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PRINCÍPIOS AGROECOLÓGICOS
PARA O MANEJO ECOLÓGICO DO SOLO E
A SAÚDE DAS ÁREAS PRODUTIVAS
Sonia Sena Alfaia - Marta Iria da Costa Ayres - Reinaldo José Alvarez Puente
José Guedes Fernandes Neto - Katell Uguen
Cartilha para Produtores Rurais
PRINCÍPIOS AGROECOLÓGICOS
PARA O MANEJO ECOLÓGICO DO SOLO E
A SAÚDE DAS ÁREAS PRODUTIVAS
Sonia Sena Alfaia - Marta Iria da Costa Ayres - Reinaldo José Alvarez Puente
José Guedes Fernandes Neto - Katell Uguen
1ª Edição
Manaus - 2018
Copyright © 2018 - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Michel Temer
MINISTRO DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
Gilberto Kassab
DIRETOR DO INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA
Luiz Renato de França
EDITORA INPA
Editor: Mario Cohn-Haft. Produção editorial: Rodrigo Verçosa, Shirley Ribeiro
Cavalcante, Tito Fernandes. Bolsistas: Alan Alves, Alexsander Tenório, Brenda
Costa, Júlia Figueiredo, Mariana Franco de Sá, Sabrina Oliveira Maciel.
PROJETO GRÁFICO
Stefany de Castro Guedes
ISBN: 978-85-211-0177-2
CDD 307.72
7. Referencias 24
1 PRINCÍPIOS AGROECOLÓGICOS
A agroecologia é uma ciência que trata das interações entre a
agricultura e os ecossistemas, mas é também uma prática que
visa a produção sustentável de alimentos saudáveis de forma
justa. Na visão agroecológica, a terra é considerada um sistema
vivo e complexo, com diversidade das plantas, animais e micror-
ganismos que apresentam interrelações ecológicas complexas
(Figura 1). Neste sistema complexo, é fundamental considerar o
conhecimento tradicional das populações que cultivam a terra
por muitas gerações, pois desenvolveram formas de manejo
adequado para cada região.
Figura 1. Em um contexto de uso de químicos o produtor tem uma visão linear, em que,
determinado inseto que ataca determinada cultura deve ser combatido com algum químico
específico. Em um contexto agroecológico a perspectiva sobre uma possível praga assume
uma visão sistêmica em que esta pode ser combatida por diversos meios, como a figura
ilustra a aranha e a galinha como possíveis predadores desse inseto. Além de desempenhar
esta função, a galinha também pode fornecer adubo para a cultura de interesse. Fonte:
Instituto Giramundo Mutuando. 2005.
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1.1 Manter e cultivar a diversidade
A produção diversificada diminui a dependência do agricultor em
relação a apenas uma ou duas safras e aumenta a quantidade de
seres vivos na propriedade, contribuindo para o equilíbrio ecológico
e saúde dos cultivos e do ambiente em geral.
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1.6 Garantir a segurança alimentar da família
A produção para o autoconsumo dos produtos agroecológicos
cultivados deve ser priorizada para a melhoria da saúde e diminui-
ção de gastos com a alimentação industrializada. O uso de ervas e
plantas medicinais também diminui os gastos com medicamentos, e
estas podem ser cultivadas, de preferência, próximo à moradia.
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2 PRINCÍPIOS DO MANEJO AGROECOLÓGICO DO SOLO
Nesta cartilha, será dado enfoque no manejo ecológico do solo
(PRINCÍPIO 3). O solo é muito mais que um substrato, é uma estrutu-
ra complexa onde ocorrem processos dinâmicos e essenciais ao
equilíbrio e à saúde das plantas e do ambiente. O manejo agroecoló-
gico do solo tem como princípio o seu manejo para evitar a erosão,
bem como a sua nutrição por meio da adubação com materiais
orgânicos e manutenção da ciclagem de nutrientes.
