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Processamento da casca de coco verde para a produção de pó e fibra

Article · January 2011

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Adriano Lincoln Albuquerque Mattos


Brazilian Agricultural Research Corporation (EMBRAPA)
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J. Interamer. Soc. Trop. Hort. 53: 85-88. Fruits / Frutas / Frutas - 2011

Processamento da casca de coco verde para a produção de pó e fibra

Adriano Lincoln Albuquerque Mattos, Morsyleide de Freitas Rosa, Lindbergue Araujo Crisóstomo, Maria Cléa
Brito de Figueiredo, Luiz de Gonzaga Castro Veras, Embrapa Agroindústria Tropical, CP 3761, 60.511-110, Fortaleza,
CE, Brasil, Email: adriano@cnpat.embrapa.br

Resumo. O objetivo deste trabalho é apresentar a tecnologia de Abstract. The aim of this paper is to present the technology of
aproveitamento da casca de coco verde como forma de agregar processing of immature coconut as a mean of adding value to the
valor à cadeia produtiva do coco verde. O desenvolvimento da productive chain of the immature coconut. The development of
tecnologia ocorreu em parceria com uma empresa metalúrgica, a technology has occurred in partnership with a metallurgical
partir de um processo contínuo de ajuste, otimização e validação company, from a continuous process of adjustment, optimization
técnica, que buscou a obtenção de produtos com potencial de uso and validation technique. The processing of the husks is done
e aplicação agronômica. O processamento das cascas se dá a using a sequence of operations that include: i) crushing, that
partir de uma sequência de operações que incluem: i) trituração, disintegrates the fibrous part of the coconut, ii) pressing, which
que fragmenta a parte fibrosa do coco; ii) prensagem, que extrai o extracts excess coconut husk liquor, and iii) classification, which
excesso de líquido do produto triturado; e iii) classificação, que separates in two fractions, powder or coir dust (70%) and fiber
separa as frações em pó (70%) e fibras (30%). Os equipamentos (30%). The equipments were designed to work on industrial scale,
foram desenvolvidos para trabalhar em escala industrial, sendo being able to process about 1,500 coconuts per hour. The coir dust
possível processar cerca de 1.500 cocos/hora. O pó apresenta presents suitable characteristics for agricultural substrate and it is
características adequadas para substrato agrícola sendo indicado indicated mainly for growing flowers and vegetables. Its chemical
principalmente no cultivo de flores e hortaliças. A caracterização characterization proved that the material, basically, does not
química do pó comprovou que o material praticamente não aporta supply nutrients to the plant, playing a role of medium for rooting.
nutrientes a planta, funcionando apenas como meio suporte para o The fibers can be used in the manufacture of pots, boards, crafts,
enraizamento. As fibras podem ser utilizadas na fabricação de among others.
jarros, painéis, artesanatos, dentre outros.

O agronegócio do coco verde tem grande importância, seja na geração de divisas, emprego, renda ou alimentação. A
procura por alimentos naturais, a aplicação de tecnologias de processamento, as novas alternativas de apresentação do
produto e a perspectiva de sua exportação contribuem para aumentar o consumo e incrementar sua rentabilidade ao longo do
ano. O aumento da produção passou a ser uma tendência natural, tendo como conseqüência a geração de resíduos sólidos
(cascas).
Diferentemente da casca do fruto maduro, o resíduo gerado pelo consumo do coco verde não possuía, há pouco tempo,
tecnologia adequada que viabilizasse seu aproveitamento. Nesse contexto, foi desenvolvido na Embrapa Agroindústria
Tropical um processo para beneficiamento da casca de coco verde com produção da fibra, um insumo com importância
crescente para diversos segmentos da indústria, e o pó, preparado para ser utilizado como insumo na formulação de
substratos agrícolas. Esse trabalho apresenta esse processo, assim como a caracterização desses produtos.

