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BENEFICIAMENTO DA CASCA DE
COCO VERDE
Edna Evangelista
Efeit o De Diferent es Subst rat os Na Germinação De Sement es e Formação Inicial De Plânt ula…
Pat ricio Borges Maracaja
LC MENEZES
Sérgio Queiroz
BENEFICIAMENTO DA CASCA DE COCO VERDE
1
ÍNDICE
INTRODUÇÃO ............................................. 3
2
1. INTRODUÇÃO
O Brasil é, sem dúvida, um dos países que possuem a maior biomassa do mundo
e a maior extensão territorial cultivável, potenciais estes que devem ser mais bem
explorados. O acentuado crescimento do agronegócio brasileiro o coloca em posição de
destaque no processo de desenvolvimento do país, sendo responsável por 22,34% do
PIB (CEPEA 2011), 43% das exportações e 37% dos empregos (AGRONEGÓCIO
BRASILEIRO, 2007). Os significativos avanços implicaram no aumento do consumo
de insumos e da geração de resíduos nas atividades agropecuárias.
Diferentemente da casca do
fruto maduro, as cascas geradas
pelo consumo do coco verde não
MESOCARPO
possuíam, há muito pouco tempo,
tecnologia adequada que
ENDOCARPO
viabilizasse seu aproveitamento. O
ÁGUA DE COCO presente capítulo reúne informações
sobre o aproveitamento da casca de
Fig.1- Estrutura do coco. coco verde, seus principais usos e
potencialidades.
3
2. COCO ‘ANÃO VERDE’
O gênero Cocus é constituído pela espécie Cocus nucifera L. que, por sua vez, é
composta por algumas variedades, entre as quais as mais importantes, do ponto de vista
agronômico, socioeconômico e agroindustrial, são as variedades Typica (var. Gigante) e
Nana (var. Anã), que se acredita ter originado de uma mutação gênica da Gigante
(FRUTAS DO BRASIL, 2002; SANTOS et al.,1996).
Estima-se que o Brasil possui uma área plantada de 100 mil hectares de
coqueiro-anão, destinados à produção do fruto verde para o consumo da água-de-coco.
As cascas geradas por este agronegócio representam 80% a 85% do peso bruto do fruto
e cerca de 70% de todo lixo gerado nas praias brasileiras representa cascas de coco
verde. Este material tem sido correntemente designado aos aterros e vazadouros sendo,
como toda matéria orgânica, potenciais emissores de gases estufa (metano), e, ainda,
contribuindo para que a vida útil desses depósitos seja diminuída, proliferando focos de
vetores transmissores de doenças, mau cheiro, possíveis contaminação do solo e corpos
d'água, além da inevitável destruição da paisagem urbana (ROSA et al., 2001a).
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3. PRINCIPAIS USOS DA CASCA DE COCO VERDE
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As propriedades físicas e químicas do pó de coco diferem entre diferentes fontes
de resíduo, em função principalmente do método usado para processar a fibra e idade do
fruto. Assim, o controle das características do material antes do uso como substrato é
de grande importância. Nesse particular, a salinidade é uma das características mais
importantes a ser controlada.
Segundo Prisco e O’leary (1970), os danos da salinidade na germinação de
sementes estão relacionados aos efeitos osmótico e tóxico dos íons. Porém, muitas
espécies/variedades apresentam diferentes graus de tolerância/sensibilidade aos efeitos
negativos dos sais durante o cultivo. O conteúdo de sais é diretamente proporcional à
condutividade elétrica (CE) do substrato. Como um ponto de referência, uma CE de 3
dS.m-1 limita o crescimento da maioria das plantas. Para o caso de culturas mais
sensíveis à salinidade, esse valor deverá situar-se em níveis abaixo de 1,0 dS.m-1
(AYERS; WESTCOT, 1991).
Estudo desenvolvido por Murray (2000), sobre amostras de pó de coco maduro
provenientes de diferentes localidades (Costa do Marfim, Costa Rica, México, Sri
Lanka e Tailândia), mostrou que a condutividade elétrica dos diferentes substratos
variou de 0,39 dS.m-1 (para amostra da Costa Rica) até 5,97 dS.m-1 (para amostra do
México).
O resíduo do coco verde é um material que também apresenta uma salinidade de
média a elevada, o que confere elevada condutividade elétrica. Nesse caso, a eficiência
da etapa de prensagem, durante o processamento das cascas, é de fundamental
importância para a adequação do nível de salinidade do pó obtido no processamento. A
casca de coco verde apresenta 85% de umidade e um conteúdo de sais em níveis tóxicos
para o cultivo de várias espécies vegetais. A extração desta umidade, via compressão
mecânica, possibilita a extração conjunta de uma grande quantidade de sais solúveis.
