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Copyright © Flávia Padula

Capa: Magnifique

Revisão: Julia Lollo

Todos os direitos reservados.

Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes,


personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação
da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é
mera coincidência.
Todos os direitos reservados. São proibidos o armazenamento e/ou a
reprodução de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios —
tangível ou intangível — sem o consentimento escrito da autora.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n°. 9.610/98 e


punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Hassan bin Abul Aziz

Sou viúvo há cinco anos e apesar de adorar minha mulher, Mary Anne, a
vida seguiu em frente, até que aquela maldita agente do FBI, a sargento,
apareceu no meu escritório com uma notícia que virou minha vida de cabeça
para baixo. O detalhe não os problemas que ela trouxe, mas o fato de ser
gostosa e linda, e eu não conseguir tirar os olhos dela. Ela é insuportável de
tão desejável. Sinto que não vai dar certo.

Elizabeth Andrews

Não estou a trabalho, somente procurei esse bilionário arrogante porque eu


quero algo que foi dado a ele sem qualquer merecimento. Não gosto de
pessoas ricas, ainda mais um homem que pensa que pode controlar tudo.
Apesar disso, de todos os problemas que estão por vir, o pior deles é essa
atração que sinto e me faz tremer nas bases quando esse homem me fita com
os olhos escuros sedutores. Nada disso vai dar certo.

Ele precisa seduzi-la


Ela só precisa da sua confiança

E eles têm uma semana para conseguir o que desejam.


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CONTÉM CENAS DE VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER QUE PODEM


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Música do Casal: Try – Pink


Música do Hassan – Desert Rose – Sting
Música da Elizabeth: Just Give Me a Reason – Pink
Quero agradecer as minhas amigas Stephania de Castro e Silmara
Izidoro pelo convite para esse trabalho. Amei escrever a história de Hassan
e Elizabeth, foi um presente sem igual.

Um agradecimento especial a minha revisora e amiga Julia Lollo que


não me deixou desistir e aguentou todos os meus surtos a cada dois
capítulos.
Aos meus filhos e marido pela paciência de sempre.

Agradeço a Deus pelo dom que me foi dado.

Como em todos os meus livros, esse também fala de uma paixão


avassaladora, um amor intenso e segundas chances. Eu acredito nisso porque
vivi e sei que é possível. Se você achar que pode ser amado, você está
certo. Se você achar que o amor não existe, está certo também. Cada pessoa
entende a vida como pode enxergá-la. E está tudo bem.

Expressar sentimento é para os fortes, porque é a gente que coloca


a cara a tapa e é libertador no fim das contas. Essa frase foi dita pela Julia
Lollo e ela tem tudo a ver com o Hassan, o viúvo lindo e sedutor.

Espero que apreciem a leitura.

Com amor,
Flávia Padula
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Epílogo
Prólogo

Eu posso vê-la com os seus cabelos loiros ondulando sob o vento,


ela olha para trás e sorri para mim, os olhos verdes brilhando de paixão, o
sorriso malicioso nos lábios. Depois de um intenso beijo de despedida na
pista do aeroporto, minha loira caminha em direção ao avião e começa a
subir as escadas, está partindo. Olho ao redor e vejo o fogo vindo em
nossa direção. Grito para ela não entrar, mas Mary Anne não me ouve, ela
continua com sua mão no corrimão da escada, antes de sobrar um beijo no
ar e dizer adeus. Então ela entra no avião. Tento me aproximar, correr em
sua direção e impedi-la, mas a porta se fecha e o fogo não me deixa
passar. Assim que a porta se fecha, tudo explode.

Acordei suado e me sentei na cama ofegante. Cinco anos se passaram


desde o acidente de avião que matou minha esposa e ainda sonho com isso.
Não vi o acidente acontecer, ela estava vindo de um trabalho em Los
Angeles para Boston, quando o avião caiu perto de Salt Lake City antes de
fazer a conexão. Foi uma pane nos motores e o avião caiu, mas explodiu
antes de colidir com as árvores. Ninguém sobreviveu. Não tive um corpo
para enterrar, apenas uma lembrança da mulher que eu amava e com quem
estava casado há três anos. Com ela foram enterrados meus sonhos de ter
uma família, filhos e um grande amor. Tudo isso era passado, eu estava
vivendo como podia e a cada dia a dor se tornava menos angustiante. Já
conseguia pensar nela sem sofrer, ao contrário, cada vez mais era tomado de
uma paz interior, sentia que ela estava bem onde quer que estivesse.

Levantei da cama jogando o lençol de lado, usando apenas minha


cueca boxer, atravessei o quarto e sai pelo corredor vazio. Tive que mudar
de casa para não sofrer por Mary Anne, sequer levei os móveis, nossa
coleção de canecas ou o jogo de jantar que ela comprou em Ajmã, numa
viagem que fizemos para a casa da minha família. A primeira e única fatídica
viagem para conhecer pessoas que não são bem uma família quando não
aceitam suas decisões. Foi um fracasso. Mas não o nosso relacionamento.
Éramos felizes, mas quis o destino selar o fim.

Cheguei na cozinha ampla e peguei água gelada na geladeira antes de


aproximar da parede de vidro. Eu morava em uma cobertura no centro de
Boston. Antes, eu e Mary Anne morávamos em uma casa em Suffolk County e
me mudei no mesmo bairro, mas para a Franklin Street Unit, no sexagésimo
andar, na cobertura. A única coisa que ficou dela foi nosso cachorro Low,
um Bulldog francês, o mais preguiçoso que já conheci na vida. Não havia o
que o fizesse sair do lugar, nem mesmo um belo pedaço de carne.

Dali eu tinha uma visão de trezentos e sessenta graus da cidade.


Podia ver o distrito financeiro até o porto, além do nascer e do pôr do sol.

Respirei fundo e consultei o relógio, ainda não passava das onze.


Dormi o dia todo. Havia chegado de uma viagem à Europa e meu fuso
horário estava ambíguo ainda. Deixei o copo com água e passei pela sala
onde Low dormia em cima do sofá, ele sequer se moveu quando passei, fui
para o quarto, peguei o celular e liguei para Benjamin, meu amigo e parceiro
de negócios. Não demorou dois toques e ele atendeu.

— Não me diga que está na bandidagem – eu já disse de imediato.


Escutei sua risada do outro lado.

— Eu e Eliot estamos no clube nos divertindo – ele contou —, ainda


está em Genebra?

— Não, já cheguei em Boston – sentei na cama.

— Então levanta esse seu traseiro daí e vem tomar uma com a gente –
Ben avisou e desligou o telefone sem dizer mais nada.

Éramos inseparáveis, amigos de verdade. Eles me apoiaram quando


a tragédia aconteceu, mais até do que minha própria família, que nunca foi a
favor que eu me casasse com uma americana. Aliás, em meu mundo, minha
família era apenas uma peça, não fazia parte do meu dia a dia há muitos anos
desde que me rebelei contra a autoridade do meu pai, peguei minha roupa e
vim para os Estados Unidos. De um estudante de Harvard, me tornei um
mago das finanças, eu comprava empresas quebradas com alto potencial de
mercado e as reconstruía. Fiz em dez anos o que nenhum dos meus irmãos,
encostados na fortuna do meu pai, fizeram e sequer farão.

O Sheik Hans bin Abul Aziz gosta de ter o controle de tudo. Não
apenas de suas seis esposas e vinte filhos, mas como de tudo que o cerca.
Quer dizer, dezenove filhos, porque eu fui deserdado quando parti sem olhar
para trás, quando não me submeti a um casamento arranjado aos dezoito
anos, quando não abaixei a cabeça para suas exigências ridículas e me tornei
dono do meu próprio destino.

Claro, que agora, ele tinha orgulho de mim. Sou o primeiro filho de
sua terceira esposa, e depois de dez anos, me tornei o preferido porque
provei que sou melhor do que ele pensava, que posso sobreviver sem suas
asas e seu domínio. E tal situação não tem preço. Eu me sinto O cara.
Fui até o closet, peguei uma calça jeans e uma camisa preta e me
vesti. Meia hora mais tarde estava na casa de show onde os caras estavam
me esperando. A Dominiun, como era chamada, só era frequentada pela elite
de Boston, pessoas davam a alma para estar ali, a fila era imensa, mas fui
para a entrada e o segurança me deixou passar sem dizer nada. Algumas
pessoas reclamaram e ele fechou a entrada novamente.

A casa estava lotada, as luzes piscavam sob o som da música


agitada. Pessoas se espremiam na pista de dança, o bar estava cheio. Meus
olhos passaram por uma bela ruiva que estava tomando um drinque colorido
com as amigas e ela piscou para mim com um sorriso largo. Sorri de volta e
segui meu caminho até a área VIP.

— Como vai Ortega? – cumprimentei o segurança e apertamos as


mãos.

— Hassan – ele respondeu e apertou minha mão com firmeza.

Subi e encontrei aqueles dois grandes filhos da puta já bebendo. Eles


estavam de pé, perto da grade de segurança, olhando as pessoas lá embaixo.
Eliot foi o primeiro a me ver. Ele sorriu e já apontou o dedo para mim.
Tínhamos a mesma idade, frequentamos a mesma faculdade e éramos amigos
desde então. Como irmãos. Com seu jeito despojado, sequer parecia o
herdeiro que não precisava se preocupar com dinheiro até a terceira geração
depois dele. Usando a jaqueta de couro sobre a camiseta branca, ele
mantinha a barba loira por fazer, e os cabelos eram mais compridos até a
nuca, um ar de bad boy que fazia a mulherada pirar.

— Pensei que fosse passar a noite dormindo como uma princesa –


ele brincou.

Jon também olhou para mim quando parei ao lado deles.


— Foram dias de trabalho intenso – eu me desculpei —, meu avião
pousou às três da tarde, fui para o apartamento e dormi até agora. Estava
exausto.

— Espero que tenha dado tudo certo – Jon comentou. No auge dos
seus quarenta e oito anos, ele não parecia ter sequer quarenta. Era no estilo
mais jovem e o cabelo branco com fios prateados atraía a atenção das
mulheres mais do que eu e Eliot juntos. Chegava a ser irritante.

Por fim, eu era o mais certinho dos três. Gostava de uma foda, claro.
Mas passei tanto tempo de luto por causa de Mary Anne que, às vezes, me
esquecia que podia flertar e ter uma boa transa. Apesar de não usar mais o
anel de casado no dedo, algo que fui obrigado a tirar depois de meses de
terapia, havia momentos em que me esquecia que era viúvo e estava solteiro
o suficiente para trepar com a mulher que quisesse. Como a ruiva lá
embaixo.

— E o que há de bom para a noite? – perguntei para eles.

— Ben já está falando de ir embora – Eliot reclamou e tomou sua


cerveja.

— Amanhã tenho um compromisso mais cedo – ele explicou.

— Cara, você trabalha demais! – debochei.

— Alguém tem que pagar as contas, não tive papai rico para me
sustentar – ele zombou de volta para pegar em mim e em Eliot.

— Viva os pais ricos! – devolvi, e eu e Eliot batemos as mãos no ar.

— Você deveria estar casado, Ben – Eliot disse a ele —, e não ficar
aqui atrapalhando minha vida!

Benjamin riu e olhou para mim.


— Ele está puto porque a garota que ele flertou no começo da noite
me deu moral – Bem explicou.

— Eu não sei o que esse cara tem! – Eliot reclamou. — Ele é um ímã
para garotas jovens!

— Você deveria se preocupar em arranjar uma boa mulher e se casar,


quem sabe na minha idade você tenha a mesma sorte! – Ben riu dele.

— Casar? Cara, você não pode me amaldiçoar desse jeito! – Eliot


reclamou de novo.

— Casamento é bom – eu comentei encolhendo os ombros —, o meu


era. Embora eu não pense em um tão cedo.
— O meu foi bom, hoje quero a minha ex-mulher na casa dela e, eu,
na minha. Não troco a paz do divórcio por nada nessa vida – Benjamin
garantiu.

— Essa conversa de casamento está me fazendo broxar, vou pegar


outra cerveja – Eliot disse e se afastou de nós.
Apontei a cabeça para Eliot.

— O que ele tem? Parece irritado...


— Aquela famosa briga dele com o pai. O velho quer que ele assuma
os negócios da família e ele não quer – respondeu o que eu já sabia.

Compreendia Eliot perfeitamente. Eu amava a independência da


minha família e ele também. O problema era que nossos pais queriam que a
gente assumisse o sonho deles e não aconteceria.

— Eu preciso ir – Jon olhou no relógio —, não quero que nada


atrapalhe meu descanso e amanhã realmente tenho que chegar mais cedo no
trabalho.

— Boa sorte, então. A gente se fala.

— A gente se fala...
Ele partiu e fiquei parado olhando a multidão. Aqueles cabelos
vermelhos chamaram minha atenção e novamente meu olhar se encontrou
com o da ruiva. Ela sorriu e me chamou movendo a mão. Olhei ao redor e
não vi sinal de Eliot, ou ele estava no bar ou flertando com alguém. Sorri
satisfeito e desci as escadas, a ruiva veio em minha direção.

— Oi – eu disse.

— Oi – ela sorriu.

E no instante seguinte, a gente estava se beijando. Para que nomes, se


queríamos a mesma coisa? A situação ficou quente entre a gente em um
minuto. Mãos que se arrastavam por toda parte. Bati o corpo dela contra a
parede e ela gostou, gemeu de prazer contra a minha boca. A gente precisava
terminar aquilo o quanto antes, ela era gostosa e beijava bem pra caralho.
Peguei a mão dela e fomos em direção ao banheiro. Como no
vestiário feminino a fila era enorme, fomos para o masculino e entramos no
box, onde havia apenas uma privada. Ela me fitou com desejo, os olhos azuis
me querendo e tirou a blusa por cima da cabeça e jogou no chão. A gostosa
estava sem sutiã e desci a boca naqueles peitos grandes e deliciosos,
chupando com força. Ela agarrou minha cabeça e arqueou o corpo. Enfiei a
mão debaixo da saia, arrastando meus dedos pela coxa macia, acariciei a
virilha, ela estremeceu, e coloquei a calcinha de lado para acariciar a fenda
úmida.

Ela tratou de abrir o cinto da minha calça, abaixou o zíper, sua


habilidosa mão também abaixou a minha cueca e meu pau duro saltou para
fora.
— Você tem camisinha? – Ela quis saber, ofegante, quando ergui o
corpo para encará-la.

Todo homem solteiro tem uma camisinha no bolso da calça. Assenti e


ela procurou. A safada abriu o pacote e colocou ao redor do meu pau.
— Me fode! – ela sussurrou, colocando uma perna em cima da
privada. A sandália vermelha sobressaindo naquele maldito salto alto.

Não hesitei em atender seu pedido, subi sua saia para agarrar aquela
bunda gostosa e a ergui no ar, ela me abraçou com as pernas e a cabeça do
meu pau sondou sua entrada e entrei de uma vez, ela ofegou alto e comecei a
entrar e sair cada vez mais forte. Ela agarrou minhas costas e começou a
rebolar gostoso no meu pau e fomos nos perdendo naquele frenesi
maravilhoso.
Há algum tempo, percebi que apesar de ter amado muito a minha
esposa, precisava seguir em frente em todos os sentidos. Afastei qualquer
resquício de Mary Anne da minha cabeça e foquei na ruiva. Que delícia!

Sempre era bom gozar.


Mas gozar sem culpa não tinha preço.
Capítulo 1

Cheguei à empresa um pouco mais cedo. Haveria uma reunião com


os sócios chineses de um dos empreendimentos que estava adquirindo e
discutiríamos as questões do contrato. Meu advogado, Antony Miles, já
estava a par de tudo e estaria presente, ele sabia o quanto os chineses eram
duros com negociações de compra e venda. Entrei no prédio espelhado e fui
direto para o elevador privativo que me levaria ao vigésimo andar onde
ficava a minha sala. Atravessei o corredor ainda silencioso àquela hora, a
maioria dos empregados chegariam dali uma hora ou duas.

Apenas minha secretária, a Senhora Sara Morgan, me aguardava


segurando uma xícara com café sem açúcar. Sorri, satisfeito. Toda vez,
Tiffany que trabalhava na recepção do prédio a avisava quando eu chegava e
ela preparava o café. Ela era uma elegante senhora de cinquenta anos, mas
que não parecia ter mais que quarenta, casada com Steve, mãe de dois filhos
e avó de três netos. Ela era a melhor secretária que eu poderia ter,
adivinhava meus pensamentos e nunca precisei me indispor com ela para
nada.

— Bom dia, Sara – peguei a xícara de café —, obrigado.

— Bom dia, Senhor Aziz. – Ela deu um sorriso leve.

— Vamos ver a agenda de hoje? – indaguei de bom humor.


— Vamos, mas acho que o senhor tem uma visita antes – ela me
comunicou e apontou a cabeça para além de mim.

Olhei para trás e vi uma linda mulher sentada no sofá de espera. A


mulher de cabelos castanhos usava um coque austero, óculos de grau ray-ban
e quando ela se ergueu, alta, usando aquele terno cinza, ficou irresistível. Ela
se aproximou sem qualquer intimidação, ao contrário, parecia muito segura
de si. Quantos anos ela deveria ter? Trinta no máximo ou mais nova. Mas o
que me chamou a atenção foram os olhos, de um verde que pareciam água
cristalina que se despejam por uma fonte inesgotável de prazer.

— Está me aguardando? – perguntei quando ela se aproximou.

— Sim, Senhor Aziz. Meu nome é Elizabeth Andrews – ela estendeu


a mão, a voz fria como a de uma profissional —, como vai?

Olhei para a mão estendida e a apertei, sentindo a maciez de sua


pele. E fria como um gelo, ela tirou a mão rapidamente e prosseguiu.

— Sou agente especial do governo americano, faço parte de um


grupo do FBI, há um assunto que preciso tratar com o senhor. – Ela tirou a
identificação e me entregou.

Peguei a carteira, interessado. Ela ficou ainda mais bonita na foto. Li


na legenda:

— SELP? Serviço Especializado de Localização de Pessoas? –


indaguei em voz alta e olhei para Sara por cima do ombro e ela balançou a
cabeça sem entender nada. Observei a Senhorita Andrews esperando uma
explicação.

— Eu gostaria de lhe esclarecer tudo a sós, é uma questão delicada –


ela se limitou a dizer.
O que quer que fosse, ela estava ali e não poderia deixá-la ir embora
ou fazê-la esperar. Estava mais curioso do que nunca para saber do que se
tratava.

— Está bem – devolvi a identificação para ela e olhei para Sara —,


não passe os telefonemas até a Senhorita Andrews sair, por favor.

— Sim, senhor.

Fiz menção para que ela seguisse em direção à minha sala. Abri a
porta para ela entrar e senti o perfume feminino quando passou por mim.
Entrei e fechei a porta e segui para a minha mesa. As cortinas da parede de
vidro estavam abertas e eu podia ver toda a cidade de Boston dali.

— Sente-se, por favor – pedi e coloquei a xícara de café sobre a


mesa ao me sentar.

A agente também se sentou e observou toda a sala antes de olhar


diretamente para mim.

— Não faço ideia do que o FBI pode querer comigo – disse


recostando na cadeira —, não estou procurando por ninguém.
— Eu sei, Senhor Aziz – ela falou séria —, como eu disse, sou
agente do governo, meu trabalho é encontrar pessoas de todas as formas. E
não levei muito tempo para encontrá-lo – explicou.

Tive que rir levemente.

— Não estou desaparecido – afirmei. — Não faz qualquer sentido


para mim.

— Esse é um caso peculiar – ela começou a falar —, o senhor não


estava sendo procurado como desaparecido – admitiu —, estou fazendo um
favor para uma amiga, na verdade. Não é nada oficial.
Não era oficial? Que tipo de brincadeira era aquela?

— Estou curioso, senhorita – admiti —, não faço ideia do que está


fazendo aqui. E se não é oficial, poderia me esclarecer logo do que se trata?

— Senhor Aziz, o senhor conhecia Mary Anne Maxuel? – ela


perguntou.

— Claro – eu me ajeitei na cadeira quando ela tocou no nome de


Mary Anne —, ela foi minha esposa. Esse era o nome de solteiro dela.

— A pessoa que me pediu esse favor é a mãe dela, a senhora Joanne


Maxuel – ela contou.

Balancei a cabeça em negativa.

— Não pode ser, minha esposa era órfã, não tinha família... – proferi
com toda certeza do mundo.

— Sinto em lhe dizer que sua esposa era filha de Joanne Maxuel, o
senhor pode conferir na documentação dela – a agente insistiu.

Franzi o cenho. Não estava gostando daquele assunto. Mary Anne não
teria mentido sobre algo tão sério para mim.

— Deve ter algum equívoco – garanti.

— Não há – ela abriu a bolsa de couro preto e tirou um envelope


pardo. Ela o abriu, puxou uma certidão e me entregou —, essa é a certidão
de nascimento de sua esposa. Posteriormente, o senhor poderá conferir junto
à certidão de casamento que possuíam.

Peguei o documento e conferi. Aparentemente era um documento


original. Ali constava que Mary Anne era filha de Joanne Maxuel e, como
ela havia lhe contado, não tinha o nome do pai por nunca o ter conhecido. A
mãe havia morrido quando ela entrou na faculdade, então, ela veio de Castle
Dale, em Utah, para Boston tentar a vida e conseguiu um emprego como
garçonete, até que um caça talentos a encontrou e lhe deu uma chance como
modelo, e ela ascendeu na carreira. Eu a conheci em um evento de
lançamento de carros, ela estava representando a marca. Nós nos
apaixonamos e nos casamos em pouco menos de um ano depois.

— Isso não significa que Joanne Maxuel esteja viva – comentei


deixando o documento sobre a mesa.

— E realmente não está – ela concordou séria —, ela morreu há


quatro semanas, em Castle Dale, vítima de câncer.

Era muita coincidência duas pessoas com o mesmo nome?

— Talvez sejam parentes. – Tentei cogitar, havia algo em mim que se


recusava a aceitar que Mary Anne teria mentido para mim.

— A cidade tem um pouco mais de mil e seiscentos habitantes,


Senhor Aziz – ela tirou todas as minhas esperanças —, não acredito que
exista mais de uma Joanne Maxuel entre a população.

O que fazia sentido e não gostei disso. Começava a sentir o gosto


amargo da traição preso na garganta. Fiquei tenso, inclinei o corpo para
frente e apoiei os cotovelos na mesa.

— Está me dizendo que minha esposa mentiu para mim? – perguntei


um tanto agressivo e incrédulo.

— Não sei o que ela lhe contou, mas estou trazendo a verdade.
Depois que conversarmos, o senhor pode contratar um detetive particular ou
até mesmo pedir para o seu advogado entrar em contato com as autoridades
de Castle Dale – ela propôs muito séria —, eu não perderia meu tempo
vindo até aqui para causar uma intriga familiar.
Havia desprezo em sua voz e não podia culpá-la. Eu era apenas um
marido enganado relutando em aceitar o fato de ter sido ludibriado. Por que
Mary Anne teria escondido a família de mim? Vergonha?

— Que seja verdade – acatei o que ela disse —, que minha esposa
tinha a mãe viva e não me contou. Por que me procurou?

Ela assentiu e tirou outro documento de dentro do envelope.

— Sua esposa, Mary Anne, era casada com Timothy Flint – ela
colocou o documento diante de mim —, e eles não tinham se divorciado.

— Isso não pode ser verdade! – balancei a cabeça em negativa —,


casada?
— É o que consta na certidão de casamento. – Ela apontou.

Passei a mão pelo rosto sem poder acreditar.

— Como assim? – perguntei ao ler o documento e constatar que ela


dizia a verdade. — Casada? Minha esposa era casada com outro homem?

— Se estivesse viva, sua esposa responderia por bigamia – ela


continuou.
Precisei me erguer e andar pela sala. Mary Anne não podia ter me
enganado dessa forma! Era um absurdo! Quem era essa mulher que a agente
Andrews estava me apresentando?

— Sinto muito ter que lhe dizer tudo isso, Senhor Aziz – disse
sincera —, mas não há outra forma.

Olhei para ela novamente.

— Por que me procurou para dizer tudo isso?


— Joanne era prima da minha mãe. Nunca tivemos muito contato,
mas acompanhei os últimos dias de sua vida e então, ela me pediu que o
encontrasse porque o senhor era o único que poderia ajudá-la.

— Ela me conhecia? – a situação estava ficando cada vez mais


estranha. Precisava encontrar um sentido para aquela loucura.

— Sim, pelo que entendi, sua esposa nunca deixou de ter contato com
a família... Joanne sabia exatamente quem o senhor era.
Fiquei tenso e senti meu maxilar travar. Tinha sido feito de idiota?
Era isso? Mary Anne era uma mentira? Três anos de casados e eu vivi uma
falsidade? Ela me enganou, não contou sobre o ex-marido ou a mãe?

A agente abriu o envelope de novo e tirou uma fotografia e a colocou


sobre a mesa e me aproximei para ver do que se tratava. Era Mary Anne com
a aparência de quando morreu com uma mulher mais velha tão loira quanto
ela, eram parecidas, deveria ser sua mãe.

— Essa é Joanne com Mary Anne dias antes do acidente. – Ela


apontou.

— Minha esposa estava em Los Angeles – eu comentei sério. Passei


a mão pela testa esperando a nova mentira. Mais um soco no estômago.

— Sim, ela foi para Los Angeles e ao fazer escala em Utah o avião
caiu antes de pousar em Salt Lake City – ela confirmou.

Pelo menos algo era verdade nessa história sórdida. Por que Mary
Anne mentiu? Quem ama mente? Eu a apresentei para a minha família mesmo
ela não sendo da nossa cultura e porque ela não confiou em mim e fez o
mesmo?
— Então, a mãe dela morreu e lhe pediu que me encontrasse e
dissesse a verdade sobre a filha dela? – perguntei o óbvio.

— Sim, mas havia um motivo muito sério para isso, Senhor Aziz.

Foi a primeira vez que vi emoção surgir naquele rosto bonito. Até
agora Elizabeth Andrews era um poço de profissionalismo, falava comigo
como a narradora de um canal de investigação criminal. Mesmo ela
parecendo ser da família, não se mostrava chocada com os fatos. Era como
se ela esperasse isso da prima distante. Eu me sentia como o marido traído,
que era o último a saber ou a desconfiar da esposa perfeita, na verdade,
diante daqueles fatos, acabei de descobrir que Mary Anne era uma mentirosa
compulsiva.
Se ela mentiu sobre o próprio passado e história, sobre o que mais
teria mentido? Ela chorou quando falou sobre a mãe, a forma como morreu
quando ela era jovem, como pôde ser tão falsa?

— Qual motivo? – Voltei a sentar. — O que pode ser pior?


— Joanne era a responsável pelos netos, Betina de dez anos e
Michael de oito anos.

Meu corpo todo ficou tenso. Ela tirou duas certidões de dentro do
envelope e me entregou.

— Eram os filhos de Mary Anne e Timothy – explicou.

— Mary Anne tinha filhos? – perguntei sem conseguir tocar nos


documentos. Passei a mão pelo cavanhaque e praguejei em árabe.
— Sim, e ela os deixou com a mãe. Com a morte de Joanne, as
crianças não têm com quem ficar, Senhor Aziz. Ela deixou um documento
passando a guarda para o senhor – ela tirou um último papel de dentro
daquele maldito envelope que somente trouxe más notícias —, e me pediu
para encontrá-lo e dar a notícia.
Aquilo somente poderia ser uma grande brincadeira de mal gosto.
Não fazia o menor sentido. Por que uma sogra que nunca conheci deixaria a
guarda dos netos de quem eu nunca soube da existência?

— Sabe o que está dizendo, Senhorita Andrews? – perguntei


chocado. — Essa tal Joanne quer que eu assuma uma responsabilidade sobre
crianças que sequer conheci?

— Sim, ficou claro que Joanne queria que cuidasse dos netos que a
filha abandonou – ela falou com sua costumeira frieza —, eles não têm mais
ninguém, Senhor Aziz. Joanne não tinha parentes e minha mãe morreu há
alguns anos.

Eu não podia assumir a responsabilidade sobre crianças que sequer


sabia que existiam. Os filhos de Mary Anne com seu primeiro marido de
quem ela nunca se divorciou. Eu me ergui de novo, olhei através da parede
de vidro e me perguntei por que o destino, de repente, resolveu ser cruel
comigo e destruir todas as boas lembranças que eu tinha da minha esposa e
descobrir que eu não a conhecia, sequer sabia quem ela era.

Olhei para a Senhorita Andrews.

— E o pai das crianças? Por acaso é um viciado em drogas? Ou está


preso? – questionei o que me parecia ser o mais óbvio.

— Na verdade, Senhor Aziz, Timothy Flint morreu no mesmo


acidente de avião que sua esposa se acidentou, eles estavam juntos voltando
de Los Angeles...

— O quê?
E algo me dizia que não seria a última facada.
Capítulo 2

Não deveria ter me metido naquele assunto. Não era


responsabilidade minha ou de um trabalho. Era pessoal e eu nunca misturava
assuntos particulares com o meu trabalho, mas por Joanne foi uma exceção.
Não éramos próximas, nunca me dei bem com Mary Anne, embora
tivéssemos quase a mesma idade e tenhamos crescido na mesma cidade.

Nossas histórias eram parecidas, nossas mães engravidaram de dois


grandes desgraçados. Meu pai morreu com um tiro na cabeça por causa de
uma dívida com traficantes. Mary Anne nunca conheceu o pai, um hippie
viajante que esteve na cidade com seu trailer, engravidou a mãe dela e nunca
apareceu. Crescemos sozinhas, cada uma à sua maneira.

A diferença foi que eu fui embora de Castle Dale aos quatorze anos
quando minha mãe se casou com o agente do FBI, John Andrews, que me
adotou e me fez entender o que era uma família. Mary Anne se casou com um
babaca como o pai dela e teve dois filhos antes de partir para Boston e fazer
aquele empresário árabe de idiota. Todos na cidade sabiam da história,
mesmo eu, quando eles se casaram, Joanne ligou para contar a minha mãe
como se fosse uma vantagem.

Nunca pensei que um dia a vida me levaria diante daquele homem


para contar aquela narrativa sórdida. Era terrível dizer a uma pessoa que ela
foi feita de idiota por alguém que amava. No meu trabalho como agente,
cansei de ver histórias como aquela, mas, agora, por ser com pessoas
próximas, eu estava envolvida e senti pena dele. A decepção em seus olhos
escuros e profundos era nítida. O homem estava arrasado, a mulher por quem
ele foi apaixonado e idolatrava era uma grande mentirosa.

E ele teria vivido o resto de sua vida acreditando que ela era uma
mulher incrível se não fosse pelas crianças e a morte de Joanne. Eu me
perguntava o motivo pelo qual ela nunca o procurou antes. E foi para não
manchar a imagem de sua filha perfeita que ela sempre adorou. Joanne era
capaz de qualquer coisa por Mary Anne, nunca deu limites à filha e por isso
ela se tornou uma mulher sem caráter, capaz de enganar um homem íntegro
por causa do dinheiro. A ambição dela não tinha limites.

— Sinto muito em ter que lhe contar isso, Senhor Aziz – disse
sincera —, mas preferi tomar a frente da situação, por causa das crianças e o
carinho que tenho por elas, a deixar na mão de algum assistente social que
não saberia tratar o assunto.

Ele estava de pé e me olhava com toda incredulidade do mundo. O


homem era alto e imponente. Antes de chegar ali investiguei toda sua vida,
para ter certeza que era um homem íntegro e caso fosse obrigada a entregar
as crianças para ele não traria consequências graves. Não havia o que dizer
contra o Senhor Aziz, a não ser uma multa de trânsito por dirigir um Porsche
em alta velocidade, o homem não tinha uma rusga que desabonasse seu
nome.

— Compreendo – ele limitou a dizer me encarando e colocou as


mãos no bolso da calça de seu terno caro, o paletó afastou e pude ver o
colete bem feito.
Não esperava que ele ficasse com as crianças, afinal, não eram filhos
dele, mas eu precisava fazer o que Joanne havia me pedido. Meu plano era ir
até ali, dar a notícia para ele e diante da sua recusa, entrar com o pedido de
guarda das crianças. Nunca sonhei em ser mãe, minha vida sempre foi o meu
trabalho, mas eu havia me afeiçoado a Betina e Michael desde o primeiro
instante em que os vi e cuidar deles seria um prazer.

Afinal, o que um empresário rico, viúvo e sem filhos iria fazer com
duas crianças que sequer conhecia?

Eu me ergui, finalmente.

— Bem, acredito que o senhor sequer vá querer conhecer as crianças


diante da gravidade do assunto – ponderei —, mas não se preocupe, estou
disposta a pedir a guarda deles e criá-los.

Ele ficou me olhando sem dizer uma palavra. Seu olhar era intenso,
como se ele estivesse pensando em algo muito distante dali. Hassan Aziz
olhava através de mim e isso me incomodou, não gostava que ficassem me
encarando sem dizer nada.

— Eu preciso ir, Senhor Aziz, foi um prazer conhecê-lo. – E estendi


a mão para despedir.

Aqueles olhos perturbadores caíram sobre a minha mão e ele não se


moveu. Apenas um sorriso cínico surgiu em seus lábios e disse:

— Onde as crianças estão agora? – quis saber.

Fiquei surpresa quando ele fez tal pergunta.

— No hotel em que me hospedei aqui em Boston – respondi


comprimindo os lábios —, mas não precisa se preocupar, eles estão bem e
vou cuidar deles como se fossem meus.

Ele deu uma risada baixa, levou a mão à testa e esfregou a ponta dos
dedos como se pensasse friamente. Abaixei a mão estendida e esperei que
ele dissesse qualquer coisa.
— Não acha que a senhorita pode vir aqui me dar uma notícia dessas
e pensar que não vou querer conhecer as crianças. – a frieza de seu olhar foi
um golpe.

— Sinceramente, Senhor Aziz, a resposta é não. Vim aqui com a


certeza de que o senhor não desejava conhecê-las depois do que contei sobre
o que Mary Anne fez – respondi com firmeza.

— A senhorita não me conhece – ele pronunciou sem qualquer humor


—, se me foi dada a responsabilidade sobre elas, é óbvio que vou conhecê-
las.

— O senhor não precisa se sentir obrigado a isso – argumentei —, eu


sou da família, posso cuidar delas muito bem...

— Então por que sua tia não a nomeou tutora? – ele me questionou.

Senti a raiva ferver em mim. Joanne estava cega, não consegui


demovê-la da ideia de querer um estranho na vida das crianças. Como Mary
Anne, ela acreditava que o árabe daria um futuro maravilhoso para seus
netos, esse era o plano de sua filha, ficar casada com o Senhor Aziz e dar um
conforto a toda sua família, inclusive a Timothy. E elas pensavam que
estavam certas, aquelas malucas!

— Porque Joanne acreditava que seu dinheiro daria um conforto


melhor aos netos – expliquei tentando não transparecer minha irritação —, o
que eu discordo completamente, mas ela não me ouviu.

— A senhorita acredita que não sou capaz de cuidar deles porque


não temos laços de sangue? – questionou.

O homem era orgulhoso agora?


— Também – admiti —, eu convivo com eles há pouco tempo, mas
me afeiçoei, posso cuidar deles bem, Senhor Aziz. O senhor não precisa
trazer esse problema para a sua vida.

— Quem decide isso sou eu, Senhorita Andrews – ele contrapôs com
a mesma frieza que eu imputava em nossa conversa —, quero conhecê-los
agora. – exigiu.

— O quê? – perguntei perplexa.

Ele pegou o telefone e disse à secretária:

— Desmarque todos os meus compromissos esta manhã, por favor –


ele mandou e desligou.

— Agora? – insisti em não acreditar que ele estava interessado.

— A senhorita tem algum compromisso importante? – perguntou com


sarcasmo. — Eu acabei de desmarcar os meus, esse assunto acabou meu dia,
preciso resolver o que fazer dele e não sou um homem de perder tempo.

E eu não gostei de você. Pensei. Ele tinha um porte agressivo,


determinado e isso poderia assustar as crianças.

— Vamos com calma! – pedi —, não disse a eles o motivo pelo qual
estamos em Boston, e sequer citei seu nome ou o que a avó decidiu.

— Um grande erro, Senhorita Andrews. – Ele deu a volta na mesa e


ficou diante de mim.
Eu me virei para ele e coloquei as mãos na cintura. Um homem alto,
bonito e atraente, mas que estava me irritando até o limite da razão.

— Não vejo o motivo que o faz insistir em conhecê-los – confessei.


— Então por que me procurou? – ele jogou a cabeça um pouco para
trás, me encarando sem paciência.

— Porque eu os quero e como o senhor seria intimado para assinar o


documento me dando a guarda deles, achei viável contar toda a história
sobre Mary Anne pessoalmente do que ouvir tudo através de um oficial de
justiça – expliquei —, não vou deixar que eles fiquem com o senhor e
desconte seu ódio e rancor em cima deles pelo que a mãe fez!

Agora foi a vez dele me fitar com incredulidade.

— Perdoe-me, Senhorita Andrews. – Ele deu um passo para mim e


não retrocedi, apenas ergui o corpo num gesto de desafio. Homens não me
intimidavam e eu havia lidado com todos os tipos deles.

Senti seu perfume masculino e intenso. Homens bonitos e cheirosos


eram atraentes, sem dúvida, contudo, Hassan Aziz estava me incomodando
com sua determinação.

— Mas a senhorita não sabe nada sobre mim e tenho certeza que está
acostumada a lidar com o pior tipo de gente – ele falou duro, seus olhos
passeando pelo meu rosto —, mas não me julgue por sua experiência, não
costumo agir como esperam ou não estaria onde estou.

Não fazia ideia do que ele queria dizer com aquilo, mas não
significava que suas palavras me fariam confiar nele.
— Quer que eu acredite que o senhor quer conhecê-las porque tem
boas intenções?

— Por que eu teria más intenções? – retrucou.


— Mary Anne o traiu, ela continuou se encontrando com Timothy,
usava seu dinheiro para sustentar o primeiro marido, os filhos e a mãe –
respondi sincera —, quer que eu acredite que não está sentindo vontade de
matá-la? De se vingar?

— E o que tem isso? – ele reconheceu estar com raiva.

— Como eu disse, tenho interesse em ter a guarda das crianças e vou


protegê-las com unhas e dentes, Senhor Aziz. E pode apostar que o senhor
não vai se aproximar delas para fazer mal! – eu o enfrentei.

Ele não se abalou com as minhas palavras, ao contrário, era como se


eu fosse ninguém e sequer estivesse ali.

— Quero conhecê-las – ele assegurou —, e se não me levar agora,


vou acionar a polícia e terá que fazer isso de qualquer forma e vou garantir
que não esteja por perto para supervisionar como quer.
Ergui uma sobrancelha sem poder acreditar e abri a boca, ficando
sem palavras.

— O senhor está me chantageando? – questionei sem poder acreditar,


indignada.
Ele balançou a cabeça em negativa bem devagar.

— Não. Estou lhe dizendo o óbvio. Ou fazemos isso do jeito certo,


em paz. Ou faço por meios jurídicos e legais – garantiu o óbvio —, estou
sendo legal – usou de ironia —, fazendo do seu jeito, mas quero conhecê-las
agora! – determinou.
E eu sabia que se fosse por meios legais, ele venceria. Joanne lhe
deu essa arma. Odiei esse homem por querer conhecer as crianças e me
ameaçar daquela forma. Quem ele pensava que era? Pela primeira vez,
pensei que ele mereceu ser enganado por Mary Anne. Era um arrogante
insuportável!
— Espero não me arrepender de deixá-lo se aproximar delas –
avisei numa ameaça velada.

Nunca me apeguei a nada na vida. Desde que escolhi que seria uma
agente do FBI como meu padrasto, tomei muitas decisões, uma delas era
nunca ter família, não permitir que meu trabalho os ameaçasse, ou os
colocasse em risco. Mas quando coloquei os olhos sobre Betina e Michael,
algo se quebrou dentro de mim, eu não podia permitir que eles ficassem em
um abrigo de menores e esperassem que um dia fossem adotados, o que
dificilmente aconteceria, dada a idade avançada deles. Os casais geralmente
queriam bebês ou crianças que não poderiam se lembrar da vida que
levaram ou dos pais.

Um sorriso se formou nos lábios bonitos, aquele maldito estava rindo


de mim? Peguei minha bolsa e olhei para ele:

— Estou hospedada no The Ritz-Carlton – avisei —, vou com as


crianças para a área de recreação, eu os apresentarei.

— Ótimo, estarei lá em meia hora – ele garantiu.

Eu o encarei com raiva. Queria xingar e dizer umas verdades, mas de


nada adiantaria. Ele tinha o poder nas mãos e isso me irritava, me deixava
frustrada. Não podia atirar nele ou mandar prendê-lo. Engoli meu desgosto e
deixei a sala dele, batendo a porta com força.

Desci pelo elevador xingando e falando sozinha. Eu sempre fazia


isso quando estava irritada. Meu carro alugado estava estacionado do outro
lado da rua e dirigi de volta para o hotel. As crianças estavam com a babá
do hotel e a dispensei quando cheguei ao quarto. As duas crianças loiras de
olhos azuis correram para mim, eles eram a cópia de Mary Anne,
principalmente, Betina.
— Tia Liz – ela me abraçou pela cintura e riu —, a gente pode ir na
piscina?
— Claro que sim – eu disse e eles comemoraram —, mas antes quero
que conheçam uma pessoa, um amigo da sua mãe.

Eles me olharam curiosos. Realmente, eu devia ter previsto que


aquele homem arrogante poderia conhecer as crianças. Mesmo que fosse por
curiosidade, mas meu preconceito com homens milionários e arrogantes era
tanta que não pensei nessa possibilidade. Talvez eu tenha sido petulante
demais e estava pagando por isso. Enfim, o que me consolava era o fato de
que ele conheceria as crianças e partiria em seguida sem olhar para trás,
afinal, que motivo ele teria para querer ficar com duas crianças que eram
filhos da mulher que o traiu?
Capítulo 3

Eram tantas informações que eu precisei de uma dose de uísque já


pela manhã para digerir toda aquela merda. Minha perfeita esposa era uma
mentirosa que me traiu e me usou? Era como se eu a estivesse matando
novamente, ela não condizia com a mulher que amei nos três anos de casado
e por quem fiquei de luto por tanto tempo, lamentando sua perda e o fato de
não termos realizado nossos projetos. O veneno da verdade corria pelo meu
sangue enquanto eu admitia que fui enganado e ela havia me dado o golpe.

— Lamentável – eu lamentei e bufei, frustrado.

Lembrei da minha mãe me dizendo que Mary Anne era uma cobra e
não havia gostado dela. Dei um sorriso amargo enquanto tomava o uísque,
em pé, olhando pela parede de vidro. Eu, que sempre me gabei de ser
esperto, de ter construído um império de dinheiro, fui feito de bobo por três
anos e sequer desconfiei. Ela estava com o marido durante a viagem, talvez
ela sequer trabalhasse quando estava viajando e usasse apenas uma desculpa
para ver a família. E as viagens dela sempre coincidiam com os meus
compromissos.

Agora tudo fazia sentido.

Ela dizia que fazia sua agenda baseada na minha. Ela era esperta,
desse modo eu nunca pude acompanhá-la e ela ficava com a família e com o
marido com quem ainda estava ligada. O que ela pensava? Que eu nunca
descobriria a verdade? E se descobrisse? Talvez ela usasse do meu amor
para inventar uma história em que eu pudesse acreditar e perdoá-la.
Qualquer coisa era possível vindo de uma pessoa que era capaz de mentir e
enganar daquela forma.

Batidas na porta do escritório soaram e eu voltei para ver Antony


entrar na minha sala. Meu advogado era um homem alto e loiro, com cara de
jogador de futebol inglês. Ele fechou a porta e se aproximou da mesa. As
mulheres morriam diante do seu charme, deveríamos ter a mesma idade, eu
nunca perguntei a ele, mesmo depois de quase dez anos trabalhando juntos.
Nunca fui bom com detalhes. Somente sabia que ele estava sofrendo porque
a ex-mulher havia encontrado outro e ele ainda não havia se refeito do golpe
de ser deixado.

— Se me chamou a essa hora e está bebendo uísque é porque o


assunto é sério – ele comentou ajeitando o paletó do terno escuro.

— Sente-se, a situação é mais séria do que imagina. – apontei a


cadeira do outro lado da mesa e ele se sentou.

Peguei o envelope que a Senhorita Andrews deixou e coloquei diante


dele.

— O que é isso?

— Documentos sobre Mary Anne – respondi virando o resto do


uísque e colocando o copo sobre a mesa antes de me sentar —, acabo de
descobrir que minha falecida esposa tinha uma família em Utah, uma mãe,
um marido e dois filhos.

— O quê? – Ele tentou rir, mas ficou sério quando notou que eu não
estava brincando. — Não pode estar falando sério!

— Está tudo aí. – Apontei para o envelope.


Ele pegou o envelope e o abriu, começou a analisar os documentos e
seus olhos claros ficaram arregalados. Antony levou a mão à boca e coçou o
queixo em seguida.

— Ao que parece, são originais – ele garantiu.

— Vou precisar que contrate um detetive ou entre em contato com as


autoridades de Castle Dale e confirme os fatos – pedi —, embora pareça
real.

— Quem lhe trouxe essas informações? – Ele quis saber.

— Essa é a parte mais interessante – eu coloquei o dedo em riste e ri


com ironia —, uma prima de Mary Anne que é agente do FBI e quer a guarda
das crianças.

Ele meneou a cabeça.

— O que você tem com isso? – ele não compreendia. Quem poderia
imaginar aquele absurdo?

— A mãe de Mary Anne deixou a guarda das crianças para mim –


contei —, o documento está aí dentro.

Antony me encarou com incredulidade.

— Isso é um contrassenso! – Ele não acreditou quando analisou o


documento. — Qual o sentido em deixar os filhos de um casamento pré-
existente para o segundo marido traído?

— Não faço ideia, mas não posso deixar essas crianças na mão dessa
agente, sendo que mal a conheço – afirmei.

— Hassan, você não está pensando em ficar com as crianças, está? –


ele me questionou com certa reprovação.
— Não – fui sincero —, mas também não posso entregá-las a uma
mulher que sequer conheço. Já parou para pensar a razão pela qual a tal
Joanne não deu a guarda direta a ela?

Ele ponderou movendo a cabeça de um lado para o outro.

— Faz sentido – ele concordou.

— Por isso, vai ter que investigá-la também para mim – pedi —,
para que eu passe a guarda para ela, preciso ter certeza que é uma pessoa
idônea.

— Poderia deixar tal responsabilidade na mão do governo – ele


cogitou.

— Ela trabalha para o governo, pode conseguir a guarda facilmente –


argumentei —, mas o que me intriga é por que a concessão não ficou para ela
se é da família.

— Como eu disse, concordo com você – ele avaliou —, farei todo o


possível para descobrir sobre a vida da Senhorita Andrews o mais depressa
que puder. Mas pode levar mais de uma semana, você sabe... ou até mais em
uma investigação minuciosa...

— Posso mantê-los comigo aqui em Boston – recostei na cadeira,


pensativo —, até mesmo sob o meu teto, assim saberei como a Senhorita
Andrews é.

— Seria perigoso ter uma pessoa estranha sob o seu teto! – ele me
precaveu. — Não sabe nada sobre ela!

— Ela não me parece uma assassina fria e perigosa e o fato de ser


agente do FBI me dá certa vantagem – comentei —, consiga uma ligação com
o diretor do FBI e saberemos ao menos se ela pode colocar as crianças ou a
mim em risco, de imediato.
— Farei isso – ele garantiu —, e o que vai fazer agora? Sara me
avisou que desmarcou todos os compromissos da manhã.

— Vou conhecer as crianças – contei —, não tenho tempo a perder, e


preciso ter certeza que elas estão à vontade com essa mulher.

Antony moveu a cabeça de forma positiva pela primeira vez naquela


manhã.

— É o mais plausível – ele concordou —, quer que eu vá junto?


— Não é necessário, é uma visita informal, além disso, tenho a
guarda e posso tirar as crianças dela quando eu quiser – falei friamente.

Não tinha intenção de adotar ninguém, mas eu era responsável por


elas e não permitiria que ninguém lhes fizesse mal. Era humano o suficiente
para compreender o quanto aquelas crianças deveriam estar se sentindo
sozinhos sem a mãe, o pai e agora a avó. Eu podia estar desprezando Mary
Anne no momento, mas os filhos dela não tinham culpa pela sua falta de
caráter.

— E já pensou no que vai fazer se a Senhorita Andrews for uma


pessoa perigosa? Vai devolver essas crianças para o governo e deixar que
vivam num abrigo? – ele me questionou.

Não havia pensado sobre o assunto. E no momento, devido à


quantidade de informações, sequer queria refletir.

— Pensarei nisso depois – respondi me erguendo —, é muita coisa


para um dia só e eu também sou humano.
— Imagino a sua decepção – Antony também se ergueu guardando os
documentos no envelope novamente —, vou verificar se tudo isso não passa
de um golpe dessa Senhorita Andrews – avisou desconfiado —, não tome
qualquer decisão sem falar comigo antes.

— Fico aguardando uma ligação sua – exigi —, seja rápido, vou até
o hotel ver as crianças e preciso decidir se as levo para minha casa ou não.
Mas é o mais provável que eu o faça.

— Não estou acreditando que isso está acontecendo! – Antony quase


riu incrédulo —, é impossível! Não consigo imaginar sua Mary Anne
mentindo dessa forma, ela parecia gostar tanto de você...

Assenti levemente.

— Talvez o personagem que ela criou gostasse – eu respondi


amargo.

Antony bufou.

— Eu ligo para você – avisou e saiu da minha sala fechando a porta.


E não batendo como a Senhorita Andrews fez. Ela ficou bem irritada
porque não contribuí da forma como ela almejou. E não facilitaria, afinal, eu
sequer a conhecia. Ela podia ter boas intenções, mas isso não significava
que estava pronta para ser mãe de duas crianças.

Saí da minha sala e olhei para Sara.

— Não voltou antes da uma hora – avisei.


— Precisa de alguma coisa, senhor? – ela perguntou preocupada.

— Por enquanto, não. Obrigado – agradeci por sua atenção.

— Se precisar, estarei aqui – ela ofereceu.


E eu sabia que podia contar com Sara a qualquer momento e sobre o
assunto que fosse. Ela era discreta e fiel.

Assenti e fui em direção ao elevador. Havia deixado meu carro


estacionado na porta do prédio. Eu poderia ir a pé até o hotel que não era
muito longe dali, mas se tivesse que tirar as crianças da companhia daquela
mulher, teria que usar o carro. Dirigi por alguns quarteirões e estacionei na
garagem do hotel onde eu tinha uma vaga privativa, era um excelente cliente.

Estava tenso quando cheguei à recepção e avisei que estava ali para
falar com a Senhorita Andrews.
— Ela está na sala de recreação, senhor Aziz – a recepcionista
respondeu —, fica no segundo andar, senhor.

— Obrigado.
Eu me dirigi para lá e saí num corredor extenso, de longe podia ouvir
o grito de crianças. Através da parede de vidro, eu pude ver algumas
crianças correndo de um lado para o outro, enquanto recreadores tentavam
entretê-los. Fiquei parado ali, observando de início. Olhei ao redor e vi a
Senhorita Andrews sentada num banco mais reservado lendo uma revista, ela
usava ainda aquela roupa de agente do FBI, com aquele jeito frio, não
duvidava que tivesse uma arma debaixo do colete.

