 Tales de Mileto, século VI a.C., considerado o primeiro filósofo naturalista,
um faraó sábio e justo (Da natureza dos animais, 12.3). afirmava que todas as coisas derivavam da água. Político hábil e de grande
conhecimento prático, foi nomeado sábio e figurava entre os Sete Sábios
66 Hábito que também merece o registro de Clemente de Alexandria,
do mundo antigo. Diógenes Laércio redigiu uma breve biografia de Tales
Micelâneas, 5.31.5.
de Mileto. Consultar: Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres, 1.1.
67 Também chamada de Nit, era a deusa principal da cidade de Sais, que
78 Filósofo e matemático, sec. VI a.C., nasceu em Samos, mas foi obrigado
desposou por engano Osíris, por terem-na confundido com Ísis.
a migrar por conta da tirania de Polícrates, quando foi para Crotona, no
68 Cidade localizada na região do Baixo Egito, próxima ao Delta do Nilo, foi sul da Península Itálica, por volta de 513 a.C., onde fundou a sua escola.
capital do Egito no século VIII a.C., durante a XXIV dinastia egípcia. Embora não tenha escrito nenhum livro, seus pensamentos filosóficos
69 Túnica feminina muito usada na antiga Hélade. influenciaram diversos filósofos.

70 Esta inscrição aparece do diálogo Timeu, de Platão. 79 Legislador espartano, século VII a.C., conhecido por ter implementado
um conjunto de leis denominado Grande Retra, que os espartanos
71 De acordo com Heródoto: “Héracles queria de toda maneira ver Zeus, acreditavam terem sido ditadas pelo Oráculo de Delfos. Para mais detalhes
mas o deus não queria ser visto por ele e, por fim, depois de Héracles ter sobre o legislador e suas leis, consultar Plutarco, Vida de Licurgo e Vida de
insistido, Zeus tramou o seguinte: tirou a pele de um carneiro, colocou na Sólon (16.2), e Xenofonte, A constituição dos lacedemônios.
sua fronte a cabeça cortada do carneiro, vestiu o tosão e assim se mostrou

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80 Diodoro Sículo registra que “os sacerdotes egípcios concluem, por meio de “Não jogar comida no urinol”, indica que não convém lançar um dis-
suas investigações das escrituras dos livros sagrados, que antigamente foram curso citadino para uma alma perversa; pois o discurso é um alimento
até eles Orfeu, Museu, Melampo, Dédalo e, além deles, o poeta Homero, o do pensamento, e a perversidade desses homens o torna impuro. “Não
cidadão espartano Licurgo e, ainda, o ateniense Sólon e o filósofo Platão, foi se volte quando chegar ao seu limite”, isto é, quando formos morrer e
também o sâmio Pitágoras e o matemático Eudoxo e, além de Demócrito de virmos mais próximo o termo de nossas vidas, suportar com satisfação e
Abdera e o quio Enópides.” (Biblioteca histórica, 1.96.2). não esmorecer.” em seu tratado (Da educação das crianças, 12D-E). In:
Plutarco. Da educação das crianças. Tradução, introdução e notas de
81 Segundo Diógenes Laércio, Conúfis era sacerdote em Heliópolis e tinha
Maria Aparecida de Oliveira Silva. São Paulo: Edipro, 2015.
Eudoxo como companheiro (Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres, 8.90).
89 Filho de Zeus e Leto, irmão gêmeo da deusa Artêmis, Apolo e considerado
82 Cidade do Egito antigo fundada pelo Faraó Menes aproximadamente em
o deus da adivinhação e da música, conhecido também por sua excepcional
3000 a.C. Também foi a primeira região administrativa (νομός/ nomós) do
beleza física.
Baixo Egito.
90 Filha de Zeus e de Leto, além de ser a deusa do parto e da caça, Ártemis
83 Sacerdote egípcio de Sais.
estava relacionada à Lua por oposição ao seu irmão gêmeo Apolo, que
84 Sacerdote egípcio. estava associado ao Sol, assim, ela portava arco e flecha prateado; e ele,
85 Quer dizer, “não fazer duas coisas ao mesmo tempo”. dourado. Embora no Hino homérico a Ártemis, tenhamos a descrição de
suas flechas como sendo douradas, logo no primeiro verso.
86 Um dito que significa não “comer e viver ocioso”.
91 Deus dos mares, filho de Crono e Reia. Como deus do mar, Posídon tem
87 A μάχαιρα é uma faca sacrificial, também pode ser uma espada curta usada o poder de controlar as ondas, as tempestades, as marés, os rios e os lagos,
em guerra, mas o contexto nos leva mais ao seu significado primeiro. e ainda de criar fontes, tudo com o toque de seu tridente.
88 Alguns desses ditos são reproduzidos e explicados por Plutarco, conforme 92 De acordo com Porfírio, Da abstinência, 4.9, o escaravelho era a imagem
lemos a seguir: “Em geral, convém afastar as crianças da convivência dos viva do Sol. O sofista Eliano nos traz mais informações sobre o escaravelho:
homens maldosos; pois elas carregam consigo alguma vileza deles. Pitágoras “O escaravelho é um inseto sem fêmea, e fecunda seu sêmen em uma esfera
também declarou isso por um enigma que eu interpretei e explicarei; pois e a faz girar; vinte e oito dias depois de feito isso e de tê-la aquecido, logo
isso concorre com muito peso para a aquisição da virtude. Tal é: “Não no dia seguinte, expulsa dela a sua cria. Os guerreiros egípcios tinham um
degustar melanuro”, isso para dizer que não gaste seu tempo com ho- escaravelho gravado em seus anéis, porque o legislador falou de modo
mens negros, por sua malícia. “Não passar por cima da balança”, isso para alegórico que os que lutam pelo seu território devem ser por completo e
dizer que se deve fazer um discurso muito mais pela justiça, não passar de toda forma machos, visto que o escaravelho também não participa da
por cima dela. “Não sentar na quênice”, que se deve evitar a inatividade natureza da fêmea.” (Da natureza dos animais, 10.15).
e ser precavido, para nos provermos com o alimento necessário. “Não
dar sua mão direita a qualquer um”, não em vez de precisar reconciliar-se 93 Interessante notar que Plutarco associa o cão ao filósofo, talvez pelo
prontamente. “Não portar anel apertado”, que deve se preocupar com a conhecido apreço de Sócrates por esse animal.
liberdade de sua vida, não colocá-la em nenhuma prisão. “Não atiçar fogo 94 Platão, República, 375e.
com ferro”, não em vez de incitar à cólera quem está irritado; pois isso não
95 Trata-se do rei Artaxerxes III, 425-338 a.C. O seu nome antes da sua
convém, mas abrandar os encolerizados. “Não comer coração”, que não
ascensão ao trono era Oco.
perturbe sua alma com preocupações, porque ela se cansa. “Abster-se das
favas”, que não se deve participar da política; pois outrora eram escolhidos 96 Esta versão apresentada por Plutarco difere da herodotiana, que é a
por meio de favas, e as votações colocavam termo aos seus comandos. seguinte: “Quando os sacerdotes lhe trouxeram Ápis, Cambises, sendo

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como que o mais destinado, puxando para fora o seu punhal e querendo 103 Sobre o calendário egípcio, Heródoto escreveu: “os egípcios foram os
golpear o ventre de Ápis, atingiu sua coxa; e, sorrindo, disse aos sacerdotes: primeiros dentre todos os homens que descobriram a duração do
“− Cabeças ruins! Esses são os seus deuses, cheios de sangue e feitos de ano, dividindo-o em doze partes, em conformidade com as estações;
carne, que são atingidos pelo aço? Certamente, esse é o deus digno dos e costumavam dizer que descobriram isso por causa dos astros. E eles
egípcios, mas vos não estais alegres porque estais me dando motivos para conduzem esse assunto de modo mais sábio que os helenos, parece-me,
risadas.”. Depois de ter dito isso, ele ordenou-lhes que executassem a porque os helenos acrescentam, a cada três anos, um mês para intercalar
tarefa de chicotear os sacerdotes, e que capturassem e matassem os outros por causa das estações, mas os egípcios transferem trinta dias para os doze
egípcios que estivessem festejando. De fato, ao terminar a festa que havia meses e acrescentam cinco dias a cada ano além desse número, eles têm o
entre os egípcios, os sacerdotes receberam suas punições, e Ápis morreu ciclo das estações para este se perfazer e ficar completo.”. (Histórias, 2.4).
porque havia sido ferido na coxa e estirado no templo; e depois de Ápis In: Heródoto. Histórias. Livro II - Euterpe. op. cit.
ter morrido por causa do seu ferimento, os sacerdotes o enterraram às
104 Um deus egípcio que era conhecido ser priápico.
ocultas de Cambises.”. (Histórias, 3.29). In: Heródoto. Histórias. Livro
III – Talia. op. cit. 105 Procissões em honra ao deus Dioniso, por ser considerado um deus
fecundador. Como vimos em 2.42, Heródoto conta que os egípcios
97 Conforme dito antes, a μάχαιρα é uma faca sacrificial, também pode ser
o chamavam de Dioniso, e logo depois o historiador registra como os
uma espada curta usada em guerra. Como Ápis foi morto e devorado,
egípcios honravam Dioniso: “os egípcios celebram o restante da festa
Plutarco nos apresenta um sacrifício seguido de banquete, tal como
a Dioniso, quase em tudo conforme as mesmas práticas dos helenos,
vemos em Homero, um exemplo disso é o sacrifício de Nestor em honra à
exceto as danças. Em lugar dos falos, eles têm outras invenções, como
deusa Atenas. Consultar: Homero, Odisseia, 3.445-463.
estátuas com um côvado de altura, movidas por meio de cordas, que as
98 Em outro relato sobre o assassinato de Ápis, Eliano conta que: “Os mulheres carregam pelos povoados, movendo suas partes pudendas, não
habitantes de Busíris, de Abido, a egípcia, e da cidade de Lico abominavam muito menores que o restante do corpo; e um flautista anda na frente,
o som da trombeta porque se parece com zurro de um asno. Mas eles enquanto elas o acompanham cantando hinos a Dioniso. Por qual
também tinham o culto de Serápis e odiavam o asno. Como o persa motivo têm as partes pudendas maiores e por qual razão somente essas
Ocos sabia disso, matou Ápis, deificou o asno, e quis causar extremos partes do corpo se movem, há um livro sagrado que discorre a respeito
sofrimentos aos egípcios. E então fez justiça ao sagrado boi, não menos disso.”. (Histórias, 2.48). In: Heródoto. Histórias. Livro II - Euterpe. op.
que a que pagou Cambises, que foi o primeiro a cometer esse sacrilégio.” cit.
(Da natureza dos animais, 10.28).
106 Ou Haroéris é uma transcrição do egípcio Hr Wr, “Hórus, o Grande”.
99 é uma das Titânides, filha de Geia e de Urano, desposou Crono, com
107 Essa é primeira vez que Plutarco relaciona a deusa Ísis a locais úmidos ou
quem gerou Héstia, Deméter, Hera, Hades, Posídon e Zeus.
à umidade em seus escritos, a segunda vez também ocorre neste tratado,
100 Filho mais novo de Urano e de Geia, pertence à chamada primeira geração no parágrafo 365F abaixo.
divina.
108 Conhecida como “a senhora da casa”, não dispomos de informações
101 Platão relata que o deus Toth inventou o jogo de damas e o de dados precisas sobre Néftis.
(Fedro, 274d).
109 Plutarco é o único a autor a fazer referência a Teleute.
102 Personificação da Lua, Selene era filha de Hipério e Tia, representada por
110 Personificação da Vitória, representada sempre voando rapidamente
uma mulher bela e jovem. Como Hélio (personificação do Sol), que
com suas enormes asas, é filha de Palas e de Estige; portanto, pertence à
conduzia um carro dourado, ela conduzia um carro prata, puxado por
primeira geração divina.
dois cavalos.

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111 Heródoto não cita o nome de Aruéris, mas traz a versão que associa Hórus 118 Filho de Hermes e de Dríope, Pan é considerado o deus dos pastores e
ao deus Apolo: “Mas, antes desses homens, os deuses governavam no dos rebanhos. Os helenos contam que ele é originário da Arcádia
Egito e eles habitavam junto aos homens, também sempre um deles e representado como uma divindade semi-humana, tem um rosto
era o mais poderoso. E que o último deus que reinou no Egito foi barbudo, o queixo saliente e a testa com dois chifres; seu corpo e peludo e
Hórus, o filho de Osíris, o qual os helenos nomearam Apolo; ele pôs os membros inferiores são de bode. Os seus atributos mais frequentes são
fim ao reinado de Tífon e foi o último deus que reinou sobre o Egito.” uma siringe (flauta de Pan), um cajado de pastor e uma coroa de pinheiro.
(Histórias, 2.144). In: Heródoto. Histórias. Livro II - Euterpe. op. cit. Pan gerou os dozes Pãs a que se refere Plutarco, estes compunham uma
espécie inferior de Sátiros, que também acompanhavam o deus Dioniso
112 Quanto ao caráter civilizatório de Osíris junto com Ísis, Diodoro Sículo
em seus cortejos.
conta que: “Pois primeiro fez a raça dos homens parar de se devorar uns
aos outros, após Ísis descobrir o fruto do trigo e da cevada, que crescia 119 Também chamados Silenos, metade homem e metade bode, são seres da
ao acaso pelo território junto com o restante da plantação e que era natureza que acompanham Dioniso em suas festividades. Os Sátiros
desconhecido pelos homens, depois de Osíris também ter inventado o perseguiam a Mênades e as Ninfas, com suas caudas longas e seus
cultivo deles, com prazer, todos mudaram sua alimentação por causa do membros viris sempre eretos.
prazer físico dos frutos descobertos e por mostrar como convém abster-
120 Heródoto nos traz o seguinte relato sobre esta cidade: “Mas há Quêmis,
se da crueldade de uns contra os outros.” (Biblioteca histórica, 1.14.5).
uma grande cidade da província de Tebas, próxima a Neápolis; nessa
113 Plutarco destaca aqui o uso da arte retórica, da habilidade com a palavra cidade, existe um templo quadrado de Perseu, filho de Dânae, e em
em vez de uma postura bélica, conquistadora do mundo pelo uso da volta dele nasceram palmeiras; e os vestíbulos do templo eram feitos de
força militar. Podemos ver aqui uma crítica velada ao seu tempo, época pedras muito grandes; e sobre eles havia duas estátuas de pedras enormes,
em que Roma expande seus limites e aumenta seu poder por meio de colocadas de pé; e nesse recinto sagrado existe um santuário, no qual
guerras. há uma estátua de Perseu em pé.”. (Histórias, 2.91). In: Heródoto.
Histórias. Livro II - Euterpe. op. cit.
114 Plutarco nos faz lembrar o mito de Orfeu, que tinha a capacidade de
encantar a todos com seu canto e música. 121 Plutarco lembra aqui as situações em que os animais que ficavam
temerosos com trovões e raios, e os antigos atribuíam a Pan o temor dos
115 O costume de tratar Osíris como sendo Dioniso já se encontra registrado
animais, afirmando que esses “pânicos” eram causados por Pan.
em Heródoto: “De fato, aqueles que dedicam um templo a Zeus Tebano,
que são de uma província tebana, esses todos se mantêm longe das ovelhas 122 Eliano conta que “Em Copto, no Egito, os egípcios veneram Ísis com
e sacrificam as cabras (pois, de fato, todos os egípcios não veneram os diversos ritos sagrados, sobretudo, com adoração e serviço por luto ao
seus deuses do mesmo modo, exceto Ísis e Osíris, então dizem que ele e marido, aos filhos e aos irmãos.” (Da natureza dos animais, 2.23).
Dioniso; e que todos os veneram do mesmo modo); aqueles que possuem
123 Note-se a sonoridade similar entre Copto e κόπτω (kóptō), que é a primeira
um templo de Mendes, ou são da província mendésia, esses se mantêm
pessoa do singular do presente do indicativo do verbo κόπτειν (kóptein)
longe das cabras e sacrificam as ovelhas.” (Histórias, 2.42) E afirma logo
significa “cortar”.
adiante que “Osíris é Dioniso, conforme a língua da Hélade.” (Histórias,
2.144). In: Heródoto. Histórias. Livro II - Euterpe. op. cit. 124 Eliano nos conta que “Então, Ápis era um bom adivinho, não faze sentar,
por Zeus, jovens virgens ou mulheres idosas sobre algumas trípodes,
116 Somente Plutarco cita o nome dessa rainha, e traz mais informações
sequer as vasilhas cheias de borra sagrada, mas alguém suplica a este
adiante em 366C.
deus, e crianças estão brincando fora, pulam ao som dos aulos, e ficam
117 Corresponde a 13 de novembro no nosso calendário. inspiradas com o seu ritmo e proferem cada uma das palavras do deus,

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como se fossem mais verdadeiras que as que são ditas às margens do seus pais. Para eles, era grande espanto/ que ele crescesse rápido e fosse
Sagre.” (Da natureza dos animais, 11.10). na face semelhante aos deuses. / E Deméter o faria sem velhice e imortal,
/ se, por sua imprudência, a bem cinturada/ Metanira, durante a noite,
125 Trata-se de Néftis.
vigiando do perfumado tálamo,/ não a observasse. Ela gritou e socou as
126 A coroa de melitoto era o presente que os amantes costumavam levar para coxas, / receosa por seu filho e mui errada no ânimo;/ então, gemendo
suas amadas durante as suas visitas noturnas. aladas palavras lhe dirigiu:/ “Filho Demofonte, a estrangeira em muito
127 Sobre esse episódio, consultar também os parágrafos 366B-C, 368E e fogo/ oculta-te, e em mim lamento e desgostos pérfidos coloca.”/
375B deste tratado. Lamentando-se, assim falou, e a diva entre as deusas ouvia. (h. Hom.
2: A Deméter, 239-250), tradução de Maria Lúcia G. Massi. In: Hinos
128 Anúbis carrega o epíteto de “deus embalsamador”, representado por um homéricos. op. cit.
cão.
137 Rio que passa ao sul da cidade de Biblos.
129 Diodoro Sículo nos traz este registro sobre os cães: “O cão é útil para a caça
e a vigilância; por isso ao deus chamado entre eles Anúbis, representam- 138 Consultar o parágrafo 355E.
no com uma cabeça de cão, porque mostra que protegia os corpos de 139 Temos a versão herodotiana sobre as origens de Maneros: “Entre os seus
Osíris e Ísis.” (Biblioteca histórica, 1.87.2). costumes, existem hábitos que são diferentes e únicos, além disso, existe
130 Cidade localizada no litoral da Fenícia, de onde se importava o papiro. um único hino, o de Lino, cantado na Fenícia, em Cipro e em outros
territórios; todavia, conforme o povo, ele tem um nome, mas é o mesmo
131 Segundo Houaiss: “arbusto de até 3 m (Erica arborea), nativo do que os helenos cantam, ao qual dão o nome de Lino, para ficar admirado
Mediterrâneo às montanhas tropicais da África, com raízes de que se com muitos e outros assuntos a respeito dos egípcios, um deles ainda e
fazem cachimbos, folhas verticiladas e flores brancas, aromáticas, em o de onde eles adotaram o nome de Lino. E eles parecem que sempre
panículas piramidais, usado em perfumaria; estorga, queiroga, torga, cantaram esse hino no passado. E Lino, entre os egípcios, é chamado
torgo, urze-branca”. Maneros. E os egípcios me disseram que ele era o único filho do primeiro
132 Era o alimento dos deuses do Olimpo. rei do Egito; porque ele morreu jovem demais, ele era honrado pelos
egípcios com esses cantos fúnebres, e que esse era o primeiro e o único
133 A semelhança com o mito de Deméter se faz clara neste episódio do hino que eles tinham.”. (Histórias, 2.79). In: Heródoto. Histórias.
mito de Ísis, basta comparar com o narrado nos versos 100 ss dos Hinos Livro II - Euterpe. op. cit. Há ainda referências a Maneros em Pausânias,
homéricos, como contado por Apolodoro, Biblioteca, 1.15 e ainda Descrição da Hélade, IX, 29, 3 e Ateneu, Deipnosofistas, 620A.
temos os versos de Calímaco em seu Hino a Deméter. Portanto, a versão
plutarquiana do mito de Ísis apresenta este componente narrativo que 140 Trata-se de Pelúsio, cidade localizada no Baixo Egito, próxima à
nos remete a Hélade, à mitologia dos seus antepassados. embocadura pelusíaca do Nilo, e muito bem fortificada.