Material e Métodos
As pesquisas que resultaram nesses processos foram conduzidas na sede da Embrapa Agroindústria Tropical com um
conjunto de equipamentos desenvolvidos especialmente para o beneficiamento da casca de coco verde em parceria com a
Fortalmag, uma empresa privada do ramo de metalurgia, sediada em Fortaleza-CE. Um conjunto inicial de equipamentos,
que realizavam a trituração, prensagem e classificação do pó e fibra, foi otimizado até se chegar a uma escala industrial,
onde os equipamentos são instalados em linha, ligados por esteiras, de forma que o produto de um equipamento alimenta
continuamente o seguinte. Essa linha industrial foi inicialmente instalada na Unidade de Beneficiamento de Casca de Coco
Verde do Jangurussu, em Fortaleza-CE.
As análises para caracterização do pó e da fibra foram conduzidas no laboratório de Solos da Embrapa Agroindústria
Tropical, seguindo a Instrução Normativa N° 46, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que estabelece os
métodos de análise de substratos para plantas (BRASIL, 2006), e ,posteriormente, a Instrução Normativa N° 17, de 21 de
maio de 2007, que a substituiu (BRASIL, 2007).
O desempenho agronômico do pó foi testado no cultivo de mudas de alface, caju, tomate, pimentão, coentro, berinjela,
melão, abacaxi ornamental e flores (Rosa et al., 2001b, Correia et al., 2003, Salgado et al., 2006, Capistrano et al., 2006,
Oliveira, 2006, Correia et al., 2001, Paiva et al., 2005, Figueirêdo et al., 2010).

Resultados e Discussão
Os vários trabalhos conduzidos ao longo dos últimos dez anos na Embrapa Agroindústria Tropical e instituições
parceiras resultaram no processo otimizado de produção de pó e fibra da casca de coco verde, descrito nas etapas descritas a
seguir:
Trituração - Nesta etapa as cascas inteiras ou cortadas são processadas pela máquina trituradora, obtendo-se um
material com a umidade da casca in natura, composto da fibra, pó e restos do endocarpo e albúmen triturados. Utiliza-se um

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triturador de casca de coco verde cujo elemento cortante é constituído de facas rotativas em disco fatiando a casca que, em
seguida, passa por marteletes fixos, movidos por um motor de 30 cv.
Prensagem - A casca de coco verde tem alta concentração de sais em níveis tóxicos para o cultivo de várias espécies
vegetais, sendo necessária sua prensagem. Segundo Prisco & O’leary (1970), elevados teores de sais podem causar danos ao
desenvolvimento de espécies vegetais devido aos efeitos osmótico e tóxico dos íons. Para o caso de culturas mais sensíveis
à salinidade, esse valor deverá situar-se em níveis abaixo de 1,0 dS/m (Ayers & Westcot, 1991). Dessa forma, foi utilizada
uma prensa rotativa horizontal composta por um conjunto de três rolos emborrachados, movidos por um motor de 5 cv.
A casca de coco verde tem 80% de umidade e a maior parte dos sais se encontra em solução. A extração de parte desta
umidade via compressão mecânica possibilita a redução da salinidade de 4,7 dS/m, observada na casca antes do
beneficiamento, para próximo de 1,3 dS/m. Assim, obtém-se uma redução na necessidade de água para o processo posterior
de lavagem. Ao final da prensagem a umidade é reduzida para cerca de 50%.
Como subproduto da prensagem, obtém-se o Líquido da Casca de Coco Verde (LCCV), que possui açúcares
fermentescíveis, compostos fenólicos, cátions (cálcio, magnésio, potássio e sódio) e ânions (cloreto, bicarbonato e sulfato)
(Tabela 1), além de elevados valores de DQO e DBO. Tais características indicam a necessidade de tratamento adequado
para esta água residuária gerada no processo de beneficiamento da casca de coco verde.

