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A regularização fundiária no Estado do Tocantins como meio de efetivação da função social da propriedade rural
Resumo: O presente trabalho aborda a função social da propriedade rural no Estado do Tocantins com 7
intuito de demonstrar a importância da função social da propriedade rural por meio de uma análise
acerca da questão agrária no Estado. O tema foi escolhido por ser um assunto pouco explorado em
trabalhos acadêmicos, embora, muito discutido no cenário atual do Estado. Nesse sentido, a
metodologia utilizada para a realização do presente trabalho foi a pesquisa de livros e documentos
disponíveis a respeito do tema, além de informações obtidas junto ao órgão responsável pela
regularização fundiária das terras pertencentes ao Estado do Tocantins. Com base nessa análise,
constatou-se a necessidade de programas e ações que visam proporcionar maior celeridade nos
processos administrativos estaduais, a fim garantir o pleno domínio sobre o imóvel e proporcionar,
assim, o desenvolvimento de atividades produtivas para garantir a geração de renda e,
automaticamente, o crescimento econômico do estado.
Palavras-chave: Propriedade rural. Função social. Regularização fundiária. Tocantins.
Abstract: This paper addresses the social function of rural property in the State of Tocantins, the aim is
to demonstrate the importance of the social function of rural property through an analysis of the
agrarian problem in the state. The theme was chosen because it is a relatively unexplored subject in
academic papers, although, much discussed in the current scenario of the State. In this sense, the
methodology used for the realization of this study was to research books and documents available on
the subject, as well as information obtained from the body responsible for the regularization of land
belonging to the State of Tocantins. Based on this analysis, it found the need for programs and actions
aimed at providing greater speed in state administrative proceedings, thus, the development of
productive activities to ensure income generation and, automatically, the state's economic growth.
Keywords: Rural property. Social Role. Land Regularization. Tocantins.
1. INTRODUÇÃO
1
Professor de graduação e pós-graduação, advogado em direito agrário e ambiental, mestrado em gestão de
Políticas Públicas pela Universidade Federal do Tocantins, Presidente da Comissão de Direitos Humanos da
OAB-TO.
2
Bacharel em Direito pelo Instituto de Pesquisa Objetivo de Palmas.
tema foi escolhido por ser um assunto pouco explorado em trabalhos acadêmicos, embora,
muito discutido no cenário atual do Estado.
Nesse sentido, a metodologia utilizada para a realização do presente trabalho foi a
pesquisa bibliográfica, tendo como principais fontes: livros e documentos disponíveis a
respeito do tema, além de informações obtidas junto ao órgão responsável pela regularização
fundiária das terras pertencentes ao Estado do Tocantins.
Em relação à estrutura do presente artigo, tem-se, inicialmente, uma abordagem geral
a respeito do direito à propriedade como um direito humano fundamental. No segundo tópico,
estuda-se a evolução da história agrária no Brasil, uma análise desde a chegada dos
portugueses ao Brasil e suas políticas de distribuição de terras, com uma análise histórica da
legislação até às disposições legais em vigor. Adiante será analisada a situação agrária no
Estado do Tocantins, com um breve relato a respeito do histórico da regularização fundiária,
verificando dados quantitativos referentes às áreas regularizadas e a regularizar e os títulos
definitivos expedidos pelo Instituto de Terras do Tocantins e pelo Instituto de
Desenvolvimento Agrário do Estado de Goiás. Em seguida, serão examinadas questões
relativas à problemática enfrentada pelo Estado para a regularização fundiária. Também será
destinado um tópico especial no qual apontará os documentos necessários para a instrução do
processo administrativo e sua relação com a celeridade do processo. Por fim, serão apreciadas
as ações e programas de regularização fundiária no estado do Tocantins, de modo a viabilizar
o acesso a terra e o cumprimento da função social da propriedade rural.
Frisa-se, por fim, que em virtude do Tocantins ser um Estado novo, os materiais de
pesquisa são muito recentes e carecem de material escrito sobre o tema. Foram encontradas
dificuldades para obtenção de informações no órgão, devido à descentralização de
informações.