Se tivesse, talvez ela atirasse em mim quando aparecesse a


oportunidade. Ela não gostou de ser contrariada, era óbvio. Meus olhos
passearam pelo salão à procura de quem poderiam ser os filhos de Mary
Anne. E não foi difícil identificá-los. Duas crianças loiras brincavam no
pula-pula, sozinhos. Eles riam e se divertiam. Eram eles, a menina era a
mais parecida com Mary Anne e meu coração bateu forte. Não pude deixar
de me perguntar se tivéssemos filhos se seriam assim, mais parecidos com
ela do que comigo. O menino também lembrava Mary Anne e ria como a
mãe.

Lembro de ser apaixonado pela risada dela. Foi o que mais me


chamou a atenção. Sempre fui mais sério e ela trouxe uma luz para a minha
vida, uma felicidade que eu não sabia explicar. E tudo foi um engano, levaria
um tempo até conseguir me recuperar da queda e pensar nisso sem amargura.

Foi então que a menina caiu sentada no pula-pula e riu. Ela olhou
para o lado e me viu e estreitou os olhos como se me conhecesse, riu em
seguida para mim e se ergueu com dificuldade para pegar no braço do irmão
e fazê-lo parar e me apontar. O menino também arregalou os olhos e riu,
acenando. Olhei para trás para ter certeza que era comigo, afinal, eles não
me conheciam.
Eles começaram a sair do brinquedo e me aproximei da porta. A
Senhorita Andrews sentiu a minha presença e ergueu aqueles olhos verdes
para mim, nada feliz por me ver. Acredito que nunca uma mulher se mostrou
tão avessa à minha presença. Talvez as duas primeiras esposas do meu pai
porque durante muito tempo fui o preferido. Mas elas não contavam. Não
eram bonitas e atraentes de um jeito agressivo que me fazia deseja-las.

— O senhor veio! – ela disse decepcionada deixando a revista de


lado.
— Eu disse que viria. – Parei diante dela.

Ela se levantou e respirou fundo.

— Vou chamar as crianças e nos sentaremos para explicar tudo a


eles...

— Tio Hassan! – a menina gritou ao se aproximar.


Tanto eu quanto a Senhorita Andrews nos voltamos para eles. Os
dois correram na nossa direção e a menina me abraçou pela cintura como se
tivesse feito isso a vida toda. O menino fez a mesma coisa. Olhei aquela
situação completamente surpreso e sem saber o que fazer. Como eles sabiam
sobre mim?

— Betina, Michael – a Senhorita Andrews os chamou —, deixem o


Senhor Aziz respirar.

Eles se afastaram e estavam sorrindo para mim.

— Que bom que veio! – Betina disse alegre como se fosse a coisa
mais óbvia do mundo.

— Você estava me esperando? – perguntei a ela.

— Claro que não! – Elizabeth respondeu adiantada.

— Claro que sim! – Betina olhou para ela surpresa —, a mamãe


disse que um dia a gente conheceria você e a vovó contou que seria nosso
novo pai!

Por essa eu não esperava e muito menos a Senhorita Andrews. Nós


nos entreolhamos, ambos constrangidos. O que poderíamos dizer? Joanne
disse aquilo aos netos? Não havia surpresa, afinal, ela deixou a guarda deles
para mim e talvez os tenha preparado para esse encontro. E quanto à Mary
Anne, por que ela falaria de mim para os filhos? Aquela história estava
ficando sem pé nem cabeça.
Capítulo 4

Betina e Michael estavam tão felizes por terem encontrado o Senhor


Aziz que fiquei enciumada. Vê-los tratá-lo como se fosse um amigo da
família me fez ficar frustrada. A reação dele não foi boa ou ruim, ele parecia
tão surpreso quanto eu e ficamos parados sem reação como dois bobos
olhando para as crianças.

— A gente podia tomar sorvete antes de ir para casa! – Betina


propôs após o choque.

Casa? Sorvete? Era apenas para apresentá-los e não para entregá-los


àquele homem.

— Vamos com calma! – pedi.

— Mas eu estou calmo! – Michael olhou para mim sem entender


nada.

— Eu também! – Betina disse com um sorriso largo e segurou a mão


de Aziz —, a verdade é que eu estou muito feliz porque você chegou!

Oh, meu Deus! Olhei para as mãos unidas e depois para Hassan. Ele
sorriu satisfeito para Betina e depois para mim. Notei que quando ele sorria
os olhos pequenos ficavam ainda menores, um charme que não passava
despercebido.
— Acredito que depois dessa descoberta, nós todos precisamos de
um sorvete – ele comentou.

— Talvez não seja bom tomar um sorvete logo pela manhã – eu tentei
dissuadi-lo de qualquer coisa, embora soubesse que estava sendo ilógica —,
faz mal tomar sorvete antes do almoço! – argumentei.

Um meio sorriso surgiu nos lábios bonitos e eu quis pegar as


crianças e fugir dali. Aquele homem parecia saber exatamente o que estava
fazendo, como se tudo estivesse saindo perfeitamente como ele havia
planejado.

— Bobagem – ele devolveu —, todos precisamos de um sorvete,


inclusive a senhorita! Para esfriar os ânimos!

Ele ofereceu a mão para Michael que aceitou e juntos eles deixaram
o salão de recreação. Olhei ao redor e notei que os olhos femininos estavam
sobre Aziz. Revirei os olhos, sem entender. Tudo bem, o homem era bonito,
de verdade. Como naquelas propagandas de deuses gregos ou homens árabes
irresistíveis, mas não era o último do mundo, elas não precisavam parar de
trabalhar para ficar olhando, não é?

Eu os segui até o elevador e ele esperou que eu entrasse para fechar


a porta e apertar o botão do térreo. Cruzei os braços e vi as crianças
penduradas no braço dele. Como isso era possível? Eles nunca tinham se
visto antes. Aziz olhou para mim e notou que eu os observava, desviei o
olhar para a porta e apertei mais os braços, para me lembrar de não ficar
olhando para ele sem motivo plausível.

Eles saíram do elevador e eu os segui, contrariada. Eles foram para a


piscina e pararam no bar para pegar sorvetes.

— Eu quero de morango, por favor – Betina pediu.


— Eu quero de chocolate – Michael informou.

— E a senhorita vai querer de quê? – Aziz se dirigiu a mim.

— Não quero nada, obrigada – agradeci como uma criança mimada


que perdeu seu brinquedo especial.

— Dois de morango e dois de chocolate – ele falou sem se importar


com a minha resposta. — Vamos nos sentar para poder conversar –
determinou e as crianças concordaram movendo as cabeças de forma
positiva.

E sem esperar que eu o seguisse, foi para uma das mesas embaixo do
telhado do bar e se sentou com cada criança ao seu lado. Aziz tirou o paletó
junto com o colete, expondo o peito largo sob a camisa branca e sentou-se.
Ele ainda desabotoou as mangas e dobrou até os cotovelos exibindo os
braços definidos. Havia uma tatuagem tribal no braço esquerdo que
começava no pulso e subia até a junção com o antebraço. Eu me perguntei se
teriam mais como aquela e me repreendi em seguida. Ele poderia ter uma
tatuagem no rabo que não faria diferença.

Eu me sentei e tirei o paletó também, estava quente, até mais que o


esperado.

— Quer dizer que vocês já sabiam que eu viria? – Aziz começou a


conversa com as crianças.

— Claro que sim! – Betina sorriu feliz —, a vovó disse que você
cuidaria da gente!

— Mesmo? – ele assentiu surpreso. — E o que mais ela disse?


— Que você ia ser o nosso pai – foi a vez de Michael responder.

Aziz olhou para mim.


— Eu não fazia ideia disso! – assegurei.

— Tenho certeza que não, ou não teria ficado surpresa como eu


fiquei! – ele argumentou.

— E quando vamos para casa? – Betina quis saber.

— Betina! – eu a reprovei.

— O que foi? – ela não entendeu. — Se ele vai ser nosso pai, a gente
tem que ir para a casa dele!

Respirei fundo. Joanne foi muito esperta. Ela mexeu na cabeça


daquelas crianças para que elas aceitassem o Senhor Aziz como o pai deles.
O problema era que eu tinha outros planos, e provavelmente, aquele homem
também. Ele não fazia o tipo paternal, parecia mais o dono de um harém do
que o pai do ano.

— Eles têm razão – Hassan concordou para a minha surpresa —,


eles têm que ir para a minha casa, afinal, sou eu que tenho a guarda.

— Não faça isso – eu pedi baixinho.

— Não fazer o que, tia Liz? – Michael quis saber.

O garçom trouxe os sorvetes e colocou a taça de morango diante de


mim. Eu não havia pedido aquele sorvete.

— Não faça cara feia para o sorvete – Aziz me repreendeu —, ou ele


vai derreter!

— Não pedi sorvete! – avisei.

— Seja educada! – Ele piscou para mim.

Homem atrevido! Se as crianças não estivessem ali eu jogaria o


sorvete na cara dele. E ele riu da situação, deve ter lido na minha cara que
eu faria com o maior prazer.

— Está uma delícia! – Betina elogiou após dar a primeira colherada.


— Obrigada, tio Hassan.

— Por nada, Betina – ele respondeu satisfeito ao notar a boa


educação das crianças.

Apesar de malucas, tanto Mary Anne quanto Joanne haviam educado


aquelas crianças bem. No tempo em que estava convivendo com eles, estava
surpresa por nunca brigarem e sempre pedirem por favor e agradecerem a
tudo que fazia por eles. Eram tranquilos e gostavam de brincar e muito. Caso
estivessem ocupados, eles não me davam um pingo de trabalho.

— Eu adoro sorvete de chocolate! – Michael comentou e olhou para


minha taça intocada —, você não gosta, tia Liz?

Olhei para ele e senti meu coração enternecer. Michael era o menino
mais lindo e meigo que eu já havia conhecido, era impossível não gostar
dele.

— Tomar sorvete deixa a gente feliz! – Ele piscou para mim.

Não contive o sorriso e passei a mão por seus cabelos.

— Experimenta o meu – ele pediu e pegou um tanto bom na colher e


trouxe até a minha boca.

Eu tomei e engoli. Realmente o sorvete era uma das sete maravilhas


do mundo.

— Muito bom – eu afirmei.

— Agora toma o meu – Betina pediu e me deu uma colher de sorvete.

— Maravilhoso! – eu disse a ela com carinho.


— Agora toma o do tio Hassan! – Michael pediu.

E claro que fiquei constrangida. Olhei para o macho alfa e ele estava
se divertindo com aquela situação, parecia que me ver fora do eixo era um
prazer para aquele homem arrogante.

— Quer chupar o meu sorvete, Senhorita Andrews? – sua voz soou


muito maliciosa e não gostei. Ele estava me provocando sem piedade.

Abri os lábios para dar a resposta e ele enfiou a colher com sorvete
na minha boca. Filho da puta! Tive que tomar o sorvete e respirar fundo
para não xingar.

— Agora seja uma boa menina e tome o seu – Aziz completou


debochando de mim —, ou vai querer chupar mais do meu sorvete?
Ele estava sendo sarcástico e peguei a colher do meu sorvete para
tomar antes que eu fosse obrigada a vê-lo enfiar outra colher na minha boca,
o que era o cúmulo do constrangimento.

— E o que mais a vovó disse? – Aziz insistiu em saber.


— Ela também disse que você colocaria a gente numa escola boa e
faríamos uma excelente faculdade! – Betina respondeu.

— E ela disse que levaria a gente para a Disney, já que a mamãe não
conseguiu! – Michael completou.
Ele não deveria se lembrar muito da mãe. Quando Mary Anne
morreu, ele tinha apenas três anos. Betina deve ter sentido mais a falta dela,
embora minha prima nunca tenha sido presente.
— Sua avó era esperta – Aziz comentou.
— A vovó era linda – Michael disse com carinho —, ela gostava da
gente.

Aziz ficou olhando para ele por algum tempo e o vi respirar


profundamente.

— Ela gostava – ele concordou. — E como vocês sabiam quem eu


era?

— Ela mostrou fotos suas com a mamãe – Betina respondeu.

— Mostrou? – Aziz ficou surpreso.

— Sim, até mesmo uma revista que você saiu na capa – ela
completou brigando com o sorvete para colocar um pedaço sobre a colher.

— Eu ajudo você – eu disse e usei minha colher para empurrar o


sorvete para ela.

— Obrigada, tia Liz.

— E o que mais a vovó disse? – dessa vez, fui eu quem perguntou.

— Que o certo seria a gente morar com a tia Liz, mas o trabalho dela
atrapalhava, então, tinha que ser o tio Hassan – ela contou.
Senti um murro no estômago. O meu trabalho. Deveria ter imaginado
que esse fosse o empecilho para ficarem comigo. Joanne queria alguém com
dinheiro para cuidar das crianças, ela e a filha sempre acreditaram que
pessoas ricas eram mais importantes e inteligentes. Isso me ofendeu
grandemente. Aquele homem não era melhor do que eu em nada para ficar
com as crianças e eu não. Só porque ele tinha dinheiro? Eu tinha amor e
poderia tratá-los bem melhor!

— Entendi – limitei a responder.


Não consegui colocar uma segunda colher de sorvete na boca. Havia
um nó na minha garganta que eu não sabia explicar. Não estava preparada
para perder as crianças para aquele homem presunçoso. Eles estavam
comigo há quase dois meses, desde que Joanne ligou e pediu que eu ficasse
com eles, já que ela estava internada em um hospital para tratar o câncer e
não tinha previsão de alta. Eu os peguei em Castle Dale e os levei para
Washington D.C., onde eu morava.
E aprendi a gostar deles e apreciar a companhia. Sequer podia
imaginar minha vida sem eles a partir de agora. O celular de Aziz tocou e ele
se ergueu para atender depois de pedir licença.

— Ele é bonito! – Betina disse apaixonada apoiando o rosto na mão.


— Parece o príncipe das Mil e Uma Noites...
Olhei para aquelas costas largas e me perguntei se eu era a única
pessoa no mundo que não me sentia encantada por ele. Até me compadeci de
sua dor no começo, mas depois, quando ele deixou claro sua petulância e
personalidade dominadora, minha piedade evaporou como água no deserto.
E eu não queria meus sobrinhos vivendo com um homem frio, sem coração.

— Fiquem aqui – eu pedi e as crianças assentiram.

Caminhei até ele e fiquei parada às suas costas. Ele notou e se virou
para mim.

— Falo com você depois, Antony – ele disse ao celular e desligou.

Decidi ser direta.

— O que está tentando fazer? – perguntei.

— Sobre o quê? – retrucou impaciente.


— Sobre as crianças? – Apontei para eles que estavam entretidos
com os seus sorvetes. — Eles querem um pai e pensam que você vai ser!
Não pode fazer isso com eles se não está disposto a ser um pai de verdade!
Não é justo! Eles vão se sentir abandonados quando formos embora!

— Mas não fui eu quem inventou essa história de pai, foi sua tia! –
ele se defendeu.

— Eu sei! – falei brava e bufei.

Tinha que admitir que ele também não havia pedido aquela confusão
para a sua vida. Passei as mãos pela testa tentando me controlar. Estava
saindo tudo errado, nada do que planejei estava acontecendo e era uma
grande merda!

— Deixe-me cuidar deles! – pedi —, é tudo que peço! Eles estão


morando comigo em Washington D.C. há dois meses. Eu me apeguei a eles,
posso dar o que precisam: amor, carinho e uma vida boa. Talvez não tão rica
quanto a sua vida, mas eu gosto deles!
Abri meu coração, esperava que isso pudesse atingir um lado humano
naquele homem frio. Ele cruzou os braços e estreitou o olhar.

— E como vai pagar as contas se está afastada do trabalho?


— Como sabe? – perguntei em choque.

— Não é a única que tem acesso às informações! – deu um passo


para mim como gostava de fazer para intimidar —, de qualquer forma, eu
vou saber a razão pela qual está afastada. Talvez seja esse o motivo que fez
Joanne preferir a mim e não a você para ser o tutor dessas crianças!
O tapa ecoou no ar. Foi mais forte do que eu. A pressão que eu
estava passando e aquele homem não sabia nada sobre mim. Minha mão
ardia e não me arrependi, mesmo sabendo que as crianças estavam olhando.
Ele não fazia ideia do quando aquele assunto me tirava do prumo.
— Como ousa? – ele perguntou por entre os dentes e levou a mão ao
rosto e me fitou com desdém.

— Nunca mais se atreva a colocar meu caráter em jogo sem saber


sobre a minha vida, Senhor Aziz! – avisei com o dedo em riste —, em
nenhum momento o ofendi, ou coloquei à prova sua índole! Minha tia queria
seu maldito dinheiro tanto quanto minha prima quis! Elas eram assim! Não o
escolheram porque é o melhor homem do mundo, mas um dos mais ricos! –
disse com desprezo.

Seus olhos frios caíram sobre mim.

— Vou levá-los para a minha casa, goste ou não! – avisou. — Eles


estão sob a minha guarda! Se quiser, lute na justiça!

E passou por mim indo em direção às crianças.

— Não está fazendo isso porque gosta deles! – eu disse às suas


costas e ele parou de andar. — Está fazendo isso por orgulho, só mostra que
não é a pessoa certa para cuidar de duas crianças!

E fui para perto dele.

— Vou dar a notícia a eles de que vai ser o papai agora – minha voz
soou com ironia e olhei para ele de lado —, se fizer com que eles sofram,
vou cumprir minha promessa de acabar com a sua vida!

E determinada, fui para perto das crianças dar a notícia.


Capítulo 5

Não sei realmente o que era pior: minha vida ter levado um golpe ou
ter que aguentar aquela mulher. E ainda levei um tapa na cara. Quem ela
pensava que era? Fiquei olhando enquanto ela se afastava em direção à
mesa, aqueles quadris se movendo de um lado para o outro como se ela
fosse dona do mundo. Ela não sabia com quem havia mexido! Eu a segui,
ainda sentindo o sangue ferver, sempre fui controlado e frio, mas naquele
momento, não me reconheci!

Ela se sentou e ergueu o olhar frio para mim. Sentei também e Betina
disse:
— Vocês estavam brigando? – A menina quis saber lambendo a
colher de sorvete.

— Não! – a Senhorita Andrews respondeu.

— Então por que bateu nele? – Michael completou a questão.


Novamente ela olhou para mim e respondeu:

— Não bati nele, tinha uma abelha no cavanhaque e tive que tirar –
ela explicou de forma cínica.

— Abelha? – perguntei incrédulo diante da resposta que ela deu.

— Não era uma abelha com um ferrão? Atacando o primeiro que


apareceu sem saber de nada? – ela me questionou de forma significativa.
Estreitei o olhar. Ela estava me provocando e eu daria o troco.

— O que acham de irmos para o meu apartamento? – perguntei a


eles.

O olhar ferino da agente caiu sobre mim. Ela sabia que eu não a
deixaria ficar com as crianças, ainda mais agora que conhecia o seu segredo.
Afastada do FBI, estava curioso para saber o que ela tinha aprontado. E
Antony ainda disse alguma coisa sobre ela estar sofrendo algum tipo de
investigação, ele não tinha os detalhes, mas me passaria mais tarde. Foi o
suficiente para ter certeza que havia algo bem errado nisso tudo. Que a
escolha de Joanne Maxuel não fora equivocada.

— Eu vou adorar! – Betina foi a primeira a responder. — Eu não


gosto de hotel.

— Também não – Michael afirmou.

— Você tem cachorro? – Betina quis saber.

— Tenho um, seu nome é Low, é um Bulldog francês – respondi.

— Low? – Michael riu. — Ele deve ser engraçado!

— Então vamos? – insisti ansioso para deixar as crianças no meu


apartamento e voltar para a empresa. A reunião com os chineses foi marcada
para à tarde.

— Não vai tomar seu sorvete? – Michael apontou para a minha taça.

Por causa do calor, meu sorvete estava se tornando uma poça dentro
da taça.

— Não, nós precisamos ir...


— Posso tomar o seu? – Michael insistiu sem se importar com a
minha pressa.

Eu estava fazendo menção de me levantar, mas tive que sentar de


novo. Crianças não entendiam que adultos tinham compromisso.

— Pode tomar – autorizei.

O menino pegou minha taça, feliz da vida.

— Posso tomar o seu, tia Liz? – Betina perguntou a sargento. Ela


parecia uma sargento de prontidão.

— Não acha que é muito sorvete? – a Senhorita Andrews questionou.


Eu sabia! Típica chata de plantão.

— Não – Betina respondeu sincera e puxou a taça para sua frente


após afastar a dela vazia.

— Não pode deixar que façam o que querem! – a sargento me


reprovou ao notar minha expressão de deboche por suas atitudes exageradas.

— É apenas um sorvete – eu gesticulei —, que mal há nisso?

Ela revirou os olhos como se eu fosse um incompetente. Não era um


expert em crianças, mas fui uma e sabia o que era exagero ou não.

— Vai ser muito bom a gente morar junto – Michael disse entre uma
colherada de sorvete e outra —, tia Liz vai fazer o café da manhã todos os
dias!

Olhei para ele depressa, a sargento não moraria conosco! Ela ficaria
no hotel se quisesse, mas não debaixo do meu teto!

— Sua tia tem que voltar para Washington D.C. – eu o informei.


Ele e Betina pararam de tomar o sorvete e me fitaram como se eu
tivesse dito que os colocaria num calabouço.

— Por quê? – a menina perguntou engolindo em seco.

Elizabeth Andrews me fitou com diversão pela primeira vez, seus


olhos brilhando com um perigo iminente. Senti que estava pisando num
terreno repleto de bombas. A sargento apoiou o cotovelo sobre a mesa e o
queixo na mão para me observar com atenção. Isso foi o suficiente para eu
saber que tinha que ter cuidado.

— Porque ela precisa trabalhar – respondi me sentindo vitorioso


pela réplica.

— Mas ela está de férias! – Betina olhou para ela, aflita. — Não
está, tia Liz? Você não precisa ir embora, precisa?

Aquela mulher bonita sorriu como uma cobra perversa para mim,
antes de olhar para Betina e dizer:

— Estou de férias, querida, eu não menti para você...

Cadela... travei os dentes com vontade de mandá-la para o inferno. O


que ela estava tentando fazer? Não faria o jogo dela!

— Mas sua avó queria que ficassem com o Senhor Aziz – ela
explicou —, e tenho que deixar vocês com ele.

— Não quero que você vá! – Michael lamentou choroso e uma


lágrima escorreu por seu rosto e ele enxugou com as costas da mão.

— Ela não pode ficar, tio Hassan? – Betina me perguntou aflita,


prestes a chorar.
Michael levou as mãos no rosto e começou a chorar. A Senhorita
Andrews ajoelhou-se no chão e o abraçou, e ele chorou contra o ombro dela.
— Vai ficar tudo bem – ela disse com imenso carinho —, eu prometo
visitá-los sempre.

— Não! – o menino lamentou.

Escutei um soluço do meu lado esquerdo e Betina também estava


chorando. M’ssíbe! (Desgraça!) Não podia acreditar nisso! Agora eu era o
monstro que estava separando as crianças da tia amada! Ela era boa em
manipular pessoas e havia feito isso com as crianças para que ficassem do
lado dela!

Michael se afastou e a encarou, colocando sua mão pequena no rosto


dela.

— Fica com a gente, não vai embora! – ele pediu com uma voz tão
dolorida que me fez lembrar dos meus sobrinhos.

— Não depende de mim, querido! – Ela enxugou as lágrimas dele,


sua voz estava embargada e senti a raiva aumentar ao pensar que ela usava
disso para ficar com as crianças.

Betina tocou minha mão que estava em cima da mesa. Olhei para ela,
o rosto carregado de lágrimas.

— Ela pode ficar com a gente, tio Hassan? – ela perguntou. — Só um


pouquinho?

Eu me senti o demônio com chifres. Elizabeth Andrews era mais


esperta do que eu imaginava. Ela sabia que corria o risco de perder as
crianças e as manipulou para que gostassem dela a ponto de não ficarem sem
ela! Respirei fundo, não poderia separá-los agora, não desse jeito ou essas
crianças me odiariam para sempre, e eu sequer queria ficar com eles. Seria
egoísta se não a deixasse ficar pelo menos uma semana até que eu
descobrisse tudo sobre ela e as crianças estivessem acostumadas com a
minha companhia.

— Podemos conversar, Senhorita Andrews? – perguntei apontando a


cabeça para o mesmo lugar que estivemos há pouco.

Eu me levantei.
— Tomem o sorvete! – ela pediu às crianças.

Nós nos afastamos e eu voltei para ela que estava de braços cruzados
num gesto de defesa.
— Fez isso de propósito, não é? – indaguei com as mãos nos quadris.

— O quê? Obriguei as crianças a chorarem ou a gostarem de mim? –


ela devolveu com ironia. — O senhor é humano ou uma máquina que acha
que sentimentos são manipulados? Não sou Mary Anne! – disse com
desprezo para me atacar.
E enfiou a faca na minha ferida.

— Quer saber? Eu não pedi essa situação, mas agora que é minha
vou lutar com unhas e dentes! – avisei — Não quero as crianças para mim,
mas também não vou deixar que fiquem com uma pessoa que mal conheço e
até agora se mostrou agressiva para mim! – disse justo o que sentia.

— Não tenho nada a ganhar ficando com eles! – ela revidou erguendo
o queixo lindo e atrevido —, a não ser o que sentimos, e como pode ver é
real! – desfez o laço do braço e apontou para as crianças —, e por que eu
confiaria em deixar essas crianças com um homem que mal conheço e que
deixou claro que não as quer?
Nós nos encaramos e senti mais que raiva por aquela mulher. Havia
algo nela, uma vontade de submetê-la, de fazê-la estar abaixo de mim e não
tinha nada a ver com humilhação. Era uma provocação, algo parecido com
instinto de sobrevivência, mas a segurei esse insano desejo com as mãos e a
arrastei para o fundo, não havia sentido em nada daquilo. Ela era apenas uma
inimiga no meu território e eu daria as cartas, ela gostando ou não.
— Você quer jogar? – Dei um passo para ela, mas como sempre, ela
não retrocedeu.

— Isso não é um jogo, é a vida de duas crianças que não têm culpa
dos adultos serem um bando de imbecis! – ela disse irritada.
— Pode ficar sob o meu teto! – avisei gesticulando com o dedo em
riste —, e quando eu tiver certeza de quem você é, para o bem ou para o
mal, vou tomar minha decisão. Se for o que essas crianças pensam que é, eu
as deixo com você, do contrário, Senhorita Andrews, farei da sua vida um
inferno e nunca mais colocará os olhos sobre elas, eu juro!

Minha respiração estava ofegante e a dela também. Parecia que


tínhamos rolado por aquela grama e travado uma luta corporal ao invés de
meras palavras. Havia calor entre nós, e o ódio podia tenuamente se
confundir com a fagulha de uma paixão.
— Está feito! – ela concordou erguendo aquele nariz arrogante. —
Eu fico de babá das crianças até você tomar sua decisão. Não tenho pressa,
leve o tempo que for, eles vão embora comigo!

Havia algo nesse jeito durão dela que me despertava a admiração.


Fiquei parado observando os olhos verdes brilhando com raiva, os lábios
entreabertos na respiração curta. Ela também me fitou surpresa com o fato de
que não havia apenas indiferença, e foi uma surpresa para ambos.
— Vou até o quarto fazer as malas – avisou e me deu as costas.
Como sempre, dando a última palavra. Era mandona demais e eu
teria que conviver com essa estranha arrogante debaixo do meu teto! Era o
preço por ser impulsivo! Lembrei das palavras de Antony dizendo para não
tomar nenhuma decisão sem falar com ele, mas era tarde demais. Descobrir
que havia sido enganado por Mary Anne, suas traições e mentiras, os filhos
dos quais ela nunca falou e que gostavam de mim, as lágrimas deles e a
inocência que toda criança carregava consigo, me derrubou. Minhas
muralhas foram destruídas sem que eu percebesse.

Sabia dos riscos e do perigo, mas nunca fui de fugir de um problema


e não começaria agora. E o que era uma semana? Logo eu teria as respostas
que precisava, e mais calmo tomaria a decisão mais correta. Respirei fundo,
acalmando meu sangue que fervia de raiva e vi a sargento se afastar de mãos
dadas com as crianças. Betina a abraçou pela cintura e foi o suficiente para
ter certeza que separá-los agora seria injusto. Além disso, eu passava a
maior parte do tempo fora de casa, eles ficariam como desejavam no meu
apartamento até que tudo se resolvesse.
Peguei meu celular e liguei para Antony. Comecei a caminhar em
direção ao bar para pagar a conta e depois para a recepção.

— O que foi? – Antony atendeu. — Não me diga que fez uma


cagada?
— Eles vão para o meu apartamento – avisei enquanto voltava para
dentro do hotel.

— Tem certeza? Se quiser posso ligar para o conselho tutelar


recolhê-los! – ele indicou.
— Pelo amor de Alá, Antony! – praguejei. — Estamos falando de
duas crianças e não de dois animais perdidos!
— Eu sei, desculpa! – ele bufou do outro lado —, e quanto à
Senhorita Andrews?

— Ela faz parte do pacote, vai ficar com eles sob minha supervisão –
respondi sabendo que ele não gostou da ideia.
— Hassan! – ele me reprovou —, a mulher está afastada do cargo,
ela sofre algum tipo de processo! Ainda não sabemos o que ela fez, mas
ninguém é afastado do FBI se não for um motivo grave!

Sabia disso, mas não podia ter duas crianças chorando debaixo do
meu teto!

— Foi ficar de olho nela até descobrirmos o que aconteceu – garanti.


— Além disso, Martha vai estar a maior parte do tempo com eles, ficará de
olho para mim, e tem Arthur, meu segurança e logo Jeffrey também estará de
volta das férias – me referi a minha governanta que cuidava do apartamento
e o último era o meu motorista particular.

— Você está colocando todos em risco! – ele insistiu em me


atormentar.
— Sei disso, mas tirar essa mulher do meu caminho agora será um
erro, as crianças estão apegadas a ela! – expliquei e parei diante da
recepção —, espere, Antony – pedi e olhei para recepcionista —, feche a
conta do quarto da Senhorita Elizabeth Andrews.

— Sim, senhor Aziz – a moça respondeu.


— Antony – eu disse ao celular.

— Sim? – ele ainda aguardava.


— Apenas descubra o que aconteceu com essa mulher para que eu
possa ter um motivo para afastá-la! – mandei.
— O que consegui descobrir com um outro agente é que há quase
dois meses ela foi afastada e tudo corre em sigilo, a situação é grave. O FBI
tem um novo diretor e estou tentando falar com ele, mas o homem parece
ocupado. A saída dela tem a ver com a entrada desse tal diretor – ele me
explicou.

— Você tem uma semana para descobrir, não mais. É tempo


suficiente para que eu a coloque para fora da minha casa! – falei
determinado.

— Vou descobrir antes disso – ele prometeu —, você é louco!

— Faça o que pedi! – ignorei sua crítica.

E desliguei.

Colocar uma estranha debaixo do meu teto era loucura. Mas meu
instinto dizia que tinha que ser assim e nunca errei antes. Então, lembrei de
Mary Anne e recordei que errei sim e me deixei enganar pela força de uma
paixão. A diferença era que agora era na força do ódio mesmo!
Capítulo 6

De forma racional, não fazia qualquer sentido para mim aquele


acordo. Eu e aquele homem arrogante debaixo do mesmo teto? Não daria
certo, definitivamente. Sabia que mais cedo ou mais tarde haveria uma briga,
afinal, estava no território dele, onde ele mandava e eu seria obrigada a me
submeter.

E que história foi essa de eu dizer que seria a babá? O certo seria
sair dali e entrar com um pedido de guarda e fazer tudo no âmbito jurídico.
Mas ele era rico, tinha influência, poderia comprar juízes, qualquer coisa
para ter as crianças, ou apenas para tirá-las de mim. E por um motivo
inexplicável, ele tinha certeza que eu não era confiável. Ainda mais depois
que descobriu sobre eu estar afastada do FBI.

Ele que fizesse suas investigações, eu não tinha do que me


envergonhar e ele não ouviria uma explicação da minha boca, no que
dependesse de mim, também não facilitaria as coisas para ele. Eu me sentia
numa guerra, o que era para ser fácil e ele apenas assinar os papéis me
dando a guarda das crianças, passou a ser uma grande batalha. Teríamos que
ficar sob o mesmo teto por uma semana pelo menos e sobreviver a isso.

Era loucura, mas por Betina e Michael, eu estava disposta a pagar o


preço. Não tinha nada a perder, a não ser eles e isso não era uma opção.
Cheguei na cobertura luxuosa e como uma boa agente, fiz a inspeção
para ter certeza que estava tudo certo. Não carregava meu revólver comigo,
mas estava dentro da minha mala caso fosse necessário usar. Aprendi que as
pessoas mais improváveis eram capazes das piores atrocidades e eu não
confiava no Senhor Aziz. O lugar era bem sofisticado e a governanta,
Martha, teve o prazer de me mostrar tudo, enquanto Aziz ficou na varanda
com uma enorme piscina mostrando para as crianças que adoraram a
novidade.

— Cada criança pode ter o seu quarto – ela explicou —, e a


senhorita o seu. Temos no total sete suítes, mais dois banheiros sociais, uma
biblioteca na ala norte ao lado do escritório do senhor Aziz, há uma sala
com bar ao lado da varanda onde fica a piscina, quarto para os funcionários,
cozinha completa, área para evento e se precisar guardar seu carro na
garagem, o senhor Aziz tem sete vagas na garagem, pode ficar tranquila,
senhorita Andrews.

Nada daquilo me impressionava.

— Pode me chamar de Liz – pedi quebrando a formalidade.

— Como quiser – Martha disse com seu sorriso simpático. — Além


do acesso direto ao elevador privativo que dá para a cobertura – ela
terminou de explicar.

— Trabalha há muito tempo para o Senhor Aziz? – eu perguntei de


praxe.

— Há uns dez anos quase – ela respondeu pensativa —, ele ainda


estava na faculdade quando me contratou.
Ricos sendo ricos, pensei com desprezo. Sendo filho de um sheik, eu
não poderia esperar que ele morasse numa casa simples no subúrbio. O
homem transpirava dinheiro, devia tossir ouro e cuspir joias. A decoração
era arrojada, eu me sentia dentro de uma daquelas casas em que eu falaria
com o robô e ele faria tudo. Estava irritava e prometi me controlar por uma
semana, fingir que não ligava, que ele não era ninguém e que não podia me
tirar as crianças só porque era dono de uma cobertura maior que o prédio em
que eu morava.

Mas quando cheguei na piscina e vi as crianças dentro da água de


roupa e ele olhando aquilo como se fosse normal, meu humor ficou péssimo.
Ele os deixava fazer o que queriam, seria um péssimo pai. As crianças
precisavam de limites.

— Sério que os deixou entrar de roupa? – perguntei me aproximando


dele.

Martha havia ficado dentro do apartamento com a desculpa que


precisava coordenar o almoço, a cozinheira também estava de férias e ela
estava fazendo tudo. Duvido que as crianças comeriam depois de tanto
sorvete.

— Terminou a inspeção, sargento? – ele perguntou com ironia.

— Sargento?

— Você parece um, cheia de regras! – reclamou —, relaxa, são só


crianças querendo se divertir, qual é o problema?

— Crianças precisam de limites! – ponderei cruzando os braços.

Ele me fitou com desdém.

— Por que não aproveita a minha hospitalidade e se joga na piscina


também? – ele ofereceu. — Está um dia lindo e vocês não têm mais nada
para fazer!
Olhei para a piscina, era tentador, mas eu simplesmente não podia
entrar. Tirar aquela roupa que cobria meu corpo não era uma opção.

— Preciso ficar de olho neles e não me divertir, alguém tem que ser
adulto por aqui – informei.

— Você nunca relaxa? – me questionou.

— Não perto de você! – respondi e olhei para as crianças.

Estavam nadando de um lado para o outro, felizes. Pensei no quanto


eles eram saudáveis depois de tudo que passaram. O pai instável, a mãe
ausente, a avó deslumbrada e má. Eles tinham tudo para serem crianças
problemas, mas viviam em paz. Ninguém tinha o direito de tirar isso deles.

— Será que não podemos erguer a bandeira branca enquanto


estivermos sob o mesmo teto?

A voz dele me trouxe de volta à realidade. Olhei para ele,


desconfiada.

— O que quer? Se aproximar de mim para provar que sou uma


mercenária perigosa que posso colocar bombas no corpo e tentar explodir
sua casa?

— Não pensei em nada desse tipo – ele admitiu me deixando sem


graça. — Geralmente os americanos esperam isso do meu povo e não ao
contrário!

— Não dou a mínima para o seu povo! Mas espera o pior de mim –
devolvi abraçando meu próprio corpo —, como quer que eu relaxe se quer
tirar de mim as crianças?

— Não quero tirar de você – ele garantiu —, apenas preciso provar


que pode ficar com eles. Que é confiável!
Aquilo era um absurdo.

— Não tenho que provar nada a você! – falei com desprezo.

— Está enganada! – insistiu.

Estreitei o olhar para ele.

— Lá vem você com sua chantagem – revirei os olhos, impaciente


—, prove-me que merece as crianças ou as tirarei de você! – imitei ele.

— Não falei assim. – Um meio sorriso surgiu nos lábios bonitos.

— Não importa! – respirei fundo afastando qualquer pensamento


sobre o charme daquele homem. — O que importa é que eles fiquem bem –
olhei para as crianças e me aproximei da piscina —, crianças, vamos tirar
essa roupa e colocar a um short e o maiô? – propus.

— Não pode trazer aqui? – Betina propôs não querendo sair da


piscina. — Por favor! – ela uniu as mãos para fora da água como se fizesse
uma prece.

— Assim a gente não molha a casa! – Michael argumentou.

Eu sorri para eles.

— Está bem, eu vou pegar as roupas! – disse e me ergui.

Levantar depressa me fez ficar zonza e eu dei um passo em falso.


Tudo ficou escuro e por alguns segundos perdi os sentidos, mas foi muito
rápido. Quando abri os olhos, Hassan estava com a mão na minha cintura me
mantendo contra ele. Minha cabeça girava e respirei fundo fechando os olhos
por um instante, minha boca estava seca e então senti que ele me pegava no
colo. O conforto de seus braços era tentador e minha cabeça pendeu contra
seu ombro contra a minha vontade. Ele me colocou sobre o sofá e então pude
abrir os olhos finalmente.

— O que aconteceu? – perguntei confusa.

— Você quase caiu na piscina – ele explicou me olhando com o


cenho franzido.

Abri os olhos depois de piscar várias vezes e olhei para ele


ajoelhado ao meu lado. De perto assim, ele ainda era mais bonito.

— Deve ter sido o calor – expliquei.

— Essa roupa pesada – ele comentou —, é melhor se trocar e relaxar


– aconselhou.

— Obrigada, mas estou bem. Estou sem comer desde ontem, deve ser
isso! – expliquei.

Martha trouxe um copo com água e me ofereceu. Minhas mãos


estavam trêmulas quando peguei o copo e me sentei para tomar. Somente,
então, me dei conta que o olhar de Hassan estava no meu pulso. A manga
havia enrugado e ele conseguiu ver a minha pele desfigurada. Puxei a manga
depressa e tomei a água.

— Vou ficar bem – devolvi o copo para Martha —, obrigada!


— Está pálida! – Martha notou com preocupação —, vou preparar
algo para comer!
E saiu apressada sem que eu pudesse dizer nada. Ainda não me sentia
bem e encostei no sofá. Era uma merda aquilo. Sabia que era o calor, mas
também sabia que era mais, eram os remédios fortes que eu tomava contra a
dor. Eles faziam isso comigo de vez em quando.
— Não acha melhor que eu chame um médico? – Aziz ofereceu.

— Não, obrigada, eu estou bem de qualquer forma – afirmei e


respirei fundo.

— Fique sentada! – ele me empurrou quando fiz menção de me


erguer —, não tem nada para fazer e você quase desmaiou. Você não tem
algum problema de saúde, tem?

— Depende. – Ri amarga.

Se ter quarenta por cento do corpo queimado fosse estar doente,


então, eu estava. Mas meu orgulho não deixava que eu compartilhasse com
aquele estranho os meus problemas. Uma semana teria que passar até que eu
estivesse livre de Hassan bin Abul Aziz. O arrogante filho de um sheik que
com certeza pensava que podia controlar o mundo.
— Estou falando sério! – ele comentou sem qualquer humor —, se
tem algum problema, preciso saber.

— Pode ficar tranquilo, não vou morrer debaixo do seu teto! –


Respirei fundo impaciente.
— Eu espero que não! – ele falou com sarcasmo.

— Estou bem, foi apenas um mal-estar por causa do calor e por estar
sem comer – garanti para tranquilizá-lo —, não vai voltar a acontecer.
Ele ficou me olhando procurando respostas e olhou novamente para o
meu braço esquerdo, mas já havia escondido.

— O que está escondendo de mim? – Ele quis saber.

Hassan se sentou ao meu lado e me encarou.

— De você nada – garanti —, não tenho nada para lhe contar.


— Por que está afastada do FBI? – Ele foi direto.
— Você não vai me deixar em paz enquanto não descobrir, não é?

— Não – ele admitiu para o meu desespero.


— O que adianta eu contar a minha verdade se não vai acreditar? –
questionei evitando dizer qualquer coisa. — Já pensou que simplesmente não
quero falar sobre o assunto e é um direito meu?

— Vou descobrir de qualquer forma! – ele assegurou.


— Boa sorte! – disse sem qualquer resquício de remorso.

Ele que fosse para o inferno com suas dúvidas! Não contaria a ele o
que aconteceu comigo e o que fiz. Além de não ser problema dele, não
queria falar sobre o assunto. Era mais difícil do que ele poderia supor e me
abrir para um desconhecido que não gostava de mim não era uma opção.
— Minha vida pessoal não lhe diz respeito! – avisei.

— Mas se pode prejudicar as crianças, diz sim! – insistiu.


— Não o culpo por duvidar de mim depois do que descobriu sobre
Mary Anne! – eu o ataquei —, mas realmente não tenho nada para provar a
ninguém!
— Deixe Mary Anne fora disso, você fala da sua prima
aproveitadora e eu conheço apenas a mulher apaixonada que amei, elas são
duas pessoas diferentes! – ele observou muito sério.

Fiquei sem graça por ter usado a dor dele contra ele.
— Tem razão – admiti —, eu não tenho nada com isso! Eu e minha
prima sequer fomos amigas, ela era a garota popular da escola e eu a Nerd
sem graça! Ela cuspia quando eu passava e eu a invejava por não ser bonita
e querida como ela era! – isso eu podia confessar.
Não doía mais. Doeu quando eu era jovem e me sentia Carrie, a
Estranha, enquanto via Mary Anne ser adorada por ser a queridinha da
escola, a rainha do baile, a chefe da torcida, a namorada do chefe do time de
futebol, a garota que vestia roupas lindas e todo mundo adorava e tudo que
ela dizia era lei. Inclusive que fizesse as pessoas me desprezarem porque eu
não era como ela. Houve uma guerra velada entre nós um dia, até que eu fui
embora e nunca mais voltei. Mary Anne engravidou do bad boy babaca aos
dezesseis anos e afundou sua vida na merda.

E eu me senti feliz com isso, só não imaginava que seus erros


voltariam sobre mim por ter achado que o destino se vingaria a meu favor.
Ledo engano. Ao desejar mal para ela, só fiz com que tudo de ruim que ela
deixou caísse sobre mim. E agora, eu estava diante do marido traído e
ferido, um homem que queria se vingar em mim o que ela tinha feito mesmo
que não admitisse para si mesmo.

— Mesmo? – ele perguntou surpreso.

— Nunca odiou alguém por ser melhor do que você? – eu o


questionei.

Ele meneou a cabeça de um lado para o outro, como se pensasse.

— Nunca tive tempo para isso, eu precisava ser o melhor – ele


respondeu sem hesitar —, odiar não estava na minha lista de prioridades!
Nunca esteve!

Fiquei surpresa com sua resposta.

— E como venceu? Com o dinheiro do papai?


Ele riu com sarcasmo.

— Não sabe nada sobre mim, sargento! – ele me chamou daquele


jeito odioso —, e isso me dá uma certa vantagem sobre o que diz de mim.
Não faz o menor sentido!

Ergui uma sobrancelha.


— Vai me dizer que conseguiu isso tudo aqui sozinho? – eu duvidei.

— Se tem dúvidas é porque não fez sua investigação direito – ele


piscou daquele jeito charmoso e se ergueu ajeitando o paletó —, se a língua
ferina está funcionando bem, significa que o restante está ótimo! – ironizou
—, vou para a empresa, voltarei mais tarde. Se precisar de algo fale com
Martha, ela entrará em contato comigo.
E então ele saiu a passos largos da sala em direção ao pequeno
corredor que dava para o elevador principal. Fiquei olhando para suas
costas largas e me sentindo um lixo por ter jogado o problema com Mary
Anne na cara dele. Eu sabia o que era ser traída, e não era legal. Por mais
forte e duro que fôssemos, qualquer pessoa se despedaça quando tem o
coração machucado. Precisava dar um tempo para ele se acostumar com a
ideia de que a esposa perfeita era um monstro que ele não conhecia.

Quem sabe depois de absorver toda aquela história absurda, ele


pudesse me dar uma chance de ser mãe das crianças.
Capítulo 7

Tive que ligar para o Benjamin. Depois de um dia estressante de


trabalho, combinei de encontrar meu amigo num bar para encher a cara e
desabafar. A última coisa que eu queria era ir para o meu apartamento e me
deparar com duas crianças que não eram minhas e uma mulher arrogante e
perigosa que se achava dona do mundo.

Não consegui deixar de pensar em tudo que havia acontecido, desde


o encontro com aquela mulher no meu escritório até deixá-la no sofá do meu
apartamento, tudo parecia um pesadelo. Eu já estava sentado no balcão do
bar quando Ben chegou e bateu nas minhas costas antes de se sentar ao meu
lado.

— Dia difícil? – ele perguntou.

— Pode trazer a garrafa de uísque e deixar aqui! – pedi ao barman


que assentiu.

— Pelo visto a situação é grave – Ben olhou para o copo com gelo
que o barman colocou diante dele e encheu com o melhor uísque —,
obrigado – agradeceu.

O rapaz assentiu e se afastou de nós.

— Lembra quando eu chorava no seu ombro depois do enterro da


minha esposa? – perguntei e tomei mais uísque.
— Claro que lembro – ele falou olhando para mim com curiosidade.
Há muito tempo lamentar sobre a morte de Mary Anne não fazia mais parte
do nosso repertório de conversas.

Eu o encarei:

— Você se lembra também o que me disse uma vez que me deixou


puto?

Ele franziu o cenho forçando a memória.

— Acho que foi porque eu disse que um dia você descobriria os


podres da sua esposa e seria mais fácil esquecê-la... – ele se recordou.

— Exatamente – afirmei e tomei mais uísque.

O líquido parecia água para mim depois do segundo copo.

— Puta merda! – ele balançou a cabeça incrédulo. — Você


finalmente descobriu a merda toda!

Assenti devagar.

— Sinto muito, cara – ele disse sincero.

— Pelo menos agora não tenho motivo para pensar nela ou bancar o
viúvo apaixonado – proferi amargo.

— E o que ela fez? – quis saber.

— Além de estar casada comigo enquanto era casada com outro cara
e ter dois filhos dos quais nunca falou? – perguntei resumindo a história.

— Sério? – ele perguntou e riu, incrédulo. — Mary Anne conseguiu


superar, pensei que fosse alguma traição., algo assim!
— Traição? Ela nunca foi fiel, sempre se encontrou com o ex –
desabafei e tomei o restante do conteúdo do copo.

Peguei a garrafa e enchi meu copo.

— Um pouco mais que três anos de muita mentira! – garanti. — E


para finalizar a história, o marido estava com ela no avião quando caiu!

O queixo de Ben caiu e ele me olhou, perplexo, balançando a cabeça


desolado.

— Pode beber, meu amigo – Ben disse batendo no meu ombro —, eu


te levo para casa!

— É o que vou fazer – prometi —, e quando chegar em casa ainda


tenho que enfrentar a sargento e aquelas duas crianças...

— Do que está falando?

— Descobri tudo isso porque uma prima de Mary Anne veio trazer
os filhos dela para eu cuidar – apontei para mim —, a minha falecida sogra
morreu de verdade e então deixou a guarda das crianças para mim.

— Com que intuito?


Encolhi os ombros.

— Porque sou rico! – admiti apenas para Ben —, porque ela achou
que eu daria uma vida melhor para as crianças como dei para a filha dela!

— Não faz o menor sentido! – ele balançou a cabeça, sério —, o que


vai fazer?

— Não faço ideia, a sargento está na minha casa com as crianças e


quer a guarda delas! – contei respirando fundo.
— Você colocou essa gente debaixo do seu teto? – ele perguntou
descrente.

— Não tinha escolha, não confio na sargento, as crianças gostam


dela, choraram quando tentei separá-las! – expliquei tudo depressa —, foi
uma confusão de coisas que não me deram chance de pensar com a razão,
tive que agir. A sargento vai ficar de babá das crianças até que eu decida o
que fazer!

— Você está fodido! – ele me avisou.

— Obrigado por me informar, eu não tinha entendido isso até agora!


– disse com ironia.

Ben riu.

— Pensa no lado bom, você descobriu a verdade sobre Mary Anne.


Passaria a vida toda idolatrando uma mulher mentirosa! – ele me consolou.

Ergui o copo com uísque.

— Vamos brindar ao papelão de idiota que fiz! – falei e ele ergueu o


copo e brindamos.

— Você não fez, cara! – ele me consolou e olhei para ele, de soslaio
—, tá bom, você fez! Mas como podia saber que sua mulher tinha outra
família? Ela te amava, eu fui testemunha disso, a mulher que está me
contando não é a mesma por quem você se apaixonou!

— Talvez ela tivesse dupla personalidade. – Usei do sarcasmo para


não xingar.
— Ou talvez ela tenha se apaixonado por você de verdade – ele
supôs —, talvez a intenção dela fosse te enganar, mas depois ela mudou e
passou a gostar de você!
Eu o encarei incrédulo:

— Então por que ela não me disse a verdade?

— Muitas pessoas não querem perder o que conquistaram de verdade


pela primeira vez – falou com sua sabedoria de sempre —, o medo de te
perder a fez insistir na mentira.

Sorri para ele.

— Você é um grande amigo, Bem! – bati no ombro dele —, estou na


merda e você aqui tentando ver o lado bom!

— Mary Anne está morta, Hassan! – observou sério —, nada do que


ela fez nas suas costas vai mudar o que você sentiu por ela!

— Não vai mesmo! – concordei.

Estava puto da vida e tudo que vivemos não se desintegraria por


causa disso.

— Mas vai te fazer livre desse sentimento – ele continuou a falar —,


você não tem mais nada com ela, acabou. Essa história veio à tona agora
para você colocar um fim nisso tudo e recomeçar.

— Recomeçar – eu vomitei a palavra —, depois dessa vou passar


bem longe das mulheres.

— E a sargento? Ela é bonita?

Sim. E gostosa pra caralho.


— Nem notei – respondi.

— Duvido! – Ele riu de mim.


