Você está na página 1de 12

Faculdade de Ciências

Departamento de Ciências Biológicas

Curso de Biologia Aplicada

Culminação I

Tema: Cultivo de cogumelos comestíveis indígenas

Estudo de viabilidade da casca de Mafurra (Trichilia emetica) como substrato para o


cultivo de cogumelos comestíveis

Discente Orientadora

Lavomó Pedro Simango Msc Mariamo Parruque

Maputo, Abril, 2024


1
Índice

2
Resultados i. Sinopse

Maior produtividade no substrato preparado à base da casca de mafurra em


esperados
relação aos demais substratos ou, uma produtividade comparável à do bagaço
de cana-de-açúcar.

Um pedaço do micélio de uma espécie do cogumelo escolhido será inoculado


Metodologia

no meio BDA e MA. Após o crescimento no meio de cultura, o fungo será


inoculado na semente, “Spawn”, de sorgo. Uma vez colonizado, o Spawn será
introduzido em três substratos: de cana-de-açúcar; de casca de mafurra e de
palha de feijão nhemba, para o crescimento e frutificação.

1.
1. A casca de mafurra favorece o crescimento de cogumelos comestíveis
Hipoteses

nativos de Moçambique;

2. A casca de mafurra não é viável para o crescimento de cogumelos.

Produzir uma cultura pura de macrofungos;

Preparar a semente, “Spawn”, para o crescimento de cogumelos;


Objectivos

Comparar a produtividade de alguns resíduos agrícolas em culturas de fungos;

Avaliar a viabilidade da casca de mafurra no cultivo de cogumelos.

A mafurra é um fruto muito usada como alimento e para extracção e uso do seu
Problema

óleo em Moçambique. A sua casca não é aproveitada, é sim, descartada para o


meio ambiente. Sendo esta um resíduo ligninocelulósico, pode ser usada para o
cultivo de cogumelos?

3
1. Introdução

Os materiais ligninocelulósicos são os materiais mais abundantes da Biosfera, representando


aproximadamente 60% da biomassa vegetal (Urben e Oliveira, 2016). A Organização das
Nações Para a Alimentação e Agricultura (FAO), estima que a produção mundial de resíduos
agro-industriais atinja 1,3 bilhões de toneladas por ano, sendo que 1/3 dos alimentos
potencialmente destinados ao consumo humano são desperdiçados, seja como resíduos
oriundos do processamento, ou como perca na cadeia produtiva (Nascimento et al. 2020).

O aumento da actividade agrícola gera grande quantidade de resíduos provenientes dos


processos deste sistema de produção. Os fungos são fundamentais para o funcionamento dos
ecossistemas, sendo decompositores primários da matéria orgânica e responsáveis pela
reciclagem de nutrientes. Junto com as bactérias heterotróficas, os fungos são os principais
decompositores do planeta e são, ainda, responsáveis pela decomposição da lignina (Santos,
2015). Os resíduos agro-industriais são classificados como biomassa ligninocelulósica, onde
a ligninocelulose é o principal componente da biomassa vegetal, composta principalmente
por celulose, hemicelulose e lignina (Nascimento et al. 2020). Com o exacerbado descarte de
resíduos no meio ambiente, e visando diminuir os custos de produção, processos
biotecnológicos procuram utilizar esses resíduos como substratos no cultivo de cogumelos
comestíveis (Silva et al. 2021).

Os cogumelos são conhecidos pela Humanidade desde os primórdios da sua história, seja
pela sua toxicidade, que causa muitas vezes acidentes fatais, seja pelas suas propriedades
nutracêuticas (nutricionais e medicinais), tornando-os usados e “venerados” por muitas
culturas (Urben, 2017).

Os cogumelos são fungos pertencentes ao filo Basidiomycota com suporte enzimático


capaz de oxidar as moléculas de lignina e celulose presentes em resíduos vegetais,
transformando esses elementos em compostos menores que podem ser transportados pela
parede celular. Os resíduos de origem agro-industrial, tais como a polpa de café, farelo de
cereais, bagaço de cana, cascas de frutas processadas, cascas de batata, farinha de cereais,
cascas de mandioca, entre outros, são substratos bastante difundidos nesses processos (Saad
et al, 2017)

Adaptando o seu metabolismo à disponibilidade de várias fontes de Carbono e


Nitrogénio no ambiente, os fungos produzem uma mistura de enzimas oxidativas e
hidrolíticas para quebrar eficientemente ligninoceluloses como a madeira. Durante a
degradação das plantas, a celulose e outros substratos lábeis são primeiro degradados,
seguidos pela despolimerização da lignina. A degradação da lignina é catalisada por enzimas
que oxidam compostos aromáticos, como fenol oxidases, peroxidases e lacases (Muhsen e
Hawar, 2022).