Na transição agroecológica, as mudanças são feitas a partir de
pequenas ações realizadas no dia-a-dia. Com o tempo, estas ações
são fortalecidas e permitem construir a sustentabilidade do agroe-
cossistema, sempre de acordo com as possibilidades e a realidade de
cada família. Em nossa realidade, por exemplo, o uso do fogo para
limpeza das capoeiras e roçados é algo comum e resulta em uma
melhoria da fertilidade do solo, mas de curto período, apresentando
uma queda na produção após três anos de cultivos. Por meio do uso
de práticas agroecológicas, evitando o uso sistemático do fogo, é
possível manter um solo rico e vivo por um longo período e com bons
resultados na produção agrícola.
Um solo saudável depende dos nutrientes (macro e micronutri-
entes), da porosidade (ar), da acidez do solo (pH) e da umidade,
precisando de um equilíbrio adequado para a manutenção da micro
vida que servirá de alimentação para as plantas e animais. A fertili-
dade do solo depende das características física, química e biológica
do mesmo.
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3 ENTENDENDO AS CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DO SOLO
O solo, também chamado pelos produtores de terra, chão, é a parte
superficial da crosta terrestre, que pode ser dividido em camadas
distintas, chamados horizontes. As camadas são sobrepostas, sendo
que as mais superficiais apresentam características diferentes das
mais profundas. As plantas possuem muitas inter-relações com o solo.
Elas se desenvolvem sob o solo e precisam de água, nutrientes e
energia para se desenvolver e assim produzir biomassa nos seus
caules, folhas, raízes, frutos e sementes (Figura 2).
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Um solo é formado por partículas minerais, matéria orgânica,
água e ar (Figura 3). As partículas minerais, conforme seu tamanho
são divididas em areia, silte e argila (Figura 4). Uma vez conhecida as
proporções dessas partículas do solo, por meio de análise de labora-
tório, determina-se a textura de um solo, se arenoso ou argiloso, por
exemplo.
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4 ENTENDENDO AS CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DO SOLO
São as características responsáveis pela disponibilidade de
nutrientes. As plantas precisam de dezesseis elementos que são
fornecidos pelo ar e pela água como o Carbono (C), o Oxigênio (O) e o
Hidrogênio (H) e pelo solo, os quais são divididos em dois grupos:
macronutrientes e micronutrientes (Figura 5). Os macronutrientes
tornam-se deficientes no solo antes dos demais, porque as plantas
necessitam destes nutrientes em maiores quantidades. Os micronu-
trientes são geralmente menos deficientes no solo, pois são usados
em quantidades menores.
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4.1 Nitrogênio (N)
O nitrogênio é o N das formulas comerciais NPK. É o nutriente que
a planta absorve em maiores quantidades, indispensável para o
crescimento e produção das plantas. Portanto é o nutriente que com
maior frequência limita a produção agrícola. Se perde facilmente no
solo por lixiviação (lavagem) e perdas gasosas. A matéria orgânica
do solo é a principal fonte natural de N para as plantas.
Na Amazônia, as pesquisas têm mostrado que mais de 70% do N
aplicado ao solo como fertilizante químico, é perdido por lixiviação
ou por formas gasosas (Alfaia et. al, 2008). Felizmente, entre os
microrganismos do solos, existe uma bactéria chamada rizóbio que
tem a capacidade de se agarrar às raízes de algumas espécies de
plantas leguminosas, como o ingá de metro por exemplo, e consegue
capturar o nitrogênio (N2) que existe no ar para que possa ser utiliza-
do por elas ou por outras plantas consorciadas com elas. Portanto,
uma das alternativas para reduzir a deficiência de N nos solos é o uso
dessas plantas leguminosas fixadoras de N2, como adubos verdes. Um
outro benefício dessa prática é que o N mineralizado é liberado mais
lentamente do que os fertilizantes químicos, reduzindo assim suas
perdas por lixiviação. Na Amazônia, há uma grande diversidade de
leguminosas nativas que podem ser utilizadas para melhorar a
fertilidade do solo e principalmente aumentar a disponibilidade de N.