— Tudo bem. A mulher é bonita, mas é agente do FBI e tem
problemas com a justiça. Além disso, é prima de Mary Anne e quer a guarda
das crianças. O que pode ter de atrativo nisso?

— Ter problemas com a justiça não significa que ela seja perigosa! –
ele a defendeu.

— Você está protegendo a sargento? Você nem a conhece e já está do


lado dela?
— Estou sendo sensato – se resguardou.

— E a sua sensatez diz que devo deixar as crianças com ela? – eu o


questionei impaciente.
— A minha sensatez me diz que você não pode julgá-la agora – ele
afirmou —, você está magoado com Mary Anne e tudo que qualquer mulher
fizer ao seu lado vai irritá-lo e trazer certa desconfiança!

— Não estou desconfiado. – Eu tentei me defender. Ele ergueu uma


sobrancelha. — Está bem, eu estou desconfiado – admiti para ele.
— O que sabe sobre ela?

— Quase nada, pedi a Antony para investigar toda essa história – eu


movi a mão no ar —, é muita coisa para um dia só.
— Dê tempo ao tempo – ele aconselhou —, e beba essa noite para
afogar as mágoas.
— É o que eu vou fazer! – prometi enchendo meu copo com uísque
mais uma vez.

Falei o resto da noite, Benjamin não disse nada e apenas me ouviu


até que eu fiquei completamente bêbado.
— Vamos para casa! – ele disse quando o bar já estava fechando.

— Tão cedo? – perguntei olhando ao redor e vendo tudo embaçado.

— Cedo você vai achar quando acordar amanhã com uma ressaca do
caralho! – ele me avisou.

Fiz menção de pagar, mas ele fez que não.

— Já paguei – ele avisou —, hoje é por minha conta.


— Você é um grande amigo...

— Sei. – Ele riu de mim e me ajudou a ficar de pé.


Saí andando na frente dele, esbarrando nas cadeiras, ou em algumas
pessoas. O problema de beber era sempre a falta de equilíbrio. Não me
lembrava de como chegamos no carro dele, mas recordava do elevador se
abrindo na sala do meu apartamento e ele me carregando para dentro. Uma
bela mulher surgiu diante de mim, mas não conseguia enxergá-la direito. Mas
aqueles olhos verdes eu enxergaria em qualquer lugar do mundo, eram
bonitos demais. Pareciam duas pedras preciosas, uma fonte de água
cristalina num oásis.

— É a sargento! Ela está brava! – falei para Ben e ri. — Sargento,


esse é meu melhor amigo Benjamin Norton.
— Como vai? – Benjamin estendeu a mão para cumprimentá-la.

— Oi – ela apertou a mão dele —, Elizabeth Andrews – se


apresentou.

— Nosso amigo bebeu demais, Elizabeth! – Benjamin disse todo


charmoso.

— Não bebi muito, apenas afoguei meus problemas! – corrigi.


— Claro – ela concordou com sarcasmo —, pode deixar comigo, eu
cuido dele!

— Não! – eu me afastei de Benjamin e dela. — Ela vai me matar!


Ela é perigosa!

Tropecei na mesa de centro e caí de costas no chão. No primeiro


momento fiquei sem ar, mas depois foi meu orgulho que falou mais alto.
Benjamin segurou em um braço e a sargento no outro e me ergueram.

— Estou bem! – garanti falando enrolado.

— Claro que está! – Benjamin fingiu concordar e eles começaram a


me levar para o quarto.

— Pode me deixar aqui, eu me viro sozinho! – pedi.

— Cala a boca! – a sargento mandou.


— Sim, senhor! – disse e bati continência, mas ela não riu.

— Você é patético! – me xingou.


Acho que me jogaram em cima da cama, porque tudo pareceu se
apagar. Estava tudo meio confuso, mas ficou bem claro que eu estava no
banheiro, de repente.
— O que está fazendo? – perguntei quando vi a sargento ao meu lado.

— Fique quieto, estou ajudando você! – ela disse com o dedo em


riste.
Segurei o dedo dela.

— Abaixa esse dedo, não sou um dos seus colegas de trabalho! –


avisei.
— Se fosse, eu já teria atirado em você! – Ela começou a me ajudar
a tirar o paletó.
Olhei para ela tão perto de mim. Notei que estava com o cabelo
preso e ela usava pijamas de mangas e calça compridas.

— Você nunca sente calor? – perguntei quando ela jogou meu paletó
no chão e começou a tirar a gravata.
— Não – ela limitou-se a responder trabalhando com seriedade para
me despir.

Ela não parecia uma mulher gostosa tirando a minha roupa, mas um
médico.
— Você nunca ri ou fica feliz? – eu continuei inquirindo com o meu
corpo balançando para frente e para trás.

— Vou ficar feliz amanhã quando você acordar de ressaca! – ela


respondeu e deu um sorrisinho mal.

— Você é má! – acusei e fechei os olhos quando ela começou a


desabotoar a minha camisa e a tirou.

Aquela mulher tinha noção do quanto era bonita e o quanto fiquei de


pau duro porque ela estava tirando a minha roupa?

— Agora daqui para frente é com você! – ela disse e se virou para
sair. — Vou fazer um café forte para ajudar!
Eu a segurei pelo braço e a puxei de volta. Não era isso que eu
precisava fazer, mas com tanto álcool na cabeça, seguia meu instinto e não
minha razão. Fiz algo que jamais faria se estivesse são. Eu beijei aquela
boca atrevida e macia. Que delícia de mulher! O corpo dela bateu contra o
meu, as mãos caíram sobre o meu peito e ela gemeu contra a minha boca.
Senti o calor tomar conta do meu corpo todo, a excitação vibrar e meu pau
pulsar dentro da cueca, enquanto eu o esfregava contra o seu ventre.
No começo, ela ficou parada, mas depois entreabriu os lábios e
deixou o beijo acontecer. Invadi sua boca e nossas línguas se encontraram, e
a apertei mais, querendo sentir mais, ter mais. Na verdade, eu queria tudo.
Foi tão forte que o beijo se tornou selvagem e senti que ela me empurrava
para trás até meu corpo se encostar contra o azulejo frio.

Sua mão se afastou do meu peito e então ela se afastou de repente, e a


água gelada caiu sobre mim, me fazendo acordar e levar um choque no corpo
todo. Estava muito gelado.

— Sua cadela! – xinguei.

Ouvi a risada da sargento e ela disse:

— Quem sabe isso apaga seu fogo! – ela disse ao se afastar


vitoriosa.

Abri os olhos e a vi saindo do banheiro rebolando aquela bunda


gostosa. Deixei a água cair pelo meu corpo e acabei sentado no chão do box.
Não há nada no mundo pior que a decepção. Procurei um motivo para ter
beijado a sargento e só podia ser o fato de ela ser gostosa aliado à minha
carência naquela noite. Eu só queria encontrar com Mary Anne e perguntar a
ela o motivo pelo qual fez tudo aquilo comigo e me deixou acreditar que
éramos felizes e uma família. Chorei no túmulo de uma mulher que não me
amava, que me usou para um benefício próprio.
Respirei fundo e encostei a cabeça na parede.

Benjamin tinha razão, por um lado foi bom que eu soubesse a


verdade. Agora eu não tinha motivos para lamentar sua perda. O destino de
qualquer forma foi bom comigo. A primeira vez perdi Mary Anne por amor.
Agora eu a perdia para sempre. Por mais que eu tentasse procurar uma
desculpa, não havia perdão para o que ela fez. E a mãe maluca ainda me
deixou os filhos dela.
Minha cabeça bêbada estava cansada. Por isso, levantei do chão e
me enrolei no roupão de qualquer jeito. Quando cheguei no quarto, havia
uma xícara com café quente na cabeceira. Olhei para a porta fechada, só
podia ser a sargento, já que Martha não morava ali comigo.

Ao menos ela beijava bem. Pensei antes de cair na cama e apagar.


Capítulo 8

Acordei bem cedo, vesti minha roupa de corrida e fui para a esteira
na academia do apartamento. Felizmente, havia algum lugar onde eu pudesse
gastar minhas energias. Corri por uma hora seguida, ouvindo a música bem
alto para que nada me atrapalhasse. Meu relógio no pulso apitou alto, meus
batimentos cardíacos haviam subido além do monitorado. Desliguei a
esteira, respirei fundo antes de pegar a garrafa térmica e tomar um pouco de
água. Abaixei a cabeça e apoiei no aparelho para que minha pulsação
diminuísse e então me levantei.

E o vi. Senti um frenesi pelo corpo.


O beijoqueiro de plantão estava encostado no batente da porta, com
uma calça de moletom preto e a camisa presa no cós da calça. O maldito era
bonito, e ele sabia disso. E o desgraçado ainda beijava bem. Minha sorte é
que eu não estava à procura de problemas. Pelo corpo suado, ele já havia
malhado. Estava surpresa, afinal, com aquela ressaca, ele se levantou mais
cedo? Era quase um milagre...

— Bom dia – eu me virei e desci do aparelho —, ia te oferecer água,


mas acho que você prefere uma vodca já de manhã para rebater a ressaca.

Ele estreitou o olhar e ergueu a maçã para arrancar uma mordida.


Nunca pensei que ver um homem mordendo uma simples fruta me deixaria
excitada. O barulho me deixou estimulada de forma inesperada. Franzi o
cenho e pigarrei tentando afastar as lembranças do beijo ridículo e sem
sentido da noite anterior. Aquela boca firme sobre a minha, exigindo,
tomando o que considerava seu...

Os olhos dele brilhavam com malícia.

— Poderíamos continuar o que começamos ontem – ele propôs e


mordeu a maçã de novo.

Pelo olhar carregado de diversão, ele não estava falando sério.


Estava tirando sarro de mim. O beijo foi uma punição e não um ato
impensado num momento de desejo. Era apenas um homem bêbado
brincando de ser macho.

— Se encostar um dedo em mim de novo, vou quebrar seu braço! –


ameacei.
— Você é sempre violenta? – Ele não saía da porta para eu passar.

Parei diante dele.

— Só com engraçadinhos! – avisei.

Ele me olhou dos pés à cabeça.

— Já começou cedo? – ele perguntou com sarcasmo. — Você não


sente calor?

Eu sabia que minhas roupas de mangas compridas incomodariam


qualquer pessoa no verão, ainda mais no auge do verão em Boston que
poderia chegar a trinta graus com umidade baixa. Mas eu não estava
preparada para tirar um centímetro de qualquer peça de roupa.

— Está bom para mim – respondi encolhendo os ombros.


Ele mordeu a maçã outra vez. Desviei o olhar para a garrafa de água
para não ficar excitada.

— Obrigado pela ajuda ontem – ele agradeceu me deixando surpresa.

— Tenho certeza que você precisava de um auxílio no estado em que


chegou – ponderei.

— Não tenho o costume de beber daquele jeito! – se justificou.

— Não me importo – eu o cortei evitando qualquer assunto mais


íntimo —, você tinha suas razões e pronto! E no seu lugar, eu teria feito a
mesma coisa!

— Você não tem cara de quem bebe – ele fez uma careta de
incredulidade —, está mais para aqueles policiais que gostam de rosquinhas
e leite.

Olhei para ele descrente de suas palavras e balancei a cabeça


levemente.

— Você anda assistindo muitos filmes – o reprovei —, eu sequer


consumo açúcar.

— Dieta?

— Não, saúde – ela consertou —, minha mãe era diabética e não


quero correr o risco de desenvolver a doença. Ela sofreu muito.

— Pelo menos você tem algum bom senso! – respondeu me


provocando.

— Deveria ter deixado você caído entre seu quarto e o closet quando
você tentou ir sozinho para o banheiro! – avisei e tentei passar, mas ele não
deixou.
— Não me lembro de cair. – Ele se esforçou para lembrar.

— Seu amigo o deixou em cima da cama e fui levá-lo até a porta.


Quando voltei você estava caído, então o ajudei a entrar no banho – contei a
ele.

— Já agradeci por sua ajuda – ele me lembrou.

— Não precisa agradecer – respondi depressa tentando ser legal


dessa vez —, você teve notícias péssimas, era esperado que enchesse a cara.
Ninguém gosta de ser enganado!

Aziz me observou com atenção.

— Você disse ontem que você e Mary Anne não eram amigas! – ele
comentou mudando de assunto completamente.

— Não éramos – confirmei.

— E por que a mãe dela procurou você?

Encolhi os ombros sem saber a resposta ao certo.

— Porque eu era a única parente viva, ela nunca me disse muita


coisa. Peguei as crianças e levei para Washington, não tivemos muito contato
– expliquei —, ela disse pouca coisa. Ela idolatrava Mary Anne, faria
qualquer coisa pela filha e deve ter pensado que você também faria.

Ele assentiu devagar.

— Eu também faria – ele disse sério —, não mais.

Aquela mágoa resistiria por muito tempo e ele estava vulnerável.

— E a família do pai? Não se interessou? – prosseguiu com o


questionário.
— A família de Timothy? – perguntei e ele assentiu. — Não sei
muito sobre eles. Como o Tim, eles viviam em um trailer, naquele estilo bem
hippie... Tim foi uma criança que sofreu muita violência por causa da
irresponsabilidade dos pais e se tornou o bad boy da cidade. Acredito que
tinha envolvimento com o tráfico de drogas.

— Não precisa dizer mais nada, ficou claro que eles não têm
condições de cuidar de duas crianças! – ele reagiu.

Acreditei que era a oportunidade de falar com ele.

— Você não tem responsabilidade sobre essas crianças, Senhor Aziz!


– disse sincera —, mas eu tenho, quero criá-los como se fossem meus!

Ele deu mais uma mordida sexy na maçã. Nunca pensei que um
homem comendo maçã seria tão quente. Não era à toa que Mary Anne o
escolheu, ele era bonito de verdade, daqueles homens que chegam e roubam
o fôlego de todo mundo ao redor. Deixam as mulheres vidradas e os homens
com inveja. Os homens árabes possuíam uma masculinidade muito própria
deles.

— Sei – ele limitou-se a dizer.

Comprimi meus lábios para não demonstrar minha irritação com ele.

— Vai me fazer mesmo ficar sob esse teto? – perguntei cruzando os


braços.

— Pode ir embora se quiser – ele respondeu displicente.

Que homem chato!

— Você não os quer! Faz isso para me punir porque eu trouxe a


notícia ruim? – eu o questionei erguendo as mãos no ar.
— Eu faria isso com qualquer pessoa – garantiu. — Não espero que
compreenda minhas intenções.

— Não faz sentido! – falei impaciente passando a mão pelo rosto.

— Então a senhorita acha que eu deveria jogar as crianças nas mãos


de qualquer pessoa? – retrucou.

— Não sou qualquer pessoa – proferi ofendida, mas não estava com
ânimo para brigar —, e fim. Com licença...

Tentei passar, mas ele sequer se moveu.

— Ainda temos um assunto pendente – ele avisou.

Meu coração deu um salto. Ele não falaria sobre o beijo! Segurei a
garrafa com força e comprimi os lábios esperando o motivo de ele não me
deixar passar.

— O que seria?

— As crianças – ele respondeu displicente.

Um tremendo alívio me atingiu, talvez ele sequer se recordasse do


beijo como também não se lembrava do tombo. Seria uma bênção e agradeci
em silêncio.

— O que tem eles? – perguntei.

Ele enfiou o resto da maçã na boca e fez sinal para que eu o seguisse.
Mas ouvimos um barulho seco vindo da cozinha, como se algo muito pesado
tivesse caído no chão. Instintivamente, levei a mão à cintura, mas lembrei
que minha arma não estava lá e tratei apenas de seguir Hassan até a cozinha.

— Martha! – ele correu para socorrer a mulher caída no chão.

— Deixe-me olhá-la! – pedi e ele se afastou.


Toquei no pescoço e o pulso dela ainda estava batendo, embora
devagar. Ergui suas pálpebras e vi que os olhos estavam revirados.

— Ela está tendo um AVC, precisamos chamar uma ambulância –


avisei.

Ele levantou correndo e foi até o telefone na parede e ligou. Fez o


chamado, e depois de desligar voltou para perto de mim, se ajoelhando ao
meu lado.
— O que podemos fazer?

— Nada – alertei —, se a movermos podemos prejudicar a situação.


Não há nada o que fazer até a ambulância chegar!

Ergui o olhar para ele. Tão próximo que eu podia sentir o cheiro do
seu suor e gostava disso. Sempre achei excitante os homens treinando na
academia. Suor lembrava sexo, infelizmente. Não queria pensar nisso
naquele momento, quando Martha estava caída no chão tendo um AVC, mas
quando o encarei foi tudo que consegui raciocinar.

— Vou me trocar – ele avisou sem sequer notar que eu estava


olhando para ele como tesão —, alguém precisa ir com ela para o hospital!
E você fica com as crianças!

— Sim – eu concordei depressa me refazendo do torpor.

Ele se ergueu e afastou depressa. O que eu estava fazendo? Balancei


a cabeça e atentei para a pulsação de Martha que estava cada vez mais fraca.
A ambulância não demorou a chegar, menos de quinze minutos e eles
estavam subindo pelo elevador. Hassan apareceu com seu uniforme de CEO
e a acompanhou quando a colocaram sobre a maca e a levaram.

— Me mantenha informada – pedi.


Hassan me fitou antes da porta do elevador se fechar e respirei
fundo. Esperava que Martha ficasse bem. Fui para a cozinha e limpei o chão.
Ao cair ela derramou café para todo lado. Depois preparei o café da manhã
das crianças, fui tomar um banho e quando saí, resolvi acordá-los.

— Bom dia, tia Liz – Betina disse com um largo sorriso.

— Levante e se arrume, está na hora de tomar café e começar o dia –


avisei —, vou acordar Michael.

E quando entrei no quarto dele, já o encontrei jogando videogame.

— Sério que já está acordado? – perguntei olhando para a TV de


onde ele não desviava o olhar.

— Acordei cedo para terminar esse jogo – ele me avisou.

— Sei...
Não havia concordado em deixar o videogame no quarto dele, mas
Hassan insistiu em agradar o menino, e como era apenas uma semana
naquela casa, não vi problema. Tinha certeza que depois de sete dias, aquele
maluco ficaria de saco cheio e nos colocaria para fora. Ele era solteiro e
desimpedido, não ficaria o resto da vida cuidando de duas crianças que
sequer eram seus filhos.

— Agora vamos desligar – eu avisei me aproximando do aparelho do


videogame e apertando o reset.
— Sério? – perguntou bravo.

— Olha como fala comigo, Michael! – eu disse com o dedo em riste


—, você deve estar jogando há centenas de anos e está na hora de escovar os
dentes e vir tomar café – e antes de sair, eu avisei —, e não ouse ligar esse
jogo de novo ou lanço tudo pela janela!
— Você não faria isso! – ele duvidou.
— Quer apostar? – o desafiei.

— Não. – Ele fez uma careta.

— Então se arruma, porque depois vamos ao shopping – avisei.

— Eba! Shopping! – se animou saindo da cama.

Considerei aqueles dias como uma semana de férias. Depois, nossa


vida voltaria ao normal em Washington. Além disso, quando Hassan Aziz
descobrisse o motivo do meu processo e meu afastamento do FBI me
deixaria em paz. Eu poderia contar a ele minha versão dos fatos, mas algo
me dizia que ele não acreditaria em mim. Sua decepção com Mary Anne o
levaria a desconfiar da própria sombra por algum tempo. Era normal, não
podia julgá-lo, mesmo que isso me irritasse profundamente.

Tomamos café da manhã juntos e as crianças sequer notaram a falta


da Martha. Nós nos arrumamos e pedi um táxi e fomos para o shopping
algum tempo depois de fazê-los arrumar a cama e deixar tudo organizado
como haviam encontrado. Foi quando chegamos na primeira loja que notei
que havia esquecido o celular no apartamento. Não teria como o Senhor Aziz
me dar notícias de Martha, mas nós nos falaríamos quando ele chegasse em
casa à tarde, provavelmente.
Martha havia comentado comigo que ele nunca almoçava em casa,
portanto, seria mais plausível se eu almoçasse com as crianças no shopping
mesmo.

— Que merda! – disse para mim mesma.


— O que foi, tia Liz? – Michael quis saber.
— Nada – eu forcei um sorriso —, esqueci o celular no apartamento,
mas não tem problema, não vamos demorar.
— Eu queria ter um celular – Betina disse cruzando os braços.

— Você ainda é muito nova para ter um celular, quando ficar um


pouco mais velha, prometo dar um a você! – comentei enquanto andávamos
pelo corredor que começava a ficar cheio de pessoas já no primeiro horário
de abertura.
— Todas as minhas amigas da escola têm! – ela reclamou.

Essa coisa de todo mundo ter e a gente não! Sofri com isso e agora
Betina.
— No momento certo darei a você – pisquei para ela e resolvi mudar
de assunto —, porque não vamos em um brinquedo? – propus. — Assim o
tempo passa até a hora do almoço.

— Sim! – eles responderam animados.


Sorri com o coração cheio de amor. Aquelas crianças me faziam um
bem danado, até mais do que um dia imaginei ser possível.
Capítulo 9

Como a Senhorita Andrews havia dito, Martha teve um AVC. Ela


teria que ficar internada na terapia intensiva para fazerem os exames e
descobrirem a gravidade da situação. Liguei para os filhos dela para
informar e logo eles chegaram ao hospital e pude partir. Mas perdi mais da
metade da manhã e tive que adiar mais uma vez meus compromissos.

— Ligue para a Senhorita Andrews, por favor – pedi à Sara quando


passei pela mesa dela e fui para a minha sala.

Eu não tinha o número do celular da sargento. Um erro, até que ela


partisse, teria que tê-lo na minha agenda. Tirei o paletó e o coloquei nas
costas da cadeira antes de me sentar. Enquanto ligava meu notebook em cima
da mesa, Sara entrou na sala.

— Senhor Aziz, a Senhorita Andrews não atende o celular – ela me


avisou.

— Ligue no meu apartamento – disse o óbvio enquanto digitava a


senha.

— Eu liguei. – sua voz falhou.

A resposta simples me deixou preocupado.

— Ela não atendeu – Sara me comunicou.

Senti o gosto amargo na boca.


— Ligou na portaria do prédio? – Eu quis saber.

— Ela saiu de táxi com as crianças há algumas horas – ela respondeu


séria.

Sara estava a par do que ocorreu. Como meu braço direito, eu a


deixava por dentro de tudo para que ela pudesse resolver qualquer situação
para mim, sem constrangimento. Levei a mão à testa e passei pelos cabelos.
Que merda! Eu deveria ter imaginado que ela fugiria na primeira
oportunidade!

Levantei na mesma velocidade que havia sentado e coloquei o paletó


outra vez.

— Chame a polícia, peça para emitir um alerta nos aeroportos e


rodoviária! – falei bravo —, ela não pode ter ido muito longe!
— Sim, senhor – ela disse saindo da sala.

Eu a segui e bati a porta com força enquanto caminhava para o


elevador. Sequer precisava pedir que desmarcasse meus compromissos para
a manhã toda, eu não voltaria enquanto não colocasse as mãos naquela
maldita fugitiva e trouxesse as crianças para mim. Como fui tolo! Mais uma
vez, fiz papel de idiota! Pensei que ela cumpriria com sua parte no acordo,
mas pelo visto era como fazer chover para cima! A semana estava sendo uma
merda!

Liguei do meu carro para Antony.

— O que foi? – ele atendeu daquele jeito aborrecido como sempre.

— A sargento fugiu com as crianças! – eu disse a ele.


— Sargento?
— Senhorita Andrews – falei bravo —, Martha teve um AVC e
enquanto eu a acompanhava no hospital, a louca fugiu com as crianças!

— Acredita que ela usaria o aeroporto? – perguntou sério.

— Já chamei a polícia e mandei cercar tudo, o problema é se ela


alugou um carro e deixou a cidade. De qualquer forma vou prendê-la e trazer
as crianças!

— Talvez você devesse deixar tudo por conta do governo – Antony


disse displicente —, essas crianças não são problema seu, deixe que eles
cuidem disso!

— Cala a boca – mandei —, agora eles passaram a ser um problema


meu! – disse determinado.

Ninguém tirava o que era meu!

Dirigi até a delegacia mais próxima e prontamente o delegado me


atendeu e expliquei a ele a situação.

— Ela é uma agente do FBI, pode estar em qualquer lugar. Ela


conhece gente! – falei bravo gesticulando de pé diante da mesa do delegado.
— Pode sumir com as crianças!

— Sente-se, Senhor Aziz, por favor! – o delegado pediu com calma.

Contra a minha vontade, eu me sentei.

— Já lançamos um sinal de alerta nos aeroportos e rodoviárias, se


ela passou por lá ou se vai passar, será pega! – ele me garantiu.

— Não posso ficar aqui sentado esperando! – Eu me ergui de novo.

— Não há o que fazer. Já pedimos as câmeras de segurança do seu


prédio e estamos tentando descobrir para qual agência de táxi ela ligou! –
ele explicou de forma impassível —, se ela deixou a cidade, é impossível
que não a encontremos!

— Delegado. – Um homem bateu à porta.

— Sim, Parker? – Ele deu atenção ao rapaz.

— O senhor pediu a ficha da Senhorita Elizabeth Andrews? – o rapaz


perguntou.

— Sim, eu pedi – ele articulou.

— O diretor do FBI está na linha, quer falar com o senhor – ele


avisou e fechou a porta.

O telefone começou a tocar e o delegado atendeu.

— Hunter falando...

Ele ficou quieto e começou a ouvir a voz do outro lado da linha. Ele
franziu o cenho e se encostou na cadeira e assentiu depressa.

— Sim, senhor. Como quiser, senhor. Tudo bem – e desligou.

— O que ele disse? – Eu exigi saber.

— Sinto muito em lhe dizer, Senhor Aziz, mas não podemos ter
acesso à ficha da Senhorita Andrews – ele me comunicou com indiferença.

— Por que não? Vocês têm acesso a tudo! – Gesticulei irritado.

— Acabei de falar com o diretor e ele me proibiu até mesmo de


prender a Senhorita Andrews se for necessário – ele me explicou me
deixando perplexo —, se alguém for interpelá-la será o próprio FBI. Não
temos autoridade para isso.
O homem estava com rabo entre as pernas?
— O que está acontecendo aqui? – perguntei bravo.

— A verdade, Senhor Aziz, é que eu não faço ideia, podemos


procurar os seus sobrinhos, mas não podemos encostar um dedo na agente
Andrews – ele explicou. — Foi uma ordem direta do chefe dela!

— Que merda! – xinguei.

— Vamos continuar procurando, mas se o encontrarmos, não


podemos prendê-la! – ele justificou.

— Isso é um absurdo! – falei revoltado e com o dedo em riste.

A verdade era que eles não fariam nada!

— Tomarei as medidas cabíveis! – avisei e deixei a delegacia.

Quem era essa mulher para ter esse tipo de proteção do próprio FBI?
Sequer o presidente da república era protegido pelo FBI se cometesse um
crime. E ela havia roubado crianças que estavam sob a minha guarda! Pela
primeira vez na vida, me senti frustrado por não conseguir resolver as coisas
à minha maneira. Peguei meu celular e liguei para o meu segurança, Arthur.

Expliquei a ele a situação.

— Preciso que a encontre e a traga para casa com as crianças o mais


depressa que puder! – informei enquanto deixava a delegacia.

— Como quiser, Senhor Aziz. – ele respondeu prático.

Não gostava de utilizar os serviços de Arthur para aquele propósito,


mas ele era o melhor segurança de Boston e se a polícia não podia fazer
nada, precisava apelar para uma forma particular de resolver a situação. Eu
me dirigi para o meu apartamento, não havia outro lugar para esperar. Tomei
duas doses de uísque para tentar me acalmar, mas a única coisa que eu fazia
era andar de um lado para o outro como um animal enjaulado. Minutos
viraram horas e minha paciência estava no limite. Quem ela pensava que era
para testar minha paciência? A Senhorita Andrews havia passado de todos
os limites e eu não podia perdoá-la.

Meu celular tocou, era Arthur.

— Nós a encontramos, chefe! – ele disse meio ofegante do outro


lado.
— Onde ela estava?

— No shopping com as crianças! – revelou.


— Traga-os para casa, imediatamente!

— Esse é o problema, Senhor Aziz – ele observou e bufou do outro


lado —, ela tentou fugir de nós, a encurralamos no estacionamento e ela
derrubou cinco dos meus melhores homens antes de entrar num carro e
desaparecer. A verdade, senhor, é que ela roubou o carro e sumiu com as
crianças...
— O quê? – eu me sentia em um filme tipo Missão Impossível.

O elevador apitou e então a porta abriu. As crianças entraram


correndo e rindo, segurando um sorvete cada uma, enquanto Elizabeth
Andrews veio logo atrás, mancando e com o canto da boca sangrando. Havia
um hematoma no canto esquerdo do seu rosto, perto do olho e ela estava
descabelada. Desliguei o celular e as crianças vieram na minha direção.

— Tio Hassan, nós fomos ao shopping! – Betina disse animada.


— Nós fomos no pula-pula! – Michael disse e lambeu o sorvete.
— E na hora que a gente estava almoçando, tivemos que ir embora
correndo, tinha uns caras seguindo a gente, daí tentaram assaltar a gente, mas
a tia Liz acabou com eles! – Betina contou toda alegre.

Ergui o olhar com cautela. A sargento estava parada do outro lado do


sofá, bem longe de mim e seu olhar era frio como uma pedra de gelo, sua
respiração ofegante e seu olhar de fúria tornava tudo mais intenso. Ela estava
furiosa. Muito e eu não poderia culpá-la, foi apenas um passeio no shopping,
ela não havia fugido com as crianças e eu me precipitei. Passei dos limites,
podia sentir isso quando notei que ela estava sem o paletó que costumava
usar e a camisa branca estava rasgada na manga expondo o braço esquerdo
onde eu podia ver finalmente sua pele toda queimada, do pulso até o ombro.
Fiquei chocado com a cena, mas ela não parecia se importar, tamanha era
sua raiva.

— Por que não vão para o quarto jogar videogame? – aconselhei as


crianças.
— Oba! – Michael gritou e saiu correndo.

Betina olhou para Liz:

— Obrigada pelo passeio, tia Liz! – E balançando o rabo de cavalo


de seu cabelo, ela saiu cantando em direção aos quartos.

E ficamos apenas nós dois. Eu a encarei sem saber o que fazer pela
primeira vez na minha vida. Nunca agi de forma tão impulsiva e maluca.
Precisava admitir que desta vez havia me superado em todos os sentidos. Ela
saiu de trás do sofá e mancando, se aproximou de mim. Havia lágrimas de
raiva em seus olhos verdes que pareciam duas esmeraldas pela forma que
sua cólera brilhava em cada um deles.

— Senhorita Andrews... – comecei a falar.


Mas ela me deu um murro no rosto. Um murro! Tão bem dado que eu
dei dois passos para trás e quase me desequilibrei. Nunca tinha visto e
sequer sentido uma mulher que batia tão bem. Senti o gosto de sangue na
boca e peguei o lenço no paletó para cuspir o líquido quente que se
acumulou na minha boca.
— Você bate bem! – comentei com ironia.

— Você não tem ideia do que fez! – ela disse com o dedo em riste
—, não sou sua propriedade! Não sou uma criminosa para mandar seus
seguranças atrás de mim, seu bastardo!
Ela pegou o vaso em cima do móvel e atirou na minha direção, mas
eu desviei.

— Ficou louca?
— Fiquei! – Ela veio na minha direção de novo para me dar outro
soco, mas eu desviei novamente.

— Pare com isso, agora! – exigi.

— Você quer brigar? – me desafiou. — Quer medir força? Vamos


fazer de maneira primitiva, seu neandertal! Como ousa me seguir e mandar
seguranças atrás de mim!

Sentia que os gritos dela podiam ser ouvidos no Porto de Boston, ela
estava totalmente fora de si.
— Posso explicar. – Eu tentei amenizar a situação levando os braços
na frente do meu corpo.

— Não quero ouvir! – gritou e veio para me acertar.


Segurei sua mão no ar e a virei de costas contra o meu peito,
imobilizando-a.
— Nós podemos conversar como duas pessoas civilizadas! – Tentei
argumentar.

— Não quero ser civilizada! – avisou antes de me dar um golpe na


canela, uma cotovelada no abdômen e me curvei perdendo o ar.
Ela me empurrou e caí sentado no sofá. A sargento me olhou com
triunfo.

— Vou pegar as crianças e vou embora daqui! – ameaçou com o dedo


em riste.
— Você não pode fazer isso! – me coloquei de pé respirando fundo
para espantar a dor. — Eu tenho a guarda deles e se fizer isso, seu chefe do
FBI vai ter motivos para prendê-la!

Quando eu dei tal informação, ela ficou tensa. Encontrei um ponto


fraco.

— Ele está sabendo que está aqui – contei —, e ele me disse que se
você pisar na bola, ele pode prendê-la...

Ela ergueu o queixo e colocou as mãos nos quadris.

— Pelo amor de Deus! Eu só quero ser a mãe que eles precisam,


qual é o seu problema? – ela vociferou por entre os dentes.
— Você é o problema! – Apontei para ela. — Eu não sei quem você
é, como posso te entregar duas crianças se sequer a avó deles confiou em
você para isso? Posso não ser o pai certo para eles, mas não sou louco de
entregá-los a uma pessoa que até agora só mostrou as garras para mim!
Ela soltou o ar depressa e bufou. Passou as mãos pelos cabelos como
se tentasse pensar.
— Você também não ajudou ficando na defensiva! – ela me acusou.

Sabia que não havia cooperado. E ela não tinha culpa. Desde que
soube da traição de Mary Anne, eu estava irritado, era fato.
— Não começamos da melhor forma – admiti passando a mão pelo
cavanhaque —, na verdade, isso tudo está errado.

— Tive que derrubar cinco homens e roubar um carro para chegar


aqui sem que tocassem nas crianças! – Ela cruzou os braços e não consegui
deixar de olhar as queimaduras que estavam bem ali. Pelo estado eram
recentes, embora estivessem cicatrizadas.
O que havia acontecido com essa mulher?

— Se continuar olhando para as minhas queimaduras, vou ter que te


dar outro soco bem no nariz! – me avisou sem nenhuma emoção na voz.
— Como as conseguiu? – tive que perguntar.

— Comprei numa loja virtual em promoção, tinha o tom da minha


pele, deveria aproveitar! – ela respondeu com sarcasmo.
Ou seja, não falaria sobre o assunto.

— Venha! – chamei e movi a cabeça em direção ao corredor dos


quartos —, você precisa de gelo e um analgésico.

— É assim que vai resolver o nosso problema? – perguntou


indignada abrindo os braços.

— Por enquanto sim – respondi e fui em direção ao meu quarto.


A verdade era que o poderoso Hassan Aziz não tinha ideia do que
fazer, admiti. Meu lado racional ordenava que eu os mandasse embora,
afinal, não era problema meu. Mas um lado que eu desconhecia e era novo
para mim, me dizia para mantê-los ali. E na dúvida, eles ficariam até eu
tomar uma decisão.
Capítulo 10

Fiquei olhando para aquelas costas largas envoltas no paletó e


respirei fundo. Não restava outra alternativa a não ser segui-lo. Eu o
encontrei no quarto dele com um copo de água na mão e um comprimido.
Entrei e me aproximei dele. Peguei os dois de sua mão e tomei aquela
merda, ele tinha razão, mais tarde estaria morta de dor por causa das brigas.
Ele pegou o copo de volta, foi até o frigobar e pegou uma bolsa de gelo e se
aproximou de mim.

— Coloque no rosto – ele mandou daquele jeito autoritário irritante.

— Tem uma bolsa de gelo no seu frigobar?

— Luto jiu jutsu – ele me contou —, ou acha que a imobilizei como


um dom natural masculino?

Ao notar minha hesitação, ele ficou impaciente.

— Não vou te matar, só quero ajudar! – falou como se estivesse


pisando sobre escorpiões. — Senta na cama, tenho que fazer um curativo no
seu supercílio!

E me deu as costas, tirando o paletó e jogando sobre a cadeira.


Entrou no closet e enquanto sentava na cama e colocava a bolsa de gelo
contra o meu rosto, eu o vi tirar a gravata e dobrar as mangas da camisa, era
um costume dele. Ele pegou uma pequena caixa e voltou para perto de mim e
se ajoelhou, e a colocou em cima da cama.

— Há quanto tempo está no FBI? – quis saber.

— Sequer me lembro – respondi séria —, meu padrasto era o diretor


quando se casou com a minha mãe, eu tinha quinze anos, acho que desde
então faço parte do FBI – minha voz soou com ironia.

— Seguiu o caminho do seu padrasto – ele concluiu.

Tirou um remédio e passou no meu supercílio. Ardeu e fechei os


olhos tentando não estremecer ao senti-lo tão perto. Disse a mim mesma que
não fazia qualquer sentido me sentir assim quando ele estava próximo. Mas
talvez fosse inevitável, Hassan Aziz era muito viril, tinha um magnetismo
incomum e mesmo que eu o desprezasse, isso me afetava como nunca pensei
ser possível. Nunca odiei uma pessoa e fiquei excitada diante dele.

Quando abri os olhos, ele estava me encarando.

— Você vai sobreviver – ele deu um sorriso no canto dos lábios que
tive que me segurar para não sorrir também —, e onde está seu padrasto
agora?
Não precisava responder, mas ficar em silêncio não fazia sentido.
Era melhor do que deixar que ele ficasse me encarando sem dizer nada.

— Ele morreu durante uma missão quando completei vinte anos –


contei.

— Sinto muito – ele disse sincero.

— Acontece – falei friamente —, infelizmente, estávamos nessa vida


para morrer um dia, não é?
— Sim – ele concordou pegando uma pequena bandagem para
colocar no machucado —, mas ninguém tem que se conformar em perder uma
pessoa que ama.

— Foi assim que se sentiu sobre Mary Anne? – precisei perguntar.

Ele ficou me olhando antes de responder.

— Sim. – Ele jogou o remédio dentro da caixa e se ergueu para


colocá-la de volta no lugar.

— Não posso culpá-lo por me odiar – eu disse a ele —, eu trouxe a


notícia de que seus sonhos perfeitos eram falsos.

Ouvi um riso baixo e ele voltou para perto de mim, as mãos no bolso
da calça.

— Penso diferente – ele disse.

— Mesmo?

— Sei que Mary Anne me traiu, mentiu, mas essa mulher que você
me apresentou não é a mulher que eu amei – ele falou sincero —, são duas
pessoas distintas. E apesar de estar magoado e ela ter caído do pedestal que
criei, ainda assim, acredito que amei o que havia de melhor nela. O resto não
importa. Fiz a minha parte, ela colheu as consequências dos seus atos.

Hassan não tinha ideia do quanto suas palavras mexeram comigo.


Abaixei o olhar para a manga da minha blusa rasgada. Infelizmente, um dos
seguranças a segurou e a rasgou quando lhe dei um golpe e o derrubei.
Aquelas cicatrizes não estavam apenas na minha pele, estavam na minha
alma. Não conseguia falar sobre isso, não ainda.

— Sei como se sente – elevei o olhar para ele.


Hassan se sentou ao meu lado. Ficou olhando para mim em busca de
respostas que eu não poderia lhe dar.

— Já tentou se colocar no meu lugar? – Ele quis saber.

— No seu lugar? – Não entendi exatamente sobre o que ele estava


falando.

— Sobre o fato de que uma pessoa apareceu na minha vida, dizendo


que eu era responsável por duas crianças e ela queria ficar com elas de
qualquer jeito – esclareceu —, o que você faria no meu lugar? Entregaria as
crianças a essa pessoa estranha quando estavam sob sua responsabilidade?

Fiquei surpresa com a colocação. Não me coloquei um segundo


sequer no lugar dele. Estava tão na defensiva, tão desesperada para levar as
crianças embora, que não enxergava lógica no que ele fazia, pelo menos até
agora.

— Eu não entregaria as crianças sem ter certeza do caráter desse


estranho – admiti.

Ele assentiu sem qualquer satisfação.

— Não preciso ser pai de ninguém, Senhorita Andrews, ainda mais


dos filhos da mulher que me traiu – ele argumentou —, mas existe em mim
um código de honra que não posso evitar. Se eu os deixar partir e algo de
ruim acontecer, eu me sentirei responsável para sempre.

Ele não tinha culpa por não saber se eu era uma boa pessoa ou não.

— Talvez eu deva admitir que você venceu – conclui amarga.


— Não venci nada, na verdade, somos os dois perdedores nessa
história – ele assegurou —, mas as crianças não podem perder, eles não têm
culpa das tramoias da mãe e tudo o que ela causou na vida deles!
Agora estávamos os dois mais calmos e racionais. A determinação
em não deixar o problema afetar as crianças me tocou.
— Deixe-me conhecê-la – ele pediu sem qualquer má intenção —, e
poderei confiar e lhe entregar as crianças.

Ele não estava pedindo nada demais. Mas para mim era difícil
conviver com qualquer pessoa depois do que aconteceu.

— Não sou uma pessoa fácil de lidar – avisei.

— Eu sei – ele tocou o canto da boca machucado —, você tem uma


direita muito boa.
Sorri finalmente.

— Anos de treino, derrubando homens com o dobro do meu tamanho


– encolhi os ombros sem me gabar.

— Arthur deve querer contratá-la depois disso! – ele brincou.

— Estava apenas defendendo as crianças! – justifiquei minha atitude


—, não fazia ideia quem eles eram, e uma pessoa como eu não pode hesitar!

Ele me fitou intrigado.

— Que mistérios você esconde? – sussurrou me perscrutando com o


olhar que passeava pelo meu rosto.

O clima era tão intenso que senti dificuldade em respirar. Era


incrível como eu podia ir do ódio ao desejo perto dele. Fiquei imaginando o
que as outras mulheres fariam no meu lugar? Se derreteriam por ele?
Provavelmente.

— Nenhum – garanti sem desviar o olhar.


E nós ficamos assim, nos olhando como se quiséssemos respostas
que não queríamos ouvir: o que estava acontecendo? Como eu batia em um
homem e no momento seguinte, tinha vontade que ele me beijasse? Não fazia
o menor sentido. Aquela história não tinha qualquer definição de realidade.
Parecia que estava vivendo um pesadelo e não conseguia acordar. Nunca me
senti tão seduzida por alguém com tanta facilidade.

Ele tocou a minha mão que segurava a bolsa de gelo e a tirou do meu
rosto. Eu me senti praticamente nua, mas não conseguia me mover. Uma
vozinha dizia para eu me levantar e ver o que as crianças estavam fazendo, a
outra, má e perversa, mandava eu ficar sentadinha e ver até onde ele ia. Era
o desafio. O perigo iminente.

O problema de ser uma agente do FBI é que o perigo passa a fazer


parte da sua realidade e você passa a gostar disso.
Sua mão quente acariciou meu rosto e respirei mais rápido, entreabri
os lábios para soltar o ar e controlar para não fechar os olhos. Fazia tanto
tempo que não era tocada com carinho que não resisti e deixei. O que a
carência podia fazer com uma mulher diante de um homem tão sedutor?

Hassan projetou o corpo para frente, seus olhos presos nos meus
lábios, sua mão deslizando até a minha nuca e me puxando para frente. Não
tive qualquer resistência, eu apenas deixei que os lábios dele se
aproximassem dos meus e os tomasse. Primeiro foi o calor que se apoderou
de mim, meu corpo inteiro virou uma gelatina e depois a excitação incomum,
avassaladora. Como isso era possível com um simples beijo?
Abri os lábios para recebê-lo e o beijei com a mesma necessidade.
Não era paixão, não havia sentimento, era prazer carnal, um consolo para
ele, e para mim também. Ele estava machucado pelo que Mary Anne havia
feito, e eu tinha marcas na pele e na alma que também provaram do veneno
do engano.

O beijo foi se tornando cada vez mais intenso, selvagem. A porta


estava encostada, as crianças poderiam passar pelo corredor a qualquer
momento, mas nenhum de nós se lembrou disso. Nosso desejo animal falou
mais alto e eu o abracei quando suas mãos desceram para a minha cintura e
me puxaram para mais perto, colando meus seios contra o seu peito. Sua
língua tocou a minha, tomou minha boca, lambeu meus lábios, mordeu
levemente antes de prosseguir com aquele beijo totalmente sem sentido, mas
tão necessário.

A mão dele deslizou para a base do meu seio e o polegar roçou a


carne intumescida. Meus seios estavam pesados e eu precisava que ele os
tocasse. Afastei minha boca da sua o suficiente para dizer:

— Toca – pedi afastando a camisa e mostrando o sutiã de renda


branco.

Hassan voltou a me beijar e sua mão deslizou para dentro da camisa,


afastando o sutiã e apertando meu seio. Nossos gemidos oscilaram um contra
o outro. O toque dele me deixou molhada, meu clitóris pulsava e eu queria
mais e ele também. Ele desabotoou a minha camisa e a empurrou para fora
do ombro para puxar a outra parte do sutiã para baixo e acariciar o outro
seio.

Sua boca abandonou a minha, beijou minha orelha e gemi alto,


perdida no prazer. Como era bom. A língua deslizou pelo meu pescoço,
ombro, ele beijou meu colo e eu arqueei o corpo quando senti seu hálito
quente contra o bico do meu seio.

— Isso – eu murmurei.
Ele passou primeiro a ponta da língua, bem devagar, o beijou e
depois chupou. Primeiro com cuidado, aumentando a pressão a cada segundo
até fazer doer de prazer. Era isso que eu gostava, de ser tomada, acariciada.
Ele deixou o seio e tomou o outro com a boca. Aquele que havia deixado,
ele levou o polegar, empurrou o bico, acariciando em círculos.
Levei a mão entre suas pernas, senti o membro duro e ele ofegou. Ele
me queria tanto quanto eu a ele. Abri o cinto de sua calça e o zíper, então o
acariciei por cima da cueca e ele mordeu meu seio, mostrando quanto
excitado ele estava ficando. Ergueu o rosto e tomou minha boca outra vez,
nos beijamos com tanta paixão que era impossível parar. Precisávamos ir até
o fim.

Enfiei a mão em sua cueca e comecei a masturbá-lo. Seu pau quente e


duro me fazia pensar em mil coisas e uma delas era que eu o queria dentro
de mim, queria rebolar até gozar contra ele, senti-lo socar com força
enquanto nos perdíamos de prazer.

— Não pare! – pediu num gemido rouco.

Sua mão enfiou dentro da minha calça e abri as pernas para lhe dar
melhor acesso. Seu dedo encontrou minha entrada molhada sob a calcinha e
ele lambuzou o dedo antes de deslizá-lo sobre o meu clitóris e começar a
girar em círculos.
— Hassan! – gemi sentindo meu corpo queimar de prazer.

Há quanto tempo eu não me permitia um momento tão quente como


aquele? A boca dele desceu para o meu pescoço e ele me mordeu e me
chupou bem ali, o cheiro de sexo pairando no ar, nossos gemidos se
perdendo e então deixei o gozo me cegar e ele urrou contra a minha pele e
sua porra escorreu pela minha pelos meus dedos enquanto movia a mão sem
parar.
Gozei tão gostoso que somente senti o que havia acontecido quando
ele segurou minha mão e me fez parar. Ficamos um tempo abraçados, a
cabeça dele no meu ombro e a minha contra seus cabelos. Meu coração batia
acelerado, e foi ótimo, me fez sentir viva.

Ele se afastou e me encarou. Sem esperar qualquer palavra, eu me


ergui e fui até o banheiro lavar a mão e tentar me ajeitar, eu estava uma
lástima. Cabelo desarrumado, a camisa rasgada, a calça fora do lugar, o
rosto corado pelo prazer, os lábios marcados pelo beijo.

Hassan surgiu atrás de mim e o fitei pelo reflexo do espelho. Seus


olhos ainda estavam carregados de desejo e me fitavam de uma forma que
me fazia querer deitar naquela cama e ser dele outra vez, dessa vez
completamente. O que estávamos fazendo?

Batidas na porta nos trouxeram à realidade. Betina entrou correndo e


Hassan saiu na minha frente.
— Tem uma mulher na sala querendo falar com você, tio Hassan –
ela avisou segurando Low no colo.

— Eu já vou – ele sorriu para ela e Betina saiu pulando da mesma


forma que entrou e ele olhou para mim —, era sobre isso que queria falar
com você hoje cedo, mas parece que não tivemos tempo...

Ergui uma sobrancelha desconfiada.

— Quem é?
— Minha mãe – ele falou aborrecido.
Capítulo 11

Ela me avisou que viria um dia antes quando as malas já estavam


prontas para partir para os Estados Unidos. Samsha bin Abul Aziz, minha
mãe, era a terceira esposa de meu pai que estava prestes a adquirir a sétima
esposa e isso a deixou furiosa. Não podia dizer nada, não podia contrariá-lo,
era a lei, o costume de meu povo, contudo, como eu, ela se rebelava contra
muita coisa. A diferença é que por ser homem, consegui partir e recomeçar a
minha vida do outro lado do mundo. Depois de tantos anos, ela podia apenas
se conformar.

E ela não poderia ter chegado em pior hora.


— Sua mãe? – Elizabeth perguntou surpresa.

— Ela mesma...

— Que Deus me ajude! – ela reclamou e olhou para si mesma. —


Preciso vestir alguma coisa. O que vai dizer a ela sobre mim e as crianças?
— Posso mentir e dizer que você é uma namorada e eles são seus
filhos e tudo fica bem, ou contamos a verdade – propus me aproximando
dela.

— Prefiro a verdade – optou assentindo depressa.

— Acredito que depois do que houve aqui, não haverá problema em


dizer que somos namorados – provoquei malicioso.
Também não esperava que terminaria masturbando a sargento e
gostando disso. E muito menos que gozaria na mão dela como um rapaz de
dezessete anos, ávido por mais sexo. Mas algo aconteceu naquela cama, uma
necessidade inexplicável de consolar um ao outro. Eu por causa de Mary
Anne e ela por causa de seus segredos que a machucaram de alguma forma.
— Não é isso! – murmurou com medo que alguém nos ouvisse. — As
crianças podem nos desmentir!

Fazia sentido.

— Eles são muito verdadeiros e grandes demais para entender que


precisamos mentir para sua mãe não surtar! – justificou.

— Está bem, eu digo a verdade – garanti de forma displicente. —


Não se preocupe...
— Não vou me preocupar mesmo, a mãe é sua, você que lute! Vou me
trocar – ela falou passando por mim.

Minha vontade era de puxá-la de volta e jogá-la sobre aquela cama e


esquecer que minha mãe estava na sala esperando por mim. Respirei fundo e
fui enfrentar a fera. Não sabia quanto tempo ela ficaria, mas esperava que
fosse apenas o suficiente, ela não concordava com o estilo de vida que eu
levava e sempre odiou Mary Anne. O que diria dos filhos dela dentro da
minha casa?

Ajeitei a camisa e passei as mãos pelos cabelos e fui ao encontro


dela. Minha mãe estava sentada confortavelmente no sofá. Ela não parecia
ter a idade que tinha, era bem conservada e se passaria por uma irmã mais
velha sem qualquer problema. Era a filha de um sheik, nunca precisou
trabalhar ou preocupar em pagar contas, a não ser saber gastar o dinheiro do
pai e do marido, uma pessoa com essa vida não teria mesmo nenhuma ruga.
Ela usava um véu e vestido laranja e azul marinho, deixando-a
requintada. Era alta para a maioria das mulheres que conhecia e esguia
também. A elegância era seu segundo nome.