O cultivo de cogumelos para a alimentação e medicina é cada vez mais popular em todo o
mundo, incluindo em África. Contudo, o ritmo do progresso em África é lento. A África
constitui pelo menos 25% da biodiversidade total de cogumelos em todo o mundo, mas
contribui com apenas 0,4% do total de vendas de cogumelos e de novos produtos de

4
cogumelos no mercado global. A capacidade de produção de cogumelos da África
Subsaariana é proporcionalmente mínima em comparação com a da América Latina, China e
Europa. A principal barreira ao cultivo e produção de cogumelos em África é a dependência
de importação de sementes de cogumelos exóticos (Anchang, 2014). Até à data, a maioria das
espécies de cogumelos ainda são colhidas na Natureza durante as épocas em que estão
disponíveis (Mlambo e Maphosa, 2022; Sileshi et al. 2023). O sector de cogumelos em
África é caracterizado pela falta de infra-estruturas, apoio técnico, escassez de cientistas de
cogumelos e fraco conhecimento da diversidade dos cogumelos (Anchang, 2014).

O cultivo de cogumelos comestíveis é um processo biotecnológico que utiliza materiais


residuais da agricultura, pecuária ou agronegócios. A escolha por um substrato específico
para o cultivo em estado sólido, leva em consideração uma serie de factores, principalmente
relacionados ao custo e à viabilidade (Franco et al.2021). Apesar da ampla possibilidade de
utilização do resíduo da casca de mafurra, a literatura carece de trabalhos documentados
acerca do uso deste resíduo como substrato para o cultivo de espécies de cogumelos
comestíveis nativos de Moçambique.

1.1. Problema

Nos processos de aproveitamento dos frutos da mafurreira (Trichilia emética) como alimento
directo, ou para a extracção do seu óleo, a casca da mafurra é descartada, tornando-se mais
um resíduo sólido no meio ambiente. Sendo a casca da mafurra um resíduo de origem
vegetal, é viável o seu uso como um substrato para o crescimento de cogumelos?

1.2. Justificativa

As análises científicas do conteúdo alimentar têm mostrado que os cogumelos contêm


mais proteínas do que os vegetais. Embora as pessoas possam obter as proteínas de fontes
animais (carne, frango e ovos), esses alimentos contêm alto nível de colesterol e de
gorduras, sendo estes, os maiores causadores do aumento do peso e de doenças
cardiovasculares. Os cogumelos apresentam todos os aminoácidos essenciais à saúde
humana e são particularmente ricos em lisina e leucina, além de vitaminas do complexo
B, Riboflavina e sais minerais (Urben, 2017).

O aproveitamento dos resíduos da casca de mafurra minimizaria o impacto ambiental


do seu descarte (Nascimento et al. 2020). Em Moçambique, os cogumelos são explorados
do seu ambiente natural e o seu consumo se limita apenas à época chuvosa (Chioza e
Ohga, 2013). O cultivo em meio artificial, possibilitaria o consumo destes a qualquer
época do ano. Os resíduos exauridos da cultura de cogumelos podem ser usados como
ração animal ou adubo orgânico (Mlambo e Maphosa, 2022).O cultivo de cogumelos
requer menos terra do que a pecuária e a agricultura (Sileshi et al. 2023).

5
2. Objectivos
2.1. Objectivo geral
 Cultivar cogumelos num substrato elaborado à base da casca de mafurra.

2.2. Objectivos específicos


 Descrever os passos necessários para o cultivo de cogumelos.
 Comparar a viabilidade da casca de mafurra em relação a outros substratos no cultivo
de cogumelos.
 Estabelecer procedimentos práticos para a obtenção de uma cultura pura de micélios.

2.3. Hipótese nula

A casca da mafurra, tratando-se de um resíduo ligninocelulosico, é viável ao crescimento


e frutificação de cogumelos, desde que suplementada com o farelo de sorgo.

2.4. Hipótese alternativa

Micélios e corpos de frutificação de cogumelos nativos de Moçambique podem não se


adaptar ao substrato preparado à base da casca de mafurra.