Acerca dos direitos fundamentais3 pode-se afirmar que surgiram frente aos anseios da
coletividade; assim, os textos constitucionais emergiram para incorporar os direitos
9
fundamentais de segunda geração (direitos econômicos e sociais), fruto das crises sociais,
políticas e econômicas que marcaram a sociedade naquele momento histórico: notadamente o
pós Primeira Guerra Mundial. Com isto, teve-se, de um lado, ao menos formalmente, a
satisfação destes anseios, mas, de outro, o progressivo hermetismo dos documentos
constitucionais para o cidadão comum. Tal movimento teve um novo alento com o
surgimento dos direitos fundamentais de terceira geração, como os direitos ao meio ambiente
preservado, à paz, à função social da propriedade etc. Assim, os direitos humanos são
legalmente garantidos, visando a proteção de indivíduos e grupos contra ações que interfiram
as liberdades fundamentais e da dignidade4.
Acompanhando as mudanças internacionais referentes a esse assunto, a Constituição
de 1988, em seu Título II, disciplina os direitos e garantias fundamentais, que se subdividem
em cinco capítulos: dos direitos e deveres individuais e coletivos; dos direitos sociais; da
nacionalidade; dos direitos políticos e dos partidos políticos. No seu artigo 5º, a Constituição
Federal de 1988 consagra o direito à propriedade junto ao rol dos direitos e garantias
fundamentais, dedicando os incisos de XXII a XXVI a tal direito, dispondo ser garantido o
direito de propriedade e esta atenderá a sua função social, dentre outros direitos. Desse modo,
o art. 5º, incisos XXII a XXXI, da CF/88, disciplina sobre o tema do direito de propriedade
em sentido amplo, contemplando o direito de sucessão, o direito autoral e o direito de
propriedade imaterial, dentre outros. A fim de consagrar a garantia institucional do direito de
propriedade no art. 5º, XXII, o texto estabelece logo no inciso seguinte, que a propriedade
atenderá a sua função social5.
3
Como primeiro documento histórico de importância ao estudo dos direitos humanos fundamentais, cita-se o
Código de Hammurabi (1690 a. C), que estabeleceu a supremacia das leis em relação aos governantes e
reconheceu, ainda que num contexto diferente do atual, a dignidade, a propriedade e outros direitos fundamentais
do homem. Conforme: MORAES, Alexandre de. Direitos Humanos Fundamentais: teoria geral, comentários aos
arts. 1º a 5º da Constituição da República Federativa do Brasil, doutrina e jurisprudência. 8. ed. São Paulo: Atlas,
2007.
4
MOTTA, Moacyr Parra. Interpretação constitucional sob princípios. Belo Horizonte: Mandamentos, 2013.
5
MENDES, Gilmar Ferreira et al. Curso de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2010.
Cada donatário recebia uma capitania hereditária e tinha o direito de posse, contudo
não lhe era concedido à emissão de propriedade, pois esta se mantinha sobre o domínio da
Coroa Portuguesa. Os donatários desfrutavam o direito de proceder à doação de sesmarias
para outros colonizadores. Estas, por sua vez tinham por objetivo, dentre outros, o
desenvolvimento de atividades agrícolas; assim os sesmeiros, como também eram chamados,
realizavam a junção dos interesses públicos e privados.
O período sesmarial se estendeu até o início do século XIX, sendo suspensa a
concessão de terras pelo então príncipe Dom. Pedro em julho de 1822, até a regulamentação
6
VIAL, Sandra Regina Martini. Propriedade da terra: análise sociojurídica. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2003, p. 161-163.
de uma lei de legitimação de terras no Brasil. Esse sistema gerido por capitanias perdurou até
meados de 18217.
Com a independência do Brasil, em 1822, ocorreu o contrário do que se esperava no
sistema de distribuição de terras, pois, não havendo normatização e regulamentação de uma
lei específica acerca da distribuição fundiária, a posse era a única maneira de aquisição de
terras. Este período foi denominado como Império de posses ou fase áurea do posseiro. Nesta
época ocorreu gradativamente o aumento da quantidade de posseiros e de grandes
11
propriedades, deixando como marca a formação de oligarquias rurais no Brasil, no entanto,
essas posses não poderiam ser legalizadas, de acordo com a norma vigente 8.
Segundo Medeiros9, a única delimitação pública existente para a distribuição de terras
era a proibição da ocupação das mesmas, salvo as que fossem compradas por moeda do
Império, favorecendo ainda mais os grandes latifundiários, sendo estes os únicos que tinham
condições financeiras para adquirir tais terras, expandindo ainda mais suas propriedades.
Desse modo, entre o período de extinção do regime sesmarial até a regulamentação de uma
nova lei, iniciou-se um novo período na história da formação de propriedade no Brasil que se
estendeu até 1850, quando surge, enfim, a chamada Lei de Terras.