Não que minha mãe fosse fútil, ela não era. Era uma mulher que
gostava de conhecimento e entendia o mundo que a cercava e me apoiou em
minhas decisões, muito embora tenha sofrido com as indiretas do meu pai,
mas valeu a pena. Depois que venci, ele tinha orgulho da esposa e do filho
que havia adquirido. Sabia que seus privilégios não a faziam melhor do que
ninguém. Mas sua antipatia por Mary Anne a fazia agir com preconceito e
tecer comentários grosseiros quando se encontravam. Talvez fosse apenas
ciúme de mãe.

— Hassan – ela se ergueu para me abraçar —, meu filho querido –


segurou meu rosto entre as mãos enquanto falávamos em árabe —, você
parece bem e feliz!

Mães entendiam das coisas. Eu tinha acabado de gozar e estava me


sentindo muito bem, até mais do que esperava.

— Como foi a viagem? – Eu quis saber.

— Dezesseis horas dentro de um avião não são agradáveis! – ela


meneou a cabeça e se afastou para me olhar. — Pensei que estaria no
escritório!

— As coisas mudaram um pouco por aqui – limitei a dizer.

— Eu vi – ela deu um sorriso irônico —, quem é aquela criança? –


Quis saber.

Nesse momento, a sargento entrou na sala acompanhada das crianças.


Ela usava uma camiseta de mangas compridas e uma calça jeans. Os cabelos
estavam presos num coque frouxo e ela usava de novo os óculos de grau que
a deixavam com cara de nerd gostosa.

— Mãe – eu voltei para ela falando em inglês agora —, quero lhe


apresentar os filhos de Mary Anne, Betina e Michael.

Minha mãe franziu o cenho.

— Filhos? – ela perguntou perplexa.

— Sim, é uma longa história que eu explico depois – disse de forma


significativa e ela assentiu quando as crianças se aproximaram. — Betina,
Michael – falei olhando para eles —, essa é minha mãe, Samsha.

— Ela vai ser a vovó? – Michael perguntou inocente.

Olhei para a minha mãe, constrangido. Eles pensavam que eu era o


pai, então era normal que pensassem que ela era a avó. Mas como explicar
isso a ela?

— Sim – minha mãe disse de repente, para minha surpresa —, sou a


vovó.

Para surpresa de todos, Michael se aproximou e a abraçou pela


cintura.

— Que bom te conhecer, vovó...

Minha mãe me fitou e abraçou-o também. Apenas nesse momento,


notei o quanto ele e Betina eram carentes. Qualquer um que parecesse da
família, se tornava importante para eles. Betina ficou mais receosa e apenas
estendeu a mão para cumprimentar minha mãe, enquanto Michael se afastava.

— Eles lembram muito a mãe deles – minha mãe comentou com certo
amargor na voz.
Antes que ela dissesse qualquer coisa que pudesse constranger as
crianças, resolvi apresentar a sargento.
— Essa é Elizabeth Andrews, ela é a prima de Mary Anne –
apresentei.

Elizabeth deu um passo à frente e pude sentir seu perfume me invadir.


Nunca o cheiro de uma mulher me perturbou tanto.

— Sou a babá – ela explicou.

Ela não era a babá, ela era a tia e futura mãe deles, talvez. Mas eu
explicaria tudo isso mais tarde para a minha mãe. Elas apertaram as mãos e
minha mãe fitou a sargento de maneira impassível. Pelo menos, não havia
feito cara de desprezo, me constrangendo.

— Onde está Martha? – minha mãe perguntou esperando que ela


aparecesse.

— Infelizmente, ela teve um problema de saúde grave e está


internada – eu respondi.

— Oh! Mas ela está bem?

— Ainda não sabemos – falei com pesar —, os médicos estão


fazendo exames para saber a extensão dos danos causados pelo AVC.

— Mas ela é tão jovem! – Minha mãe se chocou levando as mãos


cheias de anéis de ouro ao peito.
— Também sinto que ela tenha passado mal – admiti. — Vou levar
suas malas para o quarto de hóspedes – avisei.

— Onde está Jeffrey? – ela perguntou perplexa. — Não me diga que


seu motorista está doente também? – foi irônica daquele jeito que me
irritava.

— Ele está de férias, volta depois do fim de semana, mãe! – fui em


direção às malas —, as pessoas aqui no ocidente tiram férias!

— Não seja grosseiro! – ela me fitou com desdém. — Só estava


brincando, querido. Você precisa relaxar, não vim para atrapalhar sua vida!

— É o que vamos ver, mãe. – Eu pisquei para ela e peguei as três


malas do jeito que pude e levei para o quarto.

Ela me seguiu.

— Estou muito interessada em saber o que os filhos de sua esposa,


que claramente não são seus, fazem aqui! – ela me comunicou entrando atrás
de mim no quarto.

— Vou lhe contar – avisei colocando as malas no chão e olhando


para ela —, porém, mais tarde, agora eu preciso voltar para a empresa.
— Vai me deixar sozinha aqui com essa gente estranha? – indagou
perplexa.

— Não se preocupe, Elizabeth é agente do FBI e hoje derrubou cinco


seguranças meus sem pestanejar – comentei me aproximando dela.
— Hassan! – Ela ficou brava. — Não pode estar falando sério! Uma
mulher tão violenta debaixo do seu teto!

— Estou falando muito sério, está mais segura com ela do que
comigo, pode apostar – avisei e dei um beijo em sua testa —, mais tarde
vamos jantar fora e eu lhe conto tudo com calma.

— Quem sabe ela possa me esclarecer o que está acontecendo aqui


de uma vez por todas! – minha mãe considerou.
— Não duvido que consiga! Ocupe suas horas desfazendo as malas,
terá tempo para entender o que está acontecendo, afinal, quanto tempo meu
pai ficará em lua de mel mesmo?

Ela me fitou com reprovação.

— Seu pai deve viajar nas próximas duas semanas – ela disse
erguendo o queixo, mostrando o orgulho ferido.

— E então, levará a nova esposa para casa – eu concluí com bom


humor.

— Como pode ficar feliz com a maldição de sua mãe? – perguntou


indignada.

— Não estou feliz, mas não posso deixar de achar interessante a


forma que reage a isso quando não aceita o que lhe é imposto, apenas finge
aceitar – comentei.

— Cada um com suas armas... – ela encolheu os ombros.


Balancei a cabeça em desalento.

— Por isso não fiquei, mãe. Isso não é vida... – critiquei como
sempre fazia —, a senhora sente ciúme do meu pai, mas não pode
demonstrar.
— Porque eu o respeito – se defendeu.

— Tenho certeza que sim, mesmo que ele tenha vinte esposas –
acreditei e me afastei dela. — Nós nos vemos mais tarde.

Fui até meu quarto pegar meu paletó que estava jogado sobre a
cadeira. Eu o vesti e quando fui para a sala, vi as crianças já perto da
piscina e a sargento do lado de fora olhando para elas, os braços cruzados
enquanto o vento atrapalhava os fios soltos. Se eu a tinha achado bonita
desde o primeiro instante em que a vi, agora era insuportável. Meu pau já
estava duro por imaginar o que poderíamos fazer juntos.

— Por que não relaxa e entra na piscina também? – indaguei.

Ela levou um susto e olhou para mim.


— Vai sair? – Ela me viu de paletó.

— Tenho que ir para a empresa, alguém precisa trabalhar para pagar


as contas – brinquei.
Ela estreitou o olhar.

— Vai me deixar sozinha com sua mãe? – perguntou indignada.


— Ela não morde. Você é mais perigosa do que ela, pode apostar! –
garanti.

— Não estou falando disso, Hassan! – meu nome naquela boca


gostosa parecia mel. — E se ela fizer perguntas...
— Você é a agente especial aqui, nunca trabalhou disfarçada em um
caso? – eu a questionei.

— O que isso tem a ver? – ela perguntou brava.

Tive vontade de rir por vê-la tão irritada, mas me segurei.

— Veja a lógica, use de seu conhecimento e a enrole. Finja que é a


babá inocente que está apenas tentando sobreviver na vida e por quem o
chefe está se sentindo atraído – eu disse com malícia. — Mas não precisa
contar a ela o que fizemos no quarto...

Ela revirou os olhos e cruzou os braços num gesto de defesa. O que


aconteceu entre nós a deixava vulnerável e era compreensível. Essas coisas
repentinas e inexplicáveis eram boas, mas para quem tinha mania de manter
o controle, podia ser a perdição. E como eu, a sargento gostava de estar no
comando. Eu me perguntei que tipo de decepção ela sofreu para ficar com as
rédeas nas mãos o tempo todo sem relaxar.

Ela me intrigava, e muito.

— Seria mais fácil eu fazer o papel da agente infiltrada que descobre


que o patrão está envolvido em algo ilícito e ela o prende no final depois de
fingir seduzi-lo – ela devolveu.

— Então está pensando em me seduzir – eu afirmei e sorri.

— Não disse isso! – Ela ajeitou a postura.


— Disse sim, mas não se preocupe, não será um problema ver você
se jogar nos meus braços...

Ela rosnou quando eu disse isso. Tive que rir, estava me divertindo
com esse jeito durão dela.

— Nós dois sabemos que foi apenas uma necessidade básica – ela
argumentou com os olhos verdes brilhando como fogo.

— Tenho certeza – garanti —, e não vejo nenhum mal em repetir a


dose.

— Eu vejo, não estou aqui para me divertir! – argumentou.


— Aí é que você se engana, sargento! – Pisquei para ela.

— Tio Hassan! – Betina me chamou de dentro da piscina. — Será


que eu posso tomar sorvete à tarde?
— Acho que vocês já tomaram sorvete hoje – eu a fiz lembrar.

— Ah...
— Outro dia, e obedeçam a Senhorita Andrews – eu avisei para
provocá-la.
— Bem lembrado – ela ironizou.

Sorri para ela e quando me virei minha mãe estava lá, olhando toda a
cena, como um espectro. Não que eu tivesse que dar satisfações a ela do que
fazia, mas a última situação que precisava era ela dando palpite na minha
vida. Era melhor eu sair antes que as duas malucas me fizessem perder a
cabeça.
— Estou indo – avisei e fui em direção ao elevador.

Eu esperava que depois de tantos acontecimentos, pelo menos o meu


fim de tarde fosse tranquilo.
Capítulo 12

Forcei um sorriso para a Senhora Aziz quando Hassan deixou o


apartamento. Ele era ótimo em me deixar maluca. Incrível. Um grande filho
da puta, na verdade. Estava presa naquele apartamento com Betina e Michael
e com aquela mulher de olhar arrogante que me fitava como se eu fosse uma
aproveitadora e estivesse roubando seu filhinho precioso. Samsha se
aproximou devagar, tentando sorrir, quando na verdade parecia estar com
medo de mim.

— Meu filho disse que trabalha para o FBI – ela comentou parando
ao meu lado, o vento balançando o véu sobre sua cabeça. O sotaque forte
sobre as palavras e olhando as crianças com certo ressentimento.

Acho que nunca fiquei perto de uma mulher tão elegante. Ela deveria
ser a esposa do Sheik Hans. A terceira pela investigação que fiz. Mulher
corajosa, não consigo dividir sequer meu cobertor com os outros, o que dirá
um marido com mais outras mulheres e filhos. Sou muito ocidental para isso.

— Trabalho, mas estou de férias – preferi dizer —, para cuidar das


crianças.

Ela olhou novamente para as crianças que pulavam e brincavam na


piscina enquanto Low latia do lado de fora.

— Então, você era prima de Mary Anne? – ela perguntou.


— Sim – limitei a responder.

— Vocês não se parecem em nada – ela observou e forçou um


sorriso.

Aquele era o modo dela de ser simpática? Estava sendo um fracasso


total.
— Nossas mães eram primas, acaba que mal somos parentes –
expliquei.

Ela voltou a olhar para as crianças.

— A verdade é que estou curiosa para saber como essas crianças


vieram parar na vida do meu filho – ela desabafou com sinceridade.

Então, ela olhou para mim, daquele jeito determinado que Hassan
fazia quando estava prestes a fazer o meu mundo desabar.

— Você se importaria de me contar como veio parar aqui? – Ela


girou a mão no ar.

— Bem, talvez seu filho prefira contar – cogitei, tentando fugir


daquela missão.

— Para uma agente do FBI você é uma covarde – ela me acusou


séria —, vou fazer um chá para nós duas e quando eu voltar, vamos nos
sentar naquela mesa e quero saber tudo – determinou.

E sem esperar resposta foi para dentro da casa.

Fiquei olhando para ela, indecisa. Se a mãe era assim, imaginei o pai
de Hassan, deveria ser o demônio em pessoa. Criado entre pessoas
autoritárias, não era à toa que ele também fosse. Comecei a entender a raiz
do problema, quando você acredita que nasceu para mandar, tudo ao redor
conspira a favor. Meia hora depois, ela apareceu com uma bandeja nas
mãos, um bule e duas xícaras. Passou por mim e foi até a mesa debaixo do
guarda-sol se sentar.

— Venha, Elizabeth – ela disse como se eu fosse a rainha da


Inglaterra e não a babá das crianças —, precisamos conversar.

Tive que me segurar para não fazer mesura e debochar da situação.


Mas eu tinha que respeitar o jeito de cada um. Ela foi criada em um mundo
de aristocratas, eu era apenas a plebeia, enteada do ex-diretor do FBI. O que
para uma pessoa bem-nascida na Arábia Saudita deveria ser o mesmo que
nada. Aproximei da mesa e notei as joias, ela tinha um grosso colar de
pedras no peito que deveria valer mais que aquele prédio todo. Brincos que
combinavam perfeitamente que pagaria a faculdade daquelas crianças, talvez
comprasse a faculdade toda.

As unhas bem-feitas, a maquiagem impecável. Eu sequer me


lembrava da última vez que fui ao cabeleireiro cortar meu cabelo de
verdade. Fazia tempo que eu não me dava o direito de ser vaidosa. Desde o
acidente, tudo o que eu fazia era me esconder do mundo, mesmo que ninguém
pudesse enxergar as marcas que ficaram.

— Você quer com adoçante ou açúcar? – Ela quis saber,


interrompendo os meus pensamentos.

— Pode ser adoçante – eu respondi.

Ela colocou a xícara diante de mim e me entregou o frasco de


adoçante.
— Não se preocupe, o chá não está quente, está fresco, sempre deixo
na temperatura adequada. Quando eu era jovem e fui escolhida para me casar
com o pai de Hassan, tive que passar por uma prova diante da minha sogra –
ela começou a me contar.

— Prova? – perguntei chocada.

— Isso – ela assentiu orgulhosa de si mesma —, parece arcaico para


você? Mas há trinta e cinco anos, as coisas eram bem diferentes. Os
costumes mudaram um pouco ou talvez muito. Hoje, muitos homens escolhem
suas mulheres pela beleza, pelos olhares que elas podem roubar, o quanto
elas podem causar inveja em seus adversários. Mas na minha época, um
casamento por acordo era mais.

— Imagino que sim...

Eu sequer poderia conceber o que era se casar com alguém por


obrigação. Mas podia imaginar as exigências feitas a uma jovem na década
de oitenta, quando o machismo era tão agressivo e todos o encaravam apenas
como um detalhe da sociedade.

— Bem, eu tive que mostrar que era uma boa dona de casa, e tive que
servir o chá para a minha sogra – senti o desdém em sua voz —, treinei por
vários dias, estava impecável, fiz tudo como devia e até melhor. E sabe o
que aquela velha maldita fez?

— O quê? – perguntei depois de tomar o chá.

— Ela cuspiu na minha cara e me bateu – ela contou.

— E o que você fez? – fiquei indignada.

Ela encolheu os ombros de forma elegante, quase imperceptível.


Segurou a xícara na mão como se fosse uma taça de ouro e olhou para mim
com orgulho.
— Não fiz nada, apenas a enfrentei com o olhar e ficamos nos
encarando – ela contou.
— Que sangue frio – comentei —, eu teria pulado no pescoço dela!

Ela sorriu.

— Tenho certeza que sim, mas foi o meu silêncio e minha postura que
fizeram com que Hans me aceitasse como sua esposa. Eu não a desrespeitei,
mas não abaixei a cabeça para ela. Ele estava por trás da cortina vendo tudo
e soube que eu era a mulher certa para ser sua terceira esposa...

— Uau! – falei tentando não parecer irônica.


— Sempre quis o mesmo para o meu filho – ela prosseguiu —, uma
mulher forte, que respeita as coisas ao seu redor. Mary Anne não respeitava
nada. Era uma falsa! Soube no segundo em que a vi que ela não merecia meu
filho!

— Mães sabem das coisas, não é? – limitei a dizer e tomei mais chá.

— Sabemos, você é mãe?

— Não – respondi balançando a cabeça de um lado para o outro.

— Já foi casada?

— Não – consegui responder.

Ela estreitou o olhar sentindo a oscilação na minha voz.

— O dia que for mãe ou se casar vai entender o que estou falando.
Mulheres de verdade não gostam de homens fracos. E homens fortes
precisam de mulheres capazes de tudo por eles ao seu lado – ela falou
decidida.
A mulher tinha uma opinião formada sobre o assunto e não seria eu a
tirar sua ilusão de que as mulheres precisavam ser capazes de tudo por um
homem. Eu tinha algumas ressalvas, mas tenho certeza que ela não estava
interessada.

— Mary Anne não merecia um homem como Hassan – ela declarou e


abaixou a xícara para me perguntar —, então, o que foi que aquela puta
aprontou com o meu filho?

Fiquei surpresa com o palavrão no meio da frase. Respirei fundo,


devolvi a xícara em cima da mesa e a encarei.

— Resumindo a história que depois seu filho poderá lhe contar com
detalhes: Mary Anne se casou com Timothy quando eles eram bem jovens,
ela deveria ter dezesseis anos, foi quando Betina nasceu. Depois veio
Michael e foi quando ela decidiu vir para Boston. Abandonou os filhos com
a mãe, deixou o marido e veio para Boston para conseguir um homem rico e
conheceu seu filho. Ela continuou se encontrando com o primeiro marido e
então, um belo dia, eles estavam voltando de Los Angeles para Salt Lake
City e o avião caiu e eles morreram juntos.

Os olhos escuros da Senhora Aziz ficaram arregalados e ela bufou


como se segurasse para não xingar.
— E como as crianças vieram parar aqui?

— A mãe de Mary Anne, Joanne, me ligou e pediu que ficasse com


eles para que ela fizesse o tratamento contra o câncer, ela veio a falecer e
qual não foi a minha surpresa ao descobrir que ela deixou a guarda das
crianças para o seu filho. – Forcei um sorriso.

— Preciso de mais chá – ela lamentou e tomou virando todo o


conteúdo da xícara.
Ela terminou de tomar e olhou para mim com o cenho franzido.

— Se importaria se eu tomasse uma boa dose do melhor uísque que


meu filho tiver no bar?

— Fique à vontade – eu disse.

Ela se ergueu e saiu de perto de mim. Podia ouvir o tilintar do copo,


do gelo e ela se servindo da bebida antes de voltar a se sentar na minha
frente. O copo estava pela metade e ela forçou um sorriso educado.

— E como vão resolver essa história?

Meneei a cabeça.

— Por mim, eu já estaria em Washington com as crianças – respondi


—, eu moro na capital. Mas seu filho acredita que não pode me dar a guarda
deles sem me conhecer melhor.

Não quis mostrar minha amargura e falar mal dele para ela, afinal,
era mãe e filho e com certeza ela tomaria partido dele.

— Daí ele trouxe vocês para o apartamento dele – ela concluiu


abismada.

— Sim, contra a minha vontade – garanti.


— Você já tentou fugir?

— Não, mas eu fui no shopping com as crianças e ele mandou os


seguranças atrás de nós – apontei para o meu rosto —, e o resultado não foi
positivo.
Ela respirou pensativa.

— Acredito que essa história de Mary Anne o ter feito de tolo o tirou
do eixo, não é? Meu Hassan jamais colocaria estranhos debaixo do seu teto
– ela ponderou.
— Talvez a senhora possa convencê-lo a me deixar ir com as
crianças – supus fingindo não pedir nada demais.

Ela riu de mim.


— Oh, minha querida. Quem me dera eu tivesse algum poder sobre o
meu filho, ele jamais teria se casado com aquela grande desgraçada ou
partido para os Estados Unidos para estudar – falou afetada —, mas Hassan
é como o pai dele, não ouve ninguém além de si mesmo.

Revirei os olhos e olhei para as crianças. Michael estava tentando


puxar o cachorro para dentro da água que lutava para ficar do lado de fora.

— Michael, não puxe Low para dentro da piscina! – avisei com o


dedo em riste e imediatamente ele soltou o cachorro.

— Desculpa, tia Liz – ele pediu e voltou a brincar com a irmã.

— O que eu disse sobre obrigar as pessoas a fazerem o que elas não


querem? – perguntei. — Isso também serve para os cachorros!

— Tá! – Ele meio que ficou aborrecido, mas compreendeu.

— Você é bem autoritária! – a Senhora Aziz comentou.


Fiquei surpresa pelo elogio, pensei que ela fosse me acusar de estar
me aproveitando do filho dela. Ainda bem que sequer deu a entender isso.
Deixei bem claro que por mim estaria bem longe dali.

— Crianças precisam de limites! – comentei com ela.


— Concordo completamente, gostaria que minha filha Latifa
pensasse como você, mas ela deixa os filhos fazerem o que querem –
reclamou —, na verdade, minha filha não nasceu para ser mãe, mas acabou
se casando com um sheik em Dubai e lhe deu dois filhos, que infelizmente,
são terríveis...
— Se a gente não ensina, a vida ensina e dói mais – pontuei —,
minha mãe sempre dizia isso. Se eu não te ensinar a vida vai cobrar
dobrado.

— Sua mãe era uma mulher sábia, deve ter orgulho de você – ela
comentou com altivez —, se tornou agente do FBI e quer cuidar de filhos que
não são seus, isso exige caráter.

Não gostava de ser elogiada, me deixava constrangida, mas vindo de


uma mulher que não parecia ter o costume de elogiar nada, eu me senti bem.

— Ela tinha orgulho sim. Ela faleceu um pouco depois que meu
padrasto morreu – contei.

— Sinto muito – ela disse séria —, perder membros da família que


amamos é como perder parte do coração. Eu sei. Perdi minha mãe há pouco
tempo e foi uma facada no peito.

Ela imitou uma facada sobre o coração e fechou os olhos. Depois os


abriu e sorriu. Até que a Senhora Aziz não era tão ruim assim. Havia me
simpatizado com ela.
— Não se preocupe, você é uma boa moça e meu filho vai notar e vai
deixá-la ir – ela falou segura.

— Tomara – respirei fundo —, eu só quero que as crianças fiquem


bem. Só não posso protelar minha partida por muito tempo. Tenho uma vida
longe daqui e gostaria que seu filho compreendesse.
— Tudo tem o tempo certo – ela filosofou —, acredito que nada é
por acaso e se o destino a trouxe, tem algum propósito.
Ela pegou o uísque e virou o conteúdo do copo de uma vez. Não
deveria ser fácil ver o filho sofrer por uma mulher que ela desprezava e que
sabia que o faria padecer. Mães tinham esse dom de prever as coisas e
talvez sua vinda para os Estados Unidos tenha sido em um bom momento
para consolar o filho.
Capítulo 13

Fiquei surpreso quando cheguei no apartamento e senti o cheiro de


comida. Desfiz o nó da gravata e minha mãe veio em minha direção.

— Boa noite, filho – ela me ajudou a tirar o paletó —, por que não
prepara um drinque para relaxar? Logo o jantar será servido...
— Jantar? – Estranhei. — Você cozinhou?

— Claro que não – ela riu de mim —, mas sua babá sim.

— Babá?

— Elizabeth – respondeu.

— Ela não é a babá, mãe – corrigi.

— Eu sei, eu e ela conversamos e estou um pouco por dentro do que


está acontecendo – minha mãe explicou enquanto eu me aproximava do bar e
me servia de uma boa dose de uísque depois de um dia cansativo.

— Ela está cozinhando?


— Sim e ela parece gostar disso – minha mãe disse impressionada.

Estreitei o olhar. O que estava acontecendo naquela casa?

— Está tudo bem? – perguntei me aproximando dela de novo.

— E por que não estaria? – ela retrucou fingindo inocência.


— Mãe! – a reprovei. — Sei quando está aprontando!

— Não seja bobo! – ela bateu no meu peito de leve —, tome um


banho e relaxe, logo o jantar está pronto. Vou ver como ela está se saindo.

Tomei o uísque olhando para a minha mãe que se afastava como se


flutuasse. Claro que havia algo por trás daquela recepção calorosa. Senti
alguém puxando a manga da minha blusa, olhei para o lado e vi Betina,
sequer notei que ela havia se aproximado.

— Oi, tio Hassan!

— Oi. – Eu sorri para ela.

— Veja como o Low ficou lindo...

Ela saiu da frente e em cima do meu sofá havia um Bulldog francês


com um tule rosa em volta do pescoço e fitinhas rosa nas orelhas. Ele apenas
lambeu o beiço e bufou.

— Ficou muito bonito – elogiei.

— Estou treinando porque um dia vou ser uma grande modista – ela
me contou.

— Mesmo? – perguntei surpreso com a escolha.

— Quero fazer roupas e ter minha própria grife – ela prosseguiu e


deu uma girada como se fosse uma bailarina.

Somente então notei que ela estava vestida como uma bailarina. A
menina tinha personalidade própria, era importante.

— Se você estudar pode ser o que quiser – avisei —, mas tem que
ter boas notas.

— Eu tenho – ela falou orgulhosa com um sorriso largo.


Quando olhava assim para Betina, eu me perguntava se eu e Mary
Anne tivéssemos uma filha se seria parecida com ela. Provavelmente. Betina
era a cópia da mãe. Imagino que Mary Anne também tenha sido daquela
forma quando criança. Talvez não tão meiga e gentil, mas os mesmos traços,
o mesmo jeito de falar.

— Onde está seu irmão? – perguntei olhando ao redor.

— Ajudando tia Liz na cozinha – ela contou.

— E por que não está ajudando? – estranhei.

— Não gosto de cozinhar, prefiro lavar os pratos depois – ela


respondeu.

Pelo visto, a sargento colocava todo mundo para trabalhar. Passei a


mão na cabeça de Betina.

— Está bem, vou tomar um banho e já volto...

— Tudo bem. Vou fazer mais uma roupa para Low – ela riu e pegou
Low no colo correndo com ele para o próprio quarto.

Terminei o meu uísque e fui para o meu quarto. Tirei a roupa e joguei
no cesto antes de me meter debaixo do chuveiro. E pensar que a primeira vez
que beijei a sargento foi debaixo daquele mesmo chuveiro e em menos de
vinte quatro horas a fiz gozar com o meu dedo. Meu pau ficou duro somente
por me lembrar daquela mão me masturbando, me deixando louco. Respirei
fundo deixando a água cair sobre a minha cabeça e me controlando. Deixaria
a libido para mais tarde, quando eu cobraria um terceiro beijo.

Ou não. Com a minha mãe debaixo do mesmo teto era complicado.


Mas seria mais interessante, mais perigoso sermos pegos e meu sangue
ferveu de vontade. Vesti um short e uma camiseta, coloquei os chinelos e fui
para a cozinha. Meu queixo caiu quando vi minha mãe lavando as vasilhas e
rindo enquanto ela e Elizabeth conversavam.

Sério que a sargento colocou até mesmo a minha mãe para trabalhar?
Eu deveria contratá-la como chefe de RH.

Minha mãe notou a minha presença.

— Já vamos servir o jantar – ela me avisou.

Minha mãe na cozinha de casa? Lavando pratos? Olhei pela janela,


nuvens escuras no céu, parecia que choveria mais tarde, tinha medo de
acontecer um tsunami. Elizabeth me olhou por cima do ombro, sem qualquer
interesse, fria e distante. Nem parecia que havia gozado horas antes comigo.
Enquanto meu corpo queimava de prazer, o dela parecia um poço de neve.

Minha vontade era de chegar por trás dela e esfregar meu pau
naquela bunda para derreter aquele gelo, puxar o cabelo e beijar a nuca até
que seu corpo pendesse sobre o balcão e eu a comesse de quatro.

— Tio Hassan – a voz de Michael interrompeu minha fantasia.

— Sim? – perguntei olhando para ele.

— Me ajuda a colocar a mesa, por favor? – E me estendeu os pratos.

— Claro – concordei.

Sequer me lembrava qual foi a última vez que coloquei a mesa.


Nunca fiz isso na casa do meu pai. Tínhamos empregados para tudo. Até
mesmo um servo para me ajudar a trocar de roupa. Apenas quando estive na
faculdade e tive que viver no dormitório foi que aprendi as pequenas coisas
da vida, como lavar a própria roupa ou um prato. Trabalhei como entregador
de pizzas e então consegui um bom dinheiro para investir em pequenas ações
que foram me dando dinheiro e em dois anos comprei meu primeiro
apartamento. Não podia negar que sempre tive sorte para os negócios.
Benjamin costumava dizer que eu atraía dinheiro pelos poros.
Mas era a primeira vez que eu colocava uma mesa para jantar com
outras pessoas. Michael trouxe a toalha e tive que deixar os pratos de lado
para estender na mesa comprida de vidro de oito lugares. Não sei por que
comprei uma mesa tão grande morando sozinho, mas foi culpa da
decoradora, eu a deixei fazer o que queria enquanto tínhamos um caso até a
reforma do apartamento acabar e eu me mudar.

Depois colocamos os pratos, os garfos e os copos. Quem fazia todo


esse serviço era Martha, precisaria contratar alguém para substituí-la
enquanto estivesse convalescente.

Minha mãe trouxe os pratos com comida para a mesa e seu sorriso
era de puro orgulho. Não estava entendendo nada. Mas resolvi relaxar, pelo
menos, ela não deixaria a sargento envenenar a minha comida. Eu me sentei à
cabeceira, minha mãe de um lado e Betina do lado dela. Do outro lado,
estava a cadeira vazia para Elizabeth e ao lado dela estava Michael. Todos
começaram a se servir e então minha mãe perguntou.

— Onde está Liz? – ela perguntou olhando para a porta que ligava à
cozinha.

Ergui o olhar e a vi entrar segurando a jarra de suco e com um


sorriso simpático no rosto. Mas tinha certeza que não era eu o motivo do
sorriso. Ela colocou a jarra no centro da mesa e se sentou.

— Desculpe a demora – ela falou começando a se servir —, mas tive


que atender o celular.

— Era algum assunto sério? – minha mãe perguntou como se fossem


velhas amigas.
— Era meu chefe – e ela olhou para mim —, querendo explicações
sobre o que aconteceu hoje pela manhã.

— E o que você disse? – perguntei com cinismo, como se ela tivesse


dito que havia comprado uma roupa para passear.

— A verdade, que você surtou porque fui passear com as crianças e


mandou seus seguranças atrás de mim no shopping! – respondeu na frente da
minha mãe.
— Você fez isso, Hassan? – minha mãe perguntou saboreando a carne
feita pela sargento.

— Eu pensei que ela tivesse fugido com as crianças! – expliquei.


— E por que ela fugiria? – minha mãe indagou outra vez.

Respirei fundo.

— Não precisa responder – minha mãe sorriu —, eu sei, Liz me


contou tudo essa tarde, aliás, tivemos horas bem produtivas de conversa.

Eu sabia! Elas não estavam fazendo aquele jantar à toa! Havia algo
por trás daqueles sorrisos da minha mãe.
— Que bom que me poupou tempo – disse sem qualquer humor.

Olhei para Elizabeth e ela estava forçando um sorriso antes de enfiar


o pedaço de bife na boca e ficar séria.

— Você cozinha muito bem, Liz, onde aprendeu? – novamente a voz


da minha mãe se fazia presente.

Experimentei o bife e fiquei surpreso. Estava delicioso, muito


mesmo. Podia até dizer que era o melhor bife que eu já tinha comido desde
que cheguei aos Estados Unidos sem sombra de dúvida.
— Antes de me tornar agente do FBI, eu fiz um curso de culinária,
sonhava em ser dona de um restaurante – ela respondeu para a minha mãe —,
cheguei a trabalhar em uma rede de restaurantes de primeira classe por seis
meses, mas aí optei por entrar na polícia.
— Polícia? – minha mãe perguntou interessada.

Eu também estava interessado naquela história. Enquanto Antony não


me entregava nenhum relatório, tudo que ela dissesse era bem-vindo.
— Fui policial por dois anos, depois fui para as forças especiais e
quando terminei a faculdade, me integrei ao FBI – ela contou.

— Faculdade! – minha mãe disse animada. — Sempre sonhei em


fazer uma, mas na minha juventude uma mulher estudar era o mesmo que dar
um tiro na honra dos pais.
— Mas há tempo para tudo – Elizabeth comentou e as duas riram em
cumplicidade —, por que não faz agora?

— Não sei se meu marido permitiria...


— Com tantas mulheres, talvez ele sequer se importe – eu cutuquei.

Elizabeth me chutou por debaixo da mesa.

— Ai! – reclamei.
— Ele não quis dizer isso, Samsha – ela me corrigiu —, está apenas
brincando, ele respeita a cultura de onde veio, apesar de não fazer mais
parte dela!

Sério que a sargento estava me repreendendo na frente da minha


mãe?
— Não ligo mais para o que Hassan diz – ela moveu a mão no ar
com desprezo —, meu filho se chafurdou na cultura americana.

— Uma tarde e as duas decidiram me derrubar? – perguntei, mas fui


ignorado.

— Gostaria de fazer qual curso na faculdade, Samsha? – Elizabeth


continuou o assunto.

Minha mãe pensou de forma sonhadora, quase dramática. Era bem


típico dela.

— Talvez, moda, decoração – ela respondeu feliz.

O sorriso da minha mãe me deixou feliz. Eu sabia que com a vida que
ela levava, não havia muitos motivos para sorrir. Ela era muito solitária.
Quando morávamos juntos, cansei de vê-la chorando no escuro pela
indiferença do meu pai e a dureza de seu coração que não se curvava ao
amor.

— Por que não fica alguns meses aqui em Boston e faz um curso
rápido? – Elizabeth a incentivou.
— Ah, eu não sei...

— Elizabeth tem razão, mãe. O que são alguns meses? E lhe faria
bem...
— Acha mesmo? – ela perguntou esperançosa.

— Tenho certeza que experimentar o sabor de fazer algo que gosta é


inexplicável – eu assegurei.

Ela me fitou com enorme carinho e acariciou minha mão em cima da


mesa.
— Você é um bom filho – ela elogiou —, vou pensar sobre o assunto.
— Isso é ótimo – a sargento falou outra vez —, serei sua primeira
cliente, preciso comprar uma casa maior e com certeza vou precisar de uma
decoradora.

— Vai comprar uma casa maior? – perguntei a ela.


Elizabeth ficou séria ao olhar para mim.

— Moro em um apartamento pequeno de dois quartos – ela encolheu


um ombro —, quando as crianças forem morar comigo, vou precisar de mais
espaço e uma casa maior.
— Eu adoro uma casa nova... – Michael disse feliz.

Então, ela realmente tinha intenção de formar uma família. Peguei o


copo com água e tomei um gole, recostei na cadeira e olhei para a cena:
minha mãe entusiasmada numa conversa com Elizabeth e as duas rindo como
duas velhas amigas. Michael e Betina falavam sobre a comida estar uma
delícia e quem jogaria no videogame após o jantar. Era uma cena gostosa de
se ver, fazia com que o meu copo da vida estivesse cheio.

Tive que comer mais um bife, de pura gula, apenas porque estava
gostoso. Depois, eu me ergui e comecei a tirar os pratos.

— Eu faço isso – Elizabeth me avisou.

Segurei seu braço e senti um choque quando experimentei sua pele


quente. Ela olhou para mim, havia sentido a mesma coisa e tirou o braço.
— Vocês fizeram o jantar, eu e Betina cuidamos da cozinha. – E
pisquei para a menina.

— Você sabe lavar pratos? – A sargento quis saber.


— Claro que sim. Para mandar nas pessoas, primeiro é preciso
obedecer – falei juntando os pratos —, lavei muito prato quando vim para os
Estados Unidos com a roupa do corpo.
— Meu grande orgulho – minha mãe disse e sorriu. — Ele deixou
toda a fortuna do pai para trás e provou que podia vencer sozinho – ela
olhou para a sargento —, meu filho é um grande homem!

— Chega dessa rasgação de seda – eu disse sem graça —, vou


colocar tudo na máquina de lavar louças.
E saí da sala seguido por Betina. Havia um trunfo em minha mãe ter
dito que eu havia vencido sem o dinheiro do meu pai. Pelo menos havia
calado a boca da sargento que sempre me acusou de ser filhinho de papai. O
jantar foi perfeito, conclui.
Capítulo 14

Acordei no meio da noite suando de calor. Estávamos no auge do


verão e o quarto parecia que pegaria fogo, mesmo com a janela aberta. Não
sabia como um apartamento daquele tamanho não tinha ar condicionado.
Levantei para tomar um copo d’água e fui até a cozinha. Tomei um copo de
água gelada e depois outro. Andei pela casa me recordando do pesadelo, o
mesmo que sempre me perseguia desde o acidente. Se poderia chamar um
ato criminoso de acidente.

O calor que eu sentia não era apenas do clima, eram as queimaduras.


Desde que senti minha pele queimar, meu cérebro fixou tanto o trauma que eu
passava a maior parte do tempo com calor. Um calor que queimava, e eu
sabia muito bem como era isso. Não sabia explicar. Respirei fundo
controlando as batidas do meu coração e andei pelo apartamento quieto. As
crianças estavam dormindo, a Senhora Aziz estava com a porta do quarto
trancada e Hassan também.
Aproximei da porta da varanda e olhei aquela piscina fresca e
convidativa. Ela me chamava dizendo que estava gostosa e eu conseguiria
me refrescar finalmente. Olhei ao redor consciente do constrangimento que
seria ser pega nadando àquela hora da noite, mas eram duas da manhã, tinha
certeza que ninguém acordaria.

Abri a porta e passei na ponta dos pés. Ninguém me ouviu, mas eu


me sentia como se estivesse fazendo algo errado. Bobagem! Era apenas a
vergonha de expor meu corpo e ficar sem roupa. Não fazia isso desde que
tudo aconteceu e agora era a oportunidade. Daria um belo mergulho, nadaria
sem que ninguém me visse e me refrescaria, qual era o problema?

Tirei a blusa do pijama e a deixei cair no chão. Estava sem sutiã, era
difícil usar para dormir, me incomodava muito principalmente as
queimaduras debaixo da costela. Tirei a calça e usando apenas minha
calcinha fio dental, eu mergulhei na água. Era o paraíso. Mordi os lábios
quando vim à tona e ri de mim mesma por ser tão boba, qual era o problema
em nadar? A água contra a minha pele era adorável e eu suspirei quando
cheguei na borda da piscina e apoiei os braços do lado de fora para olhar a
cidade de Boston no silêncio da madrugada.

Era tudo tão lindo. Essa era vantagem de ter dinheiro, você poderia
ter a melhor visão de uma cidade todos os dias e relaxar. Estava no
sexagésimo andar de um prédio e as luzes da noite brilhavam diante de mim
bem como o mar ao longe para qualquer lado que olhasse. Ouvi o som de
alguém mergulhando atrás de mim e me virei depressa. Meu coração
acelerou e afundei até o pescoço, escondendo totalmente o meu corpo. Não
precisava forçar a inteligência para saber que era Hassan e ele atravessou
praticamente toda a piscina por baixo d’água até emergir bem na minha
frente.

Estava tão distraída que sequer o ouvi se aproximar e quando olhei


para a porta, as cortinas estavam fechadas. Ele saiu para a varanda de caso
pensado, cretino gostoso! Pensei.

O próprio Poseidon encarnado diante de mim. Se alguém me


perguntasse qual era a imagem de um deus grego, eu diria que era Hassan bin
Abul Aziz. Minha boca secou quando ele se ergueu e passou as mãos pelos
cabelos molhados, os braços musculosos onde gotículas de água escorriam
bem como o peito esculpido e sem pelos. E ficar lembrando que ele havia
me feito gozar não ajudava em nada. E aquela boca? Estava entreaberta por
causa da respiração entrecortada pelo esforço de nadar, céus! Nenhuma
mulher merecia ter essa visão, e ser a mesma depois.

— Perdeu o sono? – perguntei nervosa.

No meu trabalho, fui ensinada a nunca demonstrar minhas emoções,


mas naquele momento, nem a rainha do gelo conseguiria não se sentir
excitada e muito quente.

— Sequer dormi – ele respondeu parado diante de mim —, e você?

— Estava muito calor – respondi sentindo meu peito subir e descer


por causa da respiração pesada.

Ele me olhou daquele jeito que me fazia sentir a mulher mais gostosa
do mundo. Como um homem conseguia demonstrar tanto desejo num olhar? E
por mim? Hassan deu mais um passo. Então me lembrei que eu estava
praticamente nua e vulnerável. Desde o acidente a única pessoa que me viu
nua foi meu médico.

— Fique onde está! – mandei estendendo o braço direito e perfeito


contra o seu peito.

Esse foi meu erro. Tocar o peito dele, sentir sua pele quente e as
fortes batidas do coração sob os meus dedos. Sabia que eu podia protestar
ou até mesmo gritar, para ele não faria a mínima diferença, Hassan não
parecia o tipo de homem que se intimidava com o protesto débil e falso de
uma mulher.

— Por quê? – Ele quis saber.

Não podia mentir para ele. Não era justo.


— Não quero que me veja – eu confessei.

Ele passou a língua pelos lábios, que tentação... mais um passo e ele
afundou, senti suas pernas roçarem as minhas e toda minha estrutura contra o
homem ruiu tão fácil que eu parecia feita de papel.

Não o deixe cruzar a fronteira... uma voz me disse.

— E se eu prometer ficar de olhos fechados? – perguntou quando sua


mão foi para a minha nuca.

Sua voz era tão baixa e provocante que eu só conseguia olhar para
aquela boca que se aproximava da minha.

— Não sei se consigo – admiti covarde.

Sua outra mão tocou meu rosto num gesto de carinho e compreensão.
Como se ele compreendesse a minha dor, mas ele não podia. O cara era
perfeito, não devia ter uma ruga, não sabia o que era ter vergonha do próprio
corpo.

— Se você não conseguir, eu paro – prometeu num sussurro e senti


seu hálito quente contra os meus lábios.

— Então feche os olhos – pedi.

Ele o fez e comprimi os lábios com vontade de chorar. Não de medo,


ou de dor. Mas porque ele estava sendo gentil e não conheci muitos homens
cavalheiros. Sua boca se chocou contra a minha num beijo ávido de quem
deixou bem claro que me queria. Fechei os olhos também e me entreguei ao
beijo. Seus dedos enredaram nos meus cabelos e aprofundou o beijo, sua
língua tocando a minha de forma lasciva, me dizendo que eu era gostosa.

Agarrei seu antebraço. Sua mão desceu para a minha bunda e ele me
ergueu e eu o abracei com as pernas. Senti seu pau contra a minha calcinha,
ele estava nu, mas bastante excitado, o suficiente para que eu me esfregasse
nele. Mal havíamos nos tocado e uma explosão de sensações aconteceu.
Havia apenas as estrelas e o céu como testemunhas. Hassan andou para trás,
para a parte um pouco mais funda da piscina de modo que nossos corpos
ficassem cobertos de água e fiquei aliviada por ele não forçar para ver meu
corpo. Não me importava que ele sentisse as queimaduras, mas não queria
que ele as visse e sentisse nojo.

Nós nos beijamos tão intensamente que pareceu que ele me sugava e
nos tornamos um somente. Senti meu corpo encostar na parede fria do
azulejo e as mãos dele percorreram meu corpo, desceram pelas costelas até
a cintura que ele apertou demonstrando o quanto estava ficando excitado.
Subiu devagar e tocou meus seios, apertando. Joguei a cabeça para trás e ele
beijou meu pescoço, mordeu, sugou.

Tomei sua boca de novo com medo que ele abrisse os olhos, mas
todo o tempo ele estava de olhos fechados como havia prometido. Ele
mordeu meu lábio inferior e sua mão acariciou a borda da minha calcinha.

Há muito tempo eu não sabia o que era ser desejada de verdade, sob
o toque de Hassan, tinha a impressão que jamais soube o que era um homem
me querer com tanta fome. Não conseguia pensar em nada na minha vida que
foi tão intenso e fora do comum. Ele me ergueu para fora d’água o suficiente
para que meus seios ficassem expostos e ele descesse a boca sobre um deles
e sugou com paixão. Meu gemido foi alto e mordi o lábio tentando aplacar o
próximo, mas meu corpo era uma chama só, ardia em brasa num prazer
alucinante.

Ele tomou o outro com a boca, beijando, sugando. Ele começou a


erguer mais meu corpo, beijando a altura do meu estômago, minha barriga,
passou a língua pelo meu umbigo, pelo meu ventre até que me sentou na
borda da piscina. Hassan começou a tirou a minha calcinha e sua boca seguiu
pela virilha e eu me deitei, me abrindo para aquela carícia tentadora. A boca
dele era apaixonante. Segurei seus cabelos, minhas pernas ainda estavam
pendendo dentro d’água quando sua língua lambeu a minha fenda e a chupou.

— Hassan – eu precisei dizer seu nome.

— Você merece ser chupada por ser tão arrogante – ele disse e me
lambeu.
— Sim! – concordei.

Eu concordaria com qualquer coisa naquele momento, até mesmo que


extraterrestres existiam.
— Isso é por me repreender na frente da minha mãe! – ele avisou.

Estremeci.

— Vou fazer isso mais vezes, prometo – eu sussurrei e ouvi sua


risada baixa e rouca antes de ele descer a boca sobre o meu clitóris. — Oh!
– gemi.

Hassan passou a língua em círculos bem devagar no meu botão


inchado e então o chupou. Arqueei o corpo e meu gemido saiu alto, voraz. Se
alguém me perguntasse onde era o paraíso eu poderia dar o endereço
perfeito: a boca de Hassan Aziz. Ele me sugava com paixão, lambia e
chupava como se tivesse Doutorado em como levar uma mulher à loucura.
Senti minhas coxas sobre os seus ombros e ele prendeu minhas pernas com
seus braços e começou a me levar ao ponto mais alto, ao cume do prazer.

Meu corpo começou a tremer, senti um calor sob sua língua que se
expandiu, subiu pelo ventre, revirou meu estômago e tomou todo meu corpo,
eu mal conseguia respirar quando revirei os olhos e gozei forte e gostoso. Eu
me perdi por alguns segundos e quando voltei, precisei me sentar.

Ele se apoiou na beirada da piscina e se ergueu para me dar um


beijo, me fazer sentir o meu próprio gosto. Arrastei para trás e ele saiu da
piscina ficando de joelho entre as minhas pernas. Seu braço passou pelas
minhas costas e o outro segurou minha bunda e me ergueu o suficiente para
me penetrar.

Hassan deslizou para dentro de mim, forte, fundo. Ele me deitou no


chão e saiu de dentro de mim. Olhei para baixo e o vi abrir os olhos pela
primeira vez e mirar o pau entrando em mim outra vez e soltar um gemido
rouco de satisfação. Seu olhar escuro subiu para o meu rosto, sem vacilar
por nenhuma outra parte do meu corpo e se afundar em mim com força. Ele
estocava forte, me encarando, sem parar, selvagem.

Minhas mãos passearam pelas suas costas quando ele ficou


totalmente sobre mim, e eu o sentia entrar e sair sem parar, me levando a um
mundo desconhecido em que um homem poderoso tomava uma mulher sem
hesitação, deixando claro que ela era tudo o que ele queria.

O abracei com as pernas e o mantive preso a mim. Olhei para o seu


rosto tomado pelo prazer e ele fechou os olhos quando o orgasmo começou a
afogá-lo. Era uma visão perturbadora ver um homem daquele se perder
dentro de mim, suas estocadas fundas, ele enfiava o pau com tanta vontade
que o prazer em o ver me fez perder outra vez. Era avassalador. Ele se
agarrou em mim quando o orgasmo o varreu, seus dentes cravados no meu
ombro.

— Elizabeth – ele disse meu nome quando o gozo o fez se derramar


dentro de mim e ele urrou contra a minha pele.
Foi intenso e perfeito. Hassan diminuiu os movimentos e se afastou
para beijar a minha boca, até sair de dentro de mim. Havia uma força
incomum nele, não dos músculos, mas sua energia vibrante e viril que me
engoliu naquele simples momento de prazer.

Ele ficou de joelhos e me puxou contra ele, ainda me beijando.


Quando me dei conta, ele me arrastava para trás, até cairmos na piscina de
novo. Comecei a rir da situação e ele também quando emergimos. Ele passou
a mão pelos cabelos e se aproximou de mim para me abraçar e me beijar
outra vez.

Sentia que podia ficar a noite toda fazendo sexo com ele que não
teria problema algum. Achar homens bons de cama que pareciam entender o
corpo de uma mulher e se preocupar com o prazer dela era difícil no século
dos homens tóxicos e egoístas.

— Vou sair primeiro – ele avisou e se afastou piscando para mim.

Ele mergulhou e nadou até o outro lado da piscina com braçadas


vigorosas e então saiu. Seu corpo todo iluminado pelo brilho da noite. Era
de tirar o fôlego realmente. Tive sorte de experimentar aquele corpo contra o
meu e dentro de mim. Hassan pegou o short no chão e vestiu, passou a
camiseta no corpo e entrou na casa sem olhar para trás.
Soltei um longo suspiro.

Ele cumpriu a promessa, ele sequer olhou para as minhas


queimaduras e isso encheu meu coração de uma intensa satisfação.
Capítulo 15

— Você está ouvindo o que estou dizendo, cara? – a voz de Eliot me


trouxe de volta à realidade.

Não. Estávamos almoçando em um restaurante no centro, mas não


consegui ouvir uma palavra do que ele dizia. Apenas a primeira frase do
tipo: fodeu tudo, cara. O resto era uma nuvem de coisas na minha cabeça, eu
só conseguia me lembrar da trepada fabulosa com a sargento.

— Sim – respondeu depressa e olhei ao redor o restaurante cheio.

— Não parece – ele comentou com um sorriso perverso. — O que


está acontecendo? Encontrou uma boceta mágica?
Por que um homem só podia ficar aéreo quando o assunto era
mulher? Isso não fazia sentido. Pensei bravo.

— Preocupações normais – comentei —, aquilo tudo que te contei


sobre os filhos de Mary Anne.

— E a tal sargento? Ela é gata? Gostosa?

Olhei para ele com raiva. Não falaria de Elizabeth com ele nem que
o presidente da república ordenasse. Ela era um segredo que eu guardaria
muito bem guardado. Não sei por que me sentia tão possessivo, mas falar
dela não era uma opção.

— Ela é chata, arrogante e insuportável! – limitei a dizer.


Ele ergueu uma sobrancelha, desacreditado.

— Sei... – ele riu de mim —, Benjamin disse que ela é muito gata!

Franzi o cenho, e não gostei da ideia que meus amigos estavam


falando da sargento.

— Ele disse isso? – perguntei bravo e praguejei em árabe.

— Fica tranquilo, ele não cobiçou sua garota, só falou que você
estava ferrado por ter uma mulher tão gostosa sob o seu teto... – Ele riu de
mim.