Este aspecto impõe que a casca do coco verde seja processada o quanto antes possível
após o consumo ou retirada da água de coco. Adicionalmente, um programa adequado
de lavagem, por imersão do substrato em igual volume de água durante um curto
período de tempo (15 min), mostrou-se eficaz na remoção de sais solúveis da casca de
coco verde e conseqüente redução da condutividade elétrica (BEZERRA; ROSA, 2002;
ROSA et al., 2001b). Atenção especial deve ser dada à qualidade de água usada na
lavagem.
A utilização do pó/fibra de coco na horticultura depende dos tratamentos
dispensados ao material, quais sejam: tempo de estabilização do produto, número de
lavagens realizadas, conteúdo de sais solúveis indesejáveis, enriquecimento com
fertilizantes, adição de outros componentes para aumentar ou diminuir a aeração e
retenção de água, etc.
Para a comercialização, o produto deverá ser homogêneo e padronizado de modo
a assegurar ao usuário um certo grau de qualidade e confiabilidade. Em geral, o pó de
coco pode ser comercializado em sacos ou em ladrilhos (prensado).
Buscando proporcionar informação padronizada aos usuários de substratos para
plantas, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, por meio da Secretaria
de Defesa Agropecuária, expediu a Instrução Normativa Nº 46 de 12 de setembro de
2006, com a finalidade precípua de aprovar os métodos analíticos oficiais para análise
de substratos e condicionadores de solos. Para tanto, todo e qualquer material a ser
comercializado deverá ser analisado com respeito à: umidade atual, densidade,
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capacidade de retenção de umidade a 10 cm (CRA 10), pH, condutividade elétrica (CE)
e capacidade de troca de cátions (CTC). A análise do pH e da CE deverá ser realizada
numa suspensão 1+5 (V : V) de substrato : água. A granulometria e a extração de outros
nutrientes solúveis poderá ser determinada, porém não é exigênica legal, apesar de
serem de grande valia para os usuários. Nas Tabelas 1 e 2 são apresentados alguns
resultados analíticos realizados em amostras de pó/fibra de coco verde processado na
Usina de Beneficiamento de Coco Verde, localizada em Jangurussu, Ceará.
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Tabela 1. Características de amostras de pó de coco verde processadas (peneirada em
tamiz de malha quadrada com 5mm de abertura) na Usina de Beneficiamento de Coco
Verde do Jangurussu, Ceará
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Tabela 2. Características de amostras de pó de coco verde processadas (peneirada em
tamiz de malha quadrada com 10 mm de abertura) na Usina de
Beneficiamento de Coco Verde do Jangurussu, Ceará
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O uso predominante do pó de coco como substrato agrícola se dá como meio
inerte; ou seja, funcionando apenas como sustentação para o desenvolvimento de
plantas e não como fornecedor de nutrientes para a planta. A exemplo do que já ocorre
com o coco maduro, o uso das cascas do coco verde na forma de substrato agrícola
inerte já é uma realidade, sendo utilizado como meio de crescimento ou componente de
crescimento para produção de plantas. As boas características agronômicas do substrato
a base de coco verde foram atestadas no cultivo de mudas de alface, caju, tomate,
pimentão, coentro, berinjela, melão, abacaxi ornamental e flores (ROSA et al., 2001b,
CORREIA et al., 2003, SALGADO et al., 2006, CAPISTRANO et al., 2006,
OLIVEIRA et al., 2006, CORREIA et al., 2001, BRÍGIDO et al., 2002 PAIVA et al.,
2005). As Figuras 4, 5, 6, 7 e 8 ilustram alguns desses testes.
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Figura 8 – Muda de melão cultivada em substrato de coco verde.
Tabela 3 – Preços médios e quantidades de pó/fibra de coco exportado pelo Sri Lanka
no período de 2000 a 2006, em US$ FOB.