3. Área de estudo

As amostras de micélio e esporos do cogumelo a usar neste estudo serão colhidas na


aldeia de Fetera, Manica, coordenadas: 19⁰ 9' 0"S e 32⁰ 58'0"E; Altitude: 615 m. Os grãos
de sorgo para a produção do Spawn e farelo necessário para a suplementação dos
substratos serão adquiridos no Mercado-feira de Mutabira, Sofala, coordenadas: 17⁰
46'10"S e 34⁰ 21'35"E; Altitude: 255 m. Nesta última localidade, também serão levadas
pedras de calcário que será usado para a correcção do PH dos substratos. O bagaço da
cana-de-açúcar será obtido por cortesia da Açucareira de Xinavane, Maputo,
coordenadas: 32⁰ 52' 3" E e 25⁰ 11' 53" S; Altitude: 26 m. As folhas de feijão nhemba e a
casca de mafurra serão adquiridas no Mercado Compone, Maputo, coordenadas: 25⁰ 56'
13" S e 32⁰36' 0"E. Os experimentos serão todos efectuados no Laboratório de
Microbiologia do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Eduardo
Mondlane.

4.Metodologia

6
4.1.Material e reagentes Equipamento

- Placas de Petri; - Banho - Maria

- Pinça; - Estufa

- Sacos de polipropileno; - Autoclave ou panela de pressão

- Luvas de procedimento; - Balança analítica

- Colher plástica - Calculadora cientifica

- Almofariz e pilão - Chapa eléctrica ou fogão

- Papelão

- Canetas de feltro

- Gaze

- Esguinchos

- Álcool a 70%

- Lamparina com álcool

- Campânula de vidro

- Papel de alumínio

- Agua destilada

- Dextrose

- Grãos de sorgo

- Resíduos de cana

- Resíduos de feijão nhemba

- Farelo de sorgo

- Termómetros

7
4.2. Desenho experimental

Os métodos e procedimentos para este estudo serão adaptados a partir da metodologia


de Urben e Oliveira (2017). E para a preparação da semente ou Spawn, adaptar-se-á o
método de Mlambo e Maphosa (2022).

Preparação do Esporos do
meio BDA cogumelo

Inoculação
Autoclavagem
do meio

Placas inoculadas Lavagem dos grãos


Arrefecimento de sorgo

Incubação Autoclavagem dos


grãos

Cultura pura Arrefecimento

Inoculação

Grão inoculado

Incubação

Spawn
Fig. 1. Preparação do Spawn.

Este diagrama que representa o conjunto de procedimentos básicos para a obtenção da


semente ou Spawn para o cultivo de cogumelos, foi adaptado do modelo de Mlambo e
Maphosa (2022).

8
Para a formulação do meio BDA, serão cozidos 200g de batata inglesa em 1L de água
destilada por 10 ou 15 minutos e à infusão resultante será acrescentada água destilada para
perfazer 1L. Depois, 17g de dextrose e 17g de Ágar serão adicionados ao extracto de batata e
aquecidos em Banho-Maria para dissolver os reagentes em pó (Urben e Oliveira, 2017).

Os grãos de sorgo, já lavados, serão fervidos em água por 8 minutos e depois lavados
antes da autoclavagem a 121⁰ C e pressão de 1 atmosfera em 30 minutos, para o posterior uso
como matriz para a inoculação do micélio do fungo proveniente da cultura pura, um
procedimento que será feito numa câmara de fluxo laminar. A seguir os grãos inoculados,
serão colocados em sacos plásticos de polipropileno e armazenados numa sala escura a 36⁰ C
para a sua colonização pelo micélio durante em torno de 40 dias (Carvalho et al, 2021).

O esquema abaixo indica os procedimentos desde a inoculação do micélio nos substratos


até à produção de corpos de frutificação (cogumelos). Foi adaptado da metodologia de Urben
e Oliveira (2017).

Secagem dos resíduos vegetais


Fig. 2.

Trituração dos resíduos

Suplementação dos substratos


(farelo de sorgo e cal)

Humedecimento

Ensacamento em sacos de
polipropileno

Esterilização

Sementeira Produção do Spawn

Incubação

Produção de cogumelos
Os substratos serão distribuídos em três tratamentos: Casca de mafurra, TE; Folhas de feijão
nhemba, VU; e bagaço de Cana-de-açúcar, SO, este último, por ser convencionalmente
usado, será o testemunha. Todos os tratamentos serão suplementados com o farelo de sorgo,

A incubação será feita numa sala escura ou numa caixa de papelão a mais ou menos 25⁰ C,
durante cerca de quatro semanas (Franco et al. 2021). Após a colonização, os substratos serão
dispostos a temperatura ambiente ~25° C e humidade acima de 80% para o início da
frutificação (Carvalho et al. 2021). Após a esterilização, será colhida uma amostra por cada
tratamento, para a avaliação do teor de Nitrogénio; matéria orgânica; carbono; humidade
;relação C/N e PH (Franco et al. 2021), no Laboratório do Departamento de Química da
Universidade Eduardo Mondlane .

4.3. Análise de dados

Para a análise de dados, todos os cogumelos de cada unidade experimental serão pesados
assepticamente e quantificados para o cálculo da Eficiência Biológica (EB) e
Percentagem da produtividade (P) (Carvalho et al. 2021).