Balancei a cabeça, desolado. O problema de ter amigos de verdade,


era a porra da intimidade. Eles falavam o que queriam e eu ainda me divertia
com isso.

— Ela logo vai embora, eu acho... – comentei.

Ela estava se mostrando ser uma pessoa boa, gentil. Sabia cozinhar
bem e cuidava das crianças como uma mãe faria. E ainda estava disposta a
comprar uma casa nova para viver com as crianças e lhes dar maior
conforto. E logo de cara minha mãe gostou dela, era um bom sinal. A
Senhora Aziz era um radar para mulher mau-caráter. Quantas vezes ela me
falou de Mary Anne e eu não a ouvi? O problema de se sentir dono do mundo
era que me esquecia que podia ser falho como um ser humano normal que
era.

— Essa coisa da Mary Anne foi foda – ele comentou tomando sua
cerveja antes de voltar a comer —, mas é um incentivo para você
recomeçar...

— A última coisa que quero é compromisso – falei com sinceridade


—, depois desse baque vai demorar para eu me envolver com outra mulher
de verdade. Não estou a fim de ser feito de bobo de novo...

— Generalizar não vai ajudar, embora eu não seja o melhor exemplo


para falar de relacionamentos – ele admitiu.

Assenti e decidi mudar de assunto.

— Vai lá, continua contando aí sobre o seu pai... – pedi voltando a


comer, deixando que meu amigo desabafasse.

Ele voltou a falar e novamente minha cabeça viajou para a noite


anterior.

Eu me ergui para tomar água, a noite estava quente e quando fui para
a sala, eu a vi tirando a roupa e mergulhando na água. Foi como se um raio
caísse sobre a minha cabeça e não consegui resistir ao encanto da sereia que
atravessou a piscina nua. Ela era linda, perfeita para mim. Não dava a
mínima para as queimaduras, era ela toda que me atraía com força e me fazia
querer possuí-la com paixão.

Ela me pediu para não olhar seu corpo e como prometi, não fiz.
Embora quando a fodi gostoso, eu precisei olhar para o corpo que brilhava
sob a luz da noite, as gotículas de água que deslizaram pela pele macia e
gostosa. E o sabor de Elizabeth? Era magnífico, perfeito. Poderia ficar
chupando aquela mulher o resto da minha vida que não me importava, ela era
muito gostosa, havia algo nela que despertava em mim meu instinto predador
de possuir e dominar.

Quando o almoço terminou, combinei de ligar para Eliot para a gente


sair e se divertir um pouco para fugir do estresse. Eu tinha um compromisso
importante naquela tarde, prometi levar Michael ao cinema para assistir um
filme de heróis que estava estreando. Pedi para Sara desmarcar meus
compromissos e fui para casa. Quando entrei no apartamento, encontrei
Jeffrey, meu motorista e braço direito, falando com a minha mãe. Ele usava o
uniforme, tinha por volta dos quarenta anos, o porte atlético de um segurança
e não aparentava ser mais velho do que eu.

— Jeffrey? – Eu me aproximei dele e apertamos as mãos. — Não


está de férias?

— Estava, Senhor Aziz, mas sua mãe me ligou e ofereceu um extra


para eu voltar mais cedo – ele explicou —, ela precisa de um motorista.

Olhei para a minha mãe, contrariado.

— Poderia contratar qualquer outro e deixar Jeffrey curtir as férias


dele com a família – a reprovei.

— Não confio em outra pessoa para me levar por Boston – ela


avisou sem se importar com a minha opinião como sempre —, além disso,
pedi para Arthur me acompanhar também, não posso andar por aí sem um
segurança, sou a esposa de um Sheik e se alguém resolver me sequestrar?

— Se fosse mais discreta e usasse roupas informais, ninguém saberia


quem é! – comentei olhando o vestido caríssimo e as joias que valiam mais
que aquele apartamento. — Se passaria pela mãe de qualquer outro
americano.

— Uma mulher não pode andar sem ornamentos e ficar feia... – ela
argumentou com orgulho no olhar.

O comentário dela não fazia qualquer sentido. Pensei na sargento,


sempre com aquelas roupas pesadas, sem maquiagem, joias e ela era
irresistível.

— O que foi? – minha mãe perguntou.

— O quê?
— Você sorriu sozinho – ela me fitou, desconfiada —, no que
pensou?
— Que a senhora me faz rir – respondi depressa.

Ela pareceu acreditar.

— Preciso que Jeffrey fique à minha disposição hoje, algum


problema para você? – Ela quis saber.

— Nenhum, por mim, ele ainda estaria de férias – insisti de forma


significativa.

Minha mãe revirou os olhos, impaciente.

— Elizabeth me ajudou a procurar na internet lugares onde posso


fazer o curso de decoração – ela falou com empáfia.

— Mesmo? – Fiquei surpreso. E me segurei para perguntar o que


meu pai acharia disso. Mas, no momento, ele estava em lua de mel com a
sétima esposa, tinha certeza que não atenderia o telefonema da minha mãe. E
ela estava se aproveitando disso. Esperta.

— Sim, vou fazer minha matrícula e começar essa semana mesmo –


ela me avisou.

— Ótimo – concordei feliz por ela estar tentando ao menos se


realizar.

— Já almoçou? – Ela quis saber.

— Sim, almocei com Eliot. Onde estão as crianças?

— Betina está na piscina, e Michael se arrumando para sair com


você – ela respondeu.
Queria perguntar onde estava a sargento, mas não precisei me
preocupar, ela surgiu na sala, rindo. Linda, ela sorrindo era como o nascer
do sol num dia fresco. Mas o problema foi o que vinha atrás dela, meu
segurança Arthur, ele ria também de algo que estavam conversando e não
gostei de ver aquela cena nem um pouco.

— Se eu te contasse que uma vez fui obrigada a atirar em três homens


de uma vez! – Elizabeth disse a ele enquanto se aproximavam de nós.

— Mesmo? – Arthur questionou impressionado.

— Ah, sim, eu poderia te contar muitas experiências que tive – ela


respondeu quando pararam diante de nós.

Olhei de um para o outro de forma reprovadora. Meu segurança era


um homem alto, e parecia uma muralha de músculos como o The Rock. Do
tipo que as mulheres gostavam. Como Elizabeth, Arthur fez parte da polícia
antes de abrir sua empresa de segurança e, com certeza, tinham experiências
para compartilhar, coisas em comum.

— Boa tarde, Senhor Aziz. – Ele retomou a postura séria ao notar o


meu olhar.

— Boa tarde – respondi seco sem qualquer humor.

Olhei para a sargento que estava cheia de ri ri ri com o meu


segurança. Ela apenas me olhou, fez um aceno com a cabeça e foi em direção
à piscina onde Betina estava, me ignorando por completo. Estreitei o olhar.
Quem ela pensava que era para me tratar como se eu fosse um empregado da
casa? Ou melhor: tratar um empregado da casa com mais intimidade do que
me tratar bem? Cretina arrogante... xinguei em pensamento.

O bom era saber que quando ela olhava para aquela piscina era
obrigada a se lembrar do que houve entre nós e como foi bom! Senti meu
sangue ferver e...

— Tio Aziz – a voz de Michael me trouxe de volta à realidade.

Sequer notei que estava parado olhando para Elizabeth e que tanto
Arthur quanto Jeffrey haviam se retirado. Apenas a intrometida da minha mãe
estava ali parada olhando para mim.

— Oi, Michael. – Eu olhei para ele.

— Eu já estou pronto! – ele me avisou e girou para mostrar que


estava arrumado.

A roupa nova, o cabelo com gel, quase um adulto. Sorri diante da


inocência dele e sua sinceridade. O problema de se prometer qualquer coisa
a uma criança era que ela não esquecia o que foi anunciado nem sob tortura.

— Vou me trocar e vamos – avisei e fui em direção ao meu quarto.

Meia hora depois, eu estava pronto e deixando o apartamento sem me


encontrar com a sargento de novo. Ela parecia ter evaporado no ar. Esqueci
a existência dela por um tempo e me concentrei em Michael e no cinema.
Assistimos ao filme e depois eu o levei para comer alguma coisa. Ele quis
comer sanduíche com batata frita e refrigerante, e que vinha com um
brinquedo diferente. Acabei pedindo o mesmo para mim somente para ele
ganhar dois brinquedos diferentes. Algo me dizia que se a sargento estivesse
ali, ela diria que não fazia bem à saúde e era melhor comer algo saudável. E
que dar dois brinquedos à criança o tornaria ganancioso e mimado.

Pare de pensar nessa mulher, eu disse a mim mesmo.

— É a primeira vez que um tio me traz para comer no shopping –


Michael falou para minha surpresa.
— É mesmo?
— Primeiro foi a tia Liz – ele contou.
Aquilo me deixou surpreso. Mary Anne nunca levou os filhos para
passear? Eu deveria ter imaginado que uma mulher que mentiu como ela fez,
não tivesse muito tato com crianças. Ela abandonou os filhos para vir para
Boston dar um golpe em um milionário, que tipo de pessoa eu esperava que
ela fosse? Maternal?

— E seu pai? – perguntei querendo saber mais.

— Meu pai não saia com a gente – ele falou sério —, na verdade,
não me lembro dele e da minha mãe, Betina lembra mais.

Havia me esquecido que ele tinha três anos quando Mary Anne
morreu.

— Estou gostando de morar na sua casa – ele continuou a falar


enquanto comia.

— Mesmo? E por quê?

Pensei que ele fosse descrever que era por causa do videogame e da
piscina, mas a resposta me deixou boquiaberto.

— Você não grita com a gente – ele ponderou e sorriu para mim —,
eu não gosto de gritos. Quando a vovó gritava, ou aqueles homens que iam lá
em casa, eu escondia debaixo da cama e tampava os ouvidos.
Meu coração encolheu. Pela primeira vez, eu começava a enxergar a
família desestruturada que aquelas crianças foram obrigadas a ter. Apesar de
não concordar com a cultura da minha família e ter procurado meu próprio
caminho, nunca fui maltratado, ou tive traumas. Meu pai era um homem frio e
indiferente, mas nada que eu não pudesse conviver ou fazer terapia para falar
sobre isso e colocar para fora minha frustração.
— Por que você se escondia debaixo da cama? – perguntei com
medo da resposta.
— Era o que eu e Betina fazíamos para a vovó não bater na gente ou
aqueles homens gritarem para a gente sair da frente – ele respondeu como se
fosse algo normal, como se isso acontecesse na casa de todas as pessoas.

— E quem eram esses homens? – não devia perguntar, mas eu


precisava saber a resposta.

— Betina chamava de clientes – ele respondeu e sorriu outra vez.

Clientes? Não precisava ser um tolo para compreender que Joanne


devia trabalhar como prostituta e levava os clientes para dentro de casa.
— A vovó dizia que depois que a mamãe morreu tudo ficou difícil e
a culpa era nossa! – ele comentou e comeu mais um pouco.

Tal situação não parecia afetá-lo tanto, mas eu sabia de crianças que
escondiam seus traumas, costumavam externa-los mais tarde,
inesperadamente, quando o gatilho era acionado e isso não era bom.
Conversaria mais tarde com Elizabeth, eles precisavam de um psicólogo
para acompanhá-los e ajudar a sanar aqueles problemas antes que se
transformassem em grossas cicatrizes na alma.
— Agora não precisa se preocupar com isso – prometi bagunçando
seu cabelo —, ninguém mais vai gritar com você, e não haverá mais clientes.

Foi a primeira vez na minha vida que senti vontade de chorar de


raiva. Como alguém podia culpar uma criança por seus problemas? Ainda
bem que Joanne estava morta, ou eu mesmo teria o prazer de estrangulá-la
agora. Ela e sua filha pervertida.
Capítulo 16

Estava terminando de passar o pano na pia quando Hassan entrou na


cozinha. Não o vi o resto do dia. Ele saiu com Michael e ficou fora por
horas. Eu, Betina e Samsha jantamos e deixei tudo arrumado. Pelo menos até
contratarem outra pessoa para fazer o serviço mais pesado, a cozinheira
estava de férias e a moça da faxina vinha uma vez por semana, Martha
ficaria internada por um longo tempo, o caso dela infelizmente foi severo e
ainda iam apurar as sequelas. Olhei para ele, lindo e displicente, como se o
mundo pertencesse a ele. E eu temia que pertencesse.

— Onde está Michael? – eu perguntei sem cumprimentá-lo.


— O que você tem contra me dar boa tarde ou boa noite? – ele
perguntou se aproximando.

Não sei se era pelo fato de termos transado, mas agora ele parecia
mais viril do que nunca e meu clitóris pulsou quando ele se aproximou e
senti seu perfume. Minha vontade era de fechar os olhos e deixar que ele me
beijasse de novo.

— Nada – encolhi os ombros sem dar importância.

Mas a verdade era que eu estava na defensiva. Na noite anterior, ele


me tratou com tanto carinho e desejo que temia que a paixão me tomasse, e
não fazia sentido gostar de um homem como Hassan Aziz. Além disso, eu
partiria dentro de alguns dias, tinha esperança que ele fosse enjoar da gente e
nos mandar embora logo, afinal, estávamos acabando com sua vida de
viúvopegador.com.

— É apenas o seu jeito grosseiro de ser? – ele perguntou com ironia,


parando diante de mim e cruzando os braços fortes.

Ele usava uma camisa polo preta e calça jeans e ainda assim parecia
um poderoso sheik árabe que dominava o mundo e poderia causar uma
guerra dentro de uma mulher sem sentir nada em troca.

— Você quer atenção? – Dei um passo para ele. — O que foi? Não
está acostumado com uma mulher que não lambe o seu pé depois de uma boa
trepada?

Eu o desafiei.

— Você é muito petulante! – ele me criticou.

— Não tenho culpa se seu harém só tem mulheres que se jogariam da


sacada por um segundo da sua atenção – disse e pisquei para ele antes de me
afastar.

Ele segurou meu braço. Minha pele pegou fogo de imediato e ficou
visível que ele também sentiu a pólvora do desejo pegar fogo. Contudo, não
era hora e nem lugar para isso. Poderia admitir para mim mesma – e mais
ninguém – que era a primeira vez que um homem me tocava e eu sentia
vontade que ele arrancasse a minha roupa e me fizesse esquecer meu próprio
nome.

— Precisamos conversar – ele disse e me soltou devagar.

Eu esperava que não fosse sobre a noite anterior, nunca gostei de


discussões sobre momentos íntimos, isso me constrangia mais do que me ver
pelada.
— Sobre o quê? – indaguei apoiando meu quadril no balcão e
cruzando os braços.

— Sobre Michael e Betina – ele respondeu me deixando atônita.

Um misto de decepção e ansiedade me tomou.

— Vai deixar a gente ir embora? – perguntei angustiada.

— Não é isso – ele respondeu e o que me surpreendeu foi o alívio


que senti.

Precisei esconder minhas emoções ou ele notaria que eu era um poço


de contradições naquele momento.

— O que é?

— Algumas coisas que Michael me disse – ele estava sério —, você


sabia que Joanne era prostituta? Que ela levava clientes para casa?

Assenti devagar.

— Ela sempre foi – contei a ele —, mas acredito que depois que
Mary Anne se casou com você e a filha lhe mandou dinheiro, ela deixou tudo
isso de lado. Depois da morte de Mary Anne, teve que se sustentar e culpava
as crianças por isso.

Ele xingou em árabe e se afastou, andando pela cozinha.

— Eles precisam de um psicólogo, Elizabeth! – ele se voltou para


mim —, quem sabe que traumas essas crianças podem ter!

O jeito que ele falava Elizabeth quando estava bravo era tão sexy.

— Eu os levei em uma psicóloga em Washington e foi ela que me


aconselhou a resolver esse assunto com você sobre a guarda antes de
começar o tratamento – expliquei a ele —, eles vão precisar de ajuda para
superar tudo o que perderam e aceitar o que nunca tiveram.

Amor... era disso que eu falava.

— Por isso preciso que decida logo e me deixe levá-los, quanto


antes começarem o tratamento, melhor. – E me aproximei dele.

— Eles podem frequentar um psicólogo aqui em Boston – respondeu


sério.

— Não era o que eu esperava ouvir – falei sincera.

— Quanto antes começarmos, melhor – ele se limitou a dizer.

— Não vai me deixar levá-los, não é? Ou não estaria tomando essa


decisão – conclui sentindo um nó na garganta.

— Você sabe que eu preciso de tempo e ainda não confiamos um no


outro, confiamos? – ele me questionou.

Fiz que não com a cabeça lentamente. Confiar era um passo muito
grande e não tinha nada a ver com transar ou conversar como pessoas
civilizadas, isso acontecia com o tempo. Comprimi os lábios afogando
minha raiva por ele me fazer passar por tudo aquilo e tentei compreender
que se estivesse no lugar dele não faria diferente. Não entregaria as crianças
a ele naquele momento mesmo que implorasse, afinal, o que eu sabia sobre
ele? O que ele sabia sobre mim?

— Não confiamos – eu admiti.

— Conversamos outro dia e você prometeu se colocar no meu lugar


– ele me fez lembrar.
— Eu sei. Ainda assim, é difícil! Meu lado egoísta quer que você
olhe para mim e veja a mãe que eu quero ser! – confessei.
Ele ficou me olhando como se eu fosse um fantasma.

— Você sempre quis ter filhos? – ele me perguntou de repente.

— Não – respondi sincera olhando para ele para que soubesse que
eu dizia a verdade —, na verdade, nunca pensei sobre isso até eles
aparecerem na minha vida. Betina e Michael me fizeram mudar todo o
conceito que tinha sobre família.

Hassan assentiu, como se absorvesse as minhas palavras devagar.


— Nunca foi casada?

— Não – respondi a verdade —, tive um relacionamento longo, mas


não cheguei a me casar.

— Por que não se casou?

Dei um passo para trás. Hassan notou minha tensão, era o assunto
delicado que eu evitava a todo custo. Desviei o olhar para o outro lado e dei
as costas para ele.

— Nem toda mulher sonha em casar – falei por falar.

Mas no meu caso não era verdade. Tive uma família feliz depois que
minha mãe se casou com Andrews e sonhei em ter a mesma coisa. Durante
anos achei que era possível e então minha vida desabou.

— Por que não me diz a verdade? – Ele quis saber.

— Não posso falar sobre isso agora – olhei para ele séria —, não
consigo.

Ele assentiu devagar, compreendendo meus limites.


— Tudo bem. – Ele me olhava sério. Não havia piedade em seu
semblante, pensando que eu era uma coitada, ao contrário, havia uma ruga de
preocupação e isso mexeu comigo.

Não queria que ele se preocupasse, minha vida não era problema
dele.

— Então, amanhã vamos procurar uma psicóloga – eu concordei —,


posso pedir para a profissional de Washington que os atendeu indicar uma
aqui.

— Ótima ideia – ele concordou —, meu terapeuta só atende adultos.


Não tenho ideia de onde procurar.

— Você faz terapia?


— Você não? Deveria fazer, acredito que o mundo moderno seria
melhor se todos fizessem terapia – ele filosofou com um meio sorriso.

Não contaria a ele que eu frequentava psiquiatra e tomava remédios


para dormir de vez em quando. Ainda mais quando os pesadelos eram mais
constantes e eu revivia cada segundo dos meus traumas. Ele tinha razão,
nesse mundo moderno todos precisavam de ajuda psicológica, era difícil
enxergar a si mesmo em meio ao caos de problemas e exigências sociais.
Querer ter tudo, ser tudo e ainda lidar com as frustrações era impossível.
Precisávamos de ajuda.
— Fico feliz em saber que você não é um psicopata. – Forcei um
sorriso.

— Vou querer acompanhar o tratamento deles de perto – ele me


avisou.
— Está bem – concordei.
Nesse momento, Samsha entrou na cozinha e sorriu para nós.

— Pensei que tinha saído outra vez, Hassan – ela comentou com ele.

— E por que pensou isso? – Ele olhou para a mãe erguendo uma
sobrancelha.

— Porquê da outra vez que estive aqui você não ficou uma noite em
casa – ela o fez lembrar.

Dei as costas e fui pegar qualquer coisa na geladeira. Não queria


ouvir o quanto eu e as crianças estávamos atrapalhando a vida pessoal e
agitada dele, que ele estava trepando comigo, uma mulher pela metade,
quando ele poderia ter as mais bonitas e gostosas de Boston.

— Não estou com vontade de sair – ele respondeu seco.

— Que milagre! – a mãe debochou deixando os copos na pia e


mudou de assunto. — Michael tomou um banho e dormiu. Betina está fazendo
uma nova roupa para Low.
E? Eu me perguntei enquanto tirava a jarra de suco de geladeira para
não parecer uma louca perdida na cozinha. Fui até o outro lado e me servi de
suco.

— Posso saber o que quer dizer com isso?


— Ora, você poderia aproveitar seu tempo e levar Elizabeth ao
cinema ou para dar uma volta simplesmente – ela propôs.

Eu engasguei com o suco e cuspi um pouco. Por que ela estava


dizendo aquilo? Perguntei desesperada.

— Não é somente as crianças que têm que se divertir e sei que


prometeu levar Betina amanhã ao clube. Adultos também precisam sair...
— Não preciso sair – garanti séria e fui até a parede pegar papel
toalha para limpar a sujeira que fiz sobre o balcão.

Evitava olhar para Hassan, sabia que seu olhar perscrutador estava
em cima de mim.

— Disse a Arthur para convidá-la para sair, mas ele tinha trabalho
essa noite – Samsha completou.

— O quê? – Hassan perguntou e olhou para mim novamente.

— Mesmo que ele me convidasse, eu não sairia – respondi com o


cenho franzido. Não estava gostando daquela conversa —, estou bem, não
sinto necessidade de sair.

Os olhos de Hassan brilharam ameaçadores e eu senti que estava em


perigo realmente.

— O que tem demais dar uma volta? – ele propôs. — Podemos ir


num bar só para tomar um drinque.

Olhei para ele. Não havia nada demais em sair, seria até legal ver
gente e respirar outros ares. Desde o acidente e a vinda das crianças para a
minha vida, eu não me diverti um segundo. Afastei os meus amigos e me
fechei numa concha só minha. Estava bem lá dentro. Segura.

— Não trouxe roupa para isso – respondi encolhendo os ombros.


Uma mulher sem a roupa certa não seria obrigada a sair de casa.

— Não vamos em nenhum lugar chique – ele falou se aproximando


de mim.

E ambos esquecemos que sua mãe estava assistindo a cena. Ele


estava me desafiando, o brilho safado no olhar dizia tudo. Ele queria que eu
lutasse para não ir, porque ele estava disposto a batalhar até vencer e me
convencer que a noite ao seu lado poderia ser irresistível.
— Qualquer roupa que usar vai te deixar bonita – ele elogiou sem
tirar os olhos dos meus.

Levei o copo de suco na boca e tomei porque minha garganta ficou


seca tamanha a excitação que senti quando ele disse que eu ficaria bonita. O
problema era que eu acreditava em cada palavra que dizia. Tinha certeza que
se ele me achasse feia, também diria. Hassan não era o tipo de homem que
escondia seus pensamentos mais intensos, mesmo que fossem inconvenientes.
Queria que ele me beijasse e me convencesse a ir porque tornaria tudo
dolorosamente gostoso, que me daria lembranças suficientes para os
próximos anos e que seria difícil encontrar um homem tão intenso para onde
quer que eu fosse.
Ficamos nos encarando até que a mãe dele quebrou a mágica.

— Prometo olhar as crianças, não se preocupem – ela falou e


olhamos para ela.
Por que eu sentia que por trás daquele sorriso sincero, havia uma
ideia perversa? Mãe e filho eram tão parecidos. Hassan sorria da mesma
forma quando tinha más intenções. Sempre fui corajosa e não fugiria da raia
agora. Além disso, eu tinha uma arma no meu quarto e poderia atirar se ele
bancasse o babaca comigo. E ele sabia disso.

Olhei para Hassan.

— Vou trocar de roupa – avisei e saí da cozinha sabendo que eu


estava adorando a ideia de sair pela noite ao lado dele.
Capítulo 17

Amei a ideia de sair com Elizabeth. Meu plano era invadir o quarto
dela na calada da noite, ou esperar por ela na piscina de novo, mas a deixa
da minha mãe ajudou e muito. Contudo, a facilidade com a qual aceitei a
ideia poderia trazer desconfiança e minha mãe pensaria que eu estava
interessado na sargento.

— Por que fez isso? – fingi não compreender.

Minha mãe encolheu os ombros num gesto arrogante.

— Você não fez um trato com ela? Não disse que quer conhecê-la
para deixá-la partir com as crianças? – minha mãe me questionou. — Então,
se não ficarem a sós e conversarem, se não a vir agindo fora dessa casa,
como vai saber quem ela é?

— Mãe... – eu a repreendi —, levá-la para uma noitada não estava


nos meus planos!
Eu era um grande mentiroso. Eu levaria Elizabeth até mesmo para o
inferno se fosse necessário para tê-la comigo.

— E vai ficar com essas crianças e essa estranha até quando? –


perguntou incrédula. — Eles não são sua responsabilidade!

Sabia disso. Não eram. Mas depois do que Michael me contou tudo
mudou de figura. Simplesmente não podia deixá-los partir sem ajudá-los.
Eles não tiveram a sorte que eu ou Elizabeth tivemos. Apesar de ter sido
criada pelo padrasto, ela conheceu o amor dos pais. Apesar do pai frio e
distante, eu tive o amor incondicional da minha mãe, que morreria ao meu
lado, mas não me deixaria para trás da forma como Mary Anne os deixou
com a avó maluca.
— Eu sei – bufei —, e por que ofereceu para Arthur sair com ela?

— Ora, você não viu os dois conversando? Eles parecem se dar tão
bem – ela disse levando a mão ao peito —, ele é solteiro, ela também. Qual
o problema de eles se conhecerem? Eu gostei dela e só quis ajudar...

— Não quero perder meu segurança por causa de uma mulher que
mal conheço – justifiquei minha aversão ao fato —, não se encontram mais
seguranças como Arthur! E logo ela vai embora. Não se meta! – avisei com o
dedo em riste e a deixei na cozinha.

Fui para a sala e tomei uma dose de uísque de uma vez. Um lado
meu, agora bem fraco, pensava como a minha mãe e dizia para não me
importar desde o primeiro segundo. Mas havia uma parte de mim que não
permitiria que aquelas crianças deixassem minha casa sem ter certeza que
eles estavam bem, completamente. Um lado protetor foi acionado no modo
tempestade. Nada me seguraria.

E essa ideia de imaginar a sargento com Arthur não era nada


agradável. Por mais coisas em comum que eles tivessem, ela estava comigo.
Depois era problema dela, mas agora estava comigo. E ela sabia disso.

Quando olhei para o lado, eu a vi.

Elizabeth usava uma blusa branca. O ombro e o braço direito


estavam nus, e o braço e o ombro esquerdo cobertos por uma blusa de manga
comprida. O tecido contornava seu corpo perfeitamente até a fina cintura de
onde descia uma calça jeans e ela usava sandália de salto alto. Os cabelos
estavam soltos e pelo amor de Alá! Tinham uma aparência sedosa que me
fazia querer afundar o rosto entre eles e sentir o perfume.

A maquiagem era tão leve que nem parecia usar. Simples e perfeita.
Nunca vi uma mulher com tão pouca vaidade brilhar tanto. Meu corpo ficou
quente com vontade de virá-la no encosto daquele sofá e comê-la de quatro
bem gostoso, enquanto enrolava aquele cabelo no pulso e o puxava com
força. Meu pau ficou duro somente por pensar nisso.

— Estou pronta – ela disse séria e franziu o cenho.

Talvez incomodada com o meu olhar.

— E você disse que não tinha roupa para sair – eu joguei na cara
dela e fui me aproximando —, você está linda!

— Não precisa me elogiar – ela retrucou impaciente —, nós dois


sabemos que no fim da noite a gente vai trepar.

Gostei de saber que ela queria trepar comigo de novo. Contudo, o


melhor foi vê-la fugir de um elogio.
— Sinta-se lisonjeada, não costumo elogiar as pessoas – eu a
informei.

— Obrigada, então – ela fingiu não se importar.

Sorri e apontei em direção ao elevador:

— Vamos?

— Vamos...

Podia jurar que minha mãe estava atrás da porta do corredor


olhando, mas foi apenas impressão, quando olhei de novo, não havia
ninguém. O elevador abriu quando nos aproximamos. E entramos. Precisei
ficar perto dela e ela não se afastou. Senti o calor do seu corpo próximo ao
meu, aquele desejo de estar perto, de tocar, mas ter a hora certa, tudo isso
vibrava em mim.

— Quer ir a algum lugar em específico? – perguntei quando


chegamos na garagem.

Abri a porta para que ela entrasse no meu carro, um Maserati SUV de
590 cv, preto.

— Obrigada – ela agradeceu e entrou.

Senti aquele maldito perfume e fechei a porta, antes de dar a volta e


me sentar ao lado dela.

— Não conheço nada por aqui, por isso, deixo por sua conta – ela
disse quando comecei a deixar a garagem.

— Tem um lugar que talvez você goste – eu avisei.

Dirigi pelas ruas de Boston, o carro deslizando pelo trânsito até


chegar ao restaurante que escolhi. Já havíamos jantado, mas podíamos tomar
um drinque e conversar. O manobrista veio para abrir a porta do carro e o
cumprimentei. Elizabeth desceu e me aproximei dela.

— O que é? – ela perguntou curiosa, a fachada não falava nada, era


bem discreto.

— Você vai ver...

Coloquei a mão em suas costas e a conduzi para dentro. Quando


entramos, já podia sentir o cheiro de especiarias no ar. Nunca me cansaria
daquele aroma, era a minha infância, minha história. Elizabeth olhou ao
redor e ao notar a decoração, olhou para mim com um sorriso:
— É um restaurante árabe – ela falou o óbvio.

— Senhor Aziz – o recepcionista vestido com um turbante veio nos


receber.

— Omar – nós nos cumprimentamos em árabe e então eu lhe disse em


inglês —, essa é a Senhorita Elizabeth Andrews, minha convidada.

— Seja bem-vinda. – O homem estendeu a mão para Elizabeth que o


cumprimentou.

— Obrigada...

— Queremos um lugar mais privativo – eu pedi.

— Está bem, por aqui.

Caminhamos por entre as mesas, as pessoas nos olhando. Com


certeza fazíamos um belo casal. Nem todos os presentes eram árabes, ao
contrário, a maioria dos clientes de Omar eram americanos ou turistas. Ele
nos levou por um corredor estreito e abriu uma cortina. Fiz sinal para que
Elizabeth fosse na frente, queria causar uma boa impressão e consegui.

O queixo dela caiu quando entramos na sala tipicamente decorada


como um quarto árabe. Havia um tapete persa que tomava todo o ambiente.
Dossel que desciam do teto em sedas coloridas e caíam sobre as almofadas
no chão, fazendo um arco. Uma mesa baixa no chão e uma música suave
tocava, deixando tudo mais atraente. Segurei o braço dela e fiz sinal para
que tirasse as sandálias. Tirei o sapato e as meias e pisamos descalços no
tapete macio.

— É simplesmente maravilhoso! – ela falou olhando para o teto alto


onde havia uma abóbada de vidro que deixava a luz da noite entrar.

Olhei para Omar.


— Traga o de sempre – pedi.

Ele assentiu e se retirou.

Apontei as almofadas e ela se sentou atrás da pequena mesa.

— Adorei – ela disse empolgada.

Omar voltou e deixou dois copos pequenos diante de nós, deixou a


garrafa e se retirou.

— O que é isso? – Elizabeth perguntou curiosa. Pegou o copo e


levou ao nariz para sentir o cheiro

— Arak – respondi e tomei um gole. — Uma bebida típica do meu


povo, feita de uvas claras e são adicionadas sementes de anis.

Ela fez uma cara surpresa quando expliquei.

— Deveria ter imaginado, algo bem árabe – ela respondeu e tomou


um pouco —, é delicioso. Não tinha tomado antes.

— Que bom que gostou, vejo que não errei em agradá-la – comentei
me encostando nas almofadas.
Olhei para ela com desejo evidente. Algo queimava dentro de mim
que precisava fazer com que Elizabeth se sentisse querida por mim o tempo
todo. Essa possessividade era novidade para mim.

— Quer me agradar?
— Você não gosta?

Ela encolheu os ombros.


— Só não estou acostumada – explicou e tomou o restante da bebida
e se serviu de mais, colocando mais no meu copo também.
— Vá com calma – pedi —, o conteúdo alcoólico dessa bebida é
alto.

— Não estou dirigindo – ela piscou para mim.

Respirei fundo e disse:

— Burro do homem que a conheceu e não a agradou – comentei.

Elizabeth me olhou como se eu tivesse dito algo grave.


— O que foi?

Ela bebeu mais da bebida.


— Você é sempre assim? – Ela quis saber.

— Assim como?

— Fica agradando as suas companhias, falando que elas são bonitas,


e as fazendo sentir bem? – perguntou sem olhar para mim e virou todo o
conteúdo do copo.

— Não sou assim. Sou agradável, mas não costumo bajular as


pessoas...

— E por que quer fazer isso comigo? – Ela olhou para mim, seus
olhos verdes brilhando com desconfiança. — Acha que assim vou desistir de
levar as crianças?
— Por que eu a faria desistir deles? – indaguei sem entender.

— Não sei, a gente não se conhece, vai que você pensou melhor e
quer criá-los – ela também se encostou nas almofadas. Elizabeth me olhou.
Ela não pensava o que dizia, estava apenas se defendendo do bem que eu
fazia a ela. Era nítido.
Uma mulher machucada sempre estava na defensiva. Era inevitável.
— Você não pensa assim, Elizabeth. – Toquei sua mão que estava
sobre o tapete e ela estremeceu.

— Como sabe? – a voz dela mal saiu, pareceu mais um sussurro


rouco.
— Você tem medo de gostar de mim – falei tranquilo.

Ela deu uma risada e desviou o olhar para a mesa para pegar o copo
e beber mais um pouco antes de encostar nas almofadas.
— Você é muito convencido! – Ela me olhou chocada. — Acha que
somente porque trepamos, eu começaria a gostar de você?

Ela ria, mas ela gostava. Apesar de sabermos que nossa união era
apenas pelo prazer, Elizabeth Andrews não era o tipo de mulher que se
envolvia apenas por envolver. Ela precisava de laços e criou um comigo, foi
inevitável. Ambos sabíamos disso. Talvez através do rancor que sentíamos
por Mary Anne, ou pelo carinho que Michael e Betina nos provocavam, tanto
faz, a gente tinha algo em comum muito forte. Um ponto de colisão que nos
levou à necessidade de saciar o desejo um do outro.
— Eu gosto de você – eu disse sem pensar.

Quando notei havia dito. Ela ficou séria, me olhando.


— Pelo menos, o que vi até agora, está me agradando – avisei
controlando o calor que se apoderou de mim.

Estiquei o braço e peguei o copo e tomei o conteúdo. Ela pegou a


garrafa e encheu nossos copos.

— Vamos acabar bêbados – eu avisei.


— O que é uma noite? E não é a primeira vez que você bebe essa
semana! – Ela bebeu mais e olhou de esguelha para mim. — Sequer me
lembro qual foi a última vez que bebi.
— Mesmo?

— Faz tempo – ela se lembrou de repente e ficou séria, seus dedos


longos e finos alisaram o copo e então soltou o ar dos pulmões bem devagar
—, foi há mais ou menos uns sete anos.

— Bastante tempo.

Ela assentiu ainda olhando para o copo.


— Eu tinha um namorado na época, a gente gostava de sair e eu
adorava beber, mas ele me fez acreditar que uma mulher bêbada era uma
vergonha, que as pessoas riam dela e que eu não deveria ser assim – ela me
olhou novamente. Havia tristeza em seu olhar e não gostei de vê-la desse
modo, lembrando de episódios que lhe fizeram mal. Não queria estragar a
nossa noite.

— Então hoje você vai beber, porque além de não estar mais com
esse babaca, eu não me importo – garanti servindo mais para nós dois —, a
gente merece depois de ter conhecido pessoas que nos fizeram mal.
Ergui meu copo:

— Por Mary Anne, a mentirosa do século – eu disse.

Elizabeth sorriu daquele jeito gostoso que fazia meu pau pulsar de
desejo. Queria vê-la sempre sorrindo.

— Pelo babaca que saiu da minha vida – ela não disse o nome dele e
notei que havia muita mágoa ali.
Batemos os copos no ar e viramos de uma vez. Ela nos serviu e
começamos a rir daquela situação.
Capítulo 18

Relaxei como há muito tempo não me permitia. Hassan me fez ver


que era tolice ficar na defensiva quando queríamos a mesma coisa, só nos
divertir e esquecer que fomos machucados por pessoas que não mereciam
sequer respeito. O tal do Arak era delicioso e tomei o suficiente para ficar
alegre quando Omar trouxe algumas coisas para a gente comer, mas eu não
tinha fome, pelo menos, não de comida.

Uma música sensual lenta começou a tocar e a cortina foi aberta,


duas bailarinas da dança do ventre entraram e começaram a dançar. Sorri
para Hassan que não parecia nem um pouco surpreso com a exibição. Elas
dançavam de um jeito sensual e uma delas segurava uma cobra e elas se
misturavam diante dos meus olhos bêbados.

A batida da música era tão sensual que eu parecia arrebatada do meu


próprio corpo. Como se eu estivesse vivendo num outro mundo, sem
problemas, sem traumas. Senti a boca quente de Hassan tocar meu ombro e
mantive os olhos presos nos corpos das mulheres que se moviam como
cobras. Era tudo tão lascivo que o calor do desejo tomou conta de mim.
Tinha consciência da boca de Hassan se arrastando pelo meu ombro, em
direção ao meu pescoço.

Havia uma mistura de flautas e instrumentos que eu não conhecia,


mas que faziam minha pele arrepiar, hipnotizada pelo toque dele. Talvez o
efeito da bebida fizesse com que tudo fosse mais mágico, mas a verdade era
que eu estava completamente seduzida por aquele homem.

Sua mão afastou meu cabelo e ele beijou a minha nuca, se colocando
atrás de mim. Ele me puxou por entre suas pernas e sentiu seu pau duro
acima da minha bunda, na base das minhas costas. Hassan jogou todo o meu
cabelo para frente e sua boca desceu novamente na minha nuca, ele beijou e
arrastou a língua até a minha orelha e disse:

— Gosta do que vê? – ele sussurrou.

Olhei para frente, agora as mulheres dançavam uma com a outra, seus
corpos se tocando de forma sensual, mas sem usarem as mãos, apenas num
ritmo sensual e hipnótico. Isso me deixou excitada.

— Sim...
A mão dele invadiu a parte debaixo da minha blusa, a tirou de dentro
da calça e seus dedos apertaram a pele da minha barriga, subiram pela minha
cintura. Eu mal conseguia respirar quando ele tocou a parte debaixo do meu
seio bem devagar com a ponta dos dedos, meu clitóris pulsava por atenção.

— Vê a forma como elas olham para nós? – ele perguntou.


Elas nos olhavam enquanto dançavam, seus olhos carregados de um
prazer tão cru que jamais tinha visto em duas dançarinas.

— Elas querem você – ele disse ao meu ouvido.

— Não... – não era verdade.

— Não vê como é linda, Elizabeth, como é desejável. Se elas


pudessem escolher alguém, escolheriam você...
Não sabia se era a voz dele, a música, o efeito da bebida, ou o olhar
das mulheres sobre mim, mas eu estava muito excitada, até mais do que um
dia fiquei. Era estranho, meu corpo inteiro estava em chamas. Quando
Hassan apertou meu seio precisei fechar os olhos porque era bem capaz de
eu gozar bem ali, sem qualquer outro estímulo.

Ele puxou minha blusa para baixo e meu seio saltou inchado. As
dançarinas ficaram excitadas e começaram a se tocar. Senti que ele apertou
meu seio, sua respiração ofegante na minha orelha, e a outra mão invadindo a
minha calça. Fechei os olhos quando sua mão submergiu na minha calcinha e
acariciou finalmente meu clitóris. Ele deslizou a mão do seio para o meu
pescoço. Abri os olhos e vi uma das mulheres mover o corpo para frente e
para trás, mas a outra não a tocava, apenas dançava em volta com a cobra.

A forma como ela balançava os quadris era o mesmo ritmo do toque


de Hassan em mim. Antes que eu gozasse, antes que o mundo desabasse
sobre mim, eu me virei para ele, nossas bocas ficaram próximas, ofegantes, e
então o vi erguer a mão e fazer sinal para as mulheres deixarem a sala.

A música continuou a tocar.

— Seu maldito árabe – eu murmurei contra sua boca enquanto ele


esticava as pernas e eu me sentava sobre as coxas dele, meus joelhos sobre o
chão. — Está me deixando louca...

— É essa a intenção...

Segurei seu rosto entre as mãos.

— Durante toda a minha vida, eu sempre pensei demais – contei a ele


—, não me deixe pensar muito.

— Seu pedido é uma ordem, habib.


Não fazia ideia do que ele havia dito, mas gostei do som. Beijei sua
boca maravilhosa e me entreguei. Não queria ser aquele personagem perfeito
que criei para ser a filha perfeita, a agente perfeita, a mulher perfeita.
Almejava me perder nos braços de Hassan e esquecer todo o resto. Ele
bebeu da minha boca, aceitou meu beijo com prazer, e me abraçou pela
cintura, me apertando contra o seu corpo. Meus seios se esmagaram contra
seu peito, mas eu queria senti-lo mais.

Hassan começou a subir minha blusa, mas isso significaria ficar nua
na frente dele. As luzes eram muitas e eu não estava preparada. Segurei sua
mão e parei de beijá-lo.

— Não vou olhar – ele prometeu novamente.

E eu sabia que podia confiar nele. Assenti e voltamos a nos beijar.


Deixei que ele subisse a minha blusa e Hassan não tirou os olhos do meu
rosto quando jogou a blusa de lado. Era a segunda vez que ficava nua diante
dele e ele não olhou para as cicatrizes que começavam no meu ombro
esquerdo e iam até o meu pulso, desciam por debaixo do braço, pelas
costelas e avançavam para dentro da calça, pegando parte da barriga. Era
engraçado como o fogo chegou até um certo ponto do meu corpo, não
avançou, os médicos disseram que eu tive sorte e eu começava a acreditar
que sim.

— Dói se eu tocar? – Ele quis saber num murmúrio.

Fiz que não com a cabeça lentamente.

— Não dói mais – avisei.

Ele assentiu e voltamos a nos beijar. Sua mão viajou devagar pelo
meu corpo. Ele tocou meus ombros e desceu os dedos pelas costas, costelas
e apertou meus quadris, me pressionando para baixo para que eu me
esfregasse no seu pau ainda debaixo da calça. Tirei sua camisa polo e nos
abraçamos sentindo o calor um do outro, gemi contra sua boca quando meus
seios roçaram a pele quente e deixei que ele beijasse o canto dos meus
lábios e me arrepiei inteira, depois lambeu meu queixo e sua língua desceu
por todo o pescoço.

— Gosto quando me chupa – confessei ansiosa.

Hassan se afastou o suficiente para sorrir.

— Eu sei – ele olhou para os meus seios como se fossem joias e


desceu a boca sobre eles. Comecei a me esfregar nele e então ele me virou
sobre as almofadas de uma vez, roubando um grito de susto.

Hassan pegou a garrafa de bebida, tomou e depois derramou na


minha boca, entre os meus seios e tomou, lambeu, mordeu. Ele se afastou,
ficou de pé e tirou a própria roupa, ficando nu em todo seu esplendor. Ele
acariciou o próprio pau, era uma visão que me fez ficar molhada. Mais
ainda. Voltou para perto de mim e ficou de joelhos entre as minhas pernas,
me segurou pela nuca e beijou minha boca.

Quando pensei que ele me tocaria nos seios, ele se afastou, me


deixando com mais vontade de beijos e começou a tirar a minha calça.
Fiquei tensa, porque essa era a pior parte do meu corpo. Na noite anterior,
estava escuro, ele não podia ver, mas agora eram nítidas as queimaduras em
toda a perna, até o tornozelo. Fiquei tensa e olhei para o lado com vontade
de chorar, por vergonha.

— Olha para mim, Elizabeth – ele mandou.

Eu olhei.

— Se eu não posso olhar, você também não pode – ele avisou sem
qualquer humor.
Respirei fundo e assenti. Ele me virou de bruços e ficou em cima de
mim. Beijou minha nuca.

— Você é muito gostosa – ele falou enquanto suas mãos passeavam


pelo corpo, como se não notasse as queimaduras, como se elas não
estivessem ali.

E não estavam, ele não estava olhando e nem eu.

Fechei os olhos e respirei aquele ar repleto de cheiros diferentes.


Hassan estava beijando meu corpo, mesmo sobre as queimaduras, ele as
tocava com a língua sem sequer notá-las. Ele beijou minha bunda e ficou
entre as minhas pernas para erguer meus quadris. Seu polegar passou pela
minha fenda molhada e ofeguei. Deixei que ele me tocasse totalmente, eu não
fiz nada para ajudar, aquela noite era minha. Uma outra vez, se houvesse, eu
seria mais afoita, mas sob a luz, precisava ser desejada mais do que tudo.

Ele enfiou dois dedos em mim, e com outro massageou o clitóris.


Gemi alto e apoiei as mãos nas almofadas. Ele beijou a minha bunda e
deslizou a língua até o meu cuzinho que piscou de prazer. Senti falta do seu
contato por alguns segundos, mas suas mãos seguraram firmes meus quadris
e ele me penetrou com força.
Hassan segurou meus cabelos, enrolou em seu pulso e mãos e puxou
minha cabeça para trás enquanto metia gostoso. Seus dedos deslizaram mais
pelo cabelo e ele puxou com mais força. A dor e o prazer se misturavam e eu
rebolava contra seu pau, me sentindo poderosa, não sabia explicar, era como
se eu estivesse no controle e não ele.

Podia ouvir o barulho do pau saindo e entrando na minha boceta. A


música hipnótica ao fundo. Eu era tudo o que sempre quis, o que tinha que
ser, uma mulher que queria ser comida com vontade, com desejo, com um
tesão tão violento que não me deixava pensar.

O orgasmo veio e senti que ele metia mais depressa e não consegui
me controlar. Desabei sobre o tapete e ele sobre mim, ambos ofegantes.

Ele saiu de cima de mim. Peguei a garrafa de bebida e tomei e dei a


ele. Estava sentada e ele derramou um pouco no meu seio e o sugou, depois
nos beijamos de novo.
— Você é insaciável! – murmurei contra sua boca.

— Você causa isso em mim. – Ele pegou o meu braço machucado e


de olhos fechados começou a beijá-lo.

Era tão estranho vê-lo tocar a pele queimada, ao mesmo tempo que
me causava um prazer indescritível.

— Não olhe – eu pedi.

— Não estou olhando. – Ele riu contra a minha pele.

Ele ergueu o rosto para mim.

— Um dia vai me deixar olhar? – Hassan quis saber.


Aquela pergunta me deixou inebriada. Um dia significava tanto tempo
e eu gostei disso. De repente, não ter uma data para ir embora era melhor do
que pensar em partir.

— Não sei – admiti.


— Não sei, é quase um sim – ele tocou meu queixo —, gosto de
saber que tem bons pensamentos sobre mim.

— Não tenho bons pensamentos sobre você, Hassan Aziz – falei


orgulhosa.
Ele riu outra vez. Nunca vi um homem que ficasse tão bonito com um
simples sorriso.

— Não ter bons pensamentos também é bom – ele disse com malícia.
— Significa que está pensando em mim o tempo todo.

De repente, ele pegou minha mão e levou em seu pau que começava a
acordar.

— Não podemos demorar, temos que voltar para casa logo – eu disse
me aproximando mais e tocando sua boca com a minha.

— A noite é uma criança e a gente só precisa voltar antes do


amanhecer – ele indicou passando a mão por meus cabelos.

Notei que ele havia gostado deles. Ele passava as mãos pelos fios
longos como se fossem de ouro.

— Estou começando a desconfiar que isso aqui não é um restaurante


convencional! – brinquei ajeitando meus braços em volta de seu pescoço.

Os olhos escuros tomaram os meus.

— Essa sala é privativa, ela me pertence...

— Você comprou? – perguntei acariciando seu pau.


— Não, ela é minha. O restaurante é meu – ele falou como se
estivesse se referindo a um objeto simples. Essa era a realidade de uma
pessoa que cresceu em meio ao dinheiro. Nada fazia muita diferença, era
tudo igual, uma moeda de ouro ou uma rede de restaurantes.

— Você é um metido! – reclamei e aumentei o ritmo da carícia.


— Vamos ocupar essa boquinha malvada com outra coisa. – E me
puxou pela nuca, me levando de encontro ao seu pau.
Passei a língua pelos lábios e então o tomei quente e gostoso. Hassan
jogou a cabeça para trás e esquecemos outra vez do mundo ao nosso redor.
Capítulo 19

Pisquei várias vezes antes de abrir os olhos e ver a luz do dia


penetrando pela janela de cortinas coloridas. Meu corpo estava enroscado
com o de Elizabeth, deitados de conchinha, seus cabelos castanhos
espalhados pelas almofadas, beijei seu ombro e ela gemeu baixinho antes de
começar a acordar também. Foi uma noite inteira de luxúria e muito sexo. Há
muito tempo não acontecia, acho que desde que meu pai me levou a primeira
vez em um prostíbulo aos dezesseis anos e passei a noite toda sendo tocado
e estimulado por várias mulheres.

Ela se deitou de costas e fez força para abrir os olhos e me fitar.


— Bom dia – eu disse com bom humor.

— Só se for para você! – ela reclamou —, eu ficaria na cama o dia


todo...

Desci os lábios em seu pescoço e ela se encolheu excitada.


— Isso é um convite? – perguntei.

Ouvi o suspiro delicado.

— Em uma outra vida – ela me empurrou para me encarar, sonolenta


—, em que não tem duas crianças e sua mãe nos esperando em casa e nós
perdemos a hora.
Ela se sentou e eu a acompanhei. Quem ligava para a minha mãe
esperando? Eu queria passar o dia todo fazendo o melhor sexo da minha
vida. Qual era o problema?

— Fique de olhos fechados! – ela mandou com o dedo em riste. —


Preciso me vestir.

Ela era boba em tentar esconder de mim as queimaduras depois que


passamos a noite inteira sentindo o corpo um do outro. Mas eu podia
respeitar essa necessidade dela de se encobrir. Peguei minha blusa e dei as
costas para ela e comecei a me vestir. Quando terminei, ela estava pronta,
acabando de fechar sua calça.

Elizabeth ergueu o olhar para mim e sorriu e foi o suficiente para que
eu me sentisse bem. Ela foi em direção à porta e começou a vestir as
sandálias. Coloquei os sapatos e saímos do restaurante. Um dos funcionários
trouxe meu carro e partimos. Liguei o aparelho de som do carro e Desert
Rose, do Sting, estava tocando. Fazia parte da minha playlist. Depois de uma
noite tão quente, aquela melodia era a tradução de como eu me sentia.

Não trocamos uma palavra até chegar no apartamento que estava


silencioso. Ainda eram seis da manhã e com certeza minha mãe não havia se
levantado. Vi o alívio no semblante de Elizabeth e ela foi para o quarto dela.
Fui tomar um banho e me vestir para o trabalho. Quando saí senti o cheiro de
café no ar. Entrei na cozinha e encontrei a sargento terminando de tirar as
torradas da torradeira e jogando num prato.