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do “fixado”. Nestas condições a maior parte do fertilizante aplicado
fica indisponível para a planta. Todavia, é importante salientar o fato
de que a “fixação” de P não significa perdas irreversíveis desse
nutriente. Grande parte do P “fixado” passa à solução do solo, com o
passar dos anos, e pode ser aproveitada pelas culturas.
Em condições naturais de floresta primária de terra firme, a
maioria das plantas nativas desenvolve mecanismos que aumentam
a eficiência para aproveitamento do P. O principal mecanismo
consiste na associação das raízes com os fungos micorrízicos. As
micorrizas se desenvolvem em forma simbiótica com as raízes e se
estendem no solo permitindo à planta absorver mais facilmente os
nutrientes do solo, principalmente o P.
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4.4 Cálcio (Ca) Magnésio (Mg) e Enxofre (S)
O cálcio (Ca), o magnésio (Mg) e o enxofre (S), são geralmente
chamados de macronutrientes secundários. Isso não significa que
eles têm um papel secundário no crescimento das plantas. Eles são
tão importantes quanto o N, P e K, apesar das plantas, de modo geral,
não os exigirem em grandes quantidades. O Ca é removido do solo
por lixiviação, erosão e colheita. A maneira mais importante de
adição de Ca ao solo é a calagem. Devido a uma quantidade elevada
de Ca das culturas estar contida nas partes vegetativas, qualquer
prática de manejo que inclua o retorno dos restos culturais ao solo
resulta na reincorporação de quantidade apreciáveis do Ca removi-
do (Figura 6).
Os solos geralmente contêm menos Mg do que Ca, porque o Mg é
mais solúvel e sujeito à maior lixiviação. Embora a maioria dos solos
contenha Mg o suficiente para suportar o crescimento das plantas,
podem ocorrer deficiências, principalmente nos solos arenosos e
ácidos das regiões úmidas. A fonte mais comum do Mg é o calcário
dolomítico. Também uma parte do Mg extraída do solo pelas cultu-
ras pode retornar a ele com os resíduos vegetais.
4.5 Micronutrientes: Zinco (Zn), Cobre (Cu), Boro (B), Manganês (Mn),
Ferro (Fe), Molibdênio (Mo) e Cloro (Cl)
Os micronutrientes são tão importantes para a nutrição das
plantas quanto os macronutrientes. Estes ocorrem no solo e na
planta em quantidades muito pequenas. As deficiências de micronu-
trientes em plantas podem ter efeitos drásticos sobre a produtivida-
de das culturas, embora sua ocorrência seja bem mais rara do que a
deficiência de macronutrientes.
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relativa de uma solução. A escala de pH cobre uma amplitude de 0 a
14. Um valor de pH igual a 7 é neutro. Valores abaixo de 7 são consi-
derados ácidos e acima de 7 são básicos. A maioria dos solos produti-
vos varia entre valores de pH 4 e 9.
Existem várias estratégias para corrigir os problemas de acidez
do solo, tais como:
1) seleção de espécies vegetais tolerantes à acidez do solo.
Algumas espécies, principalmente nativas da Amazônia são toleran-
tes a níveis altos de Al;
2) Aplicação de calcário que contém Ca e em alguns casos, tam-
bém o Mg. O calcário aumenta pH e neutraliza o Al, diminuindo a
acidez do solo, além de fornecer Ca e Mg para a nutrição vegetal;
3) As cinzas também têm um efeito parecido ao do calcário. Estas
contêm Ca e Mg provenientes das plantas e ao entrar em contato com
o solo aumentam o pH e diminuem o teor Al.