134 Rei que acolheu Osíris quando estava morto. 141 Em outro tratado, Plutarco descreve este costume egípcio: “Os egípcios
cultivam o acertado costume de levar para os banquetes um esqueleto,
135 Associada à deusa do amor, Astarte era a deusa protetora de Sídon e de que mostram depois aos convivas, exortando-os a lembrar-se de que
Biblos. em breve serão como ele. E se bem que a presença deste comensal seja
136 O relato de Plutarco nos remete ao mito de Deméter, que também incômoda e pouco adaptada à circunstância, tem ainda assim alguma
colocava Demofonte no fogo, mas foi flagrada por Metarina, o que utilidade, pois não os incita à bebida e à folgaça, mas antes à amizade
a impediu de prosseguir, conforme lemos nestes versos: “Durante as e ao mútuo afeto, dissuadindo-os de se desgastarem muito em grandes
noites o ocultava no ardor do fogo com um tição, / às escondidas dos contendas, quando é tão curta a duração desta vida.” (Banquete dos sete

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sábios, 148A-B). In: Plutarco. Obras morais. O banquete dos sete sábios. lhes os benefícios, e os exortou a que, com o corpo enterrados em seus
Tradução do Grego, introdução e notas de Delfim F. Leão. Coimbra: próprios territórios, honravam Osíris como deus e que lhe consagrassem
CECH, 2008. Heródoto também registra esse costume: “Nos encontros o animal que quisessem, como antes a Osíris, e depois da sua morte,
convivais dos seus ricos, depois de terem terminado de jantar, um consideraram-no digno das mesmas honras fúnebres que aquele”.
homem carrega um cadáver representado em uma urna cinerária de (Biblioteca histórica, 1.21. 5-6). Convém notar que Plutarco segue esta
madeira, imitado o mais próximo possível em sua pintura e seu entalhe, versão dos pedaços do corpo de Osíris espalhados em diversos locais
com o tamanho total de mais ou menos um ou dois côvados; depois de onde mais tarde se tornaram seus túmulos em 359A e 365A.
o homem tê-lo mostrado para cada um dos convivas, ele diz: “Quando
146 Filho de Crono e de Reia, portanto, irmão de Zeus. Hades é o deus
olhares para isto, bebe e te alegra; pois estarás assim depois de morto”.
dos Mortos, quando da divisão do mundo em que Zeus obteve o céu,
E fazem isso nos seus banquetes.”. (Histórias, 2.78). In: Heródoto.
Posídon, o mar, a Hades coube o mundo subterrâneo. Hades também o
Histórias. Livro II - Euterpe. op. cit.
nome da casa dos mortos, homônimo do deus.
142 Cidade do Baixo Nilo, cujo significado é “Casa de Uto”, que os egípcios
147 Deusa-hipopótamo ou Deusa cavalo do rio.
associam à deusa Leto.
148 Fragmento de uma peça desconhecida de Ésquilo.
143 Diodoro Sículo conta que Tífon dilacerou Osíris em vinte e seis pedaços
(Biblioteca histórica, 1.2). 149 Tragediógrafo nascido em Elêusis, 525-455 a.C., também combateu na
guerra contra os persas em Maratona, fato que mereceu registro em seu
144 Heródoto já registra o uso do papiro na construção de embarcações à vela,
epitáfio, sem qualquer referência aos seus versos trágicos, o que nos revela
conforme lemos neste relato: “as embarcações que eles têm, nas quais
a importância desse acontecimento na história da Hélade e o quanto o
eles transportam suas mercadorias, são feitas da madeira da acácia, e a
sentimento de uma grande conquista coletiva ainda estava em primeiro
sua forma é mais semelhante à da flor de lótus cireneu, cuja seiva é uma
plano à época de Ésquilo.
goma. Depois de eles terem cortado em partes as madeiras dessa acácia
no tamanho de dois côvados de comprimento e de as terem reunido em 150 É interessante notar essas interpolações na narrativa plutarquiana que ora
forma de tijolos, eles constroem suas embarcações do seguinte modo: eles conversa com o leitor, ora apresenta uma digressão própria, ora ele se
prendem em volta, juntando, com cavilhas sólidas e extensas, os cortes dirige a sua amiga sacerdotisa, como nesse parágrafo.
de madeira de dois côvados; depois de terem construído a embarcação
151 Sobre o uso arco-íris em sua argumentação, vemos em Diálogo do amor,
desse modo, distendem as vigas transversais que unem os dois lados
Autobulo, filho de Plutarco, como narrador do diálogo, conta o
da embarcação a parte alta delas; e não utilizam traves do arcabouço
seguinte: “E meu pai disse: “Escutai: assim, impeles-me a falar o óbvio.
da embarcação; as suturas de dentro, portanto, fecham com a folha do
Não há dúvida de que a luz refletida é uma sensação da visão do arco-
papiro. E eles fazem apenas um leme, e este passa por meio de sua quilha;
íris; quando tranquila por uma nuvem úmida e uniforme, de espessura
e eles utilizam o mastro de madeira de acácia, e suas velas são de folhas de
mediana, lança-se e toca o sol, e vê-se pela luz refletida o seu brilho”. In:
papiro.”. (Histórias, 2.96). In: Heródoto. Histórias. Livro II - Euterpe.
Plutarco. Diálogo do amor. Edição bilíngue. Tradução, introdução e
op. cit.
notas de Maria Aparecida de Oliveira Silva. São Paulo: Martin Claret,
145 Segundo Diodoro Sículo, após encontrar os pedaços do corpo de Osíris, 2015. Esta imagem é repetida por Plutarco em seu tratado Da face visível
a deusa: “contam que modelou para cada uma das partes uma imagem da Lua, 921A.
em forma humana de substâncias aromáticas e cera, semelhante a Osíris
152 O ναός (naós) era o recinto do templo onde estava a estátua da divindade.
em tamanho; convocou os sacerdotes por categorias e fez todos eles
prometer que não revelariam nada a ninguém; e em particular disse a
cada um deles que, somente entre eles, depositava o túmulo, e recordava-

200 MARIA APARECIDA DE OLIVEIRA SILVA NOTAS 201


153 Estéfano de Bizâncio, séc. VI d.C., afirma que “Διοχίτης, κώμη Αἰγύπτου, e o levou embora em direção a Líbia; e antes de avistar a terra, estava nas
ἐν ᾗ τέθαπται ... Ὄσιρις.”, isto é, “Dioquites, um povoado do Egito, no águas rasas do lago Tritônis. E no momento em que não sabia o que
qual está enterrado... Osíris.” (Etnias, D234.12). fazer para desencalhar a nau, essa é a história, Tritão apareceu e ordenou
a Jasão que lhe desse a trípode, dizendo que lhes mostraria tanto a saída
154 Cidade localizada às margens do Rio Nilo, onde provavelmente teve início
como lhes enviaria sãos e salvos. E porque Jasão o obedeceu, assim Tritão
o culto a Osíris.
lhe mostrou como navegar para fora das águas rasas;”. (Histórias, 2.179).
155 A respeito de Fila, temos o seguinte relato de Diodoro Sículo: “E alguns In: Heródoto. Histórias. Livro II - Euterpe. op. cit.
dizem que os corpos dos deuses não jazem em Mênfis, mas nas fronteiras
162 Um dito que se faz presente em Heródoto, 6.134; Platão, Teeteto, 181a;
do Egito com a Etiópia, em uma ilha situada no Nilo, na chamada
Leis, 684d-e e 842, além de Plutarco repeti-lo em Diálogo do amor,
Fila que, por causa do acontecido, tem o nome de Planície Sagrada. E
756A-B.
mostram como um sinal disso, que nessa ilha está situado o túmulo
edificado a Osíris, honrado em comum entre os sacerdotes do Egito, e 163 Trata-se do poeta Simônides de Ceos, 556-468 a.C.
as trezentas e sessenta taças de libações colocadas em torno dele; e a cada
164 Fr. 138 Page.
dia os sacerdotes ordenados para isso enchem-nas de leite e se lamentam
invocando os nomes dos deuses. Por essa razão também, essa ilha é 165 No sentido de “abrir grandes portas trancadas a chaves”.
inacessível aos viajantes. E todos os habitantes de Tebaida, que é mesmo
166 Nascido em Pela, na Macedônia, século IV a.C.
a mais antiga do Egito, julgam que esse é o maior juramento, quando
alguém jura por Osíris, o que jaz em Fila.” (Biblioteca histórica, 1.22.3-6). 167 Filósofo da escola cirenaica, século IV a.C, autor de a História sagrada.
156 μηδίθης(mēdíthēs) é uma planta de origem e denominação desconhecidas. 168 Entre os antigos, havia o hábito de se elaborar listas com os nomes dos
estrategos, arcontes, reis, vencedores olímpicos, entre outros, não
157 O nome da cidade significa “Casa de Osíris”, estava localizada no Delta do
somente com o intuito de registrar os nomes daqueles que ocuparam
Rio Nilo.
os cargos, mas também serviam de referência cronológica para os fatos
158 Cidade que também estava situada no Delta do Rio Nilo. ocorridos à época do exercício de suas funções.
159 Algumas traduções trazem “historiadores”, como se trata de um conceito 169 Episódio também registrado por Diodoro Sículo, Biblioteca histórica,
moderno, mantive a ideia original de investigação feita por uma tradição 4.41-46 e Cícero, Da natureza dos deuses, 1.42.119.
literária que se manifesta em seus diversos gêneros. Veja o parágrafo
170 A história de Semíramis, a única rainha assíria, e de seu esposo Nino, é
seguinte.
narrada por Diodoro Sículo, dos capítulos 4 ao 21, do seu segundo livro
160 Estrela descoberta por Hiparco, um famoso astrônomo do século II da Biblioteca histórica.
a.C. O nome que Hiparco escolheu para a estrela que descobriu está
171 Sabe-se apenas que ele foi avô de Proteu, um dos reis do Egito,
relacionado a Canopo, o piloto de Menelau, é o nome do herói epônimo
contemporâneo da Guerra de Troia. Heródoto conta alguns de seus
da cidade egípcia e de um braço de rio da foz do Nilo, próximo à cidade
feitos no Livro II – Euterpe, capítulos 102 a 110.
de Alexandria, aqui denominada Canobo por Plutarco.
172 Dispomos de uma referência de Heródoto sobre este rei considerado
161 Heródoto registra este episódio em que Jasão passa pelo Egito: “Jasão,
mítico da Lídia, que seu filho sofreu com uma grande escassez de
depois de ter terminado no sopé do Pélion a construção da Argo, colocou
alimentos em sua época: “No tempo em que Átis, filho de Manes,
nela outra hecatombe e, além disso, uma trípode de bronze, e navegou
era rei, houve uma forte escassez de alimentos sobre toda a Lídia; e os
em volta do Peloponeso com a intenção de chegar a Delfos. Quando
lídios, durante todo o tempo, atravessaram isso suportando a situação.
Jasão navegava na altura do Málea, também o vento norte o surpreendeu

202 MARIA APARECIDA DE OLIVEIRA SILVA NOTAS 203


Depois disso, porque ela não cessava, procuraram remédios contra ela, uma alma boa, e jamais estarão em paz nem seguirão o mesmo rumo se
e cada um deles imaginava uma coisa diferente.” (Histórias, 1.94). In: ela for má.” (Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres, 7.32). In: Diógenes
Heródoto. Histórias. Livro I - Clio. Tradução, introdução e notas de Laêrtios. op.cit. Convém anotar que “demônios” em nossa tradução
Maria Aparecida de Oliveira Silva. São Paulo: Edipro, 2015. são os dêmones, optamos por este uso por não se tratar de um conceito
cristão.
173 Rei da Pérsia, 559-530 a.C., que recebeu o epíteto de o Grande por
ter conquistado todos os povos vizinhos e ter fundado o Império 181 Filósofo nascido na Calcedônia, discípulo de Platão, dirigiu a Academia,
Aquemênida, o maior de seu tempo. Sobre a origem de Ciro, de 319 a 314 a.C., depois de Espeusipo, o sobrinho de Platão.
Heródoto relata: “Ciro era esse mulo; pois nasceu de duas pessoas que
182 Filósofo estoico, 280-207 a.C., dirigiu a Stoá.
não pertenciam ao mesmo povo, de uma mãe de linhagem superior e
de um pai de origem inferior. Pois sua mãe era uma meda, filha de 183 Em grego a palavra é θεόλογος (theólogos), que rapidamente associamos
Astíages, rei dos medos, enquanto seu pai era um persa, governado ao substantivo “teólogo” em português, não expressa exatamente o
por aqueles; mesmo estando abaixo dela em todos os aspectos, casou- sentido que ela tem no grego aqui utilizado: “estudioso dos deuses e da
se com sua senhora. E a Pítia respondeu isso aos lídios, e levaram essa cosmogonia”, que expressa um pensamento elaborado sob a perspectiva
resposta para Sárdis e anunciaram-na para Creso. E, após ele ter ouvido pagã, não cristã.
isso, compreendeu que o erro havia sido dele mesmo, e não do deus.”.
184 Filhos de Geia, nascidos do sangue escorrido de uma ferida de Urano,
(Histórias, 1.91). In: Heródoto. Histórias. Livro I – Clio. Op. cit.
depois de Crono o ter mutilado.
174 Alexandre, o Grande, rei da Macedônia, 336-323 a.C. e rei da Pérsia, 330-
185 Nome dado aos filhos de Urano e de Geia enquanto suas filhas são
323 a.C.
chamadas de Titânides.
175 Uma adaptação de Platão, Leis, 716a.
186 Serpente morta pelo deus Apolo, que lançou suas flechas certeiras em
176 Empédocles, fr. 31B 2,4. Píton, que também tinha o dom da adivinhação e desenvolvia suas
atividades divinatórias no sopé do Monte Parnaso, onde depois Apolo
177 Antígono Monoftalmo, um dos generais de Alexandre, o Grande.
estabeleceu o seu oráculo.
178 Em seu tratado Ditos de reis e generais, 182C, Plutarco atribui tal fala a
187 O adjetivo θεοειδής (theoeidḗs) é o epíteto que Homero usa para heróis e
Antígono Gônatas, 319-239 a.C.
reis, como em Ilíada, 14.217, por exemplo, “Τὴν δ' αὖτε προσέειπε γέρων
179 Na ausência de uma palavra adequada para classificar o que Platão chama Πρίαμος θεοειδής·”, ou seja, “E, a ela, por sua vez, disse o velho Príamo,
de “seres intermediários entre os deuses e os homens”, a partir da palavra semelhante aos deuses:”.
δαίμων (daímōn), apresentamos “dêmones” como solução de tradução
188 É o epíteto que Homero confere aos heróis, como por exemplo, em Ilíada,
aqui, com sugestão de “dêmon” para o seu singular. Consultar: Platão,
5.663-664, em que diz: “Os divinos companheiros, Sarpédon, igual aos
Banquete, 202e ss.
deuses, retiraram da guerra;”. É interessante notar que o adjetivo ἀντίθεος
180 Diógenes Laércio atribui a Pitágoras tal pensamento: “Todo ar é cheio (antítheos) também pode ser traduzido como “rival dos deuses”, no
de almas, chamadas demônios e heróis, por quem são mandados aos sentido de que os homens rivalizam em coragem e outros atributos com
homens os sonhos e sinais de doenças e de saúde, e não somente aos os deuses.
homens, porém ainda às ovelhas e ao gado em geral. Por isso, fazem-
189 Plutarco usa a forma imperativa δαιμόνιε (daimónie) de δαιμόνιος
se as purificações e sacrifícios lustrais e toda espécie de adivinhações,
(daimónios), que significa “enviado pelos deuses”, mas que na sua forma
vaticínios e similares. A coisa mais importante na vida humana é induzir
imperativa tem conotação negativa.
a alma ao bem ou ao mal, e os homens são felizes quando os acompanha

204 MARIA APARECIDA DE OLIVEIRA SILVA NOTAS 205


190 Homero, Ilíada, 13.810. nome de Héracles não foi transmitido pelos helenos, mas, sem dúvida,
os helenos o tomaram dos egípcios, e esses helenos colocaram o nome
191 Homero, Ilíada, 5.438; 16.705 e 20.447, para Diomedes, Pátroclo e
de Héracles no filho de Anfitrião, tenho muitas e outras evidências
Aquiles, respectivamente. Nesses versos δαίμων (daímōn) tem conotação
de que isso foi desse modo, e ainda no seguinte acontecimento, que
positiva.
ambos os pais desse Héracles, Anfitrião e Alcmena, eram naturais desde
192 Outra forma para o imperativo que, como no primeiro verso citado, a sua origem do Egito, e por isso os egípcios dizem que não conhecem
vem de δαιμόνιος (daimónios) que significa “enviado pelos deuses”, com os nomes nem de Posídon nem dos Dióscoros, e que esses deuses não
conotação negativa em sua forma imperativa. são aceitos por eles entre os seus demais deuses.” (Histórias, 2.43). In:
193 Homero, Ilíada, 4.31-33. Heródoto. Histórias. Livro II - Euterpe. op. cit.

194 Platão, Leis 717a-b. 203 Quanto a Dioniso, Heródoto nos conta que: “Osíris é Dioniso, conforme
a língua da Hélade. Portanto, entre os helenos, eles consideram que
195 Filósofo formado na Academia de Platão, 298-314 a.C., que tinha como os mais jovens dos deuses são Héracles, Dioniso e Pan, mas, junto aos
fim explicar a filosofia platônica por meio da Escola Pitagórica. egípcios, Pan é o mais antigo e está dentre os chamados oito deuses,
196 Plutarco grafa τοὺς δὲ χρηστοὺς καὶ ἀγαθοὺς, que literalmente significa enquanto Héracles está dentre os chamados doze deuses, e Dioniso está
“os úteis e bons” para se referir aos dêmones. No entanto, estamos dentre os da terceira geração, que se originaram dos doze deuses. De fato,
traduzindo τοὺς δὲ χρηστοὺς como “os úteis” para se referir aos dêmones, os próprios egípcios dizem quantos anos foram desde o rei Amásis até
o que nos traz o sentido de que os dêmones têm alguma utilidade para os a época de Héracles, isso já foi demonstrado por mim antes; diz-se que
deuses e os mortais. Pan é ainda mais antigo e que Dioniso existe há menos tempo do que
eles, e os egípcios calculam que, entre ele e o rei Amásis são quinze mil
197 Hesíodo, Os trabalhos e os dias, 123 e 253. anos. E os egípcios dizem que conhecem isso com precisão e que sempre
198 Platão, Banquete, 202e. calculam e sempre registram os anos. Então, entre Dioniso, chamado
filho de Sêmele, filha de Cadmo, até a minha época, são mais ou menos
199 Filósofo pré-socrático, 495-430 a.C., nascido em Agrigento, na Sicília. mil e seiscentos anos, e entre Héracles, filho de Alcmena, são cerca de
Conhecido por sua teoria cosmogônica dos quatro elementos (terra, novecentos anos, e entre Pan, filho de Penélope (porque Pan nasceu dela
fogo, água e ar). e de Hermes, como e dito pelos helenos) que são anos posteriores aos da
200 Versos de As purificações de Empédocles, fr. 115 Diels. Guerra de Troia, mais ou menos oitocentos anos até a minha época.”.
(Histórias, 2.145). In: Heródoto. Histórias. Livro II - Euterpe. op. cit. O
201 Platão considera Eros como um dêmon, que assim define: “– Vês então relato herodotiano sobre os deuses helenos e suas origens egípcias é mais
que tu não consideras Eros um deus? / – O que poderia ser Eros? Um tarde criticado assim por Plutarco: “Com relação a Héracles e Dioniso,
mortal? / – De modo algum. / – Mas o quê, na verdade?/ – Como nos quando declara que os egípcios os veneram como deuses antigos e os
exemplos anteriores, um intermediário entre o mortal e o imortal.” (O helenos como homens envelhecidos, de modo algum expõe o mesmo
banquete, 202d). In: Platão. O banquete. Edição bilíngue. Apresentação, cuidado. E afirma que o Héracles egípcio se origina da segunda geração
tradução e notas de Maria Aparecida de Oliveira Silva. São Paulo: Martin dos deuses e que o Dioniso, da terceira, porque têm princípio de gênese e
Claret, 2015. não são eternos. Mas igualmente os declara deuses e crê que se deve fazer-
202 Sobre o culto de Héracles no Egito, temos o seguinte relato de Heródoto: lhes oferendas como aos heróis e mortais, mas não sacrificar como aos
“E a respeito de Héracles, ouvi o seguinte relato: que ele era um dos doze deuses. Isso também foi dito sobre Pan, alterando as devoções e purezas
deuses. Mas outro relato a respeito de Héracles, que os helenos conhecem, dos assuntos sagrados dos helenos com as imposturas e ficções dos
em parte alguma do Egito eu pude ouvir. Ainda que, certamente, o egípcios. E isso não é impressionante; mas o é quando remonta à estirpe