Ela estava com uma calça de tecido fluído e uma blusa de uma manga
só, como a da noite anterior, mas preta. E descalça, os pés lindos expostos.
Os cabelos voltaram a ser presos e a nuca delicada estava exposta. Meu
pensamento foi me aproximar e morder aquela nuca, mas a chegada da minha
mãe foi um balde de água fria.
— Bom dia – minha mãe disse se aproximando de Elizabeth e lhe
dando um beijo no rosto —, cheiro excelente.

E olhou para mim com um sorriso carregado de malícia.

— O que foi? – perguntei indo até o armário pegar uma xícara de


café.

Meu dia nunca começava sem café.

— Ontem à tarde, Elizabeth tomou a liberdade de ligar para uma


agência e pedir uma nova governanta. – Minha mãe se sentou à pequena mesa
da cozinha posta.

Era a primeira vez que via minha mãe fazer uma refeição na cozinha.
Ela parecia estar quebrando muitas regras e tabus em sua vida.

— Acredito que não se importa que façamos as entrevistas, já que


vai estar ocupado – minha mãe completou enquanto Elizabeth colocou chá na
xícara para ela. — Obrigada, querida.

— Eu pediria para Sara providenciar tudo – aproximei da mesa e me


servi com café —, mas se estão dispostas, não vejo problema algum.

— Ótimo – minha mãe sorriu —, e como foi a noite de vocês?

A sargento deu as costas e foi em direção à pia, deixando a bomba


comigo.

— Foi agradável – limitei a dizer.

— Gostou da noite em Boston, Elizabeth? – minha mãe inquiriu.

— Sim – ela respondeu sem nenhuma emoção na voz.

Até agora, ela não havia me dirigido o olhar. Ela tinha esse poder de
indiferença que me irritava completamente. Enquanto eu parecia um macho
no cio, que babava nela, a sargento agia como se eu não existisse. Se ela
pensava que isso me afastava, ao contrário, me atraía com um ímã. Fazia
com que se tornasse um desafio e eu tivesse vontade de quebrar aquela
empáfia.

— Levei Elizabeth ao restaurante de Omar – comentei e tomei café.

Ela voltou para a mesa e se sentou sem desviar o olhar para mim.
Tinha vontade de praguejar. Como ela conseguia ser tão indiferente depois
da noite que tivemos? Ela era feita do quê? De gelo?

— Lugar maravilhoso! – minha mãe elogiou. — Meu filho tem muito


bom gosto. E você apreciou o local?

— Sim – ela respondeu seca.

Minha vontade era de xingar, mas tomei o café e me controlei.

— Preciso ir – avisei —, tenho uma reunião importante agora cedo.

— Tenha um bom dia, meu filho – minha mãe despediu.

O silêncio da sargento permaneceu. Ela fingiu estar concentrada em


passar a maldita manteiga na torrada e bufei antes de deixar a cozinha.
Nunca fui tratado com tanta indiferença. Quem ela pensava que era? O pior
era que sequer raiva eu conseguia sentir, as lembranças das últimas noites
queimavam na minha cabeça e me deixavam de pau duro com vontade de
mais.

Cheguei à empresa de mau humor. Sara já me aguardava com a xícara


de café e começou a passar a agenda quando me seguiu para a minha sala.
Esforcei ao máximo para me concentrar nos assuntos da empresa e esquecer
por um momento aquela mulher estranha que me deixava perturbado.
Tivemos uma noite quente, eu a fiz gozar várias vezes e ela agia como se
nada tivesse acontecido. Como ela conseguia?
Peguei meu celular e liguei para Antony. Mas ele não atendeu.
Deveria estar ocupado, tentaria falar com ele mais tarde. Dias haviam se
passado e até agora ele não conseguiu nada referente a sargento? Nada que
pudesse tomar uma decisão e tirar aquela mulher da minha vida de uma vez
por todas?

O problema não era somente esse. E se ela fosse uma pessoa que não
pudesse ficar com as crianças? O que eu faria com Betina e Michael? A
ideia de entregá-los para o governo e deixá-los à mercê da adoção me
parecia repulsiva. Não poderia fazer isso. Talvez, eu pudesse criá-los. A
ideia era estranha, afinal, eu era um homem solteiro e que não tinha planos
de me casar de novo, mas eu me questionava se o fato de Joanne ter me
escolhido não foi o melhor para eles. Eu poderia dar tudo, uma vida
maravilhosa e eles jamais precisariam se preocupar em serem culpados por
nada.

Fiquei surpreso com a direção que meus pensamentos tomaram, mas


eu estava disposto a dar uma vida excelente para eles. Algo que a sargento
não pudesse. E se ela os tratasse com essa mesma indiferença? Eles se
sentiriam sozinhos.

O telefone na minha mesa tocou e atendi.

— Senhor Aziz – Sara disse do outro lado da linha —, a reunião vai


começar em cinco minutos.

— Obrigado.

Levantei, vesti o paletó e fui em direção ao elevador. A sala de


reunião ficava no último andar. Iríamos discutir a aquisição de uma nova
empresa e ouvi toda a explanação de Madeleine Hughes, a diretora
financeira da empresa. Depois foi a vez de Ben Masterson falar sobre os
contras, ele era do jurídico, a parte negativa dele era irritante, mas me
impediu de cometer muitos erros. A reunião acabou se arrastando por toda a
manhã, para mim, irritado como estava, pareceu o dia todo.

A sorte era que na parte da tarde havia prometido levar Betina para
um passeio da mesma forma como fiz com o irmão dela. Era bom estar com
cada um deles e conhecê-los mais. Sorri para mim mesmo enquanto as
pessoas deixavam a sala de reunião. Lembrei dela com Low, meu cachorro
nunca teve uma vida social tão intensa, tantas roupas novas e Betina não se
separava dele um segundo. Ela fazia roupas para ele e colocava fitas em
suas orelhas, ao menos ele não parecia tão entediado. Ela pediu para
comprar um tecido vermelho porque faria uma capa do Superman para ele
sair e ir ao shopping. A vida no sofá definitivamente acabou para ele.

— Um dólar por seu pensamento – a voz de Madeleine soou ao meu


lado.

A bela morena parou ao lado da minha cadeira. Olhei para ela e


fiquei sério. Não estava sorrindo por um motivo que ela deveria saber.
Trabalhávamos juntos há anos e desde a morte de Mary Anne, nos
encontramos fora da empresa algumas vezes, mas tudo sem compromisso.
Sexo.

— Não é nada – respondi —, apenas lembrei de algo engraçado.

Eu me ergui e ela se aproximou. Notei que havia apenas nós dois na


sala e ninguém mais.

— Faz tempo que não nos encontramos – ela comentou.

— As coisas são como devem ser, Mady – eu disse.


Não era porque não transamos mais que eu a trataria com falta de
respeito. A vida apenas seguia seu curso como devia ser.

— Soube que está com problemas. – Ela deixou a pasta em cima da


mesa e tocou minha gravata.

O único problema de Madeleine era que ela não desistia fácil quando
queria alguma coisa e pelo visto, ela estava a fim de transar comigo.

— Problemas? – Eu franzi o cenho sem imaginar o que ela poderia


saber.

Ela ficou entre mim e a mesa. Seu corpo próximo ao meu e não me
causou qualquer frenesi ou tesão. Fiquei surpreso, geralmente meu
pensamento seguinte seria se a camisinha estava no bolso da calça. Por falar
nisso... Eu e Elizabeth não usamos proteção nenhuma das vezes e essa noite
foram várias. Foi tão intenso que eu sequer me lembrei e agi com
irresponsabilidade. A última situação necessária era que a sargento ficasse
grávida. Mas ela também não se preocupou... devia tomar remédio para se
prevenir, mas um homem esperto não contava apenas com isso.

— Hassan? – Madeleine me chamou.

— Desculpe-me, eu me distraí...

— Notei – e franziu o cenho —, ouvi dizer que está com crianças no


seu apartamento – ela comentou e sua mão livre foi para o meu pau que ela
acariciou por cima da calça. Sua cabeça pendeu sobre o meu ombro e ela
gemeu excitada.

Não estava a fim. Tirei a mão dela da minha calça e da minha


gravata. Como ela sabia das crianças?

— Quem te disse isso? – perguntei sério.


Ela ficou sem graça com a minha atitude e por eu questioná-la de
forma tão incisiva.

— Quem te contou sobre as crianças, Madeleine?

Ela encolheu os ombros, sem saber o que dizer.


— Pensei que fôssemos amigos – ela comentou tentando sorrir.

— Quem te contou? – exigi saber.


Afastei dela e vesti o paletó que estava nas costas da cadeira.

— Que diferença faz, querido? – ela perguntou, mas ao ver meu olhar
determinado, ela soube que não tinha alternativa a não ser me dizer a
verdade. — Antony me contou. Nós fizemos um Happy hour há alguns dias,
ele bebeu demais e disse que você está cuidando dos filhos de Mary Anne.
Praguejei. Não podia acreditar que meu advogado era tão cretino e
sem ética.

— Ele nem se lembra que me contou, Hassan – ela tentou consertar a


situação —, ele bebeu demais e...
— Erros como esse não podem ser cometidos, Madeleine! –
repreendi.
— Não vou dizer a ninguém – ela prometeu aflita.

— Você já disse – eu a cortei —, para mim!

— Não fique bravo com Antony! Ele está passando por uma fase
difícil, a esposa o deixou – ela tentou argumentar me seguindo para fora da
sala —, ele só desabafou com uma amiga.

Não era desculpa. Não queria que aquela história se espalhasse,


precisava proteger as crianças, não podiam saber que eles eram filhos de
Mary Anne. Isso não exporia apenas a mim, mas a eles. Antony não podia ter
feito isso!
— E desde quando vocês são amigos? – Eu me voltei para ela e
paramos de andar. — Você o desprezava!

Ela abriu a boca, mas a voz não saiu. Eles estavam transando, não
tinha nada com isso.
— Você o usou porque nos afastamos? – perguntei perplexo.

Mas o olhar dela dizia isso.


— Eu queria... queria – ela passou a mão pelos cabelos bonitos —,
queria que ficasse com ciúme! – admitiu.

— Isso não vai acontecer, Madeleine! – disse sincero —, sempre


deixei claro que não tenho intenção de sair da cama com você! Nunca
escondi que nosso relacionamento era apenas carnal!
— Eu sei – ela disse envergonhada. — Sinto muito, eu apenas senti
sua falta.

— Poderia ter dito para mim ao invés de ter usado meu advogado
para saber da minha vida! – eu a repreendi e segui pelo corredor em direção
ao elevador. Dessa vez, sozinho.
Capítulo 20

Se Hassan pensava que uma noite de sexo podia me transformar em


uma de suas discípulas estava muito enganado. O fato de ter sido
maravilhoso, e meu coração bater forte quando eu sentia sua presença, não
significava que me jogaria aos seus pés. Meu intuito ali era que ele me desse
a guarda das crianças, nada mais. Não estava usando o sexo para isso. Ao
contrário. Quando coloquei os pés naquele apartamento sequer passava pela
minha cabeça que eu acabaria sendo seduzida por aquele um metro e noventa
de virilidade árabe.

Agora eu entendia completamente porque as mulheres ficavam loucas


por ele, Hassan tinha a boca mágica, o pau do paraíso. A noite anterior foi
especial, precisava admitir. Ele me fez sentir desejada como nunca me senti
antes, ele me enfeitiçou, me seduziu de uma forma que não consegui resistir e
nem queria. Estava me sentindo viva e bem, o que mais eu precisava? Com
certeza não era bancar a babona toda vez que ele aparecesse.
E quando ele veio à tarde para buscar Betina para passear, eu estava
trancada no meu quarto, na verdade, dormindo. Tinha passado a manhã toda
entrevistando pessoas e eu e a Samsha contratamos uma mulher chamada
Helen Kursty. A Senhora Kursty já havia sido governanta na casa do
governador do Estado e apenas saiu porque ele se mudou para Washington
D.C., e ela não queria se separar da família que sempre viveu em Boston.
Além disso, ela conhecia um excelente cozinheiro e uma arrumadeira
que poderiam auxiliá-la toda semana. Hassan estaria bem servido. Quando
saí do quarto, eles já tinham partido. Michael estava no videogame e Samsha
tinha saído para começar seu curso de decoração. Ela estava eufórica, pela
primeira vez na vida faria algo que gostava sem a interferência do marido.
Fiquei feliz por ela, todas as pessoas tinham o direito a tomar suas próprias
decisões, mesmo que dependessem financeiramente de alguém.

Passei nos quartos e nos banheiros pegando a roupa suja para lavar.
A Senhora Kursty começaria na segunda-feira, data provável em que eu
estaria partindo com as crianças dali e ela não teria tanto trabalho. Fui para
a lavanderia e comecei a separar as roupas coloridas das brancas. Hassan
tinha camisas que deviam ser engomadas, de tão perfeitas que eram,
deveriam valer uma fortuna.

Uma delas me chamou a atenção. Estreitei o olhar e vi a marca de


batom rosa no ombro dele. A camisa que ele havia usado naquela manhã.
Olhei para aquilo indignada. Deveria ter imaginado que ele tinha um harém,
o homem devia ser insaciável e ter uma mulher em cada canto!

— Desgraçado! – murmurei irritada.

Coloquei as roupas na máquina e deixei as brancas de lado.


Mofariam na área de serviço, mas eu não lavaria nada. Cretino! Passei na
cozinha, peguei um pacote de bolacha de chocolate e fui me sentar no quarto,
perto de Michael. Ele olhou para mim e sorriu antes de voltar a atenção para
o videogame.

Low pulou para cima da cama e deitou ao meu lado com sua roupa
azul de princesa do gelo. Betina era fantástica com suas roupas para o
cachorro. Pelo menos, havia algo bom naquela casa de gente mentirosa.
Porque era isso que Hassan era, um mentiroso! Ainda bem que era apenas
sexo e eu não ligava para ele. Será que era a secretária dele? Não, a tal Sara
era casada e não tinha jeito de estar apaixonada por Hassan. Poderia ser
qualquer uma. Meu cheiro mal havia saído da pele dele e ele já estava com
outra mulher! Como ele pôde fazer isso? Fui buscar um livro para ler no meu
quarto e voltei para perto de Michael.

Não demorou e o interfone tocou. Não me deu vontade de atender, já


que os moradores daquele apartamento tinham acesso, mas eu precisava
fazer algo, já que ler foi uma lástima. A todo o momento, tentava imaginar
quem era a dona daquele batom rosa.

— A Senhorita Hughes está aqui embaixo, ela quer subir para deixar
uns documentos para o Senhor Aziz – o segurança me avisou.

— Ela não pode deixar aí com vocês? Daí entregam para o Senhor
Aziz quando ele chegar? – perguntei.

— Ela disse que são confidenciais, Senhorita Andrews, e que


precisa entregar em mãos – ele insistiu.

— Mas o Senhor Aziz não está – avisei.

Ele disse à visitante e falou para mim, em seguida:

— Ela vai deixar no escritório dele...

Quanta intimidade... devia ser a dona do batom rosa.


Provavelmente. Senti meu sangue ferver. Se ela queria subir e deixar
qualquer merda no escritório dele, que deixasse. Eu não me importava.

— Pode deixar subir... – autorizei.

Estava de pé no meio da sala quando a porta do elevador abriu e uma


executiva de alta classe surgiu, desfilando enquanto se aproximava de mim
com sua saia lápis e a camisa branca. Ela piscou algumas vezes, enquanto
me observava, um tanto constrangida com a minha presença.

E o batom dela?

Rosa.

Era a própria. Podia sentir o cheiro de Hassan saindo dela.

— Olá – ela forçou um sorriso —, Hassan está?

— Não – olhei para ela com desprezo e cruzei os braços —, ele saiu
com Betina.

— Betina? – ela perguntou sem saber quem era.

Não explicaria a ela quem era Betina. Se Hassan não confiava nela,
por que eu confiaria?

— Ah! – ela fingiu lembrar de repente. Aquele gesto falso com a


cabeça me irritou —, a filha de Mary Anne – afirmou.

Não gostei de saber que ele estava falando das crianças para a sua
amante.
— Ela mesmo – afirmei com um sorriso falso.

— Você é a nova governanta? – Ela se aproximou mais me olhando


com desprezo.

— Não, sou a prima de Mary Anne – contei erguendo o queixo.

— A sargento – ela debochou.

— O quê? – perguntei perplexa.

— É assim que Hassan te chama, não é? Sargento? – ela parou diante


de mim, me olhou dos pés à cabeça e desdenhou. — Ele falou de você, da
agente do FBI que tentou fugir com as crianças e está afastada por ser uma
criminosa!
O tapa ecoou no ar. Não sou uma pessoa muito tolerante, ainda mais
com a puta ciumenta do homem que eu trepei. E se tocam no assunto sobre o
meu afastamento, perco a cabeça com prazer. Não vou permitir que pessoas
estranhas me julguem e digam o que querem.

Nesse momento, o elevador abriu e Samsha surgiu acompanhada de


Arthur e Jeffrey. Ela sentiu a tensão no ar e se aproximou de nós, olhando de
uma para a outra.
— Quem é ela, Elizabeth? – Samsha me perguntou preocupada.

Senti meu sangue ferver para dizer: a puta do seu filho. Mas preferi
ser pior.

— Uma empregada da empresa de Hassan. – Olhei para Samsha e


Arthur parou logo atrás dela. Jeffrey do outro lado.

— A senhora deve ser a mãe de Hassan – a mulher tentou se refazer.


O rosto ficou vermelho por causa do tapa. Ela sorriu para Samsha com
simpatia, mudando totalmente a postura agressiva com a qual entrou naquele
lugar.

— Sim, eu sou – Samsha ergueu o porte elegante —, o que veio fazer


aqui?

— Eu vim trazer um documento para Hassan assinar...

— Se já entregou pode ir – Samsha a dispensou movendo a mão com


desprezo.

— Está comigo, pensei em deixar no escritório dele e...


— Pode deixar comigo – Samsha ergueu a mão para que lhe desse o
documento —, Arthur vai acompanhá-la até a saída.

A mulher ficou sem graça. Pegou o envelope pardo na pasta que


carregava e entregou à Samsha.

— Obrigada por sua gentileza, agora pode ir – a dispensou ficando


séria.

A amante de Hassan ficou sem graça, forçou um sorriso e sem olhar


para mim uma segunda vez, partiu. Jeffrey também a acompanhou, acredito
que todos notaram a marca dos meus dedos no rosto dela. Esperei que ela
entrasse no elevador e praguejei.

— Mulher nojenta! – desabafei e sentei no sofá.


— Conheço o tipo – Samsha disse se sentando ao meu lado e
deixando o envelope sobre a mesa de centro —, elas acham que porque
foram para a cama com um homem que são donas deles!

Então ela também notou.


— Ela teve o que mereceu. – Eu mostrei minha mão vermelha.

Samsha sorriu ao deduzir que eu havia batido na mulher.


— Você é das minhas! – ela riu e respirou fundo —, uma vez, uma
secretária de meu marido me desrespeitou, eu bati nela e ainda contei a ele!

— Bateu nela?

— Ah, sim! – Seus olhos brilharam perigosos. — Ela teceu qualquer


comentário sobre eu ser a terceira esposa e não suportei, lhe dei dois tapas
no rosto bem dados. Hans a demitiu e fez com que toda sua família perdesse
o emprego – falou com orgulho.
— Não há necessidade de fazer com que ela seja demitida, a
humilhação de apanhar e não ter tempo de revidar, já é o suficiente – afirmei
satisfeita.

— Ela sentiu o cheiro de Hassan em você, não foi? – Samsha


perguntou de forma significativa.

— O quê? – perguntei chocada por ela ser tão direta.

— Oh, querida! Se vocês não estão juntos, vão ficar! – ela falou e riu
—, Hassan saiu da minha barriga, eu o gerei por nove meses, conheço meu
filho como a palma da minha mão. – E mostrou a palma da mão.

Fiquei quieta. O que eu poderia dizer? Me abrir com ela e contar o


que estava acontecendo? Nunca!
— Meu filho é um homem sedutor – ela falou com tanto orgulho que
parecia transbordar —, ele puxou ao pai. Hans é um homem maravilhoso –
seus olhos brilharam apaixonados —, seu modo de tratar, seu desejo é mais
forte do que qualquer coisa. Meu marido transpira prazer, e Hassan herdou
isso dele.

Era verdade, Hassan era um homem viril até demais.


— Não precisa falar nada – ela avisou, me olhando de esguelha —,
eu vi o modo como ele a cobiça.

— Não notei – menti.


Era óbvio que havia notado ou não estaria dando para ele como
estava. Além disso, um dos motivos de eu evitar Hassan era isso, o olhar
dele sobre mim me sufocava, me fazia perder o fôlego, como se suas mãos
sempre tivessem segurando o meu estômago e me sufocando de prazer.
— Sei – ela riu de mim —, respeito que não queira falar sobre isso.
Mas se até essazinha notou, o que dirá eu?

— Não há nada para observar – garanti —, semana que vem, eu vou


embora com as crianças e tudo voltará ao normal. E seu filho poderá ficar
com o harém dele.

— Hum! Sinto certo despeito em suas palavras...

— Não é despeito, Samsha, é a verdade. Eu sei qual é o meu lugar


aqui e na vida do seu filho e na semana que vem, viro abóbora e deixo o
castelo encantado – brinquei e me levantei —, vou sentir falta de você, eu
gostei de conhecê-la.

Ela segurou minha mão e bateu sobre ela levemente.

— Também gostei de conhecê-la, Elizabeth. Você é uma mulher de


fibra e conheci poucas como você...

— Obrigada – agradeci de verdade.

Estava pronta para me retirar quando a porta do elevador abriu. Meu


sangue ferveu quando vi Hassan. Betina entrou na frente dele segurando um
balão enorme de coração e chupando sorvete. Chegaram cedo, eu esperava
não o ver nunca mais, ou até pelo menos, que minha raiva tivesse passado.

E não passaria tão cedo.


— Como foi o passeio, querida? – Samsha perguntou à Betina ao se
levantar.

A menina parou diante dela e sorriu feliz.

— Uma delícia, eu adorei ir no clube! – ela contou empolgada.


— Ótimo! – Samsha bateu o dedo no nariz da menina. — Vamos
contar tudo para o seu irmão?
— Sim! Michael vai querer ir também...

— Tenho certeza.
Samsha sua maldita! Me deixou sozinha com meu algoz! Olhei para o
envelope em cima da mesa. Era melhor resolver aquilo antes que eu socasse
a cara dele.

— O que é isso? – ele perguntou quando me aproximei dele.


— Uma funcionária da empresa deixou aqui – bati no peito dele e ele
me olhou perplexo —, Senhorita Hughes...

Ele pegou o envelope e bufou.


— O que foi que ela fez? – Ele quis saber já desanimado.

Dei um passo para ele e coloquei o dedo em riste.

— Da próxima vez que falar de mim para a sua amante, ensine-a qual
é o lugar dela! – avisei. — Porque eu tive que ensinar quando ela entrou aqui
e perguntou sobre os filhos de Mary Anne e me chamou de sargento.
Inclusive, ela sabe que estou afastada do FBI.

Os olhos pequenos de Hassan se arregalaram.

— Elizabeth, eu posso explicar...

— Sei que pode! – admiti —, mas eu não quero ouvir!

Virei as costas para sair, Hassan segurou meu braço, mas me soltei
dele com violência.
— Estou muito brava, Hassan – eu disse irritada —, e se tocar em
mim de novo, juro que quebrarei seu braço.
Ele parou onde estava e não tentou se aproximar mais. Ele apenas
ficou me olhando enquanto eu me afastava.
Capítulo 21

Não podia culpá-la por estar com raiva. Porque eu também estava
muito irritado com toda aquela história. Peguei meu celular e liguei para
Antony, saí para a varanda chegando perto da grade de proteção. O
entardecer em Boston era bonito, mas sequer pude observar, alguém tinha
que pagar pelo fora que eu tinha acabado de levar. Ele atendeu no segundo
toque.

— O que foi? – ele atendeu como sempre.

— Seu grande filho da puta! – xinguei.

— Hassan?
— Como pôde falar da minha vida para Madeleine e ainda expor os
problemas que Elizabeth tem no FBI? – perguntei por entre os dentes.

Eu o escutei bufar do outro lado.

— Não acredito, cara!


— Pode acreditar, Antony! Você era meu braço direito, meu
advogado de confiança, como pôde perder toda sua ética numa trepada com
uma mulher que sequer liga para você?

— Não sei o que dizer, cara – ele disse sincero —, nós saímos,
transamos, saímos de novo e eu bebi demais e falei o que não devia... eu nem
me lembro de ter falado tudo isso, mas se ela sabe é porque eu falei... –
admitiu ao menos.

— Não podemos mais trabalhar juntos depois do que aconteceu! –


avisei.

— O quê?
— Você me ouviu muito bem! – disse ríspido —, você quebrou todo
o protocolo – acusei —, nem sob tortura você podia ter exposto a minha vida
pessoal e dos filhos de Mary Anne! Sabe o quanto isso é grave? Sabe o que
um jornalista fofoqueiro de merda faria por uma informação dessas?

— Vou resolver isso, Hassan, prometo! – ele falou sem graça.

— O estrago já foi feito, Antony! Ela tentou usar isso para me


persuadir a sair com ela e quando a recusei, ela não ficou satisfeita e veio
até o meu apartamento e falou com Elizabeth e a ofendeu – esbravejei —,
você e ela passaram de todos os limites comigo, Antony! Isso é
imperdoável...

— Sinto muito, Hassan. Não podia imaginar que uma noite de


bebedeira terminaria assim – ele lamentou —, descobri que Harriet está
namorando e o fim do meu casamento acabou comigo...

— Isso é um problema seu! – falei seco —, não me diz respeito! Da


mesma forma que minha vida não diz respeito às mulheres com quem você
trepa. Você está fora, Antony, não preciso mais dos seus serviços... meu novo
advogado entrará em contato com você para acertar tudo! – E desliguei.

Quando olhei para trás, minha mãe estava bem atrás de mim.

— Não estou a fim de sermão – avisei e disquei para Sara —, Sara,


preciso que providencie a demissão da Senhorita Hughes, como amanhã é
sábado, acredito que pode avisar o RH na segunda bem cedo, não quero
mais essa mulher dentro da empresa, entendeu?

— Sim, Senhor Aziz – ela respondeu e desliguei.

Bufei com vontade de jogar o celular no ar e deixar que caísse lá


embaixo, mas eu poderia matar alguém. Praguejei, muito bravo. Senti a mão
da minha mãe no meu ombro e olhei para ela.

— Você é muito parecido com seu pai. Ele também não perdoa falhas
– ela comentou.

Não sabia se parecer com o meu pai era bom ou ruim naquele
momento. Sempre tentei ser diferente dele. Na verdade, o problema não era
ele, mas nossa cultura e regras que eu não concordava. Meu pai era distante,
frio, mas sempre foi um bom pai. Ele era forte, determinado, foi educado
para ser o que era, um homem poderoso, um sheik dono de milhões de euros,
empreendimentos gigantescos. E meu irmão mais velho, Amir, foi criado
para ser como ele era. Não eu.

— Antony bebeu demais e abriu o bico para Madeleine – expliquei


por cima, mas sabia que minha mãe entenderia. — Meu advogado de
confiança e uma ex-amante possessiva juntos, bebendo, isso não poderia dar
certo!

— Há mulheres que não sabem qual é o lugar delas – ela observou


muito séria —, e muitas mulheres ocidentais teimam em querer o lugar que
não lhes pertence.

Acariciei seu rosto e beijei sua testa.

— Obrigado – agradeci suas palavras.


— Deixe o tempo passar, logo a raiva de Elizabeth vai diminuir – ela
me aconselhou.

— O que nós não temos é tempo – eu respondi.

— Nós temos o que achamos que podemos ter, Hassan. Se você acha
que não tem, então, realmente não tem – ela disse sabiamente.

O que minha mãe disse fazia sentido. Elizabeth somente iria embora
quando eu permitisse, quando eu lhe desse a guarda das crianças. Não
importava o tempo que levasse. De repente, aquilo pareceu interessante e
agradável. Se ela não falasse comigo, então, eu não poderia conhecê-la
melhor. E realmente, sem a investigação de Antony, sem uma aproximação
mais íntima, eu não saberia se ela era a pessoa certa. O fato de estarmos
transando não significava nada.

— Tem toda razão, mãe. Eu tenho o que acredito que posso ter, não
é? – Meus olhos brilharam de satisfação.

— O que está fazendo? – ela perguntou desconfiada.

— Nada – e decidi mudar de assunto —, porque não pedimos pizza


essa noite? – perguntei levando-a para dentro de casa —, o fim de semana
todo almoçando fora, assim Elizabeth não precisa cozinhar.

— Ah, claro, ela não precisaria se cansar no fogão, não é? – minha


mãe concordou com um sorriso. — Você é um bom filho...

Eu sorri em concordância, mas a finalidade era outra, era que ela


soubesse que poderíamos viver sem ela naquela casa. Ela possuía motivos
para estar com raiva de mim, claro, mas também mostraria a ela que sua
indiferença apenas era problema dela.

Contudo, meu jogo psicológico não deu certo.


Pedimos pizza naquela noite, e ela saiu do quarto para comer
conosco. Sentou-se à mesa, riu e falou com todos, menos comigo. Quem
acabou se sentindo ignorado, fui eu. O feitiço virou contra o feiticeiro.
Fomos assistir um filme, as crianças se deitaram com ela no chão, no meio
das almofadas e eu e minha mãe ficamos no sofá. Ela não me olhava, me
ignorava mais do que antes e não pensei que podia me incomodar tanto. Mal
prestei atenção no filme infantil, fiquei olhando para ela, e Elizabeth
nenhuma vez, mesmo sem querer, voltou o olhar para mim.

Betina acabou adormecendo e eu a levei para a cama, contudo,


quando voltei, Elizabeth já tinha levado Michael para o quarto dele e se
trancado no seu.

Não seria tão fácil fazer as pazes como imaginei. Enquanto ela
parecia plena, eu estava ficando louco. As lembranças das nossas noites
juntos queimavam minha mente, me deixava de pau duro, e ela não sentia
nada. Absolutamente. Deitado na cama do meu quarto, eu pensava em como
poderia reverter aquela situação. De repente, estava ansioso para voltar a
falar com ela, ouvir o som de sua voz e tê-la perto. Eu me convencia o tempo
todo que fazia isso para o bem das crianças.

Na manhã seguinte, levantei bem cedo e mandei entregar um buquê de


rosas vermelhas e bombons. Estava na academia do apartamento quando os
presentes chegaram e deixei que ela os recebesse. Ouvia minha música nos
fones de ouvido e corria na esteira, certo de que as rosas a deixariam
emocionada. Contudo, para a minha surpresa, comecei a ver pétalas de rosas
passando na frente da parede de vidro da academia.

Franzi o cenho e desliguei o aparelho. Andei pela casa e vi que Low


estava comendo bombons e o restante estava no lixo da área de serviço. Não
podia acreditar que ela desfizera do meu presente. Atravessei o apartamento
e quando cheguei na varanda, Elizabeth estava terminando de despetalar a
última rosa e jogando as pétalas no ar.

Ela se virou e deu de cara comigo, mas não apareceu nem um pouco
abalada, ao contrário, me fitou com desdém, o buquê em seus braços sem
nenhuma pétala, apenas as hastes das flores. Ela virou para a varanda, jogou
do alto do prédio e bateu uma mão na outra como se fosse lixo. Depois
passou por mim, ignorando minha presença.

Cadela.

Mas toda mulher tinha um preço e eu não desistiria facilmente. Nós


saímos para almoçar fora, fomos no clube. Ela foi no carro com a minha
mãe, e eu fui com as crianças no meu carro. Lá, ela não falou comigo,
almoçamos e quando tentei me aproximar, ela me deixou falando sozinho.
Voltamos para casa e ela bateu a porta do quarto na minha cara quando tentei
me aproximar de novo.

Mandei entregar uma pulseira caríssima de pedras preciosas, mas a


tal pulseira acabou virando coleira de Low. Cem mil dólares desprezados no
pescoço do meu cachorro, a sargento estava testando a minha paciência. As
flores não agradaram, nem chocolates, ou joias! O que ela queria para
aceitar minhas desculpas?
Mas o que me matou foi à noite, quando minha mãe avisou que
Elizabeth não jantaria conosco.

— Ela está fazendo greve de fome? – perguntei com deboche sentado


no sofá da sala, solitário, tomando meu uísque e me sentindo um idiota por
não saber o que fazer.

— Ela disse que vai sair com Arthur – minha mãe me contou.
Fiquei tenso. Arthur? Ela realmente queria me tirar do sério. Claro,
eu não tinha nada a ver com isso, Elizabeth tinha que sair com quem
quisesse, afinal, o que significávamos um para o outro além de dois
momentos sem graça de sexo? Pensei irritado.
— Que bom, é bom que ela saia e se divirta – eu disse, voltando a
atenção para o meu celular.

Mas segurei o aparelho com tanta força que os nós dos meus dedos
ficaram brancos.
— O que vamos pedir? – minha mãe quis saber.

— Decida com as crianças, estou sem cabeça para decidir o que


comer. Qualquer coisa está boa para mim! – falei seco, movendo a mão livre
no ar.
Minha mãe ficou me olhando por um tempo e então se afastou. Não
demorou e a sargento surgiu, usando um vestido preto de manga única que ia
até acima dos joelhos, uma meia calça preta e saltos finos. Os cabelos
estavam soltos como há duas noites, sedosos e tentadores. Ela usava um
batom tão vermelho naquela boca magnífica que não consegui desviar os
olhos dela, estava magnífica, seu perfume tomou o ambiente, tanto quanto sua
presença. Elizabeth Andrews era a mulher mais bonita que conheci. Ela não
precisava de muitos ornamentos para ficar bonita, ela era linda de qualquer
jeito. E pela primeira vez na vida, invejei outro homem. Estava com inveja
de Arthur porque ele teria aquilo que eu cobiçava.

— Elizabeth não está bonita, Hassan? – a voz da minha mãe surgiu


das profundezas do inferno para me atormentar.
Foi a primeira vez que Elizabeth olhou para mim. Seus olhos verdes
não tinham a vida de antes, mas ela esperava uma resposta, mesmo que não
quisesse admitir.
— Eu comprei este vestido para ela ontem – minha mãe contou
andando ao redor dela —, ficou magnífico e os brincos que comprei
combinavam perfeitamente.

— Ela está deslumbrante – disse sem tirar os olhos dela.


O desejo era uma faca de dois gumes. Porque uma hora eu a odiava,
ou a desprezava por ser tão arrogante e indiferente. No outro instante, tinha
certeza que se estivéssemos a sós naquele apartamento, eu a comeria de
todas as formas possíveis apenas para vê-la gritar meu nome enquanto
gozava gostoso. Meus olhos disseram a ela minhas intenções, e a vi respirar
mais forte, mesmo com raiva, eu ainda conseguia mexer com ela e tal
constatação foi uma vitória.

— Eu disse que esse vestido a faria conquistar o coração de Arthur –


minha mãe segurou o braço dela com carinho —, espero que sua noite seja
ótima, querida!
— Obrigada – ela disse finalmente —, vou descer, Arthur está me
esperando lá embaixo, boa noite.

— Boa noite – eu disse.


Ela quase tropeçou, mas se conteve e seguiu altiva, movendo aquele
quadril redondo para lá e para cá, me deixando louco. Até mesmo quando
ela entrou no elevador e se virou em direção à sala, nossos olhares se
encontraram, ela receosa, eu morrendo de tesão. A porta do elevador fechou
e vi que minha mãe me observava.

— O que foi? – perguntei inocente.

Ela balançou a cabeça desolada.


— Às vezes, Hassan, eu tenho vontade de pegar meu melhor chinelo
e dar no seu lombo até que seu cérebro funcione! – ela ameaçou brava.
— O que foi que eu fiz? – questionei sem entender o motivo de tanta
agressividade. — Eu disse que ela está deslumbrante, não disse? Fui
educado...

— Às vezes, a única coisa que uma mulher precisa, seu idiota, é um


pedido de desculpas. Presentes não compram a atenção de uma mulher de
caráter. Pensei que já tinha aprendido isso!

Finalmente a ficha caiu.

— Ela disse alguma coisa? – Me levantei esperançoso.


Minha mãe me deu um tapa na cabeça.

— Ai! – reclamei.
— Eu e as crianças vamos pedir fast food e assistir o Rei Leão.
Betina e Michael adoram esse desenho, sabia? Devia aproveitar o tempo
para se divertir também e consertar o que fez antes que a perca...

E saiu andando me deixando sozinho. Sorri para mim mesmo. Eu já


sabia o que fazer.
Capítulo 22

Estava tensa com aquele encontro porque eu sabia que estava agindo
por birra, apenas para fazer Hassan sentir na pele o que estava perdendo, e
que eu não o desculparia tão cedo. Ele acionou em mim algum gatilho que
despertou meu orgulho nível tsunami. Por fora, parecia ser a mulher mais
controlada do mundo, mas por dentro era um vulcão prestes a entrar em
erupção. E quando encontrei Arthur na porta do prédio esperando por mim,
lindo e atraente, eu me senti uma canalha. Ele não merecia ser usado, era um
cara legal e deveria ser tratado com respeito.

Ele se aproximou de mim, me deu um beijo no rosto e abriu a porta


do carro. Agradeci fingindo estar impressionada e ele deu a volta para se
sentar ao meu lado e colocar o veículo em movimento.

— Fiquei surpreso quando vi sua resposta depois de dois dias – ele


comentou com sua voz rouca e vibrante.

Estava arrependida por ter respondido. Fiz no calor da emoção,


desesperada para não pensar em Hassan, nas noites de sexo maravilhosas
que tivemos e o quanto a presença dele estava me perturbando e o quanto o
admirava por ser carinhoso com as crianças e querer cuidar delas, sair com
elas!

Tinha que reunir todas as minhas forças para não olhar para ele e
ignorá-lo. E apesar de me conter, e não o fitar em qualquer momento, eu
sentia sua presença, seu olhar constante me chamando, exigindo minha
atenção. Deveria ganhar o Oscar por fingir que não o notava e escondia
muito bem o quanto a personalidade dele me perturbava. O som de sua voz
me fazia estremecer, e eu ria para as crianças, dizia qualquer coisa para
disfarçar o torpor que me tomava.
Não sabia que a força de uma atração podia até mesmo dominar meus
pensamentos. Por isso, eu mandei a mensagem para Arthur, queria provar
que Hassan era ninguém e que aquela semana ao seu lado não significava
nada, que era apenas sexo casual.

— Achei melhor espairecer um pouco – comentei forçando um


sorriso —, espero não ter atrapalhado qualquer outro plano seu.

— Não tinha qualquer outro plano e por coincidência estava de


folga hoje – ele comentou enquanto dirigia.

— Onde está pensando em ir? – Eu quis saber.

— Conheço um restaurante árabe excelente, o que acha?

Broxante, pensei. Ele não poderia me levar em um lugar pior.

— Sou alérgica à comida árabe – eu comentei.

— Mesmo?

— Se eu tomar o tal do Arak viro uma bolha vermelha de alergia! –


menti descaradamente.

— Nunca tinha ouvido falar que alguém tivesse alergia à comida


árabe, ainda mais Arak...

— Mundo estranho, não é? – Ri nervosa.


— Podemos ir em outro lugar – ele comentou enquanto observava o
trânsito.

— Poderíamos ir a uma casa de show – opinei.

— Não gosto muito do barulho – ele retrucou.

Que merda!

— Escolhe então um restaurante legal – avisei.

— Tem um restaurante árabe que pertence ao Senhor Aziz e que


serve comida normal – ele insistiu —, você vai gostar. Tem até dançarinas
do ventre...

— Eu sei – murmurei olhando pela janela do carro.

— O quê? – Ele não compreendeu.

— Tudo bem. – Forcei um sorriso.

Ele dirigiu por mais cinco minutos enquanto eu pedia aos céus que
ele mudasse de ideia. Foi quando a sirene da polícia tocou atrás de nós. Vi
os refletores brilharem no espelho retrovisor e olhei para trás.

— O que é isso?

— Não faço ideia! – ele respondeu sério olhando pelo retrovisor e


dando seta para encostar.

Arthur parou o carro e abaixou o vidro. O policial alto e preto se


aproximou da janela e nos disse:

— Documento do carro e carteira de motorista – ele pediu sem


sequer dar boa noite.
— Como vai, policial? – Arthur perguntou, mas o policial sequer
respondeu.

Arthur ficou sem graça, abriu o porta-luvas e tirou os documentos e


entregou ao policial. O homem verificou, acendeu a lanterna para ver os
documentos atentamente e fez sinal para outro colega se aproximar.

— Senhor, pode sair do carro, por favor – o policial pediu.

Fiquei parada olhando. O que aqueles policiais estavam fazendo?


Arthur saiu do carro e ele mal desceu e foi abordado de maneira agressiva
pelos dois policiais que bateram seu corpo contra o carro e o algemaram.

— O senhor tem um mandato de prisão por roubo de carro – o


policial disse enquanto o algemava —, o senhor deve permanecer calado,
tudo o que disser será usado contra o senhor em um tribunal.

— Há algum engano! – Arthur gritou.

— O que está acontecendo? – Eu saí do carro atônita.

Eles levaram Arthur para a viatura e ele não resistiu à prisão. Seria
ele, um ladrão de carros? Fiquei perplexa.

— É um engano, Elizabeth! – ele gritou enquanto era levado —, ligue


para o meu advogado, Antony! Ele saberá o que fazer. O número está na
minha agenda no console do carro!

Apenas assenti e voltei para o carro dele. Abri o console e peguei


uma pequena agenda, usei meu celular e sentei no banco do motorista,
decidida a seguir o carro da polícia para saber onde estavam levando
Arthur. Deveria ser algum engano, ele não parecia um ladrão de carros, mas
na minha profissão tudo era possível.

— O que foi? – o advogado atendeu.


— Antony? Aqui é Elizabeth Andrews – expliquei aflita seguindo o
carro da polícia —, Arthur foi preso e pediu que eu entrasse em contato com
o senhor.

— Senhorita Andrews, o que aconteceu? – ele perguntou sério.

— Não sei – respondi aflita —, a polícia nos seguiu, e ele foi levado
acusado de roubo de carros, ele me pediu que ligasse para o senhor.

— Tudo bem – ele concordou prático —, assim que chegarem à


delegacia, me ligue e me informe qual é, eu irei para lá imediatamente.

— Está bem – concordei e desliguei.


Fiz como Antony me pediu. Quando entrei na delegacia mandaram
que eu ficasse na recepção aguardando enquanto Arthur foi levado para
frente do delegado. Pensei em usar meu distintivo, mas preferi me manter
neutra. Eu realmente não sabia o que estava acontecendo e conhecia muito
pouco sobre Arthur para defendê-lo. Ele podia ser realmente um ladrão de
carros!

Antony chegou logo em seguida. Como se morasse ao lado da


delegacia. Eu soube que era ele porque entrou na delegacia e se apresentou
ao recepcionista dizendo que estava ali por causa de Arthur. Eu me levantei
e fui para perto do homem loiro e alto que parecia um jogador de futebol
inglês, até o brinco na orelha esquerda era o mesmo. Ele olhou para mim, um
tanto surpreso quando se deparou comigo.

— Senhor Miles – eu disse —, Elizabeth Andrews.

E estendi a mão. Ele apertou minha mão de forma prática.

— Como vai, senhorita?

— Preocupada – respondi sincera.


— Não se preocupe, com certeza foi um erro, conheço Arthur há anos
e sabemos que ele é um cidadão de bem – discursou.

— Pode entrar para falar com o delegado, Senhor Miles – o policial


o informou.

— Fique aqui, eu já volto! – Antony avisou e passou pela porta de


vidro com detector de metais.

Olhei para ele e depois voltei a me sentar. Bufei. Com certeza, era o
olho gordo daquele árabe maldito! Ele me fitou de uma forma tão intensa
quando saí da cobertura, que agora tinha certeza que ele desejou que desse
tudo errado por eu não estar falando com ele. Hassan não era o tipo de
homem acostumado a ser desprezado, as mulheres morriam por ele, matavam
se fosse necessário. Como aquela sem graça da Senhorita Hughes tentou
fazer comigo.

Peguei meu celular e fiquei olhando as mensagens. Não havia nada


novo e os minutos que fiquei esperando o advogado voltar pareciam horas.
Na verdade, fiquei uma hora e meia sentada ali até Antony voltar sozinho. Eu
me levantei depressa e me aproximei dele.
— E então?

— Existe a denúncia por roubo de carro, infelizmente, Senhorita


Andrews. O delegado está verificando se houve algum erro no sistema, mas
ele não sairá dessa delegacia até amanhã de manhã – me avisou.
— Oh! – fiquei perplexa.

— Posso lhe dar uma carona se quiser...


— Não precisa, eu posso pegar um táxi – respondi.
— Está hospedada na casa de Hassan, não é? Sou o advogado
pessoal dele. Posso levá-la. Vai demorar para conseguir um táxi nas
imediações – ele pontuou.

Quando deixei o carro no estacionamento da delegacia, notei que o


lugar era bem isolado. Ele não estava blefando ou mentindo.

— Não quero causar nenhum transtorno – falei sem graça.

— Se quiser, posso ligar para Hassan e avisar que está aqui – ele
propôs.

— De forma alguma – eu o interrompi. A última coisa que precisava


era que Hassan soubesse que minha noite foi um fiasco.

Ele saberia de qualquer forma, mas quanto mais adiasse, melhor


seria.

— Aceito sua carona! Hassan deve ter saído e estar em algum lugar
se divertindo – desculpei —, não quero incomodá-lo.
— Como quiser – ele sorriu satisfeito —, vamos.

Forcei um sorriso e o segui para fora da delegacia até o carro


importado que nos aguardava. Ele abriu a porta e entrei agradecendo.

— Sinto muito que sua noite tenha terminado assim – ele disse
colocando o carro em movimento —, Arthur é um bom homem, tudo deve ser
um grande mal-entendido.

— É o mais provável – limitei a dizer.

— Talvez tenha sido providência divina que nos encontrássemos –


ele comentou.

— E por que seria?


Ele encolheu os ombros largos envoltos no terno elegante.
— Cometi um grande erro com Hassan essa semana – respondeu
olhando para o trânsito —, e temo que isso tenha refletido na senhorita.

— Em mim? – perguntei sem entender.


— Primeiro quero pedir desculpas – ele começou a explicar —, eu
cometi um erro grave que fez com que sua vida ficasse exposta.

— E como o senhor fez isso? – questionei intrigada.


— Bem, Hassan mandou que eu confirmasse as informações que
passou a ele e descobri que estava afastada de seu cargo no FBI – disse um
tanto sem graça.

Devia ter imaginado que era ele o bode expiatório.


— Claro... – não sabia por que aquela informação de que Hassan me
investigava estava me decepcionando.

— Eu acabei de me divorciar e essa semana tive a péssima notícia


que minha ex-mulher está namorando sério – ele fez uma careta —, isso pode
acabar com um homem apaixonado, sabe...

— E o que isso tem a ver comigo? – perguntei impaciente.


— Bem, eu estava carente e acabei saindo com Madeleine Hughes –
ele disse.

E tudo o que aconteceu naquele dia fez sentido.


— Nós bebemos e eu passei da conta e disse a ela sobre o que estava
acontecendo na vida de Hassan – ele desabafou.

— Compreendo – falei sem graça.


— Hassan me demitiu essa tarde e me contou o que houve – ele me
relatou.
— Ele o demitiu? – perguntei perplexa.

— Sim, a Senhorita Hughes também – meneou a cabeça sem graça


—, ela passou dos limites e eu igualmente. Pensei que Madeleine estava
curada da paixonite por Hassan, mas o que ela fez foi muito desagradável. E
peço desculpas...

— Não precisa se desculpar... – fiquei sem graça.

— Claro que preciso, nunca fiz esse tipo de coisa antes, expor um
cliente e mais que isso, eu e Hassan sempre fomos amigos. Sinto que ele
tenha perdido a confiança em mim – ele discursou tenso —, confiança para
ele é algo muito importante.

— Sei disso melhor do que ninguém – ironizei.

Antony sorriu amargo para mim.

— Ele não quer deixar as crianças irem, não é? – me questionou.

— Não. Como você disse, ele precisa confiar em mim – falei sem
pensar e mordi os lábios em seguida. Não gostava de me abrir com as
pessoas. Era estranho.

— Não a conheço e não faço ideia do que passou, mas se tudo


estiver certo, logo irá embora – ele me consolou —, Hassan pode ser cabeça
dura, mas é justo, isso não há dúvida. E se você for a mulher certa para ser a
mãe das crianças, ele não vai impedir.

As palavras dele me deram um pouco de alívio. Forcei um sorriso e


olhei pela janela. A ideia de ir embora de repente parecia tão distante. Ele
parou o carro diante do prédio e eu agradeci pela carona.
— Seria muito se eu pedisse que não dissesse a ele hoje o que
aconteceu? – eu perguntei.
— Se não disser a ele que contei que me demitiu, estamos quites. –
Ele piscou para mim.

— Está bem – concordei —, seu segredo está guardado.


— Obrigado – ele agradeceu —, tenha um bom resto de noite,
Senhorita Andrews.

— Obrigada, você também.

Respirei fundo e fui em direção à entrada do prédio. Hassan não


havia dito nada àquela amante sem graça dele, e pelo que entendi, eles
sequer estavam juntos e a tal Hughes estava despeitada por isso. Fui injusta
com Hassan ao tratá-lo com tanta indiferença e me senti mal. Estava na hora
de fazer as pazes sem que ele soubesse que eu estava arrependida de tê-lo
tratado mal.
Capítulo 23

Estava escolhendo a garrafa de vinho na minha adega ao lado da sala


principal quando o celular tocou. Peguei minha melhor garrafa, eu me sentia
bem, melhor do que nunca. Meu celular tocou e eu atendi.

— Ela está subindo, Hassan – Antony me disse ao telefone —,


aconteceu exatamente como me pediu, falei com Arthur e ele pediu
desculpas, não sabia que Elizabeth era sua garota e eu conversei com ela.

— Perfeito – falei satisfeito olhando para a garrafa enquanto andava


em direção à sala.

— Espero que depois disso, você possa confiar em mim de novo –


ele supôs.

— Posso, mas espero que mantenha sua boca fechada daqui para
frente. – E desliguei, colocando o celular no bolso.

Se eu joguei sujo para estragar a noite da sargento? Completamente.


Não podia permitir que ela tivesse uma noite com Arthur, eu a queria ali,
comigo. A porta do elevador abriu e ela se deparou comigo, um encontro
proposital que me fez franzir o cenho e falar da forma mais natural que pude.

— Chegou cedo – comentei enquanto ela se aproximava altiva, com


toda a dignidade que possuía.
— Arthur teve uns contratempos e tivemos que deixar o encontro
para outro dia – ela falou enquanto se aproximava.

Não, querida. Pensei. Você não vai mais sair com Arthur a partir de
agora. Olhei para a garrafa na minha mão e mostrei a ela.

— Quer um pouco de vinho? – ofereci e fui em direção ao bar para


pegar as taças.

Ela encolheu os ombros, como quem não se importa e não tem mais
nada para fazer.

— Onde está sua mãe e as crianças? – Ela quis saber.

