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Com frequência, nós que fomos afetados pela maneira do uso de substâncias de outra pessoa,

tentamos fazer de conta que o problema não existe, ou temos a esperança de que ele
desapareça. As vezes nos isolamos, com medo da reação de outras pessoas. Talvez, ainda,
evitemos falar sobre o assunto, por medo de que a situação se torne mais real, se falarmos
sobre ela em voz alta. Talvez até desejemos saber exatamente o que está acontecendo, mas
também queremos evitar outras más notícias. Isto é uma forma de negação. Quando negamos,
percebemos a situação como sendo tão ameaçadora, que a fim de sobrevivermos, negamos
que ela exista. Fazemos a me- lhor escolha possível, de acordo com o mundo que nos rodeia.
De vez em quando, só mesmo uma crise pode romper a nossa negação; à medida que a
situação piora, encarar a realidade é, muitas vezes, a melhor escolha.

Outras vezes, a conscientização vai chegando de- vagar, suavemente e podemos nos dar ao
luxo de abandonar a negação, pouco a pouco, substituindo-a pela segurança que
frequentemente se desenvolve no Al-Anon, sejam quais forem nossos problemas.

Quando o foco for realmente tirado do alcoólico e vivenciarmos o crescimento espiritual no Al-
Anon, muitos de nós passam a entender, pela primeira vez, quem são e o que querem. Apesar
de esse processo muitas vezes nos permitir descobrir qualidades e talentos que antes não
eram reconhecidos e que agora realçam nossas vidas, também podemos descobrir áreas de
descontentamento.

Imaginamos que se isso ou aquilo acontecesse, todos os nossos problemas desapareceriam.


Transformar uma solução fantástica num poder superior, vai falhar muitas vezes, da mesma
forma que transformar o alcoólico que amamos num poder superior, só pode nos levar ao
desespero. Raramente sabemos por que razão, temos que enfrentar problemas, ou quais as
lições que vamos tirar da experiência. Mas algumas vezes é preciso uma crise, para nos forçar a
fazer o Passo Dois: começamos a acreditar que nossa única esperança de sanidade está num
Poder Superior a nós mesmos. Com o Passo Três, agimos de acordo com essa crença: tomamos
a decisão de entregar nossa vontade, nossa vida e tudo o que nos acontece, aos cuidados
desse Poder Superior.

Com a ajuda destes Passos, aprendemos que o alcoolismo é uma doença da família. Ele leva ao
isolamento, ao segredo e à negação, mesmo quando não estamos passando por alguma crise.
Quando aparecem os problemas, a última coisa que desejamos fazer é falar sobre eles com
outras pessoas. Mas a única maneira de nos soltar das garras desses demônios, é romper o
isolamento e expô-los à luz, conversando com pessoas que compreendem. Pode parecer um
grande risco, mas conversar honestamente sobre a situação é a chave da recuperação.

Hoje sabemos que a escolha está em nossas mãos – nós decidimos se queremos ou não
permanecer como vítimas. No Al-Anon, aprendemos que a mudança de atitudes pode ajudar
na recuperação. O que vamos aprender com nossos pensamentos e atitudes, está em nossas
mãos.

Decisões no passado podem ter sido tomadas de forma precipitada, irrefletida ou com medo.
No Al-Anon, muitos de nós achamos que é importante examinar nossos motivos, bem como
nossas opções, quando enfrentamos decisões. Somos capazes de ver nossas atitudes com
clareza, ou nossas mentes estão nubladas pe- los efeitos do alcoolismo de outra pessoa? Esta
escolha é uma reação à provocação? Tendo sido pressionados, estamos pressionando de volta,
quase por reflexo? Isso é um esforço para controlar ou para punir, em troca por nosso
sofrimento? Estamos tentando fazer pelos ou- tros, o que eles deveriam fazer por si mesmos?
Estamos cedendo aos valores ou opiniões dos outros, tentando agradá-los, sem considerar
nossas próprias opiniões e desejos? Em outras palavras, a doença do alcoolismo está
motivando esta atitude, nos levando para longe da autoestima e de uma atitude saudável? Ou
essa atitude é motivada pela retidão, uma convicção razoável de que esta é a melhor escolha a
ser feita no momento, sobre essas circunstâncias e, portanto, uma escolha baseada num
estado mental saudável?