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5 ENTENDENDO AS CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS DO SOLO
Além de decomporem a matéria orgânica e permitirem a recicla-
gem de nutrientes nos solos pobres, os microrganismos invisíveis a
olho nu (fungos, bactérias e algas) e também aqueles visíveis a olho
nu (minhocas, cupins, formigas, etc) realizam uma série de ativida-
des essenciais para o desenvolvimento das plantas (Figura 7). Em
virtude da baixa disponibilidade de nutrientes, os solos dependem
da atividade biológica para reciclar os nutrientes, por exemplo,
disponibilizando o P e fixando o N da atmosfera. Para isto são
necessárias entradas constantes de material orgânico no solo. Além
de alimentos para os microrganismos a matéria orgânica pode
complexar o alumínio e contribuir para a estruturação dos solos,
melhorando a infiltração e retenção de água.
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6 MANEJO AGROECOLÓGICO DO SOLO
Um dos principais fatores limitantes para a sustentabilidade da
agricultura na Amazônia é a baixa fertilidade natural do solo e a
dificuldade de manejá-lo para se obter produtividades satisfatórias.
Para aumentar a produtividade nesses solos pobres, é necessário
repor os nutrientes, sendo, o manejo da matéria orgânica de funda-
mental importância. Devem-se realizar práticas que conservem e
aumentem o teor da matéria orgânica.
Dentre as várias técnicas de manejo para manter a vida e a quali-
dade do solo pode-se destacar:
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diversas, tornando o manejo até mais fácil. Os consórcios mais
comuns são os de leguminosas com gramíneas.
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Figura 9. Feijão Guandu, também uma importante legu- Figura 10. Espécies de árvores de legu-
minosa arbustiva para adubação verde e que pode ser minosa apropriadas para o uso como
consumida pela população humana. Foto: Profa. adubação verde. No alto do lado esquerdo
Anastácia Fontanetti. a Leucena e do lado direito a Gliricídia.
Embaixo, do lado esquerdo, a Palheteira e
do lado direito o Ingá Cipó, que é a mais
comum na região de Manaus. Foto: Luiz
Augusto G. Sousa.
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Agroflorestal, de acordo com suas necessidades e com o que a
natureza lhe permite (Figura 11).
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• Cobertura do solo com plantas vivas ou secas impedem o desen-
volvimento de plantas espontâneas.
• Não revolver o solo para manter as sementes das plantas espon-
tâneas na superfície do solo, sem condições adequadas à sua
germinação.
• Controle mecânico através de capinas, manuais ou mecânicas, ou
melhor, ainda, através de roçadas a partir do momento em que as
plantas espontâneas atingem o ponto de dano econômico.
Figura 12. Nesta imagem podemos observar a aplicação de algumas técnicas descritas acima como a
cobertura do solo, consórcio entre culturas e sistemas agroflorestais. Nas linhas acima temos o
consórcio agroflorestal entre banana, café, abacate, eucalipto, entre outras arbóreas e nas entrelinhas
o plantio de hortaliças como rúcula, alface, tomate, brócolis, dentre outras culturas. Fonte: José Guedes.
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• Buscar sempre aumentar a biodiversidade da área cultivada;
• Manejar espécies agrícolas, frutíferas e florestais;
• Conservar flora (plantas) e fauna (animais) nativas;
• Cultivar a mesma área até que ela se torne sustentável;
• Produzir as próprias mudas ajuda a diminuir os custos de
produção. Elas podem ser preparadas a partir das sementes ou
vegetativamente, com partes das plantas.
• Utilizar sempre que possível os recursos locais, inclusive para a
alimentação da família.
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7 REFERêNCIAS
ALFAIA, S. S.; UGUEN, K. 2013. Fertilidade e Manejo de Solos. In:
MOREIRA, F.M.S.; CARES, J.E.; ZANETTI, R.; STUMER, S.L. (Org.). O
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MOREIRA, F.M.S.; CARES, J.E.; ZANETTI, R.; STUMER, S.L. (Org.). O
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agroflorestais através de colheitas- O valor dos resíduos dos
frutos amazônicos. In: Congresso Brasileiro de Sistemas Agroflo-
restais, 6, Ilhéus, Bahia, Resumos, CD-ROM.
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ISBN 978-85-211-0177-2
9 788521 101772