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Estes dias eu assisti um filme sobre uma jovem velejadora que viajou o mundo em 210 dias

de barco e em um dos momentos mais desafiadores da sua aventura, precisou tomar uma
decisão importante: continuar a viagem em meio a uma tempestade com risco de morte ou
atracar o barco na costa e abrir mão do seu objetivo perto de chegar ao fim. Diante da
decisão da jovem de correr o risco e continuar, ficou a dúvida se ela foi prudente em sua
escolha. Pensando nisso eu comecei a refletir sobre a prudencia.
Prudencia é a virtude de prever possíveis perigos para evitar inconveniencias.É um meio
que traça a ação para chegar a determinado fim. Das quatro vitudes cardeais que ela se
inclui, a prudencia é a que governa sobre a justiça, a coragem e a temperança, mesmo não
sendo a mais importante. Entendendo que é a escolha consciente sobre a ação que se
deve tomar, a prudencia não é simplesmente evitar o perigo, mas a arte de levar em conta
os obstaculos que regem o mundo real.
Na definição semantica é a sabedoria do agir. Ela escolhe os meios para atingir os fins
através do bom senso e só representa uma virtude quando está a serviço de um fim
estimável. Sendo assim sem escolhas e ações não existe prudencia, logo a justificativa de
não fazer, para evitar o perigo, pode ser uma covardia disfarçada de virtude.
Ser prudente é assumir as consequencias reais da escolha e seguir em frente, quando se
tem um propósito louvável. Pensando nisso juntamente com a questão anterior, a decisão
da jovem de continuar em frente mesmo correndo o risco de morte pode sim ser
conciderada uma atitude prudente, já que prevê as consequencias de sua escolha, mesmo
entregando a propria vida por seu propósito.
Quantas coisas verdadeiramente valorozas não deixamos de fazer por medo de colocar a
vida em risco? Sei que esse é o bem mais valioso que temos como seres humanos mortais,
mas quantas vidas perdemos tentando salvar a nossa? O que quero dizer é que eu não
considero um meio prudente viver uma vida vazia de sentido com o fim de preservá-la.
Uma bexiga vazia guardada em uma gaveta pode durar muitos anos sem se deteriorar, mas
se um dia ela for cheia ,mesmo não durando muito tempo naquele estado, pode arrancar o
sorriso de alguns e trazer ao mundo o seu ar de festa. Se o perigo é estourar, inspire e
ajuste a intensidade do sopro.
Encerremos, com Sponville: A prudência só é uma virtude quando a serviço de um fim
estimável (de outro modo, não seria mais que habilidade), assim como esse fim só é
completamente virtuoso quando servido por meios adequados (de outro modo, não seria
mais que bons sentimentos). Por isso, dizia Aristóteles, “não é possível ser homem de bem
sem prudência, nem prudente sem virtude moral”. A prudência não basta à virtude (pois ela
só delibera sobre os meios, quando a virtude também se prende à consideração dos fins),
mas nenhuma virtude poderia prescindir da prudência. “A prudência”, dizia santo Agostinho,
“é um amor que escolhe com sagacidade.”

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