206 MARIA APARECIDA DE OLIVEIRA SILVA NOTAS 207


de Héracles a Perseu e afirma que Perseu nasceu de um assírio, segundo o eles celebram uma festa nacional acontece na cidade de Sais, em honra
relato dos persas. E diz que “os comandantes dórios pareciam ser egípcios de Atena. E a quarta tem lugar na cidade de Heliópolis, em honra de
autóctones, para quem lista os antepassados de Dânae e Acrísio”. Hélio. E a quinta ocorre na cidade de Buto, em honra de Leto. E a sexta
Abandona por completo Épafo, Io, Jasão e Argo, ambicionando não acontece na cidade de Papremis, em honra de Ares.”. (Histórias, 2.59).
somente declarar outros Héracles egípcio e fenício, mas também isso In: Heródoto. Histórias. Livro II - Euterpe. op. cit.
que ele afirma ser a terceira geração, para bani-la da Hélade e conduzi-
208 Arquêmaco da Eubeia escreveu uma história da Eubeia, sua terra natal,
la aos bárbaros.” (Da malícia de Heródoto, 857D-E). In: Plutarco. Da
por volta do século III a.C.
malícia de Heródoto. Edição bilíngue. Estudo, tradução e notas de Maria
Aparecida de Oliveira Silva. São Paulo: Edusp/Fapesp, 2013. 209 Discípulo de Platão e depois de Aristóteles, embora tenha escritos sobre
diversos assuntos, dispomos somente de fragmentos de suas obras.
204 O culto de Serápis ocorreu entre os reinados de Ptolomeu I Sóter e
Ptolomeu II Filadelfo, entre 306 a.C. e 282 a.C. Serápis era uma 210 Trata-se do Ponto Euxino, antigo nome do mar Negro.
divindade asiática, proveniente de Sinope, no mar Negro, que apareceu
211 Provavelmente, trata-se da cidade de Canopo, que era a principal cidade
em sonhos a Ptolomeu I, o que o levou a trazer a sua estátua para que
portuária do Baixo Egito, a qual os árabes chamavam de Cidade do Ouro,
fosse consagrado como deus guardião de Alexandria, episódio que
pela abundância deste mineral. Estrabão nos conta que existia nesse local
Plutarco conta no parágrafo seguinte.
o oráculo de Canopo, que abrigava o deus e que lá havia muitas curas e
205 Plutão é o nome dado ao deus Hades, conhecido como o deus dos ínferos, perdições certeiras (Geografia, 18).
o epíteto de Plutão é o “Possuidor de riquezas”, mas é válido destacar que
212 Filho de Lágis, foi rei do Egito de 305 a 283 a.C. Ptolomeu deu início
trata de riquezas oriundas da terra, do trabalho agrícola.
à dinastia ptolomaica. Também foi amigo de Alexandre, o Grande, de
206 A associação entre Ísis e Plutão deve-se ao fato de ambos reinarem na casa quem foi seu diádoco e recebeu o Egito como parte do seu espólio.
dos mortos. Em sua origem Ísis está relacionada a ritos funerários que
213 Πτολεμαῖος ὁ Σωτήρ (Ptolemaîos ho Sōtḗr), literalmente Ptolomeu, o
colocam os participantes em contato com a casa dos mortos, conforme
Salvador.
registra Apuleio em suas Metamorfoses, 11.5.23).
214 A respeito da região onde Sinope estava situada, Heródoto relata que
207 Perséfone é filha de Zeus e de Deméter, que, após ter sido raptada, une-
“De fato, Istro, porque corre pelo território habitado, e conhecido por
se ao seu raptor, o deus Hades, por meio de um expediente, deu-lhe
muitos, e ninguém pode dizer nada a respeito das nascentes do Nilo,
uma romã para comer, ciente de quem comesse algo de seu reino a ele
pois a Líbia, através da qual ele corre, é inabitada e desértica. A respeito
pertenceria. Após um acordo entre Zeus, Deméter e Hades, Perséfone
do que foi dito sobre o seu curso, na medida do possível, investiguei ao
passava seis meses na terra com sua mãe e os outros seis meses no Hades
máximo para alcançar essas informações. Ele deságua no Egito, e o Egito
ao lado de seu esposo, o que os helenos associavam ao ciclo agrícola. Sobre
está localizado mais ou menos em frente à parte montanhosa da Cilícia; e
a sua associação com Ísis, quando Heródoto apresenta as principais
de lá em direção a Sinope, no Ponto Euxino, um caminho reto, que dura
festas religiosas do Egito, afirma que a deusa Ísis está associada à deusa
cinco dias para um homem disposto; e a cidade de Sinope está localizada
Deméter, conforme lemos a seguir: “E os egípcios não celebram uma
em frente ao lugar em que o Istro deságua no mar.”. (Histórias, 2.34). In:
festa nacional uma única vez ao ano, mas estão reunidos frequentemente
Heródoto. Histórias. Livro II - Euterpe. op. cit.
para uma festa nacional. A principal e mais cheia de ardor ocorre na
cidade de Bubástis, em honra de Ártemis. A segunda mais importante 215 Cidade localizada no Egito, fundada por Alexandre, o Grande, em 331
ocorre na cidade de Busíris, em honra de Ísis; pois nessa cidade há um a.C. De acordo com Tácito, Ptolomeu construiu um tempo em honra de
grande templo de Ísis; essa cidade do Egito está situada no meio do Delta, Serápis no mesmo local onde antigamente havia um templo dedicados a
e Ísis, conforme a língua dos helenos, é Deméter. E a terceira em que Serápis e Ísis (Histórias, 4.84).

208 MARIA APARECIDA DE OLIVEIRA SILVA NOTAS 209


216 Não dispomos de mais informações sobre essa personagem. 227 Rio do Hades que causava esquecimento, por isso o nome Lete que deriva
de λήθη (lḗthē), que significa “esquecimento”.
217 Plutarco é a nossa única fonte de informação sobre essas personagens.
228 Rio do Hades, que é o rio das lamentações, que deriva de κωκυτός
218 Esta personagem é citada somente por Plutarco.
(kōkytós) que significa “lamentação”.
219 Para uma descrição mais detalhada do episódio, ler os capítulos 83 e 84 das
229 Diodoro Sículo registra que as portas de Cocito e Lete estavam em templo
Histórias, de Tácito.
de Hécate, na região de Mênfis (Biblioteca histórica, 1.96.9).
220 Tácito relata que Timóteo era um ateniense, da casa dos Eumôlpidas,
230 Que significam “lançar-se” e “precipitar-se”, respectivamente.
o que o tornava membro de uma tradicional família de sacerdotes de
Atenas. Porque então era sacerdote principal dos ritos eleusinos, foi 231 Celebradas no mês atir, entre 17 de outubro e 15 de novembro.
levado por Ptolomeu de Elêusis para presidir o culto a Deméter no Egito
232 Em seu diálogo Crátilo, 403a-404a, Platão faz várias sugestões para a origem
(Histórias, 4.83).
do nome Hades para concluir que: “Portanto, Hermógenes, o nome de
221 Filho de Equidna e de Tífon, irmão de Ortro, cão monstruoso de Gérion, Hades deve estar muito longe de ter sido nomeado a partir de adeus.
da hidra de Lerna e do leão de Némea. Cérbero era o cão de Hades, um Seria antes graças a todo charme, que somente quem se une ao deus é
dos monstros que vigiavam a entrada do Hades, que não permitia que capaz de especificar que ele fora chamado de Hades pelo normatizador.”
nenhum nele adentrasse ou que qualquer morto do Hades de lá saísse. (403d). In: Platão. Crátilo. Ou sobre a correção dos nomes. Texto bilíngue.
Cérbero tinha três cabeças de cão, uma cauda formada por uma serpente Tradução, apresentação e notas de Celso de Oliveira Vieira. São Paulo:
e no dorso carregava uma infinidade de serpentes erguidas. Paulus, 2014.
222 De acordo com a descrição de Macróbio, Serápis tinha um pequeno cesto 233 Em outro tratado, Plutarco afirma que Hades comanda as almas por
sobre sua cabeça, ao lado de Cérbero com três cabeças, a do meio era um meio de sua persuasão e razão, porque, como Platão afirma (Crátilo
leão, a da direita era um cão e a da esquerda era um lobo, e uma serpente 403a-404b), um deus filantropo, sábio e rico (Da superstição, 171D)
enrolada em seu corpo (Saturnais, 1.20; 13-14).
234 Apesar da sugestão de tradução de Plutarco, Amentes é a transcrição do
223 Heráclito de Éfeso, século V a.C., filósofo que influenciou o pensamento egípcio imntt, que significa “Ocidente”.
platônico, mas não conhecemos nenhuma obra sua, a não ser fragmentos.
235 Plutarco aqui se distingue de Heródoto para quem “Ainda os nomes dos
224 Fragmento de uma obra perdida de Heráclito intitulada Da natureza. deuses, quase todos, vieram do Egito para a Hélade. Por esse motivo, eles
vieram dos bárbaros, assim eu descobri que eram, após ter sido informado;
225 Embora não tenham chegado até os nossos dias, os Escritos frígios eram
penso que vieram especialmente do Egito. Porque, de fato, a não ser
uma coletânea de escritos míticos e religiosos que parece ter sido muito
Posídon e os Dióscoros, como já foi dito por mim antes, também Hera,
divulgada entre os autores antigos, pois temos referências a eles em Diodoro
Héstia, Têmis, as Cárites e as Nereides, os nomes dos demais deuses sempre
Sículo, Biblioteca histórica, 3.67.5; Cícero, Da natureza dos deuses, 3.42 e
foram os de outrora neste território. Digo os nomes que os próprios
Diógenes Laércio, Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres, 9.49, o que nos
egípcios chamam. E os nomes dos deuses que dizem não conhecer,
leva a crer que são escritos produzidos durante o período helenístico.
parece-me que estes foram nomeados pelos pelasgos, exceto Posídon. Eles
226 Historiador, século III a.C., não sabemos ao certo qual sua cidade de conheceram esse deus por intermédio dos líbios; pois nenhum deles tinha
origem, somente que escreveu uma obra intitulada Histórias, composta o nome de Posídon desde o início, a não ser para os líbios, que sempre
de vinte e oito livros, que narra a história da Hélade desde a morte de honraram esse deus. Então, os egípcios não cultuam nenhum dos heróis.”.
Pirro em 272 a.C. até a morte de Cleômenes de Esparta, em 220 a.C., no (Histórias, 2.50). In: Heródoto. Histórias. Livro II - Euterpe. op. cit. Temos
entanto, dela só nos restaram citações em escritos posteriores. ainda Platão, Timeu, 21 e ss, como voz dissonante de Heródoto.

210 MARIA APARECIDA DE OLIVEIRA SILVA NOTAS 211


236 No parágrafo 375D. estava sentada em um trono e coberta de ouro e marfim, com uma coroa
em que havia a representação das Cárites e das Horas, e ainda trazia na
237 Plutarco conta o seguinte diálogo sobre o uso dos ossos de um asno na
mão esquerda uma romã e o seu cetro na mão direita; sobre o cetro havia
confecção das flautas, no lugar dos ossos de veado, como era o costume:
um cuco, que Pausânias afirmava ser o símbolo do amor de Zeus e Hera.
“Os helenos, pelo contrário, embora tenham a presunção de falar
Tal obra se tornou referência para as futuras representações da deusa.
melhor do que os citas, acreditam que aos deuses agrada mais ouvir sons
Consultar Pausânias, Descrição da Hélade, 2.17.3-4.
retirados de ossos e pedaços de madeira./ - E se tu soubesses, estrangeiro,
- atalhou Esopo – que os atuais fabricantes de flauta puseram de lado o 244 Diodoro Sículo conta que havia poucos bois de pelagem vermelha porque
osso de veado, para usarem antes os de asno, pois acham que tem melhor acreditavam que tal cor havia sido a de Tífon (Biblioteca histórica, 1.88.4)
sonoridade! É por isso que Cleobulina inventou a seguinte adivinha a
245 Heródoto assim detalha o sacrifício de um boi a Épafo, ou Ápis: Os
propósito da flauta frígia: Um burro morto, com a canela revestida de
bois vigorosos são considerados posses de Épafo, por essa razão, eles
corno, nas orelhas me bateu! É pois coisa de espantar que, sendo o burro
os submetem à prova da seguinte maneira: quando se vê uma única
tão grosseiro e contrário aos dons das Musas, consiga fornecer um osso
mancha preta que seja no animal, esse não é considerado puro. E é
tão fino e apto para a música.” (O banquete dos Sete Sábios, 150E). In:
designado um dos sacerdotes que procura isso no animal, colocando-o
Plutarco. Obras morais. O banquete dos Sete Sábios. Tradução do grego,
de pé, deitado de costas e puxando sua língua para fora, se há sinais
introdução e notas de Delfim F. Leão. Coimbra: Centro de Estudos
estabelecidos para um animal puro, sobre os quais eu falarei em outro
Clássicos e Humanístico, 2008. Eliano também faz um relato semelhante
relato; e ainda examina os pelos da cauda, se tem nascido conforme a
ao de Plutarco em História dos animais, 10.28.
natureza. Se o animal for puro dentre todos esses aspectos, assinala-o,
238 De δαιμονικός, que significa “possuído por um dêmon”. enrolando um papiro em volta dos seus chifres, e depois de moldar a
terra para receber um selo, pressiona-a com o sinete do seu dedo; e assim
239 Paini era o décimo mês do ano, entre 26 de maio e 24 de junho, e o mês
se retiram. A penalidade imposta a quem sacrifica um animal não selado
faofi era o segundo, que equivale ao dia 28 de setembro a 27 de outubro.
é a morte. Submete-se à prova então o animal do seguinte modo, e o
240 Segundo Eliano, os pitagóricos afirmavam que o asno é o único animal sacrifício é por eles estabelecido assim: conduzem o animal sinalizado
que nasceu sem as leis da harmonia (História dos animais, 10.28). para o altar onde se realiza sacrifícios, acedem o fogo, depois derramam
vinho em volta do animal a ser sacrificado, invocam o deus e o degolam.
241 Filho de Zeus e de Hera, pertence à segunda geração dos deuses olímpios,
Depois de degolá-lo, arrancam-lhe a cabeça. Então, desossam o corpo
considerado o deus da guerra, do combate. Sobre a origem de Ares,
do animal, e muitas vezes lançam imprecações a sua cabeça e a levam
consultar Hesíodo, Teogonia, 921-922. O culto de Ares estava associado
embora; quando eles têm uma agora e helenos entre os povos que são
ao deus egípcio Onúris.
seus comerciantes, eles a levam para a agora e a vendem para eles; mas, se
242 Filha de Crono e de Reia, Héstia é considerada a deusa do lar. Como eles não tiverem helenos presentes nela, eles a jogam no rio. Os sacerdotes
personificação do Lar, ela é o centro religioso da casa e da morada dos deuses. lançam imprecações sobre sua cabeça, dizendo as seguintes palavras: se
243 Filha de Crono e de Reia, irmã e esposa de Zeus, e a principal deusa do algo de mal for acontecer ou para eles mesmos que realizaram o sacrifício
Olimpo. A principal característica de Hera retratada na literatura é a sua ou ao Egito inteiro, que isso se volte para essa cabeça. Portanto, quanto
indignação frente à infidelidade de seu companheiro, não poupando às cabeças dos animais sacrificados e à libação do vinho, todos os egípcios
esforços para perseguir os amantes de Zeus e os frutos dessas uniões utilizam os mesmos costumes em todas as oferendas sagradas e, a partir
ilegítimas. A deusa era considerada a protetora da cidade de Argos; desse costume, nenhum egípcio comerá a cabeça de nenhum outro ser
segundo Pausânias, Hera foi homenageada por Policleto de Argos, vivo.”. (Histórias, 2.38-39). In: Heródoto. Histórias. Livro II - Euterpe.
460-410 a.C., com a construção de uma estátua colossal em que a deusa op. cit.

212 MARIA APARECIDA DE OLIVEIRA SILVA NOTAS 213


246 Consultar também o parágrafo 379F para a questão posta aqui sobre a 260 ἵππος ποτάμιος (hýppos potámios), literalmente é o “cavalo do rio”, o que
metempsicose. nós denominamos hipopótamo.
247 οἱ σφραγισταί (hoi sphragisthaí), ou esfragistas, são literalmente “os 261 Clemente de Alexandria relata o mesmo que Plutarco, no entanto, é um
seladores”. crocodilo que está no lugar do hipopótamo (Micelâneas, 5.7.41).
248 Castor de Rodes, século I a.C., compôs uma obra sobre o rio Nilo e 262 Eliano conta que o hipopótamo é o mais ímpio dos animais porque come
algumas obras sobre a Babilônia e a arte retórica, das quais nos restaram seu pai (História dos animais, 7.19).
apenas fragmentos.
263 Ou hipopótamo.
249 Artaxerxes III Oco, rei da Pérsia de 358 a 338 a.C., décimo rei da dinastia
264 Pausânias também usa essa expressão ao falar de uma inundação resultante
dos Aquemênidas.
das lágrimas de Zeus (Descrição da Hélade, 10.32.18).
250 Eliano nos conta que Oco, rei da Pérsia, sacrificou o asno e ordenou aos
265 A expressão ἐν Ἡλίου πόλει (en Hēlíou pólei), que é literalmente a cidade de
helenos que o cultuassem, mesmo ciente de que os helenos tinham
Hélio, é a cidade de Heliópolis.
horror a esse animal (História dos animais, 10.28).
266 Na cidade de Hélio, ou Heliópolis, Mnévis era a alma de Rá, que era a
251 Dínon de Colófon, século IV-III a.C., compôs uma obra sobre a história
personificação do Sol. Eliano nos conta que o boi Mnévis era consagrado
da Pérsia, da qual nos restam fragmentos contidos na Vida de Artaxerxes,
ao Sol e Ápis à Lua harmonia (História dos animais, 2.1).
de Plutarco.
267 Sobre a terra do Egito, Heródoto relata que “Quanto aos assuntos
252 O voo de sete dias de Tífon equivale ao Sabbath.
relativos ao Egito, então, há os que dizem isso e também eu mesmo
253 Epônimos de Jerusalém e Judeia, respectivamente. estou convencido e penso que seguramente foi assim, porque vi que o
Egito se projeta, tomando a terra, revelando conchas nas montanhas e
254 Tácito também conta uma história semelhante a esta de Plutarco em
mostrando a salinidade na sua superfície brilhante, de modo também
Histórias, 5.2-4.
a danificar as pirâmides, e a única montanha arenosa do Egito e essa
255 Deus que personifica o elemento fogo; por sua singular habilidade na que está localizada acima de Mênfis, além desse território, nem o que é
atividade de ferreiro, foi responsável pela confecção das armas e dos limítrofe da Arábia e similar ao do Egito, nem ao da Líbia, não o é nem
adereços dos deuses. Também conhecido por ser um deus coxo, condição ao da Síria (pois os sírios habitam o litoral do mar da Arábia), mas o seu
adquirida após ser atirado do Olimpo por sua mãe, Hera, que o gerou solo é negro e rachado, de modo que é uma aluvião e um derramamento
sem o auxílio de Zeus, conforme Hesíodo versificou na Teogonia, 397 ss. da Etiópia, trazido de cima para baixo pelo seu rio; e sabemos que a Líbia
256 Um canto lacrimoso. tem a terra mais vermelha e arenosa, e que a Arábia e a Síria são as mais
argilosas e rochosas.” (Histórias, 2.12). In: Heródoto. Histórias. Livro II
257 Entre os egípcios, a esquerda era para designar o Leste e a direita para - Euterpe. op. cit. Platão em seu diálogo Timeu, 25b, também afirma que
o Oeste. Plutarco associa a esquerda ao nascimento e a direita à o Egito tinha a terra negra.
desembocadura do rio Nilo (Assuntos de banquetes, 729B).
268 Na língua egípcia, Chemia significa “terra preta”.
258 Plutarco conta que a abstenção dos sacerdotes ao sal, que é chamada de
“a espuma de Tífon” nas épocas de purificação (Assuntos de banquetes, 269 Homero nos conta que todas as coisas e todos os deuses existem por causa
648F). de Oceano, que era o princípio da geração (Ilíada, 14.214 e 246), e Tales
de Mileto afirmava que o princípio de tudo era a água, por isso a relação
259 Plutarco repete essa afirmação em Assuntos de banquetes, 729B. feita entre ambos.