A elaboração do primeiro Estatuto de Terras do Brasil teve como um dos principais
objetivos buscar novas soluções para os problemas fundiários do Império, visando coibir o
domínio sobre as terras devolutas, com exceção daquelas adquiridas através de compra e
venda, como mencionado anteriormente, e, ainda, legitimar a propriedade dos detentores de
sesmarias não confirmadas; transformar a posse mansa e pacífica, que muito aconteceu
naquele período, em aquisição de domínio.
A Lei n° 601, de 18 de setembro de 1850, conhecida como Lei de Terras, se tornou um
marco na história do Brasil Império, pois este necessitava não somente reorganizar essa
estrutura, como também dar à terra um caráter mais comercial do que social, como era
observado pelos grandes engenhos e latifúndios de pessoas influentes, haja vista o contexto da
sociedade mundial, na qual a Europa, movida pela expansão do capitalismo, vivia uma grande
evolução comercial e social10.
A Lei nº 601/1850 passou a regulamentar o registro público de todas as terras, pois
previa a delimitação da propriedade no Brasil e a forma de concessão de novas propriedades a
7
LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
8
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 32. ed. São Paulo: Malheiros, 2009.
9
MEDEIROS, Leonilde Servolo de. Reforma agrária no Brasil: história e atualidade da luta pela terra. São
Paulo: Perseu Abramo, 2003.
10
Id. Ibid.
partir dessa data. Trazia, também, previsão de legitimar as sesmarias concedidas que não
houvessem caído em comisso, à legitimação de outras posses, principalmente as que haviam
ocorrido no período entre 1822 a 1850, bem como a demarcação das terras devolutas. A Lei
de Terras serviu como instrumento para a grande leva imigratória de europeus, pois
incentivava a entrada de imigrantes no Brasil, uma vez que já previa o fim do trabalho
escravo, tornando-se necessária à transição para o trabalho livre.
A referida Lei representou uma grande conquista para os latifundiários, de modo que
12
dispôs que ficariam “proibidas as aquisições de terras devolutas por outro título que não seja o
de compra”, excetuando dessa regra “as terras situadas nos limites do Império com países
estrangeiros em uma zona de dez léguas, as quais poderão ser concedidas gratuitamente” (art.
1º, Lei n° 601/1850). Também trouxe a definição do que poderiam ser consideradas terras
devolutas em seu artigo 3°, in verbis:
Art. 3º São terras devolutas: § 1º As que não se acharem aplicadas a algum uso
público nacional, provincial, ou municipal. § 2º As que não se acharem no domínio
particular por qualquer titulo legitimo, nem forem havidas por sesmarias e outras
concessões do Governo Geral ou Provincial, não incursas em comisso por falta do
cumprimento das condições de medição, confirmação e cultura. § 3º As que não se
acharem dadas por sesmarias, ou outras concessões do Governo, que, apesar de
incursas em comisso, forem revalidadas por esta Lei. § 4º As que não se acharem
ocupadas por posses, que, apesar de não se fundarem em titulo legal, forem
legitimadas por esta Lei11.
Em seu artigo 14, a aludida Lei disciplinava acerca da forma de venda das terras
devolutas, o Governo ficava autorizado a vender essas terras em hasta pública, ou fora dela,
como e quando julgava mais conveniente, fazendo previamente medição, divisão, demarcação
e descrição da porção das mesmas terras que houvessem de ser expostas à venda. Desse
modo, fortaleceu o latifúndio nas mãos das classes mais abastadas. Com relação ao objetivo
de impedir a apropriação privada irregular de terras públicas, este jamais foi alcançado.
Medeiros12 explica ainda que, mesmo após a abolição da escravatura, o cenário de
distribuição de terras pouco mudara e que somente na década de 1950, com a chegada da
industrialização e com maior urbanização do país, é que se começa um debate junto à
sociedade acerca das questões de terras no Brasil, tendo em vista que nesse período o foco da
11
BRASIL. Lei nº 601, de 18 de setembro de 1850. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_
03/LEIS/L0601-1850.htm>. Acesso em 30 out 2015.
12
MEDEIROS, Leonilde Servolo de. Reforma agrária no Brasil: história e atualidade da luta pela terra. São
Paulo: Perseu Abramo, 2003.
economia, antes agrícola, agora passa a ser com insumos, serviços e bens. Nesse sentido,
acerca da questão agrária, Lisboa 13 acrescenta que:
13
LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direitos reais e direitos intelectuais. 6. ed. São Paulo:
Saraiva, 2012, p. 38.