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
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3.2. Fibras
Fibra Branca
Índia 120,0 121,8 112,0 112,0 112,0 100,0 96,0
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No Brasil a tecnologia de aproveitamento da casca de coco seco já é conhecida e
utilizada há algum tempo. As principais empresas que atuam no mercado de derivados
da casca de coco seco têm entre 30 e 15 anos de existência. No entanto, a produção
nacional ainda se destina principalmente ao mercado interno. As exportações só
começam a ser observadas nos últimos cinco anos (Tabela 6), caracterizadas
principalmente pela exportação de mantas geotêxteis. Tal fato também pode ser
atribuído ao fato de que os preços internacionais para a fibra em 2004 se encontravam a
US$/t 185,00 para a fibra bruta e US$/t 207,00 para o pó (FAO, 2006). Neste período
estes produtos eram comercializados no Brasil em média a US$/t 360,00 e US$/t 220,00
respectivamente, sendo que o substrato agrícola comercializado pela líder de mercado
atingia os US$/t 360,00.
As fibras de coco verde apresentam-se como mais uma opção para este nicho do
mercado e seu uso vem sendo atestado positivamente com resultados equivalentes aos
obtidos com a fibra do coco maduro.
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alongamento e capacidade de reforço mediana, porém com possibilidades de aumento
de desempenho da interação fibra-matriz devido à ação aglutinante da lignina. A ação
do calor na formação do compósito tende a aumentar tal capacidade de interação.
Apesar do baixo teor de celulose, a estrutura da fibra é bem fechada, devendo ser esta a
razão de sua melhor resistência à ação dos álcalis do que fibras de alto teor de celulose
(REDDY; YANG, 2005; VAN DAM, 2004).
Estudo desenvolvido por Vale et al. (2006) sobre a viabilidade do uso de fibras
de coco verde em misturas asfálticas detectou sua boa eficiência com relação ao
escorrimento, apresentando resultados similares aos tradicionalmente obtidos com
celulose.
Além dos usos já citados, a fibra da casca de coco verde pode ser utilizada na
confecção de vasos, placas e bastões para o cultivo de diversas espécies vegetais. Além
de substituírem os produtos tradicionais a base de barro, cimento e plástico, também se
apresentam como uma alternativa aos subprodutos extraídos da samambaiaçu
(Dicksonia sellowiana), buscando a inserção no mercado ocupado hoje pelo xaxim, que
é um produto de exploração cada vez mais restrita pela legislação brasileira.
A confecção de artesanatos variados também representa uma importante forma
de aproveitamento não apenas da fibra mas também do pó da casca de coco verde,
podendo originar uma grande gama de itens, haja visto que o Brasil tem sido cada vez
mais um importante destino para os turistas de outros países, grandes consumidores
deste tipo de produto.
Cobertura morta
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A casca do coco verde possui teores de potássio, cálcio e nitrogênio (ROSA et
al., 2002) que podem contribuir de forma positiva para a adubação das culturas. Por
outro lado, o material pode apresentar níveis tóxicos de tanino, de cloreto de potássio e
de sódio (CARRIJO et al., 2002), cuja acumulação pode causar alterações das
propriedades químicas e físicas do solo. O fato sugere que a aplicação da casca de coco
verde em cobertura morta deve ser acompanhada do monitoramento contínuo da
salinidade do solo, a fim de prevenir futuras alterações nas propriedades físicas e
químicas do solo e danos para a cultura (MIRANDA et al., 2007).
Estudo realizado por Miranda et al. (2004) mostrou que o uso da casca de coco
verde como cobertura morta em coqueiros alterou o regime térmico do solo, reduzindo a
variação da temperatura ao longo do dia em relação ao solo sem cobertura, em todas as
profundidades estudadas, principalmente próximo à superfície. A cobertura com a casca
de coco verde funcionou como uma camada de isolamento térmico, reduzindo o
aquecimento do solo durante o dia e a perda de calor para a atmosfera durante a noite,
evidenciando ser tão efetiva na redução da temperatura máxima e da amplitude térmica
do solo quanto outros materiais vegetais.
Outras potencialidades
Características microscópicas fazem do pó de coco um excelente adsorvente,
abrindo possibilidades de uso na área de bioremediação de solos e biosorção de metais
pesados (SOUSA et al., 2007, PINO et al., 2006), e ainda, como substrato para cama de
animais de laboratório (FARIAS et al., 2005).
Os resultados obtidos até o momento indicam que o LCCV tem teor de taninos
condensados capaz de viabilizar a elaboração de adesivos; teor de açúcares que o torna
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factível de ser usado como meio de fermentação e conteúdo de potássio que possibilita
seu uso na fertirrigação de culturas, sobretudo aquelas tolerantes a alta salinidade, em
razão da sua alta condutividade elétrica.