Podemos, como a Oração da Serenidade diz, aceitar as coisas que não podemos modificar e
modificar as que podemos, um dia de cada vez. Principalmente, podemos começar a mudar
nossas atitudes.

Não há uma fórmula para quando e como agir. Cada um deve decidir por si mesmo. Ninguém
mais pode definir nosso papel, na sociedade exclusiva que temos com nosso Poder Superior.
Qualquer escolha que fizermos, poderá ser usada para nosso crescimento. Se não tivermos
certeza, podemos pedir orientação novamente. E então dependerá de nós, conseguirmos a
tranquilidade necessária para ouvir as respostas que recebermos, confiando que nossos
sentimentos, pensamentos e ações serão guiados por um Poder Superior e por nós mesmos.

O Al-Anon é um programa de esperança. Nos mostra como nos tornar alunos da vida, na forma
em que ela acontece: começamos a reconhecer as oportunidades de crescimento, que estão
por trás de cada situação. Aprendemos que é possível encontrar a serenidade dentro de nós,
mesmo quando cercados pelo caos. Como diz um velho provérbio chinês: “Se eu mantiver um
ramo verde em meu coração, o pássaro que canta, virá”.

Nossas reações a situações difíceis podem nos trans- formar em homens e mulheres mais
íntegros ou nos fazer sentir como vítimas. Isso depende de nós. Até os piores momentos
podem ser encarados, com um cora- ção agradecido, se não por causa da crise em si mesma,
pelo menos pelo crescimento que ela pode provocar, com a ajuda de nosso Poder Superior.
Não somos livres para escolher a essência das lições que vamos aprender, mas podemos
escolher se estas experiências vão nos deixar mais cautelosos, defensivos, duros, assustados,
intransigentes ou se vão nos tornar mais flexíveis, cheios de – fé e úteis para a vida.

O perdão, às vezes, pode fazer a diferença. Infelizmente, o perdão é, frequentemente,


confundido com julgamento: vou analisar as ofensas que acho que recebi O perdão, às vezes
pode fazer a diferença. Infeliz- para a vida. Ente, o perdão é, frequentemente, confundido com
jul- mento: vou analisar as ofensas que acho que recebi de você, julgá-lo culpado e então, com
toda a minha generosidade e benevolência, vou ter a condescendencia de absolvê-lo da sua
culpa. Isso não é perdão, mas sim arrogância. Se tínhamos julgado, o perdão pode ser o
caminho pelo qual, nossas mentes retornam à humildade e desse modo, à verdadeira
liberdade. Não – podemos esquecer de que não estamos em posição para julgar o valor de
outra pessoa. Cada pessoa, simplesmente por ser um filho de Deus, é merecedora de amor e
respeito. Ao mudarmos nosso foco dos “erros” de outra pessoa, para nossos próprios erros,
podemos assumir a responsabilidade por termos condenado. E assim, podemos perdoar a nós
mesmos – somos humanos. Às vezes, cometemos enganos e temos que fazer reparações, por
causa do nosso comportamento. Entretanto, não temos mais direito de condenar a nós
mesmos, do que condenar as outras pessoas. Nós merecemos nos tratarmos com honestidade,
mas também com amor.

Muitos de nós, que fomos afetados pela doença do alcoolismo, descobrimos que o amor e o
sofrimento podem facilmente estar ligados, principalmente quando enfrentamos uma situação
difícil. A criatividade, muitas vezes, parece que desaparece, junto com nosso calor humano,
nossa confiança nas outras pessoas e nossa disposição de nos interessar pelos outros. Talvez
nos sintamos velhos, frios, inúteis e duvidemos de que, algum dia, possamos sentir entusiasmo
ou vitalidade outra vez. A recuperação no Al-Anon pode nos libertar do desespero. Passamos
de, “estar à mercé de qualquer problema”, para a certeza interior de que, independente do que
nos aconteça, “teremos capacidade de enfrentar lidar e aprender”, com a ajuda do nosso
Poder Superior. Assim, como o movimento de uma geleira, talvez não possamos perceber
nosso progresso imediatamente, mas os efeitos de praticarmos o programa Al-Anon são
profundos e duradouros. Não importa o quanto estejamos sem esperança, por causa de uma
tragédia pessoal, sempre haverá razão para a esperança. Assim, muitos de nós não apenas
sobreviveram a situações se- melhantes, mas até progrediram. O milagre da recupe- ração é
independente das circunstâncias que temos que enfrentar. Somos capazes de viver e amar
outra vez.

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