Tabela 1. Caracterização química e físico-química do líquido da casca de coco verde, coletado em três locais de
processamento (Teores solúveis).
Mg K Na Cl N-NH4 N-NO3
Amostras pH CE Ca -1 -1
- - - - - - - dS m - - - - - - - - - - - - - - mg L - - - - - - -
Coobcoco-1 5,1 9,4 93,6 299,7 2456,0 570 4048,8 1,6 0,6
Coobcoco-2 4,1 7,5 83,2 183,2 1864,0 650 3990,0 6,0 3,2
Coobcoco-3 5,2 8,5 52,0 206,0 2029,8 527 1595,3 9,0 3,5
Abracoco 4,0 9,1 73,4 222,8 2555,2 260 3739,4 5,2 2,8
CNPAT-1 5,3 8,0 84,5 141,8 2331,0 214 3598,2 3,3 1,2
CNPAT-2 4,8 8,5 82,1 186,7 2240,2 240 4031,7 3,9 1,8
CNPAT-3 4,8 8,4 105,9 166,4 2205,0 260 4218,6 3,1 1,5
Média 4,8 8,5 82,1 200,9 2240,2 388,7 4031,7 4,8 2,1
Fonte: L.A.Crisostomo, dados não publicados.

Classificação - Após a prensagem, as fibras são separadas do pó em uma máquina classificadora, que utiliza marteletes
fixos helicoidais e uma chapa perfurada com malha de 2,54 cm (1 polegada). O pó selecionado cai na base da máquina,
podendo ser recepcionado em caixas plásticas, carrinhos adaptados ou mesmo no chão. O rendimento do processo até este
ponto é apresentado na Tabela 2. Nas etapas subseqüentes, o pó e a fibra seguem rotas distintas de processamento até a
obtenção de suas formas de apresentação comercial.

Tabela 2. Rendimento do processo de separação de pó e da fibra da casca de coco verde.


Item Rendimento %
Pó Bruto (50% de umidade) 33,3
Fibra Bruta (30% umidade) 15,1
Casquilhos (50% de umidade) 5,1
LCCV 39,3
Resíduos 7,2
Fonte: Dados da pesquisa

Processamento do pó
As etapas seguintes se referem ao processamento do pó da casca de coco verde e têm por objetivo melhorar as
características de salinidade, estabilidade, granulometria, umidade e sanidade do material.
Lavagem - O pó da casca do coco verde obtido após a etapa de classificação tem condutividade elétrica do extrato 1:1,5
ao redor de 1,3 dS/m. Como citado anteriormente, o substrato agrícola deve ter salinidade próxima a 1,0 dS/m. No entanto,
como ao pó de casca de coco ainda serão adicionadas fontes de nutrientes na forma de fertilizantes químicos ou orgânicos,
que irão aumentar a salinidade do substrato, a condutividade elétrica do pó deve se situar abaixo de 0,5 dS/m. Para atingir

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este nível de salinidade é necessária a realização de uma lavagem do pó com água limpa na proporção volumétrica de 1:1
durante um período mínimo de 15 min (Bezerra; Rosa, 2002; Rosa et al., 2001b). Esta lavagem é feita em caixas d’água de
fibra, ou de alvenaria. Atenção especial deve ser dada à qualidade de água usada na lavagem. A utilização de uma água com
elevada salinidade irá prejudicar ou inviabilizar a remoção dos sais do pó, que se dá por um processo de difusão. Após a
lavagem, o pó deve ser espalhado em um pátio pavimentado para secagem do excesso de umidade, que, se não removida,
poria em risco a etapa posterior da fermentação.
Fermentação - O pó da casca de coco verde possui uma relação C/N elevada, o que sugere uma baixa velocidade de
degradação. Entretanto, os altos teores de celulose e lignina conferem ao material uma boa estabilidade (Murray, 1999). Nos
primeiros dias após a sua produção, ainda se observa alta atividade fermentativa no pó. Caso o pó seja utilizado neste
período, podem ser observados problemas com a imobilização de nutrientes e morte de raízes, devido às altas temperaturas
observadas durante a fermentação. Neste período, é provável que estejam sendo degradadas substâncias mais disponíveis no
material que, após consumidas, tornam a velocidade de degradação baixa e a temperatura do material equilibrada com a do
ambiente. Assim, para prevenir problemas às plantas cultivadas nos substratos elaborados com o pó da casca de coco verde
é conduzida uma etapa de fermentação controlada no processo de produção.
A uréia é utilizada como fonte de nitrogênio para acelerar a degradação dos carboidratos e gorduras mais disponíveis no
material, atingindo-se mais rapidamente o ponto de estabilização. Utiliza-se a proporção de 2 g de uréia para cada quilo de
pó (50% de umidade). O pó misturado à uréia é disposto em leiras e revolvido semanalmente durante 30 a 40 dias, ou até
que a temperatura interna da pilha de pó se equilibre próximo à temperatura ambiente.
Peneiramento - A granulometria exigida para o substrato agrícola de pó da casca de coco verde é variável de acordo
com o tipo de cultivo realizado. Desta forma, a unidade de beneficiamento deve, segundo a demanda dos clientes, peneirar o
substrato em diferentes malhas e realizar a mistura que resulte na granulometria demandada. Para tanto são utilizadas
peneiras vibratórias ou giratórias, com diâmetros de furos com as variações de 3, 5 e 10 mm.