214 MARIA APARECIDA DE OLIVEIRA SILVA NOTAS 215


270 Filho de Urano e de Geia, os antigos poetas acreditavam que o Oceano era cultuados juntos, cada deus possuía os seus próprios mistérios. No caso
um rio que circundava a Terra, dado que Heródoto demonstra que não é de Clea, notamos que a sacerdotisa conhecia os rituais de ambos.
mais aceitável em sua época, como lemos a seguir: “E outro caminho e o
283 Heródoto trata Ápis como Épafo, conforme se lê neste relato: “Depois
mais sem conhecimento que o que já foi dito, mas e mais admirável de se
de Cambises ter chegado a Mênfis, o deus Ápis apareceu para os
dizer em palavra, o que diz que o rio [Nilo] corre a partir do Oceano para
egípcios, que os helenos chamam de Épafo; quando aconteceu essa
que ele opere essas coisas, e que o Oceano corre em volta de toda a Terra.”.
aparição, imediatamente os egípcios vestiram suas vestimentas mais
(Histórias, 2.21). In: Heródoto. Histórias. Livro II - Euterpe. op. cit. Para os
belas e ficaram em festa. Nesse momento, ao ver isso que os egípcios
poetas que cantaram Oceano como o rio que circundava a Terra, consultar
faziam, Cambises, porque estava completamente desconfiado de que
Homero, Ilíada, 19.200 e 244; Hesíodo, Teogonia, 242 e 940.
estavam alegres e realizavam essas festividades por causa de ele estar em
271 Filha de Urano e de Geia, a mais nova da Titânides, Tétis é considerada uma situação difícil, convocou os governadores de Mênfis; quando eles
uma deusa primordial, desposou seu irmão Oceano. chegaram a sua presença, ele lhes perguntou por que, quando ele esteve
antes em Mênfis, os egípcios não fizeram nada dessa natureza, mas nesse
272 ἀπουσία (apousía) era o nome dado à emissão de esperma.
momento em que novamente ele estava presente lá, depois de ter perdido
273 συνουσία (synousía) era o nome dado ao encontro sexual. um grande número de homens do seu exército. E eles lhe responderam
274 υἱός (hyós) significa “filho”. que um deus havia aparecido para eles, também que ele tinha por hábito
aparecer de tempos em tempos, e sempre que o deus aparecia, então
275 ὕδωρ (hýdōr) significa “água”. todos os egípcios ficavam alegres e festejavam. Depois de ter ouvido
276 ὗσαι (hŷsai) é o infinitivo aoristo de ὕω (hýō), que significa “chover”. isso, Cambises disse que eles estavam mentindo para ele, quando os
condenou a pena de morte porque haviam mentido.”. (Histórias, 3.29).
277 ὕην (hýēn) é o infinitivo presente do verbo ὕω (hýō), que significa “chover”. In: Heródoto. Histórias. Livro III – Talia. op. cit.
278 Helânico de Mitilene, 496-411 a.C., era um renomado historiador, do 284 A relação do deus com uma embarcação está no Hino Homérico a Dioniso,
qual não dispomos de nenhum escrito, somente citações. onde lemos: “Acerca de Dioniso, filho de Sêmele mui ilustre, /lembrar-
279 Ὕσιρις (Hýsiris) é som do nome do deus em egípcio, Osíris é a pronúncia me-ei de como surgiu na praia do mar infecundo [...] Rapidamente
helena. homens de uma nau de bons bancos/ piratas, avançaram rapidamente
pelo mar vinoso,/ tirrenos, conduzia-os um mau destino; eles, que
280 Osíris, como Dioniso, descobriu a videira e o vinho. quando o viram/ acenaram uns aos outros, rapidamente saltaram,
281 Pausânias conta que: “A outra passagem anterior, na que se chama prontamente agarrando-o/ acomodaram-se na sua nau, alegrados no
Panopeu de belos coros, não fui capaz de compreendê-lo até o momento coração./ Pois ele parecia ser um filho dos reis alimentados/ por Zeus, e
em que fui instruído por aquelas que os atenienses chamam Tíades. As queriam em correntes atar dolorosas./ a ele, não detinham as correntes,
Tíades são mulheres áticas que vão ao Parnaso a cada dois anos, e elas e e os liames para longe caíam/ de suas mãos e de seus pés; e ele, sorrindo,
as mulheres de Delfos celebram orgias em honra de Dioniso. É costume sentava-se [...] o piloto percebendo, logo aos seus companheiros chamou
que essas Tíades dancem no caminho de Atenas, em outros lugares e no dizendo:/ Insensatos, que deus é este que encadeais, tendo capturado,/
Panopeu” (Descrição da Hélade, 10.4.3). O nome Tíades deriva de Tia, poderoso? Nem pode transportá-lo uma nau benfeita.” Tradução de
filha do rio Céfiso, foi a primeira a celebrar o culto a Dioniso nas escarpas Fernando Brandão dos Santos. In: Hinos homéricos. op. cit.
do Parnaso. 285 Outro nome dado ao deus Dioniso, provavelmente de origem lídia.
282 Apuleio conta que estava iniciado nos mistérios de Ísis, mas não nos de Heródoto faz menção aos mistérios de Baco neste registro: “Os citas
Osíris (Asno de ouro, 10.27.4), pelo que notamos que, apesar de serem reprovam os helenos por sua celebração dos mistérios de Baco; pois

216 MARIA APARECIDA DE OLIVEIRA SILVA NOTAS 217


eles dizem que não é razoável conceber a existência de um deus que leva 299 Píndaro, fr. 153 Maeheler. Plutarco repete essa citação de Píndaro em
os homens à loucura.” (Histórias, 4.79). Heródoto. Histórias. Livro Diálogo do amor, 757F e Assuntos de banquetes, 657F.
IV - Melpômene. Tradução, introdução e notas de Maria Aparecida de
300 Homero, Odisseia, 5.306 e 6.154-155.
Oliveira Silva. São Paulo: Edipro, 2019.
301 Homero, Odisseia, 8.340.
286 Ateneu relata que a relação entre Dioniso e o touro está na origem do seu
culto (Deipnosofistas, 476A). 302 Consultar parágrafo 358B.
287 Plutarco relata que as mulheres de Elea entoavam um hino antigo em 303 Apópis era irmão de Osíris, a quem Apópis pedia auxílio todas as vezes
que invocavam ao deus que se apresentasse a elas na forma de um boi que secava o ar da Terra, e Osíris, por sua vez, convocava Dioniso que,
(Virtudes das mulheres, 251E). Também em Questões helenas, Plutarco pelo seu princípio úmido, auxiliava-o.
conta que as mulheres de Elea evocavam ao deus que viesse acompanhado
304 κιττός (kittós) é nome dado à planta chamada hera.
pelas Cárites (292E).
305 Filósofo peripatético, contemporâneo de Estrabão (séculos I a.C - I d.C.),
288 βουγενής (bougenḗs), que significa “nascido de um boi”.
que o cita em sua obra Geografia, 17.7.90.
289 Plutarco registra que os argivos usavam as trombetas nas celebrações ao
306 Não sabemos ao certo de quem se trata.
deus Dioniso (Assuntos de banquetes, 671E).
307 Ou Harshafitou para os egípcios, seu nome significa “energia viril”, era
290 Provavelmente, trata-se de Cérbero. Virgílio conta que se oferecia uma
o principal deus de Heracleópolis, e era representado como um deus-
ovelha para as divindades ínferas (Eneida, 6.249).
carneiro, participava das celebrações em honra a Dioniso.
291 Natural de Argos, escreveu a obra citada por Plutarco no século II a.C.,
308 Poeta iâmbico que escreveu uma história do Egito, não dispomos de mais
mas que não chegou até nós.
informações sobre essa personagem.
292 Festas realizadas para celebrar a morte de Zagreu durante a Titanomaquia,
309 Natural de Patara, na Lícia, século II a.C., discípulo de Eratóstenes,
quando foi despedaçado pelos Titãs e teve seus restos recolhidos por
escreveu uma obra sobre a história da Líbia e redigiu escritos mitológicos.
Apolo e colocados na trípode de Delfos. Zagreu, outro nome dado a
Dioniso, era filho de Zeus e Perséfone e considerado o deus dos órficos. 310 Filho de Zeus e de Io, Épafo foi rei do Egito por volta do século XVI a.C.
De acordo com o mito de Épafo, quando Io foi metamorfoseada em
293 As Nictélias eram festivais noturnos em honra de Dioniso.
vaca, ela vagou sem rumo por toda a Terra, perseguida por Hera, a esposa
294 Consultar parágrafos 358A a 359A. ciumenta de Zeus, mas, durante a sua andança, encontrou refúgio as
margens do Rio Nilo, onde deu à luz Épafo, que significa “o toque de
295 οἱ ὅσιοι (hoi hósioi), ou “os puros”, eram os sacerdotes de Delfos. Conforme
Zeus”, que foi criado por Telégono, o seu pai mortal, rei do Egito, a quem
Plutarco, eram cinco sacerdotes vitalícios que cuidavam do culto de
sucedeu após a sua morte. Ésquilo: “Existe uma cidade, Canopo, a última
Apolo em Delfos (Questões helenas, 292D).
da região, / junto a mesma embocadura e aluvião do Nilo;/ lá então Zeus
296 Λικνίτης (Liknítēs) significa “deus da joeira sagrada”. Epíteto encontrado te coloca cordata/ roçando-a com sua destemida mão, tocando-a apenas./
nos Hinos órficos, 46.1 e 52.3, e esta é a única referência de Plutarco a este Terás o nome dos descendentes de Zeus,/ darás a luz ao negro Épafo, que
epíteto. colherá/ quanto o Nilo de larga correnteza irrigar a terra” (Prometeu
acorrentado, 846-853). In: Ésquilo. Prometeu acorrentado. Edição
297 Poeta lírico, natural de Tebas, 518-446 a.C..
bilíngue. Tradução e notas de Maria Aparecida de Oliveira Silva. Prefácio
298 A ὀπώρα (opṓra) era a estação da colheita. de Orlando Luiz de Araújo. São Paulo: Martin Claret, 2019.

218 MARIA APARECIDA DE OLIVEIRA SILVA NOTAS 219


311 Ao discorre sobre a ilha de Quêmis, Heródoto nos apresenta algumas lançam jorros de água por boca de leão, uma vez que o Nilo aporta água
dessas divindades egípcias e seus equivalentes helenos: “Portanto, esse nova aos campos egípcios quando o Sol se cruza com a constelação do
santuário [de Leto], dentre as coisas que me foram visíveis sobre esse Leão” (Assuntos de banquetes, 760C), tradução de José Luís Brandão. In:
templo, e o que existe de mais maravilhoso; em segundo lugar, está a Plutarco. Obras morais. No banquete – I. Livros I-IV. op. cit. Também
chamada Ilha Quêmis. Ela está localizada em um lago profundo e largo, encontramos referências a essa constelação em Plínio, História natural,
ao lado do templo existente na cidade de Buto; e dito pelos egípcios que 5.9.57.
essa ilha tem a característica de viajar pela água. Eu próprio, pelo menos,
315 26 de agosto é a data estipulada para esse transbordamento.
não a vi navegando nem se movendo; e fico atônito quando ouço isso, se
é verdade que uma ilha é efetivamente capaz de viajar pela água. Então, de 316 Árato, Fenomenologia, 151.
fato, nesse mesmo lugar, foi construído um grande santuário de Apolo
317 ὥρα(hṓra), note a proximidade com o nome de Hórus. ὥρα(hṓra) significa
e três altares, no qual nascem numerosas palmeiras, outras espécies de
“estação”.
árvores, algumas frutíferas e muitas sem frutos. E os egípcios traçam
conexão com a seguinte história para dizer que essa ilha viaja pela água: 318 Filha do Titã Urano e da Titânide Febe, portanto, pertence à primeira
que essa ilha, no princípio, não era flutuante, quando Leto, que estava geração divina. Leto é mãe de Apolo e de Ártemis, os quais teve com
entre os oito deuses que se originaram primeiro, habitava na cidade de Zeus. O nome egípcio de Leto é Outit, era a deusa principal de Buto, que
Buto, onde de fato está esse oráculo, e recebeu Apolo das mãos de Ísis, significava “o lugar de Outit”.
para que ela o protegesse, e, para mantê-lo são e salvo, ela o escondeu 319 Τελευτή (Teleutḗ), que significa “Fim”.
nessa ilha que, hoje, e chamada flutuante, quando Tífon chegou lá,
depois de tê-lo procurado por toda a terra, querendo encontrar o filho 320 Os ventos etésios sopram em direção do Norte em direção ao Mar
de Osíris (eles dizem que Apolo e Ártemis são filhos de Dioniso e de Ísis, Mediterrâneo, que vem de ἐτήσιος (etḗsios), ou “o que dura um ano”,
e que Leto foi a nutriz deles e sua salvadora; e, para os egípcios, Apolo e porque são ventos anuais.
Hórus; Deméter e Ísis; e Ártemis e Bubástis. A partir dessa história e de 321 A cheia do rio Nilo já foi objeto de análise de Heródoto, conforme lemos
nenhuma outra, Ésquilo, filho de Euforíon, retirou o tema da história a seguir: “E o Nilo avança, quando está cheio, não somente sobre o seu
que conto; de fato, somente ele dentre os poetas anteriores, pois ele Delta, mas também no que é chamado território líbico e em alguns
compôs Ártemis como filha de Deméter); e a ilha tornou-se flutuante lugares do arábico, em uma jornada de dois dias em cada uma das duas
por causa disso.” (Histórias, 2.156). In: Heródoto. Histórias. Livro II - margens, tanto mais ainda que isso, como também menos. Sobre a
Euterpe. op. cit. natureza do rio, não pude aprender nada, nem dos sacerdotes nem de
312 Historiador atenienses, séculos IV-III a.C., escreveu uma obra intitulada qualquer outro. Mas tinha a boa vontade de ser informado por eles,
Retornos e um livro sobre Alexandre, o Grande, das quais somente nos porque o Nilo transborda e enche, começando a partir dos solstícios
restaram fragmentos. de verão, por cerca de cem dias. Passando esse número de dias, retorna
e deixa sua inundação, de modo a atravessar rasante durante todo o
313 Filho de Iápeto, um Titã, e de Ásia, filha de Oceano, Prometeu é primo inverno, ficando assim até quando, outra vez, há os solstícios de verão.
de Zeus. O mito de Prometeu é contado por Hesíodo na Teogonia, por Portanto, nenhum desses egípcios foi capaz de me fazer compreender
Apolodoro na Biblioteca e por Ésquilo em Prometeu acorrentado. isso, quando eu os indaguei sobre qual capacidade o Nilo tinha para ter
314 Sobre a constelação de Leão, Plutarco registra que: “Quanto ao leão, sua natureza diferente da dos demais rios. Por querer saber a respeito das
associam-no ao Sol, pois apenas ele, de entre os quadrúpedes munidos coisas mencionadas, investiguei também por que ele e o único dentre os
de garras, gera crias que conseguem ver à nascença, dorme por um curto rios que não tem brisas soprando dele.”. (Histórias, 2.19). In: Heródoto.
espaço de tempo e os seus olhos brilham mesmo durante o sono. E fontes Histórias. Livro II - Euterpe. op. cit. E Heródoto segue expondo outras

220 MARIA APARECIDA DE OLIVEIRA SILVA NOTAS 221


teorias sobre a cheia para depois apresentar a sua versão, consultar vasto mar, são consumidos quarenta dias, com a utilização de remos; sua
capítulos 20 a 25 do Livro II – Euterpe. largura, onde o golfo é mais largo, e de meio dia de navegação; e todo
dia se origina nele um transbordamento e um refluxo do mar. Penso
322 É o terceiro mês do ano egípcio, equivale a parte dos meses de outubro e
que, um dia, o Egito também foi um outro golfo dessa natureza; um
novembro.
era o golfo do Mar do Norte, que se estendia sobre a Etiópia, e o outro
323 A representação de Ísis como uma vaca também é relatada por Heródoto: era o Arábico, sobre o qual vou falar, que se estendia do Mar do Sul em
“Portanto, todos os egípcios sacrificam bois puros, os mais vigorosos direção à Síria; as entradas dos seus golfos quase se uniam uma com a
e os vitelos, enquanto não lhes é permitido sacrificar as vacas, mas são outra, pouco faltando para que ultrapassassem seu território. Se, então,
oferendas sacrificiais de Ísis. Pois a estátua de Ísis era de uma figura o Nilo quisesse reverter o curso de sua corrente para o Golfo Arábico, o
feminina com chifres de vaca, conforme os helenos representavam Io, que o teria impedido de amontoar terra dentro de tal corrente por vinte
e todos os egípcios igualmente veneram de modo mais considerável as mil anos? Pois eu suponho que certamente ele poderia amontoar sua
vacas de todos os rebanhos. Por causa disso, nenhum homem e nenhuma terra dentro da sua corrente em dez mil anos. Onde, de fato, no tempo
mulher do Egito poderiam beijar um homem heleno na boca, nem passado, antes de eu ter nascido, um golfo ainda muito maior poderia
utilizar uma faca de um homem heleno, nem espetos de assar, nem ser amontoado de terra por um rio tão grande e tão ativo? Quanto aos
um caldeirão para cozinhar carne, nem comer a carne de um boi puro assuntos relativos ao Egito, então, há os que dizem isso e também eu
cortado com a faca de um heleno. Eles enterram os gados mortos do mesmo estou convencido e penso que seguramente foi assim, porque
seguinte modo: atiram as vacas no rio e os bois são enterrados, cada um vi que o Egito se projeta, tomando a terra, revelando conchas nas
dos subúrbios os tem nele, e um dos chifres, ou ambos, e colocado para montanhas e mostrando a salinidade na sua superfície brilhante, de
fora, em razão de ser um sinal distintivo do lugar.”. (Histórias, 2.41). In: modo também a danificar as pirâmides, e a única montanha arenosa do
Heródoto. Histórias. Livro II - Euterpe. op. cit. E sobre as origens da vaca Egito é essa que está localizada acima de Mênfis”. (Histórias, 2.11-12).
estar associada à deusa Ísis, consultar os capítulos 129 e ss, do Livro II - In: Heródoto. Histórias. Livro II - Euterpe. op. cit.
Euterpe.
328 Pequena ilha situada no litoral do Egito, que estava localizada do lado
324 Ísis é a esposa de seu irmão Osíris, mãe de Hórus, o Deus dos Céus. A oposto de Alexandria.
deusa é considerada a mãe dos deuses e a divindade relacionada à magia.
329 Nome da deusa Perséfone antes de desposar Hades.
A representação mais recorrente de Ísis é a de uma vaca segurando o
símbolo da Lua, por isso esse animal é consagrado a deusa. Outro aspecto 330 Deus do Caos, Seth está associado à morte, à seca, à terra vermelha. Seth é
interessante dessa divindade é que, ao contrário das demais divindades oposto de seu irmão Osíris.
egípcias, Ísis não tinha um local específico para o seu culto, além de ter
331 Plutarco relaciona Hermes à Lua e à deusa Perséfone em seu tratado Da
alcançado prestígio entre os antigos helenos e os romanos.
face visível da Lua, 943B.
325 Consultar o parágrafo 352B.
332 Consultar parágrafos 371A e 373D.
326 Os sacerdotes acreditavam que, ao verter água no cofre, poderiam
333 Os números planos são aqueles que resultam da multiplicação de dois
encontrar Osíris nas águas do Rio Nilo.
números, já os planos quadrados são o produto da multiplicação de
327 Acreditava-se que o Egito tivesse sido mar, essa afirmação tem a seguinte si mesmo, quatro vezes quatro são dezesseis, por exemplo. Os planos
explicação em Heródoto: “Existe, no território da Arábia, não longe retângulos resultam da multiplicação de números diferentes.
do Egito, um golfo marítimo que se estende do chamado Mar Eritreu,
334 Ilha no Rio Nilo, ao sul do seu território, cujo nome deriva da língua
tão longo e estreito como irei expor, começando pela extensão de sua
helena, que significa “cidade dos elefantes”. A respeito de sua localização,
navegação: para completar a navegação da sua parte mais baixa até o

222 MARIA APARECIDA DE OLIVEIRA SILVA NOTAS 223


Heródoto conta que: “De Heliópolis até Tebas, são nove dias de 344 Consultar as notas do parágrafo 355C.
navegação, e a distância e de oitocentos e sessenta estádios, sendo oitenta
345 τὰς τοῦ παντὸς ἀρχὰς (tàs toû pantòs arkhàs) também pode ser traduzido
e um cordéis. Esses estádios, somados, resultam no tamanho total da
como “as origens do todo” ou “do mundo”.
extensão do Egito; e a parte do litoral, que já foi demonstrada por mim
antes, e de três mil e seiscentos estádios; quanto a que se situa do mar em 346 Demócrito de Abdera, cidade localizada na Trácia, filósofo Pré-socrático,
direção ao interior do território até Tebas, faço saber: pois são seis mil, século V a.C. Discípulo de Leucipo, desenvolveu a teoria do atomismo.
cento e vinte estádios; e a parte que vai de Tebas até a chamada cidade
347 Natural de Samos, 341-270 a.C., o filósofo também foi influenciado pela
Elefantina, corresponde a um mil e oitocentos estádios.”. (Histórias,
teoria atomista de Demócrito de Abdera.
2.9). In: Heródoto. Histórias. Livro II - Euterpe. op. cit.
348 Fr. 27 Diels-Kranz. Plutarco repete este fragmento em Da tranquilidade
335 Cidade situada do lado leste do Delta do Rio Nilo. Está associada ao
da alma, 473F.
culto de Osíris. Há ainda a relação entre o nome da cidade com um deus
homônimo que representava a preservação da natureza. 349 Tragediógrafo nascido em Salamina, 485-407 a.C., o preferido de Plutarco,
sendo o mais citado dentre os tragediógrafos antigos.
336 Localizada na região Leste do Delta do Nilo.
350 Eurípides. Éolo, peça perdida, fr. 21 Nauck.
337 Mês equivalente a 25 de fevereiro a 27 de março.
351 Um paralelo construído a partir da imagem de Zeus que Homero
338 Platão também atribui esse poder de inseminar e de gerar da Lua por sua
apresenta na Ilíada, 24.523-534, em que mostra o deus mesclando bens
condição hermafrodita (O banquete, 190b).
aos males e os distribuindo aos mortais.
339 Pequena lacuna no manuscrito.
352 Ζωροάστρης (Zōroástrēs) é o nome grego para Zaratustra, o grande mago
340 Hécate é uma deusa aparentada de Ártemis, pois também caçava e regia os ou profeta nascido na Pérsia.
partos, de origem Trácia. Entre os atenienses, era cultuada como deusa
353 Ὡρομάζης (Hōromázes) é nome heleno para Ahura Mazda, que significa
do lar.
“Senhor” e “Sábio”.
341 No original: κύων (kýōn) particípio presente do verbo κύω (kýō), que
354 Ἀρειμάνιος (Areimánios) é o nome heleno para Angra Mayniu, que
significa “conceber”. Note a proximidade do verbo usado com o
significa “Espírito do mal”.
substantivo κύων (kýōn), que significa “cão”.
355 Deus do Sol ou Deus Solar, na mitologia persa, Mitra rege o Sol, a
342 Plutarco grafa κυνός (kynós), que é o genitivo singular de κύων (kýōn) que
sabedoria e a guerra.
significa “cão”.
356 Que significa “Mediador”.
343 Filho de Ciro, Cambises foi rei da Pérsia entre 530 e 522 a.C. e tornou-
se notável por ter conquistado o Egito. Heródoto relata que, depois da 357 O ὄμωμι ou amomo é uma planta aromática da Pérsia.
conquista do Egito, Cambises começou a demonstrar insanidade mental, 358 Conforme o testemunho de Heródoto, os magos podiam matar diversas
o que os egípcios consideraram um castigo divino pelos atos impiedosos espécies de animais: “E os magos em muito se distinguem dos demais
contra a sua religião. Além disso, mandou matar seu irmão Esmérdis por homens e dos sacerdotes do Egito; pois eles consideram um ato de
medo de ser destronado por ele. No entanto, o seu ardil não funcionou pureza não matar nenhum ser vivo, a não ser os que são oferendas para
porque um mago ocupou o seu lugar, fingindo ser seu irmão, e, quando sacrifícios. Os magos matam todos com suas próprias mãos, exceto cães
Cambises foi combatê-lo para reaver seu poder, morreu ferido na coxa e homens, igualmente formigas, cobras e demais rastejantes e voadores.”
em seu retorno à Pérsia. (Histórias, 1.140). In: Heródoto. Histórias. Livro I – Clio. Op. cit.