EB (%) = Massa fresca dos cogumelos (g) / Peso seco do substrato inicial (g)× 100

P (%) = Massa fresca dos cogumelos (g) / peso húmido do substrato inicial (g) × 100

Será calculada a média desses parâmetros em cada tratamento e os valores serão


submetidos à análise de variância. E as medias serão comparadas pelo teste de Turkey
com 5% de significância (Siqueira et al. 2019 e Franco et al. 2021).

4.4.Orçamento

Descrição do Quantidade Preço por unidade Preço cumulativo


material
Grãos de sorgo 20 kg 30. 00 Mt 600. 00 Mt
Batata inglesa 1 kg 50. 00 Mt 50. 00 Mt
Dextrose em pó 1 kg 500. 00 Mt 500. 00 Mt
Casca de mafurra 10 kg Flexível
Bagaço de cana 10 kg Flexível
Luvas de exame 50 pares 50. 00 Mt 2500. 00 Mt
Papelão 10 (tamanho A2) 40. 00 Mt 400. 00 Mt
Total 4 050.00 Mt

As deslocações poderão custar 12 000. 00 Mt, o que inclui o custo das viagens de ida e
regresso e as despesas de hospedagem, pelo que, o custo total será de 16 050. 00 Mt.

4.5. Cronograma
Este estudo poderá durar aproximadamente oito (8) meses e as fases para a sua
realização constam na tabela abaixo:

10
Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro
Actividade
Revisão X X X X X X X
bibliográfica
Colheita de X X X
material
Preparação X X
do Spawn
Cultivo de X X
cogumelos
resultados X
Elaboração X
do relatório
Submissão do X
relatório

11
5. Referências bibliográficas

 Anchang, K. Y. (2014). Desenvolvimentos actuais na biotecnologia de cogumelos na


África Subsaariana. Researchgate . pp. 3-13.
 Carvalho, P. I. A. Sales, M. R. B. Neto, J. C. A. Ferreira, V. F. (2021). Resíduos agro-
industriais como substrato para cultivo indoor de cogumelos comestíveis da espécie
Pleurotus ostreatus. Jornal of Biotechnology and Biodiversity. Volume 9. pp 330-
339.
 Chioza, A. Ohga, S. (2014). Cultivo de cogumelos no Malawi. Uma visão da situação
actual. Scientific Research. pp. 6-11.
 Franco, N. A. Martins, O. G. Andrade, M. C. N. (2021). Polpa citrica peletizada como
alternativa para o cultivo de cogumelos. Energia na Agrgicultura. Botucatu. Volume
34. pp. 478-491.
 Muhsen A. A. T. S. N. Hawar (2022). Fisiologia dos fungos. Researchgate.
 Mlambo, A. Maphosa, M. (2022). Cultivo de cogumelos micorrizicos e não
micorrizicos. Desafios e oportunidades para a África Subsaariana. Researchgate.
 Nascimento, V. Alencar, S. Baptista, J. M. S. Nascimento, T. P. Cunha, M. N. C.
Leite, A. C. L. (2020). Residuos agro-industriais. Uma alternativa promissora e
sustentável na produção de enzimas por microorganismos. Researchgate.
 Saad, A. L. M. Viana, S. R. F. Siqueira, O. A . P. A. Campos, C. S. Andrade, M. C.
N. (2017). Aproveitamento de resíduos agrícolas no cultivo do cogumelo medicinal
Ganoderma lucidum utilizando a tecnologia chinesa Jun Cao. Researchgate.
 Silva, S. A. Dias, B. O. Salazar, J. R. Z. (2022). Reciclagem de folhas de bananeira e
bagaço de cana para a produção de cogumelo ostra rosa em Areia, PB. Researchgate.
Pp. 526-531.
 Sileshi, G. W. Tibuhwa, D. D. Mlambo, A. (2023). Fungos selvagens subutilizados e
os seus serviços ecossistemicos subvalorizados em África. CABI Agricultura e
Biociências. pp. 1-20.
 Siqueira, O. A. P. Martins, O. G. Andrade, M. C. N. (2019). Palha de variedades de
sorgo na formulação de novos compostos para o cultivo do cogumelo Pleurotus
ostreatus. Researchgate. pp. 274-285.
 Urben, A. F. (2017). Formulação e preparo de meios de cultura para a produção de
sementes. Embrapa. 3ª Edição. pp. 51-61.
 Urben, A. F. Oliveira, H. C. B. (2017). Formulações e preparo de meios de cultura
para a produção de Sementes. Embrapa. pp. 51-61.

12

Você também pode gostar