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4.1. Produção de pó e fibra da casca de coco verde
TRITURAÇÃO
LCCV PRENSAGEM
CLASSIFICAÇÃO
MOAGEM ENFARDAMENTO
FORMULAÇÃO
Etapas de processamento
ARMAZENAGEM Subprodutos / Resíduos
EXPEDIÇÃO
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4.1.1. Coleta da Casca de Coco Verde e Transporte
Ao chegarem à unidade de beneficiamento, os caminhões carregados de casca de
coco verde (CCV), se possível, deverão ser pesados. No mercado existem vários
modelos de balanças para caminhão, o tipo mais adequado deverá ser definido em
função do tipo de veículo que fará o transporte das cascas. Neste momento também será
realizada a identificação da origem do material, tipo (inteiro ou bandas), data de
recepção e outras informações relevantes ao controle do fluxo de entrada de CCV na
unidade de processamento. O controle permitirá obter informações úteis ao processo de
planejamento, pois possibilita conhecer melhor a dinâmica de geração de casca nos
pontos de fornecimento, dias da semana e meses do ano com maior volume de
produção, possibilitando o planejamento da produção e da formação de estoques.
Também possibilita verificar a produtividade da fábrica e eliminar possíveis fontes de
desperdício.
A casca de coco deve chegar à unidade de beneficiamento em até três dias após a
extração da água. Esse procedimento visa elevar a qualidade dos produtos finais (pó e
fibra), pois a desidratação da casca aumenta a sua densidade e prejudica as etapas
seguintes do processamento, reduzindo a eficiência da retirada dos sais na etapa de
prensagem e da separação das fibras na etapa de classificação.
Após a pesagem o caminhão deverá despejar a carga na moega de recepção.
A moega de recepção tem uma declividade que conduz a matéria prima para
esteira de alimentação, que a elevará para a entrada da linha de processamento. Neste
momento deve ser feita a retirada de material estranho ao processamento como,
canudos, plásticos, pedras, cascas ressecadas podres etc. É importante também que seja
mantido um fluxo uniforme de alimentação da linha de processamento para garantir a
eficiência da etapa de prensagem.
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A alimentação da esteira deve obedecer à vazão obtida na etapa de prensagem.
Caso o volume seja muito pequeno a prensagem se torna pouco eficiente e a retirada dos
sais, bem como a etapa de classificação são prejudicadas. Se o volume de cascas é
maior que a capacidade de prensagem, irá ocorrer um acúmulo de material triturado na
entrada da prensa e ocorrerá o travamento da mesma ou “embuchamento”. Para
controlar a velocidade de alimentação existem três formas:
1. Manualmente controlar o número e tamanho de cascas que entram na máquina;
2. Redução do número de pás/ganchos da esteira de alimentação; e
3. Controle da velocidade da esteira de alimentação
Os modelos de equipamentos mais novos permitem o controle de velocidade da
esteira de alimentação, o que facilita sobremaneira este ajuste da alimentação. No
entanto em casos de embuchamento constante podem ser retiradas pás/ganchos da
esteira numa distribuição uniforme. Estas duas formas de controle do fluxo de
alimentação não substituem a primeira. O monitoramento da esteira deve ser feito
constantemente, tanto para evitar a entrada de materiais estranhos ao processamento,
com dito anteriormente, como para retirar cascas muito grandes ou acumuladas nas pás
da esteira.
4.1.2. Trituração
Nesta etapa as cascas inteiras ou cortadas são processadas pela máquina
trituradora de CCV, essa possui um rolo de facas fixas que trituram as cascas. Ao final
dessa etapa se obtém a CCV desintegrada. A trituradora da com facas fixas minimiza o
corte das fibras, viabilizando a separação e o aproveitamento posterior das fibras longas.
Este procedimento possibilita a realização das etapas seguintes de prensagem e
classificação.
Existem no mercado outros equipamentos para triturar a casca de coco. Podemos
agrupá-los segundo suas ferramentas de corte: Disco e facas, Discos de corte alternados,
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e moinhos universais. Estes equipamentos trituram integralmente a casca de coco verde
e são úteis em sistemas onde o aproveitamento da fibra não é requerido.
4.1.3. Prensagem
A casca de coco tem alta concentração de sais em níveis tóxicos para o cultivo
de várias espécies vegetais. Segundo Prisco & Oleary (1970), os danos da salinidade na
germinação de sementes estão relacionados aos efeitos osmótico e tóxico dos íons.