224 MARIA APARECIDA DE OLIVEIRA SILVA NOTAS 225


359 Pequena lacuna do manuscrito. e lá permaneceu até ser condenado à morte por impiedade, quando se
exilou em Lâmpsaco, onde provavelmente fundou sua escola.
360 Plutarco se inspira em nomes e conceitos apresentados por Platão em seus
diálogos Protágoras e Fédon, em especial, 320d e 113a respectivamente. 373 Anaxágoras, fr. 59D Diels.
361 Historiador nascido na ilha de Quios, 377-320 a.C., foi discípulo de 374 Nasceu em Estagira, na Calcídia, 384-322 a.C., fundador da Escola
Isócrates em Atenas. Compôs Helênicas e Filípicas, obras das quais só Peripatérica em Atenas, tendo antes sido discípulo de Platão por
nos restaram fragmentos. vinte anos. Também se tornou conhecido por ter sido o preceptor de
Alexandre, o Grande.
362 O ciclo era de doze mil anos, dividido em quatro períodos de três mil
anos cada. No primeiro período, Horomazes e Arimânio criam; no 375 Aristóteles, Metafísica, 986a e ss.
segundo, Horomazes reina sozinho; no terceiro, Arimânio se sobrepõem
376 Platão, Timeu, 35a.
a Horomazes e passa a reinar e no quarto período, há o combate entre os
dois deuses, com a prevalência de Horomazes. 377 Platão, Leis, 896 e ss.
363 Diodoro Sículo afirma que os caldeus são os mais antigos babilônios, que 378 A palavra grega θεολογία (theología) deriva de θεολογεῖον (theologeîon), que
têm uma casta de sacerdotes semelhante à dos egípcios, que aprendem era um lugar do palco destinado à aparição e manifestação dos deuses
filosofia e astrologia. Por ser um posto transmitido de pai para filho, por meio da palavra, daí θεολογία (theología) ser a ciência das coisas
os ensinamentos do sacerdócio são-lhes ensinados já na infância. Os divinas. Sob essa perspectiva, a nosso ver, Plutarco nos apresenta uma
caldeus conheciam cinco planetas: Saturno, Marte, Vênus, Mercúrio e teologia grega que não é uma ciência da interpretação da manifestação
Júpiter. Estes planetas eram chamados de intérpretes, pois os sacerdotes ou da palavra divina, mas é a própria palavra divina, como vimos no
obtinham predições a partir de seu movimento no céu (Biblioteca primeiro parágrafo, é um conhecimento que o deus nos permite ter, mas
histórica, 2.30, 1-6). Plutarco nos fala em sete planetas, certamente, por na medida da sua vontade; enfim, conhecemos o que o deus nos permite
acrescentar o Sol e a Lua a esta conta. conhecer.
364 Hesíodo versifica que Harmonia é filha de Afrodite e Ares na Teogonia, 379 Consultar 367D e 376A-B para mais informações sobre o nome Seth.
937. Também Apolodoro em sua Biblioteca, 3.4, 2.
380 Entre os egípcios era chamado de Baba (Babawy ou Baby).
365 Heráclito, fr. 22B Diels
381 ὁ ποτάμιος ἵππος (ho potámios hýppos), ou cavalo do rio é o animal que
366 Uma paráfrase de Homero, Ilíada, XVIII, 107. chamamos hipopótamo.
367 Paráfrase do escrito por Heráclito, dos fragmentos 22 a 80 Diels. 382 Ou Hermópolis, foi a maior cidade do Alto Egito.
368 Κλῶθες (Klôthes) eram as Fiandeiras, divindades que fiam a trama da vida 383 Ou hipopótamo, para mais informações consultar os parágrafos 363F e
humana, as deusas do destino. 364A.
369 Δίκη (Díkē), ou Dice, era a personificação da Justiça. 384 Quinto mês do ano egípcio, 2 de janeiro a 1 de fevereiro.
370 Epítetos encontrados nos fragmentos de Empédocles, 17, 31B e 122 Diels. 385 Consultar parágrafo 357D.
371 Aristóteles nos fala da “tábua dos opostos” sugerida pela filosofia 386 Ou Apolinópolis, estava localiza a Leste da margem do Nilo.
pitagórica em sua obra Metafísica, 985b e ss.
387 Heródoto registrou as características de um crocodilo e a sua relação com
372 Nascido em Clazômenas, 500-428 a.C., filósofo que estudou em Atenas parte do povo egípcio neste relato: “De fato, uns entre os egípcios são
sagrados, como os crocodilos, enquanto outros não, ao contrário, eles

226 MARIA APARECIDA DE OLIVEIRA SILVA NOTAS 227


os tratam como inimigos. Os habitantes na região ao redor de Tebas 396 Segundo mês do calendário egípcio que equivale a setembro e outubro.
e do Lago Méris consideram que eles são muito sagrados. E cada uma Ver também parágrafo 362F.
das localidades de todas essas regiões alimenta um crocodilo, porque é
397 A cheia do rio Nilo começava no solstício de verão.
ensinado a ser manso, e colocam em suas orelhas ornamentos pendentes
de pedras lapidadas e de ouro, braceletes em torno das suas quatro 398 Para os humanos, Osíris solar na terra equivale ao que o Sol é no céu.
patas, dão-lhe alimentos reservados, oferendas sagradas, tratando-o da
399 Não dispomos de mais informações sobre essa obra.
melhor forma possível enquanto estão vivos; quando morrem, eles os
embalsamam e depois os enterram em túmulos sagrados. Os que habitam 400 Consultar parágrafo 385E.
em torno da cidade de Elefantina também se alimentam deles, porque 401 Dos parágrafos 378F a 384C.
não consideram que eles sejam sagrados. Eles não os chamam crocodilos,
mas khámpsai; mas os iônios lhes deram nome de crocodilos, porque 402 Diodoro Sículo registra a associação feita entre o Sol e a Lua e Osíris e
os crocodilos têm sua aparência semelhante a dos lagartos, que existem Ísis, contando-nos o seguinte: “Os homens, conforme o costume
nos territórios deles.” (Histórias, 2.69). In: Heródoto. Histórias. Livro egípcio dos homens que nasceram antigamente, observando o cosmo,
II - Euterpe. op. cit. Ainda temos o registro de Eliano em História dos alegraram-se e se maravilharam com a natureza do universo, e supuseram
animais, 1.21, no qual nos informa que os habitantes de Apolinópolis que existiam dois deuses eternos e primeiro, o Sol e a Lua, dos quais,
chicoteavam e maltratavam os crocodilos antes de matá-los. um chamaram Osíris e a outra, Ísis, que receberam esses nomes por um
tipo de etimologia. Interpretados pelo dialeto helênico, Osíris é o “de
388 Homero, Ilíada, 7.22. muitos olhos”, pois lança seus raios por toda parte, olha toda a terra e
389 Osíris é representado por gavião ou por um falcão; sobre este, temos o o mar.” (Biblioteca histórica, 1.11.1-2). Interessante notar que o epíteto
seguinte relato de Eliano: “Os falcões são muito bons para caçar e não πολυόφθαλμος (polyóphtalmos) “de muitos olhos” usado por Diodoro
são inferiores às águias nisso. São por natureza domesticáveis e as aves Sículo é o mesmo usado por Homero em diversos versos de suas
mais amigas dos homens, e não são inferiores às águias em tamanho.” composições. Encontramos narrativa semelhante em Diógenes Laércio,
(História dos animais, 2.42). Porfírio conta que os falcões têm o costume Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres, 1.10.
de deixar os olhos dos cadáveres na terra (Da abstinência, 4.9). 403 Embora Plutarco afirme que seja a Osíris, Sírio é a estrela mais brilhante
390 Ação que denota respeito aos mortos, pois jogar um pouco de terra no da Constelação do Cão, ou de Órion, e está associada à deusa Ísis. De
cadáver já lhe conferia a condição de sepulto, como vemos nos versos acordo com o Suda, os helenos às vezes chamavam o Sol de Sírio.
sofoclianos em que Antígona desperta a ira de Creonte por ter jogado 404 Platão, Timeu, 49a e 51a.
um punhado de terra no cadáver de seu irmão Polinices, declarado
inimigo de Tebas pelo tirano; consultar Sófocles, Antígona, 450-470. 405 Consultar o parágrafo 358D.
391 Nas representações de Osíris conhecidas hoje, o deus aparece trajando 406 Plutarco também conta essa relação já no ventre de Reia no parágrafo
vestimentas brancas. 356A.
392 Discussão semelhante nos é apresentada por Platão, República, 507-509. 407 Hórus, o Velho, saiu do sono de Nout, que equivale à deusa Reia, antes
mesmo de ser gerado por Ísis e Osíris.
393 Consultar também o parágrafo 372E.
408 Trata-se da lira. O mito contado por Plutarco nos lembra episódios
394 Décimo primeiro mês do calendário egípcio, equivale a junho-julho, contidos em Hino homérico a Hermes, conforme lemos a seguir:
época do solstício de verão. “Nascido ao alvorecer, ao meio-dia tocava cítara/ e ao entardecer furtou
395 Consultar também os parágrafos 373D-E. bois do arqueiro Apolo./ No quarto dia da primeira parte, Maia augusta

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o pariu./ E tão logo saltou do seio imortal da mãe,/ não ficou muito 421 Elemento primordial da Cosmogonia, o Tártaro é a região mais profunda
tempo em repouso no sagrado berço;/ mas, num salto, saiu em busca do mundo, que os helenos acreditavam estar situada abaixo do Hades.
dos bois de Apolo,/ transpondo a soleira da gruta de elevado teto./ Ao Eles acreditavam, também, que a distância entre o Hades e o Tártaro
encontrar aí uma tartaruga, conseguiu imensa prosperidade:/ Hermes era a mesma que havia entre Urano (personificação do Céu) e Geia
foi o primeiro a fazer da tartaruga um cantor. (h.Hom. 4: A Hermes, 17- (personificação da Terra).
25), tradução de Maria Celeste Consolin Dezotti. In: Hinos homéricos.
422 Deus do amor, considerado primordial, gerado junto com Geia a partir do
op.cit.
Caos; ler Hesíodo, Teogonia, 120-122. Há ainda a tradição poética que o
409 Platão, Timeu, 50c-d. associa a Hermes e Afrodite, sendo o resultado da união entre eles.
410 Platão, República, 546b. 423 Platão, O banquete, 203b e ss.
411 O número três é considerado perfeito por representar o início, o meio e o 424 A personificação da Pobreza, como Poro, não aparece em outra narrativa
fim. mítica além do diálogo platônico O banquete.
412 τὰ πάντα (tà pánta) que é “o todo” ou o “universo”. 425 Personificação do Recurso, ou Abundância, filho de Métis, pai de Eros.
413 πέντε (pénte) que é o número cinco. 426 ἀειγενής (aeigenḗs) também pode ser lido como “sempre-vivo” no sentido
de que está sempre alimentando o seu princípio, que é o da geração, ou
414 Plutarco desenvolve raciocínio semelhante em seu tratado Do declínio dos
seja, sempre se gerando ou renascendo.
oráculos, 429D.
427 Consultar Aristóteles, Da alma, 429a.
415 Mnw, em língua egípcia, é retratado com um pênis ereto na mão esquerda,
com o braço direito erguido e segurando um mangual, era considerado o 428 Plutarco mantém o princípio pitagórico de que a mulher produzia
deus da reprodução. Min foi assimilado pelos helenos como Pan. esperma, o que podemos ver também em seu tratado Assuntos de
banquetes, 651C, onde afirma que esse não tem nenhuma capacidade
416 Mut era casada com Ámon, era a deusa-falcão de Tebas, representada em
para fecundar e procriar.
um vestido vermelho, com uma serpente na fronte.
429 Subentende-se Osíris, embora as passagens que Plutarco se refere não se
417 Platão, Timeu, 52d-53a.
encontram nas obras remanescentes desses autores.
418 Plutarco se refere aos seguintes versos: “Sim bem primeiro nasceu Caos,
430 As citações de Plutarco feitas a Platão e Aristóteles não encontram
depois também/ Terra de amplo seio, de todos sede irresvalável sempre,/
correspondência nas obras por nós conhecidas.
dos imortais que têm a cabeça do Olimpo nevado,/ e Tártaro nevoento
no fundo do chão de amplas vias,/ e Eros: o mais belo entre Deuses 431 ἵεσθαι, que significa “adiantar-se”, “lança-se”.
imortais,/ solta-membros, dos Deuses todos e dos homens todos/
432 ἐπιστήμη (epistḗmē), que traduzimos por “conhecimento”.
ele doma no peito o espírito prudente vontade. (Teogonia, 116-122),
tradução de Jaa Torrano. In: Hesíodo. Teogonia. Op. cit. 433 Φέρεσθαι, que significa “mover-se”.
419 Caos é a personificação do Vazio primordial, quando nada havia. 434 οἱ θεοί ( hoi theoí), que significa “os deuses”; é o plural de ὁ θεός (ho theós),
“o deus”.
420 Geia é a personificação da Terra, elemento primordial de que descendem
as raças divinas; ela as concebeu sem o auxílio de qualquer elemento 435 Θεατός, que significa “o que se contempla” ou “contemplado”.
masculino.
436 Particípio do verbo θέω (théō), que significa “o que corre” ou “corredor”.

230 MARIA APARECIDA DE OLIVEIRA SILVA NOTAS 231


437 κίνησις (kínēsis) significa “movimento”. 450 ἱερά (hierá) que traduzimos como “sagradas”.
438 Sobre como os helenos deram nomes aos seus deuses, temos o seguinte 451 ὅσια (hósia) ou “piedosas”.
relato de Heródoto: “E os pelasgos primeiro sacrificavam tudo depois de
452 Deus egípcio-romano que representava o sincretismo religioso dos
fazerem preces aos deuses, como eu sei, por ter ouvido, em Dodona, mas
períodos helenístico e romano, pois resultava da combinação do deus
não faziam referência a nenhum epíteto nem nome a nenhum dos deuses;
heleno Hermes com o deus egípcio Anúbis. Hermanúbis estava
pois jamais tinham ouvido falar de algum deles. Porque eles atribuíam
relacionado à arte e à literatura.
os nomes dos seus deuses a partir daquilo que lhes era estabelecido pela
ordem natural das coisas, por isso eles obtiveram todos os seus costumes 453 γλῶσσα (glôssa) ou γλῶττα (glôtta), neste contexto, significa “palavra
e todos os seus assuntos. Depois de transcorrido muito tempo, eles estrangeira” que, de modo técnico, a Linguística denomina “empréstimo
souberam os nomes dos outros deuses que vieram do Egito, mas eles linguístico”. Em nossa língua temos a palavra “glosa”, que significa
souberam do de Dioniso muito mais tarde; e depois desse tempo, eles “variação”. Com relação a esse tema, Aristóteles comenta: “Mas tem
foram consultar o oráculo a respeito desses nomes em Dodoma; pois, de qualidades nobres e ainda está distante do que é vulgar a poesia que
fato, esse local de respostas oraculares era considerado o mais antigo dos utiliza vocábulos insólitos; digo que é insólito o que é um empréstimo
oráculos na Hélade, também era o único desse período. Então, depois linguístico, uma metáfora, um alongamento e tudo que esteja fora do
de os pelasgos terem consultado os oráculos em Dodona, para saber se uso corrente. Mas se alguém compuser com todos esses vocábulos, ou
eles deveriam adotar os nomes vindos dos bárbaros, a resposta oracular será um enigma ou um barbarismo; então, se for a partir de metáforas,
proferida foi para que eles os adotassem. De fato, depois dessa época, um enigma e, se for a partir de empréstimos linguísticos, um barbarismo.
eles fizeram sacrifícios utilizando os nomes desses deuses; os helenos os Pois esta é uma particularidade do que é enigmático: falar sobre coisas
receberam mais tarde dos pelasgos.”. (Histórias, 2.52). In: Heródoto. já existentes fazendo combinações impossíveis; então, conforme a
Histórias. Livro II - Euterpe. op. cit. composição dos demais vocábulos, não é possível fazer isso, mas isso é
viável pela composição de metáforas, por exemplo, vi um homem colando
439 Plutarco tem como base a seguinte etimologia discutida em Platão, mas se
com fogo brônzeo sobre um homem, e as expressões que são da mesma
referindo ao nome da deusa Héstia, consultar: Crátilo, 401c.
natureza. E o que vem de empréstimos linguísticos é barbarismo.” (Da
440 νόησις (nóēsis), que significa “inteligência”. arte poética, 1458a30-1458b.5). In: Aristóteles. Da arte poética. op. cit.
441 φρόνησις (phrónēsis), que significa “sabedoria”. 454 Nesses escritos compostos por dezessete tratados, um conjunto
diversificado em seus temas e gêneros, teve sua maioria composta por
442 Platão, Crátilo, 411b.
diálogos entre egípcios e helenos, neles Hermes está associado ao deus
443 Platão, Crátilo, 412a. egípcio Toth, conforme nos informa Platão em seu diálogo Filebo, 18b.
444 κακία (kakía) ou “vício”. Associação entre os deuses está no seu domínio da palavra, Hermes é o
mensageiro de Zeus; segundo Platão, Fedro, 274c-d, Sócrates conta que
445 ἀπορία (aporía) ou “dificuldade”. ouviu em Náucratis que a íbis era a ave que dedicavam ao deus Toth,
446 δειλία (deilía) ou “covardia”. pois ele foi quem instituiu os números, o cálculo, a geometria, a dama
e os dados, e Sócrates destaca que o mais importante dos seus inventos
447 ἀνία (anía) ou “aflição”. Para todos esses termos, consultar: Platão, Crátilo, foram as letras.
415b.
455 Lacuna do manuscrito.
448 ὅσιος (hósios) ou “piedoso”.
456 Sótis ou a estrela de Ísis aparecia durante a cheia do Rio Nilo.
449 ἱερός (hierós) ou “sagrado”.

232 MARIA APARECIDA DE OLIVEIRA SILVA NOTAS 233


457 κύησις (kýēsis), que é a “concepção” ou “gravidez”. algo da terra o pegavam, e sobreviviam comendo capim; mas, quando
chegaram ao deserto de areia, alguns deles cometeram uma ação terrível;
458 τὸ κύειν (tò kýein), que é o verbo “engravidar”.
depois de realizarem um sorteio entre eles mesmos, um único dentre cada
459 κύων (kýōn), que significa “cão”. dez homens, eles o devoravam. Quando Cambises foi informado sobre
460 Atena tem seu equivalente egípcio em Neith, deusa da caça e da guerra, o ocorrido, temendo que eles comessem uns aos outros, abandonou a
também era inventora. sua expedição contra a Etiópia e marchou de volta. E depois de ter feito
a travessia de Tebas a Mênfis, liberou os helenos para que zarpassem.”.
461 Trata-se do dito por Mâneton em 367D e 371B-C. (Histórias, 3.25). In: Heródoto. Histórias. Livro III - Talia. op. cit.
462 Consultar os parágrafos 470 Dia 3 de outubro.
463 Não dispomos de mais informações sobre esse deus. 471 Festa realizada no mês farmouti, de 27 de março a 25 de abril.
464 Nome dado ao ímã. 472 Plutarco nos deixa claro a sua percepção de que os deuses não são
465 Plutarco reproduz a imagem do ferro sendo atraído e arrastado por um propriedade de um determinado povo, pois entende que os deuses
ímã. pertencem ao todo, ao mundo ou universo, por isso comuns a todos.