14
TOCANTINS. Constituição do Estado do Tocantins, de 05 de outubro de 1989. Disponível em
<http://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/70431>. Acesso em: 10 nov. 2015.
Como pode ser observado, o Estado do Tocantins, até dezembro de 2014, já havia
regularizado cerca de 66% de todo seu território, sendo que, da área regularizada, o IDAGO
foi responsável por 67,41%, o ITERTINS por 22,41% e os demais órgãos de regularização
por 10,18 % do total de áreas regularizadas.
A tabela abaixo representa a produtividade do ITERTINS, no tocante à regularização
fundiária rural das áreas estaduais de janeiro de 2011 a dezembro de 2014, bem como a
quantidade de títulos definitivos de propriedade emitidos e a quantidade de famílias
beneficiadas.
Títulos emitidos
Títulos emitidos em 2014: 331
em 2012: 285
Títulos emitidos
em 2013: 169
Títulos emitidos
em 2011: 30
ÁREA (ha);
2012;
471.089,6704
ÁREA (ha);
ÁREA (ha); 2014;
2013; 70.179,8685 18
44.691,7068
Analisando os valores apresentados nas tabelas para os anos de 2012 a 2014, bem
como a sua representação nos gráficos 01 e 02, pode-se constatar que, com exceção do ano de
2012, por ser um ano atípico em relação aos demais, apresentando uma média de 1.652,9562
ha por título emitido, nos anos que se seguem existe uma proximidade na quantidade média
de títulos emitidos por hectare, já que 2013 apresentou-se uma média de 264,4480 ha por
título emitido, e em 2014, essa média foi para 212,0238 ha.
Com base nos dados fornecidos pelo Instituto de Terras do Tocantins – ITERTINS, a
problemática enfrentada pelo Estado para regularização fundiária rural gira em torno
basicamente dos conflitos de terras e registros paroquiais, bem como a própria evolução
agrária no Brasil, que no decorrer de sua história tem um processo de passagem de terras do
domínio público para o privado, sendo que tais problemas são identificados em todas as
regiões do Estado, por isso destacam-se as situações agrárias adiante explicitadas e que são
encontradas no Estado do Tocantins.
Segundo Leite17, “no Brasil, todas as terras são públicas, exceto as que são particulares”. O
artigo 11 do Estatuto da Terra estabeleceu que o Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, atual
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, está investido de poderes de
representação da União, para promover a discriminação das terras devolutas federais e com
autoridade para reconhecer as posses legítimas manifestadas através de cultura efetiva e
morada habitual, bem como para incorporar ao patrimônio público as terras devolutas federais
ilegalmente ocupadas e as que se encontrarem desocupadas.
19
Para estabelecer o real domínio da terra, ou seja, se é particular ou devoluta, o Estado
propõe ações judiciais chamadas ações discriminatórias, que são reguladas pela Lei nº 6.383,
de 7 de dezembro de 1976. O procedimento para discriminar terras devolutas de terras
particulares pode ser administrativo ou judicial. No Estado do Tocantins, esta ação é proposta
pela Procuradoria Geral do Estado com intuito de identificar e separar a terra pública da
privada, sendo que o deslinde de tais ações depende da problemática documental.
Nesses casos, o procedimento administrativo adota as seguintes providências,
conforme dispõe a Lei nº 6.383/197618:
17
LEITE, José Luís Marasco C. A apropriação das terras brasileiras: anotações preliminares, Rev. Esc. Direito,
Pelotas, v. 5, n. 1, p. 7-22, jan./dez. 2004, p. 20.
18
BRASIL. Lei nº 6.383, de 7 de dezembro de 1976. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil
_03/leis/L6383.htm>. Acesso em: 30 out. 2015.
19
Op. cit.
melhor o recurso a esses registros, é necessário esclarecer sua origem. Nesse sentido,
remonta-se ao período da chegada dos portugueses no Brasil, uma vez que naquela época toda
a terra passou por direito de conquista para domínio público de Portugal. Em decorrência
disso, iniciou-se a formação da origem da propriedade histórica no Brasil. O processo de
ocupação principiou com o Tratado de Tordesilhas, que traçava uma linha imaginária a 370
léguas de Cabo Verde e serviria de referência para a divisão das terras entre Portugal e
Espanha. As terras a oeste desta linha ficaram para a Espanha, enquanto as terras a leste eram
21
de Portugal.