Porém, muitas espécies/variedades apresentam diferentes graus de
tolerância/sensibilidade aos efeitos negativos dos sais durante o cultivo. Como um ponto
de referência, uma CE de 3 dS/m limita o crescimento da maioria das plantas. Para o
caso de culturas mais sensíveis à salinidade, esse valor deverá situar-se em níveis abaixo
de 1,0 dS/m (Ayers & Westcot, 1991).
A casca de coco verde tem 80% de umidade e a maior parte dos sais se encontra
em solução. A extração de parte desta umidade via compressão mecânica possibilita a
redução da salinidade de 4,7 dS/m, observada na casca antes do beneficiamento, para
próximo de 1,3 dS/m. Assim obtém-se uma redução na necessidade de água para o
processo de lavagem que irá reduzir a salinidade para próximo de 0,3 dS/m.
A CCV desintegrada é prensada num prensa de rolos horizontais. Ao final da
prensagem são obtidas as cascas desintegradas com a umidade reduzida, e o líquido da
casca de coco verde (LCCV), numa proporção de 30% do peso inicial de cascas
processadas é extraído na forma de LCCV, cuja composição possui açúcares
fermentescíveis, compostos fenólicos, cátions (cálcio, magnésio, potássio e sódio) e
ânions (cloreto, bicarbonato e sulfato), além de elevados valores de DQO e DBO. Tais
características indicam a necessidade de tratamento adequado para esta água residuária
gerada no processo de beneficiamento da casca de coco verde.
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Na Tabela 1, observam-se os resultados de uma caracterização do líquido de
casca de coco verde, proveniente do estado do Ceará.
4.1.4. Classificação
Após a prensagem são separadas as fibras do pó na máquina classificadora com
um rolo de facas fixas e uma chapa perfurada. O material é turbilhonado ao longo do
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eixo da máquina, o que faz com que o pó caia pela chapa perfurada e a fibra saia no fim
do percurso. É necessário que o operador, com um rodo de borracha ou vassoura,
auxilie na descarga do pó, operação que deve ser procedida de 5 em cinco minutos,
conforme os orifícios da tela comecem a ficar obstruído dificultando a saída do pó.
O pó selecionado cai na base da máquina, podendo ser recepcionado em caixas
plásticas, carrinhos adaptados ou mesmo no chão. Nos dois primeiros casos os
recipientes são trocados sempre que os estejam cheios e trocados imediatamente por
outros vazios. No terceiro caso de forma contínua o operador faz a raspagem do pó com
um rodo, puxando o material para uma pilha de onde posteriormente será levado para a
etapa de lavagem.
Nas etapas subseqüentes o pó e a fibra seguem rotas distintas de processamento
até a obtenção do substrato agrícola e da fibra bruta de casca de coco verde em suas
formas de apresentação comercial.
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4.2. PRODUÇÃO DE SUBSTRATO AGRÍCOLA
4.2.1. Lavagem
O pó da CCV obtido após a etapa de classificação tem condutividade elétrica
entre 1,3 dS/m. Como citado anteriormente o substrato agrícola deve ter salinidade
próxima a 1,0 dS/m, no entanto como ao pó de casca de coco ainda serão adicionadas
fontes de nutrientes na forma de adubos químicos ou orgânicos, que irão aumentar
novamente a salinidade do substrato, a condutividade elétrica do pó deve se situa em
trono de 0,5 dS/m. Para atingir este nível de salinidade é necessária a realização de uma
lavagem do pó com água limpa (com condutividade inferior a 0,3 dS/m) na proporção
volumétrica de 1:1. Esta lavagem é feita em caixas d’água de fibra, ou de alvenaria, que
são preenchidas com pó até a metade de seu volume, em seguida adiciona-se água até o
enchimento por completo da caixa. Estando a caixa cheia com o pó e a água é feito um
revolvimento do material, ou com o auxilio de uma haste de metal ou madeira. O pó
deve ficar na água por cerca de 15 minutos. Depois retirado o tampão da saída de água
da caixa, deixando-se escoar a mesma.
A saída de água deve estar protegida por um elemento filtrante para evitar a
perda de pó. Obtivemos bons resultados com a utilização de uma camada de 30 a 50cm
de fibra da casca de coco, com forme a figura a seguir.