466 τὸ σεῖστρον (tò seîstron), ou sistro, era um instrumento musical de 473 Cleantes de Assos, 330 a 232 a.C., filósofo estoico que sucedeu a Zenão na
percussão usado nas festas de Ísis, no Egito, e muito difundido entre os Escola Estoica de Atenas.
romanos, conforme Apuleio, Asno de ouro, 11.4. 474 Desconhecemos a obra.
467 σείεσθαι (seíesthai), note-se que Plutarco destaca a semelhança entre esses 475 Embora usemos o termo para nos referirmos a um tipo de verso comum
dois radicais. na Hélade, o σπονδεῖον (spondeîon), ou espondeu, também era o nome
468 Referência à deusa-gato Bastet, divindade solar e deusa da fertilidade, dado a uma tigela usada em ritos sagrados para fazer libações e ainda a
representada com a cabeça de gato, a deusa também carrega um sistro um vaso para o espargimento de poções medicinais em seus pacientes.
em sua mão direita. A deusa era cultuada em Bubástis, cidade do Antigo 476 Note a construção imagética plutarquiana que associa o supersticioso à de
Egito localizada no Delta do Rio Nilo, famosa não somente pelo seu Sísifo, um Titã que desafiou Zeus e foi condenado a eternamente subir
culto a deusa gato Bastet, mas também por seu grande cemitério de gatos. um desfiladeiro rolando uma pedra, depois a via retornar ao seu local de
Heródoto a associa à deusa Ártemis: “os egípcios não celebram uma festa origem e assim retornava ao seu ponto de partida. Plutarco mostra que
nacional uma única vez ao ano, mas estão reunidos frequentemente para o trabalho e os sacrifícios em torno de crenças supersticiosas são inúteis,
uma festa nacional. A principal e mais cheia de ardor ocorre na cidade não atingem o seu objetivo, pois derivam de impulsos irracionais.
de Bubástis, em honra de Ártemis.”. (Histórias, 2.59). In: Heródoto.
Histórias. Livro II - Euterpe. op. cit. 477 Teodoro de Cirene, na Líbia, século IV-V a.C., filósofo discípulo de
Aristipo. Plutarco afirma que Teodoro era conhecido como: o sem deus
469 Diodoro Sículo relata: “Pois, primeiro parou o hábito de comer uns (Da tranquilidade da alma, 467B) e Diógenes Laércio o descreve como
aos outros, depois de Ísis descobrir o fruto do trigo e da cevada, que um homem de caráter licencioso e desregrado (Vidas e doutrinas dos
cresciam espontaneamente no seu território junto com o pasto que eram filósofos ilustres, 2.99).
desconhecidos pelos homens, e Osíris também inventou o cultivo desses
frutos e porque pensava que todos mudariam sua alimentação com 478 Festa realizada no dia dezenove do mês toth, que equivale a 16 de
prazer” (Biblioteca histórica, 1.14.1). Heródoto nos relata uma situação setembro.
em que a antropofagia se manifestava: “E os seus soldados onde tivessem 479 Sobre essa definição, consultar o parágrafo 377B.

234 MARIA APARECIDA DE OLIVEIRA SILVA NOTAS 235


480 Consultar os parágrafos 358D e 377C. de 1.000 a.C., a mais antiga cidade da Liga dos Iônios, a τὸ κοινὸν τῶν
Ἰώνων (tò koinòn tôn Iṓnōn), literalmente “a comunidade dos iônios”, ou
481 Mês equivalente a 25 de julho a 23 de agosto.
a Liga dos Iônios, era formada pelos iônios do Paniônio, que segundo
482 Que significa “árvore” em língua egípcia. Heródoto: “E esses iônios, que são do Paniônio, haviam fundado a
483 Plutarco se refere ao Santuário de Apolo em Delfos, onde servia como cidade de todos os homens no ponto mais belo do céu e das estações que
sacerdote do deus. conhecemos; pois não é a região do alto, nem de baixo, nem a mesma
que está abaixo na Iônia, nem mais para a aurora nem para o ocaso,
484 O Ἰσεῖον (Iseîon) era um templo dedicado à deusa Ísis. pois umas são atormentadas pelo frio e outras pela umidade, e umas
485 Ritos relacionados à fertilidade da terra e das mulheres, características que pelo calor e pela estiagem. E esses não compartilham a mesma língua,
se identificam com o contexto feminino, por isso somente as mulheres mas têm quatro tipos de variações de dialeto. Mileto é a primeira cidade
participavam destas festividades; as celebrações mais conhecidas são as dentre elas assentada para o sul, depois vêm Miunte e Priene. Estas estão
Tesmofórias. As principais informações que temos sobre as Tesmofórias situadas na Cária e falam o mesmo dialeto entre elas. E as que estão na
são oriundas da peça de Aristófanes, que foi representada em Atenas Lídia são as seguintes: Éfeso, Cólofon, Lêbedo, Teos, Clazômenas e
entre 411 e 410 a.C. como Tesmoforiantes, ou ainda, As mulheres que Foceia; essas cidades falam a mesma língua entre elas, em nada concordam
celebram as Tesmofórias. As Tesmofórias são uma festa exclusiva para com o dialeto das que antes foram relacionadas. E, além disso, as três
mulheres, realizada em honra à deusa Deméter. Estima-se que ela se cidades iônias restantes, dentre as quais, duas situadas em ilhas, Samos
realizasse no mês de outubro, que rege a fertilidade dos campos. Era, e Quios, e uma assentada na planície, Eritreia; quios e eritreus falam o
portanto, uma celebração agrícola, para que as colheitas futuras fossem mesmo dialeto, os sâmios são os únicos que falam o seu próprio. Essas
propícias. Atenas era o seu local principal, mas não o único. Diversas sãos as quatro línguas características”. In: Heródoto. (Histórias, 1.142)
regiões celebravam as Tesmofórias; mas não dispomos de detalhes sobre Histórias. Livro I – Clio. op. cit. O Paniônio era um santuário central que
como elas eram realizadas. Como próprio Heródoto registra: “Portanto, também era um local de reunião dos helenos da Liga dos Iônios, onde
eu conheço até mais sobre essas representações, como é feita cada uma havia ainda a realização de um festival, as chamadas festas Paniônias.
delas, mas mantenho meu religioso silêncio. E a respeito do ritual sagrado 491 Político ateniense, século IV-III a.C. Pausânias conta que Lácares lutou
de Deméter, o que os helenos chamam Tesmofórias, sobre este também contra Demétrio Poliocerces e que foi até as últimas consequências
mantenho meu religioso silêncio, exceto sobre o que for permitido pelos quando pagou mercenários com o ouro do manto da estátua de Atena,
deuses dizer”. (Histórias, 2.171). In: Heródoto. Histórias. Livro II – uma obra-prima de Fídias (Descrição da Hélade, 1.25.7).
Euterpe. op. cit.
492 Trata-se da guerra de Sula contra Mário em 83 a.C. Sobre esse embate,
486 Epíteto de Deméter que significa a “Aflita”. consultar Tácito, Histórias, 3. 72 e Anais, 6.12, também Plutarco, Vida
487 Eram as sete filhas do gigante Atlas e de Plêione que se tornaram uma de Sula e Vida de Mário.
Constelação de mesmo nome. As Plêiades se chamavam Taígete, Electra, 493 Tragédia desconhecida de Eurípides.
Alcíone, Astérope, Celeno, Maia e Mérope.
494 Encontramos versões semelhantes em Apolodoro, Biblioteca, 1.3 e
488 O mês de outubro e o início do mês de novembro eram os meses da Ovídio, Metamorfoses, 5.320-331. Vejamos a de Ovídio: “Conta que
semeadura. Tifeu, saído das entranhas da terra,/ assustou os habitantes do céu, e que
489 Diodoro Sículo desenvolve o mesmo raciocínio em Biblioteca histórica, todos fugiram,/ até que, cansados, os recebeu a região do Egito e o Nilo,/
1.14.1. que se divide em sete embocaduras;/ conta ainda que Tifeu, filho da terra,
foi até lá/ e que os deuses se disfarçaram sob aparências falsas./ ‘Júpiter’,
490 Cidade localizada na Líbia, foi um grande entreposto comercial por volta deiz ela, ‘fez-se passar por pastor de rebanhos. Daí que,/ ainda hoje, o líbio

236 MARIA APARECIDA DE OLIVEIRA SILVA NOTAS 237


Amon seja representado com recurvos cornos;/ o deus de Delos mudou-se helenos contam muitos e diferentes acontecimentos sem reflexão; uma
num corvo; em bode, o filho de Sêmele;/ a irmã de Fevo, em gata; numa história tola deles e esta que contam a respeito de Héracles: depois de
vaca branca se mudou a Satúrnia,/ Vênus ocultou-se em pez, o deus de ele ter chegado ao Egito, os egípcios o coroaram e conduziram-no em
Cilene, nas penas de íbis.’, in: Ovídio. Metamorfoses. Edição bilíngue. procissão, e realizaram sacrifícios para ele como se fossem para Zeus;
Tradução, introdução e notas de Domingos Lucas Dias. Apresentação de e, durante muito tempo, ele ficou tranquilo e, quando começaram a
João Angelo Oliva Neto. 2ª reimpressão. São Paulo: Editora 34, 2021. prepará-lo para levá-lo ao altar, ele voltou sua força contra todos eles e os
massacrou. Portanto, parece-me que os helenos contam essas coisas por
495 A percepção de Heródoto sobre as almas difere da de Plutarco, conforme
serem completamente ignorantes a respeito da natureza dos egípcios e
lemos a seguir: “E os egípcios contam que Deméter e Dioniso governam
dos seus costumes. Pois, entre eles, não se pode sacrificar animais, exceto
os ínferos. E os egípcios foram ainda os primeiros que tiveram este
porcos, vitelos, bois vigorosos, quantos não sejam puros, e gansos; como
discurso, os que disseram que a alma do homem é imortal, e que, quando
eles poderiam sacrificar seres humanos? E ainda sendo Héracles um só e
o corpo é destruído, ela entra em outro ser vivo sempre que ele está
ainda um ser humano, como dizem, como seria natural que ele matasse
sendo gerado; e que percorreu todos os seres vivos, os que são terrenos,
muitos milhares de homens? E, a respeito desses acontecimentos, nós
marítimos e alados, ela novamente entra no corpo de um ser humano
dissemos tantas coisas, e que haja benevolência dos deuses e dos heróis.”.
quando ele está sendo gerado; e que a sua evolução aconteceria em um
(Histórias, 2.45). In: Heródoto. Histórias. Livro II – Euterpe. op. cit.
período de três mil anos. E os helenos adotaram esse mesmo discurso, uns
Embora tenhamos o seguinte relato de Diodoro Sículo: “Era permitido
antes e outros depois, como sendo deles próprios; eu mesmo, embora os
realizar sacrifícios com bois de pelagem vermelha por pensarem que
conheça, não escrevo os seus nomes.” (Histórias, 2.123). In: Heródoto.
tal cor era a de Tífon, o que conspirou contra Osíris e que recebeu o
Histórias. Livro II – Euterpe. op. cit. Notamos claramente a influência da
castigo de Ísis por ter matado o seu esposo. Dizem que os homens de cor
teoria platônica da transmigração das almas, de origem pitagórica, que
semelhante à de Tífon eram antigamente sacrificados diante do túmulo
Heródoto filia à tradição egípcia.
de Osíris” (Biblioteca histórica, 1.88.5).
496 Semelhante relato foi feito por Diodoro Sículo, Biblioteca histórica, 1.86-
504 Sobre o uso do bode como sacrifício em Mendes, dispomos deste relato
90.
de Heródoto: “De fato, os egípcios para os quais eu perguntei isso não
497 Sobre esse costume dos egípcios, Diodoro Sículo, Biblioteca histórica, fazem sacrifícios com cabras nem bodes pelos motivos que se seguem.
1.62.4 e Eliano, História dos animais, 6.38. Os mendésios contam que Pan está entre os oito deuses, que, segundo
498 Λυκοπολῖται (Lykopolîtai) significa os “cidadãos de Lico”, que resulta da eles dizem, são esses oito deuses que nasceram antes dos doze deuses; os
combinação de λύκος (lýkos) “lobo” e πολῖται (polîtai) “cidadãos”. pintores o retrataram e também os escultores esculpiram estátuas de Pan,
do mesmo modo que os helenos, com rosto de cabra e pernas de bode,
499 Cidade localizada no Vale do Rio Nilo. mas de maneira alguma eles consideram que tenha esse aspecto, mas sim
500 Os romanos ocuparam o Egito em 48-47 a.C com César e o anexaram semelhante aos demais deuses; e por qual razão eles o representam desse
como província em 31 a.C., após a Batalha do Ácio em que Augusto modo não me é apropriado dizer. E os mendésios veneram todos os
derrotou Marco Antônio e Cleópatra. caprinos, ainda mais os machos que as fêmeas, e entre eles os pastores de
cabras recebem honras maiores; e um único e o mais importante dentre
501 Cidade localizada às margens do Rio Nilo, no Alto Egito. todos os caprinos, aquele para o qual, depois de morrer, um longo luto
502 Correspondem a 22 de julho a 23 de agosto. é instituído a toda província mendésia. E, na língua egípcia, chama-
se tanto o bode como Pan de Mendes. Aconteceu nessa província, a
503 Plutarco se questiona se é verdade ou não que os egípcios sacrificavam minha época, essa coisa monstruosa: um bode teve relações sexuais
humanos, e com razão, pois Heródoto nos conta que: “Mas os abertamente com uma mulher; isso alcançou notoriedade entre os

238 MARIA APARECIDA DE OLIVEIRA SILVA NOTAS 239


homens.” (Histórias, 2.46). In: Heródoto. Histórias. Livro II – Euterpe. 510 Era uma serpente que os egípcios chamavam uraeus, que tinha um veneno
op. cit. Diodoro Sículo conta que o bode de Mendes estava em um recinto cujo antídoto era desconhecido. Eliano nos conta que a áspide era usada
sagrado, muito bem cuidado por homens ilustres que o alimentam com em seus diademas como símbolo de sua invencibilidade (História dos
farinha e grãos no leite, bolos e pães com mel, carne de pato e aves. Dão-lhe animais, 10.15).
banhos, depois passam unguentos e perfumes (Biblioteca histórica, 1.84.4-
511 Sobre os crocodilos, temos esta detalhada descrição de Heródoto: “E a
6). Estrabão nos traz informações semelhantes em Geografia, 17.19.
natureza dos crocodilos é a que se segue. Durante os quatro meses mais
505 Cidade situada do lado leste do Delta do Rio Nilo. Está associada ao invernais, eles não se alimentam de nada. Embora seja um animal com
culto de Osíris. Existe ainda a relação entre o nome da cidade com um quatro patas, também é um habitante dos lagos e dos pântanos; põe seus
deus homônimo que representava a preservação da natureza. O culto ovos na terra e os choca; durante todo o dia, passa seu tempo na terra seca
desse deus é assim descrito por Heródoto: “De fato, aqueles que dedicam e, durante toda a noite, no rio; pois a água é mais quente que o ar livre e o
um templo a Zeus Tebano, que são de uma província tebana, esses todos orvalho. Dentre todos os seres mortais que nós conhecemos, esse é o que se
se mantêm longe das ovelhas e sacrificam as cabras (pois, de fato, todos torna maior depois de ter sido tão pequeno em sua origem; os seus ovos não
os egípcios não veneram os seus deuses do mesmo modo, exceto Ísis e são muito maiores do que os de um ganso quando são postos; e o crocodilo
Osíris, então dizem que ele é Dioniso; e que todos os veneram do mesmo recém-nascido também nasce do mesmo tamanho do ovo, mas, depois
modo); aqueles que possuem um templo de Mendes, ou são da província de crescido, torna-se ainda maior, com dezoito côvados de extensão. E ele
mendésia, esses se mantêm longe das cabras e sacrificam as ovelhas.”. tem os olhos de porco, presas enormes, suas presas salientes são da mesma
(Histórias, 2.42). In: Heródoto. Histórias. Livro II – Euterpe. op. cit. extensão do seu corpo. Dentre os animais, ele é o único que não nasceu com
língua; nem move a mandíbula inferior, mas também é o único dentre os
506 Ou o “rato do faraó”, era um animal que devorava ovos dos crocodilos,
animais que aproxima a mandíbula superior a inferior. Ainda tem garras
evitando que eles se proliferassem no Rio Nilo, por isso era venerado no
fortes e um couro escamado inquebrável sobre o seu dorso. E é cego dentro
Egito, conforme o relato de Diodoro Sículo, Biblioteca histórica, 1.87.4-
da água, enquanto tem a visão mais aguçada ao ar livre. Como o seu local de
5, e Eliano, História dos animais, 10.47, acrescentam que também os
moradia é dentro da água, carrega sanguessugas dentro da sua boca cheia.
ovos das cobras era alvo do icnêumone.
Os outros pássaros e animais fogem dele, mas o carricinha e o que fica em
507 Sobre essas serpentes, Plínio nos conta que “Na Ásia, em uma vasta paz com ele, porque é útil para ele; pois quando o crocodilo sai da água para
planície chamada Vila de Píton, onde elas se reúnem e debatem entre a terra, logo em seguida abre a sua boca (pois está habituado a fazer isso,
elas e, a que chegar por último, elas a despedaçam e imediatamente se em geral, para respirar o vento do oeste), então o carricinha mergulha na
colocam a caminho. Observou-se que depois de 13 de agosto apenas sua boca e engole as sanguessugas; e, porque ele se torna útil, o crocodilo se
são vistas ali. Existem alguns que afirmam que as cegonhas não têm alegra e não prejudica em nada o carricinha. De fato, uns entre os egípcios
língua. A morte das serpentes foi muito considerada a ponto de que, na são sagrados, como os crocodilos, enquanto outros não, ao contrário, eles
Tessália, matar uma cegonha era motivo de pena de morte e, segundo as os tratam como inimigos. Os habitantes na região ao redor de Tebas e do
leis, a pena era a mesma dada a um assassino.” (Plínio, História natural, Lago Méris consideram que eles são muito sagrados.”. (Histórias, 2.68-69).
10.23.62). In: Heródoto. Histórias. Livro II – Euterpe. op. cit.
508 Relato idêntico ao que encontramos em Eliano, História dos animais, 512 Eurípides, Troianas, 887-888.
15.11.
513 “τοῖς περὶ τὰ οὐράνια πραγματευομένοις”, literalmente: “os que se ocupam
509 O deus Kepri era representado com a face de um escaravelho e estava dos fenômenos celestes”.
associado ao deus-sol Áton e era o sol nascente. Eliano, História dos
514 Consultar os parágrafos 355B e 368F. Eliano conta que os cães eram
animais, X, 15, traz-nos informações semelhantes às de Plutarco.
venerados no Egito e que receberam o nome de uma cidade, Cinópolis,