— Dormindo – respondi pegando as taças e abrindo a garrafa de


vinho com o saca-rolhas.

Servi as duas taças e peguei uma para levar até ela. O olhar de
Elizabeth era inseguro. Pela primeira vez naqueles dias, notei o quanto ela se
tornava vulnerável quando cometia erros.

— Obrigada – ela disse pegando a taça de vinho e tomando um gole.

— Vamos nos sentar na varanda – convidei —, a noite está fresca e


temos uma garrafa de vinho pela frente.
A suprema arte da guerra é derrotar o inimigo sem lutar. Lembrei
do trecho do livro A Arte da Guerra, do Lao Tsé. Era perfeita para o
momento.

Não esperei resposta e me dirigi para a varanda depois de pegar a


garrafa de vinho sobre o balcão. A sargento demorou um pouco, mas ela
veio atrás de mim, deixou a taça sobre a mesa e sentou-se de frente para
mim. Realmente a noite estava agradável, mas a companhia dela tornava tudo
melhor, sem dúvida. Ainda mais agora que sua consciência estava pesada
por ter me tratado mal quando não havia motivos para isso.

Não falei nada, deixei o silêncio pesado cair entre nós. Para
completar a cena, Low surgiu com sua coleira de diamantes e veio ficar nos
meus pés. Sorri com maldade quando abaixei para pegá-lo e trazê-lo para o
meu colo. Tomei vinho e quando olhei para Elizabeth, seus olhos verdes
estavam sobre a coleira do cachorro, totalmente constrangida. Ela mordeu o
lábio inferior e olhou para as próprias mãos que estavam sobre as coxas.

Low se deitou no meu colo e fiquei acariciando sua cabeça. Tomei


mais vinho, deixando o silêncio ficar insuportável.

— Eu ia me casar – ela disse quebrando o silêncio.

Meu corpo todo ficou tenso. Meu estômago queimou. Não esperava
que ela fosse se abrir comigo, não agora. Estava pronto para a guerra,
minhas muralhas estavam erguidas e, de repente, eu encarei a mulher frágil
por trás de toda aquela frieza que tive que aturar nos últimos dias.

Ela tomou vinho, como se encontrasse coragem para continuar


falando. Queria dizer que não precisava falar, que no fundo, não me
importava. Mas a verdade era que eu estava curioso demais para saber o que
havia por trás de Elizabeth, de suas queimaduras, da proteção que ela teve
do FBI quando pensei que ela tivesse sequestrado as crianças. Havia tanta
coisa que eu queria saber. Ela devolveu a taça sobre a mesa e notei a mão
trêmula. Devia ser difícil falar sobre algo que a machucava e muito, que a
afastou de sua carreira e deixou marcas não apenas em sua pele, mas em sua
alma.

— Quando... – ela pigarreou —, quando meu padrasto morreu, eu já


estava no FBI, tinha pouco tempo de carreira, mas já estava traçando meu
caminho. Então, Jack Donald foi indicado para ser o próximo diretor. Nessa
mesma época, minha mãe ficou doente, era câncer. E minha vida desmoronou
quando o médico disse que ela não tinha muito tempo de vida. Não sei,
juntou a perda do meu pai, a doença da minha mãe e o sonho de ser amada
por alguém acima de todas as coisas...

Ela olhou para mim. Havia uma tristeza profunda em seu olhar que
me tocou. Ela tomou todo o conteúdo da taça, precisava de coragem para
continuar falando. Não era fácil.

— Jack estava lá e ele era muito charmoso, atencioso comigo e


querido – ela sorriu amarga —, eu me deixei levar pelo seu charme e quando
minha mãe morreu, ele foi meu porto seguro. De amigo conselheiro, se
tornou meu amante – ela encolheu os ombros como se não tivesse escolha na
época —, eu acreditava de verdade que ele era o homem da minha vida, a
pessoa que o destino separou para mim – balançou a cabeça levemente —,
um grande engano. O maior da minha vida.

Ela pegou a garrafa de vinho e serviu mais. Bebeu mais um gole e


prosseguiu.

— Ele estava se divorciando da esposa, então, esperamos que tudo


ficasse claro na justiça para nós nos jogarmos nos braços um do outro e
durante um ano ou dois mantivemos tudo discretamente – ela alisou a taça
com a ponta dos dedos como costumava fazer quando estava ansiosa.

— Por causa do trabalho – eu deduzi.

— Sim. Não queríamos que as pessoas pensassem que eu estava


tendo alguma vantagem sobre o fato de ele ser o diretor – ela explicou —,
talvez tenham sido três anos que ficamos nos encontrando em segredo, até
que ele me pediu em casamento. Eu havia mudado tanto por causa dele,
parado de beber, vestia roupas mais fechadas, não ria alto, não falava com
outros homens, não saía com meus amigos...
Notei o quanto estava nervosa com tudo aquilo.

— Mas de todos os sacrifícios, eu não estava preparada para me


casar, então eu o enrolei por mais três anos, sempre encontrando a desculpa
perfeita para não subir no altar – ela passou a língua nos lábios —, no fundo,
eu sabia que não o amava o suficiente para passar o resto da vida com ele.
Mas sabe quando você se acomoda? Quando você acha que está vivendo o
seu melhor e sem aquilo você não é nada?
Ela respirou fundo. Low saltou do meu colo e foi para os pés dela,
talvez sentindo sua angústia. Ela o pegou no colo e o colocou contra o peito
antes de continuar falando.

— Então, Jack fez algo inesperado, ele me pediu em casamento


durante a festa de fim de ano, na frente de todos. As pessoas aplaudiam ao
nosso redor e eu fiquei tão constrangida que aceitei o anel e o pedido de
casamento – ela contou aflita.

— Ele a coagiu – conclui.

— Ele me conhecia, sabia que na frente de todos eu não faria uma


cena. Brigamos dias depois e fui designada para uma nova missão, ele sabia
que não podia intervir e eu vi a chance de ficar longe e pensar melhor, tomar
uma decisão. Então, conheci Brad King, um agente britânico que veio fazer
um trabalho de investigação sobre um gangster inglês que estava se
escondendo no Texas – ela continuou falando, Low lambeu seu rosto e ela o
colocou sobre as pernas —, e fui indicada para ajudá-lo. Nós nos
apaixonamos depois de semanas convivendo e percebi que não gostava de
Jack como eu pensava. Então, voltei para Washington e terminei tudo.
— Imagino que ele não tenha gostado – comentei e tomei o vinho.

Meu sangue fervia por imaginar o que teria acontecido em seguida.

— Ele não gostou e me deu uma surra – ela falou triste e comprimiu
os lábios —, fiquei tão chocada com a atitude dele que não tive reação,
deixei que ele me batesse, talvez porque me sentia culpada de estar
terminando tudo depois de quase sete anos juntos – explicou. — Aprendi
nesse dia que a mulher pode ser a mais poderosa, mas quando quem ela ama
a fere, é uma sensação de impotência tão grande que ficamos sem atitude,
não sabemos como reagir...

Ela enxugou uma lágrima teimosa que escorreu por seu lindo rosto e
não gostei de vê-la assim.

— Elizabeth... – não queria que ela falasse mais —, não precisa me


contar isso.

— Preciso – ela me cortou e ergueu a mão no ar —, nunca contei a


ninguém o que houve e preciso dizer a você.

Eu me calei e a deixei falar. Não era pela guarda das crianças que
ela fazia isso, era uma redenção.

— Voltei para o Texas e fiquei com Brad – ela encolheu os ombros


—, meses depois, ele partiu para Londres e nossa vida seguiu normalmente.

— Vocês se encontraram de novo?

— Sim, ele voltou à Washington duas ou três vezes, mas nós


sabíamos que não havia futuro, era apenas uma paixão intensa – ela disse
com carinho —, mas gostávamos da companhia um do outro... fui à Londres
certa vez, e sempre que vinha aos Estados Unidos ficávamos juntos – sorriu
—, ele era uma pessoa incrível...
— Era? – perguntei tenso, não querendo imaginar onde essa história
daria.

Ela enxugou outra lágrima. Low saltou do colo e correu para dentro
de casa. Não aguentei e mudei de cadeira, me sentando diante dela,
segurando sua mão.

— Eu vi todo o tipo de crime acontecer, Hassan, mas nunca imaginei


que aquelas tragédias um dia chegariam até mim – ela falou com pesar e
olhou para nossas mãos unidas antes de me encarar e prosseguir. — Num fim
de semana, recebi uma mensagem de Brad dizendo que me esperava para um
fim de semana numa cabana. Não desconfiei que fosse uma armadilha e fui
encontrá-lo. Quando cheguei lá, Jack me rendeu, Brad estava amarrado...

— Elizabeth, sequer posso imaginar o que passou...

— Ele me amarrou e colocou fogo na cabana, íamos todos morrer,


esse era o plano maluco dele! – ela falou revoltada. — Brad se soltou e
conseguiu pegá-lo, eles lutaram e Brad o deixou caído no chão. Ele
conseguiu me soltar, mas a cabana estava em chamas. Estávamos fugindo
pelas escadas quando o teto caiu sobre nós.

Ela levou a mão ao rosto e começou a chorar, mas afastou em seguida


e prosseguiu:

— Um morador próximo entrou e me tirou de lá a tempo, mas não


conseguiu salvar Brad e ele morreu. Jack também – ela soluçou e enxugou as
lágrimas —, fiquei internada por dois meses, o lado esquerdo do meu corpo
ficou queimado e sobrevivi – disse triste.
Levei a mão ao seu rosto e enxuguei suas lágrimas. Não poderia
imaginar que fosse uma história tão terrível e trágica.
— Fui afastada e corre processo – ela explicou —, mantiveram tudo
em sigilo para não causar um escândalo, ainda mais porque envolvia dois
agentes do FBI e um agente especial inglês, seria um escândalo internacional
que poderia abalar a estrutura da organização. Por isso, assinei um termo de
sigilo, não vou ser investigada, mas não posso comentar sobre o assunto.
Eu me senti um lixo por ter desconfiado dela. Por ter pensado que ela
podia ser uma criminosa perigosa que poderia machucar as crianças. Fui um
cretino e jamais me perdoaria por isso.

— Quando Michael e Betina surgiram em minha vida, eu tive um


motivo para seguir em frente – ela confessou —, por isso quero ficar com a
guarda deles, Hassan, eu preciso deles mais do que eles precisam de mim.
Respirei pesadamente e levei suas mãos aos lábios para beijar.

— Sinto muito, Elizabeth – disse sincero —, sinto muito que tenha


passado por tudo isso... não fazia ideia... não podia imaginar que seu
problema fosse algo tão grave...
— Você jamais descobriria pelas vias legais, ninguém lhe contaria –
ela observou —, mas acredito que devia saber que nem tudo é o que parece
ser...

Assenti devagar. Aquela frieza, aquele jeito durão nada tinha a ver
com desprezo que ela sentia por mim, era uma forma de se proteger, de não
se envolver e de não cometer um novo erro. Ela devia estar muito
traumatizada com tudo aquilo e eu não podia julgá-la, não mais. Ao
contrário, agora não havia motivos para não lhe dar a guarda, e eles
partiriam em questão de dias.
O problema se tornou outro agora.

Eu não queria que partissem.


Capítulo 24

O carinho de Hassan quando lhe contei tudo me quebrou ao meio.


Sempre esperei que ele ou qualquer outra pessoa fosse reagir de forma
incrédula, me criticar porque eu abandonei Jack para ficar com Brad e viver
um amor que eu acreditava valer a pena. Nunca traí Jack, mesmo assim, fui
muito criticada quando tudo aconteceu. O machismo dos meus colegas de
trabalho, e principalmente das mulheres, ficaram com pena do diretor do FBI
que foi enganado por sete anos pela jovem que estava com ele por interesse,
era o que diziam, que me aproveitei que ele estava carente após a separação
e usei da minha juventude e da minha boceta para fazê-lo meu escravo.

Também diziam que eu o traía com Brad e Jack tinha direito à


vingança. As pessoas arranjavam justificativas ridículas para que a honra
dele não fosse destruída. Honra? Onde pode existir uma em um homem que
bate em uma mulher? Que usa dos sentimentos dela para torná-la submissa?
Ficava impressionada com a forma como as mulheres ainda não tinham o
direito de dizer não, de desistir de um relacionamento em que não se sentem
confortáveis, em que são feridas brutalmente, tanto fisicamente quanto com
palavras duras e desumanas.

Ninguém é de ninguém. Mas a humanidade limitada parece não


entender isso. Nascemos sozinhos e assim morremos. Não estamos presos a
ninguém, não há um contrato de exclusividade. Existe uma questão de
respeito, mas isso não dá o direito ao outro, principalmente ao homem, de
abusar de sua força e autoridade para subjugar uma mulher.

Precisei frequentar psiquiatra para entender que eu não era culpada


por Jack ter surtado, ele por se achar dono do mundo e de mim, pensou que
podia fazer o que queria. E pagou um preço alto por isso. E eu também,
infelizmente. Sofremos as consequências dos atos irascíveis dos outros e
com o tempo compreendi que apesar da minha pele queimada, eu não era
obrigada a me casar com ele apenas porque ele assim desejava.

Contudo, a sociedade enxergava apenas segundo suas regras


hipócritas, e foi um alívio enxergar o carinho de Hassan ao compreender
todo o mal que eu havia passado. Não precisava ser julgada, eu fui desde o
dia em que me apaixonei por um homem vinte e cinco anos mais velho e sete
anos depois não o queria mais. Entendi que por ser mulher sempre seria
julgada com mais peso e de uma forma diferente. O fato de Jack estar com
uma garota vinte e cinco anos mais nova era sorte, ele era o garanhão. Mas o
contrário era errado. Eu sempre estaria errada, qualquer que fosse minha
decisão.

Hassan colocou a mão no meu rosto e seus olhos escuros se


prenderam aos meus.

— Sinto muito que tenha conhecido um homem que não soube te


respeitar – ele murmurou.

Oh, Deus! Esse homem sabia como destruir toda a muralha que ergui
ao redor de mim. Ele parecia um polvo com seus tentáculos e toda vez que
eu tentava levantar uma resistência, ele a destruía sem dificuldade alguma.
Não suportei ficar olhando para ele e inclinei o corpo para frente e o beijei.
Foi a forma que encontrei de dizer: muito obrigada por não me julgar.
Eu me afastei e olhei para ele, assustada com a força do desejo que
me tomou. Mas enxerguei naqueles olhos a mesma emoção, ele me queria
tanto quanto e mais uma vez, não conseguimos dizer não. Seus olhos caíram
na minha boca, sua mão firme segurou minha nuca e me puxou para frente,
roçou sua boca na minha, bem devagar, mordeu meu lábio inferior e passou a
língua. Tremi inteira e então ele soltou um gemido rouco antes de me beijar
com uma paixão avassaladora.

Agarrei a ele como se fosse uma tábua de salvação, um motivo a


mais para que a vida fizesse sentido. Nunca a necessidade de estar com
alguém foi tão forte, estava intoxicada pelo desejo que ele me despertava.
Sem deixar de me beijar, ele se levantou, passou uma mão por baixo dos
meus braços e a outra embaixo dos meus joelhos e me ergueu no colo sem
qualquer dificuldade. Agarrei em volta do seu pescoço e deixei ser beijada
de forma lasciva.

Lembrei da música da Pink, Try:

Onde há desejo, haverá uma chama

Onde há uma chama alguém está sujeito a se queimar

Mas só porque queima não significa que você vai morrer

Você tem que se levantar e tentar, e tentar, e tentar

Essa música nunca fez tanto sentido para mim. Hassan entrou comigo
pelo apartamento silencioso. Não vi para onde ele estava me levando,
ocupada demais em beijá-lo e tentar de novo. Até que não restassem mais
forças, era assim que eu era. Sempre acreditei em dias melhores, em novas
chances, e eu não deixaria esse momento passar em branco. Hassan era o
melhor que havia acontecido comigo em meses, me fazia sentir viva
novamente e querer estar ao lado dele de maneira única.
Entramos no quarto dele e ele chutou a porta para fechá-la. Senti
meus pés tocarem o chão e então nos afastamos para ele tirar a camiseta e
voltar a me beijar enredando seus dedos nos meus cabelos. Tirei os sapatos
chutando-os para longe, suas mãos desceram pelo meu pescoço, pelas
minhas costas, cintura, até chegar na minha bunda e ele me erguer no ar para
que eu o abraçasse com as pernas.

Desci a mão sobre seu coração e senti as batidas fortes, a pele quente
contra a ponta dos meus dedos, os músculos bem feitos, como se tivessem
sido esculpidos por algum artista muito inspirado. Hassan tinha uma energia,
uma força, que me subjugava e me deixava fora do controle, eu o desejava.
Ele tinha o poder de me fazer esquecer todos os problemas, todas as dores e
inclusive que eu tinha parte do corpo destruído e queimado.

— Quero esquecer as coisas ruins que vivi – falei contra sua boca,
encostando minha testa na sua, sentindo sua respiração entrecortada contra
os meus lábios e os olhos semicerrados fitando as palavras que eu dizia.

— Posso fazer o que quiser, habib... – ele lambeu os meus lábios —,


vou te dar o mundo se quiser...

E nos beijamos antes de ele me colocar sobre o colchão e se ajoelhar


entre as minhas pernas. Ele arrancou a meia calça com a calcinha e tudo, sem
o menor pudor. Dessa vez, as queimaduras estavam ali, expostas, ele podia
vê-las, enxergá-las tal como eram, mas pela primeira vez, não fazia a menor
diferença, era como se não existissem, como se não me enfeassem mais, um
detalhe sem importância.

— Adoro suas pernas – ele disse beijando os meus pés, me


provocando arrepios de prazer —, gosto da forma como elas ficam em volta
de mim quando estou te fodendo gostoso.
Eu ri, mas o riso subiu quando ele ergueu a minha perna e aquela
boca mágica beijou a panturrilha, a parte detrás do meu joelho e a lateral
interna das minhas coxas. Era incrível. A mão se arrastou com fome pela
outra perna e ele subiu a boca para lamber minha virilha como fogo e eu
arqueei, aproveitei e subi o vestido para a cintura. Abri os olhos para vê-lo
sorrir com maldade e descer a boca nas minhas dobras molhadas.

Como era bom... segurei seu cabelo enquanto ele me beijava, lambia
e chupava.

— Quer gozar, gostosa? – ele perguntou erguendo o olhar para mim.


— Agora! – exigi sentindo meu corpo ansioso por mais.

Ele riu outra vez, a boca desceu no meu ventre e foi subindo
conforme empurrava o vestido para cima e minha pele foi ficando nua até
surgir o sutiã. Eu me ergui o suficiente para tirar o vestido e vê-lo jogar
longe. Abri a parte de trás do sutiã e tirei a peça, ávida pelo toque dele.

— Chupa com força – eu pedi.

Um sorriso se formou no canto esquerdo de seus lábios, tão


malicioso que meu clitóris pulsou como sempre, virou uma rotina necessária
para o meu bem-estar. Hassan passou a língua pelos lábios e desceu ávido
sobre o seio chupando com tanta força até que eu senti dor. Era uma delícia.
Ele fez o mesmo com o outro e usava a mão para puxar o bico sensível que
havia acabado de tocar. Arqueei o corpo e o deixei brincar, morder e chupar
até que comecei a me esfregar contra o seu short.

Hassan se afastou e se sentou na cama para tirar o short, e seu pau


duro surgiu. Sentei na cama e molhei os lábios com a língua antes de cair de
boca sobre o pau e chupar gostoso, a mão na haste dura fazendo carinho para
cima e para baixo. Ele enfiou os dedos nos meus cabelos e começou a entrar
e sair mais fundo, seu pau batendo fundo na minha garganta, seus gemidos se
perdendo no ar.

Ele puxou minha cabeça para trás com força até eu soltá-lo.

— Senta em mim, Liz – ele me chamou pelo apelido pela primeira


vez —, senta, anda...

Era quase uma ordem e eu adorei. Montei nele, minhas pernas ao


redor das suas coxas, minhas mãos apoiadas nos seus ombros. Hassan cuspiu
sobre o pau e o molhou passando a mão por ele todo antes que eu me
erguesse e sentasse sobre ele. Senti que ele me invadia duro e gostoso e
gemi fechando os olhos enquanto as mãos dele seguravam meus quadris e
afundavam com força.

Enfiei as unhas na sua pele e joguei o corpo para trás antes de


começar a me mover. Sua boca desceu sobre o meu seio e aquela sensação
de ele chupar até o limite da dor, enquanto seu pau se movia dentro de mim,
era enlouquecedora. Agarrei a ele, afundando mais sua cabeça contra o meu
seio, sua respiração afogada contra a minha pele. Eu queria que ele
afundasse em mim até que a gente não soubesse onde começava o corpo de
um e terminava o do outro.
Hassan ergueu a boca e nos beijamos, meus seios sensíveis se
arrastando contra a pele de seu peito quente. Ele começou a falar palavrões
em árabe, dizendo coisas que eu não conseguia entender, mas que me
levavam a um outro mundo, o som daquelas palavras era agradável, a força
delas me fazia compreender que ele estava perdendo o controle cada vez
mais. Eu me movia para cima e apertava minha boceta contra o seu pau de
um jeito tão gostoso que ele rodeava mais meus quadris e intensificava o
ritmo.
Ele colocou a mão entre nós e encontrou meu clitóris, o apertou com
o polegar, o puxou entre o dedo indicador e o polegar e o girou. Minha
vagina tremeu e eu o apertei mais. Abri os olhos e nos encaramos, era
sensacional ver as mesmas emoções estampadas naquele rosto lindo. Minha
pele estava suada e a dele também, Hassan agarrou minha bunda e começou
a sair e entrar com mais força, mais fundo e fui me perdendo, rebolando e
deixei o orgasmo me cegar.
— Hassan! – eu disse seu nome e choraminguei de prazer.

— Habib... – ele falou o colocou sua boca no meu seio e mordeu


bem ali enquanto gemia deixando o gozo o tomar também.
Meu corpo se lançou alto e quando voltei à realidade estávamos
abraçados com força e ofegantes. Ele me beijou na boca, me virou sobre a
cama e ficou entre as minhas pernas, fora de mim agora, mas não sua boca.
Hassan se deitou ao meu lado e sua mão vagueou sobre a minha pele
sensível até atingir o centro das minhas pernas e eu me encolhi segurando
sua mão.

— Para – mandei mantendo a mão dele fora do caminho —, não


consigo!
— Consegue – ele arrastou a boca no meu pescoço me persuadindo,
me seduzindo.

— Vou morrer se me tocar agora...


— Não vai, eu prometo... – ele disse antes de tomar minha boca e
brincar com a minha língua.

Soltei a mão dele e deixei que me tocasse, estava curiosa para saber
a que nível de prazer ele queria me levar. Abri mais as pernas e ele passou
os dedos pela minha entrada como se fosse uma borboleta tocando uma flor.
Gemi contra sua boca e agarrei seu braço forte, tentando me controlar para
não atrapalhar.

Ele fez o mesmo com o meu clitóris e meu corpo estremeceu.

Hassan deslizou os dedos para baixo novamente e enfiou dois dentro


de mim e começou a mover para frente e para trás, devagar. O prazer estava
ali, eu gemia não compreendendo ainda aonde chegaria. Ele afastou sua boca
da minha e deitou sobre a minha cintura, ficando de costas para mim.

Então, ele desceu a boca no meu clitóris.

Foi minha perdição. Não pensava que fosse possível gozar duas
vezes seguidas daquela forma tão gostosa. A boca se movia no mesmo ritmo
dos dedos e eu o apertava com a boceta. Agarrei os lençóis da cama e meus
gemidos ficaram cada vez mais altos, levei a mão à boca e a mordi para que
ninguém me ouvisse.
Não tinha como fugir, ele me mantinha cativa e comecei a chorar de
prazer e tentei empurrá-lo com a mão, mas não conseguia. Meu corpo
queimou de novo, todas as partes, cada extremidade, os dedos foram cada
vez mais fundo e eu podia ouvir o barulho deles entrando e saindo de dentro
de mim. A boca estava me levando à loucura, os beijos, a língua.

Eu me entreguei e meu corpo estremeceu de um jeito tão violento que


senti encharcar enquanto gozava muito e gostoso. Quando ele saiu de cima de
mim, Hassan ficou de joelhos, levou os dedos na própria boca e chupou.

— Seu gosto é único – ele falou excitado.

Estava morta, caída naquela cama, sem conseguir pensar direito.


Respirei fundo e me sentei.
— Você é toda gostosa, Liz – ele disse com sinceridade —, não há
nada em você que eu não queira.
Um nó se formou na minha garganta e senti vontade de chorar por me
sentir tão gostosa, tão mulher e especial. E não eram as palavras dele
apenas, ou jeito de fazer sexo muito gostoso, era o fato de que me permiti
sentir que fazia toda a diferença, como se eu tivesse me libertado das
amarras que as ações de Jack me prenderam.

— Vamos tomar um banho e vou te chupar gostoso até você gozar na


minha boca – eu falei excitada.

Ele gemeu e travou os dentes.

— Você é uma cadela gostosa – ele disse com os olhos brilhando de


luxúria —, e vou te foder até você implorar para eu parar.

Fiquei de joelhos e falei contra a sua boca.

— Vamos ver quem desiste primeiro? – eu o desafiei.

— Vamos... – ele gostou —, você não sabe do vespeiro que mexeu,


Senhorita Andrews.

— Ah, eu sei, Senhor Aziz – ela me imitou —, e sou muito


competitiva, adoro ganhar.

Ele riu jogando a cabeça para trás. O som de sua risada fez arrepiar
até meu couro cabeludo e partes do meu corpo que eu não sabia que havia
pelos. Ele me excitava de todas as formas. Ele desceu da cama e quando fiz
menção de descer, ele se abaixou e me jogou sobre o ombro.

— O que está fazendo? – perguntei rindo batendo contra sua bunda


enquanto ele caminhava em direção ao banheiro.
— Que comecem os jogos... – ele disse e bateu contra a minha bunda
e eu ri de prazer como há muito tempo não sabia o que era estar feliz.
Capítulo 25

Fomos para a minha casa em Cape Cod de helicóptero. As crianças


ficaram eufóricas olhando ao redor e rindo felizes. Michael até disse que seu
sonho era um dia pular de paraquedas.

— Paraquedas? – perguntei curioso.


— Sim, eu posso ser um super-herói de verdade e voar – respondeu
encantado.

Se ele soubesse o quanto já era um herói. Havia tirado uma mulher


da depressão e um homem de sua solidão. Porque foi assim que me senti
quando acordei naquela manhã com as pernas da sargento enroscadas nas
minhas. Olhei para ela, ainda adormecida, acariciei seu rosto e senti minha
solidão dos últimos anos esvair. Desde que Elizabeth entrou na minha vida,
não pensei mais em Mary Anne da forma como antes.

Claro, ela trouxe consigo a destruição do meu mundo perfeito, minha


esposa adorada, ideal e modelo a ser seguido se desfez como um castelo de
areia. Mas não era apenas isso, ela tirou toda aquela sensação de me sentir
sozinho, incompleto. Havia uma força em Elizabeth que me atraía como um
ímã. E eu não queria me apartar.

Eu a acordei com beijos, chupando seus seios. Ela riu, deliciada e


me deu bom dia.
— Não há nada como acordar desse jeito – ela sussurrou.

— Tenho uma ideia melhor – eu disse.

Eu me deitei na cama e olhei para ela.

— Coloca essa boceta na minha boca – mandei.

Ela estava deitada de lado e me olhou sem fôlego.


— Você faz as coisas serem irresistíveis – ela confessou com um
sorriso malicioso.

— Deixa eu sentir o gosto da sua boceta e te chupar com força –


toquei o braço dela.

Ela deu um meio sorriso e, para minha surpresa, ao invés de apenas


montar sobre a minha boca, ela subiu em cima de mim, formando um 69.
Gemi antes mesmo de ela descer a boca sobre o meu pau e começar a chupar
gostoso. Elizabeth conseguiu me surpreender, e ávida me fez gozar em sua
boca enquanto ela rebolava contra a minha língua e gozava também. Foi
assim que começamos nosso dia, antes de ela pular da cama e correr para o
seu quarto para tomar um banho ao ouvir a voz de Michael no corredor.

— O que as crianças vão pensar? – ela perguntou constrangida, antes


de desaparecer pela porta levando consigo as roupas nos braços.

Então tive a ideia de passarmos o dia na casa de praia e minha mãe


foi a primeira a adorar. Ela sempre gostou da minha casa em Cape Cod, era
simples, possuía dois andares e ficava de frente para uma praia privativa e
tranquila onde podíamos ficar o dia todo sem sermos importunados. Liguei
para o caseiro, Martin, para avisar que estávamos indo e ele e a esposa,
Mary, providenciaram tudo para nos receber.
Minha mãe ficou debaixo do guarda sol usando um maiô laranja e
uma saída de praia da mesma cor se escondendo do sol. Eu fui para a água
com as crianças. O mar era calmo e a parte perto da areia rasa o suficiente
para que as crianças pudessem brincar sentadas, tentando fazer um castelo de
areia com a areia molhada.

Elizabeth havia entrado na casa e ainda não havia saído fazia mais de
meia hora. Comecei a ficar preocupado, temendo que ela passasse o dia
escondida dentro da sala lendo um livro. Nada contra ela ler, mas um dia
daquele de verão merecia ser passado dentro do mar e eu não queria que ela
se importasse com as queimaduras e tivesse vergonha delas. Mesmo que não
pudesse ficar debaixo do sol, ela podia ficar ali, perto de mim e das crianças
ou sentada com a minha mãe.

Estava de pé olhando Betina tentando montar a primeira parte do seu


castelo quando a porta da casa foi aberta. Olhei através da longa faixa de
areia e a vi. Foi uma visão do paraíso: Elizabeth usava um maiô branco e
preto que contornava seu corpo e era aberto na altura da cintura. Ela usava
uma saída de praia branca em volta dos quadris e os cabelos estavam presos
num chapéu elegante.

E para minha surpresa, vi uma peça brilhar em seu braço marcado


pelas cicatrizes. Ela usava a pulseira que lhe deu e meus olhos brilharam de
satisfação sob os óculos escuros. Elizabeth olhou para mim antes de se
sentar ao lado da minha mãe e Martin vir lhe trazer um suco. Vi que minha
mãe notou as queimaduras, mas não teceu nenhum comentário, ela era
discreta demais para deixar Elizabeth constrangida. Mais tarde, quando as
crianças foram para perto delas, Michael perguntou por que a pele dela era
diferente.
— Isso? – Ela apontou para as queimaduras do braço e da perna
esquerda.

— Sim. – Ele olhou receoso como uma criança inocente faria.

— Eu mexi com fogo e me queimei, está vendo? A gente não deve


brincar com fogo...

— Dói? – Betina quis saber.

Ela olhou para mim rapidamente e depois para ela.

— Não mais...

A noite passada foi libertadora para ela, tinha certeza. Ela não me
pediu para fechar os olhos ou apagar a luz. Fizemos sexo de diversas formas
a noite inteira, até que ela caiu sonolenta ao meu lado dizendo que se rendia
e não aguentava mais. Eu ganhei o desafio e me senti foda. Adorei ver a
forma como ela gozou no meu pau, sob a minha boca, os meus dedos, eu a
enlouqueci até que ela não aguentou mais e implorou para que eu parasse.
Havia muitas formas de enlouquecer uma mulher na cama sem penetração e
eu estava disposto a mostrar a ela todos os jeitos.

Elizabeth me fazia sentir viril e apenas por olhar para ela, e lembrar
do que fizemos juntos, meu pau pulsava de vontade de possuí-la de novo.
Pelo menos um detalhe me chamou a atenção, ela não me olhava mais com
indiferença. Trocamos olhares várias vezes durante o almoço na varanda e
até minha mãe notou, mas não disse nada. Pela primeira vez, a Senhora Aziz
não teceu qualquer comentário sobre eu estar paquerando uma mulher.

Lembrei de quando ela conheceu Mary Anne antes do casamento e


quando teve a oportunidade, me disse:
— Essa mulher vai acabar com você! – falou amarga. — Ela é uma
cobra! Não gostei dela...
Por que não ouvi minha mãe? Era tarde demais para lamentar e
estava surpreso de ela não dizer nada. Depois do almoço, Elizabeth entrou
com as crianças na casa para escovarem os dentes e descansarem um pouco
para mais tarde voltarem para o mar.

— Não vai dizer nada? – perguntei à minha mãe.

Ela tomou o suco e me olhou por cima do copo.

— Falar o quê? – ela retrucou.


— Você sabe... – Indiquei apontando a cabeça para dentro da casa.

— Você é inteligente para tomar suas próprias decisões – ela disse


colocando o copo sobre a mesa com elegância —, seria um estúpido se não
tivesse notado uma mulher tão maravilhosa.

Fiz uma careta de surpresa.

— Estou surpreso que realmente não se importe e goste dela –


comentei tomando meu gim.

— Hora, Hassan, uma mulher forte reconhece outra e a apoia – ela


comentou —, apenas as mulheres fracas se apunhalam pelas costas...

Sorri para ela que piscou para mim e sorriu também. Eles voltaram
para a mesa e mudamos de assunto.

— Amei seu maiô, Liz – minha mãe comentou —, talvez eu compre


um para usar quando estiver com meu marido.

— Sério? – Eu me ergui bravo. — Não sou obrigado a ouvir isso,


mãe!
Ela riu de mim e Elizabeth também.

— Não seja bobo, Hassan! Como você acha que foi gerado? –
perguntou debochando de mim.

Fiz uma careta de novo, ninguém merecia imaginar a mãe com um


homem, mesmo que fosse o pai.

— Eu nasci do sopro do vento do deserto – zombei dela e olhei para


as crianças —, o que acham de darmos uma volta de lancha?

— Eu vou amar! – Michael disse animado.

— Eu também! – Betina concordou.

Olhei para as mulheres.

— Eu não vou – minha mãe disse séria —, não gosto de barcos – ela
dispensou o convite sem hesitar.

Esperei a resposta de Elizabeth.

— Pode ser uma boa ideia. – Ela encolheu os ombros.


Sorri satisfeito por ela não se importar de ficar mais tempo na minha
companhia.

— Vou pedir para Martin arrumar a lancha – avisei e me retirei.


Meia hora depois, eu dirigia a lancha pelo mar e as crianças se
deliciavam com o vento balançando seus cabelos. Eles riam felizes e era um
prazer indescritível vê-los se divertindo, sem preocupações e machucados
no coração. Era isso que eu queria fazer, tornar a vida deles mais fácil, mais
divertida. Conforme fossem crescendo a vida lhes cobraria duramente muitas
coisas, e eu sentia necessidade de ser o porto seguro deles, para onde eles
pudessem voltar mesmo quando tudo desse errado.
Pensei no meu pai, mesmo sendo duro e tendo me deserdado eu sabia
que se tudo desse errado na minha vida e eu voltasse um dia para casa, de
joelhos, me humilhando e pedindo perdão apenas para satisfazer o orgulho
do meu pai, ele me aceitaria de volta. E saber que eu tinha para onde voltar
me fez mais forte, uma necessidade de vencer sozinho e provar que eu podia
qualquer coisa.
Queria que Betina e Michael se sentissem assim. Que soubessem que
apesar de eu não ser o pai deles, eu podia ser mais para eles. Esses
pensamentos me atormentavam há alguns dias e depois de descobrir a
verdade sobre Elizabeth, eu tinha certeza do que queria da minha vida a
partir daquele momento.

Parei a lancha no meio do mar e mergulhei com as crianças.

— Vou ficar no barco – Elizabeth avisou —, a água do mar ainda me


faz mal – explicou.

Compreendi. Dei para cada criança um snorkel, máscara de mergulho


e pés de pato, que ficaram enormes, e mergulhamos. Eles adoraram nadar
com os peixes e conhecer o mar, mesmo que rapidamente. Meia hora depois,
lembrei que Elizabeth estava sob o sol e isso não fazia bem a ela, ainda mais
com o sol alto.
— Vamos embora... – avisei voltando a nadar em direção à lancha.

— Ah... – eles reclamaram.


— Prometo que voltamos outro dia... – eu avisei enquanto eles
nadavam comigo.

— Mas tia Liz disse que essa semana a gente ia embora! – Betina
reclamou ao meu lado.
Não gostei de ouvir aquilo. Elizabeth ainda tinha esperança que eu
fosse dar a guarda para ela e eles partiriam da minha vida. Depois da
semana intensa que tivemos e da noite que mostrou o quanto éramos
compatíveis, deixá-los partir não fazia qualquer sentido. Fiquei de mau
humor quando voltamos para o barco. Coloquei a lancha em movimento
enquanto as crianças contavam para ela sobre o passeio, sentindo a minha
raiva aumentar ao pensar que ela ainda queria partir.
Estava me convertendo num louco e respirei fundo. Não era com
raiva que se resolviam as coisas e fui me acalmando e pensando numa forma
de resolver tudo.

Voltamos para o apartamento no fim da tarde, as crianças vieram


dormindo já no helicóptero, e Elizabeth sequer quis acordá-los para dar
banho. Despertaram mais à noite, ela deu banho, comida e nos sentamos para
assistir um filme no streaming. Vi minha mãe tentando falar ao celular com o
meu pai, mas ele ainda não atendia e isso a deixou de mau humor e ela se
recolheu mais cedo. Com certeza para chorar, e isso me deixou muito bravo.
O que custava ele atender o celular e falar com ela um minuto? Era tudo o
que ela precisava, mas meu pai não era assim, ele simplesmente não se
importava.

Acabei pegando no sono e acordei com Elizabeth carregando


Michael para o quarto. Levantei para levar Betina para o quarto dela e a
coloquei sobre sua cama. Low pulou na cama e se aconchegou a ela. Até meu
cachorro estava apegado, se eles partissem, era bem capaz de ele morrer de
saudade.

Acariciei os pelos dele e quando saí do quarto de Betina, Elizabeth


estava saindo do quarto de Michael. Nós nos olhamos frente a frente e fomos
um em direção ao outro para nos beijarmos.
— Fiquei o dia todo esperando por isso – ela confessou contra a
minha boca.
Bati seu corpo contra a parede e esfreguei meu corpo no dela.

— Eu também. – Minhas mãos se perdendo nas curvas de seu corpo.


— No meu quarto ou no seu? – ela perguntou ofegante.

— Qualquer lugar – eu estava muito excitado —, até no inferno eu


quero te foder.
Ela riu antes de pegar na minha mão e me levar para o quarto dela.
Capítulo 26

Nós entramos no meu quarto e Hassan bateu meu corpo contra a


porta, senti certa dor e mordi sua boca, não de um jeito delicado, mas para
doer. Ele se afastou e olhou para mim, contrariado. Eu o provoquei e vou
pagar por isso. Queria que fosse selvagem, forte. Desejava que ele me
marcasse de alguma forma, e ele compreendeu exatamente o que queria sem
que eu precisasse dizer uma palavra. Vi em seus olhos uma fúria incontida,
ele me segurou pelo braço e me levou até a cama como se eu fosse uma
boneca e me jogou de bruços sobre ela.

Gemi apenas esperando o que viria. Ele tirou minha calça larga
levando a calcinha junto, deixando a minha bunda nua. Girei a cabeça de
lado e olhei para ele por cima do ombro, Hassan estava em pé ao lado da
cama, abriu a própria calça e segurou meus quadris, me puxando para trás e
me deixando de quatro. Ele mergulhou os dois dedos dentro de mim e
ofeguei. Com a outra mão ele se masturbava e fiquei ansiosa imaginando o
que ele estava prestes a fazer.

Minha boca ficou seca e mal conseguia respirar quando senti a mão
dele largar o pau e tocar minha bunda, enquanto ele continuava me fodendo
gostoso. Meu corpo todo queimou, minha boceta apertou seus dedos e olhei
para frente, e senti seu pau sondar meu... outro buraco...

Uma vez tinha tentado fazer sexo anal, mas foi um belo desastre, por
isso fiquei tensa. Hassan sentiu e levou a mão ao meu clitóris e começou a
acariciá-lo em círculos e precisei fechar os olhos, sentindo meu corpo se
entregar. Ele cuspiu sobre a cabeça do pau e a apontou em mim, naquele
ponto intocado.

Meus peitos ficaram pesados quando ele aumentou o ritmo dos dedos
no clitóris e o pau foi me invadindo devagar, se ajustando dentro do reduto
quente e apertado. Ouvi seu gemido abafado e aquilo me deixou com mais
tesão. O incômodo que pensei que sentiria não veio, meu cérebro estava
concentrado no prazer, na maneira como eu precisava rebolar contra sua
mão. Então ele entrou e senti tudo queimar porque estava prestes a gozar e
precisava me mover.

Sua mão e seu pau batiam em mim sem parar, apertei seu pau quando
senti o desconforto quando ele entrou totalmente, mas aumentei o ritmo sobre
o meu clitóris e comecei a ver estrelas. A única forma de fazer aquele
desconforto passar era me movendo, e comecei a rebolar a bunda contra o
seu pau.

— Habib, assim que vou gozar rápido! – ele sussurrou.

Olhei por cima do ombro e sabia que ele estava louco comendo meu
cuzinho e me fodendo com os dedos. Estava gozando, podia sentir o calor no
meu ventre se expandindo por todo o corpo, e meus gemidos se tornaram
incoerentes e fui gozando gostoso enquanto ele aumentava o ritmo atrás de
mim. Quanto senti o meu corpo parar de tremer, Hassan me segurou pelo
pescoço e me puxou para trás, afundando em mim.

— Você me enlouquece, Liz... – sua voz rasgou na minha orelha e sua


boca desceu por meu pescoço e terminou no ombro, onde ele mordeu quando
começou a remeter rápido e gozou, meus seios balançando por baixo da
blusa, ele me sufocando com o aperto no pescoço.
Hassan me apertou tanto que pensei que fosse sufocar e senti meu
corpo arder de desejo. Nunca tive um orgasmo e senti vontade de ter mais.
Ele gozou e caímos sobre a cama, eu rolei para cima dele e deitei sobre ele.
Ergui o suficiente para tirar a blusa e o sutiã e desci meu seio em sua boca,
fazendo-o me chupar enquanto eu esfregava meu clitóris nele, bem acima de
seu pau.

Estava me masturbando, vê-lo gozar me deu um tesão desgraçado, e


enquanto ele chupava meus seios, um e depois outro, eu sentia como se o
estivesse fodendo, apenas me esfregando, procurando um novo orgasmo.
Comecei a girar os quadris em círculos, meus gemidos altos se perdendo no
ar. Ele mordeu o bico do meu seio e a dor leve me fez gozar mais rápido,
quando dei por mim, estava rebolando sem parar, gozando gostoso e
choraminguei de prazer.

Então caí ao lado dele, nós nos olhamos ofegantes e ele sorriu.

— Preciso de um banho – ele avisou e se ergueu e foi para o


banheiro do meu quarto.

Levei alguns segundos para me recuperar e ir atrás dele. Hassan


estava sob o chuveiro, a água escorrendo por seus cabelos pretos e descendo
pelo corpo bonito. Eu entrei e o abracei pelas costas e encostei meu rosto em
sua pele. Ele se virou para mim e me abraçou com imenso carinho, beijando
meus cabelos antes de me arrastar para debaixo da ducha e me molhar
completamente.

Ele não disse uma palavra, apenas pegou o sabonete e me lavou


todinha, suas mãos passam pelas queimaduras como se não estivessem ali e
realmente não me importava. Depois fiz o mesmo com ele e ainda brinquei
de masturbar seu pau que começou a acordar.
— Você é uma diaba! – ele falou me empurrando contra a parede.

— Só estou te ajudando com o banho, qual é o problema? – perguntei


inocente.

Ele aspirou o ar pelos dentes, tentando se controlar. Não queria que


ele tivesse controle, queria foder com ele a noite inteira como fizemos na
noite anterior. E na anterior. Estava gostando desse jogo de prazer, e eu
queria tudo que ele pudesse me dar e mais um pouco.

— Vamos para a cama... – ele disse saindo do box e me deixando ali


debaixo do chuveiro.

Por que ele ficou sério, de repente? Talvez fosse apenas o cansaço
do dia e ele quisesse deitar e dormir. Saí do box, vesti o roupão e fui para o
quarto segurando uma toalha para enxugar os meus cabelos. Hassan vestiu a
calça e olhou para mim.

— Aconteceu alguma coisa? – perguntei me sentando na cama e


passando a toalha pelos meus cabelos.

— Ainda não – ele disse sério parado diante de mim. Acabou se


sentando ao meu lado e disse —, mas espero que venha a acontecer.

— O quê? – eu não fazia ideia do que estava passando pela cabeça


dele.

— Pensei sobre a guarda das crianças – ele falou sério.

Era isso. O assunto inevitável que teria que ser resolvido aquela
semana. Aquilo me incomodou de um jeito inesperado.
— O que quer falar? – Eu abaixei a toalha para o meu colo.
— Ficou bastante claro para mim, que Betina e Michael não
poderiam ter uma mãe melhor do que você...
Meu coração bateu acelerado e arregalei os olhos, não podia
acreditar que ele estava dizendo aquilo. Era tudo o que eu queria ouvir.

— Mesmo?

— Sim, você pensa em ter um futuro com eles, cuida deles como uma
mãe deve fazer e tenho certeza que será uma excelente mãe para eles – ele
me contou.

Sorri, feliz. Não tinha palavras para agradecer o fato de ele ter
enxergado tudo isso em mim.

— Sei que nos conhecemos pouco, mas esses dias foram suficientes
para que eu tomasse a decisão certa.

— Ah, Hassan... – falei e toquei seu rosto —, eu não sei como te


agradecer.

— Torne-se minha esposa... – ele falou de repente.

— O quê? – Não compreendi e franzi o cenho dando um passo para


trás.

— Pensei muito e não quero que as crianças fiquem longe de mim,


então pensei: por que não unir o útil ao agradável e me casar com Elizabeth?

— Está falando sério? – não conseguia acreditar.

— Muito, torna-se a Senhora Aziz, o que acha?

Andei até a metade do quarto e voltei para ele, perplexa. Sua


expressão era pura felicidade.

— Você ficou louco? – foi tudo o que eu consegui dizer.


Hassan se ergueu, surpreso com a minha reação.

— Por que está falando assim?

— Como assim por quê? – perguntei gesticulando. — Eu acabei de


lhe contar o motivo pelo qual não me casei e você me pediu em casamento?

Não havia coerência em sua atitude!

— Queremos a mesma coisa, Elizabeth, as crianças, podemos ser


excelentes pais, dar carinho e amor a elas, viver bem, dar a eles uma
família...

— Não faz o menor sentido! – falei brava e dei um passo para trás
quando ele se aproximou —, pelo amor de Deus! Está me pedindo para abrir
mão da minha liberdade e me enfiar em um relacionamento por acordo?

— Não seria um ajuste! Nós nos damos bem na cama, somos


compatíveis...
— Nós nos conhecemos há uma semana! O que sabemos um do
outro? – eu o questionei muito brava.

— Eu vivi com sua prima quatro anos da minha vida e não a


conhecia. Você viveu com Jack sete anos e não fazia ideia do que ele era
capaz! Tempo é algo irrelevante se você pensar friamente!
— São situações completamente diferentes! – argumentei. — Não
havia obrigações em nenhum dos casos. Não posso me casar com alguém
dessa forma, e ainda ter duas crianças no meio de tudo isso! E amanhã se eu
me apaixonar por outra pessoa ou você fizer isso?
— Não vai acontecer – ele garantiu.

— Agora tem bola de cristal? – eu o questionei com desdém.


— Se eu me casar com você, serei fiel até o fim dos meus dias – ele
falou com convicção.

Fiquei sem palavras e dois segundos depois disse:

— Você está confundindo as coisas, veio de uma cultura diferente da


minha e acha que posso suportar o fato de viver com uma pessoa que mal
conheço e sequer amo – justifiquei —, aqui as coisas são diferentes!

— Diferente ou não, não é o tempo que traz confiança e amor, são as


atitudes, o querer bem, o respeito, o coração – ele falou bravo —, mas você
passou a vida convivendo com homens vazios que quando eu apareci pronto
para fazê-la feliz, sou um maluco!

— E é! – concordei. — Somente um doido pode achar que uma


semana de convivência e algumas trepadas podem unir duas pessoas para
sempre!
— E o que une? – ele me enfrentou ao questionar.

Hassan parou diante de mim e me encarou, seus olhos escuros


prendendo os meus.
— Me diga! – ele exigiu. — Em sua cartilha de regras para um
relacionamento, onde está o item que explica como duas pessoas podem se
querer bem e desejam ficar juntas?

Abri a boca para falar pela segunda vez e a voz não saiu. Contudo,
não consegui emitir uma resposta plausível dois segundos depois.

— As pessoas querem dar medida para tudo – ele prosseguiu quando


notou que eu não tinha argumento —, medida para a paixão e ter regras para
o amor, para a família, para um casamento, para se conhecer ou não uma
pessoa! Tenho amigos que romperam um casamento de vinte anos e
preencheram todos esses requisitos para se unirem, e não adiantou nada! –
ele gesticulou enquanto falava. — A verdade, por mais que negue, é que não
existem regras para querer alguém, seja por um dia ou por uma vida toda!

Nós nos enfrentamos com o olhar. Até que as palavras dele podiam
fazer sentido, mas para uma pessoa ferida como eu, era um ataque, uma
ofensa, uma mentira.

— Mesmo que tenha razão, eu não quero me casar, Hassan! – apontei


para mim —, não quero estar presa a ninguém. Não mais...

— Você não quer tentar! Você tem medo de fracassar! – argumentou


mais calmo —, não vou culpá-la e nem tentar convencê-la de que está
perdendo tempo fechada dentro de uma redoma. É um direito seu não querer
tentar outra vez, não se abrir. Mas se pensar friamente, saberia que se a gente
se unisse para ser uma família, daria certo. Nós sofremos as mesmas
decepções e estamos prontos para tentar de novo...

Apenas assenti.
— Como você disse, nada do que disser vai me fazer mudar de ideia
– assegurei muito séria —, não estava preparada para me casar há quase
dois anos e não estou agora. Talvez, eu nunca esteja, Hassan. Sinto muito.

— Não sinta, Elizabeth. – Ele segurou minha mão de repente e


estremeci.

Um nó se formou na minha garganta e senti vontade de chorar. Sentia


que ele estava prestes a se despedir de mim e eu não queria que ele fosse
embora, não desse jeito, não agora que nos encontramos. Mas se para ficar
eu tivesse que me casar com ele, não era o jeito certo para mim.

— Você tem todo o direito de ir e vir – Hassan ergueu minha mão e a


beijou com imenso carinho —, não vou te pedir em casamento de novo. Mas
se mudar de ideia, eu vou estar aqui, te esperando, pronto para revelar todos
os véus secretos que você esconde e apenas o tempo vai revelar. Você não
está mais sozinha, habib. Somente se você quiser...
Ele me beijou de leve nos lábios e senti meu coração apertar no
peito. Uma vontade de dizer para ele ficar, mas eu não podia. Simplesmente,
não era assim que as coisas aconteciam no meu mundo. O olhar dele passou
por mim e então ele foi até a cama, pegou a blusa que estava caída no chão e
deixou o quarto, fechando a porta. O clique da maçaneta foi o que me fez
entender que não haveria outra chance. E naquele momento eu soube que não
ficaríamos mais juntos.