4.2.2. Fermentação
O pó da casca de coco verde possui uma relação C / N elevada, o que confere ao
substrato da casca de coco verde uma boa estabilidade. No entanto, nos primeiros dias
após a sua produção ainda se observa atividade fermentativa no pó. Caso o pó seja
utilizado neste período podem ser observados problemas com a imobilização de
nutrientes e morte de raízes, devido às altas temperaturas observadas durante a
fermentação. Para prevenir estes problemas o pó é acondicionado em baias de
fermentação e revolvido semanalmente por 60 dias, ou até que a temperatura interna da
pilha de pó se equilibre à temperatura ambiente (gráfico 1), o que pode ser medido com
um termômetro de haste. As medições de temperatura devem ser feitas pelo menos três
vezes por semana.
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Gráfico 1. Comportamento da temperatura de uma leira de compostagem.
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A etapa de fermentação ou compostagem do pó é fundamental para a qualidade
do substrato. Desta forma, é de fundamental importância que os lotes de pó seja
identificados com o número da leira onde se encontram no momento, dia de início da
incubação, dosagem de uréia aplicada, evolução da temperatura da pilha e
condutividade elétrica do pó ao ser incubado. Essas informações devem ser atualizadas,
no mínimo, a cada revolvimento do material.
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4.2.4. Moagem
O pó obtido na etapa de classificação ainda traz uma parcela importante de fibras
de diversos comprimentos. Essa desuniformidade do produto pode gerar vários
problemas no momento de sua utilização. O pó tende a se separar das fibras mais
longas, descendo no perfil dos vasos maiores, aumentando a densidade e reduzindo a
aeração na porção inferior do mesmo, o que pode gerar problemas para o
desenvolvimento das raízes das plantas.
Uma forma de solucionar este problema é reduzir o comprimento das fibras,
melhorando a estabilidade da mistura pó/fibra. Para tanto é utilizado um moinho de
facas paralelas, que irá reduzir as fibras a menos que 2cm de comprimento.
O moinho tem maior eficiência quanto é alimentado com o pó de coco com
umidades inferiores a 50%, quanto mais seco melhor. Dessa forma pode ser necessária
uma secagem ao sol após a etapa de compostagem.
4.2.5. Peneiramento
A granulometria exigida para o substrato agrícola de pó da casca de coco verde é
variável de acordo com o tipo de cultivo realizado. No cultivo de mudas em pequenas
células é necessário um substrato fino, composto apenas pelo pó. Em cultivos de plantas
ornamentais ou hortaliças feitos em gandes vasos (também se aplica para sacos, calhas e
bolsas de cultivo) o substrato deve ter uma granulometria mais grossa, sendo composto
em parte por fibrilas, evitando assim problemas futuros com a aeração. Desta forma, a
unidade de beneficiamento deve, segundo a demanda dos clientes, peneirar o substrato
em diferentes malhas e realizar a mistura que resulte na granulometria demandada.
Após a secagem este processo se
torna mais eficiente e em escalas menores
pode ser feito com peneiras manuais. No
entanto, em unidade que atuem na capacidade
de seu equipamento é recomendável a
aquisição de peneiras vibratórias ou
giratórias, com diâmetros de furos com as
variações de 5, 10 e 20mm, que possibilitarão
agilidade no beneficiamento, economia de
mão de obra e o atendimento da maioria das
demandas de granulometria dos substratos
utilizados. Figura 20. Peneira rotativa.
Algumas demandas podem exigir a mistura de material, que tenha passado por
diferentes peneiras. Nesses casos é interessante que o cliente envie uma amostra do
material de referência, para que este seja analisado em um laboratório de solos. De
posse da caracterização granulométrica do material é possível realizar a formulação
necessária.
4.2.6. Formulação
O substrato da casca de coco verde é considerado inerte pelos baixos níveis de
nutrientes e sua alta relação C/N, que torna a degradação da matéria orgânica muito
lenta. Desta forma, o substrato normalmente é utilizado em combinação com outras
fontes de nutrientes, sejam elas orgânicas ou concentradas. Essa forma de uso faz com
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que parte do mercado demande substratos “formulados” na origem. A adição de
nutrientes, ou formulação, pode ser feita em conformidade com a demanda do cliente
após a etapa de peneiramento.
Para proceder a formulação é necessário que o substrato seja enviado a um
laboratório de análise de solo que esteja habituado a analisar substratos. O resultado das
análises de fertilidade devem ser apresentados a um técnico especialista em fertilidade
de solos para que o mesmo proceda os cálculos das necessidades de correção do
substrato, fornecendo assim as proporções das fontes de nutrientes que irão ser
utilizadas na formulação.