Processamento da fibra
A fibra da casca de coco verde separada no processo de classificação segue uma rotina de preparo distinta, descrita a
seguir.
Secagem - Após a classificação, a fibra apresenta umidade de cerca de 30%, sendo que o desejado é de 18%, para evitar
problemas com perda de qualidade na armazenagem. Portanto, é necessário que se proceda a secagem ao sol por um período
de pelo menos 24h. Em locais ou épocas com pouca disponibilidade de sol, pode ser necessário o uso de secadores para
realizar esta etapa.
Reclassificação - A fibra classificada ainda possui restos do endocarpo do coco e um pouco de pó. Para conferir a
qualidade final para a comercialização é necessário que seja feito um peneiramento da fibra, separando-a das impurezas.
Para tanto, utiliza-se a própria máquina classificadora ou equipamento similar destinado especificamente para este fim.
Como sub-produto deste processo, obtêm-se fibrilas e casquilhos, que podem ser utilizados na composição de substratos
agrícolas de granulometria mais grossa, quando misturados ao pó da CCV.

Conclusões
O beneficiamento da casca de coco verde para a produção de fibra e pó se apresenta como uma importante alternativa
para o destino do resíduo gerado na industrialização e consumo da água de coco verde. Também se apresenta como uma
opção para a geração de emprego e renda, podendo inclusive ser a base para um novo segmento de negócios baseados no
aproveitamento da casca de coco verde, que tem potencial para se estender desde o setor agrícola até a indústria química.
Atualmente, há cerca de 20 empresas instaladas em diversas cidades brasileiras utilizando o processo descrito para o
beneficiamento da casca de coco verde.

Literatura Citada
Brasil. Leis, decretos, etc. 2006. Instrução Normativa N° 46, de 12 de setembro de 2006. Diário Oficial da União. Brasília,
14 de setembro de 2006.
Brasil. Leis, decretos, etc. 2007. Instrução Normativa N° 17, de 21 de maio de 2007. Diário Oficial da União. Brasília, 24 de
maio de 2007.
Capistrano, I. R. N., I. Soares, F. C. Bezerra, V. P. Pereira, 2006. Efeito da frequência de aplicação de solução nutritiva na
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Plantas. Ceplac, Ilhéus.
Correia, D., M. F. Rosa, E. R. V. Norões, e F. B. S. Araujo. 2003. Uso do pó da casca de coco na formulação de substratos
para formação de mudas enxertadas de cajueiro anão precoce. Revista Brasileira de Fruticultura 25(3):557-558.
Correia, D., M. F.; Rosa, A. T.; Cavalcanti Júnior, F. B. S. Araújo, and E. R. V. Norões, 2001. Alternative substrates for
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Figueirêdo, M. C. B, G. S. Rodrigues, A. Caldeira-Pires, M. F. Rosa, F. A. S. Aragão, V. P. P. B. Vieira, and F. S. B. Mota.


2010. Environmental performance evaluation of agro-industrial innovations e Part 1: Ambitec-LifeCycle, a methodological
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Prisco, J. T. and J. W. O’Leary, 1970. Osmotic and “toxic”effects of salinity on germination of Phaseolus vulgaris L. seeds.
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