Então, se era o melhor, se me fazia sentir mais segura, por que eu


estava com vontade de chorar?
Capítulo 27

Acordei pela manhã de mau humor pelo não que levei. Troquei de
roupa pensando nos motivos de Elizabeth não me aceitar: eu não era feio,
tinha uma condição financeira excelente, nos dávamos bem na cama. O que
mais ela queria? Pessoas se casavam por muito menos, ou por ilusões que
inventavam, e com o tempo viria o amor, que provavelmente aconteceria de
forma inevitável devido à admiração mútua, o respeito. Respirei fundo
ajeitando minha gravata e me olhando no espelho, me perguntando se eu não
estava sendo muito agressivo, afinal, estava agindo como o meu pai agiria ao
pedir uma de suas esposas em casamento.

Talvez fosse meu sangue árabe falando mais alto, sendo racional, me
preocupando com as crianças mais do que com o futuro de uma relação.
Porque se eu me casasse seria para sempre, nós lutaríamos para que o
casamento desse certo, era isso que duas pessoas inteligentes faziam,
tratavam o matrimônio como uma empresa sólida que precisava dar certo a
longo prazo.

Quando cheguei à cozinha, Elizabeth estava diante da cafeteira. Ela


sentiu minha presença sem sequer me olhar, era estranho, mas eu sabia que
ela me sentiu, afinal, mudou o peso do corpo de uma perna para outra. Olhei
para suas costas delgadas escondidas num longo vestido largo de mangas
compridas, ela estava se escondendo de mim de novo. Tive vontade de me
aproximar e abraçá-la com carinho e dar um gostoso bom dia. Mas ela não
queria, precisava que eu mantivesse distância e não desrespeitaria sua
necessidade.

— Bom dia – eu disse me aproximando do balcão.

— Bom dia – ela respondeu tensa.

Peguei uma xícara em cima da bandeja e me servi de café olhando


para ela. Era como se tivéssemos retrocedido todos os passos que havíamos
avançado. Eu sentia muito por isso, mas não pediria desculpas. Fiz o pedido
de casamento pensando numa forma prática de termos as crianças, ela que
lidasse com isso da forma que podia.

Tomei o café e ela ficou parada olhando para o balcão.

— A nova governanta começa hoje? – perguntei de forma


displicente.

— Sim, chega às oito horas – ela respondeu séria.

Ela estava exagerando tanto ficando indiferente daquele jeito e sua


impassibilidade me matava. Preferia que ela me desse um murro ou gritasse
comigo, mas não que ficasse em silêncio como se eu não fosse importante
para ela, porque eu sabia que era. Naquela semana, ela conquistou ao meu
lado uma liberdade que havia perdido e me incomodava vê-la se fechando
de novo.

Respirei fundo olhando para ela.

— Não vai olhar para mim? – questionei sem me conter.

Eu a vi engolir em seco e colocar as mãos sobre o balcão antes de


olhar para mim. Seus olhos estavam inchados, ela tinha chorado e não gostei
de vê-la assim.
— Elizabeth... – Eu me aproximei.

— Por favor – ela pediu esticando a mão para que eu não me


aproximasse —, não torne tudo pior.

— O que pode ser pior do que você ficar brigada comigo desse
jeito? – retruquei deixando a xícara de café de lado e abaixando o braço
dela para me aproximar.

Ela abaixou o olhar para o chão e depois, como se tomasse coragem,


ergueu para mim.

— Pensei muito nessa noite – ela começou a falar.

— E?

Ela se soltou da minha mão.

— E eu tomei uma importante decisão – ela disse séria e comprimiu


os lábios —, vou deixar as crianças com você e vou voltar para Washington.

Aquela revelação foi como um murro no estômago. Senti como se ela


tivesse me jogado no chão e eu não conseguisse me levantar.

— Do que está falando? – Fiz que não com a cabeça. — Por que vai
embora?

— Pensei melhor, Hassan – ela falou decidida —, eles ficarão


melhor com você, terão uma vida boa. Você tem planos de se casar um dia,
poderá escolher uma mãe adequada para eles...

— Não vou fazer isso – eu a cortei.

— Nunca vou me casar! – ela falou decidida. — Fomos educados de


formas diferentes, não quero ficar presa a uma pessoa o resto da minha vida
– foi sincera e passou a mão na testa antes de prosseguir —, quero ser livre
para estar com quem eu quiser, a hora que eu quiser, essa é a verdade. Foi
por isso que não me casei com Jack, e isso não mudou só porque tivemos
trepadas maravilhosas.

Outro soco no estômago. Quando um homem estava apaixonado por


uma mulher, ele esperava que fosse recíproco e ao menos ela quisesse estar
com ele. Mas eu não estava lidando com uma simples mulher, além de ser a
mais complicada e teimosa, ela possuía cicatrizes na alma.

— Talvez sua ideia de casamento seja realmente diferente da minha –


admiti —, meu pai tem seis casamentos bem-sucedidos, não tenho muita
experiência em casamento frustrados.

— Nem com Mary Anne?

— Enquanto ela esteve comigo, eu fui feliz, Elizabeth – comentei


muito sério —, o que você não entende é que me apaixonei pelas mentiras de
sua prima e fui feliz. Não tem como apagar isso. Saber os erros dela não
muda a intensidade do amor que um dia eu senti. Os erros foram dela, não
meus. Não vou tomar para mim o peso de algo que não me pertence.

Ela ficou surpresa com as minhas palavras.

— Você tem todo o direito de não querer se casar – concordei e


levantei o dedo indicador em riste —, mas só tem direito a isso se for algo
seu, e não uma decisão provocada pela atitude dos outros. Você não pode
desistir dos seus sonhos por causa de frustrações...

— Você não entenderia...

— Entendo mais do que imagina – eu a cortei —, sempre sonhei em


ter uma família sólida, e não é o que Mary Anne fez que vai me demover da
necessidade de ser feliz. Vou continuar tentando até não ter mais forças, até
que eu morra! Nunca vou parar de tentar...
Ela abraçou o próprio corpo diante da minha determinação.

— Não querer viver comigo porque não sou o homem certo ou


porque realmente acredita que não vale a pena se envolver só estará certo se
você se baseia no que sempre quis para si mesma – abaixei o dedo —, mas
fazer isso porque alguém te decepcionou é comprar as consequências de
erros que não são seus.

Falar tudo isso para ela foi um grande alívio. Tirei um peso de mim
com a mão e estava satisfeito.

— E antes que você parta daqui, saiba que as portas sempre estarão
abertas, as crianças amam você tal como é! Aprenda a respeitar isso... –
finalizei e virei as costas deixando-a sozinha na cozinha.

Meu humor não melhorou, apenas piorou porque eu sabia que ela
partiria sem olhar para trás, louca para fugir da pontinha de felicidade que
havia encontrado. Fui para o trabalho e antes mesmo que o elevador se
abrisse escutei os gritos de Madeleine. Ela estava histérica falando com
Sara e me aproximei impaciente, mas não me exaltei. Poderia jogar em cima
dela toda a raiva que sentia naquela manhã por causa daquela conversa com
Elizabeth, mas eu sabia me controlar.

— O que está acontecendo aqui? – perguntei como se não imaginasse


que ela estava furiosa por ter sido demitida.

— Eu fui demitida! – ela gritou a plenos pulmões, completamente


fora de si.

— Sim, foi – eu disse sério —, e o que faz aqui? – Olhei para Sara.
— Peça para os seguranças tirá-la.

Sara assentiu e pegou o telefone.


— Como pode fazer isso comigo? – Madeleine perguntou incrédula.

— Você fez isso consigo quando entrou no meu apartamento e usou


da nossa intimidade para ofender Elizabeth – eu avisei colocando as mãos
no bolso da calça —, não quero pessoas sem controle trabalhando para mim.

— Fui sua amiga! – jogou na minha cara. — Fiz coisas por você!
Fiquei ao seu lado quando Mary Anne morreu! Dei meu ombro e o que ganho
em troca?
— Não preciso de amigos como você que usam o que eu disse contra
mim! – falei sem hesitação de forma impassível. — De pessoas que dão
carinho e depois cobram em prestações de carência. Isso não é amizade, isso
é posse e não sou seu!

Ela abriu a boca para falar, mas a voz não saiu.


— Ofender as pessoas com quem me importo foi um grande erro. E
amigos não fazem isso, Madeleine, talvez você aprenda a lição, ou não –
passei por ela e fui em direção à minha sala e olhei para Sara —, traga a
agenda, temos um dia longo pela frente.

Ouvi o som do elevador e quando fechei a porta ouvi Madeleine


dizendo que podia ir sozinha sem a ajuda dos seguranças. Mas um assunto
encerrado. Fui para a minha mesa, tirei o paletó e coloquei nas costas da
cadeira e me sentei. Liguei o notebook e Sara entrou trazendo a agenda e
minha xícara de café cheia.
Ela se sentou diante de mim e começamos o trabalho do dia.

Mais tarde Antony apareceu com aquela cara de cachorro


arrependido e avisei para entrar com o pedido de guarda definitiva de
Michael e Betina. Eu os queria comigo, não porque Elizabeth autorizou, mas
porque eu já estava decidido a isso desde sábado. Não precisei mais que
alguns dias para me apegar a eles e saber que nada acontecia na minha vida
por acaso, o destino estava a meu favor. E se fui escolhido para ser um bom
pai para eles, eu seria.

— Já falou para a sargento? – Antony quis saber.

— Ela sabe que farei isso, não é boba, e hoje de manhã, ela mesma
deu essa ideia – contei sem demonstrar qualquer emoção.

Embora por dentro eu fosse um posso de frustração. Como eu queria


chegar em casa à noite e descobrir que ela pensou o suficiente e descobriu
que não podia ficar sem mim e as crianças. Mas ela estava ferida demais.
Talvez, com o histórico familiar, os traumas que viveu, eu também fizesse o
mesmo. Era difícil julgar quando sempre enxerguei a vida com as minhas
experiências.

— Ela é legal – ele meneou a cabeça —, e muito bonita.


— Eu sei, eu a pedi em casamento ontem – contei a ele.

— Sério? E ela? – ele perguntou surpreso. — Por que não estou


surpreso que a tenha pedido em casamento com menos de uma semana de
convivência?
— Porque sou prático e diferente de você, não vejo o casamento
apenas como um ato de amor, é mais – expliquei.

— Faz todo o sentido. Casei por amor e minha mulher me largou. O


amor não sobreviveu ao excesso de trabalho... – lamentou.

Bati os dedos sobre a mesa e olhei para o meu amigo.


— Tenho certeza que sua esposa deu indícios que estava
insatisfeita... – comentei.
— Sim, ela reclamou que se sentia sozinha – ele confessou com
pesar.

— E por que não fez nada para sanar o problema? – o questionei. —


Se ela estava dizendo a você que não estava feliz, por que não deu um jeito
de melhorar?

— Porque não é tão fácil como parece, Hassan – ele falou sério —,
preciso trabalhar, manter nosso padrão de vida...

— E agora está sem ela e sofrendo, qual o sentido disso? Não


compreendo...

Ele abriu a boca, bufou, passou a mão pelo queixo.

— A vida é mais fácil do que você imagina, Antony. Qual é o


problema de satisfazer as necessidades da pessoa que você escolheu para
compartilhar a vida? Por que tudo tem que ser uma guerra?

— Você fala como se não cometesse erros...

— Eu cometo o tempo todo – admiti —, mas tento ser melhor a cada


dia. Esse é o meu segredo...

— E o que diz de Mary Anne? – ele me questionou.

— Elizabeth me questionou essa manhã da mesma forma e vou


responder a mesma coisa que disse a ela: eu fui feliz no casamento com
Mary Anne. Ela mentiu? Sim. Eu estou puto? Muito, mas aí para foder com a
minha felicidade por causa disso parece algo bem incoerente...

— Você é muito frio, cara – Antony reclamou.

— Frio? Frio é você que a mulher reclama que sente a sua falta e
você finge não estar ouvindo! – Eu ri e balancei a cabeça em negativa. — O
fato é que pessoas com prioridades diferentes estão se casando, e isso só
pode dar merda!
— Abra uma consultoria para relacionamentos! – ele falou bravo
comigo. — Vai ficar bilionário, mais do que já é...

Eu ri e depois que Antony se foi fiquei pensativo. O que Elizabeth


estava tentando me dizer que eu não conseguia ouvir?
Capítulo 28

Quando Hassan me deixou na cozinha, eu senti vontade de chorar de


novo. Como eu era idiota! Contive as lágrimas sem sentido e terminei de
preparar o café da manhã das crianças e então a nova governanta chegou, a
Senhora Helen Kursty. Graças a Deus só precisei explicar como as coisas
funcionavam por ali e ela tomou a frente de tudo, prática e firme, de modo
que pude me ocupar em fazer minha mala.

Não estava feliz por deixar as crianças ali, essa era a verdade. Meus
planos era levar Michael e Betina comigo, mas eu tinha certeza que Hassan
jamais me daria a guarda, não por não gostar de mim, mas porque ele
também havia se afeiçoado a eles, queria estar com eles tanto quanto eu
queria. Contudo, ele queria coisas que eu não podia lhe dar. A culpa não era
dele, era minha. Não estava preparada para dar um passo tão absurdo na
minha vida. Como assim me casar com um homem que eu conhecia há uma
semana? Só porque o sexo era bom? Não fazia o menor sentido...
Estava fechando a mala sobre a cama quando Samsha bateu na porta
e entrou. Ela usava um vestido azul Royal e o véu sobre sua cabeça era
branco, o que a deixava mais elegante do que já era. Ela olhou para a mala
em cima da cama, ergueu uma sobrancelha e a mão carregada de anéis de
ouro.

— Posso saber o que significa isso? – ela perguntou parando ao meu


lado.
Fiquei constrangida sem entender o motivo. Meu problema era com
Hassan e eu já havia dito a ele que partiria. Não devia nada a ela. Mesmo
assim, a consideração por aqueles dias de agradável convivência me fazia
sentir vergonha do que estava prestes a fazer.

— Estou voltando para Washington – respondi e me virei para ela.

Samsha olhou para a mala mais uma vez e depois para mim de forma
austera.

— Pensei que fosse mais corajosa – ela me criticou.

— Não estou fugindo, Samsha, apenas sendo realista! – me defendi


com firmeza.

— E o que tem realidade a ver com isso? – Ela apontou para a mala.

— Não entendi o que quer dizer – falei cruzando os braços.

— Quando cheguei aqui encontrei uma mulher forte, com o rosto


ferido porque foi capaz de brigar com cinco homens para proteger duas
crianças – ela passou por mim e foi abrir a cortina do meu quarto que estava
fechada e em seguida abriu a janela —, conheci uma agente do FBI que
estava disposta a tudo para ficar com eles, o que mudou?

Ela olhou para mim esperando uma resposta plausível.

— Seu filho decidiu ficar com eles – contei do meu jeito.

— Hassan decidiu tirá-los de você? – ela questionou surpresa.

— Não! Ele quer ficar com as crianças e propôs que nos casássemos
e fôssemos uma família – contei finalmente o que ocorreu.

— E o que tem de errado? – ela perguntou como se o filho dela


tivesse me oferecido o paraíso.
— Não posso me casar com uma pessoa que mal conheço! – respondi
o óbvio.

— Por que você mal o conhece? – Samsha continuou me


questionando e se aproximou de mim.

— Porque... não conheço! – gesticulei indignada —, talvez na sua


cultura seja normal, mas na minha não é!

— O que é normal para vocês? – Parou bem diante de mim e me


encarou. — Se casar por amor e separar em cinco anos? Ou se casar por
vinte anos e depois abandonar o barco porque encontrou algo melhor?

— Não é assim! – Eu fiquei ofendida.

— Claro que é! – insistiu. — Você não lê jornais e revistas que falam


sobre estatísticas? Vocês falam tanto de amor e amor e fazem casamentos e
se divorciam num estalar de dedos – estalou os dedos —, e meu filho que
está errado por querer começar uma família com duas crianças adoráveis e
uma mulher forte com quem ele se simpatiza? Realmente estou feliz que não
tenha aceitado o pedido...

Sério?

— E por quê? – perguntei sem entender.

— Você é fraca, não nasceu para Hassan! Como sua prima, você não
está à altura dele – ela disse com o dedo em riste, movendo-se até que tocou
em cima do meu peito —, você vai fraquejar diante do primeiro problema e
sair correndo como uma garotinha ofendida e chorona, com sua mala,
dizendo: eu avisei!
— Eu não faria isso!
— Faria sim! – Samsha disse brava. — Sabe por que eu me casei
com meu marido? Além de ser uma honra para a minha família, ele era lindo,
determinado e eu estava apaixonada desde o primeiro momento em que o vi.
Tanto que lhe dei o filho mais bonito, o mais forte e que demonstrou ser
capaz de qualquer coisa! – Ela bateu contra o próprio braço. — Está no
sangue de Hassan lutar pelo que acredita e nunca desistir! Por isso ele
aceitou duas crianças que sequer são parentes dele! Outro teria negado, teria
jogado vocês na rua, mas ele foi honrado...

— Seu filho é um homem bom, mas...

— Mas você quer o conto de fadas, por isso que está infeliz!

— Você não sabe nada sobre mim... – falei brava.

— Ah, eu sei, querida. Vi muitas de você por aí! – ela moveu a mão
com desprezo —, se fazem de fortes, mas são cheias de obstáculos para a
felicidade e sempre andam em círculos... tanto que prefere abandonar
Michael e Betina do que simplesmente tentar ser feliz ao lado do meu filho.

— Não entendo por que está brava!

— Estou brava comigo por ter pensado que você era diferente! Que
lutaria com unhas e dentes por essas crianças! – Ela fechou o punho. — Mas
você é igual Mary Anne, vai abandonar o barco quando a circunstância não é
o que você quer. Você não é diferente dela, ou talvez seja pior, você é mais
burra! Mary Anne pelo menos fez meu filho feliz!

— Como ousa falar assim comigo? Me comparar a ela?

— Você não querer casar é um direito seu, mas abandonar tudo sem
tentar é algo imperdoável! – ela passou por mim e saiu do quarto batendo a
porta com força.
Não podia acreditar que ela me disse tanto desaforo. Que mulher
maluca! Agora eu era obrigada a ficar com o filho dela e me casar porque
ele era bonito, rico, inteligente...

Suspirei.

Adorável e disse que me esperaria pelo tempo que fosse


necessário?

Sentei na cama e a porta foi aberta novamente. Betina e Michael


surgiram ainda de pijamas. Samsha estava logo atrás.

— Elizabeth tem algo para dizer a vocês! – avisou e cruzou os


braços parada à porta.

Não acredito que ela estava fazendo aquilo! Eu ia embora sem me


despedir para que eles não ficassem tristes, até escrevi uma carta para cada
um. Mas agora, olhando para cada um deles, seus olhos claros na expectativa
do que eu poderia dizer. Olhei para Samsha com raiva e depois para eles.

— Preciso ir para Washington – contei a eles sentindo um nó na


garganta.

— Por quê? – Betina olhou a mala. — Não está gostando de morar


com o tio Hassan?

— Estou... mas preciso voltar e acertar algumas coisas... e...

— Diga a verdade – Samsha exigiu severa —, não faça isso com


eles!

Aquele olhar frio e intransigente era o mesmo que Hassan usava


quando estava no limite. Samsha estava brava porque eu estava desistindo
do precioso filho dela?
— Por que está fazendo isso? – precisei perguntar.

— Porque a vida é assim, se vive de verdade, não pela metade – ela


ergueu o queixo para mim —, se está indo embora, diga a eles o motivo, mas
a verdade, eles merecem saber... quem ama não mente, Elizabeth, não
abandona e não engana.

Senti a faca enterrar no meu peito. Eu era uma megera sem coração,
me senti péssima, uma verdadeira criminosa que arrancaria o coração
daquelas crianças sem piedade.

— Você vai embora? – Michael perguntou.

Quando olhei para ele, seus olhos estavam cheios de lágrimas.


— Por quê? O que a gente fez de errado? – Betina me questionou.

— Não tem nada a ver com vocês... – Tentei explicar, mas parei.

Eu me senti miserável. Samsha tinha razão, a realidade não era nada


agradável de enfrentar. Estava magoando duas pessoas tão importantes na
minha vida e deixando-os porque eu tinha medo...

Medo do que estava acontecendo entre mim e Hassan. Admiti isso de


repente e fiquei assustada. Não tinha nada a ver com as crianças, com Jack,
com Brad ou com o tempo que eu conhecia aquele homem. Tinha a ver com o
fato de que o que ele me fazia sentir era tão forte, tão intenso e poderoso,
que me causava medo. Então, antes de perder, eu estava jogando tudo pela
janela e fugindo.

Sentei na cama e bufei, cansada.


— A questão, Elizabeth – Samsha disse caminhando para perto das
crianças —, é por que você não pode ficar e tentar ao menos? Uma semana
de convivência e você tem certeza que nunca vai poder amar Hassan? Que
nunca serão uma família?

Ergui o olhar para ela.

— Você não deveria ser decoradora... – falei séria —, deveria ser


advogada! Os promotores se matariam quando você entrasse no tribunal!

Ela me olhou e ergueu uma sobrancelha:

— O que vai fazer? Desfazer essas malas ou fugir? – ela me


desafiou.

As crianças olhavam para mim com expectativa. Não podia deixá-


los, não quando eles faziam todo o sentido para mim, quando eu queria ficar
perto deles o tempo todo e ser a mãe que Mary Anne se recusou a ser. Eles
mereciam a felicidade e eu podia dar.

— Não quero me casar com Hassan – eu disse simplesmente.

— Mas já disse isso a ele?

— Disse!

— Não, você disse que não queria se casar, mas não disse que
poderiam tentar de outra forma – ela me corrigiu.
— Do que está falando?

— Vocês não precisam se casar para ser uma família – ela ponderou.
Fiquei surpresa com o jeito que ela falou.

— Mas eu pensei que...

— Você estava tão preocupada em lamber as próprias feridas que


não ouviu o que ele disse? Que esperaria por você o tempo que fosse
necessário, que ele estava disposto a revelar seus véus secretos, o tempo que
levasse – ela revelou.

— Estava ouvindo atrás da porta? – perguntei perplexa.

— Não tenho culpa se a porta estava entreaberta e eu estava


passando. – Encolheu os ombros num gesto inocente.
Samsha era uma mãe dominadora e bisbilhoteira.

— Como uma agente do FBI pode ser tão burra? – ela me questionou.
Eu a fitei, indignada. Ainda bem que ela não ficaria muito tempo ou
poderíamos ter brigas intensas.

— Você vai embora? – Betina insistiu.


Acariciei seu rosto angelical.

— Não, querida, eu vou ficar – disse e os dois me abraçaram.


Olhei para Samsha que sorria em vitória.

— Tire esse sorrisinho do rosto – eu mandei com o dedo em riste


quando as crianças se afastaram —, estou fazendo isso pelas crianças.

— Sei. – Ela sorriu com malícia.


— Agora vão trocar de roupa – eu disse às crianças —, vou levá-los
ao psicólogo.

Eles saíram correndo do quarto, felizes, e Samsha se voltou para


mim.

— Fico feliz que queira ficar, acho que minhas palavras surtiram
efeito – ela falou orgulhosa de si mesma —, meu marido sempre me elogiou
por ser persuasiva.
— Talvez, você tenha razão – eu admiti —, não posso deixar
Michael e Betina, eu os amo.
— E imagino que o preço de levar meu filho como tiracolo deva ser
horrível! – ela ironizou.

— Sequer pensei nisso – eu menti.


— Tenho certeza que não – ela falou com sarcasmo —, afinal,
Hassan é um homem desagradável, feio, e nenhum pouco sedutor.

— Seu filho é muito petulante de pensar que pode simplesmente


chegar em mim e oferecer casamento que vou morrer de amores por ele! –
retruquei finalmente me erguendo para abrir a mala.
— Meu filho é um homem árabe, não espere que ele tenha atitudes
como os americanos sem sal! – ela falou atrevida.

— Os americanos não são sem sal! – defendi.


— Claro que são! – ela insistiu roubando uma risada minha. —
Coloque o presidente dos Estados Unidos e meu marido um ao lado do outro
e me diga quem tem mais personalidade e presença – ela me desafiou.

Tinha visto uma foto do sheik Hans e ele era realmente um coroa
bonito. Hassan havia puxado para ele.

Abri a mala e peguei um punhado de roupas. Quando eu olhava para


a mala, um lado meu queria fechá-la de novo e partir, mas o outro, aquela
garota que nasceu em Castle Dale, que tinha vergonha do próprio corpo, dos
óculos e do aparelho, que era tratada como uma estranha por ser Nerd, que
se escondia atrás dos livros, que olhava para a prima com inveja, aquela
garota queria ficar e tentar ser feliz ao menos.
Porque a adulta que eu me tornei fugiu de tudo o tempo todo e quase
morreu por causa disso. Enquanto devolvia minhas roupas no armário e
Samsha se sentava na minha cama para falar da vida dela, dos filhos e do
marido, eu me lembrei de uma vez que eu e Mary Anne brigamos.
Deveríamos ter por volta dos treze anos e eu a chamei de puta, não me
recordava o motivo, mas lembrava do que ela disse:

— O seu problema é que você não vive, sua Nerd de merda, e não
quer que as pessoas vivam também! Você nunca vai ser como eu! – Ela
apontou o corpo que já apontava a feminilidade, os seios maiores e
curvilíneo enquanto eu era uma garota sem graça que parecia ter dez anos. —
Você foge do que é bom!

Ela tinha razão. Passei a maior parte da minha vida fugindo do que
era bom.
Mas ela estava errada quanto a uma coisa: eu jamais seria igual a
ela.

Eu era melhor.
Capítulo 29

Trabalhei até mais tarde. Ficar horas depois no escritório era normal
para mim, mas naquela segunda-feira tinha um gostinho amargo de não
querer voltar para casa e descobrir que Elizabeth havia partido. Meu lado
frio e calculista dizia para não me importar, que haveria outras milhões de
mulheres no mundo que poderiam compartilhar o sonho de ter uma família,
que não imporiam regras, que não seriam tão complicadas.

Mas um homem de verdade sabe o que seu coração quer.

E meu corpo e meu coração naquele momento a queriam mais do que


qualquer outra coisa. A todo o momento, eu me pegava pensando na última
semana que vivemos e fomos do amor ao ódio. De todo o sofrimento
horrível pelo qual ela foi obrigada a passar e o quanto eu estava disposto a
ajudá-la a esquecer. Talvez esquecer fosse impossível, existem situações que
jamais deixamos de recordar, porém, estava determinado a ser melhor do
que tudo que ela já conheceu para que não tivesse motivos para pensar na
dor que lhe causaram.

Respirei pesadamente quando deixei meu escritório e os corredores


estavam escuros, desci pelo elevador tentando não me sentir frustrado, mas
era inevitável. Teimosa como era, ela deveria ter partido naquela tarde para
Washington e se afundado na solidão de seu apartamento, chorando como
uma tola com saudade das crianças. Porque ela amava Michael e Betina. A
ideia de ser minha esposa era tão horrível que ela preferia viver longe deles
a tentar ao menos começar uma história comigo?

Quando saí na garagem, Arthur estava chegando, era ele que fazia a
segurança do meu prédio, claro, ele tinha funcionários para isso, mas de vez
em quando, ele mesmo ficava ali. Quando me viu, um sorriso malicioso
apareceu em seus lábios e ele parou diante de mim.

— Boa noite, chefe – ele disse.

— Boa noite, Arthur. Espero que seu sábado não tenha sido uma
merda – ironizei.

Ele sabia que fui eu quem enviou a polícia atrás dele e mandou
prendê-lo. Antony contou. Era preciso para que entendesse que eu não o
queria perto de Elizabeth nunca mais.
— O dinheiro caiu na minha conta – ele falou satisfeito —, aquele
episódio já foi esquecido. Sequer me lembro o nome da sua garota...

Sorri satisfeito. Sim, eu era um grande filho da puta quando queria. E


embora Arthur fosse um bom funcionário, na arte da guerra tudo é válido.
Ele sabia disso e ganhou uma gorda indenização que fiz questão de pagar
para ressarci-lo da vergonha de ser preso, mesmo que fosse de mentira.

— Espero que você e sua garota fiquem bem. – Ele acenou a cabeça
e passou por mim.

Eu também, pensei.

Apenas assenti e fui para o meu carro. Jeffrey estava servindo a


minha mãe e eu não me importava de dirigir, ao contrário, ajudava a acalmar
os ânimos e eu me distraia antes de voltar para a casa sem Elizabeth. A
verdade era que eu estava me corroendo de raiva e impaciência por ela
complicar tanto a nossa história. Era nesses momentos que eu compreendia
que não tinha controle sobre tudo. Era uma grande merda não ser irresistível
a ponto de ela não conseguir se afastar de mim.

Dirigi para casa e entrei no apartamento, a sala estava vazia, mas


ouvi vozes vindo do corredor. A Senhora Kursty, a nova governanta, surgiu e
me ofereceu para recolher o meu paletó.

— Obrigado – agradeci. — Onde estão todos?

Minha pergunta foi geral, mas queria saber de uma pessoa em


específico.

— A Senhora Aziz está arrumando as crianças para o jantar – ela


respondeu.

As palavras queimaram na minha garganta para perguntar onde estava


a maldita da Senhorita Andrews, mas morderia a língua antes de falar.
Apesar de querê-la mais do que tudo nesse momento, eu tinha o meu orgulho.

— Claro – limitei a responder —, vou tomar um banho antes do


jantar – avisei.
— Sim, senhor.

Afastei e caminhei pelo corredor. A porta do quarto de Elizabeth


estava aberta e quando espiei para dentro, estava vazio. Aquela maldita foi
embora! Não sei por que criei expectativas que ela tivesse mudado de ideia,
ela era mais obstinada do que supus. Agora, eu teria que esperar um tempo
para depois ir atrás dela, ou deixar que ela me esquecesse e eu recomeçaria
minha vida de outra forma. Isso parecia tão sem sentido. Será que ela não
havia notado que havíamos nascido um para o outro?
Esse pensamento me surpreendeu. A sensação da perda me sufocou e
fiquei com raiva. Fui para o meu quarto e bati a porta com força. Arranquei a
gravata, o colete e a camisa, jogando tudo no chão enquanto caminhava para
dentro do banheiro. Eu me sentia como um garoto mimado que perdeu um
brinquedo e estava de castigo. Ela estava me punindo por ser prático, direto
e deixar claro o que queria.

Ela precisava de tempo.

— Uma merda de tempo! – praguejei em voz alta arrancando a calça


e indo para o box tomar uma ducha gelada para esfriar os ânimos.

Nunca pensei que me envolver com uma mulher e vê-la partir


mexeria tanto comigo. A água escorreu pela minha cabeça e pelo meu corpo,
aplacando meu humor. Queria que a água levasse aquela sensação de me
sentir sozinho por pensar que não veria mais Elizabeth. O que estava
acontecendo comigo? Por que simplesmente não batia punheta pensando em
qualquer mulher e a esquecia?

Durante os últimos cinco anos eu tinha uma desculpa para manter as


mulheres afastadas: a perfeição de Mary Anne. Mas a chegada de Elizabeth e
as verdades sobre o passado de minha falecida esposa quebraram toda a
história perfeita que escrevi, não havia mais no que me apegar, não existia
mais desculpas para ficar sozinho. Então, de forma inesperada e rápida,
Elizabeth preencheu o vazio que se formou ao longo dos anos e eu fingi não
ver. Era como se ela tivesse empurrado Mary Anne para fora da minha vida
e ficado no lugar dela.

E eu sequer notei que isso aconteceu. Até agora. Se eu me tocasse, eu


pensaria na sargento e em seu corpo lindo, feito para me dar prazer. Encostei
a cabeça no azulejo frio e fiquei olhando a água escorrer pelo ralo. Ouvi um
fraco barulho atrás de mim, mas não tive tempo de olhar para trás, um corpo
macio se colou ao meu. Senti quando os braços dela circundaram a minha
cintura e sua cabeça encostou nas minhas costas.
Elizabeth.

Fiquei tenso e meu coração bateu mais forte, como um trem


descarrilhado, como um carro sem freios descendo ladeira abaixo. Ela
suspirou e disse:

— Não consegui partir – ela confessou.

Não podia acreditar! Elizabeth estava ali, comigo? Um alívio me


tomou de uma forma tão avassaladora que não conseguia me mexer, tinha
medo que fosse uma ilusão e tivesse enlouquecido. Nunca pensei que me
sentiria assim por causa de alguém, então tive que admitir que a força do que
eu sentia, o meu querer por essa mulher era mais forte do que pensei.

— Por quê? – Tive que perguntar.

— Podemos falar depois? – ela respondeu com uma pergunta. — Só


quero ficar aqui com você e ter certeza que fiz a coisa certa.

Ela beijou minhas costas e todos os motivos que até então eu tinha
para estar irritado com ela desceram pelo ralo literalmente. A mão esperta
desceu pela minha barriga que ondulou de prazer quando passou pelo ventre
e segurou meu pau. Fechei os olhos e gemi quando ela começou a me
masturbar, beijou minhas costas mais uma vez e passou a língua devagar.
Nenhum homem poderia ser recepcionado dessa forma e sobreviver depois
sem pertencer àquela mulher.

Ela me surpreendeu em todos os sentidos, por ter ficado e por estar


fazendo de mim seu escravo sexual. Quando senti meu pau duro o suficiente,
eu me virei para ela, segurei seu rosto com a mão, com força, e a encarei.
Não estava subjugando ninguém, só queria que ela soubesse o quanto me
enlouquecia, o quanto fazia de mim seu por tomar uma atitude que
significava tudo para nós. Para as crianças, principalmente.

Beijei sua boca com fome, selvagem e nos abraçamos debaixo do


chuveiro. Agarrei sua bunda gostosa e ergui no ar, ela me enlaçou com as
pernas e bati seu corpo contra a parede fria, esfregando a ponta do meu pau
na entrada da sua boceta. Ela gemeu contra a minha boca, a mantive firme
como um braço e usei a outra mão para acariciar seu seio, apertá-lo e então
entrei dentro daquela boceta apertada de uma vez.

Elizabeth se apartou do beijo e jogou a cabeça para trás. Mordi seu


pescoço enquanto entrava e saía de dentro dela, agarrei sua bunda outra vez
e apertei com força. Ela abaixou a cabeça e olhou para mim, aqueles olhos
verdes ficando escuros por causa do prazer, eu remetia com força, indo
fundo, os lábios dela estavam entreabertos, os gemidos se misturando à água
do chuveiro que batia contra o chão.
Fui cada vez mais rápido e senti quando ela apertou meu pau com sua
boceta e seu corpo começou a tremer. Fechei os olhos e minha boca tomou a
sua enquanto fogos de artifício se formavam em minha mente e eu deixava o
orgasmo me cegar, me sufocar de uma maneira que eu sabia que valia apenas
porque eu estava com ela.

— Hassan – ela disse quando jogou a cabeça para trás outra vez e
abri os olhos para vê-la revirar os dela e gozar bem gostoso.

Era isso que eu queria ver o resto da minha vida. Essa mulher
gozando gostoso no meu pau, dizendo meu nome, arranhando minhas costas,
me fazendo de gato e sapato e eu sentindo prazer nisso. Eu a mantive contra
o meu corpo durante um tempo, esperando as batidas do meu coração
voltarem ao normal, até que tivesse coragem de me afastar e olhar em seus
olhos outra vez.
Sexo com ela era maravilhoso, mas a gente precisava conversar. Dei
as costas para ela e peguei o sabonete para me lavar e depois passei para
ela. Minha atitude poderia parecer um pouco fria, mas eu queria que ela
falasse primeiro o motivo de ter ficado. Saí do box e fui até o armário pegar
duas toalhas, deixei uma para ela pendurada no vidro do box e a outra
enrolei nos quadris e fui para o quarto. E esperei.
Ela surgiu segundos depois com a toalha em volta do corpo e me
olhou comprimindo os lábios. Senti que ela poderia enfrentar uma quadrilha
com os piores criminosos, mas sobre sua vida pessoal ela era uma casquinha
de ovo, frágil que poderia se quebrar facilmente. Tinha vontade de
atravessar o quarto e abraçá-la, mas eu já havia dito tudo o que precisava,
agora era a vez dela.

— Nós paramos no momento em que você ia me dizer o motivo pelo


qual ficou – comentei quebrando o silêncio.
— Foi por causa da sua mãe – ela falou enquanto se aproximava de
mim.

— Da minha mãe? – Franzi o cenho. — Como assim?

Não esperava por essa resposta.

Ela pigarreou.

— Eu estava fazendo as malas para partir quando ela entrou no meu


quarto e me disse umas verdades – a sargento explicou.

— Ah... – compreendi —, minha mãe costuma ser muito persuasiva.

— Eu não imaginava o quanto – ela parou diante de mim e segurou a


borda da toalha sobre o peito —, já lhe contei que sempre odiei Mary Anne?
— Você me disse que vocês não se davam bem... – comentei.
— Sim, mas eu era a culpada. Não ela. Apesar de a minha prima ser
uma babaca, sempre tive inveja porque ela era popular e querida e eu não –
ela confessou sem hesitação —, um dia ela me disse que eu jamais seria
como ela era. Bem, ela tinha razão. Não vou ser, eu sou mais. E também não
sou mais aquela mulher que tinha medo do desconhecido, talvez eu ainda
tenha, mas estou disposta a fazer diferente.
Não queria demonstrar o alívio que suas palavras causaram em mim,
mas acreditava que ela notou.

— Não vou me casar com você, Hassan, não acredito que seja a
solução para as nossas vidas agora, preciso te conhecer melhor – ela foi
sincera —, mas estou disposta a descobrir se você é o homem com quem
quero passar a minha vida, como espero que seja nesse momento...
Dei um passo para ela, ficando próximo o suficiente para sentir a
toalha roçar a pele da minha barriga. Segurei seu rosto entre as mãos e olhei
bem dentro dos seus olhos.

— Como eu te disse, estou disposto a esperar o seu tempo...

— Eu sei – ela tentou sorrir, mas não conseguiu —, jurei nunca mais
me envolver com ninguém depois do que aconteceu e ter uma vida solitária,
mas infelizmente, você surgiu e me fez ver que vale a pena tentar de novo.

Sorri com satisfação.

— Eu tenho esse poder sobre as mulheres – brinquei.

Ela riu.
— Sempre fui cética com relação a muita coisa – ela continuou —,
mas você me faz acreditar em conta de fadas...
— Sou um homem impaciente, arrogante e dominador, mas por você
posso ser o melhor disso – prometi —, por você, estou disposto a ser melhor
em qualquer coisa apenas para ver o sorriso abrir nesse lindo rosto.
Os olhos dela encheram de lágrimas.

— Você podia me beijar antes de me fazer chorar – ela falou num fio
de voz.
— Você tem ideia de até onde eu iria para fazê-la sorrir? – perguntei
roçando meus lábios nos dela.

— Não, mas você pode me mostrar... – sussurrou excitada.


A porta foi aberta de uma vez e Betina surgiu rindo.

— A vovó mandou avisar que o jantar vai ser posto na mesa – ela
disse animada rindo ao nos ver tão próximos.
— Vovó? – Elizabeth perguntou se afastando de mim e se
aproximando da menina.

— É, ela disse que podemos chamá-la assim... – Betina explicou.


— Claro... – Elizabeth sorriu e me olhou por cima do ombro —, vou
me trocar, nos falamos no jantar...

— Vamos conversar para o resto da vida – eu murmurei.

Ela sorriu feliz antes de passar a mão pelo ombro de Betina e a


menina perguntar.

— Você e o tio Hassan são namorados?

— Sim, querida, nós somos – Elizabeth admitiu antes de sair com ela
do quarto.
Sorri e respirei fundo, satisfeito.

Muitas pessoas precisam de anos para saber o que querem da vida.


Quanto a mim, uma noite nos braços de Elizabeth na beira daquela piscina
foi suficiente para saber que seria para sempre.
Epílogo

Dois meses depois...

Depois que conheci Hassan, nada na minha vida fez muito sentido.
Todas as minhas convicções caíram por terra, ainda mais quando descobri
que estava grávida. As medicações fortes que eu tomava por causa das
queimaduras anularam o efeito do anticoncepcional e um mês depois
vivendo com aquele homem, descobri que esperávamos um bebê.

No começo, fiquei receosa, afinal, estávamos começando uma


família, vivendo há pouco tempo juntos. Porém, nada com ele era simples,
era uma vida de surpresas bem-vindas. Hassan me fez acreditar que o amor
não tem roteiro, ele se mostrava da forma como quer e quando quer na vida
das pessoas, como mágica. Para uns pode levar uma vida toda para encontrar
o amor, outros nunca vão enxergá-lo, mas o nosso era especial. Ele me fez
descobrir que a nossa felicidade estava em mim e se eu não a cultivasse, ela
morreria. Essas filosofias dele, que sempre achei ridículas, agora faziam
todo o sentido. O que você não alimenta, morre. E eu o amava e gostava de
ser feliz ao lado dele.

E assim que ele recebeu a notícia sobre a gravidez, foi taxativo:

— Vamos nos casar – ele avisou.


Dessa vez, ele não perguntou se eu queria, se eu aceitava e sequer me
deu um anel. Ele simplesmente mandou Sara me ligar e me perguntar como
eu queria que fosse a cerimônia. Tive quatro semanas para organizar tudo,
desde vestido, uma recepção para os amigos mais chegados, a roupa dele e
detalhes que quase me deixaram louca e o fizeram dormir no quarto de
hóspedes duas ou três vezes quando brigávamos por alguma situação que no
fundo, não tinha nada a ver com a gente. Era apenas estresse.

Agora, enquanto eu caminhava pelo corredor de flores vermelhas


usando meu vestido branco, longo que aderia ao meu corpo e sem esconder
as queimaduras do meu braço, eu olhava para Hassan parado no altar que
fizemos na sua casa de praia em Cape Cod. Os convidados estavam
dispostos nas fileiras de cada lado do corredor e o vento fresco da manhã
balançava meus cabelos soltos e apenas presos com uma pequena flor
branca. Hassan também estava vestido de branco e nós dois estávamos
descalços.

Meu coração batia acelerado a cada passo, olhei para os nossos


amigos, alguns que conheci apenas agora, há poucos dias. Mas Benjamin e
Elliot, os melhores amigos de Hassan estavam presentes. Eles não faltariam
nem que fossem presos, dariam um jeito de escapar e estar ali para
comemorar um dia tão especial na vida do amigo. Embora o considerassem
um louco. Dois homens fadados a ficarem solteiros que tinham aversão à
palavra casamento. Os pais dele estavam ali, o Sheik Hans veio para
prestigiar o filho, e Samsha estava emocionada. Os dois muito elegantes,
com suas roupas tipicamente árabes, mostrando que o filho tinha uma origem
quase real.

Hassan estava lindo, o vento bateu contra os seus cabelos, deixando-


o ainda mais sedutor e ele se aproximou de mim, fazendo meu coração bater
mais depressa. Pegou o buquê e entregou para a mãe e beijou minhas mãos.
Nós nos olhamos nos olhos, havia um carinho tão grande que eu senti
vontade de chorar como uma boba. Minha ginecologista me explicou que
durante a gravidez eu poderia ter esses altos e baixos emocionais por causa
dos hormônios.

— Eu amo você – ele murmurou para mim.

— Também amo você – sussurrei de volta.

Fomos para o altar improvisado onde o reverendo Soller nos


aguardava. Hassan não se importou de respeitar minha religião protestante e
nos casarmos segundos os moldes da Igreja Batista. O reverendo Soller era
um homem divertido e fez um discurso acerca do amor que me levou às
lágrimas.

Então Betina e Michael trouxeram as alianças no altar junto de Low e


todos sorriram diante da doçura deles. Nossos filhos. Hassan havia
conseguido adotá-los definitivamente e agora em suas certidões constavam o
meu nome como mãe e o nome de Hassan como pai. Não havia felicidade
maior na vida do que os ver bem e felizes. Nós os amávamos mais do que
qualquer outra coisa.

Quando o reverendo nos declarou marido e mulher, senti um frenesi


pelo corpo. Como se finalmente eu pertencesse a algum lugar, e meu coração
encontrasse pouso. Era estranho me sentir assim, mas era real. Hassan me
deu um beijo de leve nos lábios e todos aplaudiram emocionados. Uma nova
história começava ali.

Fizemos uma recepção ali mesmo na praia e uma hora notei que meu
marido havia sumido. Procurei por ele e o encontrei conversando com Eliot
e Benjamin na sala da casa. Eles estavam brindando alguma coisa e eu não
quis atrapalhá-los, mas não pude deixar de ouvir.

— Vamos brindar a sua felicidade! – Eliot disse erguendo o copo


com uísque.

— Eu agradeço meus amigos, vocês sabem o que passei e o quanto


estou feliz – Hassan confessou.

— Você merece! – Benjamin bateu a mão contra o ombro dele. —


Encontrou uma mulher incrível.

— Todos nós merecemos e logo estarei indo no casamento de vocês!


– Hassan falou com o dedo em riste.

— Prefiro uma boa dose de uísque! – Eliot garantiu.

— E eu prefiro morrer a me casar de novo! – Benjamin garantiu.

Eles riram e brindaram. Low apareceu ao meu lado e latiu,


denunciando que eu estava ali. Fiquei sem graça e surgi, os três olharam para
mim.

— Estava procurando por você, Hassan – disse sem graça.

— Vamos nessa, cara – Eliot apertou a mão dele —, boa noite para
os pombinhos!

Eliot passou por mim, lindo e loiro, e deu aquela piscadela


charmosa.

— Cuida do meu amigo! – ele falou.

— Pode deixar.

— Tem certeza que não vai precisar de um remédio para não broxar,
Hassan? – Benjamin debochou dele.
— O velho aqui é você, cara. – Hassan riu dele.

— Boa sorte, amigo. Nós nos vemos... – eles se abraçaram e


Benjamin veio para perto de mim —, é a noiva mais linda que já vi. – Pegou
minha mão e beijou, me fazendo rir.

— Tira a mão da minha mulher! – Hassan brincou com ele.

Eles se olharam e riram antes de Benjamin partir. Aproximei de


Hassan enquanto Low subiu em cima do sofá.

— Estava ouvindo atrás da porta, habib? – ele perguntou com


carinho debochando de mim.
— Foi sem querer... – passei os braços em volta de seu pescoço e a
mão assanhada foi deliciosamente para os meus quadris.

Encostei meu corpo no dele e senti seu pau duro. Arregalei os olhos
ao fitá-lo.

— Mas já? – inquiri surpresa.

— Estou assim o dia todo, desde que acordou ao meu lado com essa
bunda gostosa – ele disse contra a minha boca.

Eu ri.

— Será que conseguimos uns minutinhos de paz para dar início a


nossa noite de núpcias? – propus.

— Tem a dispensa – ele encolheu os ombros —, é um pouco


apertada, mas comigo dentro de você, o espaço fica perfeito.

Ri de novo, me sentindo desejada e querida. Já estava excitada


apenas por pensar nele me fodendo com força dentro da dispensa.

— É uma ótima ideia.


Soltei um grito quando ele me pegou no colo e me ergueu no ar.

— O que está fazendo? – perguntei constrangida.

— O noivo carrega a noiva pela primeira vez para dar sorte...

— Nunca ouvi falar disso – reclamei.

— Você precisa estudar mais sobre a cultura e a crença do seu


marido – ele falou sério —, nunca ouviu falar em Mil e Uma Noites?
Sherazade?

— Isso não é crença. É uma história para criança...

Ele deu uma risada gostosa.

— Querida, o que vou fazer com você agora não tem nada a ver com
infantil e pode apostar que estou me inspirando no que o rei fez com
Sherazade...

— Não conheço essa parte da história, Hassan. Não existe...

— Claro que existe – ele parou diante da porta da dispensa —, mas


nas histórias para adultos. Era uma vez um árabe bonito e inteligente que se
apaixonou tanto por uma americana, agente do FBI, teimosa e dona do
próprio nariz – sua boca colou no meu pescoço —, e ele a fodia muito
gostoso...

Arrepiei inteira quando ele me colocou no chão e sua voz vibrou


contra a minha pele.

— E o que acontece? – sussurrei contra sua boca.

Ele abriu a porta da dispensa e me empurrou para dentro. Realmente


estava bem apertado e a porta se fechou atrás de nós. Podia sentir todo o
corpo de Hassan contra o meu, cada centímetro. Ele esfregou o pau no meu
ventre e colocou as mãos apoiadas uma de cada lado da minha cabeça.

— Não sei, te conto daqui dez minutos – ele murmurou malicioso e


um sorriso safado surgiu no canto esquerdo de seus lábios antes de ele me
beijar.

E mais uma vez, ele me fez ver que sexo e amor andam juntos sim. E
que a vida vale a pena ao lado dele, eu só precisava tentar...

Fim
LANÇAMENTO: 29/09
LANÇAMENTO: 05/10
Flávia Padula é mineira e formada em jornalismo, paixão que deixou de lado
por muito tempo para cuidar dos filhos e da família. Acabou desviando pelo
caminho profissional na área da administração, onde tem formação
acadêmica, mas acabou retornando para a escrita, que é sua paixão desde a
infância. Escreveu o primeiro livro aos 12 anos, e continuou sua trajetória
com publicações acadêmicas e artigos de filosofia e relacionamentos em
blogs especializados. O primeiro romance publicado veio apenas em 2015,
com o livro O Duque que inesperadamente foi abraçado pelos leitores e
tornou-se Best Seller pela Amazon, em seguida O Yankee, O Plebeu e O
Pirata e a Prisioneira. Hoje, Flávia tem mais de setenta trabalhos
publicados, entre romances, novelas e contos. É uma leitora ávida, e não tem
preferências, lê de tudo e acredita na diversidade da literatura.
Jornalístico:
Quisisana, uma história, uma vida

Romance Histórico

O Duque
O Yankee

O Plebeu

Danior

Vladimir
Xavier

Gustav

Heron

Fúria Cigana
A Casa da Colina

De Volta à Casa da Colina


O Cavalheiro de Shetwood

Meu Querido Primo

O Último Beijo de Um Duque

O Pirata e a Prisioneira

A Carta
Conde de Denbigh

A Noiva e o Russo

Como Sequestrar um Duque

Cartas para o Conde

O Desafio do Duque

A Preferida do Duque

A Preferida do Marquês

A Preferida do Conde

A Preferida do Lorde

Um Amor Inesquecível
Um Amor Irresistível

Romance Histórico Lésbico

Sublime

Medieval/Fantasia

A Maldição do Rei

O Feitiço da Princesa

Selo Damas do Romance/ Época

Caçada de Mestre (Western)

O Destino de Sarah

Desejo

Paixão

Coragem

Solidão

A Farsante
A Princesa de Taranis (Medieval/Fantasia)

Western

A Força do Amor
O Poder do Amor

A Glória do Amor

O Fora da Lei
O Vingador

O Justiceiro

O Renegado

Contemporâneo:

Uma Segunda Chance

O Falcão do Deserto
O Amante Espanhol

Escolhas

O Pescador

O Vira-Lata

O Playboy

Ralph

Duplamente CEO

Egor

Clube de Swing

O Baile de Carnaval

Fim de Semana com o Chefe


Prazeres de Uma Noite

Quero Me Casar

O Editor

Tentação e Cobiça

Guto

Uma Noite Para Sempre

Contemporâneo/Fantasia:

Áthila

Falcon

Damon

Athena

Voughan

Seven

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