As fontes de nutrientes podem ser misturadas ao substrato na forma sólida, para
tanto é necessária a utilização de um misturador mecânico, do tipo utilizado em fábricas
de ração animal. Outra forma, para menores quantidades é a utilização de fontes
solúveis de nutrientes, como as utilizadas em fertirrigação. Os fertilizantes são
dissolvidos em água, produzindo-se assim uma calda. O pó é disposto no pátio de
secagem em uma camada uniforme de 5 a 8 cm de espessura, então é distribuída
uniformemente a calda sobre o pó com o uso de um regador e feita a homogeneização
do mesmo com uma enxada. Deve ser utilizado o mínimo possível de água para
dissolução dos fertilizantes e para a distribuição uniforme sobre a camada de pó.
4.2.7. Embalagem
O substrato agrícola é comercializado usualmente em sacaria de ráfia ou sacos
plásticos com espessura de 15 micras. O tamanho das embalagens varia conforme o
mercado pretendido. O mercado de uso doméstico usualmente aceita melhor
embalagens com até 5 litros de substrato e o mercado agrícola faz uso de embalagens de
100 litros. O ensacamento será feito de forma manual com o auxílio de uma balança. O
fechamento dos sacos de ráfia será feito com costura e as embalagens plásticas serão
seladas em seladoras elétricas.
4.2.8. Armazenamento
Após embalados os produtos deverão ser armazenados empilhados sobre pallets,
evitando o contato com o piso, o que poderia transferir umidade ao material. Cada metro
cúbico comporta 12 sacos empilhados e cada saco contém 30 kg de pó de coco a 30%
de umidade, desta forma são necessários, aproximadamente 3m3 para a armazenagem de
1.000kg de pó. Considerando 4m de altura para o empilhamento, temos 0,75m2 de área
útil para cada tonelada de pó armazenada.
4.3.1. Secagem
A fibra que sai do classificador com umidade acima do desejado que é 18%.
Desta forma é necessário que se proceda sua secagem ao sol. Nesta etapa é importante
observar que a fibra não deve passar a noite exposta em céu aberto para que não seja
reumidificada pelo orvalho.
Em locais ou épocas com pouca disponibilidade de sol, pode ser necessário o
uso do secador para realizar esta etapa. Para tanto pode ser utilizado o mesmo secador já
dimensionado para o pó, mas é necessário que no momento de sua aquisição/construção
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seja previsto este caso, evitando assim alguns modelos específicos para pó, como os
secadores de fluxo concorrente, comumente utilizados em fábricas de ração animal.
4.3.2. Reclassificação
A fibra que sai da classificadora ainda vem com alguns restos do endocarpo do
coco e com um pouco de pó. Para conferir a qualidade final para a comercialização é
necessário que seja feito um peneiramento da fibra, separando-a das impurezas. Para
tanto será utilizada a própria máquina classificadora. É feita a desacoplagem da esteira
de alimentação que a liga ao restante da linha de processamento e alimenta-se a
classificadora com a fibra seca de forma manual. Como sub-produto deste processo
obtêm-se fibrilas e casquilhos, que podem ser utilizador na composição de substratos
agrícolas de granulometria mais grossa quando misturados ao pó da CCV.
Para não ter de parar a linha principal de processamento pode ser necessária a
aquisição de uma peneira rotativa específica para realizar a etapa de reclassificação da
fibra.
4.3.3. Enfardamento
A fibra é muito pouco densa. Desta forma, para reduzir os custos com seu
transporte é feita a compactação e o enfardamento do material. Existem diferentes
modelos de prensa que podem realizar esta etapa, mas o mais comum é o uso de prensas
hidráulicas verticais com carga no pistão de pelo menos 20 ton. A câmara da prensa é
preenchida com a fibra, aciona-se o pistão da prensa, em seguida eleva-se novamente o
pistão e repetem-se as etapas anteriores até que o fardo tenha as dimensões desejadas e a
densidade próxima de 700 kg/m3. O amarrio é feito com arame grosso, a exemplo dos
fardos de algodão.
4.3.4. Armazenamento
Os fardos deverão ser armazenados empilhados sobre pallets, evitando o contato com o
piso que poderia transferir umidade ao material. Cada metro cúbico de fibra enfardada
em prensa de 10 toneladas representa 330 kg de fibra. Desta forma para armazenar uma
tonelada de fibra de coco são necessários cerca de 3m3, com altura de empilhamento de
4m seriam necessários 0,75m2.