Posteriormente, a Coroa Portuguesa cedeu os direitos possessórios de parte das terras
aos moradores das capitanias hereditárias a fim de possibilitar a exploração do imenso
território, transferindo aos colonos enormes glebas de terras denominadas sesmarias. Desse
modo, a formação da propriedade privada no país, em decorrência da propriedade pública, até
1822, deu-se principalmente pela concessão de sesmarias. Em virtude do alto custo de
investimento e com as dificuldades para iniciarem as explorações, as famílias aquinhoadas
com as doações devolveram os lotes recebidos, iniciando o processo cuja denominação
permanece até o momento atual da história: as chamadas terras devolutas.
Em 1850, Dom Pedro II, por meio da Lei n° 601, de 18 de setembro, dispôs sobre as
terras devolutas no Império e as que eram possuídas por título de sesmaria, bem como aquelas
decorrentes do simples título de posse mansa e pacífica, determinando que fossem medidas e
demarcadas; além disso, também determinou que fossem legitimadas aquelas adquiridas
por ocupação primária, ou havidas do primeiro ocupante, que se acharem cultivadas, ou com
princípio de cultura, e morada, habitual do respectivo posseiro, ou de quem o represente,
conforme arts. 3° e 5° da aludida lei de terras. Ainda, segundo transcrição literal do artigo 10
da referida lei:
No artigo 13, estabeleceu-se que o Estado faria a organização por freguesias o registro
das terras possuídas, sobre as declarações feitas pelos respectivos possuidores, impondo
20
BRASIL. Lei nº 601, de 18 de setembro de 1850. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil
_03/LEIS/L0601-1850.htm>. Acesso em: 30 out. 2015.
multas e penas aos que deixassem de fazer, nos prazos determinados as ditas declarações ou
as fizerem inexatas.
A Lei n° 601/1850, além de definir as terras devolutas, determinou as formas de
reconhecimento do domínio privado, de regularização das situações irregulares e da titulação
dominial. Contudo, somente em 1854, por meio do Decreto nº 1.318, de 30 de janeiro, no
capítulo intitulado "Do registro das terras públicas", é que se encarregou o vigário de cada
freguesia para receber declarações para o registro de terras, sendo atribuída ao vigário de cada
22
freguesia a tarefa de registrar as terras de sua freguesia apenas nos termos do art. 97. Criou-se,
então, o chamado registro paroquial ou registro do vigário, com finalidade somente estatística,
e, que, atualmente, é indevidamente utilizado como se fosse título de domínio para o ingresso
de imóveis no registro imobiliário.
Os registros paroquiais de terras tornaram-se obrigatórios para todos os possuidores de
terras, qualquer que fosse o título de sua propriedade ou possessão. Eram os vigários de cada
freguesia os encarregados de receber as declarações para o registro de terras. Cada declaração
deveria ter duas cópias iguais, contendo: o nome do possuidor, designação da freguesia em
que estivesse situada; o nome particular da situação, se o tiver; sua extensão se for conhecida;
e seus limites (art. 100, Decreto nº 1.318/1954).
No Estado do Tocantins, o ITERTINS aponta a existência de grandes incidências de
registros paroquiais em vários municípios e que a região sudeste do Estado é onde há maior
concentração de tais registros, ao todo, estão envolvidos 27 municípios, numa área de
aproximadamente de 2.923.479,0000 ha. Há, ainda, a necessidade de firmação de convênios
entre o Governo Federal e o Governo Estadual por intermédio do Ministério do
Desenvolvimento Agrário para efetuação de um diagnóstico da realidade fundiária dos
municípios tocantinenses que estão dentro das regiões com incidências de Registros
Paroquiais.
Logo, os problemas decorrentes da não efetivação formal de partilha entre herdeiros e
a venda de seus direitos hereditários, o desconhecimento das terras públicas devolutas, as
áreas aforadas e arrendadas, entre outras, são alguns daqueles problemas que podem ser
exemplificados para caracterizar a complexidade da estrutura fundiária tocantinense.
4.1.4 Devolução das terras que estão sob o poder da União ao Estado do Tocantins
21
INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA – INCRA. Assentamentos.
Disponível em: <http://www.incra.gov.br/assentamento>. Acesso em: 30 out. 2015.
completa; assim, o processo também poderá ter uma resolução mais célere ou não
dependendo da existência ou não de conflitos sobre a área.
previstos em Lei, a fim de compor um banco de dados geográficos que permita subsidiar os
processos de regularização fundiária.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
22
Op. cit.
23
Op. cit.
REFERÊNCIAS