240 MARIA APARECIDA DE OLIVEIRA SILVA NOTAS 241


porque os cães ensinaram o caminho para Ísis encontrar as partes de 142D). In: Plutarco. Preceitos conjugais. Tradução, introdução e notas de
Osíris (História dos animais, 10.45). Maria Aparecida de Oliveira Silva. São Paulo: Edipro, 2019.
515 Heródoto conta uma história sobre serpentes aladas na Arábia em que a 519 Localizada na Península do Peloponeso, sua principal cidade era Pirgo.
íbis representa a salvação, como lemos a seguir: “serpente alada voa da
520 Filha de Nereu e de Dóris, portanto, uma das Nereides, Anfitrite era a
Arábia para o Egito, enquanto os pássaros íbis vêm ao encontro delas
rainha do Mar, e encantou ao deus Posídon, com quem se casou.
nesse estreito acesso para o seu território, e as serpentes aladas não o
atravessam, ao contrário, elas as massacram. E os árabes dizem que é por 521 Homens com caudas de peixe e tridentes que acompanhavam o cortejo do
esse feito que a íbis é honrada magnificamente com relação aos egípcios; deus Posídon.
e eles concordam ainda com os egípcios sobre as causas de esses pássaros
522 Ou seja: “a nascida da cabeça de Zeus”.
serem honrados. E a aparência da íbis é esta: ela é toda terrivelmente
negra, e suas pernas tem algo das do grou, o seu bico e acentuadamente 523 Outro epíteto de Atena que, segundo Heródoto, os egípcios “contam
curvado, e seu tamanho e mais ou menos o do cordonizão. De fato, que Atena é filha de Posídon e da deusa do lago Tritônis, porque algo
quando as íbis, que são negras, combatem contra as serpentes, esta e a sua a descontentava com seu pai, ela foi dada a Zeus, e então Zeus a adotou
aparência, enquanto daquelas que se aproximam mais e ficam em torno como se fosse sua própria filha.” (Histórias, 4.180). In: Heródoto.
dos homens (pois, de fato, existem duas espécies de íbis) a aparência é Histórias. Livro IV – Melpômene. op. cit. Note-se que Heródoto nos
a seguinte: sem plumagem na cabeça e no pescoço todo, suas asas são apresenta outra versão do mito mais conhecido de Atena, que é o de
brancas, exceto a sua cabeça, o seu pescoço, na parte mais alta das suas ser a filha virgem nascida da cabeça de Zeus após seu pai ter engolido a
asas, na ponta do seu rabo (essas partes, segundo disseram, são todas deusa Métis, grávida de Atena. Quando a deusa estava prestes a nascer,
terrivelmente negras), e suas pernas e seu bico são semelhantes aos da Zeus pediu a Hefesto que partisse sua cabeça para que lhe desse à luz.
outra espécie de íbis. E a forma das serpentes é semelhante à das que são O relato herodotiano encontra eco em Aristófanes, Cavaleiros, 1189,
aquáticas; não têm asas com penas, mas aproximadamente mais similares pois o comediógrafo se refere à deusa como Tritogênia (Τριτογένεια /
às asas dos morcegos.”. (Histórias, 2.75-76). In: Heródoto. Histórias. Tritogéneia), ou a “nascida do lago Tritônis” (Τριτωνίς /Tritōnís),
Livro II – Euterpe. op. cit. localizado na Líbia. Embora Hesíodo (Teogonia, 924-926), conte que
Atena nasceu da cabeça de Zeus, ele chama Atena de Τριτογένεια no
516 O deus Toth era conhecido como a Grande Íbis, por ter sido o inventor
verso 895. Portanto, a narrativa herodotiana não apresenta uma versão
do alfabeto egípcio, a íbis é a primeira letra dele. Eliano em sua História
desconhecida na Hélade, e ao mesmo tempo nos mostra que a segunda
dos animais, 10.29.3 Clemente de Alexandria, Miscelâneas, 5.7.43)
parte de seu mito permaneceu no imaginário heleno e que a parte em
discorrem sobre a relação entre a íbis e as fases da lua.
que a Líbia é citada foi colocada no esquecimento. Por seu caráter
517 A maior ilha da Hélade, localizada no Mar Egeu. crítico e irreverente, não à toa relembra a origem líbia daquela que é o
símbolo máximo da cidade de Atenas. A nosso ver, o esquecimento da
518 Nascido em Atenas, 450-430 a.C., filho de Cármides de Atenas, foi o mais
origem líbia de Atena e parte de um discurso identitário ateniense que
famoso escultor da Antiguidade, e a sua obra mais famosa é a estátua
se apropria de símbolos alheios para torná-los autóctones e ícones de um
de Zeus em Olímpia, considerada uma das Sete Maravilhas do mundo
povo só por um processo pautado em ressignificações e esquecimentos.
antigo. Sobre o talento do escultor, Plutarco conta que: “Fídias esculpiu
a Afrodite dos eleatas pisando uma tartaruga com o pé, que é um 524 Plutarco repete este raciocínio em seu tratado Do E de Delfos, 390C.
símbolo do silêncio e do cuidado da casa para as mulheres. Pois a mulher Platão também discute a etimologia do nome de Apolo em Crátilo, 400e
deve conversar com o seu marido ou por meio do seu marido, não lhe e ss.
causando aborrecimento se através de uma língua estrangeira, como
525 Que representa o número dois ou um par.
um tocador de flauta, emite um som mais nobre.” (Preceitos conjugais,

242 MARIA APARECIDA DE OLIVEIRA SILVA NOTAS 243


526 Que representa o número três ou de um trio. olibanum, feita a partir do extrato de uma árvore da família das Boswellia.
A palavra grega é ῥητίνη (rhētínē) e significa “resina de pinheiro”, o que
527 κόσμος (kósmos), ou cosmo.
não corresponde exatamente ao nome usado pelos latinos olibanum, de
528 Consultar o parágrafo 351C. origem somalense ou árabe. Este incenso foi o mesmo ofertado a Jesus
529 Heráclito, fr. 22B 41 Diels-Kranz. pelos três Reis Magos, estas pequenas pedras ou bolinhas são produzidas
até hoje na Somália, mas também podem ser encontradas no Sudão e na
530 Apuleio em Asno de ouro, 10.3, conta que, além do vestido multicolorido, Etiópia.
Ísis também tinha um manto negro.
538 Natural de Agrigento, Sul da Península Itálica, pertencia à escola de
531 Platão, Carta VII, 344b. Alcméon de Crotona.
532 O último estágio da iniciação nos Mistérios de Elêusis. 539 Obra desconhecida de Aristóteles.
533 Trata-se de κάλλος (kállos), a “beleza”. 540 τὸ κῦφι (tò kŷphi), nome derivado do egípcio kꜣpt, o cifi era uma substância
534 Convém lembrar que Plutarco afirma no parágrafo 372E que Ísis é o aromática, uma espécie de incenso muito usado entre os egípcios para fins
princípio feminino de toda geração: “Pois Ísis é a essência feminina da medicinais. Nesse parágrafo, Plutarco detalha como o cifi era produzido
natureza e receptora de todo tipo de geração, de tal modo que é chamada pelos egípcios a partir do relato de Mâneton, Da preparação dos cifis,
“nutriz” e “a que tudo recebe” por Platão”. obra que não chegou aos nossos dias, dispomos apenas de um verbete
sobre Mâneton no Suda em que cita essa obra. Sobre o cifi, também
535 A respeito do uso dos incensos entre os egípcios, consultar 372C. temos algumas anotações nos Papiros mágicos gregos, 4.1313 e 7.538.
536 Sobre essas práticas, Heródoto faz um longo relato sobre seus hábitos 541 Arbusto espinhoso da família do acanto.
alimentares, que assim principia: “De fato, dentre os próprios egípcios,
os que habitam no território do Egito, que é semeado, exercitam mais sua 542 Planta da família do rícino.
memória do que todos os homens, são os mais conhecedores das lendas 543 Conforme o dito por Plutarco em 357E, trata-se do número 16, pois seus
e das histórias de sua pátria, e muito, dentre os que eu fui para sondar. lados são 4 + 4 + 4 + 4 = 16, e sua área 4 x 4 = 16.
E o modo de vida que eles adotam e o seguinte: tomam purgativos por
três dias consecutivos de cada mês e procuram alcançar a saúde com 544 De acordo com Iâmblico, Vida de Pitágoras, XXIX, a oniromancia, ou
vômitos e líquidos de lavagens, pois consideram que todas as doenças interpretação dos sonhos, era a melhor forma de se fazer predições.
que ocorrem nos homens são provenientes dos alimentos que comem. 545 Isso é relatado por Platão, Timeu, 65b e 66d e por Quintiliano, Instituição
Os egípcios, aliás, são também, depois dos líbios, os mais saudáveis oratória, ou Da formação do orador, 10.4.12.
dentre todos os homens que já foram vistos; parece-me que isso ocorre
546 Lacuna de 4 letras, em geral, sugerem o uso de οἷον (hoîon) que traduzimos
em razão de as estações do ano não sofrerem alterações climáticas; uma
por “como”.
vez que as doenças entre os homens acontecem especialmente nas épocas
das mudanças climáticas, dentretodas as outras causas; além disso, as 547 Píndaro, Olímpica, 1.6.
mudanças das estações do ano são a principal causa.”. (Histórias, 2.77).
In: Heródoto. Histórias. Livro II – Euterpe. op. cit.
537 Eram resinas perfumadas produzidas especialmente na Somália e no sul
da Arábia, muito consumidas no período romano, pois eram usadas
na composição de incensos e perfumes. Esta resina era conhecida como

244 MARIA APARECIDA DE OLIVEIRA SILVA NOTAS 245


Í n dice
onom ást ico

Acrísio 208 Amônio 34


Ácron 173 Anfíctiões 35, 36
Adriano 35, 36 Anfíction 36
Afrodite 43, 57, 71, 97, 125, 155, Anfitrião 207
159, 167, 182, 226, 231, 243
Anfitrite 167, 243
Ahura Mazda 353
Angra Mayniu 354
Alcíone 487
Anticleia 189
Alcmena 207
Anticlides 107
Alexandre, o Grande 32, 87, 204,
210, 221, 227 Antígono Gônatas 204

Alexarco 107 Antígono Monoftalmo 204

Amásis 207 Antígono 87

Amentes 95, 211 Antoninos 40

Ámon 65, 113, 191, 230, 238 Anúbi 24, 73, 109, 119, 145,
198, 233
Apeles 87 Ártemis 67, 159, 182, 193, 209, Cambises 119, 194, 217, Cnef 83
220, 221, 224, 235 225, 235
Ápis 95, 99, 101, 103, 117, 119, Core 113, 155
139, 163, 186, 194, 198, 213, Aruéris 69, 71, 196 Cão 83, 85, 230
215, 217 Crânao 36
Ásia 183, 313 Caos 139, 224, 231
Apolo 35, 36, 44, 69, 71, 89, 105, Creonte 229
135, 145, 159, 167, 193, 196, Aso 71 Cárites 212, 213, 218
Creso 204
205, 218, 219, 220, 221, 230, Astarte 75, 199 Cármides de Atenas 243
236, 244 Crisipo 87
Astérope 237 Carmosinas Seri 95
Apolodoro 181, 198, 221, Crono 69, 71, 89, 99, 101,
226, 238 Atena 65, 67, 101, 145, 159, 181, Castor 97, 214 119, 155, 180, 182, 193, 194,
182, 209, 234, 238, 243, 244, 201, 205, 213,
Apópis 219 Catálogo de Lâmprias 37, 38
Atena Corifagene 167 Dânae 197, 208
Apuleio 37, 208, 217, 234, 244 Celeno 237
Atenaida 75 Dânaos 181
Aquea 155 Cérbero 93, 210, 218
Ateneu 199, 218 Dédalo 192
Aquiles 24, 206 Cilene 183, 238
Átiri 139 Deméter 194, 198, 199, 208, 209,
Árato 221 Cípris 182 210, 220, 236, 237, 238
Átis 204
Ares 97, 125, 209, 212, 213, 226 Ciro 87, 204, 225 Demétrio Poliocerces 238
Atlas 183
Argo 85 Clea 9, 38, 39, 40, 42, 55, 57, 103, Demócrito 119, 192, 225
Augusto 239 179, 180, 217
Argo 208 Demofonte 199
Autobulo 33, 201 Cleantes de Assos 235
Arimânio 121, 123, 226 Deucalião 36
Baba 227 Clemente de Alexandria 183,
Arimos 181 188, 189, 190, 215, 243 Dice 125, 227
Baco 103, 157, 218
Aristágoras 59, 186 Cleantes 151, 235 Diceosine 44, 57, 183
Bastet 234, 235
Aristipo 236 Cleobulina 212 Díctis 63
Bebón 127, 129, 145
Aríston 107 Cleômenes 211 Dínon 99, 214
Bócoris 63
Aristóteles 47, 127, 143, 169, Cleópatra 239 Diomedes 206
173, 187, 191, 209, 227, 231, Bubástis 209, 220, 235
232, 233, 234, 245 Clímene 183 Dionísio 280
Cadmo 207
Arquêmaco 93, 209 Clio 183 Dioniso 48, 71, 89, 91, 93, 95, 97,
Calímaco 198 103, 105, 107, 113,
Arsafes 107 Clotes 125 149, 151, 159, 179, 189, 195,
Calíope 183
Artaxerxes III 194, 214 Conúfis de Mênfis 46, 67, 192 196, 197, 207, 208, 217, 218,
219, 220, 232, 238, 240

248 ÍNDICE ONOMÁSTICO 249


Diodoro Sículo 186, 188, 192, Estrabão 188, 211, 219, 240 Hécate 119, 159, 211, 224 Hesíodo 59, 139, 180, 183, 185,
196, 198, 200, 201, 202, 203, 206, 213, 215, 216, 221, 226,
211, 213, 226, 229, 235, 237, Eudoxo 46, 61, 65, 83, 97, Hecateu 61, 65, 187 231, 244
239, 240, 241 133, 147, 149, 187, 190, 192
Hefesto 99, 151, 186, 244 Héstia 97, 194, 212, 213, 232
Diógenes Laércio 187, 191, Euforíon 220
Helânico 103, 216 Hierosólimo 99
192, 204, 211, 229, 236 Eumôlpidas 210
Helicônias 183 Hiparco 202
Dioquites 81, 202 Eurídice 40
Hélio 61, 67, 69, 71, 87, 97, 101, Hipério 195
Dióscoros 207, 212 Eurípides 121, 159, 225, 103, 107, 131, 137, 195, 209,
Dríope 197 238, 242 215, Homero 17, 22, 55, 61, 89, 103,
113, 125, 129, 180, 181, 185,
Electra 237 Euterpe 183 Hera 97, 99, 194, 212, 213, 189, 192, 194, 205, 206, 216,
215, 220 219, 225, 227, 228, 229
Eliano 188, 190, 193, 194, 197, Evêmero 85
198, 212, 214, 215, 228, 239, Héracles 91, 93, 113, 115, Horas 181, 213
Faloforias 69 190, 207, 208, 239
241, 242, 243
Febe 221 Horomazes 121, 123, 225, 226
Empédocles 91, 125, 204, Heraclides do Ponto 93
206, 227 Fevo 238 Hórus 10, 12, 15, 16, 17, 18, 24,
Heráclito 41, 93, 121, 125, 25, 26, 27, 28, 29, 44, 69, 71,
Enópides 192 Fídias 167, 238, 243 169, 210, 227, 244 77, 79, 81, 83, 85, 109, 111,
Hermanúbis 145, 233 113, 117, 129, 131, 133, 135,
Enúfis 46, 67 Fila 83, 202 137, 139, 141, 145, 181, 195,
Épafo 107, 186, 208, 213, Filarco 95 Hermes 44, 57, 129, 145, 196, 220, 221, 222, 230, 280
217, 219, 220 153, 183, 197, 207, 224, 230,
Geia 139, 181, 186, 194, 231, 233, 234 Hosios 105
Epicuro 119 205, 216, 231 Iâmblico 185, 246
Hermeu 107, 117
Equidna 210 Gigantes 87 Io 181, 208, 219, 222
Hermódoto 87
Érato 183 Guardião da Porta 105 Isíacos 57, 182, 37
Hermógenes 211
Erínias 180 Hades 79, 93, 95, 97, 123, 125, Ísis 9-13, 18-29, 37-38, 40-44,
143, 171, 194, 201, 208, 210, Heródoto 19, 20, 48, 49, 181,
Eros 139, 206, 231 184, 185, 186, 189, 190, 191, 46-47, 55, 57, 63, 65, 71, 73,
211, 223, 231 75, 77, 79, 81, 83, 85, 87, 91,
194, 195, 196, 197, 199, 200,
Esmérdis 225 Harmonia 125, 226 203, 204, 207, 208, 209, 210, 93, 95, 103, 107, 109, 111, 117,
211, 212, 213, 214, 215, 216, 119, 133, 135, 137, 139, 143,
Espeusipo 205 Haroéris 195 145, 147, 149, 151, 169, 171,
217, 218, 220, 221, 222, 223,
Ésquilo 10, 81, 182, 183, 224, 225, 226, 228, 232, 235, 179-182, 184, 188-190, 195-
Harpócrates 81, 151, 153
201, 220, 221 236, 237, 238, 239, 240, 241, 198, 208-210, 217, 220, 222,
Harshafitou 219 242, 243, 245, 229-230, 234-236, 239-240,
Estéfano de Bizâncio 202 242, 244
Hathor 13

250 ÍNDICE ONOMÁSTICO 251


Ísis da Fenícia 129 Máximo Planudes 37, 38, Néftis 18, 20, 22, 23, 24, 25, 71, Palestino 77
39, 49, 55 73, 109, 119, 143, 147, 196, 198
Isócrates 226 Pamiles 69
Melampo 192 Neith 234
Jasão 203, 208 Pamílias 69, 105
Melpômene 183 Nemanos 75
Judeu 99 Pan 197, 207, 208, 230, 240
Mêmia Eurídice 39 Nereides 212, 243
Lácares 159, 238 Pátroclo 206
Mêmia Leôntis 39 Nero 34, 36
Lágis 209 Pausânias 199, 213, 215,
Mênades 197 Nicarco 33 217, 238
Lâmprias 33, 37, 38,
Menécio 183 Nice 71 Pelúsio 77
Leão 109, 221
Menelau 202 Nictélias 105, 219 Penélope 189, 207
Léon 85
Menes 19, 63, 192 Ninfas 197 Penia 139
Leto 109, 193, 200, 209,
220, 221 Mérope 237 Nit 190 Perséfone 151, 155, 208, 218,
223, 224
Leucipo 225 Mesites 123 Oceano 103, 183, 216, 221
Perseu 197, 208, 224
Licnites 105 Méstrio Ânio 34 Oco 194, 214
Piérides 183
Licurgo 46, 65, 192, Méstrio Floro 35, 36 Odisseu 24, 63, 184
Píndaro 105, 175, 181, 182,
Lisipo 87 Metarina 199 Ônfis 117 219, 246
Lúcio Méstrio Floro 35 Metier 139 Orfeu 192, 196 Pirra 36
Macróbio 210 Min 12, 139, 190, 230, Órion 83, 85, 230 Pirro 211
Maia 183, 230, 237 Mines 63, 65 Ortro 210 Pitágoras 42, 46, 65, 67, 87, 185,
Malcandro 75 Mitra 123, 226 Osíris 9-25, 27, 37-38, 40-44, 187, 188, 192, 204, 246
46-47, 49, 62-63, 67, 69, 71, 73, Pitagorismo 41
Maneros 77, 199 Mnáseas 107 77, 79, 81, 83, 85, 87, 89, 91,
Manes 85, 204 Mnemôsine 183 93, 95, 99, 101, 103, 105, 107, Píton 89, 205, 241
109, 111, 113, 115, 117, 127,
Mâneton 65, 93, 127, 145, Mnévis 101, 215 129, 131, 133, 135, 137, 139, Platão 59, 95, 133, 137, 139, 143,
163, 190, 234, 245, 246 141, 143, 145, 149, 161, 163, 157, 169, 179, 180, 184, 187,
Musa 182 169, 171, 179, 181, 188-190, 190, 192, 193, 195, 203, 204-
Marco Antônio 239 196, 198, 200-202, 207, 216- 206, 209, 211, 212, 216, 224,
Musas 44, 57, 183, 212 227, 229-234, 244-246
Mário 238 217, 219-224, 228-230, 232,
Museu 192 235, 239-240, 242 Plêiades 155, 237
Masnes 87
Mut 139, 230 Outit 221 Plínio 221, 241

252 ÍNDICE ONOMÁSTICO 253


Plutão 91, 93, 171, 208 Saósis 75 Talia 183 Toth 27-28, 195, 234, 243
Plutarco xi, 9-12, 20, 24, Sarpédon 205 Tártaro 139, 181, 231 Trajano 35
31-50, 179-180, 182-185, 188-
197, 199-208, 210-212, 214- Sátiros 73, 197 Telégono 220 Tritões 167
215, 218-219, 221, 224-227, Satúrnia 238 Telêmaco 189 Tritogênea 167
230-232, 234-236, 238-239,
241, 243-246 Selene 69, 103, 189, 195 Teleute 71, 109, 143, 196 Tuéris 79
Poliano 39, 40, Sêmele 207, 217, 238 Têmis 212 Urânia 183
Policleto de Argos 213 Semíramis 170, 203 Tenactis 63 Urano 182, 194, 205, 216,
221, 231
Polícrates 191 Serápis 37-38, 44, 91, 93, 95, Teodoro 46, 153, 236
107, 145, 194, 208, 210 Ursa 83
Polímnia 183 Teopompo 123, 155
Seth 10-11, 15-19, 20-28, Virgílio 218
Polinices 229 115, 127, 145, 224, 227 Terpsícore 183
Xenócrates 87, 89, 157
Pólux 180 Silenos 197 Tesmofórias 155, 236
Zagreu 218
Porfírio 186, 193, 228 Simônides 85, 203 Tétis 103, 216
Zenão 235
Poro 139, 231 Sírio 109, 123, 133, 188, 230 Tíades 39-40, 103, 105,
179, 217 Zeus 22, 43, 55, 65, 67,
Posídon 67, 113, 167, 180, 193, Smu 145 69, 97, 105, 107, 129, 147, 167,
194, 201, 207, 212, 243 Tifeu 181, 238 180-183, 190, 191, 193, 194,
Soclaro 33, 40 198, 201, 208, 212-213, 215,
Príamo 89, 205 Tífon 11-12, 41, 55, 61, 63,
Sócrates 105, 139, 185, 193, 234 69, 71, 73, 77, 79, 83, 85, 87, 218-221, 225, 234, 236, 239,
Prometeu 57, 107, 183, 220, 221 89, 91, 93, 95, 97, 99, 101, 107, 240, 243-244
Sólon 46, 65, 67, 191, 192 109, 111, 113, 115, 117, 119,
Proteu 203 Zeus Capitolino 159
Sônquis de Sais 67 127, 129, 131, 133, 135, 137,
Psamético 61, 186, 187 139, 141, 143, 145, 147, 149, Zeus Olímpio 125
Sosíbio 93 159, 161, 163, 181-182, 196,
Ptolomeu I 187, 191, 208-210 200, 210, 213-215, 220, 239 Zeus Tebano 196, 240
Sósio Senecião 35
Ptolomeu Filadelfo 208 Tímon 33 Zoroastro 121
Sóteles 93
Ptolomeu Sóter 93, 209 Timóteo 93, 210
Sótis 83, 145, 234
Quéron 33 Timôxena 33-34
Sula 2, 238
Quintiliano 246 Titânicas 105
Tácito 210, 214, 238
Rá 22, 27-29, 215, Titã 183, 221, 236
Taígete 237
Reia 69, 97, 135, 180, 193, Titãs 87, 218
201, 213, 230 Tales 46, 65, 103, 191, 216