5.1. Recepção
A moega de recepção deve ter dimensões suficientes para receber a carga de um
caminhão por vez e ter seu piso em declive (10%) para facilitar o escoamento das cascas
28
até a boca de saída da moega. A construção deve ser feita em alvenaria e concreto com
o revestimento cimentado natural.
A boca de descarga da moega deve estar localizada sobre a esteira de alimentação
da trituradora de cascas possibilitando a alimentação automática da máquina.
1. Elevador com esteira conduzida por moto redutor (mod moto via) de 1:60 e motor
de 0,5 cv IV pólos. Dimensões: L:0,90 C:1,40 A:1,65 P:80 Kg. Produção 1500 a
2000 cocos/hora
2. Triturador de Coco Verde motor de 20 cv II pólos. Dimensões: L:0,91 C:1,20
A:1,30 P:300 Kg. Produção 2500 a 3500 cocos/hora
3. Prensa Rotativa Horizontal motor de 3 cv IV pólos moto redutor de 1:40.
Dimensões: L: 0,70 C: 1,00 A: 1,20 P: 300 Kg. Produção 15000 a 18000 kg coco
verde por dia.
4. Classificador de Fibra e Pó motor de 10 cv II pólos. Dimensões: L: 0,60 C: 1,60 A:
1,90 P:300 kg. Classifica 15000 a 18000 de Pó e Fibra por dia.
29
A água resultante do processo de lavagem do pó deve ser canalizada para a
estação elevatória que levará o líquido para a estação de tratamento de efluentes ou para
a rede de esgotamento sanitário.
2. Prensa Hidráulica 20 T para Fibra do Coco. Dois cilindros hidráulicos, dupla ação.
Haste de 2” x 0,90. Um comando dois elementos. Motor de 5cv II pólos.
Dimensões: L:1,12 C:4,20 A:1,35 P:500 Kg. Produção estimada 20 a 24 fardos por
dia de dimensão: 0,60x0,75x0,75 com peso de 40 a 60 kg.
5.7. Secador
Existem no mercado diversos tipos de secadores para este tipo de material, aqui
recomendamos secadores contínuos do tipo tubular ou secadores tipo barcaça. O
primeiro oferece vantagens de produtividade e uniformidade do processo de secagem e
o segundo tem vantagens de custo inferior de instalação. Ambos podem ter como fonte
de aquecimento a lenha ou a queima de gás natural ou GLP. As especificações da área
de construção destinada a cada um dos equipamentos variarão conforme o fornecedor.
30
5.9. Sistema de tratamento de efluentes
A elevada concentração de matéria orgânica torna o líquido da casca do coco
verde (LCCV) adequado para o tratamento anaeróbio, onde pode ser utilizado sistemas
de alta taxa como os reatores anaeróbios de fluxo ascendente (RAFA ou UASB), ou
sistemas de baixa taxa como as lagoas anaeróbia, dependendo da disponibilidade de
área e mão de obra especializada para operação do sistema de tratamento. Vale ressaltar
que, embora reatores anaeróbios possam ser operados com elevadas cargas orgânicas,
eles não conseguem produzir efluente com parâmetros adequados para ser dispostos no
meio ambiente, necessitando de pós-tratamento. Para tanto, podem ser utilizados
sistemas aeróbios (lagoas de facultativas, de maturação ou polimento, lodos ativados)
ou processos como leitos de secagem e disposição no solo. Deve-se levar em conta que
sistemas de tratamento têm custo elevado, sendo necessário um estudo caso a caso para
a adoção da solução ótima.
6. OPERANDO OS EQUIPAMENTOS
Tendo sido confirmado que as máquinas não tem mais produto em seu interior o
operador irá começar o desligamento na seguinte ordem:
1. Esteira
2. Triturador
3. Prensa
4. Classificador
31
Tabela 5. Ordem de partida e desligamento das máquinas.
Ordem de Máquina Ordem de
Partida Desligamento
1º A – Selecionadora 4º
2º B - Prensa 3º
3º C – Triturador 2º
4º D - Esteira 1º
6.1. Manutenção
Os equipamentos de beneficiamento de casca de coco verde são robustos, mas
operam em condições de grande esforço mecânico. Dessa forma a manutenção
constante é fundamental para que se evite quebras e ampliando a vida útil dos
equipamentos, reduzindo assim custos e evitando acidentes.
32
2. Ao final de cada dia deverá ser feita a lubrificação dos mancais e correntes,
observando o estado dos gracheiros, rolamentos, engrenagens e partes que
necessitem reaperto.
3. Verificar se ficou algum material acumulado no interior dos equipamentos.
33
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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