254 ÍNDICE ONOMÁSTICO 255


Í n dice
topogr á fico

Abdera 87, 192, 225 Atenas 34-36, 155, 173, 187,


191, 194, 210, 217, 226-227,
Abido 81, 194 235-236, 243-244
Acaia 31, 35 Babilônia 214
Ácio 239 Beócia 31, 185
Agrigento 206, 245 Biblos 75, 199
Alexandria 34, 48, 93, Bizâncio 202
202, 208, 223
Busíris 18, 83, 194, 209
Apolinópolis 228
Buto 77, 109, 151, 209, 220-221
Arábia 181, 215-216,
223, 242, 245 Calcedônia 205
Argos 213, 291 Calcídia 227
Ascra 185 Canobo 93, 202
Assos 235 Cária 237
Cásio 181
Céfiso 217 Élide 167 Karnak 191 Némea 210
Ceos 203 Eritreia 237 Lâmpsaco 227 Nilo 21, 59, 61, 99, 101,
105, 109, 111, 113, 117,
Chipre 182 Estagira 227 Lamptras 34 149, 151, 165, 186, 188, 190,
Cidade de Apolo 129 Etiópia 71, 109, 202, 216, Lêbedo 237 199, 200, 202, 209, 214-216,
223, 235, 245 220-224, 228, 229, 234-235,
Cidade de Hélio 61, 101, 215, Lerna 210 238-241
Etna 182
Cidade de Hermes 129 Lete 95, 211 Olimpo 198, 213, 215, 231
Eubeia 209
Cinópolis 161, 242 Líbia 203, 209, 215-216, Oxirrinco 61, 161
Faro 113 219, 236-237, 244
Cipro 182, 199 Paniônio 237
Fedro 75 Lídia 204, 237
Cirene 236 Panopeu 217
Fenícia 129, 198-199 Licto 180
Citera 182 Papremis 209
Fila 202 Macedônia 32, 203-204
Clazômenas 227, 237 Península do Peloponeso 31, 243
Foceia 237 Málea 203
Cocito 95, 211 Península Itálica 191, 245
Gérion 210 Mar do Norte 223
Colófon 214, 237 Pirgo 243
Golfo Arábico 223 Mar do Sul 223
Copto 73, 135, 197 Pérsia 99, 204, 214, 225-226
Grécia 31-32, 48 Mar Egeu 243
Creta 167, 180 Ponto 93
Hélade 95, 145, 190, 197-199, Mar Mediterrâneo 21, 221
Crotona 191, 245 201, 207-208, 211, 213, 232, Ponto Euxino 209, 210
235, 243-244 Mar Negro 204, 209,
Delfos 9, 35-36, 39-40, 103, Priene 237
179, 191, 203, 217-219, 236, Heliópolis 15, 18-20, 26, 186, Maratona 201
244 192, 209, 215, 224 Quêmia 101
Mendes 117, 196, 240, 280,
Dodona 232 Hermópolis 228 Quêmis 73, 197, 220
Mênfis 19, 46, 67, 81, 95, 117,
Egito 12, 15-21, 23, 25-26, Ílion 89 151, 186, 202, 211, 215, 217, Queroneia 10, 31-32, 34-36
34, 41, 44, 46-48, 65, 77, 83, 223, 235
85, 95, 101, 113, 119, 151, 155, Ilitia 163 Quios 226, 237
181, 186-191, 192, 196-197, Méris 190, 228, 242 Rodes 214
Iseion 57
199, 202-203, 207, 209, 210,
Mileto 186, 191, 216, 237 Roma 31, 35, 37, 196
211-212, 214-216, 219-226, Iseions 43, 155, 182, 236
228, 232, 234-235, 238-239, Miunte 237
241-242, 245 Istro 209, 210 Sais 46, 65, 67, 99, 190,
Monte Parnaso 205 192, 209
Elefantina 117, 188, 224, 228 Jerusalém 214
Neápolis 197 Sakkara 13
Elêusis 201, 210, 244 Judeia 214

258 ÍNDICE TOPOGRÁFICO 259


Salamina 225
Samos 191, 225, 237
Santuário de Apolo 220, 236
Sárdis 204
Sídon 199
Siene 61, 188
Sinope 93, 208-210

R efer ênci as
Síria 215-216, 223
Sônquis 46, 67
Stoá 205 bi bl iogr á fica
Sudão 245
Tafosíris 83
Tanítico 73
TRADUÇÕES E EDIÇÕES DE DE ÍSIS E OSÍRIS CONSULTADAS
Tebaida 83, 202
PLUTARCH. De Iside et Osiride. Edited with introduction,
Tebas (Egito) 63, 67, 69,
190, 197, 224, 228, 230, translation and commentary by Joiin Gwyn Griffiths. Cambridge:
235, 242 University of Wales Press, 1970.
Tebas (Grécia) 219, 229 PLUTARCH. Isis and Osiris. Moralia. Vol. V. Translated by
Frank Cole Babbitt. Cambridge/Massachusetts/London: Harvard
Teos 237
University Press, 1936.
Termópilas 32, 36
PLUTARCH. Über Jsis und Osiris. Nach
Tessália 241 neuverglichenen Handschriften mit Übersetzung und
Trácia 224-225 Erläuterungen herausgegeben von Gustav Parthey. Berlin:
Nicolaische Buchhandlung, 1850.
Tritônis 203, 243-244
PLUTARCHI. De Iside et Osiride. Graeca recenfuit, emendavit,
Troia 121, 189, 203, 207
Commentario auxit, Verfionem Novam Anglicanam adjecit
Vila de Píton 241 Samule Squire. Accesserunt Xylandri, Baxteri, Bentleii, Marklando
Xóis 117 conjecturae et emendationes. Cantabrigae: Typis Academicis, 1744.
PLUTARCHI. Moralia. De Iside et Osiride. Vol. 2.3. Ed. W.

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Bernadotte Perrin. Cambridge/Massachusetts/London: Harvard
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PLUTARCH. Life of Demosthenes. Lives. Vol. VII. Translated by
PLUTARCO. Ísis e Osíris. Tradução e notas de Jorge Fallorca.
Bernadotte Perrin. Cambridge/Massachusetts/London: Harvard
Lisboa: Fim de Século, 2001.
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PLUTARCH. Precepts of Statecraft. Moralia. Vol. X. Translated
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PLUTARCH. The E at Delphi. Moralia. Vol. V. Translated by
APULEIUS. Metamorphoses (the Golden Ass). Vol. II. Books 7-11. Frank Cole Babbitt. Cambridge/Massachusetts/London: Harvard
Translated by John Arthur Hanson. Cambridge/Massachusetts/ University Press, 1936.
London: Harvard University Press, 1985.
PLUTARCH. The Obsolescence of Oracles. Moralia. Vol. V.
HERODOTUS. The Persian Wars. Books I-II. Translated by Translated by Frank Cole Babbitt. Cambridge/Massachusetts/
Anthony D. Godley. Cambridge/Massachusetts/London: Harvard London: Harvard University Press, 1936.
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PLUTARCH. Whether an Old Man Should Engange in Public
HERÓDOTO. Histórias. Livro II – Euterpe. Tradução, introdução Affairs. Moralia. Vol. X. Translated by Harold North Fowler.
e notas de Maria Aparecida de Oliveira Silva. São Paulo: Edipro, Cambridge/Massachusetts/London: Harvard University Press,
2016. 2002.
PLUTARCH. Bravery of Women. Moralia. Vol. III. Translated PLUTARCH. Whether Land or Sea Animals are Clever. Moralia.
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Harvard University Press, 2004. Cambridge/Massachusetts/London: Harvard University Press,
PLUTARCH. Consolation to His Wife. Moralia. Vol. VII. 2001.
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Encyclopädie der Classischen Altertumwissenschaft. Stuttgart: Verlag, Agatha Pitombo Bacelar
1951, cols. 636-962. Al Falcão
Alan Paulo Borges do Nascimento
Alessandra Pinto Antunes do Vale
Alessandra Schindler
Alex Freire da Silva
Alexandre Lima
Alina Regina da Silva Lemos
Aline Beber

268
Alisson Nizes Arthur Kieling Neto
Aluizio Aciole de Oliveira Júnior Bárbara Alexandre Aniceto
Amanda Nadolny Beatriz Briggs
Amanda Soares Bethânia Galeno
Amir Piedade Bias Busquet Guimarães
Ana Claudia Romano Ribeiro Bruna Ankhesenamon
Ana Maria César Pompeu Bruna de Oliveira Santos
Ana Paula Scarpa Bruna Rafaela Lima
Ana Teresa Marques Gonçalves Bruno Afonso Rebello
Anderson R Vaz Bruno Carlucci
Anderson Willian Moreira Ribeiro Bruno Greggio
Anderson Zalewski Vargas Bruno Oliveira
André Coelho Ferreira Bruno Terrafino Leite Micali
André Effgen Camila Diogo de Souza
André Shinity Kawaminami Carlos Eduardo da Costa Campos
Andressa dos Santos Freitas Carlos Gustavo Direito
Andrew Silva do Rosario Carlos Henrique Barbosa Gonçalves
Angela Cavinatti Carlos Henrique Batista de Souza
Angelo Gamba Prata de Carvalho Carlos Lima da Silva
Anise D’O. Ferreira Carmen Lúcia Craveiro Costa
Anna C B Costenaro Cassiano Rampazzo
Antonia Aparecida Soria Garcia Cauê Cardoso
Antônio Carmo Ferreira Cecilia Lima
Anthony Ferreira dos Santos Célia Aparecida Pellegrini Bacchini
Arielson Sorrentino Cesar Luiz Jerce Da Costa Junior

270 ΠΕΡΙ ΙΣΙΔΟΣ ΚΑΙ ΟΣΙΡΙΔΟΣ | DE ÍSIS E OSÍRIS PARTICIPANTES 271


Cintia Gama Elaine Farias Veloso Hirata
Claudia Badro Favero Teixeira Elder Yokoyama
Claudia Beltrão Eliany Cristina Ortiz Funari
Dandara Tocheto Ellen Juliane
Dani Motta Elton Valério
Daniel Becker Paes Barreto Pinto Emilia M. de Morais
Daniel Franca Santos Erica Angliker
Daniel Menezes Nogueira Pereira Erika Mayara Pasqual
Daniel Monteiro Furtado Erimar Wanderson da Cunha Cruz
Danilo Carlos Gomes Evandro Fantoni Rodrigues Alves
Danilo Feitosa Everaldo Atanasio
Debora Leone Ewerson Thiago da Silva Dubiela
Deise Abreu Pacheco Fabio Luis Nascimento dos Santos da Mota
Didius Havoc Fabio Luiz Batista
Diego Barbosa de Lima Fábio Vergara Cerqueira
Dirceu Magri Fatima Pereira da Rosa Cunha de Almeida
Dominique Santos Felipe Berkenbrock Goulart
Dominique Cesar dos Santos Felipe Guterres D Avila
Donizetti Ferreira Felipe Lott
Douglas Ferreira Felipe Nogueira de Sousa
Douglas Peixoto da Silva Fernanda Lemos de Lima
Edna Maria de Oliveira Santos Fernanda Mattos Borges da Costa
Edson Arantes Junior Fernando Coimbra
Edvaldo José da Silva Carvalho Fernando Ricardo Serejo de Castro
Eduardo Verona Flávia da Silva Araújo

272 ΠΕΡΙ ΙΣΙΔΟΣ ΚΑΙ ΟΣΙΡΙΔΟΣ | DE ÍSIS E OSÍRIS PARTICIPANTES 273


Flavia Lima Corpas Helen Ruiz
Francisca Luciana Sousa da Silva Heloisa Mattos Vidal e Silva
Francisca Maria de Oliveira Sorrentino Henrique Luiz Voltolini
Francisco Pereira de Souza Igo Bandeira Fernandes
Frederico Macário Fernandes Igor Barbosa Cardoso
Gabriel Araujo Igor Vasconcelos Rosário
Gabriela Edel Mei Inara Kezia
Gabriel Eleres de Aquino Irmina Doneux Santos
Gabriela Luz Isac Sena
Ged Guimarães Ísis Cristina Riboli Cochi
Gilvan Ventura da Silva Iuri Mello
Giovanna Angela Agulha Sarti Ivan Capdeville Junior
Giovanni Pando Bueno Ivan Jacopetti do Lago
Gisela Cristal Ivan Vieira
Giulia Bertoli Miraglia Ivson Francisco Viana dos Santos
Glaudiney Mendonça Iza Haim
Glaydson José da Silva Izabela Bocayuva
Gleice Sales Ferreira Jacinan Escuciatto
Gleisson Lopes Jane Kelly de Oliveira
Greice Ferreira Drumond Holzweber Jacqueline Lima dos Santos
Greice Martinelli Jean Paulo Yokoyama
Guilherme Alves Leite Jerusa Vilhena de Moraes
Guilherme Cherobim Jheine Alves
Gustavo Laet Gomes João Baptista Gonçalves dos Santos
Heitor de Oliveira Santos João Batista Toledo Prado

274 ΠΕΡΙ ΙΣΙΔΟΣ ΚΑΙ ΟΣΙΡΙΔΟΣ | DE ÍSIS E OSÍRIS PARTICIPANTES 275


João Pedro Souza Matos Leonardo Tremeschin
Jordy Héricles Lessandro Regiani Costa
Jose Antonio Alves Torrano Leticia Vilhena de Moraes Kock
José Augusto Garcia Moreira Gomes Liliane Cristina Coelho
José Maria Neto Liliane Pessoa
José Paulo da Rocha Brito Liszt Rangel de Miranda Coelho
José Petrúcio de Farias Júnior Loiva Otero Félix
José Vicente Moreira Junior Loraine Oliveira
Josiane T. Martinez Lourdes Madalena Gazarini Conde Feitosa
Jovelina Maria Ramos de Souza Luana Chuq
Julia Klinger Rezende Luana Karolyna de Macêdo Simões Mendonça
Juliana Hora Luana Neres de Sousa
Juliana Luana Ruggieri Lucas Mariel
Juliana Santana Luciano Bruno Ribeiro Garcia D’Alessandro
Julieta Mendes Neponuceno Luciene de Camargo Lima
Julio Cesar Moreira Luciene Lages
José Carlos Baracat Júnior Luís Eduardo Lobianco
Karen Franklin da Silva Luis Fellipe Arrussul de Melo
Karine Lima Luiz Fernando Pina Sampaio
Katia Maria Paim Pozzer Luís Jorge Lira Neto
Katia Regina Dalri Abdala Luiz Henrique Silva Moreira
Kurama Kamui Luiza Gracie Guimarães Pinheiro
Larissa de Souza Correia Maelson dos Reis Dutra
Leandro Hecko Mairton Celestino da Silva
Leonardo Galvão Maíla Marques Ferreira

276 ΠΕΡΙ ΙΣΙΔΟΣ ΚΑΙ ΟΣΙΡΙΔΟΣ | DE ÍSIS E OSÍRIS PARTICIPANTES 277


Marcelle Malheiros Marinho Marina Lacerda Machado
Marcelo Carvalho Marina López
Marcelo de Araujo Menezes Marinho Dembinski Kern
Marcia Beriao Cesar Macedo Mario Tommaso Pugliese Filho
Márcia Dias Manhães Maristela Zancan
Marcia Vasques Matheus Álvares Ribeiro
Marcio Soares Matheus Baptista Cardoso
Márcio Henrique Vieira Amaro Matheus Breno Pinto da Câmara
Marcio Teixeira-Bastos Matheus Morais Cruz
Marco Colonnelli Mauricio Cardoso
Marco Fiaschetti Mayara Mathias da Silva
Marcos Baptista de Andrade Michelle Paiva Marinho
Marcos Costa Salomão Mirian Rodrigues Aud
Marcos Sidnei Pagotto-Euzebio Misael de Almeida Sergio Matos
Marcus Mota Moacir Elias Santos
Margaret Marchiori Bakos Moises Antiqueira
Margareth de Lara Capurro Moisés Olímpio Ferreira
Margarida Maria de Carvalho Mônica Guimarães Garcia
Maria Cecília De Miranda Nogueira Coelho Monica Selvatici
Maria Celvas de Oliveira Batistella Mauro Riohiti Shiroma
Maria de Lourdes S. Badin Nadia Regina Greco
Maria do Céu Alves de Farias Natalia Aparecida Souza
Maria do Socorro Bertolo Nathalia Schmitt
Maria Leonor Santa Bárbara de Carvalho Oderlani Vieira da Silva
Maria Regina Candido Orlando Luiz de Araújo

278 ΠΕΡΙ ΙΣΙΔΟΣ ΚΑΙ ΟΣΙΡΙΔΟΣ | DE ÍSIS E OSÍRIS PARTICIPANTES 279


Patrícia Garcia Rodrigues Renato dos Santos
Patricia Patricio Campos Renato Pinto
Patrizia Zagni Ricardo Bianca de Mello
Paula Christina Bonifacio Silvestri Ricardo de Souza Nogueira
Paulo Eduardo Rodrigues Neto Ricardo Vial
Paulo Henrique de Oliveira Alves Gobes Rita Tangari Scandar
Paulo Henrique Pagliarelli dos Reis Roberto Efrem Filho
Paulo Pires Duprat Roberta Zumblick Martins da Silva
Paulo Yoke Oliveira Arima Robson Fernandes Braga
Pedro Barbieri Antunes Robson Passos Caires
Pedro Benedetti Rodolpho Vilhena de Moraes
Pedro Ipiranga Júnior Rodrigo Andrés de Souza Peñaloza
Pedro Lucas Rodrigo Gomes de Souza
Pedro Paulo A. Funari Ronaldo Montolezi Canela Pauletto
Priscilla Maria Regino dos Santos Rosana da Costa Maia
Quelice Glória Oliveira Roselee Pozzan
Quezia Maria Reis de Oliveira Barbosa Rubia Santiago Menezes Bento Gonzaga
Rafael Correa Toniolo Samir Sorrentino
Rafael de Carvalho Matiello Brunhara Sandra Regina Sproesser
Rafael Lucas Barros Botelho Sandra Rocha
Rafael Luiz de Andrade Zorzi Saulo Sbaraini Agostini
Rafael Silva Sebastião Cleto Sousa Spotto
Raquel dos Santos Funari Sélen Resende Rodrigues
Renata Barbosa Selma Maria de Oliveira Lima
Renata Senna Garraffoni Sérgio Ricardo Fracalanza Muzy

280 ΠΕΡΙ ΙΣΙΔΟΣ ΚΑΙ ΟΣΙΡΙΔΟΣ | DE ÍSIS E OSÍRIS PARTICIPANTES 281


Silvia Siqueira Viviane Roza de Lima
Soraya Jacob Vilomar Matheus Viana
Sylvio Cesar Alves Pedreti Vinicius Aleixo Fedel
Talita da Silva Cordeiro Rios Vinícius Cerva
Talita Janine Juliani Yaska Antunes
Talyta Lima Ygor Klain Belchior
Tatiana Abreu Yuri Augusto de Oliveira
Tatiana Ribeiro Wanderley Evangelista de Souza
Thais Rocha Weriquison Simer Corbani
Thales Perente de Barros Weslley Silva Ferreira
Thiago do Amaral Biazotto Wilson de Carvalho Junior
Thiago Marcelo Mendes Wilson Alves Ribeiro Junior
Thiago Mota Zelia L V A Cardoso †
Thiago Vieira
Tobias Vilhena de Moraes
Vagner Carvalheiro Porto
Valberg Cardoso de Medeiros
Valeria Silva
Vander Gabriel
Vanessa Silva Ramos Vieira
Vicente Gonçalves dos Santos
Victor Braga Gurgel
Victor Bruno de Lacerda Ramos
Vinicius Aleixo Fedel
Vitória Sinimbu de Toledo

282 ΠΕΡΙ ΙΣΙΔΟΣ ΚΑΙ ΟΣΙΡΙΔΟΣ | DE ÍSIS E OSÍRIS PARTICIPANTES 283

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